SOBRE FATORES DE SEGURANÇA EM FUNDAÇÕES DE TORRES DE LINHAS DE TRANSMISSÃO Grupo de Estudo de Linhas de Transmissão - GLT Fernando Artur Brasil Danziger Claudio Pereira Pinto/CEFET-RJ – Aureo Pinheiro Ruffier/Consultor Independente GLT-004 1.0 INTRODUÇÃO NBR 6122:2019 Não há menção a Linhas de Transmissão como obras especiais, como citado na versão de 2010. Torres de LTs – vento é a ação variável principal. Foco: fundações de estruturas em que compressão é a solicitação principal. NBR 5422:1985 Em revisão há mais de 3 décadas. Abordagem limitada quanto a fundações. Observa-se que não há, em projetos de LTs, uma interpretação consensual quanto à aplicação da NBR 6122 e valores de Fatores de Segurança que devem ser adotados. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 01/13 2.0 SOBRE CRITÉRIOS DE PROJETO Requisitos básicos para fundações i) Segurança com relação à ruptura (ELU) ii) Deslocamentos compatíveis com a estrutura (ELS) Torres de LTs Estruturas capazes de tolerar deslocamentos significativos, sem danos importantes. Para cargas de tração, a ruptura é alcançada para deslocamentos pequenos, exceto nos casos de grelhas e sapatas com reaterros mal compactados e estacas helicoidais. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 02/13 3.0 SOBRE O EMPREGO DE FATORES DE SEGURANÇA EM FUNDAÇÕES Enfoque 1: FS global FS = Qrup / Qc Qrup – carga de ruptura (capacidade de carga) Qc – carga atuante (característica) NBR 6122:2019 FS 3,0 (fundações superficiais) FS 2,0 (fundações profundas) A norma brasileira entende que a previsão de carga de ruptura de fundações rasas apresenta maior dispersão do que a previsão de fundações profundas (COMPRESSÃO) Enfoque 2: FS parciais Majoração da carga característica Minoração da resistência do solo FS cargas atuantes suficientemente afastadas da ruptura GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 03/13 4.0 MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE CAPACIDADE DE CARGA À TRAÇÃO – Incertezas de previsões Método de Grenoble (Anos 1960 e 1970, Universidade de Grenoble) Amplamente utilizado no Brasil. Estimativa da carga de ruptura à tração – fundações superficiais e profundas. Composição de 3 parcelas: - resistência ao cisalhamento; - peso da fundação; - peso do solo sobre a fundação. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 04/13 Aplicação de Fatores de Segurança i) Proposição de FS global único (cargas de tração) - Fundação superficial: FS = 2,3 (sapatas, grelhas e ancoragens) - Fundação profunda: FS = 2,0 (tubulões e estacas) ii) Proposição de FS globais distintos para peso e resistência do solo, em função de incertezas distintas de cada parcela (Atenção: não é o conceito de FS parciais) Principal incerteza – parâmetros geotécnicos, variabilidades diversas - Fundação superficial: FS = 1,1 (peso próprio) FS = 1,3 (reaterro compactado) FS = 3,0 (resistência ao cisalhamento) - Fundação profunda: GLT–004 / Fernando A. B. Danziger FS = 1,1 (peso próprio) FS = 2,0 (resistência ao cisalhamento) 05/13 Exemplo de Variabilidade Variação de teor de umidade por influência de chuva – provas de carga para os estudos das fundações do Sistema de Transmissão de Itaipu GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 06/13 Avaliação de Fatores de Segurança Sapata de 2,7 m x 2,7 m a 2,9 m de profundidade – estimativa de carga de ruptura pelo método de Grenoble TABELA 1 – Valores das parcelas de capacidade de carga para uma sapata implantada em dois solos não saturados. Peso da fundação (kN) Peso de reaterro (kN) Parcela da resistência ao cisalhamento (kN) Carga de ruptura (kN) c=15 kPa, f=280, g=14 kN/m3, gr=16kN/m3 82,9 285,2 554,0 922,1 c= 32 kPa, f=270,g=16kN/m3, gr=17kN/m3 82,9 303,0 953,6 1339,5 Parâmetros geotécnicos c – coesão f – ângulo de atrito g – peso específico (natural) gr – peso específico (reaterro) TABELA 2 – Valores das parcelas de capacidade de carga com fatores de segurança para cada parcela para uma sapata implantada em dois solos não saturados. Peso da fundação FSde 1,1 (kN) Peso de reaterro FSde 1,3(kN) Parcela da resistência ao cisalhamento FSde 3,0(kN) Carga de segurança (kN) c = 15 kPa, f= 280, g=14kN/m3, gr=16kN/m3 75,4 219,4 184,7 479,5 c= 32 kPa, f= 270,g=16 kN/m3, gr=17kN/m3 75,4 233,1 317,9 626,4 Parâmetros geotécnicos Os valores de carga de segurança da Tabela 2 são maiores que os que correspondem ao fator de segurança global de 2,3. Dividindo-se os valores de carga de ruptura da Tabela 1 pela carga de segurança da tabela obter-se-iam valores de 1,9 e 2,1. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 07/13 Avaliação de Fatores de Segurança Tubulão de f = 0,8 m e comprimento de 8m – estimativa de carga de ruptura pelo método de Grenoble TABELA 4 – Parcelas de capacidade de carga com fatores de segurança para cada parcela de um tubulão (ou estaca) com comprimento de 8,0 m e diâmetro de 0,8 m implantado em dois solos não saturados. Parâmetros geotécnicos c = 15 kPa, f = 280, g = 14 kN/m3 c = 32 kPa, f = 270g = 16 kN/m3 Parcela de resistência ao cisalhamento (kN) =-f/8 = 0o =-f/8 = 0o 100,5 1023,3 650,1 1123,8 750,6 100,5 1467,7 922,9 1568,2 1023,4 Peso da fundação (kN) Carga de ruptura (kN) TABELA 5 – Valores das parcelas de capacidade de carga com fatores de segurança para cada parcela para um tubulão curto implantado em dois solos não saturados. Peso da fundação FS de 1,1 (kN) Parcela da resistência ao cisalhamento FS de 3,0 (kN) Carga de segurança (kN) c = 15 kPa, f= 280, g=14kN/m3 91,4 260,0 351,4 c= 32 kPa, f= 270,g=16 kN/m3 91,4 369,2 460,6 Parâmetros geotécnicos GLT–004 / Fernando A. B. Danziger Os valores da Tabela 5 são menores do que os valores com fator de segurança global igual a 2,0. Em relação aos valores da Tabela 4, a correspondência é de fatores de segurança únicos de 2,1 e 2,2. 08/13 5.0 OUTRAS INCERTEZAS QUANTO À ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA GEOTÉCNICA NECESSIDADE DE ESTUDOS!!! – ESPECIALMENTE INSTRUMENTAÇÃO E PROVAS DE CARGA i) Velocidade de aplicação do carregamento. • Na grande maioria dos casos: se velocidade de aplicação aumenta, a capacidade de carga é maior. • NBR 12.131 - Ensaio lento: adequada para os casos de cargas permanentes. • Ensaio rápido: casos de cargas transientes (vento, por ex.) • Cargas máximas de vento são transientes; atuam em intervalos pequenos (segundos). ii) Função carga na fundação x tempo • Transiente de carregamento. • Distinto de carregamento rápido. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 09/13 Exemplo de efeito de velocidade Provas de carga executadas em tubulão sem base alargada em solo residual de gnaisse Ensaio lento Ensaio rápido GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 10/13 6.0 SEQUÊNCIA PREFERENCIAL DE FALHA Conforme IEC 60826, CIGRE TB-178 • Sequência de falha ou ruptura dos elementos de uma estrutura: a fundação deve ser o último elemento a romper (via de regra). • Fator de majoração usualmente aplicado na carga atuante da fundação: 1,1 • Valor pouco significativo sob o ponto de vista geotécnico, face às incertezas inerentes aos métodos de cálculo e parâmetros do solo; FS varia na faixa de 2,0 a 3,0. • O valor 1,1 pode ser justificável sob o aspecto estrutural das peças metálicas que compõem a fundação (ex.: stub, haste de ancoragem). • Abordagem alternativa (promissora): tratamento probabilístico: determinação da probabilidade de falha (ruptura) da fundação e dos diversos componentes da estrutura, com hierarquização e adoção de probabilidades aceitáveis para cada componente. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 11/13 7.0 TERMINOLOGIA Failure load / ultimate load / carga última • Em fundações: Failure load ultimate load carga de ruptura capacidade de carga • Em LTs: Carga última = solicitação em situação extrema de carregamento (valor máximo atuante) Carga última = deve ser vista como carga atuante (de trabalho, de serviço ou característica) • Cargas últimas (solicitações) não guardam correspondência com ultimate load (resistência máxima - capacidade de carga, carga de ruptura). • Mesmo cargas últimas (solicitações) precisam ter fator de segurança em relação à capacidade de carga (resistência) • Caso de vento máximo excepcional: FS pode ser menor, a depender de estudos como os mencionados anteriormente. GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 12/13 8.0 RESUMO E CONSIDERAÇÕES FINAIS • Sugestões de FS para fundações superficiais e profundas. • Valores propostos se aplicam a cargas atuantes (características). • Considerações quanto à terminologia empregada em projetos de LTs e fundações. • Provas de carga à tração: a) Ensaio rápido: solicitação mais importante é vento, embora seja um transiente; b) Ensaio lento: solicitação predominante é permanente (torres de ancoragem, fim de linha e cross-rope). GLT–004 / Fernando A. B. Danziger 13/13 Muito Obrigado !! Fernando Artur Brasil Danziger (21) 3938-7391 danziger@coc.ufrj.br https://coppe.ufrj.br/