Uploaded by Philippe Javoski

Portuguese HL Essay

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Como a tensão entre a tradição e a modernidade é retratada no livro Reinações de
Narizinho de Monteiro Lobato?
Introdução
O livro Reinações de Narizinho, originalmente publicado em 1932, foi escrito pelo
famoso escrito brasileiro Monteiro Lobato. Tal obra é um clássico da literatura infantil brasileira
e faz parte da série de livros “Sitio do Picapau Amarelo”. Ademais, ela aborda temas como a
amizade, a imaginação, a curiosidade infantil e a valorização da cultura e do folclore brasileiro.
Entretanto, um tema abordado no livro, mas de maneira um tanto quanto intrínseca é a tensão
entre a tradição, histórias e costumes que constroem a identidade de uma comunidade, e a
modernidade, conjunto de mudanças durante um certo período.
O objetivo deste trabalho será realizar uma investigação, na qual mostrará como a tensão
entre a tradição e a modernidade é retratada no livro Reinações de Narizinho. E além disto, como
esta tensão afeta a o enredo do livro e a compreensão dos leitores.
Sinas da tensão entre tradição e modernidade
1. O sítio e a cidade
No livro Reinações de Narizinho, o rural e os valores antigos simbolizam a tradição. Em
contraste, a cidade e seus habitantes simbolizam a modernidade, a urbanização e os novos modos
de vida. Durante a história, pode-se ver diversos trechos os quais demonstram uma tensão entre o
sítio e seus modos antigos e a cidade com sua modernidade, como o seguinte:
Entre seus felizes habitantes, estão Emília, a boneca de pano que diz tudo o que
lhe passa na cabeça; o Visconde de Sabugosa, o sábio de espiga de milho;
Pedrinho e Narizinho, eternas crianças sempre abertas a tudo; Dona Benta, avó
dos meninos, contadora de histórias que aceita a imaginação das crianças e
admite as novidades que mudam o mundo; Nastácia, a empregada que fez Emília,
suas crendices e seus quitutes. (Página 53)
O trecho mencionado apresenta os personagens principais do Sítio, cada um com suas
características tradicionais, como Emília, uma boneca de pano, destaca-se por sua franqueza,
representando a liberdade de expressão. O Visconde de Sabugosa, uma espiga de milho
transformada, que no caso, simboliza a sabedoria das tradições e da cultura agrícola brasileira.
Pedrinho e Narizinho, por sua vez, são a representação da curiosidade e da inocência das crianças,
agindo como pontes entre o mágico e o real. No entanto, a menção de Dona Benta aceitando
"novidades que mudam o mundo" sugere uma abertura à modernidade, criando uma tensão entre
o tradicional e o novo.
2. Personagens Clássicos e Modernos
Enquanto personagens como a Cuca e o Saci são, em interpretação geral e não especifica,
figuras tradicionais do folclore brasileiro, outros, como o Visconde de Sabugosa (um sabugo de
milho que ganha vida) e a boneca Emília, representam a inovação e a criatividade. Isto traz um
toque de modernidade à narrativa. Além disto, tal contraste ilustra a tensão existente entre a
tradição e a modernidade. O mesmo é bem percebido em todo decorrer do texto, porém nas
próximas passagens é mais predominante:
[...] muitos dos personagens das minhas histórias já andam aborrecidos de
viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidade. Falam em correr
mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se de que sua
lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de
espetar o dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou
com o marquês de Carabás e quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix.
Branca de Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar ruge na cara.
Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los. Mas o pior é
que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo. (Página 7)
Neste trecho, o autor brinca com a ideia de que os personagens icônicos dos contos de fadas,
que por gerações permaneceram imutáveis em suas narrativas, agora sentem o desejo de
reinventar-se e explorar novos horizontes. Através das ações e desejos desses personagens, como
Aladino querendo polir sua lâmpada ou a Bela Adormecida buscando uma nova roca, Lobato
aborda a inquietação inerente ao ser humano de buscar novidade e romper com a monotonia. A
referência ao Gato de Botas querendo visitar o Gato Félix, um ícone moderno da animação, ilustra
o choque entre o tradicional e o contemporâneo. A "revolta" desses personagens simboliza a
constante busca da sociedade por evolução e mudança, desafiando as convenções e redefinindo
identidades. O trecho serve como uma metáfora para a eterna tensão entre preservar o legado
cultural e adaptar-se às demandas do presente.
3. Tecnologia e Magia
Monteiro Lobato introduz elementos tecnológicos e científicos nas histórias, como as
invenções do Visconde. Estes representam a modernidade e contrastam com os elementos
mágicos e folclóricos, que simbolizam a tradição.
— Que horror! — foi o grito que escapou de Narizinho. — Que vai ser de nós agora? Já
sei quem é essa velha! Não pode ser outra! Bem ela me disse que havia de vingar-se... —
Que foi que aconteceu, princesa? — indagou Tom Mix, já de mão no revólver. — Não
sei, Tom, se desta vez nos poderá valer! Você é invencível, mas só de igual para igual.
Contra uma bruxa feiticeira, não sei... não sei... (Páginas 49-50)
Neste trecho de "Reinações de Narizinho", Monteiro Lobato habilmente entrelaça elementos da
tradição folclórica brasileira com símbolos da modernidade emergente. Narizinho, ao reconhecer a bruxa,
imediatamente associa sua presença a uma ameaça mágica e tradicional, enraizada nas histórias e lendas
que permeiam a cultura brasileira. A bruxa, como figura central dessas histórias, representa o poder
misterioso e muitas vezes temível da tradição.
Por outro lado, temos Tom Mix, um personagem que simboliza a modernidade, o progresso e a influência
da cultura ocidental. Seu revólver é um emblema da tecnologia e da capacidade humana de inovar e superar
desafios por meio da invenção. No entanto, a hesitação de Narizinho em confiar na capacidade de Tom Mix
de enfrentar uma ameaça mágica sugere uma reflexão mais profunda sobre a relação entre tradição e
modernidade.
A interação entre esses personagens levanta questões sobre se a modernidade, com todas as suas inovações
e avanços, pode realmente superar ou substituir as tradições e crenças profundamente enraizadas em uma
cultura. A dúvida de Narizinho serve como um lembrete da persistente influência e respeito pela tradição,
mesmo em face da rápida modernização. Além disso, a narrativa sugere que, embora a tecnologia e a
modernidade possam oferecer soluções para muitos problemas, existem certos desafios e mistérios que
permanecem intransponíveis e enraizados na essência cultural de um povo.
4. Questionamento e Aprendizado
Dona Benta, com suas longas explicações sobre diversos assuntos, introduz o conhecimento
moderno às histórias antigas, tradicionais. Estes momentos educativos, guiados por
questionamentos e aprendizagens, contrastam com as crenças e superstições tradicionais
representadas por personagens como Tia Nastácia. Durante inúmeras passagens, ambas estas
personagens fazem críticas a ou a tradição ou a modernidade. Uma destas passagens é uma fala
da Tia Nastácia:
"Criança de hoje, sinhá, já nasce sabendo. No meu tempo, menina assim desse porte andava
no braço da ama, de chupeta na boca. Hoje?... Credo! Nem é bom falar..." (Páginas: 26,27)
Neste trecho de "Reinações de Narizinho", Tia Nastácia, uma figura emblemática da tradição,
expressa seu espanto com a evolução das gerações. Ela observa que as crianças da era moderna
parecem nascer com um conhecimento inato, uma maturidade precoce que contrasta fortemente
com a infância que ela recorda. Em sua época, as crianças eram mais resguardadas, muitas vezes
carregadas no colo e usando chupetas por mais tempo, simbolizando uma fase de inocência
prolongada. A surpresa de Nastácia não é apenas com a mudança no comportamento infantil, mas
também com a rapidez da transformação social e cultural. A fala de Nastácia serve como uma
reflexão sobre a passagem do tempo, as mudanças nas dinâmicas familiares e a evolução dos
papéis das crianças na sociedade. Através deste contraste, Monteiro Lobato nos convida a
ponderar sobre a perda da inocência infantil e o avanço acelerado da modernidade.
Efeitos desta tensão na obra
A tensão entre tradição e modernidade em "Reinações de Narizinho" de Monteiro Lobato é
um elemento crucial que enriquece a compreensão da obra. Narizinho, a protagonista, navega
entre esses dois mundos de conhecimentos distintos, absorvendo influências de ambos. A
interação entre o antigo e o novo cria uma dinâmica que não só entretém o leitor, mas também
provoca reflexões sobre a evolução cultural e social. A obra, portanto, não é apenas uma narrativa
focada para o público infantil, mas também um comentário sobre a busca da sociedade brasileira
por identidade em um mundo em transformação. Esta tensão serve como uma lente através da
qual, Lobato convida o leitor a questionar e refletir sobre a coexistência do tradicional e do
moderno na formação da identidade brasileira. Em um cenário onde a globalização e a tecnologia
avançam rapidamente, a obra ressalta a importância de valorizar as raízes e tradições, ao mesmo
tempo em que se adapta e se reinventa diante das novidades. A interação dos personagens, cada
um carregando sua essência e perspectiva, ilustra os desafios e as belezas desse equilíbrio.
Além disso, a obra destaca que, apesar das diferenças, há uma interdependência entre tradição
e modernidade. Uma não existe sem a outra. A modernidade, representada por Emília e suas
aventuras, muitas vezes se baseia e se inspira nas histórias e ensinamentos tradicionais contados
por Dona Benta. Por outro lado, a tradição se renova e ganha novos contornos ao ser confrontada
com perspectivas modernas.
Conclusão
Infere-se, portanto, que o livro “Reinações de Narizinho” de Machado De Assis,
originalmente publicado em 1932, mesmo não tendo como objetivo principal, menciona diversas
vezes comentários sobre uma existente tensão entre a tradição e a modernidade. Tais comentários
induzem o leitor a se questionar acerca da convivência entre o tradicional e o contemporâneo na
construção da identidade brasileira. Em um contexto de acelerada globalização e avanço
tecnológico, a obra destaca a relevância de preservar nossas origens e tradições, enquanto se
molda e inova frente às emergentes tendências.
Destacam-se, assim, personagens os quais refletem tais conceitos de tradição e
modernidade. Dona Benta, a avó que vive no sítio do Pica-pau Amarelo, representa a sabedoria e
a tradição. Ela é o pilar da família e frequentemente narra histórias e contos tradicionais. Em
contraste, temos personagens como Emília, uma boneca de pano que ganha vida e voz,
simbolizando a inovação e a ruptura com o convencional. A própria Narizinho, com sua
curiosidade e espírito aventureiro, transita entre esses dois mundos, sendo influenciada tanto pela
tradição quanto pela modernidade. Tia Nastácia, com suas crenças e superstições, é a
personificação da cultura popular brasileira, enquanto os episódios mágicos e fantásticos que
permeiam a história introduzem elementos modernos e até mesmo questionadores.
Desta forma, o leitor é levado a uma jornada de reflexão e descoberta, onde a tradição e
a modernidade se entrelaçam de maneira harmoniosa, oferecendo uma visão única e
enriquecedora da cultura brasileira.
Referencias
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1931.
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