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Inquisição e História do Brasil: Verdades e Enganos

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EDMILSON CRUZ
DEIXE DE SER
ENGA
NADO
EDMILSON CRUZ
DEIXE DE SER
ENGA
NADO
SUMÁRIO
I. INQUISIÇÃO...............................................04
II. CURIOSIDADES DA HISTÓRIA DO
BRASIL.............................................................19
III. DEIXE DE SER ENGANADO..................27
IV. IDADE MÉDIA..........................................50
REFERÊNCIAS................................................67
I
INQUISIÇÃO
Vamos falar sobre Inquisição I
A Inquisição é o fato histórico mais deturpado da
História da Igreja. Neste sentido quero esclarecer
um ponto desta história: as torturas. De fato, a Igreja torturou ou não? A resposta é: não e sim.
A tortura, sobre a qual muitas vezes se ensina nas
escolas e faculdades, é uma mentira. A imaginação
da opinião pública foi tomada por uma imagem totalmente distorcida da realidade. A Igreja nunca usou
instrumentos como Berço de judas, burro espanhol,
cadeira inquisitória, empalação, esmaga seio, ou
qualquer outra bobagem que o blog da Uol e do Super Interessante contam.
Então, da onde saiu esta história? Quando se iniciou a reforma protestante, no século XVI, toda a
Europa era católica. Na região dos países baixos
(Holanda, Dinamarca e outras), surgiu uma propaganda contra a Igreja, com o objetivo de estimular
um espírito revolucionário no povo contra o catolicismo. Renaldo González Montano publicou um livro intitulado “Sanctae Inquisitionis Hispanicae Artes aliquot detectae ac palam traductae”, no ano de
1581.Neste livro o autor escreveu que a Igreja usava
instrumentos de tortura em seus inquéritos e que as
pessoas eram muitas vezes mortas por não aguentar
4
a dor. UMA MENTIRA.
Depois, no século XIX, o Reverendo Ingram Cobain escreveu um novo livro sobre as torturas na Inquisição, onde ele uniu relatos gnósticos, narrativas
maçônicas, sátiras iluministas com torturas fictícias
que ele inventou da cabeça dele.
Infelizmente esta mentira atingiu a modernidade.
Mas a Igreja usou ou não tortura?
Usou, mas não como contam. A única tortura usada era a estrapada: “Penduravam as mãos do acusado e o suspendiam no teto, depois de um só golpe
deixavam-no cair, duas ou três vezes sem tocar o
pavimento”. (CAMMILLERI, 2008, p. 58). E mais,
a tortura não podia superar meia hora e não poderia
provocar hematomas, ou sangramentos.
Além disso, nos manuais para inquisidores, era
indicado não usar, pois os fracos confessariam qualquer coisa e os fortes resistiram com facilidade.
Além disso, nos manuais para inquisidores, era
indicado não usar, pois os fracos confessariam qualquer coisa e os fortes resistiram com facilidade. Por
fim, quero dizer que, entre os anos de 1309 e 1323,
foram realizados 636 processos e a tortura foi aplicada em apenas um; e que, no ano de 1234, o Papa
5
Gregório IX condenou à prisão perpétua um inquisidor chamado Roberto, o búlgaro, por usar a tortura
de forma irresponsável. Ou seja, a tortura usada na
Inquisição não é nada perto das prisões modernas
do estado laico.
Vamos falar sobre Inquisição II
Um os pontos mais desconhecidos sobre a inquisição é o seu processo jurídico.
Antes de adentrar propriamente na estrutura, quero fazer três destaques:
1 – A inquisição não foi criada para perseguir membros de outras religiões. O tribunal do Santo Ofício
era um tribunal católico, para católicos. Até porque
a Inquisição surgiu no ano de 1148, 369 anos antes
da Reforma Protestante. Ainda dentro deste ponto é
importante destacar que os judeus foram um povo
salvo pela Inquisição, pois muitas vezes leigos ignorantes denunciavam judeus como heréticos. Se não
houvesse o tribunal, é provável que muitos judeus
tivessem sido mortos por ações públicas.
2 – Devemos ter a sabedoria de entender a Inquisição dentro do seu contexto histórico. Como escreve
6
o historiador eclesiástico Karl Bihlmeyer, a história eclesiástica deve ser compreendida e explicada
dentro da “gênese do acontecimento”, ou seja, não
podemos cometer anacronismos.
3 – Em qualquer momento do processo, se o réu demonstrasse estar arrependido de seus erros, imediatamente o processo era parado, o réu era levado até
o confessionário e depois apresentado para a comunidade local e acolhido.
Funcionamento do processo inquisitorial:
1 – O inquisidor realizava uma pregação dogmática pública na comunidade católica, com o objetivo
de que algum herege realizasse um debate público.
Caso ninguém se apresentasse, ele esperava as denúncias.
2 – Depois da denúncia, o denunciado era convocado a uma reunião com o inquisidor, onde ocorria um
Interrogatório, no qual as ferramentas eram discussões dialéticas.
3 – Caso o Inquisidor não conseguisse convencê-lo
do erro, poderia levá-lo a um colégio de cardeais
(foi o caso de Galileu).
4 – Depois deste processo, era lida publicamente a
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sentença, seja de condenação, ou de absolvição. Se
o condenado reconhecesse seus erros, suas penas
eram: Obras de Caridade e Peregrinações aos lugares santos.
5 – O condenado era levado a uma prisão em Roma.
Poderia ficar preso por até 3 anos, depois deste tempo era iniciado novamente um interrogatório dialético. Caso o réu não reconhecesse seus erros, era
levado novamente à prisão, por mais 8 anos, com o
objetivo de fazer com que o réu refletisse sobre seus
erros.
6 – Depois de todo este tempo, de um processo longo, caro e cansativo, o herege ainda não reconhecesse seus erros contra a fé católica, ele era destinado a um tribunal público, onde na maioria das vezes
o TRIBUNAL PÚBLICO o sentenciava a morte.
Entretanto, muitas vezes a Igreja intervinha e pedia
para que no lugar do réu, fosse colocado uma efígie
(boneco/espantalho).
7 - O réu poderia a qualquer momento reivindicar
uma reunião com o Papa, onde o Papa poderia condená-lo, ou absolvê-lo. (Joana D’Arc fez sua reinvindicação e o bispo inglês não cumpriu com as diretrizes inquisitórias tornando o processo nulo. O
bispo deste caso foi condenado à prisão perpétua).
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8 – Todo o processo devia ser redigido nos mínimos detalhes. Havia uma equipe que avaliava se os
processos estavam sendo guiados com justiça. Caso
encontrassem erros, os inquisidores sofriam penas:
como prisão perpétua e excomunhão.
Vamos falar sobre Inquisição III
Uma das coisas que você mais deve ter escutado
sobre a Inquisição é que o tribunal realizava uma caçada às mulheres e à ciência, matando pessoas inocentes acusadas de bruxaria. No texto desta semana,
quero esclarecer alguns pontos de forma pontual sobre essas falsas narrativas a respeito do Tribunal do
Santo Ofício.
A bruxaria teve seu apogeu nos séculos XVII e
XVIII. Estes séculos são caracterizados pelos inúmeros pseudofilósofos e cientistas que usavam práticas
esotéricas e ocultistas, definindo-as como ciência,
como no caso de Newton, Descartes, entre outros. A
ciência moderna tem medo destes escritos e por isso
os esconde, mas o livro “Isaac Newton e a Transmutação da Alquimia” de Philip Ashley Fanning, traz
algumas referências importantes sobre este tema.
Na época da Inquisição, ocorriam inúmeros rela9
tos de bruxas. Alguns eram realmente verdadeiros,
mas em 99% dos casos tratava-se de charlatões que
deixavam que esta fama pegasse sobre eles na busca de maiores lucros, pois espalhavam-se relatos de
que eles tinham poderes que podiam curar a todos,
como é o caso conhecido da “Bruxa Gostanza” de
1594, relatado no livro a “Verdadeira História da Inquisição”, que foi interrogada pelo tribunal da Inquisição e o inquisidor concluiu que ela não passava
de uma mentirosa que visava ganhar o dinheiro da
população ignorante, como acontece até hoje.
A grande questão de que temos de ter consciência
é que no período da Inquisição havia dois tribunais:
o laico e o eclesiástico. O primeiro tribunal acabava
muitas vezes condenando as pessoas sem um justo julgamento, apenas movido pelo medo, como no
caso da “Bruxa Madalena” de 1625, que foi chicoteada e torturada pelo tribunal laico.
O segundo tribunal, o eclesiástico (Inquisição),
era acusado, pelos camponeses que muitas vezes
buscavam penas de morte contra os acusados, de ser
amistoso demais, como destaca o historiador Adriano Prosperi (1996). Esta Lenda Negra da Inquisição,
tão difundida hoje, tem seu nascimento no período
napoleônico. Intelectuais iluministas começaram a
10
reescrever a história da Inquisição, a partir do livro,
“História da Inquisição Espanhola”, escrito por Napoleão, no qual ele construiu inúmeras lendas com
objetivo de restaurar seu poder, durante seu encarceramento em 1818.
Vamos falar sobre Inquisição IV O caso de Joana D’Arc
No ano de 1430, Joana d’ Arc foi capturada pelos
inimigos ingleses me meio a Guerra dos Cem anos.
Como líder do exército francês já tinha reconquistado a cidade de Órléans e dado a coroa da França
para seu rei legitimo Carlos V.
Neste período, como diz Cammelleri (2018),
“Aquela mocinha de Domréry era, àquela altura, famosíssima. Todos sabiam sobre as vozes que tinham
levado a vestir uma armadura para libertar a França,
e os combatentes a seguiam entusiasticamente de
vitória em vitória” (CAMMELLERI, 2018, p. 67).
Este ímpeto moveu Joana D’Arc junto com seus seguidores atacar a cidade de Paris, na busca de reconquistar a cidade, até então, tomada pelos ingleses,
mas infelizmente ferida duas vezes foi capturada em
Compiègne. “Para os ingleses era fundamental des11
truir o mito, sem, todavia, criar um mártir”. (CAMMELLERI, 2018, p. 67).
Acusam-na de bruxaria, acorrentam seu pescoço,
pés e mãos, o bispo herege de Beauvais, que lutava
pela coroa inglesa e não pela Igreja de Cristo, submeteu a forte guerreia a interrogatórios exaustivos
de 21 de fevereiro à 17 de março, com objetivo que
ela confessasse que era uma bruxa.
Seu julgamento não foi religioso, e sim, político. O bispo defendeu que as vozes que ela escutava
não era de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, do
demônio. Ela negou e manteve-se firme. Em 30 de
maio de 1431 saiu a sentença, consideraram que ela
era relapsa e condenaram-na fogueira.
Já em 1455, o Papa Calisto III ordenou a revisão
do caso, foi identificado erro por parte do bispo de
Pierre Cauchon, que antecipadamente já havia acordado com os ingleses sua morte. Hoje Joana d’Arc
é venerada pela Igreja como padroeira da França.
Vamos falar sobre Inquisição V - O
caso Galileu
O julgamento de Galileu Galilei pela Inquisição é
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um dos acontecimentos históricos usados pelos inimigos da Igreja que buscam manchar a sua história.
Através desse caso, fundamentam afirmações como:
“A Igreja é contra ciência”; “Galileu foi torturado e
morto por ser um cientista”; “A Contrarreforma é
obscurantista”; etc.
Com objetivo de esclarecer este caso, irei responder algumas perguntas:
1 – Galileu foi perseguido pela Inquisição, pois defendia a teoria heliocêntrica?
Não. Galileu não foi perseguido por ser cientista, ou por defender a teoria heliocêntrica. Galileu
foi julgado pela Inquisição, pois era TEIMOSO E
CHATO. Como assim?
Não foi Galileu quem descobriu o movimento da
Terra em torno do Sol, mas sim Copérnico, que era
um padre. O que Galileu fez foi, através da luneta,
enxergar corpos celestes girando em torno de Júpiter. Através disso ele concluiu que a Terra não pode
ser o centro do universo, pois está girando em torno
do Sol.
Até aqui, tudo bem. O problema foi que Galileu,
logo após sua descoberta, leu o seguinte texto bíblico: “Foi então que Josué falou ao Senhor no dia em
13
que ele entregou os Amorreus nas mãos dos filhos
de Israel, e disse em presença dos Israelitas: ‘Sol
detém-te sobre Gabaão, e tu, ó Lua, sobre o vale de
Ajalão’. E o sol parou, e a Lua não se moveu até que
o povo se vingou de seus inimigos”. (Josué 10 1213). Depois disso, Galileu começou a defender que
as Sagradas Escrituras deveriam ser alteradas, pois
não foi o Sol e a Lua que pararam, ao contrário, foi
a Terra. Padres começaram a pregar contra essa tese
de Galileu, e pediram que São Roberto Belarmino
interviesse. São Roberto Belarmino pediu que Galileu não defendesse tais teses e que não tratasse o
sistema de Copérnico como estabelecido.
Nada adiantou: pediram novamente que Galileu
tratasse de CIÊNCIA e não de TEOLOGIA. Por pressão de todos os lados, Galileu foi convocado pela
Inquisição em 1632. No ano de 1633, foi condenado. Aceitou sua condenação: no fundo, Galileu era
um bom católico.
2 – Galileu ficou preso em uma masmorra e foi torturado?
Galileu não foi torturado. Sua condenação foi a
prisão domiciliar na Villa Médici, em uma casa luxuosa. Foi-lhe permitido ensinar sua teoria, desde
que não atacasse as Sagradas Escrituras. Neste perí14
odo até escreveu um livro.
3 – Galileu foi queimado pela Inquisição?
De forma alguma. Galileu morreu em sua casa no
ano de 1642. Ao seu lado, sua filha Virgínia, que era
irmã de clausura desde os treze anos. Em sua cabeceira, uma indulgência plenária e a solene bênção
apostólica do Papa Urbano VIII.
Vamos falar sobre Inquisição VI Os Templários e a Inquisição
Antes de iniciar, quero deixar claro que o texto
não irá tratar da história da ordem religioso-cavalheiresca dos Templários, vamos tratar aqui apenas
do julgamento inquisitorial dos templários na França. A Ordem Militar dos Templários, desde seu surgimento, ganhou grande respeito da Igreja Católica
e dos reis europeus, pelo alto desempenho militar,
organização, disciplina e amor ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Com o tempo, a ordem foi ganhando bens
pelos trabalhos prestados na defesa do Ocidente Católico.
No início do Século XIV, o rei francês Felipe o
Belo solicitou um empréstimo aos templários para
15
custear os gastos militares da França na guerra dos
Cem Anos. Jacques de Molay impediu o empréstimo, dizendo que o dinheiro deveria ser usado apenas
contra os inimigos mouros. Este fato levou Felipe
IV a iniciar uma campanha de difamação contra a
ordem, em 1305. Seu interesse era preparar o povo
para a terrível ação que cometeria em breve.
Em 1307, assume a cátedra de São Pedro Clemente V, um papa francês, velho, fraco e controlado por Felipe IV. A partir disso Felipe IV forjou um
processo inquisitorial contra a Ordem, acusando-os
de relapsos e inimigos da Igreja. Jacques de Molay
rebateu as acusações. Neste mesmo ano, Felipe IV
manda prender os templários na França e começa
a torturá-los para que confirmem as acusações. Ao
mesmo tempo, Felipe IV buscou o apoio do Papa
para que ele abolisse a Ordem dos Templários e os
acusasse de heresia.
Clemente V, em um primeiro momento, não atendeu ao pedido de Felipe IV, e solicitou a libertação
dos religiosos. No ano de 1308, ouviu o depoimento de 72 templários que Felipe IV lhe mandara. No
Concílio de Viena (1311/1312), o papa aboliu a Ordem Militar mediante a Bula “Vox in Excelso”, defendendo que a Ordem não seria mais necessária
16
naquele contexto, pois a Terra Santa já havia sido
perdida para os mouros. O papa não deu nenhuma
sentença judiciária, não julgou nenhum ponto de
vista ético ou disciplinar da Ordem, julgou apenas a
necessidade da existência naquele momento.
Porém, isso foi suficiente para que Felipe IV acusasse os Templários de relapsos, de modo que, em
18 de março de 1314, trinta e sete cavalheiros foram queimados na França. Os bens da Ordem em
parte foram confiscados por Felipe IV e em parte
divididos em outras ordens religiosas. O julgamento inquisitorial dos templários foi conduzido com
total desprezo aos procedimentos inquisitoriais: foi
negado a eles o apelo papal, por exemplo. O julgamento dos Templários foi um julgamento político e
não religioso -- isso precisa ficar muito claro. Deste
modo, toda acusação de que a ordem deu origem à
maçonaria, que a ordem mantinha cultos esotéricos,
ou que roubava a Igreja é mentira. Os templários foram vítimas de FAKE NEWS e o são até hoje.
17
II
CURIOSIDADES
DA HISTÓRIA
DO BRASIL
Você sabia do sonho de Dom Bosco
com o Brasil?
Dom Bosco no dia 4 de Setembro de 1883, disse
que teve um sonho com a América do Sul. E o santo
contou, textualmente: “Entre os graus 15 e 20, aí havia uma enseada larga, que partia de um ponto onde
se formava um lago. Nesse momento ouvi uma voz,
que dizia repetidamente: quando se vierem a escavar as minas escondidas em meio a estes montes,
aparecerá aqui a terra prometida, onde verterá leite
e mel. Será uma riqueza inconcebível”. Esses graus
correspondem com as coordenadas geográficas do
Brasil, alguns defendem que é no Mato Grosso, outros que é em Brasília, seja onde for é no BRASIL.
Dom Bosco também revela quando isto aconteceria: “Isto acontecerá antes que passe a segunda geração. A presente geração não conta. Será uma outra,
depois outra. Cada geração corresponde 60 anos”.
FELIZ DIA DA INDEPENDÊNCIA!
As pegadas de São Tomé
Há unanimidade entre os historiadores, tanto católicos como não católicos, de que um dos fatores
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que auxiliou na evangelização dos índios, especificamente nas tribos tupis e guaranis, foi o mito messiânico do Pai Zumé.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil e os
espanhóis chegaram nas regiões do Rio do Prata,
depararam-se com um mito existente nas tribos indígenas. Este mito relata que há muitos anos atrás,
um pajé chamado Zumé teria aparecido e pregado
aos seus ancestrais uma fé diferente da deles. Depois de conviver um certo tempo com os índios, este
pajé desapareceu, mas antes relatou que no futuro
ele voltaria e pregaria a mesma fé para as gerações
futuras
Neste contexto os jesuítas chegam e iniciam o
processo de catequização dos índios. Este processo
foi facilitado, pois os índios acreditaram que o pajé
havia retornado e era o quejuita (jesuíta). Os jesuítas impressionados interrogam os índios e relatam:
“Dizem os índios que São Tomé passou por aqui e
isto lhes foi dito por seus antepassados e que suas
pisadas estão sinaladas junto de um rio, as quais eu
fui ver, por mais certeza da verdade, e vi com os
próprios olhos quatro pisadas sinaladas com seus
dedos*. Dizem que quando deixou estas pisadas ia
fugindo dos índios que o queriam flechar, e chegan20
do ali se abrira o rio e passara por meio dele a outra
parte sem se molhar. Contam que, quando queriam
o flechar os índios, as flechas se tornavam para eles
e os matos lhe faziam caminho para onde passasse”.
(NOBREGA, 1549).
Ou seja, o Pai Zumé era São Tomé. O mesmo relato será repetido em 1552 pelo Padre Francisco Pires
e por Antonio Ruiz de Montoya, 1639 nas reduções,
no Paraguai.
O local das pegadas seria a praia de São Tomé
dos Paripe, onde se encontra até hoje uma fonte de
água que brota do centro de uma pedra, ao lado da
qual há duas pegadas que os missionários jesuítas
defendem que seriam de São Tomé.
São Brandão e o Brasil
A história de Brandão é uma das mais icônicas
do início da Idade Média, período em que a Igreja
iniciava a evangelização dos bárbaros. Surge, no
final do século V, na Irlanda, uma grande alma que
futuramente seria um exemplo para Igreja e também
para homens que gostam de aventura.
Brandão era um grande monge que fundou mosteiros na Irlanda e auxiliou São Columba na constru21
ção do primeiro mosteiro do País de Gales. Porém,
apesar desses grandes feitos, não foi isso que o fez
ser uma lenda na alta Idade Média e inspirador de
homens no início do Renascimento.
O amor pelo evangelho e o zelo apostólico levaram São Brandão a ser um grande navegador pela
causa de Cristo. Segundo um livro sobre a sua vida,
escrito no século X, “Vita Sancti Brendani”, São
Brandão chegou a todas as ilhas do Norte, chegando
até a Islândia, Groelândia e Polo Norte.
Este mesmo relato conta que São Brandão chegou
até a América do Norte, e depois ainda a uma ilha no
Atlântico, chamada por ele de Hy-Brazil, uma ilha
totalmente diferente de tudo o que ele havia visto, a
que chamou de Paraíso.
Alguns geógrafos modernos dizem que esta ilha
encontrada por São Brandão e desenhada em mapas
dos séculos IX, X e XI (Veja os mapas) refere-se à
Ilha de Fernando de Noronha, no Brasil.
Outro fato curioso contido no livro citado acima é
o de São Brandão ter celebrado uma missa em uma
ilha que de repente começou a se mover: esta ilha na
verdade era uma baleia.
As histórias de São Brandão entraram no imagi22
nário do homem medieval e inspiraram portugueses
e espanhóis a realizarem um dos maiores feitos do
mundo, a descoberta e evangelização da América.
São Francisco Xavier, o apóstolo
das Índias
Hoje é dia do grande apóstolo das índias, São
Francisco Xavier. E por esse motivo, quero destacar
alguns pontos importantes da evangelização jesuítica na América:
1 – Os índios eram controlados pelos jesuítas? De
forma alguma. Um exemplo de que isso não acontecia são as Reduções Jesuíticas, na América Espanhola, os conhecidos sete povos das missões.
As reduções eram cidades indígenas, com milhares de índios cuidados por um pequeno número de
jesuítas. Então podemos perguntar: como alguns jesuítas eram responsáveis por um número tão grande de índios? Como eles controlavam as mentes?
Onde estão as prisões, os instrumentos de tortura,
as armas? Ou seja, não existe nada disso, pois os
índios não eram controlados pelos jesuítas. O que
ocorria era o ensino da Verdade. Os povos guaranis
mudaram o seu modo de vida, não porque os jesuítas
23
obrigavam, mas porque lhes ensinavam a verdade.
Alguns bispos de hoje precisariam aprender isso.
2 – Os jesuítas destruíram a cultura indígena? Não!
Os jesuítas elevaram a cultura indígena. A maioria
dos povos que viviam na América no século XVI era
de canibais. Realizavam-se rituais antropofágicos e
sacrifícios humanos para divindades. Você já pensou o que ocorreria se os índios não tivessem sido
evangelizados? Até hoje teríamos sacrifícios humanos, pois isso era um ato cultural dos índios.
Os jesuítas elevaram a cultura dos índios, ensinaram-lhes gramatica, matemática, lógica, astronomia, música e muitas outras coisas, com o sistema de
ensino “Ratio Studiorum”. Desenvolveram também
uma gramatica para as línguas indígenas. Os índios
produziam instrumentos musicais sem matérias-primas, até mesmo vendiam instrumentos para a Europa, faziam obras de arte barroca, tocavam músicas
eruditas. Os jesuítas não destruíram a cultura indígena, mas a SALVARAM!
Novamente: alguns bispos da Amazônia deveriam deixar de seguir as visões deturpadas que têm
da Igreja e seguir a VERDADE.
3 – Por fim, quero apenas dizer que a Igreja nunca
defendeu a escravidão, que foi condenada pela Igre24
ja, desde seu nascimento até hoje. O papa Paulo III
escreveu a bula “Pastorale Officium”, na qual defendia a existência e dignidade da alma dos índios e
negros. Essa bula e outras foram seguidas em todo
o mundo, fazendo com que a Igreja gerasse o futuro
direito internacional, que infelizmente hoje não serve para salvar vidas - como no tempo dos jesuítas
-, mas sim para a promoção do assassinato de bebês
nos ventres de suas mães.
25
III
DEIXE DE
SER
ENGANADO
“O que eu respondo quando perguntarem...?”: A Igreja foi fundada por Constantino?
Neste quadro responderei a questionamentos históricos muitas vezes realizados a nós, católicos. E
o primeiro deles, que quero responder, é: A Igreja
Católica foi fundada por Constantino? Esta afirmação surgiu no século XVII por historiadores protestantes. O objetivo deles era fazer com que a reforma
protestante tivesse uma ligação com a sucessão dos
apóstolos. A primeira tese é que até o ano de 313
não havia nenhum tipo de igreja de Cristo, apenas
comunidades cristãs independentes uma das outras
e que o protestantismo tinha ligação com essas comunidades. Refutando a primeira tese:
As comunidades cristãs não eram autônomas, há
inúmeros trechos das sagradas escrituras nos quais
se demonstra que havia uma normatividade entre as
comunidades, ou seja, havia um modelo a ser seguido. Isto fica evidente na I carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 5, versículo 1, onde São Paulo excomunga um membro da comunidade por não estar
cumprindo a regra dos apóstolos, a regra de Cristo.
Encontramos nas cartas de São Clemente Roma27
no aos Coríntios, no número 42, o IV Papa da Igreja
e discípulo de São Pedro, escrita no ano de 98, São
Clemente defendendo que os discípulos ordenados
nas comunidades deviam ser ordenados seguindo as
instruções dos apóstolos.
Encontramos as mesmas referências no “Didaqué”, escrito do século I. Alguns historiadores defendem que foi um escrito de todos os apóstolos,
que diz “Se alguém vier até vocês ensinado tudo o
que dito antes, deve ser acolhido. Mas se aquele que
ensina for perverso e expuser outra doutrina para
destruir, não lhe deem atenção” nº 11.
Ou seja, a partir dessas referências podemos perceber que as comunidades não eram autônomas, ao
contrário, as comunidades deveriam seguir um norte. A esse norte, chamamos de Tradição, a Tradição
dos apóstolos. Isto está exposto tanto nas Sagradas
Escrituras como na Sucessão Apostólica.
A segunda tese é que no ano 313, com o Édito
de Milão, Constantino teria criado a Igreja Católica Apostólica Romana, já que ele havia liberado a
fé cristã no Império Romano e que, logo após essa
ação, apareceram os primeiros documentos oficiais
da Igreja Católica Romana, no primeiro Concílio da
Igreja que ocorreu em 325, ano da criação do credo e
28
da Igreja Católica, segundo os protestantes. Ou seja,
a Igreja Católica, primeira igreja cristã, teria surgido
a partir do Imperador Romano, e não de Cristo.
Refutando a segunda tese:
Antes de citar os documentos históricos que comprovam a existência da Igreja Católica, devemos esclarecer alguns pontos. Primeiro, a Tradição precede o Magistério e não o contrário. Por mais que não
existam documentos dogmáticos antes do século III,
isso não quer dizer que a Igreja Católica não tenha
existido antes. Afirmar isso é a mesma coisa que defender que uma pessoa só existe se ela escreve algo
sobre ela, ou seja, aquele indivíduo que não escreve
um diário não existe.
Segundo, não há nenhum documento eclesial da
Igreja Católica, pois até o ano 313 os cristãos estavam sofrendo perseguições do Império Romano e
não tinham condições para se reunirem. Além disso, quando Constantino escreveu o Édito de Milão,
além de liberar o culto católico, ele também transferiu a sede do Império Romano de Roma para Milão
e depois fundou a cidade de Constantinopla, nova
sede do Império Romano. Se fôssemos seguir a lógica, a Igreja Católica não deveria se chamar Romana
e sim, “de Milão”, ou “Constantinopolitana”. Veja29
mos algumas referências, a palavra católica, katholikos (καθολικός) aparece pela primeira vez na carta
de Santo Inácio de Antioquia aos Esmirnienses, no
ano 107, número 8.
No século IV com o avanço das heresias, a Igreja
adota o termo católico para defender qual era a fé
verdadeira diante da fé herética, como é o caso de
São Cirilo.
Ou seja, a Igreja não foi de forma alguma fundada
por Constantino. Quando Constantino se converteu,
ele se converteu ao catolicismo, que é a única Igreja
fundada por Jesus Cristo.
A Igreja e a escravidão
Dando sequência ao nosso quadro de desconstrução de mitos, irei responder hoje àqueles que fazem
afirmações como: “A Igreja apoiou a escravidão”,
“a Igreja defende que negro não tem alma”, entre
outras. A grande questão que devemos nos fazer é:
qual a fonte primaria dessas afirmações idiotas e bobas que são reproduzidas em escolas e universidades? Participei de uma aula na universidade onde
defenderam isso e provavelmente você também já
deve ter ouvido algo assim.
30
Pois bem, quando perguntarmos qual é a fonte
primaria, a grande maioria não saberá dizer, pois
como idiotas úteis apenas reproduzem informações
falsas e querem nos fazer de idiotas. Outros vão citar a Bula do Papa Nicolau V, “Dum diversas”, publicada em 1452, como fonte dessas afirmações. A
grande questão é que o documento de Nicolau V não
estava direcionado aos negros escravizados nas colônias africanas e americanas, até porque, naquele
momento ainda não havia iniciado o período das navegações. O documento se refere aos sarracenos do
norte da África que estavam em guerra com Portugal
e vinham escravizando os católicos desde o século
XII. Ou seja, o Papa nesta bula aprova o ataque de
Afonso V a estes grupos, já que configuravam uma
guerra justa e não a escravidão de negros.
A segunda questão é que a Igreja sempre condenou a escravidão como um ato antinatural. Encontramos sermões de Santo Agostinho, Orígenes e São
João Crisóstomo defendendo que a escravidão é um
ato contrário à fé católica e como defendem os historiadores Dagoberto Romag, Daniel Rops e Hilaire
Belloc, destacando que foi a Igreja responsável por
fazer com que a escravidão institucionalizada no Império Romano deixasse de existir na Idade Média,
no apogeu da Cristandade.
31
Uma
pessoa/professor/protestante/coleguinha
ateu que defende que a Igreja era a favor da escravidão dos negros, não sabe que:
A Igreja na Idade Média tinha padres e bispos negros ordenados;
A Igreja já teve um papa escravo em sua história,
chamado Calisto I (218-223), alguns biógrafos defendem que ele era negro, mas o que sabemos pela
Enciclopédia Católica de Charles Herbermann é que
ele era escravo de uma família católica (HERBERMANN, 1913, p. 183-185); Desconhece as inúmeras bulas que condenavam a escravidão:
Veritas Ipsa e Sublimus Dei, Paulo III, 1537;
Sicut Dedum, Eugênio IV, 1435;
Cum Sicut, Gregório XIV, 1591;
Commissum nobis, Urbano VIII, 1639.
Desconhece os concílios locais de Epaona e Reims, os quais defenderam a excomunhão de quem
escravizasse outra pessoa.
Enfim, se a Igreja defendia que negros não possuíam alma, por que determinava que eles deveriam
32
ser batizados? Existem muitas contradições nessas
afirmações contra a nossa fé: não deixes que te façam de idiota.
A Igreja na Idade Média impedia a
leitura da Bíblia
A expressão acima tem suas raízes em ideias protestantes e iluministas. Os protestantes acusam os
católicos de impedirem o acesso dos leigos às Sagradas Escrituras e os iluministas de terem privado
as pessoas comuns da verdade e do conhecimento.
Infelizmente, essas teses infundadas, anacrônicas e
mal intencionadas estão até hoje na boca de muitos
professores de história e às vezes até no senso comum.
A questão é que na Idade Média a maioria dos
católicos realmente não tinha acesso à Bíblia. Isso
ocorria não por que a Igreja era má e queria impedir
as pessoas de terem acesso às Sagradas Escrituras,
mas sim pelo simples fato de que não existia prensa
móvel.
A prensa móvel foi inventada em 1450 por Gutenberg, na Alemanha. Esse instrumento revolucionou a produção de livros, facilitando o acesso a eles,
33
pois sua produção tornou-se mais curta e o custo
muito mais baixo. Ou seja, quando os protestantes
apareceram, eles já tinham prensa móvel e por isso
acusavam a Igreja de esconder a Bíblia do povo.
Mas como era a confeccionada uma bíblia no século XII, XIII, ou em qualquer momento da Idade
Média? A bíblia era copiada por um monge copista.
O tempo em média de uma cópia à mão era de um
ano. Além do texto, havia desenhos e gravuras, tudo
isso era escrito com bico de pena. A Bíblia era escrita em pergaminhos de pele de carneiro, cada um
com em média 16 páginas. Neste tempo o papel era
escasso e somente no século XIV é que fica difundido em toda Europa.
Por estes motivos uma bíblia tinha um custo altíssimo. Donald Spoto, em seu livro: “Francisco de
Assis: o santo relutante”, conta que uma vez uma
mulher havia pedido dinheiro para São Francisco,
pois sua família estava morrendo de fome. São Francisco não tinha o que oferecer, então entregou a Vulgata do Novo Testamento para a senhora que com
a venda conseguiu dinheiro para se manter durante
dois anos. ISSO MESMO, DOIS ANOS. (SPOTO,
2010, p.273).
Ou seja, as pessoas não tinham acesso à bíblia pois
34
seu custo era elevadíssimo, e não porque a Igreja
não permitia sua leitura. Não deixes que te de façam
de idiota.
“O que eu respondo quando perguntarem ...?” II: “Por que os livros deuterocanônicos não foram
retirados da Bíblia católica?
As teses daqueles que atacam os livros Deuterocanônicos (os livros retirados das Sagradas Escrituras por Martinho Lutero: I e II Macabeus, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruc, Tobias, Judite e Complementações de Daniel e Ester) são em suma, três teses:
1 - Inferências a partir dos Escritos de Flavio Josefo
- “Flavio Josefo não cita os livros da Septuaginta,
então ele não concordava com esses textos”;
2 - Concílio de Jâmnia – “Judeus eram contra os livros deuterocanônicos”;
3 - Padres da Igreja – “São Papias, Santo Agostinho
e até São Jerônimo eram contra esses livros”.
Vou refutá-las de uma maneira direta:
35
1 – Flavio Josefo é um apologista e historiador judeu que escreveu inúmeras obras sobre a história do
Judaísmo. A partir de seus escritos, os protestantes
alegam que Josefo defendia que os livros deuterocanônicos nunca foram aceitos pelos judeus, pois
ele não cita os textos em seus escritos.
A questão é que Flavio Josefo também não cita
outros livros do Antigo Testamento, como Ezequiel,
Lamentações, entre outros. Se o argumento é valido
para os livros deuterocanônicos, por que não pode
ser valido para outros? Vamos tirar todos os livros
que Flavio Joséfo não cita!
2 – O Concílio de Jâmnia foi um sínodo judaico
pós-destruição de Jerusalém. Este concílio nunca
promulgou uma lista de livros inspirados no I século. Apenas no século III os judeus retiram os livros
deuterocanônicos, para se opor aos católicos. A tese
de que o Concílio de Jâmnia não determinou nenhuma lista, ou de que suas decisões não representavam
toda a comunidade judaica, está fundamentada na
visão do próprio historiador protestante Frederick
Bruce (2011).
3 – Os protestantes retiram do contexto citações dos
Padres da Igreja para afirmarem suas teses. Usam
vários, eu vou refutar os mais citados: - São Papias
36
era contra os livros deuterocanônicos – isso é verdade. Ele era contra todos os livros escritos em grego.
Se fôssemos seguir São Papias, não teríamos o Novo
Testamento; - Santo Agostinho cita os livros deuterocanônicos em seus escritos “Cidade de Deus”,
“Doutrina Cristã Antiga” e “Contra Gaudêncio”.
Como ele pode ser contra eles se lhes faz referência
e fundamenta suas teses a partir de textos bíblicos da
Septuaginta? Não faz sentido. - São Jerônimo também não é contra os livros deuterocanônicos, veja
um de seus escritos: “Ainda a nossa alegria não se
deve esquecer do limite definido pela Escritura, e
não devemos ficar muito longe da fronteira da nossa
luta. Seus presentes, de fato, lembram-me dos livros
sagrados, pois nele Ezequiel adorna Jerusalém com
braceletes, (Ezequiel 16, 11) Baruc recebe cartas de
Jeremias (Baruc 6) e o Espírito Santo desce na forma de uma pomba no batismo de Cristo (Mateus.
3, 16)” (A Eustóquio, Epístola XXXI, 2 ). São Jerônimo defende o uso dos textos e ainda os chama
de “sagrados” antes de citá-los, como ele pode ser
contra?
O texto foi simples e objetivo, pois é um texto
para o Instagram, mas o assunto não se encerra aqui.
37
A Igreja vendia indulgências
Dando sequência ao nosso quadro de desconstrução de mitos, irei responder a uma pergunta muito
recorrente dos stories: “A Igreja vendia indulgências?”; e afirmações do tipo: “A Igreja vendia terreno no céu”; “Lutero realizou a Revolução Protestante porque a Igreja vendia indulgências.”.
Essas afirmações comuns em nossos meios educacionais demonstram a falta de conhecimento profundo dos fatos e por isso quero explicar ponto por
ponto essa história.
1 – O que são Indulgências?
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, número
1498, Indulgência é quando os fiéis “podem obter
para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, sequelas dos
pecados”.
As indulgências eram dadas pelos papas desde
o século II, apenas tinham outro nome: “Cartas da
Paz”, ou seja, as indulgências são confirmadas pela
Tradição da Igreja. Mas é na Idade Média, mais especificamente no século IX, que elas começam a ser
mais aplicadas.
38
As indulgências são graças espirituais confirmadas pela Tradição, pelo Magistério e pelas Sagradas
Escrituras. E por isso elas não podem ser vendidas,
pois seria uma heresia, a SIMONIA.
Ou seja, a Igreja Católica Apostólica Romana nunca vendeu indulgências, pois seria uma ação herética. Quem gosta de vender “coisas” santas (lenço,
vassoura, óleo) entre outros, são os nossos amiguinhos protestantes.
2 – As indulgências do século XV e XVI.
Mas se a Igreja nunca vendeu indulgências, de
onde saiu essa história? Se liga na sequência: A partir do século XV inicia-se um novo momento na
história papal, o período chamado “Os Papas renascentistas”, que, de acordo com Daniel Rops, vai de
Nicolau V (1417) até Leão X (1521).
Dentro desse contexto inicia-se o período de reconstrução da cidade de Roma, que havia sido esquecida durante a Idade Média, além de novas construções de basílicas e Igrejas. A partir de Nicolau V,
inicia-se esse empreendimento de fazer da cidade de
Roma um grande centro urbano, e com isso foram
chamados inúmeros artistas, construtores e arquite39
tos para colocar em ação todos os projetos.
No ano de 1492, assume um novo papa sob o título de Alexandre VI. O papa convocou toda a Igreja para que no ano 1500 todos viessem celebrar o
Grande Jubileu, com o objetivo de comemorar este
momento, receber indulgências plenárias e também
de pagar as despesas das construções da cidade de
Roma.
O problema é que o número de pessoas não supriu
os gastos. No ano de 1503, assume um novo papa
sob o titulo de Julio II, que inicia a construção da
Basílica de São Pedro, como nós conhecemos hoje.
Com o objetivo de remediar os gastos, Julio II concedeu indulgências plenárias para quem oferecesse
esmola para a construção da obra.
Seu sucessor, o papa Leão X continuou com a
prática em 1514.
O que os Papas fizeram não foi nada de ilegal, eles
apenas estimularam que as pessoas doassem dinheiro para a Igreja. Os católicos já pagavam o dízimo.
Agora, quando pagassem, receberiam indulgências.
Entendeu?
A Igreja não vendia indulgências, nunca vendeu, a
Igreja concedia indulgências pelas doações das pes40
soas.
3 – Lutero e as Indulgências.
No ano de 1517, Lutero prega na catedral de Witttenberg suas 95 teses, das quais 27 eram contra a
doutrina das indulgências (5,6,7,8 a 29; 36 e 37; 58),
atacando o Magistério e a tradição da Igreja, além
de ignorar as passagens das Sagradas Escrituras que
confirmam a ação das indulgências.
Qual foi o real motivo que levou Lutero a atacar
as indulgências:
Na Alemanha havia um ditado popular na época
que dizia: “Assim que o dinheiro tilinta na caixinha,
a alma salta para fora do purgatório” (ROPS, vol.
III, p. 267). Esse ditado era produto da má pregação
da doutrina das indulgências.
No ano de 1514, quem assume o arcebispado de
Mongúncia era o jovem de 24 anos e não muito honesto Alberto Hohenzollem. Segundo os historiadores o jovem bispo havia feito um acordo no qual
metade do valor arrecado na diocese ficaria para ele.
Com isso, Alberto enviou o pregador dominicano
Johan Tetzel para pregar em favor das indulgências.
Tetzel era um homem íntegro, nunca vendeu perdão
41
papal, apenas usava da boa retórica e da dialética
para fazer com que as pessoas doassem.
Quando Tetzel pregava próximo a Wittenberg,
Lutero o atacou enviando uma carta para o arcebispo Alberto. Como não obteve resposta, no dia 31 de
Outubro de 1517 pregou suas teses na porta da Catedral, atacando toda a Doutrina e Tradição da Igreja,
não porque a Igreja estava vendendo indulgências,
mas porque ele queria a destruição da Igreja, como
destaca o historiador Giacomo Martina (1995).
A Igreja X A Ciência
Quando teu professor de história defender que a
Igreja é contra a ciência e que a Igreja perseguiu os
cientistas. Apresente essa lista para seu professor:
• Nicolau Copérnico (1473 - 1543), clérigo que
escreveu o livro a Revolução da Orbita Celeste, defendendo o Heliocentrismo.
• Johannes Kepler (1571 - 1630), astrónomo e
matemático e defendia a existência de Deus pela ciência.
• Galileu Galilei (1564 - 1642), católico astrônomo e matemático.
42
• Roger Bacon (1214 -1292), frade franciscano
que desenvolveu o método científico.
• Gregor Mendel (1822 - 1884), monge e abade
agostiniano pai da Genética.
• Ruggiero Boscovich (1711 - 1787), padre jesuíta pai da teoria atômica.
• Nicolau de Cusa (1401 - 1464), cardeal da Igreja e um grande filósofo.
• Luca Pacioli (1445 - 1517), um franciscano sábio e matemático desenvolveu a teoria da proporção
divina.
• Gernerto de Aurilac, Papa Silvestre II (946 1003), grande cientista e matemático perseguido por
desenvolver cálculos matemáticos revolucionários
da época.
• Robert Grosseteste (1168 - 1253), franciscano e um grande gênio medieval, professor de Roger
Bacon, membro notável da universidade de Oxford,
escreveu tratados sobre o som, a ótica, a astronomia,
geometria e aritmética.
• Nicolau Steno (1638 - 1686), luterano convertido ao catolicismo, padre e pai da estratigrafia.
• Leon Battista Albert (1404-1472), padre e gran43
de cientista, desenvolveu estudos fundamentais para
óptica, com o tratado sobre a pintura em 1435.
• François D’ Aguilon (1567 - 1617), padre jesuíta desenvolvedor de calculas matemáticos precursor
de Isaac Newton na descoberta do cálculo infinitesimal.
• Christóforo Scheiner (1573 - 1650), padre matemático criador do primeiro telescópio antes de Galileu, em 1619.
• Atanasius Kirchner (1602 - 1680), padre e pai
da geologia moderna a partir de seus estudos sobre
o Vulcão Vesúvio.
• Mateo Ricci (1552 -1610), matemático, padre
jesuíta e missionário na China foi um grande matemático, tornando-se conselheiro do Imperado da
China.
• José de Acosta (1539 - 1600) jesuíta e missionário na América, era um grande cientista e a partir
de suas observações sobre o povo andino é considerado o pai da medicina astronáutica.
• João Batista Riccioli, padre inglês e astrônomo
calculou pela primeira vez a aceleração de um corpo em queda livre, calculando a constante gravidade, antes de Issac Newton.
44
• Francisco Maria Grimaldi (1613 - 1663), padre
e discípulo do padre João Batista Riccioni e descobridor da difração da luz.
• Padre Georges Lemaitre (1894 - 1966), padre
jesuíta e meteorologista pioneiro na teoria da relatividade, propôs a Teoria da Evolução, apesar de ter
chamado de “Hipótese do primeiro átomo”.
• Antoine Lavoisier (1743 - 1794) pai da química moderna morto guilhotinado na Revolução Francesa por ser católico e inimigo de um cientista ateu.
• André Marie Ampére (1775 - 1836) físico católico um dos maiores estudiosos do eletromagnetismo.
• Alessandro Volta (1745 - 1827), físico e químico católico inventor da bateria e o descobridor do
metano.
A lista é apenas uma exposição dos inúmeros cientistas católicos que foram importantes para o desenvolvimento cientifico no mundo, mas já é suficiente
para calar a boca dos caluniadores que militam que
fé e razão não andam juntas.
45
Você sabe o que Lutero escreveu sobre o papado?
Deixo aqui um trecho do último livro de Lutero,
“Contra o papado de Roma, fundado pelo Diabo”,
escrito por em 1545:
“O próprio Papa é um louco, falsificador de história, mentiroso, blasfemador, profanador, tirano do
imperador, dos reis e de todo o universo, golpista,
patife, pilhador de bens eclesiásticos e secular”.
“O papa é o espírito do anticristo; sua carne é
turca, que infesta a Igreja corporalmente, espiritualmente”.
“O papa é o chefe da multidão amaldiçoada dos
piores malandros da terra: tenente do diabo, inimigo de Deus, adversário de Cristo, destruidor das
igrejas cristãs, mestre de todas as mentiras, blasfêmias e idolatias; artilheiro das igrejas, ladrão das
chaves e de todos os bens sagrados e profanos, assassino de reis, instigador de todos os tipos de massacres, o maior bordel dos bordéis e promotor de
toda luxúria”.
Os trechos citados são confirmados por todos os
protestantes, inclusive na época, Felipe de Melanchton pediu desculpas pelos exageros cometidos por
46
Martinho Lutero.
As comprovações da existência de
Jesus
Outro exemplo bem famoso aponta para o jurista
e orador Plínio, o jovem (62 a 114 d.C.), que trocou correspondências (122 cartas) com o Imperador
Trajano (98 a 117 d.C.).
A pessoa de Jesus Cristo é uma evidência histórica inegável. Porém há pessoas que buscam afirmar
que Jesus não passa de um mito, de uma história.
Que os evangelhos foram criados pela Igreja e por
este fator, tudo não passa de uma enganação. Entretanto nós encontramos evidências históricas não católicas sobre Jesus Cristo:
Veja as fontes judaicas:
Talmude – é um livro que traz tradições judaicas
orais no qual menciona a vida de Jesus Cristo. Os
escritos de Flávio Josefo, historiador judeu contemporâneo de Jesus, que escreve:
“Por este tempo, surgiu Jesus, homem sábio, que
talvez seja mais do que um mero homem, era capaz
de realizar coisas extraordinárias, ele arrastou para
47
sim muitos judeus e muitos gregos e era considerado o Messias” (Ant. XX, 9, 1).
Veja as fontes romanas:
Os Escritos do historiador Cornélio Tácito, escrito no ano 115 e considerado um dos autores mais
precisos do mundo antigo. Em seu livro o autor confirmar que Cristo foi morto no tempo do Imperador Tibério, no governo do Pôncio Pilatos, além de
confirmar o incêndio de Nero. (TÁCITO, Cornélio
– Anais, Rio de Janeiro, Tecnoprint Gráfica S.A.,
1.967, Tradução de Leopoldo Pereira).
O historiador Suetônio, historiador contrato pelo
Império Romano para escrever as biografias dos imperadores. No seu livro, “A vida dos 12 Césares”,
ele também confirma a existência de Jesus. (SUETÔNIO, Caio – A Vida dos Doze Césares, Rio de Janeiro, 2ª Edição Reform, Ediouro Publicações S.A.,
2.002, tradução de Sady-Garibaldi). Outra fonte bem
famosa são as cartas do jurista e orador Plínio, o jovem (62 a 114 d.C.), que trocou cerca de 122 correspondências com o Imperador Trajano (98 a 117
d.C.). Nelas o autor relata o que os seguidores de
Cristo estavam fazendo na Ásia Menor.
48
IV
IDADE MÉDIA
A mulher medieval
Desenvolvi um novo quadro com o objetivo de
demonstrar quando alguns professores universitários, ou da escola, difundem sentenças sobre temas
complexos e tentam fazer com que pareçamos um
idiotas.
Sentenças como: “A mulher na Idade Média não
tinha voz!”, ou, “Ela era reprimida pela Igreja Católica”, ou pior, “A Igreja defendia que a mulher não
tinha alma”. Quando um indivíduo defende isso,
provavelmente, ele não conhece essas grandes mulheres medievais:
• Santa Joana D’Arc, uma mulher que liderou o
exército Frances contra a Inglaterra na Guerra dos
Cem Anos.
• Santa Hilda de Whitby, uma mulher fundadora
da abadia de Whitby e uma das primeiras monjas da
Inglaterra, conhecida por ser uma grande administradora e professora.
• Santa Hildegard de Bingen, grande intelectual
que escreveu tratados de medicina no século XII,
escritos espirituais e sinfonias, criadora do homem
vitruviano.
• Santa Catarina de Sena, mulher iluminada por
50
Deus e de uma sabedoria sobrenatural, e que foi
enviada para resolver a crise papal do século XIV,
apontando o dedo para os bispos que se autointitularam papas e disse: “honre seus culhões”.
• Santa Teresa de Ávila, uma mulher, doutora da
Igreja responsável por uma mudança na vida espiritual da Igreja, uma grande santa que todos nós conhecemos.
O cidadão desprovido de inteligência que faz estas afirmações não sabe:
Que os primeiros mártires a serem reconhecidos
como santos pela Igreja Católica foram MULHERES como Santa Cecília, Santa Ágata, Santa Inês,
Santa Bladina e Santa Genoveva.
Não sabe que uma das pinturas mais antigas encontradas nas Catacumbas de Santa Priscila é da Virgem Maria com o Menino Jesus.
Enfim, está na hora de pararmos de ficar quietos
diante essas sentenças idiotas difundidas contra a
Igreja.
O que motivou as cruzadas:
Quando teu professor de história defender que as
51
Cruzadas foram motivadas pelo crescimento populacional e falta de terras. Apresenta essa lista para o
seu professor de história marxista:
Século VII
632: Maomé morre.
633: Mesopotâmia cai face à invasão muçulmana.
Segue-se a queda de todo o Império Persa.
635: Damasco cai.
638: Jerusalém é capitulada.
643: Alexandria cai terminando assim 100 anos de
cultura helénica.
648: Chipre é atacado.
649: Chipre cai.
653: Rodas cai.
673: Constantinopla é atacada.
698: Todo o Norte da África é tomado pelos muçulmanos. São apagados os vestígios de cultura romana.
Século VIII
711: Hispânia é atacada. O reino visigodo colapsa.
717: Os muçulmanos atacam Constantinopla de novo
52
e são repelidos pelo Imperador Leão III.
720: Narbona cai.
721: Saragoça cai. Avistamentos de muçulmanos na
França.
732: Bordeus é atacada e as suas igrejas são queimadas. Carlos Martel e o seu exército detêm os muçulmanos. Os ataques na França continuam.
734: Avinhão capturada por uma expedição muçulmana.
743: Lyon é saqueada.
759: Os árabes são expulsos de Narbona.
Século IX
800: Começam as incursões muçulmanas na península itálica. As ilhas de Ponza e Isquia são saqueadas.
813: Civitavecchia, o porto de Roma, é saqueado.
826: Creta cai perante as forças muçulmanas.
827: Os muçulmanos começam a atacar a Sicilia (sul
da península itálica).
837: Nápoles repele um ataque muçulmano.
838: Marselha saqueada e conquistada.
53
840: Bari cai.
842: Messina capturada e o estreito de Messina controlado pelos muçulmanos.
846: Os esquadrões muçulmanos chegam a Ostia,
na foz do Tibre, e saqueiam Roma e a Basílica de
Sao Pedro. Tarento, em Apulia, é conquistado pelas
forças muçulmanas.
849: O exército do Papa repele uma frota muçulmana na foz do Tibre.
853-871: A costa italiana desde Bari até Reggio Calabria é controlada pelos sarracenos. Os muçulmanos semeiam o terror no Sul da Itália.
859: Os muçulmanos tomam controle de toda a Mesina.
870: Malta capturada pelos muçulmanos. Bari reconquistada aos muçulmanos pelo Imperador Luis
II.
872: O Imperador Luis II derrota uma frota sarracena em Capua. As forças muçulmanas devastam Calábria.
878: Siracusa cai após um cerco de 9 meses.
879: O Papa João VII é obrigado a pagar aos muçulmanos um tributo anual de 25.000 mancusos (cerca
54
de 625.000 dólares americanos modernos).
880: Os comandantes bizantinos conseguem uma
vitória em Nápoles.
881-921: Os muçulmanos capturam uma fortaleza
em Anzio e saqueiam as terras circundantes sem retaliações durante 40 anos.
887: Os exércitos muçulmanos tomam Hysela e
Amasia, na Ásia Menor.
889: Toulon capturado.
Século X
902: As frotas muçulmanas saqueiam e destroem
Demetrias, na Tesalia, Grécia central.
904: Tessalônica cai perante as forças muçulmanos.
915: Após 3 meses de bloqueio, as forças cristãs
saem vitoriosas contra os sarracenos entrincheirados na sua fortaleza no norte de Nápoles.
921: Peregrinos ingleses a caminho a Roma são esmagados por uma derrocada de rochas causada pelos sarracenos nos Alpes.
934: Génova atacada pelos muçulmanos.
935: Génova conquistada.
972: Os sarracenos são finalmente expulsos de Faxi55
neto.
976: O Califa do Egito envia novas expedições muçulmanas ao sul de Itália. O Imperador Oto II, que
tinha o seu quartel general em Roma, consegue derrotar os sarracenos.
977: Sérgio, arcebispo de Damasco, é expulso da
sua sede pelos muçulmanos.
982: As forças do Imperador Oto II são emboscadas
e derrotadas.
Século XI
1003: Os muçulmanos de Espanha saqueiam Antibes, na França.
1003-1009: Hordas de saqueadores sarracenos provenientes de bases na Sardenha saqueiam a costa
italiana desde Pisa até Roma.
1005: Os muçulmanos da Espanha saqueiam Pisa.
1009: O Califa do Egito ordena a destruição do Santo Sepulcro em Jerusalém, a tumba de Jesus.
1010: Os sarracenos apoderam-se da Cosenza, no
Sul da Itália.
1015: A Sardenha cai completamente em poder muçulmano.
56
1016: Os muçulmanos de Espanha saqueiam de novo
Pisa.
1017: Frotas de Pisa e Génova dirigem-se à Sardenha e encontram os muçulmanos a crucificar cristãos e expulsam o líder muçulmano. Os sarracenos
tentaram retomar a Sardenha até 1050.
1020: Os muçulmanos de Espanha saqueiam Narbona.
1095: O Imperador bizantino Aleixo I Comneno
pede ao papa Urbano II ajuda contra os turcos.
1096: É proclamada a Primeira Cruzada.
FAKENEWS: A Papisa Joana
A história da Papisa tem suas fontes primárias em
dois grupos de documentação:
1 - “Chronica universalis Mettensis”, devida ao dominicano João de Mailly e escrita por volta de 1250.
2 - “Chronicon pontificum et imperatorum”, documento criado por outro dominicano, chamado Martinho de Tropau, dito “Polono” (1279).
A estória narrada por essas fontes, em suma, aponta a existência de uma mulher que se tornara papa,
57
por volta do ano de 855, segundo Martinho Polono.
Já Mentz escreveu dizendo que foi por volta do ano
de 1087.
Segundo a estória a moça disfarçou-se de homem
para entrar em um mosteiro, com o nome de João.
Com o passar do tempo, ganhou confiança da Cúria,
tornou-se bispo e cardeal, responsável pela Secretária da Cúria Romana.
Até que, em 855, foi entronizada como Papa, a
Papisa Joana. Seu disfarce começou a cair quando
ela arrumou um amante, que a estuprou. Em meio
a uma procissão, ela deu à luz, aos olhos de todo o
povo, que a matou por toda a enganação promovida.
Há várias narrativas diferentes, pois ao longo dos séculos foram agregando-se mais detalhes na história.
Mentz e Polono contam a mesma história de formas
diferentes. Por este motivo não iremos adentrar na
visão de cada autor, pois não teríamos tempo.
As incoerências da estória e das fontes
1 - A mesma história possui inúmeras versões que
não se encaixam uma na outra, dando a entender sua
total criação sem nenhum fundo de verdade.
58
2 - Historiadores já desmentiram essa estória nos séculos XVI, XVII e XVIII, por exemplo, Florimundo
de Rernond, em 1558. O autor protestante D. Blondel
escreveu “Familier esclaircissement de la question,
si une femme a esté assise au siège papal de Rome
entre Léon IV et Benoît III” escrito em 1647. E o
erudito Ignaz von Doellinger escreveu “Die Papstfabeln des Mittelalters”, em 1890.
3 - As datas que os autores usam para identificar o
período da Papisa não existem, pois há papas em
Roma nos momentos históricos citados pelos os escritores.
Qual é a raíz dessa história?
O século IX é conhecido como o século de ferro
da História da Igreja, pelo fato da grande crise no
clero e principalmente no papado da época.
Durante este período a família Teofilactus usurpou
a cátedra de Pedro. Houve sete papas que eram controlados pelas mulheres dessa família. As mulheres
eram Teodora, esposa de Teofilactus, e suas filhas
Teodora e Marócia.
Os papas que foram controlados foram: João IX
(898-900), João X (914-929), João XI (931-935),
59
João XII (955-964), João XIII (965-972), João XIV
(983-984), João XV (985-996). Ou seja, a crônica
fazia alusão aos papas que não tiveram hombridade
em seus governos.
Outra teoria é que tentaram fazer um ataque ao
Papa Sérgio II, que fora um papa de boa índole, mas
muito fraco como governador da Igreja, comilão e
doente.
Essa estória foi pega pelos protestantes e gnósticos no século XVI e reproduzida com o fim de manchar a imagem do papado e da Igreja.
A figura da mulher na Idade Média
Apesar de ser um tema polêmico e que necessita
de um espaço maior para expor a importância da mulher na Idade Média, vou tentar, em poucos parágrafos, descrever algumas mulheres que foram figuras
importantes na Idade Média e assim levar o leitor a
perceber que a mulher, na Idade Média, tinha mais
igualdade do que na Idade Moderna.
Anteriormente, quando falávamos de educação,
citei a monja beneditina Hildegard de Bingen, que
dedicou sua vida à ciência especulativa. Além dela
temos muitas outras; cito aqui a história da estudan60
te Heloisa. Heloisa era uma jovem estudante que se
apaixonou por seu professor Abelardo – o que era
proibido na Idade Média –, porém o amor de ambos
era tão grande que eles acabaram se relacionando.
O nobre pai de Heloisa ficou sabendo do fato e obrigou o professor a se casar com sua filha, contudo
Heloisa não quis se casar, pois queria estudar e a rotina de estudos e filhos não poderia ser conciliada.
Essa história se encontra no livro As correspondências de Abelardo e Heloisa, e nelas podemos perceber a “emancipação feminina” na Idade Média, e o
que muitas feministas afirmam não ter existido na
Idade Média é refutado com as fontes históricas.
Ou seja, a mulher não era vista na Idade Média
como um ser inferior ao homem, mas sim como
igual. Na Idade Média, principalmente pela instituição do casamento pela Igreja Católica, a mulher
teve um papel igualitário perante o homem. Bem
diferente do que acontecia na Idade Clássica, onde a
mulher era totalmente submetida e controlada pelos
homens, o conceito de pater famílias era realidade
na Idade Média e a mulher passou a ter poder de decisão, mas infelizmente com o renascimento moral
clássico, a mulher volta a ter um papel secundário
na Idade Moderna.
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Deste modo, houve mulheres cavaleiras, rainhas,
condessas e senhoras feudais, o que não existia na
Idade Clássica. Pergunto-lhe: Houve alguma rainha
espartana ou grega de destaque e poder? Houveram
imperatrizes romanas? Além de Cleópatra, você conhece outra figura feminina importante na Idade
Clássica? Provavelmente sua resposta será “não”,
pois realmente a mulher clássica não tinha a mesma
liberdade da mulher medieval.
Na Idade Média houveram mulheres como Matilde da Inglaterra, que juntou um exército e lutou
pela sua herança usurpada por seu primo Stephen.
Leonor de Aquitânia, mulher bela, refinada e forte,
que convenceu seu marido Luís XII, rei da França, a
lutar na Segunda Cruzada e, além disso, ela mesma
o acompanhou em toda campanha. A princesa Isabel
da França, descobrindo que seu esposo o traía, juntou um exército exilado e lutou pelo trono francês.
Cristina de Pisano, uma escritora, poeta e filósofa
medieval.
Além delas temos grandes santas medievais como
Santa Joana D’Arc, que lutou contra a Inglaterra na
Guerra dos Cem Anos. Santa Mônica, mãe do grande doutor da Igreja Santo Agostinho. Santa Hilda
de Whitby, fundadora da abadia de Whitby e uma
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das primeiras monjas da Inglaterra, conhecida por
ser uma grande administradora e professora. Santa
Hildegard de Bingen, que já foi mencionada. Santa
Catarina de Sena, mulher iluminada por Deus e de
uma sabedoria sobrenatural, e que foi enviada para
resolver a crise papal. Santa Teresa de Ávila, grande santa que todos nós conhecemos e muitos outros
exemplos que poderíamos preencher dezenas de páginas.
Outro ponto importante de se destacar era o tratamento dos homens para com as mulheres: o amor na
Idade Média ganha uma nova compreensão, o Amor
Cortês. Esta conduta educada e refinada de tratar a
mulher fazia com que os homens derramassem lágrimas escrevendo poemas para suas amadas e desbravar qualquer perigo para encontrar descanso nos
braços de suas esposas.
“Ser amável, educado e fino. Saber expressar seu
amor de forma gentil: essa foi a primeira e principal
fase na transição do homem-guerreiro para o cortesão. Esse era o novo-homem cortês do século XII,
um cavaleiro que caminhava a passos largos para se
tornar um cavalheiro’”. (COSTA, 2003).
O conceito de amor romântico foi construído graças aos homens do séc. XII. Uma pena que atual63
mente estejamos vivendo em uma situação na qual
o amor é descartável.
Para finalizar gostaria de esclarecer o chamado
Direito de Pernada, encontrado em inúmeros livros
didáticos e ainda defendido por historiadores mal-intencionados. Esse Direito consiste em que o camponês, antes da lua de mel, deveria ceder sua esposa
ao senhor feudal para que ele tirasse a virgindade
dela. Esse tal direito de pernada foi uma invenção
hollywoodiana, pois não há NEHUMA FONTE que
comprove isso. O filme Coração Valente retrata isso
como literatura e não como fonte histórica, ou seja,
foi uma invenção do autor. Porém infelizmente alguns acreditam em tudo que vêem na TV. A única
coisa que os camponeses tinham que fazer para casar era pagar um imposto ao senhor feudal, da mesma forma que pagamos hoje para casar no civil.
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DEIXE DE SER ENGANADO
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