Labotório de Habilidades e Simulação 2019 ROTEIRO PARA A AULA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA DO CORAÇÃO Anamnese: - Faixa etária (cardiopatias congênitas na infância, doença reumática na infância e na adolescência e doenças degenerativas em adultos e idosos). - Sexo (ex.: sexo feminino associa-se à menor incidência de doença coronária no período fértil, elevando-se após a menopausa). - Etnia (ex.: etnia negra redispõem a distúrbios de hemoglobina e evolução maligna da hipertensão arterial sistêmica). - Profissão (ex.: profissões de maior tensão emocional aumentam a probabilidade de ocorrência de doenças degenerativas e de hipertensão arterial sistêmica). - Local de nascimento, tipo de moradia (ex.: podem favorecer o desenvolvimento de afecções transmissíveis, como a doença de Chagas). - Antecedentes pessoais e familiares: alergias, imunizações, diabetes mellitus, hiperlipidemia, tabagismo, obesidade, estresse, hipertensão, sedentarismo, hormônios, cardiopatia (fatores de risco). - Tratamentos anteriores / medicamentos em uso - Estado nutricional: dieta usual, peso. - Tipo de personalidade: incapacidade de relaxar, tensão constante, explosivo. - Prática de atividade física: tipo, frequência, algum desconforto durante ou após a prática de atividade física. - Uso de tabaco/álcool: tipo, tempo de uso, quantos cigarros/dia, frequência/doses de bebida alcoólica. - Uso de drogas ilícitas - Manifestações clínicas atuais: · Dor ou desconforto precordial: quando começou? Qual o tempo de duração? Como é a dor (esmagamento, apunhalamento, queimação, aperto)? Já teve esse tipo de dor antes? Com que frequência? A dor se irradia para outro local? Está relacionada a alguma atividade? Quando é aliviada? Há sintomas associados (sudorese, palidez, falta de ar, arritmia, náusea, vômito)? Dor em veias ou artérias MMII/MMSS? Taquicardia? · Dispnéia: alguma falta de ar? Em qual tipo de atividade e em que intensidade desperta a falta de ar? É constante? Melhora ou piora de acordo com a posição? Acorda você durante a noite? A falta de ar interfere nas atividades da vida diária? · Ortopneia: quantos travesseiros você usa para dormir ou quando está deitado? · Tosse: tem tosse? Há quanto tempo? Qual a frequência? Está relacionada a algum momento do dia? Qual o tipo (seca, curta, congesta, rouca)? Elimina catarro (cor, cheiro, presença de sangue)? · Edema: edema nos pés e pernas? Quando começou? Ocorre em que momento do dia? O edema desaparece com repouso? · Fadiga: se cansa facilmente? Está relacionada a algum momento do dia? · Nictúria: acorda à noite com urgência de urinar? Há quanto tempo? · Síncope? · Cefaleia, náuseas e vômitos? · Cianose: avaliar mucosa oral e conjuntivas (cianose central: ocasionada pela falha na troca gasosa) e artelhos e membros (cianose periférica: ocasionada pela desoxigenação dos tecidos periféricos). · Intercorrências recentes: internações prévias, cirurgias prévias, traumas, DTS’s, transfusões, infecção viral recente (possível associação com miocardite). Exame clínico: Preparo do ambiente - Respeitar a privacidade do paciente, explicar os procedimentos a serem realizados. - Aquecer as mãos antes de tocar o paciente. Aspecto geral - Vestimenta - Sinais vitais: FC, FR, P, PA e T - Medidas antropométricas: peso, altura, circunferência abdominal (cintura: 80 cm para mulher e 94 cm para homem), espessura torácica, IMC, ICQ (perímetro da cintura em centímetros/ perímetro do quadril em centímetros: resultado superior a 1 em homens e a 0,8 em mulheres indica excesso de gordura abdominal e pode representar doenças coronarianas). - Atitude do paciente: observar a linguagem não-verbal (ex.: no caso do infarto do miocárdio, em que o paciente fica desconfortável, procurando uma posição antálgica; na pericardite a inclinação do tórax para frente alivia a dor); - Febre e icterícia (podem estar presentes em doenças que determinam hemólise); - Petéquias (podem acompanhar quadros de endocardite infecciosa); - Edema nos membros inferiores (insuficiência venosa); - Alterações tróficas (insuficiência arterial). 1. INSPEÇÃO (Estática e Dinâmica) Panorâmica e Localizada · Abaulamentos: pode ser avaliado frontal ou tangencial. · A presença de abaulamento no precórdio pode ser indicativo de aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e alterações da própria caixa torácica. · Frêmitos - estase / ingurgitamento jugular - (decúbito dorsal a 45°) - pulsações epigástricas e supraesternais · Inspeção de veias jugulares: deve ser feita com o paciente em decúbito dorsal, com a cabeceira elevada entre 30 e 45 graus. Duas veias jugulares podem ser identificadas – a jugular interna (se inicia no terço medial da clavícula e corre cranialmente até desaparecer atrás do músculo esternocleidomastóideo) e a jugular externa (cruza o músculo esternocleidomastóideo). Coloque os dedos indicadores sobre um segmento da veia jugular, e depois mova um dedo cranialmente e o outro caudalmente, mantendo uma pressão constante, assim retirando o sangue e fazendo com que aveia fique vazia. A seguir, retire o dedo que estiver mais próximo ao coração, enquanto mantém pressão na veia jugular com o outro dedo. Se a pressão venosa central estiver elevada, a veia se encherá de maneira retrógrada, isto é, “de baixo para cima”. OBS: Estase jugular (distensão jugular): pode indicar alterações no átrio direito. · Reflexo (ou refluxo) hepatojugular (é observado na insuficiência cardíaca direita, tamponamento cardíaco, insuficiência tricúspide e síndrome de veia cava inferior): deve-se exercer uma pressão sobre o abdome, região umbilical ou hipocôndrio direito, sendo que as veias jugulares devem ser observadas após 1 minuto de pressão, com o paciente respirando normalmente pela boca (a manobra de Valsalva pode causar elevação “falsopositiva” da pressão venosa na jugular). 1.2. Precordial · IC (pulso apical): choque do ápice do coração na parede torácica, representa a contração do ventrículo esquerdo. Pode ser percebido em cerca de 25% dos pacientes. - Posição do paciente: decúbito dorsal ou lateral esquerda. - localização: linha hemiclavicular com 5º espaço intercostal; - extensão: normal (1 a 2 polpas digitais) ou difuso (>); - mobilidade: 1 a 2 cm em diferentes posições ou fixo; - intensidade: média / propulsivo (eleva a mão que o palpa). · Pulsações - Em decúbito dorsal: pode ser percebido no 4º ou 5º espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular. - Em decúbito lateral esquerdo: pode sofrer um deslocamento de cerca de 2 cm, lateralmente, em direção a axila. Tamanho – normalmente 2 a 2,5 cm ( ou duas polpas digitais) Amplitude – normalmente uma sensação curta e suave Duração – curta 2. PALPAÇÃO A palpação é realizada para a avaliação do IC, do ventrículo direito, da artéria pulmonar e dos movimentos ventriculares esquerdos. É realizada em geral com a eminência hipotênar e tênar da mão, com a finalidade de localizar frêmitos (sensação tátil de um sopro) e suas irradiações ou bulhas palpáveis. É realizada na região paresternal esquerda, com a mão do examinador em direção à base do coração e ao longo do quinto espaço intercostal, em direção à linha axilar anterior. · Palpação do IC: decúbito dorsal, tórax descoberto, respiração tranquila - IC com diâmetro maior que 2 cm provavelmente é anormal indicando cardiomegalia; - IC desviado inferiormente (abaixo do quinto espaço intercostal) e/ou lateralmente (em relação à linha hemiclavicular) sugere aumento das câmaras cardíacas. - O examinador deve ficar do lado direito do paciente, com o leito em um nível que seja confortável para o examinador. A palpação do IC é mais facilmente realizada com o paciente na posição sentada. Apenas as pontas dos dedos devem ser aplicadas ao tórax no quinto espaço intercostal, linha hemiclavicular, pois elas são as mais sensíveis para a avaliação de um movimento localizado. O IC deve ser anotado. Se o impulso apical não for palpado, o examinador deve mover as pontas dos dedos para a área do ápice cardíaco. O IC geralmente encontra-se até 10 cm a partir da linha mesoesternal e não é maior do que 2 a 3 cm de diâmetro (o aumento pode indicar dilatação do ventrículo esquerdo). · Palpação do IC do ventrículo direito: ocasionalmente, durante a palpação da borda esternal esquerda, pode-se sentir um impulso sistólico, que geralmente se estende por vários espaços intercostais e indica hipertrofia e/ou dilatação do ventrículo direito. · Certifique-se de que suas mãos estejam aquecidas. Com o paciente em posição supina, utilizando as metades proximais dos quatro dedos, toque suavemente o precórdio procurando sentir os movimentos cardíacos. Comece pelo ápice, movendo-se para a borda esquerda do esterno, em seguida, passar para a base, indo para a borda esternal direita e na região epigástrica ou axilas. Enquanto palpa o precórdio, use a outra mão para palpar a artéria carótida, assim é possível descrever o pulso carotídeo em relação ao ciclo cardíaco. · Dificuldades de palpar: pacientes obesos com tórax muito espesso, musculatura muito desenvolvida e em casos de grandes mamas. 3. PERCUSSÃO A percussão é usada para delinear as bordas do coração, mas em grande parte tem sido substituída pelo estudo radiológico do tórax. · Posição: decúbito dorsal; · Tórax descoberto; · Percutir face anterior do tórax, de cima para baixo, junto à borda E do esterno, em linhas paralelas ao esterno até linha hemiclavicular; · Geralmente se observa som maciço no tórax na região de projeção do coração (T.esquerdo). 4. AUSCULTA - Ambiente da ausculta: deve ser silencioso, pois os ruídos cardíacos são de pequena intensidade e para ouvi-los é necessário completo silêncio. - Posição do paciente: decúbito dorsal, sentado ligeiramente para a frente e em decúbito lateral esquerdo (área mitral). - Instrução do paciente de maneira adequada: as solicitações feitas ao paciente devem ser claras. - Técnica: escolha correta do estetoscópio. - Aplicação correta do estetoscópio: deve-se pousar de forma correta a campânula (em ruídos de baixa frequência) ou diafragma sobre a pele (em toda área). · Ausculta direta ou indireta (estetoscópio) SONS: - Bulhas: identificar as bulhas presentes; frequência; ritmo - binário - Comparar FC com FP radial (déficit de pulso) - Estalidos e cliques cardíacos- ruídos anormais apresentados pela abertura das válvulas (sons de timbre agudo, seco e de curta duração) - Atrito pericárdico (roçar dos folhetos pericárdicos) (atrito do coração contra um pericárdio inflamado) - Sopros: por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo (normal = laminar) LOCAIS DE AUSCULTA CARDÍACA: · Área valvar aórtica: segundo espaço intercostal direito; · Área valvar pulmonar: segundo espaço intercostal esquerdo; · Área valvar tricúspide: borda esternal esquerda inferior; · Área valvar mitral: quinto espaço intercostal próximo da linha hemiclavicular esquerda. OBS: Não limite a ausculta somente às 4 localizações. Os ruídos produzidos pelas valvas podem ser auscultados em todo o precórdio. O estetoscópio deve ser movido na forma de um Z, desde a base do coração, transversalmente e para baixo, depois sobre o ápice. Ou comece no ápice e desloque-o para cima. Bulhas cardíacas: avaliá-las quanto à fonese: normofonese, hipofonese, hiperfonese · Primeira bulha cardíaca (B1 – TUM): - Causada pelo fechamento V. Mitral e Tricúspide; - Assinala o início da sístole; - Coincide com o IC e com o pulso carotídeo; - É de timbre mais grave; - O tempo de duração é maior que B2; - É possível escutá-la em todo o precórdio, embora seja mais audível no foco mitral. · Segunda bulha cardíaca (B2 – TÁ): - Está associada ao fechamento das V. Aórtica e Pulmonar (final da sístole e início da diástole). - É possível auscultá-la com o diafragma, em todo o precórdio, embora seja mais alta no foco aórtico. - Podem estar desdobrados ou não; - Aparece após um breve silêncio após B1; - Seu timbre é mais agudo, soa mais seca. · Terceira bulha cardíaca (B3 - TU) (ocorre no período de enchimento ventricular rápido): - Ruído protodiastólico de baixa frequência; - É observada normalmente em crianças e adultos jovens; - É melhor auscultada no foco Mitral com o cliente em DLE (campânula); · Quarta bulha cardíaca (B4): - É um ruído débil; - Ausculta-se ao final da diástole; - Raramente presente em crianças ou adultos jovens e sadios. · Sopros: ruído que ocorre com fluxo sanguíneo turbulento no coração ou grandes vasos. - Verificar se o sopro ocorre no início, meio ou final da sístole ou da diástole; descrever a intensidade (quase inaudível, raramente inaudível, alto, muito alto). - Avaliar: situação no ciclo cardíaco, localização, intensidade, timbre e tonalidade, modificações com respiração ou posição.