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Resumos 11ºano

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11ºano
Sermão de Santo António, Padre António
Vieira
O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do
Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil.
Objetivos da eloquência (docere, delectare, movere):
• Docere (educar/ensinar) - função pedagógica, muitas vezes conseguida através
de citações bíblicas e de autores da Igreja ou de obras clássicas;
• Delectare (agradar) - função estética, concretizada através de um discurso rico
em recursos expressivos;
• Movere (persuadir) - função crítica e moralizadora, baseada numa
argumentação bem construída, recorrendo a argumentos de autoridade.
Captar a atenção dos ouvintes e a sua disponibilidade para ouvir, fazê-los conscientes
do que têm de bom, para o preservar, e do que têm de mau, para o corrigir ou
emendar.
Estrutura externa do sermão:
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Exórdio – capítulo I – apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a
partir do conceito predicável: “vós sois o sal da terra” e das ideias a defender.
Esta parte reveste-se de grande importância dado que é o primeiro passo para
captar a atenção dos ouvintes.
Exposição e confirmação – capítulos II a V – desenvolvimento e enumeração dos
argumentos, contra-argumentos, seguidos de exemplos e/ou citações.
Peroração – capítulo VI – conclusão do raciocínio com destaque para os
argumentos mais importantes.
Visão global da obra:
O capítulo I (exórdio) inicia-se com o conceito predicável: “vós sois o sal da
terra”. A partir deste conceito (metáfora), e tendo como modelo Santo António, o Padre
António Vieira vai desenvolver o seu sermão, provando que a terra está corrupta, mas
que o mal não está só do lado dos pregadores, pois os seres humanos também têm
culpa. A terra está corrupta porque o sal não salga ou a terra não se deixa salgar.
Ou a culpa está no sal (pregadores) ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal,
é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa
e fazem outra ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque
os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imtam os pregadores e não o que
eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
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No capítulo II (exposição e confirmação) procede-se aos louvores aos peixes em
geral. Começa pela referência às propriedades do sal que deve conservar o são e
preservar a corrupção. De seguida, a indicação das virtudes dos peixes: as primeiras
criaturas criadas por Deus; bons ouvintes; obedientes; devotos. Estas virtudes dos
peixes são, por contraste, a metáfora dos defeitos humanos.
O capítulo III (exposição e confirmação) é consagrado aos louvores aos peixes,
em particular. Em primeiro lugar, o Santo Peixe de Tobias em que o seu fel sara a
cegueira e o seu coração lança fora os demónios. Deste modo, critica-se a heresia e a
ausência de conversão por parte dos homens. Em seguida, a Rémora, tem o poder da
orientação e de acalmar. Critica-se a fraqueza humana e a ausência de força de vontade.
Posteriormente, o Torpedo que emite pequenas descargas elétricas que fazem tremer
o braço do pescador, impedindo a pesca. Critica-se, assim, a explorção do próximo, a
corrupção e a ambição desmedida. E, por fim, os peixes Quatro-Olhos que se defendem
dos ataques vindos do céu e da terra. Desta forma, critica-se a vaidade humana.
No capítulo IV (exposição e confirmação), são feitas as repreensões aos pexies,
em geral. Os defeitos dos pexies são: comem-se uns aos outros, sendo que os grandes
comem os mais pequenos; revelam ignorância e cegueira. Neste capítulo, critica-se a
maldade dos homens na exploração que fazem uns dos outros.
No capítulo V (exposição e confirmação) procede-se às repreensões aos peixes,
em particular. Inicia-se com os Roncadores. Emboram tão pequenos, roncam muito, daí
que representem a arrogância dos homens. Em seguida, os Pegadores, sendo pequenos,
pegam-se aos maiores, não os largando mais, razão por que simbolizam o parasitismo,
a vivência à custa dos outros. Os Voadores, apesar de serem peixes, também se metem
a ser aves. Por isso, simbolizam a presunção, a vaidade e a ambição. Por fim, na figura
do Polvo, com a sua aparência de santo, identifica-se como o maior traidor do mar.
Simboliza, pois a traição.
E, para concluir, o capítulo VI (peroração) o Padre António Vieira reaviva a
memória dos ouvintes sobre as virtudes e as repreensões com vista à última tentativa
de convencer o seu público e de o influenciar na adoção de um novo estilo de vida, de
uma vida mais voltada para o Céu e menos presa à terra.
Intenção persuasiva e exemplaridade:
O Sermão de Santo António é um longo discurso argumentativo, criado com a
finalidade de ser pregado.
A partir das propriedades do sal (conservar o são e preservar a corrupção) e das
características da pregação de Santo António (louvar o bem e repreender o mal), o
Sermão de Vieira assume um dupla finalidade: louvar as virtudes e repreender os vícios
humanos.
Começando por referir as qualidades dos peixes, o pregador retira duas
conclusões: os peixes são melhores do que os homens e, para evitar a maldade, aqueles
devem manter-se afastados dos homens. De forma semelhante, Santo António, para se
aproximar de Deus, afastou-se dos homens.
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Pelo contrário, os vícios, em geral, dos peixes, que se comem uns aos outros e
em que os grandes comem os pequenos, servem de pretexto para uma crítica à
exploração dos poderosos sobre os mais humildes. Além disso, os defeitos, em
particular, de certos peixes estão ao serviço da denúncia dos vícios humanos.
Crítica social e alegoria:
O Sermão é uma sátira social em que o Padre António Vieira tece duras críticas à
exploração e à ganância humana, particularmente aquela que é exercida pelos colonos
sobre os índios. Por outro lado, o Sermão é uma longa alegoria, funcionando os peixes
como uma metáfora dos homens. Deste modo, as virtudes dos peixes são pretexto para
denunciar os vícios humanos, da mesma forma que os defeitos dos seres marinhos são
motivo para criticar os defeitos morais e sociais dos homens.
Contudo, pode-se afirmar que o Sermão aborda um assunto intemporal na
medida em que os homens procuram constatemente a ascensão social, ainda que de
forma imprópria, revelando atitudes moralmente condenáveis.
Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett
A obra Frei Luís de Sousa é uma tragédia no que diz respeito ao contéudo e um
drama no que diz respeito à forma.
Na verdade, a obra é um drama romântico, pois apresenta uma forma em prosa
e não em poesia; não respeita a lei das três unidades (ação, espaço e tempo), pois a ação
acontece em três espaços diferentes: o palácio de Manuel de Sousa Coutinho, o palácio
de D.João de Portugal e a parte baixa do mesmo, em, pelo menos, oito dias. Além disso,
na obra, celebra-se o individualismo e o sentimento. Há uma valorização dos
sentimentos em detrimento da razão Também as personagens apresentam um perfil
romântico.
Todavia, pode classificar-se também como tragédia clássica, uma vez que
respeita em parte a lei das três unidades e apresenta um número de personagens
restrito e de condição social elevada, pois pertencem à aristocracia. De igual modo,
regista-se a presença de peripécia (incêndio do palácio e o regresso de D.João de
Portugal); a hybris (o desafio lançado às leis da sociedade, quando D.Madalena contrai
segundas núpcias sem a certeza da morte do primeiro marido); a presença do destino,
que determina a vida das personagens; o clímax, atinge-se na destruição do retrato e no
incêndio do palácio; a anagnórise (com a identificação do Romeiro com D.João de
Portugal); a catástrofe, com a morte física de Maria, e D.Madalena e Manuel de Sousa
para o mundo.
A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica:
Há três personagens que evidenciam o seu patriotismo nacionalista. Em primeiro
lugar, Manuel de Sousa Coutinho transmite o seu amor à pátria não só por palavras mas
também por atos, não hesita em incendiar o seu próprio palácio, evitando que o venham
habitar aqueles que governam o país em nome de um rei estrangeiro. Também Telmo e
Maria de Noronha, que partilham do mesmo idealismo sebastianista, afirmam o seu
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patriotismo e admiram o gesto praticado por Manuel de Sousa.
O patriotismo é uma das marcas da dimensão romântica da obra que assume
uma dupla dimensão temporal. No tempo em que ocorrem os acontecimentos, Portugal
vive sob o domínio filipino e, na data da publicação da obra o país vive sob a ditadura
cabralista, tendo o regime político vigente interpretado claramente o gesto patriótico
de Manuel de Sousa como uma revolta contra a tirania e a limitação da liberdade.
Recorte das personagens:
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D.Madalena: D. Madalena pertencente à nobreza vive numa grande
instabilidade emocional: o terror que lhe provoca a possibilidade de regresso de
D. João nunca a deixa desfrutar da felicidade de viver ao lado do homem que
ama. A tensão nervosa em que vive mergulhada é aumentada pelo pecado que
lhe pesa na consciência: o facto de se ter apaixonado por Manuel de Sousa
Coutinho enquanto ainda era casada com D. João de Portugal. O sofrimento é
ainda intensificado pelo profundo amor que sente pela filha, na medida em que
tem consciência de que o regresso de D. João a poderiam matar.
D. Manuel de Sousa Coutinho: Manuel de Sousa Coutinho pertencente à
nobreza (cavaleiro de Malta). Por um lado, é completamente racional e
insensível aos pressentimentos de D.Madalena e de Maria, por outro lado, é
dominado pelo sentimento patriótico e liberal.
Maria: Maria é uma menina (13 anos) muito inteligente e precoce para a sua
idade, frágil (doente de tuberculose), perspicaz, bondosa e ligada ao culto de
D.Sebastião.
Telmo Pais: Telmo Pais é um escudeiro, servidor de D. João de Portugal e de
Manuel Sousa Coutinho. É confidente de D.Madalena e protetor de Maria.
Dividido entre a afeição antiga (D.João de Portugal) e a afeição recente (Manuel
de Sousa Coutinho).
Frei Jorge: Irmão de Manuel tenta ser a voz do bom senso, da razão e do
equilíbrio. As suas palavras servem de conforto à família. Tal como Telmo,
também ele funciona como o coro que faz apartes, que comenta, que explica,
que anuncia.
• D. João de Portugal (Romeiro): apesar de surgir no final do Ato II, D. João de
Portugal é a personagem que está sempre presente na obra, pela diversidade de
vezes que é nomeado e lembrado. Ele é o responsável pela alteração do rumo
dos acontecimentos da ação trágica, pois é do seu reconhecimento que resulta
a impossibilidade da existência do segundo casamento de Madalena e a
ilegitimidade de Maria de Noronha. Revela-se íntegro, dado que, quando
percebe que da sua vida e saúde dependem a desgraça e a infelicidade desta
família, pede ainda a Telmo que lhes diga que afinal este romeiro não é o
verdadeiro D. João de Portugal, o que acaba por não acontecer.
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Estrutura externa:
A obra Frei Luís de Sousa é estruturalmente constituída por três atos: o primeiro
e o terceiro com doze cenas e o segundo com quinze. Como em qualquer peça de teatro,
deve distinguir-se o texto principal, que coincide com as falas das personagens e o texto
secundário constituído essencialmente por didascálias.
Estrutura interna:
Em relação à estrutura interna, encontram-se as três divisões tradicionais
presentes num texto dramático: exposição, conflito e desenlace. Assim, a exposição
corresponde às cenas I e II do ato I, em que, através das falas de Telmo e D.Madalena,
se apresentam os antecedentes da ação que explicam as circunstâncias do presente e
as relações existentes entre as personagens. O conflito estende-se até à cena IX do ato
III. Uma série de peripécias desencadeia novos conflitos. O conflito atinge o seu clímax
no reconhecimento do Romeiro. Finalmente, o desenlace corresponde às cenas finais,
em que se consuma a tragédia familiar.
Espaço e Tempo:
O Ato Primeiro (28 de julho de 1599), decorre no palácio de Manuel Sousa
Coutinho, numa sala luminosa e luxuosa. Este palácio transmite a ideia de conforto e
bem-estar. Por esse motivo, o incêndio que destrói a casa revela-se um presságio da
desagregação do núcleo familiar, consumada pela catástrofe que se abaterá sobre os
seus membros.
O Ato Segundo (4 de agosto de 1599), decorre no Palácio de D.João de Portugal
numa sala fria, sem luz e de «gosto melancólico e pesado». Os retratos de D. Sebastião,
D. João de Portugal e Camões conferem solenidade à cena. Esta sala é uma divisão
interior, sem janelas (simbolizando a prisão e o afastamento do mundo).
O Ato Terceiro (4 de agosto de 1599), decorre na parte baixa do Palácio de D.João
de Portugal, um espaço subterrâneo é ainda mais fechado e mais escuro, com ligação à
igreja de S.Paulo.
Indícios trágicos:
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Coincidências temporais;
Referências à sexta feira - todos os grandes acontecimentos que, por exemplo,
marcaram a vida de D.Madalena acorreram numa sexta-feira.
Simbologia do número 7 – o sete indica uma mudança, que ocorre no final de
um ciclo, obrigando a um recomeço.
Presságios\agouros e pressentimentos;
Perda do retrato de Manuel de Sousa Coutinho – o retrato evidencia a sua
personalidade, a sua força, os seus princípios morais e religiosos, é prenúncio de
uma desgraça, funciona como o anúncio da tragédia que o vai aniquiliar.
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Dimensão trágica:
No que diz respeito à dimensão trágica, é interessante verificar que há uma
concentração de personagens, de espaço e de tempo de modo que nada seja inútil e
que tudo contribua para a intensificação da tensão dramática. Da mesma forma, todo o
desenrolar da ação converge para o desenlace trágico. Mesmo o momento em que D.
Manuel parece revoltar-se contra o destino, incendiando o seu palácio, acaba por servir
a fatalidade que se abate sobre as personagens.
Resumo por atos:
➢ Primeiro ato - decorre no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho
- O ambiente leve e exótico revela o estado de espírito da família (feliz no geral);
- Inicia-se um ato com um excerto d’Os Lusíadas, mas precisamente o excerto de Inês de
Castro, em que afirma que o amor cega e condena a alma ao sofrimento; este excerto é
lido por D. Madalena de Vilhena, mulher de Manuel de Sousa Coutinho;
- Telmo, o fiel escudeiro da família, entra em cena e ambos discutem sobre Maria, filha
de D.Madalena e Manuel de Sousa Coutinho;
- Os medos de D.Madalena em relação ao regresso do ex-marido (D.João de Portugal,
que nunca regressou da batalha de Alcácer-Quibir) refletem-se na proteção da sua filha
em relação ao Sebastianismo (se D.Sebastião voltasse, o seu ex-marido também podia),
um tema na altura muito discutido;
- Maria é considerada muito frágil (doente; possui tuberculose não diagnosticada), e
Telmo, que já fora escudeiro de D. João, incentiva-a a acreditar no Sebastianismo, o que
ela abraça fortemente apesar do o desaprovar sua mãe;
- Por fim chega com D. Manuel, um cavaleiro da nobreza, que informa as personagens
da necessidade de movimentação daquela casa, porque os “governantes” (na altura
Portugal estava sob o domínio espanhol) viriam e desejavam instalar-se em sua casa;
- O ato acaba com D. Manuel a incendiar a sua própria casa, como símbolo de
patriotismo, incendiando também um retrato seu (simboliza o inicio da destruição da
família), movendo-se a família para o palácio de D. João de Portugal (apesar dos agouros
de D. Madalena).
➢ Segundo Ato - decorre no palácio de D. João de Portugal
- O ambiente fechado, sem janelas, com os quadros grandes das figuras de D. João,
Camões e D. Sebastião revelam uma presença indesejada e uma família mais abatida
(algo está para vir);
- D. Madalena apresenta-se muito fraca; com a chegada de D. Manuel (que teve de fugir
devido à afronta aos governantes) e a indicação de que estes o tinham perdoado, D.
Madalena fica mais descansada, mas ao saber por Frei Jorge, um frei do convento dos
Domínicos, que este terá que partir para Lisboa para se apresentar, fica de novo
desassossegada;
- D. Manuel parte para Lisboa na companhia de Maria e Telmo, deixando em casa D.
Madalena e Frei Jorge;
- Aparece um Romeiro que não se quer identificar ao princípio, mas dá indícios de ser D.
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João de Portugal, que voltaria exactamente 21 anos depois da batalha de Alcácer-Quibir
(7 para procurar o corpo + 14 casamento de D. Madalena e D. Manuel);
➢ Terceiro Ato - decorre na parte baixa do palácio de D. João de Portugal
- Um ambiente muito fechado, representando a falta de saída da família que, caso o
romeiro fosse D. João, estaria perante um casamento (D. Madalena e D. Manuel) e uma
filha (D. Maria) ilegítimos (a morte era a única forma de “divórcio”);
- O Romeiro encontra-se a sós com Telmo (que entretanto volta com Maria e D. Manuel)
e este imediatamente reconhece o antigo amo, mas a sua lealdade não é certa (entre D.
João e Maria, a sua nova ama apesar de ter criado ambos); o Romeiro pede-lhe que
minta por ele, que diga que é um impostor, que salve a família (momento em que a
audiência acredita que possa haver salvação);
- Telmo vai pedir conselhos a Frei Jorge, que lhe diz que, se tem a certeza ser D. João, a
verdade não deve ser escondida (mostra uma faceta obediente e inflexível desta
personagem)
- Por fim, não tendo outra salvação, Maria morre de desgosto (de ser filha ilegítima; de
tuberculose) e os pais (D. Madalena e D. Manuel) vão para um convento (a religião como
consolação), tornando-se D. Manuel, Frei Luís de Sousa.
Amor de Perdição, Camilo Castelo
Branco
Resumo:
• Simão Botelho é filho de Domingos Botelho, corregedor (juíz), e de Rita.
• Simão causa desgosto à sua família por se relacionar apenas com pessoas sem
escrúpulos e levar uma vida boémia.
• Porque se apaixona por Teresa de Albuquerque, filha de Tadeu de Albuquerque, muda
de comportamento e passa a levar uma vida mais regrada.
• Os Botelho e os Albuquerque são inimigos, o que dificulta a relação de amor entre
Simão e Teresa, que passam a odiar as suas famílias, namorando às escondidas, embora
as famílias desconfiem.
• Tadeu de Albuquerque decide prometer em casamento a filha, Teresa, ao seu sobrinho
Baltasar Coutinho. Teresa recusa o casamento, enfrentando o pai; Tadeu, revoltado,
promete deserdá-la e enviá-la para um convento.
• Domingos Botelho, também desagradado com a paixão dos dois, envia Simão para
Coimbra.
• Simão, desesperado de saudades de Teresa, vai a Viseu visitá-la e fica em casa de João
da Cruz, pai de Mariana.
•Teresa vai para um convento em Viseu, aguardando a sua entrada num convento do
Porto.
• Simão, furioso por Teresa já se encontrar no convento, tenta raptá-la, mas, num duelo
inesperado com Baltasar Coutinho, dá-lhe um tiro fatal.
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Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico:
O narrador, Camilo Castelo Branco, afirma ser sobrinho do herói do seu Amor de
Perdição, Simão Botelho, cuja história de amor infeliz leu enquanto estava preso na
Cadeia da Relação, no Porto. Pelas informações da vida e da morte do seu tio direito,
Simão Botelho, Camilo propõe ao leitor contar esta história, mostrando Simão como um
herói verdadeiramente romântico que «Amou, perdeu-se e morreu amando». Pelo
conhecimento da biografia de Camilo e de Simão, cedo os leitores se apercebem da
semelhança entre estes dois heróis românticos - apaixonados fervorosamente (Simão Teresa e Camilo - Ana Plácido), perseguidores da sua felicidade amorosa contra as
adversidades, sofredores das respetivas consequências, mas continuamente ao serviço
do verdadeiro Amor-Paixão.
A obra como crónica da mudança social:
Além de uma história de amor de perdição, o romance é também um documento
histórico, com marcas de uma crónica da mudança social. Em primeiro lugar, a província
como espaço privilegiado dos valores tradicionais, onde se encontram três instituições
repressivas que contrariam o amor dos jovens protagonistas: a Família, a Igreja e a
Justiça. Deste modo, a relação amorosa de Teresa de Albuquerque e de Simão Botelho
é vítima da repressão familiar, conventual e judicial.
Os jovens vivem no ambiente social da província dos inícios do século XIX, numa
sociedade repressiva pautada pelos preconceitos e pelas pequenas intrigas, em que os
valores tradicionais do materialismo, do pragmatismo e do ódio entre famílias entram
em confronto com o individualismo e o idealismo dos jovens amantes.
Este mundo provinciano fechado com os seus preconceitos e em que a tradição
familiar e a reputação pessoal são valores primordais leva este par amoroso a reagir
contra as instituições repressivas.
Em suma, na novela, há um conflito permanente entre o sentimento individual e
os obstáculos impostos por esta sociedade provinciana.
Características das personagens:
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Simão Botelho: é jovem bonito e viril. É o típico herói romântico: rebelde,
intempestivo, solitário, transformado pelo amor. É uma pessoa digna e honrada,
corajosa e determinada, que acredita no amor eterno.
Teresa Albuquerque: é jovem bonita, de origem aristocrática e rica. É
apaixonada por Simão, muito sensível e acredita no amor eterno. Tem
personalidade forte e determinada – recusa casar com Baltasar –, revelando a
sua coragem – mantém a sua vontade, enfrentando a tirania do pai.
Mariana: de origem popular, é jovem e bonita (mais bonita do que Teresa),
desembaraçada e decidida. Acredita no amor eterno e é apaixonada por Simão,
revelando-se abnegada e sofredora – ama Simão e acompanha-o sempre,
mesmo sabendo que o jovem ama Teresa, suicidando-se quando Simão morre.
Revela-se uma personagem forte e determinada.
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João da Cruz: é uma personagem do povo, um castiço rude e violento, mas muito
corajoso, grato e bondoso. É amigo de Simão.
Baltasar: é orgulhoso, prepotente, insensível e arrogante. Mesmo sabendo que
Teresa ama Simão, decide levar o seu desejo de a desposar avante.
Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho: são orgulhosos, preconceituosos,
prepotentes e inflexíveis, revelando-se insensíveis ao amor arrebatado de Teresa
e Simão, cedendo perante todas as convenções sociais.
Relações entre personagens:
• Tadeu e Rita: ele, obstinado com a justiça e ausente; ela, sempre descontente com a
vida fora da corte;
•Tadeu e Teresa: pai tirano e manipulador, quer vê-la casada, por interesse, com um seu
primo, Baltasar Coutinho; envia-a para conventos, pois, se não casa com quem ele quer,
morrerá para o mundo;
• Tadeu e Baltasar: Tadeu respeita Baltasar e vê nele o marido perfeito para Teresa;
• Tadeu e Simão: ódio profundo por antigas contendas entre as famílias:
• Teresa e Baltasar: Teresa não o ama,recusando-se a casar; Baltasar é obstinado e quer
a todo o custo casar-se com a prima;
• Simão e João da Cruz: amizade sincera e recíproca;
• Simão e Mariana: ele, amizade sincera; ela, amor-paixão, não correspondido por
Simão, e que a levará à morte.
O amor-paixão:
A relação afetiva de Simão e de Teresa é, de facto, um amor-paixão, construído
de excessos, que conduz a um desenlace trágico de amor e morte, pois este
sentimento afetivo caracteriza-se por encontrar na morte a solução para a sua
impossibilidade. Ao associar o amor à morte, destaca-se uma outra característica do
amor-paixão, a ideia de eternidade, um amor que perdura para além da morte, porque
quando se ama, é para sempre. Deste modo, o amor adquire um carácter sagrado e
religioso como se ultrapassasse a mera dimensão da vida real. Este par amoroso
simboliza a pureza da entrega a um amor idealizado a que a sociedade se opõe,
empurrando os protagonistas para o sofrimento e para uma morte libertadora. Através
do amor, como valor absoluto, Teresa e Simão ascendem a um estatuto superior de
heróis.
Os Maias, Eça de Queirós
Aspetos decorrentes do título e subtítulo:
Os Maias narra a história de uma família aristocrática, ao longo de três gerações:
Afonso, Pedro e Carlos da Maia. O título da obra – Os Maias – remete o leitor para a
história trágica de uma família da aristocracia lisboeta. O subtítulo – Episódios da Vida
Romântica – encaminha o leitor para o ambiente social da época relatado pelo olhar
atento e crítico de Eça de Queirós, que faz o retrato satírico, mas realista, de Lisboa do
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final do século XIX. Podemo concluir que Eça de Queirós traça o retrato de um país onde
tudo é medíocre e provinciano, um país onde nada é autêntico, apenas se imita o
estrangeiro.
Espaços e seu valor simbólico e emotivo:
No espaço físico de Os Maias distingue-se o espaço geográfico, correspondendo
ao percurso da personagem protagonista ao longo da ação e aos cenários interiores que
aí ganham destaque. Lisboa é o espaço de maior relevo, mas Coimbra e Santa Olávia são
igualmente importantes.
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Santa Olávia é o espaço rural, o espaço do restabelecimento familiar, da
tranquilidade, o espaço onde Carlos cresce saudável e feliz e onde é educado em
contacto com a natureza, seguindo uma educação britânica. É um espaço
positivo, sinónimo de vida e de produtividade.
Coimbra é o espaço da formação académica de Carlos (medicina), da sua vida
boémia e do seu diletantismo. É também o local que contribui para a formação
de Carlos enquanto ser social e cívico, pois é aí que contacta com as novas ideias
reformistas, ajudando-o a desenvolver a sua capacidade crítica. É um espaço,
também, identificado com uma certa rebeldia própria da juventude estudantil.
Lisboa é o grande espaço físico (é o espaço social privilegiado), o palco do
desenrolar de toda a intriga, para além de ser, também, o espaço símbolo da
nação, a sua capital, o local onde tudo se passa. Eça utiliza alguns
referentes/símbolos de um Portugal glorioso e lutador (estátua de Camões,
monumento aos Restauradores, estátua de D. Pedro IV, por exemplo) para
acentuar o marasmo em que a sociedade se encontra no presente.
Os cenários interiores ou os espaços físicos interiores atingem uma importância
significativa, pois ligam-se diretamente à vivência das personagens, permitindo
acentuar aspetos relevantes na sua caracterização. São cenários descritos com bastante
realismo e, entre eles, destacam-se:
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O Ramalhete, a residência da família dos Maias, é um espaço que, ao longo da
obra, acompanha o desenrolar da intriga até ao eclodir da catástrofe. É, também,
o local do reencontro, no final da obra. Aparece no início da narrativa,
evidenciando o bom gosto dos Maias – é uma casa confortável e luxuosa. E se
em 1875 o Ramalhete aparece descrito com todo o seu esplendor, no final, em
1877, mostra a sua decadência, que é também o reflexo da decadência da
família, bem como da decadência da sociedade portuguesa do final do século
XIX. É o local onde Carlos viveu verdadeiramente, assumindo, por isso, uma
enorme importância.
A Toca é um cenário marcado pela excentricidade e exotismo, espaço simbólico
nas relações de Carlos da Maia e Maria Eduarda. É o refúgio amoroso que
preserva estas personagens, mas que anuncia, desde logo e através da sua
decoração, o seu final trágico. A Toca é, pois, o espaço que propicia a vivência do
amor marginal de Carlos e Maria Eduarda.
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Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga amorosa:
Em Os Maias o sentimento e a paixão estão presentes ao longo de toda a obra,
sendo possível estabelecer um paralelismo entre as principais intrigas amorosas: a de
Carlos da Maia e de Maria Eduarda (que faz parte da ação central) e a de Pedro da Maia
e de Maria Monforte (que integra a ação secundária).
O sentimento e a paixão são, também, visíveis no relacionamento de João da Ega
com Raquel Cohen. Essa relação é vivida inicialmente com um certo recato, mas João da
Ega acaba por revelá-la ao seu amigo Carlos da Maia. Quando a relação adúltera é
descoberta, Ega, humilhado, refugia-se em Celorico, enquanto o casal Cohen parte para
o estrangeiro. Assim, a figura de Ega na relação com esta mulher casada e Carlos da Maia
no seu relacionamento ilícito com a condessa de Gouvarinho apresentam modelos de
amor adúltero.
A representação de espaços sociais e a crítica de costumes:
Os Maias dão-nos uma visão caricatural da sociedade portuguesa do século XIX.
Fazendo uma crónica dos costumes da época, Eça traça um retrato vivo e dramático da
Lisboa da época da Regeneração, permitindo-nos observar características ainda hoje
visíveis e passíveis de serem, igualmente, criticadas, se compararmos a cidade de
outrora com os mesmos ambientes sociais atuais. Eça serve-se de determinados tipos
de personagens para apresentar os vícios, a postura e a mentalidade das últimas
décadas do século XIX. Eça consegue recriar ambientes que dão vida à crónica de
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costumes dos Episódios da Vida Romântica. Na crítica realizada, destacam-se episódios
como:
➢ Jantar no Hotel Central:
• Discussão sobre o Realismo/Naturalismo versus Ultrarromantismo;
• Discussão sobre o estado das finanças em Portugal: opinião de Cohen sobre o
destino inevitável de bancarrota; resposta de Ega sobre a necessidade de
«receita» «e uma agitação revolucionária constante»; intervenção de Alencar e
de Carlos, sempre equilibrado e apaziguador.
➢ Corridas de Cavalos (Hipódromo de Lisboa):
• Crítica à sociedade lisboeta, pois, na tentativa de imitar os ingleses, os lisboetas
acabam por viver este desporto de forma postiça, não sabendo bem como
comportar-se
e
envolvendo-se
inclusivamente
em
desrespeitos,
desentendimentos e impropérios.
➢ Jantar em casa dos condes de Gouvarinho:
• Crítica à alta burguesia e aristocracia pela mediocridade resultante do seu
pensamento a propósito de temas como o ensino e a educação da mulher.
Ao serviço da crítica de costumes estão as seguintes personagens-tipo:
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Características trágicas dos protagonistas:
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Afonso da Maia: desde a juventude, Afonso vê a sua vida marcada por
obstáculos. Contrariando os ideais conservadores do pai (Sebastião), que o
considerava jacobino e revolucionário, Afonso vê-se obrigado a sair para o exílio
em Inglaterra. A mulher odeia o protestantismo e o clima, convencendo-o a
voltar a Portugal. Regressado, assiste, desgostoso e impotente, à tragédia
amorosa que leva o filho ao suicídio. Apesar de passar anos felizes durante a
infância e o início da idade adulta do neto. Carlos. Afonso assiste à vergonha e à
repugnância de um impensável incesto entre o seu neto e a neta cuja existência
viva desconhecia. Vemo-lo quase fantasmagórico a passar por Carlos,
atravessando o corredor, já lívido e prenunciando a morte, até ao jardim, onde
morre, não tanto em virtude da idade, mas por causa dos desgostos e tragédias
que assolaram a sua vida.
Carlos da Maia: quando tudo aparentava harmonia e equilíbrio, Carlos apaixonase por Maria Eduarda. ignorando tratar-se da sua própria irmã. Primeiro, as
críticas de adultério pressagiam obstáculos. Segundo, o sítio dos seus amores - a
Toca - acrescenta tragicidade a este amor. Terceiro, na primeira noite em que se
encontram intimamente, troveja e a Toca, com as velas acesas, cria um ambiente
de «sacrário» que assusta Maria Eduarda. Quarto, quando Carlos a leva ao
Ramalhete, ela manifesta ter medo do avô de Carlos. Quinto, Carlos encontra
nela semelhanças com a sua máe. Maria Monforte (indício da verdade que
desenhará esta tragédia incestuosa).
Maria Eduarda: apresenta-se ao leitor como uma mulher amadurecida pela
dureza da vida, desde que a mãe a levou para Paris, bebé. Vivendo com vários
homens, respeitosos ou não, apenas para a sustentar, anda ao sabor das suas
vontades e tem uma filha para cuidar. A sua vida é. portanto, uma mescla de
adversidades e sacrifícios.
Sonetos Completos, Antero de Quental
A angústia existencial:
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A poesia de Antero exprime as preocupações do ser humano perante a sua
condição e a sua fragilidade, que sente esperanças e sofre desalentos, que
duvida perante os mistérios da criação, da morte e de Deus.
Coexistem em Antero o apolíneo e o noturno: o primeiro exprime a luz, a Razão
e o Amor; o segundo canta a Noite, a Morte e o Pessimismo.
Esperança e desilusão são duas forças constantes no seu pensamento e na sua
vida, entre as quais tudo oscila.
O clima prevalecente é o de uma progressiva falência da vontade humana,
arrastada por “uma espécie de tristeza congénita” e motivada por uma lúcida
consciência da imperfeição humana.
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Configurações do Ideal:
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O Ideal é sempre algo Perfeito, Absoluto, Eterno, é o seu «Palácio da Ventura»,
o Inatingível (daí a frustração/angústia existencial);
As religiões não lhe chegam porque Deus, que conhece, não assume para Antero
essa Perfeição, esse Absoluto, que é o não-sentir, o não-pensar, o Bem imaterial;
Tipos e formas de Ideal: a Beleza, o Bem, uma entidade metafísica absoluta e
superior (ainda não encontrada), o Nada supremo, a Liberdade, o Nirvana, o
Amor total e absoluto (sem dor nem materialismo), a Consciência, a Sabedoria,
a Paz.
Linguagem, estilo e estrutura:
Seguindo os dois temas acima apresentados, não é de estranhar que encontremos
nos seus sonetos:
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a escolha do próprio soneto como composição clássica e espaço de
apresentação dos seus conceitos e conclusões, distribuídos entre as duas
quadras e os dois tercetos;
vocabulário erudito e ao serviço da verbalização de ideias, conceitos,
pensamentos e essência do sentir;
recursos expressivos, tais como apóstrofes (para presentificar entidades reais
ou ideais), metáforas (úteis a associações filosóficas e poéticas) e ainda
personificações (que ajudam à visão de entidades abstratas como
potencialmente identificáveis com seres humanos).
Cânticos do realismo, Cesário Verde
A representação da cidade e dos tipos sociais:
Em Cesário Verde existe uma dicotomia cidade / campo. Esta oposição é um
elemento estruturante da obra poética de Cesário. Com efeito, divide-se entre a crítica
da cidade e o elogio do campo. Na cidade, o sujeito sente-se sufocado, encarcerado. O
ambiente citadino é o símbolo do desenvolvimento e do progresso. O campo simboliza
a energia, a vida, a saúde, o espaço onde se recuperam as forças perdidas na confusão
da cidade e, ainda é um espaço de inspiração.
Enquanto deambula pela cidade, o poeta é surpreendido por vários tipos sociais
que despertam nele a temática da humilhação ou a dignidade dos mais humildes. Assim,
em Cesário, é possível distinguir três tipos de humilhação: a sentimental, a estética e a
social. A humilhação sentimental aparece associada à mulher, descrita como fria e
distante. A humilhação estética está presente quando está em causa a sua produção
estética. A humilhação social transparece quando descreve todos aqueles que
trabalham em ocupações humildes, revelando simpata pelas classes oprimidas.
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Deambulação e imaginação: o observador acidental:
Deambulando pela cidade, o poeta capta impressões da realidade quotidiana,
tornando-se um observador acidental. O espaço urbano transforma-se num espaço de
observação do mundo e da vida. Ele observa acidentalmente pessoas e espaços,
transformando-se num repórter do quotidiano. Ao estilo realista, transporta para a sua
poesia a realidade de todos os dias, concedendo particular atenção aos lugares e às
pessoas com quem se cruza.
Sensível à vida difícil das classes mais humildes, deambula, por vezes, pelas ruas
mais sombrias da cidade, dando o seu testemunho das difíceis condições em que vivem
os mais humildes. Esta forma de observar a realidade banal e quotidiana e fazer dela
matéria da sua poética contribui para tornar Cesário um poeta de modernidade.
Perceção sensorial e transfiguração poética do real:
Na sua deambulação pela cidade, perceciona o real através dos sentidos e recriao através do mundo interior da criação poética. Através do impressionismo, o poeta
regista impressões da vida quotidiana, capta a luz, as sensações e a brevidade do
momento.
Além da perícia na observação do real, o poeta revela também a capacidade de
transfigurar o que vê através de um olhar subjetivo. Deste modo, por vezes, a realidade
é observada e transformada por uma visão surrealista, recorrendo a metáforas.
Linguagem, estilo e estrutura:
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Seleção frequente de rima cruzada e interpolada ao serviço do cruzamento de
planos visíveis e transfigurados pelo poeta-pintor;
Estrofes: quadras, quintilhas;
Métrica: versos decassilábicos e alexandrinos;
Comparações, metáforas, enumerações, hipérboles, sinestesias. usos
expressivos do adjetivo e do advérbio.
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