Uploaded by Edson Artemio Dos Santos

Um Estudo da Parábola do Filho Pródigo Edson Artêmio

advertisement
UM ESTUDODA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
POR EDSON ARTÊMIO DOS SANTOS
INTRODUÇÃO
A conhecida parábola de Jesus Cristo, registrada no Evangelho de Lucas 15:11-32, faz parte de um bloco
composto de três parábolas todas tratando do retorno do que estava aparentemente perdido. Cada uma
apresenta uma determinada situação de perda, busca e retorno, mudando em cada caso os elementos, motivos
da perda e forma de retorno.
Na parábola, que foi nomidada pela tradição cristã, de “O Filho Pródigo”, que por sinal é a mais longa e
elaborada das três contidas no mesmo bloco, descurtina-se a possibilidade ampla de aplicação pessoal, doutrinal
e didática. Por meio da análise pode-se desprender diversos aspectos doutrinais contidos nesta parábola, como
por exemplo: o cárater paternal de Deus, o processo pessoal do arrependimento, o poder e alcance da
misericórdia, o Plano de Salvação sinalizando elementos como pré-existência, arbítrio, queda, pecado, morte
espiritual, expiação, redenção, o papel do povo israelita e dos gentios e sua unificação final, para listar alguns.
Fora isso seguindo o propósito e a utilidade da parábola como instrumento didático cada um pode encontrar-se
em um dos personagens da parábola e obter princípios que ajudarão no desenvolvimento espiritual particular.
Considero para este estudo parábola como exemplos, comparações ou alegorias em que, partindo de uma
realidade sensível, se comunica uma mensagem ao ouvinte ou leitor e o convida a uma decisão pessoal.
Usaremos para este estudo recursos oriundos das palavras dos profetas modernos, comparações entre as obras
padrão, estudos oriundos de acadêmicos S.U.D.’s e de outras denominações, além de obras dos denominados
primeiros Pais da Igreja Cristã no período imediato ao evento denominado “A Grande Apostasia” que abateu-se
sobre a Igreja Primitiva.
CONTEXTO QUE ORIGINOU A PARÁBOLA
Afim de ajudar na compreensão da parábola consideraremos para este estudo a orientação do Profeta Joseph
Smith na interpretação das escrituras, qual seja, antes de qualquer tentativa intrepetativa alegórica observar as
motivações observadas no contexto descrito pelo autor e priorizar a comprensão a partir dele. É interesante que
o Profeta Joseph Smith dá esta instrução interpretativa justamente comentando esta parábola:
―Com referência ao filho pródigo, disse que era um tema que nunca havia tratado; que muitos o consideram como um dos mais
complicados das Escrituras; e até os élderes desta Igreja o tem usado bastante em suas pregações, sem ter uma regra fixa quanto à
maneira de interpretar essa parábola. Que base ou regra fixa quanto à maneira de interpretar essa parábola. Que base ou regra há
para sua interpretação? Não há interpretação alguma. Antes, deve-se entender precisamente como se lê. Tenho uma chave
para entender as Escrituras. Pergunto: Qual foi o problema que ocasionou a resposta, ou o que levou a
Jesus relatar a parábola? Ela não tem aplicação nacional, ou geral; não fala de Abraão, de Israel ou dos gentios, como alguns
supõem. Para obter seu significado, devemos chegar até a raiz e descobrir o que foi que ocasionou esse ensinamento de Jesus.‖ 1
[Destaque do autor]
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith. Compilado por Joseph Fielding Smith, p. 270. Conforme consta no Documentary
History of the Church, volume 5, páginas 260-262 na data de 29 de janeiro de 1843.
1
Joseph Smith claramente baliza como a primeira fonte de entendimento desta parábola o contexto indicado por
Lucas e experimentado por Jesus Cristo, qual seja:
―E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Ele recebe
pecadores e come com eles.‖ (Lucas 15: 1-2)
Percebe-se que a origem das parábolas contadas neste capítulo, vem responder de forma direta a uma constante
crítica oriunda de dois grupos influentes e poderosos na sociedade judaica daquela época, os fariseus,
pretenciosos e dogmáticos seguidores da Lei e do Talmud e os escribas “designados como guadiães e
intérpretes da lei”2, estes não aceitavam que o “Rabi” Jesus, não só permitisse que os chamados publicanos e
pecadores participassem como ouvintes durante seus ensinamentos, mas que ainda, aceitasse um convívio
amistosos, configurado pela participação Dele nas suas casas e mesas, além de ter escolhido um deles para
discípulo, no caso o publicano Mateus3.
Diante desta continua e preconceituosa murmuração devemos buscar o ensinamento que Jesus quis transmitir
aos fariseus e escribas naquele momento. O Profeta Joseph ainda comentando a referida parábola salienta que a
aplicação:
―Era para os homens em um sentido individual; e toda a conjectura sobre este ponto é tolice.‖4
O Profeta Joseph Smith compreendia a aplicação da parábola unicamente para aquele grupo de homens
composto de fariseus e escribas. Ele não via uma segunda interpretação mais ampla, que considera a relação
futura, nem sempre convergente ou amistosa, entre os Casa de Israel e Cristãos Gentios que vai surgir no
período da liderança apostólica da Igreja Primitiva, como ensinada por Agostinho em seu sermão 112ª, que
considera uma interpretação alegórica.
INTERPRETAÇÃO CONTEXTUAL DA PARÁBOLA
A luz desta linha indicada por Joseph Smith para a interpretação, devemos então estruturar os elementos da
parábola em um contexto unicamente judeu e relativo àquele problema manifestado. Contexto este que Jesus já
havia indicado que era a prioridade de seu ministério pessoal5. Porém, isso não significa que não podemo buscar
uma aplicação pessoal à luz da revelação moderna. Sendo assim temos o seguinte quadro:
Representação
Aplicação
E disse: Um certo homem
tinha dois filhos; Lucas 15:11
Texto
Pai e os dois filhos
Pai: Jesus Cristo
Filho mais velho: Fariseus e
escribas
Filho mais novo: Publicanos e
pecadores
E o mais moço deles disse
ao pai: Pai, dá-me a parte
dos bens que me pertence.
Bens, fazenda.
Repartir
Bens, fazenda: arbítrio,
responsabilidade individual no
uso da vontade.
Jesus Cristo considera pai de
ambos os grupos portanto,
como qualquer pai cuida com a
mesma bondade ambos. O
alcance da Expiação de Jesus é
total e universal somente
limitado pela vontade
individual de cada ser humano.
As diferenças humanas são
claras e no que diz respeito a
conversão mais ainda, na
mesma congregação podemos
ter pessoas mais adinate no
caminho e outras mas
atrazadas, porém o importante
é estar no caminho.
Cristo salienta que os dois
grupos receberam o dom do
arbítrio e com ele a
2
3
Elemento(s)
James E. Talmage. Jesus, O Cristo, p.61.
Mateus 9:9-13.
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith. Compilado por Joseph Fielding Smith, p. 270. Conforme consta no Documentary History of
the Church, volume 5, páginas 260-262 na data de 29 de janeiro de 1843.
5 Mateus 10:5-7 e 15:24.
4
E ele repartiu por eles a
fazenda. Lucas 15:12
E, poucos dias depois, o
filho mais novo, ajuntando
tudo, partiu para uma terra
longínqua, e ali desperdiçou
os seus bens, vivendo
dissolutamente. Lucas 15:13
Terra longínqua.
Disperdício dos bens.
E, havendo ele gastado
tudo, houve naquela terra
uma grande fome, e
começou a padecer
necessidades. Lucas 15:14
Grande fome.
Necessidade.
Repartir: Ação de justiça divina
reconhecendo como iguais
ambos os filhos, pois afirna
que ele repartiu em vida entre
os dois. Ambos serão
responsáveis por suas escolhas
ou pelo usos dos bens.
Separação e distanciamento de
Deus por vontade própria dos
publicanos e pecadores. No
momento em que não vivem
mais a Lei ou oprimem seus
compatriotas por meio do
serviço prestado aos romanos
eles rompem com o Pai e seus
irmãos8. Uso continuo do
árbítrio para escolhas que
gradativamente os levam a
limitar sua autonomia e
controle das consequências. A
palavra dissoluta denota além
do cárater pecaminoso das
ações, uma certa
despreocupação com as
consequências.
Grande fome: o resultado da
vida dos publicanos e
pecadores, em seu íntimo não
os agradava, haja visto sua
contínua busca pela mensagem
de Cristo que trazia aceitação e
alento pois acreditava que eles
podiam ser resgatados.
Necessidade: Os publicanos e
pecadores sentiam uma
necessidade extrema por
aceitação e pertencimento.
Suas escolhas os levaram a
uma dependência do pecado e
a uma apatia moral que os
tonava as pessoas mais
miseráveis daquela sociedade.
E foi, e chegou-se a um dos
Cidadão daquela terra.
A cidade é o lugar ou condição
responsabilidade decorrendo
do seu uso6.
O arbítrio como um dom,
privilégio ou herança é
ensinado pelos profetas antigos
e modernos7.
A escolha por uma vida
separada de Deus ou distante
da religiosidade era uma
variável antevista por Deus na
vida de seus filhos. Alguns
errariam ou desejariam
vivenciar intensamente as
sensações possíveis por meio
do corpo físico que os faria
afastarem-se e trilharem o
caminho que os levaria a
cidade do pecado ou a
Babilônia espiritual. Lá
envolvidos pelas tentações
disperdiçariam seu poder de
escolha de forma dissoluta ou
literalmente separando-se cada
vez mais de Deus e do
controle das consequências.
Uma vida privada do poder de
escolher e aprisionada nas
consequências do pecado além
do remorso traz consigo um
vazio tão pungente que
somente o sentimento carnal
de um estomago vazio e a
incapacidade de alimentá-lo
pode compar-se a fome
espiritual.9
A necessidade é um
sentimento de falta do que se
precisa e na incapacidade
pessoal para obtê-la. A
opressão de uma alma sujeita
aos apetites que desorientam
sua compressão das
consequências de seus atos.
Ao pecarmos dissolutamente,
Moisés 7:32, D&C 101:78.
O Presidente Wilford Woodruff falando sobre o assunto disse: ―Esse arbítrio sempre foi a herança do homem sob a direção e o governo de Deus.
O homem o possuía no céu dos céus antes deste mundo existir, e o Senhor o manteve e o defendeu contra a agressão de Lúcifer e de seus seguidores. Em virtude
desse arbítrio, vocês e eu e toda a humanidade nos tornamos seres responsáveis, responsáveis pelo rumo que tomamos, pela vida que vivemos e pelos atos que
praticamos‖.( Millennial Star, 14 de outubro de. 1889, p. 642. Citado por Wolfgangh Paul, em O Dom do Arbítrio, Conferência Geral
de Abril de 2002. Disponível em: https://www.lds.org/general-conference/2006/04/the-gift-of-agency?lang=por#3PD00006561_059_014 . [Ver 2 Néfi 2:26-27.]
8 Elder Neal A. Maxwell comenta: ―É irônico notar que alguns saem em busca de ―uma terra longínqua‖ (Lucas 15:13), deixando a nutritiva horta da
família, na qual talvez haja umas poucas ervas daninhas, em troca de um deserto de arbustos secos.‖ (Elder Neal A. Maxwell. As Tentações e
Seduções do Mundo. Conferência Geral de Outubro de 2000. Disponível em: https://www.lds.org/generalconference/2000/10/the-challenge-to-become?lang=por
9 Elder neal A. Maxwell comenta: ―Não são muitos os filhos pródigos que retornam, mas de tempo em tempo, alguns voltam de ―uma terra
longínqua‖.(Lucas 15:13)É claro que é melhor nos tornarmos humildes ―por causa da palavra‖ em vez de sermos compelidos pelas circunstâncias, embora isso
também seja aceitável! (VerAlma 32:13–14.) A fome pode induzir-nos à sede espiritual. Tal como o filho pródigo, também podemos ir parar em ―uma terra
longínqua‖, mesmo que ela não seja mais afastada que um vil concerto de rock. A distância até ―uma terra longínqua‖ não é medida em quilômetros, mas em
quão distantes nosso coração e mente estão de Jesus! (Ver Mosias 5:13.) A fidelidade, e não a geografia, é que determina a distância!‖ (Elder Neal A.
Maxwell. As Tentações e Seduções do Mundo. Conferência Geral de Outubro de 2000. Disponível em:
https://www.lds.org/general-conference/2000/10/the-challenge-to-become?lang=por
6
7
cidadãos daquela terra, o
qual o mandou para os seus
campos, a apascentar
porcos. Lucas 15:15
Volta para o campo.
Apascentar porcos.
E desejava encher o seu
estômago com as bolotas
que os porcos comiam, e
ninguém lhe dava
nada. Lucas 15:16
Bolotas.
Ninguém lhe dava nada.
onde os publicanos e
pecadores encontravam-se, ao
afastarem-se do Pai. Eles não
são cidadões deste lugar eles
estão ali. O desespero os cega
momentaneamente10. Buscam
na cidade e nos seus
verdadeiros cidadãos,
demônios11, segundo
Agostinho12, que atendam a
sua necessidade, espiritual, de
culto e pertencimento.
Portanto o “cidadão” ou
alguém que vive, negocia e
exerce algum poder nela pode
ser relacionado com o poder
satânico ou o próprio Satanás,
o príncipe deste mundo, o pai
das mentiras13 e aquele que
tenta destruir o arbítrio do
homem desde o princípio14.
A volta para o campo,
sarcasticamente o filho mais
novo havia saído do campo,
um lugar que lembrava algo
que ele havia deixado para tráz
e que o enchia de lembranças.
O publicano e pecador viviam
ao lado do Templo, porém não
eram dignos de estarem lá, para
onde olhavam encontravam o
ódio do povo.
Apascentar porcos, para
Agostinho era a submissão a
servidão extrema e imunda que
costma alegrar os demônios(...)15.
As bolotas ou o pseudo
alimento espiritual ofertado
aos Publicanos e Pecadores era
incapaz de suste-los além de
ser um alimento inapropriado.
Todo o culto idólatra de Roma
como a filosofia greco-romana
não conseguiam sustentar uma
alma na condição de morte
espiritual. Agostinho compara
este alimento ―as vistosas
doutrinas do mundo: servem para
ostentar mas não para sustentar;
alimento digno para porcos, mas não
para homens: próprias para dar aos
demônios deleitação, mas não aos
fiéis justificação.‖16
acabamos por entrar na
Babilônia espiritual. Mesmo
nesta condição, nossa carência
espiritual nos leva a
aproximarmos ainda mais dos
falsos deuses deste mundo,
idolatria e hedonísmo e cada
vez mais forte torna-se o
relacionamento com Satanás.
Ele nos sujeita, escraviza e nos
faz sofrer com o remorso e o
sentimento de impotência.
Na ondição de servo do
pecado muitas vezes acabamos
por procurar alimentos
espiritualistas que por meio do
sofisma, culto idólatra ou a
mescla de escrituras com
filosofias humanas tentam dar
um sentido a vida miserável no
pecado.17
Na verdade Satanás não dá
nada à ninguém ele é
caracterizado como um ladrão
e usurpador18.
D&C 78:10.
D&C 10:5.
12 Jean
Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998. Disponível em:
http://www.hottopos.com/mp5/agostinho2.htm
10
11
2 Néfi 2:18.
Moisés 4:3.
15 Jean Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998. Disponível em:
http://www.hottopos.com/mp5/agostinho2.htm
16 Jean Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998. Disponível em:
http://www.hottopos.com/mp5/agostinho2.htm
13
14
E, tornando em si, disse:
Quantos jornaleiros de meu
pai têm abundância de pão,
e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter
com meu pai, e dir-lhe-ei:
Pai, pequei contra o céu e
perante ti; Já não sou digno
de ser chamado teu filho;
faze-me como um dos teus
jornaleiros. Lucas 15:17-19
“tornando em si”.
Abundância da mesa do pai.
A decisão de voltar para o pai.
A presença dos publicanos e
pecadores aos pés de Cristo
não era por acaso. Nele e em
suas palavras encontravam
novamente a fartura e sabor da
mesa do pai. Observavam a
vida privilegiada dos discípulos
de Cristo, alimentados pela
palavra viva e eficaz de
salvação. Muitos, como Mateus
e Zaqueu haviam feito o
caminho de volta que começa
dentro de si mesmos.
E, levantando-se, foi para
seu pai; e, quando ainda
estava longe, viu-o seu pai, e
se moveu de íntima
compaixão e, correndo,
lançou-se-lhe ao pescoço e o
beijou. E o filho lhe disse:
Pai, pequei contra o céu e
Levantando-se.
O pai o vê de longe.
O pai sofre junto com o filho.
O pai vai até ele e o abraça e
beija.
A confisão do filho.
Os servos trazem a roupa, o
anel e a sandália.21
Jesus agora chega no ponto
mais emocionante do relato.
Seu público deve estar
atentamente esperando o
desfecho. Novamente o
coração dos infelizes párias é
tomado de esperança. O
levantar-se, da morte espiritual,
17
Aqui tem início o
arrependimento. O momento
único da pura instrospecção19,
o voltar para dentro de si
mesmo, a tomada de
consciência da condição
pessoal e da lembrança do
sabor e fartura da doutrina do
evangelho e da vivência da vida
consagrada. O cogitar nas
palavras de súplica remontam
na volta da intenção de religarse com Deus por meio da
oração. Agostinho
magníficamnete registra: ―Por
vezes, em meio a uma tribulação ou
tentação, alguém pensa em orar, e,
no próprio ato de pensar o que irá
dizer a Deus na oração, considera
que é filho e que, como tal, tem
direito a reivindicar a misericórdia
do Pai. E diz de si para si: "Direi
a meu Deus isto e aquilo; não temo
que, em lhe dizendo isto, e chorando,
não seja eu atendido pelo meu
Deus". Geralmente, Deus já o está
atendendo quando ele diz estas
coisas; e mesmo antes, quando as
cogita, pois mesmo o pensamento não
está oculto ao olhar de Deus.
Quando o homem delibera orar, já
lá está Aquele que lá estará quando
ele começar a oração‖.20
Relacionado a redenção do
filho pródigo Elder Jeffrey R.
Holland faz os seguintes
comentários:
―A imagem terna do ansioso e fiel
pai desse rapaz, correndo até ele e
―A parábola do filho pródigo é uma parábola de todos nós. Faz com que nos lembremos de que, em certa medida, somos filhos e filhas pródigos de nosso Pai
Celestial. Pois, como disse o Apóstolo Paulo: ―( . . . ) todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus‖ (Romanos 3:23)Como o filho errante da parábola
do Salvador, viemos para ―uma terra longínqua‖ (Lucas 15:13) separados de nosso lar pré-mortal. Como o pródigo, partilhamos de uma herança divina, mas,
por causa de nossos pecados, desperdiçamos uma parte dela e experimentamos uma ―grande fome‖ (Vers. 14) de espírito. Como ele, aprendemos por meio de
dolorosa experiência que os prazeres e atividades mundanos não têm maior valor do que as bolotas que os porcos comiam. Ansiamos por nos reconciliar com
nosso Pai e voltar a Sua casa. ―Vagando errantes no mal a andar, pedimos-te amparo fiel!‖ (“Cantando Louvamos”, Hinos 1990, 50.)” Élder Bruce
D. Porter. Redendetor de Israel. Conferência Geral de Out de 1995. Disponível em: http://www.lds.org/generalconference/1995/10/redeemer-of-israel?lang=eng&clang=por
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” João 10:10
Elder Neal A. Maxwell comenta o momento de instrospecção do filho mais novo da seguinte forma: ―Evidentemente, algumas decisões
íntimas de ―preocupar-nos‖ com nossa alma e ―guardá-la‖ ocorrem em momentos corriqueiros, como aconteceu com o filho pródigo. Ele dava de comer aos
porcos dia-a-dia, até o momento em que finalmente acabou ―tornando em si‖. (Lucas 15:17) Seja o que foi que tenha acontecido nesse dia em particular
naquela ―terra longínqua‖ (Lucas 15:13), o filho pródigo ―[considerou] os [seus] caminhos‖ (Salmos 119:59) e tomou esta firme decisão: ―Levantar-me-ei, e
irei ter com meu pai (…)‖. (Lucas 15:18) A introspecção seguiu-se de uma transformação. Mesmo assim, um guardador de porcos indo para casa dificilmente
chamaria a atenção dos transeuntes, embora coisas de significado eterno lhe tivessem acontecido.‖(Neal A. Maxwell. “Preocupai-vos com a Vida da
Alma”. Conferência Geral, Abril de 2003. Disponível em: https://www.lds.org/general-conference/2003/04/care-for-the-life-of-thesoul?lang=por
20 Jean Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998. Disponível em:
http://www.hottopos.com/mp5/agostinho2.htm
21 Henri J. M. Nouwen. El regreso de hijo prodigo. [Tradução livre do autor] ―O Pai veste seu filho com os sinais da liberdade, a liberadade
dos filhos de Deus. Não quer que nenhum de seus filhos sejam criados ou escravos. Quer que levem a roupa da honra, o anel da herança e o calçado do
18
19
perante ti, e já não sou
digno de ser chamado teu
filho. Mas o pai disse aos
seus servos: Trazei depressa
a melhor roupa; e vesti-lho,
e ponde-lhe um anel na
mão, e alparcas nos pés; E
trazei o bezerro cevado, e
matai-o; e comamos, e
alegremo-nos; Porque este
meu filho estava morto, e
reviveu, tinha-se perdido, e
foi achado. E começaram a
alegrar-se. Lucas 15:20-24
O sacrifício do cordeiro e o
banquete.
A nova vida e a alegria.
a força retorna aos seus
artelhos a certeza de que é
possível voltar para casa.
Um pouco diferente do Jeová
do legalismo farisaico, este Pai
não espera estático no portão
de casa com as mãos na
sintura, ele vai onde eles estão,
ele entra na sua casa e come na
sua mesa, ele cura. Ele antecipa
a sua misericórdia. Ele mal dá
atenção a sua confissão ele o
abraça e beija. Simplesmente
por que eles voltaram.
A investidura da veste, o anel e
a sandália nos pés
representavam claramente a
total e plena restauração
proposinada pela expiação. O
retorno a condição de filho.22
cobrindo-o de beijos é uma das cenas
mais comoventes de todas as
escrituras sagradas. Ela diz a cada
filho de Deus que, quer esteja no
caminho ou não, Ele nos quer de
volta sob a proteção de Seus braços.‖
(...)
―Misericordiosamente, nossos erros
podem ser completamente apagados
por nosso insistente arrependimento,
tendo fé para tentar de novo, seja em
uma tarefa ou em um
relacionamento. Essa insistência é
realmente uma afirmação de nossa
verdadeira identidade! Os filhos e
filhas espirituais de Deus não
precisam ficar permanentemente
abatidos, se forem elevados pela
Expiação de Jesus. A Expiação
infinita de Cristo se aplica, portanto,
a nossos fracassos mortais! Por isso é
que o hino diz:
Sei que eu sou propenso a vagar sem
rumo, Senhor; Propenso a
abandonar o Deus a quem amo;
Aqui está meu coração, ó, tome-o e
guarde-o; Guarde-o para as cortes
celestes.‖23
Acrescento também as palavras
de H. Nouwen:
―Um dos grandes desafios da vida
prestigio. É como uma investidura por meio da qual se inaugura o ano aceitável de Deus. O pleno significado desta investidura e iniciação aparece explicada na
quarta visão, do profeta Zacarias:
E ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do SENHOR, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor. Mas o
SENHOR disse a Satanás: O SENHOR te repreenda, ó Satanás, sim, o SENHOR, que escolheu Jerusalém, te repreenda; não é este um tição tirado do
fogo? Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo. Então respondeu, aos que estavam diante dele, dizendo: Tirai-lhe estas vestes sujas. E a Josué disse:
Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestes finas. E disse eu: Ponham-lhe uma mitra limpa sobre a sua cabeça. E puseram
uma mitra limpa sobre a sua cabeça, e vestiram-no das roupas; e o anjo do SENHOR estava em pé. E o anjo do SENHOR protestou a Josué, dizendo:
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Se andares nos meus caminhos, e se observares a minha ordenança, também tu julgarás a minha casa, e também
guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso entre os que estão aqui. Ouve, pois, Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de
ti porque são homens portentosos; eis que eu farei vir o meu servo, o RENOVO. Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão
sete olhos; eis que eu esculpirei a sua escultura, diz o SENHOR dos Exércitos, e tirarei a iniqüidade desta terra num só dia. Naquele dia, diz o SENHOR
dos Exércitos, cada um de vós convidará o seu próximo para debaixo da videira e para debaixo da figueira. Zacarias 3:1-10‖
Agostinho entende desta forma a investidura do filho pródigo: E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao
pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe dêem uma veste: a esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe dêem
um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos os pés dos que
anunciam a boa nova . Estas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados?
Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons. Mandou também
matar o bezerro cevado, isto é, que fosse admitido à mesa em que o alimento é Cristo morto. Mata-se o bezerro para todo aquele que, de longe, vem para a
Igreja, na qual se prega a morte de Cristo e no Seu corpo o que vem é admitido. Mata-se o bezerro cevado porque o que se tinha perdido foi encontrado. Jean
Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998. Disponível em:
http://www.hottopos.com/mp5/agostinho2.htm
22
Élder Jeffrey R. Holland. O outro filho
https://www.lds.org/liahona/2002/07/24?lang=por
23
pródigo, Conferência Geral de Abr de 2002. Disponível em:
espiritual é receber o perdão de Deus.
Há algo em nós, seres humanos que
nos faz apegar-nos a nossos pecados
e nos impede de deixar Deus apagar
nosso passado e nos dar um começo
completamente novo. Às vezes parece
como se eu quizesse mostrar a Deus
que a minha escuridão é grande
demais para ser vencida. Enquanto
ele quer devolver-me toda a
dignidade da minha condição de
filho, e eu sigo insistindo de que me
contentaria em ser um jornaleiro.
Mas eu realmente quero que me
devolva toda a responsabilidade de
filho? Realmente desejo ser perdoado
e que me seja possível viver de ouutra
forma? Eu tenho fé suficiente em
mim mesmo e numa mudança tão
radical? Desejo romper com minha
tão arraigada rebelião contra Deus e
render-me a seu amor tão absoluto
que pode fazer com surja uma pessoa
nova? Receber o perdão implica a
vontade de deixar Deus ser Deus e
deixá-lo fazer todo o trabalho de
restauração, cura e renovação da
minha pessoa. Sempre que intento
fazer parte do trabalho sozinho,
termino conformando-me com
soluções humanas. Sendo jornaleiro
posso continuar mantendo-me
distante, posso seguir rebelando-me e
queixando-me do salário. Sendo o
filho amado, tenho que buscar
minha dignidade e começar a
preparar-me para chegar a ser o
pai.‖24
E o seu filho mais velho
estava no campo; e quando
veio, e chegou perto de casa,
ouviu a música e as danças.
E, chamando um dos
servos, perguntou-lhe que
era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu
irmão; e teu pai matou o
bezerro cevado, porque o
recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou, e não
O Filho mais velho.
O campo.
A morte do bezerro cevado e a
alegria.
Indignação e recusa.
A cobrança do prêmio.
O juízo contra o irmão.
O argumento do Pai.
Claramente o filho mais velho
representa os fariseus e
escribas. Mesmo que eles
achassem que eram muito
diferentes dos publicanos e
pecadores o elemento
“campo” os unia em uma
mesma condição, ambos
vieram do campo para a casa
paterna25. Um cuidara das
ovelhas do Pai outro dos
porcos de Satanás. Mas ambos
Talvez a dureza de nossos
julgamentos, ciúmes e inveja
possam macular uma vida
dedicada a Deus e a obra Dele.
Estar no campo do Pai não
significa ausência de trabalho e
dificuldades.
As vezes nos preocupamos
tanto com reconhecimento
neste mundo e momento e
esquecemos que ainda não
concluímos nossa corrida e
Henri J. M. Nouwen. El regreso de hijo prodigo. [Tradução livre do autor]
“Mas absortos nesta história do filho mais jovem, podemos perder de vista, se não tivermos cuidado, o registro de um filho mais velho, pois consta na
primeira linha do relato do Salvador: ―Um certo homem tinha dois filhos‖ — e poderia ter acrescentado — ―ambos estavam perdidos e precisavam voltar para
casa‖. O filho mais moço voltou e foi colocado sobre seus ombros um manto e em seu dedo, um anel, quando entra em cena o filho mais velho. Ele
24
25
tem sido zeloso, trabalhando fielmente no campo, e agora está voltando do trabalho. A linguagem de jornadas paralelas para casa, embora de
diferentes lugares, é fundamental nessa história.‖ Élder Jeffrey R. Holland. O outro filho pródigo, Conferência Geral de Abr de
2002. Disponível em: https://www.lds.org/liahona/2002/07/24?lang=por
queria entrar.
E saindo o pai, instava com
ele. Mas, respondendo ele,
disse ao pai: Eis que te sirvo
há tantos anos, sem nunca
transgredir o teu
mandamento, e nunca me
deste um cabrito para
alegrar-me com os meus
amigos;
Vindo, porém, este teu filho,
que desperdiçou os teus
bens com as meretrizes,
mataste-lhe o bezerro
cevado.
E ele lhe disse: Filho, tu
sempre estás comigo, e
todas as minhas coisas são
tuas;
Mas era justo alegrarmo-nos
e folgarmos, porque este teu
irmão estava morto, e
reviveu; e tinha-se perdido, e
achou-se.
Lucas 15:25-32
estavam no campo, ou seja no
seu âmbito de provação.
Uma das grandes queixas do
filho mais velho era a aparente
falta de reconhecimento do
Pai. Os fariseus e escribas
lutavam tanto pela observância
correta da Lei, porém parecia
que a atenção de Cristo era
direcuionada, amorosa e
tolerante justo àqueles
pecadores.
Eles não cansavam de exercer
o juízo contra pecadores.
Mesmo sem acompanhar a
vida daquelas pessoas eles
citavam seus pecados.
Reconeciam estes como filhos
do Pai porém não como seus
irmãos.
ainda não guadamos a fé.
Tornar-se como o Pai é o
prêmio final.26
CONCLUINDO
O presente estudo, longe de ter qualquer intenção de esgotar o assunto e a análise da parábola do “Filho
Pródigo”, porém qualquer um que examina com alguma profundidade e tempo, encontra verdades tão
maravilhosas que nos animam a continuar no caminho do discipulado.
O que torna a escritura antiga viva e a nossa contante visita. Ao buscarmos avaliar nossa condição, poderemos
em alguns momentos da vida estarmos agindo como o filho mais moço inexperiente, ora como um pai que não
desiste de esperar o retorno do filho ou ainda como um ciúmento e incoerente filho mais velho. Ao visitarmos o
texto deste drama familiar poderemos com certeza nos vermos ou compreender todo o amor de Jesus Cristo
pelo ser humano. Pois afinal ―(...) No plano eterno de Deus, a salvação é um assunto individual; já a exaltação é um assunto
de família.27
(Verão, Fevereiro de 2013.)
Elder Maxwell salienta: ―Mesmo assim, freqüentemente ainda aparecem invejas mortais com respeito ao dinheiro, à influência, à ofensa ou o ―manto‖ e o
―bezerro cevado‖ dados a outras pessoas. (Ver Lucas 15:22–23.) A verdadeira posse acontece quando sabemos quem somos e a Quem pertencemos!
Lembram-se da letra de uma famosa música de Um Violinista no Telhado, que falava a respeito de Anatevka? Ali, ―todos sabiam quem ele era e o que
Deus esperava que ele fizesse‖. (Joseph Stein,Um Violinista no Telhado, 1964, p. 3; grifo do autor) Poderia também ser acrescentado: ―E quem Deus espera
que ele seja‖.‖ (Elder Neal A. Maxwell. As Tentações e Seduções do Mundo. Conferência Geral de Outubro de 2000. Disponível em:
https://www.lds.org/general-conference/2000/10/the-challenge-to-become?lang=por
26
Elder Russel M. Nelson. Salvação e Exaltação. Conferência Geral, Abril de 2008. Disponível em:
https://www.lds.org/general-conference/2008/04/salvation-and-exaltation?lang=por
27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia de Estudo Almeida. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000. [Tradução de João Ferreira de
Almeida – Revista e Corrigida]
Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Rio de Janeiro – RJ: CPAD. 2011. [Tradução de João
Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida, 4ª. Edição, 2009 – SBB.]
Bíblia Sagrada Tradução Brasileira. New York – EUA: Americam Bible Society, 1929.[Obra esgotada]
GIRARD, Marc. Os símbolos na Bíblia. São Paulo – SP: Paulus, 1997.
HINCKLEY, Bryant S. Um estudo da vida e dos ensinamentos de Jesus de Nazaré. São Paulo-SP: Missões
Brasileiras da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, [sem ano]. [Obra esgotada]
KOEHLER, S.J., Pe. Henrique. Pequeno Dicionário Escolar Latino-Português. Porto Alegre – RS: Globo, 1960.
STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte – BH: Atos, 2007.
Demais referências indicadas nas notas de rodapé do texto.
Download