UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA MICHEL SARTO MENDES FRANCISCO Estudo comparativo das propriedades termomecânicas e microestruturas de refratários aplicados em panela de gusa Lorena 2023 MICHEL SARTO MENDES FRANCISCO Estudo comparativo das propriedades termomecânicas e microestruturas de refratários aplicados em panela de gusa Dissertação apresentada à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais na área de Materiais Convencionais e Avançados. Orientador: Prof. Dr. Fernando Vernilli Junior Versão Original Lorena 2023 “Stronger is not always better.” Richard Bradt AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço à minha mãe, Edmeia, ao meu pai, Sidnei, e à minha irmã Dayane por todo o carinho, dedicação e ajuda ao longo desta jornada. Vocês foram uma fonte constante de apoio e amor, e sou grato por ter vocês ao meu lado. Quero expressar minha sincera gratidão ao meu orientador e amigo, Dr. Fernando Vernilli. Obrigado por acreditar em mim, por me guiar em minha pesquisa e por compartilhar seu conhecimento e experiência. Suas orientações e conselhos foram inestimáveis e contribuíram significativamente para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Também gostaria de agradecer ao Grupo de Cerâmica, onde tive a oportunidade de participar de discussões enriquecedoras e colaborar em diversos projetos desde 2019. Agradeço a todos do grupo pela troca de ideias, apoio mútuo e pela atmosfera de aprendizados. Em especial, gostaria de agradecer ao Eng. Gustavo Alberto de Almeida e ao MSc. Marcos Schmitt Jaeger, pela forte parceria e amizade. E por fim, agradeço a todos os meus amigos que estiveram comigo ao longo desta caminhada. Obrigado a todos que fizeram parte desta jornada. RESUMO SARTO, M.M.F. Estudo Comparativo das Propriedades Termomecânicas e Microestruturas de Refratários Aplicados em Panela de Gusa 2023. 115 p. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2023. O conhecimento do comportamento em choque térmico dos refratários é de importância vital para aplicações em vasos siderúrgicos que estão submetidos a ciclos de operação. A resistência do material é função de diversas propriedades, características microestruturais e das condições às quais o refratário está exposto. Os parâmetros levantados por Hasselmann, na década de 60 ainda são aplicados nos dias de hoje e ajudam os engenheiros refrataristas a escolher materiais mais adequados aos processos. Os parâmetros de resistência ao choque térmico, R (°C), parâmetro de estabilidade de trinca sob tensão térmica, R st (m1/2.°C), e parâmetro de resistência ao dano por choque térmico, R’’’’(m), são levantados para refratários monolíticos aplicados no revestimento de trabalho da panela de gusa de uma siderúrgica nacional. As condições particulares de trabalho da panela no caso estudado tornam o choque térmico o ponto crítico para o desenvolvimento de materiais, sendo a ausência de aquecedores a característica mais deletéria, ainda que ocorram outros fenômenos como corrosão. Foram recebidos dois concretos comerciais apresentados como possíveis soluções para esse problema e o estudo deve contribuir para a caracterização desses concretos por sinterização, difratometria de raios X (DRX), densidade e porosidade aparente, microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de energia dispersiva (EDS), ensaios mecânicos e ciclagem térmica, para fornecer um melhor entendimento dos materiais e auxiliar em uma tomada de decisão. Palavras-chave: Panela de Gusa. Concreto. Choque térmico. Parâmetros de Hasselmann. ABSTRACT SARTO, M.M.F. Comparative Study of Thermomechanical Properties and Microstructures of Refractories Applied in Hot Metal Ladle. 2023. 115 p. Dissertation (Master of Science). Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2023. The termal shock behavior of refractories is a metter of vital importance for applications in the steelmaking vessels that are subjected to operating cycles. The thermal resistance of the material is a function of several variables, such as material properties, microstructure, and enviromental conditions with which refractories are in contact. The Hasselmann parameters, developed in the 1960s, are still used today and help the refractory engineers to choose more suitable materials for the processes. Thermal schock resistance parameter, R (°C), termal stress crack stability parameter, Rst (m1/2.°C), and termal shock damage resistance parameter, R’’’’(m), were determined for monolithic refractories applied to desulfurization ladles of a Brazilian steelmaking industry. In this case, the particular working conditions of the ladle make thermal shock, instead of corrosion, the critical point for material development. The absence of a heater and exposure to weather are the critical particularities. Two types of commercial refractories were presented as solution for the problem, and are the object of study of this work. The concretes characterizations made were: Sintering, X-ray diffraction (XRD), bulk density and appearent porosity, scanning eléctron microscopy (SEM), energy dispersive spectroscopy (EDS), mechanical tests, and termal cycling. The goal is to provided a better understanding of the materials and give suport to a technical decision. Keywords: Pig Iron Ladle. Concrete. Thermal Shock. Hasselmann’s parameters LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fluxograma do ciclo operacional de Panela de Gusa ........................... 26 Figura 2 - Termografia simulada das panelas em diferentes tempos de exposição ao ar após processo de dessulfuração. ................................................................ 27 Figura 3 - Problemas apresentados em panela de gusa com condição brusca de aquecimento.......................................................................................................... 28 Figura 4 - Esquema ilustrativo da infiltração do gusa por entre as juntas e efeito secundário............................................................................................................. 29 Figura 5 - Curvas típicas no ensaio de energia de fratura (γwof) .......................... 39 Figura 6 - Distribuição de Tensões em um Material Submetido à uma Variação de Temperatura.......................................................................................................... 40 Figura 7 - Fluxograma do recebimento e primeira divisão de amostras ................ 46 Figura 8 - Fluxograma da metodologia aplicada após a sinterização das amostras .............................................................................................................................. 47 Figura 9 - Comparativo entre os resultados de Massa Específica Aparente dos materiais e o fornecido pela fabricante secos a 110°C por 24 horas .................... 53 Figura 10 - Massa Específica Aparente e Porosidade Aparente para o Material M1 (CAC) .................................................................................................................... 54 Figura 11 - Módulo de Ruptura e Módulo de Elasticidade do Material M1 antes e depois da Sinterização .......................................................................................... 55 Figura 12 - Difratogramas de Raios X do concreto M1 (CAC) antes e depois de sinterizado ............................................................................................................. 56 Figura 13 - Massa Específica Aparente e Porosidade Aparente para o Material M2 (SC) ....................................................................................................................... 57 Figura 14 - Módulo de Ruptura e Módulo de Elasticidade do Material M1 antes e depois da Sinterização .......................................................................................... 58 Figura 15 - Difratogramas de Raios X do concreto M1 (CAC) antes e depois de sinterizado ............................................................................................................. 59 Figura 16 - Variação do módulo de elasticidade inicial do material M2 para diferentes temperaturas de choque térmico. ......................................................... 68 Figura 17 - Módulo Elástico em função da variação de temperatura .................... 69 Figura 18 - Diagrama de comprimento de trincas e resistência mecânica em função do gradiente crítico de temperatura ...................................................................... 71 Figura 19 - Valores de MOR em função do número de ciclos para ambos os concretos .............................................................................................................. 72 Figura 20 - Valores de ME em função do número de ciclos para ambos os concretos .............................................................................................................................. 73 Figura 21 - Amostras preparadas para Microscopia eletrônica e metalizadas...... 74 Figura 22 - Microscopia Eletronica do Concreto M1 com 0 Ciclos Térmicos ........ 75 Figura 23 - Mapeamento composicional do Material M1 (CAC) ........................... 76 Figura 24 - Microestrutura do concreto M1 – Porosidade ..................................... 77 Figura 25 - Microestrutura do concreto M1 - Região com alta porosidade ........... 78 Figura 26 - Mosaico Concreto M1 – Sinterizado ................................................... 79 Figura 27 - EDS típico dos agregados sinterizados a partir de argilas (chamote) 80 Figura 28 - Mapeamento composicional Concreto M2 (SC) ................................. 81 Figura 29 - Maior agregado observado no concreto M2 ....................................... 83 Figura 30 – Mosaico Concreto M2 - Sinterizado ................................................... 84 Figura 31 - Microestrutura do concreto M1 - Com 1 ciclo térmico ........................ 85 Figura 32 - Mapeamento elementar - Concreto M1 - 5 Ciclos .............................. 86 Figura 33 - Microestrutura do concreto M1 - Com 5 ciclos térmicos ..................... 87 Figura 34 - Microestrutura do concreto M1 – Com 10 ciclos térmicos – Próximos a superfície .............................................................................................................. 88 Figura 35 – Microestrutura da Região central do Concreto M1 ............................ 89 Figura 36 - Microestrutura do concreto M1 com 1 ciclo térmico ........................... 90 Figura 37 – Microestrutura do concreto M2 – Com 1 ciclo térmico – Próximo a superfície .............................................................................................................. 91 Figura 38 - Microestrutura Concreto M2 - Com 1 ciclo térmico - Agregado WFA 92 Figura 39 - Microestrutura Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Próximo a superfície .............................................................................................................. 93 Figura 40 - Microestrutura do Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Próximo a Superfície .............................................................................................................. 94 Figura 41 - Microestrutura Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Região Central .............................................................................................................................. 95 Figura 42 - Microestrutura do concreto M2 - Com 10 ciclos térmicos - Região próxima a superfície .............................................................................................. 96 Figura 43 - Microestrutura do concreto M2 - Com 10 ciclos térmicos - Destacamento de partícula ........................................................................................................... 97 Figura 44 - Esquema Ilustrativo do Entalhe Chevron (V) ...................................... 98 Figura 45 - Ensaio de Energia de Fratura para o Concreto M1........................... 100 Figura 46 – Ensaio de Energia de Fratura para o concreto M2........................... 101 Figura 47 - Esquema ilustrativo da zona de processamento de trincas (CMOD) 106 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classificação Geral dos Concretos quanto ao Teor de Cimento .......... 31 Tabela 2 - Propriedades medidas para refratários de magnésia e alumina com teores de carbono ................................................................................................. 44 Tabela 3 - Análise química fornecida pelas fabricantes dos materiais .................. 45 Tabela 4 - Dados de Densidade e Porosidade Fornecidos pela fabricante .......... 51 Tabela 5 - Resultados Gerais de Densidade e Porosidade Aparentes ................. 52 Tabela 6 - Quantidade de água sugerida pelas Fichas de Aplicação (FDA) para os concretos M1 e M2................................................................................................ 53 Tabela 7 - Sumário de resultados de Flexão e Módulo Elástico ........................... 60 Tabela 8 - Quantificação de fases majoritárias para o Material M1 (CAC) ........... 61 Tabela 9 - Quantidade de fases majoritarias para o Material M2 (SC) ................. 62 Tabela 10 - Coeficientes de Expansão Térmica das fases majoritárias presentes nos concretos ........................................................................................................ 63 Tabela 11 – Módulo Elástico (ME) das fases majoritárias presentes nos concretos .............................................................................................................................. 64 Tabela 12 – Densidade cristalográfica das fases majoritárias presentes nos concretros ............................................................................................................. 65 Tabela 13 - Coeficiente de expansão térmica (Mistura das fases)........................ 66 Tabela 14 – Condutividade térmica (k) ................................................................. 66 Tabela 15 - Resultados da Integração das curvas do ensaio de medição de Energia de Fratura – Concreto CAC................................................................................. 102 Tabela 16 - Resultados de Integração das curvas do ensaio de medição de Energia de Fratura – Concreto SC ................................................................................... 102 Tabela 17 - Resultados de medição de Energia de Fratura ................................ 103 Tabela 18 - Parâmetros de Hasselmann para resistência a iniciação de trincas 104 LISTA DE SIGLAS AH Alumina Hidratável BD Bulk Density (Densidade Aparente) BFA Brown Fused Alumina (Alumina eletrofundida marrom) BOF Basic Oxygen Furnace (Forno Básico de Oxigênio (Convertedor)) CAC Cimento de Aluminato de Cálcio CT Ciclo Térmico Da/Pa Densidade Aparente e Porosidade Aparente DRX Difratometria de Raios X EDS Energy Dispersive Spectroscopy (Espectroscopia por Energia Dispersiva ME Módulo de elasticidade MEV Microscopia Eletrônica de Varredura MOR Módulo de Ruptura WFA White Fused Alumina (Alumina Eletrofundida Branca) WOF Work Of Fracture (Trabalho de Fratura) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 19 2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 22 2.1 OBJETIVOS GERAIS ..................................................................................... 22 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 22 3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 23 3.1 Panelas de Gusa ............................................................................................. 23 3.2.1 Concretos Refratários .................................................................................. 30 3.2.2 Agregados Refratários ................................................................................. 31 3.2.2.1 Andaluzita ................................................................................................. 32 3.2.2.2 Mulita......................................................................................................... 32 3.2.2.3 Bauxita ...................................................................................................... 32 3.2.2.4 Córindon.................................................................................................... 33 3.2.2.5 Espinélio.................................................................................................... 33 3.3 Propriedades e Medições em refratários ........................................................ 34 3.3.1 Densidade e porosidade .............................................................................. 34 3.3.2 Módulo de elasticidade................................................................................. 35 3.3.3 Módulo de elasticidade................................................................................. 36 3.3.4 Energia de Fratura ....................................................................................... 37 3.3.5 Choque térmico ............................................................................................ 39 4 METODOLOGIA EXPERIMENTAL .................................................................... 45 4.1 Caracterização dos materiais secos e queimados .......................................... 47 4.2 Difratometria de Raios X e análise mineralógica das fases ............................ 48 4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) / Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS)................................................................................................... 48 4.4 Choque Térmico por ciclagem ........................................................................ 48 4.5 Determinação do Módulo Elástico .................................................................. 49 4.6 Determinação do Módulo de Ruptura (MOR) Utilizando o Ensaio de Flexão em Três Pontos .......................................................................................................... 49 4.7 Determinação da Energia de Fratura (γwof) ..................................................... 49 4.8 Parâmetros de resistência ao choque térmico e ao dano por choque térmico 50 4.9 Determinação dos coeficientes de expansão térmica ..................................... 50 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 51 5.1 Caracterização dos materiais secos e queimados .......................................... 51 5.2 Ensaios Mecânicos e Caracterizações Termomecânicas ............................... 67 5.2.1 Módulo Elástico e levantamento da Curva de Hasselmann ......................... 67 5.2.2 Resistência Mecânica e Ciclagem Térmica ................................................. 71 5.3 Análises Microestruturais por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS) ..................................................... 74 5.3.1 Análise microestrutural do concreto M1 (CAC) – Sinterizado (1100°C / 3h) 75 5.3.2 Análise microestrutural do Concreto M2 – Sinterizado (1100°C / 3h) .......... 80 5.3.3 Análise Microestrutural do concreto M1 - Ciclos Térmicos .......................... 85 5.3.4 Análise Microestrutural do concreto M2 - Ciclos Térmicos .......................... 90 5.4 Energia de Fratura .......................................................................................... 98 5.2.Parametros de Hasselmann ......................................................................... 103 6 CONCLUSÕES ................................................................................................ 107 6.1 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................. 109 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 110 19 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento na área de materiais refratários é de grande interesse para a Indústria e para o meio acadêmico/científico, devido a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento tecnológico, econômico e ambiental. Os refratários são viabilizadores insubstituíveis de processos a quente, estão presentes em diversos setores industriais, sendo o maior deles o setor da siderurgia, responsável pelo consumo de mais de 60% dos refratários (LEE et al., 2001; SCHACHT, 2004) As tendências mundiais são cada vez mais voltadas para garantir qualidade e excelência nos produtos siderúrgicos. No entanto, para permanecer competitivo em um mercado globalizado, é essencial maximizar a produtividade e eficiência de produção, minimizando paradas, perdas e custos. Para alcançar esse objetivo, são necessárias práticas operacionais saudáveis que possam garantir uma elevada produtividade, dentro das normas estabelecidas e dos padrões de segurança. Essas práticas podem estar associadas a questões operacionais, como também à otimização de projeto e consumo de materiais. Nesse sentido, para a produção de aço, as usinas buscam teores mais baixos de enxofre no banho de gusa, já que existem limitações cinéticas e termodinâmicas para a remoção nos convertedores (BOF), o processo de refino primário. Entretanto, isso implica num maior volume e basicidade de escória e menor produtividade do alto-forno(BISWAS; SARKAR, 2020; JUSTUS et al., 2005). Desta maneira, a remoção do enxofre é realizada em uma etapa intermediária, entre o alto-forno e a aciaria. Essa etapa é denominada prétratamento que pode acontecer em carros torpedos ou em panelas de gusa. No estudo deste projeto de dissertação são utilizadas panelas de Gusa, tanto para o transporte do alto-forno pra aciaria quanto para a dessulfuração. A dessulfuração implica em um potencial aumento da corrosão pela escorificarão provocada pelo agente dessulfurante. Essa escória possui caráter químico distinto antes e depois do processo, mudando as potenciais fases formadas entre refratário e o meio e a forma de interação com o revestimento. 20 Durante a operação são mantidas panelas extras no ciclo alto-forno/aciaria em uma forma de contingencia. Em virtude disto as panelas podem eventualmente esfriarem, perdendo a carga térmica. Para evitar a perda térmicas das panelas, nas siderúrgicas são frequentemente instaladas estações de aquecimento das panelas por queimadores. Essa condição é importante por dois aspectos: (a) Não perder a carga térmica do gusa na panela durante o recebimento e (b) evitar o choque térmico no revestimento refratário durante a entrada no circuito. Entender as propriedades e os mecanismos de desgaste desses materiais é importante para tentar mitigar os mesmos e desenvolver materiais e processos que possam melhorar o desempenho refratário e garantir a manutenção e continuidade dos processos produtivos. Em panela de gusa os desafios são enormes, e embora os materiais/práticas já estão bem estabelecidos ainda existirem muitos trabalhos nessa área, buscando melhoria de performance de material, compreensão dos fenômenos químicos e termomecânicos envolvidos na campanha deste equipamento. As condições críticas para o revestimento refratário das panelas de gusa são na ausência de sistemas de aquecimento, tema deste projeto de dissertação, juntamente com a exposição às intempéries. Esse conjunto de fatores causa um desgaste prematuro por conta de danos termomecânicos causados, principalmente durante o aquecimento e resfriamento. Segundo os relatórios da operação de uma usina siderúrgica brasileira que não possui sistema de aquecimento de panelas de gusa, um dos principais problemas observados foi elevada infiltração pelas juntas dos tijolos ainda no início da campanha do revestimento. Com elevados níveis de infiltração, torna-se mais difícil a realização de reparos parciais com trocas de tijolos, e diminuindo a segurança operacional do equipamento. Já que este, ao apresentar pontos quentes na carcaça metálica, deve imediatamente ser afastado de serviço. Como o gusa é muito fluido, também pode ocorrer vazamentos pelo suspiro, caso ele encontre caminho livre, podendo causar graves acidentes e provocar atrasos e perdas operacionais e/ou ocupacionais. 21 De fato, a entrada em serviço, estando essas panelas abaixo de 800°C, deve causar um estresse devido à mudança abrupta de temperatura durante o recebimento de carga líquida. Nesse momento, o caminho para a infiltração também se encontra facilitado devido as juntas frouxas. De maneira geral, a panela que estiver em operação, estando acima de 800°C, deve também diminuir a formação de cascão, diminuindo a criticidade das limpezas e diminuir os níveis de emissão. Os parâmetros de choque térmico, desenvolvidos por Hasselmann, no seu famoso trabalho intitulado ‘a teoria unificada do choque térmico’ (HASSELMANN,1969), são apresentados e correlacionam o desempenho em solicitações térmicas com diversas propriedades dos materiais. Esses parâmetros são importantes para se predizer comportamentos, baseando-se em análises comparativas de materiais. Para evitar a infiltração e exposição precoce do revestimento permanente, surge o desafio de substituição total de projeto convencional para um revestimento 100% monolítico. Para isso, tornam-se necessário estudos em campo e em laboratório para escolhas de materiais, baseadas em parâmetros técnicos, observações práticas e caracterizações físico-químicas dos materiais disponíveis elencados para a aplicação. 22 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAIS Estudar alguns dos materiais aplicados no projeto de revestimento totalmente monolítico aplicado à panela de Gusa. Realizar as caracterizações físicas e químicas para prestar auxílio no desenvolvimento de potenciais fornecedores de materiais. Investigar experimentalmente as propriedades termomecânicas dos refratários aplicados na usina. Comparar as diferentes composições, microestruturas e correlacionar com as propriedades encontradas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Determinar a energia de fratura dos materiais fornecidos; b) Determinar os Parâmetros de Choque térmico dos materiais fornecidos; c) Correlacionar a microestrutura com as propriedades alcançadas; d) Correlacionar o estudo com o desempenho em campo. 23 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Panelas de Gusa As panelas de gusa são equipamentos importantes dentro da siderurgia. Elas podem ser destinadas ao transporte de carga líquida e também a processos físico-químicos como dessulfuração e desfosforação. O processo em que este equipamento está inserido bem como as condições operacionais são determinantes na definição de conceitos de materiais refratários a serem aplicados no revestimento, no plano de manutenção, definição de metas de campanha e garantia de segurança operacional. Durante sua operação as panelas de gusa são submetidas a condições extremas de temperatura e contato com meios corrosivos, o que a torna vulnerável ao desgaste e deterioração ao longo do tempo. No presente estudo, as panelas de gusa são utilizadas para o pré tratamento de gusa do alto-forno a coque. O objetivo é reduzir os teores de enxofre da carga líquida do convertedor, permitindo atingir as faixas composicionais determinadas dos produtos com maior eficiência. Em outras usinas, este pré-tratamento também pode acontecer dentro de carros torpedos. Existem vantagens e desvantagens sobre a utilização de panela ou carro torpedo, e que podem variar de acordo com a estrutura local, distância entre alto-forno e aciaria, produção diária, disponibilidade, logística de construção e reparo, entre outros fatores. A dessulfuração em carro torpedo é dificultada, principalmente, em atingir uma homogeneidade e em utilizar de maneira eficiente o agente dessulfurante (YANG, 2012). Desta forma, são necessários tempos maiores para a limpeza de enxofre quando o tratamento ocorre dentro dos torpedos. O efeito do enxofre sobre as propriedades mecânicas do aço deve ser mínimo quando se trata de um aço de baixo carbono. À medida que se aumenta o teor de carbono do aço, deve se esperar impactos negativos sobre a resistência 24 mecânica, ductilidade e tenacidade. De maneira geral, os teores de Enxofre devem ser mantidos entre 0,05-0,025% (CHIAVERINI, 2008). O Enxofre é oriundo das matérias-primas do alto-forno, e costuma ser mais elevado nos que utilizam coque como redutor. Seus teores devem ser controlados em cada etapa, de maneira que o fluxo de processos para o refino de aços não seja comprometido e nem se crie gargalos até o produto acabado. A dessulfuração é a etapa subsequente ao processo de alto-forno. As escórias de alto-forno são ácidas, e por isso são capazes de incorporar os álcalis e outras impurezas. Porém, para a dessulfuração do banho é necessária uma escória de basicidade alta. Isto é, escórias de alto-forno não são adequadas para a dessulfuração (NAG et al., 2021; YANG, 2012). Para adequar essa escória, os reagentes dessulfurantes são injetados por uma lança pneumática no fundo da panela juntamente com o gás Nitrogênio ou Argônio. Os principais agentes são: carbeto de cálcio, Magnésio metálico, carbonato de sódio, cal, carbonato de cálcio, criolita e fluorita (NAG et al., 2021; YANG, 2012). Os agentes dessulfurantes geralmente contém uma mistura desses materiais, por questões econômicas e operacionais. A injeção de compostos a base de cal deve levar a formação de sulfetos e promover também a dessiliciação do banho, aumentando o volume de escória e diminuindo a viscosidade da mesma. (YANG, 2012). A literatura recente aponta como os reagentes mais utilizados o carbeto de cálcio (CaC2) e cal fluidificada, que é preparada pela mistura com criolita. Um aumento da cal fluidificada remete a menores tempos de campanha de revestimento de refratários ASC em panelas (NAG,2021). Em estágios avançados da dessulfuração a cal não reagida pode reagir com as gotículas de ferro e promover a retirada de líquido do banho para a escória, diminuindo a eficiência metálica do processo. O principal fator para a utilização de tratamento de panela está associado ao ganho de produtividade. Carros torpedo envolvem uma mecânica mais robusta, 25 onde a geometria do equipamento não favorece a homogeneização e renovação do volume de reação. As principais consequências são: a) Volume latente mantido dentro do carro com uma escória rica em sulfetos; b) Perda de volume útil para transporte de gusa; c) Necessidade de tratamentos de maior duração e maior consumo de agentes dessulfurantes; d) Aumento do ataque químico aos Refratários. Os refratários de carro torpedo e panela, geralmente, são similares em termos de classe. Nos refratários de carro torpedo, recentemente, se utiliza majoritariamente tijolos não queimados de Al2O3-SiC-C (BISWAS; SARKAR, 2020; JUSTUS et al., 2005), que apresenta baixa molhabilidade e boa resistência à corrosão e ao choque térmico. Os principais desafios da panela de gusa / carro torpedo: a) transporte com confiabilidade do gusa líquido da redução para a aciaria, já que qualquer problema pode causar danos materiais e perdas humanas; b) deve-se evitar perdas térmicas elevadas, sendo fortemente impactada pela seleção de materiais de revestimento; c) deve-se manter a carcaça metálica protegida. Geralmente busca-se temperaturas abaixo de 300°C; d) deve-se atender a demanda produtiva da aciaria, isso inclui cumprimento de tempos curtos de processo e uma disponibilidade de panelas suficiente dentro dos circuitos e em reserva. A maior parte das panelas são aplicadas sobre o mesmo conceito, seguindo a mesma classe de materiais. O que variam são práticas de manutenção e logística operacional. 26 Desta maneira são escolhidos diferentes ajustes de projetos para atender essas questões, variando geometria, espessura de revestimento, e concretos e resinas para manutenção a quente, e adequações relacionadas à custo. As temperaturas na face de trabalho podem ser da ordem de 1550°C, e os refratários aplicados geralmente são ASC, exceto na região de impacto (NAG,2021). A prática comum é a montagem de revestimento à base de tijolos de formato “Mini Key” ou “Side arc”. São feitos balanceamentos de propriedades e custos para a escolha do tipo e qualidade dos agregados e da matriz. Para que se possa extrair a maior campanha de uma panela, é necessário que ela não entre em operação em temperaturas relativamente baixas (<800°C), para evitar uma condição acentuada de choque térmico. O ciclo operacional da panela em estudo está ilustrado no diagrama da Figura 1. Dentro deste ciclo a panela passa por períodos ociosos e períodos carregadas, enfrentando elevadas perdas térmicas do revestimento e sendo muitas vezes exposta ao tempo. Como dito anteriormente, ainda existe a ausência de aquecedores, o que eleva a condição de choque térmico por aquecimento brusco. Figura 1 - Fluxograma do ciclo operacional de Panela de Gusa Fonte: Próprio autor 27 As temperaturas da carcaça foram simuladas sob uma determinada condição idealizada de eficiência térmica do revestimento utilizando o software da companhia ANSYS, Inc. Um mapa térmico foi disponibilizado para diferentes tempos de exposição ao ar, em condições normais de tempo, Figura 2. Figura 2 - Termografia simulada das panelas em diferentes tempos de exposição ao ar após processo de dessulfuração. Fonte: Arquivo pessoal São necessários controles rigorosos e sincronização para tentar reduzir os tempos de panelas vazias. Em alguns casos, pode-se optar por escolher uma panela em detrimento de outra para não acarretar em atrasos de produção. Por isso são necessários cartas de controle e indicadores para que se possa trabalhar em condições mais saudáveis para o revestimento. 28 Por conta das características e condições citadas anteriormente, os problemas de desgaste da unidade em foco são intensificados. O histórico reportado identifica os seguintes problemas: a) precoce exposição do permanente por queda de tijolos, ver Figura 6a; b) trincas perpendiculares ao fluxo de calor; c) infiltração de gusa e escória pelas juntas, ver Figura 6b; d) abrasão e Erosão dos tijolos; e) solidificação de gusa e formação de chapas que dificultam a limpeza das panelas; f) lascamentos. Os problemas são ilustrados na Figura 3. Figura 3 - Problemas apresentados em panela de gusa com condição brusca de aquecimento (a) Exposição do refratário de permanente por queda de tijolos; (b) abertura de frestas e lascamento dos tijolos. Fonte: Arquivo pessoal Devido a essas condições severas em que a panela de estudo está exposta, o trabalho de inspeção fica bastante complicado, bem como a manutenção e limpeza de panela. Quando uma panela convencional se encontra em baixa temperatura, as tensões compressivas que fecham as juntas são aliviadas e, consequentemente, o usa infiltra mais facilmente. No primeiro estágio esse gusa vai se infiltrar pelas frestas dos tijolos e deve se alojar no backfill, a medida que 29 essa infiltração vai se alojando, vão surgindo tensões na trativas na região posterior do tijolo, provocando uma abertura na ponta, ver Figura 4. Desta maneira os caminhos para infiltração são amplificados e pode ocorrer estufamento de tijolos e queda de painéis Figura 4 - Esquema ilustrativo da infiltração do gusa por entre as juntas e efeito secundário Fonte: Próprio autor A eliminação de juntas, a princípio apareceu como uma opção para se livrar do problema de desprendimento de tijolos e formação de chapas de gusa por entre os tijolos e por trás do revestimento. Fez-se então necessário a condução de um projeto piloto e um estudo das propriedades dos materiais sugeridos. O enfoque dado foi para a condição de choque térmico brusco, já que em condições normais os revestimentos apresentam uma campanha mais extensa. 30 3.2.1 Concretos Refratários O ano de 1914, nos Estados Unidos da América, marcou o início de uma nova era na tecnologia dos refratários. O governo americano anunciou o produto com o termo ‘Specialties’ para a classificação dos materiais não formados e não queimados, ou monolíticos. Inicialmente passou-se a produzir massas de socar, e em 1923 surgem os ‘Cast-ables’ (‘castables’ ou concretos) com aplicações refratárias (SCHACHT, 2004). O objeto do estudo são refratários monolíticos, em especial os concretos, que devem compor o revestimento de trabalho de uma panela de gusa, substituindo o projeto convencional de tijolos. Por sua vez, os concretos são materiais compostos por matérias primas sólidas (agregado, cimento e finos). Após a mistura das partes sólidas deve ser adicionada uma quantidade determinada de água. Essa água é responsável pela hidratação do cimento [por exemplo cimento à base de aluminato de cálcio (CAC)] formando uma estrutura mecanicamente estável. O desenvolvimento das fases refratárias se dá na etapa subsequente de queima, onde ocorre a desidratação de água. O Ligante dos concretos convencionais é o CAC (CaO>2,5%). Com o passar dos anos, devido a necessidade de materiais com maior refratariedade, tem sido desenvolvido materiais com menores teores de cimento, já que a presença do CaO na composição do refratário pode levar a formação de fases de baixo ponto de fusão, prejudicando a campanha do revestimento (BRAULIO et al., 2010; GARCIA, 2010; GARCIA et al., 2007). Com necessidade de se reduzir os teores de cal para aplicações em maiores temperaturas, foram desenvolvidos concretos de baixo teor de cimento (2,5%>CaO>1,0%) e ultra baixo teor de cimento (1%>CaO>0,2%), onde é feita a combinação de microssílica, alumina hidratável (AH) e cimento. A microssílica é coberta por grupos silanol (SiH3OH) que são capazes de se dissociar em meio aquoso, promovendo uma reticulação e ganho de resistência, assim como no concreto. A refratariedade é elevada pela mulitização da matriz e ausência de 31 formação de fases líquidas (MYHRE; HAIBING, 2011). A classificação dos concretos quanto ao teor de cimento é mostrada na Tabela 1. Tabela 1 - Classificação Geral dos Concretos quanto ao Teor de Cimento Fonte: Adaptado de ACTM C401 (2012) Além das altas temperaturas, os concretos refratários podem experenciar variações de temperatura durante os ciclos de aquecimento e resfriamento. Dessa forma, diversos autores tem estudado o comportamento dos refratários sob condições de choque térmico, na busca de entender o fenômeno e também de comparar diferentes materiais (QUINTELA et al., 2001; SALVINI et al., 2012; SCHACHT, 2004). Andreev realizou simulações computacionais para mostrar o comportamento de tensões desenvolvidas em refratários sob ciclos térmicos e a resposta do material e constatou uma evolução na propagação de trincas em cada ciclo devido à energia de deformação irreversível região frontal da trinca que permanece após o descarregamento por tensões térmicas (ANDREEV; HARMUTH, 2003). 3.2.2 Agregados Refratários Os agregados refratários podem ser de origem natural ou sintética, geralmente são processados previamente para poder ser adicionados à mistura refratária e agem como um esqueleto. Os concretos utilizados são refratários de alta aluminosos e de alta alumina com diferentes agregados refratários, com e sem a presença de carbeto de silício, carbono e espinélio de alumina e magnésia. Segue imediatamente uma breve discussão sobre alguns tipos de agregados. 32 3.2.2.1 Andaluzita A andaluzita, Al2O3-SiO2, é um aluminossilicato, de ocorrência natural que contém aproximadamente 60% de alumina, 40% de sílica, com um pequeno grau de impurezas. Ela precisa ser processada, porém não é necessário uma etapa de pré-calcinação. Ela se torna interessante para o segmento de refratários devido à sua elevada resistência à deformação, baixa condutividade térmica, A transformação da andaluzita em mulita, pode gerar fase líquida, devido ao excesso de sílica na reação. Por esse motivo ela deve ser prevista e controlada para que não se comprometa o desempenho do revestimento a base de andaluzita. 3.2.2.2 Mulita A mulita (3Al2O3.2SiO2) é um material que apresenta propriedades químicas e termomecânicas atraentes para inúmeras aplicabilidades no campo das cerâmicas avançadas. Por sua incidência ser rara na natureza, usualmente este material é obtido por meio da transformação de aluminossilicatos, como cianita, andaluzita e silimanita, juntamente argilominerais, através da reação entre sílica e alumina em temperaturas superiores à 1280°C. Mulita é a única fase cristalina do sistema aluminossilicato estável em baixas e altas temperaturas. Possui baixa condutividade térmica, pequeno coeficiente de expansão térmica, boa resistência a corrosão e ao choque térmico, o que a torna uma boa opção para aplicação em diversos processos da siderurgia (20,21 da GISELLI). Em estudos conduzidos por Hamidouche, sobre aspectos relativos ao choque térmico de amostras cerâmicas de mulita e encontrou uma gradiente crítico de temperatura (∆Tc) de 750°C para a iniciação de trincas, o que implica numa resistência elevada a iniciação de trincas (HAMIDOUCHE et al., 2003). 3.2.2.3 Bauxita Bauxita é um mineral de caráter heterogêneo, composto em grande parte por hidróxidos de alumínio. O mineral pode ser utilizado em diversas aplicações industriais, de acordo com sua composição química e mineralógica. A maior parte da produção mundial, cerca de 90%, está destinada a fabricação de alumina para a posterior redução para alumínio metálico. O restante da produção é despendido 33 nos setores de refratários, abrasivos, cimentos e químicos. Da bauxita podem ser obtidas os demais agregados refratários como alumina eltrofundida branca (WFA) e alumina eletrofundida marrom (BFA) (DE FARIA, 2017) Entretanto as propriedades em corrosão e choque térmico são bastante distintas, bem como as questões econômicas. Em aplicações refratárias, a bauxita deve conter um elevado teor de alumina (>85%) pós calcinação (PASCAL; PANDOFELLI, 2000). Deve-se buscar baixos teores de impurezas como ferro (teor máximo de óxido de ferro pós calcinação de 2,5%), titânia e álcalis. 3.2.2.4 Córindon O coríndon, ou alfa alumina (Al2O3), é um material vastamente utilizado nas mais diversas áreas da indústria e da academia, podendo ser sintetizada através de técnicas como eletrofusão (WFA ou BFA) ou sinterização. Sua temperatura de fusão acima de 2000oC lhe ajuda a garantir excelente refratariedade. O coríndon possui alta resistência mecânica e à abrasão, alto coeficiente de expansão e condutividade térmica, quando comparado à mulita, matéria prima que será discutida na sequência (CRISTANTE, 2019) Os materiais de alta alumina são resistentes a abrasão, possuem alta refratariedade e podem ser aplicados em bicas de basculamento, regiões de impacto, região da boca de carros torpedo, utensílios de laboratório. 3.2.2.5 Espinélio Os espinélios são materiais que vem ganhando interesse, tanto em refratários com formação ‘in situ’, quanto com espinélios calcinados (PASCAL; PANDOFELLI, 2000). O espinélio de magnésia alumina (MgAl2O4) possui alta refratariedade, resistência a corrosão e erosão. Segundo Justus et al. (2005) e Nagai et al. (1991), em algumas situações a formação de espinélio estequiométrico pode ser benéfico para choque térmico como consequência de um microtrincamento da matriz e diminuição da resistência mecânica do corpo. 34 Um outro ponto que chama a atenção para a utilização de espinélio em refratários de carro e panela está associado ao fato de que ele apresenta caráter químico anfótero, promovendo uma resistência à corrosão adequada à escória de alto forno e de dessulfuração (JUSTUS et al., 2005) 3.3 Propriedades e Medições em refratários O conhecimento das propriedades dos refratários é crucial para a correta utilização, projeto e especificação destes materiais, os quais, via de regra, estão sujeitos às mais hostis condições existentes na metalurgia extrativa (MOURÃO, 2011). A propriedade é uma resposta característica de um material à um determinado tipo de estimulo, em determinadas condições controladas. Para poder se obter o mesmo tipo de resposta é necessário que sejam criados padrões de testes confiáveis, bem como procedimentos para preparações de amostras. Durante o dimensionamento e projeto existem propriedades que são críticas para o desenvolvimento. À seguir serão apresentados conceitos sobre as propriedades e os métodos de medição. 3.3.1 Densidade e porosidade Nos refratários a densidade é uma grandeza importante e está relacionada com outras propriedades, como a condutividade térmica e resistência mecânica. Em virtude da dificuldade de se medir volumes em determinadas geometrias existem cálculos que surgiram para se determinar a densidade real e aparente do refratário. A medição da densidade real pode ser feita com técnicas de porosímetro de mercúrio e picnometria por hélio. Densidade aparente (BD – ‘bulk density’), pode ser medida pelo princípio de Arquimedes. Por seu turno, a porosidade pode dizer sobre a integridade do corpo refratário e como as partículas estão conectadas de forma a não promoverem descontinuidades. Ela é descrita em termos do volume de poros abertos dividido pelo volume total. Em geral, porosidade elevada aumenta o grau de penetração de líquidos no refratário. Os procedimentos para o ensaio segundo a norma americana, está descrito em ’Bulk Density and Porosity Appearent (ASTM D-20)’, e pela norma brasileira em 35 ’Materiais refratários densos e granulados - Determinação da densidade de massa aparente, da absorção e porosidade aparente - Método de ensaio (ABNT NBR 8592) 3.3.2 Módulo de elasticidade O módulo de elasticidade é uma medida da rigidez de um material. Ele é função força média das ligações, coesão e densidade das ligações. Um material homogêneo, ao ser submetido à uma carga uniaxial de tração ou compressão, essa força possa ser tal que desloque os átomos de sua posição de equilíbrio. Quando esse deslocamento não envolve quebra de ligações ele é considerado uma deformação elástica, ou seja, ao aliviar essa tensão o material retorna para sua posição inicial, em equilíbrio. Nessas condições, onde não ocorre o escoamento, o comportamento segue a lei de Hooke, no qual a tensão (σ) é proporcional a deformação (ϵ) pelo módulo de Young (E) (CALLISTER, 2002). Nesse caso o módulo de elasticidade, desde que medido adequadamente é uma propriedade do material. O ME se relaciona com a rigidez do material e é dependente da densidade e da força das ligações. No caso dos materiais frágeis é muito difícil usar o ensaio de tensão / deformação, devido à complexidade para a preparação de amostras com geometria adequada e sem a existência de defeitos. No caso dos materiais refratários, geralmente são usados dois tipos de ensaios: Estáticos (torção, flexão e compressão) (1) e dinâmicos (Excitação por impulso e varredura de frequências) (2). O primeiro primeiro tipo, trata-se de ensaios destrutivos e possuem certas limitações para um material frágil e homogêneo, podendo apresentar altos desvios de resultados. O segundo possui a vantagem de não ser destrutivo, e pode trazer informações sobre a integridade do corpo e formação de fases. Por exemplo, no estudo de dano por choque térmico, é possível avaliar a evolução da resistência mecânica medindo-se o módulo de Young simultaneamente com a aplicação de ciclos de choque térmico. 36 3.3.3 Módulo de elasticidade A resistência dos refratários está associada com conceitos básicos de resistência dos materiais. Ela normalmente é dada a partir do ensaio de flexão em três pontos que fornece, de forma indireta, o módulo de resistência a flexão, frequentemente chamado de módulo de ruptura (MOR). O Ensaio de flexão pode ser feito à frio e a quente. Existem normatizações e padronização para o ensaio de flexão, e ele é baseado na Equação 1, onde (MOR) é a tensão de fratura, (P) é a carga, (L) é a distância entre os apoios, (b) a espessura e (h) a altura da amostra. 𝑀𝑂𝑅 = 3𝑃𝐿 2𝑏ℎ² (1) Embora 80-90% da resistência dos refratários mostrada na literatura seja determinada pelo MOR à frio para a caracterização, essa abordagem deixa muito a desejar. A primeira limitação está na prática, o ensaio de flexão é muito sensível a defeitos de superfície e por isso possui um grande desvio de amostra para amostra. Estudos tem sido realizados na literatura para aplicação de compressão diametral na caracterização mecânica, mas ainda tem muito para ser desenvolvido no tocante de materiais refratários. A segunda limitação está no fato de que os fenômenos que ocorrem em altas temperaturas levam os refratários a ter comportamentos bastantes distintos, de forma que a descrição do seu comportamento e falha em temperatura ambiente não são satisfatórios (SCHACHT, 2004)Em todo o caso, o MOR à frio é utilizado para seleção de materiais e comparação do comportamento mecânico em todo o mundo, e por isso ele será adotado para a discussão nesse trabalho. 37 3.3.4 Energia de Fratura A energia de fratura (γwof) de um sólido é a energia consumida para a formação de uma unidade de nova área durante o processo de fratura, incluindo a energia dissipada pela deformação plástica, a contribuição termodinâmica da formação de superfície, além da nucleação e movimento de discordâncias na ponta da trinca (NAKAYAMA, 1965). Nakayama propôs um método para a medição da energia de fratura para materiais frágeis utilizando o ensaio de flexão. Para isso ele monitora o crescimento de um entalhe macroscópico em um ensaio lento de flexão. O trabalho de fratura pode ser obtido pela integral da curva de carga por deslocamento, ver Equação 2. (CUNHA-DUNCAN; BRADT, 2003; GARCIA, 2010; NAKAYAMA, 1965; SAKAI; BRADT, 1988) 1 𝑊𝑓 = 2 ∫ 𝑃. 𝑑𝑠 (2) Em que ‘Wf’ é o trabalho de fratura, ‘P’ a carga instantânea, ‘ds’ é o deslocamento do travessão. A energia de fratura (γwof) pode ser calculada dividindose o trabalho de fratura pela área das duas superfícies geradas, conforme a Equação imediatamente a seguir, Equação 3. 𝑊𝑓 = 2𝐴. 𝛾𝑤𝑜𝑓 (3) Onde ‘A’ é a área da superfície fraturada. A condição para a validação dessas equações está relacionada com o balanço de energia do sistema, de maneira que o incremento de energia deve ser consumido exclusivamente para a geração de uma nova superfície. As energias envolvidas no processo são descritas da seguinte maneira, ver Equação 4. 𝑈𝑡 = 𝑈𝑠 + 𝑈𝑚 + 𝑈𝑘 + 𝑊𝑓 (4) Em que Ut é a energia total do sistema, Us e Um são, respectivamente, a energia elástica armazenada na amostra e na máquina. U k é a energia cinética e Wf o trabalho de fratura. Se a velocidade do travessão for suficientemente lenta, o 38 termo Uk deve tender a zero. Nas condições ideais, a energia total (Ut), deve ser inalterado durante a propagação da trinca (dc). Portanto a condição pode ser descrita, conforme a Equação 5, segundo o critério de Griffith (1921). −( 𝑑(𝑈𝑠 +𝑈𝑚 ) 𝑑𝑐 )≤( 𝑑𝑊𝑓 𝑑𝑐 ) (5) Nessas condições a trinca está demandando apenas um incremento de energia pela movimentação do travessão para se propagar, então deve-se esperar um crescimento lento e estável de trinca (NAKAYAMA et al., 1981); A rigidez da máquina e a geometria do entalhe são extremamente importantes para que se consiga garantir um crescimento estável. A estabilidade da propagação da trinca pode ser avaliada observando-se a curva de ensaio do material, ver Figura 5. Existem três tipos de propagação, estável, semiestável e instável. Os valores encontrados na curva instável podem não descrever de maneira satisfatória a energia de fratura. A determinação da energia de fratura é extremamente importante para entender os fenômenos e prever comportamentos de materiais sob solicitações de aquecimento/resfriamento bruscos. 39 Figura 5 - Curvas típicas no ensaio de energia de fratura (γwof) Fonte: Adaptado de Nakayama et al. (1981) 3.3.5 Choque térmico Em muitas aplicações os materiais refratários podem experenciar elevadas variações de temperatura durante os ciclos de trabalho. Essas variações podem causar tensões térmicas no material, sendo que a região da superfície é mais sensível aos efeitos de variação de temperatura, enquanto que no interior o material precisa de um tempo maior para conseguir homogeneizar essa variação, surgindo um gradiente dentro do corpo refratário (KINGERY, 1976). Além do gradiente, 40 pode-se destacar que cada parte heterogênea do material se contrai / expande de maneira diferente, podendo gerar estresse mecânico por variação de temperatura. Quando um corpo passa por um resfriamento rápido, sua superfície rapidamente atinge essa nova temperatura. Essa região da superfície livre experimenta uma retração. Entretanto, a variação da temperatura é menor nos volumes internos do material, ocorrendo assim, uma restrição volumétrica na contração do corpo como um todo. Esse gradiente entre superfície e volume interno gera as tensões mecânicas causadas pelo fenômeno de choque térmico, fruto de uma retração não uniforme, ver Figura 6. (KINGERY, 1976). Figura 6 - Distribuição de Tensões em um Material Submetido à uma Variação de Temperatura Duas condições: (a) representação de um resfriamento brusco a partir da superfície; (b) representação de um aquecimento brusco pela superfície Fonte: Adaptado de Kingery, 1976 Quando essas tensões superam o limite de resistência do material, dá-se início ao processo de falha, podendo causar a deterioração das propriedades mecânicas pelo surgimento de trincas, e em casos mais severos pode chegar a ruptura do corpo. A natureza compósita dos refratários traz consigo uma estrutura grosseira, 41 heterogênea e porosa, e por isso podem ocorrer concentrações de tensão na interface desses defeitos, como os próprios agregados, levando ao ‘spalling’, ou microtrincamento. ‘Spalling’ se refere ao fenômeno de perda de integridade, sem perda de massa (SCHACHT, 2004). Quando falamos em choque térmico, duas condições devem ser levadas em conta: a nucleação de trincas (1) e a propagação de trincas (2). A propagação de trincas deve seguir o critério energético de Griffith (1921), onde o material só deve fraturar ou propagar suas trincas se ocorrer uma diminuição da energia total do sistema (Equação 6). Um material resistente à nucleação de trincas depende das propriedades do material, porém a presença de um defeito, bem como uma trinca ou um entalhe, deve afetar tanto as propriedades do material, quanto seu modo de falha. De maneira geral, se a tensão gerada por um gradiente térmico for maior que a resistência mecânica do material, dá-se início ao processo de falha. A dimensão do gradiente, o estado microestrutural do material e as propriedades vão dizer se o processo de falha será catastrófico ou vai ser gradual. A condição para o início do processo de falha pode ser obtida pela Equação 6. ∆𝑇𝑐 = 𝜎𝑓 𝐸𝛼 (1 − 𝜇) (6) Onde σf é a tensão de resistência, α é o coeficiente de expansão térmica (CET) e μ é o coeficiente de Poisson. Estudos comprovam a validade dessa equação para aplicações cerâmicas em que se tem uma transferência de calor rápida (DAVIDGE; TAPPIN, 1968; GUPTA, 1972; WANG; SINGH, 1994). Foram desenvolvidas teorias para a determinação de gradientes críticos de temperatura no início da década de 60. Hasselmann se baseou também no critério energético e no modelo mecânico proposto por J.B. Walsh (1965), para desenvolver as equações analíticas, onde pequenos tamanhos de trinca, a variação de temperatura crítica pode ser descrita como na Equação 7, com a premissa de uma distribuição uniforme de trincas, de tamanho definido. 42 1/2 𝜋𝐺(1−2𝜇)2 ∆𝑇𝑐 = [ 2𝐸𝛼2 (1−𝜇2)𝑙 ] (7) Em que G é a energia de fratura, l o comprimento de trincas. Enquanto que para trincas longas, a expressão deve ser, Equação 8. ∆𝑇𝑐 = [ 128𝜋𝐺(1−𝜇 2 )𝑁²𝑙5 81𝛼²𝐸 1/2 ] (8) Onde é a densidade de trincas. Isso acontece por que no início do processo de iniciação das trincas a taxa de dissipação de energia elástica supera a energia para a geração de superfície ((HASSELMAN, 1963, 1969; HASSELMAN, 1970)). O comprimento final das trincas pode ser determinado também, de maneira analítica, desde que o comprimento final seja muito maior que o inicial e o número de trincas seja apreciável. Dessa forma podemos escrever como a Equação 9. 3(1−2𝜇) 1/2 𝑙𝑓 = [8(1−𝜇2)𝑙 𝑁] 0 (9) Para facilitar a aplicação dessas complexas equações analíticas, Hasselmann determinou parâmetros baseados apenas nas propriedades dos materiais, de maneira que se possa comparar as propriedades em choque térmico, mas também prever o comportamento de determinados materiais (HASSELMAN, 1963). Quando se fala em cerâmicas tradicionais ou avançadas, onde o comportamento é extremamente frágil, os valores de temperatura crítica para iniciação de trincas se tornam muito mais importante. Para esses materiais, a energia dissipada é muito maior que a energia de superfície, provocando a geração de energia cinética nas partículas e uma falha iminente. Por isso deve-se evitar essa condição. Porém os refratários não exibem o comportamento frágil, apresentando desvios e se aproximando muito mais do comportamento mecânico de um compósito. (SCHACHT,2004) 43 Os parâmetros de Resistência de Hasselmann são dados pelas Equações 10, 11 e 12. 𝑅= 𝑀𝑂𝑅(1−𝜇) 𝛼𝐸 𝐺𝐸 𝑅 ′′′′ = 𝑀𝑂𝑅2(1−𝜇) 𝐺 (10) (11) 1/2 𝑅𝑠𝑡 = (𝛼2 𝐸) (12) O Primeiro parâmetro, R (°C), denominado Resistência ao choque térmico, refere-se ao gradiente máximo de temperatura para que ocorra a nucleação de trincas. O segundo, R’’’’ (m), denominado parâmetro de resistência ao dano por choque térmico, refere-se ao tamanho limite de trinca para que se propague de maneira instável, gerando uma falha iminente. O terceiro, Rst, denominado parâmetro de estabilidade de trinca sob tensão térmica, se relaciona com a diferença de temperatura máxima em corpos que contém trincas perpendiculares a superfície de trabalho e para propagação de trincas longas (HASSELMAN, 1970). Como é apenas um parâmetro, ele requer suporte experimental para a aplicação. A literatura mostra que em ciclos sequenciais de choque térmico, devese esperar uma deterioração das propriedades mecânicas (CRISTANTE, 2019; GARCIA, 2010; RIBEIRO et al., 2016). Quintela et al. (2001) estudaram diferentes tipos de refratários de alumina e magnésia, com teores carbono e conseguiram medir os parâmetros de Hasselmann utilizando corpo com entalhe em V. Uma análise interessante, feita por Cunha et al., é que existe uma proporcionalidade entre R’’’’ e Rst, essa proporcionalidade é equivalente ao inverso da energia elástica armazenada, força motriz para a propagação de trinca. Nesse sentido, os refrataristas não devem procurar necessariamente um material mais resistente. Mas sim um balanço de propriedades que possa satisfazer a determinada condição de aplicação. 44 Tabela 2 - Propriedades medidas para refratários de magnésia e alumina com teores de carbono Fonte: Quintela et al., 2001 Uma forma de correlacionar o desempenho em choque térmico de refratários distintos pode estar na razão da energia de fratura com a porosidade aparente, conforme mostra a Tabela 2. 45 4 METODOLOGIA EXPERIMENTAL Serão estudados no total 2 composições de refratários que foram fornecidos por empresas nacionais. O primeiro é um concreto convencional (CAC), vibrado de alta alumina, com agregados a base de alumina tabular e espinélio (MgAl2O4), identificado por A1 ou M1. O segundo é um concreto aluminoso autoescoante, sem cimento, com agregados à base chamote e coríndon marrom, ligado por sílica coloidal, identificado por A2 ou M2. As composições típicas fornecidas pelas empresas estão mostradas na Tabela 4. Tabela 3 - Análise química fornecida pelas fabricantes dos materiais ÓXIDO M1 M2 Al2O3 91% 81% SiO2 0,3% 15% SiC - - 0,1% 0,8% TiO2 - - CaO 2,3% - MgO 5,8% - Fe2O3 Fonte: Próprio autor, dados fornecidos pelas fabricantes. As amostras foram recebidas no Departamento de Engenharia de Materiais (DEMAR EEL-USP) já moldadas na forma de prismas de 40mm x 40mm x 160mm, secas a 100°C por 24 horas. As amostras foram separadas em dois grupos. O Primeiro seguiu diretamente para a caracterização, o segundo foi conduzido para a tratamento térmico, realizado a 1100°C por 3horas. Em seguida então foram 46 preparadas para as caracterizações físico-químicas, conforme ilustrado na Figura 8. Figura 7 - Fluxograma do recebimento e primeira divisão de amostras Fonte: Próprio autor A caracterização física foi realizada conforme os ensaios: • Densidade e Porosidade Aparente (DA/PA) • Difratometria de raios X (DRX); • Ensaio de Flexão em três pontos (MOR); • Sonelastic (ME). • MEV / EDS (Microscopia Eletrônica de Varredudra) O restante das amostras sinterizadas foi novamente dividido em três novos grupos (Grupo #3 ou G3, Grupo #4 ou G4, e Grupo #5 ou G5), os quais foram utilizados para fazer a caracterização termomecânica (G3), medição da Energia de Fratura (γwof)(G4) e determinação da curva de Hasselmann, Figura 9. Inicialmente, para a ciclagem térmica haviam 12 corpos de prova, em cada etapa do fluxograma três amostras eram retiradas para a realização dos procedimentos subsequentes. 47 Figura 8 - Fluxograma da metodologia aplicada após a sinterização das amostras Fonte: Próprio autor Cada etapa subsequente foi realizada por meio de um ensaio ou caracterização. Nas subsecções que seguem imediatamente, serão detalhados cada um dos procedimentos e equipamentos utilizados. 4.1 Caracterização dos materiais secos e queimados A massa específica aparente e porosidade aparente foram medidas para cada uma das condições de amostras. Os volumes foram fracionados utilizando um disco de corte com baixa rotação. As amostras cortadas em partes de aproximadamente uma polegada de espessura, com 40 mm de largura e altura. Os ensaios foram realizados nos laboratórios do Departamento de Engenharia de Materiais (DEMAR), na Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP), e os procedimentos experimentais adotados estão descritos na Norma Brasileira NBR 16661, utilizando o princípio de Arquimedes. A balança utilizada possuía a capacidade de 5kg e precisão de 0,01 g. Os resultados apresentados são referentes à média e desvio padrão de 4 corpos de para cada um dos materiais. 48 4.2 Difratometria de Raios X e análise mineralógica das fases A técnica de difratometria de raios X foi utilizada neste trabalho para a identificação das cristalográficas e mineralógicas presentes em cada uma das composições refratárias, de forma que pudesse também confirmar as análises de microscopia eletrônica e EDS. As amostras foram pulverizadas em moinho de alta energia. O ensaio foi realizado com radiação de Cu-kα, ângulo de varredura entre 10° e 90°, passo angular de 0,01º e tempo de contagem de 100s por passo. Os Difratogramas foram analisados e indexados no Software HighScore Plus da Panalytical com o banco de dados COD de 2013. 4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) / Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) A microestrutura foi observada pela utilização de um microscópio eletrônico de varredura (MEV) de bancada modelo TM3000 – Hitachi no modo de elétrons retroespalhados (BSE – Backscatterred Electron) em 15kV, o qual identifica regiões com maior massa molar média com tons de cinza mais claro, e regiões com menos massa molar média com tons de cinza mais escuro. As medidas composicionais foram realizadas com o auxílio de um espectrômetro de energia dispersiva (EDS). 4.4 Choque Térmico por ciclagem Os corpos de prova foram submetidos à ensaios de choque térmico cíclicos com a finalidade de se obter a resistência mecânica dos concretos refratários quanto ao dano por choque térmico. Um forno mufla pertencente ao DEMAR EEL-USP foi utilizado para esse procedimento. Um clico de choque térmico (CT1) corresponde à inserção dos corpos de prova do mesmo material no interior do forno preaquecido a 1100ºC, sem atmosfera controlada, e após a estabilização da temperatura, aguarda-se 30 minutos para a retirada das amostras que são então colocadas para resfriar ao ar ambiente. O procedimento anterior foi repetido para outros 3 copos de prova três vezes (CT3), para outros três corpos de prova o procedimento foi repetido 5 vezes (CT5). Os procedimentos de choques térmicos cíclicos foram adaptados, porém baseados na norma ASTM C1171 (2016) e os resultados apresentados são os valores médios e desvio padrão referentes à 3 corpos de prova. 49 4.5 Determinação do Módulo Elástico Para determinação do módulo de elasticidade dos corpos foi utilizado a técnica de excitação por pulso. O ensaio foi realizado em um equipamento do sistema Sonelastic, no Laboratório de Abrasivos do DEMAR-EEL-USP. O procedimento para a realização do ensaio está descrito pela ASTM E1876-09, e as amostras utilizadas estavam na forma de tijolos de dimensões de 40x40x160mm. 4.6 Determinação do Módulo de Ruptura (MOR) Utilizando o Ensaio de Flexão em Três Pontos O MOR dos concretos foi determinado por flexão, segundo a norma ASTM C133 (2015) no Laboratório de Ensaios Mecânicos do DEMAR EEL USP. O equipamento utilizado foi uma máquina de ensaios universal eletromecânica DL 10000 EMIC/Instron (Brasil), com velocidade fixa de travessão de 1,3mm/minuto. A distância entre os apoios foi de 120mm. Os resultados são apresentados em forma de médias e desvio padrão, e o número de amostras é sempre ≥3. 4.7 Determinação da Energia de Fratura (γwof) A energia de fratura dos concretos foi determinada por flexão em três pontos em corpos de provas com entalhe Chevron, no Laboratório de Ensaios Mecânicos do DEMAR EEL USP. Os corpos foram entalhados com o auxílio de um disco de corte diamantado com espessura de 0,38mm. Foi preparado um suporte de amostras para que se pudesse rotacional as amostras de 45° em 45°. Os ensaios foram realizados na máquina de ensaios universal da EMIC/Instron (Brasil) com a utilização de um refletômetro para promover maior precisão para as medidas. A velocidade de descida do travessão foi de 0,007mm/min e mantida constante durante todo o procedimento. A célula de carga tinha capacidade de 5kN e foi escolhida para que mantivesse um bom sinal de leitura nos primeiros momentos do ensaio. 50 Os corpos de prova que apresentarem um crescimento instável de trinca os resultados foram descartados. As curvas foram levantadas utilizando o Software Eureca que utiliza um algoritmo de redes neurais para ajustar os pontos em uma função de forma que se possa calcular com facilidade a área sob a curva. 4.8 Parâmetros de resistência ao choque térmico e ao dano por choque térmico Os parâmetros foram levantados com base nas informações do fabricante (α) e informações da literatura (μ). Os valores de γwof, ME, MOR das amostras sinterizadas. 4.9 Determinação dos coeficientes de expansão térmica Para a determinação dos coeficientes de expansão térmica dos refratárias foi utilizada a regra das misturas. Tummala e Friedberg (1970) revisaram os trabalhos desenvolvidos previamente e desenvolveram uma equação simplificada aplicada a qualquer número de fases presentes: 𝛼𝑐 = 𝑥𝑖. 𝐸𝑖 𝑑𝑖 𝑥𝑖. 𝐸𝑖 ∑𝑁 𝑖=1 𝑑𝑖 ∑𝑁 𝑖=1(𝛼𝑖). (14) 51 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Caracterização dos materiais secos e queimados Antes de determinar as densidades e porosidades, foram consultadas as informações das FDT fornecidas pela fabricante, conforme pode ser visto na Tabela 4. O material M1, de acordo com o desenvolvimento, deveria ser mais denso, perdendo parte de sua densidade com a queima a 1000°C. O segundo material, por sua vez, sendo aplicado de acordo com os critérios de laboratório, deveria apresentar ligeira retração. A temperatura e tempo de queima adotadas para este trabalho foram ligeiramente diferentes, sendo normalizadas a 1100°C por 3 horas. Sendo assim, os dados fornecidos podem ser referências, não obstante, se houverem determinadas mudanças, esse fator precisa ser ponderado. Tabela 4 - Dados de Densidade e Porosidade Fornecidos pela fabricante DENSIDADE APARENTE DENSIDADE APARENTE [g/cm³] – 110°C 24horas [g/cm³] – 1000°C 5horas M1 3,08 2,98 M2 2,66 2,63 MATERIAL Fonte: Próprio autor 52 Os resultados de massa específica aparente e porosidade aparente obtidos estão apresentados sumariamente na Tabela 5. Tabela 5 - Resultados Gerais de Densidade e Porosidade Aparentes DENSIDADE APARENTE POROSIDADE APARENTE [g/cm³] [%] 3,11 ±0,06 11,94 ±2,04 2,86 ±0,08 18,38 ±3,55 2,65 ±0,03 22,19 ±6,31 2,67 ±0,06 15,19 ±1,12 MATERIAL M1 (Curado) M1 (Sinterizado) M2 (Curado) M2 (Sinterizado) Fonte: Próprio autor As densidades aparentes dos corpos de prova secos foram determinadas e os resultados estavam próximos daqueles os valores de referência (FDT). Esses corpos foram preparados em campo (concretagem da panela de gusa). É possível observar que há um desvio padrão de aproximadamente 2% (±0,06) para o material M1 e 1,1% (±0,03) para o M2, conforme a Figura 9. É preciso ressaltar que as condições de aplicação em campo podem se divergir das condições idealizadas no laboratório. Alterando variáveis como por exemplo, controle de quantidade e da qualidade da água, temperatura da água, eficiência de mistura, eficiência da vibração, e etc. 53 Figura 9 - Comparativo entre os resultados de Massa Específica Aparente dos materiais e o fornecido pela fabricante secos a 110°C por 24 horas Fonte: Próprio autor A quantidade de água envolvida durante a preparação dos concretos, é importante para processo de hidratação do cimento (CAC) ou geleificação da sílica coloidal (SC). Essa variável possui influência na trabalhabilidade dos concretos, no desenvolvimento de propriedades mecânicas, e na densificação do corpo. O excedente de água é eliminado durante a etapa de secagem e queima. A eliminação de água livre e fisicamente ligada podem aumentar a porosidade e a permeabilidade, e diminuir a densidade de ligações do corpo, causando uma perda de resistência mecânica. As quantidades de águas sugeridas estão apresentadas na Tabela 6. Tabela 6 - Quantidade de água sugerida pelas Fichas de Aplicação (FDA) para os concretos M1 e M2 QUANTIDADE DE ÁGUA SUGERIDA PARA APLICAÇÃO [%m/m] TEMPO DE PEGA M1 5,8 180 M2 7,7 330 MATERIAL Fonte: Próprio autor [min] 54 Os relatórios de área não apontavam a exata quantidade de água aplicada em cada preparação, não foram passadas também a informações detalhadas sobre a quantidade para a massa vertida nos moldes prismáticos, tempo de mistura a seco e a úmido. Porém, foi ressaltado que foram preparados conforme as instruções da fabricante. O concreto convencional (CAC), M1, apresentou uma queda acentuada de densidade pós queima, resultado da perda de massa da água de constituição e da água envolvida nos processos de cura, os valores caíram de 3,11g/cm³ para 2,86g/cm³, o que representa uma redução de 8%, conforme aponta a Figura 10. Figura 10 - Massa Específica Aparente e Porosidade Aparente para o Material M1 (CAC) Fonte: Próprio autor O volume de água recomendado pela fabricante está em torno de 6% para o concreto CAC. Durante o tratamento de queima a 1100°C por 3 horas, foi observado uma retração linear dos corpos de prova, de aproximadamente 0,77%, fruto das reações de sinterização do corpo de prova. Entretanto, a porosidade aberta aumentou amplamente, saindo de 11,94% e terminando com 18,38% 55 A resistência mecânica, foi medida também foi reduzida durante o processo de queima. O aumento da porosidade, leva a uma perda da densidade de ligações. Desta forma, o módulo elástico do material sofre uma queda acentuada. A geração de maiores volumes de poros também tem correlação inversa com o módulo de ruptura do material, já que os poros podem ser considerados como defeitos de volume e concentradores de tensão. Os resultados do Ensaio de Flexão e Sonelastic estão apresentados na Figura 11. Figura 11 - Módulo de Ruptura e Módulo de Elasticidade do Material M1 antes e depois da Sinterização Fonte: Próprio autor Os difratogramas de raios X, realizados antes e depois da queima, também confirmam os resultados de caracterização física do concreto CAC. Na amostra curada, foram identificadas as seguintes fases: Corundum (Al2O3), Espinélio (MgAl2O4), Diaoyudaoita (-Al2O3 - NaAl11O17), Grossita (Al2O3.CaO), Portlandita (Ca(OH)2) e Gibbsita (Al(OH)3), conforme mostrado na Figura 12, no difratograma inferior. Quando o concreto CAC é molhado para a aplicação, deverá ocorrer a dissolução e precipitação dos hidratos, o que confere resistência mecânica aos corpos secos a 110°C. Quando esses materiais são expostos a altas temperaturas, 56 os hidratos começam a se decompor para formar fases refratárias. A Gibbsita, em torno de 300-400°C, deve se decompor, resultando na formação de Alumina, que, por sua vez, pode reagir com componentes do refratário, como a cal, para formar aluminatos de cálcio. Após a queima, também fizemos a varredura de raios X. Para essa condição o HighScore sugere apenas as fases de Corundum, Espinélio, Diaoyudaoita e Grossita, o que indica que houve de fato a decomposição dos hidratos. Utilizando o método de refinamento de Rietveld, os índices de concordância foram inferiores a 7, sendo que valores mais próximos da unidade indicam uma melhor correspondência entre as curvas de ajuste e as leituras observadas. Além disso, as quantidades das fases obtidas estavam em conformidade com as informações técnicas fornecidas nas folhas de dados. Figura 12 - Difratogramas de Raios X do concreto M1 (CAC) antes e depois de sinterizado Fonte: Próprio autor 57 Para o concreto M2, sem cimento (SC), a quantidade sugerida de aditivo a ser adicionada à mistura é de 11% em relação a massa total, sendo que cerca de 70% dessa quantidade corresponde a água. Os 30% restantes são compostos principalmente por sílica coloidal e aditivos de mistura. Ao contrário do concreto CAC, a pega no M2 ocorre por meio da geleificação de uma suspensão, onde as partículas finas de sílica coloidal preenchem de maneira mais eficiente os vazios internos do material e reagem formando ligações primárias fortes em uma rede tridimensional. Devido a elevada área superficial das partículas de sílica coloidal, pode-se aumentar a reatividade do sistema e durante a queima deve ser gerado mulita ‘in situ’. De fato, esse material apresentou maior grau de sinterização, apresentando uma retração volumétrica em torno de 0,54% (0,176% de variação linear dimensional) e a geração de porosidade foi superada pelo transporte de massa e densificação. Os resultados de Porosidade e MEA justificam estas observações, mostrando ligeira densificação do material e uma redução da porosidade aberta do sistema (Figura 13), após queima. Houve um aumento da densidade, em torno 0,7%, e uma redução da porosidade, saindo de uma média de 19,1% para 15,9%. Figura 13 - Massa Específica Aparente e Porosidade Aparente para o Material M2 (SC) Fonte: Próprio autor 58 A alta variabilidade da porosidade do material pode estar associada ao método experimental, com problemas de homogeneização, preparação durante a aplicação. Já que os diferentes moldes foram preenchidos em diferentes momentos da concretagem. A resistência mecânica sob flexão e o módulo elástico medidos no Sonelastic, apresentam um aumento durante a queima, ver Figura 14. Uma das desvantagens citadas na literatura é que estes materiais possuem baixa resistência a verde, entretanto a resistência adquirida após queima, é maior que nos concretos convencionais (ISMAEL et al., 2007; KAZEMI, 2019). Nesse caso os resultados apontam aumento na densidade de ligações, diminuição da porosidade, levando a um ganho de resistência mecânica. Um dos fatores, pode estar associado com a maior facilidade de saída de água, evitando geração de danos a microestrutura durante o aquecimento. Figura 14 - Módulo de Ruptura e Módulo de Elasticidade do Material M1 antes e depois da Sinterização Fonte: Próprio autor A mulita na matriz desempenha um papel importante para a resistência ao choque térmico, agindo como barreira para a propagação de trincas (AKSEL, 2003; CRISTANTE, 2019; HAMIDOUCHE et al., 2003). 59 Os resultados de Difração de Raios X no concreto M2 mostraram a presença de mulita e corundum no tanto na amostra seca a 110°C quanto na amostra sinterizada. É possível observar que os picos de mulita foram intensificados em relação as outras fases após a queima. as fases de Anatase e Piroxênio não foram detectadas após o tratamento térmico, enquanto ocorreu o surgimento das fases de periclásio e cristobalita, Figura 15. Figura 15 - Difratogramas de Raios X do concreto M1 (CAC) antes e depois de sinterizado Fonte: Próprio autor Os resultados gerais de módulo de ruptura (MOR) e módulo elástico (ME) estão apresentados na Tabela 7 a seguir. As propriedades desenvolvidas, bem como as fases mineralógicas pós-queima são importantes e vão impactar diretamente o desempenho do material exposto a uma condição aguda de choque térmico. 60 Tabela 7 - Sumário de resultados de Flexão e Módulo Elástico MOR ME [MPa] [GPa] M1 Seco a 110°C / 24 h 11,32 ± 0,6434 70,20 ± 1,830 M1 Sinterizada 1100°C / 3 h 8,50 ± 0,5840 39,77 ± 1,635 M2 Seco a 110°C / 24 h 5,94 ± 0,3818 17,15 ± 2,53 M2 Sinterizada 1100°C / 3 h 17,80 ± 0,8582 25,49 ± 2,078 MATERIAL Fonte: Próprio autor Para determinar a quantidade de cada uma das fases foi utilizado o método de refinamento de Rietveld, que está presente no software HighScore 3.0d, desenvolvido pela PANalytical. As fases presentes nos materiais após o tratamento térmico são importantes para a definição do coeficiente de expansão térmica e da condutividade térmica de cada um desses materiais. A quantidade das fases majoritárias está apresentada nas Tabelas 8 e 9. O concreto convencional apresentou 61% coríndon, sendo a fase mineralógica principal dos agregados bases do concreto. A quantificação está de acordo com a ficha de dados técnicos, fazendo a decomposição das fases em óxidos, os valores apresentados estão todos dentro dos limites de especificação pelas análises químicas. 61 Tabela 8 - Quantificação de fases majoritárias para o Material M1 (CAC) QUANTIDADE CALCULADA FASE MINERALÓGICA [%] Coríndon (Al2O3) 61,40 Espinélio (MgAl2O4) 16,40 Grossita (CaAl4O7) 15,90 Diaoyudaoite [β-Al2O3] (NaAl11O17) 6,30 Fonte: Próprio autor A análise de fases do concreto M2 a base de sílica coloidal apresentou algumas fases minoritárias, como a cordierita ((Mg,Fe)2Al4Si5O18). Essas fases não entrarão na base de cálculos para o coeficiente de expansão térmica (C.E.T.), e por isso estão inseridas no grupo “outros”. Decompondo as fases em óxidos, também chegamos em valores próximos aos encontrados nas análises químicas fornecidas pela fabricante. 62 Tabela 9 - Quantidade de fases majoritarias para o Material M2 (SC) QUANTIDADE CALCULADA FASE MINERALÓGICA [%] Coríndon (Al2O3) 48,5 Mulita (Al6Si2O13) 42,2 Periclásio (MgO) 4,0 Outros 5,3 Fonte: Próprio autor Na Tabela 10 estão mostradas para cada uma das fases os dados da literatura sobre o coeficiente de expansão térmica. Os valores de coeficientes de expansão térmicas citados por Peretz e Bradt (1983) foram calculados entre as temperaturas de 400-1200°C, sendo eles 8,12x10-6 para o córindon e 5,33x10-6 para mulita. Kingery (1976) apresentou os valores de coeficiente linear de expansão térmica entre 0-1000°C para córindon, mulita, magnésia e espinélio, os valores estão próximos das literaturas citadas e foi adotado para a determinação do C.E.T. dos refratários em estudo. Jonas et al. (2006), em seus estudos da expansão do di-aluminato de cálcio, determinou o coeficiente de expansão térmico do CA2, para diversas faixas de temperatura. O Valor encontrado para 900°C, foi de 4,5x10 -6 °C-1. Esse valor foi adotado para os cálculos envolvendo o CET da grossita. Os valores de coeficiente de expansão térmica adotados estão apresentados na Tabela 10 63 Tabela 10 - Coeficientes de Expansão Térmica das fases majoritárias presentes nos concretos COEFICIENTE DE FASE CRISTALOGRÁFICA EXPANSÃO TÉRMICA REFERÊNCIA [10-6. °C-1] Coríndon (Al2O3) 8,8 KINGERY, 1975 Espinélio (MgAl2O4) 9,0 KINGERY, 1975 Grossita (CaAl4O7) 4,5 S. JONAS et al., 2006 Mulita (Al6Si2O13) 5,33 KINGERY, 1975 Periclásio (MgO) 13,5 KINGERY, 1975 Fonte: Dados obtidos de KINGERY, 1975; JONAS et al., 2006 Os valores retirados utilizados estão coerentes entre as diferentes fontes. No trabalho de Peretz e Bradt, também foram contemplados os valores de Módulo elástico e densidade cristalográficas da fase coríndon e mulita. Os valores de ME estão computados na Tabela 11. Garner et al. (1994) analisaram amostras de espinélia estequiométrica (1MgO:1Al2O3) prensado a quente para avaliar o comportamento das propriedades elásticas em função do nível de exposição à radiação de nêutrons. O valor medido para o nível zero de radiação foi 274 GPa, e será esse o valor de propriedade da espinélia, Tabela 12. Gómez de Saravia et al., (2019) em seus estudos, levantaram as propriedades de aluminatos de cálcio dopados com alumínio. O valor de módulo de cisalhamento encontrado foi 55±2 para a amostra sem adição de metal. Em posse 64 do módulo de cisalhamento, é possível obter-se indiretamente o Módulo Elástico por meio da equação de Lamé, Equação 15. 𝐺= 𝐸 (15) 2.(1+𝜈) Sendo G o módulo de cisalhamento, E o módulo elástico, e ν o coeficiente de Poisson. Como não foram medidos diretamente os coeficientes de Poisson, a faixa do módulo elástico da grossita foi dada pela variação dos valores do coeficiente entre 0,20-0,25, conforme a Tabela 11. O Valor adotado para os cálculos foi uma média dentro dessa faixa. Tabela 11 – Módulo Elástico (ME) das fases majoritárias presentes nos concretos FASE CRISTALOGRÁFICA MÓDULO ELÁSTICO REFERÊNCIA [GPa] Coríndon (Al2O3) 403 PERETZ e BRADT, 1983 Espinélio (MgAl2O4) 274 GARNER, F. A., 1994 Mulita (Al6Si2O13) 164 PERETZ e BRADT, 1983 Grossita (CaAl4O7) 132-137 GÓMEZ DE SAVARIA, S.G. et al., 2006 Periclásio (MgO) 312-325 DAWEY FAN, et al., 2019 Fonte: Dados obtidos de Fan et al., 2019; Garner et al., 1994; Gómez de saraiva et al., 2019; Peretz; Bradt, 1983. Os valores de densidade das fases também foram buscados no repositório (database) de mineralogia, webmineral. Foi possível encontrar os dados e as 65 referências para cada fase encontrada no HighScore. A densidade das fases em gramas por cm³ está descrita na Tabela 12. Tabela 12 – Densidade cristalográfica das fases majoritárias presentes nos concretros FASE CRISTALOGRÁFICA DENSIDADE CRISTALOGRÁFICA [g/cm³] Coríndon (Al2O3) 4,05 Espinélio (MgAl2O4) 3,64 Grossita (CaAl4O7) 2,88 Mulita (Al6Si2O13) 3,05 Periclásio (MgO) 3,75 Fonte: Disponível em: http://webmineral.com/ acessado em: 03/03/2023 Utilizando a equação das misturas de fases foram determinados os coeficientes de expansão térmica de cada um dos concretos. Os valores estão apresentados na Tabela 13. O material M1 (CAC), expande mais que o segundo (SC), sendo a diferença relativa entre eles de 13%. Desta maneira, é mais provável que haja o fechamento de trincas e rachaduras no concreto M1 em altas temperaturas. A Mulita, além de boa estabilidade dimensional, possui moderada resistência a corrosão. Muitas vezes a morfologia agulhada de sua formação atua como barreira para a propagação de trincas. 66 Tabela 13 - Coeficiente de expansão térmica (Mistura das fases) COEFICIENTE DE EXPANSÃO TÉRMICO MÉDIO MATERIAL [10-6.°C-1] Concreto M1 8,4606 Concreto M2 7,4416 Fonte: Próprio autor A condutividade térmica não foi fornecida pela fabricante. Foram escolhidas as condutividades térmicas de materiais de concretos com composições parecidas com os estudados. As propriedades do material M1, foram tiradas do trabalho de Chan, sobre o efeito do teor grosseiro na condutividade térmica de refratários de alumina-espinélia. Os valores foram uma média entre 600-900°C (CHAN; KO, 1996). Para o caso do material M2, foi escolhido o concreto B3, que possui uma certa similaridade na composição dos óxidos (Alumina e Silica). Os valores também foram levantados entre 600-900°C (CRISTANTE,2019), ver Tabela 18 Tabela 14 – Condutividade térmica (k) CONDUTIVIDADE TÉRMICA MATERIAL REFERÊNCIA [W/m.K] M1 2,0-2,5 CHAN;KO, 1996 M2 1,6 CRISTANTE, 2019 Fonte: Dados extraídos de Chan; Ko, 1996; Cristante, 2019 67 5.2 Ensaios Mecânicos e Caracterizações Termomecânicas 5.2.1 Módulo Elástico e levantamento da Curva de Hasselmann A susceptibilidade de um material refratário à uma falha por choque térmico é um dos fatores mais importantes para a limitação do suas aplicações. Existem várias formas de abordar a resistência de um material ao choque térmico. Uma delas é a determinação da variação crítica de temperatura (R), a qual representa o menor gradiente de temperatura capaz de gerar dano permanente no corpo devido às tensões térmicas. No seu capítulo do Livro Materials Science Research, Volume 5, Hasselmann (1971) mostra a dependência do tamanho das trincas em função da temperatura crítica e da densidade de trincas. O digrama da Figura 16 mostra duas curvas para um mesmo corpo, variando a densidade de trincas presentes. A maior densidade de trincas possui o ponto de mínimo acima da segunda, isso significa que seu comprimento mínimo de trinca necessita de uma maior diferença de temperatura para se tornar instável. Em condição onde o tamanho médio de trincas (l) se encontra abaixo do comprimento mínimo (lm), ao atingir uma variação de temperatura crítica, essas trincas irão se propagar catastroficamente até atingir o ponto de mínimo, fazendo com que os defeitos cresçam rapidamente e a trinca se propague até o novo comprimento. Gerando novos defeitos e elevando os gradientes de temperatura críticos para valores mais elevados. Em valores de comprimentos em que l>lm a trinca deve se propagar catastroficamente para os valores de comprimentos finais (lf) (LARSON et al., 1974). Por esse motivo a iniciação de trincas deve ser um critério mais crítico para cerâmicas densas e frágeis. 68 Figura 16 - Variação do módulo de elasticidade inicial do material M2 para diferentes temperaturas de choque térmico. Fonte: Adaptado de Larson et al., 1974. Os corpos foram aquecidos a temperaturas de 200, 400, 600, 800 e 1.100°C e mantidos a essa temperatura por 20minutos antes de serem resfriados ao ar calmo para serem avaliados por suas por Flexão e ME. Os resultados do Sonelastic em função do gradiente de temperatura estão apresentados na Figura 17. O valor de 100% de resistência foi adotado como o material pós queima, sem nenhum tipo de exposição a variações bruscas de temperaturas. À medida que o gradiente de temperatura foi aumentando os valores de resistência de ambos os materiais a tendência geral é uma diminuição nos valores de propriedade, enquanto que em gradientes baixos, os valores de resistência permanecem inalterados ou levemente alterados. O gradiente de temperatura no qual se sai do patamar de 69 estabilidade é chamado a variação crítica de temperatura para iniciação do processo de falha. Figura 17 - Módulo Elástico em função da variação de temperatura Fonte: Próprio autor O material M1, apresentou uma queda de 24,7% do valor de ME quando exposto a uma variação >400°C. Depois isso ele se manteve com a resistência em queda, porém a partir desta temperatura os valores de resistência não apresentaram grande depreciação. Foi atingido com 1100°C o seu menor valor de resistência, sendo ele 66,5% da resistência inicial. Vale ressaltar que a temperatura crítica dependerá do perfil de temperatura formado dentro do corpo de provas. Portanto a dimensão da amostra pode afetar a extensão do dano gerado, sendo que quanto menor a amostra, menor deveriam ser 70 as tensões térmicas geradas durante o choque térmico. Os corpos de prova utilizados foram corpos de prova prismáticos 40mm x 40mm x 160mm. Seus agregados a base de córindon e espinélia, devem contribuir para o início do processo de falha. Portanto, havendo acumulo de energia mecânica e com restrições para a deformação, essa energia será dissipada sob a formação de novas superfícies A temperatura crítica para a nucleação de trincas do M1 (CAC), deve estar entre 200-400°C, essa característica pode estar associada com os elevados módulos de elasticidade iniciais, conforme mostrado na secção anterior. O material possuía uma baixa resistência a flexão, onde o material sofre o processo de falha por tração. O material M2, apresentou queda a partir de 800°C. Para variações acima 800°C há uma queda de aproximadamente 13% da resistência inicial. Para uma variação de temperatura de 1100°C há o menor valor encontrado, sendo ele 15,3% abaixo dos valores iniciais. Com essa observação a temperatura crítica se mostrou maior para M2, estando na faixa de 600-800°C. Hamidouche et al. (2003) encontraram em cerâmicas avançadas de mulita temperaturas críticas da ordem de 750°C, utilizando métodos acústicos para a determinação da nucleação das trincas. Comparando o comportamento das curvas do material M1 e M2, pode-se concluir a princípio que um deles apresentou um início de trincamento instável, com base apenas nas propriedades mecânicas e na temperatura suportada. Segundo Larson (1974), temos dois tipos de crescimento de trincas, sendo um deles estável e o outro não, sendo adequado interpretar o primeiro pelo R’’’’ e o segundo pelo Rst, conforme ilustra a Figura 18. 71 Figura 18 - Diagrama de comprimento de trincas e resistência mecânica em função do gradiente crítico de temperatura Fonte: Adaptado de Larson,1974 5.2.2 Resistência Mecânica e Ciclagem Térmica Os concretos foram ensaiados por flexão nas seguintes condições: Curados, Sinterizados (1100°C/ 3 horas), 1 ciclo térmico (CT1), 3 ciclos térmicos (CT3) e 5 ciclos térmicos (CT5). Sob flexão, é possível observar que a resistência do concreto M2 (SC) (Linha vermelha) era maior, conforme justificado na secção anterior. A resistência então cai rapidamente nos primeiros três primeiros ciclos (43%). Entretanto a resistência residual ainda é maior que no CAC. O Material M1, apresenta baixos valores de resistência iniciais. Estes valores diminuem 72 gradativamente até o quinto ciclo, entretanto os valores de MOR encontrados são abaixo de 7 MPa, Figura 19. Figura 19 - Valores de MOR em função do número de ciclos para ambos os concretos 20 Concreto M1 Concreto M2 Módulo de Ruptura (MOR) (MPa) 18 16 14 12 10 8 6 0 1 2 3 4 5 Número de Ciclos Fonte: Próprio autor O ME dos concretos foi avaliado em 10 ciclos térmicos. Em termos de propriedade elástica, observou-se que o concreto M1 apresentou os valores mais elevados de resistência inicial. No entanto, ao ser submetido ao primeiro ciclo de choque térmico ocorreu uma queda percentual de aproximadamente 32%. Ao longo dos dez ciclos esse valor de resistência se degradou gradativamente, sendo a queda final de 53% em relação aos valores iniciais. 73 A rigidez do concreto M2 apresentou uma queda dos valores do ME de aproximadamente 15% no primeiro ciclo térmico. Ao longo dos dez ciclos ocorreu uma queda de 32%. O desvio percentual das medidas foi maior para o concreto M2. Os resultados podem ser vistos na Figura 20. De acordo com Griffith (1921), se um material fratura de maneira frágil, sua resistência está associada com o tamanho dos defeitos. Para as condições estudadas, é esperado que as trincas estão sendo geradas e propagadas, cada vez mais lentamente. Isto acontece por conta de uma diminuição da energia elástica armazenada, diminuindo a força motriz para a propagação das trincas (SCHACHT, 2004). Figura 20 - Valores de ME em função do número de ciclos para ambos os concretos 45 Concreto M1 Concreto M2 Módulo de Elasticidade (GPa) 40 35 30 25 20 15 10 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de Ciclos Fonte: Próprio autor 8 9 10 74 5.3 Análises Microestruturais por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS) Nesta secção iremos discutir as micrografias e espectroscopia por energia dispersiva. As amostras foram divididas entre 0 (zero) Ciclos (Concreto queimado), 1 ciclo, 5 Ciclos e 10 ciclos. O objetivo é entender a microestrutura dos refratários e correlacionar as respostas dos ensaios térmicos e mecânicos, as caracterizações físico-químicas com a microestrutura. No primeiro momento será apresentada a microestrutura dos refratários sinterizados, em seguida serão apresentadas as microestruturas dos corpos expostos aos ciclos térmicos. Cada etapa será apresentada e discutida de forma individual para cada concreto. Na Figura 21 é possível observar as primeiras amostras sinterizadas já preparadas. É possível observar a estrutura mais grosseira no concreto convencional, com geometrias irregulares de agregados e maior fração de grãos grosseiros. Figura 21 - Amostras preparadas para Microscopia eletrônica e metalizadas Fonte: Próprio autor 75 5.3.1 Análise microestrutural do concreto M1 (CAC) – Sinterizado (1100°C / 3h) A microestrutura do concreto CAC possuía como base agregados de Alumina Tabular, em sua maioria com tamanhos de partícula (D) menores que 4,5mm. Os agregados de espinélia eletro fundidos possuíam diâmetros menores, da ordem de 1,5-3,0mm , Figura 22. Figura 22 - Microscopia Eletronica do Concreto M1 com 0 Ciclos Térmicos ’ Fonte: Próprio autor No mapeamento por EDS foi possível observar a sobreposição de elementos de AC na matriz do refratário, em acordo com as análises qualitativas do DRX. As análises de EDS são apresentadas na Figura 23. 76 Figura 23 - Mapeamento composicional do Material M1 (CAC) Fonte: Próprio autor A porosidade observada era elevada. Em determinadas regiões foram observadas porosidades da ordem de 1mm de diâmetro e uma porção de poros menores distribuídos pela matriz e agregados do Refratário, conforme representado nas Figuras 24 e 25 Importante observar também que há uma quantidade reduzida de trincas presentes, tanto nos agregados, quanto na matriz. O processo de secagem e formação de fases não ocasionou em geração de danos evidentes nas análises de microestrutura. No mosaico apresentado na Figura 26 é possível ver a estrutura geral do refratário e aspecto geral da porosidade. O maior agregado observado possui uma dimensão de 4,80 mm. A distribuição de tamanhos de partículas é ampla e a poros de grande extensão. De forma geral a microestrutura apresentada, está em concordância com a baixa resistência observada nos ensaios mecânicos e ciclagem térmica. Também é observado que a geometria dos agregados é irregular 77 com razões de aspecto altas, que podem promover anisotropia ou uma falha antecipada sob choque térmico em determinado fluxo de calor. Figura 24 - Microestrutura do concreto M1 – Porosidade Fonte: Próprio autor 78 Figura 25 - Microestrutura do concreto M1 - Região com alta porosidade Fonte: Próprio autor 79 Figura 26 - Mosaico Concreto M1 – Sinterizado Fonte: Próprio autor 80 5.3.2 Análise microestrutural do Concreto M2 – Sinterizado (1100°C / 3h) O concreto M2 (SC) apresentou uma estrutura de agregados menos grosseira, com uma faixa granulométrica intermediária mais evidente. Estes, eram compostos majoritariamente agregados sinterizados a partir de argilas refratárias. Apesar das partículas grosseiras possuírem tamanhos semelhantes, a fração de agregados graúdos era menos evidente. É possível observar que existe um teor bem mais elevado de impurezas nos agregados sinterizados, compostas principalmente por silício e titânio, conforme mostrado nas varreduras pontuais do EDS, Figura 27. A titânia se apresenta dissolvida na alumina, enquanto grande parte da sílica reagiu com a alumina, formando aluminossilicatos como a Mulita, em conformidade com as análises de DRX. Figura 27 - EDS típico dos agregados sinterizados a partir de argilas (chamote) Fonte: Próprio autor 81 A sílica está quase que homogeneamente distribuída na superfície analisada, tanto na matriz quando nos agregados. Na matriz, a sílica encontrada nos piroxênios reagiu para a formação de mulita, cristobalita e periclásio. O TiO2 se encontra em solução, já que não foi observado nas imagens de elétrons retroespalhados, Figura 28 e nem no DRX, porém foi detectado em análises de EDS, Figura 30. Figura 28 - Mapeamento composicional Concreto M2 (SC) Fonte: Próprio autor 82 A densidade de poros no material M2 se apresentou elevada, no entanto, mais uniformemente distribuída pela superfície preparada. Os com poros de diâmetros menores, em sua grande maioria menores que 0,5 mm. A porosidade diminui a secção transversal do corpo, e quando este é submetido a um carregamento a carga será distribuída sobre uma área reduzida, aumentando os níveis de tensão (Figura 31,32). Isso gera uma queda nos valores de resistência. A porosidade no material M2 aparenta estar fechada e desta maneira a resistência mecânica é favorecida em relação a microestrutura apresentada pelo M1. O maior tamanho de agregado observado na seção da amostra sinterizada possuía 4,24mm de extensão. Com a razão de aspecto (comprimento / largura) de aproximadamente 2, Figura 29. 83 Figura 29 - Maior agregado observado no concreto M2 Fonte: Próprio autor 84 Com a visão geral mostrada no mosaico é possível ver pouco dano no material, exceto pelas marcas de preparação. Porém é visível a queda na pureza dos agregados. Alguns agregados eletrofundidos aparentavam estar esburacados, Figura 30. A faixa de agregados de tamanho intermediário (0,6-2,0mm) e finos (<0,6) é evidenciada no mosaico abaixo. Figura 30 – Mosaico Concreto M2 - Sinterizado Fonte: Próprio autor 85 5.3.3 Análise Microestrutural do concreto M1 - Ciclos Térmicos Logo após o primeiro ciclo foram foi observado a nucleação de trincas, principalmente nos agregados sinterizados de alumina, Figura 31. Os contornos dos agregados também ficaram mais definidos e espessos, podendo indicar um início de uma descontinuidade. Na matriz, de maneira geral, a estrutura de aluminatos de cálcio não aparentou uma intensa geração de dano. Figura 31 - Microestrutura do concreto M1 - Com 1 ciclo térmico Fonte: Próprio autor 86 Foi possível observar agregados eletrofundidos de córindon branco (CBE ou WFA – White Fuse Alumina), com o aspecto de queijo suíço (Fig. 33D). O córindon possui elevada pureza e possui como principal contaminante a β-Alumina, conforme encontrado no DRX. A qualidade e porosidade dependem de diversos fatores como processo e de qual região do bloco de fusão são retiradas as matérias primas. Os poros da WFA podem contribuir para o aspecto de choque térmico devido a redução da resistência mecânica. Com cinco ciclos, a densidade de trincas sobe acentuadamente na microestrutura do refratário. As trincas começam a ganhar ramificações, rompendo as partículas em diversos pontos. Na micrografia da Figura 32, é mostrado um agregado de alumina tabular com danos severos. Próximo aos poros não foram identificadas trincas. Os agregados sinterizados de espinélia por sua vez, apresentaram maior estabilidade e resistência aos choques térmicos a que foram submetidos, Figura 32. Figura 32 - Mapeamento elementar - Concreto M1 - 5 Ciclos Fonte: Próprio autor A geração de dano se concentrou majoritariamente nos agregados. Justificando a queda observada no módulo elástico. O módulo de ruptura se 87 manteve pouco alterado, apesar do valor inicial ser baixo, possivelmente por que a matriz ainda mantém uma boa coesão no tijolo, Figura 33. Figura 33 - Microestrutura do concreto M1 - Com 5 ciclos térmicos Fonte: Próprio autor Avaliando entre 5 e 10 ciclos, as trincas e defeitos devem seguir se propagando. Os tamanhos de trinca observados são ligeiramente maiores, bem como a densidade de trincas. Na Figura 34, é possível observar o aspecto da geral, próximo a superfície externa da amostra. É apresentada uma elevada densidade de trincas, que se propagam do agregado refratário para a matriz. 88 Os agregados eletrofundidos de espinélia dessa vez se apresentaram com um certo grau de degradação, sendo a face quente a mais diretamente afetada, apresentando uma série de fraturas facetadas no agregado eletrofundidos de espinélia. Figura 34 - Microestrutura do concreto M1 – Com 10 ciclos térmicos – Próximos a superfície Fonte: Próprio autor 89 Em regiões mais centralizadas com relação ao volume da amostra, mesmo com 5 ou 10 ciclos, o efeito sentido pelo choque térmico era menor. Como os corpos de prova possuem dimensões baixas, o perfil de temperaturas gerado no corpo possuía os gradientes de temperaturas menores, já que o fluxo de calor sai do centro do corpo em direção a cada uma das faces. Na Figura 35, a esquerda (5 ciclos) a estrutura permanece inalterada, enquanto que a direita (10 ciclos) a micrografia revela que a geração de dano chegou ao centro da amostra, porém de maneira branda. Figura 35 – Microestrutura da Região central do Concreto M1 Fontes: Próprio autor 90 5.3.4 Análise Microestrutural do concreto M2 - Ciclos Térmicos As trincas presentes na microestrutura com um ciclo térmico e o dano gerado estão distribuídos. De maneira geral o tamanho das trincas observados no primeiro ciclo eram menores que no concreto CAC. Os agregados eletrofundidos e sinterizados apresentavam poucas trincas transgranulares, Figura 36. Figura 36 - Microestrutura do concreto M1 com 1 ciclo térmico Fonte: Próprio autor 91 Com um ciclo térmico foram observados o surgimento de diversas trincas com tamanho reduzido. Essas trincas se originavam principalmente na matriz. Os agregados conseguiram acomodar parte da energia colocada no sistema pelas flutuações de temperatura, porém a interface entre agregado e matriz já começou a apresentar alguma perda de coerência, Figura 37. Figura 37 – Microestrutura do concreto M2 – Com 1 ciclo térmico – Próximo a superfície setas amarelas: trincas na matriz; setas azuis: trincas nos contornos do agregado setas vermelhas trincas na região abaixo da porosidade. Fonte: Próprio autor 92 Os agregados de WFA foram exibiram piores propriedades em choque térmico quando comparados aos dentre os demais agregados de alumina dentro deste concreto. Alguns destes agregados se apresentavam totalmente trincados, e as trincas observadas parecem ter se originado no interior de seus poros, conforme destacado na Figura 38. Figura 38 - Microestrutura Concreto M2 - Com 1 ciclo térmico - Agregado WFA Fonte: Próprio autor 93 Ao seguir com os ciclos de aquecimento e resfriamento, o mesmo efeito foi observado. Com 5 ciclos a densidade de trincas aumentou, bem como o tamanho médio de trincas (lm). A maior parte dessas trincas se propagaram pela matriz do refratário e contorno dos agregados, Figura 39, entretanto também foram observadas regiões onde a trinca conseguiu cisalhar os agregados. Figura 39 - Microestrutura Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Próximo a superfície Fonte: Próprio autor 94 Nas regiões mais afastadas da superfície (Distância de 20mm), é possível observar os mesmos efeitos. De maneira ligeiramente mais branda. Porém não há tamanha discrepância como observado nas amostras do concreto convencional, Figura 40 e 41. Isto por que o dano observado na superfície do concreto M1 foi bastante severo, levando a uma rápida dissipação de energia pela formação de novas superfícies. Um outro fator é a condutividade térmica que é cerca de 30% maior para o concreto convencional, reduzindo o perfil de temperatura formado na secção transversal do concreto e, consequentemente, reduzindo o estresse térmico em maiores distâncias. Figura 40 - Microestrutura do Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Próximo a Superfície Fonte: Próprio autor 95 Figura 41 - Microestrutura Concreto M2 - Com 5 ciclos térmicos - Região Central Fonte Próprio autor Com 10 ciclos, novamente, o tamanho médio das trincas foi aumentado. A extensão do dano chegou a cisalhar os agregados eletrofundidos, principalmente. Porém os agregados sinterizados grosseiros com elevados teores de impurezas, apresentaram as melhores características em relação a choque térmico, Figura 42. 96 Figura 42 - Microestrutura do concreto M2 - Com 10 ciclos térmicos - Região próxima a superfície Fonte: Próprio Autor 97 Os agregados eletrofundidos apresentavam pequenas fraturas facetadas na superfície, características de choque térmico. As interfaces estavam com vazios cada vez mais profundos, evidenciando uma possível perda de coesão entre as partes, podendo causar em condições de abrasão e erosão o destacamento de particulados, conforme evidenciado na Figura 43. Figura 43 - Microestrutura do concreto M2 - Com 10 ciclos térmicos - Destacamento de partícula Próprio autor 98 Cada um dos concretos apresentou características bem distintas com relação as microestruturas e conceitos refratários. Para fazer avaliações qualitativas preditivas com relação ao comportamento frente ao choque térmico, é importante que sejam feitas medições da energia específica de superfície de fratura (J/m²) a fim de que se possa compreender melhor as características microestruturais e as influências propriedades e performance. 5.4 Energia de Fratura A Energia de Fratura é uma medida extremamente sensível sob o ponto de vista experimental. Os erros estão associados a rigidez (compliance) da máquina, à heterogeneidades na amostra, e também pela preparação do entalhe. O entalhe Chevron foi realizado conforme a Figura, com espessura de 38,0mm, e o valor do ângulo do entalhe no ponto A é de 45°. A área do entalhe é de um quarto da secção transversal do tijolo. De maneira que o entalhe não chegasse no vértice da amostra, Figura 44. O número de corpos de provas de cada um dos materiais foi diferente, isto por que durante a preparação dos corpos de provas, houveram problemas como a descentralização do entalhe e perda de integridade do corpo durante o procedimento de corte. Estes corpos de provas não foram ensaiados. Figura 44 - Esquema Ilustrativo do Entalhe Chevron (V) Fonte: Adaptado de Tattersall, Tappin (1966) 99 Os ensaios foram conduzidos conforme o procedimento descrito na metodologia, e os resultados foram, em grande parte, satisfatórios. Visto que houve uma propagação estável de trincas em um número grande de amostras. Os resultados estão mostrados nos gráficos das Figura 48 e 49. Os corpos de prova do concreto CAC foram os que apresentaram maior dificuldade para confecção do entalhe Chevron. No total foram confeccionados 5 corpos de prova para a realização do Ensaio, Figura 45. Nos corpos de prova (CP) 3 e 4 foram observados comportamentos distintos dos demais. Ambos apresentaram pré-carga durante a problemas durante montagem do aparato e posicionamento das amostras e dos atuadores de carga na máquina de ensaios universal. O CP4 apresentou uma propagação de trincas instável. 100 Figura 45 - Ensaio de Energia de Fratura para o Concreto M1 Fonte: Próprio autor A preparação do entalhe no concreto sem cimento (SC) foi realizada com maior facilidade. No total, foram confeccionados 7 corpos de provas. As curvas tiveram uma certa variabilidade no nível de tensão e deformação após o início de falha, e os resultados dos corpos de prova 2 e 6 foram descartados. No corpo de prova 2 houve um problema de pré-carga. Houveram pequenas interrupções durante o início do teste, isto por que o passo da máquina era muito curto e durante uma queda de tensão abrupta, como observado no carregamento do CP2, a máquina de ensaios interpretava como uma falha e encerrava a processo. Para reiniciar era necessário fazê-lo manualmente, inserindo a posição 101 e a carga no software. Este processo descrito aconteceu no CP2 e CP5. No CP6 o processo de falha ocorreu de maneira muito antecipada e, desta forma, os resultados não seriam representativos para o comportamento de falha do concreto M2, Figura 46. Figura 46 – Ensaio de Energia de Fratura para o concreto M2 Fonte: Próprio autor Para calcular as áreas sob as curvas foi utilizado o Software Origin 2022b, utilizando a função de integração. As áreas sob a curva estão apresentadas nas Tabelas 15 e 16. 102 Tabela 15 - Resultados da Integração das curvas do ensaio de medição de Energia de Fratura – Concreto CAC NÚMERO DO CP ÁREA (ORIGIN) [N.mm] CP1 109,27 CP2 100,99 CP3 55,61 CP4 40,81 CP5 110,62 Fonte: Próprio autor Tabela 16 - Resultados de Integração das curvas do ensaio de medição de Energia de Fratura – Concreto SC Fonte: Próprio autor AMOSTRA ÁREA (ORIGIN) [N.mm] CP1 173,75 CP2 263,89 CP3 140,19 CP4 161,53 CP5 206,72 CP6 77,44 CP7 154,69 103 Estão destacados na cor amarela os dados que foram considerados não representativas e esses resultados não serão utilizados no decorrer deste trabalho. Tendo em posse a área sob a curva e a área da secção dos corpos entalhados, determinou-se a energia de fratura de cada um dos corpos. Os resultados estão apresentados pelas médias entre os valores encontrados e desvios, Tabela 17. Tabela 17 - Resultados de medição de Energia de Fratura ENERGIA DE FRATURA (γwof) [J/m²] 𝜸𝑾𝑶𝑭 𝑷𝑨 M1 133,70 ± 6,52 7,27 M2 217,71 ± 28,86 13,64 MATERIAL Fonte: próprio autor Também foi adicionado um parâmetro para a tabela relacionado à tendência de infiltração e possível corrosão do refratário, comparando a energia de fratura com a porosidade do material. Quanto maiores os valores, melhor a resistência à corrosão e termoclase estrutural, visto que a corrosão necessita de contato entre as partes e esse contato é maior quando se tem maior porosidade e caminhos livres no volume do material (SCHACHT, 2004). Claro, outras questões devem estar envolvidas no processo de escolha do material, mas de certa forma o parâmetro definido aqui pode dar um direcionamento qualitativo interessante. 5.2. Os Parametros de Hasselmann Parâmetros de Hasselmann foram calculados conforme os Equacionamentos mostrados na revisão da literatura. Os coeficientes de expansão térmicas foram determinados nas secções anteriores, e o coeficiente de Poisson não foi medido, e foi adotado como sendo a faixa entre 0,2 e 0,25 valor próximo 104 aos encontrados por Quintela et al. (2001). Os valores dos Parâmetros estão apresentados na tabela, Tabela 18. Tabela 18 - Parâmetros de Hasselmann para resistência a iniciação de trincas R R’’’’ Rst [°C] [10-2m] [m1/2 °C] M1 19,020-20,288 9,22 6,89 7,27x10² M2 70,366-75,057 2,19 12,42 1,369x10³ MATERIAL 𝜸𝑾𝑶𝑭 𝑷𝑨 Fonte: Próprio autor De maneira geral, os resultados obtidos estão de acordo com as caracterizações físico-químicas, termomecânicas e observações microestruturais. O concreto convencional (M1) apresentou um valor mais baixo de R, indicando que uma maior facilidade para iniciação de trincas, conforme observado na curva de Hasselmann e nas análises de MEV. Com temperaturas variando na faixa entre 200-400°C já se observa uma variação significativa dos valores de módulo elástico. Fato que se relaciona com a geração de trincas e danos, principalmente nos agregados eletrofundidos, com alta rigidez. O Material sem cimento (SC), por sua vez, apresentou um valor de resistência a iniciação de trincas maior. Sua fração de agregados com menores tamanho de partículas e rigidez, quando comparados com M1, e também pelo fato 105 da matriz ser composta a base aluminossilicatos, o concreto se mostrou resistente ao início da geração de dano e nucleação de trincas, e as variações de temperaturas críticas estão na ordem de 600-800 °C. Os parâmetros R’’’’ é o parâmetro que se relaciona com o tamanho de crítico de trinca antes da falha ou rompimento total do corpo. Esse parâmetro encontrado no concreto convencional é maior. Isto pode estar associado ao maior agregado e geometria do agregado. As trincas e defeitos observados no concreto convencional eram de fato maiores, porém ainda não haviam trincas atravessando a matriz, podendo levar a falha por lascamento. A espinélia que se formou ‘in situ’ deve contribuir pela alta resistência e estabilidade da fase. Além disso pode contribuir para fechar a porosidade. Na faixa de temperaturas do estudo, a cinética de formação não contribuiu o foi suficiente para observar grandes mudanças na estrutura, conforme observado pelas análises de DRX. Na literatura trabalhos apontam para propriedades atrativas no uso de espinélio de alumina e magnésia sintética ou ‘in situ’ em aplicações refratárias relacionadas a choque térmico e corrosão (JUSTUS, 2005). O Material M2 apresentou segundo os cálculos realizados o R’’’’ (10 -2m) o tamanho crítico de trinca para esse material tende a ser menor que o observado no concreto convencional. Porém a estabilidade da trinca sob tensão térmica observada é maior, e de fato o tamanho médio de trincas observado nas micrografias era menor para o concreto M2. Ambos os parâmetros são importantes, o R’’’’ está associado com uma falha do tipo catastrófica, levando ao rompimento de partes do corpo. Sob o ponto de vista de um crescimento de trincas estável, a taxa de crescimento o Rst é mais importante. Um fenômeno importante para a resistência a propagação e aumento de estabilidade da trinca é conhecido como ‘silicate bridging’. O bridging acontece em altas temperaturas, leva a formação de juntas de agregados ou silicatos com viscosidade adequada na região atrás da ponta da trinca, que avita a abertura de trincas de retarda o desenvolvimento de tensões trinca na região da ponta (CMOD – Crack Mouth Openning Displacement), Figura 47. As ramificações da trinca irão se estender pelo caminho que necessita o menor consumo energético. 106 Figura 47 - Esquema ilustrativo da zona de processamento de trincas (CMOD) Fonte: Adaptado de Bradt, 2004 É importante dizer também que o tamanho das amostras talvez não permita representar toda a zona de processamento das trincas, sendo a zona frontal e posterior da trinca desenvolvidas apenas parcialmente (BRADT, 2004). 107 6 CONCLUSÕES Os materiais utilizados para a panela de gusa monolítica foram caracterizados em termos de propriedades químicas, físicas, termomecânicas e mineralógicas. Foram determinados os Parâmetros de choque térmico (R, R st, R’’’’) para cada um dos materiais, medindo a energia de fratura a partir de corpos entalhados com entalhe Chevron. O Entalhe se mostrou adequado para o uso nos concretos a aluminosos convencionais e sem cimento. O material convencional apresentou menores valores de resistência mecânica após tratamento térmico em relação ao material sem cimento. A microestrutura do material sem cimento apresentou menor porosidade e uma porosidade fechada. As energias de fraturas encontradas são típicas de refratários bem desenhados para condições de choque térmico, pois apresentam os valores acima de 100 J/m² (SCHACHT, 2004). O material com o maior gradiente de temperatura crítico é o material sem cimento, sendo ela nas faixas de 600-800°C, ou seja, se este material estiver livre de defeitos, o gradiente de 600-800°C deverá provocar a propagação de trincas pré-existentes e uma queda inicial das propriedades. Enquanto o concreto convencional apresentou uma queda maior de propriedades entre 200-400°C. Ambos os resultados corroboram com os valores de R encontrados. O R’’’’ do concreto convencional encontrado foi maior que o concreto sem cimento. Foram observados uma estrutura mais grosseira, e de fato, os agregados acabam se comportando de certa forma como defeitos na estrutura do refratário. O material M2 possui um menor tamanho crítico de defeito para a geração de uma falha ou rompimento completo do corpo. E esse é um ponto importante para se atentar durante a operação de panela, monitorando momentos em que ocorrem queda de material por lascamentos. O Rst, por sua vez, foi maior para o concreto sem cimento. Isto é, a trinca possui mais estabilidade sob tensão térmica e tem uma propagação mais lenta. Indicando que a concentração da energia elástica se concentrar na matriz (rigidez moderada). Os agregados do concreto M2 apresentaram pouca geração de dano. 108 O tamanho de trincas observado também foi menor, isto deve estar associado ao fenômeno de bridging. Em regiões mais afastadas da superfície do concreto convencional M1, a microestrutura estava mais integra, e seguindo a tendência das faces externas a geração de dano ocorreu preferencialmente nos agregados. Os agregados de alumina eletrofundida branca (WFA) que estavam com aspecto de queijo suíço, apresentaram os piores resultados com relação ao dano por choque térmico. O material mais adequado, com relação as propriedades termomecânicas é o material M2. Com relação aos parâmetros de choque térmico, o tamanho crítico de trincas deve ser monitorado por meio de inspeções entre os ciclos da panela. Também vale pontuar que sua resistência residual limite foi maior que a encontrada no concreto convencional. O último parâmetro (γWOF /PA) dá também uma direção sobre as propriedades do material sob o ponto de vista de potencial de infiltração e corrosão. Neste critério o material sem cimento também apresentou valores mais elevados, sendo mais indicado com base neste critério. 109 6.1 Sugestões para trabalhos futuros Realizar novos estudos, avaliando o efeito dos tipos de agregados e distribuição dos tamanhos de partículas e qualidade do agregado; Fazer análises mais aprofundadas sobre o tamanho das trincas e o comportamento de crescimento destas trincas; Realizar também testes de corrosão e erosão nos refratários, pois a combinação entre resistência a corrosão e propriedades termomecânicas é importante para diversas aplicações; Comparar os resultados experimentais entre monolíticos e formados, afim de entender como trabalhá-los da melhor maneira e como escolher o material mais adequado. 110 REFERÊNCIAS AKSEL, C. The effect of mullite on the mechanical properties and thermal shock behaviour of alumina-mullite refractory materials. Ceramics International, [s. l.], v. 29, n. 2, p. 183–188, 2003. ANDREEV, K.; HARMUTH, H. 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