CONSTRUINDO ATLETAS - MEDICINA ESPORTIVA UNITAU - 2018 Determinação de Índices Fisiológicos Através do Exercício Progressivo em Atletas Universitários da Faculdade de Medicina da Taubaté Aluno: João Gabriel de Oliveira Silva 1. Introdução Sabe-se que a busca pelo conhecimento na área da fisiologia do esporte já é uma realidade no âmbito acadêmico da Medicina e demais cursos da ciência da saúde, como a Educação física. Sabendo disso, atividades e ferramentas que auxiliem no monitoramento e estudo do treinamento estão cada vez mais difundidos, ainda mais num momento de evidencia da atividade física como promotor de saúde e do desempenho de alto rendimento nos esportes no Brasil. De um lado, as pesquisas cientificas procuram investigar deficiências e virtudes do ser humano no ambiente atlético; no outro procura-se melhorar a capacidade física e motora do mesmo atleta ao longo de sua prova ou competição. (NEWSHOLME, et al., 2008). As ferramentas utilizadas nas medições de fisiologia de exercício, denominadas de índices fisiológicos, fornecem bases estruturais a técnicos e atletas para que atinjam seus objetivos no desporto. Dentre os índices mais utilizados na estimativa do desempenho aeróbio podemos destacar: O consumo máximo de oxigênio (VO2máx); O limiar anaeróbio (LA) e; A economia de corrida. Embora em diversos outros estudos realizados (que serviram de referencia para nossa proposta) possam afirmar que o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e a intensidade do exercício associados ao VO2máx (IVO2 máx) sejam bastante utilizados em provas de corrida de curta, média e de longa duração. A resposta do lactato sanguíneo perante o exercício progressivo tem sido muito utilizada em áreas relacionadas à saúde e ao treinamento esportivo, podendo ser expressa como limiar de lactato, limiar anaeróbio individual, lactato mínimo e a máxima fase estável de lactato (DENADAI, 1999). O LA é definido como a intensidade do consumo de oxigênio, acima do qual ocorre a acidose metabólica (WASSERMAN et al., 1991). A partir deste conceito, várias outras terminologias e metodologias foram desenvolvidas a fim de determinar intensidades de esforço que representem de forma precisa o equilíbrio dinâmico entre a produção e a remoção de lactato da corrente sanguínea. O Lactato é formado a partir da hidrogenação do piruvato no metabolismo anaeróbio da glicose e representa um aumento significativo na concentração intramuscular de íons hidrogênio [H+], à medida que aumenta a intensidade do exercício em humanos (> 80% VO2máx). Nesta intensidade de exercício, a glicólise compensa a síntese aeróbia de ATP intracelular o que explica o acúmulo excessivo de lactato (CABRERA et al., 1999). Considerando que a análise lactacidêmica nem sempre é possível, diversos parâmetros têm sido desenvolvidos para estimarem a resposta do lactato sanguíneo em esforço, dentre eles, o efeito direto da epinefrina plasmática (HAMANN et al., 1991), a percepção subjetiva de esforço (WELTMAN, 1995), a frequência cardíaca (CONCONI et al., 1982; POKAN et al., 1995) e a eletromiografia (TAYLOR e BRONKS, 1994). Além dos citados ressalta-se a resposta glicêmica durante o exercício progressivo (NORTHUIS et al., 1995; PINHEIRO, 1997; SIMÕES et al., 1998) ou teste de glicose mínima, como mais um parâmetro na perspectiva do controle das intensidades de treinamento. Em estudos realizados como o de Northuis et al. (1995) que avaliaram corredores treinados em esteira, propuseram a determinação do LA através de dosagens glicêmicas. Com mesmo intuito, Simões et al. (1998) realizou estudo com 12 corredores treinados em provas de corrida de longa duração, analisando o comportamento da glicemia utilizando dois protocolos Oliveira et al. (2006), com o objetivo de comparar os limiares glicêmicos e lactacidêmicos em exercícios resistidos, foi verificado uma forte correlação entre ambos. Os autores afirmaram que as respostas do lactato sanguíneo e da glicemia permitem a identificação do LA, porém a aplicabilidade do limiar glicêmico para a avaliação e prescrição do treinamento precisa ser mais investigada. Muitas possibilidades têm sido levantadas acerca desta metodologia que se justifica como uma resposta metabólica de hormônios que estejam relacionadas à mobilização de nutrientes circulantes, como o efeito hiperglicemiante do glucagon e das catecolaminas (CANALI e KRUEL, 2001) e desta forma, abrem espaço para a perspectiva de determinação do LA a partir da glicemia. Somado ao desempenho e seus índices fisiológicos, diversos conhecimentos veem mostrando a importância do sono de reposição para atletas poderem competir no alto nível (SAMUELS, 2008). Um estudo inicial da qualidade do sono e da fase do sono circadiano em dois grupos de atletas competitivos, abrangendo o ciclo de vida de um atleta típico, da adolescência à idade adulta, sugere que a prevalência de má qualidade do sono é substancial. O rastreamento do sono e a detecção de casos aprimorados são necessários para atender às preocupações de atletas e treinadores em relação a problemas de sono. Dessa forma, pesquisas futuras devem se concentrar na validação de uma ferramenta de triagem do sono e na determinação da prevalência e incidência de problemas de sono em atletas. Finalmente, estudos bem planejados e investigando a relação do sono com o treinamento, recuperação pós-exercício (RPE) e desempenho precisam ser realizados para abordar itens de fundamental relevância, tais como: 1. A restrição do sono e; 2. A fase circadiana do sono e sua qualidade afetam diretamente na resposta do treinamento e desempenho em atletas competitivos? 2. Objetivos 2 O presente estudo surge como uma contribuição nessa linha de pesquisa e teve como objetivos então determinar a velocidade de corrida do limiar anaeróbio (lactato), determinar a intensidade do Vo2máx em que se encontra a resposta glicêmica mínima em esforço progressivo, além de comparar o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) com o consumo de oxigênio da glicose mínima (VO2Glc) durante exercício progressivo em corredores e monitorar o sono desses atletas para observar como o RPE estaria modulando os índices fisiológicos, podendo assim atingir um melhor desempenho da modalidade esportiva. 3. Metodologia 3.1. Procedimentos Os indivíduos serão submetidos a 3 testes de corrida, realizados em pista de atletismo. Na aplicação dos testes é garantida a uniformização das condições climáticas (temperatura e umidade) e horárias para todos os avaliados, uma vez que será utilizado um período de X semanas para os mesmos. Segundo Pinto et al. (2001), condições climáticas adversas podem antecipar a fadiga, por isso buscar a uniformização dos testes de pista. Durante os testes, condições desfavoráveis como chuvas e pista molhada serão evitadas. Inicialmente os indivíduos irão comparecer ao Laboratório X da Universidade de Taubaté para realização das medidas antropométricas, onde foi será coletado o peso a partir de balança digital portátil, estatura através do estadiômetro portátil e percentual de gordura determinado por bioimpedância segmentar (Convênio com academia???) para caracterização da amostra. Na oportunidade serão agendados os horários em que cada atleta deverá comparecer à pista de atletismo nas etapas seguintes. A partir da segunda etapa do experimento, os indivíduos comparecerão no horário pré-definido, onde serão submetidos a um teste de pista proposto por Weltman et al. (1989), para determinação do VO2máx, o qual preconiza a cobertura de uma distância de 3.200m, no menor tempo possível. Após um intervalo de X horas os atletas realizarão uma corrida máxima de X km para determinação da velocidade média nesta distância (VXkm). Imediatamente após o esforço será medida a Frequência Cardíaca (FC). Todos os testes (pré-experimental, VO2máx e VXkm) serão aplicados com intervalo de X horas entre os mesmos. Os indivíduos serão instruídos a não realizar atividades físicas X horas antes de cada teste, para evitar interferências. 3.2. Determinação da Glicose Mínima Iremos usar em nosso projeto, o protocolo proposto por Simões et al. (1998), onde segundo os mesmos, o LA pode ser predito a partir de dosagens glicêmicas. Este protocolo consiste de uma corrida de 500m à máxima intensidade com o objetivo de indução lactacidêmica seguido por oito minutos de recuperação. Após, inicia-se o teste progressivo constituído de seis séries de corrida de 800m rasos com 45 3 segundos de pausa. As intensidades correspondentes a este conjunto de séries foram de: 87, 89, 91, 93, 95 e 98% respectivamente da VXkm. A coleta sanguínea da polpa digital será feita aos sete minutos após corrida de 500m (indução lática) e durante os 45 segundos de pausa entre cada série de 800m, para dosagens da glicemia. A velocidade de execução de cada série será controlada por estímulo sonoro a cada 50m, demarcados por cones na pista de corrida. O limiar anaeróbio (LA) determinado pela glicemia será considerado como a velocidade de corrida correspondente ao menor valor glicêmico durante o teste, e será denominado como Limiar Glicêmico (LG). Segundo Higino e Denadai (2002), este protocolo tem mostrado alta reprodutibilidade em corredores de fundo, r=0,99. 3.3. Análise do Lactato O procedimento utilizado para a coleta era realizado logo após o término da corrida em pista (Protocolo a ser estabelecido). O atleta se dirige ao local da coleta e com uma gaze é retirado o suor do dedo que seria utilizado no teste e, por meio de punção em sua polpa lateral, utilizando-se um lancetador (Softclix®) e microlancetas descartáveis, era coletada uma gota de sangue que colocava-se no centro da zona de teste da fita reativa para análise da concentração de lactato. Foi utilizado um analisador de lactato portátil (modelo Accusport®, Boehringer Mannheim GmbH®®, GER) 6 que utiliza química seca na análise do lactato contido no sangue e tem capacidade para detectar concentrações de 0,8 a 22 milimoles (mM), em apenas 60 segundos, É necessário calibrar o equipamento cada vez que é aberta uma nova embalagem de tiras teste BM-Lactato. O aparelho não aceita a tira teste se não estiver devidamente calibrado. Princípio do teste: a amostra de sangue, quando aplicada na zona reativa do teste, passa através da malha protetora (amarela) até à camada da fibra de vidro, na qual os eritrócitos são retidos, de modo que apenas o plasma sanguíneo penetrena zona de detecção. O lactato é determinado por meio de um fotômetro de reflexão pela reação calorimétrica do medidor lactato-oxidase. 3.4. Análise de Glicose Utilizando-se luvas e após assepsia local com álcool, será realizada a coleta de sangue por meio de lancetas descartáveis. Serão utilizadas fitas para determinação da glicose a partir do analisador portátil (ACCUCHECK, Roche®), que fornece resultado da glicose em apenas 5 segundos. 3.5. Medição do Sono (recuperação pós-exercício – RPE) Através do uso de pulseiras de medição (MIBAND 2, Xiaomi®) doadas pelo INSTITUTO FOCCUS DE ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO E CULTURA, os atletas serão monitorados ao longo do período de estudo e os dados confrontados com os índices fisiológicos obtidos. 3.6. Tratamento Estatístico 4 Utilizara-se estatística descritiva, média e desvio padrão. Todas as análises serão realizadas através do SPSS para Windows versão (15.0). 4. Resultados Esperados Espera-se um maior conhecimento em torno dos índices fisiológicos para os atletas da Faculdade de Medicina de Taubaté, contribuindo com a melhoria de desempenho dos atletas, juntamente com a melhora da qualidade da saúde física e mental através do monitoramento do sono dos mesmos. 5. Referencias NEWSHOLME E, LEECH T, DUESTER G. Corrida – Ciência do treinamento e desempenho. Rio de Janeiro: Phorte; 2008. DENADAI BS. Determinação da intensidade relativa do esforço: consumo máximo de oxigênio ou resposta do lactato sanguíneo. Rev Bras Ativ Fís e Saúde 1999; 4: 77-81. CAPUTO F, LUCAS RD, MANCINI E, DENADAI BS. Comparação de diferentes índices obtidos em testes de campo para predição da performance aeróbia de curta duração no ciclismo. Rev Bras Ciên e Mov 2001; 9(4): 13-7. WASSERMAN DH, CONNOLLY CC, PAGLIASSOTTI MJ. Regulation of hepatic lactate balance during exercise. Med Sci Sports Exerc 1991; 23(6): 912-9. CABRERA ME, SAIDEL GM, KALHAN SC. Lactate metabolism during exercise: analysis by an integrative systems model. Am J Physiol 1999; 277(46): 1522-36. HAMANN J, J KELLEY KM, GLADDEN LB. Effect of epinephrine on net lactate uptake by contracting skeletal muscle. J Appl Physiol 2001; 91(6): 2635-41. WELTMAN A. The blood lactate response to exercise. Champaign: Human Kinetics; 1995. CONCONI F, FERRARI M, ZIGLIO P, DROGHETTI P, CODECA L. Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive field test in runners. J Appl Physiol 1982; 52(4): 869-873. POKAN R, HOFMANN P, LEHMANN M, LEITNER H, EBER B, GASSER R, et al. Heart rate deflection related to lactate performance curve and plasma catecholamine response during incremental cycle. Eur J Appl Physiol 1995; 7(2): 6319-27. TAYLOR AD, BRONKS R. Electromyografic correlates of the transition from aerobic to anaerobic metabolism in treadmill running. Eur J Appl Physiol 1994; 69: 508-15. NORTHUIS ME, HAHVORSEN DK, LEON AS. Blood glucose prediction of lactate 5 threshold. Med Sci Sports Exerc 1995; 27(5 Suppl 27). PINHEIRO DA. Estudo do limiar anaeróbico e de outros parâmetros cardiorrespiratórios frente a testes de avaliação funcional em atletas e em sedentários. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos; 1997. SIMÕES HG, CAMPBELL CS, BALDISSERA V, DENADAI BS, KOKUBUN E. Determinação do limiar anaeróbio por meio de dosagens glicêmicas e lactacidêmicas em testes de pista para corredores. Rev Paul Educ Fís 1998; 12(1): 17- 30. OLIVEIRA JC, BALDISSERA V, SIMÕES HG, PEREZ SE, AGUIAR AP, AZEVEDO PH, et al. Identificação do limiar de lactato e limiar glicêmico em exercícios resistidos. Rev Bras Med Esporte 2006; 12(6): 1-6. CANALI ES, KRUEL LF. Respostas hormonais ao exercício. Rev Paul Educ Fís 2001; 15(2): 141-53. SILVA PR, et al. Níveis de lactato sanguíneo, em futebolistas profissionais, verificados após o primeiro e o Segundo tempos em partidas de futebol. Acta Fisiátrica 2000; 7(2): 68-74. SAMUELS C. Sleep, recovery, and performance: the new frontier in high-performance athletics. Neurol Clin 2008; 26: 169–180. 6