Dimensionamento de escadas de concreto armado JOSÉ DE MOURA JANEIRO 11, 2019 ESTRUTURAS 31 COMMENTS Você se sentiria confiante se um cliente lhe solicitasse hoje o dimensionamento de uma escada? Pois saiba que o cálculo de escadas são bem similares aos realizados em lajes, já explicados em outros posts. A seguir você aprenderá como calcular escadas de concreto passo a passo, desde a obtenção das ações até o detalhamento das armaduras. Dimensões Normalmente as dimensões das escadas já são fornecidas pelo projeto de arquitetura mas uma regra conhecida como Fórmula de Blondel pode nos ajudar a definir essas dimensões: \mathrm{60 \leq p + 2 \cdot e \leq 64}60≤p+2⋅e≤64 Onde p representa o “piso” ou “passo” e varia normalmente de 25 a 30 cm e o e representa o espelho e varia normalmente de 16 a 18 cm. Para a largura do lance, é recomendado a largura mínima de 100 cm, sendo usual o uso de 120 cm como largura. PISO E ESPELHO DE UMA ESCADA Ações em escadas Peso próprio O peso próprio na região dos patamares pode ser calculado igual fazemos em lajes, apenas multiplicado a espessura pelo peso específico do concreto. Para os trechos inclinados uma solução muito utilizada é calcular o peso próprio a partir de uma espessura média de concreto. A espessura média pode ser calculada através das equações abaixo: \mathrm{cos \alpha = \dfrac{p}{\sqrt{e^2 + p^2}}}cosα=e2+p2p \mathrm{h_1 = \dfrac{h}{cos \alpha}}h1=cosαh \mathrm{h_m = h_1 + \dfrac{e}{2}}hm=h1+2e CÁLCULO DA ESPESSURA MÉDIA DE UMA ESCADA Ao reduzir as equações acima obtemos: \mathrm{h_m = \dfrac{h}{\dfrac{p}{\sqrt{e^2 + p^2}}} + \dfrac{e}{2}}hm=e2+p2p h+2e Revestimento O revestimento, assim como o peso próprio, é considerado como uma carga vertical por metro quadrado de projeção horizontal. O mesmo vai variar do material que o arquiteto detalhou em seu projeto. Na ausência dessa informação é recomendado utilizar uma carga de revestimento de 1,0 kN/m². Parapeito Uma outra ação que deve ser analisada ao calcularmos uma escada é a originada pelo peso dos parapeitos. Muitas vezes os mesmos são apoiados diretamente sobre vigas laterais, sendo assim, o carregamento não é considerado no dimensionamento da escada. Utilizando a altura, espessura e peso específico do material que compõe o parapeito é possível calcular a carga distribuída por metro: \mathrm{\gamma_a \cdot H \cdot t, \; kN/m}γa⋅H⋅t,kN/m Apenas para exemplo, podemos calcular a carga de um parapeito de tijolo cerâmico furado (\mathrm{\gamma_a = 13 \; kN/m^3}γa=13kN/m3) com 15 cm de espessura e 1,0 m de altura: \mathrm{\gamma_a \cdot H \cdot t = 13 \cdot 1,0 \cdot 0,15 =1,95 \; kN/m}γa ⋅H⋅t=13⋅1,0⋅0,15=1,95kN/m Sobrecarga de utilização Usualmente, a única ação variável presente em escadas são as sobrecargas de utilização, também conhecidas como carga acidentais, que de acordo com a ABNT/NBR: 6120 (1980) devemos considerar: 3,0 kN/m² para escadas com acesso ao público 2,5 kN/m² para escadas sem acesso ao público Ao existirem parapeitos apoiados sobre a escada, a norma ABNT/NBR: 6120 (1980) informa que deve-se considerar uma ação horizontal 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma carga vertical mínima de 2 kN/m. CARGAS ACIDENTAIS AO LONGO DOS PARAPEITOS No caso de degraus isolados, sejam esses em balanço ou biapoiados, os mesmos devem ser calculados com uma carga concentrada de 2,5 kN aplicada na posição mais desfavorável. Sendo que essa verificação é feita separadamente da verificação contendo a carga variável distribuída uniformemente. Modelo de cálculo Para o modelo estrutural de uma escada apoiada no nível inferior, no nível superior e no nível intermediário (viga do patamar), um modelo composto apenas por elementos de barra é o suficiente para a obtenção dos esforços. Caso tenha interesse de ingressar na área de cálculo estrutural e além disso contribuir para o blog, recomendo a aquisição do livro dos professores Roberto Chust e Jasson Rodrigues A figura abaixo ilustra um modelo estrutural de um lance de uma escada: MODELO ESTRUTURAL DE UMA ESCADA Exemplo aplicado Para aplicarmos os conceitos acima estudados vamos calcular uma escada com lances adjacentes com espelho de 17 cm, piso (ou passo) de 30 cm e espessura de 12 cm. Essa escada será executada com concreto C20 e a mesma é apoiada sobre vigas nos níveis inferiores e superiores, assim como no nível do patamar, por vigas de 20 cm de largura. O pé direito do pavimento é de 3,06 m e o patamar está localizado a meia altura (1,53 m). PLANTA BAIXA DA ESCADA ESTUDADA Calculo das ações Para esse exemplo temos que calcular 4 ações: peso próprio na região do patamar, peso próprio na região inclinada, revestimento e carga acidental distribuída uniformemente. O peso próprio do patamar pode ser calculado apenas multiplicando a espessura pelo peso específico do concreto: \mathrm{g_{pat} = 0,12 \cdot 25 = 3 \; kN/m^2}gpat=0,12⋅25=3kN/m2 Para o peso próprio da região inclinada é necessário calcular inicialmente uma espessura média, que pode ser calculada pela equação simplificada abaixo: \mathrm{h_m = \dfrac{h}{\dfrac{p}{\sqrt{e^2 + p^2}}} + \dfrac{e}{2}}hm=e2+p2p h+2e \mathrm{h_m = \dfrac{0,12}{\dfrac{0,30}{\sqrt{(0,17)^2 + (0,3)^2}}} + \dfrac{0,17}{2}}hm=(0,17)2+(0,3)20,300,12+20,17 \mathrm{h_m = 0,22293 \; m}hm=0,22293m \mathrm{g_{inclinado} = 0,22293 \cdot 25 = 5,57 \; kN/m^2}ginclinado =0,22293⋅25=5,57kN/m2 A escada será considerada sem acesso ao público, logo a sobrecarga de utilização é de 2,5 kN/m². Para o revestimento iremos considerar o valor de 1,0 kN/m². Em resumo, no trecho do patamar temos um carregamento total de 6,5 kN/m² e no trecho inclinado de 9,07 kN/m². Obtenção dos esforços A partir das ações calculadas acima é possível calcular os esforços solicitantes utilizando apenas um modelo composto por elementos de barra. Para isso, utilizaremos uma faixa de 1,0 m de largura. O modelo utilizado para obtenção dos esforços pode ser observado na figura abaixo: MODELO DE CÁLCULO ESTRUTURAL DE UMA ESCADA Observe que a projeção horizontal do trecho inclinada e a dimensão do trecho reto foram incrementadas em 10 cm, uma vez que o apoio foi considerado no eixo das vigas. É possível obter a reação do apoio esquerdo pela equação abaixo: \mathrm{V_A=\dfrac{9,07 \cdot 2,5 \cdot (1,25+1,3)}{3,8}+\cdots}VA =3,89,07⋅2,5⋅(1,25+1,3)+⋯ \mathrm{\dfrac{6,5 \cdot 1,3 \cdot 0,65}{3,8}=16,66 \; kN}3,86,5⋅1,3⋅0,65 =16,66kN Com isso a equação de momento fletor do primeiro trecho fica: \mathrm{M(x)=16,66 \cdot x - 9,07 \cdot \dfrac{x^2}{2}}M(x)=16,66⋅x−9,07⋅2x2 Aplicando x igual a 2,5 m obtemos o valor 13,3 kN.m. A fim de calcular o máximo momento fletor no trecho um podemos derivar a equação acima e igualar a zero: \mathrm{-9,07 \cdot x +16,66 = 0 \rightarrow x = 1,837}−9,07⋅x+16,66=0→x=1,837 Aplicando x igual a 1,837 m obtemos o momento fletor de 15,3 kN.m, que é o momento fletor máximo atuante no lance. DIAGRAMA MOMENTO FLETOR DA ESCADA Dimensionamento e detalhamento Considerando a altura útil igual a 9,5 cm, para resistir a um momento de 15,3 kN.m (momento fletor máximo) será necessário uma área de aço de 5,83 cm²/m. O processo de obtenção dessa área de aço é basicamente o mesmo realizado no dimensionamento de vigas de concreto armado. Resolução por software de flexão simples \mathrm{M_d = 1,4 \cdot 1530 = 2142 \; kN \cdot cm} \mathrm{As = 5,83 \; cm^2} Baixe agora! Usando a tabela a abaixo para converter uma área de aço por metro em uma bitola e um espaçamento chegamos em barras de 10 mm a cada 12,5 cm (6,4 cm²/m efetivos). TABELA DE ÁREA DE AÇO POR METRO Finalmente, como a largura de cada lance é 1,2 m utilizaremos 10 barras de 10 mm para o detalhamento do lance. É importante perceber que nesse post não fizemos nenhuma verificação de estado limite de serviço: verificação dos deslocamentos (conforme visto nas verificações de deslocamento de lajes nervuradas) e de fissuração. Apesar de usualmente escadas não necessitarem de armadura para resistir esforço cortante, essa verificação ainda deve ser feita. Podemos utilizar a mesma verificação realizada para cisalhamento em lajes. Se você gostou desse texto ou se ainda possui alguma dúvida, deixe uma mensagem para mim nos comentários abaixo!