Menu para a Mudança_ Um guia orientador para promover uma alimentação mais saudável e sustentável em espaços de refeição coletiva ficha técnica Menu para a Mudança - Um guia orientador para promover uma alimentação mais saudável e sustentável em espaços de refeição coletiva Projeto SUSTAINMEALS Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Iscte - Instituto Universitário de Lisboa João Graça Mónica Truninger Cristina Godinho Markus Vinnari Lúcia Campos David Guedes Lisa Roque CLOO Behavioral Insights Unit Vasco Brazão David Greer Júlio Silva Contacto joao.graca@ics.ulisboa.pt Design Cristina Lamego ISBN 978-989-33-3708-0 Licença Creative Commons CC by 4.0 Citação sugerida: Graça, J., Brazão, V., Guedes, D., Silva, J., Campos, L., Greer, D., Roque, L., Truninger, M., Godinho, C., & Vinnari, M. (2022). Menu para a mudança: Um guia orientador para promover uma alimentação mais saudável e sustentável em espaços de refeição coletiva. Instituto de Ciênciais Sociais (ICS-ULisboa). Este trabalho foi apoiado pelo Programa Lisboa 2020, Portugal 2020, e a União Europeia através do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER), e pelo orçamento de estado através da Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia (PTDC/PSI-GER/29348/2017). Índice 5 Introdução Para que serve este Toolkit? A quem se destina este Toolkit? Como utilizar este Toolkit? Organização do toolkit 11 11 Atividades de Intervenção Contexto físico e material 1.1. Quantidades e porções 1.2. Estratégias de preço 1.3. Packs promocionais 1.4. Etiquetagem e informação adicional (i.e., labeling) 1.5. Posicionamento de produtos 1.6. Disponibilidade 1.7. Lembretes e pistas 1.8. Aspeto visual e atratividade 1.9. Perfil nutricional e sensorial 1.10. Sugestão de alternativas por defeito 1.11. Testes de sabor 1.12. Criar condições para o comportamento 1.13. Infraestruturas e recursos materiais 21 Intervenções comportamentais 2.1. Automonitorização 2.2. Feedback sobre o comportamento 2.3. Incentivos 2.4. Recompensas 2.5. Gamificação 26 Contexto social 3.1. Reestruturação de normas sociais 3.2. Modelagem 3.3. Envolvimento 3.4. Participação ativa 3.5. Benchmarking 30 Educação e formação 4.1. Conhecimento 4.2. Competências 4.3. Mentoria e consultoria 4.4. Disponibilização de informação 35 Guia para a implementação de um Plano para a Mudança 41 Ferramenta de diagnóstico_menu para a mudança 46 Plano de ação _folhas de preenchimento 54 Plano de ação _exemplo 62 Recursos adicionais 64 Referências bibliográficas 4 Guia orientador E ste conjunto de ferramentas, do inglês “toolkit”, tem como principal objetivo orientar transições para um consumo alimentar mais saudável e sustentável em espaços de refeição coletiva. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2020) uma alimentação saudável é aquela que contribui para a manutenção ou melhoria da saúde geral dos indivíduos, ao proporcionar ao organismo a nutrição essencial em termos de macronutrientes, micronutrientes, fluídos e a percentagem adequada de calorias. Uma alimentação saudável contribui para a proteção contra qualquer forma de malnutrição (i.e., desnutrição ou obesidade) ou o desenvolvimento de doenças não transmissíveis, como a diabetes, doença cardíaca, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) ou cancro. Uma alimentação saudável é caracterizada por um equilíbrio entre o consumo de calorias e os gastos energéticos. Contém uma quantidade e variedade elevadas de vegetais, frutas e cereais integrais, e uma quantidade reduzida de alimentos processados, gorduras saturadas, sal, sendo de evitar o consumo de gorduras trans e de bebidas açucaradas. Uma alimentação saudável está também associada a formas de produção e consumo sustentáveis, para não comprometer os recursos do planeta e a sua utilização pelas gerações futuras. Atualmente, o sistema de produção alimentar tem um impacto ambiental muito elevado e insustentável, sendo responsável pela libertação de até 30% das emissões de gases de efeito estufa com origem na atividade humana e pela utilização de dois terços do uso de água, bem como a principal causa de desflorestação e perda de biodiversidade no planeta. Uma alimentação mais sustentável promove uma melhor utilização dos recursos naturais e menos impactos negativos para o ambiente (p. ex., poluição, escassez de água, aquecimento global). Uma dieta saudável e sustentável, caracterizada pelo reduzido impacto ambiental, inclui uma variedade de alimentos, privilegiando o consumo de alimentos de base vegetal (p. ex., frutas, vegetais, cereais integrais, fontes de proteína vegetal, como o grão, lentilhas ou feijão), oriundos, preferencialmente, de produção local (Willett et al., 2019). 5 Menu para a mudança Introdução Para que serve este Toolkit? 6 Guia orientador Figura 1. “Prato de saúde planetária” com as proporções ideais de cada tipo de alimento. As proporções apresentadas neste prato são as mesmas para uma dieta sustentável. Figura recortada do Relatório Sumário da Comissão EAT-Lancet. 7 Menu para a mudança Tabela 1. Dieta sustentável ideal: apresenta, para cada alimento, um intervalo possível de consumo de macronutrientes por dia ou o valor ideal de consumo de calorias assumindo uma dieta de 2500 kcal/dia. Tabela recortada do Relatório Sumário da Comissão EAT-Lancet. Importa, então, desenvolver e implementar processos dirigidos a uma transição eficiente em contextos de refeição coletiva, para um maior consumo de alimentos saudáveis e sustentáveis. Da mesma forma que o sucesso de uma receita necessita dos ingredientes certos, de elevada qualidade, na quantidade exata, respeitando as expectativas, experiências prévias e sensibilidades de quem a irá usufruir, assim deve ser desenvolvido qualquer processo dirigido à mudança de práticas e comportamentos alimentares. Este documento pode ser encarado como um “menu para a mudança”, cujo sucesso também depende da utilização de atividades ou estratégias de intervenção certas, como se de ingredientes se tratassem, respeitando as características dos seus destinatários, assim como as especificidades do contexto social onde a implementação poderá ter lugar. A quem se destina este Toolkit? Este Toolkit destina-se aos intervenientes de espaços de restauração coletiva que pretendam desenvolver e implementar um plano de transição para uma alimentação mais saudável e sustentável nos seus contextos de refeição – com foco em refeições equilibradas de maior base vegetal. Como utilizar este Toolkit? 8 Guia orientador Este Toolkit oferece um suporte consultivo a todos os intervenientes que procuram promover uma alimentação mais saudável e sustentável em espaços de restauração coletiva. Recomendamos começar pela ferramenta de diagnóstico (página 41), que permite orientar a consulta do Toolkit com base nas áreas de atuação mais promissoras para a mudança comportamental na sua instituição. Esta ferramenta realiza uma avaliação baseada em três dimensões facilitadoras da mudança: Capacidade, Oportunidade e Motivação. Este diagnóstico permite assim ao(s) leitor(es) a aquisição de uma visão integrada sobre a presença de cada uma destas dimensões no seu contexto, servindo apenas como um apoio inicial e não se sobrepondo ao conhecimento do leitor sobre o contexto de atuação local e respetiva equipa. Seguidamente, o Toolkit apresenta uma síntese de várias abordagens fundamentadas cientificamente como úteis para promover a mudança, estando estas categorizadas sobre uma ou mais dimensões de mudança comportamental abordadas no diagnóstico inicial (legenda 1). Neste sentido, visa capacitar o leitor (ou a equipa local) a mobilizar estas transições com base nos recursos, características e expectativas dos contextos específicos onde a mudança deverá decorrer. Capacidade Oportunidade Motivação Legenda 1. Símbolos de cada dimensão na categorização das estratégias presentes no Toolkit Organização do toolkit O Toolkit está organizado em sete secções. Esta primeira secção, “Introdução”, define sucintamente o significado de uma alimentação saudável e sustentável e sublinha a necessidade de desenvolver estratégias de mudança de comportamentos alimentares informadas e eficientes. A segunda secção, “Atividades de Intervenção”, descreve um conjunto de práticas, estratégias e atividades para promover uma transição para refeições mais saudáveis e sustentáveis em contextos de restauração coletiva. As atividades apresentadas estão divididas em quatro blocos de intervenção na promoção para a mudança: A terceira secção, “Guia para a implementação de um plano para a mudança”, foca-se em apresentar o guia “Quatro P’s” para a construção de uma intervenção e dois princípios básicos a ter em atenção antes, durante e após o desenvolvimento de um processo de implementação bem-sucedido. O plano de ação dos Quatro P’s inclui quatro fases no processo de elaboração de uma intervenção: 1) Problematize; 2) Pense; 3) Planeie; e 4) Pratique. Os princípios básicos incluem 1) A implementação como um processo contínuo e 2) Ambiente. Para guiar a identificação de necessidades dos diversos contextos de aplicação do toolkit e orientar a seleção de estratégias de intervenção, a quarta secção inclui 1) Ferramenta de Diagnóstico_Menu para a mudança e 2) Plano de ação. A quinta secção apresenta uma breve lista de recursos adicionais de acesso livre que exploram temas como a mudança de práticas de consumo que ajudem a promover sistemas alimentares mais saudáveis e sustentáveis. Por fim, a sexta secção apresenta as referências bibliográficas utilizadas para a construção do presente Toolkit. 9 Menu para a mudança 1) contexto físico/material; 2) intervenções comportamentais; 3) contexto social; e 4) educação, e contém vários exemplos das intervenções práticas e os seus resultados. 10 Guia orientador U ma das formas potencialmente eficazes de promover a mudança comportamental, nomeadamente a transição para práticas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, consiste na implementação de atividades de intervenção que introduzem mudanças subtis na apresentação de escolhas e no ambiente onde os indivíduos tomam decisões, mais ou menos racionais ou automáticas. Estas alterações podem incidir tanto na forma como a informação é apresentada, como nos contextos sociais e/ou físicos, com o objetivo de promover mudança nas escolhas e comportamentos alimentares. A secção que se segue descreve de forma sucinta um bloco de potenciais atividades de intervenção centradas na introdução de alterações no contexto físico e material de espaços de refeição coletiva. 1.1. Quantidades e porções Uma alimentação saudável e sustentável deve basear-se numa representatividade dos diferentes grupos alimentares em quantidades equilibradas. Por esse motivo, alguns organismos oficiais, como a Direção-Geral de Saúde, propõem orientações para determinar as porções mais adequadas para a saúde humana. No caso português, estas recomendações são representadas graficamente pela “Roda dos Alimentos”, que procura ajudar a escolher e a combinar os alimentos que deverão fazer parte da alimentação diária. Apesar do conhecimento e do fácil acesso a este tipo de informação, ainda se conhecem práticas alimentares desadequadas, tanto por excesso (p. ex., proteína animal, teores de sal e açúcar), como por defeito (p. ex., frutas, vegetais e leguminosas). Face a esse desequilíbrio, a mudança deve começar no prato. Em primeiro lugar, importa diagnosticar as necessidades de intervenção (p. ex., consumo insuficiente de vegetais e leguminosas) e, consequentemente, promover o consumo dos grupos alimentares deficitários, aumentando a sua representatividade no prato (p. ex., compor um prato com maior quantidade e/ou diversidade de produtos hortícolas). Em alguns contextos podem verificar-se níveis desadequados de consumo face às necessidades do organismo, que podem aconselhar a uma redução das quantidades servidas. Nestes casos, poderá adequar-se uma redução das porções do prato ou a criação de uma oferta alternativa (i.e., mini-prato) com preço ajustado. 11 Menu para a mudança Atividades de Intervenção _Contexto físico e material Uma equipa de investigação na Holanda testou se o aumento da porção de hortícolas e a diminuição da porção de carne no prato levaria a um aumento do consumo de hortícolas. Em 2015, estes investigadores realizaram uma intervenção em três restaurantes da mesma cadeia, sendo que as porções de hortícolas foram duplicadas (de 75g a 150g) e as de carne diminuídas em média 12,5%. Após um período de intervenção de 6 semanas, os restaurantes registaram um aumento de consumo de hortícolas em 87% e uma diminuição de consumo de carne em 13%. Os consumidores notaram a diferença nas porções de hortícolas e de carne, mas não a avaliaram como negativa e a sua satisfação com a refeição não foi afetada pela mudança (Reinders et al., 2017). 12 Guia orientador 1.2. Estratégias de preço O preço é um dos aspetos que influenciam as escolhas alimentares. Ainda que em alguns produtos este possa ser interpretado como um indicador de qualidade, no caso da alimentação diária e, em particular, nos contextos de refeição coletiva, muitos consumidores preferem as alternativas mais económicas. Assim, a redução do preço pode ser uma estratégia eficaz para promover a escolha de alternativas mais adequadas: tornar as refeições de base vegetal mais acessíveis pode facilitar a sua escolha face às alternativas menos sustentáveis. Paralelamente, o aumento do custo pode também ser uma estratégia útil para desincentivar a escolha de produtos menos saudáveis ou sustentáveis (p. ex., refrigerantes ou snacks com alto teor de açúcar) e combater possíveis efeitos negativos que as reduções de preço possam ter nas receitas do estabelecimento. A investigação na área refere também que estes aumentos ou descontos devem estar visualmente salientes, assumindo uma posição de destaque para o cliente. Investigadores da Universidade de Yale, nos EUA, testaram a eficácia da utilização de descontos entre 20% a 30% no preço e de mensagens sobre a saúde, em conjunto e separadamente, na compra de alimentos saudáveis de baixa gordura num restaurante da universidade. A equipa de intervenção escolheu especificamente refeições saudáveis que tivessem uma opção bastante semelhante disponível mas com um maior teor calórico e de gordura. Os investigadores relataram que houve um aumento significativo na compra das opções saudáveis quando ambos os descontos e as mensagens foram utilizados, mas foi curiosamente a utilização única de descontos financeiros que levou a uma maior compra destes alimentos. Durante as três semanas em que os preços foram anunciados com desconto, a média de venda de sanduíches de frango de baixa gordura aumentou em aproximadamente sete vezes, e as vendas da salada de frango de baixa gordura e de sopas mais do que duplicou, revelando assim o poder desta simples intervenção (Horgen & Brownell, 2002). 1.3. Pacotes promocionais Uma dieta saudável e sustentável deve ser equilibrada e variada. Por esse motivo, é frequente que os objetivos de intervenção passem por promover mais que uma categoria de alimentos e em conjugações adequadas. Um exemplo possível é o Na Austrália, em 2009, uma equipa de intervenção motivada em melhorar a alimentação saudável de jovens atletas trabalhou em parceria com clubes amadores de futebol e rugby para promover opções alimentares saudáveis nos seus espaços de refeição. Para além de aumentar o leque de oferta de fruta, vegetais, e bebidas sem açúcares adicionados, a equipa promoveu o seu consumo através da criação de pacotes promocionais em que refeições de base vegetal (saladas e sandes), fruta e água eram vendidas em conjunto a um preço reduzido, colocadas em posições visíveis e publicitadas nos espaços para atrair a atenção dos atletas. Comparando com os clubes controlo, os atletas dos clubes que receberam a intervenção aumentaram o seu consumo de fruta e vegetais em 11.4%, e aumentaram o seu consumo de bebidas sem açúcares adicionados em 13.6% (Wolfenden et al., 2015). 1.4. Etiquetagem e informação adicional (i.e., labeling) As estratégias de “etiquetagem/rotulagem”, do inglês “labeling”, estão entre as estratégias mais utilizadas para modificar o processo de escolha no plano alimentar. De um modo geral, esta etiquetagem consiste em acrescentar informação a um suporte escrito, normalmente, nas ementas. É possível acrescentar informação quanto ao conteúdo calórico, ao teor de sal ou de gordura, ou ainda, sobre a pegada de carbono ou a origem dos produtos. Considerando que a utilidade desta informação pode ser limitada pelo grau de conhecimento dos consumidores, como quanto a valores nutricionais adequados ou uma pegada ecológica razoável, é possível fornecer informação que apoie o consumidor na sua decisão. Esta informação pode ser apresentada sob valores de referência ou, no caso dos nutrientes, doses recomendadas, diárias ou para a refeição. Por exemplo, no caso da informação calórica, a interpretação do consumidor pode ser facilitada oferecendo uma estimativa do tempo de uma dada atividade física (p. ex., caminhada) necessário para queimar a quantidade de calorias contidas no produto. Se o objetivo é elucidar o consumidor sobre a pegada de carbono dos alimentos, é possível utilizar uma referência familiar como o tempo de consumo de uma lâmpada em minutos. Para simplificar a navegação pela informação e mais facilmente direcionar as escolhas, é ainda possível complementar a informação indicada com pistas visuais, tais como ícones ou símbolos que identifiquem onde estão as opções a incentivar. Um dos exemplos mais frequente é o esquema do semáforo, em que a classificação dos produtos é acompanhada por um esquema de três cores – verde, laranja e vermelho – que identificam as alternativas mais e menos benéficas de acordo com as recomendações de nutricionistas e organizações governamentais. A utilização de ícones visuais (p. ex., folha verde para sinalizar os 13 Menu para a mudança incentivo do consumo de legumes e fruta à refeição. Nesse caso, poderá ser constituído um menu promocional, em que uma sopa e uma peça de fruta são disponibilizados em conjunto a um preço reduzido. Para tornar mais conveniente a escolha de pacotes promocionais, é frequente que os produtos sejam apresentados em conjunto, por exemplo, disponibilizando conjuntamente um snack saudável e uma garrafa de água ou um sumo saudável. Esta estratégia tem duas vantagens para o consumidor. Por um lado, simplifica o processo de tomada de decisão, ao sugerir combinações pré-definidas de alimentos. Por outro lado, disponibiliza uma escolha equilibrada com um preço competitivo face a opções menos benéficas. pratos de base vegetal) ou rótulos verbais (p. ex., “escolha mais amiga do ambiente”) pode ser igualmente útil a direcionar a atenção para as escolhas a incentivar. Em 2009, um grupo de investigadores dos EUA aplicou o esquema do semáforo - atribuindo a cor vermelha, laranja, ou verde à etiqueta do alimento, consoante o quão saudável era numa cantina hospitalar com o objetivo de aumentar a venda de alimentos e bebidas saudáveis. Após três meses, a cantina hospitalar verificou um decréscimo de consumo de produtos marcados a vermelho (menos 9.2% nos alimentos e menos 16.5% nas bebidas) assim como um aumento de consumo de produtos classificados como verdes (4.5% nos alimentos e 9.6% nas bebidas; Thorndike et al., 2012). 14 Guia orientador 1.5. Posicionamento de produtos Uma forma simples e eficaz de facilitar a escolha de determinados produtos é através da melhoria da sua visibilidade e acessibilidade. Para compreender o funcionamento desta estratégia, é importante referir que as escolhas alimentares são frequentemente feitas no contexto de pouco tempo e muita informação, levando a que recorramos a processos de pensamento mais rápidos e automáticos. Deste modo, é possível estruturar o ambiente físico de modo a que as melhores escolhas sejam também as mais fáceis. Os produtos a incentivar devem, assim, assumir uma posição de proeminência face aos restantes, assumindo posições mais visíveis e acessíveis, tanto no espaço como no menu. Produtos unitários, como peças de fruta, podem ser colocados em lugar de destaque, situando-os ao nível do olhar ou em mais que um ponto do espaço de venda, e em posição de fácil acesso, num esquema de “grab-and-go”, junto ao ponto de recolha da refeição, de pagamento, ou ao longo do espaço de fila de espera. Também os pratos a promover podem ser colocados em pontos de maior visibilidade, nomeadamente em frente ou no início do percurso. No caso dos buffet self-service, é possível alterar a disposição das opções com o objetivo de tornar alguns alimentos mais acessíveis do que outros. Alimentos que estejam mais afastados serão tendencialmente menos consumidos do que aqueles que se encontram mais próximos. No caso dos menus, os consumidores tendem a prestar mais atenção a opções nos extremos comparativamente ao meio da lista, pelo que uma simples alteração da ordem pode aumentar as escolhas de um determinado item. Os produtos a desincentivar, por outro lado, podem ser colocados em lugares de menor visibilidade/acessibilidade ou, em alguns casos, fora da oferta visível, disponibilizando-os apenas a pedido. A estratégia de reposicionamento de produtos é potencialmente vantajosa, não apenas pelos baixos custos de implementação, mas também pelo facto de promover uma abordagem liberal, que não restringe a escolha dos consumidores pela via da proibição, direcionando-a antes para alternativas mais adequadas. Uma equipa de investigação nos EUA testou os efeitos de pequenas manipulações na acessibilidade dos alimentos numa cantina buffet. Verificaram que modificar a disposição dos alimentos dos extremos (mais acessíveis) para o interior (menos acessíveis) da estrutura levou a uma redução de cerca de 13% no consumo destes alimentos. Também a troca de utensílios de servir, de colheres para pinças, originou uma redução de 16,5% no consumo. Estas duas estratégias revelaram-se assim eficazes para diminuir o consumo de produtos menos saudáveis e aumentar o consumo de produtos saudáveis (Rozin et al., 2011). A reestruturação do contexto alimentar pela via da oferta pode ser uma forma direta e eficaz de modificar as práticas. A este respeito, importa identificar as diferentes fontes de disponibilização dos produtos consumidos, que podem incluir desde os espaços de cafetaria a máquinas de venda, negócios na proximidade, ou mesmo comida trazida de casa. O aumento da disponibilidade pode ser feito simplesmente pela substituição de produtos anteriormente disponíveis por alternativas mais adequadas (p. ex., aumentar a disponibilidade de produtos de origem vegetal face a produtos de origem animal) ou pela introdução de novas estruturas que apoiem um aumento da oferta (p. ex., buffets de salada para aumentar o consumo de vegetais). Em alguns casos, os alimentos a incentivar podem ser oferecidos de forma promocional (p. ex.., oferta de fruta da época em alturas específicas do ano) ou num formato de maior conveniência (p. ex., fruta cortada). A diversidade da oferta deverá ser um fator a ter em consideração, quer em termos dos produtos (p. ex., aumentar a variedade de frutas disponíveis), quer em termos das formas de preparação (p. ex., disponibilizar um mesmo vegetal em diferentes confeções). As medidas que afetam a disponibilidade podem ser utilizadas igualmente com objetivos de restrição, diminuindo ou eliminando a disponibilidade de produtos a desincentivar nos pontos de venda ou, no caso dos alimentos trazidos de casa, sensibilizando para a sua redução. Em 2011, uma equipa de investigação na Holanda testou o efeito de um simples aumento da oferta de opções saudáveis na escolha destes mesmos produtos na cantina. Os investigadores reportaram que aumentar a proporção de opções saudáveis de 25% para 75% mais que triplicou a escolha destes produtos saudáveis (van Kleef et al., 2012). De igual modo, um estudo de 2017, na Inglaterra, notou que um aumento da oferta de refeições vegetarianas (de um em quatro para dois em quatro) nas cantinas de uma universidade aumentou a sua compra entre 41% e 79%, sem que houvesse alterações nas receitas gerais de venda (Garnett et al., 2019). 1.7. Lembretes e pistas Num contexto de mudança de práticas alimentares em grande escala, para além de garantir que é disponibilizada uma oferta variada e equilibrada, é importante assegurar que os produtos a promover recebem a atenção do consumidor e que são enquadrados de forma apelativa e interessante. Os lembretes e pistas consistem em modificações do espaço físico que têm por objetivo direcionar a atenção para os alimentos a incentivar. Estas modificações podem tomar inúmeras formas, em função das características do espaço onde a mudança irá acontecer. Alguns exemplos incluem acrescentar posters ou brochuras promocionais, personalizar os individuais ou protetores de tabuleiro, redesenhar as ementas ou modificar a deco- 15 Menu para a mudança 1.6. Disponibilidade 16 Guia orientador ração do espaço. Ainda que os espaços de refeição sejam contextos preferenciais de intervenção, por serem os locais onde com maior frequência são feitas as escolhas, os lembretes e pistas podem utilizar outros veículos, como websites, vídeos, e-mails e newsletters. Ao desenhar uma intervenção desta natureza, poderá ter em consideração as suas diferentes funções possíveis: i) Chamar a atenção. Consiste essencialmente em sinalizar a disponibilidade ou localização do(s) produto(s) a incentivar. Exemplos: destacar as refeições vegetarianas com autocolantes (p. ex., símbolos) ou colocar decalques no chão a indicar o caminho para um buffet de saladas. ii) Enquadrar o produto. Para além de chamar a atenção para a oferta a promover, interessa enquadrá-la de forma interessante e apelativa. Exemplos: Utilizar mascotes ou personagens animadas para associar aos materiais promocionais, utilizar emojis para sinalizar as opções mais saudáveis e sustentáveis, ou dar nomes apelativos aos pratos a promover. iii) Disponibilizar informação. Outra função possível desta intervenção é a de transmitir informação útil para a mudança que se pretende promover. Exemplos: informação sobre os benefícios do consumo de frutas, vegetais e leguminosas ou sugestões quanto às porções recomendadas. Numa experiência conduzida em França, estudou-se como o efeito de “prato do dia” poderia alterar as escolhas dos consumidores para pratos mais sustentáveis num restaurante. Os investigadores identificaram que apresentar a opção sustentável em destaque no menu como o “prato do dia” aumentou a sua escolha até 25%, comparado a um menu com as mesmas opções mas sem uma opção destacada como “prato do dia” (Saulais et al., 2019). 1.8. Aspeto visual e atratividade Se a sabedoria popular parece sugerir que “os olhos também comem”, a investigação tem vindo a confirmá-lo. O aspeto visual parece ser determinante na criação de expectativas quanto aos alimentos e é particularmente relevante para as crianças e jovens. A melhoria da atratividade e aspeto visual pode incidir sobre diferentes componentes: i) Pré-apresentação dos produtos. Consiste na apresentação atraente dos produtos num suporte visual. Exemplo: incluir fotografias apelativas dos pratos vegetarianos numa ementa. ii) Atratividade visual do produto. Considerando que alguns alimentos podem não ser intrinsecamente apelativos, é possível fazer modificações no sentido de melhorar o seu aspecto visual. Exemplos: acrescentar ervas aromáticas ou diversificar a guarnição de um prato para o tornar mais colorido e atraente. iii) Enquadramento do produto. Para além do aspecto intrínseco dos alimentos, o suporte em que estes são servidos pode fazer a diferença. Exemplos: modificar a forma ou cor dos pratos onde são servidas as refeições ou disponibilizar fruta fresca em stands ou taças atraentes. iv) Descrição dos produtos. A forma como os produtos são descritos pode influenciar as expetativas sobre as suas características (p.ex., sabor, qualidade). De acordo com a investigação, nomes atraentes, divertidos ou que apelem ao sabor são mais eficazes do que descrições básicas ou que enfatizem a natureza saudável de um prato. Exemplos: Quiche mediterrânica de espinafres, caril cremoso de vegetais. Um grupo de investigadores nos EUA criou e testou a eficácia de rótulos focados em salientar o sabor (p. ex., feijão verde suculento) e os benefícios para a saúde (p. ex., feijão verde nutritivo) de vários vegetais. Os investigadores reportaram que os rótulos focados no sabor aumentaram a seleção de vegetais por 14% comparado com os rótulos originais, e por 29% comparado com rótulos salientando aspetos relacionados com a saúde, mostrando como uma mudança simples e de baixo custo na descrição de um alimento pode aumentar o seu consumo (Turnwald et al., 2019). De forma semelhante, em 2020, investigadores do Reino Unido testaram a introdução de palavras hedónicas (p. ex., saboroso), sensoriais (p. ex., picante) e contextuais (p. ex., almoço de domingo) no nome e descrições de refeições de base vegetal. Os resultados mostraram que a utilização de palavras hedónicas, sensoriais e contextuais aumentou a atratividade das refeições (Papies et al., 2020). Na confeção de qualquer refeição, quer em casa, quer num contexto de refeição coletiva, há dois aspetos que é essencial considerar: o equilíbrio nutricional e o apelo sensorial. O equilíbrio nutricional das refeições é um atributo imprescindível para uma alimentação saudável. Alguns organismos oficiais, nacionais e internacionais (p. ex., OMS, DGS), procuram oferecer orientações com um elevado grau de consenso quanto ao que constitui uma alimentação equilibrada. Em alguns casos, como é exemplo a alimentação escolar, podem ser oferecidas fichas com o objetivo de orientar o staff de cozinha no planeamento e preparação de refeições nutricionalmente equilibradas. O perfil sensorial, por outro lado, diz respeito à forma como os alimentos são percebidos pelos diferentes sentidos, nomeadamente, no que diz respeito ao sabor, aroma ou textura. Para que seja possível beneficiar de todo o valor nutricional dos alimentos e retirar prazer das refeições, é necessário alinhar o equilíbrio nutricional com o apelo sensorial. A reformulação de receitas com o objetivo de promover uma alimentação mais saudável e sustentável pode passar tanto pela modificação de ingredientes (p. ex., substituição de cereais refinados por cereais integrais, diminuição ou substituição das proporções de proteína de origem animal), como por alterações nas técnicas de preparação (p. ex., substituição da fritura por outros métodos de preparação). Em alguns casos (p. ex., redução dos teores de sal e açúcar), a modificação do perfil nutricional tem consequências diretas para o perfil sensorial, sendo necessário encontrar formas de harmonização das receitas (p. ex., utilização de ervas aromáticas). Nestes casos, as estratégias de intervenção podem passar pela reformulação de receitas convencionais/tradicionais com apoio de chefs e nutricionistas, e pela procura de inspiração e exemplos na gastronomia internacional (p. ex., adaptação de receitas oriundas de contextos culturais com maior tradição em refeições de base vegetal). No Canadá, em 2011, uma equipa de intervenção procurou melhorar o consumo dos utentes numa cantina hospitalar. A equipa procurou tornar saliente a informação nutricional de cada refeição, salientando o seu conteúdo calórico, de sódio, e de gorduras nos menus, comple- 17 Menu para a mudança 1.9. Perfil nutricional e sensorial mentando com um logotipo específico para as refeições mais saudáveis. Comparado a uma cantina que não recebeu a intervenção, os utentes da cantina que recebeu a intervenção reportaram utilizar a informação nutricional na escolha da refeição, e a equipa verificou que estes consumiram menos 21% de calorias, menos 23% de sódio, e menos 37% de gorduras (Vanderlee & Hammond, 2014). 1.10. Sugestão de alternativas por defeito 18 Guia orientador Uma das formas de aumentar a probabilidade de escolha de uma determinada opção é através da sugestão de alternativas por defeito. Nestes casos, a escolha é orientada para uma opção pré-definida, a menos que seja tomada uma ação em contrário. Alguns exemplos incluem pré-definir a água como bebida de acompanhamento da refeição, colocar um prato de sopa no tabuleiro de refeição por defeito ou estipular o pão integral como a base principal de uma sanduíche. Ainda que, nestes casos, seja possível escolher qualquer outra bebida, optar por não levar sopa ou selecionar outro tipo de pão, estas opções tornam-se menos prováveis face à opção pré-definida. Na Holanda, foi levada a cabo uma experiência com o intuito de testar o poder das opções por defeito na escolha do tipo de pão em sanduíches. Após o preenchimento de um curto questionário, os participantes podiam, como recompensa, escolher uma sanduíche gratuita, cujo tipo de pão base oferecido variava entre integral (mais saudável) e branco, podendo os participantes pedir o outro tipo de pão. Os investigadores reportaram resultados reveladores do poder das opções por defeito: 94% dos participantes comeram pão integral quando era apresentado como opção base, comparativamente a apenas 20% quando a opção base era pão branco (van Kleef et al., 2018). 1.11. Testes de sabor A investigação sugere que a exposição repetida a determinados alimentos pode ter um efeito positivo nas preferências. Enquanto que algumas características sensoriais (p. ex., gosto doce) parecem resultar de preferências de natureza inata, outros atributos sensoriais podem exigir maior persistência até passarem a ser apreciados. Algumas pessoas com maior sensibilidade para os compostos amargos podem ter uma reação tendencialmente aversiva a alimentos com maior predominância deste gosto (p. ex., couves-de-bruxelas). A boa notícia é que o gosto pode ser “treinado”. Os testes de sabor podem ser uma forma útil e eficaz de dar a conhecer novos sabores e texturas ou aumentar a familiaridade com alimentos já conhecidos. Promover provas cegas ou dar a experimentar amostras de refeições de base vegetal em diferentes preparações, podem ser estratégias para estimular a experimentação e desafiar barreiras à apreciação. Um estudo realizado numa escola de ensino básico do estado norte-americano do Louisiana, em 2009, testou a aplicação de provas de sabor de frutas e vegetais. A hipótese seria a de que esta aplicação faria com que os alunos desenvolvessem um maior gosto pelos mesmos. Ao longo de quatro semanas, os alunos provaram duas vezes por semana frutas (p. ex., pêras e pêssegos) e vegetais (p. ex., cenouras e ervilhas) em semanas alternadas e relataram aos investigadores em que medida o sabor lhes era agradável. A equipa de investigadores concluiu que a exposição repetida a estas frutas e vegetais (em média, entre duas a cinco vezes) melhorou a avaliação sensorial, e este efeito manteve-se até 10 meses após as provas de sabor (Lakkakula et al., 2011). Ao promover a mudança de comportamentos alimentares é importante garantir que existe um tempo e um espaço que sejam facilitadores do comportamento a incentivar. Como exemplo no contexto escolar, podemos considerar a promoção da toma de um lanche da manhã. Tal pode passar por criar uma “pausa para fruta”, alocar mais tempo de intervalo, estabelecer uma regra de tomar o lanche antes de sair para o exterior, criar uma segunda oportunidade de pequeno almoço, ou criar uma banca de venda/distribuição de fruta na entrada da escola para maior conveniência. Da mesma forma, podem ser designados espaços para a toma do lanche, na cafetaria, numa sala ou noutro local apropriado para o efeito. Para identificar a necessidade de implementar este tipo de ações importa avaliar previamente em que medida o planeamento dos horários e as regras de utilização dos espaços podem funcionar como barreiras ou facilitadores da mudança que se pretende implementar. Exemplos: i) Planear o horário de almoço mais cedo no dia e antes do recreio pode ser uma barreira ao consumo da refeição completa (tempo); ii) Proibir o consumo de alimentos nos espaços comuns pode ser um obstáculo à toma do lanche (espaço). Em 2018, foi realizada uma intervenção numa escola norte-americana com o objetivo de testar algumas estratégias para aumentar a adesão ao pequeno-almoço. Os investigadores verificaram que adicionar 10 minutos de presença obrigatória na cantina aumentou a adesão ao pequeno-almoço em 20%. Servir o pequeno-almoço na sala de aula fez a percentagem aumentar entre 35 a 45% (Larson et al., 2018). 1.13. Infraestruturas e recursos materiais As infraestruturas e recursos materiais são aspetos importantes na promoção da mudança de práticas alimentares. Intervir ao nível das infraestruturas poderá passar por criar ou modificar espaços físicos de forma a proporcionar condições mais favoráveis à mudança. Por exemplo, no contexto escolar, pode procurar-se criar e dinamizar hortas comunitárias para promover a literacia alimentar, a compreensão dos ciclos da natureza, a conexão com as sensações, emoções e sentimentos ligados à produção alimentar (p. ex., sentir a terra nas mãos, ver as plantas a crescer, ter prazer e ser divertido manter uma horta em conjunto com os colegas) e a familiaridade e apreciação de frutas e vegetais. 19 Menu para a mudança 1.12. Criar condições para o comportamento 20 Guia orientador No plano dos recursos materiais, podem contar-se tanto os elementos técnicos como os pedagógicos. Os recursos técnicos referem-se a materiais de apoio a atividades que facilitam a provisão alimentar. No caso de uma intervenção destinada a aumentar o consumo de frutas e vegetais, por exemplo, utensílios de cozinha como um espiralizador ou um cortador de maçãs podem permitir abrir novas possibilidades de transformação dos alimentos para uma oferta mais diversificada, prática e atrativa. Os recursos pedagógicos, por seu turno, incluem todos os materiais de apoio a atividades de promoção de conhecimento ou competências. Por exemplo, fichas de trabalho, manuais, materiais audiovisuais e outros. Entre 1998 e 2000, num agrupamento de escolas de Los Angeles (EUA), foi realizada uma experiência para testar o efeito que a introdução de um bar de saladas teria no consumo de vegetais e frutas por parte dos alunos de 3 escolas (7-11 anos de idade). A primeira parte da experiência consistiu em recolher informações relativas ao consumo, nas últimas 24h, de frutas e vegetais pelos alunos. Dois anos depois, o bar de saladas foi introduzido, servindo este como uma opção de almoço no menu da cantina. Foram também incluídos ensinamentos aos alunos sobre como se servirem e como escolherem um almoço equilibrado; expuseram-se no espaço de refeição trabalhos artísticos feitos pelos alunos e realizaram-se visitas de estudo a quintas de agricultores. Após esta fase de intervenção, foram recolhidos novamente os valores de consumo de fruta e vegetais nas últimas 24h. Os resultados indicaram que houve um acréscimo na média de frutas e vegetais consumidos, de 3 para 4 unidades. Para mais, os valores de colesterol e gorduras diminuiram, revelando assim o potencial benéfico que este tipo de intervenção pode vir a ter (Slusser et al., 2007). _Intervenções comportamentais A secção que se segue descreve um conjunto de atividades de intervenção centradas na regulação do consumo alimentar de quem frequenta espaços de restauração coletiva. A automonitorização consiste no ato de observar e avaliar o próprio comportamento. Por “observar” entende-se a capacidade de definir o comportamento de interesse (p. ex., fazer mais refeições de base vegetal), de forma objetiva e mensurável. Por “avaliar” entende-se a comparação entre o comportamento observado e um determinado objetivo que foi estabelecido (p. ex., fazer 2/3 refeições de base vegetal numa semana). Porque é que é importante definir o comportamento de forma objetiva? Um objetivo definido de forma vaga é difícil de medir. Por exemplo, se definir como objetivo “ter uma alimentação mais sustentável” e pedir a várias pessoas diferentes para o avaliarem, poderá ter resultados muito diferentes. Algumas pessoas poderão focar-se na sazonalidade dos alimentos, outras na origem, outras ainda nos métodos de produção e/ou de transporte ou nas formas de embalamento. Se definir como objetivo “fazer mais refeições de base vegetal”, considerando a menor pegada ecológica global das fontes de proteínas de origem vegetal, então, tem um objetivo mensurável. O passo seguinte é o de definir a escala com que o vai medir, por exemplo, o número de refeições de base vegetal consumidas numa semana. Depois de definido o comportamento-alvo, é possível, então, estabelecer o ponto de partida (i.e., baseline). O ponto de partida corresponde ao estado atual do comportamento, isto é, ao número de refeições de base vegetal consumidas numa semana normal. Conhecer o estado atual é essencial para poder definir um objetivo de mudança realista. Uma mudança de comportamento bem-sucedida deve ser gradual e ajustada à capacidade do grupo/pessoa a cada momento. Assim, depois de conhecida o ponto de partida, pode definir-se um objetivo para a mudança. Pode definir-se, por exemplo, que face ao total de refeições principais (almoço e jantar) no espaço de uma semana (catorze), pretende-se que cerca de dois terços sejam de base vegetal (nove). Dependendo do seu estado atual, poderá fixar-se neste objetivo final ou definir vários objetivos intermédios. Algumas formas de promover a automonitorização do comportamento incluem a disponibilização de gráficos ou tabelas de auto registo, o incentivo ao uso de diários alimentares, a utilização de apps móveis de registo de comportamento ou a utilização de cartões de fidelização (p. ex., para carimbar o número de refeições de base vegetal feitas numa semana). Nos Estados Unidos da América, em 1998, uma equipa de intervenção numa escola de ensino básico mostrou-se motivada a aumentar o consumo de produtos de origem vegetal nas crianças. Metade das turmas foram utilizadas como base de comparação e a outra 21 Menu para a mudança 2.1. Automonitorização metade recebeu uma intervenção, em que, ao longo de 9 meses, foram apresentadas em aula a novos alimentos de origem vegetal. Para além de aprenderem sobre a história e confeção dos alimentos, os alunos mantiveram um diário alimentar relativo aos mesmos. Após a semana da apresentação, o alimento era utilizado pela cantina escolar na confeção do almoço, sendo os pratos pesados antes e depois do consumo. Comparativamente às turmas que não receberam intervenção, os alunos mantiveram diários alimentares consumiram-nos entre três a 20 vezes mais (Demas, 1998). 22 Guia orientador 2.2. Feedback sobre o comportamento O feedback sobre o comportamento baseia-se num princípio semelhante ao da automonitorização: a observação e avaliação do comportamento são aspectos essenciais para a mudança. Ao contrário da automonitorização, contudo, a observação e avaliação não são promovidas pelo próprio indivíduo, mas antes pela escola, organização ou serviço de provisão de refeições. A observação consiste, assim, na recolha de informação sobre o comportamento dos alvos da intervenção e na devolução desses dados de forma a apoiá-los na mudança. Na fase de avaliação, é dado feedback quanto à progressão rumo aos objetivos, que podem ser definidos individualmente (i.e., diferentes objetivos para cada pessoa) ou coletivamente (i.e., um objetivo médio a alcançar pelo conjunto dos participantes). Numa intervenção em que o objetivo seja o de aumentar o consumo de fruta, um exemplo de feedback individualizado seria a observação rotineira das lancheiras e atribuição de recompensas (p. ex. autocolantes) sempre que as crianças trouxessem uma peça de fruta. Um exemplo de feedback coletivo seria o registo e disponibilização do número de peças de fruta consumidas diariamente por cada turma de uma escola. Uma equipa de intervenção nos Estados Unidos da América procurou melhorar os hábitos de consumo dos utentes das cantinas no seu hospital de trabalho. A equipa começou por categorizar as opções alimentares da cantina de acordo com o esquema do semáforo (verde para produtos saudáveis, amarelo para intermédios, e vermelho para pouco saudáveis) e distribuiu os utentes da cantina em três grupos: um grupo recebeu uma carta mensal a oferecer feedback sobre as suas compras na cantina (percentagem de escolhas alimentares verdes, amarelas, ou vermelhas) e informação relativa ao comportamento médio dos outros utentes; outro grupo recebeu uma carta com o mesmo feedback, com o acréscimo do pequeno incentivo financeiro; e um terceiro grupo não recebeu nenhuma carta, funcionando como grupo de controlo. Após três meses, os participantes que receberam feedback sobre as suas escolhas alimentares aumentaram o consumo de produtos etiquetados como saudáveis em cerca de 2%, independentemente de terem recebido um incentivo financeiro ou não (Thorndike et al., 2016). 2.3. Incentivos A motivação para mudar comportamentos pode ter origem em fatores pessoais (i.e., motivação intrínseca) ou nas consequências externas que o comportamento pode Em duas escolas do estado norte-americano do Arizona, em 2017, foi realizada uma experiência para descobrir se a utilização de incentivos ajudaria os alunos a escolherem a melhor opção de almoço, de entre duas, como forma de combater a obesidade infantil. O incentivo em questão seria um brinquedo, agregado à refeição mais pequena (420 calorias) ou à refeição de tamanho normal (580 calorias). Reportou-se que quando a refeição mais pequena vinha acompanhada do brinquedo, uma grande parte dos alunos (44%) escolhia esta opção relativamente a quando o brinquedo vinha com a refeição de tamanho normal (apenas 3% escolhia a refeição pequena) (Reimann & Lane, 2017). 2.4. Recompensas A atribuição de recompensas é uma forma eficaz de aumentar a probabilidade de ocorrência de um comportamento. Por norma, as recompensas consistem em ações ou materiais valorizados pelo indivíduo e que de alguma forma resultam em gratificação. Para implementar esta estratégia de forma eficaz é necessário definir o comportamento de forma objetiva e mensurável (p. ex, escolher a opção de base vegetal para o almoço) e estabelecer o objetivo que se pretende recompensar (p. ex., por cada escolha de opção de base vegetal, e/ou ao alcançar um objetivo prédeterminado, como uma determinada percentagem de escolhas num dado intervalo temporal). A atribuição de recompensas pode ser feita de forma universal (p. ex., todas as pessoas têm acesso à recompensa) ou de forma seletiva (p. ex., é oferecida apenas a possibilidade de aceder à recompensa, por exemplo, por via de um sorteio). Nos casos em que se pretende premiar a consistência do comportamento, é ainda possível estabelecer um sistema de “economia de fichas”, em que por cada unidade de comportamento a incentivar (p. ex., por cada refeição de base vegetal consumida) é atribuída uma recompensa simbólica (p. ex., a chamada “ficha”, que pode tomar a forma de um carimbo, selo ou pontos) que, ao perfazer uma dada quantidade, poderá ser trocada por um prémio. Entre os diferentes tipos de recompensa podem destacar-se os seguintes: 23 Menu para a mudança trazer (i.e., motivação extrínseca). As motivações intrínsecas – como as preocupações de saúde ou a consciência ética – são motivações importantes para mudar práticas alimentares, contudo, há fatores exteriores à pessoa – como a aprovação de pessoas significativas – que podem ter um peso também relevante na motivação. Os incentivos pertencem ao grupo de fatores exteriores à pessoa e podem assumir diferentes tipos. Incluem, por exemplo, incentivos verbais, que consistem em formas de demonstrar encorajamento a um dado comportamento. Nos contextos de refeição coletiva, os incentivos podem ser dados por pessoas ligadas ao serviço de provisão alimentar, tais como staff de serviço ou de cozinha. Estes incentivos podem tomar a forma de sugestões ou interrogações que incitam a ponderar diferentes opções de escolha. Um exemplo seria sugerir um determinado prato ou acompanhamento (p. ex., levar uma peça de fruta como sobremesa) ou questionar se a pessoa pretende explorar uma opção alternativa (p. ex., escolher a opção de base vegetal). Outras formas de incentivo podem incluir meios financeiros ou materiais, que consistem em anunciar potenciais recompensas futuras, como brindes ou bonificações, pela seleção das alternativas de escolha desejadas. 24 Guia orientador i) Material: habitualmente sob a forma de brindes, como autocolantes, carimbos ou medalhas. ii) Verbal: consistem na expressão de reconhecimento ou valorização pelo esforço e/ou resultado alcançado, normalmente, na forma de elogio ou louvor. iii) Social: refere-se à atribuição de uma recompensa focada nas relações pessoais, como por exemplo, oportunidades de convívio ou proximidade com pessoas significativas ou a demonstração pública de reconhecimento. iv) Financeira: consiste na atribuição de recompensas monetárias ou equivalentes (p. ex., vouchers, cupões de desconto). Numa escola primária em Dublin, na República da Irlanda, um grupo de investigadores propôs-se a explorar se a atribuição de recompensas aos alunos poderia incentivar o seu consumo de frutas e vegetais. Com o apoio dos professores, foi apresentado aos alunos uma série de cartoons temáticos sobre a alimentação saudável antes do almoço e ofereceram a cada aluno um pedaço de fruta e vegetais. Posteriormente, os professores avaliaram o consumo dos seus alunos e distribuíram recompensas de material escolar com a temática dos cartoons. Os professores também avaliaram o consumo de vegetais e fruta em casa (com ajuda dos encarregados de educação) e o consumo durante o almoço, recompensado com autocolantes e certificados de bronze, prata, ouro ou platina. Após duas semanas, os investigadores identificaram um aumento médio no consumo de fruta e vegetais, trazendo evidências para o sucesso da atribuição de recompensas no aumento de consumo de fruta e vegetais em crianças (Horne et al., 2009). 2.5 Gamificação As intervenções de “gamificação” (do inglês gamification) são abordagens que procuram criar um contexto lúdico e interativo para fomentar o envolvimento e a motivação intrínseca dos participantes. De um modo geral, para implementar uma competição ou intervenção de gamificação é necessário criar uma narrativa, estabelecer objetivos e criar um sistema de regras, que incluem a forma como o alcançar dos objetivos é premiado. i) Criar uma narrativa: Este vai ser o mote do jogo e pode incluir o desenvolvimento de textos, vinhetas ou vídeos, como forma de contar a história. Nesta podem existir heróis e vilões, com uma missão e propósito (p. ex., salvar o mundo dos que querem erradicar os vegetais); ii) Estabelecer objetivos: No caso concreto da alimentação, os objetivos podem passar por colocar metas de consumo, tais como, consumir pelo menos uma peça de fruta por dia (objetivo individual) ou aumentar o consumo de vegetais na cantina em 25% (objetivo de grupo). iii) Criar um sistema de regras: As regras são um aspeto fundamental de qualquer jogo e a gamificação não é exceção. Aqui, deve definir-se quem são os jogadores (individuais ou equipas), como é estruturado o jogo (competição e/ou colaboração) e como são atribuídas as recompensas. Neste ponto, importa definir de que forma é monitorizado o desempenho (p. ex., atribuição de pontos) e de que forma este poderá ser convertido em recompensas reais (p. ex., medalhas) ou fictícias (p. ex., consequências aplicadas às personagens do jogo). 25 Menu para a mudança Uma intervenção de gamificação foi usada, nos Estados Unidos da América, para incentivar alunos de uma escola (com alunos do infantário até ao oitavo ano) a comerem mais frutas e legumes. A narrativa criada pelos investigadores foi uma história de um grupo de heróis empenhados em apanhar os vilões, mas que não tinham a energia suficiente para o fazer, sendo que o objetivo era a escola ajudar a captar energia para os heróis através do consumo de fruta e legumes. Os alunos tinham objetivos diários de aumento de consumo de um vegetal ou de uma fruta, sempre com o propósito de aumentar progressivamente o consumo. A narrativa era também lida aos alunos na aula, sendo que só se poderia passar ao capítulo seguinte da aventura se a meta de consumo fosse atingida. Ao longo do período de intervenção, o valor de consumo de fruta aumentou em 66% e o consumo de vegetais em 44%, relativamente ao período anterior à intervenção (Jones et al., 2014). _contexto social A secção que se segue descreve um conjunto alargado de atividades centradas na introdução de alterações no contexto social, com o objectivo de promover mudança nas práticas alimentares dos indivíduos que frequentam espaços de refeição coletiva. 26 Guia orientador 3.1. Reestruturação de normas sociais Na vida em sociedade, uma grande parte dos comportamentos e interações entre as pessoas são regulados por “regras” não escritas, ou seja, são baseados em representações sobre a forma como as pessoas agem ou devem agir num dado contexto. Estas representações são chamadas de normas sociais e, no contexto da alimentação, podem exercer uma forte influência quer sobre as escolhas de refeição, quer sobre as quantidades ingeridas. Nos contextos de refeição coletiva, é possível enfatizar determinados aspetos do comportamento tendo em mente as implicações na constituição de normas sociais. A norma social pode ser influenciada pela informação que é disponibilizada sobre o consumo dos utentes de uma determinada unidade de refeição. Essa informação pode ser veiculada de diversas formas, como posters, panfletos ou newsletters. A comunicação desta informação deve ainda considerar os diferentes tipos de norma social existentes. Por exemplo, as normas descritivas salientam informação sobre determinado contexto social face a um comportamento-alvo (p. ex., “A maioria das pessoas neste espaço de refeição escolhem refeições de base vegetal pelo menos duas vezes por semana”). As normas prescritivas destacam informação quanto a comportamentos que são ou não aprovados pela maioria num contexto social (p. ex., “Um inquérito aos utilizadores deste espaço de refeição indicou uma maioria de consumidores preocupados com o impacto ambiental das refeições servidas no espaço”). Por sua vez, as normas dinâmicas enfatizam dinâmicas de mudança do comportamento-alvo em determinado contexto social (p. ex., “A venda de refeições de base vegetal tem vindo a aumentar sucessivamente nesta cantina desde o início do ano”). Em 2017, uma intervenção feita pela universidade de Stanford testou a utilização de normas sociais como forma de influenciar o comportamento dos consumidores. O objetivo da experiência foi perceber como a exposição a diferentes normas sociais influenciam a escolha de refeições sem carne durante um almoço num café. Antes dos consumidores escolherem o seu almoço, foram apresentados a um de três tipos de textos informativos: um com uma norma estática, onde era referido que 30% dos americanos limitavam a quantidade de carne que consumiam; um com uma norma dinâmica, que referia que nos últimos cinco anos 30% dos americanos tinham começado a diminuir o consumo de carne; e um com uma norma dinâmica, mas referente a um tema não relacionado com a comida (i.e. redes sociais), servindo esta de controlo. Após receberem um destes textos, cada consumidor escolheu o seu almoço. Os resultados da experiência reportaram que 34% dos participantes que receberam o texto com a norma dinâmica escolheram uma opção sem carne, sendo que os participan- tes que receberam o texto com a norma estática e com a norma dinâmica não relacionada escolheram 17% e 21%, respectivamente (Sparkman & Walton, 2017). A modelagem é uma forma de aprendizagem baseada na observação do comportamento dos outros. Muitos dos comportamentos aprendidos durante a infância são baseados neste princípio, mas a influência da modelagem não se resume a este período do desenvolvimento. Muitos adolescentes e adultos incorporam atitudes e comportamentos com base no que observam noutros, especialmente, pessoas semelhantes a si ou figuras que transmitem credibilidade, respeito ou poder (p. ex., um professor numa escola ou uma celebridade num anúncio). A aprendizagem por modelagem pode envolver três tipos de modelos: i) Reais: Envolve a observação de uma pessoa que representa o comportamento. Exemplo: Uma pessoa é vista a preparar uma refeição saudável e sustentável. ii) Verbais: O comportamento é descrito ou explicado por um modelo. Exemplo: Uma pessoa explica como se prepara uma refeição saudável e sustentável. iii) Simbólicos: Envolve um modelo ficcional ou uma pessoa real através de meios virtuais, como vídeos, filmes ou livros. Exemplos: Um super-herói em cartoon demonstra como se prepara uma refeição saudável e sustentável. Para que uma intervenção baseada na modelagem funcione, é importante assegurar que os participantes prestam atenção ao comportamento que se pretende promover e que reúnem a capacidade e a motivação necessárias para o adotar. Alguns suportes para comunicar um comportamento a modelar incluem posters, vídeos ou outros formatos apelativos. Para que a exposição a modelos seja mais eficaz, pode ser útil demonstrar os efeitos benéficos que o comportamento-alvo pode ter, nomeadamente, na promoção do bem-estar ou satisfação. Foi realizada, em duas escolas primárias de Londres, uma intervenção que utilizou a modelagem como forma de influenciar o consumo de fruta e vegetais dos alunos. Os investigadores utilizaram vídeos de personagens heróicas que comem, cantam e falam sobre os vegetais e frutas, e que lutam contra vilões de comida de plástico. Foram também distribuídas algumas recompensas relacionadas com estes heróis. Os resultados sugerem a eficácia desta estratégia visto que, ao almoço, a média de consumo de frutas aumentou de 36% para 79% (61% quatro meses depois) e o consumo de vegetais aumentou de 44% para 66% (59% quatro meses depois) (Horne et al., 2004). 3.3. Envolvimento Na mudança de comportamento, o envolvimento de diferentes grupos de pessoas (p. ex., no contexto escolar: pais, staff de cantina, professores) pode ser um importante fator de promoção do sucesso. O comportamento a promover pode depender da influência de pares mais próximos, como familiares, colegas e amigos, mas também de fatores mais contextuais, como a nível escolar e comunitário. Em alguns 27 Menu para a mudança 3.2. Modelagem 28 Guia orientador casos, pode verificar-se dissonância entre os diferentes níveis de influência, nomeadamente quando existe um esforço de promoção de uma alimentação sustentável num dado contexto (p. ex., escola), mas uma influência em sentido contrário noutro (p. ex., família). Ao planear uma intervenção num contexto de refeição coletiva, é por isso importante mapear quais são os possíveis agentes com relevância para o comportamento que se pretende promover e definir estratégias para promover o seu envolvimento no processo de mudança. Este objetivo pode ser conseguido através de i) estratégias de informação, ii) promoção e/ou estabelecimento de parcerias e iii) compromissos formais. As estratégias de informação dizem respeito a quaisquer ações destinadas à disponibilização de informação relevante sobre o comportamento-alvo ou sobre as mudanças que se pretendem implementar, junto de agentes que não são destinatários da intervenção (p. ex., organizar seminários ou newsletters para pais, numa escola onde está a ser implementado um programa). As estratégias de promoção podem envolver a disponibilização de materiais de divulgação, com o objetivo de dar visibilidade ao comportamento a promover ou procurar suportar a generalização da mudança a outros contextos (p. ex., divulgação de flyers promocionais ou oferta de livros de receitas ou cadernos de atividades para serem utilizados em contexto familiar). No que respeita o estabelecimento de parcerias e compromissos formais, consideram-se todas as ações que comprometem de alguma forma pessoas ou entidades no apoio à mudança a implementar. Estas podem incluir o manifesto público de apoio por parte de figuras representativas, individuais ou coletivas (p. ex., direção de uma escola ou empresa), ou o patrocínio por parte de entidades da comunidade, com objetivo de apoiar a implementação da mudança (p. ex., empresas, municípios ou outras associações). No ano de 2000, nos EUA, foi implementado um programa interventivo (“High 5”) que visava aumentar o consumo de fruta e vegetais em crianças do 4º ano. Entre algumas das estratégias utilizadas pelo programa, o envolvimento participativo dos pais foi uma delas. Nas várias escolas abrangidas pelo programa, os pais dos alunos receberam um resumo prévio do programa, brochuras, listas de compras, boletins informativos e receitas. Foi-lhes também pedido para incentivar e ajudar as crianças a consumir mais fruta e vegetais e a completar um livro de trabalhos de casa temáticos. No fim do programa, reportou-se que 95% dos pais receberam os livros, 43% dos trabalhos de casa foram concluídos, 56% das crianças declararam comer pelos menos 5 peças de fruta ou vegetais nos dias do programa, 81% dos pais receberam os boletins, 86% receberam as brochuras e as listas de compras foram usadas 53% das vezes. Esta participação ativa dos pais foi indispensável para o consumo acrescido de fruta e vegetais resultante do programa (Reynolds et al., 2000). 3.4. Participação ativa Os destinatários de uma intervenção de mudança de comportamento podem assumir diferentes níveis de participação: mais ativa ou mais passiva. Num modelo de participação passiva, as medidas são definidas a priori e os destinatários beneficiam, mas não contribuem para a definição das medidas. As estratégias de participação ativa, por outro lado, são baseadas no contributo dos próprios destinatários para a definição das medidas que os afetam. Neste caso, deve existir um Em várias escolas de Los Angeles (EUA) foi encorajado o envolvimento da comunidade escolar no incentivo ao consumo de fruta. Para além de aumentar a variedade de ofertas na cantina e utilizar rótulos nutricionais para os alimentos, os investigadores dinamizaram um clube de alunos de 3º ciclo com o objetivo de os ensinar a dialogar sobre alimentação saudável com os seus colegas e familiares, promovendo também visualizações de filmes temáticos e a distribuição de informação pertinente para saúde alimentar. Após a intervenção, a cantina identificou um aumento de escolha de opções de fruta de 15.3% e uma diminuição no consumo de snacks menos saudáveis de 11.9% (Bogart et al., 2014). 3.5. Benchmarking Benchmarking pode consistir no processo de comparação das práticas de uma organização com as práticas de outras organizações com características e desafios semelhantes. Este processo permite uma análise em várias frentes (como o staff, serviços, abastecimentos, infraestruturas e espaço físico), entre organizações, e comparativamente a parâmetros financeiros como o lucro obtido com produtos saudáveis. Uma intervenção para a mudança alimentar focada na implementação de um processo de benchmarking permite a criação de uma rede de contactos (baseada na troca de conhecimentos e treino de competências) com organizações no sector das vendas de refeições saudáveis nos seus espaços de restauração coletiva, permitindo assim conhecer quais são os melhores métodos, estratégias, e abordagens que funcionam em promover uma alimentação sustentável, evitando assim incorrer num processo de “tentativa e erro” para ter impacto no contexto de atuação. Na Austrália, entre 1999 e 2000, um projeto piloto com o objetivo de estimular o consumo de frutas e vegetais em contexto escolar foi implementado em cerca de 10 escolas voluntárias. Entre as várias estratégias implementadas, a equipa responsável procurou também estimular um networking entre cantinas escolares, especialmente com cantinas com resultados positivos na venda de frutas, vegetais, e outros produtos saudáveis. Este networking foi importante para compreender quais são as práticas com maior probabilidade de sucesso, permitindo às escolas ultrapassar o período de tentativa-erro e procuraram replicar as estratégias com mais sucesso de outras cantinas escolares. Este processo de benchmarking potenciou o impacto do projeto em melhorar as atitudes, conhecimentos, prazer, e consumo dos alunos face a fruta e vegetais (Newell et al., 2004). 29 Menu para a mudança esforço consciente para comunicar os objetivos de intervenção e procurar obter os contributos dos participantes na materialização desses objetivos em ações. Esta forma de construir a intervenção permite adoção de medidas mais sensíveis ao contexto e poderá igualmente ter um efeito positivo na motivação, envolvimento e responsabilização dos participantes na intervenção. Algumas formas de estimular a participação ativa incluem a realização de reuniões de brainstorming ou a constituição de grupos consultivos. Os contributos a este nível podem ser obtidos pelos destinatários da intervenção ou por outros elementos relevantes do contexto. Tomando como exemplo o caso das intervenções escolares que têm como destinatários os alunos, o contributo de professores ou elementos da equipa escolar poderá constituir informação bastante relevante. _EDUCAÇão E FORMAÇÃO A secção que se segue descreve um conjunto de potenciais atividades de intervenção centradas na introdução de alterações na informação partilhada, com o objectivo de promover mudança nas práticas alimentares dos indivíduos que frequentam espaços de refeição coletiva. 30 Guia orientador 4.1. Conhecimento A mudança de práticas alimentares pode ser promovida eficazmente através da transmissão de conhecimentos de educação nutricional, ambiental, ética e social, fundamentados em dados científicos e na experiência de profissionais e técnicos especializados em alimentação. Esta transmissão de conhecimentos consiste no processo de ensino a um indivíduo ou grupo (p. ex., alunos e técnicos de uma escola, membros de uma comunidade ou pacientes de uma instituição de cuidados de saúde), facilitando a integração e a utilização do conhecimento num dado contexto, diariamente. O principal objetivo da transmissão de conhecimentos é facilitar o desenvolvimento de mudanças alimentares duradouras. Deve ser por isso entendida como um processo contínuo ao longo do ciclo de vida, à medida que a investigação científica gera conhecimento adicional. O seu planeamento também deve ser realizado na forma de um contínuo de aprendizagem: Num nível inicial, o foco da educação encontra-se na transmissão de orientações explícitas e necessárias (p. ex., quais os alimentos com a presença de glúten ou lactose, quais os que causam intolerâncias ou alergias alimentares, ou aqueles cuja produção mais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa) para que o(s) grupo(s) ou indivíduo(s) faça(m) as alterações recomendadas nos seus comportamentos de alimentação. A este nível, o técnico opera como um orientador que fornece diretrizes concretas sobre boas práticas alimentares do ponto de vista da saúde e do ambiente. Num segundo nível, a educação deve adquirir um foco essencialmente prático, ao expandir os princípios fundamentais transmitidos no primeiro nível, aplicando-os a uma variedade de situações (p. ex., como interpretar rótulos dos alimentos, modificação de receitas, como escolher refeições em espaços de restauração coletiva) ao mesmo tempo que novos temas são introduzidos. A este nível, o técnico opera como um consultor que fornece orientações úteis que ajudam o(s) grupo(s) ou indivíduo(s) a tomar decisões no dia-a-dia. Num último nível, a educação torna-se contínua, após o(s) grupo(s) ou indivíduo(s) dominarem as competências básicas e serem capazes de as aplicar na sua vida de forma bem sucedida. O reforço das aprendizagens, atualização e expansão dos conhecimentos (p. ex., relações entre nutrição e doença, princípios de nutrição e de preparação alimentar), autonomia e empoderamento pessoal, são alguns dos resultados de uma educação contínua. A este nível, o técnico opera como um facilitador que ajuda os grupos-alvo a sumarizar e operacionalizar a informação com uma abordagem prática ancorada nas práticas do quotidiano. As intervenções em contextos de restauração coletiva baseadas na transmissão de conhecimento podem incluir, e/ou ser potenciadas por: i) hortas comunitárias/escolares; ii) parcerias com produtores locais; iii) demonstrações culinárias; iv) newsletters incluindo conceitos de nutrição, receitas e recomendações para a adopção de uma alimentação saudável e sustentável; v) Feiras de saúde e sustentabilidade; vi) Criação de comissões de saúde e bem-estar entre as instituições, a comunidade e as famílias. No ano letivo de 2012-2013, um programa escolar norte-americano de promoção alimentar e combate à obesidade (“SHCP”) testou a implementação de estratégias para aumentar o conhecimento dos alunos sobre a constituição de uma dieta e hábitos saudáveis. Os alunos receberam formação sobre nutrição, demonstrações de confecção de refeições e cultivaram alimentos numa horta. Para além disso, foram também organizadas feiras de saúde, implementados bares de saladas e fruta e realizadas pesquisas acompanhadas sobre produtos naturais regionais. Os resultados da intervenção foram avaliados através dos índices de massa corporal e rácios de altura-cintura, prévios e após a experiência, e através de avaliações sobre alimentos e nutrientes. Todos estes parâmetros foram melhorados, sendo que em uma das escolas o nível de obesidade diminuiu de 55,6% para 37,8% (Scherr et al., 2017). O treino de competências é fundamental no processo de uma intervenção para a mudança ao representar uma oportunidade para reforçar as capacidades dos seus destinatários (i.e. equipas de trabalho), facilitando mudanças de práticas e comportamentos através do aumento da qualidade dos serviços prestados. Alguns dos benefícios do treino de competências para as equipas podem incluir melhorias em termos de: (i) desempenho; (ii) satisfação; (iii) autonomia; (iv) motivação. Estes benefícios permitem a criação de um clima organizacional de confiança, suporte e valorização individual e colectiva. Algumas componentes de intervenção potencialmente eficazes na mudança de práticas alimentares, baseadas no treino de competências são: i) treino dirigido a gestores de espaços de restauração coletiva e staff de cozinha sobre a aquisição, preparação e promoção de refeições saudáveis e sustentáveis de base vegetal (p. ex., workshops); ii) treino dirigido a consumidores (p. ex., sensibilização e capacitação para funcionarem como agentes de mudança e de ligação entre os vários intervenientes escolares, familiares e comunitários); iii) treino dirigido a actores chave (e.g., professores, grupo de pares) sobre literacia nutricional e alimentação saudável e sustentável, de acordo com as linhas e programas de orientação de entidades nacionais e internacionais em saúde e sustentabilidade na alimentação. Num conjunto de escolas públicas na Virgínia (EUA), uma equipa de investigação deu formação a gestores das respectivas cantinas sobre princípios base das ciências comportamentais e foram incentivados a passar o conhecimento para as suas equipas de funcionários. Alguns destes princípios incluíam gerir o tamanho das porções das refeições (i.e., porcionado-as previamente) e aumentar a visibilidade (i.e. colocando em lugar de destaque) e conveniência (i.e. pré-cortando a fruta e vegetais) de produtos saudáveis. No final da intervenção, os gestores mostraram-se satisfeitos com as formações, confiantes na sua capacidade para fazer mudanças nas suas cantinas, e reportaram um aumento de criação de intervenções com base em princípios das ciências comportamentais em 6.47% logo após as formações e em 6.93% um ano mais tarde (Bean et al., 2019). 31 Menu para a mudança 4.2. Competências 32 Guia orientador 4.3. Mentoria e consultoria O recurso a serviços de mentoria e consultoria externa (p. ex., nutricionistas, gerentes de concessionários de restauração coletiva, técnicos de desenvolvimento comunitário) é uma ferramenta benéfica e facilitadora na mudança de práticas alimentares de rápido impacto, ao incluir especialistas externos treinados no processo de mudança. Alguns desses benefícios incluem o aumento da adaptabilidade do indivíduo, grupo ou organização; um aumento na inovação, através da divulgação de conhecimentos e técnicas novas; um foco na aquisição e implementação de competências práticas essenciais, e uma gestão mais eficiente que promova uma redução dos custos financeiros, humanos, e temporais. As responsabilidades do mentor ou consultor podem incluir: i) prestar apoio técnico especializado na área de gestão de projetos ou alimentar; ii) esclarecer dúvidas específicas por parte dos indivíduos do grupo ou organização iii) fornecer uma perspetiva externa acerca do processo de mudança; v) apoiar a planificação de projetos, nomeadamente na definição de objectivos, escolha e implementação de estratégias de intervenção, e de auto-monitorização; vi) garantir que os programas de intervenção a implementar estão de acordo com políticas públicas vigentes, princípios básicos de saúde e sustentabilidade ambiental, valores da comunidade, organização, currículo escolar, ou nível de desenvolvimento dos membros; viii) garantir a continuidade e estabilidade organizacional no processo de transição para a mudança, Na Austrália, em 2005, uma equipa multidisciplinar de investigadores e assistentes sociais desenvolveu um projeto de apoio a intervenções de promoção de saúde infantil e prevenção de obesidade em escolas primárias. Ao longo de três anos e meio, vários assistentes de desenvolvimento comunitário integrados na equipa apoiaram a comunidade escolar de mais de vinte escolas em desenvolver as suas próprias intervenções para aumentar o consumo de fruta, vegetais, e água, aumentar atividade física, e encorajar uma autoestima positiva nos alunos. Estes assistentes funcionaram como consultores externos, providenciando informação e guiando as estratégias de intervenção de cada escola de forma a garantir que as intervenções seguiam princípios de promoção de saúde e sustentabilidade, customizado para mudar questões relacionadas com o sistema escolar, currículo, contexto e comportamento estudantil de cada escola. Após a implementação das intervenções, a equipa identificou que os estudantes que foram alvo de uma intervenção mostraram uma maior probabilidade de consumir água, fruta, e vegetais, e consumir menos bebidas açucaradas. As escolas que receberam a consultoria acabaram por realizar mais iniciativas de promoção da saúde comparado às escolas controlo, e a comunidade escolar valorizou o projeto como catalisador de mudanças escolares (Waters et al., 2018). 4.4. Disponibilização de informação Na mudança de qualquer comportamento, a disponibilização de informação é essencial entre os membros de um grupo, instituição ou comunidade. Uma cultura organizacional que promova a disponibilização de informação tende a ser mais resiliente, produtiva e eficaz, ao eliminar bloqueios na comunicação e encorajar a transparência, e ao facilitar a inovação. Outros benefícios da disponibilização de Em Itália, em 2011, uma equipa motivada procurou estratégias para melhorar os hábitos de consumo na cantina de uma organização. Conjuntamente com um aumento de disponibilidade de opções alimentares mais saudáveis e formações ao staff na sua confeção, a equipa procurou apresentar informação sobre boas práticas alimentares nas cantinas através de painéis, totens, panos de mesa e panfletos. Estas informações foram agrupadas em vários temas, como o aumento de consumo de cereais integrais; a importância da incorporação de frutas e vegetais na dieta habitual, e formas de fazê-lo; e os efeitos prejudiciais do consumo de carne vermelha e processada. Cada tema foi alvo de maior foco semanalmente, sendo que os materiais informativos foram trocados todas as semanas. Adicionalmente, a equipa também promoveu newsletters semanais e seminários mensais gratuitos sobre cada tópico, colocou a composição nutricional de cada prato no menu, e sinalizou quais os pratos mais saudáveis através de um logótipo. Por meio de uma análise das escolhas alimentares dos colaboradores, a equipa identificou que, no fim da intervenção, houve um aumento na adesão às recomendações nutricionais para gorduras (12.5%), colesterol (11.8%), açúcares (15.9%) e fibra (36%) (Vitale et al., 2018). 33 Menu para a mudança informação incluem: i) promoção de um clima de aprendizagem social; ii) adaptação mais rápida à mudança; iii) identificação de lacunas no conhecimento e desenvolvimento de estratégias de treino de competências adequadas a cada momento; iv) partilha do sucesso/insucesso de experiências passadas, aumentando, assim a capacidade de aprendizagem e desenvolvimento organizacional. A implementação de componentes de intervenção centradas na disponibilização de informação pode facilitar uma transição mais eficaz e bem-sucedida na adopção de comportamentos alimentares mais saudáveis e sustentáveis. Essas componentes podem incluir: i) campanhas educacionais através da fixação de posters e/ou painéis com informação pertinente relativa à adopção de comportamentos alimentares saudáveis e sustentáveis (p. ex., relações entre dieta e saúde/doença; boa nutrição; impacto da produção alimentar no ambiente), ii) distribuição de fichas informativas a diferentes grupos alvo com conteúdos sobre alimentação saudável e sustentável; iii) distribuição de panfletos com informação nutricional/ambiental dos alimentos; iv) distribuição de informação especializada desenvolvida pela comunidade de investigadores e/ou profissionais de saúde/sustentabilidade; v) distribuição gratuita de materiais sobre a preparação de snacks e refeições saudáveis e sustentáveis. 34 Guia orientador O termo implementação refere-se ao processo de colocar uma decisão ou plano em prática, de forma a melhorar, inovar e tornar mais eficiente o funcionamento de qualquer espaço ou instituição. Negligenciar o processo de implementação pode diminuir as probabilidades de sucesso da transição para a mudança comportamental desejada. Na ausência de um plano de implementação estruturado e sistematizado que guie o desenvolvimento e a forma como as atividades de intervenção serão manifestadas na prática e no dia-a-dia dos indivíduos, muitos dos projetos acabam por desaparecer, apesar da elevada motivação inicial para a mudança. O que caracteriza uma implementação eficaz é a forma organizada, planeada e refletida com que as atividades de intervenção são colocadas em prática. Para apoiar a intervenção do(a) leitor(a) fornecemos, em anexo, um plano de ação orientador para a elaboração da intervenção. Este documento procura guiar a equipa para o processo de reflexão e diagnóstico do problema, a escolha da melhor estratégia a adotar, e os principais aspetos que deverão ser considerados no planeamento e execução da intervenção. Para retirar o máximo de valor deste plano de ação, recomendamos que seja preenchido por uma equipa que integre vários agentes locais relevantes e motivados para a problemática, de forma a ter os contributos de várias perspetivas diferentes, fomentando uma visão clara e rica sobre o contexto do problema e da instituição. Este documento não apresenta uma fórmula garantida para uma intervenção ter sucesso, mas sim um guia de reflexão para as equipas que conhecem o seu contexto poderem desenhar uma intervenção adequada à realidade da sua instituição. Nas próximas páginas, recomendamos dois princípios que deverão orientar o processo de trabalho da equipa, a Continuidade e o Ambiente, assim como a estratégia dos “Quatro P’s” – Problematize, Pense, Planeie, e Pratique, para guiar a equipa num processo de implementação refletido e planeado. 35 Menu para a mudança Guia para a implementação de um Plano para a Mudança 1º Princípio: A implementação é um processo contínuo – planeamento e execução devem ser feitos por etapas Uma implementação bem sucedida ocorre por etapas e desenvolve-se ao longo de um período de tempo alargado. Não se trata de um evento único, mas antes de um processo contínuo com várias etapas interdependentes que em conjunto promovem a mudança desejada. É também necessário saber lidar com as intervenções menos bem sucedidas e aprender com as falhas, através de um processo de tentativa e erro. Compreender o insucesso é muito importante para redesenhar e melhorar as intervenções futuras. 36 Guia orientador 2º Princípio: Ambiente – Criação de um clima organizacional e de uma liderança promotoras do processo de implementação O desenvolvimento de um clima promotor da mudança ocorre através de rotinas, práticas e políticas orientadoras que promovam o ensino, a aprendizagem, o desenvolvimento profissional contínuo, e uma cultura de liderança partilhada e distribuída. Algumas dessas práticas passam pela criação de oportunidades para que membros do staff assumam responsabilidades progressivas de coordenação; reconhecimento e encorajamento de membros do staff que exibam comportamentos e atitudes promotoras de uma boa implementação, e criação de equipas dedicadas ao processo de implementação. Os quatro P’s 1. Problematize: Definição do problema e contexto de atuação A etapa de problematização deve centrar-se numa discussão profunda com vários intervenientes para promover visões diversas sobre o problema. Nesta fase, é fundamental consultar diversos atores locais para receber a sua visão e opinião sobre o problema e o contexto em que ocorre. Com recurso ao plano de ação (página 47), a equipa deverá partir pela i) definição do problema que pretende resolver de uma forma clara e específica, explicitando o contexto em que ocorre e os intervenientes envolvidos. Seguidamente, deve-se ii) identificar possíveis fatores que estejam a contribuir para o problema, e definir com clareza iii) quais são os comportamentos que deverão ser o foco de mudança na intervenção, iv) quem realiza esses comportamentos, v) qual é a mudança que queremos que ocorra com a implementação da estratégia, e vi) como esses comportamentos poderão contribuir para a mudança desejada. Após a discussão e resposta destas questões, a etapa de problematização termina com uma definição clara do problema e contexto, assim como a definição de quais os comportamentos que a equipa se deve focar em alterar para privilegiar a mudança desejada. 3. Planeie: Resolução de problemas, monitorização do progresso, e adaptação do plano às mudanças A fase de planeamento consiste na definição concreta da intervenção onde a estratégia escolhida irá ser implementada. Esta fase pode ser subdividida em três partes: uma tarefa de planeamento geral da intervenção (página 49), uma subdivisão e análise da intervenção por fases (página 51), e uma análise preventiva do que poderá colocar em risco a implementação da intervenção (página 52). Relativamente ao planeamento geral da intervenção, é importante considerar i) a duração da intervenção, ii) quais são as mudanças que estamos à espera de identificar com a intervenção, tanto no curto como no longo prazo, iii) como é que a avaliação da intervenção será feita, ou seja, como é que vamos recolher dados empíricos para compreender se as mudanças que estamos à espera de identificar ocorreram ou não, iv) quais são os comportamentos que devem estar no foco na recolha de dados, e v) como vão ser medidos, ou seja, qual é a forma que vamos usar para recolher os dados (por observação, questionários, registos de consumo, níveis de satisfação com as medidas implementadas, etc.) No que toca à subdivisão da intervenção, é importante que a intervenção seja abordada como um conjunto de fases distintas mas interdependentes, por exemplo com uma fase de recolha inicial de dados para estabelecer empiricamente como se manifesta o(s) comportamento(s) alvo antes da intervenção, uma fase para a implementação da estratégia, e uma fase de recolha final de dados para estabelecer se a intervenção teve impacto no comportamento. Deve-se então i) identificar quais são as etapas de implementação da estratégia, ii) o que é que tem que ser feito em cada etapa, iii) o que é que vai ser utilizado e iv) se é necessário algum recurso atualmente indisponível, v) quem é que precisa de estar envolvido e quais as suas 37 Menu para a mudança 2. Pense: Definição da estratégia para a mudança e avaliação do contexto de atuação Na etapa de pensamento (página 48), o foco incide em aprofundar o porquê de as práticas atuais estarem desalinhadas das práticas ideais (ou desejáveis), e escolher uma estratégia de implementação. Após uma discussão sobre i) as possíveis razões para o desencontro entre práticas atuais e práticas desejáveis, é importante definir ii) o que tem de mudar para que as práticas se aproximem da mudança desejada. É ao compreender o que tem de mudar que se parte para a iii) definição da estratégia utilizada para estimular a mudança e iv) como é que a estratégia altera os comportamentos. Após definir o que tem de mudar e a estratégia que irá promover a mudança, é importante analisar v) o contexto de atuação do leitor, nomeadamente se o contexto de aplicação está apto a receber a intervenção desejada. Ou seja, é importante perceber com clareza quais são as mudanças que estão a propor fazer no contexto de atuação e vi) quais são os recursos que serão necessários para a executar. Estes recursos consistem não só em custos financeiros na compra de materiais, serviços, ou infraestruturas, como também em termos humanos, nomeadamente quem tem de estar envolvido no processo de implementação (tanto a um nível administrativo como a executar a estratégia) e quais são os conhecimentos e autorizações necessárias para executarem a estratégia. Após resposta a estas questões, a etapa termina com uma visão mais profunda do que está a contribuir para o problema, qual é a estratégia a implementar para promover a mudança, e quão preparado o contexto está para receber a intervenção. 38 Guia orientador funções (tanto a nível administrativo como as equipas locais), e vi) que conhecimentos e competências é que necessitam ter para executar a sua função. Seguidamente, é importante prever possíveis barreiras ou dificuldades que poderão surgir durante a intervenção. Pensar i) no que pode correr mal, ii) como evitar problemas durante a intervenção e, caso aconteçam, iii) como é que podem ser resolvidos, permite não só consolidar a intervenção como também consciencializar a equipa para possíveis problemas e suas soluções, para que no momento da intervenção sejam resolvidos com clareza e celeridade. A fase de planeamento termina com uma construção do plano de intervenção detalhado distribuído por fases, com uma visão clara sobre o que se está à espera de observar e como será feita a avaliação da estratégia, e com um mapeamento de possíveis barreiras e soluções ao longo da intervenção. 4. Pratique: Aplicação Para que um plano de intervenção se torne sustentável e escalável ao longo do tempo, é fundamental refletir sobre a intervenção em si, assim como na sua sustentabilidade e generalizabilidade para outros contextos. A fase de praticar (página 53) consiste não só na aplicação da intervenção e gestão de problemas que possam ocorrer, mas também na reflexão das i) conclusões a tirar da intervenção, tanto a um nível de resultados em prol da mudança, como também do ponto de vista metodológico e de aplicação da estratégia, identificando aspetos positivos a reter e aspetos negativos a serem refinados nas próximas ações. Adicionalmente, pensar em ii) como se pode tornar a mudança da intervenção sustentável no longo prazo e em iii) como alargá-la para outros contextos, pela institucionalização da estratégia da intervenção e pela prestação de apoio na transmissão de conhecimentos para outras equipas, permite que a mudança comportamental seja sustentada e alargada, promovendo assim uma mudança não só especifica, mas geral a nível da instituição ou organização. 39 Menu para a mudança 40 Guia orientador A investigação na área da mudança comportamental (Michie et al., 2014) mostra que existem três dimensões necessárias para a mudança de comportamento ocorrer: a Capacidade para realizar a mudança, tanto física (p. ex., ter as habilidades necessárias, destreza e resistência) como psicológica (p. ex., os conhecimentos e capacidades cognitivas, como a memória e atenção); a Oportunidade para a mudança, tanto física (p. ex., disponibilidade e acesso a recursos necessários) como social (p. ex., normas sociais e influências interpessoais); e a Motivação para realizar o comportamento, composta por uma componente de pensamento deliberado (p.ex., os objetivos pessoais e crenças sobre o comportamento) e uma componente automática (p. ex., hábitos e reações emocionais). Em conjunto, estas três dimensões possibilitam a realização de uma prática ou comportamento. Esta ferramenta de diagnóstico permite identificar (de forma simplificada) as características e necessidades do espaço de refeição, com vista a facilitar o consumo de mais refeições de base vegetal. Os resultados da ferramenta informam uma leitura mais direcionada do Toolkit com base nas necessidades do seu contexto. Por favor, leia cada item e registe o número que melhor representa o quanto concorda ou discorda com cada afirmação. 41 Menu para a mudança Ferramenta de Diagnóstico _Menu para a mudança 1. Capacidade 42 Guia orientador a) Os responsáveis pela preparação de refeições têm os conhecimentos necessários para preparar refeições de base vegetal equilibradas e saborosas. b) Os utilizadores do espaço de refeição sabem o que caracteriza uma alimentação sustentável e nutricionalmente equilibrada. c) Os responsáveis pela preparação das refeições possuem bastante experiência em confecionar pratos de base vegetal. d) De um modo geral, os utilizadores do espaço de refeição conhecem os impactos ambientais de diferentes alimentos. Discordo bastante Discordo Não concordo nem discordo Concordo Concordo bastante 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 a) Há opções de base vegetal regularmente disponíveis no espaço de refeição. b) Cada vez mais utilizadores do espaço de refeição consomem regularmente refeições de base vegetal. c) O espaço de refeição incentiva os consumidores a escolher opções de base vegetal. d) As refeições de base vegetal no espaço de refeição têm um preço igual ou inferior às refeições com carne ou peixe. e) É fácil escolher refeições de base vegetal no espaço de refeição. f) Os utilizadores do espaço de refeição podem escolher entre uma variedade de opções de base vegetal. Discordo bastante Discordo Não concordo nem discordo Concordo Concordo bastante 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 43 Menu para a mudança 2. Oportunidade 3. Motivação 44 Guia orientador a) Os utilizadores do espaço de refeição gostam de consumir refeições de base vegetal. b) Os utilizadores do espaço de refeição consideram que as suas escolhas alimentares são importantes para a sua saúde. c) Os utilizadores do espaço de refeição consideram que as suas escolhas alimentares são importantes para o ambiente. d) Os utilizadores do espaço de refeição têm em consideração questões éticas nas suas escolhas alimentares. e) Os utilizadores do espaço de refeição estão motivados para consumir mais refeições de base vegetal. f) As refeições de base vegetal servidas no espaço de refeição são atrativas. g) Os utilizadores do espaço de refeição interessam-se por questões de ética na alimentação. h) Os utilizadores do espaço de refeição interessam-se por ter um estilo de vida saudável. Discordo bastante Discordo Não concordo nem discordo Concordo Concordo bastante 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Chave de avaliação Para cada dimensão (Capacidade, Oportunidade, Motivação), some as respostas de cada item e divida pelo número de itens da dimensão para obter a sua pontuação média. Por exemplo, para a dimensão de Oportunidade, some as respostas dos sete itens e divida por seis para obter a média. Depois de calcular os resultados para cada dimensão, pode introduzi-los na tabela em baixo. Dimensão Pontuação média (de 1 a 5) Capacidade Motivação Quais as dimensões em que o seu contexto é aparentemente mais forte? E quais parecem ser as vulnerabilidades? A pontuação média de cada dimensão já é tendencialmente elevada (i.e., perto dos pontos 4 ou 5 da escala), ou ainda precisa de melhorar (i.e., perto dos pontos 1 ou 2 da escala)? Com base neste diagnóstico inicial, pode considerar as atividades propostas no Toolkit em função das características e necessidades gerais do seu contexto. Basta olhar para o símbolos apresentados em cada conjunto de atividades de intervenção: C para Capacidade, O para Oportunidade, e M para Motivação. 45 Menu para a mudança Oportunidade PLANO DE AÇÃO _FOLHAS DE PREENCHIMENTO Plano de Ação _Problematizar Qual a visão que queremos atingir? Existem atualmente barreiras para que a visão aconteça? Se sim, quais? (p. ex. barreiras físicas, estruturais ou comportamentais) Que mudanças teriam de ocorrer e quem estaria implicado nelas? (p. ex., agentes de mudança e população alvo) Como é que esta mudança promove a sustentabilidade/saúde? 47 Menu para a mudança Essa visão adveio de um problema identificado? Se sim, qual? (p. ex., problema no contexto da escola ou no contexto da cidade) _Pensar O que é preciso acontecer para que esta visão se concretize? 48 Guia orientador Das barreiras identificadas anteriormente, qual(ais) poderia(m) ser alvo de intervenção? Das estratégias enumeradas no toolkit, qual(ais) podemos implementar para promover a mudança? Estratégias Porque seria adequada à nossa visão Que mudanças seriam necessárias para a implementar? O contexto de aplicação está apto para a receber? _planear/geral De entre as barreiras identificados, qual(ais) será(ão) alvo da intervenção? Que mudanças esperamos que aconteçam? Curto prazo Longo prazo Como e quando vamos avaliar se a intervenção teve sucesso? (As mudanças esperadas aconteceram? Influenciámos outras instituições? Desenvolvemos competências?) Que instrumento(s) de medição vamos utilizar? (p. ex.,observação direta, reporte de frequências, entrevistas) Quanto tempo temos disponível para a intervenção? 49 Menu para a mudança Tendo em conta as estratégias consideradas, qual(ais) será(ão) colocada(s) em prática? _planear/geral Quais são os recursos necessários? 50 Guia orientador Financeiros Humanos Materiais Planear_Estratégia(s) (caso haja mais que uma estratégia, reutilizar esta página) Quais serão as etapas de implementação da estratégia? O que vamos utilizar? O que precisamos de obter? Quem estará envolvido? Quais serão as suas funções? Que conhecimentos e competências precisarão? Como serão transmitidos? 51 Menu para a mudança O que tem de ser feito em cada etapa? Quanto tempo precisamos? Planear_Prevenção Que obstáculos podemos vir a encontrar durante a intervenção? (p. ex., resistência à mudança, custos financeiros acrescidos, redução inesperada da equipa) 52 Guia orientador Como o podemos evitar? Caso aconteça, como o podemos resolver? PRATICAR Que balanço pode ser feito da intervenção? (Foi bem sucedida? Foi bem aceite pela comunidade? A equipa mostrou-se motivada?) É possível alargar a intervenção e os resultados a outros contextos? Se sim, como? Que conclusões podemos retirar da intervenção? 53 Menu para a mudança Como podemos manter ou melhorar os resultados? PLANO DE AÇÃO _exemplo Plano de Ação _Problematizar Qual a visão que queremos atingir? Queremos que a nossa escola seja um exemplo de boas práticas alimentares, promovendo tanto a sustentabilidade como a saúde de todos aqueles que pertencem à comunidade escolar. Sim, as práticas alimentares na nossa comunidade escolar são demasiado centradas nos produtos de origem animal, e ainda pouco recetivas às refeições de base vegetal. Existem atualmente barreiras para que a visão aconteça? Se sim, quais? (p. ex. barreiras físicas, estruturais ou comportamentais) 1.Alguns grupos dentro da comunidade escolar (p. ex., estudantes, famílias, staff) demonstram elevado apego ao consumo de carne e representações negativas sobre as refeições de base vegetal; 2.Os/as estudantes não têm o hábito de comer refeições de base vegetal - quer na escola quer em casa; 3.Existe baixa literacia nutricional e falta conhecimento sobre os impactos ambientais de diferentes produtos e tipos de refeição dentro da comunidade escolar. Que mudanças teriam de ocorrer e quem estaria implicado nelas? (p. ex., agentes de mudança e população alvo) A prioridade imediata seria os/as estudantes terem um maior contacto e familiaridade com refeições de base vegetal. Este plano de mudança deve envolver vários itervenientes da comunidade escolar (estudantes, professores/as, e staff responsável pela confeção de refeições). Como é que esta mudança promove a sustentabilidade/saúde? O consumo mais regular de refeições de base vegetal nutricionalmente equilibradas é um requisito apontado pela Dieta da Saúde Plenatária (EAT-Lancet report) para promover sistemas alimentares mais justos, saudáveis e sustentáveis. 55 Menu para a mudança Essa visão adveio de um problema identificado? Se sim, qual? (p. ex., problema no contexto da escola ou no contexto da cidade) _Pensar O que é preciso acontecer para que esta visão se concretize? Uma das prioridades é criar condições para que os/as estudantes possam sentir-se mais interessados/as em consumir refeições de base vegetal nos espaços de refeição da escola. 56 Guia orientador Das barreiras identificadas anteriormente, qual(ais) poderia(m) ser alvo de intervenção? 1.Expectativas negativas dos/das estudantes em relação às refeições de base vegetal na cantina (p. ex., sabor); 2.Os/as estudantes não têm o hábito de comer refeições de base vegetal no contexto escolar; 3.Baixa literacia nutricional e falta de conhecimento sobre os impactos ambientais da alimentação. Das estratégias enumeradas no toolkit, qual(ais) podemos implementar para promover a mudança? Estratégias Porque seria adequada à nossa visão Que mudanças seriam necessárias para a implementar? O contexto de aplicação está apto para a receber? Criar provas de sabor [1.11 no toolkit], com refeições de base vegetal confecionadas de forma atrativa e com elevado valor hedónico. Aumentar a familiaridade com as características sensoriais de refeições de base vegetal pode levar ao desenvolvimento de atitudes mais favoráveis face a estas refeições. Organizar uma banca num local visível e de passagem para incentivar os/as estudantes a participar; confecionar refeições de base vegetal; encontrar voluntários/as para promover a atividade. Sim, o átrio da escola tem um espaço onde seria possível montar uma banca com amostras de refeição e finger food; o staff de cozinha, professores/as, e direção estão motivados para apoiar na intervenção. Criar produtos de comunicação (p. ex., posters; posts em redes sociais) [4.1 e 4.4 no toolkit], para aumentar o conhecimento dos/as estudantes sobre os impactos ambientais da alimentação. Aumentar a consciência e o conhecimento sobre os impactos ambientais de diferentes tipo de refeição pode levar ao desenvolvimento de atitudes mais favoráveis face às refeições de base vegetal. Desenvolver os produtos de comunicação e posicionálos de forma visível para a comunidade escolar (p. ex., posters nos espaços de refeição, posts nas páginas/ grupos em redes sociais da escola). Possivelmente ainda não, face ao risco de resistência por parte de grupos de estudantes e/ou famílias com maior apego ao consumo de carne. Pode ser desejável criar mais familiaridade e experiências sensoriais positivas com refeições de base vegetal, antes de promover as refeições por via da comunicação dos impactos ambientais. _planear/geral De entre as barreiras identificados, qual(ais) será(ão) alvo da intervenção? Eventuais ideias preconcebidas acerca de refeições de base vegetal (p. ex., pouco equlibradas, pouco saborosas ou pouco saciantes); Tendo em conta as estratégias consideradas, qual(ais) será(ão) colocada(s) em prática? Que mudanças esperamos que aconteçam? Curto prazo Longo prazo A curto prazo esperamos que os/as estudantes tenham atitudes mais favoráveis em relação às refeições de base vegetal. A longo prazo esperamos que os/as estudantes consumam refeições de base vegetal com maior regularidade na cantina escolar. Como e quando vamos avaliar se a intervenção teve sucesso? (As mudanças esperadas aconteceram? Influenciámos outras instituições? Desenvolvemos competências?) 1.Analisar mudanças na avaliação de refeições de base vegetal; 2.Verificar mudanças na escolha de refeições na cantina; 3.Adesão da comunidade escolar à iniciativa. Que instrumento(s) de medição vamos utilizar? (p. ex.,observação direta, reporte de frequências, entrevistas) 1.Questionários de avaliação de sabor das refeições de base vegetal; 2.Dados relativos ao número de refeições de base vegetal servidas, através do software de registo de refeições; 3.Observação direta. Quanto tempo temos disponível para a intervenção? Dois meses. 57 Menu para a mudança Provas de sabor. _planear/geral 58 Guia orientador Quais são os recursos necessários? Financeiros Humanos Materiais Possíveis gastos financeiros, face à necessidade de capacitar a equipa de cozinha para confecionar refeições de base vegetal mais atrativas e equilibradas (p. ex., através de formação online ou in-situ). Voluntários para dinamizar a prova de sabores (por exemplo, estudantes e/ ou professores). Equipamentos necessários para montar a banca de prova de sabores com amostras de refeição e snacks / finger food. Planear_Estratégia(s) (caso haja mais que uma estratégia, reutilizar esta página) Quais serão as etapas de implementação da estratégia? O que tem de ser feito em cada etapa? O que vamos utilizar? O que precisamos de obter? Etapa 1 - Contactar os agentes de mudança; Criar o questionário de avaliação de sabor; Requerer autorização para utilização do material e do espaço; Planear a confeção das refeições/snacks com o staff de cozinha; Recolher os dados de escolha de refeições na cantina dos últimos dois meses. Etapa 2 - Preparar a banca e as refeições/snacks; Aplicar os questionários. Etapa 3 - Recolher dados sobre a frequência de refeições servidas e consumidas; Avaliar o desenvolvimento das avaliações de sabor e das escolhas de refeição. Etapa 1 - O sistema de registo das refeições dos(as) estudantes; Etapa 2 - Uma ou duas mesas, cartazes, cozinha, produtos alimentares, questionário; Etapa 3 - Sistema de registo das refeições dos/as estudantes. Etapa 1 - Os dados relativos às refeições dos/as estudantes; Etapa 2 - Vegetais extra para as provas de sabor; Etapa 3 - Acesso ao sistema de registos das refeições. Quem estará envolvido? Quais serão as suas funções? Que conhecimentos e competências precisarão? Como serão transmitidos? Etapa 1 - Direção da escola, professores/as, staff de cozinha, alunos; Etapa 2 - Staff de cozinha, voluntários; Etapa 3 - Staff de cozinha, voluntários. Etapa 1 - A direção da escola contactará a equipa (professores/as, staff cozinha, alunos); Etapa 2 - O staff de cozinha confecionará as refeições os voluntários irão dinamizar a prova de sabores; Etapa 3 - Recolher e analisar dados sobre o número de refeições vendidas. Etapa 1 - Construção de questionários; Etapa 2 - O staff poderá precisar de adquirir novas competências de confeção de refeições; Etapa 3 - Recolha e análise de dados. Quanto tempo precisamos? Etapa 1 - Alguns dias; Etapa 2 - Entre 2 semanas e um mês; Etapa 3 - Alguns dias. 59 Menu para a mudança Etapa 1 - Preparação dos recursos iniciais e avaliação inicial; Etapa 2 - Implementação da prova de sabores; Etapa 3 - Análise final. Planear_Prevenção Que obstáculos podemos vir a encontrar durante a intervenção? (p. ex., resistência à mudança, custos financeiros acrescidos, redução inesperada da equipa) Pode ser difícil encontrar voluntários/as para planear e dinamizar a prova de sabores; Os/as estudantes poderão não querer aderir à iniciativa. Como o podemos evitar? 60 Guia orientador Envolver os alunos desde o início e pedir aos professores para incentivar à participação na banca. Caso aconteça, como o podemos resolver? Recrutar diretamente elementos do staff e professores para dinamizar a prova de sabores, sob supervisão da equipa dinamizadora. Recrutar diretamente estudantes para dinamizar a prova e incentivar os/as seus/suas colegas. PRATICAR Que balanço pode ser feito da intervenção? (Foi bem sucedida? Foi bem aceite pela comunidade? A equipa mostrou-se motivada?) A intervenção foi bem sucedida. Os/as professores/as e staff mostraram-se bastante empenhados na intervenção. Os/as estudantes também gostaram bastante da prova e os produtos foram consumidos quase na sua totalidade. A média de consumo de refeições de base vegetal na cantina aumentou cerca de 10% nestas últimas 6 semanas. Podemos criar uma prova de sabores a cada período letivo e reforçar essa atividade com a divulgação de materiais de comunicação sobre os impactos ambientais da alimentação. É possível alargar a intervenção e os resultados a outros contextos? Se sim, como? Sim, podemos reforçar a estratégia de comunicação à medida que a comunidade escolar for desenvolvendo maior familiaridade com as refeições de base vegetal, e atitudes mais favoráveis em relação a esta alimentação. Que conclusões podemos retirar da intervenção? A prova de sabores revelou-se uma boa estratégia para estimular o consumo de refeições de base vegetal na nossa escola, especialmente quando os/as estudantes se envolveram no projeto e incentivaram os/as colegas a também participar. 61 Menu para a mudança Como podemos manter ou melhorar os resultados? Recursos adicionais Little Book of Green Nudges (B.I. Team, 2020) Manual elaborado pela equipa “Behavioural Insights Team’’. Esta empresa inglesa de propósito social destaca-se na área das ciências comportamentais na medida em que possui um vasto repertório de intervenções aplicadas às mais variadas áreas de aplicação de políticas públicas, tais como saúde, educação e economia. Em “Little Book of Green Nudges”, é apresentada uma lista de 40 intervenções de baixo custo (nudges) sustentáveis em contexto de campus académico. 62 Guia orientador https://www.bi.team/publications/the-little-book-of-green-nudges/ Relatório EAT-Lancet (Willett et al., 2019) Este relatório constitui a primeira revisão sistemática que explora a constituição ideal de uma dieta saudável e sustentável, tendo em conta as necessidades fisiológicas do ser humano e as necessidades de manutenção do meio ambiente. Apresenta uma variedade completa de frentes de ação na construção de uma dieta equilibrada e saudável que não comprometa a capacidade de produção alimentar do planeta terra. Relatório original https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(18)31788-4/fulltext Relatório Sumário em Português https://eatforum.org/content/uploads/2019/07/EAT-Lancet_Commission_Summary_Report_Portugese.pdf Change-points Toolkit (Hoolohan et al., 2018) Desenvolvido por uma equipa multidisciplinar em conjunto com várias organizações, este toolkit foca-se em apoiar o leitor em desenvolver intervenções para mudar padrões de consumo insustentáveis, incorporando vários exercícios práticos para aprender a utilizar a construir intervenções que mudem as práticas. https://changepoints.net/the-change-points-toolkit/ https://www.ers.usda.gov/webdocs/publications/46106/11201_err68.pdf?v=675 Modelo BASIC Desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o BASIC é um modelo das ciências comportamentais que decompõe os vários fatores que afetam as decisões do ser humano e propõe cinco etapas essenciais para qualquer projeto de alteração de comportamentos. https://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/tools-and-ethics-for-applied-behavioural-insights-the-basictoolkit-9ea76a8f-en.htm Putting Evidence to Work: A School’s Guide to Implementation Desenvolvido pelo Education Endowment Foundation (EEF), este manual procura guiar o leitor sobre como implementar um conjunto de mudanças, baseadas em evidências científicas, capazes de melhorar o funcionamento de estruturas escolares. Ao invés de direcionar novas implementações globais, apoia-se na reformulação de procedimentos já existentes e é composto por seis etapas exploratórias. https://drive.google.com/file/d/1LjdQsIeylq6jVBZa5sAo41iYiVLXWkYh/view?usp=sharing Scorecard: Guia de Criação de Pratos Vegetarianos Sustentáveis Disponibilizado no âmbito do projeto Prato Sustentável da Associação Vegetariana Portuguesa, este recurso permite avaliar e melhorar a qualidade nutricional e sensorial de menus vegetarianos. O recurso está pensado para espaços de refeição coletiva. https://www.pratosustentavel.pt/scorecard/ 63 Menu para a mudança Behavioral Economics Concepts to Encourage Healthy Eating in School Cafeterias Desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA), este documento apresenta uma revisão de como as ciências comportamentais podem ser utilizadas em cantinas escolares para incentivar uma alimentação sustentável, assim como enquadra aspetos metodológicos e de avaliação de resultados. Referências bibliográficas Acharya, R. N., Patterson, P. M., Hill, E. P., Schmitz, T. G., & Bohm, E. (2006). An evaluation of the “TrEAT Yourself Well” restaurant nutrition campaign. Health Education & Behavior, 33(3), 309-324. Bean, M. K., Theriault, E., Grigsby, T., Stewart, M. D., & LaRose, J. G. (2019). A Cafeteria Personnel Intervention to Improve the School Food Environment. American Journal of Health Behavior, 43(1), 158-167. Behrens, T. K., Liebert, M. 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