A super manobrabilidade do caça de combate da atualidade Caças de combate são plataformas de armas projetadas para propiciar grande manobrabilidade. Um alto grau de agilidade é essencial em manobras de combate nos céus. O desenvolvimento da tecnologia de materiais e sistemas de controle de voo propiciaram a criação de novas aeronaves de combate com capacidade de ‘super manobrabilidade’. Quais são as implicações para o piloto com essa super agilidade durante os voos? Estes aspectos serão examinados neste artigo além das explicações sobre super manobrabilidade. A super manobrabilidade das novas aeronaves de combate expandiram significativamente o envelope de voo das missões com o emprego de dispositivos aerodinâmicos avançados como o controle de vetorização dos escapes dos motores (TVC) e avançados sistemas de controle de voo. Essas aeronaves podem operar em baixas velocidades bem como em condições de além estol em envelopes de voo e manobrabilidade em altos ângulos de ataque (AoA) com total controle. Essas novas máquinas de guerra também têm a habilidade de efetivamente girar sobre seu eixo e apontar seu nariz para qualquer direção desejada. Estas qualidades permitem acompanhar o oponente em voo a despeito de qualquer manobra defensiva realizada por ele. Em termos táticos, a constante ameaça da aeronave alvo desta maneira torna-se uma inerente intimidação. A super manobrabilidade é obtida pelo projeto da aeronave de acordo com os critérios da ‘estabilidade relaxada’ ou aplicação do centro de gravidade mais para a parte posterior da fuselagem. O termo super manobrabilidade foi inventado pelo Dr. Wolfgang Herbst durante o programa X-31 e define o controle da aeronave em ângulos de ataque acima de 60° a 70°, com transição de 120° ou mais. A aeronave instável é apta a manter-se em voo sob o controle de um sofisticado conjunto de sistemas gerenciadores de estabilidade com capacidade de processamento em altas velocidades. Os sistemas TVC e avançados dispositivos aerodinâmicos (como os canards – asas posicionadas à frente das asas de sustentação) promovem autoridade no controle nos envelopes de voo. O sistema de direcionamento dos gases da saída de combustão dos motores permite que o fluxo seja defletido, permitindo movimento relativo de nariz baixo ou alto. Com o empuxo suficiente a aeronave pode alcançar e manter altos ângulos de ataque empregando o sistema TVC como uma superfície de controle aerodinâmico. Desta forma a super manobrabilidade opera além da barreira da condição de estol em inimagináveis ângulos de ataque sem a perda do controle de voo. Sistemas TVC estão previstos para equipar as últimas versões do Eurofighter Typhoon e Saab Gripen. Talvez o melhor exemplo da capacidade de super manobrabilidade de um caça de combate é o Sukhoi Su-37 Super Flanker, que realizou seu primeiro voo em 1996. Este formidável caça possui planos anteriores canards, sistema TVC de controle de vetorização e um avançado sistema de controle fly-by-wire ativo de controle de voo. O Flanker com TVC mantém controle do seu regime de voo até a velocidade zero. Na época em que foi apresentado e testado o caça russo demonstrou um número de manobras que caracterizaram a super manobrabilidade dos futuros caças. A manobra “Cobra”, como exemplo, envolve um rápido movimento de nariz para cima até 135º numa situação de alto ângulo de ataque mantendo essa situação por 3 a 4 segundos, todo esse processo a velocidade de 150km/h. A manobra “Kulbit” é basicamente uma ‘cambalhota’ para traz em 360º empregando o TVC para a rápida rotação pelo eixo transversal da aeronave enquanto o regime de voo para frente é mantido, isso tudo sem estolar o caça. Outras manobras foram criadas explorando o potencial desta super manobrabilidade como o ‘giro do helicóptero’, que envolve baixa velocidade da aeronave, momento de alto ângulo de ataque, atitude de voo descendente enquanto gira no seu próprio eixo. A velocidade de voo do caça cai drasticamente nesse momento de descida enquanto rotaciona semelhante ao rotor em movimento de um helicóptero. Usando essa manobra o caça perde altitude drasticamente enquanto ainda rastreia a aeronave oponente. Um número de aeronaves de combate já foi ensaiado investigando o conceito de super manobrabilidade. Exemplo são os Rockwell/DASA X-31, F-16 AFTI (Integração de Tecnologia para Caça Avançado), o F-16 MATV (Vetorização de Empuxo Multi-Eixo), o F-15 SMTD (Demonstrador de Tecnologia de Manobra para Pousos e Decolagens Curtas), o F-15B ACTIVE (Veículos Integrados para Controle de Tecnologia Avançado) e o F/A-18 HARV (Veículo de Pesquisa de Ângulo Alfa) da NASA. Estas aeronaves de pesquisa superam os 70º de ângulos AoA em todos os ensaios realizados nos Estados Unidos. Super manobrabilidade e o piloto A super manobrabilidade nos caças de combate é caracterizado pelos momentos de curvas fechadas ou manobras com altos ângulos de ataque, altas cargas G, (força gravitacional) altas acelerações angulares em todos os três eixos primários (X, Y e Z) além de mudanças bruscas em atitude e orientação. A aeronave de combate com características de super manobrabilidade irá operar no mais complexo ambiente de aceleração já visto. A exposição humana a esse ambiente resulta em uma grande limitação em termos de tolerância as cargas G ou seja, no projeto de uma aeronave de combate com alto grau de manobrabilidade a limitação é o piloto. Os efeitos para o piloto caso venha a se aproximar das cargas limites G são ferimentos no pescoço, potencial desorientação espacial (SD) além de bombeamento sanguíneo forçado aos pés ou para a cabeça dependendo da direção da força gravitacional. Tolerância as cargas G Os atuais caças de combate são capazes de alcançar altas cargas G nos limites de +7.5 a +9 G. A nova geração de aeronaves de caça está sendo projetada para ser capaz de chegar a +10 G (máximo) e +9 G (sustentado). Além disso a atitude em voo de nariz alto (AoA) nas manobras como a ‘Cobra’ podem chegar a +15 G. O uso do TVC contribui para gerar altas cargas G sustentadas ou seja, prolongar o período dos momentos dos altos ângulos de ataque durante um regime de voo controlado. Claramente o potencial para o G-LOC ou Perda de Consciência Induzida, ocorrerá ao piloto em momentos extremos numa aeronave super manobrável. Enquanto é evidente que pilotos de caça serão expostos a sobrecargas G desenvolvendo uma adaptação fisiológica com repetitivas exposições a essas cargas, isso não irá ajudar pilotos novatos ou outros depois de missões de longa duração quando o cansaço mina sua experiência. Um constante treinamento como simulação em câmara centrífuga e atitudes nos voos como retesamento dos músculos e prender a respiração e liberar o ar aos poucos como num mergulho, podem ajudar a conter os efeitos das cargas G. O ambiente G dos caças super manobráveis por vezes excedem a habilidade dos pilotos de sustentarem a consciência. As atuais contramedidas anti-G não oferecem proteção suficiente aos pilotos destes caças. Contramedidas mais eficientes precisam ser desenvolvidas para proteger o piloto do ambiente em que é submetido. O efeito G induz a um frequente relato de pilotos que sofrem dos fenômenos de pescoço contundido em função da alta performance dos atuais caças de combate. Muitos fatores foram identificados, como o nível experimentado da carga G, movimentos da cabeça sob estas cargas, além dos pesos combinados da cabeça, capacete e máscara de oxigênio. A posição do centro de gravidade da cabeça também é importante, quando ela é forçada para a frente combinando o peso do capacete ou mais ainda quando está instalado o dispositivo de visão noturna ou NVG. Com a super manobrabilidade adotada pelos novos caças as cargas G atuam em múltiplos eixos. As cargas G induzidas também são sentidas pelos pilotos de fórmula 1 com movimentos bruscos da cabeça lateralmente durante as curvas feitas nos autódromos. Estas forças são mais significantes nos pilotos de caças super manobráveis e têm maior potencial de machucar os pescoços destes tipos de pilotos quando suportam os movimentos bruscos em todas as direções durante um voo de envelope extremo. Desorientação espacial É muito natural que o voo super manobrável crie um ambiente de movimento dinâmico extremo que pode ocasionar ao piloto desorientação espacial que implicaria numa condição de insegurança. Em altos ângulos de ataque – AoA, o piloto perde a visão do horizonte como maior referência visual, isso combinado as mudanças rápidas de atitude em altas acelerações angulares em direções diferentes teoricamente tiram a orientação espacial. Muitas destas manobras envolvem significante redução de velocidade à frente, rápida atitude de nariz alto e em muitos casos uma alta razão de rolagem no próprio eixo ou em torno do centro de gravidade da aeronave. A resultante dos dados dos sensores de atitude de voo são complexas, apresentadas rapidamente e não permitem conclusões imediatas, o que pode acarretar desorientação ao piloto. Há muitos relatos de programas de testes com caças de alto desempenho em que houve a total desorientação do piloto e perda de consciência situacional ou seja, o piloto de testes não sabia sua posição no espaço em relação à linha do horizonte. Um fator problemático é a necessidade de o piloto ter que mover a cabeça para os lados durante a manobra ao qual é submetido para se orientar ou obter um contato visual com outra aeronave, particularmente seu oponente. Sistemas de escape assistido Os modernos assentos ejetores hoje são sistemas extremamente eficazes. Caças super manobráveis, criaram um novo parâmetro de requerimentos para os assentos ejetáveis. O envelope de performance dos assentos devem refletir a capacidade extrema da aeronave propiciando condições satisfatórias a operações de ejeção do piloto em caso de emergência. O assento ejetável projetado para os caças de combate super manobráveis devem ser efetivos para operar em condições de baixa velocidade, altas acelerações angulares e em atitudes em voo extremas com altos ângulos de ataque. Além disso, estes dispositivos de segurança para os pilotos devem gerar uma trajetória segura durante a operação de escape a despeito do rápido deslocamento em qualquer direção que a aeronave faça durante sua manobra em voo. O assento ejetável deve ser capaz de operar em qualquer condição sob estas forças, como G lateral, alto ângulo de ataque, alta razão rotacional no sentido longitudinal ou transversal, ou uma combinação das duas condições, no momento em que a sequência de ejeção é iniciada. O assento deve ser capaz também de deixar o cockpit da aeronave a despeito das condições adversas no momento do voo e propiciar condições de tempo e posicionamento adequados para a abertura do pára-quedas. Se o sistema de assento ejetável não for capaz de alcançar um destes objetivos o piloto da aeronave tem menos condições de sobreviver à ejeção durante a fase do voo em super manobrabilidade.