Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Ultrassonografia do Tórax, Abdómen e Membros de Equinos Dissertação de Mestrado em Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Sara Alexandra Simões Gouveia Orientador: Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma Coorientador: Dr. Alexandre Manuel Martins Triguinho VILA REAL, 2016 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Ultrassonografia do Tórax, Abdómen e Membros de Equinos - Versão definitiva Dissertação de Mestrado em Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Sara Alexandra Simões Gouveia Orientador: Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma Coorientador: Dr. Alexandre Manuel Martins Triguinho VILA REAL, 2016 iii Resumo A ultrassonografia é um meio auxiliar de diagnóstico na prática clínica e ambulatória de equinos ainda com grande margem de melhor utilização pelos Médicos Veterinários. Tratase de uma técnica não invasiva, de fácil execução e baixo custo e que fornece informação clínica no imediato. A sua aplicabilidade estende-se a várias situações clínicas, como cólicas, alterações cardíacas, pleurisias, tendinites e desmites, acompanhamento do ciclo reprodutivo e deteção de gestações e doenças do foro reprodutivo, alterações oculares, entre outras. E pode também ser utilizada como meio auxiliar de forma a guiar procedimentos clínicos como punção cecal, abdominocentese, pericardiocentese e obtenção de biópsias, entre outros. Apesar da sua utilização frequente, muitos veterinários de equinos, principalmente os que se limitam à prática ambulatória, não sabem interpretar imagens ecográficas, por não saberem, não apenas identificar as alterações presentes, mas também por desconhecerem o que é normal visualizar à ecografia. Como tal, o objetivo desta dissertação foi a realização de um texto acerca dos princípios básicos da ultrassonografia torácica, abdominal e de tendões no cavalo, e a posterior criação de uma aplicação Android™, dando a oportunidade a veterinários profissionais e estudantes de adquirirem um conhecimento básico e rápido acerca daqueles temas, debruçando-se principalmente na identificação da localização anatómica fisiológica de pulmões, estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado, baço, rins, bexiga e os diferentes tendões e ligamentos das extremidades; sua aparência fisiológica à ecografia; e breve descrição das principais alterações ecográficas que se podem encontrar naquelas estruturas orgânicas e as doenças mais frequentes associadas a essas alterações. Palavras-chave: Ultrassonografia; Anatomia; Ligamentos. v Cavalo; Tórax; Abdómen; Tendões; Abstract Ultrasonography it’s a non-invasive technique with wide use at equine practice. It´s easy to perform and with low expenses that gives good and quick information to clinicians. It can be used in many clinic situations like colic, cardiac and thoracic disorders, lameness, reproductive disorders and in detecting and following pregnancy. It can also guide some clinical procedures like cecal puncture, abdominocentesis and pericardiocentesis and biopsies. Its use is vast and frequent but, unfortunately, many equine veterinarians don’t know how to interpret ultrasonographic images. Thus the purpose of this dissertation is to write a text about the basic principles of thoracic, abdominal and tendon ultrasonography in the horse and then create an Android™ app, in order to give the opportunity to veterinarians and students to have an easy and quick access to these subjects. This dissertation focuses mainly on the identification of the normal anatomy of the lungs, stomach, small and large intestines, liver, spleen, kidneys, bladder and tendons and ligaments of the equine distal limb; and also a brief description about some of the pathologic processes that can occur in these structures and their ultrasographic findings. Key Words: Ultrasonography; Anatomy; Horse; Thorax; Abdomen; Tendons; Ligaments. vii Agradecimentos Agradeço a todos os docentes da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e da Escola Universitária Vasco da Gama, que contribuíram para a minha formação e me ajudaram a adquirir conhecimentos e capacidades para exercer Medicina Veterinária. Os meus sinceros agradecimentos aos meus orientadores Dr. Miguel Quaresma e Dr. Alexandre Triguinho pela transmissão de conhecimentos e constante disponibilidade na realização desta dissertação, pelos momentos de convívio e diversão partilhados em provas e jantares, e um especial agradecimento ao Dr. Miguel Quaresma pelos conselhos profissionais e pessoais. Agradeço ao Dr. José Prazeres por ter proporcionado a realização do meu estágio na clínica veterinária de Sto. Estevão e pela orientação e conhecimentos transmitidos. Agradeço igualmente à Dra. Maria Antónia Nabais pela forma acolhedora como me recebeu na clínica e pela paciência e constante disponibilidade na transmissão dos seus conhecimentos profissionais e pessoais. Quero também prestar o meu agradecimento a toda a equipa da Unidade Equina do Hospital Clinic Veterinari UAB, médicos veterinários, internos, técnicos e estudantes, pelo acolhimento e amizade. Agradeço aos meus pais pelo amor, em especial à minha mãe pela paciência, apoio e incentivo que me dedicou desde sempre e por todos os sacrifícios feitos em prole de mim. Agradeço também aos meus avós paternos pela motivação, confiança e sacrifícios, pois sem eles não teria sido possível a realização de um sonho. Agradeço ainda aos restantes membros da minha família o carinho e o apoio que sempre me prestaram, particularmente a minha tia Lúcia e prima Patrícia, um especial agradecimento por estarem sempre presentes nos bons e maus momentos. Por último, e não menos importante, um especial agradecimento ao Luís, Micaela, Rita, Joana e Carolina pela amizade incondicional e por estarem sempre ao meu lado a dar-me força, mesmo nos momentos mais difíceis. E a todos os meus amigos do curso pela motivação e as horas intensivas de estudo juntos, e pelos grandes e bons momentos de lazer na casa dos Tapas, um enorme obrigado; sem vocês não teria chegado até aqui. ix Índice Geral Descrição da Atividade de Estágio .................................................................................... 1 Capítulo I Introdução.......................................................................................................................... 5 A Física do Ultrassom ........................................................................................................ 5 Tipos de Transdutores ....................................................................................................... 7 Máquina Ecográfica ..........................................................................................................11 Preparação do Animal ......................................................................................................13 Capítulo II Ultrassonografia da Cavidade Torácica ............................................................................21 Anatomia .......................................................................................................................22 Técnica e Imagem ecográfica .......................................................................................24 Principais alterações e doenças a que se associam......................................................27 Capítulo III Ultrassonografia da Cavidade Abdominal .........................................................................37 Anatomia, Técnica e Imagem Ecográfica ......................................................................37 Principais alterações e doenças a que se associam......................................................54 Capítulo IV Ultrassonografia dos Tendões e Ligamentos ....................................................................77 Estrutura dos tendões e ligamentos ..............................................................................78 Características Funcionais do Tendão ..........................................................................79 Localização Anatómica .................................................................................................80 Técnica e Imagem ecográfica .......................................................................................87 Principais alterações observadas à ecografia................................................................99 Conclusão .........................................................................................................................105 Referências Bibliográficas ..............................................................................................107 xi Índice de Gráficos Gráfico 1: Frequência relativa do número de casos assistidos em Medicina Interna, Ambulatório e por Intervenção Cirúrgica, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão, nos meses de Setembro e Outubro de 2015 (azul) e de Fevereiro a Abril de 2016 (laranja). ................................................................................ 2 Gráfico 2: Frequência relativa do número de casos assistidos em Medicina Interna e por Intervenção Cirúrgica, durante o período de estágio no Hospital Veterinário da Universidade Autónoma de Barcelona. .......................................................................... 3 Gráfico 3: Curva de tensão-deformação para o tendão: 1 – “toe region”, 2 – “linear deformation”, 3 – “yield point”, 4 – “tendon rupture”. Imagem adaptada de Birch et al. (2014)............................................................................................................................80 Gráfico 4: Histerese e Condicionamento. Imagem adaptada de Birch et al. (2014). .............81 xiii Índice de Tabelas Tabela 1: Dados Relativos ao número de casos assistidos (e frequência relativa respetiva) durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão, nos meses de Setembro a Outubro de 2015 e de Fevereiro a Abril de 2016......................................... 1 Tabela 2: Dados Relativos ao número de casos assistidos (e frequência relativa respetiva) durante o período de estágio no Hospital Veterinário da Universidade Autónoma de Barcelona, nos meses de Novembro e Dezembro de 2015. ........................................... 3 Tabela 3: Radiografia e Ultrassonografia Torácica: Vantagens e Desvantagens. Adaptado de Reef (1998c). ................................................................................................................22 Tabela 4: Identificação das regiões corporais e repetibilidade de identificação (%) das estruturas abdominais. Tabela traduzida de Williams et al. (2014). ...............................50 Tabela 5: Parâmetros usados por Beccati et al. (2011) na avaliação ecográfica em cavalos com dor abdominal aguda. ............................................................................................55 Tabela 6: Condições patológicas de obstrução simples que conduzem a abdómen agudo. .57 Tabela 7: Condições patológicas de obstruções não estrangulativas que conduzem a abdómen agudo. ...........................................................................................................58 Tabela 8: Condições patológicas de obstruções estrangulativas que conduzem a abdómen agudo. ...........................................................................................................................61 Tabela 9: Parâmetros a ter em conta durante a avaliação ecográfica do fígado de equinos. Informação traduzida de Durham (2009). ......................................................................69 Tabela 10: Indicações para a realização de ultrassonografia no exame de membros de equinos. Tabela traduzida de Rantanen et al. (2011). ...................................................77 Tabela 11: Parâmetros usados na caracterização de lesões tendinosas e ligamentosas. Tabela traduzida de Rantanen et al. (2011).................................................................100 xv Índice de Figuras Figura 1: O ângulo de incidência do feixe de ultrassom determina o ângulo de reflexão das ondas. Em A, a onda viaja perpendicularmente em relação aos tecidos e, portanto, é totalmente refletida de volta para a sonda. Em B, o feixe viaja a determinado ângulo e, como tal as ondas são refletidas para os tecidos adjacentes. Em C, observa-se um desvio da direção do feixe após contatar com uma superfície redonda, fenómeno designado por refração. Imagem retirada de Rosenstein (2007). ................................... 7 Figura 2: Diagrama de uma sonda linear, normalmente usada no exame torácico (esquerda) e na ecografia transretal (direita) de equinos. Note-se o feixe de ultrassom é perpendicular ao eixo longo do transdutor e a imagem obtida é retangular. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010). ............................................................. 9 Figura 3: Diagrama de uma sonda convexa, normalmente usada na ultrassonografia abdominal. O feixe de ultrassom é emitido ao longo do eixo longo do transdutor e a imagem obtida é em forma de cunha. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010)............................................................................................................................. 9 Figura 4: Diagrama de uma sonda phased-array, usada na ultrassonografia cardíaca. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010). ..............................................10 Figura 5: Borracha standoff para transdutores lineares: retal (esquerda) e músculoesquelético (direita). Imagem retirada de Palgrave & Kidd (2014). ................................11 Figura 6: Ecógrafos utilizados durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. A imagem da esquerda trata-se de um ecógrafo usado nas consultas de ambulatório devido à sua simplicidade como equipamento no diagnóstico por imagem e fácil portabilidade; a imagem da direita trata-se de um ecógrafo mais desenvolvido e com melhor qualidade de imagem, usado em consultas que decorram no interior das instalações da clínica. ...................................................................................................11 Figura 7: Principais controlos, no ecógrafo, para a obtenção de uma imagem de qualidade. Ter em atenção que estes controles são encontrados no ecógrafo Biosound MyLab 30, pelo que a localização dos mesmos pode variar de ecógrafo para ecógrafo. ................13 Figura 8: Diagrama da região corporal normalmente a tosquiar para realização de ultrassonografia torácica, desde o 3º ao 16º EIC. De notar na imagem da direita, o corte em quadrado atrás do cotovelo para visualização do mediastino cranial (no 3º EIC direito). A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998c); a imagem da direita tratase de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..............................................................................14 xvii Figura 9: Diagrama da região corporal a tosquiar para realização de ultrassonografia abdominal, desde a tuberosidade coxal até ao cotovelo. A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998d); a imagem da direita trata-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 15 Figura 10: Diagrama da região corporal a tosquiar para ecografia do rim direito (imagens da esquerda) e do rim esquerdo (imagens da direita). As imagens do topo foram retiradas de Reef (1998d); as imagens de baixo tratam-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 16 Figura 11: Diagrama da região a tosquiar para examinar baço, estômago e duodeno. A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998d); a imagem da direita trata-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..........................................................................................17 Figura 12: Diagrama da região a tosquiar para examinar fígado no lado esquerdo do animal. A imagem foi retirada de Reef (1998d). .........................................................................17 Figura 13: Diagrama da região do metacarpo e metatarso a tosquiar para realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos. A imagem foi retirada de Reef (1998a). ......18 Figura 14: Diagrama da região da quartela a tosquiar para realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos das extremidades. A imagem foi retirada de Reef (1998a)..........18 Figura 15: Diagrama da anatomia do pulmão do cavalo. Em cima, à esquerda está delimitado o lobo pulmonar cranial esquerdo; à direita, o lobo acessório do pulmão direito; e em baixo, o lobo pulmonar caudal direito. Imagens retiradas de Biosfera (2013)............................................................................................................................23 Figura 16: Diagrama do acesso ao 3º EIC para visualização do mediastino cranial. A imagem foi retirada de Reef (1998c). ............................................................................25 Figura 17: Ultrassonografia do tórax direito no 7º EIC obtida de um cruzado Belga de 25 anos com pulmão normal. Em contacto com a sonda está pele e tecido subcutâneo (SC) e entre estas camadas e o pulmão, os músculos intercostais (MIC) A linha hiperecóica representa a superfície pleural do pulmão (seta vertical), e os ecos de reverberação característicos e equidistantes (setas horizontais) indicam boa insuflação pulmonar. A imagem A foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 11 cm de profundidade; e a B foi obtida com uma sonda transretal a uma frequência de 7.5 MHz e 8 cm de profundidade. O lado direito da imagem é dorsal e o lado esquerdo é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..........................................................................................26 Figura 18: Ultrassonografia do tórax esquerdo no 6º EIC obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 4 MHz e 16 cm de profundidade. Observa-se o diafragma (seta xviii longa) como uma camada muscular a separar as cavidades torácica e abdominal. Também nesta imagem se visualiza o baço, a superfície curva do estômago (cabeça de seta curta), fígado (seta) e a ponta do pulmão esquerdo (cabeça de seta larga). Imagem adaptada de Morresey (2014). ......................................................................................27 Figura 19: Ultrassonografia torácica de um cavalo com pleuropneumonia. Observa-se a presença de efusão pleural (EP) a envolver um pulmão com atelectasia (colapsado) (seta). Esta ecografia foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 4 MHz e a 13 cm de profundidade. Imagem adaptada de Morresey (2014). ................................28 Figura 20: Ultrassonografia de um hemotórax num cavalo com história de trauma. Note-se o fluido ecogénico a formar um turbilhão na porção ventral do tórax e o pulmão hiperecogénico (seta) deslocado. Imagem adaptada de Reef (2004). ...........................29 Figura 21: Ultrassonografia de uma efusão pleural loculada num cavalo com pleuropneumonia anaeróbia. Observam-se ecos de ar livre presos na fibrina, no interior de loculações. A ponta do pulmão ventral encontra-se colapsada, adjacentemente à parede torácica (seta). Imagem adaptada de Reef (2004). ............................................29 Figura 22: Ultrassonografia torácica de um cavalo com efusão pleural (EP), no 7º EIC esquerdo através de uma sonda convexa, a uma frequência de 4.0 MHz e 17 cm de profundidade. A flutuar no fluido encontra-se o ligamento pericárdio-diafragmático (seta). Não confundir este ligamento com cordões de fibrina. Também se observa atelectasia pulmonar. Imagem adaptada de Morresey (2014). ......................................30 Figura 23: Ultrassonografia torácica de um cavalo com pleurite. As caudas de cometa têm origem na superfície irregular da pleura. Esta ecografia foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e a 15 cm de profundidade. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. .................................31 Figura 24: Ultrassonografia torácica de um cavalo com efusão pleural (F), material fibrinoso (FT) a flutuar e atelectasia parcial do pulmão (P). A efusão pleural permite a visualização do mediastino (M). Imagem adaptada de Rosenstein (2007). ...................33 Figura 25: Ultrassonografia torácica de um cavalo adulto com abcesso pulmonar. É possível observar o abcesso (cursores) de conteúdo heterogéneo na superfície pulmonar. Esta ecografia foi obtida através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e a 15 cm de profundidade. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..........................................................................................33 Figura 26: Ultrassonografia de um cavalo com consolidação pulmonar. O parênquima pulmonar encontra-se hipoecogénico e as pequenas áreas hiperecoicas são consistentes com ar residual na árvore brônquica. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ......................................................34 xix Figura 27: Ultrassonografia torácica de um cavalo com consolidação pulmonar. A efusão pleural (EP), aumentada permite a visualização da margem irregular do pulmão (seta). Observam-se também focos de ar livre (G) e fluido (F) no pulmão consolidado. Imagem adaptada de Rosenstein (2007). ...................................................................................35 Figura 28: O fígado localiza-se entre o estômago e o diafragma. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). ..................................................................................................................38 Figura 29: Ecografia hepática obtida de uma égua Árabe de 15 anos. As veias hepáticas e portais são estruturas pequenas e de formato linear a tubular, encontradas no parênquima hepático (setas). As veias porta são mais espessas e apresentam paredes mais ecogénicas que as veias hepáticas, que possuem parede fina e menos ecogénica. Esta ecogenicidade das veias portas deve-se à constituição das suas paredes por tecido conjuntivo. O cólon dorsal direito (cabeça de seta) é medial ao lobo direito do fígado. A ultrassonografia da esquerda foi obtida no 15º EIC direito, e a da direita no 13º EIC através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz, a 14 cm e 13 cm de profundidade, respetivamente. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ........................................................................................................................39 Figura 30: O baço e rim esquerdo encontram-se ligados através do ligamento nefrosplénico. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). .....................................................................40 Figura 31: Ultrassonografia do abdómen lateral esquerdo, no 17º EIC, obtida de uma égua Árabe de 15 anos. O baço tem uma aparência mais ecogénica e homogénea. A estrutura curvilínea e hiperecóica trata-se do cólon ventral esquerdo. Esta imagem foi obtida através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..............40 Figura 32: Ecografia do estômago adjacente à veia esplénica. O estômago é reconhecido pela sua aparência curvilínea e hiperecóica, e não sacular. O baço surge com uma aparência ecogénica homogénea. A ultrassonografia da esquerda foi obtida no 10º EIC esquerdo através de uma sonda convexa a uma frequência de 2.5 MHz e 25 cm de profundidade (gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão); a imagem da direita foi adaptada de Moore et al. (2007). O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. ....................................................................41 Figura 33: Diagrama das estruturas viscerais do abdómen: baço, fígado, pâncreas e estômago. 1-foramen epiploico, 2-corpo do pâncreas, 3-anel pancreático, 4-lobo pancreático direito, 5-grande omento (seccionado), 6-grande curvatura do estômago, 7superfície visceral, 8-pequena curvatura do estômago, 9-ligamento gastrosplénico, 10- xx lobo pancreático esquerdo, 11-baço, 12-ligamento nefrosplénico, 13-ligamento falciforme ou redondo do fígado, 14-lobo hepático quadrado, 15-lobo hepático direito, 16-ducto hepático comum, 17-ligamento triangular direito, 18-lobo hepático caudado, 19-lobo hepático médio, 20-lobo hepático esquerdo, 21-ligamento triangular esquerdo; a-músculos abdominais, b-duodeno, c-jejuno, d-veia porta, e-artéria celíaca, f-artéria hepática, g-artéria gastroepiploica direita, h-vasos gástricos esquerdos, i-vasos esplénicos, j-vasos gastroepiploicos esquerdos, k-artéria mesentérica cranial e gânglio, l-veia cava caudal, m-vasos renais e ureter, n-rim direito, o-rim esquerdo, p-glândula adrenal direita, q-glândula adrenal esquerda, r-aorta, s-esófago e tronco vagal, tligamento hepatorenal e impressão renal, u-pilar diafragmático direito, v-pilar diafragmático esquerdo, w-linfonodos hepáticos. Imagem adaptada de Budras et al. (2009b)..........................................................................................................................42 Figura 34: Formato pregado, semelhante a serpentinas, do jejuno (alfinete). Imagem adaptada de Moore et al. (2007). ..................................................................................44 Figura 35: Ultrassonografia do abdómen lateral esquerdo no 14º e 8º EIC. É possível diferenciar uma ansa de duodeno normal. Quando vazio, o duodeno apresenta-se achatado (seta); na presença de ingesta, adquire uma forma tubular (cabeça de seta). A imagem da esquerda foi adaptada de Bain (2014).A imagem da direita foi obtida através de uma sonda convexa, a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade; imagem gentilemnte cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão . O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. ........................................44 Figura 36: Estruturas constituintes do ceco e formato anatómico de saculações e bandas. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). .....................................................................45 Figura 37: Cólon ventral esquerdo e dorsal esquerdo, no lado esquerdo do cavalo. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). ..................................................................................46 Figura 38: Ultrassonografia do abdómen lateral direito no 7º EIC obtida de uma égua Árabe de 15 anos. Nesta imagem destaca-se cólon dorsal direito (setas). A imagem foi obtida através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 14 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. .................................47 Figura 39: Aparência sacular do cólon descendente (alfinete), ou cólon menor. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). ..................................................................................47 Figura 40: A imagem da esquerda trata-se de uma fotografia ilustrativa das seis regiões para realização de ultrassonografia. As zonas A, B, C e D repetem-se no lado direito do animal. A: abdómen crânio-dorsal esquerdo, B: abdómen crânio-ventral esquerdo, C: abdómen caudo-dorsal esquerdo, D: abdómen caudo-ventral esquerdo, E: abdómen xxi crânio-ventral, F: abdómen caudo-ventral. A imagem da direita representa a anatomia relativa das vísceras gastrointestinais do lado esquerdo do abdómen (A: Baço, B: Cólon dorsal esquerdo, C: Cólon ventral esquerdo, D: Fígado, E: Estômago, F: Intestino delgado). A imagem em baixo representa a anatomia relativa das vísceras gastrointestinais do lado direito do abdómen (1-diafragma, 1’-5ª costela, 2-fígado, 3-rim direito, 4-duodeno descendente, 5-base do ceco, 6-cólon ventral direito, 7-cólon dorsal direito). Imagens adaptadas de Wilson & Blikslager (2012) e de Williams et al. (2014). 48 Figura 41: Ecografia do rim esquerdo e rim direito de uma égua Árabe de 15 anos. Na imagem da esquerda, de notar a aparência hipoecóica do rim esquerdo relativamente ao baço adjacente, mais ecogénico. A pélvis renal é ecogénica e os cálices renais adjacentes são anecóicos. Estas imagens foram obtidas no 16º EIC esquerdo e direito, respetivamente, através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 52 Figura 42: Diagrama do rim direito e rim esquerdo seccionados no seu eixo longo para identificação das estruturas internas: 9-ureter, 13-pélvis renal, 14-recesso terminal, 15lobos renais, 16-córtex renal, 17-hilo renal, 18-seio renal, 19-vasos interlobulares, 20medula, 20’-porção externa, 20’’-porção interna, 20’’’-crista renal; b-vasos renais. Imagem adaptada de Budras et al. (2009c). ..................................................................53 Figura 43: A encarceração nefrosplénica, ou o deslocamento dorsal esquerdo do cólon, caracteriza-se por apenas se observar baço e cólon à ecografia, uma vez que o cólon, cheio de gás/fluído e deslocado, obscurece a visualização do rim esquerdo. Imagem adaptada de Bain (2014). ..............................................................................................59 Figura 44: Ultrassonografia abdominal com visualização de múltiplas ansas de intestino delgado dilatadas, cheias de fluido anecóico e algum ingesta. Não se verifica atividade peristáltica. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ........................................................................................................................59 Figura 45: À ultrassonografia, o timpanismo colónico apresenta reverberações horizontais na parede do cólon. As causas de timpanismo do cólon incluem o deslocamento de intestino grosso, impactações ou enterólitos. Observa-se cólon distendido por gás (seta grande), diafragma (seta fina) e pulmão normal (cabeça de seta). Imagem adaptada de Bain (2014)....................................................................................................................60 Figura 46: Ultrassonografia de uma intussusceção ceco-cólica. O ceco encontra-se no interior do lúmen do cólon ventral direito (seta grande). É possível observar a mucosa cecal (cabeça de seta) e a sua superfície serosa (seta fina). Imagem adaptada de Bain (2014)............................................................................................................................63 xxii Figura 47: Ultrassonografia de um cavalo com colite por salmonelose. Observa-se espessamento e edema do cólon. Imagem adaptada de Bain (2014). ..........................64 Figura 48: Ultrassonografia de uma égua com peritonite bacteriana, confirmada através da citologia da amostra de fluido recolhida por abdominocentese. O líquido livre (F) no abdómen conduziu ao deslocamento medial do baço, afastando-o da parede abdominal. Imagem e legenda retiradas de Slovis (2014). ..............................................................65 Figura 49: Ultrassonografia de um poldro com sinais de cólica, diagnosticado com ulceração gástrica perfurativa e peritonite. De notar a presença de adesões de fibrina (seta branca) entre o baço e o estômago. Observa-se ainda a presença de fluido livre (setas pretas) na cavidade abdominal. A ecogenicidade homogénea do baço mantém-se. Imagem adaptada de Slovis (2014). ..............................................................................66 Figura 50: Peritonite fibrinosa numa égua, três dias pós-parto. De notar na aparência loculada da fibrina (seta), característica de peritonite fibrinosa. Imagem adaptada de Slovis (2014). ................................................................................................................66 Figura 51: Ultrassonografia de uma distensão gástrica num cavalo adulto. Observa-se o estômago distendido cheio de fluido (seta curta), e material sólido ventralmente (cabeça de seta) que cria uma sombra acústica. Uma interface hiperecoica de gás e fluido (seta longa) está presente dorsalmente. Imagem adaptada de Bain (2014). ..........................67 Figura 52: Ultrassonografia de um cavalo com rutura gástrica. Observa-se a presença de liquido abdominal hiperecogénico e pneumoperitoneu (seta). Imagem adaptada de Slovis (2014). ................................................................................................................68 Figura 53: Ultrassonografia hepática de um cavalo saudável, sem história de doença hepática. Observa-se o hepatólito (seta) como uma área hiperecóica no interior do parênquima hepático e a sombra acústica por ele criada. Imagem adaptada de Knottenbelt & Pascoe (2014b). ......................................................................................70 Figura 54: Ultrassonografia de uma égua com nefrolitíase. Observa-se uma estrutura hiperecóica (cursores) que gera uma sombra acústica (seta) na pélvis renal. Imagem adaptada de Slovis (2014).............................................................................................72 Figura 55: Ultrassonografia de uma fêmea gestante com hidronefrose, secundária a um cálculoureteral. Imagem adaptada de Slovis (2014). .....................................................73 Figura 56: Ultrassonografia do rim direito (setas) de um cavalo com insuficiência renal aguda. De notar no tamanho aumentado do rim, com diminuição da ecogenicidade do parênquima. Imagem adaptada de Reef (2004). ...........................................................74 Figura 57: Ultrassonografia do rim esquerdo de um cavalo com insuficiência renal crónica, demonstrando o tamanho diminuído do rim e o aumento de ecogenicidade do parênquima. Imagem adaptada de Reef (2004). ...........................................................75 xxiii Figura 58: Arranjo hierárquico das fibras de colagénio num tendão. Imagem adaptada de Birch et al. (2014). .........................................................................................................79 Figura 59: Diagrama anatómico do membro anterior distal do cavalo. Imagens adaptadas de Edwards & Poss (2013) e de Johnson M. (2014)...........................................................82 Figura 60: Diagrama anatómico do tendão flexor digital superficial. Imagem adaptada de Alancelet (2009). ...........................................................................................................83 Figura 61: Diagrama anatómico do tendão flexor digital profundo. Imagem adaptada de Alancelet (2009). ...........................................................................................................84 Figura 62: Diagrama anatómico do ligamento suspensor e seus ramos extensores. Imagem adaptada de Alancelet (2009)........................................................................................85 Figura 63: Diagrama anatómico do ligamento sesamóideo distal médio (oblíquo). Imagem adaptada de Alancelet (2009)........................................................................................85 Figura 64: Diagrama anatómico do ligamento sesamóideo distal reto. Imagem adaptada de Alancelet (2009). ...........................................................................................................86 Figura 65: Diagrama anatómico do ligamento anular palmar, digital proximal e digital distal, que integram o tendão flexor digital supercicial (TFDS) e o tendão flexor digital profundo (TFDP). Imagem adaptada de Elite-Equicare (2014). ....................................................87 Figura 66: Método de zonas para a realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos da região do metacarpo. Imagem adaptada de Pease & Coelho (2012)e de Cauvin & Smith (2014)..................................................................................................................88 Figura 67: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do metacarpo. De notar que, ao corte transverso, o tendão flexor digital superficial (TFDS) e o tendão flexor digital profundo (TFDP) possuem formatos semelhantes e encontram-se ligeiramente deslocados devido à sua localização palmaro-medial e palmaro-lateral, respetivamente. Observa-se a origem do ligamento suspensor (LS), adjacente ao terceiro metacarpiano; e entre este e o tendão flexor digital profundo encontra-se o ligamento acessório (LA) (mais ecogénico) que, à medida que se aproxima da superfície dorsal do tendão flexor digital profundo, vai adquirindo uma forma de meialua. Na zona 1B é possível visualizar todo o corpo do ligamento suspensor. Em plano sagital, adjacente à pele observa-se tendão flexor digital superficial e, abaixo deste, por ordem, encontra-se tendão flexor digital profundo, ligamento acessório e ligamento suspensor. Nesta zona é possível observar a origem do ligamento suspensor que se origina ao longo da superfície proximal do terceiro metacarpiano. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ............93 xxiv Figura 68: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do metacarpo. No corte transverso, à medida que se avaliam as regiões mais distais do membro, o tendão flexor digital superficial (TFDS) apresenta-se cada vez mais achatado lateromedialmente, formando uma lágrima, ou meia-lua; e o ligamento acessório integra-se na superfície dorsal do tendão flexor digital profundo (TFDP). É possível observar o início da bifurcação do ligamento suspensor (LS), (1 – veia palmar medial, 2 – veia palmar lateral). Em plano sagital, observa-se o ligamento acessório (LA) a integrar-se distalmente com o tendão flexor digital profundo; e o ligamento suspensor surge isolado e bem diferenciado. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ............................................................................................................94 Figura 69: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores normais da região do metacarpo e ossos sesamoides proximais. Em corte transversal, de notar que, na zona 3A, já não se visualiza o ligamento acessório e o ligamento suspensor surge, nesta zona, como dois ramos, mais ou menos diferenciados (1 – veia palmar medial, 2 – veia palmar lateral). Na zona 3B observa-se o aplanamento progressivo do tendão flexor digital superficial (TFDS) e é possível visualizar este tendão a formar um anel (bainha digital) em volta do tendão flexor digital profundo (TFDP), aparecendo uma estrutura fibrosa no seu interior (manica flexoria). Pode, eventualmente, observar-se o ligamento anular (LAn) a surgir palmar ao tendão flexor digital superficial. Em plano sagital, observa-se a última porção de ligamento acessório (LA) a unir-se ao tendão flexor digital profundo. O ligamento suspensor (LS) termina de se dividir nos ramos medial e lateral. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ......................................................................................................................................95 Figura 70: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do boleto do membro anterior. Nesta zona surgem os ossos sesamoides proximais (SES) e, entre estes, o ligamento intersesamóideo (LI), e o terceiro metacarpiano (MCIII). Os tendões flexores digitais, superficial (TFDS) e profundo (TFDP), encontram-se palmar à superfície dos sesamoides. O ligamento anular (LAn), apesar de não se apresentar bem diferenciado, surge entre o tecido subcutâneo e a bainha flexora. Na ecografia longitudinal, observa-se a inserção de um dos ramos do ligamento suspensor na superfície abaxial dos ossos sesamoides proximais. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado xxv esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão..............................................96 Figura 71: Ultrassonografia transversa dos tendões e ligamentos na região imediatamente distal ao boleto, no membro anterior. O tendão flexor digital superficial (TFDS) surge como uma banda que se expande latero-medialmente; e o tendão flexor digital profundo (TFDP) aparece envolvido pela bainha digital flexora. Dorsal a este último, observa-se o ligamento sesamóideo distal reto (LSDR), enquanto os ligamentos sesamóideos distais médios (ou oblíquos - LSDM) aparecem sob a superfície palmar da primeira falange (P1). O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..............97 Figura 72: Ultrassonografia transversa dos tendões e ligamentos na região palmar da quartela. Nesta zona observa-se o tendão flexor digital superficial (TFDS) como dois ramos (medial e lateral) que se vão inserir no lado ipsilateral da segunda falange; o tendão flexor digital profundo (TFDP) e o ligamento sesamóideo distal reto (LSDR). Já não se observam os ligamentos sesamóideos médios. O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..............................................................................97 Figura 73: Ultrassonografia transversa da zona da articulação interfalângica proximal. Observa-se o tendão flexor digital profundo (TFDP) com uma forma aplanada; dorsalmente e proximal à segunda falange (P2) aparece uma estrutura fibrocartilagínea designada por scutum que facilita o deslizamento do tendão. O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ......................................................98 Figura 74: Ultrassonografia longitudinal, imediatamente distal ao boleto do membro anterior. O tendão flexor digital superficial (TFDS) quase não se observa, uma vez que se divide em dois ramos; abaixo deste está o tendão flexor digital profundo (TFDP), envolvido pela bainha digital (BD), e a continuação do ligamento sesamóideo distal reto (LSDR), e a inserção de um dos ligamentos sesamóideos distais médios (LSDM) na superfície palmar da primeira falange. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..........................................................................................98 Figura 75: Ultrassonografia longitudinal do bordo proximal dos talões. Observa-se a inserção do ligamento sesamóideo distal reto (LSDR) na superfície palmar da segunda falange (P2) e o tendão flexor digital profundo (TFDP) que se continua distalmente. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. ..............99 Figura 76: Ultrassonografia transversa (A) e longitudinal (B) da região palmar do metacarpo. Observa-se uma lesão hipoecóica bem delimitada (“core lesion”) na área central do xxvi tendão flexor digital superficial. Esta aparência é consistente com uma fase inicial de deposição de tecido de granulação que surge, à ecografia, homogeneamente hipoecogénico. Imagem adaptada de Cauvin & Smith (2014). ....................................100 Figura 77: Ultrassonografia transversa da região do metacarpo que exibe edema peritendinoso sem aumento dos tendões (A) quando comparado com o membro contralateral (B). Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014). .....................................101 Figura 78: Ultrassonografia transversa e longitudinal da região do metacarpo que exibe uma lesão hipoecóica do TFDS, com padrão de favo de mel, típica de hematoma, e com edema peritendinoso. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da clínica veterinária de Sto. Estêvão. ........................................................................................101 Figura 79: A recorrência de lesões nos tendões ocorre normalmente na extremidade da cicatriz da lesão anterior (setas amarelas), que se separa do tendão normal através de uma área hipoecóica mal definida (setas vermelhas). Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014)................................................................................................................102 Figura 80: Ultrassonografias transversa (A) e longitudinal (B) da região palmar do metacarpo. Apesar de este cavalo não ter história prévia conhecida de lesões tendinosas, o tendão flexor digital superficial apresenta-se com parênquima heterogéneo, ligeira perda de ecogenicidade e alguma perda de estriação. Estas lesões foram interpretadas como sendo o resultado de uma lesão crónica subclínica. Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014). .............................................................................103 xxvii Listagem de Siglas e Abreviaturas BD – Bainha Digital CDD – Cólon Dorsal Direito CDE – Cólon Dorsal esquerdo CVD – Cólon Ventral Direito EIC – Espaço (s) Intercostal (is) EIPH – Hemorragia Pulmonar Induzida pelo Exercício EP – Efusão Pleural F – Fluído ou Líquido livre FT – Material Fibrinoso G – Ar livre LA – Ligamento Acessório LAn – Ligamento Anular LDAD – Ligamento Digital Anular Distal LDAP – Ligamento Digital Anular Proximal LI – Ligamento Intersesamóideo LS – Ligamento Suspensor LSD’s – Ligamentos Sesamóideos Distais LSDM – Ligamento Sesamóideo Distal Médio (Oblíquo) LSDR – Ligamento Sesamóideo Distal Reto MCIII – Terceiro Metacarpiano MIC – Músculos Intercostais P – Pulmão P1 – Primeira Falange P2 – Segunda Falange xxvii P3 – Terceira Falange RAO –Obstrução Pulmonar Recorrente RM – Ressonância Magnética SC – Tecido Subcutâneo SES – Ossos Sesamoides Proximais TFDL – Tendão Flexor Digital Lateral TFDM – Tendão Flexor Digital Medial TFDP – Tendão Flexor Digital Profundo TFDS – Tendão Flexor Digital Superficial xxviii Descrição da Atividade de Estágio Este estágio final do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, do ano letivo 2015/2016, decorreu no período de 1 de Setembro de 2015 a 3 de Janeiro de 2016 e de 15 de Fevereiro a 15 de Abril de 2016, na área de Clínica de Equinos, entre dois centros de referência, a Clínica Veterinária de Stº Estêvão, em Stº Estêvão, Portugal, e o Hospital Clinic Vetrerinari UAB, Barcelona, Espanha. Durante o estágio houve a oportunidade de acompanhar e participar ativamente nas atividades da clínica e hospital, incluindo a realização de exames de diagnóstico, internamentos e tratamentos, intervenções cirúrgicas, reprodução, odontologia, exames em ato de compra, profilaxia e identificação de cavalos, e acompanhamento de cavalos a provas de desporto na Clínica Veterinária de Stº Estêvão. O estágio foi repartido por dois locais e períodos diferentes, pelo que a casuística apresentada é também variável e os dados dizem respeito a uma amostra não representativa da população, tanto nacional como espanhola, de equinos. Não podem igualmente ser interpretados como representativos da atividade total em ambos os centros de referência. Tabela 1: Dados Relativos ao número de casos assistidos (e frequência relativa respetiva) durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão, nos meses de Setembro a Outubro de 2015 e de Fevereiro a Abril de 2016. Clínica Veterinária de Sto. Estêvão 2015 2016 Nº casos Frequência Relativa % Nº casos Frequência Relativa % Ap. Gastrointestinal 30 58 7 15 Ap. Locomotor 7 13 11 23 Ap. Reprodutor 6 12 9 19 Ap. Respiratório 0 0 1 2 Ap. Tegumentar 3 6 2 4 Exames ato compra 3 6 0 0 Identificação Animal 0 0 9 19 Odontologia 3 6 5 11 Provas de cavalos 0 0 3 6 1 Segundo os gráficos anteriores é de notar a diferença nos dados apresentados entre as duas épocas de estágio, especialmente no que diz respeito aos casos relativos ao aparelho gastrointestinal. Esta grande diferença explica-se pela existência de inúmeros fatores de risco associados a cólicas, tais como a alimentação, parasitismo interno, maneio, historial médico, fatores intrínsecos e fatores relacionados com o clima (Gonçalves et al., 2002). Também ao nível do aparelho reprodutor e locomotor se verifica um aumento da casuística nos meses de Fevereiro e Março, relativamente aos meses de Setembro e Outubro. Este aumento deve-se principalmente ao início da época reprodutiva e ao início da época desportiva. CLÍNICA VETERINÁRIA STO ESTÊVÃO Medicina Interna Intervenção Cirúrgica Ambulatório 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% Gráfico 1: Frequência relativa do número de casos assistidos em Medicina Interna, Ambulatório e por Intervenção Cirúrgica, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão, nos meses de Setembro e Outubro de 2015 (azul) e de Fevereiro a Abril de 2016 (laranja). Durante o estágio no Hospital Veterinário da Universidade Autónoma de Barcelona, houve a oportunidade de assistir a casos raros, nomeadamente do foro oftalmológico e respiratório, e de tirar grande partido na aprendizagem de outras técnicas de diagnóstico como a cintigrafia e a ressonância magnética. 2 Tabela 2: Dados Relativos ao número de casos assistidos (e frequência relativa respetiva) durante o período de estágio no Hospital Veterinário da Universidade Autónoma de Barcelona, nos meses de Novembro e Dezembro de 2015. Hospital Clinic Veterinari UAB Nº casos Frequência Relativa % Ap. Gastrointestinal 25 37 Ap. Locomotor 14 21 Ap. Reprodutor 9 13 Ap. Respiratório 7 10 Ap. Tegumentar 4 6 Exames ato compra 2 3 Identificação Animal 0 0 Infeciosas 4 6 Odontologia 1 1 Oftalmologia 2 3 HOSPITAL CLINIC VETERINARI UAB Medicina Interna Intervenção Cirúrgica 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Gráfico 2: Frequência relativa do número de casos assistidos em Medicina Interna e por Intervenção Cirúrgica, durante o período de estágio no Hospital Veterinário da Universidade Autónoma de Barcelona. 3 Capítulo I Introdução No campo da Medicina Veterinária a utilização da ultrassonografia como meio de diagnóstico tem crescido nos últimos trinta anos, e o desenvolvimento tecnológico desde o seu primeiro uso tem sido exponencial. Atualmente é usada em estruturas e aparelhos corporais que anteriormente era impensável ser possível. Muitos veterinários de equinos já têm acesso a ecógrafos e, juntamente com a radiografia, a ecografia tornou-se um alicerce no diagnóstico por imagem na prática equina. Tem a vantagem de ser uma técnica não invasiva útil no diagnóstico de inúmeras doenças (Palgrave & Kidd., 2014). A ultrassonografia é uma excelente ferramenta de diagnóstico e uma mais-valia na decisão clínica do veterinário quando associada à recolha de informação clínica relevante, como a história do animal e exame físico, e outras técnicas de diagnóstico. Para a correta interpretação das imagens ecográficas é importante o conhecimento da anatomia normal do cavalo e uma compreensão da forma como os sistemas orgânicos reagem aos diversos processos patológicos (Palgrave & Kidd, 2014). Tem, no entanto, algumas limitações que são importantes conhecer, devido às suas propriedades físicas (Williams et al, 2014). A Física do Ultrassom Trata-se de uma matéria vasta e complexa, no entanto, não é necessário possuir conhecimento aprofundado sobre esta componente para a correta realização de ecografia (Palgrave & Kidd., 2014). Resumidamente, as ondas de ultrassom produzem-se quando é aplicada uma corrente elétrica aos cristais piezoelétricos presentes na sonda ecográfica, conduzindo à vibração destes (Rosenstein, 2007; Pease & Coelho, 2012). Esta vibração é transmitida aos tecidos circundantes sob forma de ondas de som que interagem com os tecidos à medida que os percorrem, resultando numa atenuação do feixe de ultrassom (Palgrave & Kidd., 2014). A atenuação caracteriza-se pela perda progressiva da intensidade da onda de ultrassom à medida que contacta com as diferentes estruturas (Rosenstein, 2007; Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). As ondas podem ser refletidas, refratadas, dispersas ou absorvidas. Estas são as primeiras causas de atenuação responsáveis pela formação de imagem (Rosenstein, 2007; Palgrave & Kidd., 2014). No entanto, é importante reter que as imagens apenas são obtidas quando as ondas de ultrassom são refletidas para o transdutor 5 após contactarem com a interface entre dois tecidos, e que a proporção das ondas refletidas depende da impedância acústica que existe na interface entre tecidos, e do ângulo a que a onda atinge essa interface (Palgrave & Kidd., 2014). A impedância acústica resulta da densidade dos tecidos e da velocidade a que as ondas de ultrassom viajam. É esta diferença de impedância acústica entre tecidos que determina a natureza da interface de reflexão. Por exemplo, ar e osso apresentam impedâncias acústicas completamente distintas quando avaliadas isoladamente; no entanto, ao avaliar a interface entre ar e tecidos moles e entre osso e tecidos moles, a impedância acústica de ambas interfaces é semelhante, pois a maioria das ondas de ultrassom são refletidas de volta ao transdutor por forma a criar uma imagem. Por comparação, uma interface entre dois tecidos moles (sendo ou não a mesma estrutura orgânica) reflete menos ondas de volta à sonda, uma vez que poucas são as diferenças que existem entre as impedâncias acústicas de ambos (Rosenstein, 2007; Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). Assim, dois tecidos contíguos com a mesma impedância acústica não refletem, ou refletem pouco, ondas de ultrassom e estas propagam-se para tecidos mais profundos (Reef, 1998a). É importante entender as variações que existem entre os diferentes tecidos, já que a obtenção de uma imagem ecográfica de qualidade depende também de uma adequada preparação do animal, e da colocação de gel ecográfico para minimizar a quantidade de ar entre a sonda e a pele (Chaffin, 2011; Rantanen et al., 2011; Palgrave & Kidd., 2014). O ângulo em que o feixe de ultrassom atinge os tecidos (ângulo de incidência) também determina o grau de reflexão de uma onda (fig.1). Como num jogo de bilhar, o ângulo de incidência iguala o ângulo de reflexão, ou seja, quando os ultrassons viajam a determinada direção, ao atingir as estruturas, as ondas podem ser todas refletidas de volta para a sonda (numa direção perpendicular), ou serem refletidas, a determinado ângulo, para os tecidos adjacentes, permitindo a observação de toda a estrutura (Rosenstein, 2007; Palgrave & Kidd., 2014). Apesar de as ondas que viajam em determinado ângulo serem refletidas para os tecidos adjacentes, este fenómeno é melhor designado por refração, uma vez que o feixe de ultrassom muda de direção, velocidade e comprimento de onda (Rosenstein, 2007; Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). Isto observa-se com mais frequência em estruturas curvas, como por exemplo quistos do endométrio e vesículas embrionárias (Palgrave & Kidd., 2014). 6 Figura 1: O ângulo de incidência do feixe de ultrassom determina o ângulo de reflexão das ondas. Em A, a onda viaja perpendicularmente em relação aos tecidos e, portanto, é totalmente refletida de volta para a sonda. Em B, o feixe viaja a determinado ângulo e, como tal as ondas são refletidas para os tecidos adjacentes. Em C, observa-se um desvio da direção do feixe após contatar com uma superfície redonda, fenómeno designado por refração. Imagem retirada de Rosenstein (2007). Quando a impedância acústica entre tecidos é mínima, como por exemplo no fígado, as ondas de ultrassom, ao atingirem esta estrutura, dispersam em todas as direções, ao invés de retornarem para a sonda. A força de reflexão dos ecos individuais nestas interfaces é fraca, comparativamente com as interfaces altamente refletoras, como referido anteriormente. No entanto, a dispersão das ondas de ultrassom contribui significativamente para a formação de imagens de tecidos mais homogéneos como o baço (Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). A absorção é a única interação entre o feixe de ultrassom e os tecidos que resulta na redução de energia das ondas (Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). A energia mecânica do ultrassom é convertida em calor e absorvida pelos tecidos. No entanto, o calor gerado pelos tecidos é desprezível e não se tem em conta no diagnóstico por ultrassonografia (Palgrave & Kidd., 2014), uma vez que não contribui para a formação de imagem (Rosenstein, 2007). Tipos de Transdutores Ao tratar-se de um meio de diagnóstico não invasivo, os transdutores podem ser usados em contato direto com a pele, transretalmente, intraoperatório, e até mesmo endoscopicamente, sendo usado para avaliar os diversos sistemas corporais (Pease & Coelho, 2012). A seleção da sonda apropriada para o exame depende das estruturas que se pretendem avaliar, a 7 profundidade a que se encontram no animal e as suas propriedades acústicas (Reef, 1998a). O transdutor de ultrassom (ou sonda) integra cristais piezoelétricos, cuja função principal é emitir e receber ondas de ultrassom, usadas no diagnóstico por imagem (Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). Existe uma variedade de sondas, que diferem em tamanho, forma e frequência, usadas na prática clínica equina dependendo do caso (Palgrave & Kidd, 2014). A frequência é definida como o número de vezes que uma onda se repete após determinado período de tempo (ciclos por segundo) (Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). Ao atravessar os tecidos, as frequências dos ultrassons apresentam grande impacto na qualidade de imagem obtida. Por exemplo, uma diminuição do comprimento de onda (distância que uma onda viaja durante um ciclo) e o aumento da frequência resulta em melhor resolução, mas para visualizar estruturas pouco profundas (Palgrave & Kidd, 2014). Apesar de as sondas de elevada frequência possuírem excelente resolução, apresentam pobre penetração nos tecidos; ao contrário das sondas de baixas frequências, capazes de atingir profundidades de 30 a 40 cm, mas que são fracas em termos de resolução (Reef., 1998a). Por esta razão, os transdutores de elevadas frequências devem ser selecionados para o exame de estruturas superficiais, como tendões, ligamentos, veia jugular, olhos, pleura, epidídimo, bexiga, vísceras gastrointestinais de neonatos e outras estruturas que se encontrem imediatamente abaixo da pele. Os transdutores de frequências intermédias são normalmente usados para avaliar estruturas que se encontrem 5 a 15 cm abaixo da pele: vísceras gastrointestinais de poldros e cavalos adultos, útero, ovários e testículos, pulmão e pleura. Os de baixa frequência permitem examinar estruturas que se encontrem profundamente no animal: coração em adultos, rim esquerdo e baço, rim direito em cavalos adultos gordos, pulmões e pleura em cavalos com doença pulmonar/pleural extensa, mediastino cranial, útero em fim de gestação, e massas abdominais grandes (Reef., 1998a). Na prática clínica equina as sondas mais frequentemente utilizadas são as lineares (retal e músculo-esquelética), convexa e microconvexa (Palgrave & Kidd, 2014). As sondas lineares são normalmente usadas no exame de estruturas superficiais como os membros de equinos, cavidade torácica (Rantanen et al., 2011; Palgrave & Kidd, 2014), aparelho reprodutor de garanhões (Reef, 1998a) e, transretalmente, no exame do aparelho reprodutor de éguas, uma vez que emitem ultrassons de elevada frequência (7-13 MHz) (Palgrave & Kidd, 2014). Estes transdutores possuem uma fileira de cristais que, quando estimulados sucessivamente, formam uma imagem retangular (fig.2) (Reef, 1998a). 8 Figura 2: Diagrama de uma sonda linear, normalmente usada no exame torácico (esquerda) e na ecografia transretal (direita) de equinos. Note-se o feixe de ultrassom é perpendicular ao eixo longo do transdutor e a imagem obtida é retangular. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010). As sondas convexas são semelhantes às anteriores, contudo os cristais estão arranjados ao longo da superfície curva da sonda resultando numa imagem em forma de cunha (fig.3). Estas sondas são designadas de convexas ou microconvexas, dependendo do tamanho e frequência que possuem (2-5 MHz para convexas e 4-10 MHz para microconvexas). As sondas convexas são normalmente usadas para a ultrassonografia abdominal e regiões sacroilíaca e do joelho. As microconvexas podem ser usadas na ecografia ocular (Palgrave & Kidd, 2014). Figura 3: Diagrama de uma sonda convexa, normalmente usada na ultrassonografia abdominal. O feixe de ultrassom é emitido ao longo do eixo longo do transdutor e a imagem obtida é em forma de cunha. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010). 9 As sondas phased-array são destinadas quase exclusivamente para a ultrassonografia cardíaca (fig.4), abrangendo uma frequência de 1 a 5 MHz (Palgrave & Kidd, 2014). São constituídas por múltiplos cristais num formato retangular (Reef, 1998a) estimulados quase simultaneamente, resultando na rápida formação de imagem em forma de cunha, sendo extremamente útil na avaliação de estruturas que se movem com rapidez como o miocárdio (Palgrave & Kidd, 2014). Figura 4: Diagrama de uma sonda phased-array, usada na ultrassonografia cardíaca. Imagem adaptada de Reef (1998a) e de Service (2010). Frequentemente, recorre-se ao uso de borrachas standoff (fig.5), aquando do exame ecográfico de estruturas mais superficiais, como por exemplo ligamentos e tendões, para minimizar o surgimento de artefactos de reverberação. Estas borrachas devem ser flexíveis e adaptarem-se à forma do membro e da sonda (são normalmente fabricadas para transdutores lineares), e ainda apresentar uma impedância acústica semelhante à dos tecidos moles (Rantanen et al., 2011; Palgrave & Kidd, 2014). 10 Figura 5: Borracha standoff para transdutores lineares: retal (esquerda) e músculo-esquelético (direita). Imagem retirada de Palgrave & Kidd (2014). Máquina Ecográfica A habilidade de obter uma imagem ecográfica de qualidade incide na adequada preparação do animal, no ajuste necessário dos controlos do ecógrafo (fig.6) e, sobretudo, na habilidade do operador. O ecógrafo permite ao usuário definir uma variedade de parâmetros para determinado tipo de exame, seja a nível abdominal, músculo-esquelético ou reprodutivo. Estes parâmetros são a frequência dos transdutores, os ganhos, o tempo de compensação de ganhos, a profundidade da janela e o foco, tal como se encontra representado na fig. 7 (Palgrave & Kidd, 2014). Figura 6: Ecógrafos utilizados durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. A imagem da esquerda trata-se de um ecógrafo usado nas consultas de ambulatório devido à sua simplicidade como equipamento no diagnóstico por imagem e fácil portabilidade; a imagem da direita trata-se de um ecógrafo mais desenvolvido e com melhor qualidade de imagem, usado em consultas que decorram no interior das instalações da clínica. 11 Como referido anteriormente, a frequência é essencial para a resolução de imagem. Como tal, é escolhida a sonda que melhor se adequar ao exame pretendido e, se necessário, ao utilizar sondas de múltiplas frequências, ajustar a frequência desejada no ecógrafo (Palgrave & Kidd, 2014). Os ganhos caracterizam-se pelo aumento ou diminuição uniforme do brilho da imagem, através da amplificação ou redução dos ecos que retornam ao transdutor, respetivamente. Apesar de este parâmetro ser subjetivo e depender da preferência do usuário, é importante reter que o nível elevado dos ganhos irá resultar numa amplificação exagerada dos ecos mais fracos, comprometendo o contraste e a resolução. Inversamente, o uso mínimo dos mesmos resulta na perda de detalhe, uma vez que os ecos mais fracos não retornam ao transdutor para criar imagem (Reef, 1998a; Palgrave & Kidd, 2014). À medida que os ultrassons viajam pelos tecidos a diferentes profundidades, vão perdendo energia e força ao sofrerem diversas interações com as estruturas (reflexão, refração, dispersão ou absorção), resultando na atenuação destas ondas de ultrassom a altas profundidades. Se não compensadas, a imagem obtida traduz-se pelo brilho de estruturas superficiais (perto do transdutor) e no escurecimento de estruturas profundas (longe do transdutor). O tempo de compensação de ganhos permite equilibrar estas diferenças através da amplificação ou atenuação dos ecos que retornam ao transdutor, dependendo da profundidade a que se encontram as estruturas, criando uma imagem uniforme a nível de brilho (Reef, 1998a;Palgrave & Kidd, 2014). A região de interesse deve idealmente ocupar três quartos do ecrã do ecógrafo. Alterar a profundidade no ecógrafo para as estruturas que se pretendem examinar leva também ao ajuste da frequência de forma a otimizar a imagem e aumentar a sua resolução (Palgrave & Kidd, 2014). Para aumentar a resolução de determinada região, é possível focar o feixe de ultrassom para uma ou mais zonas de interesse (Martin & Ramnarine, 2010; Palgrave & Kidd., 2014). Contudo, ao selecionar múltiplos pontos de foco a imagem obtida torna-se lenta em movimento, uma vez que o número de ultrassons que retornam ao transdutor, por segundo, diminui (Palgrave & Kidd, 2014). 12 Tempo de compensação de ganhos Ganhos Frequência Profundidade Foco Figura 7: Principais controlos, no ecógrafo, para a obtenção de uma imagem de qualidade. Ter em atenção que estes controles são encontrados no ecógrafo Biosound MyLab 30, pelo que a localização dos mesmos pode variar de ecógrafo para ecógrafo. Preparação do Animal A realização de ecografia é normalmente bem tolerada pelos cavalos e não requer o uso de sedação. O animal deve estar em estação, principalmente quando se pretende examinar os tendões das extremidades. O decúbito lateral apenas é necessário em situações que assim o exijam, como por exemplo na ecografia em poldros (Williams et al., 2014). De forma a obter imagens de qualidade e que permitam a correta identificação das estruturas e eventuais lesões que possam existir, está indicado tosquiar o pelo das regiões corporais a examinar. Geralmente utiliza-se uma lâmina #40 de máquina de tosquia (Rantanen et al., 2011; Williams et al, 2014). Alternativamente à tosquia, por uma questão de poupança de tempo, devido ao estado clínico do animal, ou por preferência do proprietário, pode-se optar por escovar bem o pelo (Chaffin, 2011; Rantanen et al., 2011; Williams et al., 2014) e posteriormente molhar com água morna ou borrifar com álcool a 70% 13 (Rantanen et al., 2011; Williams et al., 2014). É preciso ter em atenção que o álcool, apesar de melhorar a condução, pode danificar alguns transdutores (Rantanen et al., 2011). Tricotomia da Cavidade Torácica Na ultrassonografia torácica geralmente tosquiam-se apenas as regiões nas quais foram identificadas anormalidades à auscultação. Apesar disso, a área de maior interesse ecográfico vai geralmente desde o 3º ao 16º espaço intercostal (EIC), e desde a região dorsal até à porção mais ventral do tórax (fig.8) (Reef, 1998c, 2003, 2004). Figura 8: Diagrama da região corporal normalmente a tosquiar para realização de ultrassonografia torácica, desde o 3º ao 16º EIC. De notar na imagem da direita, o corte em quadrado atrás do cotovelo para visualização do mediastino cranial (no 3º EIC direito). A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998c); a imagem da direita trata-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Tricotomia da Cavidade AbdominalNa ultrassonografia abdominal são várias as áreas a examinar e, como tal, a tosquiar. O abdómen ventral vai desde a região caudal do processo xifoide até à região inguinal. As regiões laterais do abdómen e fossas paralombares podem ser incluídas numa linha imaginária na diagonal, desde a tuberosidade coxal até ao cotovelo, correndo ventralmente sob o bordo mais ventral do pulmão (fig.9) (Reef, 1998d). 14 Figura 9: Diagrama da região corporal a tosquiar para realização de ultrassonografia abdominal, desde a tuberosidade coxal até ao cotovelo. A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998d); a imagem da direita trata-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Para examinar o rim direito, deve-se tosquiar ao nível do 14º ao 17º EIC, ou bordo cranial da fossa paralombar direita, entre a linha paralela aos aspetos mais dorsal e ventral da tuberosidade coxal (fig.10). O rim esquerdo localiza-se mais caudal e ventralmente no abdómen. Por esta razão, a área a tosquiar deve estender-se desde o 16º EIC ao bordo caudal da fossa paralombar esquerda, numa linha paralela com a tuberosidade coxal e isquiática (fig.10) (Reef, 1998d). 15 Figura 10: Diagrama da região corporal a tosquiar para ecografia do rim direito (imagens da esquerda) e do rim esquerdo (imagens da direita). As imagens do topo foram retiradas de Reef (1998d); as imagens de baixo tratam-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Para examinar o lado direito do fígado, realiza-se a tricotomia desde o 6º ao 16º EIC, ao longo da linha diagonal previamente descrita, desde a tuberosidade coxal ao cotovelo. A área da fossa paralombar esquerda também pode ser tosquiada para examinar o baço, cranialmente até ao 8º EIC (fig.11). A margem dorsal desta área deve estender-se sob o aspeto ventral do pulmão esquerdo permitindo assim examinar o lobo hepático esquerdo (fig.12) (Reef, 1998d). O estômago é visualizado ao tosquiar o lado esquerdo do abdómen, do 8º ao 13º EIC (fig.11), sendo frequentemente observado ao nível da ponta do ombro, do 11º ao 13º EIC. No entanto, pode ser visualizado cranial ou caudalmente a esta zona quando distendido ou deslocado. O duodeno pode ser examinado ao realizar a tricotomia numa banda de 20 cm de comprimento sobre o 8º EIC direito e fossa paralombar (fig.11). A área a tosquiar deve 16 estender-se 5 cm ventralmente à linha que une o olecrânio direito e a tuberosidade do sacro (Reef, 1998d). Figura 11: Diagrama da região a tosquiar para examinar baço, estômago e duodeno. A imagem da esquerda foi retirada de Reef (1998d); a imagem da direita trata-se de um dos cavalos usados para o presente estudo, durante o período de estágio na Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Figura 12: Diagrama da região a tosquiar para examinar fígado no lado esquerdo do animal. A imagem foi retirada de Reef (1998d). Tricotomia da região palmar das extremidades Na ultrassonografia de tendões, a área a tosquiar depende da estrutura a examinar (diagramas podem ser consultados nas fig.13 e fig.14); mas para uma completa avaliação dos tecidos a nível palmar do metacarpo, a pele deve ser tosquiada desde a região palmar 17 do carpo, imediatamente distal ao osso acessório, até distal na quartela, ao nível dos talões. No que toca aos membros posteriores, a tosquia deve ser feita desde a ponta do curvilhão até à região distal da quartela (Reef, 1998a; Cauvin & Smith, 2014). Para examinar os ramos medial e lateral do ligamento suspensor a pele deve ser tosquiada nos lados medial e lateral da extremidade, começando imediatamente acima da bifurcação do ligamento suspensor (na metade distal da canela) e continuar para baixo até à inserção no ápex dos ossos sesamoides proximais (Reef, 1998a). Figura 13: Diagrama da região do metacarpo e metatarso a tosquiar para realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos. A imagem foi retirada de Reef (1998a). Figura 14: Diagrama da região da quartela a tosquiar para realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos das extremidades. A imagem foi retirada de Reef (1998a). 18 Após a preparação do animal, coloca-se gel de ecografia na sonda de maneira a aumentar a condução do ultrassom (Chaffin, 2011; Rantanen et al., 2011; Palgrave & Kidd, 2014). 19 Capítulo II Ultrassonografia da Cavidade Torácica A ecografia veio substituir, em grande medida, a radiografia no diagnóstico de doenças pulmonares devido à facilidade e rapidez de realização, sem a necessidade de transportar o animal a um centro de referência (Chaffin, 2011). O diagnóstico por ultrassom é um valioso método no acesso à periferia dos pulmões, espaço pleural e mediastino cranial (Chaffin, 2011). Em alguns casos de doença torácica, a extensão de envolvimento da lesão do espaço pleural ou pulmão pode ser subtil e não detetável à auscultação, radiografia ou percussão; mas podem ser rapidamente avaliadas por ecografia (Morresey, 2014). Para além disso, é também uma mais-valia na obtenção de biópsias ecoguiadas, (Reef, 2004), na realização de toracocentese (na face rostral de cada EIC), colocação de tubos torácicos (entre o 7º e o 8º EIC no lado direito, e entre o 6º e 7º EIC no lado esquerdo) e aspiração de ar livre (Chaffin, 2011), na formulação de um prognóstico para a sobrevivência e retorno de performance (Reef, 2004) e na monitorização do animal após a instituição de terapia indicada (Reef, 1998c). Algumas das vantagens e desvantagens entre a ecografia e a radiografia estão descritas na tabela 3: 21 Tabela 3: Radiografia e Ultrassonografia Torácica: Vantagens e Desvantagens. Adaptado de Reef (1998c). Desvantagens da Radiografia Vantagens da Ultrassonografia Apenas se obtêm vistas laterais, em animais adultos Localização das lesões Equipamento de grande porte e fixo com pico Equipamento portátil e pouco dispendioso elevado de quilovoltagem e miliamperagem Sobreposição de estruturas que dificultam a Lesões da área crânio-ventral bem delimitadas interpretação da imagem Pode escapar a deteção de pequenas efusões Deteção de efusões pleurais de qualquer pleurais extensão Incapacidade de caracterizar fluido pleural Possível caracterização do fluido pleural Identificação das lesões pulmonares e sua Dificuldade em caracterizar lesões pulmonares severidade Determinação da área afetada Dificuldade em determinar o lado afetado Sem malefícios para o animal e ser humano Exposição à radiação devido à exposição dos ultrassons Para obtenção de biópsias é necessário recorrer à Biópsia ecoguiada de fácil realização fluoroscopia Padrões similares entre diversas doenças Algumas das desvantagens da ecografia torácica residem no facto do ultrassom não ser capaz de atravessar costelas nem de detetar lesões pulmonares profundas e doenças bronquiais/intersticiais (Chaffin, 2011) devido à incapacidade de penetrar em pulmões cheios de ar (Morresey, 2014). Apesar das suas inúmeras vantagens, a ecografia não deve ser considerada um substituto ao exame físico do animal, auscultação torácica e eventual radiografia. Pelo contrário, a informação que fornece ao médico veterinário deve ser complementar à informação obtida pela anamnese, exame físico e outros meios de diagnóstico (Reef, 2004; Morresey, 2014). Anatomia Os pulmões, refletem a forma generalizada da cavidade torácica; são estruturas grandes e comprimidas lateralmente, a um nível mais cranial. O pulmão direito é maior que o esquerdo, uma vez que possui um lobo extra, o lobo acessório (fig.15) (Budras et al., 22 2009a). Apresentam uma impressão cardíaca que se estende desde a 3ª à 4ª costela no lado direito, e desde a 3ª à 6ª costela no lado esquerdo (Morresey, 2014). Figura 15: Diagrama da anatomia do pulmão do cavalo. Em cima, à esquerda está delimitado o lobo pulmonar cranial esquerdo; à direita, o lobo acessório do pulmão direito; e em baixo, o lobo pulmonar caudal direito. Imagens retiradas de Biosfera (2013). O diafragma forma a união entre a cavidade torácica e a cavidade abdominal. As suas inserções curvam ligeiramente na parede torácica, estendendo-se desde a 8ª e 9ª cartilagens costais, através das junções costocondrais das 9ª-15ª costelas, até meio da 18ª costela, onde se direciona craniomedialmente para terminar no último espaço intercostal. As duas camadas pleurais e diafragma delimitam a cavidade torácica e ambas se unem no plano médio para formar o mediastino, que sustenta o coração (Budras et al., 2009ª). 23 Técnica e Imagem Ecográfica Todo o tórax deve ser examinado numa direção dorsal para ventral, desde o 3º ao 17º EIC (Morresey, 2014). Existem diferentes sondas possíveis de serem usadas na ecografia torácica, devendo-se escolher a que melhor assenta entre as costelas (Rosenstein, 2007; Chaffin, 2011). Para visualização de estruturas superficiais pode-se recorrer a uma sonda de elevada frequência, 7.5 a 14 MHz, e a uma profundidade da janela de 4 a 8 cm (Reef, 2004); para examinar estruturas mais profundas, e ao observar-se uma lesão pulmonar ou pleural que se estenda profundamente, está indicado usar uma sonda de baixa frequência, 2.5 a 3.5 MHz (Rosenstein, 2007) a uma profundidade da janela de 8 a 15 cm, ou maior. Se a lesão for extensa, devem-se utilizar frequências mais baixas e aumentar mais a profundidade da janela de maneira a caracterizar toda a extensão da lesão (Reef, 2004). A sonda é colocada nos EIC, paralelamente às costelas de forma a maximizar a janela acústica, percorrendo todo o EIC dorsoventralmente até ao nível do diafragma, assegurando que todo o campo pulmonar e espaço pleural são visualizados (Morresey, 2014). A sonda deve ser movimentada lentamente de forma a permitir o exame de cada porção do tórax (Rosenstein, 2007), durante todo o ciclo respiratório (inspiração e expiração) (Reef, 2004). Ambos os lados do tórax devem ser corretamente examinados (Rosenstein, 2007). Normalmente, a sonda é colocada perpendicularmente à parede torácica; contudo, as áreas protegidas pelas costelas podem ser visualizadas oscilando lentamente a sonda horizontalmente. O acesso ao tórax cranial (no 3º EIC – fig.16) é dificultado pela musculatura do tríceps braquial. A sonda deve ser aplicada axialmente ao músculo, com ajuste da profundidade para permitir a avaliação pleural e pulmonar. Alternativamente, a sonda pode ser colocada por debaixo do tríceps braquial direito, com o respetivo membro avançado cranialmente, e a sonda apropriadamente angulada para observar o mediastino cranial (Morresey, 2014), como ilustrado na figura 16. 24 Figura 16: Diagrama do acesso ao 3º EIC para visualização do mediastino cranial. A imagem foi retirada de Reef (1998c). No ecrã do ecógrafo o tórax surge sempre no topo da imagem, devendo a região dorsal corresponder ao lado direito da imagem, e a região ventral corresponder ao lado esquerdo da imagem (Reef, 2006). Pulmões e Pleura Um pulmão bem insuflado é altamente ecogénico devido à presença de ar (Rosenstein, 2007). A pleura surge como uma linha hiperecóica a delimitar o pulmão e com uma característica reverberação equidistante, que indica uma insuflação pulmonar periférica normal (fig.17). Durante a inspiração, este limite desloca-se dorsalmente e ao expirar desloca-se ventralmente (Reef, 2006). Na maioria dos cavalos está presente uma pequena quantidade de fluído no espaço pleural que à ultrassonografia surge como um espaço anecoico (até 3.5 cm), ao longo do campo pulmonar cranioventral direito. Também pode estar presente em menor quantidade no lado esquerdo, nestes cavalos. Não é indicativo de doença pulmonar e pensa-se ser necessário para a lubrificação das membranas pleurais (Morresey, 2014). 25 Figura 17: Ultrassonografia do tórax direito no 7º EIC obtida de um cruzado Belga de 25 anos com pulmão normal. Em contacto com a sonda está pele e tecido subcutâneo (SC) e entre estas camadas e o pulmão, os músculos intercostais (MIC) A linha hiperecóica representa a superfície pleural do pulmão (seta vertical), e os ecos de reverberação característicos e equidistantes (setas horizontais) indicam boa insuflação pulmonar. A imagem A foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 11 cm de profundidade; e a B foi obtida com uma sonda transretal a uma frequência de 7.5 MHz e 8 cm de profundidade. O lado direito da imagem é dorsal e o lado esquerdo é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Os músculos intercostais, de 3 a 5 cm de espessura e aspeto estriado característico do tecido músculo-esquelético, aparecem superficialmente sob os pulmões. Podem-se observar artefactos a um nível mais profundo, cranial e caudal na imagem, correspondentes a sombras acústicas causadas pelas costelas quando a sonda é colocada perpendicularmente a estas (Reef, 2006). É importante identificar a hiperecogenicidade da musculatura do diafragma (fig.18) à medida que se reflete na parede torácica, uma vez que separa os campos pulmonares das vísceras da cavidade abdominal. Isto assegura a correta descrição da localização das estruturas, na presença de fluído, e determina se existe ou não contacto entre as vísceras e os pulmões por descontinuidade diafragmática (Morresey, 2014). O diafragma surge curvilíneo, espesso e muscular a nível ventral e fino e tendinoso a nível dorsal (Reef, 2006), a delimitar o pulmão e o bordo cranial do fígado (Rosenstein, 2007). 26 Figura 18: Ultrassonografia do tórax esquerdo no 6º EIC obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 4 MHz e 16 cm de profundidade. Observa-se o diafragma (seta longa) como uma camada muscular a separar as cavidades torácica e abdominal. Também nesta imagem se visualiza o baço, a superfície curva do estômago (cabeça de seta curta), fígado (seta) e a ponta do pulmão esquerdo (cabeça de seta larga). Imagem adaptada de Morresey (2014). Mediastino Os pulmões cobrem o mediastino cranial e caudalmente. Em cavalos jovens é possível observar o timo como uma estrutura hipoecóica no mediastino cranial (ventral e medial ao lobo apical do pulmão direito e cranial ao coração). Em cavalos gordos e póneis encontra-se normalmente gordura (hiperecogénica) no mediastino cranial que pode continuar-se até ao mediastino caudal. O mediastino cranial é apenas visualizado no 3º EIC direito, uma vez que no lado esquerdo o coração contacta com a parede torácica. O membro anterior do animal deve estar avançado o melhor possível e a sonda paralela às costelas e angulada em direção à ponta do ombro esquerdo. Um animal com alteração do mediastino cranial apresenta o coração desviado caudalmente e, assim, o mediastino cranial pode também ser observado no 3º EIC esquerdo. Em cavalos saudáveis observa-se o septo mediastínico a um nível ventral do mediastino cranial (Reef, 2006). Principais alterações e doenças a que se associam Existem particularidades detetadas por ultrassonografia torácica que auxiliam a diferenciar uma variedade de doenças pulmonares e pleurais. Muitas destas alterações ecográficas são semelhantes em diferentes doenças, como no edema pulmonar, hemorragia pulmonar induzida pelo exercício (EIPH), obstrução pulmonar recorrente (RAO) ou cicatrizes de pleuropneumonias anteriores, e, por esta razão, é importante a recolha de toda a informação 27 clínica e o recurso a outras técnicas de diagnóstico de forma a chegar a um diagnóstico definitivo. De forma semelhante, as alterações encontradas à ultrassonografia de cavalos como a fibrose pulmonar, pneumonia granulomatosa, pneumonia fúngica e neoplasia metastásica não são suficientes para o diagnóstico destas doenças. Nestes casos, a recolha de amostras do parênquima pulmonar afetado por meio de biopsia e/ou cultura são necessárias para diferenciar estas condições (Reef, 2006). Efusão Pleural Como referido anteriormente, a presença de algum fluído pleural é normal em cavalos saudáveis. No entanto, trata-se de uma condição patológica quando presente em maior quantidade que o normal, sendo a alteração que mais frequentemente ocorre (Reef, 2004). Figura 19: Ultrassonografia torácica de um cavalo com pleuropneumonia. Observa-se a presença de efusão pleural (EP) a envolver um pulmão com atelectasia (colapsado) (seta). Esta ecografia foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 4 MHz e a 13 cm de profundidade. Imagem adaptada de Morresey (2014). A ecogenicidade do fluido varia com as suas características. Um fluido é tão mais ecogénico quanto maior o seu nível de celularidade ou de proteína (Reef, 2006; Rosenstein, 2007). Portanto, na presença de efusão pleural, é importante a caracterização da mesma: transudada (fluido acelular anecoico), hemorrágica (padrão homogéneo e ecogénico) ou exsudativa (padrão heterogéneo e celular) (Chaffin, 2011). Cavalos com pleuropneumonia apresentam normalmente efusão anecoica a hipoecóica. Grande quantidade de fluido anecoico é observado em cavalos com linfossarcoma ou mesotelioma torácico. Na presença de hemotórax, observa-se à ecografia uma espécie de turbilhão de conteúdo líquido a 28 movimentar-se no interior do espaço pleural durante o ciclo respiratório. Trauma torácico, costelas fraturadas em poldros, rutura do diafragma por hérnia diafragmática, ou hemangiossarcoma são alguns dos diagnósticos diferenciais a considerar em cavalos com hemotórax. Efusões polimicrobulhosas caracterizam-se por variados pontos hiperecogénicos que representam ar livre misturado com o fluido pleural. Esta alteração é altamente sugestiva de pleuropneumonia anaeróbica ou fístula bronco-pleural (Reef, 2004; 2006). Figura 20: Ultrassonografia de um hemotórax num cavalo com história de trauma. Note-se o fluido ecogénico a formar um turbilhão na porção ventral do tórax e o pulmão hiperecogénico (seta) deslocado. Imagem adaptada de Reef (2004). Figura 21: Ultrassonografia de uma efusão pleural loculada num cavalo com pleuropneumonia anaeróbia. Observam-se ecos de ar livre presos na fibrina, no interior de loculações. A ponta do pulmão ventral encontra-se colapsada, adjacentemente à parede torácica (seta). Imagem adaptada de Reef (2004). 29 Na presença de efusão pleural é possível observar-se à ecografia o ligamento pericárdiodiafragmático, uma membrana espessa que flutua no fluido pleural a nível ventral (Reef, 1998c; 2006), normalmente confundido com fibrina (Reef, 2006; Chaffin, 2011). A fibrina surge à ecografia como um cordão filamentoso hipoecogénico entre a pleura parietal e a visceral, ou como faixas ou camadas de material hipoecogénico sobrepostas às superfícies da pleura visceral, no pulmão, e pleura parietal, na parede torácica e diafragma. Estes cordões fibrinosos podem formar loculações no fluído pleural criando uma espécie de teia, podendo até criar adesões entre as duas camadas da pleura, dificultando posteriormente a respiração do animal. A presença de fibrina, loculações ou ar livre está associada a tratamentos de longa duração e mau prognóstico em cavalos com pleuropneumonia (Reef, 2004). Figura 22: Ultrassonografia torácica de um cavalo com efusão pleural (EP), no 7º EIC esquerdo através de uma sonda convexa, a uma frequência de 4.0 MHz e 17 cm de profundidade. A flutuar no fluido encontra-se o ligamento pericárdio-diafragmático (seta). Não confundir este ligamento com cordões de fibrina. Também se observa atelectasia pulmonar. Imagem adaptada de Morresey (2014). Pneumotórax Caracteriza-se pela presença de ar livre no espaço pleural. É uma alteração difícil de ser identificada por ultrassonografia, principalmente quando não associada a efusão pleural, uma vez que o artefacto de reverberação presente se assemelha ao de um cavalo saudável (Reef, 2006; Rosenstein, 2007). Quando associada a efusão pleural, apresenta uma característica designada como “sinal de cortina”, uma vez que os ecos dorsais hiperecogénicos de ar livre se movimentam para a frente e para trás sob a atelectasia pulmonar adjacente (Reef, 2006). 30 Na suspeita de pneumotórax o mais indicado é realizar uma radiografia em primeiro lugar, para identificar a existência de pneumotórax, e de seguida optar por realizar ultrassonografia para determinar o lado afetado. Avaliar o movimento e deslize da superfície pleural pode auxiliar na identificação de pneumotórax, uma vez que durante a respiração o movimento contínuo e suave da pleura visceral se encontra ausente e, consequentemente, o espaço pleural que contém ar mantém-se estático durante o ciclo respiratório (Rosenstein, 2007). Caudas de cometa Caracterizam-se por estreitas e múltiplas faixas de reverberação criadas pela irregularidade da superfície pleural. Durante a respiração estes artefactos movem-se na imagem à medida que a superfície irregular da pleura muda de posição (Reef, 2006; Rosenstein, 2007). Figura 23: Ultrassonografia torácica de um cavalo com pleurite. As caudas de cometa têm origem na superfície irregular da pleura. Esta ecografia foi obtida com uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e a 15 cm de profundidade. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. As caudas de cometa podem também ser identificadas em cavalos saudáveis, especialmente nas margens ventrais do pulmão, ao fim da expiração. Assim sendo, estes artefactos têm significado clínico quando associadas a outros dados clínicos que indiquem a presença de doença pulmonar (Rosenstein, 2007). Trata-se de artefactos não específicos, sendo encontrados numa variedade de doenças como atelectasia pulmonar, pneumonia (especialmente a intersticial), broncopneumonia 31 aguda, cicatrizes de pneumonias prévias, edema pulmonar, EIPH, RAO, fibrose pulmonar, pneumonia granulomatosa, ou neoplasia metastásica (Reef, 2004; 2006). De maneira a diagnosticar uma pleurite e caracterizar a mesma (efusiva ou húmida e não efusiva ou seca), o exame deve ser realizado minuciosamente durante todo o ciclo respiratório para avaliar a interface entre as duas superfícies pleurais durante o movimento. A superfície do pulmão (pleura visceral) deve deslizar suavemente pela pleura parietal (parede torácica e diafragma), deslizando para fora durante a inspiração e para dentro durante a expiração (Reef, 1998c). Atelectasia Pulmonar Compressiva Ocorre quando pulmão saudável é comprimido por fluido ou ar livre envolvente (Reef, 2004; 2006; Morresey, 2014). Esta compressão restringe a correta insuflação do pulmão, tornando-a incompleta (Rosenstein, 2007). A atelectasia pode também estar associada à presença de vísceras no interior da cavidade torácica em casos de hérnia diafragmática (com ou sem rutura do diafragma) (Reef, 1998c). A reverberação característica que se observa em pulmões saudáveis encontra-se ausente, já que não existe a interface entre tecido e ar (Rosenstein, 2007). Um pulmão com insuflação incompleta encontra-se colapsado (Reef, 1998c). O parênquima é moderadamente ecogénico e visualizam-se as estruturas vasculares tubulares e hipoecóicas num padrão ramificado (Rosenstein, 2007). Os brônquios também são visualizados como ramos tubulares com paredes mais ecogénicas que os vasos pulmonares, mas com ou sem ecos hiperecogénicos criados pela presença de ar (Reef, 2006). 32 Figura 24: Ultrassonografia torácica de um cavalo com efusão pleural (F), material fibrinoso (FT) a flutuar e atelectasia parcial do pulmão (P). A efusão pleural permite a visualização do mediastino (M). Imagem adaptada de Rosenstein (2007). Consolidação Pulmonar Alteração pela qual o pulmão começa a apresentar uma textura firme que ocorre quando o ar, no interior dos alvéolos, é substituído por liquido e células. O deslocamento do ar elimina a reverberação normal do pulmão afetado e o padrão ecográfico de um pulmão consolidado varia com a doença subjacente (Reef, 2006; Rosenstein, 2007). As causas mais frequentes são a atelectasia compressiva, fibrose pulmonar multinodular equina, RAO, influenza equina, abcessos pulmonares (por Rhodococcus equi em poldros, Corynebacterium pseudotuberculosis), piogranulomas, granulomas por Schistosoma spp., necrose pulmonar e, menos frequentemente, neoplasias (Chaffin, 2011). Figura 25: Ultrassonografia torácica de um cavalo adulto com abcesso pulmonar. É possível observar o abcesso (cursores) de conteúdo heterogéneo na superfície pulmonar. Esta ecografia foi obtida 33 através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e a 15 cm de profundidade. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. O diagnóstico ecográfico de consolidação pulmonar é baseado na deteção de parênquima hipoecogénico e na visualização de uma ou mais das seguintes características: broncogramas pela presença de ar ou fluido, vasos pulmonares, ou focos cicatrizantes pela presença de ar residual no parênquima consolidado. A deteção destas características no pulmão hipoecogénico é crucial para diferenciar consolidação pulmonar grave de efusão pleural, necrose pulmonar, ou abcessos (Reef, 1998c; 2004). A gravidade da consolidação pulmonar aumenta com a deteção de broncogramas criados pela presença de ar e ainda mais pela presença de fluido. Os broncogramas por fluido são detetados quando o pulmão surge com uma aparência semelhante ao parênquima hepático, pois não existe ar a preencher as vias aéreas, designando-se muitas vezes de “pulmão hepatizado”. À medida que a consolidação agrava, o pulmão perde a sua forma triangular, tornando-se mais arredondado. Ao observar áreas anecoicas bem delimitadas e adjacentes ao pulmão consolidado, o processo instalado é ainda mais grave e consistente com pneumonia necrosante (Reef, 2004; 2006; Morresey, 2014). Figura 26: Ultrassonografia de um cavalo com consolidação pulmonar. O parênquima pulmonar encontra-se hipoecogénico e as pequenas áreas hiperecoicas são consistentes com ar residual na árvore brônquica. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 34 Figura 27: Ultrassonografia torácica de um cavalo com consolidação pulmonar. A efusão pleural (EP), aumentada permite a visualização da margem irregular do pulmão (seta). Observam-se também focos de ar livre (G) e fluido (F) no pulmão consolidado. Imagem adaptada de Rosenstein (2007). Aumento do Volume Pulmonar Este aumento pulmonar pode ocorrer com RAO. Os pulmões estendem-se mais caudalmente que o normal, sugerindo expansão do campo pulmonar devido a hiperinsuflação ou enfisema (Morresey, 2014). 35 Capítulo III Ultrassonografia da Cavidade Abdominal A ultrassonografia da cavidade abdominal visa avaliar diferentes porções do trato gastrointestinal, como o estômago, intestino delgado e intestino grosso, bem como outros órgãos presentes nesta região, como o baço ou o fígado, por exemplo (Bain, 2014). Trata-se de uma valiosa técnica no diagnóstico de cólica em cavalos adultos. As informações que fornece auxiliam o clínico a classificar, por exemplo, a cólica em questão e a determinar se o melhor tratamento para a mesma é médico ou cirúrgico (Reef, 2003; Pedrosa, 2008). Esta técnica encontra-se, no entanto, limitada devido ao tamanho e profundidade do abdómen e à presença de gás no ceco e cólon (Pease & Coelho, 2012). Inicialmente realiza-se a ecografia abdominal com transdutores de altas frequências (6.0 a 10 MHz), uma vez que fornecem informação acerca das estruturas intestinais superficiais. Frequências mais baixas podem posteriormente ser selecionadas para completar o exame (Reef, 2003). Anatomia, Técnica e Imagem Ecográfica A anatomia do trato gastrointestinal pode ser dinâmica, especialmente em cólicas em que a motilidade intestinal está afetada. Por esta razão, é importante realizar ecografias seriadas ao longo do tempo, de forma a acompanhar a ocorrência de alterações anatómicas, como a deslocação do cólon ou o grau de distensão gástrica ou distensão de intestino delgado, por exemplo (Bain, 2014). O exame começa cranialmente no 3º EIC, imediatamente caudal ao cotovelo e deve progredir caudalmente, à medida que se avalia dorsoventralmente cada EIC, desde a margem ventral do diafragma (Bain, 2014), até às tuberosidades coxais e fossas paralombares, lateralmente no abdómen; e a nível ventral, desde o processo xifoide até à região inguinal (Reef, 1998d). Fígado É dos maiores órgãos da cavidade abdominal (Barton, 2004; Slovis, 2014), situado adjacentemente ao diafragma, no aspeto cranial do abdómen (Moore et al., 2007). Tendo em conta que grande parte do fígado não é identificada por ultrassonografia, para aceder ao seu tamanho, estima-se a quantidade de parênquima hepático que é visualizado (Reef, 2004). 37 Figura 28: O fígado localiza-se entre o estômago e o diafragma. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). O acesso ao lobo hepático direito é normalmente feito desde o 6º ao 15º EIC do lado direito (Reef, 2003), estendendo-se ao longo da linha média. O lobo esquerdo é de menor tamanho e, normalmente, estende-se cranioventralmente, desde o 6º ao 9º EIC (Slovis, 2014). Para examinar este órgão usam-se transdutores de 5.0 MHz, em cavalos adultos (Reef, 2003), sendo necessário recorrer a frequências de 2.0 a 3.5 MHz em cavalos idosos (Slovis, 2014), uma vez que a partir dos 10 anos de idade ocorre atrofia do lobo direito do fígado (Bain, 2014). O fígado é reconhecido pelo seu padrão ramificado (Reef, 2004), constituído por vasos hepáticos e condutos biliares, que são vistos difusamente. Caracteriza-se como uma estrutura hipoecóica relativamente ao baço, homogénea e uniforme. As veias hepáticas são pequenas e tubulares de parede fina (Slovis, 2014) e a veia porta surge mais ecogénica que estas devido à sua parede de tecido conjuntivo. A veia cava caudal raramente se visualiza em cavalos adultos (Reef, 1998d). 38 Figura 29: Ecografia hepática obtida de uma égua Árabe de 15 anos. As veias hepáticas e portais são estruturas pequenas e de formato linear a tubular, encontradas no parênquima hepático (setas). As veias porta são mais espessas e apresentam paredes mais ecogénicas que as veias hepáticas, que possuem parede fina e menos ecogénica. Esta ecogenicidade das veias portas deve-se à constituição das suas paredes por tecido conjuntivo. O cólon dorsal direito (cabeça de seta) é medial ao lobo direito do fígado. A ultrassonografia da esquerda foi obtida no 15º EIC direito, e a da direita no 13º EIC através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz, a 14 cm e 13 cm de profundidade, respetivamente. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. O cólon dorsal direito (CDD) encontra-se medial ao lobo hepático direito e o duodeno localiza-se entre estas duas estruturas, na porção média do abdómen. O rim direito contacta com o fígado, caudal e lateralmente no processo caudado do lobo hepático direito (Reef, 1998d). No lado esquerdo, o fígado contacta com o estômago e o baço (Slovis, 2014). Baço O baço situa-se no lado esquerdo do abdómen, adjacente à parede abdominal esquerda (Moore et al., 2007), estendendo-se, normalmente, desde o 7º EIC até à fossa paralombar (Slovis, 2014; Reef 2004, 2003). Contudo, a sua posição pode variar ligeiramente, por exemplo com a respiração, em situações de distensão gástrica (Budras et al., 2009b), distensão ou deslocamento intestinal e doença esplénica (Wilson & Blikslager, 2012). A veia esplénica, de aspeto tubular (Reef, 1998d), localiza-se no aspeto medial do baço, caudal e dorsal ao estômago, do 11º EIC até meio do 12º EIC (Slovis, 2014). Trata-se de um ponto de referência para localizar o estômago, que se encontra medialmente ao baço (Reef, 1998d). 39 O baço contacta caudalmente com o rim esquerdo e encontram-se ligados pelo ligamento nefrosplénico (Moore et al., 2007). Figura 30: O baço e rim esquerdo encontram-se ligados através do ligamento nefrosplénico. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). Este órgão apresenta-se como uma estrutura de ecogenicidade homogénea com apenas alguns vasos visíveis (Slovis, 2014). De cápsula hiperecóica e parênquima moderadamente ecogénico, surge com uma ecogenicidade heterogénea, com manchas difusas, quando visualizado transretalmente (Reef, 1998d). Os vasos do Hilo vêem-se normalmente com facilidade enquanto os vasos intraesplénicos são comumente identificados apenas através do modo doppler (Slovis, 2014). Figura 31: Ultrassonografia do abdómen lateral esquerdo, no 17º EIC, obtida de uma égua Árabe de 15 anos. O baço tem uma aparência mais ecogénica e homogénea. A estrutura curvilínea e 40 hiperecóica trata-se do cólon ventral esquerdo. Esta imagem foi obtida através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Estômago O estômago do cavalo é relativamente pequeno, possuindo geralmente uma capacidade de 10 a 15 litros. Situa-se dorsocranialmente no lado esquerdo do abdómen, entre o 8º e o 13º EIC, adjacente ao baço, ao nível da veia esplénica e conectado a este através do ligamento gastrosplénico (Reef, 1998d; Moore et al., 2007; Budras et al., 2009b; Bain, 2014). Figura 32: Ecografia do estômago adjacente à veia esplénica. O estômago é reconhecido pela sua aparência curvilínea e hiperecóica, e não sacular. O baço surge com uma aparência ecogénica homogénea. A ultrassonografia da esquerda foi obtida no 10º EIC esquerdo através de uma sonda convexa a uma frequência de 2.5 MHz e 25 cm de profundidade (gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão); a imagem da direita foi adaptada de Moore et al. (2007). O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. É constituído por diferentes regiões e curvaturas. O fundus gástrico caracteriza-se por um saco cego; o corpo é a maior porção do estômago e prolonga-se do fundus, no lado esquerdo, até à porção pilórica no lado direito; o piloro é o esfíncter através do qual o estômago comunica com o duodeno (Moore et al., 2007; Budras et al., 2009b). A curvatura menor do estômago vai desde o cárdia até ao piloro e a grande curvatura estende-se dorsalmente pelo cárdia, continua pelo lado esquerdo do animal e depois ventralmente, retornando por fim ao lado direito até ao piloro (Moore et al., 2007). 41 Existe uma relação entre a curvatura maior do estômago, o baço e a veia gastrosplénica, permitindo a correta identificação do estômago durante o exame ecográfico (Reef, 1998d). Durante o exame, o estômago deve ser avaliado quanto ao seu tamanho e conteúdo (Bain, 2014). Figura 33: Diagrama das estruturas viscerais do abdómen: baço, fígado, pâncreas e estômago. 1foramen epiploico, 2-corpo do pâncreas, 3-anel pancreático, 4-lobo pancreático direito, 5-grande 42 omento (seccionado), 6-grande curvatura do estômago, 7-superfície visceral, 8-pequena curvatura do estômago, 9-ligamento gastrosplénico, 10-lobo pancreático esquerdo, 11-baço, 12-ligamento nefrosplénico, 13-ligamento falciforme ou redondo do fígado, 14-lobo hepático quadrado, 15-lobo hepático direito, 16-ducto hepático comum, 17-ligamento triangular direito, 18-lobo hepático caudado, 19-lobo hepático médio, 20-lobo hepático esquerdo, 21-ligamento triangular esquerdo; a-músculos abdominais, b-duodeno, c-jejuno, d-veia porta, e-artéria celíaca, f-artéria hepática, g-artéria gastroepiploica direita, h-vasos gástricos esquerdos, i-vasos esplénicos, j-vasos gastroepiploicos esquerdos, k-artéria mesentérica cranial e gânglio, l-veia cava caudal, m-vasos renais e ureter, n-rim direito, o-rim esquerdo, p-glândula adrenal direita, q-glândula adrenal esquerda, r-aorta, s-esófago e tronco vagal, t-ligamento hepatorenal e impressão renal, u-pilar diafragmático direito, v-pilar diafragmático esquerdo, w-linfonodos hepáticos. Imagem adaptada de Budras et al. (2009b). Intestino Delgado O intestino delgado que, no cavalo, compreende aproximadamente 20 metros de comprimento, é constituído pelo duodeno, jejuno e íleo. O duodeno é a primeira porção de intestino delgado (Moore et al., 2007) e pode ser examinado ao longo do lado direito do animal, desde o 11º EIC até ao aspeto cranial da fossa paralombar ao longo de uma linha imaginária, desde o olecrânio à tuberosidade sacral, ou ligeiramente dorsal a esta linha (Reef, 1998d). Apresenta duas flexuras, uma porção descendente e outra ascendente. A parte cranial do duodeno encontra-se adjacente ao fígado e apresenta uma curvatura inicial e uma forma de “ampola” dilatada; a segunda curvatura (a flexura cranial) vai de encontro com o pâncreas e encontra-se ligada ao fígado através do ligamento hepatoduodenal; o duodeno descendente passa dorsocaudalmente por entre o fígado e segue em direção ao rim direito formando a flexura caudal (duodeno transverso) que está relacionada e contacta com a base do ceco e cólon transverso através do ligamento duodenocólico; o último segmento (duodeno ascendente) é curto e estende-se numa direção cranial, tornando-se posteriormente em jejuno, medialmente ao rim esquerdo (Moore et al., 2007; Budras et al., 2009b). O jejuno situa-se a meio do abdómen (Moore et al., 2007), ventral e medialmente ao baço, ao nível do arco costal (Bain, 2014), com uma forma semelhante a serpentinas. Nesta porção de intestino delgado, o mesentério aumenta em comprimento, o que pode facilitar o surgimento de encarceração de ansas intestinais no canal inguinal ou no forâmen epiploico. Estas ansas podem ainda torcer sob a raiz do mesentério (Moore et al., 2007). Não é frequentemente observado à ecografia, uma vez que se encontra sobreposto pelo cólon ascendente (Reef, 1998d). A última porção de intestino delgado é o íleo, que termina no aspeto dorsomedial do ceco. Estas duas estruturas encontram-se conectadas por uma banda de mesentério designada de ligamento íleo-cecal (Moore et al., 2007). 43 Figura 34: Formato pregado, semelhante a serpentinas, do jejuno (alfinete). Imagem adaptada de Moore et al. (2007). À ultrassonografia, o duodeno saudável surge normalmente com um formato achatado; mas na passagem de ingesta, durante o peristaltismo intestinal, é possível observar esta estrutura com forma oval a circular, e de ecogenicidade variável dependente do seu conteúdo (Reef, 1998d). Figura 35: Ultrassonografia do abdómen lateral esquerdo no 14º e 8º EIC. É possível diferenciar uma ansa de duodeno normal. Quando vazio, o duodeno apresenta-se achatado (seta); na presença de ingesta, adquire uma forma tubular (cabeça de seta). A imagem da esquerda foi adaptada de Bain (2014).A imagem da direita foi obtida através de uma sonda convexa, a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade; imagem gentilemnte cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão . O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. 44 Intestino grosso O intestino grosso é constituído por ceco, cólon e reto (Budras et al., 2009b). O ceco trata-se de uma grande cuba de fermentação em forma de vírgula e constituída por três regiões: base, corpo e ápex. A base do ceco ocupa o flanco direito, dorsalmente na fossa paralombar direita, e estende-se cranialmente até à porção costal do diafragma e lobo hepático direito, ligando-se à superfície ventral do rim direito, raiz do mesentério e pâncreas. Segue pelo abdómen ventral como corpo do ceco até próximo do processo xifoide. O ápex deste órgão ocupa a concavidade da flexura diafragmática ventral formada pelo cólon ascendente. Encontra-se organizado em saculações e possui quatro bandas. Tanto a banda medial como a lateral estão envolvidas por vasos sanguíneos e linfonodos. A banda medial une-se à banda ventral, junto ao ápex; a banda ventral corre desde a base até ao ápex, e é a que frequentemente se palpa durante o exame de palpação transretal; da banda lateral forma-se o ligamento ceco-cólico que liga o cólon ventral direito (CVD) ao ceco; e da banda dorsal forma-se o ligamento ileocecal, que termina no íleo (Moore et al., 2007; Budras et al., 2009b). Figura 36: Estruturas constituintes do ceco e formato anatómico de saculações e bandas. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). O cólon é composto pela porção ascendente, transversa e descendente. O colón ascendente é também designado de cólon maior, uma vez que é a estrutura com maior capacidade. Em contrapartida, o cólon descendente pode também ser designado por cólon menor (Budras et al., 2009b). 45 O cólon ascendente é composto pelas partes ventral direita e esquerda, e dorsal direita e esquerda. Tem origem no lado direito, na sua junção com o ceco, e estende-se em direção ao esterno como CVD. Este segue pelo arco costal direito até ao diafragma, desviando-se para o lado esquerdo do corpo para formar a flexura esternal. Continua-se como cólon ventral esquerdo em direção à região pélvica, onde diminui em diâmetro e faz uma curvatura de 180º (de ventral para dorsal) para formar a flexura pélvica, seguindo, posteriormente, como cólon dorsal esquerdo (CDE). Estas duas últimas estruturas são desprovidas de saculações por apenas possuírem uma banda longitudinal. O CDE segue em direção ao diafragma e retorna caudalmente ao lado direito do corpo para formar a flexura diafragmática, e depois o cólon dorsal direito (CDD), de maior diâmetro (Moore et al., 2007; Brudas et al., 2009b). O CDD é normalmente identificado, por ultrassonografia, imediatamente ventral e medial ao lobo hepático direito (Bain, 2014). Ao atingir a base do ceco, desvia-se novamente para a esquerda, atravessando o plano médio como cólon transverso, de menor diâmetro. O cólon transverso localiza-se na parede dorsal do abdómen, perto da artéria mesentérica cranial (Moore et al., 2007; Brudas et al., 2009b). Figura 37: Cólon ventral esquerdo e dorsal esquerdo, no lado esquerdo do cavalo. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). 46 Figura 38: Ultrassonografia do abdómen lateral direito no 7º EIC obtida de uma égua Árabe de 15 anos. Nesta imagem destaca-se cólon dorsal direito (setas). A imagem foi obtida através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 14 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. O cólon menor é constituído por saculações e duas bandas longitudinais, uma mesentérica e outra antimesentérica. Durante o exame de palpação transretal é possível identificar com facilidade a banda antimesentérica do cólon menor (Moore et al., 2007; Budras et al., 2009b). Localiza-se dorsalmente à bexiga, no quadrante caudodorsal do abdómen (Reef, 1998d). Esta porção de cólon encontra-se suspensa pelo mesocólon e associa-se ao jejuno, no flanco esquerdo (Reef, 1998d; Budras et al., 2009b). Figura 39: Aparência sacular do cólon descendente (alfinete), ou cólon menor. Imagem adaptada de Moore et al. (2007). 47 Para o exame ecográfico, em ambos os lados, o abdómen do cavalo pode ser dividido em quatro quadrantes e, a nível ventral, dividido em dois (Williams et al., 2014). Figura 40: A imagem da esquerda trata-se de uma fotografia ilustrativa das seis regiões para realização de ultrassonografia. As zonas A, B, C e D repetem-se no lado direito do animal. A: abdómen crânio-dorsal esquerdo, B: abdómen crânio-ventral esquerdo, C: abdómen caudo-dorsal esquerdo, D: abdómen caudo-ventral esquerdo, E: abdómen crânio-ventral, F: abdómen caudoventral. A imagem da direita representa a anatomia relativa das vísceras gastrointestinais do lado esquerdo do abdómen (A: Baço, B: Cólon dorsal esquerdo, C: Cólon ventral esquerdo, D: Fígado, E: Estômago, F: Intestino delgado). A imagem em baixo representa a anatomia relativa das vísceras gastrointestinais do lado direito do abdómen (1-diafragma, 1’-5ª costela, 2-fígado, 3-rim direito, 4duodeno descendente, 5-base do ceco, 6-cólon ventral direito, 7-cólon dorsal direito). Imagens adaptadas de Wilson & Blikslager (2012) e de Williams et al. (2014). Num estudo realizado por Williams et al. (2014), com vinte e cinco cavalos, é documentada a localização das estruturas abdominais e com que frequência são identificadas, ao longo do dia. Este estudo pretendeu também identificar as áreas de maior interesse ecográfico de 48 modo a auxiliar clínicos na seleção das áreas mais apropriadas para a avaliação do animal em situações de emergência. Estas áreas encontram-se discriminadas na tabela 4. 49 Tabela 4: Identificação das regiões corporais e repetibilidade de identificação (%) das estruturas abdominais. Tabela traduzida de Williams et al. (2014). Repetibilidade de Identificação (%) de cada região corporal* Repetibilidade de identificação Flanco Flanco Flanco Estrutura caudo crânio caudo Abdominal dorsal dorsal dorsal direito direito esquerdo 30 0 0 0 0 30% (6/20) 0 0 0 35 10.5 45.5 (9/20) 85 0 0 0 0 85% (17/20) 15 100 90 100 100 100% (20/20) 100 0 0 0 0 100% (20/20) 0 0 90 0 0 90% (18/20) Fígado 0 95 0 0 0 95% (19/20) Baço 0 0 80 0 0 80% (16/20) Duodeno Abdómen Abdómen da estrutura durante o exame crânio caudo ecográfico completo (número ventral ventral de identificações/número total de exames ecográficos)** Outras estruturas de ID Ceco Intestino grosso Rim direito Rim esquerdo *A repetibilidade de identificação (%) de cada região corporal caracteriza-se pela frequência com que determinada estrutura abdominal foi identificada por ultrassonografia em cada região corporal (nos 20 exames ecográficos realizados – 20 cavalos examinados uma vez), i.e. onde se pode encontrar determinada estrutura à ecografia. **A repetibilidade de identificação durante o exame ecográfico completo caracteriza-se pela frequência com que determinada estrutura foi identificada em cada região durante cada exame (total de 20 exames ecográficos – 20 cavalos examinados uma vez), i.e. com que frequência se observa determinada estrutura, durante o exame ecográfico de toda a cavidade abdominal. A região onde cada estrutura foi mais repetidamente identificada, designando a área de maior interesse ecográfico, encontra-se a negrito. O estudo de William et al. (2014) concluiu que, tanto ceco, como intestino grosso, baço, fígado e rim direito, foram estruturas sistematicamente identificadas por ultrassonografia, tal 50 como era esperado. E, apesar de existirem algumas variações anatómicas normais entre indivíduos, e dentro do mesmo indivíduo, a maioria das estruturas foram correctamente identificadas usando um exame ultrassonográfico mais focado às regiões corporais descritas na tabela anterior. Rins Os rins apresentam uma localização retroperitoneal, o que significa que não se encontram, literalmente, no interior do abdómen (Moore et al., 2007). O rim direito, com forma semelhante a um coração, assenta o seu polo cranial na impressão renal do fígado, e contacta dorsalmente com o diafragma (Budras et al., 2009c). Localiza-se ventralmente aos processos transversos entre o 14º e 16º EIC, ao nível da tuberosidade coxal (Slovis, 2014) e pode ser observado a uma frequência de 3.5 ou 5.0 MHz (Reef, 1998d). O rim esquerdo assemelha-se, em forma, a um feijão. Localiza-se mais caudalmente que o rim direito, medial ao baço, com o qual tem ligação através do ligamento nefrosplénico (Moore et al., 2007; Budras et al., 2009c). Pode ser visto à ecografia desde o 15º EIC até ao bordo caudal da fossa paralombar esquerda (Slovis, 2014), entre uma linha paralela à tuberosidade coxal e tuberosidade isquiática. No entanto, devido à sua profundidade, é melhor visualizado transretalmente (Reef, 1998d). Os rins apresentam-se divididos em córtex e medula. À ultrassonografia, estas regiões diferem em ecogenicidade, permitindo a sua distinção. Esta heterogenicidade causa uma anisotropia acústica observável na junção corticomedular (Reef, 1998d; Budras et al. 2009c). O córtex renal é hipoecogénico comparativamente aos restantes tecidos. Contudo, quando comparado com a medula adjacente, considera-se que tenha uma aparência ecodensa e heterogeneamente pontilhada. A medula é menos ecogénica que o córtex (Reef, 1998d; Slovis, 2014) e as linhas irregulares e ecogénicas que se visualizam na medula tratam-se de vasos interlobulares (Reef, 1998d). 51 Figura 41: Ecografia do rim esquerdo e rim direito de uma égua Árabe de 15 anos. Na imagem da esquerda, de notar a aparência hipoecóica do rim esquerdo relativamente ao baço adjacente, mais ecogénico. A pélvis renal é ecogénica e os cálices renais adjacentes são anecóicos. Estas imagens foram obtidas no 16º EIC esquerdo e direito, respetivamente, através de uma sonda convexa a uma frequência de 3.5 MHz e 17 cm de profundidade. O lado esquerdo da imagem é dorsal e o lado direito é ventral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Os ductos papilares, no centro do parênquima, abrem na crista renal e terminam nos recessos terminais que, posteriormente, drenam na pélvis renal. A pélvis renal apresenta uma forma de meia-lua (Reef, 1998d; Budras et al. 2009c) e é normalmente muito ecogénica devido à presença de gordura intrapélvica e tecido fibroso (Reef, 1998d). O seio renal forma o hilo de onde emergem o ureter, vasos linfáticos e vasos sanguíneos (Budras et al., 2009c). Normalmente não se observam os ureteres na ultrassonografia transabdominal (Reef, 1998d). 52 Figura 42: Diagrama do rim direito e rim esquerdo seccionados no seu eixo longo para identificação das estruturas internas: 9-ureter, 13-pélvis renal, 14-recesso terminal, 15-lobos renais, 16-córtex renal, 17-hilo renal, 18-seio renal, 19-vasos interlobulares, 20-medula, 20’-porção externa, 20’’-porção interna, 20’’’-crista renal; b-vasos renais. Imagem adaptada de Budras et al. (2009c). Bexiga A bexiga reside inteiramente no interior da cavidade pélvica, numa posição retroperitoneal. Pode ser avaliada transretalmente e, por vezes, transabdominalmente na região caudal e ventral do abdómen, num cavalo adulto. Nos neonatos, a bexiga é facilmente visualizada através de ecografia transabdominal (Reef, 1998d; Budras et al. 2009c). O volume e espessura da parede vesical variam com o grau de enchimento (Slovis, 2014). Quando cheia, o ápex vesical e corpo estendem-se para o interior da cavidade abdominal, deslocando o cólon maior. A bexiga liga-se à uretra pélvica no trígono vesical, localizado no canal pélvico, e encontra-se suspensa na cavidade abdominal por ligamentos redondos (remanescentes das artérias umbilicais) (Reef, 1998d). A bexiga é redonda a oval em corte transversal, e oval em corte longitudinal. É ligeiramente bicôncava nos bordos e encontra-se suspensa nos aspetos laterais através dos ligamentos redondos da bexiga. À ultrassonografia, a parede vesical distingue-se quando esta se encontra distendida pela presença de urina. É hipoecóica a ecogénica e a sua espessura varia de acordo com a distensão a que está, nesse momento, sujeita (normalmente de 3 a 6 cm). A urina surge ecogénica no cavalo adulto, resultado da cristalúria normal (carbonato de cálcio) e muco presentes na urina. Contudo, a ecogenicidade da urina em cavalos normais varia de anecóico a hiperecogénico, dependendo das partículas presentes (Reef, 1998d). 53 Cavidade Peritoneal A ecografia é uma ferramenta de diagnóstico útil para avaliar o fluido na cavidade peritoneal e na realização de abdominocentese ecoguiada. O fluido normal é anecóico, tornando-se mais ecogénico com o aumento dos níveis celulares (Slovis, 2014). Principais alterações e doenças a que se associam Muitas são as alterações observadas por ultrassonografia abdominal, sendo mais importantes as alterações encontradas ao nível do trato gastrointestinal, e também do trato urinário, fígado e, mais raramente, baço (Reef, 2004). Alterações do Trato Gastrointestinal As cólicas são a principal razão no tratamento de emergência em cavalos, sendo também uma causa importante de morbilidade e mortalidade na população de equinos (Southwood, 2006). Esta síndrome de dor abdominal está altamente associada a alterações do trato gastrointestinal, mas pode também ter origem em focos de dor não relacionados com o sistema gastrointestinal (Knottenbelt & Pascoe, 2014a). A ultrassonografia abdominal tem-se tornado num importante meio de diagnóstico, suplementar a outras técnicas, na abordagem a um cavalo com síndrome de abdómen agudo (Beccati et al., 2011). Existem, no entanto, algumas limitações deste meio de diagnóstico, devido ao tamanho e profundidade do abdómen, mobilidade de algumas estruturas abdominais e às sombras acústicas geradas pelos pulmões e intestino grosso. A interpretação das alterações patológicas requer, portanto, um conhecimento da anatomia e do aspeto normal dos órgãos à ecografia (Williams et al., 2014). Nos tipos de cólica que podem ser diagnosticados com recurso à ultrassonografia incluem-se a encarceração nefrosplénica do cólon maior, encarceração pelo forâmen epiplóico de intestino delgado, intussusceção intestinal, volvo, enterite proximal e enterocolite, colite dorsal direita, abcessos e outras massas abdominais, entre outras. A ecografia fornece informação acerca da distensão, conteúdo e aparência de várias porções do trato gastrointestinal como o estômago, duodeno, ceco, e cólon menor (Bentz, 2004). Beccati et al. (2011) avaliaram o papel da ultrassonografia na diferenciação de lesões entre o intestino delgado e o grosso, por forma a determinar um diagnóstico definitivo em cavalos 54 com dor abdominal aguda. Os critérios usados na interpretação das imagens ecográficas obtidas no estudo de Beccati et al. (2011) estão discriminados na tabela 5. Tabela 5: Parâmetros usados por Beccati et al. (2011) na avaliação ecográfica em cavalos com dor abdominal aguda. ESTRUTURA ANATÓMICA CRITÉRIO INTERPRETAÇÃO Fluido peritoneal livre Sim Não Rim esquerdo Visível Não visível Tamanho Normal Distendido (> 5 EIC) Aparência Normal Distendido parcialmente Distendido completamente Motilidade Normal (> 3 distensões/min) Diminuída (< 3 distensões/min) Ausente Visível Não visível Aparência Normal Distendido parcialmente Distendido completamente Motilidade Normal (contrações contínuas) Diminuída (< 6 contrações/min) Ausente Espessura da parede Normal (< 3 mm) Espessada (> 3 mm) Aparência Normal Distendido Motilidade Sim Não Estômago Duodeno Intestino delgado Cólon maior Espessado Apesar dos avanços consideráveis na ultrassonografia em equídeos, são poucos os estudos que determinam a existência de correlações estatísticas entre as informações obtidas por ecografia e as diferentes doenças, ou causas de cólicas. Os resultados do estudo realizado por Beccati et al. (2011) indicam que, para algumas categorias de doença, é possível encontrar correlações positivas entre as alterações encontradas por ultrassonografia e as alterações encontradas em cirurgia ou post mortem. Segundo Knottenbelt & Pascoe (2014a), as causas gastrointestinais de cólica podem ser divididas em: 1. Lesões obstrutivas Obstruções simples (lesões que obstruem o lúmen, mas não interferem com o aporte sanguíneo do intestino) 55 Obstruções não estrangulativas (lesões que resultam de obstrução extraluminal, mas que, inicialmente, não interferem com a circulação sanguínea) 2. Lesões isquémicas Obstruções estrangulativas (lesões que levam ao comprometimento da vasculatura e do lúmen intestinal) Enfartes não estrangulativos (ocorre oclusão da circulação sanguínea do intestino sem ocorrer obstrução luminal). Obstrução Ocorre quando o movimento normal de ingesta é limitado, mas não ocorrem alterações ao nível do aporte sanguíneo do intestino (Moore et al., 2007; Knottenbelt & Pascoe, 2014a). A maioria das obstruções ocorre quando a ingesta falha em se deslocar de uma porção intestinal de maior diâmetro para outra de menor diâmetro. Exemplos são a impactação do cólon maior na flexura pélvica, enterolitíase, e aderências envolvendo intestino delgado (Moore et al., 56 2007). Tabela 6: Condições patológicas de obstrução simples que conduzem a abdómen agudo. Obstruções simples Impactação do Ocorre em áreas de baixo diâmetro luminal, como a flexura pélvica e CDD (Southwood, 2006; Moore et al., 2007; Knottenbelt & Pascoe, cólon maior 2014a). Pode conduzir a deslocamento da flexura pélvica, quando significativo (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Primária: resulta da acumulação de ingesta ou areia, com sinais de dor semelhantes aos que se observam nas impactações de cólon (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Impactação Secundária: o conteúdo tem uma consistência mais fluida, mas o animal tem dificuldade em evacuar. Tem sido particularmente cecal associada à hospitalização, por outras razões, ou devido a procedimentos cirúrgicos não relacionados, que resultam em dor pósoperatória e depressão e consequente diminuição do output fecal (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) A ecografia determina a extensão da distensão cecal e caracterização da parede cecal (Bain, 2014) Frequente em cavalos com acesso a solos arenosos e em indivíduos com défices alimentares, normalmente de minerais, ou distúrbios comportamentais (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Impactação por areia Areias finas tendem a acumular no cólon ventral, enquanto areias mais grossas acumulam mais frequentemente no cólon dorsal (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) A presença de areia limita a motilidade intestinal e surge à ecografia como pequenos pontos granulares, hiperecogénicos, gerando múltiplas sombras acústicas na porção mais ventral do abdómen (Reef 2003, 2004) Fecalitos formam-se quando corpos estranhos, como borracha, fios de nylon, e outros, ingeridos se misturam com material fecal, resultando numa grande massa obstrutiva. Formam-se normalmente no cólon maior (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Fecalitos Enterólitos Enterólitos são massas mais sólidas e firmes compostas normalmente por complexos de fosfato de magnésio e amónia, e podem ser encontrados em qualquer parte do cólon (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) No exame ecográfico, observa-se uma grande massa hiperecóica que cria uma sombra acústica. Normalmente, a porção proximal à obstrução encontra-se distendida (Reef 2003, 2004) 57 Tabela 7: Condições patológicas de obstruções não estrangulativas que conduzem a abdómen agudo. Obstruções não estrangulativas O cólon desloca-se para entre o baço e a parede abdominal esquerda (Southwood, 2006), ficando aprisionado no espaço Deslocamento nefrosplénico (Bain, 2014; Knottenbelt & Pascoe, 2014a) esquerdo do cólon O baço é visível no lado esquerdo (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) como um bordo horizontal direito, e dorsalmente surge o cólon maior (Reef 2004, 2003), cheio de ingesta e/ou gás (Southwood, 2006), deslocado ou encarcerado (Reef 2003,2004) a obscurecer a visualização do rim esquerdo (Reef, 2003; Jones & Davis, 2004; Reef, 2004; Bain, 2014; Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Deslocamento Pode ocorrer no sentido horário ou anti-horário. A primeira situação é a mais frequente: a flexura pélvica desloca-se para entre o direito do cólon ceco e a parede abdominal, numa direção de cranial para caudal. À ultrassonografia a flexura pélvica não se encontra na sua maior Retroflexão localização normal e no lugar dela pode-se observar intestino delgado (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) A retroflexão do cólon ocorre pelo movimento cranial da flexura pélvica, sem movimentar as flexuras esternal e diafragmática (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) 58 Figura 43: A encarceração nefrosplénica, ou o deslocamento dorsal esquerdo do cólon, caracterizase por apenas se observar baço e cólon à ecografia, uma vez que o cólon, cheio de gás/fluído e deslocado, obscurece a visualização do rim esquerdo. Imagem adaptada de Bain (2014). Distensão A distensão das vísceras ocorre quando gás em excesso no lúmen intestinal estira a parede do intestino. Quando há envolvimento do estômago, esta condição é designada de dilatação; quando o ceco ou cólon estão envolvidos, designa-se de timpanismo. Os exemplos mais comuns de distensão são o timpanismo cecal e a dilatação gástrica (Moore et al., 2007). Figura 44: Ultrassonografia abdominal com visualização de múltiplas ansas de intestino delgado dilatadas, cheias de fluido anecóico e algum ingesta. Não se verifica atividade peristáltica. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 59 Figura 45: À ultrassonografia, o timpanismo colónico apresenta reverberações horizontais na parede do cólon. As causas de timpanismo do cólon incluem o deslocamento de intestino grosso, impactações ou enterólitos. Observa-se cólon distendido por gás (seta grande), diafragma (seta fina) e pulmão normal (cabeça de seta). Imagem adaptada de Bain (2014). Espasmos Normalmente, as contrações de intestino delgado ocorrem de forma coordenada com movimentação de ingesta ao longo do trato gastrointestinal. Em contrapartida, contrações anormais, não coordenadas, também conhecidas como espasmos, podem causar dor abdominal (abdómen agudo). Nesta situação, o aporte sanguíneo do intestino encontra-se normal e não existe nenhuma obstrução a impedir a passagem normal de ingesta. Os espasmos podem tanto ocorrer no intestino delgado como no intestino grosso (Moore et al., 2007). Obstrução estrangulativa Ocorre quando se observa obstrução da passagem de ingesta e obstrução da vasculatura intestinal. Isto verifica-se em situações de encarceramento ou torção intestinal. O segmento de intestino afetado torna-se edematoso e isquémico, e a porção proximal à lesão distende. Exemplos deste tipo de obstrução são o volvo e deslocamento de cólon maior, hérnia inguinal e a encarceração mesentérica de intestino delgado (Moore et al., 2007). 60 Tabela 8: Condições patológicas de obstruções estrangulativas que conduzem a abdómen agudo. Obstruções estrangulativas Ocorre frequentemente a encarceração de jejuno e/ou íleo (Knottenbelt and Pascoe, 2014a) Encarceração forâmen epiploico A incidência aumenta com a idade, uma vez que, em cavalos mais velhos, a abertura do forâmen aumenta (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) À ultrassonografia observam-se ansas edematosas de intestino delgado e sem motilidade (Reef 2003, 2004) no abdómen cranial direito (Jones & Davis, 2004) Envolvem normalmente a protusão de conteúdo abdominal através de uma parte da parede abdominal, diafragma, ou canal inguinal (Kummer & Stick, 2012) O diagnóstico é muitas vezes feito pela visualização direta da hérnia, como acontece em hérnias inguinais e umbilicais, que se caracterizam por um aumento da zona inguinal, ou escroto, e da zona do umbigo, respetivamente, devido à presença de intestino Hérnias encarcerado (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) A ultrassonografia está indicada para determinar a natureza do conteúdo herniado (Kummer & Stick, 2012; Knottenbelt & Pascoe, 2014a) A presença de ansas, estômago, ou fígado no interior da cavidade torácica indica a presença de hérnia diafragmática (Reef, 2003; Jones & Davis, 2004; Reef, 2004) Mais frequente em cavalos jovens com afeção da porção mais distal de jejuno ou íleo (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Em cavalos adultos, ocorrem geralmente no íleo e/ou intestino grosso (Reef 2003, 2004) Apresentam uma característica designada de “olho de boi”, na porção intestinal afetada. No entanto, a aparência de uma Intussusceções intussusceção depende da porção afetada (Reef 2003, 2004) As intussusceções de intestino grosso podem surgir à ecografia espessadas, pregueadas ou saculadas, com áreas ecoicas multifocais e parede hiperecóica (Reef 2003, 2004; Bain, 2014). Se pequenas e de poucas saculações, é provável que se trate do ápex cecal (Reef 2003, 2004) Frequentemente, é possível observar fibrina entre duas ansas intestinais afetadas (Reef 2003, 2004) 61 Obstruções estrangulativas Lipomas pedunculados Podem surgir do mesentério ou da serosa do intestino delgado, e são causas comuns de encarceração e estrangulação de intestino delgado ou cólon menor (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) São mais frequentes em cavalos mais velhos, de idade superior a 15 anos (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Caracterizam-se por rotações de mais de 180º do áxis longo do mesentério, de jejuno ou íleo, que resultam inicialmente de uma Volvo diminuição do aporte sanguíneo e, posteriormente, de obstrução luminal da porção afetada (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Por vezes, estas lesões podem ocorrer secundariamente a outras condições obstrutivas ou de encarceração, como o divertículo de Meckel, adesões, enfartes ou rutura mesentérica (Knottenbelt & Pascoe, 2014a) Ocorre normalmente no sentido horário, quando visualizada por detrás do cavalo (Knottenbelt & Pascoe, 2014a), de ventro-medial para dorso-lateral, na base do cólon ou adjacente ao ligamento ceco-cólico (Southwood, 2006) Torsão de cólon É mais frequentemente diagnosticada em fêmeas pós-parto, com início de dor abdominal aguda e graves, distensão abdominal e distensão intestinal por gás (Bain, 2014) A ecografia fornece informação quanto à espessura da parede intestinal e potencial comprometimento da vasculatura (Bain, 2014) 62 Figura 46: Ultrassonografia de uma intussusceção ceco-cólica. O ceco encontra-se no interior do lúmen do cólon ventral direito (seta grande). É possível observar a mucosa cecal (cabeça de seta) e a sua superfície serosa (seta fina). Imagem adaptada de Bain (2014). Enfarte não estrangulativo Observa-se perda do aporte sanguíneo numa porção de intestino, devido à formação de trombos na artéria mesentérica, sem se verificar deslocamento ou encarceração intestinal. Esta situação está, normalmente, associada a parasitoses por Strongylus spp. O tecido afetado torna-se, posteriormente, isquémico. Pode afetar intestino delgado, ceco ou cólon, e afetar mais que uma destas regiões em simultâneo (Moore et al., 2007). Ulceração A parede intestinal é constituída por quatro camadas: serosa, muscular, submucosa e mucosa (Hendrickson, 2007). Os processos ulcerativos levam à perda da camada mucosa e exposição da submucosa. Isto pode resultar no sangramento para o interior do lúmen intestinal e até na perfuração da parede. As condições mais frequentes associadas a ulceração são a ulceração gástrica e a colite dorsal direita (Moore et al., 2007). A colite dorsal direita está muitas vezes associada à administração excessiva, ou prolongada, de anti-inflamatórios não esteroides. A ecografia revela edema e espessamento da parede do CDD ao longo do seu curso, do lado direito do abdómen (Bain, 2014). 63 Enterite e Colite A enterite (duodenite proximal, jejunite) e colite referem-se a inflamação do intestino delgado e cólon maior, respetivamente. A primeira resulta em espessamento da parede intestinal com secreção de fluido para o interior do lúmen e distensão do intestino por gás e fluido. A parede do cólon inflamado surge edematosa, e grande volume de fluido é secretado para o lúmen do cólon. À ecografia, a parede intestinal surge mais hipoecóica que o normal. A ausência de motilidade, o aumento de espessura e a ecogenicidade da parede intestinal são algumas das alterações detetáveis à ecografia e indicam o grau de envolvimento da parede intestinal (Reef 2003, 2004; Southwood, 2006; Moore et al., 2007). Apesar de a enterite proximal ser a única doença que conduz a enterite, em cavalos adultos, existem inúmeras causas de colite e enterocolite como Clostridium spp e Salmonella spp (Reef 2003, 2004; Southwood, 2006; Moore et al., 2007). Figura 47: Ultrassonografia de um cavalo com colite por salmonelose. Observa-se espessamento e edema do cólon. Imagem adaptada de Bain (2014). Peritonite Tem origem em alterações sépticas, ou causas químicas. Caracteriza-se por inflamação difusa do peritoneu, que reveste a cavidade peritoneal. A peritonite séptica aguda pode resultar de rutura intestinal, durante a realização de abdominocentese por exemplo, ou ser secundária a infeção intestinal (por Clostridium spp.). Pode também estar associada a rutura uterina, durante a manipulação obstétrica, com posterior hemorragia e contaminação peritoneal. A peritonite séptica crónica é geralmente causada por abcessos na cavidade peritoneal, sequela de condições bacterianas como infeções por Rhodococcus equi, 64 Streptococcus equi, tuberculose, ou feridas penetrantes da parede abdominal ou intestino. As peritonites químicas podem ter como origem situações de uroperitoneu (associado a rutura vesical, por exemplo), hemoabdómen, migração parasitária ou ser causada por via iatrogénica (Moore et al., 2007; Knottenbelt & Pascoe, 2014a). À ultrassonografia observa-se aumento do fluido peritoneal. (Knottenbelt & Pascoe, 2014a).O fluido é normalmente hiperecogénico e floculado, com fibrina e adesões entre as superfícies serosas do intestino e parede abdominal (Reef 2003, 2004). A presença de gás livre ou partículas de desbridamento ecogénicas são consistentes com rutura intestinal. O hemoperitoneu caracteriza-se como um fluido peritoneal celular e de ecogenicidade heterogénea, que se distingue normalmente de um fluido séptico através da observação de um turbilhão gerado pelo movimento das vísceras gastrointestinais e respiração. Deve-se examinar rins, fígado e baço em adultos com hemoperitoneu para determinar se estes órgãos são a origem da hemorragia (Reef 2003, 2004). Figura 48: Ultrassonografia de uma égua com peritonite bacteriana, confirmada através da citologia da amostra de fluido recolhida por abdominocentese. O líquido livre (F) no abdómen conduziu ao deslocamento medial do baço, afastando-o da parede abdominal. Imagem e legenda retiradas de Slovis (2014). 65 Figura 49: Ultrassonografia de um poldro com sinais de cólica, diagnosticado com ulceração gástrica perfurativa e peritonite. De notar a presença de adesões de fibrina (seta branca) entre o baço e o estômago. Observa-se ainda a presença de fluido livre (setas pretas) na cavidade abdominal. A ecogenicidade homogénea do baço mantém-se. Imagem adaptada de Slovis (2014). Figura 50: Peritonite fibrinosa numa égua, três dias pós-parto. De notar na aparência loculada da fibrina (seta), característica de peritonite fibrinosa. Imagem adaptada de Slovis (2014). Distensão Gástrica A distensão gástrica aguda é uma das condições mais dolorosas e perigosas no cavalo. A localização anatómica do estômago faz com que mesmo uma distensão grave não gere dilatação abdominal; contudo, muito frequentemente, à palpação retal, pode ser evidente um deslocamento do baço. A distensão gástrica pode dever-se primariamente à acumulação de alimento sólido (como excesso de grãos), ou à ingestão de grandes quantidades de água 66 fria imediatamente após exercício físico intenso, resultando em espasmo pilórico que impede a progressão do conteúdo. Estas podem também ocorrer secundariamente a desordens da motilidade ou esvaziamento gástrico (difícil de diagnosticar definitivamente). Podem ainda dever-se a lesões obstrutivas do intestino delgado ou à acumulação de gás ou ar, em cavalos que apresentem aerofagia (Knottenbelt & Pascoe, 2014a). Em casos de dilatação gástrica por gás ou devido a impactação, o estômago surge aumentado, cobrindo, aproximadamente, mais do que cinco EIC, no lado esquerdo do abdómen (Reef, 2003; Jones & Davis, 2004; Reef, 2004; Bain, 2014). Podemos recorrer à ultrassonografia para avaliar o esvaziamento gástrico em cavalos submetidos a períodos de jejum, cavalos com anorexia, ou com refluxo gástrico e com grandes quantidades de ingesta, que permanecem inalteradas no estômago. Na distensão associada ao refluxo gástrico, o estômago está aumentado e cheio de fluido. O estômago é ligeiramente menos circular que o normal. Uma camada ventral de ingesta surge hiperecóica e é normalmente visualizada ao longo de uma camada dorsal, consistente com gás, também hiperecóica, criando sombras acústicas (Reef 2003, 2004). Figura 51: Ultrassonografia de uma distensão gástrica num cavalo adulto. Observa-se o estômago distendido cheio de fluido (seta curta), e material sólido ventralmente (cabeça de seta) que cria uma sombra acústica. Uma interface hiperecoica de gás e fluido (seta longa) está presente dorsalmente. Imagem adaptada de Bain (2014). 67 Rutura Gástrica Ocorre normalmente na curvatura maior do estômago e está frequentemente associada a casos não tratados, ou negligenciados, de distensão excessiva. É também uma consequência da febre dos fenos. À ecografia observa-se grande quantidade de líquido livre cuja ecogenicidade depende da duração e causa da rutura, para além do tipo de alimentação do animal (Knottenbelt & Pascoe, 2014a). Figura 52: Ultrassonografia de um cavalo com rutura gástrica. Observa-se a presença de liquido abdominal hiperecogénico e pneumoperitoneu (seta). Imagem adaptada de Slovis (2014). Alterações do Baço As alterações esplénicas são raras em cavalos, com a exceção do linfossarcoma. Os linfossarcomas surgem como uma massa de ecogenicidade complexa, a envolver a maioria do parênquima esplénico (Reef, 2003). Alterações do Fígado As doenças hepáticas nos cavalos são relativamente comuns. O seu diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, e normalmente requer a confirmação através de testes bioquímicos e de biópsia hepática, que providenciam informações sobre o tipo e extensão do processo patológico que está a decorrer (Knottenbelt and Pascoe, 2014b). A ecografia pode também ser um meio de diagnóstico útil para determinar a dimensão do fígado e detetar alterações do parênquima hepático, incluindo a presença de abcessos, quistos e massas neoplásticas, bem como de ductos biliares dilatados 68 ou obstruídos (Barton, 2004). Tabela 9: Parâmetros a ter em conta durante a avaliação ecográfica do fígado de equinos. Informação traduzida de Durham (2009). Parâmetros hepáticos Volume e natureza do fluido peritoneal O aumento do fluido peritoneal pode conduzir ao deslocamento do fígado. A ecogenicidade do fluido aumenta com a turbidez e a presença de células O tamanho é variável em cavalos, mas é possível estimar subjetivamente este valor considerando a Dimensão hepática relação da área de contato entre o fígado e a parede abdominal relativamente ao tamanho do animal e à profundidade a que o órgão se encontra nessa região Aparência da cápsula hepática O fígado deve surgir com bordos suaves e bem delimitado pela cápsula, formando um ângulo agudo (ao invés de um formato arredondado) no seu limite ventral O parênquima hepático normal apresenta uma ecogenicidade uniforme e aparência ramificada, devido à presença de vasos sanguíneos. Um aumento difuso da ecogenicidade pode dever-se a fibrose, lipidose, Textura do parênquima hemossiderose ou infiltração celular. Alterações focais na ecogenicidade estão mais associadas a abcessos, hidatiose, colelitíase ou neoplasia. Nestes casos é, normalmente, necessário recorrer a biópsia hepática para determinar o diagnóstico. À ecografia são visíveis as veias hepáticas e as veias portais. Alterações no tamanho ou forma destes Aparência da vasculatura hepática vasos refletem, normalmente, alterações de origem não hepática, como por exemplo, a nível cardiovascular 69 Os principais diagnósticos diferenciais de doença hepatobiliar, em cavalos adultos, são a doença de Theiler, a colangiohepatite e coledocolitíase, a hepatite crónica ativa, a hiperlipemia em póneis e cavalos obesos, abcessos hepáticos, hepatopatias tóxicas e as neoplasias hepáticas ou biliares (Durham, 2009; Cotovio, 2015). Colangiohepatite A colangiohepatite bacteriana primária tem sido descrita em cavalos, no entanto, é mais frequente ocorrer secundariamente a estase biliar, colelitíase, hepatite crónica ativa, neoplasia hepática, pancreatite, enterocolite, parasitismo intestinal, e obstrução intestinal (Barton, 2004). À ultrassonografia o fígado apresenta-se aumentado de tamanho (Reef 2003, 2004) e de ecogenicidade semelhante ao baço (Slovis, 2014). Coledocolitíase A formação de cálculos hepáticos resulta, normalmente, em doença hepatocelular em cavalos. Um colélito trata-se de um cálculo que se forma em qualquer zona da árvore biliar, enquanto um hepatólito é um cálculo que se localiza no interior de ductos intra-hepáticos. Já os coledocólitos são cálculos que se encontram no ducto biliar comum. A maioria destes cálculos são formados por bilirrubinato de cálcio (Knottenbelt & Pascoe, 2014b). Figura 53: Ultrassonografia hepática de um cavalo saudável, sem história de doença hepática. Observa-se o hepatólito (seta) como uma área hiperecóica no interior do parênquima hepático e a sombra acústica por ele criada. Imagem adaptada de Knottenbelt & Pascoe (2014b). 70 À ultrassonografia consequentemente, observa-se aumento da distensão biliar, ecogenicidade da aumento da bílis interior no viscosidade e, dos ductos, espessamento dos ductos biliares, e hepatólitos na arvore biliar. A obstrução por hepatólitos é normalmente visível cranioventralmente, do 6º ao 9º EIC, enquanto a distensão se observa caudalmente. Os hepatólitos são estruturas hiperecóicas com sombras acústicas, localizados na árvore biliar. Estas sombras dependem da composição dos hepatólitos, da sua superfície, e do ângulo em que o feixe de ultrassom incide nestas estruturas (Reef 2003, 2004). Abcessos hepáticos Surgem como áreas focais de margens irregulares. Podem conter uma área central menos ecogénica ou com aparência cavitária (Reef 2003, 2004). Neoplasias Podem ocorrer sob a forma de neoplasias hepáticas primárias, ou sob a forma de metástases. Tratam-se, felizmente, de condições raras no cavalo (Knottenbelt & Pascoe, 2014b). Cavalos com linfossarcoma mostram vários graus de distensão abdominal devido a obstrução hepática e linfática, com elevação da pressão portal (Knottenbelt & Pascoe, 2014b). Isto resulta normalmente num aumento difuso de ecogenicidade do órgão e na perda da arquitetura do parênquima, associado à existência de um infiltrado celular difuso. Observa-se hepatomegalia e as margens ventrais do fígado surgem arredondadas (Reef, 1998d; Knottenbelt & Pascoe, 2014b). As alterações neoplásicas que envolvem o fígado estão mais frequentemente associadas a metástases. Estas surgem como lesões multifocais e difusas (Knottenbelt & Pascoe, 2014b). Existem poucas referências acerca da caracterização ecográfica de metástases hepáticas. No entanto, segundo Reef (1998d), em estudos realizados em alguns cavalos, póneis e mulas, foram encontradas metástases hepáticas cujas lesões, à ultrassonografia, surgiam como lesões circunscritas, de tamanho variável e de menor ecogenicidade que o parênquima hepático normal adjacente. 71 Alterações do Trato Urinário Apesar de as alterações clínicas do trato urinário no cavalo serem menos frequentes que nas restantes espécies, são por vezes identificadas no exame post mortem. Os poldros são mais suscetíveis de apresentar patologias do trato urinário que os cavalos adultos, podendo estas ocorrer devido a uma síndrome de mau ajustamento neonatal ou a situações de septicémia (Knottenbelt & Pascoe, 2014c). Nefrolitíase Caracteriza-se pela formação de cálculos, por vezes múltiplos e em ambos os rins, que se desenvolvem normalmente na pélvis renal (Knottenbelt & Pascoe, 2014c). Muitas vezes, em cavalos, ocorre assintomaticamente sendo depois descobertos durante a necrópsia. Os sinais clínicos tornam-se aparentes com o desenvolvimento de obstruções urinárias ou, se a afeção for bilateral, na evolução para doença renal crónica (Schot II, 2004a). Os cálculos renais tratam-se de estruturas mineralizadas, hiperecóicas, que geram sombras acústicas à ultrassonografia (Reef 2003, 2004; Schot II, 2004a; Wilson, 2007; Divers, 2009). A obstrução do ureter ou da pélvis renal pode resultar em hidronefrose ou hidroureter (Reef 2003, 2004; Schot II, 2004). Figura 54: Ultrassonografia de uma égua com nefrolitíase. Observa-se uma estrutura hiperecóica (cursores) que gera uma sombra acústica (seta) na pélvis renal. Imagem adaptada de Slovis (2014). 72 Hidronefrose Ocorre secundariamente a lesões obstrutivas como a nefrolitíase (Reef 2003, 2004; Schot II, 2004a), ou a infeções bacterianas (Knottenbelt & Pascoe, 2014c). Observa-se dilatação da pélvis renal, e a identificação de estruturas mineralizadas é sugestivo de doença obstrutiva (Wilson, 2007; Divers, 2009). Figura 55: Ultrassonografia de uma fêmea gestante com hidronefrose, secundária a um cálculoureteral. Imagem adaptada de Slovis (2014). Pielonefrite A infeção bacteriana pode resultar numa grave obstrução inflamatória dos ureteres, com consequente hidronefrose e pielonefrite. A maioria dos casos surge por infeção ascendente, no entanto, em cavalos adultos, as infeções descendentes, ou hematógenas, (normalmente consequência de Corynebacterium spp.) são ocasionalmente responsáveis pelo desenvolvimento de cistite (Knottenbelt & Pascoe, 2014c). Segundo Reef (2003; 2004), pode-se observar à ultrassonografia aumento (por dilatação) da pélvis renal com desbridamento hipoecogénico a ecogénico, tendo sido também descrito, em alguns cavalos com pielonefrite, o aumento difuso de ecogenicidade do córtex renal com perda da margem cortical. 73 Insuficiência Renal Aguda Trata-se de uma síndrome clínica associada à redução abrupta da capacidade de filtração glomerular e, consequentemente diminuição da excreção dos resíduos de nitrogénio, resultando em azotemia, distúrbios hidroelectrolíticos e ácido-base (Bayly, 2004; Knottenbelt & Pascoe, 2014c). Frequentemente, a doença não é reconhecida até que o output urinário se encontre significativamente reduzido, ou que a função renal esteja de tal forma comprometida que se comece a manifestar sintomatologia sistémica (Bayly, 2004). Os rins podem estar normais ou aumentados de tamanho e ligeiramente ecogénicos; quando evidentes, as lesões parenquimatosas podem incluir edema peri-renal, aumento do córtex renal e perda da distinção da junção corticomedular (Reef, 2003, 2004; Schot II, 2004; Wilson, 2007). Figura 56: Ultrassonografia do rim direito (setas) de um cavalo com insuficiência renal aguda. De notar no tamanho aumentado do rim, com diminuição da ecogenicidade do parênquima. Imagem adaptada de Reef (2004). Insuficiência Renal Crónica Os rins dos equídeos tem grande capacidade de reserva funcional, sendo necessário mais de dois terços de nefrónios não funcionais para a evidência de sinais clínicos. Apesar de pouco frequente, é a doença renal que mais ocorre em cavalos adultos, e pode ser resultado de doença glomerular e/ou tubular (Knottenbelt & Pascoe, 2014c). No exame ecográfico o rim apresenta-se diminuído, com contorno irregular e aumento da ecogenicidade pela presença de fibrose (Reef, 2003, 2004; Schot IIb, 2004; Wilson, 2007). 74 Figura 57: Ultrassonografia do rim esquerdo de um cavalo com insuficiência renal crónica, demonstrando o tamanho diminuído do rim e o aumento de ecogenicidade do parênquima. Imagem adaptada de Reef (2004). Cálculos Vesicais A dimensão da bexiga e a espessura da sua parede variam com o volume de urina presente. Fisiologicamente, são detetados alguns cristais na urina de cavalos adultos, conferindo-lhe certa ecogenicidade, quando avaliada por ultrassonografia (Divers, 2009). Os cálculos de carbonato de cálcio são os mais comuns. Apresentam uma superfície irregular, com a mucosa vesical inserida nos interstícios do cálculo. À ecografia surgem como estruturas grandes, semicirculares e hiperecóicas que criam sombras acústicas (Reef 2003, 2004). 75 Capítulo IV Ultrassonografia dos Tendões e Ligamentos A ultrassonografia, como meio auxiliar de diagnóstico, trata-se de uma modalidade usada extensivamente para avaliar os tecidos moles, nomeadamente tendões e ligamentos, nas extremidades dos equinos e identificar, confirmar e monitorizar lesões que possam ocorrer a esse nível (Rantanen et al., 2011). Tabela 10: Indicações para a realização de ultrassonografia no exame de membros de equinos. Tabela traduzida de Rantanen et al. (2011). Indicações para a realização de ultrassonografia no exame de membros em equinos Diagnóstico de lesões de tecidos moles, incluindo alterações a nível muscular, vascular, tendinoso, ligamentoso, bainhas, cápsula articular, ou bursa Acesso à acumulação de fluido Avaliação de superfícies ósseas Monitorização de processos de regeneração Monitorização do efeito do treino nas estruturas de tecidos moles, especialmente tendões e ligamentos Aquando da realização de uma ecografia dos membros em equinos, é importante ter em conta o momento de aparecimento dos sinais clínicos, já que a realização do exame ecográfico imediatamente após lesão pode não ser fiável. Nestas circunstâncias, a presença de edema peritendinoso irá obscurecer as alterações das fibras devido ao aumento da impedância acústica. Assim, um exame ecográfico pouco tempo depois de ter ocorrido dano pode não revelar a verdadeira extensão da lesão das fibras. Idealmente, a avaliação por ultrassonografia deve ser feita 48 a 72 horas após lesão. No caso de se realizar ultrassonografia antes deste tempo, deve-se repetir o exame mais tarde, restringir o animal ao exercício físico e instituir terapia sintomática. Após as 72 horas, é indicado a repetição do exame de claudicação e ultrassonografia (Rantanen et al., 2011). É também importante que sejam realizados exames ecográficos seriados de maneira a monitorizar a evolução da lesão e o processo de regeneração, e determinar o nível de exercício a que o cavalo pode ser sujeito ao longo do tempo. Em adição, o médico veterinário deve sempre considerar os princípios fisiológicos da regeneração tendinosa e ligamentosa, bem como o tempo de regeneração (tendo em conta a gravidade da lesão) 77 antes de aconselhar os proprietários a reintroduzir o animal aos treinos (Rantanen et al., 2011). Para a correta realização de ultrassonografia, é importante que o animal seja adequadamente preparado e que o clínico tenha conhecimento acerca da localização, forma, tamanho e aparência das estruturas identificadas. Durante o exame de claudicação é possível que, ao detetar determinadas anomalias, o clínico suspeite de uma estrutura específica. No entanto, é imperativo a realização de um exame ecográfico de todas as estruturas de tecidos moles e superfícies ósseas nos membros de equinos (Rantanen et al., 2011). Estrutura dos tendões e ligamentos Nos membros, os tendões são fortes extensões que conectam os músculos aos ossos. Tratam-se de estruturas de reduzida elasticidade, uma vez que o seu papel é assegurar que o esqueleto responda às contrações musculares, permitindo a locomoção do animal. Os tendões são mantidos na sua posição anatómica normal através de ligamentos anulares, que os mantêm corretamente alinhados. Para prevenir a fricção durante o movimento, os tendões estão envolvidos por bainhas tendinosas e fluido sinovial (Pilliner et al., 2002). Os tendões e ligamentos são estruturas de tecido conjuntivo, organizadas em subunidades hierárquicas. Os tendões são maioritariamente constituídos por água (aproximadamente 70%). Os restantes 30% consistem em fibras de colagénio tipo I, e outras proteínas como proteoglicanos e glicoproteínas, vitais para a organização e função dos tendões. A presença de água é fundamental para a elasticidade dos tecidos, já que a desidratação resulta num aumento de rigidez dos mesmos. As fibras de colagénio encontram-se agrupadas em diversas subunidades de grande dimensão (designadas de fascículos), divididas por tecido conjuntivo (o endotendão). Estes grupos de fascículos, são visíveis a olho nu, aquando da secção de um tendão. O endotendão transporta vasos sanguíneos, nervos, e diferentes tipos celulares. É contínuo com a camada de tecido conjuntivo que rodeia o exterior do tendão, designando-se de epitendão. Exteriormente a esta camada, e nas regiões em que os tendões não se encontram envolvidos por bainhas tendinosas, encontra-se uma camada mais espessa, o paratendão, capaz de grande elasticidade e, por isso, raramente se rompe quando exercidas grandes forças de tensão sobre o tendão. Pensa-se que esta camada tenha como função diminuir as forças de fricção entre o tendão e os tecidos moles adjacentes e de suplementar o tendão através da neovascularização e de elementos celulares importantes na reparação (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). 78 Figura 58: Arranjo hierárquico das fibras de colagénio num tendão. Imagem adaptada de Birch et al. (2014). Nas articulações, os tendões mudam de direção e encontram-se envolvidos por bainhas tendinosas que providenciam um ambiente sinovial, essencial para o contacto suave entre tendão e proeminência óssea. As bainhas protegem os tendões de lesões de cisalhamento, mas, devido à ausência de paratendão nestas regiões articulares, parece haver uma limitação na cicatrização tendinosa. A suplementação sanguínea é importante para o fornecimento de nutrientes. Os vasos sanguíneos intratendinosos provêm da origem muscular e inserção óssea dos tendões; são mais abundantes nas periferias do tendão, suportando a hipótese de que a região central do tendão seja relativamente hipóxica – umas das razões pela manifestação de “core lesions” durante uma lesão tendinosa. Contudo, poucas são as evidências que suportam esta teoria (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). Características Funcionais do Tendão Os tendões funcionam como molas de armazenamento de energia, transmitindo forças para o movimento do esqueleto, e suportam as regiões distais dos membros, como é o caso dos tendões flexores digitais (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). 79 Segundo diversos autores – nomeadamente, Birch et al. (2014); Avella & Smith (2012); e Dowling B.A. & Dart A.J. (2005) –, os tendões e os ligamentos apresentam propriedades viscoelásticas e, como tal, as suas propriedades biomecânicas estão dependentes da elasticidade, viscosidade, plasticidade, fricção interna e história de tensão, e podem ser representadas através de uma curva de tensão-deformação (stress-strain curve). Gráfico 3: Curva de tensão-deformação para o tendão: 1 – “toe region”, 2 – “linear deformation”, 3 – “yield point”, 4 – “tendon rupture”. Imagem adaptada de Birch et al. (2014). Inicialmente, o tendão estira sob condições de pouca carga, verificando-se a redução do padrão ondulado das fibras de colagénio (1). Posteriormente, a curva torna-se quase linear (2) e é determinada pelo aumento contínuo de tensão observando-se uma diminuição contínua da rigidez do tendão, conduzindo, consequentemente, ao seu estiramento irreversível (3) e à rutura das ligações cruzadas das fibras de colagénio. Ao passar este ponto crítico, a curva volta rapidamente ao valor zero, à medida que as estruturas de colagénio se rompem (4). 80 Gráfico 4: Histerese e Condicionamento. Imagem adaptada de Birch et al. (2014). Existe, no entanto, uma diferença na relação tensão-deformação que pode ser explicada através do processo de histerese. A histerese caracteriza-se pela propriedade viscoelástica do tendão, em que a deformação do mesmo possui comportamento diferente durante a presença e ausência de um estímulo (tensão); i.e., trata-se da tendência que o tendão tem em conservar as suas propriedades na ausência do estímulo que as gerou, ou ainda na capacidade de preservar uma deformação gerada por um estímulo (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). As curvas de tensão e “relaxamento” são diferentes, resultando numa acumulação de energia (área entre ambas as curvas) pelo tendão, com posterior perda à medida que ocorre estiramento e a curva tensão-deformação retoma ao valor zero. Grande parte desta energia é armazenada e libertada na forma de calor, e é responsável pelo aumento de temperatura no centro do tendão, associada aos repetidos estímulos de tensão que são exercidos (por exemplo, durante o exercício). A capacidade do tendão em armazenar energia quando deformado é designada de resiliência; contudo, quando ultrapassada, é possível que ocorra lesão do tendão, por rotura das suas fibras. Durante o exercício intenso, o tendão pode atingir temperaturas de 44º-46º Celsius, sendo potencialmente perigosas para a matriz e para os tenócitos. Apesar disto, o rácio de tensão apresenta efeitos mínimos nas propriedades mecânicas e biológicas do tendão. Um aumento rápido deste rácio resulta no endurecimento do tendão (deslocando a curva para a esquerda), enquanto, quando exposto a uma tensão contínua, o tendão torna-se menos rígido (processo conhecido como condicionamento – a curva desloca-se para a direita) (Dowling & Dart, 2005; Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). Este processo parece ocorrer in vivo no ser humano, e já foi 81 demonstrada in vitro, em cavalos; não está, no entanto, esclarecido se o mesmo acontece in vivo, na espécie equina (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). Localização Anatómica As estruturas anatómicas presentes no aspeto palmar do metacarpo, respetivamente de palmar (superficial) para dorsal (profundo), são o tendão flexor digital superficial (TFDS) e o tendão flexor digital profundo (TFDP), ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (LA) e o ligamento do terceiro músculo interósseo, mais conhecido como ligamento suspensor (LS) (Cauvin & Smith, 2014). Figura 59: Diagrama anatómico do membro anterior distal do cavalo. Imagens adaptadas de Edwards & Poss (2013) e de Johnson M. (2014). O TFDS origina-se a partir do músculo flexor digital superficial, na área distal do antebraço, entre 2 a 6 cm proximalmente ao osso acessório do carpo. O ligamento acessório do TFDS deriva da cabeça radial atrofiada do TFDS, e corre obliquamente desde o aspeto caudomedial do rádio, ao nível do cotovelo, e dorsomedial ao tendão, unindo-se por fim a este, proximalmente ao osso acessório do carpo (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). O TFDS estende-se ao longo do aspeto mais palmar do metacarpo dividindo-se, distalmente 82 ao boleto, em dois ramos (medial e lateral) que se vão inserir na porção distal de P1 e porção proximal de P2 (Reef, 1998b). Nos membros posteriores, este tendão é pouco desenvolvido e ligeiramente mais achatado proximalmente. Toma uma posição plantarolateral em relação ao TFDP, à medida que corre pelo aspeto plantar da tuberosidade calcânea da fíbula e está sobreposto ao ligamento plantar longo (Cauvin & Smith, 2014). Figura 60: Diagrama anatómico do tendão flexor digital superficial. Imagem adaptada de Alancelet (2009). O TFDP tem também origem na região distal do antebraço, através da união de três cabeças musculares (umeral, ulnar e radial) do músculo flexor digital profundo, e a sua junção músculo-tendinosa ocorre ao mesmo nível que a do TFDS. Inicialmente o tendão é dorsolateral ao TFDS, na região do carpo, onde se estende pela superfície medial do osso acessório do carpo, e estende-se distalmente até ao casco moldando-se ao contorno do osso navicular e inserindo-se em P3. Localiza-se dorsalmente ao TFDS no terço médio e distal do metacarpo, e encontra-se envolvido por uma bainha digital ao longo do comprimento da quartela (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). Nos membros posteriores, o TFDP é formado pela fusão de dois tendões: o tendão flexor digital lateral (TFDL), que corre medialmente no curvilhão; e o tendão flexor digital medial (TFDM), pequeno e cilíndrico, que corre ao longo do aspeto medial do tarso, através do ligamento colateral medial, antes de se unir no bordo medial do TFDL no quarto proximal do metatarso, para formar o TFDP (Cauvin & Smith, 2014). 83 Figura 61: Diagrama anatómico do tendão flexor digital profundo. Imagem adaptada de Alancelet (2009). O LA tem origem no aspeto palmar do carpo como uma continuação distal do ligamento palmar do carpo, e une-se ao TFDP a meio do metacarpo, estendendo-se até à região distal da canela. O LA varia entre indivíduos e pode estar ausente nos membros posteriores, ou apresentar-se apenas como uma estrutura vestigial, desde uma membrana aponeurótica até um ligamento desenvolvido, semelhante ao que se observa nos membros anteriores. Quando presente, surge a partir do ligamento plantar curto do tarso (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). O LS origina-se no córtex palmar e plantar proximal do terceiro metacarpo e metatarso, respetivamente. Junta-se à cápsula articular da articulação do carpo/tarso e ligamento palmar/plantar do carpo/tarso; é formado a partir da atrofia do terceiro músculo interósseo. É dividido em três porções: a origem proximal, o corpo e os dois ramos (medial e lateral). A origem proximal e a região do corpo do LS localizam-se no aspeto palmar do membro; no terço distal da canela, o ligamento bifurca-se em dois ramos que se posicionam nos aspetos lateral e medial, e se vão inserir na superfície abaxial dos ossos sesamoides proximais (SES) (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). Os ramos do LS continuam distal e dorsalmente como ramos extensores e unem-se distalmente na quartela, ao tendão extensor digital comum. O LS nos membros posteriores apresenta uma cabeça lateral larga que preenche o espaço côncavo do aspeto medial do quarto metatarso (Cauvin & Smith, 2014). 84 Figura 62: Diagrama anatómico do ligamento suspensor e seus ramos extensores. Imagem adaptada de Alancelet (2009). O ligamento sesamóideo distal médio (LSDM), ou oblíquo, é composto por dois ramos de origem ipsilateral na base medial e lateral dos SES e que se estendem diagonalmente através do aspeto proximal de P1 para se unirem perto da junção do terço proximal e médio da quartela. Aqui os ramos deste ligamento formam uma larga banda ligamentosa junto à inserção do ligamento no aspeto palmar/plantar de P1, começando entre a inserção proximal dos dois ligamentos axiais palmar/plantar da articulação interfalângica proximal, perto da junção do terço médio e terço distal de P1 (Reef, 1998b). Figura 63: Diagrama anatómico do ligamento sesamóideo distal médio (oblíquo). Imagem adaptada de Alancelet (2009). 85 O ligamento sesamóideo distal reto (LSDR) corre ao longo dos aspetos palmar e plantar do LSDM. Tem origem na base dos SES, onde possui uma forma trapezoide e se estende distalmente para se inserir no scutum medium (estrutura fibrocartilagínea presente ao longo do bordo proximal de P2) (Reef, 1998b). Figura 64: Diagrama anatómico do ligamento sesamóideo distal reto. Imagem adaptada de Alancelet (2009). Os ligamentos anulares contêm os tendões flexores digitais superficial e profundo, assim como a bainha digital, à medida que passam ao longo do aspeto palmar/plantar da articulação metacarpo/metatarsofalângica. Os ligamentos conectam as superfícies abaxiais dos SES e estendem-se transversalmente através do aspeto palmar e plantar do boleto. Trata-se de uma estrutura fina em cavalos saudáveis, difícil de distinguir da bainha digital, com a qual está intimamente ligada. O ligamento digital anular proximal (LDAP) incorpora o TFDP e bainha digital ao longo do aspeto palmar/plantar de P1. A porção mais proximal deste ligamento encontra-se na região mais distal de P1, no seu aspeto palmar; e a sua porção distal encontra-se ao nível da inserção do LSDM. Existem dois ramos que surgem do LDAP, um medial e outro lateral, com origem a meio dos bordos de P1 e inserem-se distalmente na margem palmar de P2 e sua fibrocartilagem (Reef, 1998b). 86 Figura 65: Diagrama anatómico do ligamento anular palmar, digital proximal e digital distal, que integram o tendão flexor digital supercicial (TFDS) e o tendão flexor digital profundo (TFDP). Imagem adaptada de Elite-Equicare (2014). Técnica e Imagem ecográfica A ultrassonografia é particularmente útil na avaliação de tecidos moles como complemento da informação obtida à radiografia. As regiões do boleto e quartela são particularmente complexas em termos de arranjo dos tecidos. Muitas das alterações primárias a este nível podem ser acompanhadas de lesões ósseas, e vice-versa. Como tal, a combinação de radiografia e ecografia é frequentemente indicada, sendo que o mais adequado é realizar inicialmente a radiografia seguida da ecografia (Carstens & Smith, 2014). O exame ecográfico é normalmente realizado com o animal em estação (quadrado), já que os tendões e ligamentos variam em tamanho, forma e ecogenicidade, quando o membro não está completamente apoiado no solo (Reef, 1998b; Carstens & Smith, 2014). Pode ser necessário colocar o membro com a articulação interfalângica distal em hiperextensão, para permitir a avaliação da quartela (Avella & Smith, 2012; Carstens & Smith, 2014). A região palmar do metacarpo pode ser dividida em três zonas equidistantes, desde a articulação do carpo até à extensão proximal do ligamento anular palmar do boleto, designadas de 1 a 3, sendo 1 a zona mais proximal e 3 a mais distal. A região plantar do metatarso é dividida em quatro zonas (1-4), sendo que a zona 1 se estende desde a tuberosidade calcânea até à articulação tarsometatársica. Cada uma destas zonas é também dividida em duas ou três partes (como acontece na região do boleto) e nomeadas por “a”, “b” e “c”. A área palmar do boleto (ao nível do ligamento anular palmar) é 87 normalmente referida como zona 3c nos membros anteriores, e zona 4c nos posteriores. Também a região palmar e plantar da quartela pode ser dividida em três zonas: proximal (P1a-b), média (P1c e P2a) e distal (P2b) (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Avella & Smith, 2012; Carstens & Smith, 2014; Cauvin & Smith, 2014). Figura 66: Método de zonas para a realização de ultrassonografia de tendões e ligamentos da região do metacarpo. Imagem adaptada de Pease & Coelho (2012)e de Cauvin & Smith (2014). Tipicamente o exame é realizado de proximal para distal, primeiro em plano transverso e seguidamente em plano sagital. Começa-se por examinar os tendões flexores localizados superficialmente em ambos os planos; depois, as estruturas mais profundas, e finalmente os ramos do LS (Avella & Smith, 2012; Cauvin & Smith, 2014). Um tendão saudável surge com uma aparência estriada, à ecografia, característica dos grupos de fascículos. Os tendões são altamente vascularizados, mas o endotendão e os vasos a ele associados, são de um calibre abaixo da resolução da ecografia (0.1-0.5 cm). São estas particularidades que conferem a aparência heterogénea do parênquima do tendão e permitem a distinção entre tendões (Cauvin & Smith, 2014). O exame inicial deve ser realizado a uma frequência de 7.5 MHz e 4-6 cm de profundidade da janela através de sondas lineares. Frequências altas (10 MHz) são ideais para observar tendões e ligamentos mais superficiais. A sonda deve estar perpendicular ao eixo longo dos tendões e ligamentos, para observar estas estruturas em plano transverso; e paralela ao mesmo para observar em plano longitudinal (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011). Cada 88 tendão e ligamento deve ser avaliado individualmente, desde a sua origem até à sua região de inserção (Reef, 1998b). É recomendado o uso de uma borracha standoff para melhorar o contato entre a sonda e a pele, e permitir a visualização em profundidade dos tendões numa única imagem (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014). Os tendões e ligamentos da região da quartela são mais difíceis de examinar uma vez que, por um lado, são relativamente mais pequenos e localizam-se em diferentes planos ecográficos e, por outro lado, a área de contato para a correta examinação das estruturas é também relativamente pequena. A ecografia é geralmente facilitada através da extensão do boleto, maximizando assim a superfície de contato para colocação da sonda (Reef, 1998b). Durante o exame, as imagens ecográficas, em plano transverso, devem estar organizadas da seguinte forma: o lado medial do membro deve ser apresentado no lado esquerdo do ecrã; e o lado lateral do membro no lado direito do ecrã. Já o plano sagital deve apresentarse da seguinte maneira: a porção distal no lado esquerdo do ecrã; e a porção proximal no lado direito do ecrã (Reef, 1998b). O membro contra lateral deve também ser avaliado, quer com o intuito de servir de modelo comparativo, quer também porque muitas vezes as lesões encontradas são bilaterais (Carstens & Smith, 2014). Tendão Flexor Digital Superficial Proximalmente no metacarpo, em plano transverso, o TFDS apresenta-se oval e de ecogenicidade homogénea, palmaro-medial ao TFDP (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014). Apresenta na sua composição fibras longas e paralelas que surgem como longos ecos brancos na janela sagital (longitudinal) (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). Vai-se tornando mais achatado à medida que corre distalmente, apresentando uma forma assimétrica crescente de meia-lua (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014). Gradualmente torna-se mais fino, formando um anel (designado de manica flexoria) em volta do TFDP, proximalmente na quartela, e assenta imediatamente dorsal à bainha digital, que está intimamente ligada ao ligamento anular do boleto. Bifurca-se, posteriormente, em dois ramos, um medial e outro lateral, que se vão inserir na porção distal de P1 e porção proximal de P2. Estes ramos inserem-se entre os ligamentos palmares, axial e abaxial, da articulação interfalângica média, no scutum medium de P2 (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). 89 Na quartela, numa janela sagital, o tendão surge com uma forma triangular ao longo da linha média, à medida que a sua espessura diminui distalmente (Carstens & Smith, 2014). Para boa visualização dos ramos do tendão, a sonda deve ser deslocada para ambos os lados da quartela e centrada sobre os mesmos (Reef, 1998b). Estes também apresentam uma ecogenicidade homogénea com padrão de fibras paralelas, ao longo do seu comprimento (Carstens & Smith, 2014). Tendão Flexor Digital Profundo O TFDP encontra-se paralelo e dorsal ao TFDS e possui um formato oval no metacarpo, tornando-se bilobado na região da quartela e achatado no casco (sob o aspeto palmar do osso navicular antes de se inserir na superfície palmaro-distal de P3). Possui uma aparência ecogénica homogénea e normalmente isoecogénico ou ligeiramente mais ecogénico que o TFDS (Cauvin & Smith, 2014; Reef, 1998b). Distalmente no metacarpo e na região da quartela, o tendão é envolvido pela bainha digital, que normalmente contém alguma quantidade de líquido (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014). Na zona da quartela o TFDP apresenta uma forma oval a bilobada. As fibras estendem-se obliquamente de uma posição profunda para superficial na porção distal da quartela. O tendão encontra-se separado do LSDR por um espaço anecóico. Ao longo do aspeto dorsal do tendão, a meio da quartela, encontra-se a prega sinovial da bainha digital, envolvida numa pequena quantidade de fluido sinovial anecóico no interior da bainha. Esta estrutura é facilmente visualizada. Na região distal da quartela, P2 proximal, o aspeto palmar do TFDP está aderido à membrana sinovial da bainha digital (Carstens & Smith, 2014). Ligamento Acessório O LA, retangular na sua origem desde o retináculo do carpo (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014), começa a apresentar uma forma crescente na região proximal do metacarpo, curvando maioritariamente envolta do aspeto lateral do TFDP. O ligamento mantém esta forma até à sua inserção no TFDP a meio do metacarpo. A bainha do tendão flexor do carpo forma um espaço hipoecogénico entre o TFDP e o LA onde se juntam, e normalmente contém fluído anecóico. Nos membros posteriores pode estar ausente ou ser relativamente pequeno. Apresenta uma ecogenicidade homogénea e superior às restantes estruturas tendinosas e ligamentosas (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). 90 Ligamento Suspensor O LS, retangular na sua origem, proximal no metacarpo (Reef, 1998b; Rantanen et al., 2011; Cauvin & Smith, 2014), mantém esta forma até se bifurcar em dois ramos, um lateral e outro medial, a meio do metacarpo. Cada um insere-se na superfície abaxial do osso sesamoide proximal ipsilateral. O ramo medial é ligeiramente mais largo que o lateral, mas ambos apresentam inicialmente uma forma oval e começam a apresentar o formato de uma lágrima, mais distalmente. O padrão estriado é regular ao longo de todo o comprimento do ligamento; mas não é pouco comum cavalos adultos e velhos apresentarem uma estriação menos marcada. Apresenta uma aparência mais heterogénea que as outras estruturas tendinosas e ligamentosas devido à sua composição por músculo, tecido conjuntivo e gordura. Os ramos do LS são semelhantes, em ecogenicidade, aos tendões flexores e apresentam padrões ecográficos também semelhantes (Reef, 1998b; Cauvin & Smith, 2014). Nos membros posteriores, a origem deste ligamento apresenta uma forma trapezoide tornando-se depois retangular até se bifurcar. Cada ramo do ligamento apresenta um formato oval imediatamente distal à bifurcação, tornando-se ambos mais trapezoides à medida que se inserem nos SES (Cauvin & Smith, 2014). O ligamento possui ainda dois ramos extensores, mais curtos, de cada lado do tendão extensor digital comum, no aspeto dorsal de P1 (Cauvin & Smith, 2014). Ligamentos Sesamóideos Distais Os LSDs representam uma continuação dos ramos medial e lateral do LS até ao aspeto distal da primeira e segunda falange (Carstens & Smith, 2014). Ligamento sesamóideo distal médio Imediatamente distal à base dos SES está a origem do LSDM, melhor identificado em plano transverso. Este ligamento estende-se diagonalmente na quartela, no aspeto medial e lateral, como dois ramos redondos, tornando-se depois ligeiramente ovais, e emergindo dorsalmente ao TFDP, a meio da quartela, como uma banda retangular. Esta banda inserese no aspeto palmar/plantar da porção distal de P1. Para seguir os ramos desde a sua origem até à junção com o ramo oposto, a sonda deve ser angulada aproximadamente 45 graus. Estes surgem menos ecogénicos à ecografia devido à sua orientação oblíqua e, por 91 esta razão, à dificuldade em alinhar corretamente a sonda para eliminar artefactos (Reef, 1998b; Carstens & Smith, 2014). Ligamento sesamóideo distal reto Este ligamento é uma estrutura trapezoide que surge na base dos ossos sesamoides como um bordo palmar largo e côncavo. Torna-se mais oval e encontra-se palmar ou plantar ao ligamento oblíquo, a meio da quartela e dorsal ao TFDP. O ligamento insere-se proximalmente em P2. Trata-se de um ligamento muito ecogénico, com fibras alinhadas paralelamente. Geralmente parece apresentar um centro hipoecogénico à medida que se insere na porção proximal de P2. Esta aparência desaparece quando o feixe de ultrassom é angulado perpendicularmente às fibras ligamentosas na sua zona de inserção em P2a (Carstens & Smith, 2014). Pode ser necessário manter o membro fletido (carpo ou curvilhão) e boleto em extensão para facilitar o exame ecográfico (Reef, 1998b). Ligamentos Anulares Tanto o LDAP, como o ligamento digital anular distal (LDAD), se localizam na quartela. São dificilmente visualizados em cavalos normais, podendo ter até 1 mm de espessura normalmente. Podem, no entanto, ser identificados quando aumentados, na sua zona de inserção com o apesto palmar/plantar de P1 (Carstens & Smith, 2014). 92 Figura 67: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do metacarpo. De notar que, ao corte transverso, o tendão flexor digital superficial (TFDS) e o tendão flexor digital profundo (TFDP) possuem formatos semelhantes e encontram-se ligeiramente deslocados devido à sua localização palmaro-medial e palmaro-lateral, respetivamente. Observa-se a origem do ligamento suspensor (LS), adjacente ao terceiro metacarpiano; e entre este e o tendão flexor digital profundo encontra-se o ligamento acessório (LA) (mais ecogénico) que, à medida que se aproxima da superfície dorsal do tendão flexor digital profundo, vai adquirindo uma forma de meia-lua. Na zona 1B é possível visualizar todo o corpo do ligamento suspensor. Em plano sagital, adjacente à pele observa-se tendão flexor digital superficial e, abaixo deste, por ordem, encontra-se tendão flexor digital profundo, ligamento acessório e ligamento suspensor. Nesta zona é possível observar a origem do ligamento suspensor que se origina ao longo da superfície proximal do terceiro metacarpiano. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 93 Figura 68: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do metacarpo. No corte transverso, à medida que se avaliam as regiões mais distais do membro, o tendão flexor digital superficial (TFDS) apresenta-se cada vez mais achatado latero-medialmente, formando uma lágrima, ou meia-lua; e o ligamento acessório integra-se na superfície dorsal do tendão flexor digital profundo (TFDP). É possível observar o início da bifurcação do ligamento suspensor (LS), (1 – veia palmar medial, 2 – veia palmar lateral). Em plano sagital, observa-se o ligamento acessório (LA) a integrar-se distalmente com o tendão flexor digital profundo; e o ligamento suspensor surge isolado e bem diferenciado. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 94 Figura 69: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores normais da região do metacarpo e ossos sesamoides proximais. Em corte transversal, de notar que, na zona 3A, já não se visualiza o ligamento acessório e o ligamento suspensor surge, nesta zona, como dois ramos, mais ou menos diferenciados (1 – veia palmar medial, 2 – veia palmar lateral). Na zona 3B observa-se o aplanamento progressivo do tendão flexor digital superficial (TFDS) e é possível visualizar este tendão a formar um anel (bainha digital) em volta do tendão flexor digital profundo (TFDP), aparecendo uma estrutura fibrosa no seu interior (manica flexoria). Pode, eventualmente, observar-se o ligamento anular (LAn) a surgir palmar ao tendão flexor digital superficial. Em plano sagital, observa-se a última porção de ligamento acessório (LA) a unir-se ao tendão flexor digital profundo. O ligamento suspensor (LS) termina de se dividir nos ramos medial e lateral. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 95 Figura 70: Ultrassonografia dos tendões e ligamentos flexores da região do boleto do membro anterior. Nesta zona surgem os ossos sesamoides proximais (SES) e, entre estes, o ligamento intersesamóideo (LI), e o terceiro metacarpiano (MCIII). Os tendões flexores digitais, superficial (TFDS) e profundo (TFDP), encontram-se palmar à superfície dos sesamoides. O ligamento anular (LAn), apesar de não se apresentar bem diferenciado, surge entre o tecido subcutâneo e a bainha flexora. Na ecografia longitudinal, observa-se a inserção de um dos ramos do ligamento suspensor na superfície abaxial dos ossos sesamoides proximais. Para o plano transverso, o lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral; no plano sagital, o lado esquerdo da imagem é distal e o lado direito é proximal. Imagens gentilmente cedidas pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 96 Figura 71: Ultrassonografia transversa dos tendões e ligamentos na região imediatamente distal ao boleto, no membro anterior. O tendão flexor digital superficial (TFDS) surge como uma banda que se expande latero-medialmente; e o tendão flexor digital profundo (TFDP) aparece envolvido pela bainha digital flexora. Dorsal a este último, observa-se o ligamento sesamóideo distal reto (LSDR), enquanto os ligamentos sesamóideos distais médios (ou oblíquos - LSDM) aparecem sob a superfície palmar da primeira falange (P1). O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Figura 72: Ultrassonografia transversa dos tendões e ligamentos na região palmar da quartela. Nesta zona observa-se o tendão flexor digital superficial (TFDS) como dois ramos (medial e lateral) que se vão inserir no lado ipsilateral da segunda falange; o tendão flexor digital profundo (TFDP) e o ligamento sesamóideo distal reto (LSDR). Já não se observam os ligamentos sesamóideos médios. O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 97 Figura 73: Ultrassonografia transversa da zona da articulação interfalângica proximal. Observa-se o tendão flexor digital profundo (TFDP) com uma forma aplanada; dorsalmente e proximal à segunda falange (P2) aparece uma estrutura fibrocartilagínea designada por scutum que facilita o deslizamento do tendão. O lado esquerdo da imagem é medial e o lado direito é lateral. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Figura 74: Ultrassonografia longitudinal, imediatamente distal ao boleto do membro anterior. O tendão flexor digital superficial (TFDS) quase não se observa, uma vez que se divide em dois ramos; abaixo deste está o tendão flexor digital profundo (TFDP), envolvido pela bainha digital (BD), e a continuação do ligamento sesamóideo distal reto (LSDR), e a inserção de um dos ligamentos sesamóideos distais médios (LSDM) na superfície palmar da primeira falange. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. 98 Figura 75: Ultrassonografia longitudinal do bordo proximal dos talões. Observa-se a inserção do ligamento sesamóideo distal reto (LSDR) na superfície palmar da segunda falange (P2) e o tendão flexor digital profundo (TFDP) que se continua distalmente. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da Clínica Veterinária de Sto. Estêvão. Principais alterações observadas à ecografia Os tendões e ligamentos podem ser lesionados devido a excesso de tensão ou por trauma percutâneo, sendo o primeiro a causa mais comum de lesões ortopédicas no cavalo de desporto. O risco aumentado de determinadas lesões tem sido associado com o nível de esforço das diferentes disciplinas equestres e das competições, existindo diversos estudos epidemiológicos que o demonstram. Por exemplo, em cavalos de concurso completo (nível intermédio e acima) existe um maior risco de lesões do TFDS; em provas de salto observam-se mais frequentemente lesões do TFDS e TFDP; e em cavalos de ensino há um maior risco de lesões do ligamento suspensor (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). O diagnóstico é baseado na informação obtida durante a anamnese (frequentemente associada a exercício intenso prévio) e pelo desenvolvimento de sinais inflamatórios (dor, calor, edema e claudicação) na estrutura afetada. A claudicação pode ser grave numa fase inicial da lesão, mas nem sempre é evidente, pois tende a estar relacionada com o grau de inflamação e não com o grau de dano. Deve-se proceder à palpação dos tendões com o membro apoiado no solo e durante a flexão do carpo, avaliando a reação do animal durante a palpação. Tendo em conta que o prognóstico depende maioritariamente da gravidade da lesão inicial, é prudente examinar a área afetada através de ultrassonografia (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014). 99 Tabela 11: Parâmetros usados na caracterização de lesões tendinosas e ligamentosas. Tabela traduzida de Rantanen et al. (2011). Parâmetros usados na caracterização de lesões tendinosas e ligamentosas Localização da lesão Tamanho da lesão Alteração na ecogenicidade Padrão da ecogenicidade alterada (i.e., homogénea, heterogénea, focal e difusa) Alteração no padrão de fibras, em imagens sagitais Percentagem da área lesionada, em imagens transversais Alterações no carácter da lesão ao longo do tempo A tendinite/desmite caracteriza-se por um processo inflamatório que conduz, posteriormente, à perda espontânea da integridade estrutural do parênquima de tendões e ligamentos, respetivamente (Cauvin & Smith, 2014). Lesões agudas associam-se ao aumento do tamanho e perda de ecogenicidade e do padrão estriado dos tendões, frequentemente afetando a área central do mesmo (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014; Cauvin & Smith, 2014). Imediatamente após o dano, a lesão é preenchida por sangue e detritos, o que altera a ecogenicidade do tendão, apresentando-se este com um padrão mais heterogéneo. Nos primeiros dias a lesão pode passar despercebida, já que a ecogenicidade dos detritos e coágulos pode assemelhar-se ao parênquima normal do tendão. As lesões agudas são normalmente pouco definidas e heterogéneas, mas em planos sagitais é possível confirmar a perda do alinhamento das fibras (Cauvin & Smith, 2014). Figura 76: Ultrassonografia transversa (A) e longitudinal (B) da região palmar do metacarpo. Observase uma lesão hipoecóica bem delimitada (“core lesion”) na área central do tendão flexor digital superficial. Esta aparência é consistente com uma fase inicial de deposição de tecido de granulação que surge, à ecografia, homogeneamente hipoecogénico. Imagem adaptada de Cauvin & Smith (2014). 100 A presença de edema conduz à perda de ecogenicidade em volta do tendão, paratendão, e tecidos subcutâneos. O tendão pode surgir turgido com espessamento dos tecidos peritendinoso e subcutâneo. Após alguns dias, observa-se a presença de hematoma e tecido de granulação a preencher a lesão. Nesta fase, a lesão aparece hipoecóica e com uma aparência típica de favo de mel (Cauvin & Smith, 2014). Figura 77: Ultrassonografia transversa da região do metacarpo que exibe edema peritendinoso sem aumento dos tendões (A) quando comparado com o membro contralateral (B). Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014). Figura 78: Ultrassonografia transversa e longitudinal da região do metacarpo que exibe uma lesão hipoecóica do TFDS, com padrão de favo de mel, típica de hematoma, e com edema peritendinoso. Imagem gentilmente cedida pelos veterinários da clínica veterinária de Sto. Estêvão. 101 A lesão pode aumentar de tamanho com o passar do tempo, devido à contínua inflamação instalada. A lesão pode tornar-se mais evidente ao fim de alguns dias (Cauvin & Smith, 2014). Os tendões e ligamentos possuem uma atividade metabólica lenta e, por isso, necessitam de um período de cerca de 8 a 14 meses para retomar a sua força normal, dependendo da gravidade da lesão (Gillis, 2014). Por esta razão, e devido à deposição incorreta de fibras de colagénio durante a fase de cicatrização, as recorrências são bastante frequentes, já que a capacidade do tendão em suportar forças de tensão não é a mesma e, por isso, a probabilidade de as fibras voltarem a romper é maior (Cauvin & Smith, 2014). Uma tendinite crónica pode referir-se a um estado final de tendinopatia, a uma recorrência ou à presença de uma dilaceração e inflamação. A “verdadeira” recorrência diferencia-se de uma lesão crónica na medida em que se trata de uma lesão aguda localizada, frequentemente, numa das extremidades do tecido de cicatrização da lesão anterior e, que por isto, deve ser correctamente identificada e localizada através da manipulação lenta da sonda. Não obstante, é recorrente o aparecimento de lesões associadas a dano crónico e progressivo do tendão (Cauvin & Smith, 2014). Figura 79: A recorrência de lesões nos tendões ocorre normalmente na extremidade da cicatriz da lesão anterior (setas amarelas), que se separa do tendão normal através de uma área hipoecóica mal definida (setas vermelhas). Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014). As características ultrassonográficas de lesões crónicas são variáveis, e podem ser subtis. O tendão apresenta, normalmente, um aumento de tamanho difuso. A sua ecogenicidade varia de hipoecogénico a hiperecogénico, ocorrendo este último cenário nos casos em que o parênquima normal é substituído por tecido fibrótico, como se observa aquando de lesões 102 graves. O padrão do parênquima apresenta-se irregular, heterogéneo e com perda de estriação (Avella & Smith, 2012; Birch et al., 2014; Cauvin & Smith, 2014). Em alguns casos, é ainda possível observar o limite da lesão central (core lesion) inicial. Pode ocorrer mineralização, observando-se à ecografia interfaces hiperecogénicas que geram sombras acústicas (Cauvin & Smith, 2014). Figura 80: Ultrassonografias transversa (A) e longitudinal (B) da região palmar do metacarpo. Apesar de este cavalo não ter história prévia conhecida de lesões tendinosas, o tendão flexor digital superficial apresenta-se com parênquima heterogéneo, ligeira perda de ecogenicidade e alguma perda de estriação. Estas lesões foram interpretadas como sendo o resultado de uma lesão crónica subclínica. Imagem retirada de Cauvin & Smith (2014). Do ponto de vista médico, é importante que o clínico possua um conhecimento acerca da fisiologia dos tendões e ligamentos para um correto diagnóstico, bem como das diferentes fases de regeneração, após lesão, para a implementação do tratamento mais indicado. Uma vez que algumas estratégias terapêuticas se encontram limitadas, a melhor abordagem passa não só pelo tratamento da lesão atual, como também pela prevenção de recorrências e do surgimento de outras lesões ao nível do aparelho locomotor (Rantanen, 2011; Birch et al., 2014). 103 Conclusão A ecografia é uma técnica de diagnóstico por imagem que o médico veterinário pode recorrer no dia-a-dia, e através da qual deve tentar recolher o máximo de informação possível e interpretá-la de acordo com o exame clínico e outros meios complementares de diagnóstico. Esta dissertação consiste essencialmente numa revisão bibliográfica da topografia e características anatómicas normais do cavalo observadas à ecografia, e de uma revisão básica das alterações mais frequentemente encontradas. Através desta, tive a possibilidade de aprofundar os meus conhecimentos em ultrassonografia de equinos e adquirir competências para a realização da mesma, através do estudo de conteúdos teóricos e do treino prático para obter as imagens ecográficas desejadas. Sendo um meio de diagnóstico tão utilizado, é importante que o médico veterinário possua um conhecimento, ainda que básico, das propriedades físicas do ultrassom, e um bom conhecimento da anatomia do cavalo e da aparência normal das estruturas orgânicas observadas por ecografia, bem como das patologias mais frequentes nesta espécie e que possam ser diagnosticas com recurso à ultrassonografia. Este trabalho teve também como objetivo a criação de uma aplicação Android™ (disponível em português e inglês), na medida em que possibilita, a veterinários profissionais e estudantes, o acesso rápido à informação presente nesta dissertação, nomeadamente a identificação da localização anatómica fisiológica das diferentes estruturas orgânicas a nível torácico, abdominal, tendões e ligamentos das extremidades, bem como a sua aparência fisiológica à ecografia. Na aplicação é possível interagir com cada região corporal através de ícones, por forma a aceder a conteúdo textual e gráfico (através de imagens e vídeos), fornecendo informação básica e de rápida compreensão acerca da ultrassonografia do tórax, abdómen e extremidades de equinos. No interesse de aprofundar o tema, o usuário tem ainda a possibilidade de aceder a diferentes links de internet, acerca da ultrassonografia em equinos, que se encontram organizados em vários tópicos, de acordo com a região corporal de interesse para 105 o exame ecográfico. Referências Bibliográficas Abu-Zidan F.M., Hefny A.F., & Corr P. (2011) Clinical ultrasound physics.Journal of Emergencies, Trauma and Shock, 4(4): 501–503 Alancelet (2009) Equine Distal Forelimb Tendons and Ligaments, YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=AGck-JnxutM. Acedido em 07/06/2016 Avella C.S. & Smith R.K.W. (2012) Diagnosis and Management of Tendon and Ligament Disorders. In: Auer J. A. and Stick J. A. (Eds.) Equine Surgery. 4th ed, Saint Louis, Missouri: WB Saunders, 1157-1179 Bain F.T. (2014) Ultrasonography of the Gastrointestinal Tract. In: Kidd J.A., Lu K.G. & Frazer M.L. (Eds.) Atlas of Equine Ultrasonography. 1st ed. West Sussex, UK: Wiley Blackwell, 427-442 Barton M.H. 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