Autores Prof. Dr. Marcelo Conrado Camila Zanini Mestre e Doutor pela UNESP Nutricionista 3 E-book Montagem de Dieta para o Emagrecimento: O passo a passo 2023 Camila Zanini Marcelo Conrado 2 Sumário 1 - Os 9 passos para montar a dieta de emagrecimento ............................. 5 2 – Fisiologia do emagrecimento ................................................................ 6 3 – Redução do gasto energético no emagrecimento ................................ 9 4 – Aumento da fome no emagrecimento ................................................ 13 5 – Quanto tempo devemos manter o emagrecimento? .......................... 17 6 – Calculando o gasto energético do paciente de emagrecimento ......... 18 7 – Calculando o gasto energético em repouso ........................................ 20 8 – Selecionando o fator atividade ........................................................... 22 9 – Selecionando o déficit calórico ........................................................... 25 10 – Selecionando o valor calórico da dieta (VET) .................................... 28 11 – Calculando a proteína na dieta de emagrecimento .......................... 30 12 – Fazendo a progressão de proteínas no emagrecimento .................. 32 13 – Low carb vs Low fat no emagrecimento ........................................... 36 14 – Calculando a gordura na dieta de emagrecimento ........................... 39 15 – Qual o tipo de gordura na dieta de emagrecimento? ....................... 42 16 – Calculando o carboidrato na dieta de emagrecimento ..................... 43 17 – Dividindo os macronutrientes nas refeições ..................................... 48 18 – Montando o cardápio de emagrecimento ........................................ 51 19 – Flexibilidade metabólica no emagrecimento .................................... 60 20 – Jantar mais cedo e crononutrição ..................................................... 64 21 – Jejum intermitente no emagrecimento ............................................ 65 22 – Referências bibliográficas ................................................................. 68 4 1 - Os 9 passos para montar uma dieta de emagrecimento Para calcular uma dieta de emagrecimento é preciso seguir algumas etapas. Neste e-book vamos estudar os 9 passos para calcular e montar uma dieta de emagrecimento para pacientes com sobrepeso e obesidade, mostrando um exemplo prático. O objetivo deste ebook é fornecer o conhecimento necessário para você elaborar uma dieta eficaz para a perda de gordura, escolhendo de maneira correta a equação, o déficit calórico, a quantidade de proteínas, gorduras e carboidratos. Quais são as etapas para montar uma dieta de emagrecimento? 1. Estimar o gasto energético em repouso; 2. Selecionar o fator atividade; 3. Calcular o gasto energético total; 4. Selecionar o tamanho do déficit calórico para determinar o valor energético total da dieta (VET); 5 5. Calcular a ingestão calórica proveniente das proteínas; 6. Calcular a ingestão calórica proveniente das gorduras; 7. Preencher o restante do VET com carboidratos; 8. Realizar a distribuição dos macronutrientes nas refeições; 9. Montar o cardápio de emagrecimento. Quando o paciente tem sobrepeso e obesidade a estratégia é diferente em comparação ao indivíduo treinado que busca uma definição muscular. No e-book vamos focar na montagem da dieta de emagrecimento para pessoas com sobrepeso e obesidade. Neste tipo de paciente o foco é gerar uma mudança comportamental, ou seja, o paciente precisa seguir a dieta ao longo do tempo. O foco da estratégia é a mudança hábitos e a melhora na qualidade da dieta através do consumo de compostos bioativos (frutas e vegetais), fibras e gorduras insaturadas. 2 - Fisiologia do emagrecimento Durante o processo de emagrecimento existem várias alterações fisiológicas para dificultar a continuidade da perda de gordura. A fome aumenta e o gasto calórico diminui, ou seja, o déficit calórico vai ficando cada vez mais difícil de manter. A cada 1 kg de 6 peso perdido pode aumentar em torno de 100 kcal na ingestão calórica e reduzir de 20 a 30 kcal o gasto energético. Uma pessoa que perde 10 kg pode ter um aumento de 1000 kcal na ingestão calórica e uma redução de 200 a 300 kcal no gasto energético. Claro, o aumento da ingestão calórica pode variar muito de pessoa para pessoa, pois existem indivíduos que são mais disciplinados e conseguem suportar com maior facilidade o aumento da fome, porém, existem muitas pessoas que durante o emagrecimento a ingestão calórica se eleva bastante devido ao aumento da fome e vontade de comer alimentos palatáveis (doces, fast-food etc). Isso mostra que ao longo do tempo, a adesão à dieta vai reduzindo, o indivíduo tende a consumir mais calorias e isso pode gerar o platô no emagrecimento ou até mesmo reganho de peso. Percebam que o aumento da ingestão calórica tem mais impacto para fazer uma pessoa parar de emagrecer (platô) ou ter o reganho de peso. Muitas pessoas acham que o platô acontece porque o metabolismo ficou lento, mas já existem evidências científicas mostrando que a queda de gasto calórico é baixa com o emagrecimento, sendo o aumento da ingestão calórica a principal causa de platô no emagrecimento. Observe a figura 1, veja que a perda de peso não é linear, mas sim em curva. Nas primeiras semanas acontece uma maior perda de 7 peso, seguido por uma lenta perda de peso e por fim acontece platô ou reganho de peso. Observe que nas primeiras semanas é mais fácil manter o déficit calórico, pois após uma certa perda de peso a fome aumenta e o gasto energético diminui, isso dificulta a manutenção do déficit calórico. O profissional deve entender isso para elaborar estratégias que podem estimular gasto calórico (exercício físico) e inibir a fome (proteínas, fibras e alimentos de baixa densidade calórica). Figura 1 – Comportamento da perda de peso ao longo do tempo 8 3 - Redução do gasto energético no emagrecimento Diversos estudos mostraram uma redução na concentração sanguínea de leptina e hormônio da tireoide (T3) após a perda de peso. Lembrando que tanto leptina quanto T3 são hormônios que podem aumentar o gasto energético em repouso. Então, a queda de T3 e leptina no sangue com o emagrecimento gera uma redução no gasto energético em repouso, processo denominado de termogênese adaptativa (MÜLLER et al. 2013). O gasto energético total (GET) de uma pessoa durante o dia pode ser dividido em quatro componentes, tais como: 1) taxa metabólica basal (70% do GET); 2) efeito térmico dos alimentos (10% do GET); 3) gasto energético em atividades diárias (15% do GET); e 4) gasto energético em exercício físico (5% do GET). A taxa metabólica basal pode sofrer influência pela idade, sexo, peso corporal, bem como quantidade de massa magra. Entretanto, alguns hormônios como os da tireoide (T3) e a leptina também podem aumentar o gasto energético em repouso (KIM et al. 2008). Isso significa que uma queda na produção de T3 e leptina promove uma redução no gasto energético em repouso. O termo “termogênese adaptativa” significa uma adaptação do gasto calórico com o processo de emagrecimento, no qual é a 9 redução do gasto energético em repouso independente da perda de peso. Importante mencionar que ao reduzir o peso corporal já existe uma queda do gasto energético em repouso, pois com menor massa gorda ou massa muscular o gasto em repouso diminui. Lembrando que a queda do gasto energético em repouso é proporcional à quantidade de peso perdido, ou seja, se uma pessoa perde 15 kg o gasto irá caircalórico de maneira em repouso superior em comparação a uma pessoa que perde 5 kg. A tabela abaixo mostra uma relação entre perda de peso e queda do gasto energético. Observe que a redução do metabolismo é proporcional a perda de peso. Tabela 1 – Queda do gasto energético com a perda de peso Perda de peso Redução do gasto energético - 1 kg - 20 a 30 kcal - 5 kg - 100 a 150 kcal - 10 kg - 200 a 300 kcal O exercício físico gera um gasto energético em torno de 300 a 600 kcal/dia (~ 1 hora de exercício), no entanto, os estudos vêm demonstrando que esse gasto energético pelo treino e a perda de peso pode gerar uma compensação energética (FLACK et al. 2020). 10 Basicamente a compensação energética é uma redução do gasto calórico de atividades do dia a dia. Vamos entender em mais detalhes esse processo. Além do gasto energético gerado pelo treino, existe também o gasto energético em atividades diárias, processo denominado de termogênese da atividade que não é exercício (NEAT). O gasto energético em atividades diárias tem uma contribuição em torno de 15% do gasto energético diário total, sendo que pode variar de indivíduo para indivíduo, pois depende do metabolismo e também do nível de atividade física. Existem pessoas que fazem mais movimentos durante o dia, aumentando o gasto calórico em atividades lado, existem diárias. pessoas Por outro que se movimentam pouco, esses indivíduos terão um baixo gasto calórico em atividades diárias. Por exemplo, um carteiro ou um instrutor de academia terá um gasto calórico em atividades diárias maior do que uma pessoa que trabalha 8 horas sentado. O processo de emagrecimento gera redução do gasto energético em atividades diárias, isso acontece pelas adaptações fisiológicas da perda de peso e também depende do cansaço físico e da presença de dor muscular ou articular. Muitas pessoas que buscam emagrecimento exageram no treinamento, pois querem resultados rápidos. O excesso de treino pode gerar cansaço físico ou 11 dor muscular e articular. Uma pessoa mais cansada e com dor diminui os movimentos diários, pois essa condição acaba favorecendo o indivíduo a ficar mais tempo sentado ou deitado. treinamento Exagerar gera no compensação energética, aumenta o gasto calórico durante o treino, mas esse gasto calórico é compensado pela redução do gasto energético em atividades diárias nos próximos dias após o treino. Mas se a sobrecarga do treino (volume e intensidade) é feita de maneira progressiva, o indivíduo vai se adaptando e a chance é menor de ter muito cansaço físico ou dor, não havendo uma redução drástica no gasto energético em atividades diárias. O gasto energético em atividades diárias também reduz com a perda de peso, pois existem alterações fisiológicas que colaboram pra isso. Quando o indivíduo emagrece, ele está mais leve e isso gera uma redução no gasto energético em atividades diárias. Em outras palavras, quando a pessoa tem um peso corporal de 100kg, o gasto calórico para os movimentos é maior em comparação a um peso corporal de 85 kg. Além disso, o emagrecimento e a prática regular de treinamento aumentam a eficiência mitocondrial. O indivíduo está mais eficiente para produzir energia. As adaptações mitocondriais fazem o indivíduo se tornar mais econômico, reduzindo o gasto energético em atividades diárias. Uma estratégia muito 12 eficiente é aumentar de maneira progressiva o gasto calórico, melhorando o treino e realizando mais movimentos durante o dia. 4 - Aumento da fome emagrecimento Quando uma pessoa perde gordura corporal ocorre redução na produção de hormônios que geram saciedade, como a leptina, pois com menos tecido adiposo, menor é a secreção de leptina. A leptina é uma proteína produzida pelo tecido adiposo e gera saciedade no hipotálamo. A leptina é produzida proporcionalmente a quantidade de tecido adiposo, ou seja, se um indivíduo tem mais gordura corporal, produz mais leptina, mas se o indivíduo é eutrófico, produz menos leptina (KLOK et al. 2007). Isso significa que o indivíduo com sobrepeso e obesidade tem muita leptina circulante, mas com a perda de gordura corporal acontece uma redução nos níveis de leptina e isso aumenta a sensação de fome. Você deve estar se perguntado o motivo que o obeso come muito, pois a concentração sanguínea de leptina é alta, sendo que essa pessoa deveria ter mais saciedade. Na obesidade ocorre a resistência à leptina e a insulina no hipotálamo. O excesso de tecido adiposo produz proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) que vão até o 13 hipotálamo e inibem a ação da leptina e da insulina em gerar saciedade. Basicamente o obeso tem muita leptina e insulina circulante, porém quando esses hormônios ligam em seus receptores no hipotálamo não conseguem gerar efeitos intracelulares para promover a saciedade (JUNG et al. 2013). Veja uma importância em aumentar a sensibilidade à insulina e da leptina no paciente que busca emagrecimento. A ingestão de compostos bioativos (frutas e vegetais), fibras, gorduras insaturadas e o exercício físiconapromove uma melhora ação da leptina e insulina no hipotálamo, aumentando o estímulo de saciedade destes hormônios. Lembrando que o excesso de ingestão alimentar na obesidade também pode ser explicado por motivos comportamentais, pois normalmente essas pessoas exercem hábitos sedentários e escolhas alimentares de má qualidade e alta densidade calórica (industrializados). Outros hormônios são alterados com o emagrecimento. A perda de peso gera uma redução na produção de Colecistocinina (CCK), Peptídeo YY (PYY) e Peptídeo Semelhante a Glucagon 1 (GLP-1). Esses hormônios são produzidos pelo intestino após a refeição, ou seja, a presença do alimento no intestino estimula a secreção de CCK, PYY e GLP-1, eles vão até o hipotálamo e causam saciedade (SUMITHRAN et al. 2011). A perda de peso promove uma 14 mudança na produção destes hormônios, acontece uma redução de CCK, GLP-1 e PYY, gerando um aumento na sensação de fome. E por fim, existe um hormônio produzido pelo estômago chamado grelina. Esse hormônio é produzido quando acontece o esvaziamento gástrico. Isso significa que estômago vazio estimula a produção de grelina, sendo que esse hormônio vai até o hipotálamo e estimula a fome. No entanto, com a perda de peso acontece um aumento da grelina, gerando um aumento na sensação de fome. Com a ingestão alimentar acontece uma distensão na parede gástrica e isso diminui a produção de grelina. Isso já mostra a importância de estratégias que podem retardar o esvaziamento gástrico para maior inibição de grelina, como ingestão de fibras, proteínas e alimentos de baixa densidade calórica (vegetais e algumas frutas). Ao atrasar o esvaziamento do estômago acontece uma menor produção de grelina, gerando uma queda na sensação de fome. A tabela abaixo mostra as mudanças hormonais que podem aumentar a fome no emagrecimento. 15 Tabela 2 – Mudanças hormonais que aumentam a fome no emagrecimento Antes da perda de peso Após a da perda de peso ↑ Leptina ↓ Leptina ↑ Insulina ↓ Insulina ↑ CCK ↓ CCK ↑ GLP-1 ↓ GLP-1 ↑ PYY ↓ PYY ↓ Grelina ↑ Grelina Perceba que durante o processo de emagrecimento acontece uma redução em hormônios de saciedade (leptina, insulina, CCK, GLP-1 e PYY) e aumento na produção do hormônio da fome (grelina), consequentemente esse ambiente hormonal favorece o aumento da fome e ingestão calórica após a perda de peso. Diante disso, uma estratégia eficiente é fazer uma progressão na dose de proteínas e fibras ao longo do tempo. Iremos detalhar essa estratégia nos próximos tópicos. 16 5 - Quanto tempo devemos manter o emagrecimento? O emagrecimento gera mudanças fisiológicas que fazem a perda de gordura ficar mais difícil de acontecer. Em outras palavras, manter o déficit calórico é um grande desafio. No entanto, essas mudanças fisiológicas podem ser minimizadas se o indivíduo sustenta o emagrecimento. Se a pessoa mantém a perda de peso por 6 a 12 meses, a probabilidade do indivíduo se manter no peso é maior. Lembrando que fazer ciclos de perda e ganho de peso (efeito sanfona) não é interessante para o emagrecimento. Fazer essa explicação para o paciente é fundamental, pois é preciso entender que a melhora na dieta e no treinamento é permanente, sendo necessário uma mudança comportamental para sustentar o déficit calórico. Fazer uma estratégia extremista com restrição calórica severa e excesso de treino pode ser algo difícil de sustentar, havendo maior risco de desistência e reganho de peso. Um estudo mostrou que a perda de peso com estratégia mais agressiva promoveu uma redução no gasto energético em repouso, porém, os indivíduos obtiveram o reganho de peso e o gasto energético em repouso não aumentou com o ganho de peso (FOTHERGILL et al. 2016), mostrando que o ciclo de perda e ganho 17 de peso pode impactar de maneira negativa no metabolismo. Diante disso, a estratégia de emagrecimento não deve ser extremista e devemos focar na manutenção por 6 a 12 meses para evitar ao máximo o reganho de peso do paciente. 6 - Calculando o gasto energético do paciente de emagrecimento O primeiro passo para montar uma dieta de emagrecimento é estimar o gasto calórico total do indivíduo (GET). O GET é a quantidade de energia (kcal) que um indivíduo gasta durante o dia. Basicamente existem quatro componentes do GET, sendo que cada componente tem a sua contribuição energética, conforme detalhado abaixo: 1. Gasto energético em repouso: Contribuição em torno de 70% do GET e representa o gasto energético para a manutenção vital do organismo; 2. Gasto energético em atividades diárias: Contribuição em torno de 15% do GET e representa o gasto energético durante 18 as atividades do dia a dia, o gasto calórico para locomoção, lazer e atividades diárias; 3. Efeito térmico dos alimentos: Contribuição em torno de 10% do GET e representa o gasto energético para realizar a digestão e absorção; 4. Gasto energético em exercício: Contribuição em torno de 5% do GET e representa o gasto energético durante o treino. A fórmula para estimar o gasto energético total do indivíduo utiliza o gasto energético em repouso e o fator atividade, conforme demonstrado abaixo: GET = Gasto energético em repouso x fator atividade O gasto energético em repouso conseguimos definir através de equações, sendo que nos próximos tópicos vamos descobrir qual a melhor equação usar para pacientes que buscam emagrecimento. O fator atividade considera o gasto calórico do exercício físico, o gasto calórico das atividades diárias e o efeito térmico dos alimentos. 19 Também iremos detalhar nos próximos tópicos como fazer uma boa escolha do fator atividade. 7 - Calculando o gasto energético em repouso Existem algumas equações que podem estimar o gasto energético em repouso, porém é importante saber escolher a melhor equação para indivíduo. Para cada pacientes que possuem sobrepeso ou obesidade e buscam emagrecimento, os estudos mostraram que a melhor equação para estimar o gasto energético em repouso é a de Mifflin-St Joer (FRANKENFIELD et al., 2005; TINSLEY et al, 2019). Abaixo está listado a equação de Mifflin-St Joer e um exemplo prático de como realizar os cálculos. Equação de Mifflin-St Joer • Homens: Gasto energético em repouso (kcal) = (10 x peso) + (6,25 x altura em cm) - (5 x idade em anos) + 5. • Mulheres: Gasto energético em repouso (kcal) = (10 x peso) + (6,25 x altura em cm) - (5 x idade em anos) – 161. 20 Para fazer um exemplo, vamos imaginar um paciente homem com 100 kg, 180 cm e 30 anos. Veja abaixo como fica a equação usando esse exemplo. • Gasto energético em repouso (kcal) = (10 x 100 kg) + (6,25 x 180 cm) - (5 x 30 anos) + 5. • Gasto energético em repouso (kcal) = 1000 + 1125 – 150 + 5 • Gasto energético em repouso (kcal) = 2125 – 150 + 5 • Gasto energético em repouso (kcal) = 1975 + 5 • Gasto energético em repouso (kcal) = 1.980 kcal Portanto, o gasto energético em repouso para esse indivíduo é de 1.980 kcal. Se a paciente é mulher, vamos utilizar a equação específica para o público feminino. Mulher, 70 kg, 160 cm e 30 anos, veja abaixo: • Gasto energético em repouso (kcal) = (10 x 70) + (6,25 x 160 cm) - (5 x 30) – 161. • Gasto energético em repouso (kcal) = 700 + 1000 – 150 - 161 • Gasto energético em repouso (kcal) = 1700 – 150 - 161 • Gasto energético em repouso (kcal) = 1550 - 161 • Gasto energético em repouso (kcal) = 1.389 kcal 21 8 - Selecionando o fator atividade Após o cálculo do gasto energético em repouso é necessário selecionar o fator de atividade do indivíduo, pois o cálculo para estimar o GET é determinado pela multiplicação entre gasto energético em repouso com o fator de atividade. É preciso fazer uma análise do paciente para determinar o fator atividade, como os movimentos diários, a frequência semanal de treinos, a duração e a intensidade dos treinos. Abaixo estão os valores médios do fator atividade para homens e mulheres que você pode utilizar em seus pacientes (WESTERTERP, 2013). Tabela 3 – Relação dos valores de fator atividade Nível de atividade física diária Fator atividade (FA) Muito sedentário 1,3 – 1,4 Sedentário pouco ativo 1,5 Sedentário mais ativo (muito comum) 1,6 Moderadamente ativo 1,7 Muito ativo 1,8 – 1,9 Atleta 2,0 ou mais 22 É importante fazer uma boa anamnese para escolher o fator atividade, buscando entender quanto tempo a pessoa fica ativa ao longo do dia, se faz exercícios e também se tem uma rotina de trabalho que exige bastante ou pouco esforço. buscam Pessoas emagrecimento com sobrepeso e que vão iniciar ou obesidade o treinamento que físico, o fator atividade fica entre de 1,5 a 1,6. Claro, é preciso analisar o dia a dia do paciente. Se o paciente fica muito tempo sentado, faz poucos movimentos e vai iniciar a prática de exercícios físico, o fator atividade fica em 1,5. Se o paciente se movimenta mais e faz mais atividades diárias e ainda vai iniciar o treinamento, o fator atividade pode ser 1,6. Mas, se o indivíduo tem sobrepeso ou obesidade e não vai praticar exercício físico, o fator atividade fica entre 1,3 a 1,5. Se houver uma melhora no treinamento e nos movimentos diários, o fator atividade pode ir aumentando. Por exemplo, inicialmente você escolhe o fator atividade 1,5, mas após meses de dieta e treino a pessoa está fazendo mais exercícios de alta intensidade e melhorou o treino de musculação, o fator atividade pode ser alterado para 1,6 a 1,7. Lembrando que um fator atividade elevado, acima de 1,8 a 2,0 é mais comum em atletas e pessoas que fazem muito exercício físico, sendo poucos pacientes de emagrecimento que vão ter esse fator atividade. 23 Vamos fazer aqui um exemplo usando o gasto energético em repouso no valor de 1.980 kcal com diferentes valores de fator atividade. Paciente não pratica exercício físico Gasto energético em repouso = 1.980 kcal FA = 1,4 GET = 2.772 kcal Paciente vai iniciar o treinamento físico, porém se movimenta pouco no dia a dia Gasto energético em repouso = 1.980 kcal FA = 1,5 GET = 2.970 kcal Paciente vai iniciar o treinamento físico, porém é mais ativo no dia a dia Gasto energético em repouso = 1.980 kcal FA = 1,6 GET = 3.168 kcal 24 Paciente melhorou o treinamento, está fazendo musculação e exercícios aeróbicos e ainda é mais ativo no dia a dia Gasto energético em repouso = 1.980 kcal FA = 1,7 GET = 3.366 kcal Observem que o gasto energético total aumenta de acordo com o fator atividade. Por isso, é muito importante analisar o paciente para escolher corretamente o fator atividade. 9 - Selecionando o déficit calórico O déficit calórico é uma condição essencial para ocorrer à perda de gordura. Isso significa que para reduzir a massa gorda é necessário que o indivíduo sustente um gasto calórico maior do que a ingestão calórica. O tecido adiposo é formado por adipócitos, sendo que essas células armazenam uma gordura chamada de triacilglicerol. Quando uma pessoa sustenta o superávit calórico (ingestão calórica maior que o gasto calórico) o estoque de triacilglicerol aumenta, gerando a hipertrofia dos adipócitos, ou seja, ocorre ganho de gordura corporal. Por outro lado, quando o indivíduo 25 sustenta o déficit calórico ocorre triacilglicerol, causando atrofia redução dos estoques de dos adipócitos, conforme demonstrado na figura 2. Vamos imaginar um indivíduo que tem um gasto calórico diário de 3000 kcal e está ingerindo 2500 kcal, ou seja, esse indivíduo tem um déficit calórico de 500 kcal. Percebam que está faltando 500 kcal para atingir o gasto calórico total, no qual a gordura do tecido adiposo acaba sendo usada para fornecer essa energia que está faltando. Portanto, se o déficit calórico for sustentado por vários dias ocorre a perda de gordura. Figura 2 – Efeito do déficit calórico na atrofia dos adipócitos Legenda: Em condições de déficit calórico, ou seja, gasto calórico diário maior que a ingestão calórica ocorre atrofia dos adipócitos, pois a gordura estocada nessas células é usada para suprir a energia que está faltando. 26 O déficit calórico pode variar de acordo com a quantidade de gordura corporal, ou seja, pessoas com maior quantidade de gordura podem ser usado um déficit calórico maior do que pessoas que possui menos gordura corporal. Podemos usar um déficit calórico de 500 kcal em indivíduos que não são obesos, por outro lado, podemos usar um déficit calórico acima de 500 kcal em pessoas com sobrepeso e obesidade. Talvez você esteja se perguntando o motivo dessa diferença entre pessoas obesas e não obesas, e a resposta está relacionado a preservação da massa muscular. Mais gordura corporal, menor é a chance de reduzir a massa muscular. Por isso, extrapolar no déficit calórico em pessoas que não são obesas pode aumentar a chance de ter redução da massa muscular, já nos indivíduos com sobrepeso e obesidade o déficit calórico mais amplo não teria esse risco elevado de reduzir a massa muscular. Para pessoas com sobrepeso ou obesidade podemos usar um déficit calórico maior (~500 a 1.000 kcal). A chance de perder massa muscular na obesidade é menor, pois neste indivíduo a reserva energética é mais abundante, então, o organismo entende que existe muita gordura para suprir o déficit calórico, não necessitando de tantos aminoácidos. Para pessoas que não são obesas, é interessante usar no máximo 500 kcal de déficit calórico, pois acima desse valor o risco de 27 reduzir massa muscular é maior. Importante mencionar que para evitar uma redução da massa muscular no emagrecimento é essencial selecionar corretamente o déficit calórico, ter uma dieta hiperproteica e praticar musculação. A tabela abaixo resume o tamanho do déficit calórico de acordo com a gordura corporal. Tabela 4 – Déficit calórico de acordo com o tipo de paciente 10 - Selecionando o valor energético da dieta Para determinar valor energético total da dieta (VET) basta subtrair o gasto energético total (GET) com o déficit calórico escolhido, conforme demonstrado abaixo: VET = gasto energético total – déficit calórico 28 Vamos fazer um exemplo. Paciente com sobrepeso, possui um gasto calórico em repouso de 1.980 kcal (equação de Mifflin) e tem um fator atividade de 1,5 (vai começar a praticar exercícios físicos). Vamos utilizar um déficit calórico de 700 kcal, considerando que esse indivíduo tem uma maior quantidade de gordura corporal, então esse déficit calórico selecionado está dentro do recomendável. GET = 1.980 kcal x 1,5 = 2.970 kcal Já temos o GET, agora basta subtrair o GET com o déficit calórico, conforme demonstrado no cálculo abaixo. VET = Gasto energético total – déficit calórico VET = 2.970 kcal – 700 kcal VET = 2.270 kcal Portanto, o indivíduo irá consumir 2.270 kcal 29 11 - Calculando a proteína na dieta de emagrecimento A dose de proteína também deve ser de acordo com a quantidade de gordura corporal. Se a pessoa tem sobrepeso e obesidade, a necessidade de proteína é menor, pois o indivíduo tem mais gordura corporal e isso reduz o uso de aminoácidos para fazer energia em déficit calórico. Isso significa que o risco de perder massa muscular é menor quando a pessoa tem mais gordura corporal. Por isso, a dose de proteínas na dieta de emagrecimento para pessoas com sobrepeso e obesidade gira em torno de 1,4 a 1,6 gramas por kg de peso corporal. Se o indivíduo com sobrepeso ou obesidade consome essa dose de proteínas (1,4 a 1,6g/kg), inicia o treinamento resistido e está em déficit calórico (500 a 1000 kcal), essa pessoa perde gordura e ganha massa muscular ao mesmo tempo, pois a hipertrofia muscular é mais fácil de acontecer no iniciante. Diante disso, não há necessidade de ter muita proteína inicialmente na dieta para o emagrecimento, até porque o foco nos 3 primeiros meses é a adesão. O indivíduo precisa ter uma mudança comportamental, mas se na dieta tem muita proteína, a dose de carboidrato será menor. E claro, fica mais difícil seguir uma dieta com menos carboidratos e com excesso de proteínas. No entanto, se a pessoa tem pouca gordura corporal, busca uma definição muscular 30 e deseja perder mais gordura corporal, a necessidade de proteína é maior, pois esse indivíduo usará mais aminoácidos em déficit calórico. Por isso, a dose de proteínas gira em torno de 2,0 a 3,5 gramas por kg de peso corporal em uma dieta de definição muscular, principalmente se tiver restrição de carboidrato (low carb). Agora vamos montar a dieta de emagrecimento. O primeiro passo é calcular a proteína, depois a gordura e por último calcular o carboidrato. Vamos fazer um exemplo para um indivíduo com sobrepeso que busca emagrecimento. A dose de proteínas será de 1,5g por kg de peso corporal, pois é uma pessoa com muita gordura corporal e está iniciando o treinamento resistido. Lembre-se, a dose de proteínas é menor nos primeiros meses de dieta para indivíduos com maior quantidade de gordura (sobrepeso e obesidade), pois o risco de perder massa muscular é menor e uma dose de proteína muito elevada (acima de 1,6g por kg) pode reduzir a adesão à dieta. Esse paciente não tem hábito de consumir muita proteína, e claro, se a dose de proteína é maior, menos carboidrato terá na dieta, reduzindo a adesão. Neste momento é necessário multiplicar 1,5 g pelo peso corporal e após isso determinar o valor energético proveniente das proteínas, sendo que cada grama de proteína representa 4 kcal. Para fazer um exemplo, vamos utilizar o paciente com peso corporal 31 de 100 kg e o VET de 2.270 kcal. Veja abaixo como fica o cálculo da proteína usando esse exemplo. Ingestão de proteínas no dia em gramas = 1,5g x 100 kg = 150g Ingestão calórica das proteínas = 150g x 4 kcal = 600 kcal Portanto, o indivíduo irá consumir 150g de proteínas por dia (1,5 g por kg de peso corporal), totalizando 600 kcal vindo das proteínas. Considerando o VET de 2.270 kcal que foi calculado anteriormente, ainda faltam 1670 kcal de gorduras e carboidratos, sendo que iremos fazer esses cálculos nos próximos tópicos. 12 - Fazendo a progressão de proteínas na dieta de emagrecimento A dose de proteínas pode ir subindo na dieta de emagrecimento de acordo com a perda de gordura. Podemos iniciar a estratégia com uma dose menor de proteína, ou seja, 1,5 g por kg. Com o tempo e com a perda de peso, a dose de proteínas poderá ir aumentando para 1,6 a 2,0g/kg até chegar a doses maiores entre 2,0 a 3,0g/kg. 32 Essa é uma estratégia interessante, pois inicialmente a dose de proteína está menor para sobrar mais carboidrato na dieta, visando adesão. Lembrando que no começo a pessoa tem um baixo risco de perder massa muscular, pois o indivíduo possui muita gordura corporal. Na medida que a pessoa vai perdendo gordura, o risco de perder massa muscular aumenta e ao mesmo tempo a sensação de fome é maior. Lembre-se, a perda de peso gera um aumento na fome e na vontade de consumir alimentos palatáveis e calóricos (doces e fast-food). A proteína tem uma maior capacidade de gerar saciedade comparado a carboidrato e gordura. Então, faz muito sentido aumentar a dose de proteínas de acordo com a perda de peso para reduzir esse aumento na sensação de fome. Veja na figura 3 um gráfico que mostra a relação entre dose de proteínas e duração da dieta. Observe na linha de baixo, quanto mais tempo a pessoa fica em dieta e perde peso, a dose de proteínas aumenta. Nos primeiros meses de dieta a dose de proteínas é menor, entre 1,5 a 1,6 g por kg e com o passar do tempo a dose de proteínas aumenta, podendo chegar entre 2,0 a 3,0 g por kg. 33 Figura 3 – Progressão na dose de proteínas na dieta de emagrecimento Vamos agora fazer um exemplo sobre progressão de proteínas nas consultas. Observe na tabela abaixo que na primeira consulta o paciente irá consumir 1,5 g por kg de proteína. Veja que nas próximas consultas a dose de proteínas foi aumentando, pois houve perda de peso. Lembrando que a dose de proteína só aumenta se o paciente obter perda de gordura, pois sabemos que essa queda da gordura corporal gera mais fome e ao mesmo tempo aumenta o risco de perder massa muscular. Com a progressão na dose de proteína, é muito importante também aumentar de forma gradual o gasto calórico pelo 34 treinamento. Se a pessoa está gastando mais calorias, a dose de proteína pode ir subindo, mantendo a dose de carboidrato e gordura. Uma outra possibilidade é fazer uma redução gradativa na dose de carboidratos. A proteína vai subindo e o carboidrato vai caindo. Outra estratégia que podemos inserir ao longo do tempo é inserir períodos de jejum noturno ou até mesmo reduzir a ingestão calórica antes de dormir para potencializar a melhora na sensibilidade à insulina. Claro, cada caso é um caso, é preciso analisar o horário do treino e a adesão do paciente antes de usar essa estratégia. Explicamos isso de forma detalhada no tópico de crononutrição. Tabela 5 – Exemplo de progressão na dose de proteínas ao longo das consultas Dose de proteínas 1° Consulta 1,5 g por kg 2° Consulta 1,6 g por kg 3° Consulta 1,8 g por kg 4° Consulta 2,0 g por kg Com relação ao tipo de proteína que o indivíduo irá consumir, é muito importante entender que na estratégia inicial de emagrecimento a dieta será mais low fat (gordura baixa). Reduzir a 35 ingestão de gordura é uma forma de fazer a dieta ter mais carboidrato. Lembre-se que é o déficit calórico que causa perda de gordura, então podemos gerar o déficit calórico nos primeiros meses da dieta através da redução na ingestão de gorduras. Vamos explicar isso melhor no próximo tópico, mas sabendo que a dieta será mais low fat é importante escolher proteínas com menor quantidade de gordura. Por exemplo, na dieta low fat para emagrecimento é muito interessante usar o peito de frango, whey protein, iogurte desnatado, leite desnatado e carne bovina magra. Já os peixes são uma boa fonte de proteína na dieta, principalmente devido a maior quantidade de gorduras iremos compreender insaturadas. a importância Em breve de ter menos gorduras saturadas e mais gorduras insaturadas na dieta de emagrecimento. 13 - Low carb vs low fat no emagrecimento Veja abaixo uma dieta low carb e uma dieta low fat com a mesma quantidade calórica (2000 kcal) para uma pessoa com peso corporal de 85kg. Na dieta low fat a gordura está baixa (0,5g por kg e 19,1% do VET) e o carboidrato está mais alto (3,3g por kg e 55,4% do VET). Já 36 na low carb a gordura está mais alta (1,5g por kg e 57,4% do VET) e o carboidrato está baixo (1g por kg e 17,1% do VET). Tabela 6 - Exemplo de dieta low fat com 2.000 kcal g/kg g/dia Kcal % do VET PTN 1,5 127,5 510 25,5 LIP CHO 0,5 3,3 42,5 276,8 382,5 1107,5 55,4 19,1 Tabela 7 - Exemplo de dieta low carb com 2.000 kcal g/kg g/dia Kcal % do VET PTN LIP CHO 1,5 1,5 1,0 127,5 127,5 85,6 510 1147,5 342,5 25,5 57,4 17,1 Observem que a dose de proteínas está igual entre as duas dietas. A pergunta é: Qual dieta vai emagrecer mais? Existem estudos mostrando que se o déficit calórico for o mesmo, a perda de gordura é semelhante entre uma dieta low carb comparado a uma dieta low fat. (BUENO et al. 2013). Isso mostra que a perda de 37 gordura acontece pelo déficit calórico, seja reduzindo ingestão de carboidratos ou gorduras. Não podemos confundir emagrecimento com perda de peso. Na dieta low carb a perda de peso nas primeiras semanas é realmente mais rápida. Isso acontece porque ao consumir menos carboidrato a glicemia e a insulina diminui. A insulina é um hormônio que aumenta a retenção de sódio nos rins, ou seja, a insulina vai até os rins e faz o sódio voltar para o sangue em vez de ir para urina e ser eliminado. O sódio gera uma atração sobre a água, então a insulina causa uma retenção de sódio e água. Quando uma pessoa consome pouco carboidrato na dieta (1 a 3g por kg ou menos que 30% do VET) acontece uma queda da insulina. Essa redução de insulina aumenta a eliminação de sódio e água, gerando uma queda no peso corporal. Além disso, com a diminuição de glicemia e insulina acontece uma queda no conteúdo de glicogênio muscular. Isso faz o peso corporal diminuir também. Vejam, nas primeiras semanas de dieta low carb o peso corporal diminui de forma mais rápida, mas essa queda de peso não é só gordura, mas há também diminuição de água e glicogênio muscular. Por isso, é muito comum ver pessoas perdendo mais peso corporal nas primeiras semanas de dieta low carb comparado a outras dietas. Mas entenda, essa maior perda de peso não significa 38 que a dieta low carb foi melhor para emagrecer, pois grande parte do peso perdido aconteceu pela redução de água e glicogênio. Diante disso, qual a melhor estratégia para usar no emagrecimento? Se o objetivo for adesão nos primeiros meses de emagrecimento, a dieta low fat será mais eficiente do que a dieta low carb. Imagine o paciente com sobrepeso e obesidade que possui hábito de consumir muito carboidrato. Com certeza realizar um corte agressivo de carboidrato poderá diminuir a adesão à dieta. Como estratégia inicial, é muito interessante começar pela dieta low fat para ter um pouco mais de carboidrato na dieta, pois assim o indivíduo terá mais adesão. Sabemos que os 3 primeiros meses de dieta são cruciais para o processo de emagrecimento. A dieta low fat nesses primeiros meses será mais fácil de seguir comparada a dieta low carb, principalmente se a restrição de carboidrato for severa (abaixo de 1g por kg ou 10% do VET). 14 – Calculando a gordura na dieta de emagrecimento Na dieta de emagrecimento, a dose de gordura por variar de 0,5 a 1,5 g por kg de peso corporal. Vamos fazer um exemplo abaixo mostrando como calcular a ingestão de gorduras. 39 é muito Conforme interessante explicado iniciar uma nos dieta tópicos de emagrecimento anteriores, com uma gordura mais baixa, sendo que o déficit calórico será atingido principalmente pela redução no consumo de gorduras. Essa estratégia visa sobrar mais carboidratos para melhorar a adesão. Portanto, a dose de gordura na dieta de emagrecimento pode ser em torno de 0,5 a 1,0 g/kg/dia). Anteriormente fizemos os cálculos do GET, do VET e calculamos a proteína. Abaixo os dados dos cálculos que já realizamos: GET = 2.970 kcal Déficit calórico = 700 kcal VET = 2.270 kcal Proteína = 1,5g por kg (150g/dia) = 600 kcal Agora vamos calcular a ingestão de gorduras na dieta de emagrecimento. Vamos escolher uma dose de gordura de 0,5g por kg de peso corporal. 40 Ingestão de gorduras no dia em gramas = 0,5g x 100 kg = 50g Ingestão calórica das gorduras = 50g x 9 kcal = 450 kcal Essa dose de gordura foi escolhida justamente para sobrar um pouco mais de carboidrato na dieta, melhorando à adesão. A dose de gordura mais baixa (0,5 a 1,0g por kg) possibilita uma dose maior de carboidratos. Claro, com o tempo, a estratégia pode ser alterada, em uma determinada fase podemos fazer um período de carboidrato mais baixo (2 a 4 g por kg) e uma gordura um pouco mais elevada (1,0 a 1,5 g por kg), buscando uma melhora na sensibilidade à insulina e biogênese mitocondrial (ver tópico de flexibilidade metabólica). Mas no estágio inicial da dieta de emagrecimento (primeiros meses), a adesão será mais importante para conseguir realizar uma mudança comportamental. Por isso, no exemplo selecionamos uma estratégia com gordura um pouco mais baixa e carboidrato um pouco mais alto. Lembrando que é o déficit calórico que causa perda de gordura, se nessa estrutura de dieta houver déficit calórico, o indivíduo irá emagrecer. 41 15 - Qual o tipo de gordura na dieta de emagrecimento? Pensando no tipo de gordura, a dieta de emagrecimento deve ser com maior quantidade de gorduras insaturadas e com menos gorduras saturadas. Os ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) podem ser sintetizados pelo nosso organismo, sendo o mais conhecido o ácido oleico (ômega 9). A gordura monoinsaturada está presente em alimentos fontes animais e vegetais, mas os alimentos mais abundantes em ácidos graxos monoinsaturados são o azeite de oliva, o abacate e as oleaginosas (nozes e castanhas). Os ácidos graxos monoinsaturados mostraram importantes benefícios metabólicos como a melhora da sensibilidade à insulina e redução da pressão arterial. Além disso, os ácidos graxos monoinsaturados geram uma melhora do perfil lipídico, reduzindo os níveis de triglicerídeos e LDL, e ao mesmo tempo aumentando os níveis de HDL. Os ácidos graxos linoléico (ômega 6), presentes principalmente nos óleos vegetais e nas oleaginosas também reduzem a resistência à insulina (WILLETT, 2007). Um estudo comparou os efeitos da gordura saturada versus gordura poli-insaturada em uma dieta cetogênica (70% de gordura, 15% de carboidrato e 15% de proteína). Os resultamos mostraram 42 que cetogênica com mais gorduras poli-insaturadas gerou maiores efeitos na sensibilidade à insulina, redução de LDL e colesterol total. Isso mostra que em dietas de baixo carboidrato (low carb ou cetogênica) o consumo predominante de gorduras insaturadas gera maiores benefícios metabólicos (FUEHRLEIN et al. 2004). Não podemos esquecer que melhorar a sensibilidade à insulina ajuda no processo de emagrecimento. Portanto, na dieta de emagrecimento é preciso reduzir a ingestão de gordura saturada (carnes gordas, embutidos, óleo de coco, manteiga, fast-food etc.) e aumentar a ingestão de gorduras insaturadas (azeite, oleaginosas, peixes, abacate, óleos vegetais, chia, linhaça etc.). 16 - Calculando o carboidrato na dieta de emagrecimento Nos tópicos anteriores realizamos os cálculos da proteína e gordura. Com relação a proteína, foi usado a dose de 1,5g por kg para o indivíduo com peso corporal de 100 kg, totalizando 150g de proteína por dia (150g x 4 kcal = 600 kcal). Já a gordura foi utilizado 43 uma dose mais baixa para sobrar um pouco mais de carboidrato. Foi usado a dose de 0,5g por kg, totalizando 50g de gordura por dia (50g x 9 kcal = 450 kcal). Como achar a dose de carboidratos? É isso que iremos fazer agora. O primeiro passo é somar as kcal das proteínas com as kcal da gordura, conforme mostrado abaixo: Proteínas = 600 kcal Gorduras = 450 kcal Total (600 + 450) = 1050 kcal VET = 2.270 kcal Observem que as proteínas e as gorduras representam um consumo calórico de 1050 kcal. Quantas kcal faltam para bater o VET? Para descobrir isso basta fazer o VET menos a soma das kcal da proteína e gordura, conforme demonstrado abaixo: VET – soma das kcal da proteína e gordura 2.270 – 1.050 = 1.220 kcal 44 Vejam que ainda faltam 1.220 kcal para bater o VET. Isso significa que essas 1.220 kcal são de carboidratos. Agora vamos achar a dose de carboidratos em gramas. Para isso basta dividir 1.220 kcal por 4 kcal (1g de carboidrato tem 4 kcal). O resultado será 305g de carboidratos. CHO em gramas = 1.220 kcal / 4 kcal = 305g O próximo passo é dividir o total de carboidratos em gramas pelo peso corporal do indivíduo para achar a dose em gramas por kg. Ao dividir 305g por 100kg o resultado é de 3,05g por kg de peso corporal. CHO em gramas por kg = 305g / 100 kg = 3,05 g por kg Agora vamos observar como ficou a proporção de macronutrientes na dieta de emagrecimento do nosso exemplo. Observem que a proteína está em uma dose que é suficiente para gerar ganho de massa muscular mesmo em déficit calórico (considerando que o indivíduo vai realizar musculação). Se a pessoa não realizar a musculação, essa dose de proteína ajudará na manutenção da massa muscular. Observem também que a dose de 45 carboidrato está mais alta (53,7% do VET) e a dose de gordura está mais baixa (19,8% do VET), caracterizando uma dieta low fat. O objetivo da estratégia é melhorar a adesão nos primeiros meses e promover o emagrecimento por meio do déficit calórico. Tabela 8 – Resumo dos macronutrientes calculado na dieta de emagrecimento g/kg g/dia Kcal % do VET PTN 1,5 150 600 26,4 LIP CHO 0,5 3,0 50 305 450 1.220 19,8 53,7 Com relação ao tipo de carboidrato, é muito importante ter frutas, vegetais e fibras na dieta de emagrecimento. A maior parte dos vegetais possuem baixa densidade calórica e carboidratos (baixa carga glicêmica), sendo que muitos são ricos em fibras. Por exemplo, podemos citar o tomate, brócolis, folhas e a cenoura. Esses vegetais possuem baixa densidade calórica e um ótimo fornecimento de fibras. Se uma pessoa consumir 1 quilo de tomate (pouco provável), ela vai ingerir apenas 150 kcal e 12 g de fibras. Se o indivíduo consumir 1 kg de cenoura, vai ingerir cerca de 32 g de fibras em apenas 340 kcal. Veja como os vegetais são importantes no 46 emagrecimento, grande volume na refeição com baixa densidade calórica e alto consumo de fibras. Isso ajuda muito na saciedade e na adesão à dieta com déficit calórico. A ingestão de vegetais dificilmente ultrapassa 250 kcal por dia, considerando um consumo de 1 kg de vegetais por dia. Portanto, não há necessidade de realizar a contagem de calorias na dieta para os vegetais. Deve estar claro no cardápio do paciente que ele precisa comer esses alimentos. Podemos deixar uma medida fácil, como pedir para o paciente consumir metade do prato com vegetais. É impossível alguém ganhar gordura pelo excesso no consumo de vegetais ou que eles podem atrapalhar o emagrecimento, pois os vegetais possuem muitas fibras e compostos bioativos que vão gerar saciedade e melhora da sensibilidade à insulina. Em dieta de emagrecimento (déficit calórico) será mais vantajoso restringir o consumo de outros alimentos. Restringir o consumo de vegetais acaba sendo uma péssima estratégia. Um estudo mostrou que alguns alimentos, como os vegetais (com pouco amido), oleaginosas, frutas e grãos integrais foram associados a menor ganho de peso com um aumento na ingestão calórica (superávit calórico). Isso mostra que esses alimentos geraram um efeito de proteção contra o ganho de peso no superávit calórico. Pensando em dieta de hipertrofia que há superávit calórico, 47 esses alimentos vão ajudar muito em reduzir o acúmulo de gordura. No entanto, em dieta de emagrecimento esses alimentos podem potencializar o efeito na perda de gordura (MOZAFFARIAN et al. 2011). Existem frutas que também possuem baixa densidade calórica, como o morango e a melancia. Claro, todas as frutas são bem vindas na dieta de emagrecimento. Mas o morango e a melancia ganham uma atenção especial por serem frutas de baixa densidade calórica e baixa carga glicêmica. Isso significa que podemos utilizar em maior quantidade para aumentar o volume na refeição e a saciedade. Por exemplo, o indivíduo pode consumir uma boa quantidade de melancia antes do jantar. Isso ajudará na saciedade e na redução calórica desta refeição. Combinar morango com fibras (aveia, chia, linhaça e psyllium) é uma ótima estratégia no emagrecimento, principalmente junto com uma boa dose de proteínas (iogurte + whey). 17 - Dividindo os macronutrientes nas refeições O próximo passo é dividir os macronutrientes nas refeições. Primeiramente é preciso saber a quantidade de refeições que o 48 indivíduo irá fazer. Vamos fazer um exemplo, considerando que a pessoa irá realizar 5 refeições. Se a distribuição for igual, basta pegar o total de cada macronutriente e dividir por 5, conforme demonstrado na tabela abaixo. Tabela 9 – Exemplo de divisão de macronutrientes de forma homogênea (doses iguais nas refeições) Refeição 1 Refeição 2 Refeição 3 Refeição 4 Refeição 5 PTN 30g 30g 30g 30g 30g LIP 10g 10g 10g 10g 10g CHO 61g 61g 61g 61g 61g Outra opção é enfatizar mais calorias nas refeições principais (almoço e jantar) e menos calorias nas refeições intermediárias (café da manhã, lanche da tarde e ceia). Veja na tabela abaixo um exemplo. Se esse tipo de estratégia gera maior adesão ao paciente, vale a pena utilizar. Tabela 10 – Exemplo de divisão de macronutrientes com ênfase em proteína, carboidrato e gordura nas refeições principais 49 Refeição 1 Refeição 2 Refeição 3 Refeição 4 Refeição 5 PTN 26,6g 35g 26,6g 35g 26,6g LIP 6,6g 15g 6,6g 15g 6,6g CHO 57,6g 66g 57,6g 66g 57,6g no emagrecimento Uma outraé realizar estratégia a última querefeição pode (antes ser de aplicada dormir) com menos calorias. Esse tipo de estratégia será interessante para melhorar a sensibilidade à insulina (ver mais detalhes no tópico de crononutrição). Tabela 11 – Exemplo de divisão de macronutrientes menos calorias na última refeição Refeição 1 Refeição 2 Refeição 3 Refeição 4 Refeição 5 PTN 32,5g 32,5g 32,5g 32,5g 20g LIP 11g 11g 11g 11g 6g CHO 65g 65g 65g 65g 45g 50 18 – Montando o cardápio de emagrecimento Para montar o cardápio, o primeiro passo é selecionar a dose dos macronutrientes em cada refeição. Nos tópicos anteriores realizamos os cálculos de gasto energético, VET e dose de proteínas, gorduras e carboidratos. A tabela abaixo resume os valores da dieta. g/kg g/dia Kcal % do VET PTN 1,5 150 600 26,4 LIP CHO 0,5 3,05 50 305 450 1220 19,8 53,7 Agora vamos fazer um exemplo de cardápio considerando os valores da tabela 9, ou seja, vamos realizar a divisão de macronutrientes de forma semelhante nas refeições. Iremos realizar a montagem de refeições, escolhendo os alimentos e inserindo a quantidade até bater próximo aos valores da tabela 9 (30g de proteínas, 10g de gordura e 61g de carboidratos). Vamos realizar apenas tem uma umrotina exemplo, e preferência, pois cada paciente sendo necessário uma análise do paciente para personalizar a sua dieta. 51 Refeição 1 – café da manhã • Iogurte natural desnatado – 1 pote (170g) • Whey Protein – 1 scoop (20g) • Mamão formosa - 1 fatia (100g) • Aveia – 1 colher de sopa (15g) • Linhaça - 2 colheres de chá (10g) • Maçã com casca – 1 unidade (70g) • • • Castanha de caju torrada - 2 unidades média (5g) Pão integral - 1 fatia (25g) Margarina com sal - Colher de sobremesa nivelada (4g) Lembre-se que na hora de montar o cardápio, a composição de macronutrientes da refeição deve estar próximo ao calculado, não havendo a necessidade de atingir os valores de forma exata. 52 Observe que os valores de macronutrientes da refeição 1 estão bem próximos do que foi calculado na tabela 9 (30g de PTN, 61g de CHO e 10g de LIP). Vamos agora fazer uma análise, mostrando como a escolha destes alimentos podem ajudar no emagrecimento. Essa refeição possui uma boa qualidade por ser rica em fibras (aveia, linhaça, maçã, mamão e pão integral), ajudando na saciedade, saúde intestinal e sensibilidade à insulina. Os compostos bioativos presentes nas frutas (mamão e maçã) vão atuar gerando efeito antioxidante e anti-inflamatório, auxiliando na melhora da sensibilidade à insulina. Essa refeição possui uma dose proteica adequada para gerar saciedade e síntese de proteínas musculares (preservação ou ganho de massa muscular). Gostaria de destacar a presença do iogurte natural, por ter bactérias (probióticos) que aumenta a produção intestinal de ácidos graxos de cadeia curta. Essas moléculas vão gerar mais saciedade e podem melhorar também a sensibilidade à insulina. A refeição possui mais gorduras insaturadas e menos gorduras saturadas para melhorar a sensibilidade à insulina e o perfil lipídico (reduzir LDL e colesterol). Observe que nessa refeição tem linhaça, castanhas, margarina e o iogurte desnatado. 53 Refeição 2 – Almoço • Peito de frango grelhado – 1 pedaço médio (70g) • Arroz branco cozido – 2 escumadeiras cheias (170g) • Feijão cozido (50% grão/caldo) – 2 conchas (170g) • Azeite de oliva extra virgem – 1 colher de sobremesa (5,2ml) • Metade do um prato com vegetais Observe que os valores de macronutrientes da refeição 2 estão bem próximos do que foi calculado na tabela 9 (30g de PTN, 61g de CHO e 10g de LIP). Veja que a dose de carboidrato está em 57,5g, pois não foi contabilizado os vegetais. Como não há necessidade de calcular os vegetais, nas refeições que terão esses alimentos podemos deixar a dose de carboidrato um pouco mais baixa em comparação ao que foi calculado. 54 Essa refeição é rica em fibras por ter vegetais e o feijão, ajudando na saciedade, saúde intestinal e sensibilidade à insulina. Os compostos bioativos presentes nos vegetais vão atuar gerando efeito antioxidante e anti-inflamatório, auxiliando na melhora da sensibilidade à insulina. A dose de proteínas é o suficiente para gerar saciedade e síntese de proteínas musculares para gerar preservação ou ganho de massa muscular. Com relação ao tipo de gordura, foi enfatizado uma refeição com mais gorduras insaturadas e menos gorduras saturadas para melhorar a sensibilidade à insulina e perfil lipídico (redução de LDL e colesterol total). A proteína é magra (peito de frango) e o azeite de oliva extra virgem foi utilizado para temperar os vegetais. Refeição 3 – Lanche da tarde • Ovo inteiro – 2 unidades (100g) • Clara de ovo – 3 unidades (102g) • Pão integral - 2 fatias (50g) • Suco de laranja sem açúcar – 1 copo (250ml) • Morango – 5 unidades (35g) • Melão – 1 fatia (90g) 55 Observe que os valores de macronutrientes da refeição 3 estão bem próximos do que foi calculado na tabela 9 (30g de PTN, 61g de CHO e 10g de LIP). Como a dieta tem uma característica low fat, os 2 ovos inteiros foram somados a 3 ovos apenas com a clara, com o objetivo de não deixar a gordura ultrapassar de maneira excessiva a dose estipulada na refeição, no caso 10g. Observe que a refeição é rica em fibras por ter frutas (morango, melão e pão integral), ajudando na saciedade, saúde intestinal e sensibilidade à insulina. A dose proteica é o suficiente para gerar saciedade e síntese de proteínas musculares para gerar preservação ou ganho de massa muscular. Com relação ao tipo de gordura, 1 ovo possui em torno de 1,9 g de gordura monoinsaturada, 0,55g de gordura poli-insaturada e 1,45g de gordura saturada. Como as outras refeições a ênfase está em gorduras insaturadas, essa dose de gordura saturada do ovo é muito bem tolerável. Os compostos bioativos presentes nas frutas 56 (morango e melão) vão atuar gerando efeito antioxidante e antiinflamatório, auxiliando na melhora da sensibilidade à insulina. Refeição 4 – jantar • Tilápia grelhada – 1 pedaço grande (120g) • Arroz branco cozido – 2 escumadeiras cheias (170g) • Feijão cozido (50% grão/caldo) – 2 conchas (170g) • Azeite de oliva extra virgem – 1 colher de chá (2,4ml) • Metade do um prato com vegetais A refeição 4 é muito parecida com a refeição 2. A tilápia entrou no lugar do peito de frango. A tilápia tem um pouco mais de gordura comparado ao peito de frango, por isso foi reduzido um pouco a quantidade de azeite para bater a dose de 10g de gorduras. Observe que os valores de macronutrientes da refeição 4 estão bem próximos do que foi calculado na tabela 9 (30g de PTN, 61g de CHO e 10g de 57 LIP). Por não contabilizar os vegetais, a dose de carboidrato está um pouco mais baixa (57,5g). Note que a refeição é rica em fibras por ter vegetais e o feijão, ajudando na saciedade, saúde intestinal e sensibilidade à insulina. Os compostos bioativos presentes nos vegetais vão atuar gerando efeito antioxidante e anti-inflamatório, auxiliando na melhora da sensibilidade à insulina. A dose de proteínas é o suficiente para gerar saciedade e síntese de proteínas musculares para gerar preservação ou ganho de massa muscular. Com relação ao tipo de gordura, foi enfatizado uma refeição com mais gorduras insaturadas e menos gorduras saturadas para melhorar a sensibilidade à insulina e perfil lipídico (redução de LDL e colesterol total). A proteína é magra (tilápia) e o azeite de oliva extra virgem foi utilizado para temperar os vegetais. Refeição 5 – Ceia • Leite desnatado – 1 copo grande (300 ml) • Whey Protein – 1 scoop (20g) • Castanha do Pará – 4 unidades (16g) • Aveia – 1 colher de sopa cheia (15g) • Morango – 4 unidades (28g) 58 • Maçã – 0,5 unidade (35g) • Banana nanica – 1 unidade (60g) • Mamão formosa – 1 fatia (100g) Veja que os valores de macronutrientes da refeição 5 estão bem próximos do que foi calculado na tabela 9 (30g de PTN, 61g de CHO e 10g de LIP). Uma refeição líquida antes de dormir, leite batido com frutas (banana, mamão, morango e maçã) com adicional de whey protein para subir a dose de proteínas, fibras (aveia) e gorduras insaturadas (castanha do Pará) é uma boa sugestão. Note que a refeição é rica em fibras por ter aveia e frutas, ajudando na saciedade, saúde intestinal e sensibilidade à insulina. Os compostos bioativos presentes nas frutas vão atuar gerando efeito antioxidante e anti-inflamatório, auxiliando na melhora da sensibilidade à insulina. A dose de proteínas é o suficiente para gerar 59 saciedade e síntese de proteínas musculares para gerar preservação ou ganho de massa muscular. Com relação ao tipo de gordura, foi enfatizado uma refeição com mais gorduras insaturadas e menos gorduras saturadas para melhorar a sensibilidade à insulina e perfil lipídico (redução de LDL e colesterol total). Observe que na refeição foi usado leite desnatado para diminuir a ingestão de gordura saturada e foi inserido a castanha do Pará para aumentar a dose de gorduras insaturadas. 19 - Flexibilidade metabólica no emagrecimento Já está claro que algumas pessoas perdem gordura com mais facilidade que outras. Essa diferença pode ser explicada pela genética, no qual as pessoas que perdem gordura com facilidade possuem uma alta sensibilidade à insulina e flexibilidade metabólica. Isso significa que a insulina dessas pessoas tem uma ação eficiente, o hormônio consegue transportar rapidamente glicose do sangue para o interior das células. Essas pessoas são sensíveis à dieta, podem consumir grande quantidade de carboidrato em superávit calórico e dificilmente ganham gordura corporal (GOODPASTER e SPARKS, 2017). 60 A maior sensibilidade à insulina aumenta a flexibilidade metabólica. Talvez você esteja se perguntando “o que é a flexibilidade metabólica?” Bom, é a capacidade do organismo em oxidar glicose após as refeições e gordura durante o jejum. Basicamente a flexibilidade metabólica é a eficiência do organismo em produzir energia. Durante as refeições com carboidratos ocorre um aumento da glicemia e na produção de insulina. A insulina estimula o de glicose para dentro das células, principalmente transporte músculo, tecido adiposo e fígado. Ao entrar na célula, a glicose é convertida em ATP (energia) ou pode ser armazenada em glicogênio. Uma pessoa com boa sensibilidade à insulina tem maior flexibilidade metabólica, pois a insulina transporta de maneira mais rápida a glicose para o músculo, então, existe uma maior disponibilidade de glicose para a célula fazer energia (TAREEN et al. 2020). Já as pessoas que ganham gordura corporal com facilidade possuem uma menor sensibilidade à insulina e uma menor flexibilidade metabólica. Essas pessoas tem uma ação da insulina mais lenta, uma menor capacidade de oxidar glicose e gorduras, por isso tendem a acumular gordura corporal com maior facilidade. A sensibilidade à insulina e a flexibilidade metabólica pode ser influenciada pela genética. Existem pessoas que geneticamente 61 possuem maior sensibilidade à insulina e flexibilidade metabólica, sendo essas pessoas as que têm facilidade em perder gordura em déficit calórico e dificuldade em ganhar gordura em superávit calórico (ASTRUP et al. 2011). Mas também existem pessoas que geneticamente possuem uma menor sensibilidade à insulina e flexibilidade metabólica, havendo uma facilidade em ganhar gordura em superávit calórico e uma dificuldade em perder gordura em déficit calórico. Além da sensibilidade à insulina, as adaptações mitocondriais interferem diretamente a flexibilidade metabólica. Durante o jejum usamos de maneira predominante a gordura para fazer energia nas mitocôndrias. E claro, esse processo de oxidação de gorduras também acontece durante o treinamento. Se uma pessoa tem mais mitocôndrias no músculo e as suas mitocôndrias são mais eficientes, significa que ela terá uma capacidade maior de oxidar tanto a glicose como a gordura. Então, as adaptações mitocondriais também são muito importantes para aumentar a flexibilidade metabólica (CHOMENTOWSKI et al. 2011). Percebam que durante o dia existe uma troca na predominância de substrato energético, pois durante a refeição a prioridade é oxidar glicose e durante o jejum a prioridade é oxidar gorduras. O indivíduo com alta flexibilidade metabólica tem 62 uma habilidade maior em promover essa troca de substrato energético. O aumento do número de mitocôndrias é um processo chamado de biogênese mitocondrial, no qual o treinamento aeróbio tem uma grande capacidade de gerar essas adaptações. Além disso, o treinamento aeróbio também aumenta a eficiência mitocondrial, ou seja, faz as mitocôndrias ficarem mais eficientes, existe uma melhora na atividade das enzimas envolvidas na beta oxidação, no ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons (BISHOP et al. 2019). Aumentar a flexibilidade metabólica é interessante tanto na fase de hipertrofia (superávit calórico) como na fase de emagrecimento (déficit calórico). Embora esse aumento é maior na fase de emagrecimento justamente devido a perda de gordura corporal, déficit calórico e maior volume e intensidade do aeróbio. Mas, é preciso entender que aumentar a flexibilidade metabólica na fase de hipertrofia diminui o potencial no ganho de gordura em superávit calórico, assim como aumentar a flexibilidade metabólica na fase de emagrecimento aumenta o potencial de perda de gordura ou diminui o risco de reganho de peso. A qualidade na dieta (fibras, compostos bioativos e gorduras insaturadas) e o exercício físico (musculação e aeróbio) melhoram a flexibilidade metabólica. Se na dieta de emagrecimento tem poucas 63 fibras, compostos bioativos e gorduras insaturadas, menor será o efeito em aumentar a flexibilidade metabólica. 20 - Jantar mais cedo e crononutrição O metabolismo pode sofrer mudanças de acordo com horário do dia (POGGIOGALLE et al. 2018). No período da manhã e da tarde, a sensibilidade à insulina é maior. Isso significa que a insulina funciona de forma mais eficiente durante o dia comparado ao período noturno. Uma das funções da insulina é transportar glicose do sangue para dentro da célula do tecido adiposo e músculo. Basicamente durante o dia o estímulo da insulina em captar glicose para a célula é melhor, ou seja, a glicose entra nas células de forma mais eficiente durante o dia. Por outro lado, durante a noite a sensibilidade à insulina diminui, sendo que o transporte de glicose para a célula fica mais lento. Não significa que comer carboidrato à noite engorda, mas em um contexto de obesidade e superávit calórico, o consumo excessivo de calorias no período noturno pode favorecer ainda mais o ganho de gordura e desenvolvimento de resistência à insulina. 64 É muito comum ver pessoas com uma rotina de trabalho intensa e com estresse elevado. Isso faz o indivíduo consumir menos calorias durante o dia, porém à noite, ao chegar em casa acabam escolhendo alimentos práticos com alta densidade calórica (fast-food e industrializados). O resultado é um consumo calórico maior durante à noite, superávit calórico e ganho de peso. O indivíduo está ingerindo mais calorias bem no momento em que a insulina está com menor capacidade de promover captação de glicose para as células. Isso facilita o ganho de peso no longo prazo. Nesse tipo de paciente é preciso fazer um ajuste. Aumentar a ingestão calórica durante o dia com alimentos de qualidade (frutas, vegetais, grãos, iogurte, oleaginosas etc) para reduzir a fome durante a noite. Essa mudança na ingestão calórica, ou seja, mais calorias durante o dia e menos calorias durante a noite é uma ótima estratégia para promover perda de peso e melhorar a sensibilidade à insulina. 21 - Jejum intermitente no emagrecimento O jejum intermitente é uma estratégia utilizada para perda de peso. O protocolo mais utilizado é o jejum de 12 a 16 horas, sendo realizada uma refeição antes de dormir e a próxima refeição no outro 65 dia somente após esse tempo de jejum. Sim, durante o jejum a oxidação de gorduras aumenta. No entanto, isso não significa que esse maior uso de gordura vai causar a perda de gordura corporal. Iremos compreender isso melhor. Após a refeição o organismo prioriza o uso de glicose e dos ácidos graxos dos alimentos. A insulina aumenta e isso bloqueia a lipólise (mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo) e a oxidação de gorduras. Ao mesmo tempo, a insulina estimula a entrada de glicose para as células, sendo que essa glicose ao entrar na célula pode ir até as mitocôndrias e lá são usadas para sintetizar o ATP. Portanto, após a refeição o organismo usa mais glicose e menos gordura do tecido adiposo. Durante o período de jejum a glicemia diminui. Quando a glicose plasmática reduz acontecem mudanças hormonais, a insulina diminui, cortisol e GH aumentam. Esse ambiente hormonal causa um aumento na lipólise e oxidação de gorduras. O objetivo é usar mais gorduras para poupar a glicose no sangue para neurônios e hemácias, pois são células que dependem da glicose para ter energia. Durante o dia existe essa troca de substrato energético, após a refeição usa mais glicose e no jejum usa mais gorduras. O aumento de GH e queda de insulina durante o jejum é defendido por muitos como um diferencial para a perda de gordura. 66 Muitos acreditam que jejum intermitente é uma estratégia superior no emagrecimento comparado a outras estratégias que não usam jejum. Entretanto, essa afirmação não faz sentido e não tem respaldo científico. Primeiro vamos falar sobre o emagrecimento. O GH aumenta sim durante o jejum, pois nesse momento sua função é manter a glicose no sangue para disponibilizar as hemácias e aos neurônios. No jejum o GH aumenta a lipólise, oxidação de gorduras e gera resistência à insulina no músculo, basicamente faz o organismo usar mais gorduras e menos glicose como fonte de energia. Esse efeito é extremamente importante, pois as reservas de gordura no tecido adiposo são muito maiores do que a de carboidrato que está na forma de glicose no sangue e glicogênio (fígado e músculo). Vamos entender agora o motivo que esse período de jejum com GH alto não tem relevância no emagrecimento. Os estudos demonstraram que dieta com restrição calórica tradicional gera perda de gordura corporal de maneira similar a uma dieta com o mesmo déficit calórico que usa o jejum intermitente, demonstrando que o fator mais importante para emagrecer é o déficit calórico e não o período de jejum (SEIMON et al. 2015). A redução da gordura corporal só acontece quando a pessoa atinge o déficit calórico por vários dias, ou seja, para reduzir o estoque de gordura é necessário que o organismo gaste mais energia do que consome. 67 Se uma pessoa faz o jejum intermitente e no final de vários dias não consegue atingir o déficit calórico o emagrecimento não acontece, mesmo produzindo muito GH durante o jejum. Isso significa que a estratégia de jejum intermitente só irá emagrecer se fornecer o déficit calórico, por isso deve ser inserida para pessoas que vão ter uma boa aderência a esse tipo de dieta, que irão conseguir fazer a estratégia no longo prazo. 22 - Referências bibliográficas ASTRUP, A. The relevance of increased fat oxidation for bodyweight management: metabolic inflexibility in the predisposition to weight gain. Obes Rev. Oct;12(10):859-65, 2011. BISHOP, D. J. et al. High-intensity exercise and mitochondrial biogenesis: current controversies and future research directions. 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