MESSALINA1 Caroline Namorato Afonso Leitão, Felippe Pires de Sá, Julie Lacerda Valoura, Mônica Teresa da Silva e Rafaela Martins do Nascimento2 INTRODUÇÃO Ao nos apropriarmos da historiografia referente à Valéria Messalina (25-48 d.C.), reconhecemos que essa personalidade foi material de escrita para diversos autores da Antiguidade, como os famosos Tácito (56-117 d.C.), Suetônio (69-141 d.C.) e Juvenal (55-127 d.C.). Com produções textuais abrangendo múltiplos propósitos contextuais, o imaginário consolidado a respeito de Messalina, majoritariamente baseado nessas narrativas, lhe atribui características como sagaz, ciumenta, meretriz e manipuladora. No entanto, é cabível pensarmos a não correspondência dessa construção imagética com a realidade, como proferido pela pesquisadora Kristen Hosack, da Universidade Wesleyana de Illinois, em seu texto Can One Believe the Ancient Sources That Describe Messalina?3, visto que os textos que narram e contam a história de Messalina podem não seguir fontes verídicas, bem como possuir propósitos alternativos e pouco preocupados com o alinhamento com a verdade. (HOSACK; 2011, p. 3) Paralelamente, preenchendo o papel reconhecido de uma das mais importantes representações materiais da imperatriz, colocamos sob análise arqueológica uma escultura de mármore, apresentada na Figura 1, datada de aproximadamente 45 d.C., contendo Messalina e seu filho Britânico. Figura 1 - Messalina segurando o filho Britânico 1 Trabalho apresentado ao Departamento de Arqueologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro para obtenção de nota na disciplina: Arqueologia da Antiguidade II. 2 Alunos de Graduação em Arqueologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro 31 O título correspondente na tradução é: Pode-se acreditar nas fontes antigas descrevendo Messalina? Museu do Louvre, 2022. Esse artefato, localizado hoje no Museu do Louvre, em Paris, é capaz de nos guiar em outra direção acerca da verdade sobre quem seria Messalina, bem como nos proporcionar ainda mais perguntas. Posto que “uma imagem também é um discurso” (GAIA, 2023), importante fundamento nos apresentado em uma entrevista particular com o professor Deivid Valério Gaia (informação verbal)4, estudaremos aqui as possíveis interpretações a partir dessa materialidade sem nos deixarmos enganar por apenas mais uma das representações do feminino. Nesse sentido, aprofundaremos o questionamento acerca da reputação prejudicada de Messalina, desde a forma como foi descrita por autores da Antiguidade durante o século I d.C. até os vestígios materiais passíveis de análise em torno dessa personalidade. Desse modo, a fim de desmistificar a caracterização imposta sobre mulheres como Messalina no Império Romano, reunimos aqui evidências historiográficas e arqueológicas para um estudo de caso. Entre a imagem prostituída de Messalina e a função materna vislumbrada em sua principal representação material, verificaremos a possibilidade da existência de uma terceira Messalina, 4 A entrevista com Deivid Valério Gaia, professor adjunto de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2014, foi realizada em 7 de janeiro de 2023 via Google Meet. Nela, tratamos de diversos temas da Roma Antiga, entre eles: o contexto social existente durante o período imperial, as distorções imagéticas sofridas pelas mulheres e a perpetuação de estereótipos similares na atualidade. a imperatriz real. Sob esse olhar de questionamento aos vestígios deixados por outros para contar sua história, traremos à tona outras interpretações acerca desse legado feminino de grande relevância para o entendimento da mulher romana durante a Antiguidade. AS MULHERES IMPERIAIS ROMANAS DO SÉCULO I D.C. Como ponto de partida, usaremos os estudos da pesquisadora Sarah Fernandes Lino de Azevedo (2017, p. 26-47), em O adultério, a política imperial, e as relações de gênero em Roma, além do artigo AS ROMANAS E O PODER NOS ANAIS DE TÁCITO, de Taís Pagoto Bélo e Pedro Paulo Abreu Funari (2017, p.75-87) para analisarmos a ordem social da Roma Antiga e discutirmos a questão das mulheres romanas associadas ao poder imperial no século I d.C. e como elas eram descritas nesse contexto de forma pejorativa, sendo tidas como usurpadoras quando exerciam mínimas influências políticas. Em primeira instância, é necessário colocar sob observação a ordem regente do Império Romano no início do século I d.C., sobretudo dentro da instituição familiar, tida como a base da organização social romana. Nesse viés, podemos verificar, de acordo com os estudos de Taís Pagoto Bélo e Pedro Paulo Abreu Funari em AS ROMANAS E O PODER NOS ANAIS DE TÁCITO, a naturalizada subordinação feminina e infantil perante o poder do pai nas relações sociais, conhecida na literatura como pátria potestas. Essa expressão é responsável por sintetizar a posse masculina sobre todos os bens materiais e imateriais da família romana. Uma vez sendo o pai dono de todo e qualquer direito, sobrava às mulheres a obrigação de obediência, ideologia de desigualdade que já se encontrava internalizada na sociedade romana do primeiro século d.C. mediante atividades rotineiras e cotidianas (BÉLO e FUNARI, 2017, p.78-87). A mulher, desde muito cedo, sempre fora vista de forma estereotipada. Grande parte desses estereótipos vêm-se formando ao longo do tempo, por meio de diferentes histórias e contextos culturais que, por sua vez, acabaram por criar e estabelecer padrões tanto para o homem quanto para a mulher. Não é de agora que as pessoas tendem a associar comportamentos, crenças e características a valores generalistas, reforçando cada vez mais um processo sexista, que abusa de uma criação de verdades ditas “absolutas” e que reproduz cada vez mais esses estereótipos, pensamento também defendido por Bélo e Funari. Todos eles são derivados de atividades repetitivas ou de rotinas dentro de uma sociedade, em que, o indivíduo, por meio da aceitação de outros membros, acaba por repeti-los para que possa fazer parte daquele grupo social. Tendo essa concepção em mente, exploraremos agora as expectativas sobre as mulheres romanas dentro do contexto familiar (BÉLO e FUNARI, 2017, p. 75). Em Roma Antiga, os direitos concedidos a uma mulher nunca sobrepunham os direitos dados ao homem. Como explica a pesquisadora Sarah Fernandes Lino de Azevedo em O adultério, a política imperial, e as relações de gênero em Roma, se uma mulher se casasse, o marido receberia a posse de sua esposa, filhos, animais, bens, escravos e a propriedade onde moravam. Mesmo que seu marido viesse a falecer, a mulher não poderia reivindicar seus direitos de posse, visto que o poder voltaria para as mãos de seus pais (paterfamilias5). Isso ocorria porque toda mulher que possuísse um pai era controlada por ele e, somente se o pai viesse a falecer, ela poderia se tornar independente, porém ainda correndo o risco de ser submetida a “tutores”. (AZEVEDO, 2017, p.60). Tendo em vista esses dogmas, é possível constatar que a família era vista como uma base da organização social romana, e que o casamento era, majoritariamente, uma forma de acordo baseada no poder masculino. Para que houvesse um casamento (manus em latim), alguns tipos de acordos poderiam ser feitos: um deles era o sine manu, que consistia no controle legal da esposa pela família de seu próprio pai, e o cum manu, que liberta a mulher do controle de seu pai e passa esse controle para a família de seu marido, ficando então sob guarda e competência de seu marido ou sogro. Vale lembrar que, dentro do cum manus, o poder do marido era mais limitado sobre a esposa do que os sobre os filhos, contudo, o mesmo não poderia vendê-la ou ter direito de vida ou morte sobre a mulher. Ela, nesse caso, não teria direito a uma propriedade e só poderia receber algo se fosse da vontade de seu marido. O controle da imagem, nome e identidade dos filhos, sempre vinha da família paterna. Enquanto isso, a família materna ficava encarregada de entregar seus dotes com o objetivo de ajudar o marido dentro de sua casa, auxiliando a manter o status e o acordo entre famílias. Caso houvesse um término no casamento, a família da esposa (ou, em outras palavras, o pai da mulher) poderia solicitar seu dote de volta (somente com o consentimento da filha), tendo em vista que esse recurso tem o propósito de 5 Paterfamilias era o mais elevado estatuto familiar na Roma Antiga, sempre composto por uma posição masculina. O termo significa “pai de família", segundo os estudos de Belo e Funari (2017, p. 76). manutenção da esposa (BÉLO e FUNARI, 2017, p.77-78; AZEVEDO, 2017, p.60). No entanto, apesar das convenções sociais acerca do papel da mulher na família e na vida na cidade, as mulheres imperiais chegaram a ganhar certa independência a partir do século I d.C.. Messalina (c. 38 a 48 d.C. terceira mulher de Cláudio), Agripina (c. 49 a 54 d.C. quarta mulher de Cláudio) e Lívia (c. 38 a.C. a 14 d.C. mulher de Augusto) são exemplos dessa transformação no panorama, ainda que muitas vezes sejam vistas como violadoras da ordem moral e funcional de Roma Antiga, por, em algum momento, terem estado em contato com assuntos externos ou fora de seus limites domésticos, inclusive exercendo influências políticas. Os homens da época possuíam um grande preconceito em relação às mulheres que pareciam contornar a ordem patriarcal vigente, atribuindo-lhes características de má esposa e de má influência para os imperadores, ao passo que as mesmas foram, gradativamente, expandindo seu até então obrigatório papel materno para o controle de alguns compromissos imperiais. Portanto, as mulheres imperiais acabaram por desenvolver papéis mais importantes nesse século, como patronas, (ou matres familias), que poderiam tomar decisões, não somente dentro da própria família, mas também em famílias de estrangeiros, além de poderem possuir escravos e proteger libertos. Assim, depois de muito tempo, a mulher finalmente foi reconhecida como membro da hierarquia provincial, podendo assim, acompanhar o marido em visitas oficiais, e influenciá-lo minimamente na política (BÉLO e FUNARI, 2017, p.78-80). Nesse cenário, a imperatriz Messalina ocupa um papel de destaque, uma vez que, juntamente com Agripina, teve sua reputação dissimulada por interpretações feitas a respeito de seus mecanismos em uma sociedade patriarcal. Segundo os estudos contidos na obra OS USOS DO PASSADO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE VALÉRIA MESSALINA (25-48 D.C.), de Milena Rosa Araújo Ogawa e Amanda Nunes Moreira, da Universidade Federal de Santa Catarina, e como veremos à frente, as narrativas em torno das mulheres romanas, sobretudo mulheres imperiais, como Messalina, são irrefutavelmente prejudicadas, em razão de estereótipos que circulam há séculos e que associam grandes feitos femininos à desobediência e à imoralidade (OGAWA e MOREIRA, 2021, p. 8). Valéria Messalina (25-48 d.C.) foi a terceira esposa do imperador Cláudio, com quem teve dois filhos, Octavia e Britânico, conforme diz Sarah Azevedo (2017, p. 118). Cláudio foi o quarto imperador da primeira dinastia do Império Romano, sendo o primeiro Augusto, seguido de Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Acredita-se que Messalina tinha entre 14 e 20 anos na ocasião de seu casamento, no ano 38 ou 39 d.C., enquanto Cláudio teria mais de 40 anos. Essa diferença de idade estava na média entre os romanos da época, mas foi um dos fatores que, posteriormente, viriam a contribuir para a criação de uma imagem de Messalina como uma mulher de desejos insaciáveis (AZEVEDO, 2017, p. 118). Ela também era conhecida somente como Messalina, seu nome popular. Segundo Milena Rosa Araújo Ogawa e Amanda Nunes Moreira (2021, p. 2), era filha de aristocratas da linhagem imperial de Roma, tendo como pais Domícia Lépida4, a jovem, e Marco Valério Messala Barbato. Messalina foi assassinada em outubro de 48 d.C., antes de completar 30 anos (OGAWA e MOREIRA, 2021, p.2). Seu casamento foi uma consolidação política para Cláudio, de gens Cláudia, com uma Iulia. O fruto dessa união provocaria herdeiros Júlio-Claudianos, ligando ainda mais essa dinastia. Tais alianças político matrimoniais perduram; um exemplo é 4 “Domícia Lépida era filha de Antónia Maior e de Lúcio Domício Aenobarbo, o que fazia dela neta de Octávia e Marco António, respectivamente irmã e cunhado de Augusto; Marco Valério Messala era filho de Marcela Menor, portanto neto de Octávia, pelo primeiro casamento desta com Gaio Cláudio Marcelo. Messalina era assim duas vezes bisneta de Octávia e duas vezes sobrinha-bisneta de Augusto. Por sua vez, os seus pais eram também primos diretos.” (RODRIGUES, 2003, p.513) sua filha, Otávia, casando-se com Nero, o próximo princeps. Na esteira da narração de sua vida, a imperatriz é vituperada a ocupar espaços que não lhe cabiam; era considerada sagaz, meretriz, ciumenta e que sabia utilizar de seu corpo para obter vantagens políticas; assim é o imaginário consolidado a respeito de messalina. (OGAWA, 2021, p.2) AS NARRATIVAS EM TORNO DE MESSALINA Analisaremos agora sob quais parâmetros possivelmente enviesados Valéria Messalina foi inicialmente descrita nos textos antigos e como esse desvio contribuiu para a solidificação de uma reputação negativa em torno da imperatriz. Segundo a pesquisadora Kristen Hosack, uma vez que cada narrativa acerca de Messalina reflete propósitos textuais particulares, torna-se compreensível e relevante duvidar da veracidade dessas representações. (HOSACK; 2011, p. 3) Um dos primeiros vestígios textuais contendo menção à Messalina encontra-se nos Anais, obra escrita no início do segundo século d.C. por Tácito (56-117 d.C.), em que Cláudio é retratado como incapaz de comandar o império. Nessa fonte literária, escrita a partir de uma visão política senatorial, Cláudio é altamente criticado e tido como ineficiente para seu cargo. Nesse viés, Tácito, ao explorar múltiplos argumentos em prol de seu desgosto pelo governante, busca em Messalina um apoio para sua perspectiva política. Ela passa, então, a ser usada como um dos motivos da inoperância do governo de Cláudio, sob a justificativa de que estaria contribuindo para a hesitante e impotente imagem do imperador, um personagem secundário frente à forte e barulhenta presença de mulheres imperiais. Segundo a pesquisadora da Universidade de São Paulo Sarah Fernandes Lino de Azevedo, Tácito relata que tanto Messalina quanto Agripina tomavam decisões junto a Cláudio, participavam de julgamentos e de reuniões de caráter político e interferiam fortemente no contexto político por meio da influência no campo formal e institucional do casamento (AZEVEDO, 2017, p. 128). No entanto, Tácito excluía as mulheres da política em suas produções textuais, relacionando as que desejavam essa proeminência, como Messalina e Agripina, a comportamentos sexuais desviantes, que manchavam a reputação de mulheres em tentativa de subverter a ordem social vigente. Por isso, Tácito, sessenta ou setenta anos após a morte de Messalina, aproximadamente em 112 d.C., acusa friamente a imperatriz de adultério em seus anais, depois de o escritor Plínio, o Velho, ter sido o primeiro a fazê-lo, segundo a autora. Em seguida, faz uso do ocorrido para desqualificar Cláudio de seu cargo, posto que, uma vez enganado pela mulher e perdido o controle sobre sua instituição domiciliar, não seria capaz de governar o Império. Essa foi a estratégia textual utilizada pelo autor para expor sua opinião acerca da história política de Roma, que, embora focada nos defeitos de Cláudio, deformou a imagem de sua esposa. Ela é descrita por ele como extravagante e até mesmo obsessiva, uma vez que se apoiaria frequentemente no estilo de vida luxuoso da nobreza e gastaria muito com presentes caros, destinados a seu amante, Silius. Todavia, esse fato pode ter tido sua amplitude intencionalmente aumentada pelo autor como uma maneira de demonstrar a imbecilidade do imperador mediante a aceitação de criminalidades para além do âmbito matrimonial. Essa hipótese é fortemente explorada e defendida por Hosack (2017, p.4), já que a luxúria era vista na Roma Antiga com um crime moral, capaz de levar ao desvio das leis e à mistura das classes sociais, bem como ao próprio adultério. “A mulher condenada como adúltera pela Lei Júlia6 perdia o status de mater familias7 e era juridicamente igualada a uma prostituta” (AZEVEDO, 2017, p. 106), passando a adquirir uma forte e notável reprovação moral. Percebe-se, pois, que, sob esse olhar, distribuído por Tácito a uma sociedade posterior à de Messalina, a imperatriz seria uma criminosa manipuladora, cuja indulgência recebida por seus atos foi incontestavelmente excessiva. Outro autor que expôs sua versão acerca da vida de Messalina foi Seutônio (69-141 d.C.). Ao contrário de Tácito, ele explicita que ela não seria uma mulher obsessiva ou ninfomaníaca, mas alguém que simplesmente tirava proveito de sua situação para satisfazer seus desejos extraconjugais e exercer certas influências políticas. Em Life of Claudius, obra de Seutônio de aproximadamente 121 d.C., também é perceptível o uso da narrativa da facilidade com que Messalina afetaria o marido como um modo de insultar a personalidade de Cláudio, um governante tido como fraco e facilmente dominável. Como já visto, essa caracterização do governante parece ter sido bastante comum entre os autores da Antiguidade. Assim, a fim de veicular a manutenção da imagem de Cláudio como um homem covarde e subserviente à sua esposa, Seutônio parece ter ajudado a edificar uma reputação enviesadamente adúltera e manipuladora para a figura Messalina, ainda que esta não tivesse sido seu foco textual principal. Todavia, como consequência, as palavras do autor claramente contribuem para a permanência de um exagero em torno da forma com que a história da imperatriz é contada. Um argumento literário a favor desse olhar está na natureza do gênero textual de Seutônio. De acordo com o historiador americano Ronald Mellor, em seu livro The Roman Historians, as biografias de figuras da Antiguidade escritas no tempo de Seutônio não se apoiavam na História e, portanto, não se apoiavam em fatos (MELLOR, 2002, p. 132-149). Essa constatação indica a grande possibilidade de seus textos sobre Messalina não serem advindos de pesquisas aprofundadas. Pelo contrário, interessado em escândalos e talvez no simples entretenimento, o autor parece não ter se comprometido com a verdade. Na realidade, 6 A Lex Iulia de adulteriis (Lei Júlia sobre adultério), foi promulgada por Augusto em 18 a.C.. Conforme indicam estudos de Sarah Fernandes Lino de Azevedo em Sexualidade e política à época de Augusto: considerações acerca da ‘Lei Júlia sobre adultério', a lei definia o adultério como uma relação sexual entre uma mulher casada e um homem que não era seu marido. Segundo ela, ambos eram incriminados, a esposa adúltera e seu amante. Eles então seriam separados e teriam seus bens confiscados (AZEVEDO, 2014, p. 3). 7 Categoria de status feminno oposta à de adúltera/prostituta no Império (AZEVEDO, 2017, p. 107). todas as análises até aqui apontam para a manutenção proposital de estereótipos em torno da imperatriz, perpetuados não apenas por Tácito e Seutônio, mas por muitos outros autores, incluindo o famoso Juvenal, entre outras formas de se atrelar Messalina a uma personalidade feminina corrompida e desvirtuada, como veremos mais à frente Como último autor representando a imperatriz, temos Juvenal, citando-a em Sátira VI. Esse tipo literário pode ser caracterizado pelo uso de hipérboles para se criticar a sociedade e como uma transcrição dos costumes ancestrais para lembrar à corte imperial de conduzirem suas famílias sem desvios, visando à manutenção, assim, de uma ideologia política única. A respeito disso, Juvenal escreve que Messalina saía furtivamente, com objetivos imorais e criminosos, evidenciando um olhar fortemente negativo sobre a figura feminina. De acordo com Kristen Hosack, Juvenal escreve que seu “cabelo preto era escondido sob uma peruca loira acinzentada, e depois trabalhava nua, com mamilos dourados8” (HOSACK; 2011, p. 6). A pesquisadora Sarah Azevedo, através da análise de um fragmento, também traz uma correlação das temáticas que Juvenal aborda em seus escritos: “O poeta apresenta Messalina como uma prostituta voluntária como forma de repreender o adultério feminino. Ao descrever Messalina como prostituta, Juvenal iguala o adultério e a prostituição, demonstrando de forma implícita a classificação dicotômica matrona X prostituta. A esposa do imperador, que esperavam ser uma matrona exemplar, comportava-se de forma totalmente oposta. Juvenal parece demonstrar a fase final de um julgamento fictício de Messalina, um julgamento que se faz evidente no campo literário. A imperatriz adúltera é caracterizada como uma prostituta voluntária, desprezando totalmente o dever da mulher para com os homens de seu grupo familiar, principalmente os maridos e pais. Messalina, nas palavras de Juvenal, perde a alcunha de adúltera e toma o seu lugar como prostituta de acordo com a lei” (AZEVEDO, 2017, p. 119-120) Levando em consideração que o autor fazia parte da elite romana e a representação da imperatriz tinha como objetivo mostrar ao seu nicho que as pessoas deveriam se afastar da imoralidade para a preservação da vida política, Juvenal utiliza como estratégia a conduta infame de Messalina. Dessa forma, seu texto pode ser entendido como um instrumento retórico 8 Tradução nossa. jocoso para persuadir a dinastia da época a se atentar às normas político-sagrado-morais, dentre elas o impedimento ao adultério matronal, que daria estabilidade à vida familiar romana enquanto instituição primordial e também à corte imperial (ARAUJO; 2019, p. 24-293). Contudo, sua descrição de Messalina pode ser contestada não somente em razão de seu propósito textual mas também de suas referências. Ainda segundo Hosack, a fonte primária para os textos de Juvenal foi o historiador Tácito, o qual, como já foi visto, escrevia para denegrir as decisões políticas e morais do imperador através de sua esposa. Desse modo, por uma conveniência que o faz discorrer negativamente sobre as imperatrizes que fizeram parte da história de Roma, sua imprecisão não o torna confiável. Ademais, Tácito, em seu registro, não trabalha com a perspectiva na qual Messalina seria uma prostituta. Logo, provavelmente Juvenal se aproveitou de outra fonte extraoficial ou exagerou deliberadamente na construção da imagem de Messalina, consolidando o estereótipo visto na atualidade. UMA SEGUNDA MESSALINA Com isso, tornam-se evidentes as possíveis distorções sofridas por Valéria Messalina na textualidade antiga. Esses autores, conscientemente desviados para uma figura meretriz da imperatriz e perpetuadores explícitos desse estigma, fogem, assim, da verdadeira mulher por trás dele. Nesse cenário, a realidade se perde em meio à representação textual, posto que a história de Messalina passa a ser contada e, posteriormente, conhecida por palavras masculinas escritas após a sua morte. Tendo em vista a inconfiabilidade das fontes escritas acerca de quem seria de fato Valéria Messalina, colocamos agora sob análise uma escultura da imperatriz que explora um lado diferente de sua personalidade, permitindo, desse modo, novos olhares sobre a estigmatização previamente avaliada. Segundo o Louvre Museum Official Website9, a obra de arte em questão, representando Messalina com seu filho Britânico, foi esculpida em mármore pentélico10, tendo sua criação estimada em 45 d.C.10. 9 O endereço eletrônico do site é: https://collections.louvre.fr/en/ark:/53355/cl010275377. Variedade de mármore muito estimada pelos escultores antigos que se encontrava em abundância no monte Pentélico, próximo a Atenas. 10 Figura 2 - Estátua de Messalina com seu filho Museu do Louvre, 2022. A escultura foi encontrada próximo à Porta Tiburtina, em Roma. Posteriormente, foi adquirida pelo rei Luís XIV e adicionada à coleção do Palácio de Versalhes. Depois da Revolução Francesa, foi confiscada pelo Estado e transferida para o Museu do Louvre, passando a fazer parte da Coleção do Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas. Hoje, a obra se encontra na reserva técnica do museu. Nela, Messalina é representada carregando o filho Britânico em seu lado esquerdo, enquanto ajeita o véu de sua veste com a mão direita. Quando foi encontrada, a cabeça da criança estava faltando. Além dessa deformidade na obra, havia também muitas lascas nos dedos esquerdos da mulher e ao longo das cortinas de suas vestes. Todavia, a restauração de todos esses elementos foi feita em 2014, tendo como base a escultura de Eirene e Plutos11, cuja similaridade conteudista implica uma possível influência artística. Todavia, embora tenha seu artista desconhecido até o momento, a obra, como qualquer outra representação, não deixa de trazer consigo muito da visão do indivíduo acerca do objeto 11 Segundo informações do Louvre Museum Official Website, a estátua de Eirene e Plutos, chamada de Eirene Bearing Plutos, foi esculpida no século IV a.C. pelo escultor ateniense Cephisodotus. É a escultura mais antiga de que se tem conhecimento representando o cuidado maternal na forma de uma mulher carregando seu filho da Antiguidade. Estima-se que ela tenha sido uma das primeiras obras na História da Arte fundamentais para a construção do arquétipo que mais tarde influenciaria Pietà, de Michelangelo. em questão no tempo em que foi criada. Nesse sentido, ao analisarmos a escultura, colocamos Valéria Messalina sob as lentes de alguém inserido em uma sociedade contemporânea nos últimos anos de vida da imperatriz. Tendo em vista esse ponto, vislumbramos, então, a abertura dos olhares sobre quem seria de fato Messalina e questionamos os estereótipos relacionando-a à prostituição e à reputação de meretriz, bem como à de uma mulher pecadora, manipuladora e interesseira, aspectos defendidos no papel pelos autores anteriormente estudados. Agora, à luz da materialidade, encontramos na escultura de Messalina uma outra face de sua personalidade. Como veremos a seguir, a imperatriz nem sempre foi contemplada através de um olhar incriminador, uma vez que seu lado materno é explorado nessa representação material. Para evidenciar uma faceta menos corrompida da mulher e mais próxima aos ideais do papel social destinado a ela, os apontamentos de nossa análise arqueológica devem ser ressaltados. Entre eles, temos o uso do mármore como material escolhido, para além da perspectiva estilística, a fim de ilustrar o aspecto claro das mulheres romanas em sua vida doméstica, já que, em teoria, deveriam passar mais tempo dentro de casa do que fora, cumprindo suas tarefas de mãe. Além disso, as vestes escondem o formato natural dos peitos e da cintura de Messalina. Dessa forma, podemos observar a falta de intenção do artista em representar as curvas do corpo feminino, evidenciando o verdadeiro foco em questão: a maternidade. Diferente dos outros autores a retratar Messalina, aqui ela é vista como uma mulher cumprindo sua função primária, conforme o que ditava a sociedade da época. O dever maternal, como já visto, era indispensável ao cargo das mulheres romanas, inclusive e talvez principalmente as imperiais, posto que deveriam se empenhar para manter uma boa reputação pública. Nesse sentido, trazemos à tona com essa materialidade o lado moral, obediente e materno da imperatriz, fazendo uma oposição à sua associação negativa ao adultério e à prostituição. Se, por um lado, a imperatriz era considerada uma mulher manipuladora e desvirtuada, no outro compreendemos que era vista como um ser dócil e submisso à vida doméstica a que o feminino era destinado. No entanto, embora tenhamos iluminado uma Messalina que diverge dos padrões estereotipados com que ela foi e ainda é descrita baseados em atos de má conduta para a ordem social de Roma Antiga, é possível perceber o provável enviesamento paralelo à essa nova visão. Segundo a entrevista tida em particular com o professor Deivid Valério Gaia, enquanto devemos questionar os autores da Antiguidade devido aos seus motivos textuais particulares, também é necessário um olhar crítico acerca da escultura em questão, pois se trata de apenas mais uma representação de outrem sobre quem seria Messalina, igualmente impregnada de estereótipos da época (GAIA, 2023). Em outras palavras, ela também dificilmente se identificaria com uma mulher obediente ou dominada pelas expectativas da sociedade, considerando seus feitos. Logo, não seria uma mulher submissa, dedicada completamente à maternidade, conforme sugere a obra. Desse modo, desprovida de uma versão contada por si de sua própria história, os estudos de Messalina podem somente se aproximar da verdade a partir dos documentos disponíveis. A PERPETUAÇÃO DOS ESTEREÓTIPOS Faremos uso também dos princípios e conceitos de História Antiga, de Norberto Guarinello (2013, p.7), para trazer a construção torcida sobre a imagem de Messalina para a atualidade, botando em evidência a conexão entre o passado e o presente através de exemplos representativos da imperatriz na contemporaneidade. A imagem de Messalina é representada em diversas obras da atualidade, incluindo filmes, pinturas e óperas. É possível citar como exemplo o filme italiano “Messalina”, de 1960, dirigido por Vittorio Cottafavi. Ao longo do filme, Messalina é tratada como uma “femme fatale”, ou “mulher fatal”: uma mulher sedutora que se aproveita de seus atributos para matar. No decorrer da obra, ela é responsável pelo assassinato de um nobre fazendo uso de veneno, e após encomendarem a morte de Messalina, ela seduz e mata o homem que foi encarregado de matá-la. De acordo com a autora Camila Dazzi (2007, p. 4), o conceito de “femme fatale” descreve uma mulher que se perdeu ao “vício” do sexo, desejando apenas o prazer e menosprezando qualquer laço familiar, levando o homem à ruína moral, e eventualmente, à morte. Messalina passou por mais de uma representação dentro desse conceito, visto que, além do filme de 1960 citado anteriormente, a pintura de Henrique Bernardelli, feita em 1891 e que também carrega o nome da imperatriz, trouxe de forma semelhante esta visão sobre a imperatriz romana. Camila Dazzi (2007, p. 5) diz ainda que as fontes de inspiração de Bernardelli estavam ligadas à imagem da mulher bela, sedutora e ninfomaníaca, assumindo um tom mais pessimista e mostrando a forma como os prazeres efêmeros levam à morte (DAZZI, 2007, p.4-5). Essa obra sobre Messalina busca representar o tipo de mulher fatal, porém fazendo uso da imagem de uma mulher da Antiga Roma, no lugar de procurar inspiração em uma moça de seu próprio tempo. Essa escolha de personagem ajuda a compreender a forma como a imperatriz era (e segue sendo) vista pelos artistas e pela sociedade como um todo. Em adição a isso, Camila Dazzi (2007, p. 10) também menciona que “a ambigüidade encontrada na pose de Messalina é aqui de novo retomada com um propósito muito claro: aventar que o lugar onde se pratica os prazeres carnais pode ser também compreendido como o leito de morte.” Além de suas representações em obras artísticas, a imperatriz Messalina também possui seu nome atrelado à psicologia: de acordo com as pesquisadoras Milena Rosa Araújo Ogawa e Amanda Nunes Moreira, o termo “Complexo Messalina” é utilizado para descrever mulheres ninfomaníacas, ou seja, aquelas que sofrem de um transtorno que gera libido sexual excessiva. Na linguagem brasileira, Messalina também marca presença com sua imagem de mulher promíscua, visto que seu nome é utilizado como um sinônimo de meretriz, prostituta e garota de programa. Além disso, ainda segundo Ogawa e Moreira, ao buscar pelo nome de Messalina na internet, um dos primeiros resultados mostrados é o site de um motel localizado em São Paulo (OGAWA e MOREIRA, 2021, p.7). Outrossim, é pertinente mencionar a forma como a imagem de Messalina foi utilizada para dar força a um discurso que visava excluir as mulheres da política. De acordo com Sarah Azevedo, “eles alimentam um discurso que é pautado pela exaltação do paradigma da matrona casta, que, para usar uma expressão atual, seria um tipo semelhante ao modelo de mulher ‘bela, recatada e do lar’”. Sendo assim, aquela considerada a “mulher ideal” deve se comportar de forma casta, e demonstrar interesse por política somente se sua motivação for auxiliar o marido. (AZEVEDO, 2017, p. 127-128) Dentro desse contexto, é igualmente possível estabelecer um paralelo entre esse discurso e uma situação que ocorreu no Brasil durante a última década: da mesma forma que Messalina era caracterizada como uma mulher “errada”, fora dos padrões desejados e completamente inadequada para o papel de imperatriz, a ex-presidente Dilma Rousseff, ao longo de seu governo, foi representada na mídia como uma mulher louca, histérica e também inadequada para o papel de líder de uma nação, tendo sido humilhada através de montagens e desenhos retratando-a em cenários sexuais. Segundo Azevedo (2017, p. 127), a comparação opositora de Dilma com Marcela Temer, a ex-primeira-dama, retratada na mídia como “bela, recatada e do lar”, apenas reforça o paralelo político entre a ex-presidente e a imperatriz da Antiga Roma. Com isso, conseguimos perceber a perpetuação dos mesmos estereótipos utilizados no século I d.C. para corromper a visão de Messalina na realidade atual. As mulheres são alvo de projeções, distorções, e difamações ao longo de todo o percurso da História, mudando somente o modo com que a concepção vexatória é veiculada. Trazendo a questão para perto da hodiernidade brasileira, podemos afirmar que o presente está conectado com a Antiguidade através das palavras do historiador Norberto Guarinello (2013, p. 7), que diz, em História Antiga, que ela (a História Antiga), é “parte do repertório cultural dos brasileiros (...) parte importante em nossa identidade como pessoas e como nação” (GUARINELLO, 2013, p. 7), evidenciando a analogia verificada entre a história de Messalina e seus paralelos nos dias de hoje, causa e ao mesmo tempo consequência da manutenção do patriarcalismo no mundo ocidental. CONCLUSÃO Dessa maneira, entendendo que discursos também podem ser veiculados por representações materiais, tal como a escultura analisada de Valéria Messalina, levantamos mais questionamentos sobre sua real personalidade e comportamentos, ao mesmo tempo em que expandimos as narrativas ao redor da imperatriz a fim de promover a conscientização da existência de estereótipos pejorativos para sua imagem. Não uma irrefutável meretriz, mas também longe de uma figura materna comportada, Valéria Messalina encontra-se entre as duas e, talvez, distante de ambas. As análises interpretativas dos textos e dos documentos materiais nos permitem ampliar o horizonte de possibilidades acerca de sua vida, mas a verdadeira imperatriz romana permanece desconhecida, encontrando em futuros estudos arqueológicos, possivelmente mais materialmente reveladores, a representação de sua realidade. REFERÊNCIAS Bibliografia ARAUJO, Alexandro Almeida Lima. AS VIVÊNCIAS DOS RETÓRICOS DÉCIMO JÚNIO JUVENAL E PETRÔNIO NA URBS:: as contextualizações político-sociais de Sátiras e Satiricon na manutenção dos costumes antigos na Roma Imperial. VIII ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL DO MARANHÃO: MEMÓRIA, EDUCAÇÃO E RELIGIOSIDADE: TRANSFORMAÇÕES E RESISTÊNCIA. São Luís: EDUEMA, 2021. AZEVEDO, Sarah Fernandes Lino. O adultério, a política imperial e as relações de gênero em Roma. 2017. 190f. Tese (Doutorado em História Social) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. ________________. Sexualidade e política à época de Augusto: considerações acerca da ‘Lei Júlia sobre adultério’. São Paulo: 2014. BÉLO, Taís Pagoto; FUNARI, Pedro Paulo Abreu. As romanas e o poder nos Anais de Tácito. Classica-Revista Brasileira de Estudos Clássicos, v. 30, n. 2, p. 75-90, 2017. DAZZI, Camila. “Profissionais da luxuria”: Imagens do Corpo Feminino na Arte do Fin de Siècle Carioca. 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