Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS VIVENCIANDO De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvolvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. TEORIA Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. MULTIMÍDIA No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. APLICAÇÃO DO CONTEÚDO Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-las com tranquilidade. DIAGRAMA DE IDEIAS Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos estudos e até a resolução dos exercícios. © Hexag SiStema de enSino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2022 Todos os direitos reservados. Coordenador-geral Raphael de Souza Motta reSponSabilidade editorial, programação viSual, reviSão e peSquiSa iConográfiCa Hexag Sistema de Ensino editoração eletrôniCa Felipe Lopes Santos Letícia de Brito Ferreira Matheus Franco da Silveira projeto gráfiCo e Capa Raphael de Souza Motta imagenS Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Pixabay (https://www.pixabay.com) ISBN: 978-85-9542-193-6 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2022 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br SUMÁRIO BIOLOGIA EVOLUÇÃO E ECOLOGIA 5 AULAS 1 E 2: ORIGEM DA VIDA AULAS 3 E 4: EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS AULAS 5 E 6: TEORIAS EVOLUTIVAS AULAS 7 E 8: ESPECIAÇÃO 7 18 26 36 DIVERSIDADE DA VIDA49 AULAS 1 E 2: TAXONOMIA E REINOS AULAS 3 E 4: VÍRUS AULAS 5 E 6: REINO MONERA AULAS 7 E 8: REINO PROTOCTISTA I: PROTOZOÁRIOS 51 61 70 81 CITOLOGIA91 AULAS 1 E 2: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR I AULAS 3 E 4: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR II AULAS 5 E 6: COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR III AULAS 7 E 8: CÓDIGO GENÉTICO E SÍNTESE PROTEICA 93 104 111 118 Competência 2 Competência 1 MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade. H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos. H2 Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico. H3 Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso comum, ao longo do tempo ou em diferentes culturas. H4 Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização sustentável da biodiversidade. Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos. H5 Dimensionar circuitos ou dispositivos elétricos de uso cotidiano. H6 Relacionar informações para compreender manuais de instalação ou utilização de aparelhos, ou sistemas tecnológicos de uso comum. H7 Selecionar testes de controle, parâmetros ou critérios para a comparação de materiais e produtos, tendo em vista a defesa do consumidor, a saúde do trabalhador ou a qualidade de vida. Competência 5 Competência 4 Competência 3 Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos. H8 H9 Identificar etapas em processos de obtenção, transformação, utilização ou reciclagem de recursos naturais, energéticos ou matérias-primas, considerando processos biológicos, químicos ou físicos neles envolvidos. Compreender a importância dos ciclos biogeoquímicos ou do fluxo energia para a vida, ou da ação de agentes ou fenômenos que podem causar alterações nesses processos. H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais. H11 Reconhecer benefícios, limitações e aspectos éticos da biotecnologia, considerando estruturas e processos biológicos envolvidos em produtos biotecnológicos. H12 Avaliar impactos em ambientes naturais decorrentes de atividades sociais ou econômicas, considerando interesses contraditórios. Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais. H13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos. H14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros. H15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. H16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos. H17 Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas, como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica. H18 Relacionar propriedades físicas, químicas ou biológicas de produtos, sistemas ou procedimentos tecnológicos às finalidades a que se destinam. H19 Avaliar métodos, processos ou procedimentos das ciências naturais que contribuam para diagnosticar ou solucionar problemas de ordem social, econômica ou ambiental. Competência 6 Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas. H20 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes. H21 Utilizar leis físicas e (ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo. H22 Compreender fenômenos decorrentes da interação entre a radiação e a matéria em suas manifestações em processos naturais ou tecnológicos, ou em suas implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais. H23 Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais, sociais e/ou econômicas. Competência 8 Competência 7 Apropriar-se de conhecimentos da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas. H24 Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar materiais, substâncias ou transformações químicas. H25 Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas, rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais de sua obtenção ou produção. H26 Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais, identificando transformações químicas ou de energia envolvidas nesses processos. H27 Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios. Apropriar-se de conhecimentos da biologia para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científicotecnológicas. H28 H29 H30 Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição em diferentes ambientes, em especial em ambientes brasileiros. Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias primas ou produtos industriais. Avaliar propostas de alcance individual ou coletivo, identificando aquelas que visam à preservação e a implementação da saúde individual, coletiva ou do ambiente. BIOLOGIA CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias TEORiA DE AULA EVOLUÇÃO E ECOLOGIA INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS Compreensão de teias e cadeias alimentares, assim como a interação entre os seres vivos, é fundamental para resolver as questões de ecologia, que são interdisciplinares e pedem temas atuais com relação aos impactos ambientais. A ecologia aparece como área de destaque. Interações ecológicas e teias alimentares são corriqueiros. Além disso, evidências e teorias evolutivas, como seleção natural, costumam aparecer com certa frequência. Prova com poucas questões de ecologia, sendo que o tema que mais aparece é a interação entre os seres vivos (teias alimentares e relações ecológicas). As questões se concentram principalmente na área da ecologia, sendo cadeia e teia alimentar assuntos recorrentes. Compreender a origem da vida e a evolução dos seres vivos é a base para o entendimento da interação entre os organismos. Normalmente, usa casos atuais de impactos ambientais para abordar assuntos básicos de ecologia. Saber relacionar problemas ecológicos com conteúdos simples, é essencial. Além disso, é importante saber identificar e utilizar discursos lamarckistas e darwinistas. Prova bem comparativa, com questões que misturam diferentes áreas da Biologia. Aparecem assuntos como especiação, sucessão ecológica, origem da vida e relações ecológicas. Uma prova muito bem elaborada e interdisciplinar que exige conhecimentos básicos de ecologia para resolver questões de cadeia e teia alimentar. Apesar de o assunto tratado ser de caráter intermediário, a múltipla interação entre as áreas pode aumentar o nível de dificuldade. Problemas ambientais, relações ecológicas e conceitos básicos relacionados à ecologia (população, comunidade e ecossistema) são muito presentes. Prova com forte presença de ecologia – cadeias alimentares, relações ecológicas e problemas ambientais são os principais assuntos. Além disso, há questões sobre teorias evolutivas e hipóteses de origem da vida. UFMG VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias É uma prova com questões interdisciplinares que cobram conteúdos altamente específicos. 6 Questões com alto nível de especificidade. Estão presentes tanto conceitos evolutivos (especiação e seleção natural) como ecológicos (cadeias alimentares, pirâmides e relações ecológicas). Nesta prova, há questões principalmente sobre especiação, leitura e compreensão de cladogramas e aplicação das teorias lamarckista e darwinista. Em ecologia, a prova é similar à do Enem, com ênfase em problemas ambientais e relações ecológicas. Apresenta questões de temas variados e não muito cobrados em outros vestibulares, como origem da vida (biogênese e abiogênese) e dinâmica populacional. Também estão presentes temas como teorias evolutivas e teias alimentares. Com perfil similar à Fuvest e questões bem específicas, os temas mais frequentes são teorias e evidências evolutivas, problemas ambientais e relações ecológicas. É uma prova que privilegia citologia e genética, de forma que não há muitas questões sobre ecologia – os temas mais abordados são relações ecológicas e problemas ambientais. ORIGEM DA VIDA relações de parentesco entre as diversas espécies são responsabilidade da evolução. Essas divisões facilitam o estudo, a pesquisa e a construção do conhecimento biológico. Entretanto, integrar essas subáreas é fundamental, pois permite um olhar amplo que possibilita a compreensão da complexidade dos seres vivos e dos ambientes em todos os seus níveis de organização: organismos, populações, comunidades biológicas, ecossistemas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera. 2. Formação da Terra COMPETÊNCIA(s) 4 1E2 HABILIDADE(s) 15 e 16 1. Introdução A palavra biologia é formada através da conjugação do grego "bio", que significa "vida", com o sufixo "-logia", que significa "ciência de", "conhecimento de" ou "estudo de". Dessa maneira, é a ciência que estuda a vida e todos os seus desdobramentos. Esse estudo pressupõe um método científico que, apesar de seguir certos parâmetros, não possui uma receita universal infalível para todas as situações e necessita criatividade e plasticidade para ser aplicado. Porém, tradicionalmente, o método se caracteriza por observação, elaboração de perguntas (hipóteses testáveis), planejamento e realização de experimentos, sistematização e registro de dados, discussão de resultados e, por fim, conclusão. Dessa maneira, gera-se conhecimento, que poderá ser questionado, ampliado e alterado ao longo do tempo. Com efeito, a ciência e a pesquisa são realizadas pelo ser humano e, portanto, são direcionadas. A ciência possui uma perspectiva e um olhar parcial, ou seja, é influenciada pela época, sociedade e cultura às quais o pesquisador pertence. Então, é um método possível para interpretar os acontecimentos que está sujeito a revisões e confrontamentos de novas informações. Para iniciar o estudo da biologia, são necessárias algumas reflexões e considerações, pois existem várias subdivisões nessa ciência. Por exemplo, a zoologia estuda os animais e os seus desdobramentos; as plantas, por sua vez, são estudadas pela botânica; as estruturas e o funcionamento das células são discutidos pela citologia; as interações entre os seres vivos, e desses com o meio em que vivem, são abordadas pela ecologia; os mecanismos e padrões de herança do material genético são estudados pela genética; e o processo adaptativo e as A Terra surgiu há aproximadamente 4, 6 bilhões de anos. Toda a matéria que compõe o Universo atual estava comprimida em uma esfera extremamente pequena e densa, do tamanho da ponta de uma agulha. Há cerca de 14 bilhões de anos, essa esfera teria subitamente explodido, dando início a expansão dessa matéria e formando, de uma só vez, o Universo. A essa grande explosão dá-se o nome científico de Big Bang. A expansão do Universo continua sendo observada até hoje, o que reforça as hipóteses a favor do Big Bang. A formação do Sistema Solar é resultado direto dessa explosão. Ao longo desses bilhões de anos até hoje, ocorreram muitas mudanças na superfície terrestre que influenciaram significativamente a vida no planeta, como: movimentos de massas continentais, alterações climáticas, formação e destruição de cadeias de montanhas, extinção e origem de espécies, etc. multimídia: vídeo Fonte: Youtube A origem do planeta Terra documentário completo 2.1. Escala do tempo geológico A escala do tempo geológico representa a linha do tempo desde o surgimento da Terra até o presente. Na escala, essa evolução é indicada por uma sequência de eventos. Dessa forma, o tempo da história da Terra é marcado por determinados eventos geológicos e pode ser calculado por métodos absolutos ou relativos. Os estudos da evolução da vida dividem hierarquicamente essa escala em: éons, eras, períodos, épocas e idades VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias CN AULAS Antes de abordarmos a origem da vida, é necessário tratar da origem da Terra. 7 PERÍODO INÍCIO (milhões de anos) EVENTOS Quaternário 1,6 Clima flutuando entre frio e ameno. Avanços e recuos glaciais. Extinção de muitos mamíferos e aves de grande porte. Primeiros humanos modernos do gênero Homo. 23 Surgimento e formação de montanhas. Início da glaciação nos hemisférios Norte e Sul. Elevação do Panamá e consequente união das Américas do Norte e do Sul. Primeiros macacos do Velho Mundo. Mamíferos pastadores em abundância. Primeiros hominídeos eretos e grandes carnívoros. Aves e mamíferos marinhos diversificam-se. 65 Clima ameno a frio. Mares continentais largos e rasos. Elevação dos Alpes e Himalaia. A América do Sul separa-se da Antártica. Clima ameno a muito quente no final do período. Primeiros mamíferos insetívoros e primatas. Expansão extensiva de mamíferos e aves. Irradiação de famílias de mamíferos placentários. Primeiros macacos do Novo Mundo. Formação inicial de pradarias. Aves carnívoras gigantes, incapazes de voar, eram predadores comuns. Cretácio 135 Clima ameno em todo o período. Níveis dos mares elevados. A África e a América do Sul se separam. Clímax dos dinossauros e répteis marinhos, seguido da extinção destes grupos. Início da irradiação de mamíferos marsupiais e placentários. Primeiras angiospermas. Declínio das gimnospermas. Aparecimento de muitos grupos de insetos. Jurássico 205 Clima ameno. Os níveis dos continentes são baixos com grandes áreas cobertas pelos mares. Primeiras aves. Abundância de dinossauros. Crescimento exuberante de florestas. Triássico 250 Continentes montanhosos, unidos em um supercontinente (Pangeia). Extensas áreas áridas. Primeiros dinossauros. Primeiros mamíferos. Crescimento exuberante de florestas com predomínio de coníferas. 290 Glaciação extensiva do Hemisfério Sul no início do período. Elevação dos Apalaches. Aridez marcante em algumas áreas. Origem das coníferas, cicadófitas e ginkgos. Desaparecem os tipos anteriores de florestas. Irradiação dos répteis. O período termina com extinção em massa. Carbonífero 355 Clima quente com pequena variação sazonal nos trópicos. Níveis das terras baixos. Áreas pantanosas com a formação de depósitos de carvão. Irradiação dos anfíbios. Abundância de tubarões. Samambaias com esporos e árvores com “casca”. Primeiros répteis. Insetos gigantes. Grandes florestas de pteridófitas. Devoniano 410 Mares na maior parte das terras, com montanhas locais. Primeiros peixes com nadadeiras raiadas e nadadeiras lobadas. Primeiros tetrápodes terrestres. Siluriano 438 Clima ameno. Topografia em geral plana. Primeiros peixes com mandíbulas. Primeiros invertebrados terrestres. Ordoviciano 510 Clima ameno. Mares rasos. Continentes em geral com topografia plana. Os mares cobrem boa parte do atual território dos Estados Unidos. Glaciação no final do período. Primeiros vertebrados (peixes sem mandíbula). Invertebrados marinhos em abundância. Primeiras plantas terrestres. Cambriano 570 Extensos mares invadindo os continentes existentes. Origem de vários filos e classes de invertebrados. Primeiros cordados. Moluscos com conchas. Abundância de trilobitas. Proterozoica - 2.500 Extensivo bombardeamento de meteoritos e instabilidade geológica nas primeiras fases dessa era. Os primeiros organismos eucariontes apareceram há cerca de 2 bilhões de anos. Grande diversificação da vida há 1 bilhão de anos, surgindo os organismos pluricelulares, inclusive algas. Os primeiros metazoários surgiram há mais ou menos 600 milhões de anos, logo após uma grande glaciação. Arqueana - 4.600 Formação da crosta terrestre e início dos movimentos continentais. Os primeiros fósseis (seres unicelulares) são conhecidos de 3,5 bilhões de anos atrás. Origem da vida. Cenozoica ERA Neogeno Mesozoica Paleogeno VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Paleozoica Permiano 8 Os primeiros microrganismos surgiram no planeta há cerca de 3,5 bilhões de anos. Os primeiros peixes ancestrais apareceram no fim do período Cambriano, em que os oceanos eram largos, rasos e cálidos. Registros fósseis indicam que esses peixes, diferentemente dos peixes de hoje, possuíam apenas duas barbatanas rudimentares e não tinham mandíbulas. No período Devoniano, conhecido como Idade dos Peixes, ocorreu uma grande proliferação de peixes que possuíam mandíbulas adaptadas para digerir diversos tipos de alimentos. O ambiente desse período era bastante diferente daquele em que surgiram os primeiros peixes. Os oceanos haviam avançado e retrocedido várias vezes, e as plantas vasculares terrestres, que haviam surgido no período anterior, chamado de Siluriano, eram abundantes. No fim da Idade dos Peixes, um grupo ancestral de peixes de água doce iniciou a adaptação à vida terrestre e originou os primeiros anfíbios. No período seguinte, apareceram os répteis, primeiros vertebrados terrestres, assim como os primeiros insetos alados. Os primeiros mamíferos surgiram no período Triássico, assim como os primeiros dinossauros. No período seguinte, apareceram as primeiras aves. No período Cretáceo, ocorreu a extinção dos dinossauros. No fim desse período, aconteceu uma grande irradiação adaptativa dos mamíferos, fato que originou muitas das ordens de animais conhecidas atualmente. Alguns mamíferos insetívoros deram origem a um grupo de animais com polegares oponíveis e com unhas no lugar de garras denominados primatas. A lenta movimentação dos continentes terrestres, denominada deriva continental, originou, há 250 milhões de anos, um supercontinente denominado Pangeia. Há aproximadamente 200 milhões de anos, teve início a separação da Pangeia. Há 90 milhões de anos, a América do Sul descolou-se da África. Há 50 milhões de anos, a Índia uniu-se à Ásia, e, cinco milhões de anos depois, a Austrália separou-se da Antártica. Os primatas experimentaram processos evolutivos distintos nos dois lados do mundo. No continente americano, eles restringiram-se ao ambiente das árvores e desenvolveram adaptações morfológicas muito eficientes para esse hábito, entre elas uma cauda com grande capacidade preênsil. No Velho Mundo, os prossímios geraram novas formas de primatas, entre eles uma linhagem evolutiva de hábito terrestre que originou, há cerca de 5 milhões de anos, os primeiros hominídeos. Os primeiros hominídeos, parte do gênero Australopithecus, foram também os primeiros a apresentarem nos registros fósseis uma morfologia dos membros inferiores completamente adaptada à bipedia. O aparecimento do Homo sapiens ocorreu há aproximadamente 400 mil anos. 3. Teorias sobre a origem da vida O mistério da origem da vida intriga o ser humano desde a Antiguidade. Doutrinas milenares da Índia, da Babilônia e do Egito ensinavam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados espontaneamente pelo lodo dos rios. Esses seres, que apareciam inexplicavelmente no lodo e na lama, eram vistos como manifestações da vontade dos deuses. Para Aristóteles, por exemplo, os organismos surgiam a partir do princípio ativo, uma energia presente em substâncias inanimadas e capaz de formar vida espontaneamente. Dessa interpretação, surgiu a teoria da geração espontânea, ou teoria da abiogênese, segundo a qual os seres vivos originam-se da matéria bruta de modo contínuo. A teoria da geração espontânea perdurou até meados do século XIX, quando diversos cientistas a contestaram e, por meio de experimentos, demonstraram que um ser vivo só se origina de outro ser vivo. § Teoria da abiogênese: Os seres vivos surgem da matéria bruta de maneira contínua (geração espontânea). Principais defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Virgílio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont. § Teoria da biogênese: Os seres vivos originam-se de outros seres vivos preexistentes. Principais defensores: Redi, Spallanzani e Pasteur. 3.1. Van Helmont Van Helmont (1580-1644), considerado o maior fisiologista de seu tempo, criou diversas receitas para a abiogênese. Uma delas é a fórmula para se obter ratos por meio da geração espontânea: ‘’Enche-se de trigo e fermento um vaso, que é fechado com uma camisa suja, de preferência de mulher. Um fermento vindo da camisa, transformado pelo odor dos grãos, transforma em ratos o próprio trigo’’. Como se sabe, os ratos que apareciam não se formavam a partir da camisa e do trigo, como acreditava Van Helmont, mas eram atraídos pela mistura. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A seguir, serão analisados os principais períodos e suas características. O objetivo dessa abordagem é apresentar uma visão geral de como a vida se manifestou e se estabeleceu na Terra. 9 3.2. Francesco Redi Francesco Redi (1628-1698) começou, por volta de 1660, a questionar a teoria da geração espontânea. Ao observar cadáveres em decomposição, Redi notou a presença de moscas rodeando a carne antes do aparecimento de larvas. Sua hipótese, então, era que essas larvas eclodiam a partir de ovos depositados pelas moscas. Para testá-la, elaborou um experimento com dois frascos contendo carne crua, porém enquanto um deles permaneceu aberto (grupo controle), o outro foi obstruído com gaze. De acordo com a teoria da abiogênese, depois de alguns dias deveriam surgir da carne moscas e outros insetos. Isso, contudo, não aconteceu nos frascos fechados com gaze. Nos frascos fechados, Redi não encontrou nada sobre a carne, mas constatou ovos e larvas de insetos sobre a gaze que cobria os recipientes. Assim, o experimento corroborou sua hipótese ao demonstrar que as moscas eram atraídas pela carne e que das larEXPERIMENTO DEo aparecimento REDI vas era devido aos ovos depositados pelos insetos. larvas ausência de larvas frasco aberto frasco fechado com gaze Esquema do experimento realizado por Francesco Redi (1668) Apesar dos resultados de Redi fortalecerem a teoria da biogênese, o advento do microscópio e a descoberta dos microrganismos, chamados naquela época de "animálculos", provocaram questionamentos acerca da origem desses seres. 3.3. John Needham Dentre os que continuaram defendendo a teoria da geração espontânea, pode-se destacar o cientista inglês John T. Needham (1713 -1781), que, por volta de 1745, realizou uma série de experimentos para respaldar seu argumento. Após submeter à fervura diversos recipientes contendo substâncias nutritivas e fechar parte deles com rolhas enquanto o resto permanecia aberto, ele observou o surgimento de microrganismos em todos os frascos. Needham afirmou que esse fenômeno ocorria devido à presença, nas partículas orgânicas da infusão, de uma força vital especial, responsável pelo aparecimento da vida microscópica. Assim, com esses experimentos, Needham contribuía para o fortalecimento da teoria da geração espontânea. 3.4. Abbey Spallanzani Em 1770, contudo, o cientista italiano Abbey Lazzaro Spallanzani (1729-1799) criticou seriamente os experimentos de Needham e evidenciou que o aquecimento prolongado de substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes fechados, providos de válvula de escape, não propiciava o desenvolvimento de microrganismos. Spallanzani concluiu, então, que Needham não havia esterilizado corretamente os frascos. Porém, Needham respondeu às críticas afirmando que ferver as substâncias destruía a "força vital" e que fechar os frascos hermeticamente tornava o ar desfavorável ao aparecimento de vida. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias VIVENCIANDO 10 A partir dos experimentos realizados por Pasteur para comprovar a teoria da biogênese, criou-se o processo de pasteurização. A pasteurização é utilizada para conservar alimentos, pois elimina microrganismos patogênicos que causam azedamento ou acidificação, sem causar alterações físico-químicas no valor nutritivo dos alimentos. O método consiste em elevar a temperatura do alimento por um determinado tempo e, em seguida, resfriá-lo a uma temperatura inferior a de antes. Por ser um processo rápido, nem todos os seres vivos são eliminados, e, portanto, conservam-se no produto alguns microrganismos benéficos para o ser humano. Para remover 100% dos microrganismos, o alimento deve passar por um processo de esterilização e posteriormente ser lacrado para evitar novas contaminações. A pasteurização é muito usada na indústria alimentícia, principalmente em leite, sucos, cerveja, polpas de frutas, entre outros. Pasteurização: outra importante contribuição de Pasteur A pasteurização, criada em 1864 por Louis Pasteur, é um procedimento industrial empregado no tratamento do leite, de sorvetes, de cervejas, etc. O leite in natura é um produto altamente perecível, propício ao desenvolvimento de microrganismos que o acidificam e azedam. Para evitar esses problemas, tomam-se alguns cuidados, da captação ao consumo do leite. Dentre eles, destaca-se a pasteurização, que, no Brasil, é obrigatória. Esse procedimento consiste em submeter o leite a um grau de aquecimento suficiente para destruir os microrganismos patogênicos presentes nele. O melhor cuidado nesse procedimento é não causar alterações físico-químicas e organolépticas ao alimento, bem como não alterar o valor nutritivo do produto. O leite pasteurizado, portanto, deve apresentar características semelhantes, ao máximo, ao produto in natura, bem como garantir a ele mais tempo e condições de conservação, uma vez que a pausterização destrói aproximadamente 99% da microbiota presente no leite. Mas esse procedimento também traz desvantagens, embora superadas pelos benefícios. Ele reduz ou mesmo elimina as bactérias lácticas benéficas para o organismo, altera o sabor do leite, bem como provoca desnaturação da proteína do leite, dificultando, por exemplo, a produção de alguns queijos. Por meio de novos experimentos, Spallanzani demonstrou que surgiam microrganismos quando os recipientes fechados e submetidos à fervura eram abertos e entravam em contato com o ar, atestando que a “força vital’’ não havia sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não conseguiu provar que o aquecimento de material orgânico em recipientes fechados não alterava a qualidade do ar. Needham saiu favorecido dessa polêmica, o que reforçou ainda mais a teoria da geração espontânea. 3.5. Louis Pasteur O cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), por volta de 1860, através de seus célebres experimentos com balões do tipo “pescoço de cisne”, conseguiu provar definitivamente que os seres vivos se originam de outros seres vivos. Além disso, constatou a presença de microrganismos no ar atmosférico. Considerando as críticas dos seguidores da abiogênese sobre a formação de ar viciado – que seria impróprio para o desenvolvimento da vida em recipientes submetidos à fervura e hermeticamente fechados –, Pasteur realizou os seguintes experimentos utilizando frascos com gargalos longos e curvos: 1 O caldo nutritivo é despejado em um frasco de vidro 3 O caldo nutritivo é fervido e esterelizado 2 4 O gargalo do frasco é esticado e curvado ao fogo O caldo nutritivo do frasco com “pescoço de cisne” matém-se livre de microrganismos Se o leite for submetido a temperaturas elevadas por tempo prolongado, seu sabor e cor podem alterar-se. Em razão disso, há limites de temperatura e de tempo para que suas características se mantenham. 5 Se o gargalo do frasco é quebrado, surgem microrganismos no caldo § Pasteurização lenta: também conhecida como LTLT (low temperature long time, baixa temperatura por longo tempo), mantém a temperatura a 63 °C por 30 minutos. § Pasteurização rápida: HTST (high temperature and short time, alta temperatura por pouco tempo), mantém a temperatura a 72 °C por 15 segundos. § Pasteurização muito rápida: UHT (ultra high temperature, temperatura ultraelevada), mantém a temperatura entre 130 °C e 150 °C por um período de 3 a 5 segundos. Fonte: <http://infoescola.com/microbiologia/pasteurização>. Acesso em: 6 fev. 2015.As condições da Terra primitiva Esquema do experimento realizado por Louis Pasteur (1860). O famoso experimento demonstrou que um líquido, ao ser fervido, não perde a suposta “força vital”, como defendiam os adeptos da geração espontânea. Na verdade, quando o pescoço do balão é quebrado, depois da fervura do líquido, surgem seres vivos. O experimento refuta ainda outro argumento dos defensores da abiogênese: a formação de ar viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, nesse caso, em contato com o ar atmosférico através do pescoço do balão, porém não ocorre o aparecimento de seres vivos porque as gotículas de água acumuladas no gargalo retêm os micróbios presentes no ar. A partir dos experimentos de Pasteur, a teoria da biogênese passou a ser predominante nos meios científicos. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Existem três tipos de pasteurização: 11 4. Surgimentos dos primeiros seres vivos não apresentava oxigênio (O2) e nem, portanto, camada de ozônio (O3). Sem esse filtro, a radiação ultravioleta não era barrada e atingia a superfície de forma intensa. De fato, com a consolidação da teoria da biogênese, a questão da origem da vida passou a preocupar cada vez mais os cientistas: se apenas seres vivos podem originar outros seres vivos, como apareceram as primeiras formas de vida? Desse modo, os raios solares, em conjunto com os efeitos das fortes descargas elétricas, forneceu a energia necessária para que os gases componentes da atmosfera reagissem entre si e formassem moléculas orgânicas simples (aminoácidos, açúcares, álcoois). Para responder a essa pergunta, várias hipóteses foram formuladas. Uma das teorias mais antigas, o criacionismo, geralmente está associada à religião. Seus defensores argumentam que cada ser vivo foi gerado individualmente através de criação divina e que sua forma é a mesma desde o princípio, imutável ao longo do tempo (fixismo). Já a panspermia afirma que a vida veio de outra parte do Universo, por meio de meteoros e cometas que caíram na Terra. Embora tenham evidências de material orgânico em meteoritos, essa teoria não explica a origem da vida e apenas levanta mais questionamentos. Não obstante, a teoria mais aceita atualmente é a hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos, desenvolvida pelo russo Aleksandr Oparin e pelo inglês John Burdon Sanderson Haldane na década de 1920. Para se compreender a teoria de Oparin e Haldane, é preciso conhecer as condições da Terra primitiva. 4.1. A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Essa hipótese, formulada por Oparin e Haldane, sugere que, na Terra primitiva, moléculas orgânicas complexas se formaram a partir de moléculas simples, antes do aparecimento dos seres vivos. 12 Apesar de a Terra conservar altas temperaturas após a sua formação, o contato com o espaço cósmico – que é muito frio – possibilitou ligações químicas entre os elementos, formando substâncias como a água. Portanto, ao passo que o calor da superfície evaporava toda substância líquida, as camadas mais frias da atmosfera condensavam os vapores de água e provocavam violentas tempestades com descargas elétricas (raios). Apenas com o gradativo processo de resfriamento da Terra que foi possível o acúmulo de água líquida sobre a superfície, fator que deu origem aos mares primitivos. Além disso, intensas atividades vulcânicas liberavam gases que contribuíam para a formação de uma atmosfera primitiva bem diferente da atual, formada provavelmente por metano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H2) e vapores de água (H2O). Todavia, ao contrário da atmosfera atual, a primitiva Essas moléculas foram arrastadas pelas águas das chuvas e se acumularam em mares primitivos, quentes e rasos, que possibilitaram a ocorrência de outras reações. Assim, a formação de grande número de substâncias orgânicas, simples e complexas, transformou esses mares em verdadeiras "sopas nutritivas". As moléculas de proteína dispersas em água formaram uma solução coloidal com características próprias. Nos coloides, cada molécula de proteína encontra-se envolvida por várias moléculas de água atraídas pela diferença de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da solução coloidal, as moléculas de proteína aproximam-se, formando vários aglomerados proteicos envoltos por uma porção líquida denominada camada de hidratação ou solvatação. Esses aglomerados foram chamados por Oparin de coacervados. PROTEÍNA COACERVADO H2O camada de solvação Esquema do desenvolvimento da camada de solvatação e dos coacervados Esses coacervados não eram seres vivos, mas uma primitiva organização das substâncias orgânicas, principalmente de proteínas e ácidos nucleicos, em um sistema isolado do meio. Apesar de isolados, os coavervados realizavam trocas com o meio externo e possuíam em seu interior condições para a ocorrência de inúmeras reações químicas. Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tornaram-se mais complexos, chegando inclusive a apresentar capacidade de duplicação. Nesse momento, teriam surgido os primeiros seres vivos, que, apesar de organização simples, eram capazes de reproduzir-se, dando origem a outros seres vivos. Essa evolução gradual dos sistemas químicos teve a duração provável de 2 bilhões de anos. O esquema a seguir sintetiza essa hipótese. H2O as condições da Terra primitiva e introduziram nele os gases que provavelmente constituíam a atmosfera daquele período: amônia (NH3), hidrogênio (H), metano (CH4) e vapor de água. H2 CH4 NH 3 ELETRODOS Esses gases sofrem influência de fortes descargas elêtricas e de raios ultravioleta, formando moléculas orgânicas. Gases da atmosfera primitiva TUBO PARA CRIAR VÁCUO POLO POSITIVO POLO NEGATIVO AMÔNIA METANO HIDROGÊNIO VAPOR D’AGUA SÁIDA DO VAPOR CONDENSADOR A chuva arrasta essas moléculas para a superficie da Terra ÁGUA FERVENTE PARA GERAR VAPOR Calor. Formação de moléculas orgânicas complexas *Sopa nutritiva* RESULTADOS PARA ANÁLISE Alteração da acidez do meio propicia a formação de aglomerados proteicos isolados (coacervados). Inúmeras reações químicas ocorrem dando origem aos primeiros seres vivos. Hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos proposta por Oparin e Haldane 4.2. O experimento de Miller e Urey A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi testada pela primeira vez em 1953 pelos químicos norte-americanos Stanley L. Miller (1930-2007) e Harold Urey (1893-1981). Eles construíram um aparelho que simulava Esquema do experimento de Miller e Urey (1953), demonstrando a formação de aminoácidos em condições similares às da Terra primitiva A água, ao ferver, transforma-se em vapor e ocasiona a circulação em todo o sistema, conforme indicado pelas setas. No balão em que se encontra a mistura gasosa, ocorrem descargas elétricas simulando raios, que deviam ser muito frequentes naquela época. Em seguida, as substâncias são submetidas a um resfriamento para simular a condensação nas altas camadas da atmosfera, fator que provoca as chuvas. A parte em “U” do sistema simula os mares primitivos, que recebiam as chuvas e os compostos formados na atmosfera. Pela análise da água acumulada nessa parte em “U”, foi possível verificar a formação de moléculas orgânicas, dentre elas alguns aminoácidos, substâncias que formam as proteínas. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Conceitos de química são aplicados no famoso experimento de Miller e Urey, dado que envolve reações químicas que transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Dessa forma, compreender como os átomos e íons se conectam e se comportam para formarem pequenas moléculas orgânicas, como aminoácidos, e, posteriormente, moléculas orgânicas maiores, como as proteínas, é fundamental para entender como foi possível o início da vida a partir de moléculas inorgânicas simples, como metano, nitrogênio, hidrogênio e vapor de água, que estavam presentes na atmosfera primitiva. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Moléculas orgânicas simples na atmosfera ENTRADA DE ÁGUA 13 Dessa forma, o experimento de Miller e Urey demonstrou que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam ter-se formado nas condições da Terra primitiva, o que reforçou a hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos. 4.3. O experimento de Fox O bioquímico norte-americano Sidney W. Fox (1912-1998), por meio de experimentos, evidenciou a combinação de dois aminoácidos através de uma síntese de desidratação. NH2 R C O C+ H H2O + R O + R H NH OH C H NH2 O H R+ C C N C H H C OH O C OH Reação que forma as ligações peptídicas entre aminoácidos, por desidratação. Para isso, aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e, depois do resfriamento, verificou que eles haviam se unido para compor moléculas maiores e mais complexas, semelhantes a proteínas. Na Terra primitiva, os aminoácidos teriam chegado às rochas levados pelas chuvas. A evaporação da água teria deixado os aminoácidos secos sobre a superfície das rochas quentes. Em tais condições, teria ocorrido a formação de ligações peptídicas pela evaporação da água e a consequente formação de proteínas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 4.4. A hipótese autotrófica 14 Alguns cientistas questionam se a vida surgiu nos mares rasos e quentes da Terra primitiva, uma vez que a superfície do planeta era bombardeada frequentemente por meteoros. Dessa forma, a crosta terrestre não teria a estabilidade necessária para o desenvolvimento dos seres vivos. Para os defensores dessa teoria, a vida se originou nos assoalhos oceânicos, perto de fontes térmicas, onde existiam bactérias capazes de utilizar compostos químicos para obter energia e, assim, sintetizar sua própria matéria orgânica. Como todo ser vivo necessita de alimento para sobreviver, parece lógico admitir que os primeiros tenham sido capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, tenham sido autótrofos. De fato, está comprovado que que existem bactérias quimiossintetizantes em fontes térmicas sulfurosas de regiões tão profundas que a luz solar não consegue alcançar. Entretanto, existe uma objeção a essa teoria: como os autótrofos sintetizam alimentos orgânicos (a partir de substâncias inorgânicas) à custa de uma série extremamente complexa de reações químicas, exige-se que seu próprio organismo também seja complexo - uma situação menos provável de acontecer quando comparada ao surgimento de seres mais simples. 4.5. A hipótese heterotrófica Essa hipótese sustenta que o primeiro ser vivo surgiu em um determinado ambiente, na forma de um ser pouco complexo e incapaz de fabricar seu alimento. Ou seja, ela supõe que um organismo simples evoluiu vagarosamente da matéria inanimada, fato que ocorreu nas condições específicas de milhões de anos atrás. Não se trata de geração espontânea, uma vez que a teoria da abiogênese afirma que seres complexos podem surgir de matéria bruta. De acordo com a hipótese heterotrófica, a vida teria surgido por meio das etapas ilustradas abaixo: FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS FORMAÇÃO DE PROTEÍNAS CAPACIDADE DE REPRODUÇÃO FORMAÇÃO DE COACERVADOS APARECIMENTO DE AUTÓTROFOS SURGIMENTO DE HETERÓTROFOS PREDOMÍNIO DE AUTÓTROFOS OBTENÇÃO DE ENERGIA APARECIMENTO DE AERÓBIOS Para se manter e se desenvolver, um sistema de coacervados necessitaria de uma fonte de energia constante e controlável. A hipótese heterotrófica sugere que essa fonte teria sido a energia das ligações químicas existentes nas imensas quantidades de substâncias, geradas durante milhares de anos no mar primitivo. Porém, como a presença de gás oxigênio (O2) era quase nula na atmosfera da época, esse primeiros seres provavelmente eram heterótrofos fermentadores que liberavam CO2. 4.5.1. Capacidade de reprodução Devido a sua capacidade de retirar alimentos e energia do meio e organizar as moléculas em padrões definidos, os heterótrofos-anaeróbios primitivos teriam crescido gradativamente, a tal ponto que teriam surgido novos problemas na luta pela sobrevivência: com o aumento volumétrico do indivíduo, a difusão do alimento do meio exterior para o interior do coacervado teria ficado mais lenta por causa da distância a ser percorrida; desse modo, o coacervado teria começado a sofrer fome. Nessas condições, teria se dividido para reduzir seu volume. Contudo, qualquer mecanismo de divisão teria gerado um novo problema; ao dividir-se, o coacervado teria corrido o risco de se desorganizar e, portanto, perder as características de sistema complexo adquiridas em muito tempo de evolução. Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos nucleicos, moléculas que controlam os processos básicos de reprodução e organização. Em tais condições, o organismo que tivesse DNA teria encontrado o meio para se duplicar de maneira exata, transmitindo aos seus descendentes o mesmo padrão de organização adquirido depois de toda evolução transcorrida. 4.5.3. Surgimento dos aeróbios No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de oxigênio. Dessa forma, é possivel supor que uma certa quantidade de gás tenha-se acumulado gradativamente, durante milhares de anos, como consequência do aparecimento dos autótrofos. O aumento na concentração de oxigênio tornou a atmosfera tóxica para muitos dos seres vivos anaeróbios e, portanto, selecionou organismos adaptados às novas condições. Além disso, o uso de oxigênio para a obtenção da glicose libera muito mais energia do que aquela obtida na ausência de oxigênio, uma vez que a fermentação fornece um saldo energético de apenas 2 ATP, enquanto, na reação com o oxigênio, o saldo é de 38 ATP. Dessa forma, os organismos capazes de executar respiração aeróbia teriam levado vantagem, pois eram capazes de retirar mais energia do alimento disponível. 4.5.2. Surgimento dos autótrofos Ao longo do desenvolvimento da vida na Terra, houve diversas mutações no material genético dos seres vivos. A partir delas, há cerca de 2,7 bilhões de anos atrás, surgiram aleatoriamente seres vivos unicelulares com capacidade de sintetizar matéria orgânica a partir de inorgânica, ou seja, organismos autótrofos. Devido à presença de enzimas ATP, ao surgimento de pigmentos fotossintetizantes e à capacidade de usar CO2 e captar energia luminosa para realizar uma fotossíntese, esses primeiros autótrofos foram bem-sucedidos no ambiente. multimídia: site https://evosite.ib.usp.br/ VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Com o passar do tempo, a quantidade relativa de alimento começou a decair e a competição entre os seres heterótrofos se amplificou. A "sopa nutritiva" se diluiu progressivamente devido ao crescimento contínuo da população que aumentou o consumo de matérias orgânicas e à diminuição da síntese de tais substâncias, dado que as condições para formá-las deixavam de existir. Em contrapartida, graças à fermentação dos heterótrofos, a atmosfera tinha taxas cada vez mais altas de gás carbônico (CO2). 15 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. A questão irá testar a capacidade de interpretação de hipóteses científicas por meio de experimentos e como os resultados desses experimentos apoiam ou refutam a hipótese. Resultados dentro do esperado podem tornar a hipótese uma lei científica. MODELO 1 (Enem) Em certos locais, larvas de moscas, criadas em arroz cozido, são utilizadas como iscas para pesca. Alguns criadores, no entanto, acreditam que essas larvas surgem espontaneamente do arroz cozido, tal como preconizado pela teoria da geração espontânea. Essa teoria começou a ser refutada pelos cientistas ainda no século XVII, a partir dos estudos de Redi e Pasteur, que mostraram experimentalmente que a) seres vivos podem ser criados em laboratório; b) a vida se originou no planeta a partir de microrganismos; c) o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo preexistente; d) seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados; e) vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos nutritivos, respectivamente. ANÁLISE EXPOSITIVA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os experimentos de Redi e Pasteur demonstraram que não é possível o surgimento de vermes ou microrganismos por geração espontânea. Nessa situação, é importante saber analisar o procedimento experimental adotado pelos cientistas e como os resultados obtidos refutaram a teoria da abiogênese. 16 O experimento de Redi foi realizado com a utilização de dois frascos com um pedaço de carne cada. Um frasco permaneceu aberto e o outro foi fechado com gaze. Com o passar dos dias, ele observou que havia vermes somente no frasco que permaneceu aberto, refutando a hipótese da abiogênese. Já Pasteur provou que microrganismos não podem surgir espontaneamente. Ao ferver o meio de cultura em um recipiente com pescoço de cisne, ele esterilizava o meio e o acúmulo de líquido no pescoço do recipiente impedia que bactérias do ar entrassem no meio. Com isso, o meio de cultura permanecia estéril. Essa condição se invertia quando o pescoço de cisne era retirado, promovendo a entrada de ar e, consequentemente, o crescimento bacteriano no meio de cultura, que ficava com cor turva. RESPOSTA Alternativa C DIAGRAMA DE IDEIAS ORIGEM DA VIDA ABIOGÊNESE (IV A.C.) BIOGÊNESE (XVII) PANSPERMIA VIDA A PARTIR DA MATÉRIA BRUTA • ARISTÓTELES • J.B. VAN HELMONT VIDA A PARTIR DE ALGO VIVO SERES VIVOS OU SUBSTÂNCIAS PRECURSORAS, VINDAS DE OUTROS LOCAIS DO COSMO F. REDI (1660) FRASCOS COM CARNE L. PASTEUR (1860) PESCOÇO DE CISNE TEORIA DA EVOLUÇÃO QUÍMICA (XX) COMPOSTOS INORGÂNICOS ORIGINAM MOLÉCULAS ORGÂNICAS OPARIN E HALDANE MILLER TEORIA PRÁTICA MOLÉCULAS ORGÂNICAS COACERVADOS TEORIA AUTOTRÓFICA TEORIA HETEROTRÓFICA PRIMEIRO SER VIVO CAPAZ DE SINTETIZAR SEU PRÓPRIO ALIMENTO PRIMEIRO SER VIVO NUTRIA-SE DA MATÉRIA ORGÂNICA DO MEIO HETEROTRÓFICOS FERMENTADORES AUTOTRÓFICOS FERMENTADORES FOTOSSINTETIZANTES AERÓBICOS VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ATMOSFERA COM CH4, NH3, H2, H2O + DESCARGA ELÉTRICA 17 mamíferos, estão adaptados ao ambiente em que vivem simplesmente porque as características que apresentam permitem a realização de todas as suas funções vitais básicas, ou seja, possibilitam o funcionamentos dos seus metabolismos energético, plástico e de controle. EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS CN COMPETÊNCIA(s) 4 1.1. Fixismo e transformismo AULAS 3E4 HABILIDADE(s) 15 e 16 1. A evolução O ser humano sempre se interessou pelos seres vivos que o rodeiam. Os caçadores silvícolas, os filósofos gregos, os monges da Idade Média, assim como qualquer outro ser humano de qualquer época. Todos possuem o discernimento de que os indivíduos, ainda que diferentes uns dos outros em muitos pormenores, tendem a organizar-se em grupos com características comuns. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Atualmente, denomina-se esse grupos como espécies, um conjunto de indivíduos semelhantes anatômica, fisiológica e filogeneticamente, capazes de realizar fluxo gênico entre si por mecanismos reprodutivos diversos e produzir descendentes com as mesmas características (transmissão hereditária). 18 A evolução biológica consiste no conjunto de mutações sofridas pelas espécies ao longo do tempo. Essas modificações podem permitir à espécie uma melhor adaptação ao meio em que vive, ou seja, realizar com mais eficiência seus comportamentos reprodutivo, alimentar e de exploração de seu habitat. Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos que conhecemos hoje são exatamente iguais à época de sua criação. Essa teoria, conhecida como fixismo, começou a ser questionada com maior vigor a partir do século XVIII, quando se passou a acreditar que uma espécie poderia modificar-se com o tempo, originando uma ou mais espécies diferentes da anterior. Assim, o fixismo, geralmente propagado pela Igreja, defende que as espécies foram originadas simultaneamentes por uma divindade e que conservam uma essência imutável, sem a capacidade de se modificar ao longo do tempo. Já o transformismo propõe que as espécies são mutáveis e que há uma correspondência entre as transformações do meio e e as adaptações dos organismos. A partir desse conceito, originou-se o evolucionismo. Entre os transformistas está Jean-Baptiste de Lamarck (1744 -1829), o qual acreditava que as espécies não são fixas, mas que descendem de outras, e, por meio de mudanças graduais que se processam através de muitas gerações, apresentam diferenças em relação aos ancestrais. 2. Evidências evolutivas As evidências evolutivas fornecem informações sobre as condições em que os organismos estão inseridos, permitem traçar relações de parentesco e facilitam a análise da diversidade genética − desde a origem da variedade, até o estabelecimento de sua frequência. Em outras palavras, auxiliam no entendimento dos processos de evolução. Uma espécie evoluída é adaptada ao meio em que vive, não importando o seu grau de complexidade. Por exemplo, um organismo procarionte, unicelular e heterótrofo, como uma bactéria que vive em nossos intestinos, pode ser considerado tão adaptado ao seu habitat quanto um organismo eucarionte, pluricelular com tecidos e um autótrofo, como um abacateiro, que é uma árvore frutífera. O mesmo raciocínio pode ser feito quando a comparação é feita com o ser humano. pode levar a diversas conclusões sobre os seus hábitos alimentares. Assim, é interessante observar que tanto os organismos simples, como as bactérias, quanto os complexos, como os Fósseis, datação radiométrica, filogenia, constituição química de organismos modernos e experimentos diversos ace- Imagem com fezes fossilizadas de organismos extintos, sua análise nam para linhas de evidência que avançam para esclarecer a origem da vida. Entretanto, essas hipóteses são sempre vulneráveis a mudanças graças ao avanço tecnológico e ao conhecimento científico. A revisão de hipóteses é parte essencial da pesquisa científica. todas as formas de vida. A grande maioria dos seres vivos do passado não foi fossilizada. Em consequência, existe a dificuldade de relacionar diferentes grupos de seres vivos. Faltam fósseis de transição que liguem esses grupos. É importante perceber que Lamarck e, mais tarde, Darwin, ambos evolucionistas, procuraram elucidar o fato por meio de hipóteses e teorias. A seguir, serão apresentadas as evidências evolutivas descritas pela ciência ao longo dos anos. 2.1. Fósseis Os fósseis são a principal e mais notável evidência a favor do transformismo e, portanto, da teoria evolucionista. Por definição, eles são restos ou vestígios de organismos de épocas remotas conservados até a atualidade. Representam uma evidência evolutiva, pois fósseis de diferentes idades e/ou encontrados em distintos estratos geológicos demonstram que os organismos não foram criados simultaneamente. Além disso, também corroboram com a ideia que as espécies sofrem modificações ao longo do tempo, uma vez que os fósseis não possuem as mesmas características dos seres vivos atuais. O registro fóssil é uma importante evidência das mudanças pelas quais passam os organismos ao longo do tempo e, por meio da comparação com espécies atuais, fornece possíveis indicativos de parentesco evolutivo. Processo de fossilização. Desde a morte até a descoberta dos restos fósseis. 2.1.2. Tipos de fossilização Fósseis de Teleósteo (peixe ósseo). 2.1.1. Processo de fossilização § Fossilização por âmbar: o âmbar é uma resina liberada por árvores e com capacidade de aprisionar um organismo vivo, permitindo a conservação das partes moles de um ser vivo. São necessárias condições especiais para que um fóssil se forme. Dado que os cadáveres se decompõem, é preciso que os restos mortais ou os vestígios de um organismo morto fiquem a salvo da ação de agentes decompositores e das intempéries naturais, como o vento, o sol e a chuva. As condições mais favoráveis à fossilização ocorrem quando o corpo é coberto por sedimentos imediatamente depois da morte. Com efeito, a fossilização é um processo raro. Em razão disso, a paleontologia padece com a ausência de fósseis de Preservação por âmbar, muito comum na conservação de insetos, pólen e répteis. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Dentre os muitos tipos de fossilização, destacam-se: 19 § Fossilização por mumificação e congelamento: a mumificação ocorre em regiões desérticas e áridas; já o congelamento ocorre em regiões glaciais, como a Sibéria, onde foram encontrados mamutes em perfeito estado de conservação. § Fossilização por carbonificação: ocorre mais comumente com restos vegetais e organismos com partes moles. Os restos mortais são comprimidos pelo peso ou pela compactação das rochas. Durante o processo, em razão do calor e da compressão, são liberados gases como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Ao final, resta apenas uma película de carbono do organismo. Exemplo de carbonificação recorrente em uma planta licófita. Perceba a cor preta que o vegetal adquiriu. 2.1.3. Datação radioativa dos fósseis A idade de um fóssil pode ser estimada pela medição de elementos radioativos presentes nele ou na rocha em que está fossilizado. Teoricamente, quanto mais profundo o terreno, mais antigo é o fóssil. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Caso o fóssil apresente substâncias orgânicas em sua constituição, sua idade pode ser calculada com razoável precisão pelo método do carbono-14 (14C), um isótopo radioativo do carbono (12C). 20 De acordo com uma determinação científica, a meia-vida do carbono-14 é de 5730 anos. Isso significa que, nesse período, metade do carbono-14 de uma amostra desintegra-se. Ao morrer, um organismo que se fossiliza contém determinada quantidade de 14C. Passados 5730 anos, restará no fóssil apenas metade da quantidade de 14C presente no ser vivo que morreu. Passados mais 5730 anos, a metade do que restou também será desintegrada, e assim por diante, até o último vestígio de isótopo radioativo na matéria orgânica remanescente. Por meio da medição da quantidade residual de carbono-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se passou desde a morte do ser vivo que o originou. Um fóssil que apresente 1/8 do carbono radioativo estimado para um organismo vivo indica que a morte deve ter ocorrido há aproximadamente 22 ou 23 mil anos. Fóssil de mamute No entanto, a datação por meio do carbono-14 serve apenas para fósseis com menos de 50 mil anos, dado que a meia-vida desse isótopo é relativamente curta. Para datar fósseis mais antigos, empregam-se isótopos com meia-vida mais longa, como é o caso das rochas fossilíferas. Rochas formadas há alguns milhões de anos podem ser datadas por meio do isótopo urânio-235 (235U), cuja meia-vida é de 700 milhões de anos. Para rochas mais antigas, com centenas de milhões de anos de idade, usa-se o potássio-40, cuja meia-vida é de 1,3 bilhão de anos. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Um princípio químico, como o tempo de meia-vida do carbono-14, é utilizado para determinar a idade de um fóssil e, assim, estudar o processo evolutivo e a relação entre os indivíduos. A colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14, presente na atmosfera terrestre, forma o carbono-14. Esse isótopo do carbono pode ligar-se com o oxigênio, formando o gás carbônico, que é absorvido pelas plantas. Quando um organismo morre, a quantidade de carbono-14 sofre uma queda, o que resulta em um decaimento radioativo. O tempo de meia−vida do carbono-14 é de 5730 anos. Dessa forma, um organismo que morreu há 5730 anos apresentará a metade do conteúdo de 14C. VIVENCIANDO Há evidências de que a vida tenha se manifestado há 3,5 bilhões de anos com a descoberta de microfósseis (fósseis invisíveis a olho nu) da vida celular procariótica, frequentemente na forma de estruturas rochosas encontradas no sul da África e na Austrália, chamadas estromatólitos, produzidos por micróbios (maioria cianobactérias fotossintetizantes), que se formam quando as células crescem na superfície marinha e sedimentos se depositam entre as células ou sobre elas. Assim, uma camada mineralizada fica abaixo delas, pois as células crescem na direção da luz. Com o passar do tempo e a repetição do processo, camadas mineralizadas vão formando uma estrutura rochosa estratificada, o estromatólito. Ainda hoje, micróbios produzem estromatólitos modernos que são incrivelmente similares aos antigos. Vistos em corte transversal, ambos mostram a mesma estrutura de camadas produzidas por bactérias. Microfósseis de cianobactérias anciãs são eventualmente identificados nessas camadas. Fósseis estromatólitos em secções transversais. 2.2.1. Homologia Estruturas homólogas apresentam a mesma origem embriológica, mas podem ter destinos funcionais diferentes. Quando as estruturas não desempenham funções semelhantes, indicando adaptações distintas, as homologias apontam uma evolução divergente. Fonte: Youtube POA ciência de Jurassic Park | Nerdologia 57 2.2. Anatomia e embriologia comparadas No estudo dos vertebrados, é evidente a existência de um padrão esquelético: um crânio ligado a uma coluna vertebral que apresenta uma cintura escapular, onde se conectam os membros anteriores e uma cintura pélvica, na qual estão conectados os membros posteriores. Assim, é perceptível que todos os vertebrados, apesar de diferentes, apresentam características em comum, fator que mostra parentesco e indica um ancestral comum que, por evolução, deu origem a todos os subgrupos. O estudo embriológico dos animais, por sua vez, demonstra que, quanto mais inicial é a fase de desenvolvimento do embrião, maiores são as dificuldades de diferenciação e identificação do grupo estudado. Isso indica que o desenvolvimento embriológico dos animais é extremamente semelhante nas suas primeiras fases e que a distinção só ocorre mais tarde. Portanto, entre espécies ou grupos evolutivamente próximos, existe uma semelhança embriológica muito grande em relação às fases iniciais do desenvolvimento. Nesse sentido, é possível citar os membros anteriores de vertebrados, que podem se diversificar em braços, patas dianteiras, nadadeiras ou asas. Apesar de funcionalidades diferentes, identifica-se parentesco e, por consequência, ancestralidade comum. Rádio Ulna Úmero Carpo 1 Metacarpo 4 5 Úmero 3 Ulna Golfinho 2 Rádio Carpo Metacarpo 1 5 4 2 3 Humano Úmero Ulna Rádio Metacarpo Carpo Cavalo Úmero Ulna Rádio 1 VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias multimídia: vídeo Carpo 2 Metacarpo 3 4 21 Ulna Rádio Metacarpo Carpo Cavalo Úmero Ulna Rádio 1 Carpo 2 Metacarpo 3 4 5 Morcego Estudo comparativo ósseo entre membros anteriores de golfinho, humano, cavalo e morcego. A homologia é evidente na formação das espécies a partir de um ancestral comum que colonizou diferentes meios e nichos ecológicos, apresentando adaptações distintas. Esse processo evolutivo caracteriza a irradiação adaptativa. Como exemplo, é possível citar as asas de insetos, aves e morcegos. Esses grupos distintos adotaram, ao longo do tempo, a mesma estratégia – asa – para a locomoção no meio aéreo, porém a origem da estrutura nos grupos é completamente diferente. A presença da característica “asa” permitiu a adaptação, ou seja, o voo. Nesse caso, percebe-se que o ambiente foi o referencial comum entre as espécies distintas, pois, para a locomoção no meio aquático, sem dúvida que nadadeiras seriam mais adaptadas, independentemente de sua origem – caracterizando analogia. Essa situação é chamada de convergência adaptativa. Representação de convergência evolutiva. Representação de irradiação adaptativa. 2.2.2. Analogia VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Estruturas análogas obrigatoriamente apresentam a mesma função ou papel biológico, mas possuem origens embriológicas distintas. Assim, apesar de serem indício de condições evolutivas similares, não são evidências de parentesco. 22 As estruturas análogas surgem de um processo denominado evolução convergente. Devido a contextos ecológicos e a pressões seletivas semelhantes, as estruturas evoluem independentemente em vários grupos que não possuem ancestral em comum, convergindo para uma mesma funcionalidade. Esquema comparativo de analogia e homologia entre asas de diferentes animais Exemplo de convergência evolutiva: rãs, crocodilos e hipopótamos possuem os olhos e as narinas posicionados acima da superfície da água. Isso permite que eles permaneçam ocultos, ao mesmo tempo que possibilita respirarem e observarem ao seu redor. As estruturas não possuem mesma origem evolutiva, foram as pressões ambientais similares que selecionaram os caracteres mais adaptados ao meio. 2.2.3. Estruturas vestigiais As estruturas vestigiais são características biológicas reduzidas que modificaram ou perderam sua funcionalidade principal. Embora encontrada nessas condições em alguns grupos de seres vivos, em outros a estrutura pode ser bem desenvolvida. Assim, é possível traçar parentesco entre as espécies que a possuem. O ceco, o apêndice vermifome e a a base da espinha dorsal humana são exemplos de órgãos vestigiais. Todas essas características estão pouco desenvolvidas na espécie humana, enquanto em outras estão mais desenvolvidas − o que denota modificação e evolução ao longo do tempo. Por exemplo, ao passo que o apêndice cecal não possui função aparente em animais carnívoros, em herbívoros ele é bem desenvolvido e possui papel essencial na digestão de celulose. Base da espinha dorsal Humana Vértebras multimídia: vídeo Fonte: Youtube Sacro Por Dentro do Apêndice - Por Dentro 7 Cóccix (cauda vestigial) Base da espinha dorsal humana Ceco Intestino delgado COELHO Intestino delgado Apêndice Apêndice Ceco Intestino delgado Intestino delgado SER HUMANO HOMEM HOMEM Intestino Intestino grosso grosso Ceco Ceco Apêndice Apêndice vermiforme Ceco vermiforme Ceco Intestino Intestino delgado delgado multimídia: site Esquema comparativo entre o intestino de coelhos e de seres humanos. http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/analogia-homologia.htm 2.3. Bioquímica, biologia e genética molecular http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/ Ciencias/bioevolucao2.php Estudos nas áreas de bioquímica, biologia e genética molecular têm mostrado que a presença das mesmas proteínas em organismos de grupos diferentes indica semelhança no aparato metabólico e hereditário, o que, sem dúvida, evidencia parentesco e, portanto, ancestralidade comum. O esquema abaixo ilustra os processos básicos e universais que envolvem o material genético e a sua expressão. DNA informação Transcrição informação Replicação Transcrição (Síntese de RNA) RNA informação Tradução Tradução (Síntese proteica) Ribossomo proteína Mecanismos para expressão do material genético. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias COELHO 23 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. O exercício testa a capacidade do aluno de interpretar o processo biológico (queda do meteorito e o impacto ambiental causado) e relacioná-lo à extinção dos dinossauros. MODELO 1 (Enem) Paleontólogos estudam fósseis e esqueletos de dinossauros para tentar explicar o desaparecimento desses animais. Esses estudos permitem afirmar que esses animais foram extintos há cerca de 65 milhões de anos. Uma teoria aceita atualmente é a de que um asteroide colidiu com a Terra, formando uma densa nuvem de poeira na atmosfera. De acordo com essa teoria, a extinção ocorreu em função de modificações no planeta quet a) Desestabilizaram o relógio biológico dos animais, causando alterações no código genético. b) Reduziram a penetração da luz solar até a superfície da Terra, interferindo no fluxo energético das teias tróficas. c) Causaram uma série de intoxicações nos animais, provocando a bioacumulação de partículas de poeira nos organismos. d) Resultaram na sedimentação das partículas de poeira levantada com o impacto do meteoro, provocando o desaparecimento de rios e lagos. e) Evitaram a precipitação de água até a superfície da Terra, causando uma grande seca que impediu a retroalimentação do ciclo hidrológico. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANÁLISE EXPOSITIVA 24 Entender o fenômeno das extinções corretamente é de grande importância para dominar esse processo biológico. Existe a crença de que o impacto por si só foi a grande causa das extinções dos dinossauros há 65 milhões de anos. Na verdade, a Terra já vinha passando por alterações climáticas consideráveis que foram potencializadas devido aos efeitos da queda do meteoro. Dentre esses efeitos, a formação de uma camada de poeira foi determinante, uma vez que reduziu drasticamente a incidência de luz na superfície terrestre, diminuindo assim a captação de energia dos produtores e comprometendo as teias alimentares. Como os dinossauros eram muito numerosos, sofreram drasticamente com esse processo a ponto de serem extintos. RESPOSTA Alternativa B DIAGRAMA DE IDEIAS EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS FATORES QUE COMPROVAM A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA BIOQUÍMICA, BIOLOGIA E GENÉTICA MOLECULAR FÓSSEIS OS ORGANISMOS DE ANTIGAMENTE ERAM DIFERENTES EX: ANIMAIS COM AS MESMAS PROTEÍNAS EVIDENCIAM UM PARENTESCO ÓRGÃOS VESTIGIAIS ANATOMIA COMPARADA O CECO BEM DESENVOLVIDO EM HERBÍVOROS E POUCO DESENVOLVIDO EM CARNÍVOROS. EX: ANIMAIS COM COLUNA VERTEBRAL / ANIMAIS SEM COLUNA VERTEBRAL MESMA ORIGEM ORIGEM DISTINTA, MAS MESMA FUNÇÃO ÓRGÃOS HOMÓLOGOS ÓRGÃOS ANÁLOGOS PODEM APRESENTAR FUNÇÕES IGUAIS OU DIFERENTES (DIVERGÊNCIA ADAPTATIVA) CONVERGÊNCIA ADAPTATIVA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias EMBRIOLOGIA COMPARADA 25 senvolvimento de ossos e músculos. As girafas com pescoços desenvolvidos transmitiriam essa característica a seus descendentes. Logo, ao longo das gerações, todas as girafas teriam pescoços grandes. Para Lamarck, portanto, o ambiente tem um papel direcionador e induz modificações nas características e nas adaptações dos organismos, uma vez que estes se modificam para atender às necessidades impostas pelo meio. TEORIAS EVOLUTIVAS CN COMPETÊNCIA(s) 4 AULAS 5E6 HABILIDADE(s) 15 e 16 Representação do ambiente induzindo o desenvolvimento do pescoço da girafa ao longo das gerações 1. Introdução Entendendo que a evolução é o conjunto de mudanças hereditárias dos organismos no decorrer do tempo e que o estudo das evidências corroboram essa teoria, é preciso entender como ocorrem as alterações nas espécies com o transcorrer do tempo. Outra questão importante é o modo como essas modificações, se favoráveis, permanecem ao longo das gerações. Jean-Baptiste de Lamarck (século XVIII) e Charles Darwin (século XIX) foram dois cientistas que se destacaram na tentativa de explicar essas e outras questões. A teoria de Lamarck, publicada em 1809, baseava-se em três pontos principais: Outro questionamento dessa teoria foi realizado por Weismann, em experiências cortando caudas de camundongos por sucessivas gerações e mostrando que não havia atrofia desse apêndice. Ele foi autor da teoria da “continuidade do plasma germinativo”, segundo a qual o germe é imortal, não sendo as alterações provocadas pelo meio ambiente transmissíveis aos descendentes. 1. A lei do uso e desuso afirmava que era possível adquirir características necessárias à adaptação em um certo ambiente pelo uso intensivo do órgão ou estrutura envolvida. Enquanto, do mesmo modo, o desuso poderia atrofiar determinada característica. Apesar de algumas de suas interpretações sobre a evolução terem sido refutadas, Lamarck foi um dos primeiros cientistas a criticar o fixismo e a introduzir o conceito de adaptação do organismo ao meio, que é fundamental para a compreensão do processo evolutivo. 2. A lei da transmissão dos caracteres adquiridos, de maneira complementar, defendia que essas mudanças eram hereditáras, ou seja, eram transmitidas aos descendentes. 3. Darwinismo VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 2. Lamarckismo 26 O lamarckismo é considerado equivocado pela biologia contemporânea: os lamarckistas defendem que os bagres cegos das grutas de Ipiranga perderam a visão devido ao desuso e à atrofia dos olhos na ausência da luz; no entanto, foi demonstrado que tais animais simplesmente descendem de formas com visão atrofiada (mutações), que surgiram e se fixaram ao acaso, quer na presença, quer na ausência de luz. 3. A ideia da evolução como progresso e melhora. Para Lamarck, o aumento da complexidade e da perfeição seriam o destino natural e esperado de cada espécie. Exemplo: o comprimento do pescoço das girafas pode ser entendido, se pensarmos nos esforços diários para alcançar os ramos mais altos das árvores, como um resultado do de- Na teoria de Charles Darwin, a evolução é defendida como um processo lento e gradual de pequenas alterações que vão se acumulando até resultarem em uma grande mudança em relação aos indivíduos ancestrais. Em sua viagem ao redor do mundo, de dezembro de 1831 a outubro de 1836, a bordo do navio inglês H.M.S. Beagle, Darwin observou e colheu espécimes de animais e plantas que o levaram a elaborar sua teoria evolucionista. Bico grande e forte que Bico grande e afiado que esmaga sementes grandes agarra e corta insetos e duras Bico curto e fino que Bico pequeno e forte que apanha insetos das fendas parte sementes no solo Bico grande e fino que néctar de flores Representação de alguns tipos de tentilhões e relação dos tipos de bicos com alimentos Locais visitados por Darwin a bordo do eH.M.S. . e afiado que Bico grande forte que Beagle Bico grande esmaga sementes grandes agarra e corta insetos e duras Bico curto e fino que Bico pequeno e forte que apanha insetos das fendas parte sementes no solo Bico grande e fino que tira néctar de flores Foi com base na observação desses espécimes que surgiRepresentação de alguns tipos de tentilhões e relação dos tipos de bicos com alimentos Representação de alguns espécimes de tentilhões, ram as ideias sobre a possível mutabilidade das espécies. relacionando os tipos de bicos com os alimentos. Darwin realizou muitas pesquisas e amadureceu sua teoria evolutiva durante 20 anos, culminando na publicação do O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823livro A origem das espécies por meio da seleção natural. Ele observou que diferentes espécies de tentilhões ficavam restritas a diferentes ilhas, bem como o formato do bico dos espécimes desses pássaros adequava-se à necessidade de consumir os alimentos disponíveis em cada uma das ilhas. Darwin notou também as semelhanças entre os espécimes de tentilhões habitantes das ilhas e do continente. Desse fato, ele concluiu que aquelas diferentes espécies de pássaros de Galápagos se originaram de uma única espécie ancestral, a qual provavelmente deixara o continente sul-americano para viver nas ilhas. Assim, por seleção natural, foram originados indivíduos adaptados aos diversos modos de vida do ambiente. Nesse sentido, é provável que a diversificação da espécie original ocorreu como resultado das diferentes alimentações e habitats existentes em cada ilha. 1913) estudou as faunas da Amazônia e das Índias orientais. Ele desenvolveu a teoria de que as espécies se modificam por seleção natural. De posse do manuscrito que relatava as pesquisas de Wallace, Darwin resolveu publicar seus estudos. Assim, em 1858, a pesquisa dos dois foi apresentada para a comunidade científica de Londres. Darwin é o nome de destaque da teoria da evolução, embora as ideias de Wallace tenham sido muito bem elaboradas. A publicação do livro A origem das espécies, que possui uma ampla gama de informações sobre a evolução, tornou Darwin mais conhecido, uma vez que o trabalho de Wallace não foi tão amplo. Não obstante, Wallace merece créditos quando se trata da teoria da evolução por seleção natural. Alfred Russel Wallace VIVENCIANDO A elucidação dos processos evolutivos possibilitou a compreensão dos parentescos entre espécies e permitiu o desenvolvimento de teorias que, acredita-se, estão cada vez mais próximas de desvendar como os seres vivos se modificaram ao longo do tempo. Pela teoria de Darwin, compreende-se como as bactérias podem ficar resistentes aos antibióticos. O antibiótico, que é uma substância utilizada para combater infecções bacterianas, acaba com grande parte dos microrganismos, mas não é capaz de eliminar formas mais resistentes, que se reproduzem passando o gene de resistência para as próximas gerações. Quando um paciente com infecção bacteriana toma o antibiótico de maneira inadequada ou interrompe o tratamento antes do tempo, possibilita-se que bactérias resistentes aumentem sua população e, consequentemente, retornem com a doença de maneira mais agressiva. Por isso, é importante tomar antibióticos sempre com recomendação médica e sempre nos horários indicados por esse profissional. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias O naturalista viajou pela América do Sul, passou pelo Brasil, pela Austrália e por diversos arquipélagos, como o de Galápagos, no oceano Pacífico, a cerca de mil quilômetros da costa sul-americana, que ofereceu a ele o material indispensável ao desenvolvimento de sua teoria de seleção natural. A fauna desse arquipélago, principalmente os jabutis-gigantes e os pássaros, chamou sua atenção de modo particular. 27 3.1. Seleção natural De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos com as características mais vantajosas para a sobrevivência em determinado ambiente conseguiam resistir e se reproduzir, transmitindo essas características para as próximas gerações. Em outras palavras, espécies bem adaptadas pressupõem sempre um agente responsável pela seleção dos indivíduos mais aptos a determinado habitat. Assim, para Darwin, o meio é um agente seletor − em oposição à teoria de Lamarck, na qual o ambiente induz as mudanças. No caso dos tentilhões, o agente seletor foi o alimento, uma vez que as condições climáticas gerais das ilhas eram parecidas. Já em animais que viviam em regiões muito frias, a temperatura teria atuado como agente seletor. Conseguiriam sobreviver nesse ambiente apenas os indivíduos com características corpóreas vantajosas, como uma espessa camada de gordura que atuasse como isolante térmico. Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin apresentou, com bases sólidas, evidências das modificações sofridas pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis mecanismos que atuariam no processo de evolução biológica. Em seu livro A origem das espécies, Darwin expôs a sua teoria da evolução por seleção natural, partindo de duas observações: § Os organismos vivos produzem um grande número de sementes ou ovos, mas o número de indivíduos nas populações normais é mais ou menos constante, o que só pode ser explicado pela grande mortalidade natural. § Organismos de mesma espécie, ou então de uma população natural, são muito variáveis em forma e comportamento, sendo a variabilidade influenciada pela hereditariedade. Logo, a seleção natural ou a “luta pela vida com a sobrevivência do mais apto” é o fator orientador da evolução e não a causa das variações. A origem destas só foi desvendada com a descoberta das mutações, teoria exposta no século XX por Hugo de Vries e denominada Mutacionismo. A teoria da seleção natural é o principal ponto do darwinismo. Na época, essas ideias foram duramente combatidas, principalmente por considerar o ser humano como mais uma espécie animal. Os indivíduos que nascem não são idênticos e, mesmo dentre os descendentes de um mesmo casal, ocorreriam variações das características − como os diferentes tamanhos de pescoço (1). Porém, por conta das condições específicas do ambiente, nem todos estariam adaptados. No caso, girafas com pescoço maior teriam mais disponibilidade de alimento do que as outras, principalmente em épocas de escassez, quando as poucas folhas estão localizadas no alto (2). Assim, naquele meio, os indivíduos com a característica "pescoço comprido" estariam mais aptos a sobreviver e, portanto, a se reproduzir (3). Essas girafas com um pescoço um pouco mais longo que o de seus pais transmitiriam aos seus descendentes a variação (4) e, após muitas gerações, o comprimento do pescoço desses animais teria aumentado, modificando uma característica da espécie (5). Portanto, o Darwinismo pode ser entendido a partir de cinco acontecimentos fundamentais: 1. Variabilidade intraespecífica 2. Adaptação 3. Seleção natural 4. Reprodução diferecial e hereditariedade VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 5. Tempo 28 Observações Em todas as espécies e populações existe a variação, sob forma de diferenças individuais. A maioria dos organismos produz descendentes em número muito maior do que o número dos que conseguem sobreviver até a idade reprodutiva. Foto com diversas variedades do milho. Note como a diferença é um fato natural e essencial nas espécies silvestres. Desse modo, havendo variabilidade e grande mortalidade, alguns organismos tem maior chance de deixar descendentes do que outros. Darwin denominou esse tipo de reprodução diferencial como seleção natural. Conclusões Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados. As características que favorecem os indivíduos nesse processo de eliminação são transmitidas às gerações posteriores. As reflexões do economista Thomas Malthus a respeito do aumento da população humana contribuíram para algumas conclusões de Darwin. De acordo com Malthus, grande parte do sofrimento humano, provocado por guerras, fome, doenças, etc, deve-se ao aumento da população humana ultrapassar a velocidade de disponibilidade dos recursos do meio. “[...] A população humana tende a crescer para além das possibilidades do meio, cresce exponencialmente, enquanto que os recursos alimentares crescem em progressão aritmética.” 3.2.1. Coloração de advertência Há animais que produzem e armazenam substâncias químicas nocivas, além de possuírem cores bastante vitsosas. Trata-se da chamada coloração de advertência, que sinaliza aos possíveis predadores que eles não devem ser ingeridos, pois são perigosos. Thomas Malthus (1766-1834), colaborador de Darwin. A rã de cor vermelha vibrante possui um veneno muito perigoso. multimídia: site http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/ Ciencias/bioselecaonatural.php 3.1.1. Tipos de seleção natural A borboleta-monarca, de coloração laranja e preta, é um animal facilmente visível no ambiente. Essa espécie, no entanto, produz substâncias que a torna não palatável aos seus predadores, os quais aprendem a associar o padrão de coloração ao sabor desagradável e evitam capturá-la. § Seleção direcional: ocorre quando as condições ambientais favorecem um dos fenótipos extremos. § Seleção estabilizadora: favorece indivíduos de fenótipos intermediários, eliminando aqueles de fenótipos extremos. § Seleção disruptiva: ocorre quando uma população é submetida a diferentes pressões do ambiente, favorecendo indivíduos com fenótipo dos dois extremos. Danaus plexippus (borboleta-monarca) GERAÇÃO 1 Caráter POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 1 Caráter GERAÇÃO 2 Caráter POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 2 POPULAÇÃO DE INDIVIDUOS Caráter SELEÇÃO DIRECIONAL Caráter Caráter SELEÇÃO ESTABILIZADORA SELEÇÃO DISRUPTIVA Gráficos demonstrando a variação na frequência das características em cada tipo de seleção. 3.2. Estratégias adaptativas A seguir, serão destacados casos de adaptações que conferiram vantagens aos seus portadores e, por isso, foram beneficiados pela seleção natural. Determinados organismos, denominados mímicos, apresentam características que os confundem com outro grupo de organismos, os modelos. Em geral, essa semelhança ocorre por padrão de coloração, textura, formato corporal, comportamento, constituição química, etc. Ela confere ao mímico uma vantagem adaptativa. Existem três tipos de mimetismo: batesiano, mülleriano e reprodutivo. § O mimetismo batesiano (de defesa) consiste na imitação de um modelo tóxico ou perigoso por espécies “saborosas” ou inofensivas, que escapam de ser predadas. O mesmo ocorre no caso das cobras-corais verdadeiras (Micrurus sp., modelo) e das falsas corais (Erithrolampus aesculapi, imitadoras). As verdadeiras são bastante temidas em razão da alta potência do seu veneno neurotóxi- VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 3.2.2. Mimetismo POPULAÇÃO DE INDIVIDUOS 29 co. Ambas, no entanto, são dotadas de coloração de advertência. Mas as falsas não têm dentes inoculadores de peçonha e não oferecem perigo a eventuais predadores. Ophrys apifera 3.2.3. Camuflagem Falsa-coral Trata-se de um conjunto de técnicas e métodos que permite a um organismo permanecer indistinto do ambiente que o rodeia. A camuflagem pode ser vantajosa para o predador, que cerca a presa sem ser percebido, e para a presa, que se confunde com o meio, passando desapercebida pelo predador. § Homocromia: consiste na coloração semelhante do organismo com a do meio onde vive: cascas, galhos e folhas de árvores, cor da areia, etc. Coral-verdadeira § O mimetismo mülleriano ocorre quando duas ou mais espécies assumem características uma da outra, como veneno ou sabor desagradável. Devido à coloração de advertência semelhante, ambas ampliam o número de predadores que passam a evitá-las. Quanto por compartilharem as mesmas estratégias adaptativas de advertência ao predador. Assim, ambas ampliam o número de predadores que passam a evitá-las. É o caso da borboleta-vice-rei (Limenitis archippus) que apresenta grande semelhança com a borboleta-monarca (Danaus plexippus). As duas possuem sabor desagradável e são tóxicas, sendo evitadas por pássaros predadores que aprender a evitar insetos com a sua padronagem. § Homotipia: consiste na semelhança do indivíduo com a forma de estruturas presentes no meio onde vive. É o caso dos insetos bicho-folha e bicho-pau, que se assemelham a folhas e gravetos, respectivamente. Camaleão VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Bicho-pau 30 Limenitis archippus (borboleta-vice-rei) § O mimetismo reprodutivo é bastante comum entre plantas que mimetizam a fêmea de insetos e aproveitam a tentativa de acasalamento para sua polinização. É o caso da Ophrys apifera, orquídea bastante comum no Mediterrâneo e vulgarmente chamada erva-abelha. Suas flores lembram as fêmeas de uma espécie de abelha (Eucera nigrilabris). Essas semelhanças atraem os machos, que acabam polinizando as flores e contribuindo para a reprodução da orquídea. Bicho-folha 3.3. Seleção sexual O indivíduo mais apto não é necessariamente o mais rápido, maior ou mais forte. Aptidão pressupõe habilidade de sobreviver, encontrar um parceiro, produzir descendência e, finalmente, deixar seus genes na próxima geração. Produzir filhotes, cuidar de sua prole – da qual alguns não sobreviverão – e exibir-se para atrair o sexo oposto são estra- tégias que aperfeiçoam a aptidão de deixar mais descendentes. Seleção sexual, portanto, é a seleção natural voltada para o encontro de parceiros e para o comportamento reprodutivo. Os leões-marinhos machos, por exemplo, brigam entre si para demarcar um território e, normalmente, o maior e mais forte conquista mais fêmeas e deixa mais descendentes. 4. Neodarwinismo: teoria sintética da evolução Quando Darwin propôs a sua teoria, os processos da herança biológica ainda eram desconhecidos. Apesar de Darwin ter sido contemporâneo de Gregor Mendel (1822-1884) – pai da genética –, eles não se conheceram. Descobertas recentes do século XX nos campos da genética, da biologia molecular e da paleontologia deram origem a uma nova teoria da evolução, conhecida como neodarwinismo ou teoria sintética da evolução, que integra esses novos conhecimentos às ideias de Darwin e esclarece a causa e o destino das variabilidades. Quatro fatores básicos constituem a moderna teoria sintética da evolução: mutação, recombinação genética, seleção natural e deriva genética. Os dois primeiros determinam a origem da variabilidade genética, a qual é orientada pelos dois últimos. 3.4. Seleção artificial Darwin também estudou espécies cultivadas pelo ser humano, o que o muniu de argumentos a favor da seleção dos mais aptos. Alguns animais domésticos e vegetais cultivados pertenciam a espécies com representantes ainda em estado selvagem. Contudo, as características dos organismos domesticados diferiam das dos selvagens, e, em alguns casos, esses seres poderiam ser classificados como pertencentes a espécies diferentes. A seleção artificial conduzida pelo ser humano consiste na adaptação e/ou seleção de seres vivos, com o objetivo de realçar determinadas características desses organismos para a produção de carne, leite, lã e frutas, por exemplo. Darwin chegou à conclusão de que a seleção artificial pode ser comparada à exercida pela natureza sobre as espécies selvagens. A luta pela vida foi substituída pela escolha humana dos indivíduos que melhor atendem aos seus objetivos. As diferenças existentes entre os indivíduos de uma mesma espécie se enquadram sob a designação de variabilidade. Essa diversidade genética é gerada por meio de mutações e recombinações, as quais alteram a sequência de bases nitrogenadas nos ácidos núcleicos. A seleção natural e a deriva genética descrevem como essas características são fixadas nas espécies. 4.1. Mutação É importante salientar que a mutação é aleatória. Por ocorrer ao acaso, não possui relação com sua utilidade e não aparece como resposta do organismo a uma situação ambiental. Além disso, mutações não são necessariamente sinônimo de evolução. Elas contribuem para a evolução biológica quando são herdáveis, como quando estão presentes em gametas. CÓPIA CÓPIA CORRETA CORRETA CÓPIA MUTANTE CÓPIA MUTANTE Demonstração de uma mutação: troca de nucleotídeo durante a replicação do dna. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Evolução da Forma - Documentário (2008) Vale ressaltar que mutações não são necessariamente benéficas e podem ser neutras ou prejudiciais para o organismo − tal interpretação depende das condições do meio que essa mutação se insere. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Leões-marinhos 31 Por exemplo, no caso de um organismo que vive num deserto de seca extrema, não é o ambiente que vai favorecer o aparecimento de mutações que o ajudem a sobreviver. No entanto, caso ocorra espontaneamente uma mutação favorável, esta será selecionada positivamente. Assim, a população dos indivíduos portadores dessa variação tenderá a aumentar. Muita atenção ao fato de que mutações são eventos raros, uma vez que nosso organismo detém mecanismos próprios para evitar erros na produção de moléculas de DNA. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Para compreender o conceito de neodarwinismo, é necessário o conhecimento básico sobre genética e bioquímica. Por meio de mutações no DNA, que são erros ao acaso ou nas bases nitrogenadas ou em cromossomos, o indivíduo pode desenvolver características benéficas. Assim, esse organismo torna-se mais apto ao meio em que vive, tendo mais chances de sobreviver e de passar seus genes aos descendentes. Dessa forma, duas áreas da biologia, como a bioquímica dos ácidos nucleicos e as teorias evolutivas, interagem e se completam. 4.2. Recombinação ou permutação gênica A recombinação genética (crossing-over) promove a troca de sequências de bases nitrogenadas entre cromossomos homólogos, durante a divisão celular conhecida como meiose. Assim, enquanto as mutações podem ocorrem em todo e qualquer organismo, a permutação gênica só ocorre naqueles que sofrem meiose − para produzir gametas, nos animais, e esporos, nos vegetais. Logo, os organismos que se reproduzem sexuadamente apresentam uma variabilidade maior em suas populações do que os organismos que se reproduzem assexuadamente no século XIX, as mutantes escuras passaram a ser camufladas pela fuligem e, como eram mais vigorosas, foram aumentando em frequência e substituindo as mariposas claras. Estas, por se tornarem mais visíveis, passaram a ser eliminadas pelos pássaros. Assim, o agente seletivo foram os predadores das mariposas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 4.3. Seleção natural 32 Como já exposto nas outras aulas, as variações são submetidas ao meio ambiente, que, pela seleção natural, conserva as favoráveis e elimina as desfavoráveis. Assim, quando as condições ambientais se modificam, algumas variedades se tornam vantajosas e permitem aos indivíduos que as possuem sobreviver e produzir mais descendentes do que aqueles que não as têm. A seguir, alguns exemplos de seleção natural: Melanismo industrial: antes da Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII, predominavam as mariposas claras, uma vez que o ambiente proporcionava condições para sua camuflagem. Às vezes apareciam mutantes escuras que, apesar de serem mais robustas, eram eliminadas pelos predadores por serem mais visíveis. Depois da industrialização, Foto da mariposa Biston Betularia, ilustrando a camuflagem na árvore o exemplo do melanismo industrial. § Resistência de moscas ao DDT: quase todas as moscas foram mortas durante o primeiro ano em que o DDT foi usado numa determinada localidade. Algumas, as resistentes, conseguiram sobreviver, foram selecionadas e se reproduziram. Assim, os descendentes foram herdando as características e logo ultrapassaram em número os tipos de moscas menos resistentes naquela área. Essa mudança na população teve como consequência a perda de eficácia do inseticida. VARIABILIDADE: corresponde à existência de sensíveis e resistentes (gerados por mutação) INSETICIDA INSETICIDA SELEÇÃO NATURAL: representada pelo inseticida, que elimina os sensíveis e permite a sobrevivência dos resistentes. INSETICIDA ADAPTAÇÃO: é o predomínio dos insetos resistentes ao inseticida quando o produto está presente no meio. 4.4. Deriva genética Enquanto na seleção natural o destino das mutações, que surgem a cada geração, depende do efeito no organismo e de sua interação com o meio, na deriva genética a fixação dos caracteres acontece ao acaso. Esse fenômeno evolutivo ocasiona uma mudança nas frequências, sem levar em conta o valor adaptativo de cada característica. Para a deriva, as variações são elementos flutuantes que permanecem ou desaparecem de acordo com a sorte. Quando esse fenômeno é forte, pode promover a fixação de até mesmo características prejudiciais ao organismo. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Apesar de ocorrer em poupulações grandes finitas, tem efeitos mais profundos em populações pequenas. Na aula sobre formação de espécies, será explicado como decorre o efeito gargalo e o efeito fundador, eventos específicos de deriva genética. 33 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. Por meio do modelo de mapa-múndi apresentado na questão, e munido do conhecimento prévio de que esses continentes eram unidos há milhões de anos (Pangeia), o aluno deverá relacionar essa situação com o fenômeno biológico da migração e, posteriormente, refletir sobre como a separação dos continentes foi capaz de criar a diversidade observada. MODELO 1 (Enem) No mapa, é apresentada a distribuição geográfica de aves de grande porte e que não voam. Avestruz Ema Emu Há evidências mostrando que essas aves, que podem ser originárias de um mesmo ancestral, sejam, portanto, parentes. Considerando que, de fato, tal parentesco ocorra, uma explicação possível para a separação geográfica dessas aves, como mostrada no mapa, poderia ser: a) a grande atividade vulcânica, ocorrida há milhões de anos, eliminou essas aves do Hemisfério Norte; b) na origem da vida, essas aves eram capazes de voar, o que permitiu que atravessassem as águas oceânicas, ocupando vários continentes; c) o ser humano, em seus deslocamentos, transportou essas aves, assim que elas surgiram na Terra, distribuindo-as pelos diferentes continentes; d) o afastamento das massas continentais, formadas pela ruptura de um continente único, dispersou essas aves que habitavam ambientes adjacentes; VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias e) a existência de períodos glaciais muito rigorosos, no Hemisférico Norte, provocou um gradativo deslocamento dessas aves para o Sul, mais quente. 34 ANÁLISE EXPOSITIVA A princípio, o ancestral dessas aves vivia em uma mesma área, uma vez que os continentes eram unidos. A migração fez com que diferentes populações se separassem e, posteriormente, com o afastamento das massas continentais, essas populações ficassem isoladas geograficamente. Isso favoreceu o surgimento dessas aves a partir do mesmo ancestral. RESPOSTA Alternativa D DIAGRAMA DE IDEIAS TEORIAS EVOLUTIVAS LAMARCK DARWIN NEODARWINISMO TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO MUTAÇÃO RECOMBINAÇÃO GENÉTICA VARIABILIDADE SELEÇÃO NATURAL ADAPTAÇÃO LEI DO USO E DESUSO HERANÇA DOS CARACTERES ADQUIRIDOS DIRECIONAL ESTABILIZADORA O AMBIENTE INDUZ MUDANÇAS NOS ORGANISMOS O AMBIENTE SELECIONA AS CARACTERÍSTICAS MAIS ADAPTADAS VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias DISRUPTIVA 35 ESPECIAÇÃO CN COMPETÊNCIA(s) 4 AULAS 7E8 HABILIDADE(s) 15 e 16 1. A origem das espécies Antes de compreender o processo de formação das espécies, é necessário discutir o que de fato é uma espécie. Melhor que uma única definição, que facilmente a associaria a um termo ou conceito, é preferível considerar diferentes descrições. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias § Definição biológica de espécie: são grupos de populações naturais potencialmente capazes de gerar descendentes férteis e que, em condições naturais, estão reprodutivamente isoladas de outros grupos semelhantes. 36 § Unidade ecológica: apresenta características próprias e mantém relações bem definidas com o ambiente e outras espécies. A espécie ecológica, então, é formada por um conjunto de indivíduos que exploram o mesmo nicho. § Unidade gênica: dotada de um patrimônio gênico característico, que não se mistura com o de outras espécies e evolui de forma independente. O processo de formação das espécies é chamado especiação. Pode ocorrer por meio de mudanças evolutivas contínuas e de transformações graduais dos caracteres, alterando gradativamente as frequências ao longo das gerações e, como consequência, resultando em uma espécie nova (anagênese). Ou a partir da ramificação de uma linhagem, isolando e dividindo a populações original em duas ou mais subpopulações (cladogênese). Representação dos eventos de anagênese e cladogênse, respectivamente 1.1.Fluxo gênico Os mecanismos de fluxo gênico promovem a troca de informações genéticas entre populações. Por um lado, essa migração de genes favorece a variabilidade porque possibilita introduzir caracteres novos. Por outro lado, também pode dificultar a especiação, uma vez que permite um deslocamento genético entre populações afastadas e/ou em processo de divisão O intercâmbio de genes é possível devido à semelhança e identidade genética, como número e tipos de cromossomos. A partir dos conhecimentos desenvolvimentos pela engenharia genética é possível, por meio de manipulação cromossômica e gênica, abreviar os processos necessários à especiação e permitir o aparecimento de novas espécies - ou de pelo menos espécies transgênicas. Deve-se lembrar, no entanto, que a fertilidade é condição obrigatória entre os descendentes de toda e qualquer espécie natural. 1.2. Isolamento reprodutivo O isolamento reprodutivo é a condição a partir da qual pode-se afirmar definitivamente que houve especiação a partir de um grupo ancestral. O isolamento reprodutivo indica a incapacidade total ou parcial de os indivíduos de duas subpopulações se reproduzirem entre si. Quando essas subpopulações entram em contato, o isolamento reprodutivo impede a mistura de genes. Logo, para confirmar que houve especiação, deve-se apresentar diferenças genéticas que interfiram na eficiência do acasalamento entre as novas espécies. Não há necessidade, no entanto, de que sejam diferenças genéticas significativas. Seriam suficientes mudanças na data, no local ou nos rituais de acasalamento. Mas elas são necessárias e podem evoluir por seleção natural ou por deriva genética. Os mecanismos pré-zigóticos impedem a fecundação e a formação do zigoto. § Isolamento estacional ou sazonal – decorre de diferenças nas épocas de reprodução. Por exemplo: grupos de rãs que vivem em uma mesma lagoa, mas não se reproduzem na mesma época; ou espécies de orquídeas que, embora habitem a mesma região, florescem em dias diferentes, o que lhes impede o cruzamento. § Isolamento ecológico – resulta quando populações ocupam diferentes habitats. Mesmo vivendo na mesma região geográfica, habitam microambientes distintos. Leões e tigres podem se cruzar em cativeiro e produzir descendentes férteis. Entretanto, em ambiente natural eles não se cruzam, uma vez que vivem em habitats dferentes § Isolamento etológico ou comportamental – decorre de diferentes padrões de comportamento de corte. Antes do acasalamento, representam um fator de fundamental importância para a reprodução de diferentes espécies. O canto das aves, por exemplo, por ser específico, atrai apenas parceiros da mesma espécie. § Isolamento mecânico ou incompatibilidade anatômica – resulta da incompatibilidade estrutural dos órgãos reprodutores. Nos animais, a diferença de tamanho ou forma dos órgãos genitais impede a cópula. Nas plantas, as estruturas responsáveis pelo encontro dos gametas podem não se encaixar perfeitamente em diferentes espécies. 1.2.2. Mecanismos pós-zigóticos Os mecanismos pós-zigóticos são aqueles que inviabilizam a sobrevivência do híbrido ou a sua fertilidade. Mesmo ocorrendo a cópula, esses mecanismos impedem ou dificultam seu desenvolvimento. Os principais tipos de isolamento pós-zigótico são: § Mortalidade do zigoto – trata-se da fecundação entre gametas de espécies diferentes que pode levar à formação de zigoto pouco viável e com desenvolvimento embrionário irregular, problemas que inibem o progresso do embrião e podem causar sua morte. § Inviabilidade do híbrido – diz respeito à cópula entre indivíduos de espécies diferentes, à formação do zigoto e à morte prematura do embrião devido à incompatibilidade entre os genes maternos e paternos. Algumas espécies de rã, embora habitem a mesma lagoa e eventualmente se cruzem, geram híbridos interespecíficos que não são capazes de se desenvolver. § Esterilidade do híbrido – forma-se o híbrido interespecífico, porém este é estéril devido à presença de gônadas anormais ou de incompatibilidade dos cromossomos herdados de pais de diferentes espécies. Exemplo clássico desse caso é do burro ou da mula. Trata-se de um híbrido estéril, resultado do cruzamento entre o jumento (Equus asinus) e a égua (Equus cabalus). O burro e a mula são considerados híbridos interespecíficos e não constituem uma terceira espécie. Híbrido é o nome dado a um indivíduo formado pela união de indivíduos de espécies diferentes. É o resultado da mistura genética entre espécies distintas. Exceção à regra Apesar de a regra dizer que híbridos são estéreis, há registros de exceções a essa regra com filhotes de mula. Considerando que uma égua tem 64 cromossomos, e um jumento, 62, a principal barreira para esse tipo de reprodução diz respeito à diferença na quantidade de cromossomos dos pais da mula. Os 63 cromossomos da mula constituem um número ímpar, que não pode ser dividido em cromossomos pares (a importância dessa divisão será explicada, quando falarmos sobre divisão celular), o que, em princípio, a tornaria incapaz de reproduzir-se. Entretanto, apesar de alguns casos já terem sido registrados ao redor do mundo, ainda não há uma explicação para o fato, que permanece sendo estudado por pesquisadores. 2. Tipos de especiação A especiação é resultado do consequente isolamento reprodutivo das espécies. Esse evento evolutivo pode ocorrer tanto pela existência de um empecilho geográfico quanto pela redução do fluxo gênico. Quando há algum obstáculo geográfico, formam-se duas ou mais populações que, ainda pertencentes à mesma espécie, estarão submetidas às diferentes pressões seletivas de seus meios. Logo, as variabilidades e adaptações surgidas em uma subpopulação podem ser diferentes das surgidas na outra. Com isso, ocorre uma progressiva diferenciação ao longo do tempo que, mesmo após o fim do isolamento geográfico e com a possibilidade de encontro dos indivíduos das duas subpopulações, pode resultar em isolamento reprodutivo. ISOLAMENTO GEOGRÁFICO DIFERENCIAÇÃO PROGRESSIVA ISOLAMENTO REPRODUTIVO VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 1.2.1. Mecanismos pré-zigóticos 37 A especiação também pode acontecer com populações que convivem em um mesmo lugar e não possuem barreiras extrínsecas para o fluxo gênico. Nesse caso, a distribuição dos organismos no espaço ou a ocorrência de mudanças no comportamento, muitas vezes relacionadas a determinadas pressões seletivas, podem desencadear o processo de formação de novas espécies. Modos de especiação Alopátrica (alo = outros; pátrica = lugar) Peripátrica (peri = perto) Características Representação Está relacionada com o chamado efeito fundador, fenômeno de deriva genética que descreve o estabelecimento de uma nova população a partir da migração de uma pequena parcela de indivíduos e de genótipos da população original. Do mesmo modo, a peripátrica aplica-se ao evento de deriva genética denominado efeito gargalo, no qual algum evento reduz drasticamente uma população e sua variabilidade genética. As populações são geograficamente isoladas. Uma pequena população fica isolada da população maior. Representação do efeito fundador. EFEITO GARGALO Parapátrica (para = ao lado) A população é continuamente distribuída. POPULAÇÃO INICIAL REDUÇÃO DA POPULAÇÃO INDIVÍDUOS QUE SOBREVIVEM NOVA POPULAÇÃO Representação do efeito gargalo. 2.3. Especiação parapátrica VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Simpátrica (sim = igual) 38 População inserida na população ancestral. 2.1. Especiação alopátrica Ocorre quando algum tipo de isolamento geográfico − como longas distâncias ou barreiras físicas − impede dois ou mais grupos de se acasalarem regularmente entre si ou com outros. O que caracteriza de fato uma especiação alopátrica é a presença de um algum obstáculo geográfico que provoca a redução significativa, não necessariamente a extinção, do fluxo gênico entre as futuras novas espécies. 2.2. Especiação periprática É um tipo particular de especiação com isolamento geográfico, na qual uma subpopulação menor é separada da maior. Nessa especiação não há barreiras geográficas presentes. Por exemplo, em uma população dispersa continuamente por uma grande área com diversificados ambientes, o acasalamento não é aleatório e o intercâmbio de genes entre indivíduos de pontos distantes é reduzido. Porém, a diminuição do fluxo gênico não implica isolamento total dessa população. Em conjunto com pressões ambientais distintas nos extremos opostos, altera-se a frequência gênica nesses organismos a ponto de eles não serem mais capazes de se acasalarem caso estivessem reunidos. 2.4. Especiação simpátrica Diferente dos tipos anteriores, a especiação simpátrica não necessita de distância geográfica em larga escala para a diminuição do fluxo gênico entre os indivíduos de uma população, esse fenômeno acontece com organismos que habitam áreas sobrepostas. A formação de novas espécies ocorre em virtude de mudanças aleatórias no material genético associadas a determinadas pressões seletivas e a alterações no comportamento. A simples exploração de um novo nicho por uma subpopulação pode contribuir para a redução do fluxo gênico entre indivíduos. Ocasionalmente, pode acontecer entre insetos herbívoros que optem por uma nova planta hospedeira. Nicho é um termo usado para designar a função ou o papel desempenhado pelos organismos de determinada espécie em seu ambiente de vida. Isso inclui suas necessidades alimentares, a temperatura ideal de sobrevivência, os locais de refúgio, as interações com outros seres vivos, os locais de reprodução, etc. Por exemplo, há cerca de 200 anos, os ancestrais da mosca-da-maçã depositavam seus ovos exclusivamente em frutos de espinheiros, seu habitat original. Algumas populações passaram a utilizar maçãs domésticas (espécie exótica) como depósito, o que caracteriza isolamento de habitat. As fêmeas preferem os mesmos tipos de frutos onde cresceram; os machos tendem a procurá-las também nos tipos de frutos onde cresceram. Resultado: moscas de espinheiros cruzam com as moscas de espinheiros, e as da maçã, com as da maçã. Assim, o fluxo gênico entre essas populações ficou reduzido. A mudança de espinheiro para maçã pode ser o começo da especiação simpátrica. multimídia: site brasilescola.uol.com.br/biologia/especiacao.htm VIVENCIANDO 3. Filogenia e cladograma Conforme as espécies, a partir de linhagens ancestrais, se separam, herdam alterações e diferenciam seus caminhos evolutivos, é produzido um padrão ramificado de relações de parentesco. O estudo e a elaboração de hipóteses acerca da história evolutiva dos organismos é chamado filogenia. O cladograma (árvore filogenética) é uma representação gráfica do grau de parentesco entre espécies e das mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Para sua elaboração, utilizam-se diversos tipos de dados, desde aspectos moleculares até tra- ços morfofisiológicos e evidências evolutivas. Assim, novos conhecimentos e descobertas podem alterar as relações e, portanto, a filogenia daqueles grupos. No cladograma, cada ponto (nó) indica um ancestral comum partilhado e as ramificações a partir dele mostram os eventos de especiação que deram origem a novos caracteres e grupos. Nas terminações estão localizados os descendentes. Lembre-se de que a leitura temporal da árvore filogenética é sempre do ancestral (raiz do cladograma) para seus descendentes (término dos ramos). VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias O estudo do termo “especiação” permite compreender como surgem novas espécies e como outras podem ser extintas ao longo do tempo. A interferência humana no meio ambiente − como o desmatamento, o assoreamento dos rios e as construções de cidades, estradas e hidrelétricas − causa o aparecimento de barreiras geográficas, o que altera o fluxo gênico das populações e contribui para o isolamento reprodutivo. Esse fato pode ocasionar o surgimento de novas espécies, assim como o desaparecimento de outras. Dessa forma, é possível propor mecanismos de conscientização e educação ambiental para minimizar a interferência humana na evolução das espécies. 39 TEMPO Localização dos ancestrais no cladograma. Note como, nessa árvore, B e C são parentes mais próximos que A e C, pois compartilham um ancestral em comum mais recente com B que com C. multimídia: site http://www.qualibio.ufba.br/003.html ima iss nt . de r ste oga n ela D. m D ura bsc D. o Eventos de especiação Cladrograma mostrando as relações de parentesco entre as espécies de Drosophila (mosca-da-fruta). Os pontos de ramificação dessa filogenia de Drosophila representam eventos de especiação ocorridos há muito tempo. Táxon merofilético parafilético Táxon parafilético manofilético Táxon Táxon Táxon A B C D X Y Linhagem do táxon D (ramo) espécie ancestral X (nó) espécie ancestral Y (nó) Tempo VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Caráter a (sinapomorfia) 40 Árvore filogenética: relações filogenéticas ou de parentesco entre os seres vivos. multimídia: site http://www.qualibio.ufba.br/002.html Enquanto a especiação representa o desenvolvimento de novas espécies, a extinção é o desaparecimento completo de uma espécie e pode ocorrer devido a processos naturais ou por interferência humana. Segundo estimativas atuais, o número total de espécies no planeta varia entre 5 milhões e 30 milhões. Desse total, cerca de 1,4 milhão de espécies foram nomeadas e descritas pelos cientistas. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), até a metade do século XXI, mais de 25% da fauna e flora terrestre devem desaparecer. Essa organização calcula que quase um quarto das 4.600 espécies de mamíferos conhecidas corre risco de extinção. 4.1. Os processos naturais Linhagem do táxon A (ramo) Táxon 4. A extinção das espécies A extinção de espécies acontece de forma natural desde o surgimento da vida no planeta. Suas principais causas são as modificações climáticas, como as desertificações, glaciações e alterações da atmosfera decorrentes das atividades vulcânicas. Elas tornam o meio ambiente desfavorável à permanência de alguns grupos, que, por seleção natural, desaparecem. No entanto, a maioria das espécies consegue se adaptar e sobreviver a essas mudanças, pois elas são efeito de uma série de fatores e costumam ocorrer lentamente. Durante a história terreste houve ao menos cinco grandes extinções em massa. A mais conhecida ocorreu no fim do Cretáceo e ocasionou o desaparecimento dos dinossauros. Outra, durante o Permiano-triássico, é uma das maiores registradas e ocasionou a extinção de cerca de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres. É importante pontuar que, mesmo com consequências drásticas, os processos evolutivos dos organismos prosseguiram e a biodiversidade eventualmente cresceu. Para muitos cientistas, a possível próxima extinção em massa já está em processo e tem como causa as ações humanas. A velocidade de desaparecimento das espécies é maior do que as últimas já registradas e preocupa os pesquisadores. Nas últimas décadas, o ser humano vem destruindo habitats de grande diversidade biológica, principalmente por causa da poluição das águas, do solo e do ar, do desmatamento, da caça e pesca predatórias e da extração ilegal de espécies vegetais. Essas mudanças estão acontecendo numa velocidade maior do que a de adaptação dos seres vivos, que não se ajustam às novas condições de vida e desaparecem. Uma das consequências da extinção das espécies é o desequilíbrio das cadeias alimentares, responsáveis pela transferência de alimento nos ecossistemas. A redução drástica dos animais carnívoros, por exemplo, pode levar à proliferação dos animais herbívoros e, como consequência, haveria escassez de algumas plantas. Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de extinção é enorme. Entre eles, estão a baleia-azul, o mico-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte-negro e o gorila-das-montanhas (África), o cervo (Tailândia), o panda-gigante (China), o pinguim-grande (Islândia e Canadá), o cavalo-selvagem (Europa Central), o bisão, ou o boi-selvagem, e o pelicano-branco (França). Várias espécies vegetais também correm risco de extinção. É o caso das orquídeas de Chiapas, no México, das bromélias – típicas das zonas tropicais e subtropicais, encontradas no continente americano e em parte da África –, das “madeiras de lei”, como mogno, jacarandá, marfim, cerejeira, imbuia, canela, entre outras, usadas em todo o mundo para a confecção de móveis e na construção civil. No Brasil, o país de maior biodiversidade do mundo, cerca de 300 espécies da fauna e flora estão ameaçadas de extinção: lobo-guará, onça-pintada, gato-mourisco, veado-campeiro, cervo-do-pantanal, ariranha, mico-leão, anta, peixe-boi, psitacídeos (arara e papagaio) e tucano. A lista passa pelos répteis, como o jacaré-de-papo-amarelo e tracajá, e estende-se, inclusive, a invertebrados de diversos filos, que ocupam os costões e praias da orla marítima. Vale lembrar também da extinção de seres pequenos, parcamente estudados ou de pouco interesse para a sociedade. Dentre eles, destacam-se os invertebrados e, em especial, os insetos. Esse grupo possui a maior quantidade de organismos e está em rápido declínio, seu desaparecimento é devido principalmente ao controle de praga. Por conta da importância dos seus papéis ecológicos, a extinção de espécies dos insetos pode causar consequências irreversíveis. 5. Neutralismo e selecionismo Vários evolucionistas discordam sobre qual é o principal mecanismo responsável pela flutuação das frequências alélicas numa população. Alguns acham que a seleção natural é a mais importante força direcionadora da alteração nas frequências alélicas, ou seja, na proporção de um tipo de gene alelo em relação ao conjunto de alelos; outros acham que a deriva genética ou a variação aleatória dessas frequências é que tem um papel de destaque nessas mudanças. Genes são trechos de DNA que armazenam a informação para a síntese de proteínas. Locus gênico se refere à localização de um gene no cromossomo. Genes alelos, ou apenas alelos, são segmentos homólogos do DNA que representam variações específicas de um mesmo gene. Polialelia ou polimorfismo: Quando um gene possui mais de duas formas alélicas. Exemplo: o sistema sanguíneo ABO possui três alelos e quatro fenótipos Os selecionistas acreditam que a seleção natural é a força predominante capaz de direcionar os processos evolutivos, sendo que os outros fatores proporcionam, no máximo, uma pequena contribuição. O selecionismo prega que as substituições alélicas ocorrem em consequência de seleção dos mais adaptados, no qual o novo alelo substituirá um antigo em função de aumentar o valor adaptativo dos organismos que o possuem. Assim, os polimorfismos seriam mantidos, quando a coexistência de dois ou mais alelos num loco for vantajosa para o organismo ou para a população. Já os neutralistas acreditam que, principalmente num nível molecular, a maioria das mudanças evolutivas não está relacionada a uma seleção positiva dos alelos de maior valor adaptativo, e sim à deriva genética, ou seja, à variação aleatória das frequências dos alelos. A teoria neutralista surgiu no fim dos anos 1960, quando uma grande quantidade de dados de sequenciamento de proteínas foi obtida, provendo, pela primeira vez, dados empíricos para examinar as teorias relacionadas à substituição de genes/ alelos. O neutralismo não diz que todos os alelos possuem estritamente o mesmo valor adaptativo, mas que a maioria das variações não afetam a sobrevivência e reprodução dos organismos − ou seja, nem toda característica é uma adaptação selecionada de acordo com pressões ambientais. Assim, as frequências podem ser determinadas ao acaso. Segundo eles a seleção opera de maneira secundária. Segundo a teoria neutralista, um loco polimórfico é constituído de alelos que tendem a se fixar ou a se estinguir. Assim, os processos moleculares importantes para o andamento da evolução são resultado de um contínuo surgimento das variações por mutação e consequente fixação ou extinção aleatória dos alelos. A substituição alélica seria, portanto, um VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 4.2. Os processos antrópicos 41 processo longo e gradual, no qual a frequência dos alelos aumenta ou diminui randomicamente até que eles sejam perdidos ou fixados por ordem do acaso. A verdade é que a base da disputa entre selecionistas e neutralistas está relacionada aos valores adaptativos dos alelos mutantes. Ambas concordam que a maioria das novas mutações é deletéria e que essas alterações não contribuem para a taxa de mutação nem para a quantidade de polimorfismos dentro de uma população. A diferença está relacionada à proporção relativa de mutações neutras entre as mutações não deletérias. Enquanto os selecionistas consideram que poucas mutações são seletivamente neutras, os neutralistas acreditam que a maioria delas é seletivamente neutra. Para encerrar, é óbvio que algumas características apresentam um valor adaptativo muito maior do que outras. Por exemplo, um hemofílico apresenta um valor adaptativo muito mais baixo que um não hemofílico, aspecto que até os neutralistas reconhecem e sabem que a seleção é muito importante nesses casos. A abordagem selecionista pode ser complementar, e não antagônica, à neutralista. 6. Evolução humana Os seres humanos possuem um cérebro grande se comparado a outros mamíferos ou primatas. Um indivíduo adulto tem um cérebro de quase 4 kg, para um peso corporal médio de aproximadamente 70 kg. Ou seja, aproximadamente 6% do nosso peso é composto de massa cefálica. Os pesquisadores buscam determinar os motivos que levaram a essa cefalização acentuada no gênero Homo. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A seguir, de forma simplificada, serão apontadas algumas ideias a respeito desse tema. 42 A priori, tentou-se identificar um fator isolado que explicasse essa característica, mas logo percebeu-se a limitação desse enfoque. Atualmente, as pesquisas tentam ser mais realistas, enfocando uma série de fatores que teriam agido em conjunto. Quando os ancestrais dos humanos tiveram a necessidade de descer das árvores para a sobrevivência (o que pode ter ocorrido devido a uma mudança no habitat, como a diminuição do número de árvores), eles tiveram de lidar com um ambiente diferente, no qual ser bípede oferecia algumas vantagens. Além disso, vivendo em campos abertos, aqueles que permaneciam em grupos eram mais favorecidos (seleção natural de comportamento). Assim, ao longo das gerações, os indivíduos isolados eram predados mais facilmente e não deixavam muitos descendentes, enquanto aqueles que viviam em grupos geravam descendentes que possuíam a tendência de viverem agrupados. Assim, as populações que tinham indivíduos com maior capacidade de solucionar problemas para manter a coesão desses grupos obtiveram maior sucesso. Essa resolução de problemas era facilitada quando havia uma vocalização complexa (pré-requisito para a linguagem humana). Uma pré-adaptação para a vocalização foi um fator fundamental para que essa característica pudesse existir. Pré-adaptações são estruturas que já existem naquela espécie e que permitem que o animal tenha sucesso no ambiente. O ancestral humano já possuía uma estrutura física para vocalização (garganta, glote, estruturas para passagem do ar, etc.). Ele só pôde desenvolver a linguagem porque já possuía essas pré-adaptações (no caso, pré-adaptacões para a linguagem). Um outro exemplo seriam as abelhas, que também vivem em grupo e precisam se comunicar. Como elas não desenvolveram nenhuma estrutura de vocalização ou de comunicação sonora, comunicam-se por meio de sinais químicos, estruturas desenvolvidas a partir de pré-adaptações específicas. Ao se analisar uma determinada adaptação em um animal, deve-se tentar identificar a pré-adaptação que possibilitou o aparecimento daquela característica. No caso da evolução humana. Esses grupos ancestrais que vocalizavam, mesmo em grunhidos, foram selecionados positivamente pelo meio ambiente daquela época. Ao longo das gerações, aqueles que possuíam uma melhor vocalização eram gradativamente mantidos, enquanto os outros acabavam sendo selecionados negativamente (extintos). O ambiente fora das árvores era bem mais hostil, pois continha um maior número de variáveis. Nas árvores, a quantidade de alimento é maior do que em um campo aberto. É possível afirmar que, para se obter a mesma quantidade de alimento encontrada facilmente em 10 m2 na floresta, esses homens primitivos deveriam percorrer 10.000 m2 em seu novo habitat. O fato de ser bípede era uma grande vantagem na cobertura dessas extensas áreas, além de liberar os membros anteriores desses animais (braços e mãos) para recolher as frutas e manusear os alimentos. Assim, os mais habilidosos com os alimentos foram favorecidos e tiveram maior sucesso evolutivo, deixando mais descendentes. Na ciência, isso é conhecido como “pressão positiva” para os mais habilidosos, ou seja, aqueles que têm mais habilidade levam vantagem em relação aos menos habilidosos e prevaleceriam em termos de evolução. Outras estruturas, como as da mão, também foram se modificando e teriam sido selecionadas a cada geração. Algumas alterações facilitavam o manuseio do alimento, gerando maior habilidade. Dessa forma, os membros anteriores foram lentamente se modificando e assumindo a forma que conhecemos, ou seja, com o polegar opositor aos outros dedos, possibilitando uma maior firmeza e precisão nos movimentos. Além de facilitar o manuseio dos alimentos, esse fator permitiu que o homem ancestral segurasse galhos, pedras e outros objetos. Em conjunto, todos esses fatores resultaram em um cérebro mais desenvolvido. nascimento, o feto deve passar pela junção pélvica da fêmea; para isso, a cabeça não pode ser muito grande. Essa restrição é uma das razões para o crescimento contínuo do cérebro, mesmo depois do nascimento. Isso faz com que os bebês sejam extremamente dependentes das mães, mas, por outro lado, gera uma flexibilidade tremenda, pois o cérebro vai crescendo (e montando as ligações entre os neurônios), sempre se ajustando ao ambiente e facilitando o aprendizado direto ainda na formação cerebral. Imagem comparativa da estrutura das mãos em primatas Comparação entre o crânio do Australopithecus, do chimpanzé e do ser humano A mudança de dieta retroalimenta a expansão cerebral; isso significa que, para manter o cérebro, nossos ancestrais precisavam se alimentar melhor, apresentando, assim, um comportamento forrageador (de busca de alimento) mais complexo e eficiente, que, por sua vez, fazia uma pressão seletiva para a expansão cerebral. Existem outros obstáculos a serem superados para o aumento do cérebro, além do alto custo energético. O tamanho da pélvis (bacia) das fêmeas é um dos exemplos. No Comparação entre a pelve humana e a de chipamzé Comparação entre a pelve humana e a de um chimpanzé. No nascimento, o cérebro humano tem cerca de 25% do peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos de idade, esse valor é de 84,1%. Chimpanzés nascem com 47% do peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos, já têm 100% do peso total. Com isso, é possível perceber outra restrição para um cérebro muito grande e flexível: a redução da taxa reprodutiva, pois os pais devem cuidar dos filhotes por um período de tempo maior. O bipedalismo, associado à possibilidade de explorar outros ambientes, além de exigir mais do cérebro, abriu novos horizontes para a evolução biológica humana. A seguir, as vantagens angariadas com isso: § desenvolvimento da habilidade para o transporte de alimentos; § redução de pelos sobre as áreas do corpo não expostas ao sol forte; § liberação das mãos para diferentes usos, inclusive para cuidar dos filhos; § redução do consumo de energia em caminhadas a velocidades normais; e § aumento do horizonte de visão e aperfeiçoamento da proteção contra predadores. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Quanto maior o cérebro, maior o consumo de energia. O cérebro humano, em termos energéticos, consome três vezes mais do que o cérebro do chimpanzé e 22 vezes mais do que um tecido muscular em repouso. A taxa metabólica específica (por grama) é nove vezes maior do que a do resto do corpo como um todo. Para suprir essa demanda energética, os ancestrais necessitavam de uma dieta de melhor qualidade proteica e energética. 43 Evolução humana – hominídeos § cérebro grande; § dependência total do uso de utensílios; cérebro, tecnologia, linguagem e cultura § linguagem simbólica completa; e § capacidades cognitivas desenvolvidas através de processos complexos de transmissão da informação de geração em geração. § proteínas de grandes animais; dieta e subsistência § consumo significativo de plantas ricas em hidratos de carbono; § consumo retardado da comida adquirida; e § partilha dos alimentos. § laços sexuais e econômicos fortes entre machos e fêmeas; § crianças dependentes; § adolescência prolongada; reprodução e sociedade § vida social organizada em torno de um lugar central; e § inexistência de caninos grandes que possam ser usados em contexto de interação social. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias locomoção e habitat 44 § porte ereto e locomoção bípede; e § habitats abertos. Homo sapiens neanderthalensis Homo sapiens sapiens crânio achatado crânio abaulado testa curta testa evidenciada osso supraorbital bastante expandido ausência/redução acentuada do osso supraorbital órbitas oculares grandes órbitas oculares pequenas face projetada para a frente face curta ausência de queixo presença de queixo osso occipital achatado osso occipital abaulado ossos longos espessos e curvos ossos longos mais delgados ossos longos com grandes áreas para ligação de músculos ossos longos com pouca superfície para ligação de músculos 6.1. Evolução cultural A cultura é um processo tipicamente humano: a evolução da humanidade se tornou muito mais cultural do que biológica. Cultura, portanto, é o acúmulo de conhecimentos e hábitos cuja renovação depende muito mais do surgimento de novas técnicas do que das mutações em si. Foi essa evolução cultural que permitiu a formação dos grupos sociais, a domesticação de animais, o cultivo de plantas e o domínio do homem sobre a natureza, causando, ao mesmo tempo, graves problemas a outras espécies. 6.2. Apontamentos sobre a origem do ser humano Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin sobre o mecanismo da evolução das espécies estremeceu o mundo da ciência. A consequência lógica e irrefutável de tudo o que ele havia descoberto era a de que a espécie humana não teria sido criada separadamente dos outros seres vivos, como afirmavam as Escrituras das três maiores religiões monoteístas, mas evoluído a partir de espécies já extintas, antecessoras também dos macacos, como o chimpanzé, o gorila e o orangotango. Na época, esse era um conceito inaceitável. Primeiro, porque refutava os dogmas religiosos, que ainda ocupavam um lugar central no comando das sociedades ocidentais. Darwin teve uma educação teológica em Cambridge, estava destinado a ser um pároco da Igreja anglicana e descendia de uma próspera família de proprietários rurais, profissionais liberais e industriais. Seus amigos eram todos conservadores ou ligados à religião e ao governo, fortemente opostos à noção de evolução das espécies como um mecanismo independente do Criador. Segundo, porque temia-se que, ao aceitar esse conceito, o ser humano perderia seu lugar especial, rebaixando-se a mais um animal entre os animais. Para a classe dominantes hegemônica, essa constatação poderia "liberar os instintos mais baixos" da população, que poderia revoltar-se contra o governo e instaurar a anarquia, tão temida pelos governantes (é preciso não esquecer que a influência da Revolução Francesa ainda se fazia sentir e que o socialismo acabava de nascer como movimento político e social, ameaçando tirar o poder dos velhos privilégios da monarquia, da elite econômica, etc.). Em terceiro lugar, havia um argumento científico sólido contra a hipótese defendida por Darwin e seus seguidores: até então, não havia qualquer evidência concreta de que os registros fósseis comprovassem a progressão evolutiva dos hominídeos. O castelo cuidadosamente montado pelos opositores de Darwin começou a desmoronar quando foram descobertos os primeiros esqueletos de um ser evidentemente muito mais antigo que o Homo sapiens sapiens (a espécie moderna do ser humano), o Homem de Neandertal, encontrado em escavações no vale do rio Neander, na Alemanha (“tal” significa “vale”, em alemão). As observações mostraram um ser com postura ereta, corpo e membros praticamente iguais aos nossos, mas com um crânio com semelhanças ao de um gorila. A descoberta foi atacada na época, e seus opositores argumentaram que o fóssil pertencia a um ser humano de- Da esquerda para a direita, os crânios do Australopithecus afarensis, um dos mais antigos hominídeos encontrados; do Australopithecus africanus, um hominídeo mais recente que o afarensis; do Homo habilis, uma das primeiras espécies africanas do gênero; e de um Homem de Neandertal. A ciência chegou à conclusão de que o ser humano evoluiu gradativamente a partir de espécies que hoje sabemos terem se originado na África subequatorial entre 5 e 6 milhões de anos atrás. Além disso, descobriu-se que o Neandertal não é nosso antepassado, mas sim uma subespécie que surgiu em paralelo com o Homo sapiens sapiens e que se extinguiu há cerca de 60 mil anos, por motivos desconhecidos. Ambos descendem de duas espécies de hominídeos ancestrais, que, entre um milhão a 500 mil anos atrás, começaram a emigrar da África para outros continentes: o Homo erectus e o Homo habilis. O Homo sapiens sapiens provavelmente tem apenas 100 mil anos de existência como espécie independente, um período extremamente curto em termos geológicos, ou mesmo para a idade total do gênero Homo. Trata-se de uma espécie que está há pouquíssimo tempo na superfície deste planeta. Uma conclusão surpreendente no estudo dos hominídeos é que, provavelmente, existiram muitas espécies de hominídeos ancestrais que foram extintas sem deixar marcas. A linha sobrevivente, em determinadas épocas históricas, chegou a ter um número extremamente reduzido de indivíduos. Um estudo recente do DNA mitocondrial (que é transmitido apenas através da linha feminina, diferentemente do DNA, que tem componentes maternos e paternos) mostrou que houve uma época no passado em que existiam apenas cerca de 40 mil seres humanos em toda a face da Terra. Qualquer grande desastre natural ou epidemia teria inviabilizado essa espécie. Esses estudos de biologia molecular também evidenciaram que toda a humanidade descende, provavelmente, de não mais do que seis indivíduos que habitaram o sul da África, sendo que uma dessas mulheres é responsável por 60% de todos os genomas da humanidade atual, enquanto que outras cinco são responsáveis pelos 40% restantes. Inclusive, novos conhecimentos moleculares possibilitaram descobrir também que o DNA atual de seres humanos possui alguns poucos trechos de material genético de outros hominídeos. Isso evidencia que os hominídeos não só coexistiam, como cruzaram entre si. Considerando que o ser humano é uma espécie recente e que são poucos os trechos compartilhados, as evidências sugerem que não havia separação total entre as espécies e que ainda era possível o cruzamento. Além disso, a falta acasalamento não era motivada por diferenças genéticas, mas por incompatibilidade de comportamento, que impedia uma aproximação entre as espécies. Os principais estágios da evolução humana anos atrás 4 milhões estágios da evolução Australopithecus afarensis 3,2 milhões “Lucy” (Australopithecus afarensis) 2,5 milhões Australopithecus de várias espécies 2 milhões Homo habilis 1,6 milhão Homo erectus 1,4 milhão Os Australopithecus sofrem extinção. 1 milhão O Homo erectus se estabelece na Ásia. 400 mil O Homo erectus se estabelece na Europa. O Homo sapiens começa a evoluir. 250 mil Formas arcaicas do Homo sapiens. O Homo erectus sofre extinção. 125 mil Homo neandertalensis 100 mil O Homo sapiens se desenvolve plenamente na Ásia e na África. 40 mil O Homo sapiens (Cro-Magnon) se desenvolve. 35 mil Os Neandertais sofrem extinção. O Homo sapiens permanece como a única espécie humana sobrevivente. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias formado ou aleijado. No entanto, a descoberta acabou se consolidando com outros achados em várias partes da Europa e do Oriente Médio, provocando uma enorme polêmica. Mostrou-se, pela primeira vez, que havia o registro histórico de um ser muito semelhante ao ser humano, que não mais existia e poderia ser um ancestral em comum de macacos atuais e seres humanos. A descoberta deu um grande impulso à aceitação das teorias de Darwin pelos cientistas e incentivou a busca desenfreada por fósseis de hominídeos cada vez mais antigos, o que veio a acontecer somente no século XX, inicialmente na África, mas também na Ásia e Oceania. 45 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS A evolução biológica e a antropologia cultural e social caminham juntas para explicar a história do ser humano na Terra. Por meio de registros fósseis, como o tipo de arcada dentária, é possível estimar qual seria a alimentação daquele espécime e também qual seria o crânio. A partir dessas informações, é viável recriar o contexto onde possivelmente os indivíduos estavam inseridos, como os caçadores-coletores, os quais tinham uma distribuição de trabalho e uma divisão social. Desse modo, é possível reproduzir as interações entre os indivíduos de uma sociedade de 200 mil anos atrás. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. HABILIDADE 16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos. Nesta questão sobre diversidade fenotípica associada ao ambiente ocupado, é fundamental a interpretação correta do modelo apresentado, associando a cor da pelagem com a cor do ambiente. Com isso, será possível entender como os processos evolutivos estão ocorrendo. MODELO 1 VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias (Enem) Os ratos Peromyscus polionotus encontram-se distribuídos em ampla região na América do Norte. A pelagem de ratos dessa espécie varia do marrom claro até o escuro, sendo que os ratos de uma mesma população têm coloração muito semelhante. Em geral, a coloração da pelagem também é muito parecida à cor do solo da região em que se encontram, que também apresenta a mesma variação de cor, distribuída ao longo de um gradiente sul-norte. Na figura, encontram-se representadas sete diferentes populações de P. polionotus. Cada população é representada pela pelagem do rato, por uma amostra de solo e por sua posição geográfica no mapa. 46 O mecanismo evolutivo envolvido na associação entre cores de pelagem e de substrato é: a) A alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da pelagem dos roedores. b) O fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a grande diversidade interpopulacional. c) A seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a sobrevivência diferenciada de indivíduos com características distintas. d) A mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais escuro, têm maior ocorrência e capacidade de alterar significativamente a cor da pelagem dos animais. e) A herança de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se adaptarem a diferentes ambientes e transmitirem suas características genéticas aos descendentes. ANÁLISE EXPOSITIVA Compreender como os mecanismos evolutivos são capazes de produzir padrões encontrados de acordo com o meio ambiente onde as espécies habitam é primordial para entender a situação proposta. Observa-se nesse esquema que a coloração dos ratos varia de acordo com o ambiente que ocupam, ou seja, ratos de pelagem mais escura vivem em ambientes em que o solo é mais escuro. O que ocorre é que provavelmente a pelagem com cor parecida ao substrato confere uma vantagem adaptativa. Pode-se entender esse processo por meio da seguinte situação: presumivelmente existiam ratos de todas as cores em todos os ambientes. Aqueles que tinham coloração diferente do substrato eram predados de maneira mais fácil e, com isso, foram extintos. Por outro lado, aqueles com pelagem semelhante ao ambiente sobreviviam, pois conseguiam passar despercebidos pelo predador e transmitiam essa cor de pelagem aos descendentes. Esse mecanismo evolutivo é denominado seleção natural e foi proposto por Charles Darwin. Alternativa C VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias RESPOSTA 47 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS DIFERENCIAÇÃO PROGRESSIVA ESPECIAÇÃO ISOLAMENTO REPRODUTIVO PRÉ-ZIGÓTICO • • • • SAZONAL ECOLÓGICO MECÂNICO COMPORTAMENTAL VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias • FORMAÇÃO DE NOVAS ESPÉCIES • MORTALIDADE DO ZIGOTO INVIABILIDADE OU ESTERILIDADE DO HÍBRIDO ALOPÁTRICA PERIPÁTRICA PARAPÁTRICA SIMPÁTRICA ISOLAMENTO GEOGRÁFICO ISOLAMENTO GEOGRÁFICO, POPULAÇÃO MENOR DE UMA MAIOR SEM ISOLAMENTO GEOGRÁFICO, GRANDES ÁREAS SEM ISOLAMENTO GEOGRÁFICO, OCUPAÇÃO DE NICHOS DISTINTOS CLADOGRAMA 48 ISOLAMENTO REPRODUTIVO PÓS-ZIGÓTICO BIOLOGIA CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias TEORiA DE AULA DIVERSIDADE DA VIDA INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS Parasitologia é um tema marcante e engloba doenças causadas por vírus, bactérias e protozoários. A maioria das questões aborda a forma de contágio e profilaxia, sempre trazendo doenças do cotidiano. É uma prova generalista com relação às características dos seres vivos, que não aborda grupos específicos, ao contrário, abrange um vasto número de grupos, sempre comparando-os. Essa prova possui maior foco em teorias evolutivas e na taxonomia dos seres vivos. A zoologia é o terceiro tema mais abordado na Fuvest. Com relação a essa área, as perguntas são frequentemente comparativas, analisando os grupos de seres vivos. Assim, é fundamental a compreensão da estrutura celular de todos os reinos e organismos existentes. Doenças causadas por vírus (como a dengue), bactérias e protozoários costumam aparecer nas questões da Unifesp. Prova essencialmente comparativa e com questões que misturam diferentes áreas da Biologia. Há presença de assuntos como diversidade de seres vivos e comparação entre os reinos e entre os filos animais. Zoologia também aparece como ponto de destaque dentro desta prova. A abordagem mais usada sempre é a relação entre os organismos, suas semelhanças e diferenças. Com poucas questões de Biologia, a PUC-Camp cobra conhecimentos acerca da anatomia comparada dos filos animais e da classificação dos seres vivos. Além de protozooses, a Santa Casa cobra conhecimentos específicos e comparativos sobre os mais variados seres vivos, de vírus a vertebrados. UFMG VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias É uma prova com questões interdisciplinares que cobram conteúdos altamente específicos. É importante reconhecer características dos seres vivos e saber comparar os diferentes reinos e filos. 50 Questões com alto nível de especificidade. Estão presentes conteúdos relacionados a doenças virais e bacterianas e anatomia comparada dos diferentes filos animais. Relações evolutivas, taxonomia e protozooses (doenças causadas por protozoários, como malária e doença de Chagas) são temas muito presentes nas provas da Uerj. Apresenta questões de temas variados e não muito cobrados em outros vestibulares, como taxonomia dos seres vivos e diversidade do Reino Monera. Também estão presentes temas como zoologia e anatomia comparada dos diferentes filos animais. Com perfil similar à Fuvest e questões bem específicas, os temas mais frequentes são doenças virais e bacterianas, comparação entre os reinos e anatomia comparada dos filos animais. Saber ler cladogramas, classificar seres vivos e diferenciar os principais grupos (reinos e filos) são competências fundamentais para ter sucesso nessa prova. 1.2. Complexidade e organização TAXONOMIA E REINOS CN AULAS 1E2 Os seres vivos são complexos e apresentam organização própria. Mesmo os organismos unicelulares apresentam extrema complexidade, tanto na estrutura quanto no funcionamento da célula. O corpo humano, exemplo de organismo pluricelular, apresenta 200 tipos de células, que se organizam em quatro tipos básicos de conjuntos, chamados de tecidos epitelial, conjuntivo, muscular e nervoso. Os grupos desses tecidos se reúnem formando órgãos, como pele, estômago e coração. Por sua vez, atuando em conjunto, os órgãos passam a constituir um sistema, como é o caso do digestório ou do circulatório. Mitocôndria Vacúolo COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) 4 Membrana celular Citosol 16 Ribossomos Centríolos 1. Os seres vivos Núcleo Lisossoma Nucléolo 1.1. Estrutura celular Todos os seres vivos são formados por unidades estruturais e funcionais chamadas de células. A célula é a menor porção capaz de apresentar as propriedades de um ser vivo: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Os seres vivos podem ter o corpo constituído por apenas uma célula, os unicelulares, como as bactérias, ou por mais de uma célula, os pluricelulares, como os animais. Membrana nuclear Complexo golgiense Grânulos secretores A complexa estrutura celular. 1.3. Metabolismo Metabolismo é todo e qualquer processo que ocorre dentro do organismo. A maioria deles envolve energia. A manutenção da vida ocorre por meio das atividades celulares, as quais são realizadas à custa de energia proveniente de alimentos. O conjunto dessas atividades é chamado de metabolismo. Nelas, estão envolvidos diferente processos responsáveis pelo crescimento, manutenção e reparo das células e, consequentemente, de todo o organismo. Parede Celular Celular ParedeParede celular Membrana celular Membrana Membrana celular celular Ribossomos Ribossomos Ribossomos Plasmídeo Plasmídeo Plasmídeo DNA DNA DNA Grânulo Grânulo Grânulo Flagelo Flagelo Flagelo Célula bacteriana. Célula bacteriana. Os principais processos metabólicos são: anabolismo e catabolismo. O termo anabolismo compreende os processos químicos sintéticos, nos quais substâncias mais simples são combinadas para formar outras mais complexas, resultando em armazenamento de energia, formação de novas estruturas celulares e crescimento. O catabolismo se refere a processos nos quais as substâncias complexas são quebradas, originando substâncias mais simples e ocasionando liberação de energia. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os seres vivos, objeto de estudo da Biologia, podem ser caracterizados por: § estrutura celular; § reprodução; § complexidade e organização; § material genético; § metabolismo; § adaptação; § reatividade; § evolução. 51 Catabolismo Anabolismo GENITORA A GENITOR GENITORA B PRODUZ GAMETAS PRODUZ GAMETAS GAMETAS GAMETAS FUSÃO As atividades metabólicas. ZIGOTO 1.4. Reatividade reprodução sexuada A reatividade é a capacidade que os seres vivos possuem de reagir aos estímulos do meio ambiente. Os estímulos podem ser definidos como qualquer alteração física ou química do ambiente capaz de desencadear uma reação num organismo. São exemplos a capacidade olfativa de um cão e o movimento de um girassol em relação à posição do Sol. 1.5. Reprodução 1.6. Material genético Cada célula possui uma região nuclear onde há uma ou mais moléculas de ácido desoxirribonucleio, o DNA. Nessa molécula, estão contidos os genes que controlam todas as atividades celulares. Passando de pais para filhos, os genes carregam as características específicas de cada organismo. Todo ser vivo é capaz de se reproduzir, ou seja, gerar organismos semelhantes. A reprodução pode ser assexuada ou sexuada. A divisão de uma bactéria em duas células-filhas, exatamente iguais à célula-mãe que as gerou, é o exemplo mais comum de reprodução assexuada. A reprodução sexuada, por sua vez, ocorre através da fusão de duas células especializadas denominadas gametas, que formam o zigoto ou célula-ovo. Por meio de sucessivas divisões, o zigoto origina um novo organismo. ORGANISMO GENITOR DNA: macromolécula constituída por uma dupla hélice. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 1.7. Adaptação 52 Adaptação é qualquer modificação de estrutura, função ou comportamento que permite a um organismo explorar de maneira mais eficiente o meio em que vive. Por meio da adaptação, o ser vivo amplia as possibilidades de sobrevivência e reprodução. DIVISÃO CELULAR 1.8. Evolução ORGANISMO FILHO A ORGANISMO FILHO B reprodução assexuada A expressão do material genético, ou seja, dos genes, é responsável pelas características de um organismo. Qualquer mutação do material genético que provoque o aparecimento de uma nova característica é conhecida como variação. É por meio das variações que opera o processo chamado de evolução, cuja definição é a transformação de uma população de organizamos no decorrer do tempo. diversidade devido à extinção de espécies, outras duas circuntâncias estão colaborando para atribuir urgência a esse tema: o crescimento desenfreado das populações humanas, que consomem os recursos naturais de forma acelerada, e as descobertas da ciência acerca das potencialidades da diversidade biológica para os seres humanos e para o meio ambiente. 2.1. Quantificar a biodiversidade: riqueza de espécies 2. Biodiversidade: diversidade de espécies e de ecossistemas Biodiversidade é o conceito que designa a diversidade biológica existente entre os seres vivos de espécies diferentes, entre seres da mesma espécie, assim como também engloba a diversificação de habitats e ambientes. O conceito ganhou destaque a partir da década de 1980, a partir da discussão sobre o risco de extinção de espécies e dos impactos ambientais gerados pelas populações humanas que comprometiam a sobrevivência das gerações futuras e a disponibilidade de recursos para elas. Hoje, sabemos que a biodiversidade é essencial para manutenção dos ecossistemas. Em locais com grande biodiversidade, há maior possibilidade de existir organismos resistentes a mudanças ambientais, de forma que populações com baixa diversidade ficam mais vulneráveis a patógenos e ao ambiente. Existem, aproximadamente, 2 milhões de espécies conhecidas e 15 mil espécies são descritas pelos cientistas por ano. Ainda assim, estima-se que existam entre 5 e 30 milhões de espécies no planeta, com a maioria das espécies concentrada nos trópicos. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), mais de 25% desse total correm sério risco de extinção até 2050. Os principais fatores para extinção de espécies é o desaparecimento de seus habitats, devido ao desmatamento, ao avanço das cidades e à degradação ambiental, como a poluição das águas e do ar. É preciso que a diversidade biológica seja reconhecida enquanto um recurso global para que possa ser registrada, usada e, acima de tudo, preservada. Além das perdas de bio- Além da riqueza de espécies, os seres vivos são diferentes entre si, mesmo aqueles que pertecem a mesma espécie. Exceto por casos de partenogênese ou de gêmeos idênticos, virtualmente não há dois membros da mesma espécie geneticamente idênticos. Isso faz com que cada espécie seja um repositório de uma imensa quantidade de informação genética. O número de genes é de aproximadamente 4×103 nas bactérias, 4×104 em alguns fungos e de 4×105 ou mais em plantas com flores e alguns animais. A quantidade de informação genética em um organismo e o número de espécies constituem apenas uma parte da diversidade biológica sobre a Terra. ESPÉCIES CONHECIDAS E ESTIMADAS formas de vida espécies conhecidas espécies totais estimadas insetos e artrópodos 874.161 30 milhões arbustos e árvores 248.400 de 275 mil a mais de 400 mil invertebrados 116.873 Podem chegar a poucos milhões ervas e arbustos 73.900 Não disponível microrganismos 36.900 Não disponível peixes 19.056 21 mil aves 9.040 98% já conhecidas répteis e anfíbios 8.962 95% já conhecidas mamíferos 4.000 95% já conhecidas total 1.439.992 Excede a 30 milhões VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Esquema simplificado da evolução dos organismos Quantificar a biodiversidade é uma tarefa difícil. Existem habitats que se mantêm pouquissímo explorados, como recifes de coral e solos do fundo do mar, e outros que foram devastados antes de serem estudados, o que impossibilita que a riqueza de espécies da Terra, ou seja, o verdadeiro número de espécies seja conhecido. 53 2.2. Florestas tropicais: centros de biodiversidade Mesmo com as ações antrópicas intensificadas principalmente após o século XX, as florestas tropicais ainda possuem maior diversidade quando comparadas com as regiões subtropicais ou temperadas. Isso se deve a algumas características como a extensão territorial dessas florestas e por receberem mais energia advinda do Sol, o que permite maior produtividade primária. Vegetação do Parque Nacional da Serra do Pardo, na Floresta Amazônica brasileira O Brasil possui 30% das florestas tropicais existes no mundo e os exemplos brasileiros são a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e as matas ciliares (de beira de rios). VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os solos desses biomais são, em geral, pobres. A rápida ciclagem de matéria orgânica e a manutenção dos nutrientes na biomassa são os principais responsáveis por sua exuberância. Esse solo é rico em microrganismos que aceleram a decomposição da matéria vegetal – uma folha pode ser decomposta em seis semanas, enquanto numa floresta temperada levaria um ano para degradar-se. 54 Retirada a camada vegetal da floresta, a lixiviação e a erosão transformam e degradam a paisagem. Após isso, a recuperação é lenta e incapaz de recriar o mesmo ambiente devido à perda da serrapilheira, camada de nutrientes em decomposição sob o solo, e do banco de sementes, reservatório de sementes capazes de substituir as plantas adultas e dispersas pelas mesmas. As florestas tropicais também são importantes para manter a estabilidade do clima ao compor o ciclo da água por meio da Evapotranspiração. 2.3. O que fazer e por quê? A diversidade biológica mais ameaçada é também a menos pesquisada. Além disso, não há nenhuma perspectiva de que a tarefa científica seja completada antes de que uma grande parte das espécies desapareça. É provável que, no mundo, não mais do que 1.500 profissionais sistematas sejam competentes para lidar com milhões de espécies encontradas nas florestas tropicais úmidas. Ademais, esse número pode estar em queda devido à diminuição das oportunidades profissionais, à restrição de fundos para pesquisa e à priorização de outras disciplinas. De 1979 a 1983, o declínio foi acompanhado pela diminuição em mais de 50% do número de publicações em ecologia tropical. O problema da conservação tropical é, desse modo, potencializado pela falta de conhecimento e pela escassez de pesquisa. Caso não ocorra um esforço no sentido de defesa e compreensão da biodiversidade, a compreensão desses aspectos importantes da vida ficará cada vez mais distante. Com efeito, devido à aceleração da extinção das espécies, talvez a possibilidade desse conhecimento escape da humanidade para sempre. É fato que o conhecimento da diversidade biológica significará pouco para a vastidão da humanidade, a não ser que existam motivações para utilizá-lo. O ser humano não depende completamente nem mesmo de 1% das espécies vivas para sobreviver, e o restante permanece esquecido, sem ser testado. No curso da história, de acordo com estimativas feitas, as pessoas se utilizaram de 7.000 tipos de plantas na alimentação, predominantemente trigo, centeio, milho e cerca de uma dúzia de outras espécies altamente domesticadas. Não obstante, existem pelo menos cerca de 75 mil plantas comestíveis, e muitas delas são superiores, em termos nutricionais, a plantas que estão sendo largamente utilizadas. Outras podem ser substitutas do petróleo e são fontes potenciais de novos remédios e de fibras. Além disso, entre os insetos existem muitas espécies que são potencialmente superiores como polinizadoras de plantas, agentes controladores de ervas-daninhas e parasitas e predadoras de pestes de insetos, ou seja, podem ser usadas como controles biológicos. As bactérias, leveduras e outros microrganismos vão continuar a produzir novos remédios, alimentos e procedimentos de restauração do solo. Na realidade, a questão se resume a uma decisão ética: De que maneira os seres humanos valorizam os mundos naturais nos quais se desenvolveram e de que maneira entendem seu status como indivíduos? Vegetação da mata Atlântica. Disponível em: <www.mudasnativas.org>. Acesso em: 22 dez. 2015. Os humanos são fundamentalmente mamíferos e espíritos livres que alcançaram esse alto nível de racionalidade pela criação perpétua de novas opções. A filosofia natural e a ciência trouxeram alívio para o que poderia ser o paradoxo essencial da existência humana. Reflita... Quais seres vivos estão relacionados a sua vida? De que maneira você interfere no ambiente deles? Que sentimentos eles despertam em você? Você acha que a diversidade de espécies é maior agora, no seu ambiente, ou era maior no ambiente antes de ele ser ocupado pelo homem? 2.4. Classificando e ordenando a biodiversidade A biodiversidade é estudada há muito tempo. Desenhos encontrados em cavernas indicam o provável interesse dos homens em registrar e reconhecer os seres vivos. O avanço da ciência levou a uma investigação mais sistemática dos seres vivos atuais, tanto externa quanto internamente, e dos já extintos, através de fósseis, o que permitiu classificá-los e compará-los. Durante os séculos XIX e XX, os estudos de arqueologia e dos fósseis adquiriram maior importância, e as evidências decorrentes permitiram afirmar que os seres vivos de hoje derivam de outros que existiram há milhares de anos. Na Biologia, já foram utilizados diversos critérios na classificação dos organismos. Aristóteles, no século IV a.C., classificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos. Santo Agostinho classificou os animais em úteis, nocivos e indiferentes ao homem. No entanto, com o passar do tempo, esses critérios se mostraram inadequados. Em meados do século XVIII, o naturalista sueco Carl von Linnée, ou Lineu, classificou os organismos segundo a estrutura e anatomia dos seres vivos. Esse sistema de classificação é utilizado até hoje e é denominado taxonomia. Classificar é separar em grupos de acordo com suas semelhanças e diferenças e, no caso da biologia, de acordo com seu grau de parentesco. Desde os tempos mais remotos até nossos dias, a classificação das “coisas”, animais e vegetais ajudou a humanidade a compreender o seu ambiente. Além disso, é fundamental no desenvolvimento de nossa capacidade intelectual, já que a finalidade de organizar as ideias e sistematizar os hábitos é nortear a produção de conhecimentos. Reflita... Comparando um golfinho, um tubarão e o homem, você diria que o grau de parentesco é maior entre: § golfinho e tubarão; § golfinho e homem; ou § tubarão e homem? Que critério utilizou? 3. Taxonomia e Filogenia Cada uma das categorias usadas na classificação dos seres vivos é denominada táxon. Dessa forma, o ramo da Biologia que se ocupa da classificação e nomenclatura é chamado taxonomia. A categoria básica na classificação é a espécie. De acordo com o conceito biológico de espécie, dois organismos pertencem a mesma espécie quando, em condições naturais, podem cruzar e gerar descendentes férteis. Espécies que apresentam características em comum são agrupadas em um gênero. Os gêneros são agrupados em famílias; as famílias, em ordens; as ordens, em classes; as classes, em filos ou divisões (para vegetais); os filos, em reinos; e os reinos estão ainda agrupados em domínios. Assim, cada uma das categorias é um conjunto composto de vários subconjuntos. O sistema de Lineu não considerava a ideia de parentesco entre os seres, pois ele acreditava que todos os seres haviam surgido no momento da criação divina. O sistema de Lineu consiste em um catálogo metódico de plantas e animais, reunindo-os em grupos maiores e grupos subordinados. Atualmente, a ciência demonstra que todos os seres descendem de um mesmo ancestral e que um maior grau de semelhança reflete um parentesco mais próximo. Essas semelhanças podem ser estruturais, etológicas (comportamentais), ecológicas, citológicas ou bioquímicas. A priori, nenhum desses tipos de semelhanças é mais importante que os demais. Contudo, as semelhanças compartilhadas podem possuir significados diferentes, considerando-se a história evolutiva. Além disso, algumas semelhanças podem ser um indicativo enganoso de parentesco, uma vez que podem ter surgido separadamente em cada grupo. Por exemplo, retomando a comparação entre tubarão, golfinho e homem. Quais organismos você colocaria no mesmo grupo se fosse organizá-los baseando-se somente na aparência deles? VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A vontade da expansão perpétua ou de liberdade pessoal é básica ao espírito humano. Para sustentá-la, é preciso a mais delicada e conhecedora administração do mundo vivo que se possa planejar. A princípio, expansão e administração podem parecer objetivos conflitantes, mas, na realidade, o que acontece é o oposto. 55 3.1. A nomenclatura binomial Agora, observe a classificação de cada um deles: tubarão golfinho homem Reino Animal Animal Animal Filo Cordado Cordado Cordado Classe Condríctie Mamífero Mamífero Ordem Elasmobrânquio Cetáceo Primata Família Carcarrinídeo Delfinídeo Hominídeo Gênero Negaprion Delphinus Homo Espécie Negaprion brevirostris Delphinus delphis Homo sapiens O homem e o golfinho pertencem à classe dos mamíferos, portanto apresentam semelhanças mais relevantes do ponto de vista evolutivo do que as semelhanças observadas entre o golfinho e o tubarão. Indivíduos da mesma espécie são mais aparentados que indivíduos do mesmo gênero, indivíduos do mesmo gênero são mais aparentados que indivíduos da mesma família, e assim por diante. Ser mais aparentado significa ter compartilhado um ancestral em comum mais próximo. Por exemplo, você e seu irmão têm ancestrais comuns mais próximos (seus pais) do que você e seu primo, cujos ancestrais comuns são os seus avós. Definir quais características são relevantes é uma tarefa complexa e faz com que as classificações sejam constantemente revisadas a partir das novas descobertas científicas. Atualmente, técnicas modernas permitem comparar a composição química das proteínas e dos genes que compõem os seres vivos, elucidando algumas relações de parentesco. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Em 1866, Herns Haeckel estabeleceu um novo campo de estudo para designar as relações de origem e parentesco entre os seres, a filogenia. Isso foi possível a partir do estudo que realizou nos escritos de Charles Darwin sobre evolução, o qual criou a primeira representação gráfica para esses parentescos e que permitiu a Haeckel criar o conceito de árvore filogenética. 56 A ideia de atribuir uma nomenclatura para cada organismo também foi de Lineu. Essa nomenclatura é composta por dois nomes: o primeiro indica o gênero, e o segundo, a espécie. Por exemplo: Canis lupus (lobo), na qual canis é o epíteto genérico (gênero), e lupus é o epíteto específico. Dessa forma, várias espécies podem ter o primeiro nome igual, mas o segundo nome será diferente. A nomenclatura foi criada para que houvesse uma padronização internacional dos nomes, facilitando o trabalho de cientistas. A onça-parda, por exemplo, tem ampla distribuição geográfica, sendo conhecida por diversos nomes: puma, leão-da-montanha, cougar, pantera-americana, catamount, panter. No entanto, todos os cientistas reconhecem-na pelo nome de Felis concolor. Para que a nomenclatura seja padronizada, certas regras devem ser seguidas: § os nomes devem estar em latim; § o primeiro nome deve ser escrito com inicial maiúscula, e o segundo, com inicial minúscula; e § nomes devem ser sempre destacados do texto (em negrito, itálico ou sublinhado). 3.2. Os três domínios A partir da análise de sequências de RNA ribossômico, atualmente dividimos o mundo vivo em três grandes grupos, conhecidos por domínios: Bacteria, Archea e Eukarya. O domínio Bacteria é formado pelas chamadas “bactérias verdadeiras”, seres procariontes cuja parede celular apresenta peptídeoglicanos como componente principal. Archaea é um domínio de bactérias, também procariontes e com parede celular de composição variada, sem peptideoglicano. Estas possuem a característica de viver em ambientes inóspitos, com grandes salinidades, altas temperaturas, ácidos, etc. Procariontes são os seres que apresentam protocélulas, ou seja, células com material genético disperso no hialoplasma, pois não apresentam núcleo diferenciado e nem organelas membranosas. O domínio Eukarya inclui todos os demais seres vivos, isto é, protistas (protoctistas), fungos, vegetais e animais. Eucariontes são os seres que apresentam eucélulas, ou seja, células com sistemas internos membranosos; portanto, têm núcleo típico, uma vez que o material genético é envolto por membrana – carioteca – cujo hialoplasma abriga organelas membranosas. Árvore da vida de Darwin Alguns autores reúnem eubactéria e arqueobactéria em um único reino denominado Monera. O esquema abaixo representa uma possível origem evolutiva dos seres vivos a partir de um ancestral comum. 3.3. Os Reinos Por muito tempo, admitiu-se a existência de apenas dois reinos: o animal e o vegetal, englobando apenas organismos pluricelulares. Os animais eram aqueles que se deslocavam, alimentavam-se e respiravam; enquanto os vegetais eram verdes, sésseis e realizavam fotossíntese. Contudo, foram identificados alguns organismos com características muito distintas e foi criado o Reino dos Protistas, no qual incluem-se algas microscópicas, fungos e diversos seres unicelulares. Existem seres que não se encaixam em nenhum dos reinos existentes – os vírus –, pois apresentam características únicas: eles não formam células (são formados de material genético envolvido por uma cápsula proteica) e só se reproduzem dentro de células hospedeiras. Existem cerca de mil grupos de vírus identificados e só é possível vê-los através de microscópio eletrônico, que pode ampliar a imagem até cerca de 100 mil vezes. Reino características representantes Vírus parasitas intracelulares obrigatórios HIV, ebola, influenza Monera procariontes, autótrofos ou heterótrofos bactérias e cianobactérias Fungi eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, heterótrofos bolores, cogumelos, leveduras, orelhas-de-pau Protoctista eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, autótrofos ou heterótrofos algas e protozoários Plantae eucariontes, pluricelulares, autótrofos plantas Animalia eucariontes, pluricelulares, heterótrofos animais Nomenclatura popular Assim, observando-se águas de poças, lagos e mares, foi descoberto um universo microscópico: amebas, paramécios, bactérias, fungos e euglenas eram considerados protistas. Percebendo as diferenças das células procariotas das bactérias e cianobactérias, criou-se o Reino dos Moneras. Nomear os seres vivos que compõem a biodiversidade trata-se de uma etapa do trabalho de classificação. Muitos seres são “batizados” pela população com nomes denominados pela comunidade científica como populares ou vulgares. Esses nomes podem designar um conjunto muito amplo de organismos, incluindo, algumas vezes, até grupos não aparentados. Em meados do século XX, com a justificativa de que os fungos apresentam características de vegetais e de animais, foi criado o Reino dos Fungos. Também pode acontecer de animais de uma mesma espécie receberem vários nomes, como ocorre com a onça-pintada, cujo nome científico é Panthera onca. Apesar de existirem outras divisões atualmente, os organismos podem ser agrupados em cinco reinos: A planta Manihot esculenta, cuja raiz é muito apreciada como alimento, dependendo da região do Brasil, é conhecida por aipim, macaxeira ou mandioca. § Reino dos Moneras, que inclui bactérias e cianobactérias, com aproximadamente 5 mil espécies descritas. § Reino dos Protoctistas, que inclui protozoários e algas, com aproximadamente 58 mil espécies descritas. § Reino dos Fungos, que inclui fungos e líquens, com aproximadamente 47 mil espécies descritas. § Reino dos Vegetais, que inclui as plantas, com aproximadamente 250 mil espécies descritas. § Reino dos Animais, que inclui os animais invertebrados (com cerca de 992 mil espécies descritas, sendo que, dessas, cerca de 880 mil são artrópodes) e vertebrados (cerca de 44 mil espécies descritas). Dessa forma, percebemos que a nomenclatura popular pode variar bastante, mesmo num país como o Brasil, em que a população, de modo geral, fala o mesmo idioma oficial. A situação é ainda mais complexa quando se considera o mundo inteiro, com diversos idiomas. Assim, entendemos a necessidade da adoção de uma nomenclatura padrão internacional, para facilitar a comunicação de diversos profissionais, como médicos, zoólogos, botânicos e todos aqueles que estudam os seres vivos. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Esses organismos ainda assim apresentam diferenças entre si: as células vegetais apresentam parede celular, cloroplastos e grandes vacúolos, enquanto estas estruturas estão ausentes nas células animais. 57 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Para que a linguagem científica se tornasse universal, criou-se um método para nomear as espécies. Baseado nos princípios da linguagem e da escrita, foi escolhida uma língua morta, o latim, ou seja, uma língua que não possui mais falantes nativos. Línguas vivas estão sujeitas a constantes transformações em suas estruturas gramaticais, o que acarretaria em alterações dos nomes científicos. O latim é uma velha língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no Lácio, região próxima à cidade de Roma. Foi largamente difundida, principalmente na Europa Ocidental, como a língua oficial da República Romana, do Império Romano e, posteriormente, da Igreja Católica Romana. VIVENCIANDO VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A taxonomia auxilia os cientistas na classificação das espécies, pois utiliza uma nomenclatura universal. Uma espécie possui o mesmo nome em qualquer lugar do mundo. Dessa forma, uma espécie não pode ser classificada mais de uma vez. Quando um pesquisador no Brasil lê um artigo de um laboratório da Inglaterra e deseja replicar os experimentos, ele precisa saber, para obter as mesmas condições experimentais, qual espécie de animal ou vegetal foi usada. Nesse contexto, a classificação dos seres vivos é extremamente importante. 58 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos. Neste exercício, a habilidade exigida é o conhecimento de duas diferentes classificações taxonômicas dos seres vivos. Com isso, é fundamental conhecer o sistema de classificação de Lineu e o sistema filogenético para responder à questão. MODELO 1 (Enem) A classificação biológica proposta por Whittaker permite distinguir cinco grandes linhas evolutivas utilizando, como critérios de classificação, a organização celular e o modo de nutrição. Woese e seus colaboradores, com base na comparação das sequências que codificam o RNA ribossômico dos seres vivos, estabeleceram relações de ancestralidade entre os grupos e concluíram que os procariontes do reino Monera não eram um grupo coeso do ponto de vista evolutivo. Whittaker (1969) Cinco reinos Woese (1990)Três domínios Archaea Monera Eubacteria Protista Fungi Eukarya Plantae Animalia As diferenças básicas nas classificações citadas é que a mais recente se baseia fundamentalmente em: a) Tipos de células. b) Aspectos ecológicos. c) Relações filogenéticas. d) Propriedades fisiológicas. e) Características morfológicas. Entender que os seres vivos podem ser classificados de acordo com aspectos morfológicos, fisiológicos e evolutivos é de grande importância para o início do entendimento da diversidade biológica. Saber que existem seres vivos com características semelhantes e saber agrupá-los é essencial para o início dos estudos de seres vivos. Do ponto de vista evolutivo, a classificação filogenética é aquela que leva em consideração a ancestralidade entre os grupos de seres vivos, demonstrando quais são os táxons que são mais proximamente relacionados entre si. A classificação proposta por Woese leva em consideração aspectos filogenéticos, representando assim uma classificação mais coesa. O cladograma abaixo demonstra a representação filogenética desses grupos. Bacteria RESPOSTA Alternativa C Archaea Eukarya VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANÁLISE EXPOSITIVA 59 DIAGRAMA DE IDEIAS TAXONOMIA E REINOS CLASSIFICAÇÃO, ORDENAÇÃO E NOMENCLATURA DOS SERES VIVOS (BIODIVERSIDADE) • • • • • • • • SISTEMA NATURAL DE LINEU ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA ESTRUTURA CELULAR REPRODUÇÃO COMPLEXIDADE E ORGANIZAÇÃO MATERIAL GENÉTICO METABOLISMO ADAPTAÇÃO REATIVIDADE EVOLUÇÃO FILOGENÉTICA HERNS HAECKEL PARENTESCO E ANCESTRALIDADE • • • • • • • 3 DOMÍNIOS • • • REINO FILO (DIVISÃO) CLASSE ORDEM FAMÍLIA GÊNERO ESPÉCIE 5 REINOS BACTÉRIA ARCHAEA EUKARYA • • • • • MONERA PROTOCTISTA FUNGI PLANTAE (METAPHYTA) ANIMALIA (METAZOA) NOMENCLATURA BINOMIAL PARA ESPÉCIES LATIM VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias EPÍTETO GENÉRICO 60 HOMO SAPIENS EM DESTAQUE (ITÁLICO OU NEGRITO) EPÍTETO ESPECÍFICO Capsídeo: Proteínas virais específicas Envelope: Membrana bimolecular de lipídeos e proteínas específicas do vírus VÍRUS DNA viral H (Hemaglutina) N (Neuraminidase) Vírus da Influenza a (Vírus envelopado) CN COMPETÊNCIA(s) 4 AULAS 3E4 HABILIDADE(s) 16 1. Introdução Os vírus estão no limite entre um ser vivo e a matéria bruta. Eles não possuem célula, a unidade básica de vida, mas conseguem se multiplicar quando infectam outra célula, algo que uma matéria sem vida não é capaz de fazer. Por isso são alvo de discussão, sendo que alguns autores os consideram seres vivos, e outros, não. O vírus é uma partícula basicamente proteica que pode infectar organismos vivos Os vírus que mais se diferenciam dessa estrutura são os bacteriófagos, que infectam bactérias. Eles são formados por uma cápsula proteica bastante complexa, que apresenta uma região denominada cabeça, com formato poligonal, envolvendo uma molécula de DNA, e uma região denominada cauda, com formato cilíndrico, contendo fibras proteicas em sua extremidade livre. Cabeça Colar Fibra da cauda 2. A estrutura do vírus O capsídeo, juntamente com o ácido nucleico que ele envolve, é denominado nucleocapsídeo. Alguns vírus são formados apenas por essa estrutura e são chamados de não envelopados, enquanto outros possuem um envoltório ou envelope externo ao nucleocapsídeo e são denominados vírus encapsulados ou envelopados. Proteínas virais específicas DNA viral Capsídeo: Proteínas virais específicas Adenovírus (Vírus não envelopado) Placa basal Esquema de um Bacteriófago. O envelope é formado por duas camadas de lipídios, derivadas da membrana plasmática da célula hospedeira, e por moléculas de proteínas virais, específicas para cada tipo de vírus, imersas nas camadas de lipídios. Além dos tipos já citados, os vírus podem ser classificados de outras formas, como pelas enzimas que apresentam − como os retrovírus, ribovírus que apresentam a enzima transcriptase reversa − ou pela sua transmissão − como os arbovírus, transmitidos por artrópodes. 3. Reprodução Quando estão no interior das células, os vírus apresentam algumas propriedades dos seres vivos. Fora delas, não apresentam essas propriedades e permanecem inertes, capazes até de cristalizar-se, como alguns minerais. Por isso, são VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os vírus medem entre 0,03 µm e 0,3 µm (cerca de dez a cem vezes menor do que as bactérias) e são formados por uma cápsula proteica, o capsídeo, com diversas subunidades, os capsômeros. Apresentam material genético que pode ser constituído por DNA nos chamados desoxirribovírus, por RNA nos ribovírus ou por ambos no caso dos citomegalovírus. 61 considerados parasitas intracelulares obrigatórios, o que significa que se reproduzem apenas pela invasão e possessão do controle da maquinaria de autorreprodução celular. O termo vírus refere-se, geralmente, às partículas que infectam eucariontes, enquanto o termo bacteriófago, ou fago, descreve aqueles que infectam procariontes. Há ainda aqueles que infectam apenas fungos, denominados micófagos. Os vírus carregam uma pequena quantidade de ácido nucleico (seja DNA, RNA ou os dois), sempre envolto pelo capsídeo. As proteínas que compõem o capsídeo são específicas para cada tipo de vírus. São as moléculas de proteínas virais que determinam qual tipo de célula o vírus pode infectar. Os vírus apresentam proteínas externas com encaixes específicos para as proteínas da superfície da célula que pode ser sua hospedeira. Após o encaixe entre ambas, a entrada na célula pode ocorrer por meio de: - fusão entre o envoltório viral e a membrana plasmática, seguida da liberação do material genético no interior da célula, como ocorre com o HIV; - injeção do material genético viral na célula, deixando a cápsula do lado de fora, como os bacteriófagos; - endocitose, como o Influenza. Após invadir a célula, os bacteriófagos, que são vírus de estrutura complexa, apresentam dois ciclos reprodutivos: o ciclo lítico e o lisogênico. DNA O bacteriófago injeta DNA na bactéria No ciclo lítico, o vírus invade a bactéria, que tem suas funções normais interrompidas devido à presença do ácido nucleico do vírus (DNA ou RNA). Ao mesmo tempo em que o vírus é replicado, ele comanda a síntese das proteínas que irão compor o capsídeo. Os capsídeos organizam-se e envolvem as moléculas de ácido nucleico, produzindo, então, novos vírus. Ocorre, assim, a lise, ou seja, a célula infectada se rompe e os novos bacteriófagos são liberados. Os vírus que se reproduzem dessa maneira em organismos multicelulares causam sintomas que aparecem imediatamente. No ciclo lisogênico, ao invadir a célula hospedeira, o vírus incorpora seu próprio DNA ao da célula infectada, fazendo com que o DNA viral se torne parte do DNA da célula invadida. Uma vez infectada, a célula continua com suas funções normais, como reprodução e ciclo celular. Ao realizar a divisão celular, o DNA da célula sofre duplicação, juntamente com o DNA do vírus que foi incorporado. Em seguida, os materiais genéticos são divididos igualmente entre as células-filhas. Assim, uma vez infectada, uma célula começará a transmitir o vírus sempre que se multiplicar, e todas as novas células também estarão infectadas. Os sintomas causados por um vírus de ciclo lisogênico demoram para aparecer em um organismo multicelular, e suas causas tendem a ser incuráveis. É o caso da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – em português: SIDA) e da herpes. As vezes, um profago se solta do cromossomo bacteriano, iniciando um ciclo lítico Cromossomo bacteriano A bactéria se rompe (lise), liberando novos vírus DNA viral VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Ciclo Lítico 62 Ciclo Lisogênico OU O DNA viral se duplica. Há produção de proteínas virais, que, reunidas ao DNA, constituem novos bacteriófagos Prófago A bactéria se reproduz, copiando o profago e transmitindo às descendentes O DNA do bacteriófago liga- se ao cromossomo bacteriano (profago) Uma bactéria lisogênica pode transformar-se em não lisogênica e iniciar o ciclo lítico sob determinadas condições naturais e artificiais, como radiações ultravioleta, raios-X ou determinados agentes químicos. VIVENCIANDO Atualmente, uma aplicação importante dos vírus ocorre na área de biotecnologia. O bacteriófago é um tipo específico de vírus que infecta bactérias, utilizando-as como vetor para a transmissão de material genético para uma célula. Esse processo está envolvido na produção de insulina in vitro por bactérias. 4. Processos de manifestação viral Os processos variam de acordo com o ácido nucleico (RNA ou DNA): § Quando o material genético for DNA. meio de agentes, como verme, fungo ou insetos – no momento em que eles se alimentam e vão de planta em planta –, ou através do pólen e das sementes contendo o vírus. Outro mecanismo é a difusão mecânica, na qual o vírus cristalizado se instala nos vegetais devido à manipulação realizada pelo homem. O vírus do mosaico do tabaco, por exemplo, é transmitido por difusão mecânica. O DNA viral passa por uma transcrição, sintetizando várias moléculas de RNA traduzidas em uma proteína. É o caso dos vírus da varíola, da hepatite e da herpes. § Quando o material genético for o RNA. A ação viral pode ocorrer de duas maneiras, dependendo do vírus. Na segunda, o RNA é convertido em DNA por meio de uma enzima denominada transcriptase reversa. A partir desse ácido nucleico, incorporado ao material genético da célula parasitada, são produzidos vários RNA traduzidos em proteínas que atuam no controle metabólico do hospedeiro, como o vírus da AIDS. 5. Viroses 5.1. Vírus de plantas Os vírus, em grande parte compostos de RNA e não envelopados, provocam a maioria das doenças vegetais. Por volta de 400 tipos de vírus afetam a fertilidade das plantas economicamente importantes. Em geral, a consequência mais comum da ação desses vírus está relacionada ao desenvolvimento do vegetal. Ocorre uma queda na taxa metabólica, ou seja, as plantas contaminadas crescem menos do que as sadias, além de aparecerem manchas em folhas, flores e frutos. Os mecanismos de transmissão dos vírus são diversos e podem ocorrer por É possível visualizar as manchas causadas pela doença do mosaico. Um dos vírus de plantas mais estudados é o vírus do mosaico do tabaco (TMV). Isso ocorre por causa da sua organização simplificada e da compreensão de seu ciclo de vida. Inicialmente estudado pelo cientista Wendel Stanley (1904-1971), ele provoca o aparecimento de manchas de coloração esverdeada ou amarelada na superfície das folhas. As videiras (Vitis spp.) apresentam cerca de 50 doenças de origem viral. Essas doenças atingem as folhas (causando enrolamento das bordas foliares), causam manchas e necrose (apodrecimento de tecidos) de nervuras, entre outros efeitos que podem ocasionar o não amadurecimento das uvas e o definhamento progressivo da planta. 5.2. Viroses humanas Diversas doenças que atingem os seres humanos são causadas por vírus. Praticamente todos os tecidos e órgãos humanos podem ser afetados por alguma infecção viral. Veja a seguir as viroses humanas mais frequentes, com destaque para os mecanismos de transmissão e a prevenção. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Na primeira, os vírus de RNA sintetizam mais RNA traduzido em proteínas pelo maquinário da célula hospedeira, como o vírus da gripe, da poliomielite e da raiva. 63 5.2.1. Principais viroses que atingem os seres humanos adequado a tempo. Há vacinas e são ministradas para os animais. 1. Gripe: causa coriza, tosse, espirros, mal-estar, fraqueza, dores musculares e de garganta. É transmitida por gotículas de saliva suspensas no ar. A gripe é provocada pelo vírus Influenza, da família dos ortomixovírus. Possui três subtipos: A, B e C; sendo os subtipos A e B os mais frequentes entre seres humanos. 6. Rubéola: a transmissão ocorre pelo contato direto com pessoas contaminadas ou por meio de gotículas de saliva. Causa febre, aumento dos linfonodos na região do pescoço e manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Também pode causar dor nas articulações, dor de cabeça e conjuntivite. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. Dado que os vírus Influenza se modificam constantemente, não existem fármacos 100% eficazes a serem utilizados no tratamento da doença. De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), são desenvolvidas anualmente variadas vacinas contra os tipos virais da gripe que ocorreram com maior frequência no ano anterior, protegendo as pessoas vacinadas com eficácia considerável. As vacinas são recomendadas para pessoas com 60 anos de idade ou mais, portadores de doenças crônicas ou imunocomprometidas e profissionais da saúde. Essas modificações, que ocorrem no material genético, podem gerar vírus para os quais a população humana não apresenta anticorpos e que são mais transmissíveis. De acordo com a transmissão entre os países e a taxa de contaminação da doença, configuram pandemias como a da Gripe H1N1 que ocorreu em 2009. Além da vacinação, medidas de higiene pessoal simples também atuam na prevenção da doença, como lavar as mãos constantemente e cobrir a boca ao tossir ou espirrar. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 2. Hepatite: a contaminação por hepatite A ocorre por meio da ingestão de água e alimentos que contêm o vírus. Já as hepatites B e C podem ser contraídas através de relações sexuais desprevenidas e do uso de objetos contaminados por sangue que contenham o vírus. Apesar de apresentar outros sintomas, o principal órgão afetado pela hepatite é o fígado. 64 3. Herpes: suas formas de transmissão são o contato direto ou com objetos contaminados. Manifesta-se por pequenas feridas na pele ou mucosas. Quando afeta a região genital, é chamada de herpes genital, sendo considerada uma infecção sexualmente transmissível. 4. Poliomielite: é transmitida por gotículas de saliva, ingestão de água ou alimentos contaminados. Em casos graves, afeta o sistema nervoso e as musculaturas, o que gera o quadro de paralisia infantil quando atinge crianças. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. 5. Raiva: embora possa ser transmitida pela arranhadura e lambedura de mucosas por um mamífero infectado, sua principal forma de transmissão é por meio da mordida. São conhecidos poucos casos de transmissão entre humanos, ocorridos por transplante. Afeta principalmente o sistema nervoso, podendo ser fatal sem o atendimento médico 7. Sarampo: transmitida principalmente por gotículas de saliva de pessoas contaminadas, desencadeia, em um primeiro momento, febre, tosse, corrimento nasal, sensibilidade à luz e conjuntivite. Posteriormente, esses sintomas se acentuam e surgem manchas vermelhas pelo corpo. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. 8. Varíola: é transmitida pelo uso de objetos contaminados, pelo contato com secreções das feridas de pessoas doentes e, o mais comum, por gotículas de saliva. Acredita-se que, devido ao uso da vacina, foi erradicada do mundo. Causa grandes e numerosas feridas pelo corpo, além de febre, fadiga e dores. Pode levar à morte. 9. Catapora: transmitida principalmente pela saliva ou contato com objetos contaminados. Causa pequenas e numerosas feridas espalhadas pelo corpo e que provocam bastante desconforto devido à coceira excessiva. Pode causar febre e dor de cabeça. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. 10. Caxumba: semelhante à catapora, a caxumba pode ser transmitida pela saliva. Ela causa inflamação da parótida e outras glândulas salivares, podendo se alastrar pelo corpo e infectar testículos, ovários, pâncreas e cérebro. Causa febre e, em alguns casos, meningite. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. 11. Dengue: há quatro subtipos de vírus que, de modo geral, causam os mesmos sintomas, como febre, dores de cabeça, dores nas juntas, dores nos olhos e manchas avermelhadas pelo corpo. O agravante é que, depois de um segundo episódio de dengue (por subtipo diferente), a manifestação dos sintomas ocorre com mais severidade, podendo levar à dengue hemorrágica. Geralmente, epidemias da doença ocorrem no verão devido aos períodos chuvosos, que geram ambientes propícios à proliferação do vetor da doença, a fêmea do mosquito Aedes aegypti. 12. Febre chikungunya: também é transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Além disso, pode ser transmitida de mãe para filho. Na fase aguda, podem ocorrer febre alta, dores de cabeça, dores musculares, manchas na pele, conjuntivite e intensas dores nas articulações (mais característico), que podem persistir por um longo período. 14. Febre amarela: apresenta dois ciclos: o urbano, entre humanos, e o silvestre, entre primatas não humanos. O Aedes aegypti é o vetor no ciclo urbano, enquanto o mosquito do gênero Haemagogus é responsável pela transmissão no ciclo silvestre. Causa febre, pele amarelada, desidratação e afeta o fígado, além de afetar outros órgãos e poder ser fatal. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde. A fêmea do mosquito Aedes aegypti é hematófaga e, como vimos, responsável pela transmissão de diversas doenças. Assim, a principal maneira de prevenção, comum a todas essas enfermidades, é por meio da eliminação de criadouros do mosquito. 15. Ebola: doença altamente letal – mata aproximadamente 90% das pessoas que a contraem. Entre 2013 e 2016, alguns países africanos passaram por surtos dessa doença. Contraída pelo contato direto com pessoas e outros animais contaminados, sua infecção ocorre através dos fluidos corporais – como suor, sangue, sêmen, saliva, vômitos, fezes e urina – e pelo consumo de carnes de animais contaminados. As crenças locais contribuem para o aumento de casos na África. Um exemplo são os funerais tradicionais nos quais o corpo da pessoa morta é lavado, o que contribui para disseminação do vírus. Outro fator é a destruição dos ecossistemas naturais que expõe as populações humanas a vírus que, anteriormente, ficavam apenas entre populações animais silvestres. Os principais sintomas são febre, dores de cabeça e abdominais, náusea, conjuntivite e hemorragias internas e externas. Em casos graves da doença, é possível observar o paciente com sangramentos pelo nariz, boca e até mesmo pelos olhos. Por ainda não existir um tratamento específico, os médicos normalmente realizam uma terapia com o intuito de aumentar as defesas do corpo, já que o sistema imune também é afetado pelo vírus. Além disso, são fornecidos soro intravenoso, para evitar a desidratação, e medicamentos que reduzem a dor e a febre. Apesar de ser uma doença com alta letalidade, já existem casos de cura. Quanto mais cedo se iniciar o tratamento, maiores as chances de um paciente sobreviver. É fundamental que os pacientes diagnosticados com a doença fiquem isolados, para evitar a proliferação. É importante também desinfetar a casa com cloro e desfazer-se de alguns objetos pessoais do paciente, uma vez que eles também podem conter o vírus. Atualmente, vacinas e medicamentos estão em fase de testes e alguns têm demonstrado resultados satisfatórios em primatas. 16. AIDS: conhecida também por Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é provocada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e apresenta os subtipos 1 e 2. Pode ser transmitida pelo contato com mucosas corporais, áreas feridas do corpo de um indivíduo portador, esperma, secreção vaginal, leite materno ou sangue contaminado pelo vírus. A principal via de transmissão é o contato sexual (genital, anal ou oral) e também pode ser transmitida para o feto durante a gestação e pelo uso de objetos perfurocortantes contaminados. Como seu próprio nome indica, o vírus enfraquece o sistema imunológico (responsável pela defesa do organismo) atacando os glóbulos brancos e reduzindo sua quantidade. Assim, o portador do vírus está sujeito a adoecer com mais facilidade, inclusive por aquelas doenças que não apresentariam sintomas graves em pessoas com boa imunidade. Após 2 a 4 semanas, surgem os primeiros sintomas que começam com uma fraqueza geral e desenvolvem para febre, manchas na pele (sarcoma de Kaposi), calafrios e gânglios nas axilas, virilhas e pescoço. Com avanço da doença, doenças oportunistas se manifestam, como tuberculose e pneumonia, o que pode levar a morte. Felizmente, hoje em dia os portadores do vírus têm maior expectativa de vida graças a terapia antirretroviral (TARV), oferecida gratuitamente pelo SUS. Ela é capaz de controlar a multiplicação do vírus e, consequentemente, reduzir a destruição dos glóbulos brancos. Com isso, a AIDS deixou de ser encarada como uma moléstia fatal para transformar-se em doença crônica passível de controle. Embora a medicação possa provocar efeitos colaterais, atualmente a maioria das pessoas contaminadas pode exercer suas atividades normalmente se utilizar o medicamento de forma contínua. É importante ressaltar que o compartilhamento de objetos ou contato direto, como cumprimentar e abraçar, não transmitem a doença. A principal prevenção é o uso de camisinha em todas as relações sexuais, assim como uma rotina de exames médicos com testes para ISTs. Além disso, materiais cirúrgicos nunca devem ser compartilhados. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 13. Febre por zika vírus: pode ser assintomática ou apresentar febre, dores de cabeça, dores leves nas articulações, erupções cutâneas, conjuntivite, entre outros. Ainda que os sintomas demorem a passar, casos graves são raros. A transmissão também ocorre pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. O zika vírus vem sendo relacionado a casos de microcefalia em recém-nascidos, caracterizada pelo perímetro cefálico menor que o normal para a idade. Isso se deve a transmissão da mãe para o feto e as possíveis sequelas ainda estão sendo estudadas. 65 5.3. Vírus HIV O HIV (vírus da imunodeficiência adquirida) pertence a uma família de retrovírus de mamíferos (lentivírus) que causam infecções crônicas persistentes no hospedeiro. O HIV, diferentemente do herpes vírus, multiplica-se constantemente no hospedeiro, apesar de algumas células apresentarem vírus em estado latente. Os seres humanos e os primatas são os únicos hospedeiros naturais do vírus HIV. Existem duas grandes famílias de vírus HIV: o HIV-1, que causa infecções em primatas não humanos, os símios, encontrados na África ocidental; e o HIV-2, que se subdivide em, pelo menos, cinco grandes subfamílias e causa a infecção na população humana pelo mundo. O HIV tem como alvo celular os linfócitos T-CD4, responsáveis pela proteção do organismo contra agentes infecciosos. Ele utiliza essas células e todo o maquinário celular para reproduzir-se, causando a destruição do sistema imunológico do hospedeiro, o que o torna suscetível a qualquer infecção oportunista, como uma simples gripe, que pode levá-lo à morte. Envelope lipídico RNA Transcriptase reversa Esquema do vírus HIV. Esquema do vírus HIV. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias § Gag – codifica uma poliproteína, necessária para que haja a liberação de proteínas virais estruturais; § Pol – superpõe a gag, codificando três atividades enzimáticas: DNA-polimerase ou transcriptase reversa, protease e uma integrase, todas necessárias ao processo de invasão celular do vírus à célula hospedeira; e § Env – codifica a proteína transmembrana do envelope responsável pela fixação da entrada do vírus na célula. Todos os tratamentos são associados à supressão da replicação do vírus e à repleção das células CD4 periféricas. De acordo com o Department of health and human services, 2010, nas diretrizes para o início de tratamento nos EUA, devemos encontrar valores de CD4 menores que 350 cel/mm3. O tratamento das gestantes é fundamental para que não ocorra a contaminação cruzada na hora do parto. Durante a gestação, o bebê está protegido da contaminação pelo HIV por causa da placenta, mas, no momento do nascimento, o neonatal corre riscos de contaminação devido ao contato com o sangue da mãe. Diversos estudos indicam a baixa probabilidade de erradicação do vírus do organismo contaminado pelo uso de coquetéis antirretrovirais, pois, de alguma maneira não elucidada, o material genético integrado à célula hospedeira se encontra quiescente em células T e, a qualquer momento, poderá ser ativado, caso seja suspenso o uso do coquetel. Capsídeo 66 Para que o genoma viral consiga invadir as células hospedeiras, ele apresenta três importantes fases de leitura e infecção celular determinadas pelos seguintes genes estruturais: Além dos tratamentos para os infectados, há dois tipos de medicamentos antirretrovirais, disponibilizados gratuitamente pelo SUS: o PEP - Profilaxia Pós-Exposição para pessoas que tiveram um possível ou confirmado contato com o vírus - e o PrEP - Profilaxia Pré-Exposição para uso preventivo de populações vulneráveis a contaminação pelo vírus. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS No contexto histórico, como na Revolta da Vacina de 1904, aplicam-se os conhecimentos sobre doenças virais, uma vez que a febre amarela e a varíola faziam parte dessa “campanha de vacinação”. A campanha de vacinação foi obrigatória, e, embora seu objetivo fosse positivo, ela foi realizada de forma violenta e autoritária. Em vários casos, os agentes sanitários invadiam as casas para vacinar as pessoas à força, o que provocou a revolta. Essa rejeição em ser vacinado ocorria porque grande parte da população não compreendia o que era a vacina e temia seus efeitos. RESUMO DAS VIROSES Fonte: Youtube Por que pra algumas pessoas o vírus é leve? | Coronavírus #37 Na literatura médica existem controvérsias ao considerar a AIDS uma doença crônica, devido a sua complexidade, aos riscos envolvidos, à alta taxa de mutação e à adesão ao tratamento pelos pacientes, o que pode originar novas gerações virais resistentes aos métodos terapêuticos existentes. Transmissão Catapora (varicela) Contato da pele com as bolhas ou pelo ar que contenha o vírus Varicela zoster. Caxumba (parotidite infecciosa) Por gotículas de saliva expelidas pelo doente que contenham o Paramyxovírus sp. Citomegalia Vertical (placentária), amamentação materna, sexual, de pessoa para pessoa e por transfusão sanguínea. Dengue Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou Aedes albopictus. Dengue hemorrágica Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou Aedes albopictus (tigre asiático). Ocorre quando um indivíduo que teve um tipo de vírus da dengue recebe outro vírus diferente, também da dengue. Febre chikungunya Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, os mesmos que transmitem o vírus da dengue e da febre amarela. Febre por Zika vírus O Aedes aegypti infecta-se com o Zika vírus toda vez que ele pica uma pessoa ou macaco previamente infectado. Assim como ocorre na dengue e na febre amarela, o mosquito não torna-se imediatamente um transmissor do vírus. Depois de ser contraído pelo mosquito, o Zika vírus ainda precisa de cerca de 10 dias para multiplicar-se e migrar do sistema digestivo para as glândulas salivares do Aedes. Só a partir desse momento é que o mosquito passa a ser capaz de transmitir o vírus durante a picada. 5.4. Imunização Uma das opções para a prevenção de algumas dessas doenças viróticas é a vacinação, processo de imunização ativa que consiste na inoculação de antígenos mortos ou enfraquecidos que estimulam a produção de anticorpos no organismo. Essa primeira produção de anticorpos – imunização primária – é lenta e pequena. O segundo encontro com o antígeno desencadeará a imunização secundária, que é rápida e produz grande quantidade de anticorpos. Quando o vírus possui uma taxa de mutação muito alta, como é o caso da gripe, o processo é menos eficaz, pois o antígeno sofre muitas alterações. Febre aftosa Via respiratória, inalando o Aphthovirus sp. Febre amarela silvestre Picada da fêmea dos mosquitos Haemagogus sp. ou Sabethes sp. contendo o Flavivirus sp. Febre amarela urbana Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou Aedes albopictus contendo o Flavivirus sp. Febre hemorrágica do ebola Por meio de secreções corpóreas e sangue contaminado pelo Filovirus sp. Gripe Contato com o ar contaminado pelo Mixovirus influenzae. Hantavirose Via respiratória, água e alimentos contendo o Hantavirus sp. Hepatite Contato pessoa a pessoa; oral-fecal, transfusão sanguínea. Herpes Contato íntimo com indivíduo transmissor, a partir de superfície mucosa ou de lesão infectante contendo, por exemplo, o Herpes simplex. Mononucleose Contato íntimo de secreções orais (saliva) contendo o vírus Epstein-Barr, da família Herpesviridae. Papiloma (condiloma) Vertical (placentária); ato sexual; o agente etiológico é o HPV. Poliomielite (paralisia infantil) Contato direto com secreções faríngeas de doentes. o processo de vacinação e a quantidade de anticorpos produzidos pelo organismo. Hidrofobia (raiva) Por meio da saliva de animais doentes. O processo de imunização passiva, denominado sorologia, consiste na inoculação de anticorpos prontos para inativarem os antígenos estranhos que estão atuando no organismo. É normalmente utilizado contra antígenos muito agressivos e que se manifestam muito rápido. Exige que o vírus seja isolado e que, por biotecnologia, o anticorpo seja produzido em grande escala. Funciona melhor contra bactérias ou venenos de certos animais, como as cobras. Resfriado Contato com o ar contaminado pelos vírus sincicial respiratório, parainfluenza ou rinovírus. Rubéola Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo contato direto com as secreções do nariz. Sarampo Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo contato direto com as secreções do nariz. Síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA ou AIDS, em inglês) Ato sexual sem preservativo, seringa contaminada, transfusão sanguínea, via vertical (placentária). Varíola Contato com as secreções das vias respiratórias, com as lesões da pele, das mucosas e com os objetos de uso do doente. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias multimídia: vídeo Doença 67 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos. A compreensão de assuntos correspondentes à saúde pública e a doenças comuns no território brasileiro é comumente cobrado no Enem. Entender como o ambiente molda esses processos biológicos associando isso ao aumento no número de casos ao longo dos anos é fundamental para a resolução da questão. MODELO 1 (Enem) A partir do primeiro semestre de 2000, a ocorrência de casos humanos de febre amarela silvestre extrapolou as áreas endêmicas, com registro de casos em São Paulo e na Bahia, onde os últimos casos tinham ocorrido em 1953 e 1948. Para controlar a febre amarela silvestre e prevenir o risco de uma reurbanização da doença, foram propostas as seguintes ações: I. Exterminar os animais que servem de reservatório do vírus causador da doença. II. Combater a proliferação do mosquito transmissor. III. Intensificar a vacinação nas áreas onde a febre é endêmica e em suas regiões limítrofes. É efetiva e possível de ser implementada uma estratégia envolvendo a(s) ação(ões) a) II, Apenas. b) I e II apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II, III. ANÁLISE EXPOSITIVA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias O vírus da febre amarela possui um agente transmissor, o mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus em regiões urbanas. Impedir a reprodução do mosquito é uma das estratégias mais eficazes no combate a essa transmissão, pois diminui a população do agente transmissor. Além disso, já está disponível uma vacina contra o vírus, sendo eficaz no sentido de combater o vírus no organismo, além de impedir a infecção dos mosquitos transmissores. 68 RESPOSTA Alternativa D DIAGRAMA DE IDEIAS VÍRUS COMPOSIÇÃO CLASSIFICADOS EM: CAPSÍDEO MATERIAL GENÉTICO (DNA OU RNA) RIBOVÍRUS MATERIAL GENÉTICO RNA PODEM SER: ENVELOPADOS NÃO ENVELOPADOS DESOXIRRIBOVÍRUS MATERIAL GENÉTICO DNA DEPENDENTES DO “MAQUINÁRIO” CELULAR PARA REPRODUÇÃO, PARASITAS INTRACELULARES OBRIGATÓRIOS CICLO LÍTICO PRODUÇÃO DE NOVOS VÍRUS RETROVÍRUS MATERIAL GENÉTICO RNA ENZIMA TRANSCRIPTASE REVERSA RNA DNA CICLO LISOGÊNICO MULTIPLICAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ACELULARES 69 todos os restantes também não existiriam, pois os ciclos dos químicos essenciais para a vida (como o ciclo do nitrogênio ou do carbono) seriam interrompidos. Na situação inversa, os procariontes continuariam sozinhos, como ocorreu durante mais de 2 bilhões de anos. REINO MONERA CN COMPETÊNCIA(s) 4e8 1.1. Bactérias: características gerais AULAS 5E6 HABILIDADE(s) 16 e 29 1. Bactérias e cianobactérias Os microrganismos conhecidos como bactérias vivem na Terra há cerca de 3,8 bilhões de anos, existindo evidências de que tenham sido os ancestrais de todas as formas de vida na Terra. Com efeito, há cerca de 1,5 bilhões de anos, eram as únicas formas de vida no planeta. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias As bactérias podem ser encontradas em todos os meios: ar, água, solo ou mesmo no interior de outros organismos. Isso se deve a sua enorme diversidade, de forma que há espécieis que suportam grande pressões, temperaturas elevadas, concentrações osmóticas mortais para outros organismos e valores de pH radicais. 70 Assim como os eucariontes, todos os procariontes atuais são o resultado de milhões de anos de evolução, estando perfeita mente adaptados aos seus habitats, portanto, nenhum deles pode ser chamado de primitivo. Por ser procarionte, a célula bacteriana não possui núcleo verdadeiro, uma vez que não apresenta a membrana que envolve o material genético (envoltório nuclear ou carioteca). De forma geral, a célula é minúscula e apresenta estrutura formada por uma parede celular que envolve a membrana plasmática e o citosol. Possui apenas um tipo de organoide, o ribossomo, no qual ocorre a síntese de proteínas. Apresenta um único cromossomo constituído por uma molécula gigante de DNA unida pelas extremidades (DNA circular), ocupando a região da célula conhecida por nucleoide. Embora algumas espécies sejam patogênicas, a maioria é essencial à vida. Caso esse reino desaparecesse da Terra, As bactérias possuem células esféricas ou em forma de bastonetes curtos com tamanhos variados, entre 0,3 µm e 3 µm. Na maioria das espécies, a proteção da célula é feita por uma camada extremamente resistente, a parede celular. Abaixo, existe uma membrana citoplasmática que delimita um único compartimento contendo DNA, RNA, proteínas e pequenas moléculas. Na microscopia eletrônica, o interior celular aparece com uma matriz de textura variada, sem, no entanto, conter estruturas internas organizadas. O único organoide são os ribossomos, que, espalhados no interior da célula, conferem essa textura granular. As bactérias podem se multiplicar com rapidez, simplesmente se dividindo por fissão binária. A rápida reprodução é uma estratégia de sobrevivência e perpetuação da espécie no meio em que vivem, onde, em geral, há grande disponibilidade de alimento. Em condições adequadas, uma simples célula procariótica pode dividir-se a cada 20 minutos, dando origem a 5 bilhões de células (número aproximadamente igual à população humana da terra) em pouco menos de 11 horas. A habilidade em dividir-se rapidamente possibilita que populações de bactérias se adaptem às mudanças de ambiente. Sob condições de laboratório, por exemplo, uma população de bactérias evolui dentro de poucas semanas a partir do surgimento de novas mutações e pela ação da seleção natural, de forma a utilizar novos tipos de açúcar como fonte de carbono e de energia. Na natureza, as bactérias vivem em uma enorme variedade de nichos ecológicos e mostram uma riqueza correspondente na sua composição bioquímica básica. Dois grupos de bactérias distantemente relacionados são reconhecidos. As eubactérias, que são os tipos comuns encontrados na água, no solo e nos organismos vivos maiores, e as arqueobactérias, que são encontradas em ambientes realmente inóspitos, como pântanos, fontes termais, fundo do oceano, salinas, vulcões, fonte ácidas, etc. Existem espécies bacterianas que utilizam virtualmente qualquer tipo de moléculas orgânicas como alimento, incluindo açúcares, aminoácidos, gorduras, hidrocarbonetos, polipeptídeos e polissacarídeos. Algumas podem, também, obter seus átomos de carbono do gás carbônico e o seu nitrogênio do N2. 1.2. A célula bacteriana: morfologia e estrutura bacteriana evidenciando um plasmídeo. Cromossomo bacteriano Bactéria Plasmídeo Quanto a sua forma celular, as bactérias podem ser classificadas em quatro grupos básicos, como na imagem abaixo. Apesar de serem unicelulares, algumas espécieis se agrupam. cocos isolados Estreptococos Vibrião Estafilococos Espirilo Bacilos Plasmídeo bacteriano Plasmídeo bacteriano Os cocos são células esféricas que, quando agrupadas aos pares, recebem o nome de diplococos; quando o agrupamento constitui uma cadeia de cocos, estes são denominados estreptococos; em grupos irregulares, lembrando cachos de uva, recebem a designação de estafilococos. Os bacilos são células cilíndricas, em forma de bastonetes, em geral se apresentam como células isoladas, porém, ocasionalmente, podem-se observar bacilos aos pares (diplobacilos) ou em cadeias (estreptobacilos). Os espirilos são células espiraladas e, geralmente, apresentam-se como células isoladas, assim como os vibriões, que são células no formato de um bastão encurvado. 1.2.1. Cromossomo As bactérias apresentam um cromossomo circular, que é constituído por uma única molécula de DNA circular, também chamado de corpo cromatínico e que não apresenta proteínas associadas. É possível observar mais de um cromossomo numa bactéria em fase de crescimento, uma vez que a divisão do cromossomo precede a divisão celular. O cromossomo bacteriano contém todas as informações necessárias à sobrevivência da célula e é capaz de autorreplicação. 1.2.3. Mesossomo Esse termo se refere a invaginações da membrana celular, que podem ser simples dobras ou estruturas tubulares ou vesiculares. Diversas funções têm sido atribuídas aos mesossomos, como papel na divisão celular e na respiração. 1.2.4. Parede celular: Gram-negativas e Gram- positivas De acordo com a constituição da parede celular, as bactérias podem ser divididas em dois grandes grupos: § Gram-negativas: apresentam-se de cor avermelhada quando coradas pelo método de Gram. § Gram-positivas: apresentam-se de cor roxa quando coradas pelo método de Gram. A parede das Gram-positivas é formada por uma só camada, enquanto a das Gram-negativas é formada por duas camadas. Entretanto, os dois tipos de parede apresentam uma camada em comum, situada externamente à membrana citoplasmática, que é denominada camada basal e composta de peptídeoglicano, em especial a mureína. A segunda camada, presente somente na células das Gram-negativas, é denominada membrana externa. Entre a membrana externa e a membrana citoplasmática, encontra-se o espaço periplasmático no qual está a camada basal. Ácido tecóico de parede 1.2.2. Plasmídeo No citoplasma de muitas bactérias, existem moléculas menores de DNA, também circulares, cujos genes não codificam características essenciais, porém podem conferir vantagens seletivas à bactéria que as possui. Esses elementos extracromossômicos, denominados plasmídios, são autônomos, ou seja, são capazes de autoduplicação independente da replicação do cromossomo e podem existir em número variável no citoplasma bacteriano. Observe a seguir a ultraestrutura Peptidoglicana Parede celular Membrana plasmática VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Formas de Bactérias Formas de bactérias Proteína Parede celular bacteriana 71 e apresentam um fotossistema simples. Ele permite captar a energia luminosa e disparar a transformação dessa energia em energia química que será armazenada na forma de ATP e, em seguida, transformada em um carboidrato, como a glicose. Gram-positivo Gram-negativo Gram-positivo bactérias apresentando cor avermelhada pelo método de Abaixo, a ultraestrutura de uma cianobactéria nos permite visualizar, dentro do citosol, membranas empilhadas que formam os tilacoides, os quais, por sua vez, contêm diversos tipos de pigmentos. Inclusões apresentam cor arroxeada Gram Ribossomos Membrana fotossintética Cromatina Diversas bactérias apresentam externamente à parede celular uma camada viscosa denominada cápsula. As cápsulas são geralmente de natureza polissacarídica, apesar de existirem cápsulas constituídas de proteínas. A cápsula constitui um dos antígenos de superfície das bactérias e relaciona-se com a virulência da bactéria, uma vez que a cápsula confere resistência à fagocitose. 1.2.6. Esporos Quando os nutrientes bacterianos se tornam escassos, geralmente pela falta de fontes de carbono e nitrogênio, algumas bactérias iniciam o processo de esporulação. A célula reduz sua atividade metabólica e o endosporo é formado no interior dela. Ele é altamente resistente ao calor, à dessecação e a outros agentes físicos e químicos, podendo permanecer em estado latente por longos períodos e depois germinar, dando início a uma nova célula vegetativa. Na figura a seguir, é possível observar o processo de formação de esporos em bactérias. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Membrana plasmática Envoltório viscoso Pigmentos 1.2.5. Cápsula 72 Parede celular Esporulação bacteriana 1.3. Nutrição As bactérias podem ser autótrofas ou heterótrofas. As autótrofas incluem as fotossintetizantes e as quimiossintetizantes. As bactérias fotossintetizantes, com clorofila específica, como as cianobactérias, conhecidas antigamente como “algas azuis”, utilizam gás carbônico e água para a realização da fotossíntese; ou as bactérias sulfurosas púrpuras e as sulfurosas verdes, que, em vez de utilizar a água, usam o ácido sulfídrico (H2S) em sua fotossíntese. As bactérias fotossintetizantes apresentam um pigmento disperso no hialoplasma, conhecido como bacterioclorofila, Ultraestrutura de uma cianobactéri Nas quimiossintetizantes, ocorre uma reação química específica que libera energia formando ATP e, em seguida, transfere-se para a formação de carboidratos, como a glicose. Entre as quimiossintetizantes, é possível citar as nitrobactérias e nitrosomonas, que são comuns no solo e participam da reciclagem do nitrogênio do planeta. As bactérias heterótrofas realizam digestão extracorpórea ao exocitarem enzimas digestistas. Quando se nutrem de matéria orgânica morta, são conhecidas por decompositoras ou sapróvoras, e, se utilizam matéria viva, são parasitas. Tanto nas autótrofas quanto nas heterótrofas, a energia armazenada nos carboidratos poderá ser utilizada no metabolismo bacteriano para síntese (construção) ou degradação de substâncias necessárias à manutenção ou reprodução desses organismos. A degradação de carboidratos pode ocorrer de forma aeróbia (com a participação do oxigênio) ou anaeróbia (sem a participação do oxigênio – respiração anaeróbica ou fermentação). As bactérias anaeróbicas realizam processo similiar à respiração aeróbica, mas o aceptor final não é o oxigênio. Nesse processo, a fermentação, ocorre menor degradação da glicose, maior formação de resíduos e, em consequência, menos ATP, mas o suficiente para sua manutenção. Para cada tipo, um resíduo diferente é formado: na fermentação alcoólica, gás carbônico (CO2) e álcooletílico (C2H5 OH), e na fermentação láctica, ácido láctico (C3H6O3). No caso das bactérias heterotróficas aeróbias, as enzimas presentes no mesossomo permitirão a degradação da glicose (C6H12O6), liberando energia para a formação de ATP, gerando gás carbônico (CO2) e água (H2O) como resíduos. 1.4. Reprodução das bactérias A divisão binária, bipartição ou cissiparidade é a reprodução assexuada mais comum nas bactérias. Elas não possuem reprodução sexuada; entretanto, podem realizar recombinações genéticas, ou seja, mistura de genes entre diferentes indivíduos. Em certos casos, apenas uma bactéria recebe o material genético (a receptora) da outra (doadora). BIPARTIÇÃO CONJUGAÇÃO Formas de reprodução bacteriana Formas de reprodução bacteriana As bactérias multiplicam-se rapidamente, por bipartição assexuada, constituindo conjuntos de clones que são denominados colônias. Parede celular 1 § Transformação: a bactéria absorve moléculas de DNA dispersas no meio, provenientes de outras bactérias mortas. § Transdução: as moléculas de DNA são transferidas entre as bactérias através de vírus (bacteriófagos), que são usados como vetores (transmissores). Os vírus, ao se montarem dentro das bactérias, podem eventualmente incluir pedaços de DNA da bactéria que lhes serviu de hospedeira. Ao infectar outra bactéria, o vírus que leva o DNA bacteriano o transfere junto com o seu. Se a bactéria sobreviver à infecção viral, pode passar a incluir os genes de outra bactéria em seu genoma. § Conjugação: o DNA é transmitido diretamente da bactéria macho para a bactéria fêmea através de microscópicos REPRODUÇÃO tubos proteicos, chamados SEXUADA DE BACTÉRIAS pili, que as bactérias “macho” possuem em sua superfície. TRANSFORMAÇÃO CONJUGAÇÃO doador do plasmídeo Membrana plasmática plasmídeo A célula se alonga e o DNA é replicado. transferência de DNA livre bactéria morta 2 A parede celular e a membrana plasmática começam a se dividir. DNA (nucleoide) gene de resistência da bactéria gene de resistência da bactéria transferência do plasmídeo Vírus Transferência de genes de resistência pelo bacteriógrafo bastérias bactérias recebendo os genes de resistência 4 As células se separam. Essa grande capacidade reprodutora faz das bactérias um excelente material biológico para a investigação genética, pois um elevado número de gerações surgidas em pouco tempo possibilita alterações importantes no fundo genético dessas populações. Na reprodução sexuada, ocorre a transferência de segmentos de DNA de uma célula doadora (macho) para uma célula receptora (fêmea). Depois da transferência, ocorre a recombinação entre o DNA recebido e o cromossomo bacteriano, originando novas combinações de genes, que serão passadas às bactérias-filhas. A passagem de segmentos de DNA entre bactérias pode ocorrer de modos diversos: os genes são inseridos no plasmídeo ou no cromossomo da bactéria TRANSDUÇÃO Não se identificou até hoje qualquer forma de reprodução assexuada em cianobactérias, o que permite afirmar que as variações nas populações derivam fundamentalmente de mutações gênicas. 1.5. Importância das bactérias As bactérias, assim como os fungos, são os principais decompositores dos ecossistemas e possibilitam a reciclagem da matéria. Elas decompõem a matéria orgânica sem vida e liberam os resíduos dessa degradação para o solo ou a água. Esses resíduos correspondem à matéria inorgânica que funciona como nutrientes para os produtores do ecossistema, como algas e plantas. Outro ponto a ser destacado é a participação essencial de bactérias na ciclagem do nitrogênio, essencial para os produtores construírem aminoácidos e ácidos nucleicos. As bactérias são responsáveis por retirar o nitrogênio do ar atmosférico e permitir que seja fixado no solo (as bactérias do gênero Rhizobium são fixadoras de nitrogênio) na forma de nitratos. As cianobactérias fazem esse papel, também, VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 3 Paredes intermediárias se formam, separando completamente as duas cópias de DNA. 73 nos ecossistemas aquáticos. Nesse papel de decomposição, pode-se destacar a possível competição estabelecida há milhões de anos entre fungos e bactérias. É conhecido o fato de certos fungos desenvolverem substâncias que impedem o crescimento de bactérias. Lembre-se de que o primeiro antibiótico conhecido pelo homem foi a penicilina extraída de um fungo do gênero Penicillium. Nesse sentido, a resistência de linhagens de bactérias a diversas substâncias derivadas de fungos é antiga. Essa competição evolutiva talvez se assemelhe a de um predador que, ao longo das gerações, apresenta mecanismos e estratégias para tornar sua caçada mais eficaz; paralelamente, a população de presas desenvolve estratégias de fuga ou camuflagem cada vez mais sofisticadas. As bactérias são capazes de utilizar os plasmídios, incorporá-los no seu genoma e gerar maior variabilidade, criando novas proteínas capazes de inativar substâncias estranhas, como os antibióticos. Assim, são necessárias elaborações periódicas de novos antibióticos, uma vez que a humanidade tem selecionado linhagens resistentes de bactérias. Cada vez mais, as bactérias são utilizadas em tecnologia destinada à humanidade. Há tempos, elas são aplicadas na formação de antibióticos e vitaminas, na produção de laticínios, na produção de vinagre, etc. Atualmente, são empregadas na decomposição de lixo orgânico e produção de metano (combustível), na degradação de petróleo derramado no mar e na engenharia genética, processo no qual as bactérias recebem pedaços de DNA humano e são induzidas a produzir proteínas humanas, como a insulina, por exemplo. VIVENCIANDO “Para começar, quanto à nossa alimentação, as bactérias são amplamente utilizadas para a fabricação de iogurtes, por exemplo. Você certamente já ouviu falar em lactobacilos vivos, que estão presentes num produto de marca famosa. Mas de que modo as bactérias atuam no iogurte? Bem, elas transformam o açúcar contido no leite (lactose) em ácido láctico. Desse modo, o leite torna-se azedo, mudando assim o seu pH. Isso faz com que a proteína do leite se precipite, formando o 'coalho'. Mas, em matéria de alimentação, além das bactérias que atuam no leite, há também aquelas que modificam o álcool etílico em ácido acético, formando o vinagre, que tempera saladas e diversos pratos.” (https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/bacterias-1-conheca-a-importancia-e-as-varias-utilidades-das-bacterias.htm) VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 2. Bactérias patogênicas 74 As bactérias patogênicas são causadoras de doenças e os medicamentos utilizados no combate a elas são os antibióticos; no entanto, seu uso não deve ser indiscrimina do – sem receita médica ou por períodos de tempo incorreto –, uma vez que pode favorecer o surgimento de linhagens de bactérias resistentes, dificultando a cura de várias infecções. A seguir, serão abordadas as principais doenças humanas causadas por bactérias: 1.Cólera: causada pela Vibrio cholerae, é transmitida via água ou alimentos contaminados, crus ou malcozidos; a bactéria se aloja na parede intestinal e se multiplica, provocando diarreia aguda. 2.Coqueluche: causada pela Bordetella pertussis, causa febre, coriza, tosse seca e, em alguns casos, vômito. O contágio é pelo contato com uma pessoa contaminada e há vacina e tratamento disponíveis. 3.Difteria: causada pela Corynebacterium diphteriae, é transmitida pela inalação de gotículas oriundas do nariz e da boca de pessoas doentes. Libera toxinas que afetam a garganta e cavidades nasais. Pode causar dor, febre e dificuldades de falar e engolir. Há vacinas para essa doença. 4.Disenterias bacilares: causadas por diversas bactérias, como a Shigella e Salmonella. Essas bactérias são transmitidas pela ingestão de alimentos e água contaminados. A desidratação, causada pela diarreia, pode causar quadros mais graves, caso não seja tratada. Saneamento básico e hábitos de higiene constituem as medidas práticas para evitar o contágio. 5.Febre maculosa: a Rickettsia rickettsii, parasita do carrapato-estrela, causa esse mal. Causa febre alta, vômito, dores musculares e de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A doença pode levar à morte. Evitar caminhar em locais onde há infestação desses carrapatos ou, caso seja inviável, utilizar roupas adequadas, como mangas longas, calça e bota, além de tratar os animais domésticos, são maneiras de se evitar essa doença. 6.Febre tifoide: causada pela Salmonella thypi, provoca úlceras intestinais, diarreia, cólica e febre e pode ser prevenida pelo uso de vacinas e condições de saneamento básico satisfatórias. 7.Gonorreia: causada pela Neisseria gonorrhoeae, é uma IST que provoca feridas genitais, com sangramento, podendo causar infertilidade. O contágio é feito por meio de sexo desprotegido e por transmissão da mãe para o feto no momento do parto. 8.Hanseníase: é transmitida pelo bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae) através da pele e do trato respiratório. Provoca lesões na pele, mucosas e nervos, deixando essas regiões menos sensíveis. 9. Leptospirose: causada pela Leptospira interrogans. Ratos e cães podem portar a bactéria e, dessa forma, alimentos e objetos que entraram em contato com a urina desses animais podem transmitir a doença ao ser humano. Os principais sintomas são febre alta, dores musculares e de cabeça, náusea, vômitos, lesões na pele, inflamação e aumento do fígado e hemorragia digestiva. Prevenção de enchentes e tratamento do lixo e da água são maneiras de evitar a doença. 10. Meningite meningocócica: Neisseria meningitidis é a bactéria responsável pela meningite, caracterizada por dor de cabeça intensa, febre, rigidez da nuca e vômito – sintomas decorrentes da infecção das meninges. É transmitida pela saliva e outras secreções da pessoa contaminada. Há vacinas contra a meningite. 11. Pneumonia bacteriana: causada pela Streptococcus pneumoniae. A inalação pelo ar é a forma de se contrair essa doença, que causa infecção pulmonar. O tratamento dos doentes é a principal medida preventiva. 12. Sífilis: provocada pela Treponema pallidum, essa IST pode ser transmitida por via congênita. Causa inflamação na pele e nos ossos, apresentando ao redor dos órgãos sexuais uma ferida indolor, de bordas endurecidas. Pode causar, em casos mais graves, doenças respiratórias e paralisias. O tratamento dos doentes e o uso de preservativo são as formas de se evitar o contágio. 13. Tracoma: causada pela Chlamydia trachomatis, é uma inflamação da córnea e conjuntiva que provoca fotofobia, dor e lacrimejamento. Pode causar cegueira, caso não seja tratada de forma apropriada. É transmitida pelo contato direto com olhos, nariz e secreções do doente ou por objetos contaminados. 14. Tuberculose: causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), é transmitida pela inalação de gotículas espalhadas pelo ar. Essa doença atinge os pulmões e provoca infecções que podem se espalhar pelo corpo via sangue e linfa. Há vacinas para evitá-la e essa é a principal medida preventiva. RESUMO DAS BACTERIOSES Doença Transmissão Agente infeccioso Antraz (carbúnculo) Por meio da inalação de esporos ou ingestão de alimentos contaminados e também por ferimentos cutâneos. Bacillus antracis Brucelose (febre ondulante ou do mediterrâneo) Cólera Coqueluche (tosse comprida) Difteria (crupe) Fascite necrosante Febre purpúrica brasileira Febre tifoide (tifo) Gonorreia (blenorragia) Lepra (hanseníase) Leptospirose Lyrre (doença de Lyme) Meningite meningocócica Peste Pneumonia Psitacose Shigelose (disenteria) Ingestão de alimentos contaminados (exemplo: enlatados de palmito). Contato com secreções animais contaminadas; com a placenta; fetos abortados; ingestão de leite cru. Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Contato direto ou indireto com a saliva do doente. Contato com a secreção do nariz, ou da garganta, ou através do leite cru. Bordetella pertussis Corynebacterium diphteriae Contato direto pessoa a pessoa (com conjuntivite) ou indireto por intermediação mecânica (insetos, toalhas, mãos). Haemophilus influenzae Contato direto ou indireto com fezes ou urina do doente. Salmonella typhi Contato sexual. Neisseria gonorrhoeae Penetração no organismo pela pele ou mucosas (ex.: nasais). Mycobacterium leprae Penetração no organismo pelas mucosas, pela pele ferida ou via oral (alimentos contaminados). Leptospira sp Adesão de carrapatos à pele e sucção de sangue. Bonnelia bungdorferi Por via respiratória, quando o doente fala, tosse, espirra ou pelo beijo. Neisseria meningitidis Picada de pulgas infectadas; pessoa a pessoa. Por via respiratória; contato pessoa a pessoa; infecção hospitalar. Por via respiratória: contato pessoa a pessoa. Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Tetano Penetração dos esporos através de ferimentos perfurantes. Febre maculosa Vibrio cholerae Estreptococo do tipo A Contato sexual; transfusão de sangue; via vertical (placentária). Uretrite Brucella sp Penetração através de cortes na pele. Sífilis Tuberculose Clostridium botulinum Por via respiratória (inalando o bacilo). Ato sexual. Contato com o carrapato-estrela infectado Yersinia pestis Diplococcus pneumoniae, micoplasmas, clamídias, legionelas etc. Chlamydia psittaci Shigella sp Treponema pallidum Clostridium tetani Mycobacterium tuberculosis Chlamydia trachomatis Rickettsia rickettsii VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Botulismo 75 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Na interação parasita-hospedeiro, são utilizados conceitos de imunologia que mostram a ação do organismo frente a um agente patogênico. Primeiramente, o patógeno é metabolizado pela imunidade inata, a qual apresenta esse patógeno, que pode ser uma bactéria, para a imunidade adquirida que produz células de memória e anticorpos específicos para cada microrganismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato novamente com o agente patogênico, a reação de eliminação do microrganismo é mais rápida e eficiente. térias normais, a parede está sempre presente, sendo composta por peptidioglicanos. As arqueobactérias podem ser divididas em quatro grupos principais: multimídia: vídeo Fonte: Youtube Entenda o que é Tuberculose VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 3. Arqueas 76 O termo arqueobactéria origina-se do termo grego “archaio”, que significa “antigo”, “velho” ou “arcaico”. Essas bactérias são capazes de viver em ambientes extremos e são divididas em: halófilas extremas, que suportam grandes salinidades, como no Mar Morto, no Great Salt Lake e nas Salinas; termófilas extremas, que vivem em temperaturas superiores a 100°C; e metanogênicas, que sobrevivem em ambientes anaeróbios, como pântanos, e no intestino dos ruminantes (gado bovino), gerando o gás metano. Algumas crescem em ambientes ácidos com pH igual a zero. Atualmente, são encontradas em ambientes menos hostis, no solo, nos oceanos e como os principais componentes do picoplâncton (organismos do plâncton com dimensões menores que 1 µm). Diferem das bactérias normais, especialmente pela natureza química da parede celular. Mais próximas evolutivamente com os organismos eucarióticos, considera-se que as arqueobactérias atuais sofreram poucas alterações em relação aos seus ancestrais. Esses procariontes vivem em locais com condições extremamente adversas para outros seres vivos, provavelmente semelhantes às que existiram na Terra primitiva. Muitas arqueas não possuem parede celular. No entanto, existem arqueas em que a parede celular está presente e é constituída por polissacarídeos ou proteínas. Já nas bac- § Halófilas: sempre vivem em concentrações salinas extremas, dezenas de vezes mais salgadas que a água do mar, em locais como salinas, lagos de sal ou soda, entre outros. A sua temperatura ótima é entre 35 e 50 ºC. Essas bactérias são autotróficas, mas o seu mecanismo de produção de ATP é radicalmente diferente do habitual, pois utilizam um pigmento vermelho único – bacteriorrodopsina – que, através do movimento de prótons, permite-lhes obter energia. § Metanogênicas: esse grupo de bactérias foi o primeiro a ser reconhecido como único. Vivem em pântanos, no fundo dos oceanos, estações de tratamento de esgotos e no tubo digestivo de algumas espécies de insetos e vertebrados herbívoros, onde produzem metano (CH4) como resultado da degradação da celulose. As reservas de gás natural que conhecemos são o resultado do metabolismo anaeróbio obrigatório e produtor de metano de bactérias desse tipo no passado. Algumas conseguem produzir metano a partir de CO2 e H2, obtendo energia desse processo. § Termoacidófilas: vivem em zonas de águas termais ácidas, com temperaturas ótimas entre 70 e 150 ºC e valores de pH perto do 1. Na sua grande maioria, metabolizam enxofre e podem ser autotróficas, obtendo energia da formação do ácido sulfídrico (H2S) a partir do enxofre ou heterotróficas. § Sulforredutoras: são redutoras de sulfato. Anaeróbias, podem ser encontradas em poças próximas a fendas vulcânicas. A maioria das bactérias fotossintéticas são designadas cianobactérias, e, durante muito tempo, foram chamadas de algas azuis. Esse grupo de bactérias colonizou meios muito diversificados, devido à sua elevada autossuficiência, embora a maioria seja de água doce. Apresentam pequena exigência de nutrientes, proliferando em qualquer ambiente onde haja gás carbônico, nitrogênio, água, alguns minerais e luz. Esse tipo de bactéria teria surgido na Terra há cerca de 3 bilhões de anos, como definir os estromatólitos encontrados na Austrália, que se calcula serem já fotossintéticos, embora talvez não liberassem ainda oxigênio. As cianobactérias dominaram completamente a evolução biológica durante mais de 2 bilhões de anos, atingindo enorme sucesso. Provavelmente, teriam sido as responsáveis pela reinstalação e proliferação de formas de vida heterotróficas nos oceanos primitivos, pois teriam sido importantes fontes de alimento. Em geral, as cianobactérias têm vida livre, mas podem estabelecer simbiose com outros organismos ou formar colônias filamentosas, por vezes envolvidas por uma cápsula mucilaginosa. As cianobactérias são maiores que os outros procariontes, não apresentam órgãos locomotores e realizam fotossíntese com o auxílio de pigmentos fotossintéticos variados, como a clorofila A, os carotenoides (pigmentos amarelos), a ficocianina (pigmento azul) e a ficoeritrina (pigmento vermelho). Esse fator as diferencia das outras bactérias fotossintetizantes que não apresentam essa abundância de pigmentos. Um dos produtos resultantes da fotossíntese, o oxigênio molecular, é um dos fatores que mais condiciona a vida das bactérias. Algumas cianobactérias são capazes de fixar o nitrogênio do ar atmosférico, aproveitando esse gás para construir suas proteínas. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Watch antibiotic resistance evolve | Science News 4.1. Liberação de toxinas Algumas espécies produzem e liberam toxinas na água que podem envenenar outros animais que habitam o mesmo ambiente ou contaminar a água potável, levando doenças aos seres humanos. As mais prejudiciais para os seres humanos são as hepatotoxinas e as neurotoxinas. O problema é que muitas dessas toxinas não podem ser eliminadas pelo processo de fervura da água ou por métodos tradicionais usados em estações de tratamento de água. Elas também podem alterar o gosto e o odor da água, tornando-os desagradáveis. 5. Micoplasma É o nome dado às bactérias do gênero Mycoplasma. Possuem cerca de 0,3 μm, sendo menores que outras bactérias. Os microbiologistas ainda discutem se as bactérias evoluíram de um ancestral similar aos micoplasmas ou se pertencem a linhagens diferentes. Também se discute proximidade entre os micoplasmas e os vírus. A diferença principal entre as bactérias e os micoplasmas é que a primeira possui uma parede celular sólida, e, por esse motivo, uma forma definida facilitando sua identificação ao microscópio, ao passo que os micoplasmas possuem apenas uma membrana flexível, que, somada ao tamanho, dificulta sua identificação, mesmo quando observados no mais potente dos microscópios eletrônicos. Os primeiros micoplasmas foram detectados em 1898 no Instituto Pasteur, em tecidos de gado com artrite e pleuro-pneumonia. O primeiro micoplasma humano foi isolado em 1932, num abscesso. Desde então, descobriram-se muitas estirpes diferentes, que são fundamentalmente específicas da espécie hospedeira, ou pelo menos de grupos específicos de animais, como felinos, aves, roedores e homem. Descobriu-se, também, que, ao contrário das bactérias, que são afetadas por penicilina – um tipo de antibiótico –, os micoplasmas são controláveis por antibióticos com tetraciclina. Foram descobertas linhagens que exibiam crescimento com micélios, semelhante ao dos fungos, o que levou ao surgimento da designação “micoplasma” (mico = fungo). Os micoplasmas podem viver dentro de uma célula, sem matá-la, à semelhança do que fazem alguns vírus e bactérias, mas também podem viver e crescer fora delas, nos fluidos corporais, algo que os vírus não são capazes de fazer. São responsáveis por doenças como artrite reumatoide, inflamações alérgicas, pneumonia atípica, entre outras. Estuda-se, ainda, uma possível ligação entre esses organismos e certas doenças relacionadas com o sistema imunitário, como a diabetes e a esclerose múltipla. 6. Teoria da endossimbiose e origem das células eucariontes vegetal e animal Acredita-se que a célula vegetal, eucariótica, originou-se a partir de uma célula procariótica heterótrofa. Essa célula VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 4. Cianobactérias 77 possui uma parede celular protetora e bastante rígida. É possível que o primeiro passo para surgimento da célula eucariótica tenha sido a perda da capacidade de produzir a parede celular. A célula, então, desprovida dessa parede, adquiriu a capacidade de mudar de forma, crescer e envolver substâncias extracelulares através da invaginação da membrana plasmática, fenômeno conhecido por endocitose. A invaginação da membrana plasmática desenvolve um conjunto de endomembranas que se diferenciam no retículo endoplasmático, no sistema golgiense e no envoltório nuclear, contornando o material genético (DNA). Desenvolve-se o citoesqueleto constituído por proteínas do tipo tubulina e actina, dando maior sustentação à célula. Os ribossomos, inicialmente livres, aderem-se às membranas do retículo endoplasmático, constituindo o retículo endoplasmático granuloso (rugoso). Células procarióticas primitivas são fagocitadas e evoluem para dar origem às mitocôndrias. Células procarióticas de cianobactérias, por meio da fagocitose, são englobadas, originando os cloroplastos. Material genético dessas bactérias (DNA) são também incorporados ao DNA da célula que está em evolução. Aí está formada, ao longo do tempo, uma célula eucariótica autotrófica. A evolução dessa célula eucariota primitiva continua com o aparecimento da parede celular composta principalmente por celulose característica de vegetais. DNA DNA Célula procariótica Invaginação da membrana celular e eucariótica com a célula de DNA envolvente formada Invaginação da membrana celular e eucariótica com a célula de DNA envolvente formada Célula eucariótica Membraba plasmática Presente Presente Citosol Presente Presente Ribossomos Presente Presente Endomembranas Ausente Presente Envoltório nuclear Ausente Presente Mitocôndria Ausente Presente Cloroplasto Ausente Presente em vegetais e algas Cromossomo 1 por célula 2 ou mais por célula DNA Circular Línear 6.1. Teoria da endossimbiose A endossimbiose é um fenômeno comum entre os seres vivos. Um dos casos mais curiosos ocorre com os corais, celenterados que se associam a protistas unicelulares, as zooxantelas. Estas são dinoflagelados, com células douradas, que realizam fotossíntese, produzindo alimento necessário ao crescimento dos recifes de corais. Como as zooxantelas realizam fotossíntese, elas precisam de luz, e, por isso, os corais vivem em águas tropicais, limpas e a pequenas profundidades. Outro exemplo são as mitocôndrias, presentes em células animais e vegetais, que se acredita que sejam bactérias fagocitadas no passado e que viveram em simbiose com aquelas células, realizando respiração celular. § Presença do DNA circular, típico de bactérias; § Presença de ribossomos para a síntese de suas proteínas; DNA § Capacidade de autoduplicação. DNA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Célula Essa mesma relação simbiótica observa-se entre as células vegetais e as cianobactérias que, de acordo com a teoria da endossimbiose, foram e transformaram-se em cloroplastos. As provas que confirmam a teoria endossimbiótica da origem dos cloroplastos e mitocôndrias são: Célula procariótica 78 Estrutura Eucariótica primitiva Eucariótica primitiva Respiração oxigenada com enzimas bacterianas Respiração oxigenada com enzimas bacterianas Mitocôndria endossimbiose Mitocôndria endossimbiose Cianobactéria Cianobactéria Cloroplasto Cloroplasto endossimbiose endossimbiose Origem da célula eucariótica e a representação Origem da célula eucariótica e a representação da teoria da endossimbiose da teoria da endossimbiose ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos. Esta questão envolve o entendimento da reprodução assexuada e como esse tipo de padrão biológico pode proporcionar vantagens em ambientes desfavoráveis. MODELO 1 (Enem) Fernando Gonsales. Vá Pentear Macacos! São Paulo: Devir, 2004. São características do tipo de reprodução representado na tirinha: a) simplicidade, permuta de material gênico e variabilidade genética. b) rapidez, simplicidade e semelhança genética. c) variabilidade genética, mutação e evolução lenta. d) gametogênese, troca de material gênico e complexidade. e) clonagem, gemulação e partenogênese. O tipo de reprodução representado na tirinha é a assexuada, que é rápida, simples e possui semelhança genética entre as células geradoras e geradas. É comum pensar que, pelo aspecto evolutivo, esse tipo de reprodução não é vantajoso, devido à ausência de variabilidade genética. No entanto, em algumas situações, a reprodução assexuada pode ser uma grande vantagem. Por exemplo, em uma população com número reduzido de indivíduos, esse tipo de reprodução pode ser muito importante para garantir a não extinção, aumentando rapidamente o número de indivíduos. RESPOSTA Alternativa B VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANÁLISE EXPOSITIVA 79 DIAGRAMA DE IDEIAS REINO MONERA BACTÉRIAS • • CIANOBACTÉRIAS AERÓBIAS ANAERÓBIAS AUTÓTROFAS (FOTOSSINTETIZANTES) FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA BACTERIOCLOROFILA FOTOSSISTEMA SIMPLES LÁCTICA ALGUMAS FAZEM QUIMIOSSÍNTESE REPRODUÇÃO ASSEXUADA (BIPARTIÇÃO) SEXUADA (CONJUGAÇÃO) IMPORTÂNCIA DAS BACTÉRIAS • • • • DECOMPOSIÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA ANTIBIÓTICOS E VITAMINAS FIXAÇÃO DE N2 BIOTECNOLOGIA MORFOLOGIA • • • • VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias DOENÇAS BACTERIANAS 80 • • • • • • • • • • • • CÓLERA COQUELUCHE DIFTERIA DISENTERIAS FEBRE MACULOSA FEBRE TIFOIDE GONORREIA HANSENÍASE LEPTOSPIROSE MENINGITE PNEUMONIA TUBERCULOSE COCOS BACILOS ESPIRILOS VIBRIÃO ESTREPTOCOCOS ESTAFILOCOCOS MORFOLOGIA • CROMOSSOMO • PLASMÍDEO • MESOSSOMO • RIBOSSOMOS • PAREDE CELULAR DNA CIRCULAR DNA CONFERE VANTAGENS SELETIVAS (RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS) INVAGINAÇÕES DA MEMBRANA DIVISÃO CELULAR RESPIRAÇÃO SÍNTESE PROTEICA GRAM-POSITIVAS GRAM-NEGATIVAS 1.1. Rizópodes (sarcodinos) REINO PROTOCTISTA I: PROTOZOÁRIOS Rizópodes são protozoários muito pequenos, que podem medir, no máximo, meio milímetro. Eles se deslocam por estruturas chamadas pseudópodes e se reproduzem por cissiparidade. Um exemplo é a Entamoeba histolystica, causadora da amebíase, doença que pode causar disenteria e processos inflamatórios, levando à desidratação. Vacúolo contrátil Ectoplasma CN COMPETÊNCIA(s) 4e8 AULAS 7E8 Endoplasma HABILIDADE(s) Vacúolo digestivo 16 e 29 Pseudópodo Núcleo Pseudópodo Medula Axópodos Os protozoários são classificados no Reino Protoctista, contudo, por uma “licença didática”, eles serão discutidos junto aos metazoários (animais). Como a maioria desses seres são heterótrofos, alguns autores afirmam que são animais. Eles se caracterizam por serem unicelulares, eucariontes e viverem isolados ou em colônias. Neles, todas as funções vitais são executadas por uma única célula, o que determina o surgimento de uma série de diferenciações celulares relativas às funções de nutrição, proteção, locomoção, etc. Essas diferenciações, semelhantes às dos órgãos de animais, são chamadas de organelas celulares. Vivem no mar e na água doce, existindo espécies parasitas. Os protozoários são divididos em quatro classificações, de acordo, principalmente, com o modo de locomoção ou com a forma de reprodução típica. Observe a diversidade de protozoários: Paramécio Paramécio Paramécio Balantídeo Balantídeo Tripanossomo Tripanossomo Giárdia Giárdia Córtex Vacúolo digestivo Exemplares de amoebas Entre as muitas espécies de amebas próximas ao ser humano, a Entamoeba histolytica é a principal espécie patogênica, com ampla distribuição geográfica, acometendo 10% da população mundial e a segunda maior causadora de morte no mundo por infecção por protozoários. Náuseas, vômitos, cólicas intestinais e disenteria aguda, com muco e sangue nas fezes, são os sintomas mais comuns da amebíase. Existem casos em que a ameba pode passar a parasitar outras regiões do organismo, como fígado e pulmões, mas é assintomática na maioria da população. A contaminação é direta, não envolvendo um vetor, e ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados por cisBalantídeo Ameba tos, que são as Ameba formas celulares de infecção das amebas. Balantídeo BalantídeoTripanossomo Tripanossomo Tripanossomo Giárdia GiárdiaGiárdia Ameba Ameba Ameba Os cistos passam pelo estômago e, quando resistem à ação do suco gástrico, chegam ao intestino delgado, onde ocorre o desencistamento que libera trofozoítos, formas celulares capazes de aderirem ao intestino. Em seguida, migram para o intestino grosso e ali se estabelecem. Normalmente, ade- VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 1. Protoctistas heterótrofos: protozoários 81 rem à mucosa do intestino e se alimentam de detritos e bactérias. Em determinadas condições, invadem a mucosa intestinal, dividindo-se ativamente no interior das úlceras. Nesses casos, podem atingir outros órgãos através do sistema porta-hepático. A liberação de sangue nas fezes é consequência da ruptura de vasos sanguíneos da mucosa intestinal. A prevenção é realizada por meio da higiene das mãos e dos alimentos, da construção de redes de coleta e tratamento de esgosto e do tratamento das pessoas infectadas. 1 Cistos maduros i d i Ingestão Desencistação 2 = Estágio Infectivo d = Estágio Diagnóstico A = Colonização não invasiva B = Doença intestinal C = Doença extraintestinal Trofozoíto 3 consegue sobreviver heterotroficamente. Afirma-se, então, ser um autótrofo facultativo. Também já foram classificados como algas: as euglenoides. 1.2.2. Trypanosoma cruzi Esse protozoário é o causador da doença de Chagas, sendo transmitido pela picada do inseto Triatoma infestans (barbeiro), que é hematófago e de hábito noturno. A picada do inseto não transmite a doença, pois nas suas glândulas salivares não existe a forma infectante. Depois de picar e sugar o hospedeiro, o barbeiro elimina fezes infectadas com tripanosomas próximo ao local da picada. O próprio hospedeiro, ao coçar-se, por exemplo, pode introduzir as fezes contaminadas nas mucosas, facilitando a penetração dos tripanosomas. d Multiplicação 4 Cistos d d 3 Trofozoíto C d B A d d d 4 3 d Fezes i 2 d Ciclo biológico da Entamoeba histolytica Ciclo biológico da Entamoeba histolytica 1.2. Flagelados (mastigóforos) VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Flagelados são protozoários que se locomovem por meio de flagelos – apêndices filiformes que, com movimentos helicoidais, impulsionam a célula em meio líquido. Eles se reproduzem por cissiparidade ou divisão binária. A maioria é de vida livre, sendo abundantes na água doce e nos mares; outros vivem como parasitas. Durante seu ciclo evolutivo, o protozoário pode apresentar formas variadas. 82 Grânulo basal Membrana ondulante Flagelo Corpúsculo cerebral Núcleo Forma mastigota (com flagelo) Forma mastigota (com flagelo) Veja os principais exemplos dessa classe: 1.2.1. Euglena viridis Esse protozoário não é patogênico ao homem. Apresenta cloroplasto e, na presença de luz, é autótrofo. Contudo, imagem microscópica do Trypanosoma cruzi em amostra de sangue. Outras formas de contato são transfusões sanguíneas, transmissão na vida intrauterina por meio de gestantes contaminadas e ingestão de alimentos contaminados com o próprio vetor ou fezes do mesmo, ao serem triturados junto ao açai ou ao caldo de cana. A doença possui duas fases: um aguda e outra crônica. Na fase aguda, o local da picada pelo vetor torna-se vermelho e endurecido, constituindo o chamado chagoma, nome dado à lesão causada pela entrada do Trypanosoma. Quando essa lesão ocorre próxima aos olhos, leva o nome de sinal de Romaña. Geralmente, o chagoma acompanha uma íngua próxima à região. Após o período de incubação, outros sintomas surgem como febre, ínguas e inflamações locais na pele e em órgãos como o fígado. Em casos mais graves, pode ocorrer insuficiência cardíaca. Os casos fatais, que são raros, ocorrem nessa fase, em decorrência da inflamação do coração ou do cérebro. Ciclo do Trypanosoma cruzi em triatomíneos Ciclo do Trypanosoma cruzi em humanos e outros mamíferos Picada Tripomastigotas metacíclicos Transformação em amastigotos (dentro das células, proliferação) Tripomastigotas metacíclicos (indutivo) Multiplicação (no intestino) Trypanosoma cruzi Pode infectar novas células Amastigotos intracelulares se ransformam em trypomastigotos e invadem a correte sanguínea Epimastigotas (no intestino) ciclo de vida do Trypanosoma cruzii Nesses casos, a detecção do parasita no sangue torna-se mais difícil e a identificação costuma ocorrer pela presença de anticorpos. Com isso, inicia-se a fase crônica da doença, na qual as manifestações são arritmia e perda progressiva da capacidade de bombeamento do coração, consequência de lesões na musculatura do órgão que enjirece e tende a aumentar de tamanho para continuar funcionando. Outros órgãos também podem aumentar e comprometer suas funções, configurando a Síndrome de Megas, já que o parasita gera inflamações no esôfago e no intestino grosso, por exemplo. 1.2.3. Giardia lamblia Mais frequente em crianças do que em adultos, a giardíase é uma parasitose que ocorre no intestino desses indivíduos. Seu agente etiológico é a Giardia lamblia, um protozoário flagelado e com incidência mais alta em climas tropicais e subtropicais. A giardíase pode provocar náusea, cólicas, diarreia e febre. Em alguns casos, o estado agudo da doença pode durar meses, levando à má absorção de várias substâncias, inclusive vitaminas, como as lipossolúveis (vitaminas D, E, K e A, por exemplo). A contaminação ocorre quando a pessoa ingere os cistos maduros. Os cistos podem estar na água (mesmo que clorada), nos alimentos contaminados ou nas mãos contaminadas. As medidas preventivas devem ser as mesmas tomadas contra a amebíase, uma vez que a contaminação ocorre por meio da ingestão de cistos. Trofozoíto se multiplica por fissão binária As medidas preventistas são de eliminação ou controle do vetor, o que ocorre por meio da melhoria das habitações rurais que servem de abrigo para o inseto e por meio de adoção de práticas de higiene em processamento artesanal de alimentos, em especial frutas. Excistação Intestino grosso Intestino delgado Contato por ingestão de cisto Encistação infecção por cisto Cisto e trofozoídos contaminados nas fezes Ciclo biológico da Giardia Lamblia 1.2.4. Leishmania Triatoma infestans (inseto barbeiro) O protozoário causador da Leishmaniose é transmitido pela picada da fêmea do mosquito hematófago do gênero VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Mesmo sem tratamento, os sintomas da fase aguda desaparecem depois de semanas ou meses. Entretanto, o parasita pode continuar no corpo, o que pode ocorrer com casos assintomáticos, de forma que a pessoa permanece durante muitos anos, ou mesmo a vida inteira, sem apresentar sintomas, sendo diagnosticada somente em testes de laboratório. 83 Phlebotomus (mosquito-palha ou birigui). Entre as principais espécies de protozoários parasitas do gênero Leishmania, podem ser destacadas a Leishmania braziliensis, a Leishmania donovani e a Leishmania tropica. O principal grupo celular que infectam são os macrófagos e, em seguida, infectam outras células. Apresentam, como sintomas, três tipos de lesões: cutâneas similares às das fotos abaixo, mucocutâneas e viscerais. Dividem- se no intestino e migram para a probóscide Promastigotas se transformam em amastigotas Promastigotas são fagocitados por macrófagos Amastigotas multiplicam- se nas células de vários tecidos e infectam outras células O flebotomíneo ingere sangue com células infectadas Amastigotas se transformam em promastigotas no intestino Ciclo biológico da Leishmania braziliensis Ciclo de vida de Leshimania spp VIVENCIANDO A geografia é uma ferramenta importante na compreensão da distribuição de protozoários, uma vez que o clima pode influenciar quais protozoários podem ser encontrados no ecossistema. A distribuição geográfica das espécies na Terra é determinada por diversos parâmetros do ambiente, como luz, temperatura, umidade, entre outros. Organismos de uma determinada espécie serão encontrados em regiões que ofereçam condições necessárias para sua sobrevivência. Por exemplo, a malária é uma doença tropical causada pelo protozoário Plasmodium sp, parasita que encontrou condições ambientais favoráveis nos trópicos e se proliferou pela América do Sul, América Central, África e Ásia. O clima tropical faz parte dessas regiões, onde a temperatura é elevada, os verões são quentes e úmidos e os invernos têm temperaturas menores e queda no índice de precipitação. Esse quadro climatológico fornece condições para a proliferação do vetor transmissor e do hospedeiro definitivo da malária, fechando assim o ciclo de vida do parasita. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 1.3. Ciliados 84 Trata-se de protozoários que se locomovem por meio de cílios e apresentam reprodução por cissiparidade e conjugação. Um típico representante é o paramécio. Nele, observa-se a existência de uma depressão – a goteira ou sulco oral – que leva as partículas alimentares até uma abertura (citóstoma) que continua pela citofaringe, um canal que forma, na extremidade, o vacúolo digestório. O citopígeo é uma abertura usada para eliminar restos alimentares existentes no vacúolo digestório. Além dos vacúolos contrácteis, evidenciam os dois núcleos: o macronúcleo, relacionado à nutrição; e o micronúcleo, envolvido com a reprodução. O paramécio se reproduz assexuadamente, por bipartição, e sexuadamente, por conjugação. Nesse caso, acontece a fusão temporária de dois indivíduos, entre os quais se formam pontes citoplasmáticas para trocas de partes dos micronúcleos. Depois da troca e da fusão de micronúcleos, os paramécios separam-se e dividem-se duas vezes, produzindo um total de oito indivíduos. Vacúolo digestório Vacúolo contráctil Macronúcleo Micronúcleo Tricocistos Citóstoma Citopígeo Representação de um paramécio Ciclo biológico da Entamoeba histolytica 1.4. Esporozoários Esses protozoários não possuem organelas de locomoção, portanto, são parasitas e apresentam reprodução sexuada por esporulação. É possível citar como exemplo os plasmódios e o toxoplasma. O Toxoplasma gondii é o causador da toxoplasmose e é transmitido pela urina de gatos, ratos e também pela ingestão de carne contaminada. No Brasil, o Plasmodium vivax, o Plasmodium falciparium e o Plasmodium ovale são causadores da malária. Os protozoários são transmitidos pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles (mosquito-prego). O ciclo de vida do plasmódio apresenta uma fase de reprodução assexuada, novidade em relação aos outros protozoários. Há os gametócitos, formas celulares que se fundem dentro do corpo do vetor formando um zigoto, como é possível ver na imagem abaixo.Também há a reprodução assexuada que ocorre por várias divisões do núcleo seguidas da fragmentação do citoplasma, denominada divisão múltipla ou esquizogonia. A infecção pelo parasita ocorre nas células do sangue, as hemácias, e também há um ciclo hepático no qual o plasmódio infecta hepatócitos e também podem-se multiplicar, eliminando mais parasitas pela lise da célula. Ciclo de transmissão da malária 6. Quando o mosquito morde uma pessoa infectada, os gametócitos são absorvidos e amadurecem no intestino do mosquito 5. Outros merozoítos se transformam em precursores de gametas de machos e fêmeas 7. Os gametócitos do macho e da fêmea se fundem e formam um ookinete (Zigoto) 3. Os merozoítos infectam os glóbulos vermelhos, onde se desenvolvem em forma de anéis trofozoítos e esquizontes No Mosquito No Humano 3. No fígado, o esporozoíto se reproduz de forma assexuada (esquizogonia), produzindo milhares de merozoítos 8. Os zigotos se desenvolvem em novos esporozoítos que migram para as glândulas salivares do inseto Células infectadas 1. O Mosquito transmite os esporozoítos móveis 2. O esporozoíto viaja através das vias sanguíneas até as células do fígado 1.5.2. Sexuada (conjugação) Em ciliados, como o paramécio, ocorre uma troca de material genético, que permite um aumento da variabilidade. Essa troca se dá com o emparelhamento dos dois indivíduos e a formação de uma ponte citoplasmática. multimídia: vídeo O ciclo do plasmódio no interior do mosquito Anopheles 1.5. Reprodução 1.5.1. Assexuada (divisão binária) É a forma de reprodução mais comum entre os protoctistas unicelulares. A partir de um indivíduo, ocorre a duplicação do núcleo e posterior divisão do citoplasma. O indivíduo gerado possui a mesma bagagem genética do indivíduo que o gerou. Nessa forma de reprodução, a variabilidade pode ocorrer pelo fenômeno de mutação gênica. Divisão binária em protoctistas Conjugação em protoctistas 1.6. Encistamento O encistamento inicia-se com a desidratação do citoplasma do protozoário que diminui de volume e secreta uma membrana resistente que o isola do meio externo. Assim, o protozoário transforma-se num cisto que pode ser transportado pela água e pelo vento, favorecendo a disseminação das espécies até em condições ambientais desfavoráveis. Esses protozoários desincestam em condições ambientais favoráveis, ou seja, no local adequado de seu hospedeiro. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Fonte: Youtube 85 Cistos de amebas VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Principais protozooses 86 Local de infecção e sintomas Parasita Classificação Doença Entamoeba histolytica rizópode (pseudopodes) amebíase (disenteria) § intestino grosso § ulcerações e diarreia alimentos e água contaminada medidas de saneamento, higiene pessoal e com os alimentos Giardia lamblia flagelado giardíase (disenteria) § intestino delgado § dores abdominais e diarreia alimentos e água contaminada medidas de saneamento, higiene pessoal e com os alimentos Balantidium coli ciliado balantidiose (disenteria) § intestino § diarreia alimentos e água contaminada medidas de saneamento, higiene pessoal e com os alimentos Leishmania brasiliensis flagelado úlcera de Bauru ou Leishmaniose § vias respiratórias picada da fêmea do § lesões nas mucosas da boca e do mosquito-palha nariz telas, repelentes, habitações longe de matas Trichomonas vaginalis flagelado tricomoníase § uretra e próstata (homem); vagina (mulher) § uretrite e corrimentos relação sexual, sanitários e piscinas higiene pessoal, com piscinas e sanitários, uso de preservativos Trypanosoma gambiensis flagelado doença do sono § sangue e sistema nervoso § lesões nas meninges picada da mosca-tsé-tsé combate à mosca Toxoplasma gondii esporozoário toxoplasmose Trypanosoma cruzi flagelado doença de Chagas Plasmodium esporozoário malária Transmissão Profilaxia fezes de animais § mal-estar, prostração, febre; no feto domésticos (gatos pode causar retardamento mental, em geral) e via cegueira e hidrocefalite placentária evitar contato com animais domésticos (fezes e urina), principalmente para mulher gestante § corrente sanguínea § inflamação no coração e/ou cérebro fezes do barbeiro melhorar as condições de habitação, eliminando ou evitando contato com o vetor § hemáceas § inflamação no fígado picada da fêmea do mosquito-prego (Anopheles) repelentes, telas, combate ao vetor CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS “Maré vermelha é um fenômeno que acontece em todos os mares do Planeta, e é caracterizado pelo excesso do aparecimento de algas. Parte do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, as algas microscópicas aumentam em grandes proporções, fazendo com que o fenômeno aconteça. A floração, como é chamado esse aumento excessivo das algas, vem acompanhada da liberação de substâncias tóxicas que podem ocasionar a morte de animais aquáticos, além da intoxicação de pessoas que se alimentem de animais contaminados. O fenômeno é chamado de maré vermelha devido à coloração das algas que aparecem em maior quantidade nesse tipo de floração – marrons e vermelhas – que acabam por alterar a coloração das águas também. Quando acontece a maré vermelha, é possível a visualização de manchas avermelhadas nas águas. A maré vermelha é um acidente ecológico que acontece em decorrência de alguns fatores, como a alteração da salinidade, oscilação da temperatura, além do excesso de sais minerais que são ocasionados pelo escoamento de esgoto doméstico, alterando as condições abióticas do mar, afetando, consequentemente, o comportamento de espécies que vivem no local, inclusive as planctônicas.” Dessa forma, os protistas podem ser usados como bioindicadores da qualidade da água nos oceanos. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias (http://www.estudopratico.com.br/mare-vermelha-como-se-da-esse-fenomeno/) 87 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 29 Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais. Neste exercício, é fundamental a análise correta de experimentos. Entender como funciona um grupo de controle (mosquitos não expostos) e um grupo experimental (mosquitos expostos) e o que o resultado apresentado pode fornecer sobre, por exemplo, a utilização de seres vivos como controles biológicos. MODELO 1 (Enem) Foram publicados recentemente trabalhos relatando o uso de fungos como controle biológico de mosquitos transmissores da malária. Observou-se o percentual de sobrevivência dos mosquitos Anopheles sp após exposição ou não a superfícies cobertas com fungos sabidamente pesticidas, ao longo de duas semanas. Os dados obtidos estão presentes no gráfico abaixo. No grupo exposto aos fungos, o período em que houve 50% de sobrevivência ocorreu entre os dias: a) 2 e 4 b) 4 e 6 c) 6 e 8 d) 8 e 10 e) 10 e 12 VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANÁLISE EXPOSITIVA 88 Reduzir a transmissão por meio do mosquito Anopheles sp é uma das maneiras mais eficientes de combater a malária. Muitos estudos publicados em revistas científicas se utilizam de gráficos com o intuito de facilitar a visualização e o entendimento do leitor. O experimento foi realizado por meio da utilização de um fungo para combater o mosquito transmissor. Foram utilizados 2 grupos, um no qual os mosquitos não foram expostos ao fundo (grupo controle) e outro no qual o fungo estava junto com os mosquitos (grupo experimetal). Ao longo do tempo, no grupo em que o fungo estava presente, a porcentagem de sobrevivência dos mosquitos começou a diminuir a partir do dia 6. O período no qual houve 50% de sobrevivência foi entre os dias 8 e 10. RESPOSTA Alternativa D DIAGRAMA DE IDEIAS • • • ENCISTAMENTO CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS HETERÓTROFOS EUCARIONTES ISOLADOS OU COLÔNIAS PROTOZOÁRIOS REPRODUÇÃO • • SEXUADA ASSEXUADA CONJUGAÇÃO BIPARTIÇÃO CISSIPARIDADE MEIOS DE LOCOMOÇÃO (CLASSIFICAÇÃO) ESPOROZOÁRIOS CILIADOS NÃO POSSUEM ESTRUTURAS PARA LOCOMOÇÃO CÍLIOS PLASMODIUM VIVAX (MALÁRIA) POSSUEM MACRONÚCLEO E MICRONÚCLEO (NUTRIÇÃO E REPRODUÇÃO) FLAGELADOS (MASTIGÓFOROS) FLAGELOS EUGLENA VIRIDIS TRYPANOSOMA CRUZI INFECÇÃO (DOENÇA DE CHAGAS) FEZES DO BARBEIRO GIARDIA LAMBLIA (GIARDÍASE) INGESTÃO DE ALIMENTOS CONTAMINADOS LEISHMANIA SP (EISHMANIOSE) INFECÇÃO INFECÇÃO PICADA DO MOSQUITO PHLEBOTOMUS RIZÓPODES (SARCONDINOS) PSEUDÓPODES ENTAMOEBA HISTOLYTICA (AMEBAS) AMEBÍASE SINTOMAS • DORES INTESTINAIS • INFLAMAÇÃO INFECÇÃO • INGESTÃO DE ALIMENTOS CONTAMINADOS VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias INFECÇÃO PICADA DA FÊMEA DO MOSQUITO ANOPHELES SP 89 VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANOTAÇÕES 90 ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ BIOLOGIA CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias TEORiA DE AULA CITOLOGIA INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS O DNA e seus processos (transcrição e tradução) são pontos fundamentais para resolver questões de biotecnologia. A bioquímica básica tem seu destaque dentro de assuntos da atualidade, como clonagem e terapia gênica. Metabolismo energético são assuntos com presença garantida. Diferenciação entre os tipos celulares, comparação entre os processos bioquímicos e fisiológicos são pontos fortes desta prova. Mais uma vez, a bioquímica básica será base para a compreensão desses assuntos. Metabolismo energético (respiração celular e fotossíntese), citologia (divisões celulares e funções de organelas) e bioquímica (síntese proteica e ácidos nucleicos) são bastante presentes. É a segunda área de maior destaque na prova, na qual os assuntos como núcleo, DNA e síntese proteica têm grande destaque. Questões de interpretação de esquemas de células e identificação de funções de organelas celulares são bem frequentes. Função e reconhecimento de organelas são essenciais nesta prova, além de ter conhecimento sobre a bioquímica estrutural básica de cada uma. Prova com questões que misturam diferentes áreas da Biologia. Destacam-se os conteúdos relacionados a metabolismo energético (respiração celular e fotossíntese), organelas citoplasmáticas e bioquímica básica. Dificilmente há uma prova da Unesp que não caia bioquímica. Normalmente abordam metabolismo energético, porém para entender esse conteúdo é essencial o conhecimento da bioquímica básica. Metabolismo energético, funções das organelas citoplasmáticas, divisões celulares e transporte através da membrana são conteúdos sempre presentes nesse vestibular. Citologia é um dos assuntos mais presente, sendo que há questões sobre funções de organelas, transporte através de membrana, divisões (mitose e meiose) e metabolismo energético. Nos últimos anos, também houve maior frequência de questões sobre bioquímica. UFMG VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias É uma prova com questões interdisciplinares que cobram conteúdos altamente específicos. Aborda conteúdos de bioquímica, principalmente DNA e síntese proteica, e citologia, como transporte através da membrana e divisões celulares. 92 Questões com alto nível de especificidade, sendo citologia um dos temas mais comuns. Estão presentes conteúdos como funções das organelas, divisões celulares, transporte através da membrana e metabolismo energético. A bioquímica tem forte presença nesta prova, abordando estrutura e exemplos de lipídeos, carboidratos e proteínas; o dogma central da Biologia e a síntese proteica são conteúdos bem abordados. No campo da citologia, podemos destacar também fisiologia celular e os processos de divisão. Apresenta muitas questões relacionadas à bioquímica básica e divisões celulares. Aparecem também questões sobre funções de organelas e transporte através de membrana. Com perfil similar à Fuvest e questões bem específicas, os temas mais frequentes são respiração celular e fotossíntese e funções das organelas citoplasmáticas (e como elas estão relacionadas com a especialização das células). Prova com ênfase em citologia e genética. Na área de citologia, os assuntos mais abordados são metabolismo energético (respiração celular e fotossíntese), bioquímica (principalmente ácidos nucleicos) e as divisões celulares. 2. Água COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR I CN 1E2 A quantidade de água varia de acordo com a taxa metabólica. Quanto maior a atividade química (metabolismo) de um órgão, maior o teor hídrico. Por exemplo, o encéfalo do embrião. Observe a tabela a seguir: HABILIDADE(s) 4 14 1. Introdução Porcentagem de água das estruturas do ser humano A Citologia (do grego "kytos = célula" e "logos = estudo") é a área da biologia que estuda os processos de funcionamento das células, bem como sua estrutura e composição. A análise do conteúdo celular revela a existência de componentes minerais e orgânicos. Os primeiros compreendem a água e os sais minerais. Já os componentes orgânicos, muitas vezes chamados de macromoléculas, podem ser agrupados em quatro categorias: açúcares (ou carboidratos), lipídios, proteínas e ácidos nucleicos. Os ácidos nucleicos estão presentes nas células de qualquer organismo e suas quantidades são variáveis entre espécies diferentes. Os detalhes e a causa dessa variação serão apresentados mais adiante e, por essa razão, não estão presentes na tabela a seguir: Componentes químicos das células constituintes células animais (%) células vegetais (%) água 60 75 substâncias minerais 4,3 2,45 glicídios 6,2 18 lipídios 11,7 0,5 proteínas 17,8 4 substâncias orgânicas estrutura orgânica teor da água (%) encéfalo de embrião 92 músculos 83,4 cérebro 77,8 pulmões 70,9 coração 70,9 osso 48,2 dentina 12 O encéfalo do embrião tem 92% de água, e o do adulto, 78%. A taxa de água, em geral, decresce com a idade e, também, com a espécie. Por exemplo, na espécie humana há 64% de água; nas medusas, 98%; nos esporos e sementes vegetais, 15%. 2.1. Propriedades físicas da água § Coesão – Trata-se da capacidade de uma substância permanecer unida, resistindo à separação. Uma gota de água sobre um folha, por exemplo, forma uma espécie de película. Isso ocorre pois as moléculas estão fortemente ligadas umas às outras. Essa força de atração entre as moléculas gera um fenômeno chamado tensão superficial. Entre todos os líquidos, a tensão superficial da água está entre as mais fortes. Observe na VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias COMPETÊNCIA(s) AULAS A água é considerada um solvente universal, sendo o principal componente inorgânico de qualquer ser vivo. O ambiente intracelular é aquoso, o que é essencial para a ocorrência das reações químicas e metabólicas. A água também ajuda a evitar variações bruscas de temperatura, atuando na termorregulação dos seres vivos, pois apresenta valores elevados de calor específico, calor de vaporização e calor de fusão. Nos processos de transporte de células e de substâncias, intra e extracelulares, a água tem importante participação, assim como na eliminação de excretas celulares. Em regiões onde há atrito, como nas articulações, a água também tem função lubrificante. 93 figura a seguir que os insetos não afundam. Isso ocorre devido a uma espécie de membrana ultrafina que se forma na superfície da água. O zinco colabora na conservação do cabelo e da pele, além de auxiliar nas cicatrizações. É encontrado em pequenas quantidades em diversos alimentos. O selênio, por sua vez, é encontrado em carnes, peixes e vegetais. Ele é responsável por diminuir os riscos de alguns tipos de câncer, além de proteger as células contra substâncias oxidantes. A quantidade de selênio nos vegetais é correlacionada com o teor desse mineral no solo. Veja outros exemplos na tabela a seguir: Principais sais minerais das células Devido à tensão superficial, alguns insetos pousam sobre a água e não afundam. § Adesão – A água tem a tendência de se unir a moléculas polares, e isso ocorre devido à sua polaridade. Essa atração recebe o nome de adesão. As moléculas de água não se ligam a moléculas apolares, não havendo adesão. Por isso, ela não se distribui igualmente sobre uma superfície encerada e forma gotículas separadas sobre elas, pois a cera é apolar. § Capilaridade – Trata-se de um fenômeno físico resultante das interações entre as forças de adesão e coesão da molécula de água. É devido à capilaridade que a água desliza por tubos ou entre poros de alguns materiais, como o algodão. Quando se coloca um tubo fino em contato com água, o líquido tende a subir pelas suas paredes devido às forças de adesão e coesão. A adesão está relacionada com a afinidade entre o líquido e a superfície do tubo. A coesão as mantém unidas, arrastando umas às outras pela coluna, elevando o nível de água. Esse fenômeno é muito utilizado pelas plantas no transporte de substâncias da raiz até as folhas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 3. Sais minerais 94 Como o ambiente intra e extra celular é aquoso, os sais minerais presentes ali encontram-se dissociados em cátions (íons carregados positivamente) e ânions (íons carregados negativamente). Em uma célula, os sais minerais podem ser encontrados de duas formas simples: fixas como componentes de estruturas esqueléticas (osso, casca de ovos, etc.) e ionizada ou dissociada. Zinco, cobre, selênio e flúor devem ser ingeridos diariamente, pois desempenham um importante papel no controle do metabolismo ou na manutenção da função de tecidos orgânicos. O cobre tem relação com as diversas pigmentações em nosso corpo, além de proteger a pele. Ele está presente em alimentos como feijão, ervilhas, castanhas, uvas, cereais e pão integral. Cálcio (Ca2+) Componente dos ossos e dentes. Ativador de enzimas, participa de processos como a contração muscular e a coagulação. Magnésio (Mg2+) Faz parte da molécula de clorofila; é necessário, portanto, à fotossíntese. Ferro (Fe2+) Presente na hemoglobina do sangue, pigmento fundamental para o transporte de oxigênio. Componente de substâncias importantes na respiração e na fotossíntese (citocromos e ferrodoxina). Sódio (Na+) Tem concentração intracelular sempre mais baixa que nos líquidos externos. A membrana plasmática, por transporte ativo, constantemente bombeia o sódio, que tende a penetrar por difusão facilitada. Importante componente da concentração osmótica do sangue juntamente com o K+. Potássio (K+) É mais abundante dentro das células. Por transporte ativo, a membrana plasmática absorve o potássio do meio externo. Os íons sódio e potássio estão envolvidos nos fenômenos elétricos que ocorrem na membrana plasmática, na concentração muscular e na condução nervosa. Fosfato (PO4 ) Componente dos ossos e dentes. Está no ATP, molécula energética das atividades celulares. É parte integrante do DNA e RNA, no código genético. Cloro (Cℓ–) Componente dos neurônios (transmissão de impulsos nervosos). Iodo (I–) Entra na formação de hormônios tireoidianos. –3 4. Polímeros Dentre os compostos orgânicos já citados anteriormente, os carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos são considerados polímeros. Polímeros são molé­culas de alto peso molecular (também chamadas de macromoléculas) formadas por uma cadeia de moléculas menores, chamadas de monômeros. Os monômeros que formam os carboidratos são chamados de monossacarídeos, enquanto os monômeros que formam as proteínas são chamados de aminoácidos, e, por fim, os monômeros que formam os ácidos nucleicos são chamados de nucleotídeos. plantas sintetizam seus próprios carboidratos, já os animais adquirem os carboidratos necessários por meio da alimentação. Os lipídios não apresentam uma unidade básica que possa ser considerada um monômero, então não são considerados polímeros, apesar de serem macromoléculas. PRINCIPAIS MONOSSACARÍDEOS carboidrato papel biológico Os carboidratos e lipídios serão detalhados nesta aula, enquanto as próximas aulas se dedicarão ao estudo detalhado das proteínas e ácidos nucleicos. Monômetro Monômetro Monômeros ribose (5C) Uma das matérias-primas necessárias à produção de ácido ribonucleico. desoxirribose (5C) Matéria-prima necessária à produção de ácido desoxirribonucleico (DNA). glicose (6C) É a molécula mais usada pelas células para obtenção de energia. É sintetizada na fotossíntese pelos seres clorofilados. Abundante em vegetais, no sangue e no mel. frutose (6C) Muito comum em frutas, também apresenta papel fundamentalmente energético. galactose (6C) Um dos monossacarídeos constituinte da lactose do leite. Papel energético. Polímero Polímero Estrutura de uma macromolécula do tipo polímero. ribose desoxirribose frutose glicose galactose PRINCIPAIS DISSACARÍDEOS carboidrato unidades multimídia: vídeo Fonte: Youtube Feofíceas ou algas pardas Diversidade dos Seres Vivos fontes papel biológico sacarose glicose + frutose cana-de-açúcar e beterraba papel energético lactose glicose + galactose leite papel energético maltose glicose + glicose vegetais papel energético 4.1. Açúcares (ou carboidratos) Os monossacarídeos podem ser classificados de acordo com a quantidade de carbonos em sua composição; os açúcares mais comuns são trioses (3 átomos de carbono), pentoses (5 átomos de carbono) ou hexoses (6 átomos de carbono), acrescidos da terminação "OSE". Como triose, pentose e hexose. Os monossacarídeos mais importantes são: glicose, frutose, galactose (hexoses) e ribose, desoxirribose (pentoses). Dissacarídeo é a junção entre dois monossacarídeos; como lactose, maltose e sacarose. A junção entre muitos monossacarídeos recebe o nome de polissacarídeo, como amido, glicogênio, celulose, quitina, etc. Além de serem a fonte primária de energia para as diversas atividades celulares, os glicídios possuem função estrutural. As sacarose lactose PRINCIPAIS POLISSACARÍDEOS carboidrato unidades fontes papel biológico amido (inúmeras) moléculas de glicose raízes e caules reserva energética vegetal celulose (inúmeras) moléculas de glicose parede de células vegetais sustentação glicogênio (inúmeras) moléculas de glicose fígado e músculos reserva energética animal quitina (inúmeras) moléculas de glicose parede de células vegetais sustentação Apesar dos quatro polissacarídeos apresentados na tabela serem compostos de várias moléculas de glicose, essas moléculas se ligam umas às outras de formas diferentes em cada molécula, assumindo assim conformações VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os açúcares são conhecidos também como glicídios, carboidratos, sacarídeos ou hidratos de carbono. Essas moléculas são compostas principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio. Os carboidratos mais simples são classificados como monossacarídeos e sua fórmula geral é: CnH2nOn. O valor de n pode variar de 3 a 7, dependendo do tipo de monossacarídeo. 95 tridimensionais diferentes, caracterizando assim suas funções distintas. o xilol, o éter, a benzina e o clorofórmio. São exemplos de lipídios as gorduras os óleos e as ceras. O amido é o carboidrato de reserva principal dos vegetais e é armazenado principalmente nos vacúlos de células vegetais especializadas. Na digestão humana, o amido é quebrado em glicose, que é utilizada como fonte de energia. A glicose excedente é parcialmente armazenada como glicogênio (reserva de carboidratos animal), e o restante é metabolizado em lipídios, armazenados no tecido adiposo dos animais. Os lipídios podem ser classificados em: glicerídeos (grupo das gorduras e óleos), fosfolipídeos (componentes da membrana plasmática), cerídeos (as ceras impermeabilizam superfícies vegetais, evitando a desidratação), esteroides (o principal esteroide é o colesterol) e carotenoides (pigmentos de coloração). No corpo humano, o glicogênio é armazenado nos músculos e fígado, com propósitos distintos. A reserva de glicogênio muscular é quebrada rapidamente em momentos de demanda energética, permitindo que os músculos sempre tenham uma resposta de movimento imediata aos impulsos nervosos. O fígado, por sua vez, é responsável por armazenar glicogênio e quebrá-lo em glicose em momentos de baixa glicemia, como durante períodos de jejum, de modo que a glicose liberada circule pela corrente sanguínea e permita que órgãos essenciais como o cérebro sempre tenham uma fonte de energia disponível. A quitina e a celulose apresentam uma estrutura química que dificulta a ação enzimática, então não são quebradas no processo de digestão da maioria dos seres vivos. Esses polissacarídeos atuam como importantes moléculas de estrutura e sustentação dos seres vivos; a celulose é essencial na composição da parede celular de vegetais, enquanto a quitina é o componente básico do exoesqueleto de artrópodes. Os lipídios são os principais constituintes das membranas celulares, estando assim presentes em todos os tecidos dos seres vivos. Os lipídios são muito importantes como reserva energética. Nos animais, são armazenados em células específicas, chamadas de adipócitos, que formam o tecido adiposo. Nos vegetais, os lipídios são armazenados nos vacúolos celulares e são muito abundantes nas sementes oleaginosas. A maioria dos lipídios é derivada ou possui ácidos graxos na sua estrutura. Algumas substâncias classificadas entre os lipídios possuem intensa atividade biológica, como vitaminas e hormônios. Embora os lipídios sejam uma classe distinta de biomoléculas, observa-se que eles, geralmente, ocorrem combinados, seja covalentemente ou através de ligações fracas, como membros de outras classes de biomoléculas, para produzir moléculas hídricas, tais como glicolipídios, que contêm tanto carboidratos quanto grupos lipídicos, e lipoproteínas, que contêm tanto lipídios como proteínas. lactato glicose fermentação láctica glicogênio glicose VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 96 lactato gliconeogênese glicose lactato glicogênio Esquematização do processo de síntese e utilização do glicogênio. 5. Lipídios O grupo dos lipídeos é muito heterogêneo, e agrupa moléculas orgânicas cuja característica comum é a insolubilidade em água e a solubilidade em solventes orgânicos, como multimídia: vídeo Fonte: Youtube Entrevista: Antonio Herbert Lancha Jr fala sobre obesidade O grupo dos glicerídeos compreende as gorduras e os óleos. Um glicerídeo muito abundante nos seres vivos são os triglicerídios. Quando hidrolisados, os triglicerídeos liberam um álcool chamado gli­cerol e três cadeias de ácidos graxos. Os ácidos graxos podem ser classificados como saturado ou insaturado; chamamos de saturado quando há somente ligações simples entre os átomos de car­bono (exemplos: palmítico e o ácido esteárico); por sua vez, um ácido graxo é insaturado quando possui uma ou mais ligações duplas entre os carbonos, como o ácido oleico, por exemplo. As ligações duplas, também chamadas de insaturações, fazem com que a cadeia carbônica de cada ácido graxo tenha uma conformação espacial distinta, menos linear, e isso faz com que ácidos graxos insaturados sejam menos compactos, e essa característica é essencial para a fluidez das membranas celulares. Os ácidos graxos saturados, por sua vez, são muito mais rígidos e também tendem a se agregar nas paredes de vasos sanguíneos, podendo causar complicações e entupimentos. POLAR Um fosfolipídio de membrana. Quando está no estado sólido e à temperatura ambiente, um lipídio é denominado “gordura”; caso esteja no estado líquido, será denominado “óleo”. 5.2. Ceras As ceras são lipídios sólidos à temperatura ambiente. Quando hidrolisadas, seus lipídios também liberam uma molécula de glicerol e ácidos graxos de cadeia longa. As ceras são essencialmente usadas para a proteção dos organismos, sejam animais ou plantas. Os seres humanos produzem cera nos ouvidos como uma forma de evitar a entrada de partículas de poeira no canal auditivo. Algumas plantas secretam ceras que revestem as folhas e evitam perdas excessivas de água, principalmente em ambientes secos. 5.3. Esteroides Os esteroides são hormônios sintetizados a partir do lipídio colesterol. Nos humanos, são secretados pelas gônadas, córtex adrenal e pela placenta. Tanto a testesterona como o estradiol (também chamado de estrogênio) são hormônios esteroides, e estão relacionados com a expressão de características sexuais secundárias masculinas e femininas, respectivamente. R = dez ou mais átomos de carbono. O colesterol, além de atuar como precursor na biossín­tese dos hormônios esteroides, também é precursor dos ácidos e sais biliares. Além disso, o colesterol é um constituinte muito importante da membrana celular, pois auxilia na fluidez da membrana, ou seja, impede que a membrana celular fique excessivamente compacta, o que dificultaria processos celulares. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 5.1. Glicerídeos APOLAR As diferentes propriedades químicas e físicas dessas biomoléculas estão combinadas para exercer funções biológicas específicas. Diferentemente das demais biomoléculas, os lipídios não são polímeros, ou seja, não são repetições de uma simples unidade. Os lipídios possuem uma estrutura química simples, mas suas funções são complexas e diversas. Atuam nas etapas determinantes do metabolismo e na definição das formas celulares. Alguns lipídios formam filmes sobre a superfície da água, enquanto outros formam agregados organizados na solução. Os lipídios possuem uma região polar ou iônica, que pode ser facilmente hidratada; como é o caso dos lipídios que compõem as membranas celulares. 97 É importante destacar que o corpo humano produz quantidades de colesterol suficientes para suprir as funções positivas desse lipídio no organismo; assim, é importante ter um cuidado alimentar para evitar seu excesso na circulação sanguínea, que pode causar prejuízos. O colesterol pode aderir às paredes dos vasos sanguíneos, formando estruturas conhecidas como "placas ateroscleróticas", que são um dos principais fatores de risco associados à ocorrência de infarto agudo do miocárdio. Esteroides anabolizantes Os esteroides anabolizantes são produtos sintéticos usados, em doses controladas, no tratamento de certas doenças. No entanto, como aumentam a síntese de proteína pelos músculos, são também consumidos – sem acompanhamento médico – por pessoas que querem aumentar rapidamente a massa muscular. O uso indiscriminado de esteroides – e sem o controle médico – pode interromper o crescimento (na adolescência), causar hepatite, danos aos rins, câncer de fígado, problemas de comportamento (depressão, aumento da agressividade), aumento da pressão arterial e do risco de ataque cardíaco. Em homens, pode provocar esterilidade e atrofia dos testículos. Em mulheres, pode desequilibrar o ciclo menstrual e desenvolver características sexuais secundárias masculinas, como a presença de pelos na face. Dessa forma, além de serem proibidos em competições esportivas, os esteroides anabolizantes não devem ser utilizados sem indicação médica. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 5.4. Lipoproteínas 98 Lipoproteínas são associações entre proteínas e lipídios, como o próprio nome indica. Na corrente sanguínea, essas moléculas têm a função de transportar e regular o metabolismo dos lipídios no plasma. A fração lipídica das lipoproteínas varia muito e permite a classificação das mesmas em cinco grupos: 1. Quilomicron – é a lipoproteína menos densa. É responsável por transportar triacilglicerol exógeno (lipídios provenientes da alimentação) na corrente sanguínea, para que seja armazenado nos tecidos adiposos. 2. VLDL (Lipoproteína de Densidade Muito Baixa) – transporta triacilglicerol endógeno (lipídios sintetizados pelo próprio organismo, como colesterol, por exemplo). 3. IDL (Lipoproteína de Densidade Intermediária) – é formada na transformação de VLDL em LDL. 4. LDL (Lipoproteína de Densidade Baixa) – principal transportadora de colesterol; seus níveis aumentados no sangue elevam muito as chances de infarto agudo do miocárdio. 5. HDL (Lipoproteína de Densidade Alta) – retira o colesterol da circulação. Quando seus níveis no sangue estão elevados, os riscos de infarto do miocárdio são baixos. 5.5. Prostaglandinas As prostaglandinas são lipídios importantes em diversos processos de comunicação entre células, produzidas principalmente em tecidos onde há uma infecção ou lesão. As prostaglandinas controlam processos de inflamação nos caso de infecções e a mudanças no fluxo sanguíneo e formação de coágulos sanguíneos relacionados à lesões. Também há prostaglandinas que atuam na indução do parto. As prostaglandinas atuam na comunicação celular localmente, ou seja, não entram na corrente sanguínea. Anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina, agem bloqueando as enzimas responsáveis pela formação de precursores de prostaglandinas, evitam a sinalização e consequente resposta inflamatória do organismo. Estrutura de uma prostaglandina, a Prostaglandina E1, que tem ação vasodilatadora e está presente em respostas inflamatórias. 5.6. Em resumo: as funções dos lipídios Como vimos até agora, fosfolipídeos são constituintes da membrana plasmáti­ca e de todas as membranas internas da célula. Além disso, lipídios liberam energia quando oxidados, e são a segunda fonte de energia do organismo, sendo usados na ausência de carboidratos. Os lipídios constituem a reserva ener­gética dos animais, sendo alocados no tecido adiposo. Os lipídios também fazem parte da estrutura de algumas vitaminas, como A, D, E e K, e atuam como precursores de alguns hormônios, como testosterona, estrogênio e progesterona. Também são os lipídios que formam as ceras, responsáveis por proteger os organismos contra dessecação e excesso de trans­piração. Adicionalmente, os lipídios formam um panículo adiposo sob a pele que, juntamente com o tecido adiposo de outras partes do corpo, oferece isolamento térmico, elétrico e mecânico, protegendo células, órgãos e o organismo como um todo. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS No estudo das funções biológicas dos carboidratos e lipídios, aplicamos conceitos também estudados nas aulas de química orgânica, como estruturas químicas e propriedades mo­leculares. Os carboidratos são compostos químicos que possuem vários átomos de carbono ligados às hidroxilas (OH), apresentando funções orgânicas como cetona e aldeído. Devido a essas características químicas e de organização atômica, os carboidratos são moléculas muito reativas e por isso sua clivagem é a principal fonte de energia para os organismos. Os lipídios, por sua vez, apresentam a função orgânica álcool (principalmente o glicerol) e ácidos graxos; alguns possuem outros elementos, como grupos fosfato, e são classificados como fosfolipídeos. Os fosfolipídeos são considerados moléculas anfipáticas, ou seja, apresentam características hidrofóbicas e hidrofílicas simultaneamente. Essa característica faz com que essas moléculas, em meio aquoso, tenham a tendência de se agregar formando esferas lipídicas. A formação das membranas plasmáticas e o consequente surgimento da vida estão intimamente relacionados com essa propriedade dos fosfolipídios. As vitaminas são substâncias orgânicas essenciais e precisam ser obtidas dos alimentos, uma vez que o organismo não consegue fabricá-las. Podem ser agrupadas em hidrossolúveis, representadas pelo complexo B e pela vitamina C; e em lipossolúveis, representadas pelas vitaminas D, E, K e A. A maioria das vitaminas necessárias ao nosso organismo atua como coenzima, ou seja, como biocatalisadores, moléculas que se ligam à enzimas e permitem seu funcionamento correto. § Vitamina A (retinol – antixeroftálmica) – Necessária para o desenvolvimento e para o funcionamento dos olhos, nariz e pulmões. Previne resfriados e várias infecções. Evita a xeroftalmia (conhecida como “cegueira noturna” ou “olhos secos”) em crianças e a cegueira total. Pode ser encontrada em vegetais amarelos (cenoura, abóbora, batata-doce, milho), pêssego, nectarina, abricó, gema de ovo, manteiga, fígado, etc. § Vitamina B1 (tiamina) – Ajuda na oxidação dos carboidratos. Estimula o apetite. Mantém o tônus muscular e o bom funcionamento do sistema nervoso. Evita a perda de apetite, a fadiga muscular, o nervosismo, o beribéri (humanos) e a polineurite (pássaros). Encontrada em cereais na forma integral e em pães, feijão, fígado, carne de porco, ovos, fermento de padaria, vegetais de folhas, etc. § Vitamina B2 (riboflavina) – Auxilia na oxidação dos alimentos. É essencial à respiração celular. Mantém a tonalidade saudável da pele. Atua na coordenação motora. Evita a ruptura da mucosa da boca, dos lábios, da língua e das bochechas. Está presente em vegetais de folhas (couve, repolho, espinafre, etc.), carnes magras, ovos, fermento de padaria, fígado, leite, etc. § Vitamina B3 (PP – ácido nicotínico) – Mantém o tônus nervoso e muscular e o bom funcionamento do aparelho digestório. Previne a inércia e a falta de energia, o nervosismo extremo, os distúrbios digestivos, a pelagra (humanos) e a língua preta (cães). Está presente no lêvedo de cerveja, nas carnes magras, nos ovos, no fígado, no leite, etc. § Vitamina B6 (piridoxina) – Ajuda na oxidação dos alimentos. Mantém a pele saudável. Evita doenças de pele, distúrbios nervosos, inércia e extrema apatia. É encontrada no lêvedo de cerveja, nos cereais integrais, no fígado, nas carnes magras, no peixe, no leite, etc. § Vitamina B12 (cianocobalamina) – É importante para a maturidade das hemácias. Evita a anemia perniciosa. É encontrada no fígado, no leite e seus derivados, nas carnes, nos peixes, nas ostras, nas leveduras, etc. Fontes de vitamina B12. Fontes de vitamina B3. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 6. Vitaminas 99 tência, manutenção, manifestação e propagação da vida. De acordo com as estruturas celulares e as substâncias químicas envolvidas, é possível dividi-lo em metabolismo energético, de construção e de regulação. Fontes de vitamina B1. Fontes de vitamina B2. § Vitamina C (ácido ascórbico – antiescorbútica) – Previne infecções. Mantém a integridade dos vasos sanguíneos e a saúde dos dentes. Previne o escorbuto, a inércia e a fadiga em adultos, a insônia e o nervosismo em crianças, o sangramento das gengivas, as inflamações nas juntas e os dentes alterados. Pode ser encontrada em frutas cítricas (limão, lima, laranja), tomate, couve, repolho e outros vegetais de folha, pimentão, morango, abacaxi, goiaba, caju, etc. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias § Vitamina D (ergosterol – precursor da vitamina D – antirraquítica) – Atua no metabolismo do cálcio e do fósforo. Mantém os ossos e os dentes em bom estado. Evita o raquitismo, os problemas nos dentes, os ossos fracos, os sintomas da artrite, a osteomalácia (adultos). Está presente no lêvedo, o óleo de fígado de bacalhau, na gema de ovo, na manteiga, etc. 100 § Vitamina E (tocoferol – antioxidante) – Auxilia na fertilidade. Previne o aborto. Atua no sistema nervoso involuntário, no sistema muscular e nos músculos involuntários. Previne a esterilidade do macho. Ajuda na oxidação de ácidos graxos insaturados e enzimas mitocondriais. Está presente no óleo de germe de trigo, nas carnes magras, nos laticínios, na alface, no óleo de amendoim, etc. Pode-se considerar mais duas ideias sobre metabolismo celular: anabolismo – reações químicas de síntese que, a partir de moléculas menores, produzem moléculas maiores – e catabolismo – reações químicas de degradação que transformam moléculas grandes em unidades menores. O termo metabolismo celular é utilizado em relação ao conjunto de todas as reações químicas que ocorrem nas células. Essas reações são responsáveis pelos processos de síntese e degradação dos nutrientes na célula e constituem a base da vida, permitindo o crescimento e a reprodução das células. Embora a glicose seja a fonte energética mais frequente, os organismos retiram energia das mais diversas moléculas orgânicas (outros açúcares, aminoácidos, ácidos graxos, entre outras). Os organismos heterotróficos obtêm glicose alimentando-se daqueles que são capazes de produzi-la, os organismos autotróficos fotossintetizantes. 7.1. ATP: as baterias de energia Ao final do processe de digestão de carboidratos, temos finalmente a molécula de glicose (monossacarídeo) livre na circulação. A molécula de glicose é, como já citamos, a principal fonte energética das células. Porém, a energia contida nas ligações entre os átomos de carbono de cada molécula de glicose não pode ser liberada no ambiente celular de uma vez só. Chamamos de respiração celular o processo de quebra gradual das moléculas de glicose para liberação de energia. Esse processo será detalhadamente estudado mais adiante, porém, convém desde já sermos apresentados às moléculas de ATP. Cada vez que uma ligação entre átomos de carbono é quebrada, a energia liberada é transferida para uma molécula chamada adenosina trifosfato, ou ATP. Essas moléculas servirão de reservatórios temporários de energia, armazenando a energia entre as ligações dos grupos fosfato que a compõe. 7. Metabolismo celular É comum existir uma substância solúvel no interior das células, conhecida por adenosina difosfato (ADP). É comum também a existência de radicais livres de fosfato inorgânico (que vamos simbolizar por Pi). Cada vez que ocorre a liberação de energia, devido à reação química, essa energia liga o fosfato inorgânico (Pi) ao ADP, gerando ATP. Como o ATP também é solúvel, ele se difunde por toda a célula. Metabolismo é o conjunto de reações bioquímicas que ocorrem nas células e que são fundamentais para a exis- A ligação do ADP com o fosfato é reversível. Então, toda vez que é necessária a energia para a realização de qualquer § Vitamina K (anti-hemorrágica) – Atua na coagulação do sangue. Previne hemorragias prolongadas. A sua falta retarda o processo de coagulação. Está presente em vegetais verdes, tomate, castanha, espinafre, alface, repolho, couve, óleos vegetais, etc. trabalho na célula, ocorre a conversão de algumas moléculas de ATP em ADP + Pi e a energia liberada é utilizada pela célula. A recarga dos ADP ocorre toda vez que há liberação de energia na quebra da glicose. 7.2. A estrutura do ATP O ATP é um um composto derivado de nucleotídeo, ou seja, apresenta uma base nitrogenada (nesse caso, a adenina) e um monossocarídeo (no caso, a ribose). Chamamos o conjunto de adenina e ribose de adenosina. Essa molécula de adenosina pode então se ligar a um grupo fosfato, formando uma molécula chamada de AMP (adonisina monofosfato), porém, é mais comum encontrar moléculas de adenosina ligadas a dois grupos fosfato, formando assim moléculas de ADP (adenosina difosfato). Quando há energia liberada na célula, essa energia é usada para ligar mais um grupo fosfato às moléculas de ADP, formando assim o ATP (adenosina trifosfato). Assim, cada vez que o terceiro fosfato se desliga do conjunto, ocorre a liberação da energia que o mantinha unido ao ATP. É essa energia que é utilizada para qualquer processo celular, como contração muscular e atividades neuronais. VIVENCIANDO Conhecer a bioquímica básica das moléculas inorgânicas (água e sais minerais) e das moléculas orgânicas (carboidratos e lipídios) é fundamental para compreender suas funções nos orga­nismos vivos. É com base nesses conhecimentos que nutricionistas e médicos podem indicar dietas, prescrever medicamentos, tratamentos e exercícios e até mesmo suplementos alimentares específicos para cada paciente, além de compreender quadros clínicos, como a obesidade, a hipertensão, a diabetes, a arteriosclerose, entre outros. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A ligação entre os segundo e o terceiro grupo fosfato de uma molécula de ATP é altamente energética e, quando quebrada, libera cerca de 7 kcal/mol. 101 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros. Neste exercício é primordial conhecer as características presentes na água e como esse solvente se comporta em sistemas biológicos a fim de manter o equilíbrio dos processos. MODELO 1 (Enem) A água apresenta propriedades físico-químicas que a colocam em posição de destaque como substância essencial à vida. Dentre essas, destacam-se as propriedades térmicas biologicamente muito importantes, por exemplo, o elevado valor de calor latente de vaporização. Esse calor latente refere-se à quantidade de calor que deve ser adicionada a um líquido em seu ponto de ebulição, por unidade de massa, para convertê-lo em vapor na mesma temperatura, que no caso da água é igual a 540 calorias por grama. A propriedade físico-química mencionada no texto confere à água a capacidade de a) servir como doador de elétrons no processo de fotossíntese; b) funcionar como regulador térmico para os organismos vivos; c) agir como solvente universal nos tecidos animais e vegetais; d) transportar os íons de ferro e magnésio nos tecidos vegetais; e) funcionar como mantenedora do metabolismo nos organismos vivos. ANÁLISE EXPOSITIVA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A água é um solvente universal e desempenha funções vitais nos organismos, como termorregulação, transporte de substâncias, eliminação de excretas, lubrificação, acepção de elétrons, dentre outras. Identificar padrões e fenômenos e compreender como são vitais à manutenção do equilíbrio dos organismos é uma atribuição esperada na habilidade 14. O fato de a água possuir um elevado calor latente de vaporização faz com que ela esteja diretamente relacionada com a função de reguladora térmica dos organismos. Para evaporar, ela necessita absorver uma grande quantidade de calor. Observação: todas as alternativas apresentam funções exercidas pela água, porém, aquela que está relacionada com a propriedade físico-química apresentada no enunciado é a regulação de temperatura. 102 RESPOSTA Alternativa B DIAGRAMA DE IDEIAS ÁGUA • • • • • • • • SAIS MINERAIS SOLVENTE UNIVERSAL TERMORREGULAÇÃO TRANSPORTE EXCRETAS LUBRIFICANTE COESÃO ADESÃO CAPILARIDADE • • • • • • • CÁTIONS E ÍONS CÁLCIO OSSOS, CONTRAÇÃO MUSCULAR E COAGULAÇÃO COBRE PIGMENTAÇÃO ZINCO CICATRIZAÇÃO SELÊNIO ANTIOXIDANTE FERRO HEMOGLOBINA SÓDIO E POTÁSSIO CONTROLE OSMÓTICO, CONDUÇÃO NERVOSA COMPONENTES INORGÂNICOS METABOLISMO ANABOLISMO (SÍNTESE) CATABOLISMO (DEGRADAÇÃO) COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR ATP ADP + Pi + ENERGIA COMPONENTES ORGÂNICOS CARBOIDRATOS LIPÍDEOS (FONTE PRIMÁRIA DE ENERGIA) DISSACARÍDEOS • SACAROSE GLICOSE + FRUTOSE • LACTOSE GLICOSE + GALACTOSE • MALTOSE GLICOSE + GLICOSE POLISSACARÍDEOS • AMIDO • GLICOGÊNIO • CELULOSE • QUITINA PROTEÍNAS • • AMINOÁCIDOS DIVERSAS FUNÇÕES: CONTRAÇÃO MUSCULAR, CITOESQUELETO, ENZIMAS, ANTICORPOS, RECEPTORES E TRANSPORTADORES DE MEMBRANA, ETC. • • • • • • • • • INSOLÚVEL EM ÁGUA FLUIDEZ DE MEMBRANA RESERVA ENERGÉTICA VITAMINAS HORMÔNIOS ESTEROIDES ISOLANTE TÉRMICO GLICERÍDEOS LIPOPROTEÍNAS PROSTAGLANDINAS VITAMINAS • • LIPOSSOLÚVEIS: D, E, K, A HIDROSSOLÚVEIS: C, B1, B2, B12, PP VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias MONOSSACARÍDEOS • RIBOSE • DESOXIRROBOSE • GLICOSE • FRUTOSE • GALACTOSE 103 carbono do agrupamento carboxila de um aminoácido com um átomo de nitrogênio do agrupamento amina do outro aminoácido. COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR II CN COMPETÊNCIA(s) Cada ligação peptídica libera uma molécula de água, dessa forma, o processo de ligação entre aminoácidos para formar proteínas pode ser considerado uma síntese por desidratação. AULAS 3E4 HABILIDADE(s) 4 14 1. Proteínas Reação entre dois aminoácidos com destaque para a formação de uma ligação peptídica Quando a ligação ocorre entre dois aminoácido, a molécula formada é denominada dipeptídio; quando ocorre entre três, é chamada de tripeptídio; e, acima de quatro, é chamada de polipeptídio. As proteínas são sempre polipeptídios e costumam ter acima de 80 aminoácido. Existem vinte tipos diferentes de aminoácido que fazem parte das proteínas. Um mesmo aminoácido pode aparecer várias vezes na mesma molécula. Monômetro Monômeros (aminoácidos) Monômetro As proteínas são polímeros em que os monômeros são moléculas de aminoácidos (AA) e formam o grupo mais numeroso e diversificado das moléculas orgânicas. Todo aminoácido é formado por um carbono assimétrico ligado a quatro ligantes diferentes: uma carboxila (COOH), uma amina (NH2), um hidrogênio (H) e um grupo radical (R). Polímero (proteína) Polímero Polímero Aminoácido VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Amina 104 Radical Ácido Carboxílico Na natureza existem inúmeras moléculas que podem ser classificadas como aminoácidos, porém, no organismo humano, apenas 20 são usados para a síntese de proteínas. Observe, a seguir, algumas fórmulas: Os aminoácidos podem ser classificados em naturais, quando podem ser produzidos pelo organismo, e essenciais, quando não são produzidos pelo organismo e, por isso, devem estar presentes na dieta. Os aminoácidos que são naturais para uma dada espécie podem ser essenciais para outra. Esse é um dos fatores que justifica a ampla diversidade na composição das dietas dos animais. Na tabela abaixo, observe a relação dos aminoácidos com o organismo humano. Aminoácidos naturais Asparagina (Asn) Prolina (Pro) Cisteína (Cis) Glutamina (Gln) Alanina (Ala) Tirosina (Tir) Arginina (Arg) Glutamato (Glu) Serina (Ser) Histidina (His) Aspartato (Asp) Glicina (Gli) Aminoácidos essenciais Metionina (Met) Estrutura molecular de alguns aminoácidos, com destaque para os radicais A ligação química entre dois aminoácidos é chamada de ligação peptídi­ca e acontece sempre entre um átomo de Triptofano (Tri) Isoleucina (Iso) Valina (Val) Leucina (Leu) Treonina (Tre) Lisina (Lis) Fenilalanina (Fen) As proteínas diferem entre si devido à quantidade de aminoácidos, aos tipos presentes e a sua sequência na molécula. 1.1. Estrutura da proteína A sequência dos aminoácidos na cadeia polipeptídica é o que chamamos de estrutura primária da proteína. Cada proteína apresenta a sua estrutura primária única e característica; alterações na estrutura primária levam à formação de proteínas distintas. A estrutura primária é importante para a constituição estrutural da proteína, pois é a partir da interação entre os aminoácidos da estrutura primária que a proteína se dobrará de forma a ter uma estrutura tridimensional. Os aminoácidos ligados entre si (estrutura primária) não formam uma estrutura linear e esticada, pois as ligações peptídicas entre cada aminoácido e as interações entre os radicais de cada aminoácido fazem com que essa cadeia de aminoácidos se dobre sobre si mesma, formando as estruturas secundárias. Existes três principais tipos de estruturas terciárias: as alfa-hélices, quando os aminoácidos formam uma estrutura helicoidal; as folhas beta-pregueadas, quando os aminoácidos interagem entre si e formam uma estrutura plana, como uma folha; e os loopings, que são regiões flexíveis, geralmente conectando hélices e folhas beta-pregueadas. Uma proteína pode apresentar mais de um tipo de estrutura secundária em regiões distintas de sua estrutura. Gli Met Gli Gli Lis Val Arg Gli Lis Ser Lis Lis Met Val Gli Arg Lis Val Lis Lis Ser Arg Met Gli Gli Lis Lis Ser Estrutura secundária (hélice) Gli Lis Val Lis Arg Met Arg Estrutura primária (sequência de aminoácidos) Estrutura terciária (peptideo individual dobrado) ganismo), receptores de membrana (que se localizam nas membranas das células e reconhecem outras moléculas no ambiente extracelular), entre outras funções. Existem, porém, algumas proteínas que, para exercerem sua função, precisam estar interagindo com outras proteínas, formando estruturas quaternárias. Um exemplo de estrutura quaternária é a hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio através da circulação. A hemoglobina é formada por quatro proteínas iguais, chamadas de globinas. Cada globina apresenta um grupo Heme, um agrupamento orgânico específico que contém um átomo de ferro. Cada molécula de hemoglobina é formada por quatro subunidades (quatro proteínas globinas) e consequentemente contém quatro átomos de ferro, responsáveis pela interação com o gás oxigênio e por conferir ao sangue sua coloração avermelhada. 1.2. Desnaturação proteica Diversos fatores, como temperatura, grau de acidez (pH) ou concentração de sais podem comprometer a interação entre as estruturas secundárias de uma proteína, desfazendo assim sua estrutura terciária (sem alterar, logicamente, a sequencia de aminoácidos − ou estrutura primária). A principal consequência da perda da estrutura terciária é a perda da capacidade da proteína de desenvolver sua função biológica. Esse fenômeno é chamado de desnaturação proteica. Estrutura quaternária (grupo de dois ou mais peptideos) Representação das diferentes estruturas de uma proteína As estruturas secundárias das proteínas também interagem entre si, dobrando-se e dando, finalmente, a estrutura tridimensional típica de cada proteína específica. Chamamos esse dobramento final de estrutura terciária. De modo geral, ao chegar nesse estágio, a proteína está pronta para exercer sua função biológica, que pode ser como enzimas (que aceleram reações químicas no organismo), anticorpos (que participam da defesa do organismo contra patógenos), hormônios (que tem diversas funções no or- (sem estrutura terciária) VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Duas proteínas podem ter os mesmos aminoácidos nas mesmas quantidades, porém, se a sequência dos aminoácidos for diferente, as proteínas serão diferentes. 105 VIVENCIANDO A propriedade catalítica das proteínas (enzimas) faz com que elas sejam adequadas para aplicações industriais, como na indústria alimentícia. As reações enzimáticas são fundamentais para a produção de alimentos, uma vez que as enzimas atuam na formação de compostos altamente desejáveis. Por exemplo, as enzimas amilases são adicionadas a massas de pão para potencializar o efeito de enzimas naturais durante a fermentação. As principais aplicações das enzimas no segmento alimentício ocorrem nas áreas de produção de álcool e derivados, vinicultura, açúcares e amidos, laticínios e derivados, panificação e sucos de frutas. 1.3. Função das proteínas A seguir, serão discutidas com mais detalhes apenas as funções estrutural e enzimática das proteínas. As demais funções serão apresentadas posteriormente, junto ao estudo da membrana plasmática (receptores permeases), dos grupos sanguíneos (anticorpos) e da fisiologia do sistema endócrino (hormônios). Além da função estrutural, as proteínas atuam como enzimas ou biocatalisadoras das reações bioquímicas que ocorrem nas células. Elas diminuem a energia de ativação exigida pelas reações, tornando-as mais espontâneas e aumentando suas velocidades. Funções biológicas das proteínas • estrutural • catalizadora (enzimas) • imunológica (anticorpos) • regulatória (hormônios) • receptora (membrana) • transportadora (transmembrana) Uma das funções das proteínas é a função estrutural, pois faz parte da arquitetura das células e dos tecidos dos organismos. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias PROTEÍNAS ESTRUTURAIS 106 proteínas papel biológico colágeno Proteína presente em ossos, cartilagens, tendões e pele. Aumenta a resistência desses tecidos à tração. queratina Recobre a superfície da pele dos vertebrados terrestres. É o mais abundante componente de unhas, garras, corpos, bicos e pelos dos vertebrados. Impermeabiliza as superfícies corpóreas e diminui a desidratação. actina e miosina Principais constituintes dos músculos. Responsáveis pela contratilidade dos músculos. albumina Proteína mais abundante do plasma sanguíneo, conferindo-lhe viscosidade, pressão osmótica e solução tampão. hemoglobina Proteína presente nas hemácias. Relacionada ao transporte de gases pelas células vermelhas do sangue. A maior parte das informações contidas no DNA dos organismos está relacionada à fabricação de enzimas. Cada reação que ocorre na célula necessita de uma enzima específica, isto é, uma mesma enzima não catalisa duas reações distintas. A especificidade das enzimas é explicada pelo modelo da chave (reagente) e fechadura (enzima), pois a forma espacial da enzima deve ser complementar à forma espacial dos reagentes (substratos). Esse modelo pode ser nomeado como “encaixe induzido”, devido à dinamicidade do processo. As enzimas são reversíveis, ou seja, a mesma molécula pode ser usada diversas vezes. A desnaturação de uma enzima implica a sua inatividade, pois, perdendo sua forma espacial, ela não consegue mais se encaixar em seu substrato específico. Algumas moléculas, sintetizadas tanto por seres vivos como em laboratórios, podem atuar como inibidores enzimáticos, substâncias que reduzem a interação entre uma proteína e seu substrato, tornando a ação da enzima mais lenta. Os inibidores podem tanto ter uma estrutura tridimensional semelhante à estrutura do substrato, encaixando-se no sítio ativo da enzima (inibição competitiva), como também podem se ligar a outras regiões da enzima e impedir que ela se ligue ao substrato (inibição alostérica). Em ambos os casos, o inibidor pode se desligar da enzima depois de um certo tempo, de modo que enzima se torne novamente ativa, ou pode se ligar permanentemente à enzima, inibindo-a de forma irreversível. 1.4. Cinética enzimática O pH, a temperatura e a concentração do substrato são fatores importantes na determinação da velocidade da atividade enzimática. Observe os gráficos: Em algumas situações, como a entrada de patógenos no organismo, pode ocorrer febre, um mecanismo de defesa que eleva a temperatura corporal para desnaturar as proteínas dos patógenos. Porém, esse mecanismo também desnatura algumas proteínas do próprio corpo, o que ocasiona uma queda metabólica e os sintomas associados à febre, como cansaço e falta de apetite. Muitas enzimas, para funcionar, necessitam de um agente chamado cofator. Os cofatores podem ser íons metálicos, como cobre, zinco e manganês. Se o cofator é uma substância orgânica, ele é denominado coenzima. • Apoenzima: enzima ainda não ligada a seu substrato. • Holoenzima: complexo formado pela enzima + substrato, que executa um papel biológico. • Coenzima: moléculas orgânicas que precisam se ligar a algumas enzimas para que elas possam desempenhar seu papel biológico. • Cofator: moléculas inorgânicas que precisam se ligar a algumas enzimas para que elas possam desempenhar seu papel biológico. A enzima altera ligeiramente a sua forma à medida que o substrato se liga Substrato Produtos sítio ativo enzima Substrato se ligando à enzima, para inicar a reação Complexo enzima-substrato Após a reação enzimática há a formação dos produtos e a enzima é liberada para atuar em outra reação 1.5. Hormônios Os hormônios são substâncias químicas que desempenham a função em órgãos diferentes daqueles onde são sintetizados e apresentam diferentes naturezas químicas. Ao circularem pelo sangue, elas agem em determinados órgãos-alvo, onde exercem os seus efeitos. Dentre aqueles à base de proteínas, denominados hormônios proteicos, destacam-se o hormônio do crescimento (GH), que estimula o crescimento de vários tecidos e órgãos, particularmente ossos, e a insulina, responsável por reduzir o teor de glicose no sangue. 1.6. Anticorpos Conhecidos também por imunoglobulinas, os anticorpos são glicoproteínas criadas para combater agentes invasores nocivos ao organismo. Eles são produzidos apenas quando existe uma substância estranha no corpo e possuem a capacidade de se combinar especificamente com essas substâncias, inativando-as. O anticorpo se liga ao antígeno (molécula capaz de iniciar a resposta imune) de forma específica, por isso é possível afirmar que, para cada um dos tipos de antígenos, existe um tipo de anticorpo, com forma complementar. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A enzima apresenta condições ótimas de funcionamento, nas quais a velocidade da reação é máxima. Acima das temperaturas ótimas e fora dos limites do pH ótimo, ocorre desnaturação. No corpo humano, a temperatura ótima de funcionamento das enzimas é entre 35ºC e 36ºC. 107 Os anticorpos agem aderindo à superfície do corpo estranho. Dessa forma, eles impedem a multiplicação dos microrganismos e inibem a ação das toxinas. Antígeno bacteriano multimídia: vídeo Fonte: Youtube Feofíceas ou algas pardas Diversidade dos Seres Vivos ANTICORPOS CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Conceitos de química e física são utilizados para analisar a atividade de uma enzima. Medidas da velocidade inicial de uma reação catalisada por enzimas são fundamentais para a compreensão do mecanismo de ação da enzima. A equação matemática que expressa a relação hiperbólica entre velocidade inicial e a concentração de substrato é conhecida como equação de Michaelis-Menten. Nessa equação, V0 representa a velocidade inicial da reação enzimática, Vmáx é a velocidade máxima dessa reação, [S] é a concentração do substrato e Km é uma constante característica de cada enzima. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias v0 = Vmax[S]/Km + [S] 108 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros. Neste exercício, é necessário identificar processos importantes que determinam as velocidades das reações químicas e como isso influencia o equilíbrio interno dos sistemas biológicos. MODELO 1 (Enem) Alguns fatores podem alterar a rapidez das reações químicas. A seguir destacam-se três exemplos no contexto da preparação e da conservação de alimentos: 1. A maioria dos produtos alimentícios se conserva por muito mais tempo quando submetidos à refrigeração. Esse procedimento diminui a rapidez das reações que contribuem para a degradação de certos alimentos. 2. Um procedimento muito comum utilizado em práticas de culinária é o corte dos alimentos para acelerar o seu cozimento, caso não se tenha uma panela de pressão. 3. Na preparação de iogurtes, adicionam-se ao leite bactérias produtoras de enzimas que aceleram as reações envolvendo açúcares e proteínas lácteas. Com base no texto, quais são os fatores que influenciam a rapidez das transformações químicas relacionadas aos exemplos 1, 2 e 3, respectivamente? a) Temperatura, superfície de contato e concentração. b) Concentração, superfície de contato e catalisadores. c) Temperatura, superfície de contato e catalisadores. d) Superfície de contato, temperatura e concentração. e) Temperatura, concentração e catalisadores. ANÁLISE EXPOSITIVA As enzimas são proteínas que têm como função acelerar as reações metabólicas dos organismos. Essa é a função de um catalisador. Na indústria alimentícia, é essencial o uso das enzimas para a produção rápida e em larga escala de seus produtos. RESPOSTA Alternativa C VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A proposição 1 está relacionada diretamente com a temperatura, uma vez que a sua diminuição reduz o metabolismo dos microrganismos relacionados com a degradação dos alimentos. Já a proposição 2 está relacionada com o aumento da superfície de contato, que é maior quando os alimentos estão cortados e, dessa forma, o cozimento ocorre mais rapidamente. 109 DIAGRAMA DE IDEIAS AMINOÁCIDOS + LIGAÇÕES PEPTÍDICAS PROTEÍNAS ESTRUTURA FUNÇÕES VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias • • • • • • 110 DEFESA (ANTICORPOS) RECEPTORAS ENZIMÁTICA HORMÔNIOS ESTRUTURAIS TRANSPORTE DE OXIGÊNIO DESNATURAÇÃO: PERDA DE FORMA CAUSADA POR: • • • PH TEMPERATURA SALINIDADE PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA SEQUÊNCIA DE AMINOÁCIDOS INTERAÇÕES ENTRE AS LIGAÇÕES PEPTÍDICAS ATRAVÉS DE LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO DOBRAMENTO DA ESTRUTURA SECUNDÁRIA SOBRE SI (TRIDIMENSIONAL) guanina (G). As pirimídicas são a citosina (C) e a timina (T). Observe a figura: NH2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA CELULAR III N C C 4 C2 HN H O O C C2 O PIRIMIDINA C 4 H C2 5 C CH 3 CH HN HN N H CH CH C 6 N CH C 4 (6-aminopurina) NH2 CH N HN ADENINA CITOSINA (2-oxi-4-amonopirimidina) TIMINA (5-METIL-2,4-dioxipirimidina) 3 2 C 4 1 N CH 6 CH N CH HC 1 2 H C 6 3 N 5 4 C C HC PURINA H 5 N N 7 C H 9 N C 6 HN H HC HN 2 URACILO GUANINA N C CH 2 C N (2,4-dioxipirimidina) N O 8 CH N H N C N H (2-amino-6-oxipurina) 1.2. Relação de Chargaff CN COMPETÊNCIA(s) 4 AULAS 5E6 HABILIDADE(s) 13 e 14 Em 1950, o austríaco Erwin Chargaff (1905-2002) analisou amostras de DNA de diferentes células pertencentes a diversas espécies e demonstrou que, em todas elas, as quantidades de adenina eram iguais às de timina, enquanto as de citosina eram iguais às de guanina. A partir dessas observações, ele desenvolveu a Relação de Chargaff: A = T e C = G ou A/T = 1 e C/G = 1 1. DNA 1.1. Composição química O ácido desoxirribonucleico (DNA) é um polímero definido como um polinucleotídeo, uma vez que é constituído por uma sucessão de unidades menores, os nucleotídeos. Os nucleotídeos são unidades orgânicas complexas formadas pela união de três moléculas: um fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada. Se o fosfato for retirado de um nucleotídeo, o resultado será um nucleosídeo. Observe a figura abaixo: 1.3. Estrutura do DNA Por meio de informações obtidas em estudos da difração dos raios-X e de análises químicas realizadas pela cientista Rosalind Franklin, os pesquisadores James Watson e Francis Crick propuseram em 1953 o modelo da estrutura do DNA: macromolécula constituída por duas cadeias polinucleotí­ dicas dispostas helicoidalmente. Desenho do trabalho de Watson e Crick representando a estrutura do DNA. Os quatros tipos de nucleotídeos. O fosfato e a desoxirribose são constantes em todos os nucleotídeos. A variação da base nitrogenada determina a existência de quatro tipos de nucleotídeos. Os nucleotídeos do DNA As bases nitrogenadas pertencem a duas categorias: púricas e pirimídicas. As púricas são a adenina (A) e a De acordo com o modelo proposto por Watson e Crick, na molécula de DNA, cada “corrimão da escada” é formado por grupos de fosfatos ligados a desoxirriboses. Cada degrau é formado por uma base púrica (A ou G) ligada a uma base pirimídica (C ou T). Em cada degrau, as bases são unidas por ligações de hidrogênio. A configuração molecular possibilita a ocorrência de duas ligações entre A e T e três entre C e G. O pareamento de A com T e de C com G explica as igualdades: A = T e C = G, evidenciadas pela análise química. Observe os detalhes a seguir: VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Nucleotídeos - Bases nitrogenadas 111 A dupla-héliceA dupla-hélice – Watson- Watson e Cricke Crick/1953 (1953) Transcrição D=Desoxirribose P= Fosfato P RNA P T D P P G D P G D G P A D A D D P P Cadeia de nucleotideos P C D D Proteína D C P C P P A D D P T Tradução P T DNA D Duplicação DNA Funções do DNA Funções do DNA P Duas cadeias pareadas, no plano Dupla-hélice Dupla-hélice Existem vírus que apresentam DNA formado por uma cadeia única de nucleotídeos. Nesses casos, não ocorre a Relação de Chargaff, pois as quantidades de A e T, bem como de C e G, são diferentes. 1.4. Localização do DNA Em laboratório, os cientistas usam uma reação bioquímica conhecida como reação de Feulgen, que é específica para localizar o DNA. Essa reação faz com que o DNA fique corado de púrpura e possa ser observado ao microscópio. Com essa coloração, podemos observar os cromossomos no núcleo e também uma pequena quantidade de DNA nos cloroplastos e mitocôndrias, que são organelas citoplas­máticas que possuem seu DNA próprio. 1.6. Replicação (duplicação) O processo de replicação é iniciado com a quebra das pontes de hidrogênio, o que permite que as duas fitas ou cadeias se separem e a molécula se abra como um zíper. A cada base nitrogenada das duas cadeias separadas liga-se um nucleotídeo complementar, em meio aos disponíveis na célula. As fitas ou cadeias parentais servem de molde aos novos filamentos, e o processo é ativado pela enzima DNA-polimerase. Replicação do DNA Por fim, há a produção de duas novas moléculas-filhas, cada uma das quais com uma cadeia nova recém-sintetizada e uma outra, que pertencia à molécula-mãe. Por esse motivo, a replicação é chamada de semiconservativa, dado que cada molécula-filha conserva na sua estrutura uma das metades da molécula-mãe. Observe: Adenina VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Timina 112 Citosina Guanina reação de feulgen 1.5. Funções (P) Fosfato (D) Desoxirribose O DNA é o material genético e possui duas propriedades fundamentais: replicação e transcrição. Por meio da replicação, a célula-mãe produz cópias exatas que passam para as células-filhas. A outra função e propriedade do DNA é a transcrição, a partir da qual se origina o RNA, molécula que atua na síntese das proteínas necessárias ao funcionamento celular. O fundamental do processo de replicação é garantir que as informações genéticas sejam passadas às gerações seguintes, permitindo, assim, que o genoma adaptativo persista. Três estágios da replicação do DNA Três estágios da replicação do DNA Filamento principal 3 Estágio 2: Síntese contínua Estágio 1: Desenrolamento 5 Novo DNA 3 5 Dúplex DNA não replicado Ativador do RNA Filamento Novo DNA lento 3 5 5 Direção da replicação do DNA DNA polimerase 1 3 Estágio 3: Síntese descontinua 1.6.1. A enzima DNA-polimerase Diversos aspectos da duplicação do DNA já foram desvendados pelos cientistas. Atualmente, sabe-se que diversas enzimas estão envolvidas nesse processo. Algumas desemparelham as duas cadeias de DNA, outras desenrolam a dupla-hélice, e existem aquelas que unem os nucleotídeos entre si. A enzima que promove a ligação dos nucleotídeos é conhecida como DNA-polimerase, pois sua função é gerar um polímero de nucleotídeos. 1.7. Transcrição Os genes, representados por segmentos de DNA, são os portadores da mensagem genética, que contém as instruções necessárias para a síntese das proteínas nos ribossomos. Na transcrição, o DNA cromossômico sintetiza o RNA mensageiro, para o qual transcreve a sequência de nucleotídeos representada pela mensagem genética. Ao deixar o núcleo, o RNA leva a mensagem genética para os ribossomos. 2. RNA 2.1. Estrutura Existem vários tipos de RNA, que estão sendo muito estudados por cientistas atualmente. Porém, dentro do contexto de síntese de proteínas que será explorado aqui, estudaremos três tipos principais: 1. possui ribose (pentose) em vez de desoxirribose; 3. sua molécula é formada por apenas uma fita ou cadeia simples, dessa forma, não existe pareamento nem igualdade nas quantidades de bases. Abaixo, um modelo de RNA: VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias 2. a base pirimídica uracila ou uracil, que não existe no DNA, substitui a timina; 113 A transcrição é o processo no qual todo RNA é sintetizado pelo DNA. Como ocorre na replicação, as pontes de hidrogênio se quebram e as duas cadeias de DNA se separam. Apenas uma delas serve de molde para a transcrição, na qual ocorrerá a adição de nucleotídeos complementares de RNA. O pareamento ocorrerá da seguinte forma: DNA multimídia: vídeo RNA A U C G G C T A Fonte: Youtube DNA - A Construção Social da Descoberta A enzima responsável pelo processo é a RNA-polimerase. Uma vez formada, a molécula de RNA destaca-se e o DNA retorna à sua forma original. A cadeia do DNA que forma o RNA é chamada de cadeia-molde ou hélice ativa. Observe um esquema do processo a seguir: Nucleotídeos do RNA RNA RNA-polimerase polimerase VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Direção da transcrição 114 RNArecém-formado recém formado “Template” da fita de DNA CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS O conceito de ligações químicas, como ligação fosfodiéster e ligações de ponte de hidrogênio, é aplicado no estudo do DNA e do RNA. Uma ligação fosfodiéster é um tipo de ligação covalente que é gerada entre dois grupos hidroxila de um grupo fosfato e duas hidroxilas de outras duas moléculas por meio de uma dupla ligação éster. Esse tipo de ligação química liga as pentoses de um nucleotídeo aos fosfatos de outro, auxiliando na formação da estrutura do DNA e RNA. A ponte de hidrogênio, por sua vez, é uma ligação química em que apenas dois elétrons são compartilhados por três átomos e liga as bases nitrogenadas do DNA. Assim, os conceitos químicos são fundamentais para a compreensão da estrutura dos ácidos nucleicos. VIVENCIANDO A descoberta da estrutura do DNA, ao elucidar o que é um gene, impulsionou os estudos na área e foi extremamente importante para a fundamentação da biologia molecular atual. Compreender a estrutura e os processos de duplicação e transcrição auxiliou na descoberta de doenças causadas por mutações no DNA, possibilitando um possível alvo terapêutico para o tratamento, ou até mesmo a cura, dessas doenças. Uma grande aplicação do conhecimento básico da biologia molecular é o Projeto Genoma Humano, que codificou o genoma (todas as moléculas de DNA de uma célula de um determinado indivíduo) humano inteiro, o que possibilitou a identificação de doenças hereditárias e também auxiliou nos estudos de parentesco evolutivo. 2.2. Tipos de RNA e suas funções RNA ribossômico (RNAr), RNA mensageiro (RNAm) e RNA transportador (RNAt). O RNAr, associado a proteínas, forma os ribossomos, organelas granulares responsáveis pela síntese de proteínas. O RNAm é a cópia da mensagem genética, ou seja, do gene. A mensagem é formada no processo de transcrição e enviada até os ribossomos para posterior leitura. O RNAt tem como função o transporte de aminoácidos do hialoplasma para os ribossomos, participando do processo de tradução, em que os aminoácidos são encadeados sequencialmente para formar uma proteína. RNA mensageiro (RNAm) FUNÇÃO RNA transportador (RNAt) RNA ribossomal (RNAr) − Cópia da mensagem do gene. − Transporte de aminoáci− Formado no processo de trans− Associa-se com proteínas dos do citoplasma para os crição e enviado até os ribossomos para formar os ribossomos. ribossomos. (no citoplasma) para a tradução. ESTRUTURA Anticódon RNAt no plano. Local onde o aminoácido se liga Pontes de hidrogênio Anticódon RNAt em três dimensões. 2.3. Localização do RNA nas células O RNAr é o que aparece em maior quantidade na célula, sendo produzido no nucléolo e usado para formar os ribossomos. O RNAm e o RNAt são produzidos no núcleo e migram para o citoplasma, aparecendo no hialoplasma e associados aos ribossomos, onde participam da síntese de proteínas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Local onde o aminoácido se liga 115 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos. O exercício envolve conhecimentos sobre a estrutura e a replicação do DNA. Reconhecer como esses processos estão envolvidos nos mecanismos de transmissão da vida e saber interpretar corretamente modelos biológicos que demonstram esses processos são habilidades G Gcobradas C C T Tconstantemente. C G GG C C T T C G C C GGAAG C C C GGAAG C MODELO 1 (Enem) A reação em cadeia da polimerase (PCR,C na C Tsigla C Gem A inglês) C T é uma técnica de biologia molecular que C C Essa T C G A C Tsurgiu na década de 1980 e permitiu avanços técnica permite replicação in vitro do DNA de forma rápida. GGAG C T GA científicos em todas as áreas de investigação genômica. é estabilizada por ligações hidrogênio, G G A G AC dupla-hélice T GA duas entre as bases adenina (A) e timina (T) e três entre as bases guanina (G) e citosina (C). Inicialmente, para A A T ser T Ctotalmente C T A desnaturada (desenrolada) pelo aumento que o DNA possa ser replicado, a dupla-hélice precisa AAT T C C TA da temperatura, quando são desfeitas as ligações T Thidrogênio A A G G entre A T as diferentes bases nitrogenadas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias T A A G G totalmente AT Qual dos segmentos de DNA será o primeiro Ta desnaturar durante o aumento da temperatura GG C C T T C G na reaçãoGdeG PCR? C C T T C G T TAC GG C G d) a) T TAC GG C G GC GC GC GC A TA T GC GC 116 C C GGAAG C AAT G C C G C AAT G C C G C C C GGAAG C C C T C GAC T e) b) C C T C GAC T C C TAGGAA GC GC A G C T G A T C GAC T C C TAGGAA GGAG C T GA GGAT C C T T GGAG C T GA GGAT C C T T c) AAT T C C TA AAT T C C TA TA TA T A TA T GC GC A TA T TAAGGAT T TAAGGAT T TAC GG C G TAC GG C G ANÁLISETEXPOSITIVA A A T GC GC GC GC GC T TA AAT G C C G C Essa questão envolve o conhecimento da estrutura do DNA, molécula essencial para a manutenção da vida. AT G C C G C Aqui, o ACDNA contextualizado por meio de uma técnica chamada Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), C Té A GGAA C T Afunção G G Aproduzir A que temC como novas moléculas idênticas de um determinado trecho de DNA. Para isso, é GC GC A T GC GC A TA A necessária a Tseparação daT dupla fita da molécula. Isso ocorrerá devido ao aumento da temperatura, procediGGAT C C T T mento utilizado no PCR. Para entender qual fita será separada mais facilmente, deve-se lembrar que adenina GGAT C C T T (A) se pareia através de duas ligações de hidrogênio com timina (T) e que citocina (C) se pareia através de três ligações de hidrogênio com guanina (G). Logo, a molécula que vai se separar mais facilmente é aquela que possui maior quantidade de (A) pareada com (T). RESPOSTA Alternativa C DIAGRAMA DE IDEIAS DNA ESTRUTURA PROPRIEDADES COMPOSIÇÃO QUÍMICA • • FORMATO HELICOIDAL UNIDAS POR LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO TRANSCRIÇÃO • • • RNA A PARTIR DE DNA PENTOSE (RIBOSE) FOSFATO BASE NITROGENADA A, U, G, C REPLICAÇÃO PAREAMENTO: A U C G PAREAMENTO DE BASES NITROGENADAS A T 2 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO C G 3 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO NUCLEOTÍDEO • RNA-POLIMERASE: ADICIONA OS NUCLEOTÍDEOS À FITA DE RNA • • • DUPLICAÇÃO DO DNA SEMICONSERVATIVA DNA-POLIMERASE (ADICIONA NUCLEOTÍDEOS À FITA RECÉM-SINTETIZADA) VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias DUPLA FITA 117 1.1. O dogma central da biologia molecular CÓDIGO GENÉTICO E SÍNTESE PROTEICA A relação DNA-RNA-proteínas, esquematizada na figura a seguir, é conhecida como o dogma central da biologia molecular, que estuda as atividades gênicas celulares por meio da ação dessas macromoléculas. Polirribossomos Aminoácido COMPETÊNCIA(s) 4 CITOPLASMA 7E8 NÚCLEO RNAm HABILIDADE(s) SÍNTESE PROTEICA 13 e 14 1. Os organismos vivos TRANSCRIÇÃO Todos os seres vivos da Terra apresentam duas propriedades típicas: autopreservação e autorreprodução. É chamada de autopreservação a capacidade que os organismos possuem de manter sua individualidade por meio de uma série de características próprias, mantidas num ambiente em constante modificação. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Autorreprodução é a habilidade de produzir descendentes da mesma espécie. Essas duas propriedades dependem, em nível celular, da existência de duas macromoléculas, presentes em todos os organismos: proteínas e ácidos nucleicos. As numerosas proteínas existentes em qualquer organismo podem ser agrupadas em: estruturais e reguladoras. 118 § Proteínas estruturais – associadas com outras substâncias, principalmente os lipídios, são responsáveis pela morfologia dos organismos, pois fazem parte das estruturas celulares e, consequentemente, dos tecidos, órgãos e sistemas. § Proteínas reguladoras – são as enzimas e os hormônios. As primeiras são especializadas na catálise de reações biológicas que determinam as atividades celulares, responsáveis por toda a fisiologia do organismo. Os hormônios são proteínas geradas em órgãos especializados, servindo para regular o funcionamento de um organismo. Assim, é possível afirmar que as características de um organismo dependem das proteínas. Os ácidos nucleicos constituem o material genético, responsável pela síntese das proteínas estruturais e reguladoras. enzima ativa RNA DNA TRANSCRIÇÃO TRADUÇÃO CN AULAS RNAm PROTEÍNA TRADUÇÃO § Replicação – é o processo de duplicação do DNA, na interfase, que determina a divisão celular responsável pelo crescimento, regeneração e reprodução dos organismos. § Transcrição – cada dupla fita de DNA das nossas células forma um cromossomo. Esse termo é especialmente usado quando o DNA está condensado, antes e durante e a divisão celular. Os cromossomos se localizam no interior do núcleo das células. Já a síntese de proteínas ocorre no citoplasma, em uma organela chamada ribossomo, sob o comando genético do DNA. Por meio da transcrição, o DNA forma o RNA mensageiro (RNAm), para o qual transcreve a mensagem genética – na verdade, uma receita para síntese de proteínas. § Tradução – saindo do núcleo, o RNAm atinge o ribossomo, que recebe a mensagem contida e codificada no DNA. Na tradução, o ribossomo, de acordo com a sequência de bases nitrogenadas contidas no RNAm, seleciona e encadeia os aminoácidos, sintetizando a proteína. 1.2. A colinearidade DNA e proteína O DNA e a proteína são moléculas formadas por uma sequência linear de monômeros, ou seja, são polímeros. No DNA e na proteína, os monômeros são, respectivamente, nucleotídeos e aminoácidos. O DNA é colinear com a proteína que ele codifica, ou seja, a sequência de nucleotídeos do DNA especifica a sequência de aminoácidos de uma proteína. Correspondência entre as unidades do DNA e do RNA e os aminoácidos da proteína a ser sintetizada DNA informação Transcrição Molécula de DNA informação Replicação Transcrição Genes (Síntese de RNA) RNA Hélice de DNA ativa informação Transcrição Tradução Tradução RNAm (Síntese proteica) Tradução Ribossomo proteína Proteína Códon Trp DNA: polímero de nucleotídeos Transcrição RNAm Transcrição Tradução Tradução Proteína Códon Proteína: polímero de aminoácidos Trp Códon Trp Phe Gly Ser Aminoácidos Phe Gly As proteínas são constituídas por vinte tipos de aminoácidos. Se cada nucleotídeo codificasse um único aminoácido, apenas quatro poderiam ser codificados. Dois nucleotídeos também seriam insuficientes, pois, reunidos dois a dois, só permitem dezesseis arranjos com repetição, ou seja: desse modo, apenas dezesseis aminoácidos seriam codificados. Se a mensagem genética fosse constituída por arranjos de três letras, com repetição, teríamos 64 possibilidades, mais do que suficiente para codificar vinte tipos de aminoácidos. Portanto: § Três nucleotídeos → um códon, codifica um aminoácido. Ser Aminoácidos 1.2.1. Gene O gene é um segmento de DNA que codifica a sequência de aminoácidos de uma proteína. § Vários códons → um gene, codifica vários aminoácidos em uma sequência específica para formar uma proteína. § Vários genes → uma molécula de DNA, que contém vários genes e, consequentemente, a informação genética para a síntese de várias proteínas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Genes élice de DNA ativa Proteína Gly Existe uma relação matemática na codificação dos aminoácidos, ou seja, qual a quantidade de nucleotídeos associada à identificação de um aminoácido? Molécula Genesde DNA RNAm Phe Ser 2. Código genético Em relação ao código genético, existem quatro símbolos, Aminoácidos representados pelos quatro tipos de nucleotídeos, abreviados pelas letras iniciais: A, C, G e T. Molécula de DNA Hélice de DNA ativa Modelo da ação gênica 119 2.1. Representação do código genético Nas tabelas de código genético, os códons são representados pela sequência do RNA mensageiro. Tabela de códons de RNAm 2.2. Códons de iniciação e terminalização A síntese de uma proteína tem início quando um ribossomo se organiza junto ao RNAm sobre o códon de iniciação AUG (start códon). Esse códon codifica o aminoácido metionina (Met), de forma que todas as proteínas começam com a metionina. A cadeia termina quando o ribossomo atinge um dos três códons de parada ou finalização (stop códon), representados por: UAA, UAG e UGA. Os códons de finalização não codificam nenhum aminoácido. Gene VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias DNA 120 Sequência promotora começa a sítese de RNA RNA polimerase Fita ativa do DNA Região de final de transcrição RNA em crescimento Final da transcrição. O RNA está completo e a polimerase é liberada nerado porque a maioria dos aminoácidos é codificada por dois ou mais códons. O código é universal, pois cada códon codifica sempre o mesmo aminoácido em qualquer organismo, inclusive os vírus. Ou seja, um aminoácido pode ser codificado por mais de um códon, porém um códon codifica apenas um aminoácido específico, de modo que o código genético não é, de forma alguma, ambíguo (não há possibilidade de dois aminoácidos distintos serem codificados pelo mesmo códon). Alguns pesquisadores afirmam que o fato de mais de um códon poder codificar o mesmo aminoácido, de certa forma, "protege" o organismo contra algumas mutações, já que algumas alterações nesse códon podem manter o mesmo aminoácido codificado (por exemplo, se houver uma mutação em um códon AUU para AUC, o aminoácido codificado ainda seria o mesmo, nesse caso, isoleucina). Algumas exceções ao conceito de universalidade foram descobertas no DNA mitocondrial, no qual, por exemplo, AUA codifica isoleucina no código do DNA nuclear universal e metionina no código do DNA mitocondrial humano. 2.4. Etapas da síntese proteica 2.3. Propriedades do código genético O código genético apresenta duas propriedades: degeneração e universalidade. Afirma-se que o código é dege- A síntese proteica é um processo complexo que compreende três etapas: transcrição, ativação de aminoácidos e tradução. A primeira ocorre nos cromossomos, a segunda, no hialoplasma, e a terceira, nos ribossomos. § Transcrição – a primeira etapa da síntese proteica e, portanto, da ação gênica, é a transcrição, que corresponde à formação do RNA mensageiro. O gene que codifica uma proteína sintetiza o RNAm. Destacando-se do DNA, o RNAm atravessa um poro do envoltório nuclear, os anulli, e atinge o citoplasma, em que se associa a um ribossomo, formando um molde para a síntese de uma proteína. § Ativação dos aminoácidos – nessa etapa, atuam os RNA transportadores (RNAt), pequenas moléculas constituídas por uma cadeia com cerca de 80 nucleotídeos que se dobra lembrando uma folha de trevo. Diferenciam-se no RNAt duas regiões de união: o anticódon e o extremo da molécula. O anticódon é uma sequência de três bases complementares a um códon do RNAm. A ativação do aminoácido implica a fixação desse ao RNAt. O processo é catalisado pela enzima aminoacil RNAt sintetase e envolve gasto de ATP. Ao sítio 1 se liga um RNAt que apresenta um anticódon complementar ao primeiro códon do RNAm. No sítio 2, acopla-se o segundo RNAt específico, que transporta o segundo aminoácido. Entre os dois primeiros aminoácidos, forma-se a ligação peptídica, produzindo um dipeptídeo, enquanto o primeiro RNAt é liberado. O ribossomo desloca-se e aparece então no segundo e terceiro códons do RNAm. O dipeptídeo aparece no sítio 1, ficando o sítio 2 livre para o acoplamento do terceiro RNAt. Com o deslocamento do ribossomo, o processo vai-se repetindo até a formação completa do polipeptídeo, ou seja, da proteína. Por fim, o RNAm e a proteína desprendem-se do ribossomo. 2.5. O polissomo A cadeia do RNAm é muito longa, permitindo que vários ribossomos realizem simultaneamente a tradução. O conjunto de ribossomos ligados a uma molécula de RNAm, executando o processo de tradução, é chamado de polissomo ou polirribossomo. Proteína completa Proteína em crescimento § Tradução – é a produção de uma proteína de acordo com a especificação do RNAm. Nesse processo, o ribossomo desloca-se ao longo do RNAm, encadeando aminoácidos e gerando a proteína. No ribossomo, existem dois sítios usados para a fixação de aminoácidos. Observe a ilustração a seguir: Ribossomo em movimento RNAm A síntese de proteínas transcrição Síntese de RNAm a partir de um molde de DNA que constitui o gene. Ocorre no núcleo. ativação de aminoácidos Ligação de aminoácidos com o RNAt. Ocorre no hialoplasma. A síntese de proteínas tradução Processo em que a sequência de nucleotídeos do RNAm determina a incorporação de aminoácidos em uma proteína. Ocorre nos ribossomos. DNA exemplo ATG CGC TAC GGC AAT RNAm UAC GCG RNAt AUG CGC AUG CCG UUA UAC GGC AAU aminoácidos TIR ALA MET PRO LEU 3. Mutação e síntese proteica 3.1. Mutação gênica A mutação gênica é uma alteração na estrutura do gene. Ela consiste numa mudança na sequência de bases do DNA ocorrida por um erro no processo de replicação. A mutação pode alternar a sequência de genes e consequentemente alterar as proteínas que são produzidas por esse organismo. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias A região de fixação do aminoácido está localizada no extremo da molécula. Nessa etapa da síntese proteica, cada aminoácido é transportado por um tipo específico de RNAt e levado para o ribossomo. 121 3.2. Tipos de mutação 3.3. Mutações somáticas e germinativas As mutações gênicas podem ser classificadas em: As mutações somáticas ocorrem nas células somáticas. Elas podem modificar uma característica do organismo, mas não são transmitidas para os descendentes. As mu­ tações germinativas, por sua vez, acontecem nas células formadoras dos gametas ou ainda nos próprios gametas, e podem ser transmitidas aos descendentes. São importantes para a variabilidade genética e a evolução dos organismos. § Substituição – consiste na substituição de uma base por outra, como pode ser observado na figura abaixo, em que, na cadeia inferior, adenina foi substituída por guanina. As substituições são classificadas em dois tipos: transição, que é a substituição de purina por purina (A por G ou G por A) ou pirimidina por pirimidina (C por T ou T por C); e transversão, que é a troca de purina por pirimidina ou vice-versa (A ou G por T e vice-versa). § Deleção ou deficiência – é a perda de bases, como se verifica na figura abaixo, em que, na cadeia inferior, adenina foi suprimida. 3.4. Agentes mutagênicos As mutações, quando determinadas por alterações químicas nas bases, são denominadas espontâneas e, quando decorrentes da ação de agentes físicos e químicos, são denominadas induzidas. Entre os agentes físicos, citamos os raios-X, alfa, beta e gama, capazes de alterar as bases e produzir quebras nas cadeias do DNA. Como agentes químicos, aparecem os análogos de bases, substâncias que têm estruturas moleculares semelhantes às bases do DNA e, se presentes, podem ser incorporadas durante a replicação. Assim, bromouracil é quase igual à timina e pode substituí-la na replicação do DNA. Contudo, diferentemente da timina, o bromouracil pareia com a guanina, produzindo uma mutação do tipo transição com substituição de A – T por G – C. § Inserção – é a colocação de um ou mais nucleotídeos numa cadeia de DNA; na figura abaixo, notamos a inserção de G – C. multimídia: livros VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Bio - Sônia Lopes 122 Alto rigor científico e nível formativo, trabalhando de forma didática as habilidades do aluno. Informações atualizadas e propostas que possibilitam ao aluno uma reflexão sobre a cidadania. multimídia: vídeo Fonte: Youtube From DNA to protein - 3D CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias Os conceitos de síntese proteica são necessários para a compreensão da evolução biológica e de como as características se desenvolvem nos organismos. As características específicas de cada indivíduo produzem uma gama de variantes na população. Dessa forma, os organismos mais aptos ao meio são selecionados positivamente, o que culmina no processo evolutivo. Para que as informações contidas no DNA sejam expressas, é necessário que o metabolismo citológico trabalhe, produzindo proteínas que resultam na expressão dos caracteres. Vê-se, nesse contexto, a interação entre a ecologia e a genética evolutiva. 123 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros. A síntese de proteínas é um processo vital na manutenção do equilíbrio interno dos organismos. Esse processo está associado a equilíbrio, defesa, sexualidade, transporte, dentre outras funções vitais presentes nos sistemas biológicos. Conhecer de que maneira esse processo ocorre é essencial, uma vez que é cobrado de diferentes formas nas provas do Enem. MODELO 1 (Enem) A figura seguinte representa um modelo de transmissão da informação genética nos sistemas biológicos. No fim do processo, que inclui a replicação, a transcrição e a tradução, há três formas proteicas diferentes denominadas a, b e c. Depreende-se do modelo que: a) a única molécula que participa da produção de proteínas é o DNA; b) o fluxo de informação genética, nos sistemas biológicos, é unidirecional; c) as fontes de informação ativas durante o processo de transcrição são as proteínas; d) é possível obter diferentes variantes proteicas a partir de um mesmo produto de transcrição; e) a molécula de DNA possui forma circular e as demais moléculas possuem forma de fita simples linearizadas. VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANÁLISE EXPOSITIVA 124 A partir do esquema, é possível depreender que a replicação do DNA ocorre de maneira periódica e independente de outros processos apresentados. De acordo com o esquema, pode-se formar tanto DNA a partir de RNA como o processo inverso, pois a representação desse processo é feita por meio de uma seta bidirecional. Portanto, a partir dessa representação, não é possível afirmar que o processo representado é unidirecional. Ainda é possível depreender do esquema que, a partir do mesmo RNA formado, podem ser formados tipos diferentes de proteínas. Isso é possível, pois, na mesma molécula de RNA, existem diversos pontos de início e parada da síntese proteica, e, dependendo da região que está sendo traduzida, diferentes proteínas podem ser formadas. RESPOSTA Alternativa D DIAGRAMA DE IDEIAS SÍNTESE DE PROTEÍNAS (TRADUÇÃO) CÓDONS DNA • • • TRANSCRIÇÃO (NÚCLEO CELULAR) RNAm SÍNTESE DE PROTEÍNA (CITOPLASMA) RIBOSSOMO (RNAr) TRINCA DE NUCLEOTÍDEOS CORRESPONDEM A UM AMINOÁCIDO CÓDIGO GENÉTICO UNIVERSAL DEGENERADO NÃO AMBÍGUO RNAt • • TRANSPORTE DE AMINOÁCIDOS TRINCA CORRESPONDENTE AO CÓDON PROTEÍNA VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias REPLICAÇÃO (NÚCLEO CELULAR) 125 VOLUME 1 CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias ANOTAÇÕES 126 ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________