UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Danilo Grigoletto Neto AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA E FINANCEIRA DO USO DE DIFERENTES SEÇÕES DE CONDUTORES DE BAIXA TENSÃO EM USINA SOLAR FOTOVOLTAICA Florianópolis 2022 Danilo Grigoletto Neto AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA E FINANCEIRA DO USO DE DIFERENTES SEÇÕES DE CONDUTORES DE BAIXA TENSÃO EM USINA SOLAR FOTOVOLTAICA Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia Elétrica. Orientador: Prof ª. Helena Flávia Naspolini, Dr ª Eng ª. Florianópolis Ficha de identificação da obra Danilo Grigoletto Neto AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA E FINANCEIRA DO USO DE DIFERENTES SEÇÕES DE CONDUTORES DE BAIXA TENSÃO EM USINA SOLAR FOTOVOLTAICA Florianópolis, 28 de julho de 2022. ________________________________________________________ Prof. Miguel Moreto, Dr. Engº Coordenador do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica Banca Examinadora: ________________________________________________________ Profª. Helena Flávia Naspolini, Drª. Engª Orientadora Universidade Federal de Santa Catarina ________________________________________________________ Prof. Renato Lucas Pacheco, Dr. Engº Universidade Federal de Santa Catarina ________________________________________________________ Gustavo Xavier de Andrade Pinto, Me. Engº Universidade Federal de Santa Catarina ________________________________________________________ Darci Cidade Junior, Engº Eletricista Empresa Araxá Energia Solar S/A Este trabalho é dedicado aos meus pais, minha esposa e minha querida filha Aurora. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a minha mãe Ema por todo o amparo e carinho ao longo de minha vida, ao meu saudoso pai Antônio que muito me ensinou, não com palavras, mas sempre através do exemplo de grande homem, pai e marido. Agradeço a minha esposa Bianca por sempre estar ao meu lado me dando suporte, amor e carinho nos melhores e piores momentos da minha vida. À minha filha Aurora por ser minha alegria diária, me motivando sempre a seguir em frente. Aos meus tios Luiz, Mara, Rejane e à minha avó Neide que me apoiaram por anos nesta caminhada, certo de que sem eles este sonho não seria possível. À minha professora Helena, por ser minha mentora, me ensinando sobre escrita, análise crítica e muitas outras habilidades que um engenheiro deve ter. Agradeço a ela também pela empatia que sempre teve comigo e com meus colegas, sempre tornando o ambiente de pesquisa um lugar agradável, gerando ainda mais sede pelo conhecimento. A todos que de alguma forma me apoiaram nesta caminhada, aos meus amigos de infância e de faculdade, à minha família e aos meus colegas de trabalho. Aos membros da banca examinadora Profº Renato Lucas Pacheco,Engenheiro eletricista Darci Cidade Junior e ao Me. Eng. Gustavo Xavier de Andrade Pinto, por terem aceitado participar da avaliação deste trabalho. RESUMO Este trabalho tem por objetivo avaliar a viabilidade técnica e financeira do uso de diferentes seções e topologias para cabos de corrente contínua, (alimentados em baixa tensão), em usinas fotovoltaicas de grande porte. O método desenvolvido pode auxiliar na tomada de decisão, na fase do projeto executivo, quanto à bitola e topologia do cabo a ser utilizado. Foram analisados cinco cenários idênticos para o projeto da usina solar fotovoltaica. Entre os cenários analisados na fase de projeto executivo, as únicas variações existentes são a da seção e da topologia dos condutores que interligam as stringboxes aos inversores centrais. O cálculo das bitolas dos cabos atende às prescrições das normas IEC 60287 e IEC 60853. Foram levantados os quantitativos de cada projeto e os respectivos custos para diferentes bitolas e topologias de condutores e de conectores. Para cada cenário, foram calculadas as perdas ôhmicas de cada trecho analisado. Tais perdas foram adotadas nas estimativas da geração da energia fotovoltaica realizadas com o auxílio do software PVSyst. Os resultados mostraram, para o cenário que utiliza o cabo com seção de 300 mm², a maior taxa interna de retorno do investimento (7,953 %) e, consequentemente, o menor tempo de retorno do investimento (12,55 anos). Nas análises financeiras do retorno do investimento, também foram utilizados outros indicadores, tais como, o valor presente líquido (VPL) e o custo da energia fotovoltaica gerada (LCOE) (ambos variando a taxa de mínima atratividade de 1 % a 10 %). Os resultados também mostraram a seção de 300 mm² como sendo a mais viável financeiramente. Palavras-chave: Energia solar, geração solar fotovoltaica, bitola e topologia de condutores, viabilidade técnica e financeira da energia solar. ABSTRACT This work aims to evaluate the technical and financial feasibility of using different cable sections and topologies for direct current cables, (powered at low voltage), in large photovoltaic plants. The developed method can help in the decision-making process, the executive project phase, and regarding the wire gauge and topology of the selected cable. Five identical scenarios were analyzed for the photovoltaic solar plant project. Among the analyzed scenarios in the executive project phase, the only existing variation is the section and topology of the conductors that interconnect the stringboxes to the central inverters. The cable sizes calculation meets the standards requirements of the IEC 60287 and IEC 60853. For different sizes and topologies of conductors and connectors, the quantities of each project and the respective costs were determined. For each scenario, the ohmic losses of each analyzed section were calculated. These losses were adopted in the estimates of photovoltaic energy generation carried out through the PVSyst software. For the scenario that uses the cable with a section of 300 mm², the highest internal rate of return on investment (7.953 %) and consequently the shortest payback time (12.55 years) were observed. In the financial analysis of the return on investment, other indicators were also used, such as the net present value (NPV) and the levelized cost of the photovoltaic generated energy (both varying the internal rate of return from 1 % to 10 %). The results also showed that the 300 mm² cable section to be the most financially viable. Keywords: Solar energy. Photovoltaic Generation, gauge and topology of conductors, technical and financial feasibility of solar energy LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Órbita da Terra em torno do Sol, com eixo N-S inclinado de 23,45°. ...... 19 Figura 2 – Componentes da radiação solar. ............................................................... 20 Figura 3 - Mapa irradiação solar média diária (Wh/m².dia). ...................................... 21 Figura 4 - Características construtivas de um cabo de baixa tensão. ......................... 23 Figura 5 - Vala de cabos com o preenchimento com material diferente do solo local (Backfill). .................................................................................................................................. 26 Figura 6 – Sombreamento de uma string fotovoltaica. .............................................. 28 Figura 7 - Representação do acúmulo de partículas na superfície do módulo fotovoltaico. .............................................................................................................................. 29 Figura 8 - Arranjo elétrico da stringbox ..................................................................... 34 Figura 9 – Irradiância solar no plano dos módulos. ................................................... 46 Figura 10 - Curva de ciclo de carga gerada através do software. ............................... 48 Figura 11 - Topologia de circuitos utilizando dois cabos por pólo ............................ 49 Figura 12 - Topologia de circuitos utilizando um cabo por pólo ............................... 49 Figura 13 - Geração anual para diferentes seções de cabos. ...................................... 52 Figura 14 - VPL para distintas TMAs. ....................................................................... 54 Figura 15 - Diferença monetária (VPL) entre os cenários. ........................................ 55 Figura 16 – TIR para diferentes cenários. .................................................................. 56 Figura 17 - Tempo de retorno do investimento (Payback). ....................................... 57 Figura 18 – LCOE para diferentes taxas mínimas de atratividade. ............................ 57 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características gerais do projeto da usina solar FV. ................................. 33 Tabela 2 - Perdas padronizadas adotadas no software PVSyst para as simulações. ... 39 Tabela 3 - Valores de irradiação e temperatura ambiente. ......................................... 42 Tabela 4 - Valores das principais características dos módulos utilizados nas simulações (ver Anexo A). .......................................................................................................................... 42 Tabela 5 - Principais características dos inversores utilizados nas simulações. ........ 43 Tabela 6 - Dados de entrada utilizados no dimensionamento dos condutores. .......... 44 Tabela 7 - Dados de entrada para o cálculo de capacidade de condução de corrente via software Cableizer .................................................................................................................... 45 Tabela 8 - Características físicas dos cabos utilizados. .............................................. 46 Tabela 9 - Corrente de projeto no trecho durante o dia. ............................................. 47 Tabela 10 - Maiores temperaturas de operação nos cabos ......................................... 50 Tabela 11 - Resistências dos condutores. ................................................................... 50 Tabela 12 - Perdas Ôhmicas para diferentes seções de condutores ........................... 51 Tabela 13 - Performance Ratio e Yield para os cinco diferentes cenários. ................ 51 Tabela 14 – Custos dos materiais utilizados no trecho de baixa tensão em corrente contínua. ................................................................................................................................... 53 Tabela 15 - Quantitativos e custos totais dos materiais utilizados. ............................ 53 Tabela 16 - Preço médio da energia. .......................................................................... 53 Tabela 17 - Receita anual de energia.......................................................................... 54 Tabela 18 - Ranking dos cenários analisados. ............................................................ 61 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica CA – Corrente Alternada CC – Corrente Contínua INMET – Instituto Nacional de Meteorologia kWh/m²dia – Quilowatt-hora por metro quadrado por dia kWp – Quilowatt-pico LID – Light Induced Degradation (Degradação Induzida pela Luz) MPPT – Maximum Power Point (Ponto de Máxima Potência) PR – Perfomance Ratio p-Si – Silício policristalino UV – Ultravioleta YF – Final Yield (Produtividade) LCOE – Levelized Cost of Electricity UFV – Usina Fotovoltaica FV – Fotovoltaica BF – Bifacial (Bifaciais) GC – Geração Centralizada SEB – Sistema Elétrico Brasileiro EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica ONS – Operador Nacional do Sistema SIN – Sistema Interligado Nacional SEc – Subestação Coletora FC – Fator de Capacidade PR – Performance Ratio BT – Baixa tensão MPPT – Maximum Power Point Tracking Wh/m² - Watt hora por metro quadrado W/m² - Watt por metro quadrado PPA - Power Purchase Agreement SIGA – Sistema de Informações de Geração da ANEEL SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................... 17 1.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17 1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 17 1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 18 1.3.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 18 1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 19 2.1 RECURSO SOLAR ............................................................................................... 19 2.2 CABOS DE ENERGIA ......................................................................................... 21 2.3 CONDUTORES .................................................................................................... 24 2.4 PERDAS NO SISTEMA ....................................................................................... 27 2.4.1 Perdas por sombreamento .................................................................................. 27 2.4.2 Perdas por sujeira ................................................................................................ 28 2.4.3 Perdas por temperatura ...................................................................................... 29 2.4.4 Perdas por mismatch - Compatibilidade ........................................................... 29 2.4.5 Perda ôhmicas ...................................................................................................... 30 2.5 INDICADORES FINANCEIROS ......................................................................... 30 2.5.1 Valor Presente Líquido – VPL ........................................................................... 30 2.5.2 Taxa Mínima de Atratividade - TMA................................................................ 31 2.5.3 Taxa Interna de Retorno – TIR.......................................................................... 31 2.5.4 Tempo de Retorno de Investimento – Payback ................................................. 31 2.5.5 Custo nivelado de Energia – LCOE.................................................................... 31 3 METODOLOGIA ................................................................................................ 33 3.1 DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES ................................................... 34 3.1.1 Corrente de projeto ............................................................................................. 34 3.1.2 Prescrições da IEC 60287 para calcular a capacidade de condução de corrente 35 3.1.3 Prescrições da IEC 60853 para calcular a capacidade de condução de corrente 37 3.2 PERDAS ÔHMICAS ............................................................................................ 38 3.3 SIMULAÇÕES – PVSYST .................................................................................... 39 3.4 VIABILIDADE ECONÔMICA ............................................................................ 40 3.5 DADOS METEOROLÓGICOS ............................................................................ 41 3.6 TECNOLOGIA...................................................................................................... 42 4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES............................................................. 43 4.1 ESPECIFICAÇÃO DOS CONDUTORES............................................................ 43 4.1.1 Corrente de projeto conforme norma NBR 16690 ........................................... 44 4.1.2 Capacidade de condução de corrente conforme Norma IEC 60287 ............... 45 4.1.3 Capacidade de condução de corrente conforme Norma IEC 60853 ............... 46 4.2 PERDAS ÔHMICAS NOS CONDUTORES ........................................................ 50 4.3 GERAÇÃO DE ENERGIA ................................................................................... 51 4.4 ESCOLHA DO CONDUTOR ............................................................................... 52 4.4.1 Custos .................................................................................................................... 53 4.4.2 Preço da energia ................................................................................................... 53 4.4.3 Análise do Valor Presente Líquido (VPL) ......................................................... 54 4.4.4 Análise da Taxa Interna de Retorno (TIR) ....................................................... 55 4.4.5 Tempo de Retorno do Investimento (Payback) ................................................. 56 4.4.6 Análise do Levelized Cost of Energy (LCOE) .................................................... 57 5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 59 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 63 ANEXO A – Datasheet do módulo fotovoltaico ................................................ 67 ANEXO B – Datasheet do inversor .................................................................... 69 17 1 INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1 INTRODUÇÃO A energia solar pode ser considerada uma das alternativas energéticas mais promissoras do mundo. Em suma, a energia proveniente do Sol não é renovável, mas uma fonte inesgotável de energia, levando em consideração a escala de tempo da vida de uma estrela. O Sol é uma estrela de tamanho médio e a taxa de energia emitida pelo Sol é aproximadamente constante há bilhões de anos, com uma potência atual da ordem de 3,86β1026 W. A temperatura efetiva na superfície do Sol é da ordem de 5.778 K (5.505 °C) (PEREIRA, et al. 2017). Durante toda a história, a energia solar foi um dos principais propulsores do desenvolvimento das sociedades humanas. Essa fonte de energia tem sido mais bem aproveitada ao longo da história, haja vista que o planeta Terra recebe, anualmente, cerca de 174.000 TW de potência do Sol (CASTRO, 2013). De acordo com o Sistema de Informações de Geração da ANEEL (SIGA), em 2021, o Brasil contava com 7.375 usinas fotovoltaicas em operação, com uma potência total instalada de 4,74 GW, que representa 2,57% da matriz elétrica brasileira (ANEEL, 2022). Os projetos solares fotovoltaicos têm participado dos leilões de energia do mercado regulado desde o ano de 2013, com contratações ocorrendo desde 2014. Em 2022, o preço médio da energia solar no leilão de energia nova foi de R$ 161,50/MWh. Já o preço médio da energia solar no leilão de energia de reserva foi de R$ 392,84/MWh. (CCEE, 2022). 1.2 JUSTIFICATIVA Sabe-se que os cabos de baixa tensão e de média tensão representam uma parcela significativa em relação ao custo total da usina solar fotovoltaica. Com o rápido avanço das tecnologias que compõem os painéis solares, a potência destes componentes tem aumentado consideravelmente. Com isso, a fim de se manter uma tensão média de 1.500 Vcc nas strings fotovoltaicas, as tensões em painéis fotovoltaicos de grande potência se mantem, enquanto as correntes destes componentes são cada vez mais elevadas. Dito isso, com o aumento significativo dos valores de corrente, a utilização de cabos elétricos com seções cada vez maiores se faz necessária, principalmente no trecho que conecta as stringboxes aos inversores centrais. Contudo, a escolha de cabos elétricos com seções muito elevadas pode inviabilizar o empreendimento. 18 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Este trabalho visa avaliar a viabilidade técnica e a atratividade financeira do uso de diferentes seções e topologias de cabos, alimentados em baixa tensão em corrente contínua, para uma usina solar fotovoltaica. 1.3.2 Objetivos específicos a) Avaliar aspectos de projeto e de configuração que impactam no dimensionamento dos cabos que interligam as stringboxes ao(s) inversor(es) central(is) de uma usina solar FV; b) Dimensionar e quantificar as principais bitolas e topologias disponíveis no mercado para cabos que interligam as stringboxes ao(s) inversor(es) central(is) de uma usina solar FV e levantar os respectivos custos, para cada cenário proposto; c) Calcular as perdas ôhmicas nos cabos dimensionados no item (b); d) Calcular a geração de energia FV para os cenários propostos; e) Analisar a atratividade financeira do retorno do investimento para os vários cenários propostos através de indicadores financeiros tais como VPL, LCOE e TIR. 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 RECURSO SOLAR A energia proveniente do sol é gratuita e inesgotável e utilizada desde sempre pela humanidade, ainda que de maneira primitiva. A energia solar pode ser utilizada de inúmeras maneiras pelo ser humano, seja para a iluminação de ambientes, geração de energia, cozinhar alimentos, dentre outros diversos usos, sejam eles domésticos, comerciais ou industriais (GANGOPADHYAY et al., 2013). Dados recentes da WMO (World Meteorological Organization) indicam o valor médio de radiação solar normal incidente sobre uma superfície situada no topo da atmosfera de 1.367 W/m2 (Constante Solar) (Coulson, 1975). Fórmulas matemáticas permitem o cálculo, a partir da "Constante Solar", da radiação ao longo do ano, fazendo a correção pela órbita elíptica da Terra (ENERGIA, 2014). A Figura 1 mostra as diferentes incidências dos raios solares na superfície terrestre ao longo do ano. Figura 1 - Órbita da Terra em torno do Sol, com eixo N-S inclinado de 23,45°. Fonte: (PINHO e GALDINO, 2014) 20 É possível, então, observar que a energia solar emitida em determinado ponto na superfície do planeta varia ao longo do ano. O movimento de translação e o eixo de rotação inclinado da Terra fazem com que, em determinadas estações, o nível de irradiação solar incidente na superfície terrestre, em um mesmo ponto, seja diferente. A irradiação solar, medida em Wh/m², é composta pelas componentes irradiação direta e irradiação difusa. A irradiação direta é a que atinge a superfície sem sofrer qualquer influência do meio. A irradiação difusa é a irradiação que atinge a superfície da Terra após sofrer espalhamento pela atmosfera terrestre (PINHO e GALDINO, 2014). A Figura 2 representa como a radiação solar incide no plano terrestre. Figura 2 – Componentes da radiação solar. Fonte: (PINHO et al., 2008) A radiação global é a soma da radiação direta e da radiação difusa. A radiação difusa é resultado da difração na atmosfera e da reflexão da luz na poeira, nas nuvens e em outros objetos (VILLALVA, 2019). Outras componentes da irradiação solar, variantes das irradiações direta e difusa, também são consideradas nas simulações de geração de energia. O Atlas Brasileiro de Energia 21 Solar as define como: Irradiância direta normal , Irradiância difusa horizontal, Irradiância direta horizontal, Irradiância global horizontal e Irradiância no plano inclinado A irradiação solar (Wh/m²) é a integral das irradiâncias em um intervalo de tempo e é comumente utilizada para avaliar o potencial fotovoltaico de um determinado local. A Figura 3 mostra o mapa da irradiação solar global horizontal (GHI) do território brasileiro, expressa em Wh/m².dia, ou seja, a média diária da irradiação solar global horizontal no Brasil. A região Nordeste apresenta a maior GHI média diária (5,5 kWh/m²), seguidA pelas regiões Sudeste e Centro-Oeste, com 5,07 kWh/m² e 5,06 kWh/m², respectivamente. Por último, se encontram as regiões Norte e Sul, com 4,64 kWh/m² e 4,53 kWh/m², respectivamente. Figura 3 - Mapa irradiação solar média diária (Wh/m².dia). Fonte: Atlas Brasileiro de Energia Solar, 2017 (Pereira et al. 2017). O mapa do Brasil apresenta uma grande área com médias diárias de irradiação solar acima de 5.750 Wh/m².dia, que vai desde a região Nordeste até o Pantanal, incluindo o norte do estado de Minas Gerais. Essa região é conhecida como “Cinturão Solar”, devido ao seu alto potencial de aproveitamento da energia solar. 2.2 CABOS DE ENERGIA Os cabos de energia são caracterizados por quatro elementos básicos: 22 • Condutor; • Sistema dielétrico; • Blindagem metálica; • Proteção externa ou capa. O condutor é o elemento de transporte da energia elétrica. Pode ser único, no caso de cabos singelos (unipolares), ou múltiplos, no caso de cabos multipolares. O sistema dielétrico pode ser simples e constituído apenas pela isolação, no caso de condutores de baixa tensão, ou composto pela blindagem do condutor (isolação) e blindagem da isolação, no caso de cabos de média ou alta tensão. A blindagem metálica pode ser utilizada objetivando proteger os condutores contra interferências, principalmente eletromagnéticas, ou servir como um condutor para o transporte das correntes de carga capacitiva e de curto-circuito do sistema, no caso de cabos de média ou alta tensão. A proteção externa pode ser simples, constituída apenas por uma camada extrudada, ou por uma combinação de reforços mecânicos, seja por fios, fitas metálicas ou mesmo por capas metálicas (armaduras). A estrutura construtiva do cabo vai depender fundamentalmente da sua tensão de isolamento, de sua aplicação e utilização (TEIXEIRA JUNIOR, 2004). A Figura 4 apresenta as características construtivas de um cabo de baixa tensão. A numeração apresentada na figura significa: 1. Condutor; 2. Isolação; 3. Cobertura. 23 Figura 4 - Características construtivas de um cabo de baixa tensão. Fonte: (TEIXEIRA JUNIOR, 2004). Os cabos de baixa e média tensão podem ser constituídos por diferentes tipos de isolações e coberturas (ABNT, 2018). Os tipos de isolação existente são: a. Policloreto de vinila – (PVC/A) b. Polietileno termoplástico – (PE) c. Composto poliolefínico termoplástico não halogenado – (LSHF/A) d. Borracha etilenopropileno – (EPR, HERP e EPR 105) e. Polietileno reticulado quimicamente (XLPE) f. Polietileno reticulado quimicamente, retardante à arborescência (XLPE-TR) Os tipos de cobertura existentes são: • Policloreto de vinila – (ST1 e ST2) • Polietileno termoplástico – (ST3 e ST7) • Composto poliolefínico termoplástico não halogenado – (SHF1) • Policloropreno, polietileno clorossulfonado, polietileno clorado ou polímeros similares (SE1/A e SE1/B) 24 • Composto poliolefínico termofixo não halogenado – (SHF2) A escolha da isolação e da cobertura depende dos critérios de projeto estipulados. Estes materiais apresentam diferenças nas características de resistência mecânica, impermeabilidade, inflamabilidade, emissão de fumaça e gases, estabilidade térmica, resistência à agentes químicos e flexibilidade. Além dos requisitos construtivos listados na NBR 6251, os cabos também deverão atender aos requisitos de desempenho dispostos na NBR 7287. O atendimento destes requisitos são fundamentais para o correto funcionamento dos cabos de energia. As Normas Técnicas ABNT NBR prescrevem atendimento a requisitos, tais como: • Tensões de isolamento; • Condições de temperatura em regime permanente; • Condições de temperatura em regime de sobrecarga; • Condições de temperatura em regime de curto-circuito; • Desempenho do condutor; • Desempenho da isolação, blindagem (quando aplicável) e cobertura. Além das normas NBR 6251 e NBR 7287, a NBR NM 280 complementa a prescrição de requisitos técnicos dos cabos elétricos. A norma NBR NM 280 trata especificamente dos condutores de cabos isolados, com o objetivo de padronizar as seções nominais, bem como o número e diâmetro dos fios e valores de resistência elétrica nas diferentes temperaturas de operação dos cabos. 2.3 CONDUTORES A norma NBR 16690 estabelece os requisitos de projeto das instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos, sejam a respeito de condutores, dispositivos de proteção e dispositivos de manobra ou aterramento, incluindo todas as partes de um arranjo fotovoltaico. Quando analisado o dimensionamento dos condutores, estes devem estar em conformidade com o dimensionamento dos dispositivos de proteção calculados com o auxílio desta norma (ABNT, 2019). 25 A análise de dissipação térmica de cabos elétricos diretamente enterrados é fundamental para determinar a ampacidade destes cabos, ou seja, sua capacidade de condução de corrente elétrica. Como esta ampacidade depende principalmente da temperatura em que o sistema de cabos opera, uma avaliação precisa da dissipação de calor gerado nos cabos para o solo ao seu redor permite contornar o conservadorismo muitas vezes empregado em projetos de cabos enterrados, obtendo assim, uma melhor utilização do cabo. Os cabos instalados diretamente enterrados geram calor, o que pode afetar diretamente a distribuição da umidade e da resistividade térmica ao seu redor. Para se analisar os efeitos do aquecimento nos cabos enterrados, diversas modelagens de sistemas de cabos vêm sendo realizadas desde o primeiro trabalho realizado neste tema por Neher & McGrath (NEHER e MCGRATH, 1957). A modelagem dos sistemas para verificação da dissipação térmica dos condutores segue tendo novos resultados à medida que avanços são feitos em pesquisas quanto às perdas nos cabos (KOVAC ET AL, 2006), classificação do solo (LIETO VOLLARO ET AL, 2011) e preenchimento das valas com diferentes materiais que dissipam com facilidade o calor nos cabos (OCLON ET AL, 2016). Contudo, a influência do calor no cabo na umidade dos arredores do sistema nem sempre é levada em consideração, o que pode ter um profundo impacto na distribuição da temperatura ao redor dos cabos. A norma IEC 60287 (IEC, 2006) recomenda que sejam utilizadas análises para o cálculo da condutividade térmica existente entre um sistema de cabos subterrâneos e o ambiente ao seu redor. O método utilizado nesta norma é fundamentado nas equações previamente apresentadas por Neher & McGrath, com as suposições de que o solo era homogêneo e tinha uma temperatura e resistividade térmica uniformes. Este método foi melhorado por Sellers & Black (SELLERS e BLACK, 1996), que propuseram um procedimento de correção para considerar o fato de que o solo utilizado para preencher a vala, onde está localizado o sistema de cabos, pode ter uma condutividade térmica diferente da do solo em torno da vala de cabos, conforme mostrado na Figura 5. 26 Figura 5 - Vala de cabos com o preenchimento com material diferente do solo local (Backfill). Fonte: O Autor A energia gerada por uma usina solar fotovoltaica varia ao longo do dia com a variação da irradiância solar. Em condições ideais, a potência máxima é geralmente gerada por volta do meio-dia, quando a irradiância é máxima. Portanto, o carregamento em cabos de energia em usinas solares fotovoltaicas é de magnitude diferente em diferentes momentos do dia e do ano, ou seja, é de natureza cíclica. Normalmente, calcula-se os tamanhos dos cabos em energia solar fotovoltaica com base na corrente de carga máxima transportada pelo cabo, que corresponde basicamente à potência máxima gerada pelos painéis de uma usina fotovoltaica nas horas de pico de irradiância. Mas, se o padrão de geração cíclica da planta fotovoltaica for levado em consideração para o dimensionamento dos condutores, o tamanho mínimo do cabo necessário pode ser otimizado ainda mais, o que pode levar a economias de custos substanciais em uma planta fotovoltaica. A norma IEC 60853 (IEC, 1985) apresenta métodos que são aplicáveis em ambientes com solo uniforme (no qual a resistividade térmica não varia) e sistemas que operam com uma carga cíclica que varia ao longo das horas do dia, assumindo que o ciclo diário é o mesmo em todos os dias. Levando-se em consideração o comportamento cíclico, a temperatura do cabo 27 tende a ser menor ao longo de sua operação, quando comparado com o analisado através de um regime constante de carga. A questão é como os cabos podem ser carregados adicionalmente, sem que danos sejam causados a estes cabos, comprometendo, assim, a vida útil destes materiais. 2.4 PERDAS NO SISTEMA As perdas no sistema fotovoltaico fazem com que a energia entregue no ponto de conexão com a distribuidora ou transmissora seja menor que a energia efetivamente gerada pelos módulos fotovoltaicos. 2.4.1 Perdas por sombreamento Os sistemas fotovoltaicos estão sujeitos a sombreamentos, que podem ocorrer devido a obstruções próximas como árvores, postes, torres, chaminés e edifícios, ou ainda, por colinas ou montanhas. Estes sombreamentos são comuns no início do dia ou final da tarde, quando o ângulo do sol propicia este efeito. O sombreamento causado por objetos próximos é chamado de “Near Shading” e simular a influência da sombra destes objetos nos módulos fotovoltaicos é muito mais complexo, exigindo uma descrição detalhada em 3D do objeto causador da sombra. Já o sombreamento causado por colinas e montanhas é chamado de “Far Shading” e é descrito pela linha do horizonte, onde, em um dado instante, o sol está ou não visível no local do projeto. Normalmente a distância destes objetos de sombreamento deve ser maior que dez vezes o tamanho da planta fotovoltaica (PVSYST, 2022). Uma das principais causas de perdas na geração de energia em sistemas fotovoltaicos é o sombreamento parcial. Tal fato ocorre porque os painéis fotovoltaicos consistem em uma série de células solares fotovoltaicas que são conectadas em série no circuito. Isso significa que, quando uma célula recebe menos irradiância solar que as outras, a corrente fica limitada pela célula de pior geração instantânea e isto é propagado não apenas para módulo sombreado, mas como para todos os módulos da string (PINHO e GALDINO, 2014). Portanto, uma pequena quantidade de sombreamento pode reduzir significativamente o desempenho de todo o sistema de painéis solares fotovoltaicos. 28 A Figura 6 mostra o sombreamento parcial de módulos fotovoltaicos. Figura 6 – Sombreamento de uma string fotovoltaica. Fonte: DELINE (2010). 2.4.2 Perdas por sujeira Os módulos fotovoltaicos também podem perder potência em consequência da sujeira causada por poeira, meteriais orgânicos e outras partículas que cobrem a superfície do módulo fotovoltaico. Quando esses materiais se depositam na superfície do módulo, acabam criando uma barreira, que impede parcialmente a irradiação de atingir as células e, consequentemente, reduzem a potência de saída do módulo. Este acúmulo de sujeira afeta o desempenho do sistema fotovoltaico (SILUK, 2017). A inclinação dos módulos e a frequência de limpeza do sistema são fatores importantes quanto à perda por sujidade. As superfícies horizontais tendem a acumular mais sujeira do que superfícies inclinadas. Com isso, recomenda-se que o sistema seja instalado com uma inclinação mínima de 10°, favorecendo assim, a autolimpeza. (PINHO e GALDINO, 2014). A Figura 7 mostra o acúmulo de partículas na superfície do módulo fotovoltaico. 29 Figura 7 - Representação do acúmulo de partículas na superfície do módulo fotovoltaico. Fonte: ZONEN (2017). 2.4.3 Perdas por temperatura A temperatura de operação do módulo tem grande influência no desempenho de um sistema fotovoltaico, pois altera a performance do sistema e a energia gerada. Entender a influência da temperatura na geração fotovoltaica é importante para otimizar a potência do sistema em diferentes localidades (CHIKATE e SADAWARTE, 2015). Nem toda a irradiação recebida pelo módulo é convertida em eletricidade, sendo uma parcela convertida em calor. Em consequência do aumento da temperatura, a corrente de curto-circuito aumenta ligeiramente (HICKEL, 2017). Em contrapartida, a tensão de circuito aberto diminui significativamente e, consequentemente, a potência apresenta redução em função do aumento da temperatura. 2.4.4 Perdas por mismatch - Compatibilidade De acordo com o site PVsyst (2022, os módulos não são completamente iguais, logo, a potência máxima do sistema fotovoltaico completo é sempre menor do que a soma da saída de potência máxima de todos os módulos, medida individualmente. Essa diferença é resultado do descasamento (mismatch) que ocorre com os módulos. Assim como os efeitos de sombreamento e sujidade, quando um módulo de menor potência é conectado a outro de maior potência, a potência do arranjo sempre será limitada pelo módulo de menor potência. Logo, os módulos conectados em série ou paralelo funcionam com a mesma corrente ou tensão, resultando, assim, em perda de energia significativa para o sistema devido a este descasamento (VERMA e SINGHAL, 2015). 30 2.4.5 Perda ôhmicas Parte da energia gerada pelo sistema fotovoltaico é dissipada nos cabos de força em forma de calor, denominada efeito Joule. Estas perdas são consequência da resistência elétrica dos condutores, que geram uma queda de tensão ao longo do trecho e, consequentemente, uma perda de potência (NOBRE, 2015). É conveniente, então, que os condutores sejam dimensionados de maneira que a queda de tensão máxima seja de 1,5% (NASCIMENTO, 2013). Contudo, segundo PVsyst (2022), a perda ôhmica não pode ser analisada somente em termos de queda de tensão, pois, em um arranjo fotovoltaico, na curva I/V, a corrente está diretamente relacionada à tensão. Portanto, deve-se definir a perda de por efeito joule nos condutores em termos de perda de potência. 2.5 INDICADORES FINANCEIROS Existem diferentes maneiras de avaliar o desempenho e a viabilidade econômica de projetos em implementação. A identificação de valores, tais como, Valor Presente Líquido, Taxa Mínima de Atratividade, Taxa Interna de Retorno e Tempo de Retorno de Investimento são alguns dos critérios utilizados. 2.5.1 Valor Presente Líquido – VPL A técnica de análise econômica mais utilizada é valor presente líquido (VPL). Consiste em descontar todos os fluxos de caixa (tanto de entrada quanto de saída) ao longo do tempo, levando-se em consideração também uma determinada taxa de juros (ZIZLAVSKY, 2014). O primeiro princípio da abordagem do VPL é que o valor do dinheiro investido no futuro é menor do que um determinado valor hoje. Portanto, nessa circunstância, os fluxos de caixa futuros são descontados a cada ano. O VPL pode ser aplicado a qualquer tipo de projeto e o projeto é aceito caso tenha um VPL positivo, além de ser mutualmente exclusivo, ou seja, no caso de dois investimentos, o que obter maior VPL é economicamente mais atrativo (PASQUAL ET. Al., 2013). 31 2.5.2 Taxa Mínima de Atratividade - TMA A TMA é a mínima taxa que o investidor espera ter de retorno em um determinado investimento. Logo, em projetos mais arriscados, são esperados retornos mais elevados. Isso significa que essa abordagem é ajustada ao risco (GAILLY, 2011). 2.5.3 Taxa Interna de Retorno – TIR A taxa interna de retorno sobre o investimento (TIR) é uma taxa de desconto hipotética que, quanto aplicada a um fluxo de caixa, faz com que os valores das despesas, trazidos ao valor presente, sejam iguais aos valores dos retornos dos investimentos, também trazidos ao valor presente. De acordo com Botchkarev e Andru (2011), é uma das medidas para avaliação de desempenho mais popular usada na análise de negócios. A TIR é utilizada para avaliar a eficiência de um investimento ou para comparar a eficiência de vários investimentos diferentes. 2.5.4 Tempo de Retorno de Investimento – Payback O tempo de retorno de investimento (Payback) é o indicador que determina o tempo necessário para o valor do retorno do investimento ser igual ao valor investido, momento em que se diz que o investimento foi inteiramente pago pelas próprias receitas. Caso o investidor queira determinar o menor tempo de payback do investimento, ele pode usar a TIR como parâmetro. Por outro lado, caso ele queira saber o tempo em que o investimento irá render um retorno previamente definido, pode ser atribuído a TMA relativa ao valor esperado (LEFLEY, 1996). 2.5.5 Custo nivelado de Energia – LCOE O custo nivelado da energia representa o custo de geração do megawatt-hora, em unidades monetárias, considerando os custos de construção e operação de uma usina geradora durante todo o seu ciclo de vida útil. Segundo Guimarães (2019), é frequentemente utilizado como um indicador comparativo entre diferentes tecnologias de geração. Nos últimos anos, está sendo observado que os custos de geração da energia térmica e da energia renovável estão diminuindo, decorrentes do resultado da inovação tecnológica e comercial e mudanças na receita. Mecanismos de apoio que possibilitam o financiamento de 32 projetos com custos menores. Como ferramenta de comparação para implementação de fontes alternativas de energia, o custo nivelado da energia (LCOE) é amplamente utilizado. Como uma métrica comparativa importante, é necessário que o uso deste indicador seja claramente compreendido. O cálculo do custo unitário da energia fornece uma medida comparativa útil na implementação de projetos de geração de energia (WILLIAMS, J. A.; RUBERT, T. 2019). 33 3 METODOLOGIA Este trabalho tem como objetivo avaliar a viabilidade técnica e a atratividade financeira de um projeto de geração FV para diferentes bitolas de condutores elétricos de baixa tensão, instalados entre as caixas de junção e os inversores centrais em uma usina solar fotovoltaica. A depender das variáveis presentes no projeto, diferentes seções de condutores podem ser escolhidas. A variação entre bitolas dos condutores selecionados impacta diretamente no custo inicial de projeto e nas receitas anuais do empreendimento, provenientes da geração solar fotovoltaica, que será diferente a depender das perdas ôhmicas presentes em cada tipo de condutor. O Tabela 1 apresenta as características gerais do projeto da usina solar FV analisada. Tabela 1 - Características gerais do projeto da usina solar FV. RESUMO GERAL DO PROJETO Potência CC (kWp) 265,7 MWp Potência CA (kVA) 213,1 MVA Subestações unitárias 31 unidades Inversor Sungrow SG3125-HV 62 unidades Tracker Convert TRJ 13.392 unidades Módulo Trina Solar 640 Wp 415.152 unidades Fonte: O Autor. A Figura 8 apresenta o arranjo geral da stringbox utilizada no empreendimento. A maneira como este arranjo é montado impacta diretamente na corrente de projeto dos cabos. Este arranjo é construído com doze strings em paralelo que, somadas, irão gerar uma corrente de curtocircuito de 219,12 A (desconsiderados os adicionais por albedo e a bifacialidade). 34 Figura 8 - Arranjo elétrico da stringbox Fonte: O Autor As análises serão feitas com o auxílio de dos softwares PVSyst e Cableizer. O software PVSyst utiliza como principais dados de entrada as condições climáticas do local do empreendimento e as características técnicas dos equipamentos que serão instalados para se estimar, por meio de simulações, a geração anual do empreendimento. Já o software Cableizer auxiliará no dimensionamento dos condutores de baixa tensão por meio de simulações que utilizam um algoritmo embasado nas prescrições das Normas IEC 60287 e IEC 60853. 3.1 DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES O dimensionamento dos condutores é de suma importância para qualquer tipo de projeto elétrico. Ele deve atender não apenas a capacidade de condução de corrente, como também atender aos critérios de projeto estipulados, tais como, perdas ôhmicas e queda de tensão máximas aceitáveis. Quando em escalas residencial ou comercial a norma ABNT NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão, na maioria das vezes atende aos requisitos de projeto, contudo, quando em escala industrial ou em grandes empreendimentos, surgem cenários não previstos pela norma ABNT NBR 5410 que traz casos genéricos de métodos de instalação com uma quantidade limitada de circuitos agrupados. 3.1.1Corrente de projeto Segundo a norma NBR 16690 (ABNT, 2019), a corrente mínima em relação a qual a área transversal dos condutores e os valores nominais de outros elementos do circuito devem ser dimensionados é dado por (1): 35 πΌπ = 1,25 × πΌπ π π΄π π π΄ππ½π (1) Onde: πΌπ = Corrente de projeto do sistema (A); πΌπ π π΄π π π΄ππ½π = Corrente de curto-circuito do arranjo fotovoltaico (A). 3.1.2 Prescrições da IEC 60287 para calcular a capacidade de condução de corrente A norma IEC 60287 (IEC, 2006) apresenta o cálculo da capacidade de condução de corrente para cabos isolados em regime permanente, ou seja, fator de carga igual a 100%. As fórmulas apresentadas na norma utilizam parâmetros que variam de acordo com as características do cabo e o seu local de instalação. Para se calcular a capacidade de condução de corrente do cabo ou a temperatura de operação do condutor, deve-se seguir o roteiro de cálculo apresentado a seguir: • Calcular os parâmetros elétricos; • Calcular os parâmetros térmicos; • Aplicar da fórmula adequada ao tipo de instalação. Conforme prescrições da norma IEC 60287, a capacidade de condução de corrente para cabos até 5kV, operando em corrente contínua, sem se levar em consideração o efeito da radiação solar direta, é calculada com o auxílio de (2): πΌ=√ βπ π ππ ×π1 +π×π ππ ×π2 +π×π ππ (π3 +π4 ) (2) Onde: πΌ = Capacidade de condução de corrente no condutor (A); βπ = Diferença de temperatura entre o condutor e o meio ambiente (°C); π ππ = Resistência elétrica do condutor em corrente contínua na temperatura de Ω operação (ππ); π = Número de condutores do cabo efetivamente carregados (adimensional); π π1 = Resistência térmica da isolação (πΎ × π); 36 π2 = Resistência térmica do acolchoamento entre a capa e a armação metálica π (πΎ × π); π π3 = Resistência térmica da cobertura (πΎ × π); π π4 = Resistência térmica do cabo (πΎ × π); Como o cálculo de capacidade de condução de corrente será efetuado levando-se em consideração valas de cabos com mais de um circuito agrupados (sem contato), o cálculo do fator π4 deve levar em consideração o aquecimento mútuo do grupo de cabos. Para isso, deve ser calculada a capacidade de condução de corrente do cabo mais aquecido, o qual geralmente é identificado a partir da configuração da instalação. O valor modificado da resistência térmica externa π4 para o p-ésimo cabo é dado por (3): 1 π4 = 2π × π4 × ππ [(π + √π 2 − 1 ) × πΉ] (3) Onde F é o fator de aquecimento mútuo dado por (4) ′ πΉ= π ∏ππ=1 ππ π π≠π ππ (4) ′ πππ = Distância do cabo referência à imagem no cabo k (mm); πππ = Distância do cabo referência ao cabo k (mm); π = Número de cabos do subgrupo (adimensional); π π4 = Resistividade térmica do solo (πΎ × π). E π é dado por (5): π= 2πΏ π·π (5) Onde: L = Distância da superfície do solo ao eixo do cabo (mm); π·π = Diâmetro externo do cabo (mm); Por se tratar de um cálculo complexo, envolvendo muitas variáveis e considerando que a depender da quantidade de circuitos agrupados um cálculo com muitas iterações é necessário, a título de resultados práticos, as simulações de capacidade de condução de corrente nos 37 condutores serão feitas com o auxílio de software específico, que tem como base de cálculo as equações dispostas na IEC 60287. 3.1.3 Prescrições da IEC 60853 para calcular a capacidade de condução de corrente Para um cabo de potência que transporta cargas cíclicas, a capacidade de condução de corrente na condição de serviço pode ser multiplicada pelo fator de carga cíclico calculado, alcançando, assim, um valor mais alto de capacidade de condução de corrente. Este fator de carregamento cíclico depende do perfil de carregamento e da magnitude da corrente de carga em diferentes horas do dia e de vários outros fatores, tais como a profundidade de instalação e resistividade térmica do solo. A norma IEC 60853 (IEC, 1985) apresenta equações para o cálculo da capacidade de condução de corrente para cabos isolados em regime de ciclo de carga. Neste caso, é apresentada uma metodologia de cálculo a fim de se obter um valor para o fator “M”, que deverá ser multiplicado pela capacidade de condução de corrente no cabo quando em regime permanente de carga (fator de carga igual a 100%). O cálculo do fator “M” é apresentado em (6): π= 1 π (π+1) π (π) π (π) √∑5π=0 ππ [ π (∞) − π (∞)]+π×[1− π (∞)] ππ ππ ππ (6) Onde: M = Fator que considera a atuação da corrente quando em regime cíclico de carga; ππ = Coeficiente proporcional às perdas dependentes da corrente em um cabo entre (i) e (i+1) horas antes do instante de maior temperatura do condutor; ππ (π) = Temperatura no condutor depois de “i” horas; π = Fator de carga de perda no ciclo a ser considerado = 1 24 ∑23 π=0 ππ ; Assim como o cálculo da capacidade de condução de corrente em regime permanente de carga (fator de carga igual a 100%), este cálculo envolve muitas variáveis. A título de resultados práticos, as simulações de capacidade de condução de corrente nos condutores no regime de ciclo de carga serão feitas usando o software Cableizer. 38 3.2 PERDAS ÔHMICAS As perdas nos condutores serão calculadas pela lei de Ohm, considerando a corrente de operação máxima nos cabos. A perda instantânea, expressa em kW, será utilizada para se calcular a porcentagem de perda de potência no circuito. Esta porcentagem de perda, por sua vez, será utilizada para se realizar as simulações via software PVSyst. O cálculo da perda de potência é dado por (7): π = π ππ × πΏ × πΌ 2 (7) Onde: P = Potência dissipada no trecho (W); π ππ = Resistência CC na temperatura de operação do condutor (Ohm/km); L = Comprimento do circuito (m); I = Corrente de operação do circuito (A). Por padrão, os datasheets e catálogos de cabos fornecem a resistência CC para uma temperatura no condutor de 20 °C. Para se calcular a resistência CC para uma determinada temperatura de operação do cabo, a norma ABNT NBR NM 280 – Condutores de cabos isolados (ABNT, 2011) será utilizada. O cálculo da resistência para uma determinada temperatura é dado por (8): π π‘ = π 20 °πΆ 250 (230+π‘) (8) Onde: π π‘ = Resistência elétrica na temperatura de “t” °C (ohm/km); π 20 °πΆ = Resistência elétrica na temperatura de 20 °C (ohm/km); t = Temperatura de operação do condutor. Com os resultados obtidos via simulação da capacidade de condução de corrente, serão calculadas as resistências com base nas respectivas temperaturas de operação máximas nos condutores. 39 3.3 SIMULAÇÕES – PVSYST Para avaliar a geração solar fotovoltaica do sistema instalado em solo no empreendimento, foi utilizado o software PVSyst. Os valores utilizados para perdas padronizadas que foram inseridos no programa estão representados na Tabela 2. Tabela 2 - Perdas padronizadas adotadas no software PVSyst para as simulações. Perda Perda da eficiência Perda por Perda por Perdas ôhmica dos módulos mismatch sujeira LID Variável % -0,80% 1,00% 3,00% 1,30% Fonte: O autor Para avaliar a produção efetiva do sistema FV, em base mensal e anual, foram calculados o desempenho global (Performance Ratio), a produtividade e o fator de capacidade. O desempenho global (PR) do sistema simulado é obtido por (9): ππππππ ππ π = (πΈπ × πΌ πππ )/(π × πΌπππ ) (9) Onde: ππ π = Desempenho global no intervalo de tempo especificado; π = Intervalo de tempo especificado; π = Potência instalada na usina, (kW); ππππππ πΈπ = Energia gerada pela usina no intervalo de tempo especificado (obtida via software PVSyst), (kWh); πΌ πππ = Irradiância de referência (1.000 W/m²); πΌπππ = Irradiação solar no intervalo de tempo especificado (obtido via dados do 2 Atlas Brasileiro de Energia Solar), (kWh/m²). A produtividade (Yield) do sistema simulado é apresentada em (10). ππππππ ππ = πΈπ /π Onde: ππ = Produtividade no intervalo de tempo especificado, expressa em horas; π = Intervalo de tempo especificado; (10) 40 π = Potência instalada da usina, expressa em kW; ππππππ πΈπ = Energia gerada pela usina no intervalo de tempo especificado, expressa em kWh (obtido via software PVSyst). O fator de capacidade do sistema simulado é apresentado em (11). ππππππ πΉπΆπ = πΈπ (11) π ×π Onde: πΉπΆπ = Fator de capacidade no intervalo de tempo especificado; π = Intervalo de tempo especificado; π = Potência instalada da usina, expressa em kW; ππππππ πΈπ = Energia gerada pela usina no intervalo de tempo especificado, expressa em kWh (obtido via software PVSyst). 3.4 VIABILIDADE ECONÔMICA As análises financeiras de retorno do investimento são feitas por meio das simulações de cálculo do tempo de retorno de investimento, do valor presente líquido (VPL), da taxa de retorno de investimento (TIR) e do tempo de retorno do investimento (Payback). O custo por kWh gerado é apresentado pela equação do custo nivelado da energia gerada (Levelized Cost of Energy – LCOE). Todas as análises do custo global do empreendimento serão embasadas em um custo inicial da usina, expresso em R$/MWp, conforme informações apresentadas pela GREENER (2021). Neste caso, o custo será atrelado ao cenário com cabo de 300 mm² (menor custo possível). Então, considerar-se-á que a diferença entre os custos globais entre os cenários será a própria diferença entre os custos dos cabos para os outros quatro cenários. O cálculo do VPL é feito conforme (12): πππΏ = ∑ππ=π (π π−πΆπ) (1+π)π onde: VPL = Valor Presente Líquido, expresso em reais; I = Investimento inicial, expresso em reais; −πΌ (12) 41 Rj = Receita proveniente do ano j, expresso em reais; Cj = Custos de operação e manutenção no ano j, expresso em reais; i = Taxa anual de juros empregada; n = Vida útil do equipamento. A TIR é calculada conforme a Eq. (13). (π π−πΆπ) −πΌ + ∑ππ=π (1+ππΌπ )π = 0 (13) onde: TIR = Taxa Interna de Retorno, expressa sem unidade; I = Investimento inicial, expresso em reais; Rj = Receita proveniente do ano j, expresso em reais; Cj = Custos de operação e manutenção no ano j, expresso em reais; n = Vida útil do equipamento. O Levelized Cost of Energy (LCOE) é calculado conforme (14). πΏπΆππΈ = π΄π‘ (1+π)π‘ ππ‘ ∑π π‘=1(1+π)π‘ πΌ+ ∑π π‘=1 (14) onde: LCOE = Levelized Cost of Investiment (Custo médio de energia), expresso em R$/kWh; I = Investimento inicial, expresso em reais; At = Gastos com operação e manutenção ao longo dos t anos de vida útil do equipamento, expresso em reais; Mt = Energia elétrica gerada ao longo dos t anos de vida útil do equipamento, expresso em kWh; i = Taxa anual de juros empregada; n = Vida útil do equipamento. 3.5 DADOS METEOROLÓGICOS Nas simulações realizadas, foram utilizados dados de temperatura ambiente média diária obtidos via INMET (2022) para a cidade de Picos-PI (Estação meteorológica mais próxima ao 42 projeto). Os valores de irradiação solar global horizontal média diária mensal foram obtidos por meio do banco de dados da 2ª edição do ATLAS Brasileiro de Energia Solar (PEREIRA ET AL., 2017) para o local do projeto, Caldeirão Grande do Piauí - PI. A Tabela 3 apresenta os valores de temperatura e irradiação utilizados nas simulações. Tabela 3 - Valores de irradiação e temperatura ambiente. Mês Irradiação Global (kWh/m²/dia) Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média Anual Temperatura (ºC) 5,44 5,48 5,45 5,34 5,23 5,23 5,66 6,31 6,74 6,58 6,43 6,00 5,82 27,46 26,83 26,22 26,45 26,72 26,34 27,00 28,17 30,40 31,13 31,25 30,92 28,25 Fonte: O autor. 3.6 TECNOLOGIA O estudo foi baseado em equipamentos mais recorrentes em projetos realizados pela empresa Araxá Solar. A tecnologia utilizada nos módulos fotovoltaicos é de silício multicristalino (p-Si). A potência FV instalada é de 265,7 MWp, com 415.152 módulos. A Tabela 4 apresenta os valores das principais características do módulo. Tabela 4 - Valores das principais características dos módulos utilizados nas simulações (ver Anexo A). Potência Nominal (Wp) Vmpp (V) Impp (A) Voc (V) Isc (A) 640 37,3 17,19 45,1 18,26 Fonte: O autor. Onde: Vmpp = Tensão de máxima potência; 43 Voc = Tensão de circuito aberto; Impp = Corrente de máxima potência; Isc = Corrente de curto-circuito; Serão utilizados, no total, sessenta e dois (62) inversores de mesma marca e fabricante, com potência máxima de saída de 3.437 kVA, a uma temperatura de 45°C. As características dos inversores utilizados nas simulações da usina solar fotovoltaica estão descritas na Tabela 5. Tabela 5 - Principais características dos inversores utilizados nas simulações. Entrada (DC) Tensão máxima entrada 1.500 Limites de tensão PV, MPPT 875-1.300 Máxima corrente de entrada 3.997 Máxima corrente de entrada por arranjo 30 Número de rastreadores MPPT 2 Saída (AC) Potência Aparente de Saída Máxima 3.437 Corrente Máxima de saída 3.308 Tensão Nominal AC / Range 510-660 Fator de potência (cos Ο) Conexão AC >0,99/0,8 3 Fonte: O autor. V V A A kVA A V Capacitivo e Indutivo Trifásico 4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES 4.1 ESPECIFICAÇÃO DOS CONDUTORES Parâmetros nominais dos módulos FV, informações meteorológicas e geológicas são exemplos de dados de entrada, dentre os quais se destaca o coeficiente de resistividade térmica do solo. Tal coeficiente, além de ser medido em campo, deve atender às prescrições da norma 442-IEEE Guide for Thermal Resistivity Measurements of Soils and Backfill Materials (2017). A Tabela 6 apresenta os principais dados referentes ao módulo fotovoltaico (FV), albedo e a constante KI utilizados neste trabalho. A constante KI adotada neste trabalho atende às prescrições da norma NBR 16690 e apresenta o valor de 1,25. 44 Tabela 6 - Dados de entrada utilizados no dimensionamento dos condutores. DADOS DE ENTRADA MÓDULO 640 Wp UNIDADE Potência STC 640 Wp Tensão de operação (Vmp) 37,3 V Corrente de operação (Imp) 17,19 A Tensão de circuito aberto (Voc) 45,1 V Corrente de curto-circuito (Isc) 18,26 A Albedo 20,0 % Bifacialidade do módulo FV 70,0 % Constante KI 1,25 - Fonte: O Autor 4.1.1 Corrente de projeto conforme norma NBR 16690 A corrente de curto-circuito do módulo fotovoltaico deve ser corrigida levando-se em consideração o albedo e a bifacialidade dos módulos, conforme apresentado em (15): πΌππΆ = πΌππΆ πΉππππ‘π × (1 + π × π) (15) πΌππΆ = 18,26 × (1 + 0,2 × 0,7) πΌππΆ = 20,82 π΄ Onde: πΌππΆ = Corrente de curto-circuito do módulo corrigida pelo albedo e bifacialidade, expressa em Amperes; πΌππΆ πΉππππ‘π = Corrente nominal de curto-circuito do módulo, expressa em Amperes; a = Albedo (%); b = Bifacialidade considerada para o módulo fotovoltaico (%); A corrente de operação πΌπππ‘ππππ , considerando o Fator de Sobreirradiância (Fator Kl = 1,25), é calculada por (16): πΌπππ‘ππππ = πΌππΆ × πΎπΌ πΌπππ‘ππππ = 20,82 × 1,25 = 26,02 π΄ Onde: πΌπππ‘ππππ = Corrente de projeto na string (A); πΎπΌ = Fator de sobreirradiância = 1,25 [adimensional]; (16) 45 De posse da corrente de projeto em cada string, para se obter a corrente de projeto a ser utilizada no trecho a ser estudado, que compreende a conexão entre stringbox e inversor central, a corrente de projeto do trecho é a soma das correntes das strings conectadas na stringbox (doze strings), como apresentado em (17). πΌπ = πΌπππ‘ππππ × π (17) πΌπ = 26,02 × 12 = 312,24 π΄ Onde: πΌπ = Corrente de projeto do trecho estudado (A); π = Número de strings conectadas à stringbox (adimensional); A corrente de projeto no trecho estudado (312,24 A) servirá de base para a escolha dos condutores. Os condutores selecionados deverão ser capazes de transportar, no mínimo, a corrente de projeto considerando que sua temperatura quando em operação atinja no máximo 90 °C. 4.1.2 Capacidade de condução de corrente conforme Norma IEC 60287 As simulações da capacidade de condução de corrente para diferentes seções de condutores foram realizadas via software Cableizer, com base nos dados apresentados na Tabela 7 e Tabela 8. Tabela 7 - Dados de entrada para o cálculo de capacidade de condução de corrente via software Cableizer DADOS DE ENTRADA Temperatura no ambiente da instalação (Solo) 30 °C Resistividade térmica do solo 2,0 K x m/W Profundidade de instalação 70 cm Distância entre circuitos 40 cm Corrente de projeto 312,24 A Fonte: O Autor Além dos dados de entrada de projeto, é necessário que se forneça ao software as características físicas dos cabos que serão utilizados nas simulações. A Tabela 8 apresenta as características físicas de cada cabo a ser utilizado nas simulações. 46 Tabela 8 - Características físicas dos cabos utilizados. DADOS DE ENTRADA Diâmetro do condutor [mm] Seção do condutor [mm²] Tipo da isolação Espessura da isolação [mm] Tipo da cobertura Espessura da cobertura [mm] Classe de tensão [1,0 kV] 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 17,4 185 XLPE 1,6 PVC 1,4 1,0 19,1 240 XLPE 1,7 PVC 1,5 1,0 20,5 300 XLPE 2,1 PVC 1,85 1,0 23,3 400 XLPE 2,2 PVC 2,0 1,0 26,2 500 XLPE 2,4 PVC 2,1 1,0 Fonte: O Autor O software Cableizer adota as prescrições das normas IEC 60287 e IEC 60853 para calcular a temperatura nos condutores, quando em operação, sob uma corrente estipulada. 4.1.3 Capacidade de condução de corrente conforme Norma IEC 60853 Foram adotadas as prescrições da Norma IEC 60853 para o cálculo da capacidade de condução de corrente do cabo de 300 mm². Neste caso, foi necessário converter a irradiância média horária em corrente de operação. Para tal, a corrente nominal em condições STC (1000 W/m²) foi multiplicada pelo fator de sobreirradiância, obtido pela equação 16. Assim, foi possível estimar a curva do ciclo de carga por meio da qual será calculado o fator “M”. A irradiância solar utilizada para realizar o cálculo da corrente ao longo do dia foi a recebida no plano dos módulos, ou seja, a curva que normalmente se assemelha a uma parábola, visualizada a partir do plano dos módulos, se torna um “trapézio”. A Figura 9 apresenta a curva de irradiância solar no plano dos módulos. Figura 9 – Irradiância solar no plano dos módulos. Fonte: O Autor 47 A curva da Figura 9 representa o dia com maior irradiância dentro da base de dados utilizada para as simulações. Dada a curva de irradiância, é necessário calcular a corrente para a análise do ciclo de carga. A corrente na hora “i” é dada por (18). πΌπΎπΌπ = πΌπππππππ × πΎπΌπ (18) Onde: πΌπππππππ = Corrente nominal em uma irradiância de 1.000 W/m² considerados albedo e a bifacialidade (A); πΌπΎπΌπ = Corrente de projeto na hora "i" (A); πΎπΌπ = πΌπππππâπππππ 1.000 = Fator de sobreirradiância na hora "i" (adimensional); Os dados de corrente πΎπΌπ são apresentados na Tabela 9. Tabela 9 - Corrente de projeto no trecho durante o dia. Horário 00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 π°π²π°π [A] 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 85,92 264,30 299,97 311,45 314,04 312,64 312,33 309,83 302,66 282,22 185,72 4,78 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte: O Autor 48 Gerados os dados de corrente πΎπΌπ , estes são inseridos no software com um documento de texto, para que seja calculada a curva que será utilizada no cálculo do fator de carga. A Figura 10 apresenta a curva gerada (em amarelo) com o uso dos dados de entrada (pontos brancos). Figura 10 - Curva de ciclo de carga gerada através do software. Fonte: O Autor De posse da curva apresentada na Figura 10, é possível calcular a capacidade de condução de corrente do condutor de 300 mm². Independente da seção dos condutores, os circuitos estarão distantes 40 cm entre centros e instalados a 70 cm de profundidade. Os condutores com seções de 185 mm² e 240 mm² apresentam dois cabos por polo do circuito, conforme Figura 11. Já os condutores de 300 mm², 400 mm² e 500 mm² apresentam um cabo por polo do circuito, conforme Figura 12. 49 Figura 11 - Topologia de circuitos utilizando dois cabos por pólo Fonte: O Autor Figura 12 - Topologia de circuitos utilizando um cabo por pólo Fonte: O Autor A Tabela 10 apresenta as maiores temperaturas de operação dos cabos, bem como a Norma Técnica adotada nas simulações. 50 Tabela 10 - Maiores temperaturas de operação nos cabos Condutores 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² Maior temperatura de operação 87,6 °C 70,0 °C 77,9 °C 83,5 °C 69,6 °C Norma utilizada IEC 60287 IEC 60287 IEC 60853 IEC 60287 IEC 60287 Fonte: O Autor Observou-se que a maior temperatura de operação é a do cabo de 185 mm². A menor temperatura de operação é a do cabo de 500 mm². 4.2 PERDAS ÔHMICAS NOS CONDUTORES As perdas ôhmicas em corrente contínua foram calculadas levando-se em consideração as temperaturas de operação de cada condutor, conforme (8) presente no item 3.2. A Tabela 11 apresenta as resistências de cada cabo para a temperatura de 20 °C e a resistência corrigida para sua respectiva temperatura de operação máxima, ambas expressas em ohm/km. Tabela 11 - Resistências dos condutores. Condutores Resistência 20 °C [ohm/km] 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 0,164 0,125 0,100 0,078 0,061 Resistência corrigida para a temperatura de operação [ohm/km] 0,209 0,150 0,123 0,098 0,073 Fonte: O Autor Para o cálculo das perdas (em valores percentuais) referentes ao cabeamento de toda a usina, dividiu-se a quantidade total de cabos utilizados na usina (411.603 metros de cabos) pela quantidade de stringboxes da usina (1.056 stringboxes). Isso resulta em um trecho que representa a média de todos os trechos da usina. 51 A Tabela 12 apresenta as perdas (em valores percentuais) para cada seção de cabo. Tabela 12 - Perdas Ôhmicas para diferentes seções de condutores Condutores 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² Perdas ôhmicas 0,73 % 0,52 % 0,86 % 0,68 % 0,51 % Fonte: O Autor Além das perdas no trecho em estudo, é necessário considerar as perdas nos cabos que interligam as strings às stringboxes e nos cabos de média tensão que interligam os eletrocentros à subestação coletora. Estas perdas foram consideradas de 0,8 % e 0,5 %, respectivamente, oriundas do projeto executivo da usina fotovoltaica analisada e permanecem constantes, independente da variação da seção dos condutores em estudo. As perdas calculadas para cada seção de cabo foram utilizadas em diferentes simulações via software PVSyst. 4.3 GERAÇÃO DE ENERGIA A simulação do sistema proposto foi feita de maneira otimizada, respeitando os limites de potência dos inversores e as restrições de limites do terreno. Os módulos FV foram distribuídos igualmente entre os inversores, sendo 6.696 módulos por inversor. Os módulos FV foram divididos em 13.392 strings, com 31 módulos cada, de maneira a respeitar as condições de operação dos sessenta e dois (62) inversores utilizados, totalizando 415.152 módulos FV. A Tabela 13 apresenta a Performance Ratio e o Yield para cada um dos cinco cenários analisados. Tabela 13 - Performance Ratio e Yield para os cinco diferentes cenários. Seção do cabo 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² Performance Ratio 83,09 % 83,16 % 83,03 % 83,09 % 83,17 % Fonte: O Autor Yield 2.186 kWh/kWp/ano 2.187 kWh/kWp/ano 2.184 kWh/kWp/ano 2.186 kWh/kWp/ano 2.187 kWh/kWp/ano 52 Para a mesma configuração da usina FV, foram simulados cinco diferentes cenários de geração, para as diferentes seções de cabos selecionadas, conforme mostra a Figura 13. Figura 13 - Geração anual para diferentes seções de cabos. 800,00 Geração Anual [GW/h] 700,00 600,00 500,00 400,00 300,00 200,00 100,00 0,00 GWh/Ano 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 580,69 581,18 580,26 580,69 581,21 Fonte: O Autor Como todas as simulações foram realizadas com os mesmos dados meteorológicos e configuração de projeto, a diferença na geração se deve exclusivamente às perdas em corrente contínua, que foram alteradas nas simulações, a depender da seção de cabo escolhida. Como esperado, a maior geração ocorreu com o cabo de 500 mm² (581,21 GWh/ano). A menor geração ocorreu com o cabo de 300 mm² (580,26 GWh/ano). A diferença percentual entre estes cenários é relativamente pequena (0,16%), contudo, em números absolutos, representa 950 MWh/ano, energia esta que é capaz de abastecer em média 520 residências durante o período de um ano. 4.4 ESCOLHA DO CONDUTOR Neste estudo, as análises financeiras do retorno do investimento levam em consideração os custos dos cabos e conectores a serem instalados e os custos envolvendo as perdas do sistema em uma vida útil do sistema de 25 anos. As análises foram feitas considerando como caso base o cenário do cabo de 300 mm², ao qual foi atribuído um custo global de R$ 3,16/Wp baseado no estudo de caso publicado pela empresa Greener (2021). Para todas as análises, considerouse que o custo de operação e manutenção da usina é o mesmo entre os cenários, sendo este desconsiderado em todos os cenários. 53 4.4.1 Custos Os preços dos materiais que irão compor o custo inicial estão dispostos na Tabela 14. Tabela 14 – Custos dos materiais utilizados no trecho de baixa tensão em corrente contínua. Seção do cabo Preço do cabo (R$/m) Preço do conector terminal bimetálica (R$/und.) 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 19,87 24,57 30,00 37,60 47,72 69,30 71,40 87,15 144,90 213,15 Fonte: O Autor A Tabela 15 apresenta os quantitativos de cada material, bem como o custo inicial do empreendimento para cada cenário. Tabela 15 - Quantitativos e custos totais dos materiais utilizados. Seção do cabo 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² Total de cabos (m) 823.206 823.206 411.603 411.603 411.603 Total de conectores Custo total da usina (R$) (und.) 8.928 843.842.086,02 8.928 847.729.903,02 4.464 839.603.400,00 4.464 842.989.378,80 4.464 847.459.469,16 Fonte: O Autor Os resultados mostraram maior custo total da usina com a utilização de cabo de 240 mm², com dois cabos por pólo no circuito de corrente contínua. O menor custo total da usina ocorreu para cabo de 300 mm², cenário com menor seção utilizando apenas um cabo por pólo. 4.4.2 Preço da energia Para fins da análise financeira, o preço da energia adotado foi o preço médio da energia (R$/MWh), com base na estruturação do PPA (Power Purchase Agreement), para o ano de 2021, conforme mostra a Tabela 16. Tabela 16 - Preço médio da energia. Ano Preço da Energia (R$/MWh) 2021 135,00 Fonte: Estudo estratégico de grandes usinas solares 2021 (Greener, 2021). 54 Para fins de cálculo, considerou-se que o valor se manteve ao longo dos anos, sendo a inflação desconsiderada nos cálculos desta análise. A Tabela 17 apresenta a receita anual para cada cenário, baseado na geração FV de energia e no preço médio da energia. Tabela 17 - Receita anual de energia. Seção do cabo 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 4.4.3 Receita anual (R$) 78.393.150,00 78.459.300,00 78.335.100,00 78.393.150,00 78.463.350,00 Fonte: O Autor Análise do Valor Presente Líquido (VPL) A Figura 14 apresenta o Valor Presente Líquido (VPL) para os cinco cenários abordados visando diferentes Taxas de Mínima Atratividade (TMA). Figura 14 - VPL para distintas TMAs. VPL [Milhões R$] R$ 850,00 R$ 650,00 R$ 450,00 R$ 250,00 R$ 50,00 -R$ 150,00 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 185 mm² R$ 873,88 R$ 673,20 R$ 506,05 R$ 366,17 R$ 248,60 R$ 149,33 R$ 65,16 -R$ 6,49 -R$ 67,72 -R$ 120,24 240 mm² R$ 871,48 R$ 670,65 R$ 503,39 R$ 363,43 R$ 245,78 R$ 146,46 R$ 62,24 -R$ 9,44 -R$ 70,69 -R$ 123,23 300 mm² R$ 876,81 R$ 676,24 R$ 509,18 R$ 369,38 R$ 251,85 R$ 152,62 R$ 68,49 -R$ 3,14 -R$ 64,36 -R$ 116,87 400 mm² R$ 874,73 R$ 674,04 R$ 506,88 R$ 366,99 R$ 249,41 R$ 150,13 R$ 65,95 -R$ 5,70 -R$ 66,94 -R$ 119,47 500 mm² R$ 871,83 R$ 671,00 R$ 503,72 R$ 363,75 R$ 246,09 R$ 146,76 R$ 62,54 -R$ 9,15 -R$ 70,41 -R$ 122,95 Fonte: O Autor É possível verificar que existe pouca diferença entre os diferentes cenários analisados. O cenário que considera o uso do cabo com seção de 300 mm² apresentou o maior VPL para as diferentes TMAs. Já o cenário com cabo de 240 mm² apresentou o menor VPL dentre as análises realizadas. 55 A Figura 15 apresenta as diferenças monetárias do valor presente líquido entre o cenário com cabo de 300mm² e os demais cenários para TMA variando entre 1 % e 10 %. Diferença monetária [Milhões R$] Figura 15 - Diferença monetária (VPL) entre os cenários. R$ 0,00 -R$ 1,00 -R$ 2,00 -R$ 3,00 -R$ 4,00 -R$ 5,00 -R$ 6,00 -R$ 7,00 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 185 mm² -R$ 2,93 -R$ 3,04 -R$ 3,13 -R$ 3,20 -R$ 3,26 -R$ 3,30 -R$ 3,33 -R$ 3,35 -R$ 3,37 -R$ 3,37 240 mm² -R$ 5,34 -R$ 5,59 -R$ 5,79 -R$ 5,95 -R$ 6,07 -R$ 6,17 -R$ 6,24 -R$ 6,30 -R$ 6,34 -R$ 6,36 300 mm² R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 400 mm² -R$ 2,09 -R$ 2,21 -R$ 2,31 -R$ 2,38 -R$ 2,45 -R$ 2,49 -R$ 2,53 -R$ 2,56 -R$ 2,58 -R$ 2,60 500 mm² -R$ 4,98 -R$ 5,25 -R$ 5,46 -R$ 5,63 -R$ 5,76 -R$ 5,86 -R$ 5,95 -R$ 6,01 -R$ 6,05 -R$ 6,08 Fonte: O Autor Em comparação ao melhor cenário (cabo de 300 mm²) o pior cenário (cabo de 240 mm²) apresentou uma diminuição de R$ 6,36 milhões no Valor Presente Líquido para TMA de 10% a.a. Isto representa uma diferença de 5,16% entre estes cenários. 4.4.4 Análise da Taxa Interna de Retorno (TIR) Assim como na análise do Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) foi calculada considerando-se o custo inicial global da usina e o fluxo de caixa ao longo de 25 anos. A TIR foi calculada para os diferentes cenários. A Figura 16 apresenta a TIR para os cinco cenários analisados. 56 Figura 16 – TIR para diferentes cenários. 10,000% Taxa Interna de Retorno (TIR) 9,000% 8,000% 7,000% 6,000% 5,000% 4,000% 3,000% 2,000% 1,000% 0,000% TIR 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 7,903% 7,859% 7,953% 7,914% 7,863% Fonte: O Autor A cálculo da TIR é um método de análise complementar ao VPL. Com ela foi possível aferir qual a maior taxa de retorno dentre os cenários analisados. Assim como na análise do VPL, o cenário com o cabo de 300mm² se mostrou mais vantajoso com TIR de 7,953%. Como era esperado, o cabo de 240 mm² se manteve como sendo o menos vantajoso, com TIR de 7,859%. A diferença na TIR entre o melhor e o pior cenário analisado é de 0,094%. 4.4.5 Tempo de Retorno do Investimento (Payback) A análise do tempo de retorno do investimento apresenta o momento em que o investidor terá o retorno do custo inicial investido. Esta análise já consolidada utiliza o ponto de inflexão em que o fluxo de caixa deixa de ser negativo e se torna positivo. Neste ponto, é possível constatar que o investidor já obteve o retorno do capital inicial investido. A Figura 17 apresenta o tempo de retorno do investimento para cada um dos cinco cenários apresentados neste estudo. 57 Tempo de retorno do investimento (Payback) Figura 17 - Tempo de retorno do investimento (Payback). 14,00 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 185 mm² 240 mm² 300 mm² 400 mm² 500 mm² 13,24 14,12 12,55 13,05 14,02 Payback Fonte: O Autor O cenário com o cabo de 300 mm² apresentou o menor tempo de retorno do investimento (12,55 anos), um período 1,57 anos menor que o pior cenário (14,12 anos), obtido com o cabo de 240 mm². 4.4.6 Análise do Levelized Cost of Energy (LCOE) O custo nivelado de energia reflete o custo real da energia gerada. Para a análise do presente estudo, foram considerados apenas os custos iniciais (CAPEX). Dessa forma, os custos com operação e manutenção da usina (OPEX), serão os mesmos para os diferentes cenários. A análise foi feita levando em consideração os mesmos custos iniciais da Tabela 15. A Figura 18 apresenta o Custo Nivelado da Energia (LCOE) para os cinco diferentes cenários, variando as taxas de mínima atratividade. Figura 18 – LCOE para diferentes taxas mínimas de atratividade. R$ 0,1700 LCOE (R$/kWh) R$ 0,1500 R$ 0,1300 R$ 0,1100 R$ 0,0900 R$ 0,0700 R$ 0,0500 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 185 mm² R$ 0,0660 1% R$ 0,0744 R$ 0,0835 R$ 0,0930 R$ 0,1031 R$ 0,1137 R$ 0,1247 R$ 0,1361 R$ 0,1479 R$ 0,1601 240 mm² R$ 0,0662 R$ 0,0747 R$ 0,0838 R$ 0,0934 R$ 0,1035 R$ 0,1141 R$ 0,1252 R$ 0,1366 R$ 0,1485 R$ 0,1607 300 mm² R$ 0,0657 R$ 0,0741 R$ 0,0831 R$ 0,0926 R$ 0,1027 R$ 0,1132 R$ 0,1242 R$ 0,1355 R$ 0,1473 R$ 0,1594 400 mm² R$ 0,0659 R$ 0,0744 R$ 0,0834 R$ 0,0929 R$ 0,1030 R$ 0,1136 R$ 0,1246 R$ 0,1360 R$ 0,1478 R$ 0,1599 500 mm² R$ 0,0662 R$ 0,0747 R$ 0,0837 R$ 0,0933 R$ 0,1035 R$ 0,1141 R$ 0,1251 R$ 0,1366 R$ 0,1484 R$ 0,1606 Fonte: O Autor 58 O cenário de cabo de 300 mm² apresentou o menor custo por kWh gerado, variando entre R$ 0,0657 e R$ 0,1594 por kWh. Já o cenário do cabo de 240 mm² teve o maior custo por kWh gerado, variando entre R$ 0,0662 e R$ 0,1607. 59 5 CONCLUSÃO O presente trabalho teve por objetivo avaliar técnica e financeiramente, por meio de simulações, diferentes seções e topologias de cabos que podem ser instalados nos trechos que conectam as stringboxes aos inversores centrais de uma usina solar fotovoltaica. Foram analisadas cinco diferentes seções de cabos (185mm²; 240 mm²; 300 mm²; 400 mm²; 500 mm²). O trabalho buscou apresentar uma metodologia para auxiliar na tomada de decisão relativa à aquisição dos cabos de baixa tensão em corrente contínua quando em fase de projeto executivo, onde são feitas as maiores otimizações possíveis, com o intuito de reduzir os custos de implantação do empreendimento. Neste trabalho, optou-se por equalizar os cenários analisados em todos os aspectos, sejam eles técnicos ou econômicos, variando-se apenas os custos iniciais e as perdas ao longo da vida útil do trecho em estudo. Foram feitas duas diferentes abordagens para o dimensionamento dos condutores, uma utilizando um fator de carga igual a 100 % e a outra levando-se em consideração o ciclo de carga ao qual os cabos são submetidos ao longo do dia em uma usina solar fotovoltaica. Na abordagem em que o ciclo de carga foi considerado, foi possível utilizar uma seção de cabo menor que a usual, possibilitando que o custo inicial do investimento fosse reduzido. Dimensionados os condutores, foram calculadas as perdas no trecho usando a lei de Ohm, considerando a corrente de pico na saída das stringboxes e as resistências em corrente contínua, corrigidas para a temperatura de operação do condutor. As perdas foram calculadas em valores percentuais e utilizadas na simulação da geração de energia da usina solar fotovoltaica, via software PVSyst, com dados meteorológicos do município de Caldeirão Grande do Piauí – PI. Para as cinco diferentes seções de cabos (185 mm²; 240 mm²; 300 mm²; 400 mm²; 500 mm²), as simulações de geração de energia foram realizadas variando apenas as perdas (entre 0,51 % e 0,86 %) em cada trecho analisado. Sendo assim, a solução com a menor perda (cabo de 500 mm²) gerou 950 MWh a mais de energia elétrica por ano que a solução com a maior perda no trecho (cabo de 300 mm²). A diferença entre os dois casos foi de 0,16 %. Ao longo de 25 anos, foram analisados os principais indicadores financeiros utilizados em análises básicas de investimentos em geração de energia, tais como, o Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), tempo de retorno do investimento (Payback) e Levelized Cost of Energy (LCOE). O primeiro indicador analisado foi o Valor Presente Líquido, variando as taxas de mínima atratividade entre 1 % e 10 % a.a. Esta análise levou em consideração os custos iniciais 60 de projeto e as receitas com geração de energia para cada caso ao longo dos 25 anos. Sendo assim, o maior Valor Presente Líquido dentre os casos analisados é a melhor solução a ser empregada no projeto. Ainda que com as maiores perdas analisadas, o maior VPL calculado foi para o cabo de 300 mm². Já o menor VPL ocorreu para o cabo de 240 mm². Estes casos apresentaram uma diferença de R$ 5,34 milhões para o cenário com TMA de 1 %, e R$ 6,36 milhões, para o cenário com TMA de 10 %. O segundo indicador analisado foi a Taxa Interna de Retorno (TIR). Este indicador foi calculado com base no preço inicial total da usina FV (R$/Wp), baseado em um estudo de caso publicado pela empresa Greener (GREENER, 2021), que apresentou um custo de R$ 3,16/Wp. A análise também considerou que o custo inicial total adotado seria o menor custo possível para o investimento, ou seja, considerou-se que este custo está atrelado ao cabo de 300 mm² em análise. Tomando esse preço como base, foram adicionadas as diferenças nos custos entre o cabo de 300 mm² e os demais cabos ao valor total da usina gerando, assim, um valor inicial total para todos os casos. De posse destes valores, foi possível calcular a TIR para os diferentes cenários, sendo o cenário com o cabo de 300 mm² o de maior retorno (7,953 %) e com o de 240 mm² o de menor retorno (7,859 %), com uma diferença de 0,094% entre o melhor e o pior caso. O terceiro indicador analisado foi o custo nivelado da energia (LCOE), que apresenta qual é o custo para cada kWh gerado. Assim como a análise da TIR, esta análise foi baseada no preço inicial total (R$/Wp) apresentado pelo estudo de caso da empresa Greener e utilizou a mesma metodologia para obtenção dos custos iniciais utilizados para a análise da TIR. Nesta análise, a TMA variou de 1 % à 10 %. Os resultados mostraram que o estudo com cabo de 300 mm² apresentou o menor custo nivelado da análise. Já a opção com o cabo de 240 mm² apresentou o maior custo nivelado dentre os cenários analisados. Como esta é uma análise comparativa, isto indica que a TMA deve ser no máximo igual ao valor da TIR, caso contrário, o investimento se torna inviável financeiramente. De maneira geral, a análise sobre o presente estudo mostra que a escolha de cabos com seções menores é mais vantajosa financeiramente, ainda que ocasionem perdas ôhmicas maiores ao longo da vida útil do empreendimento. Contudo, é necessário um estudo apurado quanto ao uso de cabos com seções menores, atentando ao dimensionamento destes condutores. Quando analisado sob o ciclo de carga, o dimensionamento dos condutores deve levar em consideração as maiores irradiações medidas, além de conter informações precisas de temperatura do solo e resistividade térmica do solo no local do empreendimento. 61 A Tabela 18 apresenta o ranking das melhores soluções dentre as analisadas neste estudo, sendo o primeiro lugar o melhor investimento possível e o quinto lugar o pior investimento possível quanto ao uso dos cabos no trecho analisado. Tabela 18 - Ranking dos cenários analisados. Colocação quanto a viabilidade financeira 300 mm² (1 cabo por polo) 1º 400 mm² (1 cabo por polo) 2º 185 mm² (2 cabos por polo) 3º 500 mm² (1 cabo por polo) 4º 240 mm² (2 cabos por polo) 5º Fonte: O Autor Seção do cabo Como sugestões para trabalhos futuros, pode-se considerar: β Análise da proteção dos condutores, dimensionados em regime de ciclo de carga, quanto a uma falta no sistema; β Análise dos casos apresentados variando, também, as tarifas de energia; β Análise mais detalhada quanto à tarifação e impostos do empreendimento; β Análise do menor espaçamento possível para cada caso analisado e dos custos das valas dos cabos no custo inicial do empreendimento. 62 63 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT (2011) Condutores de cabos isolados (IEC 60228, MOD), ABNT NBR NM 280. ABNT (2018) Cabos de potência com isolação extrudada para tensões de 1kV a 35kV – Requisitos construtivos, ABNT NBR 6251. 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