See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/349055810 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores Article in RISTI - Revista Iberica de Sistemas e Tecnologias de Informacao · February 2021 CITATIONS READS 0 699 3 authors, including: Manuel Au-Yong Oliveira Cícero Eduardo Walter University of Aveiro Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) 159 PUBLICATIONS 872 CITATIONS 63 PUBLICATIONS 90 CITATIONS SEE PROFILE Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Innovation Management in MSE View project Web Accessibility View project All content following this page was uploaded by Cícero Eduardo Walter on 05 February 2021. The user has requested enhancement of the downloaded file. SEE PROFILE Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Iberian Journal of Information Systems and Technologies Recebido/Submission: 06/09/2020 Aceitação/Acceptance: 05/11/2020 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores Adriana Zoqui de Freitas Cayres Nishimura1, Manuel Au-Yong-Oliveira2, Cicero Eduardo Walter adriana.nishimura@ua.pt; mao@ua.pt; eduardowalter@ifpi.edu.br Doutoranda em Ciências Económicas e Empresarias, Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo, Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 3810-193, Aveiro, Portugal. 1 GOVCOPP, Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo, Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 3810-193, Aveiro, Portugal. 2 GOVCOPP, Federal Institute of Education, Science and Technology of Piauí, Brazil; Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo, Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 3810-193, Aveiro, Portugal. 3 Pages: 585-603 Resumo: Este estudo aborda o desenvolvimento do governo eletrónico (e-Gov Administração Pública. O tema tem despertado grande interesse da comunidade como a disponibilização de serviços públicos online, a nível central, local e transfronteiriço; as metodologias de avaliação dos serviços eletrónicos; a aferição interoperabilidade, usabilidade, inclusão e competências digitais. Um questionário de avaliação do e-Gov em Portugal foi respondido por 632 usuários provenientes de todos os distritos de Portugal, no período de junho a agosto de 2020. Os resultados apontam para uma avaliação mais positiva da qualidade da informação dos portais públicos, usabilidade e satisfação com os serviços eletrónicos, e uma avaliação mais negativa da interoperabilidade dos sistemas. Foi encontrada uma correlação moderada positiva entre as dimensões qualidade da informação, usabilidade, satisfação com os serviços e interoperabilidade. Adicionalmente, os portugueses, estão avançados em matéria de e-Gov. Palavras-chave: Governo Eletrónico; Serviços Públicos Eletrónicos; Portugal; Avaliação do Utilizador; Interoperabilidade; Satisfação. An evaluation of e-government in Portugal from the perspective of the users Abstract: This study addresses the development of e-government (e-gov) in RISTI, N.º E41, 02/2021 585 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores community, at the international level, resulting in a literature that investigates several aspects, such as the availability of online public services, at the central, local and transboundary levels; methodologies for electronic service evaluation; appraisal of the degree of maturity achieved, as well as the challenges in terms of interoperability, usability, inclusion and digital skills. An evaluation survey of e-Gov in Portugal was answered by 632 users from all of the districts of Portugal, from June to August 2020. The results point to a more positive assessment of the information quality of public websites, usability and satisfaction with online services, and a more negative assessment of the systems’ interoperability. A moderate positive correlation was found between the dimensions of quality of information, usability, satisfaction with services and interoperability. Additionally, as the Portuguese score in fact advanced in this area of e-gov. Keywords: e-Government; Online Public Services; Portugal; User Assessment; Interoperability; Satisfaction. 1. Introdução O conceito de governo eletrónico, também referido como e-Government ou e-Gov, surgiu na década de 1990, em resposta aos anseios pela modernização da Administração Pública e da desburocratização do Estado. Consiste na utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para o fornecimento de serviços públicos com agilidade, cidadãos. A diversidade de ferramentas eletrónicas, seja pela via de portais na Internet, pela disponibilização de bancos de dados para consulta, ou pelo desenvolvimento de aplicações para os telefones móveis, visa promover a prestação de serviços públicos de forma remota e disponível num modelo 24/7 (disponível vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana). O grande progresso no governo eletrónico nos últimos anos pode ser atribuído, sobretudo, ao aumento insustentável dos gastos públicos que nem sempre se faziam Estado às necessidades do cidadão); e ao rápido desenvolvimento das TIC e à crescente valorização dos sistemas de informação. os Estados-Membros (EM) a dinamizar a AP em linha (online) em 2006 (Marques, 2016). Ao longo de três décadas, Portugal tem se vindo a desenvolver em termos de governo eletrónico, tendo implementado práticas reconhecidamente inovadoras, ao nível central, regional e local, tendo se destacado algumas em particular, mencionadas de seguida. No âmbito das Finanças, Portugal foi o primeiro país do mundo a receber a declaração do IRS pela Internet, em 1996 (Bilhim e Neves, 2007). Desde 2016, a declaração do IRS é pré-preenchida pela Autoridade Tributária – AT, e com o sistema e-Fatura, a faturação de bens e serviços passou a ser 100% por via eletrónica. 586 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação O preenchida Portal do pela Cidadão, que éTributária um canal– AT, de acesso aos serviços públicos Autoridade e com o eletrónico sistema e-Fatura, a faturação de bensdo Estado, foi operacionalizado em 2003 (Marques, 2016). Por iniciativa da Agência para e serviços passou a ser 100% por via eletrónica. a Modernização Administrativa (AMA), em 2019 foi transformado no portal ePortugal O Portal do Cidadão, que um canal de acessodoeletrónico serviços públicos (www.eportugal.gov.pt), queé agrega os serviços Portal doaos Cidadão com o Portaldodo Estado, foi operacionalizado em 2003 (Marques, 2016). Por iniciativa da Agência Empreendedor, e oferece cerca de 1,200 serviços. para a Modernização Administrativa (AMA), em 2019 foi transformado no portal ePortugal (www.eportugal.gov.pt), que agrega os serviços do Portal do Cidadão com o Portal do Empreendedor, e oferece cerca de 1,200 serviços. tais como a Empresa na Hora, o Cartão do Cidadão eID, e o Licenciamento Zero. O sistema Simplex foi lançado em 2006 e envolve a coparticipação de empresas, ). O Administração Pública e cidadãos. Implementaram-se, assim, medidas de simplificação Jornal como a2018; Empresa na Hora, o Cartão do Cidadão eID, e o Licenciamento Zero. detais Negócios, EcoSapo, 2020). Atualmente, encontramo-nos na edição Simplex 2020-2021 (www.simplex.gov.pt). O A sistema aplicação id.gov.pt (www.id.gov.pt), autenticação digital, venceu a nomeação já foi exportado para países taisde como o Egito, Marrocos e o Paraguai. (Jornalpara de representar Portugal na categoria Negócios, 2018; EcoSapo, 2020). “Government e Citizen Engagement” nos World Summit Awards 2020, promovido pela ONU (ePortugal, 2020). A aplicação id.gov.pt (www.id.gov.pt), de autenticação digital, venceu a nomeação para Desde 2016, Lisboa recebe o Web Summit, uma dase maiores conferências de tecnologia representar Portugal na categoria “Government Citizen Engagement” nos World doSummit mundoAwards (Marques, 2016). Adicionalmente, foi celebrada uma parceria para manter a 2020, promovido pela ONU (ePortugal, 2020). conferência na capital portuguesa até 2028. Desde 2016, Lisboa recebe o Web Summit, uma das maiores conferências de tecnologia do Portugal destaca no desenvolvimento de cidades digitaispara (smart cities), mundo também (Marques,se2016). Adicionalmente, foi celebrada uma parceria manter a havendo mais de 20 projetos de cidades de Norte a Sul de Portugal, incluindo também conferência na capital portuguesa até 2028. também se Innovative destaca no Action-UIA desenvolvimento de cidades digitais (smart cities), noPortugal programa “Urban havendo mais de 20 projetos de cidades de Norte a Sul incluindo o desenvolvimento e aplicação de tecnologias 5G de e Portugal, IoT (Internet dastambém Coisas)nos em Açores. Neste cenário, por exemplo, a cidade de Aveiro já foi aprovada 3 vezes no programa soluções urbanas. “Urban Innovative Action-UIA”, financiado pela União Europeia para o desenvolvimento Desde 2014, de a Comissão (2020) publica anualmente o índice de Digitalidade e aplicação tecnologiasEuropeia 5G e IoT (Internet das Coisas) em soluções urbanas. da Economia e da Sociedade (IDES), o qual monitoriza o desempenho digital da Europa Desde 2014, a Comissão Europeia (2020) publica anualmente o índice de Digitalidade da e os progressos dos Estados-Membros em termos de competitividade digital. O IDES é Economia e da Sociedade (IDES), o qual monitoriza o desempenho digital da Europa e os mensurado em cinco domínios: conectividade, capital humano, utilização de serviços pela progressos dos Estados-Membros em termos de competitividade digital. O IDES é internet, integração das tecnologias digitais e serviços públicos digitais.de No relatório mensurado em cinco domínios: conectividade, capital humano, utilização serviços pelade 2020, Portugal ocupa o 19º lugar entre os países da UE28, destacando-se nos domínios internet, integração das tecnologias digitais e serviços públicos digitais. No relatório de 2020, Portugal ocupa o 19º lugar entre os países da UE28, destacando-se nos domínios da conectividade e dos serviços públicos digitais, conforme indica o gráfico 1. Fonte: Relatório IDES 2020 RISTI, N.º E41, 02/2021 587 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores Destaca-se, neste relatório, o vasto conjunto de medidas do domínio digital que Portugal implementou para fazer face à crise da pandemia do COVID-19, como o desenvolvimento de plataformas para coordenar a disponibilidade de camas e material hospitalar do Serviço Nacional de Saúde-SNS, aplicações para o rastreio de infetados e suspeitos, a ampliação da oferta de serviços digitais do ePortugal, tais como o registo em matéria de nascimentos, assim como plataformas de apoio para as PMEs em atividade. Na área da educação, diversas iniciativas prestaram apoio ao ensino digital em casa, e foram criados canais de telescola para apoiar os estudantes sem acesso à internet. No entanto, o relatório aponta que Portugal está atrasado na atribuição do espetro de radiofrequências para 5G, para além de apresentar um desempenho fraco nos indicadores relativos a competências digitais. Apesar das boas práticas de governo eletrónico implementadas por Portugal, muito se para os serviços eletrónicos, a resistência à mudança presente na cultura organizacional do Estado (Madureira e Rodrigues, 2006; Bilhim e Neves, 2007; Mateus, 2008). A proposta deste trabalho é apresentar um estudo empírico sobre a avaliação de algumas dimensões do governo eletrónico de Portugal, efetuada pelos cidadãos, que são os a nível nacional, e foram obtidas 632 respostas completas. O trabalho está estruturado em sete seções: introdução; revisão da literatura sobre o governo eletrónico e a sua aplicação em Portugal; a metodologia do estudo; os resultados; a discussão; as conclusões; e as referências. 2. O governo eletrónico e estudos do e-Gov em Portugal Devido à crescente evolução tecnológica e ao acesso diário aos serviços públicos por parte da população, governos ao redor do mundo confrontam-se com o constante e-Government, numa visão abrangente, consiste na utilização adequada e vantajosa das TIC por organismos governamentais, quer sejam centrais, regionais ou locais, nos seus mundo, incluem a disponibilização de serviços online nos portais governamentais. Para Dias e Gomes (2014), o governo eletrónico abrange o uso das tecnologias de internos de informação; compras governamentais; a entrega de informação e serviços; e a participação dos cidadãos nos processos de tomada de decisão política. , o Governo desempenha um papel fundamental através da disponibilização de serviços online, não devendo restringir-se a publicar informação em websites e a 588 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação responder a e-mails, mas sim a criar condições para o surgimento de novos serviços online (Millard et al., 2004). Papadomichelaki e Mentzas (2009) descrevem que um fator crítico na evolução do e-Government é o desenvolvimento de websites que melhor sirvam as necessidades dos cidadãos. Os websites oficiais governamentais começaram a surgir na internet em meados da década de 1990. Na sequência, o termo “administração em linha” (online) foi utilizado (Jinmei, 2011). Kumar et al. (2007) referem que o e-Government não se trata de uma tecnologia, mas é, pelo contrário, a utilização de tecnologias ao serviço das instituições governamentais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Nunes et al. (2017) diferenciam os conceitos e as implicações de e-Government e e-Governance serviços governamentais e informações ao público utilizando os meios eletrónicos, a governança eletrónica vai muito além disso, ao permitir que os cidadãos participem ativamente como atores em atividades políticas que ultrapassam os limites de governo, o que inclui democracia eletrónica e voto eletrónico. Para a Comissão Europeia, o e-Government interoperabilidade entre as administrações públicas dos EM constitui-se como um pilar fundamental para a concretização de um Mercado Único Digital (Dias, 2016). Segundo Batista (2017) o modelo de maturidade de e-Government adotado pela União Europeia envolve cinco estágios de desenvolvimento: o primeiro estágio, informação, caracteriza-se pela disponibilização de informações governamentais básicas na Internet. O segundo estágio, interação de mão única, apresenta um certo grau de interatividade, sendo possível o download de formulários e documentos do governo. No terceiro estágio, interação de mão dupla, a interação com o cidadão permite a submissão de formulários. No quarto estágio, transação online quinto (e último) estágio, personalização, visa facilitar a usabilidade dos serviços e dar maior comodidade ao cidadão, ao permitir a criação de sistemas de alertas e mensagens. Para Bilhim e Neves (2007), o governo eletrónico demonstra potencialidades, mas ações endógenas, face às cidadania e a integração das TIC no quotidiano dos habitantes de uma cidade ou região. Ao apresentarem os programas de implementação do governo eletrónico em Portugal ao longo do Governo Constitucional, Bilhim e Neves (2007) concluem que para a sua efetivação são essenciais a focalização no cidadão; a interoperabilidade; o envolvimento Falcão et al. (2014) desenvolveram uma metodologia de avaliação da qualidade dos serviços públicos prestados pela Administração Pública Local, baseada no modelo de Papadomichelaki e Mentzas (2009), intitulado A Multiple-Item Scale for Assessing RISTI, N.º E41, 02/2021 589 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores e-Government Service Quality. Este modelo considera seis critérios para aferir o nível cidadão (interatividade). Os autores aplicaram esta metodologia num estudo envolvendo os websites digitais dos 18 municípios que constituem a NUTS II – região de Lisboa. Participaram no estudo 11 utilizadores com conhecimentos na área das TIC. Os critérios que apresentaram valores de qualidade mais altos foram a facilidade de utilização, o conteúdo e apresentação da Polónia et al. (2014), num estudo encomendado pela Direção Regional da Administração Pública do Porto Santo (DRAPS) à Universidade de Aveiro, desenvolveram um modelo conceptual de governo eletrónico, para ser aplicado como piloto na Ilha de Porto Santo, e para posterior ampliação a nível regional. O modelo incorpora as melhores práticas internacionais ao nível dos sistemas e plataformas de governo eletrónico, respeitando as diretivas europeias e nacionais, de forma a garantir a interoperabilidade ou europeu. Em termos de interoperabilidade, Polónia et al. (2014) salientam que é importante medir os custos de implementação de sistemas que implicam a partilha de informação entre diferentes entidades governamentais, e que se levem em conta questões como a privacidade de dados, articulação de processos de funcionamento entre entidades, e a manutenção e integração de sistemas. serviços focada no governo eletrónico local, Sá et al. (2015) propõem a elaboração de uma metodologia que permita avaliar a qualidade dos serviços eletrónicos prestados via oferecidos, aumentando o grau de satisfação de quem os recebe. 3. Metodologia O objetivo da pesquisa é estudar o governo eletrónico em Portugal sob a ótica dos uma pesquisa descritiva pois descreve o estado atual do governo eletrónico em Portugal. As técnicas estatísticas aplicadas foram de natureza descritiva para se descrever as características de determinado grupo de indivíduos. A recolha de dados foi via um survey por questionário (Bryman e Bell, 2015) enviado por e-mail a nível nacional. A abordagem é, assim, quantitativa. O tratamento, análise e interpretação dos dados foram feitos com a ferramenta IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) – na sua versão 27. O inquérito é composto por 30 questões, sendo que 7 delas se referem à utilização e avaliação do governo eletrónico em Portugal. A tabela 1 apresenta as 7 questões consideradas para este estudo, com a correspondente matriz de respostas. 590 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Perguntas Matriz de respostas 1. Você considera que Portugal seja um país à frente em termos de Governo Eletrónico (e-Gov)? Escolha múltipla Sim, não, não tenho a certeza 2. Com que frequência é que você costuma obter informações de órgãos e serviços públicos por meio da Internet? Escala de Likert Nunca (1), raramente (2), eventualmente (3), frequentemente (4) e sempre (5) 3. Quais as páginas de serviços públicos a que você já acedeu? Portal das Finanças (AT) Serviço Nacional de Saúde (SNS) Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) Portal das Matrículas Portal do Cidadão (atual ePortugal) Portal da Segurança Social Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) Portal dos Manuais Escolares (MEGA) Balcão do Emprego Público (BEP) Nenhuma 4. Como avalia a qualidade das informações disponibilizadas nos portais públicos? 5. De forma geral, como avalia a usabilidade (facilidade de uso) das páginas dos serviços públicos a que acedeu? 6. Como avalia a sua satisfação com os serviços públicos prestados pela Internet? Escala de Likert Escala de Likert Escala de Likert Muito insatisfeito (1), insatisfeito (2), razoavelmente avaliar 7. Como avalia a interoperabilidade (diversos sistemas comunicarem-se entre si) dos portais públicos? Escala de Likert Tabela 1 – Perguntas e matriz de respostas do inquérito O inquérito, que ainda se encontra ativo, teve início em 08/06/2020, e foi instrumentalizado com o recurso à Plataforma LimeSurvey, após a aprovação do Encarregado de Proteção de Dados da Universidade de Aveiro. O público-alvo consiste em membros da sociedade portuguesa no geral, maiores de 18 anos, residentes em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. Para este estudo, foram contabilizadas as respostas completas recebidas até à data de 25/08/2020, totalizando 632 respondentes. com uma margem de erro de ± 4% (Gil, 2017). Foi realizada uma análise descritiva da distribuição de frequência de todas as variáveis, e aplicada uma análise de correlação de RISTI, N.º E41, 02/2021 591 Continental e nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. Para este estudo, foram contabilizadas as respostas completas recebidas até à data de 25/08/2020, totalizando 632 respondentes. Esta amostra de respondentes é significativa para um nível de confiança de 95% (p=0,05), considerando uma população acima de 100.000 elementos ao infinito ( , com uma margem deGoverno erro de ± 4% (Gil, 2017). realizada uma análise descritiva da distribuição Uma avaliação do Eletrónico em Portugal sobFoi a Ótica dos Utilizadores de frequência de todas as variáveis, e aplicada uma análise de correlação de algumas variáveis, utilizando-se o coeficiente de correlação de Spearman. 4. Resultados 4.1 Dados sociodemográficos Conforme tabela2, 2, de respondentes do inquérito (n=632), são Conformemostra mostra aatabela do do totaltotal de respondentes do inquérito (n=632), 354 são do 354 género feminino (56,0%), 273 do género masculino (43,2%) e 5 classificaram-se em outros (0,8%). outros (0,8%). Tabela 2 – Género dos respondentes A faixa etária dos respondentes 3), distribuiu-se em 18 a 22 anos (19,5%), 23 a Tabela(tabela 2 – Género dos respondentes 29 anos (16,3%), 30 a 36 anos (9,2%), 37 a 43 anos (12,8%), 44 a 50 anos (17,7%), 51 a 57 anos (13,1%), 58 a 64 anos (8,01%), 64 a 70 anos (2,1%) e acima de 70 anos (1,3%). 29 anos (16,3%), 30 a 36 Tabela anos (9,2%), 37etária a 43 dos anos (12,8%), 44 a 50 anos (17,7%), 51 a 3 – Faixa respondentes 57 anos (13,1%), 58 a 64 anos (8,01%), 64 a 70 anos (2,1%) e acima de 70 anos (1,3%). Todos os distritos de Portugal participaram no estudo, sendo os que têm maior número de participantes os distritos de Aveiro (27,5%), seguido por Lisboa (19,1%), Portoos(9,0%), Setúbal (5,9%)participaram e Faro (4,9%), mostra tabela Todos distritos de Portugal noconforme estudo, sendo os aque têm4. maior número de participantes os distritos de Aveiro (27,5%), seguido por Lisboa (19,1%), Porto (9,0%), 4 –conforme Distrito demostra residência dos respondentes Setúbal (5,9%) e FaroTabela (4,9%), a tabela 4. A nacionalidade dos respondentes foi predominantemente portuguesa (94,8%). Referindo as outras nacionalidades, predominam brasileiros (2,7%), seguidos por chineses e espanhóis (ambos com 0,3%). Os dados podem ser observados na tabela 5. As habilitações literárias dos respondentes (tabela 6) variaram de 1º ciclo do ensino básico (0,2%), ensino secundário (10,8%), frequência universitária (10,4%), licenciatura ou bacharelato (19,3%), mestrado ou pós-graduação (25,3%), doutoramento (26,6%), pós-doutoramento (4,0%) a professor com agregação (3,3%). Um respondente 592 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Todos os distritos de Portugal participaram no estudo, sendo os que têm maior número de participantes os distritos de Aveiro (27,5%), seguido por Lisboa (19,1%), Porto (9,0%), Setúbal (5,9%) e Faro (4,9%), conforme mostra a tabela 4. e 3º ciclos do ensino básico. Tabela 4 – Distrito de residência dos respondentes A nacionalidade dos respondentes foiresidência predominantemente portuguesa (94,8%). Tabela 4 – Distrito de dos respondentes Referindo as outras nacionalidades, predominam brasileiros (2,7%), seguidos por chineses e espanhóis (ambos com 0,3%). Os dados podem ser observados na tabela 5. Tabela 5 – Nacionalidade dos respondentes Tabela – Nacionalidade dos respondentes As habilitações literárias dos5respondentes (tabela 6) variaram de 1º ciclo do ensino básico (0,2%), ensino secundário (10,8%), frequência universitária (10,4%), licenciatura ou bacharelato (19,3%), mestrado ou pós-graduação (25,3%), doutoramento (26,6%), pós-doutoramento (4,0%) a professor com agregação licenciatura ou bacharelato (17,1%), estudante de mestrado ou doutoramento (14,2%), (3,3%). Um respondente classificou-se em outras (0,2%). Não houve respondentes professor no ensino básico ou secundário (1,4%), docente no ensino superior (32,0%), sem escolaridade, ou com 2º e 3º ciclos do ensino básico. investigador (7,8%), função pública técnica ou administrativa (7,3%), cargos de direção na Administração Pública (1,6%), trabalhador por conta de outrem (11,6%), Tabela 6 – Habilitações literárias dos respondentes RISTI, N.º E41, 02/2021 593 habilitações dos respondentes 6) UmaAs avaliação do Governoliterárias Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos(tabela Utilizadores variaram de 1º ciclo do ensino básico (0,2%), ensino secundário (10,8%), frequência universitária (10,4%), licenciatura ou bacharelato (19,3%), mestrado ou pós-graduação (25,3%), doutoramento (26,6%), pós-doutoramento (4,0%) a professor com agregação (3,3%). Um respondente classificou-se em outras (0,2%). Não houve respondentes empreendedor ou dono de um negócio (2,5%), desempregado (1,1%), reformado (0,9%) sem escolaridade, ou com 2º e 3º ciclos do ensino básico. e outros (2,5%). Não houve nenhuma ocorrência de estudante do ensino secundário nem de dono(a) de casa. Tabela 6 – Habilitações literárias dos respondentes Tabela 7 – Profissão principal dos respondentes Tabela 6 – Habilitações literárias dos respondentes Por sua vez, a profissão principal (tabela 7)principal ficou distribuída entre estudante de licenciatura Tabela 7 – Profissão dos respondentes ou bacharelato (17,1%), estudante de mestrado ou doutoramento (14,2%), professor no ensino básico ou secundário (1,4%), docente no ensino superior (32,0%), investigador (7,8%), função pública técnica ou administrativa (7,3%), cargos de direção na Administração Pública (1,6%), trabalhador por conta de outrem (11,6%), empreendedor ou dono de um negócio (2,5%), desempregado (1,1%), reformado (0,9%) e outros (2,5%). Não houve nenhuma ocorrência de estudante do ensino secundário nem de dono(a) de casa. 4.2 Análise das perguntas Pergunta 1 Conforme mostra tabela 8, 38,0% dos respondentes consideram que Portugal é um 4.2 Análise dasaperguntas país à frente em termos de e-Gov, 29,0% consideram que não, e 33,0% não tem a certeza. 4.2. Análise1 das perguntas Pergunta 8 – Liderança de Portugal em termos de e-Gov Pergunta 1 mostraTabela Conforme a tabela 8, 38,0% dos respondentes consideram que Portugal é um país à frente em termos de e-Gov, 29,0% consideram que não, e 33,0% não tem a certeza. Tabela 8 – Liderança de Portugal em termos de e-Gov Pergunta 2 Tabela 8 – Liderança de Portugal em termos de e-Gov De acordo com a tabela 9, 44,5% dos respondentes obtém frequentemente RISTI, N.º E41, 02/2021 informação de órgãos públicos por meio da Internet, 29,4% eventualmente o fazem, 15,2% raramente o fazem, 8,7% sempre o fazem e 2,2% nunca o fazem. Pergunta 2 594 De acordo com a tabela 9, 44,5% dos respondentes obtém pela frequentemente Tabela 9 –Frequência de obtenção de informações de órgãos públicos internet informação de órgãos públicos por meio da Internet, 29,4% eventualmente o fazem, 15,2% raramente o fazem, 8,7% sempre o fazem e 2,2% nunca o fazem. RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Conforme mostra a tabela 8, 38,0% dos respondentes consideram que Portugal é um país à frente em termos de e-Gov, 29,0% consideram que não, e 33,0% não tem a certeza. Pergunta 2 De acordo com a tabela 9, 44,5% dos respondentes obtém frequentemente informação de órgãos públicos por meio da Internet, 29,4% eventualmente o fazem, 15,2% raramente o fazem, 8,7% sempre o fazem e 2,2% nunca o fazem. Tabela Pergunta 3 9 –Frequência de obtenção de informações de órgãos públicos pela internet As páginas de serviços públicos mais acedidas (figura 1) foram o Portal das Finanças Pergunta 3 (94,1% dos respondentes), seguida pelo Portal da Segurança Social (63,9%), Serviço Perguntade 3 Saúde (62,8%), e Portal do Cidadão (ePortugal), com 42,4% dos Nacional (94,1% dos de respondentes), seguida pelo Portal da Segurança (63,9%), Serviço– respondentes. Noutraspúblicos páginas acedidas (4,0%), sobressai ao Portal página da Finanças ADSE As páginas serviços mais acedidas (figura 1) foramSocial das Nacional de Saúde (62,8%), e Portal do Cidadão (ePortugal), com 42,4% dos Instituto Público de Gestão seguida Participada. (94,1% dos respondentes), pelo Portal da Segurança Social (63,9%), Serviço respondentes. Noutras(62,8%), páginas acedidas sobressai a página da ADSE – Instituto Nacional de Saúde e Portal(4,0%), do Cidadão (ePortugal), com 42,4% dos Público de Gestão Participada. respondentes. Noutras páginas acedidas (4,0%), sobressai a página da ADSE – Portal das Finanças (AT) 94,1% Instituto Público de Gestão Participada. Portal da Segurança Social 63,9% Serviço Nacional de Saúde (SNS) 62,8% Portal do Cidadão (atual ePortugal) 42,4% Portal das Finanças (AT) 94,1% Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) 34,0% Portal da Segurança Social 63,9% Balcão Emprego (BEP) 22,5% ServiçodoNacional dePúblico Saúde (SNS) 62,8% Portal 20,4% Portaldas do Matrículas Cidadão (atual ePortugal) 42,4% Portal dosdos Manuais Escolares (MEGA) (IRN) 16,3% Instituto Registos e do Notariado 34,0% Serviço e Fronteiras 10,1% Balcãode doEstrangeiros Emprego Público (BEP) (SEF) 22,5% Outros 4,0% Portal das Matrículas 20,4% Nenhuma 1,7% Portal dos Manuais Escolares (MEGA) 16,3% Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) 10,1% FiguraOutros 1 – Páginas de serviços públicos acedidas (elaboração própria, com dados 4,0% do SPSS) Nenhuma 1,7% Pergunta Figura 14– Páginas de serviços públicos acedidas (elaboração própria, com dados do SPSS) Figura 1 – Páginas de serviços públicos acedidas (elaboração própria, com dados do SPSS) Quanto à qualidade das informações disponibilizadas nos portais públicos (tabela 10), a maioria Pergunta 4 dos respondentes considera que é boa (52,8%), seguida por razoável RISTI, N.º E41, 02/2021 595 (31,2%), excelente (6,2%), fraca (5,5%) e muito fraca (1,7%). 2,5% dos respondentes Quanto à qualidade disponibilizadas nos portais públicos (tabela não souberam avaliardas esteinformações item. 10), a maioria dos respondentes considera que é boa (52,8%), seguida por razoável (31,2%), excelente (6,2%), fraca (5,5%) e muito fraca dos respondentes Tabela 10 – Qualidade das informações dos(1,7%). portais2,5% públicos não souberam avaliar este item. Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores Pergunta 4 Quanto à qualidade das informações disponibilizadas nos portais públicos (tabela 10), a maioria dos respondentes considera que é boa (52,8%), seguida por razoável (31,2%), avaliar este item. Pergunta 5 A facilidade de uso das páginas de serviços públicos (tabela 11) é avaliada como boa por 42,7%5dos respondentes, razoáveldas por 37,2%, fraca por 10,8%, excelente por 4,7% Tabela 10 – Qualidade informações dos portais públicos Pergunta e muito fraca por 2,5%. Não souberam avaliar este item um total de 2,1% dos A facilidade Pergunta 5de uso das páginas de serviços públicos (tabela 11) é avaliada como boa respondentes. porA42,7% dos respondentes, razoável por 37,2%, fraca por 10,8%, excelente por 4,7% facilidade de uso das páginas de serviços públicos (tabela 11) é avaliada como boa por e muito fraca por 2,5%.razoável Não souberam avaliar este item um total de 2,1% dos 42,7% dos respondentes, por 37, respondentes. fraca por 2,5%. Não souberam avaliar este item um total de 2,1% dos respondentes. Tabela 11 – Usabilidade dos portais públicos Tabela 11 – Usabilidade dos portais públicos Pergunta 6 Tabela 11 – Usabilidade dos portais públicos Os596 respondentes mostraram-se satisfeitos (tabela 12) comRISTI, os serviços públicos N.º E41, 02/2021 prestados 6pela internet (41,1%), razoavelmente satisfeitos (35,6%), muito satisfeitos Pergunta Os respondentes mostraram-se satisfeitos (tabela 12) com os serviços públicos prestados pela internet (41,1%), razoavelmente satisfeitos (35,6%), muito satisfeitos RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Pergunta 6 Os respondentes mostraram-se satisfeitos (tabela 12) com os serviços públicos prestados pela internet (41,1%), (7,4%) razoavelmente satisfeitos (35,6%), muito satisfeitos (11,4%), (11,4%), insatisfeitos e muito insatisfeitos (1,1%). 3,3% dos respondentes não insatisfeitos (7,4%) e muito insatisfeitos (1,1%). 3,3% dos respondentes não souberam souberam dar opinião sobre este item. dar opinião sobre este item. Tabela 12 – Satisfação com serviços públicos prestados pela internet Tabela 12 – Satisfação com serviços públicos prestados pela internet Pergunta 7 Pergunta 7 Quanto à interoperabilidade dos portais públicos (tabela 13), foi considerada como sendo razoável por 31,6% dos dos respondentes, seguida por fraca (25,3%), boa (19,5%), Quanto à interoperabilidade portais públicos (tabela 13), foi considerada como sendo razoável por 31,6% dos respondentes, seguida por fraca (25,3%), boa (19,5%), dos respondentes. muito fraca (8,1%), e excelente (4,1%). Não souberam dar opinião um total de 11,4% dos respondentes. Tabela 13 – Interoperabilidade dos portais públicos Tabela 13 – Interoperabilidade dos portais públicos 4.3 Análise correlacional Optou-se por realizar uma análise de correlação nas variáveis ordinais (as perguntas RISTI, E41, 02/2021 597 2, 4,N.º 5, 6, e 7, que utilizaram uma escala de Likert), sendo excluídos os resultados "não sei avaliar" das questões 4 a 7. O método de escolha foi o cálculo do coeficiente de correlação de Spearman (tabela 14), um teste não paramétrico adequado para a associação de variáveis ordinais. Como classificação do grau de correlação, foi utilizado o seguinte parâmetro: fraco quando 0 < r < 0,4; moderado quando 0,4 < r < 0,7 e forte quando 0,7 < r < 1,0 (Hair et al., 2009). Foram consideradas correlações Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores 4.3. Análise correlacional Optou-se por realizar uma análise de correlação nas variáveis ordinais (as perguntas 2, Spearman (tabela 14), um teste não paramétrico adequado para a associação de variáveis fraco quando 0 < r < 0,4; moderado quando 0,4 < r < 0,7 e forte quando 0,7 < r < 1,0 (Hair et al., 2009). Foram consideradas correlaçõ ância estatística as que ção moderado ou forte. Na análise correlacional entre as variáveis referentes à avaliação das dimensões de e-Government, observouse uma correlação moderada positiva entre as seguintes dimensões: “qualidade das informações” com “usabilidade”; “qualidade das informações” com “satisfação com os serviços”; “qualidade das informações” com “interoperabilidade”; “usabilidade” com “satisfação com os serviços”; “usabilidade” com “interoperabilidade”; “satisfação com que quando uma dimensão é avaliada como satisfatória a outra correlacionada também tende a ser satisfatória. Variáveis (2) (4) (5) (6) (2) Frequência de obtenção de informações em portais públicos 1 (4) Avaliação da qualidade das informações dos portais públicos 0,258** 1 (5) Avaliação da usabilidade dos portais públicos 0.165** 0.639** 1 (6) Avaliação da satisfação com os serviços públicos digitais 0.262** 0.644** 0.666** 1 (7) Avaliação da interoperabilidade dos portais públicos 0.109* 0.413** 0.462** 0.475** (7) 1 Tabela 14 – Matriz de Correlações de Spearman entre as Dimensões de e-Government. 5. Discussão O tratamento estatístico dos dados recolhidos com a presente investigação leva-nos em seguida à discussão dos resultados. Em relação à pergunta 1 (Portugal é um país à frente em termos de governo eletrónico), se somarmos as respostas negativas com as de quem não tem a certeza, chega-se a uma percentagem bastante elevada dos respondentes (quase 2/3) que não reconhecem Portugal como um líder neste domínio, ou pelo menos que têm dúvidas acerca deste papel. Dado que Portugal é um país pouco etnocêntrico (os portugueses não se consideram superiores a outras nacionalidades; contrariamente aos japoneses ou aos alemães, 598 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação que são muito etnocêntricos) este resultado não será de admirar muito (Zeira, 1976; Quanto à frequência com que se obtém informação sobre os órgãos e serviços públicos através da internet (pergunta 2), observa-se que é alta, pois 53% dos respondentes fazem-no com frequência. A percentagem de quem nunca acedeu é de 2%, o que nos leva a crer que as pessoas estão familiarizadas com os meios eletrónicos e se sentem seguras para procurar os serviços digitais. O Portal das Finanças foi a página mais visitada pelos respondentes (quase a totalidade da amostra já o acessou), o que não causa surpresa, uma vez que a declaração do IRS, as faturas eletrónicas, e os recibos verdes são processados por meio deste canal, de entre outras funcionalidades. Também se pode observar um amplo acesso aos Portais da Segurança Social e do Sistema Nacional de Saúde. Aparentemente, não há uma questão fulcral no que concerne a qualidade das informações disponibilizadas nos portais públicos (pergunta 4), pois 59% dos respondentes e 2% não souberam avaliar. Quanto à usabilidade das páginas de serviços públicos (pergunta 5), a avaliação é ligeiramente menos positiva, pois a percentagem dos que consideram que é boa ou Da mesma forma que no item anterior, 2% não souberam avaliar. O grau de satisfação com os serviços públicos prestados pela internet (pergunta 6) é positivo, sendo que 52,5% dos respondentes encontram-se satisfeitos ou muito satisfeitos, e 8,5% encontram-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Neste item, 3% não souberam avaliar. A avaliação da interoperabilidade dos sistemas públicos, por sua vez, foi avaliada como fraca ou muito fraca por 33% dos respondentes, uma percentagem razoavelmente mais Da análise correlacional aplicada às questões que avaliaram as dimensões de avaliação do e-Gov e a frequência de utilização, observou-se uma correlação positiva moderada entre todas as dimensões: qualidade das informações, usabilidade, satisfação com os 6. Conclusões O tema do governo eletrónico tem ganho cada vez mais relevância nas sociedades a nível global, face à procura de custos da máquina administrativa, assim como pela info-inclusão numa esfera de participação política e cidadã. Este trabalho pretendeu contribuir com uma análise do estado da arte, assim como empiricamente, quanto ao tema da avaliação do governo eletrónico e da prestação de serviços por meio digital, sob a ótica do cidadão utilizador. Os resultados obtidos RISTI, N.º E41, 02/2021 599 Uma avaliação do Governo Eletrónico em Portugal sob a Ótica dos Utilizadores com o estudo permitem algumas considerações. No que toca à utilização dos meios eletrónicos para se relacionar com o Governo, observa-se um hábito instituído por parte dos utilizadores, o que corrobora a importância da aplicação das TIC a serviços para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, com uma ampla oferta de serviços em linha (online) (Agrawal et al, 2009; Kumar et al, 2007; Dias e Gomes, 2014). Este resultado também vai ao encontro do relatório da Comissão Europeia (2020), ao referir que Portugal se destaca pela oferta de serviços públicos digitais e pela conectividade. o que nos leva a notar que a familiaridade com os sistemas de informação e o maior grau de literacia digital estarão relacionados com a formação ao nível do ensino superior. Na sua generalidade, a avaliação dos itens qualidade das informações dos portais públicos, satisfação com os serviços eletrónicos prestados e a facilidade de uso dos portais mostrou-se bem avaliada pelos utilizadores, nesta ordem. Também foi encontrada uma correlação moderada positiva entre as dimensões de avaliação de e-Gov utilizadas no estudo, ou seja, qualidade das informações, usabilidade, satisfação com os serviços e interoperabilidade. item recebeu mais avaliações pela negativa do que pela positiva. Esta questão é referida na literatura, sendo que a interoperabilidade é apontada como o pilar fundamental para a (2007) também atribuem grande importância ao desenvolvimento da interoperabilidade para a consolidação do Governo Eletrónico em Portugal. Um resultado surpreendente do estudo é a clara divisão de opiniões sobre Portugal ser um país de destaque em termos de Governo Eletrónico. Devido às avaliações dos itens serem na sua maioria positivas, e os utilizadores estarem habituados à utilização dos serviços eletrónicos, era esperado que os respondentes apresentassem uma perceção mais positiva do papel do governo eletrónico em Portugal. Dado que Portugal é um país pouco etnocêntrico (não favorece pessoas do seu grupo como sendo superiores), este resultado tem sustentação na literatura. distritos, em maior ou menor representatividade, teceremos aqui algumas ponderações sobre as suas limitações. O facto do estudo ter sido respondido por uma parcela enviesamento, e não retratar a realidade da sociedade portuguesa na sua totalidade. Um outro fator a considerar é que o inquérito foi divulgado três meses após o início da consideráveis por parte de todos, Governo, indústria e sociedade, para a digitalização massiva dos processos e serviços, o que envolveu teletrabalho, ensino à distância, consultas médicas e compras online, ou seja, todos tivemos, em menor ou maior escala, que desenvolver competências digitais para fazer frente às novas necessidades. Se o inquérito tivesse sido realizado antes deste cenário, é possível que apresentasse outros resultados, como uma menor habituação à utilização dos serviços públicos online. 600 RISTI, N.º E41, 02/2021 RISTI - Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação Estudos futuros poderão incidir sobre outros países da Europa. Poderá também analisar- Referências Agrawal, A., Shah, P. e Wadhwa, V. (2009). 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