Amor de predição Camilo Castelo branco foi o primeiro escritor português a viver exclusivamente do ofício literário. E isso implica a atenção ao gosto. Como se comprova pela: A busca pela verosimilhança (visível na citação de um documento da cadeia da relação do Porto, nas referências às cartas de teresa para Simão…) O despertar de curiosidade com o apresentar do desfecho da obra, na introdução E o criar piedade no leitor através da referência à idade do condenado, à sua pena (o degredo) à injustiça e discurso emotivo O romance A obra pode ser vista como romântica devido à: Fuga às regras e convenções sociais/originalidade Valorização do sentimento individualista, onde o “eu” ganha destaque e tenta controlar o seu destino/ganhar liberdade. Mesmo que para tal seja preciso enfrentar/criar conflitos com a sociedade. O herói romântico Em traços gerais, podemos definir herói romântico como uma personagem que acredita em valores elevados e se move por grandes ideais (geralmente inalcançáveis) como o: Amor Justiça Liberdade Construção de um mundo melhor… Isso leva-o a valorizar o sentimento individualista e entrar em conflito com a sociedade, numa luta desigual, por recusar as regras e convenções que esta impõe. Conflito que termina geralmente em desgraça ou frustração. Em nome do amor: Simão – desafia ordens do seu pai e da família de Teresa Teresa – desobedece e mente ao pai pois “a liberdade do coração é tudo” Cap 8 O que nos mostra que estes veem o amor como um sentimento ideal cujas barreiras e preconceitos devem ser ultrapassados a todo o custo. O amor-paixão Por isso, nesta obra o tema não é o amor feliz, de salvação. É o amor que leva á desgraça, à predição e ao sofrimento por ser tão intenso que afeta a racionalidade das personagens e, por ser vivido até às últimas consequências: a morte das 3 personagens. Este é, ainda, capaz de atingir o nível espiritual e transpor barreiras físicas. Os diálogos Nesta obra todos os diálogos, foram introduzidos em momentos cruciais para conferir verosimilhança/realismo e permitem-nos a caracterização indireta das personagens – com a linguagem popular de João da Cruz e Mariana ou a linguagem eloquente de Teresa, Baltasar, Simão e Tadeu. A obra como crónica mudança social A obra revela uma mudança ou intenção de mudança da ordem social estabelecida: Teresa luta para casar por amor recusando casar-se com o seu primo. O casal vai contra a autoridade/opressão paterna – “esquecê-lo (simão) nem por morte. Serei filha desobediente, mas mentirosa é que nunca.” – Teresa Cap. X Os valores da honra, bom nome, dignidade (defendidos por Tadeu e Domingos) … são substituídos pela liberdade (principalmente do “do coração”) e felicidade… Levando-os a, por amor, não aceitar e ir contra as concessões e regras sociais predefinidas, mesmo que isso signifique a morte. Sugestão biográfica É clara na obra. E existe, desde logo, a partir da introdução com: A semelhança do local onde Simão Botelho e Camilo esteve encarcerado A coincidência nos motivos: um amor proibido E, na última frase da obra, a afirmação de que Simão botelho era tio de Camilo Assim, a obra pode ser vista como uma tentativa de justificação da sua própria transgressão das normas da sociedade, mostrando que se tratara de uma revolta legitima contra algo que sufocava a liberdade e a felicidade. Estrutura interna da obra Introdução – introdução e capítulo 1 – criar os antecedentes para a ação principal Desenvolvimento – capítulo 2 a 20 – ação central - “o amou” e o “perdeu-se” Conclusão – a conclusão - o desfecho trágico da ação – o “morreu amando” O tempo 1. Amor de Perdição pode ser considerado como uma novela pois tem um ritmo rápido no início que se vai tornando mais lento 2. Há a concentração temporal da ação (narrador percorre cerca de 40 anos de vida da família botelho) 3. Não há proporcionalidade entre o tempo cronológico e o tempo da narrativa Narrador Para além da sugestão biográfica, em amor de perdição, o narrador é também: Narrador-autor Ausente/ não participante, ou seja, relata a história sem nela intervir É omnisciente, ou seja, detém conhecimento ilimitado do que vai narrar, E tem um espírito interventivo: o Tece comentários sobre o comportamento ou destino das personagens. Criticando a “falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome de sua honra” por ex. o E demostra simpática pelo grupo dos que se amam, (Simão - na introdução e Teresa - na sua descrição no capítulo IV) e critica Tadeu, Domingos e Baltasar. Amor de Perdição - Personagens Domingos Botelho Símbolo da falsa virtude, orgulho desmedido (“não protejo assassinos da filha dum homem que eu detesto”). D. Rita Preciosa Sente “desgosto” e “aversão” ao filho (“oxalá que tivesses morrido ao nascer!”), Julga-se superior por ser uma dama da corte Desdenha o marido e as suas origens, Altiva Arrogante Sarcástica Simão Honrado (“eu hei de fazer o que a honra e o coração me aconselharem”) Rebelde Corajoso Impulsivo Também características de herói romântico O desejo de liberdade é até visível na escolha do degredo em vez do cárcere. Podemos, ainda, dizer que este sofre alterações de personalidade: 1. Inicialmente é marcada pelo tumulto, o desacato, a desordem, a irreverência, a arrogância e a violência (Coimbra e Viseu) – “génio sanguinário” 2. Depois da visão de Teresa torna-se mesmo no oposto do que era – “Convertido aos deveres, à honra, à sociedade e a Deus pelo Amor” 3. Mas, a natureza violenta de Simão nunca desaparece e volta a surgir quando este descobre que Tadeu de Albuquerque pretende fechar a filha num convento em Monchique. Já que indo até lá para a salvar este acaba por matar Baltasar. Tadeu de Albuquerque Tirano, violento e controlador Coloca a honra e o ódio pela família vizinha em 1º Teresa Perspicaz Astuta Corajosa Determinada Contra a opressão e submissão da mulher da época Mariana Na última carta que envia a Simão encontra-se infeliz por saber que os 2 não podem ficar juntos em terra, mas não devastada, por haver essa possibilidade do “céu”. Sendo, por isso, a morte vista por uma como uma bem-aventurança. Entrega-se totalmente a Simão, numa preocupação quase maternal - “Anjo da guarda” de Simão Comete todos os sacríficos por amor Vê o amor uma penitência É pragmática ao invés de projetar na eternidade a esperança de ser amada por Simão, acompanha-o ao exilio acreditando que um dia essa amor pode ser correspondido.