FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO 1GE401 - COMÉRCIO INTERNACIONAL Capítulo 1: Economia Mundial, Multilateralismo e Regionalismo 1.3 Integração económica Conceito de integração económica 2 Sentido lato: integração de mercados (bens, serviços, fatores de produção) – elemento essencial: liberdade de circulação Objetivos: aumento da eficiência (na afetação dos recursos) elevação do bem-estar Critérios de Classificação 3 Critério do âmbito económico Integração Sectorial Abrange apenas sectores delimitados da actividade económica (exs: CECA, CEEA, EFTA, ...) Integração Geral Quando abrange a generalidade dos sectores económicos (ex: CE/UE) Critérios de Classificação 4 Critério político-geográfico Integração Económica Nacional Integração Económica Internacional Integração de regiões dentro das fronteiras de um Estado-Nação Processo ou situação em que economias nacionais separadas se constituem numa região económica alargada, normalmente instituída por acordos entre países (Regional) Integração Económica Mundial Integração de mercados, mas à escala global (Multilateral) Critérios de Classificação 5 Critério do método de integração Integração Negativa Processo de integração caracterizado pela simples remoção das restrições à liberdade de circulação Deixa-se ao funcionamento dos mercados e à acção dos agentes económicos a concretização efectiva da integração das economias Integração Positiva Implica a adopção pelos Estados participantes de acções positivas, em particular: a modificação dos quadros institucionais e instrumentos legais, administrativos e técnicos existentes e, sobretudo, a instituição de políticas comuns, vinculativas para todo o espaço integrado Níveis / Formas de IE 6 Área / Zona de Comércio Livre (ACL/ZCL) Livre comércio intra-área: abolição de todas as restrições aduaneiras e quantitativas no comércio entre parceiros Manutenção de autonomia na política comercial relativamente a países terceiros necessidade de existência de regras / certificados de origem para evitar fenómenos de deflexão de comércio Níveis / Formas de IE 7 União Aduaneira (UA) Livre comércio intra-área: abolição das restrições aduaneiras às importações provenientes de Estados-Membros Adopção de uma política comercial comum (nomeadamente uma pauta externa comum - PEC) Partilha das receitas alfandegárias entre países-membros segundo uma fórmula previamente estabelecida Mercado Comum União Aduaneira e liberdade de circulação dos factores de produção (trabalho e capital) Relações com terceiros (a este último nível) regulamentadas por normas nacionais ou por normas comuns ou por um misto de ambas Níveis / Formas de IE 8 União Económica Mercado Comum e coordenação (ou mesmo unificação) de um importante número de políticas económicas, nomeadamente: regulação de mercados; política fiscal / orçamental; política monetária; política de redistribuição de rendimentos; etc. Níveis / Formas de IE 9 União Monetária Mercado Comum e sistema de câmbios fixos com convertibilidade absoluta das moedas dos Estadosmembros ou existência de moeda única Política monetária e cambial única e (implícita) forte integração da restante política macroeconómica Níveis / Formas de IE 10 União Económica Total Nível de integração atingido é idêntico ao de uma economia nacional, com políticas comuns em todas as áreas relevantes Implica alguma forma de integração política, eventualmente do tipo federal Não há uma divisão estanque entre cada nível de integração na prática, num dado processo de integração podem verificar-se combinações de características de algumas das formas tipificadas Níveis / Formas de IE 11 Integração crescente Caraterísticas do bloco Tipos de blocos económicos ACL UA MU UE UEM UET Sistema câmbios fixos com convertibilidade absoluta das moedas ou moeda única Política monetária e câmbial única e forte integração da restante política macroeconómica Comércio livre entre os membros Pauta comercial externa comum Livre circulação de fatores de produção Coordenação/harmonização de políticas económicas relevantes (fiscal, monetária, …) Políticas comuns em todas as áreas relevantes e alguma forma de integração política Exemplos NAFTA CEE (1957-92) MERCOSUL CE (1993) UE (28) Zona Euro Níveis / Formas de IE 12 As formas de integração descritas requerem sempre alguma decisão de tipo político, envolvendo em particular: Concordância sobre as “regras do jogo”: procedimentos para se atingirem objectivos traçados e se implementarem as medidas decididas Criação de instituições internacionais, por forma a tornar eficiente a implementação do processo de integração Transferência de competências de intituições nacionais para organismos supranacionais, sobretudo para níveis mais avançados de integração Razões para a Existência de Processos de Integração 13 Razões políticas Normalmente importantes, embora não suficientes para a sua sobrevivência; O exemplo da UE: razões políticas na sua génese e evolução Contudo, a máxima evolução tem ocorrido na esfera económica. Razões económicas Existência de ganhos económicos potenciais derivados da liberdade de circulação (bens, serviços, fatores): Possibilidade de melhorar a eficiência da estrutura produtiva (perspetiva estática) Possibilidade de potenciar o crescimento económico dos Estados envolvidos (perspetiva dinâmica) Integração regional: efeitos 14 A discriminação proporcionada pela criação de blocos comerciais é positiva ou negativa? Quais os efeitos dos processos de integração económica ? Depende do tipo (nível) de integração; Depende da situação com a qual a comparamos: Comparada com uma política de comércio livre, é geralmente má; Comparada com uma situação em que existem barreiras ao comércio, os efeitos podem ser positivos ou negativos. Efeitos da liberdade de circulação de bens e serviços 15 O caso de uma União Aduaneira Alteração dos preços relativos dos bens nos mercados internos dos países membros, e eventualmente no resto do mundo Alteração dos fluxos comerciais, da produção e do consumo nos países membros, e eventualmente no resto do mundo Criação de Comércio e Desvio de Comércio 16 Exemplo 1 (Custos unitários do bem X = Preço) Países Livre Comércio Com tarifa 100% UA entre A e B A 10 10 10 B 8 16 8 C 6 12 12 Efeito de criação de comércio elevação do bem-estar (substituição de produção nacional relativamente menos eficiente por importações de um parceiro mais eficiente) Criação de Comércio e Desvio de Comércio 17 Exemplo 2 (Custos unitários do bem X = Preço) Países Livre Comércio Com tarifa 50% UA entre A e B A 10 10 10 B 8 12 8 C 6 9 9 Efeito de desvio de comércio redução do bem-estar (substituição de importações de um país terceiro relativamente mais eficiente por importações de um parceiro menos eficiente) Efeitos da criação de UA: Alguns exemplos 18 Exemplo 1: Criação de comércio e bem estar Dois países, A e B (A é price-taker) Pré UA Tarifa s/ importações Pós UA (entre A e B) 50% - PA 1000*(1+0.5)=1500 1000 PB 1000 1000 Consumo 200 250 Produção 160 100 MA 40 150 40*500=20000 - Receitas fiscais Efeitos da criação de UA: Alguns exemplos 19 P(€) DXA SXA 1.500 1.000 PA=PB(1+t) a b c 100 d 160 200 250 UA criadora de comércio PB QX Efeitos da criação de UA: Alguns exemplos 20 Exemplo 2: desvio de comércio e bem estar Três países: A, B e C (C não integra a UA) Pré UA Tarifa s/ importações Pós UA (entre A e B) 50% - PA 1000*(1+0.5)=1500 1200 PB 1200 1200 PC 1000 1000 Consumo 180 200 Produção 130 100 50 (de C) 100 (de B) 50*500=25000 - MA Receitas fiscais Efeitos da criação de UA: Alguns exemplos 21 P(€) DXA SXA b d PA=PC(1+t) 1.500 1.200 1.000 a c e PB PC 100 130 180 200 QX O desvio de comércio domina perda de bem-estar. Efeito líquido s/ bem estar: (b+d)-e=-2500 Criação de Comércio e Desvio de Comércio 22 Criação de comércio: elemento de livre comércio bem estar Desvio de comércio: elemento de protecionismo bem estar O efeito líquido da constituição da UA sobre o bem-estar depende do peso de cada um dos efeitos, não sendo “a priori” possível estabelecer se é positivo ou negativo Efeitos Estáticos da UA 23 Circunstâncias que tendem a favorecer a ocorrência de efeitos positivos: 1) 2) 3) 4) 5) 6) quanto maior for a área económica da UA e quantos mais países a integrarem quanto maior for o nível inicial de protecção nos países que formam a UA quanto maior a diferença dos custos de produção entre o país e o parceiro quanto mais próximos os custos (e preços) do parceiro relativamente aos do fornecedor externo ao bloco quanto mais competitivos forem os parceiros e menos complementares as suas estruturas produtivas quanto mais elásticas as curvas da procura e da oferta Outros efeitos da liberdade de circulação de bens e serviços 24 Adicionalmente, no caso de UA “grandes” podem ocorrer efeitos nos termos de troca Elevando o potencial para criação de efeitos positivos (devido à maior dimensão do mercado conjunto e ao aumento do seu poder económico no contexto internacional) Mais até que os efeitos estáticos, a ação de elementos dinâmicos tende a proporcionar resultados relevantes, nomeadamente: Efeitos decorrentes de um aumento da concorrência; Efeitos decorrentes do aproveitamento de economias de escala; Efeitos decorrentes de alterações no nível (e mesmo natureza) do investimento Aumento da Concorrência 25 Igualdade de acesso de todas as empresas da UA ao mercado interno de cada país participante »» acréscimo da concorrência Eficiência e produtividade tornam-se preocupações fundamentais, gerando alterações nos métodos de produção e contribuindo para a baixa dos custos Eliminação ou mudança de atitude de produtores marginais Estímulo à eliminação de insuficiências ou erros de gestão, nas indústrias exportadoras e nas que concorrem com as importações Economias de Escala 26 Resultam do alargamento do mercado e da possibilidade de exploração nesse mercado de oportunidades de crescimento externo (fusões, aquisições, etc.), gerando ganhos derivados da redução de custos Os ganhos podem ser particularmente importantes em: Indústrias onde o processo de aprendizagem que acompanha a repetição seja relevante Indústrias de alta tecnologia, distribuindo os elevados custos do investimento inicial por um volume maior de produção Indústrias de exportação, caracterizadas por rendimentos crescentes à escala, realizáveis através do aumento das exportações Alterações no Investimento 27 A UA pode provocar um aumento no volume de investimento: Acompanha-se de uma maior estabilidade de regras e comportamentos (nomeadamente comerciais), fazendo elevar a confiança dos investidores O acréscimo da concorrência suscita necessidade de inovação, reestruturação e reequipamento das empresas Os produtores de fora da área têm interesse em realizar investimentos dentro da UA, por forma a evitarem a pauta aduaneira e acederem a mercados mais alargados Alterações no Investimento 28 A UA pode provocar alterações no padrão qualitativo (natureza) do investimento, através de: Introdução de métodos mais sofisticados e eficientes Aproveitamento de economias de escala Reafectação de recursos das indústrias estagnadas ou em declínio para as indústrias em expansão Realização de joint-ventures e difusão de know-how (quer relativamente a empresas de países da UA quer relativamente a empresas de países terceiros) Conclusão 29 Aumentos significativos do crescimento económico e da eficiência na afectação de recursos para os países participantes são a consequência provada da formação de Uniões Aduaneiras (e mais genericamente de processos de integração que conduzam à livre circulação de bens e serviços, ainda que a uma escala “regional”) Estes efeitos resultam muito mais da acção dos elementos dinâmicos decorrentes do processo de integração que dos resultados esperados da análise feita em termos estáticos