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TCC MAVI

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Comparação entre abordagens fisioterapêuticas no tratamento do
torcicolo muscular congênito
Maria Vitória Bilobrovicz¹, Bruno Alexandre Domingues²
1 Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR);
2 Prof.° Bruno Alexandre Domingues Adjunto do Curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti
do Paraná.
RESUMO: O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma condição caracterizada por
um encurtamento unilateral do músculo esternocleidomastóideo, levando a uma
inclinação lateral da cabeça e rotação cervical. A abordagem fisioterapêutica
concentra-se em melhorar a amplitude de movimento do pescoço, promover simetria,
ajustar o ambiente para facilitar o tratamento e oferecer orientações aos pais ou
cuidadores. Objetivo: Comparar os desfechos de diferentes abordagens
fisioterapêuticas no TMC. Metodologia: Foram realizadas buscas nas principais
bases de dados e foram selecionados estudos que apresentavam intervenções
fisioterapêuticas em pacientes de até 24 meses de idade com TMC. Resultados: As
propostas terapêuticas apresentadas nos estudos foram variáveis, com resultados
eficazes como os tratamentos com alongamento, mobilização dos tecidos moles e,
em casos mais graves, as injeções de toxina botulínica (BTX). Assim como ineficazes,
como a Kinesiology Taping® na reabilitação de pacientes com torcicolo muscular
congênito. Conclusão: A fisioterapia mostra-se eficaz no tratamento do torcicolo
muscular congênito, com grande destaque ao tratamento conservador, apresentando
o alongamento como uma abordagem consistente, eficaz e não-invasiva.
PALAVRAS-CHAVE: Child; Torticollis; Intermittent Torticollis; Musculoskeletal
Manipulations; Osteopathic treatment; Physical therapy; Physiotherapy.
2
INTRODUÇÃO
Atualmente, o Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é relatado como o 3º
distúrbio musculoesquelético mais comum em recém-nascidos e bebês, variando de
0,3% a 2% dos recém-nascidos, e ficando atrás apenas da displasia do
desenvolvimento do quadril e o pé torto congênito (ÖHMAN et al., 2013). Já no Brasil,
essa taxa de incidência não se encontra clara já que está agrupada em “Outras
malformações e deformidades congênitas do aparelho osteomuscular” no banco de
dados do DATASUS. Neste grupo, em 2021, houve 2.603 casos em nascidos vivos,
com sua maior incidência na região sudeste do país (DATASUS, 2018).
O TMC é uma deformidade postural evidente logo após o nascimento,
normalmente
caracterizada
por
um
encurtamento
unilateral
do
músculo
esternocleidomastóideo onde ocorre uma inclinação lateral da cabeça para um lado e
rotação cervical para o lado oposto. (KAPLAN et al., 2018). A etiologia do TMC ainda
não está claramente definida, porém, existem teorias que sugerem origem multifatorial,
causado pela má posição intrauterina e tocotraumatismo associado à apresentação
pélvica ou, ainda, um fator isquêmico que leva a uma síndrome compartimental, onde
a pressão diminui o fluxo sanguíneo e priva o músculo do suprimento necessário. Já
sua histopatologia, consiste na fibrose com deposição de colágeno e acúmulo de
fibroblastos nas fibras musculares que levam a atrofia muscular (LEITE et al., 2019;
GUNDRATHI et al., 2020). Como consequência a doença, podem acontecer alterações
no desenvolvimento da criança, afetando controle de cabeça, alcançar algum objeto,
engatinhar, rolar e habilidades de coordenação. A chama plagiocefalia posicional
também poderá estar associada, ocorrendo o aplainamento unilateral do crânio
relacionada ao lado preferido da rotação da cabeça (WANG; LEE, 2021).
Segundo a revisão sistemática feita por Heidenreich et al. (2018), o tratamento
fisioterapêutico, se iniciado antes do primeiro mês de vida, apresenta um prognóstico
de 98% da amplitude de movimento cervical normal em um mês e meio de tratamento,
entretanto, se iniciado entre o primeiro e terceiro mês de vida, essa porcentagem acaba
sendo de 89% com 6 meses de tratamento fisioterapêutico. Esperar até depois dos 6
meses pode exigir de 9 a 10 meses de intervenção fisioterapêutica, com
progressivamente menos bebês atingindo a faixa normal. Portanto, quanto mais tarde
se inicia o tratamento, mais este prognóstico decresce e a sua duração aumenta.
De modo geral, a prática clínica de fisioterapia no TMC centraliza-se na
3
amplitude de movimento passiva do pescoço, amplitude de movimento ativo do
pescoço e tronco, desenvolvimento de movimento simétrico, adaptações ambientais e
educação dos pais/cuidadores (LEE et al., 2017 e KAPLAN et al., 2018).
Com o exposto, o presente estudo objetiva desenvolver uma revisão integrativa
da literatura acerca de intervenções fisioterapêuticas no torcicolo muscular congênito,
assim como o comparativo de seus desfechos, tendo em vista as diferentes abordagens
propostas, seja ela baseada em técnicas de terapia manual, exercícios terapêuticos ou
uma combinação delas, e sua eficácia na melhora da amplitude de movimento da
cervical, taxa e tempo de recuperação e prevenção de complicações da criança com
Torcicolo Muscular congênito.
METODOLOGIA
O método de pesquisa utilizado neste estudo trata-se de uma revisão da
literatura, originando novos conhecimentos a partir dos desfechos expostos em estudos
já existentes. As fontes acadêmicas utilizadas para esta análise foram coletadas de
bases de dados renomadas, incluindo LILACS (Literatura Latino-Americana em
Ciências da Saúde), PubMed, SciELO (Scientific Eletronic Linrary Online) e PEDro
(Physiotherapy Evidence Database).
Para isso, traçou- se uma pergunta norteadora através da estratégia PICO
(População, Intervenção, Contextualização e Resultados – outcomes): "Entre lactentes
diagnosticados com torcicolo muscular congênito, qual é a eficácia comparativa das
diferentes abordagens fisioterapêuticas na melhora da amplitude de movimento da
cervical, taxa e tempo de recuperação e prevenção de complicações?". E foram
empregados termos-chave como: Child; Torticollis; Manual Therapy; Osteopathic
treatment; Physical therapy; Physiotherapy, assim como seus equivalentes em
português e espanhol.
Os critérios de inclusão abrangeram estudos publicados no período de 2013 a
2023, pesquisas envolvendo apenas lactentes (até 24 meses), estudos centrados
apenas no papel da fisioterapia no tratamento e recuperação de lactentes afetados pelo
torcicolo muscular congênito. Além disso, também foi considerada a utilização de
intervenções fisioterapêuticas específicas e o relato de desfechos clínicos relevantes,
como a melhoria da mobilidade cervical, tempo de recuperação, taxa de sucesso e
4
prevenção de complicações.
Quanto aos critérios de exclusão, foram excluídas publicações anteriores a 2013,
artigos de acesso limitado, revisões sistemáticas, metanálises e outros tipos de revisão.
Da mesma forma, estudos que não se concentraram especificamente na contribuição
da fisioterapia para a recuperação de pacientes com torcicolo muscular congênito
também foram rejeitados. Cada artigo selecionado passou por uma avaliação para
compreensão, levando em conta o ano de publicação e a metodologia empregada.
Após esse processo, os artigos escolhidos foram organizados em uma tabela
para análise. Durante a análise, foram considerados aspectos como os objetivos
principais dos estudos, grupos de pacientes envolvidos nas intervenções, as próprias
intervenções e os desfechos finais alcançados.
RESULTADOS
Foram utilizadas 4 bases de dados, onde foram encontrados um total de 40
artigos (Imagem 1), sendo selecionados 5 artigos para análise (Tabela 1).
Imagem 1 – fluxograma dos critérios de elegibilidade.
5
Autor
He L. et al
Ano
Objetivo
Tipo de estudo
2017 Comparar a eficácia Prospectivo
a curto prazo de
randomizado
duas doses de
controlado.
alongamento nos
resultados clínicos
em bebês com TMC
por meio de um
procedimento de
medição multinível
bem projetado.
Keklicek H. et al 2018 Avaliar a eficácia do
uso da mobilização
dos tecidos moles
para tratar o
torcicolo muscular
congênito em bebês
com inclinação leve
a moderada da
cabeça.
Controlado
randomizado.
Amostra
Metodologia
Resultados
Conclusão
Os bebês foram aleatoriamente
Após o tratamento, ambos os grupos
O tratamento de
alongamento de 2
designados para o grupo de alongamento apresentaram melhorias significativas
dosagens pode
26 bebês no grupo 100 vezes e o grupo de alongamento 50 em relação aos resultados medidos no
efetivamente
de 100
vezes no ECM afetado. Sendo realizados início do estudo (P < 0,05). Exceto pela
proporção
dos
escores
da
escala
de
alongamentos e 24
melhorar
a inclinação
10 alongamentos manuais por sessão,
função
muscular.
da
cabeça,
a
bebês no grupo de
mantido por 10 a 15 s, dependendo da
O grupo que realizou o alongamento
amplitude de
50 alongamentos.
tolerância do bebê. Eles receberam o
100 vezes por dia mostrou uma melhora movimento passiva
tratamento em 10 sessões ou 5 sessões
maior na inclinação da cabeça e na
cervical e o
por dia.
amplitude de movimento do pescoço em
crescimento do
(N = 50)
comparação com o grupo que realizou o
músculo
Os resultados foram avaliados no início e
alongamento 50 vezes por dia após 4 e esternocleidomastóid
após 4 e 8 semanas de tratamento. O
8 semanas de tratamento (P < 0,05). eo em lactentes com
crescimento do músculo
torcicolo muscular
esternocleidomastóideo, analisado pela
congênito. É
proporção de espessura, foi medido por
provável que o
ultrassonografia, a inclinação da cabeça e
tratamento de
a amplitude de movimento passiva
alongamento de 100
vezes por dia se
cervical foram medidas usando um
associe a uma maior
goniômetro transferidor artrodial grande e
melhora na
a função muscular pela escala de função
inclinação
da cabeça
muscular.
e na amplitude de
movimento passivo
cervical.
(N = 29)
Ambos apresentaram melhorias
As técnicas de
Ambos os grupos receberam um
significativas em todos os parâmetros
mobilização dos
programa domiciliar básico
medidos (p < 0,05).
tecidos moles são
Bebês com idade (posicionamento, estratégias de manejo,
exercícios de alongamento e
eficazes na obtenção
entre 0-6 meses.
de resultados
Grupo controle de fortalecimento, adaptações ambientais). Na comparação entre os grupos, houve
diferenças em seis semanas em favor
positivos mais
O grupo de estudo também recebeu a
6 meninas e 9
do Grupo estudo para rotação do
mobilização dos tecidos moles três
rápidos no
meninos e grupo
pescoço (0,001) e inclinação da cabeça tratamento do TMC.
vezes por semana.
de estudo de 7
(0,006), mas após 12 semanas e no
meninas e 7
meninos.
Os bebês foram avaliados inicialmente, acompanhamento posterior, não houve
mais diferenças entre os grupos em
em 6 semanas, em 12 semanas e para
nenhum dos parâmetros medidos
acompanhamento em 18 semanas com
escala de função muscular, inclinação
da cabeça e amplitude de movimento
para flexão lateral e rotação do pescoço.
6
Giray E. et al
2016 Investigar os efeitos
da bandagem
cinesiológica
somadas aos
exercícios
terapêuticos no
tratamento do
torcicolo muscular
congênito.
Controlado
randomizado,
prospectivo,
simples cego
(N = 33)
Grupo 1 (grupo de exercícios), Grupo 2
(exercício + bandagem cinesiológica
Grupo 1: 11
aplicada no lado afetado) e Grupo 3
lactentes
(exercício + bandagem cinesiológica
aplicada nos lados afetado e não
Grupo 2: 12
afetado). A bandagem foi aplicada com
lactentes
Grupo 3: 10 bebês 10-15% de tensão chamada paper off
para inibição e facilitação. A fita
cinesiológica foi aplicada após os
exercícios uma vez a cada 3 dias,
usada por três dias após a aplicação e
substituída duas vezes por semana.
Portanto; os bebês tiveram a bandagem
de cinesiologia aplicada um total de 6
vezes durante um período de
tratamento de 3 semanas.
A análise das mudanças dentro do
grupo ao longo do tempo revelou
diferenças significativas para todas as
variáveis de resultado em todos os
grupos, exceto rotação cervical no
Grupo 3 (P< 0,05). Nenhuma
diferença significativa foi encontrada
entre os grupos em qualquer um dos
pontos de tempo de
acompanhamento para qualquer uma
das variáveis de resultado (P>0,05).
Não há efeito
aditivo da
bandagem
cinesiológica aos
exercícios para o
tratamento do
torcicolo muscular
congênito.
Amplitude de movimento em flexão
lateral e rotação do pescoço, função
muscular e grau de alterações
craniofaciais foram avaliados no prétratamento, pós-tratamento e, 1 mês e 3
meses pós-tratamento.
Song S. et al
2021
Identificar um
método de
fisioterapia eficaz
para crianças com
TMC menores de 3
meses de idade
entre três
tratamentos:
manuseio para
tratamento de
movimento ativo ou
ativo assistido,
tratamento de
alongamento
passivo e
termoterapia.
Randomizado,
simples-cego.
(N = 66)
Divididos em 3
grupos.
O tratamento foi realizado 3 vezes por
semana durante 30 minutos até que a
inclinação da cabeça fosse de 5
graus, medindo com um goniômetro.
O grupo 1 foi tratado com
manipulação para movimento ativo ou
ativo, o grupo 2 foi tratado com
alongamento passivo e o grupo 3 foi
tratado com termoterapia.
Após a intervenção, não houve
diferença significativa entre os
grupos quanto à espessura do ECM
do lado afetado em relação ao lado
não afetado (P>0,05). O grau de
rotação da cabeça no lado afetado
apresentou diferenças significativas
entre os grupos (P<0,05), com o
Grupo 2 apresentando resultados
significativamente melhores do que
o grupo 1 e o grupo 3 (P<0,05
ambos).
O tratamento de
alongamento
passivo foi mais
eficaz do que
outros
tratamentos
deste estudo
para melhorar o
grau de rotação
da cabeça em
crianças com
CMT com
menos de 3
meses de
idade.
7
Limpaphayo
m N. et al
2018
Revisar os
resultados clínicos
de um protocolo
realizado de 2010 a
2015 relatados pelos
cuidadores de
crianças com TMC
resistente que foram
tratadas com injeção
de BTX combinada
com um programa
de fisioterapia
guiado.
Estudo
longitudinal
(N = 39)
Para este estudo, foram analisados os Nenhum paciente necessitou de cirurgia
O protocolo
de alongamento do tendão. Na
minimamente invasivo
prontuários de crianças com TMC
Bebês com idade resistente e com indicação cirúrgica que avaliação final, houve melhora tanto na proposto proporcionou
média de 14
foram tratadas de acordo com o protocolo inclinação da cabeça (P <0,001) quanto correção do TMC
meses.
entre os anos de 2010 e 2015. Foi exigido na amplitude de movimento do pescoço resistente e eliminou a
necessidade de
um acompanhamento de, no mínimo, 2 (P <0,001). Os parâmetros pré-BTX não
estavam associados à necessidade de
procedimentos
anos. Durante a revisão, foram
injeções repetidas de BTX (P> 0,05). Os
cirúrgicos mais
registrados a quantidade de injeções de
cuidadores estavam satisfeitos com o
invasivos.
toxina botulínica (BTX) necessárias, bem protocolo de tratamento. Nenhum efeito
como a inclinação da cabeça antes e adverso foi observado durante o período
após a administração de BTX, além da
do estudo.
amplitude de rotação do pescoço.
A fisioterapia pós-BTX foi iniciada
imediatamente após a injeção. Os
pacientes participaram de sessões de
fisioterapia pelo menos duas vezes por
semana e receberam instruções sobre
regimes de alongamento, fortalecimento e
uso de colar para torcicolo.
Para identificar as variáveis relacionadas
à necessidade de repetidas injeções de
BTX, foram feitas entrevistas telefônicas
com os cuidadores para avaliar o nível de
satisfação deles com o tratamento.
Tabela 1 – resultados dos artigos analisado
8
DISCUSSÃO
O Torcicolo Muscular Congênito (TMC) é uma condição comum em recémnascidos. No contexto da prática clínica de fisioterapia, o foco central está na
implementação de intervenções que visam melhorar a amplitude de movimento do
pescoço, promover movimentos simétricos e proporcionar adaptações ambientais, tudo
isso enquanto se envolve ativamente os pais e cuidadores no processo de tratamento.
De acordo com a metologia proposta, os achados foram analisados e interpretados,
mostrando as práticas mais eficazes e promissoras para o manejo dessa condição em
bebês.
No estudo de Lu He et al (2017) a aplicabilidade de dois programas de
alongamento, com diferentes doses mostrou melhorias significativas em relação aos
resultados medidos no início do estudo (P<0,05). O alongamento regular,
especialmente quando aplicado 100 vezes por dia, resultou em melhorias substanciais
na inclinação da cabeça e na amplitude de movimento passiva cervical em comparação
com o grupo que realizou o alongamento com dose de 50 vezes por dia. A espessura
do músculo esternocleidomastóideo, foi medida por ultrassonografia, a inclinação da
cabeça e a amplitude de movimento passiva cervical foram medidas usando um
goniômetro e a função muscular pela escala de função muscular. Houve melhoras
significativas da postura de inclinação da cabeça, onde em 8 semanas, o grupo com
maior dosagem chegou de 22° a 5° em média. Portanto, tal estudo demonstrou a
eficácia de um simples, mas decisivo programa de alongamento, melhorando as
condições funcionais de tais pacientes. Esses resultados demonstraram o importante
papel do fisioterapeuta também como um consultor, ensinando e conduzindo os
cuidadores a participar ativamente do processo de recuperação, otimizando a melhora
do lactante com TMC não só dentro de clínicas, como também em casa.
Hilal K. et al. (2018) investigaram a eficácia da mobilização dos tecidos moles no
tratamento do TMC em bebês com inclinação leve a moderada da cabeça. Essa
mobilização foi divida em três fases, sendo a primeira aplicada com uma pressão suave,
evoluindo para a mobilização com alongamento e por último, o bebê é estimulado a
fazer rotação cervical ativa para o lado afetado por meio de chamar a atenção do bebê
com brinquedos coloridos e sonoros. Eles observaram que as técnicas de mobilização
dos tecidos moles resultaram em melhorias significativas nas primeiras 6 semanas (p <
9
0,05), comparada a um programa de reabilitação conservadora composta de exercícios
de alongamento, incluindo rotação do pescoço e inclinação da cabeça avaliadas com
um goniômetro. Embora tenha havido diferenças favoráveis ao grupo de estudo
inicialmente, essas diferenças não se mantiveram após 12 semanas, sugerindo que a
mobilização dos tecidos moles pode resultar em melhorias mais rápidas dos padrões
de movimento do pescoço, contribuindo dessa forma com a redução de possíveis
complicações, mas que os resultados podem se nivelar ao longo do tempo.
Esra G. et al. (2016) realizaram um estudo sobre os efeitos da bandagem
cinesiológica em conjunto com exercícios terapêuticos no tratamento do TMC em
bebês. A fita cinesiológica foi aplicada após os exercícios uma vez a cada 3 dias, o
grupo 1 recebeu apenas exercícios, grupo 2
recebeu a bandagem cinesiológica
aplicada no lado afetado usando técnica de inibição além dos exercícios, já o grupo 3
adicionalmente a bandagem cinesiológica aplicada no lado não afetado recebeu
técnicas de facilitação e no lado afetado usando técnica de inibição. Amplitude de
movimento em flexão lateral e rotação do pescoço, função muscular e grau de
alterações craniofaciais foram avaliados no pré-tratamento, pós-tratamento e, 1 mês e
3 meses pós-tratamento. A justificativa dada foi ao fato de fornecer um feedback
sensorial aos grupos com a aplicação da fita, no entanto, não encontraram diferenças
significativas entre os grupos que receberam a bandagem cinesiológica diante a esses
termos. Portanto, concluíram que a bandagem cinesiológica não teve efeito aditivo nos
resultados do tratamento do TMC (P>0,05).
Seonghyeok S. et al. (2021) decidiram comparar três métodos de fisioterapia no
tratamento do TMC em bebês com menos de 3 meses de idade. O tratamento foi
realizado 3 vezes por semana durante 30 minutos até que a inclinação da cabeça fosse
de 5 graus, a qual foi medida com um goniômetro. O grupo 1 foi tratado com
manipulação para movimento ativo ou ativo-assistido usando posicionamento,
rastreamento ocular, reflexo tônico do pescoço e reação de endireitamento; o grupo 2
foi tratado com alongamento passivo, onde, na posição supina, foram realizadas flexão
lateral e rotação do lado oposto pelo terapeuta para alongamento lento do ECM
encurtado, mantido por 10 segundos na amplitude final do movimento; e o grupo 3 foi
tratado com termoterapia, sendo optada pela ultrassonografia terapêutica realizada em
10
3MHz, 1 a 5W/cm2 com uma sonda Doppler de 1 cm por 30 minutos. Seus resultados
indicaram que o tratamento de alongamento passivo foi mais eficaz do que a
manipulação e a termoterapia diante ao grau de rotação da cabeça no lado afetado
(P<0,05). No grupo 1, a média de mudança foi de 20° com um desvio padrão de 9,00.
No grupo 2, a média de mudança foi de 25,71° com um desvio padrão de 4,27. Por fim,
no grupo 3, a média de mudança foi de 15° com um desvio padrão de 4,33. Sugerindo
novamente que o alongamento passivo pode ser uma abordagem mais eficaz para o
tratamento precoce do TMC em bebês.
Diante a casos mais resistentes, onde o tratamento conservador já não está
sendo eficaz, Noppachart L. et al. (2018) demonstrou que o protocolo de injeções de
toxina botulínica (BTX) combinado com fisioterapia foi capaz de proporcionar melhorias
significativas na inclinação da cabeça e na amplitude de movimento do pescoço em
casos complexos de TMC, objetivando evitar procedimentos mais invasivos, como a
correção cirúrgica. Para tal estudo, foi exigido um acompanhamento de no mínimo 2
anos. E, durante a revisão, foram registrados a quantidade de injeções necessárias,
bem como a inclinação da cabeça antes e após a administração de BTX, além da
amplitude de rotação do pescoço. A fisioterapia foi iniciada imediatamente após a
injeção. Os pacientes participaram de sessões de fisioterapia pelo menos duas vezes
por semana e receberam instruções sobre regimes de alongamento, fortalecimento e
uso de colar para torcicolo. Após a revisão de prontuários e ligações para os cuidadores,
foi identificado que nenhum paciente necessitou de cirurgia. Na avaliação final, houve
melhora tanto na inclinação da cabeça (P<0,001) quanto na amplitude de movimento
do pescoço (P <0,001). No caso dos graus de inclinação da cabeça, a média de
melhoria foi de 16,9°, com um desvio padrão de 6,7 em relação à posição inicial. A
variação dos resultados foi de 5 a 34 graus, indicando que alguns pacientes
apresentaram melhorias menores e outros apresentaram melhorias mais significativas.
Da mesma forma, para o alcance de rotação do pescoço, a média de melhoria foi de
29,7°, com um desvio padrão de 11,1 em comparação com a condição inicial. A variação
dos resultados foi de 10 a 55 graus. Não houve diferença significativa entre o grupo de
pacientes com deformidade grave (déficit de rotação do pescoço >30°) e o grupo com
déficit de rotação do pescoço <30° no início do programa de tratamento. Mais injeções
repetidas de BTX não foram necessárias e não obtiveram associação com os
parâmetros pré-BTX (P> 0,05). Existem riscos em continuar a fisioterapia quando se há
11
pouco progresso, como uma possível lesão ao músculo esternocleidomastoideo, o qual
é relatado em aproximadamente 9% das crianças com menos de 1 ano que passaram
por alongamento manual padrão para tratamento do torcicolo congênito em uma série
de casos. O BTX pode aumentar a capacidade de alongamento do músculo contraído,
ao mesmo tempo em que permite a recuperação da força dos músculos contralaterais .
Nos artigos discutidos, houve uma grande diversidade de protocolos utilizados
na reabilitação, a maioria utilizou tratamentos voltados para promover a melhora da
mobilidade cervical, com a rotação e inclinação da cabeça e uma simetria evidente.
Grande parte dos autores utilizaram como método de avaliação a escala de função
muscular (MFS do inglês Motor Function Scale), que é uma escala visual que interpreta
a resposta de correção do bebê, descrevendo a função muscular dos flexores laterais
do pescoço e um goniômetro transferidor artrodial para avaliar os graus de rotação e
inclinação, os quais são importantes para determinar a condição individual de cada
paciente, mesmo que muitos não tenham apresentado os resultados concretos baseado
na escala, assim como os graus de modificação.
Os resultados dos estudos utilizados na revisão vão de encontro com o guideline
atual, proposto por Kaplan et. Al, onde mencionam que o alongamento manual continua
sendo a forma de intervenção mais relatada para TMC, não havendo consenso sobre
as técnicas para realizar os alongamentos, o número de repetições, a duração e
períodos de descanso. Mas que comumente são demonstradas diversas melhorias,
sendo uma prática conservadora, eficaz e não invasiva. Eles destacam o fato de que o
alongamento não deve ser doloroso, sendo que, os fisioterapeutas devem observar
comportamentos que reflitam desconforto ou dor nos bebês durante os exames. A dor
não é tipicamente associada à apresentação inicial do torcicolo, mas pode estar
associada ao alongamento passivo, fazendo o bebê chorar em resposta ao manuseio
do terapeuta.
Por fim, como relatado anteriormente por Heidenreich et al. (2018), a
antecedência da busca por um tratamento é essencial, e aguardar até os seis meses
pode resultar em uma necessidade de intervenção fisioterapêutica maior que o
esperado, com uma diminuição progressiva no número de bebês que atingem a faixa
normal. Portanto, iniciar o tratamento mais tarde não apenas diminui o prognóstico da
amplitude de movimento cervical, mas também prolonga sua duração.
12
CONCLUSÃO
Com base a essa discussão, podemos destacar o alongamento como uma
abordagem mais consistente e eficaz, apresentando um maior embasamento
científico e reduzindo a duração do tratamento para alcançar a amplitude de
movimento adequada para a idade, diminuindo os sintomas e prevenindo
complicações
como deformidades craniofaciais secundárias ao TMC. Pode-se
considerar tal abordagem como um pilar central, enquanto outras abordagens, como
a mobilização de tecidos moles ou a aplicação de toxina botulínica podem ser
incorporadas de forma complementar em casos específicos diante a duração dos
tratamentos.
Resumidamente, o tratamento conservador para o torcicolo muscular congênito
é considerado o método mais eficaz, especialmente se iniciado antes do primeiro ano
de vida, com prognósticos ainda mais favoráveis se iniciado nos primeiros meses.
Nesse contexto, a fisioterapia desempenha um papel crucial, exigindo abordagens
baseadas em evidências para otimizar o tratamento e o planejamento personalizado.
13
REFERÊNCIAS
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