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Artigo EE - Efetividade no uso do cinto de segurança. Uma analise dos estados norte-americanos

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais
Faculdade de Ciências Econômicas
Pedro Gesteira de Souza // Matrícula: 201510115711
Cinto de segurança e sua efetividade na redução das fatalidades no trânsito: Uma
análise dos estados norte-americanos
Rio de Janeiro
2019
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Sumário
1. Resumo/Abstract .............................................................................................................................. 3
2. Introdução ........................................................................................................................................ 4
3. Literatura Relacionada ................................................................................................................... 4
4. Metodologia ...................................................................................................................................... 5
5. Dados ................................................................................................................................................. 6
6. Estimativas Econométricas ............................................................................................................. 7
6.1 O efeito do uso do cinto de segurança na taxa de fatalidades no trânsito ............................. 7
6.2 O efeito do tipo de abordagem policial no uso do cinto de segurança ................................... 9
7. Conclusão ........................................................................................................................................ 11
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1. Resumo/Abstract
Esse artigo objetiva estimar a efetividade do uso de cinto de segurança na redução do número
de fatalidades no trânsito nos Estados Unidos, e o quão efetivas as leis de obrigatoriedade do uso do
cinto aprovadas nos estados foram em aumentar o uso do cinto de segurança. Em seguida, buscamos
identificar qual tipo de abordagem policial adotada torna a aplicação da lei mais efetiva e, por
consequência, proporciona aumento na taxa de uso do cinto de segurança.
Para tal, foi utilizada uma base de dados que compreende 51 estados norte-americanos em um
horizonte de tempo de 15 anos, que abrange os anos de 1983 a 1997. Utilizando um modelo que
abrange efeitos fixos por entidades e pelo tempo, achamos que o aumento no uso do cinto de segurança
diminui o número de fatalidades no trânsito. Seguidamente, identificamos que a abordagem primária,
na qual o policial tem permissão para parar um veículo, caso os ocupantes não estejam utilizando cinto
de segurança, é mais efetiva para aumentar o uso do mesmo.
This article aims to estimate the effectiveness of the seat belt usage on the reduction of the
numbers of fatality rate per miles traveled. Subsequently, it is estimated what type of policial
enforcement is the most effective.
For such, a database that comprises 51 American states across the years of 1983 and 1997 was
used. Employing fixed effects as our estimation strategy, we were able to find that an increase on the
seat belt usage rate diminishes the number of fatalities; moreover, the primary enforcement, where
the police officer can stop a vehicle, if any occupant inside is not wearing a seat belt, is more effective
in increasing the seat belt usage rate.
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2. Introdução
O período de tempo utilizado torna a análise frutífera pois abrange um período em que o
governo federal norte-americano buscou engajar os estados na aplicação de leis de uso obrigatório do
cinto de segurança. Nesse contexto, houve a adoção deste incentivo pelos estados através de duas
abordagens policiais diferentes: a primeira abordagem, na qual um oficial pode parar um motorista por
estar sem cinto de segurança e enquadrá-lo por isso; e a segunda abordagem, na qual um oficial não
pode parar um motorista somente por estar sem cinto de segurança, mas, caso pare por qualquer outra
razão, e o motorista em questão não estiver com o cinto de segurança em uso, será incriminado também
por este motivo.
Dado tal panorama, o objetivo deste artigo é investigar empiricamente a efetividade do uso do
cinto de segurança como instrumento de redução do número de fatalidades no trânsito e, seguidamente,
qual abordagem policial é mais efetiva para incrementar as taxas de uso de cinto de segurança.
Esse artigo é organizado da seguinte maneira: a seção 3 discute a literatura relacionada a
questão, a seção 4 apresenta e discute a base de dados utilizada, a seção 5 descreve a metodologia
empregada em nossa estratégia de estimação, a seção 6 apresenta os resultados econométricos
encontrados e, por fim, a seção 7 conclui.
3. Literatura Relacionada
É amplamente aceito que o uso de cintos de segurança reduz a chance de fatalidades entre
motoristas e passageiros que estejam usando-o (Levitt e Porter, 2001). Porém, argumenta-se
(Peltzman, 1975) que o uso do cinto de segurança pode causar uma espécie de efeito compensatório
no comportamento do motorista. Com a criação do sentimento de segurança proporcionado pelo cinto,
o motorista pode se sentir incentivado a dirigir mais imprudentemente; de modo que, embora o uso do
cinto de segurança reduza o número de fatalidades de ocupantes de veículo, o número de fatalidades
4
de não ocupantes pode aumentar o suficiente para sobrepassar o efeito positivo da queda do número
de fatalidades de ocupantes de veículo, provocando um aumento no número de fatalidades no trânsito.
O presente estudo busca verificar a hipótese levantada por Peltzman (1975) e, posteriormente,
verificar qual abordagem policial utilizada é a mais significativa para o incremento no uso do cinto de
segurança
4. Metodologia
Com o objetivo de verificar o efeito direto do cinto de segurança nas fatalidades de trânsito, foram
realizadas uma série de regressões com o objetivo de verificar as mudanças nos estimadores das
variáveis em questão. Primeiramente, foi realizado uma regressão simples tratando a base como uma
base de dados em corte transversal; posteriormente, foi adicionado dummys que controlassem
possíveis vieses de variáveis omitidas para os mais diversos aspectos, como limite de velocidade, nível
alcoólico do motorista, se está apto a dirigir ou não, renda e idade. Após, foi realizada a mesma
regressão porém tratando a base de dados como dados em painel e utilizando efeitos fixos por entidade,
de modo a controlar variações decorrentes de diferenças entre estados como características
populacionais, clima, etc. Finalmente, adiciona-se a alteração anterior, também, efeitos fixos pelo
tempo para que seja controlado qualquer efeito geral como mudança tecnológica ou melhora na
qualidade das rodovias.
Para identificar qual abordagem utilizada é a mais efetiva para o aumento do uso do cinto de
segurança, foi realizada uma regressão da variável sb_usage (taxa de uso de cinto de segurança) contra
as dummys que representam a primeira e segunda abordagem respectivamente, controlando para os
possíveis vieses listados acima com efeitos fixos de entidade e de tempo também inclusos.
5
5. Dados
A base de dados utilizada foi um painel balanceado contendo 51 estados norte americanos no horizonte
de tempo de 1983 a 1997. A tabela abaixo fornece um breve resumo da definição de cada variável.
Tabela 1 – Definição das variáveis utilizadas.
Variável
Definição
Fatalityrate (Taxa de fatalidade Número de fatalidades por milhas percorridas
no trânsito)
sb_usage (Uso do cinto de
segurança)
Taxa de uso de cinto de segurança. (Porcentagem
observada de ocupantes de veículo que utilizam cinto de
segurança)
speed65 (Limite de velocidade: Dummy para estados que possuem 65mph como
65mph)
velocidade máxima (igual a 1 caso o estado possua)
speed70 (Limite de velocidade: Dummy para estados que possuem 70mph como
70mph)
velocidade máxima (igual a 1 caso o estado possua)
ba08 (Dummy para Consumo
alcoólico ≤ 0,08)
Dummy para estados que possuem leis de trânsito que
obrigam que o teor alcoólico no sangue seja menor ou
igual a 0,08 (igual a 1 caso o estado possua)
Drinkage21 (Dummy para
idade apta a consumir bebida
alcoólica (maior que 21)
Binary variable for age 21 drinking age
Income (Renda)
Age (Idade)
Renda per capita do Estado
Idade Média no Estado
Primary (Abordagem Primária) Dummy para a abordagem policial primária, no qual o
oficial pode parar um veículo caso constate que um de
seus ocupantes não está utilizando cinto
Secondary (Abordagem
Secundária)
Dummy para a abordagem policial secundária, no qual o
oficial pode multar um ocupante por estar sem cinto, mas
só pode parar um veículo por outro motivo
Vmt (Milhas percorridas
Número de milhas percorridas.
6
6. Estimativas Econométricas
6.1 O efeito do uso do cinto de segurança na taxa de fatalidades no trânsito
A tabela 2 abaixo apresenta uma série de regressões lineares cada qual com especificações que
garantem resultados mais robustos em relação a regressão anterior.
Tabela 2 – Efeito do uso do cinto de segurança na taxa de fatalidades no trânsito
Variável Dependente:
Taxa de fatalidade no trânsito
(Por milhas percorridas)
Variáveis
Independentes
Constante
Uso do cinto de
segurança
Limite de velocidade:
65mph
Limite de velocidade:
70mph
Dummy para
Consumo alcoólico ≤
0,08
Dummy para idade
apta a consumir
bebida alcoólica
(maior que 21)
Log(Renda)
Idade média
R² ajustado
Efeitos Fixos no
Tempo
Efeitos Fixos por
Entidade
(1)
(2)
(3)
0,1965***
(0,01981)
0,004068*
(0,002391)
0,0001479
(0,0006026)
0,002404***
(0,0006951)
0,1209***
(0,01842)
-0,005774***
(0,001669)
-0,0004250
(0,0004554)
0,001233***
(0,0003482)
-0,07799
(0,06636)
-0,003718**
(0,001451)
-0,0007
(0,0005)
0,0008*
(0,0004)
-0,001924**
(0,0007414)
-0,001377***
(0,0003750)
-0,0008*
(0,0004)
0,00007988
(0,001272)
0,00074532
(0,0007184)
-0,0011*
(0,0006)
-0,018144***
(0,002428)
-0,000007220
(0,0004431)
54,35%
-0,01351***
(0,002384)
0,0009786
(0,0007460)
68,68%
0,0062
(0,0066)
0,0013*
(0,0006)
75,06%
Não
Não
Sim
Não
Sim
Sim
A regressão (1) representa uma regressão linear no qual a base de dados é tratada como corte
transversal e, portanto, não controla para efeitos fixos no tempo e por entidade. Torna-se evidente que
7
não controlar para efeitos fixos provoca distorções aparentes que invalidam a estimação; o próprio
valor positivo do coeficiente do uso de cinto de segurança denota isso. De acordo com o coeficiente,
um aumento de 1% na taxa de uso de cinto de segurança provoca um aumento de 0,0040 no número
de fatalidades por milhões de milhas percorridas. Embora duvidoso, tal resultado poderia acompanhar
o argumento de Peltzman (1975) de que possa haver um efeito compensatório no uso do cinto de
segurança se não fosse pela alteração de resultados apresentada na próxima regressão.
Na regressão (2) o resultado muda quando utiliza-se efeitos fixos por entidade. O valor do
coeficiente do uso de cinto de segurança muda completamente e adota um sinal negativo com uma
razão T consideravelmente maior em relação a da equação anterior (5 para 1,7) denotando significância
estatística de 99%. Nota-se que a adição de efeitos fixos por entidade abrange maior variação dos
dados, denotado pelo salto no R² em aproximadamente 13 p.p., embasando a maior robustez da
estimativa com a adição do efeito fixo por entidade.
Analisar e interpretar os coeficientes associados com o ambiente macroeconômico (desemprego e
renda)
Já na regressão (3), a adição de efeitos fixos pelo tempo torna a significância tanto da variável
de interesse quanto das outras variáveis de controle menor. Tal resultado demonstra que muito da
significância das variáveis na regressão (2), regressão que possui apenas efeitos fixos por entidade, é
resultado de possíveis variações provocadas pela passagem do tempo, como ambiente
macroeconômico e melhoria tecnológica que, quando removidos, removem este efeito que estava
inserido nas outras variáveis.
A alteração na variável log (renda) pode ser o maior indicador desse resultado; como a renda é
resultado do ambiente macroeconômico, o qual é dinâmico conforme a passagem do tempo, ao
explicitar tal efeito temporal, muita da significância da variável renda é tomada. Corrobora-se também
8
à validade da inserção de efeitos fixos no tempo o aumento do R² ajustado em 6,38 p.p, indicando que
a regressão é capaz de explicar mais da variabilidade presente nos dados com a inclusão dos efeitos
fixos no tempo. Embora menor, o efeito do uso de cinto de segurança continua significante para 95%
de confiança, com uma razão T de, aproximadamente, 2,56. O coeficiente da variável indica que um
aumento de 1 p.p. na taxa de uso de cinto de segurança diminuiria o número de fatalidades por milhas
percorridas em 0,003718; utilizando a média das milhas percorridas em 1983, calculada utilizando a
média do total de milhas percorridas por cada estado neste ano, obteríamos 32.335*(0,003718) = 120
fatalidades a menos no ano.
6.2 O efeito do tipo de abordagem policial no uso do cinto de segurança
A tabela 3 abaixo apresenta uma série de regressões com a mesma progressão demonstrada na
tabela anterior. Cada regressão apresentada possui alterações em sua estimação de modo que torne-se
mais robusta do que a regressão anterior.
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Tabela 3 - Efeito dos diferentes tipos de abordagem policial na taxa de uso de cinto de segurança
Variáveis Independentes
Constante
Variável Dependente: Uso do
cinto de segurança
(1)
(2)
(3)
-2,819*** -4,678***
-0,893
(0,455)
(0,378)
(2,642)
Abordagem Primária
0,3***
(0,025)
0,212***
(0,022)
0,206***
(0,023)
Abordagem Secundária
0,148***
(0,017)
0,118***
(0,013)
0,109***
(0,013)
Limite de velocidade: 65mph
0,075***
(0,021)
0,031*
(0,017)
0,023
(0,021)
Limite de velocidade: 70mph
0,01
(0,02)
-0,016
(0,019)
0,012
(0,021)
Dummy para idade apta a
consumir bebida alcoólica
(maior que 21)
-0,004
(0,022)
0,029
(0,024)
0,011
(0,027)
Dummy para Consumo
alcoólico ≤ 0,08
0,046**
(0,018)
0,013
(0,021)
0,004
(0,018)
Idade média
-0,005
(0,005)
0,001
(0,02)
0,014
(0,023)
Log(Renda)
0,337***
(0,049)
0,508***
(0,059)
0,058
(0,256)
R² ajustado
Efeitos Fixos no Tempo
Efeitos Fixos por Entidade
74,22%
Não
Não
81,75%
Não
Sim
84,20%
Sim
Sim
Assim como a série de regressões anteriores, esta apresenta, na regressão (1), uma regressão
considerando inicialmente a base de dados como dados em corte transversal. Nota-se alta significância
estatística para ambas as abordagens e para algumas variáveis de controle; porém, ao incluir efeitos
fixos por entidade, na regressão (2), tal significância se ameniza e permanece apenas nas variáveis de
interesse e na Log (Renda).
Já na regressão (3), ao incluir efeitos fixos no tempo, as variáveis significantes limitam-se às
respectivas abordagens, denotando que a variabilidade atribuída as variáveis de controle nas regressões
10
anteriores eram resultado de variações causadas pela passagem de tempo. Em todas as regressões,
nota-se que a abordagem mais significativa é a primária. Utilizando a regressão (3) como base,
verifica-se que a adoção da abordagem primária incrementa a taxa de uso de cinto de segurança em
20,6% enquanto que a adoção da abordagem secundária incrementa em apenas 10,9%.
7. Conclusão
Conclui-se, portanto, que o efeito do uso de cinto de segurança no número de fatalidades no trânsito é
significante e negativo. Logo, a teoria do comportamento de compensação de Peltzman (1975) não
encontra validade para estes dados e estratégias de estimação. Em relação ao tipo de abordagem mais
efetiva, os resultados encontrados apontam para a abordagem primária, indicando que limitar a
abordagem policial impedindo o oficial de abordar carros pela falta de uso do cinto de segurança
diminui a efetividade das leis de uso obrigatório no uso de cinto de segurança pela metade. Portanto,
há ganhos significativos no uso do cinto de segurança e na escolha certa da abordagem.
8. Referências Bibliográficas
Levitt, S. D., & Porter, J. (2001). Sample Selection in the Estimation of Air Bag and Seat Belt
Effectiveness. Review of Economics and Statistics, 83(4), 603–615.
Cohen, A., & Einav, L. (2003). The Effects of Mandatory Seat Belt Laws on Driving Behavior and
Traffic Fatalities. Review of Economics and Statistics, 85(4), 828–843.
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