Universidade Federal Fluminense Instituto de Química Departamento de Química Analítica Análise Instrumental I Experimental Titulação potenciométrica de iodeto e cloreto por nitrato de prata Letycia Vilanova Flor de Oliveira Professor: Fábio Grandis Lepri Turma: AC Niterói 2024 Introdução A titulação potenciométrica combina a técnica clássica de titulação volumétrica com a potenciometria, sendo utilizada para determinar o ponto final de uma titulação por meio de leituras graduais do potencial de uma amostra após a adição de volumes específicos do titulante. A grande variação súbita no valor do potencial indica intuitivamente a ocorrência do ponto de viragem, que é definido com precisão utilizando os gráficos de primeira e segunda derivada do gráfico "potencial versus volume de titulante". O volume final é identificado por um grande pico no gráfico da primeira derivada e, no mesmo volume, um ponto de inflexão evidente nas curvas da segunda derivada[1], que pode ser calculado com a equação: π2 π ) ππ2 1 ππ = π0 + ππ π2 π π2 π ( ) − ( ) [ ππ2 1 ππ2 2 ] ( A potenciometria é um método de determinação quantitativa que se baseia na medição da diferença de potencial estabelecida em células eletrolíticas, onde não ocorre geração significativa de corrente devido à alta resistência. A diferença de potencial é determinada pela relação entre os potenciais dos eletrodos indicador e de referência. O eletrodo de referência possui um potencial conhecido e constante, enquanto o eletrodo indicador apresenta um potencial que responde à atividade do analito em solução. Os eletrodos indicadores devem responder idealmente às variações de concentração do analito e ser seletivos em relação ao analito em solução[1]. O tipo mais comum de eletrodo indicador utilizado nas análises potenciométricas é o de membrana, que funciona com base no mecanismo de potencial de interface, descrevendo o potencial do eletrodo indicador como dependente da diferença de concentração iônica entre soluções separadas por uma fina membrana de vidro.[2] O potencial do eletrodo indicador que monitora a titulação de precipitação de um ânion com o cátion varia conforme a equação de Nernst: ππππ = π° + 0,0592 πππ[ππ+ ] π 1 Objetivo Determinação da concentração de cloreto e iodeto em uma amostra por meio da titulação potenciométrica com nitrato de prata. Materiais e Reagentes Agitador magnético Água destilada Béquer 250 mL Bureta Eletrodo combinado de vidro Garra Pipeta volumétrica 10,0 mL Potenciômetro Suporte universal Amostra: solução contendo cloreto e iodeto Solução de AgNO3 0,1 mol l-1 padronizado (f.c. 1,012) Solução de HNO3 1,0 mol L-1 Procedimento Experimental[3] Inicialmente a bureta foi preenchida com uma solução de nitrato de prata. Depois, em um béquer de 250,0 mL foram adicionados 10,00 mL da amostra contendo o cloreto e iodeto e 1,0 mL de HNO3 1,0 mol L-1, em seguida sendo completado até a marca de 100,0 mL com água destilada. Posicionou-se o eletrodo combinado de vidro no béquer, que então foi colocado para estar em constante agitação com o agitador magnético. O Eind foi medido ainda sem o titulante, e depois várias medições foram feitas a cada 0,50 mL do mesmo. Resultados e Discussões Os valores das medições realizadas foram dispostos na tabela 1 e com eles foi possível calcular as derivadas desse experimento com as equações: ππ ππ π −π ππ 1ª D = ππ = ππ = π2 −π1 2 ππ 2ª D = ππ = ππ = 1 ππ2 −ππ1 π2 −π1 Tabela 1: Valores de potencial e 1ª e 2ª derivadas. Vol. AgNO3 Eind (mV) Vol. Médio 1 ΔE/ΔV Vol. Médio 2 Δ2E/ΔV2 0,00 -157,6 0,00 0 0,00 0 0,50 -154,6 0,25 12 0,375 0 1,00 -151,1 0,75 7 0,875 -10 1,50 -146,9 1,25 8,4 1,375 2,8 2,00 -142,9 1,75 8 1,875 -0,8 2,50 -137,6 2,25 10,6 2,375 5,2 2 3,00 -131,9 2,75 11,4 2,875 1,6 3,50 -124,7 3,25 14,4 3,375 6 4,00 -113,6 3,75 22,2 3,875 15,6 4,50 -94,9 4,25 37,4 4,375 30,4 5,00 -31,5 4,75 126,8 4,875 178,8 5,50 122,4 5,25 307,8 5,375 362 6,00 159,9 5,75 75 5,875 -465,6 6,50 168,2 6,25 16,6 6,375 -116,8 7,00 190,2 6,75 44 6,875 54,8 7,50 198,9 7,25 17,4 7,375 -53,2 8,00 205 7,75 12,2 7,875 -10,4 8,50 212,2 8,25 14,4 8,375 4,4 9,00 221,8 8,75 19,2 8,875 9,6 9,50 236,1 9,25 28,6 9,375 18,8 10,00 263 9,75 53,8 9,875 50,4 10,50 420 10,25 314 10,375 520,4 11,00 449,4 10,75 58,8 10,875 -510,4 11,50 460,9 11,25 23 11,375 -71,6 12,00 471 11,75 20,2 11,875 -5,6 12,50 476,9 12,25 11,8 12,375 -16,8 13,00 481,8 12,75 9,8 12,875 -4 13,50 486,1 13,25 8,6 13,375 -2,4 14,00 490,1 13,75 8 13,875 -1,2 Os valores de potencial obtidos para a titulação foram apresentados nos gráficos 1, 2 e 3, que serviram como base para determinar o ponto final da titulação da amostra. A partir dos gráficos, observando-se os dois picos nos valores máximos na curva da primeira derivada, assim como os dois pontos de inflexão na curva da segunda derivada, determinou-se que o primeiro ponto final da titulação ocorre no volume de 5,50 mL de AgNO3, e o segundo ponto final ocorre no volume de 10,50 mL. 3 Gráfico 1: Curva sigmoidal de Eind (mV) x volume de titulante. Gráfico 2: Primeira derivada x volume de titulante. Gráfico 3: Segunda derivada x volume de titulante. 4 A reação que descreve a titulação da amostra contendo íons cloreto e iodeto, juntamente com os respectivos valores de Kps para os produtos formados conforme indicado pela literatura, é apresentada a seguir: Ag+(aq) + I-(aq) βAgI(s) Kps = 8,52x10-17 Ag+(aq) + Cl-(aq) βAgCl(s) Kps = 1,77x10-10 Observando as reações acima podemos afirmar que as estequiometrias das reações são 1:1, além disso, o iodeto irá precipitar completamente antes do cloreto começar a sua precipitação. Com isso, podemos calcular a concentração do íon iodeto da seguinte forma: nº mols de I- = nº mols de Ag+ Ciodeto x Viodeto = Cprata x f.c.prata x VPrata ππππππ π π.π.πππππ π ππππππ Ciodeto = Ciodeto = πππππππ 0,1 π 1,012 π 5,50 10 = 0,05566 mol L-1 A estequiometria para o cloreto também é 1:1 então calcula-se como acima, lembrando que o volume utilizado será a diferença entre os dois pontos de equivalência, logo 10,50 - 5,50 = 5,00 mL. nº mols de Cl- = nº mols de Ag+ Ccloreto x Vcloreto = Cprata x f.c.prata x VPrata ππππππ π π.π.πππππ π ππππππ Ccloreto = Ccloreto = ππππππππ 0,1 π 1,012 π 10,50 10 = 0,0506 mol L-1 Para calcular os produtos de solubilidade temos que achar a constante E0, e para achar o E0 precisamos descobrir a concentração de Ag+ em excesso. Esse cálculo tem com base o seguinte pensamento: [Ag+]total = [Ag+]exc + [Ag+]sol [Ag+]exc >>> [Ag+]sol [Ag+]exc ≈ [Ag+]sol Logo, [Ag+]exc = [Ag+]exc = πº πππ ππππ3 πππ ππππππ (πππππ π π.π.π πππππ3 ) − ((πππ− + ππ− ) π πππ− +π− ) [Ag+]exc = 3 πππ− +π− + πππππ3 (0,1 π 1,012 π 0,0140) − ((0,0506 + 0,05566) π 0,01) 0,1 + 0,0140 5 [Ag+]exc = 3,107 x 10-3 mol L-1 Com esse dado consigo calcular o E0 da seguinte forma: Eind = E0 + 0,4494 = E0 0,0592 π 0,0592 1 πππ[ππ+ ] πππ(3,107 π10−3 ) E0 ≈ 0,5978 V Pro cálculo do Kps, é necessário avaliar a concentração antes do ponto de equivalência e multiplicar pela concentração da prata nesse exato ponto, logo temos: Eind = E0 + 0,0592 π 0,1224 = 0,5978 + πππ[ππ+ ] 0,0592 1 πππ[ππ+ ] Ag+ = 9,322 x 10-9 mol L-1 Então, para relacionar com a concentração de iodeto temos que calcular da seguinte forma: (ππ− π ππ− ) − (πππππ3 π π.π.π πππππ3 ) CI- = [I-] = [I-] = ππ− + πππππ3 (0,05566 π 0,01) − (0,1 π 1,012 π 0,005) 0,1 + 0,0055 - [I ] = 4,79 x 10-4 mol L-1 Com esse dado conseguimos calcular o Kps (AgI) e o erro relativo: Kps = (9,322 x 10-9 mol L-1)(4,79 x 10-4 mol L-1) Kps = 4,466 x 10-12 pKps = -log 1,40 x 10-11 = 11,35 pKps (teórico) = 1,77 x 10-10 = 9,75 Erro = (11,35 − 9,75) 9,75 π 100 = 16,41 % Conclusão O experimento realizado foi efetivo para compreender as diferenças entre solubilidade e reação química entre mais de duas espécies em solução. Podendo, assim, calcular com base na literatura as concentrações desejadas com sucesso. Bibliografia 6 [1] SKOOG, D. A.; HOLLER, F. J; CROUCH, S. R. Principles of Instrumental Analysis. 7ª ed. Editora Cengage. EUA, 2016. [2] SAWYER, D. T.; HEINEMAN, W. R.; BEEBE, J. M. Chemistry Experiments for Instrumental Methods. New York, Wiley, 1984 [3] KUCHLER, I; RODRIGUES, S; MOREIRA, S; LEPRI, F.G. Apostila de Análise Instrumental I Experimental. Apostila do curso de Química da Universidade Federal Fluminense. 2023 7