Uploaded by Sara Cristina Damásio

Apostila Energia, Necessidades Nutricionais e Métodos de Avaliação Completa

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ENERGIA, NECESSIDADES NUTRICIONAIS E
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
ENERGIA
A energia é definida como a “capacidade de realizar
trabalho”. O Conselho de Especialistas em Necessidades
de Energia e Proteína da FDA/OMS define as
necessidades de energia como “a necessidade de energia
de um indivíduo que irá equilibrar o gasto de energia a
partir do alimento e que irá equilibrar o gasto de energia
quando o indivíduo possui um tamanho e composição
corporal e atividade física”.
O peso corporal é um indicador de adequação ou
inadequação de energia.
1. COMPONENTES DO GASTO DE ENERGIA
Pode ser dividido em três componentes (mais comum):
taxa metabólica basal (TMR ou TMB) ou gasto energético
de repouso (GER), efeito térmico do alimento e gasto com
atividade física.
GASTO ENERGÉTICO BASAL E DE REPOUSO
O gasto de energia basal (GEB) pode ser definido como a
quantidade de energia utilizada durante 24h enquanto
descansa fisicamente (isto é, deitado) e mentalmente em
um ambiente termicamente neutro.
As medidas de taxa metabólica basal (TMB) são
realizadas pela manhã, após jejum de 10 às 12h após a
ingestão de qualquer alimento, bebida ou nicotina.
Representa ~60 a 70% do Gasto energético total (GET).
Caso uma das condições acima para aferição não seja
preenchida, será classificada com taxa metabólica de
repouso. A taxa metabólica de repouso (TMR) é medida,
em qualquer horário do dia, após jejum de 4h com a
última refeição pobre em proteína. Por razões práticas, as
medidas de TMR são mais utilizadas e são 10 a 20%
superiores que a TMB.
Define-se gasto de energia em repouso (GER) como a
energia despendida nas atividades necessárias para
manter as funções corporais normais (respiração,
circulação, bombeamento de íons, síntese de compostos
orgânicos e atividade do SNC e manutenção de calor) e
homeostase.
Quase 60% do GER podem ser
responsáveis pelo calor produzido pelo fígado, cérebro,
coração e rins.
Fatores que afetam o gasto de energia em repouso
 Tamanho corporal
Pessoas altas e magras possuem maior TMB que
indivíduos baixos e gordos.
 Composição corporal
O principal determinante da TMB é a massa magra (ou
Massa livre de gordura), principal tecido metabolicamente
ativo no corpo. Contribui com ~80% na variação do GER.
 Idade
Como a TMB é determinada pela massa magra e ocorre
perda da mesma com a idade, a TMB declina com a idade.
Prof. José Aroldo Filho
goncalvesfilho@nutmed.com.br
Após o início da idade adulta, há um declínio na TMR de 1
a 2% por kg de massa livre de gordura.
 Sexo
As diferenças metabólicas entre os sexos são decorrentes
da alteração da composição corporal dos mesmos, pois
homens possuem mais massa magra que mulheres,
possuindo então maior TMB.
 Estado hormonal
Principalmente pelos hormônios tireoidianos, que em
elevadas concentrações aumentam a TMB e em
concentrações diminuídas diminui a TMB. Além disso, a
TMB flutua com o ciclo menstrual, tendo seu ponto mais
alto, exatamente antes do início da menstruação. O
aumento médio é de 150 kcal por dia na segunda metade
do ciclo menstrual.
 Temperatura corpórea
A febre aumenta a taxa metabólica em cerca de 13% para
grau de elevação na temperatura corporal acima de 37 oC.
A TMB também é afetada pelos extremos na temperatura
ambiente, em climas tropicais, a TMR é superior 5 – 20%
que naqueles em países temperados.
GASTO ENERGÉTICO INDUZIDO PELA DIETA (ETA)
Define-se efeito termogênico do alimento como o aumento
no gasto de energia associado ao consumo de alimento. É
responsável por aproximadamente 10% da taxa metabólica
diária média (ADMR ou VET).
Termogênese obrigatória  digerir, absorver e
metabolizar nutrientes.
Termogênese facultativa  excesso de energia gasta,
além da obrigatória.
O uso de cafeína, nicotina e álcool estimula a taxa
metabólica. A ingestão de 200 – 350mg de cafeína em
homens e 240mg em mulheres aumenta a TMR em média
de 7 – 11% em homens e 8 – 15% em mulheres.
Nicotina aumenta em 3 - 4% em homens e em 6% entre
mulheres.
Lipídios são oxidados com apenas 4% de perda 
eficiência metabólica.
Chilli e mostarda podem aumentar a TMB em 33% ou mais
que as refeições condimentadas.
GASTO ENERGÉTICO INDUZIDO PELA ATIVIDADE
FÍSICA (AEE)
A energia gasta em atividade física é o componente mais
variável do gasto energético total, podendo variar de 10%,
no acamado, até 50% em um atleta. Isso corresponde a
um gasto de energia em 100kcal/dia no sedentário e até m
3000kcal /dia em um atleta.
O efeito EPOC ou COPE (consumo de oxigênio após o
exercício) afeta o gasto de energia. Mostrou-se que a
duração e a magnitude da atividade aumentam o EPOC,
resultando em uma taxa metabólica elevada mesmo após
o exercício ter terminado.
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2. MEDIÇÃO DO GASTO ENERGÉTICO
As diferenças na taxa de eliminação de DLW é uma
medida de produção de CO2 e utilizando-se técnicas de
calorimetria indireta padrão, estima-se o gasto energético.
A unidade de energia é a caloria ou energia necessária
para elevar a temperatura de 1 mL de água a 15 oC em
1oC.
ESTIMATIVAS DAS NECESSIDADES DE ENERGIA
CALORIMETRIA DIRETA
Monitora a quantidade de calor produzida por um indivíduo
situado dentro de uma estrutura suficiente para permitir
quantidades moderadas de atividade. O método é limitado
pelo alto custo e escassez de instalações apropriadas.
Inúmeras metodologias foram propostas e desenvolvidas
para estimar o gasto energético em humanos, dentre eles
a validação de questionários de freqüência de consumo
alimentar semiquantitativos, recordatórios de 24h e
registros alimentares.
Com o decorrer dos anos, várias equações foram
desenvolvidas para se medir a TMR, como as equações de
Harris & Benedict (1919), da FAO/OMS 1985 e
recentemente novas equações de previsão de GEB
(kcal/kg de massa corpórea total).
A maneira mais comum para predizer o REE para um
indivíduo na prática clínica é aplicar as equações de
Harris-Benedict.
HOMEM:
REE = 66,5 + (13,8 X P) + (5 X A) – (6,8 X I)
MULHER:
REE = 655,1 + (9,6 X P) + (1,8 X A) – (4,7 X I)
Fig 1: Câmara calorimétrica.
Sendo: P – peso atual em kg; A – altura em cm; e I – idade
em anos.
CALORIMETRIA INDIRETA
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Estima o gasto de energia pela determinação do
consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono
pelo corpo durante um período de tempo. Os dados
obtidos da calorimetria indireta permitem o cálculo de
quociente respiratório, onde:
Necessidades nutricionais representam as menores
quantidades de um dado nutriente que devem ser
consumidas por meio dos alimentos, quantidades estas
suficientes para promover saúde e prevenir as
manifestações patológicas derivadas da carência de
determinado nutriente particular.
QR = moles de CO2 expirados/moles de O2
consumidos
Esta determinação é convertida em kcal de calor
produzidos por metro quadrado de superfície corporal.
A FAO e OMS propuseram o termo variação segura de
ingestão (safe range of intake) para designar níveis de
ingestão que se situam entre o nível seguro (safe level) e o
nível acima do qual pode ser detectada evidência de efeito
adverso.
QR = carboidrato 1,0; proteína 0,82; gordura 0,7 e dieta
mista 0,85.
Fig 2: Esteira ergométrica
ÁGUA DUPLAMENTE MARCADA (DLW)
O método da DLW é baseado no princípio de que a
produção de CO2 pode ser estimada pela diferença nas
taxas de eliminação de hidrogênio e oxigênio no corpo.
O indivíduo recebe uma dose de água marcada com dois
isótopos: oxigênio 18 e deutério, que são eliminados em 10
a 14 dias na urina, saliva ou plasma.
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Fig 3: Níveis de ingestão e risco de inadequações
dietéticas.
CARACTERÍSTICAS
As necessidades são maiores por unidade de peso
corporal durante os períodos de crescimento, quando
novos tecidos estão sendo formados.
1) Necessidade média estimada (EAR)
“valor da ingestão de nutrientes que estimado para
alcançar as necessidades em 50% dos indivíduos em um
grupo por estágio de vida e sexo”.
As necessidades aumentam durante a gestação e durante
a lactação.
Assumindo uma distribuição
mediana das necessidades.
Com o avançar da idade, acima dos 40 anos, a massa
magra e a atividade declinam e consequentemente
declinam as necessidades de energia, porém o mesmo
parece não ocorrer com nutrientes essenciais (PTN,
tiamina, riboflavina e B12), que não são diferentes de
adultos jovens. Exceto ferro, as necessidades de
nutrientes por massa corporal total não diferem entre sexo.
2) Quantidade dietética recomendada (RDA)
“Nível de ingestão diário de nutrientes suficientes para
alcançar a demanda de 97 - 98% dos indivíduos em um
grupo por estágio de vida e sexo”.
A distribuição de necessidades nutricionais segue o
modelo de Gauss (distribuição normal). 95% da população
corresponde a mediana adicionada de 2 desvios-padrão e
99% da população corresponde a mediana adicionada de
3 desvios-padrão.
normal,
corresponde à
Assumindo uma distribuição normal corresponde ao p95.
Para cálculo da RDA é fundamental a EAR do nutriente,
onde:
RDA = EAR + 2DP
A RDA é o valor para ser usado para indivíduos e, em
razão da grande variação de ingestão, muitas vezes é
apropriado para avaliação de ingestão de nutrientes ou
planejamento de dietas de grupos populacionais.
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
A RDA (Recommended dietary allowances) tornou-se
amplamente conhecida e aplicada, sendo usada para:
 Planejamento e efetivação de suprimento alimentar para
subgrupos populacionais;
 Interpretação do consumo alimentar de indivíduos e
populações;
 Estabelecimento de padrões para programas de
assistência alimentar;
 Avaliação da adequação do suprimento alimentar para
alcançar necessidades nutricionais em nível nacional;
 Designar programas de educação nutricional;
 Desenvolvimento de novos produtos na indústria.
Entretanto, para que a RDA fosse utilizada corretamente
havia necessidade de algumas premissas serem
atendidas, como o critério de determinação das
necessidades nutricionais, nas quais a RDA se baseia.
Para se estabelecer os novos conceitos surgiu a estrutura
do Projeto DRI (dietary reference intake), substituindo as
revisões periódicas das RDAs.
INGESTÃO DIÁRIA DE REFERÊNCIA
A Ingestão diária recomendada (DRI) refere-se a um
conjunto de pelo menos quatro valores de referência de
ingestão de nutrientes: EAR, RDA, AI e UL.
3) Ingestão Adequada (AI ou IA)
“se não houver disponibilidade de evidências para calcular
a EAR, logo, não tem-se dados para cálculo de RDA, logo,
a IA é usada em substituição”.
Baseia-se na ingestão média de nutrientes observados de
forma experimental que parece sustentar o estado
nutricional. A AI supera a RDA em termos de adequação
nutricional.
É baseada em médias observadas ou ingestão derivada da
ingestão média de um dado nutriente, por uma
população/grupos específicos e que parece sustentar um
estado nutricional definido, evidenciado por indicadores de
adequação nutricional (níveis circulantes normais de
nutriente e velocidade de crescimento adequada).
4) Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL)
“nível máximo de ingestão de nutrientes que é improvável
de colocar riscos adversos à saúde de quase todos os
indivíduos”.
O termo tolerável foi escolhido para evitar implicação de
efeito benéfico. É um teor que pode ser tolerado
biologicamente. Refere-se ao valor máximo à ingestão a
partir dos alimentos, alimentos fortificados, água e
suplementos.
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A UL é determinada levando-se em consideração: NOAEL
– nível máximo de segurança de ingestão (não observa-se
efeito adverso), a LOAEL – limite de segurança mínimo de
ingestão (observa-se o primeiro efeito adverso) e a UF –
fator de incerteza (variação populacional).
UL = NOAEL ou LOAEL
UF
DISTRIBUIÇÃO DA INGESTÃO DIÁRIA DE REFERENCIA
(DRI)
A figura abaixo mostra como as DRIs estão relacionadas à
ingestão.
O Guia Alimentar para a população brasileira  confecção
da Pirâmide Alimentar Brasileira (Sônia Tucunduva
Philippi).
O Guia brasileiro foi realizado tomando-se como base a
pirâmide americana e o planejamento de três dietas
padrões:
1) 1600kcal  mulheres sedentárias e idosos;
2) 2200kcal  crianças, adolescentes do sexo feminino,
mulheres com atividade intensa e homens sedentários;
3) 2800kcal  Adolescentes do sexo masculino, homens
com atividade intensa e mulheres com atividade física
muito intensa.
As dietas possuíam distribuição de macronutrientes da
seguinte maneira: 10 – 15% proteínas; 20 – 30% lipídeos e
50 – 60% carboidratos.
Fig 5: PIRÂMIDE AMERICANA (USDA)
Fig 4: DIRs.
GUIAS ALIMENTARES
Guias alimentares são orientações dietéticas para o
público e se constituem em componente da política de
saúde. Estabelecem metas em termos de alimentos a
serem consumidos por indivíduos.
Não necessitam ser quantificados, mas necessitam ser
baseado em metas.
OBJETIVOS
1) aconselhar consumidores a selecionar dietas
adequadas para obterem melhores chances de saúde em
longo prazo;
2) orientar a alimentação para reduzir as chances de
desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas.
Fig 6: PIRÂMIDE ALIMENTAR BRASILEIRA
(PHILIPPI)
CARACTERÍSTICAS
1)
estabelecimento
de
baixo
custo
e
fácil
operacionalização;
2) incluem orientação de consumo de não nutrientes (como
fibras) e de nutriente não essencial (como colesterol);
3) apresentam orientações gerais, sem especificação para
diferentes segmentos sociais (sexo, idade e estados
fisiológicos);
4) Metas a serem alcançadas para o futuro;
5) expressos como alimentos e em linguagem de fácil
compreensão.
METAS
Um grupo de estudo da OMS propôs metas alimentares
para populações do mundo todo, que foram expressas em
variações do valor energético total:
 Lipídeos entre 15 e 30% VCT, sendo:
o Saturados entre 0 e 10%;
o Polinsaturados de 3 a 7% da gordura total.
 Proteínas de 10 a 15% do VCT;
 Carboidratos de 55 a 75% VCT, sendo;
o Complexos de 50 a 70%;
o Simples/Açúcares de 0 a 10%.
 Fibras 16 a 24g/dia;
 Frutas e vegetais  consumo superior a 400g/dia;
 Sal de 0 a 6g/dia.
Na base da pirâmide encontra-se a atividade física, como
estímulo de prática de 1 a 2 vezes por semana, além de
consumir de 2 a 3L de água por dia. Com base na pirâmide
alimentar, foram definidas algumas recomendações
básicas visando complementar a orientação nutricional:
 Escolher uma dieta variada com alimentos de todos os
grupos da pirâmide;
 Consumir grãos integrais (arroz, farinha e pães);
 Dar preferência aos vegetais, como frutas, verduras e
legumes;
 Consumir alimentos com baixo teor de gordura e dar
preferência às gorduras insaturadas, leite desnatado e
carnes magras;
 Usar, com moderação, açúcar, doces, sal e alimentos
ricos em sódio;
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 Dar preferência aos alimentos em sua forma natural, às
preparações grelhadas, assadas e cozidas em água ou
vapor, para garantir melhor valor nutritivo;
 Ler os rótulos dos alimentos industrializados para
conhecer o valor nutritivo e escolher melhor o alimento que
será consumido;
 Se fizer uso de bebidas alcoólicas, fazer com
moderação;
 Beber, no mínimo, de seis a oito copos de água por dia;
 Mudar
os
hábitos
alimentares
indesejáveis
gradativamente, pois medidas radicais não são
recomendadas;
 Considerar sempre o estilo de vida para atingir o peso
ideal: estimular atividade física regular de 30min ao dia.
DISTRIBUIÇÃO MÉDIA ACEITÁVEL DE NUTRIENTES
(AMDR)
Para redução do aparecimento de doenças crônicas,
segundo a DRIs uma dieta deve fornecer:
CHO
LIP
PTN
45 – 65% VET, sendo:
<25% açúcares simples;
Fibras 14g/1000kcal.
20 – 35% VET (crianças jovens, entre 25 e 40%).
10 – 35% VET (0,8g/kg para adultos de proteínas
de AVB).
A possibilidade de verificar a adequação dos nutrientes,
inclusive daqueles que não possuem EAR, facilita a
avaliação e o planejamento de dietas tanto para indivíduos
quanto para grupos. Entretanto, as DRIs podem não ser
aplicadas para estados específicos de doenças, por isso,
os profissionais de nutrição devem ajustá-las de acordo
com o quadro patológico e verificar os fatores que
contribuem para a variabilidade das necessidades (sexo,
atividade física etc).
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