Licensed to Crislayne Nascimento da@musculacaoeremedio Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO E CONDROMALÁCIA PATELAR A UNIÃO PERFEITA PARA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Prof. Esp. Felipe Araújo de Barros CREF: 136139-G/SP Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Sobre o autor . Graduado em Licenciatura pela Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba (FEFISO) em 2015. . Graduado em Bacharelado pela Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba (FEFISO) em 2016. . Especialista em treinamento de força pela Universidade de São Paulo (USP) em 2018. Prof. Esp. Felipe Araújo de Barros CREF: 136139-G/SP 2 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO O que vou aprender 1.Conhecendo a articulação patelofemoral 2.Etiologia da condromalácia patelar 3.Quais os fatores de risco para a condromalácia patelar? . Gênero . Ângulo-Q . Corrida de rua . Valgo dinâmico de joelho . Fraqueza muscular 4.Um mundo chamado musculação 5.Musculação e exercícios para o Glúteo médio 6.Fortalecer o Glúteo médio diminui as dores no joelho? 7.Musculação e exercícios para o Quadríceps 8.Como fortalecer o quadríceps sem ter dor no joelho? 9.Fortalecer o quadríceps ou glúteo médio, o que é melhor? 10.Fortalecer o joelho em casa é possível? 11.Como deve ser o treino ideal? . Frequência semanal . Número de exercícios por grupo muscular . Número de repetições . Número de séries por exercício . Seleção dos exercícios 12.Referências 3 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 1 Conhecendo a articulação patelofemoral Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO O joelho é uma estrutura composta por duas articulações, a tibiofemoral formada pelos ossos do fêmur e tíbia tendo como principal função o suporte do peso corporal e a articulação patelofemoral formada pela patela e o fêmur, responsável pelo movimento de extensão de joelho (FLANDRY; HOMMEL, 2011). A patela é classificada como um osso sesamoide, seu tamanho pode variar de 4 – 4,5 centímetros de comprimento, de 5 – 5,5 centímetros de largura e 2 – 2,5 centímetros de espessura, ela apresenta uma cartilagem na sua porção posterior que permite que a patela deslize sobre o fêmur durante os movimentos de flexão e extensão do joelho e essa cartilagem pode atingir de 4 – 5mm de espessura (FOX; WANIVENHAUS e RODEO, 2012; LOUDON, 2016). Imagem adaptada e traduzida de FOX; WANIVENHAUS e RODEO, 2012. 5 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Com o joelho totalmente estendido, geralmente a patela não está em contato com a tróclea do fêmur e a partir do momento que começamos a flexionar o joelho, a área de contato entre a patela e o fêmur começa a aumentar e o primeiro contato acontece entre 10º - 20º graus de flexão de joelho, esse contato começa na porção inferior da patela e com o aumento da flexão de joelho a posição do contato se torna mais proximal (SCHINDLER e SCOTT, 2011). Posição da área de contato Imagem adaptada de SINCLER e SCOTT, 2011. Além de mudar a posição do contato entre o fêmur e a patela, quando flexionamos o joelho alteramos também o tamanho dessa área de contato. No ângulo de 30º graus de flexão de joelho aumentamos a área de contato e ela acontece na porção inferior da patela, no ângulo de 60º graus de flexão de joelho aumentamos de forma significativa a área de contato e ela acontece na porção mais central da patela, quando atingimos o ângulo de 90º graus de flexão o tamanho da área de contato não 6 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO muda de forma significante, entretanto a sua posição se encontra na porção mais proximal da patela e depois dos 120º graus de flexão de joelho, acontece uma diminuição significante no tamanho da área e o contato acontece nas bordas mediais e laterais da patela (LOUDON, 2016; HAUPENTBAL; SANTOS, 2006; ANDRISH, 2015). Imagem adaptata da representação da posição e tamanho da área de contato entre fêmur e patela durante a flexão de joelho (FOX; WANIVENHAUS; RODEO, 2012). A compressão patelofemoral é a força gerada na articulação patelofemoral e a magnitude dessa força é determinada pelo ângulo articular, tensão muscular e tipo de exercício (LOUDON, 2016; STEINKAMP et al., 1993). O resultado dessa compressão patelofemoral é o estresse patelofemoral, que vai ser determinado pela magnitude da força de compressão patelofemoral dividida pelo tamanho da área de contato e quanto menor a área de contato, maior é o estresse patelofemoral (LOUDON, 2016; ESCAMILLA et al., 2008). 7 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Durante as atividades da vida diária (AVD) acabamos impondo sobrecarga na articulação patelofemoral e o tamanho dessa sobrecarga vai ser determinada pela tarefa motora e também pelo nosso peso corporal (SCHINDLER e SCOTT, 2015; LENHART et al., 2014; LOUNDON, 2016). 8 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 2 Etiologia da condromalácia patelar Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Você sabia que condropatia patelar, síndrome da dor patelofemoral, condromalácia patelar e dor patelofemoral são a mesma coisa?. Essas são as definições mais utilizadas para determinar a mesma patologia que afeta a articulação patelofemoral e nesse e-book a nomenclatura a ser utilizada vai ser condromalácia patelar (ALMEIDA et al., 2016; GAITONDE; ERICKSEN e ROBBINS, 2019; WILLY et al., 2019). A condromalácia patelar é a patologia mais comum da articulação patelofemoral, sua principal característica é a perda da cartilagem da patela que permite que ela deslize sobre o fêmur durante o movimento de extensão e flexão do joelho, essa perda acontece por causa do estresse contínuo e/ou repetitivo entre a patela e o fêmur (BESIER et al., 2005; ESCAMILLA et al., 2008). Seu principal sintoma é a dor na frente, embaixo e/ou ao redor da patela que acontece principalmente durante o movimento de agachamento, durante a prática de corrida de corrida, após permanecermos muito tempo sentados e ao subir e descermos um lance de escadas (HARVIE; O’ LEARY e KUMAR, 2008; KHAYAMBASHI et al., 2012; VAN DER HEIJDEN et al., 2015). Segundo Outerbridge (1961), a condromalácia patelar pode ser classificada de acordo com o grau de deteriorização da cartilagem: 10 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO 11 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 3 Quais os fatores de risco para a condromvalácia patelar? Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO As causas para uma pessoa desenvolver a condromalácia patelar são considerados de ordem multifatorial, podemos incluir gênero, mal alinhamento entre patela e fêmur, fraqueza muscular, ângulo-q, esporte específico, estresse patelofemoral repetitivo e/ou contínuo, falta de flexibilidae nos membros inferiores, valgo dinâmico de joelho e a atrofia do vasto medial oblíquo (FELICIO et al., 2019; CLIJSEN; FUCHS e TAEYMANS, 2014; ALBA-MARTÍN et al., 2015; BESIER et al., 2005). Gênero Pesquisa feita por DeHaven e Lintner (1986) avaliou e acompanhou durante 7 anos um total de 4.551 lesões, tanto para os homens e as mulheres os locais mais comuns das lesões foram as articulações do joelho e do tornozelo. A condromalácia patelar foi uma das lesões mais comum no joelho e as mulheres apresentaram um número significantemente maior de condromalácia patelar que os homens. Boling et al. (2010) acompanhou 1520 cadetes dos exercíto americano durante 2 anos e meio e investigou a incidência da condromalácia patelar, os resultados mostraram que um total de 27 mulheres e 18 homens apresentaram os sintomas da condromalácia patelar durante o período da pesquisa e os autores concluíram que as mulheres apresentam 2.23 vezes mais chances de desenvolver a condromalácia patelar. Quando comparamos as muheres com os homens, precisamos destacar algumas particularidades 13 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR relacionadas a disvantagens biomecânicas como uma menor força muscular do quadríceps e rotadores externos do quadril, alteração na cinemática de tarefas dinâmicas e maior ângulo-q, essas váriaveis predispõem as mulheres a ser tornarem mais suscetíveis a condromalácia patelar (SCALI et al., 2018). Ângulo-Q Segundo Almeida et al. (2016a) o ângulo-q é outra variável que sempre ganha importância quando falamos sobre os fatores de risco para a condromalácia patelar. O ângulo-q é o ângulo formado por duas linhas que se encontram no centro da patela, uma linha começa na espinha ilíaca anterossuperior (EIAS) e vai até o centro da patela, a outra linha começa na tuberosidade da tíbia e também cruza o centro da patela (GAITONDE et al., 2019; ALMEIDA et al., 2016). Como já foi citado nesse e-book, as mulheres apresentam maiores graus de ângulo-q porque tem um quadril mais largo que os homens e quanto maior for o ângulo-q, maiores as Imagem adaptada e traduzida de GAITONDE et al., 2019. forças de lateralização da patela que aumentam o 14 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO estresse patelofemoral (BRATTSTROEM, 1964; ALMEIDA et al., 2016). No estudo de Huberti e Heyes (1984) um aumento de 10º graus no ângulo-q causa um aumento no estresse patelofemoral de 45%. Na pesquisa de Almeida et al. (2016a) avaliaram a correlação do ângulo-q com a dor no joelho, capacidade funcional, valgo dinâmico de joelho e força na abdução de quadril de 22 mulheres com condromalácia patelar. Os resultados mostraram nenhuma correlação postiva e/ ou negativa entre o ângulo-q e as variáveis avaliadas. Os autores concluíram que o ângulo-q é uma várivael não modifícavel e treinamento deve ser focado nas variáveis que podem ser modificadas. Corrida de rua Podemos destacar que a corrida de rua é uma dos exercícios aeróbios mais praticado no mundo, trazendo vários benefícios para o sistema cardiovascular (MACERA et al., 1989). No ano de 2017 a Federação Paulista de Atletismo (FPA) realizou uma pesquisa sobre o crescimento da corrida de rua dos anos de 2004 - 2017: Imagem adaptada da FPA, 2017 15 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Imagem adaptada da FPA, 2017 Com os resultados dessa pesquisa, podemos perceber que a corrida de rua é um esporte em total crescimento, com mais de 430 provas e 920.000 participantes no ano de 2017. A corrida de rua apresenta uma alta taxa de lesões com um percentual de 24% - 65% por ano, diminuindo a frequência de treinamento e em alguns casos necessitando de um longo tempo de recuperação (MACERA et al., 1989; GUIJON-NOGUERON e FERNADEZVILLAREJO, 2015; KLUITENBERG et al., 2015). No estudo de Taunton et al. (2002) avaliaram 2002 lesões de corredores de rua (926 homens e 1076 mulheres) durante os anos de 1998 – 2000. O local das lesões variou bastante, sendo 42,1% no joelho, 16,9% no pé/tornozelo, 12,8% na tíbia, 10,9% no quadril/pelve, 6,4% no tendão de Aquiles/panturrilha, 5,2% na coxa, 3,4% na região lombar da coluna vertebral e 2,2% em outras regiões. Além de identificar os locais mais acometidos pelas lesões Taunton et al. (2002) identificaram as 26 lesões mais comuns em corredores de rua, o top 10 é formado por: 16 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO 1º Condromalácia patelar 331 casos 38% homens 62% mulheres 2º Síndrome da banda iliotibial 168 casos 38% homens 62% mulheres 3º Fascite plantar 158 casos 54% homens 46% mulheres 4º Lesões meniscais 100 casos 69% homens 31% mulheres 5º Síndrome do estresse tibial 99 casos 43% homens 57% mulheres 6º Tendinite patelar 96 casos 57% homens 43% mulheres 7º Tendinite do calcâneo 96 casos 58% homens 42% mulheres 8º Lesões no Glúteo médio 70 casos 24% homens 76% mulheres 9º Fratura da tíbia 67 casos 40% homens 60% mulheres 10º Lesões na coluna vertebral 47 casos 51% homens 49% mulheres 17 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Além da condromalácia patelar ficar em primeiro lugar, os resultados mostraram também que as mulheres apresentaram um número de casos significantemente maior que homens, confirmando que as mulheres são mais afetadas pela condromalácia patelar (TAUNTON et al., 2002; BOLING et al., 2010; DEHAVEN e LINTNER, 1986). Francis et al. (2018) realizaram uma revisão sistemática com o objetivo de determinar a proporção de lesões em homens e mulheres corredores de rua por lozalização anatômica e patologias específicas. A revisão sistemática incluiu 36 artigos científicos, totalizando 18.195 corredores de rua e um total de 10.688 lesões. Sobre a localização das lesões, 28% aconteceram no joelho, 26% no pé/tornozelo, 16% na canela, 8% na coxa, 7% no quadril e 15% em outras regiões. Imagem adaptada e traduzida de FRANCIS et al., 2018 Quando os autores identificaram os locais anatômicos das lesões nos homens e mulheres, eles utilizaram como referência 8 estudos científicos para as mulheres com 2.279 lesões e 7 estudos científicos para os homens com 1.875 lesões, novamente os três locais mais lesionados foram a articulação do joelho, seguido do pé/tornozelo e canela. 18 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Imagem adaptada e traduzida de FRANCIS et al., 2018 Imagem adaptada e traduzida de FRANCIS et al., 2018 O estudo de Francis et al. (2018) classificaram as 10 lesões mais comuns em corredores de rua, em 1º lugar ficou a condromalácia patelar, 2º lesão no tendão de Aquiles, 3º síndrome por estresse tibial medial, 4º fascite plantar, 5º síndrome da banda ilíotibial, 6º lesão na panturrilha, 7º lesão no menisco, 8º fratura, 9º tendinite patelar e 10º lesão no quadril. 19 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Imagem adaptada e traduzida de FRANCIS et al., 2018 Como em qualquer esporte o praticante de corrida de rua está sujeito a lesões, podemos destacar alguns fatores de risco como volume de treino, frequência de treinamento, lesões anteriores, anormalidades biomecânicas, fraqueza muscular, massa corporal e flexibilidade (VAN DER WORP et al., 2015). Com os resultados apresentados por Taunton et al. (2002) e Francis et al. (2018), primeiramente podemos destacar que a corrida de rua apresenta altas taxas de lesões que afetam principalmente a articulação do joelho e a patologia mais comum é a condromalácia patelar, mostrando o porquê a condromalácia patelar também é conhecida como a patologia joelho de corredor. 20 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Valgo dinâmico de joelho O estresse patelofemoral elevado é considerado um dos fatores causadores da condromalácia patelar, uma menor área de contato entre a patela e o fêmur associada com um mal alinhamento/tracionamento da patela pode aumentar o estresse patelofemoral e isso acontece durante o valgo dinâmico de joelho (LIAO et al., 2015; BRECHTER e POWERS, 2002). O valgo dinâmico de joelho acontece quando aproximamos os joelhos medialmente durante as tarefas de agachamento, afundo, salto/aterrissagem e também ao subirmos e descermos escadas (BELL; PADUA e CLARK, 2008; SCHMIDT, HARRIS-HAYES e SALSICH, 2017; HEWETT et al., 2005). Esse movimento involuntário é resultado da combinação da adução e rotação interna do fêmur, rotação externa e abdução da tíbia, e pronação/eversão do tornozelo (LIMA et al., 2018; POWERS, 2010; WYNDOW et al., 2018). Imagem adaptada e traduzida de HEWETT et al., 2005 21 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Imagem adaptada de SCHMIDT, HARRIS-HAYES e SALSICH, 2017 A literatura científica ainda tenta descobrir de forma mais clara quais os principais causadores do valgo dinâmico de joelho e a falta de flexibilidade no movimento de dorsiflexão de tornozelo tem ganhado destaque (LIMA et al., 2018; SIGWARD; OTA e POWERS, 2008; RABIN, PORTNOY e KOZOL, 2016). 22 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Para conseguirmos executarmos tarefas da vida diária como agachamento, corrida, caminhada e subida/descida de escada de forma segura precisamos de uma adequada flexibilidade no movimento de dorsiflexão no tornozelo e esse movimento em cadeia cinemática fechada (CCF) acontece quando a tíbia se desloca sobre os pés (BENNELL et al., 1998). Pensando na hipótese da falta de flexibilidade na dorsiflexão de tornozelo e valgo dinâmico de joelho, Macrum et al. (2012) compararam os efeitos do agachamento com restrição de dorsiflexão do tornozelo através de um suporte na ativação muscular e cinemática, os sujeitos das pesquisa realizaram o agachamento com restrição de dorsiflexão utilizando um suporte de madeira e o agachamento sem restrição de dorsiflexão. Agachamento sem restrição de dorsiflexãoAgachamento com restrição de dorsiflexão Imagem adaptada e traduzida de MACRUM et al., 2012 23 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Os resultados mostraram que realizar o agachamento com restrição diminui de forma significante a amplitude de movimento do joelho, a ativação muscular do vasto lateral, vasto medial oblíquo, sóleo e o principal achado foi que a restrição durante o agachamento causou um aumento significante no valgo dinâmico de joelho (MACRUM et al., 2012). Outra pesquisa que avaliou a relação do valgo dinâmico de joelho e falta de flexibilidade de dorsiflexão no tornozelo foi a pesquisa de Bell-Jenje et al. (2015) que avaliaram a adução do fêmur durante o teste de step-down que é semelhante ao movimento de descer um degrau de uma escada. Os autores selecionaram 30 mulheres saudáveis, que foram divididas em 2 grupos: alta flexibilidade de dorsiflexão de tornozelo (AFDT) e baixa flexibilidade de dorsiflexão de tornozelo (BFDT). Durante o step-down ambos os grupos realizaram o teste de duas maneiras, de forma natural e com um calço de madeira de 35mm embaixo do calcanhar para aumentar a amplitude de movimento de dorsiflexão durante o teste. Os resultados mostraram que primeiramente o grupo BFDT apresentou uma adução do fêmur significantemente maior que o grupo AFDT, não houve diferença significante na adução do fêmur entre os grupos quando utilizado o calço de 35mm e o grupo BFDT não apresentou uma adução do fêmur excessiva quando utilizado o calço de 35mm, destacando que o uso do calço aumentou a flexibilidade do tornozelo e dessa forma influenciou na diminuição do valgo dinâmico de joelho durante o teste de step-down (BELL-JENJE et al., 2015). 24 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Imagem adaptada do teste step-down com calço de BELL-JENJE et al., 2015 Uma pesquisa mais recente Lima et al. (2018) avaliaram a associação entre valgo dinâmico de joelho e falta de flexibilidade de dorsiflexão no tornozelo, os resultados mostraram que pessoas com pouca flexibilidade no tornozelo apresentam mais o valgo dinamico no joelho em tarefas dinâmicas como agachamento, saltos/ aterrissagens, caminhada. Os estudos apresentados destacam que um dos fatores que causam o valgo dinâmico de joelho é a falta de flexibildade de dorsiflexão do tornozelo (MACRUM et al., 2012; BELL-JENJE et al., 2015; LIMA et al., 2018), entretanto qual seria a relação do valgo dinâmico de joelho e a condromalácia patelar? 25 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR É muito importante sabermos como cada movimento aumenta a sobrecarga entre a patela e o fêmur, com esse conhecimento poderemos escolher estretégias para diminuir o estresse patelofemoral. Liao, Yin e Powers (2018) avaliaram o estresse na cartilagem da patela durante os movimentos de abdução, adução, rotação externa e rotação interna do fêmur e tíbia. Esses movimentos estão presentes durante o valgo dinâmico de joelho e os resultados mostraram que com o aumento da adução e rotação interna do fêmur, maior era o estresse na cartilagem da patela (LIAO; YIN e POWERS, 2018). Imagem adaptada e traduzida de LIAO, YIN e POWERS, 2018 0º Representa a posição natural; * representa uma diferença significante da posição natural; + representa uma diferença significante entre os segmentos corporais 26 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Imagem adaptada e traduzida de LIAO, YIN e POWERS, 2018 0º Representa a posição natural; * representa uma diferença significante da posição natural; + representa uma diferença significante entre os segmentos corporais O valgo dinâmico de joelho pode ser considerado um movimento involuntário que aumenta o estresse patelofemoral, esse movimento contínuo e/ou repetitivo durante as tarefas do dia-a-dia como sentar e levantar de uma cadeira, subir e descer escadas, durante a caminhada e a corrida pode causar a degeneração da cartilagem da patela com o passar do tempo e consequentemente, irá influenciar no surgimento da condromalácia patelar (LIAO; YIN e POWERS, 2018; BESIER et al., 2005; ESCAMILLA et al., 2008). Algumas pesquisas tem mostrado que pessoas com condromalácia patelar apresentam um maior valgo dinâmico do joelho, quando comparado com pessoas saudáveis e dessa forma podemos concluir que devemos utilizar estratégias de treinamento que diminuam o valgo dinâmico de joelho em pessoas com condromalácia patelar (ALMEIDA et al., 2016b; WILLSON e DAVIS, 2008; NAKAGAWA et al., 2012). 27 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Fraqueza muscular Chegamos ao último e mais importante fator de risco para desenvolver a condromalácia patelar, você vai descobrir que a fraqueza muscular pode afetar os músculos que estão totalmente ligados a articulação do joelho (ex. quadríceps) e também outros músculos (ex. glúteo médio) e como isso pode influenciar na condromalácia patelar. Foi destcado que o valgo dinâmico de joelho aumenta o estresse patelofemoral e consequentemente a degeneração da cartilagem da patela (LIAO; YIN e POWERS, 2018; BESIER et al., 2005; ESCAMILLA et al., 2008). A literatura científica tem destacado que outro fator que poderia causar o valgo dinâmico de joelho é a fraqueza dos músculos do quadril, principalmente a fraqueza do glúteo médio (FULKERSON, 2002; RABELO e LUCARELLI, 2018). O glúteo médio é responsável pelos movimentos de rotação externa e abdução do quadril, quando esse músculo está enfraquecido pode ocorrer a rotação interna excessiva do fêmur e consequentemente um aumento do valgo dinâmico do joelho durante as tarefas como agachamento, subir e descer escadas, caminhada e corrida (PIVA; GOODNITE e CHILDS, 2005). Será que pessoas com condromalácia patelar apresentam uma fraqueza no glúteo médio? 28 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Ireland et al. (2003) compararam a força muscular isométrica do glúteo medio de 15 mulheres com condromalácia patelar e 15 mulheres saudáveis nos movimentos de abdução e rotação externa do quadril. Os resultados mostraram que as mulheres com condromalácia patelar eram significantemente mais fracas que as mulheres saudáveis. Imagem traduzida e adaptada de IRELAND et al., 2003 Outra pesquisa semelhante também avaliou a força muscular isométrica, entretanto os autores compararam a força do lado lesionado versus o lado não lesionado de mulheres com condromalácia patelar unilateral. O teste de 29 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR força muscular isométrico foi aplicado nos movimentos de flexão, extensão, rotação interna, rotação externa, adução e abdução do quadril. Os resultados mostraram que o lado com condromalácia patelar era significantemente mais fraco somente nos movimentos de abdução e rotação externa do quadril (CHICHANOWSKI et al.,2007). Almeida et al. (2016b) compararam a relação entre o valgo dinâmico de joelho e a força isométrica dos músculos do tronco e do quadril de mulheres comdromalácia e mulheres saudáveis. As muheres com condromalácia eram significantemente mais fracas que as mulheres saudáveis nos movimentos de abdução, rotação externa e extensão de quadril, não houve diferença significante entre os grupos na força dos músculos do tronco. O grupo condromalácia mostrou um maior valgo dinâmico de joelho e isso foi correlacionado a fraqueza dos abdutores e rotadores externos do quadril. Como você pode ver mulheres com condromalácia patelar apresentam uma fraqueza no músculo glúteo médio e isso influência de forma negativa no valgo dinâmico de joelho (IRELAND et al., 2003; CHICHANOWSKI et al., 2007). Outro grupo muscular que quando enfraquecido é um fator de risco para desenvolver a condromalácia patelar é o quadríceps (LANKHORST; BIERMA-ZEINSTRA e MIDDELKOOP, 2012; NEAL et al., 2019). O quadríceps é um grupo muscular formado pelo reto femoral, vasto medial, vasto intermédio e vasto lateral, os tendões desses músculos se unem para formar o tendão quadriciptal que se insere na patela permitindo a extensão do joelho (FLANDRY e HOMMEL, 2011; RIBEIRO et al., 2005; NEUMANN, 2011). 30 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Imagem adaptada de NEUMANN, 2011 A pesquisa de Van Tiggelen et al. (2004) avaliou a força muscular do quadríceps de 96 recrutas do exercíto antes de iniciar um programa de treinamento militar básico. Os resultados mostraram que 32% dos recrutas desenvolveram a condromalácia patelar após o fim do treinamento e os autores descobriram que isso aconteceu com os recrutas que apresentavam um déficit de força no quadríceps. Duvigneaud et al. (2008) avaliaram a força muscular do quadríceps de 62 recrutas do exercíto, entretanto utilizando somente mulheres cadetes. A força muscular foi avaliada antes do treinamento militar básico e os resultados foram semelhantes ao trabalho de Van Tiggelen et al. (2004). Após o treinamento, 42% das 31 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR mulheres desenvolveram condromalácia patelar e isso mostra novamente que as mulheres são mais afetadas pela condromalácia patelar que os homens. A fraqueza do quadríceps foi o fator intrínsico para o surgimento da condromalácia patelar, entretanto, o treinamento militar teve uma grande influência nisso. Esse treinamento durava 6 semanas e os cadetes faziam corridas e caminhadas com mochilas que pesavam de 20Kg – 30Kg, exercícios táticos, de tiro, teóricos e isso tudo de 8 – 12 horas todos os dias. Para o cadete terminar o treinamento, ele precisava passar por um teste que consistia de uma caminhada de 60km com uma mochila pesando de 20Kg - 30K (VAN TIGGELEN et al., 2004; DUVIGNEAUD et al., 2008). Com um treinamento desse podemos perceber a grande sobrecarga imposta a articulação patelofemoral, lembrando que durante uma caminhada a sobrecarga na articulação patelofemoral é de 0.5 x o peso corporal e na corrida é de 4.5 x o peso corporal, somando mais o peso da mochila (VAN TIGGELEN et al., 2004; DUVIGNEAUD et al., 2008; SCHINDLER e SCOTT, 2011). A fraqueza muscular foi o último tópico a ser falado sobre os fatores de risco para desenvolver a condromalácia patelar. Após abordarmos tudo isso, podemos destacar a importância da força muscular para previnir movimentos involuntários (valgo dinâmico de joelho) que aumentam a sobrecarga na cartilagem da patela e também o seu papel de proteção contra as sobrecargas impostas ao joelho durante o dia-a-dia (IRELAND et al., 2003; DUVIGNEAUD et al., 2008). Com a importância da força muscular, precisamos 32 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO destacar a necessidade de melhorar essa capacidade física de pessoas com condromalácia e o tipo de exercício mais adequado para esse objetivo é a musculação. A partir de agora, você vai entender o que é a musculação e porque é a melhor escolha para pessoas com condromalácia patelar. 33 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 4 Um mundo chamado musculação Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Não se sabe exatamente quando e onde iniciou-se a musculação, entretanto, hoje em dia é um dos exercícios físicos mais praticado no mundo. A musculação é conhecida e/ou chamada de várias maneiras: treinamento resistido, ginástica com pesos, treinamento contraresistência, treinamento de força e independentemente da maneira que você chama, continue treinando ou comece a praticar (GIANOLLA, 2003). A principal característica da musculação é a realização do movimento contra algum tipo de resistência, esse movimento pode ser feito de forma dinâmica e/ou isométrica e o tipo de resistência pode variar bastante, podemos utilizar o próprio peso corporal, elásticos, minibands, halteres, anilhas, barras e até máquinas (SANTAREM, 1995; LIMA, 2002; BARBANTI, 1994; BITTENCOURT, 1984). Para conseguirmos treinar de forma planejada e eficiente, a musculação apresenta as suas variáveis de treinamento que são as estruturas que podemos utilizar/modificar para prescrever a musculação. Essas variáveis são: movimento, série, repetições, intervalo de descanso, cadência/ velocidade de execução e métodos de treinamento (GIANOLLA, 2003). O movimento durante os exercícios da musculação pode ser classificado de 3 maneiras: Contração concêntrica ou fase positiva - é um tipo de contração muscular na qual o músculo vence a resistência imposta ao movimento, encurtando o músculo (LIMA, 2002; BARBANTI, 1994; BITTENCOURT, 1984; RODRIGUES, 1985; GUIMARÃES NETO, 1999; SANTAREM, 1995; UCHIDA et al, 2010). 35 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Contração excêntrica ou fase negativa - também é um tipo de contração muscular na qual o músculo acaba cedendo a resistência e assim, o músculo se alonga na fase final do movimento (RODRIGUES, 1985; LIMA, 2002; MARCHETTI; CALHEIROS e CHARRO, 2007; BARBANTI, 1994; BITTENCOURT, 1984; RODRIGUES, 1985; GUIMARÃES NETO, 1999). Contração isométrica ou estática - é aquela que a força muscular e a resistência imposta acabam tendo uma força igual e assim não existe o alongamento e nem encurtamento do músculo (MARCHETTI, CALHEIROS e CHARRO, 2007; SANTAREM, 1995; UCHIDA et al, 2010; LIMA, 2002; BARBANTI, 1994; RODUIGUES, 1985; GUIMARÃES NETO, 1999). Continuando falando sobre o movimento na musculação, não podemos esquecer da amplitude de movimento que é a distância percorrida durante uma contração muscular, maiores amplitudes de movimento apresentam melhores resultados para hipertrofia muscular e emagrecimento 36 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO (UCHIDA et al., 2010; BLOOMQUIST et al., 2013; MCMAHON et al., 2014). Bloomquist et al. (2013), compararam a hipertrofia muscular do quadríceps entre o agachamento parcial (0º - 60º graus de flexão de joelho) e o agachamento paralelo (0º - 120º graus de flexão de joelho) depois de 12 semanas de treinamento. Os resultados mostraram que o grupo agachamento paralelo teve um aumento de 4% - 7% no quadríceps, enquanto o grupo agachamento parcial, não teve mudanças significantes. Imagem adaptada de BLOOMQUIST et al., 2013 37 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR A variável série determina o número de vezes que o praticante vai realizar determinado exercício, cada série é separada por um intervalo de descanso e o número de séries por exercício pode ser determinada pelo nível de treinamento do aluno e frequência semanal (GUIMARÃES NETO, 1999; BARBANTI, 1994; LIMA, 2002; SANTAREM, 1995). De acordo com Gianolla (2003), repetições são o número de vezes que um movimento de qualquer exercício é feito sem intervalos pelo aluno ou praticante de musculação, o movimento é dividido em fase concêntrica e fase excêntrica. Esse total de repetições depende muito da carga utilizada: Carga pesada: de 1 a 5 repetições; Carga média: de 6 a 12 repetições; Carga leve: acima de 12 repetições; Intervalo ou descanso é o período de tempo que se tem para recuperar a energia necessária para realizar a série seguinte, sendo uma das coisas mais negligenciadas pelos praticantes do treinamento resistido por pressa, por ficar conversando e/ou por ficar mexendo no celular na sala de musculação, isso acaba influenciando de forma negativa os resultados do aluno (GIANOLLA, 2003). Intervalos com menos de um minuto são utilizados para treinamento com mais de 15 repetições por série, os intervalos entre 1 e 3 minutos são mais usados no treinamento que varia 6 – 12 repetições por série e os intervalos com mais de 3 minutos são utilizados frequentemente no treinamento de força que varia de 1 – 5 repetições por série (UCHIDA et al., 2010). A cadência ou velocidade de execução é a variável que está ligada a velocidade de execução do exercício, o controle da velocidade é feito por segundos e pode ser 38 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO classificada em lenta quando o movimento dura mais de 4 segundos, moderada quando a duração é superior a 2 segundos e inferior a 4 segundos e por último, é classificada em rápida quando o movimento é inferior a 2 segundos (PRESTES et al., 2016). Pesquisa feita Schoenfeld, Ogborn e Krieger (2015) avaliou a influência da duração de cada repetição na hipertrofia muscular e os resultados mostraram que repetições ente 0,5 – 8 segundos até a falha muscular, apresentaram resultados semelhantes. Os métodos ou sistemas de treinamento são estratégias que manipulam as variáveis do treinamento resistido já citadas acima e podem ser utilizadas independentemente do objetivo do praticante (PRESTES et al., 2016). Método 21 - A série é dividida em três fases de 7 repetições parciais, uma no início, uma no meio e uma completa. Um exemplo seria na rosca direta onde o aluno executa 7 repetições da posição inicial até o meio, mais 7 repetições do meio até a posição final e depois mais 7 repetições completas (GIANOLLA, 2003). Método Blitz - Essa técnica consiste em treinar um grupo muscular por semana, realizando de 3 a 6 exercícios para o músculo desejado (GUIMARÃES NETO, 1999; UCHIDA et al., 2010; GIANOLLA, 2003). Método Circuito - O circuito é dividido em vários exercícios, cada exercício é chamado de estação e cada vez que o aluno completa o circuito é chamado de passagem. O número de passagens fica em torno de 5 a 8 vezes e cada estação pode ser executada 39 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR por um tempo determinado (30 segundos) ou por um número repetições ideais e a troca de estações deve ser rápida e sem descanso (UCHIDA et al., 2010, GIANOLLA, 2003). Método Drop-set - Após realizar um número estipulado de repetições o aluno diminuirá a carga e sem descanso continuará o exercício até a falha concêntrica, isso pode ser feito em torno de três vezes (PRESTES et al.,2016). Método Pré – Exaustão - O aluno escolhe o músculo a ser trabalhado e começa o treinamento com um exercício uniarticular para esse músculo, e em seguida, sem descanso faz outro exercício multiarticular. O objetivo é desgastar a musculatura alvo antes do exercício principal e um exemplo na prática seria crucifixo com supino (GIANOLLA et al., 2003). Método Negativa - Para realizar esta técnica o aluno precisará de um companheiro de treino, porque coloca-se um peso que ele sozinho não consiga realizar uma contração concêntrica. O amigo deve ajudar na fase concêntrica do exercício e na fase excêntrica o aluno deve controlar sozinho o movimento (PRESTES et al., 2016). Método Ondulatório - O aluno deve realizar suas séries como uma onda, na parte superior cargas altas e poucas repetições, na parte inferior a carga deve ser baixa e com altas repetições, essa variação na carga de treino e repetições pode ser feita a cada treino e semanalmente (UCHIDA et al.,2010). 40 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Método Pirâmide - Esse método está classificado em pirâmide crescente e decrescente. A pirâmide crescente consiste em começar com pouco peso e altas repetições e a cada série aumenta-se o peso e diminui-se as repetições. Na pirâmide decrescente começa com altas cargas e poucas repetições e a cada série diminui –se o peso e aumenta-se as repetições (PRESTES et al., 2016). Método Super-set - Nesta técnica o praticante utiliza dois exercícios seguidos e sem descanso, pode ser agonistas com agonistas ou agonistas com antagonistas. Exemplos: rosca direta com máquina scoot ou rosca direta com pulley tríceps (GIANOLLA, 2003; UCHIDA et al., 2010). Agora que você sabe o básico sobre o que é composta a musculação, é obrigatório você saber os benefícios desse exercício para a sua saúde. Infelizmente, a musculação cresceu com a imagem do exercício voltado para a estética e também para o emagrecimento. A musculação ajuda a atingir esses objetivos, entretanto, seu maior benefício é promover a melhora na saúde da pessoa. Todo mundo sabe que o sedentarismo aumenta os riscos para diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, câncer do colo, câncer de mama, demência, depressão e doenças degenerativas (WHO, 2008). Durante a musculação, a cada contração muscular nosso corpo acaba liberando fatores protetivos no sistema circulatório e isso tem efeitos positivos na nossa saúde a curto, médio e a longo prazo (MAESTRONI et al., 2020). A musculação é um dos melhores exercícios para a cartilagem óssea, a osteoartrite ou também chamada de 41 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR artrose de joelho é uma das doenças degenerativas mais comum e afeta mais os idosos (LIAO et al., 2020). Pesquisa feita por Mikesky et al. (2006) mostrou que 12 meses de musculação ajuda a atrasar a perda da cartilagem do joelho, aumenta a força muscular do quadríceps e melhora as capacidades funcionais. Outra doença degenerativa que a musculação pode ser considerada como um remédio é a osteopenia/ osteoporose, essa patologia tem como principal característica a perda ou diminuição da densidade mineral óssea e afeta mais as mulheres na menopausa (MOSTI et al., 2013; ZHAO; ZHAO e XU, 2015). No estudo de Pinheiro et al. (2016) 42 mulheres na menopausa e com osteopenia, praticaram musculação durante 13 meses e os resultados mostraram que as mulheres aumentaram a densidade mineral óssea. As tendinopatias são patologias inflamatórias que afetam os tendões musculares, a tendinopatia do tendão de Aquiles é uma das mais comuns e afeta 36% dos corredores de rua recreacionais (HEAD et al., 2019). Uma estratégia que é muito utilizada na musculação para tratar as dores no tendão é o treinamento excêntrico, que consiste em realizar a fase concêntrica do exercício de forma bilateral e a fase excêntrica de forma unilateral, apresentados excelentes resultados (BEYER et al., 2015). A diabetes tipo 2 é uma das doenças que mais causa morte de forma indireta no mundo e está diretamente ligada ao estilo de vida do indivíduo (ZHENG; LEY e HU, 2018). No estudo de Manzano et al. (2020) os resultados mostraram que a musculação com um treinamento voltado para hipertrofia e resistência muscular são eficientes em controlar a glicemia, melhorar as 42 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO capacidades físicas e a composição corporal. No ano de 2018, surgiram mais de 2 milhões de novos casos de câncer de mama no mundo e essa patologia afeta de forma negativa a qualidade de vida das mulheres (BRAY et al., 2018). A mulher com câncer de mama pode aumentar a força máxima em 20%, a resistência aeróbia na caminhada em 10%, a resistência muscular dos membros inferiores em 30%, a performance funcional e também a massa muscular, praticando musculação durante 12 semanas (CESEIKO et al., 2020). A depressão é um problema de saúde mundial afetando mais de 300 milhões de pessoas e os custos com os tratamentos chegam a aproximadamente 118 bilhões anualmente (MRAZEK et al., 2014). A musculação pode ser associada com uma redução significante nos sintomas da depressão e esse benefício a saúde mental, pode ser atribuído as interações sócias que acontecem no ambiente de treinamento (O’CORNNOR; HERRING e CARAVALHO, 2010; GORDON et al., 2018). O envelhecimento é algo natural e esse processo causa a diminuição da força e massa muscular, a musculação pode ser considerada a melhor opção para combater os efeitos adversos do envelhecimento (LALLY e CROME, 2007). O último posicionamento de musculação para idosos indica 2-3 séries por exercício, com intensidade de 70%-85% de 1 repetição máxima, frequência de treinamento de 2-3 vezes por semana e o programa deve seguir os princípios do treinamento (FRAGALA et al., 2019). 43 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Imagem traduzida e adaptada de MAESTRONI et al., 2020 Agora que você sabe os vários benefícios da musculação para a saúde, será que a musculação também pode ser utilizada como ferramenta para diminuir as dores no joelho de pessoas com condromalácia patelar? A partir de agora você vai entender: Quais músculos devemos fortalecer para diminuir as dores no joelho? Quais são os melhores exercícios para quem tem condromalácia patelar? O que é o ângulo de proteção? Por que o agachamento é o melhor exercício para pessoas com condromalácia patelar? Como devemos progredir o treinamento de forma segura e eficiente? Entre outros assuntos!! 44 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 5 Musculação e exercícios para o Glúteo médio Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Se você chegou até aqui, já deve ter entendido que é necessário aumentar a força muscular de pessoas com condromalácia patelar, principalmente dos músculos glúteo médio e quadríceps para diminuir as sobrecargas no joelho (IRELAND et al., 2003; DUVIGNEAUD et al., 2008). O músculo glúteo médio é responsável pelos movimentos de abdução e rotação externa do quadril (NEUMANN, 2011). Para fortalecer esse músculo podemos utilizar os exercícios ostra/clamshell, cadeira abdutora, abdução de quadril com caneleira, passada lateral, drop pélvico e abdução de quadril em pé com elástico (BOREN et al., 2011). Exercícios com abdução de quadril Para todo início de fortalecimento é regra começarmos pelo exercício com menor sobrecarga e seguindo o príncipio da sobrecarga, vamos aumentanto a dificuldade e a sobrecarga imposta ao músculo de forma progressiva e com exercícios diferentes (RATAMESS et al., 2009). Seguindo esse conceito, o exercício mais básico e de menor sobrecarga para fortalecer o glúteo médio é o exercício chamado ostra ou do inglês clamshell (SIDORKEWICZ; CAMBRIDGE e MCGILL, 2014). O exercício tem esse nome 46 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO pela semelhança do movimento de abdução de quadril, com o movimento da ostra ao abrir a boca. Uma pesquisa recente, feita por Bishop et al. (2018) comparou a ativação muscular do glúteo máximo, glúteo médio e tensor da fáscia lata durante exercícios comuns da musculação. Os autores formaram um rank com os 13 melhores exercícios para o glúteo médio com a menor ativação do tensor da fácia lata e o exercício que ficou em primeiro lugar foi o ostra. Para iniciar esse exercício você vai precisar de um miniband, você vai posicioná-lo acima dos joelho, depois você vai deitar-se de lado com os pés um apoiando sobre o outro, joelhos e quadril flexionados e a cabeça apoiada. Para executar o exercício, você vai precisar realizar uma abdução de quadril até o alongamento máximo do miniband e a descida é feita até uma coxa encostar na outra (SELKOWIWITZ; BENECK e POWERS, 2013). Exercício ostra 47 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR Outra opção para você fortalecer o glúteo médio é a abdução de quadril com caneleira, a posição para executar esse exercício é semelhante ao exercício ostra, porque você vai precisar ficar deitado de lado, entretanto, a posição da sobrecarga é diferente. No exercício ostra a sobrecarga(miniband) fica acima dos joelhos, na abdução de quadril com caneleira o peso fica posicionado no tornozelo. Para executar a abdução de quadril com caneleira, você vai precisar deitar-se de lado, você vai manter o joelho totalmente estendido e a ponta dos pés sempre voltados na direção da canela, você vai realizar a abdução de quadril até atingir o ângulo de 25º - 30º graus e depois retorna a posição inicial (DISTEFANO et al., 2009; BOLGLA e UHL, 2005). Abdução de quadril com caneleira A abdução de quadril também pode ser realizada em pé e essa variação pode ser feita com a caneleira, elástico/miniband e até mesmo no crossover. Para executar essa variação, você vai permancer em pé com as pernas estendidas e o ângulo de execução é semelhante a abdução de quadril deitado no chão (BOLGLA e UHL, 2005). 48 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Abdução de quadril em pé com miniband e no crossover, respectivamente Um dos exercícios que tem ganhado destaque recentemente no fortalecimento do glúteo medio é a passada lateral (CAMBDRIDGE et al., 2012). Nesse exercício você precisa de um miniband que tradicionalmente é posicionado a acima dos joelhos e na posição de agachado, você precisa realizar passos lateralmente (SELKOWIWITZ; BENECK e POWERS, 2013). Passada lateral com miniband O principal material necessário para realizar a passada lateral é o miniband, que é posicionado acima do joelho, 49 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR entretanto será que mudar a posição do miniband poderia aumentar a ativação muscular do glúteo médio?. Pesquisa feita por Lewis et al. (2018) comparou a ativação muscular do glúteo médio durante a passada lateral com o miniband posicionado em 3 locais diferentes. A pesquisa selecionou 22 pessoas, sendo 11 mulheres e 11 homens que realizaram a passada lateral com o miniband posicionado acima do joelho, no tornozelo e na ponta dos pés. Os resultados mostraram que a ativação muscular do glúteo médio foi 41,3% maior nas mulheres do que nos homens, a ativação muscular do glúteo médio sofreu influência da posição do miniband. Quanto mais distante do quadril o miniband era posicionado, maior era ativação muscular do glúteo médio, quando o miniband foi movido de acima do joelho para o tornozelo isso aumentou a ativivação muscular em 43,4% e quando foi movido do tornozelo para a ponta dos pés a ativação muscular aumentou 18,7% (LEWIS et al., 2018). Imagem adaptada de LEWIS et al., 2018 50 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva -PARA crislayne.nascimentosilva@ufpe.br A UNIÃO PERFEITA DIMINUIR A DOR NO JOELHO Esse resultado pode ser explicado pelo fato que ao aumentarmos a distância entre o miniband e a articulação do quadril aumentamos o braço de resistência entre o quadril e o miniband, sendo necessário uma maior força do glúteo médio para realizar a passada lateral. Com essa informação podemos utilizar a mudança do posicionamento do miniband como estratégia de progressão do treinamento. Iniciamos o fortalecimento do glúteo médio através da passada lateral com o minibanda acima do joelho, depois que a força muscular aumentar, mudamos para a posição do tornozelo e por último, posicionamos o miniband na ponta dos pés. Além de mudar a posição do miniband para aumentar a ativação muscular do glúteo médio, também podemos utilizar a estratégia de mudar a posição do tronco. Berry et al. (2015) compararam a ativação muscular do glúteo médio durante a passada lateral com o tronco totalmente reto e com o tronco levemente inclinado a frente. Os resultados mostraram que quando a passada lateral é feita com o tronco levemente inclinado, aumentamos a ativação muscular do glúteo médio. Com base nos resultados dessas últimas pesquisas, a ativação muscular do glúteo médio durante a passada lateral é muito influenciada pela técnica de execução e também pelo posicionamento do miniband (LEWIS et al., 2018; BERRY et al., 2015). Imagem adaptada de BERRY et al., 2015 51 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - Ecrislayne.nascimentosilva@ufpe.br MUSCULAÇÃO CONDROMALÁCIA PATELAR A prancha lateral é um exercício muito utilizado para fortalecer os oblíquos abominais (IMAI et al., 2010), entretanto na pesquisa feita por Ekstrom, Donatelli e Carp (2007) os resultados mostraram que a prancha lateral foi o exercício com a maior ativação muscular do glúteo médio, chegando a atingir 74% de ativação muscular. A prancha lateral por ser uma excelente opção para fortalecer o glúteo médio em casos onde não tenha material para executar os exercícios ostra, abdução de quadril com caneleira e cadeira abdutora. Se você tiver dificuldade de realizar a prancha lateral com os pés no chão, a variação mais fácil é com os joelhos no chão (MCGILL, 2001). Imagem A prancha lateral com apoio do joelho e imagem B prancha lateral com o apoio dos pés adaptadas de MCGILL, 2001 52 Licensed to Crislayne Nascimento da Silva - crislayne.nascimentosilva@ufpe.br 6 Fortalecer o Glúteo médio diminui as dores no joelho?