Uploaded by marcia_afonso1

Pushing the Limits (Secrets Kept #2) by Riley Hart

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estrangeiras com temática M/M e F/F.
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Eu tinha quatorze anos quando meu pai se casou com a mãe de Lane e
nossas famílias se tornaram uma só, quando meus momentos favoritos eram
aqueles em que passávamos a noite acordados, conversando ou assistindo
Lane criar arte.
Não existem muitas coisas mais inconvenientes do que amar seu meioirmão. Conheço os limites, e isso é forçá-los demais.
Ao longo dos anos me afastei dele. Era mais fácil quando ele partiu para
Nova York, mas agora está de volta, não apenas em Atlanta, mas em minha
casa, tentando recuperar o que perdemos.
Como posso dizer ao meu próprio meio-irmão que o quero em minha
cama? Que quero chamá-lo de meu?
Um beijo muda tudo.
Nossa família unida não entenderá. Nossos amigos também não. Mas não
importa o quanto eu não queira decepcioná-los, agora que estamos onde
devemos estar, não vou embora. Mesmo que eu tenha que perder tudo para
mantê-lo.
Pushing the Limits é um romance de meio-irmão com um personagem principal
arrogante, que mostra sua vulnerabilidade através do homem que ele não deveria
querer, pintura sexy e um amor que desafia as probabilidades.
Isaac
Quatorze anos de idade
Puxei a gravata idiota em volta do meu pescoço estúpido.
Papai estava casado... casado.
Não conseguia descobrir como me sentia sobre isso. Quer dizer, eu
gostava de Helena, minha nova madrasta. Oh, droga. Eles esperavam que
eu começasse a chamá-la de mãe agora que era oficial? Nada contra ela, mas
não tinha certeza se poderia fazer isso. Helena era legal e engraçada. Sempre
perguntava como foi meu dia na escola, ou se eu estava bem, porque ela é
boa em emoções e em compartilhá-las. Nunca respondo honestamente – não
sobre como estou me sentindo, pelo menos – mas é legal que ela pergunte.
No início, papai foi consumido vivo pela sua própria dor, e eu não queria
aumentar isso, então me esforcei para ficar bem. Acho que fiz o papel tão
bem que quando ele melhorou, não perguntou... E eu estava bem, mas
também não estava. Eu não sabia como isso fazia sentido, mas dentro de
mim fazia.
Tudo o que sabia era que Helena fez meu pai sorrir novamente quando
nada era capaz de fazer isso há anos, nem mesmo eu.
Muito menos eu.
Uma pontada perfurou meu peito, fazendo meu coração parecer que se
despedaçou. Talvez ele me culpasse pela mamãe. Às vezes eu me culpava.
Levantei-me da cama, fui até a janela e olhei para o quintal. Havia cerca
de cinquenta pessoas lá embaixo comemorando. A música estava tocando.
Havia dança, comida e sorrisos. Quando meu olhar encontrou meu pai, ele
estava rindo de alguma coisa. Risos enormes, sua cabeça jogada para trás
enquanto Helena descansava a mão em seu peito, sorrindo como se meu pai
fosse sua coisa favorita no mundo inteiro. Ele a olhava do mesmo jeito. Ele
costumava olhar para mamãe dessa maneira também.
Eu o observei olhá-la, e pude ver o quanto a amava. De muitas maneiras,
ela o trouxe de volta dos mortos. Ele estava perdido quando mamãe morreu.
Tão de coração partido que a casa não foi limpa, e a comida não foi cozida,
e ele não foi trabalhar por semanas a fio até que chamei minha avó para vir
e ajudar.
Ela o havia arrumado um pouco, o enviado de volta ao trabalho e me
ajudado a colocar a casa em ordem. Ele estava bem quando ela voltou para
a Califórnia, mas não estava feliz. Mal olhava para mim e, quando olhava,
eu via a dor em seus olhos.
As coisas melhoraram, mas ele ainda não ria como ria hoje, do jeito que
ele ria com mamãe, até que ele e Helena começaram a passar tempo juntos.
O que significava que eu precisava parar de ser um pirralho mimado.
Talvez a vovó pudesse me ajudar a me recompor, como ela fez com o papai.
Mas então, acho que teriam que saber como eu me sentia para que isso
acontecesse. Eu era melhor em esconder isso do que ele.
Limpei a única lágrima que vazou do meu olho, fechei a porta na minha
cabeça onde mantinha esses tipos de sentimentos escondidos e bloqueei as
memórias dos meus pensamentos.
Meu olhar percorreu o quintal, longe de Helena e papai, até que pousou
em Lane. Iríamos para a mesma escola agora. Também tínhamos a mesma
idade, mas era aí que nossas semelhanças paravam. Seu cabelo era muito
longo, uma bagunça de cachos loiros que parecia que ele não penteava há
semanas, mas eu sabia que ele havia penteado. Helena o tinha feito antes da
cerimônia, mas nunca ficava domado. Usava um terno que combinava com
o meu, só que o dele era mais largo nele. Ele era meio esquelético, todo
comprido e magro – foi o que a vovó disse. Ele não praticava esportes como
eu ou meus amigos. Não andava de bicicleta pelo bairro ou jogava jogos
noturnos nas ruas até suas pernas doerem de tanto correr. Mesmo agora, no
dia do casamento de nossos pais, ele estava sentado na grama no canto do
gramado, rabiscando no caderno de desenho que sempre carregava consigo.
Mas ei, pelo menos ao contrário de mim, ele não estava chorando em seu
quarto - que agora estava no mesmo corredor que o meu porquê ele e Helena
haviam se mudado.
Isso era tão estranho.
Lane era meio estranho também. Bonito, mas estranho.
Com um suspiro, virei-me e fui para a porta, depois desci e voltei para
fora. Quando cheguei lá, eu tinha colado o sorriso que todos estavam
familiarizados.
— Isaac! Aí está você! Estava me perguntando aonde tinha ido. — Os olhos
do papai brilharam de alegria. Fui até ele, e passou um braço em volta de
mim. — Estou tão feliz. Eu te amo, garoto.
— Eu te amo, pai, e estou feliz também.
Lane se aproximou e ficou por perto, observando papai e eu, um olhar
curioso em seus olhos, e inclinou a cabeça ligeiramente. Seu olhar queimou
através de mim, como se deslizasse dentro dos meus poros de alguma forma
para que ele pudesse explorar partes de mim que eu mantinha escondida do
mundo. Mexi-me desconfortavelmente, não gostando nada dessa sensação.
Helena colocou uma mão no meu ombro, depois outra no de Lane
também. — Somos uma família agora. Prometo te amar e te apoiar assim
como eu faço com Lane. A família é o mais importante.
Engoli em seco, gostando de suas palavras, gostando do pensamento de
ter isso de novo. Quando meu olhar piscou para cima, encontrou os grandes
olhos castanhos de Lane, firmemente em mim, questionando.
Limpei a garganta e acenei para Helena.
Um dos amigos de papai lhe entregou uma taça de champanhe e ele a
ergueu. — Para minha família... minha linda nova esposa e nossos incríveis
dois meninos. Mal posso esperar para passar o resto da minha vida com
você.
E enquanto todos aplaudiam ao nosso redor, Lane e eu apenas nos
observávamos.
— Como está Isaac? Aquele menino adorava a mãe dele. — vovó perguntou ao
meu pai, e me doeu até os ossos só com a pergunta.
— Ele está bem. Ele a amava tanto, nós dois amávamos, mas Isaac... eu não sei,
ele é apenas melhor que a maioria das pessoas para lidar com a situação. É o garoto
mais forte que já conheci. Talvez seja mais fácil para ele porque é jovem e não entende
muito bem? — Eu sabia que não deveria ouvi-los falar, mas não consegui me afastar.
— Eu o invejo. Ele é como um adulto no corpo de uma criança de dez anos. Até o
jeito que ele ligou quando precisei de você. É um bom garoto, o melhor. Gostaria de
ter sua resiliência, no entanto. Quão triste é invejar seu próprio filho?
Papai estava... o quê, com inveja de mim? Pensou que eu era forte? Eu não me
sentia assim. Eu simplesmente não tinha escolha a não ser fingir que era.
Estou sofrendo também. Só não sei como admitir.
Mas então, eu queria deixá-lo orgulhoso. Queria ser alguém em quem as pessoas
pudessem confiar. Mamãe tinha sido assim. Talvez se eu fosse isso para papai, ele se
sentiria melhor novamente.
— Você só está sofrendo agora, Timothy. — Vovó disse.
— Ainda não é uma desculpa. — Papai ficou quieto por um momento, então
acrescentou: — Dói... olhar para ele às vezes. Ele se parece tanto, me lembra tanto
dela. Ambos tão fortes, tão resistentes. Que tipo de pai eu sou? Que tipo de pai luta
para olhar para o próprio filho?
Suas palavras me cortaram, golpe após golpe no meu coração, e quando papai
começou a chorar, eu também chorei.
— Isaac, acorde. Você está tendo um pesadelo ou algo assim.
Meus olhos se abriram ao som da voz de Lane. Ele estava sentado na
beirada da minha cama, tinha acendido o abajur na minha mesa de cabeceira,
e eu nem tinha percebido.
— O que está fazendo aqui? — Puxei meu braço de debaixo de sua mão.
— Fui ao banheiro. Sua porta não estava totalmente fechada. Ouvi você
chorando em seu sono.
Esfreguei meu rosto, e caramba, ele estava certo. Eu estava chorando.
— Era sobre sua mãe? Eu ainda choro às vezes também quando penso no
meu pai.
Que diabos? Como ele acabou de dizer algo assim? Eu não entendia, não
conseguia entender... ou porque eu queria responder. Por que eu iria querer
dizer a ele como me sentia? Esse garoto que tinha acabado de se mudar para
nossa casa porque nossos pais se casaram hoje.
Mas por alguma razão, eu disse. — Estou bem.
— Você quer conversar?
— Não.
— Ah... Posso ficar um pouco? É estranho saber que moro aqui agora. Não
consigo dormir.
Olhei para ele por um segundo, para aqueles olhos castanhos que
pareciam quase grandes demais para seu rosto. Abri a boca para dizer não,
mas não foi isso que saiu. — Certo.
Nós não conversamos. Sentei-me e ele ficou onde estava, e nós apenas
ficamos.
Às vezes eu tenho pesadelos sobre quando minha mãe morreu, eu queria contar
a ele, mas não contei. Papai achava que eu era forte, e eu ainda estava
tentando provar que ele estava certo.
Isaac
— Passe longo! — DJ, um dos meus amigos, gritou. Corri pelo quintal
enquanto ele puxava o braço para trás e jogava a bola na minha direção.
Peguei, então lancei uma espiral perfeita de volta para ele.
— Parceiro! Aquilo foi legal!
— Obrigado! — Gritei de volta. Brincamos um pouco antes de Johnny,
outro amigo, aparecer. Fazia apenas um mês que estávamos de volta à escola
- papai e Helena estavam casados há alguns meses. Eles não estavam em
casa, mas Lane estava lá dentro, fazendo o que quer que ele fizesse em seus
cadernos.
Quando cansamos de brincar, fomos para a varanda e nos sentamos.
— O que você tem em matemática até agora? — Johnny me perguntou.
— Um A.
— Você tem tanta sorte que é bom nessa merda. — Acrescentou DJ, mas
apenas dei de ombros. — Como é ter uma nova mãe e irmão?
— Ela não é minha mãe. — rebati.
Johnny franziu a testa. — Você não gosta dela?
A culpa imediatamente tomou conta de mim. Helena era ótima. — Ela é
legal. Ela é apenas... não sei, me ignore. É legal. Ela gosta de assar, e seus
biscoitos são bombásticos.
Eles riram, e então DJ disse: — Seu irmão é meio estranho, no entanto. Ele
é um idiota total. Acho que o cabelo dele pesa mais do que o resto dele. Há
uma razão para ele não ter amigos. — Eles se cumprimentaram, rindo.
— Não fale merda sobre ele. Ele é legal. — Realmente não o conhecia
muito bem ainda, mas ele era legal, e era meu irmão agora. Nós não
tínhamos nos deitado juntos à noite novamente do jeito que fizemos no dia
em que nossos pais se casaram, e ele não tocou no assunto. E DJ e Johnny
estavam certos. Lane era diferente – e também bagunçado, o que era irritante
– mas eu não gostava que as pessoas falassem sobre ele.
Eles perceberam que eu estava falando sério e deixaram a conversa sobre
Lane de lado, mas Johnny acrescentou: — Deve ser estranho, no entanto. Isso
te deixa triste? Tê-los morando aqui? Te faz sentir mais falta da sua mãe? Ela
era incrível.
Suas palavras pareciam como se ele tivesse dado um soco no meu peito,
então agarrou meu coração e o apertou em um punho. Eu conhecia Johnny
a maior parte da minha vida. A mãe dele era amiga da minha. Abri a boca
para dizer alguma coisa, mas a princípio nada saiu. Na segunda vez que
tentei, consegui dizer: — Foi há quatro anos.
Esperei, me perguntei se iriam cavar mais fundo, se pediriam mais, mas
não perguntaram.
— Eu deveria fazer minha lição de casa. — Finalmente disse, e DJ e Johnny
foram embora.
Papai e Helena trouxeram pizza para casa para o jantar, que todos nós
comemos à mesa juntos, rindo e conversando sobre o nosso dia, mas Lane
estava mais quieto do que de costume. Senti seus olhos em mim, mas toda
vez que eu olhava para ele, ele se virava. E de vez em quando, quando eu
olhava, ele estava se distanciando, olhando para seu prato.
Depois, subi e fiz minha lição de casa, joguei um pouco de videogame e
tomei um banho. Quando houve uma batida na minha porta, eu disse: —
Entre — e fiquei surpreso ao ver Lane lá. Seu cabelo estava molhado como
se ele tivesse acabado de sair do banho depois de mim. — Ah, hum... ei. —
Joguei a bola de futebol que estava segurando no chão e me sentei na cama.
— Ei. — Ele entrou e se sentou no colchão como tinha feito naquela
primeira noite.
Então me dou conta. — Você os ouviu, hein? — As janelas estavam
abertas, e ele agiu de forma estranha depois que saíram.
— É por isso que você disse a eles que sou legal e para não falar merda?
Por que você sabia que eu estaria ouvindo?
— Não. Você é meu irmão agora. Acho que deveríamos proteger um ao
outro.
Lane olhou para mim e me deu um sorriso cheio de dentes. — Sempre quis
um irmão.
Eu realmente não tinha pensado nisso, mas ainda assim eu disse: — Eu
também.
Ficamos quietos novamente, nós dois apenas sentados ali, sem saber o que
dizer. Alguns minutos se passaram, e então Lane disse: — Está tudo bem,
você sabe.
— O que está bem?
— Se você está triste. Parece que você está, mas nunca fala sobre isso.
Sempre que alguém menciona sua mãe, você muda de assunto. — Minhas
mãos começaram a tremer, mas ele continuou, sem perceber. — Você olha
para baixo às vezes, quando acha que ninguém está olhando. Ouvi você de
novo... tendo um pesadelo e... É estúpido, acho, mas queria ter certeza de
que sabe que está tudo bem ficar triste, sentir falta dela, e ser estranho que
mamãe e eu estejamos aqui. Não precisa ser forte o tempo todo, Isaac. Se
quiser falar com alguém, estou aqui. Somos irmãos, afinal.
Eu não conseguia fazer nenhuma palavra sair. Embora soubesse que era
normal ficar triste, ninguém me disse que estava tudo bem, não na minha
cara. Ninguém me pressionou quando eu disse que estava bem. Não me
disseram que eu não precisava ser forte.
Mas esse não foi o único pensamento na minha cabeça. Lane não era como
ninguém que já conheci. Nenhum dos meus amigos falava como ele, não
realmente. Eles não me fizeram sentir que talvez fosse realmente seguro falar
com eles e não iriam rir ou me fazer sentir estúpido sobre isso. Lane me fez
querer ser vulnerável por um tempo. — O que você faz nesse caderno? —
Perguntei em vez de responder.
— Desenho. Posso pintar também. — Oh sim. Helena havia falado sobre
ele ser um artista, mas ele nunca mostrou a ninguém o que estava em seus
cadernos. — Quer ver?
Parte de mim sentiu que deveria dizer não, mas respondi com um — Sim.
— A parte louca era que era a verdade.
— Vamos. Vou te mostrar. — Lane entrou em seu quarto e eu o segui.
Havia roupas por todo o chão.
— Você é uma bagunça.
— O que você quer dizer? — Ele perguntou, me fazendo rir.
Lane me mostrou seus desenhos. Conversamos até tarde da noite, depois
adormecemos juntos, bem ali na cama dele.
Lane
Dezesseis anos de idade
No ano passado, Isaac, Timothy e eu terminamos de reformar o sótão,
transformando-o em estúdio de arte. Eu não era tão bom nesse tipo de coisa
como eles eram. Timothy fez muito com as mãos e ensinou Isaac a fazer o
mesmo. Meu pai não era assim. Ele gostava mais de livros e literatura - todas
as artes, na verdade. Herdei meus talentos dele, embora ele tenha me dito
que eu era melhor do que ele. Eu não sabia se acreditava, mas costumava
fazer eu me sentir bem.
Ainda assim, estava disposto a tentar quase tudo, então eu estava ali com
Isaac e Timothy, trabalhando. Afinal, o estúdio era para mim. Tinha que
fazer muito mais perguntas do que Isaac fez, especialmente porque ele
raramente tinha alguma, mas era sempre ele quem tentava respondê-las. Ou
quem viria para ver como eu estava ou tiraria um tempo para me explicar
alguma coisa.
Não que Timothy não tentasse ou não quisesse. Ele era um cara legal.
Gostava de nos ensinar coisas. Sempre nos pedia para assistir a esportes com
ele ou jogar bola ou beisebol, mas isso era mais coisa de Isaac do que minha.
Tive sorte de mamãe ter se apaixonado por um homem como ele. Pelo que li
nos livros e vi na televisão, padrastos tendiam a ser idiotas, mas o meu não
era.
Meu irmão também não.
Ele era realmente meio perfeito.
Nós não tínhamos muito em comum, não realmente. Eu era mais quieto,
enquanto ele era mais franco. Ele estava sempre namorando uma garota ou
outra, e eu nunca tive uma namorada. Isaac tinha um grupo enorme de
amigos, todos gostavam dele ou queriam ser como ele, enquanto eu estava
contente com as duas pessoas com quem andava – qualidade era mais
importante que quantidade. Isaac era o quarterback do nosso time de futebol
do colégio, enquanto eu nem iria aos jogos se não fosse por ele jogando e
mamãe me fazendo ir para o tempo da família. Embora eu faria isso para
apoiá-lo. E em noites como esta, enquanto eu estava em casa, pintando à
meia-noite de um sábado, Isaac provavelmente estava bebendo num barril
de cabeça pra baixo em qualquer festa que seus amigos estivessem dando
neste fim de semana.
Apesar de tudo isso, nos últimos dois anos, ele de alguma forma se tornou
não apenas meu irmão, mas meu melhor amigo - embora o último fosse
principalmente em casa. Passamos muito tempo juntos, nos perdendo nisso
ou naquilo. Isaac conversou comigo, compartilhou coisas comigo de uma
forma que não fazia com mais ninguém. Começou não muito depois daquela
noite quando eu mostrei a ele meus esboços, dos quais eu não era mais tão
tímido.
Ele até me contou sobre seus pesadelos, como às vezes sonhava com o dia
em que encontrou sua mãe depois que o aneurisma a levou. Como estava
com medo de perder seu pai também, que, de certa forma, ele o havia
perdido para a depressão depois que sua mãe morreu, até que Timothy e
mamãe se aproximassem.
— Merda! — amaldiçoei quando ouvi a porta do sótão, então um som de
tropeço nas escadas. Corri e vi Isaac chegando com um sorriso bobo no rosto,
antes que ele quase se desequilibrasse novamente. — Shh. — Agarrei seu
pulso e o puxei atrás de mim. — Mamãe e papai vão te ouvir.
Isaac era... bem, ele era o garoto da porta ao lado. Embora eu tivesse
crescido nos últimos dois anos e não fosse tão magricela como eu era, ele
sempre foi assim. Ele era alto e musculoso por causa dos esportes. Manteve
seu cabelo preto em um corte estiloso, e seus olhos azul-acinzentados... eles
sempre tinham tanta coisa acontecendo neles - felicidade, tristeza, tudo
estava lá, mas ninguém se deu ao trabalho de olhar. Eles agora encontraram
os meus, e uma pequena carranca curvou seus lábios.
— O quê? — Perguntei.
— Nada. Você está sempre aqui em cima, e eu estava entediado. — Ele se
joga no sofá. Além do sofá, havia um cavalete, uma escrivaninha e uma
cadeira, e isso era tudo de mobília. Mamãe tinha me dado uma mini
geladeira para bebidas porque eu poderia me perder na minha arte por
muito tempo.
— Você literalmente acabou de chegar em casa. Como pode ficar
entediado? E se você acordar nossos pais vai ter problemas por estar bêbado.
Ele luta para controlar suas feições, tentando pra caramba fazer uma cara
séria, mas parecendo que estava mordendo as bochechas para não sorrir. —
Não estou bêbado. Não estou.
— Você está tão bêbado. — Pego uma garrafa de água para ele na
geladeira. — Você se divertiu?
— Sim, sim, eu me diverti.
— Você tem um chupão no pescoço.
— Sim. Sim, eu tenho. — Nós rimos. Eu ainda não conseguia acreditar, às
vezes, o quão próximos éramos. Quando mamãe e Timothy começaram a
namorar, embora Isaac sempre fosse legal comigo, eu não tinha previsto nos
tornando amigos.
Todas as garotas achavam que ele era gostoso, e ele tirava nota máxima e
ainda festejava, praticava esportes e ajudava o pai nos fins de semana no
quintal. Ele mantinha seu quarto sempre limpo e nunca deixava suas roupas
no chão do banheiro. Às vezes era difícil acreditar que ele era real. Metade
do tempo, eu me perdia em uma pintura e mamãe vinha três vezes para me
dizer para fazer algo antes que eu me lembrasse de fazê-lo. E minha bagunça
incomodava todo mundo.
— De quem é? — Perguntei.
— O quê?
— O chupão. — Sentei-me na almofada ao lado dele.
— Oh. Merda. Emma Larson. Eu a convidei para sair. Ela disse sim. —
Balançou as sobrancelhas.
— Cara, você acabou de terminar com Jessica na semana passada. — Mas
Emma era muito bonita, e eu podia ver por que Isaac gostaria dela. Além
disso, eu tinha inglês com ela e sabia que ela era mais legal que Jessica.
— E daí?
— Tanto faz. — Me levanto, e Isaac ri. Vou até a mesa e pego meu caderno
de desenho. — Fique quieto e deixe-me te desenhar.
— Odeio quando você quer me desenhar.
Ele sempre dizia isso, mas sempre me deixava. Não achava que ele
realmente não gostava. — Não sou tão bom com as pessoas, mas elas são
minhas favoritas. Preciso praticar para a faculdade. — Eu ainda estava
tentando descobrir quem eu era, qual era meu estilo e quem eu seria como
artista.
Isaac balançou a cabeça, tirou os sapatos e se deitou no sofá. Suas pernas
penduradas sobre o braço disso porque ele era muito longo. — Você é o
melhor artista que conheço.
— Sou o único artista que você conhece.
— Bem, você ainda é bom pra caralho. — Ele virou a cabeça para o lado
para olhar para mim.
— Bem desse jeito. Não se mova. — Peguei um lápis de carvão e puxei a
cadeira na frente dele.
— Mas faz sentido... porque você iria querer desenhar alguém tão gostoso
quanto eu. — Isaac brincou. Ele não tinha falta de confiança, isso era certo,
mas eu também sabia que parte disso era uma fachada.
Assim como de alguma forma, sabia que ele estava triste esta noite.
— Você sabe que não tem que fingir comigo. Você nunca tem. — eu disse,
começando a desenhar.
— Não estou fingindo. Sou gostoso. Todas as meninas dizem isso.
Elas diziam, mas ele era meu irmão e um cara, então eu não o via assim.
Eu o ignorei porque não queria discutir com ele. Além disso, eu conhecia
Isaac. Ele se fechava quando não estava pronto.
Então desenhei, e ele ficou ali me observando. Eventualmente, fechou os
olhos, mas eu poderia dizer que ele não estava dormindo.
Esfreguei meu dedo sobre a linha de carvão que acabei de desenhar,
borrando um pouco o cabelo de Isaac. Ele abriu os olhos e olhou para mim.
— O que há de errado? — Eu não podia mais segurar minha língua.
— Como você sempre sabe quando algo está errado?
Dou de ombros. — Apenas conheço você.
— Ninguém mais conhece.
Fiz uma careta, sem saber como responder a isso. — Vínculo de meioirmão, eu acho.
Isaac revirou os olhos, então os virou de volta para mim. Ele não disse
nada por um tempo, e eu também não. Continuei desenhando, esperando.
Minha mão estava doendo porque eu tinha estado nisso o dia todo, mas ele
queria falar, eu podia sentir isso, então eu ficaria acordado a noite toda se
fosse preciso.
— Posso te contar um segredo? — Ele finalmente perguntou.
— Obviamente.
— Isso é grande pra caralho, Lane. Estou falando sério. Você não pode…
na verdade, não. Não consigo nem…
Náusea revirou em meu estômago, fazendo-o parecer pesado. Eu coloquei
o caderno e o lápis para baixo. Claramente, isso era importante. Ele nunca
soou tão inseguro de si mesmo antes. — Pode me dizer qualquer coisa.
Sempre.
Isaac balançou a cabeça. Sentou-se. Esfregou as palmas das mãos contra
os olhos. — Merda. Odeio quando fico bêbado e digo coisas que não quero
dizer para você.
— Você não disse nada ainda — respondi, e então. — Sou só eu. Sou seu
irmão. Você pode me dizer qualquer coisa.
Ele apoiou os cotovelos nos joelhos, enterrou o rosto nas mãos, a perna
direita saltando para cima e para baixo. Ele deixou cair um braço. — Eu... eu
não gosto de Emma. Porra, por que estou te dizendo isso?
Huh? Era isso? — Então não saia com ela. Tudo bem não ter namorada,
Isaac. Mesmo que tenha deixado ela te dar um chupão.
— Não, quero dizer... oh meu Deus. Não posso acreditar que vou dizer
isso... — Diga, diga, diga. — Eu também não gostava de Jessica.
— OK…
Seus olhos me encararam tão intensamente, implorando para que eu
entendesse o que ele estava tentando me dizer, e... oh. Uau. Sem chance.
— Você está dizendo que não gosta de garotas? — Ele já tinha feito sexo
duas vezes, e eu nunca tinha beijado ninguém.
Isaac hesitou... então assentiu.
— Você é gay?
Ele se sentou ereto, cabeça erguida, máscara firmemente no lugar,
tentando fingir que não estava nervoso, que não estava com medo de como
eu reagiria. — Sim.
— Merda, cara. Não me importo com isso. Você achou que eu iria? —
Fiquei chocado. Sim, se eu não estivesse sentado, alguém poderia ter me
derrubado com o dedo mindinho, mas não me importei.
Isaac deu um suspiro de alívio. — Não, na verdade não. É assustador pra
caralho, então parte de mim se preocupou... mas não com você. Sei que você
não é homofóbico. Eu só... Esta noite eu a estava beijando, e ela estava me
beijando, e abri a porra da boca e a convidei para sair. Não sei por que fiz
isso porque na minha cabeça, estava pensando, não gosto de você, não gosto de
garotas, eu queria que você fosse um cara. E agora estou tão puto comigo mesmo.
Não quero brincar com os sentimentos de alguém. Sou gay. E daí? Não sinto
isso... esse sentimento de insegurança.
Ele sentia, no entanto. Só não gostava que ninguém soubesse.
Encontrei uma maneira de me levantar, caminhei até ele e sentei-me ao
seu lado. — Estou feliz que se sinta confortável me dizendo. E o que você
precisar, eu te protejo. Quando estiver pronto para assumir, estarei ao seu
lado quando o fizer. Mamãe e papai, não vão se importar. — Nossos pais
não eram assim. Eles não tinham um osso odioso em seus corpos.
— Eu sei. E eu ainda não consigo descobrir como você faz isso, chamá-lo
de pai.
Dei de ombros. — Amo meu pai, e ele sempre será meu pai, mas ele se foi.
Timothy é um cara legal. — Eu sabia que era mais difícil para Isaac. Que ele
não podia chamar minha mãe por nada além de Helena. Isso não significava
que ele não a amava, porque amava. Isaac foi construído de forma diferente
de mim. — Ele é meu pai, e você é meu irmão. Somos uma família.
Ele se encolheu e desviou o olhar.
— O quê? — Perguntei.
— Nada.
Eu provavelmente o fiz se sentir mal com a coisa de mãe/pai. Isaac
também não me chamava de irmão tanto quanto eu o chamava, mesmo
sabendo o quanto ele se importava comigo.
— Pensei que você também fosse... gay ou algo assim. Que você me diria
quando eu lhe dissesse.
— Oh. — Eu me sentia mal, como se o estivesse decepcionando, como se
tivesse falhado em algum teste. — Sinto muito. Posso não ter beijado uma
garota ainda, mas sei que quero.
— Você poderia ser bi. Ou quando fizer isso com uma garota, pode não
gostar — respondeu, fazendo meu coração quebrar por ele. Isaac não queria
estar nisso sozinho. Nós nem sequer tínhamos pessoas gays em nossa escola,
e até onde eu sabia, ele não conhecia nenhum gay. Eu também não, além
dele. Desejei poder mentir para ele, desejei poder dizer a ele que sentia
atração por caras também, mas simplesmente não sentia.
— Acho que não, Isaac.
Ele enxugou os olhos, mas não vi nenhuma lágrima lá. Isaac ficou de pé.
— Sim, isso foi estúpido. Não sei por que pensei isso. Meios-irmãos gays ou
qualquer outra coisa. Estamos aqui, somos queer, e outras coisas
semelhantes. Eu estava esperando que tivesse algumas recomendações de
pornografia cara com cara.
Ele riu, mas eu não. Eu o machuquei, e odiava machucá-lo. Era como
quebrar meu próprio coração quando o fazia. — Sinto muito.
Ele se virou para a janela. — Que idiotice. Não precisa se desculpar por
ser heterossexual. Estou apenas sendo um idiota bêbado esta noite. Vou
fazer isso, no entanto. Eu vou assumir. Vou terminar com Emma primeiro.
Deus, eu me sinto um merda sobre isso. E vou contar para Helena e papai,
depois esperar algumas semanas antes de fazer isso na escola. Não estou me
escondendo. Não sou fraco.
Meu pulso estava indo muito rápido por algum motivo. Meu peito estava
pesado. Tudo parecia que estava acontecendo muito rápido, como se de
alguma forma me faria perder Isaac.
— Não assumir não te faz fraco. Tenho certeza de que é assustador. Você
não precisa se apressar.
— Eu sei. Eu só… foda-se. Por que esconder? De qualquer forma, vou para
a cama. Vou falar com você amanhã.
— Isaac, espere. — Levantei-me, mas ele me ignorou, desceu correndo as
escadas e saiu pela porta do sótão.
Caí de volta no sofá, sabendo que o decepcionara. Ele estava assustado e
magoado e triste. Gostaria de saber como consertar isso. Eu o apoiaria,
continuaria sendo seu melhor amigo, seu irmão, e faria com que ele sempre
soubesse que era amado.
Peguei meu caderno e lápis novamente, desenhei Isaac de memória,
pensei no que ele disse.
Não dormi muito naquela noite.
Ele terminou com Emma no dia seguinte.
Disse aos nossos pais que era gay depois - sem mim presente. Foi
bobagem, mas me senti magoado, como se ele não precisasse de mim. Eles
sentaram comigo mais tarde naquele dia, Isaac tendo saído, e me contaram,
sem perceber que eu sabia.
— Achamos importante compartilhar isso com você — disse mamãe. —
Isaac disse que podemos contar a você.
Ele fingiu que não tinha me contado? Claramente, ele tinha, então eu
também.
— OK. Eu o apoio, não importa o que aconteça.
— Esse é o meu menino. — Mamãe sorriu. — Nada mudou. Ele ainda é o
nosso mesmo Isaac. Somos uma família, e isso é tudo que importa, assim
como eu disse a ele. — Ela me abraçou, e concordei com a cabeça, me
sentindo... estranho. Eu não poderia entender o porquê.
Um mês depois, ele começou a contar para os amigos e, como se tratava
de Isaac, o cara que todos amavam, o garoto mais popular da escola,
ninguém se importou. Se fosse eu, as coisas teriam sido diferentes.
Mas eu não estava mentindo. Eu não me sentia atraído por caras, então
não podia ser gay.
Isaac
Dezoito anos de idade
O que se fazia quando se era um esquisitão apaixonado pelo irmão? Eu
vinha me fazendo essa pergunta há anos. Claro, Lane e eu não
compartilhamos sangue, mas para todos os efeitos, nós éramos irmãos.
Chamávamos um ao outro de irmão, nos apresentávamos às pessoas como
irmãos. Nossos pais nos consideravam irmãos. Ele chamava meu pai de pai.
Tivemos reuniões de família com nossos parentes e tiramos fotos de família.
Sentamo-nos à mesa para jantar juntos todas as noites, conversando sobre
nossos dias, planejando férias e... talvez eu estivesse um pouco obcecado por
ele, o que era estranho, não era?
Eu não sabia o que havia sobre Lane. Não foi muito depois que ele se
mudou que eu sabia que ele era diferente, e não do jeito que eu pensava a
princípio. Sim, ele era peculiar e artístico e não se importava com o que as
pessoas pensavam. Essas não eram as coisas que eu estava falando.
Era a maneira como ele me via, realmente me via, quando ninguém mais
via. O jeito que me perguntava se eu estava bem, quando todo mundo
achava que eu sempre estava. Como ele me disse que me negligenciei pela
dor de meu pai e enterrei a minha. Quero dizer, quem diabos falava assim
aos quatorze anos? Quinze? Mas Lane falou, e foi... bom.
Nunca tive que ficar fisicamente sozinho se eu não quisesse. Eu estava
sempre ocupado com amigos ou envolvido em atividades, mas me sentia
emocionalmente sozinho todos os dias depois que mamãe morreu, e talvez
até antes disso. A única vez que não sentia era...
— Boo!
Falando no diabo. Virei-me para a voz de Lane vindo da porta do meu
quarto. Meu coração disparou. Deus, eu era tão louco por esse cara porque
a única vez que eu não me sentia emocionalmente sozinho era quando eu
estava com ele.
Em um tom seco e monótono, eu disse: — Ah, não. Estou com tanto medo.
O que vou fazer?
— Idiota — ele brincou, empurrando seu cabelo para trás, apenas para cair
para frente novamente. Ele ainda o usava mais comprido do que eu, essa
pilha de cachos e ondas, um tom mais escuro do que um loiro mel,
balançando ao redor de sua cabeça. — Este é o nosso último verão em casa
antes da faculdade. Acredita nisso?
Lane estava indo para Nova York para a escola de arte. Eu estava indo
para a Califórnia, onde meu tio e minha avó moravam.
Foi algo que fiz de propósito – tentei ficar o mais longe possível dele
porque já tinha decidido que ia me forçar a superar essa paixão ridícula que
eu tinha pelo meu meio-irmão.
Eu estava saindo para a faculdade e planejava fazer sexo com todos os
meninos, com segurança e com o consentimento deles, era claro, até que eu
esquecesse meu pequeno... problema. Mal podia esperar para fazer sexo com
um cara. Sair do armário quando eu tinha dezesseis anos realmente
prejudicou minha experiência e liberação sexual. Eu tinha sido honesto sobre
quem eu era para me sentir mais livre, mas me coloquei em uma caixa muito
solitária de algumas maneiras porque não havia outros garotos assumidos
na nossa escola.
Lane me cutucou quando não respondi. — Vou sentir sua falta. É uma
loucura porque logicamente, sei que só se passaram quatro anos, mas é
como... — Ele deu de ombros. — Não sei. É como se eu não me lembrasse de
como era minha vida sem você.
Eu não sabia como ele fazia isso. A maneira como ele compartilhava como
se sentia tão facilmente. Eu fazia quando ele me pegava de bom humor ou
se eu estivesse bebendo, mas Lane podia fazer isso a qualquer momento.
— Provavelmente muito mais chato — eu disse a ele.
— Eu nem saio muito com você. Você não tornou minha vida mais
divertida.
— Okay, certo. Pare de mentir. — Deus, eu sentiria falta disso. Saudades
de conversar com ele e passar tempo com ele. Saudades dele desenhando ou
pintando, e de mim só observando. Era ridículo e um pouco nojento o jeito
que eu faria qualquer coisa por ele. Tipo, quem diabos observava alguém
pintar? E ele nem sabia o porquê e nunca saberia.
Meu pai e Helena provavelmente pensariam que eu era nojento.
O resto da nossa família provavelmente também.
— Vai sair com seus amigos esta noite? — Lane perguntou.
— Sim. Tenho que relaxar com eles enquanto posso. — Levantei-me e
caminhei em direção à janela, me lembrei de quatro anos atrás quando eu
estava no mesmo lugar, triste por papai ter se casado, e observei Lane
sentado sozinho na grama no canto do nosso quintal.
— Você tem estado estranho ultimamente. — disse Lane.
— Você sempre foi estranho. — Rebati. Não tive que olhar para trás para
saber que ele estava balançando a cabeça.
— Quer ouvir algo louco? — Lane perguntou. Algo louco para ele
geralmente era como... uma ideia realmente única para uma pintura.
— Certo. — Dei de ombros.
— Amanda quer fazer sexo comigo. — Eu me virei para encará-lo, e meu
choque deve ter aparecido no meu rosto porque Lane começou a rir. — O
quê? A ideia de eu fazer sexo é tão surpreendente assim?
Amanda era sua amiga mais próxima. E enquanto Lane tinha
amadurecido ao longo dos anos, ele ainda não teve uma namorada, nem
beijou ninguém até onde eu saiba. Ele nunca realmente falava sobre sexo do
jeito que outros caras que eu conhecia falavam, e estava muito mais
interessado em sua arte e ir para a faculdade do que ficar ou encontrar uma
namorada.
— Por quê? — Perguntei, sem saber mais o que dizer.
— Nossa, talvez ela pense que sou gostoso. Talvez ela goste de mim. Sei
que é um choque, mas...
— Não é um choque. — Eu gosto de você da maneira mais fodida. Estou
apaixonado por você. — É só que vocês são amigos. Eu nunca soube que havia
algo mais do que isso.
— Não há. Nenhum de nós quer ir para a faculdade virgem, então ela
perguntou sobre fazer isso comigo, e... bem, é meio perfeito, eu acho. Posso
ver o motivo de todo o alarido e talvez descobrir um pouco o que estou
fazendo antes de fazer isso com alguém que eu realmente gosto desse jeito.
Meu pau me traiu ao começar a engrossar, mas isso não era nada
comparado à dor no meu peito. Queria dizer a ele que não. Que não havia
nada de errado em ser virgem, mas como isso soaria vindo de mim? Eu
queria dizer a ele para fazer sexo comigo, mas não só eu era um homem, que
ele não estava interessado, mas seu irmão. Então, empurrei meus
sentimentos de lado e disse: — Só faça se tiver certeza.
— Você tinha certeza da primeira vez? — Ele perguntou, sabendo a
resposta para isso.
— Você não é como eu. Você é... — Melhor? Deixa seu coração guiá-lo?
Ambas eram boas respostas.
— Tanto faz. Posso fazer sexo também, sabe? Eu entendo, posso não ser o
Sr. Perfeito, mas é tão estranho que alguém queira me foder?
Minhas mãos se fecharam. — Sobre o que é mesmo que está falando? Por
que estamos brigando por isso? Não sou o Sr. Perfeito, e não me importo
com quem você transa.
— Tudo bem, então eu vou. — Ele se levantou.
— Tudo bem então. Divirta-se. — Cruzei os braços.
Ele se virou, pisou como um garoto de doze anos em direção à porta, então
parou. — Não sei por que estou com raiva de você.
— Eu também não sei por que você está — rebati. Talvez isso fosse uma
coisa boa. Talvez eu pudesse cortar o cordão antes do planejado. Quanto
mais cedo eu parasse de desejar que pudéssemos... desejar que pudesse
haver algo entre nós, melhor. — Você deveria fazê-lo. Você está certo. Isso
vai fazer você se sentir menos autoconsciente mais tarde. Você e Amanda se
preocupam um com o outro e se sentem confortáveis um com o outro. Se
vocês dois querem isso, devem fazê-lo. — Por favor, não faça isso. Por favor,
não.
— Você realmente acha isso?
Não. — Claro. Se você quiser. Eu, por exemplo, planejo fazer todo o sexo
que puder na faculdade, então se você for como eu, pelo menos saberá como
lidar com uma mulher.
— Tenho certeza de que posso descobrir o meu caminho em torno de uma
mulher — disse ele, suas bochechas rosadas. E então. — Vou dizer a ela que
sim.
— Bom para você. Já é hora de você perder seu cartão V.
— Você não perdeu, não de verdade. Não com um cara. — Dei de ombros,
e ele continuou: — Quer sair hoje à noite?
— Não. Eu tenho planos, lembra? — Náusea queimou meu estômago.
— Ok... talvez eu ligue para Amanda, então.
— Divirta-se — repeti, forçando um sorriso.
Saí com meus amigos e ele ligou para ela. Eles fizeram sexo naquela noite,
e ele me contou tudo no dia seguinte, enquanto eu me esforçava para não
vomitar ou chorar.
Eles continuaram namorando depois disso. Agora que Lane tinha feito
isso, abriu um mundo totalmente novo para ele, e ele realmente gostou.
Saí cedo para a Califórnia.
Quando Lane foi para Nova York, havia mais garotas.
Eu fiz o meu melhor para me afastar, para manter nossa distância, porque
não importava o quanto eu tentasse, não importava quantos homens fodesse
ou quantos anos se passassem eu nunca deixaria de amá-lo. Acho que nunca
conseguiria.
Lane
— Bebê, você vai vir para a cama? — Meu namorado, Jayden, perguntou
da porta do meu estúdio em casa. Esta era a segunda vez que ele vinha aqui
esta noite. Por um lado, eu entendia o que ele queria dizer. Já passava das
duas da manhã. Mas ele também sabia como eu trabalhava. Muitas vezes eu
me levantava no meio da noite para pintar. Quando eu me perdia em uma
peça, não conseguia parar por uma centena de razões diferentes, sendo uma
delas minha musa – eu me enlouquecia, os dedos se contorcendo e a mente
girando com a necessidade de criar. Mesmo se eu estivesse na cama, eu não
conseguiria dormir de qualquer maneira. Outra era que eu tinha que
encontrar o lugar certo para parar de pintar. Não era simplesmente uma
questão de largar o pincel.
— Ainda não posso — eu disse sem olhar para ele, o que poderia me tornar
um idiota, mas eu estava trabalhando, e eu realmente precisava acertar o
plano de fundo. Depois de um ano e meio juntos, você pensaria que ele já
me conhecia bem o suficiente, mas a verdade era que minha arte ficava entre
nós muitas vezes, embora Jayden fosse um agente de arte. Ele ficou
estranhamente ciumento, como se passar o tempo pintando significasse que
eu me importava menos com ele. Ele precisava de mais atenção do que eu
poderia dar a ele às vezes, mas eu não tinha certeza se isso era culpa dele ou
minha. Tinha a sensação de que era um namorado de merda quando me
perdia na minha zona.
Mas também não era como se Jayden fosse perfeito. Nós tivemos nossas
brigas – uma delas era que a arte não era a única coisa de que Jayden tinha
ciúmes, mas qualquer coisa ou qualquer pessoa com quem eu passasse
tempo. Ele sempre pensou que eu estava fazendo algo que não deveria. Mas
por mais que eu pudesse acidentalmente esquecer que deveríamos sair para
jantar, ou não ir para a cama na hora certa porque eu estava pintando ou
desenhando, eu não traía e não era um mentiroso.
Ele queria minha atenção o tempo todo, e eu não era bom nisso.
— Estarei lá em breve, ok? — Quando ele não respondeu, eu acrescentei:
— Prometo — e olhei para ele e sorri. Jayden era realmente lindo – cabelo
loiro e pele dourada e bronzeada. Sua rotina noturna era mais do que eu
fazia em um mês, mas claramente funcionou.
— Certo. Tanto faz. — Ele se virou. Ele estava nu, sua bunda firme e
apertada quando voltou para o meu quarto, no caminho chutando um
sapato que devo ter deixado no corredor.
Jayden e eu não morávamos juntos. Ele queria, mas eu não estava pronto
para dar esse passo. Não poderia dizer se estaria. Eu tinha passado de um
relacionamento de longo prazo para um relacionamento de longo prazo
desde a faculdade, mas nunca estive apaixonado. Nunca tinha encontrado
aquela pessoa sem a qual eu não poderia viver. Era irritante pra caralho. Não
entendia por que era tão difícil.
Meu olhar encontrou a tela novamente. Absorvi as laranjas e os dourados
que misturei, tentando encontrar a emoção nas silhuetas ali representadas.
Merda, não estava certo. Eu não podia dizer o que era que eu tinha feito de
errado, mas de repente levou tudo em mim para não jogar fora. Nossa
conversa me puxou para fora disso, e agora tudo que eu podia fazer era focar
nas imperfeições.
Com um suspiro, continuei minha rotina de limpar meus suprimentos. Eu
deveria ter ido para a cama com Jayden horas atrás, em vez de ficar
obcecado. Eu era bom em obsessão.
Eu estava... impaciente ultimamente. Não sabia mais como descrever.
Nada parecia certo, e eu não entendia o porquê. Eu tinha trinta anos e tinha
uma carreira com a qual só podia sonhar. Tive sorte na escola de arte de ter
um dos meus instrutores tendo um gosto especial pelo meu trabalho, e ele
me apresentou a Magdalena, que era um dos maiores nomes do trabalho
figurativo e expressionista. Ela me colocou sob seu cuidado, me treinou e
compartilhou meu trabalho com seus colegas, o que me deu a atenção e o
amor que eu nunca teria encontrado, especialmente tão rapidamente,
sozinho.
Nos meus sonhos mais loucos, nunca poderia ter previsto o dia em que as
pessoas conheceriam o nome Lane Ryan. Que gastariam o dinheiro que
gastavam na minha arte. Enquanto eu estava honrado e adorado, eu...
também não estava. Eu não era aquele cara que gostava de atenção, que
precisava se destacar. Na maioria das vezes me sentia mais confortável
sozinho, com apenas um pincel ou um bloco de desenho, mas hoje em dia
esses momentos eram cada vez menos e mais espaçados.
Quando pensei assim, novamente percebi que era um idiota. Tive a sorte
de poder fazer o que eu amava, pagar meu apartamento em Manhattan e ir
a galerias onde mostravam meu trabalho. Onde conheci homens lindos
como Jayden ou mulheres como minha ex-namorada, Alana, com quem
namorei antes dele.
Mas às vezes tudo parecia... frio, e não como eu. Eu era muito mais
discreto do que tudo isso.
Então terminei de limpar minha bagunça e fui para o meu quarto – a única
bagunça com a qual eu era bom em lidar. Tirei a cueca boxer com a qual
estava pintando e subi na cama com Jayden.
— Você está com raiva de mim? — Perguntei perto de seu ouvido.
— Não mais — ele respondeu, mas pensei que talvez ele estivesse. Ele
apenas gostou de ter conseguido o que queria.
Ele rolou e tomou minha boca antes de beijar seu caminho pelo meu corpo.
Quando ele chegou ao meu pau, ele beijou e lambeu e chupou por um
momento. Não tinha que vê-lo para saber que ele franziu a testa porque eu
não estava duro. Isso tinha sido um problema às vezes ultimamente, um que
eu não conseguia explicar. Parecia acontecer quando brigávamos ou quando
ele me persuadia a sair do meu estúdio. Pensei que talvez fosse também
porque eu estava me sentindo tão estranho sobre tudo na minha vida por
um tempo agora. E tudo isso foi me pegando.
— O que está acontecendo com você, Lane? — Jayden perguntou com um
suspiro.
Eu podia entender sua decepção. Quem queria sentir que não excitava o
namorado? E a coisa era, ele excitava. Embora tenha levado até depois da
faculdade para perceber minha bissexualidade, eu era realmente bi... ou
pansexual, provavelmente. Eu estive com homens, mulheres, homens trans,
mulheres trans, e todos me excitaram.
Embora eu ainda não tivesse contado para minha família... eu não sabia
por quê. Eles não se importariam. Meu irmão era gay, e eles só aceitaram,
mas não compartilhei minha sexualidade com eles.
Agora eu definitivamente não estava ficando duro porque estava
pensando em meus pais. Excelente.
— Nada. Role. Eu vou te chupar — eu disse a ele, mas Jayden não se
moveu.
— Está me traindo?
— Deus, não. Quantas vezes tenho que te dizer? Eu não... eu não vejo
como você pode me conhecer e acreditar que eu faria algo assim. — Jayden
era o parceiro mais desconfiado que já tive. Sempre me acusando de trair ou
querer alguém além dele, e isso começou antes das questões sexuais.
— O que devo pensar? Você passa metade da noite em seu estúdio e...
— É o que sou. Isso sempre foi quem eu sou. Quando minha inspiração
ataca, eu pinto. Não tem nada a ver com não querer estar perto de você.
Ele ignorou isso. — Você realmente não inicia mais o sexo. Está cercado
por pessoas bonitas, homens e mulheres que o bajulam o tempo todo. Não
são apenas os homens com quem tenho que competir pela sua atenção.
Revirei os olhos. — Não é comigo que eles se importam. É minha arte. Eles
respeitam meu trabalho. Nem todo mundo está tentando entrar nas minhas
calças. E você não precisa competir. Você é quem decidiu isso. Só porque sou
pan não significa que você tem mais concorrência. Você está dizendo que
porque me sinto atraído por mais do que apenas homens, você não acha que
posso me comprometer? — A raiva queimou o meu interior. Ele estava com
raiva de mim porque eu pintava e porque eu estava em algum tipo estranho
de orgia? Eu não ficava com raiva quando ele saía, quando ele ia a bares e
bebia ou ficava fora a maior parte da noite. Eu confiava nele. Por que ele não
podia fazer o mesmo comigo?
Pela segunda vez, Jayden optou por ignorar o que eu disse. — Você não
vai me apresentar a sua família. Estamos namorando há quase dois anos,
mas nunca me leva para casa com você. Eles nem sabem que você é gay
quando tem um irmão gay, então não é como se eles se importassem.
A culpa lançou uma âncora em minhas entranhas. Ele me pegou nisso. Eu
não tinha desculpa para não ter contado para minha família... porque eu não
tinha contado para Isaac. Eu mesmo não entendia. Especialmente quando se
tratava do meu irmão.
Com um suspiro, Jayden saiu da cama. — Acho que vou para casa. — Ele
acendeu a lâmpada de cabeceira e foi buscar suas roupas.
— E se nós viajarmos por um tempo? — Saiu da minha boca sem pensar
muito. Jesus Cristo, o que eu estava pensando? Mas ele estava certo. Eu
nunca levei uma namorada, ou obviamente um namorado, para casa antes.
Mamãe perguntava sobre as pessoas que eu estava namorando o tempo
todo, e dei a ela nomes femininos, mas nunca masculinos.
Jayden parou, virou-se e olhou para mim. — Para conhecer sua família?
— Uma de suas sobrancelhas se ergueu, como se ele estivesse me testando,
esperando que eu dissesse não, e talvez eu devesse, talvez essa não fosse
minha primeira escolha, mas a verdade era que eu sentia falta deles. Eu
estava sentindo falta deles ultimamente, o que provavelmente explicava
meu humor e inquietação. Eu adorava minha família, sempre adorei. Sentia
falta de pintar no sótão que papai e Isaac reformaram comigo. Senti falta da
simplicidade de poder criar arte só porque eu amava e não por dinheiro ou
espetáculo. Estava cansado da velocidade constante da minha vida na
cidade.
— Isso foi o que pensei — Jayden retrucou, colocando sua calça.
— Sim — respondi. Porque talvez fosse a hora, talvez eu só precisasse ir
para casa e isso ajudaria o desconforto que tinha se instalado sob minha pele.
Isaac iria... Cristo, Isaac ficaria magoado por eu não ter contado a ele. Eu
fui a primeira pessoa para quem ele disse essas palavras aos dezesseis anos,
mas nosso relacionamento era diferente agora. Éramos irmãos, família e nos
amávamos, mas não falávamos como costumávamos. Nós não éramos mais
próximos, embora eu não entendesse o porquê.
— Você pode se afastar do trabalho? — Perguntei a Jayden, já que ele
também se mantinha ocupado. Seu sonho era ter sua própria galeria um dia.
Um sorriso se estendeu em seu rosto, e eu sabia que estava perdoado,
embora ainda não soubesse o que tinha feito de errado. — Eu posso ir. — Ele
deslizou sob os cobertores novamente. — Eu quero que isso dê certo. Quero
superar os erros e seguir em frente com você, dar o próximo passo com
você…
Eu estava novamente perdido com os erros que aparentemente tinha
cometido, e então meu cérebro começou a girar rápido demais enquanto eu
tentava entender o que ele queria dizer com seguir em frente. Morar juntos?
Ficar mais sério? Mas então ele me beijou antes que eu pudesse me
concentrar muito nisso. Desta vez, eu fui para cima dele. Jayden gozou na
minha boca, depois adormeceu, enquanto fiquei ali, dedos coçando para
pintar, imaginando o que Isaac diria quando eu chegasse em casa.
Isaac
Tinha um homem nu de cada lado meu.
A noite passada tinha sido uma grande noite. Consegui uma conta enorme
na firma financeira em que trabalhava, e todos fomos a um dos bares que
Walter Financial Enterprises frequentava. Eu permaneci sóbrio, sabendo que
iria querer minha própria comemoração depois. Liguei para Greg, um dos
meus encontros regulares, que quase sempre estava disponível para se
divertir. Ele já tinha recebido outro homem, mas quando disseram que
estavam em falta por um terceiro, bem, eu não estava disposto a deixar
passar essa oferta.
Então eu fui e gozei... três... talvez quatro vezes? Tive um ótimo tempo
refratário. E agora eu estava acordado enquanto dormiam. Eu olhei para fora
da janela. Era quase madrugada, Atlanta acordaria em breve, e era um
sábado, então eu não precisava trabalhar. Conhecendo-me, eu poderia
terminar lá de qualquer maneira - havia uma razão pela qual eu era tão bemsucedido - mas eu era bom em trabalhar e jogar duro, e gostava bastante de
ambos.
Me perguntei se Greg e... porra, nem sabia o nome do outro cara. Eles me
contaram ou não nos incomodamos? Não conseguia me lembrar. Pergunteime se teriam outra rodada quando acordassem, mas então decidi que eu
deveria dar um tempo ao meu pobre pau e bunda e ir para casa. Talvez meu
amigo Hutch estivesse disposto a correr hoje ou algo assim.
O mais silenciosamente que pude, saí da cama. Minhas roupas estavam
espalhadas por toda a casa — quarto, corredor, sala. Uma vez que estava
vestido, fui para o meu apartamento no centro da cidade.
Estava quieto, solitário por dentro. Mantive um estilo moderno com muito
preto e metais elegantes. Não havia fotos pessoais de família penduradas ou
nas mesas. A única coisa que significava alguma coisa para mim era a
pintura que Lane tinha feito para mim quando ele chegou a Nova York. Era
de um de seus lugares favoritos no Central Park, com pessoas passando o
dia ao sol. Eu não sabia onde era aquele lugar no parque porque nunca tinha
ido vê-lo. Papai e Helena tinham ido algumas vezes, mas eu sempre tinha
uma desculpa ou outra.
A pintura era a única coisa nas paredes da minha sala, bem em cima do
meu sofá. Helena se preocupava com minha casa toda vez que ela e papai
vinham. Eles ainda moravam na casa onde cresci, primeiro com mamãe e
papai, depois com papai, Lane e Helena. Ficava a cerca de quarenta e cinco
minutos, sem trânsito, fora de Atlanta. Helena era uma mãe, me dizendo que
eu precisava de mais fotos, ou que não tinha comida suficiente na geladeira.
Ela sempre gostou de cozinhar e comer juntos como uma família, e apesar
de saber que eu era um homem solteiro, ela não conseguia entender por que
eu comia principalmente comida para viagem.
Eu a amava. Ela era uma mãe para mim, mesmo que eu ainda não
conseguisse chamá-la assim. Não era por causa da minha mãe também,
embora eu ainda sentisse falta dela como um louco todos esses anos depois.
Mas chamar Helena de mãe fazia o relacionamento parecer mais... real, o que
fazia de Lane... meu irmão. O que ele era da maneira que importava, aos
olhos de todos.
Isso foi algo que tentei não pensar, no entanto.
Tirei o sexo de cima de mim, então fiz café. Enviei uma mensagem de texto
para Hutch para verificar. Respondeu que estava no trabalho - era médico
de emergência - e que me ligaria mais tarde.
Fui para o meu escritório em casa e fiz algum trabalho, parando quando
meu celular tocou. Papai apareceu na tela, me fazendo sorrir. Amava meu
pai, ele significava o mundo para mim, mesmo que não conversássemos
sobre coisas importantes com frequência. Não as coisas reais, como emoções
ou merdas assim. Ele fazia isso com Helena, mas nunca comigo.
— Ei, velho — provoquei. — E aí?
— Nada. Apenas te verificando. Você vai passar semanas sem ligar se sua
mãe ou eu não ligarmos. — Minha mãe. Ele sempre a chamava assim, e
novamente, em assuntos do coração, ela era. — Ela está me incomodando
para te trazer aqui para uma refeição, mas agora que Lane está voltando para
casa, achamos que você não pode estar muito ocupado para nós.
Meu coração batia rápido contra meu peito. Lane estava voltando para
casa?
— Oh? Eu não sabia que ele estava planejando uma visita — eu respondi,
me mexendo no meu lugar. Não deveria me incomodar que ele não tivesse
me contado. Não era como se Lane tivesse que falar comigo quando queria
ver nossos pais. E ele provavelmente imaginou que papai ou Helena
garantiriam que eu estivesse lá. Eu poderia evitar ir a Nova York para vê-lo,
mas não poderia evitar suas visitas ou férias em casa.
A verdade era que eu não queria. Na verdade.
Estar apaixonado por seu meio-irmão era inconveniente pra caralho.
— Foi uma coisa de última hora. Ele ligou hoje. Ele estará aqui no próximo
fim de semana e... bem, ele está trazendo alguém para casa.
Meu pulso despencou, parecia que ia saltar de paraquedas sem
paraquedas e a qualquer momento meu coração iria espirrar contra o
pavimento. Claro que isso estava prestes a acontecer. Claro que Lane
conheceria uma mulher e a levaria para casa para conhecer papai e Helena.
Lane era do tipo que se acomodava. Eles se casariam, teriam dois filhos bem
ajustados e... pintariam e desenhariam juntos como uma família ou algo
assim, porque eu tinha certeza de que com quem ele acabasse adoraria arte
como ele. Lane sempre foi o criativo, enquanto eu era mais prático.
Ainda assim, parecia que tinha vindo do nada. Ele tinha que estar
namorando com ela por um tempo se ele a trouxesse para conhecer papai e
Helena.
— Helena está em êxtase, como tenho certeza de que pode supor. Ele não
disse que é alguém com quem ele está namorando, mas deve ser. Quem mais
ele traria com ele?
— Sim, eu, hum... não sei. Pode não ser, no entanto. Talvez ela não devesse
ter esperanças. — As palavras estavam pegajosas na minha boca, como se
elas quisessem ficar lá, como se eu não as tivesse libertado, não seriam reais.
Talvez toda essa conversa não fosse, e fosse algum tipo de sonho fodido... o
que era ridículo... assim como eu. Ele era meu irmão, meu maldito irmão. Eu
precisava superar essa merda.
— Você conhece Helena. Sem chance. Ela está esperando que seus dois
filhos tragam um outro parceiro para casa. Ela quer planejar casamentos e
ter netos. — Papai riu, mas eu não, não podia. — Se Lane trouxer uma
mulher para casa, em breve toda a atenção estará em você para encontrar
um bom homem para trazer para a família.
Sim, de alguma forma eu não achava que isso ia acontecer.
— De qualquer forma, Helena queria ver se você viria na sexta-feira e
passaria o fim de semana com a gente. Ela sente falta de ter vocês em casa.
Eu... não sabia se eu poderia fazer isso, mas a verdade era que eu
precisava. Não havia como evitar. Lane estava falando sério sobre alguém, e
isso nunca, nunca, seria eu. Já estava na hora de superar. Hora de expulsar
esse sentimento fodido de mim para sempre.
A única coisa que eu sempre quis foi ele, e ele era a única coisa que eu
nunca teria.
Lane
Eu decidi que queria dirigir para casa. Sentia falta. Eu sempre adorei estar
ao volante, mas na cidade, raramente estava. Pegava o metrô ou um serviço
de carro em todos os lugares.
Era uma viagem de cerca de treze horas, com a qual Jayden não estava
feliz. Ele era um garoto da cidade por completo. Ele foi criado no Brooklyn.
Toda a sua vida era Nova York. Chegar a lugares da maneira mais rápida
possível sempre foi seu objetivo, então ele queria voar. Ainda assim, ele não
discutiu, imaginei porque ele estava tão surpreso que nós estávamos no
nosso caminho para passar quem diabos sabe quanto tempo com a minha
família.
Ficou claro por muito tempo que Jayden queria mais de mim. Ele estava
me levando nessa direção, e quem poderia culpá-lo? Quem poderia culpar
qualquer uma das pessoas com quem eu estive? Em algum momento,
tinham que se cansar de namorar alguém que queria compromisso e longo
prazo, mas sem eu te amo e reuniões de família e todas as outras coisas que
eu não entendia sobre mim e os relacionamentos. Mais uma vez, não era que
não quisesse me apaixonar. Eu queria. Simplesmente não tinha, e não
importa o quanto eu gostasse de alguém, sabia que nenhuma das pessoas
que eu tinha namorado era alguém por quem eu pudesse me apaixonar.
Talvez isso não importasse. Talvez eu precisasse apenas fazer isso:
escolher alguém e fazer isso ficar.
Jayden trabalhava enquanto eu dirigia a maior parte do tempo. Ele estava
com seu laptop, ligando para artistas e compradores e quem mais, exigindo
o que ele queria. Ele era bom em fazer isso, e eu sempre o respeitei, mas a
desvantagem era que ele não lidava bem quando não conseguia o que
queria.
Quanto mais perto chegávamos de casa, mais nervoso eu ficava.
Provavelmente deveria ter dito a eles que Jayden era um homem, mas então,
eu apenas disse que estava levando alguém.
Eram cerca de seis horas quando paramos na rua que eu chamava de casa
desde os quatorze anos. Os nervos subiram outro ponto, uma sensação de
torção girando em meu estômago.
— Você está nervoso? — Jayden perguntou, e eu sabia que ele queria dizer
sobre sair do armário para eles.
— Não. — Eu não estava, não sobre me assumir para mamãe e papai, mas
para Isaac, sim. Eu estava com raiva de mim mesmo, pela minha traição de
não contar a ele. Por que eu não disse a ele?
— Ficará tudo bem. — Jayden estendeu a mão e apertou minha coxa. —
Oh, meu Deus. Estamos aqui? Não posso acreditar que estamos aqui. Isso é
tão fofo. A casa de infância de Lane Ryan. Você deveria tirar fotos do estúdio
que você me falou. Você pode colocá-lo online de alguma forma. As pessoas
adoram coisas assim, sabe? Ter uma visão interna de seus artistas favoritos
dessa maneira.
— Sim, mas você sabe que não é minha praia. Minha casa... este estúdio,
especificamente, é meu. Especialmente as coisas da minha infância.
— Você é tão doce. Você é honestamente como aquele clichê do artista
carinhoso que usa seu coração na manga, enquanto ao mesmo tempo nunca
deixa ninguém se aproximar. Entendo que seu trabalho é parte de quem você
é, mas você tem que aprender o lado comercial disso melhor. De alguma
forma, não vai manchar aquele espaço que você tanto ama deixar outros
entrarem nele.
Meu negócio estava indo muito bem por conta própria.
Parei na frente da casa branca de dois andares que parecia mais um lar do
que qualquer outro lugar para mim. Com certeza desejei que tivéssemos essa
conversa antes de chegarmos aqui, porque havia muito que eu queria dizer.
Mas se eu conhecesse minha mãe, ela estaria correndo até nós a qualquer
momento.
— Você acabou de me chamar de clichê? — Foi o que pousei.
Jayden revirou os olhos. — Isso não foi o que eu quis dizer. Você sabe que
não foi isso que eu quis dizer.
— Não tenho certeza de que eu sei.
— Só que você deixa seu coração te guiar em vez de seu cérebro. As
pessoas querem mais de você. Todo mundo que eu conheço quer foder ou
trabalhar com você. Eles querem saber mais sobre quem é Lane Ryan, e
mostrá-los, provocá-los com esses pequenos pedaços de você, não vai de
alguma forma arruinar sua arte. Isso só vai te fazer ganhar muito mais
dinheiro.
— Não preciso de mais dinheiro. — Eu já tinha mais do que eu sabia o que
fazer. — Quero manter certas coisas para mim.
— Oh, meu Deus. Você está chateado. Eu não estava tentando te deixar
bravo. Só estava tentando ser útil.
Jayden enfiou o laptop na bolsa assim que ouvi minha mãe chamando da
varanda: — Lane está ali! Timothy! Isaac! Ele está ali!
— Merda. Sinto-me como se estivesse em um filme da Hallmark. Isso é tão
saudável. Não fique mais bravo comigo. Quero que sua família goste de
mim.
A questão era que eu sabia que Jayden não queria dizer nada com isso e
que ele gostaria de causar uma boa impressão, mas às vezes ele dizia merda
sem perceber como soava. Também via as coisas de maneira muito diferente
de mim. Ele estava sempre falando comigo sobre o que eu deveria e não
deveria fazer, quando eu só queria criar.
— Vamos sair. — Abri a porta enquanto mamãe descia os degraus. Corri
até ela e a envolvi em um abraço apertado assim que ouvi a porta do carro
fechar. Ela se sentiu bem em meus braços, suave e reconfortante e familiar.
Seu cabelo tinha algumas mechas grisalhas agora, e ela o usava em um rabo
de cavalo, como sempre.
Eu estava de frente para a casa e vi o sorriso largo de papai enquanto ele
descia os degraus. Isaac não estava lá, no entanto...
Mamãe estava olhando para o carro, e quando senti ela me soltar um
pouco, imaginei que ela tinha visto Jayden.
— Ah, Lane. Por que não me contou? — Ela perguntou suavemente.
— Não sei. — Gostaria de ter uma resposta para isso eu mesmo.
— Menino bobo. Vamos conhecê-lo. — Mamãe se afastou, e papai nos
alcançou ao mesmo tempo. Eu me virei e chamei Jayden antes de puxar meu
pai para um abraço.
— Bom te ver, filho.
— Você também.
Senti o cheiro da colônia de Jayden, e então ele estava lá, com um sorriso
largo e inocente.
— Mãe, pai, este é Jayden. Jayden, estes são meus pais, Helena e Timothy.
— É tão bom conhecê-lo! — Mamãe disse, puxando-o para um abraço.
Mexi-me desconfortavelmente, sabendo o quão sortudo eu era por ter isso,
mas também sem saber como me sentia ao apresentar alguém à minha
família.
— Sinto como se estivesse esperando para sempre — Jayden disse, e eu
realmente desejei que ele não tivesse. E então me senti um idiota porque não
deveria não querer que as pessoas mais importantes da minha vida
conhecessem o homem com quem passei um ano e meio.
— Bem, você está aqui agora — papai disse então. — e onde está seu
irmão? Não posso acreditar que ele ainda não chegou aqui fora.
— Sim, não o vejo desde o Natal, e ele nem pode vir até a porta ou o quê?
— Provoquei. — Isaac! — Chamei, depois olhei para a casa e... lá estava ele,
parado na porta, com os braços cruzados. Dei dois passos, parei, observei o
aperto de sua mandíbula, o olhar distante em seus olhos. Aquele que dizia
estar sentindo alguma coisa, sentindo demais, mas não queria demonstrar,
não queria que ninguém soubesse. Mas eu sabia. Sempre soube. Ele estava
com raiva de mim. Estava ferido.
Eu não podia culpá-lo.
Eu deveria ter dito a ele que eu era pansexual.
Eu vi sua máscara se encaixar antes que qualquer um, exceto eu, pudesse
notar sua dor. Ele era a imagem perfeita de frio, calmo e sereno. De eu não
dou a mínima. Do Estou bem, e estou sempre bem.
— Desculpe. Recebi um telefonema. — Isaac desceu os degraus de dois
em dois. — E aí cara. Bom te ver. — Ele me deu um rápido abraço de um
braço só.
— Isaac. — eu disse suavemente, mas ele já estava se afastando.
— Oi. Eu sou o irmão de Lane, Isaac. — Virei-me a tempo de vê-lo estender
a mão para Jayden, que a apertou.
— Eu sou Jayden. Já ouvi tanto sobre você. Eu gostaria que meu irmão e
eu estivéssemos tão próximos quanto você e Lane.
— Sim, éramos muito próximos quando estávamos crescendo. — Foi dito
com indiferença. Ninguém mais teria pensado nisso, nem mesmo mamãe e
papai, mas eu sabia o que ele queria dizer. Ele estava colocando em palavras
que não éramos mais próximos, e ele fez isso porque estava chateado.
— Isaac? — Perguntei, esperando que pudéssemos conversar sobre isso,
mas eu também não queria chamar a atenção para o fato de que algo estava
acontecendo. Mamãe e papai não entenderiam, e Jayden sim... inferno, eu
nem sabia o que ele pensaria.
— E aí, irmão? — Ele perguntou, colando um sorriso falso em seu rosto.
Ele nunca me chamou de irmão. — Devemos descarregar suas coisas do
carro. Precisa de ajuda? — Ele foi em direção ao meu BMW.
— Sim, vamos fazer isso — mamãe disse. — Então podemos comer. Jantar
está pronto. Isaac vai passar o fim de semana conosco. Estou tão feliz por ter
meus dois meninos em casa, e agora Jayden também! — Mamãe apertou
meu braço, tão feliz pra caralho, e sem noção sobre a tensão entre Isaac e eu.
— Deixe os meninos pegarem as coisas, Jayden. Quero ouvir tudo sobre
você. O que faz?
— Sou um agente de arte. Estive envolvido na comunidade artística
durante toda a minha vida adulta. Eu adoraria ter minha própria galeria —
Jayden disse, passando o braço pelo de mamãe enquanto se dirigiam para a
casa. Papai foi junto com eles, deixando Isaac e eu sozinhos.
Isaac foi direto para o carro, tentou abrir a porta traseira, mas estava
trancada.
— Isaac…
— Destranque a porra da porta, Lane.
— Não. Escute-me. — Fui até ele, agarrei seu bíceps, mas ele se afastou de
mim. Ele olhou para mim, algo em seus olhos que eu não conseguia decifrar,
mas eu sabia que nunca, em toda a minha vida, tinha visto Isaac olhar para
mim daquele jeito.
Ele olhou para baixo, suspirou, deu um passo para trás. — Você não me
contou, Lane. Não entendo como não pôde me dizer, a menos que… quer
saber? Não importa. Você não me deve nada. E ei, ele é gostoso. Se você não
estivesse transando com ele, eu iria querer. Ou talvez essa seja a sua torção.
Dê-me o número dele quando terminar com ele. Ele pode pensar que é sexy
foder um conjunto de irmãos. — Seu tom era frio como gelo, áspero e...
magoado. Porra, eu realmente o machuquei, e eu odiei isso. Não havia nada
que eu odiasse mais.
— Eu estraguei tudo, Isaac. Sinto muito. Não é você. Não há ninguém no
mundo que eu confie mais do que você. — Era verdade. Mesmo que não
fôssemos tão próximos como costumávamos ser, não havia nada que ele não
faria por mim, e eu era o mesmo por ele. Mas naquele momento, eu não acho
que ele sabia disso.
— Não posso falar com você sobre isso agora. Apenas destranque a porta
para que possamos pegar essa merda e você possa voltar para o seu
namorado.
Não havia nenhuma maneira que eu iria conseguir qualquer outra coisa
dele. Não quando ele estava com esse tipo de humor. Cliquei no botão do
meu chaveiro. Sem outra palavra, ele abriu a porta, pegou as malas de
Jayden e foi para a casa.
Hesitei por um momento, peguei a minha e fiz o mesmo.
Isaac
Não conseguia diminuir minha frequência cardíaca. Fazia uma fodida
hora desde que meu universo foi abalado, desde que saí e vi que Lane trouxe
um homem para casa. Eu não conseguia impedir que as perguntas
chovessem no meu cérebro já hiperativo. Há quanto tempo ele sabia? Por
que diabos não me contou? E... havia alguma maneira de Lane perceber o
que eu sentia por ele e ele não ter me dito que ele era gay porque sabia o que
isso faria comigo? Saber que eu poderia tê-lo desse jeito se não fosse pelo
pequeno fato de que oh, ele era a porra do meu irmão.
Mas eu com certeza não iria deixar transparecer que eu estava magoado,
não para papai e Helena, e realmente não para o fodido Jayden, que era loiro
e brilhante, em ótima forma, e tinha lábios de morrer. Deus, eu odiava o
idiota. Tudo nele parecia perfeito para Lane. Ele amava arte, porque era claro
que ele amava. Ele falou sobre pinturas e estilos e os shows de Lane. Falou
sobre sua coloração e emoção e peças diferentes de maneiras que eu nunca
poderia discutir com ele. Eu só reclamava dele por sempre querer me
desenhar ou pintar.
Fazia de mim uma pessoa terrível que eu esperasse que Jayden se
engasgasse com um osso de galinha enquanto comíamos? Porque eu estava
sonhando com isso mesmo. Constantemente.
— Então, Jason. Há quanto tempo você e nosso Lane estão juntos?
Ele franziu a testa para mim.
Helena estendeu a mão e tocou meu pulso. — É Jayden, querido.
A culpa se contorceu dentro de mim. Não pelo idiota, mas por Helena. Ela
realmente pensou que eu tinha esquecido o nome dele, e se eu continuasse
com isso, traria um monte de perguntas que eu não poderia responder sem
machucá-la, essa mulher que entrou na minha vida e me amou como se eu
fosse o sangue dela. Que nunca me fez sentir diferente ou me tratou diferente
de Lane.
A mulher que ficaria devastada e confusa e provavelmente enojada pelo
fato de eu estar apaixonado por seu filho.
— Quase dois anos — Jayden respondeu... então sorriu. Espere... aquele
idiota sabia?
— Dois anos! — Exclamou Helena. — Bom Deus, Lane Michael Ryan. Não
posso acreditar que escondeu isso de nós por dois anos!
— Um ano e meio, e eu sei. Não sei por que eu fiz. Não consigo explicar.
— O olhar de Lane virou para o meu e depois para longe. Ele era tão
malditamente sexy. Seu cabelo estava quase em seus ombros agora, esta terra
entre ondulado e encaracolado, bagunçado e não. Era um loiro mais escuro
do que quando éramos crianças. Suas sobrancelhas eram do mesmo tom.
Lane tinha um nariz reto, um pouco fino, e lábios perfeitos em forma de arco
que pensei muito em beijar ao longo dos anos.
— Está tudo bem, Lane. Você está dizendo a eles agora. — O maldito do
Senhor Perfeito colocou a mão na bochecha de Lane, virou-o e deu um beijo
suave em seus lábios. Eu realmente queria esfaqueá-lo com minha faca de
manteiga.
Lane se afastou, deu a Jayden um pequeno sorriso, então se virou para
mim. — Como vai o trabalho, Isaac?
— Excelente. Consegui um grande cliente na semana passada. Estou a
caminho de me tornar sócio. Estou vivendo minha melhor vida.
— Você está vendo alguém? — Perguntou Jayden.
— Isaac não quer um relacionamento — Lane respondeu por mim.
Eu queria, na verdade, mas eu queria com ele.
— Meu irmão está certo. — Fiz questão de enfatizar a palavra irmão para
solidificar o que todos pensavam que éramos, o que eu precisava me lembrar
que deveríamos ser. — Ele me conhece melhor do que ninguém.
Costumávamos contar tudo um ao outro, mas acho que essas coisas mudam
quando você cresce. Mas sim, ele está certo. Sem relacionamentos para mim.
Acho que não fui feito para isso, mas me divirto de outras maneiras. Tive
um trio fantástico na outra noite.
Helena ofegou.
— Isaac! O que diabos deu em você? — As palavras de papai foram
afiadas, sua decepção clara.
As sobrancelhas de Jayden franziram.
Lane apenas... olhou para mim, uma suavidade em seu olhar castanho que
eu não gostaria que fosse dirigida a mim por ninguém além dele. Porque
sempre me senti seguro com Lane de uma maneira que nunca me senti com
mais ninguém. Depois de todos esses anos, eu teria pensado que acabaria.
Que manter minha distância e não confiar nele com meus segredos acabaria
com essa necessidade que eu tinha dele, mas isso não aconteceu. Isso ainda
existia, tão poderoso como sempre foi, ao mesmo tempo me derrubando e
me construindo.
Cada conjunto de olhos na mesa estava voltado para mim, confusão,
decepção e preocupação em seus olhares, exceto Jayden, que eu tinha certeza
de que odiava minhas entranhas tanto quanto eu odiava as dele, e que estava
gostando muito disso. Havia algo nele que eu não gostava, mas
provavelmente era apenas o fato de que ele estava dormindo com Lane.
— Merda. Sinto muito. — Esfreguei a mão no meu rosto, desejando que
eu pudesse afundar no chão e que eu não tivesse apenas deixado o filho da
puta bajulador sentado na minha frente vencer. Minhas entranhas doíam, a
raiva e a mágoa se transformando no fogo das minhas palavras. Eu não teria
dito essas coisas de outra forma, e meu orgulho ajudou a reprimir a vontade
de fazer uma cena. — Tenho muita coisa acontecendo e deixo isso me afetar.
— Inclinei-me e beijei a bochecha de Helena. — Peço desculpas. Você
definitivamente não deveria ter que ouvir isso de seu filho favorito. — As
palavras brincalhonas quase ficaram presas na minha boca, mas esses eram
momentos em que eu brilhava, então tentei fazer isso - ser encantador e
fingir que não estava desmoronando. Fingindo que estava bem quando não
estava, do jeito que costumava fazer com papai.
Ela riu. — Ah, pare com isso. Você vai jogar o jogo dos favoritos de novo?
— Não é um jogo — disse a ela, mostrando a ela esse carisma as pessoas
estavam acostumadas comigo. — Todos nós sabemos que eu sou seu
favorito. Pobre Lane chegou a um acordo com isso anos atrás. Admita,
irmão. Eu sou o melhor filho.
Esperei que Lane respondesse, implorando silenciosamente a ele para
fingir que não tinha feito papel de idiota. Lane era a única pessoa que nunca
me deixou sair impune com a minha merda, que nunca me deixou mentir
sobre como me sentia. Eu costumava amar isso nele, mas agora eu precisava
do oposto.
— Lembre-me novamente, quem ficou mais de castigo quando éramos
crianças? — Lane perguntou.
Papai e Helena riram.
— Oh, estamos jogando dessa maneira? Quem ficou com lama no tapete
branco do cômodo favorito da casa de Helena?
— Quem quebrou a janela da cozinha com uma bola de beisebol e a da
sala com uma pedra, no mesmo mês? — Lane contra-atacou.
Suspirei. — Jogando sujo, não é? Quem me pediu para esconder meu
boletim escolar para que pudesse fingir que ainda não tínhamos recebido,
porquê reprovou em matemática?
— Quem fez isso? Isso também te faz mal! — Lane se opôs.
— Espere, quando fizeram isso? — Papai perguntou.
— Duas vezes! — Adicionei. — Porque ele estava sempre sonhando
acordado com a pintura.
— Isaac costumava ficar bêbado em festas de campo quase todo fim de
semana.
— Lane fumava maconha no sótão porque isso o ajudava com sua
criatividade.
— Apenas algumas vezes! — Lane retrucou de volta.
— Foi realmente Lane quem...
— Você não faria — Lane me interrompeu. Eu levantei uma sobrancelha
para ele. Ah, sim, eu realmente faria. — Isaac é totalmente o melhor filho!
— Espera. O que ele fez? Isso soa como algo que preciso saber — Helena
nos disse.
Lane e eu trocamos olhares, um sorriso passando entre nós, essa leveza no
ar que não estava ao nosso redor há muito tempo, e nós dois caímos na
gargalhada ao mesmo tempo. Sempre foi assim com ele. Ele me fez pensar
que eu me sentia bem mesmo quando não me sentia. Meu estômago
começou a doer, mas eu não conseguia parar. Lane também não conseguia
parar de rir, cobrindo a boca porque sempre foi inseguro sobre um pequeno
lascado em um de seus dentes da frente. Eu amava. Eu disse a ele que isso
lhe dava caráter, e ele sempre disse que consertaria, mas nunca o fez.
Papai e Helena se juntaram, ninguém comendo, apenas felicidade e
risadas ao nosso redor. Jayden nos observou por um momento, parecendo
totalmente perdido, como se esse tipo de coisa fosse tão estranho para ele,
mas então ele tentou se juntar, tentou fingir que estava neste momento
conosco também.
Quando finalmente nos acomodamos, Helena disse: — Eu realmente
quero saber o que Lane fez.
Fiz de brincadeira o gesto de meus lábios estão selados.
— Deixe os meninos terem seus segredos, querida. — Papai disse a ela.
Segredos. Essa palavra me deixou sério. Eu estava tão cheio deles, não
estava?
Desta vez, não deixei transparecer. Eu era novamente o Isaac que
mantinha tudo dentro. Que sorria quando deveria e fazia o papel de alguém
que tinha tudo resolvido.
Pisquei para Lane. — Estou guardando isso para quando eu realmente
precisar. É melhor você ser legal comigo, ou vou dedurá-lo.
— Te odeio.
— Você me ama. — Rebati. Do jeito que ele deveria amar, não do jeito que
eu gostaria que ele amasse.
Lane
Era tarde, mas depois do jantar, Jayden tinha algumas ligações de trabalho
para fazer. Ele foi para o quintal. Enquanto lavava a louça, eu o observava
falando e andando de um lado para o outro debaixo de uma árvore com
enormes galhos chorosos que sempre amei. Desenhei aquela árvore mais
vezes do que eu poderia dizer. Eu desenhei Isaac naquela árvore também.
Definitivamente havia algo acontecendo com ele. Eu não sabia se era mais
do que apenas eu não contar a ele sobre minha sexualidade, mas eu tinha a
sensação de que era. Trabalho? Homens? Era apenas um daqueles
momentos na vida de Isaac em que ele estava um pouco mais triste do que
o normal, mas tentou esconder isso?
Jayden agora alternava entre falar animadamente e ouvir, e meu olhar se
desviou dele, para o canto mais distante do quintal.
Lembrei-me de estar sentado lá no dia em que nossos pais se casaram. Eu
os estava desenhando, mas então olhei para cima e vi Isaac em sua janela,
observando... sofrendo. Em vez disso, comecei a esboçá-lo, seus olhos, onde
eu podia ver sua solidão mesmo à distância. Ele sempre foi um enigma para
mim. Ele era a pessoa mais inteligente que eu conhecia. O mais engraçado
também. Ele iluminava todos os cômodos em que entrava e transpirava
confiança, mas também tinha uma dor profunda que eu não tinha visto até
vê-lo através do vidro.
E naquele momento, quando Isaac pensou que ninguém o via... eu vi.
Completamente. O verdadeiro ele, não a fachada. Era bobo, e provavelmente
não fazia nenhum sentido, mas esse foi o momento em que senti que
realmente o conhecia... e queria conhecê-lo. Queria estar perto dele e
descobrir seus segredos e como alguém como ele podia ser tantas coisas ao
mesmo tempo. Fiquei fascinado com Isaac a partir de então, admirava-o,
embora apenas dois meses nos separassem em idade.
Nunca me senti tão perdido dele como agora, sem ideia de como recuperálo ou mesmo se eu deveria tentar. Provavelmente era o curso natural da vida.
Tínhamos trinta anos. Não era como quando éramos crianças.
— Ele é legal — mamãe disse atrás de mim.
— Sim, ele é. — E ele era, na maioria das vezes. Jayden poderia ser um
pouco mimado, mas isso não era tão ruim.
— Ele é diferente do que eu esperava para você.
— Por que ele é um homem e você não sabia?
Arrisquei um olhar para ela, e ela balançou a cabeça.
— Não. Estou magoada que você não sentiu que poderia me dizer, mas
não é isso. Eu realmente não posso colocar em palavras. Ele gosta de arte
como você, mas fala sobre isso de uma maneira diferente. Ele não parece
tão... fácil quanto você? É difícil de explicar. Mas ele é legal, e se você está
feliz, eu estou feliz. — Quando não respondi imediatamente, ela perguntou:
— Você está?
A verdade era que eu não tinha uma resposta para isso.
— Bem... tenho uma carreira que eu só poderia ter sonhado, amigos, uma
bela casa, família, mas eu estaria mentindo se não dissesse que ultimamente
tenho sentido que algo está faltando.
— É por isso que está aqui agora? Com ele?
— Jesus, você é boa nisso. — Eu a cutuquei com meu braço. — Sim, acho
que sim. Pensei que talvez trazê-lo aqui, apresentá-lo a vocês seria como se
eu estivesse fazendo alguma coisa? Avançando de alguma forma?
— Então não está funcionando? — Mamãe perguntou.
— Ainda não, mas acabamos de chegar aqui há algumas horas.
— Isaac está chateado — ela acrescentou suavemente.
Ele estava. Porra, ele estava, e eu odiava isso.
— Eu não disse a ele, e ele está ferido. Fui a primeira pessoa a quem ele
contou, e guardei para mim.
— Por quê?
— Eu não sei — respondi honestamente.
— Espera. Ele te contou primeiro? Pensei…
Merda, eu tinha esquecido disso.
— Eu também não entendo isso. É exatamente como Isaac queria.
Pela janela, sob as luzes de movimento, vi Jayden encerrar a ligação e
voltar para casa.
Começamos um jogo familiar de Monopólio depois disso. Isaac estava
ganhando, como sempre, o filho da puta, quando Jayden disse: — Estou
muito cansado.
— Nós podemos terminar isso amanhã — mamãe respondeu. — É tarde e
esqueço que nem todo mundo está acostumado com nossas maratonas de
jogos de tabuleiro. O monopólio é sempre o mais longo.
— Ah, não — Jayden disse — Eu não quero estragar o jogo para todos,
mas se não se importar... — O que significava que ele definitivamente tinha
superado o jogo. Eu entendi. Esse não era o tipo de coisa que Jayden fazia
quando sua família se reunia.
— Sim, estou com sono também — menti.
— Vocês estão todos chateados por eu estar ganhando de novo — disse
Isaac.
— Você não ganha todas as vezes — papai respondeu.
— Oh, o quê? Aquela vez há oito anos? — Perguntou Isaac. — Isso não
conta.
Nós rimos novamente. Parecia tão bom. Eu não tinha percebido o quanto
eu realmente precisava dessa visita em casa. Eu realmente não queria ir para
a cama, mas Jayden ficaria acordado se eu não fosse, e eu sabia que ele
preferia não. Eu não queria que ele se sentisse desconfortável quando
estivesse na casa de outra pessoa pela primeira vez, então levantei e estendi
minha mão para ele. Ele pegou, e eu o puxei para cima.
— Você pode ver meu quarto de infância.
— Está mais limpo do que era quando você morava nele — disse Isaac. —
Você é uma bagunça... roupas em todos os lugares, respingos de tinta em
camisas novas. Você estava sempre tão disperso, como se seu quarto fosse
uma representação de seus pensamentos esgotados.
— Ele ainda é do mesmo jeito! — Exclamou Jayden. — Juro que parece
que um furacão passou pelo quarto dele. Isso me deixa louco.
Isaac deu de ombros. — É apenas quem ele é. — Ele se levantou, mas não
olhou para mim. — Acho que vou para a cama também.
— Vocês, rapazes, subam. Vamos desligar tudo aqui embaixo — mamãe
disse.
Beijei sua bochecha. — Boa noite, mãe. Boa noite, pai.
Jayden agradeceu a eles por deixá-lo ficar, Isaac disse aos nossos pais que
os amava, e então nós três subimos juntos, Isaac quieto e ainda sem encontrar
meu olhar.
Nossos quartos ficavam um ao lado do outro.
Ele foi para o dele, e Jayden e eu para o meu.
— Boa noite. — Eu disse quando Isaac estava passando por sua porta.
Ele não virou na minha direção. — Boa noite, irmão. — Ele deslizou para
dentro, fechando a porta entre nós.
Não me mexi por um segundo, mas então Jayden se jogou na cama e disse:
— Seu irmão me odeia. — Então entrei e fechei a porta.
— Ele não odeia você. Odeia não saber sobre você. Está magoado por eu
não ter contado a ele.
— Tem certeza de que é isso?
— O que mais poderia ser? — Tiro minha camisa, deixo-a cair no chão,
mas depois caminho até a poltrona no canto para colocá-la lá. Eu tiro minha
calça em seguida.
— Vocês alguma vez foderam quando eram jovens? Se masturbaram
juntos ou algo assim?
— Que porra é essa? Não. Ele é meu irmão! — Meu rosto estava
inesperadamente corado.
— Seria apenas uma brincadeira.
Talvez para ele, mas... Cristo, eu não conseguia imaginar o que nossos pais
pensariam se tivéssemos feito algo assim e fôssemos pegos. Mamãe ficaria
horrorizada, e papai... eu nem sabia o que ele pensaria. Para eles, para todos
nós, éramos irmãos. E mesmo se não, eu nunca poderia ser o tipo de Isaac.
De onde diabos veio esse pensamento?
— De qualquer forma — Jayden adicionou quando eu não respondi. —
Ele não é o que eu esperava. Gostoso, mas não o que eu pensei que ele seria.
Aborrecimento acendeu um fogo em meu estômago. — Não o chame de
gostoso, e o que quer dizer?
— Eu esperava que ele fosse mais parecido com você.
— Então eu não sou gostoso?
Jayden revirou os olhos. — Você é lindo pra caralho e sabe disso, mas não
de um jeito... eu não sei... de capa de revista. Você é o artista excêntrico que
todos adoram, mas tenho de lembrá-lo de pentear o cabelo quando saímos.
— Talvez por que eu não deveria ter que pentear meu cabelo se eu não
quiser? Além disso, iria estragar tudo quando passasse meus dedos por ele.
Além disso, você está sendo um idiota.
— Não estou tentando ser. Você não precisa ficar tão na defensiva.
Sentei-me no colchão de cueca. Jayden se moveu para ficar atrás de mim,
com as pernas e os braços em volta de mim, e perguntou: — Você vai se
esgueirar para o sótão e me deixar sozinho esta noite?
— Você estaria dormindo.
— Lane! Oh, meu Deus. Seus pais vão pensar que estamos tendo
problemas.
Huh? — Por que pensariam isso?
— Porque você está se esgueirando para fora da cama à noite. Às vezes
parece que você não quer dormir comigo.
Eu não queria fazê-lo se sentir assim e... bem, era meio frustrante que isso
acontecesse.
— É o que eu sou. Meus pais não saberiam, mas mesmo que soubessem,
não pensariam que isso significava que estávamos tendo problemas. Eles
pensariam que estou sendo eu.
— Seu irmão pensaria que significa que algo está errado conosco.
Me virei, olhei para ele. — Você está com ciúmes?
— Ugh, não. Não tenho ciúmes de ninguém.
Ele estava com ciúmes. Podia ver em seus olhos.
— Ele é meu irmão, Jayden. — Eu não esperava que seus problemas de
confiança fossem um problema com Isaac. Mas então, Isaac era tão elétrico,
como alguém poderia não sentir seu apelo?
Jayden beijou meu pescoço e se afastou. — Vou fazer um trabalho.
— Achei que você estava cansado.
— Mais ou menos. Eu só... não gosto muito de jogos de tabuleiro. —
Jayden tirou suas roupas e subiu na cama com seu laptop. Me deitei ao lado
dele, no meu telefone, dedos coçando para desenhar, pintar, pés implorando
para sair da cama e subir as escadas para ver se Isaac estava lá. Para
perguntar a ele se eu poderia desenhá-lo para que eu pudesse fazê-lo falar
comigo e me deixar pedir desculpas a ele novamente. Ele saberia que eu
gostaria de ir até lá, e ele provavelmente estaria lá esperando, reclamando
que eu queria usá-lo como minha inspiração, enquanto me deixava explicar.
Porque não importava o quão ferido ele estivesse, Isaac posaria para mim.
Ele sempre faria isso.
Jayden literalmente trabalhou por duas horas. Em seguida, fez sua rotina
noturna de cuidados com a pele. Já passava das três quando ele adormeceu,
mas eu ainda não podia ir. Ele ficaria irritado quando acordasse, mas eu
ainda estava nervoso, pedaços do que aconteceu hoje inundando minha
mente, tentando formar um mosaico na minha cabeça. A arte era a única
maneira de ajudar.
Finalmente, deixei-me escapar. Eu não deveria me sentir mal por trabalhar
à noite. O quarto dos nossos pais ficava no andar de baixo, então não me
preocupei com eles vendo de qualquer maneira. Isaac sempre ouvia quando
eu passava pelo quarto dele para subir as escadas, que ficava logo acima de
onde ele dormia. Subi as escadas do sótão, mas as luzes estavam apagadas.
Isaac não apareceu.
Fiquei até as seis, desejando poder desenhar meu irmão e dizer o quanto
sentia sua falta, mas pela primeira vez ele não veio ao meu estúdio.
Quando acordei de manhã e desci, papai me disse que Isaac teve alguma
emergência no trabalho e tinha voltado para Atlanta.
Isaac
Eu era um covarde, e enquanto eu estava chateado com esse fato, estava
muito mais seguro em casa em Atlanta, onde meu irmão não estava no
quarto ao lado, dormindo com seu namorado babaca, que infelizmente não
se engasgou com um osso de galinha. Eu não tinha pensado em uma defesa
adequada para esfaqueá-lo.
Então entrei em um aplicativo e recebi um boquete de um cara que amava
nada mais do que ficar de joelhos por alguém... mas não ajudou, caramba.
Desde quando sexo não curava meu humor?
Toda vez que tinha a ver com Lane.
O bastardo.
Eu gostaria de odiá-lo.
Ou que eu não estivesse inapropriadamente apaixonado por ele. Qualquer
uma dessas opções funcionaria, mas a segunda seria muito mais propícia
para a vida familiar feliz que nossos pais queriam para nós.
Eu estava determinado a voltar à minha vida normal. Não tinha ideia de
quanto tempo Lane e cara de merda ficariam na cidade, então voltei para
minha rotina de trabalho e vida.
Fui correr com meu amigo Hutch. Embora só tivesse encontrado Lane
uma vez, Hutch sabia muito sobre ele. Contei a ele algumas de nossas
histórias da infância, quando ele compartilhou algumas sobre sua irmã,
Maddy, que lutou contra o câncer duas vezes. Ele sabia que Lane era um
pintor e quão orgulhoso eu estava dele porque eu realmente era um irmão
foda que fazia com que todos soubessem o quão incrível Lane era. Mas
Hutch, tendo acesso apenas aos pedaços da minha vida que eu queria
compartilhar, não sabia que eu tinha me afastado de Lane ao longo dos anos.
Hutch era o mesmo a esse respeito - eu não entendia o quadro completo
quando se tratava dele.
Todos nós tínhamos nossos segredos.
Hutch e eu começamos a nos alongar. Brinquei com a ideia de contar a ele
um pouco sobre Lane, que ele estava lá com um homem e como me sentia
sobre isso. Mas como eu poderia fazê-lo entender sem dizer a ele que eu
queria transar com meu próprio irmão? Ele não é meu irmão de verdade, ele não
é meu irmão de verdade, ele não é meu irmão de verdade. Eu não poderia dizer
quantas vezes eu disse isso a mim mesmo ao longo dos anos.
Então, em vez disso, perguntei: — O que você fez hoje?
— Não muito — respondeu Hutch. — E você?
— Mesma coisa, mesma coisa. — Mas meu irmão está aqui, e eu estou
apaixonado por ele, e você conhece alguma maneira de matar um homem e se safar?
Porque Jayden está na minha lista.
As coisas eram realmente uma merda quando a única pessoa com quem
você se sentia à vontade para conversar era aquela que te perturbava.
Lane era a única pessoa com quem eu compartilhava.
Lane nunca poderia saber disso.
Então guardei para mim.
— Sim, ouço você. O mesmo aqui. Como está seu irmão?
Às vezes eu realmente acreditava que o universo me odiava. Porque era
claro que Hutch perguntaria aleatoriamente sobre Lane quando eu estava
pirando. — Meio-irmão — peguei-me respondendo, o que eu nunca tinha
feito antes. Nunca fiz questão de chamar a atenção para o fato de que nós
não éramos realmente parentes... o que poderia parecer estranho, então
acrescentei — Lane está bem. — Antes de me levantar. — Nós vamos correr
ou o quê, velho?
— Não sou muito mais velho que você. — respondeu Hutch. Foi a
mudança perfeita de assunto enquanto nos provocamos e saímos correndo.
Quando terminamos, Hutch me convidou para jantar, mas eu recusei,
balbuciando sobre sair e transar. E eu realmente precisava disso para
começar a ajudar em todo o departamento de esquecimento sobre Lane.
Eu me mantive ocupado pelo resto da semana, tentando não pensar em
Lane e no cara de merda. Sexta à noite, recebi uma mensagem de um dos
caras com quem fiquei, mas não estava com vontade, o que me irritou ainda
mais. Agora que eu não estava fazendo sexo porque eu era um bastardo
deprimido, acabei me masturbando, mas pelo menos estava fazendo sexo
com alguém, mesmo que fosse eu mesmo.
Meu telefone tocou no início da manhã de sábado. Eu estava acordado,
mas ainda na cama, então rolei e o peguei da mesa de cabeceira para ver o
nome de Lane e a foto de nós juntos na formatura do ensino médio.
Estávamos nos braços um do outro, sorrisos largos em nossos rostos, mas ele
estava olhando para mim, enquanto eu olhava para a câmera.
Ele parecia... feliz, como se eu o fizesse feliz, o que era a coisa mais ridícula
do mundo. Eu gostaria de branquear meu cérebro de todos esses
pensamentos, mas não conseguia.
Quando não atendi, ele imediatamente ligou novamente. Com um
suspiro, atendi a ligação. — Eu estava dormindo.
— Não, você não estava. Está chateado comigo e sendo um pirralho
mimado sobre isso.
Bem, merda. Às vezes era uma droga que ele me conhecesse melhor do
que qualquer outra pessoa.
— Sou borracha e você é cola. Tudo o que você diz salta de mim e gruda
em você.
— Isaac.
— Lane.
Ele ficou quieto por um momento, então me sentei e esperei que ele falasse
novamente. — O que aconteceu conosco? Não entendo.
Fechei os olhos, meu peito apertando, um punho apertando meu coração.
Jesus, tudo estava tão fodido. Se eu pudesse encontrar uma maneira de
superar essa merda que eu não deveria sentir em primeiro lugar... Era uma
tortura. Eu não conseguia entender por que alguém iria querer se apaixonar,
mas provavelmente não seria tão ruim se eu tivesse me apaixonado por
outra pessoa.
— Estamos bem — finalmente consegui dizer. — Nós crescemos, então
nosso relacionamento mudou, só isso. Por que está ligando?
Lane bufou. — Por que está ligando? Oh sim, estamos definitivamente bem.
Jayden e eu estamos voltando para a cidade amanhã. Eu esperava que viesse
esta noite e passasse algum tempo comigo, já que fugiu no fim de semana
passado por qualquer motivo.
Revirei os olhos, embora ninguém estivesse lá para ver.
— Pare com isso. — disse Lane.
— Parar o que?
— Você está irritado e revirando os olhos para mim.
Eu não podia nem ficar bravo, por que que porra era essa? Como ele sabia
disso? — Sim, Lane, eu sei. Eu sou um idiota, e saí porque não consegui o
que queria e...
— O que queria? — Ele me interrompeu.
Você. — Nada. Podemos parar de ser dramáticos agora? Sim, estarei aí hoje
à noite para me despedir de você e seu namorado. Não perderia por nada.
Ele não respondeu, o silêncio pairando no ar. Lane respirou, então eu
também, então ele novamente, como uma dança onde ele liderava e eu
seguia – e eu não seguia com muita frequência, o bastardo. Mas eu faria por
ele.
— Sinto falta de nós. — disse Lane suavemente.
A dor começou no centro do meu peito e ecoou para fora.
Também sinto falta de nós.
Então, ao fundo, ouvi Jayden perguntar: — Por que você está se
escondendo aqui? Com quem está falando? — E meus músculos ficaram
tensos imediatamente.
— Não estou me escondendo, estou falando com meu irmão. — Lane disse
ao namorado.
Terminei a ligação antes de dizer algo que não poderia retirar.
— Jayden com certeza está muito no telefone dele. — Helena disse a Lane.
Eu tinha notado a mesma coisa, mas não confiava em mim mesmo para dizer
qualquer coisa sobre a pequena bola de gosma. Eu não gostava dele. Não
confiava nele. Não só porque eu estava com ciúmes pra caralho também. Ele
era estranhamente possessivo com Lane, pegajoso, e ficava tentando falar
comigo quando eu poderia dizer que ele sabia que eu queria que ele se
fodesse imediatamente.
— Ele está ocupado com seu trabalho. Há sempre alguma coisa
acontecendo, e ele não é muito bom em tirar uma folga. Ele realmente quer
fazer um nome maior para si mesmo. — disse Lane pouco antes de Jayden
voltar para dentro.
— Desculpe por isso. — disse Jayden.
— Nós nunca nos safamos trabalhando durante o tempo da família. — Eu
disse, tentando ser um idiota.
— Isaac. — Lane franziu a testa.
— Você sempre diz meu nome como se fosse um aviso e eu estou prestes
a ter problemas por alguma coisa.
— Porque você geralmente está.
— Sinto muito. Não percebi. — disse Jayden.
— Tudo bem. Isaac gosta de ser um fofoqueiro.
— Isaac apenas gosta de manter a real — rebati.
— Vou verificar a comida. — Papai se levantou, e eu fiz o mesmo.
— Irei com você.
Fomos para o quintal, onde ele esteve assando costelas o dia todo. Ele
olhou para isso, então fechou a tampa. — Você não gosta dele.
— Não acho que ele seja bom o suficiente para Lane — respondi. — Há
algo sobre ele que não confio.
Papai me olhou por um momento como se estivesse tentando me
entender, então assentiu. — Sim, ele realmente não parece o tipo de Lane. As
coisas de arte, sim, mas ele é tão... — Como eu, na verdade. Quer dizer, eu
não era uma bola de gosma com cara de merda e ele era, mas eu poderia
dizer que nós dois pensamos nas coisas do ponto de vista de dinheiro e
números de uma forma que Lane não pensava. Eu sempre o vi com alguém
criativo, que poderia se perder por horas ou dias em sua arte, não alguém
apenas tentando ganhar dinheiro com isso como Jayden.
— Entendo. — Respondi, sem que papai tivesse que continuar.
— Mas ele deve significar muito para Lane para ele tê-lo trazido para casa.
Esta é a primeira vez, então precisamos respeitar isso.
— Sim, senhor.
Eu estava no meu melhor comportamento depois disso, o que significava
principalmente ficar quieto. Lane continuou me observando, e Jayden
continuou olhando para ele. Estávamos no meio da refeição quando Jayden
estava contando uma história sobre os dois. Perdi a maioria dos detalhes, em
vez disso imaginei todas as coisas horríveis que queria fazer com Jayden,
mas então ouvi: — Não importa o que esteja acontecendo, ele pode se perder
no meio de qualquer coisa. Não posso te dizer quantas vezes acordei e ele se
foi, então eu tenho que ir e arrastá-lo para fora de seu estúdio e de volta para
a cama. Não posso acreditar que o mantive fora do sótão a noite toda
enquanto estivemos aqui.
Meu olhar estalou para ele. — Por que importa se ele pinta à noite?
Os olhos de Jayden se arregalaram, esse tipo de cruzamento de olhos de
corça entre Oh merda, eu estraguei tudo e Você é um filho da puta de verdade, Isaac.
Helena estendeu a mão e tocou minha mão. — Tenho certeza de que não
foi isso que ele quis dizer.
— Mas é o que ele disse. E é isso que Lane é. Isso é sempre quem Lane tem
sido.
— Eu não quis dizer isso dessa maneira. Claro que eu apoio Lane. Quero
o que é melhor para ele e sua carreira.
Eu o ignorei. — Você não esteve no sótão esta semana? — Esse espaço era
Lane. Ele passou mais tempo lá do que em seu próprio quarto crescendo. Era
onde ele trabalhava toda vez que voltava para casa.
— Eu estive no sótão. Mas se eu não tivesse, não seria um grande negócio.
Estou de férias e gostaria de ter uma boa noite de sono. Isso é tudo.
— Você sempre se inspira à noite. — Rebati.
— Então eu subiria se eu quisesse. Sou um menino grande, Isaac. Não
preciso que você me defenda como se eu não pudesse fazer minhas próprias
escolhas.
— Isaac — papai avisou. Eu estava realmente ficando cansado de meu
nome soar assim.
— Sinto muito. — Olhei para Lane, não para Jayden. — Não é da minha
conta o que você faz ou deixa de fazer. Eu deveria ter ficado de boca fechada.
O clima para o resto da refeição foi moderado. Eu estava apostando que
Lane desejava que ele não tivesse ligado e me pedido para vir. Eu sei que
sim.
Percebi que Jayden ficou fora do telefone a maior parte da noite. Depois
do jantar, sentamo-nos no quintal por um tempo, conversando - Helena e
papai contando histórias para Jayden de quando Lane e eu éramos jovens.
— Vocês saíam muito juntos. — disse Jayden. Eu estava sentado nos
degraus em vez de uma das cadeiras, não me deixando olhar para eles.
— Sim e não. — Papai respondeu. — Isaac e Lane sempre foram muito
diferentes. Na escola não participavam das mesmas atividades e não tinham
os mesmos amigos, mas sempre foram próximos. Quando estavam em casa,
eles eram inseparáveis, Isaac sempre no andar de cima com Lane enquanto
ele pintava.
Belisquei a pintura no parapeito, desejando que eu pudesse ignorá-los.
— Eles eram como irmãos desde o início — acrescentou Helena. — Como
sempre foi para ser. Eu esperava ter outro filho depois de Lane, mas meu
corpo discordou, e então Timothy e Isaac entraram em nossas vidas e... foi
como o destino. Não que eu esteja feliz por Isaac ter perdido sua mãe
biológica ou Lane seu pai, mas... nós nos encaixamos desde o início. Isaac é
meu filho de todas as maneiras possíveis, assim como Lane é para Timothy,
e assim como são como irmãos.
Minha coluna endureceu. Todo mundo ficou quieto por um momento,
nenhum som além de grilos ao longe. A questão era que Helena estava certa.
Nós éramos a família perfeita. Nós nos encaixamos juntos como era para ser.
Era nisso que eu precisava focar.
— Lane ganhou no departamento de irmãos. Isso é tudo que estou
dizendo. — Forcei, e todos riram.
— Acho que você confundiu. Você é o sortudo. — Rebateu Lane.
Eu me fiz brincar com eles, ser o Isaac alegre e sarcástico que sempre fui.
Eu até tentei ser mais legal com o bola de gosma com cara de merda porque
eles eram minha família e eu os amava. Eu não ia nos separar.
Lane
Eu não conseguia dormir. A sensação de não estar confortável na minha
pele piorou desde que eu estava em casa, quando eu esperava que
melhorasse. Ainda assim, eu não queria voltar para a cidade, ainda não. Eu
não estava pronto, e uma parte maior de mim estava começando a perceber
que eu não queria voltar com Jayden. Não era só eu que estava desconectado,
éramos nós.
Voltar para casa deveria consertar isso, consertar o que estava
acontecendo de errado dentro de mim, mas não consertou, e era hora de
encarar isso.
Eu poderia dizer pelo jeito que Jayden estava respirando que ele também
não estava dormindo. Ele estava enrolado de lado, de costas para mim,
quando normalmente ele estava em cima de mim quando dormia.
— Quer levantar-se e pintar agora, não é? — Ele perguntou suavemente.
— Sim.
— Pensei que era eu... que por alguma razão, você estava tentando escapar
de mim, mas isso é realmente quem você é, não é? E eu não sabia.
— Sim, é quem eu sou, mas acho que há mais do que isso, e nós dois
sabemos disso.
Jayden suspirou, rolou. Estava escuro no quarto, a única luz vinha da lua
brilhando através da janela e dos postes de luz abaixo.
— Eu te amo... você sabe disso, não é? — Jayden perguntou, fazendo um
peso se instalar no meu peito.
— Eu sei.
— Mas não somos certos um para o outro.
Fiz uma pausa por um momento antes de concordar: — Não, acho que não
somos.
— Dormi com Salvador. Foi apenas uma vez, cerca de seis meses atrás. Eu
queria que você saísse comigo, e você não quis. Estava me sentindo...
negligenciado. Eu poderia dizer mesmo naquela época que você estava se
afastando, e estava chateado e magoado com isso. Não estou tentando culpálo ou dizer que é sua culpa. Só estou dizendo o que fiz e como me senti.
Arrependi-me desde então. Eu me odeio por afundar tanto, e as coisas estão
ainda mais difíceis agora porque ele é um cliente e... deixou bem claro que
quer fazer isso de novo. Estava tentando descobrir como contar a você.
Esperei que o ciúme surgisse. Esperei me sentir magoado ou traído ou até
mesmo com raiva, mas me sentia... solitário. Como se talvez eu nunca
encontrasse aquela pessoa com quem combinasse, com quem tudo parecia
certo.
— Você me odeia? — Perguntou Jayden.
— Não. — Eu realmente não, o que me disse que eu deveria ter terminado
isso há muito tempo.
— Eu queria que funcionasse. Tenho tentado tanto e pensei... pensei que
talvez esta semana, viajar e conhecer sua família, nos aproximaria, mas só
me mostrou o quão distantes realmente estamos.
— Sinto muito. — Eu disse, embora não tivesse certeza do que estava me
desculpando. Talvez porque não importa o que ele tivesse feito, Salvador ou
não, não teríamos durado.
— Pensei que seria eu a domar Lane Ryan. Você é toda a conversa, sabe?
O belo e incrivelmente talentoso pintor que todos adoram, que passa de um
relacionamento de longo prazo para um relacionamento de longo prazo, mas
ninguém pode amarrá-lo para sempre.
Ele estava certo, e esse pensamento fez uma profunda melancolia se
instalar em meus ossos. Era muito exigente? Estive com algumas pessoas
realmente ótimas, pessoas que eu gostava, então por que eu não poderia
amá-las? Era como se eu não pudesse dar aquele passo final. Algo dentro de
mim sempre me segurou.
— Não é você, sou eu…? — Eu disse, e ele riu baixinho.
— Bem, não, não sou eu. Eu sou fabuloso pra caralho. — E apesar de
nossas diferenças e do fato de que ele me traiu, eu sabia que ele era um
homem decente – falho, mas decente e não o certo para mim.
— Você não é tão ruim. — Provoquei. — Quando você não está sendo um
pirralho mimado. — Inclinei-me e beijei a testa de Jayden. Eu não
concordava com o que ele tinha feito com Salvador, mas a verdade era que
eu também nem sempre fui justo com Jayden. Eu sabia que não poderia dar
a ele meu coração.
— Acho que quero ir embora esta noite. Antes que sua família acorde.
— Você não tem que fazer isso. Não temos que lhes dizer nada. Podemos
fingir que está tudo bem, mas...
— Mas você não vai voltar para a cidade ainda.
— Não. — Respondi. Não ia. Eu queria estar com minha família. Queria
consertar o que quer que tivesse acontecido entre Isaac e eu, porque nada
parecia certo desde que começamos a nos separar.
— Vou ver se consigo reservar um voo. — Jayden sentou-se na beirada da
cama, olhando para o telefone. Havia um saindo de Atlanta no início da
manhã, então me levantei com ele e o ajudei em silêncio a fazer as malas.
Quando eu disse: — Devemos sair. — Não esperava sua resposta.
— Chamei um carro. Deve estar aqui a qualquer minuto. Eu não... acho
melhor nos despedirmos aqui.
Balancei a cabeça. — Vou levá-lo para fora. — Ficamos quietos enquanto
pegamos as coisas de Jayden, descemos e saímos. Assim que chegamos à rua,
um carro virou na estrada. — Venha aqui. — Puxei-o para um abraço.
Jayden me deu um pequeno sorriso, entrou no carro e saiu.
Outro relacionamento acabou, e neste puxei minha família. Pelo menos
com os outros eu não tive que me preocupar em decepcionar minha mãe.
Fiquei do lado de fora muito depois de Jayden ter ido embora. Quando
voltei, não entrei no meu quarto, em vez disso fui direto para o de Isaac.
Fiquei surpreso por ele ter passado a noite, mas mamãe disse que ele poderia
muito bem se despedir no dia seguinte.
Ele estava morto para o mundo, o cobertor cobrindo apenas parcialmente
seu peito, virilha e pernas, que se projetavam, nus. O rosto de Isaac estava
em direção à porta, suavizado de uma forma que não era quando ele estava
acordado. Ele sempre foi bom em enganar as pessoas, mas eu sabia que ele
carregava mais peso do que mostrava.
Fui até ele, o observei respirar como uma espécie de Stalker antes de
estender a mão para tocar seu ombro. No segundo que eu fiz, seus olhos se
abriram, segurando firme em mim. — O que? O que há de errado?
— Quero te desenhar. — Fazia tanto tempo desde que tínhamos feito isso,
eu só sabia que ele me diria não. Que ele diria que eu era louco e ele não
sairia da cama, todas as maneiras de construir ainda mais alto aquele muro
que ele ergueu entre nós.
Mas Isaac me surpreendeu. — OK.
Fiquei ali por um momento, esperando que ele se levantasse, mas ele me
deu um sorriso malicioso, o arrogante Isaac fazendo uma aparição.
— Você quer um concurso de medição de pau também? Porque eu tenho
que te dizer, estou armado. Se não é isso que você está procurando, pode
querer ir porque estou nu aqui embaixo.
— Oh. — Merda. Eu não sabia por que eu não tinha pensado nisso. Meu
rosto corou, o que era confuso pra caralho, então eu me virei antes que Isaac
pudesse notar. — Vejo-o no sótão.
— Estarei lá.
Subi as escadas, andando de um lado para o outro, os nervos se
espalhando por todo o meu corpo. Porque me sentia assim depois de falar
com meu próprio irmão, eu não conseguia descobrir.
Realmente foi apenas alguns minutos depois, quando ouvi a porta e, em
seguida, os passos de Isaac quando ele veio. Virei-me para olhar para ele –
seu cabelo curto bagunçado, barba por fazer ao longo de sua mandíbula, que
estava salpicada de cinza apesar de ele ter apenas trinta anos. Os cantos de
sua boca estavam virados para baixo, seus olhos desconfiados por trás de
sua fachada. Ele estava vestindo um short de náilon que chegava até os
joelhos, a faixa de sua cueca aparecendo por cima deles. Ele não estava de
camisa, e seu peito e abdômen estavam mais definidos do que quando
éramos mais jovens.
— Estamos tendo um concurso de olhares que eu não sabia? — Ele
perguntou, me puxando para fora... bem, do jeito que eu o estava encarando.
Parecia muito diferente fazer isso como adultos. Uma sensação
desconfortável começou no fundo do meu estômago, viajando até meu peito.
Mas então, nosso relacionamento havia mudado tanto que fazia sentido.
— Sente-se. — Apontei para o sofá.
— Não sou seu cachorrinho, Lane.
Revirei os olhos. — Sente-se, Isaac.
Com um suspiro, ele se sentou, mas eu sabia que ele não tinha terminado
de falar ainda. Isaac raramente calava a boca. — Tem certeza de que você
tem permissão para estar aqui? Não quero que tenha problemas com seu
namorado – oh, ei, lembra como você sempre me disse que era
heterossexual? Vou precisar que você me explique como toda a coisa de
namorar um cara acontece nessa situação.
Procurei na gaveta da escrivaninha e peguei um velho caderno de desenho
e um lápis. De costas para ele, eu disse: — Você pode ser um verdadeiro
idiota, sabia disso? — Sempre foi verdade sobre ele. A diferença era que ele
nunca costumava ser um para mim.
— É um talento.
— Você deveria trabalhar em um novo.
— Por que eu faria isso quando sou tão bom nisso?
Ignorei-o e puxei a cadeira para ficar na frente dele. Ficamos em silêncio
quando abri em uma página em branco. Coloquei meus pés na pequena
mesa de centro entre nós, caderno no meu colo, antes que a ponta do lápis
fizesse seu primeiro risco no papel.
Riscar, riscar, riscar.
— Sempre amei esse som. Dormi com isso tantas vezes ao longo dos anos,
quando eu vinha aqui enquanto você trabalhava. Faz algo comigo como...
porra, não sei. Como se fosse uma maldita canção de ninar ou algo assim.
Meu olhar se voltou para ele, mas Isaac não estava olhando para mim. Ele
nunca em um milhão de anos teria dito isso para outra pessoa. Eu não sabia
o que havia em mim que o fazia baixar a guarda, mas sempre baixou, e
sempre me divertia com isso. A única vez que eu me sentia especial na minha
vida era por causa da minha arte, e depois por quem eu era para Isaac.
Quando alguém confiante e inteligente o suficiente para incendiar o mundo
confia em você, isso faz algo para um cara. Eu não tinha certeza se merecia
isso, mas eu não iria me afastar disso também.
— Eu não tenho um. — Finalmente respondi, meu olhar encarando-o.
Isaac estava franzindo a testa.
— Tem o quê?
— Namorado.
— Merda. — Ele esfregou a mão no rosto. — Sei que deveria dizer que
sinto muito, mas tenho certeza de que odeio aquele cara, então é difícil dizer
as palavras.
Eu ri. Era uma coisa tão Isaac de se dizer. Novamente, ele era um pouco
idiota, mas sempre o amei por isso. — Ele não é um cara ruim.
— Ele é basicamente o pior. — Revirei os olhos e Isaac, percebendo minha
resposta silenciosa, disse: — Não estou sendo dramático.
— Eu vou admitir que ele não era certo para mim e não se encaixava muito
bem conosco, mas ele não é o pior. Isso é um pouco exagerado.
— Ele estava com ciúmes do tempo que você passava criando arte, Lane.
Ele tinha um ponto. — Jayden está acostumado a ser o centro das atenções.
E ele foi ferido no passado. Tem uma autoestima muito baixa, embora você
não perceberia isso de fora. A falta de atenção faz com que ele se sinta malamado. — O que eu sabia desde o início, mas eu não tinha percebido que iria
me afetar tanto. E, em seguida, adicionando a traição…
— Não. Não ajuda. Ainda o odeio — Isaac disse, me fazendo rir. Ele
sempre foi tão bom em fazer isso.
— Você é um idiota.
— Diga-me algo que eu ainda não saiba — ele respondeu. Porque
sarcasmo e ser um idiota sempre foram mais fáceis para ele do que emoções
reais.
Nós caímos em um silêncio confortável desta vez, nada além do som de
nossa respiração e meu lápis arranhando o papel preenchendo o espaço ao
nosso redor. Eu precisava explicar as coisas para ele, mas não conseguia
descobrir por onde começar, como nos levar de volta para onde
costumávamos estar. Só sabia que um dia estávamos bem, e depois não
estávamos. O fato de eu não ter contado a ele sobre estar com homens só
piorou as coisas.
— Eu não sabia — eu disse sem olhar para ele. — Quando você me
perguntou se eu gostava de homens, eu não percebi. E talvez isso não faça
sentido para você, alguém que sempre foi tão seguro de quem é, mas é a
verdade.
— A sexualidade é uma coisa complexa. Posso entender isso, mas em
algum momento ao longo dos anos você descobriu e escondeu isso de mim.
Quando olhei para cima, Isaac estava massageando o peito, bem sobre o
coração, como se estivesse com uma dor no músculo ali.
— As coisas não são as mesmas entre nós há muito tempo. Não falamos
como costumávamos.
— Essa é uma desculpa de merda, e você sabe disso. Sim, claro, nós
crescemos, a merda mudou, mas ainda não há razão para não sabermos isso
sobre você, a menos que você especificamente tentasse esconder isso de nós.
Presumo que Jayden não é seu primeiro, e você... o que, convenientemente,
nunca mencionou ter um namorado? Por quê?
— Eu não sei. — Respondi honestamente. Eu também não sabia como
explicar. Como eu poderia, quando eu mesmo não entendia?
— Novamente. Besteira. Foi eu, não foi? Você não queria que eu soubesse
especificamente.
Coloquei o lápis para baixo, passei a mão pelo meu cabelo, raspando meu
couro cabeludo e bagunçando meus cachos já selvagens. Ele estava certo.
Estava lá, bem dentro de mim, escondido, não querendo sair. Não queria que
Isaac soubesse, mas não conseguia entender por que isso seria verdade.
Isaac ficou de pé. — Sou eu, Lane. Você é a primeira pessoa para quem
contei. Quase todos os malditos segredos que há para saber sobre mim, você
os conhece.
Olhei para ele, inclinei minha cabeça. — Quase? — Saiu da minha boca, o
que, em retrospectiva, não era a melhor palavra para libertar.
Fogo raivoso brilhou nos olhos de Isaac. — Jesus fodido Cristo. Estamos
sentados aqui discutindo porque você escondeu sua sexualidade de mim
todos esses anos e está realmente me questionando sobre o que talvez não
saiba?
Bem, quando ele disse dessa forma, pude ver por que soava tão ruim.
Quando não respondi, Isaac disse: — Você é o único com quem sempre fui
tão aberto. Você é quem falou tão facilmente sobre os sentimentos e que
olhou além da minha fachada para ver a mim. Você encontrou palavras e
emoções dentro de mim que eu não tinha percebido que tinha trancado, você
arrancou cada uma delas de mim, e então se apega a isso? Você escondeu
isso de mim? Por quê?
Levantei-me e caminhei até a janela, olhei para a noite, e então Isaac estava
lá, atrás de mim. Seu reflexo observando o meu.
— Você não queria que eu soubesse — ele disse novamente.
— Sim — respondi. Eu não queria. Virei-me para nos encararmos, apenas
alguns centímetros nos separando. O peito de Isaac subia e descia
profundamente, como se sua respiração estivesse tentando fugir dele. —
Não faz sentido. Eu entendo isso, mas... eu te decepcionei naquele dia.
Quando você perguntou se eu gostava de homens e eu disse que não, eu te
decepcionei, e enquanto minha resposta parecia verdadeira na época, odeio
te desapontar. Eu nunca quero te decepcionar, Isaac. Queria ser atraído por
homens naquela época só porque você era, porque eu poderia dizer que você
precisava que eu fosse.
— E daí? Você foi para a faculdade e ficou gay para que seu irmão não se
sentisse tão solitário? Não funciona assim.
— Não. Fui para Nova York e descobri quem eu era. As coisas nunca
foram tão fáceis para mim nisso como foram para você. Eu era o garoto
estranho e quieto. Eu só queria me perder na minha arte. E enquanto eu tinha
meus amigos, não nos conectamos nesse nível. Eu saí, e então eu estava perto
de tantas pessoas que eram como eu. Não estava mais sozinho e...
— Você estava sozinho? Aqui comigo?
Jesus. Ele carregou o peso do mundo em seus ombros. Ele tinha feito isso
quando sua mãe morreu, tentando carregar sua própria dor junto com a de
seu pai, e agora ele iria assumir meus sentimentos também? — Não. Essa era
a única vez que eu não me sentia assim. Era sempre diferente quando
estávamos juntos. Quase como se sempre fosse para ser, como sempre
deveríamos ser irmãos.
Isaac fechou os olhos. Ele soltou um suspiro profundo, balançando a
cabeça ligeiramente. Quando ele os abriu, a parede estava entre nós
novamente. — Sim, acho que éramos, não éramos? Os irmãos perfeitos. Você
nunca me disse... que se sentia sozinho. Você me pressionou para falar, mas
não me disse.
— Porque eu queria ser forte por você. Você merecia isso.
Isaac se virou, foi embora, então parou e apoiou a mão no encosto do sofá,
sem olhar na minha direção. — Então você foi para a faculdade e havia
pessoas como você.
— Acho que me tornei independente. Experimentei mais vida, grupos
mais diversos de pessoas. Experimentei um monte de merda que eu não
tinha feito aqui. Então, uma vez, estávamos em uma festa dada por um
artista que eu admirava. Sua namorada estava flertando comigo. Me
assustou pra caralho no começo porque ela era comprometida. Quando
todos foram embora, eles me pediram para ficar, então eu fiquei, e
aparentemente eles gostavam de brincar com outras pessoas, homens e
mulheres, e eles me queriam. Inicialmente, ele ia apenas nos assistir juntos,
mas depois perguntou se poderia participar e...
— Já chega. — Isaac me interrompeu, ainda me dando as costas. — Você
transou com um cara e percebeu que gosta de pau. Isso é tudo que preciso
saber sobre isso. Você ainda não está explicando por que não me contou.
— Porque não posso. Eu não tenho desculpa. Eu só... — Eu andei até Isaac,
coloquei minha testa em seu ombro. — Sinto muito.
— Eu sei.
— Sinto sua falta. Sinto falta de nós. Tudo parece uma bagunça agora,
mesmo que não devesse. Meus sonhos se tornaram realidade, mas me sinto...
vazio? Essa é uma palavra muito grande, mas como se eu não estivesse
resolvido, e acho que parte disso é por nossa causa.
Isaac ficou tenso embaixo de mim, então se virou, me fazendo olhar para
cima. Estávamos tão malditamente perto, eu podia sentir sua respiração,
cheirar o sal e os restos do sol em sua pele. Isaac sempre cheirava a um dia
de verão.
— Quero ser o tipo de irmãos que costumávamos ser. — eu disse,
precisando disso para ajudar, precisando encontrar nosso caminho de volta
um para o outro. Foi por isso que eu vim aqui, e se eu fosse honesto, eu teria
admitido isso para mim mesmo há muito tempo.
— Ok. — Ele disse simplesmente.
— OK? Tão facilmente?
Isaac balançou a cabeça. — Pare de fingir que já lhe neguei qualquer coisa.
Desde o primeiro momento em que você entrou nesta casa, eu te mimei. É
lamentável para mim, mas acho que não há como mudar isso agora.
Eu sorri, então Isaac também, só que o dele não alcançou seus olhos. Eu
sempre fui capaz de entendê-lo, mas não conseguia mais, e isso me matou.
Isaac se inclinou mais perto, palma contra minha nuca, e beijou minha
têmpora. Então seus braços me envolveram, me segurando em um abraço
apertado. Sua mão emaranhada no meu cabelo, sua bochecha contra o lado
da minha cabeça, provavelmente com um rosto cheio de cachos. Ele ficou
um momento, dois, depois três, quatro e cinco, antes de se afastar. — Boa
noite, irmão.
Isaac me deixou ali de pé enquanto descia as escadas. Por muito tempo,
não me movi.
Isaac
Papai e helena ficaram confusos quando, no dia seguinte, Lane disse a eles
que ele e Jayden haviam terminado. Não era sempre que uma pessoa ia para
a cama com um casal compartilhando a casa com eles apenas para acordar
com um deles desaparecido... espero que para sempre. Eu queria fazer uma
maldita festa. Havia tantas razões pelas quais eu estava feliz que ele estava
fora de nossas vidas, eu não poderia escolher apenas uma.
Eles ficaram em êxtase quando Lane disse que não voltaria para
Manhattan imediatamente. Helena queria que ele voltasse para casa por
anos, e embora Lane tivesse certeza de que ela sabia que ele não tinha
decidido quanto tempo ficaria, ela só queria seu filho em casa.
Isso funcionou para mim porque eu o queria em casa também. Só que ele
estava ainda mais perto do que pensei que estaria, considerando que ele
perguntou se poderia ficar no meu apartamento em vez de com nossos pais.
Eu disse que sim, porque era Lane e o pequeno bastardo me tinha enrolado
em seu dedo, mas tê-lo lá, no meu espaço, não estava me ajudando a superálo.
Já fazia algumas semanas que eu via Lane de manhã antes de ir trabalhar,
que o ouvia andar pelo apartamento à noite, que ele ia até o terceiro quarto
para pintar ou desenhar sempre que o clima dava. Do caos de Lane em todo
o lugar porque porra, como ele ficou ainda mais confuso? Roupas sujas no
chão do banheiro, pincéis por toda a cozinha, um cobertor no sofá de quando
ele dormiu lá. Eu queria estrangulá-lo e dar uns amassos em seu rosto ao
mesmo tempo, o que era meio foda. Acho que não mais do que o fato de que
ele era meu irmão.
Nós não conversamos mais sobre Jayden ou o passado ou por que me
afastei dele. A pergunta estava sempre nos olhos de Lane, no entanto. Eu via
isso quando ele olhava para mim, quando ele me estudava naquelas vezes
que ele não sabia que eu estava prestando atenção, mas eu estava sempre
prestando atenção quando se tratava dele.
Eu também tive... muito sexo. Mais sexo do que o normal, tanto comigo
quanto com outras pessoas. Eu queria provar que estava bem, queria que ele
me visse vivendo minha vida normal, na esperança de que eu pudesse fazer
essa merda ir embora.
Sem sorte até agora, mas eu era um filho da puta determinado quando
queria alguma coisa. Meu medo era que por dentro, eu realmente não queria
que isso fosse embora. Eu queria que Lane me amasse também. Havia tantos
homens bonitos por aí, mas eu estava preso a alguém que literalmente
deixou uma meia suja no balcão da cozinha e não entendia por que eu estava
tão assustado com isso.
Estava chegando ao fim do trabalho em uma sexta-feira, quando Steven,
um dos consultores financeiros, entrou em meu escritório. — Alguns de nós
vão sair hoje à noite. Quer ir?
— Sabe, provavelmente somos o único escritório no estado onde tantas
pessoas são solteiras e saem juntas com tanta frequência. Somos pessoas de
números. Devemos ser chatos. Achei que todos seriam, menos eu.
Steven riu. — Todo mundo menos você, hein? E se as pessoas acharem
que você é chato?
— Impossível.
— O engraçado sobre você é que você nem está brincando. Você é a pessoa
mais arrogante que já conheci que não é um idiota, bem, pelo menos não na
maioria das vezes.
Foi a minha vez de rir. Sabia que deveria sair com eles. Sentar-me no
apartamento com Lane não estava me fazendo bem, e trazer homens para
casa também não estava mudando nada, mas ainda assim, minha resposta
não seria sim. Teria sido se Lane não estivesse lá esperando por mim.
— Acho que não. Meu irmão está na cidade e está comigo.
— Então? Não é uma reunião de trabalho sem Isaac Pierce.
Não, não era, era? Eu estava sempre saindo - amigos do trabalho, outros
amigos, Hutch, homens que eu queria foder. Era basicamente como eu
passava minha vida.
— E você se pergunta por que sou tão arrogante? Como eu poderia não
ser quando você diz coisas assim?
— Você não precisa que eu diga coisas assim para ser arrogante. E tragao, seu irmão. Vai ser divertido. E como diabos eu não sabia que você tem um
irmão?
Ninguém no trabalho conheceu Lane, e eu não tinha o hábito de falar sobre
ele lá. Dei de ombros. — Talvez na próxima vez.
— Uau... quando você ficou chato? — Steven piscou, e eu dei o dedo a ele.
Tudo um dia normal de trabalho para nós. Ele saiu do meu escritório, e
terminei minhas responsabilidades do dia.
Durante todo o caminho para casa eu me perguntei se deveria ter ido com
Steven e os outros do trabalho, ou se deveria ter levado Lane comigo. Talvez
dizer a mais e mais pessoas que eu tinha um irmão e que era Lane, ajudasse
a abafar meus sentimentos por ele. Quanto mais pessoas o vissem como meu
irmão, poderiam ajudar.
Quando cheguei em casa e ouvi música pela porta, fiz uma careta. Eu
morava sozinho desde os dezoito anos, então não estava acostumado a
voltar para casa e ver alguém ali ou ouvindo... Era George Michael?
Destranquei a porta e entrei. Lane tinha a música tocando alto em seu
telefone. Ele estava na cozinha, de costas para mim, vestindo short e uma
regata que eu sabia que estavam salpicados de tinta. Eles eram velhos e
desbotados, um buraco no topo. Ele não trouxe muitas roupas com ele, mas
ele fez algumas compras desde que chegou, então não era como se ele não
tivesse opções. Éramos tão diferentes que, mesmo em casa, eu não usaria. As
roupas teriam sido jogadas fora há muito tempo, mas Lane não era assim.
Elas eram gastas e confortáveis e isso era tudo que importava para ele.
As bancadas estavam cobertas de comida. Havia uma panela no fogão,
com algo fervendo dentro. Ele estava com uma faixa na cabeça, mantendo o
cabelo longe do rosto enquanto dançava e cantava, usando uma espátula
como microfone e alternando entre isso e tamborilar nas minhas bancadas
de mármore.
Este era... definitivamente um novo Lane. Eu nunca tinha visto isso
quando estávamos crescendo. Não pude deixar de ficar para trás e observálo, sorrindo enquanto ele cantava sobre ter fé.
Ele era... Deus, ele era absolutamente ridículo da melhor maneira.
Ele girou, então parou, as meias escorregando no chão quando me viu.
— Você me assustou pra caralho! — Ele disse, então pegou seu telefone e
desligou.
— Não me deixe interromper. Eu estava gostando do show.
Lane apontou a espátula para mim. — Você estava pensando em todas as
maneiras que poderia tirar sarro de mim. Não minta. Eu te conheço melhor
do que isso.
— Talvez um pouco. — Admiti, mas eu estava me divertindo também.
— Tentei respeitar seus limites, mas você não cozinha. Ou compra comida.
Como você não compra comida, Isaac? Estou definhando, vivendo de
comida para viagem e sem lanches.
— Claramente isso muda hoje. — Fui mais longe na cozinha.
— Sim. Juro que não sei como você tem um corpo tão bom com a forma
como come.
— Gostou do meu corpo, não é? — Eu disse, minha voz baixa e sedutora,
o que, porra, não foi de propósito. Eu definitivamente não deveria estar
flertando com meu irmão.
Lane não pareceu notar. Ele revirou os olhos e disse: — Você é tão vaidoso.
Fui às compras e estou cozinhando. Você guarda as compras.
— Muito perto de limpar para você, não é? — Coloquei minha bolsa na
mesa e afrouxei minha gravata.
— Ei, você sabia como eu era antes de dizer que eu poderia ficar com você.
Isso é sua culpa. Jayden estava sempre me criticando sobre minhas
bagunças. Você vai começar agora também?
Eu odiava esse nome. Eu poderia passar a vida perfeitamente feliz se
nunca mais ouvir isso.
— Vou te provocar sobre isso porque sempre fiz isso e não vejo isso parar
tão cedo. Mas não vou tentar mudá-lo, e aprendi há muito tempo como viver
com isso.
Lane franziu a testa. — Isso te incomoda? Vou trabalhar mais em...
— Está tudo bem, Lane. Desde que não haja mais meias no balcão da
cozinha, estamos bem.
— De acordo. — Ele sorriu. — Agora, se você guardar as coisas, eu vou
terminar de fazer o jantar para nós.
Teria sido mais fácil se ele tivesse feito isso antes de começar a cozinhar,
mas deixei isso para lá. Tirei minha gravata e desabotoei os primeiros botões
da minha camisa antes de arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Ele
comprou... merda, comprou muito. Eu não tinha certeza se meus armários
ou geladeira já estiveram tão cheios.
— Como foi seu dia? — Lane perguntou, indo mexer o que estava na
panela. Havia algo assando no forno também.
— Bom. Ganhei dinheiro para muita gente... ganhei dinheiro para mim.
Chamo isso de vitória.
— Você não tem que fingir comigo.
Empurrei o leite na geladeira, me perguntando quanto tempo ele tinha
comprado. Ainda estava frio, então era um bom sinal. — Fingir o quê?
— Que dinheiro é com o que você se importa. Você é bom no que faz, o
que eu acho, sim, isso resulta em dinheiro, mas você gosta de números
porque é bom com eles. Porque são consistentes para você e pode controlálos – não quanto dinheiro você ganha, é claro, mas onde investir e quanto.
Você pesquisa para saber essas coisas, e um mais um é sempre dois.
Dei de ombros porque ele estava certo. — O que tem para o jantar?
— Ah, a evasiva de Isaac.
Encostado no balcão, cruzei os braços e olhei para ele. — Qual é a evasiva
de Isaac?
— Você e como você muda de assunto. Sempre fez isso. Nunca deixei você
se safar disso – pelo menos não sem te chamar a atenção. Espero que as coisas
não tenham mudado tanto entre nós que você espera que eu mude agora.
Não, não, elas não tinham. Por mais inconveniente que tudo isso fosse,
significava muito para mim ter alguém que me conhecia tão bem.
— Não, mas é uma via de mão dupla. Espero que você também não espere
que eu mude. Eu provavelmente sempre serei um especialista na evasiva de
Isaac.
Lane revirou os olhos, mas um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
Tinha um pouco mais de barba no rosto do que o normal.
— Eu sei. — Ele respondeu. — Frango assado, purê de batata e molho,
com feijão verde salteado. Não cozinho assim há anos. É legal.
— Sinta-se à vontade para fazê-lo quantas vezes quiser. — Eu pisquei.
— Você pode ir se trocar se quiser. Vou terminar aqui.
— OK. — Balancei a cabeça, gostando de ter Lane no meu espaço.
Enquanto eu caminhava em direção ao corredor, a música tocou
novamente. Deve ser uma playlist dos anos 80, porque agora ele estava
ouvindo “Livin on a Prayer” do Bon Jovi. Ele costumava ouvir música assim
quando estávamos no ensino médio também. Essa era parte da razão pela
qual eu conhecia as músicas. Lembrei-me de quando recebi alguns amigos
do time de futebol, e Lane estava ouvindo algumas de suas favoritas daquela
década. Quando eu não estava na sala, os caras estavam rindo disso, de Lane.
Eu os ouvi quando voltei. Eles calaram a boca bem rápido porque sabiam
que eu não aceitava pessoas falando merda sobre ele. Menti e disse a eles
que papai disse que era hora de todos irem para casa, e então me deitei na
cama de Lane com ele, minha cabeça em seus travesseiros, ele virado para o
outro lado enquanto tocava todas as suas músicas favoritas para mim e
desenhava.
— Você está tendo eles de novo, não é?
Eu sabia do que ele estava falando, mas ainda assim eu disse: — Tendo o quê? —
Foda-se Lane. Ele sempre fez essa merda. Ele sempre me fazia falar sobre as coisas e
podia ler minha mente e meu humor melhor do que qualquer outra pessoa.
— Os sonhos de encontrar sua mãe. — Ele disse sem olhar para mim. — Eu te
ouvi. Entrei para ter certeza de que estava bem, mas você estava quieto novamente.
Porque eu tinha acordado com ele lá e não queria parecer fraco.
— Sim. — Respondi honestamente, porque este era ele. Porque ele foi o único que
já perguntou.
Lane virou na outra direção na cama, ao meu lado, a cabeça ao lado da minha.
Nenhum dos meus outros amigos homens teria feito isso. Eles não teriam se deitado
na cama comigo, tão perto, então tocado meu cabelo, tocado os fios como se fosse
deles. Mesmo antes de saberem que eu era gay, eles não teriam feito isso, mas Lane
fazia.
— Não é sua culpa. Você não poderia tê-la salvo.
— Se eu voltasse para casa em vez de parar para jogar, poderia ter ligado para o
911.
— E ela ainda teria ido embora. Disseram que foi instantâneo.
Me virei, minha visão embaçada, mas Lane chegou mais perto. Ele não me forçou
a olhar para ele, mas também não me deixou escapar. Colocou a cabeça no meu peito
e disse: — Fale-me sobre ela — e embora eu já tivesse feito isso uma centena de vezes
antes, ele sempre agia como se fosse a primeira.
Então eu contei. Falei sobre mamãe de uma maneira que papai nunca fez. Eu
contei a ele histórias sobre ela, e antes que eu percebesse, eu estava sorrindo... rindo...
e eram meus dedos no cabelo de Lane, brincando, massageando seu couro cabeludo,
torcendo um cacho ao redor do meu dedo.
Estava com medo do que papai e Helena pensariam se nos vissem, se soubessem
como eu me sentia. Se me mandassem embora porque ele era meu irmão e eu não
deveria pensar essas coisas sobre ele.
Ainda assim, eu não me afastei... não pude.
Afastei a memória. — Recomponha-se. — Eu disse a mim mesmo, então
entrei no meu banheiro para tomar um banho e limpar minha cabeça.
Lane
Eu queria ter uma boa noite com Isaac. Nós não tivemos muito tempo de
qualidade juntos desde que eu estava na casa dele. Ele trabalhava muito e,
quando estava em casa, passava muito tempo em seu quarto – muitas vezes
não sozinho. Nós éramos tão diferentes assim. Meus relacionamentos
sempre duradouros, e ele mais interessado apenas em sexo. Tentei não
deixar isso me incomodar, sabia que não tinha motivos para isso. Contanto
que Isaac estivesse se divertindo, isso era tudo o que importava, mas até
agora, eu ainda tinha que descobrir por que eu estava tão irritado com isso,
nem conseguia evitar que isso me incomodasse.
Além disso, o que quer que o tenha feito se afastar de mim ainda existia
entre nós. Houve momentos como quando ele voltou para casa, onde
deslizamos para o familiar, para ser apenas Isaac e Lane, mas eventualmente
sempre se fechava novamente.
Sentia falta de nossas conversas, os momentos em que ele não conseguia
manter um segredo de mim, mesmo quando tentava, sentia falta do jeito que
Isaac sempre me fez sentir importante, necessário, desejado.
Continuei cozinhando enquanto ele estava no chuveiro, querendo fazer
algo de bom para ele. Na verdade, tinha planejado guardar os mantimentos
antes que ele chegasse em casa, mas isso não saiu como planejado.
Ele saiu um pouco depois, seu cabelo curto e escuro molhado, mas ainda
com estilo. Ele sempre foi tão arrumado, e eu não queria nada mais do que
desarrumá-lo.
— Do que você está sorrindo? — Ele perguntou.
— Nada. — Ele estava vestindo uma camiseta apertada e short de dormir,
e tudo que eu conseguia pensar era obrigado porra, ele estava claramente
perfeito para a noite. Ele provavelmente não estava recebendo ninguém por
causa de como ele estava vestido. Isaac não deixava qualquer um vê-lo sem
estar vestido com jeans ou pelo menos roupas com as quais ele não iria para
a cama.
— Sente-se. Fale comigo enquanto termino nosso jantar.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Você é realmente mandão. Alguém já te
disse isso?
— Você, tenho certeza.
— Não planeja mudar isso, eu vejo.
— Se não está quebrado, não conserte.
— Parece muito quebrado para mim. — Isaac brincou de volta.
— Você acha que é cativante. Não finja o contrário.
Ele franziu os lábios, mas então se sentou no balcão alto do bar que
separava sua sala de estar e cozinha.
— O que está pintando?
— Nada que eu possa fazer muito agora. Estou apenas me deixando criar
o que parece certo.
— Que é…
Trabalhei amassando as batatas. — A vista da janela do meu estúdio. —
Não era meu estilo típico, fazer apenas cenário, mas isso não me impediu.
— Na casa do papai e da Helena?
— Não. Merda. Aqui. Acho que não é o meu estúdio. Você sabe o que eu
quis dizer. — Ele assistiu, esperando que eu continuasse, então eu continuei.
— Há uma árvore muito alta e cheia ao longe. Na outra manhã não consegui
dormir e acordei de madrugada. O sol estava nascendo atrás dela, e só
aquela árvore, com a cidade ao redor e todas as cores do céu, estava muito
lindo, então resolvi pintá-la. Parece... reconfortante, familiar, e minha vida
não parecia assim há muito tempo. — Talvez desde que as coisas começaram
a mudar com Isaac.
— Não sei como você faz isso, como vê tanta beleza ao seu redor. Eu vi
aquela árvore, provavelmente ao amanhecer também. Não me pareceu nada
de especial, mas garanto que parecerá quando eu ver sua pintura.
Nunca soube como reagir quando Isaac dizia coisas assim para mim.
Recebi elogios pelo meu trabalho o tempo todo, mas era diferente quando
vinha dele.
— Pare de me fazer corar. — Pisquei, fingindo como se suas palavras não
tivessem o efeito que tiveram em mim.
— Você adora. Não finja que não. Você gosta de ser elogiado por mim,
Lane.
— O quê? Não, eu não.
— Sim, você gosta.
— O que quer dizer? — Continuei com o nosso jantar. Isso era novidade
para mim. Eu nunca tinha pensado em gostar de ser elogiado antes, e eu
estava curioso porque Isaac diria que eu gostava.
— Você sempre me perguntou sobre coisas, gostava quando eu me
sentava com você enquanto criava, então se envaidecia quando eu lhe dizia
o quão bom era.
Revirei os olhos. — Duvido que eu envaidecia.
— Negue quanto quiser, mas sei a verdade. Seus olhos meio que ficam
vidrados e sua perna começa a tremer – você sabe, como um cachorro faz
quando você coça o lugar certo.
Isaac sorri e eu ri, desejando ter algo para jogar nele.
— Ah, foda-se. Agora sou um cachorro.
— Não, assim como quando eu te digo algo legal.
— Te odeio. — Ele não respondeu a isso. Certifiquei-me de não olhar para
ele quando acrescentei: — Eu não gosto, sabe? Com outras pessoas.
— Como sabe, quando você nem percebeu que gostava de elogios meus?
— Isso não. Quero dizer gostar, quando as pessoas me veem pintar. Eu
geralmente quero fazer isso sozinho. Esse sempre foi o nosso tempo, no
entanto. Conversávamos tanto quando eu estava pintando ou desenhando,
e eu adorava. Sentia-me perto de você então, e nunca me sentia bem com
mais ninguém. — Segundos se estenderam para um minuto, talvez mais, e
quando olhei para ele, Isaac estava com as mãos entrelaçadas, os dedos
entrelaçados. Seus braços repousaram sobre a mesa, e ele estava olhando
para baixo. Meu peito ficou apertado ao vê-lo, e massageei os músculos do
meu peitoral, tentando afrouxar a tensão. — Eu disse algo errado?
— Não. — Ele olhou para mim. — Você está tão sentimental como sempre.
— Isaac sorriu e balançou a cabeça exageradamente. — O jantar está pronto
ou está tentando me deixar com fome a noite toda? Esse é o seu plano, não
é? Livrar-se do meio-irmão malvado, hein?
Eu ri. — Só que você não é apenas um meio-irmão para mim. — Eu disse,
e eu poderia jurar que ele se encolheu.
— Irmão, então.
— Melhor amigo. — Só que isso também não se encaixava. Isaac era mais
do que essas duas coisas para mim, e eu sentia falta dele de uma maneira
que não conseguia colocar em palavras. — O jantar estará pronto em menos
de cinco minutos. Lave as mãos.
— Acabei de tomar banho.
— Então? E se você mexeu no nariz e eu não vi?
Ele revirou os olhos. — Sim, senhor.
Isaac se aproximou e puxou a faixa da minha cabeça, fazendo meu cabelo
cair para frente, em seguida, jogou-a no balcão e abriu a água. Ele sempre foi
estranho sobre o meu cabelo. Onde o de Isaac sempre foi perfeito, o meu não
era, e ele ficou estranhamente fascinado com isso.
Jantamos juntos em sua pequena mesa. Não pude deixar de olhar ao redor
de seu apartamento e perceber, não pela primeira vez, o quão escasso ele era.
— Você precisa melhorar sua decoração.
Ele apontou para a minha pintura. — Viu? Eu decorei.
— Isso é apenas uma coisa.
— É alguma coisa — respondeu, me fazendo rir. — Isso é realmente ótimo.
Eu sempre esqueço o quão boa é uma refeição caseira até eu ir para casa e
papai ou Helena fazerem alguma coisa. Na verdade, é por isso que pedi para
você se mudar.
— Mas você não pediu. Você só disse que eu podia.
— Humm, sim, bem, sou tão bom que coloquei o pensamento em sua
cabeça para me pedir. Nós vamos com isso.
Eu ri, arqueando uma sobrancelha para ele. — Você é ridículo.
— É uma habilidade adquirida.
— Vai se sentar comigo esta noite? Enquanto eu pinto? — Eu queria
conversar mais com ele, queria capturar aqueles momentos da minha
infância onde estávamos tão próximos, onde eu me sentia mais conectado
com Isaac do que com outra pessoa.
— Eu estava, hum... pensando em convidar alguém.
Um peso caiu no meu estômago, pesando todo o meu corpo para baixo.
— Vai matá-lo mantê-lo em suas calças por uma noite? Você tem mais sexo
sem sentido do que qualquer um que eu conheça.
A raiva brilhou em seu olhar. — Você soa muito perto de me envergonhar
por gostar de foder. E isso é pior do que passar um ano e meio com alguém
que você sabe que é errado para você? O que, só para dizer que está em um
relacionamento?
— Ei, foda-se. — Mas ele estava certo. — Eu não quero brigar com você.
Apenas pensei... inferno, quem sabe o que pensei. Estou tentando aqui, Isaac.
Quero-nos de volta, e isso é difícil de fazer quando não entendo por que
quebramos em primeiro lugar.
Ele gemeu, recostando-se na cadeira e olhando para o teto.
— Você está me deixando louco aqui, Lane.
— Eu não estou tentando.
— Eu sei. Isso é o que torna ainda pior. Sim, vou me sentar com você.
— Você não precisa se não quiser. — A última coisa que eu queria era que
ele se sentisse forçado a passar um tempo comigo, mas queria estar com ele,
aproveitar cada momento juntos que pudéssemos. — Ou se você preferir
assistir a um filme ou algo assim em vez de, bem, eu, então podemos fazer
isso também. O que quiser. Só quero estar contigo.
Seu olhar endureceu, sua mandíbula tensa. — Por quê?
— O que quer dizer?
— Por que quer ficar comigo? Por que quer passar tanto tempo comigo?
Por que diabos ele estava me perguntando isso? — Por que você é meu
irmão e eu te amo?
— Você já se perguntou o que teria acontecido se tivéssemos nos
conhecido, mas nossos pais não tivessem se casado?
Eu não me perguntei, mas agora sim. — Nós provavelmente... inferno,
Isaac, nós provavelmente nunca teríamos chegado perto. Somos muito
diferentes. Como acabamos passando tempo juntos?
Ele suspirou e empurrou alguns de seus feijões verdes em seu prato. —
Acho que você está certo.
Terminamos de comer quase em silêncio. Depois, Isaac foi comigo para o
quarto que ele me deu para usar como estúdio. Era um grande espaço, todo
o seu apartamento era. Havia uma cama em vez de um sofá como no meu
estúdio no sótão na casa dos nossos pais. Ele ficou sentado ali, descalço sobre
o colchão, encostado na cabeceira da cama, e me observou enquanto eu
pintava. Conversamos por horas, do jeito que costumávamos quando
éramos crianças. Sobre coisas estúpidas ou aleatórias como seu amigo
Hutch, que tinha um gato com o nome de uma Tartaruga Ninja, e uma
brincadeira que fizeram com ele no trabalho, e quando um cara aleatório
vomitou nele enquanto andava no MARTA1, o transporte público local. E ele
também me contou sobre quando ele teve um perseguidor.
— Puta merda. Não acredito que mamãe não me contou.
— Eu não deixei nenhum deles saber. Está brincando comigo? Sua mãe
teria se preocupado até a morte.
Era estranho para mim, como ele ainda a chamava de minha mãe. Ela era
dele também. Ela o amava, e eu sabia que Isaac a amava também. — Está
tudo bem, no entanto? — O pensamento de alguém o machucando, de
qualquer coisa acontecendo com ele, me encheu de uma dor inimaginável.
— Sim, foi há cinco anos.
Seus olhos tremeram, e eu poderia dizer que ele estava ficando com sono,
mas ainda assim ele ficou e eu trabalhei.
Pouco depois, ele se deitou com a cabeça apoiada nos travesseiros e
perguntei: — Você ainda tem? Os pesadelos?
— Raramente. — Isaac respondeu calmamente. — Você me ajudou a lutar
contra aqueles demônios.
— Não fiz nada. — Nada mais do que amá-lo e estar presente para ele.
— Isto é o que você pensa.
Não demorou muito para que sua respiração se normalizasse e ele
adormecesse. Limpei meu material de pintura e ele não acordou. Então
peguei um caderno de desenho e um lápis, sentei-me na cama ao lado dele,
observando-o, desenhando-o, tentando capturar quem era Isaac, embora
nunca tivesse sido capaz de fazer isso de uma maneira que me deixasse
satisfeito. Nunca era bom o suficiente, nunca certo, nunca ele. Era como
tentar segurar o sol.
Quando não consegui manter os olhos abertos, deixei o caderno de lado,
apaguei as luzes e subi na cama com ele. Fazia anos que não dormíamos
1 No seu nome
original Metropolitan Atlanta Rapid Transit Authority, é um sistema ferroviário e rodoviário,
inaugurado em 1971, em Atlanta, nos Estados Unidos da América.
juntos assim, e parecia que estávamos recebendo outra coisa, como dar mais
um passo em direção a ele, quando ele parecia tão distante.
Isaac
Não trouxe ninguém para casa nas próximas semanas. Qual era o sentido
de me forçar a conhecer caras e trazê-los para casa, tentando me fazer
esquecer de Lane, quando nunca conseguiria? Especialmente porque agora
ele estava lá, morando comigo, e tudo que eu queria era passar tempo com
ele.
Jantamos juntos quase todas as noites. Lane cozinhava a maior parte do
tempo, embora também tivéssemos comida para viagem. Sentávamo-nos à
mesa e conversávamos sobre nossos dias. Eu contava a ele sobre o trabalho,
e ele falava sobre pintura. Um de seus amigos de Manhattan conhecia uma
mulher em Atlanta, Kylie, que administrava uma galeria local, e os dois
saíram algumas vezes. Lane ainda não havia dito nada sobre quanto tempo
ele ficaria. Não era como se ele não pudesse pagar seu próprio lugar, mas ele
continuou no meu apartamento, e eu continuei a deixá-lo.
À noite, porém, depois do jantar, quando nossos escudos estavam
abaixados, era quase como costumava ser. Nós assistíamos a filmes, que não
eram realmente sua coisa. Nós conversamos e curtimos juntos, mas muitas
vezes acabamos em seu estúdio improvisado, onde ele pintava e eu me
sentava com ele. Às vezes, apenas gostávamos da companhia um do outro.
Outras eu levei meu laptop comigo e cuidei de minhas próprias
responsabilidades também.
As noites de estúdio sempre terminavam da mesma forma, nós dois
adormecendo juntos. Foi então que me permiti acreditar que Lane sentia por
mim o mesmo que eu sentia por ele. Por que mais ele faria isso uma e outra
vez? Provavelmente era uma ilusão. Eu queria que ele acordasse, para ver
como poderíamos ser bons juntos, mas mesmo que ele acordasse, ainda
havia um campo minado em nosso caminho.
Lane estava aos olhos do público. Como isso afetaria sua carreira se as
pessoas pensassem que ele estava apaixonado por seu irmão?
Independentemente do sangue, era isso que éramos para as pessoas.
Acordei cedo naquela manhã de sábado com o cheiro de bacon, que por
acaso era o meu favorito – e provavelmente era para a maioria das pessoas,
por que como não amar bacon?
Escovei os dentes e saí de bermuda. O cabelo de Lane estava preso em um
nó e bagunçado como sempre. Ele tinha tinta na bochecha e estava vestindo
uma cueca e uma camiseta. Ele olhou para mim, os olhos arregalados e um
sorriso quase pateta no rosto que não seria cativante para mais ninguém.
— O quê? — Perguntei.
— Nada. O café está pronto.
— Obrigado. — Preparei uma caneca e peguei uma fatia de bacon. — O
café da manhã cheira bem... ai. Merda. — Ele bateu na minha mão, me
fazendo empurrá-la de volta. — Para o que foi aquilo?
— Isso é almoço.
— Hum... é bacon e são nove.
— Eu não me importo. Pegue um bagel. Isso é o que normalmente come
no café da manhã. Estou fazendo sanduíches recheados com bacon, alface e
tomate e vamos fazer um piquenique.
Encostei-me no balcão com os braços cruzados. — Ah, vamos? Você
decidiu isso, não é?
— Sim, na verdade. Decidi.
— E se eu tiver planos?
— Então ficarei muito desapontado... e eu poderia implorar para cancelálos. Não me faça implorar, Isaac. Não quero, mas eu vou se me forçar.
Eu ri. Ele era... Deus, ele era ótimo. — Não tenho planos, então podemos
ir, mas quero que você saiba, sinto que está me provocando. Você está me
tentando e me negando e eu só... posso... estourar... — Em mais de uma
maneira, mas ele não precisava saber disso. Lane franziu a testa, e peguei
um pedaço de bacon rapidamente, saindo de seu alcance. Sorri e coloquei
uma mordida em minha boca só para ver o olhar escandalizado em seu rosto.
— Acho que não gosto mais de você... e acho que não quero dividir meu
bacon com você.
— Então eu ficaria muito desapontado... e poderia implorar por mais
bacon. Não me faça implorar, Lane. Não quero fazer isso, mas eu vou se me
forçar. — disse, repetindo o que ele tinha acabado de me dizer.
Lane revirou os olhos, mas um pequeno sorriso curvou os cantos de seus
lábios. — Você não é muito legal comigo.
— Eu sou incrivelmente legal com você.
— Não o vejo aqui cozinhando bacon e planejando um piquenique, é tudo
o que estou dizendo.
Uma risada saiu da minha boca como se eu não tivesse controle sobre ela.
Simplesmente não havia possibilidade de que eu pudesse segurá-la. Este era
nós. Lane e Isaac que costumávamos ser quando éramos apenas nós, o resto
do mundo parecendo um milhão de milhas de distância.
— Do que está sorrindo? — Ele perguntou, me fazendo perceber que eu
estava.
— Eu mesmo... e que boa ideia foi deixá-lo ficar comigo, o que permitiu
que me fizesse bacon e planejasse um piquenique, então realmente, nós dois
temos que agradecer por este dia. Coloquei tudo em movimento. Sou ainda
melhor do que pensei que era.
— Eu... nem sei o que dizer sobre isso, exceto que você é ainda mais
ridículo do que eu pensava.
— O que posso dizer? Eu me esforço para ser o melhor em tudo. —
Coloquei outro pedaço de bacon na minha boca.
Comi metade de um bagel enquanto Lane terminava de cozinhar e cortar
tomates para o nosso almoço. Ele aparentemente acordou cedo e já tinha
comido.
Depois, ele me deu uma pista sobre outra parte do nosso dia, então tomei
banho e me preparei para a caminhada que eu tinha acabado de saber.
Enquanto colocava sua ridícula faixa para manter o cabelo longe do rosto,
ele disse: — Gosto que você nunca me diga que devo domar meu cabelo.
— Você é um adulto. Por que alguém deveria lhe dizer o que fazer com
seu cabelo? — Maldito Jayden... e talvez outros ao longo dos anos. — Você é
uma bagunça fofa.
— Esse é exatamente o visual que estou procurando — ele brincou.
Pegamos o carro dele porque ele sentia falta de dirigir, pois não fazia
muito isso em Nova York.
— Onde você ouviu falar desse lugar? — Perguntei.
— Kylie me contou sobre isso.
Mordi o lábio, tentando não ficar com ciúmes. — Vocês vieram aqui?
— Não, ela apenas me disse, mas pareceu legal e achei que você iria gostar.
— Ele olhou para mim e sorriu.
— Só não se esqueça que só estamos aqui por minha causa.
— Como eu poderia, quando você é tão útil em me lembrar?
— Isso é muito legal da minha parte.
Lane riu novamente.
Era apenas cerca de vinte e cinco minutos de carro. Pista no
estacionamento. Havia três trilhas para escolher: fácil, moderada e avançada.
Escolhemos a do meio, já que estávamos em boa forma, mas não tínhamos
experiência por qualquer extensão da imaginação.
Lane deve ter planejado isso com antecedência, porque ele conseguiu uma
mochila isolada para a comida e a água.
— Quer que eu carregue? — Perguntei.
— Eu carrego.
Estava quente e úmido. Isso era definitivamente algo que deveríamos ter
começado mais cedo, mas eu estava grato por estar lá com ele. O calor nunca
me incomodou muito, e Lane parecia sentir o mesmo.
— Lembra quando papai nos levou para acampar e eu era uma causa
perdida completa? — Lane perguntou, folhas e galhos esmagando sob
nossos pés enquanto caminhávamos pela trilha.
— Oh meu Deus. Você estava pirando porque pensou que seríamos
comidos por um urso.
— Nós vimos um urso, Isaac. Na vida real. Na natureza. Isso nunca deveria
ser uma coisa que aconteceu comigo.
— Mas você sobreviveu.
— Apenas quase. Ele queria me comer. Podia ver em seus olhos. Juro que
foi minha primeira experiência de quase morte.
Eu ri. — Primeira? Teve muitas, hein? E ele não queria te comer. Ele queria
comer comida, não você. Ele só queria que nós fôssemos embora.
— Sim, minha primeira. E você fala ursês agora?
— Apenas para ursos gays. Ele olhou para você por três segundos antes
de ir embora.
— Nesse tempo, minha vida passou diante dos meus olhos.
— Eu teria me jogado na sua frente se isso tivesse acontecido.
— Alguém está tentando ganhar pontos com mamãe e papai.
Eu estava preso entre rir e desejar que houvesse uma maneira de remover
essas palavras de seu vocabulário. Pelo menos pai. Toda vez que ele dizia
isso, o punho em volta do meu coração apertava mais forte.
— Tivemos bons momentos, não foi? — Lane disse quando eu não
respondi.
— Nós tivemos.
O resto da caminhada foi muito parecida com a primeira parte - momentos
de silêncio, depois momentos em que conversávamos sobre tudo e qualquer
coisa. Felizmente, a trilha média foi fácil, então nenhum de nós lutou. Estava
bem quieto. De vez em quando, víamos alguém ou ouvíamos uma voz à
distância.
Nós apenas apreciamos a companhia um do outro até encontrarmos um
lugar que parecia bom e Lane perguntou: — Devemos parar e comer?
— Parece bom para mim. Estou com vontade de bacon.
— Você vai deixar isso para lá?
— Não. Desde quando é assim que eu faço?
Ele riu, tirando a mochila. Saímos da trilha para uma área gramada entre
as árvores. Ficou claro que outras pessoas paravam lá para comer, mas
estava vazio no momento. Sentamos e Lane tirou a comida da mochila.
Alguns de seus cachos estavam úmidos de suor, um grudado na testa, outro
torcido em volta da orelha.
Estávamos na metade da refeição quando ele disse: — Posso te perguntar
uma coisa?
— Eu preferiria que não perguntasse — provoquei, só que não tinha
certeza do quanto eu estava realmente brincando.
— Que pena. — Ele piscou, brincou com uma folha de grama e perguntou:
— Você já teve um relacionamento sério?
Parei de mastigar com uma grande mordida na boca. De onde diabos isso
veio? Por que ele queria saber? Terminei, engoli, mas ainda havia um nó na
minha garganta.
— Não. Nunca. Não é para mim.
— Por quê?
— Não sei, Lane. Porque não é. Eu simplesmente não consigo me ver…
— Confiando em alguém assim? Entregar-se a ele?
— Havia um fazendeiro que tinha um cachorro — respondi.
— B-I-N-G-O2.
— Por quê? — Perguntei novamente. Porque tinha que haver uma razão
pela qual ele gostaria de saber, uma razão pela qual aquela pergunta
específica veio à sua cabeça.
Lane deu de ombros. — Eu só tenho pensado nisso ultimamente. Talvez
por causa de todos os caras.
Revirei os olhos. Isso era sobre sexo?
— Eu não quis insultar suas delicadas sensibilidades fodendo. — Rebati.
Além disso, eu tinha parado com isso.
— Por que você está chateado comigo de novo? Jesus, nós nunca brigamos
tanto. Eu não quis dizer isso. Eu só... não quero que você fique sozinho, só
isso.
Eu não estaria se o tivesse. — Não estou sozinho. Tenho minha família,
amigos, uma carreira que amo. E quando quero foder, eu fodo. É
basicamente a vida perfeita. — E seria a existência perfeita se não fosse pelo
que eu sentia por ele.
— É outra maneira de sermos diferentes, eu acho. Quero isso... o que meu
pai e minha mãe tiveram, o que nossos pais têm juntos. Não vou fingir que
nunca saio só para sair porque eu faço, mas eu quero mais. Fiquei com Alana
por dois anos. Com Megan por dez meses. Mario e eu namoramos por um
ano, e foda-se, havia Jayden, é claro.
Cada nome que ele disse, cada relacionamento que ele falou, era uma
adaga para o meu coração já terno que só era suave quando se tratava dele.
— Você estava apaixonado por eles? Ou pelo menos alguns deles?
Lane hesitou por um momento, depois balançou a cabeça. — Não, eu não
estava. Nenhum deles. Eles são todos ótimas pessoas...
— Jayden não.
É uma canção infantil de língua inglesa de origem obscura. Versos adicionais são cantados omitindo a
primeira letra cantada no verso anterior e batendo palmas ou latindo várias vezes, em vez de realmente dizer
cada letra.
2
Lane revirou os olhos. — Ele não é um cara ruim. Nenhum deles era. Eles
eram engraçados e inteligentes e me tratavam bem - embora Jayden fosse
menos do que o resto. Tínhamos coisas em comum, amávamos arte e
conhecíamos muitas das mesmas pessoas, mas eu simplesmente... não me
apaixonei por eles. E não entendo o porquê. Porque quero isso, ter uma
pessoa, minha pessoa, e continuo pensando que estou quebrado ou algo
assim. Como se houvesse algo errado comigo porque não consigo me
apaixonar por nenhum deles.
Eu não sabia o que deu em mim então. Foi a coisa mais estúpida que eu
poderia ter feito, mas era como se eu tivesse perdido o controle sobre meu
próprio corpo, como se meus membros e minha boca tivessem vontade
própria. Um minuto eu estava sentado lá ouvindo ele, essa voz calma na
minha cabeça dizendo, me ame, me escolha, e então eu estava me inclinando
para frente, meu corpo desobedecendo meus comandos quando tentei parar,
quando a voz mudou para, Não faça isso. Você vai estragar com tudo.
Os olhos de Lane se arregalaram, e então meus lábios estavam nos dele.
Ele respirou fundo, menos de um momento antes de me beijar de volta. A
língua de Lane passou pelos meus lábios, e minhas mãos automaticamente
foram para seu cabelo, emaranhando-se na bagunça. Eu adorava o jeito que
me sentia entrelaçado em meus dedos, a suavidade, o suor úmido. Adorava
o gosto dele, como se felicidade e conforto tivessem um sabor, seria Lane.
Ele gemeu em minha boca, suas mãos em punhos em minha camisa, e cada
terminação nervosa em meu corpo faiscou com a sensação de finalmente.
Cada momento, cada conversa e briga e noite passada no sótão, vendo-o
criar arte, tudo estava levando a este exato segundo. Mesmo tendo esses
pensamentos, eu queria expulsá-los da minha cabeça porque eles eram
muito... Tão real e assustador e honesto.
Enfiei minha língua em sua boca, apertando seu cabelo, desejando que
estivéssemos em casa e eu pudesse devorá-lo. Senti a ponta de seu dente
lascado e gostei ainda mais. Eu queria lamber cada centímetro de seu corpo,
despi-lo e saboreá-lo e fazê-lo ver o que ele sempre foi, o que eu sempre
soube. Que ele era meu.
— Acho que há um lugar bem à frente onde podemos parar e descansar!
— Uma voz desconhecida quebrou a felicidade daquele momento.
Lane ficou tenso contra mim um segundo antes de arrancar sua boca da
minha e me empurrar para longe. — Que porra foi essa?
— Eu... — Minha boca estava aberta, mas nada mais saiu. Os lábios de
Lane estavam vermelhos dos meus beijos, mas seus olhos estavam
arregalados, em pânico, e o olhar de horror em seu rosto era como uma faca
no peito.
— Por que você faria isso? Não podemos... não somos... mamãe e papai...
somos irmãos.
— Não, não somos — disparou da minha boca, afiado e com uma dor que
até eu senti. Lane se encolheu como se eu tivesse batido nele. — Porra. Isso
não foi o que eu quis dizer. É apenas…
Mas ele estava olhando para mim como se não me conhecesse, como se
não me entendesse, e eu não consegui continuar. Ele não queria isso. Isso
faria com que ele me odiasse. Todo esse tempo eu segurei tudo, apenas para
arruiná-lo agora...
— Você acabou de me dizer que tudo que quer fazer é foder as pessoas,
logo antes de eu dizer que quero algo sério, e então você me beija?
O peso em meus ombros, aquele que morava em meu coração, era ainda
mais pesado que o normal. O fardo da verdade, de como éramos uma família
e o que isso faria conosco, de colocar tudo para fora, de dizer a ele como eu
me sentia, e Lane indo embora. Porque ele não me queria. Não do jeito que
eu o queria.
— Teria sido apenas sexo, Lane. Não é como se fôssemos irmãos de
verdade. — Se ele pensasse que tudo que eu queria era foder e que eu estava
disposto a arriscar nosso relacionamento por isso, eu o faria acreditar que ele
estava certo.
Ele olhou para mim, olhou fixamente, o castanho mel de seus olhos
ficando gelados. — Foda-se, Isaac.
— Ah, olha, é bem ali. — O cara que tinha falado antes estava se
aproximando.
Lane ficou de pé e pegou a mochila. — Vamos lá.
Com um suspiro, peguei o resto das coisas e o segui.
Lane
Meus pensamentos estavam girando fora de controle, e eu não conseguia
detê-los, não conseguia nem mesmo desacelerá-los o suficiente para me
concentrar em alguma coisa.
Isaac tinha me beijado. Meu melhor amigo, meu irmão, a pessoa mais
importante em toda a porra do meu mundo, me beijou, e Cristo, ele era, não
era? Isaac era a pessoa mais importante da minha vida. Ele tinha sido desde
que eu tinha quatorze anos, e ele confiou em mim com seus segredos. Ele me
beijou, e eu o beijei de volta antes que ele me dissesse que não era meu irmão
e que teria sido apenas sexo.
Eu não deveria estar tão magoado quanto fiquei pelo comentário do
irmão. Sabia que Isaac me amava, sabia que éramos uma família, e
considerando que ele tinha sua língua na minha boca e a minha na dele, ser
parente era a última coisa que eu deveria querer. Era tudo tão confuso, todos
esses pensamentos chovendo sobre mim enquanto o gosto dele ainda estava
na minha língua, o cheiro do sol dele ainda no meu nariz, a sensação dele e
o jeito que ele soprou vida em mim, ou a maneira como seu corpo relaxou
como se ele finalmente tivesse se livrado da tensão que sempre manteve
dentro de si.
Mas ele era meu irmão... só que ele não era... exceto que nas maneiras que
importavam, ele era.
E ele tinha acabado de me dizer que tudo o que ele queria fazer era foder
seu caminho pela vida.
Nós não falamos enquanto voltávamos para o meu carro.
— Lane…
Levantei minha mão, com medo do que ele diria, com medo do que ele
não diria, confuso com a tempestade de pensamentos e emoções confusas na
minha cabeça, a dor no meu coração. — Não posso agora.
Eu também não conseguia olhar para ele. Estava com medo do que eu
sentiria se o fizesse.
Porque não importava o que Isaac tinha feito, eu o beijei de volta.
E parecia... certo.
Meu estômago torceu, nós emaranhados um em cima do outro. Tudo o
que eu conseguia pensar era em mamãe... e papai. Nós éramos uma família,
e Isaac tinha me beijado, e eu tinha gostado. Eu queria fazer isso de novo.
A volta para casa foi tensa, o ar espesso ao nosso redor. Se eu pensei que
estávamos perdidos um para o outro antes, não tinha nada neste momento.
Nós encontramos nosso caminho de volta, tudo se encaixando, e então...
Teria sido apenas sexo. Não é como se fôssemos irmãos de verdade.
Minhas mãos em punhos no volante, meu coração acelerando como se eu
estivesse com o pé no acelerador para isso em vez do carro.
O silêncio parecia cada vez mais pesado, a viagem mais longa do que
deveria. No segundo em que chegamos em casa, Isaac estava fora do carro.
Saí também, assim que ele estava indo embora.
— Isaac — chamei. — Você falaria comigo? — Tínhamos que descobrir
isso. Eu o alcancei, estendi a mão para ele, mas ele não me deixou segurar.
— Você é o único que disse que não pode fazer isso agora.
Eu disse, e não estava pronto, mas também não queria que ele fosse
embora. Porque este era Isaac, e ele estava ferido... ou zangado. E ele iria sair
e ficar chateado consigo mesmo. Ele trancaria tudo dentro até explodir e se
afastar ainda mais.
— Porque não sei o que dizer, Isaac. Você não consegue entender o que
estou sentindo? Nos chamamos de irmão nos últimos dezesseis anos, e então
você me beija e me diz o quê? Que quer ficar? Apenas um pouco de sexo
entre a família ou o quê? Jesus Cristo, você pode imaginar o que nossos pais
diriam se descobrissem? Tudo por um orgasmo? — E eu gostei... Por que eu
gostei?
Seu corpo inteiro ficou tenso, mas seus olhos dispararam para longe de
mim, sua piscada mais lenta do que deveria, antes de ele balançar a cabeça.
— Preciso sair daqui, Lane. Apenas me deixe ir.
Eu... não tive resposta para isso. Minha cabeça estava uma bagunça, e eu
não sabia o que eu diria a ele, então dei um passo para trás. Isaac foi direto
para seu veículo e, desta vez, não tentei impedi-lo. Eu apenas o assisti ir, me
perguntando como diabos isso aconteceu, como nosso dia perfeito se
transformou nisso.
Eu não poderia dizer quanto tempo fiquei ali, no meio da garagem,
observando o local onde o carro de Isaac tinha desaparecido, com o gosto
dele ainda em meus lábios.
Eventualmente, me dirigi para o elevador, digitei o código e fui para o
apartamento. Naquele momento, parecia muito quieto sem ele, muito
solitário. Por que ele fez isso? Por que ele tinha estragado as coisas tanto?
Por que nos arriscou?
Larguei a mochila bem perto da porta. Mesmo que ele não tivesse me
pedido, prometi a ele que tentaria limpar melhor. Isaac era tão organizado,
e eu... não era, e mesmo assim... ele não pediu, e ele não reclamou além de
me provocar, ou daquela vez que eu deixei uma meia onde comemos - e isso,
eu podia entender.
Entrei na sala, parei na frente do sofá e olhei para minha pintura na
parede... a única coisa nas paredes de Isaac. Nada mais, apenas uma obra de
arte em que coloquei meu coração e dei a ele.
Meus dedos foram aos meus lábios, os tocaram, os traçaram, como se eu
pudesse senti-lo ali.
Isaac tinha me beijado.
E eu gostei.
A raiva surgiu quente e grossa dentro de mim, me encheu e me tomou
porque ele me beijou e eu gostei. Porque ele arruinou tudo. Porque eu não
entendia por que ele tinha feito isso ou o que eu estava sentindo, e eu estava
com medo, muito medo de perdê-lo, esse homem que basicamente era o
centro do meu universo desde que eu tinha quatorze anos.
Este homem que todos viam como meu irmão.
O homem que eu nunca poderia perder.
Aquele que significava mais para mim do que qualquer coisa, que
esculpiu seu próprio lugar no meu coração que ninguém jamais poderia
tocar...
E eu... não sabia o que fazer com isso. Eu não sabia o que eu sentia além
de medo misturado com raiva e desejo, tanto desejo que pensei que poderia
quebrar e sair de mim. Eu queria tanto Isaac... mal conseguia respirar, doía
tanto.
Cenas passaram pelo meu cérebro – crescendo, o casamento, nossas noites
no sótão, os anos sem estar perto dele. Isaac me dizendo que ele era gay e
parecendo que precisava desesperadamente que eu também fosse. A
sensação de decepcioná-lo quando eu não achava que fosse gay. A discussão
quando eu disse a ele que ia perder minha virgindade com Amanda. O
quanto senti falta dele quando parti para Nova York. As fotos de nós na
minha mesa de cabeceira no meu apartamento.
O ódio de Isaac por Jayden e como me senti traído quando ele não fez algo
tão simples como aparecer no sótão na minha primeira noite em casa.
A maneira como ele me fez rir e sorrir e como meu mundo não estava certo
quando estávamos separados.
Que meu lugar favorito para estar era na frente de um cavalete, com Isaac
me observando, ou o desenhando. Como dormia bem na cama com ele.
Nossa caminhada.
Meus dedos se contraíram, tantos sentimentos dentro de mim, todos
implorando para sair de mim, até que eu não consegui mais segurar.
Precisava deixá-los sair. Precisava pintar.
Isaac
Eu estava uma bagunça do caralho. Minhas entranhas pareciam ter
passado por um processador de alimentos. Não sabia o que fazer, o que
pensar, como lidar com o fato de que eu provavelmente não só tinha perdido
Lane, mas estragado as coisas na minha família também.
Eu precisava encontrar uma maneira de fingir que esse dia nunca tinha
acontecido.
Precisava esquecer.
Então peguei a bolsa de ginástica com as roupas que eu guardava no meu
carro e arrumei um quarto de hotel. Não podia ir para casa, para onde Lane
estava, porque o beijei, então disse a ele que queria transar com ele antes de
fugir. Grande decisão.
Andei de um lado para o outro, trêmulo e nervoso, incapaz de me acalmar.
Eu não podia ficar sozinho, não sabia como estar, mas também não sabia
como precisar de ninguém além dele, então liguei para meu amigo Hutch,
fingi que estava tudo bem.
— Estou dando a você cinco minutos — disse Hutch brincando.
Ofereci a ele minha melhor risada falsa. — Vejo como você está. Ainda
bem que não preciso de tanto tempo... não para a ligação, pelo menos. Você
se tornou um recluso, e isso não é como você. Vista-se. Nós vamos sair.
Mesmo o pensamento fez meu estômago revirar, mas não era como se eu
pudesse dizer a ele que precisava conversar. Não poderia ser... Então,
adivinhem? Beijei meu irmão e quero fodê-lo. Estou perdidamente apaixonado por
ele. Como foi o seu dia?
— Nós vamos, vamos? E quem disse que você pode fazer as regras? —
Respondeu Hutch.
— Eu disse. E você sabe como sou chorão e mimado, então não finja que
não vai me agradar. Esse é o trabalho de um amigo. Quero bebidas, tempo
com um amigo e transar, então, a menos que você esteja me convidando para
uma vodca tônica e queira fazer sexo comigo, nós vamos sair. — Porque se
Hutch dissesse sim, seria o prego no caixão, não seria? Eu poderia tentar – e
provavelmente falhar – foder com Lane, e cortar o vínculo entre nós para
sempre no processo. Então talvez eu não sentisse que estava morrendo sem
ele, talvez não fosse tão consumido pelo desejo.
Quando Hutch não respondeu, acrescentei: — Você me encontra, ou
estarei aí em uma hora.
— Tenho um amigo comigo.
Hesitei. Isso foi diferente. Claramente, Hutch tinha amigos, mas ele nunca
usou isso como desculpa para não sair comigo antes. — Traga-o. Ele é
gostoso?
— Ele está fora dos limites.
Essa declaração fez outra onda de dor me inundar. Hutch estava com
alguém. Ele tinha o que eu queria com Lane. Ainda assim, fiz piada disso,
tentei encobrir minha dor. — Por que é isso?
— Porque você não pode foder todo mundo.
Fechei meus olhos. Esfreguei meu peito sobre meu coração. Abri-os e
pisquei para conter as lágrimas. Eu não quero todos. Eu só quero Lane.
— Você não é engraçado. Encontro-o às dez do lado de fora de Revelry. —
Era um bar gay local. Gostaria que pudéssemos nos encontrar agora, mas eu
estava muito cru, muito aberto. Além disso, ninguém sairia ainda, e seria
mais difícil esconder meus sentimentos se eu não pudesse me perder em
uma multidão de homens.
— Até logo. — respondeu Hutch.
Fiquei tanto tempo no chuveiro, a água esfriou, e depois fiquei ainda mais.
O que Lane estava fazendo? Ele ainda estava em casa, ou tinha saído? Ele
me odiava?
Ele me beijou de volta...
Cheguei a Revelry antes de Hutch e seu homem misterioso. Hutch era bi,
então poderia ter sido um homem ou uma mulher, mas ele me avisou sobre
ele estar fora dos limites.
Vi Hutch primeiro, depois o homem ao lado dele. Ambos eram lindos –
altos, com corpos firmes e musculosos. Hutch mantinha o cabelo curto, o do
outro homem era mais comprido e mais escuro. Ele era um pouco mais
volumoso que Hutch.
Lutei para controlar minhas feições, para enterrar a dor que viveu dentro
de mim por muitos anos, mas cresceu, mudou.
— Ei — disse Hutch.
— Oi. — Eu me virei para seu homem. — Maldito. Posso ver por que ele
queria manter você só para ele. — Eu soava como eu, como o Isaac que todos
sabiam que eu era, minha fachada firmemente no lugar.
— Eu não disse isso. — respondeu Hutch.
— Não precisava. — Eu podia ver na maneira como ele estava, na maneira
como ele olhou para o homem, tinha ouvido em sua voz ao telefone. Quem
quer que fosse, significava algo para Hutch. — Jesus, você é lindo. — Flertei
porque era o que se esperava de mim, porque Hutch acharia qualquer outra
coisa estranha, não porque eu quisesse esse homem. Mesmo que não
houvesse Lane, eu nunca faria isso com meu amigo.
— OK. É o bastante. — Hutch me deu um tapinha no ombro.
— Isto é interessante. Nunca vi você com ciúmes antes.
— Não estou.
O homem deu de ombros. — Você pode estar porque eu com certeza
estaria.
Duas emoções lutaram pelo domínio dentro de mim então - felicidade por
Hutch porque esse cara sentia o mesmo por ele, e Hutch merecia isso, e dor
porque eu não teria Lane desse jeito.
Me forcei a rir. — Apenas um amigo, hein? Se eu não soubesse melhor, eu
diria que você está apaixonado. Estou arrasado, Hutch. Achei que seu
coração me pertencesse.
Ele revirou os olhos. — Você não está procurando o coração de ninguém,
e você sabe disso. — Eu tentei esconder isso, mas não consegui segurar a
vacilada, suas palavras me dando um soco no coração. — Ei, eu não quis
dizer...
— Você não estava mentindo — interrompi Hutch. — Agora, vou saber o
nome desse homem sexy ou o quê?
— Ryder. Prazer em conhecê-lo. — Apertamos as mãos.
— Isso é apenas entre nós por enquanto — Hutch me disse.
— É complicado — acrescentou Ryder.
Não pude parar a risada amarga que saiu dos meus lábios. — Acredite em
mim, não há nada que eu entenda mais do que complicado.
— Ei, está tudo bem? — Perguntou Hutch.
Não, não, não estava, e eu não poderia dizer se as coisas ficariam bem
novamente. — Pare de ser dramático. Tudo está bem.
Paguei o couvert e entramos. Tentei como o inferno agir do jeito que eu
deveria, ser aquele Isaac divertido e amoroso que todos conheciam. Rir e
brincar e flertar.
Fomos para a mesa que eu tinha reservado e começamos as bebidas. O
garçom era sexy e brincalhão, o tipo de homem que eu geralmente procurava
porque não eram como Lane, mas eu não podia fingir estar interessado. Na
verdade.
Em vez disso, pedi a Hutch que me falasse sobre seu homem. Ryder
brincou sobre ser bom, e fiz minha parte, brincando e flertando, sendo
arrogante de volta, álcool fluindo, uma vodca tônica após a outra, esperando
que eu pudesse desmaiar e esquecer que esse dia tinha acontecido.
Ryder me contou sobre si mesmo, e tentei ouvir, mas meus pensamentos
estavam cheios de Lane, e eu não conseguia parar de beber e checar meu
telefone, esperando e desejando que ele ligasse ou mandasse uma mensagem
e me dissesse que estava tudo bem.
Não havia dúvida em minha mente de que Hutch sabia que algo estava
acontecendo, e mesmo assim tentei fingir.
Levantei-me para ir dançar, minhas pernas fracas e quase cedendo. Porra,
eu já tinha bebido demais. Ainda assim, fui para a pista de dança.
Hutch e Ryder saíram também, movendo-se juntos, tocando e olhando um
para o outro, tão malditamente apaixonados que só fez a dor dentro de mim
crescer.
Tomei outra bebida, dancei com homens, tropecei de novo, quase caí.
Minha cabeça estava girando, mas graças à vodca, a dor estava
diminuindo. Eu sabia que estaria lá esperando por mim, mas naquele
momento, tive um alívio.
— Preciso de outra bebida! — Eu disse quando Hutch e Ryder vieram até
mim.
— Acho que já chega para você, amigo. — disse-me Hutch.
Os dois envolveram um braço em volta de mim, e eu queria enterrar meu
rosto no pescoço de Hutch e contar a ele sobre Lane e ouvi-lo me dizer que
ficaria tudo bem. Mas como eu não podia fazer isso, brinquei sobre ter um
trio com eles e Hutch estar apaixonado.
Tudo me pegou então... Hutch estar apaixonado, Lane, o beijo, esta noite,
as bebidas. O girar piorou, e meu estômago se apertou, a náusea
percorrendo-me. Hutch e Ryder me levaram para fora bem a tempo e,
vergonhosamente, vomitei. Este não era eu. Não perdia o controle assim, não
estragava tudo assim, mas não conseguia me conter.
Quando Hutch disse, com a voz baixa e preocupada: — Você vai para casa
conosco. — Tudo o que pude fazer foi concordar com ele.
Não posso ficar sozinho esta noite.
Eles pediram um carro para nós e, na viagem, fiz o meu melhor para me
controlar.
Quando chegamos ao prédio de Hutch, Ryder disse: — Eu não sabia se
deveria vir. — Referindo-se à casa de Hutch.
— Vir3 é sempre o caminho a seguir — provoquei. — Vamos lá. Pelo
menos um de nós deveria receber um pouco esta noite... ou espere... acho
que somos dois, já que você não está sozinho. Parece que sou o único que
não está recebendo nada.
Fomos ao apartamento dele, e Hutch me ajudou a ir para o quarto de
hóspedes, depois se curvou e começou a tirar meus sapatos. Jesus, eu tinha
sorte. Hutch era um bom amigo.
— Levante sua bunda, bêbado.
Eu tentei, mas caí de volta na cama novamente. Hutch me puxou para
cima e tirou minha camisa.
— Minha boca tem gosto de merda. Preciso escovar os dentes.
— Isso é porque você vomitou o bar inteiro esta noite. Isso não é como
você.
Desviei o olhar.
Ele me ajudou a ir ao banheiro e me deu uma nova escova de dentes.
Escovei meus dentes. Fingir estar bem só doía mais. Quando tive que mijar
e disse a ele que eu poderia fazer isso sozinho, ele brincou sobre não saber
3
Referência a palavra “come”, que pode ser traduzida para “vir” ou “gozar”.
onde meu pau esteve, e tudo que eu conseguia pensar era Lane ficando
chateado quando eu tinha homens e ele pensando que tudo o que eu queria
com ele era gozar. Minhas emoções devem ter aparecido porque Hutch me
disse que era uma piada, e aceitei enquanto voltávamos para o quarto.
Ryder havia deixado água e aspirina para mim.
Eu lutei para ir para a cama, então puxei os cobertores para cima. — Seu
namorado é legal.
— Ele é o ex-marido de Maddy. — Maddy era irmã de Hutch. Ela estava
doente com câncer quando criança e era incrivelmente mimada em sua
família, a ponto de Hutch ter ficado em segundo plano a vida toda.
Ficou claro quanta agonia Hutch sentia por sua verdade, quão terrível ele
se sentia, mas não deveria. Hutch merecia ser feliz, e diabos, pelo menos ele
não estava apaixonado por seu irmão.
Coloquei a mão em sua coxa. — A palavra-chave sendo ex.
— Isso significa que está tudo bem?
— É o ideal? Não. Mas não é o fim do mundo. — Estou apaixonado por Lane.
Ele não sente o mesmo. Ele só me vê como um irmão, e não consigo descobrir como
viver com isso. Mesmo que ele sentisse o mesmo, nossa única opção seria partir o
coração de nossos pais.
Que foi o que Hutch disse que aconteceria com Maddy, que ele partiria o
coração dela, e como seu pai nunca o perdoaria.
— Sem ofensa, mas seu pai é um idiota e sua irmã é mimada. — Estremeci.
— Desculpe. Eu não teria dito isso se não estivesse bêbado, mas é verdade.
Maddy vai superar isso. Ela te ama e te quer feliz. Seu pai... bem, não sei,
especialmente com as coisas de negócios. — Os pais de Hutch tinham
negócios com os de Ryder, mas isso se dissolveu junto com sua amizade
quando Ryder se assumiu gay e terminou seu casamento com Maddy. —
Mas você merece ser feliz. O amor não acontece todos os dias, e nem todo
mundo tem a sorte de ter esses sentimentos correspondidos.
— Ei... o que está acontecendo com você?
— Nada. Estou apenas bêbado e sendo estranho.
— Isaac... — Meu nome foi dito quase como um aviso, do jeito que Lane
faaz.
— Deixe para lá, Hutch — eu disse. — Agora, você tem um homem lindo
do outro lado deste apartamento que é louco por você. Eu posso ver. Vá
devastá-lo enquanto estou deitado aqui deprimido porque os quartos não
são mais próximos para que eu possa pelo menos ouvir e me masturbar. —
Hutch riu, e acrescentei, meu coração e verdade em minhas palavras, —
Sério, porém... não funciona para todos. Há coisas muito piores do que se
apaixonar pelo ex da sua irmã. Se você e Ryder puderem encontrar uma
maneira de fazê-lo funcionar, faça-o. Você merece amor.
— Você também.
— Não tenho tanta certeza disso. — Quando ele tentou responder, eu o
interrompi. — Boa noite, Hutch.
— Boa noite. — Ele respondeu, e se foi.
Lane
Não dormi a noite toda, ainda não tinha dormido esta manhã. Meus
pensamentos não paravam, não paravam de ficar fora de controle,
emaranhando passado e presente, e minha musa estava em hiperdrive4.
Foi no meio da manhã quando percebi o que tinha feito, que deixei Isaac
sozinho a noite toda, que não sabia onde ele estava, ou se estava bem... E o
que iríamos fazer? Jesus Cristo, o que diabos nós íamos fazer? Como demorei
tanto para ver? Admitir para mim mesmo o que eu provavelmente sabia há
anos, mas não me permitia reconhecer.
Pensar em Isaac e pintar clareou minha cabeça, abriu meus olhos, tinha...
O som da porta se abrindo veio do outro cômodo, e então ela se fechou,
ecoando pelo apartamento.
— Isaac? — Corri pelo corredor. Eu estava uma bagunça, em nada além
de minha cueca. Perdi o controle na noite passada. Estava frenético e não me
permiti ver além de tirar a imagem do meu coração e colocá-la na tela. Eu
tinha derramado tinta e tinha acertado minha barriga e meus dedos e quem
sabe onde mais. Meu pulso estava acelerado, meu peito pronto para
explodir, enquanto meus pés deslizavam no chão e eu virava a esquina.
Ele estava lá, na cozinha, as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. Eu
podia ver a exaustão que se agarrava a ele, podia ver isso em seus olhos
Hyperdrive – termo utilizado em ficção científica para se referir a um meio rápido de viagem espacial em
até quatro dimensões. No texto tem o sentido de pensamento acelerado que entra em hiperespaço.
4
melancólicos, na curva dos ombros, e no jeito que olhava para mim, perdido
e inseguro.
Tão apaixonado. Como eu tinha sido tão cego?
— Você não dormiu. — disse, sua voz áspera e quebrada.
— Não. Você também não.
— Não. — Ele respondeu.
Eu não conseguia parar de olhar para ele, vendo tudo claramente de uma
forma que nunca me permiti.
Isaac olhou para baixo, sua insegurança ali, na forma como seu olhar
encontrou o chão. Esse pedaço dele ele não deixaria ninguém ver além de
mim. Quantos presentes como este momento ele tinha me dado, apenas a
mim, ao longo dos anos?
Observei-o, o bronzeado dourado de sua pele, e desejei poder ver o azul
cinza de seus olhos. Ele estava cansado, mas parecia mais arrumado do que
eu jamais senti que estaria, mesmo nos dias em que eu não passava uma
noite acordado e pintando freneticamente. Seu cabelo arrumado como se ele
tivesse feito isso, e sua barba por fazer era perfeita. E Jesus, por que nunca
me deixei ver isso antes? Realmente ver?
— Você é lindo pra caralho. — Eu disse, e o olhar de Isaac se ergueu,
colidindo com o meu. Eu vi o lampejo de algo acender lá, mas como se ele
estivesse tentando reprimi-lo. Quando Isaac não respondeu, eu disse: —
Como eu poderia não saber? Este tempo todo. Como não percebi?
— Lane? — Ele perguntou, meu nome uma pergunta. Ele deu um passo
em minha direção, e depois outro.
— Eu tinha que saber... em algum lugar, lá no fundo, sabe? Mas estava
com medo de reconhecer que existia porque, irmãos à parte, como você pode
me amar assim? Como alguém como você pode sentir o mesmo por mim? É
por isso que eu não te disse que sou pan, eu acho... e porque eu não poderia
me apaixonar por mais ninguém, porque não poderia amá-los. Meu coração
já era seu, e eu estava com muito medo de admitir, até para mim mesmo.
Isaac me deu um pequeno sorriso. — Meios-Irmãos. — Ele corrigiu, ainda
se aproximando, mas lentamente.
Ele não discutiu com o que eu disse. Ele não reconheceu que eu o amava,
mas também não disse que não sentia o mesmo. E eu... o amava, estava
apaixonado por ele. Tinha me atingido na noite passada, e agora que eu tinha
visto, não podia ficar quieto sobre isso. Não com Isaac, o homem que eu
tinha visto desde o início enquanto olhava pela janela. O que eu estava
fascinado e queria conhecer. Aquele que me deu seus segredos em tudo,
exceto isso.
— É por isso que você se afastou, não é? — Perguntei a Isaac, que estava
bem na minha frente. Ele claramente tomou banho em algum lugar, mas isso
não escondia seu cansaço.
— Sim.
— Todo esse tempo... Tínhamos dezoito anos quando você partiu cedo
para a Califórnia.
— Eu já sabia antes disso. Realmente muito inconveniente passar sua vida
apaixonado por alguém que não pode ter. Definitivamente ferrou com a
imagem de mim mesmo que eu queria projetar para o mundo.
Eu sorri. — Deus, você é tão malditamente ridículo.
Isaac estendeu a mão e segurou meu rosto. Ele passou os dedos sobre
minha bochecha. Meus olhos se fecharam quando me inclinei em seu toque.
Ele se sentia quente e vivo e... certo. Isaac se sentia como se fosse meu, e
sempre foi.
— Você está uma bagunça. Você tem tinta em todos os lugares.
Abri meus olhos. — Hum... pode estar por todo o quarto também.
— Não me importo. Você pode cobrir a porra do apartamento inteiro. O
que você está dizendo aqui, Lane? Realmente me ama? Tudo bem se você
não fizer isso, se não tiver certeza. Eu só... Deus, isso está me matando, me
corroendo há quatorze anos. Tentei escondê-lo, tentei fazê-lo ir embora, mas
não consegui, por mais que soubesse que deveria. Você não percebe o quão
irresistível você é. Quase fui preso por assassinato por causa disso.
Fiz uma careta. — Eu queria esfaquear o bola de gosma com cara de merda
com uma faca de manteiga no jantar.
Eu ri, meu peito vibrando, de uma forma que só Isaac poderia me fazer.
— Você sempre foi mais corajoso do que se deixa ver.
— Por que eu queria matar alguém?
— Não... porque você não passou a vida negando como se sente.
Sua mão tremeu contra meu rosto. Agarrei seu pulso, beijei sua palma,
então entrelacei meus dedos nos dele.
Isaac foi facilmente quando fui para o quarto do estúdio. Eu o puxei para
dentro. A tela em que eu estava trabalhando não estava de frente para nós,
e Isaac não mencionou as empilhadas ou encostadas na parede, salpicadas
de tinta e cores aleatórias, mas nada real, nada verdadeiro.
Não estava concluído. Eu não tinha ideia do que ia pintar quando comecei,
a evidência estava em todas as telas, mas eu queria que Isaac visse, queria
que soubesse o que eu estava pensando sobre ele ontem à noite, que eu
estava com ele, mesmo que não estivéssemos realmente juntos. Que eu
estava com ele nisso, esses sentimentos que iriam nos colocar em tantos
problemas.
Levei-o para a frente do cavalete. Era diferente do meu estilo típico – um
pouco mais escuro, mais ousado. Era um antebraço e uma mão, meu
antebraço e minha mão, e dentro de minha palma havia um coração. Não
um desenho animado, mas um coração realista e palpitante, ali para ele
tomar.
A mão de Isaac tremeu quando ele a estendeu, tocou áreas não marcadas
da tela. Ele passou o dedo por ela, sem falar, enquanto eu prendia a
respiração.
— Chama-se Seu. — Eu disse, para quebrar o silêncio.
Porque eu era apenas isso. Seu. Meu coração era dele. Guardei para mim
quando sempre quis estar com Isaac, e agora eu estava entregando a ele.
Ainda assim, ele não respondeu, apenas mergulhou os dedos no vermelho
que eu estava usando, empunhando-os como um pincel e manchando a cor
no meu peito, sobre o meu coração.
Eu respirei trêmulo, observando-o, incapaz de me virar quando Isaac
puxou sua camisa sobre a cabeça e a deixou cair no chão. Ele pegou meu
pulso, mergulhou meus dedos na tinta, então pressionou minha mão em seu
peitoral esquerdo.
Ele não precisava de palavras para eu saber o que ele estava dizendo... que
meu coração era dele, e o dele era meu, e Cristo, estávamos tão fodidos, mas
eu não me importei. Não sobre nada naquele momento, exceto para nós.
Agarrei-o, mãos nos quadris de Isaac enquanto o puxava para frente.
Nossas bocas se chocaram, duras e famintas, as línguas mergulhando. Ele
gemeu em mim, enroscou a mão no meu cabelo, apertando os fios até que
houve uma leve queimadura no meu couro cabeludo.
— Jesus, não posso acreditar que isso está acontecendo. Vou te devorar,
Lane. — Seus beijos desceram pelo meu pescoço. Deixei cair a cabeça para
trás, e Isaac aproveitou, empurrando o rosto no meu pescoço, mordendo e
chupando, como se seu objetivo fosse me marcar. — Diga-me que me quer.
Estive esperando quatorze anos para ter você.
Culpa e arrependimento golpearam meu coração, como punhos batendo
nele como se fosse um saco de pancadas. Nós perdemos tanto tempo. Ele me
queria, sabia que me queria todo esse tempo, e não me permiti ver isso. Não
me permiti desejar que fosse possível. E talvez ainda não fosse. Talvez
estivéssemos nos enganando, e fazer isso destruiria nossa família, mas
naquele momento, tudo em que eu conseguia me concentrar era em Isaac.
— Quero você. Preciso de você, oh merda. — Uma dor aguda me perfurou,
os dentes de Isaac mordendo meu ombro, antes que ele lambesse a dor.
— Você gosta disso?
— Sim, porra, sim. — Meu corpo estava em chamas, minhas bolas cheias
e doloridas, meu pau duro e latejante. Por um breve momento perguntei-me
se ele tinha estado com alguém na noite anterior, mas tão rápido quanto o
pensamento veio, ele deixou minha mente. Eu sabia que ele não tinha. Não
depois do nosso beijo ontem e como ele voltou para casa.
Agarrei o rosto de Isaac, e nossas bocas se juntaram novamente, uma
colisão de prazer e anos de desejo reprimido. Tinta vermelha manchada em
seu rosto, e eu não tinha dúvidas de que estava em mim e no meu cabelo,
mas não me importei.
Realmente parecia que Isaac estava tentando me devorar, como se
quisesse consumir cada parte de mim. Seus beijos eram duros, suas mãos
também. Nós tropeçamos para trás, e bati na mesa, derrubando as tintas ali.
— Merda, me desculpe. Eu geralmente tenho mais finesse do que isso.
— Isso é o que todos eles dizem — provoquei.
— Estou com medo de que você mude de ideia — Isaac admitiu
suavemente, e com tanta vulnerabilidade, isso roubou minha respiração.
Como ele poderia me amar tanto? Eu não entendia, não alguém tão brilhante
como uma luz, alguém tão confiante e desejado como Isaac.
— Não vou. — Passei meus dedos contra sua bochecha. Era a mão com
tinta, deixando riscos para trás.
— Bom... porque estou prestes a te dar o melhor boquete da sua vida. —
disse ele, o arrogante Isaac de volta.
— Você acha?
— Oh, Lane, eu garanto.
Arrepios atormentaram meu corpo, desejo subindo pela minha espinha e
explodindo em fogos de artifício lá.
Isaac caiu de joelhos, inclinou-se, aninhou o rosto na protuberância da
minha cueca e inalou.
— Porra, você cheira tão bem. Vou dormir bem aqui esta noite, com meu
rosto entre suas pernas para que eu possa sentir o cheiro de sexo em você e
lamber e chupar seu pau sempre que eu quiser.
Meus joelhos quase cederam. Minha mão escorregou na mesa, atingindo
a tinta amarela e fazendo com que ela derramasse.
— Estamos fazendo uma bagunça, — eu disse, com as mãos em seu cabelo
curto.
— Não me importo. É gostoso. Quero te pintar do jeito que você sempre
me desenhou.
— Faça isso — eu disse.
Isaac olhou para mim de joelhos, desejo em seus olhos e arrogância no
sorriso em seus lábios.
— Você vai me deixar fazer o que eu quiser, não vai?
— Sim, e você me dará o mesmo.
Ele encolheu os ombros.
— Eu gosto de orgasmos, o que posso dizer?
— Ei, eu não quis dizer isso quando disse isso. Eu só estava...
— Está tudo bem, Lane. Tudo que quero agora é chupar seu pau.
Como um cara poderia argumentar com isso?
Isaac enganchou os dedos na faixa da minha cueca boxer e puxou para
baixo. Minha ereção saltou contra meu estômago, ansiosa para ser livre.
Isaac sibilou, ainda empurrando minha cueca para baixo enquanto se
inclinava, enfiando o nariz na minha virilha novamente e inalando longas e
profundas respirações. Sua bochecha descansou contra minha coxa, sua
língua passando rapidamente sobre meu saco pesado. Prazer disparou
através de mim novamente apenas com o simples movimento em minhas
bolas.
— Você tem um pau bonito, Lane. Eu costumava me perguntar sobre isso,
desejava poder tropeçar no banheiro quando você tomava banho e vê-lo.
Nós adormeceríamos juntos, ou você me desenharia, e meu pau doeria o
tempo todo, porque era tão difícil estar perto de você. Difícil, mas ao mesmo
tempo, era tudo que eu sempre quis.
— Jesus, Isaac. — Minha voz estava entrecortada. Minha ereção
estremeceu, pré-sêmen vazando da fenda com nada mais do que suas
palavras para mim e sua respiração contra minhas bolas.
Ele beijou minha bola esquerda, então a direita, toques suaves de seus
lábios contra a pele sensível lá, antes de lamber e chupar. Meu corpo parecia
eletrificado, como se minhas veias fossem feitas de relâmpagos, e cada vez
que disparava, o prazer corria através de mim.
Saí da minha cueca enquanto Isaac lambia meu eixo, fazendo os músculos
das minhas coxas apertarem, e todo o meu universo se despedaçou de
satisfação quando ele chupou minha glande em sua boca.
Já seria o melhor boquete que eu já tive só porque era ele, mas Isaac
também tinha uma boca incrível. Ele me levou para o fundo de sua garganta,
me engoliu, os olhos inclinados para cima para me observar. Toquei seu
cabelo, segurei seu rosto, com admiração por este homem de joelhos para
mim. Este homem que eu não deveria querer, mas sabia que minha vida
nunca estaria completa sem.
Bombeei meus quadris ligeiramente, e ele continuou a me chupar,
habilmente usando sua língua para lamber e deslizar para cima e para baixo
no meu eixo. Uma de suas mãos foi para a mesa, e então, dedos cobertos de
amarelo, ele os desceu do meu peitoral até o meu estômago. Ele empurrou
para cima novamente, espalhando a cor enquanto passava, sobre o meu
torso, ao redor dos meus lados, mamilos da cor do sol.
E então ele puxou com um pop e disse: — Dê para mim. Não posso usar as
duas mãos porque uma está coberta de tinta, então você pode se soltar em
mim. Foda minha boca, Lane. Pegue o que é seu.
— Jesus Cristo — sem fôlego saiu dos meus lábios. Eu adorava o jeito que
ele falava comigo, adorava que Isaac quisesse se entregar a mim tão
completamente. Fiquei mais reto, enfiei meus dedos pelos fios macios de seu
cabelo.
Isaac lambeu minha fenda, a pérola de pré-sêmen desaparecendo em sua
língua antes que ele chupasse a cabeça em sua boca, engolindo-a. E porra,
nunca quis ninguém mais do que eu o queria naquele momento, e sabia que
nunca iria. Anos de desejo oculto, de desejo negado, soltos dentro de mim.
Eu gradualmente bombeei meus quadris para frente, enfiei meu pau cada
vez mais fundo na boca faminta de Isaac.
Ele era tão gostoso, tão bom, quase gozei naquele momento. Meu coração
batia forte enquanto eu lutava para me segurar, apenas continuei em frente
até que seu nariz estava enterrado em meus púbis novamente, minha glande
em sua garganta.
Eu puxei, e Isaac disse: — De novo.
Eu sempre soube que não havia muito, se alguma coisa, que Isaac iria me
negar, e eu sentia o mesmo por ele. Desta vez, não fui tão sem pressa. Eu fodi
sua boca do jeito que ele queria, gentilmente acariciando seu lindo rosto
enquanto eu fazia.
Ele agarrou meus quadris, segurou, pintou em mim também, enquanto
meu pau deslizava para dentro e para fora de sua boca em movimentos
rápidos e medidos. Isaac tomou tudo, a fome queimando em seu olhar.
Como passamos tanto tempo sem isso? Como havíamos segurado nosso
desejo um pelo outro?
Continuei fodendo-o como se pudesse mostrar a Isaac o quanto eu
precisava dele com cada impulso dos meus quadris. Quando minhas bolas
apertaram, tão malditamente perto de se soltar, puxei.
— Venha. — Eu disse, precisando senti-lo, tocá-lo também.
Isaac ficou de pé, os dedos se entrelaçando enquanto ele rapidamente
abria a calça. Ele deixou tinta lá também. Fui eu quem a empurrou para
baixo, eu que quase derreteu em uma poça de lava quando seu pau saltou
livre. Ele era grosso e cheio de veias, o ninho escuro de cabelo em sua virilha,
aparado e arrumado. Ele vazava mais do que eu. Seu pau estremeceu
enquanto eu o estudava. Ele saiu de suas roupas, e estendi a mão, e a envolvi
em torno de seu eixo quente e duro, e acariciei.
— Ah, porra... Lane...
Eu não podia acreditar que ele estava lá, que eu pude vê-lo assim. Isaac
estava de pé diante de mim, me desejando, e ele era de tirar o fôlego.
— Não se mova — Isaac ordenou.
— Não poderia me forçar.
Ele sorriu. Era impressão minha ou foi quase timidamente?
Isaac foi até a mesinha de cabeceira e pegou uma garrafa de lubrificante...
porque era claro que ele teria algum escondido neste quarto também.
Ele voltou para mim, abriu a garrafa e apertou, pingando o líquido claro
em ambos os nossos eixos.
— Só quero sentir você agora. Qualquer outra coisa, e vou gozar rápido
demais, e... bem, há alguns lugares que nós não queremos pintar — Isaac
disse. — Em retrospectiva, essa pode não ter sido a melhor ideia, mas eu te
amo assim, com arte em seu corpo.
Isaac se aproximou de mim, me empurrou para trás até que minha bunda
bateu na borda da mesa. Ele pegou minha boca, empurrou sua língua para
dentro. Meus braços foram ao redor dele, e ele enrolou a mão no meu cabelo
enquanto nos lambíamos e nos beijávamos. Saboreando. Amando.
Ele empurrou seu pau contra o meu, unindo nossas virilhas, fazendo outra
tempestade elétrica surgir dentro de mim.
Deslizei minhas mãos até sua bunda, nossos corpos alinhados e apertados
um contra o outro enquanto nos beijávamos avidamente. Quase
choraminguei quando ele se afastou o suficiente para deslizar uma mão
entre nós e a envolveu em torno de nossos dois paus, acariciando enquanto
fodemos seu punho juntos.
— Finalmente vou conseguir te pintar com meu esperma. Eu vou fazer
isso todos os dias, vê-lo secar em sua pele para que eu saiba que você sempre
me terá em você.
— Caralho... — Rapidamente, minhas pálpebras tremeram, minhas coxas
tremeram. Empurrei minha língua em sua boca novamente e gozei, jorros
quentes em sua mão e nossos estômagos.
Gritei quando Isaac se afastou, mas ele não foi muito longe, apenas pegou
seu próprio pau na mão, masturbando-o até que seus olhos reviraram, suas
bolas apertaram e disparou jorro após jorro de esperma no meu estômago.
No segundo que ele terminou, Isaac me puxou para perto e enterrou o
rosto no meu pescoço. Me segurou em um abraço apertado, e não me soltou.
Isaac
Eu não queria solta-lo. Eu me preocupava que, se o fizesse, a realidade se
instalaria e perceberíamos o que isso realmente implicava, nós dois juntos e
todas as consequências. E se algo mudasse? E se Lane percebesse que ele
realmente não me amava e nós rasgássemos nossa família em pedaços sem
motivo, e então tivéssemos que descobrir como juntar os pedaços
novamente. Como papai se sentiria sobre Lane se ele me machucasse, ou se
eu estragasse tudo o que eu era bom. Helena ainda me amaria? Ela seria
capaz de me olhar nos olhos? Eu a perderia e papai junto com Lane? Eu faria
meu pai perder Helena, a pessoa que o trouxe de volta dos mortos?
Esta era uma situação complexa em mais de uma maneira. Isso afetava
mais do que apenas nós dois.
Mas naquele momento, eu estava ali nu, com Lane em meus braços. Meu
esperma em sua pele, e as marcas da minha boca em seu pescoço. Então
tentei focar nisso.
— Espero que você não pense que terminei com você ainda — eu disse,
me afastando, mas não olhando no rosto dele. — Eu realmente não consegui
devorar muito até agora.
Quando nada além de silêncio me cumprimentou, arrisquei um olhar em
sua direção, esperando não ver arrependimento ali, mas sabendo que não o
culparia se visse.
— Estamos com tantos problemas, não estamos? — Ele perguntou, sem
surpresa. Eu esperava que ele percebesse, mesmo que o remorso não viesse.
Também tinha percebido, mas eu era mais egoísta. Eu o queria por tanto
tempo que fingiria alegremente que tudo estava bem se ele quisesse.
Não havia razão para mentir para ele, no entanto. Ele perceberia que eu
sabia porque nós dois sabíamos a verdade. — Sim.
— Eles não vão entender.
— Não — respondi. — Eles não vão. Talvez, eventualmente, possamos
fazê-los entender, mas isso não é algo com que temos que nos preocupar
hoje. Hoje, e enquanto você me deixar, eu só gostaria de mentir para mim
mesmo, me fazer acreditar que posso ter você. E porra. Eu gostaria de fazer
isso o mais rápido possível, por favor. — Pisquei.
Lane me deu um pequeno sorriso, um que carregava um pouco de tristeza
nele. — Isaac. — Ele segurou meu rosto novamente, passou o polegar sob
meu olho, então me puxou e me deu um beijo suave. Pelo menos ele não
estava mais dizendo meu nome como se fosse um aviso. — Você já me tem.
Sim, mas por quanto tempo? Porque eu não sabia se Lane poderia fazer
isso, se ele diria aos nossos pais que estávamos apaixonados um pelo outro,
veria a decepção e a confusão apontadas para nós, e ainda decidiria que eu
valia a pena.
— Vamos tomar um banho. Alguém colocou tinta em cima de mim... e esta
porra de quarto. Isso mesmo alguém tem muita limpeza para fazer.
— Deixe-me adivinhar, esse alguém sou eu?
Peguei sua mão e o puxei em direção à porta. — Faria mais sentido. A
quem pertence a tinta?
— Quem estava espalhando isso em todos os lugares?
— Isso não vem ao caso.
Lane riu e me seguiu para o meu quarto e para o banheiro. Abri as portas
de vidro do chuveiro e liguei a água, encontrando a temperatura certa.
Fiz sinal para Lane entrar primeiro, o que ele fez, e me juntei a ele.
Vermelho e amarelo sangravam no chão, a água colorida fazendo breves
padrões nos tons de cinza dos ladrilhos antes de escorrer pelo ralo e, com
ela, a evidência do que tínhamos feito.
Puxei Lane para perto, passei minhas mãos por seu corpo liso, sobre sua
bunda firme e de volta para cima novamente, antes de enterrar minha mão
no cabelo em sua nuca e puxar sua boca para a minha novamente. Eu não
conseguia parar de beijá-lo, tocá-lo. Eu era carente pra caralho, e se ele fosse
qualquer outra pessoa, eu odiaria que vissem esse lado meu. Mas então, se
ele fosse outra pessoa, eu não me sentiria assim.
Nós nos abraçamos com força, a água escorrendo pelos nossos corpos.
Enquanto ele ganhou massa muscular ao longo dos anos e estava firme e
esculpido em todos os lugares certos, Lane ainda era menor do que eu, seu
corpo mais leve em meu abraço. Suas mãos foram para os meus lados, as
pontas dos dedos pressionando o suficiente para deixar hematomas, como
se talvez ele estivesse com tanto medo que eu mudasse de ideia quanto eu
que ele mudaria. Ele me segurou como se temesse me perder.
— Deus, sempre odiei beijar — admiti, minha boca descendo pelo seu
pescoço. — Mmm, posso morder e te chupar de novo aqui? Dar-lhe um
chupão roxo escuro para que eu possa – puta merda, essa pode ser minha
forma de arte. Deixar evidências do meu desejo por você em todo o seu
corpo. Será nosso segredo, um lembrete da minha posse sobre você. Vou
olhar para ele quando estivermos em uma sala cheia de pessoas, e nenhum
deles saberá que são minhas marcas em você.
— Jesus. — Lane tremeu contra mim. — Sim, você pode. Isso foi gostoso
pra caralho, se um pouco triste também, já que ninguém pode saber, e como
sempre odiou beijar? Você faz muito sexo, Isaac.
— E nem sempre beijo, mas quando beijo, não é minha coisa favorita. —
Passei minha língua sobre a parte carnuda onde seu ombro encontrava seu
pescoço, aquele que ele disse que eu poderia ter. — Bem, não era a minha
favorita. — Cavei meus dentes no meu lugar, mais forte do que antes, mas
com cuidado para não quebrar a pele, então chupei, sentindo o sangue
escorrer para a superfície sob minha língua.
— Ah, porra. Isso dói, mas também é tão bom. Mais.
Nunca negando prazer a alguém, dei a ele, fazendo minha própria boca
doer com a força da minha sucção nele. Lane estava tremendo em meus
braços, montando minha coxa, sua ereção quente e grossa contra mim.
Eu poderia realmente fazê-lo gozar desta forma? Eu o beijei lá antes de
puxá-lo em minha boca novamente. Uma mão em sua bunda, a outra ainda
em seu cabelo, puxei Lane contra mim, me movi enquanto ele gemia e
empurrava minha perna, descaradamente tomando o que precisava de mim.
Eu daria com prazer. Apenas um momento depois, seu corpo ficou rígido
e ele gritou, a sensação quente de seu esperma jorrando no meu quadril.
Puxei minha boca dele, envolvi uma mão ao redor do meu eixo, pronto para
pintá-lo com meu esperma novamente, mas Lane caiu de joelhos e engoliu
meu pau.
Sua boca era tão malditamente quente, tão molhada, e este era Lane. Esse
pensamento fez minhas bolas esvaziarem em sua garganta em menos de
trinta segundos.
Lane não se levantou imediatamente, não parou de me chupar. Seus
braços rodearam minha cintura, sua bochecha contra meu estômago
enquanto chupava meu pau amolecido, como se fosse sua maneira de se
alimentar.
Eu sabia o que ele estava pensando sem que precisasse dizer as palavras.
Quando meu pau caiu de sua boca, passei meus dedos por seu cabelo. Eu
adorava como estava comprido agora. — Nós vamos resolver isso.
Puxei-o para ficar de pé, e nós finalmente usamos sabão e lavamos nossos
corpos, então saímos e nos secamos.
— Estou tão cansado. — disse Lane.
Eu também estava. — Vamos dormir um pouco.
Ele não discutiu, não parecia estar duvidando da decisão de subir nu na
minha cama. Entrei ao lado dele, puxando o cobertor sobre nós.
Lane me envolveu em um abraço, e moldei meu corpo ao dele, minha
cabeça em seu ombro.
— Gosto de ver minha marca em você. — Lambi a marca escura e quase
preta que chupei em sua pele.
— Gosto de saber que está aí. — As palavras eram suaves, e ele parecia
exausto. Não tive que olhar para saber que Lane caiu direto no sono.
Deixei-me fechar os olhos e fazer o mesmo.
Acordei em uma cama vazia. Pela forma como a luz atingiu, eu tinha
certeza de que era no final da tarde. Fiquei surpreso por ter dormido tanto,
que não senti Lane escorregar da cama.
Por um segundo, a preocupação tomou conta de mim, de que ele tivesse
voltado a si e tudo mudou, mas este era Lane, e eu o conhecia. Conhecia seus
padrões e suas necessidades, o que ele fazia quando estava muito feliz ou
muito triste ou apenas sendo ele mesmo, então saí da cama, mijei
rapidamente, lavei as mãos e coloquei uma cueca.
A porta de seu estúdio estava aberta, e ainda estava... uma bagunça. Ele
ainda estava nu, e estava em seu cavalete porque novamente, este era ele e
era o que sempre fazia.
— Desculpe. Eu estava inspirado.
Cruzei os braços e me encostei no batente da porta com um sorriso no
rosto. Eu adorava vê-lo assim. Ele não conseguia nem desviar o olhar do que
estava fazendo para me encarar.
— Você nunca tem que se desculpar por isso. Especialmente se pintar nu
se tornar uma coisa normal agora. Amo pintura nu.
Um leve sorriso curvou os cantos de seus lábios com isso, e seu olhar se
voltou para mim.
— Claro que você ama.
— Você pode me culpar? — Perguntei, entrando no quarto. — Posso ver?
— Sim.
Eu dei a volta para que eu pudesse ficar ao lado dele, e... Jesus fodido
Cristo, não podia acreditar em meus olhos. Não estava concluído. Ele
esboçou o que seria e tinha acabado de começar a pintar. Meu coração
disparou, meu olhar preso pela imagem na tela na minha frente. Dois
homens nus, um de joelhos, braços em volta da cintura do outro, bochechas
contra o estômago, do jeito que estávamos antes. Você não podia ver seus
pênis, seus corpos estrategicamente colocados para escondê-los. — Somos
nós, não é?
— Sim. Posso ver isso perfeitamente na minha cabeça. Estaremos sem
rosto, nossos corpos borrados e misturados em diferentes tons de azul e
cinza. Abstrato, mas emotivo, no meu estilo figurativo-expressionista.
Ninguém vai olhar para ele e nos ver. Apenas dois homens, perdidos em um
momento íntimo. Só nós saberemos que é nosso.
— Isso é incrível.
— Você não viu o produto acabado.
— Não preciso.
Lane se virou e beijou meu ombro. — Nunca fiz esse tipo de arte antes –
fora os da faculdade quando trabalhávamos em nudez. Nunca brinquei com
arte erótica. Mas então acordei com o pensamento, e meus dedos se
contraíram com a necessidade de pintar. Meus pensamentos estavam
dispersos, e por mais que eu quisesse estar na cama com você, sabia que
ficaria louco se não saísse e fizesse isso.
— Eu amo isso. Como diabos você faz isso? Como desenha e planeja isso
tão rapidamente? Dormi por uma semana?
— Sabe como fico quando estou na zona. É como uma obsessão. E este
definitivamente não é o meu melhor trabalho. É confuso e apressado, mas
tive que colocá-lo na tela.
Não havia uma parte disso que parecia bagunçada e apressada para mim.
— É incrível. Sou a musa perfeita.
Lane se inclinou e beijou meu ombro novamente. — Nunca vou te pintar
de novo se isso vai te dar um ego enorme.
— Não tenho certeza de que poderia evitar mesmo se tentasse. Eu sou
claramente irresistível para você. Pode-se até dizer sua maior musa. Acho
que esse será meu título daqui para frente... Isaac Pierce, a maior musa de
Lane Ryan.
Ele riu e me envolveu em um abraço. Lane era mais carinhoso do que eu
pensava que seria, não que eu estivesse reclamando.
— Quero te pintar o dia todo, todos os dias, só para ter provas de que isso
é real.
— Pensei que é para isso que servem as marcas no seu pescoço?
— Nós podemos ter os dois — respondeu, logo antes de seu estômago dar
um profundo, alto e estrondoso rosnado.
— Até o magnífico Lane Ryan precisa comer. Continue trabalhando. Vou
fazer o jantar.
— Você não cozinha.
— Vou pedir o jantar.
Lane deu um beijo na minha bochecha, e então me afastei. Se eu não fosse
agora, acabaria de joelhos por ele... talvez transando com ele na cama ou me
curvando para ele. Não me importava muito com a maneira como faríamos.
Eu só o queria. — Virei buscá-lo quando a comida estiver aqui.
— OK.
Quando cheguei à porta, parei para olhar para ele. Lane já estava perdido
em sua arte novamente. Em vez de ficar ali olhando para ele, forcei-me a
voltar para o meu quarto, coloquei um short e uma camiseta, então pedi
comida tailandesa. Sentei-me no sofá da sala de estar, tentando não me
estressar sobre como diabos iríamos fazer isso funcionar, como poderíamos
mudar as percepções para que nossas famílias e o mundo não nos vissem
como irmãos, mas como dois homens apaixonados. Isso significaria forçar
os limites, forçar o que era aceitável, mas se o resultado me levasse a ele, era
tudo o que me importava.
Lane
Eu não conseguia parar de pintar. Dias se passaram desde que percebi que
Isaac estava apaixonado por mim, desde que me permiti reconhecer que
sentia o mesmo. Que sempre senti o mesmo. Terminei Seu, dando ao fundo
um estilo cinza e preto, ousado, de respingos de tinta. Meu cérebro estava
explodindo com ideia após ideia, com a necessidade de criar, e tudo era
sobre ele – apenas Isaac, ou nós dois juntos. Nunca o pintei. Desenhá-lo? Sim.
Eu tinha centenas de cadernos cheios de esboços, mas nunca me permiti
pintá-lo antes. Agora, não conseguia parar.
Todos eles abstratos, sem rosto, corpos nus borrados e mãos errantes que
pertenciam ao meu irmão. Cristo, eu realmente tinha que parar de pensar
nele dessa maneira. Não somos relacionados por sangue, não somos relacionados
por sangue, não somos relacionados por sangue.
Isso se tornou meu mantra.
Quando Isaac estava em casa depois do trabalho, eu tentava ir para a sala
ou cozinha com ele, mas isso nem sempre durava muito. Eventualmente,
acabaríamos no quarto que ele me deu para meu estúdio, onde ele me veria
desaparecer em meu próprio mundo ou se encontrar no dele, mas ainda
ficando perto. Sempre trabalhei muito, mas não tanto. Eu precisava tirar
tudo antes que eu perdesse.
Adormecemos todas as noites naquele quarto, que eu limpei, não
permitindo que ele ajudasse, e não havia nada como estarmos envolvidos
um no outro, corpos escorregadios e aquelas mesmas mãos errantes que
invadiram meu cérebro. Nós nos masturbamos ou chupamos um ao outro
diariamente, mas ainda não tínhamos fodido. Nenhum de nós tinha feito o
movimento para fazê-lo, e eu não tinha certeza do porquê.
Outra coisa que não tínhamos feito era falar sobre o que diabos estávamos
fazendo. Era como se pensássemos que se não falássemos as palavras, não
haveria consequências, que nossa realidade não era verdadeira, para que
pudéssemos continuar fingindo nesse casulo que construímos juntos.
Era a porra de um lugar legal para chamar de lar, mas não era real, e nós
dois sabíamos disso.
Eu estava na frente do meu cavalete quando meu celular tocou com o
toque da mamãe. Os nervos imediatamente subiram pela minha espinha
como se houvesse alguma maneira de ela ter descoberto, como se ela não me
ligasse regularmente, então se ela estava agora, deve ter descoberto que Isaac
e eu estávamos... juntos. Estávamos rotulando assim? Presumi que sim, já
que estávamos apaixonados, mas estava tudo tão bagunçado que as regras
normais não se aplicavam.
Queria ignorar a ligação, mas meu estresse não me deixava. Ficaria louco
pensando que ela tinha nos descoberto, então atendi. — Ei mãe.
— Ei você. É bobo que sua voz soe mais feliz agora que está vindo de
Atlanta em vez de Nova York? Porque sim.
Eu ri. Ela era tão boa. Nunca soube como era ficar sem ou não me sentir
amado. Ela sempre quis passar tempo comigo e se relacionar comigo, e
quando Isaac entrou em nossas vidas, isso se estendeu a ele. A partir do
momento em que ela e papai ficaram sérios, Isaac se tornou seu filho. E isso
me fez sentir ainda mais culpado sobre o que estávamos fazendo, porque
enquanto esse amor me dava esperança de que ela encontraria uma maneira
de nos aceitar, também era o que dificultaria isso para ela.
— Estou feliz — admiti. — Eu sinto... nem sei como colocar isso em
palavras. Mais livre do que em muito tempo, como se eu fosse mais eu do
que me permiti ser em anos, ou talvez mais do que já fui. — Porque como
poderia ter sido autêntico quando não fui honesto em como me sentia sobre
Isaac?
— Isso me deixa muito feliz. E eu amo que meus dois meninos estão juntos
novamente. As coisas ficaram tensas com vocês dois por um tempo, mas isso
parece estar mudando. Isaac sempre te amou muito. — Congelei, o coração
acelerado, sentindo que poderia estourar no meu peito a qualquer momento.
Ela estava dizendo... Ela sabia? — Eu sei que já dissemos isso antes, e é tão
difícil se sentir assim por causa do que isso significa quando se trata de seu
pai e da mãe biológica de Isaac, mas sinto que fomos feitos para ser uma
família, que você e Isaac foram feitos para serem irmãos. Ele precisa de você,
e se algo acontecer entre vocês dois... bem, não tenho certeza de como ele
lidaria com isso.
O que era outro risco em um relacionamento. Era tudo um risco.
Preocupava-me como Isaac reagiria se terminássemos. Não consegui
acalmar esse pensamento, mas consegui encontrar uma maneira de admitir
minha própria verdade também: — Também preciso dele.
— Sim, eu sei. Eu só me preocupo mais com Isaac dessa maneira. Ele não
deixa ninguém se aproximar além de você, e isso não é algo com o qual você
luta. De qualquer forma, não sei como chegamos a esse assunto. Meus dois
meninos estão felizes, e posso ser a mulher mais sortuda do mundo. Apenas
liguei para entrar em contato com você e fazer você lembrar Isaac da reunião
da família no próximo mês.
Aproximei-me e sentei-me na cama. Porra, como eu tinha esquecido disso?
Enquanto nossas avós de ambos os lados frequentemente saíam, e eu ia ver
meus avós do lado de meu pai também, havia um grande encontro a cada
dois anos de todos de ambos os lados - tias, tios, primos e parentes de mamãe
e as mães do papai. Mamãe organizou, querendo ter certeza de que a família
extensa de Isaac e a nossa estavam próximas. Era pouco mais de um fim de
semana, e quase todos, exceto as vovós, seguiriam seu próprio caminho, mas
era uma tradição, e não havia como escapar dela. Pelo menos não para mim
ou Isaac. Aposto que ele tinha esquecido disso também.
— Sim, nós estaremos presentes. Claro que estaremos presentes. — Seria
estranho pra caramba, considerando o que Isaac e eu estávamos fazendo.
Não podíamos contar a ninguém, e seria um lembrete constante, todos
falando sobre nós como se fôssemos uma unidade, mas não do tipo que
queríamos ser. Eles nos chamariam de família.
— Quais as novidades? — Mamãe perguntou. — No que tem trabalhado?
Tem alguma ideia de quanto tempo vai ficar?
Todas as perguntas eu tive dificuldade em responder. Não era como se eu
pudesse dizer a ela que eu estava pintando Isaac nu, ou nós dois juntos, ou
todas as maneiras que eu queria adorar seu corpo e ter Isaac adorando o
meu.
Minha casa em Manhattan era outro obstáculo. Precisava ir embora, mas
não tinha tomado uma decisão sobre ser permanente ou não. Tinha amigos
lá, contatos. Fora da minha família, toda a minha vida estava em Nova York,
e agora que Isaac e eu estávamos juntos, ele esperava que eu me mudasse?
Eu queria?
Tudo estava tão fodido, e havia um milhão de coisas a considerar.
Mas a recompensa era Isaac.
— Não tenho certeza, mãe. Agora estou apenas levando tudo um dia de
cada vez. No que diz respeito ao trabalho, estou... seguindo meu coração. —
Eu não sabia mais como explicar.
— Você sempre faz, doce menino. Isso é o que mais amo em você – esse
seu coração grande e pulsante. Vou deixá-lo voltar para isso. Diga ao seu
irmão para ligar para o papai, ok?
Meu peito se apertou com essas palavras.
— Vou dizer a ele — respondi, então, — Ei, mãe? Amo você.
— Também te amo, Lane. — Ela fez um barulho de beijo, e então a linha
desligou.
Tentei ignorar a culpa que engrossou como lodo em meu estômago.
Quando voltei ao meu cavalete, não consegui me obrigar a pintar. Apenas
fiquei ali, pincel na mão, olhando e desejando que meus dedos
funcionassem. Quando isso não aconteceu, limpei meus suprimentos, tomei
banho e me vesti. Meu cabelo estava ficando muito comprido, e eu ficava
dizendo a mim mesmo que iria aparar, mas ainda não tinha conseguido.
Para me manter ocupado, decidi fazer o jantar. Isaac tinha uma
churrasqueira em sua varanda, então saí, comecei a fazer hambúrgueres
caseiros de alho e cebola. Piquei os legumes para uma salada rápida,
terminando assim que ele chegou em casa.
— Você vai me estragar. — Isaac afrouxou a gravata, se aproximou e me
pressionou contra o balcão. Ele me beijava e me tocava o tempo todo, como
se ele não pudesse se satisfazer ou seu corpo fosse viciado no meu. Como se
eu fosse um tesouro para ele, e dane-se se isso não me fizesse sentir bem.
Ele se inclinou, tomando minha boca com a dele. Eu o deixei. Na maioria
das vezes, Isaac liderava quando se tratava de sexo ou afeição entre nós, e
eu me contentava em seguir. Sua língua passou pelos meus lábios, dedos
cavando em meus quadris enquanto ele provava minha boca como se
estivesse em um deserto e eu fosse a única água que ele tinha em dias.
Como sempre, meu pau começou a endurecer enquanto ele lambia e
chupava suavemente meu pescoço. Ele não tinha me marcado novamente
desde aquele primeiro dia, mas eu sabia que não era por falta de desejo.
— Você tem um gosto tão bom... cheira tão bem... é tão bom. Agora que
posso tocar em você, não quero mais parar.
Como diabos passei minha vida inteira sem ouvi-lo falar comigo daquele
jeito? Agora que eu tinha ouvido, aquelas palavras eram combustível para
minha alma. Não pude deixar de sorrir.
Isaac nem precisou olhar para mim quando disse: — Viu? Você gosta de
elogios e elogios meus.
— Cale-se. — Era incrivelmente inconveniente que ele me conhecesse tão
bem. — Vamos comer antes que esfrie.
Ele lavou as mãos, e então fizemos nossos pratos e nos sentamos à mesa
juntos. Era um hábito da infância. Mamãe sempre esperou que comêssemos
à mesa em família e conversássemos sobre nossos dias. Era algo que eu tinha
perdido em Manhattan. Mesmo quando eu estava em um relacionamento,
não nos sentávamos para compartilhar nossas refeições dessa maneira, mas
Isaac e eu fazíamos isso automaticamente.
— Você fez alguma pintura hoje? — Ele perguntou. — O quê? Você está
sorrindo.
— Estava pensando em como eu não comia assim quando estava com mais
ninguém - sentados juntos, perguntando sobre o trabalho... e então você
perguntou.
Ele encolheu os ombros. — Nem eu. — Mas então, Isaac não teve nenhum
relacionamento.
— Terminei um pouco no início do dia. Não tanto nos últimos tempos.
Ele assentiu, e quando perguntei sobre o dia dele, entrou em contas e
números e todos os tipos de coisas que ele amava e entendia de maneiras
que meu cérebro mais criativo não entendia. Quando ele terminou, ele
perguntou: — O que há de errado?
— Mamãe ligou. — Dei uma mordida no meu hambúrguer.
O olhar de Isaac se desviou. Podíamos fazer o que estávamos fazendo,
fingir que nada mais importava, mas a culpa sempre existia. Esta foi a
primeira vez que fomos lembrados disso de uma forma tão pessoal.
— O que ela disse?
— Ela quer que você ligue para papai... seu pai... Talvez eu não devesse
mais chamá-lo de pai?
— Por quê? Às vezes, as pessoas casadas chamam seus sogros de mamãe
ou papai.
— Sim, mas isso é diferente. Desde que eu tinha quatorze anos, fui
literalmente criado por ele como se ele fosse meu pai de verdade. Estou em
seu testamento como seu filho e... — Meu peito estava apertado, e minha
respiração acelerou. Eu estava pirando. Por que diabos eu estava pirando de
repente? Timothy era meu pai, assim como meu pai biológico tinha sido. —
Por que você chama a mamãe de Helena, então?
— Essa não é a única razão para mim... e não vou permitir que estar
comigo tire seu pai. Vai partir o coração dele e o seu se de repente começar
a chamá-lo pelo nome.
Isaac estava certo. Partiria. — Sinto muito — disse Isaac. — Que isso é tão
difícil. Se eu não tivesse te beijado...
— Não. Foda-se não. Eu não desejo que isso nunca tivesse acontecido.
Quero você, Isaac. Há muito para se acostumar e resolver, mas isso não
muda o quanto quero você.
Ele acenou com a cabeça, mas ele tinha aquele olhar em seu rosto que dizia
que se sentia culpado, que não se sentia digno – aquele que ele nunca baixou
a guarda o suficiente para mostrar a ninguém além de mim.
— Eu te amo — eu disse a ele.
— Eu também te amo.
Mas ainda precisávamos conversar. Eu nem tinha mencionado a reunião
da família.
Terminamos de comer, mantendo os assuntos leves. Depois, Isaac lavou
os pratos já que cozinhei. Ele ainda estava em sua camisa de botão e calça do
trabalho quando se aproximou, pegou minhas mãos e deixou sua testa cair
na minha.
— O que mais não está me dizendo? Você deveria ser aquele que fala.
— Esqueci que temos um encontro de família chegando no próximo mês.
Isaac se afastou e franziu a testa, claramente tendo esquecido também.
— O que nós vamos fazer? Sei que acabou de começar, mas não vai nos
fazer nenhum bem fingir que nossa situação não é o que é. Vamos contar
para mamãe e papai agora? Esperar que tudo ocorra bem e que as coisas não
fiquem fodidas antes que todos estejam na cidade? Esperamos e contamos a
eles depois? Dar-nos algum tempo para nos acostumarmos com isso nós
mesmos? Como abordamos as coisas com outras pessoas? Todos que
conheço lá nos consideram irmãos. Nós nos mudamos e começamos de novo
em outro lugar? E se você perceber que não está apaixonado por mim e nós
fizermos tudo isso, machucarmos todo mundo e...
— Shh. — Isaac pressionou dois dedos em meus lábios. — Quem diria que
você era tão preocupado?
— Isso é sério, Isaac.
Ele suspirou. — Eu sei. E tive muito mais tempo para me acostumar a me
sentir assim por você do que você por mim. — Me puxou para o sofá.
Sentamo-nos um ao lado do outro. — Helena nunca vai deixar de te amar.
Tão facilmente, ele entendeu meus medos. Era um fato que meu cérebro
continuava me dizendo. Eu conhecia minha mãe. Sabia como ela amava, mas
meu coração estava cheio de medo e inseguranças. Nada no mundo era mais
forte do que o coração e o que ele fazia você sentir, nem mesmo a lógica. Mas
a verdade era que também não queria decepcioná-la. Não queria que ela me
olhasse com decepção.
— Eu sei.
— Você quer continuar fazendo isso? — Sua mão estava no meu braço,
seu dedo distraidamente roçando minha pele. Eu não tinha certeza se ele
sequer percebeu que estava fazendo isso.
— Sim, Deus sim.
Isaac sorriu. — Fico feliz em ver que seu gosto por homens melhorou.
Revirei os olhos.
— Acho que devemos esperar — Isaac continuou. — Isso é muito, e
aconteceu rapidamente... bem, uma vez que tudo estava aberto. Não acho
que devemos nos apressar em deixar todo mundo saber. Precisamos nos
firmar como um casal, resolver as coisas entre nós antes de compartilhar aos
outros. Esta é uma grande mudança e afeta mais do que apenas nós dois.
Balancei a cabeça, concordando com ele. Ele estava certo. Não era como se
alguém se perguntasse sobre nós passarmos tempo juntos, então, para o
mundo exterior, as coisas continuariam como sempre foram.
— Ok, mas podemos voltar a todo aquele compartilhar aos outros? Porque
agora que o tenho, com certeza não planejo te compartilhar — provoquei.
— Você manteria uma experiência tão transformadora quanto estar
comigo de outros homens? Que egoísta de sua parte — Isaac agiu junto. —
Nunca vi esse seu lado antes. Simplesmente não consigo parar de me sentir
culpado por todos os homens de Atlanta que nunca saberão como é me ter.
— Eh, você vai sobreviver — respondi.
— Idiota. — Isaac se inclinou, passou a língua pelos meus lábios, então
deslizou para dentro. Foi um beijo rápido, mas às vezes esses eram os
melhores – os rápidos antes do adeus ou depois do olá, que falavam de
conforto e familiaridade. — Não quero mais ninguém além de você. Claro
que somos exclusivos. Vou tomar banho. — Ele pressionou outro beijo em
meus lábios e se levantou.
Assisti enquanto ele caminhava pelo corredor em direção ao seu quarto,
já sentindo falta dele.
Isaac
Fiquei no chuveiro por mais tempo do que eu precisava, aproveitando a
sensação da água quente enquanto batia na minha pele. Eu gostava de saber
que Lane estava no apartamento comigo. Gostava de voltar para casa e beijálo e jantar com ele à mesa.
Essa era uma grande parte do motivo pelo qual eu não queria contar a
ninguém ainda. Eu me preocupava que, uma vez que contássemos, as coisas
mudariam e seriam mais difíceis. Era ingênuo fingir o contrário. Agora, só
queria aproveitar pra caramba estar com Lane, e era exatamente o que eu
planejava fazer. Nossos problemas não iam a lugar nenhum. Poderíamos
lidar com eles mais tarde.
Depois do banho, me sequei, enrolei uma toalha na cintura e escovei os
dentes. Eu tinha acabado de pegar creme de barbear do balcão, quando Lane
entrou.
Ele não disse nada, apenas puxou a garrafa da minha mão. Eu levantei
uma sobrancelha, e ele sorriu.
— O que está fazendo? — Perguntei.
— Cale-se.
— Porra, você é mandão.
— E você ainda está falando. — Lane soltou uma gota de creme de barbear
em seu dedo. Ele tocou a ponta do meu nariz, deixando um ponto branco
para trás, antes de colocar a garrafa no balcão. Ele pegou meu barbeador
elétrico e perguntou: — Está na configuração certa para o seu comprimento?
— Eu gostava de mantê-lo aparado bem curto, uma leve camada de barba.
Quando não respondi, ele balançou a cabeça, seus olhos sabendo.
— Bem, você não pode ter as duas coisas. Você não pode me dizer para
calar a boca e depois me fazer perguntas.
— Mas você me ama, então isso significa que posso me safar de qualquer
coisa, certo? — Brincou.
— Como desejar. Mas sim. — Nunca tive um amante me barbeando antes,
mas eu deixaria Lane.
A navalha zumbiu para a vida. Inclinei minha bunda contra o balcão, Lane
na minha frente. Ele não estava em nada além de sua cueca. O homem
viveria nelas ou nu se pudesse.
Aparou o comprimento e, quando terminou, largou a navalha e pegou a
garrafa novamente. Se aproximou de mim e abriu a torneira. Encheu a mão
com creme de barbear, então esfregou ao longo do meu pescoço e rosto
estrategicamente, para limpar minhas bordas.
Eu não sabia por que, mas prendi a respiração com o primeiro golpe da
navalha contra minha pele. Havia algo incrivelmente íntimo sobre este
momento - nós dois perto, a protuberância em sua cueca boxer, o olhar de
concentração em seu rosto enquanto ele me barbeava. Cada movimento de
sua mão, a forma como seus olhos estudavam o que ele fazia, me fazia sentir
como se eu fosse sua arte. Como se ele levasse me depilar tão a sério. Eu era
sua tela, e Lane estava criando uma obra-prima.
Era difícil me concentrar em outra coisa além de Lane e no que ele estava
fazendo comigo, mas consegui dizer: — Você está sendo muito doce comigo.
O que há com isso?
— Sou sempre doce com você... e é isso que fazemos, não? Não cuidamos
sempre um do outro? Agora estamos fazendo isso de maneiras diferentes.
Jesus, esse maldito cara. Ele era tão malditamente incrível.
Lane terminou de me barbear, então se aproximou, seu corpo contra o
meu, carne com carne, enquanto lavava a navalha e a guardava. Pegou um
pano, colocou-o debaixo da torneira, então deu um passo para trás para
limpar meu rosto. — Tão gostoso como sempre.
— Você deveria fazer isso com mais frequência. Dizer-me que sou gostoso.
Lane riu, o som não se aquietou até que ele pressionou os lábios no meu
pescoço. Gemi ao sentir sua boca contra a minha pele. Deixei minha cabeça
cair para trás, segurei seus quadris enquanto ele beijava meu pescoço,
beijando e lambendo, então descendo pelo meu corpo, através do meu
peitoral.
Rosnei quando ele se afastou, precisando de mais dele. Precisando de
Lane.
— Não estou indo a lugar nenhum. Amo o quanto você me quer. Faz-me
sentir o homem mais sortudo do mundo.
— Esse sou eu — respondi.
— Se todo mundo soubesse o quão doce você é.
— Que nojo — respondi. — Não sou.
Ele me virou então, e eu deixei. Os lábios de Lane pressionaram minha
nuca, então desceram, saboreando cada botão da minha coluna. Se sentia tão
quente contra mim, tão quente e faminto, cada beijo fazendo minhas bolas
apertarem mais e meu pau endurecer quase dolorosamente.
Quando ele se ajoelhou atrás de mim, puxando a toalha, eu quase
choraminguei. Um homem nunca me fez fazer isso antes, mas este era Lane.
Meu Lane.
— Posso? — Ele perguntou, esfregando o nariz ao longo de uma das
minhas nádegas.
Agarrei a borda do balcão com tanta força que meus dedos doeram.
— Sim, Deus sim. — Não havia nada que eu não deixaria Lane fazer
comigo, e o pensamento de tê-lo lá? De seu rosto na minha fenda e sua boca
e língua no meu buraco? Quase me fez gozar só de imaginar.
— Você gosta de ser fodido? — Lane perguntou.
— Sim, mas eu amo foder também.
— Eu também em ambas as pontas. — Ele não falou então, apenas
pressionou uma mão em cada nádega e as abriu. Alarguei minhas pernas
para ele, me inclinei, porque eu era uma puta sem vergonha e não me
importava. Poderia viver de sexo com Lane e nada mais. — Jesus, você tem
um buraco sexy. É tão pequeno e apertado. — Sua respiração estava quente
contra o meu vinco.
— Você vai trabalhar sua língua lá dentro? Quero te sentir, quero que me
coma antes de me dar seu pau, mas sem gozar imediatamente. Nós vamos
fazer isso quando você me der sua bunda, Lane.
— Sim, inferno sim — disse ele, em seguida, enterrou o rosto entre as
minhas pernas e lambeu do meu vinco até o topo da minha fenda. Ele foi
direto para o meu buraco em seguida, pressionando, lambendo, chupando,
beijando. Nunca pensei em mim mesmo como o tipo de homem que queria
pertencer a alguém ou alguma coisa, mesmo quando se tratava de como eu
me sentia sobre ele, mas naquele momento, enquanto ele massageava
minhas nádegas enquanto me fodia com a língua, mais do que apenas minha
bunda pertencia a ele. Eu diria com prazer que pertencia a Lane.
Meu pau se contraiu, as bolas cheias e apertando mais enquanto eu me
pressionava contra ele, tentando montar seu rosto o melhor que podia. A
pele de Lane era lisa e macia contra aquela área delicada do meu corpo. Seu
cabelo fez cócegas na minha carne. Ele mordiscou minha bunda, beijou meu
buraco repetidamente como se estivesse me valorizando, me adorando.
Assisti no espelho, vi meu rosto corar de prazer, vi seus braços em cada
lado do meu corpo enquanto ele se pressionava em mim, se banqueteando
comigo.
Quando ele se afastou, rosnei. — Eu não disse que poderia ir a qualquer
lugar. Não terminei com sua língua.
— Eu só estou te dando um dedo também. — Ele espiou ao redor do meu
corpo, os olhos encontrando os meus no espelho antes de pressionar
sedutoramente seu dedo em sua boca. Quase derreti contra o balcão quando
ele o pressionou contra mim e depois para dentro. — Olhe para você, seus
olhos revirando. É tão sexy vê-lo assim. Como fiquei tanto tempo sem te ver
assim?
— Não sei — respondi sem fôlego. — Não faça isso de novo.
Lane beijou minha bunda, então continuou seu ataque prazeroso, me
fodendo com o dedo, alternando entre isso e sua língua, fazendo onda após
onda das sensações mais incríveis passar por mim.
Ele passou de um dedo para dois, mantendo-me bem e molhado com
saliva e sua boca. Minhas mãos doíam de como apertei o balcão, e quando
torceu o dedo, massageando minha próstata, meu mundo inteiro quase se
despedaçou. Me afastei e puxei Lane para seus pés.
— Cama. Agora.
— Impaciente.
— Estou esperando há quatorze anos, Lane.
— Você é todo coração, e nem sabe disso.
— Mentiras — provoquei, mas Lane apenas agarrou minha mão e me
puxou com ele. Eu o deixei me empurrar para a cama, então me sentei,
encostado na cabeceira da cama, acariciando meu eixo enquanto o observava
puxar sua cueca para baixo. — Os preservativos e o lubrificante estão na
gaveta. — Eu me dei outra masturbada preguiçosa enquanto ele os agarrava.
— Gostaria que não precisássemos dos preservativos.
Jesus, o pensamento de estar dentro dele nu... foi quase o suficiente para
me fazer gozar naquele momento.
— Estou negativo, mas vou fazer o teste para confirmar.
— Eu também sou negativo. Fiz o teste depois de Jayden porque ele me
disse que esteve com outra pessoa.
A raiva incandescente esfaqueou meu peito. — Não mencione o nome dele
em nossa cama novamente. — Quando Lane sorriu, disse: — Ah, então ele
gosta quando fico com ciúmes.
— Não posso evitar. — Lane jogou os suprimentos ao meu lado, então
subiu no meu colo, montando em mim. Ele agarrou minha mão, então o
lubrificante, e bombeou um pouco em meus dedos. — Se vai me foder
também, você pode me preparar enquanto eu te beijo. — Se inclinou e
pressionou um no canto da minha boca. — Eu também amo te beijar.
Eu tremia porque ninguém poderia me afetar do jeito que ele poderia. E
não importava onde sua boca estava, quando ele passou a língua contra
meus lábios, abri para ele.
Envolvi meus braços ao redor dele, deslizei minha mão para baixo e ele se
inclinou para me dar um melhor acesso. Circulei seu aro apertado,
saboreando os pequenos suspiros que ele fez. Quando empurrei um dedo
molhado dentro dele, nós dois exalamos juntos, pouco antes do beijo ficar
mais faminto e mais urgente.
Ele era tão quente e apertado e meu.
Nós demos uns amassos enquanto comecei com um dedo, depois dois,
torcendo e fodendo, esticando o buraco que eu mal podia esperar para ver
em volta do meu pau. Desejei já ter feito o teste para poder gozar dentro dele,
então ficar ali e vê-lo escorrer, apenas para usar meus dedos para empurrálo de volta para dentro dele novamente.
Lane gemeu quando adicionei um terceiro, montou minha mão como um
maldito profissional, nossos beijos se tornando mais desleixados, nossos
paus esfregando juntos enquanto empurrávamos.
Meu pau e bolas latejavam. Sabia que não duraria muito mais, e precisava
dele dentro de mim, precisava estar dentro dele também.
— Foda-me, Lane. Deixe-me sentir isso me esticando. — Tirei meus dedos
dele e acariciei seu pau.
— Sim, Deus sim. Fique nas mãos e joelhos.
Eu fiz como ele disse. Suas mãos tremiam quando ele abriu um
preservativo, rolou para baixo, então lubrificou seu pênis. Pressionou dois
dedos escorregadios dentro de mim, me abrindo mais com eles, meu corpo
se sentindo febril e carente.
Olhei por cima do ombro quando ele saiu, observando Lane enquanto
olhava para minha bunda. Ele escovou os dedos sobre minhas bolas,
esfregou o comprimento da minha ereção.
— Não posso acreditar que posso te ver assim. Não posso acreditar que
posso ter você.
— Leve-me, então.
Os olhos de Lane dispararam para os meus, cheios de fogo e necessidade.
Ele empurrou em mim em um impulso duro e rápido, então parou, pau
enterrado profundamente, virilha contra minha bunda. Era tão grande
dentro de mim, me esticando. Deleitei-me com a sensação dele, na
queimadura e plenitude que me deu.
Ele se inclinou, os lábios passando por minhas costas, então puxou um
pouco para trás e empurrou seus quadris novamente.
Mais e mais e mais, Lane me fodeu. Meu pau estremeceu, prazer
disparando um caleidoscópio de cores e sentindo dentro de mim, ao meu
redor, tão brilhante que era quase cegante.
Eu tinha fodido muito na minha vida, mas não havia nada no mundo
como ser fodido por alguém que você amava. A proximidade, a sensação de
que nos fundimos, não havia como descrever, então simplesmente
aproveitei o passeio.
Empurrei para trás para encontrá-lo, absorvendo cada pequeno som que
ele fazia, desejando que seu aperto em meus quadris aumentasse para que
deixasse marcas para trás.
— Deus, Isaac. Você se sente tão bem pra caralho. Nunca vou ter o
suficiente de você.
Isso era bom porque me mataria se ele o fizesse.
Um de seus braços em volta de mim, sua mão no meu pau, mas eu a
afastei, ainda fodendo de volta para ele, encontrando-o impulso por
impulso.
— Você faz isso, e isso vai acabar antes que eu pegue um pedaço da sua
bunda também.
— Não pode acontecer isso — respondeu Lane, e se soltou. Eu gritei com
a perda dele, com o vazio que senti, mas Deus, queimei para possuir sua
bunda também.
Sentei-me de joelhos, rasguei a outra camisinha enquanto ele mordia,
lambia e chupava meu pescoço e ombros. Lane puxou sua camisinha, jogoua na lata de lixo, então deu em seu pau golpes preguiçosos.
Coloquei a camisinha, ajeitei, então adicionei mais lubrificante à minha
mão. Pressionei Lane na cama, de bruços, então inclinei uma perna para que
ele a dobrasse para frente. Empurrei dois dedos dentro dele, vi que ele estava
aberto o suficiente para mim e me ajoelhei atrás dele, montando sua outra
perna.
Ele estava me olhando por cima do ombro, seus olhos vidrados de uma
forma que eu nunca tinha visto, como se ele estivesse em êxtase, mas faminto
por mim também.
— Foda-me, Isaac. Por favor. Deixe-me sentir como é ter seu pau enterrado
tão fundo dentro de mim, você ser ainda mais parte de mim do que já é.
Minha ereção estremeceu, suas palavras puxando mais sentimentos de
mim do que qualquer outra pessoa jamais poderia. Porra, mas Lane queria
tudo, cada pedacinho de mim, e eu daria a ele. Mais uma vez, queria ser
propriedade dele.
Segurei sua bunda, separei, revelando seu buraco sexy, então pressionei
meu pau contra ele, observando, meu olhar incapaz de pousar em qualquer
outro lugar que não fosse onde eu o estava violando, onde eu estava
empurrando dentro dele, a luva quente de seu corpo me envolvendo.
— Porra... Lane... você nem sabe. Cristo, você se sente tão bem.
— Você também. Não posso acreditar que é você dentro de mim.
Seu buraco se abriu para mim, abriu espaço para eu afundar até que minha
virilha encontrasse sua bunda. Afastei-me lentamente, empurrei novamente
da mesma maneira, pegando-o gentilmente, saboreando esse sentimento e o
momento o máximo que pude.
Lane empurrou para a cama, claramente tentando friccionar sua ereção.
— Mais forte, Isaac. Eu quero forte, quero te sentir por dias.
Meu. Maldito. Prazer.
Empurrei meus quadris para frente do jeito que ele me pediu, longos,
profundos e rápidos empurrões de meus quadris. A cama bateu na parede.
O corpo de Lane vibrou. Nós fodemos tão brutalmente, eu pensei que o
mundo inteiro poderia nos ouvir, e eu queria isso, queria reivindicá-lo para
que todos soubessem que ele era meu.
Ele colocou a mão em volta de si e começou a acariciar, o que foi muito
bom porque, caso contrário, eu gozaria antes dele.
Meu orgasmo estava próximo, implorando e suplicando por mim, mas
continuei, alterei meu ângulo. Sua mão caiu e seu corpo começou a tremer.
As pálpebras de Lane tremeram enquanto ele fodia contra a cama
novamente. Seu buraco espasmou em torno de mim, seu sêmen jorrando de
seu pau, por todo o colchão.
Isso me enviou ao clímax, me lançou em minha própria liberação, arrepios
disparando pela minha espinha enquanto meu esperma fazia o mesmo no
preservativo... do jeito que logo faria no corpo de Lane.
Caí ao lado dele, beijei seu ombro. — Melhor sexo de todos os tempos.
— Sim... nós vamos fazer muito isso de agora em diante — Lane
respondeu.
Não pude segurar meu sorriso... e eu não queria.
Lane
Realmente precisava sair com Isaac. Passamos as últimas semanas
fodendo, eu pintando, ele trabalhando, ou apenas passando o tempo juntos,
e enquanto eu queria estar com ele, a única vez que saímos do apartamento
juntos foi para fazer coisas como ir ao supermercado ou passear pelo Parque
Piedmont. Enquanto minha pintura ainda estava fluindo como um louco,
ainda circulando em torno de Isaac e eu, eu estava começando a ficar louco.
Kylie me convidou para sair algumas vezes, mas sempre disse não porque
queria estar com Isaac e porque sabia que ela estava interessada em mim.
Honestamente, eu também estava um pouco interessado, mas isso foi antes
de Isaac.
Tinha certeza de que ele sentia falta de sair também. Ele sempre foi
assíduo em bares e dança e estar perto de pessoas. Mas agora era como se
tivéssemos medo de sair da nossa confortável bolha, como se achássemos
que se deixássemos seu apartamento, tudo mudaria.
Quando soube de uma nova exposição em Atlanta, fui em frente e comprei
ingressos para nós, disposto a forçá-lo a sair de casa por uma noite, se fosse
necessário, mas não achei que chegaria a isso.
Perdi a noção do tempo como tantas vezes fazia, e ainda estava pintando
quando Isaac enfiou a cabeça no estúdio.
— Você é a pessoa mais nua que já conheci.
— Não acredito que seja uma palavra.
— Ah, bem, desculpe, professor. — Ele riu. — Não tinha ideia de que você
era tão exigente com a gramática correta.
— Faça certo da próxima vez, ou terá que ser punido... Na verdade, faça
errado para que eu possa bater em você.
— Você deseja. — Isaac respondeu, então deu de ombros. — Pode ser
divertido. Talvez tentemos em algum momento. — Ele entrou e se sentou no
colchão.
— Gosto de me sentir livre quando estou criando. Não sou fã de roupas.
Elas restringem, então se eu tiver uma escolha entre elas e ficar sem, escolho
a última opção. Você está reclamando?
Ele estendeu a mão, segurou minhas bolas, então traçou um dedo da base
do meu pau macio até a ponta. — De jeito nenhum.
— Infelizmente, nós dois vamos precisar de roupas porque vamos sair. —
Isaac olhou para mim, suas sobrancelhas franzidas, então eu expliquei. —
Há uma nova exposição de arte. Eu... eu gostaria de te levar para um
encontro. — Um sorriso dividiu seu rosto. — O quê? — Isaac enfiou a mão
no paletó, tirou o telefone e me mostrou algo na tela. Uma risada saiu da
minha boca. Ele também conseguiu ingressos. — Grandes mentes.
— Estou triste por não ficarmos nus, no entanto.
— Bem, podemos tentar, mas aposto que se o fizermos, terminaremos a
noite na cadeia. Nunca fui preso. Sou a favor de novas experiências.
Com um sorriso, Isaac disse: — Sim, porque isso vai acabar bem. O pintor
de belas artes Lane Ryan foi preso por indecência pública ao lado de seu irmão, com
quem soubemos que ele está em um relacionamento sexual.
— Ei, Debbie Downer5, pare de arruinar minha diversão — provoquei.
— Ei, eu estava me divertindo também. Somos filhos da puta bizarros. —
Isaac agarrou meu pulso e me puxou para ele. Fiquei entre suas pernas. Ele
se inclinou para frente, deu um beijo na ponta do meu pau, então o chupou
O nome Debbie Downer foi popularizado por um esquete de sucesso do Saturday Night Live estrelado por
Rachel Dratch, que interpretou uma personagem chamada Debbie Downer . Esse personagem sempre arruína
a diversão de um grupo ao compartilhar comentários tristes não solicitados.
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em sua boca antes de se afastar. — Você tem sorte que eu te amo. Estou
disposto a sacrificar uma noite passada com seu pau entre meus lábios.
Aposto que poderia fazer isso, te chupar a noite toda, mas não, temos que
sair e ser sociais como pessoas normais.
Eu ri, esfreguei a mão sobre sua cabeça e a inclinei para que ele olhasse
para mim.
— Eu também te amo. E vai ser bom para nós. Então, depois, podemos ver
quanto tempo você pode durar sendo meu pequeno aquecedor de pau.
— Talvez eu tenha mudado de ideia até lá e queira que as posições sejam
invertidas.
— Então serei eu babando em suas bolas a noite inteira. Eu provavelmente
poderia durar mais de qualquer maneira.
Isaac soltou uma gargalhada alta. — Como desejar! Na verdade, talvez eu
também. É realmente uma disputa acirrada.
— Vamos. Vamos tomar banho para que possamos nos preparar para o
nosso encontro. — Puxei Isaac para levantar-se, e ele veio facilmente. Eu
sabia que as coisas não seriam sempre assim, tão simples, mas enquanto
fôssemos apenas nós dois, poderíamos fingir.
O jantar foi ótimo. Fomos a uma churrascaria sofisticada. Fiquei grato por
termos conseguido uma mesa em tão pouco tempo. O lugar estava cheio do
que parecia ser principalmente casais, pessoas em encontros, ou o tipo de
pessoa que trabalhava na firma de Isaac, lá para reuniões de negócios.
Nós não éramos irmãos dentro daquelas paredes, não para ninguém lá.
Éramos apenas dois homens em um encontro juntos.
— Gostaria de ver nossa lista de vinhos? — O garçom perguntou. Ele
parecia ter vinte e poucos anos, com cabelos ruivos, sardas esparsas e um
maxilar matador. Seu olhar disparou para frente e para trás entre Isaac e eu,
talvez com interesse? Como se ele estivesse admirando a vista, mas não
pudesse dizer se estávamos juntos ou apenas saindo.
— Gostaria de uma cerveja — disse Isaac, olhando para o menu. Escolheu
uma que eu nunca tinha ouvido falar, algo sem dúvida de alta qualidade. —
Lane? — Seu olhar cintilou em minha direção.
— Quero o mesmo — respondi assim que Isaac olhou para o garçom, que...
Estava corando? Só porque Isaac olhou para ele? Não que eu estivesse
surpreso. Ele tinha esse efeito nas pessoas.
— Claro. Vou pegar logo. Gostaria de ouvir as nossas promoções?
Isaac assentiu, e o garçom divagou, tropeçando em algumas palavras e
claramente esquecendo que eu estava lá. Quando ele disse que nos daria um
momento e voltaria com nossas bebidas, eu disse a Isaac: — Nosso garçom
tem uma queda por você.
— A maioria das pessoas tem uma queda por mim — ele respondeu. —
Você pode culpá-lo?
Aquele era cem por cento o Isaac que eu conhecia e amava. — Tão
humilde.
— Tão honesto. — Piscou, e nós rimos.
Isaac pediu bife enquanto pedi um prato de frango. Bebemos nossa cerveja
e conversamos. Era uma pequena mesa com um pano branco, cada um de
nós com um braço sobre ela, nossos dedos se enrolando e provocando um
ao outro de uma maneira que nunca tínhamos feito em público antes. Seria
estranho se alguém que conhecêssemos entrasse, mas naquele momento, não
me importei. Só queria estar com ele, queria apreciá-lo e reivindicá-lo e
recuperar um pouco do tempo que perdemos.
— Você sabe muito sobre a exposição? — Isaac perguntou alguns minutos
depois que nossa comida chegou. — Não tinha certeza se é um estilo que
você gosta, mas achei que é arte e você iria gostar de qualquer maneira.
— Não, é perfeito. Axel Trudeau tem peças lá. Esqueci que ele mora em
Atlanta. O encontrei algumas vezes na cidade. Seu trabalho é incrível.
Ninguém usa a cor do jeito que ele faz.
Enquanto eu falava sobre estilo e artistas e o que estava mais animado
para ver, Isaac ouvia, seu simples toque na minha mão, dedos tocando o
tempo todo. Ele só se afastava quando precisava comer.
Ele sorria e fazia perguntas, nunca ficava constrangido quando eu tinha
que explicar algo para ele. Adorava isso nele - sua sede de conhecimento e
sua confiança. Isaac sabia muito sobre muitas coisas, mas se não sabia, não
fingia que sabia. Ele era muito autoconfiante para isso.
Eu queria que pudesse ser sempre tão fácil.
Quando o garçom voltou para perguntar se queríamos sobremesa, Isaac
olhou para mim e balancei a cabeça. — Nenhuma para mim também —
respondeu.
O jovem hesitou por um momento, então disse: — Vocês dois formam um
casal muito bom. Eu provavelmente não deveria admitir isso, mas às vezes
alguns de nós jogamos um joguinho chamado 'como eles estão
apaixonados'... e vocês dois... bem, apenas como vocês olham um para o
outro faz todo mundo desmaiar. Faz-me sentir esperançoso de poder ter isso
um dia. — Ele nos deu um sorriso rápido, então se afastou.
Meu olhar encontrou o de Isaac, que já estava em mim, e naquele
momento, nenhuma das outras coisas importava. Tudo era perfeito.
Usamos um serviço de carro para o local. Eram quase nove horas e,
embora tivesse começado a esfriar, a umidade ainda pairava no ar. Quando
paramos no meio-fio, olhei para o prédio branco com pilares grossos e
decorativos. Era em estilo colonial, com dois níveis de escada que levavam à
entrada.
Abri a porta do carro e saí, antes de estender a mão para Isaac. Ele se
aproximou, já que sua porta estava perto da rua movimentada, e me deixou
ajudá-lo a sair do carro. Eu queria continuar segurando sua mão, queria
entrelaçar nossos dedos para que todos soubessem que pertencíamos um ao
outro, mas Isaac soltou primeiro. Provavelmente foi o melhor. O tempo
estava errado, e nós realmente não tínhamos discutido como fazer isso,
apenas que precisávamos contar à nossa família primeiro e ainda não
estávamos prontos.
Ainda assim, senti falta do calor de sua mão instantaneamente.
Mostramos nossos ingressos e fomos admitidos. A entrada era vasta, com
um grande lustre de cristal pendurado no meio. Dava para um amplo espaço
decorado de maneira semelhante, como se você estivesse entrando em uma
revista de belas artes, com pinturas ao longo das paredes e outras peças pelo
meio. Cada uma delas tinha uma corda em volta delas para que não fossem
tocadas ou derrubadas. O lugar já estava lotado, e as pessoas andavam por
ali, olhando, discutindo, dissecando. Outros estavam em pequenos grupos,
conversando.
— Este é o seu show. — disse Isaac. — Mostre o caminho, e eu o seguirei.
Mais uma vez, desejei poder alcançá-lo, mas não o fiz. Em vez disso, deilhe um sorriso, esperando que dissesse as coisas que eu queria que ele
soubesse. Que eu apreciei esta noite que nós dois decidimos, sem que o outro
soubesse. Que eu o amava e estava emocionado por passar um tempo com
ele dessa maneira, sabendo o segredo que guardamos entre nós.
— Por ali. — disse a ele, movendo-me para a direita.
Fomos a uma exposição de três pinturas de uma série - a mesma casa, na
floresta, uma claramente quando era nova, outra anos depois, e a terceira
quando estava caindo e negligenciada. A primeira era a mais brilhante, a
mais feliz, a último, triste e solitária.
— É muito bonito, não é? O que você pode dizer com imagens? As coisas
que pode te fazer sentir? Tipo... meu coração se parte por esta casa e pelas
pessoas que moravam lá, a alegria que ela trazia, e depois vê-la
abandonada... Quase dói. — Esfreguei a mão no meu peito.
— Eu acho... — Isaac respondeu: — Acho que você é bom nisso, em ver
profundamente e sentir a solidão em alguém ou alguma coisa. Posso ver o
que você quer dizer, mas não sinto. Você parece mais profundo do que a
maioria. Fez comigo, e faz com essas pinturas também.
— Você me mostrou quem você é. Dê a si mesmo algum crédito. Por
alguma razão, você nunca se escondeu comigo.
Isaac suspirou. — Não, acho que não.
Passamos para a próxima e para a próxima, examinando e discutindo cada
peça que encontramos. Estávamos na quarta quando ouvi: — Lane! Não
sabia que você viria! — quando Kylie se aproximou com outras três pessoas.
Os nervos automaticamente se torceram e apertaram em meu estômago. Eu
não queria que nada atrapalhasse esta noite.
— Oi, Kylie. É tão bom te ver!
Ela beijou minha bochecha e me deu um breve abraço, então olhou para
as pessoas com ela.
— Este é Lane Ryan. Ele está na cidade com a família por um tempo.
— Ah, uau. Lane, adoro seu trabalho. Você veio do nada e conquistou o
mundo. Deve ter sido incrível trabalhar com Magdalena. Realmente amei
sua série Cenas a partir do Sótão. Sou Christopher. É uma honra conhecê-lo.
Senti Isaac ficar um pouco tenso ao meu lado. Enquanto minha família
acompanhava minha carreira, não era como se eles soubessem todas as peças
que pintei, mostrei ou vendi, e eu sabia que se Isaac soubesse sobre Cenas a
partir do Sótão, teria mencionado.
— Obrigado. Obrigado. É ótimo conhecê-lo também.
Kylie me apresentou à outra mulher e homem com ela antes de olhar para
Isaac. — Eu acredito que este seja Isaac, o irmão sempre indescritível? — Ela
perguntou, fazendo aquela sensação de torção explodir minhas entranhas,
cada pedaço da carnificina um peso pesado dentro de mim.
— Meio-irmão, sim. — Respondeu Isaac. — Nossos pais se casaram
quando éramos adolescentes. Isaac Pierce. — Não havia indício de seu
desconforto no som de sua voz. Era legal, calmo e controlado, do jeito que
Isaac sempre soava, mas eu sabia que não. Ele estava curioso sobre a série,
mas também queria muito me reivindicar, dizer a eles quem eu era para ele
e apagar a palavra irmão do vocabulário deles quando se referia a nós.
Kylie franziu um pouco a testa, claramente sem saber como reagir a isso.
Falei sobre estar perto dele e o chamei de meu irmão, então para ela, deve
ter soado como animosidade entre nós.
— Meio-irmão. Sinto muito. — disse ela.
— Obrigado. — Isaac respondeu, sem dizer a ela que estava tudo bem.
— O que você acha até agora? — Kylie perguntou.
O nosso grupo discutiu nossos pensamentos sobre algumas das artes em
exibição, eu não tendo visto tanto quanto eles. Isaac ficou quieto, mas ficou
perto de mim. Kylie tocava meu braço com frequência quando
conversávamos - sendo amigável, sim, mas considerando que eu sabia que
ela estava interessada em mim, tentei manter distância sem ser rude. Sabia
que não iria gostar se a situação fosse invertida, e Isaac provavelmente sentiu
de alguma forma.
Mais algumas pessoas se aproximaram de nós enquanto conversávamos,
a maioria conhecendo Kylie, outras perguntando se eu era Lane Ryan, tendo
me reconhecido de um evento ou outro.
Estava prestes a tentar fugir quando dois homens se aproximaram. Ambos
tinham cabelos escuros cortados curtos, e um deles era mais alto. Eles
estavam de mãos dadas. Kylie os notou imediatamente. — Krishna, Aanan,
é bom ver vocês.
— Oi, pessoal. — Christopher disse, aparentemente os conhecendo.
— Este é Lane Ryan e seu meio-irmão, Isaac Pierce. — Kylie nos
apresentou, mas eu poderia dizer pelo brilho nos olhos de Aanan e pela
maneira como ele olhou para Isaac com familiaridade confortável que já se
conheciam.
— Oi, é bom ver vocês dois. — disse Isaac, olhando em minha direção
antes de olhar eles novamente.
— Você também. Já faz muito tempo. — respondeu Krishna, sua voz
levemente paqueradora.
A conversa voltou para a arte, e eventualmente Aanan e Krishna se
desculparam. Ficamos mais alguns minutos, mas assim que pude, eu disse:
— Se nos der licença, vamos terminar de olhar ao redor antes de irmos para
casa. Foi maravilhoso vê-la novamente.
— Você também. — respondeu Kylie. — Ligue-me. Eu adoraria sair algum
dia.
— Isso seria adorável. Eu sempre poderia ter mais amigos em Atlanta. —
Esperava que ela entendesse a mensagem de que só poderíamos ser amigos
sem que eu tivesse que soletrar. Eu não queria machucar Kylie, e eu gostava
dela.
— Eu a odeio. — Isaac disse suavemente quando nos afastamos.
Revirei os olhos. — Você não a conhece. Ela é muito boa.
— Ela quer foder com você, Lane. Não há uma pessoa no mundo que não
a considere uma combinação melhor para você do que eu, incluindo nossos
pais. Ela disse a todos que sou seu irmão, o que significa que mais pessoas
sabem a verdade, mais pessoas verão o que estamos fazendo de errado.
Tenho permissão para sentir algo por ela, mesmo que nada disso seja culpa
dela.
Suspirei. Esta deveria ser uma boa noite, e o jantar tinha sido perfeito.
Agora as coisas estavam começando a se desenrolar. — Mas ela não consegue
me foder. E independentemente do que todos vão pensar ou ver quando
olharem para nós, não vou me afastar de você. É isso que importa. E esses
homens? Quem são eles? Querem um pedaço seu. — Seu olhar disparou
para baixo e o ciúmes se espalhou como um vírus pelo meu peito. — Você
esteve com eles. — Sussurrei, para que outros não ouvissem.
— Não foi nada. Foi apenas sexo. Eles são casados. De vez em quando eles
querem um terceiro, e tenho sido isso para eles.
— Então você está com ciúmes de alguém que pode querer namorar
comigo quando há homens aqui que tiveram seus paus dentro de você? Ou
o seu neles?
— Merda. — disse ele, esfregando a mão no rosto. — Não sei como fazer
isso, Lane. Desculpe se estou estragando tudo, mas estou tentando aqui.
Tudo o que eu queria era que esta fosse uma boa noite para nós.
Paramos de andar, ao lado de uma escultura, que felizmente ninguém
mais estava.
— Só quero uma boa noite para nós também. Os casais discutem e se
frustram às vezes. Nós apenas temos muito em nossas mentes.
Isaac assentiu, e desejei poder estender a mão e segurar seu rosto e beijar
seus lábios.
— Eu sei. — disse ele. — Vamos. Vamos continuar.
Continuamos percorrendo as telas. Estávamos perto do fim quando nos
aproximamos de uma exposição com dois outros homens olhando para ela.
Assim que chegamos perto, percebi que eram Krishna e Aanan.
— Ei. — disse Krishna. — Gostaria de te ver novamente. — Seus olhos
percorreram o comprimento de Isaac, fazendo a possessividade criar raízes
em todo o meu corpo.
— Krishna. — Isaac respondeu.
O olhar de Krishna disparou de Isaac para mim, depois voltou. — Você
tem planos para mais tarde? Ou nesta próxima semana? Aanan e eu
estávamos apenas dizendo que não saímos há algum tempo. — O que ele
disse era inocente o suficiente. Ele não saberia que Isaac tinha me dito que
ele tinha fodido os dois. E no que dizia respeito a Krishna, Isaac e eu não
éramos nada além de meios-irmãos.
Tudo borbulhou então, muito quente e fora de controle para eu fazer
qualquer coisa sobre isso. Não tinha passado muito tempo, mas eu já estava
tão cansado disso, com raiva que a primeira vez que saímos juntos foi
arruinada pela realidade da nossa situação.
Eu não conhecia Krishna e seu marido, e não conseguia me importar com
o que eles pensavam. Antes que Isaac pudesse responder, minha boca estava
se abrindo, as palavras estavam saindo que eu provavelmente deveria ter
discutido com ele antes de dizê-las, mas novamente, me sentia impotente
para impedir.
— Isaac não está mais disponível. — Meu braço se levantou, minha mão
parando na parte inferior de suas costas.
Os olhares dos dois homens dispararam entre nós. Eu não podia arriscar
virar, não podia arriscar olhar para Isaac caso ele estivesse chateado, por que
o que diabos eu estava fazendo? Eu não tinha o direito de nos revelar sem
perguntar a ele.
— Sinto muito. — disse Krishna. — Nós não sabíamos.
— É complicado. — respondeu Isaac.
— Posso imaginar que sim. — disse Aanan.
— Eu apreciaria sua discrição. — Isaac disse a eles, fazendo a culpa crescer
dentro de mim.
— Claro. — respondeu Krishna. — Nosso relacionamento também não é
normal para os padrões da sociedade. Nós fodemos homens juntos. Nossos
pais não… vamos apenas dizer, não iria bem em nossas famílias, mas é quem
somos, e os outros não decidem quem amamos ou como fazemos isso. Cada
pessoa consegue fazer isso por si mesma. O mundo está cheio de pessoas
julgadoras que querem que todos vivam do jeito que vivem, que pensam que
sua definição de amor ou vida é a única correta, quando na realidade não há
regras, exceto aquelas que fazemos para nós mesmos.
Tanto Krishna quanto Aanan nos deram sorrisos tristes, e então Aanan
disse: — Quem teria pensado que Isaac Pierce seria domado e monogâmico?
Isaac riu. — Por causa dele.
Saímos depois disso. Não conversamos muito durante a viagem de carro
para casa - não com alguém que não conhecíamos nos levando. Eu devia um
pedido de desculpas a Isaac, no entanto. Eu não tinha o direito de agir do
jeito que agi, de expor nossa verdade do jeito que fiz. Esperava que ele não
estivesse chateado, mas era difícil me arrepender. Eles queriam o que era
meu, e eu não queria compartilhá-lo.
No segundo em que estávamos no apartamento e fechei a porta atrás de
nós, eu disse: — Desculpe, eu...
A boca de Isaac interrompeu o resto do meu pedido de desculpas. Minhas
costas bateram contra a parede, meu corpo pressionado entre ela e Isaac. Ele
empurrou seu pau contra mim, devorou minha boca enquanto mãos
urgentes foram para minhas roupas, rasgando, puxando, tirando-as.
— Nunca se desculpe por querer que alguém saiba que sou seu.
Nós tropeçamos para o quarto, onde transamos e entramos nos corpos um
do outro, fazendo nossa reivindicação.
Isaac
— Sem ofensa, Hutch, mas você parece uma merda. — Provoquei meu
amigo quando ele se juntou a mim em um restaurante local.
— Tento fazer isso quando estamos juntos. Eu sei o quão difícil deve ser
para você... estar perto de alguém tão atraente quanto eu. Isso te machuca
muito?
Eu ri. — Você é um idiota.
— É preciso ser um para reconhecer outro.
Quando nossa garçonete chegou com nossa água, Hutch agradeceu.
Dissemos a ela que precisávamos de um momento para decidir, e ela nos
deixou.
— Sério, porém, com aquele namorado sexy que você tem em casa, por
que não está sorrindo? Por que parece que alguém chutou seu cachorrinho?
— Perguntei a ele, mesmo que dada a minha própria situação, eu poderia
entender as questões mais do que estava deixando transparecer.
— Eu odeio esse ditado.
— Isso porque é eficaz. Todo mundo adora cachorros. — Mas a verdade
era que eu tinha a sensação de que sabia o que tinha acontecido. Eu poderia
dizer que isso era mais do que apenas a confusão que eu tinha visto nele
quando fomos para o Revelry. — Madison descobriu?
— Sim. Naquela manhã logo depois que você saiu, na verdade. Ela pegou
nós juntos.
— Meu Deus, Hutch. E você não disse nada?
Ele arqueou uma sobrancelha. — Você está surpreso?
Eu não estava porque também não tinha contado a Hutch sobre Lane e eu.
Eu queria, queria poder compartilhar isso com alguém, e parte de mim sabia
que podia. Lane deixou isso óbvio para Krishna e Aanan, mas era diferente
com Hutch. Eu me importava com ele de uma maneira mais profunda. E se
ele me olhasse com nojo? E se pensasse que o que Lane e eu estávamos
fazendo era errado? Eu faria isso de qualquer maneira porque amava Lane,
mas não queria perder Hutch. Doeria, e eu estava cansado de ser
machucado.
— Não, não, não estou. Claramente, não ficou bem.
— Vamos pedir primeiro. Então podemos conversar.
Quando a garçonete voltou, nós dois pedimos salmão grelhado e arroz.
Nós brincamos por um minuto antes de ele começar.
— Eu não sei totalmente o que dizer. Estou apaixonado pelo ex-marido da
minha irmã. Ela está magoada e com raiva. Pediu um tempo. Ela levou cinco
anos para superar a última vez que Ryder a machucou. Meu pai me odeia e
minha mãe está tentando fingir que ela é a parte neutra, o que realmente
significa que está apoiando meu pai.
Foi a resposta mais ridícula, mas sorri.
— O que acabei de dizer lhe dá a necessidade de sorrir?
— Você disse que está apaixonado por ele tão facilmente. — Eu me
perguntei o quão libertador era. Foi quando contei a Lane, e presumi que
anunciá-lo ao mundo também faria, mesmo com a dor que o acompanhava.
Ele desviou o olhar. — Cale-se.
— Realmente maduro.
— Nunca afirmei ser.
— Desculpe, Hutch. Já disse isso antes, e repito: você também merece ser
feliz. Nem todo mundo tem a chance de felicidade. Você não pode ir embora
quando tem uma chance da sua. — Eu não ia, agora que sabia que Lane
sentia o mesmo.
— Mesmo que machuque os outros?
— Sim. Talvez eu seja apenas um filho da puta egoísta, mas sim. O que
Ryder tem a dizer sobre tudo isso?
Ele me disse o quanto Ryder era solidário, mas que às vezes sentia raiva
dele, inveja porque os pais de Ryder tinham sido mais receptivos. Tentei não
pensar na minha própria situação, que se eles pudessem se sentir tão
magoados por um ex-cônjuge, o que amar um homem que sua família
considerava seu irmão causaria?
Mas isso não era sobre mim. Isso era sobre Hutch. Só tivemos mais alguns
minutos de conversa antes que ele dissesse: — Chega de falar de mim.
Vamos falar sobre você. O que está acontecendo com você?
Desviei o olhar e balancei a cabeça. Com um suspiro, voltei-me para
Hutch. — Não posso. — Porque não importa o quê, eu não estava pronto
para a resposta. Não estava pronto para os olhares e as perguntas. Porque
parte de mim se preocupava que quanto mais pessoas soubessem, mais
difícil seria, e mais chance havia de eu perder Lane. — Não posso te dizer
isso, Hutch. Não agora. Se fosse apenas sobre mim, eu falaria, mas não
posso... não quando sei que afeta outra pessoa. — Mentiroso... covarde. Eu
estava colocando a culpa em Lane quando deveria estar em mim.
A preocupação de Hutch era clara. Ele me ofereceu seu apoio, antes de
dizer que tudo o que eu lhe dissesse ficaria entre nós. Nossa comida chegou
na hora perfeita, dando-nos uma desculpa para mudar de assunto.
— Nós não vamos conseguir dormir juntos. — Lane disse enquanto
entrávamos em seu carro para irmos para a casa de nossos pais.
— Podemos entrar nos quartos um do outro. Foder no banheiro... dizer
que precisamos ir à loja comprar alguma coisa e encontrar algum lugar ao
longo do caminho para obter um pouco de ação. Isso seria divertido. Sexo
com um pouco de perigo é gostoso.
— E se não for apenas o sexo que sentirei falta, mas estar perto de você?
Ou estar abraçado com você? Você finge que não é, mas é um grande ursinho
de pelúcia, Isaac.
Ele dizia as coisas mais doces. Eu adorava, mas ao mesmo tempo também
queria dizer, Ewww, sentimentos. — Não sou. Retire o que disse.
Lane saiu da garagem. — Sim, você é.
— Não, não sou. Abraçar é nojento.
— Você gosta de me abraçar.
Eu gostava de ficar abraçado com ele.
— Mentiroso. — Respondi, estendendo a mão e a colocando em sua coxa.
Lane suspirou. — A verdadeira questão é que não podemos ser nada além
de irmãos neste fim de semana.
Ele estava certo. Seríamos lembrados por todos, em todas as situações, que
irmãos eram exatamente quem éramos para eles. Seria como aqueles
momentos com Kylie durante nosso encontro, só que com esteroides, e as
pessoas que estavam fazendo isso seriam pessoas que amávamos.
— Passei anos sendo assim. Posso sobreviver a um fim de semana de três
dias. — A diferença agora era que eu sabia como era tê-lo. Isso me mostraria
como seria se isso não funcionasse e eu o perdesse... só que de novo,
intensificado.
Lane disse: — Talvez algo aconteça e vamos perceber que podemos contar
a eles, pelo menos mamãe e papai, e que vai ficar tudo bem.
— Pode ser.
— Não se transforme em um Isaac rude e rabugento — ele brincou, e isso
aliviou um pouco o aperto no meu peito.
— Primeiro sou um ursinho de pelúcia, e depois sou rude e rabugento? Se
decida. Não estou gostando dessa descrição de imagem.
— Gostou da imagem que pintei de você de joelhos com meu pau na boca.
Sim, sim, eu gostei. Gostei muito disso.
— Excelente. Agora estou pensando em chupar seu pau — respondi,
ganhando uma risada dele. Desejei que nossos rostos não estivessem
borrados naquelas pinturas. Que não precisavam ser essas versões
distorcidas de nós, para sempre escondidas.
— Talvez eu encontre uma maneira de deixar mais tarde — Lane
respondeu.
— Isso é muito legal de sua parte. Olhe para os sacrifícios que está disposto
a fazer. Vai me deixar te chupar? Melhor. Namorado. De. Sempre.
Depois de mais uma rodada de risadinhas, depois um momento de
silêncio, Lane disse: — Eu gosto disso.
— Humm? Do quê?
— Quando você me chama de seu namorado.
Maldito seja se eu não sorri o sorriso mais estúpido e sentimental no meu
rosto. — Gosto disso também.
Lane
Minha tia Ophelia era irmã gêmea de mamãe. Elas sempre foram
incrivelmente próximas. Se o marido não estivesse no exército, duvido que
ela tivesse se afastado de mamãe. Ficou conosco por três meses depois que
meu pai morreu de ataque cardíaco, ajudando-nos a ficar de pé e aprender a
viver sem ele. Foi Ophelia quem pesquisou grupos de luto e encontrou
aquele que mamãe finalmente se juntou e que trouxe Timothy e Isaac para
nossas vidas. Ela nos provocava o tempo todo sobre como ela era uma
casamenteira para minha mãe e como ela me deu um ótimo irmão no negócio
também.
Eu amava minha tia. Ela e eu tínhamos um vínculo forte. Mesmo morando
na Flórida, meu tio tentou ser um pai para mim até que Timothy entrou em
nossas vidas. Eles tentaram nos mudar para lá com eles e vovó, mas mamãe
disse que a Georgia era sua casa, e graças a Deus por isso. Se não, eu não
teria Isaac.
Minha tia abriu a porta no segundo em que meu pé bateu no primeiro
degrau da varanda. Não esperava que já estivessem lá.
— Se não são meus dois sobrinhos favoritos! — Foram as primeiras
palavras que saíram de sua boca enquanto ela corria em minha direção para
um grande abraço. O que você pensaria se soubesse que dormi com ele todas as
noites? Que eu o amo e quero estar com ele?
— Ei, tia O. É bom te ver. — Dei-lhe um aperto forte.
Ela se virou para Isaac em seguida. — Eu sei que você é Senhor Calmo,
Tranquilo e Controlado, mas faz muito tempo desde que eu o vi, então vai
dar um abraço na sua pobre tia também? Senti tanto a falta de vocês,
meninos. Estou sempre me gabando para todos que conheço sobre como
tenho os dois melhores sobrinhos de todos os tempos. — Era um pouco
exagerado, mas era Ophelia. Ela era amigável e era basicamente como a luz
do sol em forma humana.
— Sempre tenho um abraço para você, Ophelia. — Isaac disse a ela, um
leve tom em sua voz que ninguém ouviria exceto eu. Não porque ele não a
amasse ou não se sentisse próximo a ela. Presumi que era porque ela estava
nos matando com a coisa da família e do sobrinho, e ainda nem tínhamos
entrado em casa.
Ophelia sorriu para nós, então bagunçou meu cabelo. — Vocês dois estão
próximos como sempre, eu vejo.
— Ele é meu melhor amigo. — Respondi. Achei que era assim que eu iria
nos abordar neste fim de semana. Eu não planejava chamar Isaac de meu
irmão. Um passo de cada vez.
— Ele está bem. — brincou Isaac.
— Você é um pirralho. — Ophelia o provocou.
— Pare de monopolizar meus filhos. — Mamãe disse atrás dela. — Os dois
podem estar em Atlanta agora, mas ainda não os vejo o suficiente.
Olhei a tempo de ver Isaac se encolher.
— Ei, mãe. — Eu disse, abraçando-a.
— Estou tão feliz por poder vê-lo novamente. — Ela me beijou na
bochecha antes de ir para Isaac. Ela colocou a mão na dele. — Você parece
cansado. Por que parece tão cansado? Lane, você está se certificando de que
seu irmão durma o suficiente?
Entre rodadas de foder seus miolos, sim.
— É ele que fica acordado a noite toda pintando. — disse Isaac.
— Bem, estou acostumada com isso dele, não de você. Algo está errado.
Você está bem? — Porque é claro que Helena Ryan-Pierce perceberia
imediatamente que algo estava acontecendo. Era assim que ela era.
— Ele está bem, mãe. — Respondi, assim que Isaac disse: — Estou bem,
Helena. Obrigado.
Ele piscou para mim. — Pare de me copiar.
Finalmente, elas nos deixaram entrar na casa. Tio Edgar e papai - Timothy
- estavam na cozinha, conversando sobre cerveja, um dos assuntos favoritos
de Edgar desde que ele fazia a sua.
Dissemos olá para os dois antes de eu perguntar: — Onde está a Nana?
— Estou bem aqui! — Ela chamou da direção das escadas. — Eu estava
cansada e ia tirar uma soneca, mas depois ouvi que meus meninos estão
aqui. — Ophelia e Edgar tinham três meninas, então eram sempre as meninas
quando falavam sobre elas e os meninos quando se tratava de Isaac e eu.
— Oi, Nana.
Houve mais olás, mais meninos e irmãos. Por mais que eu adorasse passar
tempo com a família, eu estava pronto para voltar para o apartamento de
Isaac e nos manter trancados longe do mundo novamente. Era muito mais
fácil lá.
A avó de Isaac, Marcie, chegou em seguida, com seu tio Pete. Os dois
moravam na Califórnia, que era de onde Timothy realmente era. Ele
conheceu a mãe de Isaac na faculdade, se apaixonou e, quando se formaram,
ele se mudou para a Georgia para ficar com ela.
Todas as minhas primas apareceram em momentos diferentes, com seus
maridos e filhos. Acabamos todos espalhados pelos Estados Unidos, Ellie em
Ohio, Wendy em Michigan e Taylor na Filadélfia. Ela era a única das minhas
primas que não era casada e com filhos.
A casa estava barulhenta do jeito que sempre ficava quando todos nos
reuníamos. Passamos um tempo no quintal, Isaac e Timothy na
churrasqueira. Era difícil me acostumar, mas decidi que ia trabalhar para
usar o nome de Timothy. Não sabia se isso importava, mas colocaria alguma
distância entre nós. Apesar de Isaac dizer que não queria que eu perdesse
chamando-o de pai, sabia que tinha que tentar mudar um pouco a dinâmica
familiar, esperando que isso ajudasse a longo prazo.
— Mamãe disse que você trouxe um cara para casa? — Perguntou Taylor.
Meu olhar piscou para Isaac, que estava perto. — Sim, mas nós
terminamos.
— Eu nunca tinha ouvido falar que você gostava de homens antes disso.
— Quando eu apenas dei de ombros, ela disse: — Achei que você ia deixar
a terra dos solteiros e se juntar às minhas irmãs. Mamãe está sempre me
incomodando por não me acomodar. Pelo menos ainda tenho você e Isaac
do meu lado.
Sim, não realmente, mas eu não poderia dizer isso a ela. — Sem
perspectivas?
— Não. Não é fácil encontrar a garota certa.
Taylor se assumiu alguns anos depois de Isaac. Foi mais difícil para
Ophelia e Edgar aceitar do que para mamãe e Timothy. Não que eles viraram
as costas para ela, mas estavam desconfortáveis com isso, desejavam que as
coisas fossem diferentes. Mamãe havia dito a eles que se eles se sentiam
assim por Taylor, eles deveriam se sentir assim também por Isaac, e que ela
não deixaria ninguém tratar seu filho daquela forma. Isso os acordou, os fez
ver que precisavam amar e aceitar Taylor do jeito que mamãe fez com Isaac.
— Eu sou mais como seu irmão. — Taylor estava dizendo. — Não sei se
quero.
Aborrecimento se instalou em meu estômago, o que era ridículo. Não era
como se Taylor soubesse que Isaac e eu estávamos juntos. Ele sempre disse
que não estava procurando um relacionamento, então eu não podia ficar
chateado com ela por acreditar em Isaac, mas a parte possessiva de mim
queria dizer a todos que ele era meu, que alguém tão grande quanto Isaac
me queria.
— Ele não é meu irmão — respondi sem pensar muito. — Na verdade.
Taylor franziu a testa como se estivesse confusa, mas ela não insistiu no
assunto e, exceto por Isaac, ninguém estava perto o suficiente para me ouvir.
— A comida está pronta! — Timothy chamou.
Tomei isso como um meio de escapar da conversa antes que Taylor fizesse
qualquer pergunta.
Tínhamos duas mesas compridas que havíamos tirado da garagem mais
cedo. Elas estavam lado a lado na grama. Todos nós fizemos nossos pratos –
frango, hambúrgueres, saladas de batata e macarrão – e fui até o Isaac para
que pudéssemos nos sentar juntos.
Foi difícil não estender a mão e tocá-lo. Agora que eu estava tão
acostumado com isso, queria fazer isso o tempo todo. Gostaria que
pudéssemos arranjar uma desculpa para voltar para o apartamento dele ou
pegar um hotel só para podermos descomprimir.
Tínhamos acabado de nos sentar quando Timothy ficou na cabeceira da
mesa, segurando sua garrafa de cerveja. Todos nós olhamos para ele. — Vou
manter isso curto e doce... Vocês todos sabem que não sou bom nessa coisa
de falar, mas eu queria ter um momento para agradecer a todos por terem
vindo. Já faz um tempo desde que toda a família se reuniu assim, e ter nossos
dois meninos perto de nós novamente... tem sido muito bom. Quando perdi
minha Leslie, achei que nunca mais amaria. Helena mudou isso.
Estendi a mão e coloquei minha mão na coxa de Isaac. Estava apertado, o
músculo flexionado. Naquele momento eu não me importava se alguém nos
visse. Eu só sabia o quão difícil era para ele ouvir sobre sua mãe.
— Serei eternamente grato por Helena ter entrado na minha vida. Ela não
só me ensinou a viver de novo, ela me deu outro filho que eu amo com todo
o meu coração, e para Isaac, o irmão que eu sei que significa o mundo para
ele, e para todos vocês também. Estou feliz que todos possamos nos unir
dessa maneira, porque a família é tudo o que importa. — Timothy gemeu,
esfregando a mão no rosto. — Eu não sou bom em todas essas palavras
bonitas. Obrigado, é tudo.
— Acho que você é melhor nisso do que imagina. — Mamãe disse a ele,
enxugando as lágrimas antes de se levantar para abraçá-lo. — À família!
Todos ergueram seus copos. Usei minha mão livre para fazer o mesmo. —
À família! — todos nós repetimos, as palavras ecoando na minha cabeça.
Isaac
Eu não poderia ter ficado mais surpreso com o que meu pai disse hoje. Ele
não era do tipo que se levantava e fazia discursos ou declarações públicas do
jeito que fez. Eu não tinha certeza de onde tinha vindo, mas ele fez meus
pensamentos girarem o resto do dia.
Enquanto os primos de Lane, primos em segundo grau e meu tio ficariam
todos hospedados em um hotel no fim de semana, Ophelia, Edgar e as avós
ficariam na casa. Helena e Ophelia aproveitaram cada momento que podiam
para estar perto.
Era por volta das sete horas quando a maioria saiu. Eu não estava me
sentindo bem, ainda tentando entender o dia, tentando me lembrar de
quantas vezes fomos chamados de irmãos, imaginando qual seria a reação
deles à verdade, quando papai disse: — Compramos um sofá novo com uma
cama extra para o sótão. Gostaríamos de saber se vocês querem dormir lá em
cima. Assim, a vovó pode ficar com o seu quarto, Isaac, a Nana pode ficar
com o de Lane, e Ophelia e Edgar dormirão no quarto de hóspedes.
— Não sei. Ele meio que fede. — Eu disse, tentando fingir que meu pau
não ficou muito animado com o fato de que Lane e eu estaríamos dividindo
um quarto neste fim de semana.
— Eu sou borracha e você é cola. — Lane respondeu com uma piscadela.
Eu realmente gostaria de poder dizer a ele que não haveria nada e que eu
estava aderindo a ele, mas tínhamos que ser um segredo e tudo mais.
Todos estavam cansados do dia e das viagens, então decidiram que
queriam ir para seus quartos mais cedo para relaxar. Lane e eu fomos para o
carro pegar nossas malas, então seguimos para o segundo andar.
— Vou tomar um banho rápido. — Lane me disse.
A porta da minha avó estava aberta, a luz acesa, então eu disse: — Vou
visitar a vovó, depois tomo um.
Lane assentiu e seguimos nossos caminhos separados.
Enfiei a cabeça pela porta e disse: — Toc, Toc.
— Entre. — Vovó estava sentada na cama, com as costas encostadas na
cabeceira e um livro no colo. Eu adorava que ela ainda lesse livros de bolso
e não e-books. Era uma discussão que tivemos mais de uma vez.
Ela deu um tapinha no colchão, e me sentei ao lado dela.
— Como está meu doce menino?
— Bem. O trabalho está ótimo.
— E Lane está de volta. Tenho certeza de que isso ajuda. Vocês dois
sempre foram próximos.
Mudei de posição. — Sim, nós fomos. Estou feliz por ele estar aqui. — Eu
realmente precisava que ela não entrasse na conversa de família e sobre
como éramos bons irmãos ou algo assim. Não tinha certeza se poderia lidar
com mais disso.
— Seu pai me surpreendeu esta noite com aquele discurso. Eu sinto falta
dela, sua mãe. Era uma boa mulher. Você é igual a ela – engraçado, confiante,
sabe iluminar cada cômodo que entra. As pessoas gravitam em torno de você
do jeito que fizeram com ela. Seu pai se apaixonou desde o primeiro
momento em que a conheceu.
Olhei para baixo, tracei meu dedo sobre o padrão no edredom.
— Sim, eu sei. Ela era a melhor.
— Fomos abençoados com duas mulheres maravilhosas... sua mãe e
Helena.
Não respondi porque não sabia como. Todos os caminhos levavam de
volta a Lane e eu sendo uma família. — Você é muito parecido com seu pai
também, do jeito que você guarda tanto dentro de si. Há muito mais
acontecendo do que você mostra ao mundo, mas você é diferente na forma
como lida com isso. Seu pai, que Deus o abençoe, lutou para seguir em frente,
enquanto você luta por outras pessoas. Eu acho que você faz isso mais do
que você imagina – se segurando, não colocando seus próprios desejos ou
necessidades em primeiro lugar porque você está sempre preocupado com
as pessoas que você ama.
Se isso fosse verdade, eu provavelmente não estaria fodendo meu irmão.
Também não estaria disposto a ter um relacionamento com ele, secreto ou
não, independente do resultado, o que eu estava. Isso me fez egoísta, mas eu
o queria, e enquanto ele me quisesse, eu o teria.
— Eu não sei sobre isso, vovó.
— Bem, eu sei. Você é um bom homem, e nós te amamos. Sempre te
amaremos. Eu sempre vou te amar, não importa o que aconteça.
Eu me levantei, me inclinei e beijei sua bochecha. — Eu também te amo.
Acho que ouvi o chuveiro parar. Estou tomando banho depois de Lane e
depois dormirei.
— Você é teimoso também. Não tenho certeza de onde você tirou isso. Só
sei que não fui eu.
Eu ri, caminhei até a porta e peguei minha bolsa, que deixei lá. — Boa
noite.
Ela perguntou se eu podia fechar a porta, e fechei. Fiquei no corredor,
esperando Lane terminar. Ele saiu em um short manchado de tinta, e pelo
que parece, sem cueca porque ele queria me matar. E porque ele adorava
ficar nu. — Saia do caminho, bunda lenta. — Eu disse brincando.
Ele se inclinou, sua boca perto do meu ouvido enquanto sua voz diminuiu
para um sussurro.
— Você gosta da minha bunda.
— Eu amo sua bunda. — Sussurrei de volta, passando meus dedos sobre
os globos grossos muito mais rápido do que eu queria.
— Você é atrevido.
Meu pau se contraiu. — Vá para o sótão, Lane. — Porque se ele não fosse,
eu o puxaria para o banheiro comigo, e estava determinado a ser bom
enquanto estivéssemos em casa.
Ele franziu a testa. — O que há de errado?
— Nada. — Respondi, mas isso não era verdade. Eu o queria, e estava
pensando no papai, no que a vovó tinha dito, e agora na minha mãe. O que
ela pensaria se soubesse sobre mim e Lane? De alguma forma, sabia que ela
seria solidária. Que não seria errado para ela. Saberia que eu estava feliz, e
isso seria o fim da discussão.
— Vou subir em alguns minutos.
Lane assentiu e foi. Meu banho foi rápido, focado em me limpar e não
deixar meus pensamentos vagarem.
Coloquei uma cueca boxer e short, depois fui para o sótão, parando apenas
para trancar a fechadura. Se de alguma forma acabássemos nos braços um
do outro, não queria ser pego.
Nossos pais devem ter levado a roupa de cama mais cedo. Lane já estava
sentado, travesseiros apoiando-o contra o encosto do sofá. Havia um lugar
aberto ao lado dele, mas...
— Existe uma razão para não haver travesseiros lá?
— Sim, eu os peguei.
Joguei minha bolsa ao lado do sofá e ri. — Você é um pirralho.
— Sei que você é, mas o que eu sou?
— Nós voltamos no tempo esta noite? Primeiro o comentário sou borracha
e você cola, e agora isso?
— Parece um pouco, não é? — Os cantos de seus lábios viraram para baixo.
Sim, sim, parecia.
O sofá estava encostado na parede, embaixo da janela. Havia uma
mesinha de cabeceira ao lado de Lane, com uma lâmpada sobre ela, as
pequenas diferenças em nosso espaço me incomodando, embora eu não
tivesse o direito de sentir isso.
Acendi a luz principal, mas a lâmpada de Lane ainda estava acesa. A lua
estava alta no céu, brilhando pela janela e pelas cortinas parcialmente
abertas.
— O que é Cenas a partir do Sótão? — Perguntei. Eu não tinha perguntado
desde que eu tinha ouvido falar sobre isso.
— É uma série emocional. Silhuetas de pessoas ao longe, mas todas através
de uma janela de quatro vidraças. Depende da cor para o humor – o céu,
nuvens, chuva, sol ou não, tudo esperançosamente trazendo a emoção
dessas silhuetas ao fundo. Vendeu por... muito dinheiro. Posso mostrar para
você online.
— Parece lindo.
— Eu acho que era para você... ou porque meu tempo aqui com você foi
tão importante para mim, mesmo que eu não percebesse que era isso que eu
estava fazendo. Apenas pensei que amava o sótão, não que eu adorasse o
sótão porque você passou um tempo comigo aqui.
— Quem é o ursinho de pelúcia agora? — Perguntei, tentando não o deixar
ver o quanto isso significava para mim.
— Você. — respondeu Lane.
— Mentiroso, mentiroso, seu nariz está crescendo. — Sorri. — Eu sei que
é cedo, mas vou dormir.
— Eu quero desenhar por um tempo. A luz vai mantê-lo acordado?
— Não. — O som de seu lápis arranhando o papel era sempre relaxante, e
dormi muitas vezes neste espaço com as luzes acesas e Lane me desenhando.
Ajoelhei-me no colchão, inclinando-me para dar um beijo em sua boca
enquanto puxava dois travesseiros atrás de suas costas. — Peguei você! —
Pisquei.
— Você é um trapaceiro.
— Eles são meus travesseiros! Você já tem dois.
— Primeiro a chegar, primeiro a ser servido. — Ele brincou de volta.
Enrolei-me de lado, de frente para ele. Lane pegou um caderno de desenho
e um lápis de sua bolsa. Observei sua mão gentil e habilidosa, focado no som
que acompanhava Lane e sua arte. Não demorei muito para cair na
escuridão.
— Quer jogar um pouco mais? — Meu amigo Darnell me perguntou.
Era hora de ir para casa, mas sabia que não teria muitos problemas se estivesse
apenas alguns minutos atrasado. Estávamos nos divertindo muito brincando no
parque. — Só uns dez minutos, e então preciso ir.
— OK!
Acabou sendo vinte antes de finalmente me afastar do jogo. Ugh. Eu odiava ter
que estar em casa em um determinado horário. Que mamãe queria que eu aprendesse
a ter responsabilidade e coisas assim. Por que eu não podia simplesmente me
divertir?
Mas então, eu sabia que tinha sorte também. Minha mãe era minha pessoa favorita
em todo o mundo, e me dizia todos os dias que eu era a dela. Todos os meus amigos
sempre diziam o quão incrível ela era. Ela sempre assava biscoitos e brincava conosco.
Quando tínhamos festas do pijama, era sempre na minha casa.
Corri todo o caminho para casa. A TV estava funcionando suavemente quando
irrompi pela porta da frente. Esperei ouvir minha mãe gritar, como sempre fazia: —
Esse é o meu Isaac? — E eu me aproximava dela e tentava assustá-la. Mas não
veio.
— Mamãe! Desculpe estou atrasado. — Olhei para a sala de estar, e ela não estava
lá. — Mamãe! — Chamei novamente, comecei a correr em direção à cozinha, mas
parei para tirar os sapatos porque ela não gostava deles em casa.
Devíamos fazer um bolo para o papai antes do jantar. Eu tinha esquecido disso, e
esperava que ela não tivesse começado sem mim.
Virei-me para a cozinha, minhas meias me fazendo deslizar pelo chão. Tentei me
segurar, mas não consegui, meu coração se apertou por um segundo quando desabei,
olhei para ela e a vi deitada no chão da cozinha.
Lane
— Não! — disse Isaac, sua voz abafada, mas em pânico ao meu lado. —
Sinto muito. Mamãe, acorde. Sinto muito.
Meu coração estremeceu com as palavras familiares, mas que eu não tinha
ouvido dele desde que éramos adolescentes. Toquei as costas da minha mão
contra sua bochecha, então balancei seu ombro. — Isaac, acorde. Você está
tendo um pesadelo.
Eu o acordei assim muitas vezes antes, e assim como nas outras vezes, seus
olhos imediatamente se abriram, seu olhar aguado pousando em mim. Eu
poderia dizer que ele estava chateado hoje, mas foi pior depois do discurso
de seu pai, e ainda mais depois de seu banho. Eu silenciosamente me
amaldiçoei por não insistir mais, por não conseguir que ele falasse comigo
sobre isso, porque se eu tivesse pressionado o assunto, ele teria. Em vez
disso, tentei provocá-lo e ser brincalhão com ele, mas suas memórias e culpa
extraviada o encontraram de qualquer maneira.
— Porra. — Ele grunhiu, tentando se afastar de mim.
— Ei, aonde está indo? Sou eu. Você nunca teve que se esconder de mim.
— Caí de lado, me inclinei e beijei a única lágrima em sua bochecha direita,
então passei minha língua pela esquerda antes de beijar lá também.
— Sinto muito. Não quis interromper seu desenho. Não sei por que tive
um pesadelo esta noite.
Eu fiz uma careta. — Você nunca tem que se desculpar por isso. Não há
lugar que eu prefira estar além daqui para você quando precisar de mim.
Ele me deu um sorriso triste, tentou fingir que não estava tão chateado
quanto estava.
— Você está um pouco obcecado por mim.
— Você está fazendo isso de novo. Está tentando fingir comigo quando
sabe que nunca precisa. Não conosco. — Nunca quis que ele tivesse que fazer
isso comigo. Quando me inclinei novamente, meu cabelo caiu para frente e
roçou sua testa. — Sempre te vejo, Isaac. — Beijei o canto de sua boca.
— Eu sei.
— Você quer me dizer o que está errado em vez de não dizer nada desta
vez?
Ele balançou a cabeça, mas o faria de qualquer maneira. Eu sabia que ele
iria. Ele não queria gostar de compartilhar comigo, mas ele gostava.
— Eu acho que é tudo... família estar ali, nosso segredo, o que meu pai
disse antes do jantar, e então vovó mencionou mamãe também, e... foda-se.
— Ele tentou se virar novamente, mas eu segurei seu rosto, mantive seus
olhos em mim.
— Não quero que tornemos as coisas mais difíceis para você. O que precisa
que eu faça?
— Diga-me que vai ficar tudo bem.
— Nós vamos ficar bem. — Respondi porque ficaríamos. Não importava
o que acontecesse.
— Eu não... não quero perder outra mãe. — Ele admitiu, e meu coração se
partiu por ele, quebrado em um milhão de pedaços, espalhados dentro do
meu peito.
— Você não vai, está me ouvindo? Não importa o quê, você não vai. Eu
nunca permitiria que isso acontecesse. Mesmo que demore um pouco para
recuperar, vou garantir que eles vejam como somos certos um para o outro.
Isaac assentiu lentamente, e eu não queria nada além de que ele
acreditasse em mim, mas eu sabia que palavras não seriam suficientes. Só
precisávamos ser nós mesmos, para encontrar aquela coisa entre nós que
tinha sido inexplicavelmente forte desde o início. Aquela coisa para a qual
sempre podíamos voltar porque era tão certo, nada parecia sem esperança
quando a tínhamos.
— Deixe-me te desenhar aqui, Isaac. Tire suas roupas e deixe-me desenhálo neste lugar que sempre foi nosso.
Ele empurrou o cobertor, em seguida, levantou os quadris, puxando o
short e a cueca para baixo e deixando-os cair no chão. — Como você me
quer?
— Parcialmente de lado e de costas, de frente para mim. Um braço
dobrado sob sua cabeça... Sim, simples assim — eu disse quando ele se
moveu para a posição. — Estique a perna de cima e dobre a de baixo na
minha direção.
Ele estava mole, seu pênis deitado nos fios de cabelo grosso em sua virilha.
Estendi a mão para ele, coloquei seu pau de modo que ficasse contra a coxa
de sua perna dobrada.
— Gostei disso. Porra, isso é perfeito. Você é tão lindo pra caralho, Isaac.
— Então é você. Vou tentar manter essa posição, mas posso te prometer
que meu pau não vai ficar mole, principalmente porque se estou nu, você
também tem que ficar.
Eu sorri. Sua resposta foi tão Isaac e tão malditamente perfeita.
Tirei meu short, então me sentei de pernas cruzadas na cama, de frente
para ele. Virei para uma página limpa, mesmo que eu já estivesse
desenhando Isaac em seu sono. Minha ereção já estava começando a crescer,
o sangue percorrendo para o meu pau enquanto eu o tomava, enquanto eu
passava a ponta do lápis no papel.
— Você deveria ter me desenhado assim quando éramos adolescentes.
Você ficaria duro tão rápido então? — Ele estendeu um braço, passou a mão
em volta de mim, e deu um afago no meu pau.
— Se eu visse você nu, eu teria. Além disso, sei como é o seu buraco ao
redor do meu pau, é claro que vou ficar excitado enquanto te olho deitado
para mim. Agora pare de se mover para que eu possa desenhar.
Isaac riu e fez isso. Não foi o melhor que já fiz. Minha mão tremia um
pouco, e eu queria chupá-lo e fodê-lo e ser tomado por ele enquanto eu
também precisava enraizar este momento em minha mente e memorizá-lo
no papel.
Havia muitas coisas ao mesmo tempo, e todas vinham de Isaac, do jeito
que tudo sempre girava em torno dele, do jeito que eu queria que fosse.
Trabalhei rápido, o riscar, riscar, riscar do meu lápis no papel um conforto
constante. Não importava o quanto eu tentasse, eu sabia que nunca iria
acertar, nunca poderia capturar Isaac perfeitamente porque ele era incrível
demais para replicar.
Ele ficou o mais quieto que pôde por um longo tempo. Não percebi
quando ele se aproximou, até que sua cabeça estava no meu colo, e ele
passou a língua sobre a ponta da minha ereção, chupou em sua boca, então
a beijou.
— Desculpe. Pré-sêmen. Preciso de você na minha língua.
— Essa foi talvez a coisa mais sexy que já aconteceu comigo. — Eu disse,
e ele sorriu meu sorriso favorito.
— Preciso melhorar meu jogo, então.
— Não sei se vou sobreviver. Agora volte para a posição. — Ele não tinha
que ficar parado, não realmente. Eu conhecia cada contorno do corpo de
Isaac, cada curva e sulco de músculo, cada vale e osso. — Da próxima vez
vou desenhar você se masturbando, desenhá-lo logo antes de você gozar,
quando suas costas estiverem arqueadas e sua boca aberta em êxtase.
Quando seus olhos rolarem para trás e aquele primeiro jorro de esperma sair
de você e pintar seu peito.
— Meu Deus, Lane. — Sua mão abaixou, e ele deu a seu pau alguns
puxões.
Seus olhos estavam vidrados de luxúria enquanto ele me observava
eternizá-lo. Eu não conseguia superar isso, que Isaac me olhava daquele
jeito, que me queria tanto, que me amasse.
Era ridículo o quanto eu tinha prazer em vê-lo aqui, em puxar seu pau e o
cabelo entre suas pernas. De como os músculos flexionaram em suas coxas e
a tristeza misturada com adoração e luxúria em seu olhar.
Este momento, desenhando-o e estando com ele, de alguma forma ajudou
a melancolia, e eu estava feliz por termos encontrado uma maneira de
diminuir isso na companhia um do outro.
De vez em quando ele sorria para mim, acariciava seu pau ou o meu. Nós
dois amoleceríamos, mas então ele faria um som ou brincaria consigo
mesmo, ou comigo, e ficaríamos duros novamente.
— Riscar, riscar, riscar. Eu amo esse som — ele disse enquanto meu lápis
se movia pelo papel. — Soa como casa.
Foi a minha vez de dizer: — Jesus, Isaac. — Porque caramba, esse homem
me possuía. Eu passaria o resto da minha vida ganhando seu amor.
Olhei para o esboço, desejei que fosse melhor, desejei poder fazer justiça a
Isaac, sabia que poderia ter levado a noite toda e não teria, mas ainda assim,
ele era tão lindo. Por tantos anos ele foi minha musa, minha inspiração,
dando isso e ele mesmo para mim.
— Deixe-me ver. — disse Isaac, trazendo-me de volta ao momento com
ele. Quando Isaac o alcançou, deixei que ele pegasse o caderno da minha
mão. Observei-o enquanto ele olhava para o meu desenho. Prendi a
respiração, esperando por sua resposta.
— É apressado. Eu não queria demorar muito. Eu...
— Você é incrível — ele me interrompeu. Isaac tocou as pontas dos dedos
ao longo da página, do jeito que ele fez com a pintura também. — Ser sua
musa é ótimo para meu ego já inflado.
— Tem certeza de que pode ficar maior? — Provoquei.
— Ah, o que é isso? Está duvidando de mim, Lane? Isso é muito travesso
de sua parte... mas então, você também está me desenhando nu na casa dos
nossos pais, então acho que isso é normal?
— Você desperta isso em mim. — Puxei o caderno de sua mão e o coloquei
na mesa ao nosso lado. — Eu gosto de ser ruim com você. — Montei nele,
Isaac rolando de costas.
— O que mais você gosta de fazer comigo?
Eu sorri. — Te irritar. Para que servem os irmãos? — Apesar de nossa
situação e nossas preocupações, fogo brilhou em seus olhos quando eu disse
isso. Era... sexy de certa forma, um jeito sexy de jogar, mas então enterrei
minhas mãos em suas axilas e comecei a fazer cócegas nele. Era o segredo de
Isaac, como ele sentia cócegas, e ele começou a rir e me empurrar para longe
dele, mas me mantive firme.
Ele mexeu e arqueou até que minhas mãos caíram. Eu não podia controlálo e fazer cócegas nele ao mesmo tempo.
Isaac me virou, deitou-se em cima de mim.
— Você vai nos entregar — eu disse.
— Eu? Quem estava me torturando?
— Quem estava rindo? Eu gosto de fazê-lo fazer isso. Eu gosto de poder
fazer isso melhor do que qualquer outra pessoa.
Ele ainda estava em cima de mim, mas fui para suas axilas novamente.
Isaac lutou comigo, nós dois lutando no sofá-cama barulhento. Era perigoso,
e nós realmente deveríamos ter parado, mas eu adorava me divertir com ele.
Adorava atrair esse tipo de reação dele. Queria trazer esse Isaac ao invés
daquele que estava tão ferido de seu pesadelo ou nossa situação.
Eu estava ficando mais duro a cada segundo. O pau de Isaac pingava présêmen na minha barriga. O olhar em seus olhos mudou então, primitivo e
faminto, pronto para tomar o que ele queria, e maldito se eu não quisesse
tirar dele também.
— Devo te calar? — Ele disse, empurrando mais para cima de joelhos,
inclinando-se sobre mim, segurando seu pau enquanto traçava meus lábios.
— Nós vamos ter que ficar quietos. Se eu tiver que usar meu pau para fazer
isso, que seja. Quero muito você para não o ter aqui.
Aqui, no nosso espaço.
Abri minha boca para responder, mas não consegui porque Isaac enfiou
seu pau entre meus lábios. Levantei minha cabeça para torná-lo mais fácil
para ele foder minha boca. Suas estocadas eram profundas e lentas. Tentei
controlar o ritmo, me aproximar e acelerá-lo, mas Isaac não me deixou.
— Você estava morrendo por isso esta noite, não estava? Eu também.
Estendi a mão, agarrei sua bunda, senti suas nádegas flexionarem sob
minhas mãos enquanto Isaac acelerava o ritmo por conta própria, me
fodendo, suas bolas batendo no meu queixo. A saliva escorria dos lados da
minha boca, sons molhados e encharcados enquanto ele pegava o que
precisava de mim e dei a ele.
Ele se afastou, amaldiçoado. — Porra, quase gozei em sua garganta já.
Diga-me que é errado fazer isso aqui. Que devemos parar.
Mas eu não. Agarrei-o, empurrei-o de cima de mim, ajoelhando-me ao
lado de sua cabeça. As pupilas de Isaac se arregalaram um segundo antes de
eu enfiar meu pau em sua boca do jeito que ele fez comigo. Ele pegou, o olhar
em seu rosto implorando silenciosamente por mais, o que dei. Cada vez que
eu bombeava meus quadris para frente, eu sentia o arranhão de sua barba
contra mim.
Isaac engoliu em torno de mim, a sucção quente e úmida de sua boca
fazendo meus olhos rolarem para trás. Ele estava molhado, e minhas coxas
tremiam porque ele se sentia tão bem, tão perfeito, todo enrolado em volta
do meu pau.
Quando ele se afastou, eu disse baixinho: — Mas eu ainda não terminei
com a sua língua. — Nós realmente estávamos tentando ficar quietos.
Tínhamos que ser, mas isso não diminuiu o quanto queríamos um ao outro.
— Eu sei. Eu ainda estou dando a você.
Isaac caiu de joelhos, me empurrou para frente até que eu me inclinei,
bunda em seu rosto.
— Deus sim. Amo ter minha bunda comida.
— Shh. Ninguém esteve aqui além de mim — ele brincou, então bateu na
minha bunda. — Não posso acreditar que você me deu esse buraco. — Ele
circulou com o dedo, fazendo faíscas subirem pela minha espinha antes de
explodir por todo o meu corpo.
— É o seu buraco. Você pode tê-lo quando quiser.
— Porra, Lane. — Sua língua pressionou contra meu buraco, então fez
uma viagem até o topo da minha fenda e voltou para baixo novamente,
aterrissando na minha borda. Ele desenhou círculos ao redor com a ponta,
chicoteando sua língua e depois pressionando em um movimento circular
novamente. — Mmm. Olhe para você, tentando montar meu rosto. Tão
gostoso pra caralho. — Isaac disse antes de mergulhar novamente.
Empurrei para trás, sua língua quente contra mim, molhada, e então. —
Foda... — quando Isaac me violou com um dedo. Ele lambeu ao redor dele,
ainda me saboreando enquanto pressionava o dedo profundamente,
puxando-o para fora novamente antes de ser substituído por sua língua. —
Tão bom... Por favor, Isaac... foda-me. Por favor. Preciso de você. — Minhas
bolas estavam tão cheias e apertadas contra meu corpo, meu pau pingando
e balançando com cada movimento.
Eu só... o queria, precisava estar conectado a ele.
— Você trouxe algum lubrificante? Podemos fazer funcionar sem, mas...
— Tenho algum na minha bolsa.
Eu o senti sorrir, virei e vi.
— Eu acho que você realmente é o atrevido entre nós.
— Com você.
— Fique aí. — disse Isaac, e escutei enquanto ele foi até minha bolsa,
vasculhou o lubrificante e voltou de joelhos atrás de mim. Eu não tirei meus
olhos dele enquanto ele alisava seu pau, quase esvaziei minhas bolas quando
ele empurrou dois dedos lubrificados no meu buraco, torceu-os e puxou-os
novamente.
Isaac pressionou sua coroa contra mim, me rompendo lentamente, o
alongamento familiar e a pressão me enchendo. Eu amei essa parte disso,
amei a sensação inicial de seu pau encontrando um lar dentro do meu corpo.
— Sim... — Apertei o encosto do sofá, respirei fundo até que sua virilha
encontrou minha bunda.
Isaac se inclinou e beijou minha espinha. — Segure firme. — disse ele,
puxando para trás, e empurrou com força. Eu gritei. — Shh. Vou ter que
parar se não puder ficar quieto.
Ele jogou um travesseiro em mim. Eu não tinha vergonha de morder forte
ele, pra não fazer muito barulho.
Os dedos de Isaac pressionaram meus quadris do jeito que sempre faziam,
sua ereção deslizando para dentro e para fora, punindo, mas de uma forma
bem-vinda que me fez sentir ansiado, desejado e possuído... da mesma
forma que eu estava com ele.
A cama rangeu com cada impulso, e então ele estava saindo de mim, me
fazendo gemer.
— Nós não podemos fazer isso na cama. Vamos acordar toda a maldita
casa.
Isaac me moveu para uma parede livre, levando o lubrificante conosco,
para que pudéssemos trocar mais tarde. Já que nós dois éramos versáteis, na
maioria das vezes que transávamos quando estávamos juntos, cada um
dando e recebendo. Ele pressionou meu peito contra a parede, e no segundo
em que abri minhas pernas, ele bombeou em mim novamente.
— Isaac... você nem sabe...
— Mas eu sei — disse ele perto do meu ouvido. — Sinto isso toda vez que
você está dentro de mim... quando estou em você... porra, toda vez que olho
para você.
Ele diminuiu o ritmo, cada vez que ele pressionava e puxava me
esfregando na medida certa. Seus braços rodearam minha cintura, nos
segurando perto, nossos corpos agora suando e grudados.
Ele passou a mão em volta de mim, me empurrou enquanto mordiscava
minha orelha e fazia amor comigo.
— Eu arriscaria tudo por você... cada coisa. Não sei se isso faz de mim um
bom homem ou não. Me quebraria perdê-los, mas não vou te perder.
Maldito seja se meus olhos não arderam com essas palavras. — Você é o
melhor homem. Não vai perdê-los, e com certeza não vai me perder. Você
me prometeu, lembra? Que não os perderíamos. E estou lhe prometendo o
mesmo.
— Porra. — Isaac empurrou profundamente. Seus dentes se cravaram em
meu ombro, seu pau se contraindo, enchendo-me com jorro após jorro de
seu esperma. Seu corpo tremeu, e sua respiração estava afiada e rápida
enquanto ele se entregava a mim, outra onda quente do esperma de Isaac
exatamente onde pertencia – na minha bunda.
Minhas bolas estavam prontas para esvaziar, meu orgasmo já queimando
através de mim. No segundo que ele puxou eu estava em cima dele,
empurrando-o contra a parede, lubrificando meu pau e trabalhando os
dedos escorregadios dentro dele. Ele era tão quente e...
— Quero seu pau. Me dê seu pau, Lane.
— Maldição. — Tirei meus dedos, substituindo-os por minha ereção em
um movimento suave e profundo.
Ele olhou por cima do ombro, e esmaguei nossas bocas, tentando nos
manter quietos.
Meu corpo já estava se estilhaçando, apenas três movimentos de meus
quadris antes que minhas bolas apertassem, cedendo à sucção quente de sua
bunda. Meu esperma jorrou rápido - uma, duas, três vezes, depois outra, até
que meu sêmen escorreu de mim.
— Deus, eu precisava disso. — Disse Isaac calmamente.
— E você sempre terá isso. — Prometi.
Isaac
— Isso foi... muito estúpido. — Não deveríamos ter feito isso ali.
Lane suspirou. — Não, não deveríamos, mas fizemos, e eu não mudaria
isso.
Não, eu também não. Nós precisávamos um do outro, e estávamos perto
um para o outro. Eu não desejaria isso.
— A casa é feita de boas estruturas — Lane continuou. — Duvido que
alguém nos tenha ouvido. Além disso, mamãe e papai...Timothy estão no
térreo.
Eu fiz uma careta. — Eu te disse, você pode chamá-lo de pai. Você sempre
chamou. Não deveria perder isso por estar comigo.
Lane ignorou minha preocupação. — Está tudo bem. Vou colocar algumas
roupas para ir me limpar.
Enquanto ele fazia isso, peguei seu caderno. Havia inúmeros esboços
meus, todos em várias posições de sono. Eu adorava ser sua musa, adorava
prender a atenção de Lane dessa maneira. Fechei o caderno e fiz questão de
colocá-lo em sua bolsa.
Quando ele voltou, desci para fazer o mesmo. A casa estava silenciosa,
todas as luzes apagadas. Eu realmente não acreditava que alguém nos ouviu,
mas ainda parecia errado ter fodido lá.
O resto do fim de semana foi semelhante ao primeiro dia. Passamos tempo
juntos, fomos ao parque, jogamos, comemos boa comida, uma grande
família feliz, ninguém sabendo o segredo que Lane e eu estávamos
guardando – um que não poderíamos guardar para sempre. Mais cedo ou
mais tarde, teríamos que contar aos nossos pais quem éramos um para o
outro.
Quando voltamos ao meu apartamento, voltamos à nossa rotina, onde
nenhuma outra merda importava. Nós rimos e conversamos e fodemos. O
provoquei por ser bagunçado, e ele andou pela casa como o nudista que
aparentemente era, pintando arte de homens sem rosto, pintando-nos.
Era uma manhã de sábado, algumas semanas depois da reunião da
família. Lane estava pintando nu, como sempre, e eu estava limpando a
cozinha, quando meu celular tocou. Olhei para baixo para ver o nome de
Hutch na tela. Fazia tempo que não nos encontrávamos, e imediatamente me
senti culpado. Eu estava tão envolvido em minha própria vida, eu tinha
esquecido que ele estava passando por uma grande merda também. A
última vez que nos falamos, sua família basicamente não estava falando com
ele.
— E aí cara. Como está indo? — Perguntei a ele.
— Melhor, na verdade.
Levantei uma sobrancelha, mesmo que ele não pudesse me ver, e me
encostei no balcão. — Deve ser se você está ligando para falar comigo como
um ser humano normal... e não guardando seus sentimentos. O que é essa
magia? Quem é você e o que aconteceu com o Hutch que conheço?
Ele riu. — Eeeeeeee, foda-se. Você não é muito melhor.
— Oh, discordo. Sou muito, muito melhor do que você, do que a maioria
das pessoas realmente — provoquei, desfrutando de uma risada com ele. —
Sério, no entanto. Como estão as coisas?
— Boas. Maddy nos perdoou. Tive conversas muito atrasadas com meus
pais. Estou... porra, estou feliz, Isaac. Estou feliz e apaixonado, e não posso
me deixar sentir culpado por isso.
Uma onda de orgulho encheu meu peito, misturado com um pouco de
inveja.
— Bom para você, cara. Estou feliz por você.
Deus, eu queria o que Hutch tinha, mas a única maneira de fazer isso era
realmente seguir em frente.
Esfreguei a mão no rosto, frustrado comigo mesmo por minhas
inseguranças. Eu estava cansado, tão malditamente cansado de manter como
eu me sentia sobre Lane.
— Estou apaixonado por Lane. — Admiti, e maldito seja se isso não era
quase tão libertador quanto tinha sido quando eu disse a ele.
A linha ficou quieta por um momento. Esperei que Hutch entendesse isso.
Esperando que ele não sentisse o desgosto que imaginei que muitas pessoas
sentiriam quando descobrissem. Eu lidaria com isso, mas não queria isso
para Lane.
— Ele sente o mesmo?
— Sim.
— Quem diria que ele tinha um gosto tão ruim? — Disse Hutch. — Vou
ter que falar com ele sobre isso.
O calor me encheu, chegou perto de me superaquecer, e eu gostava da
queimadura. Foi... porra, foi a resposta perfeita. — Eu sou um bom partido
do caralho — eu disse a ele.
— E um pouco delirante.
— Ele é meu irmão — respondi, ficando sério.
— Ele é seu meio-irmão, como você fez questão de me dizer antes. Não
importa se outras pessoas veem de forma diferente. Essa não é a realidade
da situação. Tudo o que importa é que você o ama, Isaac. E você ama há
muito tempo, não é?
— Eu o amei quase desde o início. Mesmo quando eu não percebia, eu o
amava. Nunca quis um relacionamento porque nunca pensei que poderia têlo, e... caramba, Hutch, ele é tudo para mim. Ele sempre será para mim. —
Prendi a respiração, incapaz de acreditar no que acabei de admitir para ele,
o quanto disse a ele sobre como me sentia.
— Vocês dois deveriam vir jantar hoje à noite. Eu deveria ter certeza de
que ele percebe o quão terrível é seu gosto.
— Não tão ruim quanto o de Ryder. — Rebati. Eu queria fazer o que ele
pediu, no entanto. Eu queria passar um tempo com Lane e meu amigo. —
Vou falar com Lane sobre o jantar. Eu provavelmente não deveria ter
contado a você, mas...
— Sim — Lane me interrompeu. Virei-me para vê-lo parado no corredor,
me observando. — Eu nem sei quem é, mas se ele nos convidou para jantar,
sim. E você sempre será para mim também.
— Não é legal espionar. — Respondi, com o coração na garganta.
— Cale a boca e diga que sim, Isaac.
— É Hutch, — eu disse a Lane, então para meu amigo. — Você o ouviu?
Aparentemente, sou forçado a estar em sua companhia esta noite.
— Não tente esconder. Você mal pode esperar.
— A que horas devemos comparecer?
— Seis. — respondeu Hutch. — Estou feliz por você, Isaac.
— Estou feliz por mim também. — Encerrei a ligação, arqueei uma
sobrancelha para Lane. — Você sabe que isso significa que você tem que se
vestir, certo?
— Droga! Ele não pode vir aqui em vez disso?
Eu ri, fui até ele, empurrei seu cabelo da testa.
— Você está uma bagunça. — Eu não sabia como ele sempre acabava com
tinta em todo o corpo. Provavelmente porque ele não se importava.
— Você gosta de mim assim.
Ele estava certo. Eu gostava.
— Ugh. É você. — Disse Hutch no segundo em que abriu a porta de seu
apartamento.
— Você terá que desculpar meu amigo. Ele sofre de uma insegurança
incapacitante toda vez que está perto de mim, o que resulta em piadas
terríveis e tenta me superar, mas falhando a cada passo. Sobre o que
conversamos, Hutch? Tudo bem não ser tão bom quanto eu. Está tudo bem
ter inveja. Você deveria estar feliz com quem você é.
Hutch revirou os olhos. — Por que é que toda vez que te vejo, eu te odeio
mais? — Ele disse brincando antes de olhar para Lane. — E aí cara. É bom te
ver novamente. Já faz alguns anos. — Ele estava se referindo à única vez que
se conheceram.
— Você também. — Lane estendeu a mão e eles apertaram.
— Pare de enrolar e me ajude a cozinhar! — A voz profunda de Ryder veio
de dentro.
— Estou indo, estou indo. — respondeu Hutch.
— Tem certeza de que quer que fiquemos por aqui? — Provoquei, fazendo
meu amigo balançar a cabeça.
Fiz sinal para Lane ir à minha frente, então coloquei minha mão na parte
inferior de suas costas quando entramos.
— Está quase pronto. Esse cara só precisa terminar o macarrão. — Ryder
apontou para Hutch. Ele lavou as mãos, secou-as, então estendeu uma para
Lane. — Oi, sou Ryder.
— Lane. Prazer em conhecê-lo.
— E aí? É bom vê-lo de novo. — Ryder me disse.
— Vou tentar não vomitar em você desta vez.
Ryder riu, e senti o olhar curioso de Lane em mim. — A noite em que o
conheci foi a noite depois da nossa caminhada. Fiquei um pouco bêbado.
Não foi bonito. Eu culpo você. — Pisquei para que ele soubesse que eu estava
apenas brincando. A melhor maneira de lidar com isso era fazer uma piada,
se me perguntasse, e eu também não queria que Ryder pensasse que isso era
típico para mim.
— Humm, talvez eu tenha que colocar uma placa em seu pescoço dizendo:
Se perder, devolva para Lane Ryan, para que não tenhamos que nos preocupar
com isso acontecer novamente.
— Você colocará uma também? — Segurei sua cintura, puxei-o para perto
e deixei minha testa cair na dele.
— Obviamente. — Ele respondeu, e percebi que o apartamento estava
quieto. Me virei para Ryder e Hutch, que estavam olhando para nós. Não
conhecia Ryder muito bem, mas ficou claro que até ele ficou surpreso com
nossa exibição.
Segurei o olhar de Hutch. — Cale-se.
— Puta merda. Não acho que posso. Esta é a melhor coisa que já vi. Você
vai começar a transar com a perna dele, porque se for assim, pode ir para o
quarto de hóspedes. Se não, vou te provocar sobre os corações que saíram
de seus olhos porque nunca te vi assim antes.
— Sim, bem, também não te vi assim antes de Ryder.
— E você me provoca também. É muito mais divertido deste lado.
— Espere, você está dizendo que não é divertido estar apaixonado por
mim? — Perguntou Ryder.
— Como você tirou isso do que eu disse? — Respondeu Hutch.
— Dá-me uma grande alegria encontrar uma maneira de mudar as coisas
para você quando preciso. — respondeu Ryder.
— Talvez eu precise aprender esse truque. — Lane me deu um sorriso de
boca larga que era fofo pra caramba. Ele gostava deles. Eu poderia dizer. Ele
nunca teve nada em comum com meus amigos enquanto crescia, mas eu
podia ver nós quatro passando tempo juntos, e eu queria isso.
— Então, Lane não pode sair com Ryder. Entendi.
— Tenho a sensação de que Lane tem você enrolado no dedo dele e pode
fazer o que ele quiser. — Hutch balançou as sobrancelhas.
— Sei como manter meu homem feliz. Precisa que eu te ensine? — Eu
rebati, e a sala explodiu em gargalhadas. Isso era exatamente o que
precisávamos, e desejei ter ousado contar a Hutch e Ryder mais cedo.
Poderia ser tudo tão fácil? As pessoas simplesmente encontrariam uma
maneira de nos aceitar?
— Posso ajudar em alguma coisa? — Lane perguntou.
— Nós damos conta. Hutch me disse que você é um artista? — Ryder
perguntou enquanto Hutch servia vinho.
— Sim, sou um pintor.
— Seu trabalho é incrível. — disse Hutch.
— Você viu? — Perguntei a ele.
— Obviamente, eu tive que pesquisar seu namorado no Google. — Hutch
piscou, e eu queria beijá-lo por tratar isso com tanta naturalidade quanto
estava. Por nem mesmo piscar ou torná-lo estranho. Significava mais para
mim do que eu jamais saberia dizer. — Eu também sei agora de onde veio
aquela pintura que está em cima do seu sofá. É a única coisa em qualquer
uma de suas paredes, se bem me lembro.
— Sim, eu estava ridiculamente apaixonado por ele por um longo tempo.
Entendemos. — Cutuquei Lane, que me beijou.
Ele e eu nos sentamos no balcão do café da manhã, bebendo vinho e
conversando com eles enquanto terminavam o jantar. Lane compartilhou
mais sobre sua arte e Ryder sobre sua loja. Ele era mecânico.
Jantamos na varanda deles, compartilhando mais risadas e sorrisos. Não
pude deixar de observar Lane com eles, saborear a sensação de sua mão na
minha coxa e sua felicidade em meu ouvido quando ele conheceu meus
amigos e fez isso como meu parceiro.
Queria que todos os dias fossem assim.
— Você tem alguma exposição programada? Eu adoraria ir. — disse
Ryder.
— Não aqui, infelizmente. Uma grande amiga minha, Genevieve, me
pediu para substituir no último minuto uma de suas exposições em Nova
York. Isaac e eu iremos para lá em algumas semanas.
Ele tinha recebido a ligação alguns dias antes. Ele contou a Genevieve
sobre a série que havia começado — a Seu — e ela se interessou. Ela confiava
em Lane e nem precisava vê-las antes de concordar. Eu não tinha certeza de
quão normal isso era.
Ele não estava levando todas elas. Algumas eram muito pessoais, e
queríamos mantê-las para nós, mas outras ele estava disposto a mostrar –
não vender.
Ryder e Hutch fizeram contato visual, falando silenciosamente um com o
outro antes de Ryder dizer: — Não podemos ir, mas mantenha-nos
informados sobre as outras. Agora eu quero procurar seu site, no entanto.
Depois do jantar, Ryder pegou seu laptop e Lane mostrou a ele alguns de
seus trabalhos.
— Droga, você é muito bom. — disse Ryder, e ridiculamente, o orgulho
inchou no meu peito como se fosse de mim que ele estivesse falando.
— Obrigado.
— Onde você disse que estudou? — Ryder perguntou, os dois entrando
na conversa.
Hutch sentou-se ao meu lado. — Nunca te vi tão feliz.
— Nunca estive tão feliz. Ainda temos que descobrir como contar aos
nossos pais – e espero que isso não cause problemas na família – mas eu o
tenho, e nunca pensei que o teria. Já ganhei.
Hutch colocou a mão no meu ombro. — Ele também, meu amigo. Ele
também.
— Eh, acho que você está muito bem também.
— Eu sou a pessoa mais legal que você já conheceu. Não minta. — Hutch
e eu brincamos do jeito que sempre fazíamos.
Nós aproveitamos o resto do nosso tempo com eles, fazendo planos para
fazê-lo novamente no mês seguinte. Hutch e Ryder viriam para nossa casa.
Mais tarde naquela noite, estávamos juntos na cama, nus e escorregadios
de suor, quando Lane disse: — Quero mais dias como hoje.
— Eu também.
— Eu acho... acho que devemos contar a eles — Lane disse, e eu devo ter
ficado tenso porque ele acrescentou: — Nós não podemos manter isso em
segredo para sempre. Quanto mais cedo contarmos a eles, mais rápido se
acostumarão. E não importa o que aconteça, não vai mudar nada para mim.
Ele estava certo, e dane-se se eu não quisesse a mesma coisa, mesmo que
fosse assustador. — Não vai mudar nada para mim também. Estou pronto
quando você estiver.
Nós poderíamos fazer isso. Nós poderíamos dizer a eles. Eles eram nossos
pais. Eles nos amavam. De alguma forma, isso tinha que ficar bem.
Lane
Fui eu quem ligou para mamãe e disse a ela que Isaac e eu iríamos vê-los
no fim de semana seguinte. Isaac ficou subjugado durante toda a semana.
Não precisei perguntar por que - estava preocupado com a reação de nossos
pais, sim, mas também estava com medo do que isso faria comigo. Minha
mãe e eu éramos próximos. Nós não brigamos, mesmo enquanto eu crescia.
Ela me apoiou em tudo que eu queria, e o único segredo que eu sempre
escondi dela era minha sexualidade. E enquanto isso era obviamente grande,
isso era diferente. Acho que Isaac pensou que eu decidiria que ele não valia
a pena, mas não havia como voltar atrás. Agora não.
Isaac dirigia, provavelmente porque precisava se sentir no controle.
Quando entramos na rodovia, ele olhou para mim. — Tem certeza de que
está pronto para fazer isso?
— Tem certeza de que você está? Eu não quero te pressionar.
— Você não está. — Ele ficou quieto por um momento. — Acho que nunca
pensei que tudo isso aconteceria. Ainda estou tentando entender o fato de
que isso está acontecendo, enquanto estou preocupado que vou perdê-lo.
— Isaac…
— Ela é sua mãe, Lane. Vai te quebrar se ela não puder aceitar isso, e não
quero ser a razão pela qual algo te machuca.
Meu pulso acelerou, e meu peito inchou com suas palavras. — Jesus.
— Está tudo bem, Isaac. — Ele olhou na minha direção e piscou.
— Seu coração é tão grande que às vezes me pergunto como ele se encaixa
dentro de você. — Meus dedos de repente se contraíram para pintá-lo dessa
maneira – Isaac com um corpo transparente e um coração explodindo pelas
costuras dele. Eu poderia pintar nada além dele pelo resto da minha vida e
nunca ficar sem ideias.
— Não, não é — disse Isaac. — Sou duro. Sou um filho da puta durão e
mal-humorado que é endurecido pelo mundo e não dá a mínima.
Uma risada saiu dos meus lábios. — Um homem tão assustador, cínico e
duro. É uma maravilha como alguém pode ficar perto de você.
— O cínico não está incorreto.
— Eh, talvez, mas principalmente você é o cara que faria qualquer coisa
por um amigo ou alguém que você ama. O cara que é engraçado e gosta de
fazer as pessoas rirem. É um pouco arrogante, mas de um jeito cativante, não
um idiota. Mas você também sabe ser vulnerável, mesmo que goste de fingir
que não, e se preocupa com os outros antes de si mesmo. Você me faz mais
feliz do que jamais pensei que poderia ser... o que é estranho, considerando
que eu sempre me considerei feliz antes. Engraçado como isso pode mudar
quando você vê o quanto as coisas podem melhorar.
Ele me encarou, então desviou o olhar, um pequeno sorriso curvando os
cantos de seus lábios. — Porra, eu meio que sinto que deveria encostar e te
chupar por isso. Foi um bom discurso.
— Foi, não foi? Um dos meus melhores. Deve ser o assunto.
— Quem é aquele com o coração saindo do peito agora? — Perguntou
Isaac.
— Ainda você.
— Você está arruinando minha reputação, Lane.
— Você está arruinando minha reputação, Lane — zombei, e nós dois rimos,
o que diminuiu um pouco o peso dentro de nós.
Mantivemos a conversa durante o resto da viagem até a casa dos nossos
pais. Eu não podia fingir que não estava nervoso também, meu estômago
pesava como se alguém o tivesse enchido de pedras. Mas eu só... não queria
mais nos esconder. A situação não importava. O que Isaac e eu tínhamos era
lindo e não deveria ser escondido.
— Namorei muitas pessoas ao longo dos anos. — Eu disse quando Isaac
parou na garagem.
— Odeio todos eles. — Ele brincou.
— Sim querido. Nós sabemos que é possessivo — provoquei de volta. —
O que quero dizer é que tive tantas chances de trazer alguém para casa, mas
nunca consegui. Eu não conto Jayden porque eu não queria com ele. Fiz isso
porque eu queria estar em casa, e essa era a minha maneira de fazer isso.
Mas essas pessoas, não as compartilhei porque não importava o quanto eu
gostasse delas, no fundo eu sabia que não era real. Você é real, Isaac. Somos
reais juntos. E eu não quero manter isso escondido como se houvesse algo
errado com isso.
Ele estendeu a mão, passou a mão pelo meu cabelo, deixando-o descansar
na minha nuca. — Amo você. Estou tão loucamente apaixonado por você,
Lane Ryan.
— Eu também te amo. Agora vamos fazer isso. Ficará tudo bem. Tenho
que acreditar nisso. — Eu não tinha certeza se estava mentindo para mim
mesmo sobre isso ou não.
Eu podia ouvir a TV quando chegamos lá. Bati e abri a porta. Timothy
estava sentado no sofá, assistindo a um faroeste que eu não reconheci. Ele
sempre os amou, mas nunca foram minha praia. Quando éramos crianças,
Isaac costumava vê-los com ele. Eu perguntei a ele uma vez o que ele gostava
sobre eles, e ele disse que passava um tempo com seu pai.
Isaac admirava seu pai mais do que ele jamais verbalizou. Timothy era o
tipo de pai que nos levava para acampar ou jogar futebol no quintal com
Isaac quando éramos crianças - ele era melhor nessas coisas do que palavras
- e eu sempre soube que, mais do que tudo, Isaac queria fazer seu pai
orgulhoso. Para fazê-lo feliz e ser como ele.
Havia muito risco para nós dois em estarmos juntos. Poderia mudar muita
coisa.
— É Willie Nelson? — Perguntei.
— Sim. É Red Headed Stranger — Isaac respondeu.
— Você lembra disso? — Perguntou Timothy.
— Sim. Como vai, pai? — Isaac se inclinou sobre o sofá e lhe deu um
abraço de um braço só.
A casa cheirava a maçãs, então eu sabia que mamãe estava fazendo
torrada ou uma torta. Ela amava os dois.
— Estou bem. — disse Timothy. — Está tudo bem com você? Sua mãe está
preocupada. — Seu olhar disparou em minha direção, depois de volta para
Isaac.
— Estamos bem. — respondeu Isaac.
— Ei, Timothy. Bom fim de semana? — Bati minha mão em seu ombro.
Ele franziu a testa ligeiramente, e percebi que era porque eu o estava
chamando pelo nome recentemente. Isso tinha que fazê-lo pensar.
— Sim. Bom estar fora do trabalho.
— Os meninos estão aqui? — Mamãe veio ao virar da esquina. — Ah, oi,
vocês estão.
Dei um abraço nela e beijei sua testa.
— Cheira bem, Helena. — Isaac disse a ela.
— Torrada ou torta? — Perguntei.
— Torta. — Mamãe respondeu. — Você sabe que cozinho quando estou
nervosa... bem, eu também cozinho por diversão, mas você entende a
essência. O que está acontecendo? Parecia que algo estava errado quando
você ligou.
Deixe para a mamãe ir direto ao assunto. — Não há nada de errado,
mamãe. — Meu olhar pegou o de Isaac. — Pelo menos esperamos que não
seja assim para você. Mas por que não termina de assar primeiro? Vamos
apenas passar algum tempo juntos.
— Peguei a torta antes de entrar na sala, e podemos passar um tempo
juntos depois. Você me conhece. Vou me enlouquecer até saber. — Ela já
estava torcendo as mãos.
Observei papai - Timothy - se levantar. Ele olhou para frente e para trás
entre Isaac e eu. — Helena, por que não deixamos os meninos falarem
conosco quando estiverem prontos?
Então me ocorreu que Timothy sabia. Puta merda, ele sabia. Por quanto
tempo, eu não tinha ideia, mas não havia dúvida em minha mente de que
ele sabia.
— Lane? — Mamãe perguntou, mais preocupada agora. Timothy foi em
direção a ela.
Abri a boca para dizer que não era grande coisa. Estávamos fazendo isso
para ser um tipo de conversa de vida ou morte...
— Estou apaixonado por Lane. — Isaac disse simplesmente. — Eu, hum...
eu o amei desde que ele se mudou para esta casa e era todo cabelo e membros
desengonçados, sempre desenhando, observando o mundo, me observando
e vendo mais do que eu pensava que estava mostrando.
Ele estava do outro lado da sala, eu ao lado de mamãe e Timothy, que a
alcançou até então, mas eu não conseguia tirar meu olhar de Isaac. Ele era
tão corajoso pra caralho. Tão honesto. Eu o amei ainda mais naquele
momento.
— Eu também estou apaixonado por Isaac.
— Mas... mas vocês são irmãos. — Mamãe disse, a confusão suavizando
sua voz.
— Por que nós quatro não nos sentamos? — Disse Timothy.
— Não para nós. — Eu disse a ela. — Quero dizer, nós somos, mas não
somos.
— Bem, vocês são irmãos para nós. Nós criamos vocês assim. — A voz de
mamãe estava um pouco mais forte agora, um pouco mais firme em sua
direção. Eu esperava, nós dois esperávamos, mas ainda era como uma facada
no coração. — Há quanto tempo isso vem acontecendo? Oh Deus, desde que
eram adolescentes? Em nossa casa?
— Não. — Balancei minha cabeça. Isso já estava se desenrolando.
— Mas Isaac disse que te ama desde que nos mudamos. O que vocês
estavam fazendo? Você fez…? — Seu olhar estalou para Isaac.
— Ele fez o quê? — Timothy perguntou, suspeita em sua voz, e claramente
ofendido. — Você está acusando Isaac de fazer algo inapropriado com Lane?
Meu estômago afundou mais, mais pedras foram empurradas pela minha
garganta. Foi ainda pior do que eu pensava. Assumi que eles ficariam
confusos, mas mais como uma frente unida. A última coisa que eu queria era
ficar entre mamãe e Timothy.
— Não, eu não estava, mas... ele sempre foi mais experiente e mundano
do que Lane. E ele disse... — Os olhos da mãe dispararam para Isaac,
lacrimejantes, lágrimas já derramando. — Oh Deus. Desculpe, Isaac. Eu só…
estou tentando entender isso. Do que estava acontecendo debaixo de nossos
narizes e não sabíamos. Vocês são irmãos.
— Não, mãe, não somos. Fomos criados como família, como irmãos, sim,
mas só desde os quatorze anos, e não somos parentes. Estamos apaixonados,
e por mais que eu ame você, se acusar Isaac de alguma coisa, se empurrar
isso para ele como se ele fosse culpado, eu vou sair por aquela porta com ele
e não vou voltar.
— Lane. — Isaac disse, alerta em sua voz, mas eu o ignorei, nem olhei para
ele, em vez disso, vi a dor que brilhou nos olhos de mamãe.
— Eu não quis dizer isso — disse ela. — Você sabe que eu te amo, Isaac.
Você é meu filho.
Assim como eu era seu filho, e era aí que surgia o problema. Ela não deu
à luz Isaac, mas o criou e o amou, ela cuidou dele como uma mãe cuida de
seu filho, e agora estávamos dizendo a ela que estávamos apaixonados um
pelo outro.
— Acho que precisamos nos sentar agora — disse Timothy, indo para a
mesa da sala de jantar sem minha mãe. Ele ficou magoado com a acusação
dela e, embora eu pudesse entender, ele tinha que saber que mamãe não quis
dizer isso.
Ela se virou e o seguiu. Esperei por Isaac, cujo rosto parecia pedra.
— Ela não quis dizer isso, Isaac. Ela ama você.
— Eu sei.
Mas ele sabia? Ele disse que não podia perder outra mãe, e então ela fez
esse tipo de acusação.
— Vamos fazê-los entender.
Isaac assentiu, tentou sorrir, e nos juntamos a eles — Timothy e mamãe de
um lado, Isaac e eu do outro.
— Acho que isso explica a resposta de Isaac a Jayden, — Timothy disse
sem humor.
Isaac disse: — Nada aconteceu enquanto estávamos crescendo. Eu sabia
que o amava, mas não disse a ele. Não até Jayden sair e Lane ficar comigo.
Eu tentei, Helena. Tentei parar. Tentei fazer isso sumir. Tentei ignorar isso.
Eu não quero te machucar, mas não posso... não posso ficar sem ele se ele me
aceitar. — Isaac baixou a cabeça.
— Não somos apenas nós, filho. O resto da nossa família, amigos, todo
mundo que nos conhece vê vocês dois como irmãos. O que diremos a eles?
Não sei se algum de vocês, garotos, realmente considerou o que as pessoas
vão ver, o que vão pensar.
— É isso que você vê e pensa? — Perguntou Isaac. — Que isso é
pervertido? Que há algo errado conosco?
Demorou um momento para que Timothy respondesse. Cada segundo
que passava parecia durar mais, como um eco que continuava a durar. —
Acho que durante dezesseis anos tive dois filhos. Vocês dois são irmãos. Eu
amei vocês dois da mesma forma e os tratei como irmãos. Todos que
conhecemos fizeram o mesmo. Vovó conta às pessoas sobre seus netos e suas
tias e tios de seus sobrinhos. E agora vocês estão nos dizendo isso, que são
um casal, mas eu não posso magicamente apagar os últimos dezesseis anos
e vê-los de forma diferente. Mesmo se eu pudesse, e os outros?
— Não me importo com o que as pessoas pensam — Isaac disse
asperamente. Ele se importava. Eu sabia que ele se importava. Partia seu
coração machucar nossa família, que estávamos machucando nossa família,
mas isso não mudava o quanto ele me amava. Mas Isaac mudaria se ele
perdesse mamãe ou Timothy ou alguém que ele amasse.
— Não entendo como isso aconteceu — mamãe disse. — Você está
dizendo que quer ser um casal? Para contar a todos sobre vocês? Então o que
acontecerá se não der certo? O que acontecerá se mudarem de ideia? Se ficar
demais? Se um de vocês perceber que não é o que quer? Isso não afeta apenas
vocês dois.
Não, isso não aconteceria. Tínhamos visto isso com a acusação de mamãe
contra Isaac. Se as coisas dessem errado entre nós, se um de nós machucasse
o outro, como isso se espalharia para aqueles que amávamos? O que isso
faria com mamãe e Timothy? À nossa família estendida?
Nós quatro ficamos sentados quietos, nada além de nossa respiração e
nossos batimentos cardíacos entre nós.
— Então é melhor desistir agora por causa de e se? — Perguntei. — Não
quero machucar nenhum de vocês, e não quero causar problemas em nossa
família, mas... eu preciso dele — admiti. — Passei minha vida procurando
algo em um parceiro, e nunca encontrei, nunca fiquei satisfeito, porque eles
não eram ele. Eu não via que o que eu precisava estava aqui esperando por
mim o tempo todo. Relacionamentos nunca são uma garantia. E sei que o
nosso é diferente da maioria, mas... não posso me afastar dele, mãe. Eu
também não quero. Seria como deixar meu coração para trás.
Timothy praguejou.
Mamãe chorou.
Entendia que era difícil para eles. Eu sabia que era difícil ouvir que
estávamos juntos quando nos viam como irmãos. E entendia que havia
preocupações quando se tratava de nossa família. Mas Isaac era meu. Ele
disse que era egoísta, mas se isso era verdade, eu também era.
Mamãe disse: — Amo vocês dois, mas não consigo entender isso. Como
faço para apagar os últimos dezesseis anos para que vocês dois se tornem
outra coisa? Estou com medo pelo que isso faz com a nossa família.
Timothy não respondeu. Ele desviou o olhar, e isso era tudo que eu
precisava ver para saber que ele sentia o mesmo.
— O que isso significa? — Perguntei, sentindo como se eu tivesse
decepcionado Isaac. Prometi que ele não perderia outra mãe.
— Eu não sei — mamãe respondeu.
— Vocês ainda são nossos filhos — acrescentou Timothy.
Mas é aí que reside o problema. Eles não nos deserdariam. Eles nunca
fariam isso, mas não podiam nos ver como um casal. Eles não podiam nos
ver como outra coisa além de irmãos.
— Vocês estão esperando que nós escondamos quem somos de vocês? —
Perguntou Isaac. — Da família?
— Eu não... Isso é muito. Eu só... — Mamãe não terminou. Ela saiu da sala
chorando.
— Eu deveria ir atrás dela. — Timothy disse. Quando Isaac assentiu,
Timothy fez uma pausa, abriu a boca como se fosse falar, mas então suspirou
e foi atrás de mamãe.
Isaac
Dirigimos para Manhattan para que pudéssemos expor a obra de arte de
Lane. Ele trouxe duas peças de Seu. Elas eram de nós, era claro, mas você
não podia dizer isso pelas pinturas, só sabia que eram dois corpos
masculinos, entrelaçados de uma maneira que em alguns lugares era difícil
dizer onde um começava e o outro terminava. Eles eram lindos. Nós éramos
lindos.
— Será difícil mostrá-las? É tão pessoal, e considerando nossas…
circunstâncias atenuantes…
Era a vez de Lane dirigir, e ele olhou para mim do banco do motorista. —
Você se incomoda que eu mostre a eles? Eu deveria ter perguntado. Nem
pensei nisso.
— Não. Não me incomoda. Você está de brincadeira? Eu quero gritar essa
merda dos telhados. Certificar-me de que todos saibam que sou eu que sou
tão inspirador.
Lane riu. — Ok, bem, e se eu te dissesse que não estava compartilhando
pinturas nossas?
Eu fiz uma careta. — O que quer dizer?
— É você e eu nas pinturas, não me entenda mal, mas para outra pessoa,
são eles. Isso é parte da beleza neles, e parte da razão pela qual não há rostos.
Eles representam o amor como um todo. Para você e para mim, somos nós.
Para outro casal, são eles.
— Porra, é sexy quando você fala sobre arte assim.
— Isso é bom, então, porque é cem por cento o que eu queria. — Ele sorriu.
Coloquei minha mão em sua nuca, enrolei seu cabelo em meus dedos e
massageei seu couro cabeludo. — Você é incrível. Amo o jeito que sua mente
funciona.
— Mesmo quando estou bagunçado, deixo uma meia no balcão e uso sua
escova de dentes sem pedir?
— Sim, mesmo assim. Sério, essa é uma bela maneira de olhar para isso.
— Jesus, eu estava orgulhoso dele.
— Obrigado. Eu gostaria de expandi-lo. Eu adoraria criar casais
femininos, casais heterossexuais, alguns onde você não pode dizer seus
gêneros.
— Eu acho que você deveria.
— Eu planejo isso.
— Seu idiota.
Não falamos sobre Helena e papai. Parecia que nós dois estávamos
tentando não focar nisso porque doía muito. Já se passaram dez dias, e
estávamos tentando continuar, focar um no outro.
Era fim de tarde quando Lane estacionou na garagem em Manhattan onde
guardava seu carro. Entendia por que ele dirigia o mínimo possível até lá.
Eu não gostava de lidar com o trânsito em Atlanta, mas a cidade de Nova
York era uma fera por si só.
Pegamos nossas malas e descemos a rua em direção ao prédio dele. Como
sempre na cidade, havia pessoas em todos os lugares, carros entupindo as
ruas, buzinando e construção em um prédio próximo.
O saguão era elegante, decorado em preto, prata e cinza. Eu nunca tinha
ido ao apartamento dele. Quão triste era que ele fosse a pessoa mais
importante do meu mundo desde que eu tinha quatorze anos, e eu nunca
estive em sua casa?
Lane destrancou a porta. Era início da noite, e o sol brilhava através de
uma das grandes janelas de sua sala de estar. Ao contrário do meu
apartamento, o de Lane era mais confortável e habitado. Havia obras de arte
em todas as paredes, diferentes estilos e cores que se juntavam de uma
maneira que eu não saberia fazer. Seu sofá era grosso e macio, de um azul
claro. Roupas penduradas nas costas, um cobertor enrolado no canto. Um
sapato embaixo da mesa de centro, o outro do outro lado da sala ao lado de
uma cadeira que combinava com o sofá. Pilhas de cadernos de desenho
também cobriam o espaço.
Algumas peças de roupa no chão faziam um rastro pelo corredor. No
canto da sala de jantar, tinha pilhas de telas e suprimentos por toda a mesa.
Tinha um cavalete lá também, embora eu soubesse que ele tinha um estúdio.
— Acho que nunca vi um lugar que é mais você.
Lane sorriu. — Amo isso aqui.
Passei meus braços ao redor dele por trás e acariciei seu pescoço. — Vou
me mudar para cá se você quiser. Não terei problemas para encontrar
trabalho. Além disso, meu namorado é um pintor famoso. Ele pode me
sustentar.
Sua risada vibrou através de seu corpo e no meu. — Eu também amo
Atlanta. Aprecio que não tenho que socializar muito lá. Que não tenho que
estar perto de pessoas do jeito que tenho na cidade. Sentia falta de estar em
casa. Sentia sua falta, mamãe e Timothy... — Suas palavras pairaram no ar,
a verdade que tentamos enterrar. Que nossos pais estavam feridos agora.
Que não queriam que ficássemos juntos.
— Estarei aqui com você, entretanto. Quero dizer, você consegue pensar
em algo melhor?
— Não — respondeu Lane. — Nós vamos resolver isso. Venha comigo. Eu
quero te mostrar algo.
Eu o deixo ir, deixo que ele me leve para longe. Quando passamos pelo
estúdio dele, eu disse: — Quero dar uma espiada. — Era claramente muito
melhor do que ele tinha no meu apartamento. Foi montado para ser mais
funcional, com prateleiras e armários para seus suprimentos.
Uma tela em branco estava em um cavalete, e eu não pude deixar de me
perguntar o que ele planejava pintar antes de partir.
Acabamos no quarto de Lane. A cama não estava arrumada, e uma
apresentação de slides dele e Jayden juntos passou pela minha cabeça. —
Você transou com ele naqueles lençóis?
— Não logo antes de sairmos. E eles foram lavados.
— Sim, mas foram queimados?
Lane revirou os olhos. — Tão ciumento.
— Você também ficaria.
— Verdade.
Caminhei até a mesinha de cabeceira de madeira envelhecida, onde havia
uma colagem nossa - no ensino médio, na formatura e naquelas ocasiões em
que estivemos juntos com a família ao longo dos anos, quando tentei manter
distância, mas não consegui.
Estava lá, onde ele dormia todas as noites, cuidando dele, e de repente eu
não estava mais com ciúmes. Lane me escolheu muito antes de admitirmos
isso um para o outro.
— Venha aqui. — disse ele, e o segui até seu closet. Ele abriu a porta, e ao
lado havia recipientes cheios de cadernos de desenho. Ele puxou duas
caixas, e nós as arrastamos para a cama, onde nos sentamos para abri-las.
Peguei um caderno de desenho e folheei. Página após página após página
de mim, de nossas noites juntos no sótão, ou no quintal, ou sentado em sua
cama. O dia em que nossos pais se casaram, um rápido esboço meu de pé na
janela. Caderno após caderno. Todas as vezes que ele me desenhou estavam
lá. Havia outros desenhos, era claro, mas a maioria era de mim.
— Puta merda. Você guardou todos eles?
— Sim. Continue olhando.
Peguei outro, e era eu em um parque em Atlanta, de pé em uma sacola em
uma corrida de saco que fizemos em uma reunião de família. E lá estávamos
eu e ele em uma mesa de piquenique, e eu dormindo no sofá como um
adulto. Havia desenhos meus em lugares onde não estivemos juntos, como
no Parque Washington.
— Entendo se você gostaria de fazer uma ordem de restrição agora —
disse Lane, mas eu não conseguia tirar meu olhar dos desenhos. — Você
sempre foi minha musa favorita, mesmo quando os meses passavam e não
nos víamos. Mesmo quando estávamos a mil milhas de distância. Alguém
poderia pensar que eu deveria ter aceitado o que isso significava antes do
dia em que você me beijou.
Minha mão tremeu. Eu nunca teria o suficiente dele.
Não conseguia encontrar palavras, então, em vez disso, coloquei os
cadernos nos recipientes no chão, estendi a mão, segurei seu rosto e o puxei
para frente até que nossas bocas se encontrassem. Os lábios de Lane se
moveram contra os meus, nossas línguas mergulhando, provando um ao
outro.
Lane se inclinou para trás, e eu o segui, até que ele estava deitado comigo
em cima dele, nós dois no cio juntos enquanto nos beijávamos, chupávamos
e saboreávamos.
Sentei-me e montei nele, Lane levantando seu torso apenas o suficiente
para que eu pudesse puxar sua camisa. Removi a minha em seguida, antes
de tomar sua boca novamente, abrindo seu jeans enquanto o fazia. No
segundo em que deslizei minha mão por baixo de sua cueca e a envolvi em
torno de seu pênis, Lane se arqueou para frente, gemendo em minha boca.
Ele estava quente contra minha palma, uma haste de aço coberta de pele
macia.
Eu o levantei enquanto o beijava, e então ele estava enfiando as mãos entre
nós para abrir minha calça também.
Ajoelhei-me, puxei suas roupas restantes para baixo com mãos ansiosas.
Lane riu, mas trabalhou com a mesma velocidade desajeitada para tentar me
deixar nu.
Quando nós dois estávamos sem roupas, nos deitamos de lado, um de
frente para o outro. Lane enganchou sua perna de cima sobre meu quadril,
seu corpo febril de desejo. Estávamos perto, sua respiração contra meu rosto,
antes de beijá-lo, nós dois nos movendo um contra o outro.
— Então, nenhuma ordem de restrição? — Provoquei enquanto minha
boca viajou pelo seu pescoço.
— O que você quer? — Lane perguntou.
— Você.
— Já me tem.
— Então quero te foder. Quero pintar o interior do seu corpo com meu
esperma, antes de você se masturbar em mim e pintar minha pele com o seu.
— Jesus, Isaac. Sim. Foda sim. — Lane rolou. Abriu a gaveta do criadomudo e tirou uma garrafa de lubrificante. Ele era tão lindo pra caralho, todo
olhos arregalados e cabelo loiro escuro ondulado. Enrolei uma mecha atrás
de sua orelha. Adorei por muito tempo, e ele estava deixando crescer, às
vezes amarrando-o em um nó na parte de trás de sua cabeça. Quase atingiu
seus ombros agora. — Quer que eu monte seu pau?
Meus olhos rolaram para trás, tremores em cascata através de mim com o
pensamento. — Nunca haverá um momento em que direi não a essa
pergunta.
Lane me deu a garrafa, e alisei meus dedos. Ele enganchou sua perna sobre
mim novamente, tomando posse da minha boca enquanto eu envolvia meu
braço ao redor dele e provoquei seu buraco. Seu corpo vibrou com energia
carente enquanto circulei sua borda, então empurrei um dedo para dentro.
Como sempre, seu corpo me abraçou direitinho, chupou meu dedo enquanto
eu o usava para fodê-lo, antes de seguir em frente e fazer o mesmo com dois.
— Deus, amo te sentir dentro de mim, contra mim. Não importa como
você está me tocando ou com o que está me tocando, desde que eu possa te
sentir. — Lane fez um sulco contra meu quadril, fazendo meu pau vazar e
minhas bolas pulsarem com a necessidade.
— Aposto que não pode esperar até que seja meu pau esticando você.
— Não tenho certeza se é tão grande. — Lane piscou antes de passar a
língua sobre meu mamilo duro.
— Ah, foda-se. — Ele fez isso de novo antes de morder suavemente,
depois me chupar. Ele derretia em meus braços cada vez que meus dedos
fodiam nele. Eu estava tão duro, tão pronto para gozar, estava com medo de
perdê-lo antes de estar dentro dele. — Monte-me, Lane. Sente-se no meu pau
na sua cama. Quero que este quarto cheire apenas a nós todos os dias a partir
de agora. Quero meu esperma e suor nos lençóis e apagar a memória de
qualquer outra pessoa com você aqui.
— Ninguém me teve aqui, Isaac, porque ninguém me teve em lugar
nenhum. Me fodeu, sim, mas não me teve, porque sempre pertenci a você.
Meu pau espasmou, minhas bolas apertando. — Sim, você me pertence.
— Deslizei meus dedos livres, peguei o lubrificante e esfreguei um pouco
sobre o meu eixo. Lane montou em mim, minha mão na base do meu pau,
nós dois trabalhando juntos até que eu estava empurrando para dentro de
todo aquele calor apertado. — Sim. Porra, Lane. Você se sente tão
malditamente bem.
Respiramos juntos enquanto ele se abaixava, me levando para dentro de
si. Puxei-o para me beijar, escorregando um pouco antes de empurrar meus
quadris para frente novamente. Fodi nele assim, língua entre seus lábios e
pau enchendo sua bunda. Lane fez ruídos choramingando em minha boca,
movendo-se contra mim, unhas cravadas em meu peito. Já estávamos
suados, e eu adorei. Não havia nada como um homem suado de sexo contra
mim, um Lane suado de sexo contra mim.
Quando ele puxou um pouco, eu o soltei, e então ele estava controlando o
show, subindo e descendo no meu eixo, montando em mim do jeito que
prometeu. Ele revirou os quadris, meu pau empurrando para dentro dele,
fazendo um lar exatamente onde pertencia.
— Droga, você se sente tão bem, Lane. — Meu corpo inteiro estava em
chamas por ele, cada centímetro de mim em sobrecarga de sensações, seus
olhos nos meus, seu cabelo caindo enquanto ele se entregava a mim. Segurei
seus quadris, ajudando a guiá-lo, pressionando com firmeza para deixar
marcas. Meu pau estava pulsando com necessidade, bolas latejando, aquele
formigamento familiar na base da minha espinha.
Lane alcançou seu pênis, acariciando-o enquanto ele se levantava e
abaixava. E quando seus olhos rolaram para trás, quando seu buraco se
apertou ao redor do meu pau, eu era um caso perdido. A sala ficou
embaçada, e minhas coxas ficaram tensas enquanto minhas bolas apertavam.
Gozei dentro dele, impulso após impulso da minha liberação pintando seu
interior do jeito que eu queria.
Lane se fodeu em mim com mais força, levantou-se mais rápido também,
antes de ficar tenso, sua bunda me apertando novamente, sua liberação
jorrando no meu peito.
Quando ele mergulhou os dedos nele e o pegou, eu abri minha boca,
querendo, não precisando que ele me dissesse para onde estava indo.
— Agora estou cobrindo sua pele e dentro de você também — Lane disse
enquanto engolia seu esperma.
Depois que comi tudo, puxei-o para baixo para pegar sua boca e, assim
como suas pinturas, estávamos lindos.
Lane
Gostava de ter Isaac no meu apartamento. Não era melhor do que estar na
casa dele, apenas diferente. Era bom vê-lo entre minhas coisas. Vê-lo
balançar a cabeça, murmurando para si mesmo sobre como eu era
bagunçado enquanto pintava e ele limpava. Quando eu disse a ele que ele
não tinha que fazer isso, ele apenas veio me beijar antes de fazer isso de
qualquer maneira.
Por alguns dias aproveitamos a cidade juntos, noites no meu espaço, na
minha cama. Ainda assim, o peso pairava ao nosso redor, o peso da verdade
de que nossos pais estavam lutando para nos aceitar juntos.
No dia em que eu ia encontrar Genevieve para mostrar a ela minhas
pinturas pessoalmente, Isaac decidiu ficar e tentar fazer alguns trabalhos
remotamente. Eu estava animado para ver minha velha amiga. Passamos
muito tempo juntos e participamos de muitos dos mesmos eventos ao longo
dos anos.
Chamei um serviço de carro para me levar à galeria de Genevieve em
Chelsea, onde nos encontraríamos. Se eu não tivesse minhas obras de arte
comigo, teria ido de metrô. Genevieve, na verdade, morava no Upper East
Side, onde seria a festa na noite seguinte. Ela costumava dar festas luxuosas
para exibir peças nunca antes vistas de seus amigos para as pessoas
enlouquecerem.
As ruas e calçadas estavam movimentadas, todos com pressa para estar
em algum lugar, e embora eu sentisse falta disso, não sabia se queria ou
precisava disso na minha vida todos os dias. Eu gostava de estar em casa.
Gostava de estar perto da minha família. Mas então, se mamãe e Timothy
nunca apoiassem, talvez fosse melhor se Isaac e eu saíssemos. Poderíamos
ter um novo começo.
O motorista e eu conversamos casualmente no caminho para lá, e ele me
deixou na frente da galeria, um prédio de tijolos vermelhos que não parecia
muito do lado de fora, mas era absolutamente lindo quando você entrava.
O lugar era todo branco, a cor vinha das vitrines ao redor do grande
espaço, que ela dividiu em três cômodos. Gen estava lá esperando por mim.
Ela era linda – alta e com pernas longas, com a pele mais suave da cor
castanha, seu cabelo natural e penteado em um moicano no topo e trancinhas
nas laterais.
— Lane Ryan — ela disse com um grande sorriso.
— Genevieve Barrows.
Dei-lhe um abraço o melhor que pude com os dois pacotes em minhas
mãos.
— Venha para trás comigo. Você parece bem. Esse ar da Geórgia lhe fez
bem. Está revigorado.
— Obrigado. Tem sido incrível.
Ela me levou ao seu escritório. Tinha dois sofás brancos dentro, uma mesa
e alguns cavaletes de exibição. — Mal posso esperar para ver isso
pessoalmente. — Ela pegou um de mim e começou a desembalar enquanto
eu fazia o outro. Uma vez que os montamos, esperei enquanto Gen os
estudava, os nervos cavando mais fundo em minha carne a cada segundo
que passava.
Gen era exigente, mas boa. As pessoas respeitavam a opinião dela.
Quando ela falava, eles escutavam, e embora ela sempre tenha sido fã do
meu trabalho, e tenha achado essas duas peças bonitas nas fotos que enviei,
vê-las pessoalmente era diferente. Ela não era de bajular ninguém, e se as
odiasse, se mudasse de ideia, ela me diria.
— Estas são ainda mais emotivas do que o seu trabalho habitual. Seu
talento brilha e os detalhes são impressionantes, Lane, mas não é isso que as
torna tão especiais. Posso sentir a emoção nestas. Ela flui da tela direto para
o meu peito. Olhe para a mão dele ali. — Ela apontou. — A maneira como
está agarrando o outro homem. Está com medo de soltá-lo, com medo de
perder o que ele quer tanto, mas se eu me afastar e olhar de um ângulo
diferente, é quase como se sua mão não fosse sua, mas parte do outro
homem.
— Eu... — …não sabia o que dizer. Isso era um grande elogio vindo de
qualquer um, mas ainda mais de Genevieve.
Ela se virou, estendeu a mão e tocou meu peito, sua mão bem sobre meu
coração. — Essas pinturas vêm daqui. Todo o seu trabalho vem, mas estas,
são uma parte de você, Lane. Elas são vulneráveis, e você normalmente não
pinta com esse nível de vulnerabilidade.
Não, não, eu não pintava. — Elas são diferentes, sim.
— Tem certeza de que está tudo bem em exibi-las amanhã?
— Sim. Não quero mantê-las trancadas. O amor não deve ser escondido e,
embora sejam pessoais para mim, minha esperança é que, quando outra
pessoa as vir, também sejam pessoais para elas.
Ela assentiu e deixou cair a mão.
— Alguém domou Lane Ryan, não é? Você procurou bastante antes.
Eu ri. — Era assim tão óbvio?
— O quê? Que você estava procurando por um amor que não encontrava,
ou que agora o tem? A resposta é sim para ambos.
Ri novamente. Eu adorava Genevieve. — O nome dele é Isaac. Ele está na
cidade comigo. Vou trazê-lo como meu acompanhante amanhã à noite.
— Pensei que você estava com a família na Georgia?
— Eu estava. — Respondi, e deixei assim. Se ela de alguma forma
descobrisse que Isaac era meu meio-irmão, então ela descobriu. Eu lidaria
com isso não importa o que acontecesse, porque assim como aquelas
pinturas, eu me recusava a esconder meu amor por Isaac.
— Mal posso esperar para conhecê-lo, meu amigo. Estou feliz por você. O
amor fica bem em você.
Sorri. — O amor é bom para mim também.
Isaac
Usávamos smokings pretos combinando com gravatas-borboleta.
Genevieve, que eu ainda não conhecia, aparentemente amava Lane e
mandou um carro nos buscar em seu apartamento. Seu cabelo estava solto,
em cachos que se assentavam em seus ombros. Como sempre, alguns deles
tinham vontade própria, mas ele colocou algum tipo de produto nele para
que não fosse tão selvagem como às vezes era.
Ele ficou em êxtase quando voltou para casa de sua galeria no dia anterior.
Senti a energia saindo dele, aproveitei a plenitude da felicidade de Lane em
meu peito, enquanto ele falava sem parar sobre o que Genevieve havia dito
sobre suas pinturas.
Ela queria planejar uma exposição quando a série estivesse completa. Ela
achava que era seu melhor trabalho. Embora eu o tenha provocado por levar
crédito parcial por isso, já que eu era sua musa, eu sabia que era tudo Lane.
O prédio de Genevieve era lindo - tijolos pintados de branco com grandes
pilares ao redor das escadas que levavam à entrada.
O porteiro verificou nossos nomes em sua lista e subimos de elevador.
Estávamos no corredor, indo para a porta dela, quando Lane estendeu a
mão e entrelaçou seus dedos com os meus.
— Você tem uma queda por mim, não é, Lane?
— Apenas cansado de esperar que o mundo saiba que você é meu. Afinal,
já se passaram quatorze anos.
A faísca que ele acendeu em meu peito segurando minha mão acendeu
um incêndio. — Sim.
Tocamos a campainha e um homem abriu a porta para nós. Ele perguntou
nossos nomes, e quando Lane disse a ele, nos deixou entrar. Genevieve
claramente se saiu bem. O interior de seu lugar era ainda mais luxuoso que
o exterior, com tetos abertos e vigas expostas, e sua decoração era toda em
cores claras.
Um homem se aproximou de nós. — Ei, Lane. Como você está?
— Demetrius, oi. Estou bem. Este é meu parceiro, Isaac Pierce. — Ele se
virou para mim. — Uma das minhas primeiras exposições em grande escala
foi com Demetrius.
Apertamos as mãos. — É ótimo conhecê-lo. — eu disse a ele.
— Você também. — Ele voltou sua atenção para Lane. — Gen está
delirando com suas novas peças. Foi a primeira coisa que ela me mostrou.
Seu esquema de cores é lindo. Você vai expandi-lo?
Os dois conversaram por alguns minutos, e então seguimos em frente. Mal
demos alguns passos antes que ele fosse parado novamente. Cada vez, ele
me apresentou como seu parceiro. Ninguém olhou duas vezes para nós.
Ninguém questionou nada. Todos elogiaram o trabalho de Lane, as duas
pinturas lá, bem como as coisas que ele havia feito no passado.
Afastei-me e o observei brilhar. Eu sempre soube que Lane tinha feito um
nome para si mesmo, era claro, mas era diferente vê-lo pessoalmente, sendo
o homem em seu braço enquanto ele estava cercado por pessoas
descaradamente admiradas por ele.
Quando finalmente tivemos um momento para nós mesmos, eu me
inclinei, os lábios perto da orelha de Lane. — Você sempre disse que as
pessoas gravitam em torno de mim, mas do jeito que eu vejo, é você.
Ele realmente corou. — Só aqui, nessas situações. No entanto, isso exige
muito de mim.
— Ainda aquele garoto que prefere ficar sozinho no sótão.
— Não sozinho.
Segurei seu rosto, sorri e o beijei.
— Sinto muito interromper. — Ouvi assim que eu estava me afastando.
Não havia dúvida de que era Genevieve. Ela era a mulher mais bonita que
eu já tinha visto, com maçãs do rosto salientes, cílios escuros e um sorriso
gentil.
— Não, você não sente. — Lane brincou com ela.
— Este deve ser Isaac. — Ela estendeu a mão para mim, e eu a peguei. —
O que quer que você esteja fazendo com ele, continue assim. Se ele continuar
criando trabalhos como esse, não há como pará-lo.
— Não sou eu. É tudo ele. — Respondi.
Um cavalheiro passou com uma bandeja, e peguei taças para nós três,
dando a Genevieve a dela primeiro, depois Lane, e guardando uma para
mim.
— Pelo que Lane diz, ele tinha uma grande musa.
Minhas sobrancelhas franziram, surpreso que ele falou isso a ela, mas
depois disse: — Bem, não posso discutir com você.
Nós três rimos.
Fomos com ela para onde ela exibiu as pinturas de Lane. Havia um grupo
de pessoas ao redor delas, todos conversando e dissecando seu trabalho.
Quando perceberam que estava lá, voltaram sua atenção para ele. Lane
claramente conhecia alguns deles, e outros não.
Era um fluxo constante de pessoas, todas competindo por um pedaço dele.
À medida que a noite avançava, pude ver que ele estava tendo mais
dificuldade em lidar com isso. Lane estava sobrecarregado com as pessoas.
— Quando estiver pronto, diga a palavra. — Empurrei seu cabelo atrás de
sua orelha.
— Em breve. — Ele respondeu antes de ser puxado para a conversa
novamente. Genevieve ainda estava lá conversando. Demetrius se juntou a
nós também, junto com alguns outros.
Quando dois homens se aproximaram, pude sentir a mudança em Lane,
ver a animação saltando dentro dele.
— Você é Ezra. — Lane disse.
— Lane é um fã. — Genevieve sorriu. Agora que ela disse isso, reconheci
o nome como um dos pintores favoritos de Lane.
O homem com ele era seu parceiro, ao que parecia. Ele tinha seu braço
enganchado no de Ezra, mas estava olhando para a arte de Lane.
— E você é Lane Ryan. É, hum... bom conhecê-lo. — Ezra parecia um
pouco tímido e contido, mas então apontou para a tela de Lane. — Isto é
incrível.
Ezra e Lane, junto com o resto do grupo, voltaram a discutir as duas
pinturas e conversar. Aparentemente, Ezra e seu parceiro, Dae, estavam fora
da Califórnia para uma exposição, e Genevieve os convidou para a festa.
Todo o comportamento de Lane havia mudado. Ele não estava mais
pronto para ir para casa. Era óbvio o quanto ele respeitava Ezra e gostava de
conversar sobre sua própria arte com ele.
Durante uma pausa na conversa, olhei para cima para ver mais duas
pessoas se aproximando. Os cabelos da minha nuca se eriçaram, porque era
claro que a bola de gosma com cara de merda tinha que estar lá.
— Lane... ei. — Jayden disse, e o olhar de Lane estalou para ele. O homem
com ele tinha olhos escuros e seu cabelo estava preso para trás.
— Olá, Jayden. Salvador. — Lane disse, sua voz não contendo a raiva que
eu sentia percorrendo em minhas veias. Esse era o cara que Jayden tinha
fodido quando estava com Lane?
— Bom te ver de novo. — Salvador disse, então se virou para mim. — E
você é o irmão de Lane, Isaac, certo?
Meu corpo ficou rígido, uma raiva incandescente disparando através de
mim. Pude ver o brilho no olhar de Salvador. Ele sabia exatamente o que
estava fazendo.
Todos ao nosso redor ficaram quietos, parecendo confusos. Lane tinha me
chamado de seu parceiro, e agora Salvador estava me chamando de irmão
de Lane.
— Meio-irmão. — Jayden disse em uníssono com Lane. — Ele é meu
parceiro. Isso é tudo que importa.
Ninguém falou por um momento. Você podia sentir o desconforto de
alguns, a confusão de outros.
Foi Dae quem quebrou o silêncio tenso.
— Vocês formam um belo casal.
— Eles formam — concordou Genevieve. — Eu estava dizendo a Lane
ontem como estou emocionada por ele. Ele está feliz e está criando algumas
das melhores artes de sua carreira.
Coloquei meu braço em volta da cintura de Lane, apertei-o em apoio. —
Estou incrivelmente orgulhoso dele e de seu trabalho, e tenho muita sorte de
tê-lo.
Jayden desviou o olhar, sua mandíbula apertada. Algumas pessoas
pediram licença, provavelmente sem saber o que pensavam da bomba que
Salvador havia lançado, ou tentado. Mas não senti nenhuma vergonha de
estar com Lane. Atingiu-me então, que eu tinha antes. Que,
independentemente do quanto eu o amasse e quisesse estar com ele, a
vergonha - não apenas a culpa - tinha sido parte do que sempre me impedia.
E naquele segundo, apesar de todo o resto, simplesmente desapareceu.
Não tínhamos espaço para isso em nossas vidas.
— Você parece bem — Jayden disse a Lane. — As pinturas são incríveis.
Estou feliz por você. Se me der licença. — Com raiva em seus olhos, ele deu
um olhar de despedida para Salvador, então se afastou.
— Já volto. — disse Lane.
— Eu irei, se estiver tudo bem. — Porque por mais que eu não gostasse de
Jayden, o olhar em seu rosto e seu olhar de despedida para Salvador
sugeriam que ele não pretendia que isso acontecesse.
Lane assentiu e fui atrás de Jayden. Eu não o alcancei até que ele estava no
corredor, indo em direção ao elevador. Ele deve ter ouvido meus passos
porque ele parou e disse: — Sinto muito, Lane. — Antes de se virar. — Oh.
Totalmente não é quem eu esperava.
— Sou cheio de surpresas. O que posso dizer?
— Eu sabia que você o queria desde o primeiro momento em que te vi.
— Eu o amei desde o início.
— Ugh. Eu te odiei desde o início, mas é difícil quando você diz coisas
assim. — Jayden suspirou. — Está claro o que ele significa para você, e uma
vez que vi Lane com você, era óbvio que ele sentia isso também. Eu não
queria que isso acontecesse... com Salvador. Eu já havia contado a Sal sobre
o irmão idiota de Lane, Isaac. Quando te vi esta noite, ficou claro que estão
juntos. Indiquei você, mas não esperava que Salvador fosse falar disso na
frente de todas aquelas pessoas. Ou inferno, talvez eu sabia e estou mentindo
para mim mesmo. De qualquer forma, uma vez que aconteceu, percebi o
quão errado parecia.
Jayden era... talvez não tão ruim quanto eu pensava. Ele nunca seria minha
pessoa favorita, mas enquanto estávamos lá, pensei que talvez o entendesse
um pouco mais do que antes.
— O ciúme e o coração partido fazem essas coisas com as pessoas. Eu
também não fui justo com você.
— Você não foi tão ruim assim.
— Sonhei em te esfaquear com uma faca de manteiga.
— Ai. — O elevador apitou e duas pessoas saíram. Esperamos até que
andassem pelo corredor e entrassem no lugar de Genevieve, e então Jayden
disse: — Eu o amo... Lane, não Salvador. Mas... não somos certos um para o
outro. Mesmo sem você não seríamos, mas eu o amo. Você provavelmente
não acredita em mim por causa de como me comportei e por causa de
Salvador. Não é desculpa, mas eu sabia que Lane não me amava... e foi por
isso que quando Salvador estava lá...
Dei de ombros. — Não importa o que acredito, mas sei que estar
apaixonado não é fácil. As pessoas são falhas. Nem sempre fazem a coisa
certa. Você pode ser um pouco pior do que a maioria, mas ainda é humano.
É impossível fazer a coisa certa o tempo todo.
Jayden riu. — Sabe, se não estivesse com Lane, talvez não fosse tão ruim
assim.
— Se você não estivesse com ele, talvez também não fosse.
Ficamos quietos então, nenhum de nós sabendo o que dizer.
— Diga a Lane que sinto muito e que estou realmente feliz por ele. — disse
Jayden, e assenti.
Ele foi para o elevador. Assisti quando ele desapareceu atrás das portas, e
então voltei para o meu homem.
Lane
A notícia se espalhou naquela noite. Houve alguns sussurros baixos e
olhares questionadores, mas não deixamos isso nos incomodar. Algumas
pessoas sempre encontravam algo para julgar, ou achavam que qualquer
experiência diferente da deles estava errada. Não havia nada que
pudéssemos fazer sobre isso, então não nos permitimos tentar. Mantivemos
nossas cabeças erguidas e gostávamos de estar juntos. Porque enquanto
havia pessoas que assistiam, mas rapidamente se afastavam quando
olhamos para elas, havia outras que não davam a mínima, que apoiavam.
Sim, talvez nossa história não fosse normal, mas o que diabos era normal de
qualquer maneira? Era apenas essa coisa em constante mudança, sem
definição verdadeira, pela qual as pessoas se esforçavam.
Não muito tempo depois que Jayden saiu, Salvador também, não tendo
obtido a resposta que ele tentou. Ele nunca gostou de mim de verdade - ele
fodeu Jayden sabendo que estávamos juntos - então talvez esse fosse o
motivo, ou talvez não fosse. Eu não sabia e não me importava.
— Eu disse a você que Jayden não era tão ruim quanto você pensava —
disse a Isaac de volta ao meu apartamento depois que ele me contou o que
Jayden havia dito.
— Acho que você está certo de vez em quando — ele brincou.
— Quero ir para casa... de volta para Atlanta. Acho que não quero ficar na
cidade permanentemente. Pelo menos não agora. — Porque enquanto eu não
me importava com o que as pessoas pensavam, eu me importava com nossos
pais, e eu não estava pronto para desistir deles. Eles nos amavam. Eles
aceitariam Isaac e eu como um casal. Eu tinha que acreditar nisso.
— O que quiser, mas se mudar de ideia, diga a palavra. Não estou preso a
um lugar, Lane. Apenas uma pessoa.
Aninhei-me mais perto dele. — Quem? Não, espere, eu acho…
— Você é um idiota.
— Eu sei que você é, mas o que sou? — Eu disse brincando.
Partimos para Atlanta dois dias depois. Semanas se passaram e me perdi
na minha pintura. Eu tinha duas peças acontecendo, uma que Isaac viu e
outra que ele não viu. Não tinha certeza exatamente por que eu estava
pintando, ou por que eu não estava pronto para mostrar a ele. Simplesmente
não parecia certo, ainda não, apesar de ter tomado conta dos meus
pensamentos quase todos os segundos do dia.
Ele trabalhou e reclamou do apartamento bagunçado, e eu trabalhei mais
para melhorar. Aparentemente, meu hábito de estar nu o ajudou a ignorar
minhas qualidades nada estelares, ele brincou.
Falei com mamãe ao telefone algumas vezes. Não era como se nenhum
deles fosse o tipo de pai que nunca mais falasse conosco, mas pela primeira
vez na minha vida, ela não sabia como falar comigo sobre algo... e ela não
queria. Era muito difícil para ela entender, então evitamos o assunto e só
tivemos conversas rápidas e desconfortáveis.
Como Timothy nunca tinha sido o melhor com palavras e falando sobre
como se sentia, ele geralmente mandava seu amor através de mamãe ou
mensagens de texto com Isaac.
Fazia quase três semanas que estávamos em casa. Fiquei na frente da
minha pintura acabada, o orgulho me enchendo até transbordar.
Era tudo o que eu esperava que fosse, talvez um dos meus melhores
trabalhos. Eu não sabia o que eu achava que iria conseguir, se alguma coisa,
mas eu tinha feito isso, deixando meu coração em cada pincelada, e sabia
exatamente o que fazer com isso.
Isaac
— O que você está fazendo neste fim de semana? — Steven perguntou.
Era um sábado, e eu estava trabalhando metade do dia para cuidar de
algumas coisas. Exceto por nós dois, o escritório estava vazio.
— Não sei. Preciso falar com Lane. Ele mencionou uma caminhada.
— Seu irmão?
Eu estava esperando por um momento como este, e eu planejava ser
sincero. Depois do que pareceu uma vida inteira de negação, algo tinha
acabado de se resolver em mim quando contamos aos nossos pais.
— Na verdade, ele é meu meio-irmão, mas agora ele é meu parceiro. — Eu
não podia fingir que meu pulso não tentou fugir de mim. Mas enquanto eu
ainda estava nervoso sobre como as pessoas reagiriam a Lane e eu estarmos
juntos, isso não me seguraria nunca mais.
— Uau. Isso é... meio sexy. — Steven respondeu, me fazendo revirar os
olhos.
— Oh meu Deus.
— Bem, é. Não me diga que nunca assistiu pornografia de meio-irmão.
— Não, realmente não. Isso era muito perto do que parecia um sonho
impossível na maior parte da minha vida.
— Só você poderia fazer minhas fantasias pornográficas se tornarem
realidade.
Nós rimos. — Talvez nós três possamos sair para jantar algum dia.
— Gostaria disso. Estou feliz por você, Isaac.
— Obrigado. — Fiquei feliz por mim também.
Eu tinha acabado de arrumar minhas coisas para ir para casa, quando meu
celular tocou. Olhei para onde estava na minha mesa para ver papai na tela.
Meu estômago se contorceu em nós, a preocupação caindo no meu peito. Eu
nunca estive tão preocupado em minha vida, mas muitas coisas pareciam ter
mudado em mim ultimamente.
— Oi, pai. Está tudo bem?
— Sim, eu, hum... queria saber se você poderia me encontrar... estou com
a mamãe...
O pavor em mim cresceu. Tentei engolir o nó crescente na minha garganta,
mas não consegui. A maneira como ele disse mamãe, eu sabia que ele não
queria dizer Helena.
— Agora mesmo?
— Se estiver tudo bem. Se não, eu gostaria de ir vê-lo. Eu só... Nós não a
visitamos há muito tempo.
Não, não, não tínhamos visitado. Nos primeiros dias após seu enterro,
papai passou o dia todo no cemitério, mas depois disso, a única vez que ele
ia era no aniversário de sua morte. Isso parou alguns anos atrás, no entanto.
— Sim, claro. Levarei cerca de uma hora, mas estarei aí.
— Obrigado. Agradeço.
Não liguei para Lane. Não queria preocupá-lo até saber o que papai
queria. Ele estava com Kylie hoje. Ele contou a ela sobre nós, e os dois
continuaram amigos.
Uma âncora segurou meu estômago durante toda a viagem. Apesar de
não ter ido há anos, sabia de cor o caminho pelo cemitério. Eu vi meu pai à
frente, sentado no chão em frente à lápide da minha mãe. Estava de costas
para mim, mas eu poderia dizer que ele estava falando com ela.
Tropecei um pouco, mas me forcei a continuar. Papai se virou e olhou para
mim. O sol brilhou em seus cabelos grisalhos.
— Ainda sinto falta dela — papai disse, olhando para a lápide.
Suspirei e me sentei ao lado dele. — Ainda sinto falta dela também.
— Às vezes é difícil aceitar isso. Amo Helena com todo meu coração, mas
sempre amarei Leslie também. Eu... eu tenho pensado muito sobre isso
ultimamente, quanta capacidade nós temos para o amor. Quanto nossos
corações podem segurar, tantas pessoas que podemos amar de tantas
maneiras diferentes. Como posso estar apaixonado por Helena, mas uma
parte do meu coração sempre pertencerá a Leslie. O jeito que nunca pensei
que seria capaz de me sentir assim de novo por alguém até conhecê-la. Como
o amor pode crescer e mudar. É realmente incrível, não é? — Ele ainda estava
olhando para a lápide da minha mãe e não para mim.
— Sim, pai, é.
Ele ficou quieto por um momento, então perguntou: — Eu não estava
sempre presente para você, estava?
Meu peito apertou. — O quê? Não. Você é um ótimo pai. Eu sempre soube
que você me ama.
— Talvez você saiba, mas eu não estava sempre presente para você. Tudo
bem. Pode me dizer. Quando sua mãe faleceu, eu me perdi. E enquanto isso
é bom em alguns aspectos, não é em outros, porque eu era o adulto. Eu era
seu pai e fiquei tão enterrado em minha própria dor que deixei você se afogar
na sua, não foi? — Ele olhou para mim então, lágrimas transbordando em
seus olhos, que imploravam pela verdade.
— Sim. Mas entendia.
— Você era uma criança. Não deveria ter feito isso.
— Você a amava.
— Eu também te amava, e eu deveria ter sido melhor em demonstrar isso.
Não deveria ter deixado você se sentir sozinho... e deixei, não é? Até Lane.
Foi a minha vez de olhar para baixo. Torci minhas mãos juntas no meu
colo. — Sim.
— Você sempre foi diferente com ele.
— Eu estava sempre em casa com ele — respondi honestamente. — Ele
sabe quando me pressionar e quando não – e ele faz isso. Ele não me deixa
escapar de nada. Não espera que eu sempre tenha controle, que seja perfeito.
Ele costumava me perguntar sobre ela... falar comigo sobre ela quando eu
sentia tanta falta dela que mal conseguia respirar.
— E eu não fiz isso. Sinto muito por isso, filho.
— Eu sei. — E eu sabia. A vida não era fácil, não para nenhum de nós.
Todos nós erramos, todos machucamos as pessoas que amávamos e todos
éramos um pouco egoístas às vezes. Afinal, éramos apenas humanos.
— É engraçado… ultimamente tenho pensado muito sobre o amor e o
coração, e então recebi uma entrega, e era a pintura de Lane.
Meu olhar estalou para ele. — A pintura de Lane?
— Ele não mostrou a você?
Meu coração batia acelerado contra meu peito. — Não.
Papai pegou seu telefone, encontrou o que estava procurando e o
entregou. Era uma foto que ele havia tirado da pintura de Lane. Tive que dar
zoom para ver os detalhes. Ficou claro que era de mim. Ele me pintou para
que pudesse me ver costurado em minhas junções. Podia ver dentro de mim,
e tudo o que havia era um grande coração, grande demais para o meu corpo.
Estava tentando sair do meu peito, esticando a costura que me mantinha
unido.
Havia diferentes versões de mim na mesma tela, progredindo para que
em cada uma eu fosse um pouco mais preenchido, mas meu coração ainda
estava lá, ainda grande demais para caber dentro de mim, tentando me abrir.
Um após o outro após o outro... até o último, onde eu estava inteiro. Carne e
sangue e osso. Meu coração foi cortado ao meio, meu fio apertado em vez de
esticado, e lá estava Lane, com a mão estendida para mim, a outra metade
do meu coração em seu peito.
Meus olhos embaçaram até que eu não consegui ver nada além da água
nadando em meu olhar. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Maldito
Lane. Como eu tive tanta sorte de merecê-lo?
— Não há nada mais forte do que um coração. Tem o poder de nos
quebrar, mas também de nos edificar. Lane está certo, sabe? Você sempre
teve um coração muito grande, Isaac. Maior do que você precisava, grande
o suficiente para ser compartilhado com outras pessoas. Como eu disse, eu
estava pensando sobre nossa capacidade de amar e como nunca pensei que
amaria de novo, ou que eu nunca amaria ninguém além de Leslie, até que
Helena mudou isso, e eu acho... acho que Lane fez isso por você. Acho que
você sempre soube melhor do que eu, mas ele tornou possível para você
compartilhar seu coração porque você sabia que podia confiar nele. E
podemos amar as pessoas de muitas maneiras. Enquanto ele sempre foi uma
coisa para mim, ele sempre foi algo diferente para você. O mesmo vale para
você e Helena... e você era algo diferente para Lane.
— Depois que peguei essa pintura, liguei para sua avó primeiro. Ela me
disse que eu era um tolo, e que estava claro como o dia que você estava
apaixonado por Lane há anos. Ela está certa em ambas as coisas.
Eu sorri. Porra, ela era ótima. — Então conversei com Helena antes de vir
aqui para falar com sua mãe, que eu também sei que pensaria que estou
sendo um tolo. Eu amo Lane. Ele é meu filho... e a melhor pessoa do mundo
em quem posso confiar para amar e cuidar da pessoa mais importante da
minha vida do jeito que você merece. Não sei por que não pudemos ver isso
desde o início. Nós os criamos para serem bons homens, para cuidarem um
do outro. Não podemos ficar bravos com vocês por se transformarem
exatamente em quem queríamos que vocês fossem.
Puxei meu pai para um abraço. Nós nos seguramos firmes, choramos
juntos, então nos sentamos lá e conversamos com mamãe e compartilhamos
algumas risadas juntos.
Um pouco depois, papai se levantou e disse: — Por que não vem até em
casa?
— Lane…
— Venha para casa, filho.
Balancei a cabeça, levantei-me.
Lane estava lá com Helena quando entramos. Eu poderia dizer que
choraram e falaram sozinhos.
Foi Helena quem me procurou primeiro. — Eu sempre disse que tudo que
eu queria era que vocês dois fossem felizes. Posso ter esquecido isso por um
tempo, e pode levar algum tempo para me acostumar, tentando mudar
minha maneira de pensar, mas... você e Lane... vocês fazem sentido.
Ninguém jamais fez Lane mais feliz do que você, e ninguém nunca o amou
como você também. Isso é tudo que uma mãe pode pedir. Eu te amo filho.
Puxei Helena para um abraço. — Também te amo, mãe.
Ela explodiu em lágrimas com isso. Olhei por cima de sua cabeça para seu
filho, o homem que amei a maior parte da minha vida, e sorri.
Ficamos para jantar, depois decidimos passar a noite. Nós quatro jogamos
jogos de tabuleiro juntos até mamãe e papai irem para a cama.
Lane e eu subimos para o sótão, nem discutindo para onde estávamos
indo. Seria sempre o nosso lugar.
— Deixe-me desenhá-lo. — Lane perguntou.
— Sempre.
Lane
Dois anos depois
— Quem roubou um dos meus biscoitos? — Mamãe perguntou, braços
cruzados, olhando para todos na sala. Toda a nossa família estava na cidade.
A última vez que estivemos juntos assim foi no verão que Isaac e eu
admitimos que estávamos apaixonados um pelo outro.
Tinha sido um interessante dois anos desde então. Vovó Marcie já sabia.
Inferno, ela sabia antes de Isaac e eu contarmos a alguém. E ela foi nossa
maior apoiadora desde o início. Ela também gostava de nos provocar por
causa das camas barulhentas. Claramente, não tínhamos sido tão sorrateiros
quanto pensávamos naquela noite, dois anos atrás.
Nossas primas não se importavam. Elas ficaram surpresas, mas não tinha
sido grande coisa com elas, nem com seus filhos.
As tias, tios e Nana tinham sido mais difíceis de entender. Foi mais difícil
para eles conseguirem fazer a transição de Isaac e eu como irmãos, para Isaac
e eu como parceiros. Mas tinham porque éramos uma família e eles nos
amavam. A família deveria aceitá-lo por quem você era e, em última análise,
foi isso que a nossa fez.
Não era perfeito, era claro. Houve momentos no início em que as pessoas
esqueceriam. Ouvíamos coisas como: Como está seu irmão? Ou, você pode pegar
seu irmão para mim? Era estranho, mas compreensível. Essas situações não
aconteciam mais. Não com as pessoas mais próximas a nós.
Certa vez, quando estávamos visitando nossos pais, encontramos Johnny,
um dos amigos de Isaac do ensino médio. Ele ficou escandalizado por
estarmos juntos. Ele tentou escondê-lo, mas não foi capaz de fazê-lo tão bem,
então inventamos nossas desculpas para interromper a reunião. Um de seus
outros amigos ligou algumas semanas depois para dizer que estava feliz por
Isaac. Ele descobriu porque Johnny estava tagarelando para qualquer um
que quisesse ouvir sobre a aberração que Isaac tinha se tornado. Eu me sentia
mal por Isaac, mas ele não se importou. Não precisávamos dessas pessoas
em nossas vidas.
— Não fui eu — Isaac disse ao meu lado, me puxando de volta para a
discussão atual sobre os biscoitos de chocolate da mamãe. — Mas também
não estou dizendo que o culpado não está sentado ao meu lado.
Virei minha cabeça em direção a ele. — Seu traidor! Eu não posso acreditar
que acabou de fazer isso. Não foi só eu. Taylor pegou um também! — Delatei
minha prima, que se engasgou.
— Por que você está me arrastando para baixo com você? Não quero me
envolver em suas estranhas manias e de Isaac.
— Taylor! — Tia Ophelia gritou.
— Estou brincando, mãe.
Isaac abriu a boca. Não havia um osso no meu corpo que não soubesse que
ele teria algum tipo de comentário inapropriado que me envergonharia.
Levantei uma sobrancelha, dando-lhe um olhar de nem-pense-sobre-isso, o
que o fez rir, antes de me inclinar para me beijar.
— Você não é divertido — ele disse suavemente.
— Eu sou toda a diversão — respondi. Virei-me para mamãe. — Além
disso, Isaac derramou vinho no tapete no andar de cima.
— Seu traidor! — Ele rosnou brincalhão.
— Isaac! — Mamãe exclamou.
— Eu tirei a maior parte! E não dê ouvidos a ele. Na verdade, foi tudo
culpa dele. Nós... — Ele deixou as palavras sumirem. Sim, ele pode estar
disposto a fazer uma piada boba que me envergonharia, mas ele não seria
sincero sobre o que estávamos fazendo para fazer o vinho derramar.
— Quando éramos adolescentes — Isaac começou.
— Pare aí mesmo. — Ele não iria. Como se estivesse lendo minha mente,
Isaac cruzou os braços, me dando um meio sorriso desafiador.
— Oh, isso eu tenho que ouvir — vovó disse.
— Não pode ser tão ruim se foi meu Lane. — Acrescentou Nana.
Eu sabia exatamente o que Isaac estava insinuando. Era a história que ele
brincou sobre contar naquela noite quando Jayden esteve aqui anos atrás. E
por falar em Jayden, ele e eu estávamos nos dado bem, conversando de vez
em quando. Ele estava namorando um novo homem, e pareciam estar indo
bem. Ele não teve nada a ver com Salvador depois daquela noite na festa.
— Você sabe que tenho minhas maneiras de me vingar de você. — Avisei
meu parceiro. Sem sexo por um mês, tentei dizer a ele com meus olhos, o que
obviamente era uma mentira. Eu queria Isaac o tempo todo, mas estava
disposto a fingir a ameaça.
— O que quer que você esteja planejando, não acho que poderia lidar com
isso. — respondeu Isaac, porque era claro que ele leu nas entrelinhas e sabia
que era mentira.
— O que aconteceu todos esses anos atrás? Sinto que isso é algo que
preciso saber. — Minha mãe disse.
Não, realmente não era. Eu não estava prestes a dizer a ela, e eu não acho
que Isaac também.
Então papai disse – e era bom chamá-lo assim de novo porque ele era meu
pai tanto quanto Isaac era o homem que eu amava. — Se este é o momento
em que Lane decidiu que ele faria algo selvagem pela primeira vez na vida
dele, pegou o carro antes de tirar a carteira de motorista, e ficou com aquele
amassado no para-choque, você também está se dedurando, Isaac. Acredito
que foi você quem tentou esconder de nós, pagou pelo outro carro e levou
nosso veículo para consertá-lo, enquanto pensava que eu não tinha ideia do
que estava acontecendo.
Ambas as nossas bocas caíram abertas. Essa era exatamente a história.
Isaac tinha conseguido sua licença antes de mim. Eu não estava tão
interessado, mas então ele estava fora o tempo todo com seus amigos, e eu
estava me sentindo rebelde e ansioso sem ele. Eu tinha dado a volta no
quarteirão antes de ficar com medo, encostado, então continuei e bati em
outro carro.
Foi para Isaac que liguei. O vizinho concordou em nos deixar compensar
os danos naquele verão sem contar aos nossos pais. Isaac pediu o carro
emprestado no dia seguinte e ficou parado na oficina, esperando que fosse
consertado, usando o dinheiro que ganhara em seu emprego de meio
período.
Mas esse tinha sido o nosso segredo. Papai sabia, e ele não disse nada?
— Como…? — Perguntou Isaac.
— Em algumas coisas, vocês meninos não são tão sorrateiros quanto
pensam que são. — Papai respondeu.
— Não posso acreditar que não me contou, Timothy! — Mamãe o golpeou
de brincadeira. Ops. Parecia que ele havia denunciado a si mesmo também.
Todos na casa riram. — Eu simplesmente não sei mais em quem posso
confiar — ela brincou.
— Eu te amo mãe. — Isaac apertou a mão dela. — Eu queria te contar
desde o começo. — Ele sempre a chamava de mãe agora também, e isso
significava muito para os dois. Ficava claro cada vez que Isaac dizia isso.
— Puxa-saco — eu disse a ele.
Jantamos, e então mamãe distribuiu os biscoitos. Houve risos e jogos,
conversas e mais provocações mútuas. Foi perfeito. Eu amava tanto a nossa
família. Eu não conseguia imaginar nossas vidas sem isso – as pessoas que
significavam tanto para nós, aqueles ali na sala conosco, e nossos amigos,
como Hutch e Ryder.
Hoje era o último dia de reunião da família, e amanhã nossos parentes
estariam indo para casa, então, pouco antes de todos estarem prestes a se
acomodar para a noite, eu disse: — Tenho uma pintura que quero mostrar a
vocês.
Isaac franziu a testa, mas esperou com todos os outros enquanto eu ia
pegá-la de onde eu a havia escondido no armário. Carreguei a tela para
baixo, o pano branco por cima para que ninguém visse.
— Você pode pegar aquele cavalete perto da porta para mim? — Perguntei
ao Isaac, que foi buscá-lo. Ele o colocou ao meu lado, e coloquei a pintura
sobre ele. Balancei a cabeça em direção a ele, e ele ficou com um olhar curioso
em seu rosto, mas tirou o pano.
Mamãe começou a chorar no segundo em que me viu na tela, de joelhos,
Isaac parado na minha frente.
Abaixei-me no chão, na mesma posição que eu tinha pintado.
— Lane? — Isaac se virou para mim, surpresa evidente em seus olhos
quando ele não me viu até que baixou o olhar.
Estendi o anel para ele, minha mão ridiculamente trêmula, mesmo
sabendo qual seria sua resposta. — Sempre foi você para mim, Isaac. Tenho
orgulho de ser seu melhor amigo, seu parceiro de vida, e nada me deixaria
mais feliz do que chamá-lo de meu marido. Quer se casar comigo?
Isaac agarrou meu pulso e me puxou para levantar-se. — Sim, seu idiota.
Claro que quero.
Todos aplaudiram e felicitaram, mamãe e nossas avós choraram, e eu
soube disso desde aquele momento, anos atrás, quando olhei para ele pela
janela, depois que nossos pais fizeram seus votos, que cada segundo, cada
passo que demos em nossas vidas, foi projetado para nos levar exatamente
onde estávamos. Juntos.
Escrever um livro é muito solitário, mas também é preciso uma aldeia para
ajudar a preparar uma história para o lançamento.
Em primeiro lugar, tenho de agradecer à minha família. Embora eu tenha
sorte de trabalhar em casa, isso também significa que meu computador está
sempre ali. Meus livros são importantes para mim. Cada palavra vem do
meu coração e minha necessidade de contar uma variedade de histórias
diferentes sobre diferentes tipos de personagens e de muitas maneiras
diferentes. Na maioria das vezes, eu trabalho o dia todo. Tenho sorte de ter
uma família tão solidária ao meu lado, que não só se preocupa muito comigo,
mas também me avisa quando é hora de fazer uma pausa.
Gostaria de agradecer aos meus leitores beta neste romance: Mia, Jenn e
Saxon. Obrigado por ler meu primeiro rascunho confuso e não me julgar por
isso. LOL.
Minha editora, Keren... Me desculpe, eu sou um desastre! Obrigada por
me ajudar a fazer meus livros brilharem.
Charity, Judy e Dianne - obrigada por suas fantásticas habilidades de
prova.
Um segundo obrigada a Charity por ser uma Assistente Pessoal incrível.
Aos meus leitores. Obrigada. Eu sei que escrevo muita coisa. Eu sei que
posso ir de uma história leve para uma comovente, mas acredito muito em
sempre seguir sua musa. Se você leu um dos meus livros ou todos eles,
obrigada pelo apoio e por me dar uma chance.
Riley
Riley Hart sempre foi conhecida como a garota que usa seu coração na
manga. Ganhou seu primeiro concurso de escrita na escola primária e,
embora se concentre principalmente no romance M/M, sob seus vários
pseudônimos, ela escreveu um pouco de tudo. Independentemente do subgênero, sempre há um tema em comum e esse é... o romance! Nenhuma
surpresa, visto que ela mesma é uma romântica incorrigível. Riley é uma
amante de enredos baseados em personagens falhos e sempre tenta escrever
histórias e personagens com os quais as pessoas possam se relacionar.
Acredita que todos merecem se ver nos livros que leem. Quando não está
escrevendo, você a encontrará lendo ou aproveitando o tempo com sua
família incrível em sua casa na Carolina do Norte.
Riley Hart é representada por Jane Dystel na Dystel, Goderich & Bourret
Literary Management. Ela é finalista do Lambda Literary Award de 2019 por
Of Sunlight e Stardust. Sob seu pseudônimo, seu romance para jovens
adultos, The History of Us é uma leitura recomendada da ALA Rainbow
Booklist e Turn the World Upside Down é um vencedor do Prêmio de Livros
do Presidente dos Autores e Editores da Flórida.
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