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CoisasQueSoUmaMulherEntende

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Copyright © 2011 Alessandra Garattoni
TEXTO, DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA
Alessandra Garattoni
http://www.alegarattoni.com.br
* TEXTOS PUBLICADOS NA INTERNET POR ALESSANDRA GARATTONI ENTRE OUTUBRO/2005 E DEZEMBRO/2007
Índice
INTRODUÇÃO 4 AH, OS CONTOS DE FADAS... 5 ELA QUERIA UM CARRO AMARELO, MAS... 6 VOLTANDO À VIDA... DO MEU JEITO! 7 SÓ ACABA QUANDO TERMINA 8 FIM DE CASO – A CONFISSÃO 9 EXTREMOS – PRA MIM É TUDO OU NUNCA MAIS 11 QUANTOS CENTÍMETROS FALTAM PARA O ALTAR? 12 AINDA TÁ DOENDO... 13 ENTRE QUATRO MINI PAREDES 14 RELATOS DE UMA CARIOCA QUE ATERRISSOU EM CONGONHAS PRA SEMPRE 15 VENCE QUANDO? 16 O JOGO SETE E MEIO DA VIDA REAL 18 PÁGINA VIRADA, CARTA FORA DO BARALHO OU SIMPLESMENTE... RÉVEILLON 19 AMAR É... 20 DESPEDIDAS: UM NOVO COMEÇO 22 LIFE BEGINS AT 30 23 PEQUENA 25 POUSOS, DECOLAGENS E PAIXÕES 26 O QUE É INTIMIDADE? 27 PARA O GÊNIO DA LÂMPADA 28 WANNA PLAY A GAME? AH, OS JOGUINHOS... 29 CLÍNICA DE REABILITAÇÃO SENTIMENTAL 30 alegarattoni.com.br
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Introdução
Escrevi estes textos em uma época em que subia no pufe da balada e de lá só saía
de manhã! O teclado era um divã, as palavras eram desabafos e os leitores, ah, eu
sinceramente nunca parei pra pensar que pessoas liam todas essas baboseiras que
eu, quase anonimamente, publicava em um já extinto blog. Aliás, essa liberdade de
não pensar que alguém vai de fato ler o que você está escrevendo – coisa que eu já
perdi um pouco (Ok, muito… ok, quase completamente!) – é o melhor complemento
de um bom texto. É o que te liberta mesmo, é o que incrementa a criatividade, é o
que te livra de autobloqueios e da terrível e impiedosa autocensura.
Entre outubro de 2005 e dezembro de 2007, foram quase 500 crônicas em
primeira pessoa e, ainda que eu postasse sob um codinome e fingisse que era tudo
apenas ficção, muitas passagens da minha vida foram relatadas em tempo real. O
curioso é que eu encerrei esse tal blog para criar o ItGirls e, desde então, nunca
mais consegui me soltar para escrever em primeira pessoa – nem mesmo sobre
assuntos aleatórios como maquiagem, moda ou… it girls.
Não sei se voltarei a escrever crônicas, se voltarei a escrever em primeira pessoa, se
um dia vou querer publicar oficialmente este tipo de livro. Depois de minha estreia
nas livrarias, em dezembro passado, com uma publicação sobre mulherices, meu
plano é focar profissionalmente apenas neste formato. Diquinhas de comportamento,
etiqueta, auto-estima, estilo pessoal… livro recreio, como costumo chamar. Ao
menos é o que planejo até segunda ordem (como já devem ter percebido, vivo
mudando de ideia!). Mas senti vontade de dividir um pouquinho disso que produzi
num passado não tão distante com meus novos leitores, hoje mais numerosos que
os daquela época – e também mais exigentes e com mais expectativas, ai que medo!
Os textos que compõem este e-book foram escritos em um período no qual prétroquei de estado civil, desenvolvi uma carreira profissional – antes, quase
inexistente – e me mudei do Rio para São Paulo. Também cheguei aos 30 anos,
idade que costuma ser marcante para as mulheres (pra mim, foi!). Não por acaso,
inícios e fins de relacionamentos, pessoais e profissionais, dão o tom à maior parte
deste material aqui apresentado...
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Ah, os contos de fadas...
O grande problema é que ninguém se preocupou em falar o que acontecia depois do
conhecido happy end dos contos de fadas. Nunca ninguém declarou que, passados
alguns anos, a Branca de Neve se separava e voltava a morar na casa dos sete
anões. Nunca ninguém contou que, do nada, a Fera trocava a Bela por outra não tão
bela assim. Nunca ninguém veio a público falar que a Cinderela enjoava do príncipe
e partia mundo afora em sua carruagem-abóbora, no melhor estilo Thelma e Louise
de ser. Nunca!
Daí a gente fica até meio culpada de se sentir assim. De perceber que sentimentos,
emoções e relacionamentos podem mesmo ter um prazo de validade. De perceber
que o amor só é eterno enquanto durar. De que diferenças só se tornam
imperceptíveis durante os primeiros meses. E de que, por melhor que tenha sido,
pode acabar...
A Branca de Neve, a Bela e a Cinderela – que nunca apareceram na capa da Caras
dizendo o tradicional “Acabou!” – me deixam confusa. Na teoria, elas eram as
mocinhas que ficaram felizes pra sempre com o amor de seus príncipes. Por que não
somos todos assim?
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Ela queria um carro azul, mas ganhou
um amarelo. Tudo bem...
Poucas pessoas têm o mesmo poder que eu tenho de me adaptar às situações. Sim,
pode-se chamar de comodismo, de não querer fugir da zona de conforto, de não
querer recomeçar do zero. Sou cheia de ideologias, sonhos e projetos, mas, de um
jeito ou de outro, acabo aceitando coisas parecidas. Simplesmente porque elas
surgiram.
Dá trabalho reclamar, pedir pra mudar ou insistir com o garçom que sua Coca-Cola
era pra vir sem limão no copo. Sei lá se o cara vai ficar bravo, se vai cuspir no meu
gelo. Que saco seria pegar um garfo e tirar eu mesma aquele limão de lá do fundo.
Ah, quer saber? Odeio Coca-Cola com limão, mas já perdi a conta das vezes que me
adaptei a esse gosto.
Acho que, na verdade, a luzinha de que há problemas à vista se acende no momento
em que você começa a se questionar. Quando você tem três opções e tudo o que
consegue pensar na hora que escolhe uma é que duas tiveram que ficar pra trás.
Não seriam aquelas duas as melhores?
Ok, eu ainda pareço confortável no carro amarelo. Mas algo me diz que existem
chances reais de eu começar a andar um pouco a pé. Afinal de contas, ainda existem
carros azuis à venda. Não?!
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Voltando à vida... do meu jeito!
Acabo de decidir que eu quero ser feliz. Feliz no sentido mais puro – e ao mesmo
tempo mais amplo – da palavra. Quero rir sem motivo, quero seguir sem rumo,
quero realizar sem plano. Tô decidida a abrir mão do que for preciso: pra que poder,
pra que dinheiro, pra que presentes? Do que adianta ter uma realidade que é
maravilhosa pros outros e nada boa pra você mesma? Pra que insistir em viver o
ideal... alheio?
Tive uma empregada, anos atrás, que pediu demissão porque decidiu que só queria
trabalhar terças, quartas e quintas-feiras. Foi um choque, ela era ótima profissional,
mas dizia, com uma segurança de dar inveja, que, enquanto tivesse arroz e feijão na
mesa, não queria trabalhar às segundas-feiras. Achei uma viagem, um pensamento
pequeno, uma falta completa de ambição. Mas quer saber? Quinze anos depois do
ocorrido, mudei de ideia. Não dá pra julgar o cérebro do vizinho. Pra ela, o
importante era feijão, arroz e liberdade. Pra que mais? Ambição só é uma coisa boa
quando, para mantê-la, você não precisa sacrificar valores, ideias, pensamentos,
convicções.
A gente perde muito tempo da vida tentando ser o que os outros querem que a
gente seja. Tentando viver a vida ideal de um monte de gente e evitando até pensar
no que seria a vida ideal pra você. Porque vai que a sua convicção te leva pra um
lado que todo mundo vai achar o fim? Mais fácil abdicar de tudo. Mais fácil seguir a
cartilha do que as pessoas acham certo.
Ando amadurecendo a ideia de que não sou igual à maioria. Que o que eles acham
pouco serve no meu dia-a-dia. Que pode ser que eu dê certo do meu jeito, quem
sabe? O que não dá mais é pra trocar riso por choro, leveza por agonia, valores por
presentes. Apenas por hobby, apenas pra fazer os outros acreditarem na minha
felicidade...
Porque, no fundo, eu quero mesmo é ser feliz – e não parecer que sou!
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Só acaba quando termina
É provável que me joguem até pedras depois dessa afirmação. Mas, sinceramente?
Acho que relacionamento falido não se ressuscita. Vai sempre surgir alguém com um
exemplo incrível, querendo provar por A + B que existe um “daqui pra frente, tudo
vai ser diferente”, mas é fato. Em assuntos do coração, esqueça o ditado “lavou, tá
novo”.
Terminar sempre é ruim. Não importa se já estava mal das pernas, não importa se
era promissor, não importa se foi perfeito até o momento final. Vai doer,
provavelmente doer muito. Vai dar saudade. Nos dias que seguem, a mente só
processa as lembranças boas. Vai trazer questionamento, dúvida, vazio. Não tem
jeito, vai!
E agora não adianta dizer que vai passar. Porque racionalmente todo mundo sabe
que passa. Ninguém que tem mais de 15 anos acredita que o sofrimento vai ser
eterno. Não há quem não tenha mil provas de que a fila vai andar. Sim, tem a turma
do “nunca mais vou amar tanto assim”, “nunca mais vou achar alguém tão legal e/ou
especial”, “nunca mais vão gostar de mim com a mesma intensidade”. Minha
resposta? Que bom, cara! Novos relacionamentos, novos ares... (com novos
problemas, ok, mas são sempre novos e diferentes dos anteriores).
Mas uma coisa eu garanto sem medo de errar. Ele não era pra você. Podia ser lindo,
uma delícia, te tratar muito bem e parecer o estereótipo da perfeição, mas não era
seu. Então, baby, guarde as fotos e cartas numa caixinha lá em cima do armário,
vire a página com decisão e bote a fila pra andar porque aqui ninguém tem tempo
pra perder!
E o melhor é que ninguém precisa morrer disso.
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Fim de caso – a confissão
Nosso caso terminou meio no susto, sem planejamento. Não foi esfriando, não deu
sinal de morte próxima, não dizia que estava perto do fim. Cheguei em casa depois
de um desfile e, em meio a muitos pensamentos na cabeça, achei que era hora de
cada um seguir seu caminho. E foi assim. Terminei, botei ponto final, achei que
aquilo não era mais pra mim.
No dia seguinte, a reação dos amigos em comum. Ninguém acreditava. Todo mundo
jurava que nossa relação era eterna, já que eu parecia sempre tão devotada e até
dependente de você. As pessoas diziam que um não teria mais graça sem o outro,
que aquela separação era a coisa mais nonsense dos últimos tempos.
Mas a verdade é que eu me sentia melhor, preciso confessar. Primeiro porque eu
tinha a sensação de que, quando estávamos juntos, todo mundo ficava
acompanhando minha vida. E, por tabela, jogando energias em mim – e geralmente
más energias, revoltas. Não queria mais ter que agüentar esse outro lado do nosso
relacionamento. E também tinha aquele lance que, por mais que eu gostasse de
você e por mais que você fosse bom pra mim, era só te ver pra arranjar uma briga,
uma confusão, um mal entendido. Cinco segundos na sua companhia podiam ter um
efeito de bomba atômica em mim.
E continuei seguindo minha vida, assim, longe. Vez por outra me falam de você, de
como você evoluiu, de como anda cheio de novidades e que está até mais fácil de
lidar. Dá uma mini saudade, normal. Mas ainda não acho que seja suficiente pra eu
ter vontade de voltar.
Fica difícil saber se essa decisão é pra sempre. É pra frente que se anda, figurinha
repetida não completa álbum, não devemos insistir nos mesmos erros. Mas sabe lá...
Não pretendo, mas não arriscaria dizer que minha decisão é definitiva. Afinal, foram
tantos momentos bons, tantas recordações legais. Com você, qualquer um sabia
direitinho quem eu era, onde eu estava, pra onde eu ia.
Mas, quer saber? Acho que não volto porque não tenho condições psicológicas pra
lidar com tudo que você me traz de brinde extra. Porque nossa relação sempre seria
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dividida com muitas outras pessoas. Porque não vai dar nunca pra ficar só com o
lado bom. É a vida!
É por isso que, até segunda ordem, eu afirmo:
- Facebook, eu não quero mais saber de você!!!
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Extremos - pra mim é tudo ou nunca
mais...
Não sei ir pra balada sem ficar até o fim da madrugada. Não sei comer só um
pãozinho, um chocolate, um nuggets de 4. Não sei beber só um copo d’água. Não
sei ser amiga só até a página três nem namorar só pra passar o tempo. Não sei
amar pela metade nem odiar de leve. Não sei achar uma pessoa mais ou menos
bonita – ou descrevo como linda ou tacho de medonha.
Não durmo oito horas por noite – ou são míseras quatro ou uma pré-hibernação de
quatorze, dezesseis. Não me exercito regularmente; a cada período de dois anos,
passo três meses malhando como louca e o restante fugindo até de caminhadas
leves. Não sei beber socialmente. Passei tanto tempo me encachaçando e, hoje, não
tolero uma tacinha de vinho.
Não consigo apenas conviver, aceitar, relevar. Se não defendo sua ideia com toda a
força e dedicação, possivelmente ela não vai significar nada pra mim. Se eu não cair
de paixão ou de admiração, é quase certo que vou achar defeitos e falar mal, muito
mal do ser humano. Ou desprezo o computador ou viro a noite teclando nele.
Te amo, te odeio; te quero, te evito; te admiro, te desprezo; te inspiro, te incomodo;
te chamo, sumo de você.
Mas uma coisa é certa: eu tenho sempre uma opinião!
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Quantos centímetros faltam para o altar?
Desde que me entendo por gente – e muito antes de virar modinha -, eu já dizia que
queria me casar de cabelos soltos. Para essa finalidade, eles, os cabelos, deveriam
estar impreterivelmente longos, bem longos.
Tinha 21 anos, namorava há quase quatro, planejava (literalmente) me casar com o
primeiro cara que cruzou a minha vida adulta e os cabelos batiam no meio das
costas. Estavam a poucos centímetros da meta – e eu a poucos meses de um
prematuro e inadequado altar. Foi então que eu, num rompante que só Freud
explicaria, me enfiei num salão sem avisar a ninguém e deixei mais de 30
centímetros de mechas. De um dia pro outro, passei de Maria Madalena Arrependida
a corte Chanel moderninho. No mês seguinte? Terminei o namoro pré-porta da
igreja. Simples assim.
O cabelo foi crescendo bem devagarzinho. Levou pouco mais de um ano pra eu
voltar a namorar. Namorar sem pensar em casar, ao menos no princípio. Ia
passando a tesoura aqui e ali. O fato de nunca ter tido um look Pocahontas durante
os três anos desse segundo relacionamento já era um indício subliminar de que não
havia luz no fim da sacristia pra nós. Nunca tinha me dado conta...
Mais um namoro, dessa vez emendado logo ali, sem raciocinar muito. Meses após
meses, as amigas iam trocando alianças, a vida profissional ia amarelando e, quase
que sem pensar na razão, deixei o cabelo ficar enorme. Altar à vista? Nem perto
disso. O relacionamento acabou e a tesoura – mais uma vez – entrou em ação
mostrando que não era a hora.
Cheguei em São Paulo com as madeixas mais longas do que nunca e um corte
frustrado me tirou uns 15 dedos sem planejamento. Mas eles cresceram na
velocidade da luz e, sem prestar atenção, em poucos meses me vi semi-casada e
cabeluda. Se eu entro no salão de cabeleireiro ou no cartório da cidade, só as
próximas semanas podem responder...
Nota extra da reedição: casei um ano depois de escrever esse texto, com os cabelos
na altura dos ombros e um penteado 100% PRESO!
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Ainda tá doendo...
Sabe quando você leva um tombo e o joelho fica roxo? Aí você dá uma mega batida
no mesmo joelho – obviamente no exato ponto que estava roxo. Sabe o quanto dói?
Pois é, é muito. Esse é o único problema das dores reincidentes, dos problemas não
resolvidos, das feridas não curadas. Enquanto não cicatrizou, o machucado fica
vulnerável, fica à mostra, fica no caminho de qualquer topada boba.
E aí, mesmo as bobas topadas vão te ferir demais. Vão fundo na alma e, de quebra,
te relembram que você não fez o curativo, não fez o repouso, não passou Gelol. Te
trazem à mente que, na hora certa, muito pouco foi feito pra apagar o roxo, pra
fechar o ciclo, pra preparar a pele a fim de que ela não se ferisse tanto numa
quedinha aleatória.
De que adianta dizer que não vai mais andar de bicicleta? De que adianta dizer que
vai voltar pra toca? De que adianta culpar quem deixou aquele brinquedo no meio do
caminho pra você tropeçar? Não faz diferença ter um culpado pra sua topada. Seja a
bicicleta, o mundo, seus próprios reflexos ou o obstáculo no qual você tropeçou, ela,
a topada, vai doer de qualquer maneira...
De um jeito ou de outro, é preciso aprender – e aceitar – que a única vez em que
vão aplaudir sua andada sem topadas nem tombos é quando ela acontece pela
primeira vez, ou seja, dentro dos seus primeiros vinte meses de vida. Depois, colocar
um pé na frente do outro com equilíbrio é apenas uma obrigação. Certo o mundo,
certa a vida...
E, se quem caiu foi você, não espere que o mundo pare pra te passar anestésico.
Quem é vai querer por perto um reclamão que vê problema em.... uma simples
topada no móvel?!
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Entre quatro mini paredes
Eu era pequena, bem pequena. Não tinha mais do que cinco anos na época. E eu
tinha uma casinha de montar da Turma da Mônica. Era uma porção de pedaços de
madeira que iam se ligando em forma de cubo por meio de encaixes de borracha,
com direito a um formato de telhadinho no topo. Por cima da montagem, lá ia um
pano colorido, com o desenho da tal casinha em si. Abria porta e janelinha, até. Era
super tosca, mas eu amava e passava o fim de semana inteiro pedindo pra que ela
fosse montada e o resto dos dias pedindo que não demolissem meu mini lugar.
Num belo sábado de manhã, minha mãe rodou a casa toda atrás de mim. Já estava
prestes a chamar a polícia e denunciar desaparecimento quando se lembrou de me
procurar dentro de meu lar, doce lar de pano. E lá estava eu, naquele cubo micro –
que devia ser exatamente do meu micro tamanho. Dormindo...
Sempre era assim. Era lá que eu me escondia quando queria pensar na vida. Não
que aos cinco anos eu tivesse essa percepção, mas, hoje, olhando de fora, sei que
era esse o motivo da incursão à casa da Mônica. Fosse depois de uma bronca,
depois de uma decepção – por melhor que seja a infância, não se tem todas as
bonecas que se quer – ou apenas pra me isolar. Estou certa de que mesmo com a
pouca idade eu já tinha necessidade de me isolar, isso deve vir do dia do
nascimento.
Hoje em dia, sei lá por onde anda a carcaça da minha casinha. Tampouco criaram
uma versão mais adaptada a meu tamanho. Perdi meu esconderijo.
E, em momentos de reflexão necessária, de dúvidas e auto-cobranças, nossa....
como eu sinto falta de ter onde me esconder!
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Relatos de uma carioca que aterrissou
em Congonhas pra sempre
Dizem por aí que a rixa RJ-SP vai ser eterna. Que as duas cidades – separadas por
apenas 40 minutos de ponte-aérea – são completamente diferentes e que seus
nativos vão sempre discordar em algum ponto. Tenho lá minhas dúvidas a respeito
dessas certezas, mas uma coisa é fato: cada vez mais, os cariocas baixam de mala e
cuia por aqui (me incluo nisso!). Porque tá certo que o Rio de Janeiro continua lindo,
mas os empregos estão mesmo na Berrini, na Paulista, na Faria Lima. Nasceu no Rio
e quer virar gente grande? Peça o visto paulistano, baby! Já é meio caminho andado.
Entre as paulistas, ainda sou carioca demais, mas – justiça seja feita - para o
mundinho do balneário sempre tive uns traços meio apaulistados. Defendo essa
cidade – pela qual sempre fui terrivelmente apaixonada – com unhas e dentes.
Demorou um pouco pra eu aprender que caminhadas na areia de Ipanema até
podem ser substituídas por passeios no Iguatemi. É só se desapegar das diferenças
óbvias que você pode aproveitar no mesmo grau (cariocas, nem comentem, vocês
não podem compreender isso mesmo!).
Levou tempo pra eu entender que, no Itaim, não pega tão bem sair de cabelos
molhados, cara lavada e Havaianas nos pés, como eu fazia em qualquer situação na
minha ex-terrinha. Mas que delícia é usar meia-calça, como jamais ousei fazer no
Baixo Leblon...
Tive, ainda, que me habituar à competitividade acirrada, à dificuldade de se
conquistar amigos e ao ambiente nem sempre saudável no trabalho. Mas, hoje, sei
ser mais política, tenho poucos – porém verdadeiros – amigos e, no trabalho, sei
quem está sempre no meu time. Porque carioca é amigo, muito amigo, mas diz
“passa lá em casa” sem dar nem o endereço, né?
Ritz, Spot e Fifities ferram minha dieta, mas, tudo bem, não vou mesmo precisar
encarar as areias do Coqueirão no próximo sábado.
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Eu só sei que disfarço bem, mas, quando fico tensa por alguma razão, cumprimento
com dois beijinhos – em vez do beijinho único paulistano. Também já perdi as
esperanças de deixar de trocar o S pelo X e arrastar os erres. Mas, em compensação,
já sei me localizar melhor do que muitos nativos.
Em resumo, a tudo a gente se acostuma!
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Vence quando?
Cada vez mais acredito que todas as relações humanas são perecíveis. Todas. E acho
uma injustiça não podermos ter rótulos nos guiando, como os alimentos. Porque, se
você compra uma pastinha de azeitona que vai vencer amanhã, é uma escolha sua.
Você tomou essa decisão por sua conta e risco. Você sabia que talvez não fosse
possível aproveitar tudo que tinha ali dentro. Você foi avisado que ia ter que deixá-la
de lado mesmo quando, aparentemente, ela ainda podia te ser útil.
É irresistível querer comer um iogurte que venceu na véspera. Mas não conheço
casos de alguém que se aventure num Danoninho com data de morte marcada para
seis meses atrás. Esticar um pouquinho, okay. Insistir num erro eterno? O rótulo
barra qualquer possível instinto de “fome que só tem aquilo pra resolver naquele
minuto daquela quinta-feira”.
Já na vida real, não há avisos, planos ou limites. E aí? Como agir sem a data de
validade estampada pra nos guiar?
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O jogo sete e meio da vida real
Algum tempo atrás, existia um programa do Silvio Santos inspirado em um jogo de
cartas chamado ‘sete e meio’. O real eu não sei como funcionava, mas, na TV, as
regras eram as seguintes:
Dois jogadores recebiam duas cartas cada um. Uma com o sete e outra com o meio.
Havia um prêmio X envolvido. A intenção era que os dois jogadores colocassem sete;
dessa forma, o prêmio seria igualmente dividido entre eles. Se um dos participantes
blefasse e colocasse o meio (enquanto o outro fosse sincero e escolhesse o sete), ele
levava o prêmio inteiro (enquanto o bonzinho ficava chupando o dedo). Se os dois
fossem espertinhos e colocassem o meio (no intuito de ficar com tudo), ninguém
ganhava um tostão. E sabe qual o resultado disso? Nunca vi ninguém levar nada...
Não havia uma pessoa sequer que confiasse e se entregasse ao semi-estranho
adversário.
Isso me remete muito aos inícios de relacionamentos modernos. A carta sete
significa uma doação, uma entrega; o meio, a sua vida de solteira(o), sua liberdade
absoluta. Um talvez-futuro casal acaba, involuntária e instintivamente, se
comportando assim. Como abrir mão da balada e da vida de solteiro e se doar para o
outro sem saber se o outro em questão fará – ou faria – o mesmo? Se você se
entrega assim, periga se dar mal. O outro, por sua vez, pensa da mesma forma. E
sabe qual o resultado disso? Ninguém dá o primeiro passo, ninguém leva nada.
Isso é digno, aceitável e se chama auto-proteção. É uma espécie de jogo que a
maioria das pessoas tem que jogar. Ainda que, lá no fundo, os dois queiram ‘colocar
o sete’, é cada vez mais difícil fazer essa escolha. E, nesse joguinho, quem não sabe
brincar que não desça pro play! E quem, por algum motivo, enjoar de brincar, que
pegue o elevador e suba de volta para casa...
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Página virada, carta fora do baralho ou
simplesmente... Réveillon
Acredito no espírito de ano novo. Se, no Natal, nem todos estão por dentro do lance
do nascimento de Cristo etc, a virada costuma ser extremamente clara e definida
para as pessoas. Todo mundo tem a impressão (ou seria a crença?!) de que as
coisas vão mesmo mudar à meia-noite. Que depois daquela contagem regressiva,
energias ruins acabam, dúvidas se esclarecem, amores se reúnem, maldades se
dissipam. Ninguém está mentindo quando diz que, em janeiro, vai fazer dieta,
praticar exercícios, juntar dinheiro, ver mais a família, ler mais livros, ser mais feliz.
Deve ser essa a razão da minha verdadeira paixão pelo Réveillon. Gosto da ideia de
uma nova chance. Gosto de acreditar que o score está zerado. Gosto de saber que a
agenda tem páginas em branco apenas. Gosto de sentir que “nada do que foi será”.
Gosto da possibilidade de fazer de novo, de tentar mais uma vez – e, desta vez,
fazer bem feito!
Parece mágica. Vai ver que é. Mas não tem nada melhor do que ter uma data para
fazer promessas e acreditar nelas. Pra jurar mudanças e tentar segui-las. Pra dar
boas-vindas à sorte e saber que, à meia-noite, tudo vai mudar!
E, em cada virada, apenas gostaria de estar cercada de gente de bom-astral, de
pular as sete ondinhas e de beber um bom champagne! Porque dos vícios de ser
feliz, acreditar na sorte e me embebedar um pouquinho eu ainda não me livrei!
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Amar é...
“Com o tempo você vai percebendo que, para ser feliz com outra pessoa, você
precisa, em primeiro lugar, não precisar dela...” (Mário Quintana)
Vinte e nove anos. No currículo, três namorados e meio, três paixões e meia. Que
fique claro, o conjunto das paixões nunca teve intersecção com o dos namorados.
Talvez seja feio assumir, mas é verdade.
Meus namoros não tinham paixão, mas eram ótimos. Duraram bastante e, por mais
acomodada que eu seja às vezes, não tenho veia masoquista. Com um, eu tive uma
enorme coleção de sapos. Durante muito tempo senti saudade dos tais sapos. Foi
então que percebi que aquele estereótipo de happy couple era algo muito mais
inventado do que real.
Gosto de quem gosta de mim. Mas assumo: sempre estive com pessoas das quais eu
precisava de alguma forma. Ou porque me faltava um prazer maior, ou porque eu
achava que a única coisa realmente em dia que eu tinha era minha vida amorosa.
Sem trabalho, sem perspectivas, sem planos de carreira, sem amigos 100%. Sobrava
pro namorado, que sempre acabava durando o dobro do tempo justo.
Aí deu a louca. Planejei solteirice. Encarei solidões. Conheci cafas. Esperei o telefone
tocar. Levei toco, bolo e desprezo. Aprendi, burra velha, o que muitas meninas
aprendem aos 16 anos: nem todos os homens são pra se levar a sério. Meus
namorados bonzinhos tinham me estragado e me impedido de ver a realidade como
ela é.
Fui ver a vida de outros mirantes. Mudei de perfil, de prioridades e, pasmem, resolvi
construir minha própria biografia. Uma história particular na qual não precisava
inserir ninguém. Susto mesmo é que rapidinho comecei a me bastar. Perdi a
paciência com pessoas que só serviam pra empatar. Desenvolvi intolerância a
babacas. Fui feliz com meus próprios capítulos. Parei de fazer planos com a conta
bancária do vizinho, abri a minha. Desisti de sonhar com o cavalo branco que me
livraria pra sempre de todo o mal. Mesmo sendo mulherzinha, eu podia – e devia – ir
à luta. A essa altura, já sabia que o mundo não parava de rodar pra eu tomar um
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pouco de ar.
E foi nesse exato momento que você surgiu. Quando eu não precisava de ninguém
que não eu mesma. Quando eu não tinha mais estereótipos. Quando eu decidi não
mais planejar. Quando eu pensava em tantas outras coisas que não meu coração.
Quando eu estava certa que já tinha realizados sonhos demais pra um mesmo
semestre. Quando eu jurava que eu me satisfazia.
Não deve mesmo ser por acaso. Te amo, mas se você sumir eu não morro de fome,
de tristeza, de insatisfação. Não fico perdida, não saio de órbita nem preciso mudar
a listinha dos sonhos e deveres de casa já decididos até 2011. Não perco o rumo, a
rotina nem o ambiente que me cerca.
Obrigada, Saturno! Acho que aos 29 eu decidi começar a viver!
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Despedidas: um novo começo
Hoje termino o relacionamento mais longo da minha vida. Decidi, finalmente, deixar
o Rio de Janeiro para viver minha paixão inexplicavelmente avassaladora por São
Paulo. Passei tanto tempo pensando e medindo que, quando finalmente veio uma
proposta boa e concreta, tive menos de 24 horas para refletir antes do “Eu vou”
definitivo! A hora é essa, vamos com tudo!
Pare e pense. Toda despedida é, na verdade, o fechamento de um ciclo. O
nascimento de uma nova fase. A troca de situações. Dá medo, dá frio na barriga,
“será que vou conseguir?”, melhor não pensar mais! A ponte-aérea sai daqui a
pouco. Embarco com meia dúzia de malas, meia dúzia de dúvidas e três dúzias de
sorrisos e certezas. Não vou pra voltar, demorei a decidir, mas agora é pra sempre.
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Life begins at 30
Não, não estranhe quando ouvir essa frase. Quando estamos a alguns anos dos
trinta, a primeira impressão sobre a nova década é assustadora. Parece algo distante
e incômodo. Parece que é o deadline de uma infinidade de projetos e realizações –
do tipo “não cumpriu, perdeu”. Parece, ainda, que é uma coisa ruim, negativa,
preocupante – isso só pra citar os adjetivos menos graves.
Vai parecer balela, vai parecer papo de quem não quer dar o braço a torcer, vai
parecer uma historinha pra boi dormir. Ao menos, para os que ainda não chegaram
lá. Até os 27, 28 – antes da Revolução de Saturno, assunto que por si só rende um
enorme texto –, é mesmo difícil acreditar na paz e na sabedoria que só os trinta
podem trazer.
Não faz tanto tempo, batia aquela angústia. Tantas e tantas noites perdidas
chorando por namoros desfeitos, carreiras não começadas e metas não cumpridas.
Tantas e tantas horas de conversa perguntando se “ele vai me ligar”, se “serei a
escolhida para o emprego” ou se “tudo vai dar certo no fim”. Tantas e tantas crises
de ansiedade me culpando por não estar onde eu deveria – e achando que tão cedo
não conseguiria chegar lá. Tudo em vão!
O que eu ainda não sabia é que aquilo tudo era apenas um ensaio. Que amores vão
e vêm. Que fulano pode até não ligar, mas isso não configura um problema. Que
você pode ate não conseguir um estágio na hora que acha que devia, mas que,
“devagar e sempre se vai longe”. Não sabia que, com o passar dos anos, tudo ficaria
tão mais leve.
Os anos vêm e nos tiram juventude. Em troca, dão maturidade. Como um gráfico, as
duas linhas seguem em direções opostas. E os trinta anos, eu diria, concentram a
quantidade máxima necessária de cada uma das duas qualidades. Você ainda é
jovem, mas já sabe que o mundo, que o seu mundo é seu. Você ainda é alvo dos
homens de vinte, de trinta, de quarenta... Mas já sabe bem como lidar com os
comportamentos deles. Você ainda tem o frescor e a energia profissional, mas já
sabe como funciona o ambiente de trabalho. Ainda se lembra de onde veio, mas já
sabe para onde está indo. Você pode tudo. E, pela primeira vez na vida, tem
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absoluta certeza disso.
Tudo fica melhor. Você descobre que não precisa do relacionamento. E quando deixa
de ser dependente de algo, resta apenas a melhor parte – a de aproveitar com
leveza. Não acha mais que existe uma idade certa pra casar, pra ter filhos, pra largar
tudo ou pra mudar de vida. Momentos chegam em fases diferentes para cada
pessoa. E, sabendo disso, não há mais com o que se preocupar, o que se cobrar ou
um relógio para atormentar.
Tarefa cumprida, trinta anos muito bem vividos. Não tenho mais os cento e trinta
amigos da adolescência, mas tenho alguns que são amigos 100% - poucos, é
verdade, mas houve tempos em que não tinha nenhum desses. Não tenho mais
tempo para passar dias e dias na praia, mas quando posso me jogar no sol, o
gostinho é ainda mais especial.
É um ciclo que se fecha. Como o dia em que você entregou sua monografia na
faculdade, o dia que terminou um namoro doentio ou o dia que deixou para trás
uma amizade, uma cidade, uma carreira. É guardar o diário do passado e começar
outro novinho, com todas as páginas em branco. É não mais se cobrar do que fez ou
deixou de fazer. É relaxar nos projetos porque, afinal de contas, você já sabe que,
na verdade, tudo se encaixa sozinho!
E saber que, a partir desse dia, sua nova – e melhor – vida vai começar!
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Pequena
Tive um sonho curioso noutro dia. Nele, eu estava em um lugar com teto muito
baixo. As pessoas que estavam comigo conseguiam caber ali se ficassem de joelhos,
mas eu, muito mais alta que a média, tinha muita dificuldade. Esse lugar,
teoricamente, era uma loja de chocolates. Mas naqueles corredores do meu sonho,
não havia chocolates, apenas uma luz fria e espaços vazios. E, ao desistir de ficar lá,
eu pedia para uma senhora: “Volte lá e me compre chocolates. Mas não quero
poucos como elas (minhas amigas) não, quero muuuito chocolate!”.
Terapia não é a solução para todos os problemas, mas poucas pessoas me ajudam a
interpretar melhor meus sonhos do que minha terapeuta. Ela nem fala nada, mas me
faz contar a história de uma forma que, quando me dou conta, já estou dizendo o
que significa. E quando fui relatando esse sonho, tido na noite seguinte ao término
de um breve relacionamento, eu dizia:
- Eu já não cabia ali... Ia me abaixando cada vez mais, ficando cada vez menor até
que aquilo me deu um pânico e eu vi que não podia mais ficar rastejada naquele
espaço tão menor que eu!
Bingo, eu estava me referindo apenas ao sonho, mas qualquer semelhança NÃO era
mera coincidência!
Todo mundo – uns mais, outros menos – tem uma grande necessidade de aceitação.
Até aí, tudo normal. O problema é quando, para sermos aceitos, tentamos ser
diferentes do que somos. Menos interessantes, menos ciumentos, menos reais. Pode
até dar certo por um tempo. Mas, sem dúvida, não leva a lugar nenhum! E que fique
muito claro que, a partir de hoje, eu assumo sempre: sou ciumentíssima (de maneira
equilibrada!), exijo respeito total e não, não me contento com pouco!
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Pousos, decolagens e paixões
Amo a sensação do momento de pouso ou decolagem de um avião. Amo, mas ao
mesmo tempo tenho muito medo porque essa é – comprovadamente – a hora mais
perigosa do voo ... Se o pouso/decolagem é o momento com maior índice de
acidentes, o mesmo pode-se dizer a respeito da fase inicial de uma paixão.
Enquanto a intimidade e cumplicidade ainda não dominaram um recém-começado
relacionamento, tudo fica meio no escuro. Ainda não se conhece bem a pessoa,
ainda não se sabe sobre suas intenções, ainda não há certeza de nada. Não por
acaso, esse momento inicial é também o meu preferido em um relacionamento. Mas,
tal e qual o caso do avião, morro de medo dessa fase.
No ar ou no plano sentimental, nunca consegui aproveitar a sensação maravilhosa
de friozinho na barriga que o desconhecido traz. Sempre perdi a emoção por pânico,
por imaginar que o pior poderia estar para acontecer a qualquer momento.
Lógico que é preciso ter cautela – da mesma forma que jamais compraria uma
passagem para voar por uma aerolineas paraguaias da vida, não me jogo em
paixões com caras que demonstram claramente não merecer. Mas, para aproveitar
as boas sensações na vida – e isso é que se chama de viver! –, é preciso relaxar e
acreditar que, dessa vez, o avião não vai cair.
Ao menos no avião, acho que aprendi a relaxar e curtir. E tem sido ótimo!
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O que é intimidade?
Uma relação de intimidade, ao contrário do que as mulheres ansiosas em demasia
costumam achar, não precisa de rótulos. Tampouco de contratos de eternidade...
Construir uma mini-história com alguém está muito acima de tudo isso.
As pessoas, muitas vezes, passam tempo demais pensando, analisando, julgando e
perdem tempo de viver. Muito mais importante que uma palavra é o respeito que
duas pessoas têm uma pela outra. Muito mais valioso do que uma definição é sentir
vontade de abraçar, de contar uma coisa boa que aconteceu no seu dia, de olhar no
olho sem dizer nada.
Estereotipadamente, as mulheres sempre têm necessidade de rotular de cara,
enquanto os homens se assustam com isso. Provavelmente pelo medo (cheio de
fundamentos, já que muitas vezes é mesmo o que acontece) de que, ao colocar um
nome na relação, as coisas mudarão inevitavelmente para pior. É como se a princesa
companheira, linda e divertida fosse, como num passe de mágica, se transformar na
vilã chata e reclamona que só existe para empatar a felicidade e a liberdade do cara.
A questão que normalmente perturba tanta gente é muito mais psicológica do que
real. Muitos relacionamentos não mudam nada com ou sem rótulo. Muito menos os
sentimentos envolvidos neles. É por isso que a questão do “qual é mesmo o nosso
estado civil” não deveria aborrecer quanto assim.
No entanto, como nada é perfeito, há uma coisa da qual não se pode esquecer.
Inversamente proporcional à importância do rótulo é a importância do
comprometimento. Estar com alguém exige vontade absoluta de ambos os lados. E
vontade implica em abrir mão de algumas coisas e ceder outras tantas. Porque,
infelizmente, para isso, intimidade e sentimentos não são suficientes...
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Para o gênio da lâmpada
Queria sentir menos ciúme, menos saudade, menos cólicas mensais... Queria ser
menos indecisa, menos impulsiva, menos inconstante... Quem sabe, parecer menos
maluca, mudar menos de opinião, tomar menos as dores de quem eu gosto. Seria
ótimo se eu não me irritasse tanto com quem é idiota, preguiçoso, tolo ou mediano
demais.
Queria ser uma pessoa mais fácil algumas vezes, mais difícil em outras, menos
complicada no balanço geral. Que delícia seria saber pra onde estou indo, com quem
e em que velocidade. Sorte de quem já sabe a que veio. Queria comprar menos...
roupas, revistas e Big Macs.
Queria dizer mais vezes: desculpa, errei, sinto sua falta, vem me ver, tô de TPM, não
aprovo, tô indo embora... E também queria confessar mais coisas: amores, ódios e
indiferenças. Não preciso poupar tantas declarações assim.
Queria me entregar mais, relaxar mais, apostar mais, pagar pra ver. Quem sabe um
dia, serei mais política, mais falsinha, mais razoável. E aprenderei que o mundo é
muito, muito, muito maior do que o que me rodeia.
Mas já seria suficiente se eu aprendesse a praticar o tal do meio termo...
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Wanna play a game? Ah, os joguinhos...
Qualquer tipo de relacionamento está sujeito aos joguinhos, não apenas os
amorosos. Pais, amigos, todos podem ter seus limites testados dessa forma. É certo
que algumas pessoas são mais aptas e confortáveis no papel de jogadoras do que
outras, mas todo mundo – em pelo menos um momento – já atuou para atingir um
determinado objetivo.
O início de um affair (affair é cafona, mas preciso de mais sinônimos para
relacionamentos amorosos que não chegam a configurar namoro!) é especialmente
marcado como a fase onde ninguém quer se abrir muito, nenhum dos dois se sente
ok de se entregar ou se mostrar por completo.
Quem joga mais? Homens ou mulheres? Há uma fórmula correta para isso? Há quem
diga que são elas as campeãs em ocultar sentimentos e provocar comportamentos
ilegítimos. Por outro lado, costumam ser as primeiras a propagar em alto e bom
som: “ODEIO JOGUINHO”. Já os meninos, quando gostam de verdade –
especialmente quando são mini-traumatizados –, também preferem ir aos poucos,
até certificarem-se de que não estão diante de uma destruidora de corações. Seja
por querer conquistar, seja por pretender manter um relacionamento mais aberto, é
fato que eles, muitas vezes, também são profissionais em levar tudo em banhomaria, fingindo e representando.
O grande problema acontece quando os dois são jogadores. Aí é difícil segurar, não
há equilíbrio, vira um samba do crioulo doido. Pois um jogador + um sincero podem
se dar muito bem. O sincero talvez sofra mais, mas ele – pouco a pouco – vai, com
sua transparência, dando a segurança que o jogador precisa para abaixar a máscara,
para tirar a armadura, para soltar as armas.
Mas e as relações “tabuleiro humano”? Dois jogadores profissionais, daqueles de dar
até orgulho de se ver... Olhando de fora, não há como prever quem vai ganhar (e
ganhar o que, diga-se de passagem?!). Porque tanto faz pegar o papel de vítima ou
de rainha inatingível do gelo, ninguém é assim na verdade! E, sem se mostrar, não
há possibilidade de xeque-mate!
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Clínica de reabilitação sentimental
Se o jornalismo não der certo em minha vida, já tenho uma ideia do que posso ser
quando eu crescer. Vou abrir um negócio, uma clinica de reabilitação de homens.
Porque, examinando meu passado, eu só percebo o quanto sou eficiente em
transformar, regenerar e consertar aqueles defeitinhos insuportáveis. Bom? Bom pra
quem? Pra mim é que não é. O histórico garante que, depois de aperfeiçoados, eles
seguem – perfeitinhos, perfeitinhos – para outros braços.
Já namorei um ariano – volúvel por natureza astrológica –, daqueles que não
duravam mais de dois meses com ninguém, por longos dois anos. Para quem não
entende de signos, vale ressaltar que arianos são pessoas que estão constantemente
trocando de carro, de apartamento, de relógio e de namorada.
Já transformei um “minha carreira em primeiro lugar” em um aficionado por
casamento - e ele de fato conseguiu se casar... com outra!
Já peguei um daqueles candidatos ao alcoolismo e transformei-o em um verdadeiro
pai de família – pai de uma família que não a minha, caso não tenha ficado claro!
Deixei um ex-traumatizado – tipo “tomei um pé-na-bunda e nunca mais vou amar
ninguém” – pronto pra outra... ou seria pra outras?!
Além disso, devo citar o caso do ex-Rei da Night, que hoje é um cachorrinho
domesticado e apaixonado – e não é por mim!
Já inaugurei um daqueles que nunca tinham tido uma namorada na vida e fiz com
que se tornasse um namorador-fixo-de-carteirinha.
Isso sem falar nas situações mais óbvias, tipo transformar garanhão em moço fiel,
medroso em seguro e canalha em fofito.
Assim sendo, já que esse parece mesmo ser um carma, vou me profissionalizar. Tem
um homem difícil em sua vida? É só mandar pra cá que eu devolvo ele novo.
Trabalho com todos os cartões de crédito e ainda parcelo em três vezes!!
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