CALISTENIA DE ARGOLAS MÓDULO 2. EIXO INICIANTE - COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS CONTEÚDO I. O que é ser um iniciante (ou não treinado)? II. Introdução às variáveis do treinamento III. Entendendo as diferentes qualidades físicas IV. Divisão e Montagem de Treino – Aspectos Básicos I O QUE É SER UM INICIANTE (OU NÃO TREINADO)? Pode-se levar em conta que ser um iniciante em calistenia ou qualquer outro treino resistido se encaixa num espectro. Ou seja, se formos considerar as capacidades individuais de cada um neste programa, podemos deparar com pessoas que talvez já consigam fazer algumas poucas repetições de barra fixa, dips, e até mesmo várias flexões. Por outro lado, há aqueles que não conseguem fazer nenhum desses, apenas progressões mais fáceis. E não há problema nenhum nisso: a calistenia é um método altamente adaptável, sobretudo se você tiver argolas em mãos. Ao invés de uma barra fixa normal, é possível fazer barras com a mesma biomecânica, porém com os pés no chão para diminuir a sobrecarga do exercício. Nas flexões, existem variações em superfícies mais elevadas ou até mesmo execuções de joelhos, o que causa o mesmo efeito citado. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: GINÁSTICA DE ARGOLAS COMEÇANDO NA 2 Outra diferenciação necessária é a seguinte: existem iniciantes no sentido biológico e no de experiência específica com a prática. No primeiro caso, podemos usar o termo “não treinado”, frequentemente utilizado na literatura científica. Estes são aqueles que possuem menos de um ano de treino resistido contínuo (1), seja calistenia, musculação, Crossfit e etc. Nesse caso, muito provavelmente estamos falando de indivíduos sedentários ou que realizam atividades físicas de forma recreativa, sem a continuidade de um plano de treinamento. No segundo caso (iniciantes sem experiência com calistenia), não necessariamente estaremos nos referindo a um não treinado, mas alguém que tem pouca ou nenhuma experiência em exercícios com peso corporal de forma contínua. Por exemplo, talvez o leitor já tenha um ou mais anos de experiência com a musculação e decidiu transitar para treinos com argolas por motivos pessoais. Nesse caso, teríamos um indivíduo treinado, mas sem experiência na calistenia. Por conta de sua experiência prévia em outro tipo de treinamento, assim como a possível presença de maior massa muscular, talvez ele já tenha força para alguns (1) Treino resistido: em palavras simples, qualquer modalidade de programa de exercícios que inclua movimentar-se contra um peso, seja este proveniente do próprio corpo ou não. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 3 exercícios básicos (sobretudo por efeito transferência). Logo, todo não treinado não tem experiência com calistenia, mas nem todos os que não tem experiência com a prática são não treinados. E por quê é importante saber disso? Justamente pois, como veremos a seguir, as características dos treinos de ambos podem ser distintas. OS NÃO TREINADOS ADAPTAM-SE DE FORMA DIFERENTE AO TREINAMENTO Aqueles com menos de um ano de treino resistido contínuo tendem a apresentar uma responsividade biológica diferente aos exercícios. No nosso organismo, temos uma capacidade chamada propriocepção, a qual nos oferece a possibilidade de diferenciar níveis de tensão, movimento, posição das articulações e etc. A mecanotransdução, por exemplo, é o fenômeno de conversão de sinais mecânicos em sinais biológicos e está bastante envolvida enquanto fazemos exercício físico. Ela é uma das razões do porquê desenvolvemos hipertrofia, força muscular, resistência e etc.: nosso corpo “traduz” aquele estímulo para que ocorra uma cascata de sinalizações internas e, a depender da magnitude, adapte-se às demandas impostas. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 4 Em palavras mais simples, o corpo do não treinado “interpreta” (embora isso esteja longe de ser consciente) os exercícios de uma forma bem diferente dos praticantes treinados. Fazer movimentos em intensidade moderada ou alta, por exemplo, tende a causar resultado similares de força máxima em um não treinado, enquanto os indivíduos treinados necessitam de intensidades mais altas (exercícios mais pesados) para desenvolver essa capacidade de forma mais eficiente. Adicionalmente, os não treinados tendem a observar resultados mais rápidos de força ao iniciar um protocolo de exercícios resistidos, mesmo sem ganho significativo de massa muscular simultaneamente (o que provavelmente indica a presença de modificações neurais). Num estudo comparativo desses dois tipos de praticantes feito em 2017, os autores Coffey e John demonstraram que o treino aeróbio simultâneo ao treino resistido teve efeitos positivos na capacidade aeróbia e nenhuma influência na força e hipertrofia dos não treinados, enquanto que os praticantes treinados tiveram menores resultados na força e hipertrofia quando fizeram treino aeróbio junto com o resistido. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 5 Por último, vale ressaltar que os não treinados conseguem evoluir com pouco volume de treino (séries por exercício), ao menos nas primeiras 6 a 12 semanas de treino. O quadro 1 apresenta o resumo das diferenças entre praticantes treinados e não treinados. QUADRO 1 NÃO TREINADOS TREINADOS DEFINIÇÃO Indivíduo com menos de um ano de experiência contínua com treino resistido Indivíduo com pelo menos um ano de experiência contínua com treino resistido RESPOSTA AO TREINAMENTO Menos específica Mais específica RAPIDEZ DO GANHO DE FORÇA E OUTRAS CAPACIDADES Maior Menos VOLUME DE TREINO (SÉRIES) NECESSÁRIO PARA EVOLUIR Menor Maior IMPORTÂNCIA DA INTENSIDADE PARA O GANHO DE FORÇA E OUTRAS CAPACIDADES Menor Maior MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 6 II INTRODUÇÃO ÀS VARIÁVEIS DO TREINAMENTO Neste tópico você aprenderá sobre as variáveis do treinamento, sendo estas divididas por aquelas relacionadas ao volume, a intensidade e ao princípio da sobrecarga progressiva. VARIÁVEIS RELACIONADAS AO VOLUME SÉRIES Uma série se refere a um conjunto de repetições. Por exemplo: 3 séries de 10 repetições. Significa que você fará 10 repetições do exercício, completando uma série. Descansa e repete mais 2 séries completando 3 no total. REPETIÇÕES Uma repetição significa um movimento do exercício. Por exemplo, quando você faz um agachamento: Em pé > agacha > em pé Isto representa uma repetição. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 7 CADÊNCIA Se refere ao tempo de execução de uma repetição, como por exemplo: 2-0-2-0 Neste exemplo, ao executar uma flexão, você levaria 2 segundos fazendo a fase excêntrica, sem pausa em baixo, sobe durante 2 segundos e sem pausa em cima. Uma cadência de por exemplo 22X0 equivaleria a 2 segundos na descida, 2 segundos de pausa embaixo, subir de forma forte, o mais rápido que conseguir e sem pausa em cima. TEMPO SOB TENSÃO Se refere ao tempo que o músculo permanece sob tensão durante uma série. Se você faz 10 repetições de flexão, onde cada repetição leva 2 segundos, temos 20 segundos de tempo sob tensão. Se faz 20 repetições, são 40 segundos. FREQUÊNCIA É a quantidade de vezes que você treina um músculo durante a semana. Exemplo: numa dada divisão de treino, você tem exercícios de empurrar somente na segunda feira. Em outra, tem na segunda e quinta. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 8 Em outra, segunda, quarta e sexta. Veja que a frequência muda, de 1 para 2x, de 2 para 3x por semana. VARIÁVEIS RELACIONADAS À INTENSIDADE AMPLITUDE É o grau de movimento que o membro do corpo se move durante cada repetição. Por exemplo, numa flexão, temos como amplitude completa descer até quase tocar o peito no chão e subir até estender completamente os cotovelos. Se você descer somente pela metade ou subir somente a metade, isto é uma amplitude parcial. TENSÃO MECÂNICA Refere-se a carga imposta nos músculos trabalhados durante um exercício. No exemplo da flexão, tensão mecânica seria o próprio peso do corpo concentrado em cima dos músculos responsáveis pela flexão, como o peitoral, deltoide anterior e os tríceps. Uma flexão normal no solo temos uma tensão mecânica x. Ao elevar as pernas, por exemplo numa cadeira, esta tensão aumenta. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 9 Ou ao utilizar outras formas de flexão mais avançadas, temos um incremento na tensão mecânica. Outra forma de manipular esta tensão teria através do incremento de cargas extras, como um colete de pesos. EXECUÇÃO Técnica com a qual é feito um exercício. Cada indivíduo possui uma estrutura corporal diferente, bem como suas limitações articulares. No entanto, temos como padrão uma técnica apropriada para cada exercício, por isso, cada indivíduo precisa adaptar a técnica a sua individualidade, procurando chegar o mais perto possível desse padrão dentro da sua realidade. Uma técnica perfeita pode ser a diferença entre um exercício bonito ou feio, eficiente ou não eficiente, seguro ou lesivo. SOBRECARGA PROGRESSIVA Um dos pilares mais fundamentais do treinamento é o da adaptação. É justamente através dela que estamos aqui vivos e que somos capazes de viver dia após dia, mesmo sendo atacados por diversos agentes maléficos ao longo da vida, como alimentação ruim, estresse, patógenos, etc. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 10 O mesmo vale para o treinamento. Quando você treina, ocorrem adaptações em todo o organismo que fazem com que o corpo se torne mais forte e capaz de lidar com esse estresse. Isto significa que ao continuar fornecendo o mesmo estímulo, seu corpo não irá mais se modificar, pois já se adaptou a ele. Portanto, o princípio da sobrecarga progressiva é o mais importante quando se fala em evolução do treinamento. Pois é somente através de incrementos no treino que o corpo poderá continuar gerando adaptações, tornando-se cada vez mais forte. Dentro da sobrecarga progressiva, podemos utilizar algumas formas para que isto ocorra: Exemplo 1: Treino 1 você fez 3 x 10 flexões. Treino 2 você fez 11, 10 e 10 repetições. Esta 1 repetição a mais na primeira série é uma forma de sobrecarga progressiva. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 11 Exemplo 2: Treino 1 você fez 3 x 10 flexões. Treino 2 você fez 4 x 10 flexões. Esta 1 série a mais é uma forma de sobrecarga progressiva. Exemplo 3: Treino 1 você fez 3 x 10 flexões. Treino 2 você fez 3 x 8, porém com 5kg adicionado ao corpo. Esse incremento de carga de um treino para o outro é outra forma de sobrecarga progressiva. Estes são alguns exemplos, lógico que não necessariamente todos são usados e também não em todo treino. Mas cada um deles pode ser manipulado através da periodização do treinamento para que essa adaptação do organismo continue acontecendo e possamos seguir evoluindo ao longo do tempo. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 12 III ENTENDENDO AS DIFERENTES QUALIDADES FÍSICAS A correta compreensão das valências e qualidades físicas é imprescindível para que o planejamento do treino seja bem direcionado. Acredite, é muito comum observarmos pessoas usando os termos “resistência” e “força máxima” de forma irrestrita, ou não sabendo diferenciar quais são as formas mais eficazes de se treinar para cada uma. Treinar sem saber para o que está treinando é como dar um tiro no escuro: você irá evoluir de forma totalmente aleatória, sem saber para onde está indo. Sabendo disso, também, você irá aprender como adequar o treino para o seu objetivo de acordo com a sua individualidade. Por exemplo, quando alguém tem como preferência conquistar um estático de força, isto é, um exercício que não consegue fazer, é comum vermos pessoas falando que esse sujeito precisa apenas de “resistência”, mas isso não é verdade. Ele precisa de força máxima para conseguir chegar num nível adaptativo suficiente e segurar pelo menos 2 segundos no isométrico. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 13 Depois que ele já tiver a força, sim: treinará resistência para aumentar o seu tempo sob tensão na posição. Nesta seção, falaremos sobre 7 principais qualidades físicas modificáveis pelo treinamento, o que são e quais os mecanismos por trás delas. Vale ressaltar que começaremos com definições mais objetivas e citaremos algumas informações científicas. É mais importante que você pegue o conceito geral, não sendo necessário quebrar a cabeça com a parte técnica, mas esta última pode ser importante para saber com mais clareza para quê você estará fazendo os treinos. Primeiro, comecemos com uma capacidade padrão que é a “mãe” de todas as outras qualidades, ou seja, não estaremos considerando-a entre as 7 principais mencionadas, pois ela é a base de todas. A FORÇA MUSCULAR Em primeiro lugar, “força” é um termo muito amplo. Os seus músculos produzem força independentemente se você estiver despejando água num copo ou fazendo um agachamento com 100kg adicionados. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 14 Você produzirá força ao se equilibrar num muro estreito e se estiver treinando numa máquina de academia. Força é simplesmente uma grandeza física que depende da massa (em kgs) e aceleração dos objetos animados e inanimados. Quando falamos especificamente de força muscular, estamos nos referindo a um processo complexo que depende do sistema nervoso e outros tecidos corporais, resultando no produto final que é a tensão, movimento ou trabalho mecânico. A questão é que, a depender de outras variáveis como a amplitude, velocidade, duração, peso dos objetos, segmentos corporais e etc., as quais você viu nos tópicos anteriores, essa força muscular terá de ser regulada pelo organismo em sentido de gasto de energia, da quantidade de força produzida, da velocidade/rapidez com que produz essa força e até mesmo quando deve contrair ou relaxar. Isso pode depender duplamente de processos conscientes e inconscientes do seu corpo. Conforme o tipo de demanda (estímulo) que o organismo experiencia, diferentes tipos de mudanças vão ocorrer nele. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 15 Obviamente, como já dito na parte da diferença entre não treinados e treinados, é esperado que essas mudanças sejam ainda mais específicas nos últimos, mas ainda assim precisamos ter em mente qual tipo de modificação queremos causar. 1) FORÇA MÁXIMA Preste bem atenção nessa definição: força máxima é o máximo de força muscular que você consegue produzir num exercício específico. Em termos práticos, sabemos a força máxima através daquele exercício em que só fazemos uma repetição (1 Repetição Máxima - 1 RM) ou dois segundos (2 Segundos Máximos - 2 SM) caso for um exercício estático. Portanto, o ponto chave aqui é o peso ou intensidade imposto ao sistema neuromuscular. Estamos erroneamente acostumados a achar que exercícios de calistenia são apenas voltados para “resistência”, ou pior, muitos fazem a equivalência entre cardio e calistenia. Isso simplesmente não é verdade. Se um iniciante não consegue fazer uma barra, por exemplo, isto é um exemplo claro de que ele MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 16 não possui força máxima para executar o exercício. Nesse sentido, teria que fazer um treino específico para conseguir a sua primeira repetição (1 RM) na barra. E como isso é feito? Para que um músculo produza mais força, precisamos ter em mente dois aspectos: a ativação neural e o tamanho da fibra muscular. Um não treinado geralmente consegue os seus primeiros ganhos de força em maior parte com a ativação neural, ou seja, o seu sistema nervoso começa a principalmente recrutar mais fibras e se familiarizar com o movimento específico. Com o passar da experiência de treino, vai sendo cada vez mais necessário aumentar o tamanho das fibras (ou seja, hipertrofiar o seu músculo) para continuar ganhando força, embora a ativação neural nunca pare de ocorrer. Também falaremos sobre hipertrofia muscular. E COMO TREINAR FORÇA MÁXIMA? Lembre-se que o seu corpo se adapta em conformidade com o tipo de estímulo que você impõe a ele. Se treinar em alta velocidade, ficará cada vez melhor em se movimentar em alta velocidade. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 17 Se treinar movimentos em longa duração, será cada vez melhor nisso. Para treinar força máxima, levando em conta a definição do termo, teremos que treinar exercícios de alta intensidade. Porém, apenas isso não basta: eles também devem ser parecidos com o nosso objetivo. Voltemos para o nosso exemplo da barra pronada. Se um iniciante não consegue fazer uma barra, então ele pode fazer um exercício biomecanicamente similar com uma intensidade menor. Um exemplo é a barra com os pés apoiados no chão: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 18 O iniciante poderia fazer cerca de 8 a 12 repetições próximas da falha neste exercício e, conforme elas forem aumentando, trocar por uma variação mais difícil. Isso pode incluir: colocar peso externo no exercício, incorporar excêntricas de barras completas e etc. Você verá sobre isso quando estivermos na parte dos exercícios. O praticante iniciante que já possui experiência de treino resistido (treinado), por outro lado, pode se beneficiar melhor com progressões que permitam cerca de 5 a 6 repetições próximas da falha. O intuito é ir aumentando a intensidade até que o praticante consiga fazer uma barra completa. E QUANTO AOS EXERCÍCIOS ESTÁTICOS DE FORÇA? A lógica é basicamente a mesma, só que ao invés de treinar com 8 a 12 reps ou 5 a 6 reps, o iniciante sem experiência de treino pode trabalhar numa faixa de 10 a 15 segundos próximos da falha com progressões isométricas. Aos treinados, uma faixa mais recomendada é a de 8 a 12 segundos. No entanto, vale ressaltar que é mais recomendado focar nos exercícios de base nas primeiras semanas de treino e, conforme o avançar da experiência neles, incorporar exercícios estáticos. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 19 Isso porque eles são particularmente específicos e podem necessitar de um preparo físico geral para uma evolução mais sustentável e segura. Vamos a um exemplo. Supondo que um iniciante não consiga fazer o exercício L-sit, ele pode trabalhar em 10 a 15 segundos próximos da falha numa progressão isométrica mais fácil de L-sit, como o Tuck L-sit: Dessa forma, progredindo gradualmente a intensidade conforme o tempo, o iniciante consegue treinar o seu sistema neuromuscular e adaptar-se ao estímulo, até fazer o L-sit completo. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 20 2) RESISTÊNCIA DE FORÇA Após ganhar força máxima, o praticante pode querer tomar o próximo passo: aumentar as suas repetições ou tempo sob tensão naquele exercício específico. Nesse caso, ele fará um treino para retardar o aparecimento da fadiga, ou seja, ganho de resistência. E vale ressaltar que estaremos falando de resistência de força ou anaeróbia: não confunda fazer aeróbio como tática direta para treinar essa capacidade na calistenia! A resistência de força é testada a partir de quantas repetições ou tempo sob tensão máximos o praticante consegue fazer no exercício. Porém, devemos ter em mente que se ele acabou de conquistar as suas primeiras repetições no exercício, ainda precisará ganhar um pouco mais de força e técnica. Vamos a um exemplo prático? O calistênico X acaba de conseguir a sua primeira repetição (1 RM) de barra depois de treinar com progressões, excêntricas e etc. Agora, ele quer aumentar o seu número de repetições, mas o problema é que não consegue fazer mais do que uma. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 21 Com isso, pode ser mais interessante continuar o treino em progressões mais fáceis do exercício até conseguir cerca de 5 a 6 repetições máximas (5-6 RM) de barras completas. A partir disso, será mais fácil incorporar as barras completas em sua rotina, podendo utilizar técnicas como treino em pirâmide, cluster sets, isometrias e outros para aumentar o seu número de barras. E toda essa estratégia pode continuar até que o calistênico X consiga progressivamente aumentar o seu número de séries e repetições, ou seja: ele aumentará o seu trabalho total nos treinos e retardará cada vez mais a sua fadiga no exercício específico. Isso é o ganho de resistência de força. Diferentemente do treino de força máxima, é possível que o ganho de resistência muscular (sobretudo com repetições mais altas) esteja mais relacionado a mudanças no metabolismo (geração de energia) do músculo, embora também existam possíveis fatores neurais responsáveis. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 22 3) HIPERTROFIA MUSCULAR A hipertrofia não é por si só uma qualidade funcional, mas estrutural. Porém, ganhos de hipertrofia podem auxiliar no ganho de força máxima. O que significa hipertrofiar um músculo, afinal? Basicamente, o seu tecido muscular é formado por inúmeras células chamadas fibras musculares. Essas fibras comportam pequenas unidades de proteínas que se cruzam umas nas outras e causam a contração muscular, e elas em conjunto constituem os sarcômeros. Quando você hipertrofia um músculo, você não causa o aumento do seu número de células (fibras), mas do tamanho delas, por conta do aumento do número dos sarcômeros. Se você aumenta o número das unidades que produzem a força, você aumenta consequentemente a capacidade total de produção de força. Pronto, você pegou parte do mecanismo da hipertrofia como potencializadora da força máxima. E COMO OCORRE A HIPERTROFIA? Todo exercício resistido, seja calistenia ou musculação, é capaz de causar hipertrofia muscular. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 23 A tensão mecânica (como você já viu nesse curso) imposta pelo exercício é um dos principais mecanismos da hipertrofia, pois ela desencadeia sinalizações internas nos DNAs de suas fibras musculares, resultando na produção de mais sarcômeros. Em outras palavras, o exercício modula a sua expressão genética. Aliado a uma alimentação, recuperação e sono adequados, o processo hipertrófico tende a ser ainda maior. Porém, veremos agora sobre como as variáveis do exercício aumentam o volume de seus músculos. Para aumentar o volume de um músculo através do exercício, basta que as principais ações desse músculo sejam feitas com a presença de uma tensão mecânica imposta por um peso, seja externo ou corporal. Por exemplo, o bíceps braquial tem como uma de suas principais funções o ato de flexionar o seu braço. Portanto, um exercício interessante para bíceps nas argolas é o Bicep Curl: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 24 Como visto na imagem, Bruno está flexionando o seu cotovelo com o corpo um pouco inclinado, o que oferece as duas coisas já ditas: ele faz a ação principal do músculo e ainda impõe uma tensão mecânica provocada pela forma com que o resto do peso do seu corpo está posicionado no espaço. E é esse o porquê da calistenia ser efetiva para ganhos de massa muscular. No caso dos exercícios compostos, você estará explorando várias ações ao mesmo tempo. Ou seja: a hipertrofia ocorrerá em vários músculos simultaneamente. Além disso, a hipertrofia também depende do trabalho total do seu treino (repetições x séries x intensidade). No entanto, os praticantes iniciantes não treinados MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 25 podem esperar ter resultados hipertróficos com apenas 3 a 9 séries totais por grupo muscular, se levarmos em conta as primeiras semanas de treino. Não significa que estes resultados serão necessariamente visíveis: isso foi algo demonstrado em estudos. Porém, com o tempo, será necessário aumentar esse número de séries (sobrecarga progressiva) para que resultados superiores sejam observados. Em síntese, quão maior for o trabalho total do treino, levando em conta que ele não ultrapasse a sua capacidade recuperativa, maior tende a ser o seu resultado de hipertrofia. 4) POTÊNCIA OU EXPLOSÃO Nós vimos sobre a força muscular, força máxima e resistência. No entanto, não falamos sobre a capacidade de fazer rápidas contrações musculares. Basicamente, potência é a valência física definida pela produção de força em alta velocidade. Para os propósitos do nosso curso, provavelmente não abordaremos essa capacidade em grandes detalhes, visto que poucos elementos e exercícios necessitarão de muita potência. Existem dinâmicos como o Muscle Up e os acrobáticos de argolas, mas estes últimos (acrobáticos) dependem bastante de embalos, o que os MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 26 tornam habilidades motoras balísticas e não totalmente exercícios de potência. Porém, para treinar essa capacidade, basta que o praticante faça treinos de força máxima com o intuito de aumentar uma das variáveis da potência (a força) e, quanto à velocidade de contração, pode entrar treinos com exercícios menos pesados para que a possibilidade de fazê-los rapidamente seja possível. 5) HABILIDADES MOTORAS COMPLEXAS Se fôssemos conceitualizar essa qualidade física de forma simples, basta lembrar de coisas como andar de bicicleta ou nadar sem afundar na água. De fato utilizamos a força muscular, mas de forma bastante coordenada, específica e direcionada. Você teve de aprender a equilibrar-se na bicicleta de forma a não cair para os lados, como controlar a velocidade nas subidas e descidas, fazer curvas e etc. Uma habilidade motora necessita de consideráveis esforços cognitivos e executivos, ao menos nos primeiros passos do aprendizado. Após aprendê-la, a tarefa se torna relativamente habituada e o esforço mental já não será mais tão significativo. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 27 Para os propósitos do nosso curso, veremos dois principais tipos: habilidades motoras de equilíbrio e balísticas. HABILIDADES DE EQUILÍBRIO O aparato de argolas é bastante interessante, pois em quase todos os movimentos executados é adicionado um fator de dificuldade caracterizado pela instabilidade. Isso acaba exigindo um equilíbrio em alguns elementos que em outros aparatos como as paralelas não era preciso. Por exemplo, você iniciante provavelmente terá problemas ao segurar uma simples posição de suporte por cima nas argolas, ao menos pela primeira vez. A maioria dos iniciantes começa a tremer bastante, mas ao fazer mais algumas séries (sobretudo com feedbacks como “mantenha as argolas mais perto do tronco”), acabam estabilizando-se naturalmente. Isso é chamado de aprendizado motor “online”, ou seja, ganhos que ocorrem dentro da sessão de treino. No entanto, existem elementos que demoram meses e até mesmo anos para que ocorram melhoras significativas, dependendo de ganhos “offline” (fora da sessão). Um grande exemplo disso é a Parada de Mãos: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 28 Elementos de equilíbrio como este necessitam de uma integração das nossas capacidades proprioceptivas, vestibulares e visuais, as quais são integradas numa região do cérebro chamada cerebelo, e este auxilia indiretamente na coordenação das nossas forças musculares. A depender de como ocorrem as perturbações no equilíbrio, alguns músculos terão de ativar e desativar frequentemente. É bem diferente de um elemento de força bruta, pois neste é bem claro que o músculo primário deve ativar maximamente e o antagonista relaxar. No entanto, isso não significa que elementos como a parada de mãos não precisem de um nível inicial de força. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 29 HABILIDADES BALÍSTICAS O que os elementos acrobáticos possuem em comum é o seguinte: o melhor aproveitamento possível das forças gravitacionais a partir de embalos. O treino de potência de força diferencia-se das habilidades motoras balísticas pois o objetivo é gerar movimentos rápidos a partir da força pura, sem o auxílio da gravidade. Nessa parte, logo, o praticante precisa aprender a como movimentar os seus membros de forma a conseguir tirar o maior proveito possível dos auxílios gravitacionais. Um exemplo de elemento básico acrobático que veremos é o Front Kip: E COMO OCORRE O APRENDIZADO MOTOR? Aprender habilidades motoras leva em consideração a nossa memória e as representações motoras dos movimentos. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 30 Ganhos de performance nesse quesito costumam ocorrer em função da reorganização dessas representações, sobretudo no córtex motor primário (M1). Diferentemente de outras capacidades, é importante que esse tipo de treino seja feito em baixas intensidades, poucas séries por sessão, mas com mais sessões espaçadas (frequência de treino e espaçamento de práticas). A progressão ocorre pelo aumento da complexidade das habilidades. Por exemplo: na parada de mãos, o praticante começará com isometrias na parede e com os dois pés apoiados; depois, começa a fazer com apenas um pé; apoia a barriga e, finalmente, pode começar a tirar os dois e segurar alguns segundo na posição completa de handstand. 6) FLEXIBLIDADE E MOBILIDADE Por último, essas duas capacidades físicas podem estar interligadas, apesar de normalmente confundidas. Para entendê-las, devemos primeiro saber o que é amplitude de movimento. Já foi mencionado que os nossos movimentos articulares dependem da atuação conjunta de músculos, tendões, ligamentos, neurônios motores e etc. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 31 A partir desses fatores funcionais e estruturais, o movimento de cada parte do corpo consegue percorrer um caminho (ou amplitude). Por exemplo, a amplitude de movimento normal de flexão de ombro (ato de levantar os seus braços à frente do tronco, até ficarem acima de sua cabeça) é cerca de 180 graus. Isso significa que a maioria das pessoas tendem a apresentá-la, mas existem certos indivíduos que - por questões genéticas e/ou de experiência de treino acabam tendo amplitudes maiores ou menores do que a média. E é nesse sentido que, a partir da compreensão desse conceito, podemos falar das duas últimas capacidades físicas. Mobilidade é basicamente a amplitude de movimento disponível para uma determinada articulação. Como já mencionamos o ombro, podemos utilizá-lo novamente como exemplo. Essa articulação é bastante complexa e consegue fazer uma miríade de movimentos, tais como abdução, adução, flexão, extensão e etc. Você não precisa saber o que esses termos significam. Basta entender que o conjunto desses movimentos e consequentemente o caminho (amplitude) completo que percorrem em graus determina a respectiva mobilidade daquela articulação. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 32 Vale ressaltar que esta amplitude considerada é a ativa, isto é, o movimento feito sem ajuda de um fator externo para aumentá-la. Você entenderá mais sobre isso agora: falaremos sobre flexibilidade. Ao falarmos de flexibilidade, estamos nos referindo aos extremos da amplitude de movimento alcançados sem danos à estrutura musculo-tendínea. Ela se subdivide em flexibilidade passiva e ativa. No caso da flexão de ombro já mencionada, por exemplo, 180º seria o grau máximo de flexão ativa. O elemento estático handstand é feito nessa amplitude de movimento, como você pode observar na imagem da seção sobre habilidades motoras. Vale ressaltar que os músculos que realizam a flexão de ombro (principalmente deltoide anterior e peitoral maior) encurtam de forma máxima quando a amplitude está no seu extremo de 180º graus, enquanto os que fazem a ação contrária (extensão de ombro) tendem a alongar o máximo possível. Esses músculos chamados antagonistas são aqueles como o deltoide posterior e latíssimo dorsal, nesse exemplo. Por isso que o treino de alongamento/flexionamento é fundamental para os ganhos de flexibilidade: precisamos fazer com que os músculos antagonistas alonguem o máximo possível para que o extremo da MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 33 amplitude de movimento seja alcançado. Porém, como já dito, isso pode ser feito de forma ativa ou passiva: para que a flexibilidade seja passiva, precisamos de ajuda externa. Isso seria o equivalente a alcançar o grau máximo de flexão de ombro apoiando as mãos na parede/chão e alongando maximamente, por exemplo. Ao que parece, ganhos de flexibilidade parecem ser igualmente consideráveis nas modalidades de flexionamento estático, ativo-isolado e dinâmico, sobretudo no tempo sob tensão compreendido entre 30 a 60 segundos. A frequência (vezes por semana) com que são feitos também tende a ser uma variável importante. Os mecanismos mais creditados para o ganho de flexibilidade costumam ser os de ordem neuromuscular. Por exemplo, quando um músculo é muito alongado, ocorrem contrações reflexas causadas por nossos fusos musculares, uma espécie de mecanismo protetivo. Isso impede que algumas amplitudes extremas de movimento sejam alcançadas. Com o treino de flexibilidade, no entanto, tais reflexos tendem a ser “desfacilitados”, promovendo os ganhos. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 34 Se quiser saber em mais detalhes sobre esses mecanismos e também sobre flexibilidade/mobilidade, colocaremos um vídeo complementar do CaliScience Brasil. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 35 IV DIVISÃO E MONTAGEM DE TREINO – ASPECTOS BÁSICOS Agora que você já tem compreensão do básico sobre as capacidades físicas e sobre as variáveis do treinamento, está na hora de aprender sobre divisões de treinamento e como planejar o treinamento de acordo com teu objetivo. Aqui iremos abordar as divisões de treino mais comuns e as melhores para cada objetivo, bem como traremos algumas opções de planos de treino para você seguir e se basear quando quiser montar seus próprios treinos. 1) SESSÃO DE TREINO Para compreender como planejar um treino, é preciso primeiro entender o que forma uma sessão de treino. Uma sessão de treino é composta pelo seguinte: - Exercícios; Séries; Repetições; Tempo de descanso; MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 36 Em primeiro lugar, os exercícios são selecionados de acordo com o objetivo do praticante, nível de força e flexibilidade, bem como fase do treinamento. Na calistenia, selecionamos o exercício de acordo com a intensidade, podendo selecionar exercícios mais leves ou mais pesados a depender da progressão utilizada e/ou forma de manipulação da intensidade desse exercício (pesos externos, bands, etc.). Em segundo lugar, determinamos o número de séries e repetições para cada exercício. A depender do objetivo, cada exercício terá uma importância dentro da sessão de treinamento, podendo este ter mais ou menos séries, maior ou menor intensidade. Exemplo: Se meu objetivo for treinar para conquistar a barra fixa, vou selecionar exercícios que eu consiga fazer e que vão me dar força para fazer a barra, que são os exercícios específicos, além de outros acessórios para trabalhar músculos que também são importantes. Sendo assim, vou escolher 1 ou 2 exercícios principais específicos da barra fixa e focar minha força neles, executando menos repetições e com mais séries. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 37 E outros exercícios ao final do treino que serão os acessórios com menor intensidade, menos séries e mais repetições. E para finalizar, o tempo de descanso, que é o tempo entre uma série e outra. Este é muito importante, pois, o que ocorre com frequência, é descansar pouco, não deixando o músculo e o sistema nervoso se recuperar, o que prejudica a performance das séries seguintes tornando o treino muito menos eficiente. Segundo as recomendações do National Strenght & Conditioning Association (NSCA), o intervalo entre séries deve ser o seguinte: - Para ganho de força e potência: entre 2 a 5 minutos; - Para hipertrofia: entre 30-90 segundos; - Para resistência de força: 30 segundos ou menos. 2) MÚSCULOS E PADRÃO DE MOVIMENTO Para entender como planejar o treinamento, é preciso também saber quais os músculos ou padrões de movimento devem ser utilizados quando da escolha da divisão de treino. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 38 A depender do objetivo, podemos utilizar uma divisão baseada em músculos ou em padrão de movimento. Se utilizado o esquema de músculos, temos que nos atentar aos seguintes: - Peitoral, deltoide anterior e medial e tríceps; Costas, deltoide posterior e bíceps; Quadríceps, posterior de coxa, glúteos e panturrilhas; Abdome. Todos estes músculos são importantes e devem ser levados em consideração quando na escolha da divisão de treino, tendo cada um maior ou menor grau de importância a depender do objetivo e necessidades individuais do praticante. Quando utilizado padrão de movimento, temos o seguinte: - Empurrar: deltoide anterior e medial, peitoral, tríceps, quadríceps, panturrilhas; - Puxar: costas, bíceps, posterior de coxa, abdome. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 39 Mas como sei qual forma devo escolher? Aí, como falei, é questão de averiguar qual teu objetivo, pois ambas as formas podem ser utilizadas queira você hipertrofia, força, conquistar exercícios estáticos, emagrecer, etc. 3) FLEXIBILIDADE E MOBILIDADE E como encaixar os treinos de flexibilidade/mobilidade? Temos três opções aqui: - Antes do treinamento; - Após o treinamento; - Em outro horário longe do treinamento. Novamente, depende do objetivo e da necessidade individual de cada um. No entanto, vou indicar uma forma muito válida para você utilizar que é muito benéfica: - Alongue antes do treino como forma de aquecimento e preparação. Nesta parte é importante que você alongue de forma leve/moderada para soltar os músculos e aumentar a amplitude de movimento, permitindo que durante o treinamento músculos rígidos MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 40 e encurtados não atrapalhem na execução do movimento e os músculos principais possam ser recrutados com eficiência; - Alongue após o treinamento de forma leve apenas para relaxamento. Sem forçar aqui, foque na respiração e em relaxar corpo e mente. - Alongue em horários ou dia longe do treinamento de forma moderada/intensa para músculos encurtados que você precisa aumentar o grau de amplitude de movimento. 4) QUAIS SÃO OS MEUS OBJETIVOS? Todo e qualquer plano de treinamento precisa ter em mente qual o objetivo do praticante. É simplesmente contraproducente realizar qualquer treinamento que seja sem ter um objetivo claro e que este programa seja estruturado para este objetivo. Afinal, como você espera ganhar força máxima na calistenia para levantar pesos mais pesados (weighted calisthenics), porém treinando sem peso? MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 41 Ou como fazer algum elemento estático (front lever, exemplo) apenas fazendo barra fixa? Veja que para qualquer bom plano de treinamento, primeiro é necessário saber qual o objetivo do praticante. Baseado nesse objetivo, pode-se então passar para as outras variáveis que devem ser consideradas quando na montagem do treino. Sendo assim, vamos citar os diferentes tipos de objetivos aqui: - Perda de gordura - Ganho de massa muscular - Ganho de força máxima com carga (weighted calisthenics) - Ganho de resistência de força (calistenia old school) - Ganho de condicionamento para um esporte - Ganho de elementos estáticos (planche, front lever, etc.) - Ganho de elementos dinâmicos (muscle up, front lever pullup, etc.) - Ganho de elementos acrobáticos (transições e elementos ginásticos nas argolas/barras) MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 42 Estes são todos objetivos comuns que provavelmente você recairá sobre um ou mais deles. Por isso, antes de mais nada, defina qual ou quais são os teus objetivos. Lembrando que o ideal é ter um objetivo específico ou objetivos complementares. Por exemplo: treinar para elementos estáticos e acrobáticos nas argolas são complementares. Você pode fazer muscle up nas argolas, realizar algum tipo de balanço, fazer planche, handstand, etc. formando uma sequência, por exemplo. Do contrário seria você querer ganhar elementos estáticos (treino de força máxima específica) e ao mesmo tempo querer ganhar resistência de força. São duas capacidades de força diferentes. É possível? É. Mas não é o ideal e a melhor forma. Se você busca máximo desempenho e resultado, precisa focar em coisas que se complementam. 5) DIVISÃO DE TREINO CONFORME OS OBJETIVOS DO PRATICANTE Agora que você definiu teu objetivo, podemos então escolher uma divisão de treino específica para ele MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 43 Aqui iremos citar algumas divisões de treino mais comuns que recomendamos e os tipos de objetivos que mais se encaixam em cada divisão. FULL BODY Esta é provavelmente uma das divisões mais famosas e que você deve conhecer. Basicamente todo o corpo é treinado dentro de uma sessão de treino. Aqui geralmente podem ser utilizados desde 3 exercícios a até 10 ou mais exercícios por treino, bem como pode ser feito apenas 2 treinos por semana, como também até mesmo 5 ou 6 treinos por semana. A quantidade de exercícios, número de séries, intensidade e dias por semana vai depender do objetivo do praticante. Objetivos que podem se beneficiar da rotina full body: Todos. PUSH/PULL Na rotina Push/Pull são treinados os músculos que empurram (push) em um dia, e os músculos que puxam (pull) no outro. Aqui poderia ser feito das seguintes maneiras: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 44 Push/Pull/descanso/Push/Pull/descanso/descanso (2 treinos x 1 descanso x 2 treinos x 2 descanso) Push/Pull/Push/descanso/Pull/Push/Pull (3 treinos x 1 descanso) Push/Pull/Legs/Push/Pull/Legs (push e pull apenas membros superiores e 2 treinos de pernas separado) Push/Pull/Legs/Push/Pull (push e pull apenas membros superiores e 1 treino de pernas separado) Objetivos que podem se beneficiar da rotina push/pull: Perda de gordura, ganho de massa muscular, ganho de força máxima, ganho de resistência de força, ganho de elementos estáticos, ganho de elementos dinâmicos. UPPER/LOWER A rotina Upper/lower consiste em realizar um treino para membros superiores e um treino para membros superiores. Pode ser feito assim: Upper/lower/descanso/Upper/lower/descanso/ descanso Upper/lower/upper/lower/upper/descanso/ descanso MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 45 Objetivos que podem se beneficiar da rotina Upper/lower: Perda de gordura, ganho de massa muscular, ganho de força máxima, ganho de resistência de força, ganho de elementos estáticos, ganho de elementos dinâmicos. 5) PROGREDINDO CONFORME O TEMPO: O BÁSICO DA PERIODIZAÇÃO LINEAR Esta periodização é principalmente boa para iniciantes no treinamento, mas pode ser usada por qualquer praticante cujo objetivo seja aumentar sua força. Comumente utilizada para planejar o treinamento com foco numa competição, por exemplo daqui 1 ano tenho uma competição x e preciso ficar o mais forte possível até lá. Então vou planejar meu treino da forma como explicada aqui para que chegue lá levantando o máximo de carga possível. No entanto, podemos “traduzir” esse conceito para a calistenia da seguinte forma: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 46 Quero dominar x exercício (exemplo barra fixa), portanto preciso estruturar meu treino de forma que desenvolva a força necessária para dominar a barra fixa. Como iniciamos o treinamento com alto volume, a tendência é desenvolver as capacidades físicas de resistência, coordenação e controle motor, além de desenvolver massa muscular, que posteriormente facilitará o ganho de força e domínio do exercício desejado ao final da periodização. Tradicionalmente, na periodização linear, é empregado um período de tempo maior, iniciando-se com 12-20 repetições por um ou dois meses, depois baixando para 8-12, 6-8 e, finalmente, 1-5. É claro que não é uma regra geral, esse número de repetições, bem como o tempo em cada fase pode ser ajustado de acordo com cada praticante. Como exemplo de uma periodização linear, poderíamos utilizar o seguinte formato: MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 47 Semanas Semanas Semanas Semanas 1-4: 3 séries de 10-12 repetições 5-8: 3 séries de 8-10 repetições 9-12: 4 séries de 6-8 repetições 13-16: 4 séries de 4-6 repetições Novamente, este é um exemplo. A depender do praticante, do exercício que se quer dominar ou de seu objetivo no geral, o tempo, a quantidade de séries e repetições pode e deve ser manipulada para atender a esses requisitos. Para exercícios isométricos de força, a lógica é basicamente a mesma. Porém, ao invés das repetições, contabilizaríamos os tempos sob tensão próximos da falha. Quão menor eles forem, mais intenso é o exercício, assim como as repetições próximas da falha: Semanas 1-4: 3 séries de 15-20 segundos Semanas 5-8: 3 séries de 10-15 segundos Semanas 9-12: 4 séries de 8-12 segundos Semanas 13-16: 4 séries de 4-6 segundos Esse exemplo é o mais típico para o objetivo de força máxima. Logo, a estrutura anterior seria interessante para quem pretende conquistar os primeiros dois seMÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 48 -gundos em exercícios como Back Lever, L-sit, Front Lever, Elbow lever e etc. Por exemplo, considerando que ela seja direcionada para o Back Lever completo, o praticante poderia começar as semanas 1-4 com Tuck Back lever, 5-8 com Advanced Tuck Back Lever até terminar nas últimas semanas com o Full Back Lever. Obviamente, o praticante pode acabar demorando muito mais do que isso para conquistar o estático, sobretudo em razão de algumas características individuais como a altura, peso e idade. Já o treino de habilidades motoras, como já dito na parte das qualidades físicas, seria feito a partir da progressão de complexidade do exercício. E isso pode variar bastante de pessoa para pessoa, não há um tempo de progressão universal para conseguir tudo. Dado que você já tenha conquistado um nível de força, seja num exercício básico comum ou num ginástico, pode começar a treinar para aumentar as suas repetições ou tempo sob tensão nele. Nesse caso, entraria o modelo em que a intensidade diminui e o volume aumenta gradualmente nas semanas. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 49 Ao longo do programa, você terá acesso a alguns modelos de treino já periodizados. Eles incluirão tanto a estrutura de treinamento básico quanto de iniciação para os ginásticos. Levaremos em conta principalmente os princípios da periodização linear/em bloco e as evidências para o treinamento das habilidades já mencionadas, mas é importante que o praticante sempre adeque os modelos à própria individualidade. Cada elemento e exercício mencionado terá uma gama de progressões a ser seguida, a depender do seu nível. Mostraremos tudo isso em vídeo. MÓDULO 2 - EIXO INICIANTE: COMEÇANDO NA GINÁSTICA DE ARGOLAS 50 REFERÊNCIAS Ahtiainen, J. P., Pakarinen, A., Alen, M., Kraemer, W. J., & Häkkinen, K. (2003). Muscle hypertrophy, hormonal adaptations and strength development during strength training in strengthtrained and untrained men. European journal of applied physiology, 89(6), 555-563. Blazevich, A. J., Cannavan, D., Waugh, C. M., Fath, F., Miller, S. C., & Kay, A. D. (2012). Neuromuscular factors influencing the maximum stretch limit of the human plantar flexors. Journal of applied physiology (Bethesda, Md. : 1985), 113(9), 1446–1455. Behm, D. G. (2018). 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