ANÁLISE COMPLEXA E EQUAÇÕES DIFERENCIAIS AULA TEÓRICA 1 13 DE FEVEREIRO DE 2013 NÚMEROS COMPLEXOS Porquê estudar os números complexos? Uma das razões (algébricas) para isso tem a ver com as raı́zes de polinómios com coeficientes reais. As soluções da equação ax2 + bx + c = 0, onde a, b e c são números reais, são dadas por x= −b ± √ b2 − 4ac 2a No entanto, esta expressão só faz sentido (nos reais) se ∆ = b2 − 4ac ≥ 0. Se b2 − 4ac < 0, a expressão ax2 + bx + c é sempre do mesmo sinal para qualquer x ∈ R. Extendamos então os números reais de modo a que haja soluções mesmo que b2 − 4ac < 0. √ Introduzimos a convenção i = −1 (donde, i2 = −1) e operamos formalmente de modo a obter raı́zes. Exemplo: x2 − 2x + 3 = 0 Temos x = 2± √ √ 4 − 12 2 ± −8 = . 2 2 Donde, não há raı́zes reais. Mas, simplificando, obtemos √ √ √ √ √ 2 ± 8 −1 x= = 1 ± 2 −1 = 1 ± 2i. 2 Temos duas raı́zes (não reais). A i chama-se a unidade imaginária. 1 2 Números Complexos São da forma a + bi, com a e b reais. Normalmente, denotamos números complexos por z = a + bi. Qualquer equação do segundo grau (com coeficientes reais) tem sempre soluções complexas. Mais geralmente: qualquer polinómio de grau n com coeficientes reais tem exactamente n raı́zes complexas (contando-se as multiplicidades). Há fórmulas resolventes para equações do terceiro e quarto graus, mas do quinto em diante não há nenhuma fórmula resolvente geral. A fórmula geral para as equações do terceiro grau (o método de Cardano) não funciona nos chamados casos irredutı́veis. (Nota: Uma fórmula resolvente deve apresentar as soluções usando apenas as operações de adição, subtracção, multiplicação, divisão, e radiciação de qualquer ordem aplicadas aos coeficientes da equação. Para os casos irredutı́veis, contudo, é necessário usar também funções trigonométricas). Voltemos a a + bi. a é a parte real do complexo, e b é a sua parte imaginária. Podemos somar e multiplicar números complexos. Para somar dois números complexos, somamos a suas partes reais e as suas partes imaginárias. Exemplo: z1 = 2 + 3i z2 = 1 − i (2 + 3i) + (1 − i) = (2 + 1) + (3 − 1)i = 3 + 2i. Para a subtracção, procedemos de modo semelhante: (2 + 3i) − (1 − i) = (2 − 1) + (3 + 1)i = 1 + 4i. Para a multiplicação, operamos formalmente (usando a distributividade em relação à adição), tendo em atenção que i2 = −1: (2 + 3i) · (1 − i) = 2 · (1 − i) + 3i · (1 − i) = 2 − 2i + 3i − 3i2 = 2 − 2i + 3i + 3 = 5 + i Para dividir números complexos: mais adiante. Porque é que os números complexos são uma extensão dos números reais? Se a parte imaginária b é zero, temos o complexo a + bi = a + 0 · i = a, e por isso é real. Ou seja: números complexos com parte imaginária nula são números reais (e só esses é que o são). Números complexos com parte real nula são imaginários puros. 3 Representação no Plano Complexo Para representar geometricamente a + bi, usamos um sistema de eixos. Representamos como se fosse um vector com componentes a e b. 4 Porquê o plano? Porque se torna fácil somar números complexos. Somamos usando a regra do paralelogramo. Subtracção: 5 O módulo de um número complexo z é |z|, a sua distância à origem na sua representação no plano complexo. |z| = √ a 2 + b2 O complexo conjugado de z = a + bi é z̄ = a − bi. 6 Se z = a + 0i (é portanto real) temos z̄ = a − 0i = z. Ou seja, para números reais, z̄ = z. Calculemos agora z · z̄ = (a + bi) · (a − bi) = a2 − abi + abi − b2 i2 = a2 + b2 = |z|2 . Obtivemos assim a importante relação: z · z̄ = |z|2 Porquê o complexo conjugado? Porque nos permite definir o quociente de números complexos: z1 z1 · z̄2 z1 · z̄2 = = z2 z2 · z̄2 |z2 |2 Isto é válido desde que z2 6= 0. Exemplo: 1 + 2i (1 + 2i) · (1 + i) −1 + 3i 1 3 = = =− + i 1−i (1 − i) · (1 + i) 2 2 2 E assim já sabemos somar, subtrair, multiplicar e dividir números complexos. Notação: R - conjunto dos números reais C - conjunto dos números complexos Temos: R(C