Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Semiologia Pulmonar ANAMNESE Identificação Nesta etapa são coletadas informações relacionadas com idade, sexo, cor da pele, profissão, domicílios atual e anteriores, tempo de residência no local, procedência, profissão e ocupaçao. Idade A bronquiolite surge nos primeiros meses de vida, notadamente entre os 6 e os 12 meses. A fibrose cística ou mucoviscidose manifesta-se desde o nascimento por sintomas digestivos como íleo meconial, má absorção, diarreia e prolapso retal. Os sintomas respiratórios surgem normalmente após a fase de lactente, advindo em sequência infecções respiratórias de repetição, quadros de bronquiolite e bronquiectasias. As pneumonias por gram-negativos não são frequentes em crianças e jovens, enquanto os estafilococos, embora acometam os adultos, têm certa predileção pela infância. As pneumonias em geral são mais graves nos idosos, nos quais podem evoluir com sintomatologia atípica, até mesmo sem febre. A bronquite crônica, o enfisema e o carcinoma brônquico incidem mais entre os 40 e os 60 anos. Sexo Muitas doenças que afetam o pulmão têm predominância de gênero. Doenças pulmonares parenquimatosas difusas associadas às doenças do tecido conjuntivo (lúpus, artrite reumatoide) e sarcoidose são mais comuns em mulheres. Já a linfangioleiomiomatose (esporádica ou associada à esclerose tuberosa) ocorre exclusivamente em mulheres. Devido à maior exposição ocupacional, os homens têm maior risco para o desenvolvimento de pneumoconioses. A tuberculose, a criptococose e a paracoccidioidomicose são mais frequentes em homens. Procedência, profissão e ocupação Nos locais mais industrializados, as pneumoconioses são mais frequentes, em oposição àqueles agrícolas, onde o leque das doenças é outro. No interior de alguns estados brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro, a paracoccidioidomicose é endêmica, atingindo, em certas áreas, caráter epidêmico. Impõe-se fazer um levantamento da ocupação atual e das anteriores, tendo importância saber com qual material o paciente lida, se exerce atividade ao ar livre ou em ambiente fechado. Em regiões de garimpo, em que se utilizam escavações, surgem com frequência casos de silicose. Antecedentes pessoais e familiares Infecções pulmonares graves e extensas na infância ou juventude podem, no futuro, reduzir as reservas respiratórias em razão da proliferação de tecido cicatricial (fibrose pulmonar). A desorganização tecidual broncopulmonar cria condições que facilitam o aparecimento de bronquiectasias, como ocorre no sarampo e na coqueluche. Na infância, uma pneumoma acompanhada de impetigo, otite, sinusite ou de outro foco supurativo faz pensar na possibilidade de a afecção pulmonar ser de natureza estafilocócica. Antecedentes traumáticos, com ou sem fraturas, podem causar pneumotórax, hemotórax ou hérnias diafragmáticas. Indivíduos com passado alérgico, eczema, desidrose, dermatite seborreica e conjuntivite primaveril podem vir a apresentar rinite alérgica, bronquite, asma e edema angioneurótico. As doenças autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso disseminado e esclerose sistêmica progressiva, 1 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 têm manifestações pulmonares bem conhecidas. Os diabéticos são muito vulneráveis às infecções, particularmente à tuberculose, cujas formas clínicas fogem aos padrões clássicos de localização, isto é, preferindo as bases, e não os ápices. Paciente mastectomizada pode apresentar, anos mais tarde, um nódulo de natureza maligna, seguido de derrame pleural. Ainda nessas circunstâncias, deve-se lembrar das pneumonias actínicas secundárias à cobaltoterapta e a outros tipos de radiação. Conhecer a ocorrência nos ascendentes de casos de tuberculose, asma, atopia, bronquite, enfisema, síndrome de Kartagener (síndrome da imobilidade ciliar), deficiência de alfa-1-antitripsina, bronquiectasias, telangiectasias (doença de Rendu-Osler), fístula arteriovenosa, doença de Marfan e doença de Recklinghausen pode ser importante no raciocínio diagnóstico. Doenças preexistentes, medicação em uso e imunizações Deve-se indagar sobre as doenças preexistentes, pois, se tiverem relação com a doença atual, produzem um contexto clínico que torna possível associar uma à outra. Se a história da doença atual sugere asma (doença alérgtca dos brônquios), o diagnóstico prévio de rinite alérgica, conjuntivite alérgica sazonal e dermatite atópica (doenças alérgicas das vias respiratórias superiores, olhos e pele, respectivamente) favorece o diagnóstico da asma. Se o indivíduo apresenta um quadro sugestivo de doença infecciosa e apresenta AIDS, imunodeprimido ou transplantado sempre se deve pensar em agentes oportunistas. Os medicamentos em uso devem ser anotados pela possibilidade de a doença atual do indivíduo ser consequência de efeitos colaterais ou de pneumopatia induzida por fármaco. Geralmente o acometimento pulmonar é isolado e se manifesta como um processo difuso. Hábitos de vida O tabagismo apresenta relações diretas com a bronquite, a asma, o enfisema e o carcinoma brônquico. O etilismo é fator decisivo na eclosão de determinadas pneumonias, como as causadas pela Klebsiella. Pacientes que fazem da nebulização um hábito, e não um método terapêutico, correm maior risco de exacerbar a atividade de certas bactérias, particularmente as do grupo Pseudomonas-Aerobacter. Tabagismo Se o paciente for tabagista, convém coletar uma história detalhada para determinar o grau de dependência e obter informações que possam ajudá-lo a parar de fumar. Sempre se deve indagar quantos cigarros fuma por dia, quando iniciou o hábito, se já interrompeu o uso e quanto tempo parou. Verificar tentativas de cessação, tratamentos anteriores, com ou sem sucesso, recaídas e prováveis causas, sintomas de abstinência, formas de convivência com outros fumantes e em quais situações fuma por condicionamento. A grande maioria dos portadores de DPOC são ou foram tabagistas, com consumo de 20 anos/maço (um maço por dia por pelo menos 20 anos). Para o cálculo da carga tabágica (anos/maço), multiplique o número de cigarros fumados por dia pelo tempo de tabagismo em anos e divida por 20. Para o cálculo em pacientes que fumam cigarro artesanal, recomenda-se considerar que seis cigarros artesanais correspondem a 20 cigarros industrializados. Interrogatório sintomatológico A indagação metódica de todos os sintomas pode ser necessária para que possamos esclarecer se estamos diante de uma doença primitivamente pulmonar ou se o pulmão está funcionando como espelho de uma doença geral. Os principais sintomas e sinais das afecções do aparelho respiratório são: dor torácica, tosse, expectoração, hemoptise, vômica, dispneia, sibilância, rouquidão e cornagem. 2 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Dor torácica Quando o paciente é capaz de descrever bem uma dor, contribui com uma preciosa informação diagnóstica. São inúmeras as causas de dor no tórax. Para se compreender a fisiopatologia da dor, é conveniente considerá-la sob três características básicas: localização, irradiação e referência. As pleurites ou pleurisias são importantes causas de dor torácica. Em geral, a dor vem acompanhada de tosse seca de timbre alto. Pode ocorrer febre e, em certa fase da doença, surgir dispneia. A dor costuma ser aguda, intensa e em pontada. O paciente a localiza com precisão e facilidade. Sua área é pequena, bem delimitada, e ela não se irradia, podendo o paciente cobri-la com a polpa de um dedo, ou fazer menção de agarrá-la sob as costelas com os dedos semifletidos. A dor aumenta com a tosse, o que faz o paciente reprimi-la, o mesmo acontecendo com os movimentos do tórax. Nem sempre o decúbito sobre o lado da dor proporciona alívio. Em muitos casos de pleurite, quando a dor desaparece, surge a dispneia; isso significa que o derrame se instalou. A dor no pneumotórax espontâneo benigno dos jovens é inconfundível-súbita, aguda e intensa. O paciente quase sempre a compara a uma punhalada. Acompanha-se de dispneia, de maior ou menor intensidade, dependendo da pressão na cavidade pleural. Não há queixa de febre, e a dor surpreende o paciente em plena saúde, na imensa maioria das vezes. Quando o foco pneumônico é apical, mediastinal ou diafragmático, as vias nervosas aferentes conduzem o estímulo até os centros cerebrais, e os pacientes relatam uma sensação dolorosa profunda não localizada, bem diferente da anterior. O infarto pulmonar cortical, parietal ou diafragmático, provoca dor muito parecida com a das pleurites e das pneumonias. A concomitância de doença emboligênica até então não identificada contribui decisivamente para o diagnóstico de infarto pulmonar. A sensação dolorosa provocada pelas viroses respiratórias é bem diferente. O paciente queixa-se de dor difusa, como um desconforto, quase sempre de localização retroesternal, que se exacerba com a tosse, que é seca. Tosse A tosse é o mais significativo e frequente sintoma respiratório. Consiste em uma inspiração rápida e profunda, seguida de fechamento da glote, contração dos músculos expiratórios, principalmente o diafragma, terminando com uma expiração forçada, após abertura súbita da glote. A última parte da tossea expiração forçada- constitui um mecanismo expulsivo de grande importância para as vias respiratórias. A tosse resulta de estimulação dos receptores da mucosa das vias respiratórias. Os estímulos podem ser de natureza inflamatória (hiperemia, edema, secreções e ulcerações), mecânica (poeira, corpo estranho, aumento ou diminuição da pressão pleural como ocorre nos derrames e nas atelectasias), química (gases irritantes) e térmica (frio ou calor excessivo). Sua investigação clínica inclui as seguintes características: frequência, intensidade, tonalidade, existência ou não de expectoração, relações com o decúbito, período do dia em que é maior sua intensidade. A tosse pode ser produtiva ou úmida, acompanhada de secreção, não devendo nesses casos ser combatida; ou seca, quando é inútil, causando apenas irritação das vias respiratórias. A tosse quintosa caracteriza-se por surgir em acessos, geralmente pela madrugada, com intervalos curtos de acalmia, acompanhada de vômitos e sensação de asfixia. Embora seja característica da coqueluche, ocorre também em outras afecções broncopulmonares. A tosse seca pode ter origem em áreas fora da árvore brônquica, como o canal auditivo externo, a faringe, os seios paranasais, o palato mole, a pleura e o mediastino. Corpo estranho nas vias respiratórias também provoca tosse seca, quase contínua, rebelde ao tratamento. Em uma fase mais tardia, torna-se mais branda, passando a produtiva, desde que ocorra inflamação com ou sem infecção. Tosse seca, que não cede à medicação comum, pode ser um equivalente da asma e como tal deve ser tratada. Pode ser um 3 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 sinal precoce de doença pulmonar intersticial, como alveolite alérgica, sarcoidose, fibrose idiopática, condições em que sempre é impertinente. No tromboembolismo costuma ser improdutiva, mas pode acompanhar-se de expectoração com traços de sangue. A tosse bitonal deve-se a paresia ou paralisia de uma das cordas vocais, que pode significar comprometimento do nervo laríngeo inferior (recorrente), situado à esquerda no mediastino médio inferior. A tosse rouca é própria da laringite crônica, comum nos tabagistas. Tosse reprimida é aquela que o paciente evita, em razão da dor torácica ou abdominal que ela provoca, como acontece no início das pleuropneumopatias, no pneumotórax espontâneo, nas neuralgias intercostais, nos traumatismos toracoabdominais e nas fraturas de costela. Há pacientes que apresentam tosse ou seu equivalente, o pigarro, quando em situações que implicam certa tensão emocional (tosse psicogênica), como reuniões e falar em público. A tosse psicogênica é um diagnóstico de exclusão. Expectoração Na maioria das vezes, a expectoração costuma ser consequência da tosse. Sua constatação é o primeiro passo para diferenciar uma síndrome brônquica de uma síndrome pleural. As características semiológicas da expectoração compreendem o volume, a cor, o odor, a transparência e a consistência. As características do escarro dependem de sua composição: o escarro seroso contém água, eletrólitos, proteínas e é pobre em células; o mucoide, embora contenha muita água, proteínas, inclusive mucoproteínas, eletrólitos, apresenta celularidade baixa; o purulento é rico em piócitos e tem celularidade alta; no hemoptoico, observam-se "rajas de sangue''. A expectoração do edema pulmonar agudo é bem característica, tendo aspecto seroso, rico em espuma. Ocasionalmente apresenta coloração rósea. A expectoração do asmático é mucoide, com alta viscosidade, aderindo às paredes do recipiente que a contém, lembrando a clara de ovo; ela marca o término da crise asmática. Sua riqueza em eosinófilos é bem característica. Nestes casos, às vezes, encontram-se pequenas formações sólidas, brancas e arredondadas, justificando a expressão "escarro perolado”: dos asmáticos. Nas formas iniciais de bronquite, a expectoração é mucoide. A expectoração é um divisor de águas importante que muito contribui para diferenciar as lesões alveolares (pneumonias bacterianas) das intersticiais (pneumonias virais). No início das pneumonias bacterianas, não existe expectoração ou ela é discreta. Após algumas horas ou dias, surge uma secreção abundante, amarelo-esverdeada, pegajosa e densa. Nesta fase pode aparecer escarro hemoptoico vermelho-vivo ou cor de tijolo. Nas pneumonias por bacilos gram-negativos (Klebsiella, Aerobacter, Pseudomonas), a expectoração adquire aspecto de geleia de chocolate. Quando há germes anaeróbios (bacteroides), o hálito fétido e o escarro pútrido chamam a atenção do médico, embora isso costume ocorrer tardiamente. A expectoração, na tuberculose pulmonar, na maioria das vezes contém sangue desde o início da doença. Costuma ser francamente purulenta, com aspecto numular, inodora e aderindo às paredes do recipiente. Hemoptise A hemoptise é a eliminação de sangue pela boca, passando através da glote. Está entre as mais dramáticas manifestações clínicas com que o médico se defronta, despertando emoção que o tempo e a experiência não conseguem diminuir. Nas hemoptises de origem brônquica, o mecanismo é a ruptura de vasos previamente sãos, como ocorre no carcinoma brônquico, ou de vasos anormais, dilatados, neoformados, como sucede nas bronquiectasias e na tuberculose. Nas hemorragias de origem alveolar, a causa é a ruptura de capilares ou transudação de sangue, sem que haja solução de continuidade no endotélio. Grave é a hemoptise que surge pela primeira vez em paciente adulto do sexo masculino, grande fumante durante muitos anos, nos quais se aventa logo a hipótese de lesão brônquica maligna. Hemoptise 4 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 em paciente submetido a intervenção cirúrgica recente faz pensar em embolia pulmonar. A ausculta muitas vezes possibilita determinar o local de origem do sangue eliminado. A radiografia do tórax deve ser feita logo que as condições do paciente a viabilizem. O exame broncoscópico é obrigatório mesmo durante o episódio de sangramento, atendendo-se, naturalmente, às características particulares de cada caso. Vômlca A vômica é a eliminação mais ou menos brusca, através da glote, de uma quantidade abundante de pus ou líquido de outra natureza. Pode ser única ou fracionada, proveniente do tórax ou do abdome. Na maioria das vezes, origina-se de abscessos ou cistos nem sempre localizados no tórax, mas que drenam para os brônquios. Suas causas mais frequentes são o abscesso pulmonar, o empiema, as mediastinites supuradas e o abscesso subfrênico. EXAME FÍSICO Inspeção Na inspeção estática examinam-se a forma do tórax e suas anomalias congênitas ou adquiridas, localizadas ou difusas, simétricas ou não. Na inspeção dinâmica observam-se os movimentos respiratórios, suas características e alterações. A morfologia torácica varia conforme o biotipo do paciente (normolíneo, longilíneo e brevilíneo), cuja caracterização leva em conta a abertura do ângulo formado pelas últimas costelas (ângulo de Charpy). No normolíneo, o ângulo de Charpy é igual a 90°; no longilíneo, menor que 90°; e no brevilíneo, maior que 90°. Na pele observam-se a coloração e o grau de hidratação, bem como se há lesões elementares sólidas, correlacionando-as com as doenças pulmonares. Assim, as pápulas e ulcerações com a paracoccidioidose; os tubérculos com a tuberculose e a sarcoidose; os nódulos com o eritema nodoso ou a sarcoidose e o eritema indurativo de Bazin; a urticária com a alergia; as vegetações com a paracoccidiodose, a tuberculose e os epiteliomas. Deve-se observar a coloração da pele do paciente, destacando-se a cianose e a palidez = para que haja cianose, é preciso que o paciente tenha, pelo menos, 5% de hemoglobina reduzida. A contratura da musculatura paravertebral torácica unilateral constitui o sinal de Ramond, que denuncia o comprometimento pleural inflamatório homolateral. O sinal de Lemos Torres, caracterizado pelo abaulamento dos espaços intercostais durante a expiração, é sinal fidedigno de derrame pleural. Em uma radiografia de frente, o desenvolvimento unilateral muito acentuado dos músculos peitorais pode traduzir-se por redução da transparência deste hemitórax. Dependendo das alterações ósseas da coluna vertebral, costelas e estemo, teremos os vários tipos de tórax. Tórax chato ou plano: a parede anterior perde sua convexidade normal, havendo por isso redução do diâmetro anteroposterior. Nesse tipo de tórax, a musculatura é pouco desenvolvida, próprio dos indivíduos longilíneos. Tórax em tonel ou globoso: aumento exagerado do diâmetro anteroposterior, maior horizontalização dos arcos costais e abaulamento da coluna dorsal, o que torna o tórax mais curto. Tórax infundibuliforme (pectus excavatum): depressão na parte inferior do esterno e região epigástrica. Em geral essa deformidade é de natureza congênita. Tórax cariniforme (pectus carinatum): o esterno é proeminente e as costelas horizontalizadas, resultando em um tórax que se assemelha ao das aves (tórax de pombo). Tórax cônico ou em sino: é aquele que tem sua parte inferior exageradamente alargada, lembrando um tronco de cone ou um sino. É encontrado nas hepatoesplenomegalias e ascites volumosas. 5 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Tórax cifótico: curvatura da coluna dorsal, formando uma gibosidade. Pode ser de origem congênita ou resultar de postura defeituosa. Tórax cifoescoliótico: além da cifose, um desvio da coluna para o lado (escoliose) Inspeção dinâmica Como se apresenta o paciente? Está em ortopneia, preferindo, portanto, ser examinado na posição sentada? Sua recusa em deitar-se é um dado que sugere insuficiência cardíaca. Existe taquipneia, bradipneia ou trepopneia? Batimentos das asas do nariz sugerem pneumonia grave, e não processo pulmonar obstrutivo. Quando não houver sincronismo entre os movimentos respiratórios abdominais e torácicos, suspeitar de fadiga muscular. Tipo respiratório Para o reconhecimento do tipo respiratório, observar a movimentação do tórax e do abdome, com o objetivo de reconhecer em que regiões os movimentos são mais amplos. Em pessoas sadias, na posição de pé ou na sentada, quer no sexo masculino quer no feminino, predomina a respiração torácica ou costal, caracterizada pela movimentação predominantemente da caixa torácica. Em decúbito dorsal, também em ambos os sexos, a respiração é predominantemente diafragmática, prevalecendo a movimentação da metade inferior do tórax e do andar superior do abdome. Ritmo respiratório Normalmente a inspiração dura quase o mesmo tempo que a expiração, sucedendo-se os dois movimentos com a mesma amplitude, intercalados por leve pausa. Quando uma dessas características se modifica, surgem os ritmos respiratórios anormais: respiração de Cheyne-Stokes, respiração de Biot, respiração de Kussmaul, respiração suspirosa. Respiração de Cheyne-Stokes: presente em IC, hipertensão intracraniana, AVC e os traumatismos cranioencefálicos. Caracteriza-se por uma fase de apneia seguida de incursões inspiratórias cada vez mais profundas até atingir um máximo, para depois vir decrescendo até nova pausa. Respiração de Biot: causas são as mesmas da respiração de Cheyne-Stokes. No ritmo de Biot, a respiração apresenta-se com duas fases. A primeira, de apneia, seguida de movimentos inspiratórios e expiratórios anárquicos quanto ao ritmo e à amplitude. Quase sempre este tipo de respiração indica grave comprometimento cerebral. 6 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Respiração de Kussmaul: acidose, principalmente a diabética, é a sua causa principal. A respiração de Kussmaul compõe-se de quatro fases: inspirações ruidosas, gradativamente mais amplas, alternadas com inspirações rápidas e de pequena amplitude; apneia em inspiração; expirações ruidosas gradativamente mais profundas alternadas com inspirações rápidas e de pequena amplitude; apneia em expiração. Respiração suspirosa: série de movimentos inspiratórios de amplitude crescente seguidos de expiração breve e rápida. Outras vezes, os movimentos respiratórios normais são interrompidos por "suspiros" isolados ou agrupados. Traduz tensão emocional e ansiedade. Tiragem. Durante a inspiração em condições de normalidade, os espaços intercostais deprimem-se ligeiramente. A tiragem pode ser difusa ou localizada, isto é, supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica. Essas áreas retráteis caracterizam a impossibilidade de o pulmão acompanhar o movimento expansivo da caixa torácica, devido à atelectasia subjacente. Palpação A sensibilidade superficial e profunda, a dor provocada e espontânea ou qualquer outra manifestação dolorosa relatada pelo paciente devem ser avaliadas pela palpação. Processos inflamatórios pleuropulmonares determinam uma zona de maior sensibilidade na parede torácica correspondente. Com o dorso das mãos, verifica-se a temperatura cutânea, comparando-a com a do lado oposto. Uma diferença para mais pode denunciar comprometimento pleuropulmonar subjacente. Edema e enfisema subcutâneos são mais bem observados nas fossas supraclaviculares e espaços intercostais. O primeiro, como sinal precoce de obstrução da veia cava superior; o segundo, denunciando pneumotórax hipertensivo. Os grupos ganglionares regionais devem ser palpados cuidadosamente. Expansibilidade A expansibilidade dos ápices pulmonares é pesquisada com ambas as mãos espalmadas, de modo que as bordas internas toquem a base do pescoço, os polegares apoiem-se na coluna vertebral e os demais dedos nas fossas supraclaviculares. Para avaliar a expansibilidade das bases pulmonares, apoiam-se os polegares nas linhas paravertebrais, enquanto os outros dedos recobrem os últimos arcos costais. 7 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Frêmito toracovocal O frêmito toracovocal (FTV) corresponde às vibrações das cordas vocais transmitidas à parede torácica. Estas vibrações são mais perceptíveis nos indivíduos cuja voz é de tonalidade grave. A maneira correta de pesquisá-lo é colocar a mão direita espalmada sobre a superfície do tórax, comparando-se a intensidade das vibrações em regiões homólogas. Percussão Deve-se iniciar a percussão do tórax pela sua face posterior, de cima para baixo, ficando o médico atrás e à esquerda do paciente. Percute-se separadamente cada hemitórax. Em uma segunda etapa, percutir comparativa e simetricamente as várias regiões. A mão esquerda, com os dedos ligeiramente separados, deve apoiar-se suavemente sobre a parede, e o dedo médio, sobre o qual se percute, exerce apenas uma leve pressão sobre o tórax. Quatro tonalidades de som são obtidas: Som claro pulmonar ou sonoridade pulmonar nas áreas de projeção dos pulmões; Som timpânico no espaço de Traube; Som submaciço na região inferior do esterno; Som maciço na região inframamária direita (macicez hepática) e na região precordial. Ausculta Analisa o funcionamento pulmonar. O paciente deve estar com o tórax despido e respirar pausada e profundamente, com a boca entreaberta, sem fazer ruído. Auscultam-se as regiões de maneira simétrica. Sons normais Som traqueal e som brônquico Som traqueal: audível na região de projeção da traqueia, no pescoço e na região esternal. Diferenciam-se com facilidade seus dois componentes, sendo o inspiratório constituído de um ruído soproso, mais ou menos rude, após o qual há um curto intervalo silencioso que separa os dois com ponentes, e o expiratório, um pouco mais forte e mais prolongado. Som brônquico: muito se assemelha ao som traqueal, dele se diferenciando apenas por ter o componente expiratório menos intenso. Murmúrio vesicular O componente inspiratório é mais intenso, mais duradouro e de tonalidade mais alta em relação ao componente expiratório que, por sua vez, é mais fraco, de duração mais curta e de tonalidade mais baixa. Não se percebe, diferentemente do que ocorre na respiração traqueal, um intervalo silencioso entre as duas fases da respiração. Ausculta-se o murmúrio vesicular em quase todo o tórax, com exceção apenas das regiões esternal superior, interescapulovertebral direita e no nível da 3ª e 4ª vértebras dorsais. Nestas áreas, ouve-se o som broncovesicular. As principais modificações do murmúrio vesicular são a diminuição ou o aumento de sua intensidade e o prolongamento do componente expiratório. Som broncovesicular Neste tipo de som, somam -se as características do som brônquico com as do murmúrio vesicular. Deste modo, a intensidade e a duração da inspiração e da expiração têm igual magnitude, ambas um pouco mais fortes que no murmúrio vesicular, mas sem alcançar a intensidade de som brônquicoEm condições 8 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 normais, o som broncovesicular é auscultado na região esternal superior, na interescapulovertebral direita e no nível da terceira e quarta vértebras dorsais. Este som em outras regiões indica condensação pulmonar, atelectasia por compressão ou presença de caverna, isto é, nas mesmas condições em que se observa o som brônquico. Estertores Os estertores são ruídos audíveis na inspiração ou na expiração, superpondo-se aos sons respiratórios normais. Podem ser finos ou grossos. Os estertores finos ou crepitantes ocorrem no final da inspiração, têm frequência alta, isto é, são agudos, e duração curta. Não se modificam com a tosse. Podem ser comparados ao ruído produzido pelo atrito de um punhado de cabelos junto ao ouvido ou ao som percebido ao se fechar ou abrir um fecho tipo velcro. Os estertores grossos ou bolhosos têm frequência menor e maior duração que os finos. Sofrem nítida alteração com a tosse e podem ser ouvidos em todas as regiões do tórax. Diferentemente dos estertores finos, que só ocorrem do meio para o final da inspiração, os estertores grossos são audíveis no início da inspiração e durante toda a expiração. Sons ou ruídos anormais contínuos Roncos e sibilos Os roncos são constituídos por sons graves, portanto, de baixa frequência, e os sibilos por sons agudos, formados por ondas de alta frequência. Aparecem na inspiração como na expiração, mas predominam nesta última. Os sibilos também se originam de vibrações das paredes bronquiolares e de seu conteúdo gasoso, aparecendo na inspiração e na expiração. Estridor O estridor é um som produzido pela semiobstrução da laringe ou da traqueia, fato que pode ser provocado por difteria, laringites agudas, câncer da laringe e estenose da traqueia. Quando a respiração é calma e pouco profunda, sua intensidade é pequena, mas, na respiração forçada, o aumento do fluxo de ar provoca significativa intensificação deste som. Atrito pleural Ruído irregular, descontínuo, mais intenso na inspiração, semelhante ao atritar de couro. Representa um som de duração maior e frequência baixa e de tonalidade grave. Ressonância Vocal Para completar o exame físico dos pulmões, auscultam-se a voz nitidamente pronunciada e a voz cochichada. Para isso, o paciente vai pronunciando 33 enquanto o examinador percorre o tórax com o estetoscópio, comparando regiões homólogas. Em condições normais, tanto na voz falada como na cochichada, a ressonância vocal constitui-se de sons incompreensíveis, isto é, não se distinguem as sílabas que formam as palavras. A ressonância vocal é mais intensa no ápice do pulmão direito, nas regiões interescápulo-vertebral direita e esternal superior, ou seja, exatamente nas mesmas áreas onde se ausculta respiração broncovesicular. Na ausculta da voz podem-se observar: Ressonância vocal normal Ressonância vocal diminuída Ressonância vocal aumentada: 9 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Broncofonia: ausculta-se a voz sem nitidez Pectorilóquia fônica: ausculta-se a voz nitidamente Egofonia: broncofonia nasalada e metálica, comparada ao balido de cabra. 10 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Espirometria A espirometria é a medida do ar que entra e sai dos pulmões, podendo ser realizada durante respiração lenta ou durante manobras expiratórias forçadas. A espirometria é um teste que auxilia na prevenção e permite o diagnóstico e a quantificação dos distúrbios ventilatórios. Ela deve ser parte integrante da avaliação de pacientes com sintomas respiratórios ou doença respiratória conhecida. A espirometria é um exame peculiar em medicina, posto que exige a compreensão e colaboração do paciente, equipamentos exatos e emprego de técnicas padronizadas aplicadas por pessoal especialmente treinado. Os valores obtidos devem ser comparados a valores previstos adequados para a população avaliada. Sua interpretação deve ser feita à luz dos dados clínicos e epidemiológicos. Volume residual: o volume de ar que permanece no pulmão após uma expiração máxima. Capacidade pulmonar total: o volume de gás nos pulmões após a inspiração máxima. Capacidade residual funcional: é o volume de ar que permanece nos pulmões ao final de uma expiração usual, em volume corrente. Capacidade vital: representa o maior volume de ar mobilizado, podendo ser medido tanto na inspiração quanto na expiração. Capacidade vital forçada: representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração. Volume expiratório forçado no tempo (VEFt): representa o volume de ar exalado num tempo especificado durante a manobra de CVF; Fluxo expiratório forçado máximo (FEFmáx): representa o fluxo máximo de ar durante a manobra de capacidade vital forçada. Também é denominada de pico de fluxo expiratório (PFE). Fluxo: representa o fluxo expiratório ou inspiratório forçado instantâneo relacionado a um volume do registro da manobra de CVF. Esta grandeza é expressa em litros/segundo (BTPS). Fluxo expiratório forçado médio: representa o fluxo expiratório forçado médio de um segmento obtido durante a manobra de CVF. Tempo da expiração forçada (TEF): tempo decorrido entre os momentos escolhidos para “início” e “término” da manobra de CVF. Esta grandeza é expressa em segundos. Tempo expiratório forçado médio: representa o tempo expiratório forçado médio de um segmento, obtido durante a manobra da CVF. Ventilação voluntária máxima (VVM): representa o volume máximo de ar ventilado em um período de tempo por repetidas manobras respiratórias forçadas. 11 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 A curva fluxo-volume mostra que o fluxo é máximo logo no início da expiração, próximo à CPT, havendo redução dos fluxos à medida que o volume pulmonar se aproxima do VR. Os fluxos no início da expiração, próximos ao PFE, representam a porção esforço-dependente da curva, porque podem ser aumentados com maior esforço por parte do paciente. Os fluxos após a expiração dos primeiros 30% da CVF são máximos após um esforço expiratório modesto e representam a chamada porção relativamente esforço-independente da curva. A CVF é o teste de função pulmonar mais importante porque num dado indivíduo, durante a expiração, existe um limite para o fluxo máximo que pode ser atingido em qualquer volume pulmonar. Como esta curva define um limite para o fluxo, ela é altamente reprodutível num dado indivíduo e, mais importante, o fluxo máximo é muito sensível na maioria das doenças comuns que afeta o pulmão. Um esforço inicial submáximo será claramente demonstrado na curva fluxo-volume, mas será bem menos evidente na curva volume-tempo. Já a detecção de um fluxo constante próximo ou igual a zero no final da curva expiratória forçada será facilmente perceptível na curva de volume-tempo e será menos evidente na curva fluxo-volume. Provém daí a importância da avaliação da curva fluxovolume para verificar a colaboração do paciente no início da manobra expiratória e da curva volume-tempo para análise dos critérios do final do teste. Uma vez treinado, o paciente pode reproduzir razoavelmente o esforço máximo expiratório inicial. Embora os fluxos no meio da curva, como o fluxo expiratório em 50% da CVF (FEF50%), sejam grandemente esforçoindependentes, eles dependem em grande parte do volume pulmonar e do tamanho das vias aéreas, sendo estas duas variáveis frouxamente inter-relacionadas. Como resultado, a faixa normal para estes fluxos é bem maior do que as medidas esforço-dependentes, como o VEF1 e o PFE. Esta desvantagem dos fluxos médios e terminais é parcialmente compensada pela sua grande alteração na doença, fazendo com que possam ser anormais isoladamente nas fases iniciais de distúrbios obstrutivos. Um fluxo médio pode ser aproximado por medidas feitas na curva volume-tempo. O fluxo instantâneo aqui seria derivado da tangente num determinado ponto. Para reduzir erros de aproximação, o fluxo é frequentemente derivado entre dois pontos, como entre 25 e 75% da CVF (FEF25-75%). As limitações e vantagens são semelhantes aos fluxos instantâneos derivados da curva fluxo-volume. O PFE e o VEF1 são medidas muito úteis de função pulmonar. O VEF1 tem maior reprodutibilidade porque é mais esforço-independente, porém a dependência do esforço torna a medida do PFE um bom indicador da colaboração na fase inicial da expiração. Garantia de qualidade Garantia de qualidade engloba não apenas o controle de qualidade (que é o processo de monitorizar a precisão e a acurácia de um teste), mas muitas outras atividades incluindo: manutenção do equipamento e características de desempenho, calibração, treinamento de pessoal e avaliação continuada da competência e o relato dos resultados e manutenção dos registros. O programa de garantia de qualidade no laboratório de função pulmonar deve ser um esforço coordenado para minimizar as várias frentes técnicas de erro e variação, incluindo instrumentação, técnicos, pacientes e o procedimento. Vários fatores, além da acurácia do instrumento, influenciam a acurácia e a reprodutibilidade dos testes espirométricos no mundo real. Estes fatores incluem o seguinte: o treinamento do técnico, experiência, número de testes realizados por mês, motivação, habilidade motivacional e paciência. Do lado do paciente, coordenação, cooperação, força, endurance e motivação. Os 6 componentes essenciais para garantia de qualidade são: Treinamento do pessoal e avaliação da competência O técnico deve estimular o paciente e observá-lo através das três fases de cada manobra: inalação máxima, soprar rapidamente, e continuar a soprar longamente, por pelo menos 6 segundos. 12 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 A maioria das manobras erradas são facilmente reconhecidas pela observação do paciente. Quando o técnico ou o sistema detecta manobra de má-qualidade, o técnico deve dizer ao paciente o que houve de errado e novamente demonstrar como realizar a manobra corretamente. Depois de oito manobras realizadas, se o teste for ainda de má qualidade, novo exame deve ser agendado. Manual de procedimentos Engloba a descrição dos testes e seus objetivos, indicações dos exames, contraindicações (hemoptise, angina recente, descolamento de retina, crise hipertensiva, edema pulmonar e aneurisma de aorta torácica), ficha clínica para avaliação, calibração dos equipamentos antes dos testes, preparação do paciente para realização do exame, diretrizes para controle de qualidade, manutenção básica do equipamento, precauções de segurança relacionadas ao procedimento, referência de todas as equações utilizadas para cálculos dos resultados e valores previstos, documentação dos protocolos informatizados para cálculos e arquivamento dos dados e algoritmo de interpretação dos exames. Preparação para o exame Quando o paciente marcar o exame, as seguintes instruções ou observações devem ser feitas: Infecção respiratória nas últimas 3 semanas, como gripe, resfriado, bronquite e pneumonia, podem alterar a função pulmonar ou levar à hiperresponsividade brônquica. Em pacientes acompanhados longitudinalmente estes testes podem dar impressão de perda funcional acelerada. Broncodilatadores de ação curta devem ser suspensos por 4 horas e de ação prolongada por 12 horas antes dos testes, se o objetivo for a verificação da presença de obstrução reversível. Se a finalidade do exame for encontrar a máxima função pulmonar, ou se a suspensão do Bd resultar em dispnéia acentuada, Bds podem ser mantidos. Jejum não é necessário. Café e chá não devem ser ingeridos nas últimas 6 horas, por efeito broncodilatador, especialmente quando testes de broncoprovocação forem programados. 13 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Cigarro: aumenta a resistência ao fluxo aéreo e não deve ser usado pelo menos 2h antes do exame. Álcool não deve ser ingerido nas últimas 4 horas. Refeições volumosas devem ser evitadas 1 hora antes dos testes. O paciente deve repousar 5 a 10 minutos antes do teste. Questionário respiratório O médico que solicita o exame deve deixar claro o objetivo do teste e relatar os achados clínicoradiológicos que podem influenciar a interpretação dos dados. Idealmente um questionário respiratório deve ser preenchido antes de cada teste. Sintomas: você habitualmente tosse ou pigarreia pela manhã? Não (0) Sim (1) Você habitualmente elimina catarro? Não (0) Sim (1) Seu peito chia com freqüência? Não (0) Sim (1) O chiado melhora com algum remédio? Não (0) Sim (1) Você tem falta de ar: Grau 0 (esperada): com atividades extraordinárias, tais como correr, carregar cargas pesadas no plano ou cargas leves subindo escadas. Não (0) Sim (1) Grau 1 (leve): com atividades maiores, tais como subir ladeira muito inclinada, 2 ou mais andares ou carregando pacote pesado de compras no plano. Não (0) Sim (1) Grau 2 (moderada): com atividades moderadas, tais como: subir 1 andar, caminhar depressa no plano, ou carregar cargas leves no plano. Não (0) Sim (1) Grau 3 (acentuada): com atividades leves, tais como: tomar banho, andar uma quadra em passo regular. Não (0) Sim (1) Grau 4 (muito acentuada): em repouso ou para se vestir ou caminhar poucos passos devagar. Não (0) Sim (1) Doenças pulmonares: Já teve alguma doença pulmonar? Não (0) Sim (1) Qual? Tem ou teve asma? Não (0) Sim (1) Toma atualmente remédio para asma? Não (0) Sim (1) Já se submeteu a alguma cirurgia no tórax ou no pulmão? Não (0) Sim (1) Já precisou respirar por aparelho alguma vez? Não (0) Sim (1) Outras doenças: Cardíacas? Não (0) Sim (1) Doenças sistêmicas com possível envolvimento respiratório? Não (0) Sim (1) Qual? HIV positivo? Não (0) Sim (1) História profissional: Já trabalhou em ambiente com poeira por um ano ou mais? Não (0) Sim (1) Qual? Tabagismo Fuma ou fumou cigarros? Não (0) Sim (1) Com que idade começou a fumar regularmente? Caso você tenha parado de fumar totalmente, há quanto tempo você parou? Quantos cigarros, desde que começou a fumar, você tem fumado por dia? Cálculo dos anos-maço. Radiografia Sinais de obstrução ao fluxo aéreo? Não ❏ Sim ❏ Opacidades localizadas? Não ❏ Sim ❏ 14 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Difusas? Não ❏ Sim ❏ Sequelas? Não ❏ Sim ❏ Sinais de ICC? Não ❏ Sim ❏ Realização do exame O indivíduo deve repousar 5 a 10 minutos antes do teste. O procedimento deve ser descrito cuidadosamente, com ênfase na necessidade de evitar vazamentos em torno da peça bucal e da necessidade de inspiração máxima seguida de expiração rápida e sustentada até que o observador ordene a interrupção. Dentaduras devem ser mantidas, a menos que sejam mal-ajustadas; o vazamento é menor pelo maior suporte dos lábios e bochechas. Além disso, o uso da dentadura aumenta o espaço retrofaríngeo e eleva levemente os fluxos em normais e em restritivos. O ambiente deve ser calmo e privado. Evitar roupas apertadas. Se o paciente apresenta expectoração em maior quantidade, transitoriamente, o teste deve ser adiado. Alternativamente, fisioterapia pode ser feita no dia anterior. Testes longitudinais devem ser feitos aproximadamente no mesmo horário do dia, especialmente para detecção de influências ambientais. O espirômetro deve ter sido calibrado anteriormente. A temperatura deve ser verificada e ajuste realizado. Durante o exame o paciente deve estar na posição sentada, a cabeça deve ser mantida em posição neutra e mais ou menos fixa. A flexão e a extensão da cabeça reduzem e elevam respectivamente os fluxos expiratórios forçados iniciais por variação da rigidez traqueal. O uso de clipe nasal é recomendado sempre, embora se tenha demonstrado que em sistemas abertos não haja diferença nos resultados obtidos. A inspiração até a CPT antes da expiração forçada não deve ser muito rápida. A pausa pós-inspiratória não deve exceder 3s. A inspiração máxima produz broncodilatação e mudanças na retração elástica. Em normais e indivíduos com asma e DPOC, os fluxos expiratórios são significativamente maiores sem uma pausa ao final da inspiração precedente à manobra, em comparação com os testes feitos com uma pausa pós-inspiratória. Isto se deve à perda progressiva da retração elástica dos pulmões e da parede torácica com a pausa. A diferença no PFE em normais é de 15% e em DPOC de 30%, quando pausas de 5s ou mais são comparadas com ausência de pausa ou pausa com duração abaixo de 2s. O indivíduo deve ser estimulado vigorosamente para que o esforço seja “explosivo” no início da manobra. Durante a expiração o técnico deve observar o indivíduo e estimular positivamente para que o esforço seja mantido pelo tempo necessário. A imitação simultânea da manobra por parte do técnico, a visualização do gráfico expirado por parte do indivíduo testado ou a utilização de telas de incentivo podem ser de auxílio em casos mais difíceis. Critérios de aceitação das curvas Capacidade vital forçada (CVF) O início do teste deve ser abrupto e sem hesitação. Qualquer manobra, mesmo sem início lento aparente, deve ter o volume retroextrapolado calculado. O VEF1 e todos os outros fluxos devem ser medidos após a extrapolação retrógrada conforme detalhado em Técnica. Volume de retroextrapolação maior do que 5% da CVF ou 150ml (o quer for maior) torna a manobra inaceitável. As manobras com grandes volumes extrapolados são quase sempre resultado de hesitação excessiva no início da manobra de CVF e resultam em fluxos menores, incluindo o PFE. Contudo, um grande volume extrapolado nem sempre resulta num VEF1 menor. O PFE é o melhor índice do esforço expiratório = se o PFE não é fornecido, o esforço no início da manobra é impossível de avaliar; mesmo com diferenças de PFE pequenas, diferenças de até 250ml no VEF1 poderão ocorrer. Diversos sistemas permitem a sobreposição das curvas fluxo15 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 volume partindo do volume máximo inspirado. Isto permite ao técnico perceber pequenas diferenças no PFE e nos fluxos em diversos segmentos da manobra da CVF. Manobras aceitáveis devem ter PFE dentro de 10% ou 0,5L (o que for maior) do maior PFE obtido em manobras prévias. A duração da expiração forçada deve ser de no mínimo 6s, a menos que um platô evidente seja observado na curva volume-tempo. Três critérios para aceitação do final do teste são estabelecidos: O doente interrompe o teste por desconforto, tosse ou vertigem; Ocorre platô na curva volume-tempo por pelo menos 1s, após tempo expiratório mínimo de 6s. Alguns indivíduos com obstrução grave podem continuar a expiração além de 15 segundos, de modo que 6s é simplesmente um valor mínimo. Na presença de obstrução, curvas com tempo expiratório acima de 10s são consideradas aceitáveis. Frequentemente doentes obstrutivos não preenchem os critérios de aceitação para o final da curva. Em pacientes com obstrução moderada ou acentuada, pode-se solicitar que os mesmos, após 3s do início da expiração máxima, continuem a soprar ininterruptamente, porém sem esforço máximo. Em pacientes com restrição grave pode-se aceitar manobras com tempo inferior a 6 segundos, desde que haja platô no último segundo. Número de testes O número de tentativas deve levar em conta que 3 curvas aceitáveis e 2 reprodutíveis são necessárias, que existe um efeito de de aprendizado com a repetição das manobras, e que há possibilidade de um indivíduo cansar ou efeito aborrecer-se. Considerando os fatores acima, raramente mais de 8 curvas são necessárias. Em alguns estudos, os maiores valores são conseguidos após 3 tentativas aceitáveis, porém a diferença é pequena e não justifica a obtenção de mais dados se as 3 primeiras curvas são aceitáveis. O teste pode ser repetido qualquer número de vezes, porém se valores reprodutíveis não são obtidos após 8 tentativas, o teste deve ser suspenso. Critérios de aceitação dos exames Para aceitação final do exame, os seguintes critérios de reprodutibilidade devem ser preenchidos: os dois maiores valores de VEF1 e CVF devem diferir menos de 0,15L. Os critérios de reprodutibilidade devem ser aplicados apenas após a obtenção de manobras aceitáveis. Os critérios de reprodutibilidade são indicadores de exatidão – a necessidade de que os valores de pelo menos uma manobra expiratória forçada 16 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 adicional sejam próximos do valor máximo torna menos provável que o indivíduo tenha valores maiores do que aqueles obtidos da melhor curva. O único critério para eliminar um teste completamente é a falência de obtenção de manobras aceitáveis após pelo menos 8 tentativas. Seleção dos valores obtidos Dados de todas as manobras aceitáveis devem ser examinados. A CVF selecionada deve ser a maior, obtida de qualquer curva. O VEF1 deve ser o maior valor retirado dentre as curvas com valores de PFE situados dentro dos critérios de aceitação (variação de PFE entre o maior e o menor valor < 10% ou 0,5L, o que for maior). Os valores de CVF e VEF1 não necessariamente são provenientes da mesma manobra. Diversas maneiras podem ser utilizadas para selecionar os fluxos em vários pontos da curva expiratória. Capacidade vital A CV é a mudança de volume medido na boca entre as posições de plena inspiração e expiração completa, sem esforço máximo. A medida pode ser feita de 3 maneiras: Capacidade vital inspiratória (CVI): medida realizada de maneira relaxada, partindo da posição de plena expiração até a inspiração máxima. Capacidade vital expiratória (CVE): medida é feita de modo semelhante a partir da posição de plena inspiração até a expiração máxima. CV em dois estágios: a CV é determinada em duas etapas com a soma da CI e VRE. Esta medida não é recomendada na rotina. A CV deve ser medida de rotina, antes e depois de broncodilatador. Uma manobra de CV lenta pode ser considerada aceitável se: Volume expiratório final das 3 respirações que imediatamente precedem a manobra de CV não deve variar mais de 0,1L. O indivíduo deveria expirar até o VR e então inspirar sem interrupção até a CPT (CV inspiratória), ou inspirar até a CPT e expirar até o VR (CV expiratória). Um platô de volume deve ocorrer ao final da expiração e inspiração máximas. Pelo menos 2 manobras de CV aceitáveis deveriam ser obtidas. Os volumes destas tentativas deveriam diferir < 0,10L um do outro. A medida da capacidade inspiratória tornou-se relevante nos últimos anos como indicativa de hiperinsuflação pulmonar e como medida desta após broncodilatador. A CV deveria não diferir mais de 0,20L da maior CVF. Se a CV lenta é menor do que 0,20L da CVF, esforço inadequado pode ser a causa. Se a CV é muito maior do que a CVF, compressão dinâmica das vias aéreas durante a manobra de CVF pode estar causando alçaponamento de ar. Pico de fluxo expiratório O teste é feito pela realização de uma inspiração máxima seguida por uma expiração forçada máxima, curta e explosiva, através do dispositivo de medida. O indivíduo não deve tossir, o que pode acarretar valores falsamente elevados. O esforço expiratório precisa durar apenas 1 a 2 segundos. A realização satisfatória do PFE é volume esforço-dependente. O PFE é geralmente alcançado dentro do primeiro décimo de segundo do esforço expiratório. Instrução apropriada e estímulo do paciente são importantes para o sucesso do teste. Pelo menos 3 medidas devem ser realizadas em cada sessão. 17 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 A manobra deve ser repetida até que 3 leituras estejam dentro de 20L/min cada uma da outra. O maior valor das 3 leituras deve ser anotado. Deve-se observar se ocorre tendência ao declínio nas manobras sucessivas, o que indica broncoconstrição. Os resultados do PFE podem ser relatados em L/s como nos espirômetros habituais ou L/min como nos medidores portáteis de PFE. O período de monitorização deve variar entre 7 e 14 dias. A variação pode ser calculada dividindose o valor máximo pelo mínimo x 100, ou por medida do desvio padrão das medidas. Fatores que afetam a função pulmonar Antes de caracterizar os testes como anormais, variações técnicas e biológicas devem ser consideradas. Em ordem decrescente de importância influenciam as variáveis funcionais: sexo, estatura, raça, idade, fatores técnicos, peso e outros. Sexo: 30% da variação da função pulmonar = os volumes pulmonares são maiores no sexo masculino, mas a relação VEF1/CVF é discretamente menor, em média, provavelmente pela maior compressão dinâmica resultante da maior força muscular. Estatura: pessoas com extremos de estatura podem ser classificadas como tendo função pulmonar anormal com base nas equações previstas; deve-se usar a estatura medida e nunca a referida. A relação VEF1/ CVF pode ser reduzida por compressão das vias aéreas e resultar em falso diagnóstico de obstrução ao fluxo aéreo. Idade: os valores máximos de CVF são alcançados em torno de 25 anos no sexo masculino e 20 anos no sexo feminino. A CVF e o VEF1 sofrem um declínio mais acelerado a partir de 55-60 anos. Os fluxos expiratórios caem com a idade, principalmente os terminais. Os fluxos terminais caem mais que os iniciais porque as vias periféricas perdem calibre e se tornam mais flácidas, ao contrário do que ocorre com as vias aéreas centrais. A relação VEF1/CVF declina com a idade. Raça: os volumes pulmonares são 10 a 15% menores na raça negra. Peso: o peso afeta a maioria das medidas funcionais por aumento da função (muscularidade) e então diminuindo a função à medida que o peso se torna excessivo (obesidade). Técnica: além de fatores biológicos e ambientais, variações de medida podem explicar valores diferentes obtidos em populações semelhantes. As fontes de variação técnica nos testes de função pulmonar podem situar-se no instrumento, procedimento, observador, indivíduo testado, temperatura, altitude, posição e seleção e análise das curvas. Estado de saúde Poluição ocupacional e ambiental: tabagismo = afeta a função pulmonar nas crianças e adultos. Há aumento da reatividade brônquica. Inalação de outros poluentes e irritantes pode resultar em broncoconstrição em portadores de hiperreatividade brônquica. Estado socioeconômico: indivíduos fumantes de menor nível socioeconômico têm função pulmonar menor. Isto provavelmente resulta de condições ambientais desfavoráveis, maior freqüência de doenças respiratórias e acesso menor aos serviços de saúde. Interpretação CVF A CVF é normalmente igual à CV lenta. Em indivíduos sem obstrução ao fluxo aéreo a CVF e a CV devem diferir menos de 0,2L. CVF maior que CV significa em geral falta de colaboração na manobra lenta. A 18 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 CVF pode ser menor do que a CV em indivíduos com distúrbio obstrutivo (diferença significativa acima de 0,2L), se a expiração forçada causa colapso de vias aéreas, com resultante alçaponamento de ar. A CVF pode ser reduzida no enfisema pela perda do suporte elástico das pequenas vias aéreas. A CVF também pode ser reduzida por tampões de muco e estreitamento bronquiolar, como se encontra na bronquite crônica, asma e bronquiectasias. CVF reduzida também pode ser vista, em alguns indivíduos com obstrução de vias aéreas centrais, como tumores. Neste caso também a CV pode ser muito maior que a CVF. Muitos indivíduos com obstrução ao fluxo aéreo têm CVF na faixa prevista. Contudo, o tempo requerido para expirar a CVF (tempo expiratório forçado) é frequentemente prolongado. Indivíduos normais expiram a sua CVF em geral em menos de 6s. Indivíduos com obstrução acentuada ao fluxo aéreo podem requerer 20s ou mais para expirar totalmente a CVF. O diagnóstico de obstrução será entretanto quase sempre evidente se pelo menos 10s de registro forem obtidos. A CV(F) reduzida é também achado comum de doenças restritivas. Neste caso, a redução percentual do VEF1 acompanha de perto a redução da CV(F). Uma CV(F) menor que o previsto em indivíduos com restrição pode resultar de um aumento na quantidade ou tipo de colágeno, como na fibrose pulmonar. Fibrose pulmonar também pode decorrer de inalação de poeiras, efeito de drogas ou radiação. Restrição também pode resultar do acúmulo de líquido intrapulmonar, transudato ou exsudato, como em edema pulmonar ou pneumonias. Lesões que ocupam espaço, tais como tumores ou derrames pleurais, também podem reduzir a CV(F) ao comprimir o tecido pulmonar. Pacientes com dispnéia, CVF reduzida, razão VEF1/CVF e FEF25-75/CVF ou TFEF25-75% normais e radiografia de tórax normal, devem ser avaliados para: Obesidade Doença neuromuscular: a força dos músculos respiratórios será reduzida e o VRE será o compartimento da CVF mais afetado. Doença cardíaca deve ser excluída por dados clínicos e complementares; VEFt As manobras de VEFt medem o volume de gás expirado em várias unidades de tempo, sendo, na realidade, medidas do fluxo médio, em seus respectivos intervalos de tempo. Distúrbio ventilatório obstrutivo é caracterizado por redução do fluxo expiratório em relação ao volume pulmonar expirado. A obstrução ao fluxo aéreo resulta da redução da retração elástica e/ou aumento da resistência das vias aéreas. O VEF1 pode também ser reduzido na presença de obstrução de grandes vias aéreas; nestes casos a obstrução central será mais aparente nas curvas fluxo-volume. Indivíduos com VEF1 acentuadamente reduzido têm chance muito maior de morrer por DPOC e por câncer de pulmão. Embora o VEF1 se correlacione com o prognóstico e a gravidade dos sintomas em muitas formas de doença pulmonar obstrutiva, a evolução para pacientes individuais não pode ser prevista acuradamente. O VEFt avalia basicamente distúrbios obstrutivos. Pode, secundariamente à redução da CVF, estar diminuído em distúrbios restritivos isolados, sendo que neste caso o VEF1 em percentagem é em geral maior do que a CVF percentual, sendo a CVF no máximo 5% maior. O FEF25-75% mede o fluxo médio num determinado intervalo de volume que inclui o fluxo de vias aéreas de médio e pequeno calibre. Os valores diminuem com a idade. A grande variabilidade dos fluxos pode ser reduzida fazendo-se a divisão dos mesmos pela CVF, já que o volume pulmonar tem alguma relação com o calibre das vias aéreas. A relação FEF25-75/CVF foi proposta com este objetivo. Na presença de fluxos terminais reduzidos, e com dados clínicos compatíveis com doença obstrutiva, o laudo poderá ser de limitação ao fluxo aéreo em baixos volumes pulmonares ou distúrbio ventilatório obstrutivo leve. 19 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Pico de fluxo expiratório (PFE) O PFE é um parâmetro expiratório esforço-dependente, que reflete o calibre das vias aéreas proximais. A interpretação de redução do PFE deve ser valorizada apenas quando valores reprodutíveis forem obtidos. A dependência do esforço torna a medida do PFE um índice interessante para avaliar a colaboração na fase precoce da expiração – a pressão transpulmonar máxima se correlaciona bem com o PFE máximo. O PFE pode ser utilizado como um índice da capacidade de tossir ou, indiretamente, da força expiratória. Em portadores de DPOC, especialmente naqueles com extenso enfisema, um pico de fluxo espiculado na curva fluxo-volume pode ser seguido de um rápido declínio dos fluxos expiratórios, com grande diferença entre o VEF1 e o PFE em % do previsto. A forma da curva expiratória em indivíduos normais demonstra uma linha reta ou discretamente côncava para o eixo de volume. Em indivíduos com obstrução leve difusa o fluxo é diminuído particularmente em baixos volumes pulmonares, havendo com a progressão da obstrução uma concavidade maior aparente na curva. Devido a que a perda da retração elástica e o aumento da resistência das vias aéreas resultam num perfil de obstruções ao fluxo aéreo semelhante, diferentes doenças obstrutivas, como asma, enfisema e bronquite crônica, são indistinguíveis pela análise da curva fluxo-volume. A obstrução das vias aéreas superiores mostra achados característicos nas curvas expiratória, inspiratória ou ambas. As anormalidades funcionais surgem quando o calibre da via aérea se reduz em geral a menos de 8mm, sendo afetados os fluxos dependentes do esforço. O VEF1 se altera quando o calibre cai abaixo de 5mm. A comparação entre os fluxos expiratórios e inspiratórios no meio da CVF auxilia a localizar a obstrução. Obstrução fixa tipicamente resulta em redução aproximadamente igual dos fluxos inspiratórios e expiratórios em 50% da CVF. Processos obstrutivos que variam com a fase da respiração também produzem padrões característicos. Na obstrução extratorácica variável, usualmente os fluxos expiratórios são normais, mas há redução dos fluxos inspiratórios. Devido a que o processo obstrutivo se localiza fora do tórax, a curva fluxovolume expiratória pode parecer normal, sendo a porção inspiratória achatada. Na obstrução intratorácica variável, o PFE é usualmente reduzido e o fluxo expiratório é diminuído até que o local da limitação de fluxo muda para as vias aéreas mais periféricas. 20 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Tromboembolismo pulmonar A tromboembolia pulmonar constitui, juntamente com a trombose venosa profunda, a condição denominada tromboembolismo venoso. A expressão aguda básica da TEV é a TVP, e sua complicação aguda potencialmente fatal é a TEP aguda. A ocorrência de TEP é uma situação clínica comum, de alta prevalência relativa em faixas mais altas de idade e em ambiente hospitalar. Suas manifestações clínicas podem ser inaparentes, dissimuladas ou sugestivas. Epidemiologia Devido ao seu quadro clínico multifacetado e à sua natureza muitas vezes silenciosa, a TEP é uma doença ainda enigmática do ponto de vista epidemiológico. A TEP aguda ocorre predominantemente em pacientes acima da meia-idade, havendo um aumento quase linear na prevalência com a idade. Não há um consenso em relação à prevalência de TEP entre os sexos. Por razões ainda não elucidadas, em negros, a taxa de mortalidade por TEP é cerca de 50% maior do que em brancos e, nesses, essa taxa é 50% maior do que em outras raças. Essas diferenças têm explicações em geral complexas e, às vezes, presuntivas, que incluem as influências ambientais, o estilo de vida, dietas e a genética. História Natural A TEP é uma afecção comum, com alta mortalidade, que requer tratamento de longo prazo e pode ser associada a uma considerável iatrogenia, cujo diagnóstico de certeza é caro e não disponível em muitos hospitais. Assim, o conhecimento preciso da história natural de TEP é importante, pois permitiria tomar decisões lógicas, evitando riscos e custos desnecessários. Afecção da circulação venosa A relação das várias formas de TVP com a TEP é tão estreita que se justifica a adoção do termo TEP para designar a afecção, sendo quase impossível separar a história natural da TEP daquela de TVP, sendo a probabilidade de recidiva de TVP o aspecto crucial para a história natural de TEP. Até certo ponto, a história natural de TVP e de TEP é dependente do tempo de seguimento, o que dificulta a comparação entre várias 21 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 séries. Os êmbolos sanguíneos são os mais comuns. Eles quase sempre têm origem nas veias mais proximais dos MMI, sendo admitido que os mais distais praticamente nunca embolizam para os pulmões. Entretanto, cerca de um quarto das tromboses mais distais evoluem para as veias proximais em poucos dias ou até em horas. A história natural é influenciada profundamente pelas causas predisponentes, que, quando transitórias, estão associadas a um excelente prognóstico. Na repetição dos episódios, é fundamental pesquisar as causas predisponentes permanentes, como neoplasias ocultas e trombofilias. Doenças associadas Além das condições predisponentes, outras condições obrigam o paciente a permanecer no leito, e, portanto, têm grande influência na repetição dos episódios de TEP e no prognóstico em relação à sobrevida. Assim, nem sempre é fácil classificar um óbito por repetição de TEP ou pela doença de base, podendo a dúvida persistir mesmo em pacientes autopsiados. Apresentação clínica Admite-se que a formação de êmbolos e sua lise sejam comuns em indivíduos normais e que o rompimento deste equilíbrio é o determinante primário da TEP. O quadro clínico é muito variável, podendo ocorrer o óbito em poucos minutos ou passar despercebido, sendo intermediário na maior parte dos casos. A influência do tamanho do êmbolo e das doenças associadas é fundamental no prognóstico imediato, sendo, pior nos grandes êmbolos e nos portadores de cardiopatias ou pneumopatias prévias graves. A evolução do êmbolo pulmonar é muito variável com o tratamento com heparina ou fibrinolítico, podendo ocorrer lise, fragmentação ou recanalização em 24 h. Há o estabelecimento do fluxo sanguíneo em 3 meses em ¾ dos pacientes, mas isso pode não ocorrer, como observado principalmente em cardiopatas. A recuperação integral do endotélio das artérias pulmonares e das veias de origem do êmbolo provavelmente está associada a um melhor prognóstico. Fatores de Risco Os fatores de risco intrínsecos do individuo e não modificáveis são a idade (o risco aumenta exponencialmente) e o gênero. Cirurgias em geral resultam em um aumento do risco relativo, estratificável em relação à idade, tipo de procedimento, presença de malignidade e coexistência de trombofilias hereditárias. Devido ao seu uso disseminado, contraceptivos orais são a mais importante causa de trombose em mulheres jovens, sendo o risco crescente dentro dos primeiros 4 meses do inicio da terapia e não se alterando pela duração de uso, e reduzindo ao nível basal dentro de 4 meses após a interrupção do uso uso corrente de terapia de reposição hormonal, mesmo com uma menor concentração estrogênica do que contraceptivos orais, também incorre em um aumento do risco tromboembólico. Da mesma forma, o estado gestacional e o puerpério aumentam o risco relativo de TEV. A imobilização relativa ou absoluta é uma característica intrínseca de hospitalização, e qualquer paciente clínico criticamente enfermo admitido e acamado tem um maior risco de TEV. Viagens prolongadas têm como a duração média da imobilização um importante fator contribuinte. Doenças neurológicas, incluindo paresia ou plegias, também causam imobilização. A ICC comporta-se como um “estado de hipercoagulabilidade” que pode resultar em trombo intracardíaco e TEV, sendo que o maior risco de TEV seria maior naqueles pacientes com falência VD. Episódios prévios de TEV são um importante fator de risco para TEV, podendo conferir um risco relativo de até 8 vezes para a sua recorrência. Episódios de trombose prévios que ocorreram na ausência de fatores de risco identificáveis ou em associação com fatores de risco permanentes, têm uma chance de recorrência maior do que aqueles relacionados com riscos efêmeros (imobilização, uso de contraceptivos orais). A obesidade parece interagir com fatores de risco definidos amplificando seus efeitos no risco de TEV. 22 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Fisiopatologia A consequência imediata da TEP é a interrupção total ou parcial do fluxo sanguíneo arterial para o leito vascular pulmonar distal à obstrução, que resultará em alterações respiratórias e/ou hemodinâmicas de intensidades variáveis, dependendo do calibre do vaso ocluído e das condições previas do aparelho cardiorrespiratório. Os aumentos das resistência vascular oulmonar são causados pela produção de compostos vasoconstritores, vasoconstrição reflexa da A. pulmonar e hipoxemia. A elevação da pós-carga do VD libera biomarcadores cardíacos, como o peptidio natriurético cerebral. A elevação súbita da pressão 23 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 na A. pulmonar provoca um aumento abrupto da pós-carga de VD, com consequente elevação da tensão juntoà parede de VD, seguida de dilatação e disfunção ventricular direita. O septo interventricular deslocase para a esquerda, com resultante comprometimento da distensibilidade diastólica ventricular esquerda e queda do DC = hipotensão arterial, comprometimento da perfusão coronariana e isquemia miocárdica. A perpetuação desse ciclo pode levar a infarto VD, colapso circulatório e morte. Existem três tipos principais de TEP: menor, maciça e submaciça. É importante classuducar os pacientes corretamente, pois pacientes com TEP maciça requerem TTO avançado, como trombolise ou embolectomia, além de ACO regular. Diagnóstico A suspeita clínica de TEP aguda baseia-se na presença de um quadro clínico compatível e na identificação de um ou mais fatores de risco. Na maioria de pacientes com suspeita clínica de TEP aguda, essa não será confirmada e o diagnóstico final apontará de uma condição alternativa. Não há um quadro clinico específico ou patognomônico de TEP aguda. Indivíduos jovens e sadios podem ter TEP primária sem evidência clínica ostensiva, e indivíduos idosos e doentes podem ter sintomas e sinais de TEP mascarados por uma doença de base. As principais manifestações clínicas presentes nos episódios agudos submaciços de TEP são taquipneia, dispneia, dor torácica pleurítica, taquicardia, apreensão, tosse e hemoptise. Episódios maciços em pulmões normais ou submaciços em pulmões com pouca reserva cardiorrespiratória podem apresentar um quadro de colapso circulatório agudo. Como não há um quadro clínico específico para TEP, faz-se necessário um alto grau de suspeição: Sintomas torácicos agudos na presença de TVP aguda, antecedentes de TEV, fatores de risco, síncope, pós-operatórios, periparto ou puerpério; Pacientes criticamente enfermos ou com trauma; Pacientes com taquiarritmias súbitas e inexplicáveis, principalmente se apresentarem FR; Pacientes com arritmia crônica e que se apresentam com dor pleurítica e hemoptise súbitas; Descompensação inexplicável de IC ou de pneumopatia crônica; Parada cardiorrespiratória. Dor pleurítica, tosse e hemoptise sugerem TEP pequena, próxima à pleura, enquanto síncope, cianose e hipoxemia indicam usualmente TEP extensa. A probabilidade de TEP a partir da suspeita pode ser alta se houver um ou mais fatores de risco maiores conhecidos, acompanhados de sintomas agudos não explicados por outra causa, baixa quando não são identificados fatores de risco e as anormalidades clínicas 24 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 são explicáveis por outros diagnósticos ou intermediária, quando houver uma combinação dos fatores descritos acima. Alguns escores, pontuando parâmetros clínicos e exames complementares não diagnósticos, foram criados para facilitar a decisão inicial à beira do leito e em condições de pronto atendimento. Diagnóstico diferencial Os sinais e sintomas de TEP são inespecíficos e variam de quadro súbito de dispneia, dor torácica, tosse, hemoptise e instabilidade hemodinâmica até quadros subclínicos. O diagnóstico diferencial inclui IAM, aneurisma de aorta torácica, pericardite aguda, tamponamento cardíaco, pneumotórax, pneumomediastino, tumores torácicos, exsudatos, fratura de arcos costais, neuralgia intercostal; insuficiência cardíaca congestiva descompensada, asma aguda, exacerbação de DPOC, pneumonias, tuberculose pleuropulmonar e bronquiectasias. IAM O IAM caracteriza-se pelo início súbito de dor precordial de forte intensidade, acompanhada ou não por dispneia e choque cardiogênico. Ao ECG, encontramos inversão de onda T ou depressão do ponto J, 25 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 supradesnivelamento ST e alterações difusas de repolarização na parede comprometida. O ECG de admissão normal não exclui IAM. Recomenda-se a realização seriada de ECG e a dosagem sérica das enzimas cardíacas. Quando há um IAM com ECG normal, a história clínica detalhada, com pesquisa de fatores de risco específicos para as duas doenças, e exames laboratoriais seriados deve ser considerada. Pericardite aguda e o tamponamento cardíaco Quando há derrame pericárdico significativo, ocorre o abafamento de bulhas cardíacas, e sintomas de falência cardíaca podem ser encontrados. Alterações ao ECG são inespecíficas. A radiografia de tórax pode ser normal ou apresentar uma imagem cardíaca adquirindo forma triangular, indistinguível de miocardiopatias. O diagnóstico é feito através do ecocardiograma, que evidencia a presença de pequenas a grandes quantidades de derrame pericárdico com miocárdio normal. Aneurisma torácico A dor do aneurisma torácico é retroesternal e profunda, podendo ocorrer rouquidão e hemoptise. Achados de exame clínico são pobres, desde ausculta pulmonar e cardíaca normal, até diminuição ou ausência de pulsos periféricos e choque. A radiografia de tórax pode ser normal ou mostrar um alargamento da sombra aórtica. O ecocardiograma transesofágico pode avaliar a presença da ectasia e o local da ruptura, mas, no paciente grave, apresenta dificuldades técnicas. Nesses casos, a realização de angio-TC ou angio-RM torácica é conclusiva no diagnóstico diferencial. Asma e a DPOC Sinais de broncoespasmo e exames que comprovem a obstrução ao fluxo aéreo e resposta a broncodilatador também são significativos. A radiografia de tórax pode indicar uma pneumonia ou achados sugestivos de TEP como desencadeantes da descompensação da doença de base. A TEP é comum em pacientes com DPOC, apesar de não ser um risco independente. Na dúvida da associação com TEP, a angioTC é conclusiva, pois além de confirmar ou excluir TEP, possibilita o achado de diagnósticos alternativos (neoplasia pulmonar, pneumonia e dissecção aórtica). Os pacientes apresentam-se ansiosos, com sensação de morte iminente, hipotensão arterial, taquipneia, taquicardia e cianose de extremidades. Exames subsidiários devem ser realizados, pois o diagnóstico de síndrome de hiperventilação é de exclusão. Exames de apoio ao diagnóstico Radiografia de tórax Os achados à radiografia de tórax raramente são conclusivos para o diagnóstico de TEP aguda, sendo mais importantes para o diagnóstico diferencial e para a avaliação da cintilografia de perfusão. Pode ser normal e, na presença de dispneia de causa não definida, reforça a suspeita de TEP aguda. Os achados mais comuns são atelectasias laminares nas bases, elevação da cúpula diafragmática e derrame pleural, geralmente pequeno. Podem-se observar sinais clássicos de oligoemia regional, aumento das artérias pulmonares centrais e opacidade periférica em cunha. A RX de tórax é útil para o diagnóstico diferencial de TEP, permitindo somente evidenciar outras causas para os sintomas, mas não excluir ou confirmar TEP. ECG É incomum o ECG ser normal, e é infrequente o achado do padrão clássico S1-Q3-T3 descrito para TEP aguda. Às vezes, a única alteração é a presença de taquicardia sinusal. Há outros sinais de sobrecarga direita que podem ser observados, além do padrão S1-Q3-T3, principalmente em pacientes com TEP 26 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 maciça, como desvio do eixo QRS para a direita, inversão de onda T nas precordiais de V1-V3, BRD transitório total ou parcial, padrão Qr em V1, onda P pulmonale, onda Q na derivação III, padrão Q3-T3 e taquiarritmias atriais. Todos os achados são inespecíficos, e a principal relevância do exame é excluir outras entidades, como IAM ou pericardite. Ecocardiograma O ecocardiograma é um exame não invasivo e de baixa sensibilidade para o diagnóstico de TEP. Entretanto, pode ser uma ferramenta útil no diferencial de dispneia aguda, dor torácica, colapso cardiovascular e outras situações clínicas em que a TEP é considerada como um dos diagnósticos. Outra importância do ecocardiograma é na avaliação prognóstica e na estratificação de risco de pacientes com TEP. O ecocardiograma transtorácico raramente consegue visualizar o êmbolo pulmonar, mas às vezes revela um trombo flutuando no átrio ou no VD. É incapaz de excluir TEP com segurança, e sua principal relevância é em pacientes hemodinamicamente instáveis com TEP maciça, nos quais a visualização do trombo proximal (que confirma o diagnóstico, em geral, pelo ecocardiograma transesofágico), a dilatação aguda do VD e a presença de hipertensão pulmonar (diagnóstico presuntivo) permitirão a rápida decisão da terapêutica (uso de trombolíticos). Dímero D O dímero D tem alta sensibilidade, mas a sua especificidade é baixa; portanto, deve ser analisado com cautela, em conjunto com a avaliação de probabilidade clínica. Dentre todos os métodos utilizados, o teste por ELISA ou ELISA rápido quantitativo são os que têm melhor sensibilidade e maior probabilidade de excluir TEP (razão de probabilidade negativa) e são os que têm melhor utilidade clínica. O dímero D é um teste unidirecional; logo, um teste negativo é usado para excluir o diagnóstico. Recomenda-se o seguinte: O dímero D deve ser usado somente em pacientes após a avaliação da probabilidade clínica. O dímero D não deve ser usado em pacientes com alta probabilidade clínica. Um teste negativo exclui TEP em pacientes com baixa (qualquer método) ou intermediária (ELISA) probabilidade clínica, sem a necessidade de exames de imagem adicionais. Exames de confirmação Os exames de confirmação ou de exclusão do quadro de TEP e de TVP incluem a cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão, angio-TC, angio-RM, a arteriografia pulmonar por cateter com subtração digital e a ultrassonografia dos membros inferiores. A ultrassonografia dos MMII com Doppler a cores é um excelente método para o diagnóstico de TVP dos MMII, com acurácia de 99% acima do joelho e de 90% abaixo do joelho = excelente opção para o estudo de TVP profunda isoladamente. Em pacientes sintomáticos para TVP, a ultrassonografia pode ser utilizada como método inicial de investigação, uma vez que encontrada a TVP, pode-se iniciar a anticoagulação. Para o estudo de TEP, os exames podem ser divididos em métodos indiretos, pelos quais se buscam sinais que se correlacionam com a presença de tromboembolia, como a cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão, ou exames diretos, que buscam a identificação do trombo propriamente dito, como a angio-TC, a angio-RM e a angiografia convencional. A cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão é um método que quando associado à probabilidade clínica para TEP, possui alto VPN quando o resultado é normal (VPN = 97%), assim como alto VPP quando o resultado é de alta probabilidade (VPP = 92-99%). O emprego do exame de cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão em pacientes sem comorbidades e com radiografias normais propicia um melhor rendimento desse estudo, com menos resultados indeterminados, sendo uma excelente opção 27 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 na investigação inicial das suspeitas de TEP. Um exame de cintilografia pulmonar normal é suficiente para afastar o diagnóstico de TEP. Um exame de cintilografia pulmonar com alta probabilidade para TEP em um paciente com alta probabilidade clínica é suficiente para confirmar esse diagnóstico. A angio-TC possibilita, além do estudo angiotomográfico, a avaliação da aorta, do parênquima pulmonar, da caixa torácica e do espaço pleural, permitindo assim a realização de diagnósticos alternativos nos casos de suspeita de TEP. Um exame de angio-TC negativo para TEP e TVP em pacientes com baixa probabilidade clínica para TEP é suficiente para afastar esse diagnóstico. Um exame de TC positivo para TEP ou TVP em um paciente com alta probabilidade clínica é suficiente para confirmar esse diagnóstico. A angio-RM é uma alternativa à angio-TC e possibilita a realização de outras técnicas, como a perfusão, a quantificação de fluxo nos grandes vasos e a avaliação da função cardíaca. A principal indicação atual da ressonância magnética é como método alternativo à TC em pacientes com alergia ao contraste iodado. A angiografia pulmonar, consagrada como padrão ouro no diagnóstico de embolia, é um método invasivo, com baixa morbidade e mortalidade. Apesar de essa ser considerada o padrão ouro, vale ressaltar que esse exame também apre senta limitações de sensibilidade e especificidade no estudo dos vasos subsegmentares. Por ser um método invasivo e também de baixa disponibilidade, seu emprego como método inicial é usualmente limitado aos pacientes instáveis com contraindicação ao uso de trombolíticos e que podem se beneficiar da trombectomia por cateter, embora não tenha sido demonstrado ainda o impacto dessa abordagem. Nos pacientes estáveis, a indicação da angiografia ocorre quando os resultados dos exames não invasivos são inconclusivos, ou quando há discordância entre os mesmos e a clínica. 28 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Algoritmos de diagnóstico A TEP apresenta significativa mortalidade, sobretudo nas primeiras horas de sua apresentação. O espectro de apresentação de TEP é muito amplo. Ocorre desde um episódio assintomático em pacientes com TVP até a morte súbita, passando pela síndrome pleurítica, dispneia isolada e colapso circulatório. As manifestações irão depender da carga embólica pulmonar, do estado cardiopulmonar prévio do paciente e do grau de liberação de mediadores neuro-humorais. Na elaboração dos algoritmos de diagnóstico, é preciso levar em conta os seguintes fatores: Gravidade do episódio de TEP (presença de instabilidade clínica e/ou hemodinâmica); Doença cardiopulmonar prévia significativa; Disponibilidade dos recursos diagnósticos; Disponibilidade de métodos terapêuticos; O grau de invasividade dos procedimentos; História prévia de TEP; Contraindicações ao tratamento farmacológico (heparinas e trombolíticos); Risco de transporte intra-hospitalar para a realização dos exames; Experiência da equipe médica no atendimento de pacientes com TEP; Nível de evidência da recomendação na literatura. Quando surge a suspeita criteriosa de TEP aguda, com base nos sintomas e sinais (como dispneia, taquipneia ou dor torácica) sem causa aparente do ponto de vista clínico ou nos exames de apoio iniciais (radiografia de tórax, ECG e gasometria arterial), é imprescindível o estabelecimento da probabilidade clínica. Atualmente, tendo em vista a variabilidade da experiência pessoal no atendimento de pacientes com TEP, recomenda-se a utilização de escores de predição clínica validados. Entre eles, o mais estudado e aplicável é o Escore de Wells. Pacientes com escore ≤ 4 deverão ser submetidos à dosagem de dímeros D de alta sensibilidade (ELISA, VIDAS, hemaglutinação ou Liatest). Sendo essa com níveis abaixo do valor normal, TEP pode ser excluída com segurança e sem a necessidade de realização de exames de imagem adicionais. Em pacientes com escore > 4 (suspeita intermediária ou alta), não há a necessidade de se solicitar a dosagem de dímeros D, pois um valor normal não exclui TEP, sendo necessário prosseguir a investigação. Cabe lembrar que a especificidade da dosagem de dímeros D com ponto de corte de 500 ng/mL não é adequada para o uso assistencial, tendo em vista o grande número de resultados falsopositivos em contextos nos quais TEP é comum, como em pós-operatórios e na presença de neoplasias malignas ou de doenças clínicas exacerbadas. Convém lembrar que pacientes com suspeita clínica intermediária ou alta deverão receber anticoagulantes, quando não houver contraindicações, para reduzir o risco de recorrência durante o período da investigação diagnóstica. Em pacientes clinicamente estáveis, o exame recomendado na sequência é a ecografia de compressão e/ou Doppler de sistema venoso profundo de membros inferiores (incluir membros superiores na presença de cateter venoso central), mesmo em indivíduos assintomáticos para TVP, já que a presença de trombose nesse local permite o diagnóstico nosológico de TEV e o respectivo tratamento. Nos pacientes com estudo do sistema venoso profundo negativo que mantiverem a suspeita clínica de TEP, deverá ser realizada a arteriografia pulmonar, que, apesar de ser um método invasivo e com necessidade de uso de contraste, é seguro em centros experientes, desde que tomadas as devidas precauções. Sendo a arteriografia pulmonar convencional o padrão ouro, o resultado positivo (isto é, defeitos de enchimento vascular) permite confirmar o diagnóstico de TEP, bem como o resultado negativo o afasta com segurança, podendo-se, nesse último caso, suspender a anticoagulação se essa havia sido iniciada. 29 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 No caso de pacientes que estão clinicamente instáveis (hipotensão, síncope e/ou hipoxemia significativas) e quando há a suspeita de TEP (geralmente intermediária ou alta), há a necessidade de rapidez no diagnóstico para que o tratamento seja iniciado o mais breve possível, em especial quando o VD está demonstrando sinais diretos ou indiretos de falência, o que pode culminar em choque cardiogênico refratário e óbito. Nos pacientes com hipotensão, há o benefício do tratamento com trombolíticos. Caso haja contraindicação para o seu uso, as alternativas são a embolectomia por cateterismo ou mesmo a cirurgia aberta, que, em geral, tem alta mortalidade devido ao estado do paciente que é levado ao bloco cirúrgico. Sendo assim, é essencial uma rápida definição da presença ou não de TEP = o método de eleição é a arteriografia convencional, já que em centros com experiência, durante a arteriografia, é possível realizar a embolectomia por cateter, unindo procedimentos diagnósticos e terapêuticos, muitas vezes evitando a embolectomia cirúrgica. Recomendações para a investigação de TEP Pacientes com suspeita de TEP e /ou sinais de TVP: Escore nse de Wells para TEP e TVP. Suspeita clínica moderada ou alta: heparinização plena enquanto realizam os exames diagnósticos. Pacientes clinicamente estáveis com suspeita de TEP e que apresentam sinais clínicos de TVP (edema, calor e dor unilateral em extremidade): ecografia de compressão e/ou Doppler de sistema venoso do membro acometido. Em pacientes com baixa suspeita clínica deverá ser solicitada a dosagem de dímeros D. Caso o resultado seja negativo (dosagem < 500 ng/mL), o diagnóstico de TEP pode ser excluído sem a necessidade de investigação adicional. Resultados da angio-TC de tórax ou da cintilografia pulmonar concordantes permitem, respectivamente, confirmar ou excluir o diagnóstico de TEP com segurança. Resultados discordantes, há a necessidade de investigação adicional. Pacientes clinicamente estáveis com resultados da angio-TC ou cintilografia discordantes da probabilidade clínica, deverão ser submetidos à ecodopplercardiograma do sistema venoso profundo. Caso o resultado comprove TVP, está confirmado o diagnóstico de TEV. Na presença de resultado negativo, recomenda-se a realização de arteriografia pulmonar. A arteriografia pulmonar é o padrão ouro de diagnóstico. O resultado positivo confirma diagnóstico de TEP, e resultado negativo afasta TEP com segurança. Pacientes clinicamente instáveis com risco para transporte intra-hospitalar deverão ser submetidos a ecocardiograma transesofágico à beira do leito. Anticoagulação na fase aguda A HNF é efetiva no tratamento de TEP, mostrando melhores resultados quando comparada à condição de não tratamento do paciente com TEP confirmada. A dose da HNF calculada pelo peso do paciente — a dose de ataque de 80 UI/kg e a dose de manutenção de 18 UI/kg i.v., ajustada a cada 6 h de acordo com o valor de TTPa medido. A administração da HBPM pode ser feita em duas aplicações diárias ou em apenas uma, sem prejuízo do efeito anticoagulante ou aumento do risco de sangramentos documentados até o momento. Pacientes com diagnóstico objetivo de TEP aguda não maciça devem ser tratados com HNF ou com HBPM, dando-se preferência à HBPM. Por se tratar de doença grave, com grande potencial de morbidade e mortalidade, não é necessária a confirmação diagnóstica para o início do tratamento, em caso de forte suspeita clínica. No entanto, o tratamento definitivo com anticoagulantes orais só deverá ser iniciado após a confirmação diagnóstica, tendo em vista os riscos envolvidos com o uso dessas medicações. 30 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Para pacientes com suspeita clínica forte de TEP, aguardando definição diagnóstica, recomenda-se o início da anticoagulação com HNF ou HBPM. Deve-se fazer a dose inicial da HBPM, associada a uma dose de ataque de 5.000 UI de HNF. Em pacientes com insuficiência renal grave, deve-se usar preferencialmente a HNF ao invés da HBPM. Pacientes em tratamento com infusão contínua de HNF i.v que estejam necessitando de doses excessivamente altas (maiores que 40.000 UI/dia), para atingir os alvos propostos de TTPa, devem passar a ser controlados com testes para dosagem de antifator Xa. O fondaparinux sódico é um anticoagulante inibidor direto do fator Xa utilizado tanto no tratamento como na profilaxia de TEV. O uso de AVK geralmente é contraindicado na fase aguda de doença. Os anticoagulantes orais atuam inibindo os fatores da coagulação dependentes da vitamina K (fatores II, VII, IX e X), mas eles também reduzem a síntese de fatores anticoagulantes naturais, proteínas C e S, o que pode promover eventos trombóticos paradoxais no início do tratamento, enquanto a ação anticoagulante não for plena. A dose inicial deve ser de varfarina 5-10 mg/dia nos primeiros 3 dias, seguindo-se o ajuste de acordo com a RNI. O anticoagulante oral só deve ser começado após a confirmação diagnóstica de TEP. Deve ser iniciado em conjunto com HNF ou HBPM, que poderá ser suspensa tão logo o controle da anti coagulação oral tenha atingido o alvo (RNI entre 2 e 3, por pelo menos 24 h) e tempo de sobreposição entre heparinas e AVK de no mínimo 5 dias. Tratamento ACO de longa duração O tratamento anticoagulante de longa duração tem como principal objetivo impedir a recorrência de TEV e a ocorrência de TEP fatal. Na decisão de manter o anticoagulante, é importante também estimar o risco de sangramento, pesando-se a relação risco-beneficio dessa terapia. Pacientes em tromboprofilaxia secundária com AVK devem manter o RNI entre 2,0 e 3,0. Em situações especiais, onde há o desejo de monitorização menos frequente, pode-se optar por um alvo menos intenso de anticoagulação ao invés de suspender a anticoagulação. As HBPM são alternativas tão eficazes quanto os AVK na anticoagulação de longa duração e prescindem, na maioria dos casos, de monitorização laboratorial. São possivelmente mais seguras que os AVK e podem ser úteis, sobretudo, em pacientes que residem em áreas inacessíveis, que desejam menos consultas médicas para o controle de anticoagulação ou que tenham contraindicações aos AVK. As HBPM podem substituir os AVK na tromboprofilaxia secundária da TEV. Em pacientes com fatores de risco transitórios, recomenda-se o tratamento anticoagulante por 3 meses; em pacientes sem fatores de 31 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 risco conhecidos (TEP não provocada ou idiopática), recomenda-se que o tratamento dure pelo menos 3 meses. Após esse período, esses pacientes devem ser avaliados quanto aos riscos e benefícios de se manter a anticoagulação por tempo prolongado. O benefício da anticoagulação permanece enquanto essa está em uso, não ocorrendo um efeito rebote de aumento da recorrência da TEV após a sua suspensão. Pacientes com primeiro episódio de TEP idiopática, baixo risco de complicações e boa adesão ao tratamento devem ser mantidos sob anticoagulação indefinidamente. Em pacientes que apresentam recorrência de TEP idiopática (segundo episódio ou mais), recomenda-se o uso de anticoagulação indefinidamente. Pacientes com câncer têm um risco aumentado de recorrência de TEV = neoplasia maligna é o maior preditor de recorrência entre os fatores associados às características do paciente, sendo que a anticoagulação por tempo indefinido deve ser fortemente considerada por 3-6 meses com HBPM. Após esse período, a anticoagulação deve ser mantida, com AVK ou HBPM, de forma indefinida ou até o câncer ser resolvido. 32 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Alguns contextos clínicos devem ser levados em consideração na decisão de se manter ou suspender a anticoagulação de longa duração, pois os seguintes contextos aumentam o risco de recorrência: TEV prévio (isto é, recorrente); Sexo masculino; Síndrome antifosfolipídeo; Trombofilias hereditárias; Trombose residual em veias próximas; Presença de DVD verificada por ecocardiograma na alta hospitalar. 33 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Pacientes portadores de trombofilias hereditárias de alto risco de recorrência, como homozigose para o fator V Leiden, homozigose para mutação do gene da protrombina ou dupla heterozigose para essas mutações, bem como a deficiência de proteína C, de proteína S ou de antitrombina, são candidatos à anticoagulação por tempo indefinido. Uso de trombolíticos em pacientes graves Na decisão do uso de trombolíticos, devem ser respeitadas as contraindicações e balanceada a relação risco-benefício diante da situação do paciente. Em relação ao uso de trombolíticos na TEP, recomenda-se: Trombolíticos estão indicados para o tratamento de pacientes com TEP maciça e/ou instabilidade hemodinâmica e sem contraindicações importantes para anticoagulantes. Trombolíticos não estão indicados em pacientes com TEP de qualquer tamanho, quando hemodinamicamente estáveis e sem evidência de DVD. Na ausência de contraindicações, pacientes com TEP, estáveis e com evidência de DVD podem ter um melhor curso clínico intra-hospitalar com o do uso de trombolíticos. Pacientes com TEP grave, quando se cogita o uso de trombolíticos, necessitam de suporte respiratório e hemodinâmico. Reversão da hipoxemia: efeito Vd benéfico sobre a circulação pulmonar. A oxigenoterapia, portanto, tem um papel significativo. Caso seja necessário o uso de ventilação mecânica, deve-se considerar a possibilidade de efeitos hemodinâmicos deletérios pela pressão positiva. A insuficiência ventricular direita aguda (ou agudizada) é o mecanismo principal de óbito em pacientes com TEP. Sendo assim, o uso de reposição volêmica para otimizar a pré-carga e o DC pode ser tentado inicialmente (em geral, 250500 mL de solução salina). O manejo da instabilidade cardiovascular é importante, mas não não há uma estratégia comprovadamente eficaz, devendo-se individualizar conforme o contexto do paciente. Aqueles pacientes que não melhoram após uma primeira infusão de trombolítico e permanecem 34 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 instáveis podem responder a uma segunda infusão de resgate de um outro trombolítico. Pacientes graves, com instabilidade hemodinâmica significativa, que têm contraindicações formais a trombolíticos ou não responderam a essa terapia, são candidatos a embolectomia = procedimento feito por cateter e através de fragmentação e aspiração ou por cirurgia aberta. A embolectomia por cateter visa reduzir agudamente a resistência vascular pulmonar, podendo haver rápida melhora hemodinâmica independentemente do resultado angiográfico. Portanto, pacientes com TEP grave, instabilidade hemodinâmica e contraindicação para ou refratários à terapia trombolítica são candidatos a embolectomia por cateter ou cirúrgica em centros com experiência nesses procedimento. Tromboprofilaxia primária Infecções pulmonares complexas As infecções me pacientes imunodeprimidos, seu diagnostico e tratamento continuam a ser um dos maiores desafios na pratica clinica. Apesar das novas técnicas para diagnostico e novos fármacos disponíveis, a morbidade e a mortalidade devidas à pneumonia nessa população ainda preocupam. Pacientes transplantados, com doenças hematológicas malignas, donetes crônicos em terapia imunossupressora e infectados pelo HIV, são alvos frequentes dos agentes infecciosos que acometem o pulmão. Por representarem um grande contato com o meio externo, os pulmões e brônquios podem ser a porta de entrada para diferentes agentes infecciosos; são cerca de 500m2 de superfície brônquica e 70100m2 de superfície alveolar, o que explica as potentes defesas broncoalveolares e a possibilidade de infecção pulmonar devida à imunodeficiência. Nos imunodeprimidos, agentes infecciosos habituais ou aqueles com pouca virulência são capazes de causar doença grave. A abordagem desses pacientes é feita de forma semelhante aos pacientes não imunodeprimidos. No entanto, deve-se ter em conta que a evolução da doença pode ser mais rápida, levando ao óbito com maior frequência quando não diagnosticada e adequadamente tratada. A anamnese e o exame físico são o ponto de partida. A história completa desde a infecção pelo HIV, assim com o uso de terapia antirretroviral e profilaxias em uso são fundamentais. Ter conhecimento da contagem de células CD4+ pode auxiliar no diagnóstico. 35 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 VÍRUS RESPIRATÓRIOS Nos imunossuprimidos, os vírus respiratórios da comunidade podem causar pneumonia grave, sendo mais frequentes em crianças e receptoes de transplantes pulmonar = os vírus mais identificados são o adenovírus, rinovírus e o vírus da parainfluenza. O uso de imunossupressores favorece a infecção persistente e a excreção prolongada dos vírus respiratórios, facilitando a sua transmissão. O diagnostico precoce deve ser priorizado, com introdução de antivirais e implementação de medidas de controle de transmissão dos vírus respiratórios, principalmente em ambiente hospitalar. A progressão para pneumonia é observada mais frequentemente em receptores de transplante pulmonar por alteração da imunidade local e sistêmica, perda de movimentos ciliares do epitélio respiratório, perda do reflexo da tosse e alteração da drenagem linfática. O diagnostico etiológico da infecção respiratória é muito importante e, para tal, são fundamentais a qualidade da amostra clinica obtida e a aplicação de técnicas sensíveis e rápidas. As amostras podem ser obtidas do aspirado nasofaringe, lavado nasal ou swab nasal ou de orofaringe. Em crianças maiores e em adultos, a coleta do lavado nasofaringe é o método mais utilizado e permite excelente recuperação em relação ais vírus respiratórios. A tecnica para o diagnostico das infecções por vírus respiratórios é a detecção por mieo de anticorpos monoclonais por imunofluorescencia, ensaios enzimáticos, PCR e PCR em tempo real. Atualmente, as técnicas moleculares passaram a ser a primeira escolha por causa das dificuldades e da demora para o isolamento viral. As técnicas com anticorpos monoclonais são, em geral, mais sensíveis e rápidas que o isolamento ciral e permitem o diagnostico algumas horas após a coleta. As técnicas com anticorpos mais utilizadas são: Imunofluorescencia direta (IFD) ou indireta (IFI) Ensaios imunoenzimaticos (ELISA) PCR e PCR em tempo real: melhores opções no diagnostico rápido das viroses respiratórias. Além de menor custo em relação a IFD, as técnicas moleculares podem ser “desenhadas” de forma a incluir vários alvos para amplificação, permitindo o diagnostico de vários vírus respiratórios na mesma reação. Os enasios de PCR em tempo real com sondas são em geral mais sensíveis e mais específicos. Vírus da Parainfluenza (PIV) A infecção pelo PIV pode levar a inúmeras manifestações clinicas que variam desde doenças respiratória superior com manifestações frustras até pneumonia grave, que pode ocorrer em idosos, doentes crônicos e em imunodeprimidos. Pneumonia por PIV atambém pode ocorer em pacientes infectados pelo HIV e naqueles com doenças hematológicas submetidos a quimioterapia. As maiores populações de imunodeprimidos afetadas pelo PIV são os transplantados de órgãos sólidos e os indivíduos submetidos à TCTH. Nessa população, na presença de pneumonia, o risco de morte é alto (25-45%) = ainda não existem antivirais licenciados disponíveis para o TTO da pneumonia pelo PIV. Para o diagnóstico: IFD ou técnicas de biologia molecular; RX: infiltrado intersticial focal e infiltrado interstício-alveolar difuso Citomegalovirus (CMV) O CMV é um herpes-virus de grande importância como causa de doença no homem e na regulação da resposta imune. Em imunodeprimidos, o CMV pode causar doença grave no pulmão, fígado, rim, 36 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 coração e olhos, especialmente em transplantados. Diagnosticos diferenciais importantes são infecções causadas pelo adnovirus, PIV e VSR. CMV em transplantados Em receptores de TCTH, a pneumonia pelo CMV é uma das complicações mais frequentes no póstransplante. Os fatores de risco para o desenvolvimento de pneumonia por CMV são: sorologia positiva do doador, transfusão de granulocitos de doadores com sorologia positiva para CMV, transfusões de doadores positivos, idosos, doença do enxerto, irradiação corporal, fármacos imunossupressores e viremia. O tempo médio para o inicio da pneumonia pelo CMV é de 45 dias, mas com a profilaxia vai para 169 dias.O quadro clinico caracteriza-se por febre de inicio súbito, tosse seca, dispneia e hipoxemia, havendo frequentemente a necessidade de ventilação mecânica em muitos casos. A radiologia mostra infiltrado intersticial difuso. A gravidade da doença pulmonar pelo CMV pode ser prevista por um sistema de pontuação = febre, citopenia, superinfeção e envolvimento de outros órgãos fazem parte desse sistema, em que o valor 8 é o limiar para predizer mortalidade com 100% de sensibilidade e 88% de especificidade. A pneumonia pelo CMV é mais frequente nos pacientes submetidos a transplante de pulmão. Os pacientes que não recebem profilaxia podem desenvolver pneumonia pelo CMV de 16 a 60 dias após o transplante. Naqueles que receberam profilaxia, a doença acontece mais tardiamente. Diagnóstico O diagnostico de pneumonia pelo CMV envolve quadro clinico compatível, achados radiológicos e detecção do CMV no lavado broncoalveolar (LBA) ou no tecidopulmonar pela cultura, citologia, exame histopatológico e imunoistoquimica in situ. A identificação de LBA está altamente correlacionada com a detecção do vírus por biopsia de pulmão e deve ser o método diagnostico preferido. A cultura do LBA tem baixa sensibilidade e especificidade para o diagnostico de pneumonia pelo CMV. Nos receptores de transplante, a PCR foi mais sensível para detecção do CMV no LBA. Nos receptores de transplante pulmonar, a carga viral alta se associou com a pneumonia. CMV em HIV positivos Em infectados pelo HIV, a realização sistemática de broncospia em pacinetes com suspeita de infecção pulmonar demonstrou que, na maioria das vezes, a presença do CMV no LBA não esta associada à doença pulmonar. No entanto, em pacientes com contagem de células TCD4+ abaixo de 50 células/mm3, o risco de pneumonia pelo CMV aumenta consideravelmente. O diagnostico requer a demonstração de inclusões citomegalicas no tecido pulmonar. A radiografia de tórax pode demonstrar infiltrado interscticial, opacidades em vidro fosco ou infiltrado nodular e derrame pleural. A avaliação oftalmológica é mandatória em todo paciente com suspeita de doença pelo CMV. O TTO da pneumonia é recomendado quandoa doença é sintomática e quando esse é o único patógeno envolvido. Quando outros agentes estão envolvidos, o TTO não resulta em melhora da sobrevida. O TTO com 37 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 ganciclovir ou foscarnet deve ser iniciado assi que houver suspeita de pneumonia pelo CMV, especialmente em casos de doença disseminada. Vírus Sincicial Respiratório (VSR) O VSR é um RNA-vírus com dois grupos maiores: A (causador de doença grave) e B. O VSR é o principal agente de IRA baixa em crianças menores de um ano de idade e é a causa mais frequente de bronquiolite. Em crianças maiores e adultos imunocompetentes, os sintomas são leves = reservatórios para a transmissão do agente aos hospedeiros mais suscetíveis, que incluem: Pacientes com imunodeficiência combinada Doenças hematológicas malignas (leucemia) Transplantados pulmonares ou de medula óssea Pacientes com asma Idosos institucionalizados Pacientes com doença pulmonar crônica Pacientes que vivem em altas altitudes Os sintomas iniciais de infecção do trato respiratório superior podem evoluir para pneumonia pelo VSR em 36%dos casos. Em pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, os sinais e sintomas mais frequentes são dispneia, tosse, expectoração purulenta, febre, estertores e chiado. O diagnostico laboratorial pode ser feito por PCR, sorologia, cultura viral (padrão-ouro), detecção de antígenos virais na secreção nasal, swab da secreção nasofaringea e LBA. Transplante de Medula Óssea (TMO) O VSR causou IRA nesses pacientes, especialmente durante o seu período epidêmico na comunidade. O quadro clínico é semelhante ao observado em crianças imunocompetentes, começando com uma infecção das vias aéreas superiores (IVAS) e evoluindo para acometimento do trato respiratório inferior. A frequência de evolução para pneumonia foi maior nos pacientes pré-transplante, no entanto, a mortalidade foi semelhante nos pacientes pré e pós-transplante. O risco de pneumonia também foi associado ao tempo após o transplante, tendo sido mais frequente naqueles com tempo inferior a um mês pós-transplante. O uso de ribavirina por aerossol pareceu ser benéfico, quando utilizado antes do início da pneumonia. Já a ribavirina endovenosa não foi eficaz no tratamento de pneumonia por VSR. Leucemia A epidemiologia e o quadro clínico de infecção por VSR, em pacientes com leucemia, têm os mesmos padrões clínicos descritos para os pacientes submetidos a TMO. A frequência de progressão de IVAS para pneumonia foi consideravelmente alta nos pacientes com mielossupressão (contagem de neutrófilos ≤ 500 células/ml). Da mesma forma, a mortalidade foi maior nos primeiros, com 53% de óbitos, contra nenhum óbito nos pacientes sem mielossupressão. Prevenção A melhor maneira de prevenir a morbidade e mortalidade associada à infecção pelo VSR em adultos imunocomprometidos é impedir a exposição. Os profissionais da saúde que cuidam de adultos imunocomprometidos devem lavar as mãos antes e após o contato com os pacientes para minimizar a transmissão de doenças infeciciosas. O palivizumab, um anticorpo monoclonal que impede a entrada do 38 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 vírus nas células hospedeiras, é atualmente o único fármaco aprovado para a profilaxia contra a infecção pelo VSR em crianças de alto risco e requer injeções mensais duranteo período de maior risco da infeção. A Ribavirina é um análogo de nucleosideo com amplo espectro contra os RNA-virus. Pode ser usada por via inalatória (preferida = menor toxidade sistemica), parenteral e oral. Para adm de ribavirina inalatória, varias medidades devem ser tomadas: Uso de equipamentos específicos Paciente em quarto individual, sem acompanhante devido a toxidade da droga Ambiente com pressão negativa ou vedação Profissionais devem utilizar EPIs ao entrarem no quarto Adenovírus Dentre os vírus respiratórios, os adenovírus têm sido associados a doença de maior gravidade em pacientes imunodeprimidos. Podem causar quadros de infecção disseminada, cistite hemorrágica, hepatite, encefalite e IRA. Adenovírus podem permanecer latentes e, portanto, sua detecção pode dever-se a infecção ou reativação. Os adenovírus que causam infecções respiratórias são transmitidos pelo contato interpessoal, contato com objetos e aerossóis. A febre esta presente ma maioria das vezes e as manifestações clinicas incluem amigdalite, faringite, conjuntivite e otite média. Raramente causam pneumonia, bronquiolite, cistite hemorragiva e doença geniturinária. Em TCTH, a pneumonia pode ocorrer como um evento isolado ou como parte de doença disseminada, estando associada com falência do enxerto. A melhor maneira de prevenir a morbimortalidade associada a infecção pelo adenovírus em adultos imunocomprometidos é impedir a exposição. Pneumonia por adenovírus é incomum em pacientes com AIDS. Varicela-Zóster (VZV) O VZV é um herpes vírus que possui duas formas clinicas: infecção primaria ou caricela, que acomete geralmente crianças, e a reativação, que ocorre em adultos. Particulas infectantes podem ser encontradas nas secreções das vias aéreas superiores e nos líquidos das vesículas. O vírus pode causar hepatite, pneumonia, pancreatite, doença intestinal e encefalite, complicações que podem surgir em hospedeiros imunocomprometidos. A doença pulmonar é mais frequente na doença primaria, portanto a disseminação pulmonar é mairo em crianças. O rash cutâneo pode preceder a pneumonia em receptores de TCTH e pacientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos. A radiografia de tórax revela um infiltrado nodular ou intersticial e linfonodomegalia mediastinal. Aciclovir por via intravenosa é o tratamento de escolha e, caso não haja resposta, pode-se utilizar o foscarnet. Influenza A gripe, doença causada pelo vírus influenza, é considerada uma das doenças respiratórias mais importantes da humanidade. Este vírus apresenta surtos anuais de infecção, com rápida disseminação e acometimento de um grande número de pessoas. Está associado a excesso de mortalidade, principalmente em idosos e pacientes com doenças cardiorrespiratórias. É um RNA-vírus de 3 tipos maiores, A, B e C, sendo as condições para complicação clinica e risco de óbito por influenza A: Idade < 2 anos e > de 60 anos Gestantes Doenças genéticas e neurologicas 39 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Portadores de doenças crônicas: doenças hematológicas, oncológicas, infecção pelo HIV e hemoglobiopatias; DPOC; DCV; doença renal ou hepática; DM, DLP O comprometimento do pulmão pode ocorrer de três formas diferentes: pneumonia primaria, quando o vírus envolve diretamente os pulmões, traqueobronquite, quando o vírus afeta o epitélio traquobronquico, levando à perda dos cílios e coinfecção. Em criançass, a febre é mais alta e tem o surgimento da crupe (laringotraqueobronquite); nos imunodeprimidos, a doença é grave e os sintomas respiratórios são exuberantes. O TTO precoce com amantadina/rimantadina pode ser benéfico no tratamento de infecções por vírus influenza A, se iniciado precocemente, antes da instalação de insuficiência respiratória. No entanto, há descrição de isolamento de vírus influenza resistentes a amantadina de pacientes com leucemia e de pacientes infectados pelo HIV. Inibidores da neuraminidase são eficazes no tratamento de infecção por vírus influenza, tanto A quanto B, e seu uso pode ser útil em pacientes imunossuprimidos. Abordagens terapêuticas mais eficazes para o tratamento de infecções por vírus influenza em pacientes imunodeprimidos ainda são necessárias, e uma delas pode vir a ser associação de drogas antivirais, incluindo inibidores de neuraminidase. Síndrome Respiratória Aguda Grave Causada por uma variante do vírus influenza A, o H1N1, que afeta as vias aéreas superiores e, ocasionalmente, as inferiores. Esse subtipo do vírus é transmitido de pessoa a pessoa por meio de tosse, espirro ou secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os imunodeprimidos tem maior chenace de complicações e maior risco de óbito. Os principais sinais e sintomas incluem conjuntivite, diarreia, artragia, coriza, calafrio, mialgia dispneia, tosse e febre. Leucocitose eleucopenia com neutrofilia podem ocorrer; o RX de tórax pode revelar infiltrado intersticial localizado ou difuso ou áreas de condensação. O vírus pode ser isolado pelo swab nasofaringe, por lavado nasofarigeo ou pelos dois. Tratamento Os inibidores da neuraminidade tem ação para os vírus influenza A e B = Zanamivir, via inalatória, e Oseltamivir, via oral. O TTO reduz a duração dos sintomas e das complicações, como otite media, sinusite, bronquite e pneumonia bacteriana.Em casos de resistência ao Oseltamivir, deve-se usar o Zanamivir, indicado para o TTO de adultos e crianças com mais de 8 anos. A amantadina e rimantadina possuem atividade apenas pelo vírus influenza A, sendo aprovadas para a profilaxia e TTO de adultos. Profilaxia com Oseltamivir Recomenda-se em imunossuprimidos que tiveram contato com casos de H1N1 durante o período de transmissibilidade do caso suspeito ou confirmado, e a quimioprofilaxia deve ser iniciada ate 48h após a exposição. Deve-se orientar os imunodeprimidos quanto à prevenção da Sd gripal como evitar aglomerações e ambientes fechados, higienizar as maõs frequentemente e evitar tocar olhos e boca após contato com superfície contaminada. Está recomendada também aos profissionais de laboratório que manipulam amostras clinicas que contenham o vírus influenza pandêmico sem o uso de equipamento de proteção individual ou que o utilizaram de maneura inadequada. Síndrome Gripal Paciente com febre, de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos um dos sintomas: mialgia, cefaléia ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico. 40 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 FUNGO Pneumocytis jirovecii (PJP) - Pneumocistose O PJP é um fungo é um fungo atípico = não cresece me meios de culturas tradicionais, responde ao TTO com antiparasitários e sua células contem colesterol ao invés de ergosterol, não respondendo aos polienicos (anfotericina B). É o principal agente causador de pneumonia na AIDS, pois o principal fator de risco dessa infecção é o comprometimento da imunidade, que pode ser secundaria a linfopenia idiopática ou por uso de fármacos. A PJP esta associada com uso de fármacos imunomoduladores, como TNF-alfa e inibidores da calcineurina, corticoides e analagos de purinas, principalmente em pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, doenças reumatologicas, doença inflamatória intestinal, doença hematológica maligna e tumores sólidos. Podem-se dividir os pacientes de risco em: Pacientes com imunodeficiência primaria Pacientec com imunodeficiência secundaria = HIV, tumores, transplantados; Pacientes que receberam terapia imunossupressora Dentre as manifestações cliicas estão a febre, tosse, dispneia e hipoxmia, sendo evolução lenta em pacientes infectados pelo HIV. Para o diagnostico, a cultura não é um bom método = utiliza-se a visualização direte do PJP no escarro ou no LBA por meio de imunofluorescencia. A biopsia alveolar tem 41 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 elevado rendimento, mas é um método muito invasivo. A utilização da PCR em tempo real permite distinguir a doença de colonização, é mais rápido, mais especifico e com menos possibilidade de contaminação. Na TC de tórax, consolidações são frequentes e lesões císticas são raras; oapacidades em vidro fosco bilaterias e peri-hilares podem ser observadas. O TTO é feito com Cotrimoxazol por 21 dias e o uso de corticoide fica restrito para aqueles com hipoxemia. Profilaxia O fármaco de escolha é o cotrimoxazol (sulfametoxazol/trimetoprim), indicado para pacientes com CA que recebem altas doses de coticoides, naqueles com doenças hematológicas malignas, pacientes 42 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 tratados com depressores de células T, doença pulmonar crônica, TCTH alogenico ou autólogo e transplantados (pulmão, coração, fígado). A profilaxia primária é altamente recomendada para os pacientes com contagem de linfócitos CD4+ < 200 células/mL, devido ao risco de infecção. A profilaxia para os pacientes que já apresentaram PCP também deve ser considerada. Criptococose É uma micose sistêmica que, no caso dos pacientes com deficiência celular, como ocorre na AIDS, está relacionada ao Criptococcus neoformans. No Brasil, a criptococose se mantém como um problema de saúde entre os pacientes com AIDS. Os principais órgãos afetados são o sistema nervoso e o trato respiratório, sendo a meningite a principal forma de apresentação da doença. O pulmão costuma apresentar-se como massa única ou múltipla. Condensação pulmonar também deve sugerir a doença. Mais raramente, pode haver infiltrado intersticial, adenomegalias e derrame pleural. O diagnóstico, geralmente, é realizado através de cultura do escarro ou do lavado broncoalveolar. A biópsia de lesões endobrônquicas pode confirmar o diagnóstico. O mesmo ocorre com a biópsia pleural. Todo paciente com suspeita de criptococose deve realizar punção liquórica, mesmo quando não há clínica sugestiva de meningite. O tratamento é, classicamente, realizado com anfotericina B, mas pode ser completado com fluconazol. Formulação lipídica de anfotericina B diminui os efeitos colaterais, especialmente, a nefrotoxicidade, febre e calafrios, mas é muito cara. Recentemente, o voriconazol, medicamento pertencente à segunda geração dos triazólicos, mostrou-se tão eficaz quanto a anfotericina B lipossomal, sendo uma alternativa para o uso em pacientes com criptococose. Histoplasmose A porta de entrada do Histoplasma capsulatum é o pulmão, mas no caso dos pacientes infectados pelo HIV, especialmente naqueles com contagem de células CD4+ abaixo de 100/mL, a doença pode ser disseminada com acometimento hepático e linfadenomegalias periféricas. O paciente apresenta emagrecimento importante, acompanhado de febre, tosse e dis-pneia. Anemia, leucopenia e elevação das transaminases são frequentes. A radiografia de tórax pode variar desde normal até infiltrado intersticial reticulonodular ou miliar. Adenomegalias mediastinais e/ou hilares podem estar presentes. Cultura do fungo no sangue, LBA, medula óssea ou seu achado nas peças de biópsia transbrônquica ou lesões dermatológicas podem fazer o diagnóstico. O tratamento recomendado é a anfotericina B. Assim como no caso do Criptococcus, o histoplasma também responde ao uso de voriconazol. BACTÉRIAS A inidencia da pneumonia bacteriana é maior nos infectados pelo HIV, sendo os fatores de risco o uso de drogas IV, tabagismo, idade avançada, carga viral do HIV e pneumonia recorrente anterior. Os pacientes com contagem de TCD4+ <200/mm3 não devem ser tratados com antibióticos estabelecidos para indivíduos imunocompetentes, pois a incidência de bactérias intracelulares é muito baixa nessa população de infectados pelo HIV. Streptococcus pneumoniae É o agente mais frequente de PAC em adultos infectados pelo HIV, sendo responsável por 20% de todas as bactérias causadoras de pneumonia. O risco de doença pneumococcica invasica é muito maior nos pacientes infectados pelo HIV e o risco de pneumonia neumococica aumenta com a queda dos valores de células T. A vacina esta indicada para todos os infectados, independente da contagem de linfócitos TCD4+, recomendando-se revacinação a cada 5-10 anos em pacientes com imunossupressão grave. 43 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Rhodococcus equi O Rhodococcus equi é um actinomiceto gram positivo conhecido entre os criadores de animais de fazenda. O pulmão é acometido em cerca de 80% dos casos e acredita-se que principal via de infecção ocorra através da inalação do organismo presente no solo. Inoculação através de mucosa ou ferida, ou mesmo ingestão do micro-organismo podem ocorrer. A doença disseminada com bacteremia é frequente entre os pacientes com AIDS. A contagem de células CD4+ costuma estar abaixo de 10 células/mL e a mortalidade é alta. Infiltrado pulmonar nodular ou consolidação pneumônica podem ocorrer, mas cavitação pulmonar é o principal achado diagnóstico, já que as outras causas de cavitação pulmonar, especialmente a tuberculose, não costumam apresentar-se dessa forma nos pacientes extremamente imunodeprimidos. O tratamento ainda não é consensual devido ao pequeno número de casos avaliados. Sabe-se, no entanto, que frequentemente é resistente à penicilina e seus derivados. Geralmente, utilizamse 2 ou mais drogas, como eritromicina, rifampicina ou ciprofloxacina. As novas fluorquinolonas e linezolida também já foram utilizadas com sucesso. Tuberculose No Brasil, a tuberculose é a segunda principal doença oportunista em pacientes com AIDS, devido à alta prevalência da doença no nosso país, sendo que o aumento da infecção pelo HIV contribuiu de forma definitiva para o agravamento da infecção pela tuberculose. Atualmente, cerca de 8% dos pacientes com tuberculose apresentam coinfecção do HIV e mais frequentemente apresentam tuberculose extrapulmonar, além de baciloscopia e culturas negativas serem mais comuns do que nos pacientes apenas com tuberculose. Dessa forma, todo paciente com diagnóstico de tuberculose deve realizar teste para o HIV. A apresentação clínica da tuberculose vai depender muito da contagem de células CD4+. Assim, os pacientes com melhor perfil imunológico costumam apresentar quadros semelhantes aos pacientes sem infecção pelo HIV, sendo a doença, geralmente, restrita aos pulmões. O diagnóstico é, classicamente, feito pela cultura positiva do M. tuberculosis, embora a presença de bacilos BAAR positivos no escarro sugira o diagnóstico. As novas diretrizes para o tratamento da tuberculose recomendam o esquema com quatro drogas (Isoniazida, Rifampicina, Pirazinamida e Etambutol) por 2 meses, seguido de 4 meses de Isoniazida e Rifampicina, tanto para os pacientes apenas com tuberculose como para aqueles coinfectados pelo HIV. A infecção HIV-TB carreia peculiaridades tanto na apresentação clínica como para se estabelecer o diagnóstico de tuberculose pulmonar/disseminada. Entre indivíduos com altas contagens de linfócitos TCD4, a apresentação subaguda com tosse, perda de peso, sudorese noturna e infiltrados e/ou cavitação em ápice se assemelham aos indivíduos soronegativos. Já naqueles com contagem inferior a 200 células, a doença pode ser de início aguda ou subagudo, prevalecendo sintomas constitucionais como emagrecimento importante, febre crônica e linfoadenopatias e eventualmente hepatoesplenomegalia. A doença pode adquirir caráter invasivo no pulmão com infiltrados reticulonodulares que podem ficar restritos as bases do pulmão ou ainda adquirir um aspecto miliar com disseminação para outros órgãos. Não raramente, o parênquima pulmonar se apresenta livre na radiografia de tórax em indivíduos com a doença disseminada. 44 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Micoses pulmonares Os fungos são seres vivos eucariotas que apresentam uma membrana celular rica em ergosterol e uma parede celular formada por quitina e glucana. Os mais relevantes para a medicina apresentam a importante propriedade de dimorfismo: na natureza, a temperaturas em torno de 25ºC, apresentam-se como estruturas filamentosas (hifas) que se organizam no chamado micélio; no organismo infectado ou a temperaturas em torno de 37ºC, apresentam-se como estruturas leveduriformes (unicelulares). Os fungos que parasitam o ser humano, tendo como principal órgão o pulmão, são: Paracoccidioides braziliensis (paracoccidioidomicose); Histoplasma capsulatum (histoplasmose); Criptococcus neoformans (criptococcose); Aspergillus sp. (aspergilose); Pneumocystis carinii (pneumocistose) Nas últimas décadas, houve um importante aumento na incidência das infecções fúngicas em decorrência de quatro fatores: uma medicina agressiva, incidência de leucemia, linfoma e AIDS, maior conhecimento da micologia clínica e maior acurácia das técnicas diagnósticas. A história clinicoepidemiológica e exames de imagem levam a um diagnóstico presuntivo que orienta o médico para a colheita do espécime clínico. Esses dados indicam o processamento mais adequado para o esclarecimento etiológico. A combinação ideal para o diagnóstico de uma infecção fúngica pulmonar inclui: 1. 2. 3. 4. Evidência clínica (febre, estertores, roncos e alteração radiológica) Isolamento e identificação fúngica compatível + elementos fúngicos invadindo o tecido Semelhança micromorfológica do fungo às características do histopatológico ou do exame direto Resposta imunológica ao fungo identificado 45 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Considerando alguns aspectos na interação parasita-hospedeiro, as micoses pulmonares são divididas em dois grnades grupos: micoses sistêmicas ou primarias e oportunistas ou secundárias. Micoses sistêmicas Grupo de infecções adquiridas através da inalação de propágulos de fungos dimorficos, causando lesão pulmonar primaria geralmente com tendência à regressão espontânea no hospedeiro imunologicamente normal. Ao atingirem o hospedeiro, os propágulos inalados transformam-se em elementos leveduriformes, cujas características são especificas para cada espécie. Paracoccidioidomicose Histoplasmose Coccidioidomicose Blastomicose Criptococose Micoses Oportunistas São causadas por fungos termotolerantes de baixa virulência, representadas pela candidíase, aspergilose e criptococose. Essas micoses atingem fundalmentalmente portadores de doenças hematológicas malignas, pacientes transplantados ou imunossuprimidos. A AIDS tornou algumas dessas micoses doenças altamente significativas, como a candidíase, histoplasmose e criptococose. São obtidas por via inalatória e algumas podem ser adquiridas por deposição ou inoculação do fungo em mucosa ou pele de pacientes gravemente imunodeprimidos. Paracoccidioidomicose A paracoccidioidomicose é uma das principais micoses pulmonares no Brasil. O agente é o fungo Paracoccidioides braziliensis, um fungo dimórfico, presente no solo e restos de vegetais nas áreas rurais na América Latina. No Brasil (principal área endêmica), os casos desta micose são registrados especialmente nas zonas rurais dos estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Transmissão e Epidemiologia Várias evidências apontam as vias respiratórias como porta de entrada do fungo no organismo humano. O paciente se contamina pela inalação dos conídios infectantes do fungo durante as atividades agrícolas. A doença não é contagiosa: não há transmissão interpessoal. Estima-se que até 10% da população de nações endêmicas (como o Brasil) tenha positividade para reações intradérmicas à paracoccidioidina (história de exposição ao fungo), mas a incidência anual dessa doença é de apenas 1-3 casos/100.000 habitantes. A forma crônica progressiva é mais frequente entre os 20 e 50 anos, sobretudo naqueles que vivem em zona rural e que trabalham na lavoura, em contato íntimo com o solo, sendo muito mais comum no sexo masculino. Isso se deve à presença de receptores de estrógenos nas formas infectantes do fungo, que atuam inibindo a transformação destes em leveduras. Todavia, como a forma aguda incide em uma população mais jovem (muitas vezes pré -púbere), a incidência nesta forma específica da doença é igual nos dois sexos. O fungo, ao chegar ao alvéolo, provoca uma alveolite seguida de reação ganglionar satélite peribronquica, envolvendo a suprarrenal e outros órgãos por via hematogenica antes de desenvolver uma hipersensibilidade. No hospedeiro imunocompetente, a tendência é de evoluir para a necrose de caseificação e fibrose capsular, lesões que podem conter fungos viáveis por muitos anos. No individuo 46 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 imunodeficiente, as lesões primarias progridem rapidamente, manifestando-se por doença grave de evolução aguda. As fases evolutivas da paracoccidioidomicose são semelhantes as da histoplasmose e as manifestações clinicas podem ficar restritas ao pulmão ou atingir outros órgãos e sistemas. Na paracoccidioidomicose há uma deficiência imunitária ligada aos linfócitos TCD4, o que explica a progressão, as recidivas e reinfecções endógenas da doença. Apresentação Clínica O fungo tem como porta de entrada os pulmões. Durante a formação do complexo primário (foco pulmonar + adenopatia satélite), o agente sofre disseminação linfo-hematogênica, tal como a tuberculose. Os órgãos mais acometidos são os pulmões, linfonodos (periféricos e/ ou internos), mucosas labial, oral, faríngea, laríngea e traqueal, pele, fígado e baço. As principais formas de apresentação clínica da paracoccidioidomicose são: Forma Aguda/Subaguda (Tipo Juvenil) É a forma característica da criança e de adultos até trinta anos de idade. As manifestações são basicamente do sistema reticuloendotelial: adenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia (uma espécie de “síndrome de mononucleose”). O paciente pode apresentar febre, adinamia e perda de peso. Geralmente procura assistência médica após um a três meses do início dos sintomas. A adenopatia pode evoluir com fistulização e liberação de secreção purulenta (adenite supurativa), tal como ocorre na adenite tuberculosa (escrófula). A adenopatia pode acometer o hilo hepático, determinando icterícia obstrutiva. O envolvimento dos linfonodos mesentéricos pode dificultar a drenagem linfática dos intestinos, provocando uma enteropatia perdedora de proteínas (com hipoalbuminemia e anasarca) e ascite quilosa. O envolvimento das adrenais é uma característica importante da paracoccidioidomicose, ocorrendo com expressão clínica em 5% dos casos, manifestando-se com hiperpigmentação cutânea, anorexia, sintomas gastrointestinais, hipotensão, hipoglicemia e distúrbios eletrolíticos (insuficiência adrenal). Forma Crônica (Tipo Adulto) É a forma pulmonar da paracoccidioidomicose, respondendo por cerca de 90% dos casos. A apresentação clínica típica é uma história de meses de evolução com tosse, expectoração e dispneia aos esforços, com lenta progressão. A semiologia do aparelho respiratório é pobre, em contraste com as alterações radiológicas (dissociação clinicorradiológica). A febre e o emagrecimento costumam ser mais acentuados na forma aguda, podendo estar ausentes na forma crônica desta micose. O acometimento cutaneomucoso e a história de atividades agrícolas podem chamar atenção para o diagnóstico. As lesões mucosas acometem lábios, mucosa oral, orofaríngea ou mesmo a laringe, traqueia ou esôfago, manifestando-se como rouquidão inexplicada, tosse seca e/ou odinofagia. As lesões de pele são polimórficas, apresentando-se como pápulas, placas, ectimas, úlceras ou lesões vegetantes. Embora mais comum na forma aguda, na forma crônica também podemos observar a linfadenopatia, algumas vezes com fistulização e supuração, especialmente nos linfonodos inguinais e cervicais. O SNC é acometido em 6% dos casos, com cefaleia progressiva, convulsões e deficit motor de instalação lentamente progressiva. Este quadro é causado por lesão cerebral expansiva (um “paracoccidioidoma”). A forma crônica pode evoluir com uma síndrome disseminada, apresentando características da forma aguda associada e frequente insuficiência adrenal. Portadores do HIV com CD4+ abaixo de 250/mm³, transplantados e pacientes com neoplasias hematológicas são particularmente suscetíveis a essa apresentação. Embora somente 5% dos pacientes com paracoccidioidomicose apresentem sinais e 47 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 sintomas clínicos de falência adrenal, cerca de 14% dos casos têm uma reserva adrenal limitada, sob o risco de crise adisoniana durante algum tipo de estresse (ex.: cirurgia). A evolução da infecção para a forma aguda ou crônica depende da resposta imune do hospedeiro. A resposta imune mais eficaz no controle do paracoco é aquela mediada pelos linfócitos Th-1, com secreção de IFN-gama, IL-2 e IL-12, citocinas importantes na ativação de macrófagos e formação de granulomas. Com isso, a infecção é contida, e o paciente se torna um portador crônico não doente do paracoco. Todavia, alguns pacientes, por motivos constitucionais ou outras condições relacionadas à redução da imunidade celular (alcoolismo, desnutrição), apresentam uma resposta imune predominantemente do tipo Th2, com altos níveis circulantes de IL-4, IL-5 (que induzem eosinofilia) e IL-10 (que inibe a ativação de macrófagos e a formação de granulomas). Se este perfil for encontrado já no momento da infecção, teremos a forma aguda; se este perfil se desenvolver após um longo período de infecção controlada, haverá reativação da paracoccidioidomicose, resultando em sua forma crônica. Exames Complementares e Diagnóstico Na forma crônica, a radiografia de tórax é o exame principal, encontrando-se quase sempre alterada. O mesmo não podemos falar sobre a forma aguda, que muitas vezes poupa os pulmões. A doença cursa com infiltrado pulmonar bilateral simétrico peri-hilar, acometendo predominantemente os terços médios. Os principais padrões radiológicos desta micose são: Infiltrado micronodular: com nódulos de diferentes tamanhos, ao contrário da tuberculose miliar e da histoplasmose miliar; Alveolar, de distribuição simétrica peri-hilar (“asa de morcego”); Intersticial, reticular ou reticulonodular; Cavitário, com pequenas cavitações irregulares e confluentes; Fibrótico, com estrias grosseiras, do hilo para a periferia pulmonar, com ou sem áreas enfisematosas. Este padrão é a sequela pulmonar da doença. O exame de sangue inespecífico apresenta poucas alterações, em geral compatíveis com “doença crônica”, como anemia e aumento do VHS. Eosinofilia costuma estar presente nas formas agudas, e monocitose pode ser encontrada nas formas crônicas. Em caso de insuficiência adrenal, pode haver hipoglicemia, hiponatremia, hipercalemia e eosinofilia. Diagnóstico É feito pela pesquisa direta do fungo (material clareado por hidróxido de potássio ou tinta Parker) ou cultura (rendimento baixo) do material colhido do escarro, aspirado linfonodal ou raspado das lesões cutâneas. Na avaliação direta, visualiza-se características físicas do fungo, inclusive a roda de leme = brotos recobrindo toda a célula mãe (patognominico do fungo). Se os resultados forem negativos, o diagnóstico pode ser buscado pelo exame histológico (biópsia pulmonar, linfonodal, cutânea), que mostrará o fungo corado pelo método da prata-metenamina (Gomori). Um outro método diagnóstico é a sorologia, com sensibilidade e especificidade em torno de 90%. Os métodos mais usados são a imunodifusão, o ELISA e a CIE (contra imunoeletroforese). A sorologia também é utilizada para controle de cura. Como alguns pacientes podem manter baixos títulos de anticorpos circulantes mesmo após a cura, é interessante confirmar o diagnóstico através da demonstração direta do fungo, diante da positividade de uma sorologia. O teste intradérmico com a paracoccidioidina é utilizado apenas em inquéritos epidemiológicos, não servindo para diagnóstico da doença. Este teste pode estar negativo no momento do diagnóstico, ou 48 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 mesmo se manter positivo após a cura, já que indica apenas imunidade (infecção tanto prévia quanto atual) contra o paracoco. Tratamento A terapia da paracoccidioidomicose tem duas fases distintas: ataque e manutenção. Embora sejam normalmente realizadas com a mesma droga, isso não é uma regra absoluta (podemos, por exemplo, iniciar o tratamento com uma droga e fazer a manutenção com outra). A maioria dos esquemas tem duração em torno de seis a doze meses. A tendência atual é cada vez mais basear a duração da terapia na melhora clínica e sorológica do doente, e não em períodos previamente fixados. A droga de escolha (embora de custo mais alto) para a paracoccidioidomicose é o itraconazol, na dose de 100-200 mg/dia, via oral, 1x/dia. O cetoconazol (200-400 m/d) é uma opção mais barata, porém menos potente e mais associada a efeitos adversos graves (hepatotoxicidade, bloqueio da síntese de testosterona). A anfotericina B venosa é reservada para os casos mais graves, disseminados e, mesmo assim, somente em uma fase inicial (a terapia de manutenção é geralmente com SMX-TMP). As drogas de mais baixo custo no tratamento da paracoccidioidomicose, embora menos potentes, são as sulfonamidas. O sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim) pode ser usado na dose de 800/160 mg, duas a três vezes ao dia. Os pacientes que voltaram a positivar a sorologia e/ou voltaram a apresentar sinais e sintomas clínicos característicos devem receber o retratamento com a mesma droga ou com droga diferente. Histoplasmose Micose causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum, encontrado no solo, principalmente em áreas com umidade elevada e temperatura entre 25-30ºC, como cavernas (ou edifícios abandonados) habitadas por morcegos ou locais habitados com aves (galinheiros, viveiros de pombos). A transmissão ocorre quase sempre pela inalação do fungo proveniente do ambiente (não existe transmissão respiratória pessoa-pessoa) ou, muito raramente, pode se dar por inoculação percutânea, em laboratórios. Patogenia da Histoplasmose A histoplasmose tem patogenia análoga à tuberculose. Primeiro, o fungo é inalado, atinge os pulmões e, antes que se organize a imunidade contra ele, se dissemina para vários órgãos (SRE, adrenais, pele e outros), podendo, a partir daí, evoluir com a forma aguda da doença ou ser neutralizado pelo sistema imune, pela formação de granulomas, com necrose caseosa. Neste caso, a infecção se torna latente, subclínica, “aguardando” uma queda na imunidade para sua reativação. O HIV tem papel decisivo nestas reativações. A partir daí, podem se desenvolver formas agudas pulmonares ou disseminadas. A forma pulmonar crônica depende de um defeito estrutural pulmonar para evoluir. Manifestações clínicas Histoplasmose Pulmonar Aguda Após período de incubação de duas a três semanas ou poucos dias (indivíduos previamente infectados e, portanto, sensibilizados), surge um quadro gripal (febre, cefaleia, calafrios, mialgia, mal-estar). Tosse seca, dor torácica e dispneia são comuns, sendo registrados casos que evoluíram com insuficiência respiratória. Adenomegalia periférica, hepatoesplenomegalia, eritema nodoso, eritema multiforme, artralgia e exantemas podem ser observados menos comumente. Normalmente, a histoplasmose aguda regride espontaneamente num prazo de dez dias a algumas semanas. A partir daí desenvolve-se um 49 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 complexo de Ghon, semelhante ao que se forma na tuberculose. Embora sejam mais comumente encontrados no pulmão, estes granulomas cicatriciais podem ser vistos no fígado ou baço. Histoplasmose Pulmonar Crônica É uma forma quase exclusivamente pulmonar, mais comum em pacientes com pneumopatia prévia (DPOC, bronquiectasias). O quadro é semelhante ao da tuberculose pulmonar, com início insidioso de sintomas respiratórios, febre, adinamia e perda ponderal. Os casos mais avançados acabam complicando com hemoptise e graus variáveis de fibrose pulmonar. A exemplo do que ocorre na tuberculose cavitária, pode haver disseminação broncogênica para o outro pulmão ou outro segmento pulmonar. OBS: muito raramente, este nódulo formado após a infecção primária pelo histoplasma começa a aumentar de tamanho, provavelmente devido a um estímulo antigênico persistente, que acaba por perpetuar a resposta imune. Nesses casos, desenvolve-se uma massa formada por inflamação intensa e destruição tecidual na periferia, e uma área de fibrose central. Muitas vezes, desenvolve-se uma fina calcificação periférica. Essas massas são capazes de atingir grandes tamanhos, e são chamadas de histoplasmomas, pois podem ser confundidas com um Ca de pulmão. Histoplasmose Disseminada A disseminação do HIV mudou completamente a incidência da histoplasmose disseminada. Antes restritas a grupos específicos, as formas disseminadas da histoplasmose já foram muito mais raras; hoje em dia, é considerada doença definidora de Aids. Outras formas de imunossupressão, como a realizada em transplantados, também colocam o paciente sob risco da forma disseminada da histoplasmose. Existem basicamente três formas de histoplasmose disseminada: aguda, subaguda e crônica. Forma aguda: mais comumente vista em crianças, antes da era HIV, essa forma evolui ao longo de dias, com febre/calafrios, tosse, hepatoesplenomegalia, adenomegalias diversas (a mais comum, cervical) e, frequentemente, diarreia. Lesões cutâneas (especialmente papulocrostosas) estão presentes em 2/3 dos pacientes com HIV associado. Uma característica marcante da forma aguda é a presença de citopenias: pode ocorrer qualquer combinação delas, incluindo citopenias isoladas ou pancitopenia. Encefalite pode acompanhar 1/5 dos casos. A letalidade é de 100% se não tratada, caindo para 20% com tratamento adequado. Os pacientes sob maior risco de óbito são os que evoluem com choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. Forma subaguda: apresenta os mesmos sintomas básicos da forma aguda, que agora tem evolução pouco mais arrastada. As citopenias são menos comuns e mais leves nesta forma. Nela, a grande marca são as lesões sólidas destrutivas, possivelmente presentes no pulmão, intestinos, vasos sanguíneos e adrenais, que podem provocar ulceração e até perfuração intestinal. Endocardite, meningite crônica ou, menos comumente, lesões sólidas intracranianas, podem acompanhar o quadro. Embora sejam raros, acometimento adrenal é visto em 80% das necropsias. Forma crônica: essa é a forma menos relacionada ao HIV, sendo normal seu encontro em adultos imunocompetentes. Os sintomas são mais brandos e arrastados, e a febre pode estar ausente ou ser intermitente. A forma crônica é mais localizada, menos sistêmica. A característica clínica mais típica dessa forma são as lesões cutaneomucosas, principalmente em cavidade oral, ou ainda em outros pontos do tubo digestivo, vias aéreas superiores, glande e grandes lábios. A doença pode evoluir na forma de surtos-remissões, sempre no mesmo sítio ou em sítios diferentes. 50 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Diagnostico Os padrões radiológicos da histoplasmose simulam os padrões da tuberculose, em especial a tuberculose primária e miliar. Adenopatia hilar e mediastinal é comum nas formas aguda e disseminada, compondo o complexo primário desta micose. Na forma pulmonar crônica, à semelhança do que ocorre na TB pós-primária, nota-se cavitação pulmonar, e não se visualiza adenomegalia mediastinal. Do ponto de vista laboratorial, podem estar presentes várias citopenias. Ocorre um característico aumento da ECA, assim como elevação da fosfatase alcalina e hiperbilirrubinemia. O diagnóstico idealmente deve ser feito pelo exame direto ou cultura de sangue, escarro, lavado broncoalveolar ou sangue. Como o crescimento do fungo é lento em meios de cultura, uma opção em pacientes mais instáveis, que requeiram rápido diagnóstico, é a biópsia pulmonar ou de outro sítio acometido (linfonodo, pele, medula óssea), em caso de doença disseminada. A sorologia pela imunodifusão dupla em gel (mais específica) ou pela fixação do complemento (mais sensível) pode ser usada para o diagnóstico, mas pode ser falso-positiva na tuberculose, linfoma, sarcoidose ou outras micoses. A pesquisa do antígeno polissacarídico no sangue ou na urina tem uma acurácia em torno de 90% para o diagnóstico da histoplasmose disseminada. Tratamento A maioria dos casos de histoplasmose pulmonar aguda leve não requer tratamento, a menos que os sintomas perdurem por mais de três a quatro semanas. Neste caso, pode-se usar um ciclo curto (seis semanas) de itraconazol. A histoplasmose pulmonar aguda grave, com hipoxemia ou grandes infiltrados pulmonares, deverá ser tratada inicialmente com anfotericina B, seguida ou não de uma manutenção de itraconazol por algumas semanas. As formas pulmonares crônicas podem ser tratadas com itraconazol ou com anfotericina B. O tratamento da histoplasmose disseminada deve ser iniciado com anfotericina B venosa e completado com itraconazol, mantido por período indeterminado nos HIV positivos. Aspergilose Micose causada pelo fungo do gênero Aspergillus, encontrado no solo, água e ar. Pode colonizar as vias aéreas proximais de indivíduos normais, sob a forma de hifas e micélio. 51 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Aspergilose Broncopulmonar Alérgica Causada pela hipersensibilidade crônica do tipo alérgica (tipo I) ao Aspergillus fumigatus. Manifestase como uma asma brônquica persistente moderada ou grave, com febre esporádica, tosse com expectoração de tampões mucosos de hifas ou micelas, infiltrados pulmonares migratórios, atelectasias segmentares ou subsegmentares, evoluindo para a formação de bronquiectasias proximais predominando nos lobos superiores (esta é a fase mais avançada, com fibrose pulmonar associada). Laboratorialmente, há eosinofilia importante e aumento da IgE sérica. O diagnóstico é feito baseado em critérios. A presença de seis critérios maiores firma o diagnóstico. A doença evolui nos seguintes estágios: agudo, exacerbação, remissão, dependência aos corticoides, fibrose. O tratamento dos primeiros dois estágios é a prednisona por duas semanas, passandose para dias alternados durante pelo menos 3 meses. Nos casos mais graves (dependência a corticoide), a dose da prednisona deve ser aumentada para 30 mg/dia. Há benefício na associação de itraconazol, com objetivo de poupar corticoide. Pneumonite por Hipersensibilidade Quadro clinicorradiológico idêntico às outras formas de pneumonite por hipersensibilidade. Ocorre após inalação de quantidade maciça de propágulos do fungo. Ocorre reação de hipersensibilidade intraalveolar do tipo III imediata e retardada, com alteração radiológica de opacidades parenquimatosas e tratamento com corticoides. Colonização de cavidades (Bola Fúngica ou Fungus Ball) Os pacientes com lesões cavitárias fibróticas (especialmente aquelas com sequela de tuberculose ou bronquiectasias) podem desenvolver colonização intracavitária por fungos (bola fúngica), sendo o Aspergillus sp. o gênero mais envolvido. O aspergiloma é constituído pela presença de hifas mortas ou viáveis do fungo, muco, células mortas, leucócitos e hemácias, formando uma massa sólida no interior da cavidade, em comunicação com a árvore brônquica. A lesão costuma ser localizada e geralmente não há sintomas sistêmicos. O paciente pode ser assintomático, com a bola fúngica descoberta ao acaso no exame radiológico, ou então apresentar sintomas de tosse crônica, com ou sem hemoptise. A hemoptise pode eventualmente ser de grande monta, inclusive com casos registrados de fatalidade. Febre baixa e emagrecimento são sintomas possíveis. O tratamento está indicado nos casos sintomáticos (especialmente na presença de hemoptise), realizado por cirurgia, com ressecção da bola fúngica. Alternativamente, a cavernostomia pode ser indicada em casos selecionados. Nos pacientes sem condições clínicas para tolerar a cirurgia ou com múltiplas cavitações, pode-se iniciar itraconazol 400 mg/dia por vários meses, com uma resposta variável. Outras opções são o voriconazol ou a anfotericina B. Aspergilose Pulmonar Invasiva Infecção pulmonar grave pelo Aspergillus sp. que ocorre quase que exclusivamente em paciente neutropênicos ou em uso de altas doses de corticosteroides. O quadro clínico mais frequente é o de um 52 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 paciente neutropênico há mais de dez dias, mantendo febre prolongada, apesar da antibioticoterapia apropriada. O paciente pode apresentar tosse e dispneia progressiva. Sem tratamento, o paciente evolui rapidamente para deterioração do quadro clínico, com insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica, com alta letalidade. A radiografia de tórax e a TC de tórax mostram infiltrados pulmonares com a presença de múltiplos nódulos pulmonares. Imagens nodulares com halo em sua periferia (sugerindo sangramento perilesional) são muito sugestivas. A coalescência dos nódulos forma infiltrados e condensações alveolares difusas. A evolução é para extensas áreas de necrose do parênquima pulmonar. Dada a gravidade da aspergilose invasiva, tanto o achado do fungo no escarro ou no LBA da broncoscopia em indivíduos neutropênicos, quanto um exame histopatológico (biópsia pulmonar), mostrando o Aspergillus na intimidade do tecido pulmonar, autorizam o início do tratamento. Devemos ressaltar que a sensibilidade do escarro e do LBA é baixa, sendo a biópsia frequentemente requerida. Na aspergilose pulmonar invasiva crônica, diante da baixa positividade do escarro e LBA, aceita-se o diagnóstico sorológico para início do tratamento. O tratamento classicamente sempre foi feito com anfotericina B em dose alta. Com a descoberta de cepas resistentes a esse antifúngico, que também tem um extenso perfil de efeitos colaterais (insuficiência renal), foram realizados novos trials. O voriconazol se mostrou o agente mais efetivo nesse contexto clínico nos últimos trials e, portanto, é considerado o melhor tratamento para a aspergilose invasiva. O itraconazol é uma alternativa. Diante de impossibilidade do uso de voriconazol ou itraconazol, a anfotericina B continua sendo uma opção. Criptococose Micose causada pelo fungo Criptococcus neoformans, agente da meningite criptocócica e da criptococcose pulmonar ou disseminada, especialmente em pacientes imunodeprimidos, como aqueles com SIDA/Aids. A criptococcose pulmonar é uma doença semelhante à histoplasmose e pode lembrar bastante a TB primária. Existem a forma aguda e a forma crônica, manifestando-se, respectivamente, como síndrome gripal e dispneia e como um quadro insidioso respiratório. O padrão radiológico inclui infiltrado pulmonar intersticial, alveolar unilateral ou bilateral, imagens nodulares, com adenopatia hilar e mediastinal satélite e/ou derrame pleural. O diagnóstico é feito pelo exame direto, pela cultura ou pela sorologia (látex para criptococo). Na forma disseminada (extrapulmonar, incluindo meningite) da criptococose, é comum o acometimento da pele. Nos pacientes HIV positivos e em transplantados, a lesão cutânea mais típica é uma pápula com umbilicação central, semelhante ao molusco contagioso. Tratamento Apesar da criptococose pulmonar normalmente se resolver espontaneamente, atualmente se recomenda o tratamento com fluconazol (200-400 mg/dia, por três a seis meses), mesmo nas formas oligossintomáticas e em pacientes imunocompetentes. O mesmo tratamento é recomendado nas formas extrapulmonares não meníngeas. Nos casos graves ou meníngeos, todavia, o tratamento deve ser iniciado com a anfotericina B venosa. Candidíase As cândidas são encontradas em objetos e comidas, além de colonizarem o trato gastrointestinal (desde a boca), a pele e o trato genital feminino. Atualmente, metade das infecções por Candida já é causada por Candida não albicans. Dentre os fatores de risco estão: Antibioticoterapia de amplo espectro. Imunossupressão: DM, quimioterapia citotóxica, corticosteroides, HIV+ com baixa de CD4. 53 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 “Quebra de barreira”: Cateteres intravenosos ou vesicais, cirurgia do TGI ou de tórax, uso de drogas ilícitas IV e grandes queimaduras. Manifestação clínica Candidíase Mucocutânea A forma mucocutânea de candidíase engloba algumas manifestações distintas. Primeiro falaremos da clássica candidíase oral, caracterizada pela presença de finas placas brancas, indolores, que são facilmente removíveis. Essa forma clínica está muito relacionada ao uso de corticoides inalatórios para a asma, ou pode ser sinal de doença grave e debilitante. Seu achado em jovens aparentemente hígidos deve suscitar a pesquisa de infecção pelo HIV. Falando em HIV, a candidíase oral pode, eventualmente, se estender até o esôfago, causando odinofagia ou até mesmo pirose. A candidíase cutânea classicamente aparece em áreas de dobras, na forma de lesões eritematosas e pruriginosas, frequentemente com pus. Quase sempre são notadas lesões-satélite menores. A candidíase mucocutânea crônica é uma rara entidade que normalmente se inicia na infância e é marcada por surtos-remissões das diversas formas de candidíase mucocutânea que vimos e que podem vir acompanhadas de lesões hiperceratóticas em face e couro cabeludo. Essa forma de candidíase pode estar relacionada a uma disfunção de células T e frequentemente se associa a endocrinopatias (hipogonadismo, hipotireoidismo.). Candidíase Sistêmica Candidíase invasiva focal: invasão de algum tecido isolado a partir de um foco específico, causando sintomas/sinais de infecção exatamente iguais aos de uma infecção bacteriana. Exemplos: peritonite por manipulação do tubo digestivo e a ITU por uso de sonda vesical. Candidíase invasiva disseminada: decorre da presença da Candida na corrente sanguínea e consequente disseminação para diversos órgãos. As hemoculturas são, geralmente, positivas. SIRS está presente em grande parte dos casos, o que torna a mortalidade alta. A presença de lesões cutâneas e/ou oculares é fortemente preditiva de acometimento de órgãos internos = cérebro, meninges, glândulas endócrinas, rins, articulações, ossos e até coração (endocardite), são algumas das estruturas passíveis de acometimento na candidíase disseminada. Candidíase disseminada crônica (forma hepatoesplênica): pacientes leucêmicos que acabaram de se recuperar de uma neutropenia. Surge com febre e hepatoesplenomegalia. A fosfatase alcalina está elevada. O quadro, portanto, te incita a pedir uma US ou uma TC de abdome, que mostra lesão focal hepática. A biópsia desta lesão mostra microabscessos sugestivos de Candida. Diagnóstico A candidíase mucocutânea tem diagnóstico clínico, e o tratamento será iniciado com base no aspecto das lesões. Todavia, lesões recorrentes ou resistentes ao tratamento devem ser culturadas, pois pode se tratar de cândidas resistentes aos antifúngicos habituais. A candidíase invasiva é diagnosticada por meio de hemoculturas, que geralmente são positivas, especialmente na forma disseminada ou mesmo de biópsias, com envio do material para cultura, no caso de um acometimento mais focal ou de fácil acesso. Exames de imagem, como TC, são úteis em estabelecer a extensão da infecção local ou mesmo avaliar o acometimento de outros órgãos internos. Na presença da forma disseminada de candidíase, uma fundoscopia deverá obrigatoriamente ser realizada, com o objetivo de definir a presença ou não de acometimento ocular, que tem tratamento específico. 54 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Tratamento A mudança no perfil das infecções por Candida, o aumento de sua incidência e a importância epidemiológica cada vez maior das Candidas não albicans trouxeram à tona a questão da resistência ao fluconazol, o agente clássico no tratamento das candidíases. Ainda assim, nas formas sistêmicas/invasivas, este agente persiste sendo o mais utilizado. Alternativas de maior espectro são os “recentes” voriconazol e caspofungina, normalmente reservados aos pacientes com instabilidade hemodinâmica ou aos casos devidos a espécies resistentes ao fluconazol, no antibiograma. As formas mucocutâneas são tratadas na maioria absoluta das vezes com agentes tópicos, à base de nistatina ou cetoconazol. Em geral, o tratamento tópico é mantido até dias após a melhora da lesão. Tabagismo O fumante deve ser submetido a avaliação clínica no momento da admissão no programa de cessação do tabagismo. O objetivo é identificar alterações funcionais pulmonares, existência de doenças relacionadas ao tabagismo, possíveis contraindicações e interações medicamentosas durante o tratamento farmacológico da dependência. É neste momento que também é avaliado o perfil do fumante, seu grau de dependência à nicotina e sua motivação para deixar de fumar. História tabagística Idade de início, número de cigarros fumados por dia, tentativas de cessação, tratamentos anteriores com ou sem sucesso, recaídas e prováveis causas, sintomas de abstinência, exposição passiva ao fumo, formas de convivência com outros fumantes (casa/trabalho) e fatores associados (café após as refeições, telefonar, consumo de bebida alcoólica, ansiedade e outros). Avalia grau de dependência e de motivação. Avaliação do grau de motivação A motivação favorece a reflexão para a tomada de decisões, algo que também diz respeito aos comportamentos relacionados ao consumo de drogas. Os estágios de mudança quando os pacientes iniciam um tratamento para deixar de fumar são: Pré-contemplação: não há intenção de parar, nem mesmo uma crítica a respeito do conflito envolvendo o comportamento de fumar. Contemplação: há conscientização de que fumar é um problema, no entanto, há uma ambivalência quanto à perspectiva de mudança. 55 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Preparação: prepara-se para parar de fumar (quando o paciente aceita escolher uma estratégia para realizar a mudança de comportamento). Ação: para de fumar = toma a atitude que o leva a concretizar a mudança de comportamento. Manutenção: o paciente deve aprender estratégias para prevenir a recaída e consolidar os ganhos obtidos durante a fase de ação. Neste estágio pode ocorrer a finalização do processo de mudança ou a recaída. A motivação é uma condição imprescindível para iniciar o tratamento e sua ausência praticamente elimina as expectativas de abstinência. Avaliação do grau de dependência Dispositivos inalatorios A via inalatória é atualmente reconhecida como a via de eleição para a administração de fármacos no tratamento das doenças respiratórias e veio contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos doentes, principalmente daqueles com patologia crónica, como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). O aparecimento de novos fármacos e de novos dispositivos inalatórios, que podem ser ajustados às necessidades e características individuais dos doentes respiratórios, contribui para o aumento progressivo da sua prescrição na prática clínica diária. Todavia, a sua otimização exige uma adequada técnica inalatória, o que representa para o médico prescritor e para os outros profissionais de saúde (enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de cardiopneumologia e farmacêuticos) uma responsabilidade acrescida. A via inalatória, comparativamente à via oral e à parentérica, permite uma ação terapêutica mais rápida e com maior eficácia, utilizando doses menores de terapêutica, associando-se a menos efeitos adversos. Os dispositivos para administração inalatória têm como principal objetivo a deposição do fármaco nas vias áreas inferiores para se obter os seus efeitos terapêuticos. 56 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Fármacos Broncodilatadores Beta 2 agonista Ação imediata: uso de resgate nas crises ou antes da realização de atividades físicas, relação sexual, ou qualquer outra atividade. Tem efeito rápido, 1-2 minutos, e atua no máximo por 6h (Salbutamol, fenoterol, terbutalina). Longa ação: atuam por 12h (Salmeterol – inicio de ação em 15 min, formoterol – inicio de ação em 1-2 min). Ultra-longa ação: Indacaterol, olodaterol, vilanterol = 24 horas de ação Em dose muito alta pode descompensar pacientes com arritmia previa = raro pois o efeito é local. Anticolinérgico Ação imediata: atua no máximo por 6 horas = brometo de ipratrópio (atrovent) Ação longa: age por 24h = tiotrópio, glicopirrônio, brometo de aclidínio Corticoide Inalatório Beclometazona (x), Budesonida (3x/4), Fluticazona (x/2). Quanto mais forte, menor a dose = Fluticazona é o mais potente e deve-se usar a metade da dose aconselhado para beclometazona. Demora 15 dias para repercussão sistêmica = explicar que a redução dos sintomas podem demorar para fazer efeito e que o paciente não deve interromper o uso. Redução da dose é so a partir de 3 meses de uso, porque só então a inflamação realmente estará controlada. Após o período, reduzir a dose em 1/3 a ½ e reavaliar o paciente, reduzindo até que atinja a menor dose possível estando assintomátco = melhor dose. Efeito local: candidíase, por isso deve-se ENXAGUAR a boca após o uso, não escovar ou beber agua. Dispositivos Há vários tipos de sistemas de inalação, cada um com as suas indicações clínicas, vantagens e desvantagens. Cada sistema tem a sua técnica de inalação, sendo essencial uma execução correta com vista a maximização da terapêutica. É aconselhável prescrever sempre que possível, o mesmo tipo de dispositivo inalatório para os diferentes fármacos utilizados pelo doente. Em gás ou spray: é necessário apenas apertar o botão para o pó sair = fluxo inspiratório baixo e lento, pois sai em jato de turbilhonamento que vai direto para a via aérea. Possui uma droga carreadora (gás propelente) que leva o medicamento ate a via aérea. Em pó: precisa inspirar para o pó sair = necessário fluxo inspiratório alto e rápido. Contra-indicado em urgência e em crianças < 5 anos, pois não conseguem o fluxo inspiratório necessário para puxar o medicamento. Todos precisam de uma pausa inspiratória de 10 segundos após puxar o medicamento e sem retirar o dispositivo da boca = necessária para que a medicação alcance os alvéolos. Aerossol ou spray dosimetrados Agitar o frasco para misturar o carreador com a droga e retirar a tampa. 57 Habilidades V Pneumologia Veronica Bertho Garcia - 823594 Polegar embaixo, na base, e 2 dedos no botão No 1º uso, descartar as 4 primeiras doses; para ver se está vazio o dispositivo sem dosador, é so retirar o refil e colocar na agua, se boiar é porque está. Não há restrição de dose Respiração normal antes, depois colocar na boca e acionar, inspirando profundamente e lentamente. Pausa inspiratória por 10 segundos. Não fazer 2 doses em uma única vez. Respimat Dispositivo que libera medicação em forma de gás, mas sem a presença de um propelente Transforma liquido em gás Desvantagem = vem desmontado Vantagem = tem marcador de dose (quando zera, ele trava), partículas pequenas e jato de aerossol (fluxo inspiratório é mínimo) Para colocar o refil: tira a tampa, aperta o botão cinza, coloca o refil e fecha; Para acionar a dose: tampa fechada, gira o dispositivo para frente; Para aplicação: abre a tampa, respiração normal, coloca na boca, aperta o botão, pausa inspiratória de 10s. Para usar de novo tem que repetir o processo. Precisa descartar 4 doses no 1º uso Utilizado sempre com tiotrópio (anticolinérgico de longa duração) = 2 doses. Em pó Aerolizer e Aerocaps Uma dose por vez Tira a tampa do dispositivo, abre a proteção e coloca a capsula; fecha a proteção e pressiona e solta os botões laterais para perfurar a capsula (precisando ouvir o barulhinho), deixando o botão livre. Respiração normal, coloca o dispositivo na boca, inspiração RÁPIDA e PROFUNDA, pausa inspiratória de 10s. Verifica se ainda há pó na capsula após o uso (repetir se houver). Possui carreador, que pode ser frutose ou sacarose. Turbuhaler Quando acabar a dose, não usar mesmo que ainda tenha barulho de medicação dentro; No 1º uso, gira 3 vezes = pra trás, pra frente e pra trás Pra uso: girar o inalador no sentido anti-horário (para frente) e depois no sentido horário (para trás), ouvindo um clique correspondente ao acionamento da dose. Respiração normal, coloca na boca e inspira RÁPIDA e PROFUNDAMENTE, pausa inspiratória de 10s. Outros Pulvinal: pressiona o botão marrom e gira para frente ate aparecer a bolinha vermelha; solta o botão marrom e gira o dispositivo para trás até aparecer a bolinha verde = acionamento da dose. Ellipta: só abre o dispositivo para acionar a dose Respiração normal, coloca o dispositivo na boca, inspiração RÁPIDA e PROFUNDA, pausa inspiratória de 10s. 58