1 Comparação entre abordagens fisioterapêuticas no tratamento do torcicolo muscular congênito Maria Vitória Bilobrovicz¹, Bruno Alexandre Domingues² 1 Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR); 2 Prof.° Bruno Alexandre Domingues Adjunto do Curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná. RESUMO: O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma condição caracterizada por um encurtamento unilateral do músculo esternocleidomastóideo, levando a uma inclinação lateral da cabeça e rotação cervical. A abordagem fisioterapêutica concentra-se em melhorar a amplitude de movimento do pescoço, promover simetria, ajustar o ambiente para facilitar o tratamento e oferecer orientações aos pais ou cuidadores. Objetivo: Comparar os desfechos de diferentes abordagens fisioterapêuticas no TMC. Metodologia: Foram realizadas buscas nas principais bases de dados e foram selecionados estudos que apresentavam intervenções fisioterapêuticas em pacientes de até 24 meses de idade com TMC. Resultados: As propostas terapêuticas apresentadas nos estudos foram variáveis, com resultados eficazes como os tratamentos com alongamento, mobilização dos tecidos moles e, em casos mais graves, as injeções de toxina botulínica (BTX). Assim como ineficazes, como a Kinesiology Taping® na reabilitação de pacientes com torcicolo muscular congênito. Conclusão: A fisioterapia mostra-se eficaz no tratamento do torcicolo muscular congênito, com grande destaque ao tratamento conservador, apresentando o alongamento como uma abordagem consistente, eficaz e não-invasiva. PALAVRAS-CHAVE: Child; Torticollis; Intermittent Torticollis; Musculoskeletal Manipulations; Osteopathic treatment; Physical therapy; Physiotherapy. 2 INTRODUÇÃO Atualmente, o Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é relatado como o 3º distúrbio musculoesquelético mais comum em recém-nascidos e bebês, variando de 0,3% a 2% dos recém-nascidos, e ficando atrás apenas da displasia do desenvolvimento do quadril e o pé torto congênito (ÖHMAN et al., 2013). Já no Brasil, essa taxa de incidência não se encontra clara já que está agrupada em “Outras malformações e deformidades congênitas do aparelho osteomuscular” no banco de dados do DATASUS. Neste grupo, em 2021, houve 2.603 casos em nascidos vivos, com sua maior incidência na região sudeste do país (DATASUS, 2018). O TMC é uma deformidade postural evidente logo após o nascimento, normalmente caracterizada por um encurtamento unilateral do músculo esternocleidomastóideo onde ocorre uma inclinação lateral da cabeça para um lado e rotação cervical para o lado oposto. (KAPLAN et al., 2018). A etiologia do TMC ainda não está claramente definida, porém, existem teorias que sugerem origem multifatorial, causado pela má posição intrauterina e tocotraumatismo associado à apresentação pélvica ou, ainda, um fator isquêmico que leva a uma síndrome compartimental, onde a pressão diminui o fluxo sanguíneo e priva o músculo do suprimento necessário. Já sua histopatologia, consiste na fibrose com deposição de colágeno e acúmulo de fibroblastos nas fibras musculares que levam a atrofia muscular (LEITE et al., 2019; GUNDRATHI et al., 2020). Como consequência a doença, podem acontecer alterações no desenvolvimento da criança, afetando controle de cabeça, alcançar algum objeto, engatinhar, rolar e habilidades de coordenação. A chama plagiocefalia posicional também poderá estar associada, ocorrendo o aplainamento unilateral do crânio relacionada ao lado preferido da rotação da cabeça (WANG; LEE, 2021). Segundo a revisão sistemática feita por Heidenreich et al. (2018), o tratamento fisioterapêutico, se iniciado antes do primeiro mês de vida, apresenta um prognóstico de 98% da amplitude de movimento cervical normal em um mês e meio de tratamento, entretanto, se iniciado entre o primeiro e terceiro mês de vida, essa porcentagem acaba sendo de 89% com 6 meses de tratamento fisioterapêutico. Esperar até depois dos 6 meses pode exigir de 9 a 10 meses de intervenção fisioterapêutica, com progressivamente menos bebês atingindo a faixa normal. Portanto, quanto mais tarde se inicia o tratamento, mais este prognóstico decresce e a sua duração aumenta. De modo geral, a prática clínica de fisioterapia no TMC centraliza-se na 3 amplitude de movimento passiva do pescoço, amplitude de movimento ativo do pescoço e tronco, desenvolvimento de movimento simétrico, adaptações ambientais e educação dos pais/cuidadores (LEE et al., 2017 e KAPLAN et al., 2018). Com o exposto, o presente estudo objetiva desenvolver uma revisão integrativa da literatura acerca de intervenções fisioterapêuticas no torcicolo muscular congênito, assim como o comparativo de seus desfechos, tendo em vista as diferentes abordagens propostas, seja ela baseada em técnicas de terapia manual, exercícios terapêuticos ou uma combinação delas, e sua eficácia na melhora da amplitude de movimento da cervical, taxa e tempo de recuperação e prevenção de complicações da criança com Torcicolo Muscular congênito. METODOLOGIA O método de pesquisa utilizado neste estudo trata-se de uma revisão da literatura, originando novos conhecimentos a partir dos desfechos expostos em estudos já existentes. As fontes acadêmicas utilizadas para esta análise foram coletadas de bases de dados renomadas, incluindo LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde), PubMed, SciELO (Scientific Eletronic Linrary Online) e PEDro (Physiotherapy Evidence Database). Para isso, traçou- se uma pergunta norteadora através da estratégia PICO (População, Intervenção, Contextualização e Resultados – outcomes): "Entre lactentes diagnosticados com torcicolo muscular congênito, qual é a eficácia comparativa das diferentes abordagens fisioterapêuticas na melhora da amplitude de movimento da cervical, taxa e tempo de recuperação e prevenção de complicações?". E foram empregados termos-chave como: Child; Torticollis; Manual Therapy; Osteopathic treatment; Physical therapy; Physiotherapy, assim como seus equivalentes em português e espanhol. Os critérios de inclusão abrangeram estudos publicados no período de 2013 a 2023, pesquisas envolvendo apenas lactentes (até 24 meses), estudos centrados apenas no papel da fisioterapia no tratamento e recuperação de lactentes afetados pelo torcicolo muscular congênito. Além disso, também foi considerada a utilização de intervenções fisioterapêuticas específicas e o relato de desfechos clínicos relevantes, como a melhoria da mobilidade cervical, tempo de recuperação, taxa de sucesso e 4 prevenção de complicações. Quanto aos critérios de exclusão, foram excluídas publicações anteriores a 2013, artigos de acesso limitado, revisões sistemáticas, metanálises e outros tipos de revisão. Da mesma forma, estudos que não se concentraram especificamente na contribuição da fisioterapia para a recuperação de pacientes com torcicolo muscular congênito também foram rejeitados. Cada artigo selecionado passou por uma avaliação para compreensão, levando em conta o ano de publicação e a metodologia empregada. Após esse processo, os artigos escolhidos foram organizados em uma tabela para análise. Durante a análise, foram considerados aspectos como os objetivos principais dos estudos, grupos de pacientes envolvidos nas intervenções, as próprias intervenções e os desfechos finais alcançados. RESULTADOS Foram utilizadas 4 bases de dados, onde foram encontrados um total de 40 artigos (Imagem 1), sendo selecionados 5 artigos para análise (Tabela 1). Imagem 1 – fluxograma dos critérios de elegibilidade. 5 Autor He L. et al Ano Objetivo Tipo de estudo 2017 Comparar a eficácia Prospectivo a curto prazo de randomizado duas doses de controlado. alongamento nos resultados clínicos em bebês com TMC por meio de um procedimento de medição multinível bem projetado. Keklicek H. et al 2018 Avaliar a eficácia do uso da mobilização dos tecidos moles para tratar o torcicolo muscular congênito em bebês com inclinação leve a moderada da cabeça. Controlado randomizado. Amostra Metodologia Resultados Conclusão Os bebês foram aleatoriamente Após o tratamento, ambos os grupos O tratamento de alongamento de 2 designados para o grupo de alongamento apresentaram melhorias significativas dosagens pode 26 bebês no grupo 100 vezes e o grupo de alongamento 50 em relação aos resultados medidos no efetivamente de 100 vezes no ECM afetado. Sendo realizados início do estudo (P < 0,05). Exceto pela proporção dos escores da escala de alongamentos e 24 melhorar a inclinação 10 alongamentos manuais por sessão, função muscular. da cabeça, a bebês no grupo de mantido por 10 a 15 s, dependendo da O grupo que realizou o alongamento amplitude de 50 alongamentos. tolerância do bebê. Eles receberam o 100 vezes por dia mostrou uma melhora movimento passiva tratamento em 10 sessões ou 5 sessões maior na inclinação da cabeça e na cervical e o por dia. amplitude de movimento do pescoço em crescimento do (N = 50) comparação com o grupo que realizou o músculo Os resultados foram avaliados no início e alongamento 50 vezes por dia após 4 e esternocleidomastóid após 4 e 8 semanas de tratamento. O 8 semanas de tratamento (P < 0,05). eo em lactentes com crescimento do músculo torcicolo muscular esternocleidomastóideo, analisado pela congênito. É proporção de espessura, foi medido por provável que o ultrassonografia, a inclinação da cabeça e tratamento de a amplitude de movimento passiva alongamento de 100 vezes por dia se cervical foram medidas usando um associe a uma maior goniômetro transferidor artrodial grande e melhora na a função muscular pela escala de função inclinação da cabeça muscular. e na amplitude de movimento passivo cervical. (N = 29) Ambos apresentaram melhorias As técnicas de Ambos os grupos receberam um significativas em todos os parâmetros mobilização dos programa domiciliar básico medidos (p < 0,05). tecidos moles são Bebês com idade (posicionamento, estratégias de manejo, exercícios de alongamento e eficazes na obtenção entre 0-6 meses. de resultados Grupo controle de fortalecimento, adaptações ambientais). Na comparação entre os grupos, houve diferenças em seis semanas em favor positivos mais O grupo de estudo também recebeu a 6 meninas e 9 do Grupo estudo para rotação do mobilização dos tecidos moles três rápidos no meninos e grupo pescoço (0,001) e inclinação da cabeça tratamento do TMC. vezes por semana. de estudo de 7 (0,006), mas após 12 semanas e no meninas e 7 meninos. Os bebês foram avaliados inicialmente, acompanhamento posterior, não houve mais diferenças entre os grupos em em 6 semanas, em 12 semanas e para nenhum dos parâmetros medidos acompanhamento em 18 semanas com escala de função muscular, inclinação da cabeça e amplitude de movimento para flexão lateral e rotação do pescoço. 6 Giray E. et al 2016 Investigar os efeitos da bandagem cinesiológica somadas aos exercícios terapêuticos no tratamento do torcicolo muscular congênito. Controlado randomizado, prospectivo, simples cego (N = 33) Grupo 1 (grupo de exercícios), Grupo 2 (exercício + bandagem cinesiológica Grupo 1: 11 aplicada no lado afetado) e Grupo 3 lactentes (exercício + bandagem cinesiológica aplicada nos lados afetado e não Grupo 2: 12 afetado). A bandagem foi aplicada com lactentes Grupo 3: 10 bebês 10-15% de tensão chamada paper off para inibição e facilitação. A fita cinesiológica foi aplicada após os exercícios uma vez a cada 3 dias, usada por três dias após a aplicação e substituída duas vezes por semana. Portanto; os bebês tiveram a bandagem de cinesiologia aplicada um total de 6 vezes durante um período de tratamento de 3 semanas. A análise das mudanças dentro do grupo ao longo do tempo revelou diferenças significativas para todas as variáveis de resultado em todos os grupos, exceto rotação cervical no Grupo 3 (P< 0,05). Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos em qualquer um dos pontos de tempo de acompanhamento para qualquer uma das variáveis de resultado (P>0,05). Não há efeito aditivo da bandagem cinesiológica aos exercícios para o tratamento do torcicolo muscular congênito. Amplitude de movimento em flexão lateral e rotação do pescoço, função muscular e grau de alterações craniofaciais foram avaliados no prétratamento, pós-tratamento e, 1 mês e 3 meses pós-tratamento. Song S. et al 2021 Identificar um método de fisioterapia eficaz para crianças com TMC menores de 3 meses de idade entre três tratamentos: manuseio para tratamento de movimento ativo ou ativo assistido, tratamento de alongamento passivo e termoterapia. Randomizado, simples-cego. (N = 66) Divididos em 3 grupos. O tratamento foi realizado 3 vezes por semana durante 30 minutos até que a inclinação da cabeça fosse de 5 graus, medindo com um goniômetro. O grupo 1 foi tratado com manipulação para movimento ativo ou ativo, o grupo 2 foi tratado com alongamento passivo e o grupo 3 foi tratado com termoterapia. Após a intervenção, não houve diferença significativa entre os grupos quanto à espessura do ECM do lado afetado em relação ao lado não afetado (P>0,05). O grau de rotação da cabeça no lado afetado apresentou diferenças significativas entre os grupos (P<0,05), com o Grupo 2 apresentando resultados significativamente melhores do que o grupo 1 e o grupo 3 (P<0,05 ambos). O tratamento de alongamento passivo foi mais eficaz do que outros tratamentos deste estudo para melhorar o grau de rotação da cabeça em crianças com CMT com menos de 3 meses de idade. 7 Limpaphayo m N. et al 2018 Revisar os resultados clínicos de um protocolo realizado de 2010 a 2015 relatados pelos cuidadores de crianças com TMC resistente que foram tratadas com injeção de BTX combinada com um programa de fisioterapia guiado. Estudo longitudinal (N = 39) Para este estudo, foram analisados os Nenhum paciente necessitou de cirurgia O protocolo de alongamento do tendão. Na minimamente invasivo prontuários de crianças com TMC Bebês com idade resistente e com indicação cirúrgica que avaliação final, houve melhora tanto na proposto proporcionou média de 14 foram tratadas de acordo com o protocolo inclinação da cabeça (P <0,001) quanto correção do TMC meses. entre os anos de 2010 e 2015. Foi exigido na amplitude de movimento do pescoço resistente e eliminou a necessidade de um acompanhamento de, no mínimo, 2 (P <0,001). Os parâmetros pré-BTX não estavam associados à necessidade de procedimentos anos. Durante a revisão, foram injeções repetidas de BTX (P> 0,05). Os cirúrgicos mais registrados a quantidade de injeções de cuidadores estavam satisfeitos com o invasivos. toxina botulínica (BTX) necessárias, bem protocolo de tratamento. Nenhum efeito como a inclinação da cabeça antes e adverso foi observado durante o período após a administração de BTX, além da do estudo. amplitude de rotação do pescoço. A fisioterapia pós-BTX foi iniciada imediatamente após a injeção. Os pacientes participaram de sessões de fisioterapia pelo menos duas vezes por semana e receberam instruções sobre regimes de alongamento, fortalecimento e uso de colar para torcicolo. Para identificar as variáveis relacionadas à necessidade de repetidas injeções de BTX, foram feitas entrevistas telefônicas com os cuidadores para avaliar o nível de satisfação deles com o tratamento. Tabela 1 – resultados dos artigos analisado 8 DISCUSSÃO O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma condição comum em recémnascidos. No contexto da prática clínica de fisioterapia, o foco central está na implementação de intervenções que visam melhorar a amplitude de movimento do pescoço, promover movimentos simétricos e proporcionar adaptações ambientais, tudo isso enquanto se envolve ativamente os pais e cuidadores no processo de tratamento. De acordo com a metologia proposta, os achados foram analisados e interpretados, mostrando as práticas mais eficazes e promissoras para o manejo dessa condição em bebês. No estudo de Lu He et al (2017) a aplicabilidade de dois programas de alongamento, com diferentes doses mostrou melhorias significativas em relação aos resultados medidos no início do estudo (P<0,05). O alongamento regular, especialmente quando aplicado 100 vezes por dia, resultou em melhorias substanciais na inclinação da cabeça e na amplitude de movimento passiva cervical em comparação com o grupo que realizou o alongamento com dose de 50 vezes por dia. A espessura do músculo esternocleidomastóideo, foi medida por ultrassonografia, a inclinação da cabeça e a amplitude de movimento passiva cervical foram medidas usando um goniômetro e a função muscular pela escala de função muscular. Houve melhoras significativas da postura de inclinação da cabeça, onde em 8 semanas, o grupo com maior dosagem chegou de 22° a 5° em média. Portanto, tal estudo demonstrou a eficácia de um simples, mas decisivo programa de alongamento, melhorando as condições funcionais de tais pacientes. Esses resultados demonstraram o importante papel do fisioterapeuta também como um consultor, ensinando e conduzindo os cuidadores a participar ativamente do processo de recuperação, otimizando a melhora do lactante com TMC não só dentro de clínicas, como também em casa. Hilal K. et al. (2018) investigaram a eficácia da mobilização dos tecidos moles no tratamento do TMC em bebês com inclinação leve a moderada da cabeça. Essa mobilização foi divida em três fases, sendo a primeira aplicada com uma pressão suave, evoluindo para a mobilização com alongamento e por último, o bebê é estimulado a fazer rotação cervical ativa para o lado afetado por meio de chamar a atenção do bebê com brinquedos coloridos e sonoros. Eles observaram que as técnicas de mobilização dos tecidos moles resultaram em melhorias significativas nas primeiras 6 semanas (p < 9 0,05), comparada a um programa de reabilitação conservadora composta de exercícios de alongamento, incluindo rotação do pescoço e inclinação da cabeça avaliadas com um goniômetro. Embora tenha havido diferenças favoráveis ao grupo de estudo inicialmente, essas diferenças não se mantiveram após 12 semanas, sugerindo que a mobilização dos tecidos moles pode resultar em melhorias mais rápidas dos padrões de movimento do pescoço, contribuindo dessa forma com a redução de possíveis complicações, mas que os resultados podem se nivelar ao longo do tempo. Esra G. et al. (2016) realizaram um estudo sobre os efeitos da bandagem cinesiológica em conjunto com exercícios terapêuticos no tratamento do TMC em bebês. A fita cinesiológica foi aplicada após os exercícios uma vez a cada 3 dias, o grupo 1 recebeu apenas exercícios, grupo 2 recebeu a bandagem cinesiológica aplicada no lado afetado usando técnica de inibição além dos exercícios, já o grupo 3 adicionalmente a bandagem cinesiológica aplicada no lado não afetado recebeu técnicas de facilitação e no lado afetado usando técnica de inibição. Amplitude de movimento em flexão lateral e rotação do pescoço, função muscular e grau de alterações craniofaciais foram avaliados no pré-tratamento, pós-tratamento e, 1 mês e 3 meses pós-tratamento. A justificativa dada foi ao fato de fornecer um feedback sensorial aos grupos com a aplicação da fita, no entanto, não encontraram diferenças significativas entre os grupos que receberam a bandagem cinesiológica diante a esses termos. Portanto, concluíram que a bandagem cinesiológica não teve efeito aditivo nos resultados do tratamento do TMC (P>0,05). Seonghyeok S. et al. (2021) decidiram comparar três métodos de fisioterapia no tratamento do TMC em bebês com menos de 3 meses de idade. O tratamento foi realizado 3 vezes por semana durante 30 minutos até que a inclinação da cabeça fosse de 5 graus, a qual foi medida com um goniômetro. O grupo 1 foi tratado com manipulação para movimento ativo ou ativo-assistido usando posicionamento, rastreamento ocular, reflexo tônico do pescoço e reação de endireitamento; o grupo 2 foi tratado com alongamento passivo, onde, na posição supina, foram realizadas flexão lateral e rotação do lado oposto pelo terapeuta para alongamento lento do ECM encurtado, mantido por 10 segundos na amplitude final do movimento; e o grupo 3 foi tratado com termoterapia, sendo optada pela ultrassonografia terapêutica realizada em 10 3MHz, 1 a 5W/cm2 com uma sonda Doppler de 1 cm por 30 minutos. Seus resultados indicaram que o tratamento de alongamento passivo foi mais eficaz do que a manipulação e a termoterapia diante ao grau de rotação da cabeça no lado afetado (P<0,05). No grupo 1, a média de mudança foi de 20° com um desvio padrão de 9,00. No grupo 2, a média de mudança foi de 25,71° com um desvio padrão de 4,27. Por fim, no grupo 3, a média de mudança foi de 15° com um desvio padrão de 4,33. Sugerindo novamente que o alongamento passivo pode ser uma abordagem mais eficaz para o tratamento precoce do TMC em bebês. Diante a casos mais resistentes, onde o tratamento conservador já não está sendo eficaz, Noppachart L. et al. (2018) demonstrou que o protocolo de injeções de toxina botulínica (BTX) combinado com fisioterapia foi capaz de proporcionar melhorias significativas na inclinação da cabeça e na amplitude de movimento do pescoço em casos complexos de TMC, objetivando evitar procedimentos mais invasivos, como a correção cirúrgica. Para tal estudo, foi exigido um acompanhamento de no mínimo 2 anos. E, durante a revisão, foram registrados a quantidade de injeções necessárias, bem como a inclinação da cabeça antes e após a administração de BTX, além da amplitude de rotação do pescoço. A fisioterapia foi iniciada imediatamente após a injeção. Os pacientes participaram de sessões de fisioterapia pelo menos duas vezes por semana e receberam instruções sobre regimes de alongamento, fortalecimento e uso de colar para torcicolo. Após a revisão de prontuários e ligações para os cuidadores, foi identificado que nenhum paciente necessitou de cirurgia. Na avaliação final, houve melhora tanto na inclinação da cabeça (P<0,001) quanto na amplitude de movimento do pescoço (P <0,001). No caso dos graus de inclinação da cabeça, a média de melhoria foi de 16,9°, com um desvio padrão de 6,7 em relação à posição inicial. A variação dos resultados foi de 5 a 34 graus, indicando que alguns pacientes apresentaram melhorias menores e outros apresentaram melhorias mais significativas. Da mesma forma, para o alcance de rotação do pescoço, a média de melhoria foi de 29,7°, com um desvio padrão de 11,1 em comparação com a condição inicial. A variação dos resultados foi de 10 a 55 graus. Não houve diferença significativa entre o grupo de pacientes com deformidade grave (déficit de rotação do pescoço >30°) e o grupo com déficit de rotação do pescoço <30° no início do programa de tratamento. Mais injeções repetidas de BTX não foram necessárias e não obtiveram associação com os parâmetros pré-BTX (P> 0,05). Existem riscos em continuar a fisioterapia quando se há 11 pouco progresso, como uma possível lesão ao músculo esternocleidomastoideo, o qual é relatado em aproximadamente 9% das crianças com menos de 1 ano que passaram por alongamento manual padrão para tratamento do torcicolo congênito em uma série de casos. O BTX pode aumentar a capacidade de alongamento do músculo contraído, ao mesmo tempo em que permite a recuperação da força dos músculos contralaterais . Nos artigos discutidos, houve uma grande diversidade de protocolos utilizados na reabilitação, a maioria utilizou tratamentos voltados para promover a melhora da mobilidade cervical, com a rotação e inclinação da cabeça e uma simetria evidente. Grande parte dos autores utilizaram como método de avaliação a escala de função muscular (MFS do inglês Motor Function Scale), que é uma escala visual que interpreta a resposta de correção do bebê, descrevendo a função muscular dos flexores laterais do pescoço e um goniômetro transferidor artrodial para avaliar os graus de rotação e inclinação, os quais são importantes para determinar a condição individual de cada paciente, mesmo que muitos não tenham apresentado os resultados concretos baseado na escala, assim como os graus de modificação. Os resultados dos estudos utilizados na revisão vão de encontro com o guideline atual, proposto por Kaplan et. Al, onde mencionam que o alongamento manual continua sendo a forma de intervenção mais relatada para TMC, não havendo consenso sobre as técnicas para realizar os alongamentos, o número de repetições, a duração e períodos de descanso. Mas que comumente são demonstradas diversas melhorias, sendo uma prática conservadora, eficaz e não invasiva. Eles destacam o fato de que o alongamento não deve ser doloroso, sendo que, os fisioterapeutas devem observar comportamentos que reflitam desconforto ou dor nos bebês durante os exames. A dor não é tipicamente associada à apresentação inicial do torcicolo, mas pode estar associada ao alongamento passivo, fazendo o bebê chorar em resposta ao manuseio do terapeuta. Por fim, como relatado anteriormente por Heidenreich et al. (2018), a antecedência da busca por um tratamento é essencial, e aguardar até os seis meses pode resultar em uma necessidade de intervenção fisioterapêutica maior que o esperado, com uma diminuição progressiva no número de bebês que atingem a faixa normal. Portanto, iniciar o tratamento mais tarde não apenas diminui o prognóstico da amplitude de movimento cervical, mas também prolonga sua duração. 12 CONCLUSÃO Com base a essa discussão, podemos destacar o alongamento como uma abordagem mais consistente e eficaz, apresentando um maior embasamento científico e reduzindo a duração do tratamento para alcançar a amplitude de movimento adequada para a idade, diminuindo os sintomas e prevenindo complicações como deformidades craniofaciais secundárias ao TMC. Pode-se considerar tal abordagem como um pilar central, enquanto outras abordagens, como a mobilização de tecidos moles ou a aplicação de toxina botulínica podem ser incorporadas de forma complementar em casos específicos diante a duração dos tratamentos. Resumidamente, o tratamento conservador para o torcicolo muscular congênito é considerado o método mais eficaz, especialmente se iniciado antes do primeiro ano de vida, com prognósticos ainda mais favoráveis se iniciado nos primeiros meses. Nesse contexto, a fisioterapia desempenha um papel crucial, exigindo abordagens baseadas em evidências para otimizar o tratamento e o planejamento personalizado. 13 REFERÊNCIAS DATASUS. MS/SVS/DASIS – Sistema de informações sobre nascidos vivos – SINASC, 2021. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def Giray E, Karadag-Saygi E, Mansiz-Kaplan B, Tokgoz D, Bayindir O, Kayhan O. 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