DESABAFO Por Gustavo Fernandes Se você conhece uma pessoa gaga, vire pra ela e fale: você não fala errado, você não tem um defeito que precisa ser curado, você tem o seu próprio jeito de falar, único, seu, como toda pessoa tem o seu. A dificuldade de ser compreendido não vem da sua gagueira, e sim do preconceito de quem te escuta. Eu, infelizmente, demorei 25 anos para ouvir isso. Depois de quase 15 anos de fonoaudiologia onde a forma como falo, só por ser diferente, foi tratada como um caso médico, como uma falha genética cuja correção era necessária. Uma única frase foi capaz de fazer o que 15 anos de tratamento não fizeram: perder a minha fobia social de interagir com as pessoas, derivada de uma naturalização da ideia de que a minha fala era um defeito biológico. Foi assim que descobri que foi a discriminação que sofri, e não a minha gagueira, que silenciou a minha voz durante quase 10 anos. A maioria de vocês me conhece hoje, e alguns nem percebem que “sou gago”, seja lá o que isso queira dizer, mas, o que vocês não sabem, é que durante a adolescência, por exemplo, eu não conseguia falar o meu próprio nome quando um estranho perguntava por ele. Sendo que na infância eu sempre fui capaz de me comunicar, mesmo repetindo uma sílaba aqui, outra acolá, nunca tive problemas para ser compreendido. Se hoje tenho a minha voz de volta, é porque eu ouvi, finalmente, que o problema não era eu. Então, por favor, falem isso, transformem a vida de alguém que tem a chance de ter a sua voz de volta. Eu te imploro, pois a fonoaudiologia e o conhecimento médico se recusam a dizer isso.