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ENQ 150 apostila 3 2017

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
UFSCAR
ENQ 150 – TERMODINÂMICA QUÍMICA APLICADA
PROF. ROBERTO DE CAMPOS GIORDANO
PROF. MARCELO PERENCIN DE ARRUDA RIBEIRO
INTRODUÇÃO À TERMODINÂMICA CLÁSSICA – 2a LEI
APOSTILA III
Com base em notas de aula (Prof. Giordano, 1980. O tempo passa...)
São Carlos
2017
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PPGEQ-UFSCar: ENQ 150 – Termodinâmica Química Aplicada – Apostila 3. Profs. Giordano e Ribeiro
Segunda Lei da Termodinâmica
Observação experimental: muitos processos, fenômenos, que não violam a 1ª Lei são impossíveis
de se produzirem na prática (Ex.: os moto-contínuos de segunda espécie). Ou seja, a natureza tem
caminhos preferenciais. Este fato não é explicado pela 1ª Lei → surge a necessidade da 2ª Lei.
Exs.:
a. Veja figuras abaixo. O processo da esquerda ocorre no mundo real (desde que a primeira lei seja
obedecida: ΔU = Q + W ). Entretanto, mesmo que a primeira lei ( ΔU = Q + W ) seja obedecida o
segunda processo não é observado na prática (supondo que o sistema seja simples: não
consideramos correntes de convecção, por exemplo, no interior do fluido).
Q
Q
W
W
b. A transferência de calor ocorre sempre do corpo mais quente para o mais frio e nunca o contrário,
mesmo que não contradiga a 1a lei.
A"
Q
B"
TA > TB
ΔUA = ΔUB
Os postulados vistos até aqui já são suficientes para que a 2ª Lei possa ser enunciada.
Definição - Máquinas térmicas e refrigeradores: são dispositivos que interagem com as
vizinhanças trocando trabalho e calor enquanto percorrem um ciclo.
Máquina térmica: retira calor de uma “fonte quente”, transfere para uma “fonte fria”,
transformando a diferença dos dois fluxos de calor em trabalho enquanto percorre um ciclo. Ex.:
instalação geradora de potência a vapor.
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Q! q
Tq
CALDEIRA
Qq
Wutil
BOMBA
Qf
W! útil
W! B
CONDENSADOR
TURBINA
Tf
Q! f
Processo percorrendo um ciclo ΔU = 0
Pela 1a Lei: ΔU = Qq + Q f + W
Com Qq > 0, Qf < 0, W < 0.
Ou seja: W = Qq − Q f
Refrigerador: (é uma máquina térmica revertida) retira calor de um ambiente frio, transferindo-o
para uma região mais quente, recebendo trabalho para fazê-lo:
Q! q
Tq
Qq
COMPRESSOR
Wutil
Qf
CONDENSADOR
VÁLVULA DE
EXPANSÃO
EVAPORADOR
Tf
Q! f
Processo percorrendo um ciclo ΔU = 0
Pela 1a Lei: ΔU = Qq + Q f + W
Com Qq < 0, Qf > 0, W > 0.
ou seja W = Qq − Q f
W! útil
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ENUNCIADOS CLÁSSICOS DA SEGUNDA LEI DA TERMO:
Seja o seguinte arranjo, com TA > TB:
Reservatório Térmico a TA
Q
(1)
W
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
Reservatório Térmico a TB
TA > TB!
De acordo com a segunda lei da Termodinâmica, temos:
Processo (1) → possível
Processo (2) → impossível (viola o postulado II, pois nunca se chegaria ao equilíbrio) → 2ª Lei:
Enunciado de Clausius.
Processo (3) → possível
Processo (4) → impossível (pois 3+4=2) → 2ª Lei: enunciado de Kelvin-Planck.
Processo (5) → impossível (pois se tivermos outro reservatório a Tc > TB recaímos no Processo 4)
→ 2ª Lei: enunciado de Kelvin-Planck.
Processo (6) → possível (máquina térmica)
Processo (7) → possível (refrigerador)
Observação: Reservatórios térmicos são corpos idealizados que não apresentam variação de
temperatura mesmo estando sujeitos a transferência de calor (massa infinita). Dois exemplos
comumente utilizados: oceano e atmosfera. Caso prático em processos: substância pura mudando de
fase a pressão constante (água vaporizando ou congelando)
Parâmetros de desempenho:
Motor Térmico
Eficiência térmica: η =
η=
Wlíquido
Qq
=
Refrigerador
Qq − Q f
Qq
o que se quer
o que tem que ser dado
< 1 , sempre (consequência da 1ª Lei).
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Coeficiente de eficácia: β =
β=
o que se quer
o que tem que ser dado
Qf
Qf
=
≥ 0, > < OU = 1
Wlíquido Qq − Qf
5) Até agora, foi visto que η < 1, apenas. Se não houver outra restrição para η, pode-se imaginar o
seguinte: (ηM > ηR_invertido )
Tq
100
100
Viola a 2a Lei
50
40
40
10
50
40
Tf
Na verdade
ηR(real) > ηM(real)
Dados Tq e Tf
Portanto, tem que haver uma limitação para o rendimento, ou seja, um ηmax, provavelmente uma
situação “ideal”).
Fatores que diminuem η: irreversibilidades
Processo reversível: quando é invertido, o universo volta à situação inicial. Processo quase-estático
é reversível. O processo reversível é uma idealização.
Processos irreversíveis: se puderem ser invertidos, provocarão alguma alteração no universo, ou
seja, depois que acontecem é impossível que o universo volte à situação anterior (e esta “alteração”
é o aumento da entropia... veremos...).
Exs:
a) Processos com atrito: o trabalho gasto para vencer o atrito se transforma em calor, que nunca
tornará a se transformar inteiramente em trabalho (o que recomporia o universo).
b) Expansão não resistida:
Q
gás
vácuo
1"
gás
2"
W
gás
3"
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c) Troca de calor com diferença finita de temperatura:
TA >TB
TA
Para voltar B ao
estado inicial
Q
TB
No processo de
recuperação de B,
altera-se o meio e A
Q
TB
Troca de calor reversível: diferença infinitesimal de temperatura, ou pondo numa máquina térmica
de
no meio dos corpos (aproveitando assim o “trabalho perdido”).
Processos: internamente irreversíveis/externamente irreversíveis
Mudança de fase trocando calor com: (A) diferença infinitesimal de temperatura com a fonte quente
(processo reversível externamente) ou (B) com diferença finita de temperatura (processo reversível
internamente, mas o universo mudou para sempre: irreversível externamente).
(A)
(B)
[Termodinâmica: Van Wylen, Borgnakke, Sonntag]
7
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7) É evidente que uma máquina térmica com ηmax percorrerá um ciclo com todos os processos
reversíveis. Assim o ciclo de maior rendimento possível será um ciclo reversível (existem muitos).
Ex: ciclo de Carnot:
(os ciclos reversíveis podem ter seu sentido invertido):
1-2-3-4: ciclo motor
1-4-3-2: ciclo de refrigeração
Cálculo de
Já sabemos que “todos” os ciclos reversíveis operando entre
, ou seja,
e
têm o mesmo rendimento,
Tomemos um ciclo de Carnot operando na região de gás perfeito:
Demonstra-se que:
(ciclo reversível)
Pré-problema desafio: demonstre essa relação usando a 1ª Lei e as expressões de gás perfeito para
cada processo do ciclo!
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Ora,
como todos os ciclos reversíveis têm
, então:
Obs: T = temperatura absoluta (medida em termômetros de gás ideal)
reversível)
Em termos diferenciais:
(utilizada quando T varia →
(ciclo
, ciclo reversível)
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Entropia
Como vimos, para ciclos reversíveis:
!!!
!!
!!!
+
!!
!"
= 0, π‘œπ‘’
!
=0
Propriedade
2
Sejam os seguintes processos reversíveis (que podem ser desenhados sobre um gráfico de
propriedades termodinâmicas, portanto):
B
1
2
3
A
Propriedade
1
Então:
!
𝛿𝑄
=0=
𝑇
!
!
!
𝛿𝑄
𝑇
𝛿𝑄
𝑇
!
!
!
+
!
!
+
!
𝛿𝑄
𝑇
𝛿𝑄
𝑇
!
!
10
PPGEQ-UFSCar: ENQ 150 – Termodinâmica Química Aplicada – Apostila 3. Profs. Giordano e Ribeiro
Logo:
! !"
!
!
!
=
! !"
!
!
!
⇒
! !"
!
!
!"#"!$í!"#
=
Δ(π‘π‘Ÿπ‘œπ‘π‘Ÿπ‘–π‘’π‘‘π‘Žπ‘‘π‘’ π‘‘π‘’π‘Ÿπ‘šπ‘œπ‘‘π‘–π‘›âπ‘šπ‘–π‘π‘Ž)
DEFINIÇÃO: a propriedade acima é a ENTROPIA (S)
𝑑𝑆 =
E:
!"!"#
!
IMPORTANTE: S não depende do caminho, é propriedade termodinâmica!
Ou seja: se o sistema for de A para B por um processo reversível ou por um processo irreversível,
SA – SB será sempre igual (não depende do caminho)! O que muda é a entropia do universo em cada
caso...
[S] = J/K, kcal/K, etc...; s = S/m (J.kg-1K-1, kcal kg-1K-1)
Ciclo de Carnot:
S1 > S2
S2
S1
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[Wikimedia Commons]
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Para um ciclo genérico:
[Wikimedia Commons]
IMPORTANTÍSSIMO
Seja um sistema simples, fechado, percorrendo um processo reversível (infinitesimal). Nesse
caso:
π›Ώπ‘Š = −𝑃𝑑𝑉 e 𝛿𝑄 = 𝑇𝑑𝑆. Mas a primeira lei diz que π‘‘π‘ˆ = 𝛿𝑄 + π›Ώπ‘Š (0)
Logo, neste caso: π‘‘π‘ˆ = 𝑇𝑑𝑆 − 𝑃𝑑𝑉 (1)
Mas U, T, S, P e V são propriedades termodinâmicas. Logo, consequência de nossos postulados
(quais? Responda...), a equação (1) vale sempre!
Mas e se o processo não for reversível? Bom, então (1) continua valendo, apenas o trabalho trocado
não será igual a -PdV, e o calor trocado não será igual a TdS. Mas um compensa o outro, de forma
que a primeira lei, equação (0), e a equação (1) – que, veremos, é uma das formas da equação
fundamental da Termodinâmica – ambas essas equações continuam valendo! Pense sobre isso...
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VARIAÇÃO DA ENTROPIA EM PROCESSOS ADIABÁTICOS
IRREVERSÍVEIS
Pelo que já vimos, em processos adiabáticos reversíveis (internamente) a entropia é constante pois
!"
nesse caso 𝑑𝑆 = ! 𝑒 𝛿𝑄 = 0. Mas e se o processo (ainda adiabático) for irreversível (com atrito,
variações rápidas de volume, etc...)? Como fica dS?
Para responder a esta questão fundamental, vamos precisar do TEOREMA DE CLAUSIUS:
Sejam os processos reversíveis A-B e A-C-D-B, percorridos por um sistema fechado:
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Observação: para um gás perfeito (cpo = cte, cvo = cte, e cpo - cvo = R, logo k = cpo/cvo>1) temos:
Isoentrópicas (processos adiabáticos reversíveis): Pvk = cte;
Isotérmicas: Pv = cte (de PV = nRT); logo, as linhas de S= cte são mais inclinadas que as de T =
cte, pois k>1 (como indicado na figura).
Temos: A-B (direto), processo genérico, reversível. Escolhemos C (e, portanto, D, pois suas
!"#
!"#
temperaturas são iguais) tal que π‘Š!"
= π‘Š!"#$
(basta que as áreas 1 e 2 sejam iguais, veja na
figura. Isso é sempre possível).
Como ΔU é o mesmo nos dois caminhos (UB – UA), pela primeira lei teremos imediatamente que
QAB = QACDB = QCD (pois AC e DB são adiabáticos). Essa é uma das formas de enunciar o teorema
de Clausius:
Um processo genérico reversível qualquer (AB) pode ser sempre substituído
por um processo adiabático-isotérmico-adiabático (ACDB), mantendo os
mesmos valores de trabalho e calor trocados com as vizinhanças.
Ótimo, dirá você, mas e daí? Bem, a consequência (lema do teorema) é nada mais nada menos que
o PRINCÍPIO DO AUMENTO DA ENTROPIA!
Seja um processo adiabático irreversível A-B. pelo teorema de Clausius, sempre existe um processo
reversível adiabático-isotérmico-adiabático que nos permite voltar de B para A. Assim, teríamos um
ciclo, com um processo adiabático irreversível, dois adiabáticos reversíveis e um isotérmico
reversível. Ora, todo calor trocado durante esse ciclo tem que ser durante o processo isotérmico, ou
seja, o sistema trocaria calor com apenas um reservatório térmico. A segunda lei nos diz que a única
situação possível é com o sistema cedendo calor, a T constante (veja o caso 3 na figura dos
enunciados da Termo), ou seja:
!"#
𝛿𝑄 = 𝑄!"
<0⇒
!"#
𝑄!"
= 𝑆! − 𝑆! < 0 ⇒ 𝑆! > 𝑆!
𝑇
Este é o famoso princípio: “após qualquer processo adiabático irreversível percorrido por um
sistema fechado, a entropia do sistema irá aumentar”.
ATENÇÃO: se o processo for irreversível mas não-adiabático, haverá duas forças motrizes atuando
na entropia do sistema: as irreversibilidades (tendendo a aumentá-la) e a troca de calor (se o sistema
ceder calor, a entropia pode diminuir). Assim, nesses casos, Δ𝑆!"!#$%& β‹› 0.
CONSEQUÊNCIAS DO PRINCÍPIO DO AUMENTO DA ENTROPIA:
•
•
ΔSuniverso >0 (pois o universo é um sistema fechado (estamos aqui na Termo clássica, claro).
Todo sistema isolado tende a uma situação de equilíbrio em que S é máxima dentre todos
valores possíveis, dadas as restrições do sistema. Lembrando que S é propriedade
termodinâmica e, portanto, diferenciável e contínua, termos no equilíbrio: dS = 0 e d2S < 0.
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PPGEQ-UFSCar: ENQ 150 – Termodinâmica Química Aplicada – Apostila 3. Profs. Giordano e Ribeiro
Novamente: é possível um processo irreversível com ΔS < 0 (qual o sinal do calor nesse caso?) mas
!"
sempre ΔSuniverso >0. Ou seja 𝑑𝑆!"!# ≥ ! , sempre (>, processo irreversível; =, processo reversível
internamente).
Variação da entropia em mudanças de fase de substâncias puras, a P = cte (processo
internamente reversível): Q = T(ΔS) = ΔH. Logo. Por exemplo, para a transição líquidovapor: sv – sl = T(hv – hl).
• Variação de entropia de um gás ideal (obs: _ significa propriedade molar, por mol ou kmol
da substância):
TdS = dU + PdV; du = cv0dT e PV = RT
Logo:
!!
!
!
!"
!"
dS = c!" ! + R ! ⇒ ΔS = ! ! c!" ! + R. ln !! .
•
!
!
!
!
Para um gás perfeito, c!" = cte e: s! − s! = c!" ln !! + R. ln !! e, lembrando que TdS = dH
!
!
!
!
– VdP, temos: s! − s! = c!" ln !! + R. ln !!
!
•
•
!
Processos politrópicos (sistemas simples fechados): seguem uma equação do tipo: pvn = cte.
Casos particulares: n = 0, processo isobárico; n = 1, isotérmico; n = k, isoentrópico
(demonstra-se facilmente que, para um gás perfeito, com k = cp0/cv0).
!"
Trabalho perdido (LW, lost work): ora, sabemos que (𝑑𝑆)!""#$ > ! . O trabalho perdido é
aquele que poderia ter aproveitado se não houvesse as irreversibilidades, e o sistema
percorresse um processo reversível como o mesmo ΔS que o do sistema real. Assim,
!"!!"#
𝑑𝑆!""#$ =
!
Nota histórica: vejam os verbetes de Carnot, Clausius e Joule, na Wikipedia.
Vimos rapidamente neste curso algumas informações sobre termodinâmica estatística.
Boltzmann foi responsável por um grande avanço nesse campo (no início do séc. XX, veja
Wikipedia também), ao relacionar a entropia com a probabilidade de microestados dos
átomos ou moléculas do sistema. Isso relaciona a entropia com a ordem-desordem do sistema.
Podemos fazer uma analogia com o estado de um baralho (exemplo tirado da Wikipedia): Se o
microestado (definido pelo arranjo espacial e energia) das moléculas fosse, por exemplo, único
(probabilidade tendendo a zero), a entropia do sistema tenderia a zero (essa é a Terceira lei da
Termo, na verdade: a entropia de um cristal perfeito de uma substância pura a 0 K é zero).
Quanto maior a desordem, ou seja, quanto maior o número de arranjos possíveis em um
sistema, maior a probabilidade desse estado (desordenado) e, portanto, maior sua entropia.
Voltando à analogia das cartas do baralho: a probabilidade de termos um sistema altamente
ordenado, com uma sequencia de dois a ás, com naipes separados (espontaneamente, o
baralho deve ser misturado aleatoriamente) é muitíssimo baixa (entropia baixa). Já a
probabilidade de termos um estado com cartas fora de ordem após serem embaralhadas é
grande (alta entropia).
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Assim, Segundo Bolztmann:
•
•
•
Qualitativamente, a entropia é uma medida da desordem, que tende espontaneamente a
crescer (em um sistema isolado)
Quantitativamente, calor trocado em um processo internamente reversível/temperatura
absoluta do sistema é a variação de sua entropia
A entropia se relaciona com o número total de microestados de um sistema (sua
probabilidade termodinâmica), W, por S = k.lnW (aqui k é a constante de Boltzmann).
Neste curso nos restringiremos ao enfoque macroscópico, mas é importante saber que existe um
base microscópica (e, em última análise, quântica) sobre a qual ele se assenta...
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Segunda Lei para Sistemas Abertos (volumes de controle):
Seja um volume de controle (novamente aqui, apenas para simplificar, com uma entrada e uma
saída de massa – mas a dedução é genérica, basta somas todas as entradas e todas as saídas do
sistema para termos um caso geral):
VC
VC
Para transformarmos nosso sistema aberto em um sistema fechado, basta definir nosso sistema
como:
𝑆𝐼𝑆𝑇𝐸𝑀𝐴 → 𝑉𝐢 + π‘‘π‘š!
!
= 𝑉𝐢 + π‘‘π‘š!
Para esse SISTEMA (agora fechado) sabemos que: 𝑑𝑆!""#$ =
!"!!"#
!
!!!"
.
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Demonstra-se facilmente então (supondo as propriedades uniformes) a equação da 2ª Lei para
sistemas abertos, com propriedades termodinâmicas uniformes:
Fluxo de entropia
através da
superfície de
controle (SC)
Troca de calor
através da Irreversibilidades
superfície de
no interior do
controle (SC)
volume de
controle (VC)
Se as propriedades variarem com a posição dentro do VC (não forem uniformes):
𝑑
𝑑𝑑
𝑠. πœŒπ‘‘πœ— +
!"
𝑠. 𝜌. 𝑣 βˆ™ π‘›π‘‘πœŽ =
!"
𝑄
π‘‘πœŽ +
𝑇
!"
πΏπ‘Š
π‘‘πœ—
𝑇
!"
Na prática, essa forma não é muito útil (por causa do termo LW). Assim, em geral escreve-se a
equação da 2ª lei como uma desigualdade. Para sistemas uniformes:
𝑑𝑆!"
+
𝑑𝑑
π‘š! 𝑠! −
π‘š! 𝑠! ≥
𝑄
π‘‘πœŽ
𝑆𝐢 𝑇
(>, processo irreversível; =. Processo reversível)
Casos particulares:
•
Processo reversível, em regime permanente:
π‘š! 𝑠! −
•
Processo adiabático em regime permanente:
π‘š! 𝑠! ≥
•
Processo em regime uniforme, entre t1 e t2:
[m2s2 – m1s1]VC + Σ(msss) – Σ(mese) Σ(msss) ≥
!!
𝑑𝑑
! !
𝑄
π‘š! 𝑠! = 𝑆𝐢 𝑇 π‘‘πœŽ
π‘š! 𝑠! (>, π‘–π‘Ÿπ‘Ÿπ‘’π‘£. , =, π‘Ÿπ‘’π‘£π‘’π‘Ÿπ‘ . )
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Trabalho trocado por um sistema aberto, com uma entrada e uma saída, percorrendo um
processo reversível em regime permanente:
Bombas, compressores, turbinas são equipamentos muito importantes em processos. Tipicamente,
nesses casos, o engenheiro deve saber calcular as potências de acionamento (bombas,
compressores) ou geradas (turbinas). O que se costuma fazer é calcular o trabalho “ideal” (para
sistemas percorrendo processos reversíveis) e, em seguida, utilizar rendimentos (fornecidos pelos
fabricantes) para chegar ao trabalho real (uma vez calculado o ideal).
O balanço de massa nos dá: π‘š! = π‘š! = π‘š
A equação da 1ª lei, já dividida por π‘š, nos dá:
!
π‘ž + 𝑀 = β„Ž! − β„Ž! + ! πœ—!! − πœ—!! + 𝑧! − 𝑧! 𝑔 (i)
Se o processo for adiabático: 2ª lei → se = ss
Ou: β„Ž! − β„Ž! =
!
𝑣𝑑𝑃
!
(ii) ∴ π‘‘β„Ž − 𝑣𝑑𝑃 = 𝑇𝑑𝑠 = 0 ⇒ π‘‘β„Ž = 𝑣𝑑𝑃
(ii). Subst (ii) em (i), vem: 𝑀 =
!!
𝑣𝑑𝑃
!!
!
+ ! πœ—!! − πœ—!! + 𝑧! − 𝑧! 𝑔
(iii)
Se o processo for isotérmico: T(ss – se) = q. Como Tds = dh – vdP, integrando a T cte:
T s ! – s! = h! – h! −
𝑀=
!!
𝑣𝑑𝑃
!!
!!
𝑣𝑑𝑃
!!
=π‘ž
(iv). Subst. (iv) em (i), vem:
!
+ ! πœ—!! − πœ—!! + 𝑧! − 𝑧! 𝑔 (v)
Pelo Teorema de Clausius sabemos que qualquer processo reversível pode ser substituído por um
isoentrópico-isotérmico-isoentrópico com o mesmo Q e W, e como (v) = (iii), vem a importante
conclusão:e
Para qualquer processo reversível, em um sistema aberto em regime permanente com uma
entrada (à pressão Pe) e uma saída (à pressão Ps) apenas, o trabalho realizado por unidade de
massa que cruza a fronteira do sistema será:
𝑀=
!!
𝑣𝑑𝑃
!!
!
+ ! πœ—!! − πœ—!! + 𝑧! − 𝑧! 𝑔.
CONSEQUÊNCIAS IMPORTANTES:
a) Equação de Bernoulli: para um fluido incompressível (v = 1/ρ = cte), escoando em um
processo reversível (sem atrito = perda de carga), sem receber/ceder trabalho através das
fronteiras (ex.: escoamento em um duto) temos:
𝒗 𝑷 𝒔 − 𝑷𝒆 +
Logo:
𝟏 𝟐
𝟏
𝟏
𝝑𝒆 − π‘πŸπ’” + 𝒛𝒆 − 𝒛𝒔 π’ˆ = 𝑷𝒔 − 𝑷𝒆 + π‘πŸπ’† − π‘πŸπ’” + 𝒛𝒆 − 𝒛𝒔 π’ˆ = 𝟎
𝟐
𝝆
𝟐
𝑷
π‘πŸ
+
+ 𝒛 = 𝒄𝒕𝒆 (π‘©π’†π’“π’π’π’–π’π’π’Š)
π†π’ˆ πŸπ’ˆ
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b) Potência de acionamento de bombas (ideais, reversíveis):
Assumindo ΔEc e ΔEp ≈ 0, teremos: 𝑀 =
!!
𝑣𝑑𝑃
!!
Para um fluido incompressível: v = cte; tirando da integral, chega-se a w = v (Ps – Pe)
Obs: Como para a bomba Ps > Pe, temos w >0 (coerente, a bomba recebe trabalho...).
Ou: 𝑀 =
βˆ†!
!
⇒π‘Š =π‘šβˆ™π‘€ =
!
!
βˆ†π‘ƒ
Obs.: o fabricante fornece a eficiência da bomba (η) para o engenheiro de processos. No caso de
uma bomba real, assim, a potência de acionamento será: π‘Š =
!βˆ™βˆ†!
!βˆ™!
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