Uploaded by Tiago Ramos

Textos IntEc cap 1

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MERCADOS E PREÇOS
escassos, não havia necessidade de economia. Por isso, bens económicos
são bens escassos, isto é, são aqueles cuja oferta é limitada.
1. MERCADOS E PREÇOS
O objeto central da análise económica é o comportamento económico
dos indivíduos e das empresas, as suas decisões de produção e de
consumo, e a inter-relação entre estas decisões. A inter-relação entre
indivíduos e empresas dá origem a transações económicas, compra e
venda de uma determinada quantidade de bens (produtos ou serviços) a
um determinado preço. O conjunto das transações sobre um determinado
bem é o mercado (desse bem), que pode ter ou não existência física.
A metodologia económica de análise do comportamento de mercados e
preços assenta no chamado modelo da oferta e da procura, que é o tema
deste capítulo introdutório. No entanto, antes de entrarmos no estudo
deste modelo, é conveniente apresentar alguns conceitos básicos que
serão úteis no estudo da economia.
1.1.
LINGUAGEM E CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Existem várias definições de economia, não cabendo no âmbito deste
livro uma análise comparativa e exaustiva dos diferentes conceitos.
Limitamo-nos a apresentar uma definição que servirá de ponto de partida
ao nosso estudo da ciência económica:
A economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos
escassos na produção de bens para satisfação de necessidades múltiplas,
e de como os distribuem entre os vários indivíduos.
1.1.1.
O problema económico surge porque as necessidades dos indivíduos
excedem largamente os recursos disponíveis. A preocupação do
economista é assegurar que os recursos (escassos) disponíveis sejam
utilizados da melhor forma possível, para que se consiga satisfazer o
maior conjunto possível de necessidades. É necessário, então, utilizar
esses recursos eficientemente. A conjugação da escassez dos bens com a
multiplicidade de necessidades coloca a eficiência como um dos
principais critérios de análise da economia.
O conceito de eficiência é central a toda a análise económica. Importa
por isso precisar o que os economistas entendem por eficiência. Em
economia, eficiência corresponde a uma boa utilização dos recursos, isto
é, uma utilização sem desperdícios. A economia está a produzir de forma
eficiente quando o bem-estar de um agente económico não pode
aumentar sem prejudicar o bem-estar de outro agente económico
(critério de eficiência de Pareto).
Note-se que os conceitos de bem económico, necessidade, e eficiência
não se limitam ao domínio do material. Desde que um ser humano sinta
uma vontade (necessidade), o que for que a satisfaça é bem económico
(se a sua oferta for limitada). Por exemplo, uma missa é um bem
económico, porque satisfaz uma necessidade (espiritual) dos fiéis, e tem
oferta limitada (quer o número de sacerdotes, quer o número de igrejas
disponíveis, são limitados); por outro lado, o tempo necessário para
assistir à missa é um recurso escassíssimo. A eficiência não deverá
deixar de ser uma preocupação primordial na definição dos locais e
horários das missas a celebrar, para que estas possam satisfazer as
necessidades do maior número de fiéis.
Escassez e eficiência
1.1.2.
Otimização
Mais do que um corpo de conhecimentos, a economia é uma forma de
olhar o mundo. O ponto de partida da ciência económica é a constatação
que os recursos disponíveis são escassos. Se os recursos não fossem
Todas as pessoas, singulares ou coletivas, têm uma atividade económica,
isto é, são agentes económicos. Os economistas costumam agrupar os
1
2
ÁLVARO ALMEIDA
MERCADOS E PREÇOS
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
diversos agentes económicos em várias categorias, de acordo com as
suas funções económicas e os objetivos que comandam as suas decisões.
O primeiro tipo de agentes económicos é as pessoas singulares, ou os
grupos de pessoas que constituem unidades de decisão mais pequenas, as
famílias. As famílias têm duas funções económicas essenciais. Primeiro,
são os detentores ou fornecedores dos factores de produção, que
fornecem às empresas, em troca de um determinado rendimento.
Segundo, utilizam o rendimento que obtêm dos factores de produção
para comprar os bens finais (consumo), ou para aforrar (poupança). As
decisões das famílias são tomadas em função do seu objectivo último,
que se assume ser a sua felicidade, ou bem-estar. As decisões de
consumo, ou de trabalho, das famílias visam maximizar a sua utilidade,
ou bem-estar.
O segundo tipo de agentes económicos é as empresas, aquelas pessoas
colectivas que existem para realizar a produção de bens e serviços. As
empresas adquirem factores de produção, quer bens de capital
(investimento), quer bens de consumo intermédio, e organizam os
factores de produção para produzir bens e serviços. As decisões das
empresas são tomadas em função do objectivo de maximização do valor
da empresa, o que irá contribuir para aumentar o bem-estar dos seus
proprietários. Note-se que de um ponto de vista estático, maximizar o
valor da empresa é equivalente a maximizar o lucro (diferença entre
proveitos e custos).
O terceiro tipo de agentes económicos é o Estado e outras entidades
públicas. A existência de entidades que actuam em nome colectivo é
necessária quando a actuação individual das famílias e empresas não é
suficiente para garantir o bem-estar social. O Estado supre esta lacuna,
angariando receitas (voluntárias ou coercivas) para financiar as despesas
necessárias à prossecução do seu objectivo, que se assume ser a
maximização do bem-estar social.
1.1.3.
Custo de oportunidade
Qualquer agente económico só poderá tomar decisões óptimas se
conhecer os custos e benefícios associados a cada uma das decisões
possíveis. Note-se, porém, que o custo relevante é o custo económico (o
impacto negativo no nosso bem-estar), e não o custo financeiro (o valor
monetário que se tem de despender para obter esse bem), ou o custo
contabilístico (o custo registado na contabilidade das empresas). A
noção de custo relevante em economia é a de custo de oportunidade. O
custo de oportunidade de um bem corresponde ao valor daquilo que se
prescinde para obter esse bem (relativamente à melhor aplicação
alternativa).
Por exemplo, o custo de oportunidade de frequentar um curso de pósgraduação é a soma do custo financeiro directo (as propinas), com os
custos financeiros indirectos (o custo das deslocações, por exemplo), e
com o custo não financeiro associado à perda de bem-estar que resulta
do tempo de lazer de que se tem de abdicar para estudar. Para muitos,
esta parcela do custo, que é “invisível”, é mais importante que as outras
parcelas mais óbvias.
Note-se que o custo de oportunidade pode variar significativamente de
agente económico para agente económico. O custo de oportunidade de
frequentar um curso de pós-graduação vai variar de aluno para aluno,
porque as deslocações são diferentes e porque o valor atribuído ao lazer
também pode ser diferente. O custo de oportunidade pode variar também
ao longo do tempo, para o mesmo agente económico. Para alguns
alunos, o custo de oportunidade de assistir às aulas vai variar ao longo
do tempo, sendo mais elevado, por exemplo, naquelas noites em que o
seu clube de futebol favorito jogar uma final europeia...
Todos estes agentes económicos vão actuar racionalmente, isto é, vão
tomar decisões óptimas, aquelas que permitem alcançar o seu objectivo,
tendo em conta as restrições que enfrentam. A decisão óptima é a
escolha que produz o resultado que melhor contribui para alcançar os
objectivos do agente económico.
3
4
ÁLVARO ALMEIDA
1.2.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
CONSUMIDORES E PROCURA DE BENS
O modelo da oferta e da procura recebe o seu nome dos seus dois
elementos centrais, a curva da oferta e a curva da procura. Nesta secção
vamos analisar esta última.
1.2.1.
Determinantes da procura
A procura de bens finais é efectuada pelos agentes económicos que
genericamente são designados como famílias ou consumidores. Para
compreendermos a procura de bens, teremos então de compreender o
que determina as escolhas destes agentes económicos quanto efectuam
as decisões relativas ao consumo. O ramo da economia que estuda estas
escolhas é conhecido como Teoria do Consumidor.1 Uma análise
detalhada da teoria do consumidor sai fora do âmbito deste texto, pelo
que nos limitaremos a salientar o principal resultado desta teoria:
Teoria do consumidor: os consumidores escolhem a quantidade que
pretendem consumir de um determinado bem, de forma a maximizar a
sua utilidade, tendo em conta as suas preferências, a sua restrição
orçamental, e os preços desse e de outros bens (preços relativos).
A teoria do consumidor diz-nos que a procura de um determinado
consumidor por um determinado bem vai depender das suas preferências
(gostos), do seu orçamento e dos preços de todos os bens. A procura
total por esse bem vai resultar da soma das procuras individuais. Se
definirmos uma relação entre a quantidade procurada de um bem e as
variáveis que influenciam essa quantidade procurada, podemos construir
uma função procura:
1
A procura de bens de investimento ou de bens utilizados na produção resulta
de escolhas das empresas. Por esta razão, as determinantes da procura por este
tipo de bens são diferentes da procura por bens finais, e são analisadas pela
Teoria dos Custos (ver secção 1.3.). No entanto, estes bens têm curvas da
procura que são qualitativamente semelhantes às curvas da procura por bens
finais, pelo que o modelo da oferta e da procura se aplica também a este tipo de
bens.
5
MERCADOS E PREÇOS
Função procura: relação entre a quantidade procurada de um bem e
todos os factores que afectam essa quantidade.
Q = −a1 PX + a2 PS − a3 PC + a4 EPx + a5 R + a6 N + a7 PUB + a8 FE
(1.2.1)
A equação 1.2.1 apresenta um exemplo de uma função procura, onde a
quantidade procurada (Q) do bem é função linear de várias
determinantes. Genericamente, as determinantes da procura por um bem
X são as seguintes (o símbolo +/– indica o sentido da variação esperada
da quantidade procurada quando aumenta o valor da variável em causa):
- preço do bem X (PX, – ): se o preço do bem X aumentar,
os consumidores vão poder comprar menos quantidade
(efeito-rendimento) e vão antes procurar bens substitutos
(efeito-substituição);
- preço de bens substitutos (PS, + ): bens substitutos são
aqueles bens que satisfazem as mesmas necessidades que o
bem X; se o preço desses bens aumentar, os consumidores
vão procurar menos esses bens e procurar mais o bem X;
- preço de bens complementares (PC, – ): bens
complementares são aqueles bens cujo consumo está
associado ao do bem X; se o preço desses bens aumentar,
os consumidores vão procurar menos esses bens e por isso
também vão procurar menos o bem X;
- expectativas sobre preços futuros (EP): se os consumidores
esperarem que no futuro os preços se virão a alterar, vão
postecipar/antecipar o seu consumo para beneficiar de
baixas de preços ou evitar subidas, o que terá reflexos no
consumo corrente do bem X; por exemplo, se se esperar
uma subida de PX, os consumidores vão antecipar o seu
consumo, e a procura corrente de X vai aumentar;
- rendimento dos consumidores (R, + ): no caso de bens de
consumo corrente, o orçamento dos consumidores está
limitado pelo seu rendimento; no caso de bens de consumo
duradouro, a restrição está mais relacionada com a sua
riqueza e/ou capacidade de endividamento (mas o
rendimento não deixa de ser uma determinante fundamental
destes);
6
ÁLVARO ALMEIDA
-
-
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
dimensão do mercado (N, + ): a quantidade procurada
depende dos factores que influenciam a escolha de cada um
dos consumidores, mas também do número de
consumidores; a dimensão do mercado vai ser um elemento
fundamental na determinação da quantidade procurada;
preferências dos consumidores: qualquer variável que
influencie os gostos dos consumidores vai influenciar a
procura do bem X; estas variáveis incluem, por exemplo,
os gastos com publicidade (PUB), ou factores específicos a
cada bem (FE), como, por exemplo, as condições
atmosféricas no caso da venda de guarda-chuvas.
preço, e PS representa o preço médio dos outros automóveis todo-oterreno (em milhares de euros):
A função procura genérica apresentada acima refere-se à procura de
uma indústria,2 isto é, à procura por um determinado bem X. Também se
podem definir funções procura do produto de uma empresa. A principal
diferença é que estas deverão também incluir como determinantes
variáveis relativas ao comportamento das outras empresas produtoras do
bem X. Por exemplo, se Q representar a quantidade procurada de
automóveis todo-o-terreno (em milhares de veículos), PX for o seu
preço, PY o preço dos automóveis familiares, R o rendimento médio
anual das famílias portuguesas, PUB o valor gasto pelos fabricantes
destes veículos em publicidade (todas estas variáveis definidas em
milhares de euros), i a taxa de juro (em pontos percentuais), e N o
número de famílias (em milhões), a equação 1.2.2. poderia representar a
função procura da indústria de automóveis de todo-o-terreno no país P:
Q = −2 PX + 1 PY + 1,5 R − 2 i + 20 N + 0,015 PUB
Qm = −5 PT + 5 PS + 1 PY + 1,5 R − 2 i + 20 N + 0,1 PUB
1.2.2.
A curva da procura
O preço do bem tem um papel especial no seio dos elementos da função
procura, na medida em que muitas vezes é a única variável da função
que está sob o controlo da empresa produtora. Quando o gestor tem de
definir o preço de venda do seu produto, é importante conhecer a relação
entre o preço e as vendas, isto é, a curva da procura:
Curva da procura: relação entre o preço de um bem e a quantidade
procurada desse bem, ceteris paribus.
A curva da procura (D) é muitas vezes representada num gráfico, com o
preço (P) no eixo vertical e a quantidade procurada (Q) no eixo
horizontal, como na Figura 1.2.1. A curva da procura tem inclinação
negativa, já que quanto maior for P, menor deverá ser Q.
(1.2.2)
Por outro lado, a procura de um modelo específico (chamemos-lhe Car
TT1) poderia ser dada pela equação 1.2.3., onde Qm representa a
quantidade procurada de Car TT1 (em milhares de veículos), PT o seu
2
O termo indústria é utilizado aqui, como é frequente em economia, para
representar o conjunto de empresas que produzem o mesmo bem,
independentemente de esse bem ser um bem industrial, agrícola, ou serviços.
Por exemplo, poderemos referir-nos à “indústria do turismo”, ou à “indústria do
leite”.
7
(1.2.3)
Figura 1.2.1
8
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
Dada a função procura por automóveis todo-o-terreno utilizada no
exemplo anterior, e supondo que num determinado momento PY=20,
R=15, i=8, N=3, e PUB=1000, a curva da procura por automóveis todoo-terreno seria dada pela equação 1.2.4.,
Cada curva da procura é definida para determinados valores de todas as
outras variáveis relevantes. Se o valor de alguma dessas variáveis se
alterar dá-se uma variação da procura, a que corresponderá uma
deslocação da curva da procura. Um aumento (diminuição) da procura
significa que a cada preço a quantidade procurada será maior (menor),
isto é, a curva da procura desloca-se para a direita (esquerda) se:
- o preço de bens substitutos aumenta (diminui)
- o preço de bens complementares diminui (aumenta)
- o rendimento dos consumidores aumenta (diminui)
- aumenta (diminui) a preferência dos consumidores pelo
bem
Q = −2 PX + 1x 20 + 1,5 x15 − 2 x8 + 20 x3 + 0,015 x1000 ⇒
1
PX = 50,75 − Q
2
(1.2.4)
A esta curva da procura corresponderá a curva D1 da Figura 1.2.2.
Utilizando a equação 1.2.4 podemos constatar que quando P=0, vem
Q=101,5, quando P=30 vem Q=41,5, e que Q=0 quando P=50,75. Com
estes três pontos podemos traçar a curva da procura.
Dada uma determinada curva da procura, podemos analisar o efeito de
variações no preço sobre a quantidade procurada. Basta para isso ver
que quantidade corresponde a cada preço, ao longo da curva. Por
exemplo, se o preço aumentar de 30 para 40, a curva da procura D1
mostra-nos que a quantidade procurada deverá baixar de 41,5 para 21,5.
No exemplo da figura 1.2.2, se os gastos com publicidade aumentarem
para PUB=2000, a quantidade procurada quando o preço é 30 aumenta
de 41,5 para 56,5. A curva da procura desloca-se para a direita, passando
de D1 para D2, e passa a ser dada pela equação 1.2.5:
1
PX = 58,25 − Q
(1.2.5)
2
1.2.3.
Elasticidades da procura
Um dos problemas que surgem quando se pretende aplicar a análise
desenvolvida na secção anterior, é a dificuldade em estimar a função
procura, ou mesmo a curva da procura, por um determinado bem. No
entanto, o modelo de oferta e procura pode ser utilizado, sem grande
perda, mesmo que não se conheça a forma funcional da curva da
procura. Basta conhecer a elasticidade-preço da procura.
O conceito de elasticidade é um dos mais importantes na análise
económica, tendo diversas aplicações. Genericamente,
Figura 1.2.2
9
Elasticidade: mede a variação relativa numa variável (dependente, Y),
causada por uma variação relativa unitária noutra variável
(independente, X), ceteris paribus
10
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
A elasticidade mede a reação da variável Y a variações da variável X,
em termos relativos. Por exemplo, uma elasticidade igual a 3 implica que
se X aumentar 1%, Y deverá aumentar 3%.
O valor da elasticidade-preço da procura é também relevante para
analisar o impacto de variações do preço nas receitas das empresas. A
receita das vendas depende da quantidade vendida e do preço de venda.
Se o preço aumentar, a receita aumentaria se a quantidade procurada se
mantivesse constante. No entanto, sabemos que aumentos de preço estão
associados a reduções da quantidade procurada. Esta redução da
quantidade levaria a uma redução da receita. Temos então dois efeitos de
sentidos opostos, e o impacto sobre a receita total (RT=PxQ) vai
depender de qual dos dois efeitos é maior. A resposta depende da
elasticidade-preço da procura:
A principal aplicação do conceito de elasticidade é a elasticidade-preço
da procura:
Elasticidade-preço da procura (εP): variação percentual na quantidade
procurada de um bem, causada por uma variação de 1% no preço desse
bem
(Q1 − Q0 )
∆Q
Q0
∆Q P
var % Q
Q
εP = −
=−
=−
=−
∆
P
(
P
−
P
)
var % P
∆P Q
1
0
P
P
(1.2.6)
Elasticidade-preço e receita total: um aumento do preço leva a um
aumento (diminuição) da receita total se a elasticidade-preço for menor
(maior) do que 1, isto é, se a procura for inelástica (elástica)
0
A equação 1.2.6 apresenta diversas formas de cálculo da elasticidadepreço da procura.3 Note-se que a fórmula de cálculo da elasticidade
inclui um sinal menos (–), para tornar a elasticidade positiva, porque a
relação quantidade/preço é geralmente negativa. A elasticidade-preço
pode ser calculada a partir do inverso da inclinação da curva da procura
(∆P/∆Q), se a forma funcional da curva da procura for conhecida.
Alternativamente, pode-se calcular a elasticidade a partir de dois pontos
da curva da procura, (P0,Q0) e (P1,Q1). Este será geralmente o método
mais fácil de implementar. Na curva D1 do exemplo da secção anterior,
constatamos que quando P=30, Q=41,5 e quando P=40, Q=21,5. Então,
a elasticidade-preço da procura de veículos todo-o-terreno será εP=1,45.
O valor da elasticidade-preço da procura está relacionado com a
inclinação da curva da procura. Quanto maior for a elasticidade, menos
inclinada é a curva da procura. Exemplificando com casos extremos: se
εP=0, a curva da procura é vertical (a procura é inelástica); se εP for
muito grande (no limite, infinito), a curva da procura é horizontal.
3
Ao longo do texto utilizamos a letra grega ∆ para indicar variações. ∆X
será então a “variação na variável X” e ∆X/X a taxa de crescimento da
variável X.
11
Por exemplo, se εP=2, um aumento de 5% no preço causa uma
diminuição de 10% na quantidade procurada. Então, a receita vai
aumentar em 5% por causa do preço, mas vai diminuir em 10% por
causa da quantidade. O efeito líquido na receita vai ser uma diminuição
de cerca de 5% na receita total (RT1 = P1Q1 = 1,05 P0 x 0,9 Q0 = 0,945
P0Q0 = 0,945 RT0).
Por estes motivos, é importante compreender os fatores que influenciam
a elasticidade-preço da procura de um bem. As principais determinantes
da elasticidade-preço são as seguintes:
- bem essencial: a elasticidade-preço será menor se o
bem for visto como essencial; os consumidores não
irão reduzir significativamente o seu consumo deste
tipo de bens, mesmo que o seu preço aumente muito
(ex: eletricidade);
- existência de bens substitutos: a elasticidade-preço
será maior se existirem bens substitutos, isto é, outros
bens que satisfaçam a mesma necessidade; por
exemplo, o vinho verde é um bem substituto do vinho
maduro; se o preço do vinho verde aumentar, os
consumidores irão consumir vinho maduro, deixando
de procurar o vinho verde;
- percentagem do rendimento gasto no bem: quanto
maior for a percentagem do seu rendimento que os
12
ÁLVARO ALMEIDA
-
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
consumidores gastam num bem, maior será a sua
elasticidade-preço (ex: carne); os consumidores serão
muito mais sensíveis a variações no preço deste tipo de
bens, dado que qualquer variação no preço terá um
impacto muito grande no orçamento familiar;
prazo de ajustamento: as elasticidades-preço de longo
prazo tenderão a ser maiores do que as de curto prazo;
se o preço de um bem aumentar, os consumidores não
irão alterar significativamente os seus hábitos de
consumo imediatamente, pelo que no curto prazo a
quantidade procurada não é muito afetada; no entanto,
se o preço se mantiver elevado durante muito tempo,
os consumidores irão gradualmente deixar de consumir
o bem, e no longo prazo a quantidade procurada
diminui significativamente.
O conceito de elasticidade da procura pode ser aplicado a outras
variáveis da função procura. Uma aplicação comum é a que compara
variações na quantidade procurada com variações no rendimento dos
consumidores, conhecida como elasticidade-rendimento da procura:
Elasticidade-rendimento da procura: variação percentual na quantidade
procurada de um bem, causada por uma variação de 1% no rendimento
dos consumidores desse bem
(Q1 − Q0 )
∆Q
Q0 ∆Q R
var % Q
Q
=
=
=
εR =
∆
R
R
−
R
(
)
∆R Q
var % R
1
0
R
R
(1.2.7)
0
1.3.
EMPRESAS, CUSTOS E CURVA DA OFERTA
O segundo elemento do modelo da oferta e da procura é a curva da
oferta, objeto de análise desta secção.
13
MERCADOS E PREÇOS
1.3.1.
Teoria da produção
A oferta de bens é assegurada pelos agentes económicos que
genericamente são designados como empresas ou produtores. Para
compreendermos a oferta de bens, teremos então de compreender o que
determina as escolhas destes agentes económicos quanto efetuam as
decisões relativas à produção. Os ramos da economia que estudam estas
escolhas são conhecidos como Teoria da Produção e Teoria dos Custos.
Uma análise detalhada destas teorias sai fora do âmbito deste texto, pelo
que nos limitaremos a salientar os seus principais resultados. A teoria da
produção analisa a questão de como produzir, e a sua principal
conclusão é:
Teoria da produção: as empresas escolhem a combinação de factores de
produção mais eficiente (isto é, a que permite obter um determinado
nível de produção ao menor custo), tendo em conta a tecnologia
existente e os preços dos factores de produção.
A teoria da produção diz-nos que a escolha das empresas relativamente a
como produzir vai depender da tecnologia disponível e dos preços dos
factores de produção.
Qualquer actividade produtiva exige a utilização de factores de
produção. Genericamente, os factores de produção poderão dividir-se
em três grandes grupos: recursos naturais (tudo aquilo que existe na
natureza em estado bruto), trabalho (a aplicação do esforço humano), e
capital (todos os recursos produzidos pelo homem). A quantidade de um
bem que uma empresa poderá produzir dependerá da quantidade de
factores de produção que utilizar e da forma como os combina. Haverá
assim uma relação entre a quantidade utilizada de cada um dos factores
de produção, e a quantidade produzida de um determinado bem por uma
empresa, a que chamamos função de produção. A Função de Produção
é a relação que indica a quantidade máxima de um bem que é possível
produzir com uma dada quantidade de factores de produção. Sendo Q a
quantidade produzida de um dado bem, L a quantidade de factor
trabalho, K a quantidade de factor capital, e R a quantidade de recursos
naturais utilizados na produção do bem, a função de produção desse bem
será do tipo Q = f (L, K, R).
14
ÁLVARO ALMEIDA
1.3.2.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
serviços, se introduzam melhorias nos produtos existentes, ou se
introduzam novos produtos.
Produtividade
O conceito de produtividade tem um significado preciso em economia,
que não coincide com a utilização comum do termo. Em economia,
produtividade é a capacidade dos factores de produção para criar
produto. A utilização comum do termo produtividade está geralmente
associada à produtividade do trabalho, isto é, a quantidade de produto
que se consegue obter com uma unidade do factor trabalho (Y/L).
É possível que a produtividade do trabalho aumente sem que haja um
verdadeiro aumento da eficiência na produção, que é o que o conceito de
produtividade pretende medir. Suponhamos que um jardineiro utilizando
uma tesoura manual consegue cortar 10m2 de relva numa hora.
Suponhamos ainda que o mesmo jardineiro utilizando um cortador de
relva motorizado consegue cortar 100m2 de relva no mesmo período. O
indicador “produtividade do trabalho” indicaria que a produtividade é
maior com o cortador motorizado, já que se produz mais com a mesma
quantidade de trabalho. No entanto, a comparação directa não pode ser
efectuada, já que a quantidade de recursos utilizada não é a mesma nos
dois casos; no segundo caso utiliza-se mais capital. Então, este aumento
da produção por hora de trabalho não representa necessariamente um
aumento da eficiência no processo produtivo, isto é, da produtividade.
Para concluirmos se houve aumento da produtividade teremos que
comparar a quantidade produzida com a quantidade de factores de
produção utilizados, isto é, teremos de calcular a produtividade total dos
factores. A Produtividade total dos factores (PTF) é quantidade de
produto que se consegue obter com uma unidade ponderada de todos os
factores de produção.
Uma constatação empírica habitual, relativa ao conceito de
produtividade, é a chamada Lei dos rendimentos marginais
decrescentes. Esta “lei” (isto é, regularidade empírica) constata que,
geralmente, à medida que se adiciona unidades de um facto de produção,
mantendo os outros fatores fixos, o acréscimo de produção obtido é cada
vez menor.
1.3.3.
Custos de produção
A Teoria dos Custos analisa as decisões das empresas relativas a que
bens, e quanto, produzir. O ponto de partida desta teoria é a definição de
custo económico relevante, que deverá ser o custo de oportunidade, isto
é, a soma do valor de cada um dos fatores de produção na sua melhor
aplicação alternativa.
O custo económico será diferente do custo financeiro ou do custo
contabilístico. Por exemplo, as amortizações dos equipamentos são um
custo contabilístico, mas não um custo económico. O custo económico
correspondente será o custo da manutenção do equipamento, e a
remuneração na melhor aplicação alternativa dos capitais investidos no
equipamento. O custo total de produção corresponderá à soma do custo
com cada um dos fatores de produção:
n
Custo total de produção =
∑c q
i =1
(1.3.1) 4
PTF = Y/(aK+bL)
O aumento da produtividade total dos factores ao longo do tempo é
designado por progresso tecnológico. Genericamente, haverá progresso
tecnológico sempre que se introduzam melhorias (de qualquer tipo:
técnico, organizacional, etc.) no processo de produção de bens e
(1.3.2)
ci = custo de oportunidade do factor de produção i;
qi = quantidade utilizada do facto de produção i
Note-se que o custo total de produção terá de incluir a remuneração dos
capitais próprios, isto é, a rentabilidade que os acionistas da empresa
poderiam obter se não tivessem investido na empresa e tivessem
aplicado esses recursos na melhor aplicação alternativa (lucro normal).
4
“a” e “b” são ponderadores que representam a importância relativa do factor
capital e do factor trabalho, respectivamente, no processo produtivo.
15
i i
16
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
Nem todos os custos são relevantes para todas as decisões, pelo que é
conveniente identificar diversas categorias de custos. Uma primeira
distinção é a que separa Custos variáveis (CV), isto é, aqueles que
variam com a quantidade produzida (ex: matérias-primas, horas
extraordinárias), de Custos fixos (CF), aqueles que são independentes da
quantidade produzida (ex: custos com os edifícios). Note-se que o Custo
total (CT) será sempre
Note-se que a definição de curto e longo prazo diferirá de empresa para
empresa. Em determinados sectores (ex: telecomunicações), o curto
prazo poderá abranger vários anos, enquanto noutros sectores (ex:
comércio ambulante) o longo prazo poderá corresponder a apenas
algumas semanas.
ÁLVARO ALMEIDA
CT = CF + CV
(1.3.3)
Por outro lado, distingue-se o Custo médio (cmd), ou custo por unidade
produzida, que pode ser calculado dividindo o custo total pela
quantidade produzida, do Custo marginal (cmg), o custo de uma unidade
adicional de produto. O cmg é equivalente ao acréscimo de custo total
causado pelo aumento da quantidade produzida em uma unidade (cmg =
∆CT/∆Q). Note-se que se se verificar a Lei dos rendimentos marginais
decrescentes, o custo marginal será crescente com a quantidade
produzida.
1.3.4.
Perspetivas de análise: o curto e o longo prazo
As decisões da empresa serão diferentes consoante o horizonte temporal
disponível para as executar, isto é, consoante sejam decisões de curto ou
de longo prazo.
O curto prazo corresponde aquele período durante o qual pelo menos
um dos factores de produção é fixo. A decisão de curto prazo refere-se à
escolha da quantidade a produzir, dada a capacidade de produção
instalada, e da combinação de factores variáveis a utilizar nessa
produção.
1.3.5.
Economias de escala
A escolha da dimensão ótima da empresa está relacionada com
existência (ou não) de economias de escala. Haverá Economias de
escala quando os custos de produção de longo prazo aumentam menos
que proporcionalmente à quantidade produzida. Por outro lado, haverá
Deseconomias de escala quando os custos de produção de longo prazo
aumentam mais que proporcionalmente à quantidade produzida.
Na presença de economias de escala, o custo médio de produção (de
longo prazo) será menor se a quantidade produzida aumentar. A
existência de economias de escala está geralmente associada à
necessidade de grandes investimentos iniciais. Por exemplo, existem
grandes economias de escala na indústria de telecomunicações porque a
maior parte do custo de produção está associado à instalação da rede.
Depois de a rede estar instalada, o custo adicional de fornecer mais um
minuto de comunicação é pouco significativo, pelo que o custo médio do
minuto de comunicação será muito mais baixo se a quantidade fornecida
for muito grande.
A existência de deseconomias de escala está geralmente associada
aquelas empresas onde o controlo e/ou contribuição pessoal do gestor é
importante, como é o caso de muitos serviços pessoais (ex: cabeleireiro).
Como quanto maior for a empresa mais difícil se tornará ao gestor
exercer esse controlo, o custo médio de produção será crescente com a
dimensão da empresa.
O longo prazo corresponde aquele período durante o qual todos os
factores de produção são variáveis. A decisão de longo prazo refere-se
escolha da dimensão óptima para a empresa, e do investimento
necessário para atingir essa dimensão.
17
18
ÁLVARO ALMEIDA
1.3.6.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Custos e maximização do lucro
As decisões da empresa dependerão do seu objetivo, que como vimos, é
a maximização do lucro. O lucro da empresa (LT) corresponde à
diferença entre as suas receitas (RT) e os seus custos (CT). As receitas
da empresa dependerão do preço de venda e da quantidade vendida. A
empresa poderá escolher o preço de venda, e o mercado determina a
quantidade vendida, ou poderá escolher a quantidade a oferecer, e o
mercado determinará o preço. Formalmente é mais simples analisar a
segunda hipótese, mas nenhuma conclusão substancial é afetada por essa
opção metodológica.
O problema da empresa será escolher a quantidade a produzir que
maximize o seu lucro. Essa quantidade será aquela para a qual a receita
marginal (rmg) é igual ao custo marginal (cmg), porque se essa condição
não se verificar a empresa não estará a maximizar o lucro. Se rmg>cmg,
a empresa deveria produzir mais uma unidade, já que iria receber mais
por essa unidade adicional do que lhe custaria produzir. Se rmg<cmg, a
última unidade produzida está a contribuir negativamente para a
rentabilidade da empresa, pelo que deverá ser abandonada, isto é, a
empresa deverá reduzir a produção.5
Como Rmg = P [ 1 – 1/ εP],6 a condição de maximização do lucro da
empresa vem
P=
Cmg
1
1−
MERCADOS E PREÇOS
custo marginal de curto prazo. A decisão de longo prazo da empresa
será escolher a dimensão que satisfaça a condição 1.3.4, onde o custo
marginal relevante será o custo marginal de longo prazo.
Note-se que a equação 1.3.4 mostra-nos que o preço de venda será igual
ao custo marginal multiplicado por uma margem θ, sendo θ = 1 / [11/εP]. A margem depende da elasticidade-preço da procura do produto
da empresa, e será tanto maior quanto menor for εP. Se εP for baixa, a
empresa detém um grande poder de mercado sobre os consumidores,
pelo que poderá cobrar preços mais elevados, correspondentes a uma
margem sobre o custo de produção superior.
1.3.7.
A curva da oferta
A equação 1.3.4 sugere que a quantidade oferecida pela empresa será
função do preço de venda do bem e de todos os factores que influenciam
o custo marginal.
Com base nesta informação, pode-se construir uma Função oferta, uma
relação entre a quantidade oferecida de um bem e todos os factores que
afectam essa quantidade, definida de forma a maximizar o lucro das
empresas.
(1.3.4)
εP
Então, a decisão de curto prazo da empresa será produzir a quantidade
que satisfaça a condição 1.3.4, onde o custo marginal relevante será o
5
Formalmente, o máximo de LT poderá ser determinado calculando a sua
derivada em ordem a Q, e igualando-a a zero. Como Rmg e Cmg são as
derivadas em ordem a Q de RT e CT, respectivamente, vem
Maximizar LT = RT – CT RMg = CMg
6
Como Rmg é a derivada de RT em ordem a Q, RT=PQ, e P é função de Q, vem
Rmg = ∆P/∆Q x Q + P = P [ 1 + ∆P/∆Q x Q/P]. Dado que εP = – ∆Q/∆P x P/Q,
vem Rmg = P [ 1 – 1/εP].
19
Q = a1 PX − a2 PS + a3 PC − a4W − a5 PI + a6 FE
(1.3.5)
A equação 1.3.5 representa um exemplo de uma função oferta, onde a
quantidade oferecida (Q) do bem é função linear de várias
determinantes. Genericamente, as determinantes da oferta de um bem X
são as seguintes (o símbolo +/– indica o sentido da variação esperada da
quantidade oferecida quando aumenta o valor da variável em causa):
- preço do bem X (PX, + );
- preço dos bens substitutos na produção (PS, – ); quando
uma empresa pode utilizar a sua capacidade produtiva
para produzir o bem A ou o bem B, diz-se que A e B são
bens substitutos na produção (ex: numa empresa de
20
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
confeções, calças e saias podem ser bens substitutos na
produção);
- preço dos bens complementares na produção (PC, + );
quando o bem A é produzido como um subproduto do
bem B, A e B são bens complementares na produção
(ex: a carne e as gorduras animais são bens
complementares na produção, porque quando se abate
um animal obtemos os dois produtos);
- preço dos fatores de produção, como salários (W), ou
matérias-primas (PI) (–);
- alterações na tecnologia ou outros factores específicos
que afetem a produção (FE).
Por exemplo, se Q representar a quantidade oferecida de automóveis
todo-o-terreno (em milhares de veículos), PX for o seu preço, PY o preço
dos automóveis familiares, W o salário médio anual dos trabalhadores
(todas estas variáveis definidas em milhares de euros), Paço o preço em
euros da tonelada de aço, e i a taxa de juro (em pontos percentuais), a
equação 1.3.6 poderia representar a função oferta da indústria de
automóveis de todo-o-terreno no país P:
Q = 4 PX − 1 PY − 0,5 W − 0,04 Paço − 4 i
(1.3.6)
O preço do bem tem um papel especial no seio dos elementos da função
oferta, na medida em que muitas vezes é a variável estratégica das
decisões da empresa. Como acontece para a função procura, também no
caso da função oferta é importante conhecer a relação entre o preço e a
quantidade produzida. A Curva da oferta é uma relação entre o preço de
um bem e a quantidade desse bem que os produtores estão dispostos a
produzir e a vender, ceteris paribus.
Figura 1.3.1
Dada a função oferta de automóveis todo-o-terreno definida na equação
1.3.6, e supondo que num determinado momento PY=20, W=12,
Paço=200, e i=8, a curva da oferta por automóveis todo-o-terreno seria
dada pela equação 1.3.7,
Q = 4 PX − 1x 20 − 0,5 x12 − 0,04 x 200 − 4 x8 ⇒
1
PX = 16,5 + Q
(1.3.7)
4
A esta curva da oferta corresponderá a curva S1 da Figura 1.3.2.
Utilizando a equação 1.3.7 podemos constatar que quando P=16,5, vem
Q=0, e que quando P=30 vem Q=54. Com estes dois pontos podemos
traçar a curva da oferta.
A curva da oferta (S) é muitas vezes representada num gráfico
semelhante ao utilizado para a curva da procura, como na Figura 1.3.1.
A curva da oferta tem inclinação positiva, traduzindo o facto de que
quanto maior for P, maior deverá ser Q.
21
22
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
1.3.8.
A elasticidade-preço da oferta
O conceito de elasticidade pode também ser aplicado ao comportamento
da função oferta, sendo definida a Elasticidade-preço da oferta, a
variação percentual na quantidade oferecida de um bem, quando o preço
desse bem varia 1%:
(S1 − S0 )
∆S
var % S
S0 ∆S P
S =
εS =
=
=
∆
P
P
−
P
(
)
var % P
∆P S
1
0
P
P
(1.3.9)
0
Figura 1.3.2
Dada uma determinada curva da oferta, podemos analisar o efeito de
variações no preço sobre a quantidade oferecida. Basta para isso ver
que quantidade corresponde a cada preço, ao longo da curva. Por
exemplo, se o preço aumentar de 30 para 40, a curva da oferta S1
mostra-nos que a quantidade oferecida deverá aumentar de 54 para 94.
Cada curva da oferta é definida para determinados valores de todas as
outras variáveis relevantes. Se o valor de alguma dessas variáveis se
alterar dá-se uma variação da oferta, a que corresponderá uma
deslocação da curva da oferta. Um aumento da oferta significa que a
cada preço a quantidade oferecida será maior, isto é, a curva da oferta
desloca-se para a direita e para baixo.
No exemplo da figura 1.3.2, se a taxa de juro baixar para i=4, a
quantidade oferecida quando o preço é 30 aumenta de 54 para 70. A
curva da oferta desloca-se para a direita, passando de S1 para S2, e passa
a ser dada pela equação 1.3.8:
1
(1.3.8)
PX = 12,5 + Q
4
23
O valor da elasticidade-preço da oferta indica a sensibilidade da
quantidade oferecida a variações do preço. Uma elasticidade pequena
(próxima de zero) indica que a quantidade oferecida não é
significativamente afetada por variações do preço; isto é, a quantidade
oferecida permanece praticamente constante, mesmo que o preço suba
ou desça muito. Pelo contrário, uma elasticidade grande sugere que
qualquer variação no preço provoca grandes alterações na quantidade
oferecida.
O valor da elasticidade-preço da oferta está relacionado com a
inclinação da curva da oferta. Quanto maior for a elasticidade, menos
inclinada é a curva da oferta. Exemplificando com casos extremos: se
εP=0, a curva da oferta é vertical (a oferta é inelástica); se εP for muito
grande (no limite, infinito), a curva da oferta é horizontal.
1.4.
EQUILÍBRIO DE MERCADO
Os instrumentos de análise desenvolvidos nas secções anteriores
relativos ao comportamento da procura e da oferta, nomeadamente a
curva da procura e a curva da oferta, podem agora ser combinados para
estudar o comportamento dos mercados e a evolução dos preços.
24
ÁLVARO ALMEIDA
1.4.1.
MERCADOS E PREÇOS
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Determinação do preço de equilíbrio
O conceito fundamental no estudo dos mercados é o conceito de
equilíbrio. Em economia, diz-se que existe equilíbrio quando não
existem forças económicas que levem a mudanças na situação actual.
O importância do conceito de equilíbrio resulta do facto de qualquer
situação que não seja de equilíbrio não ser sustentável, isto é, é apenas
transitória e rapidamente desaparece. Assim, as situações que mais nos
interessam são as situações de equilíbrio, porque são essas que iremos
observar a maior parte do tempo. A aplicação do conceito de equilíbrio
ao comportamento dos mercados permite-nos definir a condição de
equilíbrio de mercado. Existe equilíbrio de mercado quando a
quantidade oferecida é igual à quantidade procurada, a um determinado
preço.
Na figura 1.4.1, o equilíbrio de mercado é obtido quando P=Pe e Q=Qe,
dadas as curvas da procura (D) e da oferta (S). O preço Pe é o único
preço de equilíbrio, porque se o preço fosse outro, o mercado não seria
estável. Por exemplo, se o preço fosse Pa (Pa>Pe), a quantidade
oferecida seria maior do que a quantidade procurada, isto é, haveria um
excesso de oferta. Nessas circunstâncias as empresas iriam tentar escoar
os excedentes baixando o seu preço de venda, pelo que Pa não seria um
preço de equilíbrio. Por outro lado, se o preço fosse Pb (Pb<Pe), a
quantidade procurada seria maior que a quantidade oferecida, isto é,
haveria um excesso de procura. Nessas circunstâncias os consumidores
iriam tentar obter a quantidade que desejam, oferecendo-se para pagar
preços superiores, pelo que Pb não seria um preço de equilíbrio. Apenas
se o preço for igual a Pe é que tanto consumidores como produtores
estão satisfeitos e não têm incentivos a mudar os preços. Resumindo:
P<Pe => Excesso de procura => aumento de preços
P>Pe => Excesso de oferta => diminuição de preços
P=Pe => Equilíbrio => preços estáveis
25
Figura 1.4.1
1.4.2.
Análise de variações no equilíbrio de mercado
Da análise da secção anterior concluímos que o equilíbrio é a situação
mais comum, e que em equilíbrio os preços são estáveis. A observação
empírica do funcionamento de qualquer mercado mostra-nos que os
preços variam constantemente. Como é que podemos conciliar estas
duas observações? A resposta passa pela constatação que o preço Pe só é
o preço de equilíbrio quando a curva da procura é D e a curva da oferta é
S. Se a procura ou a oferta se alterarem, altera-se o preço de equilíbrio.
Como é que o equilíbrio de mercado é afetado por alterações na
procura ou oferta:
- um aumento (diminuição) da procura, correspondente a
uma deslocação da curva da procura para a direita
(esquerda), leva ao aumento (diminuição) do preço de
equilíbrio e da quantidade transaccionada
- aumento (diminuição) da oferta, correspondente a uma
deslocação da curva da oferta para a direita (esquerda),
leva à diminuição (aumento) do preço de equilíbrio e ao
aumento (diminuição) da quantidade transaccionada
26
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
A figura 1.4.2 representa o efeito de um aumento da procura.
Inicialmente a procura era dada por D0 e a oferta por S0, sendo a
situação de equilíbrio correspondente ao ponto A, com P=P0 e Q=Q0.
Um aumento da procura levou à alteração da curva da procura, que
passou a ser D1. Esta alteração mudou a situação de equilíbrio que
passou a ser a correspondente ao ponto B, com P=P1 e Q=Q1.
Figura 1.4.3
Assim, variações nos preços resultam de variações na oferta e/ou na
procura. A análise do comportamento de qualquer mercado, em termos
de flutuações de preços e de quantidades procuradas, terá assim de
passar pela análise de potenciais variações na curva da oferta e na curva
da procura.
Figura 1.4.2
A figura 1.4.3 representa o efeito de um aumento da oferta. A situação
inicial é idêntica à da figura anterior, com a procura dada por D0 e a
oferta por S0, e a situação de equilíbrio correspondente ao ponto A. Um
aumento da oferta levou à alteração da curva da oferta, que passou a ser
S1. Esta alteração mudou a situação de equilíbrio que passou a ser a
correspondente ao ponto C, com P=P2 e Q=Q2.
1.4.3.
Aplicações do modelo da oferta e da procura
O modelo de oferta e procura que desenvolvemos nas secções anteriores
tem várias aplicações possíveis. Uma das aplicações mais comuns é a
análise do efeito de uma alteração exógena na oferta ou na procura sobre
o equilíbrio de mercado, isto é, sobre o preço e a quantidade
transaccionada. Um dos exemplos deste tipo de aplicações é a chamada
análise da incidência, que consiste na análise do efeito da intervenção
do Estado sobre o mercado de um determinado bem.
Um primeiro exemplo de análise da incidência é o estudo de quem
suporta os custos se o governo instituir um imposto sobre os produtores
de determinado bem. O caso mais simples de analisar é o de um imposto
fixo por unidade produzida de um bem X, no montante de T, cobrado
27
28
ÁLVARO ALMEIDA
MERCADOS E PREÇOS
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
aos produtores do bem X. A introdução deste imposto vai aumentar o
custo de produção do bem X pelo montante do imposto. Dado que a
curva da oferta está associada ao custo marginal de produção do bem X,
e este custo vai aumentar pelo montante T, os produtores só estarão
dispostos a oferecer a mesma quantidade se o preço for superior em T. A
curva da oferta vai então deslocar-se para cima por esse montante T.
A figura 1.4.4 representa o efeito no equilíbrio de mercado da
introdução desse imposto. A curva da procura é D0, e a curva da oferta
inicial (sem imposto) é S0. Nestas condições, o equilíbrio de mercado é
dado pelo ponto A, com um preço P0 e quantidade transaccionada Q0. A
introdução de um imposto unitário no valor de T vai alterar a curva da
oferta. Por exemplo, sem imposto os produtores estariam dispostos a
oferecer a quantidade Q0 ao preço P0. Depois da introdução do imposto,
o custo marginal de produção vai aumentar pelo valor do imposto, pelo
que os produtores só estarão dispostos a oferecer a mesma quantidade
Q0 ao preço P1=P0+T. A curva da oferta desloca-se para cima, para S1,
sendo o deslocamento vertical igual ao valor do imposto. O novo
equilíbrio de mercado é dado pelo ponto C, com um preço P2 e
quantidade transaccionada Q2.
A comparação entre o equilíbrio inicial (ponto A) e o equilíbrio final
(ponto C) permite-nos analisar quem suporta os encargos do imposto,
isto é, sobre quem incide o imposto. No equilíbrio final, os
consumidores pagam P2 por unidade do bem X, mas os produtores só
recebem P3=P2–T por unidade produzida. Os consumidores viram o
preço do bem X aumentar pelo montante P2–P0, e os produtores viram o
seu preço de venda diminuir pelo montante P0–P3. Apesar de
legalmente o imposto incidir sobre os produtores, os custos do imposto
(a incidência) são repartidos entre produtores (que suportam um custo
igual a P0–P3) e consumidores (que suportam um custo igual a P2–P0).
29
Figura 1.4.4
No exemplo da figura 1.4.4, os custos do imposto são repartidos entre
produtores e consumidores, em partes aproximadamente iguais, mas a
incidência do imposto pode ser muito diferente da apresentada neste
exemplo. A incidência de um imposto depende das elasticidades de
procura e oferta: o imposto irá incidir mais sobre a parte cuja
elasticidade for inferior.
As figuras 1.4.5 e 1.4.6 mostram dois exemplos extremos. Na figura
1.4.5 está representado um caso de procura perfeitamente elástica, típica
de bens que têm substitutos muito próximos, como aconteceria por
exemplo, com a procura por vinho do Douro. Uma procura
perfeitamente elástica traduz o facto de para o consumidor poder ser
indiferente consumir vinho do Douro ou vinho de outra região, pelo que
qualquer aumento de preço do vinho do Douro implica que o
consumidor deixa de consumir vinho do Douro e consome vinho de
outra região. Neste caso, como a elasticidade da oferta é (infinitamente)
inferior à da procura, a introdução de um imposto sobre o vinho do
Douro (mas não sobre o vinho de outras regiões) iria incidir totalmente
sobre os produtores de vinho do Douro, que veriam o seu preço de
venda reduzir-se de P0 para P3=P0–T. O preço de venda aos
consumidores não se altera mesmo depois da introdução do imposto,
porque se os produtores não absorvessem os custos com o imposto, iriam
30
ÁLVARO ALMEIDA
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
MERCADOS E PREÇOS
perder todos os consumidores que passariam a consumir vinho de outras
regiões.
Figura 1.4.6
Figura 1.4.5
Na figura 1.4.6 está representado um caso de procura inelástica, como
aconteceria por exemplo, com a procura por bens essenciais, como o
tabaco. Neste caso, como a elasticidade da oferta é superior à da
procura, a introdução de um imposto sobre a produção de tabaco iria
incidir totalmente sobre os consumidores, que veriam o preço de venda
aumentar de P0 para P2=P0+T. A baixa elasticidade da procura permite
que o custo de um imposto sobre os produtores seja integralmente
transferido para os consumidores do bem.
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