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A Prática Clínica da Terapia Cognitiva com Crianças e Adolescentes

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F899p
Friedberg, Robert D.
A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes [recurso
eletrônico] / Robert D. Friedberg, Jéssica M. McClure ; tradução Cristina
Monteiro. – Dados eletrônicos – Porto Alegre : Artmed, 2007.
Editado também como livro impresso em 2004.
ISBN 978-85-363-1024-4
1. Psicoterapia – Terapia cognitiva. I. McClure, Jéssica M. II. Título.
CDU 615.851
Catalogação na publicação: Juliana Lagôas Coelho – CRB 10/1798
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ROBERT D. FRIEDBERG
JESSICA M. MCCLURE
Tradução:
Cristina Monteiro
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Cristiano Nabuco de Abreu
Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho/Portugal.
Diretor do Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo.
Coordenador do Serviço de Psicologia do Ambulatório de Bulimia e Transtornos
Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
Versão impressa
desta obra: 2004
2007
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Obra originalmente publicada sob o título
Clinical practice of cognitive therapy with children and adolescents
ISBN 1-57230-723-4
Copyright © The Guilford Press, 2001
Published by arrangement with Paterson Marsh Ltd.
Design de capa
Flávio Wild
Assistente de design
Gustavo Demarchi
Preparação do original
Bruno Pommer
Leitura final
Alessandra Bittencourt Flach
Supervisão editorial
Cláudia Bittencourt
Projeto gráfico
Editoração eletrônica
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à
ARTMED® EDITORA S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana
90040-340 Porto Alegre RS
Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte,
sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação,
fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.
SÃO PAULO
Av. Angélica, 1091 - Higienópolis
01227-100 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
SAC 0800 703-3444
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
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Sobre os Autores
Robert D. Friedberg, PhD, é psicólogo clínico e faz parte do corpo docente da Wright State
University School of Professional Psychology.
É professor assistente e dirige o Predoctoral
Internship Program e o Preventing Anxiety and
Depression in Youth Program (PANDY). O Dr.
Friedberg é autor de três outros livros sobre crianças e adolescentes: Switching Channels (com
Carolyn Mason e Raymond Fidaleo), Therapeutic
Exercises for Children (com Barbara Friedberg e
Rebecca Friedberg) e A Professional Guide to
Therapeutic Exercises for Children (com Lori
Crosby). É autor de inúmeros artigos em publicações especializadas e proferiu palestras sobre
terapia cognitiva com crianças e adolescentes
para profissionais. O Dr. Friedberg é membro
fundador da Academy of Cognitive Therapy.
Jessica M. McClure, PsyD, trabalha como
psicóloga clínica especializada em avaliação e tratamento de crianças e adolescentes no Children’s
Hospital Medical Center em Cincinnati, Ohio. É
professora assistente da Wright State University
of Professional Psychology, onde ministra vários
cursos focalizados na criança. A Dra. McClure é
co-autora de apresentações e artigos sobre o tratamento de crianças e adolescentes e atualmente atende crianças e adolescentes com depressão, ansiedade, problemas de comportamento
e atrasos de desenvolvimento.
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Agradecimentos
Agradeço a minha esposa, Barbara, e a
minha filha, Rebecca, cujo amor e apoio inspiraram-me neste projeto. Agradeço a colaboração e o companheirismo de minha co-autora,
Jessica McClure, cuja atenção a detalhes é incomparável. Kitty Moore, nossa editora, foi uma
conselheira excepcional, orientando-nos através
deste projeto com comentários criativos e de
grande insight. Os muitos estagiários clínicos
que supervisionei merecem ser citados, na medida em que nossas animadas discussões levaramme a aprimorar minhas idéias. Quero expressar
meu reconhecimento aos jovens clientes e às famílias que meus estagiários e eu tratamos e
agradecer-lhes por terem confiado seu cuidado
a nós. Sou grato à Wright State University School
of Professional Psychology por dar-me a oportunidade de prosseguir meus tratamentos clínicos e minha pesquisa. Finalmente, um agradecimento especial a Carol Smart, que digitou
e redigitou versões anteriores do manuscrito
com profissionalismo e bom humor.
Gostaria de agradecer o inestimável apoio
que minha família e meus amigos proporcionaram-me durante todo este trabalho. Expresso
minha mais profunda gratidão a meu marido,
Jim McClure, por sua paciência e encorajamento
durante as incontáveis horas de trabalho. Agradeço a meu co-autor, Robert Friedberg, por seu
senso de humor e por sua colaboração neste projeto. Sou grata a minha colega Denise Price, que
suportou tantas perguntas e forneceu encorajamento contínuo durante o processo. Finalmente, as habilidades de transcrição de Carol Smart
foram de valor inestimável para o processo de
escrita deste livro.
Robert D. Friedberg
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Jessica M. McClure
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Sumário
CAPÍTULO 1
Introdução ................................................... 13
Quem somos nós? ....................................... 13
Por que escrever um livro sobre terapia
cognitiva com crianças e adolescentes? ...... 13
O que este livro lhe ensinará? ..................... 14
O que é terapia cognitiva? .......................... 14
Quais as semelhanças entre terapia
cognitiva com adultos e terapia
cognitiva com crianças e adolescentes? ...... 17
Quais as diferenças entre terapia
cognitiva com adultos e terapia cognitiva
com crianças e adolescentes? ...................... 17
Uma palavra sobre as
transcrições e os exemplos .......................... 19
CAPÍTULO 2
Conceitualização de Caso .................... 21
Conceitualização de caso: uma vez
nunca é suficiente ........................................ 21
Conceitualização de caso e
planejamento do tratamento ....................... 22
Conceitualização de caso e diagnóstico ...... 22
Conceitualização de caso: “vestindo”
o quadro do cliente ..................................... 22
Componentes da formulação de caso ......... 24
Planejando e pensando
à frente: formulação provisória,
plano de tratamento e obstáculos
esperados ..................................................... 33
Exemplo de conceitualização de caso .......... 34
Conclusão .................................................... 38
CAPÍTULO 3
Empirismo Colaborativo e
Descoberta Orientada ........................... 39
Continuum de colaboração e
descoberta orientada ................................... 41
Conclusão .................................................... 46
CAPÍTULO 4
Estrutura da Sessão ................................ 47
Registro do humor ou do sintoma ............... 48
Revisão da tarefa casa ................................. 51
Estabelecimento da agenda ......................... 53
Conteúdo da sessão .................................... 56
Tarefa de casa .............................................. 58
Evocando feedback ...................................... 59
Conclusão .................................................... 62
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10
Sumário
CAPÍTULO 5
Introduzindo o Modelo de
Tratamento e Identificando
Problemas .................................................... 63
CAPÍTULO 8
Técnicas Cognitivas e
Comportamentais
Comumente Usadas ............................. 103
Introduzindo o modelo de tratamento
a crianças ..................................................... 63
Introduzindo o modelo de tratamento
a adolescentes ............................................. 66
Identificando problemas com crianças
e adolescentes ............................................. 69
Conclusão .................................................... 71
Dimensões das técnicas cognitivocomportamentais ....................................... 103
Aquisição de habilidade (psicoeducação)
versus aplicação de habilidade
(psicoterapia) ............................................. 104
Instrumentos comportamentais básicos ..... 104
Treinamento de habilidades sociais ............ 106
Técnicas básicas de auto-instrução:
alterando o conteúdo do pensamento ....... 111
Técnicas básicas de análise racional:
alterando o conteúdo e o processo
de pensamento .......................................... 112
Terapia de exposição básica:
desenvolvendo autoconfiança
através da representação ........................... 115
Conclusão .................................................. 117
CAPÍTULO 6
Identificando e Associando
Sentimentos e Pensamentos .............. 73
Identificando sentimentos com crianças
e adolescentes ............................................. 73
Identificando pensamentos e
associando pensamentos a sentimentos ...... 79
Usando a hipótese de especificidade
do conteúdo para orientar a identificação
de pensamentos e sentimentos ................... 83
Evitando confusão entre pensamentos
e sentimentos .............................................. 84
Ajudando crianças e adolescentes
a completar um registro
diário de pensamento .................................. 85
Conclusão .................................................... 86
CAPÍTULO 7
Diálogos Socráticos
Terapêuticos ................................................ 87
Considerações acerca da construção
de um diálogo socrático terapêutico ........... 87
Sugestões para construir um
diálogo socrático .......................................... 90
Definições universais ................................... 92
Perguntas metafóricas e bem-humoradas ... 95
Conclusão .................................................. 101
CAPÍTULO 9
Aplicações Criativas da Terapia
Cognitivo-Comportamental ............. 119
Narração de histórias ................................. 119
Aplicações de terapia recreativa ................ 122
Jogos, livros de histórias, livros
de exercícios e confecção
de máscaras ............................................... 125
Cestas de pensamento-sentimento ........... 127
Exercícios de impressão ............................. 129
Conclusão .................................................. 132
CAPÍTULO 10
Tarefa de Casa ......................................... 135
Considerações gerais acerca
da prescrição da tarefa de casa ................. 135
Não-realização da tarefa de casa .............. 139
Conclusão .................................................. 143
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Sumário
CAPÍTULO 11
Trabalhando com Crianças
e Adolescentes Deprimidos .............. 145
Sintomas de depressão .............................. 145
Considerações culturais e de gênero ......... 148
Avaliação da depressão ............................. 150
Tratamento de depressão: escolhendo
uma estratégia de intervenção .................. 152
Potencial suicida em crianças e
adolescentes deprimidos ............................ 153
Intervenções comportamentais
para depressão .......................................... 159
Resolução do problema ............................. 164
Automonitoração ....................................... 165
Abordagens auto-instrutivas ..................... 166
Técnicas de análise racional ....................... 167
Conclusão .................................................. 172
CAPÍTULO 12
Trabalhando com Crianças e
Adolescentes Ansiosos ........................ 173
Sintomas de ansiedade no jovem .............. 173
Diferenças culturais e de gênero
na expressão de sintomas .......................... 174
Avaliação da ansiedade ............................. 176
Uma palavra sobre avaliações médicas ..... 176
Escolha de intervenções nos
transtornos de ansiedade ........................... 177
Automonitoração ....................................... 179
Treinamento de relaxamento ..................... 182
Dessensibilização sistemática ..................... 183
Treinamento de habilidades sociais ............ 186
Autocontrole cognitivo .............................. 188
Exposição ................................................... 197
Conclusão .................................................. 203
CAPÍTULO 13
Trabalhando com Crianças e
Adolescentes Disruptivos ................... 205
Sintomas comuns dos transtornos
disruptivos ................................................. 205
11
Contexto cultural e questões
de gênero .................................................. 206
Avaliação de problemas de
comportamento disruptivo ........................ 208
Abordagem de tratamento ........................ 209
Construindo relacionamentos com
crianças e adolescentes disruptivos ........... 210
Ensinando os pais sobre o manejo
do comportamento e a resolução
de problemas familiares ............................. 211
Educação e automonitoração .................... 214
Resolução individual de problemas ............ 217
Projeção de tempo .................................... 219
Treinamento de habilidades sociais ............ 219
Treinamento da empatia ............................ 221
Abordagens auto-instrutivas ..................... 221
Técnicas de análise racional ....................... 224
Raciocínio moral ........................................ 227
Exposição/desempenho ............................. 228
Conclusão .................................................. 230
CAPÍTULO 14
Trabalhando com os Pais .................... 231
Estabelecendo expectativas
realistas para o comportamento ................ 231
Ajudando os pais a definir problemas ....... 233
Ajudando os pais a aumentar
os comportamentos desejáveis de
seus filhos: “Eu só quero que
ele se comporte” ....................................... 235
Ensinando os pais a dar
ordens/instruções ................................... 241
Associando o comportamento da
criança às conseqüências parentais:
controle da contingência ............................. 242
Ajudando os pais a lidar com os
comportamentos indesejáveis
de seus filhos ............................................. 245
Conclusão .................................................. 249
Referências ................................................ 251
Índice ........................................................... 263
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Introdução
Quando começamos a escrever este livro,
pensamos “Como devemos começar?”. Como
terapeutas cognitivos, achamos natural começar apresentando uma série de questões ao leitor, bem como a nós mesmos, em relação ao objetivo do livro, a seu conteúdo e a seu formato.
1
Dr. Friedberg na Preventing Anxiety and
Depression no Youth Program at Wright State
University School of Professional Psychology.
Acreditávamos que um livro escrito por dois
psicólogos em diferentes pontos de suas carreiras falaria a profissionais com diferentes níveis
de experiência.
QUEM SOMOS NÓS?
Somos terapeutas cognitivos em diferentes
estágios de nossas carreiras. Robert Friedberg é
um psicólogo clínico que se encontra nos estágios
intermediários de sua carreira, enquanto Jessica
McClure está iniciando profissionalmente. O Dr.
Friedberg tem lidado com crianças e suas famílias em uma variedade de situações ambulatoriais
e hospitalares. Seu trabalho é fundamentalmente
moldado pelos escritos de Aaron Beck e de Martin
Seligman, bem como por seus mentores Christine
Padesky e Raymond Fidaleo. A Dra. McClure tem
tido experiência clínica com crianças e adolescentes em uma variedade de ambientes, incluindo
hospitais psiquiátricos, centros médicos pediátricos, clínicas ambulatoriais e programas inovadores de prevenção.
Começou-se a escrever este texto quando
a Dra. McClure estagiava sob a supervisão do
POR QUE ESCREVER UM LIVRO
SOBRE TERAPIA
COGNITIVA COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES?
Queríamos escrever um livro que fizesse
uso de princípios da terapia cognitiva e oferecesse uma estrutura teórica coerente. A terapia cognitiva, conforme desenvolvida por
Aaron T. Beck, é um sistema clínico e teórico
robusto, aplicado a muitos problemas e a vários
grupos de adultos (A. T. Beck, 1976, 1985, 1993;
A. T. Beck, Emery e Greenberg, 1985; A. T. Beck,
Rush, Shaw e Emery, 1979), mas poucos textos
de terapia cognitiva sobre crianças aplicam a
abordagem de Beck (Knell, 1993; Ronen, 1997).
Além disso, freqüentemente falta à psicoterapia infantil um foco teórico coerente
(Ronen, 1997).
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14
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
O QUE ESTE LIVRO LHE ENSINARÁ?
O QUE É TERAPIA COGNITIVA?
Este livro oferece um apoio completo sobre como fazer terapia cognitiva com crianças em
idade escolar e com adolescentes. Além de ensinar muitas técnicas, o livro também enfatiza os
princípios orientadores que moldam a terapia
cognitiva de Beck. O empirismo colaborativo e a
descoberta orientada, motivos condutores da terapia cognitiva, são definidos no Capítulo 3 e ilustrados no decorrer do texto. A estrutura da sessão que caracteriza a terapia cognitiva é descrita
no Capítulo 4. Aplicar técnicas cognitivocomportamentais na ausência de uma conceitualização de caso é um dos principais erros clínicos (J. S. Beck, 1995), pois técnicas desincorporadas de teoria fracassam. Conseqüentemente, a
conceitualização de caso apresenta-se como um
esquema básico para o sucesso na terapia
cognitiva (J. S. Beck, 1995; Persons, 1989); as ferramentas que usamos para construir uma formulação de caso são apresentados no Capítulo 2.
Este livro também leva em consideração
questões multiculturais e relativas ao desenvolvimento. Sensibilidade ao desenvolvimento é
crucial para o sucesso de um trabalho cognitivocomportamental com crianças (Ronen, 1997;
Silverman e Ollendick, 1999), por isso, questões
de desenvolvimento social são delineadas ao final deste capítulo introdutório. Além disso, explicamos como se poderiam adaptar diferentes
técnicas para crianças menores e adolescentes.
O Capítulo 2 discute a incorporação de aspectos multiculturais e de fatores familiares em uma
conceitualização de caso abrangente.
Os Capítulos 5 a 14 descrevem várias estratégias de tratamento cognitivo-comportamental, variando de identificação do problema
a técnicas para criar um diálogo socrático com
crianças e adolescentes em forma de intervenção cognitivo-comportamental amistosa à criança. Cada capítulo lida com a aplicação desses
métodos a crianças pequenas e a adolescentes;
além disso, as abordagens cognitivo-comportamentais para jovens deprimidos, ansiosos e
agressivos são tratadas em capítulos separados.
A terapia cognitiva baseia-se na teoria da
aprendizagem social e usa uma mistura de técnicas, muitas das quais baseadas em modelos de
condicionamento operante e clássico (Hart e
Morgan, 1993). Em resumo, a teoria da aprendizagem social (Bandura, 1977; Rotter, 1982) parte
do pressuposto de que o ambiente, as características temperamentais e o comportamento situacional de uma pessoa determinam-se reciprocamente e que o comportamento é um fenômeno
dinâmico, em evolução. Os contextos influenciam
o comportamento, e este, por sua vez, molda os
contextos; algumas vezes os contextos podem ter
influência mais poderosa sobre o comportamento de uma pessoa, enquanto em outras, preferências, disposições e características pessoais determinarão o comportamento.
Imagine que uma criança deve escolher um
instrumento para tocar na banda da escola. Se
todos os instrumentos estiverem disponíveis, a
escolha (p. ex., saxofone) será predominantemente em função de suas características individuais.
Entretanto, se apenas alguns instrumentos estiverem disponíveis (p. ex., trompete, flautas e clarinetes) e muitos alunos estiverem competindo
por cada instrumento, os fatores contextuais irão
predominar. A avaliação da criança em cada situação moldará seu comportamento; por exemplo, sua participação em atividades musicais da
escola pode aumentar ou diminuir (“Esta escola
é uma droga. Eles não têm saxofones.” ou “Uau,
eu vou tocar trompete!”). Esse comportamento
moldará o contexto no qual os instrumentos
musicais são apresentados. Evidentemente, a teoria da aprendizagem social explícita e implicitamente encoraja os clínicos a examinarem a influência dinâmica mútua entre os indivíduos e o
contexto mais amplo em que eles se comportam.
Além disso, a teoria da aprendizagem social examina a forma como o comportamento afeta as
circunstâncias atuais.
A terapia cognitiva sustenta que cinco elementos inter-relacionados estão envolvidos na
conceitualização de dificuldades psicológicas
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
humanas (A. T. Beck, 1985; J. S. Beck, 1995;
Padesky e Greenberg, 1995); são eles: contexto
interpessoal/ambiental, fisiologia, funcionamento emocional, comportamento e cognição do indivíduo. Todos esses aspectos modificam-se e
interagem, criando um sistema dinâmico e complexo. O modelo cognitivo foi ilustrado graficamente em muitas outras publicações (J. S. Beck,
1995; Padesky e Greenberg, 1995).
Sintomas cognitivos, comportamentais,
emocionais e fisiológicos ocorrem em um contexto interpessoal/ambiental. Portanto, o modelo incorpora explicitamente questões de contexto sistêmico, interpessoal e cultural que são
tão essenciais à psicoterapia infantil. Os sintomas não ocorrem no vazio, portanto os clínicos
deveriam considerar as circunstâncias particulares ao avaliar e tratar uma criança ou adolescente. Em geral, embora considerando o contexto, os terapeutas cognitivos intervêm em nível
cognitivo-comportamental para influenciar padrões de pensamento, de ação, sentimentos e reações corporais (Alford e Beck, 1997).
Por exemplo, Alice é uma menina branca
de 16 anos que vive com sua mãe biológica e
seu padrasto em um bairro pobre com escolas
inadequadas. Fruto de uma gravidez indesejada, é abertamente rejeitada e bode expiatório
de seus pais. Nesse contexto, ela está experimentando sintomas fisiológicos (dores de estômago, sono excessivo), de humor (depressão, sentimentos de inutilidade), comportamentais (passividade, evitação, retraimento) e cognitivos
(“Eu não valho nada.”). Embora esse exemplo
seja severo, ilustra que os sintomas precisam ser
considerados no contexto de circunstâncias
ambientais e disposições pessoais que iniciam,
exacerbam e mantêm o sofrimento.
A forma como crianças e adolescentes interpretam suas experiências molda profundamente seu funcionamento emocional. Sua visão
é o foco principal do tratamento. A forma como
os mais jovens constroem “embalagens mentais” sobre si mesmos, os relacionamentos com
outras pessoas, as experiências e o futuro influenciam suas reações emocionais. As crianças e
os adolescentes não recebem ou respondem pas-
15
sivamente a estímulos ambientais, antes, elaboram ativamente informações selecionando, codificando e explicando as coisas que acontecem
a si e aos outros.
Esse sistema de processamento de informação é hierarquicamente organizado em camadas, consistindo de produtos cognitivos, operações cognitivas e estruturas cognitivas (A. T.
Beck e Clark, 1988; Dattilio e Padesky, 1990;
Ingram e Kendall, 1986; Padesky, 1994), e tem
como produto os pensamentos automáticos (A.
T. Beck e Clark, 1988). Estes são pensamentos
ou imagens do fluxo de consciência específicos
da situação e passam pela mente das pessoas
durante uma mudança de humor. Portanto, Bárbara pode convidar uma amiga para brincar durante o recreio e a amiga pode recusar, dizendo
que quer brincar com outra criança (situação).
Bárbara fica triste (emoção) e interpreta a situação dizendo a si mesma: “Judy não é mais minha amiga. Ela não gosta de mim” (pensamento automático). Os pensamentos automáticos,
relativamente fáceis de identificar, têm recebido muita atenção na literatura de terapia
cognitiva. Entretanto, eles representam apenas
um elemento no modelo cognitivo.
As distorções cognitivas também têm sido
dignas de considerável atenção (J. S. Beck, 1995;
Burns, 1980), refletindo processos cognitivos
nesse modelo (A. T. Beck e Clark, 1988). As
distorções transformam a informação que chega de modo que os esquemas cognitivos permaneçam intactos, influenciam os processos de
assimilação e mantêm a homeostase. Por exemplo, o esquema de Susan reflete uma percepção
de incompetência: ela acredita que não pode fazer nada direito, conseqüentemente, sente-se
ansiosa (emoção) em situações de desempenho.
Por isso, Susan pode tirar uma nota alta em uma
prova de matemática (situação) e acreditar que
a nota não importa porque a prova foi muito
fácil (pensamento automático), depreciando seu
sucesso (distorção cognitiva). A informação discrepante em relação a sua crença central é invalidada, o esquema cognitivo permanece intacto,
perpetuando-se através do processo de distorção. Susan é incapaz de extrair dados
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16
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
confirmatórios do ambiente. A escola provavelmente continuará sendo uma situação que a expõe a pressão de desempenho e a autodepreciação, enquanto a menina, por sua vez, provavelmente continuará a temer pressões de desempenho.
Os esquemas cognitivos representam estruturas centrais de significado que direcionam
a codificação de atenção e a lembrança (Fiske e
Taylor, 1991; Guidano e Liotti, 1983, 1985;
Hammen, 1988; Hammen e Zupan, 1984). Os esquemas induzem produtos e operações cognitivas, que refletem as crenças mais básicas que
um indivíduo mantém. Kagan (1986, p.121) descreveu o esquema como “a unidade cognitiva
que armazena experiência de uma forma tão fiel
que a pessoa pode reconhecer um evento passado”.
Imagine um jovem de 15 anos, com ansiedade social, que lembra de ter sido humilhado
em um encontro de escoteiros-lobinhos quando
tinha 6 anos. Toda vez que entra em uma situação social nova, seu esquema o leva de volta à
humilhação original, de modo que ele se sente
como se estivesse revivenciando o evento. Talvez isso explique o fenômeno clínico no qual
clientes parecem tão regredidos e imaturos
quando estão severamente angustiados. No caso
desse menino de 15 anos, sempre que seus botões esquemáticos são acionados, ele se vê e vê
o mundo através dos olhos de um lobinho de 6
anos desprezado.
O material esquemático é relativamente inacessível e freqüentemente permanece latente até
ser ativado por um estressor (Hammen e
Goodman-Brown, 1990; Zupan, Hammen, e
Jaenicke, 1987). Na teoria cognitiva, os esquemas
podem representar um fator de vulnerabilidade
que predispõe crianças a sofrimentos emocionais
(A. T. Beck e cols., 1979; Young, 1990). Conceitualmente, um estilo atributivo pessimista pode ser
considerado uma diátese para a depressão na infância (Gillham, Reivich, Jaycox e Seligman, 1995;
Jaycox, Reivich, Gillham e Seligman, 1994; NolenHoeksema e Girgus, 1995; Nolen-Hoeksema,
Girgus e Seligman, 1996; Seligman, Reivich,
Jaycox e Gillham, 1995).
Os esquemas desenvolvem-se cedo na vida,
tornam-se reforçados com o passar do tempo e,
como conseqüência de repetidas experiências de
aprendizagem, consolidam-se por volta da adolescência e início da vida adulta (Guidano e Liotti,
1983; Hammen e Zupan, 1984; Young, 1990). O
primeiro material esquemático pode ser codificado em nível pré-verbal, podendo conter imagens não-verbais além de material verbal
(Guidano e Liotti, 1983; Young, 1990). Os esquemas das crianças tendem a não ser tão bem consolidados quanto os esquemas adultos. Por exemplo, Nolen-Hoeksema e Girgus (1995) concluíram
que o estilo atributivo pessimista é determinado
por volta dos 9 anos de idade, mas os efeitos nocivos deste estilo podem aparecer somente vários
anos mais tarde. De fato, Turner e Cole (1994)
verificaram que a diátese cognitiva era mais notável em alunos de oitava série do que em alunos de quarta ou sexta séries.
Como a maioria dos terapeutas percebe,
reconhecer quando cognições significativas foram identificadas não é tão simples como superficialmente parece, é necessário um guia ou
um mapa. A terapia cognitiva fornece um modelo útil através de um entendimento da hipótese de especificidade do conteúdo, a qual postula que
diferentes estados emocionais são caracterizados por diferentes cognições (Alford e Beck,
1997; A. T. Beck, 1976; Clark e Beck, 1988; Clark,
Beck e Alford, 1999; Laurent e Stark, 1993) e
cujos aspectos foram submetidos a uma investigação empírica que lhe dá apoio (Jolly, 1993;
Jolly e Dykman, 1994; Jolly e Kramer, 1994;
Laurent e Stark, 1993; Messer, Kempton, Van
Hasselt, Null e Bukstein, 1994).
De acordo com a hipótese de especificidade
do conteúdo, a depressão é caracterizada pela
clássica tríade cognitiva negativa (A. T. Beck e cols.,
1979). Indivíduos deprimidos tendem a explicar
eventos desfavoráveis por meio de uma visão
autocrítica (“Eu sou um idiota.”), uma visão negativa de suas experiências com outras pessoas
(“Tudo está perdido. Ninguém vai gostar de
mim.”) e uma visão negativa do futuro (“Vai ser
deste jeito para sempre.”). Os pensamentos de
uma pessoa deprimida tendem a ser direcionados
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
ao passado e representam temas enfocando perda (A. T. Beck, 1976; Clark e cols., 1999).
A ansiedade é caracterizada por grupos de
cognições diferentes da depressão (A. T. Beck e
Clark, 1988; Bell-Dolan e Wessler, 1994; Kendall,
Chansky, Friedman e Siqueland, 1991). Na ansiedade, catastrofização é comum: os pensamentos de
indivíduos ansiosos tendem a ser direcionados
ao futuro e caracterizados por previsões de perigo (A. T. Beck, 1976). O Capítulo 6, sobre identificação de pensamentos e sentimentos, estende-se
um pouco mais sobre a hipótese de especificidade
do conteúdo e sua aplicação clínica.
De modo geral, esses princípios da terapia cognitiva são bastante pesquisados e teoricamente firmes; como conseqüência, a teoria
cognitiva fornece uma base sólida para trabalhar com crianças e leva a intervenções teoricamente instigantes baseadas na conceitualização
de caso. Por exemplo, nos centramos nos sistemas de processamento de informação da criança como uma forma de identificar seus pensamentos automáticos e seus esquemas cognitivos. A hipótese de especificidade do conteúdo
fornece uma estrutura para reconhecer seus pensamentos automáticos que mantêm e perpetuam esquemas mal-adaptativos, bem como um
método para determinar sua relação com a
estimulação afetiva negativa da criança. Compreendendo-se a teoria cognitiva, os processos
e as estratégias de intervenção adequadas, podese desenvolver o conhecimento básico e as habilidades necessárias para conduzir uma terapia cognitiva efetiva.
QUAIS AS SEMELHANÇAS
ENTRE TERAPIA COGNITIVA
COM ADULTOS E TERAPIA
COGNITIVA COM CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
Embora a terapia cognitiva deva ser adaptada para adequar-se às características individuais das crianças, vários princípios originalmente estabelecidos através do trabalho com
17
adultos ainda se aplicam (Knell, 1993); por
exemplo, o empirismo colaborativo e a descoberta orientada são úteis com crianças. Além disso, a estrutura da sessão também pode ser flexivelmente aplicada com crianças, portanto, estabelecimento da agenda e evocação de feedback
são princípios centrais que orientam a terapia
cognitiva com crianças. Spiegler e Guevremont
(1995) observam corretamente que a tarefa de
casa é um elemento central nas terapias cognitivo-comportamentais, que permite às crianças
experimentar habilidades em contextos da vida
real. A terapia cognitiva com crianças permanece focalizada no problema, ativa e orientada
ao objetivo (Knell, 1993), assim como a terapia
com adultos.
QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE
TERAPIA COGNITIVA
COM ADULTOS E TERAPIA
COGNITIVA COM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Ao mesmo tempo, a terapia cognitiva com
crianças difere da terapia cognitiva com adultos. Primeiro, poucas crianças vêm para terapia
por sua própria vontade (Leve, 1995). Elas são
trazidas para tratamento em geral pelos responsáveis, devido a problemas que elas podem ou
não admitir que têm. Além disso, a experiência
clínica sugere que freqüentemente as crianças
são encaminhadas para terapia porque suas dificuldades psicológicas criam problemas para
algum sistema (p. ex., família, escola).
As crianças raramente iniciam o tratamento, assim como não podem escolher quando ele
termina. Em alguns casos, podem gostar da terapia e fazer progressos significativos, contudo,
por várias razões, seus pais encerram o tratamento. Em outros casos, as crianças podem evitar o processo terapêutico e até temer a terapia,
mas circunstâncias externas (p. ex., determinação de juizado de menores, exigência da escola,
pais) podem forçá-las a continuar. Em nenhum
dos casos as crianças controlam o processo.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Embora muitas delas possam receber bem
a oportunidade de revelar pensamentos e sentimentos a um adulto, para outras, a experiência de ir à psicoterapia para falar com um adulto em uma posição de autoridade cria uma
quantidade substancial de ansiedade. Não surpreendentemente, as crianças com freqüência
verbalizam um senso realístico de incontrolabilidade; portanto, deve-se trabalhar com diligência para envolver a criança no processo de
tratamento e aumentar sua motivação.
A terapia cognitiva com crianças baseia-se
geralmente em uma abordagem empírica, de
aqui-e-agora (Knell, 1993). Visto que as crianças
são orientadas à ação, elas aprendem com facilidade fazendo. Associar habilidades de controle
a ações concretas provavelmente ajuda as crianças a prestar atenção, a lembrar e a realizar o comportamento desejado. Além disso, a ação na terapia é estimulante. A motivação das crianças aumentará quando elas estiverem se divertindo.
As crianças agem dentro de sistemas como
famílias e escolas (Ronen, 1998, p.3). Ronen observou apropriadamente que “o foco da TCC
(terapia cognitivo-comportamental) está no tratamento de crianças no interior de seu ambiente natural, seja a família, a escola ou o grupo de
iguais”. Conseqüentemente, os terapeutas devem avaliar as questões sistêmicas complexas
que circundam os problemas das crianças e elaborar planos de tratamento adequados às suas
necessidades. Sem considerar as questões
sistêmicas, os terapeutas ficam “voando às cegas”. Os sistemas nos quais as crianças atuam
podem reforçar ou extinguir habilidades
adaptativas de controle. O envolvimento da família e reuniões com a escola são cruciais para
o início, a manutenção e a generalização bemsucedidos de ganhos terapêuticos.
As crianças têm capacidades, limitações,
preferências e interesses diferentes dos adultos.
Sentar em uma cadeira olhando outra pessoa
falar sobre problemas psicológicos pode parecer estranho e perturbador para os mais jovens.
Visto que a terapia cognitiva com crianças baseia-se em capacidades verbais e cognitivas,
deve-se considerar cuidadosamente as idades
das crianças, bem como suas habilidades sociocognitivas (Kimball, Nelson e Politano, 1993;
Ronen, 1997), e adaptar o nível de intervenção
à idade e às capacidades do seu desenvolvimento. Crianças menores tendem a beneficiar-se de
técnicas cognitivas simples como auto-instrução
e intervenções comportamentais, enquanto adolescentes provavelmente se beneficiarão de técnicas mais sofisticadas, que exigem análises racionais (Ronen, 1998).
A idade, embora importante, é uma variável não-específica (Daleiden, Vasey e Brown,
1999), portanto, devemos permanecer conscientes de variáveis sociocognitivas, como linguagem, capacidade de tomada de perspectiva, capacidade de raciocínio e habilidades de regulação verbal (Hart e Morgan, 1993; Kimball e
cols., 1993; Ronen, 1997, 1998). Quando as exigências da tarefa terapêutica excedem as capacidades sociocognitivas das crianças, elas podem
equivocadamente parecer resistentes, esquivas e
até incompetentes (Friedberg e Dalenberg, 1991).
Mischel (1981, p.240) defendia corretamente que
“as crianças são psicólogos intuitivos potencialmente sofisticados (embora falíveis) que vêm a
saber e a usar princípios psicológicos para entender o comportamento social, para regular sua
própria conduta e para alcançar domínio e controle sobre seus ambientes”. Tarefas terapêuticas simples e significativas, sensíveis ao nível
de desenvolvimento, envolvem com sucesso na
terapia cognitivo-comportamental inclusive
crianças pequenas (Friedberg e Dalenberg, 1991;
Knell, 1993; Ronen, 1997). Por exemplo, diários
de pensamento que incluem balões de pensamento são facilmente entendidos por crianças
pequenas (Wellman, Hollander e Schult, 1996).
Portanto, as variáveis sociocognitivas dirigem
quais, como e quando vários procedimentos
cognitivo-comportamentais são utilizados.
A capacidade da linguagem influenciará o
quanto as crianças se beneficiarão de intervenções verbais diretas (Ronen, 1997, 1998). Com
aquelas com menos fluência verbal, desenhos,
fantoches, brinquedos, jogos, trabalho manual e
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
outros meios que exigem menos mediação verbal podem ser indicados. Ler e contar histórias
podem ser formas pelas quais podemos aumentar sua sofisticação verbal. Além disso, filmes,
música e programas de televisão poderiam facilitar uma mediação verbal. Adaptar as tarefas
para que estejam à altura da capacidade de linguagem das crianças é um desafio clínico crucial.
Vários autores delinearam importantes variáveis e tarefas do desenvolvimento para serem
consideradas por terapeutas cognitivos (Kimball
e cols., 1993; Ronen, 1997). Ronen (1998, p.7) observa que, para determinar se o comportamento
de uma criança é problemático, é necessário um
entendimento das tarefas do desenvolvimento
exigidas com que elas se defrontam:
À medida que as crianças crescem, espera-se
que obtenham controle de seus esfíncters, espera-se que aprendam que seus pais sempre
voltam, e parem de chorar quando eles saem, e
espera-se que gradualmente obtenham habilidades de autocontrole, desenvolvam a positividade e uma capacidade de auto-avaliação e
aprendam a conduzir a comunicação e a negociação verbal em vez de chorar sempre que desejam alguma coisa.
Quando o comportamento das crianças
desvia-se significativamente das expectativas do
desenvolvimento, os clínicos trabalham para
corrigir esses processos descarrilados. De fato,
orientar crianças e suas famílias através desses
desvios de desenvolvimento é freqüentemente
um dos focos principais do tratamento.
Neste livro, tentamos mostrar uma forma
lúdica e divertida de trabalhar com crianças.
Embora muitas das questões psicológicas que
desafiam as crianças sejam dolorosas e penosas para elas, temas desconfortáveis podem ser
abordados de maneira imaginativa, criativa e
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envolvente. Em nossa experiência, parece que
quanto mais as crianças estão envolvidas e
comprometidas, menos a terapia parece um trabalho.
O reforço explícito é uma parte central deste trabalho (Knell, 1993). As crianças são reforçadas a arrumar seus brinquedos na sala de jogos,
completar a tarefa de casa, revelar seus pensamentos e sentimentos, e assim por diante. As recompensas comunicam expectativas e correspondem a funções de motivação, atenção e
retenção (Bandura, 1977; Rotter, 1982), ou seja,
envolvem as crianças, dirigem-nas ao que é importante e ensinam a elas o que lembrar.
UMA PALAVRA SOBRE AS
TRANSCRIÇÕES E OS EXEMPLOS
Todos os exemplos e transcrições de casos
são relatos clínicos fictícios ou disfarçados. Eles
representam uma combinação de nossos casos
e de nossas experiências como formas de ilustrar conceitos de maneira simples. Percebemos
que em nosso contexto clínico real, os problemas raramente são tão claros e simples. Finalmente, embora tenhamos tratado inúmeras crianças, a maioria dos exemplos clínicos apresentados são com crianças e adolescentes brancos,
de origem européia. Além disso, a maior parte
da pesquisa empírica e teórica existente baseiase em crianças brancas, de origem européia.
Portanto, recomendamos cautela ao generalizar
conceitos e práticas para o seu trabalho com crianças de diferentes origens. As seções que abordam questões de contexto cultural em todo o
livro devem alertar para possíveis questões
etnoculturais e estimular modificações culturalmente responsivas, se necessário.
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2
Conceitualização de Caso
O primeiro passo ao trabalhar com uma
criança é desenvolver uma conceitualização
de caso. Esta facilita a tarefa do terapeuta de
adaptar técnicas que se ajustem às circunstâncias de uma criança. A conceitualização de
caso individual orienta a escolha das técnicas,
seu ritmo e sua implementação, bem como a
avaliação de progresso. Uma vez que cada
caso é diferente, nossa tarefa é criar uma estrutura conceitual geral que permita o máximo de flexibilidade. Neste capítulo, definimos
conceitualização de caso, a comparamos com
o diagnóstico e o planejamento do tratamento, exploramos as várias esferas consideradas
importantes e discutimos a relação entre elas.
Quando supervisionamos estagiários, achamos que a conceitualização de caso é uma idéia
difícil de ser vendida. Muitos novos terapeutas
querem uma “maleta de truques” e desprezam a
conceitualização de caso como um exercício abstrato. Contudo, ela é um dos instrumentos mais
práticos que eles podem ter em sua “caixa de ferramentas”, pois diz-lhe quando e como usar essas ferramentas.
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO:
UMA VEZ NUNCA É SUFICIENTE
A formulação de caso é um processo dinâmico e fluido que requer geração e teste de hipóteses (J. S. Beck, 1995; Persons, 1989). Deve-se revisar e aprimorar o quadro da criança durante
todo o processo de tratamento.
Uma atitude de testagem de hipótese em
relação à conceitualização de caso requer habilidade na análise de dados. Primeiro, conceitualizações construídas de maneira simples são geralmente a melhor abordagem (Persons, 1995).
Você estará pesando múltiplas variáveis – desde escores de testes objetivos a variáveis de contexto cultural – e será atraído para formulações
complexas. Contudo, insistimos para que as
mantenha simples.
Segundo, a conceitualização de caso efetiva é impulsionada por uma visão imparcial e
abrangente. Em vez de aderir ingenuamente a
uma perspectiva, perguntamos continuamente:
“Qual é a outra interpretação dos dados obtidos?”. Também é necessário agarrar-se às expli-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
cações apoiadas por dados obtidos do cliente e
estar pronto para descartar hipóteses que não
têm apoio. A cooperação do cliente facilita a
conceitualização de caso. Compartilhar a
conceitualização com as crianças e com suas famílias fornece um valioso feedback; a reação deles à formulação provavelmente fornecerá dados muito úteis.
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO E
PLANEJAMENTO DO TRATAMENTO
O planejamento do tratamento fornece orientação e especifica um caminho para o progresso clínico. Os planos de tratamento detalham a seqüência e a oportunidade de intervenções. Obrigatoriamente, o planejamento do tratamento efetivo deve basear-se na conceitualização de caso.
Conforme Persons (1989) sustentava, a conceitualização de caso conduz a estratégias de intervenção, prevê obstáculos ao tratamento, fornece
uma forma de negociar dilemas terapêuticos e
localiza e repara falhas de esforços de tratamento malsucedidos.
Shirk (1999) lamentava que os pacotes de
tratamento fossem freqüentemente ingredientes
em busca de uma receita. O processo de
conceitualização de caso oferece uma receita
para juntar os vários ingredientes incluídos em
um plano de tratamento. Por exemplo, métodos
de automonitoração e auto-instrução podem ser
indicados no tratamento de uma criança agressiva. A conceitualização de caso não apenas dirá
ao terapeuta que técnicas usar em determinado
momento, mas também o orientará na adaptação das técnicas para ajustar-se a cada criança.
Se a criança é mais concreta em seu pensamento, um auxílio visual, como um Termômetro de
Raiva, pode ser utilizado, se é mais abstrata, a
escala de classificação tradicional pode ser eficaz. Materiais psicoeducativos deveriam ser escolhidos com base em uma conceitualização de
caso. Por exemplo, para jovens com boas habilidades de leitura, materiais impressos são in-
dicados para crianças cujas habilidades de leitura são pobres, videoteipes são úteis.
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO E
DIAGNÓSTICO
Conceitualização de caso difere claramente
de diagnóstico. Os sistemas de classificação
diagnóstica resumem os sintomas em termos
gerais e as conceitualizações de caso são retratos psicológicos personalizados. As classificações diagnósticas são ateóricas, enquanto as
conceitualizações de caso são teoricamente
inferidas. Conseqüentemente, as classificações
diagnósticas tendem a ser mais descrições do
que explicações. A conceitualização de caso oferece uma hipótese mais explanatória, explicando por que os sintomas surgem, como vários
fatores ambientais, interpessoais e intrapessoais
moldam estes padrões de sintoma e qual a relação entre sintomas ostensivamente discordantes. Finalmente, a conceitualização de caso é
uma tarefa clínica mais ampla que o diagnóstico. De fato, a conceitualização inclui o diagnóstico como um componente, mas sem dar peso
excessivo a sua importância.
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO:
“VESTINDO” O QUADRO DO CLIENTE
A seção a seguir apresenta os diversos
componentes que constituem uma conceitualização de caso. Se simplesmente se revisar as
partes, pode-se negligenciar o quadro completo. Como forma de simplificar o processo de
conceitualização de caso, oferecemos uma metáfora do “guarda-roupa”. Cada componente no
sistema de conceitualização de caso é como um
artigo de vestuário separado, há meias, vestidos, camisas, sapatos, chapéus, e assim por diante. Ao vestir-se, uma pessoa toma o cuidado
de assegurar-se de que o chapéu sirva na cabeça e de que os sapatos estejam adequadamente
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
colocados nos pés. Além disso, a coordenação
de artigos de vestuário separados é uma coisa
banal. A sintetização dos vários componentes
do processo de conceitualização de caso requer
coordenação semelhante. Cada variável é combinada com outros aspectos a fim de que um
todo coerente seja formado de suas partes.
Uma vez que os componentes do guardaroupa tenham sido selecionados e classificados,
um sistema para aplicar estes conceitos pode ser
implementado. Deve-se saber como vestir as
roupas – por exemplo, colocar as calças em uma
perna de cada vez. Dessa forma, um modelo teórico forma uma conceitualização de caso.
Na terapia cognitiva, existem relações entre
os vários elementos na conceitualização de um
caso, evidentemente, as variáveis de processamento de informação são essenciais. Conforme
articulado pelo modelo cognitivo, os padrões de
comportamento de uma criança são respostas
aprendidas, moldadas pela interação de fatores
ambientais, intrapessoais, interpessoais e biológicos, além disso, os comportamentos estão incutidos em um contexto cultural e evolutivo. A conceitualização de caso trata de todos estes aspectos.
É difícil sintetizar os vários componentes em
um todo coerente. Crianças e adolescentes são seres humanos complexos cujos comportamentos
são multiplamente determinados. A Figura 2.1
apresenta os componentes e os relacionamentos
hipotéticos entre as variáveis. O problema apresentado está no centro da conceitualização, a qual,
por sua vez, começa com ele; o modelo cognitivo
trata de cinco grupos de sintomas (fisiológicos, de
humor, comportamentais, cognitivos e interpessoais); as quatro variáveis (história e desenvolvimento, contexto cultural, estruturas cognitivas,
antecedentes e conseqüências comportamentais)
em torno destes problemas centrais são inter-relacionadas e influenciam-se mutuamente.
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Por exemplo, a história de desenvolvimento e de aprendizagem de uma criança tem claramente um impacto sobre o problema apresentado, e isso molda seu desenvolvimento e sua
história. Imagine-se que Andy seja uma criança
tímida, ansiosa, que evita amigos, escola e clubes. Ele teme ser rejeitado e acredita que estará
seguro apenas se ficar perto dos pais. Na idade
pré-escolar, ele foi comportamentalmente inibido e teve experiências ruins na creche; quando
entrou para o jardim de infância, sua mãe e seu
pai ficaram extremamente ansiosos. Todos estes elementos contribuem para seu problema
atual. Além disso, devido à ansiedade e ao retraimento atuais, está perdendo algumas oportunidades do desenvolvimento importantes,
como ir a festas de aniversário e andar junto com
seus amigos. Dessa forma, os problemas apresentados e a história do desenvolvimento
interagem.
As outras variáveis (contexto cultural, estruturas cognitivas, antecedentes e conseqüências comportamentais) interagem com o problema apresentado de formas semelhantes. A resposta de fuga de Andy é negativamente reforçada por sua evitação de ansiedade. A fuga e a
evitação contínuas apóiam ainda mais suas
crenças de que a ansiedade é perigosa, de que
ele não pode fazer nada sem o apoio constante
de sua mãe e de que a evitação é o antídoto para
a ansiedade. Seu contexto cultural e o ambiente
familiar também podem apoiar sua ansiedade.
Suponha-se que ele viva em um bairro violento
onde a segurança é garantida pela ligação estreita com os pais e a casa. Além disso, crenças
culturais em relação aos pais (p. ex., “o trabalho de um pai é garantir a segurança do filho.
Essa segurança é melhor conseguida mantendo
a criança sempre perto dos pais”) também determinam comportamentos.
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Contexto
Cultural
História e
Desenvolvimento
Antecedentes e
Conseqüências
Comportamentais
Estruturas
Cognitivas e
Predisposição
Problemas Apresentados
Sintomas
Fisiológicos
Interpessoais
Cognição
Humor
Comportamento
FIGURA 2.1 A relação entre os componentes de uma formulação de caso.
COMPONENTES DA FORMULAÇÃO
DE CASO
Problemas apresentados
O primeiro passo é definir o problema
apresentado de forma que reflita a situação única da criança e de sua família, para o que recomendamos ser o mais específico possível.
Persons (1989) sugeriu formas de transformar
problemas gerais em problemas particulares, dividindo-os em seus componentes cognitivos, fisiológicos, comportamentais, emocionais e
interpessoais. Dessa forma, pode ser desenhado um quadro personalizado.
Por exemplo, uma menina de 8 anos apresentava-se com baixa auto-estima. “Baixa autoestima” é um termo muito vago, geral, que não
dá um entendimento claro das dificuldades específicas que esta criança enfrenta. Pela entrevista e pela proporção de seu auto-relato, o en-
tendimento de sua experiência de baixa autoestima tornou-se mais claro. Os aspectos comportamentais incluíam afastamento de atividades
novas e pessoas novas, choro, dificuldade de
persistir em uma tarefa frustrante e passividade; os componentes emocionais incluíam tristeza, ansiedade e alguma irritabilidade. Ter uma
ou duas amigas e ser repetidamente criticada
por seu pai representam os aspectos interpessoais
de sua baixa auto-estima; quando a criança
vivenciava essas circunstâncias, sofria várias reações fisiológicas como dores no estômago, dores de cabeça e sudorese; finalmente, os componentes cognitivos da criança incluíam pensamentos como: “Eu não sou boa na maioria das coisas”; “As pessoas acham que eu sou uma idiota” e “Meu pai acha que eu não sou boa”. Conforme ilustra a Figura 2.2, a vaga queixa apresentada foi transformada em questões terapêuticas mais viáveis. O tratamento pôde então visar especificamente às áreas de problema.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
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PROBLEMA GERAL APRESENTADO
Baixa auto-estima
COMPONENTES PARTICULARES
Comportamental: afastamento de atividades novas e pessoas novas, choro, dificulade de persistir em uma
tarefa frustrante e passividade
Emocional: tristeza, ansiedade, irritabilidade
Interpessoal: um ou dois amigos, crítica repetida pelo pai
Fisiológico: dores estomacais, dores de cabeça, sudorese
Cognitivo: “Eu não sou boa na maioria das coisas. As pessoas acham que eu sou idiota. Meu pai acha que eu
não sou boa.”
FIGURA 2.2 Operacionalizando a baixa auto-estima.
Dados de teste
A avaliação é um componente-chave na
terapia cognitiva. Muitos terapeutas cognitivos
contam com dados de entrevista e informações
recolhidas de instrumentos de avaliação, a maioria deles usa medidas de auto-relato objetivo e
listagens. Estes instrumentos fornecem dados
sobre a presença de sintomas, bem como sobre
sua freqüência, intensidade e duração. A informação colhida de dados de testes pode ser integrada com o relato verbal do cliente e com as
impressões clínicas do terapeuta.
Os instrumentos de auto-relato objetivo
incluem o Inventário de Depressão para Crianças (CDI; Kovacs, 1992), a Revised Manifest
Anxiety Scale for Children (RCMAS; Reynolds
e Richmond, 1985), a Escala de Ansiedade
Multidimensional para Crianças (MASC; março de 1997), o Checklist do Comportamento da
Criança (CBCL; Achenbach e Edelbrock, 1983),
a Hopelessness Scale for Children (Kazdin,
Rodgers e Colbus, 1986), e a Fear Survey
Schedule (Scherer e Nakamura, 1968). O Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II; Beck,
1996), as Escalas de Desesperança de Beck
(BHS; Beck, 1978) e o Inventário de Ansiedade
de Beck (BAI; Beck, 1990) podem ser usados
com adolescentes. As Escalas de Beck para Crianças são medidas interessantes que estão atualmente sendo construídas (J. S. Beck, comunicação pessoal, 1998).
Alguns terapeutas cognitivos podem preferir usar o Inventário Multifásico Minnesota de
Personalidade para Adolescentes (MMPI-A;
Butcher e cols., 1992) para avaliar os aspectos da
personalidade. Técnicas projetivas, como o Teste de Apercepção Temática (TAT; Murray, 1943),
o Teste de Apercepção de Crianças (CAT; Bellak
e Bellak, 1949), o Roberts Apperception Test for
Children (RATC; McArthur e Roberts, 1982) e o
Teste de Rorschach (Exner, 1986) são usados por
alguns clínicos cognitivo-comportamentais.
Independentemente do instrumento empregado, os dados de teste iniciais fornecem uma
base para o trabalho terapêutico. Medidas de
auto-relato podem ser periodicamente readministradas para avaliar o progresso do tratamento.
Os escores refletem a gravidade do sofrimento, a
acuidade e a funcionalidade. Dessa maneira, os
dados de testes complementam os dados da entrevista e as impressões clínicas e auxiliam nas
decisões com relação aos alvos iniciais do tratamento e às estratégias de intervenção futuras.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Variáveis de contexto cultural
Uma influência importante sobre as práticas
familiares é a formação etnocultural (Cartledge e
Feng, 1996b). Visto que o contexto etnocultural
molda os processos de socialização da família, e
uma vez que estas práticas familiares influenciam a expressão do sintoma, deve-se esperar que a
apresentação clínica e a resposta ao tratamento de
uma criança sejam influenciadas por sua formação cultural (Sue, 1998).
Carter, Sbrocco e Carter (1996) oferecem
uma estrutura teórica útil para conceitualizar a
forma como a etnia influencia a expressão do
sintoma, a resposta ao tratamento e a busca de
ajuda. Embora o modelo tenha sido desenvolvido para clientes afro-americanos adultos com
transtornos de ansiedade, o paradigma tem implicações para crianças e adolescentes.
Carter e colaboradores (1996) conceitualizaram clientes em dimensões de identidade racial e nível de aculturação. Afro-americanos com
alto nível de identidade racial altamente aculturados têm um senso firme da própria identidade étnica, embora também aceitem os valores
da cultura dominante. Clinicamente, estes indivíduos apresentam uma alta percepção de controle pessoal e uma postura ativa de solução de
problemas. A apresentação do sintoma provavelmente se aproximará dos sintomas apresentados por suas contrapartes de origem européia.
Carter e colaboradores (1996) postularam que,
se estes clientes se relacionarem com um
terapeuta que entenda seus sintomas e valorize
sua etnia, permanecerão no tratamento e se beneficiarão das intervenções clínicas.
Clientes afro-americanos com uma forte
identidade racial mas baixos níveis de aculturação responderão ao tratamento de forma bastante diferente. Estes indivíduos têm identidades étnicas desenvolvidas, mas aceitam relativamente pouco os valores arraigados da cultura dominante. Carter e seus colaboradores alegaram que estes clientes reconhecerão os sintomas de forma diferente, atribuirão estes sinto-
mas a causas físicas ou espirituais e provavelmente manifestarão sintomas diferentes dos de
clientes brancos ansiosos. Não surpreende que
inicialmente busquem assistência de médicos ou
de religiosos. Finalmente, o estudo em questão
conclui que, embora possam perceber sintomas
de ansiedade como sinais de que estão ficando
loucos, estes clientes tendem a não confiar em
profissionais da saúde mental brancos, o que
provavelmente os leva a abandonar o tratamento no início do processo.
“Cultura”, escreveram Cartledge e Feng
(1996b, p.14), é como um sistema de teias no
qual vários aspectos da vida estão interligados.
Os componentes da cultura não são separados,
mas interativos. Subsistemas familiares, econômicos e religiosos, por exemplo, todos afetam uns aos outros e não podem ser entendidos isoladamente”. Como outras variáveis de
história e desenvolvimento, há diversas esferas que cada um desejará provar em sua
conceitualização de caso (Brems, 1993; Sue,
1998). Considerar o nível de identidade étnica
e de aculturação da criança e de sua família é
um primeiro passo fundamental, atitudes em
relação à expressão afetiva também são aspectos clínicos fortes (Brems, 1993).
Circunstâncias ambientais particulares podem pontuar a vida de crianças culturalmente
distintas. Por exemplo, pobreza, opressão,
marginalização, preconceito e racismo/sexismo
institucionais afetam de forma diferente crianças de culturas minoritárias (Sanders, Merrell e
Cobb, 1999). Na verdade, os preconceitos
institucionais afetarão as experiências educacionais das crianças, podendo contribuir para um
ensino inferior, baixas expectativas e difamação
de vários indivíduos (Bernal, Saenz e Knight,
1991). De fato, a própria condição de minoria
representa um estressor (Carter e cols., 1996;
Tharp, 1991). Essas condições podem contribuir
para padrões particulares de pensamento, de
sentimento e de comportamento que estão incutidos na expressão do problema. Forehand e
Kotchick (1996, p.200) escreveram que “[...] uma
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
vez que famílias de minoria étnica, de situação
socioeconômica mais baixa experimentam estressores não são típicos na vida de famílias européias de classe média, elas podem não responder da mesma maneira a técnicas de tratamento estabelecidas ou manter os ganhos por tanto
tempo quanto famílias na faixa de renda média”. Por exemplo, é uma ocorrência infelizmente comum que crianças não-brancas sejam
freqüentemente “rastreadas” por vendedores
em lojas de varejo. Níveis maiores de irritabilidade e ansiedade seriam acompanhamentos
naturais de uma experiência estressante com
essa. Zayas e Solari (1994, p.201) escreveram: “Os
efeitos cumulativos de desvantagem socioeconômica e os estereótipos negativos sentidos por
famílias de minoria racial e étnica levam-nas a
desenvolver estratégias adaptativas baseadas em
suas crenças sobre o que significa ser membro
de uma minoria étnica ou de um grupo de minoria racial”.
Considere-se o seguinte exemplo. Alex,
único menino latino em sua turma de sexta série em uma escola de subúrbio, sentiu-se
excluído e constrangido o ano inteiro. Um dia,
um colega disse que sua coleção de canetas de
gel havia desaparecido. Sem razão aparente,
muitas crianças culparam Alex. Embora tenha
sido mais tarde isentado de culpa, Alex retraiuse mais, seu desempenho escolar caiu e ele acabou sendo encaminhado ao terapeuta. Na apresentação, Alex parece calado, tristonho, emocionalmente reservado e retraído; ele evita o contato do olhar, parece desconfiado e age como se
tivesse uma índole agressiva ou provocadora.
Seria fácil rotular esta criança como resistente.
Entretanto, considerando os problemas que ele
tem experimentado na escola, seu comportamento é totalmente compreensível. Ele provavelmente compara terapia com punição e espera que o terapeuta o culpe, o rejeite e talvez o
classifique em um estereótipo preconceituoso.
27
A linguagem claramente medeia atitudes,
comportamentos e expressões emocionais. Tharp
(1991) observou corretamente que a cultura molda cortesias e convenções lingüísticas: duração
de pausas, ritmo de fala e regras para esperar
sua vez nas conversas são culturalmente definidas. Por exemplo, crianças brancas contam histórias que são centradas no tema e tematicamente
coesas, com referências temporais (Michaels,
1984, citado por Tharp, 1991) enquanto crianças
afro-americanas narram histórias menos centradas no tema, mais anedóticas e associadas ao
tema. Curiosamente, a platéia branca considera
a história afro-americana incoerente, ao passo que
a platéia afro-americana considera a história interessante e detalhada, o que sugere que as crianças contarão suas “histórias” de várias formas,
e nós, como terapeutas, precisamos moldar nossas intervenções adequadamente.
Diferentes grupos culturais podem manter crenças variadas em relação à obediência à
autoridade (Johnson, 1993). A forma como essas famílias reagem à “autoridade” do terapeuta
molda suas respostas à terapia. Por exemplo,
para indivíduos cuja cultura impõe relativo respeito a figuras de autoridade, colaborar com o
terapeuta e dar-lhe feedback negativo será
perturbador. Em situação contrária, a orientação do terapeuta será esperada e bem-vinda,
sendo comum que as crianças obedeçam respeitosamente a todas as solicitações dos pais.
Como se vê, questões de contexto cultural
podem afetar a apresentação clínica e a resposta ao tratamento de uma criança. Na Tabela 2.1,
fornecemos uma lista de exemplos de perguntas para esclarecer questões importantes. Embora não seja completa, ela pode dirigir a atenção a algumas áreas até agora negligenciadas e
alertar para outros pontos que merecem consideração. Independentemente da pergunta feita, uma avaliação do contexto cultural da criança deve ser integrada à conceitualização de caso.
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TABELA 2.1 Exemplos de perguntas para tratar questões de contexto cultural
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Qual é o nível de aculturação da família?
Como o nível de aculturação molda a expressão do sintoma?
O que caracteriza a identidade etnocultural da criança?
Como essa identidade influencia a expressão do sintoma?
Quais os pensamentos e sentimentos da criança e da família como membros dessa cultura?
Como crenças, valores e práticas etnoculturais moldam a expressão de problema?
O quanto esta família é representativa ou típica da cultura?
Que sentimentos e pensamentos são proibidos como tabu?
Que sentimentos e pensamentos são facilitados e promovidos em função do contexto etnocultural?
Que processos de socialização etnocultural específicos reforçam seletivamente alguns pensamentos,
sentimentos e comportamentos, mas não outros?
Que tipos de preconceito e de marginalização a criança/família encontrou?
Como essas experiências moldaram a expressão do sintoma?
Que crenças sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro desenvolveram-se como resultado dessas
experiências?
História e etapas do desenvolvimento
Obter uma história pessoal e do desenvolvimento é prática clínica padrão para a maioria
dos profissionais da saúde mental. Informações
históricas ou de formação produzem dados em
relação à aprendizagem passada da criança, dados históricos colocam as queixas apresentadas
em um contexto apropriado. A freqüência, a duração e a intensidade dos problemas da criança
podem ser estabelecidas mais completamente.
Saber como uma criança atravessa as etapas do desenvolvimento também fornece informações-chave para a conceitualização de caso.
Tipicamente, atrasos do desenvolvimento tornarão a criança mais vulnerável à percepção da
crítica e levarão à intolerância de estados
afetivos negativos e, possivelmente, à depressão. Se os atrasos afetarem o processamento
cognitivo, emocional e/ou comportamental, a
abordagem terapêutica pode precisar ser modificada. Uma criança que tem problemas de linguagem e de leitura significativos provavelmente não se beneficiará de materiais de leitura
“mais” sofisticados. Conseqüentemente, a simplificação dos materiais pode ser indicada.
Padrões de desadaptação, emocional e
comportamental são amplificados através da
consideração das etapas do desenvolvimento e
da história de aprendizagem. Um padrão de
desadaptação comportamental e emocional
pode ser revelado por problemas crônicos de
sono, alimentação e higiene de uma criança, por
comportamento agressivo com as pessoas de
sua convivência, ou por mau ajustamento a mudanças na rotina. Fatores de vulnerabilidade
constitucional ou temperamental provavelmente interagem com fatores ambientais para moldar o comportamento das crianças.
Dados do desenvolvimento e históricos
fornecem informações relativas aos responsáveis pelas criança, bem como à própria criança.
Por exemplo, a precisão e a perfeição da lembrança que os responsáveis têm de informações
sobre o desenvolvimento são reveladoras. O que
poderia significar quando uma mãe não tem virtualmente nenhuma idéia das conquistas de desenvolvimento do filho? Talvez a mãe tenha
uma péssima memória para eventos, mas também pode ser desatenta e/ou destituída de preocupação. Pode-se então perguntar o que estava ocorrendo durante essas épocas. A mãe estava deprimida ou bebendo? Ela estava sofrendo
por um conflito conjugal? Os terapeutas podem
desenvolver hipóteses com relação a pais que
lembram os mínimos detalhes da vida de um
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
filho (p. ex., dia, hora e ano da primeira evacuação no urinol). Esses pais são simplesmente orientados ao detalhe ou tendem a ser tão atentos
e envolvidos que “azucrinam” psicologicamente
seu filho?
Trabalho e relacionamentos são geralmente focos importantes da tomada da história nas
entrevistas de adultos. O trabalho das crianças
é brincar e ir à escola. As atividades de lazer,
clubes, esportes e passatempos são bastante
reveladores. A criança aprecia atividades solitárias, isoladoras? Jogos competitivos? Jogos de
fantasia? Além disso, examinar os relacionamentos da criança com seus colegas é proveitoso.
Quem são os amigos da criança? A criança tem
amigos da mesma idade, mais jovens ou mais
velhos? Quanto tempo suas amizades duram?
Suas amizades são feitas com esforço, mas facilmente perdidas?
Obter informações sobre o ajustamento e
desempenho da criança na escola é uma tarefachave. A escola é um lugar onde as crianças respondem a exigências, demonstram produtividade e interagem com outros. Como é o desempenho acadêmico da criança? Que fatores comprometem o funcionamento acadêmico (p. ex.,
incapacidades de aprendizagem)? O desempenho decaiu? Como ela se dá com os outros?
Como regula seu comportamento na sala de
aula? Como a criança responde a orientações/
ordens dos professores? Alguma vez foi suspensa ou expulsa?
Os relacionamentos familiares e os processos de vinculação também transmitem informações significativas. Saber como os diferentes
membros da família se relacionam dá ao terapeuta mais informações sobre a criança. Além
do mais, isso coloca o seu comportamento dentro de um contexto, permitindo que o terapeuta
discuta as semelhanças e as diferenças na reação da criança em várias circunstâncias. Por
exemplo, a criança é agressiva na escola, mas
não em casa? A criança é apegada em casa, mas
não na escola? A criança responde mais docilmente às orientações da mãe do que aos comandos
do pai?
29
Colher informações sobre as práticas disciplinares empregadas pelos pais é uma tarefa
vital para os clínicos. Os terapeutas precisarão
saber como o comportamento desejável é conseguido e como o comportamento indesejável é
desencorajado. Que estratégias de parentagem
ou de enfrentamento do comportamento da
criança são empregadas? Quais são os estilos
dos pais? Eles são supercontroladores, indulgentes, autoritários, permissivos, discordantes, desatentos? Com que consistência eles aplicam punições? Os pais concordam sobre o comportamento a ser promovido ou desencorajado? Concordam sobre métodos disciplinares?
Também sugerimos verificar as experiências de tratamento anteriores da criança. O tipo,
a duração e a resposta ao tratamento são dados
úteis. Da mesma forma, a informação médica
familiar e pessoal é crítica para revelar condições médicas que possam exacerbar problemas
psicológicos ou transtornos psicológicos que
possam agravar condições médicas. Por exemplo, qualquer condição médica crônica será um
estressor para as crianças e suas famílias, questões psicológicas relativas a controle e autonomia podem afetar a aderência a prescrições médicas, doença familiar também pode ser um problema significativo para as crianças. As crianças compreensivelmente preocupam-se que
seus pais adoeçam. Uma consulta médica é recomendada em todos estes casos.
O uso de substâncias é uma área importante
para a tomada da história. Drogas ilegais, medicações prescritas, remédios de venda livre, álcool, produtos domésticos (p. ex., cola, produtos
em aerossol), cigarros, laxantes e até alimentos
são apenas algumas das possíveis fontes de abuso de substâncias. Isso complica claramente a
apresentação do sintoma. Além disso, as crianças tendem a não ser particularmente acessíveis
quando se aborda seu uso de substâncias, contudo, os terapeutas são fortemente encorajados
a examinar um possível abuso de substâncias nas
crianças e nos adolescentes que tratam.
A relação com o sistema legal também deveria ser considerada; o envolvimento com o
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
juizado de menores ou com delegacias de polícia deveria ser observado, pois, evidentemente,
os problemas legais de um jovem refletem a gravidade global do problema. Além disso, a consulta com autoridades legais pode ser indicada.
Percebemos que, embora esta não seja uma
lista completa de considerações clínicas, é suficiente para nos fazer pensar. Resumimos algumas das perguntas fundamentais na Tabela 2.2
como uma orientação de organização.
TABELA 2.2 Áreas importantes na tomada da história
Etapas do desenvolvimento
– Houve atrasos notáveis nas etapas do desenvolvimento?
– Há problemas de linguagem e de fala?
– A criança lê bem?
– A criança escreve bem?
– Quando a criança dormiu a noite inteira? Como você caracterizaria os padrões e os hábitos de sono da
criança?
– Quando a criança foi treinada em sua higiene pessoal? Como foi? Quais foram as dificuldades? Houve
muitos acidentes?
– Como você descreveria os padrões de alimentação da criança?
– Como esta criança responde caracteristicamente a mudanças em sua rotina?
– Que tipo de bebê ela foi? Nervoso? Com cólicas? De temperamento fácil? Etc.
– Quem tomava conta desta criança? Houve rompimentos ou inconsistência na guarda?
– Alguma vez ela foi vítima de abuso sexual ou físico?
Escola
– Como é o desempenho acadêmico da criança? Houve um declínio no desempenho?
– Como ela se dá com seus colegas de aula? E com os professores?
– Como foi seu ajustamento à escola? Como são suas manhãs antes da escola? Como são suas tardes
após a escola?
– A criança alguma vez foi expulsa? Suspensa? Recebeu castigo?
– Como é a freqüência da criança à escola?
Amigos e atividades
– Quais são as atividades da criança?
– Quem são os amigos da criança?
– Quanto tempo duram as amizades da criança?
– As amizades da criança são feitas com esforço, mas facilmente perdidas?
Relacionamentos familiares
– Como é o relacionamento da criança com os pais e com os irmãos?
– Como é o clima doméstico? Conflituoso? Carinhoso? Permissivo?
– Como é o relacionamento entre os responsáveis?
– A criança alguma vez testemunhou violência doméstica?
– Como é o relacionamento da criança com cada membro da família? Igual? Diferente?
– Como os relacionamentos familiares da criança diferem de seus relacionamentos com outras pessoas?
(Continua)
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
31
TABELA 2.2 Continuação
Práticas disciplinares
– Que técnicas disciplinares são usadas?
– Que técnicas funcionam ou não funcionam bem?
– Quais são os estilos dos pais?
– Os pais concordam sobre disciplina?
Condições médicas e tratamento anterior
– Que condições médicas/físicas estão presentes?
– Como estas condições médicas influenciam o funcionamento psicológico?
– Como as condições psicológicas influenciam a condição médica?
– Qual foi a resposta da criança e da família a algum tratamento anterior?
Uso de substâncias e envolvimento com a lei
– Qual é o uso de substâncias da criança?
– Que uso a criança faz de laxantes, comida, remédios de venda livre? E de produtos domésticos?
– Qual é a extensão do envolvimento com a lei?
Variáveis cognitivas
As variáveis cognitivas no processo de
conceitualização de caso foram mencionadas
brevemente no Capítulo 1. A conceitualização
de caso deveria considerar os processos cognitivos, a estrutura cognitiva e o conteúdo cognitivo. Não causa surpresa que uma conceitualização de caso trate de pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, esquemas e
distorções cognitivas.
Conforme mencionado, os pensamentos
automáticos refletem as explicações ou previsões que acompanham eventos e representam
o conteúdo cognitivo. Os pensamentos automáticos tendem a ser relativamente acessíveis e podem ser identificados com facilidade através de
intervenções-padrão; seu conteúdo freqüentemente serve como ponto de partida do tratamento e fornece indícios com relação ao esquema central das crenças.
Conforme referidos no Capítulo 1, os esquemas representam crenças organizadoras centrais ou estruturas de significado pessoal (A. T.
Beck e cols., 1979; A. T. Beck e Freeman, 1990),
são considerados estruturas cognitivas e, embora existam fora da consciência, influenciam
profundamente os processos e os conteúdos
cognitivos. O entendimento dos esquemas das
crianças fornece insight em relação a variáveis
clínicas, como a variabilidade de pensamentos
automáticos, o comportamento interpessoal, a
responsividade ao tratamento e a probabilidade de recaída.
Os esquemas funcionam para manter a
homeostase (Guidano e Liotti, 1983; Padesky,
1994). A informação em consonância com a estrutura de significado é assimilada, enquanto a
informação discrepante é rejeitada ou transformada de modo a ajustar-se ao esquema. Conforme Liotti (1987, p.93), em relação a este processo, a “novidade é ativamente reduzida ao que
já é conhecido”.
Os esquemas são autoperpetuadores.
Young (1990) propôs três mecanismos que servem a essa tendência. Os processos de manutenção do esquema preservam a estrutura cognitiva
através de distorções cognitivas e padrões de
comportamento autoderrotistas. Reconhecer as
distorções cognitivas incutidas nos pensamentos automáticos das crianças facilita uma
conceitualização de caso e uma intervenção mais
completas. Por exemplo, a personalização é adequada à intervenção Torta de Responsabilidade
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
discutida nos Capítulos 8 e 9. A projeção de tempo funciona bem com o raciocínio emocional.
Além disso, as distorções cognitivas medeiam a
forma como as crianças vêem a terapia e o
terapeuta. Por exemplo, uma criança que
freqüentemente costuma depreciar-se pode menosprezar o sucesso na terapia e achar difícil
internalizar os ganhos do tratamento.
Young (1990) postulava que os esquemas
também operam através de evitação do esquema. A evitação do esquema pode assumir três
formas: evitação cognitiva, evitação emocional e
evitação comportamental. O objetivo da evitação
do esquema é prevenir experiências que questionariam sua precisão.
Na evitação cognitiva, os pensamentos que
ativam o esquema são bloqueados. Um bom
exemplo é quando se pergunta a uma criança angustiada o que passa por sua cabeça no momento de uma intensa alteração de humor e ela responde com um “não sei”. Às vezes, a evitação
cognitiva é indicada pela sensação da criança de
que sua cabeça está vazia (p. ex., “Não está passando nada pela minha cabeça.”). Para estes clientes, seus pensamentos são dolorosos, embaraçosos ou vergonhosos demais para identificar.
Com a evitação emocional, em vez de bloquear os pensamentos relacionados ao esquema, o indivíduo bloqueia os sentimentos associados a seus pensamentos. Young observou
com perspicácia que a automutilação (p. ex., cortar-se ou queimar-se) é freqüentemente uma
função da evitação emocional. A criança pode
experimentar um sentimento proibido (p. ex.,
raiva) e então tentar evitar o sentimento queimando-se com um isqueiro.
Isolamento social, agorafobia e procrastinação são exemplos de evitação comportamental.
Nestes casos, as crianças não realizam comportamentos relacionados ao conteúdo do esquema e, assim, o conteúdo do esquema permanece incontestado.
A compensação do esquema é o último processo. Nela, a criança age de forma oposta ao conteúdo do esquema. Por exemplo, um menino
pode maltratar e provocar impiedosamente outras crianças como uma forma de compensar-se
por um esquema refletindo fraqueza e um frágil
senso de self. No exemplo do valentão, o menino
não tem que lidar com sua fraqueza ou com o
senso de inadequação percebidos graças ao comportamento ameaçador. Entretanto, se a intimidação e a depreciação falham, a criança está malequipada para lidar com sua fragilidade.
Um estudo recente de Taylor e Ingram
(1999, p.208) sugere que esquemas cognitivos
negativos podem contribuir para depressão em
crianças até de 8 anos de idade. Eles concluíram que “[...]toda vez que um estado de humor
negativo é encontrado, crianças de alto risco podem estar desenvolvendo, acumulando, fortalecendo e consolidando o reservatório de informações nas estruturas cognitivas auto-referenciais disfuncionais que orientarão suas visões
de si mesmas e apontarão como a informação é
processada quando eventos adversos evocam
estas estruturas no futuro”. Portanto, a influência esquemática sobre o funcionamento psicológico das crianças pode começar em idades de
ensino fundamental; entretanto, os esquemas
podem não se consolidar até a adolescência
(Hammen e Zupan, 1984). A avaliação de processos do esquema pode ser o mais fundamental na terapia cognitiva com adolescentes.
Antecedentes comportamentais
e suas conseqüências
As respostas comportamentais são moldadas por estímulos que precedem e outros que
sucedem o comportamento (Bandura, 1977,
1986). O paradigma comportamental clássico A
(antecedente), B* (comportamento) e C (conseqüências) ilustra primorosamente este processo (Barkley, Edwards e Robin, 1999; Feindler e
Ecton, 1986). Determinantes antecedentes e conseqüentes podem ser aprendidos por experiência direta (Bandura, 1977, 1986) ou indireta (p.
ex., através da observação).
*N. de T.: No original em inglês: behavior.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Dependendo da circunstância de aprendizagem, os estímulos antecedentes podem tanto evocar diretamente o comportamento como simplesmente preparar o terreno para o comportamento.
Se o comportamento é adquirido através de condicionamento clássico, certos estímulos ocorrem
para evocar o comportamento emocionalmente
carregado, adquirindo a capacidade de provocar
uma resposta emocional da criança. Por exemplo,
suponha-se que uma professora de quinta série
exigente fecha seu livro com violência toda vez
que está para anunciar um questionário surpresa.
Suponha-se também que qualquer questionário
ou prova gere uma variedade de estímulos fisiológicos, emocionais e cognitivos adversos em uma
criança. Com o tempo, através de repetidas ocorrências, o barulho do livro da professora sendo
fechado pode evocar a mesma ansiedade antecipatória na criança que a própria prova.
Estímulos antecedentes “desencadeiam”
comportamentos nas crianças. Os “estressores”
nas vidas das crianças são geralmente estímulos antecedentes (p. ex., divórcio dos pais, críticas da professora, provocações de colegas). Por
exemplo, estímulos antecedentes são freqüentemente registrados na coluna de evento em um
diário de pensamento (descrito no Capítulo 6),
em classificações subjetivas de escalas de sofrimento (descritas no Capítulo 12) e em um modelo ABC (descrito no Capítulo 13).
As ordens dos pais representam estímulos antecedentes. Suas orientações vagas, indiretas, hostis e confusas raramente produzem o
comportamento desejado em uma criança. Antes, freqüentemente preparam o terreno para a
desobediência e contribuem para lutas de poder coercivas. Indícios antecedentes que preparam o terreno para comportamento são freqüentemente chamados de estímulos discriminatórios e sinalizam à criança que a situação é perfeita para o reforço. Quando as crianças respondem seletivamente na presença de estímulos
discriminatórios e inibem o comportamento na
ausência deles, o comportamento fica sob o controle do estímulo.
As conseqüências comportamentais referemse aos estímulos que acompanham um compor-
33
tamento, determinando se o comportamento específico é fortalecido ou enfraquecido. Estímulos conseqüentes que fortalecem um comportamento ou fazem-no ocorrer mais freqüentemente
ou continuamente são chamados de reforçadores.
Há dois processos de reforço básicos: reforço positivo (acrescentar alguma coisa prazerosa para
aumentar a taxa de comportamento) e reforço negativo (remover alguma coisa desagradável para
aumentar a taxa de comportamento). Um pai que
elogia e abraça seu filho por tirar uma nota boa
usa reforço positivo; um professor que retira um
castigo, como tarefa de casa adicional, devido à
melhora de desempenho de seus alunos, está
usando reforço negativo para aumentar os hábitos de estudo.
A punição diminui a taxa de comportamento. Por exemplo, um pai que responde aos acessos de raiva de seu filho colocando-o de castigo
no quarto, negando-lhe recompensas e privilégios ou ignorando-o, está usando punição. Tomemos o caso de uma mãe que ignora a expressão emocional de sua filha, punindo, desse
modo, sua expressividade afetiva. A criança
aprende que sentimentos são ruins e torna-se
emocionalmente contraída. Procedimentos básicos de reforço e punição são descritos com
mais detalhes no Capítulo 14.
Reforçadores e punições ocorrem em programas. Programas de reforço estabelecem o
arranjo para contingências. Estipular que comportamento é exigido, por quanto tempo deve
persistir ou com que freqüência deve ocorrer
antes que mereça reforço são programas de reforço. É bem conhecido o fato de que comportamentos estabelecidos sob programas de reforço
intermitentes são bastante duradouros.
PLANEJANDO E PENSANDO À
FRENTE: FORMULAÇÃO PROVISÓRIA,
PLANO DE TRATAMENTO E
OBSTÁCULOS ESPERADOS
Formulação provisória
A formulação provisória coordena os componentes de maneira dinâmica e inter-relacio-
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nada. A formulação retrata um quadro do ambiente externo e do mundo interior das crianças. Os problemas apresentados, dados de testes, contexto cultural, dados de história e de desenvolvimento, variáveis comportamentais e
cognitivas são analisados e integrados. Dessa
forma, cria-se um retrato psicológico individualizado que permite ao terapeuta adaptar a intervenção às circunstâncias e aos estilos específicos de cada criança.
Plano de tratamento antecipado
A formulação provisória orienta o plano de
tratamento. Os planos de tratamento variam de
uma criança para outra, uma vez que eles devem
levar em consideração as características e as circunstâncias de cada uma. Por exemplo, uma criança ansiosa que enrubesce, sua e tem muita tensão muscular provavelmente se beneficiaria do
treinamento de relaxamento, enquanto uma criança preocupada com ruminações e pensamentos autocríticos não se beneficiaria desse tipo de
treinamento. A formulação informará sobre quando usar as técnicas cognitivo-comportamentais
convencionais e quando modificar criativamente
os procedimentos tradicionais. Uma criança deprimida que tem habilidades verbais mais desenvolvidas se beneficiaria com uma reatribuição feita com papel e lápis, enquanto uma
criança menos sofisticada verbalmente pode lucrar mais com uma técnica de reatribuição feita
com trabalhos manuais.
Obstáculos esperados
O caminho em direção ao progresso terapêutico é freqüentemente acidentado. Podendose antecipar os solavancos ou os buracos na estrada, pode-se desviar para evitá-los ou preparar-se para o impacto. A formulação ajuda a ver
a estrada à frente e a prever obstáculos, assim, é
possível moldar o plano de tratamento de modo
a negociar impasses terapêuticos.
Por exemplo, se uma criança é perfeccionista, pode-se esperar que ela procrastine ou
evite fazer a tarefa de casa por medo de fracas-
so. Ou suponha que se esteja tratando uma criança cujos pais são muito inconsistentes em seus
cuidados e que vem à terapia muito irregularmente. Uma vez que se sabe que os pais cumprem inconsistentemente seus próprios compromissos, isso será aviso antecipado para preparar um plano para lidar com tais dificuldades.
EXEMPLO DE CONCEITUALIZAÇÃO
DE CASO
Problemas apresentados
Tessa é uma menina afro-americana de 9
anos de idade que está sendo criada por sua mãe
e sua tia. Ela se apresenta como um criança bemcomportada, mas tímida e triste. Seu desempenho escolar é bom, recebendo regularmente notas altas, entretanto, seus professores queixamse de que Tessa é lenta para completar suas tarefas e freqüentemente requer considerável
reafirmação. Ela freqüentemente chora em aula
durante tarefas novas ou projetos de grupo. Na
hora do recreio, perambula pelo pátio, senta-se
sozinha ou prefere ficar na sala de aula para ler
com a professora em vez de brincar com os colegas. Os componentes psicológicos dos problemas
de Tessa incluem dores de estômago, sudorese e
dores de cabeça, e seus sintomas de humor são
marcados por medo, ansiedade e tristeza. Comportamentalmente, chora freqüentemente, é inquieta e nervosa, é lenta para entregar trabalhos
e pede para ir à enfermaria com freqüência.
Interpessoalmente, parece tímida e retraída. Seus
componentes cognitivos incluem pensamentos
automáticos como “Eu vou me atrapalhar e todo
mundo vai perceber”, “Todo mundo está esperando que eu me atrapalhe”, “Eu não vou passar na escola sem minha mãe” e “As outras crianças da turma não gostam de mim.”
Dados de testes
Tessa realiza o Inventário de Depressão de
Crianças (CDI) e a Revised Children’s Manifest
Anxiety Scale (RCMAS). No CDI, obtém um es-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
core bruto de 18, que sugere um nível moderado
de depressão. Na RCMAS, seu escore total é 19,
indicando ansiedade moderada. Ela obtém escores relativamente altos em subescalas para preocupação e ansiedade social.
Variáveis de contexto cultural
Os rendimentos da mãe de Tessa são bastante limitados. Elas lutam para fazer o dinheiro render até o fim do mês, mas vivem acima da
linha de pobreza. Tessa, sua mãe e sua tia pertencem à mesma Igreja Batista, que lhes oferece
algum apoio social. Elas têm alguns parentes na
área, que ocasionalmente visitam e com quem
deixam Tessa. A família vive em uma área de
aluguel baixo, onde o custo de vida é relativamente moderado. Tessa freqüenta uma escola
predominantemente branca e é uma da poucas
crianças afro-americanas em sua série. Nem ela
nem sua mãe relataram casos específicos de
Tessa ter sido vítima de preconceito ou racismo. Sua mãe conta “Eu digo que ela tem que
ser duas vezes melhor, bem-comportada e esperta para competir com suas amigas brancas”,
descreve as professoras de sua filha como “amigáveis e cooperativas”, mas diz que tem uma
sensação de que o pessoal da escola está sempre “pisando em ovos”. “Eu acho que eles têm
medo ou sentem-se constrangidos em lidar comigo. Eu não sei por quê. Talvez simplesmente
não estejam acostumados com gente como eu.”
A mãe dá a Tessa uma porção de “instruções de sobrevivência”. Ela a adverte sobre ir
da parada de ônibus até sua casa e lhe dá instruções específicas sobre como ir de sua casa até
um armazém próximo. “Eu não quero que ninguém se meta com ela. Quando eu tinha a idade dela, eu podia defender-me, mas Tessa é diferente. Ela leva as coisas para o lado pessoal.”
História e etapas do desenvolvimento
Tessa alcançou e completou todas as suas
etapas de desenvolvimento dentro dos limites
normais de idade. No passado, ela era descrita
como uma criança séria e ansiosa, mas seus sin-
35
tomas de humor tinham se exacerbado nas últimas semanas. Sua mãe, que tem um diagnóstico de transtorno depressivo maior e toma
Prozac, revela que sua própria depressão parecia pior nos últimos meses.
Tessa sempre foi uma boa aluna, suas notas
continuam consistentemente boas, e ela não apresenta problemas comportamentais. Quando bebê
e em idade pré-escolar, freqüentou uma creche e
uma pré-escola, onde inicialmente exibiu alguma
ansiedade de separação, mas logo ajustou-se à rotina escolar. Tessa regularmente fica bastante nervosa na semana anterior ao primeiro dia de um
novo ano escolar e parece preocupada nas manhãs
de segunda-feira. Ela diz que não gosta de esperar o ônibus ou de andar de ônibus e às vezes se
preocupa com o fato de que sua tia não a apanhe
na parada de ônibus. Ela recorda que seu momento mais embaraçoso foi quando as outras crianças
debocharam do presente que ela levou para uma
campanha beneficiente da escola (“É tão pequeno
e barato!”).
Tessa joga futebol e beisebol e tem aulas
de flauta. Em seu tempo livre, gosta de ler e de
assistir a televisão, ela tem alguns amigos na
vizinhança, com os quais brinca de jogos tipicamente infantis. Tessa gosta de brincar com crianças menores e de tomar conta delas. Raramente briga ou discute com os amigos. É convidada
para festas de aniversário por seus colegas de
escola, mas prefere não ir, e seus convites no
último ano parecem ter diminuído.
O pai de Tessa foi embora quando ela tinha 9 meses; ela não o viu mais desde então.
Sua mãe e sua tia dão-se bem e geralmente
concordam sobre práticas disciplinares. A mãe
de Tessa reclama que sua irmã acha que ela
está “mimando” Tessa. A mãe relata que ela é
a autoridade na casa, mas também revela que
acha que tem sido mais frouxa em sua disciplina desde que se sente mais deprimida. Suas
técnicas disciplinares primárias são elogio,
abraços, castigo no quarto e retirada de recompensas e privilégios. A mãe diz que não acredita em castigo físico porque foi “perseguida” quando criança. Ela não gostaria de bater
em sua filha. A mãe também relata que não
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tem tido muita energia para acompanhar Tessa
em atividades. Ela se sente culpada por isso e
culpa seu horário cansativo e a depressão por
seu baixo nível de energia.
Tessa não usa drogas ou bebe álcool, nem
tem problemas legais. Esta é sua primeira experiência de psicoterapia. A mãe tem consultado um médico de família para sua medicação,
mas nunca foi a um terapeuta. Ela espera que
Tessa encontre “alguém com quem ela possa
falar e em quem possa confiar” na terapia. Tessa
não tem muita certeza se entende por que está
indo à terapia.
Variáveis cognitivas
Os pensamentos automáticos de Tessa incluem crenças como “Eu vou me atrapalhar e
todo mundo vai perceber”, “Todo mundo está
esperando que eu me atrapalhe”, “Eu não vou
passar na escola sem minha mãe”, “As outras
crianças da aula não gostam de mim”, “Eu tenho que ser boa, assim não vou aborrecer a mamãe”, “O mundo tem um monte de perigos apavorantes”, “Eu não acho que posso me proteger”, “Eu não sou tão inteligente ou forte quanto a maioria das outras crianças”, “Ter medo significa que alguma coisa ruim vai acontecer” e
“Eu acho que não sou adequada.” Suas distorções cognitivas características incluem pensamento de tudo-ou-nada, personalização, generalização excessiva, raciocínio emocional e
rotulação. Visto que Tessa tem apenas 9 anos, é
provável que seus esquemas não estejam totalmente formados. Entretanto, ela pode ser vulnerável ao desenvolvimento de crenças centrais:
“Eu sou vulnerável e frágil em um mundo crítico e sombrio onde os outros são irresponsivos e
julgadores”, “Ser diferente me torna uma excluída em um mundo em que os outros são mais
inteligentes e mais fortes”, “Eu tenho que estar
constantemente alerta a todos os perigos para
poder evitá-los” e “Erros são catastróficos em
um mundo crítico onde os outros são críticos e
eu sou mais fraca que eles.”
Antecedentes comportamentais
e suas conseqüências
As idas da casa para a escola, especialmente nas manhãs de segunda-feira, são ativadores
claros ou antecedentes aos sintomas de Tessa.
Além disso, novas tarefas, projetos de grupo,
feedback crítico e situações ambíguas, como o recreio, estimulam seus sentimentos de ansiedade e depressão. A irresponsividade por figuras
adultas importantes e outras crianças (p. ex.,
mãe, tia, professores) também ativa crenças
como “Eles não se importam comigo” ou “Eles
não gostam de mim”. A evitação, o retraimento
e o comportamento de vigilância de Tessa em
suas tarefas não são apenas emitidos nesses estímulos, mas reforçados pelo alívio da ansiedade. Sua vigilância é positivamente reforçada por
suas boas notas e pelos elogios da mãe, e sua
busca de reafirmação também é intermitentemente reforçada positiva e negativamente. Às
vezes, ela se sente confortada por figuras de autoridade; o simples ato de buscar reafirmação
proporciona alívio da ansiedade. Seu comportamento calado é reforçado na sala de aula. As
queixas somáticas de Tessa também têm valor
funcional, elas evocam preocupação dos outros,
o que satisfaz Tessa. A ânsia de Tessa por agradar é também positivamente reforçada pela
aprovação dos outros.
Formulação provisória
Tessa é uma menina afro-americana que
está experimentando sintomas primariamente
ansiosos e depressivos. Suas cognições são
marcadas por temas de medo de avaliação negativa e autocrítica. Comportamentalmente,
responde a essas ameaças com hipervigilância,
busca de aprovação/reafirmação e afastamento de seus colegas. Muitos de seus sintomas
psicológicos são traduzidos em sintomas somáticos. É possível que Tessa tema a avaliação
negativa dos outros se for emocionalmente
mais expressiva.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Certamente, os fatores ambientais alimentam a iniciação, a manutenção e a exacerbação
de seu sofrimento. Tanto Tessa quanto sua mãe
estão conscientes das diferenças raciais entre ela
e seus colegas de aula. Tessa provavelmente
internalizou o encorajamento da mãe para “trabalhar duas vezes mais arduamente que suas
amigas brancas”, portanto, sente-se obrigada a
realizar, competir e ajustar-se. Estes são sentimentos muito fortes para uma criança pequena
e, além disso, pensamentos como “Todo mundo está esperando que eu me atrapalhe” refletem seu senso de que está em exposição, o que
impulsiona sua ansiedade social. Para uma
criança que experimenta tal pressão em um contexto em que as pessoas estão “pisando em
ovos”, a reafirmação é esperada. Na verdade, é
uma forma de Tessa avaliar como está se saindo.
Tessa vê-se como frágil em um mundo crítico e ameaçador, a fim de não ser ferida, ela retrai-se e comporta-se com extrema cautela. Na
verdade, o comportamento cauteloso é adaptativo em sua vizinhança e às vezes com seus colegas de aula. Entretanto, por ela ser tão cautelosa,
seus colegas a provocam e a intimidam. A mãe
também tende a ser superprotetora. A superproteção e a implicância dos colegas reforçam ainda
mais suas autopercepções negativas.
5.
6.
7.
8.
9.
Plano de tratamento antecipado
1. Devido ao alto nível de queixas somáticas de Tessa, o treinamento de relaxamento deveria ser iniciado.
2. Programas de eventos agradáveis deveriam ser tentados para aumentar seu nível de reforço positivo.
3. Intervenções cognitivas visando a melhorar seus medos de avaliação negativa deveriam começar com abordagens
auto-instrutivas e progredir para técnicas envolvendo análise mais racional.
4. Deveria ser tomado um cuidado em relação às atribuições de Tessa acerca de sua
consciência das diferenças raciais entre
ela e os colegas de aula. Se estiver fazen-
10.
37
do atribuições autoprejudiciais, técnicas
cognitivas como procedimentos de
reatribuição deveriam ser empregadas.
Estratégias de resolução de problemas
deveriam ser ensinadas a Tessa durante
todo o tratamento.
Técnicas cognitivas dirigidas à visão que
Tessa tem de si mesma como frágil deveriam ser iniciadas.
A mãe de Tessa deveria ser incluída no
treinamento de pais centrado na criança
para desenvolver um programa de controle da contingência para a realização da
tarefa de casa da terapia. Além disso, a
terapia deveria focalizar-se em ajudar a
mãe a diminuir sua superproteção e a aumentar sua consistência nas respostas às
necessidades de Tessa. Deveria ser tomado cuidado em relação ao aumento da
consistência e da comunicação entre as
responsáveis de Tessa (i. e., mãe e tia).
Dependendo do nível de habilidade social de Tessa, um treinamento de habilidades sociais em resposta à implicância
dos colegas deveria ser considerado.
Após Tessa ter adquirido, praticado e
aplicado suficientemente suas habilidades, experiências comportamentais deveriam ser planejadas cooperativamente para testar as predições incorretas de
Tessa.
Uma relação contínua com a professora
e com o pessoal da escola deveria ser
mantida.
Obstáculos esperados
Tessa é uma jovem cliente animada e motivada, portanto, não se espera que a falta de
aderência seja um problema. Entretanto, Tessa
tem uma tendência a “exagerar”, razão pela qual
deveríamos ficar alertas a esforços de perfeccionismo na realização da tarefa de casa. Além disso, uma vez que Tessa é tão ansiosa por agradar e teme a avaliação negativa, teremos que estar atentos a sinais de que ela está minimizando
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
seus sintomas ou inibindo insatisfações sobre a
terapia. Finalmente, devido às fortes habilidades de expressão escrita e oral de Tessa, teremos que estar alertas à possibilidade de que
Tessa inicialmente forneça respostas intelectualizadas em vez de emocionais.
Trabalhar com as atribuições de Tessa em
relação a diferenças raciais será crucial. Será difícil ajudar Tessa a explorar confortavelmente seus
pensamentos e sentimentos sobre essas questões
sem exacerbar suas ansiedades sociais. É importante focalizar as questões de conteúdo e de processo na terapia (p. ex., como é falar sobre estes
pensamentos e sentimentos?, qual o perigo de
falar sobre estes pensamentos e sentimentos?).
O trabalho com os pais também apresentará desafios. O nível de depressão da mãe precisará ser monitorado e, se indicado, pode ser
necessário recomendar terapia individual para
a mãe. Neste caso, a atenção ao custo do tratamento é relevante. Independentemente, o trabalho focalizado na criança precisará ser sensível à depressão da mãe. Por exemplo, a programação de atividades agradáveis pode ser uma
tarefa árdua quando a mãe é deprimida. Devido à depressão da mãe, a atenção pode ser excessivamente focalizada nas vulnerabilidades
de Tessa. Finalmente, a mãe pode achar difícil
arranjar a energia psicológica para responder a
Tessa e aumentar sua comunicação com a irmã.
O diálogo com a escola também pode apresentar alguns obstáculos. Estabelecer uma parceria com a professora de Tessa é uma boa idéia.
Provavelmente, treinaríamos a professora para
ajudar a reduzir a busca de reafirmação e a evitação de Tessa. Aumentar a sensibilidade da professora à ansiedade de Tessa seria uma estratégia adequada.
CONCLUSÃO
A conceitualização de caso une os processos e os procedimentos delineados nos próximos capítulos. Cada caso é único; a aplicação
clínica das técnicas gerais descritas deve avaliar essa singularidade. Enfatizando a conceitualização de caso, evita-se uma mentalidade clínica de “uma-medida-para-todos”. Quando
você estiver em um impasse com seus casos,
retorne a este capítulo e permita-se reconceitualizar, replanejar e finalmente renovar seu trabalho terapêutico.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
39
3
Empirismo Colaborativo e
Descoberta Orientada
A técnica cognitivo-comportamental é
adaptada a cada criança, individualmente, por
meio do empirismo e da descoberta orientada,
conceitos que permitem ajustar o tratamento às
necessidades dinâmicas de diferentes crianças.
Neste capítulo, definimos empirismo colaborativo e descoberta orientada. Além disso, discutimos como várias questões (p. ex., idade, motivação, etnia, estágio de terapia) influenciam o empirismo colaborativo e a descoberta orientada.
Os críticos freqüentemente argumentam
que os terapeutas cognitivos negligenciam o relacionamento terapêutico (Gluhoski, 1995;
Wright e Davis, 1994). Entretanto, esse argumento é malfundamentado e pinta uma caricatura,
não um quadro verdadeiro da terapia cognitiva.
Na verdade, o manual original de terapia
cognitiva (A. T. Beck e cols., 1979) estabelece explicitamente que os terapeutas devem ser capazes de comunicar-se de maneira empática, preocupada, cordial e genuína. Além disso, (ibid.,
p.27) “desconsiderar o relacionamento terapêutico” é execrado como uma armadilha terapêutica comum. O empirismo colaborativo e a descoberta orientada ultrapassam o mero estabelecimento de rapport para construir concretamente relacionamentos produtivos de terapia que
encorajam o momento terapêutico.
A. T. Beck e colaboradores (1979, p.6) afirmam que “[...] o terapeuta, ao aplicar terapia
cognitiva, está continuamente ativo e deliberadamente interagindo com o paciente”. A terapia
cognitiva abrange a noção de que o relacionamento de terapia reflete um equilíbrio colaborativo
entre terapeuta e clientes. Terapeutas e crianças
são verdadeiros parceiros na jornada terapêutica, mas, naturalmente, colaboração não significa
igualdade. Freqüentemente falamos às crianças
sobre sermos companheiros em seus tratamentos e discutimos o relacionamento terapêutico em
termos de “trabalho de equipe”. Algumas crianças e alguns adolescentes ficam inicialmente surpresos com esta abordagem: “Imagine – uma figura de autoridade adulta está me dando uma
chance de moldar meu tratamento!” Descobrimos que as crianças recebem bem esta postura.
Além disso, muitas vêm a perceber que, embora
uma abordagem colaborativa lhes ofereça oportunidades de participação, também encoraja a
responsabilidade. A troca a seguir ilustra um processo colaborativo.
TERAPEUTA: Seria de muita ajuda se você escrevesse uma lista de coisas que gostaria
de trabalhar quando estivéssemos juntos.
O que isto lhe parece?
JAKE: Por que precisamos de uma lista?
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: Uma lista pode ajudar-nos a manter o rumo das coisas para que não nos
esqueçamos de alguma coisa que poderia
ser importante mais tarde.
JAKE: Não tenho certeza sobre esta lista.
TERAPEUTA: Então vamos conversar sobre
isto. O que lhe incomoda em relação a fazer essa lista?
Este exemplo ilustra a importância de colaborar mesmo nas tarefas terapêuticas mais ostensivamente benignas. Obviamente, Jake tinha
algumas objeções sobre fazer a lista. Se não consultasse Jake, o terapeuta poderia ter passado
como um rolo compressor sobre a técnica, esmagando Jake no processo e desencadeando sua
evitação. Ao lidar, antecipada e explicitamente,
com as objeções de Jake, o terapeuta demonstra
respeito por ele, acata sua hesitação e envolveo diretamente no processo terapêutico.
O “empirismo” no termo empirismo colaborativo refere-se à abordagem baseada em dados
da terapia cognitiva. Os dados vêm diretamente do cliente e refletem fundamentos fenomenológicos da terapia cognitiva (Alford e Beck, 1997;
Pretzer e Beck, 1996). “A experiência do cliente
dita como os princípios gerais serão aplicados
para ajudar a resolver os problemas atuais”
(Padesky e Greenberger, 1995, p.6). As crenças
das crianças são vistas como hipóteses a serem
testadas. Os pensamentos não são tidos a priori
como distorcidos ou imprecisos (Alford e Beck,
1997). Antes, a precisão e o valor funcional dos
pensamentos são avaliados por meio de um processo empírico no qual crianças e terapeutas atuam como detetives, examinando várias pistas
(Kendall e cols., 1992).
Dattilio e Padesky (1990, p.5) escrevem
apropriadamente que “é dada ênfase ao aspecto colaborativo da abordagem, na pressuposição de que as pessoas aprendem a mudar seus
pensamentos mais facilmente se a razão para a
mudança vier de seus próprios insights, não do
terapeuta”. A descoberta orientada ajuda as crianças a construir em bases de dados para análise racional. Uma receita adequada de descober-
ta orientada tem muitos ingredientes diferentes, como empatia, questionamento socrático,
experiências comportamentais e tarefa de casa.
Como uma receita, os ingredientes particulares
irão variar de uma criança para outra, dependendo de o que a terapia planeja “cozinhar.”
O processo de descoberta orientada é planejado para questionar a exatidão das crenças
do cliente (A. T. Beck e cols., 1979; Padesky,
1988). Em vez de coagir a criança a pensar o que
está pensando, o terapeuta emprega a descoberta orientada para encorajá-la a criar explicações
mais adaptativas e funcionais para si mesma,
mas a simplicidade e a retidão desse princípio
são enganadoras. De fato, quando refletimos
sobre as próprias experiências de treinamento,
lembramos que promover descoberta orientada foi uma das lições mais difíceis de aprender.
A ânsia do terapeuta em fornecer uma resposta
ou uma nova interpretação para a criança ou
adolescente é compreensível, muitas vezes queremos dizer “Deixe-me dizer-lhe o que pensar”.
A descoberta orientada requer mais paciência e
questionamento habilidoso da parte do terapeuta, permitindo que crianças e adolescentes
construam novas avaliações para si mesmos. Em
nossa experiência, permanecer fiel à descoberta orientada permite-nos ficar sensivelmente em
harmonia com o mundo interior das crianças.
A descoberta orientada e o empirismo
colaborativo estimulam uma atmosfera de
curiosidade compartilhada entre o terapeuta e
a criança (Padesky e Greenberger, 1995). O
terapeuta é interessado, curioso e ávido para
aprender mais sobre os paradigmas pessoais da
criança (A. T. Beck e cols., 1979). Mantendo-se
em uma postura de curiosidade, os terapeutas
modelam e promovem o pensamento flexível,
que leva a examinar o problema de muitos ângulos. A fim de ver cada ponto da experiência
de uma criança, freqüentemente vira-se o problema do avesso para alcançar uma perspectiva diferente. Para nós, terapeutas, esse é um dos
aspectos mais excitantes da terapia cognitiva.
Falando francamente, isso mantém o trabalho
renovado. Por exemplo, uma criança estava re-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
lutante em mostrar a seus pais alguns dos trabalhos que havia feito na terapia. Inicialmente
achamos que estivesse envergonhada do que
pensava ou sentia ou que estivesse preocupada
com a reação dos pais. Quando lhe perguntamos sobre isto, sua resposta nos surpreendeu:
“Esta é a minha hora especial. É uma coisa que
eu quero manter apenas para mim”.
Consideremos o seguinte exemplo. Uma
aluna afro-americana de 14 anos superdotada
foi mudada de uma escola com alunos predominantemente afro-americanos para uma com
um grupo de alunos predominantemente branco. Antes da mudança, não tinha sintomas e estava agindo em um nível extremamente alto (representante de turma, atleta destacada). Após
alguns meses na nova escola, desenvolveu vários sintomas de ansiedade e depressão. Embora houvesse algumas cognições esperadas associadas a seus sintomas (p. ex., “Eu não estou
tirando notas boas, eu estou decepcionando minha família. Nada vai funcionar”.), esses pensamentos não estavam diretamente ligados ao
problema mais premente. Esta jovem percebeu
a rejeição dos alunos brancos devido à sua etnia,
bem como a rejeição de alguns outros afro-americanos devido à sua capacidade acadêmica.
Através do empirismo colaborativo e da descoberta orientada, a jovem finalmente admitiu
seus verdadeiros pensamentos: “Eu estou sozinha. Não me ajusto em lugar algum. As crianças negras acham que estou agindo como branca, e as brancas não querem nada comigo. Eu
acho que elas têm medo de mim”. Mediante tais
métodos, as experiências subjetivas centrais que
se chocam com a humanidade da menina são
identificadas e elaboradas.
CONTINUUM DE COLABORAÇÃO
E DESCOBERTA ORIENTADA
O empirismo colaborativo e a descoberta
orientada não são constructos de tudo-ou-nada.
A Figura 3.1 representa o continuum de descoberta orientada e de colaboração. No decorrer
41
do tratamento, os clínicos ajustam o nível de
colaboração e de descoberta orientada. Em alguns casos os terapeutas são altamente colaborativos (com crianças de acuidade mais baixa,
altamente motivadas, autônomas), enquanto em
outras circunstâncias eles podem empregar um
nível mais baixo de colaboração (com crianças
de acuidade mais alta, motivação mais baixa,
mais passivas). Quando os terapeutas ficam
frustrados, muitas vezes escorregam para um
papel autoritário, em vez de manterem uma atitude colaborativa autorizada. Nesses casos, o
relacionamento terapêutico se torna mais
antagonizado e disputas e discussões afastam
o terapeuta de uma posição de defesa. Concordar irracionalmente com os clientes ou recusarse a desafiá-los não leva a terapia para a frente.
Ambas as atitudes forçam os terapeutas a reduzir cada vez mais as opções clínicas.
O estágio na terapia é uma consideração importante para determinar o nível de colaboração
e de descoberta orientada. No início do tratamento, geralmente assumimos um papel mais ativo
no processo. A maioria das crianças e adolescentes ainda não conhece as regras, os papéis, as responsabilidades e as expectativas da terapia. As
famílias nos vêem como autoridades e, de forma
natural, comportam-se mais passivamente diante
do tratamento. Conseqüentemente, a socialização ao tratamento descrita no Capítulo 5 requer
que os terapeutas assumam posições relativamente mais diretivas. Logo a seguir, após as
crianças e suas famílias conhecerem mais sobre
a estrutura da terapia cognitiva, o terapeuta deveria promover uma maior colaboração. Nestes
casos, as crianças e suas famílias estarão dirigindo seu próprio tratamento.
A natureza da descoberta orientada difere
em cada criança. Com algumas crianças (mais
velhas, psicologicamente dispostas, com habilidades em auto-instrução), a descoberta orientada é pontuada por exploração e análise racional iniciadas por ela mesma. Tomemos o caso
de Amy, uma menina deprimida de 14 anos, que
adaptou-se à análise racional como um peixe à
água. Ela via facilmente associações entre pen-
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←
Baixa
colaboração
Baixa
descoberta
orientada
→
Início do tratamento
Mais tarde no tratamento
Alta acuidade
Crianças menores
Baixa motivação
Baixa acuidade
Crianças mais velhas
Alta motivação
Crianças passivas, dependentes
Crianças autônomas, ativas
Menos reativas a controle
Altamente reativas a controle
Têm mais aderência a prescrições culturais com relação a
obediência a autoridade
Têm menos aderência a prescrições culturais com relação a
obediência a autoridade
Questionamento visto como
inaceitável por sua cultura
Questionamento visto como
aceitável por sua cultura
Baixa tolerância a ambigüidade
Alta tolerância a ambigüidade
Baixa tolerância a frustração
Alta tolerância a frustração
Alta impulsividade
Baixa impulsividade
Alta
colaboração
Alta
descoberta
orientada
FIGURA 3.1 Continuum de empirismo colaborativo e de descoberta orientada.
samentos e sentimentos, compreendia seus pensamentos automáticos e era capaz de rapidamente construir pensamentos alternativos. Entretanto, outros clientes (crianças menores, clientes impulsivos, crianças com baixa tolerância à
ambigüidade) necessitam de métodos mais autoinstrutivos e de autocontrole. Elise era uma mártir emocional de 8 anos de idade que achava que
parar e pensar era uma algo estranho. Sua crença, como o lema da Nike, era “Apenas faça”. Ela
precisava muito de estrutura e tinha problemas
para compreender seus pensamentos e seus sentimentos. Portanto, no seu caso, começamos com
instrumentos mais auto-instrutivos.
A natureza dos problemas apresentados também dita o nível de colaboração e de descoberta
orientada. Em situações de crise, altamente agudas, como possível tentativa de suicídio, intenção de ferir outra pessoa e abuso contínuo da
criança, os terapeutas têm que literalmente tomar conta da situação. Seria ideal que crianças
suicidas trabalhassem com o terapeuta para reduzir seu sofrimento, entretanto, com crianças
severamente desesperadas e suicidas, romper a
confidência unilateralmente ou hospitalizá-las
é às vezes a melhor opção (p. ex., “Estou preocupado com sua segurança. Já que você não
pode comprometer-se a ficar em segurança e
tomar conta de si mesmo, terei que ajudá-lo a
ficar controlado e fora de perigo.”). Situações
de crise altamente agudas geralmente não se
prestam a altos níveis de colaboração.
A capacidade do desenvolvimento também
influencia o grau de colaboração e de descoberta orientada. Crianças menores têm intervalos
de atenção mais curtos, menos tolerância para
ambigüidade e são mais concretas em seus processos de raciocínio. Além disso, em geral, são
mais impulsivas e menos auto-reflexivas que
adolescentes mais velhos. Conseqüentemente,
com crianças mais velhas, contamos mais com
a extremidade colaborativa do continuum.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Em nossa experiência, apontar o nível de
colaboração e de descoberta orientada é difícil,
erros de superestimativa e subestimativa das capacidades das crianças são comuns. A seguinte
troca reflete a ênfase excessiva na descoberta orientada com Sônia, uma criança de 9 anos.
SÔNIA: Eu fico aborrecida quando meu pai faz
aquelas caras quando eu lhe conto sobre
a escola.
TERAPEUTA: O que essas caras significam para
você?
SÔNIA: Eu não sei.
TERAPEUTA: O que passa na sua cabeça em
relação a essas caras?
SÔNIA: Que ele não gosta de mim.
TERAPEUTA: O que lhe dá esta certeza?
SÔNIA: Sua cara.
TERAPEUTA: O que na cara dele?
SÔNIA: As sobrancelhas franzidas.
TERAPEUTA: O que significam as sobrancelhas
franzidas?
SÔNIA: Eu não sei.
Neste exemplo, a terapeuta está inconscientemente sobrecarregando a capacidade de desenvolvimento da criança, pois suas perguntas
são muito abstratas e esgotam os recursos de
Sônia. Perguntas mais específicas, concretas teriam sido mais úteis.
A idade também influencia o nível de colaboração e de descoberta orientada esperado. Em
geral, a maioria dos adolescentes obviamente
terá uma maior capacidade de colaboração e de
análise racional do que alunos de primeira série. Quando crianças menores tornam-se mais
familiarizadas com os processos e com a direção do tratamento, o terapeuta pode aumentar
o nível de colaboração.
A motivação da criança, da mesma forma,
molda o empirismo colaborativo e a descoberta
orientada. Crianças altamente esquivas e desmotivadas geralmente reagirão fortemente
quando acharem que estão sendo controladas.
Abordagens prescritivas e excessivamente
diretivas com crianças resistentes podem encontrar obstáculos compreensíveis. Quando se abor-
43
da uma criança resistente muito vigorosamente,
é provável que se retraia. Contudo, quando se
encontra uma forma de convidá-la para a aventura colaborativa, ela se envolve mais. A seguinte transcrição ilustra uma atitude potencialmente útil com uma criança ostensivamente desmotivada chamada Cláudia.
CLÁUDIA: Eu estou apenas lhe dizendo, não
estou falando.
TERAPEUTA: Entendo. Diga-me o que está fazendo você não querer falar.
CLÁUDIA: (Em silêncio e com olhar mal-humorado.)
TERAPEUTA: Bem, estes podem ser 50 minutos muito longos.
CLÁUDIA: (Careta de desagrado.)
TERAPEUTA: Você realmente parece mais interessada em brigar comigo do que em trabalhar comigo. Estou tentando imaginar
uma forma de podermos trabalhar juntos.
O que lhe parece?
CLÁUDIA: (Olhar fixo.)
TERAPEUTA: (Pára por alguns momentos.) Bem,
estou um pouco confusa sobre o que fazer. Devemos parar agora?
CLÁUDIA: (Sorri e dá de ombros.)
TERAPEUTA: (Sorri.) Eu vou tomar isto como
“Não tenho certeza” ou “Não me importo”.
CLÁUDIA: (Dá de ombros novamente.)
TERAPEUTA: (Pára). Eu acho que precisamos
desenvolver isso um pouco mais.
CLÁUDIA: (Suspira e revira os olhos.)
TERAPEUTA: Vou considerar isso como significando que você está chateada. Menina,
isso é difícil. Você está mesmo me fazendo trabalhar. Como eu cheguei tão longe?
CLÁUDIA: (Encolhe os ombros.)
TERAPEUTA: Precisamos de uma outra pista.
Você estaria disposta a simplesmente me
dizer “Sim” ou “Não”?
CLÁUDIA: (Encolhe os ombros.)
TERAPEUTA: Certo, você não tem certeza. E se
você me desse algum sinal? Como se você
pensasse “Sim”, poderia balançar a cabeça assim e se pensasse “Não”, você poderia virar sua cabeça para os lados. Você
está disposta a fazer isto?
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
CLÁUDIA: (Encolhe os ombros e olha fixamente.)
TERAPEUTA: Não tem certeza, eu suponho.
Deveríamos acrescentar uma outra sessão
por semana?
CLÁUDIA: (Vira a cabeça vigorosamente de um lado
para outro.)
TERAPEUTA: Bem, isto foi claro. Que sinal deveríamos usar se você quiser que eu pare
de falar?
CLÁUDIA: (Pára, sorri, levanta o dedo médio para
cima.)
TERAPEUTA: Vou me lembrar deste. Certo.
Então temos um sinal de “Não me importo”, um de “Não”, um de “Sim”, e um de
“Estou lhe aborrecendo”. Do que mais nós
precisamos?
Finalmente, a menina começou a usar os
sinais de mão de maneira regular, posteriormente chegando a verbalizar seus pensamentos e
sentimentos. Esta troca ilustra a forma trabalhosa, embora produtiva, como a colaboração facilita a motivação. Evidentemente, nesse estágio,
o terapeuta assumiu mais responsabilidade pela
direção da sessão. Solicitando a colaboração da
criança, afastou-se de uma abordagem direta, à
medida que o envolvimento da criança na terapia aumentava. O terapeuta não censurou ou
culpou Cláudia por sua evitação, pelo contrário, manteve uma atitude curiosa e desenvolveu uma estratégia de resolução de problema
que respeitou a evitação da criança ainda que
direcionando-a gentilmente a uma maior expressividade.
Os estilos interpessoais de cada criança têm
um impacto sobre o empirismo colaborativo e
sobre a descoberta orientada. Algumas crianças
comportam-se mais passivamente que outras e
caracteristicamente contam com outros para orientação e apoio. Oscar, de 15 anos, era tímido
calado e tinha medo de parecer muito exigente
ou controlador. Ele olhava para o terapeuta em
busca de orientação e constantemente procurava sinais de como estava indo. Outras crianças
são mais auto-orientadas e podem agir de forma mais autônoma. Ricky, de 12 anos, vivia para
“comandar” e dispendia muita energia marcan-
do seu território. O terapeuta responsivo a estas tendências individualiza o tratamento e necessariamente modifica o empirismo colaborativo e a descoberta orientada. Por exemplo, a
cooperação de uma criança mais passiva será
difícil no começo. Será necessário, portanto, estabelecer a colaboração como um objetivo e dispor de passos graduais. Deve-se trabalhar com
a timidez, a reticência e o retraimento desta criança, moldando gentilmente a atitude colaborativa de acordo. A seguinte transcrição ilustra a
forma como se poderia trabalhar com uma criança que não está acostumada a colaborar.
TERAPEUTA: Sobre o que você gostaria de falar e brincar hoje?
MIA: Não sei. Você decide.
TERAPEUTA: Decidir sobre o que brincar pode
parecer um pouco arriscado. O que faz
você querer que eu assuma o comando?
MIA: Você sabe o que fazer.
TERAPEUTA: Entendo. Você acha que poderia
saber quais as coisas importantes que existem dentro de você?
MIA: Sim.
TERAPEUTA: Como seria se trabalhássemos
juntos, como uma equipe, para imaginar
coisas para ajudá-la?
MIA: Seria bom, eu acho.
TERAPEUTA: A coisa que poderíamos fazer
como companheiros seria que se você me
visse fugindo do assunto você poderia me
dizer...
MIA: E se eu fugisse do assunto você poderia
me dizer.
TERAPEUTA: Exatamente.
Esta transcrição expande diversos pontos
fundamentais. Primeiro, o terapeuta usa uma
abordagem tranqüila para empurrar a criança, inicialmente relutante, na direção de uma maior colaboração. Segundo, pelo questionamento sistemático do terapeuta, a criança alcança uma nova
perspectiva sobre o processo terapêutico. Mia
mudou de uma posição enfatizando total confiança na orientação do terapeuta para uma posição em que ambos formaram uma equipe. Tercei-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
ro, o terapeuta trabalhou diligentemente para dar
poderes à criança durante todo o processo.
Outras crianças podem ser especialmente
sensíveis a questões de controle, rejeitando a
idéia de qualquer pessoa dando-lhes orientação.
Os adolescentes freqüentemente reagirão com
veemência a ameaças, percebidas ou reais, à sua
autonomia. Por isso, a colaboração é fundamental para reduzir o antagonismo e a resistência.
Muitas vezes, o processo de colaboração e de
descoberta orientada envolve “acompanhar” a
evitação das crianças, em vez de combatê-la. A
seguinte troca ilustra o processo com Edgar, de
15 anos de idade.
EDGAR: Isto é chato. Eu odeio fazer estes jogos
e exercícios idiotas.
TERAPEUTA: O que é chato nestas coisas?
EDGAR: Tudo. Eu odeio vir aqui. Você faz perguntas muito idiotas.
TERAPEUTA: Posso ver que você está irritado
comigo e com muitas das coisas que fazemos aqui.
EDGAR: Eu não estou irritado, apenas entediado.
TERAPEUTA: Entendo. Você parecia irritado
comigo. O que, nestes exercícios, o faz sentir-se tão mal?
EDGAR: Estou cheio desses exercícios.
TERAPEUTA: É difícil para você falar sobre o
que você sente?
EDGAR: Muito difícil. Eu não gosto dessa coisa
toda. Me faz mal falar sobre o que sinto.
TERAPEUTA: Acho que entendo agora. Estes
exercícios fazem você sentir-se mal porque eles fazem você pensar sobre seus problemas.
Inicialmente, Edgar era inexpressivo e desligado. Ele atacou e culpou a terapia. O terapeuta
empatizou com seu desconforto e alinhou-se com
sua evitação. À medida que o terapeuta unia-se
colaborativamente a ele em sua luta para expressar e tolerar os sentimentos negativos associados a seu trabalho escolar, a resistência de Edgar
diminuiu. Mediante o processo de descoberta
orientada, o jovem aprendeu a verbalizar seus
pensamentos e seus sentimentos.
45
Os fatores culturais estabelecem parâmetros
amplos para o empirismo colaborativo e para a
descoberta orientada. Por exemplo, Rotheram e
Phinney (1986), conforme citado por Canino e
Spurlock (2000), delinearam interdependência
versus dependência, realização ativa versus aceitação passiva, autoritarismo versus igualitarismo e comunicação expressiva/pessoal versus reprimida/formal/impessoal como dimensões
notáveis relevantes à psicoterapia infantil. A forma como as crianças e suas famílias entram na
aventura colaborativa é mediada por seu contexto cultural. Por exemplo, algumas famílias
podem considerar os terapeutas como autoridades máximas, e a sua formação cultural pode
exigir respeito. Estas famílias estão simplesmente interagindo de uma maneira determinada
pela cultura. Nestes casos, os terapeutas devem
ajustar suas expectativas por colaboração a fim
de que sejam culturalmente responsivas.
As famílias também têm estilos de comunicação prescritos pela cultura. Algumas podem
ser mais reprimidas e formais, por exemplo, e
podem preferir chamar o terapeuta de “Sr.”,
“Sra.” ou “Dr.” e, por sua vez, esperam a retribuição da cortesia. Se o terapeuta involuntariamente chama o pai por seu primeiro nome,
pode-se comprometer o relacionamento colaborativo. A melhor abordagem é simplesmente
perguntar respeitosamente ao cliente como gostaria de ser tratado. Além disso, o terapeuta
pode perguntar aos pais: “Como vocês preferem me chamar?”.
Clientes de cultura de minoria podem ver
a linguagem diferentemente de indivíduos da
cultura dominante (Johnson, 1993). Algumas
perguntas que pareceriam normais a alguém da
cultura dominante podem ser consideradas rudes a pessoas de culturas nativo-americanas e
ásio-americanas (Johnson, 1993; SommersFlannaghan e Sommers-Flannaghan, 1995). Portanto, o componente de questionamento
socrático pode precisar ser adaptado para adequar-se às necessidades destes clientes. As perguntas talvez tenham de ser colocadas de forma menos invasiva, mais indireta, em algumas
circunstâncias. Além disso, em certas culturas,
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
silêncio e falta de contato visual podem ser vistos como um sinal de respeito, não como sinal
de evitação ou resistência. É importante lembrar, ainda, que a linguagem também influencia a colaboração.
CONCLUSÃO
O empirismo colaborativo e a descoberta
orientada valorizam as características particulares que cada criança traz para a terapia. Se
aprender a fazer terapia cognitiva com crianças
puder ser comparado com um livro infantil de
colorir, as técnicas representam o contorno do
desenho. O empirismo colaborativo e a descoberta orientada representam a cor que cada
terapeuta acrescenta ao contorno-padrão. Como
em uma grande caixa de lápis de cor, há muitas
nuanças de empirismo colaborativo e de descoberta orientada.
Neste capítulo, apresentamos um continuum de colaboração e de descoberta orienta-
da. Em seu trabalho com crianças, você terá que
decidir por onde começar e como avaliar o nível de colaboração em cada fase do tratamento
neste continuum. A acuidade da criança e a gravidade de seus problemas, sua capacidade de
desenvolvimento, seu contexto cultural e seu estilo pessoal orientarão a decisão do terapeuta.
O empirismo colaborativo e a descoberta orientada são imanentes a toda ação e decisão clínica. A estrutura da sessão, a identificação do problema, a introdução ao modelo de tratamento,
a identificação de sentimentos e de pensamentos, as intervenções cognitivo-comportamentais
tradicionais e as modificações criativas de técnicas, tudo isso requer um entendimento de
empirismo colaborativo e de descoberta orientada. Em resumo, agora que você sabe sobre
empirismo colaborativo e sobre descoberta orientada, está pronto para aprofundar-se em processos e técnicas específicos. Lembre-se, sempre é possível voltar a este capítulo quando a
terapia parecer fora do curso e você quiser renovar suas intervenções.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Estrutura da Sessão
Você pode fazer malabarismos? Malabarismo é uma metáfora adequada para o que precisamos fazer quando adotamos uma estrutura
de sessão, marca registrada da terapia cognitiva.
A estrutura da sessão inclui seis componentes
centrais: o registro do humor, a revisão da tarefa de casa, o estabelecimento da agenda, o conteúdo da sessão, a atribuição da tarefa de casa e
a evocação de feedback do cliente. Como as bolas que os malabaristas lançam e pegam em sua
incrível exibição de equilíbrio, esses componentes clínicos devem ser mantidos em movimento
durante a terapia. Cada componente separado
deve ser criteriosamente considerado a fim de
que o momento terapêutico seja mantido. Você
precisa ser cuidadoso para não deixar cair uma
bola!
Como terapeuta cognitivo, você sempre
terá essas seis bolas em suas mãos. Entretanto,
a forma como equilibrar os componentes irá
variar de uma criança para outra. Às vezes, você
será capaz de fazer malabarismos mais rápidos
do que em outras. Pode ainda variar o padrão
de sua manobra. À medida que você se tornar
mais apto com cada componente e em sua capacidade de equilibrá-los, desenvolverá flexibilidade e criatividade na estrutura de sua sessão. Neste capítulo, explicaremos a estruturação
da sessão, discutiremos por que ela é importante e ofereceremos formas específicas para imple-
47
4
mentar a estrutura da sessão com crianças e adolescentes.
O que queremos dizer com “estrutura da
sessão”? A estrutura da sessão é um modelo geral para conduzir a psicoterapia cognitiva, em
que os componentes são as “coisas que você faz”
na sessão. Embora sua estrutura envolva uma
ordem lógica de passos seqüenciais, ela está longe de ser um processo de marcha cadenciada.
Quando aplicada com flexibilidade, a estrutura
da sessão evolui para uma abordagem clínica
moldada individualmente.
Os seis componentes característicos da estrutura de sessão de terapia cognitiva são interrelacionados e formam uma abordagem de tratamento coerente. As sessões começam com um
registro do humor, seguido pela revisão da tarefa de casa. O terapeuta e o cliente, então, estabelecem juntos a agenda. Com base nesta, surge o conteúdo da sessão. As atribuições da tarefa de casa surgem oportunamente do conteúdo
da sessão. Finalmente, as percepções do cliente
sobre a sessão são evocadas na fase de feedback.
Por que a estrutura da sessão é tão importante? Porque nos fornece orientação, foco e
substância na terapia. A estrutura da sessão ajuda crianças e terapeutas a enfatizar os problemas que as crianças trazem e estabelece um fluxo organizado de informações. Por exemplo, não
por culpa própria, muitos clientes começam a
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
terapia divagando sem objetivo sobre múltiplos
eventos ou circunstâncias em suas vidas. Eles
simplesmente não sabem como organizar e lidar com as experiências interiores. A estrutura
da sessão ensina-lhes uma forma de esclarecer
suas experiências, freqüentemente caóticas e
confusas, ou seja, promove o autocontrole e a
auto-regulação.
A estrutura da sessão freqüentemente dá à
criança uma sensação de previsibilidade e, conseqüentemente, pode sentir-se “mais segura” no tratamento; muitos clientes sentem-se mais à vontade sabendo o que esperar da terapia (J. S. Beck,
1995). A estrutura da sessão tem uma função de
“contenção” para as crianças, fornecendo-lhes um
formato organizado para a expressão e a modulação de seus pensamentos e de seus sentimentos
angustiantes. Freqüentemente os adultos dizem
às crianças o que fazer, e a vida pode parecer muito imprevisível para elas. Aumentar o senso de
controle da criança e diminuir seu senso de
imprevisibilidade pode levar a maior envolvimento e participação no tratamento.
Por exemplo, um menino de 8 anos com
problemas de comportamento é trazido para
terapia por seus pais. Devido a seus comportamentos de exibição (acting out), a maioria de suas
interações com adultos resulta em repreensão,
censuras, críticas e punição. Seus professores e
pais corrigem seu comportamento e lhe dizem
o que fazer (“Pare de correr!”; “Arrume seu
quarto.”). As decisões, mesmo pequenas, raramente são tomadas pelo próprio menino. Embora se possa querer trabalhar com os pais sobre tais questões, a estrutura de sessão também
pode ajudar a criança a perceber que ela tem
algum controle real sobre sua vida, sobre seus
sentimentos e sobre seu tratamento. Ao participar ativamente no estabelecimento da agenda,
nas atribuições da tarefa de casa e fornecendo
feedback, o menino sente-se com poder para tomar decisões relevantes e até fica mais à vontade para revelar e examinar seus pensamentos e
sentimentos. A previsibilidade e o controle percebido da sessão de terapia cognitiva também
podem levar a menos testagem de limites. A estrutura aumenta a confiança que a criança tem
no terapeuta, promove a construção de rapport
e, portanto, facilita o relacionamento terapêutico
e os processos de mudança específicos.
REGISTRO DO HUMOR
OU DO SINTOMA
A primeira bola que você coloca em movimento é o registro do humor ou do sintoma (J. S.
Beck, 1995). O registro serve a diversos propósitos. Primeiro, fornece ao terapeuta informações
preliminares sobre emoções e sintomas atuais da
criança e lhe dá uma chance de verificar sua “temperatura psicológica”. Segundo, o registro do
humor força a criança a refletir sobre seu próprio estado de humor e sobre seus comportamentos, fazendo-a identificar sentimentos e classificálo em uma escala (p. ex., sentimento: tristeza; classificação: 8). O registro também inclui recapitular a sessão anterior ou comparar o humor atual
da criança com sua classificação em sessões anteriores. O auto-relato e as observações dos pais
podem ser considerados para identificar mudanças nos sintomas da criança. Entretanto, não recomendamos basear-se apenas no relato dos
pais, porque as crianças podem ser melhores
relatores de seus próprios estados (Achenbach,
McConaughy e Howell, 1987).
A forma de fazer as crianças classificarem
seus humores e sintomas difere de uma para outra. Algumas crianças podem ser encorajadas a
relatar verbalmente seus humores mediante uma
escala de classificação, como uma escala de pontos ou de porcentagem. Com outras, pode-se uma
série de perguntas, como “Como saberemos o
quanto este sentimento é forte?” ou “O que você
gostaria de usar para classificar o quanto o sentimento é forte?” A maioria das crianças necessita
de orientação para identificar o sentimento. Podese ajudá-las dizendo: “Poderíamos avaliá-lo em
uma escala de 1 a 10. Qual deveria ser o mais
forte?”.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Registro do humor com crianças
Dependendo da fluência verbal e da
expressividade, podem ser usados meios inventivos de relatar seus sentimentos. Muitas das
crianças com as quais temos trabalhado acham
mais fácil desenhar um rosto mostrando como
se sentem, conforme ilustrado no Capítulo 6
(p.81). As crianças, então, continuam fazendo
desenhos semanalmente, o que lhes permite
acompanhar suas alterações de humor. Descobrimos que elas se tornam bastante envolvidas
nessa tarefa simples de automonitoração. Estes
métodos deveriam ser incorporados às habilidades do terapeuta em modelar a expressão
emocional.
O seguinte diálogo mostra como usar um
relato verbal durante um registro de humor para
reunir informações sobre o estado de humor de
uma criança.
TERAPEUTA: Eu fico imaginando como você
tem se sentido desde que nos encontramos
semana passada. Por que você não desenha um rosto de como está se sentindo
para mostrar seu humor?
SERENA: Tudo bem. (Desenha o rosto de sentimento.)
TERAPEUTA: Vejo que o rosto de como está se
sentindo que você desenhou tem as sobrancelhas franzidas e lágrimas escorrendo pela face. É uma expressão de tristeza,
alegria, raiva ou medo?
SERENA: Tristeza.
TERAPEUTA: Então você está se sentindo triste. Que rosto você desenhou semana passada?
SERENA: Aquele estava triste também. (Pega o
desenho antigo.)
TERAPEUTA: E como sabemos o quanto o sentimento era forte?
SERENA: Pelo tamanho do desenho. Semana
passada eu estava muito triste, por isso
ele foi grande assim. (Desenha um círculo
que cobre a página inteira.)
TERAPEUTA: E esta semana?
49
SERENA: Eu estou um pouco menos triste, por
isso ele é apenas deste tamanho (Desenha
um círculo que cobre três quartos da página.)
TERAPEUTA: Lembra que falamos sobre como
os mesmos sentimentos podem ser fortes,
fracos ou intermediários, como os círculos? O que faz ele ser menos triste hoje?
SERENA: Bem, minha mãe não me magoou tanto esta semana, e eu não chorei na escola.
TERAPEUTA: Então você percebeu várias mudanças. O que você acha que demonstra
sua mudança?
O registro do humor fornece informações
valiosas sobre os sintomas de Serena na última
semana. As habilidades na identificação do sentimento e sua ligação com sintomas fisiológicos
e comportamentais também são reforçadas na
troca (“Bem, minha mãe não me magoou muito
esta semana, e eu não chorei na escola.”). Comparando a intensidade dos sentimentos da criança de uma semana para outra, o terapeuta pode
acompanhar a mudança ou a ausência desta.
Com isso, identifica os antecedentes de estados
de sentimento, influências situacionais ou
ambientais e acompanha as cognições.
Ao sintonizarem-se com as próprias emoções, as crianças começam a distinguir diferentes estados de humor. Muitas crianças começam a terapia sendo capazes de dizer apenas
que estão se sentindo “bem” ou “mal”. Com o
tempo, o registro do humor lhes dá uma oportunidade de aprender a expressar diferentes
nuanças de seus sentimentos e a desenvolver
um vocabulário emocional mais amplo, por
exemplo, que elas estão se sentindo “solitárias”, “tristes”, “envergonhadas” ou “com
raiva”. O registro do humor também promove
a monitoração da intensidade dos sentimentos.
Várias escalas, como uma escala de 10 ou de
100 pontos, podem ser usadas. Além disso, um
termômetro ou sinal de trânsito poderia ser
usado como escala. Aprendendo a diferenciar
vários estados de sentimento e a classificar sua
intensidade, as crianças aprendem a “sintonizar” sua expressão emocional.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Os registros de humor permitem avaliar o
alívio do sintoma. O conteúdo da sessão e os
focos de tratamento subseqüentes deveriam ser
orientados por mudanças no humor e nos sintomas. Por exemplo, imagine que seu cliente,
Isaac, vem experimentando uma diminuição
contínua de sintomas depressivos e um aumento no humor positivo. Pelo registro do humor,
você sente que o humor de Isaac piorou subitamente. A seguinte transcrição ilustra como se
pode usar o registro do humor para monitorar
o progresso de Isaac.
TERAPEUTA: Como foi sua semana?
ISAAC: Eu me sinto pior hoje. Na verdade, mais
deprimido do que na semana passada.
TERAPEUTA: Semana passada você disse que
classificaria sua depressão com um 5.
ISAAC: É, e eu me sentia bem até ontem. Nos últimos dois dias, ela estava mais para um 8.
TERAPEUTA: Então você percebeu uma mudança ontem. Quando exatamente esta
mudança ocorreu?
ISAAC: Bem, eu acho que foi lá pela hora do
almoço. Eu ouvi alguns meninos falando
sobre ir ao parque no sábado. Eu fiquei
chateado porque eu sei que ninguém vai
me convidar para ir junto.
TERAPEUTA: Então a situação foi que alguns
meninos estavam falando nos seus planos
para sábado. Você pensou “Ninguém vai
me convidar para ir junto” e percebeu que
seus sentimentos depressivos aumentaram. Como você se sentiu fisicamente?
ISAAC: Muido cansado.
As perguntas do terapeuta ajudam Isaac a
focalizar-se na identificação da situação que levou à mudança de humor. Mediante esse processo, o modelo cognitivo é reforçado pelo
terapeuta, o que ajuda Issac a fazer associações
entre os vários componentes do modelo cognitivo (fisiologia, humor, comportamento, cognição e interpessoal). Os estados de humor são
identificados, as cognições, os comportamentos
e as reações fisiológicas que acompanham as
emoções são discutidos e, então, o trabalho de
identificação de distorções cognitivas, de ligações entre cognições e estados de humor e de
solução do problema pode começar.
Usar medidas de auto-relato, como o CDI
(Kovacs, 1992), o RCMAS (Reynolds e Richmond,
1985) e o MASC (Março de 1997) para monitorar
o estado emocional de crianças é uma prática clínica comum. Por uma variedade de razões, muitas crianças acham os itens de endosso em uma
escala de auto-relato mais fáceis do que expressar esses sentimentos verbalmente. Primeiro, os
itens são fornecidos a elas em uma medida de
auto-relato. Portanto, elas não têm que acessar
estas experiências por si só. Segundo, marcar ou
circular itens em uma lista é uma tarefa mais fácil do que traduzir suas experiências interiores
em palavras. Terceiro, preencher uma listagem
proporciona às crianças uma distância psicológica um pouco maior de suas experiências emocionais do que partilhar diretamente estes sentimentos com uma figura de autoridade adulta,
fazer isso é uma tarefa gradual para identificar e
discutir sentimentos. Além disso, os instrumentos de auto-relato fornecem uma medida mais
objetiva para acompanhar o progresso na redução do sintoma no decorrer do tratamento.
Registro do humor com adolescentes
De maneira geral, os adolescentes estão
melhor equipados para identificar seus sentimentos do que as crianças menores, mas alguns
deles podem não ser tão conhecedores do processo. Portanto, ao completar o registro do humor, você não deve supor que os clientes adolescentes têm um entendimento claro de seus
diferentes estados de humor. Dependendo do
sexo, da formação cultural, das interações familiares e do seu temperamento, os valores e as
expectativas com relação à discussão de sentimentos podem variar enormemente. A seguinte transcrição ilustra o registro do humor com
uma menina de 15 anos.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Como você se sentiu semana passada?
TINA: (Encolhendo os ombros.) Não muito bem.
TERAPEUTA: Você pode descrever este “não
muito bem” um pouco mais?
TINA: Eu apenas me senti mal.
TERAPEUTA: Parece que você teve uma semana difícil. Quando você estava se sentindo mal, era mais raiva, tristeza ou medo?
TINA: Era tristeza – eu estava realmente triste.
TERAPEUTA: Como você sabia que era tristeza e não raiva ou medo?
TINA: Bem, eu chorei muito e tudo saiu errado.
TERAPEUTA: Se você tivesse que classificar sua
tristeza, o quanto você se sentiu triste?
TINA: A maior parte do tempo era um 8 de 10.
Essa transcrição ilustra como o terapeuta
ajudou Tina a distinguir entre diferentes estados afetivos negativos (“Como você sabia que
era tristeza e não raiva ou medo?”). Alguns adolescentes têm muita capacidade para identificar seus sentimentos, mas outros precisam de
alguma orientação. É trabalho do terapeuta orientar o adolescente na identificação do humor
sem ser excessivamente diretivo. O terapeuta na
transcrição acima deu a Tina opções para escolher e permitiu que ela descrevesse seus sentimentos (“Você pode descrever este “não muito
bem” um pouco mais?... Era mais raiva, mais
tristeza ou mais medo?”). Uma vez identificado o sentimento, Tina foi capaz de classificá-lo
usando a própria escala para comunicar a gravidade de sua tristeza.
Muitas crianças agrupam todo afeto negativo sob um rótulo “ruim”. Diferenciar os vários
estados afetivos negativos é útil para preparar
o terreno para a posterior identificação de
cognições acompanhantes. As respostas afetivas
tornam-se mais proeminentes e são descritas,
identificadas e avaliadas pela intensidade. Se
você trabalha com um adolescente com dificuldade em identificar sentimentos, pode colocar
aquele tópico na agenda e passar mais tempo
construindo suas habilidades na identificação
de sentimentos.
51
REVISÃO DA TAREFA DE CASA
A segunda bola a ser arremessada em cada
sessão é a revisão da tarefa de casa. Você examina se a criança completou a atribuição, o conteúdo da atribuição e a reação da criança à tarefa.
As respostas e as reações ao processo e ao conteúdo de atribuições terapêuticas fornecem uma
visão rápida de seu mundo interior. Revisar a
tarefa de casa sublinha a importância das atribuições e seu papel no processo de tratamento
em dois níveis. As atribuições da tarefa de casa
permitem que a criança pratique habilidades importantes para diminuir sintomas e melhorar o
humor. Além disso, o processo de revisão transmite o interesse da criança em seus sentimentos, seus pensamentos e suas reações em relação
à tarefa.
A revisão da tarefa de casa comunica a
mensagem do terapeuta de que tal atividade é
central no tratamento e reforça o empenho do
cliente (A. T. Beck e cols., 1979; J. S. Beck, 1995;
Burns, 1989). Discutindo as especificidades de
tarefas atribuídas anteriormente e processando
a experiência da criança de completar a atribuição, os terapeutas enfatizam o valor do trabalho. Acima de tudo, incorporar as tarefas de casa
no tratamento, gastar um tempo toda semana
discutindo-as e integrar as habilidades já aprendidas em outras sessões demonstra que as tarefas estão sendo valorizadas. A seguinte transcrição mostra um exemplo de como revisar a
tarefa de casa.
TERAPEUTA: Vejo que você trouxe de volta seu
programa de atividade esta semana.
NICK: É. Eu planejei ver um filme com um amigo e joguei basquete uma vez esta semana, conforme conversamos.
TERAPEUTA: Como foi completar sua tarefa de
casa durante a semana?
NICK: Foi um pouco difícil no começo. Eu realmente não estava com vontade de fazer.
Mas então eu decidi que tentaria e veria
se ela ajudaria a me sentir melhor.
TERAPEUTA: O que passou na sua cabeça em
relação a fazer a tarefa de casa?
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
NICK: Eu pensei que estava muito cansado e
que não conseguiria.
TERAPEUTA: O que o fez decidir fazê-la, apesar de tudo?
NICK: Bem, eu pensei que tínhamos conversado sobre isto, e que eu deveria tentar experimentar para ver se funcionava ou não.
TERAPEUTA: O que você percebeu em relação
a como você se sentia antes de fazer as atividades?
NICK: Nas duas vezes, eu classifiquei minha
tristeza como um 7. Eu não estava com
vontade de fazer nada.
TERAPEUTA: E logo depois da atividade?
NICK: Depois do cinema, ela era um 3. Realmente me diverti, e o filme era mesmo engraçado. Depois do basquete, eu me senti
como um 5. Não foi tão divertido quanto
o cinema, mas acho que me ajudou.
TERAPEUTA: O que você deduz das mudanças em seu humor?
NICK: Meus sentimentos mudaram quando eu
fiz coisas, então talvez a experiência tenha
funcionado.
Nessa troca, o terapeuta e Nick não apenas revisaram o conteúdo da tarefa de casa mas
também discutiram o processo de realização da
atribuição. Primeiro, a referência aos sentimentos e aos pensamentos de Nick sobre a atribuição foi reveladora (“Eu pensei que estava muito cansado e que não conseguiria.”). Segundo,
o terapeuta testou as crenças de Nick sobre se
seus sentimentos mudariam com a atividade.
Terceiro, usou delicadamente o questionamento
socrático para orientar o diálogo.
Revisão da tarefa de casa com crianças
A revisão da tarefa de casa com crianças
pequenas é um desafio. Devido ao seu nível de
desenvolvimento, crianças menores usam processos de pensamento mais concretos. A revisão da tarefa de casa traduz os princípios
terapêuticos, muitas vezes abstratos, em práticas concretas. Crianças menores têm intervalos
de atenção mais curtos que as mais velhas, por-
tanto tentamos revisar a tarefa de casa de uma
maneira divertida. Finalmente, a revisão oferece mais oportunidades para a prática de habilidades; maior prática aumenta a aquisição de
habilidades e de lembranças. A seguinte troca
resumida mostra como revisar uma atribuição
de tarefa com uma criança pequena.
TERAPEUTA: Vejo que você fez seus desenhos
esta semana. Que ótimo ter trazido seu trabalho para a sessão. Que rosto você gostaria de mostrar primeiro?
DOUG: Raiva.
TERAPEUTA: Oh, vamos ver este rosto de raiva. Faça uma cara de raiva com seu rosto
agora.
DOUG: (Faz uma cara de raiva e ri.)
TERAPEUTA: Uau, que cara de raiva! Como
você pode dizer quando seu rosto parece
de raiva?
Este exemplo demonstra como você pode
envolver crianças na revisão, em vez de simplesmente verificar a realização da tarefa. O
terapeuta foi muito divertido e interativo (“Uau,
que cara de raiva!”). Além disso, o fato de Doug
ter realizado a tarefa foi reforçado (“Que ótimo
você ter trazido seu trabalho para a sessão.”). A
maneira alegre e divertida provavelmente tornou a tarefa memorável para Doug.
Particularmente para crianças com problemas na escola ou para realizar a tarefa da escola, o termo “tarefa de casa” pode ter uma
conotação negativa. Outros títulos criativos podem ser usados, como “projetos semanais” ou
“exercícios de ajuda”. Criar um novo nome para
as tarefas pode evitar uma associação negativa
entre atribuições terapêuticas e trabalho escolar. Kendall e colaboradores (1992) referem-se
inteligentemente à tarefa de casa como exercícios “Mostro Que Eu Posso” (STIC). Portanto, em
vez de dizer “Esta é uma tarefa de casa”, você
pode encorajar as crianças a “mostrar que podem” através da realização de várias tarefas.
Além disso, você pode discutir com a criança a
diferença entre a tarefa da escola e a da terapia.
A tarefa da terapia não tem respostas certas ou
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
erradas. É uma chance para a criança identificar pensamentos e sentimentos e fazer coisas
para ajudá-la a sentir-se melhor.
Revisão da tarefa de casa
com adolescentes
Adolescentes gostam de testar os limites
de sua autonomia. Sua falta de aderência, a
evitação e a resistência à tarefa de casa podem
refletir sua rebeldia e seu desejo de independência naturais. Ao mesmo tempo, adolescentes são
muito experimentais. Descobrimos que, oferecendo técnicas como hipóteses experimentais
em vez de exigências, evitamos assumir o papel de uma autoridade, que diz ao adolescente
o que fazer; pelo contrário, deixamos que aprenda pela experiência quais intervenções funcionam melhor para ele. Experiências comportamentais podem ser usadas para testar a
efetividade das intervenções. Não se deve assumir uma posição contrária ao adolescente; antes, pode-se colaborar com ele para determinar
se a tarefa de casa vale a pena. O seguinte exemplo retrata uma abordagem da revisão da lição
de casa.
TERAPEUTA: Vejo que você trouxe sua tarefa
de casa esta semana.
MARCUS: É, terminei todos os três registros de
pensamento.
TERAPEUTA: Que ótimo você ter lembrado de
completar os registros de pensamento.
Como foi fazer esta tarefa?
MARCUS: Eu gostei mais desta do que daquela
da semana passada em que eu apenas escrevi como me sentia. Esta pareceu ajudar
mais porque pude imaginar a causa de me
sentir mal prestando atenção ao que estava passando na minha cabeça quando eu
me sentia assim.
TERAPEUTA: Então você acha que valeria mais
a pena usar esta novamente?
MARCUS: Sim, embora eu odeie ter que escrever coisas, isto realmente pareceu ajudar.
53
O terapeuta incluiu Marcus na avaliação
da efetividade da atribuição (“Como foi fazer a
tarefa?”) em vez de determinar-lhe futuras atribuições. Portanto, Marcus envolve-se em comparar objetivamente diferentes atribuições e escolher o que funciona melhor para ele (“Esta pareceu ajudar mais porque pude imaginar a causa de me sentir mal prestando atenção ao que
estava passando na minha cabeça quando eu me
sentia assim.”). Finalmente, o terapeuta inclui
Marcus na decisão de continuar fazendo a tarefa de casa (“Então você acha que valeria a pena
usar esta novamente?”).
ESTABELECIMENTO DA AGENDA
O estabelecimento da agenda, um terceiro
componente importante da estrutura da sessão,
prepara o terreno para o trabalho terapêutico e
dá direção a ele (Freeman e Dattilio, 1992;
Friedberg, 1995). Juntamente com a evocação de
feedback, o estabelecimento da agenda é considerado fundamental para o sucesso terapêutico
(Burns, 1989). O estabelecimento da agenda requer
a identificação de itens ou tópicos a serem tratados durante a sessão. O processo envolve a
listagem dos itens e a determinação do tempo
aproximado a ser gasto em cada item; assim, os
mais importantes são priorizados. Os itens específicos da agenda podem variar, dependendo do estágio da terapia, do progresso do cliente, de seu problemas mais prementes, da gravidade dos sintomas e de itens da sessão anterior
(A. T. Beck e cols., 1979). A colaboração recíproca é fundamental no estabelecimento da agenda. Se o terapeuta e a criança não estiverem trabalhando colaborativamente, é menos provável
que ocorra progresso.
O estabelecimento da agenda é uma tarefa desconhecida para crianças e adolescentes,
portanto, explicar-lhes o processo é uma estratégia terapêutica adequada (J. S. Beck, 1995). Tipicamente, iniciamos um diálogo socrático com
a criança para discutir as vantagens e as des-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
vantagens associadas ao processo. Então desenvolvemos as idéias explicando o racional por
trás do estabelecimento da agenda. Além disso,
modelamos o processo para a criança apresentando resumidamente os itens da agenda. Por
exemplo, um adolescente pode responder à indagação do terapeuta com relação a itens adicionais da agenda com uma descrição de um problema que ocorreu após a última sessão.
TERAPEUTA: O que você gostaria de acrescentar à agenda para ter certeza de que discutiremos hoje?
ELIZABETH: Eu me envolvi em uma briga feia
com a minha mãe. Ela não queria me deixar sair com minhas amigas. Ela é tão idiota – todo mundo ia. Eu fiquei muito furiosa. Então ela me deixou de castigo sem
razão porque disse que eu estava respondendo para ela.
TERAPEUTA: Então você gostaria de discutir a
briga com sua mãe?
ELIZABETH: É, ela é muito irracional. Ela estava gritando comigo primeiro, e então fiquei de castigo.
TERAPEUTA: Vejo que você está realmente
aborrecida e gostaria realmente de falar
sobre o que aconteceu. Isso é uma coisa
que você gostaria de colocar primeiro em
nossa agenda?
ELIZABETH: Claro.
TERAPEUTA: Certo. Por que você não escreve
isso como o primeiro item da agenda?
Este exemplo demonstra como se pode
aproveitar a oportunidade para ensinar e modelar para a criança como transformar uma descrição extensa em um item de agenda. Além disso, escrever itens na agenda pode ajudar a manter a sessão focalizada. Freqüentemente, as crianças mudarão os tópicos quando se tornarem
emocionalmente excitadas em uma tentativa de
evitar a excitação e diminuir a angústia. Através do apoio na agenda, você pode gentilmente
fazer a criança voltar ao tema evitado.
Recomendamos que você use as dificuldades das crianças ao estabelecer os itens de
agenda. Por exemplo, o terapeuta pode elaborar sugestivamente as dificuldades das crianças ao estabelecer a agenda. As seguintes perguntas-chave podem orientar o processamento
das dificuldades das crianças ao estabelecer
uma agenda:
• Quais os prós e os contras de estabelecer
uma agenda?
• O que se ganha estabelecendo uma agenda?
• O que se ganha não estabelecendo uma
agenda?
• O que se perde estabelecendo uma agenda?
• O que se perde não estabelecendo uma
agenda?
• O que significa estabelecer uma agenda?
• Qual o perigo de estabelecer uma agenda?
Estabelecimento da
agenda com crianças
As crianças estão acostumadas a que pais
e professores imponham-lhes objetivos. O estabelecimento da agenda permite que as crianças
tragam seus próprios problemas para a discussão. Raramente usamos o termo “estabelecimento de agenda” com crianças pequenas. Antes,
perguntamos-lhes “sobre o que exatamente vamos conversar hoje?”. Achamos que incluir de
um a três itens é um objetivo realista para crianças pequenas. Se a criança tem dificuldade em
manter os itens sucintos, você pode pedir que
ela diga sobre o que quer falar, como se estivesse dizendo o nome de um filme, de um livro ou
de um programa de televisão. A seguinte transcrição ilustra o processo.
TERAPEUTA: O que você gostaria de colocar
na sua lista para falar hoje?
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
MILO: Eu estou com raiva do meu irmão. Ele é
um grande bobalhão e sempre me coloca
em problemas. Na noite passada tirou
meu jogo e então eu tentei pegá-lo de volta. Ele se queixou para a mamãe, e eu não
pude jogar a noite inteira.
TERAPEUTA: Uau, eu posso ver que você está
irritado. Quando você estava dizendo isso
a sua voz ficou mais alta e seus olhos ficaram enormes. Certo, porque não colocamos isso em nossa lista para conversar
hoje? Que título curto podemos usar para
escrever isto em nossa lista?
MILO: Acho que podíamos chamar de “Injustiça”, porque não foi justo eu ter sido castigado.
Esta troca ilustra como o terapeuta extraiu
da criança um tema para a agenda (“O que você
gostaria de colocar em nossa lista para falar
hoje?”). Embora respeitando seu relato, o
terapeuta conduziu Milo a identificar sucintamente o problema (“Que título curto podemos
usar para escrever isto em nossa lista?”). Além
disso, o terapeuta transmitiu empatia e respeito pela experiência de Milo, portanto, suas preocupações foram tratadas, ele se sentiu compreendido, e o estabelecimento da agenda impulsionou o momento terapêutico.
Estabelecimento da
agenda com adolescentes
Adolescentes são particularmente sensíveis a controle ou coerção. Entretanto, envolvendo o adolescente no processo de estabelecimento da agenda, o terapeuta tem uma oportunidade de ajudá-lo a perceber que tem um papel ativo no tratamento. O estabelecimento da agenda dá ao adolescente um senso de controle que,
por sua vez, pode estimular seu maior envolvimento na terapia. Por exemplo, pode-se perguntar: “Nós já falamos sobre porque seus pais o
trouxeram aqui, mas estou interessado em ouvir as coisas que você tem vontade de conversar. O que gostaria de melhorar ou mudar?”. O
55
adolescente pode identificar uma variedade de
questões – incluindo querer terminar o tratamento. Você e o adolescente podem trabalhar
identificando subobjetivos claramente definidos, como reduzir as brigas com os irmãos, assim os pais não ficarão aborrecidos. Dessa forma, estarão trabalhando juntos em um item comum da agenda (p. ex., terminar o tratamento).
O estabelecimento da agenda também é
difícil para adolescentes porque eles freqüentemente têm tantos temas sobre os quais desejam
falar que não podem decidir por onde começar.
Achamos útil uma pergunta como “Se pudéssemos falar apenas sobre uma coisa hoje, qual
você desejaria que fosse?”. Ensinar adolescentes a identificar as áreas que eles mais desejam
trabalhar também aumenta a satisfação com o
tratamento (p. ex., “Quais as coisas mais importantes sobre o que você quer falar? O que as torna importantes?”). Adolescentes têm maior probabilidade de ficarem motivados quando estão
trabalhando com objetivos que eles próprios
identificaram.
O estabelecimento da agenda pode ser difícil para adolescentes que resistentem à estrutura e gostam de testar limites. Quando o adolescente está testando os limites do terapeuta,
manter uma estrutura de sessão consistente é
muito importante. Se o adolescente vê que você
não é consistente em manter a estrutura da sessão, pode começar a duvidar de seu comprometimento com outras áreas do tratamento. A
consistência serve para refrear as crianças e
contrasta com o caos que pode caracterizar outros aspectos de suas vidas. Estabelecer fronteiras firmes e impor limites passa a mensagem de que você vai continuar até o fim e encoraja a confiança.
TERAPEUTA: O que você gostaria de colocar
na agenda para conversar hoje?
MELISSA: Você me perguntou isso da última
vez. Desta vez, você decide.
TERAPEUTA: Bem, estou mais interessado em
falar sobre as coisas que são importantes
para você.
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56
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
MELISSA: Então você é a entendida. Você me
diz sobre o que é importante conversar.
TERAPEUTA: Na verdade, Melissa, você é a
entendida sobre você. É sua escolha se vamos conversar sobre as coisas que são importantes para você e que a incomodam.
Se você escolher fazermos isso juntos, então juntos talvez possamos imaginar formas de ajudar a tornar as coisas mais fáceis para você.
MELISSA: Tá, certo! Como vamos fazer isto?
TERAPEUTA: Bem, primeiro precisamos definir quais as coisas para as quais você quer
mais ajuda hoje.
MELISSA: Meu maior problema esta semana é
que meus pais estão sempre me dizendo
o que fazer.
TERAPEUTA: Certo. Por que você não coloca
isso em nossa agenda? Que outros problemas deveríamos conversar hoje e tentar
resolver?
Melissa pode ter percebido uma perda de
controle em sua vida e tentado recuperar o controle recusando-se a colaborar com o terapeuta
no estabelecimento da agenda. Adolescentes
estão geralmente divididos entre querer afirmar
independência e a insegurança sobre como lidar com ela. Aqui, por exemplo, Melissa pode
não ter tido consciência de como escolher melhor os itens para a agenda. Ao mesmo tempo,
a ansiedade pode ter-lhe impedido de admitir
sua insegurança e, portanto, levado a uma atitude de oposição. Lembrando Melissa do objetivo de estabelecer uma agenda e guiando-a
através do processo, o terapeuta ajudou no estabelecimento da agenda ao mesmo tempo em
que mantinha o foco sobre questões importantes, permitiu ainda que Melissa permanecesse
no controle, a fim de não desafiar sua independência (“É sua escolha se vamos falar sobre as
coisas que são importantes para você e que a
incomodam.”).
CONTEÚDO DA SESSÃO
Os itens específicos da agenda são tratados
durante a parte de conteúdo da sessão. O conteúdo terapêutico é processado usando-se uma
variedade de técnicas como empatia, questionamento socrático, resolução de problemas e experiência comportamental. Os objetivos do conteúdo da sessão incluem manter e construir um
bom entrosamento, reforçar o modelo cognitivo,
resolver problemas, tratar de objetivos da terapia, identificar pensamentos automáticos e proporcionar alívio do sintoma (J. S. Beck, 1995).
Neste momento da sessão, o clínico pode usar
perguntas para ajudar o cliente a dirigir sua atenção a uma determinada área, gerar métodos de
resolução de problemas, avaliar o funcionamento e o manejo do cliente e evocar pensamentos e
sentimentos específicos (A. T. Beck e cols., 1979).
Equilibrar conteúdo, processo e estrutura é
ainda outro elemento importante na terapia
cognitiva com crianças (Friedberg, 1995). A estrutura terapêutica abrange as tarefas inseridas na
terapia, como diários de pensamento, jogos, atribuições, etc. O conteúdo terapêutico é produzido
pela estrutura. Consiste de pensamentos, sentimentos e comportamentos evocados pelos vários procedimentos terapêuticos. Por exemplo, um
diário de pensamento (ou registro de pensamento) é uma forma de estrutura terapêutica, enquanto os pensamentos, os sentimentos e os eventos
registrados no diário de pensamento são o conteúdo terapêutico. (Alguns terapeutas preferem
o termo “diário de pensamento”, outros, “registro de pensamento”. Neste livro, usaremos ambos os termos.) Processo terapêutico designa a forma como a criança completa tarefas, responde a
perguntas e/ou resolve problemas na terapia.
Você descobrirá que algumas crianças completarão diligentemente um registro de pensamento e
darão respostas emocionalmente honestas, outras o farão corriqueiramente, com material emocionalmente insignificante, outras ainda simples-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
mente se recusarão a fazer a tarefa. Cada resposta reflete um processo psicológico individual.
Como conseqüência, embora a estrutura da tarefa permaneça a mesma, o conteúdo e o processo
variam conforme cada criança. Dar atenção e negociar questões de estrutura, conteúdo e processo na terapia é uma forma de o terapeuta valorizar cada criança.
Conteúdo da sessão com crianças
A escolha de palavras e do tamanho da frase pode ter um impacto significativo sobre o entendimento de crianças pequenas (p. ex., “Sua
raiva está realmente aumentando”), portanto,
uma linguagem adequada ao desenvolvimento,
incluindo palavras e frases curtas e simples, deveria ser escolhida para a comunicação. Crianças pequenas têm dificuldade em prestar atenção a várias tarefas ao mesmo tempo; assim, habilidades e instruções precisam ser dadas individualmente, com oportunidade de verificar o
entendimento e a prática no intervalo.
O conteúdo da sessão também é influenciado pelo nível de motivação. Crianças menos
motivadas são mais relutantes em envolveremse nas atividades da sessão. Tornando as tarefas
mais atraentes e encorajando a cooperação, o
terapeuta aumenta a motivação. Você pode aplicar habilidades com apresentações criativas para
captar o interesse das crianças. Uma forma de
aumentar a responsividade de uma criança é ser
um terapeuta animado e envolvido, usando acessórios, histórias, desenhos coloridos e atividades
manuais para aumentar a atratividade das tarefas terapêuticas. A seguinte transcrição mostra
como um terapeuta poderia motivar uma criança.
JENNIFER: Eu não quero conversar hoje. Tudo
o que fazemos sempre é falar e preencher
formulários! Isso é tão chato. Eu não vou
fazer nada hoje!
TERAPEUTA: Eu planejei um jogo para hoje.
Eu até trouxe alguns prêmios novos para
dar se você ganhar o jogo.
JENNIFER: Provavelmente é um truque e, provavelmente, chato.
57
TERAPEUTA: Eu não sei se vai ser chato para
você, mas só há um jeito de descobrir. Você
gostaria de aprender o jogo e tentar ganhar um prêmio?
JENNIFER: O que vamos fazer?
TERAPEUTA: Vê estas cartas? Elas estão em
branco de um lado e têm perguntas do
outro. Elas perguntam sobre coisas de que
você gosta e não gosta, seus sentimentos
e outras questões. Vamos espalhá-las pelo
chão com as perguntas viradas para baixo para não podermos vê-las.
JENNIFER: Posso ajudar a espalhá-las?
TERAPEUTA: Agora você lança esta ficha e tenta acertar uma carta. Se ela parar sobre
uma carta, pegue e leia a pergunta. Se você
responder à pergunta, ganha uma ficha.
Se você errar a carta e a ficha cair no chão,
então é minha vez. Pronta?
Jennifer inicialmente estava desmotivada
a participar da sessão. Com certeza não teria respondido às atividades ou à construção de habilidades que envolvessem muita conversa ou escrita. Entretanto, o terapeuta ofereceu uma maneira criativa de identificar pensamentos e sentimentos, apresentando a habilidade mediante
um jogo interativo. Ele prendeu o interesse de
Jennifer sem exigir que ela participasse nem
garantir que iria gostar do jogo (“Eu não sei se
vai ser chato para você, mas só há um jeito de
descobrir. Você gostaria de aprender o jogo e
tentar ganhar um prêmio?”). Mais tarde, se
Jennifer gostasse de algum aspecto do jogo, o
terapeuta deveria aproveitar a oportunidade
para ilustrar como “achismos” às vezes podem
ser errados (“Provavelmente é um truque e, provavelmente, chato.”).
Conteúdo da sessão com adolescentes
A criatividade e a flexibilidade permitem
que o terapeuta negocie efetivamente o conteúdo da sessão com adolescentes. Incorporar interesses dos adolescentes ao conteúdo da sessão geralmente aumenta a motivação. Por exemplo, se um adolescente gosta de escrever, pode
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
adorar a idéia de criar um jornal para registrar
emoções. Dar ao adolescente algum senso de
controle ou de escolha no tratamento é particularmente importante. Ajudando o adolescente
a reconhecer o controle e as escolhas disponíveis, o terapeuta aumenta sua sensação e sua
motivação.
TERAPEUTA: Você disse que o item da agenda
sobre o qual você queria conversar primeiro era um problema que está tendo com
sua irmã.
KELSEY: Sim. Ela é dois anos mais nova que
eu, mas está sempre tentando ficar junto
quando estou com minhas amigas, e isso
é tão irritante. Ela é uma criança, e nós
estamos tentando conversar sobre coisas
pessoais. Eu não consigo fazer com que
ela nos deixe em paz. Eu já tentei de tudo,
e não há mais nada a fazer.
TERAPEUTA: Às vezes ajuda criar uma lista de
todas as coisas possíveis que você poderia fazer, e então decidir que idéias vale a
pena tentar.
KELSEY: Você quer dizer escrevê-las?
TERAPEUTA: Como isso poderia ajudar?
KELSEY: Bem, eu acho que se eu escrevesse quando ela começar a me incomodar eu poderia achar alguma coisa na lista para tentar.
Eu sei – eu vou escrever na minha agenda
então eu sempre vou ter a lista comigo.
TERAPEUTA: Então, que coisas você já tentou
para resolver esse problema?
Neste exemplo, o conteúdo da sessão começa com o problema que Kelsey identificou
como o mais importante nesta sessão. O terapeuta usa o problema de Kelsey para ensinar
estratégias de resolução de problemas, mantendo, dessa forma, o conteúdo significativo e, portanto, mais proeminente para ela. Além disso, a
tarefa é individualizada ao problema de Kelsey,
de modo que a habilidade é aplicada a uma situação que considera significativa. Finalmente,
Kelsey individualiza a tarefa, optando por registrar as respostas em sua agenda pessoal.
Enquanto discute o conteúdo da sessão,
você pode convidar o adolescente a tomar notas, praticar habilidades e registrar as tarefas de
casa para ajudar na generalização das habilidades (J. S. Beck, 1995). Pode-se fazer o adolescente colocar essas informações em uma agenda
com seu time de futebol ou com seu ator favorito na capa, aumentando o interesse do adolescente na atividade e a aderência à tarefa, pois a
agenda não será estigmatizada. Além disso, canetas especiais poderiam ser compradas e usadas durante as atribuições.
TAREFA DE CASA
A importância de atribuir tarefa de casa é
descrita com detalhes no Capítulo 10. O que é
importante observar aqui é que a tarefa de casa
ocupa um lugar central em cada sessão e resulta do conteúdo da sessão. Você pode querer tornar a atribuição significativa e aumentar a motivação da criança para continuar a terapia. O
seguinte breve exemplo mostra como designar
a tarefa de casa a um adolescente desmotivado.
JOEY: Eu não quero fazer essa tarefa de casa
chata!
TERAPEUTA: Eu estou confuso. Você disse um
minuto atrás que queria ajuda para aprender a não se preocupar tanto. Agora você
está dizendo que não quer tentar o que
estivemos conversando?
JOEY: Isso nunca vai funcionar. Estes registros
são chatos e eu não quero fazê-los.
TERAPEUTA: Esta atribuição pode ou não ajudar você a se preocupar menos – eu não
sei. Por que não fazemos uma experiência
para ver como o preenchimento do registro e a prática da habilidade afeta seus
pensamentos e seus sentimentos de preocupação?
JOEY: De jeito nenhum! Eu não quero mais fazer esses registros insuportáveis.
TERAPEUTA: O que poderia acontecer se você
tentasse fazer?
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
JOEY: Eu já disse, não vai funcionar. Então eu
terei feito o trabalho estúpido sem nenhuma razão. Isso vai apenas provar que sou
um caso perdido.
TERAPEUTA: O que você acha que faríamos se
descobríssemos que isso não ajuda com
seus sentimentos de preocupação?
JOEY: Nada.
TERAPEUTA: Você se lembra de quando lhe disse que as atribuições eram um tipo de experiência?
JOEY: (Concorda com a cabeça.)
TERAPEUTA: Bem, se a experiência nos mostrar que esta habilidade não ajuda você a
se preocupar menos, qual você acha que
será nosso próximo plano?
JOEY: Tentar outra experiência?
TERAPEUTA: É isso aí! Vamos continuar tentando coisas novas até encontrarmos uma
forma de ajudar você a se preocupar menos. Vai ser preciso algum trabalho da sua
parte, então você está disposto a tentar?
JOEY: Acho que não vai me fazer mal.
Joey inicialmente recusou-se a completar
uma atribuição de tarefa de casa (“Eu não quero fazer essa tarefa de casa chata!”). Em vez de
discutir, o terapeuta aproveitou o momento para
processar sua resistência e revelar distorções
cognitivas, levando a uma atribuição e a uma
realização da tarefa de casa mais bem-sucedidas. A resistência de Joey derivava de suas preocupações e da crença de que a falha na tarefa
de casa significaria que ele era um caso perdido. O terapeuta usou o questionamento socrático para desenvolver um plano com Joey se a
tarefa de casa não ajudasse (“Bem, se a experiência nos mostrar que esta habilidade não ajuda
você a se preocupar menos, qual você acha que
será nosso próximo plano?”).
EVOCANDO FEEDBACK
O componente final da estrutura da sessão,
a evocação de feedback, representa uma construção de relacionamento e de estratégias terapêu-
59
ticas significativas na terapia cognitiva com crianças. No mínimo, você deveria evocar feedback
no final de cada sessão. Você também pode pedir no início e durante toda a sessão (A. T. Beck e
cols., 1979; J. S. Beck, 1995). Pergunta-se à criança o que foi útil, inútil ou aborrecido em relação
à sessão e ao terapeuta. No início da sessão, poderiam ser feitas as seguintes perguntas:
• O que passou na sua cabeça sobre a sessão da semana passada?
• Que pensamentos e sentimentos sobre a
sessão da semana passada você gostaria
de compartilhar comigo?
• Que coisas sobre a última sessão foram
deixadas de lado?
• Como foi para você a sessão da semana
passada?
• De que coisas você gostou na última sessão?
• De que coisas você não gostou?
A evocação de feedback também ocorre no
final de cada sessão. Você deveria reservar aproximadamente 10 a 12 minutos para feedback no
final da sessão, fazendo perguntas como as seguintes:
• O que foi útil em nosso trabalho de hoje?
• O que não foi útil em nosso trabalho de
hoje?
• O que foi divertido?
• O que não foi divertido?
• O que fiz hoje que incomodou você?
• O que fizemos hoje que não pareceu certo para você?
Evocando feedback, evita-se que as percepções errôneas, as insatisfações ou as distorções
do cliente em relação ao tratamento, ao terapeuta ou ao relacionamento continuem ocorrendo
e impedindo o progresso.
Algumas crianças relutam em dar feedbacks,
pois temem desapontar ou aborrecer o terapeuta,
outras podem ser excessivamente obedientes e
submissas. Algumas crianças podem ser influenciadas por restrições culturais que as inibem de
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
dar feedback. Outras ainda podem ser passivas e
contidas. Independente das crenças e das motivações individuais por trás da relutância em dar
feedback, tais dificuldades deveriam ser exploradas.
O feedback é evocado de várias formas, mas
sugerimos uma abordagem direta: peça claramente que a criança reflita sobre o processo
terapêutico. Entretanto, dar feedback a autoridades adultas é uma tarefa desconhecida e perturbadora para a maioria das crianças. Se houver constrangimento, o terapeuta deve trabalhar
junto com a criança para resolver a dificuldade.
O diálogo a seguir mostra como processar o
feedback.
TERAPEUTA: O que foi útil em relação ao nosso trabalho de hoje?
JAMES: Eu acho que foi bom apenas ser capaz
de falar sobre o que está acontecendo e não
ter que ouvir ninguém me dizendo o que
fazer.
TERAPEUTA: Então você achou útil ser capaz
de expressar seus pensamentos e sentimentos hoje?
JAMES: É.
TERAPEUTA: Bem, realmente fico feliz que você
tenha compartilhado seus sentimentos e
pensamentos. É preciso muita coragem. O
que não foi útil ou foi chato na sessão de
hoje?
JAMES: Não consigo pensar em nada. Tudo foi
legal.
TERAPEUTA: Você acha que poderia me dizer
se houvesse alguma coisa?
JAMES: (Hesita.) Eu não sei. Talvez.
TERAPEUTA: Se eu tivesse feito alguma coisa
que realmente lhe incomodasse e você me
dissesse, o que poderia acontecer?
JAMES: Você poderia ficar com raiva de mim e
não gostar mais de mim.
O que este diálogo ensina? Primeiro, o
terapeuta aproveitou a oportunidade para reforçar os esforços de James na sessão (“Eu realmente fico feliz que você tenha compartilhado
seus sentimentos e pensamentos. É preciso mui-
ta coragem.”). Em seguida, revelou os pensamentos automáticos da criança embutidos em
sua relutância em fornecer feedback negativo (“Se
eu tivesse feito alguma coisa que realmente lhe
incomodasse e você me dissesse, o que poderia
acontecer?”). Identificando o pensamento automático, o terapeuta e o adolescente podem agora trabalhar em colaboração para testar a exatidão do pensamento.
O feedback também ajuda a corrigir percepções errôneas e, portanto, solidificar a aliança
terapêutica (J. S. Beck, 1995). Essas correções são
importantes porque os terapeutas são muitas
vezes mal-interpretados por clientes (A. T. Beck
e cols., 1979). Além disso, se o feedback for consistentemente evocado e considerado com respeito, reações honestas da criança serão reforçadas; insatisfações que não foram expressas,
que podem sabotar a terapia, serão evitadas.
A evocação de feedback pode ser um desafio para os terapeutas. Inicialmente, eu (JMM)
enfrentei dificuldades com este componente da
sessão, por várias razões. Primeiro, às vezes,
quando duvidava de minhas próprias habilidades, temia que o feedback negativo apenas validasse meus medos de que estava fazendo alguma coisa errada. Segundo, não tinha certeza sobre o que fazer com o feedback recebido. E se fosse alguma coisa que eu não pudesse mudar?
Como eu deveria reagir ao feedback, fosse negativo ou positivo? Como equilibrar a validação
da percepção e da experiência da criança com a
contestação de quaisquer distorções cognitivas
embutidas em seu feedback? Para enfrentar esses medos, achava que precisava fazer o que eu
dizia para as crianças fazerem: reunir dados e
testar meus medos. Fiz uma lista das respostas
mais desafiadoras que eu poderia pensar que
um cliente pudesse dar para evocar feedback e
das várias formas de lidar com elas. Logo percebi que eu podia facilmente incorporar o
feedback da criança na sessão. Além disso, alguns
feedbacks evidentemente contribuiriam para a
conceitualização, então comecei a pedi-los às
crianças. Descobri que me sentia mais preparada para evocar e processar feedback com os clientes. Conseqüentemente, consegui extrair das
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
crianças algumas crenças e reações muito significativas que de outro modo poderiam ter passado despercebidas. Portanto, alguns problemas
foram rapidamente identificados e resolvidos
através da evocação de feedback.
Evocando feedback com crianças
As crianças podem ficar inseguras sobre
como você reagirá ao feedback, portanto, é importante a simplificação do processo para elas.
Quando uma criança não lhe dá um feedback negativo, pergunte: “Se houvesse alguma coisa
que o incomodasse, você me contaria? Como
você acha que eu reagiria?”. Para criar maior conforto em relação ao feedback, os terapeutas podem
demonstrar que cometem erros e não respondem
negativamente a eles. Por exemplo, em uma sessão de grupo eu (JMM) esqueci de trazer um
furador de papel duas sessões seguidas. Nós
precisávamos do furador para as crianças furarem suas folhas de registros e colocarem-nas
em suas agendas. Na segunda vez que esqueci, comentei: “Esta é a segunda vez que esqueço o furador! Que coisa! Eu não sei o que vou
fazer da próxima vez para não me esquecer”.
As crianças do grupo geraram diversas idéias
(colocá-lo junto com os outros materiais para
o grupo, escrever um bilhete para mim mesma, pedir ao meu supervisor para me lembrar).
Eu então me tornei a situação para ajudá-las a
generalizar suas estratégias de solução de problemas para suas próprias vidas: “Que tipo de
coisas vocês esquecem às vezes? Estas idéias
ajudariam algum de vocês a lembrar coisas em
suas próprias vidas?”. Isso não apenas demonstrou uma forma adaptativa para lidar com
um erro, formas que eles também poderiam
usar para lidar com seus erros, mas também
forneceu-lhes um modelo de que eu não me
sentia constrangida em reconhecer erros e não
reagia negativamente a isso.
Várias crenças contribuem para a relutância das crianças em dar feedback. Crianças pequenas podem acreditar que dar feedback é desrespeitoso. Elas podem temer a rejeição ou a repreensão por dar feedback a uma figura de auto-
61
ridade. Outras crianças podem acreditar que ferirão os sentimentos do terapeuta se compartilharem um feedback negativo. Um breve exemplo ilustra como se pode tratar a relutância de
uma criança e identificar as crenças ligadas à
sua hesitação em fornecer feedback.
TERAPEUTA: O que você gostou em relação ao
nosso trabalho hoje?
KIMBERLY: Eu gostei dos fantoches. O fantoche da tartaruga é o meu favorito!
TERAPEUTA: Os fantoches são divertidos! O
que você não gostou em relação ao nosso
trabalho hoje?
KIMBERLY: Eu gostei de tudo.
TERAPEUTA: O que lhe incomodou hoje?
KIMBERLY: Nada – eu gostei de tudo.
TERAPEUTA: Se alguma coisa a tivesse incomodado, você seria capaz de me dizer?
KIMBERLY: Ummm. Sim.
TERAPEUTA: Você não parece muito segura.
Qual seria o problema de você me dizer
que alguma coisa a incomodou?
KIMBERLY: Você poderia se sentir mal.
TERAPEUTA: E então o que poderia acontecer?
KIMBERLY: Você não iria mais gostar de mim.
O que podemos aprender com este exemplo? Primeiro, o terapeuta identificou partes da
sessão que Kimberly achou agradáveis. Segundo, sondou a relutância de Kimberly em dar
feedback e identificou as crenças que sustentavam
aquela relutância. Terceiro, revelando estes medos ocultos, o terapeuta preparou o terreno para
testar as expectativas negativas da menina.
Evocando feedback com adolescentes
Como as crianças menores, os adolescentes também temem as conseqüências de dar
feedback negativo. Eles podem ter medo de meterem-se em apuros ou de serem rejeitados. Para
ajudar a aliviar essas preocupações, o terapeuta
pode perguntar: “Se você me dissesse que eu
fiz alguma coisa que tivesse aborrecido ou incomodado você, como você prevê que eu reagiria? O que eu poderia dizer ou fazer?”. Abordar
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
o feedback desta maneira pode servir para revelar crenças que estão interferindo no fornecimento de feedback. Por exemplo, adolescentes podem
prever rejeição, temer ofender o terapeuta, e/
ou acreditar que serão punidos por dizer alguma coisa negativa. Ao mesmo tempo, são
freqüentemente mais capazes de verbalizar a
causa de sua hesitação em dar feedback e, portanto, a fonte de seu desconforto pode ser mais
facilmente revelada com uma conversa.
Além disso, alguns adolescentes podem
aproveitar o feedback como uma oportunidade
de provocar o terapeuta psicologicamente. Por
exemplo, um adolescente pode responder com
um comentário como “Tudo é uma droga. Você
é o pior terapeuta que existe”. Nestes casos, é
particularmente importante considerar a formulação de caso. Por exemplo, a resposta ao feedback
poderia refletir uma testagem crucial do
terapeuta para determinar se pode lidar com os
problemas do adolescente, o qual ainda pode
estar resistente ao tratamento por ter sido obrigado a fazer terapia pelos pais ou pelos professores. Portanto, descobrir o valor funcional da
ofensa ao terapeuta é importante. Isso esclarecerá pensamentos ou crenças incorretos, que podem exigir tratamento na sessão. O feedback do
adolescente poderia ser discutido e a estratégia
de solução de problema poderia realizar mudanças específicas no tratamento, se apropriado.
CONCLUSÃO
Fazer malabarismo e manter cada uma das
seis bolas no ar com habilidade facilita intervenções efetivas e eficientes. Cada componente da
sessão é uma parte integral dela. Embora cada um
seja importante, o processo malabarístico de
implementar a estrutura da sessão também
impulsiona a construção de habilidade. Ser flexível na aplicação da estrutura da sessão permite
adaptar efetivamente as sessões para satisfazer as
necessidades de vários clientes, mesmo mantendo seus componentes básicos. Além disso, a colaboração das crianças é aumentada de maneira que
facilita sua participação no tratamento.
Fazer malabarismo com seis bolas ao mesmo tempo pode parecer esmagador a princípio.
Como no malabarismo, quanto mais você praticar a estrutura da sessão, mais fácil ela se tornará. Com a prática, você descobrirá ser capaz de
malabarismos mais rápidos, se necessário, ou
mudar o padrão de seu malabarismo para adequar-se às necessidades de clientes individuais.
Neste capítulo, você aprendeu a associação entre a estrutura da sessão e a terapia cognitiva com
crianças e adolescentes, incluindo sugestões para
implementar cada componente da sessão de terapia cognitiva. É dentro deste contexto que você
aplicará agora algumas das intervenções e técnicas descritas nos capítulos seguintes.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
63
5
Introduzindo o Modelo
de Tratamento e Identificando
Problemas
Educar clientes e pais sobre o modelo de
tratamento é um passo fundamental para
desmistificar a terapia e incentivar uma atitude
colaborativa (A. T. Beck e cols., 1979). Precisamos descrever o tratamento de forma simples,
compreensível e sensível ao desenvolvimento.
Este capítulo sugere vários métodos para apresentar o tratamento a crianças, a adolescentes e
a seus pais.
Crianças, pais e terapeutas necessitam de
algum grau de consenso em relação aos problemas a serem tratados na terapia. O primeiro
passo pode apresentar desafios. Geralmente, os
pais e os professores, ou outros adultos, são os
primeiros a identificar e definir os problemas
da criança. Você precisa conseguir a participação da criança a fim de estabelecer um acordo
genuíno sobre o problema a ser trabalhado.
Prosseguir com o tratamento antes que os problemas sejam cooperativamente definidos provavelmente levará a bloqueios terapêuticos. Por
exemplo, se uma criança não concorda com o
terapeuta sobre seu problema, pode não ficar
motivada no tratamento. Este capítulo também
oferece diversas recomendações para identificar problemas com crianças e adolescentes.
INTRODUZINDO O MODELO DE
TRATAMENTO A CRIANÇAS
Como você apresenta a terapia a crianças
de idade de ensino fundamental de maneira
envolvente e compreensível? Obviamente, as
crianças precisam receber informações concretas simples. Se sentirem que você está fazendo
uma preleção para elas, não lhe ouvirão. Embora isso possa parecer uma tarefa clínica fácil, é
díficil de realizar na prática clínica. Desenvolvemos algumas estratégias, histórias, jogos e
metáforas para minimizar o problema.
Para crianças pequenas, usamos um formato de livro de história ou figuras para ilustrar a associação entre eventos, pensamentos e
sentimentos. O terapeuta faz perguntas para
orientar a narração da história e a criança dá respostas aos estímulos. Freqüentemente, será solicitado que ela desenhe uma figura. O processo começa com o terapeuta desenhando uma figura de uma criança segurando um balão (Figura 5.1). Recomendamos que você combine o
sexo da criança no desenho com o do cliente. O
desenho também inclui uma nuvem de pensamento. No desenho original, a criança está sem
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
expressão, e a nuvem de pensamento está vazia. Você então prossegue com o primeiro estímulo. A seguinte troca ilustra o processo.
TERAPEUTA: Eu vou lhe contar uma história
sobre esta menina, mas primeiro vou precisar de sua ajuda. Hillary, você está disposta a me ajudar?
HILLARY: Sim
TERAPEUTA: Então tudo bem. Que nome deveríamos dar à menina?
HILLARY: Vamos chamá-la de Lina.
TERAPEUTA: Certo. Esta menina chamada Lina
adorava balões. Ela achava que se tivesse
um balão ela seria a menina mais feliz do
mundo. Então um dia sua mãe lhe trouxe
um balão. Aqui está o desenho. Lina pegou o balão. Como você acha que ela se
sentiu?
HILLARY: Muito feliz.
TERAPEUTA: Ela sentiu-se muito feliz. Precisamos encontrar um lugar onde pudéssemos saber o quanto Lina ficou feliz. Você
pode encontrar um lugar neste desenho
para mostrar como Lina ficou feliz?
HILLARY: (Confirma com a cabeça). Sim. Bem
aqui. (Aponta o rosto do desenho.)
TERAPEUTA: Nós não temos nenhuma expressão no rosto de Lina. Que tipo de rosto
deveríamos colocar lá?
HILLARY: Um rosto feliz.
TERAPEUTA: Você desenha um rosto feliz nela.
HILLARY: (Desenha o rosto.)
TERAPEUTA: Ela está se sentindo feliz. Oh, olhe
em cima da cabela dela. Você sabe o que é?
HILLARY: (Confirma com a cabeça.)
TERAPEUTA: É uma nuvem de pensamento.
Você sabe o que vai ali?
HILLARY: As coisas que ela pensa.
TERAPEUTA: Exatamente. Então vamos ver se
juntos podemos imaginar o que Lina está
pensando agora mesmo. Ela está se sentindo feliz porque queria um balão e ganhou um. Agora, o que você acha que está
passando na cabeça dela?
HILLARY: Eu estou feliz, eu tenho um balão.
TERAPEUTA: Então quando Lina sente-se feliz
porque tem um balão, o que isso poderia
dizer sobre ela?
HILLARY: Que ela está realmente feliz.
TERAPEUTA: Vamos colocar isso na nuvem. Vamos ver o que temos até agora. Lina é uma
menina que realmente adora balões. Sua
mãe lhe deu um balão, ela se sente feliz, e
ela pensa que é feliz. Isso faz sentido?
HILLARY: Aham.
A Figura 5.2 mostra os desenhos completos. A transcrição ilustra vários pontos importantes. Primeiro, o terapeuta esforçou-se para
envolver Hillary em todas as partes da história.
Segundo, dividiu os componentes situacional,
cognitivo e emocional da história em termos
simples e concretos. Terceiro, os desenhos e palavras representam indícios sobre a natureza da
terapia. Finalmente, o terapeuta resumiu a história, juntando seus componentes situacional,
cognitivo e emocional.
FIGURA 5.1 Desenho do terapeuta de uma menina segurando um balão.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Eu estou feliz.
Feliz
FIGURA 5.2 Desenho completado na primeira
fase.
Na segunda fase da história, o terapeuta
muda a situação. Ele desenha uma figura semelhante à retratada nas Figuras 5.1 e 5.2. Neste
exercício a criança aprende que pensamentos e
sentimentos mudam em diferentes situações.
TERAPEUTA: Hillary, você quer saber o que
acontece depois?
HILLARY: Aham.
TERAPEUTA: Certo. Bem, Lina está passeando
segurando seu balão e de repente um carro passa e uma pedrinha voa e estoura o
balão. Então o balão de Lina não existe
mais. Lina ainda terá um rosto feliz?
HILLARY: Não.
TERAPEUTA: Exatamente. As coisas mudaram.
Que tipo de rosto terá agora?
HILLARY: Um rosto triste.
TERAPEUTA: Você pode desenhar um rosto
triste nesta figura? Então o balão estourou e Lina está sentindo-se triste. Os pensamentos de Lina serão os mesmos?
HILLARY: Não.
TERAPEUTA: Não teria sentido que ela pensasse
que era feliz se o balão estourou e ela se sen-
65
tia triste. Seus pensamentos e sentimentos
não combinariam com o que aconteceu, então temos que imaginar o que está passando por sua cabeça agora. O que você acha
que está em sua nuvem de pensamento?
HILLARY: Eu perdi o meu balão.
TERAPEUTA: E quando ela perdeu o balão e
sentiu-se muito triste, o que disse para si
mesma?
HILLARY: Eu nunca mais vou ganhar outro.
TERAPEUTA: Esse pensamento certamente combina com seu sentimento de tristeza. Vamos
escrevê-lo na nuvem. Vejamos o que temos
até agora. O balão estourou, Lina ficou triste e agora ela pensa “Nunca mais vou ganhar outro balão”. Eu gostaria de examinar
os dois desenhos e as duas histórias. Que
coisas mudaram na segunda história?
HILLARY: Tudo.
TERAPEUTA: O que você quer dizer?
HILLARY: O balão estourou, ela ficou triste e
pensou que não ganharia outro balão.
TERAPEUTA: Certo. As coisas em volta mudaram, seus sentimentos mudaram, seus
pensamentos mudaram. Quais foram as
coisas à volta dela que mudaram?
HILLARY: O balão estourou.
TERAPEUTA: Você pode me dizer quais são
seus sentimentos e quais são seus pensamentos?
HILLARY: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Você tem mais controle sobre as
coisas que acontecem a você ou sobre seus
pensamentos e sentimentos?
HILLARY: Sobre meus pensamentos e sentimentos.
TERAPEUTA: Estas são as coisas sobre as quais
você e eu estamos conversando e brincando juntos. Eu vou ajudá-la a aprender novas maneiras de pensar sobre as coisas e
coisas a fazer quando você se sentir mal.
O que lhe parece?
A Figura 5.3 mostra o desenho completado na segunda fase deste exemplo. O que se realizou com esta troca? Primeiro, o terapeuta revisou explicitamente o evento, o sentimento e o
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
pensamento para ajudar Hillary a discutir as
diferenças entre os três elementos. Segundo,
também ajudou Hillary a ver a ligação entre
eventos, sentimentos e pensamentos. Além disso, o terapeuta questionou Hillary gentilmente
para permitir que ela sugerisse um pensamento emocionalmente significativo na situação.
Esse processo de questionamento prepara
Hillary para os procedimentos de questionamento socrático e de verificação do pensamento que aparecem mais tarde na terapia. O
terapeuta então perguntou-lhe sobre quais desses fatores ela tinha mais controle. Após Hillary
responder com pensamentos e sentimentos, o
terapeuta prosseguiu enfatizando que eles trabalharão para desenvolver novas habilidades de
manejo cognitivo e comportamental.
Eu nunca mais vou
ganhar outro balão.
Triste
FIGURA 5.3 Desenho do terapeuta na segunda fase.
Uma outra abordagem para ensinar sobre
pensamentos, sentimentos, comportamentos e
situações é chamada de Losango de Associações
(Friedberg, Friedberg e Friedberg, 2001). Esse
método utiliza a metáfora do campo de beisebol* para ilustrar o modelo cognitivo. Cada com-
ponente (cognitivo, comportamental, emocional
e fisiológico) do modelo é simbolizado por uma
base no campo. As crianças superam os obstáculos do registro, base por base; começam identificando sentimentos e prosseguem registrando sensações corporais, comportamentos e pensamentos associados a sentimentos de tristeza
ou de ansiedade. Após completar o exercício, o
terapeuta explica que irá “cobrir todas as bases” em seu trabalho com a criança.
Em nossa experiência clínica, as crianças
parecem entender facilmente o modelo apresentado na exercício do Losango de Associações.
Elas rapidamente reconhecem que um campo
de beisebol (losango) não está completo sem
suas quatro bases, portanto o relacionamento
interativo entre os componentes é facilmente
comunicado. A metáfora presta-se a diversas
aplicações experienciais. As crianças podem fazer bases de cartolina e escrever nelas “Pensamentos”, “Sentimentos”, “Ações” e “Corpo”.
Elas então podem ficar em cada base enquanto
compartilham os sintomas apropriados. O
terapeuta pode lançar uma bola para elas quando alcançarem cada base, tornando a brincadeira mais divertida.
Os terapeutas deveriam notar que, da forma como é construído, o exercício do Losango
de Associações trata apenas de sentimentos de
tristeza e ansiedade. Entretanto, trabalhando com
crianças que estão experimentando outras emoções poderia-se facilmente adaptar o exercício
para estes próprios propósitos. A adaptação poderia simplesmente envolver o acréscimo de uma
emoção diferente ao exercício de registro ou a
substituição de palavras de preocupação ou tristeza por sentimentos específicos que as crianças
estejam experimentando.
INTRODUZINDO O MODELO
DE TRATAMENTO A ADOLESCENTES
O modelo de tratamento para adolescentes mais velhos é apresentado geralmente da
mesma maneira que para adultos (J. S. Beck,
*N. de R.T. É possível, na prática com crianças brasileiras, utilizar como exemplo um jogo de futebol.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
1995; Padesky e Greenberger, 1995). Tipicamente, o modelo cognitivo é apresentado após o processo de avaliação ter sido quase ou totalmente
completado. A seguinte transcrição ilustra a forma como o terapeuta apresenta o modelo
cognitivo a uma adolescente deprimida.
TERAPEUTA: Muito bem, Kendall. Você me
contou muitas coisas sobre você e sobre
as pessoas à sua volta. Posso aproveitar
essa chance para lhe dizer como trabalho
com jovens como você?
KENDALL: Tudo bem.
TERAPEUTA: Sempre me ajuda desenhar ou
escrever coisas. Aposto que você já percebeu que eu escrevo listas enquanto está
me contando coisas sobre você. Como
você pode ver (mostra o diagrama), há quatro coisas sobre você que mudam quando
se sente deprimida. Todas essas coisas
acontecem dentro do seu ambiente. Os sintomas ou sinais de depressão ocorrem nestas circunstâncias. O que você está achando até agora?
KENDALL: Não tenho certeza. O que significa
“ambiente”?
TERAPEUTA: Quais foram algumas das coisas
que aconteceram que pareceram desencadear seus sentimentos depressivos?
KENDALL: Bem, eu briguei com meu namorado e meu pai foi embora.
TERAPEUTA: Isto realmente dói. Seu pai e seu
namorado lhe deixaram. Estas são todas
as coisa que estão acontecendo à sua volta. (Escreve no papel.)
KENDALL: (Começa a chorar.) É muita coisa para
uma pessoa.
TERAPEUTA: Realmente é. Você se sente realmente triste, com raiva e preocupada. (Aponta
para o item de sentimento no diagrama.)
KENDALL: Sim, eu fico com dores de estômago e de cabeça.
TERAPEUTA: Esta é a associação.
KENDALL: Eu me sinto sem valor.
TERAPEUTA: Tão sem valor que as coisas que
eram divertidas para você não são mais.
Você tende a manter tudo para você e ficar trancada no seu quarto.
67
KENDALL: É onde me sinto segura.
TERAPEUTA: E se você olhar aqui (aponta para
a esfera cognitiva), em cima disso você se
culpa e vê a maioria das suas experiências como terrivelmente desagradáveis.
Você tende a ter uma visão pessimista das
coisas.
KENDALL: Você não teria?
TERAPEUTA: Com certeza parece razoável que,
se você se vê como merecendo todas as
coisas ruins que têm acontecido e se espera mais coisas negativas no futuro, fique
deprimida e pessimista. Agora, o que temos que verificar aqui é se o que você diz
para si mesma sobre a coisas terríveis que
aconteceram a você são corretas. Isso faz
sentido?
KENDALL: Eu acho que sim.
TERAPEUTA: Bem, deixe-me explicar este modelo um pouquinho mais. (Aponta.) Você
vê estas linhas? Elas ligam cada um destes círculos. Então, se você faz uma mudança em uma, pode fazer nas três restantes. Sobre qual desses (pontos) você acha
que tem mais controle?
KENDALL: Os de pensamento e de ação.
TERAPEUTA: Exatamente. O que a faz pensar
que tem maior controle sobre eles?
Esta troca ilustra vários pontos importantes. Os problemas particulares de Kendall foram
explicitamente tratados como parte da descrição,
permitindo-lhe relacionar-se pessoalmente a esta
abordagem. Além disso, o foco cognitivo e
comportamental do tratamento foi apresentado
a Kendall de forma simples (“Sobre qual destes
você acha que tem mais controle?”).
Outro método é a variação de um procedimento de terapia cognitiva clássica. O terapeuta
primeiro desenha as colunas de situação, sentimento e pensamento nos registros e diários de
pensamento e então oferece a seguinte situação:
“Suponha que você esteja em casa e o telefone
toque”. Esperar por um telefonema é um evento
prototípico para muitos adolescentes; freqüentemente o telefone tem um papel central em suas
vidas. Após a situação ser registrada, o terapeuta
pede que o adolescente relate todos os sentimen-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
tos que poderia ter em resposta ao toque do telefone (excitado, irritado, triste, nervoso, calmo).
Após os sentimentos serem expressados, o
terapeuta pergunta quem poderia estar no telefone e registra essas explicações na coluna de pensamento. Deve-se trabalhar ativamente para levar o adolescente a explorar todas as possibilidades sobre quem poderia ser (namorado(a),
mãe, pai, irmão, irmã, professora, vendedor,
amigo(a) da mãe, do pai, do irmão, da irmã). A
Figura 5.4 mostra um exemplo da tabela de três
colunas completada.
Quando as três colunas são completadas, o
terapeuta trabalha com o jovem para associar os
pensamentos e os sentimentos (p. ex., “Se fosse
sua professora no telefone, que sentimento você
teria?”). Neste ponto, o terapeuta explica que
cada pensamento molda um sentimento de forma única, desenhando linhas para ligar diferentes pensamentos a diferentes sentimentos. Além
disso, chama a atenção para a descoberta de que
há freqüentemente múltiplas explicações para
um mesmo evento e sentimentos diversos em relação a ele. O terapeuta pode preferir usar o
questionamento socrático para explicar o material (p. ex., “Quantos sentimentos você listou?”,
“Quantos pensamentos nós listamos?”, “Quantas
situações?”, “O que significa uma situação determinar absolutamente como você se sente?”)
O próximo passo envolve ensinar ao adolescente que nem todas as explicações são funcionais ou corretas. Por exemplo, o terapeuta
pergunta: “E se você achasse que era sua professora ligando para fazer um relato negativo
sobre você, mas na verdade fosse um vende-
SITUAÇÃO
O telefone toca em casa
dor?”. Neste caso, o adolescente ficaria desnecessariamente angustiado. Em seguida, poderia ser perguntado “E se você achasse que era
um vendedor, mas fosse sua professora?”. Nesta circunstância, seria pego desprevenido. Portanto, o terapeuta deve concluir explicando que
na terapia cognitiva ensinamos pessoas jovens
a fazerem a si mesmas perguntas melhores sobre as situações que ocorrem em suas vidas para
que não fiquem desnecessariamente angustiadas ou sejam pegas despreparadas.
A última fase deste exercício fornece a base
para formação de hipótese, verificação do pensamento e experimentação comportamental.
Nesta fase, o terapeuta ensina ao adolescente
que, a fim de saber que pensamento é correto, é
preciso testá-lo e coletar dados (p. ex., atender
o telefone, perguntar quem está falando, etc.).
Pergunta-se ao adolescente: “Como você saberá se sua suposição sobre quem está ligando é
correta?” e “O que você tem que fazer para descobrir?”. Finalmente, o terapeuta conclui associando esta metáfora às tarefas concretas e específicas na terapia cognitiva (“Juntos vamos verificar quais das suas conclusões são mais precisas e úteis para você na terapia. Criaremos formas diferentes de descobrir que julgamentos explicam melhor as coisas que acontecem a
você.”).
Como decidimos o método a ser utilizado?
Tendemos a pegar o exemplo do telefone para
adolescentes mais jovens que precisam de exemplos mais concretos e específicos. Além disso, o
método do telefone é preferível quando o adolescente está menos motivado e menos envolvi-
SENTIMENTO
Excitado
Feliz
PENSAMENTO
É meu(minha) namorado(a).
Triste
É o médico com más notícias sobre minha avó.
Irritado
É a amiga idiota da minha irmã.
É um vendedor.
Preocupado
É minha professora. É a polícia.
Calmo
É meu colega de aula me fazendo uma pergunta.
FIGURA 5.4 Exemplo de um registro de pensamento para apresentação do modelo.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
do no tratamento. Finalmente, o método é bem
adequado a tratamento de grupo.
IDENTIFICANDO PROBLEMAS COM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Identificar problemas com crianças e adolescentes é um processo desafiador mesmo para
os terapeutas mais experientes, mas é um primeiro passo no tratamento por diversas razões.
Primeiro, crianças podem não saber por que estão vindo à terapia e/ou podem estar ressentidas por estarem consultando um terapeuta. Segundo, a fim de tratar efetivamente os problemas e compor uma abordagem de tratamento
colaborativa, terapeutas, crianças e pais devem
formar um consenso sobre o problema.
Uma certa dose de criatividade freqüentemente é necessária para envolver crianças no
processo de identificação do problema. Algumas
delas podem achar a tarefa tediosa e sem sentido. Outras podem considerá-la dolorosa. Na verdade, muitos terapeutas podem vê-la da mesma
maneira. Entretanto, o processo não tem que ser
dolorosamente sem sentido! Os terapeutas devem esforçar-se para evitar que a identificação
do problema pareça uma confissão da criança.
Se esta percebe uma crítica e acredita que o
terapeuta a está culpando, provavelmente se sentirá envergonhada e indignada. Portanto, você
deve criar uma forma atraente para a criança
identificar problemas, que seja fortalecedora em
vez de depreciativa para a criança. Dessa maneira, nesta seção, sugerimos vários métodos para
identificar problemas com crianças em idade de
ensino fundamental e com adolescentes.
Identificando problemas com crianças
Crianças pequenas podem ignorar totalmente a razão para irem à terapia. Elas podem
achar que irão receber uma injeção ou um remédio do terapeuta. Outras crianças podem ver
o terapeuta como um tipo de diretor de escola
que as castigará por terem criado problemas.
Corrigir essas suposições equivocadas é a pri-
69
meira tarefa na apresentação da terapia a uma
criança e na identificação de problemas-alvo.
As cartas ao “Caro Doutor” ou “Caro
Terapeuta” oferecem uma forma de as crianças
poderem falar sobre si mesmas fazendo algo familiar, ou seja, escrever uma carta e identificar
seus problemas (Padesky, 1988). Isso é um passo
inicial em direção à auto-revelação mais direta,
dando à criança uma sensação de distância do
terapeuta.
Você poderia apresentar a tarefa da seguinte maneira:
Eu quero conhecer você um pouquinho melhor.
Uma forma de eu saber mais sobre você é se me
contar mais sobre você mesmo. Você já escreveu uma carta para alguém antes? Bem, é isso
que quero que faça na próxima semana. Quero
que me escreva uma carta contando o que quiser sobre você. Conte-me sobre as coisas que
você faz; sua família, seus sentimentos de tristeza, de raiva ou de preocupação, as coisas de
que gosta, as que lhe trazem problemas, sua escola e seus amigos. Realmente quero que escreva qualquer coisa que queira que eu saiba sobre você. Escreva aquilo que o deixa feliz e aquilo que o perturba. O que lhe parece?”
Você pode preferir escrever as instruções
para a carta e dá-las às crianças a fim de que
tenham uma orientação para ajudá-las a completar a tarefa. Crianças pequenas poderiam falar em um gravador ou ditar uma carta para seus
pais em vez de escrevê-las pessoalmente. Desenhar figuras de coisas que as deixam felizes, com
medo ou tristes é outra alternativa para crianças menores.
As crianças freqüentemente pensam sobre
problemas em termos globais, impressionistas
e vagos. Seu primeiro trabalho nessas circunstâncias é ajudar a criança a dividir o problema
em componentes distintos, manejáveis e compreensíveis. Os exercícios A Ratoeira e Conserte (Friedberg e cols., 2001) são exemplos de métodos divertidos para ajudar crianças a especificar seus problemas. As crianças são convidadas a listar as “armadilhas” cognitivas, emocionais e comportamentais em que elas são apanhadas. Podem estar mais dispostas a identifi-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
car “armadilhas” do que “problemas”, então
você poderia fazer as crianças desenharem figuras de teias, ratoeiras ou buracos nos quais
elas caem. Elas poderiam escrever seus problemas nas figuras das armadilhas. Se não quiserem desenhar, podem recortar figuras de armadilhas.
Identificando problemas
com adolescentes
A identificação de problemas com pré-adolescentes e adolescentes apresenta desafios únicos. Às vezes, esses jovens são bastante capazes de se beneficiar de métodos tradicionais para
identificação de problemas. Outras vezes, relutam em dizer o que realmente se passa em suas
cabeças. Portanto, precisamos fazer esforços
consideráveis para colaborar com adolescentes
no processo de identificação do problema.
A forma mais convencional de identificar
problemas com adolescentes é a lista de problemas (Padesky, 1988; Persons, 1989). Ao desenvolvê-la, recomendamos que você operacionalize os componentes cognitivos, emocionais,
fisiológicos, comportamentais e interpessoais do
problema. É relativamente comum que adolescentes relutantes distanciem-se do problema ou
descrevam o problema em termos do que os
outros estão fazendo a eles. Por exemplo, quando perguntado sobre seus problemas, um adolescente resistente respondeu “Minha mãe é
uma cadela”. Aconselhamos que você aceite inicialmente essa definição externa do problema e
considere-a como um passo inicial em direção a
um trabalho mais produtivo, em vez de repudiála automaticamente.
A seguinte transcrição ilustra como construir uma lista de problemas com um menino
resistente de 15 anos.
TERAPEUTA: O que deveríamos trabalhar hoje,
Anthony?
ANTHONY: Minha mãe me irrita. Ela está sempre no meu pé. Ela me trata como se eu
tivesse 5 anos.
TERAPEUTA: Certo. Vamos colocar isso no papel (escreve). Sua mãe trata você como um
bebê e está sempre no seu pé. Você não
gosta disso, gosta? Vejamos o que mais
parece ser um problema.
ANTHONY: Eles me xingam por eu não fazer a
lição de casa e por assistir a muita televisão. Meu pai está sempre querendo que
eu abaixe a minha música.
TERAPEUTA: Você acha que eles não lhe dão
liberdade suficiente. Sua mãe e seu pai lhe
dizem quanto tempo você pode assistir à
televisão, supervisionam sua lição de casa.
Aposto que esse tipo de coisa o irrita.
ANTHONY: É um saco.
TERAPEUTA: Então isso parece um outro problema para você. Vamos escrever esse
também (escreve). O que temos que fazer
em seguida é imaginar como você pode
conseguir o que quer.
ANTHONY: Isso parece bom.
TERAPEUTA: O que você acha que precisa fazer para ajudar sua mãe a ver você como
um garoto de 15 anos?
ANTHONY: Sei lá.
TERAPEUTA: Oh, você não vai se livrar de ajudar a mim e a sua mãe. O que você faz
para sua mãe o tratar como um menininho?
ANTHONY: Pergunte a ela!
TERAPEUTA: Bem, eu poderia, mas então ela
estaria tomando conta do seu tratamento.
Eu achei que você quisesse ter mais controle das coisas, como limitar a incomodação da sua mãe. Se permitirmos que seu
pai e sua mãe definam seus problemas,
acho que voltaremos à questão de eles o
tratarem como um bebê. O que você acha?
ANTHONY: Eu acho que sim.
TERAPEUTA: Então o que você faz para sua
mãe e seu pai o tratarem como um menininho?
ANTHONY: Bem, eu não os escuto muito. Às
vezes esqueço de fazer toda a droga de lição de casa.
TERAPEUTA: Então, se seus pais acharem que
você os escutou mais e prestou mais aten-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
ção à sua lição de casa, poderiam sair um
pouco do seu pé?
O que podemos aprender nesta troca? Primeiro, o terapeuta explicou brevemente o propósito de identificar problemas (“Conhecer e
entender você.”). Segundo, iniciou o processo a
partir do ponto de vista de Anthony e, pela descoberta orientada, moldou gradualmente a definição para acomodar a própria contribuição
dele às dificuldades. Terceiro, escreveu os problemas, o que comunicou a Anthony que estava escutando e levando o relato a sério. Finalmente, o terapeuta demonstrou paciência e confiança durante todo o exemplo.
Você também pode preferir usar as medidas padronizadas discutidas nos Capítulos 2 e
4 como forma de identificar problemas. Por
exemplo, o CDI, o MASC, e/ou o RCMAS são
usados para monitorar o progresso e registrar o
nível de funcionamento emocional. Você pode
usar auto-relatos de sintomas das crianças para
dar a largada ao processo de identificação do
problema.
A seguinte transcrição mostra como usar
o CDI para ajudar uma menina de 13 anos a
identificar problemas.
TERAPEUTA: Estou examinando a folha onde
você marcou como se sente em relação a certas coisas. Percebi que você marcou que chora muito. Você chora muito?
WENDY: Sim.
TERAPEUTA: Diga-me, por que você chora?
WENDY: Por muitas coisas, na verdade. Quando minhas amigas debocham de mim,
quando meu pai fica irritado comigo.
Quando não posso visitar meu pai nos fins
de semana.
TERAPEUTA: Posso escrever essas coisas no
papel?
WENDY: Claro, se quiser.
71
TERAPEUTA: (Escreve.) Eu escrevo porque quero ter certeza de não esquecer nada. O que
você diz é importante. O que mais faz você
chorar?
WENDY: Eu choro principalmente quando estou sozinha. Minha mãe diz que eu não
deveria. Eu choro às vezes quando tiro
uma nota ruim.
TERAPEUTA: Entendo. Eu também percebi que
você marcou que não está tendo momentos muito alegres. Fale-me sobre isso.
Aqui o terapeuta usou o relato da criança
sobre seus sintomas como um trampolim para
a identificação do problema, o que é um método relativamente eficiente para identificar problemas, uma vez que vem do prórpio cliente. A
transcrição ilustra como o terapeuta pode
aprofundar-se no relato e obter informações
mais amplas.
CONCLUSÃO
A terapia é um mistério para a maioria das
crianças e para suas famílias. As pessoas normalmente abordam um território desconhecido
com grande ansiedade e considerável ambivalência. Apresentando explicitamente o modelo
de tratamento, você pode desmistificar o processo de terapia e deixar as famílias mais à vontade. Desenhos e história simples são formas
atraentes de apresentar o tratamento a crianças.
Você pode adaptar os métodos sobre o modelo
cognitivo aos interesses e ao nível de desenvolvimento das crianças. Cartas ao “Caro Doutor”,
listas de problemas e medidas de auto-relato padronizadas são formas úteis para o propósito
em questão. A identificação do problema e a introdução ao tratamento impulsionam o momento terapêutico e abrem caminho para processos
terapêuticos fundamentais, como automonitoração, auto-instrução, análise racional e opções
de tratamento baseadas no desempenho.
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6
Identificando e Associando
Sentimentos e Pensamentos
Identificar sentimentos e pensamentos é
uma tarefa de automonitoração fundamental na
terapia cognitiva. Este capítulo começa com recomendações para ajudar crianças e adolescentes a identificar seus sentimentos. A segunda
parte descreve os desafios envolvidos na identificação e no relato de cognições. A seguir, são
explicadas a hipótese de especificidade do conteúdo, que estabelece que diferentes emoções
são caracterizadas por diferentes cognições, e
suas implicações clínicas. Finalmente, os passos envolvidos na elaboração de um diário de
pensamento/registro de pensamento são delineados, e são sugeridos métodos para evitar as
armadilhas mais comuns.
IDENTIFICANDO SENTIMENTOS
COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
A identificação de sentimentos é um dos
primeiros passos na terapia cognitiva por várias
razões. Primeiro, porque a avaliação do resultado do tratamento depende da capacidade das
crianças de identificar seus próprios sentimentos; a menos que as crianças relatem suas emoções perturbadoras antes de quaisquer intervenções, o terapeuta não tem como saber se seu esforço de intervenção resultou em alguma mudan-
ça emocional positiva. Segundo, porque sentimentos de angústia são indícios para usar habilidades de verificação de pensamento, portanto,
reconhecer quando elas se sentem mal leva à aplicação de habilidade. Terceiro, porque a hipótese
de especificidade do conteúdo é um guia para
ajudar as crianças a identificar em com segurança seus sentimentos. Quarto, porque os exercícios de exposição requerem que as crianças identifiquem e suportem a expressão emocional.
Identificar e relatar sentimentos é difícil
para muitas crianças, portanto é dever dos
terapeutas criar maneiras de superar tais dificuldades.
Identificando sentimentos
com crianças
A identificação de sentimentos com crianças pequenas freqüentemente demanda uma
considerável criatividade, pois elas não têm experiência em articular seu estado emocional. Recomendamos que você ensine as crianças a como
relatar seus estados de humor antes de iniciar
intervenções cognitivas.
Adotar um sistema de classificação simples para emoções é uma boa estratégia inicial.
Crianças pequenas estarão assoberbadas por um
sistema complexo que requer que elas façam
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
discriminações sutis. Por exemplo, entender as
diferenças sutis entre sentimentos, como aborrecimento, irritação, frustração e mal-estar, pode
ser muito desafiador para crianças pequenas.
Conseqüentemente, usamos o sistema de classificação tradicional, consistindo de sentimentos
de raiva, tristeza, alegria, medo e preocupação.
Um instrumento útil é um Mapa de Rostos de Sentimento. O mapa oferece figuras que
representam várias expressões faciais e inclui
rótulos nomeando a emoção apropriada de
cada figura. Embora esses mapas sejam úteis
para muitas crianças, eles têm limitações. Primeiro, crianças pequenas podem ser esmagadas pelo número de rostos de sentimento
para escolher. Segundo, as palavras usadas
para descrever os sentimentos tendem a ser
mais sofisticadas do que as que a criança de 9
anos de idade poderia empregar (p. ex., “arrasado”). Terceiro, dependendo da versão do
Mapa de Rostos de Sentimento utilizada, ele
pode não ser sensível à cultura em que a criança está inserida.
A solução foi desenvolver nossos próprios mapas. Na verdade, encorajamos as crianças
a fazerem os seus mapas; elas desenham rostos
em branco, escolhem a cor da pele e as características faciais e oferecem rótulos para os sentimentos, como ilustrado na Figura 6.1. Normalmente, isso é um quebra-gelo útil para as crianças, que são convidadas a desenhar três ou quatro rostos e escrever rótulos abaixo deles. Ma-
Sentimento
Sentimento
Feliz
Triste
pas de laminados permitem mais flexibilidade:
as crianças podem escrever neles com canetas à
base de água, apagar e refazer o que julgarem
necessário.
Um procedimento desenvolvido no programa de Prevenção de Ansiedade e Depressão
no Jovem oferece outra variação dessa tarefa
(Friedberg e cols., 2001). Nessa alternativa, as
crianças desenham seu sentimento em uma figura do personagem, um ratinho chamado
“Pandy”, e então escrevem o título do sentimento no desenho. Desenhar o rosto de sentimento
em Pandy parece permitir que as crianças identifiquem-se com o ratinho, ao mesmo tempo em
que oferece um distanciamento suficiente para
facilitar a expressão emocional.
Empregar figuras de uma revista é uma
terceira variação. Damos às crianças revistas
velhas e pedimos que recortem figuras de pessoas que estão experimentando diferentes sentimentos. As crianças colam as figuras em cartolina ou sem outro papel estruturado e escrevem a palavra de sentimento apropriada sob
cada figura.
Criar um Mapa de Rostos de Sentimento
individualizado tem diversas vantagens. Primeiro, olhando revistas, as crianças são capazes de recortar figuras de pessoas que provavelmente são modelos para elas. Segundo, há
uma possibilidade de as crianças selecionarem
as figuras que mais lembram elas mesmas; dessa forma, a tarefa torna-se culturalmente
Sentimento
Sentimento
FIGURA 6.1 Mapa de Rostos de Sentimento em branco. De Friedberg e McClure (2002). Copyright
por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura
apenas para uso pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
responsiva e pode representar circunstâncias
da vida real. Terceiro, a expressão emocional
torna-se mais normalizada através deste processo; se as crianças escolhem figuras de pessoas que admiram mostrando várias emoções,
o ato de identificar sentimentos torna-se menos ameaçador.
Ler livros de figuras com crianças pequenas
é outra forma de explorar componentes emocionais. Obviamente, deve-se escolher livros com
ilustrações demonstrativas e identificáveis, que
também sejam sensíveis à cultura. Por exemplo,
a série Amazing Grace (Hoffman, 1991) retrata maravilhosamente as lutas de uma menina afroamericana habilidosa. The Meanest Thing to Say,
de Bill Cosby (1997), também é uma escolha interessante. Smoky Night (Bunting, 1994) é uma
descrição emocionalmente poderosa dos distúrbios ocorridos em Los Angeles. Mei-Mei Loves the
Morning (Tsubakiyama, 1999) e Shibumi and the
Kite-Maker (Mayer, 1999) são livros expressivos
com personagens ásio-americanos. Joy Berry
(1995, 1996) escreveu livros específicos para crianças com um foco emocional que incluem algumas
crianças não-brancas. Cartledge and Millburn
(1996) apresentam uma rica pesquisa com recomendações de literatura sobre a diversidade cultural das crianças.
Enquanto se lê com a criança o livro escolhido, é apropriado fazer pausas e discutir seus
componentes emocionais, pedir que a criança
identifique os sentimentos dos personagens e
fale sobre como são semelhantes ou diferentes
dos seus. A seguinte transcrição ilustra o processo durante a leitura de Alexander and the
Terrible, Horrible, Very Bad Day (Viorst, 1972).
TERAPEUTA: Então Alexander teve um dia
muito ruim na escola. Como se sente quando tem um dia ruim na escola?
JENAE: Mal.
TERAPEUTA: Como fica o seu rosto?
JENAE: (Franze o rosto.)
TERAPEUTA: Entendo. Um monte de coisas
aconteceram para Alexander durante seu
dia ruim. O que acontece que faz você se
sentir triste?
75
JENAE: Meus amigos são maus para mim. Minha mãe grita comigo. Minha professora
me dá muita lição de casa.
Embora ler livros seja uma estratégia que
funciona para muitas crianças, algumas podem
não responder bem a material escrito. Nestes
casos, recomendamos filmes, peças, programas de
televisão e música como formas de ajudar na
identificação de sentimentos. Por exemplo,
mostramos trechos de O Mágico de Oz para uma
criança que estava tendo dificuldade para identificar e rotular seus sentimentos. Mostramos
o trecho em que Dorothy, o Leão Covarde, o
Homem de Lata e o Espantalho encontram o
todo-poderoso Oz. Nesse episódio, cada personagem exibe diferentes emoções em intensidades variáveis. Pediu-se então que a criança
observasse a reação de cada personagem – sua
expressão facial, seus comentários e seus comportamentos – e identificasse os sentimentos
envolvidos. O terapeuta perguntou à criança
se ela tinha sentimentos semelhantes. Quando
o menino contou que na verdade se identificava com quase todos os personagens, o terapeuta estendeu o processo, pedindo para a
criança mostrar como seu rosto ficava quando
estava triste e relatar o que passava por sua
cabeça quando ele se sentia para baixo.
Após aprender a identificar e rotular seus
sentimentos, as crianças estão prontas para classificar a intensidade do sentimento. Elas vêem
as emoções categoricamente: ou as têm ou não
as têm, elas são relativamente incapazes de determinar que quantidade do sentimento experimentam, portanto os terapeutas precisam
ajudá-las a entender que os sentimentos variam na intensidade. Por exemplo, Chester, um
menino de 10 anos, sabe que está ansioso, mas
é incapaz de dizer quando se sente mais ansioso e quando se sente menos. Para ele, a ansiedade é uma mochila cheia de pedras: ele sabe
que é pesada, mas é incapaz de medir seu peso.
A fim de que as crianças compreendam este conceito, simplificamos a idéia mediante exercícios
mais concretos.
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76
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Realizar o exercício de Rostos de Sentimento é uma forma direta de iniciar a escala da intensidade de sentimentos. Quando as crianças
desenham um rosto de sentimento, o terapeuta
pede que classifiquem com que intensidade experimentam a emoção que ilustraram. Crianças
mais velhas estimam seus níveis de sentimento
em uma escala simples de 1 a 5. Crianças menores, menos sofisticadas, provavelmente necessitarão de mais assistência. Nestes casos, adicionamos faixas a seus Mapas de Rostos de Sentimento, como ilustra a Figura 6.2.
Ao completar o registro, as crianças desenham seus rostos de sentimento no espaço fornecido e então acrescentam o rótulo do sentimento (p. ex., triste). Abaixo dele são fornecidas
cinco caixas representando vários níveis de intensidade. As caixas variam de uma vazia a uma
moderadamente preenchida e a uma completamente preenchida. Pede-se então que as crianças circulem ou apontem para a caixa que mostra a quantidade do sentimento que experimentaram. Essas caixas correspondem satisfatoriamente à escala de classificação de 1 a 5 mais abstrata.
A tarefa de classificação pode ser tornarse ainda mais concreta. Algumas experiências
ajudam a ensinar crianças de maneira focalizada, como convidá-las a despejar água colorida
em copos transparentes. Pede-se que deixem um
copo vazio e encham os outros com um quarto
de água, com metade de água, com três quartos
de água e um totalmente cheio. É possível facilitar este processo marcando os diferentes níveis
nos copos com uma caneta preta, e variar a atividade, usando, em vez de líquido, contas, bolas de gude, conchas ou qualquer objeto divertido que possa encher um copo. Pede-se então
que a criança aponte para o copo que mostra o
quanto elas sentem o sentimento.
Os Termômetros de Sentimento, ou Barômetros de Sentimento, são instrumentos amplamente usados para ajudar crianças a identificar
a intensidade emocional (Castro-Blanco, 1999;
Silverman e Kurtines, 1996), pois a maioria delas sabe o que um termômetro faz. Além disso,
ele se presta a metáforas úteis. Por exemplo, após
uma criança ter completado o Termômetro de
Sentimento, o terapeuta poderia dizer: “Mostreme onde sua raiva alcança o ponto máximo”.
Sentimento
Nenhum
Um Pouco
Muito
FIGURA. 6.2 Rosto de Sentimento com emoção rotulada e níveis de intensidade. De Friedberg e
McClure (2002). Copyright por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão
para fotocopiar esta figura apenas para uso pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Um Sinal de Tráfego de Sentimento é outra forma de registrar a intensidade emocional
(Friedberg e cols., 2001). Como o Termômetro
de Sentimento, o Sinal de Tráfego de Sentimento ajuda a classificar a intensidade emocional e
fornece uma fonte para metáforas acessíveis; por
exemplo, experimentar sentimentos em uma intensidade alta pode contribuir para a paralisia
comportamental e cognitiva das crianças. Na
verdade, elas chegam ao sinal vermelho e são
paradas no próprio lugar. Reconhecer que esses sentimentos fortes podem fazê-las parar assim como um sinal vermelho interrompe o tráfego pode facilitar o entendimento das crianças
em relação ao papel que as emoções desempenham em suas vidas.
Associar sentimentos a sensações físicas é ainda outra forma de ajudar crianças a identificar
seus sentimentos. Em geral, elas são conscientes de suas sensações corporais/somáticas; conseqüentemente, as reações fisiológicas representam pontos de apoio viáveis para elas. Perguntar à criança “Como você sente seu corpo quando...?” cria uma base para a expressão emocional. É importante ligar um referencial comportamental concreto à pergunta (p. ex., “Como
você sente seu corpo quando ouve sua mãe e
seu pai gritando um com o outro?”). Ligar o sentimento a uma sensação física dá às crianças um
referencial concreto para seus sentimentos. A
seguinte transcrição ilustra o processo de associar sentimentos a sensações físicas.
TERAPEUTA: Quando sua professora dá um
teste de ortografia, como sente seu corpo?
CARLY: Todo apertado.
TERAPEUTA: Que outras mudanças você percebe sobre o estado em que seu corpo fica?
CARLY: O meu estômago fica embrulhado e a
minha cabeça fica estourando.
TERAPEUTA: Se seu estômago tivesse voz,
como diria que está se sentindo?
CARLY: Doente, como se eu fosse vomitar.
TERAPEUTA: E quanto à sua cabeça? O que a
voz dela diria?
77
CARLY: Eu estou cansada, parece que estou resfriada.
TERAPEUTA: Então parece que testes de ortografia fazem você se sentir doente. Você
pode desenhar uma figura de seu estômago e colocar um rosto nele?
CARLY: (Desenha a figura.)
TERAPEUTA: Que tipo de rosto seu estômago
tem?
CARLY: Um rosto preocupado, eu acho.
Nesta troca, o terapeuta fez perguntas específicas a Carly, ligadas a referenciais concretos (“Quando sua professora dá um teste de ortografia, como sente seu corpo?”), e, além disso, ajudou a criança a expressar o sentimento
encerrado na sensação física (“Se seu estômago
tivesse voz, como diria que estava se sentindo?”). O terapeuta encorajou Carly a especificar ainda mais seus sentimentos de uma maneira concreta convidando-a a desenhar uma figura de seu “estômago doente”. Neste exemplo, Carly tirou proveito de perguntas abertas.
Algumas crianças podem necessitar de mais orientação, por isso damos a elas múltiplas escolhas (“Você está se sentindo com raiva, triste,
com medo ou preocupado?”). Além disso, se a
criança não responder verbalmente, desenhamos rostos simples, felizes, tristes, preocupados
e irritados, e lhe pedimos para apontar para a
figura de seu sentimento.
Identificando sentimentos
com adolescentes
Dada a maturidade emocional dos adolescentes, sua capacidade de identificar sentimentos é mais desenvolvida do que em crianças pequenas. Nos casos em que os adolescentes são
mais limitados, pode-se apelar para as técnicas
usadas com crianças menores. Não importa qual
a idade do adolescente, você precisa assegurarse de que seu cliente é capaz de identificar e relatar seus sentimentos. Esta seção oferece várias sugestões para ajudar adolescentes a identificar seus sentimentos.
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78
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Inventários de auto-relato são métodos acessíveis para identificar estados de humor de adolescentes. Quando completados pelo adolescente, o CDI, o MASC ou a RCMAS fornecem uma
medida bruta de estados de humor. Estes inventários são simples de completar e dirigem a atenção tanto do terapeuta quanto do jovem para
estados de sentimento proeminentes.
O Canais de Desvio (Friedberg, Fidaleo e
Mason, 1992) oferece vários exercícios planejados para estimular a expressão emocional em
adolescentes. Em um exercício de história, os adolescentes são convidados a escrever sobre um
momento em que se sentiram tristes, com raiva
ou deprimidos. A história pode incluir as circunstâncias em torno do sentimento, sua reação fisiológica e reações cognitivas e comportamentais. O adolescente dá um título para a história, que freqüentemente também revela seu
estado emocional.
O exercício de história pode evidentemente ser modificado, encorajando-se o adolescente a criar um poema ou uma letra de música descrevendo seus sentimentos. Os adolescentes podem achar estas saídas criativas libertadoras, revelando emoções mais sinceras através de um
poema ou de uma letra de música. Além disso,
canções refletem a ecologia social destes jovens.
Em resumo, pode ser mais permissível para um
jovem expressar seus sentimentos através de um
poema ou de uma letra de música do que dizêlos diretamente para outra pessoa.
Muitos adolescentes sofrem de uma limitação em seu vocabulário de sentimento. Eles
podem referir-se a todos os estados emocionais
negativos dizendo que estão “mal” ou “detonados.” Este vocabulário de sentimento restrito
torna difícil diferenciar entre categorias emocionais discrepantes (irritado, triste, preocupado)
bem como entre intensidades variáveis do mesmo sentimento (aborrecido, irritado, furioso).
Por exemplo, quando perguntado como estava
se sentindo, Otto sempre dava a mesma resposta: “mal”. Além disso, os jovens podem usar rótulos idiográficos para comunicar seus sentimentos (p. ex., “Que seja”), como Julian, que repetidamente relata seu sentimento como
“sarnento”. Portanto, ampliar o vocabulário de
sentimento de um adolescente faz com que ele
tenha maior gama de respostas e incorpore idiomas personalizados. Pode-se, para isso, simplesmente convidar os adolescentes a listar o
máximo de palavras possíveis para descrever
seus sentimentos.
Criar um cartaz ou uma colagem de sentimentos também é um plano produtivo. Nesse exercício, os adolescentes criam um cartaz representando diferentes estados de sentimento a partir
de figuras recortadas de revistas. Uma colagem
de sentimento é bem adequada para jovens que
têm dificuldade em expressar seus sentimentos
com palavras, funcionando como uma tarefa
graduada, em que os adolescentes iniciam o processo com a atribuição da colagem, passando a
experimentar a expressão verbal.
As charadas de sentimento, uma variação terapêutica da conhecida brincadeira de mímica,
identificam e expressam sentimentos (Frey e
Fitzgerald, 2000), funcionam especialmente bem
com grupos e famílias. Os jovens escolhem cartões rotulados com várias emoções (irritação, aborrecimento, vergonha) e então representam a emoção escolhida usando apenas expressões e ações.
Os participantes dividem-se em equipes, que ganham pontos pela identificação correta dos sentimentos. O jogo permite a prática tanto da expressão das próprias emoções como do reconhecimento de sentimentos nos outros. A atenção a indícios
não-verbais associados a estados emocionais é
reforçada através deste jogo divertido e interativo
que, sendo semelhante à lista de vocabulário de
sentimento, é culturalmente responsivo a diferentes rótulos e expressões de sentimento. Os indivíduos podem criar seus próprios rótulos idiográficos e demonstrar suas maneiras particulares
de manifestar esses sentimentos.
Deblinger (1997) oferece um método de programa de entrevista extremamente criativo para
facilitar a expressividade emocional de um
adolescente. Em seu trabalho com vítimas de
abuso sexual, Deblinger usava criativamente o
formato de “chamada”, que caracteriza muitos
programas de entrevista de televisão e rádio. Os
terapeutas cognitivos poderiam adaptar essa
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
estratégia para ajudar adolescentes reticentes a
expressar seus sentimentos. Tipicamente, o
terapeuta finge ser um apresentador de programa de entrevista e o adolescente age como seu
convidado. O terapeuta, então, simula atender
um telefonema de um espectador em casa, que
tem perguntas específicas sobre como o jovem
se sentiu em determinadas circunstâncias. O
adolescente pode achar a “distância” do “falso
espectador” confortável e demonstrar mais disposição em expressar suas emoções. A natureza divertida e imaginativa da tarefa pode afrouxar suas proibições em relação à expressividade.
IDENTIFICANDO PENSAMENTOS E
ASSOCIANDO PENSAMENTOS A
SENTIMENTOS
O meio clássico de identificar pensamentos é a pergunta “O que está passando pela sua
cabeça neste momento?”, mais propícia de ser
feita no momento de uma mudança de humor (J.
S. Beck, 1995; Padesky, 1988). Permanecer consciente dessa prática torna a terapia cognitiva um
tipo de abordagem “aqui-e-agora experiencial”.
Não se deve, porém, fazer a pergunta de maneira excessivamente estilizada ou estereotipada (A.
T. Beck e cols., 1979). Certamente, pode-se alterar a pergunta de várias maneiras. Nós o encorajamos a desenvolver seu próprio estilo pessoal,
entretanto, recomendamos fortemente que os
terapeutas fiquem longe de perguntas como “O
que você está pensando?” ou “Que pensamentos você está tendo sobre...?” Esse tipo de pergunta pode limitar as respostas da criança por
negligenciar processos cognitivos como a imaginação. Em vez disso, aconselhamos os terapeutas
a adotar perguntas mais abertas como:
•
•
•
•
•
•
O que pipocou na sua cabeça?
O que passou voando na sua cabeça?
O que atravessou a sua cabeça?
O que correu pela sua cabeça?
O que você disse para si mesmo?
O que disparou na sua cabeça?
79
O expediente mais comum que terapeutas
cognitivos usam para associar pensamentos e
sentimentos é um registro diário de pensamento,
também chamado de diário de pensamento. Há
diversos registros diários de pensamentos excelentes na literatura sobre terapia cognitiva
com adultos (A. T. Beck e cols., 1979; J. S. Beck,
1995; Greenberger e Padesky, 1995). Em geral,
esse registro permite que os clientes relatem suas
situações problemáticas, pensamentos e sentimentos perturbadores, respostas alternativas e
o resultado emocional que acompanha a contra-resposta. O registro diário de pensamento
tradicional pode ser adequado para adolescentes mais velhos.
Identificando pensamentos
com crianças
Há vários registros de pensamento propícios para crianças (Bernard e Joyce, 1984;
Friedberg e cols., 2001; Kendall, 1990; Seligman
e cols., 1995). Uma pesquisa recente revelou que
mesmo crianças pequenas entendem que um
balão de pensamento significa conteúdo cognitivo (Wellman e cols., 1996).
Bernard e Joyce (1984) descrevem um registro de pensamento particularmente criativo
para crianças menores, chamado Jardim de Flor
de Pensamento. Neste procedimento, as crianças
desenham plantas cujas flores representam sentimentos e cujos talos indicam pensamentos; o
solo significa o evento precipitante para seus sentimentos e pensamentos. As crianças pintam as
flores com cores diversas para representar os diferentes sentimentos. Em nossa experiência, costumam achar a tarefa divertida e interessante. A
seguinte transcrição fornece um exemplo de
como usar o exercício Jardim de Flor de Pensamento com crianças pequenas.
TERAPEUTA: Você já desenhou uma flor?
KENDRA: Sim, na minha escola.
TERAPEUTA: Vá em frente e escolha algumas
cores, e eu lhe mostrarei como desenhar
um Jardim de Flor de Pensamento.
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80
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
KENDRA: (Escolhe alguns lápis de cor.)
TERAPEUTA: Certo. Vamos desenhar o solo. De
que cor deveríamos fazê-lo?
KENDRA: Marrom. Eu faço. (Desenha o solo.)
TERAPEUTA: As flores crescem do solo. O solo
é como as coisas que acontecem a você
quando você se sente mal. O que aconteceu esta semana que a fez sentir-se mal?
KENDRA: A mamãe e a Nana brigaram.
TERAPEUTA: Certo. Vamos colocar isto no solo
aqui (escreve). Agora temos que imaginar
que pensamentos e sentimentos nasceram
disto. O que passou na sua cabeça sobre a
briga?
KENDRA: Eu sou uma menina má.
TERAPEUTA: Este pensamento é o talo da flor.
Você desenha o talo. Eu vou escrever o que
passou na sua cabeça. Agora, como você
se sentiu quando a mamãe e a Nana discutiram e você acreditou que era uma
menina má?
KENDRA: Triste.
TERAPEUTA: De que cor seria esta flor?
KENDRA: Cinza.
O que este exemplo mostra? Primeiro, o
Jardim de Flor de Pensamento não exige muita
expressividade verbal. Segundo, desenhar era
uma tarefa não-ameaçadora. Terceiro, a metáfora do jardim permitiu que o terapeuta apresentasse o material psicoeducativo sem ter que
fazer uma preleção para a criança. Quarto,
Kendra identificou seus pensamentos e sentimentos enquanto coloria.
O exercício simples de balões de pensamento flutuando sobre uma face ou sobre figura de desenho animado é outra forma útil para identificar
pensamentos (Padesky, 1986). Nesse tipo de registro de pensamento, personagens de pessoas
ou animais estão expressando alguma emoção,
e as crianças preenchem o balão (Kendall, 1990;
Seligman e cols., 1995). Em um engenhoso programa de Kendall (1990), representações perspicazes de cães sossegados e gatos esfarrapados envolvem as crianças na tarefa de identificação de pensamento. Friedberg e colaboradores (2001) utilizam a figura de um camundongo
para identificar o sentimento, um ícone de sinal
de tráfego para avaliar a intensidade do sentimento e um balão em branco para captar pensamentos e sentimentos. Figuras de desenho
animado e ilustrações podem fazer a terapia parecer menos um trabalho.
Crianças mais velhas podem não necessitar de ilustrações, de desenho animado para
prestar atenção. Um rosto em branco com um
balão acima da cabeça pode ser suficiente. A
Figura 6.3 ilustra a versão mais básica desta
prática. A criança desenha o rosto do sentimento, indica o rótulo e a força da emoção,
indica o pensamento no balão e registra o
evento associado com pensamentos e sentimentos penosos. A seguinte transcrição ilustra o processo.
TERAPEUTA: Você realmente compartilhou
uma parte muito importante de você mesma. Vejamos se juntos podemos vislumbrar seus pensamentos e sentimentos associados a ela. O que lhe parece?
SHAUN: Tudo bem, eu acho. Se você acha que
pode ajudar.
TERAPEUTA: Vamos registrar isso. Primeiro,
escreva o que aconteceu que o perturbou.
SHAUN: (Faz uma pausa, e as lágrimas correm.)
Meu pai me chamou de derrotado preguiçoso. Ele disse que eu era uma vergonha
para o nome da família.
TERAPEUTA: Isso realmente dói. Quando ele
disse aquilo, como você se sentiu?
SHAUN: (Chora.) Como se eu fosse um nada.
Eu nunca vou ser alguma coisa. Ele me
odeia.
TERAPEUTA: Essas são coisas realmente dolorosas para passar na sua cabeça. Vamos
colocá-las no balão de pensamento, certo?
SHAUN: Certo. (Escreve no balão.)
TERAPEUTA: Agora, quando seu pai lhe disse
essas palavras dolorosas, e as idéias “Eu
não sou nada; eu nunca vou ser alguma
coisa e ele me odeia” passaram por sua
cabeça (aponta as palavras no balão de pensamento), como você se sentiu?
SHAUN: Realmente desprezível.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Vamos colocar isso também.
SHAUN: Podemos?
TERAPEUTA: Claro.
SHAUN: (Escreve no registro de pensamento.)
TERAPEUTA: Agora que tipo de rosto você tinha?
SHAUN: Um rosto como este (desenha um rosto
triste com lágrimas).
TERAPEUTA: Que força tinha seu sentimento
de inutilidade?
SHAUN: Como assim?
TERAPEUTA: Lembra-se de como fizemos os rostos de sentimento em uma escala de 1 a 10?
SHAUN: Ah, é. Eu me senti bastante desprezível. Talvez um 9.
81
Esta transcrição ilustra vários pontos importantes. Primeiro, Shaun e seu terapeuta completaram o diário de pensamento quando ele
estava sofrendo, tornando, assim, a tarefa psicologicamente valiosa. Segundo, o terapeuta
conduziu Shaun gentilmente pelo processo. Terceiro, como a maioria das crianças, Shaun
inicialmente confundiu seus pensamentos com
seus sentimentos; o terapeuta corrigiu Shaun
sem criticá-lo. Finalmente, estimulou Shaun a
escrever o evento, o sentimento e o pensamento dolorosos.
Os jogos de tabuleiro, conforme descrito no
Capítulo 9, são outro meio possível para identificar pensamentos e sentimentos, pois as crian-
EVENTO
TIPO DE SENTIMENTO
FORÇA DO SENTIMENTO
FIGURA 6.3 Registro de Pensamento Básico. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The
Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para
uso pessoal.
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82
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
ças os apreciam e respondem bem à sua natureza envolvente. Berg (1986, 1989, 1990a, 1990b,
1990c) criou uma série de jogos de tabuleiro
cognitivo-comportamentais bastante úteis. Os
jogos de cartas refletem áreas importantes na
vida das crianças e são estímulos para identificar
pensamentos e sentimentos, bem como guias
para desenvolver declarações de manejo e estratégias de resolução de problemas. Para atribuições de tarefa de casa, as crianças podem
criar seus próprios jogos de cartas.
Identificando pensamentos
com adolescentes
Com crianças mais velhas com adolescentes, a identificação de pensamentos torna-se um
pouco mais simples. A tarefa básica é semelhante à identificação de pensamentos com adultos,
e o registro diário de pensamento padrão pode
ser aplicado. Embora ele seja utilizado, recomendamos completá-lo em partes, em vez de como
um todo. Dividir a tarefa em partes simplifica o
trabalho e aumenta a probabilidade de promover maior aderência (J. S. Beck, 1995).
Integrar o registro de pensamento ao conteúdo da sessão aumenta sua aplicação. As crianças devem perceber facilmente por que estão
completando o registro, como ele se relaciona
com o problema apresentado e qual será o resultado. Os registros de pensamento são em geral feitos na sessão, enquanto as crianças estão
descrevendo suas circunstâncias angustiantes e
pensamentos e sentimentos associados a elas.
Em nossa experiência clínica, verificamos que
muitos adolescentes gostam de ver seus pensamentos e sentimentos descritos em palavras. Ao
escrever as palavras do adolescente literalmente no registro diário de pensamento, o terapeuta
respeita a expressão da criança por meio de seu
registro, sem censuras.
A seguinte transcrição de uma sessão com
Ally, de 16 anos, ilustra como se poderia integrar um registro de pensamento ao trabalho com
adolescentes.
ALLY: Quando minha mãe me diz o que fazer
eu simplesmente fico uma fera. Eu fico
furiosa. Ela está sempre no meu pé.
TERAPEUTA: Isso parece um problema realmente importante para você e para sua
mãe. Vamos colocar no registro de pensamento se você quiser?
ALLY: Que seja.
TERAPEUTA: Vou considerar isso como um
sim. O que provocou esses sentimentos?
ALLY: Minha mãe estava gritando comigo para
ajudar minha irmã a arrumar seu quarto
e me disse que eu não podia sair com minhas amigas da escola à noite.
TERAPEUTA: Vamos escrever isso na coluna de
situação (escreve). Agora, como você se
sentiu?
ALLY: Irritada. Furiosa. Realmente no meu limite. Ela sempre faz isso.
TERAPEUTA: São sentimentos fortes. Escrevaos na coluna de sentimento. Precisamos
analisar esses sentimentos. Como deveríamos avaliá-los?
ALLY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Precisamos uma maneira de dizer a força com que você sentiu essas emoções. Algumas pessoas usam uma escala
de 1 a 10, outras de 1 a 5. Outras ainda
usam uma escala de 1 a 100. Qual delas
você quer usar?
ALLY: 1 a 10, eu acho.
TERAPEUTA: Qual deveria ser o valor alto do
sentimento e qual deveria ser o baixo?
ALLY: Um é baixo.
TERAPEUTA: Certo. Então o quanto você ficou
furiosa?
ALLY: Um 8, eu acho.
TERAPEUTA: Então, bastante furiosa? O que
lhe fez ficar um 8?
ALLY: Eu estava ficando vermelha. Estava gritando e xingando. Estava no meu limite.
Eu bati a porta do quarto.
TERAPEUTA: O que passou na sua cabeça?
ALLY: Minha mãe é injusta. Ela é uma cadela.
Mal posso esperar para me mudar quando tiver idade suficiente.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
83
TERAPEUTA: Bom. Vamos escrever isso na coluna de pensamento.
complexa da técnica de sentença incompleta
pode ser a seguinte:
O que o diálogo ilustra? Primeiro, o terapeuta conduziu Ally no processo de maneira sistemática com material emocionalmente potente.
Segundo, usou a linguagem da adolescente de
maneira literal enquanto completava o registro
de pensamento. Terceiro, assegurou que o sentimento (fúria) fosse graduado em intensidade.
Os fragmentos de sentença incompleta também
podem ajudar adolescentes a captar seus pensamentos em situações específicas (Friedberg e
cols., 1992; Padesky, 1986). Os fragmentos de sentença incompleta são uma variação do registro
diário de pensamento, requerendo apenas que
o adolescente preencha os espaços em branco.
As sentenças incompletas são apresentadas como
uma tarefa graduada, em que, inicialmente, o
terapeuta e o adolescente identificam a situação
e o sentimento problemáticos, então, o adolescente completa com seu pensamento. Deve-se colaborar com o adolescente em relação às raízes
específicas dos eventos e dos sentimentos, para
que a tarefa torne-se individualizada. Alguns
exemplos de sentenças incompletas para um adolescente que fica irritado com imposição de limites são os seguintes:
“Quando minha mãe e meu pai ____________ ;
eu me sinto ____________ e ________________ passa pela minha cabeça.”
“Quando minha professora me diz para chegar
na aula no horário, fico com raiva e _____________________
passa pela minha cabeça.”
“Quando meus pais me dizem a que horas voltar, fico furioso(a) e penso ___________________________ .”
“Quando meu irmão mexe nas minhas coisas,
fico irritado(a) e _______________ passa pela minha cabeça.”
As sentenças incompletas permitem considerável flexibilidade e criatividade. Os fragmentos poderiam ser construídos para tocar as
áreas de tensão na vida dos adolescentes. À
medida que o adolescente se familiariza com a
tarefa, o terapeuta pode usar sentenças incompletas que incluem mais espaços em branco para
se completar. Por exemplo, uma forma mais
Como você pode ver, este fragmento de
sentença incompleta lembra as três primeiras
colunas do registro diário de pensamento. Conseqüentemente, o procedimento de sentença incompleta é uma forma graduada do registro diário de pensamento, o qual poderia ser acionado a seguir, como próximo passo terapêutico.
USANDO A HIPÓTESE DE
ESPECIFICIDADE DO CONTEÚDO
PARA ORIENTAR A IDENTIFICAÇÃO
DE PENSAMENTOS E SENTIMENTOS
Podemos usar a hipótese de especificidade
do conteúdo para determinar se foi evocada a
cognição mais significativa da criança. Por
exemplo, os seguintes registros de pensamento
ilustram como os terapeutas e as crianças podem deixar passar pensamentos significativos.
Em cada um dos exemplos, o pensamento relatado é desligado das correntes emocionais e reflete cognições periféricas.
Exemplo de Registro de Pensamento 1
Evento: A mãe estava doente no hospital.
Sentimento: Preocupado (9)
Pensamento: Sinto falta dela.
Exemplo de Registro de Pensamento 2
Evento: Tirou 79 na prova de matemática.
Sentimento: Triste (8)
Pensamento: Eu não me saí bem.
Exemplo de Registro de Pensamento 3
Evento: Não foi convidado para uma festa.
Sentimento: Triste (8)
Pensamento: Ia ser divertido.
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84
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
No primeiro registro, o pensamento (sinto
falta dela) está ligado à situação, mas não combina com a intensidade emocional. Ficamos pensando o quanto a saudade da mãe está relacionada com um alto nível de preocupação. Por
exemplo, qual é o perigo ou ameaça de sentir
saudade da mãe? Qual é o perigo de a mãe estar no hospital? O pensamento não é impreciso
ou distorcido; antes, reflete a realidade. Portanto, uma pressuposição razoável pode ser de que
um pensamento mais significativo está por trás
deste relato intranqüilamente realista, mas equilibrado. O Exemplo de Registro de Pensamento
4 ilustra como o registro de pensamento poderia ficar após o processamento adicional.
Exemplo de Registro de Pensamento 4
Evento: A mãe estava doente no hospital.
Sentimento: Preocupado (9)
Pensamento: Eu não vou ser capaz de lidar com
a escola sozinho. As coisas vão me esmagar.
No Exemplo de Registro de Pensamento
2, “Eu não me saí bem” é uma cognição superficial que tem pensamentos mais aflitivos por
trás. O terapeuta poderia dirigir seu questionamento para identificar possíveis visões autocríticas da criança (“O que tirar 79 na prova e
não se sair bem diz sobre você?”), visões negativas sobre os outros (“O que você imagina que
os outros pensarão de você agora?”) e/ou visões pessimistas do futuro (“Como você espera
que essa nota o afete?”). O Exemplo de Registro
de Pensamento 5 mostra o novo registro de pensamento.
Exemplo de Registro de Pensamento 5
Evento: Tirar 79 na prova.
Sentimento: Triste (8)
Pensamento: Eu sou um idiota e minha professora não vai mais gostar de mim.
No Exemplo de Registro de Pensamento 3,
pouco insight se obtém da importância psicológica de não ter sido convidado para a festa e/ou
de perder a diversão. Usando a hipótese de
especificidade do conteúdo, se poderia fazer perguntas como as seguintes:
“O que perder a diversão significaria para
você?”
“Como é não ser convidado para uma festa a
que você quer ir?”
“O que significa não ser convidado?”
“Como você acha que os outros o verão se souberem que não foi convidado?”
Após um processamento mais profundo,
o Exemplo de Registro de Pensamento 6 ilustra
um diário de pensamento mais significativo.
Exemplo de Registro de Pensamento 6
Evento: Não foi convidado para uma festa.
Sentimento: Triste (8)
Pensamento: Eu sou a criança mais impopular
da escola.
EVITANDO CONFUSÃO ENTRE
PENSAMENTOS E SENTIMENTOS
Ensinamos às crianças e às suas famílias
uma forma direta e simplista de diferenciar
pensamentos de sentimentos (Friedberg e cols.,
1992). Primeiro, dizemos que os pensamentos
são as coisas que passam por suas cabeças e
que geralmente tomam a forma de sentenças
ou frases (p. ex., “Alguma coisa ruim vai me
acontecer”). Então, dizemos que os sentimentos são suas emoções e geralmente podem ser
comunicadas em uma palavra (p. ex., “apavorado”). Os pensamentos representam julgamentos, avaliações, conclusões ou explicações
subjetivos (p. ex., “Eu sou incompetente”). Sentir-se triste, irritado, frustrado, confuso, etc. são
descrições bastante objetivas, rótulos simples,
descritivos, que representam o relato da criança de seu estado de sentimento. Visto que sentimentos são descrições objetivas, eles não deveriam ser desafiados, testados ou questionados na terapia cognitiva. Por exemplo, poderíamos responder com uma declaração como “Faria muito sentido que se sentisse apavorado se
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
você achasse que alguma coisa ruim estava
para lhe acontecer e você não fosse capaz de
lidar com ela. O que precisamos imaginar é se
alguma coisa ruim vai lhe acontecer e você não
será capaz de lidar com ela”.
AJUDANDO CRIANÇAS E
ADOLESCENTES A COMPLETAR UM
REGISTRO DIÁRIO DE PENSAMENTO
Crianças e adolescentes precisam de alguma instrução direta para completar um registro
diário de pensamento. As crianças precisam saber como registrar o evento ou a situação. A situação é uma descrição objetiva do que está
acontecendo; eventos são comumente alguma
circunstância ambiental ou externa (p. ex., “Perdi minhas chaves”) Ocasionalmente, especialmente no caso de ansiedade, o evento poderia
ser um estímulo interno (p. ex., “Fiquei vermelho, estou suando”). A situação é o evento que a
criança está explicando ou sobre o qual está fazendo julgamentos e tirando conclusões. É importante que se verifique a situação para ter certeza de ser uma descrição relativamente objetiva das circunstâncias aflitivas, que não contenha pensamentos automáticos ocultos.
A Figura 6.4 mostra um registro de pensamento no qual a situação contém um pensamento automático. A descrição é bastante subjetiva
e contém rótulos potencialmente generalizados
do professor e da criança. Não está claro o que
aconteceu para moldar a crença da criança de
que o professor não gosta dela, acha que ela é
idiota e má. Além disso, após revisar o registro
de pensamento, o terapeuta pode concluir que
85
a crença “Ele não gosta de mim” na verdade seja
secundária às conclusões erroneamente registradas na coluna de situação. Você terá que dedicar mais tempo para escolher as crenças relevantes com esta criança para ajudá-la a esclarecer a situação. A Figura 6.5 mostra um exemplo
de um registro de pensamento em que a situação é objetivamente identificada e o pensamento automático é colocado na coluna adequada.
Completar a coluna de sentimento também é um pouco mais difícil do que inicialmente parece. Primeiro, as crianças precisam acessar
seu vocabulário de sentimento. Segundo, avaliar
seus sentimentos em alguma escala. Determinar a intensidade permite que se entenda mais
completamente a natureza das experiências
emocionais das crianças e que seja avaliado se
a cognição é significativa. Além disso, a avaliação inicial é importante para determinar se qualquer intervenção posterior será bem-sucedida,
por exemplo, resultando em uma diminuição da
intensidade emocional.
Registrar pensamentos e imagens é o terceiro passo no registro de pensamento típico.
As crianças precisam aprender a fazer a si mesmas a pergunta fundamental “O que está passando pela minha cabeça?” a fim de preencher
esta coluna. É preciso ainda ensinar às crianças
as diferenças entre pensamentos e sentimentos,
conforme mencionado anteriormente. Finalmente, deve-se considerar a hipótese de especificidade do conteúdo e avaliar se o pensamento
listado combina com a intensidade emocional
relatada pela criança na coluna de sentimento.
Dessa forma, aumenta-se a probabilidade de trabalhar com o material cognitivo mais psicologicamente atual e significativo.
Situação
Sentimento
Pensamento
Meu professor é mau e
acha que sou idiota.
Triste (8)
Ele não gosta de mim.
FIGURA 6.4 Exemplo de um registro de pensamento com pensamentos automáticos na coluna
de situação.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Situação
Meu professor disse que não estou
prestando atenção na aula.
Sentimento
Triste (8)
Pensamento
Ele não gosta de mim.
Ele foi mau me dizendo isso. Ele fez eu
me sentir idiota, acho
que não posso fazer
meu trabalho e ele vai
continuar pensando que
sou idiota.
FIGURA 6.5 Exemplo de um registro de pensamento corrigido.
CONCLUSÃO
Identificar sentimentos e pensamentos é
o fundamento da terapia cognitiva com crianças. Como terapeutas, temos que ensiná-las a
considerar suas emoções e seu diálogo interno, portanto, temos que tornar a prática envolvente a fim de que as crianças prestem atenção
a seus pensamentos e sentimentos. Neste ca-
pítulo, convidamos você a experimentar formas de manter ativos os processos de automonitoração. Tente várias técnicas e abordagens captando pensamentos e sentimentos de
ângulos diversos. Reserve tempo e esforço para
essa tarefa clínica fundamental. Você terá mais
probabilidade de receber retorno terapêutico
decorrente de suas intervenções de auto-instrução e de análise racional.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Diálogos Socráticos
Terapêuticos
Nossos diálogos terapêuticos são baseados
no método socrático. Três aspectos básicos caracterizam esse método na prática clínica: o
questionamento sistemático, o raciocínio indutivo e a construção de definições universais
(Overholser, 1994). Ao usar o questionamento
sistemático, recomendamos que você não veja
todos os pensamentos automáticos das crianças como irracionais ou disfuncionais (Young,
Weingarten e Beck, 2001). Antes, nós o encorajamos a descobrir a origem de crenças e suposições das crianças. Adotando uma postura gentil
e curiosa, as crianças terão menos probabilidade
de ver o diálogo socrático como uma inquisição.
De acordo com Overholser (1993a, p.72):
Sob alguns aspectos, o processo é semelhante a
ajudar uma criança a montar um quebra-cabeças. Se você alcança uma peça para a criança,
mas ela não consegue achar o lugar certo, você
não fica alcançando a mesma peça. Em vez disso, pode dar a ela outras peças. À medida que a
figura começa a desenvolver-se, a criança pode
facilmente colocar a peça originalmente difícil.
Há várias classes de questões socráticas (J.
S. Beck, 1995; Beal, Kopec e DiGiuseppe, 1996;
Fennell, 1989). De fato, muitas das técnicas descritas nos Capítulos 8 a 13 podem ser classificadas em uma das seguintes categorias:
87
7
1. Qual é a evidência?
2. Qual é a explicação alternativa?
3. Quais são as vantagens e as desvantagens?
4. Como posso resolver o problema?
5. Descatastrofização (J. S. Beck, 1995)
Todas essas perguntas de teste do pensamento convidam as crianças a avaliar suas
inferências, seus julgamentos, suas conclusões e
suas avaliações.
CONSIDERAÇÕES ACERCA
DA CONSTRUÇÃO DE UM
DIÁLOGO SOCRÁTICO
TERAPÊUTICO
Um diálogo socrático terapêutico precisa
ser modificado com base nas respostas das
crianças. Por exemplo, suas respostas podem
estar baseadas em seu nível de sofrimento, de
tolerância de ambigüidade/frustração, de formação cultural, de maturidade psicológica ou
de reação ao processo de questionamento. A
menos que se avalie como a criança está respondendo ao diálogo, não se saberá como modificar suas próprias respostas. A Figura 7.1
ilustra as questões fundamentais a serem consideradas.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
A criança está em
sofrimento intenso?
Sim
Não
A criança é incapaz de
tolerar ambigüidade e
frustração?
Sim
Não
São necessárias modificações
culturais para o diálogo?
Sim
Não
A criança é psicologicamente imatura?
Sim
Não
A criança é altamente
reativa a questionamentos
e capaz de tornar-se
defensiva e retraída?
Evite perguntas que requeiram
análise racional profunda; dê apoio
e orientação; ajude a criança a
enfrentar e modular o sofrimento.
Construa um diálogo em torno de
perguntas simples, concretas; inicialmente faça perguntas mais abertas,
introduza gradualmente perguntas
abertas mais abstratas, à medida que
a criança tolere mais ambigüidade e
frustração.
Incorpore qualquer linguagem,
idioma ou convenção lingüística
que pareçam adequadas; modifique
o estilo do questionamento;
incorpore metáforas e analogias
culturalmente responsivas.
Utilize modelos auto-instrutivos e/
ou métodos comportamentais até a
criança poder beneficiar-se de
diálogos mais profundos, utilize
métodos recreativos, analogias e
metáforas preferencialmente.
Sim
Use questionamento mais ritmado,
aberto; apóie-se em metáforas e
analogias e em humor, se indicado.
FIGURA 7.1 Mapa de fluxo para diálogos socráticos.
Essa avaliação informal imediata pode ser
complicada, pois, muitas vezes, podemos nos
descuidar no questionamento e negligenciar o
nível de responsividade da criança. Nesses casos, andamos para a frente, mas não percebemos muito sucesso. Permanecer alerta aos sinais explícitos e aos sinais velados de uma criança é fundamental para o sucesso. Por exemplo, Jonie, uma menina de 12 anos, remexia-se
em sua cadeira, olhava pela janela e respondia
com respostas tangenciais em pontos fundamentais durante a sessão. Prestando atenção a
seus sinais sutis, o terapeuta finalmente entendeu que ela acreditava que havia uma resposta
correta para cada uma das perguntas. Em vez
de arriscar a desaprovação do terapeuta dando
uma resposta “errada”, Jonie evitava responder
todas as perguntas.
Uma pergunta feita a nós mesmos no início um diálogo terapêutico é “Qual é o nível de
sofrimento da criança?”. Em nossa experiência,
se a criança está em um estado de sofrimento intenso, diálogos abstratos apimentados com múltiplas perguntas raramente são uma boa tática;
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
geralmente evitamos perguntas que exigem análise racional profunda. Por exemplo, um menino
ficou agitado e irritado na sessão. O terapeuta
concentrou-se em fornecer apoio e orientação
(“Você está a ponto de explodir. O que o deixou
tão irritado? Como posso ajudá-lo a esfriar e controlar-se?”) em vez de estimular a explicação, a
exploração ou a descoberta extensivas.
A capacidade da criança de tolerar frustração e ambigüidade é uma segunda questão
importante. Com crianças que não lidam bem
com ambigüidade, começamos com perguntas
mais concretas e simples (“Quando Jason pegou seu chapéu e você mostrou-lhe os punhos
para brigar, o que passou pela sua cabeça?”).
Perguntas abertas podem expandir seus limites, portanto, começamos com aquelas mais restritas e avançamos para perguntas mais abertas. Consideremos April, que estava furiosa
porque sua mãe controlava sua forma de vestir-se. Após várias passagens malsucedidas por
perguntas mais abstratas, abertas (“O que você
gostaria que acontecesse?”, “Como você gostaria que sua mãe modificasse?”), ela beneficiouse de escolhas que a ajudaram a restringir suas
respostas (p. ex., “Você gostaria que sua mãe
gritasse e xingasse, a pressionasse, ou que falasse com você como se você fosse uma jovem
mulher?”).
A linguagem é moldada pela formação
cultural, portanto as mesmas perguntas podem
ser percebidas diferentemente por pessoas de
várias culturas (Tharp, 1991). Por isso, deve-se
verificar como a criança está experimentando
as perguntas (p. ex., “Como é para você quando eu faço essas perguntas?”) e assegurar-se de
que as metáforas e analogias utilizadas ajustamse à formação cultural da criança (Friedberg e
Crosby, 2001). Finalmente, se adequado, devese incluir o próprio idioma da criança em seu
diálogo. As técnicas de narração de história descritas no Capítulo 9 podem ser formas culturalmente responsivas de testar pensamentos.
O exercício Trilhos dos Meus Medos, explicado no Capítulo 12, pode ser bastante
envolvente para muitas crianças, mas, para
89
aquelas que nunca viajaram de trem, pode não
despertar interesse. Para crianças que vivem em
Chicago ou em Nova York, trens e metrôs tornam a metáfora do trem viável. Em Dayton,
Ohio, onde não há metrôs, freqüentemente usamos uma montanha-russa do Parque de Diversões da Ilha do Rei como um exemplo de trem.
Dar às crianças a oportunidade de tornar as
metáforas e as analogias pessoais, familiares e
reflexivas de seus ambientes aumentará a
responsividade cultural.
Incluir o idioma das crianças em seu diálogo é uma questão importante, mas complicada. Para algumas, sua linguagem individual forma uma fronteira entre o mundo das crianças e
o dos adultos. Nessas situações, não ultrapasse! Não há nada mais perturbador para um adolescente do que um terapeuta adulto tentando
agir e falar como um adolescente.
Quando você tornar as metáforas e a linguagem em seus diálogos terapêuticos mais
culturalmente significativas, não tenha medo de
perguntar às crianças o que é constrangedor e
psicologicamente presente em relação à metáfora. Sua curiosidade demonstrará respeito pelo
ambiente e pelo contexto da criança.
Você precisará ajustar seus diálogos
socráticos ao nível de maturidade psicológica
da criança. Para as imaturas, o apoio em estratégias recreativas e metafóricas é uma boa forma de trabalhar. Essas crianças podem aceitar
marionetes, artes e analogias; exercícios experienciais, como a atividade Relógio de Pensamento-Sentimento, discutida mais tarde neste
capítulo (ver também Capítulo 9), são um bom
instrumento. Eu (RDF) estava trabalhando com
um menino de 6 anos com problemas na escola
porque estava batendo, mordendo e chutando
outras crianças. Em vez de apelar para técnicas
de persuasão puramente verbais, eu brincava
de escola com ele, usando bonecos. Em uma
seqüência, o boneco que representava o menino começou a morder as outras crianças e ficou
isolado e solitário. A brincadeira gerou um diálogo produtivo (“O que aconteceu ao menino?”;
“Isto é uma coisa boa ou uma coisa ruim?”), no
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
qual a criança foi capaz de ver que morder resultava em conseqüências negativas.
Finalmente, muitas crianças são extremamente sensíveis a questionamentos. Perguntas de
autoridades adultas indicam que elas fizeram
alguma coisa errada e, conseqüentemente, tornam-se defensivas e retraídas quando questionadas. Então, deve-se ter certeza de estar armando um diálogo ritmado, que não faça a criança
sentir-se como se estivesse sendo bombardeada
de perguntas. Pode-se variar o estilo de questionamento e fazer perguntas com declarativos
(“Diga-me como você sabe que você é um fracasso.”; “Vejamos que outras razões poderiam
haver.”), em vez de aborrecer a criança com uma
pergunta atrás da outra.
em um processo de cinco partes: (1) evocar e
identificar o pensamento automático, (2) associar o pensamento automático ao sentimento e
ao comportamento, (3) encadear a seqüência
pensamento-sentimento-comportamento com
uma resposta empática, (4) obter a colaboração
do cliente nos passos 1 a 3 e a concordância de
ir em frente e (5) testar a crença socraticamente.
Tomemos um exemplo e vejamos se você
pode levar adiante os cinco passos. Suzy, uma
menina de 14 anos, estava fazendo testes para
o coro. Enquanto cantava, vários membros da
platéia saíram do auditório. Vendo isso, Suzy
desanimou e pensou: “Meu canto é tão horrível que fiz as pessoas irem embora”. Leia a seguinte troca e veja se você faria perguntas semelhantes.
SUGESTÕES PARA CONSTRUIR UM
DIÁLOGO SOCRÁTICO
SUZY: Eu sabia que não devia ter feito o teste
para o coro.
TERAPEUTA: O que passa na sua cabeça em
relação ao teste? [Passo 1: identificar o pensamento automático]
SUZY: Eu fiz papel de boba.
TERAPEUTA: Entendo. O que faz você se ver
como uma boba? [Passo 1 continua]
SUZY: Apenas uma cantora horrível espantaria
a platéia.
TERAPEUTA: Então você viu pessoas saindo,
pensou que fosse porque você é uma cantora horrível, e isso tornou sua tentativa
ridícula.
SUZY: Sim.
TERAPEUTA: Como aquilo fez você se sentir?
[Passo 2: associar o pensamento automático ao sentimento e ao comportamento]
SUZY: Deprimida e envergonhada.
TERAPEUTA: Acho que entendo agora. Vamos
ver se entendi mesmo. Certamente faz sentido que você se sinta envergonhada e deprimida pensando que seu canto era tão
ruim que espantou as pessoas do auditório. Eu imagino que isso faz você não querer tentar novamente. [Passo 3: encadear
pensamentos, sentimentos e comportamentos de forma empática]
SUZY: Exatamente.
Ao desenvolver um diálogo socrático, evite perguntas cujas respostas você tem certeza
de que sabe. O questionamento socrático não é
apenas uma oportunidade para orientar o cliente, mas também uma chance de demonstrar sua
curiosidade. Perguntas maliciosas para as quais
você sabe a resposta não estimulam uma descoberta orientada genuína. Antes, as crianças
podem pensar que você está lhes fazendo uma
pergunta apenas para ouvir a resposta que quer.
Às vezes, infelizmente, nós, terapeutas, agimos
como verdadeiros “sabe-tudo” e usamos processos socráticos para nos exibirmos (“Eu posso usar minhas perguntas para mostrar como
você está errado.”). O momento terapêutico é
prejudicado quando agimos com arrogância,
portanto, encorajamos você a usar o processo
de questionamento socrático para genuinamente promover maior entendimento das origens
das crenças do cliente. Além disso, não suponha que você sabe a base sobre a qual as crenças da criança são formadas (Rutter e Friedberg,
1999).
Rutter e Friedberg (1999) oferecem um esboço do processo de diálogo socrático. O esboço divide a troca em suas partes constitucionais
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Parece-lhe que estamos conseguindo captar bem as coisas que a estão
perturbando?
SUZY: Sim.
TERAPEUTA: O que precisamos fazer agora é
imaginar se as pessoas saíram porque você
cantava horrivelmente e parecia uma boba
lá em cima. Você está disposta a verificar
isso? [Passo 4: obter colaboração e concordância para ir em frente]
SUZY: Você acha que isso ajudaria?
TERAPEUTA: Vamos tentar. De tempos em tempos, vamos checar para ver se estamos tendo sucesso. O que lhe parece?
SUZY: Tudo bem.
TERAPEUTA: Hmmm. Vejamos aqui. Você está
convencida de que as pessoas saíram porque você era uma cantora horrível? [A verificação do pensamento começa]
SUZY: Bastante convencida.
TERAPEUTA: Em uma escala de 1 a 10, com 10
sendo absolutamente certa e 1 sendo totalmente errada, que certeza você tem?
SUZY: Um 9.
TERAPEUTA: Então, bastante certa? O que a faz
acreditar que eles saíram por causa do seu
canto?
SUZY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Esta é uma questão importante.
Você já saiu no meio de uma apresentação?
SUZY: Acho que sim. Fui ao banheiro ou ao bar.
TERAPEUTA: Você saiu porque o show não
prestava?
SUZY: Não, eu estava com fome e tive que ir.
TERAPEUTA: Faz sentido. Você voltou?
SUZY: Sim.
TERAPEUTA: Entendo. Agora voltemos ao seu
caso. Que horas você começou?
SUZY: Entre 17h30min e 18h.
TERAPEUTA: E há quanto tempo os testes estavam acontecendo?
SUZY: Desde as 15h.
TERAPEUTA: Houve algum intervalo?
SUZY: Nenhum, que eu saiba.
TERAPEUTA: Que horas é o almoço?
SUZY: Por volta do meio-dia.
TERAPEUTA: E a hora do jantar é geralmente
quando?
91
SUZY: 17h30min ou 18h.
TERAPEUTA: O que você conclui disso?
SUZY: Talvez algumas pessoas pudessem estar
com fome.
TERAPEUTA: Que interessante. Você saiu do
auditório alguma vez?
SUZY: Sim, eu tive que ir ao banheiro e comprei
pipoca.
TERAPEUTA: Como era o desempenho do candidato naquele momento?
SUZY: Não tão ruim. Eu nem prestei atenção nele.
TERAPEUTA: Que interessante. O que você conclui disso? Sua saída teve alguma coisa a
ver com ele?
SUZY: Não.
TERAPEUTA: Então é possível que outras pessoas saindo não tivesse nada a ver com
você?
SUZY: Não tenho certeza. (A dúvida começa a aparecer.)
TERAPEUTA: Vamos continuar. Havia alguma
outra coisa acontecendo na escola naquela tarde? Algum jogo de basquete ou reunião de clube?
SUZY: Eu acho que havia um jogo naquela noite.
TERAPEUTA: Havia algum jogador, líder de
torcida ou torcedor na platéia?
SUZY: Eddy joga. Julie e Erika são líderes de
torcida. Eu não sei. Talvez algumas das
pessoas fossem fãs de basquete. Por quê?
TERAPEUTA: Eu estava apenas pensando em
todas as possibilidades. A que horas era o
jogo?
SUZY: Às 18h, eu acho.
TERAPEUTA: Então se eles tivessem que se
aprontar para o jogo, a que horas eles deveriam sair?
SUZY: Por volta das 17h30min ou 17h45min.
TERAPEUTA: Seria bem na hora da sua apresentação, certo?
SUZY: Sim. Está certo. Huh. (A dúvida cresce.)
TERAPEUTA: Você viu as pessoas saindo. Você
notou se as pessoas voltaram?
SUZY: Deixe eu pensar. Não tenho certeza. Sim. Tenho certeza de que algumas pessoas voltaram.
TERAPEUTA: Antes de você terminar de cantar?
SUZY: (Ri.) Sim.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: Acho que você sabe qual é minha próxima pergunta.
SUZY: Sim. Se eu fosse tão horrível, eles teriam
voltado?
TERAPEUTA: Agora você está cogitando os fatos! Mais uma pergunta. Todo mundo
saiu? Houve uma saída em massa?
Você conseguiu acompanhar o processo de
questionamento? Durante a fase de verificação
do pensamento, o terapeuta guiou Suzy por
meio de um exame de conclusões alternativas.
Além disso, o terapeuta diminuiu o pensamento “tudo-ou-nada” e catastrofizante de Suzy.
Mediante esse processo, ela aprendeu a “raciocinar alternativamente”.
DEFINIÇÕES UNIVERSAIS
As crianças e os adolescentes freqüentemente se definem de maneiras muito idiossincrásicas. Overholser (1994, p.286) escreveu que
“[...]definições universais são importantes, porque
junto com a linguagem influenciam nossas percepções, descrições e nosso entendimento do mundo”. Por exemplo, que terapeuta já não encontrou
a criança perfeccionista que tira nota máxima na
escola e, contudo, torna-se deprimida e perturbada por qualquer falha percebida em si mesma?
Para ela, um erro significa que é incompetente ou
sem valor. Na terapia, trabalhamos para ampliar
as definições limitadas dessas crianças.
Considere o seguinte exemplo. Gretchen é
uma menina de 16 anos que está deprimida. Sua
história inclui trauma severo marcado por abuso
sexual. Ela é altamente autocrítica, perfeccionista
e pessimista. Na Sessão 8, o terapeuta evocou a
crença de Gretchen “Eu sou uma pessoa inútil”.
TERAPEUTA: Quando ouço você dizer “Eu sou
uma pessoa inútil”, entendo de fato o
quanto seus sentimentos depressivos são
dolorosos.
GRETCHEN: Eu realmente acredito nisso. Penso nisso o tempo todo.
TERAPEUTA: Isso quase define você.
GRETCHEN: Define?
TERAPEUTA: O quanto você se vê como inútil?
GRETCHEN: Totalmente. Eu sou uma merda.
TERAPEUTA: Entendo. O que faz você definirse dessa maneira?
GRETCHEN: Eu não sei. Simplesmente penso
assim.
TERAPEUTA: É difícil expor nossas intimidades. Sei que é doloroso pensar sobre isso.
Eu me pergunto se posso insistir um
pouquinho mais. Posso?
GRETCHEN: Tudo bem.
TERAPEUTA: Em que coisas você baseia a definição de sua inutilidade?
GRETCHEN: Acho que no fato de eu ser muito
deprimida.
TERAPEUTA: (Escreve.) Alguma coisa mais?
GRETCHEN: Eu não sei. Eu não tenho tantos
amigos. Eu não vou ganhar o prêmio de
mais popular da turma.
TERAPEUTA: (Escreve.) Nós também falamos
muito sobre como seu pai abusava de você.
O quanto isso entra na sua definição?
GRETCHEN: É, isso está lá.
TERAPEUTA: É uma coisa difícil (escreve). Que
outras coisas estão lá?
GRETCHEN: Eu acho que sou bastante desajeitada. Parece que eu sempre deixo cair coisas, tropeço, você sabe.
TERAPEUTA: Entendo. Vou escrever isso também (Escreve.). Alguma coisa mais que
você queira acrescentar?
GRETCHEN: (Olha a lista.) Não.
TERAPEUTA: Certo. Vamos ver. Qual destas
coisas que você tem na cabeça mais define sua sensação de que não tem valor?
GRETCHEN: Meu abuso sexual.
TERAPEUTA: Esta é a parte que mais contribui
para sua autodefinição. Deixe-me fazer
um tipo diferente de pergunta que nos dê
mais ângulos sobre sua definição. Quem
você conhece que tem mais importante?
GRETCHEN: Minha melhor amiga, Emily.
TERAPEUTA: O que a torna tão importante?
GRETCHEN: Eu acho que ela apenas é.
TERAPEUTA: Eu sei que é difícil pensar nas
coisas especiais que fazem Emily parecer
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
tão importante para você. Mas eu me pergunto se você estaria disposta a fazer isso.
GRETCHEN: Bem, ela é realmente uma boa aluna. Ela só tira notas altas. Ela tem um monte de amigos. As pessoas confiam nela e
lhe contam coisas. Ela é uma boa amiga.
TERAPEUTA: (Escreve.) O que mais?
GRETCHEN: Ela trabalha depois da escola na
loja de sua família. Ela tentou entrar para
a equipe de ginástica, mas não conseguiu.
E aquilo não pareceu aborrecê-la. Isso realmente me impressionou.
TERAPEUTA: (Escreve.) Eu escrevi estas coisas
no papel [ver Figura 7.2]. Quero fazer mais
algumas perguntas quando lermos isto e
calcular quantas das coisas que você vê
em Emily você tem. Que tal as classificarmos em uma escala de 1 a 5? Um poderia
ser não ter nenhuma das características e
5 poderia ser ter muito de cada uma. Você
está disposta a fazer isso?
GRETCHEN: Acho que sim.
TERAPEUTA: Certo. Vamos começar de cima.
Que tipo de aluna você é?
GRETCHEN: (Sorri.) Com notas máximas direto.
Eu tirei uma não muito boa no ano passado.
TERAPEUTA: Então o quanto você é uma boa
aluna?
GRETCHEN: Um 5.
TERAPEUTA: (Escreve.) Como você se classificaria no item de ter muitos amigos?
GRETCHEN: Talvez um 2.
TERAPEUTA: (Escreve.) Quando você pensa nos
seus amigos mais próximos, como se classificaria como amiga?
GRETCHEN: Eu acho que sou muito boa amiga. Talvez um 4.
Boa aluna, tira notas máximas
5
Muitos amigos
2
É uma boa amiga – as pessoas confiam nela
4
Trabalha depois da escola
4
Lida bem com coisas negativas
3
FIGURA 7.2 Critérios de definição de Gretchen.
93
TERAPEUTA: (Escreve.) Você tem um trabalho
depois da escola?
GRETCHEN: Eu não recebo nada. Sou voluntária no hospital.
TERAPEUTA: Isso é trabalho?
GRETCHEN: (Ri.) Sim.
TERAPEUTA: Então onde você se colocaria neste item?
GRETCHEN: Quatro, eu acho.
TERAPEUTA: (Escreve.) E quanto a lidar com
coisas negativas?
GRETCHEN: Eu não sou boa nisso. Talvez um 1.
TERAPEUTA: Posso perguntar mais sobre isso?
Aconteceram muitas coisas negativas para
você?
GRETCHEN: Demais, eu acho.
TERAPEUTA: Eu concordo.
GRETCHEN: Eu tenho que lidar com a minha
depressão, com a separação dos meus pais
e com o abuso do meu pai.
TERAPEUTA: São grandes problemas para uma
menina de 16 anos lidar. Você manteve seu
nível de desempenho escolar e continuou
trabalhando como voluntária mesmo sofrendo abuso e sentindo-se deprimida?
GRETCHEN: Sim.
TERAPEUTA: Embora você estivesse lutando
com esses sentimentos fortes e dolorosos,
você era uma boa filha, uma boa irmã e
uma boa amiga?
GRETCHEN: Eu acho que sim.
TERAPEUTA: Então o que isso diz sobre sua
capacidade de lidar com coisas negativas?
GRETCHEN: Bem, não é um 1... mas também
não é um 5. Talvez um 3.
TERAPEUTA: Certo. (Escreve.) Vamos ver o que
temos. Deste lado, temos todas as características que você diz que tornam Emily
importante. Deste lado, temos como você
se classifica nestas mesmas características.
O que você deduz disso?
GRETCHEN: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Deixe-me perguntar-lhe isto:
Uma pessoa totalmente sem valor teria alguma destas características?
GRETCHEN: Não.
TERAPEUTA: Então tudo seria 1.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
GRETCHEN: Sim.
TERAPEUTA: Quantos 1 você tem?
GRETCHEN: (Ri.) Nenhum.
TERAPEUTA: Então o que isso diz sobre sua
falta de valor?
GRETCHEN: Talvez eu não seja tão sem valor
quanto sem valor pensava.
TERAPEUTA: Você ainda não está convencida,
está?
GRETCHEN: Eu sei que é coisa da minha cabeça, mas no fundo eu me sinto sem valor.
TERAPEUTA: Isso nos diz alguma coisa.
Estamos esquecendo uma parte importante que está dentro de sua autodefinição.
Você tem idéia do que é?
GRETCHEN: O abuso?
TERAPEUTA: Vamos tratar disso. Lembra que
você disse que a parte mais poderosa da
definição era que você sofreu abuso sexual
por seu pai?
GRETCHEN: Eu sei que é.
TERAPEUTA: Vamos dar uma olhada nesta lista
de características que você usou para definir o valor de Emily. O que você percebe?
GRETCHEN: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Onde na lista está não ter sofrido abuso sexual?
GRETCHEN: Não está na lista.
TERAPEUTA: O que você deduz disso?
GRETCHEN: (Pára.) Eu não sei.
TERAPEUTA: Se sofrer abuso sexual determina absolutamente o valor de alguém, ele
deveria ficar fora da lista?
GRETCHEN: (Pára.) Talvez eu tenha só esquecido.
TERAPEUTA: É possível. Você gostaria de
acrescenter isso agora?
GRETCHEN: Tudo bem. Vamos colocar na lista.
TERAPEUTA: (Acrescenta à lista.) O que você
percebe agora?
GRETCHEN: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Quantos itens há na sua lista?
GRETCHEN: Seis.
TERAPEUTA: Quantos deles têm a ver com sofrer abuso sexual?
GRETCHEN: Um. Talvez ter sofrido abuso sexual não signifique totalmente que sou
sem valor. É uma de seis outras coisas. Por-
tanto, há outras coisas que me tornam uma
pessoa de valor também.
Passaremos pelos pontos fundamentais
neste exemplo de transcrição sistematicamente. Primeiro, o diálogo é bem ritmado, o
terapeuta não pressiona Gretchen com perguntas em um estilo interrogativo. Segundo, o
terapeuta perguntou o quanto Gretchen se via
como sem valor. Ele, então, construiu o questionamento socrático em torno dessa definição
“tudo-ou-nada”. Terceiro, o terapeuta centrouse na evidência para a autodescrição dolorosa
de Gretchen (“Em que coisas você baseia a definição?”). Quarto, com base em sessões antecessores, o terapeuta imaginou que o abuso sexual
de Gretchen houvesse contribuído para sua severa autodefinição (“O quanto isso entra em sua
definição?”). A escolha por esse tipo de pergunta
baseia-se em diversas considerações. É muito
importante você quer ajudar a criança a sentirse à vontade para revelar que isso faz parte de
sua definição. Além disso, perguntando “o
quanto”, você está comunicando implicitamente que seria bastante comum que o abuso sexual fizesse parte de sua definição. Finalmente, a
pergunta dimensional “o quanto” começa a
opor-se a seu processo de pensamento “tudoou-nada” categórico. Ela prepara o terreno para
a subseqüente verificação do pensamento.
O próximo passo no processo é particularmente importante. Perguntar quais das características molda mais poderosamente a definição é
um momento clínico importante. Quando se conhece o fundamento de sua crença, pode-se criar
um diálogo para testá-lo explicitamente.
Na fase seguinte, o terapeuta pediu que
Gretchen considerasse uma perspectiva mais ampla (“Quem você conhece que tem mais valor?”).
Após identificar sua amiga Emily, Gretchen foi
convidada a especificar o que tornava sua amiga
importante. O diálogo socrático então desviouse desta perspectiva objetiva da terceira pessoa,
retornando à sua auto-avaliação subjetiva. Aqui,
Gretchen classificou-se nas mesmas características que usou para determinar o valor de Emily.
Este é outro ponto crítico na troca. Ao preferir
que Gretchen se classificasse nas mesmas carac-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
terísticas de Emily, em vez de verificar se tinha
ou não traços semelhantes, você está tratando de
seu pensamento “tudo-ou-nada”, está estimulando o pensamento dimensional em vez de categórico e preparando ainda mais o terreno para a
verificação do pensamento. Lembre que no início do diálogo Gretchen revelou que se via como
totalmente sem valor. Portanto, ela se classifica
como tendo uma destas características em qualquer grau, você a ajuda a duvidar de sua conclusão (“Como pode alguém ser totalmente sem
valor se compartilha qualquer característica em
qualquer grau com uma pessoa de tanto valor?”).
Você poderia esperar que um cliente tivesse dificuldade em classificar-se nestas dimensões. Como ilustra o diálogo socrático, é preciso ajudar o cliente com alguns de seus julgamentos, assim como Gretchen precisou de orientação para avaliar sua situação acadêmica, seu
trabalho e sua capacidade de enfrentamento.
Na fase seguinte do diálogo, o terapeuta
pediu que Gretchen tirasse conclusões com base
nos dados coletados. O primeiro passo do
questionamento produziu poucos resultados
(“O que você deduz disso?”). Esta pergunta foi
muito abstrata e exigiu uma tremenda quantidade de síntese de Gretchen. Conseqüentemente, o terapeuta restringiu as perguntas (“Uma
pessoa totalmente sem valor teria alguma destas características?”; “Quantos 1 você tem?”;
“Então, o que isso diz sobre sua inutilidade?”).
Embora mais bem-sucedida que o questionamento abstrato, essa linha de indagação ainda se defronta com uma barreira psicológica.
O terapeuta sabia que a peça de evidência crucial (o abuso sexual) ainda não estava
tratada. Ele começou com uma pergunta específica (“Onde na lista está o item de não ter sofrido abuso sexual?”) e prosseguiu com uma
pergunta resumida ou sintetizadora (“Se sofrer
abuso sexual determina absolutamente o valor de alguém, ele deveria ficar fora da lista?”).
Nesse ponto, Gretchen parou e alegou que apenas tinha esquecido de colocá-lo na lista. O terapeuta prontamente aceitou a resposta e simplesmente colocou o item na lista. É importante observar que o terapeuta não discutiu com
Gretchen nem acreditou que agora a terapia ti-
95
vesse chegando a um impasse. Antes, ele esperava que o trabalho anterior, promovendo o
pensamento dimensional, estivesse prestes a
dar resultado.
Após o terapeuta incluir o item de abuso
sexual na lista, fez a Gretchen outra pergunta
sintetizadora (“O que você percebe agora?”). Infelizmente, essa pergunta abstrata veio cedo demais e foi improdutiva. O terapeuta retrocedeu
e prosseguiu mais sistematicamente (“Quantos
itens você tem em sua lista?”; “Quantos deles
têm a ver com sofrer abuso sexual?”). Após revisar essa informação, uma ponta de dúvida
surgiu na consciência de Gretchen. Aí ela foi capaz de assumir uma perspectiva mais ampla e
considerar que seu valor não era totalmente determinado por sua história de abuso. De fato,
outras características moldaram mais poderosamente sua autodefinição.
Esse diálogo mostra que, embora o terapeuta tenha dado vários passos em falso durante o questionamento, o processo foi bem-sucedido. Você não tem que construir um diálogo
socrático perfeito! Segundo, a efetividade do
diálogo foi impulsionada por uma firme conceitualização de caso e pelo entendimento da técnica. Terceiro, Gretchen não foi massacrada com
perguntas. Acima de tudo, o diálogo foi habilmente ritmado. Quarto, o foco estava mais em
lançar dúvidas do que em alcançar refutação e
discussão absolutas. Esta ênfase é bem ilustrada pela atitude do terapeuta de não depreciar a
confusão de Gretchen ou negar-se a considerar
suas omissões (“Talvez eu tenha apenas esquecido.”). Embora o terapeuta estivesse claramente
promovendo um processamento cognitivo profundo, Gretchen sentiu-se ouvida durante todo
o diálogo.
PERGUNTAS METAFÓRICAS
E BEM-HUMORADAS
Perguntas metafóricas, analógicas e bemhumoradas vêm a calhar com crianças e adolescentes. A maioria das técnicas apresentadas nos
capítulos de aplicações criativas (Capítulo 9), depressão (Capítulo 11), ansiedade (Capítulo 12) e
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96
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
comportamento disruptivo (Capítulo 13) faz uso
liberal de metáforas e de humor. A chave para o
sucesso com metáforas é usar aquelas que fazem
parte do mundo da criança (Beal e cols., 1996). Nos
questionamentos humorísticos, o alvo da piada
nunca deve ser a criança, o objeto do humor deve
ser sempre a crença. Nesta seção, descreveremos
formas metafóricas, divertidas e bem-humoradas
de testar os pensamentos das crianças.
Beal e colaboradores (1996, p. 222) sugeriram a engenhosa Pergunta dos Três Porquinhos
para diminuir a exigência de uma criança de que
as pessoas mudem para adequar-se a ela. Eles
faziam a pergunta: “Se os três porquinhos tivessem exigido que o lobo agisse de forma diferente, onde aquela crença os teria levado?”.
Você poderia usar esta pergunta com uma criança que exige que seu irmão mais novo o deixe em paz e não o incomode quando ele está
com seus amigos.
Obviamente, os questionamentos lógicos
desafiam as crenças (ilógicas) e o raciocínio causal das crianças. Os questionamentos empíricos
pedem que o cliente use dados e informações
para desenvolver novas crenças (“Qual é a evidência?”). Os questionamentos funcionais
enfatizam os custos e os benefícios de pensamentos, sentimentos e comportamentos (“Quais
são as vantagens de pensar que você não tem
valor?”). No paradigma de Beal e colaboradores, as crenças alternativas racionais são declarações de enfrentamento que neutralizam pensamentos imprecisos ou mal-adaptativos (“Mesmo que algumas crianças não gostem de mim,
ainda tenho muitos amigos. Eu não preciso que
todos gostem de mim para ser popular.”).
Os estilos assinalam como as perguntas
são proferidas (Beal e cols., 1996). Um estilo didático é caracterizado pelo ensino direto. O estilo socrático é marcado por perguntas que orientam a descoberta da criança. O estilo metafórico
envolve a ampliação da perspectiva da criança
mediante o uso de metáforas e analogias. Finalmente, o estilo humorístico encoraja a criança a
rir da imprecisão de seus pensamentos.
Em nossa prática, tendemos a nos basear
em discussões lógicas, empíricas e funcionais,
proferidas de formas socrática, metafórica e humorística. Com adolescentes, geralmente enfatizamos o método socrático, crianças menores têm
maior dificuldade com ele (Overholser, 1993a).
Combinando uma abordagem metafórica e/ou
humorística com perguntas lógicas, empíricas
e funcionais, pode ser mais atraente para crianças pequenas.
Overholser (1993b) discutiu cinco tipos de
analogias para uso clínico, que podiam basearse em conceitos médicos, mecânicos, estratégicos, relacionais e naturais. O exercício Trilhos de
Meus Medos é um exemplo de analogia mecânica
(“A ansiedade é como um trem que passa por
várias estações, como o pensamento, a emoção e
os relacionamentos interpessoais.”). Ao trabalhar
com jovens disruptivos, freqüentemente usamos
analogias esportivas que contêm estratégias para
ajudá-los a parar, relaxar e pensar (“Um professor é como um juiz em um jogo de basquete. Ele
pode apitar e marcar uma falta.”). Como Kendall
e colaboradores (1992), fazemos amplo uso de
analogias relacionais com crianças – por exemplo, dizemos coisas como “terapeutas são como
treinadores”, “a criança é o capitão do time de
tratamento” e “as crianças são como detetives
examinando pistas e evidências”.
O Meus Pensamentos de Borboleta é um exercício que faz uso de uma analogia natural, o da
borboleta, para ilustrar o conceito de mudança.
As crianças aprendem facilmente que lagartas
transformam-se em borboletas. A analogia é
uma forma de plantar a semente de que a metamorfose pessoal pode ocorrer. A analogia da borboleta e o registro relacionado tornam o trabalho auto-instrutivo divertido. Usando a analogia da borboleta, pode-se evitar o questionamento mais direto. Por exemplo, em vez de dizer “De que outra forma você pode trabalhar
nisto?” ou “O que mais você pode dizer para
você mesmo?”, fazendo esta pergunta às crianças: “Como você pode mudar seu pensamento
de lagarta para um pensamento de borboleta?”.
Os terapeutas começam apresentando o
conceito de borboleta. O seguinte exemplo mostra como introduzir o Meus Pensamentos de
Borboleta:
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
“Você sabe o que é uma borboleta? Veja, uma
borboleta começa como uma lagarta. Então ela
se transforma em borboleta. Não é legal? Uma
lagarta transforma-se em uma borboleta. É realmente importante saber que a forma como
você explica o que lhe acontece pode mudar.
As coisas que você diz para si mesmo quando
está se sentindo muito mal, como ‘Eu não sou
bom’, ‘Ninguém gosta de mim’, ou ‘Eu vou fazer papel de bobo’, são seus pensamentos de
lagarta. Eles ainda não mudaram para pensamentos de borboleta. Eu quero que você tente
transformar esses pensamentos de lagarta em
pensamentos de borboleta.”
Certamente você pode aumentar a explicação com figuras, histórias em quadrinhos e
desenhos de lagartas e borboletas.
O Registro de Pensamentos de Borboleta
é apresentado nas Figuras 7.3 e 7.4. Nas duas
primeiras colunas, a criança registra um evento
e seu sentimento correspondente. A terceira coluna, intitulada “Pensamentos de Largarta”, é
destinada para escrever os pensamentos imprecisos ou disfuncionais. A quarta coluna, intitulada “Pensamentos de Borboleta”, oferece às
crianças a oportunidade de sugerir pensamentos alternativos de enfrentamento.
Pensamento de
Lagarta
Evento
97
Pensamento de
Borboleta
Este Pensamento de
Lagarta pode se
transformar em um
Pensamento de
Borboleta?
Sentimento
FIGURA 7.3 Registro de Pensamentos de Borboleta. De Friedberg e McClure (2002). Copyright
por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura
apenas para uso pessoal.
Pensamento de
Lagarta
Evento
Este Pensamento de
Lagarta pode se
transformar em um
Pensamento de
Borboleta?
Sentimento
Esqueci de Triste
fazer minhas
tarefas e
mamãe e
papai ficaram
zangados
comigo.
Pensamento de
Borboleta
Eles me odeiam
porque acham que
sou preguiçoso e
mimado.
Sim!!
FIGURA 7.4 Exemplo do Registro de Pensamentos de Borboleta.
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Esqueci de fazer minhas
tarefas. Preciso melhorar e
me lembrar. Eles estão
desapontados comigo, mas
ainda me amam.
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98
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Dona Errilda é uma forma bem-humorada
de ensinar às crianças que erros são simplesmente uma parte da vida, não uma catástrofe. A personagem central da história, neste exercício, é
uma figura feminina, bondosa, de óculos. Em seu
diálogo com as crianças, ela compartilha sua visão de que erros são parte do ser humano (até
de seu próprio nome). O exercício Dona Errilda
é apresentado na Figura 7.5.
Dona Errilda começa com um texto introdutório, seguido por várias perguntas apresentadas de maneira cadenciada. As perguntas são
feitas de forma simples e incluem frases para a
criança completar, perguntas de múltipla escolha para as crianças circularem e perguntas
abertas.
O exercício Escavador de Pensamento (Friedberg
e cols., 2001) é um bom exemplo de uma abor-
Olá, eu sou a Dona Errilda. Meu trabalho é ajudá-lo a aprender que erros não
são horríveis. Você sabe, eles são parte da vida. Na verdade, são parte até do meu
nome! Se você se preocupar demais por ter cometido um erro, isso vai fazê-lo desistir
de tentar coisas novas ou até de continuar fazendo aquilo que você precisa ou quer
fazer.
Muitas vezes as crianças se castigam demais por seus erros. Elas podem temer
o que pais, amigos e professores dizem sobre erros. Você sempre se castiga por seus
erros? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Escreva a forma como você se castiga por seus erros.
A forma como me castigo por meus erros é ___________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________.
Você sempre se preocupa com o que os outros pensam sobre seus erros? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Quando cometo um erro, me preocupo que meus pais pensarão _____________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________.
Quando cometo um erro, me preocupo que meus professores pensarão ____________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________.
Quando cometo um erro, me preocupo que meus amigos pensarão _____________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________.
Agora, você sabe o que é uma competição? Você já esteve em uma competição? Um outro nome para
uma competição é um concurso. Eu vou lhe dar alguns instrumentos para que você possa vencer a Dona
Errilda.
Os instrumentos que vou lhe dar são perguntas. Aqui estão elas:
Quais são as partes boas de cometer um erro? _______________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________
(Continua)
FIGURA 7.5 Registro do Dona Errilda. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The Guilford
Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para uso pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
99
FIGURA 7.5 Registro do Dona Errilda. (Continuação)
Se não há partes boas em cometer erros, o quanto pode ser ruim cometer um erro? Circule uma resposta.
Nada ruim
Um pouco ruim
Completamente ruim
Você pode aprender alguma coisa ao cometer um erro? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Se você pode aprender algumas coisa ao cometer um erro, o quanto pode ser ruim cometer um erro? Circule
uma resposta.
Nada ruim
Um pouco ruim
Completamente ruim
Você pode ser realmente bom em alguma coisa e mesmo assim cometer um erro? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Se você pode ser realmente bom em alguma coisa e mesmo assim cometer um erro, o quanto é ruim cometer
um erro? Circule uma resposta.
Nada ruim
Um pouco ruim
Completamente ruim
Nomeie alguém que você realmente admira e de quem gosta que cometeu um erro.
Se alguém que você admira e de quem gosta comete erros, o quanto é ruim cometer um erro? Circule uma resposta.
Nada ruim
Um pouco ruim
Completamente ruim
A maioria dos meninos e meninas de sua turma usa borrachas? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Se a maioria dos meninos e meninas usa borrachas, o quanto é ruim cometer um erro? Circule uma resposta.
Nada ruim
Um pouco ruim
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Completamente ruim
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100
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
dagem divertida da verificação de pensamento
e do questionamento socrático. Nele, as crianças são encorajadas a se tornarem arqueólogos
que fazem escavações procurando pistas. Estimulamos as crianças a representarem um movimento de escavar quando fazem perguntas a
si mesmas. Além disso, usamos o termo “escavador de pensamento” como um tipo de taquigrafia terapêutica para dar sugestões às crianças
(“Você está sendo um escavador de pensamento?”). Finalmente, o diário do Escavador de Pensamento torna o processo de questionamento
socrático mais fácil para as crianças, porque perguntas comuns para testar pensamentos incorretos são fornecidas na folha de registro. A criança só tem que circular aquela que melhor se
ajusta à situação e ao pensamento incorreto.
O Relógio de Pensamento-Sentimento é uma
atividade de artes descrita no Capítulo 9 em torno da qual os terapeutas poderiam construir um
diálogo socrático. Após a criança divertir-se com
a atividade artística e completar seu relógio,
pode-se iniciar um diálogo socrático terapêutico.
Examine o diálogo abaixo para ver como seria
seu envolvimento em um diálogo socrático divertido e terapêutico.
TERAPEUTA: Realmente ficou um relógio muito legal. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. O que acontece com os ponteiros em
um relógio?
KIRA: Eles se movem em círculo.
TERAPEUTA: Exatamente. Eles se movem por
todo o espaço. Os ponteiros param alguma vez?
KIRA: Se o relógio estiver estragado ou as pilhas acabarem.
TERAPEUTA: Então é um pouco incomum que
os ponteiros de um relógio parem de se
mover?
KIRA: Sim.
TERAPEUTA: Os ponteiros em seu Relógio de
Pensamento-Sentimento se movem?
KIRA: Sim. Se movem. Vê? (Mostra o relógio.)
TERAPEUTA: Eu posso ver que eles se movem.
Olha eles se movendo. O que você acha que
significa que os ponteiros em seu relógio
movam-se de um sentimento para outro?
KIRA: Sei lá. Eu fiz o relógio direito?
TERAPEUTA: Sim, você fez. Mas eu tenho outra pergunta. Os ponteiros do relógio param em um sentimento?
KIRA: Não. Você pode mudar de um para outro.
TERAPEUTA: Então se o relógio estiver funcionando corretamente, os ponteiros movemse de um sentimento para outro?
KIRA: Sim.
TERAPEUTA: Então isso significa que sentimentos estão mais para variáveis ou mais
para invariáveis?
KIRA: Variáveis, eu acho.
TERAPEUTA: Quando você está se sentindo realmente triste, pensa que a tristeza é variável?
KIRA: Na verdade, não.
TERAPEUTA: Então, quando você está se sentindo realmente triste, é quase como se o
seu relógio estivesse parado em uma hora.
KIRA: É.
TERAPEUTA: Então, você acha que é o sentimento que realmente não vai mudar ou é mais o
jeito como você está pensando nas coisas
que estão acontecendo, isso faz parecer que
os sentimentos não vão mudar? Parece um
pouco como se seu relógio estivesse parado em um sentimento.
O que o exemplo nos ensina? Primeiro, o
relógio é uma analogia mecânica que ajuda a
ilustrar a variabilidade. Segundo, a analogia torna-se concreta pela atividade artística. Terceiro,
devido à analogia e à atividade artística, o diálogo planejado para testar o pensamento não se
configurou como um interrogatório.
O uso de telefones de brinquedo também pode
estimular um diálogo socrático (Deblinger, 1997).
A introdução dos telefones na terapia pode dar-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
o distanciamento necessário à criança para realizar um diálogo socrático. Uma criança que pode
se sentir pressionada por um diálogo socrático
tradicional pode facilmente envolver-se em um
diálogo pelo “telefone”. Lembramos de uma criança que não estava muito envolvida nos diálogos terapêuticos e respondia relutantemente com
um “Eu não sei” na sessão. Quando a brincadeira do telefone foi introduzida, ele quase esquecia que estava em terapia e respondia mais livremente. O telefone pode diminuir a sensação de
estar sendo interrogada. Além disso, uma criança pode “encerrar a ligação” com o terapeuta com
impunidade durante a brincadeira.
101
CONCLUSÃO
Construir um diálogo socrático é mais do
que brincar de “Vinte Perguntas” ou fazer a criança pensar o que você pensa. Humor, metáfora e brincadeiras são os blocos de concreto que
você usa para construir diálogos socráticos com
crianças e adolescentes. As perguntas ajudamno a orientar a descoberta das “verdades” das
crianças, até então ocultas. À medida que você
progride na leitura deste livro em direção a técnicas e aplicações específicas para transtornos
particulares, nós o encorajamos a desenvolver
diálogos socráticos criativos e dinâmicos.
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Técnicas Cognitivas
e Comportamentais
Comumente Usadas
Este capítulo apresenta as técnicas cognitivas e comportamentais que normalmente usamos com crianças e adolescentes. Os instrumentos variam em complexidade e no nível de análise racional exigida das crianças. Começamos
pela conceitualização de instrumentos cognitivo-comportamentais básicos e então discutimos a aquisição de habilidade e sua aplicação.
Seguem-se explicações de tarefas comportamentais relativamente diretas e tarefas cognitivas auto-instrutivas básicas. O capítulo termina com intervenções cognitivas e comportamentais mais complexas.
DIMENSÕES DAS TÉCNICAS
COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS
Ellis (1962, 1979) classificou as intervenções
cognitivo-comportamentais ao longo de dimensões refinadas e não-refinadas. Ao fazer essa diferenciação, ele estava tratando da profundidade do processamento racional envolvido em estratégias de tratamento. As técnicas não-refinadas
centram-se na mudança do conteúdo do pensamento mediante intervenções auto-instrutivas.
As técnicas refinadas introduzem processos de raciocínio mais sofisticados para mudar o conteúdo, o processo e a estrutura do pensamento mediante uma análise racional profunda. Não con-
8
sideramos as técnicas refinadas superiores às
não-refinadas, vemos cada tipo de estratégia
como adequada a situações particulares. Ambas
as técnicas são intervenções funcionais.
Há uma hora e um lugar no processo de
terapia tanto para estratégias refinadas quanto
para não-refinadas. As estratégias não-refinadas
geralmente são preferíveis no início do processo de tratamento, pois freqüentemente funcionam melhor com indivíduos altamente angustiados e com os estão em crise imediata. Utilizamos abordagens não-refinadas preferencialmente com crianças pequenas, crianças com
menor desempenho verbal e crianças cognitivamente menos sofisticadas. De modo inverso, as
estratégias refinadas são tipicamente empregadas mais tarde no tratamento, subseqüentes ao
sucesso de estratégias não-refinadas. Crianças
mais velhas, com maior desenvoltura verbal e
capazes de adquirir e aplicar habilidades mais
abstratas beneficiam-se de estratégias refinadas.
Uma vez que as estratégias refinadas requerem
processamento cognitivo-emocional mais trabalhoso, não se deveria cogitá-las em tempos de
crise ou durante intenso sofrimento emocional.
Entretanto, os procedimentos refinados provavelmente servem ao processo de generalização, uma vez que focalizam a mudança do processo de pensamento, bem como de seu conteúdo.
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104
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
AQUISIÇÃO DE HABILIDADE
(PSICOEDUCAÇÃO) VERSUS
APLICAÇÃO DE HABILIDADE
(PSICOTERAPIA)
A terapia cognitiva competente requer que
ajudemos nossos clientes a aplicar suas habilidades adquiridas no contexo de estimulação
afetiva negativa (Robins e Hayes, 1993). Acreditamos que muitas crianças, quando ficam perturbadas, esquecem de aplicar suas habilidades.
Muitas vezes dirão algo como “Eu estava preocupado e nervoso demais para fazer o diário de
pensamento”. A hora perfeita para aplicar técnicas cognitivas é quando a criança está nervosa.
Para nós, a psicoeducação é marcada pela
aquisição de habilidade, enquanto a psicoterapia,
pela aplicação de habilidade. Na psicoeducação,
são ensinados às crianças os conceitos e as informações psicologicamente relacionados (p.
ex., modelos de raiva, formas de lidar com a
raiva, como relaxamento, reatribuição). Na
psicoterapia, os clientes são encorajados a recorrer a essas habilidades quando estão emocionalmente perturbados. Todas as técnicas descritas neste capítulo precisam ser adquiridas e
aplicadas.
A aquisição de habilidade geralmente não
é complicada. É ensinada de maneira gradual e
clara às crianças e às suas famílias. A maioria
dos clientes adquire facilmente habilidades específicas. Entretanto, a aplicação de habilidade
é mais difícil de alcançar. Ao supervisionar
terapeutas, eu (RDF) descobri que eles muitas
vezes evitam aplicar uma intervenção cognitivocomportamental quando a criança está emocionalmente excitada. Contudo, quando esta pratica habilidades de enfrentamento em uma situação emocionalmente tensa, tem um senso genuíno de domínio. Por exemplo, uma menininha chorosa revelou o quanto sentia-se triste
porque achava que seu pai não a amava tanto
quanto à sua nova enteada. O terapeuta conversou com a menina durante seu momento de
sofrimento, mas deixou de recorrer ao diário de
pensamento ou de registrar de outra maneira
os novos pensamentos que a criança usou para
lidar com a situação. Embora essa experiência
tenha sido momentaneamente útil, o terapeuta
perdeu a oportunidade de reforçar a aplicação
de habilidades adquiridas e de facilitar uma
generalização. As crianças precisam de oportunidades in vivo para praticar as habilidades adquiridas.
INSTRUMENTOS COMPORTAMENTAIS
BÁSICOS
Treinamento de relaxamento
O treinamento de relaxamento é uma técnica comportamental possível de ser aplicada a
uma variedade de problemas, como o enfrentamento de ansiedade e de raiva. O relaxamento
muscular progressivo (Jacobson, 1938) envolve
tensionar e relaxar alternadamente grupos musculares específicos. Encoraja-se a leitura de textos sobre treinamento de relaxamento para uma
cobertura mais profunda (Goldfried e Davison,
1976; Masters, Burish, Hollon e Rimm, 1987),
bem como a consulta a fontes específicas de treinamento de relaxamento para crianças e adolescentes (Koeppen, 1974; Ollendick e Cerny,
1981). Esta seção ressaltará resumidamente algumas questões fundamentais no treinamento
de relaxamento.
Goldfried e Davison (1976) sugerem que,
durante a fase de tensão muscular, os músculos
deveriam ser tensionados três quartos da sua
capacidade em vez de serem totalmente tensionados. Beidel e Turner (1998) recomendam que
as sessões de relaxamento com crianças devem
ser breves e incluir apenas alguns grupos musculares. Goldfried e Davison (1976) também propõem que os padrões de fala do terapeuta sejam suaves, melódicos, afetivos e com um ritmo mais lento do que os padrões de fala convencionais. Um tom monótono e até um pouco tedioso pode faciliar o relaxamento da criança.
Estes autores aconselham que 5 a 10 segundos
de tensão sejam seguidos de 20 segundos de re-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
laxamento muscular. O teor dos roteiros de relaxamento deveria adequar-se ao nível de desenvolvimento da criança. Koeppen (1974) e
Ollendick e Cerny (1981) criaram roteiros de
relaxamento muito inventivos para crianças,
sensíveis ao nível de desenvolvimento, que incluem metáforas e analogias fortes (p. ex., dê
uma mordida de quebrar o queixo).
Tornar o relaxamento mais envolvente é
uma consideração importante. Wexler (1991)
oferece várias formas inventivas de prática de
relaxamento. A Dez Velas é sua favorita. Nesse
exercício de relaxamento, Wexler convida o cliente a imaginar 10 velas acesas em seqüência.
A criança é instruída a apagar uma vela de cada
vez, com suas expirações. Essa técnica é boa
porque a forma como se apaga as velas coincide com a forma de inspirar e expirar durante o
relaxamento. Além disso, visualizar a vela sendo apagada estimula as crianças a expirar mais
fortemente. Por fim, a visualização mantém as
crianças cognitivamente “ocupadas” e envolvidas; enquanto trabalham na visualização das velas, têm menos espaço mental para ruminar certos pensamentos.
As crianças nervosas podem se contorcer
e ficar irriquietas. Se o relaxamento muscular
não acalmar o comportamento nervoso e agitado, pode-se usar cada caso de comportamento irriquieto como uma sugestão para relaxamento mais profundo (p. ex., “Enquanto percebe a batida de seu pé, você fica cada vez mais
relaxado. Quando muda sua posição na cadeira, é um sinal para relaxar ainda mais”). Encurtar as sessões de relaxamento também ajudará. Finalmente, empregar uma metáfora de
esportes pode ser útil (Sommers-Flannagan e
Sommers-Flannagan, 1995). Por exemplo, assistir a um jogador de basquete acalmar-se antes de fazer um arremesso de falta ou um jogador de tênis preparar-se para um ponto crucial
pode ensinar as crianças a centrar seus esforços de relaxamento. Pode-se trazer trechos de
vídeos que ilustrem esses momentos e vê-los
com os jovens clientes.
105
Dessensibilização sistemática
Dessensibilização sistemática (DS) é um
procedimento contracondicionante usado para
diminuir medos e ansiedade. Conforme proposto originalmente por Wolpe (1958), a DS envolve a combinação de estímulos geradores de ansiedade com um agente contracondicionante (tipicamente, o relaxamento). A apresentação temporariamente contígua faz com que a ansiedade seja inibida por seu oposto ou recíproco (relaxamento), daí o termo inibição recíproca. Diversos componentes estão incluídos no procedimento de DS. A fim de conduzir uma dessensibilização sistemática, hierarquias de ansiedade
devem ser desenvolvidas, realizando-se um treinamento em um agente contracondicionante.
O primeiro passo na DS é dividir o medo
em suas peças constituintes. Cada componente
do medo é então classificado. Conforme observou Goldstein (1973, p.227): “Usando a informação obtida do paciente, os grupos de estímulos
geradores de ansiedade são isolados e organizados em ordem hierárquica”. Hierarquias de ansiedade são construídas estabelecendo-se Unidades Subjetivas de Sofrimento (USS) (Masters e
cols., 1987). As USS refletem os diferentes níveis
de intensidade associados com cada medo. As
hierarquias comuns são classificadas de 1 a 100
em gravidade e intensidade. As crianças podem
beneficiar-se de escalas de classificação com menos variabilidade, como de 1 a 10.
Para entender totalmente a natureza dos
medos de cada criança e implementar uma DS
efetiva, precisa-se reconhecer todos os aspectos
dos medos da criança. Conseqüentemente, evocam-se os componentes interpessoal, cognitivo,
emocional, fisiológico e comportamental presentes no medo. Pode-se fazer perguntas como “O
que torna ________________ um 3?”; “O que passa pela sua cabeça?”; “Quem estava lá?”; “O que
você faz em um 3?” e “Como seu corpo fica em
um 3?”. Cada cena pode ser escrita em uma ficha. Crianças pequenas gostam de desenhar as
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106
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
cenas que, após serem detalhadas, são organizadas hierarquicamente.
Assim que o medo for compartimentalizado e hierarquicamente organizado, o procedimento começa com o item mais baixo na
hierarquia. A criança é instruída a relaxar e imaginar uma cena agradável. Quando estiver relaxada, é apresentado o primeiro item. Se a criança experimentar ansiedade, ela é instruída a
levantar um dedo suavemente. Se for relatada
ansiedade, a criança é instruída a parar de imaginar a cena e retornar à cena agradável anterior. À medida que as crianças obtêm domínio
sobre a cena, elas dão um passo acima na hierarquia até que o nível mais alto de medo seja
atenuado.
Morris e Kratochwill (1998) oferecem diretrizes úteis para a dessensibilização sistemática. Primeiro, recomendam que cada cena geradora de ansiedade deveria ser apresentada
três ou quatro vezes. As primeiras apresentações representam experiências práticas. Morris
e Kratochwill (1998) sugerem que a cena geradora de ansiedade seja apresentada inicialmente por pelo menos 5 a 10 segundos e a duração,
prolongada em apresentações subseqüentes (p.
ex., para 10 a 15 segundos). Finalmente, Morris
e Kratochwill propuseram que a criança experimente um período de relaxamento de aproximadamente 15 a 20 segundos entre cada apresentação.
TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS
O ensino de habilidades sociais acompanha um processo cognitivo-comportamental
característico (Beidel e Turner, 1998; Kazdin,
1994). Primeiro, a habilidade é ensinada à criança mediante instrução direta. Freqüentemente,
algum material psicoeducativo é apresentado
junto com a modelagem da habilidade particular (p. ex., empatia). A prática gradual segue a
aquisição de habilidade, pois o ensaio facilita a
aplicação. Freqüentemente, a prática gradual ou
o ensaio envolve uma representação de papel.
A criança recebe feedback a fim de manter o desenvolvimento correto da habilidade e corrigir
habilidades imperfeitas. Finalmente, a criança
experimenta suas habilidades em contextos do
mundo real, recebendo reforço positivo por seu
empenho.
Várias áreas de conteúdo podem ser abrangidas pelo guarda-chuva do treinamento de habilidades sociais. Por exemplo, as crianças podem aprender novas formas de fazer amigos,
manejar sua agressividade, lidar com provocações, dar e receber cumprimentos e fazer pedidos de ajuda. Comumente ensinamos às crianças habilidades de empatia nas quais tentam
melhorar sua perspectiva. Pela terapia, as crianças também podem adquirir habilidades de
resolução de problema para situações interpessoais e desenvolver uma mistura de formas alternativas de pensar, sentir e agir.
O treinamento da empatia e o ensino de tomada de perspectiva são componentes de muitos grupos de habilidades sociais. Geralmente, o treinamento da empatia envolve escutar, identificar
e rotular sentimentos, aceitá-los e comunicar sua
aceitação (LeCroy, 1994; Wexler, 1991). O trabalho de grupo é especialmente útil para o treinamento de empatia e perspectiva, pois permite a
prática in vivo de habilidades empáticas e de
tomada de perspectiva. Por exemplo, se faz
quando uma observação insensível ou ofensiva, um momento de ensino é percebido. Considere o seguinte diálogo com uma adolescente
agressiva.
ÂNGELA: Estou cansada de ouvir as besteiras
de Cassie. Ela acha que tem mais problemas que os outros. Eu tenho um monte
de merda em cima de mim também.
TERAPEUTA: Eu posso ver que você está frustrada, Angela. Mas também fico me perguntando como acha que Cassie se sente
depois de compartilhar sua história sobre
a violência na sua casa e no seu bairro e
então ouvir o que você tem para dizer.
ÂNGELA: Não me importa como ela se sente.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Bem, este é um excelente exemplo do que precisamos fazer no grupo.
CASSIE: É isso aí. Ela precisa controlar sua boca.
ÂNGELA: Eu não preciso controlar nada.
TERAPEUTA: Tudo bem, vocês duas precisam
parar por um minuto. Agora, Ângela, respire fundo e pergunte a si mesma que problemas estão lhe trazendo à terapia.
ÂNGELA: Eu me meto em brigas na escola e
em casa.
TERAPEUTA: Bom. Todos do grupo sabem o
que está acontecendo aqui?
JENAE: Ela está se metendo numa briga agora
mesmo.
TERAPEUTA: Obrigado, Jenae. Então, Ângela,
eu sei que você é boa em meter-se em brigas.
O quanto você quer ser boa em sair delas?
ÂNGELA: Eu não tenho medo dela.
CASSIE: Mas devia ter.
TERAPEUTA: Meninas, se segurem. Tempo.
Vocês querem ver como é fácil simplesmente fazer o que vocês estão acostumados a fazer? Ângela, quero que você tente
uma coisa. Você é esperta. Quero ver se
pode me dizer como Cassie se sente quando você diz que está cansada de ouvir sobre os problemas dela.
ÂNGELA: Furiosa. Ela provavelmente está
pronta para explodir comigo. Mas é melhor ela ficar na dela.
CASSIE: Eu não tenho medo de você.
TERAPEUTA: Cassie, como foi ouvir Ângela
dizer que você estava furiosa?
CASSIE: Eu não me importo.
TERAPEUTA: É melhor ou pior do que quando
ela disse que estava cansada de ouvir sobre os problemas de sua família?
CASSIE: Melhor, eu acho.
TERAPEUTA: Ângela, você pode tentar mais
uma coisa?
ÂNGELA: O quê?
TERAPEUTA: Você pode simplesmente dizer
como você acha que Cassie está se sentindo
e esquecer a advertência sobre ficar na sua?
ÂNGELA: Ela está furiosa porque acha que eu
não a respeito.
107
TERAPEUTA: Cassie, é isso mesmo?
CASSIE: Ela está certa.
TERAPEUTA: Como é ouvir Ângela dizer isso?
CASSIE: Eu gosto. Eu me senti melhor.
TERAPEUTA: O que isso fez à sua raiva, Cassie?
CASSIE: Está menor.
TERAPEUTA: E quanto a você, Ângela?
ÂNGELA: Menor, eu acho.
TERAPEUTA: Para o resto de vocês no grupo, o
que Ângela e Cassie fizeram para evitar
uma briga?
Qual o valor desta troca? Primeiro, o
terapeuta usou o conflito como um momento
de ensino no qual ele conduziu as meninas pelo
treinamento da empatia. Segundo, tanto Cassie
quanto Ângela praticaram as habilidades adquiridas uma com a outra. Terceiro, o terapeuta
usou instruções curtas e claras para ilustrar pontos fundamentais.
O treinamento assertivo é um componente
importante da construção de habilidade social.
As crianças aprendem várias técnicas, como o
disco rachado, o enevoado e a afirmação empática (Feindler e Guttman, 1994), que permitem
que elas façam e respondam a solicitações,
desativem situações voláteis e controlem o conflito com amigos, irmãos, pais e figuras de autoridade. Além disso, o treinamento assertivo
as ensina a fazer e a responder a convites, cumprimentar os demais, fazer e receber gentilezas
e pedir ajuda. Os ingredientes do treinamento
de habilidades sociais ajudam crianças inibidas
a envolverem-se em interações sociais e estimulam a agilidade social. As habilidades particulares para crianças agressivas, desinibidas ou explosivas enfatizam a negociação do conflito de
uma maneira mais autocontrolada e pacífica.
Role Playing
O Role Playing é uma técnica que facilita o
treinamento de habilidades sociais e evoca pensamentos e sentimentos importantes. Deve-se
tentar que as representações sejam o mais rea-
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108
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
listas possível, e, a fim de obter uma boa informação de fundo sobre o personagem que estão
representando, fazer-lhes perguntas específicas.
Ao desempenhar o papel de um amigo, do pai
ou do professor, precisa saber coisas sobre o personagem que está representando. Peça exemplos para a criança de coisas que essas pessoas
poderiam dizer, as formas como reagem, seus
maneirismos, coisas de que apreciam ou não,
para dar insight a seu personagem. Além disso,
muito provavelmente, se um problema exige
uma intervenção do role playing, as circunstâncias são aflitivas para a criança, portanto você
precisa tratar esses elementos aflitivos em seu
desempenho simulado.
ter contato visual com o adulto enquanto recebe uma ordem ou uma instrução pode ser o objetivo inicial para uma criança desobediente e
desatenta. Uma vez que ela mantenha contato
visual, outros comportamentos são identificados e recompensados (p. ex., reconhecimento da
instrução, movimento em direção à obediência).
Desenvolver tarefas graduais realizáveis é um
ingrediente crucial na modelagem do comportamento.
As crianças perdem a confiança naqueles
indivíduos que exigem mas quebram contingências. Além disso, elas ficam com uma sensação
de desamparo associada com uma contínua
incontingência.
Controle de contingência
Programação de evento prazeroso/
programação de atividade
Contingências representam o relacionamento entre comportamentos e conseqüências.
O controle de contingência especifica o tipo de
recompensas que dependem das ocorrências específicas de respostas comportamentais particulares. Comportamentos novos, mais adaptativos, são estimulados pelo oferecimento de recompensas por seu surgimento, enquanto comportamentos problemáticos são diminuídos pela
remoção ou não-ocorrência desses reforçadores.
O controle de contingência começa com a
identificação de quais comportamentos você
quer ver mais freqüentemente e quais você quer
ver menos. Portanto, a natureza do comportamento esperado, sua freqüência e sua duração
precisam ser claramente expressadas (p. ex.,
“Johnny estudará em uma sala silenciosa durante 20 minutos, três dias por semana”) Uma
vez identificado o comportamento-alvo, as contingências são estabelecidas pela especificação
de arranjos “se-então”. Por exemplo, se Johnny
estudar em uma sala silenciosa durante 20 minutos, alguma coisa boa se seguirá (a família
vai ver o filme que Johnny escolher).
A modelagem do comportamento também
envolve a recompensa de pequenos passos iniciais em direção a um objetivo para estabelecer
o momento comportamental. Por exemplo, man-
A programação de evento prazeroso é usada para aumentar o nível de reforço positivo na
rotina diária de uma criança, bem como para
ativar uma criança inativa (A. T. Beck e cols.,
1979; Greenberger e Padesky, 1995), utilizando
um programa que lembra uma agenda. Geralmente, os dias da semana são listados de um
lado a outro da página, e as horas, de cima para
baixo, no lado esquerdo da página. Esse tipo de
grade gera espaços em branco que correspondem a horas do dia e a dias da semana específicos.
O terapeuta e a criança programam colaborativamente várias atividades agradáveis durante a semana. A idéia é aumentar o nível de
reforço na vida da criança. Além disso, quando
esta percebe alguma atividade prazerosa durante a semana, sua depressão pode dissipar-se. É
importante prescrever tais atividades e obter o
compromisso da criança e da família de realizálas durante a semana. Crianças deprimidas não
terão motivação para se envolver em atividades prazerosas, portanto, será necessário um esforço considerável para ajudar a criança a completar a tarefa.
Crianças mais velhas e adolescentes são
simplesmente convidados a registrar suas ativi-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
dades prazerosas nos espaços que correspondem
à hora do dia em que foram realizadas. Pode-se
também pedir que avaliem seu humor antes e
depois da atividade.
Previsão de prazer/previsão
de ansiedade
As técnicas de previsão de prazer e de previsão de ansiedade decorrem naturalmente do
processo de programação de atividade (J. S.
Beck, 1995; Persons, 1989). Na previsão de prazer, a criança planeja uma atividade e prevê
quanta satisfação extrairá dela. Após a atividade, avalia quanto divertimento real na verdade
experimentou. O terapeuta pode trabalhar com
a criança para comparar seu nível atual de satisfação com o nível esperado de prazer. Visto
que que crianças deprimidas caracteristicamente subestimam o quanto de divertimento terão,
comparar os níveis de prazer melhores que o
esperado é um teste para suas previsões pessimistas. Em casos em que as previsões pessimistas são precisas, uma vantagem terapêutica ainda pode ser percebida. Por exemplo, se um adolescente deprimido previu um baixo nível de satisfação e então percebeu um semelhante nível
de baixo prazer, poderia-se testar a suposição
de que a previsão de divertimento determina a
ação (“Você tem que querer fazer alguma coisa
para realmente fazê-la?”). Além disso, o simples
fato de que um adolescente deprimido realizou
a atividade, a despeito da anedonia e da insatisfação real previstas, é uma mensagem importante sobre suas percepções de auto-eficácia. O
seguinte diálogo mostra como processar esses
problemas com um adolescente deprimido. O
trabalho de grupo é especialmente útil para o
treinamento de empatia e de perspectiva.
JEREMY: Viu, eu disse que ir ao jogo com meus
amigos seria um 3.
TERAPEUTA: Então você foi ao jogo e ele foi
mais ou menos, exatamente como você
previu.
JEREMY: É.
109
TERAPEUTA: O que o tornou um 3?
JEREMY: Ele foi um pouco mala.
TERAPEUTA: Mala?
JEREMY: Você sabe, eu vi alguns dos outros garotos com suas namoradas e líderes de torcida. Eu não tenho isso. Isso me lembrou
do que não tenho, do quanto sou um pária.
TERAPEUTA: Entendo. Então aquelas foram as
coisas negativas que entraram no 3. Quais
foram as coisas divertidas?
JEREMY: Bem, meus amigos e eu meio que nos
divertimos.
TERAPEUTA: Como você teria se sentido se tivesse ficado em casa sozinho?
JEREMY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Você acha que teria se divertido
com seus amigos?
JEREMY: Obviamente não.
TERAPEUTA: Então você não teria tido aquela
diversão. O quanto você teria pensado que
era um pária se estivesse sentado sozinho
em sua sala?
JEREMY: Muito mais, eu acho.
O que este diálogo nos ensina? Primeiro,
o terapeuta foi direto à crença de Jeremy de que
a motivação deve preceder a ação. Segundo, ajudou Jeremy a prestar atenção aos aspectos positivos de suas ações (“Como você teria se sentido se tivesse ficado em casa sozinho?”, “O quanto você teria pensado que era um pária se estivesse sentado sozinho em sua sala?”).
A previsão de ansiedade é bastante semelhante à previsão de prazer. Embora crianças
deprimidas tipicamente subestimem o prazer,
as ansiosas superestimam seus níveis de sofrimento. Elas esperam que as circunstâncias sejam mais estressantes do que realmente são. Portanto, convidamos as crianças a prever seu nível antecipado de ansiedade, realizar a tarefa e
então avaliar sua ansiedade real. Esta técnica
simples, porém efetiva, leva as crianças a verem que suas previsões freqüentemente aumentam o potencial estressante de uma situação.
Nos casos em que a avaliação prevista é mais
baixa do que a avaliação real, aprendem que po-
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110
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
dem abordar a tarefa mesmo que antecipem e
experimentem sentimentos de ansiedade.
Intervenções básicas de
resolução de problemas
A resolução do problema consiste de cinco
passos básicos (Barkley e cols., 1999; D’Zurilla,
1986). O Passo 1 envolve a identificação do problema em termos específicos e concretos (“Minha irmã fica pegando minhas coisas mesmo que
eu lhe digo para não pegar.”). No Passo 2, a criança é ensinada a gerar soluções alternativas.
Deve-se ter o cuidado de não antecipar a fase de
debate. O Passo 3 é uma avaliação de opções.
Neste passo, terapeutas e crianças avaliam cuidadosamente as conseqüências de curto prazo
e de longo prazo de cada opção, que as crianças
devem escrever. A resolução do problema pode
ser uma tarefa um pouco abstrata, de modo que
o registro do processo no papel concretiza o procedimento. No Passo 4, após a consideração deliberada de cada solução, o terapeuta e a criança planejam a implementação da melhor solução. Finalmente, recompensar a experimentação
bem-sucedida com soluções alternativas caracteriza o Passo 5. Se a criança experimenta uma
nova solução, é instruída a recompensar a si
mesma. A recompensa poderia ser uma autorecompensa interior (p.ex., “Parabéns, eu tentei alguma coisa nova.”) ou uma recompensa
palpável, como algum pequeno troféu ou símbolo.
No livro Trocando os canais (Friedberg e
cols., 1992), a resolução de problemas é introduzida por um jogo no qual as crianças recebem $100 em dinheiro de brinquedo. Elas devem escolher CDs de música de várias categorias a fim de gastar exatamente $100. O exercício visa a promover a flexibilidade das crianças, estimular a resolução de problemas, ampliar o entendimento de soluções múltiplas e lançar dúvida sobre a crença adolescente comum
de que “Eu só posso escolher entre alternativas
desejáveis”. A música selecionada para o exer-
cício foi intencionalmente escolhida para refletir opções sem atrativos para as crianças. Portanto, ao completarem o exercício, as crianças
ganham prática em escolher entre alternativas
indesejáveis.
Castro-Blanco (1999) sugeriu outra excelente alternativa para resolução de problemas.
Ele recomendou contar piadas ou partilhar histórias com as crianças que contenham uma situação de resolução do problema. Certamente,
a maioria das piadas ou histórias contém um
dilema que precisa ser resolvido. Tais narrativas servem como modelo com o qual a criança
contrapõe/compara sua estratégia de resolução
de problema e como um estímulo para discussão e geração de estratégias alternativas de solução de problemas.
Projeção de tempo
A projeção de tempo (Lazarus, 1984) é uma
intervenção do tipo resolução de problemas planejada para criar espaços entre uma emoção
aflitiva e a resposta subseqüente. Conseqüentemente, trabalha para diminuir o comportamento impulsivo e a tomada de decisão/resposta
emocional precipitada. Em geral, a projeção de
tempo convida as crianças a considerarem como
se sentiriam em relação à mesma situação em
vários pontos, variando do futuro imediato ao
futuro distante. Por exemplo, você poderia perguntar: “Como você se sentirá em relação a isto
em seis horas? O que você faria diferente? Como
você se sentirá daqui a um dia? Uma semana?
Um mês?”. Você pode progredir até um ano ou,
talvez, cinco. Em cada intervalo de tempo, você
deve assegurar-se de perguntar o que a criança
faria diferente. Como um leitor alerta, você percebe que é altamente improvável que as crianças
se sentirão hoje da mesma maneira que daqui a
cinco anos em relação à mesma situação. Portanto, se o sentimento delas é absolutamente variável, decisões precipitadas baseadas em uma resposta emocional impulsiva (suicídio, violência,
fuga de casa) são claramente improdutivas.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Avaliação de vantagens
e desvantagens
111
Fazendo minha lição de casa na frente da televisão
Avaliar as vantagens e as desvantagens de
certas escolhas, comportamentos e decisões é
uma intervenção de resolução de problema direta que pode ajudar as crianças a obter uma
perspectiva mais ampla. Em geral, vantagens e
desvantagens estimulam as crianças a examinar ambos os lados de uma questão e a agir de
forma que atenda a seus melhores interesses.
Quatro passos básicos estão envolvidos na
listagem das vantagens e desvantagens. No Passo 1, a questão sobre a qual a criança quer obter
maior perspectiva é definida (p. ex., fazer a lição de casa na frente da TV). No Passo 2, ela
lista o máximo de vantagens e desvantagens em
que possa pensar. Pode-se ter que estimular ou
orientar a criança neste processo a fim de que
ela considere completamente cada lado da questão. A Figura 8.1 mostra um exemplo de
listagem das vantagens e desvantagens que as
crianças poderiam desenvolver para fazer a lição de casa na frente da televisão.
No Passo 3, você e a criança revisam as
vantagens e as desvantagens. Você poderia fazer perguntas como “O que torna isso uma vantagem?”, “O que torna isso uma desvantagem?”, “Quanto vai durar essa vantagem/desvantagem?” e “O quanto essa vantagem/desvantagem é importante?”. Recomendamos a
revisão de cada vantagem e desvantagem em
profundidade antes de prosseguir.
No Passo 4, a criança chega a uma conclusão após considerar todas as vantagens e desvantagens. Recomendamos ajudar a criança a
dar a razão tanto das vantagens como das desvantagens em suas conclusões. É importante
lembrar que o objetivo é que as crianças considerem conscientemente ambos os lados de uma
questão.
VANTAGENS
DESVANTAGENS
Fica mais divertido.
Eu tenho que ver
mais TV.
Eu não fico tão entediado.
É difícil de se concentrar.
Eu demoro mais porque
faço mais interrupções.
Eu não tenho um bom lugar para escrever ou colocar meus livros e papéis.
FIGURA 8.1 Exemplo de vantagens e desvantagens.
TÉCNICAS BÁSICAS DE
AUTO-INSTRUÇÃO: ALTERANDO
O CONTEÚDO DO PENSAMENTO
Em geral, intervenções de auto-instrução/
autocontrole enfatizam a mudança do diálogo interno sem análise racional profunda. O foco é substituir pensamentos mal-adaptativos por pensamentos adaptativos e produtivos (Meichenbaum,
1985). Consideramos as técnicas auto-instrutivas
instrumentos não-refinados que, contudo, são
úteis em várias circunstâncias.
Geralmente, as intervenções auto-instrutivas
incluem fases de preparação, de encontro e de
auto-recompensa (Meichenbaum, 1985). Em cada
estágio, as crianças são instruídas a desenvolver
novas orientações ou regras para seu próprio comportamento que as ajudarão a passar por situações estressantes. O objetivo é que construam padrões de fala interior que estimulem comportamentos mais adaptativos.
No estágio de preparação, você encoraja a
criança a preparar-se para a situação aflitiva.
Idealmente, a auto-instrução envolve uma declaração tranqüilizadora, porém, estratégica (p.
ex., “Eu sei que será difícil, mas pratiquei um
jeito de afastar-me de uma briga. Apenas lembre-se de permanecer controlado”). A auto-instrução acentua o foco na tarefa. A criança é en-
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112
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
sinada a prestar atenção a tarefas importantes,
necessárias para negociar sua passagem pelos
estressores.
No estágio de encontro, a criança é ensinada a desenvolver monólogos que diminuem
seu estresse enquanto vivencia as circunstâncias desconfortáveis (p. ex., “Isto é exatamente o
que eu imaginei que aconteceria. Estou ficando
nervoso e irritado. Eu tenho um plano. Agora
preciso usá-lo. Vou manter minhas mãos cruzadas nas costas”). Após a criança aplicar a estratégia de controle, entra na fase de auto-recompensa. A criança é ensinada a dar créditos velados a si mesma por seguir a auto-instrução adequada (“Eu me esforcei para permanecer controlado. Eu vou recompensar-me por permanecer controlado.”).
TÉCNICAS BÁSICAS DE ANÁLISE
RACIONAL: ALTERANDO O
CONTEÚDO E O PROCESSO DE
PENSAMENTO
Descatastrofização
A descatastrofização é útil para modular
previsões aflitivas das crianças (J. S. Beck, 1953;
Kendall e cols., 1992; Seligman e cols., 1995)
mediante a diminuição da tendência das crianças a superestimar a magnitude e a probabilidade de perigos percebidos. Ela é tipicamente
implementada por uma série de perguntas
seqüenciais, incluindo “O que de pior poderia
acontecer?”, “O que de melhor poderia acontecer?” e “Qual é a coisa mais provável que poderia acontecer?” (J. S. Beck, 1995). Muitos
terapeutas cognitivos acrescentam um componente de resolução do problema a essas perguntas (“Se a pior coisa que poderia acontecer é altamente provável, como você lidaria com ela?”).
Em nossa experiência clínica, a adição de
um componente de resolução de problemas intensifica o procedimento de descatastrofização.
Quando a criança espera o pior e acredita confiantemente que sua efetivação é muito provável,
ajudar essa criança a criar uma estratégia de resolução de problemas pode ser uma interven-
ção complementar. Por exemplo, se ela acredita
que o evento mais provável é catastrófico, mas
é capaz de construir uma estratégia razoável da
resolução de problemas, abre-se uma nova janela para o questionamento socrático. Conseqüentemente, a pergunta “O quanto isto pode
ser catastrófico se você puder desenvolver uma
estratégia de resolução do problema?” pode ser
feita em seguida.
Teste de evidência
Um teste de evidência (TDE) é um procedimento comum que requer processamento racional profundo, pois estimula a criança a avaliar os fatos que apóiam suas crenças e aqueles
que as invalidam. O TDE é uma estratégia útil
para testar generalizações exageradas, conclusões falhas e inferências infundadas. Entretanto, para o teste funcionar, a criança deve possuir diversas habilidades.
O TDE requer a avaliação dos fatos que
apóiam sua crença. Ajudar as crianças a avaliarem as razões para suas conclusões é a primeira
tarefa ao conduzir um TDE. Perguntas como “O
que o convence 100% de que seu pensamento é
verdadeiro?”, “O que o convence sem sombra de
dúvidas?”, “Que fatos apóiam absolutamente
sua conclusão?” e “O que o torna absolutamente
seguro?” facilitarão o processo.
Segundo, terapeutas e crianças devem procurar evidências contrárias. Nesta fase, você
auxilia as crianças à medida que elas tentam
considerar os fatos que lançam dúvidas sobre
suas conclusões. As crianças podem necessitar
de uma quantidade significativa de apoio para
analisar evidências não-confirmatórias, especialmente se estiverem deprimidas. Perguntas
como “O que faz você duvidar de sua conclusão?”, “Que fatos o deixam menos seguro de
sua conclusão?” e “Que coisas abalam sua crença?” são úteis.
Terceiro, você estimula a criança a discutir explicações alternativas para os fatos que
apoiaram absolutamente suas conclusões. Como
se pode facilmente reconhecer, qualquer explicação alternativa dos fatos que inicialmente
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
apoiavam a conclusão lança dúvida sobre a correção do pensamento. Perguntas vantajosas aqui
poderiam ser “Qual seria outra maneira de olhar
para ___________________ diferente de sua conclusão?”, “Que outra maneira há para explicar
___________________ além da sua conclusão?” ou
“O que mais isto poderia significar além de sua
conclusão?”.
Na fase final do TDE, você encoraja as
crianças a tirarem uma conclusão com base nos
fatos que apóiam seus pensamentos, nos fatos
que invalidam seus pensamentos e nas possíveis explicações alternativas para fatos confirmatórios. O ideal é que as novas conclusões da
criança expliquem a evidência confirmatória e
a não-confirmatória e também incluam um componente de resolução de problemas. Após formar essa nova conclusão, ensina-se as crianças
a reavaliar seus sentimentos de modo que possam julgar o impacto da nova interpretação.
Padesky (1988) sugeriu diversas diretrizes
na adaptação de um TDE. Primeiro, deveriam
ser criadas duas colunas claramente intituladas
de “Fatos que apóiam completamente meu pensamento” e “Fatos que não apóiam completamente meu pensamento”. Segundo, quando as
crianças começarem a gerar listas de evidências,
você deverá ter o cuidado de não se apropriar
antecipadamente das evidências confirmatórias.
Freqüentemente, os TDEs fracassam devido a
razões não expressadas que reforçam as conclusões das crianças. Terceiro, você precisa checar
a evidência para sentimentos e pensamentos
disfarçados como fatos (p. ex., “Eu sou um idiota.”). Se há sentimentos e pensamentos encerrados nas colunas Fatos, você deveria retirá-los,
discuti-los com a criança, e então decidir se o
pensamento erroneamente considerado como
fato é um pensamento automático mais primário do que aquele que está sendo listado.
Reatribuição
A reatribuição promove a avaliação das
crianças sobre explicações alternativas. A reatribuição estimula as crianças a perguntarem a si
mesmas “Qual seria outra maneira de olhar para
113
isto?”. A reatribuição é útil quando as crianças
tendem a assumir responsabilidade demais por
eventos que estão além de seu controle, a aplicar rótulos globais e a fazer generalizações incorretas sobre situações diferentes.
Completar uma Torta de Responsabilidade é
uma técnica de atribuição usada com sucesso com
adultos (Greenberger e Padesky, 1995) e adolescentes (Friedberg e cols., 1992), que se baseia na
noção de que só pode haver 100% de alguma coisa. Cada evento é explicado por uma quantidade
de fatores que contribuem de maneira única com
uma certa quantidade para o todo. A tarefa do
terapeuta e da criança é fatiar a torta em pedaços
que correspondem ao grau com que cada explicação faz com que o evento ocorra. A tarefa de raciocínio da criança é determinar o quanto cada fator
é responsável por sua conclusão.
O processo começa com a criança listagem
feita pela criança das possíveis razões para um
evento perturbador. Deve-se permitir que inclua
sua explicação excessivamente personalizada na
lista, mas esse fator deve ser registrado por último. Tal processo respeita a explicação da criança ao incorporá-la na lista, mas promove a
ponderação consciente ao incluí-la mais tarde
no processo. Após a criança ter listado possíveis explicações, ela e o terapeuta distribuem
um pedaço da torta para cada causa. Cada fatia
é responsável por uma certa porcentagem. Após
todas as causas terem sido consideradas, a criança corta para si uma porção .
O seguinte exemplo ilustra como uma Torta de Responsabilidade pode ser usada com uma
adolescente sofrendo de culpa excessiva.
TERAPEUTA: Portia, parece que captamos a
convicção “É tudo culpa sua que seu pai
beba”. Você está disposta a verificar se
essa crença é correta?
PORTIA: Acho que sim.
TERAPEUTA: Certo. Vamos fazer uma Torta de
Responsabilidade.
PORTIA: Uma o quê?
TERAPEUTA: Uma Torta de Responsabilidade.
Temos que imaginar que pedaço de responsabilidade você tem. O que temos de
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
fazer primeiro é listar todas as coisas que
podem ter contribuído para o alcoolismo
de seu pai além de você ser uma filha má.
O que mais poderia levar seu pai a beber?
PORTIA: O trabalho dele é duro.
TERAPEUTA: Certo. O que mais?
PORTIA: O pai e a mãe dele eram alcoólatras.
TERAPEUTA: Você já tem duas. O que mais?
PORTIA: Ele fica bem deprimido às vezes.
TERAPEUTA: Você consegue pensar em alguma outra coisa?
PORTIA: Ele sai muito com seus companheiros
de bebida.
TERAPEUTA: Algo mais?
PORTIA: Não, isso é tudo de que posso lembrar.
TERAPEUTA: Vamos fatiar a torta. (Desenha a
torta [Figura 8.2].) Você alguma vez já cortou e dividiu uma torta ou um bolo?
PORTIA: Claro, eu faço muito isso.
TERAPEUTA: Então você sabe que pode ter
apenas 100% de alguma coisa. Então precisamos dividir a torta em pedaços. Quanto você quer dar para o trabalho de seu
pai?
PORTIA: Ummm, 20%.
TERAPEUTA: Certo. Vou escrever isto. Quanto
você dá para o fato de que a mãe e o pai
dele eram alcoólatras?
PORTIA: Eu acho que pode ser uma grande razão. Talvez 30%.
TERAPEUTA: E quanto à depressão dele?
PORTIA: Ummm, 10%.
TERAPEUTA: Certo. Vou colocar isso aqui. E
quanto a seus companheiros de bebida?
PORTIA: Esta é grande também. Talvez 30%.
TERAPEUTA: Certo então. Agora temos que
incluir você. Quanto você tem?
PORTIA: Eu acho que 10%.
Trabalho do pai 20%
Eu 15%
Avó/avô alcoólatras 30%
Depressão do pai 10%
Companheiros
de bebida 25%
FIGURA 8.2 Torta de Responsabilidade de Portia.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Certo. Vou colocar aqui. Agora
olhe bem para a torta. Que pedaços você
quer mudar?
PORTIA: Eu acho que vou dar um pouco mais
para mim. Talvez eu seja 15% e seus companheiros de bebida podem ser 25%.
TERAPEUTA: Vamos mudar, então. Agora,
quando você olha para esta torta que você
dividiu, o que isso significa em relação à
sua responsabilidade?
PORTIA: Bem, não é tanto quanto eu pensava. Há
um monte de outras coisas acontecendo.
TERAPEUTA: Vamos escrever isso. Quando
você lê sua conclusão, o que isso faz ao
seu sentimento de culpa?
PORTIA: Torna ele menor.
TERAPEUTA: Você acha que se conversássemos
sobre os 15% de responsabilidade que
você acha que tem, poderia diminuir também?
PORTIA: Talvez.
TERAPEUTA: Você está disposta a tentar e ver
o que acontece?
Vários elementos importantes de reatribuição são ilustrados neste diálogo. Primeiro,
Portia atribuiu porcentagens a cada causa. Segundo, sua responsabilidade foi incluída, mas sua
contribuição, considerada. Além disso, antes de
chegar a uma conclusão, Portia teve a oportunidade de modificar seus cálculos. Finalmente, a
auto-atribuição de responsabilidade de Portia
não foi testada até a Torta ter sido completada.
TERAPIA DE EXPOSIÇÃO BÁSICA:
DESENVOLVENDO
AUTOCONFIANÇA ATRAVÉS
DA REPRESENTAÇÃO
Na exposição, a criança encontra o estímulo aversivo, suporta a excitação afetiva, ensaia
várias habilidades de enfrentamento e ganha
autoconfiança genuína. As técnicas de exposição
estão mais freqüentemente associadas ao tratamento de transtornos de ansiedade e de enfrentamento da raiva, entretanto, princípios de ex-
115
posição podem ser usados em qualquer circunstância terapêutica em que você queira que a criança pratique habilidades no contexto de excitação
afetiva negativa. Na verdade, Silverman e
Kurtines (1997) sugerem que a exposição deva
ser um fator comum em muitas psicoterapias
bem-sucedidas.
A confiança adquirida através de representações autênticas é forte e duradoura (Bandura,
1977). Se um cliente não tem a chance de demonstrar a aplicação de habilidades em situações em que há emoções fortes, a terapia corre
o risco de ser meramente um exercício intelectual e uma experiência isolada.
Uma quantidade menor que a esperada de
terapeutas do comportamento utiliza exposição
em suas práticas clínicas (Barlow, 1994). Por que
isso? Acreditamos que diversos fatores podem
contribuir para esse achado. Primeiro, alguns
terapeutas não receberam supervisão ou treinamento nesta abordagem, logo, sentem-se despreparados para fazer a exposição. Além disso,
eles podem manter várias crenças incorretas sobre terapia de exposição, que limitam sua prática clínica.
Os terapeutas podem acreditar que “meu
papel como terapeuta é ajudar a criança a sentir-se melhor, não pior, na terapia”. Esses terapeutas vêem a exposição desnecessariamente
como perturbadora para a criança. Na verdade,
alguns ainda podem ver a intervenção como cruel. De fato, após ouvir sobre uma experiência
de exposição, um terapeuta perguntou “Como
você pode fazer isso com a criança?”. Esses
terapeutas estão desconsiderando o fato de que
a exposição, embora desconfortável a curto prazo, oferece benefícios a longo prazo.
Virtualmente todos os terapeutas querem
que a terapia seja um “lugar seguro”. Ironicamente, esse princípio às vezes limita o uso da
exposição porque a vêem como perigosa. Essa
idéia não poderia ser mais despropositada. Se
um terapeuta quer promover a expressão afetiva
em um ambiente estruturado, verdadeiramente sustentador, a exposição, ou o tratamento baseado na representação, dá conta do recado. Não
há melhor oportunidade para expressar seus
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
sentimentos do que quando você enfrenta os
medos. Portanto, em vez de tornar a terapia um
lugar inseguro, a exposição ajuda a torná-la um
lugar seguro, facilitando a expressão emocional
do cliente e o subseqüente enfrentamento da dor.
Outra crença que pode impedir a prática
de exposição é que ela prejudicará o relacionamento terapêutico. Muitos de nossos supervisionados pensam erroneamente que, se a criança
se tornar ansiosa, ela perderá a confiança ou não
gostará mais do terapeuta. Entretanto, essa crença está baseada na filosofia de que relacionamentos terapêuticos produtivos consideram
apenas sentimentos positivos na terapia ou em
relação a ela. Em resumo, a convicção é que a
terapia deve ser sempre confortável. Entretanto, a maioria das formas de psicoterapia não
apóia esse princípio. Se for totalmente confortável, é menos provável a ocorrência de mudança positiva. Portanto, clientes jovens devem ser
livres para experimentar emoções negativas e
positivas na terapia.
A exposição promove ativamente a experiência de sentimentos negativos. Ao fazê-lo, ela
os minimiza e desmistifica. Quando se encoraja
crianças a experimentar esses sentimentos negativos, guiando-as por eles, promove-se uma
confiança genuína entre o terapeuta e a criança.
Em vez de prejudicar o relacionamento terapêutico, a exposição pode construir laços mais fortes. Por exemplo, trabalhamos com um menino
que era objeto de provocação de seus colegas;
ele tinha medo da escola e era hipervigilante
durante o tempo em que permanecia nela, já que
estava sempre esperando provocações. Após
termos lhe ensinado algumas habilidades de
autocontrole, começamos uma exposição gradual envolvendo fantoches que eram provocados.
À medida que o terapeuta representava o papel
do provocador fazendo insultos ofensivos, a
criança adquiria prática em lidar com a provocação. O relacionamento terapêutico tornou-se
mais forte pela atuação dos fantoches. Ao armar o cenário com precisão, o terapeuta demonstrou que realmente entendia o que estava
acontecendo na vida do menino e como era difícil para ele lidar com esses estressores.
Os terapeutas também afastam-se assustados da exposição devido ao senso da própria
auto-eficácia e da tolerância de afeto negativo.
Eu (RDF) freqüentemente digo a meus alunos e
supervisionados que o tratamento baseado na
representação é a forma de tratamento mais
experiencial. Se você quer lidar com os sentimentos brutos de um cliente, a exposição foi
feita para você! Muitos terapeutas temem não
serem capazes de controlar o nível de sofrimento de uma criança. Às vezes, esse medo está baseado na realidade. Se não se tem habilidades
para planejar e implementar uma experiência
de exposição, faz sentido não fazê-lo até que se
tenha lido o suficiente e se tenha sido supervisionado o suficiente para realizar o tratamento.
Alguns terapeutas têm as habilidades e a
experiência para implementar a exposição, mas
a evitam pela intolerância ao afeto do cliente.
Também achamos difícil ver uma criança sofrendo. Comumente, nossos corações ficam apertados quando vemos uma criança tremer e chorar
por ter que cumprimentar um novo amigo. Contudo, superar essas reações e manter um foco
terapêutico é crucial no treinamento da exposição. Se, como terapeutas, formos tão intolerantes com a ansiedade de uma criança a ponto de
ajudá-la a evitar tal sensação, nunca permitindo
que se sinta verdadeiramente ansiosa, como podemos esperar que ela aceite sua própria ansiedade?
A exposição é, tecnicamente, um tanto
complexa, mas, criteriosa. Um pai cujo filho cai
de um trepa-trepa e por isso tem medo do
trapézio, astuciosamente encoraja a criança a
tentar o equipamento da pracinha novamente
de uma maneira firme, mas gentil. A exposição baseia-se no mesmo princípio. Se as crianças enfrentarem o medo que passaram a temer,
as qualidades temíveis da circunstância são atenuadas e sua flexibilidade comportamental é
aumentada.
Há várias diretrizes para o uso efetivo da
exposição (Craske e Barlow, 2001; Persons, 1989).
Primeiro, devemos nos lembrar de não terminar
a sessão de exposição até que a ansiedade diminua. Uma diminuição de 50% na ansiedade das
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
crianças é sugerida como regra empírica aproximada (Beidel e Turner, 1998). Retirar a criança
da sessão de exposição antes da percepção de um
declínio na responsividade pode sensibilizar
contraprodutivamente a criança à ansiedade.
Além disso, reforça ainda mais a evitação e seu
comportamento de fuga, acarretando risco de um
reforço das crenças da criança de que é necessário evitar a ansiedade e de que é incapaz de controlar o sofrimento.
Segundo, a exposição efetiva é abrangente
(Persons, 1989). O tratamento de exposição deveria incidiu sobre todos os elementos encerrados no medo de uma criança. A exposição deveria ser multimodal e incorporar componentes fisiológicos, cognitivos, emocionais, comportamentais e interpessoais. Portanto, deve-se avaliar completamente estes componentes antes de
implementar uma exposição e tratá-los subseqüentemente tratamento correspondente.
Finalmente, é indicada a exposição repetida (Persons, 1989; Craske e Barlow, 2001). Uma
única sessão de tratamento provavelmente não
produzirá mudança duradoura, portanto a prática repetida da exposição é necessária. As crianças precisam fazer exposição também entre as
117
sessões. Pais, professores e outros responsáveis
precisam ser educados sobre a natureza da exposição e treinados em procedimentos de controle da contingência a fim de incentivar os esforços da criança.
CONCLUSÃO
Mesmo antes de ler este livro, você provavelmente estava impressionado com a variedade de técnicas e métodos cognitivo-comportamentais. Nós o encorajamos a selecionar
criteriosamente as técnicas baseadas nos princípios de conceitualização de caso (Capítulo 2).
Implemente cada técnica com um nível adequado de empirismo colaborativo (Capítulo 3). Sinta-se livre para modificar criativamente as técnicas, conforme será sugerido no próximo capítulo. Além disso, incremente a técnica com atribuições de tarefa de casa (Capítulo 10). Finalmente, titule cada intervenção para ajustar-se à
apresentação do cliente (Capítulos 11, 12, 13) e
encaixe-as dentro de um contexto familiar (Capítulo 14).
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9
Aplicações Criativas da Terapia
Cognitivo-Comportamental
Neste capítulo, apresentamos várias aplicações criativas de terapia cognitiva. O capítulo começa com a narração de histórias e continua com descrições de várias aplicações de terapia recreativa. Também exploramos o uso de
jogos, livros de histórias e livros de exercícios
de base cognitivo-comportamental. Além disso, é apresentada uma variação da resolução do
problema envolvendo a confecção de máscaras,
e são sugeridas intervenções baseadas em artes
manuais. O capítulo termina com um exercício
cognitivo-comportamental planejado para eliminar a autoculpa excessiva.
NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS
A narração de histórias é uma modalidade terapêutica considerada positiva pelos médicos das tradições psicodinâmica (Brandell,
1986; Gardener, 1970, 1971, 1975; Trad e Raine,
1995), adleriana (Kottman e Stiles, 1990) e estratégico-eriksoniana (Godin e Oughourlian,
1994; Greenberg, 1993; Kershaw, 1994). Até recentemente, a terapia cognitiva ignorava a utilidade potencial da narração de histórias a crianças (Costantino, Malgady e Rogler, 1994;
Friedberg, 1994), ignorava que pode ser uma forma efetiva de modelagem velada. Lazarus (1984,
p.104) observou que a narração de histórias
“instila realidades psicológicas básicas”.
Histórias são claramente o “recheio” da infância, o brinquedo das crianças tem um tema
narrativo natural. A hora do chá, guerras, brigas
domésticas nas casas de bonecas e gols heróicos
testemunhados por multidões ensurdecedoras
são mini-histórias com enredo, personagens e diálogo. O interesse natural das crianças pequenas
por fingimento, imaginação e jogo de faz-de-conta torna a narração de histórias especialmente
natural para elas (Trad e Raine, 1995).
Em comparação com uma abordagem
psicodinâmica da narração de histórias, que focaliza o significado simbólico e a interpretação
de conflito intrapsíquico, a ênfase na abordagem
cognitivo-comportamental está na resolução de
problemas, na percepção de relacionamentos, nas
visões do ambiente e nas auto-afirmações das
crianças. Examinar os padrões de pensamento, a
resolução de problemas e as reações emocionais
dos personagens inventados por uma criança
pode ser muito produtivo (Stirtzinger, 1983; Trad
e Raine, 1995) e focalizar os estados interiores dos
personagens, como seus desejos, medos e motivações, revela o mundo interior das crianças
(Kershaw, 1994; Trad e Raine, 1995). Reconhecer
as habilidades que o personagem deve construir
para resolver o problema ou o conflito na histó-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
ria pode orientar os posteriores esforços terapêuticos dos clínicos (Kershaw, 1994). Além disso,
investigar os elementos que bloqueiam as
soluções produtivas é uma prioridade clínica
(Gardner, 1986; Kershaw, 1994). A informação da
história pode refletir a percepção de pressões internas e externas das crianças sobre a resolução
do problema. Kershaw (1994) observou que
quando soluções são incluídas nas histórias, os
terapeutas são aconselhados a examinarem se
elas são ou não efetivas, convenientes e adequadas. Finalmente, a facilidade e a efetividade da
resolução do conflito dentro da história podem
refletir o senso de competência ou de controle
das crianças (Bellak, 1993; Rotter, 1982).
Seguimos os procedimentos básicos de
Gardner (1970, 1971, 1972, 1975, 1986) para a
narração de histórias terapêutica. A criança é
encorajada a contar em um gravador uma história que ela nunca tenha ouvido antes, instruída que a história deve ter começo, meio e fim e
uma lição ou moral. A lição tipicamente dirige
a atenção do clínico para o tema psicologicamente mais presente (Brandell, 1986). O terapeuta
então sucede à história da criança com uma história sua que ofereça uma resposta de enfrentamento mais adaptativa ou uma resolução mais
produtiva.
Gardner (1972) ofereceu algumas sugestões para crianças que têm dificuldade em construir uma história ou em manter seu fluxo. Ele
recomendava a “narração de história gradual”,
na qual o terapeuta inicia a história, pára e então estimula a criança a continuá-la; quando a
criança vacila, o terapeuta pode pegar a linha
da história, parar, estimular novamente, e assim por diante. Lawson (1987) também dá várias
idéias para os terapeutas considerarem que podem atrair as crianças ao processo terapêutico e
tornar a narração uma técnica mais bem-vinda
e aconselha-os a falar mais lentamente que o normal e em um tom mais baixo, para envolver
mais completamente as crianças. Além disso,
sugere incluir “predicados cinestésicos e auditivos” nas introduções às histórias, por exemplo; incorporar várias modalidades sensoriais
(“O vento soprou e assobiou através da floresta...”) pode envolver as crianças.
Prestar atenção à forma como pessoas significativas são representadas e descritas na história pode ser bastante significativo terapeuticamente. Vários autores (Bellak, 1993; Kershaw,
1994; Trad e Raine, 1995) sugerem perguntas
para explorar as histórias das crianças, tais como
a forma como figuras parentais e de iguais são
descritas. As figuras parentais são sustentadoras, competentes, disponíveis, rejeitadoras,
amorosas ou ameaçadoras? Os iguais são descritos como amistosos, hostis, competitivos ou
competentes? Além disso, esses personagens separados refletem motivações concorrentes da
criança.
O clima emocional geral da história também pode ser bastante revelador. Por exemplo,
tem um tom hostil? A atmosfera da história é
importante e pode refletir a concepção do mundo de uma criança (Bellak, 1993; Gardner, 1986;
Stirtzinger, 1983). Onde acontece a história? A
ação que ocorre em um deserto ou em uma floresta úmida e escura é muito diferente da ação
que ocorre em uma cidade movimentada ou em
um bosque fresco? (Bellak, 1993).
Temos várias sugestões para construir uma
história alternativa terapêutica. Geralmente, histórias efetivas preenchem lacunas na organização temporal, estimulam reatribuição e corrigem
imprecisões no entendimento de antecedentes
causais das crianças (Russell, Van den Brock,
Adams, Rosenberger e Essig, 1993). As crianças
devem ser capazes de se identificar com comportamentos, cognições, sentimentos e motivações representados na história do terapeuta.
Além disso, elas deveriam ver as capacidades
dos personagens como semelhantes ou potencialmente semelhantes às suas capacidades, habilidades e opções.
A identificação da criança com os personagens pode ser aumentada de diversas maneiras. Nas histórias do terapeuta, recomendamos
criar um conflito que se equipare ao da própria
criança, mas em que os personagens tenham sucesso na superação ou na realização de seus de-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
safios (Gardner, 1986; Mills, Crowley e Ryan,
1986), pois quando as crianças reconhecem que
o problema na história corresponde ao seu próprio dilema, o impacto da história é maior (Mills
e cols., 1986). O personagem central representa
uma metáfora ou um modelo velado para a
criança (Callow e Benson, 1990), portanto sua
escolha de personagens dependerá de cada criança, do problema e das circunstâncias ou dos
contextos que a cercam.
Por exemplo, Davis (1989) verificou que
crianças maltratadas geralmente compartilham
histórias sobre animais como coelhos, que têm
poucas defesas naturais. Nesses casos, as histórias terapêuticas deveriam oferecer uma figura
concorrente, mas paralela, que tenha alguma defesa natural. Por exemplo, uma tartaruga é um
bom personagem, porque tem um casco protetor. As tartarugas são figuras de histórias particularmente valiosas porque fazem escolhas sobre retrairem-se em seus cascos ou revelarem-se.
Além disso, elas permitem o raciocínio flexível,
uma vez que raramente abandonam totalmente
seus cascos (i. e., permanecem completamente
dentro de sua cobertura protetora).
Os sapos e os camundongos são nossos favoritos. Os sapos podem tipicamente ser vistos
como inertes, que raramente se aventuram para
além de sua própria folha de planta aquática,
portanto, são metáforas naturais para crianças
inibidas e medrosas. Além disso, a capacidade
“oculta” dos sapos de saltar de folha em folha
pode comunicar formas nas quais seus recursos latentes podem ser avaliados. Os camundongos oferecem outras oportunidades para a narração de histórias terapêuticas. As crianças parecem identificar-se prontamente com camundongos, talvez porque sejam tão pequenos e ostensivamente desamparados e, conseqüentemente, devam negociar situações complicadas
da vida usando sua esperteza. Os personagens
de camundongos são “modelos” velados que
podem ensinar às crianças que a resolução bemsucedida de conflitos não depende de tamanho
e de força.
121
Animais ou personagens que podem se
transformar oferecem esperança, ilustram uma
mudança e diminuem algum pensamento rígido. Por exemplo, os personagens de histórias
que mudam de um estado para outro, como lagartas, cisnes e dálmatas, podem ser bastante
úteis. Temas envolvendo crescimento emocional e aquisição de habilidade podem ser habilmente costurados em torno de narrativas que
detalham as metamorfoses destes personagens,
que passam de uma circunstância negativa para
uma mais otimista. Por exemplo, histórias terapêuticas sobre um dálmata que é depreciado por
ser comum, mas finalmente ganha suas manchas, pode comunicar uma variedade de mensagens terapêuticas.
A história a seguir é um exemplo que oferece uma resolução mais adaptativa para o medo
de independência de uma criança pequena.
Era uma vez, há muito, muito tempo, uma
foquinha que vivia em um lugar distante, muito
distante. O nome desta foca era Hickory. Hickory
tinha medo de que, se fizesse coisas por si mesmo, sua mãe e seu pai deixariam de cuidar dele.
Ele achava que quanto mais fizesse por si mesmo, mais coisas seriam esperadas dele.
Muitas vezes Hickory pedia a seu pai para lhe
dar alguns peixes, embora ele mesmo pudesse
pegá-los. Se Hickory esquecia alguma coisa na
escola, sua mãe sempre concordava em pegar
para ele. Às vezes, pedia a sua mãe e a seu pai
que o carregassem até a próxima pedra, em vez
de nadar sozinho. Sua mãe e seu pai ficavam
muito frustrados e não sabiam o que lazer.
Hickory tinha medo. Ele achava que crescer era
perigoso. Ele sabia como era ser uma foquinha,
mas não como era ser uma foca grande. Um dia
na escola de focas, encontrou um leão-marinho.
O leão-marinho, chamado Regis, viu que
Hickory tinha muito medo de fazer as coisas
por si mesmo. Regis e Hickory ficaram amigos.
Em uma tarde ensolarada, Regis perguntou a
Hickory porque ele pedia aos outros para fazerem coisas por ele, se podia fazê-las sozinho.
Hickory disse que tinha medo. Regis sugeriu
que ele tentasse e visse o que aconteceria. Então, havia um grande iceberg no meio do oceano. Regis disse: “Você acha que pode nadar até
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
lá sozinho?”. “Eu tenho medo.”, disse Hickory.
“Do que você tem medo?”, perguntou Regis.
Hickory respondeu: “Você vai cuidar de mim
se eu fizer isso?”. “É claro.”, sorriu Regis.
Então, Hickory foi até a beira da água e mergulhou. Enquanto estava nadando até o iceberg,
ele se preocupava: “E se eu conseguir, e ele me
pedir para fazer mais?”; “Eu realmente gosto
que tomem conta de mim.”; “Se eu não fizer,
tenho certeza de que Regis não vai me mandar
fazer isso novamente”. À medida que estes pensamentos passavam por sua cabeça, Hickory nadava cada vez mais lentamente.
Ele ouvia Regis gritando da praia: “Você pode
fazer, Hickory. Eu vou estar bem aqui na praia
quando você voltar”. Isso ajudou Hickory. Ele
nadou um pouco mais e ouviu mais vozes vindo da praia. Eram sua mãe e seu pai. Eles estavam torcendo por ele. “Nade, Hickory, nade.
Toda vez que você olhar para trás nós vamos
estar aqui. Não importa o quão longe ou rápido você nade, nós sempre estaremos bem aqui
esperando por você.” Isso fez Hickory sentirse animado e forte. Ele alcançou o iceberg facilmente e até sentou-se lá no sol para fazer um
belo lanche de peixe olhando para a praia, onde
Regis, sua mãe e seu pai estavam esperando.
Ele ficou no iceberg por algum tempo enquanto
apreciava seu lanche e a paisagem.
Quais são os elementos úteis nessa história? Primeiro, ela salienta as crenças de Hickory
sobre independência (“Se fizer coisas por mim
mesmo, minha mãe e meu pai não cuidarão mais
de mim. Quanto mais fizer por mim mesmo,
mais será esperado de mim.”). Segundo,
Hickory é um modelo de enfrentamento. Ele não
atingia facilmente seus objetivos, tinha que lutar para fazer as coisas darem certo. Terceiro, a
história gera lições ou contra-imagens simples
(“As pessoas o amarão se você fizer coisas por
si mesmo. Crescer não é perigoso e tem suas próprias recompensas.”).
Criar um livro de histórias para acompanhar a técnica de narração também é produtivo
(Kestenbaum, 1985). Kestenbaum sugeriu usar
uma agenda de folhas soltas ou um fichário para
construir um livro de histórias, assim, as crianças podem acrescentar novas histórias toda se-
mana. A revisão das histórias lhes dará uma
perspectiva palpável do progresso. Além disso,
poderia ser acrescentada uma seção na qual o
terapeuta e a criança anotariam o que foi aprendido de cada história. De fato, Gonçalves (1994)
sugeriu que atribuições de tarefa de casa baseadas em histórias potencializam seu impacto.
Convidamos as crianças para experimentarem as
estratégias contidas na história. Elas poderiam
então registrar suas experiências no arquivo ao
lado da história apropriada.
APLICAÇÕES DE TERAPIA
RECREATIVA
Na terapia recreativa cognitivo-comportamental, os terapeutas são ativos, dirigidos ao
objetivo e usam o brinquedo para modificar
pensamentos, sentimentos e padrões de comportamento problemáticos (Knell, 1993). O brinquedo é o meio pelo qual os diálogos internos
imprecisos são evocados e métodos de enfrentamento mais adaptativos são ensinados.
Você pode usar o brinquedo para ajudar a
ensinar uma habilidade difícil, como dividir a
Torta de Responsabilidaade (discutida no Capítulo 8), usando argila para explicar o processo. Por exemplo, um pedaço de argila pode ser
dividido em peças separadas, cada uma das
quais representando uma porção de responsabilidade percebida. As crianças são, então, capazes de ver uma representação concreta, visual,
do processo de atribuição de responsabilidade.
O seguinte diálogo exemplifica o processo.
TERAPEUTA: Nós listamos todas as coisas que
você acha que fizeram Pearl ignorá-la.
Agora o que precisamos fazer é imaginar
quais dessas coisas são as maiores razões.
Vamos brincar com um pouco de argila
para imaginar isso. O que lhe parece?
LEAH: Posso usar a argila?
TERAPEUTA: Claro.
LEAH: Isto é pegajoso.
TERAPEUTA: O que precisamos decidir é quanto deste bolo de argila deveríamos dar
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
para cada razão que você apresentar para
Pearl ter ignorado você.
LEAH: (Enrolando a argila em uma grande bola.)
Tudo bem.
TERAPEUTA: Vamos usar esta faca de plástico
para cortar os pedaços. Quanto deveríamos dar ao fato de Pearl estar cansada?
LEAH: Tudo isto. (Corta fora aproximadamente
20%.)
TERAPEUTA: Quanto deveríamos dar a Pearl
e a Susan por estarem conversando uma
com a outra e não ouvindo você?
LEAH: Este pedação. (Corta uma fatia de aproximadamente 40%.)
TERAPEUTA: Vamos ver. Qual era a nossa próxima?
LEAH: Ela estava com pressa para chegar à sua
cadeira antes de a professora entrar.
TERAPEUTA: Certo. Corte uma fatia para esta
razão?
LEAH: (Corta aproximadamente 30%.)
TERAPEUTA: E este pedacinho que sobrou?
LEAH: O quanto ela não gosta de mim?
Para terapeutas que não gostam de argila
(pode ser uma sujeira!), um procedimento semelhante pode ser feito com círculos de papelão e
um par de tesouras. A criança gera uma lista de
explicações e então corta do círculo o pedaço que
corresponde à quantidade atribuída. A razão é
escrita em cada pedaço da torta. Desse modo, a
criança tem uma forma palpável de acompanhar
o processo de reatribuição.
O brinquedo de fantoches presta-se maravilhosamente a aplicações de terapia cognitiva,
estimulando diálogos socráticos e procedimentos auto-instrutivos. Os fantoches podem ser
comprados ou feitos durante a sessão. Em nosso trabalho com crianças no Preventing Anxiety
and Depression no Youth Program, fazemos livre uso de fantoches de saco de sanduíche
(Friedberg e cols., 2001). Os fantoches de saco
de sanduíche são simples de fazer: a criança desenha um personagem ou cola um feito de papel colorido na parte de baixo de um saco de
sanduíche. A seguinte transcrição mostra como
os terapeutas podem usar fantoches no treinamento auto-instrutivo.
123
TERAPEUTA: Com que fantoche você quer brincar, Estella?
ESTELLA: Vou pegar o lobo.
TERAPEUTA: Vamos ver – eu vou pegar a ovelha.
ESTELLA: Ele é uma gracinha. Eu tenho um
igual em casa.
TERAPEUTA: Vamos encenar uma peça de fantoches. Sobre o que ela deveria ser?
ESTELLA: Eu não sei. Eu só quero brincar.
TERAPEUTA: Que tal fazermos uma peça sobre estar com raiva?
ESTELLA: Tudo bem. O que vamos fazer?
TERAPEUTA: Sobre o que o lobo e a ovelha poderiam estar discutindo?
ESTELLA: Talvez o lobo esteja irritado porque a
ovelha age como se fosse melhor do que ele.
TERAPEUTA: Certo. Vamos começar.
ESTELLA: Grr, eu vou comer você e morder
você, porque você acha que é tão especial.
Eu odeio você, sua ovelha estúpida.
TERAPEUTA: Você é assustador. Eu vou fugir.
ESTELLA: Eu vou te alcançar porque sou forte
e rápido.
TERAPEUTA: Porque você está tão irritado comigo?
ESTELLA: Eu não sei. Grr. (Tenta morder a ovelha.)
TERAPEUTA: Estou com tanto medo e confusa.
ESTELLA: Ótimo!
TERAPEUTA: Estella, este é um bom lugar para
ver se podemos ensinar ao lobo algumas
das habilidades que estivemos aprendendo. Pegue um fantoche que possa ser a
professora.
ESTELLA: Este parece uma professora. (Pega um
urso.)
TERAPEUTA: Você quer ser o urso e ensinar o
lobo a lidar com seus sentimentos de raiva e a fazer amizades?
ESTELLA: Não, você faz isso. Eu vou ser só o
lobo.
TERAPEUTA: Que tal nós dois fazermos isso?
ESTELLA: Tudo bem.
TERAPEUTA: (Finge ser o fantoche urso.)
ESTELLA: Grr. Eu não gosto de você, sua ovelha estúpida.
TERAPEUTA: Oh, não, lá vamos nós de novo.
ESTELLA: Eu vou caçar você.
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124
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: (Como o urso novamente) Agora,
espere um minuto, Lobo. Como você está
se sentindo?
ESTELLA: Com raiva. Eu vou pegar aquela ovelha.
TERAPEUTA: Lobo, o que você quer mostrar
para a ovelha?
ESTELLA: Que eu estou no poder. Ela não é
melhor do que eu. Se ela não quiser ser
minha amiga, então eu vou mordê-la.
TERAPEUTA: Entendo, Lobo. Você quer fazer
amizade com ela, mas acha que ela pensa
que é melhor.
ESTELLA: Sim. Eu vou pegá-la.
TERAPEUTA: Como você acha que a ovelha se
sente?
ESTELLA: Com medo, grr. (Ri.)
TERAPEUTA: Com certeza. Olha como ela treme. O quanto ela parece querer ser amiga?
ESTELLA: Não muito.
TERAPEUTA: Estella, o que o Lobo pode dizer
para si mesmo para acalmar seus sentimentos de raiva?
ESTELLA: Eu esqueci.
TERAPEUTA: Bem, o que aprendemos que podíamos ensinar ao lobo?
ESTELLA: As coisas que eu digo para mim mesma.
TERAPEUTA: Faça uma tentativa.
ESTELLA: Agora, Lobo, não deixe a raiva ferver.
Desligue o fogo no seu forno de raiva.
TERAPEUTA: Ótimo. Como isso funcionou para
o lobo?
ESTELLA: Não muito bem. Ele ainda está com
raiva. Grr. Eu vou pegar aquela ovelha.
TERAPEUTA: Agora, você faz o urso e usa mais
autoconversa para acalmar o lobo.
ESTELLA: Não deixe transbordar. Apague o
fogo em você.
Neste exemplo, Estella e seu terapeuta
aproveitaram a oportunidade para substituir declarações mal-adaptativas pelas declarações de
enfrentamento aprendidas anteriormente na terapia. O brinquedo de fantoche também promoveu a aquisição de declarações de enfrentamento adicionais (p. ex., “Não perca o controle. Apague o fogo em você”).
Jogos infantis populares também prestamse primorosamente à terapia recreativa cognitivocomportamental. São bons instrumentos porque
geralmente envolvem um componente de solução do problema e, uma vez que abordam pressões de desempenho, são emocionalmente estimulantes. Terapeutas cognitivos usam esses jogos como um estímulo para identificar pensamentos e sentimentos, corrigir padrões de pensamento mal-adaptativos e melhorar habilidades sociais.
Freqüentemente, os terapeutas perguntam-se se deveriam “deixar” uma criança vencer jogos. Deixar uma criança vencer ou não
depende do que você está tentando ensinar a
ela. Se a criança tem baixa tolerância à frustração e é uma má perdedora, precisa praticar a
tolerância de derrota. Por exemplo, Sunny chutava a mesa e ficava emburrada quando perdia
no jogo de damas. Deixá-la vencer não lhe ensinaria nada, enquanto suas derrotas eram oportunidades de aprendizagem em que poderia
aplicar suas habilidades de enfrentamento. Se a
criança é tímida e lhe falta auto-eficácia, uma
discreta “distração” por parte do terapeuta pode
ser inócua. Por exemplo, Benny achava que não
era bom jogando basquete e não se permitia fazer um arremesso. O terapeuta errou deliberadamente vários arremessos, o que permitiu que
Benny encontrasse coragem para fazer um arremesso longo. Entretanto, deixar a criança vencer não deve ser uma atitude transparente, por
isso, equilíbrio é fundamental. O jogo deve refletir as contingências da vida: às vezes você
vence e às vezes perde.
A trapaça durante um jogo é outro dilema
que preocupa os terapeutas. Não permitimos
trapaças durante um jogo, pois isso transmitiria a mensagem errada à criança. Além disso, o
comportamento trapaceiro está freqüentemente
incutido em seus problemas atuais. Permitir que
a criança trapaceie significa ser conivente com
seu comportamento desonesto, portanto, recomendamos que você evoque e modifique as
crenças mal-adaptativas associadas à trapaça.
O seguinte diálogo exemplifica o processo.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Dennis, você moveu minha peça
dois espaços para trás e moveu sua peça
um espaço a mais. É isso que estava escrito nas regras?
DENNIS: Eu não lembro.
TERAPEUTA: Entendo. Você acha que é justo?
DENNIS: Eu não sei. (Deita a cabeça na mesa.)
TERAPEUTA: Isso acontece às vezes quando
você joga com seus amigos?
DENNIS: Às vezes.
TERAPEUTA: O que veio à sua cabeça quando
você moveu minha peça?
DENNIS: Eu não sei.
TERAPEUTA: Como você se sentiu me vendo
passar à sua frente?
DENNIS: Mal.
TERAPEUTA: Quando você se sentiu mal, o que
passou na sua cabeça?
DENNIS: Eu odeio perder.
TERAPEUTA: O que significaria perder?
DENNIS: Que você é melhor do que eu.
TERAPEUTA: Então você se sente mal quando
pensa que poderia perder, e o pensamento “Eu sou melhor que você” passou pela
sua cabeça. Então você moveu sua peça
para a frente da minha?
DENNIS: (Chora e confirma com a cabeça.)
TERAPEUTA: Que resultado isso teve para
você?
DENNIS: Não muito bom.
TERAPEUTA: Podemos fazer um plano juntos
para que você primeiro aprenda que perder um jogo não é tão horrível e que há
formas de você se ajudar a se sentir melhor quando perde, de modo que não se
sinta forçado a trapacear?
Este diálogo contém várias sugestões úteis.
Primeiro, o terapeuta limitou a trapaça. Segundo, não puniu ou ridicularizou Dennis mas, antes, ajudou-o a identificar os pensamentos e os
sentimentos que mediaram a trapaça. Terceiro,
o terapeuta associou a trapaça na sessão de terapia com problemas de habilidades sociais de
Dennis. Finalmente, o terapeuta iniciou um processo de resolução do problema.
125
JOGOS, LIVROS DE HISTÓRIAS,
LIVROS DE EXERCÍCIOS E
CONFECÇÃO DE MÁSCARAS
Jogos
Berg (1986, 1989, 1990a, 1990b, 1990c) desenvolveu uma série de jogos atrativamente planejados e embalados que enfocam uma variedade de problemas infantis. Cada jogo inclui um
conjunto de cartas especificamente criado para
as questões psicologicamente proeminentes embutidas em cada área de problema. É incluído
um manual que orienta o principiante no jogo,
juntamente com fichas, piões, peças de jogo, dados e um tabuleiro. Mais recentemente, vários
livros de história e vídeos foram desenvolvidos
para incrementar esses jogos.
Livros de história
Há diversos livros de história de orientação cognitivo-comportamental que podem ser
úteis para inúmeras crianças. Por exemplo,
Rational Stories for Children, de Waters (1980),
contém seis histórias para crianças e orientações de acompanhamento para os pais. As histórias incluem temas como auto-aceitação, estabelecimento de tolerância à frustração,
enfrentamento da timidez, da raiva, resolução
do problema e reestruturação cognitiva. Cada
história possui ilustrações; o guia para os pais
inclui um material psicoeducativo acessível.
Waters (1979) também escreveu Color Us
Rational, uma coleção de histórias em forma de
livro de colorir. As 12 histórias do livro refletem as 12 crenças irracionais básicas de Ellis
(1962) (p. ex., “É mais fácil evitar problemas do
que confrontá-los”; Eu preciso ser aprovado por
todos”, etc.). As crianças podem colorir as figuras, enquanto o terapeuta ou pai lê cada história para elas. Homer the Homely Hound Dog
(Garcia e Pellegrini, 1974) conta a história de um
cão autocrítico que aprende a ser mais clemente
consigo mesmo.
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126
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Livros de exercícios
Há vários livros de exercícios de base
cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes. Vernon (1989a, 1989b, 1998) oferece
uma série de exercícios que são sensíveis ao nível de desenvolvimento e separados por idade/
série escolar, que oferecem uma gama de atividades, incluindo artes manuais, histórias e experiências. Cada exercício e cada atividade inclui uma série de perguntas para orientar os
terapeutas durante o processo. Além disso,
Vernon apresenta perguntas para discussão e
processamento. Cada exercício também informa o terapeuta sobre o material necessário para
completar os exercícios.
O Coping Cat Workbook, de Kendall (1990),
é uma coleção inteligente de técnicas e exercícios
para tratar crianças ansiosas. O livro é envolvente
e inclui histórias em quadrinhos e exercícios deliciosos. A série Coping Cat é amplamente aplicada e obteve considerável sucesso empírico
(Kendall e Treadwell, 1996; Kendall e cols., 1997).
O Coping Cat é adequado para crianças desde os
7 anos até aproximadamente 13 anos, dependendo da maturidade psicológica.
O Therapeutic Exercises for Children (Friedberg
e cols., 2001) é um conjunto de técnicas, exercícios
e atividades cognitivo-comportamentais para crianças de 8 a 11 anos que estão experimentando
basicamente ansiedade e depressão. O livro de
exercícios contém orientações para os terapeutas e
ajuda a armar formas de diálogo socrático com as
crianças. O Therapeutic Exercises for Children inclui
ilustrações e textos envolventes para as crianças.
O Stop and Think Workbook, de Kendall
(1988), é uma forma inventiva de trabalhar com
crianças impulsivas. O livro inclui inúmeros
exercícios que promovem habilidades de encadeamento, planejamento e resolução do problema das crianças. Similarmente ao Coping Cat
Workbook, Kendall inclui atribuições do tipo
Mostro Que Posso. Exercícios de role-playing e
ilustrações alegram o material.
Fartos e frustrados com o progresso limitado de seus jovens clientes, os terapeutas, com-
preensivelmente, podem apoiar-se mais que o
necessário em livros de exercícios em busca de
respostas. Em nossa experiência, essa estratégia raramente funciona. Geralmente é melhor
quando o livro de exercícios surge naturalmente do conteúdo da sessão e é apresentado de uma
maneira envolvente. A seguinte troca ilustra a
forma como um livro de exercícios é integrado
ao conteúdo da sessão.
JUSTIN: As coisas sempre são minha culpa. Eu
sou sempre culpado por tudo.
TERAPEUTA: Como você se sente quando acha
que tudo é culpa sua?
JUSTIN: Realmente mal.
TERAPEUTA: Com raiva, com medo, triste ou
preocupado?
JUSTIN: Mais triste, eu acho.
TERAPEUTA: Isso faz muito sentido. Se você
acredita que tudo é sua culpa, você deve
se sentir realmente triste. O que nós precisamos imaginar agora é o quanto você
tem culpa por tudo. Você está disposto a
fazer isso?
JUSTIN: Acho que sim.
TERAPEUTA: Bem, eu tenho este exercício que
poderia ajudar. Você está disposto a experimentar?
Neste exemplo, o terapeuta evocou os pensamentos e os sentimentos automáticos de Justin
e, após identificá-los, introduziu um exercício.
O exercício fluiu oportunamente do conteúdo
da sessão e foi diretamente associado aos problemas atuais de Justin.
Confecção de máscaras
A confecção de máscaras é uma forma divertida de ensinar a resolução de problemas.
Criar uma máscara personalizada é uma atividade que pode incrementar o procedimento de
resolução do problema tradicional, explicado no
Capítulo 8. Essa prática combina modelagem velada e solução do problema em um exercício de
orientação artística, e também é semelhante à
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
modelagem do super-herói usada por Kendall
e seus colegas (1992).
Pede-se que a criança escolha um herói ou
modelo (p. ex., figura dos esportes, personagem
de história, estrela de TV, membro da família, professor). Em seguida, a criança é instruída a encontrar uma figura de seu herói, recortá-la e colála em um pedaço de cartolina com formato de
rosto. Se não for encontrada, a criança é convidada a desenhar sua própria versão do herói na cartolina ou simplesmente escrever seu nome na
máscara. A criança deve recortar espaços para
os olhos e para a boca na máscara. Finalmente,
cola a máscara completa em um palito de picolé
ou abaixador de língua, que serve como cabo.
Então, pede-se que a criança passe pelo
processo de resolução do problema como se fosse seu próprio super-herói. A criança tem que
fingir que o super-herói está resolvendo o problema. A seguinte transcrição ilustra como utilizar a confecção de máscara.
TERAPEUTA: Então você colou o rosto do Harry
Potter na sua máscara.
KYLE: Sim, eu adoro aqueles livros.
TERAPEUTA: Certo. Agora vamos fazer a resolução de problema de uma forma diferente com esta máscara. Eu quero que você
finja que é Harry Potter e veja quantas estratégias você pode sugerir para resolver
o problema.
KYLE: Qual vai ser o problema?
TERAPEUTA: Vamos pegar um problema com
o qual você esteja lutando.
KYLE: Umm.... escolher um colega na escola
para fazer um projeto.
TERAPEUTA: Certo. Coloque a máscara no
rosto e imagine que você é Harry Potter.
O que você faria, Harry, para escolher
um colega para seu projeto de estudos
sociais?
Este exemplo ilustra vários pontos fundamentais. Primeiro, Kyle escolheu um personagem favorito para identificar-se. Segundo,
selecionou um problema importante para fo-
127
calizar. Terceiro, em vez de o terapeuta obrigar Kyle a gerar soluções alternativas, a confecção da máscara deu a Kyle uma oportunidade de fingir ser Harry Potter e descobrir o
que ele faria na situação.
CESTAS DE PENSAMENTOSENTIMENTO
O Cestas de Pensamento-Sentimento é uma
atividade recreativa que envolve a combinação
de identificação de pensamentos e sentimentos
com o arremesso de uma bola de basquete. Trata-se de uma forma experiencial e divertida de
as crianças aprenderem habilidades de automonitoração básicas. O Cestas de PensamentoSentimento é um acompanhamento ideal para
os registros de pensamento descritos no Capítulo 6.
Para este exercício, você precisa de um aro
de basquete e de uma bola, embora até uma bola
de papel amassado e uma cesta de papéis sirvam. Ao jogar o Cestas de Pensamento-Sentimento, a criança é instruída a compartilhar seus
pensamentos e sentimentos antes e depois de
fazer seus “arremessos”. Essa prática permite
que as crianças e o terapeuta associem situações,
pensamentos e sentimentos. Além disso, também pode-se usar esse exercício para ilustrar a
exatidão das previsões das crianças. O exercício oferece uma oportunidade para explorar medos de avaliação negativa e pressões de desempenho associados com ansiedade generalizada
e ansiedade social. Os medos das crianças de
arriscarem-se também podem ser tratados com
essa atividade, tratando-se ainda a tolerância
das crianças a emoções negativas, como frustração e decepção.
Usar o Cestas de Pensamento-Sentimento
para associar situações, sentimentos e pensamentos é uma tarefa relativamente direta. Enquanto a criança prepara-se para arremessar,
peça-lhe para definir o evento ou a situação (p.
ex., “O que está acontecendo?”). A criança responde dizendo “Eu vou arremessar a bola”. Em
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128
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
seguida, pergunte como ela está se sentindo (p.
ex., “ansioso”) e o que está passando pela sua
cabeça (p. ex., “Eu vou errar e você vai achar
que eu não sei jogar.”). Após a criança arremessar a bola, peça-lhe para registrar situações, pensamentos e sentimentos em um dos vários diários de pensamento discutidos no Capítulo 6.
Em resumo, a criança diz ao terapeuta a situação, o sentimento e o pensamento, arremessa a
bola e então registra esses elementos em um
diário de pensamento.
O exercício também pode ser usado para
testar as previsões incorretas das crianças. Antes de arremessar, a criança prevê se irá converter ou errar o arremesso. Ao arremessar, está na
verdade testando sua previsão. Se prevê que irá
errar e logo depois faz a cesta, você pode processar essa experiência usando perguntas como:
• Como é ver sua previsão não se realizar?
• Você fez outras suposições sobre seu desempenho?
• Com que freqüência elas se realizam?
• Com que freqüência suas previsões são
incorretas?
• Você acha que suas estimativas também
podem ser equivocadas em relação a outras coisas?
Se uma criança prevê que irá errar o arremesso e de fato erra, você tem mais uma oportunidade de intervir. Nesse caso, a criança pode ser
ajudada a ver que, embora tenha errado um arremesso, também tem uma chance de arremessar novamente. Além disso, você pode ajudá-la
a explorar se ocorreram conseqüências de seu arremesso errado (i. e., “Os outros riram dela ou a
criticaram por ter errado o arremesso?”).
O exercício Cestas de Pensamento-Sentimento pode minimizar o medo de avaliação negativa e preocupações de desempenho. Os arremessos de basquete são exatamente o tipo de
atividade que crianças socialmente ansiosas temem, portanto o exercício pode ser usado como
uma experiência de exposição gradual. Algumas
crianças podem temer a natureza “pública” da
tarefa. Outras ficam ansiosas em relação a errar
arremessos ou parecer tolas. Você pode evocar
as previsões negativas e usar a atividade com
um teste comportamental de exatidão. A seguinte transcrição ilustra a forma como os terapeutas
podem processar essa atividade.
TERAPEUTA: Jimmy, você parece nervoso por
ter que arremessar.
JIMMY: Não, eu não estou.
TERAPEUTA: O que está passando pela sua cabeça neste momento?
JIMMY: Sei lá. Talvez a bola não chegue até a
tabela ou bata no aro e não entre.
TERAPEUTA: Como você se sente em relação a
isto?
JIMMY: Nervoso.
TERAPEUTA: Então quando você acha que a
bola vai desviar e você fica nervoso, o que
espera que aconteça?
JIMMY: Talvez você ria e ache que não sou bom
no basquete.
TERAPEUTA: Se eu rir e achar que você não é
bom no basquete, o que vai acontecer?
JIMMY: Eu vou ficar envergonhado.
TERAPEUTA: O que acha que vou pensar?
JIMMY: Que sou um pateta e que não sei jogar. Que
pareço engraçado enquanto arremesso.
TERAPEUTA: Isso é bastante assustador. Você
estaria disposto a fazer alguns arremessos comigo e ver se podemos resolver estes pensamentos?
JIMMY: Tudo bem. (Ele arremessa e a bola entra.)
Aeee, dois pontos!
TERAPEUTA: Tente outro arremesso.
JIMMY: (Arremessa e erra.)
TERAPEUTA: Má sorte. Agora espere um segundo. O que você achou que eu pensaria?
JIMMY: Que sou um bobo e pareço engraçado
quando arremesso.
TERAPEUTA: Você quer verificar isso e me perguntar?
JIMMY: Bem, o que você pensou?
O que é importante em relação a este diálogo? Primeiro, o terapeuta usou o jogo para
identificar os pensamentos e os sentimentos de
Jimmy, que se sentiu desconfortável em relevar
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
suas previsões negativas e os sentimentos associados a elas. Segundo, o jogo ofereceu uma
oportunidade não ameaçadora de testar previsões. Jimmy foi capaz de examinar suas previsões em um contexto de aqui-e-agora.
Que outras possibilidades terapêuticas
apresentam-se neste exercício? O terapeuta poderia preferir fornecer a Jimmy feedback desconfirmando suas expectativas negativas (p. ex.,
“Não, eu não pensei que você era um pateta”).
Outra estratégia seria ajudar Jimmy a prepararse para a possibilidade de feedback negativo (p.
ex., “Suponha que eu tivesse pensado que você
era um pateta. O que isso significaria? Como
você saberia se eu estava certo? Como minha
opinião define como você é?”). Dessa forma,
você poderia ajudar Jimmy a desenvolver meios de lidar com provocações se outras crianças
zombassem dele.
EXERCÍCIOS DE IMPRESSÃO
Marcador de página de pensamentosentimento
O Marcador de Página de PensamentoSentimento e o Relógio de Pensamento-Sentimento são atividades de orientação artísticomanual designadas a aumentar as percepções
das crianças em relação à variabilidade. O
Marcador de Página de Pensamento-Sentimento é uma técnica de impressão que também inclui um componente auto-instrutivo. A metáfora do marcador de página contribui para a função de impressão. O ponto fundamental é ajudar as crianças a perceber que o lugar em que
colocam um marcador de página em um livro
muda com o tempo e com a atividade. Da mesma forma, pensamentos e sentimentos mudam
com o tempo e com a atividade. A metáfora é
apresentada às crianças de maneira semelhante
ao exemplo apresentado a seguir.
“Você gosta de ler? Eu também gosto de livros.
Como você marca a página em um livro? Eu
129
uso um marcador de página. Você sabe, há uma
coisa especial em relação a marcadores de página. Quando você lê um livro, vai virando as
páginas. Você se move da página antiga para
uma nova página. O marcador de página também muda conforme você lê. Ele se move de
uma parte do livro para outra. Como isso se
parece com seus pensamentos e sentimentos?
Certo, seus pensamentos e sentimentos também
mudam.”
Decorar o marcador de página com uma
afirmação de enfrentamento serve a uma função auto-instrutiva. Criar o Marcador de Página de Pensamento-Sentimento é simples e divertido. O material necessário para fazê-lo inclui cartolina ou papelão colorido, canetas, lápis de cera, fitas, purpurina, cola, confete e um
furador de papel. Encoraje as crianças a decorar seus marcadores de página da forma que
quiserem. Você pode então instruí-las a escrever em um pensamento de enfrentamento simples no marcador como “As coisas mudam”,
“Eu posso enfrentar desafios” ou “Sentimentos mudam”.
Relógio de pensamento-sentimento
O Relógio de Pensamento-Sentimento é
uma atividade artístico-manual que serve como
um instrumento de automonitoração e como uma
intervenção de impressão. O Relógio de Pensamento-Sentimento ajuda as crianças a perceberem
que os sentimentos mudam, agindo como um estímulo para identificar pensamentos maladaptativos. A metáfora do relógio de pulso é central neste exercício. Os sentimentos são comparados aos ponteiros de um relógio de pulso; conseqüentemente, a metáfora do relógio comunica de
forma convincente que, como a hora, os sentimentos sempre mudam. Os ponteiros do relógio de
pulso simbolizam a “hora do relógio”, enquanto
os ponteiros no Relógio de Pensamento-Sentimento significam a “hora emocional.”
Você poderia apresentar o Relógio de Pensamento-Sentimento de uma maneira semelhante à apresentada a seguir.
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130
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
“Eu gosto muito de relógios. E você? A coisa
que mais gosto nos relógios é a forma como se
movimentam. Os ponteiros nunca ficam parados. Você já percebeu isso? Dê uma olhada num
relógio de pulso ou de parede. A única vez que
os ponteiros não se movem é quando o relógio
está estragado. Os ponteiros em um relógio que
está funcionando movem-se mesmo durante
um longo dia. Juntos, vamos fazer um Relógio
de Pensamento-Sentimento para lembrar que
pensamentos e sentimentos mudam. Em vez de
números, no relógio, vamos desenhar rostos de
sentimento nele.”
O Relógio de Pensamento-Sentimento
pode ajudar as crianças a captarem os pensamentos e as imagens que moldam seus sentimentos. Por exemplo, a criança poderia ser convidada a escrever seus pensamentos quando os
ponteiros do relógio apontassem para diferentes sentimentos. Além disso, o terapeuta e a criança poderiam jogar um jogo no qual a criança
move os ponteiros do relógio para diferentes
sentimentos e então representa uma situação na
qual eles surgem. Finalmente, a criança poderia girar os ponteiros do relógio para diferentes
rostos de sentimento e praticar o desenvolvimento de pensamentos de enfrentamento quando esses sentimentos ocorressem.
Pulseira
Face do Relógio
Fazer o Relógio de Pensamento-Sentimento é fácil. Serão necessários papel colorido, canetas, pino de metal de duas pernas, pedaços de
velcro e um bastão de cola. Você pode recortar
antecipadamente o papel colorido em um círculo de tamanho médio para a face do relógio, uma
forma em ponta para um ponteiro do relógio e
um retângulo estreito e longo do tamanho do
pulso da criança para a pulseira. A criança desenha rostos zangados, tristes, apavorados e felizes sobre o círculo em 12, 3, 6 e 9h. O ponteiro do
relógio, sua face e sua pulseira são presos pelo
pino de metal. Finalmente, os pedaços de velcro
são colados nas extremidadas da pulseira. A Figura 9.1 mostra os materiais e um Relógio de Pensamento-Sentimento pronto.
Visto que esta é uma atividade não-verbal,
pode ser especialmente útil com crianças que
inicialmente hesitam em expressar seus sentimentos. Por exemplo, após completar o relógio,
a criança poderia apontar para o sentimento em
seu relógio, em vez de ter que dizê-lo em voz
alta. Além disso, se ela desenha os próprios sentimentos no relógio, tem mais probabilidade de
identificá-los do que a rostos de sentimentos
pré-impressos, portanto o Relógio de Pensamento-Sentimento pode ser um sucesso com crianças relativamente inexpressivas.
Ponteiro
Pino de duas
pernas
Pedaços de
velcro
Triste
Pedaço de velcro
Pulseira
Pino
Ponteiro
Feliz
Zangado
Ansioso
Pedaço de velcro
Face do Relógio
FIGURA 9.1 Diagrama do Relógio de Pensamento-Sentimento.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Registro assuma o controle
ou culpe a si mesmo
O Registro Assuma o Controle ou Culpe a Si
Mesmo é um exercício de impressão planejado
para ajudar crianças a diminuir atribuições excessivamente punitivas. Seu objetivo é fazer com
que as crianças assumam o controle ou o coman-
131
do de seus sentimentos sem se culparem ou evitarem responsabilidade pessoal. O registro tem
seis auto-afirmações encerradas em um balão
de pensamento (ver Figura 9.2). Embaixo de
cada um estão as opções “Assuma o Controle”
e “Culpe-se”. Pede-se então que a criança trace
uma linha do pensamento para uma das opções,
Trace uma linha para mostrar se o pensamento é uma forma de ASSUMIR O CONTROLE ou uma forma de
CULPAR-SE.
Eu sou estúpido.
Assuma o controle
Culpe-se
Um garoto da minha aula não
me convidou para sua festa. Eu
sou uma pessoa desprezível.
Assuma o controle
Culpe-se
Só porque perdi um gol no jogo de futebol, não quer dizer que sou um mau
jogador. Eu posso praticar mais e melhorar meu chute.
Culpe-se
Assuma o controle
Eu tenho tanto medo de
tudo. Nunca vou superar
isso. Eu sou um bebê.
Assuma o controle
Culpe-se
Suzy me chamou de um nome
feio. Eu sou uma pessoa ruim.
Culpe-se
Assuma o controle
Eu errei quatro palavras na prova de
ortografia e tirei uma nota baixa. Da
próxima vez, preciso fazer cartões e
lê-los antes de uma prova.
Culpe-se
Assuma o controle
FIGURA 9.2 Registro Assuma o Controle ou Culpe a Si Mesmo. De Friedberg e McClure (2002).
Copyright por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta
figura apenas para uso pessoal.
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132
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
mostrando se o pensamento é uma forma de assumir o controle ou de culpar-se.
Deve-se iniciar o exercício com uma breve
discussão das diferenças entre assumir o controle e culpar-se. Pode-se perguntar à criança se
ela se culpa pelas coisas ruins que acontecem a
ela. A criança então deve dar exemplos da forma como se culpa. Após esses casos de autoculpa serem evocados, podem-se processar estas
afirmações de culpa com a criança. Por exemplo, você poderia fazer as seguintes perguntas
de processamento-chave:
•
•
•
•
•
•
Como culpar-se ajuda você?
De que formas culpar-se ajuda você?
Como culpar-se o prejudica?
O que você ganha culpando-se
O que você perde culpando-se?
O que mais você poderia fazer se não se
culpasse?
• O que você poderia fazer em vez de culpar-se?
Fazer a diferença entre não se culpar e evitar responsabilidade é o próximo se passo no
processo. Então, explora-se a noção de assumir
o controle ou de responsabilidade. Fazer a criança dizer o que significa assumir o controle é
uma estratégia útil. Você poderia fazer as seguintes perguntas:
• O que significa “assumir o controle”?
• O que significa “assumir o controle de si
mesmo”?
• Quando você assume o controle?
• De que coisas você assume o controle?
• Como você se sente quando se encarrega
de algo ou assume o controle?
• Qual é a diferença entre assumir o controle e culpar-se?
Após os termos terem sido processados
completamente, você pode introduzir a tarefa
colaborativamente. Por exemplo, pode dizer:
“Este registro pode ajudá-lo a encontrar a diferença entre culpar-se e assumir o controle. Ele
funciona da seguinte maneira: você vê o balão
de pensamento com o pensamento nele? Embaixo de cada balão de pensamento estão escolhas intituladas ‘Assuma o Controle’ ou ‘Culpe-se’. Você precisa decidir se o pensamento no
balão é uma forma de assumir o controle ou de
culpar-se. Após escolher, trace uma linha de sua
escolha até o balão de pensamento. Você entendeu o que é para fazer?”
O terapeuta e a criança devem discutir o
item para que a criança tenha uma oportunidade de explicar cada resposta e o terapeuta possa esclarecer qualquer confusão. Além disso,
após a tarefa ser completada, ambos deveriam,
cada um, resumir a tarefa e concluir. O terapeuta
poderia fazer as seguintes perguntas para facilitar a conclusão:
• Como foi fazer este registro?
• Do que você gostou em relação a este registro?
• Do que você não gostou? O que você
aprendeu com este registro?
A partir do Registro Assuma o Controle
ou Culpe-se, a criança começará a determinar
os eventos que estão e os que não estão sob seu
controle. Esse exercício permite que as crianças
reconheçam a diferença entre culpar-se destrutivamente e adotar feedback corretivo levando a
uma mudança produtiva.
CONCLUSÃO
Crianças e adolescentes podem não se envolver imediatamente em técnicas tradicionais.
Neste capítulo, apresentamos as várias maneiras como modificamos algumas abordagens
cognitivas tradicionais. Nós o encorajamos a tentar nossas idéias e torná-las suas mediante adaptações que julgar importantes. A narração de his-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
tória, a terapia recreativa, as atividades artístico-manuais, os fantoches e os jogos de tabuleiro são apenas algumas formas de animar a terapia, o ponto fundamental é torná-la divertida. Embora você possa trabalhar com crianças
que tenham emoções angustiantes e difíceis, a
terapia não tem necessariamente que ser sombria e sem graça. De fato, em nossa experiência,
descobrimos que, se crianças e adolescentes vi-
133
rem as sessões como muito clínicas, elas se tornam menos terapêuticas. Nós o incentivamos a
usar as habilidades apresentadas nos capítulos
sobre conceitualização de caso e estrutura da
sessão para formular e focalizar uma estratégia
de intervenção criativa. Divirta-se experimentando as técnicas. O espírio de aventura é contagioso, e as crianças receberão bem a abordagem de habilidades de enfrentamento.
INDEX BOOKS GROUPS
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Tarefa de Casa
A tarefa de casa promove a aquisição de
habilidades e sua aplicação em contextos do
mundo real (Spiegler e Guevrememont, 1998); as
crianças precisam ensaiar as novas habilidades
fora da terapia. Além disso, a tarefa de casa é
tanto uma prática quanto um processo. É preciso ser cuidadoso em relação a quais tarefas são
atribuídas e a como são prescritas. Conforme mencionado no Capítulo 4, as crianças podem reagir
negativamente a palavras como “lição” – provavelmente várias se arrepiarão à simples menção
da letra “L”. Para combater esse problema, as tarefas para casa devem ser habilmente planejadas para envolver as crianças. Por isso, este capítulo oferecerá formas de prescrições de tarefas
de casa efetivas.
Prescrever uma tarefa de casa pode parecer fácil, mas é uma atividade exigente para a
maioria dos terapeutas. Quando se faz esta prescrição, deve-se planejar à frente, em vez de reagir e responder. Entretanto, imprevistos acontecem durante a sessão, e a terapia pode não ir
na direção planejada. Por exemplo, estávamos
trabalhando com uma menininha ansiosa e planejando que identificasse seus pensamentos em
torno de alguma ansiedade de provas e de medos de desaprovação. À medida que a sessão
progredia, surgiu um aspecto mais central, envolvendo raiva em relação a sua irmã. Tivemos
10
que, apressada, mas deliberadamente, desenvolver uma nova tarefa de casa para tratar a questão emergente. Uma boa prescrição antecipa o
momento da terapia e fundamenta o que aconteceu em uma sessão.
CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA
PRESCRIÇÃO DA TAREFA DE CASA
Há várias questões a considerar ao se
prescrever uma tarefa de casa (J. S. Beck, 1995).
Primeiro, as crianças podem não responder a
este termo. Kendall e colaboradores (1992) usaram a criativa expressão para a tarefa “Mostro
Que Posso”. No Prevention Anxiety and
Depression no Youth Program, que apresenta
um ratinho como mascote chamado “Pandy”,
nos referimos à tarefa de casa como “lição do
ratinho”. Além disso, também a mencionarmos
como “construir seu jogo de ferramentas”.
Burns (1989) recomenda denominar a tarefa de
casa de “atividades de auto-ajuda”. Seja como
for, deve-se escolher uma palavra ou frase que
motive as crianças.
A tarefa de casa deve ser prescrita e desenvolvida colaborativamente. As tarefas de
casa tornam-se propriedades das crianças, aumentando assim o nível de responsabilidade e
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136
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
DESMOND: Eu não consigo parar e refletir sobre as coisas.
TERAPEUTA: Você simplesmente reage, e seus
sentimentos tomam conta de você?
DESMOND: É isso aí. Meus sentimentos me
enfeitiçam.
TERAPEUTA: Você gostaria de aprender a tornarse mais poderoso do que seus sentimentos?
DESMOND: Claro. Como?
TERAPEUTA: Vamos ver se juntos podemos criar um plano. E se eu lhe ensinasse como escrever seus pensamentos e sentimentos
quando estivesse chateado e você praticasse essas habilidades durante a semana?
DESMOND: Como isso ajudaria?
TERAPEUTA: Nós teríamos que ver como essas coisas funcionaram, mas, para muitas
crianças, escrever seus pensamentos e sentimentos lhes dá tempo para parar e refletir sobre as coisas.
DESMOND: Quando vou ter que escrever?
TERAPEUTA: Depende um pouco de nós e do
plano que traçarmos.
DESMOND: Quantas vezes por semana vou ter
que fazer isto?
TERAPEUTA: Vamos decidir juntos depois que
lhe mostrar seu diário de pensamento.
va será a prática para a criança. Explicar a ligação entre a tarefa de casa e os problemas da
criança para que ela entenda claramente a associação é uma questão terapêutica fundamental.
Ligar a tarefa de casa ao problema também o
mantém “honesto”. Estando ciente da ligação
entre as tarefas e os problemas, você terá menos probabilidade de prescrever tarefas de maneira mecânica.
A aderência requer o conhecimento do que
é esperado. Para as crianças completarem a tarefa de casa, devem ser capazes de entendê-la.
Compreendê-la mal é uma das razões principais
da falta de aderência, portanto especificidade é
importante ao se prescrever a tarefa de casa.
Muitas vezes, ela é prescrita de maneira vaga e
enigmática (p.ex., “Vamos acompanhar o curso
de seus pensamentos”). As crianças podem não
saber o que essa tarefa significa e podem ter inúmeras perguntas sem respostas: “Como acompanho o curso dos meus pensamentos?”, “Que
pensamentos eu deveria acompanhar?”, “Quando eu deveria acompanhar o curso dos meus
pensamentos?”, “Com que freqüência?”, “Afinal, por que tenho que fazer isto?”. Se as crianças estiverem inseguras em relação à tarefa, podem ficar menos dispostas a fazê-la. Portanto, é
importante esclarecer os detalhes envolvidos
nas tarefas de casa.
A seguinte transcrição mostra como a tarefa
de casa pode ser especificada para uma criança.
Nessa troca, Desmond e seu terapeuta trabalharam juntos na prescrição da tarefa de casa.
O terapeuta introduziu a idéia da tarefa após
Desmond ter identificado uma questão perturbadora, trabalhando diligentemente para incluir
Desmond na prescrição da tarefa (Quanto deveria escrever? Quantas vezes teria que fazêlo?). Finalmente, o terapeuta usou o termo “prática” em vez de “tarefa de casa” para envolver
a criança.
Uma segunda consideração importante é
associar a tarefa de casa com as queixas atuais
da criança. Quanto mais estreita a associação
entre a tarefa e a queixa atual, mais significati-
TERAPEUTA: Nós captamos seu pensamento
de que “Todos precisam gostar de mim,
do contrário, não valho nada”. O que precisamos fazer a seguir?
MAE: Fazer todos gostarem de mim? (Ri.) Não.
Eu não sei.
TERAPEUTA: Faz sentido que, se acredita que
seu valor depende de todos gostarem de
você, você sinta muita pressão.
MAE: Eu acredito, é terrível.
TERAPEUTA: Então você acha que seria uma
boa idéia ver se seu valor depende totalmente de todos gostarem de você? Juntos
vamos ver se podemos criar uma forma
a possbilidade de aderência. A seguinte troca
ilustra uma abordagem colaborativa da prescrição de tarefa de casa.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
de testar esse pensamento. O que temos
que fazer é definir seu valor. Certo. Quando você está na escola e precisa definir alguma coisa, o que faz?
MAE: Olho em um livro ou coisa parecida.
TERAPEUTA: Certo, pergunta para quem sabe.
Quem são os especialistas sobre seu valor
próprio?
MAE: Eu, eu acho.
TERAPEUTA: Alguém mais?
MAE: Meus amigos, meus pais. Eu não quero
perguntar a eles se acham que tenho valor. É uma idiotice.
TERAPEUTA: Que tal perguntar-lhes algo como
“O que faz uma pessoa ter valor?”.
MAE: Tudo bem.
TERAPEUTA: Para quem você vai perguntar?
MAE: Para minha mãe, meu pai, minha tia,
meus amigos Tessa, Mary, Brian e Kyle.
TERAPEUTA: Escrever as coisas vai ajudar. Assim, depois de falar com sua família e com
seus amigos, escreva o que eles disseram.
Isso pode ajudá-la a acompanhar e a lembrar as definições... Depois, quero que escreva sua própria lista. Você define “valor” para si mesma. Escreva todas as coisas que definem valor. Vamos começar
com uma, agora. O que faz uma pessoa
ter valor?
MAE: Ela ser boa.
TERAPEUTA: Escreva isso.
MAE: (Escreve.) Então o que faremos semana que
vem com estas coisas?
TERAPEUTA: Vamos comparar todas as definições, ver quantas das características você
tem, e então vamos tentar chegar a uma
conclusão sobre o fato de se todo mundo
gostar de você determina absolutamente
seu valor.
Esta troca incorpora vários pontos fundamentais. Primeiro, a tarefa de casa não foi simplesmente prescrita, foi combinada. Segundo, as
tarefas envolvidas na experiência comportamental foram explicitamente delineadas (“Quem
são os especialistas sobre seu valor próprio?”,
137
“Escrever as coisas vai ajudar.”). Finalmente, a
tarefa específica foi diretamente ligada à crença
angustiante de Mae (“Todos precisam gostar de
mim, do contrário, não valho nada.”)
As tarefas de casa precisam ser divididas
em passos, graduais, que levem a um objetivo
possível de ser realisticamente alcançado (J. S.
Beck, 1995; Spiegler e Guevrememont, 1998).
Mesmo pequenas atividades podem inicialmente
parecer pesadas demais para algumas crianças.
Seguir esta estratégia para prescrições de tarefa
de casa as ajudará a sentir que a tarefa é viável.
Tarefas simples obviamente devem ser preferidas a complexas. Iniciar a tarefa de casa na sessão fornece uma abordagem gradual a ela. Primeiro, você explica e demonstra a atividade. A
criança recebe um modelo e é aliviada da carga
de tentar entendê-la sozinha. Segundo, iniciando a tarefa na sessão, você dá a largada para o
processo da tarefa de casa, afinal de contas, completar uma atividade já iniciada é mais fácil do
que iniciá-la sozinha. Dedicar um tempo da sessão para prescrever tarefas de casa e colaborar
nos seus primeiros passos comunica explicitamente sua importância para a criança. Finalmente, iniciando na sessão, tem-se uma visão das dificuldades que a criança pode experimentar para
completar a tarefa com sucesso.
A seguinte transcrição mostra uma forma
de trabalhar com um adolescente enquanto ele
inicia a tarefa na sessão.
TERAPEUTA: Vamos ver se podemos começar
listando perguntas que o ajudem a testar
os pensamentos perturbadores que cruzam
sua cabeça. Já escrevemos alguns pensamentos em seu diário de pensamento. Qual
está listado em primeiro lugar?
ANDRÉ: “Por mais que eu faça, nunca é suficiente, então seria melhor não fazer nada.”
TERAPEUTA: Que pergunta você pode fazer a
si mesmo para testar essa crença?
ANDRÉ: Não consigo pensar em nenhuma.
TERAPEUTA: Aposto que é isso o que acontece
quando está em casa ou na escola durante
a semana. O pensamento apenas aparece
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138
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
na sua cabeça e você não tem nenhuma pergunta pronta para colocá-lo em dúvida. É
sobre isso que é esta experiência: sugerir
perguntas que lhe mostrem como questionar seus pensamentos automáticos. Vamos
pensar em nosso trabalho juntos e começar a escrever algumas perguntas que foram úteis no passado. Então, vamos colocálas na sua agenda da terapia. Que perguntas sugerimos hoje que pareceram úteis?
ANDRÉ: Eu gostei da pergunta “Qual é uma
outra maneira de olhar as coisas?”.
TERAPEUTA: Certo, é um começo. Vamos escrever esta. Que tal outra?
ANDRÉ: Umm. “Qual é a evidência?”
TERAPEUTA: Você já tem duas, agora. Quantas
você acha que pode escrever para a semana que vem?
ANDRÉ: Provavelmente mais três.
O diálogo enfatiza várias estratégias terapêuticas. Primeiro, o terapeuta ensina a André
as habilidades necessárias para fazer a tarefa de
casa na sessão. Segundo, a dificuldade inicial
de André é normalizada e não criticada (“Aposto que é isso que acontece quando está em casa
ou na escola durante a semana.”). Terceiro, ao
completar duas perguntas na sessão, André tem
pela frente uma tarefa simplificada e gradual.
Durante a prescrição da tarefa de casa na
sessão, o terapeuta deveria processá-la total e
produtivamente com a criança. Obstáculos
potenciais à realização da tarefa deveriam ser tratados (p. ex., “O que poderia impedi-lo de fazer
esta tarefa?”, “Como você poderia evitar esta tarefa?”). Além disso, as expectativas da criança
em relação à sua utilidade deveriam ser exploradas (p. ex., “Como você acha que ela será útil?”).
Finalmente, pode-se aproveitar a oportunidade
para checar a capacidade percebida da criança
de realizar a tarefa de casa (p. ex., “O que parece
difícil nesta tarefa?”, “Quanto dela você é capaz
de fazer?”).
Devido à necessidade de iniciar a tarefa na
sessão, não se deve deixar a prescrição para os
últimos minutos, mas reservar tempo suficiente para iniciar a tarefa, bem como para processála com a criança. Apressar-se para prescrevê-la
durante os últimos momentos de uma sessão
gera pressões que reduzirão a possibilidade de
um processamento terapêutico efetivo.
Reservar tempo suficiente para a prescrição e para o processamento da tarefa de
casa aumenta a probabilidade de aderência à
tarefa. Quando você prescrever a tarefa de
casa, tente não fazer isso apressadamente,
quando estiver encerrando a sessão (“A propósito, faça três registros de pensamento antes de nos encontrarmos de novo na quintafeira.”). Jogar a tarefa de casa dessa maneira
passa à criança a mensagem de que seja um
aspecto adicional e não uma peça terapêutica
central. Além disso, a tarefa de casa dada
como um extra provavelmente será desassociada dos problemas urgentes da criança. Finalmente, a colaboração fica comprometida
quando a tarefa é prescrita às pressas, no encerramento de uma sessão.
Acompanhar o andamento da tarefa na
sessão subseqüente é imprescindível. Primeiro
porque, quando os terapeutas esquecem de examinar a tarefa de casa prescrita, as crianças julgam que ela não é importante. Pensam: “Se meu
terapeuta não pergunta sobre a tarefa para ver
o que aconteceu, então por que eu deveria me
importar com ela?”. Segundo, a revisão da tarefa de casa enfatiza o trabalho fora-da-sessão
como fundamental para o processo. Terceiro,
examinando-a, o terapeuta pode descobrir os
pensamentos e os sentimentos que acompanham a aderência ou a falta dela. Freqüentemente, essas amostras de comportamento refletem problemas atuais das crianças. Por exemplo, a falha em completar uma tarefa de casa
pode ser moldada por crenças perfeccionistas
(“A menos que possa fazê-la perfeitamente, não
vou nem mesmo tentar.”), as quais provavelmente se espalham para outras áreas de funcionamento, podendo até tornar-se um grão para
a moenda terapêutica.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
NÃO-REALIZAÇÃO DA
TAREFA DE CASA
A não-realização da tarefa oportuniza descobrir as motivações e razões que estão por trás
do comportamento da criança. Tenta-se identificar o que atrapalhou a realização de uma tarefa.
Muitas vezes, simplesmente perguntamos à criança “O que aconteceu para você não fazer sua
tarefa de casa da terapia?”. Freqüentemente,
quando eu (RDF) ensino supervisionados a processar a falta de aderência, relutam em abordar a
tarefa. Quando lhes pergunto qual é a objeção,
indicam que se preocupam com que a criança se
sinta criticada ou humilhada. Essa crença parece
estar baseada na idéia de que, se estabelecer a
tarefa de casa para um cliente jovem, você naturalmente tem que agir como um professor de escola punitivo. A questão em elaborar a falta de
aderência não é punir a criança ou menosprezála. Antes, o processamento da falta de aderência
oferece outro caminho terapêutico para a resolução do problema, a verificação do pensamento e
a intervenção comportamental.
A falta de aderência das crianças pode ser
causada por diversos fatores, como dificuldades para realizá-la, prescrição insatisfatória do
terapeuta e/ou dificuldades psicológicas da
criança e de sua família (J. S. Beck, 1995; Burns,
1989). Independentemente da fonte, a não-realização da tarefa deve ser um foco central na terapia. A Figura 10.1 ajuda a imaginar a base para
a falta de aderência, que pode então ser diminuída por meio de passos eficazes.
Prescrevendo tarefas graduais e iniciando
o trabalho na sessão, os terapeutas têm uma idéia
sobre se a criança entende o que é solicitado, ou
seja, se ela tem alguma indicação sobre o que é a
tarefa? A criança sabe o que deve fazer? Quais
são as expectativas do terapeuta? A tarefa pode
ser muito complexa ou muito abstrata para a
criança pequena e, além disso, exceder seus níveis de habilidade em várias áreas. Se a tarefa
exige escrita ou leitura, a falta de aderência da
criança pode refletir habilidades deficientes, bem
como evitação de possível constrangimento ou
139
vergonha por seu baixo nível de habilidade. Além
disso, uma tarefa de casa que requer respostas
de enfrentamento alternativas para pensamentos aflitivos é prematura para uma criança que
ainda tem que aprender a identificar sentimentos e pensamentos, portanto, está mal-equipada
para completar a tarefa. Nessas circunstâncias,
sugerimos simplificar a atividade inicial, ensinando as habilidades necessárias para completála ou replanejando a tarefa para corresponder ao
nível de capacidade da criança.
Uma terceira questão no entendimento da
falta de aderência é determinar se a tarefa de
casa é psicologicamente significativa, relevante
e adequada. Considerações multiculturais podem entrar em ação aqui. Por exemplo, a linguagem usada na tarefa apresenta uma barreira cultural para a criança? A tarefa comportamental viola alguma de suas normais culturais, como estar indo em direção à aquisição de
autonomia, enquanto menos autonomia é valorizada na cultura da criança?
Estar ciente sobre se o contexto ambiental
da criança apóia a tarefa de casa é importante.
Em um sentido mais simples, os pais ou responsáveis encorajam a criança a completar sua tarefa de casa? Alguns pais encorajarão e reforçarão
ativamente a tarefa terapêutica, enquanto outros
estarão menos envolvidos. Ensiná-los a reforçar
e a elogiar seus filhos por realizar a tarefa terapêutica é um primeiro passo. O fato de desenvolver um plano de contingência com os pais
pode facilitar a aderência à tarefa de casa (“Se
Kyle fizer três diários de pensamento quando
sentir-se culpado, o que você pode fazer por ele
em troca?”). Dessa forma, a tarefa de casa da terapia torna-se parte da rotina familiar.
Entretanto, pode haver casos em que os
responsáveis não apóiam a tarefa de casa terapêutica. Nestes casos, recomenda-se considerar
várias questões. O que impede a família de apoiar a tarefa de casa? Há restrições culturais? Os
membros da família lucram com o sofrimento
da criança? Os pais ou responsáveis estão atentos aos esforços da criança?
Considere o seguinte exemplo. Após três
sessões, Mandy, uma menina de 11 anos, estava
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A criança entende a
tarefa?
Não
Explique, instrua e simplifique
a tarefa.
Sim
A criança tem a habilidade
para completar a tarefa?
Não
Replaneje as tarefas para o nível
de habilidade da criança.
Sim
A tarefa de casa é significativa, relevante e adequada?
Não
Volte, reconceitualize o problema
e a atividade, replaneje a tarefa e
associe-a mais diretamente às
circunstâncias da criança.
Sim
O ambiente/contexto da
criança apóia a tarefa de
casa?
Não
Sim
A falta de aderência da
criança deve-se a seu
nível de desesperança ou
de depressão?
Não
A falta de aderência da
criança deve-se a
ansiedade e a timidez?
Sim
Colabore com agentes de mudança
no ambiente da criança. Replaneje
o conteúdo e o processo da tarefa
de casa para adequar-se às restrições
ambientais/contextuais.
Planeje a tarefa de casa para focalizar depressão e desesperança.
Sim
Ataque a ansiedade e a evitação
com a prescrição da tarefa de casa.
Sim
Enfatize a colaboração e a descoberta orientada. Evite lutas de poder. Recrute controladores da contingência
ambiental. Vise o comportamento
rebelde na tarefa de casa.
Não
A falta de aderência da
criança deve-se a um
comportamento rebelde?
FIGURA 10.1 Árvore de decisão para processar a falta de aderência à tarefa de casa.
progredindo bem na terapia. Ela estava aprendendo a ficar à parte do conflito conjugal de seus
pais e a conter seu senso de responsabilidade
para apoiar emocionalmente o pai. Ela comparecia às sessões regularmente e fazia sua tarefa
de casa. Entretanto, sua terapia, de forma ines-
perada e súbita, começou a piorar. A menina tornou-se mais agitada e deixou de fazer as tarefas. Os planos de contingência com os pais falharam. À medida que trabalhávamos o problema, tornou-se claro que o sofrimento de Mandy
servia a uma função vital para seus pais. O pai
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queria que Mandy tomasse conta dele. Enquanto Mandy estivesse perturbada, as dificuldades
do relacionamento conjugal do pai e da mãe
podiam ser evitadas.
Um outro exemplo também é ilustrativo.
Micah era uma criança altamente ansiosa que
temia perder o controle de suas emoções. Ele se
preocupava que pudesse ter um ataque de “pânico” em uma viagem no ônibus da escola ou
em um avião. O tratamento inicialmente forneceu bons e rápidos resultados, Micah prontamente envolveu-se em tarefas de automonitoração e auto-instrução. Entretanto, como no caso
de Mandy, a terapia com Micah de repente deteriorou-se, e a aderência à tarefa de casa diminuiu. Aparentemente, o pai de Micah também
tinha um transtorno de ansiedade grave e parecia confortado pelo fato de que ele e Micah compartilhavam as mesmas vulnerabilidades. Conforme a terapia progredia, o pai de Micah, de
forma inconsciente, desencorajava seu progresso. Tratamos esse problema com a família. Então o pai confessou: “Eu estava começando a
me sentir realmente sozinho em minha própria
ansiedade. Quando Micah começou a vencer
seus medos, me senti pior em relação a mim
mesmo. Foquei-me em mim e pensava que nunca superaria meu próprio medo”.
As prescrições de tarefa de casa efetivas
são emocionalmente significativas. Quando as
crianças e suas famílias percebem as tarefas
como banais e não relacionadas com suas circunstâncias, há maior probabilidade de falta de
aderência. Conforme mencionado anteriormente, ligar a atividade aos problemas atuais é uma
forma potente de tornar a tarefa de casa emocionalmente mais relevante. Por exemplo, se uma
criança rebelde e insubmissa quer que sua mãe
pare de aborrecê-la, a tarefa deveria ser desenvolvida para satisfazer este objetivo. Se a criança reconhecer o quanto a resolução do problema lhe dá mais liberdade, terá mais probabilidade de se envolver na tarefa. Se as prescrições
de tarefa de casa têm pouca ligação aparente
com os problemas discutidos na terapia, as
crianças compreensivelmente as “esquecerão”.
141
Prescrições de tarefa de casa feitas sob
medida para se adequarem às necessidades individuais da criança são mais atraentes do que
tarefas genéricas. Os diários de pensamento, por
exemplo, podem ser adaptados a cada criança.
Recomendamos prescrever diários de pensamento dizendo “Cada vez que se sentir triste,
complete um destes diários” ou “Cada vez que
tiver uma discussão na escola, preencha um diário de pensamento”. Achamos que estas instruções dirigem a atenção das crianças para suas
dificuldades específicas e, com isso, aumentam
a relevância da tarefa.
A falta de aderência também pode ocorrer
em função do nível de desesperança e de depressão da criança. A falha em realizar a tarefa
de casa é relativamente comum em crianças
muito deprimidas e desesperançadas. O nível
de sofrimento delas contribui para a crença de
que nada irá ajudar. Além disso, o pessimismo,
a passividade e a baixa auto-eficácia tornam árdua cada tentativa de enfrentamento. A falta de
aderência devido à depressão é, na verdade, seu
pessimismo, sua letargia e sua desesperança falando. Nestes casos, as prescrições de tarefa de
casa que são graduais e que enfatizam maior
auto-eficácia são boas estratégias. Por exemplo,
simplificar o programa de evento prazeroso,
deixando a criança colar adesivos no Mapa de
Sentimentos em vez de escrever nele, torna a
tarefa mais fácil para crianças deprimidas.
A evitação é um aspecto característico de
crianças ansiosas. Como ocorre com as deprimidas, a gravidade do sofrimento moldará sua
aderência. Se a tarefa prescrita evoca uma quantidade significativa de ansiedades, as crianças
podem evitá-la simplesmente porque se sentem
ansiosas. Como é muitas vezes o caso de crianças deprimidas, a falta de aderência ocorre em
função de seu problema atual; em conseqüência, ajudar a criança a identificar e a modificar
os pensamentos e os sentimentos em torno da
tarefa apresenta-se como uma questão terapêutica central. Por exemplo, uma criança ansiosa
recusava-se a compartilhar seus sentimentos
com os pais devido a medos de avaliação nega-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
tiva. O enfrentamento desses medos formou a
base para a prescrição da tarefa de casa.
Determinar se a falta de aderência da criança é em função de rebeldia e reatância psicológica
é outra consideração. A reatância psicológica é um
constructo usado para explicar a tendência das
pessoas a restaurar sua liberdade quando acham
que estão sendo controladas (Brehm, 1966). Conseqüentemente, pode ser útil verificar se a criança vê a tarefa como controladora. Se for extremamente sensível a controle, a colaboração na tarefa de casa torna-se ainda mais fundamental. A
seguinte transcrição ilustra o processamento da
tarefa de casa com uma adolescente insubmissa
que parece reativa ao controle percebido.
TERAPEUTA: Como seria para você captar o
que se passa na sua cabeça quando está
com raiva?
STACY: Eu já sei porque eu fico com raiva.
TERAPEUTA: Você realmente não vê como isso
pode ajudar?
STACY: Não vai ajudar. É uma coisa idiota. Por
que eu deveria fazer o seu registro?
TERAPEUTA: Eu acho que você gosta de derrubar essas idéias.
STACY: (Encolhe os ombros.)
TERAPEUTA: O que tem de engraçado nisto?
STACY: Ver você ficar frustrado. Então eu fico
no controle.
TERAPEUTA: E o que acontece quando você
não está no controle?
STACY: Você é esperto, você entende.
TERAPEUTA: Certo. Eu acho que você pode
derrubar idéias e ficar irritada para ficar
no controle quando as coisas não saem do
jeito que você quer.
STACY: E daí?
TERAPEUTA: Como isso resolve seus problemas?
STACY: Muito bem. Eu não estou fazendo suas
tarefas de casa.
TERAPEUTA: É verdade. Mas não seria melhor
você fazer outra coisa em vez de conversar comigo?
STACY: Seria melhor fazer qualquer coisa.
TERAPEUTA: Então se você imaginasse um jeito para ter que vir menos à clínica e para
ficar mais no controle de seus pensamentos e sentimentos, não seria útil?
STACY: Eu acho.
TERAPEUTA: Eu concordo. E se você se encarregasse de captar as coisas que passam
pela sua cabeça? Parece que pessoas jovens que assumem o controle desse jeito
progridem na terapia. Não tenho certeza
se funcionará para você, mas estou convencido de que vale a pena tentar.
Primeiro, note como neste diálogo o terapeuta faz perguntas diretas, específicas. Segundo, o terapeuta considerou o controle percebido como uma questão central e trabalhou seriamente para evitar parecer controlador. Finalmente, introduziu a tarefa de casa como uma
forma de Stacy manter o controle.
A solução colaborativa do problema pode
aumentar a aderência à tarefa de casa. Você e a
criança podem ser capazes de discutir formas
de melhorar a aderência. Manter uma agenda
com as tarefas, reservar uma hora particular do
dia para as tarefas terapêuticas ou escrever um
lembrete em um lugar visível pode facilitar a
aderência. O seguinte diálogo mostra o processo colaborativo de solução do problema entre
terapeuta e criança.
TERAPEUTA: O que a impediu de fazer seu diário de pensamento esta semana?
ISABEL: Eu estava muito ocupada e me esqueci de fazer.
TERAPEUTA: Que lição de casa da escola você
teve esta semana?
ISABEL: Eu tive uma prova de ortografia difícil.
TERAPEUTA: Você fez a lição de ortografia?
ISABEL: Sim.
TERAPEUTA: O que a fez lembrar de fazer a
lição de ortografia?
ISABEL: Eu sempre faço minha lição antes do
jantar para poder ver televisão depois.
TERAPEUTA: Que boa idéia – você reserva um
tempo para fazer a lição.
ISABEL: Obrigada. Ajuda.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Você é capaz de pensar em alguma coisa que poderia ajudá-la a lembrar
de fazer seu diário de pensamento da mesma forma que se lembra de fazer a lição
da escola?
ISABEL: Talvez eu possa fazer depois das minhas lições de ortografia e de ciências.
TERAPEUTA: O que poderia ajudá-la a lembrar
do diário quando estiver fazendo sua lição de ciências e de ortografia?
ISABEL: Talvez quando eu chegasse em casa de
seu consultório poderia colocar meu diário na escrivaninha perto das minhas coisas da escola.
TERAPEUTA: Isso parece outra boa idéia. Você
poderia manter todo os seus materiais juntos, assim poderia realizar todas as atividades no mesmo momento. Eu me pergunto como você poderia ter certeza de
que trará seu diário para nosso próximo
encontro?
ISABEL: Eu simplesmente vou me lembrar.
TERAPEUTA: É uma boa meta. Como podemos
ajudá-la a lembrar?
ISABEL: Eu poderia escrever um bilhete para mim
mesma e colocá-lo na porta da geladeira.
TERAPEUTA: O que diria o bilhete?
ISABEL: Levar o diário para a hora com a Dra.
Jessica.
143
A troca mostra processos e práticas importantes. Primeiro, a terapeuta usou o sucesso de
Isabel com a lição de ortografia como uma base
para o sucesso com a tarefa da terapia. Segundo, Isabel desenvolveu um plano para a aderência, em vez de simplesmente basear-se em
palavras. Finalmente, a terapeuta cuidadosamente evitou depreciar Isabel por sua falta de
aderência.
CONCLUSÃO
A tarefa de casa mostra às crianças que elas
podem aplicar suas habilidades de enfrentamento. A realização consistente de atividades
específicas e relevantes facilita a aplicação da
habilidade. A falta de aderência é diminuída
pela prescrição de instrumentos psicologicamente significativos relacionados aos problemas
atuais da criança. Finalmente, o uso bem-sucedido da tarefa de casa requer um foco terapêutico claro. Se você não for claro em relação a uma
tarefa, a criança fatalmente ficará confusa. Se
você considerar a tarefa de casa como periférica e tediosa, ela a verá da mesma maneira. Portanto, como terapeuta, use este capítulo para fazer sua tarefa de casa sobre a tarefa de casa.
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11
Trabalhando com Crianças
e Adolescentes Deprimidos
A depressão na infância tem sido uma área
de pesquisa negligenciada, que até recentemente não era reconhecida ou considerada (Beardslee
e cols., 1993). Reconhecer os sinais e os sintomas de depressão em crianças e adolescentes é
fundamental para o desenvolvimento de tratamento efetivo. Entretanto, visto que a depressão pode assumir muitas formas, é um desafio
reconhecê-las. Este capítulo focaliza a depressão unipolar, incluindo as categorias diagnósticas de transtorno depressivo maior, distimia
e transtorno de ajustamento com humor deprimido.
A terapia cognitiva tem se revelado promissora no tratamento de crianças e adolescentes deprimidos (Gillham e cols., 1995; Kaslow
e Thompson, 1998; Ollendick e King, 1998;
Reinecke, Ryan e DuBois, 1998). Pela aplicação
de técnicas cognitivas empiricamente apoiadas
de forma adequada ao desenvolvimento, temos
ajudado crianças e adolescentes a tratar seus
sintomas depressivos. Ao desafiar as visões negativas que crianças e adolescentes têm de si
mesmos, dos outros, do ambiente e do futuro,
a terapia cognitiva promove um panorama preciso e equilibrado.
SINTOMAS DE DEPRESSÃO
Sintomas em crianças
Crianças experimentando depressão podem exibir sintomas em todas as quatro esferas
do modelo cognitivo, bem como em seus relacionamentos interpessoais. Os sintomas afetivos
freqüentemente incluem um humor deprimido
ou triste, mas algumas crianças deprimidas experimentam mais irritabilidade do que um humor triste ou deprimido, tornando, desse modo,
a identificação de sua depressão desafiadora.
Elas podem ser descritas por pais e professores
como raivosas, irritáveis, facilmente aborrecidas
e “rabugentas”. Além disso, a criança deprimida com freqüência sente-se inútil e acredita que
nunca se sentirá melhor ou que sua vida dificilmente irá melhorar. O sentimento de inutilidade está muitas vezes relacionado a pensamentos suicidas ou ao desejo de morrer.
Estilos cognitivos negativos e atribuições
negativas também são comuns em crianças deprimidas (Kendall e McDonald, 1993). Por exemplo, Christy, uma menina de 10 anos, jogava em
um time de futebol. Quando seu time perdeu
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146
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
um jogo, ela atribuiu a derrota a seu próprio
comportamento, como ter perdido um gol ou
chutado a bola para fora do campo. Entretanto,
quando o time venceu, ela ainda mantinha um
conjunto cognitivo negativo (“Nós só ganhamos
porque Megan pegou a bola de volta quando
fiz a besteira de chutá-la para o outro time.”).
Esses estilos cognitivos incluem atribuições internas, estáveis e globais para fracassos e atribuições externas, instáveis e específicas para sucessos (Abramson, Seligman e Teasdale, 1978).
Essas crianças têm uma perspectiva geralmente pessimista, acreditando que “tudo o que pode
dar errado dará”. Como Oscar, o rabugento da
Vila Sésamo, elas sempre esperam o pior.
Consoante com este estilo cognitivo negativo, crianças deprimidas freqüentemente generalizam eventos negativos e fazem previsões de
resultados negativos independentemente de
evidências que apontem o contrário. Além disso, suas interpretações negativas dos comportamentos dos outros, do ambiente ou de suas
próprias experiências servem para reforçar suas
crenças em relação a um baixo valor próprio.
Os eventos positivos são facilmente descartados ou esquecidos, enquanto as experiências negativas são lembradas por muito tempo como
evidência das próprias inadequações. Mary,
uma menina deprimida de 11 anos, que acreditava que “ninguém gosta de mim”, poderia pensar consigo mesma “Sarah não me disse ‘bom
dia’. Ela me odeia, assim como todo mundo”,
enquanto ignorava o fato de que Jeremy e
Elizabeth a tinham cumprimentado quando
entrou na aula. Nesse contexto, a baixa autoestima acompanha a depressão, e pensamentos
relacionados a uma incapacidade de ajustar-se
ou crenças sobre inadequação estão muitas vezes presentes. Crianças deprimidas freqüentemente acham quase impossível dizer alguma
coisa positiva em relação a si próprias. Por exemplo, Edna, 12 anos, não podia dar uma única
razão para um colega de aula querer ser seu
amigo. Uma outra criança deprimida, Herb, citava facilmente diversas coisas que gostaria de
mudar em relação a si mesmo, mas não podia
identificar nada em si de que gostasse.
Algumas crianças deprimidas parecem
perdidas no espaço, distraídas por seus próprios diálogos internos. A atenção e a concentração são áreas cognitivas adicionais que podem
sofrer o impacto da depressão na infância. Na
terapia, por exemplo, crianças deprimidas costumam ter problemas para centrar-se no conteúdo da sessão ou para completar tarefas da
terapia. Além disso, uma tomada de decisão
aparentemente simples é muito difícil para
muitas dessas crianças, como se nota ao
observá-las completando questionários de autorelato. Por exemplo, Sabrina, 11 anos, gastava
um tempo excessivo ponderando sobre as respostas adequadas. É comum permitirmos que
as crianças escolham um pequeno prêmio ao
final das sessões. Ao escolherem, as crianças deprimidas podem discutir os méritos da escolha
de determinado brinquedo por um longo período de tempo. Elas parecem impelidas a fazer
exatamente a escolha certa.
A criança deprimida também experimenta anedonia, um interesse ou prazer diminuído
nas atividades, tanto comportamental como
afetivamente. Jogos, programas de televisão e
passatempos costumavam apreciar não têm
mais atrativos para ela. A criança relata ficar
entediada o tempo todo ou confessa que “nada
mais é divertido” A apatia, o desinteresse em
passar um tempo com os amigos e o afastamento
dos outros também são comuns na anedonia.
Convites para visitar amigos são freqüentemente recusados, a criança deprimida muitas
vezes não recebe tais convites devido a seus
comportamentos socialmente retraídos. Portanto, seu contato social é significativamente diminuído, levando a sentimentos aumentados de
solidão. Quando perguntado sobre seus interesses ou passatempos, Eric, 12 anos, comentou:
“Eu costumava jogar minigolfe, mas agora simplesmente não sinto vontade de ir”. Da mesma
forma, essas crianças demonstram uma resposta de “falta de alegria” (Stark, 1990). Portanto, a
criança deprimida pode não responder a atividades, programas de televisão ou histórias bemhumoradas com o entusiasmo típico esperado
de uma criança.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Crianças encaminhadas para tratamento
por problemas de comportamento, como discutir, brigar com irmãos ou responder a adultos,
estão muitas vezes experimentando um distúrbio de humor. Além disso, o retraimento social
é outro sinal comportamental de depressão.
Identificar a freqüência de interações sociais será
mais significativo do que calcular o número de
amigos relatado pela criança ou por seus pais,
como é ilustrado no caso de Brea, uma menina
de 11 anos trazida à terapia por sua mãe devido
a recentes irritabilidade, fadiga, choro e queda
nas notas. Sua mãe descreveu-a como uma criança sociável, com muitos amigos. Entretanto,
quando perguntada com que freqüência ela tinha visto suas amigas nas duas últimas semanas, Brea revelou muito menos interações
sociais, demonstrando, assim, uma mudança em
seu nível de funcionamento. Recusar convites
ou oportunidades para passar o tempo com
amigos é um sinal de retraimento social. Em situações de convívio, como recreio ou reuniões
sociais, as crianças deprimidas podem não
interagir com as outras, mas, em vez disso,
observá-las de longe. Esse sintoma é ilustrado
em Nicole, uma menina de 9 anos que ficava do
outro lado da cerca da pracinha observando seus
colegas jogar bola. Previsões de que uma atividade será aborrecida também são comuns entre crianças deprimidas; tais previsões portanto aparecem relacionadas a retraimento. Ao mesmo tempo, o envolvimento diminuído da criança em atividades prazerosas pode servir para
perpetuar sentimentos de isolamento e de depressão.
Crianças menores podem não saber como
expressar o que sentem ou podem sentir-se
desconfortáveis para fazê-lo, por isso, não é
incomum que uma criança deprimida com menos de 9 anos expresse sofrimento através de problemas comportamentais e de atuação (Schwartz,
Gladstone e Kaslow, 1998). Essas crianças têm
dificuldade de relacionar-se com os outros, incluindo colegas e irmãos. Comportamento
disruptivo e agressivo foi o motivo de um encaminhamento para Ron, um menino de 7 anos,
deprimido, que estava respondendo e brigan-
147
do na escola. Crianças mais velhas podem ser
mais capazes de identificar sentimentos e crenças aflitivos e, portanto, podem exibir sintomas
depressivos mais típicos, incluindo tristeza e
cognições autocríticas (Schwartz e cols., 1998).
Algumas crianças deprimidas expressam agitação ou inquietação psicomotora. Elas têm dificuldade em sentar-se quites e são nervosas. O
oposto também pode ocorrer, crianças que não
se movimentam ou não correm como a maioria
das crianças. Antes, parecem cansadas e fazem
menos movimentos e mais lentos.
Os sinais mais sutis de depressão, geralmente de natureza física, são difíceis de se detectar. Crianças que são incapazes, ou que não
têm vontade, de verbalizar seus estados emocionais em geral comunicam seu sofrimento mediante queixas somáticas recorrentes. Crianças
menores podem não ter a capacidade de verbalizar o sofrimento e, portanto, fazem mais queixas somáticas do que adolescentes (Birmaher e
cols., 1996). Elas relatam dores de cabeça, dores
de estômago ou outras queixas físicas freqüentes e infundadas (Stark, Rouse e Livingston,
1991). Muitas dessas crianças visitam repetidamente a enfermaria da escola e faltam à aula
devido a queixas físicas.
Problemas com a alimentação e com o sono
também ocorrem com crianças deprimidas. Elas
podem ter o apetite diminuído, podem ganhar
ou perder peso, ou deixar de ganhar peso na
proporção esperada. Crianças sofrendo de depressão podem apresentar dificuldades para
adormecer e podem acordar no meio da noite
ou de manhã cedo, sendo incapazes de voltar a
dormir. Outras, ao contrário, dormem excessivamente. Edward, um aluno de quarta série, de
9 anos, freqüentemente adormecia na aula e
queixava-se de constante fadiga, declarando que
não “tinha vontade” de fazer nada.
Problemas com crianças da mesma idade
e rejeição por parte destas são estressores
interpessoais freqüentes entre crianças deprimidas. As dificuldades sociais podem ser resultado de diversos fatores (Kovacs e Goldston, 1991).
Crianças deprimidas são freqüentemente mais
socialmente retraídas e podem parecer tímidas,
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148
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
não iniciam ou não participam de muitas
interações sociais, resultando em menos relacionamentos com seus iguais. Algumas crianças
deprimidas não possuem habilidades sociais ou
não têm oportunidades para interações sociais.
Elas freqüentemente se sentem isoladas, o que
as leva a sentimentos depressivos mais profundos. Particularmente para crianças mais velhas,
se está triste e chorando, pode ser alvo de zombaria e ser ainda mais rejeitada por seus colegas. Um humor irritável pode prejudicar os relacionamentos: as outras crianças ficam aborrecidas e evitam a criança irritável ou pessimista (Kovacs e Goldston, 1991). A criança mais velha deprimida e irritável muitas vezes tem
interações com seus iguais que envolvem mais
agressão e negatividade do que apresentam as
crianças mais novas (Speier, Sherak, Hirsch e
Cantwell, 1995).
Crianças em idade escolar sofrendo de
depressão desenvolvem sintomas relacionados
à própria escola, incluindo diminuição no desempenho, baixa motivação, medo de fracasso
e comportamentos em sala de aula (Speier e
cols., 1995). Essas crianças são geralmente autocríticas, experimentam sentimentos de culpa
e podem demonstrar desenvolvimento da linguagem atrasado. Crianças deprimidas podem
apresentar-se em seu consultório com muitas
queixas diferentes.
Sintomas em adolescentes
Muitos sintomas semelhantes também caracterizam a depressão em adolescentes. Queixas somáticas, retraimento social, desesperança e irritabilidade ocorrem tanto em adolescentes como em crianças deprimidas (Schwartz e
cols., 1998), entretanto, algumas diferenças na
manifestação de sintomas foram observadas. Os
adolescentes são mais capazes de verbalizar os
sintomas do que crianças pequenas, o que ajuda os clínicos a identificarem mais facilmente
os sintomas dos primeiros. Outras diferenças na
apresentação de sintoma incluem risco aumen-
tado dos adolescentes para tentativas de suicídio, uso de substância e abandono da escola.
Os adolescentes deprimidos tendem a ter
co-morbidez, incluindo transtornos de ansiedade e abuso de substâncias (Gotlib e Hammen,
1992; Goodyer, Herbert, Secher e Pearson, 1997;
Kovacs, Feinberg, Crouse-Novak, Paulauskas e
Finkelstein, 1984; Kovacs, Gatsonis, Paulauskas
e Richards, 1989). Baixa auto-estima, imagem
corporal empobrecida, alta inibição e enfrentamento inadequado são comuns em adolescentes deprimidos. Além disso, estes adolescentes
relatam apoio social inadequado e conflito aumentado com os pais (Lewinsohn, Clarke,
Rohde, Hops e Seeley, 1996). Os adolescentes
freqüentemente também lutam com questões de
autonomia, por isso, podem ter menos probabilidade de procurar ajuda dos pais quando se
sentem deprimidos, o que os leva a um maior
isolamento.
Como as crianças menores, os adolescentes deprimidos demonstram dificuldades acadêmicas. Entretanto, essas dificuldades podem
tornar-se mais severas, incluindo faltas excessivas e desistência (Speier e cols., 1995). Adolescentes deprimidos são propensos a discussão e
podem ter um início de puberdade retardado,
início mais lento de pensamento abstrato e mudanças de humor. O comportamento arriscado
e o comportamento anti-social podem aumentar, incluindo uso de substâncias, vandalismo,
atividade sexual insegura e acidentes ou violações de trânsito. Tais adolescentes demonstram
baixa auto-estima, experimentam flutuações de
peso e podem desenvolver transtornos alimentares (Speier e cols., 1995).
CONSIDERAÇÕES CULTURAIS
E DE GÊNERO
Com qualquer cliente, avaliar o indivíduo
dentro de um contexto cultural é fundamental
e provavelmente requer consultoria ou entrevistas clínicas adicionais com membros da família.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Segue-se uma breve descrição da pesquisa limitada sobre problemas culturais com afro-americanos, nativos americanos, ásio-americanos,
hispano-americanos e clientes do sexo feminino.
Alguns estudos baseados na comunidade
indicam diferentes apresentações de sintoma
com jovens afro-americanos versus brancos. Especificamente, um estudo de crianças entre 9 e
13 anos sugere um estilo de atribuição mais maladaptativo em crianças brancas comparado com
crianças afro-americanas (Thompson, Kaslow,
Weiss e Nolen-Hoeksema, 1998). Em relação às
crianças afro-americanas, as crianças brancas
culpavam-se mais por resultados negativos e
viam os eventos sob uma luz mais pessimista,
como inalteráveis e como causando efeitos dolorosos do início ao fim de suas vidas.
Um estudo realizado por DeRoos e AllenMeasures (1998) sugeriu que crianças afro-americanas deprimidas tendem a experimentar baixo valor próprio e isolamento, enquanto crianças brancas deprimidas têm mais probabilidade de exibir estados de humor negativo e culpa. Outro estudo recente encontrou escores mais
altos em medidas de auto-relato de depressão e
ansiedade e classificações mais altas de depressão percebidas por professores em estudantes
afro-americanos de quinta série comparados
com brancos (Cole, Martin, Peeke, Henderson e
Harwell, 1998). Os resultados desse estudo são
indicativos de uma relação entre a idade e as
diferenças étnicas, dado que diferenças significativas como essas não foram encontradas em
crianças mais velhas. Em relação a crianças clinicamente encaminhadas, a maioria dos estudos não revela diferenças expressivas entre
crianças brancas e afro-americanas (Nettles e
Pleck, 1994).
Gibbs (1998) observou um aumento alarmante na taxa de suicídio em crianças afro-americanas. Citando as estatísticas de 1996 do Departamento Norte-Americano de Saúde e Serviço Social, Gibbs observou que a taxa de suicídio
em crianças afro-americanas do sexo masculino
quadruplicou entre 1980 e 1992, e que a taxa para
afro-americanos do sexo feminino duplicou durante o mesmo período. Gibbs mencionou tam-
149
bém que a identificação de tendências suicidas
em crianças afro-americanas é mais difícil porque elas podem expressá-las, diferentemente de
suas contrapartes brancas. A tendência suicida
em afro-americanos parece marcada por altos
níveis de raiva, exibição e envolvimento em comportamentos de alto risco.
Embora a pesquisa atual seja insuficiente
e inconclusiva, as altas taxas de suicídio em adolescentes nativos americanos e de abuso de drogas e de álcool (Ho, 1992; LaFramboise e Low,
1998) parecem indicar a presença de distúrbios
afetivos nesses jovens. Na verdade, o U.S.
Surgeon General (1999) indica que entre 1979 e
1992 a taxa de suicídio entre adolescentes nativos americanos do sexo masculino foi a mais
alta no país. Allen (1998) sugere que a limitada
literatura dedicada à depressão em jovens nativos americanos pode ser resultado da nãoaplicabilidade de classificações diagnósticas da
cultura ocidental àquelas crianças.
Ho (1992) argumenta que filhos de imigrantes asiáticos demonstram um alto número de queixas somáticas devido à internalização de angústia psicológica e que tais queixas podem representar uma expressão mais aceitável de sofrimento
interior na cultura asiática. Nagata (1998) observou que a escassez de literatura sobre depressão
em jovens ásio-americanos não deveria ser vista
como um sinal da ausência de sofrimento psicológico entre os indivíduos desse grupo, mas, antes, provavelmente reflete uma hesitação cultural
dessa população em procurar os serviços de saúde mental.
Em uma recente revisão, Roberts (2000)
concluiu que os jovens hispano-americanos parecem correr maior risco de depressão. Além
disso, citando estatísticas do Centro para o Controle de Doenças, o U.S. Surgeon General (1999)
relata que há um alto risco de suicídio em jovens hispânicos. Roberts (1992) examinou ainda as manifestações de sintomas depressivos em
diversos grupos culturais usando respostas de
adolescentes a itens da Escala de Depressão do
Centro para Estudos Epidemiológicos. O estudo examinou brancos não-hispânicos, afro-americanos, pessoas de origem mexicana e outros
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150
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
hispânicos. Os resultados de Roberts indicam
mais semelhanças do que diferenças nas respostas destes grupos de adolescentes. Entretanto,
algumas diferenças nos padrões de endosso do
item revelam que os dois grupos hispânicos tinham uma tendência a agrupar sintomas somáticos e de humor negativo, mas Roberts foi contra a interpretação dessas descobertas como evidência de que hispano-americanos expressam
sofrimento mediante queixas somáticas ou que
não diferenciam entre sofrimento físico e psicológico. Recomendamos cautela na interpretação
dessa linha de pesquisa. Concordamos com
Roberts (2000, p.362), que escreveu: “É difícil
tirar qualquer conclusão firme com relação a
etnia e riscos de depressão a partir destes estudos porque eles empregam diferentes medidas
de depressão e focalizam diferentes clientes de
minoria étnica”.
As diferenças de gênero na depressão
variam com a idade, com o desenvolvimento e
com as diferenças e expectativas culturais. NolenHoeksema e Girgus (1995) relatam taxas de
prevalência semelhantes para depressão em meninos e meninas pré-púberes. Entretanto, as meninas demonstram taxas mais altas de depressão
do que os meninos entre 12 e 15 anos, e essa diferença continua na vida adulta. Também podem
existir diferenças nos estilos cognitivos entre gêneros em diferentes níveis etários (NolenHoeksema e Girgus, 1995). Meninas pré-púberes
demonstram estilos explanatórios mais otimistas
do que meninos. No início da adolescência, os jovens em geral tornam-se mais pessimistas, entretanto, no final dela os meninos demonstram pensamentos mais otimistas do que as meninas. Portanto, as meninas têm uma tendência a se tornarem mais deprimidas e pessimistas com o passar
do tempo que os meninos. Vários fatores foram
discutidos na literatura como possíveis contribuintes para essas diferenças (Nolen-Hoeksema e
Girgus, 1995), entre eles, as expectativas culturais,
as normas sociais e os preconceitos de gênero. As
alterações hormonais, o desenvolvimento físico e
a insatisfação com o corpo também podem estar
relacionados a diferenças nas taxas de depressão
entre meninos e meninas.
AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO
Uma avaliação abrangente das crianças
deve obter informações de múltiplas fontes. Informações da criança, dos pais, de professores
e de outros responsáveis devem ser coletadas e
consideradas. Inúmeros instrumentos de avaliação e entrevistas estruturadas podem ser usados. Além disso, recomendamos a consulta com
médicos para excluir causas físicas dos sintomas ou para fornecer tratamento e medicação,
se necessário.
Uma variedade de instrumentos de avaliação, incluindo medidas de auto-relato, entrevistas, classificações de observadores, indicações
de amigos e técnicas projetivas, tem sido utilizada para avaliar a presença e a gravidade da
depressão (Kaslow e Racusin, 1990). Especificamente, o Inventário de Depressão de Crianças (CDI) é um instrumento popular, que inclui
uma versão longa e uma curta. Na verdade, o
CDI é o inventário de auto-relato de depressão
mais freqüentemente utilizado (Fristad, Emery
e Beck, 1997), pode ser completado por crianças ou adolescentes antes das sessões e usado
periodicamente no decorrer do tratamento para
monitorar mudanças nos sintomas relatados.
A Revised Children’s Depressive Rating
Scale (CDRS-R) é outra medida de classificação
de auto-relato que avalia sintomas depressivos
e depressão global (Poznanski e cols., 1984). A
CDRS-R inclui formulários para pais, professores e irmãos, permitindo assim que o examinador incorpore as observações dos outros no processo de avaliação. A CDRS-R foi normatizada
em amostras de 9 a 16 anos e, portanto, é útil
tanto com crianças como com adolescentes.
Outras medidas de auto-relato incluem a
Depression Self-Rating Scale (DSRS; Birleson,
1981), a Depression Adjective Checklist (CDACL; Sokoloff e Lubin, 1983) e a Children’s
Depression Scale Revised (CDS-R; Reynolds,
Anderson e Bartell, 1985). Inúmeras entrevistas
estruturadas foram desenvolvidas e usadas para
avaliar a depressão em crianças. Uma entrevista
clínica completa fornece dados importantes sobre os sintomas, sobre sua freqüência, sua inten-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
sidade, sua duração, seus antecedentes e sobre o
contexto em que aparecem.
Usamos inventários de auto-relato e entrevistas para controlar sintomas depressivos. Algumas crianças acham mais fácil comunicar seu
nível de sofrimento por uma medida escrita.
Descobrimos que muitas crianças que são incapazes de verbalizar sua angústia aos pais ou ao
terapeuta podem solicitar que o pai veja seu
CDI. Por exemplo, Taylor é um menino de 10
anos que acreditava que sua mãe “não tinha
nenhum tempo para ele”. Após completar o CDI
e endossar um nível clinicamente significativo
de sintomas, Taylor pediu que mostrássemos o
inventário a sua mãe. Ele era incapaz de verbalizar seu sofrimento para ela, mas esperava que
mostrando suas respostas comunicaria seu sofrimento.
Integração total de
avaliação e terapia
Tentamos combinar integralmente avaliação e tratamento. Infelizmente, é fácil escorregar para um estilo mecânico no qual simplesmente administram-se as medidas e deixa-se de
reexaminá-las. Entretanto, quando se discute o
processo de completar inventários de auto-relato com crianças, freqüentemente se descobre
que eles revelam crenças importantes sobre expressão emocional. Às vezes as crianças revelam crenças imprecisas sobre expressão de pensamentos e sentimentos, que podem estar contribuindo para o relato excessivo ou para a falta
de relato de sintomas. Além disso, discrepâncias entre o auto-relato verbal da criança, o relato
dos pais e as observações comportamentais do
terapeuta são mais facilmente tratadas quando
se incorpora os resultados de inventários de
auto-relato à sessão.
Considere Amanda, uma menina de 9 anos,
que parecia estar experimentando uma quantidade de sintomas de depressão e ansiedade (e que a
mãe relatava como sendo triste e retraída), mas
que negava esses sintomas no CDI. Quando per-
151
guntada sobre a possibilidade de completar o inventário, Amanda confessou que tinha medo de
ter dado algumas das respostas “erradas”. Não
satisfeito com esse nível de análise, o terapeuta
foi mais fundo e descobriu o pensamento “É errado dizer que você está triste ou aborrecida”.
Amanda tinha formado essa crença baseada nas
reações dos outros quando anteriormente havia
expressado afeto negativo e pensamentos pessimistas. Seu pai freqüentemente respondia a suas
expressões com comentários como “Não diga isso,
Amanda, as coisas não são tão ruins quanto você
pensa” ou “Não fique triste”. Portanto, o pai de
Amanda tinha inadvertidamente ensinado-a que
seus sentimentos e pensamentos eram “errados”
e tinha, desse modo, reforçado sua não-expressão
de pensamentos e sentimentos negativos.
Examinar cada subescala das medidas de
auto-relato é importante para ajudar a provocar os sintomas depressivos específicos que a
criança está experimentando, como queixas
somáticas ou retraimento social. Por exemplo,
à primeira vista o escore do CDI de Billy, 8 anos,
não mudou do inicío da terapia à quarta sessão. Entretanto, uma verificação mais rigorosa
de dois CDIs revelou que suas queixas somáticas
tinham diminuído signficativamente desde a
entrada e que ele estava expressando mais sentimentos negativos. Esses dados concordam
com a conceitualização de que Billy estava desenvolvendo formas mais adaptativas de expressar afeto negativo, tornando-se capaz de
identificar as especificidades de seu sofrimento, levando a uma identificação de sintomas
mais precisa no CDI. Ao mesmo tempo, o menino estava exibindo menos sintomas somáticos;
ele agora tinha capacidade para traduzir seus
sentimentos em palavras e, portanto, não expressava seu sofrimento somente pelas queixas
físicas.
Algumas crianças deprimidas são candidatas a uma avaliação para medicação antidepressiva. Para aquelas com depressão aguda
ou com sintomas depressivos que não apresentam melhora apenas com psicoterapia, um
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
encaminhamento para uma avaliação de medicação deve ser considerado. Os clínicos deveriam encaminhar os pais a um psiquiatra
infantil ou ao médico da família. A obtenção
de informações ajudará você e a outros
profissionais a comunicar claramente preocupações, sintomas clínicos e opções de tratamento para facilitar o plano de intervenção
mais efetivo. Conversar com a família sobre o
uso de medicação antidepressiva antes do encaminhamento pode ajudar a diminuir a ansiedade, combater equívocos e aumentar a
probabilidade de aderência.
A criança está livre
de ideação suicida e de
desesperança?
NÃO
TRATAMENTO DE DEPRESSÃO:
ESCOLHENDO UMA ESTRATÉGIA
DE INTERVENÇÃO
Todas as estratégias de intervenção apresentadas neste capítulo são aplicáveis a crianças deprimidas. A escolha de uma intervenção inicial é
guiada por fatores como a idade, o nível de desenvolvimento cognitivo, a gravidade da depressão e as habilidades da criança. Primeiro, a segurança deve ser estabelecida pela avaliação e, se
necessário, adotado o tratamento de potencial suicida com o cliente. Esse processo deve incluir ava-
Avalie o risco, desenvolva um
plano de segurança, reduza a
desesperança, considere uma
avaliação para medicação.
SIM
O nível de sofrimento da criança é baixo ou moderado?
NÃO
SIM
A criança beneficiou-se de
aquisição e de aplicação
anteriores de habilidades
comportamentais?
NÃO
Comece com intervenções
comportamentais, programa de
eventos prazerosos, treinamento de
habilidades sociais, técnicas simples
de resolução de problemas.
Reveja a aquisição e a
aplicação de habilidades.
SIM
A criança está cognitiva e
emocionalmente pronta
para habilidades de análise
racional?
SIM
NÃO
Ensine habilidades na identificação de pensamentos e sentimentos, ensine a ligação entre
pensamentos e sentimentos,
introduza diários de pensamento,
inicie a auto-instrução.
Use teste de evidência
e reatribuição e outras
técnicas de verificação
da hipótese.
FIGURA 11.1 Escolhendo uma estratégia de intervenção.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
liação de seu risco para autoflagelo, desenvolvimento de planos de segurança, redução de sua
desesperança e verificação de pensamentos imprecisos relacionados à ideação suicida. Segundo, especificar o nível cognitivo da criança para
determinar o quanto as intervenções cognitivas
podem ser úteis; considerar o desenvolvimento
da linguagem e a maturidade cognitiva da criança para saber se as técnicas cognitivas serão vantajosas. Terceiro, começar com técnicas básicas geralmente é melhor, dada a baixa motivação, o nível de atividade, a capacidade de resolução de
problema e a desesperança que freqüentemente
acompanham os estados depressivos. Técnicas de
ativação comportamental aumentarão a interação
social e reduzirão comportamentos retraídos, portanto, um programa de evento prazeroso e treinamento de habilidades sociais são boas intervenções iniciais para combater sintomas depressivos.
Além disso, apresentando intervenções em tarefas pequenas, graduais, os primeiros sucessos podem aumentar a auto-eficácia e a motivação. A
Figura 11.1 apresenta uma árvore de decisão para
orientá-lo na seleção de estratégias de intervenção específicas.
POTENCIAL SUICIDA EM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
DEPRIMIDOS
O fato de que crianças e adolescentes deprimidos cogitam e freqüentemente tentam ferir a si mesmos exige que tratemos ativamente
desta questão. O U.S. Surgeon General (1999)
adverte que o suicídio atinge seu pico na metade da adolescência e é a terceira causa principal
de morte em crianças nesse grupo etário. O suicídio em crianças pequenas é mais raro, mas sua
presença deve ser seriamente considerada. Por
exemplo, em seu relato de 43 casos, Kovacs,
Goldston e Gatsonis (1993) encontraram uma
tentativa de suicídio em uma criança de 8 anos
e 3 meses. Um número surpreendentemente alto
de nossos clientes relata ter experimentado pensamentos suicidas passados ou presentes, tanto verbalmente quanto mediante o CDI.
153
Ao trabalhar com crianças deprimidas com
ideação suicida passada ou presente, eu (JMM)
inicialmente me preocupava em “forçá-las demais” e se “podiam lidar com isso”. Minha tendência era recuar rapidamente e aceitar um “Eu
não sei” durante o questionamento socrático ou
menos esforço na realização da tarefa de casa,
pois tinha medo de exacerbar suas ideações suicidas. Entender a ideação suicida como uma estratégia de resolução de problema mal-adaptativa ajudou-me a superar essa hesitação. Isso tornou mais fácil para mim trabalhar com crianças
para identificar estratégias alternativas, sem
medo de aborrecê-las. Ao dessa questão, você
está basicamente ensinando habilidades de
enfrentamento adequadas, embora ainda empatizando com o sofrimento da criança. Ao lançar dúvida sobre o uso de autoflagelo e não humilhar ou discutir com a criança, é possível tratar o potencial suicida mais efetivamente. Trabalhando dessa forma, vi o quanto desafiá-las em
suas crenças na verdade diminuía, em vez de aumentar, o potencial suicida dessas crenças.
O U.S. Surgeon General (1999) identifica
vários fatores de risco para o comportamento
suicida. Mais especificamente para meninas, a
presença de depressão e uma história de tentativas de suicídio anteriores representam fatores
de risco. Para meninos, tentativas de suicídio
anteriores, comportamentos disruptivos e abuso de substâncias são fatores de risco importantes. Além destes, Speier e colaboradores, (1995)
consideravam ainda a desesperança, o estresse
familiar percebido, a presença de armas de fogo,
o mau ajustamento escolar, a rejeição de iguais,
o isolamento social, a descoberta de gravidez e
problemas legais. Finalmente, citando uma variedade de estudos, o U.S. Surgeon General
(1999) advertiu que a exposição a relatos de suicídio, reais ou fictícios, pode aumentar o risco
de suicídio em crianças vulneráveis.
Avaliando o potencial suicida
A ideação suicida sempre deveria ser avaliada no início. Você precisa sentir-se à vontade
para perguntar às crianças sobre pensamentos
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
e comportamentos suicidas, pois sua própria
ansiedade e seu desconforto com o tema serão
evidentes para as crianças e as levará a hesitar
em admitir tais pensamentos. Ao avaliar ideação
suicida, recomendamos perguntar diretamente
à criança sobre seus pensamentos e comportamentos:
• “Quando você pensou em ferir a si mesmo?”
• “Quando você desejou estar morto?”
• “Quando você intencionalmente cortouse/esmurrou-se/sufocou-se?”
A intenção suicida é um fator-chave na avaliação de risco. Especificamente, uma criança que
pretende mesmo matar-se corre maior risco, independente de os meios escolhidos serem verdadeiramente letais (Speier e cols., 1995). Por
exemplo, considere uma criança que consome
quatro ou cinco comprimidos de vitamina C.
Embora o meio usado não seja letal, o objetivo
da ação dispensa comentários. Se a criança pensou que as vitaminas poderiam matá-la, então a
ação é muito mais séria do que se achasse que as
vitaminas mastigáveis eram balas. Conseqüentemente, recomendamos que se considere seriamente a intenção como uma variável, juntamente com a letalidade e a acessibilidade do método,
e a história de tentativas anteriores.
As crianças expressam seu potencial suicida com diferentes linguagens e metáforas.
Portanto, deve-se avaliar o potencial suicida
com aquelas diferenças em mente. Algumas crianças declaram abertamente “Eu quero morrer”.
Com outras crianças, você deve indagar sobre a
possível ideação suicida “oculta” em declarações como “Eu gostaria de dormir e nunca mais
acordar”, “Eu não queria ter nascido”, “Eu me
sinto rastejando em um buraco para sempre”,
“Que bom se eu fosse atropelado por um carro” ou “Seria melhor se eu estivesse morto”.
Ocasionalmente, uma criança pode declarar “Eu
vou me matar” como uma forma de expressar
afeto negativo, sem intenção verdadeira. Para
avaliar o significado por trás de qualquer uma
dessas declarações, deve-se questionar a criança, usando perguntas como: “O que você quer
dizer com isso?”, “Como seria se isso fosse verdade?”, “Com que freqüência você tem esses
pensamentos?” ou “Quando você fez alguma
coisa para tentar fazer essas coisas acontecerem?”.
Você precisará avaliar cuidadosamente os
planos para comportamento suicida e as tentativas passadas. Como acontece com os adultos,
a história de tentativas ou os gestos suicidas da
criança aumenta seu risco de futuro comportamento suicida. Kovacs e colaboradores (1993)
relataram que mais de 50% das crianças que tentaram o suicídio uma vez fizeram outra tentativa. Além disso, entre 16 e 30% de crianças clinicamente encaminhadas que pensavam em se
matar realmente tentaram o suicídio. Os anos
da adolescência revelaram-se um período de risco particularmente alto para a tentativa de suicídio, diminuindo após os 17 anos de idade
(Kovacs e cols., 1993). Os meninos têm um risco maior de completar o suicídio do que as meninas (Speier e cols., 1995).
Os inventários de auto-relato são freqüentemente parte da entrevista inicial com crianças. Representam um primeiro passo útil na avaliação do potencial suicida. O CDI avalia especificamente a ideação suicida no item 9. A desesperança, que às vezes se correlaciona com a
ideação suicida, é avaliada no item 2. Embora a
contagem de pontos da medida inteira antes de
ver a criança seja recomendada, você deveria
pelo menos checar os itens 2 e 9. Independente
da resposta da criança no CDI, enfatizamos a
necessidade de avaliar a ideação suicida verbalmente. Isso permite observar a resposta da
criança a esse tipo de indagação e pode revelar
uma hesitação em admitir tais pensamentos,
como no caso de Daniel, um menino de 10 anos,
que negava a maioria dos sintomas, incluindo
os itens 2 e 9 do CDI.
TERAPEUTA: Alguma vez você pensou em se
ferir ou se matar?
DANIEL: Não.
TERAPEUTA: Se você tivesse algum pensamento sobre fazer mal a si mesmo, me contaria?
DANIEL: Provavelmente não.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TERAPEUTA: Qual seria o problema em me
contar?
DANIEL: Esses pensamentos são ruins, e as pessoas que fazem isso são ruins.
TERAPEUTA: Esses pensamenos são ruins?
DANIEL: Você nunca deveria fazer mal a si
mesmo de propósito.
TERAPEUTA: É possível ter esses pensamentos sem na verdade fazer mal a si mesmo?
DANIEL: É.
TERAPEUTA: Na verdade, falar sobre pensamentos pode ajudar as crianças a resolver
problemas e fazê-las não querer se prejudicar nunca mais.
DANIEL: É mesmo?
TERAPEUTA: Você sabe, às vezes, falar sobre
aqueles pensamentos pode ser assustador,
mas também pode nos ajudar a achar maneiras para as crianças pararem de querer
fazer mal a si mesmas. Você alguma vez
teve pensamentos de fazer mal a você
mesmo?
DANIEL: Bem, às vezes, quando fico realmente
com raiva, tenho vontade de me ferir.
TERAPEUTA: Tudo bem para você falar sobre
estes pensamentos agora?
DANIEL: Acho que sim.
O terapeuta trabalhou com Daniel para
aumentar seu conforto em relação a revelar seus
pensamentos. Neste exemplo, vemos como o
terapeuta utilizou o questionamento socrático
para identificar as crenças de Daniel que o impediam de falar sobre seus pensamentos suicidas. O terapeuta então conduziu o menino por
um processo de raciocínio para ajudá-lo a concluir que conversar é útil. Além disso, normalizou a experiência de Daniel. Ele deveria continuar neste caminho e avaliar qualquer plano ou
intenção (“O que você pensou sobre fazer mal a
si mesmo?”, “O que você fez no passado para
fazer mal a si mesmo?”, “Se você tivesse esses
pensamentos, o que tentaria fazer para se prejudicar?”, “Quando você teve esses pensamentos, que probabilidade você tinha de se ferir?”).
Avaliar a ideação suicida com crianças que
admitem abertamente pensamentos suicidas
155
pode ser igualmente desafiador. Garantir a segurança da criança é o objetivo primário e requer o envolvimento dos pais e de outros responsáveis. Os pais deveriam ter acesso a recursos (p. ex., telefones de crise) e orientação sobre
estratégias de resolução de problemas para ajudar a identificar a ideação suicida em seus filhos e então ajudá-los a elaborar tais pensamentos e gerar resoluções de problemas alternativas. A seguinte transcrição ilustra a avaliação
de potencial suicida em uma adolescente que
admite mais abertamente pensamentos suicidas.
TERAPEUTA: Eu percebi que você marcou “Eu
quero me matar” no questionário que preencheu. Você pode me contar mais sobre
aquele pensamento?
GINA: Às vezes, quando tive um dia realmente
ruim e me sinto sozinha, penso que ninguém sentiria minha falta se eu estivesse
morta.
TERAPEUTA: Como você se sente quando tem
esses pensamentos?
GINA: Muito triste e tenho vontade de dormir
e nunca mais acordar.
TERAPEUTA: Então você se sente muito triste e
você pensa “Ninguém sentiria minha falta
se eu estivesse morta”. O que você faz
quando isso acontece?
GINA: Na verdade, nada. Apenas me deito na
cama e choro.
TERAPEUTA: O que mais você faz?
GINA: Bem, às vezes penso em pegar um monte das pílulas para dormir da minha mãe
do armário de remédios.
TERAPEUTA: Você alguma vez tomou alguma
pílula?
GINA: Não, mas penso em fazer isso quando
as coisas estão indo muito mal.
TERAPEUTA: Com que freqüência você tem
esse pensamento?
GINA: Bem, a última vez foi na semana passada. Acho que uma vez por semana ou mais.
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156
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Neste exemplo, o terapeuta trabalhou para
identificar a situação, bem como os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos que
acompanhavam a ideação suicida de Gina. Pelo
questionamento, o terapeuta continuou a identificar planos suicidas específicos, meios e quaisquer tentativas passadas. O terapeuta deve tentar obter mais detalhes, como antecedentes específicos aos pensamentos suicidas, qualquer
história de outros comportamentos autoprejudiciais e o que impediu Gina de fazer uma tentativa até agora. Finalmente, deve introduzir um
plano de segurança e discutir estratégias de solução de problemas alternativas e adaptativas
com Gina.
A colaboração continua sendo um conceito-chave mesmo quando se trabalha com crianças suicidas. Entretanto, uma vez que ela ocorre
em um continuum, muito menos colaboração é
justificada quando crianças pretendem fazer mal
a si mesmas. Ao mesmo tempo, algum grau de
colaboração pode ser mantido durante o processo de resolução do problema. Por exemplo, Erin,
11 anos, vinha tendo pensamentos de ferir-se. Ela
revelou a seu terapeuta que pensava em sufocar-se em diversas ocasiões, e tinha tentado fazêlo em uma ocasião. O terapeuta e Erin decidiram
que seria um bom plano contar à sua mãe, de
modo que pudessem trabalhar juntos para garantir sua segurança. O terapeuta perguntou:
“Como deveríamos contar à sua mãe o que você
me contou e o nosso plano de mantê-la segura?”.
Essa declaração indicou claramente que o
terapeuta pretendia informar os pais, contudo
permitiu que Erin escolhesse como sua mãe seria informada.
Também achamos útil verificar o nível de
autocontrole da criança. Por exemplo, suponha
que Stan, um menino de 13 anos, tenha relatado
verbalmente ideação suicida e endossado os itens
2 e 9 do CDI. Poderia-se perguntar a ele: “Em
uma escala de 1 a 10, com 10 significando que
você definitivamente tentará se matar e 1 sendo
que não há chance de você tentar se matar, em
que ponto você se coloca?”. Achamos importante investigar mais profundamente essa resposta
(p. ex., “O que faz você ser um 6?”; “Você se sen-
te seguro e controlado em um 6?” ou “Em que
ponto você se sentiria inseguro e fora de controle?”). Finalmente, avaliar os fatores que influenciam a escala é outra boa tática (p. ex., “O que
poderia acontecer que faria você ir para um 9?”
ou “O que você faria então?”; “O que precisa
acontecer para você ir para um 2?”).
Uma avaliação completa da ideação suicida incluirá perguntas sobre a freqüência, a intensidade e a duração da ideação (p. ex., “Com
que freqüência você pensa sobre fazer mal a si
mesmo?”, “Quanto tempo duram esses pensamentos?”). Todos esses fatores devem ser considerados para determinar o nível de risco, permitindo ainda ajudar o terapeuta a planejar as
intervenções. Além disso, avaliar o que impediu a criança de tentar o suicídio no passado
ajudará a prever futuras tentativas. A acessibilidade do método ou do meio de suicídio também é crucial. Por exemplo, se a criança declara
que pensou em tomar um vidro de pílulas para
dormir, será importante descobrir como as obteria (p. ex., “Essas pílulas são de fácil acesso
em sua casa?”). Finalmente, são importantes
registros freqüentes com crianças deprimidas.
Tratamento do potencial suicida
O tratamento de terapia cognitiva de crianças suicidas resulta da avaliação. Aconselhar os
pais a retirarem de casa pílulas, armas, facas, navalhas ou outros meios possíveis de autoflagelo
é normalmente o primeiro passo. Conseguir o
envolvimento e a cooperação dos pais é um componente crucial para manter a segurança da criança. Os terapeutas devem discutir em detalhes com
os pais o que será removido e como garantir o
nível de segurança ideal para seu filho. Freqüentemente instruímos os pais a manterem os objetos
em uma caixa fechada, em vez de apenas “escondê-los”, para garantir ainda mais a segurança.
Remover medicamentos prescritos e não-prescritos do alcance da criança também é importante,
já que ambos podem ser perigosos em superdosagens.
Desenvolver um contrato ou acordo para
segurança com a criança é uma boa estratégia. O
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
acordo deveria ser específico e incluir estratégias
alternativas de resolução do problema para aumentar sua utilidade. Além disso, deve-se processar o plano de segurança com a criança para
assegurar que ela esteja comprometida em se
manter segura. Fazê-la assinar o acordo pode
ajudá-la a lembrar dele, tornando-o mais concreto. Deveria ser dada à criança uma cópia do plano para que carregue consigo e use-o como um
cartão de enfrentamento (ver Figura 11.2). Coisas como telefones de crise, pessoas para conversar e as razões da criança para não se prejudicar
deveriam ser incluídas no plano.
A resposta da criança à assinatura de um
contrato é importante. Por exemplo, Tony, 13 anos,
respondeu: “O que acontece se eu romper o contrato?”. Essa resposta foi explorada para diferenciar curiosidade inocente de intenção de prejudicar-se. Você pode fazer perguntas à criança como:
“O que poderia impedi-lo de manter o contrato?”
ou “O que poderia acontecer se você rompesse o
contrato?”. Tony respondeu que, se rompesse o
contrato, então da próxima vez as pessoas não
acreditariam nele e ele poderia ir para o hospital.
Uma vez que o suicídio é freqüentemente
uma estratégia mal-adaptativa de solução do
problema, de enfrentamento ou de fuga, gerar
alternativas ao autoflagelo é uma intervenção
inicial importante. Você deveria trabalhar com
a criança e/ou com os pais para desenvolver
uma lista de estratégias alternativas de solução
do problema. Um exemplo com Ryan, 12 anos,
é mostrado a seguir.
TERAPEUTA: O que mais você pode fazer quando se sentir mal e pensar em se matar,
além de prejudicar a si mesmo?
RYAN: Falar com alguém.
TERAPEUTA: Certo. O que diria?
RYAN: Eu não sei. Acho que poderia contar-lhe.
TERAPEUTA: É isso aí. Você poderia me contar,
e eu fico contente que você tenha me contado hoje, assim podemos encontar alguma maneira de ajudá-lo a ficar em segurança. Fico pensando para quem você poderia contar nos dias em que não estiver
comigo e estiver pensando em se ferir.
157
Se eu tiver vontade de fazer mal a mim mesmo,
tomarei uma ou mais das seguintes atitudes:
1. Falar com minha mãe sobre meus sentimentos.
2. Escrever no meu diário de sentimento.
3. Lembrar-me de que fazer mal a mim mesmo
é uma solução permanente para um problema temporário.
4. Perguntar a mim mesmo “O que mais posso
tentar?”.
5. Ligar para o telefone da crise e contar meus
sentimentos (555-5555).
FIGURA 11.2 Cartão de enfrentamento.
RYAN: Eu poderia contar para minha mãe. Ou
poderia contar para minha professora, se
eu estivesse na escola.
TERAPEUTA: Certo. Então há muitas pessoas
com quem você pode conversar. Além disso, quando pensar em se ferir, você pode
supor que não tem outra saída. Então, o
que você aprendeu na terapia que poderia ajudá-lo com essa suposição?
RYAN: Bem, falamos sobre como às vezes faço
suposições erradas sobre o que acontecerá no futuro. Então talvez eu pudesse avaliar o que estou supondo em relação a
meus problemas.
TERAPEUTA: Que instrumento você aprendeu
que poderia ajudá-lo a testar a suposição?
RYAN: Eu poderia me perguntar “O que estou
supondo sobre como este problema vai
terminar?”, e então poderia perguntar
“Qual é a evidência?” para ver se minha
suposição está correta – como fiz quando
verificamos minha suposição sobre entrar
para o time de futebol.
TERAPEUTA: Como você poderia se lembrar
daquelas perguntas quando estiver se sentindo mal ou pensando em se ferir?
RYAN: Eu poderia escrevê-las. Sempre carrego
minha agenda da terapia comigo, então
acho que poderia escrevê-las nela e olhar
minha agenda quando pensasse em fazer
mal a mim mesmo.
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158
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Ryan identificou diversas pessoas com
quem poderia conversar, capazes de ajudá-lo
quando tivesse vontade de fazer mal a si mesmo. Além disso, o terapeuta ajudou Ryan a associar as habilidades aprendidas anteriormente para aplicar a seus pensamentos suicidas
(“Então, o que você aprendeu na terapia que poderia ajudá-lo com essa suposição?”). Tratar os
pensamentos e as distorções que contribuem
para o potencial suicida também ajudará a focalizar e corrigir pensamentos imprecisos.
A projeção de tempo, descrita no Capítulo 8, é uma intervenção útil com crianças
suicidas. Essas crianças têm um senso de tempo estreito, reduzido. A desesperança as cega
para a forma como as coisas mudam com o
tempo. A projeção de tempo funciona para
ampliar sua visão de futuro, prevendo como
pensamentos, sentimentos e eventos podem
ser diferentes em um dia, uma semana, um
ano ou seja quando for. Pedindo a crianças suicidas para preverem como pensarão ou se sentirão no futuro, você ajuda essas crianças a ver
que o suicídio é uma solução permanente para
um problema temporário.
Suponha estar trabalhando com Drew,
uma menina de 14 anos que foi hospitalizada
após uma séria tentativa de suicídio, e você
quer tentar a projeção de tempo. Drew acredita que sua dor por ter rompido com Tommy
nunca terminará, então ela bem que poderia
se matar. A projeção amplia seu senso de tempo (“Como você se sentirá em uma semana...
três semanas... três meses... seis meses... etc?”).
Na medida em que Drew percebe que seus sentimentos mudam com o tempo, aprende que
decisões impulsivas tomadas no calor do momento precisam ser suspensas ou adiadas
(“Você disse que seus sentimentos em relação
a Tommy podem mudar em seis meses, um
ano, ou talvez dois. Por quanto tempo você ficaria morta? Como isso resolveria seus problemas? Parece que você está tentando propor
uma solução permanente para um problema
que pode ser temporário.”).
Persons (1989) oferece uma quantidade de
sugestões muito úteis para trabalhar com crianças suicidas. Por exemplo, suponha que a motivação de Drew para a tentativa de suicídio fosse conseguir Tommy de volta. Você poderia usar a pergunta refinada de Persons: “Como matar-se pode
trazê-lo de volta?”. Além disso, se a motivação
de Drew fosse a vingança e ela simplesmente quisesse fazer seu namorado arrepender-se e pagar
pelo rompimento? Persons astutamente recomenda perguntas na linha de “Suponha que ele se sinta mal, como você será capaz de desfrutar disso
se estiver morta?” ou “Por quanto tempo ele se
sentirá mal? Por quanto tempo você ficará morta?”.
Tratar da exatidão dos pensamentos da
criança com relação a querer morrer também é
útil. Quando crianças estão deprimidas, freqüentemente acreditam que as coisas nunca vão
melhorar. Consideremos o caso de Leah para
ilustrar este ponto.
TERAPEUTA: Com que freqüência você sente
que não pode continuar?
LEAH: Todo o tempo.
TERAPEUTA: Você sempre tem vontade de se
matar e acha que ninguém sentiria sua falta?
LEAH: Não – apenas de vez em quando.
TERAPEUTA: O que é diferente nos dias em que
você não tem vontade de morrer?
LEAH: Bem, esses dias são melhores. Ninguém
está no meu pé, como na semana passada, quando fui ao shopping com Kelly, coisas desse tipo.
TERAPEUTA: Então o dia-a-dia não é 100% terrível.
LEAH: Não. Eu acho que é apenas às vezes,
quando tudo fica realmente ruim e eu acho
que não posso continuar.
TERAPEUTA: O que você poderia dizer a si mesma nesses dias para ajudar a suportá-los?
LEAH: Eu poderia lembrar-me de que as coisas
geralmente melhoram e eu posso lidar
com qualquer problema.
TERAPEUTA: Isso parece uma boa idéia. Vamos
imaginar um plano para ajudá-la a fazer isso.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
O terapeuta trabalhou com Leah para
ajudá-la a identificar objetivamente a natureza
temporária versus a permanente de seus sentimentos depressivos, desafiando sua distorção
de que ela sempre tem vontade de morrer. As
idéias podem então ser escritas em cartões de
enfrentamento para a criança carregar consigo.
Sempre que Leah tiver pensamentos autoprejudiciais, pode pegar o cartão e escolher uma
estratégia da lista.
O suicídio também pode refletir impotência em relação a lidar com sentimentos de raiva
(Persons, 1989). Ficar com raiva e não ter a habilidade para lidar com ela pode realmente esmagar as crianças. Amy é uma jovem mulher
de 17 anos que foi hospitalizada por depressão.
Seu humor deprimido melhorou, e sua ideação
suicida diminuiu durante o período de hospitalização. Próximo do dia de sua alta, ela teve
uma discussão raivosa com seus pais e então
tornou-se novamente suicida. No caso dela, a
ideação suicida funcionou como um meio de
evitar o conflito em casa. Contanto que estivesse suicida, ela poderia permanecer no hospital
e não ter que lidar com seus sentimentos de raiva em relação aos pais.
Trevor, um menino de 16 anos, muito deprimido, usava a ideação suicida para expressar sua raiva. Sempre que ficava irritado, dizia
a seus pais que se mataria. Trabalhamos com
Trevor para ajudá-lo a desenvolver opções de
resolução do problema (“O que mais você poderia dizer a seus pais quando ficasse com raiva?”, “De que outra forma poderia fazê-los saber o quanto você está sofrendo sem ter que se
ferir?”, “De que outra forma poderia fazê-los
ouvir você?”).
Assegurar-se de que os pais entendam a
seriedade dos pensamentos suicidas de uma
criança também é importante, pois, especialmente com as menores, podem achar difícil levar as
ameaças do filho a sério. Entretanto, os pais devem prestar atenção a essas ameaças a fim de
identificar sinais de alerta de comportamentos
perigosos. Se suas ameaças forem inicialmente
ignoradas ou encontrarem negatividade, a criança pode simplesmente não contar a outra pessoa
159
quando estiver tendo esses pensamentos. Além
disso, as crenças da criança de que ninguém se
importa com ela podem ser reforçadas, propiciando um aumento dos pensamentos suicidas. Finalmente, se a criança está tentando conseguir
ajuda ou atenção, pode encontrar meios mais severos do que ameaças para fazê-lo (p. ex.,
autoflagelo real).
Se um grau razoável de segurança para a
criança não puder ser conseguido, a hospitalização deve ser considerada. Se, por exemplo,
o adolescente não fizer um contrato de segurança ou admitir a intenção de se ferir, o terapeuta e
os pais não serão capazes de protegê-lo.
INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS
PARA DEPRESSÃO
Programa de atividade prazerosa
O programa de atividade prazerosa é uma
primeira linha de defesa valiosa contra a
anedonia, o retraimento social e a fadiga. Lembre-se: crianças deprimidas não acham as atividades tão divertidas quanto achavam antes de
ficarem deprimidas. Portanto, você terá que se
esforçar para descobrir atividades prazerosas. A
pergunta “O que você fazia para divertir-se antes de ficar deprimido?” é bastante pertinente.
Indagar sobre o que outras crianças, irmãos ou
personagens de televisão poderiam passar o tempo fazendo também pode ser uma idéia luminosa. Além disso, considere por quanto tempo a
criança realiza a atividade, com que freqüência
fará e como se lembrará de fazer a atribuição.
A seguinte transcrição ilustra como um
terapeuta pode trabalhar colaborativamente
com uma criança de 8 anos deprimida, para desenvolver um programa de atividades.
TERAPEUTA: Vamos pensar em algumas coisas divertidas de fazer. Que tipo de coisas
você faz para se divertir?
CARLA: Nada é divertido. Apenas me sento em
meu quarto e assisto à televisão, e é muito chato.
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160
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: Você consegue lembrar de alguma coisa que costumava ser divertido?
CARLA: Na verdade, não.
TERAPEUTA: Você se lembra de alguma vez ter
feito alguma outra coisa além de se sentar
em seu quarto e assistir à televisão?
CARLA: Não.
TERAPEUTA: Há algumas crianças que você
conhece que fazem alguma outra coisa
além de sentar e assistir à televisão?
CARLA: Todo mundo menos eu tem coisas para
fazer e se divertem.
TERAPEUTA: Como quem?
CARLA: Minha irmã, os vizinhos, meus primos.
TERAPEUTA: Que tipo de coisas eles fazem
além de assistir à televisão?
CARLA: Bem, minha irmã Josie anda de bicicleta o tempo todo.
TERAPEUTA: Você alguma vez andou de bicicleta com Josie?
CARLA: Sim, há muito tempo.
TERAPEUTA: Como era andar de bicicleta com
Josie?
CARLA: Bem, era divertido então, mas provavelmente seria chato agora.
TERAPEUTA: Quais os indícios que lhe dizem
que provavelmente seria chato?
CARLA: Tudo é chato agora.
TERAPEUTA: Quais são os indícios que lhe dizem
que há alguma chance de não ser chato?
CARLA: Foi divertido há muito tempo.
TERAPEUTA: Então, é possível que andar de
bicicleta poderia ser divertido, nem que
fosse só um pouquinho?
CARLA: Acho que talvez.
TERAPEUTA: Você estaria disposta a tentar andar de bicicleta e ver o que acontece?
CARLA: Acho que sim.
Como demonstra a transcrição, o terapeuta superou um desafio comum de identificar
atividades focalizando as atividades em que
Carla se envolvia antes da depressão. Nomear
uma atividade era muito difícil para Carla. Na
verdade, seria fácil rotulá-la como resistente ou
desafiadora, mas a perda de prazer de Carla
reflete sua crença de que “nada é divertido”,
portanto gerar uma lista de atividades prazerosas é um desafio. O terapeuta habilidosamente persiste na tarefa, sem culpar Carla. Finalmente, eles são capazes de concordar com uma
atividade para ela tentar.
Desenvolver um programa de figuras a ser
seguido pode ser uma abordagem divertida. O
terapeuta ajuda a criança a criar um calendário
semanal. Figuras recortadas de revistas ou os
próprios desenhos da criança das atividades
selecionadas são então colocadas nos dias apropriados do calendário. Por exemplo, se Carla tiver que andar de bicicleta na quarta-feira e no
sábado, uma figura de uma bicicleta pode ser
desenhada ou colada naqueles dias no calendário. Em uma variação dessa atividade, o terapeuta pode tirar fotografias da criança envolvida na atividade para tornar o programa de eventos prazerosos um modelo real a seguir. Nestes
casos, em vez de desenhar ou colar figuras no
calendário, a criança realiza a atividade diante
do terapeuta, que, então, tira uma fotografia de
revelação instantânea, representando a atividade. O processo funciona para a criança como
uma prática da atividade, como um passo gradual para completar a atividade independentemente e como tarefa de casa. O processo de representar as atividades e tirar as fotografias também pode ser divertido para a criança deprimida, servindo assim como uma ativação comportamental. Por exemplo, Tommy, 8 anos, foi escalado para jogar basquete aos sábados, então
posava com a bola para uma foto. Ele tinha que
ler um livro com sua mãe na terça-feira, então
posava segurando um livro aberto. As fotos
eram fixadas sobre o programa de atividade
prazerosa. Tommy usava o clima como uma
metáfora para seu humor. Um dia ensolarado
era um humor feliz. Os mais nublados indicavam humores mais tristes, com o clima de tempestade sendo os mais tristes. Sob as figuras da
atividade, escrevia o “clima” para indicar seu
sentimento no dia (ver Figura 11.3).
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Segunda-feira
Terça-feira
Quarta-feira
Quinta-feira
Sexta-feira
Sábado
161
Domingo
FIGURA 11.3 Exemplo de programa de atividade prazerosa.
Assegurar que os eventos escolhidos sejam
coisas que as crianças possam iniciar por conta
própria facilita a realização efetiva da atividade.
Para algumas crianças, itens sobre os quais elas
têm controle terão uma maior probabilidade de
serem realizados e levarão a um maior senso de
realização. Essas coisas podem incluir atividades
recreativas, leitura de uma história divertida ou
conversas com os amigos. Contudo, é fundamental incluir os pais no tratamento; eles podem trabalhar com a criança na realização das atividades
entre as sessões. Se, por exemplo, o programa de
atividade prazerosa de uma criança inclui brincar
fora de casa, os pais podem levá-la a um parque
para facilitar a dinâmica.
Classificar os sentimentos antes e depois
da atividade programada será particularmente
importante para crianças deprimidas. As classificações fornecerão informações valiosas sobre o humor da criança, sobre as atividades mais
bem-sucedidas e sobre as mudanças nas classificações. Elas também serão uma evidência para
a criança de que sentimentos depressivos são
temporários e variáveis. Esse tipo de consideração pode ajudar a desafiar pensamentos como
“Nada mais é divertido” ou “Tudo é chato” ao
se utilizar a verificação de pensamento.
Adolescentes são tipicamente mais capazes
de se envolverem em eventos programados sem
o apoio dos pais do que crianças menores, devido à sua maior independência. De certa forma,
isso pode aumentar a probabilidade de sucesso.
Ao mesmo tempo, adolescentes deprimidos podem ter se isolado a ponto de ser difícil gerar possíveis “atividades prazerosas”. Esses adolescentes podem não pertencer a clubes sociais, podem
ter poucos amigos e podem não estar envolvidos em uma equipe de esportes, portanto você
terá que ser criativo para buscar as atividades.
Assumir um papel mais ativo em atividades
“obrigatórias” ou em eventos familiares são algumas opções. Por exemplo, Kyle, um menino
deprimido de 15 anos, raramente participava dos
jogos de basquete ou de futebol durante a aula
de educação física. Ele geralmente ficava sentado nas laterais da quadra. Para a tarefa de casa
da terapia, Kyle e seu terapeuta decidiram que
ele se envolveria mais nos jogos. Primeiro, optou por jogar em uma posição onde poderia ter
pouco contato com a bola. Participando com sucesso nestes jogos e lidando com o desconforto
associado, usando suas habilidades da terapia,
avançou gradualmente até oferecer-se para jogar
como atacante.
Descobrimos que testar previsões em relação a atividades é útil quando os adolescentes não antecipam prazer na atividade. A seguinte transcrição ilustra este processo.
TERAPEUTA: O quanto você acha que vai se
divertir jogando Cestas de Sentimento?
BRENDA: Provavelmente um 3.
TERAPEUTA: Quando lhe pedi para jogar, o que
passou pela sua cabeça?
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
BRENDA: Eu não quero jogar. Isso é infantil e
estúpido.
TERAPEUTA: Qual a dificuldade em jogar Cestas de Sentimento?
BRENDA: Eu sou uma droga jogando. Sou uma
perdedora. Nunca me divirto.
TERAPEUTA: Quando você tem esses pensamentos, como se sente?
BRENDA: Muito triste.
TERAPEUTA: Certo. Então, pensando “Sou uma
perdedora”, você se sente triste e está supondo que o Cestas de Sentimento será apenas um 3 na escala de diversão?
BRENDA: É, é isso aí.
TERAPEUTA: Certo. E se fizéssemos uma experiência? E se você jogasse o Cestas de
Sentimento por alguns minutos e visse se
sua suposição está correta?
BRENDA: Tudo bem. (Brenda começa a jogar Cestas de Sentimento.)
TERAPEUTA: Brenda, eu percebi que você riu
quando a bola bateu no aro. O que estava
passando pela sua cabeça?
BRENDA: Eu só estava pensando “Legal, essa
realmente quase entrou”.
TERAPEUTA: Então você estava parada lá
olhando a bola no ar. Ela chegou perto da
cesta e bateu no aro. O que está passando
pela sua cabeça?
BRENDA: Estou me saindo melhor do que pensava.
TERAPEUTA: Quando você pensa isso, como
se sente?
BRENDA: Eu me sinto meio animada.
TERAPEUTA: Em uma escala de 1 a 10, o quanto está se divertindo neste momento?
BRENDA: Mais ou menos um 5.
TERAPEUTA: Você lembra quanta diversão previu?
BRENDA: Um 3.
TERAPEUTA: Então você previu um 3, mas está
tendo um 5 na escala de diversão. O que
isso diz sobre sua previsão?
BRENDA: Eu estava errada – foi mais divertido
do que eu pensava que seria.
TERAPEUTA: Você acha que há outras coisas
que poderiam ser mais divertidas do que
você acha que serão?
BRENDA: Sim, talvez outras coisas que acho
que não seriam divertidas na verdade poderiam ser.
Este diálogo fornece um exemplo de como
as previsões podem ser testadas com uma adolescente deprimida para aumentar o sucesso
com um programa de eventos prazerosos. Embutido nesse exemplo está a identificação de
pensamentos e sentimentos antes e depois da
atividade. Em seguida, o terapeuta deveria utilizar essa informação para trabalhar com Brenda
para identificar a ligação entre seus pensamentos automáticos (“Sou uma perdedora.”) e seu
sentimento de tristeza. A experiência também
demonstra como sentimentos depressivos são
temporários e variáveis, combatendo, assim, os
sentimentos de desesperança e as crenças de que
as coisas nunca irão melhorar.
Treinamento de habilidades sociais
Fazer amizades e iniciar interações sociais é um grande desafio para crianças deprimidas. Através do ensino de habilidades sociais, o
terapeuta proporciona às crianças deprimidas
as habilidades e a confiança de que elas necessitam para iniciar interações com seus iguais.
Ao ensinar habilidades sociais, os terapeutas devem considerar os comportamentos adequados
ao desenvolvimento da criança. Se esta não tem
as habilidades para interagir positivamente com
seus amigos, essas interações podem levar a
mais rejeição e a sintomas depressivos profundos, e a experiência reforçará as crenças sobre
baixo valor próprio e levará a mais retraimento
social.
Basicamente, o terapeuta ensina à criança
habilidades de comunicação para iniciar e responder a interações com os outros. Será preciso ensinála a fazer perguntas, a responder a perguntas dos
outros e a compartilhar interesses com seus iguais.
Habilidades como positividade, contato visual, ex-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
pressão facial adequada, cumprimentos, manter
uma conversa, resolver conflitos e pedir a outros
para parar um comportamento importuno têm
sido trabalhadas em programas de construção de
habilidades (Stark e cols., 1991).
As habilidades são ensinadas por meio de
instrução direta, modelagem e de role playing, e
também com histórias e livros. As situações de
grupo fornecem experiências realistas, prestando-se naturalmente à identificação e à prática
de habilidades sociais. O grupo também pode
fornecer modelagem e feedback para a criança em
relação a habilidades sociais. As crianças menores se beneficiarão mais da instrução concreta das habilidades e da prática. Ensinar formas
de abordar um grupo de iguais, tomar parte ou
iniciar um jogo e compartilhar um brinquedo
podem ser praticados com peças e fantoches. Representar interações sociais positivas e negativas e fazer a criança identificar áreas de problema também pode ser benéfico. Você pode representar um valentão dominador e provocativo em um jogo. A criança deve então identificar os comportamentos-problema e fornecer
comportamentos sociais alternativos.
Representar uma situação na qual a criança deprimida deve iniciar uma interação com
um igual também é útil. Você poderia desempenhar o papel de um colega, com a criança tendo que iniciar uma interação. Pedir emprestado
papel ou um lápis, perguntar sobre uma tarefa,
fazer um comentário sobre uma lição ou cumprimentar o colega são algumas das interações
possíveis. O seguinte diálogo mostra como integrar treinamento de habilidades sociais na terapia.
TERAPEUTA: Certo, Kelly, vamos representar
conforme combinamos. Lembre-se de usar
as habilidades sobre as quais conversamos.
KELLY: Vou tentar.
TERAPEUTA: Tudo bem. Estamos sentadas no
pátio, e é o primeiro dia de aula. Eu sou
uma aluna nova sentada bem do seu lado.
Eu estou lendo uma revista.
KELLY: Oi.
163
TERAPEUTA: (Continua olhando a revista como
se não ouvisse Kelly.)
KELLY: (Começa a se contorcer um pouco na cadeira e seu rosto começa a ficar vermelho.) Hum,
oi, meu nome é Kelly, qual é o seu?
TERAPEUTA: (Levanta a cabeça.) Oh, desculpe,
eu estava lendo. Meu nome é Jessica.
KELLY: Sobre o que você está lendo?
TERAPEUTA: É um artigo sobre o time de Futebol Feminino Americano. Eu vou tentar
entrar para o time da escola. Você joga futebol?
KELLY: (Parece mais relaxada.) Eu adoro futebol!
Uh, hum (Olha para baixo.), você acha que
gostaria de treinar comigo depois da aula
algum dia?
TERAPEUTA: Claro. Tudo bem. Kelly, como
você se sentiu durante a representação?
A representação foi usada para dar a Kelly
a chance de praticar a iniciação de uma conversa com uma colega. A terapeuta tornou-a um
pouco desafiadora para Kelly, ignorando sua
tentativa inicial, mas equilibrou a dificuldade
permitindo que Kelly experimentasse sucesso.
Representações subseqüentes deveriam incluir
interações mais desafiadoras para que Kelly
pudesse aplicar suas habilidades em um “cenário de caso pior”. A terapeuta deveria continuar a processar com a menina seus pensamentos
e sentimentos antes, durante e depois da representação. Identificar o que foi mais fácil, mais
difícil e mais surpreendente em relação à representação também ajudará a tratar pensamentos
e crenças mal-adaptativas, bem como previsões
imprecisas.
Adolescentes deprimidos se beneficiarão
de alguns dos mesmos treinamentos de habilidades que as crianças. Os adolescentes podem
ter mais consciência de habilidades sociais do
que as crianças, mas simplesmente sentem-se
constrangidos ou lhes falta prática ou confiança para implementá-las. Entretanto, espera-se
que os adolescentes percebam sinais sociais
mais sutis do que crianças pequenas, portanto,
podem precisar ser educados em comportamentos sociais com sinais não-verbais além de ha-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
bilidades mais concretas. Ler linguagem corporal, contato visual e sinais verbais são habilidades úteis. Além disso, uma vez que são mais
evolutivamente maduros, eles podem se beneficiar de exercícios de observação e captação de
sinais sociais de outras pessoas. Os adolescentes podem ser ensinados a observar seus iguais
e a imitar o comportamento social em situações
nas quais eles se sentem desconfortáveis ou inseguros de normas sociais esperadas.
Um adolescente deprimido pode começar
observando comportamentos sociais positivos
usados por colegas na escola e a reação dos outros a isso. Uma vez identificadas as habilidades, elas podem ser praticadas na sessão através de representação com o terapeuta. O adolescente pode gradualmente testar o uso das
habilidades sociais em outras situações. Usar
filmes ou programas populares de TV para ilustrar exemplos de comportamentos e sinais
sociais é uma estratégia divertida. Nesse exercício, eles identificam seus programas e filmes
favoritos e então são instruídos a assisti-los enquanto gravam as habilidades sociais visadas.
As gravações podem ser vistas na sessão para
ilustrar ainda mais a identificação da habilidade.
RESOLUÇÃO DO PROBLEMA
A resolução do problema também impõe
dificuldades específicas para crianças deprimidas, para quem as dificuldades com tomada
de decisão e um senso de desesperança podem
fazer a resolução do problema parecer uma tarefa intransponível. Algumas dessas crianças
podem precisar ser diretamente ensinadas sobre os passos da resolução. Para outras, os pensamentos disfuncionais podem interferir em
sua capacidade de resolver o problema ou de
pôr em prática a solução identificada. Pensamentos de que são incapazes de resolver o problema ou de que fracassarão são exemplos de
crenças disfuncionais. Identificar os obstáculos e desafiar crenças disfuncionais facilitam a
resolução do problema.
Para ajudar crianças deprimidas a solucionar problemas, achamos que distanciá-las da
situação é inicialmente útil. Fazer a criança pensar em um herói ou em alguém que seja um modelo para então perguntar-lhe como aquela pessoa poderia resolver o problema, assim como
colocar a criança na posição de resolver o problema para uma outra pessoa iria gerar gerará
mais idéias.
TERAPEUTA: Se seu melhor amigo, Jeff, estivesse se sentindo realmente triste porque
foi muito mal na prova de gramática, o
que ele poderia fazer para resolver o problema?
MATTHEW: Ele poderia pedir para a professora lhe dar folhas de exercício extras para a
próxima prova.
TERAPEUTA: Como isso o ajudaria?
MATTHEW: Bem, ele poderia praticar mais e
talvez aprender melhor as palavras da
próxima vez.
TERAPEUTA: Isso parece um bom plano. O que
mais ele poderia fazer?
MATTHEW: Poderia pedir para sua mãe fazer
perguntas para ele antes da prova.
TERAPEUTA: Então ele poderia praticar mais
e pedir para sua mãe lhe fazer perguntas.
Matt, você disse que estava se sentindo
triste porque você tirou um D na prova
de matemática. Algumas de suas idéias
para Jeff podem ajudar você a resolver o
seu problema?
Esse processo ajuda Matthew a resolver
seu problema generalizando as soluções que ele
propôs para Jeff. Distanciar-se da situação ajuda-o inicialmente a gerar passos para resolver
o problema, permitindo então aplicar esses passos à sua própria situação. Isso pode derrubar
os obstáculos que impedem muitas crianças deprimidas de ver soluções alternativas para seus
problemas.
Identificar soluções alternativas para os
problemas é uma barreira maior para crianças
deprimidas. A perspectiva pessimista que caracteriza muitas delas apresenta-se como obstáculo para a efetiva resolução do problema e
para a geração de possíveis soluções. A criança deprimida pode ver apenas uma solução
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
para um problema, normalmente com um resultado negativo. Construir habilidades na geração de soluções alternativas aumentará significativamente a utilização bem-sucedida da
criança deprimida de técnicas de resolução de
problemas.
AUTOMONITORAÇÃO
A identificação de sentimentos e pensamentos prepara o caminho para técnicas de
auto-instrução e de análise racional, entretanto,
devido à profundidade de seus sentimentos
depressivos, algumas crianças deprimidas podem ter problemas em captar seus pensamentos e sentimentos. Nessas circunstâncias, você
pode ter que se tornar mais ativo e diretivo no
processo de automonitoração.
Há várias razões para a dificuldade de crianças deprimidas relatarem seus pensamentos
(Fennell, 1989; Padesky, 1988). Algumas têm vergonha deles; então, você deveria investigar as
crenças que podem estar por trás da não-revelação desses pensamentos (p. ex., “O que revelaria sobre você se me contasse o que está passando pela sua cabeça?”, “Como imagina que
eu reagiria?”). Outras crianças podem preocupar-se que seus sentimentos e pensamentos
drásticos as esmagarão. Elas prevêem que se
sentirão ainda mais deprimidas e não serão capazes de controlá-los. Nesses casos, uma boa
estratégia seria examinar essas crenças (“O que
você teme que possa acontecer se me contar o
que está passando pela sua cabeça?”), ajudando-as a expressar gradualmente pequenas porções de seus pensamentos e sentimentos de
modo que possam ganhar confiança em suas capacidades de autocontrole.
Além disso, algumas crianças deprimidas
podem estar muito esgotadas por seus sentimentos depressivos. Aqui, as medidas de auto-relato
como o CDI vêm a calhar, você pode usar os itens
do CDI que a criança endossou como trampolim
(p. ex., “Vejo que circulou que se acha feia. Esta é
uma crença que você gostaria de mudar?”). Fi-
165
nalmente, a dificuldade em relatar pensamentos
e sentimentos pode decorrer do pessimismo e da
desesperança, isto é, a incapacidade de captar
pensamentos e sentimentos pode ser sua depressão falando. Nessas crianças será preciso focalizar imediata e diretamente o pessimismo e a desesperança (p. ex., “O que faz as coisas mudarem?”, “O que provoca mudança?”, “De que forma não identificar pensamentos e sentimentos o
ajuda?”).
Nomeando a distorção
Nomear a distorção é uma técnica simples
que prepara a criança para abordagens de análise racional e de auto-instrução mais avançadas (Burns, 1980; Persons, 1989). A identificação de distorções é ilustrada no exemplo de
Tracy, uma menina de 15 anos, perfeccionista,
que freqüentemente utiliza pensamento tudoou-nada e catastrofização.
TRACY: Eu sei que me saí terrivelmente na prova de biologia. Eu vou rodar em biologia
e então nunca vou conseguir entrar em
uma boa faculdade!
TERAPEUTA: Esse pensamento corresponde a
alguma das distorções que aprendemos?
TRACY: Eu não me lembro de todas elas. Posso
usar a lista da minha agenda da terapia?
TERAPEUTA: Claro. Usar a lista a ajudará a
lembrar. Você deveria usá-la freqüentemente para checar se você poderia estar
usando alguma das distorções.
TRACY: Oh, esta é aquela em que eu pego uma
coisa e aumento desproporcionalmente,
de modo que tudo parece ruim. Catastrofização?
TERAPEUTA: É isso aí. É apenas uma palavra
enorme que significa que você está “pegando uma coisa e aumentando desproporcionalmente, de modo que tudo parece ruim”. É mais ou menos como dizer que
você é azarada, sem pensar no que é mais
provável acontecer.
TRACY: Eu acho que faço muito isso.
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166
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: Como se sente quando faz esse
tipo de previsão?
TRACY: Muito nervosa!
TERAPEUTA: Como você acha que estava fazendo isso com sua declaração “Eu vou
rodar em biologia e então nunca vou conseguir entrar em uma boa faculdade!”?
TRACY: Bem, eu acho que me saí bem em todas
as minhas lições de casa. E este foi apenas
um teste de perguntas, então ele não vai
baixar muito minha nota. E mais, eu ainda posso conseguir um crédito extra.
O terapeuta ajudou a enfatizar como tais
distorções podem ter um impacto sobre os sentimentos de Tracy (“Como se sente quando faz esse
tipo de previsão?”), levando a discussão de volta a sua declaração sobre biologia (“Como você
acha que estava fazendo isso com sua declaração ‘Eu vou rodar em biologia e então nunca vou
conseguir entrar em uma boa faculdade’?”). A
habilidade de nomear distorções pode ser acrescentada à tarefa de casa como parte dos registros de pensamento. Após anotar os pensamentos automáticos, os adolescentes podem identificar quaisquer distorções cognitivas embutidas
nos pensamentos.
ABORDAGENS AUTO-INSTRUTIVAS
A Arca do Tesouro é uma adaptação de uma
tarefa auto-instrutiva que faz analogia entre
pensamentos de enfrentamento esquecidos ou
mal-colocados e um tesouro enterrado. Você e a
criança desenham ou mesmo constroem uma
“arca do tesouro” na sessão. Desenvolvem, então, declarações de enfrentamento positivas que
ficam dentro da arca do tesouro. As declarações
de enfrentamento positivas (“Eu não sou mau
quando cometo um erro, sou apenas normal.”)
podem ser escritas sobre o desenho da arca ou
em cartões colocados dentro da arca construída.
Você então instrui a criança a ir até a arca do
tesouro e retirar seu “saque” positivo sempre
que ela se sentir triste. As tarefas de casa para
as crianças poderiam incluir preencher uma arca
do tesouro com cinco coisas de que elas gostam
nelas mesmas. Um exemplo de arca do tesouro
é ilustrado na Figura 11.4.
A Troca de Moeda é uma outra forma divertida e criativa de ensinar ferramentas de autoinstrução a crianças. Como a Arca do Tesouro,
a Troca de Moeda faz uso de analogias. Nesse
exercício, pensamentos de enfrentamento positivos são equiparados com moedas novas e bri-
Arca do Tesouro
Eu não sou mau quando
cometo um erro, sou
apenas normal.
Uma coisa que gosto
em mim mesmo é que
sou um bom guitarrista.
Tirar um B não significa
que sou um fracasso. Eu
sou um bom aluno.
FIGURA 11.4 Exemplo de arca do tesouro.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
lhantes ou notas estalando de novas. As crianças são instruídas a irem à casa da moeda e imprimir moedas emocionais novas. Você poderia
desenvolver ainda mais a analogia encorajando-as a rasgar as notas velhas (os pensamentos
negativos). Por exemplo, os pensamentos negativos poderiam ser escritos em pedaços de papel usado ou velho, podendo ser devolvidos à
casa da moeda para substituição. Finalmente, o
dinheiro velho pode ser rasgado e trocado por
dinheiro novo (i. e., pensamentos de enfrentamento positivos escritos em pedaços de papel estalando de novos).
Para ilustrar o recurso da Troca de Moeda
com crianças, considere a seguinte transcrição
com Matt, um menino de 11 anos que está lutando com pensamentos auto-críticos dolorosos.
Perceba como o terapeuta descreve a Troca de
Moeda e ajuda Matt a trocar seu dinheiro.
TERAPEUTA: Você sabe como o dinheiro é feito?
MATT: Eu acho que ele vem de um grande banco.
TERAPEUTA: Mais ou menos. Ele vem da casa
da moeda.
MATT: Casa da moeda?
TERAPEUTA: É um lugar onde o dinheiro é
impresso. Você alguma vez viu alguma
nota de dinheiro estalando de nova?
MATT: Sim, uma vez meu tio me deu uma. Ela
era realmente limpa e esticada.
TERAPEUTA: Você sabe que a casa da moeda
imprime dinheiro novo para substituir o
dinheiro velho e gasto. É a mesma coisa
que estávamos falando sobre seus pensamentos. Quais são alguns pensamentos
gastos que você tem sobre si mesmo?
MATT: Eu não sou bom. Ninguém gosta de mim.
TERAPEUTA: Escreva esses no papel verde amassado. Eles são como as notas velhas. (Matt
escreve os pensamentos no papel velho.) Para
que você supõe que é o papel novinho?
MATT: Para coisas diferentes que posso dizer a
mim mesmo.
TERAPEUTA: Exatamente. Vamos ser uma casa
da moeda para pensamentos novos, vamos
substituir os pensamentos negativos, cansados, por pensamentos novinhos em folha
167
que você pode carregar consigo. Vamos chamar esse jogo de Troca de Moeda.
Nessa atividade, Matt aprendeu que pensamentos gastos podiam ser substituídos por
pensamentos novos, mais adaptativos. Além
disso, ao escrever os novos pensamentos, criou
um cartão de enfrentamento. Ele pode carregálo consigo! Finalmente, a natureza experiencial
da atividade torna o processo abstrato mais concreto. Matt pode lembrar a tarefa de como colocou velhos pensamentos “fora de circulação”.
TÉCNICAS DE ANÁLISE RACIONAL
Reatribuição
Uma Torta de Responsabilidade (discutida
em mais detalhes no Capítulo 8) ajuda a criança a ver sua responsabilidade de forma mais
exata e a estimula a examinar explicações alternativas (Padesky, 1988; Seligman e cols., 1995).
A técnica envolve a geração de uma lista de todos os fatores que podem ter contribuído para
um acontecimento. A criança atribui a cada fator uma porção da torta que representa a quantidade de responsabilidade que aquele fator tem
para o resultado. Crianças pequenas provavelmente não entendem de frações ou porcentagens, mas podem beneficiar-se dessa técnica se
o terapeuta utilizar uma apresentação primariamente visual. Elas podem colorir ou recortar
porções da torta, usando o tamanho do “pedaço” para representar a quantidade de responsabilidade.
Uma variação da Torta de Responsabilidade é a Pizza de Reatribuição, jogo baseado em
uma imagem popular para muitas crianças. A
criança usa cartolina, lápis de cera e tesoura para
fazer uma pizza. Ela então faz um cardápio de
“sabores”, que consistem dos fatores que acredita estarem contribuindo para o problema ou
para a situação. O cardápio basicamente relaciona o fator, ou a atribuição, sendo o “preço” a
quantidade de responsabilidade (ver Figura
11.5). A criança então corta os pedaços de pizza
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
CARDÁPIO DE PIZZA
Cogumelos (Minha culpa por brigar com ela) .................................................................................... 1/8
Pepperoni (Estava chovendo) ............................................................................................................. 1/8
Tomates (O outro carro estava indo muito rápido) ............................................................................ 2/8
FIGURA 11.5 Cardápio de pizza.
em diferentes tamanhos para representar a
quantidade de responsabilidade que está atribuindo a cada fator. “Sabores” como cogumelos e pepperoni podem ser rotulados com as
várias atribuições. A Figura 11.6 demonstra
como os rótulos de sabores podem ser colocados na pizza.
Semelhante às crianças deprimidas, os
adolescentes freqüentemente assumem responsabilidade por fatores fora de seu controle. Por
exemplo, Stephanie terminou de fazer uma lista de fatores que contribuíram para a separação
de seus pais e está agora atribuindo porcentagens a cada fator (ver Figura 11.7).
TERAPEUTA: Então você já decidiu que ter sido
suspensa da escola é 20%, não escutar seus
pais é 20% e brigar com sua irmã é 50%. A
próxima coisa da lista é o hábito de beber
de seu pai.
STEPHANIE: É. Ele bebia muito e isso o tornou
realmente mau para nós e para minha
mãe. Isso provavelmente é 40%.
TERAPEUTA: Certo. Com tudo o que você já
listou, temos 130%! O que você acha que
isso significa?
STEPHANIE: Acho que superestimei algumas
das primeiras. Brigar com a minha irmã
poderia ser mais como 25%, e não escutar
é 15%. Isso perfaz 100% agora.
Estava
chovendo 1/8
O outro carro estava
indo muito rápido 2/8
Minha culpa por brigar
com ela 1/8
FIGURA 11.6 Pizza de reatribuição.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
169
Não escutar 15%
Ter sido suspensa 20%
Hábito de beber
do pai 40%
Brigar com minha
irmã 25%
FIGURA 11.7 Torta de Responsabilidade.
TERAPEUTA: Certo, mas ainda temos algumas
coisas em nossa lista. Qual é o próximo
item?
O terapeuta e Stephanie continuaram esse
processo até todos os itens terem recebido porcentagens. Como com muitos adolescentes deprimidos, a tendência inicial de Stephanie foi culpar-se
por eventos negativos, mas examinar todas as possíveis causas e evidências ajudou-a a ver mais claramente o que é e o que não é responsabilidade
sua. Ao fazer isso, precisou reatribuir a responsabilidade de forma mais adequada.
Verificação da hipótese
Conduzir experiências para testar previsões ensina as crianças a examinarem a evidência antes de tirarem conclusões. As experiências incluem colher evidências a favor e contra
pensamentos automáticos, registrar observações e examinar mudanças nos pensamentos e
sentimentos. Os resultados ajudam a desafiar
pensamentos automáticos como “Todo mun-
do na escola me odeia” ou “Eu não vou passar
em leitura”.
Essas experiências são planejadas para testar a evidência apoiando determinados pensamentos. No Repórter, você e a criança trabalham
como repórteres em busca de uma história.
Distorções cognitivas são “indícios falsos” na
história, desencaminhando potencialmente a
criança de encontrar a “verdade”. Portanto, experiências e testes de evidência são planejados
para se encontrar os fatos sem se desviar por
indícios falsos.
Você pode ensinar a criança a trabalhar
como um Detetive Particular para verificar evidências. O detetive está trabalhando para descobrir a verdade e resolver a questão “Minha
expectativa/suposição é verdadeira?”. A técnica do Detetive Particular é introduzida com uma
discussão sobre detetives:
“Você sabe o que um detetive particular faz? Um
detetive particular procura indícios ou evidências para responder perguntas. Os detetives particulares às vezes respondem perguntas para entender um mistério ou encontrar um objeto ou
pessoa perdida. O detetive tem um palpite ou
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
uma suposição sobre o que aconteceu, recolhe
os fatos, junta-os e então propõe uma resposta.
Aqui vamos agir como detetives para colher indícios e responder à pergunta “Minha hipótese/suposição é verdadeira?”. Isso nos ajudará a
responder perguntas sobre seus problemas, checar a evidência e assegurar que ela corresponde
à verdade. Então, você será um detetive particular decifrando a verdade sobre as coisas que diz
para si mesmo.”
Após introduzir a técnica do Detetive Particular, você deveria ilustrá-la, trabalhando com
um exemplo da vida da criança (ver Figura 11.8).
Isso servirá como tarefa gradual para quando a
criança trabalhar de forma mais independente.
Os adolescentes podem ser ensinados a completar mapas resumindo as evidências que apóiam
e as que contestam suas hipóteses. Em um lado
do mapa, listam a evidência que apóia a hipótese
100%. Do outro, listam fatos que não a apóiam. É
importante que apenas fatos (versus opiniões) sejam listados. Quando Jon, um menino de 15 anos,
identificou a hipótese “Eu sou um estúpido”, identificou “Eu sou um fracasso” como evidência
apoiando sua crença. Trabalhamos com Jon para
diferenciar fatos de opiniões. Uma forma de fazêlo é perguntar “Outras pessoas concordariam
com esta declaração?”. Ele então fez um mapa
no qual listou a evidência a favor e contra “Eu
sou um estúpido”. Após completá-lo, Jon concluiu, graças ao diálogo socrático, que “A evidência mostra que não sou totalmente estúpido, embora às vezes diga para mim mesmo que
sou quando cometo um erro”.
Um detetive particular presta atenção a pessoas e coisas à sua volta para obter pistas para seus palpites.
Você pode trabalhar como um detetive particular para checar as pistas sobre as coisas que o incomodam.
Escreva uma frase sobre alguma coisa que o esteja incomodando a fim de ser investigada. (Qual é o seu
palpite?)
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______________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________
Quais são as pistas? (Lembre-se de que pistas podem ser coisas que você faz, vê, ouve, aprende, etc.)
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Agora, reúna as pistas. As pistas que encontrou mostram que seu palpite estava certo ou errado? Qual é sua
conclusão?
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FIGURA 11.8 Registro do Detetive Particular. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The
Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para
uso pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Técnicas de continuidade
Uma técnica de continuum (J. S. Beck, 1995;
Padesky, 1988) é uma forma útil de diminuir o
pensamento tudo-ou-nada das crianças. Crianças
deprimidas colocam-se em categorias de ou/ou.
Por exemplo, Jenny, 14 anos, achava que por ter
tirado um B em seu boletim escolar era um total
fracasso. Albert, 16 anos, achava que por não ser
“atlético” era completamente impopular. Finalmente, Greta, 12 anos, acreditava que porque as
outras meninas faziam troça de seu cabelo e de
suas roupas ela era uma total perdedora. A técnica
de continuum funciona para lançar dúvidas sobre
esses rótulos ou/ou mediante a análise racional.
Geralmente, recomendamos técnicas de continuum
com crianças mais velhas e com adolescentes.
Começaremos com uma descrição geral e
então sugeriremos várias adaptações. Suponha
estar trabalhando com Greta. Primeiro, você traça uma linha com dois pontos extremos (ver Figura 11.9). Em um extremo, coloque o rótulo “Total
Perdedora”, no outro, o rótulo “Totalmente Perfeita”. Então peça a Greta para fazer especificamente uma lista de critérios que definem cada
rótulo. O próximo passo é colocar pessoas conhecidas em algum lugar sobre a linha. Finalmente,
coloca a si mesma na linha e então chega a uma
conclusão.
Como você pode ver na figura, os critérios são tudo ou nada. Muito poucas pessoas pro-
Betty
Vizinho
Irmã
vavelmente estariam no extremo alto ou no baixo. Veja onde Greta colocou-se. Ela está em um
ponto médio “acima da média”. A questão intrigante é que ela está na verdade “atrás” apenas de sua mãe e da estrela do time da ginástica. Com esses dados subjetivos em mãos, você
poderia perguntar-lhe “Se alguém fosse um total perdedor, onde estaria na linha? Na sua cabeça, você está um pouco atrás de sua mãe e de
Krissy. Mesmo que isso fosse verdade, como isso
faria de você uma total perdedora?”.
O desenho da linha pode ser muito abstrato para algumas crianças. Você poderia usar caixas para representar cada extremo do continuum.
Por exemplo, você poderia pegar duas caixas de
sapato e intitular cada uma: “Total Perdedor” e
“Totalmente Perfeito”. Os critérios poderiam ser
escritos em cartões ou pedaços de papel e colocados dentro das caixas. Estas poderiam ser
posicionadas em lados opostos da mesa ou do
chão. Nomes de pessoas que se enquadram nos
critérios poderiam ser colocados sobre a mesa,
considerando o quanto satisfazem os cartões de
critérios dentro de cada caixa. A metáfora da caixa concretiza o conceito e dá origem a analogias
significativas. Por exemplo, você pode falar com
as crianças sobre como “elas se encaixam” nessas categorias ou rótulos. Além disso, pode-se
discutir com as crianças como a tarefa as ajuda a
“pensar fora da caixa”.
Eu
TOTAL
PERDEDORA
Mãe
Krissy
TOTALMENTE
PERFEITA
Cabelo fora do lugar.
Roupas fora de moda.
Parece uma figura “antes” de uma maquilagem.
É desengonçada na ginástica.
Tira notas baixas na escola.
Usa álcool e drogas.
171
Cabelo completamente perfeito.
Roupas da moda.
Sempre parece uma figura de revista de moda.
Faz exercícios perfeitos ou quase perfeitos.
Tira notas altas na escola.
Recusa-se a usar álcool e drogas.
FIGURA 11.9 O continuum de Greta.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
CONCLUSÃO
A terapia cognitiva oferece uma gama de
intervenções que você pode adaptar à sintomatologia e ao nível de desenvolvimento específicos do cliente. Os sintomas depressivos podem
manifestar-se de diferentes maneiras, dependendo do temperamento, da idade, do gênero, da
cultura ou do nível de desenvolvimento da criança. Neste capítulo, ilustramos inúmeras for-
mas de aplicar criativamente técnicas cognitivas
em crianças e adolescentes deprimidos. Lembrese: é importante manter as intervenções divertidas e envolventes, especialmente para crianças deprimidas. Nós o encorajamos a adaptar
as intervenções fornecidas neste capítulo para
satisfazer as necessidades individuais de seus
clientes. Além disso, use a própria criatividade
para aplicar técnicas cognitivas de formas novas e divertidas.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
173
12
Trabalhando com Crianças e
Adolescentes Ansiosos
SINTOMAS DE ANSIEDADE
NO JOVEM
Ansiedade, medos e preocupações são
ocorrências comuns na infância. Os estressores
contemporâneos, como exigências acadêmicas,
drogas, violência e doenças sexualmente
transmissíveis, pressionam crianças e adolescentes, e lidar com as pressões inevitáveis da infância pode ser bastante difícil.
De acordo com o modelo cognitivo, cinco
esferas de funcionamento mudam quando as
crianças ficam ansiosas. Elas experimentam alterações psicológicas, de humor, comportamentais, cognitivas e interpessoais. O tratamento naturalmente centra-se em acalmar os sintomas angustiantes, ensinando mais habilidades
de enfrentamento.
Muitas crianças ansiosas experimentam
queixas corporais ou somáticas. Elas aparentam
inquietação, às vezes parecendo estar desconfortáveis do próprio corpo. Comumente relatam
sudorese profusa, tontura, vertigem, desconforto estomacal, taxas cardíacas aumentadas, falta
de ar e irregularidades intestinais. Em geral,
suas queixas físicas já foram avaliadas por um
pediatra, entretanto, se a criança não o consultou e apresenta algumas dessas múltiplas queixas somáticas, você deveria recomendar uma
avaliação física feita por um médico.
Preocupação, apreensão, pânico, medo e
irritabilidade são os componentes emocionais
da ansiedade. As crianças podem usar uma linguagem mais colorida e poética para relatar sua
ansiedade. Elas podem dizer que se sentem “trêmulas”, “nervosas” ou “apreensivas”. Ouvimos
crianças relatarem ansiedade dizendo que se
sentem “nauseadas” ou “estranhas” por dentro. Francis e Gragg (1995) observaram que
crianças com medo de contaminação pode relatar que se sentem “com micróbios”.
Os sintomas comportamentais gerais refletem sinais mais declarados de ansiedade. A
evitação é a marca registrada de sintomas ansiosos. As crianças geralmente são encaminhadas
porque não são mais capazes de evitar as circunstâncias que temem ou porque sua evitação atingiu um enorme custo (trabalho escolar, problemas
de saúde, problemas com os colegas, conflito familiar). Roer as unhas, chupar o dedo, compulsões
e hipervigilância são outros sintomas comportamentais comuns de ansiedade. As crianças podem envolver-se nesses comportamentos para se
acalmar ou para lidar com situações ameaçadoras.
Como se sabe, crianças ansiosas são desatentas, distraídas e inquietas. Quando uma criança esquadrinha o ambiente constantemente, procurando e esperando perigo, é difícil concentrar-se e sentar-se
quieta. Muitas acreditam que sua sobrevivência depende de ser um alvo em movimento.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Os sintomas cognitivos refletem a forma
como as crianças acondicionam informações. Os
diálogos internos de crianças ansiosas são pontuados por previsões e expectativas catastróficas
de enfrentamento mal-sucedido (p. ex., “Alguma
coisa ruim vai acontecer, e não vou ser capaz de
lidar com isso”). Suas mentes concentram-se nos
aspectos potencialmente ameaçadores das situações (p. ex., “E se _________ acontecer?”). Elas
esperam que o pior aconteça e preocupam-se com
suas capacidades de enfrentamento.
Considere este exemplo. Jake é um aluno
de sexta série, altamente competente, mas extremamente perfeccionista, assolado por expectativas terríveis de que entenderá mal ou esquecerá
de fazer uma lição. Conseqüentemente, verifica
repetidamente sua própria agenda e pede a seus
professores intermináveis explicações. Ele espera ser pego mal- preparado e desapontar catastroficamente a si mesmo e aos outros. Na verdade, Jake raramente esqueceu de fazer uma tarefa
significativa, o que, no entanto, não é suficiente
para aliviar seu desconforto.
Kashani e Orvaschel (1990, p.318) observam apropriadamente que “a ansiedade exerce
seus efeitos mais prejudiciais nas esferas
interpessoais de funcionamento”. Ler em voz
alta ou falar em aula são situações penosas para
crianças ansiosas (Kendall e cols., 1992). Além
disso, ser designado para um grupo para um projeto de aula, ser escolhido para um time, participar de situações sociais não-estruturadas e fazer
testes são áreas de tensão comuns para crianças
ansiosas (Beidel e Turner, 1998). Elas são altamente inibidas e extremamente sensíveis à avaliação
negativa ou à fiscalização dos outros.
Casey é uma menina de 10 anos que considera situações sociais e projetos de pequenos grupos ameaçadores. Um dia, na aula de estudos
sociais, a professora pediu que a turma colorisse
cada estado do mapa de uma cor diferente, informando às crianças que iriam trabalhar em parcerias. Logo, Casey começa a ruminar sobre com
quem formaria o grupo e conseqüentemente
dessintonizou a professora. Seu diálogo interno
é repleto de pensamentos como “Quem vou escolher? Eles vão me escolher? E se não quiserem
ficar comigo? E se eu for a última? E se eu ficar
sozinha?”. Esses pensamentos correm acelerados
por sua mente, lançando-a num turbilhão. Em
meio a isso, ouve a professora dizer “Muito bem,
crianças, formem os grupos de trabalho”. Atordoada, Casey percebe agora que não tinha prestado atenção a todas as outras instruções da professora, o que a deixa momentaneamente paralisada. Essa leve hesitação a faz demorar a escolher um companheiro. A demora, por sua vez,
significa que todos já escolheram seus pares, deixando-a sozinha. Ela agora tem que ir até a professora e admitir que não tem um parceiro e não
tem idéia sobre a tarefa. A professora responde
criticamente, abastecendo o medo de Casey de
avaliação negativa e de ridículo. Ela fica sozinha,
sem um parceiro, e sua visão de si mesma como
intrusa é fortalecida.
Pais com filhos ansiosos podem ser excessivamente envolvidos ou pouco envolvidos nas vidas deles (Chorpita e Barlow, 1998; Kendall e cols.,
1991). Pais pouco envolvidos são distantes, retraídos e afastados de seus filhos. Eles podem largar
o filho no seu consultório para você “consertar” e
voltar após seu trabalho de “reparo” ser completado. Conseqüentemente, podem esquecer sessões
parentais e/ou deixar de realizar atribuições de
controle da contingência.
Pais excessivamente envolvidos, superprotetores, querem proteger seus filhos de estressores inevitáveis da vida. Eles não confiam nos
recursos de enfrentamento de seus filhos e os
vêem como crianças muito frágeis. Como um
exemplo de superproteção, tomemos o caso de
uma mãe cuja filha não gosta da comida da escola. Ela subitamente percebe que a filha esqueceu
de levar seu lanche, então corre para a escola com
um sanduíche para que a criança não fique aborrecida na hora do lanche.
DIFERENÇAS CULTURAIS E DE
GÊNERO NA EXPRESSÃO DE
SINTOMAS
Silverman, LaGreca e Wasserstein (1995)
investigaram preocupações em crianças brancas,
afro-americanas e hispânicas de segunda a sexta
séries. Eles verificaram que crianças afro-ameri-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
canas preocupam-se mais intensamente com
guerra, dano pessoal e família. Beidel, Turner e
Trager (1994) não encontraram diferenças étnicas entre crianças afro-americanas e brancas em
medidas de testes de ansiedade. Entretanto, um
grande número de crianças afro-americanas satisfazia os critérios para ansiedade social.
Treadwell, Flannery-Schroeder e Kendall (1995)
verificaram que, embora a maioria dos itens da
Revised Children’s Manifest Anxiety Scale
(RCMAS; Reynolds e Richmond, 1985) fosse endossada similarmente por crianças afro-americanas e brancas, as primeiras endossavam os itens
de raiva na escala a uma taxa mais alta. Neal,
Lilly e Zakis (1993) verificaram que a maioria dos
medos era similarmente endossada por crianças
afro-americanas e por crianças brancas, entretanto, o fator medos-da-escola não era tão fundamental para crianças afro-americanas quanto
para suas contrapartes. O medo de cortar o cabelo era uma preocupação maior para crianças
afro-americanas do que para as brancas.
Diversos autores (Hicks e cols., 1996;
Ginsburg e Silverman, 1996; Silverman e cols.,
1995) encontraram semelhanças consideráveis
entre crianças brancas ansiosas e crianças hispânicas ansiosas. Em termos de diferenças, as crianças hispânicas apresentavam mais dificuldades
de ansiedade de separação e preocupavam-se
mais com a saúde do que as brancas (Silverman
e cols., 1995). Silverman e seus colaboradores
também encontraram uma diferença de gênero
indicando que meninas hispânicas tinham mais
preocupações com a escola e mais ansiedade de
desempenho do que meninos hispânicos.
Nossa revisão encontrou poucos artigos
sobre transtornos de ansiedade em crianças nativas americanas. Munn, Sullivan e Romero
(1999) verificaram que crianças nativas americanas e brancas obtiveram escores de sintoma
semelhantes na RCMAS, mas advertiram que
esses resultados podem estar limitados a crianças cherokees altamente aculturadas.
As diferenças de gênero nos transtornos
de ansiedade parecem ser específicas ao contexto. Estudos da comunidade revelaram que há
mais meninas do que meninos ansiosos (Beidel
e Turner, 1998), entretanto, estudos clínicos não
175
demonstram diferenças de gênero significativas
(Treadwell e cols., 1995). É uma descoberta interessante, mas ainda não muito entendida
(Castellanos e Hunter, 1999). Uma possível hipótese levantada por Treadwell e colaboradores (1995) é que, uma vez que os sintomas de
ansiedade justifiquem intervenção clínica, as
diferenças de gênero são menos notáveis. Uma
hipótese complementar é que meninas ansiosas
excedem em número meninos ansiosos em estudos da comunidade porque elas são socializadas para serem emocionalmente mais expressivas. Uma vez que (1) meninas são socializadas para serem emocionalmente mais expressivas do que meninos e (2) a ansiedade pode ser
mais permissível em meninas, (3) há mais tolerância social por sintomas de ansiedade em
meninas e (4) portanto, as meninas devem exibir sintomas de ansiedade mais extremos para
serem encaminhadas a tratamento.
Devido ao número limitado de estudos e
à tendência de esta linha de pesquisa confundir
diferenças demográficas com variações etnoculturais (Beutler, Brown, Crothers, Booker e
Seabrook, 1996; Cuellar, 1998), sugerimos interpretar os resultados com cautela. Ao tentar entender essas descobertas, achamos útil examinar as semelhanças e as diferenças. Por exemplo, quais são as implicações das semelhanças?
Primeiro, pode haver aspectos comuns de ansiedade que atravessam diferenças de gênero e
étnicas. Segundo, as semelhanças podem ser um
produto de técnicas de medição. Certamente, faria sentido que, se medidas desenvolvidas em
dimensões diagnósticas/conceituais ocidentais
fossem utilizadas para todas as crianças, algumas semelhanças surgiriam. Terceiro, as crianças participantes da pesquisa e as clientes da
clínica podem ser mais altamente aculturadas
do que as crianças que não participaram da pesquisa ou que procuram serviços de saúde mental tradicionais. As diferenças encontradas na
expressão do sintoma podem revelar medos e
ansiedades específicos ao contexto (p. ex., cortar o cabelo, escola, bairro violento). Na verdade, precisamos tratar desses elementos contextuais específicos. Além disso, as diferenças na
expressão do sintoma (p. ex., maior irritabi-
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176
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE
Turner (1998) relatam características psicométricas sólidas e afirmam que a SPAI-C é mais adequada para crianças entre as idades de 8 e 14
anos. Para crianças com mais de 14 anos, sugerem a versão adulta da escala e, para crianças
menores de 8 anos, a versão para pais.
Revised Children’s Manifest
Anxiety Scale
Fear Survey Schedule for
Children-Revised
A Revised Children’s Manifest Anxiety
Scale (RCMAS; Reynolds e Richmond, 1985) é
uma medida de sintomatologia ansiosa de crianças amplamente usada. Trinta e sete itens de sim
ou não constituem o inventário. A RCMAS produz um Escore de Ansiedade Total; quatro escores de fator: Sintomas Fisiológicos, Preocupações,
Avaliações Sociais, Dificuldades de Concentração; e uma Escala de Mentira. As pontuações podem ser relatadas como escores brutos, escalas
de percentual, e/ou escores-padrão. A RCMAS
é designada para crianças entre 6 e 19 anos.
O Fear Survey Schedule for ChildrenRevised (FSSC-R; Ollendick, 1983) é uma escala
de 80 itens que aborda uma variedade de medos infantis comuns. A escala possui sólidas propriedades psicométricas e é adequada para
crianças de 7 a 16 anos (Ollendick, King e Frary,
1989). O FSSC-R gera um Escore de Medo Total
e cinco escores de fator: Medo de Fracasso e Crítica, Medo do Desconhecido, Medo de Ferimento e de Animais Pequenos, Medo de Perigo
e Morte e Medos Médicos.
Escala de Ansiedade
Multidimensional para Crianças
UMA PALAVRA SOBRE
AVALIAÇÕES MÉDICAS
A Escala de Ansiedade Multidimensional
para Crianças (MASC; março de 1997) contém
39 itens que se dividem em quatro subescalas. A
MASC é adequada para crianças de 8 a 19 anos.
As quatro subescalas geradas pela MASC incluem Evitação de Dano, Sintomas Físicos, Ansiedade Social e Separação/Pânico. A MASC também contém uma Escala de Ansiedade Total, um
Índice de Inconsistência e um Índice de Transtorno de Ansiedade. Um formulário curto e acessível, de 10 itens, também está disponível.
Pessoas jovens com transtornos de ansiedade podem apresentar muitos sintomas físicos,
assim como certas condições médicas podem
imitar queixas de ansiedade. Portanto, como
parte do processo de avaliação, recomendamos
uma avaliação médica completa da criança por
um pediatra. Primeiro, a avaliação médica pode
excluir qualquer problema físico que esteja mascarando um transtorno de ansiedade. Segundo,
revelará qualquer problema físico coexistente
que possa exacerbar a ansiedade. Terceiro, como
terapeuta, você precisa saber se a ansiedade do
cliente pode exacerbar uma condição médica.
Quarto, se a criança estiver tomando remédio,
deve-se saber que influência ele tem sobre os
sintomas ansiosos. Quinto, em casos de ansiedade aguda, uma medicação pode ser indicada
para que a criança possa beneficiar-se totalmente da psicoterapia. Sexto, os dados obtidos de
uma avaliação médica serão úteis na verificação de medos e ansiedades da criança relacio-
lidade, somatização) sugerem que deveríamos
dirigir a atenção a esses alvos de tratamento e
incorporá-los a nosso plano de intervenção.
Social Phobia and Anxiety
Inventory for Children
O Social Phobia and Anxiety Inventory for
Children (SPAI-C; Beidel, Turner e Morris, 1995)
trata especificamente de sintomas associados a
fobia social. A gravidade do sofrimento é classificada em uma escala de 3 pontos. Há versões
separadas para os pais e para a criança. Beidel e
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
nados à saúde. Finalmente, você necessitará de
uma liberação médica realizar algumas formas
de tratamento de exposição.
ESCOLHA DE INTERVENÇÕES NOS
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Em seu trabalho com adultos, Padesky
(1988) sugere titular o tipo de intervenção de
acordo com o nível de sofrimento do cliente. Por
exemplo, quando uma criança ansiosa está em
um estado de baixa estimulação, você poderia
optar por ensinar a ela técnicas de gerenciamento do tempo ou trabalhar com seus pais para
diminuir sua ingestão de cafeína ou sua exposição a filmes assustadores ou violentos. Em seguida, você poderia acrescentar o relaxamento.
Finalmente, é possível iniciar abordagens de resolução do problema.
177
Nesta seção, apresentamos técnicas de maneira gradual e seqüencial. Começamos com as
de automonitoração, depois tratamos de intervenções cognitivas e comportamentais relativamente simples e, finalmente, prosseguimos para
intervenções cognitivas e comportamentais mais
complexas (ver Figura 12.1). É muito improvável que você precise usar com cada criança todas
as intervenções relacionadas.
Quando escolher sua abordagem de intervenção, tenha em mente o estágio da terapia. No
início, provavelmente a criança utilizará técnicas
simples e de automonitoração. Além disso, você
deve assegurar-se de que as crianças podem identificar seus pensamentos, sentimentos e comportamentos pela automonitoração antes de usar outros instrumentos de intervenção. Finalmente, a
escolha da intervenção depende do que se quer
realizar. Por isso, criamos uma tabela que inclui
um menu de intervenções e suas razões para
orientá-lo (ver Tabela 12.1).
Automonitoração
Intervenções Simples
Comportamental
Cognitiva
Relaxamento
Dessensibilização Sistemática
Habilidades Sociais
Auto-instrução
Previsão de Ansiedade
Descatastrofização
Intervenções Complexas
Comportamental
Cognitiva
Exposição
Habilidades de Análise
Racional
FIGURA 12.1 Seqüência recomendada de estratégias cognitivo-comportamentais.
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178
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TABELA 12.1 Processo, instrumento e objetivo terapêutico
Processo terapêutico
Instrumento Específico
Objetivo
Automonitoração
Balões
Determina Unidades Subjetivas de Sofrimento.
Serve como base para a construção de hierarquia
de ansiedade e medo.
Identifica os componentes cognitivos, emocionais
interpessoais, fisiológicos e comportamentais do medo.
Forma a base para intervenções subseqüentes.
Avalia o “grau” de medo e de ansiedade. Serve
como base para a intervenção.
Permite a avaliação quantitativa e qualitativa de componentes específicos de medos e ansiedades. Fornece alvos de tratamento.
Diminui a tensão muscular e as queixas somáticas
Trilhos dos Meus Medos
Termômetro do Medo
Inventários de
Auto-relato
Relaxamento
Contracondicionamento
Treinamento de
habilidades sociais
Relaxamento
Muscular Progressivo
Controle da Respiração
Dessensibilização
Sistemática
Fantoches
Enevoado
Ignorância
Observação
Técnicas cognitivas
de autocontrole
Respondendo ao Medo
Se o Pior Acontecer
Alarmes Real
versus Falso
Apenas Porque
Experimentação
Comportamental
Teste de evidência
Procedimentos baseados
no desempenho
Auto-recompensa
Exposição
Luz Vermelha/
Luz Verde
Distintivo de Coragem
Diminui a tensão e regula a respiração.
Rompe as associações entre sinais geradores de
ansiedade e resposta de medo.
Proporciona a prática de habilidades sociais de maneira divertida e gradual.
Dá às crianças uma habilidade verbal para anular
a provocação.
Fornece uma forma simples de “fugir” de circunstâncias de provocação.
Dá às crianças dados sobre opções de habilidades
sociais e fornece modelos.
Facilita a aquisição e a aplicação de diálogos internos mais adaptativos. Bom com crianças menores
(8 a 11 anos).
Diminui padrões de pensamento catastrófico (bom
com crianças de 8 a 11 anos).
Fornece uma forma para as crianças checarem se suas
preocupações são exatas ou não (bom com crianças de 8 a 11 anos).
Oferece uma forma de separar a opinião de
outros de fatos.
Dá às crianças oportunidade de testar previsões
através da prática.
Permite a consideração dos atos apoiando ou
desconfirmando suas crenças ansiosas.
Fornece dados genuínos sobre o desempenho, ajuda
crianças a se habituar ao medo e a testar crenças.
Forma divertida de praticar exposição: a criança
“congela no lugar” para simular exposição.
Recompensa que registra sucesso.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
AUTOMONITORAÇÃO
179
A seguinte transcrição oferece uma introdução
que se revelou bem-sucedida com crianças.
Automonitoração com crianças
Os índices de Subjective Units of Distress
(SUDS) são formas convencionais de automonitoração (Masters e cols., 1987) que titulam o nível de cada medo ou a preocupação. A criança
julga a intensidade e confere ao item um valor
numérico. Quanto mais intenso o medo ou preocupação, mais alto o nível de sofrimento subjetivo. Friedberg e colaboradores (2001) modificaram o processo de classificação de SUDS em
um procedimento de Balões. A escala de classificação consiste de uma série de balões, e a criança simplesmente colore o número de balões
que corresponde a cada medo.
O Trilhos dos Meus Medos (ver Figura 12.2)
é uma divertida tarefa de automonitoração
para crianças na qual aprendem a reconhecer
a relação entre várias situações, pensamentos,
sentimentos e ações. A tarefa é relativamente
simples e direta e utiliza metáforas de trem,
trilhos e estações. O Trilho dos Meus Medos
fornece dados específicos com relação aos medos das crianças, uma vez que elas identificam
os componentes individuais associados a seus
medos.
O Trilho dos Meus Medos inicia com a
criança desenhando um trem; isso a envolve na
tarefa. O próximo passo requer que a criança
rastreie seus medos. Conforme revela a Figura
12.2, há seis estações que o trem visita (Estação
Quem, Estação Mente, Estação Onde, Estação
Ação, Estação Corpo e Estação Sentimento). É
importante que a criança visite cada estação,
mas a ordem com que faz isso é irrelevante.
Quando o trem pára em uma estação, a
criança colore o prédio e responde à pergunta
na estação. O terapeuta deve ajudá-la a responder a cada pergunta ou estimular o mais especificamente possível. A criança registra suas respostas nos espaços fornecidos. Pode-se usar a
amostra do registro contido na Figura 12.3 como
exemplo.
Nós o encorajamos a introduzir o Trilho dos
Meus Medos de maneira animada e envolvente.
TERAPEUTA: Prestar atenção aos lugares, às
pessoas e às coisas à sua volta também é
um jeito importante de ajudá-lo a rastrear
seu medo. O registro Trilhos dos Meus
Medos é outra forma de você ser responsável por seus medos. Você gosta de trens
ou de montanhas-russas?
HOLLY: Sim.
TERAPEUTA: O que você gosta neles?
HOLLY: São divertidos.
TERAPEUTA: Eu gosto deles porque param em
diferentes lugares. Como você acha que
seus medos e preocupações são iguais a
um trem?
HOLLY: Não sei.
TERAPEUTA: Eles são iguais a trens ou montanhas-russas porque, quando meninos e
meninas se preocupam, suas mentes correm como uma locomotiva de trem. Seus
corações batem rápido, e eles suam. Finalmente, quando você se preocupa muito,
seu trem de preocupação sai dos trilhos e
é mais difícil chegar aonde você quer ir.
A metáfora do trem é especialmente produtiva para muitas crianças. Você pode usar a
metáfora do trem para representar linhas férreas, metrôs ou mesmo carros de montanharussa. Por exemplo, a noção de um trem inclinando-se fora de controle pode comparar-se à
experiência fenomenológica da criança de sua
ansiedade. Além disso, usar esta metáfora para
falar sobre estar descarrilado ou sair fora dos
trilhos pode ser um “estalo” para muitas crianças. Finalmente, as estações enfatizam os diferentes componentes da ansiedade. Por exemplo, as crianças podem reconhecer facilmente
os componentes fisiológicos (Estação Corpo) e
os aspectos comportamentais (Estação Ação)
de seus medos, mas estar relativamente
inconscientes de seus pensamentos geradores
de ansiedade (Estação Mente). Você pode aplicar as metáforas de trilhos, estações e trens para
ilustrar esse processo para as crianças. O se-
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180
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Estação
Mente
Estação
Quem
O que passa na sua
mente quando está
com medo?
Quem está por perto quando você sente medo?
Estação
Onde
Estação
Ação
Em que lugares
você fica com
medo?
O que você faz
quando fica com
medo?
Estação
Sentimento
Estação
Corpo
Como você se sente
quando está com
medo?
Como seu corpo fica
quando você está
com medo?
FIGURA 12.2 Registro Trilhos dos Meus Medos. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por
The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas
para uso pessoal.
guinte diálogo fornece algumas dicas para
maximizar a metáfora do trem e manter uma
atitude lúdica.
TERAPEUTA: Você já andou de trem ou de
montanha-russa?
RAY: Sim, eu fui a um parque de diversões onde
havia uma montanha-russa. Às vezes fico
com medo quando ando. Meu pai fica
tonto.
TERAPEUTA: A montanha-russa faz algumas
curvas muito rápido.
RAY: Ela também vai para cima e para baixo,
como numa montanha.
TERAPEUTA: O trem parece que vai sair dos
trilhos, não parece?
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Estação
Mente
Estação
Quem
O que passa na sua
mente quando está
com medo?
Quem está por perto quando você sente medo?
As pessoas vão pensar
que sou louco.
As pessoas vão ficar
aborrecidas comigo.
Ninguém vai gostar de
mim
Estação
Onde
181
professores
outras crianças
Estação
Ação
Em que lugares
você fica com
medo?
O que você faz
quando fica com
medo?
na escola
em festas
Fico em silêncio
Tento ficar imóvel
Olho muito à minha
volta
na pracinha
Estação
Sentimento
Estação
Corpo
Como você se sente
quando está com
medo?
Como seu corpo fica
quando você está
com medo?
preocupado
suado
apavorado
muito nervoso
em pânico
minha boca fica seca
eu me sinto duro
FIGURA 12.3 Registro Trilhos dos Meus Medos completado.
RAY: É isso que é assustador.
TERAPEUTA: Exatamente, seus medos e preocupações são um pouco como uma montanha-russa. Eles o levam em uma viagem
assustadora que é cheia de surpresas. Você
acha que se soubesse antecipadamente
onde a montanha-russa vai parar ou pegar
velocidade você teria tanto medo?
RAY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Como seria descobrir isso?
RAY: Bom, eu acho.
TERAPEUTA: Vamos tentar. Primeiro, vamos ler
a folha de registro juntos. (Lê junto com
Ray.) Agora desenhe o tipo de trem com
que o seu medo se pareceria.
RAY: Posso usar a cor que quiser?
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182
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
TERAPEUTA: O medo é seu, portanto é tudo
com você.
RAY: Certo. Eu vou fazê-lo vermelho bem forte.
(Desenha o trem.)
TERAPEUTA: Vamos fingir que suas preocupações e seus medos são passageiros deste
trem. Quais estariam viajando em seu
trem vermelho?
RAY: As preocupações com o fato de outras
crianças não gostarem de mim ou de que
minha professora sendo má para mim.
TERAPEUTA: Certo. Vamos ver aonde este trem
vai. Você movimenta o trem nos trilhos
para cada estação. Cada uma tem seu próprio nome. Agora leia o nome de cada estação.
Automonitoração com adolescentes
A automonitoração com crianças mais velhas e adolescentes é, geralmente, direta.
Silverman e Kurtines (1996) criaram o Termômetro do Medo como um instrumento de automonitoração útil. O Termômetro do Medo é o desenho de um termômetro com diferentes gradientes de medo. Os adolescentes podem desenhar
seus próprios Termômetros do Medo ou você
pode fornecê-los com os desenhos em branco.
Independentemente de como são desenhados,
achamos importante o adolescente determinar
a escala de graduação ou graus de medo. Portanto, para alguns adolescentes, uma escala de
1 a 5 satisfará suas necessidades; outros podem
querer desenhar uma escala de 1 a 100. Os adolescentes devem ser encorajados a completar o
Termômetro do Medo da forma que preferirem.
Por exemplo, alguns jovens preferem simplesmente circular os graus de medo no Termômetro do Medo. Outros podem querer sombrear o
mercúrio no Termômetro do Medo para refletir
seus níveis de medo.
Instrumentos de auto-relato como RCMAS
ou MASC também são meios de automonitoração úteis para adolescentes. Eles podem fazer os inventários em uma base regular (geralmente recomendamos uma vez por semana durante quatro semanas). Os escores deveriam
então ser traçados e dados ao adolescente como
uma forma de automonitorar-se, podendo então ser usados como sinais para enfrentamento
e resolução do problema (p. ex., “O que você
faz quando se sente envergonhado em um 3?”).
TREINAMENTO DE RELAXAMENTO
O treinamento de relaxamento parece
muito apropriado para crianças ansiosas com
queixas somáticas (Eisen e Silverman, 1993). O
treinamento de relaxamento requer que as crianças se focalizem em sua respiração e na tensão
muscular. Crianças introspectivas terão dificuldade em centrar a atenção em seus sinais corporais, então, trabalha-se primeiro com as cognições ruminativas ou concomitantemente ao relaxamento. Esse treinamento também envolve
instruções um pouco elaboradas. Deve-se ter o
cuidado de torná-las concretas e compreensíveis, especialmente para as crianças menores.
Crianças ansiosas altamente inquietas são
um desafio para um terapeuta ensinar técnicas de
relaxamento. É difícil fazer a criança relaxar se ela
não consegue ficar parada! Metáforas de esportes
podem ser úteis para elas (Sommers-Flannagan e
Sommers-Flannagan, 1995). Por exemplo, você
poderia preparar a criança mostrando-lhe um
vídeo de um atleta fazendo relaxamento. A criança e o terapeuta poderiam assistir a jogadores de
basquete, de futebol ou de tênis enquanto se preparam para um arremesso, para uma cobrança de
pênalti ou um para saque. O vídeo é uma boa idéia
porque pode-se combinar o interesse, o gênero e a
etnia da criança com um modelo adequado. É
possível também parar e rever cada fita com a criança fazendo perguntas como “O que o jogador
está fazendo para relaxar?” ou “ O quanto ele está
imóvel?”.
Simplificar o procedimento também ajudará. O relaxamento pode tornar-se uma tarefa
gradual, iniciando, por exemplo, um relaxamento muscular progressivo com apenas um ou dois
grupos musculares (Kendall e cols., 1992), e com
a crescente habilidade da criança, podem-se
acrescentar outros grupos. Freqüentemente, as
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
crianças têm dificuldade em entender a fase tensão-relaxamento do relaxamento muscular. Brinquedos de borracha, apitos ou outros brinquedos são úteis e aumentam a diversão (Cautela e
Groden, 1978, conforme citado por Morris e
Kratochwill, 1998). Quando uma criança tensiona adequadamente um grupo muscular, obtém
uma resposta (p. ex., o pato de borracha grasna) que lhe diz que está exercendo a habilidade
de maneira correta. Da mesma forma, soprar um
apito ou encher balões ensina os fundamentos
do controle da respiração (Warfield, 1999).
Para algumas crianças, o ato de focalizarse em suas sensações corporais é em si gerador
de ansiedade. Crianças sensíveis à ansiedade esquadrinham seus corpos em busca de qualquer
sinal de tensão e interpretam catastroficamente
reações corporais normais (Kendall e cols., 1991;
Vasey, 1993). Conseqüentemente, o relaxamento muscular progressivo e o controle da respiração podem ser percebidos como bastante ameaçadores por elas. Nesses casos, estabelecer o
relaxamento como uma experiência pode ajudar (p. ex., “O que você prevê que poderia acontecer?”). Como as crianças também podem temer perder o controle, usar técnicas cognitivas
para testar suas expectativas será produtivo. A
seguinte transcrição ilustra como trabalhar com
o medo de sensações de uma criança relacionado ao procedimento de relaxamento.
TERAPEUTA: Você parece pouco à vontade,
Irma.
IRMA: Eu estou preocupada que não possa
prender a respiração. Parece que eu poderia ficar descontrolada.
TERAPEUTA: Entendo. Você acha que podíamos testar e praticar a respiração para ver
o que acontece?
IRMA: Não sei. Se eu começar a perder o controle e não puder prender a respiração, podemos parar?
TERAPEUTA: É claro. Você está encarregada de
quanto tempo fazemos o relaxamento.
Quanto tempo você acha que podemos
tentar antes de você começar a preocuparse com perder o controle?
183
IRMA: Talvez dois minutos.
TERAPEUTA: Vamos fixar este tempo. Vamos
parar antes disso se você quiser, e se você
não ficar preocupada podemos ficar mais
um pouco. O que lhe parece?
O que esta troca demonstra? O procedimento de relaxamento e os medos de Irma foram estabelecidos como uma experiência gradual. Se Irma tolerasse o relaxamento por dois
minutos ou mais, o procedimento poderia ser
prolongado por mais tempo. Se dois minutos
fosse muito tempo para ela, o terapeuta precisaria encurtar o procedimento e dar atenção a
quaisquer medos e crenças adicionais que ela
tivesse sobre o procedimento e sobre o fato de
focalizar em suas sensações corporais.
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
Nesta seção, apresentamos um exemplo de
um menino de 14 anos que está altamente apavorado com uma prova de qualificação para o
segundo grau. O exemplo ilustra muitos dos passos fundamentais na construção de uma dessensibilização sistemática de impacto. Vamos
chamar nosso jovem cliente de Herman. Herman
completou a hierarquia atribuindo SUDS a 10 situações (ver Figura 12.4). Como se percebe, os
itens refletem uma hierarquia epaço-temporal
com cada circunstância, refletindo o quanto
Herman está próximo da prova em tempo e espaço físico.
O próximo passo é pedir que Herman escreva com o máximo possível de detalhes os aspectos fisiológico, de humor, comportamental,
cognitivo e interpessoal de seu medo. Digamos
que ele, como a maioria das crianças nessa idade, não relate todos esses elementos. Você precisará ajudá-lo a dar dimensão aos detalhes relevantes a fim de construir uma imagem vibrante. Você poderia fazer perguntas como “Quem
está à sua volta?”, “Que aparência eles têm?”,
“O que você imagina que eles estão pensando
de você?”, “Com o que a sala se parece?”;
“Como você sente seu corpo?”, e assim por di-
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184
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
ante, até ter certeza de ter uma imagem forte.
Além disso, recomendamos que as imagens sejam multisensoriais (Padesky, 1988). Portanto,
poderia-se fazer Herman imaginar as visões, os
sons, os cheiros e as sensações táteis presentes
na situação. Fazendo isso, tanto Herman quanto você podem obter uma “sensação” da situação. A Figura 12.5 apresenta um exemplo de
uma cena forte.
Herman precisa ter habilidades de relaxamento no imaginário antes de iniciar formalmente o procedimento de dessensibilização.
Este treinamento do imaginário deveria ser
acompanhado dos procedimentos de relaxamento corporal que descrevemos na seção anterior e no Capítulo 8. Quando eu (RDF) penso
em introduzir a técnica de imaginação positiva,
lembro-me do filme Happy Gilmore. No filme,
Happy, um aspirante a golfista, traído por sua
raiva descontrolada, é ensinado a imaginar seu
“lugar feliz”. Esta simples frase pode ser usada
para descrever imagens agradáveis a crianças.
Você pode instruí-las a criar um espaço psicológico feliz e seguro em suas mentes. Nesse espaço, imaginam-se calmas, relaxadas, satisfeitas e
no controle enquanto fazem algumas de suas
atividades favoritas. Uma vez que as crianças
tenham criado seu lugar feliz, estão prontas para
justapor suas situações geradoras de ansiedade
às imagens do lugar feliz e às técnicas de relaxamento corporal.
Conforme observado no Capítulo 8, você
começa com o item mais baixo na hierarquia e
vai subindo até os itens de classificação mais
alta. Se a criança relatar ansiedade durante a
apresentação da cena, termine-a e instrua a criança a retornar para seu lugar feliz. A seguinte troca começa no ponto em que Herman e seu
terapeuta estão trabalhando no Item 8, e
SUDS
CENA
10
Dia da prova de qualificação, sentado na aula com a prova sendo distribuída. Começa a
entrar em pânico.
9
Caminha para a escola no dia da prova preocupado se vai passar. Outras crianças falam
sobre a prova enquanto esperam para entrar na escola.
8
Noite antes da prova de qualificação, deitado na cama preocupado em poder rodar.
7
Três dias antes da prova. Os professores parecem estressados. Um monte de revisões de
última hora. Acha que vai pegar um resfriado.
6
Cinco ou seis dias antes da prova. Preocupado. Não consegue lembrar o que estudou. Os
professores estão críticos. Os pais, preocupados.
5
Uma semana antes da prova. Um monte de provas práticas. Os pais falam demais nisso.
4
Um mês antes da prova. Fala com outras crianças sobre a prova. Compara notas da prova
prática. Sentado nas sessões de revisão.
3
Alguns meses antes da prova. Sentado no auditório, sendo orientado para a prova. Ouvindo histórias “de horror” dos professores sobre alunos que não se preparam.
2
Seis meses ou mais. Começam as sessões de estudo. Imagina em que grupo ficará.
1
Férias de verão. Lê um artigo no jornal sobre as provas. Fala com amigos sobre isso.
FIGURA 12.4 Hierarquia de Herman.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
185
É o dia da prova de qualificação. As palmas das minhas mãos estão muito suadas. Meu coração
está batendo muito forte e acho que posso senti-lo pulando. Acho que vou ficar com uma leve
dor de cabeça e não serei capaz de me concentrar. Sinto-me tonto. Os ruídos parecem muito
distrativos. As vozes das outras crianças parecem um zumbido. As pessoas demonstram malestar, parecem inquietas em suas carteiras. Elas estão muito nervosas. Estão inquietas e deixando
cair coisas. Há uma fila de crianças na frente do apontador de lápis. Eu verifico várias vezes meus
lápis e meu apontador. Minhas mãos estão suando, por isso minha carteira e meu apontador
estão molhados. As provas estão sendo distribuídas, ouço gemidos das outras crianças. Os papéis farfalham. A cadeira parece dura nas minhas costas e a gola da minha camiseta parece
áspera e apertada em volta do meu pescoço, quase como uma forca. A sala cheira um pouco a
livros molhados. Eu agarro minha prova, e o papel gruda nas minhas mãos. Sinto-me um pouco
tonto e nauseado enquanto leio as instruções. Preocupo-me que dê um branco na minha cabeça. Quase posso me ver correndo para fora da sala gritando e todas as crianças espantadas e
rindo. Todo este trabalho é perda de tempo, eu acho.
FIGURA 12.5 Exemplo de uma das cenas de Herman. SUDS: 10.
Herman acabou de completar seu relaxamento
e indução de imaginação positiva.
TERAPEUTA: Herman, levante o dedo quando
se sentir em um estado de calma, relaxamento e confiança.
HERMAN: (Levanta o dedo.)
TERAPEUTA: Agora abaixe seu dedo lentamente. Você está em um estado de relaxamento profundo. Você está se sentindo calmo
e confiante. Eu agora vou lhe pedir para
imaginar a cena em que você está caminhando para a escola no dia da prova de
qualificação. Você sai de casa ouvindo a
porta bater atrás de você, como um tambor. Sua cabeça começa a latejar, e seu estômago está embrulhado. Você parece estar caminhando em câmera lenta e suas
pernas parecem pesadas. Preocupações
sobre passar no teste e ter que fazê-lo repetidas vezes passam pela sua cabeça. Levante o dedo se você é capaz de imaginar
essa cena.
HERMAN: (Levanta o dedo lentamente.)
TERAPEUTA: Agora abaixe o dedo lentamente.
HERMAN: (Abaixa o dedo.)
TERAPEUTA: Prenda-se a essa cena e retrate-a
como se estivesse acontecendo a você.
Coloque-a em foco como se você estivesse sintonizando um programa de televi-
são. Quando sua imagem estiver realmente clara, explore seu corpo em busca de
sinais de ansiedade. Então use sua respiração para livrar-se dos medos.
HERMAN: (Após uma breve pausa, usa a técnica
de respiração.)
TERAPEUTA: Quando se sentir relaxado, levante o dedo.
HERMAN: (Levanta o dedo.)
TERAPEUTA: Agora vamos mudar a cena um
pouco. Enquanto está caminhando para a
escola, você se encontra com um grupo de
crianças. Você vê o medo e a ansiedade
em seus rostos. Parece que suas vozes estão indo muito rápido. Você as ouve falando sobre possíveis questões e entra em
pânico. Seu coração está pulando e você
sente falta de ar. Você se preocupa porque
não consegue pensar em nenhuma resposta. Quando tiver esta cena claramente em
sua mente, levante o dedo lentamente.
HERMAN: (Levanta o dedo.)
TERAPEUTA: Se você estiver se sentindo ansioso, levante o dedo.
HERMAN: (Levanta o dedo.)
TERAPEUTA: Prenda-se a esta imagem por um
momento. Agora, com o poder de sua respiração e com suas habilidades de imaginação, veja se consegue reduzir sua ansiedade
quando vir esse quadro de você mesmo.
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186
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
O que esta troca ensina? Primeiro, o imaginário inclui várias modalidades sensoriais.
Segundo, o terapeuta teve o cuidado de não reforçar o relaxamento de Herman dizendo “Bom”
ou “Bom trabalho” quando ele não relatou ansiedade. Terceiro, trabalhou lenta e deliberadamente, assegurando-se de que Herman estivesse vendo a cena em sua mente e experimentando a ansiedade que a acompanha.
TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS
Nesta seção, ilustramos vários componentes de intervenção de habilidades sociais com
Dannica, uma menina de 11 anos que está sendo
provocada por seus colegas de aula. Dannica é
uma menina brilhante, contudo, socialmente inábil, que não sabe o que dizer ou fazer quando
seus colegas implicam com ela. Ela assume uma
postura tensa e fica verbalmente inexpressiva e
cognitivamente rígida nessas interações.
A primeira habilidade social que ensinamos a ela foi ignorar e afastar-se. Depois, propusemos que relaxasse, respirasse fundo, dizendo para si mesma “Apenas porque eles me chamam de pateta não quer dizer que eu seja”, e
não reagisse a seus torturadores, afastando-se
calmamente. Essas estratégias foram escritas e
registradas em cartões. Além disso, Dannica
aprendeu a envolver-se em uma outra tarefa (p.
ex., fazer um exercício de matemática) para distrair-se das provocações.
A técnica de ignorância foi inicialmente
bem-sucedida, mas com o tempo tornou-se incômoda e pesada para Dannica. Visto que a ignorância é uma solução passiva, sua ansiedade
e sua frustração aumentaram, comprometendo
sua concentração na escola. Dannica precisava
ver-se mais no controle. A ignorância não alterou sua percepção de si mesma como vítima.
Então, ensinamos a ela a estratégia de
“enevoado”. O enevoado é uma técnica de
positividade que desarma os provocadores
(Feindler e Guttman, 1994). Quando você
“enevoa” um provocador, você concorda com a
provocação. Fingindo espanto e respondendo
com humor, a criança provocada desaponta seus
provocadores, que estão esperando uma reação
negativa forte. Inicialmente, Dannica aprendeu
a técnica de enevoado através do brinquedo com
fantoches na seguinte troca.
TERAPEUTA: Certo, Danni, vamos usar estes
fantoches para aprender o que fazer quando as outras crianças implicarem com você.
DANNICA: Como podemos fazer isso?
TERAPEUTA: Bem, você decide que fantoches
vamos usar. Nós fingimos que os fantoches são as outras crianças implicando
com você. Quem você quer representar?
DANNICA: Vou representar a mim mesma.
TERAPEUTA: Qual será o seu plano se as crianças implicarem com você?
DANNICA: Ignorá-las.
TERAPEUTA: Que tal tentar usar o enevoado?
DANNICA: Ah, é.
TERAPEUTA: Vamos começar a brincar. Qual
dos fantaches será você?
DANNICA: Eu vou ser a girafa porque eu sou
alta. Elly vai ser o tigre porque eu acho
que ela é furiosa.
TERAPEUTA: Então eu vou representar Elly.
Lembre-se, tente usar o enevoado quando eu a provocar.
DANNICA: Certo, vou tentar.
TERAPEUTA: Agora, qual é o nome da sua girafa, e qual é o nome do meu tigre?
DANNICA: Umm. Vamos ver. Meu nome e
Rosy, e seu nome é Rory.
TERAPEUTA: Certo. Eu começo. Oh, Rosy, você
parece tão desajeitada com seu pescoço
comprido.
DANNICA: Eu não vou ouvir você.
TERAPEUTA: Que bebezona você é. Bebê, bebê,
bebeeeeê! O que vai fazer, contar para a
professora? Que bobalhona você é.
DANNICA: (Finge conversar com um outro animal.)
TERAPEUTA: (Saindo do papel.) Danni, como foi
fazer isso?
DANNICA: Eu fiquei nervosa – como se não
soubesse o que fazer.
TERAPEUTA: O quanto isso foi parecido com o
que acontece na escola?
DANNICA: Muito parecido.
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TERAPEUTA: O que passou pela sua cabeça?
DANNICA: Ela vai passar por cima de mim. Todo
mundo vai ver como estou nervosa.
TERAPEUTA: Certo. Então você precisa escapar de algum jeito. Você acha que o enevoado poderia ajudar?
DANNICA: Eu não sei.
TERAPEUTA: Vamos tentar. Como você poderia usar o enevoado com Rory?
DANNICA: Eu não sei.
TERAPEUTA: Deixe-me ver se posso ajudá-la.
Vou lhe contar minhas idéias sobre enevoado. Eu vou representar Rosy e tentar
fazer o enevoado. Você implica com Rosy
com seu tigre.
DANNICA: Certo. Vai ser divertido. Rosy, você
é tão palerma. Por que nunca lava seu cabelo? Ele é tão amarelo.
TERAPEUTA: Obrigada pelo conselho. Meu cabelo é realmente amarelo.
DANNICA: Amarelo. Amarelo. Você precisa
mesmo do meu conselho. Sua pele é tão
opaca. Você tem medo da bola na aula.
Você também é um gato medroso. Tem
medo da bola.
TERAPEUTA: Uau! Você realmente presta atenção em mim. Eu sei que você acha que tenho medo da bola.
DANNICA: Você tem. Gato medroso. Gato medroso amarelo.
TERAPEUTA: Você com certeza acha que me
conhece. (Saindo do papel.) Danni, como foi
para você quando eu estava fazendo o
enevoado?
Como fui
provocada
Como me senti
187
DANNICA: Ficou difícil continuar implicando.
Eu não sei se posso pensar em mais coisas para dizer.
TERAPEUTA: Vamos escrever algumas coisas
nos cartões para você praticar e lembrar.
Você está disposta a tentar?
O que esse diálogo nos ensina? Primeiro,
o brinquedo de fantoche revelou que Dannica
não tinha as habilidades para lidar com a provocação contínua. Ela não tinha adquirido suficientemente a técnica de enevoado. Conseqüentemente, o terapeuta trocou os papéis para modelar a tática. Segundo, o terapeuta e Dannica
escreveram afirmações de enevoado efetivas
para que Dannica tenha um roteiro. Terceiro, eles
trocaram de papéis mais uma vez para que
Dannica pudesse praticar o enevoado.
A observação é uma outra forma de construir
habilidades sociais. Além de ensinar diretamente a
Dannica as habilidades de ignorância, enevoado e
positividade, trabalhamos com ela para observar
como as demais crianças de sua turma lidavam com
provocações. Ela observou como eram provocadas
e como agiam. Ela também identificou as conseqüências positivas e negativas de cada estratégia, e
chegou a conclusões sobre quais as melhores opções baseada em suas observações.
Finalmente, Dannica precisava experimentar suas habilidades recém-adquiridas. Portanto, a instruímos a preencher um diário de provocação modificado quando ela fosse provocada
(ver Figura 12.6). Pedimos que escrevesse cada
O que passou pela
minha cabeça
FIGURA 12.6 Diário de provocação de Dannica.
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O que fiz
Como funcionou
(t = terrível
o = ótimo)
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188
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
situação em que foi provocada. Então, registrava seus sentimentos, pensamentos e comportamentos de enfrentamento, e o sucesso deles. Fazendo isso, praticava a aplicação de suas habilidades de enfrentamento e conferia o grau de
sucesso delas.
AUTOCONTROLE COGNITIVO
Responder ao Medo é uma técnica de
autocontrole/auto-instrução para ajudar crianças a construir pensamentos de enfrentamento
que desafiam crenças associadas a seus sentimentos de ansiedade. A habilidade de Responder ao Medo é uma abordagem relativamente
simples que pode ser um primeiro passo com
crianças ansiosas. O Registro Responder ao
Medo é apresentado na Figura 12.7. A seguinte
transcrição oferece um exemplo da forma como
se pode apresentar a tarefa para a criança.
“Nós realmente ouvimos seu medo falando
hoje. Quando estava preocupado, você achava
que sua professora pensaria que você é idiota e
que seus pais se sentiriam mal se não se saísse
bem. Você se preocupava que todos percebessem o quanto você é atrapalhado. Seu medo lhe
falava o que você sabia que podia fazer. O medo
meio que o provocava. Então eu vou ensiná-lo
a responder a seu medo.”
A habilidade Responder ao Medo inclui
várias fases. Na primeira, o terapeuta ensina e
modela afirmações de enfrentamento. Na Segunda, as crianças criam suas próprias afirmações de enfrentamento. Na terceira, escrevem
suas afirmações de enfrentamento personalizadas em um cartão. As crianças podem colocar
os cartões no bolso, na carteira ou na bolsa e
carregá-los para situações onde poderiam tornar-se ansiosas. O Registro Responder ao Medo
sistematiza esse processo para as crianças (ver
Figura 12.7).
A Figura 12.8 mostra um Registro Responder ao Medo completado. A voz interior apavorada da criança lhe disse que “estragaria” seu
relatório oral de literatura. Ela então circulou
várias afirmações de enfrentamento preparadas
que acreditava que acalmariam o medo. Em seguida, escreveu mais cinco maneiras de responder a seu medo. Finalmente, transpôs essas afirmações para os cartões. Assim, ela era capaz de
ter acesso a um conjunto relativamente completo de habilidades de enfrentamento.
As habilidades de Responder ao Medo
podem ser um trampolim para outros exercícios
experienciais/recreativos. Por exemplo, o brinquedo com fantoches é uma extensão natural
do exercício. Você pode estabelecer o exercício
fazendo a criança escolher dois fantoches, um
que representará a autoconversa adaptativa da
criança, e outro que representará seu medo falando. Ela pode escolher o papel que quer representar. As crianças que já têm prática em responder a seus medos podem ser encorajadas a
representar primeiro o papel de autoconversa
adaptativa. Para aquelas que não têm tanta
prática, você deveria desempenhar o papel do
fantoche de autoconversa adaptativa para, assim, modelar para a criança como responder ao
medo.
Quando as crianças jogam pela primeira
vez esse jogo, podem ter problemas para
acessar as afirmações de enfrentamento, portanto recomendamos lembrar seus clientes de
que podem usar os cartões. Materiais de enfrentamento facilmente acessíveis aumentam a
confiança das crianças, essa estratégia reforça
a noção de que carregar os cartões consigo é
uma boa idéia.
À medida que as crianças adquirem prática com as habilidades, pode-se aumentar a dificuldade da tarefa. Por exemplo, quando você
representar a voz do medo, pode aumentar a
freqüência e a intensidade das previsões catastróficas. As cognições geradoras de ansiedade
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189
Meu medo diz: ________________________________________________________________________________________________________________________________
Aqui estão algumas coisas que você poderia dizer para si mesmo que podem ajudá-lo a responder a seus
sentimentos de medo:
•
•
•
•
Os sentimentos de medo são como o vento. Eles sopram sobre você e depois passam.
Todo mundo sente medo algumas vezes. Estes sentimentos apenas me tornam humano.
Estes sentimentos são apenas sinais para usar minhas novas habilidades.
Eu sei que posso fazer isto. A razão principal para achar que não posso é porque sinto medo. Eu só tenho
que lembrar que é o meu medo falando.
• Fique frio. Eu posso responder a meu medo.
Escreva mais cinco coisas que você pode dizer para si mesmo para RESPONDER A SEU MEDO:
1.
2.
3.
4.
5.
__________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________
Escreva todas estas maneiras de responder a seu medo em cartões. Leia-os duas vezes por dia.
FIGURA 12.7 Registro Responder ao Medo. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The
Gilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para
uso pessoal.
Meu medo diz: __Eu
____vou
______estragar
_____________meu
_______relatório
____________oral
_______de
____literatura.
_________________________________________________________________________
Aqui estão algumas coisas que você poderia dizer para si mesmo que podem ajudá-lo a responder a seus
sentimentos de medo:
•
•
•
•
Os sentimentos de medo são como o vento. Eles sopram sobre você e depois passam.
Todo mundo sente medo algumas vezes. Estes sentimentos apenas me tornam humano.
Estes sentimentos são apenas sinais para usar minhas novas habilidades.
Eu sei que posso fazer isto. A razão principal para achar que não posso é porque sinto medo. Eu só tenho
que lembrar que é o meu medo falando.
• Fique frio. Eu posso responder a meu medo.
Escreva mais cinco coisas que você pode dizer para si mesmo para RESPONDER A SEU MEDO:
Eu sou maior que meu medo.
1. __________________________________________________________________________________________________________________________
É apenas o meu medo falando. Eu não tenho que escutá-lo.
2. __________________________________________________________________________________________________________________________
Meu medo não sabe o que vai acontecer. Eu posso lidar com isto.
3. __________________________________________________________________________________________________________________________
Cada vez que enfrento meu medo fico mais forte.
4. __________________________________________________________________________________________________________________________
Eu posso enfrentar meu medo.
5. __________________________________________________________________________________________________________________________
Escreva todas estas maneiras de responder a seu medo em cartões. Leia-os duas vezes por dia.
FIGURA 12.8 Exemplo do Registro Responder ao Medo.
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190
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
são crenças arraigadas e, conseqüentemente,
não cederão facilmente, portanto você deveria
encorajar as crianças a serem persistentes com
suas autoconversas de enfrentamento.
Freqüentemente, a preocupação excessiva
de crianças pequenas é pontuada por perguntas do tipo “E se” (Lerner e cols., 1999), como,
“E se eu tiver uma prova e esquecer tudo que
estudei”. O Se Pior Acontecer é um exercício que
simplifica o processo de descatastrofização e
ensina as crianças a desafiar suas terríveis previsões. O Registro Derrotando o Se o Pior Acontecer (ver Figura 12.9) inclui um componente de
automonitoração e uma técnica de mudança em
seu conteúdo. Primeiro, as crianças registram
suas perguntas inquietantes “E se”, então respondem a cinco perguntas sucessivas e chegam
a uma conclusão que as ajuda a “Derrotar o Se
o Pior Acontecer”.
Você pode preferir introduzir este exercício da seguinte maneira:
“Muitas vezes, quando meninos e meninas se
preocupam, eles se perguntam ‘E se?’. Por
exemplo, uma vez um menino estava indo a
uma festa e ficou preocupado com ‘E se os outros zombarem de mim?’. Um outro exemplo é
quando uma menina ficou preocupada na noite anterior ao primeiro dia de aula, ‘E se eu não
me sair bem na nova série?’. Isso é chamado de
Pensamento Se o Pior Acontecer. Quando você
tem um pensamento desses, começa a se afastar das coisas que teme. Você imagina que o pior
vai acontecer e que não será capaz de lidar com
as coisas. Escutar o Pensamento Se o Pior Acontecer apenas o faz sentir-se pior. Então vamos
aprender a desafiar o Se o Pior Acontecer para
derrotá-lo.”
A primeira sugestão no registro pede que
a criança escreva suas previsões ansiosas. Devese ajudá-la a escrever a pergunta, a preocupa-
ção ou a previsão da maneira mais específica
possível. Além disso, deve-se verificar se o material registrado é psicologicamente significativo e adequado aos níveis de intensidade emocional.
O processo de questionamento ou verificação é introduzido com duas perguntas básicas: “Que certeza tenho de que o que está me
preocupando vai realmente acontecer?” e “Isso
já aconteceu antes?”. A criança escolhe entre
três opções (Nenhuma certeza, Razoável certeza e Muita certeza) para a primeira pergunta
e entre duas opções (SIM/NÃO) para a segunda pergunta. A Pergunta 3 resulta da Pergunta
2 e pede que a criança liste suas tentativas anteriores de enfrentamento. Se a circunstância
em relação à qual a criança está preocupada
nunca aconteceu, ela pula a Pergunta 3 e prossegue para a 4. A Pergunta 4 questiona a base
da preocupação: “O que me faz pensar que isso
vai acontecer agora?”. As respostas ajudarão o
terapeuta e a criança a avaliar se a preocupação tem fundamento.
A Pergunta 5 resulta da 3. Ela – “Se você
lidou com isso no passado, o quanto é realmente apavorante?” – é uma pergunta socrática planejada para criar alguma dissonância pela justaposição de um de enfrentamento anterior com
a previsão de catástrofe. Essa pergunta ajuda a
criança a acessar recursos de enfrentamento até
então negligenciados e aplicá-los às circunstâncias atuais.
A Pergunta 6, a pergunta de resumo, pede
que a criança considere suas respostas às perguntas anteriores. Após revisá-las, a criança chega a uma conclusão, que pode então ser registrada em um cartão e usada como uma afirmação de enfrentamento. Um exemplo de um Registro Derrotando o Se o Pior Acontecer é incluído na Figura 12.10.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
191
Muitas vezes quando se preocupa, você se pergunta “E se alguma coisa ruim acontecer?”. Você às vezes
imagina que o pior vai acontecer e que não será capaz de lidar com isso. Isso é chamado de Pensamento Se
o Pior Acontecer. Vamos usar este registro para Derrotar o Se o Pior Acontecer.
Quando me preocupo com e se...
________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________ fico realmente apavorado e preocupado.
Faça-se perguntas:
Que certeza tenho de que o que está me preocupando vai realmente acontecer? Circule uma resposta.
Nenhuma
certeza
Razoável
certeza
Muita
certeza
Isso já aconteceu antes? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Se isso não aconteceu no passado, o que me faz pensar que acontecerá agora?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Se lidei com isso no passado, o quanto é realmente apavorante? Circule uma resposta.
Muito
apavorante
Um pouco
apavorante
Nada
apavorante
Agora que você respondeu a estas perguntas, qual é uma nova maneira de responder ao Se o Pior Acontecer?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
FIGURA 12.9 Registro Derrotanto o Se o Pior Acontecer. De Friedberg e McClure (2002). Copyright
por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura
apenas para uso pessoal.
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Muitas vezes quando se preocupa, você se pergunta “E se alguma coisa ruim acontecer?”. Você às vezes
imagina que o pior vai acontecer e que você será capaz de lidar com isso. Isso é chamado de Pensamento Se
o Pior Acontecer. Vamos usar este registro para Derrotar o Pior Acontecer.
Quando me preocupo com e se...
Alguma
coisa ruim acontecer a mim, a minha mãe, a meu pai ou a meu irmão
_____________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________ fico realmente apavorado e preocupado.
Faça-se perguntas:
Que certeza tenho de que o que está me preocupando vai realmente acontecer? Circule uma resposta.
Nenhuma
certeza
Razoável
certeza
Muita
certeza
Isso já aconteceu antes? Circule uma resposta.
SIM
NÃO
Se isso não aconteceu no passado, o que me faz pensar que acontecerá agora?
Eu
simplesmente me preocupo com___
isso.
preocupação
realmente
___________________________________
_______Minha
____________
_____________________
________________me
______faz
______pensar
___________que
_______vai
______acontecer.
_________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Se lidei com isso no passado, o quanto é realmente apavorante? Circule uma resposta.
Muito
apavorante
Um pouco
apavorante
Nada
apavorante
Agora que você respondeu a estas perguntas, qual é uma nova maneira de responder ao Se o Pior Acontecer?
__________
______________________
___aconteceu.
___________________São
_______apenas
_____________
____________preocupações
________________________falando.
________________________________
________
Bem,
nada
realmente ruim
minhas
Não é trabalho meu tomar
conta
pai
deles mesmos. Há coisas que posso fazer para tomar
_____________do
_______meu
___________
_______e
____da
_______minha
______________mãe.
____________Eles
_________podem
________________cuidar
________________________________________________________________________
conta
se eu precisar.
_____________de
_______mim,
____________e____as
______pessoas
_________________à____minha
______________volta
____________podem
________________ajudar-me
___________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
FIGURA 12.10 Exemplo do Registro Derrotando o Se o Pior Acontecer.
Há diversas formas de você aumentar o
nível de diversão associado com o Se o Pior
Acontecer. Primeiro, um exemplo de história em
quadrinhos do Se o Pior Acontecer é incluído
nesse exercício de registro. A criança pode colorir essa história enquanto fala sobre seus pensamentos apavorantes. Segundo, uma vez que
o conjunto de habilidades é intitulado “Derrotando Se o Pior Acontecer”, a criança pode ser
instruída a colocar um X no desenho sempre que
responder a suas previsões desastrosas. Terceiro, pode fazer um fantoche Se o Pior Acontecer
colando o desenho em uma saco de papel. O
terapeuta e a criança podem representar a res-
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posta ao Se o Pior Acontecer de forma semelhante ao brinquedo com fantoche sugerido no exercício Responder ao Medo. Esta atividade pode
incluir um fantoche de saco de papel e um com
o auto-retrato da criança desenhado nele. Se a
criança preferir, ela pode desenhar ou colar uma
figura de um herói ou modelo de enfrentamento
em vez do auto-retrato. O fantoche da criança e
o do Se o Pior Acontecer poderiam envolver-se
em uma discussão animada em que o herói
responde ao Se o Pior Acontecer. A seguinte
transcrição ilustra como as crianças poderiam
responder.
TERAPEUTA: Ficaram muito bons estes fantoches
que você fez. Você quer que o fantoche mostre como responder ao Se o Pior Acontecer?
RUBIN: Claro.
TERAPEUTA: Quem você quer representar?
RUBIN: Vou representar a mim mesmo.
TERAPEUTA: Então vou ser o Se o Pior Acontecer. Agora vou começar a dizer um monte de coisas que o Se o Pior Acontecer poderia dizer para você quando você fica
nervoso. Você tem que usar seu fantoche
para responder ao Se o Pior Acontecer.
RUBIN: Eu vou te pegar, fantoche Se o Pior
Acontecer!
TERAPEUTA: É isso aí, mas também use suas
habilidades de Se o Pior Acontecer e de
Responder ao Medo.
RUBIN: Certo.
TERAPEUTA: Você está pronto para brincar?
RUBIN: Sim, vamos brincar.
TERAPEUTA: Oh, não. Eu tenho que ir ao quadro-negro fazer uma longa divisão. As
crianças vão rir de mim e a professora vai
gritar comigo. Todo mundo vai pensar que
sou um idiota.
RUBIN: Não, eles não vão.
TERAPEUTA: Você não sabe de nada. Eu sei que
todos vão rir de mim. Eles não querem
brincar comigo. Eu vou ficar tão apavorado que vou vomitar na frente de todos.
RUBIN: Cale a boca, Se o Pior Acontecer! Você é
um idiota! Eu sou forte!
193
TERAPEUTA: Vamos parar aqui por um segundo. Quando o Se o Pior Acontecer está dizendo essas coisas, como se sente?
RUBIN: Mal.
TERAPEUTA: O que está lhe fazendo sentir-se mal?
RUBIN: O Se o Pior Acontecer é mau.
TERAPEUTA: Quando você fica muito preocupado, é fácil pensar em coisas para dizer
a si mesmo para ajudá-lo a sentir-se menos preocupado?
RUBIN: Não é muito fácil.
TERAPEUTA: É disso que se trata o brinquedo de
fantoche. É uma chance para você praticar
as coisas que dizer a si mesmo que o ajudarão a sentir-se melhor. O que você acha de
examinar seus registros Se o Pior Acontecer e Responder ao Medo e escrever afirmações úteis em seus cartões? Assim já terá
algumas coisas para dizer.
RUBIN: Eu posso ficar com os cartões e lê-los?
TERAPEUTA: É claro. (Rubin e o terapeuta revisam os registros, transcrevem para os cartões
algumas afirmações de enfrentamento e então
voltam a praticar a representação.)
A ansiedade antecipatória está provavelmente relacionada à catastrofização. Crianças
ansiosas imaginam subjetivamente perigos
onde não existe perigo objetivo. Elas prevêem
desastres e agem como se suas previsões fossem totalmente confiáveis. Diversos clínicos
cognitivo-comportamentais referem-se a previsões catastróficas imprecisas como “alarmes falsos” (Craske & Barlow, 2001; A. T. Beck e cols.,
1985). Portanto, como terapeutas, precisamos
ajudar as crianças a ver suas previsões “alarmantes” com maior ceticismo.
Para crianças mais velhas e adolescentes,
as experiências comportamentais são bons instrumentos que visam a testar a confiabilidade
de suas previsões. Por exemplo, Nia, 16 anos,
acreditava que se não se preocupasse com as
coisas, algo de ruim aconteceria. A seguinte
transcrição ilustra como você pode estabelecer
uma experiência comportamental para testar
essa crença.
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194
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TERAPEUTA: Nia, que crença deveríamos testar?
NIA: Eu acho que aquela sobre se eu não me preocupar alguma coisa ruim vai acontecer.
TERAPEUTA: Bem, o que você acha que a preocupação previne?
NIA: Que alguma coisa ruim aconteça.
TERAPEUTA: Então o que precisamos anotar?
NIA: Se alguma coisa ruim acontece.
TERAPEUTA: Precisamos associar isso a alguma coisa?
NIA: Ao quanto eu me preocupo.
TERAPEUTA: Bom. Vamos fazer algumas colunas (ver Figura 12.11). Vamos chamar a
primeira de “O quanto me preocupo”. O
que deveríamos colocar nesta coluna?
NIA: Talvez eu pudesse classificar minhas preocupações de 1 a 10. Assim como fazemos
nos diários de pensamento.
TERAPEUTA: Exatamente. O que é alto e o que
é baixo?
NIA: Um é algumas preocupações e 10 é a maioria das preocupações.
TERAPEUTA: Certo. Vamos classificar suas preocupações em uma escala de 1 a 10. Vamos chamar a próxima coluna de “As coisas ruins que aconteceram”.
Nesta coluna, você escreve qualquer coisa
ruim que aconteceu durante a semana. À
última coluna chamaremos de “O quanto
foi ruim?”, porque nem todas as coisas ruins são iguais. Algumas poderiam ser catástrofes e outras, apenas um aborrecimento. Como deveríamos acompanhar isso?
DATA
NIA: Com uma outra escala de classificação.
Talvez de 1 a 10?
TERAPEUTA: Certo, vamos fazer assim. Agora, podemos verificar várias coisas em relação a isso. Primeiro, sua preocupação
impede que coisas ruins aconteçam? Segundo, a quantidade de preocupação tem
alguma influência sobre o quanto as coisas saem mal? Se você se preocupar menos, as coisas acabam piores?
NIA: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Eu sei. É por isso que vamos verificar.
O que podemos tirar desta troca? Primeiro, o terapeuta trabalhou com Nia para testar
concretamente sua correlação percebida entre
preocupar-se e impedir que alguma coisa ruim
aconteça. Segundo, planejou a tarefa para tratar da gravidade da preocupação. Fazendo isso,
Nia poderia perceber se a quantidade de preocupação evitaria os resultados temidos. Finalmente, ao registrar a quantidade de preocupação e quaisquer resultados negativos lado a
lado, Nia poderia ver que a preocupação e a nãoocorrência de coisas ruins não estavam relacionadas.
Crianças ansiosas, em geral, e a maioria
das crianças socialmente fóbicas, em particular,
temem o ridículo ou as críticas dos outros. Seu
comportamento social é severamente limitado
por seus medos, suas respostas emocionais,
cognitivas e comportamentais são duras e rígidas. A seguir, apresentaremos formas de os
terapeutas ensinarem crianças a diminuir seus
O QUANTO ME PREOCUPO
(nível de preocupação)
AS COISAS RUINS QUE
ACONTECERAM
O QUANTO
FOI RUIM?
Seg.
5
Nada
0
Ter.
6
Nada
0
Qua.
7
Nada
0
Qui.
5
Prova que eu não esperava
3
Sex.
8
Nada
0
FIGURA 12.11 Experiência de Nia.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
medos de avaliação negativa e a lidar com uma
possível crítica ou com o embaraço.
As crianças que temem julgamentos e avaliações possuem vários pontos cegos em seus pensamentos. Primeiro, como os adultos socialmente
ansiosos, confundem fato com opinião (Burns,
1980). As crianças ansiosas geralmente são ávidas
por aprovação e vêem as opiniões dos outros como
uma verdade incontestável. Em resumo, elas questionam inconscientemente a própria competência,
sua identidade baseia-se em críticas ou em comentários, em geral infundados, de outras crianças.
Verificamos que a técnica Apenas porque é
uma intervenção produtiva (Elliott, 1991). A técnica não requer muita análise racional e pode
fornecer à criança uma perspectiva importante.
Nessa tarefa, a criança desmascara o mito de que
opinião é igual a fato (p. ex., “Apenas porque
Ernie acha que sou idiota, não significa que eu
seja”). A criança primeiro capta o pensamento
negativo (p. ex., “Jill e Susan vão achar que sou
imatura”), depois, simplesmente insere a expressão “apenas porque” precedendo o pensamento automático negativo (“Apenas porque Jill
e Susan acham que sou imatura não significa
que eu seja”).
A técnica “Apenas porque” pode ser acompanhada de uma análise racional mais sofisticada. Embora a avaliação dos outros naturalmente tenha graus de importância mais ou menos relativos, raramente define absolutamente
uma pessoa. Na seguinte transcrição, examinamos a forma como o terapeuta e Marla, 15 anos,
avaliaram socraticamente medos de avaliação
negativa.
MARLA: As meninas da minha aula realmente
me incomodam. Eu me preocupo o tempo todo sobre o que elas pensam.
TERAPEUTA: O que elas dizem que preocupa
você?
MARLA: Eu me preocupo que elas debochem
do jeito que falo e das roupas que visto.
TERAPEUTA: Você realmente não se sente à
vontade com essas meninas. O que passa
pela sua cabeça?
195
MARLA: Elas acham que não estou com nada.
Você sabe, que não sou tão boa quanto
elas. Elas acham que sabem como usar o
cabelo e como agir. Elas parecem pensar
que eu sou meio fora de moda.
TERAPEUTA: Como vão criticá-la?
MARLA: Elas vão pensar que minhas roupas
são ruins, que eu sou esquisita ou coisa
parecida.
TERAPEUTA: Entendo. Você conhece bem essas meninas?
MARLA: Elas estão na minha aula.
TERAPEUTA: Você anda com elas?
MARLA: Na verdade, não.
TERAPEUTA: Você já foi na casa delas?
MARLA: Não, nunca.
TERAPEUTA: Elas já foram na sua casa?
MARLA: Não.
TERAPEUTA: Você já foi a uma festa ou ao cinema com elas?
MARLA: Nunca.
TERAPEUTA: Então elas não a conhecem bem.
MARLA: Na verdade, não muito bem.
TERAPEUTA: Hmmm. É curioso. Então elas não
conhecem você bem? E ainda assim você
parece dar a elas muito poder para definir quem você é. O que você deduz disso?
MARLA: Eu não sei.
TERAPEUTA: Bem, isso poderia ser uma coisa
para considerarmos. A outra coisa que estou pensando é quem as tornou especialistas em moda e comportamento?
MARLA: Eu não sei. Eu acho que eu as tornei
as especialistas.
TERAPEUTA: Entendo. Mas como elas podem
ser especialistas sobre se você é “legal” e
sobre sua moda quando realmente nem a
conhecem?
Neste exemplo, Marla definia-se claramente através dos olhos dessas outras meninas. Primeiro o terapeuta ajudou-a a reconhecer que
estas crianças tinham uma visão muito estreita
dela. De fato, nem a conheciam. Segundo, o
terapeuta trabalhou na avaliação da base para
a opinião das “especialistas” (“Quem as tornou
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196
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
especialistas em moda e comportamento?”). Finalmente, o terapeuta justapôs todas as informações com uma pergunta socrática (“Como
elas podem ser especialistas sobre se você é ‘legal’ quando realmente nem a conhecem?”).
Ser atormentado por provocações e críticas torna-se duplamente doloroso pela expectativa das crianças de que deveriam ser amadas por todos. Elas freqüentemente sentem que,
se uma criança ou um grupo de crianças as ridicularizam, então são impopulares ou rejeitadas
por todos. Simplesmente, generalizam demais
e envolvem-se em pensamentos tudo-ou-nada.
A terapia deveria orientar a criança em direção ao reconhecimento de que algumas crianças gostarão delas, outras não, e outras ainda
não terão nenhuma forma de sentimento em
relação a elas.
Há várias maneiras de ajudar crianças a lidar com as reações negativas do grupo da mesma faixa etária. Para a criança que fica desanimada pela crença equivocada “Ninguém gosta
de mim” quando outras crianças debocham dela,
criamos um tipo de teste de evidência. Por exemplo, convidamos a criança a fazer três listas. A
primeira inclui todas as crianças que debocham
dela, a segunda tem os nomes das crianças que
ela considera “legais”, que são suas amigas, e a
terceira contém os nomes de crianças que estão
no meio e não têm nenhum tipo de sentimento
por ela. Comparando as três listas, chega a uma
conclusão. A seguinte troca ilustra o processo.
ANDY: Ninguém gosta de mim. Eles dizem que
eu chuto como uma menina e que sou um
bobo. Eles riem de mim quando jogo futebol. Eu não tenho nenhum amigo.
TERAPEUTA: Andy, você gostaria de verificar
isso usando um novo instrumento?
ANDY: Tudo bem, Dr. Bob.
TERAPEUTA: Vamos pegar esta folha e fazer
três colunas. A primeira é para as crianças que debocham de você. Escreva os
nomes de todas elas.
ANDY: Que cor de lápis devo usar?
TERAPEUTA: Qualquer uma que preferir.
ANDY: Eu odeio a cor verde, então vou usar
essa cor.
TERAPEUTA: Certo, na próxima lista, todas as
crianças que são legais com você e que
acha que são suas amigas.
ANDY: Certo. Vou usar minha cor favorita para
elas.
TERAPEUTA: Agora a lista das crianças que
você conhece, mas com as quais não anda
e que não mexem com você.
ANDY: Certo.
TERAPEUTA: Muito bem! Agora, coloque estas listas lado a lado na mesa. Que lista
tem mais nomes?
ANDY: A dos meus amigos.
TERAPEUTA: Qual tem menos nomes?
ANDY: A das crianças más.
TERAPEUTA: Exatamente. Agora, como é possível que ninguém goste de você se seu
número de amigos é maior do que o das
crianças que mexem com você?
ANDY: Não é possível. Eu apenas me sinto desse jeito às vezes.
TERAPEUTA: Eu sei. Então quando se sente
desse jeito às vezes, o que pode dizer para
você mesmo?
ANDY: Isto pode ser ruim, mas a maioria das
outras crianças gosta de mim.
TERAPEUTA: E quanto a esta terceira coluna?
ANDY: Bem, a maioria das crianças gosta de
mim, algumas não gostam nem desgostam,
e apenas dois meninos mexem comigo.
TERAPEUTA: O que isso significa?
ANDY: A maioria das crianças gosta de mim.
TERAPEUTA: Vamos escrever esses novos pensamentos nos cartões.
As crianças menores precisarão de estímulos mais concretos para elaborar esta crença alternativa. Eu (RDF) aprendi uma maneira inventiva
com a Dra. Christine Padesky de fazer um teste
de evidência semelhante com uma criança pequena. Em um exercício chamado de Jogo do Amigo,
desenhamos rostos em tiras de papel. Um rosto
feliz representa um amigo, um rosto triste ou irritado representa alguém que não é amigo, e uma
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
tira de papel em branco representa uma criança
neutra. O objetivo é criar mais tiras de amigos do
que tiras de não-amigos ou neutros. O jogo começa com cada jogador se revezando para pegar uma
tira de papel. Coloca-se uma tira de amigo, uma
tira de não-amigo e uma tira neutra em uma pilha. Ao final do jogo, conta-se o número em cada
pilha, então a criança tem que chegar a uma conclusão comparando as diferentes quantidades em
cada pilha (p. ex., “Eu ainda posso ter um monte
de amigos mesmo que alguns meninos e meninas
não gostem de mim”). Como você pode ver, isso
simplifica ludicamente o tipo de trabalho apresentado na transcrição de Andy.
EXPOSIÇÃO
Tratamentos baseados em exposição ou em
desempenho dão às crianças oportunidades
para maior autocontrole e autodeterminação. É
importante que elas colaborem e participem da
experiência em vez de ver a exposição como alguma coisa feita para elas. Adam é um menino
de 9 anos altamente inteligente, atlético, socialmente habilidoso, que tem medo de elevadores.
Ele tem medo que o elevador caia ou fique preso entre os andares. Se o elevador ficar preso,
Adam prevê que irá sufocar.
O tratamento gradual baseado no desempenho para Adam começou com relaxamento e
habilidades auto-instrutivas. Ele aprendeu a
modular sua excitação fisiológica e a desenvolver pensamentos de enfrentamento. O tratamento progrediu então para oportunidades de exposição gradual e habilidades de análise racional. Ele registrava seu nível de ansiedade e seus
pensamentos e sentimentos sobre andar de elevador. Ele também obteve informações sobre
funcionamento e acidentes com elevadores.
Após coletar os dados, Adam concluiu que, embora acidentes e ferimentos em elevadores sejam possíveis, são altamente improváveis.
Adam agora estava pronto para uma exposição a seu medo: o elevador. Começamos
com Adam determinando a proximidade que ele
197
ficaria de um elevador e por quanto tempo poderia suportar a ansiedade. Como primeiro passo na hierarquia de aproximação do elevador,
Adam ficou mais ou menos a 3,50 m de um elevador e atrás da esquina. Enquanto o menino
ficava lá parado, eu (RDF) verbalizava seus pensamentos geradores de ansiedade (“Oh, não. Eu
vou ter que ir de elevador. Ele vai ficar trancado e não haverá ar suficiente para respirar. Eu
vou ficar azul e morrer.”). Adam dominou com
sucesso vários passos na hierarquia, cada vez
chegando mais perto do elevador. Logo, ele estava na porta do elevador, olhando para dentro. Para minha satisfação, ele então ofereceuse para entrar. A princípio, entrou timidamente. Então examinou toda a cabine do elevador.
Adam rapidamente identificou os fatores de
“resgate” no elevador (o telefone e a campainha de emergência) e, finalmente, proclamou
“Estou pronto para andar”.
Em seguida, desenvolvemos uma hierarquia para as viagens de elevador. Andar apenas comigo era mais fácil para Adam (“Há mais
ar para mim, você poderia me acalmar ou saber
o que fazer se ficarmos presos.”), andar em um
elevador meio cheio era mais difícil, e andar com
o elevador lotado de pessoas era mais gerador
de ansiedade. Naturalmente, começamos no
degrau mais baixo da hierarquia.
O que o exemplo de Adam ensina? Primeiro, Adam permaneceu responsável por sua exposição, planejando colaborativamente as tarefas com o terapeuta. Segundo, o uso de habilidades facilitadoras permitiu-lhe beneficiar-se
das tarefas de exposição. Terceiro, “exposições”
imaginárias, como coletar informações acerca de
elevadores e assistir a um documentário sobre
o assunto, abriram caminho para suas exposições mais concretas.
Criar oportunidades de exposição pode ser
desafiador. Primeiro, lembre-se de que a maioria das exposições deve ser realizada de maneira gradual. Segundo, tente torná-las o mais realistas possível. Há muitas vezes um elemento
teatral em criar exposições iniciais. Você pode
preferir introduzir acessórios ou fazer algum role
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playing (Hope e Heimberg, 1993). Terceiro, flexibilidade e inventividade são necessárias.
Crianças socialmente ansiosas temem fazer papel de bobo, portanto, em nosso trabalho
com estas crianças, nós as encorajamos a agir
como bobos. Podemos convidar a criança a fazer uma dança boba ou a cantar uma canção
boba na frente de seus colegas. Naturalmente,
insistimos que explorem suas próprias reações
bem como as reações de seus colegas. Evocamos as expectativas da criança antes de fazer o
exercício e então as comparamos com sua experiência real. Freqüentemente, esta é uma experiência que pode desconfirmar suas expectativas. A seguinte transcrição de parte de uma sessão de grupo ilustra o processo.
NICK: Eu não quero pular e dançar. Não é legal
e muito comum.
TERAPEUTA: O que você supõe que vai acontecer?
NICK: As pessoas vão achar que sou maluco.
TERAPEUTA: Você está disposto a testar isso?
NICK: Não.
TERAPEUTA: Que tal o resto de vocês meninos
e meninas? (O resto das crianças concorda
em tentar.) O que você deduz disso, Nick?
NICK: Eu não sei.
TERAPEUTA: Você acha que Nancy, Chloe, Matt
e Jeremy querem ser impopulares?
NICK: Não.
TERAPEUTA: Você acha que eles querem chamar você de idiota?
NICK: Não sei. Provavelmente não.
TERAPEUTA: Então, se eles não querem ser
impopulares e não querem chamar você
de idiota, não é seguro agir como bobo
neste momento?
NICK: Razoavelmente seguro.
TERAPEUTA: Você está disposto a tentar? Eu
vou agir como bobo também.
NICK: Tudo bem. (O terapeuta e as crianças dançam pela sala agindo feito bobos e cantando.)
TERAPEUTA: Como foi para você, Nick?
NICK: Bastante esquisito.
TERAPEUTA: Fale-nos sobre isso.
NICK: Eu não sei. Ummm. Eu acho que eu parecia um idiota.
TERAPEUTA: Você quer verificar isso com os
outros?
NICK: Eles acham que sou esquisito.
TERAPEUTA: Podemos perguntar a eles?
NICK: Vocês acham que sou esquisito?
NANCY: Não, nós todos fizemos igual.
JEREMY: Eu nem estava olhando para você.
CHLOE: Eu não achei que você parecia esquisito. Nós todos estávamos rindo. Foi muito
divertido.
TERAPEUTA: O que você deduz disso?
NICK: Acho que ninguém pensou que eu fosse
um idiota.
TERAPEUTA: Como foi para você perguntar
para os outros?
NICK: Assustador.
TERAPEUTA: Vamos todos falar sobre os sentimentos assustadores que temos quando
falamos e checamos coisas.
Este exemplo ilustra várias questões importantes. Revendo a transcrição, você pode perceber que a troca inclui várias fases diferentes.
Na Fase 1, o terapeuta trabalhou com a relutância de Nick em agir feito bobo. Na 2, a experiência foi tentada. A Fase 3 foi construída em
torno do processamento da experiência. Finalmente, na Fase 4, os medos de Nick de avaliação negativa foram desafiados.
Para muitas das crianças socialmente ansiosas que tratamos, ler em voz alta na frente da
turma é uma experiência penosa. O formato de
grupo é uma forma conveniente de fazer exposições graduais à leitura em voz alta. Simplesmente
encorajamos a criança a ler na frente do grupo.
Quando fazemos grupos com base na escola, geralmente realizamos nossas sessões em uma sala
de aula, pois essa atmosfera aumenta o realismo, já que a criança está lendo em voz alta para
crianças da mesma idade em uma situação que
se aproxima estreitamente de uma experiência
de sala de aula; as visões, os sons e os cheiros da
instituição educacional estão presentes.
Considere o seguinte exemplo. Marc é uma
criança de 10 anos tão dolorosamente ansiosa
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socialmente que ler em voz alta na aula é uma
tortura para ele. Sua ansiedade social mascarava consideráveis habilidades, contribuía para as
dúvidas da professora sobre suas capacidades,
abastecia seus próprios medos de avaliação negativa e diminuía sua autoconfiança.
Durante a terapia de grupo, ensinamos
Marc a fazer mais contato visual e a projetar sua
voz. Então colocamos essas habilidades para
serem testadas. Como diriam Kendal e colaboradores (1992), queríamos que Marc “mostrasse que podia”. Marc foi repetidamente convidado a ler na frente de um grupo. Inicialmente
tremia, sua voz vacilava enquanto lia relutantemente. Era difícil para os terapeutas e até para
os membros do grupo resistir ao impulso de ajudar essa criança obviamente angustiada. Entretanto, isso apenas reforçaria sua visão de si mesmo como frágil. Com a prática repetida, Marc
aprendeu a identificar os pensamentos associados a sua ansiedade. Então testou essas crenças
com a platéia (“Vocês acharam que fui ridículo?”). Subseqüentemente, as outras crianças o
tranqüilizaram de que elas não o viam como ridículo.
Mas isso não era suficiente. Sentimos que
devíamos preparar Marc para a possibilidade
de feedback negativo. Portanto, lhe perguntamos
“E se alguém achasse você um idiota?”. Ele então precisou aplicar suas habilidades de
enfrentamento a esta possibilidade. Além disso, chegamos ao ponto de apontar os leves erros em seu desempenho. A partir disso, aprendeu a lidar com nossa avaliação sem submeter
a si mesmo à crítica autodebilitante. Ele aprendeu a pensar “Eu não posso sempre ser perfeito. Até alunos muito bons cometem erros. Dois
erros não significam que eu seja estúpido”, em
vez de pensar “Eu tenho que ser perfeito e ficar
no controle, do contrário, sou um estúpido”.
Outra experiência de exposição interessante baseia-se em uma idéia emprestada da literatura sobre variáveis familiares e transtornos de
ansiedade (Chorpita e Barlow, 1998; Kendall e
cols., 1992; Morris, 1999). Para crianças que ficam ansiosas ao fazer uma nova tarefa ou se
199
apresentar na frente de outros e/ou que têm pais
perfeccionistas, excessivamente envolvidos em
seus projetos, completar um projeto na sessão é
uma ótima exposição gradual. Kits de artesanato com os quais as crianças fazem colares de
contas ou chaveiros são os projetos ideais.
Um projeto é apresentado à criança, ela
tem que completá-lo na sessão. Se você achar
que a criança tem medos em relação à realização da tarefa, sugerimos que ela faça previsões
sobre o que vai acontecer. Lembre-se de trazer
os diários de pensamento para a sessão, a fim
de tê-los à mão. Quando a criança experimenta
a ansiedade associada ao fato de realizar uma
tarefa nova ou de cometer um erro, registra-se
o momento em um diário de pensamento. À medida que a criança avança no projeto, você deve
processar seus pensamentos e sentimentos com
ela. A seguinte transcrição ilustra o processo.
TERAPEUTA: Gary, quero que você tente fazer
este chaveiro de contas. Você terá que seguir as orientações sozinho e imaginar
como fazê-lo. Eu vou observá-lo e perguntar como você está se sentindo e o que
está passando pela sua cabeça. Você está
pronto?
GARY: Claro. Eu gosto deste chaveiro de tubarão.
TERAPEUTA: Sim, é muito legal. Certo, pode
começar.
GARY: (Abre a caixa e começa a ler as instruções.
Começa a fazer o projeto e a ter alguma dificuldade.)
TERAPEUTA: O que está passando pela sua cabeça neste momento?
GARY: Eu não consigo fazer. Eu vou me atrapalhar todo. Você vai me ajudar? Eu estou
tão confuso.
TERAPEUTA: Como você está se sentindo?
GARY: Nervoso.
TERAPEUTA: Em uma escala de 1 a 10, nervoso quanto?
GARY: Talvez um 8. Você pode me explicar
como se faz?
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200
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TERAPEUTA: Eu quero que você tente sozinho.
Não desista e veja o que consegue fazer.
GARY: (Continua trabalhando sozinho.) Estou conseguindo. Olhe. Eu fiz a barbatana. Foi
complicado.
TERAPEUTA: Como você está se sentindo agora?
GARY: Orgulhoso.
TERAPEUTA: O que está passando pela sua cabeça?
GARY: Eu fiz sozinho. Foi difícil.
TERAPEUTA: Foi parecido com o que acontece
na escola?
GARY: Bem parecido.
TERAPEUTA: Em uma escala de 1 a 10, 1 sendo
completamente diferente, e 10 sendo idêntico, o quanto foi parecido?
GARY: Mais ou menos um 8.
TERAPEUTA: Então foi muito parecido. O que
isso lhe diz sobre lidar com novas tarefas?
GARY: Eu posso fazer, se ficar calmo.
TERAPEUTA: Como foi eu não ter ajudado?
GARY: A princípio, me incomodou.
TERAPEUTA: O que o incomodou?
GARY: Eu achei que era maldade sua.
TERAPEUTA: Se eu o ajudasse, você teria se
sentido tão orgulhoso?
GARY: Provavelmente não.
TERAPEUTA: Então o que isso lhe diz sobre tentar coisas novas sozinho?
GARY: Ainda que me apavore no início, se ficar
calmo, eu posso fazer, mesmo sozinho.
O que podemos aprender desta troca? O
terapeuta ajudou Gary a persistir na tarefa mesmo tendo ficado ansioso e solicitado mais orientações. Segundo, o terapeuta processou a experiência (identificou pensamentos e sentimentos após a realização da tarefa, traçou semelhanças entre a experiência e a situação escolar de
Gary). Finalmente, ajudou Gary a formar uma
nova conclusão sobre si mesmo nessas situações
baseado na experiência.
O projeto de artes e ofícios também fornece uma exposição gradual às variáveis parentais
que contribuem para a ansiedade das crianças.
Pais perfeccionistas e supercontroladores não
ficarão de fora e não deixarão que seus filhos
façam a tarefa sozinhos. Antes, provavelmente
orientarão a criança, corrigirão seus erros ou
possivelmente assumirão a tarefa. É bastante difícil para esses pais se absterem e deixar que seu
filho “faça confusão”. A criança, por sua vez,
começa a ver qualquer falha como um desastre.
Sendo constantemente ajudada, a confiança em
sua capacidade de enfrentamento é enfraquecida.
O projeto deve ser apresentado como uma
tarefa a ser realizada. Dar instruções ambíguas
é adequado aqui (p. ex., “Vá em frente e faça.”),
pois isso permitirá que surjam os padrões de
interação familiar típicos. Quando esses padrões
de interação aflorarem na sessão, esteja pronto
para processar os pensamentos e os sentimentos associados a eles.
Experiências de exposição podem ser
introduzidas e simplificadas para crianças pequenas. Luz Vermelha, Luz Verde é uma variação
terapêutica do jogo infantil de mesmo nome.
Com as crianças alinhadas uma do lado da outra, a uma distância razoável do líder, conforme o espaço permita, o líder grita “Luz Vermelha” ou “Luz Verde”. Se gritar “Luz Verde”, as
crianças são livres para mover-se para a frente,
em direção ao líder. Inversamente, quando grita “Luz Vermelha”, as crianças devem ficar imóveis no lugar. Nesta versão psicológica do jogo,
o comando “Luz Verde” serve a vários propósitos. Quando as crianças permanecem imóveis
ao grito de “Luz Vermelha”, você pode usar essa
experiência para ensinar-lhes sobre os efeitos da
ansiedade. Figurativamente, a imobilidade reflete estar tenso de medo e representa a paralisia emocional que freqüentemente acompanha
a ansiedade. As crianças podem ser instruídas
a examinar seus corpos em busca de sinais de
tensão. A crescente capacidade de identificar
estes bolsões de tensão pode servir como base
para o treinamento do relaxamento.
Ficar imóvel na “Luz Vermelha” também
é uma experiência de exposição gradual. Isso
induz o imaginário gerador de ansiedade. Para
uma criança que teme o ridículo, a avaliação
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negativa e o embaraço, você pode construir
uma imagem em que ela é exposta a crítica.
Você pode fazê-la imaginar-se levantando a
mão em aula, sendo chamada pela professora
e esquecendo a resposta. A criança então tem
que aplicar uma habilidade de enfrentamento
quando o terapeuta induzir a imagem geradora de ansiedade.
Quando o Luz Vermelha, Luz Verde é feito em uma situação de grupo, as outras crianças podem servir como consultores para uma
criança se ela for incapaz de desenvolver habilidades de enfrentamento. Por exemplo, poderia ser perguntado a elas se conseguem pensar
em alguma coisa que Johnny pudesse dizer a si
mesmo para tirá-lo da imobilidade. Para muitas crianças socialmente ansiosas, simplesmente ser “colocado em xeque” em um exercício de
grupo como Luz Vermelha, Luz Verde pode ser
gerador de ansiedade. Dessa forma, você poderia usar uma abordagem aqui-e-agora para processar a ansiedade. Examine a seguinte transcrição para ter uma idéia do processo.
TERAPEUTA: Luz Verde... Certo, todo mundo
vai. Luz Vermelha, todo mundo pára. (Percebe que Johnny está enrubescendo e parece bastante constrangido.) Johnny, vamos ver como
você pode responder a seu medo. O que
está passando pela sua cabeça neste momento?
JOHNNY: Na verdade, nada.
TERAPEUTA: Como seu corpo ficou?
JOHNNY: Todo rígido.
TERAPEUTA: Concentre-se na tensão e veja
se pode ouvir seu medo falando. O que
está passando pela sua cabeça neste momento?
JOHNNY: Espero que isso acabe logo.
TERAPEUTA: Aposto que sim. Quando você
olha em volta e vê todos os outros meninos e meninas assistindo você, o que diz
para você mesmo?
JOHNNY: Isso é embaraçoso.
TERAPEUTA: Quando se sente embaraçado, o
que passa pela sua cabeça?
201
JOHNNY: Isso é estúpido. Eu pareço um idiota.
TERAPEUTA: Muito bem, agora seu medo está
falando. Vamos ver se podemos usar uma
de suas habilidades. Que habilidade você
poderia escolher?
JOHNNY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Quem pode ajudar o Johnny?
BILLY: Talvez ele pudesse tentar o Responder
ao Medo.
TERAPEUTA: O que você acha dessa idéia?
JOHNNY: Boa.
TERAPEUTA: Como você pode responder ao
pensamento “Os meninos e as meninas
vão achar que sou um idiota?”.
JOHNNY: Não tenho certeza.
TERAPEUTA: Quem pode ajudá-lo?
SALLY: Ele poderia dizer “Eu não sou um idiota, este jogo é que é estúpido”. (Os meninos e as meninas riem.)
TERAPEUTA: É uma possibilidade. Alguém
tem outra idéia?
JENNY: Ele poderia dizer “Quem se importa se
eles acham que sou idiota? Eles podem
pensar que eu sou idiota, mas talvez mais
tarde não pensem assim”.
TERAPEUTA: Outra boa idéia. Deixe-me fazerlhe uma pergunta, Johnny. O que você
acha das outras crianças o estarem ajudando?
JOHNNY: Eu não sei.
TERAPEUTA: Quantos meninos e meninas tentaram ajudá-lo?
JOHNNY: Quase todo mundo.
TERAPEUTA: Quantos riram ou debocharam de
você?
JOHNNY: Nenhum.
TERAPEUTA: Então, o que você temia aconteceu?
JOHNNY: Acho que não.
Nós o aconselhamos a manter o jogo em
movimento. Não se deve ficar com uma criança
por um período muito longo, pois assim as outras podem ficar aborrecidas e o jogo perderá
seu valor de reforço. A criança deve tornar-se
suficientemente ansiosa muito rapidamente, e
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202
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
então o terapeuta pode usar as idéias das outras crianças para moderar seu sofrimento.
Embora sejamos defensores entusiasmados do tratamento de exposição, há algumas
considerações especiais a cogitar antes de tentar abordagens baseadas em exposição. Primeiro, quando uma criança tem ansiedade e depressão coexistentes, geralmente preferimos tratar
ou focar a depressão primeiro. Diminuir a depressão antes torna o treinamento de exposição
um pouco mais fácil. Crianças deprimidas provavelmente não têm a autoconfiança necessária para enfrentar mesmo o sinal mais ínfimo
gerador de ansiedade. Segundo, a inatividade,
a passividade e o pessimismo de crianças deprimidas tornam a exposição difícil.
Desnecessário dizer, a exposição é uma
experiência intensa, portanto você deve assegurar-se de que a criança tenha liberação médica
para o procedimento. Assim, recomendamos
uma avaliação física e médica completa antes
de iniciar este tratamento. A liberação médica
dará à criança (e a você) maior tranqüilidade na
condução do procedimento.
Recompensa dos esforços de exposição
Descobrimos que recompensar os esforços
da criança na exposição é fundamental. De fato,
valorizamos demais suas realizações. Para crianças pequenas, criamos um “Distintivo de Coragem” que resume e amplifica os ganhos que realizam. O distintivo é uma forma de lembrar as
crianças de suas capacidades de enfrentar e dominar suas inseguranças.
Quando fazemos o Distintivo de Coragem,
quatro perguntas são incluídas. A primeira é,
“Qual foi o medo que enfrentei?”. Os terapeutas
podem instruir as crianças a registrarem especificamente o medo que enfrentaram (p. ex.,
“Perguntar a um grupo de crianças se eu podia
brincar”). A especificidade é muito importante,
porque o objetivo é que olhem o distintivo e lembrem exatamente de seus sucessos.
A segunda e a terceira perguntas requerem que as crianças registrem por quanto tempo e com que freqüência enfrentaram seus medos. Essas perguntas fornecem feedback concreto sobre sua capacidade de confrontar e suportar os eventos temidos. Em nossa experiência, a
mudança raramente é linear. Freqüentemente,
a evitação passada exerce uma forte atração, forçando a criança a velhos padrões de comportamento. Quando isso acontece, o Distintivo de
Coragem poderia estimular memórias positivas
associadas com enfrentamentos anteriores bemsucedidos.
A quarta pergunta pede que as crianças
façam uma lista das formas como lidam com
seus medos. Em seus exemplos, as crianças podem incluir estratégias e habilidades específicas que impulsionaram o comportamento de
abordagem. Após as experiências de exposição,
a criança pode rever suas estratégias bem-sucedidas. Um exemplo de Distintivo de Coragem é
mostrado na Figura 12.12 e um distintivo completado é ilustrado na Figura 12.13.
Há diversas formas de aumentar o valor
do Distintivo de Coragem. Por exemplo, o distintivo poderia ser plastificado e apresentado
como um certificado de modo a servir como uma
lembrança e uma recompensa duradouras. A
criança também poderia criar um distintivo pequeno. Um alfinete de segurança poderia ser
colocado na parte de trás, e a criança poderia
usá-lo preso à roupa.
Outra idéia inovadora é fornecer feedback
sobre o enfrentamento das crianças por fotografias (Kearney e Albano, 2000). As crianças poderiam ser fotografadas quando tentassem a atividade temida e a dominassem com sucesso. Os
retratos poderiam então acompanhar o distintivo. Acrescentando-os a seus Distintivos de Coragem, as crianças podem literalmente “retratar-se” lidando com o evento temido.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
203
Qual foi o medo que enfrentei?
Qual foi o medo que enfrentei?
Dizer oi para três novas crianças
do grupo, olhando para elas e
dizendo seus nomes.
Por quanto tempo enfrentei
meu medo?
Por quanto tempo enfrentei
meu medo?
Dez minutos.
Quantas vezes enfrentei meu
medo?
Quantas vezes enfrentei meu
medo?
Três vezes.
O que fiz para me ajudar a
enfrentá-lo?
Usei minhas habilidades de Responder ao Medo e de Se o Pior
Acontecer.
O que fiz para me ajudar a
enfrentá-lo?
FIGURA 12.12 Registro Meu Distintivo de
Coragem. De Friedberg e McClure (2002).
Copyright por The Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para uso pessoal.
FIGURA 12.13. Exemplo do Registro Meu Distintivo de Coragem completado.
CONCLUSÃO
tos clínicos. Neste capítulo, recomendamos múltiplas maneiras de trabalho com crianças ansiosas. Nós o encorajamos a lembrar que crianças ansiosas precisam enfrentar suas preocupações e
seus medos, em vez de apenas falar sobre eles.
Use as idéias e estratégias deste capítulo para
ensiná-las a lidar diretamente com seus medos e
a desenvolver uma auto-eficácia genuína.
Ajudar crianças ansiosas a se acalmarem e a
controlarem seus medos e preocupações exigirá
paciência e inventividade. Ensinar crianças e adolescentes a dar um passo na direção de sua ansiedade em vez de fugir dela requer um plano sistemático que inclui uma variedade de instrumen-
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13
Trabalhando com Crianças
e Adolescentes Disruptivos
SINTOMAS COMUNS DOS
TRANSTORNOS DISRUPTIVOS
Crianças disruptivas nos causam impactos diferentes de crianças ansiosas ou deprimidas. Eu (RDF) não posso esquecer a época no
início de meu treinamento, quando um menino
de de 11 anos com graves problemas de comportamento trancou-me na sala de descanso!
Essas crianças podem evocar em nós fortes sentimentos de raiva, frustração e ansiedade.
Um relato recente pelo U.S. Surgeon General (1999) observa que os transtornos disruptivos são marcados por atos anti-sociais, como
agressão, desobediência, oposição, rebeldia e
desconsideração por pessoas e propriedades. O
transtorno de conduta geralmente inclui um
padrão repetitivo e persistente, no qual a criança viola os direitos de outros ou regras e normas sociais apropriadas à idade (Associação Psiquiátrica Americana, 1994; Kazdin, 1997). Essas
violações enquadram-se em quatro amplas categorias: agressão, destruição de propriedade,
defraudação ou furto e sérias violações de regras. Mais especificamente, intimidação, brigas,
crueldade física com pessoas e/ou animais, provocação de incêndio ou roubo, fuga de casa,
mentira e falta às aulas são comportamentos representativos (Associação Psiquiátrica Americana, 1994; Kazdin, 1997). O vandalismo, a ati-
vidade sexual precoce, o uso de substâncias e a
expulsão da escola são ocorrências freqüentes
com essas crianças (U.S. Surgeon General, 1999).
Essas crianças são descritas como ressentidas,
violentas, hiperativas e desconfiadas (Kazdin,
1997). Kazdin (1993, 1997) relatou que crianças
com transtorno de conduta também demonstram baixos níveis de realização, falha em completar a lição de casa, habilidades de leitura pobres, habilidades sociais diminuídas e altos níveis de rejeição por crianças da mesma faixa
etária.
Sam é um menino de 15 anos a quem seus
pais descrevem como incorrigível. Ele foi
suspenso repetidamente da escola devido a seu
comportamento agressivo e indisciplinado, mais
recentemente, perseguiu vários outros meninos
perto da escola brandindo um pedaço de galho.
Ele alega que foi provocado por comentários rudes e por olhares dos outros. Sam é de inteligência média, mas não se aplica em seus estudos.
Na verdade, até já rasgou tarefas na aula porque
elas eram “hipócritas”. Seus pais relatam que ele
repetidamente rouba dinheiro e ignora completamente regras e regulamentos da casa. Sam tem
um registro na polícia por dirigir automóvel sem
permissão. Ele acredita que “regras foram feitas
para serem quebradas” e esforça-se para manter
uma atitude do tipo “Não se meta comigo”. Seus
pais confessam que Sam conduz a casa; eles tam-
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206
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
bém admitem ter medo dele. Seus professores
alegam que ele pode ser cooperativo quando não
lhe fazem exigências, mas em geral eles o vêem
como provocador, mentiroso e causador de problemas.
O transtorno desafiador opositivo é caracterizado por um padrão persistente de desafio, desobediência e hostilidade para com figuras de autoridade como pais e professores
(Associação Psiquiátrica Americana, 1994; U.S.
Surgeon General, 1999). Sinais específicos de
transtorno desafiador opositivo incluem discussão e brigas crônicas, acessos de raiva, altos níveis de irritabilidade/contrariedade, caráter vingativo/rancoroso, desobediência, teimosia e hábito de culpar os outros por seus próprios erros. Essas crianças são “crianças teflon”:
a responsabilidade simplesmente não gruda
nelas. Crianças menores com transtorno desafiador opositivo freqüentemente demonstram
altos níveis de intolerância à frustração, têm
dificuldade em adiar gratificação e chutam e
batem os pés (Kronenberger e Meyer, 1996).
Kronenberger e Meyer observaram que crianças mais velhas com transtorno desafiador
opositivo retrucam aos pais, revelam problemas de comportamento passivo-agressivo e são
descritas pelos pais como sensíveis, teimosas
e propensas a discussões.
Lou é um menino de 10 anos que está levando seus pais ao limite. Na escola, é obediente, cooperativo e estudioso. Entretanto, em casa,
pragueja a cada ordem de sua mãe, perde o controle com sua irmã e com os pais e geralmente
domina os membros da família mediante lutas
de poder. Lou considera as regras injustas e irracionalmente impostas a ele (p. ex., “Por que tenho que fazer isso?”) e, por fim, afasta-se de responsabilidade, externalizando a culpa (“Como
isso pode ser minha culpa?”).
Os critérios clínicos centrais para transtorno do déficit de atenção/hiperatividade são
desatenção, impulsividade e hiperatividade
(Associação Psiquiátrica Americana, 1994;
Cantwell, 1996). Uma idade de início precoce
(antes dos 7 anos), seis meses de duração e presença de problemas em mais de um contexto
são necessários para o diagnóstico (Associação
Psiquiátrica Americana, 1994). Uma criança
pode ser identificada com um tipo primariamente desatento do transtorno, um tipo hiperativoimpulsivo ou um tipo combinado. A desatenção
é marcada por sintomas como erros por descuido no trabalho escolar, dificuldade de manter a
atenção em brincadeiras ou na escola, dificuldade em organizar tarefas e, freqüentemente,
perda de coisas. A hiperatividade é caracterizada por inquietação, contorções, fala excessiva e
atução como se movido por um motor. Responder sem pensar, dificuldade de aguardar sua vez
e intromissão na conversa dos outros refletem
impulsividade.
Alice, por exemplo, é uma menina de 10
anos que professores e pais relatam que “não
pode sentar-se quieta”. Ela está freqüentemente
fora de sua cadeira na escola e não consegue
ficar sem conversar com os colegas ao lado. O
trabalho escolar de Alice é descuidado e sujo;
sua carteira parece ter sofrido o impacto de um
tornado. Ela muitas vezes esquece de fazer ou
não sabe onde colocou a lição de casa. Durante
a sessão de início, Alice arrastou-se sob o sofá
para investigar um zumbido. Sua mãe a descreve como semelhante ao personagem de desenho animado “O Demônio da Tazmânia”. Alice se sente triste e solitária porque acha que seus
colegas a rejeitam. Acredita que eles acham que
ela é “esquisita”.
CONTEXTO CULTURAL E
QUESTÕES DE GÊNERO
Taxas elevadas de comportamento anti-social são relatadas em crianças hispano-americanas, afro-americanas e nativas americanas
(Dishion, French e Patterson, 1995). Dishion e colaboradores recomendam avaliar cuidadosamente as contribuições que etnia, dificuldades econômicas, emprego limitado, relações dentro da
faixa etária, parentagem e vida em um bairro de
alto risco dão a problemas de comportamento.
Além disso, os efeitos psicológicos de opressão,
discriminação, preconceito e estereotipagem tam-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
bém são importantes. Os autores escreveram
apropriadamente, por exemplo, que “a estigmatização étnica percebida entre crianças provavelmente contribuiria para o processamento de informação social, em particular, para a probabilidade de fazer atribuições hostis em situações
ambíguas” (p.455).
Cartledge e Feng (1996a) escreveram que
crianças do sudeste asiático vivendo nos Estados Unidos encontram grandes obstáculos, como
problemas língua, pobreza, preconceito, incerteza generalizada e perda do país, de amigos, da
família e da posição social (Rumbault, 1985, citado por Cartledge e Feng, 1996a). Crianças do sudeste asiático vivendo nos EUA parecem estar
em risco para atritos na escola (Dao, 1991, citado
por Cartledge e Feng, 1996a). Chin (1990, citado
por Cartledge e Feng, 1996a) relatou que o surgimento inicial de gangues de chineses estava associado com altas tensões raciais nas escolas do
bairro (Cartledge e Feng, 1996a, p.106): “Na tentativa de escapar das pressões de uma sociedade
estranha, muitas dessas crianças entregam-se a
comportamentos autodestrutivos, como atos violentos e abuso de substâncias.
Gibbs (1998, p.179) escreve que “embora a
prevalência de transtornos de conduta entre adolescentes afro-americanos não seja conhecida,
pode-se dizer com segurança que eles têm taxas
desproporcionalmente altas de problemas de
conduta em ambientes escolares”. Os professores julgavam o potencial acadêmico dos alunos
com base em sua aparência, em seu gênero e em
sua capacidade de linguagem, e essas determinações persistiram com o tempo (Irvine, 1990, citado por Cartledge e Middleton, 1996). Citando
inúmeros outros estudos, Cartledge e Middleton
(1996) escreveram que homens afro-americanos
têm uma alta representação em encaminhamentos por problemas de aprendizagem e comportamento. De forma alarmante, estudantes afroamericanos têm de duas a cinco vezes mais probabilidade de serem suspensos do que os brancos
(Irvine, 1990, citado por Cartledge e Middleton,
1996). Carmen (1990, citado por Cartledge e
Middleton, 1996) relatou que em uma escola onde
afro-americanos respondiam por 24% da popu-
207
lação escolar, o programa de transtorno comportamental incluiu 52% de afro-americanos.
Cartledge e Middleton escreveram apropriadamente (p.149): “Desde o início de sua escolaridade formal, muitas dessas crianças aprendem que
o pessoal da escola freqüentemente desvaloriza
a forma como elas se vestem, falam, pensam, trocam experiências e vivem. Não encontrando afirmação nas escolas, elas se voltam para outros
ambientes para verificar seu valor próprio”.
Cochran e Cartledge (1996) descrevem vários fatores que colocam jovens hispânicos em
risco para problemas de comportamento disruptivo. Eles argumentam que “para uma significativa minoria de crianças hispano-americanas, as
influências negativas de pobreza, escolas inadequadas, condições de vida urbana e alienação psicológica contribuem para um foco na agressão e
na violência” (p.261). Ramirez (1998) verificou
que o transtorno desafiador opositivo era o segundo diagnóstico mais freqüente dado a crianças de origem mexicana em sua clínica.
As diferenças de gênero também são importantes nos transtornos disruptivos. Antes da
puberdade, as taxas para transtorno desafiador
opositivo são mais altas para meninos do que
para meninas, mas após ela, tornam-se iguais
(U.S. Surgeon General, 1999). A maioria dos estudos relata taxas muito mais altas de transtorno do déficit de atenção/hiperatividade em meninos do que em meninas, entretanto, Biederman
e colaboradores (1999) afirmam que um milhão
de meninas podem sofrer deste transtorno mesmo se uma cautelosa proporção de gênero de 5:1
for escolhida. Além disso, sugerem que, embora
o quadro clínico básico para transtorno do déficit de atenção/hiperatividade seja o mesmo para
ambos os, há algumas diferenças específicas na
expressão de sintomas; em seu estudo, as meninas tendiam a ter mais aspectos de desatenção,
humor e ansiedade em seu quadro sintomático
do que os meninos. Biederman e colaboradores
também argumentam que meninas com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade podem ter um risco um pouco maior para desenvolver um transtorno de abuso de substâncias.
Finalmente, concluem que podemos estar subes-
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208
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
timando a prevalência do transtorno do déficit
de atenção/hiperatividade em meninas.
O gênero molda um pouco a expressão de
sintoma no transtorno da conduta. As meninas
tendem a ter mais probabilidade de se envolverem em prostituição e comportamento de fuga
(U.S. Surgeon General, 1999). Além disso,
Further, Woodward e Ferguson (1999) verificaram que mulheres cujos problemas de conduta
aos 8 anos de idade estavam nos 10% mais altos
do distúrbio tinham um risco 2,6 vezes maior de
ficarem grávidas aos 18 anos do que seus pares
nos 50% mais baixos. Finalmente, a maioria dos
adolescentes que têm transtorno de conduta e depressão co-mórbida são do sexo masculino, enquanto mais de três quartos dos adolescentes com
ansiedade co-mórbida e transtorno de conduta
são do sexo feminino (Lewinsohn, Ruhde e
Seeley, 1995, citado por Stahl e Clarizio, 1999).
Em sua revisão, Johnson, Cartledge e
Milburn (1996) observaram que os meninos
demonstram mais agressividade do que as
meninas; os autores argumentam que, nelas, culpa e medo inibem o comportamento agressivo.
Crick e Grotpeter (1995, p. 711) descreveram a
agressão relacional em meninas. Especificamente, a agressão relacional refere-se a “comportamentos que visam significativamente a prejudicar as amizades de outra criança ou os sentimentos de inclusão pelos colegas. Crianças relacionalmente agressivas impedem seus pares de brincar junto, afastam suas amizades como uma forma de controlar outras crianças e ‘difamam’ outras crianças espalhando rumores sobre elas para
que sejam rejeitadas pelo grupo”. Crick e
Grotpeter verificaram que meninas envolvem-se
em mais agressão relacional do que meninos. Eles
concluíram que meninas rejeitadas podem prejudicar o relacionamento entre outras crianças.
AVALIAÇÃO DE PROBLEMAS DE
COMPORTAMENTO DISRUPTIVO
A Achenbach Child Behavior Checklist
(CBCL) é uma medida amplamente usada na
psicologia infantil clínica (Kronenberger e Meyer,
1996). Há escalas separadas para serem completadas por pais (Achenbach, 1991a), professores
(Teacher Report Form [TRF]; Achenbach, 1991b)
e crianças (Achenbach, 1991c). Os itens são classificados em uma escala de 0 a 2 para avaliar a
extensão em que o comportamento é representativo da criança. As escalas são adequadas para
crianças de 4 a 18 anos. Comparar relatos de
diferentes fontes de dados é uma excelente estratégia clínica (1996, p. 27). Por exemplo,
Kronenberger e Meyer escreveram que “um perfil TRF carregado de problemas, juntamente com
um perfil CBCL relativamente normal, sugere
que a criança pode comportar-se adequadamente no ambiente familiar menos estruturado, mais
individualizado e, ao mesmo tempo, tornar-se
desorganizada e mal-comportada na escola”.
O Eyberg Child Behavior Inventory (ECBI;
Eyberg, 1974, 1992; Eyberg e Ross, 1978) é outra
listagem que avalia padrões de comportamento disruptivo. Os pais relatam os problemas de
comportamento de seus filhos em uma escala
Likert de sete pontos, adequada para crianças
de 2 a 16 anos. Entretanto, a escala focaliza-se
mais em problemas de comportamento irritantes do que em problemas de conduta mais severos (Kazdin, 1993). Há uma variação do ECBI
para professores. O Sutter-Eyberg Student
Behavior Inventory (SESBI; Sutter e Eyberg, 1984)
contém alguns itens idênticos aos do ECBI e itens
específicos para o ambiente escolar. Semelhante
à interpretação da escala de Achenbach, ele é útil
para comparar relatos de diferentes fontes.
As Conners Parent Rating Scales (CPRS) e
as Conners Teacher Rating Scales (CTRS;
Conners, 1990) são extensivamente pesquisadas
e amplamente usadas na avaliação de TDAH
(Kronenberger e Meyer, 1996). Há diferentes formulários, que variam em tamanho. Visto que as
Escalas de Conners enfatizam sintomas de transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, elas
são particularmente eficazes se você necessitar de
um exame mais profundo e mais exato de sintomas específicos de transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (Kronenberger e Meyer, 1996).
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
ABORDAGEM DE TRATAMENTO
comportamentais básicas. Conforme a natureza dos problemas disruptivos da criança, diferentes habilidades comportamentais serão oferecidas. Dependendo das circunstâncias, técnicas como treinamento de habilidades sociais ou
treinamento do relaxamento podem ser úteis.
Os pais geralmente aprendem estratégias básicas de manejo da criança para acalmar seu comportamento agressivo e disruptivo, como as técnicas para treinamento parental, descritas no Capítulo 14. O treinamento de resolução do problema familiar e abordagens personalizadas de
resolução do problema para a criança disruptiva
também estão incluídos nesta segunda fileira.
A terceira fileira reflete técnicas cada vez
mais sofisticadas. Nela, ensinamos habilidades
Visto que os transtornos de comportamento disruptivo são caracterizados por múltiplos
problemas comportamentais, o tratamento
multimodal funciona melhor. A Figura 13.1 ilustra os diferentes componentes conceituais e uma
seqüência proposta. Começamos com educação
sobre o modelo de tratamento. Crianças e adolescentes disruptivos geralmente não entram no
tratamento com motivação para mudar. Antes,
geralmente querem que os outros mudem
(DiGiuseppe, Tafrate e Eckhardt, 1994). Portanto, envolvê-los na razão do tratamento é crucial.
A segunda fileira envolve ensinar às crianças e aos seus responsáveis as habilidades
PRIMEIRA FILEIRA
Educação/Socialização
ao Tratamento
+
Automonitoração
SEGUNDA FILEIRA
Habilidades
Comportamentais/de
Enfrentamento
Pai
+
Resolução do Problema
Criança
Criança
REALIZAÇÕES BASEADAS NO DESEMPENHO
Família
TERCEIRA FILEIRA
Treinamento da
Empatia
Habilidades de Enfrentamento Auto-instrutivas
REALIZAÇÕES BASEADAS NO DESEMPENHO
QUARTA FILEIRA
Análise Racional
Técnicas Cognitivas
209
+
Raciocínio Moral
REALIZAÇÕES BASEADAS NO DESEMPENHO
FIGURA 13.1 Abordagem de tratamento com crianças disruptivas.
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210
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
auto-instrutivas para ajudar crianças disruptivas
a repensarem situações e substituirem diálogos
internos provocativos por autoconversa calmante. Além disso, uma vez que crianças disruptivas
que se comportam de forma agressiva freqüentemente carecem de empatia, acrescentamos um
componente de treinamento da empatia.
As técnicas incluídas na quarta fileira representam os procedimentos cognitivos mais complexos. Procedimentos de análise racional, como
reatribuição, focalizam-se na exploração de alternativas e na diminuição de preconceitos atributivos hostis das crianças. Devido às descobertas
de que crianças agressivas costumam carecer de
uma ligação moral com os outros (Goldstein,
Glick, Reiner, Zimmerman e Coultry, 1987), tentativas de aumentar suas capacidades de raciocínio
moral são indicadas. Nessa fase do tratamento, as
crianças são apresentadas a dilemas morais e discutem a razão moral para suas decisões.
Em cada fileira, realizações baseadas no
desempenho acompanham a aquisição de habilidades específicas. Como com os tratamentos
para depressão e ansiedade, técnicas cognitivocomportamentais precisam ser aplicadas no contexto de excitação afetiva negativa (Robins e
Hayes, 1993). Exercícios, atividades e atribuições
baseadas no desempenho permitem que as crianças pratiquem o que estamos pregando a elas.
CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS
COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
DISRUPTIVOS
Estabelecer um bom relacionamento com
a criança disruptiva é fundamental. Os relacionamentos terapêuticos devem basear-se na confiança, no entendimento, no respeito e em um
senso de autenticidade. Como conseguimos isso
com crianças disruptivas? Para nós, a imposição de limites é fundamental. Sabendo o que é
esperado, as crianças sentem-se seguras. Entretanto, em nossa experiência, descobrimos que é
relativamente fácil adotar um estilo autoritário
rígido ou escorregar para um estilo excessiva-
mente permissivo com esses jovens clientes.
Não é interessante que isso pareça corresponder
às estratégias parentais disfuncionais que acompanham os comportamentos disruptivos dessas
crianças?
A fim de estabelecer fronteiras terapêuticas, todos devemos conhecer nossos próprios
limites. O que é um comportamento aceitável e
o que é inaceitável? Por exemplo, uma criança
pode dizer palavrão na sessão? Se ela pode usar
linguagem obscena, pode usar qualquer palavra “feia” que queira ou algumas palavras são
proibidas? Ela pode colocar os pés sobre uma
cadeira? Ela pode ter uma sessão se estiver drogada? Para sermos claros com essas crianças, temos que ter limites claros em nossas cabeças.
Após estabelecermos nossos limites objetivamente, devemos ser consistentes em sua imposição, pois consistência promove confiança.
Se você estabelecer um limite e não se desviar
dele, está dizendo que suas palavras e ações têm
significado. Acreditamos que se você tem que
dizer “Confie em mim” para uma criança, provavelmente não está cumprindo os limites que
estabeleceu. Limites também comunicam seu
interesse pela criança, portanto, quando você demonstra preocupação e confiança através da imposição de limites flexíveis, a terapia torna-se
um lugar seguro.
Considere o seguinte exemplo. Eu (RDF)
estava fazendo terapia com um grupo de adolescentes internados com transtornos de comportamento disruptivo. Uma das regras do grupo era que ninguém tinha permissão para ferir
a si ou a outra pessoa. Durante a sessão, percebi que uma menina tinha alguma coisa brilhante em sua mão e parecia estar se picando com
aquilo. Perguntei-lhe o que tinha na mão e ela
me mostrou um clipe de papel ensangüentado.
Nesse ponto, eu a tranqüilizei (e ao resto do grupo) impondo um limite. Eu disse “Eu preciso
ter certeza de que você não vai se ferir. Vou cuidar de você agora, pedindo que vá até a sala da
enfermagem para limpar seu pulso e fazer um
curativo. Depois de fazê-lo, volte para o grupo
e vamos conversar sobre o que está acontecen-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
do com você. Eu não vou deixar você se ferir no
grupo”. Ao limitar a criança com autoridade,
comuniquei minha preocupação.
Flexibilidade também é importante na imposição de limites com crianças disruptivas. Sem
flexibilidade, você pode entrar em lutas de poder indesejadas e desenvolver conflitos. Em um
outro exemplo, na mesma unidade, eu estava em
grupo com vários adolescentes disruptivos e
indisciplinados. Um novo membro, encaminhado pelo juizado de menores, entrou na sessão.
Ele tinha um antecedente de gangue e uma história de agressividade. Como a maioria das crianças agressivas, era bastante territorial e controlador. No início da sessão, desafiou minha liderança, proclamando “Vamos ter um problema
porque estou no controle. Eu estou louco para
bagunçar tudo por aqui”. Ele estava claramente
tentando me apavorar – e, honestamente, estava
conseguindo! Eu me perguntei “Como posso
impor o limite sem piorar a situação?”. Decidi
dizer “Eu estou numa situação difícil, agora. Você
está me assustando, mas eu ainda tenho que fazer o meu trabalho”. Felizmente, os membros do
grupo responderam, dizendo “Não assuste o
doutor”. O adolescente recuou e o grupo prosseguiu. Porque esse limite funcionou? Primeiro,
acho que o jovem precisava saber que podia me
assustar; ela conseguiu uma vez, e foi suficiente
para ele. Segundo, precisava saber claramente
que eu não soltaria as rédeas do grupo. Assim,
ele podia me amedrontar, mas eu tinha que fazer o meu trabalho. Terceiro, o grupo ajudou-me,
reforçando o meu limite.
ENSINANDO OS PAIS SOBRE O
MANEJO DO COMPORTAMENTO E A
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
FAMILIARES
Nesta seção, descrevemos primeiro os padrões de interação familiar que contribuem para
os transtornos do comportamento disruptivo em
crianças e então sugerimos estratégias que podem reparar essas interações. É importante começar com uma discussão dos processos preju-
211
diciais porque eles formam a base lógica para
as intervenções.
Barkley e colaboradores (1999) descrevem
os processos que prejudicam as famílias. Primeiro, há um baixo nível de reforço para qualquer
obediência existente, ou seja, os pais negligenciam os comportamentos positivos e consideram quase exclusivamente os comportamentos
negativos. Na verdade, prestar atenção sempre
ao negativo é cansativo, então os pais ficam frustrados e agitados em relação à desobediência e
ao desafio. Barkley e seus colaboradores observam que, dependendo de suas circunstâncias individuais, os pais ou responsáveis entram em
um ciclo de punição inconsistente ou de consentimento inadequado. Em outras palavras, as
conseqüências dos desafios não são devidamente declaradas. Os pais então apelam para ameaças raivosas. O relacionamento pai-filho deteriora-se com insultos, afrontas e palavrões
destrutivos, processos familiares coercivos se estabelecem, o conflito interpessoal aumenta e a
auto-estima de todos fica abalada (Barkley e
cols., 1999).
Barkley e colaboradores (1999) observam
apropriadamente que pais e filhos agarram-se
obstinadamente a ressentimentos uns contra os
outros. Achamos que esses ressentimentos formam uma parede de processamento de informação que bloqueia a capacidade de cada membro da família ver qualquer comportamento
positivo no outro. Por exemplo, se uma adolescente criou um ressentimento contra sua mãe e
a vê como uma “cadela controladora”, será relativamente incapaz de ver os comportamentos
carinhosos e responsivos de sua mãe. Por outro
lado, se a mãe vê sua filha como uma “mulherzinha desafiadora, incontrolável”, será, da mesma forma, incapaz de ver o “bom” comportamento de sua filha. Isso pode explicar a mentalidade de “trincheira de guerra” que vemos em
muitas famílias com comportamento disruptivo.
Em função de todos esses fatores, os pais
começam a abdicar de seu papel parental
(Barkley e cols., 1999), desistem de acompanhar
o comportamento de seus filhos e adotam uma
atitude “seja o que Deus quiser”. Barkley obser-
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212
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
va que essa submissão parental está relacionada
com aumentos em uma variedade de formas mais
severas de comportamento disruptivo.
Há várias razões compelativas para iniciar
o manejo do comportamento familiar, aumentando o nível de reforço positivo (Barkley e cols.,
1999). Primeiro, aumentar o nível de reforço
positivo combate esse tom familiar tenso e hostil. Segundo, devido ao emprego excessivo de
técnicas gastas de punição e resposta que fazem
os pais, seus filhos provavelmente habituaramse a essas intervenções. Terceiro, técnicas de reforço positivo servem como um contrapeso ao
que os pais já estão fazendo. Finalmente, devido ao uso excessivo de técnicas de punição, coerção e palavrões, os pais tornaram-se estímulos aversivos para seus filhos e, portanto, é improvável que a criança escute seus conselhos.
Para modificar esse clima crítico e hostil,
bem como restabelecer a autoridade parental,
Barkley e colaboradores sugerem uma intervenção simples, embora sofisticada. Eles recomendam ensinar os pais a darem ao filho uma ordem para fazer alguma coisa de que ele goste e
então recompensar sua obediência. Por exemplo, se uma criança gosta de bolo de chocolate,
o pai/responsável pode dizer ao filho “Andy,
vá servir-se de um pedação de bolo como sobremesa”. Então, quando Andy obedecer, será
recompensado (“Obrigado por fazer o que eu
lhe disse para fazer.”).
A beleza dessa técnica é que ela não apenas melhora o clima familiar, mas também dá
aos pais uma oportunidade de praticar comandos e reforçar a obediência. Além disso, seu uso
bem-sucedido restabelece o funcionamento executivo adequado aos pais. Eles podem reafirmar
que são a autoridade legítima na casa sem apelar para coação ou punições.
A despeito da simplicidade e do caráter
direto dessa tarefa, precisamos acrescentar várias advertências. Primeiro, você provavelmente precisará ensinar o pai a dar essas ordens.
Lembre-se: os pais estão vindo a seu consultório
trazendo uma história de dar instruções vagas e
indiretas, portanto você precisará modelar como
dar a instrução, representar o papel com os pais
para ajudá-los a praticar, dar-lhes feedback corretivo sobre a prática, incluir a criança na sessão,
praticar novamente com o pai dando a ordem ao
filho e fornecer feedback adicional.
Por exemplo, suponha que um pai começa o exercício com o comando “Josie, você gosta
de ir ao shopping. Pode ir com suas amigas”.
Pense no que é problemático em relação a este
comando! Primeiro, o pai não estipulou quando Josie podia ir. Era agora mesmo? Esta noite
após o jantar? Amanhã? Segundo, quanto tempo Josie pode ficar? Uma hora? Seis horas? O
dia inteiro? Quais seriam as expectativas, uma
vez ela estando lá? Fazer tudo o que quiser?
Outra cautela é assegurar-se de que o pai
é sincero com o comando. Os pais podem dar a
ordem falsamente ou de uma maneira sarcástica. Preste atenção não apenas ao que os pais dizem mas a como dizem. Observe sua postura corporal e suas expressões faciais. Comandos falsos sabotam sua eficácia.
Elogiar a criança por obediência espontânea é outra forma de aumentar seu nível de comportamento positivo e de recompensa na família (Barkley e cols., 1999). Você pode ensinar o
pai a procurar momentos em que não ocorram
mau comportamento ou desafio. Ao tentar atrair
a criança quando ela está em seu melhor comportamento, os pais estão desviando seu conjunto de atenção. Esta técnica pode diminuir o
pensamento tudo-ou-nada das famílias (i. e., os
pais acham que o filho é sempre mal-humorado
e desrespeitoso; o filho acha que os pais o vêem
apenas sob uma luz ruim). Dessa forma, cada
membro ganha uma perspectiva mais ampla do
outro.
Barkley também recomenda treinamento
de resolução do problema familiar com crianças disruptivas e desafiadoras. Em famílias angustiadas, os processos de resolução do problema tornam-se muito rígidos. Seu objetivo é
afrouxar esses padrões. Deve-se ajudar os membros da família a diferenciar entre questões negociáveis e inegociáveis. Como dar ordens, isso
parece mais simples do que realmente é. Os pais
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
podem inconscientemente passar mensagens
mistas a seus filhos. Tomemos, por exemplo, a
mãe que pega sua filha de 16 anos beijando o
namorado em seu quarto. Ela proclama “Faça
isso lá fora. Eu não quero você fazendo sexo na
minha casa.” A mãe realmente queria comunicar que sexo era uma questão inegociável. Entretanto, o que sua filha ouviu foi que tudo bem
ela fazer sexo, desde que não fosse na sua casa.
Portanto, você terá que trabalhar diligentemente para ajudar pais e filhos a separarem itens
negociáveis de inegociáveis.
Blos (1979, p. 147) observou que adolescentes problemáticos com freqüência “fazem todas as coisas erradas pelas razões certas”. Em
sua tentativa de se tornarem indivíduais e formarem suas identidades, os adolescentes rebelam-se. Os pais não podem gratificar a maioria
das exigências dos adolescentes e estes, conseqüentemente, tornam-se frustrados. A resolução
do problema familiar ajuda a lidar com conflitos em torno dessas frustrações.
Há uma das modificações de Barkley bastante compelativa. Em sua abordagem, os
terapeutas ajudam pais e filhos a ouvirem os
problemas do ponto de vista do outro. Esse processo pode atenuar padrões rígidos e abre caminho para uma resolução do problema mais
produtiva. Ser capaz de ouvir o problema a partir da perspectiva do outro não será fácil para
muitos pais e filhos angustiados, portanto, sugerimos que você adote uma postura relativamente diretiva.
Clementine é uma menina de 16 anos que
está em conflito com sua mãe por causa de suas
roupas. De acordo com sua mãe, Clementine
está usando roupas reveladoras e passando o
“tipo errado de mensagem”. A mãe tem vigiado Clementine “como um gavião”, monitorando
de perto sua escolha de roupas para a escola. O
problema chegou a um ponto crítico quando a
mãe descobriu que Clementine levava uma
muda de roupas em sua mochila para a escola.
Veja se você consegue determinar como o seguinte diálogo determinou os processos de resolução do problema entre mãe e filha.
213
TERAPEUTA: Mamãe, diga a Clementine o que
a preocupa em relação à maneira como ela
se veste.
MÃE: Ela parece uma ordinária. Ela vai conseguir uma má reputação ou algo pior.
CLEMENTINE: Eu sei o que estou fazendo. Você
não tem que se preocupar comigo. Você
está fazendo isso apenas por você mesma...
TERAPEUTA: Eu vou interromper vocês agora, Clementine. Eu estou pedindo que apenas escute, então terá uma chance de falar em seguida. Você está disposta a fazer
isso comigo?
CLEMENTINE: (Relutantemente.) Tudo bem.
TERAPEUTA: Bom. Agora, mamãe, o que lhe
incomoda em relação a Clementine ficar
com má reputação?
MÃE: Eu apenas não quero que isso aconteça.
Ela é tão jovem. Eu quero protegê-la.
TERAPEUTA: Entendo. Qual a razão para você
querer protegê-la tanto?
MÃE: Ela é minha filha.
TERAPEUTA: Ajude-nos a entender. O que em
relação a ela ser sua filha a faz se importar tanto?
MÃE: Eu a amo.
TERAPEUTA: Entendo. Você realmente se preocupa que os trajes de Clementine dêem
a impressão errada e a coloquem em situações perigosas, então luta para protegêla porque a ama e não quer que coisas ruins lhe aconteçam.
MÃE: Isso mesmo.
TERAPEUTA: Clementine, o que você ouviu sua
mãe dizer?
CLEMENTINE: Ela acha que eu não posso cuidar
de mim mesma, então ela tem que tomar
conta de mim. Isso me deixa aborrecida.
TERAPEUTA: Espere um segundo. Pense no
que você ouviu ela dizer. Qual a razão
para a mamãe tentar tomar conta de você?
CLEMENTINE: Ela diz que é porque me ama.
TERAPEUTA: Agora parece que você não acredita nela, e não precisa, mas estou perguntando se você poderia olhar para a mamãe
e repetir o que ouviu ela dizer.
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214
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
CLEMENTINE: Você disse que quer me proteger porque me ama e não quer que nada
de ruim me aconteça.
TERAPEUTA: Agora, Clementine, qual você
acha que é a razão de sua mãe gostar de
tomar conta?
CLEMENTINE: Ela não confia em mim. Acha que
só porque me visto desse jeito vou fazer alguma coisa estúpida. Eu apenas quero parecer assim. Eu sou eu, e ela não pode me
aceitar se eu não me parecer com ela.
TERAPEUTA: O que lhe aborrece em relação à
mamãe não confiar em você?
CLEMENTINE: Ela acha que sou idiota e que
sou uma menininha.
TERAPEUTA: O que você quer dela?
CLEMENTINE: Eu quero que ela me respeite e
entenda que eu não sou uma idiota. Eu
quero que ela me veja como alguém que
pode tomar conta de si mesma.
TERAPEUTA: E se ela visse você daquela maneira, o que significaria?
CLEMENTINE: Que ela gosta de mim e me
aprova.
TERAPEUTA: Você realmente quer que a mamãe a veja como você é e a aprove. Mamãe, você pode repetir o que você ouviu
Clementine dizer?
MÃE: Eu sei que ela quer que eu a aceite, mas o
que vejo às vezes me assusta.
TERAPEUTA: Mamãe, quero apenas que veja
se pode dizer a Clementine o que ouviu-a
dizer.
MÃE: Ela quer que eu me afaste e demonstre
que gosto dela e a aprovo.
Nesse diálogo, o terapeuta ajudou a tornar
as motivações da mãe e de Clementine mais visíveis (A mãe a ama, Clementine quer que a mãe
a aprove). Segundo, quando as verdadeiras motivações aparecem, cada membro da família beneficia-se da perspectiva mais ampla. Fazendo
isso, elas se tornaram menos entrincheiradas em
seu próprio argumento e foram capazes de se envolver no processo de resolução do problema.
EDUCAÇÃO E AUTOMONITORAÇÃO
Explicar as razões e o foco do tratamento é
uma questão especialmente fundamental no trabalho com crianças que têm problemas de comportamento disruptivo e agressivo. Freqüentemente,
essas crianças nos vêem mais como adversários do
que como aliados. DiGiuseppe e colaboradores
(1994) comentaram que envolvê-las no tratamento é dificultado por sua tendência a culpar os outros por seus problemas. Por exemplo, o objetivo
de Romy, 14 anos, para o tratamento era que sua
mãe parasse de agir como uma cadela. Mudar sua
própria rebeldia e seu comportamento desafiador
era uma coisa secundária.
Apresentar o modelo de comportamento ABC
é um primeiro passo educativo típico com essas crianças (Barkley e cols., 1999; Feindler e
Guttman, 1994). No modelo ABC, “A” representa os antecedentes ou gatilhos para o comportamento, “B” significa o comportamento * e “C”
representa as conseqüências que aumentam ou
diminuem a freqüência do comportamento.
Gostamos do modelo ABC porque ele é muito
simples: quase todo mundo entende que “A”
vem antes de “B”, e “C”, depois de “B”. Raramente usamos palavras técnicas como “antecedentes” ou “conseqüências”, preferimos expressões como “as coisas que vêm antes” e “as coisas que vêm depois.”
Por exemplo, considere a visão de Romy
do problema. Como primeiro passo, você poderia pedir-lhe para definir o comportamento de
“cadela” (B) da mãe. Para ela, significava sua mãe
censurando-a, gritando com ela, controlando-a.
Então, pergunte o que acontece após o comportamento da mãe (p. ex., Romy não obedece, o que
aumenta a intensidade/freqüência de conseqüências desagradáveis). Em seguida, você deveria tratar os “A”, ou as coisas que Romy faz que
evocam o “comportamento de cadela” da mãe
(p. ex., violar o horário de chegar em casa, não
escutar). O modelo ilustra de maneira simples
como o comportamento de Romy contribui para
sua própria definição do problema. Fazendo isso,
*N. de T. Em inglês, behavior.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
você pode ajudá-la a ver como, mudando seus
padrões de comportamento, pode diminuir o
comportamento problemático da mãe.
Brondolo, DiGiuseppe e Tafrate (1997) oferecem várias formas interessantes de apresentar o tratamento a crianças disruptivas. Crianças disruptivas e agressivas freqüentemente têm
um interesse fixo em agir de forma desordeira e
má. De fato, a agressividade pode ser uma competência em alguns bairros violentos (Howard,
Barton, Walsh e Lerner, 1999). Dishion e colaboradores (1995, p.437) escreveram que “crianças
agressivas [...] vivem em um mundo no qual são
freqüentemente atacadas e, como conseqüência,
suas tendências podem ser um reflexo preciso
de suas altas taxas básicas para tal comportamento”. Portanto, Brondolo e seus colaboradores (1997) recomendam estruturar o tratamento
como uma forma de manter maior controle, em
vez de uma forma de tolerar maus tratos. Usar
treinamento de artes marciais ou outras analogias esportivas pode ser útil para ilustrar esses
pontos (Brondolo e cols., 1997; SommersFlannagan e Sommers-Flannagan, 1995).
Em geral, consideramos exercícios experienciais simples úteis na educação dessas crianças. Por exemplo, suponha que Drake é um menino de 13 anos impulsivo, disruptivo e agressivo. Drake acredita que não tem escolha a não ser
agir assim. Os outros o fazem discutir e brigar.
Como seu terapeuta, você pode fazer uma bola
com um pedaço de papel. Pergunte a Drake:
“Você sabe agarrar uma bola?”. Após sua resposta, pergunte: “Posso arremessar-lhe esta bola?”.
Você então arremessa a bola de papel para Drake.
Após ele tentar agarrá-la, indague: “Fiz você
agarrar a bola?”. Esse pequeno exercício demonstra que, embora a situação possa tipicamente
exigir uma determinada resposta, a circunstância não determina absolutamente a ação do indivíduo; ele podia ter feito qualquer outra coisa.
Vernon (1989a) oferece um exercício criativo que eu (RDF) adotei com crianças hospitalizadas. Eu começo a atividade dizendo aos
clientes que vamos conduzir uma experiência.
Pego um ovo e lhes pergunto: “O que é isto?”.
215
No segundo passo, anuncio que vou bater o ovo
do lado de uma tigela e pergunto: “O que vai
acontecer agora?”. No terceiro passo, quebro o
ovo e digo: “Dêem uma olhada na tigela. Quem
sabe o que aconteceu?” Inevitavelmente, as
crianças relatam que o ovo quebrou. Finalmente, faço a pergunta-chave de Vernon: “Mas o ovo
escolheu quebrar?”.
Gostamos desse exercício porque ele demonstra muito simplesmente a noção de escolha. Após fazê-lo, você pode perguntar às crianças quais são as diferenças entre elas e um ovo.
A discussão costuma gerar um melhor entendimento das formas como a impulsividade passa
por cima da razão. Comumente refiro-me novamente ao exercício quando uma criança reage de forma irracional e pergunto: “Você está
sendo um ovo?”.
As técnicas de automonitoração podem
incluir réguas, termômetros, sinais de trânsito
e/ou botões de volume. Pode-se escolher a técnica de graduação baseando-se nos interesses e
nas preferências da criança; por exemplo, uma
criança que aprecia corrida de carros pode adotar um medidor de nível de gasolina como uma
analogia para a raiva (ver Figura 13.2). A criança pode desenhar o medidor em um pedaço de
cartolina e recortar uma flecha indicadora. Ela
então prende a flecha à cartolina com algum tipo
de fecho, assim, a flecha pode mover-se de um
lado a outro.
As crianças também precisam traçar os antecedentes e as conseqüências de seus comportamentos disruptivos. A maioria dos adolescentes têm as habilidades para completar um mapa
no qual os listam (Feindler e Ecton, 1986; Feindler
e Guttman, 1994). Para as crianças menores, você
ALTO
BAIXO
FIGURA 13.2 Medidor de nível de gasolina de
raiva.
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216
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
pode ter que “embelezar” o processo. Por exemplo, você poderia equiparar os antecedentes a
campainhas que sacodem a criança, impulsionando-a a comportamentos de atuação. Um registro
com campainhas desenhadas pode ser facilmente desenvolvido (ver Figura 13.3).
Gostamos da metáfora da campainha porque ela pode levar a várias direções. Você poderia trazer uma campainha de um jogo de tabuleiro para ser o Tabu, a fim de incrementar o registro. Os efeitos de som podem ser bastante
envolventes para as crianças, a metáfora da campainha pode sinalizar enfrentamento subseqüente e você pode perguntar: “Como você pode vencer a campainha?”. Terceiro, achamos campainha
uma palavra mais neutra do que “gatilho” com
crianças irritadas. Finalmente, por vezes usamos
verbos de ação em nossas perguntas para ajudar as crianças a identificar suas campainhas
(“O que inflama sua raiva?” ou “O que abastece a sua raiva?”).
As crianças podem ser instruídas a completar um diário de pensamento sempre que se
sentirem irritadas ou que tiverem uma discussão com um dos pais. Feindler e colaboradores
(Feindler e Ecton, 1986; Feindler e Guttman,
1994) desenvolveram dispositivos de automonitoração muito acessíveis, que chamam de Registros de Disputa. Em seus Registros de Disputa, as crianças monitoram seus pensamentos,
sentimentos e comportamentos preenchendo
um formulário. Situações e reações prototípicas
Campainhas de raiva com os pais.
Campainhas de raiva com professores.
Campainhas de raiva com amigos/colegas.
Campainhas de raiva com irmãos ou irmãs.
Outras campainhas de raiva.
FIGURA 13.3 Campainhas de raiva. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The Guilford
Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para uso
pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
são registradas, e as crianças precisam apenas
checar o que aconteceu, assim, há pouca exigência por respostas escritas.
Fundamental para nós ao fazer o trabalho
de enfrentamento da raiva é ajudar as crianças
a diferenciar entre sentir-se irritado e agir agressivamente ou disruptivamente. É necessário que
a criança saiba que é normal sentir raiva, mas
também que não é certo ferir a si mesma ou a
outras pessoas quando está com raiva. Para
crianças menores, usamos uma forma muito específica e concreta para ajudá-las a aprender a
diferença entre estar com raiva e comportar-se
agressivamente.
Casey era um menino de 9 anos que nos
foi encaminhado por seu comportamento agressivo e disruptivo. No início do tratamento, foi
ensinado a perceber a diferença entre a emoção
e o comportamento. Casey desenhou uma figura de si mesmo quando estava com raiva. Pediu-se que desenhasse uma figura dele mesmo
fazendo alguma coisa quando estava com raiva. Casey desenhou uma figura em que estava
chutando outro menino. Eu (RDF) perguntei
então a ele quais dessas figuras eram coisas certas. A princípio, ele achou que tanto os sentimentos de raiva quanto o comportamento irritado não eram certos. Mais tarde, após conversarmos sobre os sentimentos serem aceitáveis,
mas o comportamento não, Casey foi capaz de
diferenciar entre sentimentos e ações. Ele escreveu “Certo” abaixo do rosto irritado e “Não é
certo” abaixo do desenho do chute.
RESOLUÇÃO INDIVIDUAL DE
PROBLEMAS
A resolução de problema é freqüentemente
outra “proposta” difícil para crianças e adolescentes disruptivos, portanto ensiná-los a resolverem problemas torna-se ainda mais crítico. Eu
(RDF) desenvolvi originalmente esta idéia com
adolescentes internados (Friedberg, 1993). Na
primeira fase, o terapeuta arremessa uma bola
de espuma para a criança. (Assegure-se de que
217
a seja de espuma!) Depois de o cliente agarrá-la,
o terapeuta pergunta: “É comum para você agarrar uma bola quando ela é arremessada para
você?”. Então o terapeuta instrui a criança a fazer qualquer outra coisa que não seja pegar a
bola (p. ex., desviar o corpo, rebater a bola com
a mão, etc.). Após a criança fazer algumas coisas diferentes, o terapeuta processa a experiência com ela (“Como foi fazer alguma coisa diferente?”).
Então qual é a questão? Esse exercício serve a diversos propósitos. Primeiro, o jogo é divertido. Segundo, a criança provavelmente será
surpreendida pela atividade e não estará exatamente segura do que fazer. Terceiro, o exercício
oferece prática experimental em gerar opções,
desse modo, abrindo caminho para a resolução
do problema.
A resolução de problema com crianças
disruptivas requer considerável flexibilidade e
capacidade de reforço. Por exemplo, ao discutir
estratégias de resolução de problema alternativas,
um adolescente respondeu “Ei, doutor, por que
eu deveria deixar de vender drogas, ganhando
$500 por semana, para trabalhar no McDonalds?
O carro que você tem é uma piada”. Para ajudar
um adolescente como esse a desenvolver alternativas mais produtivas, você tem que considerar o
valor de reforço de cada opção. Evidentemente,
para esse jovem, os benefícios financeiros imediatos da venda de drogas eram mais importantes
do que as conseqüências da atividade criminosa.
Quando explicamos essa questão a nossos
supervisionados, construímos uma analogia simples. Imagine que você tenha que fazer uma dieta. Como parte dela, você tem que deixar de comer bolo – que você adora! Em vez de comer um
pedaço de bolo, você tem que comer uma cenoura (P.S. Nada contra cenouras!). Provavelmente
você está pensando “Argh, uma cenoura em vez
de bolo? Você deve estar brincando!”. A cenoura
simplesmente nem chega perto das propriedades prazerosas do bolo, portanto, quando tentamos substituir estratégias mal-adaptativas por
outras mais produtivas, substituir bolo por cenoura é o fim.
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218
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
Outra estratégia na resolução do problema é trabalhar abstratamente. Esses indivíduos
vivem no agora e freqüentemente adotam uma
filosofia “viva intensamente, morra jovem”. Eu
(RDF) me lembro de um cliente adolescente que,
solicitado a pensar sobre as conseqüências futuras de seu comportamento, respondeu: “Por
que tenho que me preocupar com meu futuro?
Vou estar morto aos 18 ou 19 anos. A maioria
dos meninos que conheço estará morta ou na
prisão”. Nessas circunstâncias, você tem que
ajudar os adolescentes a ver o quanto a resolução de problema pode servir melhor a suas necessidades imediatas.
Considere o seguinte exemplo. Wesley é
um adolescente de 16 anos determinado a ser o
cara mais malvado, mais desagradável, mais
desordeiro da escola. Ele não vê vantagens em
mudar sua postura. Aqui está um exemplo de
como a resolução de problemas pode ajudar.
TERAPEUTA: Então, Wesley, há alguma coisa
que queira e que não tem neste momento?
WESLEY: Na verdade, não.
TERAPEUTA: Nada? Realmente?
WESLEY: Bem, eu gostaria de sair com uma garota, Caty.
TERAPEUTA: Entendo. Você tem saído muito
com garotas agora?
WESLEY: Não muito.
TERAPEUTA: Quanto, talvez duas vezes por mês?
WESLEY: Tudo bem. Eu não estou saindo com
ninguém.
TERAPEUTA: Hmmm. Como você supõe que
as garotas de que gosta o vêem?
WESLEY: Não sei. Eu não posso ver dentro da
cabeça delas.
TERAPEUTA: Como elas agem quando você
está por perto?
WESLEY: Como se tivessem medo de mim.
TERAPEUTA: Isso faz muito sentido – você é o
cara mais malvado da escola, você deve
assustar um monte de gente. Você os ensinou bem. Agora, esclareça-me novamen-
te, como esse comportamento lhe dá tudo
o que você quer?
Neste exemplo, o terapeuta ligou o comportamento de Wesley às conseqüências diretas.
Ele queria que as meninas de sua aula se sentissem atraídas por ele, mas, na verdade, ele as assustava com seu comportamento. Este exemplo
é bom porque Wesley escolheu um tema significativo para ele (namorar), e o terapeuta foi capaz de ajudá-lo a ver como seu comportamento
estava lhe causando problemas nessa área.
A resolução de problemas tem cinco passos
básicos. Especificá-los em algum tipo de acrônimo
é um instrumento acessível para as crianças. Em
Trocando Canais (Friedberg e cols., 1992), explicamos detalhadamente os passos da solução de problema em um acrônimo COPE *, em que “C” representa captar o problema, “O” refere-se a escutar as opções, “P” significa prever as conseqüências
a longo e a curto prazos e “E” representa examinar
os resultados antecipados e então agir baseado
nesta revisão. Nós geralmente acrescentamos um
“R” a este modelo para tornar a criança um
COPER**. O “R” é de auto-recompensa por seguir
os passos e tentar uma ação produtiva. Esses passos da resolução de problema podem ser colocados em um cartão e plastificados para futura referência (Castro-Blanco, 1999).
Kazdin (1996) usa cinco sugestões verbais
para facilitar a resolução de problema pró-social.
Cada sugestão é uma forma de auto-instrução. As
sugestões incluem: (1) “O que devo fazer?”; (2)
“Eu tenho que examinar todas as minhas possibilidades”; (3) “É melhor eu me concentrar e manter o foco”; (4) “Eu preciso fazer uma escolha” e
(5) “Eu me saí bem” ou “Oh, cometi um erro”
(Kazdin, 1996, p.383). Como você pode ver, esses
passos lembram muito o modelo COPER descrito
acima. Kazdin também recomenda atividades
experienciais para ensinar a resolução de problema como raciocínio sequencial através do jogo
Junte Quatro. Gostamos especialmente do conceito
de Kazdin (p.384) de “supersolucionadores”, em
*N. de T. Em inglês, enfrentar, lutar e vencer.
**N. de T. Em inglês, vencedor.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
que pais e filhos recebem tarefas in vivo para a
resolução do problema.
PROJEÇÃO DE TEMPO
Consideramos a projeção de tempo particularmente útil para ajudar crianças a superar
as conseqüências de suas ações e colocar seus
impulsos em perspectiva. Imagine que você está
trabalhando com Tom, um menino de 11 anos
que acabou de ser suspenso por três dias, pois
brigou no bar da escola. Você o tinha visto aproximadamente seis vezes antes deste incidente.
Durante a sessão, você escolhe usar a projeção
de tempo para ajudá-lo a obter uma perspectiva sobre o incidente.
TERAPEUTA: Tom, quando Steve cortou sua
frente no bar da escola, o quanto você ficou irritado, em uma escala de 1 a 10?
TOM: Foi mais ou menos um 9. Foi por isso que
o empurrei.
TERAPEUTA: Certo. Mais ou menos uma hora
mais tarde, o quanto estava irritado?
TOM: Talvez um 7 ou 8.
TERAPEUTA: Você o teria empurrado e batido
nele se estivesse com esse grau de raiva?
TOM: Provavelmente. Eu odeio ficar com raiva desse jeito. Eu tenho que fazer alguma coisa.
TERAPEUTA: O quanto ainda sentia raiva seis
horas mais tarde, no jantar?
TOM: Eu não sei. Talvez um 5.
TERAPEUTA: Você o teria empurrado e batido
nele com um 5?
TOM: Talvez, não tenho certeza.
TERAPEUTA: Entendo. Então seis horas mais
tarde não tem certeza se faria a mesma
coisa. E um dia mais tarde? O quanto está
irritado hoje em relação a isso?
TOM: Talvez um 3. Eu ainda estou um pouco
chateado.
TERAPEUTA: Você tem vontade de bater nele
agora?
TOM: Não, mas naquela hora tive.
219
TERAPEUTA: Eu sei que teve. Mas deixe-me
perguntar-lhe isto: seus sentimentos de
raiva e sua necessidade de bater nele duraram mais ou menos um dia, certo?
TOM: Acho que sim.
TERAPEUTA: Quanto tempo durou sua suspensão?
TOM: Três dias.
TERAPEUTA: Deixa eu entender isso direito.
Então você está pagando por um dia de
raiva com três de suspensão?
TOM: É.
TERAPEUTA: Que resultado isso tem para você?
O que esta troca ilustra? Primeiro, Tom e
seu terapeuta rastrearam sua raiva durante um
tempo. Segundo, associaram o nível de raiva a
suas ações. Terceiro, o terapeuta socraticamente
conduziu a descoberta de Tom de que, embora
sua raiva durasse apenas um curto período, ele
estava pagando por suas ações impulsivas por
um tempo mais longo.
TREINAMENTO DE
HABILIDADES SOCIAIS
Nesta seção sugerimos diversas formas
adicionais de aumentar habilidades sociais com
crianças disruptivas. Tendemos a usar abordagens de habilidades sociais com essas crianças
para diminuir seus comportamentos agressivos
e antagonísticos, diminuir intromissões/interrupções inadequadas, aumentar o comportamento pró-social e as habilidades de fazer amizades. Atividades disponíveis ajudarão a tornar
concretos princípios de habilidades sociais abstratos.
Cochran e Cartledge (1996) convidam os
terapeutas a usarem a “montagem” como um exercício de habilidade social. Montagem (Aronson,
1978, citado por Cochran e Cartledge, 1996) é um
exercício no qual um grupo de crianças recebe
um projeto, que é dividido em suas partes constituintes. Cada criança é responsável por se especializar em sua parte e precisa ensiná-la às
outras crianças. Plantar um jardim, construir um
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220
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
castelo de areia e representar histórias são apenas alguns exemplos de montagem que Cochran
e Cartledge oferecem.
A montagem oferece aos terapeutas múltiplas oportunidades. Por exemplo, as crianças
poderiam receber um projeto para construir um
modelo. Cada criança recebe uma porção das
orientações e torna-se especialista nela. Elas têm
que interagir e cooperar para completar as tarefas. Basicamente, a forma como interagem umas
com as outras é uma amostra genuína de comportamento. Você pode intervir para ressaltar
interações adequadas e fornecer feedback reativo
sobre interações sociais inadequadas.
O Vaso de União é outra forma divertida de
promover melhores habilidades sociais (Cartledge
e Feng, 1996a). Um vaso é colocado em uma sala
de terapia de grupo. Se o terapeuta observar qualquer membro do grupo envolvido em comportamento pró-social, como ser empático, escutar ou
responder sem agressividade à confrontação, ele
coloca uma bola de gude no vaso. O terapeuta dá
recompensas especiais aos membros do grupo
quando o total de bolas de gude atinge uma determinada quantidade. Você também poderia
convidá-los a reforçarem uns aos outros colocando bolas de gude no vaso, oferecendo assim um
reforço sempre que eles vêem um colega interagindo bem.
Concordamos com vários autores que defendem o uso de literatura e de filmes populares como formas de ensinar habilidades sociais
(Cartledge e Feng, 1996a, 1996b; Cartledge e
Middleton, 1996; Cochran e Cartledge, 1996). Livros, filmes e música podem facilitar maior
responsividade cultural. Biografias de Jackie
Robinson, Malcolm X, Thurgood Marshall,
Harriet Tubman, Cesar Chavez, Henry Cisneros
e outras fornecem bons modelos de papel para
crianças não-brancas. Os títulos específicos que
recomendamos incluem Hoops (Myers, 1981),
Fast Sam, Cook Clyde, and Stuff (Myers, 1975),
Scorpions (Myers, 1988), Famous All Over Town
(Santiago, 1983), In the Year of the Boar and Jackie
Robinson (Lord, 1984), New Kids on the Block: Oral
Histories of Immigrant Teens (Bode, 1989), Hawk,
I Am Your Brother (Baylor, 1976), Racing the Sun
(Pitts, 1988) e I Speak English for My Mom (Stanek,
1989) (Cartledge e Feng, 1996a, 1996b; Cartledge
e Middleton, 1996; Cochran e Cartledge, 1996;
Lee e Cartledge, 1996). Para adolescentes e crianças que não lêem bem, filmes e documentários
podem dar conta do recado como instrumentos
de ensino.
O Positive Adolescent Choices Training
(PACT) é um programa inovador de prevenção
de violência especificamente criado para adolescentes afro-americanos de 12 a 15 anos de
idade (Hammond e Yung, 1991), bastante sensível a questões raciais, étnicas e culturais. As
habilidades de comunicação, negociação e resolução do problema são ensinadas às crianças
através de instrução direta e modelagem por
videoteipe. Em geral, o treinamento é feito em
grupos de 10 a 12 adolescentes. Eles aprendem
seis habilidades: dar feedback positivo, dar
feedback negativo, aceitar feedback negativo, resistir à pressão de seus pares, resolver problemas e negociar. Role playing e psicodramas são
apresentados em vinhetas filmadas para facilitar a modelagem. Conforme argumentam
Hammond e Yung (1991, p.365), “Modelos que
captam o estilo distinto de subculturas adolescentes de minoria são mais verossímeis e convincentes para eles”.
As habilidades e os videoteipes do PACT representando modelos de adolescentes afro-americanos estão disponíveis em uma série de vídeos
e em um manual de orientação (Hammond, 1991).
Os videoteipes, com duração de 14 a 20 minutos,
enfatizam três conjuntos básicos de habilidades.
Em Dando, as crianças aprendem a expressar crítica, desapontamento, raiva e/ou desprazer de
uma maneira calma e autocontrolada. Além disso, o vídeo prepara a criança para melhor resolução de conflito. Recebendo ajuda adolescentes a escutar, entender e reagir à crítica e à raiva dos outros de maneira produtiva. A negociação é ensinada com a habilidade Elaborando. Neste, as crianças aprendem habilidades de escuta, de identificação de problemas, de geração de soluções alternativas e de compromisso.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
TREINAMENTO DA EMPATIA
Crianças agressivas e violentas não têm
empatia pelos outros (Goldstein e cols., 1987).
Se tivessem verdadeiramente empatia pelo alvo
de seus atos agressivos, teriam menos probabilidade de atacar. Eu (RDF) me lembro de um
incidente que testemunhei quando trabalhava
como consultor em uma pré-escola. Os professores estavam tendo dificuldade com uma criança que batia, mordia e chutava os colegas, tornando a rotina escolar difícil para as outras
crianças. Quando observei a sala de aula, a
criança queria um lápis de cor que outra estava
usando. Quando a outra criança não deu o lápis, mordeu-lhe o braço com força. A professora correu para a criança e declarou com firmeza
“mordida dói!”. A criança olhou incrédula para
a professora e então saiu caminhando para outra parte da sala de aula.
Por que a intervenção dessa professora foi
ineficaz? A criança malcomportada já sabia que
“mordida dói”. Na verdade, esta foi a razão ter
mordido a outra! O problema era que ela não se
importava em fazer a outra criança sofrer. Sua
necessidade do lápis de cor suplantava sua preocupação pelos outros. A professora teria tido
mais sucesso se tivesse aplicado uma conseqüência negativa para o comportamento e trabalhado na construção das habilidades de empatia
da criança.
Acreditamos que o treinamento da empatia precisa ser ativo. Como não acreditamos que
crianças agressivas tenham empatia, geralmente adotamos uma abordagem gradual ao treinamento. Para as crianças mais desprovidas de
empatia, pode-se começar o treinamento assistindo a um filme ou lendo um livro com personagens que experimentam diferentes sentimentos e estressores (p. ex., ser provocado, ser maltratado). Crianças sem empatia podem ter dificuldade em responder a personagens reais.
Usar personagens fictícios é um passo para longe de personagens reais. Portanto, praticamos
as habilidades com estes personagens primeiro para construir a capacidade empática. Muitos terapeutas escolhem usar filhotes (cães, ga-
221
tos) como primeiro passo. Certamente achamos
que este também é um bom começo, a menos
que a criança seja cruel com animais.
A terapia de grupo é especialmente adequada para o treinamento da empatia. O exercício do grupo permite oportunidades para a
prática na vida real. Considere este exemplo:
Eddy, um menino de 9 anos, viu Josh chorar no
grupo. Eddy automaticamente chamou-o de
“bebezinho chorão”. Naturalmente, o foco do
grupo desviou-se para a interação entre Josh e
Eddy. Como você poderia usar isso como um
momento de ensino terapêutico?
Sugerimos que você trabalhe com Eddy
para que ele adquira um senso de como Josh
se sente. Por exemplo, você poderia perguntar-lhe “Quando chamou Josh de bebê chorão,
como ele parecia?”, “O que ele poderia ter dito
para ele mesmo?”, “O que ele fez?” e “Como
você acha que ele se sentiu?”. Além disso, você
poderia preferir focalizar-se nas motivações
de Eddy: “Como você queria que Josh se sentisse quando você o xingou?”, “Por que Josh
sentir-se daquele jeito incomoda você?”, “Se
alguém lhe xingasse, como se sentiria?”, “O
quanto seus sentimentos são iguais e diferentes dos de Josh?”. Finalmente, uma vez que
Eddy tenha adquirido um pouco de empatia
por Josh, recomendamos que Eddy comunique seu entendimento (p. ex., “O que você
pode dizer ao Josh que vai mostrar-lhe que o
entende?”).
ABORDAGENS AUTO-INSTRUTIVAS
Acreditamos que crianças com raiva precisam ser preparadas para abordagens auto-instrutivas. De Propósito ou Sem Querer é um tipo
de técnica auto-instrutiva impressa, elaborada
para diminuir a tendência perceptiva hostil de
uma criança agressiva. O instrumento inclui 10
eventos; a tarefa da criança é determinar se eles
acontecem “de propósito” ou “sem querer”. Estes itens são acompanhados por duas perguntas (ver Figura 13.4). A primeira pede que a
criança liste cinco maneiras de dizer se alguém
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222
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
fez alguma coisa de propósito ou sem querer.
Essa pergunta ajuda a criança a desenvolver diferentes formas de interpretar situações interpessoais. A última pergunta, “Por que é importante aprender a decidir se alguém faz alguma
coisa de propósito ou sem querer?”, reforça o
motivo da técnica.
Uma forma útil de usar o instrumento é
fazer a criança ler cada item e decidir se o evento aconteceu de propósito ou sem querer. Você
pode então envolver a criança em uma discussão sobre o que pesou em sua decisão. Fazendo isso, pode-se ajudar a criança a determinar
com mais exatidão se o comportamento de alguém foi deliberado. Após realizar o exercício,
a criança pode ser instruída a escrever a pergunta em um cartão. Você pode sugerir que
faça essa pergunta a si mesma antes de tirar
automaticamente conclusões sobre as intenções
dos outros.
Descobrimos que as metáforas melhoram
as técnicas auto-instrutivas. Uma metáfora que
pode ser útil em seu trabalho com crianças irritadas é “Colocando as Brigas no Gelo”. Quando as crianças colocam as brigas no gelo, usam
habilidades de imaginação e de autocontrole
para esfriar sua raiva. O procedimento começa
com uma discussão do instrumento e sua finalidade; então as crianças imaginam ou desenham a si mesmas sentadas em um bloco de
gelo. Elas praticam o desenvolvimento de afirmações “congelantes” e as registram em uma
folha ou em um cartão. A Figura 13.5 mostra
um exemplo do registro.
Para cada coisa listada abaixo, circule se acontece a você de propósito ou sem querer.
Um colega não o cumprimenta.
De propósito
Sem querer
Sua mãe pede para você lavar a louça.
De propósito
Sem querer
Sua professora o chama pelo nome errado.
De propósito
Sem querer
No recreio, sua(seu) amiga(o) respinga leite no seu lanche.
De propósito
Sem querer
Seu(sua) amigo(a) não lhe dá presente de aniversário.
De propósito
Sem querer
Alguém corta sua frente na fila.
De propósito
Sem querer
Alguém esbarra na sua carteira quando não está olhando aonde vai.
De propósito
Sem querer
Alguém pega seu lápis e não devolve.
De propósito
Sem querer
Um(a) colega debocha de você e lhe xinga.
De propósito
Sem querer
Alguém lhe lança um olhar estranho.
De propósito
Sem querer
Liste cinco maneiras de você dizer se alguém faz alguma coisa de propósito ou sem querer.
1. ______________________________________________________________________________________________________________________
2. ______________________________________________________________________________________________________________________
3. ______________________________________________________________________________________________________________________
4. ______________________________________________________________________________________________________________________
5. ______________________________________________________________________________________________________________________
Por que é importante aprender a decidir se alguém faz alguma coisa de propósito ou sem querer?
_______________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________
FIGURA 13.4 De Propósito ou Sem Querer. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The
Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para
uso pessoal.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
223
Desenhe a si mesmo sentado neste bloco de gelo.
Pinte o gelo com uma cor fresca.
Escreva cinco afirmações congelantes.
1.
______________________________________________________________________________________________________________
2.
______________________________________________________________________________________________________________
3.
______________________________________________________________________________________________________________
4.
______________________________________________________________________________________________________________
5.
______________________________________________________________________________________________________________
Da próxima vez que sentir muita raiva e estiver pronto para derreter, imagine-se sentado neste bloco de gelo
pensando em suas cinco afirmações congelantes.
FIGURA 13.5 Colocando as Brigas no Gelo. De Friedberg e McClure (2002). Copyright por The
Guilford Press. Os compradores deste livro têm permissão para fotocopiar esta figura apenas para
uso pessoal.
O seguinte diálogo ilustra como se poderia usar o exercício Colocando as Brigas no Gelo
com um menino de 12 anos.
TERAPEUTA: Muito bem, Eric. Quando você
fica com raiva e está pronto para brigar,
como se sente?
ERIC: Muito quente, como se eu estivesse queimando por dentro.
TERAPEUTA: Entendo. Ajudaria se você descobrisse um jeito de esfriar?
ERIC: Acho que sim.
TERAPEUTA: Concordo. Quando você se mete
em brigas, é quase como se estivesse derretendo. Vamos ver se juntos podemos
encontrar um jeito de você colocar suas
brigas no gelo. Aqui tem um exercício.
(Apresenta a folha.) Quero que você desenhe a si mesmo sentado sobre este gelo.
Divirta-se.
ERIC: (Desenha na folha.)
TERAPEUTA: O que você poderia dizer a si
mesmo para esfriar?
ERIC: Talvez “Congele!”, “Pare!”, “Pense no que
está fazendo!”.
TERAPEUTA: Bom. Você acha que poderia propor mais cinco declarações que pudesse
tentar?
ERIC: Acho que sim.
TERAPEUTA: Eu também quero que você tente se imaginar sentado neste bloco de gelo
quando ficar com muita raiva e estiver
pronto para brigar. Você acha que pode
ficar com a figura que você desenhou na
cabeça?
O que este diálogo ensina? Primeiro, o
terapeuta usou metáforas para ilustrar a raiva
(ter um derretimento; colocar as brigas no gelo).
Segundo, auto-instruções (“O que você poderia
dizer a si mesmo para esfriar?”, “Eu também
quero que você tente se imaginar sentado neste
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224
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
bloco de gelo...”) foram aplicadas. Terceiro, o
terapeuta integrou a técnica de imaginação ao
exercício.
Crianças disruptivas simplesmente não
param e pensam. Retrate Isto (Friedberg, 1993) é
uma técnica tipo jogo desenvolvida com adolescentes internados para ajudá-los a se tornarem menos impulsivos. O jogo é geralmente jogado em grupos de crianças com figuras de revistas. Preferivelmente, as figuras são reunidas
com estímulos, e há muita coisa acontecendo
nelas. São duas rodadas. Na primeira, a figura
é apresentada por aproximadamente cinco segundos, e os participantes têm 10 segundos para
registrar tudo que puderem lembrar. Se dois ou
mais jogadores tiverem a mesma resposta, cada
um recebe 0 pontos. Além disso, a profundidade do processamento é recompensada. Quando
os jogadores sintetizam, integram ou combinam
estímulos, recebem pontos de bonificação. Por
exemplo, “Uma menina vale 1 ponto, uma menina sentada em uma varanda vale 2 pontos e
uma menina sentada em uma varanda acariciando um cachorrinho vale 3 pontos.”.
Na segunda rodada, o tempo de exposição é aumentado para 15 segundos, e as crianças têm 10 segundos para registrar sua lembrança. Após jogar a segunda rodada, você ajuda as
crianças a associar o jogo com o processo de
pare-e-pense. Por exemplo, pode-se perguntar
“Em que rodada você viu mais coisas?”, “Como
foi parar e pensar?” e “Quando foi mais fácil
resolver o problema, quando parou e pensou nas
coisas ou quando apenas agiu?” e então associar parar e pensar com seus problemas atuais:
“Quando você pára e pensa?”, “Você acha que
parar e pensar poderia ajudá-lo a ter um entendimento mais profundo de seus problemas?”.
Simon Diz é um outro jogo não-ameaçador
que pode ensinar a crianças menores o benefício de parar e pensar. Como se pode perceber,
Simon Diz requer que os jogadores prestem
atenção, escutem e inibam seus comportamentos devido a comandos simples. Não é possível
ir bem no jogo se for desatento e desobediente.
Simom Diz apresenta-se como uma forma di-
vertida de ensinar crianças a responder a comandos. Ao jogá-lo, você pode processar diferentes
tipos de instruções, como perguntar “Como foi
fazer o que Simon disse?”, “O que fez você conseguir fazer o que Simon disse?” ou “O que você
teve que fazer para se sair bem no Simon Diz?”.
Além disso, você poderia perguntar “Como
você foi capaz de parar de fazer coisas?”, “O
que você precisou fazer para não sair fora do
jogo?” e “Quais das habilidades do Simon Diz
você pode usar na escola e em casa?”.
Há inúmeras maneiras de ensinar às crianças habilidades de parar e pensar; apitos são instrumentos acessíveis para isso. Por exemplo,
você poderia escolher usar uma analogia de esportes, como “Pais e professores freqüentemente
agem como juízes! Quando uma falta é marcada,
um juiz sopra o apito e o jogo tem que parar”.
Você e a criança poderiam criar uma lista de situações comuns e então decidir se a situação é
uma “falta” e merce um apito. Bandeiras de penalidades também poderiam ser usadas em lugar de um apito, as crianças poderiam desenhálas ou pintá-las.
TÉCNICAS DE ANÁLISE RACIONAL
As técnicas de análise racional para o enfrentamento da raiva funcionam melhor com
adolescentes do que com crianças menores. Semelhante ao trabalho com crianças ansiosas e
deprimidas, a análise racional deve ser feita
quando elas estiverem mais moderadas do que
severamente agitadas.
O primeiro conjunto de técnicas são procedimentos de reatribuição. Lembre que as
cognições de crianças com raiva envolvem atribuições hostis de intenção maléfica (Dodge,
1985), portanto devem perguntar a si mesmas
“Qual seria outra explicação para a situação?”.
Consideremos o seguinte exemplo. Imagine-se
atuando em uma escola. Jake, um menino de 14
anos com quem você está trabalhando, vem à
sua sala. Ele está agitado porque Omar o xingou. Ele acredita que Omar o está testando, o
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
fazendo de bobo, e que sua masculinidade está
sendo colocada em questão. Ele acredita que
deve se vingar e dar uma lição em Omar.
JAKE: Eu vou pegá-lo durante o recreio. Eu vou
mostrar a ele que não pode me desrespeitar.
TERAPEUTA: Você está tão furioso que de fato
pretende atacar Omar para mostrar-lhe
que você é machão.
JAKE: Você pegou bem!
TERAPEUTA: O que está passando pela sua cabeça neste momento?
JAKE: Ele está me expondo. Todo mundo está
esperando para ver o que vai acontecer.
Se eu não brigar, vão achar que estou com
medo dele. Eu vou perder o controle.
TERAPEUTA: O quanto você ficará no controle
se brigar com ele?
JAKE: Muito. Se eu bater nele com força suficiente.
TERAPEUTA: Ele realmente o estimulou. O volume da sua raiva aumentou muito.
JAKE: Você pegou bem!
TERAPEUTA: Agora parece que Omar está tomando conta do botão de volume.
JAKE: Como é que é?
TERAPEUTA: Pegando Omar, o quanto você
está no controle?
JAKE: Eu sou fora de controle. Eu sou um maníaco. É por isso que ninguém se mete comigo.
TERAPEUTA: Então é possível que brigar e pagar a pena por toda essa briga o deixa mais
fora de controle?
JAKE: Talvez. Mas eu ainda sou o machão.
TERAPEUTA: Você pode ser o machão sem brigar?
JAKE: Por quê?
TERAPEUTA: Quando você pensa que é o machão, acha que é o máximo?
JAKE: Eu sou o máximo.
TERAPEUTA: E se é tão fácil elevar o volume
de sua raiva, o quanto você é o máximo?
JAKE: (Fica em silêncio.)
TERAPEUTA: Você parece um pouco confuso.
225
O que esta troca ensina? Primeiro, o
terapeuta usou a analogia do botão de volume
de um rádio para ajudar Jake a ver que Omar
estava aumentando o volume de sua raiva. Segundo, tentou abalar a crença de Jake de que
brigar o torna um homem. Terceiro, o terapeuta
tentou criar dúvida e confusão em relação à
crença de Jake de que brigar era o máximo e significava que ele estava no controle.
Muitas crianças agressivas estão certas de
que há apenas uma forma de explicar as coisas
que acontecem. Por exemplo, durante uma sessão de grupo com pacientes internados, um adolescente raivoso que chamarei de Simon percebeu um colega olhando para ele com a cabeça
ligeiramente levantada e com os braços cruzados. Imediatamente pensou “Esse cara está me
testando. Ele está me desrespeitando”. A criança estava certa da perseguição. Nesse ponto,
Simon precisava desenvolver atribuições alternativas. Examine o seguinte diálogo para ver
como ajudar uma criança a formar reatribuições.
SIMON: Olhe para ele. Ele está só esperando
para ver o que vou fazer!
TERAPEUTA: O que o faz pensar que ele o está
desrespeitando?
SIMON: Eu sei das coisas. Ele está me dando os
sinais.
TERAPEUTA: Que sinais?
SIMON: Desrespeito.
TERAPEUTA: Entendo. Então você vê a cabeça
dele levantada como uma espécie de teste
de sua masculinidade?
SIMON: Você pegou bem.
TERAPEUTA: E se isso significar outra coisa
qualquer?
SIMON: Como o quê?
TERAPEUTA: Eu não sei. Talvez ele esteja apenas cansado. Se ele estiver apenas cansado, você pode estar se dando a todo esse
trabalho por nada. Você tem coragem suficiente para procurar outras razões?
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226
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
O terapeuta reestruturou a reatribuição
como um ato de coragem (“Você tem coragem
suficiente para procurar outras razões?”).
O pensamento tudo-ou-nada caracteriza
muitos adolescentes disruptivos. Eles pensam em
categorias dicotômicas e rotulam os outros como
“bons” ou “maus”. Na verdade, vendo alguém
como um “sacana total”, desafiá-lo torna-se uma
resposta mais aceitável. Portanto, freqüentemente
usamos uma técnica de continuum para ajudar
adolescentes a desafiarem seu pensamento tudoou-nada.
Tomemos o exemplo de Mitch, que está em
freqüente conflito com o Sr. Robinson, seu professor. Mitch é agressivo e desafia suas ordens. Ele
vê o Sr. Robinson como um “sacana total”. Evidentemente, Mitch não quer obedecer a alguém
que considera mau. Portanto, usando a técnica de
continuum, o terapeuta está tentando encontrar
uma forma de Mitch ver o Sr. Robinson de uma
maneira menos tudo-ou-nada.
O procedimento básico começa colocandose os rótulos classificatórios do cliente em cada
extremidade da dimensão (ver Figura 13.6). Assim, Mitch coloca “sacana total” em uma extremidade e seu oposto, “totalmente legal”, na outra extremidade do continuum. Então Mitch precisa definir as duas extremidades do continuum.
A seguinte transcrição ilustra o processo.
TERAPEUTA: Então, Mitch, o que torna alguém
um completo sacana?
MITCH: Eles são desprezíveis. Eles percebem
cada erro que você comete. Eles esperam
que você se atrapalhe.
TERAPEUTA: E quanto à forma como tratariam
seu carro? Se eles entrassem nele e fossem
embora correndo?
MITCH: Isso seria uma coisa muito sacana de
fazer.
TERAPEUTA: E quanto a roubar alguma coisa
favorita sua?
MITCH: É. Seria uma sacanagem.
TERAPEUTA: Alguma outra coisa torna alguém
um sacana para você?
MITCH: Ser grosseiro com a minha família. Talvez ser cruel com meu cão.
TERAPEUTA: Agora e quanto à outra extremidade? O que alguém faz para ser totalmente não-sacana?
MITCH: Eles são legais.
TERAPEUTA: Fale-me mais. Como você sabe
quando alguém é legal?
MITCH: Eles nunca me incomodam. Eles me
deixam ser eu. Eles tocam música em alto
volume e dirigem rápido.
TERAPEUTA: Como agem na escola? Eles estudam? Eles retrucam aos professores?
MITCH: Eles são legais. Eles nunca retrucam.
Estudam as coisas que acham importantes.
TERAPEUTA: Entendo. Vamos ver quem podemos colocar nesta linha. Onde ficariam
seus melhores amigos? A que distância da
extremidade estariam? E seu irmão? Seu
pai? Sua mãe? O cara que bateu no seu
carro? O Sr. Robinson? (ver Figura 13.6)
MITCH: (Completa o diagrama.)
TERAPEUTA: Quando você examina a linha, ela
parece dizer “O Sr. Robinson é um total,
100% sacana”?
MITCH: Não, mas ele está na extremidade.
TERAPEUTA: Você acha que seu pai e sua mãe
são sacanas?
MITCH: (Pausa) Não.
TERAPEUTA: A que distância na linha ele está
deles?
MITCH: Muito perto.
TERAPEUTA: Então o que isso significa?
MITCH: Talvez ele seja um pouco sacana, mas
não totalmente.
TERAPEUTA: O que isso faz com sua raiva em
relação a ele?
MITCH: (Pausa.) Faz ela diminuir.
A raiva de Mitch diminuiu devido à sua
visão atenuada do Sr. Robinson. O rótulo severo de total sacana foi abrandado. Obviamente,
Mitch não desenvolveu uma visão positiva do
Sr. Robinson, entretanto, graças a este exercício,
no futuro terá mais probabilidade de respeitar
e obedecer a uma pessoa que ele não veja como
um total sacana.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Cara que bateu
no meu carro
Sr. Robinson
Pai
Mãe
SACANA
TOTAL
Irmão
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Melhor
amigo
TOTALMENTE
LEGAL
Percebem cada coisa errada que eu faço.
Esperam que eu me atrapalhe.
Entram no carro e vão embora.
Roubam coisas preferidas.
Grosseiros com a família e cruéis com o cão.
Não é um sacana.
Nunca me incomodam.
Dirigem rápido.
Nem sempre retrucam.
Apenas estudam coisas que acham importante.
FIGURA 13.6 O continuum de Mitch.
RACIOCÍNIO MORAL
Goldstein e colaboradores (1987) recomendaram adicionar um componente de raciocínio
moral a um pacote de enfrentamento da raiva. Em
sua abordagem inovadora, os terapeutas lideram
grupos de discussão que focalizam dilemas morais. Goldstein e colaboradores diziam que a mudança é realizada pela criação de conflito ou pela
dissonância cognitiva. Para Goldstein, quando as
crianças tentam resolver suas pela dissonâncias,
experimentam diferentes formas de raciocínio
moral. A idéia geral é levar a criança do raciocínio
imaturo de baixo nível para um raciocínio mais
elevado, mais sofisticado.
Em seu texto, este autor apresenta inúmeros dilemas morais para serem discutidos pelas
crianças. Sommers-Flannagan e SommersFlannagan (1995) também sugerem criar dilemas morais em torno de uso de álcool e drogas,
abstenção ou envolvimento em relações sexuais, colar nas provas, roubar e violar a hora de
voltar para casa. Finalmente, o jogo de tabuleiro Escrúpulos também oferece muitos dilemas
morais e éticos. A vantagem de um jogo de tabuleiro é o tom divertido que acrescenta à discussão. Independente do tipo de dilema usado,
Goldstein (1987) alerta-nos a várias considerações importantes. Os dilemas deveriam gerar
conflito cognitivo significativo. O objetivo é
desestabilizar o equilíbrio moral das crianças.
Embora devam criar dissonância, os dilemas
também precisam ser interessantes, relevantes
e produtivos.
Preparar o terreno para a discussão é um
passo importante. No total, há quatro objetivos
nessa fase (Goldstein e cols., 1987). Primeiro,
deve-se explorar a razão e o propósito do grupo
de discussão do dilema para as crianças (p. ex.,
desenvolver e experimentar novas perspectivas).
Segundo, discutir o formato do grupo, assegurando-se de comunicar às crianças que não há
respostas certas, que todos terão sua vez e que
os membros do grupo têm a responsabilidade de
gerar discussão. Terceiro, explicar o papel do
facilitador para as crianças. Aqui poderia dizerlhes que você não avaliará suas respostas mas,
antes, os ajudará a focalizar a discussão e assegurar que todos sigam as regras do grupo e que
tenham uma chance de falar. Goldstein e colaboradores encorajam os terapeutas a periodicamente fazerem o papel de “advogado do Diabo”. Finalmente, você deveria resumir as regras éticas
para o comportamento do grupo. Goldstein
(1987) salienta que as crianças deveriam ser informadas de que a discordância é uma forma de
aprender com o outro.
Ao conduzir a discussão, avaliam-se os estágios de raciocínio moral que as crianças demonstram. Então você cria um debate entre os
de raciocíno de nível mais baixo e os membros
cujo raciocínio está um estágio mais alto. A idéia
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
é desequilibrar padrões de raciocínio, salientando injustiça e contradições. Você pode mudar o
cenário e adicionar informações hipotéticas.
Goldstein também sugere várias formas
de manejar a participação insensível, a participação excessivamente ativa e a pouco ativa.
Crianças agressivas podem apelar para humilhações e insultos durante a discussão. Nesses
casos, ele sugere uma abordagem diretiva, em
que você intervém rapidamente, explicando
por que está interrompendo a discussão e instruindo os membros do grupo a centrarem-se
no tema e não nas qualidades pessoais. A participação excessivamente ativa, que reflete egocentrismo, também precisa ser desencorajada.
Nesses casos, as crianças querem que a discussão focalize-se inteiramente em suas próprias
idéias. Para diminuir o egocentrismo na participação, você precisará resumir os pontos de
vista dos participantes e impor alguns limites
em sua participação. A participação pouco ativa é um terceiro dilema para os líderes.
Goldstein recomenda que você discuta as razões para a relativa inatividade (p. ex., ansiedade, dificuldade em compreender o material,
tédio). Nesses casos, empatia, estímulos gentis, e fornecimento de maior estrutura são indicados.
EXPOSIÇÃO/DESEMPENHO
Como as crianças ansiosas, as crianças raivosas, agressivas, precisam de experiências para
mostrar-lhes que podem lidar com suas emoções.
De fato, DiGiuseppe e colaboradores (1994) afirmam que a raiva e a ansiedade têm ambas altos
níveis de excitação de sistema nervoso autônomo e preparam o indivíduo para a ação. Concordamos com muitos médicos cognitivo-comportamentais que defendem a criação de oportunidades de aprendizagem experiencial para
crianças com raiva (Brondolo e cols., 1997;
DiGiuseppe e cols., 1994; Feindler, 1991; Feindler
e Ecton, 1986; Feindler e Guttman, 1994).
Brondolo e colaboradores (1997, p.86) escrevem
que “à medida que os indivíduos aprendem a
tolerar a experiência de raiva, tornam-se mais
flexíveis em suas respostas à provocação”.
Em nossas experiências, a maioria das
crianças agressivas adquire facilmente as habilidades apresentadas nas seções anteriores. Em nenhum outro lugar isso era tão evidente quanto
na unidade hospitalar onde eu (RDF) trabalhei.
Os adolescentes aparentemente compreendiam
os instrumentos de enfrentamento da raiva em
um grupo de habilidades às 13h e, contudo, não
incomumente envolviam-se em uma discussão
com o pessoal ou com outros pacientes por volta
das 16h. Não é que esses jovens não pudessem
aprender as habilidades; eles só não conseguiam aplicá-las quando estavam enraivecidos.
Por razões de eficácia e segurança, recomendamos fortemente que o treinamento de
exposição acompanhe a aquisição e a aplicação
de habilidades de autocontrole. Você precisa ter
certeza de que as crianças aprenderam as habilidades de autocontrole antes de colocá-las em
uma situação na qual têm que executá-las. Além
disso, também recomendamos experiências de
exposição gradual. Brondolo e colaboradores
(1997,p.88) recomendam: “Com crianças muito
disruptivas ou impulsivas, pode ser necessário
trabalhar lentamente com poucas pessoas e poucas distrações na sala, iniciando com as palavras menos ofensivas em vez das mais ofensivas ou com o uso de provocações imaginárias
em vez de in vivo”.
Brondolo e seus colegas comentam que,
com relação a crianças extremamente disruptivas, estabelecer as regras de conduta adequadas para a exposição poderia levar até um ano.
Finalmente, concordamos com Brondolo que
você deveria examinar cuidadosamente os piores cenários de caso antes de iniciar as estratégias de desempenho.
Feindler e Guttman (1994) oferecem várias atividades e exercícios estruturados, graduados, baseados em exposição. Em Círculo de Crítica (p. 184), as crianças sentam-se em um círculo e são instruídas a criticar a pessoa sentada à
sua direita. Adotando uma abordagem gradual
à tarefa, vocês pode fornecer as críticas a fim de
controlar a intensidade dos comentários. A crí-
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
tica poderia ser colocada em uma caixa e pega
aleatoriamente, assim, muitas críticas podem
não ser a princípio pessoalmente relevantes ou
intensamente provocativas. O alvo da crítica é
instruído a usar a estratégia de enevoado (ver
Capítulo 8) como resposta. Os membros do grupo deveriam receber recompensas ou prêmios
por participar adequadamente. À medida que
eles aprendem a tolerar críticas maiores, você
poderia escrever comentários mais provocativos
nas tiras de papel da caixa. Na fase inicial desse
treinamento, podem-se fornecer às crianças comentários de enevoado por escrito. Com prática, esses roteiros poderiam ser retirados e as
crianças teriam então que sugerir as próprias
respostas.
Feindler e Guttman (1994, p.195) também
fazem uso da Técnica da Farpa. É ensinado aos
adolescentes que uma farpa é uma provocação
ou estressor. Basicamente, alguém está tentanto
empurrar seus botões de raiva. Semelhante ao
exercício Círculo de Crítica, as crianças são “farpadas” com certas declarações provocativas (p.
ex., “Por que você não está me respeitando?”).
Elas podem ser planejadas para lembrar declarações provocativas feitas por seus pais, responsáveis, professores ou outras figuras de autoridade. Você deve preparar a criança para a atividade, advertindo-a: “Vou lançar-lhe uma farpa”.
As farpas são geralmente lançadas pelo terapeuta. A criança deve responder com estratégias de autocontrole (p. ex., declarações auto-instrutivas como “Acalme-se, permaneça no comando”) ou habilidades sociais (p. ex., positividade empática, enevoado). Como no exercício
Círculo de Crítica, as crianças poderiam ter
como apoio roteiros ou listas preparadas de habilidades de enfrentamento. Gradualmente, esses roteiros preparados poderiam ser retirados
à medida que progridem no treinamento.
Ao conduzir grupos com crianças irritadas internadas, eu (RDF) geralmente tenho utilizado o processo de grupo como uma experiência de aprendizagem in vivo. Durante as sessões
de grupo, tínhamos regras e habilidades de
enfrentamento da raiva convenientemente afi-
229
xadas em cartazes para consultas. Por exemplo,
um jovem irritado ficava extremamente aborrecido quando alguém discordava dele. Em uma
sessão, os terapeutas disseram-lhe que íamos
discordar dele. Os outros membros do grupo foram instruídos a não dizerem nada ou a discordar do que o jovem dissesse. No princípio, isso
foi extremamente difícil para ele, que até ficou
agitado. Tivemos que fazer um intervalo, ajudálo a escrever habilidades e lembrá-lo de reportar-se às habilidades e regras afixadas. Com o
passar do tempo, com a prática repetida, foi capaz de tolerar melhor a discordância, apelando
para suas habilidades de autocontrole.
Brondolo (1997) nos dá algumas dicas
úteis para fazer essas exposições graduais. Por
exemplo, quando as crianças estão praticando
críticas, discordâncias ou outras afirmações
provocativas, comece ensinando-as a remover
a inflexão emocional de suas palavras. Conforme Brondolo e colaboradores observam apropriadamente, tons monótonos dão às pessoas
tempo para refletir sobre o que as está incomodando em vez de reagir imediatamente.
Além disso, gostamos da sugestão deles de
sentar perto da criança que está praticando
enfrentamento da raiva e resolução de problema. Isso comunica sutilmente nosso apoio e
torna mais fácil ajudar as crianças no processo. Os autores também recomendam pedir permissão para pressionar ou provocar as crianças. Endossamos entusiasticamente essa idéia.
De fato, quando eu (RDF) estava trabalhando
em um hospital psiquiátrico, o pessoal e os pacientes apelidaram-me de “Dr. posso pressioná-lo sobre isto?” porque eu comumente introduzia momentos emocionalmente intensos
com esse comentário. Finalmente, acrescentar
auto-instrução gentil para estimular a resolução
de conflito é encorajador para clientes jovens.
Brondolo (p.91) oferece declarações como “Eu
vou me sentar bem do seu lado desse jeito e colocar minha mão no seu braço para lembrá-lo
de permanecer relaxado. O que você acha disso? Continue respirando, acalme-se, você não
precisa responder a este ataque”.
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230
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
CONCLUSÃO
Como você pode ver pelas seções anteriores, trabalhar com crianças e adolescentes sofrendo de transtornos do comportamento
disruptivo é freqüentemente um processo lon-
go, lento, deliberado. Comunicar à criança que
você está “aqui para o que der e vier” é importante. Nós o encorajamos a fazer uso de múltiplas estratégias de tratamento e a aplicar criativamente os instrumentos descritos.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
231
14
Trabalhando com os Pais
Realizar psicoterapia infantil é impossível
sem se trabalhar com os adultos, pois os problemas das crianças ocorrem muito mais
freqüentemente fora da terapia do que na sessão. Para modificar o ambiente de uma criança,
os pais devem tornar-se capitães associados aos
terapeutas. Se pais e terapeutas não estiverem
trabalhando no mesmo “plano de jogo”, as crianças recebem sinais confusos e a efetividade
da intervenção diminui. Incluímos um “livro de
jogo” de intervenções que consideramos úteis
para ajudar os pais a modelar o comportamento de seus filhos.
A primeira estratégia no trabalho com os
pais é a educação. Você deve assegurar-se de
que eles tenham informações básicas gerais,
como conhecimento do comportamento adequado ao desenvolvimento e reconhecimento dos
antecedentes e das conseqüências do comportamento. Nós os educamos através de discussões, leituras e modelagem, oferecendo aos pais
recursos como folhetos ou lista de livros para
leitura sobre terapia cognitiva e desenvolvimento infantil. Por exemplo, freqüentemente recomendamos aos pais de crianças deprimidas a
leitura de The Optimistic Child, de Seligman e
colaboradores (1995). Além disso, folhetos com
orientações para intervenções comportamentais
e atribuições de lição de casa auxiliarão os pais
na implementação de estratégias comportamentais.
ESTABELECENDO EXPECTATIVAS
REALISTAS PARA O COMPORTAMENTO
Freqüentemente, os pais esperam demais
ou muito pouco de seus filhos, o que gera a conflitos. Achamos que as queixas de alguns pais sobre
o comportamento de seus filhos estão em parte
relacionadas a expectativas irrealistas. A mãe de
Linda, uma menina de 5 anos, queixava-se de que
ela não “arrumava sua cama e limpava seu quarto, embora soubesse que devia fazê-lo”. Trabalhar
com a mãe de Linda no que são expectativas realistas em relação a tarefas para uma criança de
5 anos, bem como educá-la sobre como dar orientações efetivamente, é uma boa estratégia nesse
caso. O pai de Micky era um “perfeccionista emocional”, que acreditava que as pessoas, incluindo
Micky, nunca deveriam ficar tristes; então, sempre que Micky apresentava um humor melancólico, seu pai ficava excessivamente alarmado.
Muitos pais confundem erroneamente
comportamento desejável com comportamento
esperado. Por exemplo, é desejável que irmãos
brinquem juntos por horas sem discutir, entre-
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232
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
tanto, não esperamos (certamente não é razoável esperar) que ajam assim. Quando os pais
mantêm essas expectativas irrealistas, ficarão
frustrados por tentar constantemente impô-las
e fracassar. O pai de Sean, 15 anos, relatou: “Não
há razão para ele estar sempre atormentando
sua irmãzinha”. Lembrar ao pai de Sean que no
mundo real ninguém é certo ou comporta-se
perfeitamente 100% do tempo pode ajudá-lo a
desenvolver expectativas mais realistas para o
comportamento de seu filho.
Ao discutir com os pais o que é comportamento razoável para seu filho, devemos considerar várias questões. Entre elas, o nível de habilidade da criança e seu desempenho anterior
na área-alvo. Por exemplo, Bradley tivera responsabilidades limitadas antes dos 10 anos de
idade. Sua mãe declarava corretamente que é
razoável esperar que um menino de 10 anos ajude a arrumar seu lanche para a escola, mas nunca foi esperado que Bradley fizesse esse tipo de
tarefa independentemente. Portanto, salientamos que os pais de Bradley primeiro tinham que
lhe ensinar os passos para arrumar seu próprio
lanche, e então explicar as conseqüências de
completar ou não essa tarefa, antes que suas expectativas pudessem realmente ser consideradas “razoáveis”.
Questões únicas em relação a expectativas
realistas são relevantes quando se trabalha com
adolescentes. É comum os pais (e às vezes os
terapeutas) confundirem adolescência com idade adulta, esquecendo que a adolescência é uma
fase de transição que prepara crianças para serem adultos. Por exemplo, alguns pais esperam
que os adolescentes nunca cometam erros no
julgamento ou sempre façam o que os pais desejam (Barkley e cols., 1999). O pai de Darlene, 15
anos, queixava-se: “Ela sabe que o dever de casa
deve ser feito antes de assistir TV ou falar no
telefone”. A mãe de Derek, 16 anos, declarou:
“Eu não acredito que ele levou uma multa de
trânsito! Ele sabe que não deve correr”. Os adolescentes estão aprendendo a serem autônomos
e inevitavelmente algumas vezes farão escolhas
erradas. Embora os pais precisem impor as con-
seqüências para essas más escolhas, devem esperar que seus filhos adolescentes tomem algumas decisões imperfeitas e inadequadas.
Um tipo diferente de erro de expectativa
também é comum com pais de adolescentes.
Quando adolescentes exibem comportamentos
problemáticos ou desafiadores, os pais compreensivelmente podem esperar tais comportamentos indesejáveis todo o tempo, bem como presumir que seus filhos estão intencionalmente
tentando deixá-los irritados (Barkley e cols.,
1999). Após Andre violar repetidamente o horário de voltar para casa, sua mãe relatou: “Eu
sei que ele está fazendo isso apenas para me irritar”. A confrontação do problema na terapia
revelou que a maioria dos amigos de Andre podia voltar para casa uma hora mais tarde do que
ele, e que sua desobediência resultava de querer ficar com eles, não de querer irritar a mãe.
Entender as práticas e as expectativas culturais também ajudará no treinamento e na intervenção dos pais. Embora haja mais semelhanças do que diferenças nas práticas parentais entre as culturas, há variações entre grupos culturais. Por exemplo, quando você trabalha com famílias afro-americanas, pode descobrir que redes da família estendida (avós, tias
e tios, irmãos e irmãs mais velhos, outros membros da família, vizinhos, membros da igreja)
estão freqüentemente muito envolvidas na
“parentagem” da criança (Forehand e Kotchick,
1996). Reconhecendo esses apoios e recorrendo a seus pontos fortes, você pode incorporar
esses indivíduos no tratamento. A parentagem
latina também envolve tradicionalmente um
maior apoio na família estendida e em outros
grupos (Forehand e Kotchick, 1996). Observe,
entretanto, que a cultura latina geralmente inclui estilos de parentagem mais permissivos,
portanto, as expectativas dos pais podem diferir daquelas em culturas que dão mais ênfase a regras rígidas e a obediência. Os estilos
parentais de nativos americanos variam de
acordo com as práticas de muitos grupos tribais
diferentes, mas muitos desses nativos enfatizam uma responsabilidade compartilhada na
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
criação dos filhos e empregam uma abordagem
colaborativa e não-competitiva (Forehand e
Kotchick, 1996). Portanto, é usado um mínimo
de punição, com práticas geralmente incluindo o uso de persuasão e indução de emoções,
como medo, embaraço ou vergonha (Forehand
e Kotchick, 1996). As crenças culturais sobre
parentagem de americanos de origem asiática
enfatizam a realização acadêmica, o trabalho
duro e a autoridade parental (Forehand e
Kotchick, 1996), por isso todos os pais agem
como professores, incentivando o foco da criança nos objetivos para o sucesso.
Embora nenhuma dessas práticas culturais
impeça necessariamente o uso de certas técnicas de parentagem apresentadas aqui, podem
colidir com a visão dos pais de estratégias terapêuticas e com suas motivações para usar várias
práticas disciplinares (Forehand e Kotchick,
1996). Portanto, parte do seu trabalho como
terapeuta é avaliar os valores e os padrões culturais de cada cliente e considerar cuidadosamente como esses valores interagem com as expectativas por certos comportamentos.
Segunda
7h
8h
Terça
√
Quarta
AJUDANDO OS PAIS A DEFINIR
PROBLEMAS
Através da avaliação da freqüência, da intensidade e da duração do problema atual, você
será capaz de discernir se as expectativas
parentais são realísticas. Por exemplo, muitos
comportamentos ocorrem normalmente com
uma freqüência de baixa a moderada, mas são
considerados problemáticos apenas quando a
freqüência é alta. Considere o exemplo de
Taylor, de 7 anos, cuja mãe relata que ela “chora o tempo todo”. Se Taylor chora quatro ou cinco vezes por semana quando não consegue o
que quer, esse problema é muito diferente do
que se ela chorar quatro ou cinco vezes por dia.
Para ajudar a mãe a avaliar a gravidade do choro de Taylor, o terapeuta a fez completar um
mapa de freqüência semelhante ao mostrado na
Figura 14.1. Os dados que ela coletou mostraram-lhe objetivamente que os acessos de choro
de Taylor estavam na verdade ocorrendo muito
menos freqüentemente do que ela havia estimado. Os mapas também podem ajudar a identifi-
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
√√√√√
√√
√√
9h
10h
√
√
√
√√√√
11h
12h
13h
14h
15h
√√√√
16h
17h
18h
233
√
FIGURA 14.1 Mapa de freqüência de Taylor.
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234
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
car padrões nos comportamentos. Os pais de
Craig, 8 anos, usaram um mapa de freqüência e
descobriram acessos de raiva mais freqüentes
uma hora antes de seu lanche da tarde e do programa favorito da televisão. Simplesmente mudando seus horários, reduziram seus acessos.
A intensidade do comportamento é outro
aspecto potencialmente subjetivo de definir problemas. O terapeuta e os pais podem criar
colaborativamente uma escala para classificar
intensidades, para avaliar o quanto um comportamento é típico. Os pais de Brian estavam esgotados por suas brigas com seu irmão de 6 anos
(p. ex., “Eles não podem ficar na mesma peça
sem brigar. Ele é tão agressivo”); portanto, queríamos avaliar a gravidade da agressão para determinar intervenções adequadas, bem como
adquirir embasamento para detectar posteriores mudanças no comportamento. Uma de nossas funções como terapeutas é ver o quanto as
percepções subjetivas dos pais correspondem
aos dados objetivos. Com a família de Brian, foi
desenvolvida uma escala de 5 pontos para medir a intensidade do comportamento: 1 ponto
indicava discussão, 2 pontos indicava gritos, e
assim por diante, até 5 pontos para socos e pontapés. A identificação da intensidade também é
benéfica para estabelecer diretrizes para intervenção parental (3 pontos ou acima) e solução
independente do problema (1 a 2 pontos).
A duração dos comportamentos problemáticos também é uma consideração importante.
Acessos de raiva de dois minutos devem ser tratados diferentemente de acessos de raiva de 30
minutos. Neste sentido, os pais de Katlyn, uma
menina de 15 anos, seriam aconselhados a responder de maneiras diferentes se ela retardasse
sua tarefa de tirar o lixo 10 minutos versus 10
dias. Estratégias específicas para aumentar os
comportamentos desejáveis e diminuir os indesejáveis são discutidas em detalhes mais tarde
neste capítulo.
Anastopoulos (1998) discutiu a importância de ensinar a pais de crianças com transtorno
do déficit de
de atenção/hiperatividade
atenção/hiperatividade princípios
princípos
gerais de enfrentamento do comportamento a
fim de prepará-los para treinamento posterior em
técnicas comportamentais mais específicas. Recomendamos usar folhetos, discussões, modelagem e exemplos do problema atual da família para
ajudar a educar os pais sobre princípios comportamentais básicos. O modelo ABC é usado para
ilustrar como os Comportamentos* das crianças
podem ser modificados alterando-se eventos Antecedentes e Conseqüências (Anastopoulos, 1998).
Lembre-se de que o comportamento das crianças é intencional para receber/obter conseqüências positivas ou para evitar situações indesejáveis (Anastopoulos, 1998).
O modelo ABC pode ser explicado aos pais
de uma maneira semelhante ao exemplo apresentado a seguir. A apresentação verbal e visual tornarão a informação apresentada mais compreensível para os pais. A seguinte transcrição
pode ser usada como orientação.
TERAPEUTA: Você disse que vê os acessos de
raiva de Megan como seu maior problema, então nós concordamos em iniciar focalizando-nos neles. Quando falarmos sobre os acessos de raiva de Megan, será útil
fazê-lo usando o que é chamado de modelo ABC. “A” significa o que acontece
antes que o comportamento (“B”) ocorra.
Os “A” de certa forma abrem caminho
para os “B”. Tipicamente, os antecedentes são os gatilhos que “provocam” o comportamento. Às vezes, são as instruções
ou comandos que alertam seu filho. Durante a entrevista de entrada, você deu diversos exemplos de antecedentes quando
descreveu as horas em que Megan tem
seus acessos de raiva. Que tipos de antecedentes você pode lembrar agora?
SRA. MATERNAL: Então antecedentes seriam
como quando eu digo a ela para fazer alguma coisa, ou quando ela tem que repartir alguma coisa.
TERAPEUTA: Estes são todos antecedentes. (Escreve-os no registro ABC, na coluna “A”.)
*N. de T. Em inglês, behaviors.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Você está um passo à frente porque já identificou os gatilhos para “B” – o comportamento. Os antecedentes podem ser difíceis de se identificar, e o comportamento
parece apenas “vir não se sabe de onde”.
Entretanto, você já identificou alguns gatilhos para os acessos. Você também deu
vários exemplos de acessos de raiva dos
quais desconhece o gatilho. Solucionar isso
nos ajudará a entender e, portanto, mudar
o comportamento. Como eu disse, o “B”
no “ABC” significa o comportamento. Dissemos que os acessos de raiva são o comportamento, mas que comportamentos específicos os acessos de raiva incluem?
SRA. MATERNAL: Gritos, choro, deitar-se no
chão e recusar-se a andar. (Escreve na coluna “B” do registro.)
TERAPEUTA: Certo. “C” é para conseqüências.
Isso significa as coisas que acontecem após
o comportamento que o fazem acontecer
mais ou menos.
SRA. MATERNAL: (Ri.) Como Megan conseguir
o que quer?
TERAPEUTA: Isso é uma conseqüência. Você
pode pensar em outras?
SRA. MATERNAL: Bem, ela nem sempre consegue o que quer. Às vezes, é castigada.
Eu a mando para o quarto, tiro sua bicicleta ou bato nela. (Escreve no registro na
coluna “C”.)
TERAPEUTA: Então as conseqüências podem
variar. O que você acha que acontece
quando Megan não sabe que conseqüências esperar por seu comportamento?
SRA. MATERNAL: Às vezes acho que ela fica
ainda mais furiosa e tem uma crise ainda
maior se eu não a deixar escapar impune.
Ela provavelmente acha que pode fazer as
coisas impunemente e fica ainda mais furiosa se não consegue o que quer.
TERAPEUTA: O que queremos fazer é ter uma
conseqüência clara, que acompanhe o
comportamento de modo que Megan saiba que haverá uma conseqüência quando
se comportar de determinada forma. Entender o ABC de seu comportamento nos
235
ajudará a fazer as mudanças necessárias
para que o comportamento melhore.
O terapeuta nesse diálogo trabalhou com a
Sra. Maternal salientando explicitamente o ABC
relacionado ao comportamento de Megan. Isso
não apenas ajudou a Sra. Maternal a entender
os princípios comportamentais envolvidos no
modelo ABC, mas também ajudou-a a “sintonizar” suas próprias respostas relacionadas às conseqüências do comportamento de Megan, bem
como prever gatilhos (antecedentes) potenciais.
AJUDANDO OS PAIS A AUMENTAR OS
COMPORTAMENTOS DESEJÁVEIS DE
SEUS FILHOS: “EU SÓ QUERO QUE ELE
SE COMPORTE”
Os pais comumente apresentam-se para tratamento declarando que gostariam de ver mais
“bons” comportamentos em seus filhos. As técnicas para aumentar comportamentos específicos
representam o livro de jogo ofensivo na parentagem. Mediante as técnicas que descrevemos neste capítulo, você pode trabalhar com os pais de
forma a aumentar comportamentos desejáveis,
sendo “pró-ativo”. Técnicas para aumentar comportamentos desejáveis, são geralmente aplicadas
antes que um comportamento negativo tenha
ocorrido. Você está ensinando os pais a cativar os
filhos, comportando-se adequadamente.
Reforço
Propor o treinamento parental ensinando
os pais a reforçar o “bom” comportamento de
seu filho é uma idéia compartilhada pela maioria dos profissionais da família (Barkley e cols.,
1999; Becker, 1971; Forehand e McMahon, 1981).
Reforço é um termo um pouco “armário de bugigangas” para qualquer coisa que ocorra após
um comportamento a fim de aumentar sua freqüência. O reforço é uma estratégia comportamental básica que geralmente produz resultados rápidos para aumentar comportamentosalvo, portanto, é a forma primária de aumentar
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236
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
comportamento, podendo implementado de
muitas formas. O reforço, ou recompensa, pode
envolver dar alguma coisa positiva, como elogio, abraços, um brinquedo ou folga, ou remover alguma coisa negativa, como ter que cumprir tarefas domésticas.
Muitos pais negligenciam o reforço com
seus filhos. O comportamento do filho somente
é percebido quando é disruptivo ou indesejável. Os pais precisam entender que, deixando a
criança sozinha quando ela se comporta adequadamente, estão basicamente ignorando o comportamento positivo. Alguns relatam que não
querem reforçar o filho durante o bom comportamento porque não querem interrompê-lo por
medo de que não ocorra mais. Outros acreditam que se “perturbarem” o filho, a criança tenderá a exigir atenção contínua (Forehand e
McMahon, 1981). Ainda outros acreditam que
os filhos não deveriam ser elogiados por comportamento adequado, e que elogio e outras formas de reforço deveriam ser usados apenas
quando a criança envolver-se em comportamento extraordinariamente bom (Webster-Stratton
e Hancock, 1998).
O reforço constitui-se de dois tipos: positivo e negativo. Reforço positivo e negativo
podem ser confusos para alunos do primeiro
ano de doutorado, que dirá para pais leigos!
Portanto, empregamos uma estratégia de ensino simples. Primeiro, enfatizamos que todo
reforço aumenta o comportamento desejado.
Os termos reforço positivo (+) e negativo (–)
referem-se a se alguma coisa boa é adicionada
(reforço positivo) ou se alguma coisa ruim é subtraída ou removida para aumentar a taxa de
comportamento desejado. Os sinais (+) e (–)
são boas sugestões para essa explicação. A
maioria das pessoas reconhece que um (+) significa tanto adicionar como alguma coisa positiva e que um (–) refere-se tanto a subtrair
como a alguma coisa negativa. Achamos útil
enfatizar que as expressões referem-se ao aspecto de recompensa, mas o resultado é sempre um aumento no comportamento desejável. Portanto, se Karen limpar seu quarto, ela
ganha um abraço, elogio verbal, 15 minutos
extras de tempo de televisão ou um lanche especial. Este é um exemplo de reforço positivo. Karen também poderia ser recompensada
por limpar seu quarto com um reforçador negativo: seu pai pára de gritar com ela por ela
ser desleixada, preguiçosa, etc.
Que pai já não ouviu seu filho ou sua filha
dizer “Ei, mamãe, papai, olhem para mim!”?
Na verdade, a atenção é um dos reforçadores
mais ignorado pelos pais. Contudo, a maioria
das crianças anseia por ele, logo, dar atenção
às crianças é uma forma efetiva de os pais aumentarem o comportamento desejável. Sorrisos, abraços, elogio verbal e tapinhas nas
costas são todos formas de mostrar interesse
positivo pela criança. Simplesmente assistir a
Teri, de 9 anos, construir com blocos e comentar sobre seu bom trabalho é uma forma de dar
atenção e, portanto, de reforçar seu comportamento.
Hora de brincar (não-eventual)
Os Greenspans oferecem algumas idéias
maravilhosas em seus livros para os pais
(Greenspan e Greenspan, 1985, 1989). Esses livros, destinados principalmente a pais de crianças pequenas, enfatizam o valor do tempo de
chão. Tempo de chão é simplesmente um tempo
que pais ou responsáveis dedicam a brincar com
a criança no chão, seguindo a liderança dela. Encorajamos os pais a terem um tempo de chão
com seus filhos pequenos todos os dias de 10
minutos ou mais.
Quando eles reservam um tempo para passar com seus filhos, a criança é reforçada, e o
vínculo entre ela e o pai é fortalecido. Interações
recreativas também fornecem ambientes ricos
para reforçar o comportamento positivo na
criança e para aumentar a sua auto-estima pelo
foco em suas habilidades e pontos fortes. A
criança se sente valorizada, o que freqüentemente
leva a maior obediência, que se generaliza a outras situações. A hora de brincar também serve
como uma oportunidade para praticar e modelar resolução de problemas para a criança. Joel,
de 10 anos, tornava-se muito autocrítico quando
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
cometia erros. Enquanto jogava um jogo de tabuleiro com Joel, seu pai consistentemente modelava um manejo positivo, como quando tirou
uma carta que o mandava retroceder cinco espaços no tabuleiro (“Oh, bem, talvez eu tire uma
carta melhor da próxima vez.”).
O brinquedo é a urdidura do mundo de
uma criança. Seguindo a liderança da criança em
seu brinquedo, os pais desfrutam de oportunidades de verem comportamentos positivos em
seu filho e prestam atenção a eles; os pais também podem ignorar comportamentos moderadamente inadequados (Anastopoulos, 1998). Uma
armadilha comum para os pais é tentar controlar o brinquedo, ser muito diretivo e assumir a
tarefa. Ensinar os pais a narrar em vez de instruir é uma estratégia útil (“Você está construindo uma torre de blocos azuis” versus “Vamos fazer uma casa”). Deveriam receber instrução para
serem mais descritivos e menos interrogativos em
seus comentários com relação ao brinquedo do
filho (Webster-Stratton e Hancock, 1998). A mãe
de Connie, uma menina de 8 anos, foi ensinada
a transformar perguntas (“O que as bonecas estão fazendo na casa?”, “Aonde a boneca está indo
de carro?”, “O que eles vão fazer depois do piquenique?”) em afirmações descritivas (“As bonecas estão sentadas na casa”, “A menininha está
indo passear”, “Eles estão fazendo um piquenique”). Outro erro freqüente cometido pelos pais
é serem muito desligados, como se estivessem
basicamente assistindo ao brinquedo da criança.
Considere Mary Lou, uma menina de 7 anos, que
ficou rapidamente aborrecida e ávida de atenção enquanto brincava com sua casa de bonecas
quando sua mãe apenas observava seu brinquedo sentada ao lado dela. Em outro exemplo, o
pai de Vince, 11 anos, tornou-se excessivamente
diretivo enquanto montava um modelo de avião
com ele. Vince rapidamente perdeu o interesse e
tornou-se oposicional.
Com relação ao brinquedo com seus filhos, os pais deveriam ser encorajados a descrever eventos e comportamentos, elogiar comportamento adequado e ignorar os negativos,
desde que não sejam perigosos ou destrutivos
237
(Eyberg e Boggs, 1998). Permitir que a criança
assuma o comando minimiza as oportunidades para desobediência. Às vezes, quando os
pais precisam orientar a atividade, deveriam
oferecer comandos específicos (p. ex., “Coloque os carros na estante” em vez de “Por que
você não arruma tudo?”). Os pais deveriam ser
mais diretivos quando os comportamentos não
podem ser ignorados, quando são reforçados
por alguma outra coisa que não os pais, ou
quando não se extinguem facilmente (Eyberg
e Boggs, 1998).
Convidar o pai e a criança para brincar
durante a sessão permitirá a observação do pai
e modelar o uso de técnicas. O pai de Blake, de
8 anos, relatava que toda vez que tentavam jogar um jogo juntos, acabavam brigando. Na sessão, os dois foram observados interagindo enquanto jogavam Terra do Doce. Quando Blake
declarou “Estou perdendo novamente. Eu sou
um perdedor”, seu pai respondeu dizendo-lhe
para não falar daquele jeito. Então o pai fez um
longo discurso para Blake sobre por que ele não
deveria depreciar-se. O pai teve boa intenção:
não queria que Blake fosse tão duro consigo
mesmo. Mas sua abordagem levou a frustração
e a irritação para ambos. Após o terapeuta ter
trabalhado com o pai e revisado formas de reforçar, dar atenção e modelar, o pai e Blake tiveram maior sucesso, e o jogo foi mais prazeroso.
Na semana seguinte, os dois estavam novamente jogando. O pai de Blake perdeu o jogo. Ele
respondeu com um sorriso e declarou: “Foi divertido jogar com você. Talvez da próxima vez
eu vença”, modelando, assim, o manejo positivo, em vez de fazer um discurso.
Passar um tempo não-eventual com adolescentes também é altamente recomendado
(Barkley e cols., 1999). Permita que o adolescente
escolha alguma coisa que aprecia. Os pais devem então participar com observações positivas, mas não fazer perguntas, dar orientações
ou fazer correções. O principal objetivo é ser
interativo, mas não crítico! Jogos de computador, projetos de arte, cozinhar, esportes, jogos
de cartas ou de tabuleiro são atividades poten-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
ciais. Nicholas, um menino de 14 anos, queria
fazer um bolo de chocolate com sua mãe. A mãe
pegou a receita e os ingredientes. Inicialmente,
assumiu o controle da atividade, dizendo “Deixe comigo”. Então ela se conteve e daí em diante dizia coisas como “Nicholas, o que a receita
diz para fazer primeiro?” e “Você está misturando tudo muito bem”.
Permitir escolhas
Permitir que as crianças escolham é outra
forma de recompensa. Escolher é uma experiência muito rica para a maioria das crianças e adolescentes. Joe era um menino de 5 anos que
freqüentemente escondia-se e fugia de sua mãe.
A mãe aprendeu a usar a escolha como uma recompensa simples (p. ex., “Joey, já que você veio
quando eu chamei e ficou do meu lado enquanto caminhávamos, você pode escolher se vamos
entrar pela porta da frente ou pela porta dos fundos.”). Tabitha, 8 anos, ficava facilmente frustrada, distraída e impaciente em restaurantes. Seu
pai usava escolhas efetivamente como uma forma de aumentar seu comportamento positivo
(“Tabby, já que você esperou sem pular em mim
e resmungar, vai escolher a mesa onde vamos
sentar.”). Finalmente, Moe, 16 anos, costumava
brigar com sua irmã de 10 anos durante passeios
de carro. Sua mãe e seu pai o “surpreenderam”
comportando-se bem com sua irmã. Conseqüentemente, disseram: “Moe, já que você está falando com sua irmã sem gritar e implicar, pode escolher a estação de rádio que vamos escutar até
chegarmos na casa da vovó”.
Ajudando os pais a
aumentar o reforço
O aumento da freqüência do reforço produzirá resultados comportamentais rápidos e
efetivos. Terapeutas e pais deveriam começar
identificando dois ou três comportamentosalvo. Por exemplo, se uma criança costuma brigar com seu irmão menor, os pais poderiam
reforçar suas interações sem briga com seu ir-
mão. Uma vez identificados os comportamentos-alvo, uma lista de reforçadores potenciais
pode ser gerada. Os pais então devem aumentar a freqüência com que reforçam o comportamento. É importante enfatizar que simplesmente reforçar uma criança uma vez por determinado comportamento não assegurará necessariamente que ela fará o comportamento
desejado novamente. Os pais devem fazê-lo em
inúmeras ocasiões antes que o comportamento provavelmente mude (Patterson, 1976) e o
elogio deve ocorrer imediatamente após o comportamento, a fim de ser mais efetivo (WebsterStratton e Hancock, 1998). Ao aconchegá-lo na
cama à noite, a mãe de Dalton sempre o elogiava pelas coisas boas que havia feito naquele
dia. Entretanto, sua falta de reforço imediato
durante o dia tornava difícil para Dalton associar o elogio “do fim do dia” com seus bons
comportamentos reais.
Um desafio para os terapeutas envolve
pais que relatam que seus filhos nunca fazem
nada digno de elogio. Isso tipicamente reflete
frustração da parte dos pais e pode resultar em
uma falta de atenção a comportamentos positivos. Achamos útil lembrar os pais que as crianças não são “más” 100% do tempo e que é
importante encontrar os momentos em que elas
estão exibindo comportamentos desejáveis e
recompensá-los. Fazer o esforço agora diminuirá a necessidade de mais punição, bem como
tornará futuras interações mais tranqüilas e
menos conflituadas. Em geral, é recomendado
aumentar o feedback positivo para pelo menos
a mesma freqüência de feedback negativo
(Barkley e cols., 1999). Na verdade, isso é sensato. Se os pais aumentam a quantidade de reforço ao comportamento positivo, estão gastando menos tempo e esforço com punição. Se estão reforçando o comportamento positivo, o
negativo/disruptivo deve tornar-se menos freqüente até que seja substituído pelo novo comportamento positivo. Mais especificamente,
quando a criança estiver presente, seus pais
deveriam procurar dar-lhe inicialmente alguma forma de reforço várias vezes em uma hora,
no mínimo. Lembrar os pais de que o reforço
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
pode ser tão simples quanto um olhar e um
sorriso os ajudará a manter essa tarefa em perspectiva. Entretanto, para pais que acham tal
atribuição muito desgastante, pode ser necessária uma abordagem gradual. Você pode ajudar os pais a escolher um período de tempo
específico (p. ex., os 15 minutos após o jantar)
para começar a prestar atenção ao comportamento da criança. Uma vez que o pai tenha desenvolvido habilidades básicas pela prática,
elas podem ser generalizadas.
Por exemplo, os pais de Grace queriam
reduzir seu comportamento oposicional; parecia que Grace respondia a todos os seus pedidos com um definitivo “Não!”. Quando perguntados sobre que coisas elogiavam em Grace, seus
pais responderam com vários exemplos esporádicos: “Bem, na semana passada eu lhe disse
que ela tinha feito um bom trabalho na sua tarefa de ortografia. E, quando seu primo esteve
aqui na semana passada, eu disse a Grace que
gostei de como ela se comportou”. Esses foram
momentos muito adequados para reforçar
Grace. Entretanto, a dificuldade que os pais tinham em gerar exemplos do uso de reforço, e
sua ocorrência aparentemente rara, foi um indício de que um aumento dramático no reforço
era necessário. Portanto, reconhecemos os esforços dos pais e o emprego de declarações positivas, mas enfatizamos a importância de elogiar Grace várias vezes por dia. Uma tarefa para
casa registrando o uso de reforço dos pais foi
utilizada para fornecer uma estrutura na qual
eles pudessem praticar.
Ensinando aos pais diferentes
formas de reforçar um filho
A modelagem envolve reforçar passos graduais em direção ao comportamento desejado.
Cada passo é como um subobjetivo para o comportamento total desejado. Inicialmente, um pequeno passo é reforçado (p. ex., levar a roupa
limpa da lavanderia para o quarto) até que ele
seja consistentemente demonstrado. Então, pas-
239
sos mais avançados devem ser completados
para o reforço ser recebido (p. ex., dobrar as roupas limpas, colocá-las nas gavetas do armário).
As “tarefas de casa” são dadas aos pais com instruções de inicialmente reforçarem os primeiros passos. À medida que as crianças começarem a demonstrar esses comportamentos, passos mais avançados devem ocorrer para o reforço ser oferecido. Também é ensinada a aplicação de reforço diferencial. Assim, comportamentos mais complexos, ou níveis “mais altos”
na seqüência, recebem mais reforço do que os
mais simples, de nível mais baixo.
Ensinar os pais a usarem uma variedade
de reforçadores específicos aumentará sua
efetividade e impedirá o hábito da criança a
qualquer reforçador. Elogio verbal, reforço físico, atividades prazerosas e recompensas palpáveis podem ser utilizados pelos pais. A
especificidade do elogio verbal é tão importante quanto fornecer reforço positivo palpável. Simplesmente dizer a Lynn, de 11 anos,
“Bom trabalho!” fornece pouca informação
com relação a que comportamento agradou os
pais. Lynn pode não ser capaz de entender que
comportamento o pai está reforçando. Antes,
declarações como “Gosto do jeito como pendurou seu casaco” levará a maior obediência
futura.
É recomendado revisar possíveis reforçadores com os pais. Estes deveriam elaborar uma
lista de coisas que podem dizer e fazer para reforçar seu filho.
As recompensas verbais também devem ser
imediatas e isentas de crítica. O reforço deveria
ser uma recompensa e não deveria vir acompanhado de crítica, portanto, nenhum “mas” deveria acompanhar a recompensa (p. ex., “Eu gostei de como você limpou seus pratos, mas você
não os colocou na máquina de lavar pratos”). O
elogio deveria descrever o comportamento que
o pai gosta, não julgar a criança. Quando se elogia sem julgar, a criança não interpreta erroneamente o elogio ou a ausência dele como uma
aceitação/rejeição dela, mas do comportamento
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240
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
(p.ex., “Que bom que você juntou as folhas do
jardim” versus “Você é um bom menino por ter
juntado as folhas”).
Trabalhando para superar a
relutância dos pais em dar
reforço positivo
Alguns pais que estão tendo problemas
para lidar com o comportamento de seus filhos
ficam inicialmente relutantes e talvez até céticos em relação ao valor do reforço positivo. Esses pais vêm até você em busca de ajuda para
criar punições novas e mais rigorosas para o
mau comportamento. Em nossa opinião, é importante não conspirar com a intenção dos pais
de primeiro desenvolver punições mais duras.
Então, como trabalhamos com pais que não
compartilham de nossa visão de que aumentar
o nível de reforço positivo é uma intervenção
efetiva?
Eis o que tentamos. Primeiro, poderíamos
perguntar ao pai o que realmente deseja. O pressuposto é que o filho o escute e faça o que ele
mandar. Isso estimula perguntas como “O quanto
você é efetivo em fazer seu filho escutá-lo agora?”, “É fácil para uma criança escutar alguém
que está ralhando, repreendendo e punindo?” e
“Você realmente escuta pessoas que fazem essas
coisas?”. Um segundo passo nessa questão envolve ensinar aos pais que reforço positivo suaviza o tom familiar (Barkley e cols., 1999; Becker,
1971; Forehand e McMahon, 1981). Conforme
mencionado no Capítulo 13, muitos desses lares
são caracterizados por climas emocionais tensos,
hostis e conflituosos. Adicionar reforço positivo
combate essa atmosfera opressora. Finalmente,
você pode aumentar a motivação dos pais de tentar reforço positivo, ajudando-os a ver que a punição não está funcionando e que seus filhos provavelmente habituaram-se às conseqüências negativas. É esse hábito que leva os pais a buscar
métodos ainda mais punitivos.
O questionamento socrático é bastante útil
nessas circunstâncias. Considere o breve exemplo a seguir, em que o Sr. Punição acha que o
reforço positivo é conversa fiada e pergunta-se
por que ele tem que “subornar” seu filho.
SR. PUNIÇÃO: Você sabe, não entendo por que
tenho que subornar meu próprio filho. Por
que ele precisa de uma cenoura exposta
na frente dele? Ele simplesmente deveria
fazer o que pedimos sem nenhum pagamento. Que diabos, se eu agisse como ele,
meu pai teria me dado um chute na ...!
TERAPEUTA: Eu entendo, Sr. Punição. Tommy
não está seguindo as suas regras de comportamento ou reagindo como um filho
deveria reagir a seu pai. Isso é realmente
frustrante.
SR. PUNIÇÃO: É isso aí. A idéia de todo dia ser
Natal por bom comportamento simplesmente não é certa.
TERAPEUTA: Eu compreendo. Apenas por um
minuto, lembre-me: como estão funcionando suas punições?
SR. PUNIÇÃO: Elas não funcionam. A criança
parece não se importar. Elas não têm efeito em seu comportamento.
TERAPEUTA: Entendo. Você realmente quer
que as coisas mudem, não quer?
SR. PUNIÇÃO: Alguma coisa tem que ser feita.
TERAPEUTA: Eu concordo. Deixe-me perguntar-lhe uma coisa: você já tentou esta coisa de reforço positivo do jeito que eu descrevi antes?
SR. PUNIÇÃO: Não. Você sabe disso.
TERAPEUTA: Ajude-me a entender. Você quer
que as coisas mudem. O que você está fazendo agora não está funcionando. Você
nunca tentou o reforço positivo. Então,
como pode ter certeza de que ele não vai
ajudar?
A parte importante desse diálogo é que o
terapeuta lidou ativamente com a relutância do
Sr. Punição em usar reforço positivo. Em vez de
fazer um discurso, o terapeuta construiu um diálogo socrático para que o Sr. Punição pudesse
examinar sua própria posição.
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
ENSINANDO OS PAIS A DAR
ORDENS/INSTRUÇÕES
Muitos pais passam uma grande quantidade de tempo dizendo a seus filhos o que fazer e o que não fazer. Contudo dar ordens é uma
tarefa básica freqüentemente desconsiderada
(Barkley, 1997). Ensinar aos pais estratégias mais
efetivas para dar instruções diminuirá seu número e sua freqüência, aumentando ainda as taxas de obediência das crianças (Barkley, 1997).
Barkley recomenda que os pais primeiro prestem atenção às instruções que eles estão dando
e dêem apenas ordens que estejam dispostos a
fazer cumprir. Ele observa que uma série de comandos não reforçados apenas levará a mais
desobediência por ensinar às crianças que a conseqüência de não seguir as ordens é que elas
“evitarão” o comportamento solicitado! Abby,
de 5 anos, costumava brincar com sua comida
na mesa do jantar em vez de comê-la. Seus pais
ameaçaram inúmeras vezes: “Mais uma vez e
você vai para o seu quarto”. Abby respondia
com “Não! Não!”. Seus pais advertiam “Então
é melhor você resolver”. Alguns minutos mais
tarde, o ciclo recomeçava. Quando seus pais finalmente a mandavam para o quarto, Abby atirava-se no chão em um acesso de raiva. Este é
um ciclo em que muitos pais caem, mas felizmente você pode ensinar-lhes técnicas para interrompê-lo.
Você precisa ensinar aos pais que dar um
comando significa dar uma ordem à criança, não
fazer pedidos (Barkley, 1997). Um pedido ou
uma pergunta dá espaço para escolhas (p. ex.,
“Você poderia limpar o seu quarto?” – “Não!”),
portanto, nunca se deve pedir que a criança faça
alguma coisa a menos que os pais estejam dispostos a aceitar um “Não” como resposta (“Junte seus brinquedos agora” será mais efetivo do
que “Você pode juntar seus brinquedos?”).
Forehand e McMahon (1981) sugerem que muitos pais têm problemas com este aspecto de dar
ordens, porque, como adultos, geralmente não
fazemos essa distinção. Com que freqüência dizemos “Você pode atender o telefone?” quando
ele está tocando? Ao dizer isso, estamos fazen-
241
do uma pergunta, mas nossa intenção na verdade é que a pessoa atenda o telefone.
De maneira similar, os pais deveriam evitar súplicas aos filhos. O pai de Mary Ann e
Kathy freqüentemente suplicava “Por favor parem de brigar, pelo menos por mim!”. Novamente, suplicar envia a mensagem que a criança tem
o poder de escolher não seguir a ordem. Embora as crianças possam até recusar comandos,
essas orientações reduzem a oportunidade de
fazê-lo. A desobediência deve então resultar em
conseqüências específicas, tratadas posteriormente neste capítulo.
Finalmente, os pais deveriam evitar usar
“Vamos...” com comandos, a menos que eles verdadeiramente pretendam completar a tarefa com
a criança (Forehand e McMahon, 1981). Portanto, quando o pai diz “Vamos arrumar os blocos”,
ele deveria pretender ajudar a criança a arrumálos, não apenas iniciar a tarefa e então afastar-se,
esperando que a criança a complete independentemente. Não apenas esta declaração desorienta
a criança, como também o pai está modelando a
realização incompleta.
Os comandos deveriam ser específicos e
incluir uma estrutura de tempo para o término
esperado (p. ex., “Eric, você precisa guardar suas
roupas antes do jantar”). Dar apenas um comando de cada vez aumentará a chance de obediência. Tarefas múltiplas apresentadas de uma só
vez, ou comandos em cadeia, provavelmente serão esquecidos; além disso, elas deixam pouco
espaço para o sucesso, já que todas as instruções devem ser obedecidas para que o sucesso
ocorra (Forehand e McMahon, 1981). Uma criança pode ficar assoberbada quando lhe é apresentada uma lista de instruções. Um comando
parecerá mais manejável, invocará menos desconforto e terá maior probabilidade de ser seguido. Acompanhar o comando com uma longa explicação também é um erro comum que os
pais cometem e que pode levar ao não-cumprimento da tarefa porque, quando o pai terminar,
a ordem inicial terá sido esquecida (Forehand e
McMahon, 1981). A obediência deveria ser seguida imediatamente de um elogio específico.
Com uma criança que tem particular dificulda-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
de em prestar atenção e seguir ordens, os pais
deveriam fazê-la repetir as ordens para assegurar seu entendimento (Anastopoulos, 1998).
Conforme mencionado no Capítulo 13,
comandos parentais vagos e fracos sabotam a
obediência. Pense neste exemplo. Stan é um
menino de 12 anos que sofre de transtorno do
déficit de atenção/hiperatividade. Seu quarto
parece ter sido devastado por um bombardeio,
há coisas por todo o lado! Sua mãe ordenoulhe: “arrume seu quarto!”. Stan passou aproximadamente uma hora juntando coisas do chão
para poder ver o carpete. Ele transferiu todas
as coisas do chão para sua escrivaninha, de
modo que as objetos formaram uma pilha alta,
cobrindo o móvel. A mãe voltou e reagiu com
espanto. “Como você pode fazer isso?”, gritou
ela. A mãe e Stan iniciaram um discussão acalorada. A mãe ressentiu-se da aparente desobediência de Stan, o qual ficou perplexo pelo que estava aborrecendo sua mãe.
Então, o que aconteceu? O comando vago
deu origem a diferentes expectativas. Para
Stan, arrumar seu quarto significava juntar
tudo do chão. A mãe, entretanto, tinha uma expectativa diferente. Ela esperava que seu quarto ficasse completamente em ordem e limpo.
Mas sua expectativa não foi comunicada por
seu comando.
O que a mãe poderia fazer diferente? Primeiro, precisaria tornar seu pedido claro e específico (p. ex., “Stan, quero que você pegue as
roupas sujas do chão e as coloque na cesta da
lavanderia”). Segundo, ela precisaria assegurarse de dividir a tarefa em pequenas atividades
realizáveis. Em vez de dar a ordem ambígua,
“Arrume seu quarto”, deveria dividir as tarefas
em subobjetivos (“Apanhe as roupas, guarde os
brinquedos, empilhe os livros.”). Finalmente,
como com qualquer criança com problemas de
atenção ou de comportamento, a mãe tem que
dar uma ordem de cada vez e reforçar os esforços de obediência, portanto, deveria dizer a Stan
para primeiro apanhar as roupas do chão e
colocá-las na cesta da lavanderia. Em seguida,
ela deve checar com ele, recompensá-lo e dar
uma nova atribuição.
Pode-se modelar a “arte” de dar ordens e
impor conseqüências (Barkley, 1997). Os pais
observarão você dando ordens específicas com
uma voz firme, mas calma. Se a criança obedecer, há uma oportunidade para você propor o
reforço adequado. Quando a criança não obedecer, deve-se usar a oportunidade para demonstrar o uso adequado de estratégias de timeout ou de custo da resposta. Em qualquer caso,
você aproveita a chance para modelar a estratégias que está sendo discutida. Da mesma forma, é recomendado treinar e orientar os pais a
fazer pedidos ou recompensar seus filhos adequadamente.
Assim como essas técnicas podem ser bastante novas para os pais, a criança pode também necessitar de um período de ajustamento
para receber ordens. Portanto, algumas crianças podem inicialmente rebelar-se contra essas
estratégias como uma forma de testar limites.
Advertir os pais antecipadamente sobre isso os
ajudará a resolver o problema e a planejar a manutenção de consistência em face desses protestos da criança. A Sra. Preparada previu que
Allen inicialmente responderia a ordens para
juntar as roupas sujas em seu quarto com oposição. Portanto, planejou e informou-lhe das
conseqüências. “Você não vai poder assistir ao
Power Rangers hoje se suas roupas ainda estiverem atiradas no chão na hora do programa. Se
você juntar todas as suas roupas sujas e colocálas no cesto, pode assistir ao Power Rangers”.
ASSOCIANDO O COMPORTAMENTO
DA CRIANÇA ÀS CONSEQÜÊNCIAS
PARENTAIS: CONTROLE DA
CONTINGÊNCIA
A mãe de Carol declarou que o maior problema da filha era que ela não cumpria seus afazeres domésticos e não atendia aos pedidos de
sua mãe. Ao discutir a possibilidade de recompensar Carol por obediência, sua mãe declarou
“Mas ela deveria querer ajudar em casa e contribuir para a família”. Seja como for, Carol não
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
parecia ter aquela motivação e, portanto, um
motivador externo poderia ser necessário.
O controle da contingência é uma utilização específica do princípio de reforço. Seu objetivo é fornecer a motivação externa às vezes necessária para que as crianças obedeçam a certos
pedidos (Anastopoulos, 1998). O processo envolve reforçar positivamente comportamentosalvo em um esquema estabelecido. Assim, a
criança basicamente ganha recompensas ao realizar determinados comportamentos por um número de respostas ou por uma quantidade de
tempo fixados.
Para começar, os pais devem decidir que
comportamentos farão parte do plano de controle
da contingência. Eles podem reforçar a realização da lição de casa ou a lavagem dos pratos após
o jantar. Seja qual for o comportamento escolhido, o plano deve ser discutido com a criança a
fim de que as expectativas parentais sejam claras. Listar e expor visualmente as expectativas
também ajudará. Anastopoulos (1998) recomenda ter uma conversa com os pais sobre a diferença entre direitos e privilégios como uma forma
de facilitar o processo de listagem e determinar
se os pais têm tratado privilégios da criança como
direitos. Considere a crença da Sra. Indulgente
de que ela já retirou a maioria dos privilégios de
Lauren, sua filha de 14 anos. Perguntar à Sra. Indulgente que coisas eram necessárias para sua
filha (comida, roupas, educação) e que coisas ela
poderia “viver sem” (Internet, telefone), ajudou
a identificar privilégios que sempre tinham sido
dados a Lauren, independentemente de seu comportamento.
Fazer um mapa de contingência e colocálo no refrigerador ou em um quadro de avisos
servirá como lembrete visual para a criança.
Para crianças menores, usar figuras do comportamento esperado pode tornar o mapa mais significativo e compreensível. De maneira similar,
o reforçador deveria ser claramente identificado. Incluir a criança na decisão de especificar
um reforçador sempre que possível é recomendado. O reforçador deveria ser estabelecido antecipadamente para que a criança saiba pelo que
está trabalhando.
243
Pontos ou fichas são úteis para acompanhar
o progresso em direção à recompensa. Pontos são
atribuídos para cada privilégio e para cada recompensa. Quando o comportamento é completado, a criança ganha o número de pontos préestabelecido. Ela pode trocar os pontos por recompensas sempre que a quantidade necessária
para um prêmio específico seja acumulada. Alex,
de 8 anos, queria mais cartas de Pokemon e um
novo videogame. Através de um plano de controle da contingência, Alex ganhou pontos por
juntar os brinquedos, lavar a louça e tomar banho quando mandado. Ao final da semana, tinha ganho pontos suficientes para um pacote de
cartas de Pokemon. Ele sabia que se “continuasse com seu bom trabalho” teria pontos suficientes ao final do mês para ganhar um videogame
novo.
Recomendamos que os pais primeiro selecionem comportamentos que sejam relativamente menos difíceis de melhorar e recompensem a conclusão do comportamento-alvo com
um reforçador moderadamente compensador
selecionado pela criança (Barkley e cols., 1999).
Por exemplo, Aaron, um menino de 9 anos, foi
recompensado por arrumar sua cama em quatro de sete dias da semana com uma ida à sua
sorveteria preferida na sexta-feira à noite. O sucesso dessa prática dependerá em parte da capacidade dos pais de fazer cumprir seu plano
consistentemente, ou seja, a criança não deve
ter acesso à recompensa a menos que complete
a solicitação. Se a criança puder desfrutar da recompensa – seja ela uma atividade especial, sua
comida favorita ou um vídeo – sem completar
a tarefa atribuída, não terá motivação para seguir o plano, e este falhará. Portanto, os pais de
Aaron não poderiam levá-lo à sorveteria a menos que ele houvesse atingido seu objetivo de
arrumar sua cama pelo menos quatro vezes na
semana anterior.
Os planos de contingência vêm em muitas formas e tamanhos! Suas especificidades deveriam corresponder à maturidade cognitiva da
criança e às necessidades da família. Em geral,
a criança ganha algum tipo de recompensa por
completar comportamentos desejados. Ela ga-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
nha pequenas recompensas a curto prazo e recompensas maiores por melhora a longo prazo.
Todo dia, Lindsey podia ter o privilégio de escolher uma sobremesa especial após o jantar. Ao
final da semana, se atingisse o objetivo estabelecido a cada dia, era levada ao cinema ou ao
McDonald’s. Após um mês de sucesso com seu
objetivo diário, Lindsey ganhou um jogo de
computador novo. Pontos, adesivos, moedas ou
fichas podem ser concedidos imediatamente
quando um comportamento-alvo ocorre. Um
número estabelecido de pontos, adesivos ou fichas é escolhido para ser trocado por uma recompensa maior (p. ex., 100 pontos por um brinquedo especial, 30 pontos por um sorvete). Crianças
menores respondem bem a adesivos, pois estes
são visualmente atraentes e reforçadores em si
mesmos. Além disso, freqüentemente se interessam por colocar os adesivos em um mapa e exibi-los no refrigerador ou em algum outro espaço
público. Os adolescentes provavelmente acharão
adesivos uma coisa imatura e se beneficiarão
mais de um sistema de pontos. Barkley (1999)
recomendou um “talão de cheques” para manter uma conta-corrente de pontos. Dependendo
da dificuldade em atingir um comportamento desejado, diferentes quantidades de pontos são concedidas. Os pontos podem ser negociados por
reforçadores específicos.
Inicialmente, recomendamos apenas a concessão de pontos. Ou seja, o comportamento
desejável ganhará pontos, adesivos, etc., e o comportamento indesejável geralmente será ignorado ou tratado com outras estratégias, apresentadas posteriormente neste capítulo. Os pais em
geral são rápidos em “retirar” pontos. Isso pode
levar as crianças a ficarem “em débito” e devendo a seus pais, o que é contraprodutivo. O
Sr. Débito tirou 5 pontos de Teddy quando ele
atirou seu casaco no chão, o qual ficou tão aborrecido que começou a ter um acesso de raiva. O
Sr. Débito disse a Teddy que tiraria mais 5 pontos por cada minuto que o casaco ficasse no
chão. Quando o acesso terminou, 10 minutos
mais tarde, Teddy tinha perdido 55 pontos, o
que significava que ele devia a seus pais 35 pon-
tos! Ele teria que comportar-se perfeitamente
por um dia e meio apenas para voltar a zero.
Colocar uma criança nessa posição é desmotivador, cria frustração e será menos efetivo para
mudar um comportamento. Por essas razões, é
mais benéfico criar sucesso e excitação em torno do plano de contingência fazendo a criança
ganhar recompensas, mas não perdê-las. Mais
tarde, uma vez que a estratégia esteja estabelecida, pontos podem ser retirados como punição quando regras específicas forem violadas
(Anastopoulos, 1998; Barkley e cols., 1999). Isso
é chamado de “custo da resposta”. Barkley salienta a importância de a punição corresponder à
violação ocorrida. Portanto, a desobediência às
tarefas do dia-a-dia é mais adequadamente punida com a perda de pontos, enquanto infrações
maiores, como desobedecer o horário de voltar
para casa, exigem punições mais sérias, como
interdição. Quando Patricia, 17 anos, deixou os
pratos do jantar sujos na pia, perdeu 10 pontos.
Quando chegou 30 minutos mais tarde em casa
sem ter telefonado para avisar, ficou sem poder
sair na noite seguinte.
Contratos comportamentais entre adolescentes e seus pais também funcionam bem
(Barkley e cols., 1999). Esses contratos devem estabelecer o comportamento esperado do adolescente, bem como as conseqüências por não fazêlo. Kristen, uma menina de 16 anos, e seus pais
fizeram o seguinte contrato: “Eu, Kristen, virei
direto para casa após a escola a menos que tenha
telefonado e falado com a mamãe sobre fazer diferente. Se eu não cumprir, não terei permissão
para ir a nenhum evento noturno durante o fim
de semana.” O contrato pode então ser exibido
no quarto da adolescente ou no refrigerador.
As crenças dos pais podem comprometer
seu manejo da contingência. Por exemplo, a Sra.
Indulgente achava que “ser uma boa mãe significa dar a meu filho tudo o que ele pedir”, portanto, tornar suas abundantes recompensas contingentes ao comportamento adequado de seu filho Jeremy foi bastante difícil para ela. Você precisaria usar instrumentos de terapia cognitiva
para ajudá-la a avaliar a correção de sua crença
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
(“Qual a evidência a favor e contra essa suposição?”, “Quais as vantagens e as desvantagens de
agarrar-se a essa crença?”, “É possível ser um
bom pai mesmo impondo limites ao filho?”).
A superproteção ou o envolvimento excessivo dos pais também podem influenciar a forma como o pai implementa um programa de
controle da contingência (Chorpita e Barlow,
1998; Kendall e cols., 1991; Silverman e Kurtines,
1996). Chorpita e Barlow (1998, p.12) definem a
superproteção como o “envolvimento parental excessivo no controle do ambiente da criança para
minimizar experiências aversivas para ela”. Os
pais podem achar que ser um bom pai significa
salvar seu filho de qualquer desconforto. Na verdade, assim estarão sendo “prestativos demais”
com seus filhos. Por exemplo, sempre que
Jimmy, 14 anos, entrava em pânico por ter que
fazer um projeto de ciências, seu pai corria e terminava por ele. O pai pensava “É para isso que
servem os pais”. Trabalhar com esse pai para
ensinar-lhe como está inconscientemente privando Jimmy da oportunidade de lidar com a
própria ansiedade e desenvolver um autoconceito firme seria necessário neste caso. Perguntar ao pai “Como os pais podem ajudar os filhos a construir a confiança de que eles podem
fazer coisas difíceis?” poderia ser uma pergunta socrática útil.
A falta de acompanhamento parental, a
desatenção e a inconsistência são ainda problemas que podem limitar o controle da contingência. Alguns pais podem pensar “Por que tenho
que fazer isso? Ele deveria ser capaz de lidar
com seu próprio comportamento!”. Outros podem dizer “Manter o controle de todos esses
pontos e estrelas é trabalho demais para mim!”.
Para lidar com essas crenças, é necessário uma
abordagem gentil, paciente, socrática. Considere o Sr. e a Sra. Surfe, que concordaram em seguir um plano de controle da contingência com
sua filha de 12 anos, Mallory. Infelizmente, os
Surfe nunca escreveram nada e não mantiveram
um controle sobre se recompensaram Mallory
ou não, por isso, o plano de contingência foi um
desolador fracasso. O que você faria?
Recomendamos retornar ao básico. Primeiro, tratar as crenças que reforçam a inconsistên-
245
cia (“Como posso ensinar Mallory que seu comportamento tem importância? Como posso
ajudá-la a ver seu progresso? Qual seria uma
maneira simples de lembrar a Mallory e a vocês
próprios que o comportamento dela tem importância?...”). Em seguida, simplifique o processo
de registro para que fique fácil de completar. Use
um sistema de marcas ou adesivos. Se a escrita
estiver interferindo no processo, poderia ser
sugerido o uso de botões, bolas de gude ou clipes de papel como fichas. Cada vez que Mallory
fizer suas tarefas, seus pais poderiam simplesmente colocar um clipe dentro de um envelope.
Ao final da semana, poderiam contar os clipes.
Você poderia fazer a família praticar o sistema
na sessão para demonstrar que o programa não
consome tempo.
AJUDANDO OS PAIS A LIDAR
COM OS COMPORTAMENTOS
INDESEJÁVEIS DE SEUS FILHOS
Usar atenção e reforço diferencial, dar ordens efetivamente e fazer planos de controle da
contingência aumentarão os comportamentos
desejáveis. Essas técnicas permitem que os pais
evitem problemas pró-ativamente antes que
apareçam. Entretanto, como muitos dizem, isso
não é suficiente! Precisamos preparar os pais
para aqueles momentos em que têm que reagir
aos comportamentos indesejáveis dos filhos.
Esses são os jogos de disciplina “defensivos”.
Nesta seção, fornecemos técnicas para lidar com
mau comportamento, exibicionismo e desobediência.
Ignorar/Extinção
Conforme mencionado anteriormente, a
atenção parental é um reforçador poderoso. Infelizmente, os pais podem inconscientemente reforçar comportamentos indesejáveis das crianças. Por exemplo, às vezes as crianças se exibem para chamar a atenção dos adultos. Quando elas conseguem aquela atenção, seu comportamento exibicionista foi recompensado. Igno-
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Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
rar um comportamento é uma técnica parental
na qual o adulto nega ou retira atenção. Ensinar
os pais a ignorarem um ato indesejável enquanto reforçam um comportamento mais desejável
é uma estratégia poderosa.
Ignorar o mau comportamento de uma criança inclui desviar toda a atenção. O contato visual entre pai e filho deveria ser evitado. O pai
não deveria responder ao comportamento, às discussões ou aos choramingos da criança. Por
exemplo, a mãe de Sheila tentava ignorar seus
choramingos. Ela continuava a fazer seu trabalho como se nada estivesse acontecendo e não
olhava ou falava com Sheila. Assim que Sheila
parava de choramingar, sua mãe olhava para ela,
sorria e elogiava seu melhor comportamento.
Crianças disruptivas podem parecer incansáveis buscadoras de atenção. Retrucar, discutir,
xingar e queixar-se são possíveis tentativas de
chamar a atenção. Warren, de 7 anos, importunava sua mãe quando ela estava falando ao telefone.
Parecia que ele desencadeava seus hábitos mais
detestáveis quando ela tinha as ligações mais
importantes. Ele puxava o rabo do gato, aumentava o volume da televisão, perseguia sua irmã
com a bóia de espaguete e gritava “Ei, mamãe”
incessantemente. Quanto mais sua mãe dava
atenção a esses comportamentos, mais eles aumentavam em intensidade, freqüência e duração.
Quando você estiver ensinando os pais a
ignorar os comportamentos de busca de atenção de seus filhos, deve manter várias coisas em
mente. Primeiro, os pais precisam ter certeza de
que podem ignorar o comportamento, considerando que um comportamento perigoso e
destrutivo nunca deve ser ignorado. Nesses casos, outras estratégias parentais deveriam ser
empregadas. Segundo, a fim de extinguir o comportamento, os pais devem ser capazes de ignorar a intensidade total do comportamento. A
Sra. Nervosa ignorava obedientemente os gritos e acessos de raiva de Tammy até eles alcançarem sua intensidade mais alta. Ela então respondia: “Tammy, você está me deixando surda.
Pare com isso!”. A Sra. Nervosa tinha apenas
ensinado Tammy a gritar mais alto para obter
sua atenção. Terceiro, os pais têm que estar pre-
parados para “um aumento da freqüência do
comportamento a ser extinto” (Spiegler e
Guevremont, 1998), o que significa que, quando você começa a ignorar o comportamento-problema, ele provavelmente vai piorar antes de
melhorar. Por exemplo, quando os pais de
Frank, de 7 anos, ignoravam seus acessos de
raiva, ele “aumentava a aposta” e intensificava
seus gritos estridentes. Seus pais precisavam
resistir a esta última explosão de intensidade
antes que ele se acalmasse.
Time-out
O time-out é uma das técnicas parentais
mais usadas e abusadas. Quando empregada
adequada e consistentemente, produz resultados muito positivos, entretanto, quando não,
pode levar a um aumento de problemas de comportamento e à frustração de pais, crianças e
terapeutas. Rever quando e como utilizar o timeout, bem como modelar ou representar seus passos, é de grande auxílio. A resolução de problemas com a forma como os pais lidam com desobediência e resistência ao processo de time-out
também é justificada. Fornecer psicoeducação
sobre essa prática deveria ser uma rotina com
qualquer pai que esteja buscando ajuda para lidar com o comportamento de um filho usando
essa técnica. Freqüentemente, os pais declaram
que já a usam e que já tentaram isso no passado; deve-se supor, então, que o pai não a usou
adequadamente. Freqüentemente, os pais estão
chamando sua técnica de “time-out” quando na
verdade não estão seguindo os princípios básicos da intervenção.
O Sr. Cético virou os olhos “Eu não acredito nesta técnica. Eu já tentei e não funcionou.
Meus filhos retrucam, discutem, xingam e se
queixam”. Esses comportamentos não são facilmente ignorados e servem como formas de aumentar a atenção e, às vezes, de evitar punição.
Quando os pais envolvem-se nessas trocas com
os filhos, estão os ajudando a evitar a punição e
fornecendo-lhes a atenção que buscam. Quanto
mais o Sr. Cético e seu filho discutem sobre o
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
time-out, mais tempo passa antes que a técnica
seja aplicada. O Sr. Cético finalmente cansa-se
do conflito e desiste, permitindo que o filho evite
a punição. Quando a técnica é usada adequadamente, é a criança que se cansa e muda o comportamento.
Essa técnica remove uma criança de uma
situação reforçadora. Com efeito, Spiegler e
Guevremont (1998, p.141) chamam isso de “suspensão de reforçadores generalizados”. A remoção é temporária e planejada para servir como
instrumento de aprendizagem. Após a breve remoção, a criança tem permissão para retornar à
situação. Se um comportamento adequado for
exibido, ela é reforçada tendo permissão para
continuar nas atividades preferidas, desejáveis.
Se a criança envolve-se novamente em comportamento inadequado, é novamente removida e,
portanto, punida pelo comportamento.
Os pais devem ser aconselhados a “escolher suas batalhas” ao decidir que limites estabelecer com time-out. Uma vez tomada a decisão de tratar um comportamento, o pai deve
estar disposto a ir até o fim. Particularmente no
início, limites firmes e consistência encontrarão
a resistência das crianças. Você deve preparar
os pais para a idéia de que o comportamento de
seu filho provavelmente irá piorar antes de melhorar. Salientar os princípios comportamentais
básicos e as prováveis conseqüências de “ceder”
pode aumentar a aderência parental e a consistência da intervenção.
Os pais deveriam iniciar esse processo
identificando os comportamentos que querem
extinguir. Em seguida, precisam especificar uma
cadeira ou uma peça da casa para o time-out,
um local que deve incluir distrações mínimas e
nenhum reforçador. Então explicam o processo
de time-out ao filho. Quando implementada, sua
duração deveria coincidir com a idade da criança. Geralmente, um minuto por ano de idade
da criança é adequado (sete minutos para uma
criança de 7 anos). Quando a criança se envolve
em um mau comportamento e o pai decide usar
a técnica, diz a ela, “Vá para o time-out por cinco minutos”. O pai pode precisar levar a criança à cadeira ou ao quarto de suspensão. Se a
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criança sentar-se na cadeira pelo tempo proposto, ela pode levantar-se. Se resultou de desobediência a uma solicitação, a criança deve então
completar a solicitação. Se o fizer, então volta
para o time-out.
Vickie, uma menina de 5 anos, freqüentemente saía da cadeira de suspensão sem permissão. Sua mãe não sabia como lidar com esse
comportamento. Nós a ensinamos a imediatamente levar Vickie de volta para a cadeira e dizer-lhe que, se ela levantasse novamente, teria
que ficar sentada por mais 2 minutos além do
tempo estipulado. Se Vickie levantasse, sua mãe
novamente a levaria de volta à cadeira. Se ela
ainda se recusasse a permanecer sentada, deveria sentar-se com ela ou a segurá-la no colo, se
necessário. Era importante assegurar que embora estivesse com Vickie no colo, a mãe fornecesse o mínimo de reforço possível. Portanto,
ela não devia falar, cantar, gritar ou acariciá-la,
mas simplesmente segurá-la. Vickie logo aprendeu que sair do time-out não mais lhe permitia
evitar a punição, na verdade, prolongava-a.
Após algumas tentativas, ela permaneceu no
time-out sozinha.
Spiegler e Guevremont (1998) resumem
primorosamente alguns pontos importantes sobre essa técnica. Primeiro, a criança deve saber
as razões do time-out e sua duração. Segundo,
ele deve ser breve. Terceiro, os pais nunca devem dar qualquer reforço durante esse período. Quarto, precisam manter a criança na suspensão até que ela termine. Se a criança estiver
gritando e/ou levantando da cadeira, o pai deve
declarar claramente “A suspensão começa quando você estiver sentada na cadeira e quieta”.
Quinto, o time-out deve terminar apenas quando a criança estiver comportando-se adequadamente. Por último, mas certamente não menos
importante, as suspensões não deveriam fornecer um ganho secundário para a criança, deixando que ela evite responsabilidades desagradáveis. Quando Beth, 8 anos, foi colocada em
time-out por recusar-se a guardar seus sapatos,
sua mãe agiu corretamente e garantiu que Beth
realizasse a tarefa após a suspensão.
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248
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
A mãe de Eddy, 5 anos, relatava grande
frustração com sua freqüente raiva e agressividade em casa. Ela listou vários comportamentos problemáticos que acreditava que Eddy
estivesse usando para chamar sua atenção. Ela
relatava usar o time-out para lidar com os comportamentos, mas admitia que não tinha visto
nenhum benefício. Quando descreveu seu uso
da técnica, observou que Eddy ficava muito
aborrecido quando ela o mandava para time-out
e chorava. Assim, ela se sentava com ele na suspensão, segurava-o no colo e cantava para ele.
Embora a mãe de Eddy tivesse escolhido uma
estratégia efetiva e aplicada no momento adequado, estava inadvertidamente recompensando o comportamento de Eddy, ao dar-lhe uma
grande dose de atenção. Discutimos com a mãe
a importância de remover todo esse reforço e
maneiras de ela usar seu tempo exclusivo com
Eddy para reforçar o comportamento adequado.
Eddy foi então preparado para o “novo” timeout com o uso de representações. Dissemos à
mãe de Eddy que poderia levar algum tempo
para ambos ajustarem-se a essa nova estratégia.
Inicialmente, os acessos de raiva de Eddy no
time-out pioraram na medida em que ele buscava o conforto e a atenção de sua mãe. Entretanto, rapidamente aprendeu que, em vez de acessos de raiva, comportamento adequado o faria
ganhar um tempo exclusivo com sua mãe.
Remoção de recompensas
e privilégios
A remoção de recompensas e privilégios é
uma maneira comum de diminuir o comportamento indesejável das crianças. Como o time-out,
muitos pais já usam a remoção de recompensas
e privilégios. Entretanto, nós o encorajamos a ajudar os pais a refinar essas estratégias.
Quando ensinamos pais a fazer a remoção
de recompensas e privilégios contingentes a
mau comportamento, nós os instruímos a tentar a remoção no valor do mau comportamento. Por exemplo, Billy, um menino de 9 anos,
ignorou o pedido de sua mãe para entrar em
casa. Ele estava “muito ocupado” andando de
bicicleta na calçada. A conseqüência adequada
aqui seria a perda do privilégio de andar de bicicleta por um dia. Considere outro exemplo.
Teresa, 15 anos, continuamente ultrapassava o
tempo estipulado para usar o telefone, permanecendo horas falando com suas amigas. Qual
seria conseqüência lógica? Remover os privilégios de telefone por um dia é uma punição diretamente associada ao mau comportamento.
Conforme mencionado anteriormente, a
escolha é uma recompensa e um privilégio importantes para as crianças. Como executivos da
família, os pais podem remover essa recompensa, bem como concedê-la. Na verdade, às vezes
remover uma recompensa como a escolha é mais
poderoso do que remover um privilégio palpável como andar de bicicleta ou falar ao telefone.
Por exemplo, a caminho do restaurante com seus
pais, Janet e Bob começaram a discutir, gritar e
xingar um ao outro no banco de trás do carro.
Eles foram advertidos, mas inflexivelmente continuaram sua implicância. Os pais informaram,
então, “Já que vocês ignoraram nossos pedidos
para parar de brigar, perderam a oportunidade
de escolher onde vamos comer esta noite”.
Especificar por quanto tempo o privilégio
ou recompensa será perdido é importante. Diversas orientações são úteis. Primeiro, perder
alguma coisa por um longo período de tempo
raramente é efetivo. Por exemplo, “Você não
pode brincar com seu trenó até o próximo inverno!” não é eficaz, simplesmente porque a criança esquecerá sobre o trenó e se acostumará à
ausência dele. Segundo, remover privilégios de
rotina é preferível a remover recompensas maiores do tipo acontecimento-na-vida (p.ex., ir a
uma festa de aniversário, a um concerto de rock,
ao “grande jogo”). Lembramo-nos de um episódio de Leave it to Beaver no qual os pais, Ward
e June, estavam tentando ajudar seu filho Beaver
a gostar de couve-de-bruxelas. Beaver recusouse a comê-las e seus pais o advertiram de que se
ele não comesse suas couves-de-bruxelas, da
próxima vez não poderia ir ao jogo de futebol
com eles. Então, no jantar da noite antes do jogo,
adivinhe o que foi servido? Couve-de-bruxelas!
Os Cleavers ficaram num beco sem saída. Nem
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A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
mesmo Ward e June Cleaver, os ícones parentais,
podiam levar adiante essa impossível coincidência.
Muitas vezes os pais podem ficar tentados
a remover uma “grande” recompensa. Em nossa experiência, isso se deve a altos níveis de
emoção associados ao mau comportamento.
Nesses casos, achamos útil elaborar essas emoções usando as técnicas cognitivas apresentadas anteriormente neste livro. Pense neste exemplo. Ellie, 10 anos, vinha escondendo de seus
pais suas péssimas notas e comportando-se mal
na escola. Exasperados e desesperados, seus
pais ameaçaram cancelar sua festa de aniversário. Como você interviria com essa família?
Primeiro, trabalharíamos com as crenças
dos pais (“Ellie está fora de controle. Como pai,
devemos recuperar o controle, punindo-a severamente.”). Segundo, usaríamos algumas de
nossas habilidades cognitivo-comportamentais
para ajudar os pais a avaliar (p.ex., “Quais são
as vantagens e as desvantagens?”, “Qual seria
a forma alternativa de olhar para isso?”, “Como
vocês se sentiriam durante duas semanas após
cancelarem a festa de aniversário?”, “O que
vocês estão tentando ensinar a Ellie?”, “Que certeza vocês têm de que uma punição extrema é
uma forma efetiva de ensinar Ellie a ser honesta com vocês e de recuperar o controle?”).
A interdição é uma estratégia parental que
inclui elementos tanto de suspensão quanto de
remoção de recompensas e privilégios e deve
envolver a remoção de reforçadores ou o impedimento de participar de atividades desejadas
(Barkley e cols., 1999). Barkley e colaboradores
salientam armadilhas comuns em que os pais
caem quando usam a interdição inadequadamente. Especificamente, podem interditar a criança
por uma semana e então permitir que ela participe de um evento especial ou podem não permitir que a criança saia de casa, mas permitem
que ela assista à televisão, jogue videogame e use
a Internet. Outras vezes, os pais interditam as
249
crianças, mas são incapazes de monitorar a interdição. Há casos os pais interditam as crianças
por uma semana de cada vez, com a criança acumulando valores de interdição das semanas em
apenas alguns dias. Portanto, Barkley e colaboradores recomendam manter a interdição curta,
de algumas horas a dois dias no máximo. Esta
punição inclui a remoção de todos os privilégios, bem como possivelmente a exigência de algumas tarefas adicionais. Como em outras punições, se os pais planejarem antecipadamente
como lidar com a situação, sua própria raiva
provavelmente não levará a uma ação exagerada (Barkley e cols., 1999).
CONCLUSÃO
Os problemas de relação pai-filho freqüentemente têm um impacto na apresentação e na
manutenção do sofrimento afetivo e na atuação
comportamental na criança, portanto, o envolvimento dos pais no tratamento é um componente lógico que não deve ser minimizado. São
comumente os senhores do reforço em quase
todo o ambiente das crianças. Fornecendo informações aos pais e trabalhando cooperativamente com eles para identificar comportamentos e habilidades-alvo, os terapeutas podem ensinar os pais a dar reforço positivo e apoio a seus
filhos, que se generalizam fora das sessões de
terapia. Essa atitude deve aumentar a freqüência de comportamentos adequados das crianças.
Além disso, os pais podem dar informações valiosas sobre os comportamentos dos filhos entre as sessões de terapia. Acima de tudo, eles
geralmente estão tentando agir no melhor interesse de seus filhos. Seja qual for a disciplina e
as estratégias parentais usadas, seu objetivo é
melhorar o comportamento da criança. Compartilhar com os pais as estratégias empregadas
neste capítulo lhes dará planos de jogo específicos para alcançar esse objetivo.
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INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
Índice
Abordagens diretivas
crianças resistentes, 43-44
no formato de grupo, 227-228
Abuso sexual, 91-95
Achenbach, Child Behavior Checklist de, 208
Acordos de contrato (ver contratos comportamentais)
Aculturação (ver Fatores culturais)
Adesivos, no controle da contingência, 243-245
Afro-americanos
ansiedade, 174-175
depressão, 148-149
influências culturais, 26-28
instrumentos de identificação de sentimento, 7475
língua, 26-28
parentagem, 232-233
programa de prevenção da violência,
220-221
transtornos de conduta, 207
Agressão relacional, em meninas, 208
“Alarmes falsos”, 193-194
Alarmes Reais versus Falsos, 178, 193-194
Aliança terapêutica, 60
Amazing Grace, série (Hoffman), 74-75
Americanos de origem asiática
identificação de sentimento, 74-75
queixas somáticas, 148-149
Americanos de origem mexicana,
depressão, 149-150
Analogia da borboleta, 96-98, 100
Analogias
no questionamento, 95-101
tipos de, 96, 96-98
Analogias de esportes, 96, 105-106, 182-183
Analogias mecânicas, 96
Analogias relacionais, 96-98
Anedonia
e depressão, 146-147
programa de eventos prazerosos, 159-163
Animais, em histórias terapêuticas, 120-121
Ansiedade antecipatória, 193-195
Ansiedade de desempenho, 127-129 (ver também
Medos de avaliação negativa)
Ansiedade de separação, 175
Ansiedade social
análise racional, 195, 195-196
Ansiedade, 173-203
automonitoração, 179-182
avaliação médica, 176-177
avaliação, 175-177
catastrofização na, 16-17, 173-174, 188-195
considerações culturais, 174-176
dessensibilização sistemática, 105-106,
183-186
diferenças de gênero, 174-176
exercícios, 125-126
fator de aderência à tarefa de casa, 141-142
intensidade da, 75-76
intervenções de autocontrole, 187-197
intervenções, 176-197
sintomas, 173-175
terapia de exposição, 115-117
treinamento de habilidades sociais, 185-188
treinamento do relaxamento, 182-184
Antecedentes comportamentais (ver Paradigma de
antecedente-comportamento-conseqüências)
Apenas Porque, intervenção, 194-195
técnica do teste de evidência, 195-197
terapia de exposição, 197-202
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
264
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
terapia de grupo, 198-202
Apenas Porque, intervenção, 195
crianças ansiosas, 173-175, 194-197
terapia de exposição, 198-202
terapia de grupo, 198-202
teste da evidência, técnica, 195-197
Apenas Porque, técnica, 195
Aquisição de habilidade, 103-105
Arca do Tesouro, técnica, 165-167
Argila, na terapia recreativa, 122-123
Atribuições
e enfrentamento da raiva, 224-226
modificação de, 112-115
na depressão, 145-146, 167-170
Autocontrole
adolescentes agressivos, 228-230
aplicação terapêutica, 187-197
na avaliação de potencial suicida, 156
pré-condição para terapia de exposição, 228-230
Autocontrole cognitivo, 187-197
Autoculpa
afro-americanos, 148-149
exercícios terapêuticos, 130-133
Auto-estima, na depressão, 145-146
Auto-instrução, técnicas, 111-112
fases, 111-112
metáfora do marcador de página, 129
na ansiedade, 187-197
na depressão, 165-167
nos transtornos do comportamento disruptivo,
221-224
Automonitoração
e Relógio de Pensamento-Sentimento,
129-132
na ansiedade, 179-182
na depressão, 164-166
nos transtornos disruptivos, 215-216
objetivo, 178
sequência de intervenção, 177
Brinquedo, participação parental, 236-238
Campainhas de Raiva, 215-216
Camundongos, nas histórias terapêuticas, 120-121
Canções, 78
“Caro Doutor”, carta, 69
Cartão de enfrentamento
e Responder ao Medo, 188-190, 193-194
na prevenção de suicídio, 156-159
Cartaz de sentimento, 78
Cartazes, 78
Catastrofização
abordagem de resolução do problema, 112
e ansiedade, 16-17, 173-174, 188-195
e diálogo socrático, 90-92
experiências comportamentais na, 193-195
intervenção do Se o Pior Acontecer, 188-194
Cestas de Pensamento-Sentimento, 127-129
exemplo de caso, 128-129
visão geral, 127-129
Cestas de Pensamento-Sentimento, aplicação, 127129
crianças afro-americanas, 174-175
crianças pequenas, 200-202
intervenção Apenas Porque, 194-195
Charadas de sentimento, 78-79
Checklist do comportamento da criança, 25
Checklist, Achenbach Child Behavior, 208
Círculo de Crítica, exercício, 228-229
Cognição negativa, na depressão, 16-17, 145-146
“Colocando as Brigas no Gelo”, técnica, 221-223
Color Us Rational (Waters), 125-126
Comandos em cadeia, 241-242
Co-morbidez, adolescentes deprimidos, 148
Comportamento agressivo
abordagem de análise racional, 224-227
automonitoração, 214-216
diferenças de gênero, 208
e depressão, 147-148
e raciocínio moral, 226-228
intervenção de grupo, 228-230
métodos auto-instrutivos, 221-224
métodos educacionais, 214-216
procedimentos de reatribuição, 224-226
terapia de exposição, 228-230
treinamento da empatia, 220-222
treinamento de habilidades sociais, 219-221
Comportamento anti-social, 205 (ver também transtornos disruptivos)
Comportamento belicoso (ver Comportamento
agressivo)
Comportamento coercivo, pais, 211-212
Comportamento de evitação
e ansiedade, 173-174
e esquemas, 31-32
Comportamento impulsivo
exercícios, 126-127
intervenções experienciais, 215
projeção de tempo no, 218-220
técnica auto-instrutiva, 223-224
Comportamento pró-social, aumento de, 219-220
Conceitualização de caso, 21-38
componentes, 22-34
dados de testes na, 24-25, 34-35
e antecedentes/conseqüências comportamentais, 32-34, 36
e diagnóstico, 21-23
e planejamento do tratamento, 21-22, 33-34
fatores culturais, 26-28, 34-35
formulação provisória, 33-34, 36-37
problemas atuais na, 22-25
tomada da história, 29-31, 34-36
variáveis cognitivas, 29-33, 35-36
Condicionamento clássico, 32-33
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Condições médicas
crianças ansiosas, 176-177, 201-202
e tratamento de exposição, 201-202
tomada da história, 29
Confecção de máscaras, 126-127
Conners Parent Rating Scales, 208-210
Conners Teacher Rating Scales, 208-210
Constructo de reatância e aderência à tarefa de
casa, 141-142
Contratos comportamentais
e planejamento do tratamento, 21-22, 33-34
na prevenção de suicídio, 156-157
pais e adolescentes, 244-245
Controle da contingência, 242-245
conceitualização, 107-108, 242
contratos comportamentais no, 244-245
uso parental de, 242-245
Controle percebido (ver Problemas de controle)
Crianças do sudeste asiático, 206-207
Crianças maltratadas, histórias terapêuticas, 120-121
Custo da resposta, estratégias de, 242, 244-245
Dados de teste (ver Testes psicológicos)
De Propósito ou Sem Querer, técnica, 221-222
Declarações de enfrentamento, na terapia recreativa, 124-125
Definições universais, 91-95
Depressão, 145-172
adolescentes, 148
automonitoração, 164-166
avaliação, 150-153
co-morbidez, 148
consideração de terapia de exposição, 201-202
considerações culturais, 148-151
crianças, 145-148
diálogo socrático, 91-95
diferenças de gênero, 148-151
e potencial suicida, 152-159
esquemas cognitivos negativos, 16-17, 31-33, 145146
exercícios, 125-126
fator de adesão à tarefa de casa, 141-142
intervenção, 151-153, 159-172
árvore de decisão, 152-153
medicação, 151-153
programa de atividade prazerosa, 159-163
sintomas, 145-148
técnicas auto-instrutivas, 165-167
técnicas de análise racional, 167-172
técnicas de resolução do problema, 163-165
treinamento de habilidades sociais, 162-164
Derrotando o Se o Pior Acontecer, exercício, 188194
Descatastrofização
componente de resolução de problema, 112
descrição da, 105-106
intervenção do Se o Pior Acontecer, 188-194
265
no diálogo socrático, 90-92
Descoberta orientada, 39-46
considerações motivacionais, 42-44
continuum de, 41-46
e estilo interpessoal, 44-46
e problema atual, 41-43
estágio nas considerações de terapia, 41-42
fatores culturais, 45-46
ingredientes, 40-41
objetivo da, 40-41
questionamento socrático na, 96
Desenho
e introdução do modelo de tratamento, 63-66
método de identificação de pensamento, 79-80
método de identificação do problema, 69-70
na identificação de sentimento, 73-74
Desenho animado, na identificação de pensamento, 80-81
Desesperança
avaliação, 154
fator de aderência à tarefa de casa, 141-142
Desobediência
considerações culturais, 139
controle da contingência, 244-245
fontes de, 139
influência parental, 139-142, 240-242, 244-245
problema de controle percebido, 141-142
tarefa de casa, 136-143
Dessensibilização sistemática, 105-106
e treinamento da imaginação, 183-186
intervenção na ansiedade, 183-186
orientações, 106
técnica, 105-106, 183-185
Detetive Particular, técnica, 169-170
Dez Velas, exercício, 104-105
Diário de pensamento, 78-86
e Cestas de Pensamento-Sentimento, 127
e hipótese de especificidade do conteúdo, 83-84
instrução no, 85-86
na identificação de pensamento, 78-86
objetivo, 78-80
Diário de provocação, 187-188
Diários de Disputa, 215-217
Diferenças de sexo (ver Diferenças de gênero)
Dificuldades acadêmicas, adolescentes deprimidos, 148
Discussões empíricas, 96
Discussões funcionais, 96
Discussões lógicas, 96
Dissonância cognitiva, nos dilemas morais, 226228
“Distintivo de Coragem,” 201-203
“Distintivo de Coragem”, recompensa, 201-203
efeito no relacionamento terapêutico de, 115-116
em grupos, 198-199, 228-230
liberação médica para, 201-202
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
266
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
orientações, 116-117
recompensas por, 201-203
Distorções cognitivas
definição, 15-16
e depressão, 165-166
exemplo de caso, 36
Dona Errilda, exercício, 96-98, 100
Droga, uso/abuso, tomada da história, 29-31
Duração de comportamentos problema, 234
Elogio, uso parental de, 235-240
Embaraço, 194-195
Emoções
evitação de, 31-32
identificação de, 73-86
intensidade de, 75-77
na conceitualização de caso, 24-25
Empatia, no diálogo socrático, 90-91
Empirismo colaborativo, 39-46
considerações motivacionais, 42-44
continuum de, 41-46
definição, 39-40
e estilo interpessoal, 44-46
e problema atual, 41-43
estágio nas considerações de terapia, 41-42
fatores culturais, 45-46
Enfrentamento da raiva
abordagem de análise racional, 224-227
crianças agressivas, 215-217, 221-224
procedimento de reatribuição, 224-226
raciocínio moral no, 226-228
técnica de continuum, 226-227
técnicas auto-instrutivas, 221-224
terapia de exposição, 228-230
Entrevistas
avaliação de depressão, 150-151
avaliação do potencial suicida, 154-155
Escala de Ansiedade Multidimensional para Crianças
descrição de, 175-176
na identificação de problema, 70-71, 77-78
“E se...”, declarações
crianças ansiosas, 173-175, 188-190, 192-193
Escalas de Desesperança de Beck, 25
Escalas para Crianças de Beck, 25
Escavador de Pensamento, exercício, 97-98, 100
Escola, ajustamento, 29, 30-31
Escrúpulos, jogo, 227-228
Esquema
compensação, 31-32
evitação, 31-32
Esquemas
definição, 15-16
desenvolvimento de, 15-17
exemplo de caso, 35-36
ligação de depressão, 31-33
na conceitualização de caso, 29-33, 35-36
Esquemas cognitivos (ver Esquemas)
Estabelecimento da agenda, 53-56
com adolescentes, 54-56
com crianças, 54-55
Estabelecimento de limites, 210-211
Estados de humor, identificação de, 73-84
Estilo cognitivo
diferenças de gênero, 149-151
na depressão, 145-146, 149-151
Estilo de questionamento (ver também Método
socrático)
analogias no, 95-106
aplicação de pensamento tudo-ou-nada, 91-95
e metáfora, 95-101
estilo direto, 96-98
humor no, 95-101
na descoberta orientada, 90
Estilo interpessoal
na conceitualização de caso, 24-25
impacto da descoberta orientada, 44-46
Estímulos discriminatórios, 32-33
Estratégia de interdição, 248-249
Estrutura da sessão, 47-62
componente de verificação de sintoma, 48-51
componente do estabelecimento da agenda, 5356
função de “contenção”, 47-48
tarefa de casa na, 51-59
Estruturas cognitivas, 23-25, 29-30, 31-33
Etapas do desenvolvimento, 28-31, 34-36
Exercícios de impressão, 129-133
Exercícios experienciais
enfrentamento da raiva, 228-230
na resolução de problema, 217-219
transtornos disruptivos, 214-215, 217-219
Experiência comportamental, 193-195
Exposição gradual
na ansiedade, 196-198
formato de grupo, 228-230
enfrentamento da raiva, 228-230
Exposição in vivo
adolescentes agressivos, 228-230
formato de grupo, 228-230
Expressões faciais, 73-77
Expressões idiomáticas, 89-90
Extinção, 245-246
Extinção/ignorar, estratégia, 245, 245-246
Eyberg Child Behavior Inventory, 208, 208-210
Famílias (ver também Pais)
adesão à tarefa de casa, 139-142
e tomada da história, 29, 30-31
e transtornos disruptivos, 211-214
fatores culturais, 45-46
processos coercivos, 211-212
treinamento de resolução do problema,
212-214
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
Fantoches, brinquedo 122-125
no exercício do Se o Pior Acontecer, 190, 192-194
no exercício Responder ao Medo, 188-190
visão geral, 122-125
Fatores culturais
ansiedade, 174-176
depressão, 148-150
e descoberta orientada, 45-46
e parentagem, 232-233
e tarefa de casa, 139
na conceitualização de caso, 23-28, 34-35
na identificação de sentimento, 74-75
nos diálogos socráticos, 88-90
papel do empirismo colaborativo, 45-46
transtornos disruptivos, 206-208
Fatores étnicos
ansiedade, 174-175
depressão, 148-150
e instrumentos de identificação de sentimento,
74-75
e língua, 26-28
na conceitualização de caso, 26-28
na criação de filhos, 232-233
transtornos disruptivos, 206-208
Fatores fisiológicos, 24-25
Fatores de idade
e depressão, 148-151
na descoberta orientada, 42-43
Fatores raciais (ver Fatores étnicos)
Fear Survey Schedule for Children Revised, 176-177
Fear Survey Schedule, 25
Feedback negativo, preparação para, 198-199
Feedback, evocação de, nas sessões, 58-59-62
Filmes
na identificação de sentimento, 75-76
no treinamento de habilidades sociais, 220
Fobia social (ver também Ansiedade social)
análise racional, 195-196
Formato de grupo
abordagem de raciocínio moral, 226-228
adolescentes agressivos, 228-230
ansiedade social, 198-202
crianças disruptivas, 226-228
crianças pequenas, 200-202
e treinamento da empatia, 220-221
enfrentamento da raiva, 228-230
Fotografias, e feedback de enfrentamento, 202-203
Fragmentos de sentença incompleta, 82-84
Gênero, diferenças (ver também Meninos; Meninas)
ansiedade, 174-176
depressão, 148-151
transtornos do comportamento disruptivo, 207208
Habilidade, aquisição, 103-105
Habilidades de pare-e-pense, 224
Hiperatividade (ver Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade)
267
Hipótese da especificidade do conteúdo, 16-17
Hispano-americanos
ansiedade, 175
criação de filhos, 232-233
depressão, 149-150
problemas de comportamento, 207
História, tomada da, 29-31, 34-36
Histórias
método de identificação do problema, 78
na introdução do modelo de tratamento, 63-66
Homer the Homely Hound Dog (Garcia & Pellegrini),
125-126
Hopelessness Scale for Children, 25
Humor, no questionamento, 95-101
Identificação de pensamento, procedimentos, 7886
Identificação de problema, processo de, 68-71
adolescentes, 69-71
crianças, 69-70
medidas de auto-relato no, 70-71
Identificação de sentimento, 73-86
com adolescentes, 77-79, 80-84
com crianças, 73-78, 79-82
diário de pensamento, uso de, 78-84
e hipótese de especificidade do conteúdo, 83-84
livros de figuras na, 74-75
Ignorar/extinção, 245-246
Imaginação, treinamento
componente de terapia de exposição, 197-198
na dessensibilização sistemática, 183-186
técnica auto-instrutiva, 221-224
Inibição recíproca, 105-106
Instrução de comando, pais, 240-242
Intenção, e suicídio, 153-154
Intensidade do comportamento, 233-234
Intensidade dos sentimentos, 75-77
Interdição, estratégia, 248-249
Intervenções educacionais, pais, 231-233
Inutilidade, e diálogo socrático, 91-95
Inventário da Ansiedade de Beck, 103-104
Inventário de auto-relato de depressão, 150-151
Inventário de Depressão de Beck, 25
Inventário de Depressão para Crianças, 25
avaliação de depressão, 150-153, 165
na identificação de problema, 70-71, 77-78
Inventário de Fobia Social e Ansiedade para Crianças, 175-177
Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade para Adolescentes, 25
Inventários de auto-relato
avaliação de depressão, 150-151
avaliação do potencial suicida, 154
e verificação do humor, 50-51
instrumento de automonitoração de ansiedade,
182
na conceitualização de caso, 24-25
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
268
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
na identificação do problema, 70-78
Irritabilidade, sintoma de depressão, 145-146
Jogo do Amigo, técnica, 196-197
Jogo, 124-125
exemplo de caso, 124-125
identificação de sentimentos no, 78-79, 80-82
participação parental, 236-238
trapaça no, 124-125
Jogos de tabuleiro, 125
e dilemas morais, 227-228
identificação de pensamentos e sentimentos, 8082
Latinos (ver Hispano-americanos)
Letras de música, 78
Língua
e diálogos socráticos, 88-90
e intervenção, 18-19
influências culturais, 26-28, 45-46, 88-90
Lista de Adjetivos de Depressão, 150-151
Lista de problema, método, 69-70, 70-71
Livros
na identificação de sentimento, 74-76
no treinamento de habilidades sociais, 220
Livros de exercícios, 125-127
Livros de figuras
na identificação de sentimento, 74-75
na introdução do modelo de tratamento,
63-66
Livros de história, 125-126
criação de, 122
recursos para, 125-126
Luz Vermelha, Luz Verde, técnica, 197-198-201-202
terapia de exposição, 197-202
terapia de grupo, 198-202
Luz Vermelha, Luz Verde, técnica, 200-202
Mapa de contingência, 243
Mapa de freqüência, comportamentos problema,
233-234
Mapa de Rostos de Sentimento na, 73-77
sistema de classificação, 73-74
Mapa de Rostos de Sentimento, 73-77
Medicação antidepressiva, 151-153
Medos (ver também Ansiedade)
automonitoração, 179-182
dessensibilização sistemática, 105-106
Medos de assumir riscos, 127-129
Medos de avaliação negativa
análise racional, 195-196
Medos de rejeição (ver Medos de avaliação negativa)
Mei-Mei Loves the Morning (Tsubakiyama), 74-75
Meninas
ansiedade, 175-176
depressão, 149-151
fatores de risco de suicídio, 153-154
transtornos do comportamento disruptivo, 207,
208
Meninos
ansiedade, 175
depressão, 149-151
fatores de risco de suicídio, 153-154
transtornos do comportamento disruptivo, 207,
208
Metáfora da quadra de beisebol, 65-67
Metáfora do marcador de página, 129
Metáfora do relógio, 129-130
Metáforas
considerações culturais, 88-90
e treinamento auto-instrutivo, 221-222
instrumento de introdução do modelo de tratamento, 65-67
no questionamento, 95-101
Método de entrevista, 78-79
Método do telefone
e diálogo socrático, 100-101
e introdução ao tratamento, 67-69
Método socrático, 87-101
adolescentes, 96
analogias e metáforas no, 95-101
ansiedade social, 194-195
aspectos básicos, 87
avaliação de suicídio, 155
considerações de linguagem, 88-90
contexto cultural, 45-46
e descoberta orientada, 96
e tolerância à frustração/ambigüidade, 87-89
humor no, 95-101
mapa de fluxo, 88-89
no estabelecimento da agenda, 53-54
no treinamento dos pais, 240-241
preparação para, 65-66
processo de cinco passos no, 90-92
Meus Pensamentos de Borboleta, analogia, 96-98,
100
Modelagem do super-herói, 126-127
Modelagem, e treinamento parental, 237-242
Modelo ABC
na conceitualização de caso, 32-34
nos problemas de comportamento disruptivo,
214-215
uso parental de, 234, 235
Modelo COPE, 218-219
Modificação de comportamento (ver Reforço)
“Mostro Que Posso”, exercícios, 52-53, 135-136
Motivação
controle da contingência, 242-245
e empirismo colaborativo, 42-44
fator de conteúdo da sessão, 56-58
fator de descoberta orientada, 42-44
na tarefa de casa, 135-136, 139-143
Mudando de Canal, exercício, 78, 110
Música, na identificação de sentimento, 75-76
Narração de histórias, 119-122
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
e crianças maltratadas, 120-121
ênfase na abordagem cognitivo-comportamental, 119-120
função de modelagem velada, 119
procedimento, 119-120
temas terapêuticos, 120-122
Nativos americanos
ansiedade, 175
criação de filhos, 232-233
depressão, 148-150
taxa de suicídio, 148-150
Nomear a distorção, técnica, 165-166
Obediência
considerações culturais, 139
controle da contingência, 242-245
influência parental, 139, 141-142, 240-245
nas atribuições de tarefa de casa, 136-143
problemas de controle percebidos, 141-142, 142
técnicas motivacionais, 136-137, 139-141
Observação, técnica, 187-188
Pais superprotetores
crianças ansiosas, 174-175, 200-201
programa de controle da contingência,
244-245
Pais, 231-249
comportamento coercivo, 211-212
considerações culturais, 232-233
controle da contingência, 242-245
crianças ansiosas, 174-175, 200-201
envolvimento no brinquedo, 236-238
estratégias disciplinares, 245-249
influência na aderência à tarefa de casa, 139142
ordens/instruções por, 240-242
prevenção de suicídio, 156, 158-159
reforço por, 235-245
controle da contingência, 242-245
e transtornos do comportamento disruptivo,
211-214
questionamento socrático com 240-241
superproteção/superenvolvimento, 174-175,
200-201
tarefa de casa, 239-240
treinamento da resolução de problema, 212214
treinamento de, 231-249
terapia de exposição gradual, 200-201
Paradigma de antecedente-comportamento-conseqüência
na conceitualização de caso, 23-25, 32-34
transtornos do comportamento disruptivo, 214215
uso parental de, 234, 235
Pare-e-pense, habilidades, 224
Pattient Adolescent Choices Training (PACT), 220221
269
Pensamento categórico
aplicação de questionamento socrático, 91-95
técnica do continuum no, 170-172
Pensamento dimensional, 94-95
Pensamento tudo-ou-nada
adolescentes disruptivos, 225-227
e medos de avaliação negativa, 195-197
e questionamento socrático, 91-92-94-95
intervenção da técnica de continuum, 170-172
Pensamentos automáticos
definição, 15
e questionamento socrático, 90-91
na conceitualização de caso, 29-30, 31, 35-36
Perfeccionismo, 91-95
Perguntas abertas, 87-89
Piadas, no princípio da resolução de problema, 110
Pizza de Reatribuição, jogo, 167-170
Poemas, 78
Positive Adolescent Choices Training (PACT), 220221
Práticas disciplinares, 245-249
e tomada da história, 29-31
visão geral, 245-249
Preocupação, e experiência comportamental, 193195
Prevenção de violência, 220-221
Previsões negativas
terapia de exposição, 199-200
terapia do jogo, 127-129
verificação de, 161-163
Privilégio de escolha, 237-238, 248
Problema atual
e descoberta orientada, 41-43
na conceitualização de caso, 22-25, 34-35
Problemas de comportamento, 205-230
abordagem auto-instrutiva, 221-224
abordagem de tratamento, 208-210
automonitoração, 214-216
avaliação, 208-210
e depressão, 146-148
estabelecimento de limites, 208-210
estratégias disciplinares, 245-249
fatores culturais e de gênero, 206-208
fatores parentais, 211-214
métodos educacionais, 214-216
projeção de tempo, 218-220
terapia de exposição, 228-230
treinamento de habilidades sociais, 219-221
Problemas de controle
na aderência à tarefa de casa, 141-142
adolescentes, 44-45, 54-56
Problemas legais, tomada da história, 29-31
Procedimento dos balões, 179
Processos de atenção, na depressão, 145-147
Processos de vinculação, 167
Programa de atividade prazerosa, 108-109
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
270
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
descrição de, 108-109
exemplo de, 161
intervenção de depressão, 159-163
Programa de figuras, 160, 161
Programa PACT, 220-221
Programas de reforço, 33-34
Projeção de tempo, 110-111
descrição de, 110-111
intervenção no suicídio, 157-158
transtornos disruptivos, 218-220
Projetos de artes e habilidades, 199-200
Punição
comparada com reforço positivo, 240
estratégia de remoção de recompensas, 248249
uso parental de, 211-212, 238-240
Quebra-cabeça, exercício, 219-220
Queixas somáticas
americanos de origem asiática, 149-150
na ansiedade, 173
na depressão, 147-148
treinamento do relaxamento, 182-184
Questão dos Três Porquinhos, 96
Questionamento didático, estilo, 96
Questionamento direto, evitação de, 96-98
Raciocínio moral
abordagem de enfrentamento da raiva, 226-228
método de grupo de discussão, 226-228
Rational Stories for Children (Waters), 125-126
Ratoeira, exercício, 69-70
Recompensas (ver também Reforço positivo)
na terapia de exposição, 201-203
no controle da contingência, 242, 245
remoção de, 248-249
uso parental de, 310, 242-245
Reforço
aspecto central da terapia, 18-19
e conseqüências comportamentais, 32-34
e questionamento socrático, 240-241
no controle da contingência, 242-245
treinamento parental, 235-245
versus punição, 240
Reforço diferencial, treinamento de pais, 239-240
Reforço negativo
definição, 33-34
no treinamento de pais, 235-237, 240
versus reforço positivo, 240
Reforço positivo
definição, 33-34
e controle da contingência, 242-245
e terapia de exposição, 201-203
uso parental de, 211-212, 235-245
tarefa de casa, 239-240
versus punição, 240
Registro Assuma o Comando, 130-133
Registro Culpando a Si Mesmo, 130-133
Registro Diário de Pensamento
adolescentes, 80-84
e hipótese da especificidade do conteúdo, 83-84
instrução no, 84-86
objetivo do, 78-80
técnica de obediência, 82
Rejeição social (ver Medos de avaliação negativa)
Relacionamento terapêutico
criança disruptiva, 210-211
efeitos da terapia de exposição, 115-116
na terapia cognitiva, 39
Relacionamentos de iguais
e depressão, 147-148
e tomada da história, 28-31
Relacionamentos interpessoais, e depressão, 147148
Relacionamentos sociais, e depressão, 147-148
Relaxamento muscular progressivo, 104-106, 182183
Relaxamento, treinamento
crianças ansiosas, 182-184
técnica, 104-106
Relógio de Pensamento-Sentimento, 129-132
apresentação de, 129-130
diagrama de, 130-132
e diálogo socrático, 97-98, 100-101
Relógio, metáfora, 129-130
Repórter, técnica, 169-170
Resolução de conflito, 229-230
Resolução do problema, intervenções de, 110
depressão, 163-165
e descatastrofização, 112
e narração de histórias, 119-120
em famílias, 212-214
passos básicos, 110
técnica de confecção de máscaras, 126-127
técnicas, 110-111
transtornos disruptivos, 217-219
Respiração controlada, 178, 182-184
Responder ao Medo, habilidade, 187-197
aplicação do brinquedo de fantoches, 188-190
exercício Se o Pior Acontecer na, 188-190, 192193
na ansiedade, 187-197
registro, 188-189
Retraimento social, 146-147
Retrate Isto, 223-224
Revised Children’s Depression Rating Scale, 150-151
Revised Children’s manifest Anxiety Scale,
descrição, 175-176
na identificação de problema, 70-71, 77-78
Roberts Apperception Test for Children, 25
Role Playing
conceitualização, 107-108
no exercício Se o Pior Acontecer, 190, 192-194
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes
no treinamento de habilidades sociais,
163-164
Sapos, nas histórias terapêuticas, 120-121
Se o Pior Acontecer, exercício, 188-190, 192-193
Se o Pior Acontecer, exercício, 188-194
Sequência de pensamento-sentimento-comportamento, 90-91
Shibumi and the Kite-Maker (Mayer), 74-75
Simon Diz, jogo, 224
Sinal de Tráfego de Sentimento, exercício, 76-77
Sintoma, verificação, 48-51
Sistema de pontos, e recompensas, 243-245
Situações sociais não-estruturadas, 173-175
Smoky Night (Bunting), 74-75
Sono, problemas de, 147-148
Suicídio, intenção, 153-154
Suicídio, potencial
avaliação, 153-156
e etnia, 148-149, 154
e intenção, 153-154
fator de colaboração, 41-43
fatores de risco, 153-154
intervenção, 156-159
intervenções comportamentais, 159-172
projeção de tempo, 157-158
Super-herói, modelagem, 126-127
“Supersolucionadores”, conceito, 218-219
Sutter-Eyberg Student Behavior Inventory, 208-210
Tarefa de casa, 135-143
acompanhamentos de, 138-139
benefícios sob medida, 141-142
com adolescentes, 52-53, 138-139
com crianças, 52-53
considerações gerais, 135-139
falta de aderência à, 138-143
influência parental na, 139-142
na estrutura da sessão, 58-59
no treinamento de pais, 239-240
problemas de controle percebidos, 141-142, 142
revisão de, 51-53, 138-139
técnicas motivacionais, 52-53, 135-143
Tartarugas, nas histórias terapêuticas, 120-121
Técnica da farpa, 228-229
Técnica de enevoado
comportamento agressivo, 228-229
descrição de, 186
exemplo de caso, 186-187
Técnica de previsão de ansiedade, 108-110
Técnica de previsão de prazer
conceitualização, 108-110
exemplo de caso, 109-110
Técnica de previsões de verificação, 161-163
Técnica de reatribuição, 112-115
enfrentamento da raiva, 224-226
exemplo de caso, 113-115
na depressão, 167-170
271
visão geral, 112-115
Técnica de vantagens/desvantagens, 110-112
Técnica do detetive, 169-170
Técnica do disco rachado, 107
Técnica do Jogo do Amigo, 196-197
Técnicas de análise racional, 112-115
na depressão, 167-172
na fobia social, 195-196
transtornos disruptivos, 224-227
visão geral, 112-115
Técnicas de continuum
adolescentes disruptivos, 226-227
na depressão, 170-172
Técnicas projetivas, 25
Televisão, e identificação de sentimento, 75-76
Tempo de chão, 236-237
Teoria da aprendizagem social, 14-15
Terapia de exposição, 115-117, 196-203
abordagem gradual, 197-198, 228-230
ansiedade social, 197-202
ansiedade, 196-203
atitudes dos terapeutas em relação à, 115-117
benefícios a longo prazo, 115-116
comportamento agressivo, 228-230
conceitualização, 115-117
considerações especiais, 201-202
crianças pequenas, 200-202
e depressão, 201-202
Terapia recreativa, 122-125
Termômetro de Sentimento, 76-77
Termômetro do Medo, 182
Teste da evidência, orientações de procedimento,
112-113
e medo de avaliação negativa, 195-197
fases de, 112-113
Teste de Apercepção para Crianças, 25
Teste de Apercepção Temática, 25
Teste do Borrão de Tinta de Rorschach, 25
Testes Psicológicos
na conceitualização de caso, 24-25, 34-35
uso de identificação de problema, 70-71, 77-78
The Meanest Thing to Say (Cosby), 74-75
The Optimistic Child (Seligman e cols.), 231
Therapeutic Exercises for Children (Friedberg e cols.),
125-126
Thought Flower Garden (Bernard e Joyce), 79-80
Time-out
duração do, 247-248
orientações, 247-248
técnica parental, 242, 245-248
Tolerância à ambigüidade, 87-89
Tolerância à frustração, 87-89
Tomada de decisão, na depressão, 145-147
Torta de Responsabilidade, técnica, 112-115
e terapia recreativa, 122-123
exemplo de caso, 113-114, 115
INDEX BOOKS GROUPS
INDEX BOOKS GROUPS
272
Robert D. Friedberg e Jessica M. McClure
na depressão, 167-170
visão geral, 112-115
Transtorno de conduta, 205-230
abordagem de tratamento, 208-210
avaliação, 208-210
diferenças de gênero, 208
fatores étnicos, 207
sintomas, 205-206
Transtorno desafiador opositivo
crianças americanas de origem mexicana, 207
diferenças de gênero, 207
sintomas, 205-206
Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade
avaliação, 208-210
diferenças de gênero, 207, 208
manejo parental do, 234, 235
sintomas, 205-207
Transtornos alimentares e depressão, 147-148
Transtornos disruptivos, 205-230
abordagem auto-instrutiva, 221-224
abordagem de raciocínio moral, 226-228
abordagem de tratamento, 208-210
automonitoração, 214-216
avaliação, 208-210
e depressão, 146-148
estabelecimento de limites, 210-211
fatores culturais e de gênero, 206-208
fatores parentais, 211-214, 245-249
intervenções de resolução do problema, 217218, 34-35
métodos educacionais, 214-216
projeção de tempo, 218-220
sintomas, 205-207
técnicas de análise racional, 224-227
terapia de exposição, 228-230
terapia de grupo, 226-230
treinamento da empatia, 220-222
treinamento de habilidades sociais, 219-221
Trapaça, no jogo, 124-125
Tratamento baseado no desempenho, 115-117, 196203 (ver também Terapia
de exposição)
Treinamento da empatia, 106-107
abordagem gradual a, 220-221
crianças agressivas, 220-222
e treinamento de habilidades sociais, 106-107
Treinamento da perspectiva, 106-107
Treinamento da positividade, 107
Treinamento de habilidades sociais, 106-107
componentes, 106-107
na ansiedade, 185-186
na depressão, 162-164
objetivo do, 178
Trilhos dos Meus Medos, procedimento, 179-182
considerações culturais, 89-90
exemplo de registro, 180-181
metáfora do trem no, 179-182
Troca de Moeda, técnica, 166-167
Unidades subjetivas de sofrimento
automonitoração do medo, 179
estabelecimento de hierarquia da ansiedade, 105106
na dessensibilização sistemática, 183-184, 184185
Uso/abuso de substâncias, 29-31
Variáveis sociocognitivas, 18-19
Vaso de União, técnica, 220
Verificação da hipótese, na depressão, 169-171
Verificação de sintoma, 48-51
Verificação do humor, 48-51
com adolescentes, 50-51
com crianças, 48-51
medidas de auto-relato na, 50-51
objetivos, 48-49
Verificação do pensamento
no diálogo socrático, 90-92
preparação para, 65-66
Videoteipe, modelagem por, na prevenção de violência, 220-221
Violência, prevenção de, 220-221
INDEX BOOKS GROUPS
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