PRO3362 – Engenharia Econômica e Finanças Prof. Dr. Erik Rego Gabriela Bonassi Chueri – Número USP 9834452 Estudo de Caso II 1) Quais semelhanças da crise 2007-2009 com a crise de 29? Em primeiro lugar, é importante entender o que aconteceu em cada uma das crises para depois poder compará-las, portanto, farei uma breve descrição de cada uma delas para depois discutir acerca de suas semelhanças. A crise de 1929, conhecida como a Grande Depressão, ocorreu logo após o boom econômico vivido pelos Estados Unidos na década de 1920, pós Primeira Guerra Mundial. A euforia econômica gerou um pico de consumo e lucros. Grandes empresas passaram a investir em títulos na bolsa e a indústria produzia cada vez mais insumos. O crescimento econômico era impressionante. O aumento desenfreado da produção das indústrias levou a um forte desequilíbrio entre oferta e demanda, onde não havia mais mercado para comprar os seus produtos. A superprodução agrícola também não conseguia mais ser absorvida pelo mercado. Todos esses bens passaram a se desvalorizar cada vez mais. As compras feitas por milhares de pessoas e organizações no mercado de ações passaram a se desvalorizar exponencialmente e a tentativa desenfreada de vendêlas contribuiu ainda mais para agravar o cenário. Em agosto de 1929, essas ações atingiram os seus valores mais baixos e causaram a quebra da bolsa de Nova Iorque, na chamada “Quinta-Feira Negra”. Grandes bancos ficaram sem lastro, milhões de pessoas se viram desempregadas, empresas foram à falência. Já a crise de 2008 surgiu do excesso de exposição do sistema econômico à volatilidade, especulação, forte alavancagem e problemas em “policy making”. Desde 1980, as taxas de juros de longo prazo vinham caindo, o PIB possuía baixa volatilidade e novas formas de financiamento surgiram. Essas novas formas (as Mortgage Backed Securities – MBS), fizeram com que o consumidor norte americano aumentasse consideravelmente a sua alavancagem e passasse a comprar imóveis por meio de financiamento. Isso levou à uma grande alta no preço dos ativos do setor imobiliário (surgimento de uma bolha) e um grande aumento na participação de hipotecas do tipo SubPrime, que possuiam taxas mais altas de risco. Uma vez que a oferta de casas passou a ser maior do que a demanda, os preços desses ativos começaram a cair, revelando um grande problema no sistema financeiro. A taxa de inadimplência chegou, no auge da crise, a 45%, o índice de desemprego aumentou, grandes bancos quebraram, um a um, precedidos pelo banco de investimento Bear Stearns. São algumas as semelhanças entre as crises de 2007-2009 e de 1929, que se originaram nos EUA. Ambas foram originadas pela alta especulação, euforia econômica e um forte desequilíbrio entre oferta e a demanda, que gerou uma baixa nos preços de certos ativos. No caso de 1929, a superprodução de indústrias e insumos agrícolas relacionada ao boom econômico dos anos 1920 e o investimento em ações de tais empreendimentos, gerou um crash na bolsa norte americana. Tal quebra fez com que as ações, que antes lucravam em cima de forte especulação, tivessem seus preços fortemente reduzidos. Perdeu-se muito dinheiro e, os bancos não possuiam reservas o suficiente para todos os que buscaram retirar dinheiro, causando um crash também no sistema bancário. Já na crise de 2007, o mercado imobiliário, que vinha se aquecendo ano após ano com a criação de novas ferramentas financeiras (os “Mortgage-Backed Securities”), que permitiram a uma grande parte da população adquirir imóveis financiados, sofreu uma forte desvalorização, que quebrou diversas instituições financeiras e levou à uma inadimplência massiva. Ambas desaqueceram fortemente a economia, geraram altas taxas de desemprego, alta volatilidade, e provocaram a falência de instituições financeiras. 2) Quais são os indicadores de crises financeiras iminentes? A chegada de crises financeiras é sempre marcada por alguns indicadores específicos que facilitam a sua identificação. Entre estes pode-se citar o índice de inadimplência crescente, que evidencia que a capacidade de bancos e instituições financeiras de lidar com calotes é baixa; O índice de alavancagem no sistema financeiro, que indica a quantidade de dívidas que estão sendo tomadas pelos indivíduos e instituições; O índice VIX, que analisa a volatilidade de um sistema financeiro, e tende a oscilar bastante em épocas de crise devido à incertezas e usa como base a Chicago Board Options Exchange para medir a volatilidade dos ativos contidos no índice S&P 500 e; A criação de “bolhas” financeiras, que são mais difíceis de serem identificadas com precisão, mas que uma vez descobertas, podem gerar grandes problemas para o sistema. 3) A crise financeira global de 2007-2009 acabou, ou ainda está em andamento? Mais de dez anos após o início da crise financeira global de 2007-2009, podese dizer que esta já acabou. Em 2015 e 2016, o mundo voltou a acelerar o seu crescimento e os indicadores nas economias centrais já retomaram o seu nível pré crise. Os índices de desemprego já retornaram ao que eram antes, não há mais uma intensa alavancagem no sistema financeiro, a falta de transparência em relação à ativos e a falta de comprometimento com a análise de risco também foram combatidos. Além disso, grandes bancos americanos afetados pela crise (mas que não faliram) como JP Morgan e Goldman Sachs já se recuperaram. A economia dos Estados Unidos tem crescido contínuamente desde 2017 e suas projeções são extremamente favoráveis. Não há sinais de crise ou de um crescimento econômico que não seja saudável. A Europa cresce pelo seu 6o ano seguido e seu nível de desemprego é o menor desde 2008. . No entanto, em países emergentes, como Brasil e China e alguns países da EU como Grécia, Espanha e Portugal, ainda estão passando por dificuldades econômicas, consideradas sequelas de 2008 e associadas à problemas próprios. Outras marcas ainda não foram apagadas, como a adoção de políticas econômicas de estímulo à economia, como a adoção de taxas de juros bastante baixas e uma maior divergência econômica e social entre os países da Europa se desenvolver. 4) Os instrumentos financeiros complexos, como derivativos, são inerentemente ruins para a sociedade? Em primeiro lugar, é importante explicar e entender o que é um derivativo. Derivativos são contratos que derivam a maior parte de seu valor de um ativo subjacente, taxa de referência ou índice. Esse ativo subjacente pode ser físico ou financeiro, negociado no mercado à vista ou não. Eles podem ser classificados em contratos à termo, contratos futuros, opções de compra e venda, operações de swaps, entre outros. Estes são negociados sob a forma de contratos padronizados (especificados) em mercados organizados a fim de proporcionar aos agentes econômicos oportunidades para a realização de operações que viabilizem a transferência de risco das flutuações de precos de ativos e de variáveis macroeconômicas. Os derivativos possuem uma gama diversa de utilizações e não são inerentemente ruins para a sociedade. Alguns de seus benefícios são diminuir o custo de financiamento de estoques, diminuir o custo de alguma mercadoria para o público (pois permite ao processador de mercadoria operar com custos mais baixos), diminuir riscos cambiais, entre outros. Assim como todo instrumento econômico, se bem utilizados, os derivativos são de grande valia para a econômia. No entanto, contratos mal formulados e mal explicados, podem expor os seus compradores a riscos que estes não buscavam assumir, como foi o caso da crise de 2008. 5) Pesquise a respeito do Dodd-Frank Act, quais foram as principais medidas e consequências? O Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act foi formulado como uma resposta à crise de 2008, com o objetivo de ocasionar mudanças significativas que diminuíssem os riscos dentro do sistema financeiro dos Estados Unidos, principamente no que tange transparência e proteção ao consumidor. Este foi incorporado às leis federais dos Estados Unidos pelo presidente Barack Obama em julho de 2010. As políticas nele contidas afetaram todo o ambiente financeiro americano, desde as agências regulatórias federais até o setor privado. Possui 16 títullos, mais de 500 formulações e 2300 páginas. Dentre os componentes chave do ato, destaca-se a lei Volcker, que restringe o modo como bancos podem investir e limita negociações especulativas e elimina proprietary trading (a negociação de ativos, derivativos ou outros instrumentos financeiros da própria corretora ou banco), separando os investimentos das funções comerciais dos bancos. Os bancos também não são mais autorizados a se envolverem com os chamados Hedge Funds ou firmas de Private Equity, uma vez que esses negócios são considerados de alto risco. O ato também regulamenta derivativos, como os Credit Default Swaps (CDS), que foram fortemente culpados como agravantes para a crise de 2008, uma vez que muitos traders não possuiam a noção do quão arriscados estes eram. Dodd-Frank também estabeleceu uma Securities and Exchange Commission (SEC) Office para cuidar de avaliação de crédito, já que muitas agências de ratings foram acusadas de favorecerem certos investimentos dando notas mais altas. Além disso, também pode-se mencionar a criação do Financial Stability Oversight Counsil (FSOC), composto por diversas agências para servir como um sistema de aviso prévio para problemas no sistema financeiro e do Consumer Financial Protection Bureau (CFPB), que visa proteger os consumidores de bancos grandes e não-regulados. O CPFB provê ao consumidor informações confiáveis a respeito do mercado de hipotécas e de crédito financeiro e um espaço para relatos de problemas com serviços financeiros através de uma linha telefônica disponível 24 horas por dia. Em resumo, pode-se dizer que os principais pontos do ato foram a identificação e regulação do risco sistêmico, estabelecimento de responsabilidade e autoridade do FED, regulação e transparência dos derivativos e a restrição de intervenções regulatórias discricionárias. Referências INVESTOPEDIA. Dodd Frank Financial Regulatory Refor Bill. 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