Uploaded by leonardo henrique

TÉCNICA DE LEITURA ACADÊMICA

advertisement
TÉCNICA DE LEITURA ACADÊMICA
1. TEMA
Atitudes do homem referentes a sua moral e ao seu caráter.
2. TESE
Defende que a ética é a virtude ou a arte mestra para se alcançar a felicidade.
3. NOÇÕES
Eudaimonia / Virtude Intelectual / Virtude Moral / Temperança / Sumo Bem
/ Política / Alma / Sono / A Natureza dos Atos / Condutas Universais /
Condutas Particulares / Mediania / Homem Continente / Homem
Incontinente / Arte / Responsabilidade.
4. ARGUMENTOS
A obra Ética a Nicômaco de Aristóteles, informa sobre a prática das
virtudes, da moral e da ética na conduta humana, abrangendo a diversificação
cultural e formas distintas do homem pensar, além da importância da busca
pelo conhecimento e desenvolvimento dos hábitos. Aristóteles era
interessado no mundo pela forma que o homem o vê, destinado a evoluir com
o que a vida lhe proporciona. O que nos torna únicos, de acordo com o autor,
é a nossa capacidade de organizar a própria mente e comandar as próprias
ações.
“O sucesso depende do cumprimento da função”. O homem que organiza
a vida de acordo com as virtudes pode se tornar grandioso. Para termos uma
vida plena precisamos combinar ações com virtudes, refinando
constantemente a nós mesmos e desenvolvendo nossas habilidades. Mas,
afinal, o que é virtude para Aristóteles? A virtude é uma disposição de
caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, o
meio termo relativo a nós, a qual é determinado por um princípio racional
próprio do homem dotado de sabedoria e prática. “A virtude do homem
também será a disposição de caráter que o torna bom e que o faz
desempenhar bem a sua função”.
A ideia específica para conceituar virtude, é tomada por condutas e
comportamentos dignos diferenciados por fazer o bem como virtuoso ou a
escolha por fazer mal como uma atitude vil. Por condutas Aristóteles as
divide em universais e particulares, a primeira sendo mais vazia e a segunda
mais verdadeira, pois a conduta versa sobre casos individuais e nossas
proposições devem harmonizar-se com os fatos nesses casos. Também, ao
realizar qualquer tarefa que seja, devemos desempenha-la de modo honroso.
O que torna o homem virtuoso são os bons hábitos adquiridos ao longo da
vida, especialmente na juventude. O estudo é a nossa maior fonte de
felicidade, pois é estudando que o homem se conecta com a sua natureza
racional - aí a importância do estudo na juventude: para alcançar o bem é
necessário o conhecimento. A racionalidade se impõe a educação.
“Por virtude humana entendemos a da alma, e também à felicidade
chamamos uma atividade de alma”, isto é, a virtude e a felicidade vêm da
alma, da inteligência. De acordo com Aristóteles, a alma tem uma parte
racional e outra privada de razão. A parte irracional da alma funciona durante
o sono, quando estamos inativos de nossa alma e não somos nem bons e nem
maus, e ela age de acordo com os instintos humanos (como a fome e o
crescimento). O autor também cita sobre como é perigoso o irracional atuar
sobre o homem racional, ou seja, é a vontade ou o desejo de fugir do
caminho e desviar do propósito real. O que nos mantém (ou deve nos manter)
é a nossa dimensão racional.
Aristóteles afirma que a virtude é dividida entre: as morais (liberdade e
temperança) e as intelectuais (sabedoria filosófica, compreensão e sabedoria
prática). A virtude moral adquire-se com o hábito e não surge em nós de
forma natural. Somos adaptados por natureza a receber as virtudes e nos
tornarmos perfeitos pela prática do hábito. Nenhuma das virtudes morais
surge por natureza: “não é, pois, por natureza, nem contrariando a natureza
que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por
natureza a recebe-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito”. Já a virtude
intelectual se gera através do ensino e requer experiência e tempo, podendo
ser adequada de acordo com os interesses e alcance dos objetivos. Segundo
Aristóteles, “se conclui que o bem humano é a atividade das faculdades da
alma em conformidade com a virtude, ou se houver mais de uma, em
conformidade com a melhor e mais completa delas”. É na alma que se
encontram as paixões, faculdades e disposições de caráter. A virtude pertence
a disposições de caráter: “A virtude do homem também será a disposição de
caráter que o torna bom e que o faz desempenhar bem a sua função”.
Através da virtude moral os valores culturais são conscientizados desde o
início. Dela surge os princípios das faculdades do poder pátrio – respeito aos
indivíduos e sem preconceitos – e os costumes de forma deliberada –
momento pueril que contribuiu para a adequação na futura junção social. É
de sua natureza impor um elemento sentimental, afetivo, passional, que deve
ser governado pela razão, e não pode, todavia, ser completamente resolvido
na razão. “Virtude humana significa não a do corpo, mas a da alma”. A
característica da excelência do homem, seja em meio social, político ou
econômico, é seguir o meio termo.
A virtude intelectual é aquela obtida através da argumentação, da
comprovação e da eloquência, não se restringindo ao óbvio como resposta,
mas sim constituindo-se por alguém instruído à conclusões com o maior grau
de precisão, e feitas de várias metas norteadas por ações disciplinadas entre
paixões e razões. O homem se torna apto na observância de distinguir: “Um
homem, portanto, só é gramático quando faz algo pertencente à gramática e o
faz gramaticalmente; e isto significa fazê-lo de acordo com os conhecimentos
gramaticais que ele próprio possui”.
A etimologia da palavra “ética” vem do grego “ethos”, tendo como base a
filosofia moral como a arte de interpretar, observar de fora e questionar o
óbvio. Trata-se da união das condutas nobres, relacionadas a arte da retórica,
construir a argumentação com credibilidade, ser capaz de expressar um
posicionamento discursivo na busca pelo sucesso na oratória, na prudência,
na benevolência e na própria virtude. A felicidade é o ponto de partida da
ética para Aristóteles: ele acreditava que as pessoas são criaturas racionais
que tomam decisões que as levarão ao seu sumo último (o bem maior, o fim
de algo desejado). Embora a Eudaimonia seja frequentemente traduzida
como felicidade, também pode ser lida como “fazer bem”, “sucesso” ou
“florescimento”. O indivíduo detém uma noção pautada na mediania, isto é,
o equilíbrio, o que não é moderado demais em suas escolhas e tão pouco
busca o extremo, leva consigo uma coerência. “Com efeito, o indivíduo bom
é capaz de julgar corretamente cada classe de coisas, e a verdade se revela a
ele em cada um”.
Com base nisso, Aristóteles questiona e reflete a natureza de nossos atos e
a importância do equilíbrio. O igual é um meio termo entre o excesso e a
falta. Assim, um mestre em qualquer arte, isto é, sua habilidade com o seu
determinado fim, evita o excesso e a falta, buscando o meio termo e
escolhendo-o. O excesso e a falta destroem a excelência da arte, enquanto o
meio termo a preserva. O extremo não é virtude. De acordo com as
experiências que o homem vive ele se torna bom ou mau, agindo em busca
do que irá lhe proporcionar prazer. Os atos são objetos de escolha: ambos – o
mau e o bom – podem se apresentar como agradáveis. O agradável e o
doloroso cresceram conosco desde a nossa infância, e por isso é difícil conter
nossas paixões enraizadas em nossas vidas. E, alguns mais e outros menos,
medimos nossas próprias ações pelo estalão do prazer e da dor. Aristóteles
afirma que é pela prática de atos justos que se gera o homem justo. Sem essa
prática, ninguém teria sequer a possibilidade de tornar-se bom. Porém, a
maioria das pessoas não pensam ou fazem desta forma: refugiam-se na teoria
e pensam que estão sendo filósofos e se tornarão bons dessa maneira.
Podemos sim desejar algo, mas, para alcança-lo, devemos decidir tomar
determinadas ações, pois é a ação que formará nosso caráter. A pessoa que
age pelo apetite ou pelo o que lhe é agradável é a pessoa incontinente. A
pessoa continente faz o contrário, agindo segundo a decisão e de acordo com
os apetites. Com isso, o filósofo diz sobre a condição para a posse das
virtudes: “Em primeiro lugar deve ter conhecimento do que faz; em segundo,
deve escolher os atos, e escolhê-los por eles mesmos; e em terceiro, sua ação
deve proceder de um caráter firme e imutável”, isto é o conceito de
responsabilidade.
Aristóteles afirma que para obtermos a felicidade completa é necessário
possuir virtudes completas e uma vida completa. A felicidade se iguala as
ações bem-aventuradas, ou seja, corretas e medianas, como hábitos que
tornam alguém sábio, e poderá enfrentar a tudo com uma postura descente,
não podendo ser comparado com quem tem ações odiosas e vis, consideradas
práticas de pessoas infelizes. O indivíduo feliz estará sujeito à infelicidade ao
não praticar ações bem-aventuradas. Devemos agir sempre pelo racional,
usufruindo de ações em busca pela sabedoria e conhecimento para vivermos
de uma forma feliz. Aristóteles considerava o estudo como a maior fonte de
felicidade, pois nos permite a nossa conexão plena com a nossa natureza
racional. Atingimos o auge de sermos humanos estudando. Também, a
amizade faz parte de uma vida boa e plena por promover a partilha de
raciocínios e pensamentos. Ajudamos os amigos a alcançarem seus objetivos
e, ao fazê-lo, nossas habilidades racionais por nosso caráter são ampliados.
Naturalmente isso nos faz felizes. O homem precisa ser feliz na arte –
habilidades – que domina.
Todo ser tende à realização da sua natureza, à atualização plena da sua
forma: e nisto está o seu fim, o seu bem, a sua felicidade, e, por
consequência, a sua lei. Como a razão é a essência característica do homem,
sua natureza é viver consciente do seu racional e assim consegue ele a
felicidade e a virtude. Logo, o fim do homem é a felicidade, a que é
necessária à virtude, e a esta é necessária a razão. A característica
fundamental da moral aristotélica é, portanto, o racionalismo, visto ser a
virtude ação consciente segundo a razão, que exige o conhecimento absoluto
da natureza e do universo. A virtude ética não é, pois, razão pura, mas uma
aplicação da razão; não é unicamente ciência, mas uma ação com ciência.
5. COMENTÁRIOS
“... Para ser grande, sê inteiro,
Põe quanto és em tudo o que faz” – Fernando Pessoa.
Este trecho de poesia do Fernando Pessoa vai de acordo com as
ideias de Aristóteles, para quem a virtude, quando bem cultivada, leva o
ser humano à vida plena. Bons hábitos aprendidos desde a infância aliados
ao estudo e constante aperfeiçoamento compõem o ser moral e ético. Não
é à toa que estes conceitos são estudados e utilizados até hoje, de forma,
ao meu ver, correta. Princípios morais e éticos devem fazer parte da vida
em sociedade em todos os seus ramos. Uma vez que princípios morais
ajudam a consolidar valores culturais, a busca pela moral se faz
imprescindível, por exemplo, no respeito ao próximo. Ao praticar bons
hábitos, para o autor, melhoramos nossa moral rumo à perfeição. A ética,
aqui vista como a capacidade de raciocínio curioso, benevolente e busca
pela razão, sempre de forma prudente e equilibrada, é virtude intelectual e
deve ser cultivada desde a infância. Com moral e ética o ser humana
buscará pautar sua vida, para o autor, através de escolhas que evitem o
excesso e a falta, buscando o caminho do meio. Este caminho permite
melhor ao homem a escolha pelo bem em um mundo rodeado de paixões.
Praticando a justiça nos tornamos justos. O filósofo, por fim, pondera
sobre a busca da felicidade, afirmando que ela é possível quando se possui
virtudes e ações corretas, ou seja, aquelas que exprimem valores morais e
éticos. A partir disso, deve-se sempre buscar sabedoria e estudo na prática
do auto aperfeiçoamento, uma vez que, para Aristóteles, a felicidade
suprema vem do estudo porque nos conecta a nossa natureza racional.
Achei o texto bastante difícil, tive de ler e reler várias vezes.
Download