Uploaded by Helder Guimarães

Helder Agrária

advertisement
Revista Brasileira de Ciências Agrárias
v.7, n.2, p.xxx-xxx, abr.-jun., 2012
Recife, PE, UFRPE. www.agraria.ufrpe.br
Protocolo 1439 - 24/03/2011 • Aprovado em 28/09/2011
DOI:10.5039/agraria.v7i2a1439
Helder de B. Guimarães1
Ricardo A. P.
Braga2
Tiago H. de Oliveira2
Evolução da condição ambiental em
fragmentos de mata atlântica na região
metropolitana do Recife–PE
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo analisar a evolução da condição ambiental de quatro fragmentos de Mata Atlântica tutelados ao Exército Brasileiro, localizados na Região Metropolitana do Recife, através da comparação
espacial e temporal do Índice de Área Foliar (IAF), gerado a partir de imagens do satélite Landsat 5/TM, em
períodos que variam de 18 a 21 anos. Antes de ficarem sob a responsabilidade do Exército, as áreas de estudo eram utilizadas no cultivo de cana-de-açúcar e capim para pecuária. Concluiu-se que o método de comparação utilizando-se o Índice de Área Foliar mostrou-se adequado, evidenciando uma melhora das condições
ambientais dos fragmentos florestais das áreas pertencentes às Organizações Militares estudadas, com incremento de quase 100% em alguns casos. Esta tendência de melhora progressiva da condição ambiental se
estabelece no sentido inverso do que vem ocorrendo na maioria das áreas florestais estudadas nas regiões
metropolitanas. Esta constatação evidencia a necessidade de uma estratégia de conservação dessas áreas no
futuro, reduzindo as pressões por mudança no uso do solo, geradas pelos atuais vetores de crescimento urbano e industrial.
Palavras-chave: Política ambiental, regeneração natural, serviço ambiental
Evolution of the environmental status of the
Atlantic forest fragments in the metropolitan area
of Recife, Pernambuco, Brazil
ABSTRACT
1 Ministério da Defesa, Exército Brasileiro, Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva do Recife, Avenida
17 de Agosto , 1020, Parnamirim, CEP 52050-340,
Recife-PE, Brasil. Fone: (81) 3441-3970. E-mail:
helder.prof@gmail.com
2 Universidade Federal de Pernambuco, Centro de
Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil, Av.
Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária,
CEP 50740-530, Recife-PE, Brasil. Fone: (81) 21267216. Fax: (81) 2126-8219. E-mail:
rbraga@hotlink.com.br; thdoliveira5@gmail.com
This work had the objective to analyze the evolution of the environmental condition of four Atlantic Forest fragments under the protection of the Brazilian Army, located in the Metropolitan Region of Recife, Pernambuco,
Brazil, by the spatial and temporal comparison of the Leaf Area Index (LAI), generated from Landsat 5/TM satellite images, in periods ranging from 18 to 21 years. Before being under the responsibility of the Army, the study
areas were used for sugarcane and pasture grass cultivation. It was concluded that the comparison method
using the Leaf Area Index was adequate, evidencing an improvement of the environmental conditions of the
studied under the protection of the Military Organizations, with increments of almost 100% in some cases. This
trend of progressive environmental condition improvement is established in the opposite direction of what is
happening in most studied forested areas in metropolitan areas. This condition indicates the need of conservation strategies for these areas in the future, reducing the pressures for change in soil use, created by the current urban and industrial growth drivers.
Key words: Environmental politic, natural regeneration, environmental services
2
Guimarães et al.
INTRODUÇÃO
No século XVI o bioma Mata Atlântica cobria grande
parte da faixa litorânea do território brasileiro, indo do Rio
Grande do Sul até o estado do Rio Grande do Norte, possuindo, ainda, encraves interioranos nos estados de Minas
Gerais, Ceará e Piauí. Devastada no decorrer dos séculos,
estima-se que restam apenas 7,6% da área original, representando cerca de 290 mil quilômetros quadrados do território nacional (Melo, 2006).
A Lei 11.428 (Brasil, 2006), conhecida como a Lei da
Mata Atlântica, considera como integrantes deste bioma as
seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista,
também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta
Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, os campos de altitude, os brejos interioranos e os encraves florestais do Nordeste.
A Mata Atlântica é considerada um hot-spot em termos
de biodiversidade e de endemismo (Myers et al., 2000). Nas
últimas três décadas, muitos estudos foram conduzidos na
floresta atlântica, em sua maioria relativos à diversidade de
sua fauna; entretanto, há relativamente pouca informação
disponível sobre a sua estrutura e o funcionamento deste bioma (Vieira et al., 2008).
Os remanescentes florestais em áreas metropolitanas assumem relevância maior, uma vez que se encontram sob
potencial ou real pressão de urbanização, como abertura de
estradas, implantação de parques industriais, criação de novos loteamentos, construção de conjuntos habitacionais e
ocupação urbana informal, tão típica dos chamados perímetros periurbanos. Os grandes maciços florestais transformaram-se em bairros residenciais, ou em raras exceções, em
florestas urbanas, como ilhas de vegetação nativa (Braga,
2011).
A Região Metropolitana do Recife (RMR) possui 2.768,95
km² de área; deste total, apenas 8% é representada por uma
cobertura vegetal de remanescente de Mata Atlântica, ou seja,
222,96 km² (CPRH, 2006). Nesta mesma região as áreas
pertencentes ao Exército Brasileiro com cobertura vegetal de
Mata Atlântica representam 76 km², correspondendo a 29%
do total de área com cobertura remanescente deste bioma em
toda RMR. Logo, quase um terço das áreas remanescentes
de Mata Atlântica da RMR está tutelado ao Exército Brasileiro.
As áreas-objeto deste estudo foram selecionadas por possuírem características semelhantes, pois estão vinculadas a
uma mesma instituição, representando uma parcela significativa dos remanescentes de Mata Atlântica na RMR e possuindo históricos de uso e ocupação do solo igual.
O Índice de Área Foliar (IAF, ou LAI Leaf Area Index)
constitui um dos principais parâmetros biofísicos e estruturais da vegetação, sendo definido como a área foliar total por
unidade de área do solo (m2 m-2) (Carreire, 2005). A mesma
autora comenta que para estimar a produtividade e a evapotranspiração, pesquisadores têm desenvolvido modelos de
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
interface floresta-solo-atmosfera, nos quais o IAF é a principal variável descritora do dossel vegetal. Assim, este índice poderia ser um indicador da condição ambiental da floresta.
Quanto à regeneração de área florestal, ela pode ser definida como a restauração da fitomassa na clareira florestal, à
medida que o dossel alcança a maturidade, ou pode se referir ao reagrupamento da diversidade estrutural florística ao
estado de clímax de autoperpetuação (Venturoli et al., 2007)
A regeneração florestal em áreas de pastagens abandonadas tem sido amplamente estudada na região da Floresta
Amazônica, sendo a direção e velocidade do processo dependente de vários fatores, como o tempo de abandono, estado
de degradação do solo, proximidade de fontes de propágulos e predação de sementes e plântulas (Silva Júnior al.,
2004).
Os principais meios de regeneração natural das espécies
tropicais se dão através da chuva de sementes (sementes dispersadas recentemente), do banco de sementes do solo (sementes dormentes no solo), do banco de plântulas (plântulas estabelecidas e suprimidas no chão da floresta), e da
formação de bosque (emissão rápida de brotos e/ou raízes
provenientes de indivíduos danificados) (Garwood, 1989
apud Caldato et al., 1996). Segundo Rodrigues et al. (2004),
a regeneração natural constitui um importante indicador de
avaliação e monitoramento da restauração de ecossistemas
degradados.
Este trabalho tem o objetivo de analisar a evolução da
condição ambiental de quatro fragmentos de Mata Atlântica
tutelados ao Exército Brasileiro localizados na Região Metropolitana do Recife, através da comparação espacial e temporal do Índice de Área Foliar (IAF) gerado a partir de imagens do satélite TM Landsat 5 em períodos que variam de
18 a 21 anos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Áreas de estudo
Foram alvos desta pesquisa quatro fragmentos de Mata
Atlântica, que são utilizados pelo Exército Brasileiro para a
realização de manobras militares. Um dos fragmentos está
localizado em uma região rural e os demais estão inseridos
na parte urbana da Região Metropolitana do Recife. As áreas estão sob a responsabilidade das seguintes Organizações
Militares (OM): Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), 4º Batalhão de Comunicações (4º BCom),
14º Batalhão de Infantaria Motorizado (14º BIMtz) e Complexo Militar do Curado (constituído pelo Comando Militar
do Nordeste (CMNE), 4º Batalhão de Polícia do Exército (4º
BPE) e 10º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (10º Esqd
C Mec )).
Na Tabela 1 é apresentado um resumo dos dados relativos às áreas, aspectos, antiga destinação de uso do solo, localização e ano que passou à tutela do Exército.
Evolução da condição ambiental em fragmentos de mata atlântica na região metropolitana do Recife–PE
3
Tabela 1. Dados informativos sobre as áreas objetos de estudo
Table 1. Informative data about the areas used as study objects
Organização Militar
Área (ha)
Antiga destinação do uso do solo
Localização
Quando passou à tutela do Exército
CIMNC
7.342
Engenhos de cana-de-açúcar
7º49'52"S
53º06'09" W
1944
4º BCom
173,53
Fazenda do Ministério da Agricultura destinada ao cultivo de capim
8º05'59" S
34º57'22" W
1965
14º BIMtz
401,40
Conjunto de pequenos sítios
8º05'34" S
35º00'18" W
1958
Complexo Militar do Curado
340,00
A propriedade pertencia ao Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do
Nordeste e destinava-se ao cultivo de cana-de-açúcar e capim
8º04'18" S
34º57'53" W
1972
Fonte: Exército Brasileira (2009a; b; c; d).
Métodos utilizados
Foram utilizados dois métodos de análise da evolução da
condição ambiental das áreas de estudo: a comparação entre
fotografias de um mesmo lugar geradas em épocas diferentes; e a comparação dos IAFs das mesmas áreas, também
obtidos a partir de imagens geradas com uma variação temporal de aproximadamente 20 anos.
Comparação por meio de fotografias locais
Obtiveram-se junto ao arquivo do CIMNC e do 4º BCom
fotografias de fragmentos florestais datadas da época da
implantação destas OMS que posteriormente foram comparadas com fotografias mais recentes das mesmas regiões,
geradas pelos autores.
Sensoriamento remoto vegetação/termal
Com o objetivo de gerar mapas temáticos que possibilitassem identificar a evolução da condição ambiental das áreas
de estudo, foram utilizadas imagens TM do satélite Landsat
5 referentes ao período de 1988 a 2010, adquiridas junto ao
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de órbita
e ponto 214/65-66. As passagens do satélite sobre as áreas
de estudo ocorreram em 05 de junho de 1988, 28 de setembro de 1989, 07 de abril de 2007 e 06 de setembro de 2010.
Deste modo foi obtido o Índice de Área Foliar (IAF) para as
áreas de estudo, empregando-se a mesma metodologia utilizada por Silva et al. (2005), demonstrada através do fluxograma da Figura 1, em que foram desenvolvidos modelos
através da ferramenta Model Maker do programa ERDAS
Imagine 9.1. As quatro etapas deste processo são descritas a
seguir:
Etapa 01. Radiância Espectral - a radiância espectral representa a energia solar refletida por cada pixel, por unidade de área, de tempo, de ângulo sólido e de comprimento de
onda, medida ao nível do satélite Landsat nas bandas 1, 2,
3, 4, 5 e 7. Para a banda 6, denominada banda termal, essa
radiância representa a energia emitida por cada pixel. Assim, o conjunto da radiância monocromática de todas as sete
bandas do TM - Landsat 5 foi obtido pela Eq. 1:
Figura 1. Fluxograma da metodologia adotada para a obtenção do Índice
de Área Foliar
Figure 1. Flowchart of the methodology used to obtain the Leaf Area Index
(1)
em que “a” e “b” são as radiâncias espectrais mínimas e
máximas (Wm”2sr “1ìm”1 ), ND é a intensidade do pixel
(número inteiro compreendido entre 0 e 255) e i corresponde às bandas (1, 2, ... e 7) do satélite Landsat 5.
• Etapa 02. Reflectância - esta pode ser definida como
sendo a razão entre o fluxo de radiação refletida e o fluxo
de radiação incidente, que é obtida segundo a Eq. 2 (Allen
et al., 2002):
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
4
Guimarães et al.
ρ λi =
π . L λi
k λi . cos Z . d r
RESULTADOS E DISCUSSÃO
(2)
em que Lëi é a radiância espectral de cada banda, këi é a
irradiância solar espectral de cada banda no topo da atmosfera (Wm-2.ìm-1), Z é o ângulo zenital solar e dr é o quadrado da razão entre a distância média Terra-Sol (ro) e a
distância Terra-Sol (r) em dado dia do ano (DSA).
• Etapa 03. SAVI - Heute (1988) apud Oliveira & Galvíncio (2008) propôs um índice de vegetação ajustado por
solo (Soil adjusted Vegetation Index – SAVI), introduzindose um fator no NDVI para incorporar o efeito da presença
do solo, mantendo-se o valor do NDVI dentro de -1 a +1.
Este índice é calculado pela Eq. 3:
SAVI =
(1 + L)(ρ IV − ρ V )
(L + ρ IV + ρ V )
(3)
em que piv e pv correspondem, respectivamente, às bandas
do infravermelho próximo e do vermelho e L é constante,
cujo valor mais frequentemente usado é 0,5 (Accioly et al.,
2002; Boegh et al., 2002; Silva et al., 2005).
• Etapa 04. IAF - o Índice de Área Foliar (IAF) é definido pela razão entre a área foliar de toda a vegetação por
unidade de área utilizada por ela. O IAF é um indicador da
biomassa de cada pixel da imagem e foi computado pela Eq.
4, obtida por Allen et al. (2002):
⎛ 0,69 − SAVI ⎞
ln ⎜
⎟
0,59
⎠
⎝
IAF = −
0,91
(4)
Todas as áreas de estudo foram adquiridas ou cedidas ao
Exército entre as décadas de 30 e 60 do século XX. Algumas, como a do 4º BCom e do Complexo Militar do Curado, pertenciam a instituições estatais de desenvolvimento
agropecuário. Deste modo, foi identificado que nas suas origens, possuíam pequenas áreas utilizadas com monoculturas
como a cana-de-açúcar e o capim para alimentação de gado.
Quanto à existência de traços de vegetação de Mata Atlântica nestas áreas, os documentos analisados retratam apenas a
existência de pequenos fragmentos que representavam não
mais que 10% das áreas originais. No caso específico do
CIMNC, Guimarães (2008) cita a existência de 20 fragmentos de Mata Atlântica, sem precisar o seu tamanho.
Utilizando-se a comparação de fotografias, evidencia-se
através das Figuras 2 e 3 a evolução de duas áreas-objeto
deste estudo. Na Figura 2 observa-se a encosta de uma elevação no interior do 4º BCom, nas décadas de 1960 e de
2010. Percebe-se que houve uma grande transformação da
tipologia arbórea desta área, pois passou de uma gramínea
para um tipo arbustivo florestal.
Na Figura 3 identifica-se um corte de estrada na via privativa do CIMNC, no qual se pode verificar que uma vasta
região de pasto, predominante na década de 1940, deu lugar
a uma mata com árvores frondosas no ano de 2006.
Tomando-se como referência o IAF por sensoriamento
remoto, foi possível fazer a comparação deste índice em diferentes datas de um mesmo local. Na Figura 4, identificamse os IAFs da região do CIMNC para os anos de 1988 e 2007,
ou seja, um intervalo de tempo de 19 anos. Observa-se que
no ano de 2007 predominavam na imagem valores de índices com parâmetros entre 1,21 – 1,50. Por sua vez, no ano
Figura 2. Elevação a leste de seção de manutenção do 4º Batalhão de Comunicação na década de 1960 (2A) e em 2010 (2B).
Figure 2. East elevation of the maintenance section of the 4o Batalhão de Comunicação in the 1960’s decade (2A) and in 2010 (2B.)
Fonte: Figura 2A – Exército Brasileiro (2009b) e Figura 2B – Autores
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
Evolução da condição ambiental em fragmentos de mata atlântica na região metropolitana do Recife–PE
5
Figura 3. (3A) – Estrada privativa do CIMNC em 1940. (3B) – Estrada privativa do CIMNC em 2006
Figure 3. (3A) – Private road of the CIMNC in 1940. (3B) – Private road of the CIMNC in 2006.
Fonte: Exército Brasileiro (2009c)
Figura 4. Índice de Área Foliar no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante nos anos de 1989 e 2007.
Figure 4. Leaf Area Index in no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante in 1989 and 2007
de 1988, esta mesma área apresentava-se com parâmetros na
faixa de 0,81 – 1,00. Logo, constata-se que no decorrer dos
anos houve um aumento da quantidade de área ocupada por
uma vegetação mais densa. Por outro lado, constata-se nas
mesmas imagens que a qualidade ambiental, representada
pelo IAF, piorou nas áreas situadas no entorno do CIMNC.
O Complexo Militar do Curado é constituído por várias
Organizações Militares, as quais foram implantadas em diferentes épocas. Analisando o conjunto das áreas constata-
mos um aumento do IAF (Tabela 2), pois, como observamos
na Figura 5, num período de 18 anos houve um incremento
deste índice, o qual passou de uma faixa de 0,61 – 0,80 para
> 1,51. Entretanto, verifica-se a existência de uma área em
que ocorreu a diminuição do IAF (indicado pela seta) na qual
o índice passou de 0,81 – 1,00 para uma faixa de 0,00 – 0,10.
Esta área diz respeito às instalações do 4º BPE, última OM
a se instalar neste complexo.
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
6
Guimarães et al.
Tabela 2. Condição ambiental, indicada pelo IAF, de fragmentos florestais sob a tutela do Exército Brasileiro na RMR – PE
Table 2. Environmental condition, indicated by LAI, of the forest fragments under the tutelage of the Brazilian Army in the metropolitan region of Pernambuco,
Brazil
IAFs predominantes
Organização Militar
Condição da cobertura
vegetal
Período analisado
Inicial
Final
CIMNC
1988 a 2007
(19 anos)
0,81 - 1,00
1,21 - 1,50
Melhorou
4º BCom
1989 a 2010
(21 anos)
0,61 - 1,00
> 1,51
Melhorou
14º BIMtz
1989 a 2010
(21 anos)
0,61 - 0,80
1,21 - 1,50
Melhorou
Complexo Militar do Curado
1989 a 2007
(18 anos)
0,61 - 0,80
> 1,51
Melhorou
Figura 5. Índice de Área Foliar no Complexo Militar do Curado nos anos de 1989 e 2007
Figure 5. Leaf Area Index in no Complexo Militar do Curado in 1989 and 2007
Na Figura 6 é representado o IAF da área do 14º BIMtz
e do seu entorno. Percebe-se que houve uma melhora significativa da área foliar neste objeto de estudo, pois ao compararmos dados de 1989 e 2010, houve um aumento da faixa predominante do IAF, de 0,61 – 0,80 para 1,21 – 1,50.
Por outro lado, no entorno constata-se que houve redução da
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
área foliar, a qual passa de uma maior concentração na faixa, 0,11 – 0,20, para a faixa que vai de 0,00 - 0,10.
Pode-se observar na Figura 7 o IAF da área pertencente
ao 4ºBCom para imagens captadas nos anos de 1989 e 2010.
Na imagem mais antiga há uma predominância da coloração esverdeada, ou seja, o IAF encontrava-se numa faixa de
Evolução da condição ambiental em fragmentos de mata atlântica na região metropolitana do Recife–PE
7
Figura 6. Índice de Área Foliar no 14º Batalhão de Infantaria Motorizado nos anos de 1989 e 2010
Figure 6. Leaf Area Index in 14º Batalhão de Infantaria Motorizado in 1989 and 2010
Figura 7. Índice de Área Foliar no 4º Batalhão de Comunicações nos anos de 1989 e 2010
Figure 7. Leaf Area Index in 4º Batalhão de Comunicações in 1989 and 2010
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
8
Guimarães et al.
0,61 a 1,00. Nas imagens mais recentes, este índice passa a
ter uma predominância na cor azulada numa faixa de IAF >
1,51. Consequentemente, constata-se que também houve um
aumento da densidade da mata deste objeto de estudo. O
inverso ocorre em outras áreas ao sul e ao norte deste objeto, onde a faixa do IAF predominante passa de 0,21 – 0,40
para 0 – 0,10. Observa-se também uma melhora do IAF na
porção mais a leste do 4º BCom, onde se situa a Mata do
Engenho Uchoa, que é considerada uma Área de Proteção
Ambiental.
Considerando-se que, há pelo menos quatro décadas, essas áreas militares eram predominantemente agrícolas, sendo propriedades rurais controladas por donos de engenhos,
pequenos agricultores ou por órgãos governamentais voltados para as atividades de pesquisa e extensão em agricultura e pecuária, constata-se uma mudança radical no uso do
solo a partir da presença do Exército como novo tutor.
O controle de acesso por razões militares a apenas pequenas áreas internas para a montagem de infraestrutura operacional e a necessidade de manter o isolamento das áreas usadas como medida de segurança para as atividades de
treinamentos militares possibilitaram uma regeneração florestal significativa.
Esta recuperação florestal, evidenciada, sobretudo pelo
IAF, utilizando-se o sensoriamento remoto, apresenta-se com
grande importância na RMR, onde é evidente a tendência de
redução das áreas florestais, sobretudo pela progressiva urbanização.
Desta forma, a melhoria da condição ambiental das florestas sob a tutela do Exército aponta para a necessidade de
se ter uma estratégia clara de futuro em relação a essas áreas, possibilitando um status de proteção ambiental que não
as coloque em vulnerabilidade, frente a eventuais projetos
estruturadores urbanos ou mesmo ao crescimento inercial dos
municípios que fazem parte da RMR.
Por enquanto, esses fragmentos florestais ainda estão quase despercebidos da metrópole. Se por um lado ainda não
despertou a especulação imobiliária, por outro, também não
despertou a necessidade de valorizá-los como importantes
representantes de uma paisagem que dominava a Zona da
Mata de Pernambuco, e que possui estratégico papel na geração de serviços ambientais, como a produção de água, a
captura de carbono e a conservação da biodiversidade.
Salienta-se que as florestas existentes nas áreas do CIMNC
e do 14º BIMtz contribuem diretamente para a proteção dos
mananciais hídricos dos reservatórios respectivamente de
Botafogo e Jangadinha, os quais atendem ao abastecimento
público da RMR.
Além disso, a redução do desmatamento, a expansão de
área ocupada e a conectividade dos fragmentos florestais,
além do próprio adensamento em biomassa, atendem aos
princípios do chamado desmatamento evitado, utilizado para
o controle do estoque de carbono na vegetação, evitando que
ganhe a atmosfera e acelere o efeito estufa. A Redução de
Emissões por Diminuição do Desmatamento (REDD) pode
levar a creditá-lo no mercado voluntário de carbono, inspirado no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a
partir do protocolo de Quioto.
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
CONCLUSÕES
O processo de degradação da Mata Atlântica se reflete em
Pernambuco de forma expressiva, sendo este mais contundente no entorno de áreas urbanas, principalmente na Região Metropolitana do Recife.
O método de comparação utilizando-se o Índice de Área
Foliar mostrou-se adequado, evidenciando uma melhora do
índice em cada uma das Organizações Militares estudadas,
com incremento de quase 100% em alguns casos.
Esta tendência de melhora progressiva da condição ambiental dos fragmentos florestais sob a tutela do Exército
Brasileiro na RMR se estabelece no sentido inverso do que
vem ocorrendo na maioria das áreas florestais estudadas nas
regiões metropolitanas, inclusive na de Recife, evidenciando o papel desempenhado pelo Exército no controle do desmatamento e na facilitação da regeneração florestal.
Esta pesquisa concluiu que, a partir da comparação dos
fragmentos florestais pelo uso de imagens fotográficas e de
satélite no período observado de 18 a 21 anos, a condição
ambiental dos fragmentos nessas áreas militares apresentou
uma melhora considerável.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao grupo de pesquisa Sensoriamento
Remoto e Geoprocessamento (SERGEO) da Universidade
Federal de Pernambuco, pela disponibilização dos equipamentos laboratoriais.
LITERATURA CITADA
Accioly, L.J.; Pacheco, A.; Costa, T.C.C.; Lopes, O.F.; Oliveira, M.A.J. Relações empíricas entre a estrutura da vegetação
e dados do sensor TM/Landsat. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.6, n.3, p.492-498, 2002.
Agência Pernambucana da Meio Ambiente - CPRH. Estudos
ambientais do Núcleo Metropolitano. 2006. http://
www.cprh.pe.gov.br/downloads/Cap%204%20Tabelas.pdf
04 Jan. 2011.
Allen, R.G.; Tasumi, M.; Trezza, R.. SEBAL (Surface Energy
Balance Algorithms for Land). Advance training and users
manual – Idaho Implementation, versão 1.0, 2002. 97p.
Boegh, E.; Soegaard, H.; Thomsen, A. Evaluating evapotranspiration rates and surface conditions using Landsat TM to
estimate atmospheric resistance and surface resistance. Remote Sensing of Environment, v. 79, n.2-3, p.329-343, 2002.
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/
S0034425701002838>. doi:10.1016/S0034-4257(01)00283-8.
03 Jan. 2011.
Braga, R.A.P. Florestas urbanas II: conhecer para conservar.
http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/noticia/2008/02/19/florestas-urbanas-ii-conhecer-para-conservar—150662.php. 11
Nov. 2011.
Brasil. Lei Federal n. 11.428 de 22 de dezembro de 2006. Lei
da Mata Atlântica - Dispõe sobre a utilização e proteção da
Evolução da condição ambiental em fragmentos de mata atlântica na região metropolitana do Recife–PE
vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Diário Oficial da União, n.236, seção 1, p.1-4,
2006.
<http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/
index.jsp?jornal=1&pagina=1&data=26/12/2006>. 13 Jan.
2011.
Caldato, S.L.; Floss, P.A.; Da Croce, D.M.; Longhi, S.J. Estudo da regeneração natural, banco de sementes e chuva de sementes na Reserva Genética Florestal de Caçador, SC. Ciência Florestal, v.6, n.1, p.27-38, 1996. <http://
cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/cienciaflorestal/
article/view/323/191>. 10 Jan. 2011.
Carreire, M.; Walter J.M.; Dubreuil V.; Carvalho Jr J.A. Estimativa do índice de área foliar e da biomassa aérea numa floresta tropical primária e secundária da região de Alta Floresta,
Amazônia Matogrossense. Congresso Florestal Nacional, 5.,
2005. Viseu, Portugal, 2005. Actas. Viseu: Instituto Politécnico, 2005. p. 6-15. <http://www.esac.pt/cernas/cfn5/docs/
T2-28.pdf>. 04 Jan. 2011
Exército Brasileiro. Registro histórico de imóvel do 14º Batalhão
de Infantaria Motorizado, 2009. Jaboatão dos Guararapes,
2009a. 22 p.
Exército Brasileiro. Registro histórico de imóvel do 4º Batalhão
de Comunicações, 2009. Recife: Exército Brasileiro, 2009b.
25 p.
Exército Brasileiro. Registro histórico de imóvel do Campo de
Instrução Marechal Newton Cavalcanti, 2009c. Araçoiaba:
Exército Brasileiro, 2009c. 25 p.
Exército Brasileiro. Registro histórico de imóvel do Comando
Militar do Nordeste, 2009. Recife: Exército Brasileiro,
2009d. 19 p.
Guimarães, H. de B. Gestão ambiental em áreas sob tutela do
Exército Brasileiro: o caso Campo de Instrução Marechal
Newton Cavalcante – Pernambuco – Brasil. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008. 118p. Dissertação Mestrado.
Melo, M.D.V.C. Florestas urbanas: estudo sobre as representações sociais da Mata Atlântica de Dois Irmãos, na cidade do
Recife-PE. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2006. 24 p.
Myers, N.; Mittermeier, R.A.; Mittermeier, C.G.; Fonseca,
G.A.B.; Kent, J. Biodiversity hotspots for conservation pri-
9
orities. Nature, v. 403, n. 6772, p.852-858, 2000. <http://
www. n a t u r e . c o m / n a t u r e / j o u r n a l / v 4 0 3 / n 6 7 7 2 / f u l l /
403853a0.html>. doi:10.1038/35002501. 22 Jan. 2011.
Oliveira, T.; Galvíncio, J. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do Rio Moxotó-PE usando sensoriamento remoto termal. Revista Brasileira de Geografia Física, v.1, n.2,
p.30-49, 2008. <http://www.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/
article/view/43/37>. 22 Abr. 2011.
Rodrigues, R.R.; Martins, S.V. Barros, L. C.. Tropical Rain Forest regeneration in area degraded by mining Mato Grosso
State, Brazil. Forest Ecology and Management, v.190, n.2/3,
p.323-333, 2004. <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378112703005073>.
doi:10.1016/
j.foreco.2003.10.023. 10 Jan. 2011.
Silva Júnior, W.M.; Martins, S.V.; Silva, A.F. da; Marcos Júnior, P. de. Regeneração natural de espécies arbustivo-arbórea
em dois trechos de uma floresta estacional semidecidual, Viçosa, MG. Scientia Florestalis, n. 66, p. 169-179. 2004.
<http://www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr66/cap17.pdf>. 10
Jan. 2011.
Silva, B.B. da; Lopes, G.M.; Azevedo, P. V. de. Balanço de radiação em áreas irrigadas utilizando imagens Landsat 5-TM.
Revista Brasileira de Meteorologia, v. 20, n. 2, p. 243-252,
2005.
<http://www.rbmet.org.br/port/revista/
revista_dl.php?id_artigo=131&id_arquivo=135>. 22 Jan.
2011.
Venturoli, F.; Felfili, J.; Fagg, C.W.. Dinâmica da regeneração
natural em capoeira florestal estacional semidecidual sob o
manejo florestal de baixo impacto. Revista Brasileira de Biociências, v. 5, supl. 1, p. 435-437. 2007. <http://
www6.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/viewPDFInterstitial/432/364>. 17 Jan. 2011.
Vieira, S.A.; Alves, L.F.; Aidar, M.; Araújo, L.S.; Baker, T.; Batista, J.L.F.; Campos, M.C.; Camargo, P.B.; Chave, J. ; Delitti, W.B.C.; Higuchi, N.; Honorio, E.; Joly, C.A.; Keler, M.;
Martinelli, L.A.; Matos, E.A. de; Metzker, T.; Phillips, O.;
Santos, F.A.M. dos; Shimabukuro, M.T.; Silveira, M.; Trumbore, S.E. Estimation of biomass and carbon stocks: the case
of the Atlantic Forest. Biota Neotropica, v. 8, n. 2, p. 21-29,
2008. <http://www.scielo.br/pdf/bn/v8n2/a01v8n2.pdf>.
doi:10.1590/S1676-06032008000200001. 17 Jan. 2011.
Rev. Bras. Ciênc. Agrár., Recife, v.7, n.2, p.xxx-xxx, 2012
Download