Modelamento de Saturação em Transformadores O Circuito Equivalente do Transformador na Figura 1 pode ser modificado para incluir os efeitos não-lineares da característica do núcleo. Esta modificação pode ser conseguida pela substituição do indutor magnetizante na figura com uma impedância não-linear. A característica fluxo-corrente desta impedância é escolhida de acordo com a característica magnética do núcleo do transformador. Figura 1 - Circuito equivalente de um transformador monofásico. É conveniente representar a característica do transformador utilizando um número de segmentos lineares. Este método preserva as propriedades essenciais da saturação e reduz a complexidade da simulação. Um exemplo utilizando três segmentos para representar a característica de saturação pode ser observado a seguir. Figura 2 - A característica do núcleo, corrente x fluxo, mostrando as condições simétricas de saturação. A linha tracejada mostra as inclinações aproximadas e ponto de inflexão na característica do núcleo. Uma representação por três segmentos da saturação do transformador é mostrada pelas linhas tracejadas na Figura 2. O segmento A'A representa a porção não saturada da característica do transformador. A inclinação deste segmento é escolhida para se igualar à indutância de magnetização do transformador não saturada. Os segmentos B'A' e BA representam respectivamente a porção saturada das regiões positiva e negativa da característica do transformador. A inclinação destes segmentos é escolhida para se igualar à indutância do núcleo de ar do transformador. O ponto no plano fluxo-corrente onde o segmento com saturação intercepta o segmento linear da característica é definido como o ponto do joelho de saturação. O ponto do joelho define o mínimo fluxo e corrente de magnetização para a qual a saturação é apreciável. A representação da característica é calculada como se segue. A partir dos ensaios de rotina de um transformador de 300 kVA pode ser obtido que: - corrente de magnetização em regime permanente, sob tensão nominal: Imo = 0,2175A reatância de dispersão do transformador: Xs = 42,845 Ω tensão nominal primária: U1 = 13.800 Volts O ponto no joelho da curva de saturação pode ser expresso como a magnitude em pu da tensão de excitação para a qual a saturação se inicia. De forma típica é de 10% acima da tensão nominal. - tensão no transformador no ponto do joelho da saturação em pu: Kσ = 1,1 Determinando a indutância do ramo magnetizante do transfomador a partir da corrente magnetizante em regime permanente. Assuma que o transformador opera em tensão nominal (1 pu). - freqüência da fonte: ω = 377 rad./s. - 2 .U1 3 indutância de magnetização em Henry: Lm = , Lm = 137,415 H ( ω.Imo ) Calcule a indutância do ar no transformador a partir da reatância de dispersão. A indutância do ar é de 10 a 20 vezes maior que a indutância de dispersão. Ls = Xs .20 , Ls = 2,273 H ω Cálculo o fluxo de acoplamento no joelho da curva: λ σ = 2 .U1.K σ 3 , λσ = 32,876Wb ω Cálculo da corrente de magnetização no joelho da curva: Imσ = λσ , Imσ = 0,239A Lm Define-se uma função de x em rampa utilizando uma função degrau. Esta função produzirá um gráfico linearizado da característica magnética do transformador. Φ(x) = if (x < 0,0,1) r(x) = x . Φ(x) Define-se a função para o fluxo. O valor da corrente de magnetização, correspondente ao fluxo máximo não saturado, muda a característica da rampa do gráfico: λ(x) = Lm . (r(x+Imσ) - r(x- Imσ)) + Ls .(r(-x-Imσ) - r(x- Imσ)) Desenhando-se a característica de magnetização idealizada em relação à corrente de magnetização. Im = -0,5, -0,45 .. 0,5 A 50 Weber 25 ( ) λ Im 0 25 50 0.5 0.25 0 0.25 0.5 Im Característica de magnetização. Figura 3. Representação linear da saturação. O método apresentado acima pode ser estendido para um número maior de segmentos lineares pela inclusão de um maior número de joelhos na característica. Entretanto, para o estudo do fenômeno da corrente de ''ínrush'', três segmentos fornecem uma aproximação satisfatória. A representação por segmentos lineares da característica do transformador será utilizada abaixo para derivar a simulação do sistema. Simulação da Energização do Transformador Neste ítem, mostra-se um exemplo que demonstra o efeito da energização do transformador sobre a tensão do sistema. A representação de um sistema monofásico é utilizado para simplificar os cálculos. O leitor pode estender as equações para um sistema trifásico. É utilizado um método de integração numérica para se obter a solução do sistema para o caso de energização do transformador. Por conveniência, a relação inversa entre o fluxo e a corrente de magnetização é utilizada aqui. Portanto, definindo a corrente de magnetização como uma função do fluxo: Im(x) = (1/Lm). (r(x+λσ) - r(x-λσ)) - (1/Ls).(r(-x-λσ) - r(x-λσ)) - Imσ Definindo o sistema de tensões como uma função do tempo: φ0 = - 10 graus U(t) = 2 .U1.cos(ω.t + φ0 ) 3 O angulo de fase na função acima corresponde ao instante na forma de onda da tensão no qual ocorre a energização do transformador. Este ângulo de fase, juntamente com o fluxo residual, determina quão severa é a corrente de "inrush". Definindo-se o fluxo residual no núcleo do transformador: λo = 5 Weber O sistema externo é representado por um equivalente RL série em série com a tensão do sistema. Onde: Resistência da linha: RL = 3,5Ω e reatância da linha: XL = 25Ω. Estes valores correspondem à seguinte indutância base: L= XL , L = 66 mH ω Considera-se um capacitor em paralelo com os terminais do transformador. Este capacitor representa uma compensação ou é utilizado para ajustar para uma ressonância do sistema. Assume-se então que: - reatância shunt capacitiva: XC = 200Ω Correspondendo à capcitância base: C = 1/ω.XC , C = 0,1326 µF A combinação do capacitor shunt e a indutância do sistema resulta em uma freqüência de ressonância igual a: fr = 1 2.π. L.C fr = 169,71 Hz A ressonância do sistema ocorre em uma freqüência que é próxima da freqüência da corrente de "inrush" do transformador. Portanto, pode-se esperar na energização do transformador uma interação harmônica entre o sistema e a não linearidade do mesmo. O secundário do transformador é considerado aberto (sem carga). Esta representação é preferida uma vez que resulta em cálculos pessimistas para a resposta do sistema. A adição da carga aumentará o amortecimento do sistema e, portanto, reduzirá de forma significativa os efeitos da corrente de "inrush". As equações diferenciais para o sistema estão definidas a seguir. Definindo-se as equações diferenciais do sistema. - derivada da corrente de linha: Di (IL , U C , t) = (− R L .I L + UC + U(t)) L - derivada da tensão no capacitor: DvC (IL , U C ) = (IL − (Im (U C )) C Observe que na expressão da derivada da tensão no capacitor, a saturação no transformador é representada pela injeção da corrente de magnetização. Define-se o passo da integração. Este passo deve ser no mínimo 10 vezes menor que a menor constante de tempo no sistema para prevenir o aparecimento de oscilações numéricas na solução. ms = 0,001 s. e dt = 0,3 ms Define-se o tempo máximo de simulação. T = 0,20 s. h1 = 1,5 dt h2 = 0,5 dt Determinando-se o número de intervalos: N = floor(T/dt) Contando-se as interações: k = 2.. N N = 666 Definindo-se condições iniciais para o sistema: Inicialização do tempo: t0 = 0.0 s. t1 = 0.0 s. Calcula-se o tempo em cada intervalo: tk = k.dt Inicializa-se a voltagem no capacitor: Uc0 = 0.0 Volts Assume uma condição de falta no sistema antes da energização: Uc1 = 0.0 Volts Inicializa-se a corrente de linha: i0 = 0.0 A i1 = 0.0 A O valor inicial do fluxo no núcleo é o fluxo residual definido anteriormente. λ0 = λo e λ1 = λo Vectorizando as equações de estado e resolvendo o sistema de equações. A solução fornece os valores da corrente do tranformador, da tensão no capacitor, e o fluxo no transformador para o intervalo de cálculo. i − h .D i + h .D i Uc ,t Uc ,t ik (k −1) 1 i (k −1), (k −1) (k −1) 2 i (k −2), (k −2) (k −2) Uc Uc(k −1) + h1.Du c i(k −1), λ (k −1) − h 2 .Du c i(k −2), λ(k −2) k= λ k λ (k −1) + h1. Uc(k−1) − h 2 . Uc (k − 2) A resposta do sistema é mostrada abaixo. corrente de "inrush" 10 5 ( ) Im λ k 0 5 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2 tk Fig. 4. "Inrush" no transformador. Este gráfico mostra o efeito do "offset" em cc e da característica magnética não linear. O primeiro ciclo é severamente deslocado pela componente cc que é amortecida em aproximadamente três ciclos. 60 50 40 Fluxo no núcleo. 30 20 λk 10 0 10 20 30 40 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 tk Fig. 5. Fluxo no transformador. 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2 3 .10 4 2 .10 Voltagem no barramento 4 1 .10 4 Vck 0 1 .10 4 2 .10 4 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2 tk Fig. 6. Voltagem no barramento do transformador. No gráfico anterior, observe o efeito da corrente de "inrush" não senoidal na voltagem do barramento. O resultado é uma sobretensão harmônica. 300 225 Corrente de linha. 150 75 ik 0 75 150 225 300 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 tk Fig. 7. Corrente de linha. É possível compensar alguns desses efeitos pela adição de um resistor de pré-inserção. 0.2