Terapêutica Farmacológica na Pediatria TERAPÊUTICA II 2021/2022 Ana Reis e Melo Departamento de BioMedicina Edição por Departamento de Estudos da Comissão de Curso 17/23 Cor das notas: azul A idade pediátrica é muito particular. Saber presecrever é muito importante, porque é muito comum existirem erros de prescrição, e muitos incidentes clínicos devem-se a esses erros, pondendo ser fatais, e a prescrição nas crianças é diferente da prescrição em adultos. Os estudos recentes dos USA mostram falta de preparação dos estudantes de Medicina para a prescrição adequada, e que cerca de 10% dos erros da clínica são devidos a erros de prescrição. Não há um erro particular associado a um grupo farmacológico, nem a uma especialidade em concreto - é generalizado. Importância de saber prescrever Erros de prescrição são comuns Muitos incidentes clinicos devem−se a erros de prescrição 2 Erros de prescrição podem ser fatais Prescrever em crianças é diferente de prescrever em adultos Há fatores particulares em pediatria - a criança não é um adulto em ponto pequeno. Devemos ter em conta: - O peso - A composição corporal - no recém-nascido a composição corporal é diferente de uma criança de 5 anos - A área de superfície corporal - calculamos a maioria dos fármacos pelos pesos, mas também podemos calcular pela superfície corporal. - O estado nutricional - também estará relacionado com a farmacocinética. - A maturação dos orgãos - principalmente o fígado e os rins: um estará responsável pela metabolização, e outro pela eliminação. Crianças não são adultos pequenos Peso Prescrição em pediatria Composição corporal Fatores Àrea de superficie corporal Estado nutricional Maturação dos orgãos (figado, rim, …) Em pediatria em particular usamos muito as formulações líquidas (os xaropes) que não usamos nos adultos. Em meio hospitalar é sempre mais apropriado prescrever em mg do que em ml - porque temos diferentes concentrações do mesmo fármaco e nem sempre sabemos qual o hospital comprou (ex: a formulação do paracetamol na urgência e no internamento é diferente). Se prescrevermos sempre em mg fica mais fácil para a enfermagem fazer o cálculo. É imporante notar a diferença entre microgramas e miligramas, principalmente para não cometer erros a prescrever, e ter alguma sensibilidade na prescrição, principalmente quando prescrevemos para casa - em valores como 2.3mL de paracetamol habitualmente arredondamos para cima, para 2.5mL. Prescrição em pediatria • Medicação pediatria: formulação liquida • Em meio hospitalar é mais apropriado prescrever em mg do que em ml • Medicação tem diferentes concentrações (ex. paracetamol pode ser 120mg/5mL ou 250mg/5mL) • Importância da diferença em microgramas (µg) e miligramas (mg) • Sensibilidade na prescrição −é importante considerar arredondar a dose 4 A farmacocinética corresponde a 4 grandes grupos (o ADME): - Absorção - Distribuição - Metabolismo - Eliminação Farmacocinética A ciência que estuda o processamento dos fármacos dentro dos sistemas biológicos, e envolve a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação ( aquilo que o corpo faz ao fármaco) Existem particularidades da farmacocinética na pediatria. 5 Absorção A passagem do fármaco desde o local de administração até ao plasma Cerca de 75% dos fármacos administrados via oral são absorvidos em 1 a 3 horas 6 concentration Absorção • • Características dos fármacos: peso molecular, ionização, 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 IV Oral Rectal 0 5 10 20 30 solubilidade e formulação (se usarmos IV terá absorção muito mais rápida que, por exemplo, retal)m. inutes 60 120 180 Características dos indivíduos: vias de administração, pH gastrointestinal, conteúdo GI • Esvaziamento gástrico (se estiver atrasado temos um atraso na absorção). • Enzimas gástricas 6 meses de idade (há dificuldade de absorção por causa destas • Ácidos biliares e função biliar • Flora gastrointestinal Só no adolescente é que a flora GI se aproxima à do adulto) • Interação Fórmula/alimentos(ex: interação entre leite e tetraciclinas) As enzimas gástricas e ácidos biliares só estão desenvolvidas ao enzimas) Fizeram um estudo em Nova Iorque com a Digoxina, em que repararam que com a mesma dose de Digoxina, de indústrias farmacêuticas diferentes, se notava uma concentração diferente no plasma - estava relacionado com o próprio tamanho do comprimido 7 Também temos o exemplo da utilização de Vancomicina oral para tratar Colite Pseudomembranosa por Clostridium Difficile - a Vancomicina é sempre dada por via IV, po não é absorvida por via oral, exceto neste caso, em que desejamos que não seja absorvida. Às vezes podemos jogar com estas diferenças na absorção - por exemplo na doença inflamatória intestinal podemos usar fármacos absorvidos dependendo do pH, e que isso só sejam absorvidos no cólon - onde queremos que atuem. Na distribuição, sabemos que os fármacos mais lipossolúveis são melhor absorvidos. As proteínas só existem em quantidade semelhante aos adultos aos 8-12 meses A permeabilidade da membrana é importante - a BHE é muito pouco permeável a fármacos, por exemplo: no tratamento de uma meningite usamos fármacos mais lipossolúveis aumentamos a dose . na meningite, a BHE está mais permeável, logo os fármacos passam melhor O próprio volume de distribuição também vai variar consoante a idade e composição corporal (da criança em relação ao adolescente p.ex.) Distribuição 1 Lipossolubilidade • água total & fluido extracellular • tecido adiposo & músculo esquelético 2 Ligação às Proteínas 3 4 Permeabilidade da Membrana Volume de distribuição • albumina, bilirrubina, •Variações da composição 1−ácido glicoproteína melhor absorvidos e distribuidos 8 Metabolismo • Fármacos e toxinas são agentes estranhos ao organismo • Fármacos podem ser metabolizadas nos pulmões, sangue e fígado • O organismo converte os fármacos em formas menos ativas e aumenta a sua hidrossolubilidade para melhorar a eliminação (rins, pulmões, sistema hepatobiliar) • Fígado − principal via do metabolismo dos fármacos • Fígado pode também converter pró−fármaco (inativas) na sua forma ativa • Tipos de reações • Fase I (sistema do Citocromo P450) • Fase II Locais de biotransformação de fármacos As reações de fase I aumentam até à idade escolar. Nesta atingem um pico superior à dos adultos, e volta a diminuir até à capacidade do adulto, na adolescência. As de fase II começam com um atividade muito baixa no RN e vai aumentando até à idade adulta. 9 Metabolismo em pediatria • • • Filtração Glomerular aumenta com a idade, valores dos adultos atingidos pelos 3 anos de idade Recém−nascido = fluxo sanguíneo renal, filtração glomerular e função tubular diminuídas, o que atrasa a eliminação dos fármacos Aminoglicosideos, cefalosporinas, penicilinas = intervalo entre doses superior A administração de antibióticos difere, por isso, muito na Neonatologia em relação a crianças com 4-5 anos. 10 Princípios farmacocinéticos • • Steady State”: a quantidade de fármaco administrada é igual à quantidade de fármaco eliminada dentro de um intervalo de doses, resultando num plateau ou nível sérico de fármaco constante condição em que as variáveis de um sistema permanecem constantes ao longo do tempo, apesar de fluxos contínuos de entrada e saída. Steady State ocorre quando a quantidade de fármaco administrada (entrada) é igual à quantidade eliminada (saída) por unidade de tempo, resultando em uma concentração plasmática constante. Fármacos com semi−vida curta atingem o “steady state” rapidamente; fármacos com semi−vida longa demoram dias a semanas a atingir o “steady state” 11 Steady state Semi-Vida = tempo necessário para as concentrações no plasma diminuírem em metade (50%) 4-5 semi-vidas para atingir o “steady state” 100 90 80 70 % 60 steady 50 state 40 30 20 10 0 1 2 3 4 Semi-vida 12 5 permite atingir os niveis sérios que queremos rapidamente Doses de carga Se tenho um fármaco com semi-vida longa, mas quero efeito rapidamente, dou aquilo a que se chama uma dose de carga. Doses de carga (iniciais) permitem atingir 40 35 30 rapidamente os níveis séricos terapêuticos 25 Por vezes não é possível esperar (ex: antiepilético no SU), daí usarmos a dose de carga. 20 Mesma dose de carga independentemente de 15 disfunção metabolismo/eliminação 10 5 Não são ajustadas na disfunção hepática nem na disfunção renal. 0 13 w/ bolus w/o bolus Doentes especiais Doença Renal: metabolismo hepático igual, volume de distribuição igual/aumentado e eliminação prolongada \ intervalo doses Doença Hepática: eliminação renal igual, volume de distribuição igual/aumentado, velocidade de metabolismo enzimático mais lento \ ¯ dosagem, intervalo doses Doentes com Fibrose quística: metabolismo/ eliminação aumentado, volume de distribuição maior \ dosagem, ¯ intervalo doses 14 Nos doentes renais temos de aumentar o intervalo entre doses. Nos doentes hepáticos diminuimos a dose e aumentamos o intervalo entre doses Nos doentes com fibrose cística usamos doses de fármacos muito maiores em comparação, principalmente os antibióticos Farmacodinâmica Estudo dos processos bioquímicos e fisiológicos subjacentes à ação dos fármacos (aquilo que o fármaco faz ao organismo) Mecanismo de ação : • Interação fármaco − recetor Eficácia Perfil de segurança 15 A maioria dos fármacos ligam-se a recetores celulares Iniciam reações bioquímicas Efeito farmacológico é devido a alteração de um processo fisiológico intrínseco e não a criação de um novo processo Ação do fármaco 16 Recetores Proteínas ou glicoproteínas Ação ocorre quando o fármaco se liga Presentes na superfície celular, num organelo ao recetor e a ação pode ser: dentro da célula ou no citoplasma ❖ Canal iónico (aberto ou fechado) Número finito de recetores numa dada célula ❖ Segundo mensageiro é ativado • Respostas mediadas pelos recetores até um ❖ cAMP, cGMP, Ca++, inositol fosfatos, etc. ❖ Inicia uma série de reações químicas planalto ❖ Normal função celular é fisicamente inibida 17 Farmacodinâmica Potência Quantidade do fármaco necessária para produzir 50% da resposta máxima que o fármaco é capaz de induzir Usado para comparar compostos dentro das mesmas classes de fármacos Eficácia Grau de capacidade do fármaco produzir a resposta desejada Na prática clínica, a eficácia é mais importante que a potência. 18 Relação dose-resposta As respostas induzidas pelos fármacos não são fenómenos “ tudo ou nada” Aumento da dose pode: Aumentar a resposta terapêutica Aumentar o risco de toxicidade 19 Prática clinica O que devemos considerar quando prescrevemos a um lactente ou uma criança doente??? 20 • Prática Clinica Selecionar o fármaco adequado à indicação clínica- primeiro temos de peceber o diagnóstico principal, e depois o que prescrever • • Selecionar a dose adequada - em quadros como meningite necessitamos de doses maiores Considerar os processos fisiopatológicos nos doentes, tal como insuficiência hepática ou renal • Considerar alterações de desenvolvimento e maturação dos órgãos / sistemas e o subsequente efeito na PK e PD- um recém-nascido tem uma dose diferente de um adolescente de 16 anos. 21 • Prática Clinica Selecionar formulações e vias de administração apropriadas - não damos nada por via oral a uma criança a vomitar, p.ex. • Determinar antecipadamente a duração da terapêutica - importante a prescrever para o domicílio • Monitorizar eficácia e toxicidade • Farmacogenética Terá um papel importante no futuro Farmacogenética: Doentes com fibrose cística fazem frequentemente gentamicina. Se pesquisarmos um gene associado à Ototoxicidade, podemos saber se o doente tem maior risco para a desenvolver com a gentamicina. nefrotoxicidade Ou seja, é a capacidade de pesquisando uma determinada alteração genética adequarmos a terapêutica. 22 Outros fatores Prática Clinica Interação Fármaco−fármaco • Alteração da absorção • Inibição do metabolismo • Facilitação do metabolismo • Competição para ligação a proteínas • Alteração da excreção Interação Fármaco-Alimentos 23 A farmacocinética e a farmacodinâmica também sofrem um impacto com a doença. Absorção Efeito da doença Fármacos administrados via PO/NG podem ter absorção alterada devido a: • Alterações do pH • Edema da mucosa GI - atrasa a absorção • Esvaziamento gástrico atrasado ou acelerado • Alterações no fluxo de sangue • Presença de ileus- impede a progressão do fármaco ao longo do TGI • Co−administração com outros fármacos 24 Distribuição pode ser afetada: Efeito da doença Alteração da perfusão de órgão devido a alterações hemodinâmicas - altera a perfusão de um determinado orgão • Pode afetar a entrega ao local de ação, local de metabolismo e local de eliminação • Inflamação e alterações na permeabilidade capilar pode aumentar a entrega do fármaco a um local Hipoxemia afetando a função de órgão • Alteração da função hepática e metabolismo 25 O fármaco ativo é o que está livre, não o ligado às proteínas. Se tivermos uma criança desnutrida, ou na fase de doença, em que os níveis séricos de albumina e outras proteínas são baixos - temos mais fármaco livre (liga-se menos às proteínas). Alterações na síntese proteica • Se os níveis séricos da albumina e outras Efeitos da doença proteínas são baixos, existe alteração do Vd da fração livre dos fármacos que tipicamente têm uma forte ligação às proteínas e consequentemente aumenta a concentração livre do fármaco Défice de substratos • Esgotamento das reservas • Stress Metabólico 26 A farmacodinâmica é muito pouco estudada na pediatria, uma vez que não existe forma de serem feitos estudos clínicos. Efeitos da doença Na farmacodinâmica: • Up regulation dos recetores • Down regulation dos recetores • Diminuição do número de recetores do fármaco • Alteração da produção endógena de uma substância pode afetar os recetores • Alterada resposta devido a: Estado Ácido−base Desequilíbrios Eletrolíticos Alteração do volume intravascular Tolerância 27 Caso prático JB de 5 anos internado por GEA e está com febre, pesa 14kg. Que antipirético? −Paracetamol 15mg/kg/dose po −Ibuprofeno 5 mg/kg/dose po - não existe Ibuprofeno IV E ev? Paracetamol 10mg/kg/dose Caso prático • Rui, lactente de 4 semanas que pesa 9kg e necessita de Trimetoprim profilático para prevenção de infeções urinárias • Quanto lhe dariam? • Neste exemplo, usamos a dose de 2mg/kg, max 100mg à noite 9kg x 2mg/kg = 18mg à noite (via oral) 3 principais agentes de otites médias nas crianças: Steptococcus Pneumoniae Haemophiluz Influenzae Moraxella Cattarralhis • João, 4 anos de idade e pesa 18kg Tem uma otite média aguda (medicado há 3 semanas com amoxicilina) Caso prático • Qual a dose de amoxicilina+àc.clavulânico oral (14:1)- 14 moléculas de Amoxicilina para 1 de ácido clavulânico • 90mg/kg/dia 8/8h calcula-se só para a amoxicilina • 90mg x 18kg= 16200 mg/dia • 1620/3=540 mg/toma • Amoxicilina/àc clavulânico 600 mg/42,9 mg/5 ml • 4,5 ml só existem na pediatria Existem 3 formulações em pediatria de Amoxicilina + Ácido Clavulânico: 14:1 - Apenas Otites (muito pouco ácido clavulânico) 7:1 - Otites, Infeções urinárias 4:1 - Infeções da pele e dentes Aos 7 anos a principal causa de pneumonia é Streptococcus Pneumoniae. Outra causa em que temos de pensar a partir dos 5 anos são os agentes atípicos: Mycoplasma Pneumonieae nomedamente. Caso prático BJ tem 7 anos, 25kg, tem pneumonia bacteriana e está com vómitos Qual a via de administração ? - Intra-venosa Qual a dose em mg? Ampicilina 200mg/kg/dia 6/6h 25 x 200 = 1250mg/dose na pediatria, usam-se doses muito grandes Caso prático Julia, 3 anos, 14kg, foi internada por celulite orbitária. Ela tem epilepsia e está medicada com valproato de sódio 4ml 2x/dia. Desconhece alergias. /dia 1. Fazer a prescrição do domicilio (valproato de sódio xarope 200mg/5ml) e confirmar dose por Kg/dia ❖ ~22 mg/kg/dia 2. Prescrever Benzilpenicilina (50000 UI/kg/dia 6/6h) e Flucloxacilina (50mg/kg/dose 8/8h) IV na flucloxacilina, a conta é por dose, logo não é preciso dividir pelo número de tomas ao contrário da penincilina que é por dia Mário, 6 anos, 17kg, com antecedentes de asma vem ao SU por tosse persistente. Na AP: SR diminuídos, sibilos dispersos, aumento do TE Diagnóstico provável? Caso prático O que fazer? Salbutamol em aerossol – 0,03ml/kg/dose Brometo de ipatrópio – 500mcg/dose (ação curta - o Tiotrópio é de ação longa) Prednisolona – 1mg/kg/dose - neste caso, como ele está mal, damos por via oral ➢Nebulização com 0,5ml de salbutamol + 500mcg de BI + 3ml de SF ➢1 cp de 20mg só há comp de 20mg —> administra-se 20mg Para o domicilio? - Para o domicílio vamos prescrever "pufs". No SU damos em nebulização para também podermos dar O2. vantagem nebulização —> com a nebulização, também se faz oxigenoterapia. Caso prático Joana, 2 anos, na sala de emergência com crise tónico clónica generalizada. Sem antecedentes relevantes. A mãe diz que tem estado com obstrução nasal e tosse. Pesa 10 kg. Que fazer? Diazepam retal? ❖1-3 anos 5 mg Diazepam ev? ❖ 0,2mg/kg Fenitoína – 20mg/kg/dose diluir em SF e administrar em 20 min (250mg/5ml). Ritmo? sempre em mL/h ❖ 12ml/h Caso prático João, 6meses com ITU por E.coli sensivel a amoxicilina ác. Clavulânico (peso de 7.7kg) ❖ 2ml de 8/8h 250 mg/5 ml Sandra, 8 anos de idade , com ITU por E.coli sensivel a amoxicilina ác. Clavulanico (peso de 26kg) ❖ 7 ml de 12/12h (400 mg/ 5 ml) Calcular a dose e formulação para cada um > 3meses Amoxicilina / ac clavulanico ? 20-40 mg/kg/dia de amoxicilina, 8-8h - formulação 4:1 (125 mg, 250 mg ou 500mg/5 ml) - adequamos consoante o peso da criança ? 25-45 mg/kg/dia de amoxicilina, 12-12h - formulação 7:1 (400 mg/ 5 ml) Dose máxima diária de amoxicilina: 2 gr Ruben, de 4 anos, peso 13kg, com vómitos alimentares e diarreia. Dor abdominal e febre com 2 dias de evolução. EO: Aspeto febril mas hidratada Diagnóstico provável? Caso prático ❖GEA virica- é a mais comum O que fazer?- pró-biótico e hidratação ❖ Hidratação oral fracionada e dieta ❖ 10ml/kg/dejeção ou 2 ml/kg/vómito A gastroenterite bacteriana tem um curso mais prolongado e dá mais diarreia sanguinolenta. Mesmo as bacterianas são auto-limitadas. Por isso só fazemos antibiótico se: - Imunodeprimidos - Crianças abaixo de 3 meses Se as crianças têm sintomas muito prolongados (mais de 1 semana com diarreias sanguinolentas e febre) também podemos ponderar tratar com antibiótico. Criança de 6 anos, 22kg, vem ao SU por febre, tosse e odinofagia. Ao exame objetivo: exsudado purulento amigdalino à direita. Diagnóstico? amigdalite Critérios de Centor: Caso prático TDAR NEGATIVO Que prescrição? E se TDAR POSITIVO? Amoxicilina 50mg/kg/dia 12/12h Penicilina 50 000UI/Kg Quantos mais estiverem presentes, maior a probabilidade de ser bacteriana Em caso de TDAR de Streptococcus dar negativo, prescrevemos AINES (como Ibuprofeno). Se fosse positivo, daríamos amoxicilina ou Penicilina G (não há resistências à penicilina no Streptococcus Pyogenes) dose baixa de amoxicilina a partir da 3 bronquioliote —> sibilância recorrente Parece ser uma agudicação de uma sibilância recorrente. Pode ser associado a uma bronquilite - a principal causa é o vírus sincicial respiratório. Nas bronquiolites não é necessário antibiótico - só damos se suspeitarmos de sobreinfeção (de se tornar numa pneumonia). Caso prático Sofia, 15 meses, pesa 8kg, 2 internamentos por bronquiolite e vem ao SU por tosse e pieira audível. EO: Bom estado geral, tiragem intercostal e subcostal , AP: sibilos e crepitações. Faz medicação no SU com melhoria e vai ter alta. Que prescrevem para o domicilio? Salbutamol em camara expansora ❖2puffs de 8/8h (min) Betametasona oral – 0,2mg/kg 0,5mg=30 gotas ❖96gotas Nas primeiras crises podemos só fazer aspiração nasal e medidas gerais e a bronquiolite passa. Nos meninos com crises repetidas podemos fazer prova terapêutica com salbutamol e prescrever para casa. Caso prático Lactente de 30 dias, pesa 3.5kg, antecedentes de prematuridade e que necessita de iniciar profilaxia de ferro. Como vamos prescrever? 2mg Fe++/kg ❖ 7mg Em gotas? 1 gota = 2mg ❖ 4 gotas Principais causas de sépsis neonatal precoce - Streptococcus do grupo B, Gram negativos e Listeria. Usamos a Ampicilina (por causa da Listeria) + Gentamicina. Na sépsis neonatal tardia temos de usar: -Cefalosporina de 3ª geração (para cobrir Gram negativos) - Cefotaxima. Não usamos Ceftriaxone devido ao risco aumentado de Kernicterus - o Ceftriaxone liga-se muito às proteínas, o que mobiliza as Bilirrubinas. - Vancomicina Nos recém-nascidos temos sempre de ver o intervalo e a dose consoante a idade gestacional. Caso prático Diogo, RN de termo, agora com 6 dias, vem ao SU por febre. Ao ex objetivo está irritado. Sem outras alterações. Fica internado por sépsis neonatal tardia. Inicia cefotaxime 50 mg/kg/dose e vancomicina 15mg/kg/dose Cefotaxime: IG 37 44s; Idade <7dias: intervalo 12h Vancomicina: IG 37 44s; Idade <7dias: intervalo 12h E monitorização? - Na Vancomicina temos de monitorizar Leonor, recém nascido de 1.8kg. Internada na UCIN e precisa de Atropina [Dose = 20mcg / kg] Preparação = 600mcg / 1 ml Adicionar 1 ml atropina a 9 ml NaCl 0.9% ❖= 600mcg / 10 ml [ou 60mcg / ml] Dose = 0.6 ml Caso prático Agora a Leonor precisa de Fentanil [Dose = 2mcg / kg] Preparação = 50mcg / 1 ml Adicionar 1 ml fentanil a 4 ml de NaCl 0.9% ❖ = 50mcg / 5 ml ❖ Dose = 0.36 ml Caso prático A dose de carga de cafeina ev é 10mg / kg. O RN pesa 1.5kg. Quanto vamos dar de cafeina? ❖ 15 mg Preparação de cafeina é de 5mg / 1ml. Quanto volume vamos dar ? ❖ 3ml A forma mais segura de administrar este fármaco é diluir num volume igual de NaCl 0.9% e administrar em 30 minutos. Qual é a concentração final da solução que estão a dar ? ❖ 5mg/2ml Qual é a quantidade desta solução que vão dar? ❖ 6ml Qual é o ritmo em ml/h? ❖ 12ml/h Idade Peso NÃO ESQUECER Mostrar os cálculos Usar guidelines para doses Prescrever em mg e não em ml Se têm duvidas, perguntar SEMPRE a um colega/farmacêutico Obrigado! Ana Reis e Melo Caso prático JB de 5 anos internado por GEA e está com febre, pesa 14kg. Que antipirético? -Paracetamol 15mg/kg/dose po -Ibuprofeno 5 mg/kg/dose po E ev? Paracetamol 10mg/kg/dose Medidas gerais Terapêutica: Tratamento da febre - antipiréticos não são necessários se a criança estiver confortável - temperaturas axilares, orais ou timpânicas superiores a 38,5ºC ou retais superiores a 39,0ºC causam desconforto Paracetamol (fármaco de 1ª linha): i. Oral: 10-15 mg/Kg/dose (dose diária máxima: 90 mg/Kg/ dia); ii. Retal: 15-20 mg/Kg/dose (dose diária máxima: 100 mg/Kg/ dia); iii. Intervalo mínimo entre duas administrações consecutivas: 4 horas Ibuprofeno, apenas se existir contraindicação ao paracetamol: i. Oral: 5 mg - 10 mg/Kg/dose (dose máxima diária: 40 mg/kg/dia); ii. Intervalo mínimo entre duas administrações consecutivas: 6 horas Anti-inflamatórios não seletivos > 50 medicamentos no mercado, dos mais utilizados Todos semelhantes ao AAS e têm 3 efeitos terapêuticos: •Anti-inflamatório •Analgésico •Anti-pirético Todos partilham alguns efeitos secundários: •Irritação gástrica •Alterações fluxo sanguíneo renal •Inibe a função plaquetária •Aumento de eventos trombóticos ? AntiEfeito anti-pirético Temperatura corporal normal é regulada no inflamatórios hipotálamo – equilíbrio produção e perda de calor não seletivosFebre – distúrbio no “termostato” que provoca um aumento da temperatura corporal “reset” do termostato através da inibição da produção de PGI no hipotálamo Contra-indicado em pediatria Ácido acetilsalicico (AAS) Síndrome de Reye doença rara que afeta crianças, caracterizada por encefalopatia hepática Associada a uso de AAS numa infeção virica Sintomas: encefalopatia metabólica progressiva com edema cerebral e HIC e insuficiência hepática Tratamento: suporte Redução da incidência da doença – relacionada com a restrição do uso de AAS em idade pediátrica Excelente anti-pirético e analgésio, mas baixa atividade anti-inflamatória Não partilha os efeitos secundários dos AINEs (gástrico e plaquetário) Paracetamol Via oral - é bem absorvido, pico concentração plasmática em 30-60minutos, tempo de semi-vida 24horas, inativado pelo fígado Efeitos secundários: poucos e pouco comuns – reações alérgicas cutâneas Doses tóxicas: hepatoxicidade fatal (>15 mg/kg per dose) Igualmente eficazes Paracetamol vs Ibuprofeno Crianças com Temperatura febril mais elevada e com idade >6 anos demonstram diminuição da resposta a terapêutica antipirética Poucos estudos que comparam os dois em termos de conforto Fever and Antipyretic Use in Children. Janice E. Sullivan, Henry C. Farrar, the Section on Clinical Pharmacology and Therapeutics, Committee on Drugs Pediatrics March 2011, VOLUME 127 / ISSUE 3From the American Academy of Pediatrics 5 estudos que comparam terapêutica combinada com terapêutica individual Paracetamol e Ibuprofeno Inicialmente, mesma resposta, mas posteriormente, objetivada consistentemente menor temperatura no grupo que usou terapêutica combinada Segurança? Diminuição do desconforto? Amostra pequena Dados insuficientes na literatura sobre o uso ou a evicção da terapêutica combinada