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História do Pensamento Econômico - Roteiro de Estudos (1)

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ROTEIRO DE ESTUDOS
HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO
Universidade Federal de Minas Gerais
Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG
CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS
CIÊNCIAS ECONOMICAS – 2 PERÍODO
HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONOMICO
Roteiro feito por
Pedro Oliveira de Sena Batista
+55 31 8848.9888
posbatista@gmail.com
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Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG
Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período
Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666
Universidade Federal de Minas Gerais
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SUMÁRIO
1.
AULA 1 – INTRODUÇÃO (08/08/2013) ................................................................. 5
2.
AULA 2 – FINLEY E CLASTRES (13/08/2013). ...................................................... 6
3.
AULA 3 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN I (20/08/2013) ............................... 8
4.
AULA 4 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN II (22/08/2013) ............................ 11
5.
AULA 5 – MERCANTILISMO E CAMERALISMO (27/08/2013) .............................. 14
6.
AULA 6 – WILLIAM PETTY E MAURÍCIO COUTINHO (29/08/2013) .................... 17
7.
AULA 7 – HORÁRIO VAGO (03/09/2013) ........................................................... 21
8.
AULA 8 – ESTUDO DIRIGIDO “ECONOMISTAS POLÍTICOS” (05/09/2013) ......... 21
9.
AULA 9 – ANÁLISE DO ESTUDO DIRIGIDO (10/09/2013) .................................. 21
10. AULA 10 – INTRODUÇÃO À FISIOCRACIA (12/09/2013).................................... 23
11. AULA 11 – FISIOCRACIA E QUESNEY (17/09/2013) .......................................... 26
12. AULA 12 – ADAM SMITH I (19/09/2013) ........................................................... 28
13. AULA 13 – ADAM SMITH II (24/09/2013) .......................................................... 31
14. AULA 14 – ADAM SMITH III (26/09/2013) ........................................................ 34
15. AULA 15 – SEMINÁRIO ADAM SMITH (01/10/2013) .......................................... 36
16. AULA 16 – PRIMEIRA PROVA (03/10/2013) ...................................................... 36
17. AULA 17 – DAVI RICARDO I (08/10/2013) ........................................................ 37
18. AULA 18 – DAVI RICARDO II (10/10/2013) ...................................................... 43
19. AULA 19 – KARL MARX I (15/10/2013) ............................................................. 49
20. AULA 20 – KARL MARX II (17/10/2013) ............................................................ 53
21. AULA 21 – INTRODUÇÃO AOS MARGINALISTAS (22/10/2013) .......................... 60
22. AULA 22 – MENGER (24/10/2013) ..................................................................... 66
23. AULA 23 – JEVONS (29/10/2013) ...................................................................... 71
24. AULA 24 – WALRÁS (31/10/2013) ..................................................................... 76
25. AULA 25 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (05/11/2013) ...................... 81
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26. AULA 26 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (07/11/2013) ...................... 82
27. AULA 27 – SCHUMPETER I (12/11/2013) ........................................................... 82
28. AULA 28 – SCHUMPETER II (14/11/2013) ......................................................... 87
29. AULA 29 – KEYNES I (19/11/2013) ................................................................... 94
30. AULA 30 – KEYNES II (21/11/2013) ................................................................ 100
31. AULA 31 – HORÁRIO VAGO (26/11/2013) ....................................................... 104
32. AULA 32 – SEGUNDA PROVA (28/11/2013) ..................................................... 104
33. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 105
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1.
AULA 1 – INTRODUÇÃO (08/08/2013)
A história do pensamento econômico possui duas abordagens: a absolutista e a relativista. A
diferença entre esse tipo de história e a história econômica é que a história do pensamento
econômico faz um conjunto de reflexões a respeito da economia como ciência e a história
econômica faz reflexões ao longo do tempo de toda a base econômica e social. A primeira
então prioriza a evolução de ideias e como elas surgiram ao longo do tempo.
A abordagem absolutista faz reflexões das teorias econômicas dos principais economistas do
passado, independente de outros fatores externos. Essa abordagem analisa tais teorias até o
momento presente. Está focada então apenas na teoria.
A abordagem relativista se preocupa com o indivíduo em si e de como tal indivíduo foi
desenvolvendo as suas ideias. Aqui existe uma preocupação com a formação e a trajetória do
indivíduo que desenvolve teorias econômicas.
A vantagem da abordagem absolutista é que ela permite que haja uma reconstrução analítica
de termos econômicos que ajudam a entender melhor de onde os conceitos atuais surgiram. A
desvantagem está no desenvolvimento ortodoxo, bastante valorizado aqui ao longo do tempo,
além dessa abordagem querer transformar a história em um tipo de julgamento considerando
fatos como certos e outros como errados. Eleger o presente de uma determinada forma e
reconstituir o passado a partir deste presente pode envolver esse risco. Partindo dessa ideia,
de acordo com a abordagem absolutista, tudo aquilo que é mais recente em termos
econômicos seria o melhor em relação ao passado, mas isso não é necessariamente o correto.
A abordagem relativista não é necessariamente melhor que a abordagem absolutista, mas ela
explica melhor os pressupostos ideológicos econômicos e as correntes de pensamento
econômico que surgiram a partir de diversos autores que muitas vezes se relacionam entre si
com suas teorias. A desvantagem da abordagem relativista é que existe um certo
esvaziamento do conteúdo analítico da teoria econômica. Essa abordagem possui dificuldade
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de lidar com ideias analíticas puras, bem como abstrair tais ideias para explicar trajetórias
econômicas de alguns indivíduos.
A maioria dos estudiosos da história do pensamento econômico lidam com as duas
abordagens, às vezes uma, às vezes outra, e às vezes as duas simultaneamente. Não existe
uma abordagem melhor do que a outra. Ao ler algum texto é necessário tentar perceber qual
abordagem está sendo utilizada.
A história do pensamento econômico não pode ser vista como uma ciência exclusiva, mas sim
como uma história que permite termos uma dimensão crítica a respeito da economia como
ciência.
2.
AULA 2 – FINLEY E CLASTRES (13/08/2013).
Os textos de Finley e Clastres tratam de economia primitiva e economia antiga e ambas as
coisas são diferentes uma da outra. Clastres faz uma resenha sobre o livro de Sahlins, ou seja,
um resumo informativo e com posicionamento, de forma a divulgar as ideias que são tratadas
pelo autor do livro. Clastres então está escrevendo sobre economia primitiva. Por outro lado,
Finley escreve sobre economia antiga.
Qualquer fonte histórica escrita por alguém carrega consigo uma determinada crítica que está
enraizada no historiador. Há dois tipos de crítica: a interna e a externa. A interna é para
analisar argumentos e entender o texto escrito. A externa significa analisar informações e
levantar perguntas que muitas vezes não possuem resposta em um determinado texto ou
livro.
Precisamos entender porque Finley começa o seu texto da data escolhida e o que ele quer
dizer com economia antiga. A economia como objeto de estudo se diferencia da economia
como ciência. A conclusão de Finley é que existia, em tempos remotos, na Grécia Antiga, uma
economia antiga, mas não existia economia como ciência. A palavra “economia” pode significar
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objeto de estudo ou ciência e na Grécia Antiga só o primeiro significado está presente. Além
disso Finley diz que o que diferencia a economia pré-século XVIII e pós-século XVIII é o
conhecimento autônomo. Na Grécia Antiga não existia conhecimento autônomo de economia e
Finley usa o exemplo de Aristóteles. A economia existia como ideia, mas ela estava ainda
presa à política. A evolução até o conhecimento autônomo foi vagarosa e complexa.
As bases para a argumentação de Finley são os livros de Hutcheson. Todo o questionamento
se dá em cima dos conceitos de economia presentes nesses livros. Finley diz que na Grécia
Antiga, a palavra economia possui significado relacionado à casa, lar e administração dos
mesmos. Aristóteles falava de economia dentro da política, mas Xenofontes escreveu
posteriormente apenas sobre economia. A economia antiga se diferencia da economia atual,
apesar de ambas se assentarem sobre as mesmas bases conceituais. Antigamente a economia
era carregada de base material, mas não de ciência econômica e muito menos de economia
política. Em outras palavras, existia economia no mundo antigo, mas não existia conhecimento
econômico. Esse é o argumento principal do texto de Finley.
O uso do termo economia no alemão está ligado à literatura do pai de família. Isso se refere ao
entendimento de economia para o mundo antigo. Finley às vezes diz que tanto Xenofontes
quanto Hutcheson possuem o mesmo ponto de vista, mas os argumentos de ambos são
diferentes.
Com o passar dos anos o poder do Estado foi aumentando, tanto politicamente quanto
economicamente e militarmente. Isso ajudou o conhecimento econômico na medida em que
ele passa a se destacar, surgir e evoluir, processos que no mundo antigo não ocorreram.
Avanços em outros campos do conhecimento fizeram surgir o método científico que auxiliou
diversas compreensões no ramo da economia. Progressivamente as ideias foram convergindo
gerando o conhecimento econômico que temos hoje. Finley fala de uma base material que se
transforma em uma base de conhecimento a partir do momento em que o capitalismo
moderno surge.
Clastres, em sua resenha sobre o livro de Sahlins, fala sobre economia primitiva, sendo ela
mais recente e diferente da economia antiga. Sahlins e Clastres criticam as sociedades
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primitivas que são em sua maioria vistas como sociedades de subsistência. Além disso o texto
visa mostrar como diversos autores criaram essa ideia de taxar a economia primitiva em
economia de subsistência. A economia dos povos primitivos acabou gerando o senso comum
de que eles mal conseguiam viver, tendendo a desaparecer. É uma análise que vai contra as
evidências e é por isso que Clastres e Sahlins realizam críticas a essas falsas ideias. A
discussão é que existe uma narrativa básica sobre a evolução da economia da qual todos os
antropólogos ficaram reféns. Essa narrativa é a de que a economia tende a crescer e se ela
não cresce é porque tem algo errado. Clastres explora argumentos para mostrar que essa
narrativa não é verdadeira pois não explica de maneira razoável algumas evidências
observadas em povos primitivos. Clastres avança e diz que tais povos eram contra a economia
enquanto base material capitalista, sendo que esta base estava inserida em outros contextos.
Por causa disso a sociedade primitiva era interpretada de forma errada, daí surge toda a sua
crítica. Mesmo quando os povos primitivos começam a realizar trocas, não quer dizer que uma
sociedade de mercado havia surgido. As trocas eram baseadas na reciprocidade e vínculos
entre as pessoas eram formados. Tais vínculos não existem no mundo de hoje (mundo
moderno).
Ambos os textos tratam de como a economia se torna autônoma a partir de uma base material
que antes a deixava presa junto a outros fatores. No nosso mundo atual, moderno e
capitalista, a economia já é bastante autônoma.
OBS: No momento em que a economia vai se tornando autônoma, só faz sentido falar em
ciência econômica quando há capitalismo.
3.
AULA 3 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN I (20/08/2013)
Não existe um consenso entre os autores para designar o que vem a ser o mercantilismo, pois
o intervalo de tempo em que o sistema vigorou foi muito grande e cada autor publicava
trabalhos com suas próprias impressões analíticas sobre o que vinha a ser tal sistema. Na
fisiocracia havia uma unidade em que os autores convergiam para as mesmas ideias. Aqui, o
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mercantilismo, devido as suas variantes em cada país, não possuía unidade e sua definição
ainda é bastante dispersa; porém, cada uma das definições se assemelham em algum aspecto.
O livro de Thomas Mun não foi impresso assim que terminou de ser escrito. Várias pessoas
compartilharam o texto e apenas quando o filho do autor publicou o manuscrito é que tivemos
a primeira edição lançada em 1664. É necessário fazer uma crítica externa do livro e entender
em que contexto ele está inserido e depois partir para a crítica interna. O livro é sobre um
comerciante envolvido diretamente com trocas comerciais e que está defendendo o seu ponto
de vista deixando-o bem claro para o leitor.
Aquilo que começa a dar unidade ao mercantilismo se refere à glória do Estado e o aumento
do poderio do mesmo. Vários textos que tratam de diferentes tipos de mercantilismo abordam
o fortalecimento do estado como aspecto central. Thomas Mun escreve sobre os métodos a
serem adotados pelo Estado inglês de forma a aumentar a sua riqueza. Dentre os vários
modelos de mercantilismo que surgiram na Europa, todos tratam do aumento do poderio do
Estado levando em conta uma visão da economia naquele momento. As diferenças entre o
mercantilismo na Europa eram várias e cada país desenvolveu um tipo particular desse
sistema.
O mercantilismo abrange um período de 300 anos que se inicia no século XV e vai até o século
XVIII. Durante todo o período houve mudanças no modelo que contribuíram para a sua
formação, consolidação e atuação. Foi uma característica de países que eram muito diferentes
entre si e com pouca interação. O termo mercantilismo foi cunhado em épocas recentes de
forma a explicar um comportamento antigo apresentado pela economia e pelo Estado:
a) Portugal e Espanha praticaram o bulionismo (busca por metais preciosos). O
descobrimento de metais pela Espanha nas minas de Potosí causou um grande fluxo de
metais preciosos para este país e para a Europa. Como consequência houve um aumento
de preços que levou a Espanha a se preocupar com o controle da entrada e saída de
divisas de seu território.
b) Inglaterra e Holanda priorizavam o comercialismo, tipo de mercantilismo que dá
importância a uma balança comercial favorável com o auxílio de monopólios e privilégios.
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c) França se preocupou em intervir diretamente na economia priorizando a manufatura de
luxo, já que a estrutura social privilegiava classes superiores capazes de acumular riqueza
e comprar tais produtos movimentando assim a economia naquele momento. É comum
denominar o mercantilismo francês de colbertismo devido ao primeiro ministro Colbert.
Os portugueses adaptaram o comercio ultramarino no século XVII quando a escravidão negra
se tornou prioridade. Com isso, uma estratégia de “comércio triangular” entre Portugal, África
e Brasil se desenvolveu transformando Portugal em um importante entreposto comercial entre
o novo mundo e a Europa. Na verdade, mais do que um “comércio triangular”, essa estratégia
era uma relação bilateral entre África e Brasil.
O cameralismo nos estados germânicos visava a recomendação do príncipe e dar a ele a
instrução necessária para governar e ensiná-lo que o Estado possuía um papel crucial na
economia e na vida das pessoas.
Todos os exemplos anteriores, apesar das diferenças, retratavam uma etapa da economia que
estava inserida no desenvolvimento do capitalismo comercial que gerava, naquele momento,
os conceitos de mercantilismo que hoje conhecemos e que visa sempre aumentar o poderio do
Estado. No caso da Inglaterra, todos os trabalhos publicados na época do mercantilismo foram
escritos por comerciantes que orbitavam um mundo marcado por diversas trocas comerciais.
A literatura econômica, desde Finley e Clastres até os autores mercantilistas, foi evoluindo.
Dos gregos até a época medieval, o assunto que mais era abordado envolvia a justiça. São
Tomás de Aquino, ainda no período medieval, introduziu novos trabalhos nessa literatura e
abriu portas para que trabalhos sobre economia começassem a surgir como, por exemplo, a
ideia do preço justo das mercadorias. Os autores mercantilistas retomam a discussão medieval
sobre essa ideia. Thomas Mun não se preocupa com o preço justo, mas ele dialoga com outros
autores que se preocupavam com o tema. Ele está preocupado com a balança comercial
favorável, englobando aspectos relacionados ao câmbio entre as moedas. Para Mun, diferentes
moedas eram questões técnicas que mereciam interesse. Seus opositores dizem que o câmbio
deve ser controlado pelo estado para regular preços (preços justos). Já Mun possuía outra
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concepção de que o câmbio deve ser regulado pelo próprio comércio. Estas discussões não
podem ser tratadas com a visão moderna de economia que temos hoje, pois os motivos para o
estado controlar ou não o câmbio naquela época são totalmente diferentes dos motivos de
hoje. O livro de Thomas Mun procura romper com ideias anteriores pois para o autor o câmbio
deve ser controlado pela balança comercial e não pela vontade do soberano, como seus
antecessores defendiam. O seu livro defende a manutenção do comércio com a Companhia das
Índias Orientais já que ele próprio era o diretor na época. Futuramente Adam Smith ataca
duramente o ponto de vista de Thomas Mun.
Toda a discussão sobre Thomas Mun e a história do pensamento econômico não pode ser
tratada com a visão de economia que temos hoje já que as ideias, motivações e perspectivas
eram diferentes antigamente. Os contextos eram diferentes dos atuais.
Dois outros nomes importantes para o mercantilismo, assim como Thomas Mun, são Malynes e
Misseldens. Este último é antagonista de Thomas Mun e ambos são antagonista de Malynes.
Misseldens introduziu a ideia de balança comercial favorável que foi apropriado por Thomas
Mun. Malynes é ambíguo por se posicionar ora como comerciante e ora como funcionário do
governo da Inglaterra. Ele expressa uma concepção de que o câmbio deveria seguir princípios
morais com base na ideia de preço justo, ou seja, o câmbio deveria ser controlado pelo rei e
por instituições governamentais. Misseldens e Mun discordam de Malynes quanto ao câmbio,
mas também discordam entre si sobre qual deveria ser o destino da moeda. Thomas Mun
defendia a ida de moeda para a Companhia das Índias Orientais, mas Misseldens defendia que
a moeda deveria ficar com o soberano o que se opõe aos privilégios comerciais da Companhia
das Índias Orientais. Misseldens queria um comércio apenas com povos cristãos, já que para
ele o comércio com povos de outras religiões geraria problemas.
4.
AULA 4 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN II (22/08/2013)
Em história do pensamento econômico as ideias econômicas antigas são mais simples, do
ponto de vista moderno, do que as ideias atuais. Porém, compreender aspectos do período
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estudado pode ser complicado e entende-los é fundamental para compreender o que os
pensadores econômicos estavam dizendo.
Do século XVI para frente as questões monetárias (moeda como algo específico e com várias
influências e aplicações) tornaram-se muito importantes com a entrada de metais preciosos na
Europa vindos das colônias espanholas, o que ocasiona a chamada revolução dos preços, os
quais aumentaram bastante. Esse aumento coloca em discussão a ideia do preço justo de cada
mercadoria. No caso da moeda, que na época era entendida também como mercadoria, o
preço justo não era necessariamente o seu valor de face, pois uma moeda podia ser
abundante em um país (mais barata) ou escassa (mais cara). O sistema monetário era bem
complicado na época, pois cada país possuía suas especificidades já que as moedas eram, em
maioria, de ouro e prata, mas sem conversão de uma para outra. Além disso, por possuir
conteúdo metálico, moedas de outros países eram aceitas dentro de um território e alguns reis
ainda cobravam impostos sobre o conteúdo metálico das mesmas, recolhendo-as para retirar a
sua parcela e recunhando-as. Em outros países as moedas passaram a não ser aceitas devido
a essa recunhagem que acabava diminuindo o conteúdo metálico das mesmas. Essa situação,
assim como outras, exemplificam as complexidades do sistema monetário da época antiga.
Moedas com borda serrilhada passaram a ser feitas para que lascas das mesmas não fossem
retiradas ocasionando diminuição de seu conteúdo metálico.
O livro de Thomas Mun, amplamente circulado de forma completa e também parcial durante a
época, é mais um debate sobre o que estava acontecendo naquele momento, gerando
especulações teóricas e analíticas sobre economia e que foram evoluindo e abrindo portas para
novos entendimentos. Dentro do livro existem palavras e frases bem analíticas e complexas
que remetem a outras questões. Thomas Mun distingue riqueza de forma que capital e
dinheiro não se misturam. Para ele, o capital deve ser aplicado e gerar um retorno em
mercadoria (ativos, capital) ou em moeda. Para o autor, o Estado pode investir capital para ter
retorno em mais moeda e mais mercadorias que podem novamente serem comercializadas. O
que interessa ao estado é a riqueza e não necessariamente a acumulação de moeda trará tais
riquezas. Acumular moeda não tem relevância para Thomas Mun, pois ele dá mais importância
a ativos e capital do que a moeda em si.
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A todo tempo Thomas Mun fala sobre comerciantes, mas mencionando sempre qual a
importância do comércio para a Inglaterra. Produtos que a Inglaterra tem monopólio devem
ter o seu preço aumentado ao máximo enquanto produtos sem monopólio devem ser o mais
barato possível. O autor era diretor da companhia das índias orientais, portanto, defendia a
exclusividade de comércio e transporte de mercadorias por navios ingleses. Suas motivações
se confundem com sua posição de diretor da companhia, ou seja, ele defende seu ponto de
vista como diretor e como cidadão e comerciante inglês preocupado com a riqueza da
Inglaterra. Exportar produtos e receber em mercadorias pode gerar ainda mais moeda e
riquezas já que tais mercadorias possuem valor agregado e podem ser vendidas novamente o
que faz delas bons ativos. Ao falar em “stock” em seu livro, Mun não se refere a estoques de
mercadorias, mas sim em patrimônio, haveres, ativos, que são exemplos de capital que podem
gerar ainda mais capital.
Em 1620 houve uma crise econômica devido à escassez de moeda na Inglaterra. A moeda é
uma mercadoria nesse contexto e com a escassez o seu preço é mais alto e o preço das
demais mercadorias caem gerando deflação e indicando desaceleração da economia. O livro de
Thomas Mun faz parte das discussões a respeito da crise. Uma das justificativas para ela
estava no câmbio que distorcia o valor da moeda inglesa ocasionando sua saída. Outra
justificativa dizia que o privilégio dado às companhias comerciais que exportavam muita
moeda ocasionava o não retorno da mesma. Até mesmo judeus foram acusados por tais fatos
o que acabou envolvendo religião ao problema. Ao tentar mudar valores das moedas com
operações de câmbio, a moeda inglesa passou a valer menos do que o seu valor metálico
(valor de face menor do que o valor metálico), fazendo valer a pena exportar a moeda para
fora da Inglaterra. Essa explicação era uma das teses plausíveis para compreender a crise e a
solução estava em reestabelecer o preço justo da moeda inglesa no mercado através da
criação de instituições que regulamentariam tal preço. Sendo assim, o câmbio envolvendo a
moeda inglesa deveria ser alterado e fixado (opinião defendida por Malynes). O problema era
que as razões da crise não estavam bem esclarecidas naquele momento. O comércio estava
em queda o que era fácil de ser percebido mas difícil de ser explicado. Uma explicação
também plausível era a existência de concorrência internacional da Inglaterra com a Holanda.
Além disso, a Europa vivia a guerra dos 30 anos nos territórios germânicos, ocasionando uma
desvalorização do padrão metálico nessas áreas, já que eram grandes compradoras de
produtos ingleses. A desvalorização ocorreu para financiar os gastos com a guerra. A
Inglaterra passou a modificar o câmbio devido à desvalorização em tais áreas e essa é
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também uma forte explicação para a crise. Outra corrente que se opõe a essa explicação toda
diz que o problema não era o câmbio com entrada e saída de moeda, pois isso era controlado
pela balança comercial. Misseldens é o primeiro a defender isso, assim como Thomas Mun em
um segundo momento; porém, ambos discordam entre si pois Misseldens era contra os
privilégios comerciais das companhias comerciais enquanto Thomas Mun era a favor.
Misseldens fazia parte de comerciantes que não estavam vinculados à Companhia das Índias
Orientais, a qual Thomas Mun fazia parte. Para eles, o fluxo comercial definia o câmbio e para
resolver o problema da crise era necessário olhar o comércio e conseguir um baixo câmbio.
Vendendo mais, a Inglaterra receberia mais moeda e o problema da evasão da mesma seria
resolvido, contendo a deflação.
Todo esse debate e oposição de opiniões se estruturou diante da crise de 1620. Foi uma
disputa de perspectivas explicativas sobre o contexto. Em todo o período retratado a moeda
era mercadoria, bem diferente da perspectiva de moeda que temos hoje.
5.
AULA 5 – MERCANTILISMO E CAMERALISMO (27/08/2013)
O mercantilismo é um termo criado em tempos modernos para rotular características comuns
que surgiram em momentos diferentes e locais diferentes, ou seja, não é um movimento
intelectual, mas um rótulo sobre certas ideias que surgiram na época em que o capitalismo
estava nascendo.
Thomas Mun diz que o fluxo de comércio externo (balança comercial favorável) é o que traz
riqueza ao país e não o valor intrínseco da moeda.
Uma das formas do mercantilismo é o cameralismo, uma das suas feições que existiu nos
reinos germânicos.
A história do pensamento econômico corresponde, para o nosso curso, a uma sequência linear
de fatos e acontecimentos, assumindo o ponto de vista da economia política como referência.
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Apesar disso, esse método não é o ideal. Existe a maneira certa de se contar a história do
pensamento econômico, mas existem também outras perspectivas. O nosso curso então
poderia começar e terminar em vários pontos distintos; porém, seguimos o caminho mais
tradicional apesar de existirem essas inúmeras possibilidades. A discussão que se segue
mostra que muitas coisas em história do pensamento econômico estão conectadas.
Schumpeter em seu livro de análise econômica apresenta perspectivas específicas, de acordo
com seus interesses, dentro da história do pensamento econômico. O mesmo vale para Karl
Marx. Esses exemplos evidenciam as demais possibilidades de partida e chegada em HPE.
Schumpeter cita vários autores que desenvolvem ideias sobre o pensamento econômico em
relação a estados absolutistas em que viviam. As literaturas dos conselheiros dos reis tratam
de conceitos que aumentariam a riqueza e o poderio dos soberanos e dos seus respectivos
estados. Ai entra o cameralismo.
O cameralismo serviu de pedagogia para os membros da burocracia estatal. Vários textos
passaram a surgir por volta do século XVIII e influenciaram vários anos até meados do século
XX, como é o exemplo da Áustria. A produção do conhecimento para formar funcionários do
quadro administrativo é o que distingue o cameralismo.
A guerra dos 30 anos foi importante para a escassez de moeda na Inglaterra, mas também
gerou uma queda populacional nos reinos germânicos. O problema populacional passou a ser
urgente. Vários conselheiros dos reis dos diversos estados germânicos passaram a discutir
métodos para aumentar novamente a população. Todos os cameralistas refletem a cerca dessa
questão que é importante, pois o cameralismo se conecta a ele e o problema econômico
começou a ser visto por uma outra perspectiva que não a inglesa e escocesa. Para estes, a
economia era vista pela ótica da produção. A outra ótica possível é a do consumo. A economia
poderia ser pensada pelo ponto de vista do consumo. A evolução da economia política, porém,
priorizava a ótica da produção. Os cameralistas divergem por serem “menos sofisticados” e
falarem de várias coisas como economia, política, direito, comércio, finanças, etc. A literatura
cameralista e a maneira como ela surgiu acaba por fazer essa mistura e Schumpeter já dizia
que o ponto de vista cameralista era importante por perceber a economia pela ótica do
consumo por ser ela o motor propulsor da economia. E para haver consumo a população
começa a ter importância. Em meados do século XVIII o mainstream do pensamento
econômico estava focado em como aumentar o poder do estado e o cameralismo passou a
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tratar desses temas relacionando consumo, população, finanças, etc. Essa perspectiva
cameralista foi também englobada por aquilo que denominamos mercantilismo.
Becher (não sei se o nome está certo!) é um autor elegido por Schumpeter como o primeiro a
inaugurar a perspectiva cameralista do ponto de vista do consumo. Hornick (não sei se o nome
está certo!), o outro autor cameralista, escreve sobre quais princípios a Áustria poderia obter
sua hegemonia sobre outras nações. Para ele, as matérias primas deveriam ser utilizadas nas
manufaturas nacionais, a população deveria ser grande e trabalhadora, as exportações de ouro
e prata deveriam ser proibidas, o solo deveria ser aproveitado para se produzir a favor do país
e as importações deveriam ser reduzidas e feitas a partir da troca com produtos nacionais. As
importações permitidas eram as de matéria prima para se produzir produtos nacionais a serem
comercializados. Todos os princípios que este autor defende têm haver com comércio e não se
relacionam com Thomas Mun. Esses princípios se relacionam com a riqueza a partir de um
aumento de produção, aumento de população para estimular o mercado interno e colocar a
moeda do país em circulação. O discurso econômico dá voltas e perspectivas diferentes se
confrontam, assim como a ótica da produção confronta com a ótica do consumo.
O cameralismo também surge diante do problema de se unificar áreas comuns e seus
mercados, pois estes estavam separados o que dificultava as trocas devido a taxas e impostos.
A ideia do cameralismo era abaixar impostos nessas áreas criando uma base comercial mais
ampla. Isso também provocaria o aumento populacional criando uma base demográfica maior
para arrecadação de impostos. Cameralismo vem de câmara, local onde o príncipe recebia
seus consultores para tratar de burocracia estatal. Cameralismo se relaciona muito com as
finanças públicas em aspectos específicos como, por exemplo, metais preciosos, já que em
áreas germânicas existiam minas de ouro e prata. Além disso a madeira de bosques e florestas
também se relaciona com o cameralismo, pois essa madeira gerava carvão para sustentar as
minas e casas de fundição. Os cameralistas sabiam que a madeira era escassa, um recurso
finito que se não fosse preservado levaria o reino a diversos problemas. Essa é uma visão
moderna que o cameralismo possuía.
A perspectiva cameralista influenciou outros países como os da península ibérica. Portugal
tinha minas em suas colônias, população pequena que dificultava a colonização e outras
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características. Ou seja, possuía dilemas que o cameralismo retratava. Após o terremoto de
Lisboa em 1755, a maneira utilizada pelo governo para reestruturar a cidade tangencia
princípios cameralistas. O cameralismo, que hoje pode ser estranho, naquele momento do
século XVIII era o mainstream da economia, constituindo-se a principal forma de pensamento
econômico.
A ciência da polícia é um dos ramos centrais do cameralismo. A polícia aqui tem um sentido
diferente da ideia de segurança pública de hoje. Polícia no século XVIII dizia respeito à
administração interna do estado, como regular pesos e medidas no comércio, etc. A ciência da
polícia se desenvolveu no cameralismo.
Von Justi será um dos principais sistematizadores da ciência da polícia que é a junção de
vários conceitos a favor da administração interna do estado. Essa ciência sistematiza os
problemas econômicos do estado.
O resumo da discussão é que o pensamento econômico do século XVIII é resultado de uma
mistura de conceitos que vincula a economia ao estado. Adam Smith rompe com esse novo
conceito com o liberalismo que privilegia escolhas individuais e a auto-regulação. O
mainstream do século XVIII privilegiava o cameralismo e Von Justi dizia que o importante era
a felicidade do estado e dos súditos. Coisas diferentes deveriam ser conciliadas. Adam Smith
se opõe a essa ideia. No final do século XVIII a sociedade civil e o estado eram vistos como
sendo a mesma coisa e a figura do indivíduo ainda não era central e importante como para
Adam Smith. Os cameralistas enxergavam a sociedade como uma parte do corpo do estado.
Marx mais à frente distingue a sociedade e estado criticando o cameralismo.
No século XVIII a ciência da polícia tratava de economia de uma forma diferente da
perspectiva inglesa e escocesa.
6.
AULA 6 – WILLIAM PETTY E MAURÍCIO COUTINHO (29/08/2013)
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O texto de William Petty faz parte de um livro que aborda diversas questões. Em história é
sempre importante perceber as datas dos acontecimentos de forma a contextualizá-los. Assim
podemos também entender quando alguma ideia surgiu e quando ela deixou de ser
importante. Anteriormente foi discutido rótulos mercantilistas, ora bons, ora ruins, que
prevaleceram do século XVI ao século XVIII. William Petty está no final do século XVII e início
do século XVIII. Do ponto de vista da evolução do pensamento econômico, os séculos citados
são muito importantes. A partir do século XIX a economia política clássica passou a ser muito
importante. Mecanismos impessoais de funcionamento da economia, como o mercado, não
dependem das vontades individuais (pessoais) dos indivíduos. Thomas Mun já defendia esse
ponto de vista ao considerar que o fluxo comercial controlava o câmbio, e não a vontade do
soberano. Adam Smith no século XIX proporcionou significativos avanços na economia política
e no século XX houve reconstruções analíticas a respeito do que foi produzido em séculos
passados. Porém, ao fazer isso, as vezes as informações podem ser distorcidas, pois estamos
analisando um período anterior do ponto de vista atual.
O texto de Petty dá enfoque a população. Entre meados do século XVII até meados do século
XVIII vários temas similares surgiram em diferentes partes da Europa como, por exemplo, o
tema populacional. O tema aritmética política cunhado por William Petty só foi publicado após
sua morte em 1680, apesar de ter sido escrito na década de 1660-1670. Apenas na segunda
metade do século XVIII é que a aritmética política passou a ser altamente contemplada pela
Europa. Um determinado soberano naquela época passou a tomar decisões com base em
aritmética política. Além disso, a obra de Petty foi oferecida ao rei da Inglaterra, o que reforça
a ideia da existência de conselheiros do soberano, como já retratado pelo cameralismo.
O autor de Aritmética Política nos permite analisar a evolução científica da economia no século
XVII, o que contribui para torna-la autônoma. Tudo que Petty fala se fundamenta em números
para tornar a argumentação mais sólida. Os números eram estimativas para a época. Petty
não só diz qual método irá utilizar, mas também elogia o próprio método por ele utilizado e
mais tarde essa metodologia passou a ser amplamente difundida. Dessa forma, a questão
numérica passou a fazer parte da economia.
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William Petty faz parte de um contexto bem específico em que estão presentes as instituições
econômicas. Uma delas era a Royal Society inglesa, instituição que tratava de especificações
econômicas da época. Existe então um projeto científico pôr traz dessa metodologia científica
adotada por Petty diante dessa instituição. Tal metodologia foi influenciada pelo pensamento
indutivo de Francis Bacon de forma a tentar explicar e deduzir leis sobre o funcionamento do
mundo político e econômico. Apesar de fazer muitas estimativas, Petty tenta se basear na
realidade para não fornecer falsos dados. Além disso, a figura do autor é importante pois ele
próprio está inserido no período pré-clássico (XVII-XVIII) que ajudou a construir a economia
clássica que hoje conhecemos (XIX-XX).
O texto de Maurício Coutinho menciona William Petty que iniciou sua carreira na medicina,
assim como outro importante nome da economia, Quesney. O vínculo entre medicina e
economia existiu no tempo de Petty e até faz certo sentido naquela época. Petty estudou
medicina na França e na Holanda. Tentou, ao ir para a França, tornar-se comerciante, mas não
prosperou e decidiu estudar para se tornar um acadêmico e posteriormente a isso entrou na
burocracia do estado. Muitos pensadores econômicos tiveram experiências estudiosas e
acadêmicas parecidas com a de Petty, além de também terem experiências na área comercial
e estatal. Petty mistura todas as suas experiências em sua trajetória. Ao voltar para Inglaterra
ele tenta se tornar professor e se junta a outros pensadores que integram a Royal Society.
Como professor passou a lecionar medicina, mas também era professor de música. Várias
coisas foram feitas por ele durante sua vida. Atualmente pode parecer que tais experiências
são desconexas, mas naquela época todas elas se relacionavam entre si de alguma forma. A
medicina estava passando por uma revolução de conhecimento e Petty, além de vivenciá-la,
trabalhava com anatomia. Esse ramo da medicina trata de proporções e envolve embasamento
matemático. Sua formação acadêmica teve influência matemática que o levou para medicina,
música e, posteriormente, a tratar de economia, contextualizando-a com números. Tais áreas
que parecem aleatórias se conectam através da matemática. Daí o seu livro possui forte
embasamento matemático por esse ramo da ciência estar presente em toda a sua formação.
Mais tarde Petty se licencia de seus empregos e integra o exército de Cromwell, como médico,
indo para Irlanda. Uma de suas funções era remarcar as terras de irlandeses que foram
expulsos para o norte. Para fazer a divisão das terras Petty se dispôs de conhecimentos de
matemática que auxiliaram na remarcação e em estudos de cartografia. Na medida em que há
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a divisão de terras e em que Petty se torna proprietário de algumas delas, disputas judiciais de
posse se iniciaram. Nesse contexto e nessa trajetória de vida Petty acumulou conhecimento
suficiente para escrever o seu livro. Ele observou que a Inglaterra era mais rica do que se
parecia e decidiu provar isso com números.
Petty em seu livro passa a construir concepções de riqueza. A contabilidade nacional passa a
ser importante em seu trabalho. Seu livro introduz concepções de contas que mais tarde
originariam a contabilidade nacional, ou seja, uma forma de vislumbrar a riqueza de um país.
Em Aritmética Política a riqueza se relaciona com o trabalho. A ótica do consumo não é
importante para ele, mas sim a força de trabalho de uma nação. Os fatores de produção
seriam mais importantes para a riqueza do país (terra, capital e trabalho). Esse raciocínio
envolve conhecimentos de contabilidade tais como receita, despesa, princípio das partidas
dobradas, etc. De um lado temos a despesa com gastos e a receita com salários, lucros e
renda. Petty já sabia que tanto despesa como renda deveriam ter o mesmo valor final e suas
contas visavam estimar o valor da população medido com base no trabalho. Dessa forma seria
possível estimar o valor de toda a Inglaterra. Esse tipo de análise reflexiva promoveu avanços
econômicos na época.
Diferentemente de outros membros da Royal Society, os feitos de Petty não vingaram de
imediato. Ele colaborou também significativamente para o avanço da demografia, mas esse e
outros ganhos não foram valorizados de imediato. Somente no século XX é que tudo que Petty
fez passou a ser valorizado, culminando na contabilidade nacional.
O cameralismo se desenvolveu na época em que Petty viveu, mas ele não era cameralista
apesar de existirem semelhanças entre cameralismo e o seu trabalho intitulado Aritmética
Política.
No fim, Petty acabou sendo satirizado por outros autores devido a algumas de suas ideias.
Swift foi um dos que fizeram isso.
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7.
AULA 7 – HORÁRIO VAGO (03/09/2013)
8.
AULA 8 – ESTUDO DIRIGIDO “ECONOMISTAS POLÍTICOS” (05/09/2013)
9.
AULA 9 – ANÁLISE DO ESTUDO DIRIGIDO (10/09/2013)
Quando estudamos HPE, a primeira coisa que vem a nossa mente é determinar quem são os
autores e qual o contexto histórico em que os textos estão inseridos. É necessário sabermos
quais são os interesses dos autores e quem eventualmente pode estar financiando ambos.
Thomas Mun estava mais preso aos aspectos comerciais enquanto Petty prioriza aspectos do
trabalho. Mun é um autor mais antigo do que Petty e escreve em um contexto em que a
Inglaterra não era tão rica quanto na época de Petty.
Na antiguidade a esfera econômica não era importante, ou seja, ela era mais fechada do que
atualmente. Na época dos autores já existiam nações que competiam com suas economias.
Com o passar do tempo os autores posteriores não utilizaram mais o método indutivo em suas
análises além de não se prenderem muito aos dados.
Thomas Mun e William Petty, assim como Pierre de Boisguilbert, não escrevem sem
objetividade. Todos escrevem como conselheiros do soberano. Mun fala de moeda como ela
sendo um estoque de riqueza da coroa e mais tarde Adam Smith contradiz essa ideia. Petty diz
que a riqueza da coroa não é importante, mas sim a riqueza do povo e dar a ele condições de
viver sob um nível mínimo de riqueza. Pierre de Boisguilbert era francês e a França era na
época uma economia mais agrária do que a Inglaterra e por isso o seu texto trata muito de
aspectos relacionados a terra.
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Ao estudar HPE devemos evitar o erro do anacronismo, ou seja, usar conceitos de uma época
para poder explicar outra. Outro equívoco que também precisar ser evitado é o da teleologia,
além das generalizações entre diversos autores.
Sobre a questão 1 do estudo dirigido, Petty tenta dar uma ideia geral sobre o que seria a
riqueza da Inglaterra em sua época. Nem a indução e dedução puras são confiáveis, então
Petty passa a deduzir várias questões de maneira não empírica, mas não tão confiáveis.
Sobre a questão 2 do estudo dirigido, Thomas Mun considera que a riqueza não provém
apenas da balança comercial favorável, mas também do estoque de mercadorias que
funcionam como ativos financeiros. A balança comercial para ele é o fator que dinamizaria a
economia do reino com a entrada de metais. Nenhum dos autores é totalmente imparcial pois
cada um é influenciado por determinados contextos históricos. Todos mencionam os metais
preciosos, uns defendem que eles são fonte de riqueza e outros não. O conceito de riqueza, na
época dos autores, vai se tornando mais complexo devido ao fato de que há uma
desmistificação dos metais preciosos como fonte de riqueza. Todos os 3 autores estudados
passam a questionar esses fatos e não atribuem aos metais preciosos toda a fonte da riqueza.
Além dessa explicação sobre riqueza, o estado para Thomas Mun está centrado no monarca e
o poder e riqueza do estado se relacionam com o aumento de poder e riqueza do monarca.
Petty e Boisguilbert já não pensam dessa forma. O estado, para ambos, além do monarca,
englobaria todo o povo.
As políticas públicas naquela época, para os diferentes autores, eram bem diferentes das de
hoje. Atualmente o foco está mais no social e antigamente as políticas visavam aumento da
riqueza do estado. Não havia o interesse de expandir os gastos do governo para estimular a
economia.
a) Riqueza para Mun é o estoque de mercadorias que podem se tornar ativos.
b) Riqueza para Petty se relaciona com a produtividade e com o trabalho. Ele pensa muito
na ótica da produção e não se preocupa muito com questões monetárias.
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c) Riqueza para Boisguilbert se relaciona com o trabalho. O trabalho seria a fonte desta
riqueza, assim como a troca comercial que também é um produto do trabalho. A
produção não seria nada sem as trocas. A terra também seria um elemento essencial
para a riqueza por colaborar com a produção. O dinheiro metálico tem papel
secundário.
10. AULA 10 – INTRODUÇÃO À FISIOCRACIA (12/09/2013)
A discussão sobre a fisiocracia se inicia com autores contemporâneos de Petty que estavam
situados na França. Um desses autores é Pierre de Boisguilbert que em um de seus textos
escreve para o Rei da França. Boisguilbert é considerado o autor da frase “laissez-faire,
laissez-passer” e seus trabalhos datam do final do século XVII, criticando a política econômica
colbertista de Luis XIV que incentivaria manufaturas, treinamentos de artesãos, comércios, etc
e deixa de lado a questão agrária. Esse autor ainda defende a liberdade de comércio, critica o
mercantilismo de Colbert, a questão metalista como fonte de riqueza e as tributações. Defende
o consumo e diz que o gasto de uma pessoa se tornam a renda de outra, sendo isso uma ideia
bastante moderna para a época. A queda nas rendas das pessoas francesas se relacionaria
com a queda do consumo e por isso Pierre defende a diminuição da tributação incentivando a
circulação de mercadorias com liberdade para os agentes econômicos evitando, por exemplo, a
restrição comercial. Foi dentro desse contexto de valorizar o consumo que a frase “laissezfaire, laissez-passer” foi criada por Pierre de Boisguilbert.
Outros autores que ajudam a entender o surgimento da fisiocracia foram Law e Cantillon. Law
nasceu no final do século XVII e vive até as décadas de 30 do século XVIII. Ele defendia que o
papel moeda poderia preencher o papel do ouro e prata com um custo ainda menor. Law
acaba convencendo autoridades públicas a testarem a sua ideia e inicialmente ela não
prosperou, ou seja, além de escrever teorias sobre sua ideia ele também conseguiu colocá-la
em prática. A premissa teórica era de que o valor dos bens era medido por dinheiro e pela
demanda dos mesmos. Law não defende a ideia metalista e se apoia sobre o consumo de
bens. Além disso ele diz que o estado não usava recursos suficientes para guiar as atividades
econômicas de modo a aumenta-la. Para ele, a economia possuía um subemprego de fatores.
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Seu livro foi escrito para o parlamento inglês (Law era escocês) tentando convence-los da
necessidade de utilizar o papel moeda. Ao se estabelecer na França tentou convencer o
regente de Luiz XV de sua proposta que acabou sendo aceita já que a França tinha uma dívida
pública grande e a ideia auxiliaria a pagá-la. Law forma um banco na França que mais tarde é
institucionalizado e passa a emitir cédulas para que impostos fossem pagos. A ideia era colocar
ordem na economia francesa que estava fragilizada devido a guerras passadas. O capital do
banco era muito baixo frente a dívida que a França possuía e por isso não conseguia
influenciar a taxa de juros do país sendo que essa taxa ajudaria a diminuir a dívida pública.
Mais tarde Law cria a companhia do ocidente que detinha direito real de exploração da
Louisiana na América e assumia, em troca, a dívida pública da França. Para pagar a dívida,
ações foram emitidas e Law se utilizou do marketing para divulga-las e arrecadar dinheiro. Os
preços das ações passaram a subir muito e essa valorização reforçou a companhia do ocidente.
Devido ao sucesso, Law vira ministro da fazenda na França e começa seus planos de
desmonetizar o ouro e a prata introduzindo o papel moeda. Paralelo a isso foram feitos
esforços para abaixar os preços das ações da companhia do ocidente, fato que deixou os donos
das mesmas bem enfurecidos. Sendo assim, os donos de tais ações passaram a vende-las para
não ter prejuízo. A extensão desse colapso foi ainda maior pois não houve controle sobre a
emissão das ações. Tudo isso aconteceu devido a ideia de se substituir o ouro por papel
moeda. Em contrapartida a França diminuiu a sua dívida pública pelo aumento de papel moeda
que substituiu o ouro. O sistema de Law também não deu certo devido a um novo surto da
peste o que fez as pessoas preferirem mais prata e ouro do que papel moeda, além de
quererem vender as ações da companhia do ocidente para obterem mais ouro e prata. Toda
essa situação foi muito importante para a história monetária e se conecta com outro autor da
época, o irlandês Cantillon, que percebeu o problema da valorização excessiva das ações da
empresa de Law. Cantillon era banqueiro e aparentemente morreu, pouco tempo depois do
esquema de Law, em um incêndio. Provavelmente o incêndio foi uma armação para Cantillon
escapar de acusações judiciais e dívidas. Seu livro “Ensaio sobre a natureza do comércio em
geral” é considerado por muitos como o marco inicial da economia política, escrito em 1730 e
só sendo divulgado em anos posteriores pelo Marquês de Mirabeau, em 1755. Esse livro trata
de uma série de temas e desenvolve uma teoria sobre o valor intrínseco das coisas e seu preço
de mercado. Cantillon foi o primeiro a introduzir a teoria do valor. Para ele, a terra seria a
fonte de toda a riqueza e o trabalho regularia a economia. Cantillon também critica a política
econômica colbertista argumentando que nada iria a diante sem a fonte dos recursos, ou seja,
a terra. Ela então é a fonte da riqueza e o trabalho se adaptaria frente a ela. Cantillon defende
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o papel do empresário na alocação dos recursos pois ele deveria assumir o risco de comprar
pelo valor certo e vender pelo valor incerto. Além disso esse autor trata sobre moeda, preços e
mercadorias, sendo o primeiro a introduzir conceitos sobre como a economia se organiza no
espaço. A ligação de produção e fluxo circular da riqueza foi uma das contribuições mais
importantes de Cantillon pois explica como a riqueza circula na economia a partir da terra.
Para ele, a terra era fonte da teoria do valor sendo o trabalho ajustado pela terra. A
quantidade de terra e trabalho é que define o valor intrínseco da mercadoria e a quantidade de
terra determinaria a quantidade de trabalhadores e que tipo de trabalho seria feito nela. Como
a terra é a única fonte real de riqueza, apenas os donos dela com seus recebimentos e gastos
que ditariam o funcionamento da economia, ficando o comércio em segundo plano. Essas
concepções são as principais que compõem a fisiocracia e Cantillon trabalha suas ideias no
longo prazo, já que os preços de mercado variavam no curto prazo. Para Cantillon o equilíbrio
é atingido no longo prazo e o preço é influenciado pela terra. Ele fala, durante toda sua obra,
como um economista.
A fisiocracia introduziu a ideia de ordem material e surge no século XVIII que é o século do
iluminismo, estando conectada a ele e à ideia de desvendar as coisas a partir da razão de
forma a contestar a ordem do antigo regime até culminar na Revolução Francesa. Cantillon
não é iluminista, mas é inspirado por ideias precursoras do iluminismo que transformaram a
França no centro cultural do mundo em meados do século XVIII. A fisiocracia parte da
premissa de que existe uma ordem natural para a sociedade assim como existe uma ordem
física bastante valorizada pela Revolução Científica. Essa ordem natural não é dada, a priori,
como na ordem física, mas ela existe em razão dos seres humanos quando estes não criam
obstáculos a essa ordem. As pessoas podem, vivendo em sociedade e em certo momento,
impedir que a ordem natural das coisas se manifeste. A fisiocracia está focada em discutir e
desvendar a ordem natural das coisas. Caso a sociedade não esteja na ordem natural, ela
poderia voltar a essa ordem com o auxílio de aspectos como o da auto-regulação.
OBS: Pierre de Boisguilbert e William Petty possuíam ideias semelhantes aplicadas em
diferentes contextos.
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11. AULA 11 – FISIOCRACIA E QUESNEY (17/09/2013)
Estamos agora entrando na época da economia clássica. Dentro do iluminismo a fisiocracia
começa a surgir como um tipo de reflexão do mundo além de uma reflexão abstrata sobre o
funcionamento da economia. A fisiocracia reflete sobre como a economia deveria funcionar e o
que impediria esse mecanismo de funcionar, não sendo então um ideal, mas sim uma reflexão.
O texto de Quesney não retrata a moeda como os autores anteriormente estudados retratam.
Quesney retrata a unidade monetária, mas ele já está preocupado com o fluxo circular da
renda, ou seja, interpretando, através de diagramas, a conjuntura macroeconômica da época.
A interpretação do fluxo circular da renda veio da analogia com ideia de circulação sanguínea
vinda da medicina. A inspiração fundamental para o fluxo circular da renda veio do modelo
mecânico da engenharia e Quesney o utiliza bastante. Nenhum dos autores anteriores fizeram
uma análise envolvendo o fluxo circular da renda como ele fez.
O tipo de sociedade descrito por Quesney é bem peculiar. A acumulação do excedente está nos
proprietários de terra que possuem um papel central no seu esquema. A fisiocracia foi atacada
por defensores do mercantilismo, bem como as ideias de Quesney. Ellen Wood defendia que o
capitalismo possuía uma origem agrária que cada vez mais foi se relacionando com as
mudanças de mercado. O produtor que antes produzia para sua subsistência passou a produzir
para o mercado já que as terras foram cercadas e voltadas para o mercado. Esse argumento
da origem agrária do capitalismo se relaciona com a fisiocracia e Quesney identifica que o
modelo econômico possui base na agricultura. A indústria para ele não gerava produto líquido
e por isso o investimento deveria ser voltado inteiramente para a agricultura. Na França a
agricultura ocupava um sexto das terras mas respondia por um quarto da produção. A
fisiocracia vislumbra um mundo em transformação, mas não na indústria e sim na agricultura.
Quesney não propõe nada revolucionário, mas descreve a sociedade com o proprietário de
terra (nobre) ocupando uma posição central por se apropriar da renda fundiária, além das suas
decisões de consumo movimentarem a economia. Só a agricultura geraria receita líquida, daí
sua importância.
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Em seu texto Quesney trata do fluxo circular da renda e como a renda é apropriada pelos
agentes econômicos.
O conceito fundamental do texto de Quesney é o conceito de excedente de produção, parte da
riqueza produzida que excede a riqueza consumida no processo produtivo. Esse excedente é a
fonte de reutilização da produção e movimenta a economia. Para Quesney, só uma coisa
poderia gerar esse excedente: a agricultura. A indústria não teria essa capacidade. A terra,
com sua fertilidade natural, poderia gerar esse excedente de riqueza. O trabalho do homem
por si só não pode gerar esse excedente.
A classe estéril era aquela que não se reproduzia, ou seja, só circula o excedente produzido
para outro lugar, mas não produzia para sobreviver e nem produzia nenhum tipo de
excedente.
Na teoria clássica o produto líquido gera o lucro e a renda fundiária. Para a fisiocracia não
existe o lucro, apenas a renda fundiária.
No quadro econômico, a esquerda temos a parte produtiva, no centro os rendimentos e gastos
e do lado direito as despesas estéreis. A lógica é que com 600 unidades monetárias o
proprietário pode distribuir 300 para consumo no próprio setor agrícola e 300 em obras e
outras atividades no setor estéril. Sendo assim, 300 são gastos dentro do setor produtivo e os
outros 300 são gastos na classe estéril que por sua vez gastará 150 com ela própria e 150 com
a classe produtiva e assim por diante. No final, os 600 são apropriados pelo proprietário e isso
é um protótipo do fluxo circular da renda. Quesney queria mostrar como o fluxo poderia ser
expandido ou contraído de acordo com políticas econômicas. Dentro dessa lógica, a economia
não era um jogo de soma zero podendo eventualmente crescer. No mercantilismo a economia
era vista como um jogo de soma zero onde um é prejudicado e outro é beneficiado. Além
disso, para Quesney, o gasto com consumo poderia gerar excedente e promover o crescimento
econômico. O gasto (despesas) estruturam esse modelo, porém as despesas com consumo
não são o mais importante, mas sim a agricultura, a base de tudo. O autor não discute moeda,
setor externo, etc. É um modelo simplificado para entender o mundo, assim como hoje
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utilizamos modelos para buscar explicações. A capacidade de abstração de Quesney foi algo
inovador para a época.
A gentry era uma classe em transformação que passa a aproveitar mais a terra da Inglaterra.
O modelo de Quesney é para a França, mas esse país também possuía uma gentry
representada pela classe proprietária e a classe produtiva.
12. AULA 12 – ADAM SMITH I (19/09/2013)
O quadro econômico de Quesney procura construir uma abstração da economia para sua
época, além de introduzir uma inovação que é o excedente produtivo da agricultura. Esse
excedente permite que haja crescimento econômico enquanto que no mercantilismo um perdia
e outro ganhava. O fluxo circular da renda descreve como a riqueza da época circulava, sendo
portanto um modelo estático com o excedente se tornando a chave para seu entendimento.
Essas ideias são as inovações trazidas por Quesney em seu texto.
A discussão sobre crescimento econômico surge na fisiocracia e é bem discutido também por
Adam Smith. O quadro econômico é um modelo estático construído por Quesney e que nos
permite avaliar o crescimento ou não da economia. Uma outra linhagem para explicar o
crescimento econômico é então inaugurada.
O capital aplicado na agricultura poderia gerar crescimento da economia. Todas essas ideias
são uma ruptura com as ideias do mercantilismo anteriormente vigentes.
Adam Smith em seu livro “A Riqueza das Nações” acabou sendo considerado o pai da
economia. Apesar disso ele não é o único importante pensador de sua época. As suas ideias
permitiram que houvesse uma ampla discussão sobre temas tratados por ele em seu livro,
inclusive sendo retomada por outros autores apesar de Adam Smith não ter a intenção de
introduzir tais discussões em um debate. Em seu livro é retratada uma sociedade em
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transformação que está iniciando sua vivencia na Revolução Industrial, além de demonstrar
mais simpatia pela agricultura e pelo trabalhador do que pelo empresário e a indústria.
O exemplo da produção de alfinetes em seu livro é um retrato da sociedade pré-industrial. É
complicado situar Adam Smith em seu próprio tempo. Ao ler o seu livro é importante perceber
as diferenças entre a nossa época atual e a época de Adam Smith.
O iluminismo escocês é o que dá sentido à obra de Adam Smith. O iluminismo possui várias
vertentes em diversos ambientes. Adam Smith pode ou não estar inserido entre os iluministas,
dependendo da análise que fazemos dele. Ao falar de iluminismo estamos fazendo vínculos
com a França, país de referência intelectual. Em outros países também vemos peculiaridades
iluministas. Na Escócia existia um movimento iluminista percebido pelos próprios autores que
possuíam ideias coincidentes. Os traços específicos do iluminismo escocês em relação ao
iluminismo em geral são, por exemplo, a ideia de progresso que é determinante para Adam
Smith e David Hume. As universidades escocesas foram importantes na época apesar das
principais ideias do movimento já existirem fora delas. As universidades escocesas se
diferenciavam das universidades inglesas e francesas por serem mais vívidas e permitirem
avanços das ideias já existentes, ocupando papel importante no iluminismo escocês e dando a
Adam Smith todo o embasamento de que ele precisava. Tais universidades eram laicas e o
conhecimento produzido nelas se concentravam em temas da realidade mundana cotidiana,
desviando o foco das questões religiosas. Apesar disso os dogmas religiosos não eram
revogados. Essas universidades tratavam sobre a filosofia, direito natural e revolução científica
do século XVII. A combinação desses fatores é que distingue o iluminismo escocês, baseado
em métodos naturais e sociais. Além do direito natural e a revolução científica se mesclando, o
iluminismo escocês possui um caráter social e um foco histórico, pois dentro da Escócia uma
nova concepção histórica veio se desenvolvendo, ou seja, a concepção de que sociedades e
costumes diferentes são comuns entre os povos. Procurar as causas dessas diferenças foi um
dos focos do iluminismo escocês bem como na França com Montesquieu. O iluminismo escocês
contribuiu para um melhor entendimento sobre o porquê das sociedades serem diferentes e
como elas se transformavam em um plano histórico. Autores como David Hume se
preocupavam com isso. As diferenças entre as sociedades não fazem parte de um plano
estático, mas sim de uma evolução histórica. David Hume estava preocupado em perceber o
que ficava constante diante das mudanças da sociedade extraindo assim a natureza humana
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que se perpetuava frente as mudanças. Assim, as sociedades evoluíram rumo ao progresso
com características peculiares. Essa questão é uma das mais importantes no iluminismo
escocês. Nesse momento, diante de tais estudos, alguns escoceses perceberam a distância da
Escócia para Inglaterra. Quando as monarquias se uniram a Inglaterra caminhava para a
Revolução Industrial e a Escócia não. Esse contraste foi o que permitiu várias discussões sobre
o progresso que não era apenas com a Inglaterra, mas até mesmo dentro da própria Escócia,
permitindo que existissem tais debates sobre ele. A pessoa que está inserida nele não percebe
as diferenças a sua volta e é incapaz de analisar as questões implicantes. Por estar alheia ao
progresso a Escócia conseguia visualizá-lo e analisa-lo, por isso os trabalhos sobre o tema se
desenvolveram.
A teoria dos estágios da sociedade feita por autores iluministas escoceses procura tratar dos
estágios de evolução da sociedade. Desde a época dos nômades, até que esses se fixam em
algum lugar dando origem as desigualdades e evolução agrária para posteriormente gerar a
ideia do direito e leis culminando ao estágio mais avançado em que surge a economia da troca,
comércio e prevalência de classes sociais. As ideias de Adam Smith datam de 1776, mas elas
são confundidas com concepções atuais. Adam Smith não trata da Revolução Industrial e da
Inglaterra, mas sim da Escócia e da sociedade pré-industrial que veio evoluindo com o tempo
sendo mais ainda alheia ao progresso em relação a Inglaterra. A indústria existia e veio se
desenvolvendo muito devagar até ter um salto enorme de desenvolvimento, sendo
posteriormente identificado, analisado e batizado de Revolução Industrial. Adam Smith e
ninguém estava em condições de perceber aquilo naquela época. A percepção de mudanças
existia, mas o que aquilo significava ainda não podia ser compreendido na própria época e por
isso Adam Smith não fala de Revolução Industrial, mas sim de uma sociedade pré-industrial
em mudança.
Autores como Adam Smith, naquela época, acabavam por desenvolver a ideia do progresso
com base na teoria dos estágios da sociedade. David Hume também faz parte desses autores e
rompe com a ideia da divina providência (ideia de que os acontecimentos ocorrem por vontade
de Deus). Naquela época o mundo era visto como estático e esses autores, ao estudarem e
descreverem o progresso, começaram a mudar essa concepção. Isso em si é uma inovação
importante que surge em vários autores com a ajuda da concepção do iluminismo.
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13. AULA 13 – ADAM SMITH II (24/09/2013)
James Steuart é um autor importante do iluminismo escocês apesar de ter passado muito
tempo longe da Escócia. Ele se relaciona com as ideias de Adam Smith e publica seu livro em
1767 sendo o primeiro trabalho sistemático de economia escrito na língua inglesa. O livro é
chamado de “Tratado Sistemático” e fala sobre a economia como um todo, de maneira
sistêmica. Steuart foi o primeiro a utilizar o termo “economia política” dando um sentido a ele,
além de ser o primeiro a tratar de oferta e demanda. O autor fica muito tempo fora da Escócia
(décadas de 40 do século XVIII até 1773) e fica apartado do desenvolvimento do iluminismo
escocês. Sua saída da Escócia foi devido a rebelião jacobina de 1745 decorrente das tentativas
da dinastia Stuart de retomar o poder por ter sido exilada após a revolução gloriosa. Steuart
toma parte da rebelião e passa posteriormente a viver exilado na França. No seu tempo de
exílio, além da França, ele passa a percorrer outros países e desenvolver ideias parelhas com
as de Adam Smith. O livro de Steuart recebe muita influência de literaturas continentais da
Alemanha (ele também viveu exilado nesse país) que atribuem grande importância à figura do
estado. Para Adam Smith isso não acontece.
Assim como Adam Smith, Steuart desenvolve ideias sobre vários aspectos da economia,
defendendo que o estado precisa manter as pessoas empregadas para que a nação se torne
rica. O papel relevante do estado seria bastante moderno. As pessoas seriam motivadas por
interesses próprios e o estado deveria usar esse interesse pessoal de cada um para guiar a
economia e não forçar as pessoas a percorrerem um determinado caminho. A experiência que
Steuart teve em vários países o permitiu observar as diferenças entre os povos identificando
os traços comuns presentes na natureza humana. O peso grande dado ao estado não combina
com Adam Smith e “A Riqueza das Nações” passou a fazer sucesso no século XIX com o
crescimento do liberalismo. Por priorizar as atitudes do estado, o livro de Steuart não fez
sucesso enquanto o liberalismo se desenvolvia. O único sucesso obtido pelo livro de Steuart
ocorreu na Alemanha. Apesar dessa diferença ambos os autores identificam os mecanismos de
auto cooperação e auto-regulação da economia; porém, Steuart não conseguia imaginar a
ocorrência desses processo sem participação efetiva do estado enquanto que Adam Smith
defende que quanto menos o estado intervir nas decisões econômicas melhor seria.
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O livro de Adam Smith é composto por vários volumes. O livro I trata da divisão do trabalho,
progresso técnico e apresenta a teoria do valor e a teoria da distribuição. O livro II trata de
natureza, acumulação, dinheiro e capital. O livro III trata de progresso e opulência das nações.
O livro IV é sobre os sistemas de economia política discutidos na história do pensamento
econômico, fisiocracia e mercantilismo. O livro V trata de finanças públicas e do papel
legislador do estado.
Os capítulos 1 a 10 do livro I tratam da divisão do trabalho, mercadorias, moeda relacionada a
produção e ao trabalho. Em outras palavras esses capítulos relacionam a teoria do valor e o
trabalho, ou seja, Adam Smith relaciona a riqueza da nação com o trabalho. Para o autor não é
a natureza que garante o excedente e a riqueza, mas sim o esforço humano com o trabalho é
que cria a riqueza. A natureza sozinha não faz nada e esse argumento é um ponto de ruptura
importante com argumentos fisiocratas. Trabalho junto com fatores de produção gerariam a
riqueza pois os fatores sem o trabalho não podem ser desenvolvidos. Categorias diferentes
tem direito a participações diferentes da riqueza. O mundo econômico estaria dividido em três
categorias: trabalhadores, capitalistas e proprietários de terras, sendo os trabalhadores
remunerados com salários, capitalistas com lucros e proprietários com a renda vinda da terra.
Na fisiocracia as categorias de Quesney eram classe proprietária, classe produtiva e classe
estéril.
O tema central do livro I é então o crescimento econômico a partir do trabalho. Adam Smith;
porém, começa a falar não do trabalho em si, mas da divisão do trabalho. Ele está pensando
na ideia de crescimento econômico que é um aspecto semelhante defendido pela fisiocracia.
Smith começa falando de divisão do trabalho pois considera esse tema muito importante para
que haja crescimento econômico. O mérito não está em perceber a divisão do trabalho, mas
sim em estabelecer um vínculo entre divisão do trabalho e crescimento econômico,
funcionamento da economia e nível de vida da população, tangenciando o aspecto do
progresso, evolução social e transformação da sociedade. Adam Smith não fala de crescimento
econômico em termos modernos, mas sim em termos de progresso e evolução social. Ele
percebe que há um vínculo entre renda e população. O interesse é ter uma população cada vez
mais ativa, produtiva e bem remunerada.
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A concepção de riqueza para Adam Smith é nova e moderna pois se relaciona com a renda per
capta. Grande PIB com níveis baixos de desenvolvimento social e renda não fazem uma nação
ser rica, mas sim um grande PIB e uma alta renda per capta. Essa visão de Smith representa
uma ruptura com outros autores anteriores e uma visão moderna da economia para sua
época.
A acumulação se dá por uma disputa assimétrica entre trabalhadores e capitalistas. Essa
disputa assimétrica tende a gerar salários cada vez mais próximos da subsistência. O
progresso então ocorre apenas no lucro e na renda da terra, mas não nos salários.
A discussão que Adam Smith faz sobre a divisão do trabalho gira em torno da fábrica de
alfinetes. Para ele a renda nacional se relaciona com a produtividade e a quantidade de
trabalhadores (fórmula
em que
é a produtividade e L a quantidade de
trabalhadores). Dividindo ambos os lados da fórmula por N (total da população), temos a
proporção de trabalhadores empregados (PEA) em relação ao conjunto da população. O nível
de vida da população (renda per capta) dependeria da produtividade da proporção de cidadãos
empregados no setor produtivo.
A produtividade se relaciona com a destreza do trabalhador que geraria economia de tempo e
progresso técnico. O progresso era importante para Adam Smith sendo a divisão do trabalho
importante para gerar progresso técnico.
O crescimento do mercado causa um avanço na divisão do trabalho. Aumentar a produção sem
uma absorção dela por parte do mercado não faz sentido. Aumentar a produção exige
mecanismos para aumentar o mercado gerando assim crescimento econômico.
Adam Smith defende o liberalismo por defender a criação de mecanismos para que haja
crescimento econômico, deixando de lado os fatores que impeçam esse crescimento. Assim, a
população envolvida no processo produtivo aumentaria, gerando renda e progresso. Smith é
considerado o pai da economia devido a todas essas análises pioneiras que fez sobre
economia. Apesar de termos discutido até aqui apenas fatores relacionados a produção e
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distribuição, a teoria do valor feita por ele foi pioneira e utilizada por vários autores
posteriores. Vincular progresso ao trabalho (esforço humano dando valor as coisas) foi algo
pioneiro para a época.
O excedente está vinculado apenas ao capitalista e ao proprietário de terra. Adam Smith está
na origem do pensamento clássico.
14. AULA 14 – ADAM SMITH III (26/09/2013)
No pensamento clássico os autores falam de processos econômicos como um todo. É
importante discutirmos a teoria do valor e a teoria da distribuição de Adam Smith.
A divisão do trabalho se relaciona com a produtividade e que se relaciona com a produção o
que mais tarde pode aumentar o mercado gerando mais salários, lucros e renda como um
todo. Era isso que Adam Smith pensava sobre divisão do trabalho.
Fazer o mercado se desenvolver de forma livre e desimpedida era uma questão importante
para Adam Smith já que o aumento da produção ampliaria o mercado gerando lucros, salários
e renda. Além disso o autor defende a auto-regulação do homem na sociedade, ou seja, o auto
interesse do homem produziria resultados ótimos em uma sociedade de trocas com a presença
do mercado.
Existe processos assimétricos entre capitalistas e trabalhadores. O excedente se relaciona ao
lucro e a
renda
da
terra
o
que
remete aos capitalistas e proprietários de terra
respectivamente. Os salários dos trabalhadores tenderiam a ficar no nível de subsistência.
Adam Smith se preocupa com tais questões sociais. A utilização produtiva do excedente se
relaciona com o processo de acumulação. Esse processo consiste em investir em novos meios
de produção e aumento de trabalhadores empregados. Esses vínculos são muito importantes
para Adam Smith que acaba tendo uma visão otimista sobre o crescimento e progresso
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econômico. Por mais que os salários não sejam parte do excedente, o capitalista investe neles
como forma de adiantar capital aos trabalhadores.
A teoria da distribuição de Adam Smith se relaciona com salários, lucros do capital e renda da
terra. Devemos estudar a obra para entender a teoria. Smith visitou a França e entrou em
contato com o pensamento fisiocrata. Após isso passou a ser tutor de famílias de nobres entre
1755 e 1756 o que o fez rodar por vários outros países da Europa ao acompanhar um nobre
duque. Sendo assim, além da França, conheceu a Itália. Essa trajetória e suas obras mostram
a evolução das suas ideias. Em um de seus livros anteriores (Lectures) já vemos questões
sobre a produção já bem estruturadas. Posteriormente Adam Smith fala sobre distribuição e
renda (A Riqueza das Nações). Ele não vivia no mundo da revolução industrial, mas percebia
uma sociedade em mudanças. A teoria da distribuição feita pelos fisiocratas inspiraram os
autores posteriores. De acordo com o antigo regime a terra então seria a fonte de todo o
processo já que ela era a fonte de hierarquização social. Por isso que os proprietários da terra
eram colocados em foco pelos fisiocratas. Adam Smith faz parte de outro contexto ficando
distante desses elementos fechados de hierarquização social, moldando a teoria da distribuição
feita por ele próprio. À medida que as mudanças sociais e industriais aconteciam, iniciam-se
conflitos entre a classe proprietária e a classe manufatureira e desta com os trabalhadores. Os
conflitos sociais passaram a ser mais evidentes já que anteriormente o proprietário de terra
tinha uma posição social garantida na sociedade, mas com as mudanças da época essa
condição começou a mudar. Todos esses conflitos se arrastavam por muitos anos e Adam
Smith escreve com esses conflitos já bem estabelecidos. Para ele a renda seria distribuída na
sociedade diante desses conflitos assimétricos já que os capitalistas detinham mais poderes
que os trabalhadores. Na medida em que o salário tem a função de remunerar trabalhadores,
capitalistas e proprietários de terras, devemos pensa-lo diante dos conflitos sociais. Adam
Smith faz referência à sociedade primitiva ao falar do salário. Tal sociedade que precederia a
acumulação primitiva de capital e a propriedade privada da terra não se relacionaria com
salário já que este seria uma remuneração pela produção feita na terra, mas no estado
primitivo a produção não tinha caráter capitalista. Após passar por isso Smith fala sobre a
teoria da negociação dos salários da sua época, pois o grupo dos capitalistas passam a ditar
suas vontades sobre os trabalhadores. A vantagem é dos capitalistas e o trabalhador, para
Smith, deveria receber o suficiente para se sustentar e sustentar a família já que um
trabalhador em más condições não seria capaz de produzir de maneira satisfatória. Adam
Smith parte para tentar entender a subsistência e para ele os salários não poderiam ficar
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abaixo do nível de subsistência. Na medida em que a economia cresce, os salários poderiam,
temporariamente, ficar abaixo do nível de subsistência, mas a tendência era que os salários
ficassem muito acima desse nível e isso se daria pelo fundo salarial. Tal fundo é o acumulado
do excesso da receita sobre as necessidades dos trabalhadores. Com isso os empregados
poderiam fornecer mais recursos ao emprego. Isso representa um adiantamento de capital aos
trabalhadores. A riqueza da nação se relacionaria com a renda per capta e nos rendimentos da
população economicamente ativa.
Os altos salários aumentariam a industriosidade dos
trabalhadores, ou seja, altos salários estimulariam trabalhadores a trabalharem, a aumentar a
produção como um todo e promover o crescimento econômico. A tendência para Adam Smith
era de ascendência do salário e para Ricardo era justamente o contrário.
Os lucros do capital para Smith se relacionam com os salários. Maiores salários fazem o lucro
diminuir e baixos salários fazem o lucro aumentar. Quando o indivíduo acumula reservas
financeiras (capital), ele as utilizará para subsistência e para conseguir renda adicional. O
capital fixo (maquinaria, instrumentos) é o que gerará lucro ao capitalista sem mudar de mão.
O capital circulante (matéria-prima, produtos semimanufaturados, etc) geraria lucro mudando
de mãos. Toda a economia clássica, inclusive Adam Smith, vê a economia pela ótica da
produção. Para dinamizar a economia deve-se olhar para a produção que irá gerar mudanças
em cascata.
Smith fala também sobre os juros. Para ele os lucros eram flutuantes e difíceis de serem
determinados. Por isso os juros seriam uma maneira de perceber os lucros sendo parte do
lucro bruto já que o lucro líquido seria a taxa de rendimento do capital. Não vemos claramente
no livro de Smith a ideia do empresário de risco que administra o capital.
15. AULA 15 – SEMINÁRIO ADAM SMITH (01/10/2013)
16. AULA 16 – PRIMEIRA PROVA (03/10/2013)
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17. AULA 17 – DAVI RICARDO I (08/10/2013)
Davi Ricardo representa um autor diferente dentro da história do pensamento econômico.
Além disso, ele faz uma discussão sobre a teoria da distribuição considerando a ideia de renda
diferencial.
Adam Smith em “A riqueza das nações” trabalha com filosofia moral. Seu livro procura por
maneiras de fazer as pessoas viverem juntas já que a igreja não conseguia fornecer respostas
incontestáveis para o funcionamento da sociedade. Entender como é e como deve ser o
funcionamento da sociedade era um dos objetivos de Smith.
Meio século após o livro de Adam Smith, a sua reflexão já perde lugar. Ricardo não está
preocupado em escrever uma filosofia moral como ele pois a sociedade já havia mudado
devido a questões econômicas e políticas. Na época de Adam Smith as questões políticas se
relacionavam com questões comerciais e coloniais. No momento de Ricardo as questões são
diferentes já que temos revoluções burguesas, revolução industrial e economicamente a
dinâmica capitalista mudou bastante. Há uma ruptura com a intuição presente na obra de
Smith.
Ricardo dá enfoques aos problemas econômicos da Inglaterra na virada do século XVIII para o
XIX. A Inglaterra vive uma crise financeira em 1797. Essas crises vão ser cada vez mais
frequentes na entrada do novo século. O resultado da crise de 1797 faz a Inglaterra suspender
a conversibilidade da libra em ouro por um bom período. Até meados de 1819 a Inglaterra
permanece apenas com papel moeda e isso ocasiona impacto nos preços. Esse contexto gera o
aumento dos preços do cereais fazendo crescer o preço das rendas agrícolas causando a
expansão das terras cultivadas. A medida que a renda da terra aumenta há estímulo para
aumentar as terras cultivadas. Todo o argumento de Ricardo gira em torno disso, ou seja, qual
seria o impacto de terras menos férteis na produção para o conjunto da economia. A reflexão
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de Ricardo parte dessas questões. A crise ocasionou o aumento da impressão de papel moeda
o que reflete no aumento de preços.
O aumento do preço dos alimentos gera confusões sociais dentro do contexto da revolução
industrial. Além disso, a revolução francesa impacta o contexto europeu gerando perturbações
sociais. Tudo isso, somado ao aumento do preço dos cereais, acaba gerando uma cobrança
para que haja uma solução política para o problema. Ricardo fará parte do parlamento
britânico e tentará fornecer soluções para esses problemas.
Jean Baptiste Say, famoso autor devido a sua lei de mercado, tem uma visão importante sobre
a moeda. A moeda seria um véu que cobre as trocas econômicas. Ou seja, é um meio de
circulação, mas não explica a economia real, pois não é na moeda que temos que buscar as
explicações para o que acontece como, por exemplo, movimento de preços ou aquecimento ou
desaquecimento da economia. A moeda então seria um véu por esses motivos. Conectado a
isso e relacionado a sua lei de mercado está a ideia de que a oferta cria sua própria demanda.
A oferta se iguala à demanda ex ante, ou seja, de saída. Em seu esquema, oferta e demanda
agregadas estariam sempre em equilíbrio, mas a oferta viria primeiro. Em sua época essa lei
vira um dogma. Assim como Malthus com suas teorias populacionais, a lei de Say vigorou por
muito tempo. Say dizia que o fato de produzir cria espontaneamente a procura por outros
produtos uma vez que os produtores só estão interessados em vender na medida que isso lhes
permita adquirir outros produtos no mercado. Pelo fato dos produtores quererem adquirir
poder de compra, esse mecanismo permite que a oferta crie a sua própria demanda ex ante.
Isso é um pressuposto. Não seria possível existir uma crise de superprodução nessa economia.
O excesso de produção seria pontual sendo corrigido com o aumento da liberdade de comércio.
Como o interesse do produtor é adquirir poder de compra com o que ele produz, a oferta vai
gerar a sua própria demanda e a liberdade comercial evitaria qualquer tipo de superprodução.
Esse argumento, apesar de ser mais complexo, está ligado à figura do empresário. O papel
deste seria proporcionar uma atuação eficiente no pleno emprego dos fatores produtivos. O
empresário é fundamental porque é ele que colocará todos os fatores produtivos em uso
gerando uma demanda de mercado e assim a oferta se equilibraria à demanda. Nem todos os
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contemporâneos de Say pensarão como ele. Outros autores irão criticar suas ideias, tanto pelo
lado francês quanto pelo lado britânico (Malthus por exemplo).
Malthus vai entender que é possível existir crises se superprodução. Ele é menos analítico e
sofisticado do que Ricardo, sendo assim complexo. Em algum sentido, o pensamento de
Malthus possui conexões com os de Adam Smith. Essa sua visão sobre a superprodução e uma
possível crise faz com que ele seja apropriado de forma positiva por Marx e outros autores. A
insuficiência possível da demanda efetiva faz com que a demanda por bens de consumo
necessária para garantir o escoamento da produção em determinado período (e que garantiria
o crescimento no período seguinte) não seja suficiente. As classes inferiores estariam
determinadas a gastar tudo que ganham (caso minoritário) consumindo bens supérfluos. Tal
consumo seria positivo para Malthus por absorver parte da oferta dentro de uma crise de
superprodução. Malthus se destacou também por formular a sua teoria populacional. O seu
horizonte é, portanto, mais amplo e preso à compreensão segundo a qual a sociedade poderia
viver de forma mais harmônica, ou seja, ele utiliza aspectos da filosofia moral assim como
Adam Smith. Malthus tem uma visão da economia como algo sombrio. Ele parte de uma
crença de que os homens não são dotados de uma bondade natural e por isso eles precisam de
orientação moral que permite a sociedade funcionar de uma maneira melhor.
Ricardo nasce 1772 e morre em 1823. Sua origem é judaica proveniente da península ibérica.
Em Amsterdã ele recebe uma formação comercial e aprende os negócios da família. Ao voltar
para Londres começa a trabalhar com o pai na bolsa de valores fazendo fortuna. O episódio
curioso de sua trajetória é que, com 21 anos ele resolve se casar contra a vontade da família
sendo então deserdado pelo pai. A partir de então passa a ter que ganhar a vida por si só.
Seus trabalhos teóricos sobre economia são tardios e ele só se dedica a eles depois de
aposentado em um intervalo de tempo de 15 anos. Ricardo de maneira alguma é considerado
um erudito, mas por outro lado possuía uma mente lógica privilegiada pois suas obras
possuem grande conteúdo analítico. O discurso científico da economia está bastante presente
em sua obra. Sua inclinação analítica se deve a três elementos:
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1 - Acontecimentos econômicos de sua época como aumento dos preços dos cereais e
as leis que surgiram em decorrência disso.
2 - Debates econômicos sobre os eventos acima citados. Tais debates ganham cada vez
mais expressão pública. O debate econômico ganha uma dinâmica que não existia no
século XVIII. Ricardo faz parte de tudo isso trocando informações e correspondências
com amigos próximos.
3 - A obra de Ricardo está relacionada a Adam Smith já que ele pega o núcleo das
ideias deste e trabalha em cima delas. Em 1799 Ricardo entra em contato com a obra
de Adam Smith. Depois disso, em 1810 mais ou menos é que as suas ideias começam a
ser publicadas através de panfletos.
Ricardo se dedica a seus textos depois que se aposenta com uma grande fortuna. A fortuna
vem do mesmo lugar da de outros autores importantes. A bolsa de valores a gerou devido a
apostas em títulos da dívida pública que consideravam a derrota de Napoleão diante da
revolução francesa. A sua fortuna estava estimada na época em 60 mil libras, o que era uma
quantidade absurda para época. Ao morrer, Ricardo deixa seus amigos em condição financeira
muito boa.
Em 1817 seu livro é publicado. Nesse período seu pensamento ganha uma feição pública
devido sua participação no parlamento. Os debates parlamentares eram feitos citando autores
importantes do ambiente econômico. Isso tem a ver com a ideia central de estudarmos HPE.
Se a economia é uma ciência, de forma alguma ela é uma ciência neutra pois se fundamenta
diante de ambientes políticos e econômicos específicos. A ciência econômica é uma ciência do
capitalismo surgindo dentro dessa estrutura específica. É esse o ponto de referência. Dado os
debates parlamentares, a economia ganha importância. Era necessário ter pessoas com essa
formação econômica e reflexiva para poder discutir dentro do ambiente político. No século XIX,
o que chamamos de economia toma forma. As obras de Adam Smith não se parecem com os
livros de economia que temos hoje, mas a partir do século XIX isso já passa a acontecer pois
temos especificações analíticas dos argumentos econômicos acontecendo. Ricardo é o primeiro
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que caminha deliberadamente dentro dessa concepção o que faz o seu livro ser robusto e
analítico.
Adam Smith é o pai da ciência econômica moderna. Ricardo de fato é quem fornece aspectos
fundamentais sobre os quais a economia política clássica organizará suas ideias. Em sua obra
há um tratamento analítico que não existe na obra de Adam Smith. O fundamental da obra de
Ricardo é tratar sobre as teorias do valor e da distribuição se preocupando com os
determinantes do valor. Sua visão de funcionamento da economia é parecida com a visão que
tem Adam Smith, mas com abordagem mais analítica. Ricardo vê a sociedade baseada na
divisão do trabalho entre o setor agrícola e o setor das manufaturas. Esses são os dois grandes
setores. Três classes sociais existem para ele: trabalhadores, capitalistas e proprietários de
terra. Na medida em que os salários correspondem ao consumo de subsistência dos
trabalhadores vinculados ao processo produtivo e também ao gasto necessário para o processo
de produção, as rendas e os lucros correspondem ao excedente. Tudo isso está em Adam
Smith, mas só ganham ares analíticos com Ricardo.
Abstrações são fundamentais para o entendimento da obra de Ricardo. Abstrair significa pegar
a realidade e tratar ela de forma simplificada. As ideias de Adam Smith estão presas em coisas
maiores quem tangem o funcionamento da sociedade. Ele faz análises históricas entendendo
que as sociedades se transformaram de alguma maneira. Ele está preso ao real. Não há uma
lógica abstrata.
Ricardo diz que, enquanto os proprietários colocam a sua renda no consumo de luxo, os
capitalistas se veem, por conta da concorrência, obrigados a colocar todos os seus lucros no
processo produtivo. Sendo assim, o desenvolvimento econômico procede desta ação dos
capitalistas. Isso é uma abstração, pois não significa que todos os capitalistas e proprietários
agem assim, mas ele toma isso como pressuposto em seu modelo. O modelo de Ricardo
constrói pressupostos. A lógica do seu livro é a lógica de livros de economia. Essa é a
importância de Ricardo em relação a Smith.
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Deliberadamente Ricardo parte de um campo de reflexão bem menos amplo do que Adam
Smith. Ele próprio diz isso no início de seu livro. Ele não está interessado na evolução do
sistema econômico, mas sim na distribuição do excedente entre rendas e lucros. É o ponto
fundamental por incluir o núcleo da discussão do funcionamento do sistema econômico ou
desenvolvimento econômico. Essa base analítica está na discussão do excedente e da
contribuição deste para o processo de acumulação. O arranjo do excedente que era um
problema para Adam Smith, não é um problema para Ricardo pois ele está preocupado com a
distribuição do excedente e não com o seu aumento. Alguns temas ficarão de fora de sua
discussão. Marx em certo sentido toma de empréstimo alguns elementos analíticos de Ricardo
para fazer críticas, além de inserir mais coisas dentro dos argumentos. A tecnologia é tomada
como dada para Ricardo e o problema da divisão do trabalho não é um problema amplamente
discutido por ele. Isso foi feito por ele de forma deliberada. Ele escolheu as coisas com as
quais iria tratar. Grande parte do pensamento econômico desenvolvido hoje trabalha com essa
perspectiva.
Os níveis de produção para Ricardo aparecem como dados devido a aceitação das concepções
da lei de Say. A medida que uma produtividade ocorria dada a capacidade dos fatores de
produção, uma produção surgiria gerando uma demanda posterior. A teoria da população de
Malthus também é aceita por Ricardo, já que ele considera os salários como dados
correspondendo a subsistência do trabalhador. Na prática era possível supor o salário dos
trabalhadores de acordo com o nível de subsistência. O trabalhador estaria condenado a gastar
o que recebe dado o consumo de subsistência. A possibilidade de acumulação só poderia
ocorrer na classe produtora e na classe capitalista. Como os produtores gastam sua renda no
consumo improdutivo, são os capitalistas que investem na produção com seus lucros para
vencer a concorrência. Isso é o fundamental da dinâmica econômica para Ricardo. A lei dos
mercados de Say e a teoria da população de Malthus entram então na teoria do Ricardo.
O problema econômico para Ricardo seria a renda e por isso ele cria uma teoria sobre a renda
diferenciada. Essa teoria se atribui a ele, mas ela já estava desenvolvida em autores
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anteriores. Ricardo dá a forma analítica para essa teoria. Ela se relaciona com a renda das
terras menos férteis. Com o aumento do preço do trigo (cereais), há um estímulo para se
produzir mais e para se expandir a fronteira agrícola. Como a economia já estava na
capacidade limite de produção de trigo, ou seja, todas as terras já estavam sendo utilizadas
por serem mais férteis, aumentar a produção significaria expandi-la para terras menos férteis.
O argumento parte daqui. A expansão da produção vai necessariamente incorporar terras
menos férteis no processo produtivo. Surge então um problema em relação ao custo de se
produzir em terras férteis e terras menos férteis. Produzir nestas últimas é mais difícil e exigirá
mais trabalho. Ricardo está preocupado com o efeito da incorporação dessas terras sobre a
renda. A enunciação do problema seria: Para cada parcela de terra, a renda é igual a diferença
entre os custos unitários de produção das terras cultivadas menos férteis e os custos unitários
de produção das terras cultivadas férteis, multiplicada pela quantidade de produto obtidas
nelas, ou seja, é uma operação entre o custo de produção unitário da terra menos fértil e da
terra fértil multiplicado pela quantidade de produto que elas geram. Esse é o argumento da
renda diferencial e o lucro tem uma magnitude residual sendo uma parte do excedente que
não é absorvida pela renda. A palavra residual é importante para a história do pensamento
econômico tendo em vista a revolução marginalista. Algumas questões dos marginalistas têm
haver com o conceito de limite e com concepções residuais.
Ricardo então possui uma obra bastante analítica. Os temas escolhidos por ele não incluem a
questão do aumento da produção, ele está preocupado apenas com a distribuição. Assim, a
questão da renda da terra é um problema fundamental para ele.
18. AULA 18 – DAVI RICARDO II (10/10/2013)
A renda diferencial é um tema muito presente dentro do texto de Ricardo. Discutindo essa
renda podemos depreender a teoria do valor e a teoria da distribuição. Esta última leva em
conta a distribuição da renda entre renda da terra, salários e lucros. Ricardo vai sendo bem
sucedido na explicação de como o excedente se relaciona com a renda da terra. No que diz
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respeito ao lucro e ao salário ele usa alguns pressupostos que não necessariamente
correspondem à realidade.
Alguns aspectos genéricos sobre Ricardo fazem parte do problema que ele trata. Ele trabalha
de uma forma mais parecida com os economistas contemporâneos desenvolvendo modelos
simplificados e analisando aspectos específicos que são de seu interesse.
O ponto principal sobre a renda da terra e a renda diferencial é explicar o preço do trigo. Um
paradoxo está envolvido no problema: o trigo não é caro porque paga a renda, ele paga a
renda porque ficou mais caro. Explicando esse paradoxo conseguimos entender o conceito de
renda diferencial. Temos um contexto em que o trigo está ficando cada vez mais caro e ao
mesmo tempo a renda da terra está ficando cada vez mais alta. Uma das explicações intuitivas
sobre o porquê de o preço do trigo ter subido é a de que cada vez mais os proprietários de
terra exigiam um preço mais alto pelo aluguel da terra ou renda da terra. Se o aluguel pago
pela terra (renda da terra) fosse menor, o preço do trigo seria menor. Ricardo vai contra essa
explicação (o trigo não seria caro porque paga a renda da terra) e acredita que o trigo paga a
renda e por isso ele ficou mais caro. O contexto do problema é então esse.
Ricardo parte de uma teoria do valor que tem o mesmo eixo de Adam Smith, ou seja, o valor
das coisas é determinada pela quantidade do trabalho que está contida nelas. Ele faz isso de
uma maneira que inclui a renda diferencial que basicamente tem a ver com o tempo social
necessário para se produzir algo. Esse tempo precisa ser pensado em função do tempo gasto
por quem demora mais para produzir algo. Essa ideia também é aplicada a terra, pois a terra
menos fértil demandaria mais trabalho para que algo fosse produzido; porém, o preço final
seria o mesmo em relação à produção feita na terra mais fértil. Por exemplo, suponhamos que
compramos um pacote de farinha de trigo no supermercado. Não compramos por 1000 o
pacote vindo da terra mais difícil de se produzir e por 200 o pacote vindo da terra mais fácil de
se produzir. Senão, todos comprariam o pacote da terra mais fácil de se produzir até que esses
pacotes se esgotariam e ai sim as pessoas comprariam os pacotes oriundos da terra menos
fácil de se produzir. Quando a terra é mais fácil de se produzir, estamos pagando mais por
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uma coisa que custou menos para se produzir. Esse é o problema inicial que Ricardo aborda
em seu texto.
O valor da mercadoria seria determinado pelo tempo gasto pelo trabalhador menos eficiente
ou sendo determinado pela produção das terras menos férteis. O preço do trigo aumentou.
Investigando o problema, várias hipóteses poderiam ser levantadas para explicar tal fato. No
primeiro momento havia uma abundância de terras férteis. Nessa fase inicial, o pressuposto é
que não há o pagamento de renda da terra já que todas possuem o mesmo nível de fertilidade
e o preço do trigo era determinado pela quantidade demandada. Se temos uma safra muito
boa e se produzimos muito trigo, o preço dele tende cair. Se a produção for menor o preço do
trigo aumenta. Porém, chegou o momento em que a produção de trigo nessas terras férteis
não estava dando conta de atender a demanda da população. O que aconteceu? O preço do
trigo subiu, mas não por conta da safra. A demanda da população ficou maior do que a oferta
e não há mais terras férteis. A solução seria incluir terras menos férteis no processo produtivo.
Assim, a produção feita na terra menos fértil passou a determinar o preço do trigo. Incluir
terras com grau menor de fertilidade determina o preço do trigo pois o preço da produção
nessas terras passou a ser relevante.
Vamos analisar o contexto inicial do problema. Inicialmente o preço do trigo produzido em
uma terra fértil vale 4. À medida que a produção passa a englobar terras menos férteis, seu
preço passa a custar 8 e a diferença entre esse preço e o preço da terra fértil (que é 4) passa
a constituir a renda da terra. O trigo não custa 8 (caro) porque paga a renda da terra. Ele
paga essa renda da terra porque ele ficou mais caro. Se terras menos férteis ainda forem
incorporadas na produção, a renda da terra aumenta mais ainda pois o preço do trigo vai ser
determinado pela produção das terras piores. Isso então é o custo do trabalho de se produzir
trigo em uma terra inferior. Essa análise resume o argumento de Ricardo. O produtor não fica
com sobre lucro disso pois a diferença é a renda da terra que pagará o aluguel da mesma por
se produzir em um local de qualidade inferior. Esse ponto é essencial para entendermos a
teoria do valor e a teoria da distribuição para Ricardo.
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Ele então explica a origem da renda da terra. Quando as terras tinham o mesmo nível de
fertilidade não existia essa renda e o preço era determinado por oferta e demanda. O
proprietário da terra poderia produzir ou alugar a terra. No segundo momento, a renda da
terra surge devido ao que foi falado anteriormente.
O lucro para Ricardo não afetaria o preço final das mercadorias. Essa discussão é bastante
debatida posteriormente. A questão fundamental é a suposição de que haveria uma
distribuição equivalente entre capital fixo e capital circulante nos mais diversos setores e que
não corresponde necessariamente à realidade gerando um problema na discussão de Ricardo.
Se em um setor A temos 1000 de capital circulante, 1000 de capital fixo e 600 de lucro, o total
é 2600. O setor B tem a mesma coisa. Em uma nova situação, o setor A se mantém
inalterado, mas o setor B tem agora 2000 de capital circulante e 0 de capital fixo, porém,
dando o mesmo total de 2600. Se temos o impacto sobre os salários (capital circulante)
mantendo-se constante o capital fixo, o lucro terá que reduzir para que o preço total seja o
mesmo. A lógica dessa discussão é que, no caso dos lucros, não temos uma relação entre eles
e o preço das mercadorias. Só podemos supor que existe uma distribuição equivalente entre
capital fixo e capital circulante nos mais diversos setores. Os salários têm então um impacto
relevante nessa relação e os valores das mercadorias seriam impactados pelos salários. Temos
aqui uma exceção à teoria do valor-trabalho de Ricardo: o valor é determinado pelo tempo de
trabalho empregado na produção, mas as variações dos salários podem afetar os valores das
mercadorias. Conectado a isso está a lei da equalização das taxas de lucro que gerou debates
sobre o assunto entre os mais diversos autores. Temos uma tendência para uma convergência
das taxas de lucro nos setores devido à concorrência. Para que essa tendência ocorra, é
necessário que não haja restrições à concorrência. Nem sempre o valor da mercadoria será
determinada puramente pela relação valor-trabalho, já que as variações no salário podem
gerar variações na taxa de lucro. Na medida em que pensamos uma situação como essa,
temos um problema para a equalização das taxas de lucro. Resumindo, o valor das
mercadorias é determinado pelas leis da relação valor-trabalho, mas uma mudança das taxas
de lucro pode mudar o valor das mercadorias já que a tendência é que uma margem de lucro
equivalente seja mantida.
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Da mesma forma que Ricardo avança sobre as questões do valor-trabalho, ele também avança
sobre a distribuição da renda para cada uma das classes sociais. A renda fundiária é discutida
nos moldes da renda diferencial e Ricardo discute como ela funciona e qual a sua relação com
o preço e trabalho. A questão dos salários e dos lucros é também discutida. O lucro é uma
questão mais precariamente resolvida em sua obra, pois para que os argumentos dele
funcionem várias condições irrealistas precisam ser admitidas. Com relação aos salários,
encontramos o mesmo problema já que as suposições são complicadas quando analisamos o
longo prazo. Para ele os salários dos trabalhadores estaria relacionado com a subsistência e
não necessariamente isso é verdade.
O que Ricardo está fazendo é transformar explicações válidas para momentos específicos do
capitalismo em explicações para a própria dinâmica do funcionamento da economia. Algumas
das coisas ditas por ele não se confirmaram ao longo da história, mas ele transformou os
aspectos em esquemas analíticos.
Qual a solução para o problema da renda da terra? Como evitar o uso de terras menos férteis
na produção de trigo? O argumento de Ricardo para resolver esse problema não está em usar
terras menos férteis, mas sim parar de ampliar a fronteira agrícola e passar a importar trigo.
Cada país teria vantagens comparativas em relação a outro. Para que isso funcione é
necessário que haja a menor quantidade possível de restrições à importação de trigo, ou seja,
não deveria haver restrições ao comércio internacional. Isso tudo faz parte dos debates
parlamentares que colocam Ricardo em uma linha de frente de argumentação contra as
Common Laws que restringiam importações. Ao restringi-las, a situação interna seria
amplamente prejudicada já que o preço do trigo continuaria subindo devido a incorporação de
terras menos férteis. Liberando a importação do trigo o preço dele pararia de subir e a
dinâmica da economia interna melhoraria. No meio dessa discussão havia um embate entre os
proprietários da terra e os interesses manufatureiros dentro do próprio parlamento. Ricardo se
coloca dentro do debate econômico diante dessas questões. Sua teoria sobre o comércio
internacional foi bem sofisticada e influente. Ele pega questões próprias do debate econômico
da época e as transforma em questões analíticas amplas sobre o funcionamento da economia e
do capitalismo.
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Ricardo usa a teoria populacional de Malthus para fazer suas análises. O crescimento
econômico procede da acumulação e, portanto, depende dos lucros. Essa questão é
fundamental para ele, ou seja, tudo que reduz os lucros corresponde um obstáculo à
acumulação. Na medida que supomos como dado o tamanho do excedente, se a renda da terra
aumenta os lucros serão pressionados. O excedente é o mesmo, sendo dividido entre renda da
terra, lucros e salários. Como os salários são de subsistência, consideraremos apenas a renda
de terra e lucros. Na medida em que os preços dos cereais aumentam devido a incorporação
de terras menos férteis, a renda da terra aumenta e os lucros diminuem. Como o crescimento
depende do lucro isso gera um problema para a economia como um todo. Juntando isso com a
ideia de crescimento da população (aumento do consumo de alimentos), há uma tendência
contínua de pressão para incorporação de terras marginais (terras menos férteis). O resultado
é que, com o aumento da renda da terra e uma pressão sobre os lucros dos proprietários,
estes acabam lucrando menos e outros setores também são afetadas já que o preço dos
produtos agrícolas aumentam ocasionando o aumento dos salários por estes serem de
subsistência além das pessoas precisarem consumir para sobreviver. Aonde esse quadro irá
chegar? A economia entraria em colapso. Se a população crescer, o preço dos alimentos
aumenta, os salários aumentam, os lucros diminuem e o crescimento da economia diminui.
Como contornar esse processo? Ricardo propõe a importação de trigo. Do contrário, as
capacidades de acumulação da economia seriam totalmente limitadas. A ideia das vantagens
comparativas e o comercio internacional evitariam o estado estacionário da economia. Outras
possibilidades também são possíveis como progresso técnico, ou seja, na mesma terra
conseguiríamos produzir mais trigo e não precisaríamos incorporar terras menos férteis. Esse
ponto não está contemplado dentro do modelo de Ricardo. A tecnologia mais do que
compensará a incorporação de terras menos férteis. No argumento de Ricardo ele não percebe
que a tecnologia resolveria o problema, mas percebe que há uma possibilidade de resolução
caso a lei de Malthus fosse válida, ou seja, a população diminuiria e a pressão sobre o
consumo de alimentos cessaria (Malthus dizia que a população cresce em proporção
geométrica e a oferta de alimentos em proporção aritmética). Esse impacto da população só é
sentido no longo prazo, mas não no curto.
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19. AULA 19 – KARL MARX I (15/10/2013)
Marx é considerado um dos principais autores clássicos. Ele trata de uma sequência de temas
semelhantes aos tratados por Adam Smith; porém, faz uma crítica à sociedade burguesa
engendrada pela dinâmica capitalista. A categoria de valor-trabalho está em Marx, Ricardo e
Smith, mas Marx dá um tratamento específico a ela. No que diz respeito à teoria econômica
consideramos Marx um autor clássico. Ele não foi apenas um economista, mas cientista político
e social. Sua análise da sociedade o permite ser classificado dessa forma. Marx foi importante
na constituição de outras ciências sociais como a sociologia. Não existe autor mais estudado e
mal compreendido do que Karl Marx. Vantagens e desvantagens podem ser tiradas disso. As
desvantagens são as séries de percepções diferentes que cada estudioso tem a respeito de sua
obra. Toda a evolução política da URSS, por exemplo, faz contato com o pensamento marxista
de acordo com interpretações distintas da obra de Marx. Nenhum outro autor de HPE é tratado
da mesma forma. Não vemos autores smithianos ou ricardistas, mas vemos que marxistas
existem até hoje, assim como pós-marxistas. Ideias de Marx são utilizadas por diversos
autores para analisar contextos em diferentes épocas. O seu livro intitulado “O Capital” é
objeto de grande estudo até hoje.
Independentemente da qualidade do livro do Marx, do conteúdo analítico e da competência do
autor, ele é e continuará sendo o principal nome de HPE do século XIX escrevendo dentro de
um contexto específico. O desafio de compreensão de sua obra passa por um filtro do
momento específico em que ela foi escrita. Às vezes isso se perde nas análises feitas sobre
como a economia capitalista funciona. Várias pessoas leem a obra de Marx e a interpretam de
formas diferentes.
Marx está dentro da tradição clássica. Qual sua posição? Quais suas contribuições? A sua obra
vai além da obra de outros autores clássicos já que ele não discute apenas aspectos da
teorização econômica que Ricardo e Stuart Mill levantaram. Outras misturas são feitas bem
como outras análises.
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As duas obras que tornaram Marx famoso foram: “O Capital” e “Manifesto Comunista”. O
Primeiro é composto por três livros, mas apenas o primeiro deles foi publicado enquanto Marx
ainda estava vivo e os outros dois não. Foi escrito em 1857 e 1858 e concentrou todos os seus
esforços intelectuais. Tudo que ele deixou escrito foi monumental e isso nos dá dimensão da
sua intelectualidade. Entendê-lo não é simples. Por outro lado, ele é muito importante para o
pensamento econômico e social por provocar debates sobre suas ideias englobando diversas
gerações posteriores nessa discussão.
A obra em si é monumental e foi escrita durante sua vida. Quase toda ela não foi publicada
enquanto Marx estava vivo. Para entendê-lo temos que ler sua obra inteira. Sucessivas
interpretações dela existem ao longo do tempo misturando questões políticas e ideológicas.
Além disso, temos interpretações marcadas pelo progressivo conhecimento da obra.
Manuscritos foram aparecendo após a sua morte os quais iluminaram tudo que foi escrito e por
explicarem quais as motivações que levaram Marx a escrever sobre contextos específicos da
sua época. O marxismo é marcado por esse conhecimento progressista dos livros de Marx e
como ela não está completa em toda a sua junção, o progresso sobre ela não está em
andamento. Estudamos hoje Karl Marx e também o marxismo (diversas interpretações sobre a
obra de Marx ao longo do tempo).
Qualquer pessoa que vai falar de Marx irá falar sobre suas interpretações a respeito do que ele
escreveu. Qual sua trajetória? Marx é alemão, mas escreve boa parte da sua obra na
Inglaterra por viver lá por muitos anos. Por que ele vai para Inglaterra? Isso tem a ver com
sua atividade política. Ele nasce na Alemanha 1818 e morre na Inglaterra em 1883. Por conta
de problemas com a censura no estado da Prússia, Marx se refugia em Paris e lá vive mais
intensamente sua atividade política se envolvendo com as revoluções de 1848. O livro “O
Manifesto Comunista” foi escrito exatamente dentro desse contexto. Após esse momento em
Paris, Marx passa por Bruxelas, Polônia e se estabelece em Londres a partir de 1849. Nesse
período ele desenvolve sua reflexão a respeito da economia política. Ele foi apresentado aos
autores da economia política pelo seu amigo Engels. Marx então faz uma investigação sobre
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Adam Smith e Ricardo e, apesar de ter escrito “O Manifesto Comunista”, Marx ainda não
possuía nenhuma obra específica de economia política. De 1849 até meados da década de 60
se dedicou a reflexões teóricas e diminuiu a sua atividade política com uma disciplina de
trabalho intensa dentro da biblioteca do museu britânico que tinha uma área específica de
obras de economia política. Marx também produzia textos jornalísticos para ganhar a vida e
sempre viveu precariamente necessitando da ajuda de amigos para sobreviver. Ele fez tudo
isso devido a sua ambição de produzir uma obra sobre economia política. Cartas de Marx para
Engels descrevem o objetivo de Marx de escrever obras sobre economia política. Essas obras
seriam de seis livros sobre: capital, propriedade agrária, trabalho assalariado, estado,
comercio internacional e mercado mundial. Esse era o plano da obra de Marx. Obsessivamente
trabalhou sobre o primeiro livro intitulado “O Capital” e dentro desse objetivo ele escreveu só
uma parte (Livro I) reescrevendo-a continuamente. A ideia era chegar na perfeição dos termos
de forma a gerar uma compreensão cada vez mais clara do que estava sendo tratado. Diante
disso, um tipo de linguagem específica é gerada e é fácil hoje percebemos quando alguém está
falando de Marx. O livro II e livro III de “O Capital” foram publicados após a morte de Marx
devido ao esforço de amigos como Engels. O livro II já estava praticamente pronto, mas o livro
III foi uma compilação de manuscritos de Marx feitos por Engels e posteriormente publicados.
Alguns aspectos específicos de Marx podem ser percebidos em qualquer parte da sua obra. Ele
tinha um método que foi utilizado na construção de seus livros. Em cada parte de sua obra é
vislumbrado um título de totalidade em relação aos seus objetivos. Mesmo que essa totalidade
não estivesse clara ou mesmo que ela tivesse mudado ao longo da obra, ela está presente em
todos os livros. De onde vem isso? Isso vem do fato de que Marx, antes de tudo, sempre foi
um filósofo diferente de Adam Smith por possuir outras filiações. Adam Smith era um filósofo
moral inserido no iluminismo escocês. Karl Max é um filósofo pertencente a um outro ramo. Na
confusão dos diversos marxismos existentes há interpretações a respeito dessa característica
de Marx. Caso você não tenha nenhuma ambição de vida estando à toa, um bom objetivo de
vida é analisar tudo o que Marx fez.
O que é o materialismo histórico dialético de Marx? Marx é recheado de conceitos prontos e
complicados. Ele é extremamente didático e às vezes por explicar demais as coisas simples
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estas se tornam complicadas. Em geral elas são realmente complicadas, mais do que
examinamos. O marxismo criou uma série de ideias prontas sobre o Marx já que o objetivo
dele era a criação do comunismo em que as classes trabalhadoras seriam desalienadas
dissolvendo o sistema capitalista e instaurando um novo sistema. O materialismo histórico
dialético é um movimento teórico metodológico feito por Marx, inspirado na dialética
hegeliana. O objetivo é entender como as ideias são produzidas e elas seriam produzidas
dentro de um movimento dialético que inclui a tese, a antítese a síntese, ou seja, uma ideia,
uma ideia contrária a ela e uma terceira ideia que seria uma síntese das duas anteriores. Essa
dialética hegeliana se relaciona com a formação de ideias. Ela é muito utilizada por Marx para
explicar a realidade material. Daí vem o materialismo. Os processos sociais, econômicos e
materiais incorporam o argumento dialético. É pensada uma ideia de evolução da sociedade e
de como ela se desenvolve ao longo do tempo. Adam Smith também fez algo parecido. Marx
entende que existem aspectos diferentes dentro da sociedade com cada estágio da história
gerando tensões que provocariam a evolução da sociedade. Esse movimento de tese, antítese
e síntese é utilizado por Marx para explicar como a sociedade se transforma. Dentro de uma
formação social existem forças, antagonismos a essas forças e a combinação de ambos geraria
um novo movimento que romperia com a formação social atual gerando uma nova. O interesse
disso é o de se pensar como novas reflexões seriam promovidas dentro do século XIX. Não
deveríamos discutir se isso está certo ou errado, mas sim entender a lógica utilizada pelo
autor. O materialismo histórico é uma teoria da história e uma teoria sobre o funcionamento
da história sendo ela determinista. Ela possui vários problemas, mas é bastante avançada para
época. Um mérito inequívoco que faz a explicação de Marx ser bastante sofisticada é a de
colocar a economia no centro da transformação histórica. Ele é bastante atento a isso. Não é
um modelo totalmente abstrato. É um modelo abstrato ligado a aspectos concretos da
sociedade. Perspectivas de fundo existem, mas fatos concretos acompanham tais perspectivas.
Marx dá concretude às coisas dentro de concepções históricas. A partir do materialismo que o
esquema de interpretação é formado para explicar como funciona a transformação social. Esse
esquema para Marx é muito importante em relação as simplificações que ele fez. Mecanismos
são elucidados para entender como funciona a dinâmica de transformação econômica e social.
A questão da crítica é muito importante na obra de Marx. Ela é muito mais do que uma palavra
que ele usa, mas é também um método. “O Capital” é a crítica da economia política. Essa
palavra crítica não é utilizada gratuitamente por Marx. Ela é um procedimento, uma questão
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metodológica específica dele e se relaciona com o método hengeliano. Diz respeito ao
procedimento para analisar a sociedade com base em normas e padrões próprios do objeto
que está sendo analisado, não com base em alguma ideia normativa externa. O procedimento
da crítica tem a ver com o procedimento de tentar evitar contornar os elementos externos e
tentar chegar às normas do objeto analisado. O objeto de crítica de Marx é a economia política
e ele não a crítica em relação a critérios normais ou externos. Ele não cria julgamentos morais.
Ele critica a economia política a partir de dentro e não de fora para dentro. Ele procura mostrar
as contradições existentes e critica tudo a partir do interior. Esse método tem necessariamente
haver com buscar inconsistências e contradições internas ao próprio objeto. Critérios externos
como “bom” ou “ruim” não são utilizados, mas sim critérios internos ao objeto estudado.
Ricardo pensa a questão do valor a partir dos preços. O valor-trabalho tem identidade no
preço. Marx separa as duas coisas e essa separação é fundamental para pensar algumas
questões importantes. Ele diz que o valor de todas as coisas tem a ver com o trabalho. O valor
desse trabalho se relaciona à quantidade de horas aplicadas no trabalho. Há uma distinção
entre trabalho e valor-trabalho. Essas duas coisas podem ser diferentes e ai a mais-valia
aparece. O valor do trabalho pode não corresponder ao valor produzido pelo trabalhador e ai
há uma apropriação desse “mais trabalho” produzido por ele pelo detentor do fator de
produção. É assim que a sociedade capitalista funciona. Ao fazer esse exercício de separar o
preço e o valor do trabalho, percebemos que o preço é um indicativo do funcionamento do
mercado e o valor seria algo derivado da compreensão da quantidade de horas empregadas
para fazer a mercadoria. A exploração é um dado endógeno da sociedade, mesmo quando
aparentemente a economia está em equilíbrio. Essa separação de preço e de valor nos permite
perceber que a exploração é endógena ao sistema capitalista. Esse é um tipo de caminho que
Marx irá percorrer.
20. AULA 20 – KARL MARX II (17/10/2013)
Em um certo sentido Marx tem uma discussão conceitual e teórica bastante específica. Seu
objetivo é fazer uma crítica da economia política e dar sentido a uma espécie de segunda
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linguagem. Durante seu livro Marx procura especifica todos ors termos de seu discurso. Com
os marxismos esses termos geraram uma segunda linguagem.
Marx distingue valor de uso e valor. Valor para ele é uma coisa diferente daquilo que foi
definido por Ricardo e Adam Smith. Marx então cria todo um processo para especificar o que
vem a ser o termo valor. Isso é uma maneira de se construir uma segunda linguagem.
Entender essa nova linguagem é um dos desafios para entendermos sua obra.
Recapitulando, Marx está relacionado com a tradição hegeliana do rei e as críticas não podem
ser entendidas de maneira externa, mas sim internas, ou seja, as críticas são internas ao
objeto de estudo. Para fazer isso é necessário procurarmos por imperfeições e inconsistências
dentro desse objeto já que elementos contraditórios podem ser revelados. A crítica se
relaciona com entender algo que está escondido atrás da aparência do objeto estudado. A ideia
é a de olhar para a realidade e pensá-la criticamente descobrindo o que está implícito.
Fundamentalmente podemos pensar que economia política clássica é uma herdeira direta das
revoluções burguesas do século XVII: Revolução Puritana e Revolução Gloriosa ocorridas na
Inglaterra. Essas transformações políticas são resultado da expansão das ideias liberais. Essa
perspectiva leva otimismo para economia e para o desenvolvimento da sociedade que usaria
de forma adequada os recursos disponíveis. A grande representação disso é a ideia da mão
invisível de Adam Smith. Essa mão é a expressão do otimismo e do progresso dessa época.
Com o desenvolvimento haveria um aumento progressivo da circulação de recursos na
economia de forma livre e sem impecílios. Nesse caso, se tivéssemos áreas mais
desvantajosas do que outras, os capitais migrariam para outras áreas, o que permite ao
sistema se prevenir contra qualquer tipo de excesso de produção. Temos uma situação em que
o sistema estaria blindado de uma possibilidade de crise geral em que ele próprio não
conseguiria suprir as suas necessidades. Com o aumento das liberdades o sistema estaria livre
dessa crise. A economia política clássica a partir do século XVII passa a se estruturar com base
nessa análise.
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A partir do século XIX iniciam-se visões mais pessimistas sobre qual o caminho a economia
deveria seguir. Incompatibilidades passaram a ser observadas como o aumento da população
e um aumento menor da quantidade de alimentos entre outros. Marx então faz uma crítica
dessa economia política em cima do otimismo da mão invisível. Ele a refuta além de querer
mostrar que o sistema, mesmo que aumentássemos as liberdades dos agentes, se
transformaria e admitiria a possibilidade de uma crise geral. Marx então admite que o sistema
pode entrar em colapso.
No início do livro I de “O Capital”, Marx retrata os pressupostos da economia política clássica e
os reestrutura com base na crítica interna ao objeto de estudo. Ele então reapresenta todos os
temas anteriormente discutidos como trabalho e divisão do trabalho. A dificuldade de entender
Marx tem a ver com conseguir entender esse seu objetivo de criticar a economia política. Ele
não está preocupado em falar quem está errado ou quem está certo, mas sim investigar as
categorias anteriormente destrinchadas por outros autores utilizando o método da tese,
síntese e antítese.
A dialética sistemática é bastante utilizada por Marx. O exercício é partir sempre do mais
abstrato para o mais concreto e do mais simples para o mais complexo. Esse exercício é feito
por Marx durante toda sua obra, seja em livros distintos e em seus capítulos. Por exemplo,
Marx faz uma abstração geral da ideia de valor e posteriormente vai dando concretude para a
mesma ideia. Ele sempre foi muito fiel ao seu próprio método por considerar que o ajudaria a
entender os problemas tratados.
Esse metodologia toda, novamente, é uma derivação do método de Hegel, da dialética
hegeliana. Esse método foi melhorado por ele ao ser utilizado.
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A base da crítica de Marx é o capitalismo, pois a crítica é ao mesmo tempo da economia
política, mas também ao capitalismo já que ele é a base econômica na qual a economia política
está inserida. Assim, durante esse processo ele elucida a possibilidade da crise geral do
sistema. Essa possibilidade de crise é o que dá sentido também a sua crítica da economia e
sociedade burguesas.
Marx não disserta apenas sobre valor de uso e valor de troca. Ele discute valor de uso e valor.
Isso parte da metodologia de ir do mais abstrato para o mais concreto, do mais simples para o
mais complexo. A ideia é de que existem certos atributos dos produtos que só se manifestam
dentro da troca. Ele primeiro não pensa na troca, logo, existe apenas o valor de uso. Quando
temos a troca, o produto assume novos atributos. Marx está dizendo que existem coisas que
não são inerentes a mercadoria. Ele está interessado em aprender relações próprias da
sociedade burguesa e dar especificidade a ela, ou seja, antes dela tais relações não existiam e
quando ela surgiu a economia política passou a tratar como universal algo que é específico
apenas da sociedade burguesa e não da natureza humana. O núcleo de sua investigação é o
mesmo do de Adam Smith: divisão do trabalho. A economia política clássica fez parecer que a
divisão do trabalho era universal e uma tendência de toda a sociedade; porém, é algo que
possui razões mais profundas e derivadas da questão da distribuição. Marx diz que antes da
distribuição ser distribuição de produtos, ela é antes uma distribuição dos meios de produção.
Isso é um paradoxo, pois na medida que a produção é organizada e distribuída, esse processo
também seria uma organização da distribuição dos fatores de produção. O próprio avanço da
divisão do trabalho cria essa condição de distribuir os meios de produção. A distribuição da
propriedade dos meios de produção é um pressuposto da produção ao mesmo tempo em que é
o resultado histórico dessa produção. Esse ponto é importante para Marx, pois ele insiste que a
economia política clássica destacou a divisão do trabalho, mas não destacou que, para esse
processo acontecer, características sociais precisam permitir que ele aconteça. Na medida em
que ele acontece as características sociais são aprofundadas. A divisão de trabalho é, ao
mesmo tempo, a divisão da propriedade dos meios de produção. Segmentando o trabalho as
pessoas se especializam e algumas vão deter os meios de produção e outras não. Isso faz
parte do processo de divisão do trabalho. Essa é uma dimensão da crítica feita por Marx já que
ele olha para o mesmo núcleo que Adam Smith estudou e produz ideias que Smith não
produziu.
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Diversos pares de oposição surgem em sua obra. Sua dialética mistura esses pares de
oposição para depois chegar a uma conclusão (tese, síntese e antítese). Por exemplo, valor de
uso e valor de troca são um par de oposição. Ao estuda-la, Marx chega no conceito de valor.
Não existem extremos, algumas coisas incorporam outras. Esse procedimento ajuda a
especificar relações e explicá-las, do contrário, seria difícil percebe-las no capitalismo.
Para Marx, a divisão do trabalho esconde um lado dentro da discussão proposta. Os indivíduos
se autonomizam em função do caráter privado das suas propriedades dos meios de produção.
Isso tem a ver com a lógica do pensamento liberal e revolucionário do século XVII. A
propriedade privada seria um direito natural dos indivíduos. A propriedade no mundo medieval
não incluía a propriedade privada e após o século XVII passou a considerá-la de forma
eminente pois o capitalismo passou a se consolidar. O trabalho do indivíduo só funciona pois
esse indivíduo está ligado a todos os outros. À medida que a divisão do trabalho avança, uma
pessoa se especializa em fazer apenas um tipo de coisa. Ao fazer isso essa pessoa não exerce
outras atividades. Se não existir uma estrutura social que permita as trocas para que o fruto
do trabalho desse indivíduo possa ser trocado por outras coisas, ninguém sobreviveria. O
avanço da divisão do trabalho faz então as pessoas dependerem mais umas das outras. O
avanço da individualidade ocasionada pela divisão do trabalho leva a um aumento da
dependência entre os indivíduos mediante a troca. Essa discussão está dentro do conceito de
valor para Marx. A tendência crescente à especialização faz com que o produto do trabalho
próprio de cada indivíduo seja cada vez menos destinado ao seu próprio consumo e cada vez
mais determinado pelas necessidades dos demais produtores, ou seja, o que é produzido tem
cada vez menos haver com o consumo próprio e cada vez mais haver com as necessidades dos
outros indivíduos.
Se pensarmos apenas em uma comunidade familiar, só haverá valor de uso nela já que a troca
não ocorre. A troca, quando ocorre, pressupõe indivíduos diferentes e com necessidades
diferentes entre si. Grupos estranhos uns aos outros permitem que a troca ocorra. A troca é
definida como um tipo de alienação mútua de coisas entre os homens (pode ser dinheiro ou
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objetos). O que se implica é uma certa independência e estranhamento entre os agentes. Essa
diferença se dá pela existência de agentes privados. Segundo Marx: “É a dependência
recíproca e multilateral dos indivíduos indiferentes uns aos outros que forma o nexo social.
Esse nexo social é expresso no valor de troca, no qual somente, para cada indivíduo, sobre
própria atividade ou produto, se torna uma atividade ou produto para ele. Ou seja, o alfaiate
faz um casaco. Esse casaco só se torna um produto com valor de troca dentro da relação de
estranhamento do alfaiate com outro indivíduo. Ele vai fazer um casaco, mas não para ele,
mas sim para trocá-lo no mercado.
Se por um lado os indivíduos, enquanto proprietários privados, aparecem como independentes
e indiferentes uns aos outros por estarem em uma relação se julgando dessa forma, por outro
lado existe um tipo de dependência recíproca e multilateral que é a base do nexo social que
une tais indivíduos. Apesar da indiferença dos indivíduos expressa pelo valor de troca, eles
estão obrigatoriamente vinculados por dependerem uns dos outros para satisfazerem suas
próprias necessidades. O mesmo movimento que gera independência também gera a
dependência. Não é possível separar essas duas questões. O nível do indivíduo é tanto
independente quanto dependente. Esse é um par de oposição dentro do mesmo ponto. Esse é
o tipo de coisa que temos que perceber para entender Marx. Cada coisa explicada por ele
possui uma visão contrária. Essas tensões geram a possibilidade de crise geral do sistema
capitalista. Dentro da lógica de Adam Smith o sistema capitalista não entraria em crise já que
a estrutura produtiva se rearranjaria para se adaptar às novas necessidades. Marx já discorda
e acredita ser possível o sistema entrar em crise. “O nexo social entre os indivíduos, à primeira
vista indiferentes entre si, se expressa justamente o valor”. A explicação de valor para Marx
engloba uma relação social associada a troca sendo que o valor não é determinado pelo
produto em si. Algo pode ter valor de uso, mas o valor só aparece na troca que ocorre devido
ao nexo social e ao par de oposição de independência e dependência dos indivíduos. O valor de
troca não é um atributo natural dos objetos, mas é algo que se constrói dentro de uma relação
social. Podemos distinguir o processo de produção do produto em geral do produto que se
transforma em valor de troca, ou seja, a mercadoria. Esta só ganha sentido por conta da ideia
de valor. Não faz sentido falar em mercadoria se existe apenas valor de uso. “Uma coisa pode
ser valor de uso sem ser valor. É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é
mediada pelo trabalho. Assim é o ar, a terra virgem, os campos naturais, a madeira bruta, etc.
Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria. Quem por meio de
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seu produto satisfaz sua própria necessidade cria valor de uso, mas não mercadoria. Para
produzir mercadoria ele precisa não apenas produzir valor de uso, mas valor de uso para outra
pessoa, valor de uso social”. A mercadoria é então transferida para outra pessoa e essa
mercadoria terá valor de uso para essa outra pessoa. Nenhuma coisa pode ser valor sem ser
objeto de uso. Mercadoria não é qualquer produto para Marx. É um produto transferido para
outra pessoa por meio da troca. Isso não acontece em qualquer sociedade e em qualquer
tempo. Essa definição de mercadoria que permite Marx a chegar em um dos aspectos mais
originais de sua obra: fetichismo da mercadoria.
O fetichismo da mercadoria leva em conta que as relações sociais podem ser traduzidas em
relações entre coisas. Podemos ter relações sociais de amizade, amor, etc, pensadas como
relações entre coisas. Existe uma impessoalidade na sociedade de mercado que acaba
coordenando também as relações sociais. O fetichismo da mercadoria é um instrumento para
criticar a economia capitalista burguesa. O que une uma pessoa a outra em nossa sociedade
não tem a ver com critérios de solidariedade ou amor, mas sim com critérios de mercado. As
relações sociais são travestidas por esse critério. Elas são apreendidas a partir disso. Esse
raciocínio está contido no conceito de valor que, para Marx, abarca o conceito de fetichismo da
mercadoria. “Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos
do trabalho, as características especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem
apenas no âmbito da troca. Os trabalhos privados só atuam como elos do trabalho social por
meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio delas,
também pelos produtos. A estes últimos, as relações sociais entre seus trabalhos privados
aparecem como aquilo que elas são, isto é, não como relações diretamente sociais entre as
pessoas e seus trabalhos, mas como relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre
coisas”. Reificar as relações sociais é transformar as relações entre pessoas em relação entre
coisas, mercadorias. É essa a ideia do fetichismo. Se a relação entre coisas é uma relação
social, a relação entre pessoas é mediada pelas coisas trocadas. Essa dupla dimensão é
complexa, mas faz parte da crítica que Marx faz à teoria do valor clássica.
Comparando Marx com Ricardo, este último viu apenas uma dimensão do problema sendo o
valor representado pelo preço. Para Marx a coisa é um pouco mais complicada envolvendo
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esforço para se produzir algo e preço. Essas duas coisas são distintas já que há um valor
subjacente ao preço. Por isso existe a possibilidade de exploração, já que uma coisa é um
trabalho e outra coisa é a força de trabalho. Esta última é medida pelo número de horas
trabalhadas. Se alguém trabalha por 6 horas para produzir algo para sua subsistência, o valor
da força de trabalho custa 6 horas. Em uma relação social em que esse alguém não detém os
meios de produção, esse alguém trabalhará por 10 horas. Sendo assim, o trabalho é 10 horas
e o uso da força de trabalho é 6 horas. Há um excedente de 4 horas que será apropriado por
alguém. Existe uma relação de equilíbrio na economia, mas pode existir uma situação de
exploração nesse equilíbrio. Esse trabalho excedente será apropriado pelo detentor dos meios
de produção. Temos então a base para explicar como a exploração acontece e como o lucro
surge. Ricardo não consegue explicar a origem do lucro por não perceber a distinção entre
valor e preço. Marx, ao fazer uma análise mais rigorosa dos elementos econômicos, percebe
essa distinção.
21. AULA 21 – INTRODUÇÃO AOS MARGINALISTAS (22/10/2013)
Três autores foram muito importantes para a revolução marginalista: Menger, Jevons e
Walrás. No trabalho deles existem ideias similares que surgiram de forma autônoma. Cada
autor chega a uma conclusão semelhante do outro; porém, de forma diferente.
Poderíamos começar a tratar do assunto com qualquer autor, mas iniciar por Menger nos
permite fazer conexões com autores anteriores aos marginalistas. A ideia de Marx sobre o
fetichismo da mercadoria está relacionado com o fato dele próprio perceber o processo sobre o
qual as mercadorias são feitas além de realizar uma crítica sobre esse processo por ele criar
uma falsa ideia de mercadoria em outras relações como as sociais. Isso gera o contexto que
Marx utiliza para discutir a mercadorias. Marx faz uma crítica da economia política burguesa a
partir dos elementos constitutivos dela própria. Para chegar no fetichismo da mercadoria Marx
compara a ideia a valor de uso dos objetos com a ideia de valor dando significado a eles.
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Dentro da economia política clássica temos um caminho que vai na direção da percepção de
características intrínsecas aos bens que conferem valor. O que Marx está criticando é que o
valor é necessariamente determinado pela quantidade de trabalho contido na mercadoria, ou
seja, o trabalho origina o valor. Mas a ideia de valor de troca só é possível dentro de uma
relação social que é o mercado. Marx nega atributos de Adam Smith como a ideia de valor de
uso e valor de troca intrínsecos a um determinado bem. Dentro desse contexto é que surge a
discussão entre valor de uso e valor.
O ponto de partida de Menger é justamente discutir a natureza dos bens. Ele não está
discutindo com Marx, mas podemos comparar ambos os autores. Menger foi um autor bem
minucioso que sempre queria aperfeiçoar suas obras para edições posteriores (nesse ponto o
professor desiste de continuar por esse caminho já que as pessoas da turma não leram o
texto).
O pensamento econômico passa a se estruturar dentro dos clássicos e no final do século XIX
ele sofre uma reestruturação muito grande ao ponto dela receber o nome de revolução
marginalista que conseguiu mudar as concepções da economia. Tais concepções novas estão
envolvidas com novas ideias a respeito do problema econômico, ou seja, o que é a economia.
De certa maneira é isso que está em jogo e que devemos perceber quando mencionamos a
revolução marginalista. Essa revolução está demarcando uma nova teoria do valor caminhando
por uma direção diferente das dos clássicos. Estes criaram uma teoria objetiva do valor a
partir da quantidade de trabalho e esforço embutido no processo produtivo. Isso determinava
o valor para os clássicos. A partir do final do século XIX um novo conjunto de autores passa a
criar uma teoria subjetiva do valor que envolve teorias que dão percepções subjetivas ao valor
dos bens. Essa nova teoria do valor utiliza linguagem matemática e a noção analítica da
utilidade
marginal.
Cada
um
dos
três
autores
marginalistas
que
estudaremos
irá
operacionalizar essa utilidade de uma forma diferente. Esse ponto de partida é visto na obra
dos três e são eles que dão corpo a uma teoria subjetiva do valor. A noção analítica da
utilidade marginal é percebida ao longo do século XIX nestes três nomes do marginalismo. A
ideia de se posicionar em relação a teoria clássica com base em uma nova teoria do valor é
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algo que aparece de forma independente e original em Menger, Jevons e Walrás. Nenhum
autor copiou o outro nesse sentido.
As abordagens incluem modelos teóricos diferentes. Podemos incluir um quarto autor como
Marshall diante desse contexto. Este autor faz parte desse movimento de renovação. A teoria
do Menger caminha na direção da teoria da imputação que se relaciona a uma teoria subjetiva
radical em que o valor de todos os bens pode ser derivado de acordo com a sua utilidade de
maneira direta ou indireta. A noção de equilíbrio está em Walrás e Marshall. A discussão sobre
Marshall será feita em separado, as menções serviram para relacioná-lo com os demais
autores. Jevons tem uma linha subjetiva mais radical em relação a percepção do valor. Antes
de especificarmos os autores, temos que perceber os elementos básicos comuns e não comuns
entre eles.
Os elementos básicos são:
1. Definição do problema econômico entre os clássicos e os marginalistas;
2. Noção de valor;
3. Conceito de equilíbrio;
4. Papel dos preços;
5. Teoria da distribuição da renda.
Esses 5 elementos nos permite perceber as diferenças entre os clássicos e os marginalistas.
Estes romperam com concepções dos clássicos sendo que dentro dos clássicos existiram
diferenças substanciais.
Sobre o problema econômico, a concepção dos problemas associados ao funcionamento da
economia para os clássicos foi concebido a partir de uma análise das condições que
garantiriam o funcionamento do sistema econômico. Essa análise está estabelecida com base
na divisão do trabalho, produção, distribuição, acumulação e circulação do produto. A ideia de
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circulação é fundamental dentro da economia política clássica por ligar produtores e
consumidores de forma circular. A percepção dessa forma circular permite que haja uma
densidade analítica de todos esses conceitos e o conceito de divisão do trabalho é
importantíssimo dentro desse universo. A percepção dos clássicos sobre o problema econômico
era o de garantir o funcionamento desse sistema circular. A partir dos marginalistas inicia-se
um contraste sobre o que seria o problema econômico. A percepção do problema econômico
para os marginalistas está relacionado ao uso ótimo de recursos econômicos escassos para
satisfazer as necessidades e desejos dos agentes. O problema econômico é então recolocado
de outra maneira. É a partir daqui que as coisas se definem.
Sobre a noção de valor, os clássicos possuem uma visão objetiva e os marginalistas uma visão
subjetiva. A visão objetiva define que o valor está associado à dificuldade de se produzir algo,
portanto, relacionado ao trabalho. A visão subjetiva marginalista está relacionada com uma
variação da utilidade dos bens e mercadorias por parte dos consumidores. O que confere valor
aos bens é essa variação subjetiva dos consumidores com base na utilidade que aquele
determinado bem teria para aquele determinado consumidor. O tema central da economia
desde sempre é a questão do valor. Esse encaminhamento que autores diferentes foram dando
ao problema vai constituindo núcleos teóricos fundamentais dentro dos clássicos e dos
marginalistas.
Sobre o conceito de equilíbrio, ele passa a ter importância central dentro do enfoque
marginalista por corresponder a condição de utilização ótima dos recursos escassos. Se
definimos o problema econômico marginalista como sendo um problema de alocação de
recursos, a noção de equilíbrio passa a ser um elemento central para o funcionamento do
sistema, ou seja, a alocação ótima de recursos leva em conta preços e quantidades. Já no
enfoque clássico a noção de equilíbrio não é fundamental para explicar o funcionamento da
economia já que os preços relativos são explicados como falhas de mercado e não como um
dado de utilidades diferentes. Logo, temos uma explicação separada de preços relativos e
incentivos à produção.
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Sobre o papel dos preços, na teoria clássica (especialmente para Davi Ricardo) eles indicam a
dificuldade relativa de se produzir. Ricardo toma o valor pelo preço supondo que ele é um
indicador da dificuldade de se produzir um determinado bem. Para ele é isso que os preços
significam. Para os marginalistas os preços são indicadores de escassez de acordo com as
preferências do consumidor. Se algo tem ampla dele além de possuir uma determinada
escassez, o preço indicaria a importância desse bem. Ricardo diz que o preço está relacionado
com a dificuldade de produção e isso gera problemas em sua teoria. Marx critica essa visão de
Ricardo e diz que haveriam coisas que a economia política clássica não conseguiria explicar.
Para a abordagem marginalista, supondo que os preços são indicadores da escassez relativa
em relação às preferências dos consumidores, não há esse problema.
Sobre a teoria da distribuição da renda, os clássicos definem o problema da teoria da
distribuição de maneira autônoma e social. O papel de diferentes classes sociais e seus
respectivos poderes tomam parte da discussão para Ricardo. Para ele, os trabalhadores
estavam condenados ao salário de subsistência já que as outras classes sociais possuíam mais
poder do que os trabalhadores. Já os marginalistas tratam o problema da distribuição de renda
em relação aos preços no sentido de que os preços dos fatores de produção devem ser
considerados. Para se pensar porque o trabalhador ganha mais ou menos, o preço dos fatores
de produção deve ser levado em consideração. Eles são um indicativo da utilidade que um
determinado bem tem para o consumidor.
Todos esses pontos foram combinados de maneira diferente nas abordagens marginalistas. A
abordagem francesa é fundamentada na ideia de equilíbrio geral. Walrás ficou famoso por
conta disso. Essa percepção, que foi seguida por outros autores, tem como pressuposto uma
dotação de recursos (terra, capital e trabalho) dada e combinada com a preferência dos
agentes econômicos. É assim que definimos a ideia de equilíbrio geral que seria estático e
tomado como dado diante de uma certa quantidade de fatores. Essa visão tem a característica
de progresso e transformação econômicos. A escola austríaca de Menger se diferencia das
demais escolas.
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A visão radical de Menger sobre o aspecto subjetivo do valor faz com que o valor de cada bem
ou serviço seja deduzido a partir da utilidade final que terão para o consumidor final. O ferro
gusa ou a chapa laminada fria ou o minério de ferro teriam valor com base na utilidade final do
automóvel, do fogão, ou qualquer coisa que seja produzida com esses materiais.
Menger em seu texto começa a definir a ideia de necessidade humana para depois derivar a
discussão sobre os bens. O nexo causal dito por ele se relaciona com a satisfação de
necessidades. Quando estas são satisfeitas, temos a utilidade. Menger não fala de mercado ou
compra e venda ou troca ou lucro. Ele explica o surgimento do valor das coisas em função da
utilidade. Algo se torna um bem de acordo com a possibilidade de dispor ou da possibilidade
de ser utilizada para suprir necessidades. Essa concepção é bem diferente da concepção
clássica de valor. Para Menger, algo se torna um bem se quatro pressupostos são satisfeitos:
1. Existência de uma necessidade humana.
2. A coisa precisa possuir qualidades tais que a tornem apta a ser colocada em nexo
causal com a satisfação da referida necessidade.
3. O reconhecimento, por parte do homem, desse nexo causal entre a referida coisa e a
satisfação da respectiva necessidade.
4. O homem poder dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetivamente para
satisfazer à referida necessidade.
Menger então não fala do mercado. Mas se esses quatro pressupostos forem satisfeitos, temos
um bem. Essa é a definição de bem para Menger. Os pressupostos precisam ser atendidos
simultaneamente. Ao final Menger entra em discussão sobre o fetichismo da mercadoria. Bens
não seriam apenas coisas, poderiam possuir outros atributos além disso.
O fetichismo da mercadoria discutido diante da teoria do valor de Marx se relaciona com a
teoria do valor discutida por Menger. Para este último, amor ou amizade podem ser
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considerados bens, ou seja, relações sociais podem ser tratadas como bens. O abstrato pode
ser tratado como bem. Marx faz uma crítica que tem a ver com perceber como as coisas se
manifestam na realidade dizendo que essa manifestação não corresponde ao que de fato elas
são. A economia política clássica é então criticada por Marx considerando que a teoria explica
mal o que acontece na realidade por cair em autoenganos como o do fetichismo da
mercadoria. Tendemos a ver a relação social travestida pela relação de mercado e isso não
permite valoração. Menger já diz outra coisa partindo de outra concepção de valor. Para ele, as
relações sociais podem ser tratadas como bens por possuírem utilidade e possuindo utilidade
os quatro pressupostos são satisfeitos e podemos calcular o valor que o amor teria para
alguém. O enfoque marginalista ultrapassa o valor de uso e o valor de troca e os conecta de
alguma forma. Os incrementos marginais são a base para explicar a utilidade de algo. O valor
de troca está relacionado à ultima unidade adicional consumida do valor de uso de um
determinado bem. A utilidade é então calculada pelo incremento da última unidade adicional
de um bem. Se há utilidade e se podemos calculá-la, logo, o valor dos bens podem ser
calculados, mesmo que tais bens sejam abstratos. Em certo sentido Menger está enganado
pelo fetichismo da mercadoria e tempo e lugar não interferem em seu argumento.
22. AULA 22 – MENGER (24/10/2013)
Os 5 aspectos que distinguem o marginalismo da teoria clássica são importantes para separar
dois momentos da história do pensamento econômico. Menger é o autor mais diferente em
relação ao Jevons e Walrás. Ele é um autor que usa um método de compreensão do problema
da utilidade um pouco distinto. Jevons e Walrás utilizam formas diferentes de tratar o
problema econômico.
Um tema de todo o movimento do pensamento econômico e social na Alemanha no século XIX
se relaciona com a escola histórica. O movimento da escola histórica é um movimento do
pensamento econômico da Alemanha do século XIX e seus membros se estenderam por
gerações posteriores. O sentido da evolução do pensamento econômico dessa escola tem a ver
com como o pensamento clássico entra na Alemanha.
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O pensamento clássico que foi entrando na Alemanha possuía muito mais influência de autores
franceses posteriores aos fisiocratas. Ricardo tem uma penetração neste país. O movimento da
escola histórica tentou entender que a economia política clássica era inadequada para entender
a problemática econômica alemã. O ponto de partida reconhece que o tipo de formulação dada
não se adequava ao país alemão. O movimento da escola histórica então questiona a validade
de leis gerais da economia e questiona que só é possível teorizar a economia com base numa
reflexão histórica. Esses questionamentos são feitos de maneira radical dentro de alguns
autores dessa escola. Alguns eram Roscher e Schmoller. Esse movimento avança em um
sentido radical combinado com uma percepção cada vez mais aguçada do momento alemão. A
Alemanha possui um dos casos clássicos de industrialização retardatária começando-a
tardiamente em relação a Inglaterra. Isso vai fazer com que a Alemanha pule a chamada
primeira fase da revolução industrial e comece a se industrializar direto na segunda fase, ou
seja, em vez de se industrializar com bens de consumo para mais tarde se especializar em
bens de capital, ela já entra direto na industrialização que prioriza os bens de capital com base
numa atuação muito decisiva do estado já que existia um processo de centralização que
permitia esses acontecimentos. A reflexão da escola histórica passa por esse processo de
industrialização tardia da Alemanha já que a economia política clássica tratava do tema do
ponto de vista da Inglaterra sendo este um ponto de vista distinto do que ocorreu na
Alemanha. A percepção do estado passa ganhar importância para alguns autores da escola.
Num certo sentido, Adam Smith ou Stuart Mill não são tão diferentes dos autores da primeira
geração da escola histórica. Essa geração utiliza reflexões históricas para chegar em visões
teóricas; porém, as reflexões utilizadas são diferentes daquelas que Adam Smith e Stuart Mill
utilizaram já que o contexto era outro por se tratar de um país diferente que era a Alemanha.
A escola histórica alemã era um pouco contra a leis que seriam válidas para todas as
sociedades. O caminho desses autores era de que as proposições econômicas só poderiam ser
baseadas em observações empíricas detalhadas para que teorias fossem formuladas. Para se
fazer isso estudos históricos deveriam ser feitos de forma detalhada. Teorias gerais que não
levam em conta estudos específicos e detalhados não eram consideradas para os autores
dessa escola. Por esse motivo eram considerados radicais.
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Menger entra nesse contexto como alguém que fornece perspectivas diferentes. Ele produz
teoria econômica em um ambiente muito dominado pela escola histórica. O ambiente
acadêmico da economia na Alemanha e em países germânicos no final do século XIX era
dominado pela escola histórica. Menger começa a escrever e publica seu livro em 1871 diante
desse contexto. O que é interessante é que seu livro dialoga com a tradição do pensamento
econômico alemão e da escola histórica. O tipo de diálogo é importante para entender sua
obra.
O livro publicado por Menger não tem nada de histórico. Como ele foi bem aceito dentro da
escola histórica? Um personagem intermediário dentro da escola nos permite entender porque
o livro de Menger foi bem aceito. Esse autor seria Hal que publica seu livro pouco antes do
livro de Menger. Essa é uma explicação da relação entre Menger e a escola histórica.
Jevons e Walrás miram o padrão da física contemporânea para fazer economia. Para faze-la
mais científica, a economia deveria se aproximar mais da física e de raciocínios matemáticos.
Menger segue um caminho diferente e seu livro não leva em conta a matemática. Ele estava
interessado em usar aspectos filosóficos aristotélicos para entender a essência das coisas como
os bens. Qual a essência dos bens. Todo seu exercício caminha nesse aspecto. Mesmo com
métodos diferentes, Menger chega a mesma ideia comum de Jevons e Walrás: para se pensar
o valor de determinada coisa, devemos pensar na margem, ou seja, qual a utilidade
decrescente para alguém quando uma unidade adicional de um bem é fornecida. O valor é
determinado sempre na margem sendo ele relacionado ao valor que é dado às unidades
adicionais de um bem. A finalidade da atividade econômica é a satisfação das necessidades
humanas e isso permite uma consideração sobre o que leva uma determinada coisa se tornar
um bem (os quatros pressupostos anteriormente descritos). Para algo se tornar um bem não é
suficiente que ela fosse capaz de suprir necessidades humanas. É também necessário que as
pessoas saibam utilizar esse bem para determinado fim.
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O valor de uma determinada mercadoria corresponde as necessidades que não seriam
atendidas se aquele bem não estivesse disponível. Em vez de falarmos que o valor se relaciona
com o que aquilo atende, temos aqui o contrário. É a mesma lógica do valor ser atribuído por
unidades marginais do mesmo bem. O não atendimento das necessidades se relaciona com o
valor. Esse concepção é importante para entender os exemplos que Menger utiliza no seu livro.
Jevons e Walrás utilizam outros conceitos para chegar no mesmo ponto que Menger chega.
A imputação é bastante utilizada por Menger. Ele constrói uma lógica para dizer que bens de
ordem superior atendem indiretamente a uma determinada necessidade e pensar no valor
desses bens requer que pensemos em uma parcela de valor dada por sua utilidade final. Se o
bem de ordem superior não estiver disponível uma certa quantidade de bens de ordem inferior
não seriam produzidos. O caminho da não existência é que permite a valoração de um
determinado bem. O trigo seria um bem de ordem superior e o pão um bem de ordem inferior.
Para pensarmos na utilidade de 1kg de trigo devemos pensar quantos pães deixariam de ser
produzidos se aquele 1kg de trigo não estivesse disponível.
O conceito de valor para Menger não envolve troca ou preço, mas depende sim da necessidade
e da utilidade dos bens. O preço entra nessa jogada somente para a troca. Ele seria
determinado pelos valores e os valores são ideias anteriores a ele. O preço representa
diretamente algo, mas o valor se estabelece de maneira anterior e independente das trocas.
Algo tem valor por conta de sua utilidade.
Jevons, Walrás e Menger supõem que os preços dependem da utilidade marginal e rejeitam a
teoria do valor-trabalho de Ricardo e Marx. Porém Menger faz uma análise bastante
formalizada com definições que se encaixam em contextos específicos. Isso traz vantagens e
desvantagens. Enquanto Jevons e Walrás pressupõem a ideia de equilíbrio de mercado, para
Menger em nenhuma hora a ideia de equilíbrio é suposta. Essa diferença é importante. A ideia
de que o mercado estivesse em equilíbrio com os indivíduos maximizando sua utilidade só faz
parte dos trabalhos de Jevons e Walrás. Menger não trata disso e a consequência importante é
de que para ele os indivíduos teriam conhecimento bastante limitado das possibilidades
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disponíveis. Outra figura se aproveita das oportunidades disponíveis é o empresário. É ele que
surge como o tipo de pessoa que obtém vantagem das oportunidades de lucro conferidas pelo
conhecimento limitado das pessoas sobre as possibilidades disponíveis. A ideia de maximização
da utilidade que leva ao equilíbrio de mercado não está presente em Menger e isso leva uma
percepção da figura do empresário que tem importância grande dentro da escola austríaca. Os
empresários podem criar necessidades que previamente não existiam com base em novas
maneiras de se utilizar os bens existentes.
Menger dá uma importância grande para a propriedade privada. Diferente de Jevons e Walrás
ele dá ênfase para como que certas instituições emergem dos bens. Dado o conceito de bem
para Menger, ele permite o surgimento de certas instituições como a propriedade privada. De
uma certa maneira Menger inverte as coisas e explica tudo de uma maneira a-histórica. Marx
dizia que a propriedade privada surgia dentro de um contexto histórico do capitalismo. Para
Menger a propriedade privada é uma solução prática possível para o problema imposto a todos
devido a disparidade entre os bens e serviços e suas quantidades disponíveis para a sociedade,
ou seja, a escassez. Resumindo e generalizando, Menger diz que a ordem legal tem sua
origem na economia. A propriedade privada é o fundamento principal do ordenamento legal
em nosso mundo e a origem disso é econômica.
Menger dedica seu livro ao Roscher que é o fundador da escola histórica alemã. O livro é
baseado em ideias de Hal e por isso é bem aceito dentro desta escola histórica.
Dois conceitos importantes emergem da obra do Menger e influenciam as ciências sociais. O
individualismo metodológico é um desses conceitos segundo o qual os conceitos e reflexões
precisam partir primeiramente do indivíduo. Para construir uma teoria devemos utilizar o
individualismo metodológico, do contrário, estaremos fazendo história em vez de teoria. O
outro conceito importante é o da ordem espontânea subjacente aos fenômenos sociais. Essa
ordem independeria do homem e seria algo da natureza. O individualismo metodológico é
muito influente na teoria de Menger.
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23. AULA 23 – JEVONS (29/10/2013)
Apenas a partir do século XIX é que temos uma mudança no arcabouço do pensamento
econômico devido aos autores estudados.
Em relação a Menger que usa mais ideias e filosofia, Jevons utiliza mais a linguagem
matemática com o cálculo diferencial. Apesar disso, não é apenas a matemática que será
utilizada por Jevons, mas também ideias que serão comprovadas pela matemática ao longo do
seu trabalho.
Jevons vai gastar um bom tempo discutindo as ideias de Menger sobre prazer e dor. Esse
cálculo é o que interessa pra Jevons e não é apenas um cálculo matemático, mas tem uma
visão por trás especifica do utilitarismo.
Existe uma série de ideias do século XIX e de autores diferentes que vão em direção a reflexão
da utilidade e da utilidade marginal. O nome principal normalmente citado é do autor alemão
Gossen que formulou alguns princípios em um livro famoso chamado “Desenvolvimento das
leis das relações humanas”. Ele lança as bases para a discussão da utilidade marginal. O seu
livro não encontra espaço na época em que foi lançado (1854), mas em vários anos depois
suas ideias continuam influenciando a economia inclusive o marginalismo. Não basta então
termos ideias, é necessário que haja um ambiente para que elas se desenvolvam e ganhem
espaço. Naquele momento as ideias de Gossen surgiram em um ambiente dominado pela
economia clássica. As leis de Gossen são as definições fundamentas de utilidade marginal e
substituição marginal. A primeira lei é: “a medida que o indivíduo adquire unidades adicionais
de um bem, o consumo sucessivo dessas unidades proporcionam uma diminuição de satisfação
até a saciedade”. Essa passagem é a definição básica da utilidade marginal decrescente.
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Gossen esquematiza toda essa argumentação, mas em 1854 nada disso ganha uma forma
analítica específica na teoria econômica dominante. A segunda lei dita por ele é: “qualquer
pessoa distribuirá seu rendimento monetário disponível entre os vários bens de consumo de tal
forma que a última unidade monetária gasta em cada mercadoria proporcione igual grau de
satisfação”. Essa ideia é a de maximização da utilidade sujeita a uma restrição orçamentária. A
segunda lei permite que possamos pensar em um modelo para que haja maximização total da
utilidade do indivíduo. Gossen define essa condição através da sua segunda lei. Esta também
permite que pensemos na substituição marginal. A última unidade monetária gasta em cada
mercadoria diferente proporcionaria igual grau satisfação é a condição para que algo seja
substituído para que a utilidade seja maximizada. Jevons e Walrás reconhecem Gossen como o
precursor dessas ideias, mas Menger não.
Ao longo do século XIX várias ideias contribuíram para o novo edifício teórico do pensamento
econômico. Gossen não foi o primeiro nem o último a produzir tais ideias. Princípios
matemáticos foram sendo incorporados a elas. A ideia da utilidade marginal surgiu e foi
embasada pelo cálculo matemático proveniente do século XVIII.
Fontuni (não sei se o nome está certo) formula teorias a respeito das relações sociais. Para
formular teorias específicas sobre a produtividade dos fatores dentro do contexto social ele
discute a ideia de incrementos marginais, ou seja, produtividade marginal dos fatores que
organizariam espacialmente o ambiente. Ele não pensa a questão da utilidade marginal, mas
utiliza os conceitos de incrementos marginais e isso é uma das bases que contribuem para as
inovações do pensamento econômico.
Jevons é um personagem curioso. Sua trajetória pessoal é interessante e nos ajuda a entendêlo. Sua morte é precoce de tal forma que se tivesse vivido mais ocuparia um papel mais
importante dentro dos marginalistas. Quem ocupa um papel importante em seu lugar acaba
sendo Marshall. Em termos das ideias que Jevons vai produzir é demarcado um ponto de
ruptura com a economia clássica. Ele faz isso por duas fontes: por um lado através da sua
ambição de matematizar a ciência econômica e dar lógica fundamental para a construção do
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pensamento econômico. Outro lado é a sua ambição com a psicologia humana. Essa visão dele
sobre psicologia é um dos fatos que distinguem o seu pensamento. Menger faz discussão sobre
a psicologia humana? Não. Mas Jevons o faz. Menger não constrói seu argumento baseando-se
em uma visão da psicologia humana. Existem suposições em sua fala, mas ele não teoriza
sobre prazer, dor, sofrimento. Ele não precisa disso para discutir a utilidade. Já Jevons coloca
isso como elemento central da sua discussão.
Jevons nasce em 1835 em Liverpool e tem uma história familiar bem complicada. Ficou órfão
de mãe muito cedo aos 10 anos e órfão de pai aos 20 anos. Sua irmã é internada por loucura e
seu irmão muda-se para a Nova Zelândia. Sua trajetória é solitária e não explica nada, mas
ajuda a entendê-lo melhor. Inicia seus estudos na University College de Londres que na época
era a principal escola de economia. Jevons não conclui o seu curso, mas estuda ciências
naturais, química e matemática até largar a faculdade e ir para a Austrália para trabalhar na
casa da moeda. Esse período em que ele trabalha por lá vai permitir que ele faça estudos em
diversos campos como botânica e meteorologia. Nesse período é que ele, curiosamente, decide
dedicar sua vida para fazer o estudo do homem. Ele abandona a casa da moeda e volta para
Londres em 1862 para concluir seus estudos na University College entrando para a carreira
acadêmica em Manchester. Como professor, tutor e generalista, evoluiu para professor titular
dentro da universidade. A respeito do estudo do homem Jevons publica textos sobre queda do
valor do ouro e publica um livro sobre lógica que o torna famoso diante de sua carreira
acadêmica em Manchester e por isso vira professor titular. Nesse mesmo momento em que
publica seu trabalho de lógica ele continua estudos dentro do plano econômico. Uma série de
textos é escrita por ele com a tentativa de juntar matemática e estatística para ajudar a
entender aspectos humanos. Jevons faz uma teoria sobre ciclos econômicos relacionados com
ciclo de colheitas e manchas solares. Tais manchas determinam períodos em que maior
luminosidade no planeta gerando melhor colheita e ciclos econômicos específicos. É um
argumento sofisticado que junta matemática, estatística, ciência e biologia. O que interessa
são seus livros publicados na década de 70 do século XIX. O seu livro intitulado “Teoria da
economia política” vai ser o seu tratado principal sobre economia política e teoria econômica e
com ele Jevons faz a sua transição saindo de Manchester e voltando para University College de
Londres em 1872. Em 1880 se aposenta precocemente com objetivos de se dedicar
exclusivamente às suas pesquisas. Abandona então a carreira acadêmica, mas morre afogado
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logo depois da aposentadoria, em 1882, em suas férias na praia. Sua carreira é bruscamente
interrompida.
Em termos gerais, o que é fundamental sobre o Jevons é que ele demarca uma ruptura da
percepção da ciência econômica que passa a ser percebida de forma condicionada a aspectos
filosóficos como a ética. História e política não são questões relevantes para compreensão da
economia já que ela pode ser tratada como ciência assim como a física e matemática. É isso
que Jevons defende e há uma importância muito grande nesse argumento. Isso não significa
que Jevons não leva em conta outros aspectos. Ele está interessado em entender qual é a
natureza psicológica do homem, mas está interessado em entender isso de maneira
quantificada e lógica. Nesse sentido ele leva várias ideias sobre a natureza humana de autores
diferentes, mas caminha em uma direção parecida com a de William Petty em que qualquer
coisa poderia ser expressa em números através da linguagem matemática.
Jevons tem premissas filosóficas em sua obra. Menger tem apenas uma questão filosófica que
se aproxima da filosofia aristotélica estando ele interessado na essência das coisas. Quando
Menger trata das coisas ele tende tratar sobre a essência delas, ou seja, a essência dos bens.
O método de Jevons é o lógico e matemático, não tendo ele um método filosófico, mas isso
não impede que ele trate de questões filosóficas em sua obra. A questão filosófica importante
para Jevons é a filosofia que está envolta no utilitarismo. O exercício analítico que Menger faz
não é matemático, diferentemente de Jevons. O primeiro está preocupado com a essência do
fenômeno e não com a materialidade do bem ou de como ele foi produzido. Ambos caminham
pelo lado subjetivo, mas com as diferenças anteriormente explicitadas.
Uma série de elementos utilizados por Menger são também utilizados por Jevons. A ideia de se
pensar a intensidade e duração das circunstâncias e dos fatores determinantes para o prazer e
o sofrimento é um desses elementos. Os indivíduos fariam esse cálculo levando em conta suas
circunstâncias. Para Jeremy Bentham esse cálculo é social. Para o Jevons esse cálculo é feito
pelo indivíduo e o autor mostra isso através da linguagem matemática explicando o seu
pensamento diante dessas questões. Nas palavras dele, “O prazer e a dor são sem dúvida os
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objetos mais interessantes do cálculo em economia. Satisfazendo ao máximo as nossas
necessidades com o mínimo de esforço, alcançar a maior quantidade que se é desejável, em
outras palavras, maximizar o prazer é o problema da ciência econômica”. Essa é a definição de
ciência econômica para Jevons. O problema da ciência econômica é então recolocado por ele e
vemos diferenças grandes em relação a autores clássicos anteriores como Adam Smith.
Jevons não fala de bem, mas sim de mercadoria. Ele pressupõe a troca desde o início.
Mercadoria para ele é qualquer objeto, substância, ação ou serviço que proporciona prazer e
evita sofrimento. Dado o conceito dele sobre o que é economia, o seu conceito de mercadoria
vai na mesma direção. Essas definições são funcionais levando em conta o seu raciocínio.
Como ele define utilidade? Utilidade para ele é a qualidade abstrata de um objeto que faz dele
uma mercadoria. A mercadoria então é o que dá prazer e evita sofrimento. Utilidade é essa
qualidade abstrata de um objeto que faz dele uma mercadoria. Então a utilidade não é uma
característica intrínseca e inerente aos objetos. A utilidade não está no objeto, pois ela tem a
ver com o cálculo que o indivíduo vai fazer. O problema da natureza do valor é então
recolocado e inicia-se um outro edifício teórico em uma outra direção. Como uma coisa está
conectada com outra, todas as teorias subsequentes de alteram. A utilidade nasce de uma
circunstância específica que é o indivíduo desejar determinado objeto com base em um cálculo
feito por ele de maximização do prazer e diminuição do sofrimento. O valor é dado pela
unidade adicional de um bem, sendo dado dentro de um cálculo específico que permite
substituir marginalmente a utilidade de cada uma das coisas, ou seja, se temos uma
determinada quantia de dinheiro, vamos ao mercado para comprar coisas de acordo com o
nosso cálculo de utilidade. Partimos do pressuposto de que os indivíduos querem maximizar a
sua utilidade e todos fazem isso ao mesmo tempo no mercado. O ponto de partida é então
subjetivo, porém, calculado. O caminho que Jevons segue é de que a utilidade é uma função
dos objetivos e isso o permite pensar que a utilidade dos mesmos está relacionada com as
quantidades adicionais deles. As utilidades também seriam decrescentes nesse contexto. “O
grau marginal de utilidade de uma mercadoria varia com a quantidade consumida dessa
mercadoria e em última análise decresce à medida que a quantidade dessa mercadoria
aumenta”. Jevons chegará à substituição marginal tratada também por Gossen (seus dois
princípios são da utilidade marginal e da substituição marginal). Para falar da substituição
marginal, bens diferentes são misturados.
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A troca de mercadorias é a forma central para se maximizar a utilidade. Daí é necessário que
tenhamos uma definição de mercado. “Mercado é: duas ou mais pessoas que transacionam
duas ou mais mercadorias em que as quantidades trocadas e as dimensões são conhecidas”.
Dois pressupostos fundamentais estão inseridas nessa fala de Jevons: livre concorrência e
informação perfeita. Mercado para Jevons é então a livre concorrência e a informação perfeita.
Caso um desses princípios não ocorra, sua teoria passa a não fazer sentido. “No mesmo
mercado aberto e livre, a qualquer momento não pode existir dois preços para o mesmo tipo
de mercadoria”. Se o mercado é livre e se existe a informação perfeita, é impossível haver dois
preços em um mesmo momento para o mesmo tipo de mercadoria já que a lógica é a de que
as pessoas, atuando no mercado, farão com que os preços sejam os mesmos. “A relação de
troca entre duas quaisquer mercadorias é inversamente proporcional a relação entre as
utilidades marginais e as quantidades de produtos disponíveis para o consumo depois que a
troca seja efetuada”. Quanto maior a utilidade que um bem tem para nós, menor é a
quantidade que estamos dispostos a abrir mão dele na troca. Quando Jevons entra na teoria
da troca ele está analisando o funcionamento da economia. Ele discute tudo em termos de
utilidade e do cálculo que o indivíduo faz para maximizar a utilidade. Ao falar de mercado ele
fala do cálculo que todos os indivíduos fazem para maximizar a sua utilidade. Jevons insiste
em uma teoria do valor que nega a teoria do valor-trabalho; porém, ele não deixa de entender
que, apesar do trabalho não ser a causa do valor, a avaliação do grau de utilidade de um bem
depende de alguma forma do tanto de trabalho gasto para fazê-lo ou obtê-lo. O custo de
produção é que determina a oferta. A oferta de determinadas coisas determina o grau de
utilidade já que coisas mais raras têm utilidades diferentes de coisas mais abundantes. E o
grau final de utilidade dos objetos é o que determina o valor dos mesmos.
A questão de equilíbrio será importante para diferenciar Walrás e Jevons.
24. AULA 24 – WALRÁS (31/10/2013)
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Qual seria o problema da ciência econômica para Walrás? Existem várias respostas possíveis.
De alguma maneira ele está preocupado em discutir se a economia é uma ciência moral ou
uma ciência natural. Na seção II de seu texto Walrás cuida mais da parte analítica e na seção I
dimensões mais amplas são utilizadas para que haja uma colocação de ideias.
De fato Walrás e Jevons estão mais próximos um do outro do que do Menger. Apesar disso,
Walrás também está para o lado do Menger. Jevons estaria em um extremo e Menger em
outro. Walrás se colocaria no meio dos dois.
Por mais que a utilidade esteja pressuposta em seu livro, apenas em capítulos posteriores é
que podemos observar uma discussão efetiva sobre o tema.
Walrás está entre Jevons e Menger e próximo de ambos pois ele, assim como Jevons, se
baseia pesadamente na matemática tornando-a a base para sua discussão. Além disso, assim
como também Jevons o fez, Walrás se baseia no hedonismo. Jevons diz de prazer e
sofrimento. Walrás não utiliza os mesmos termos, mas se baseia neles em sua obra. Em
relação a Menger, Walrás consegue evitar os erros que Jevons fez no sentido de traduzir muito
diretamente valores subjetivos de um bem em um mercado competitivo. O preço não é um
indicativo tão direto dos valores subjetivos de um bem para Walrás. Para Jevons o preço tem
uma conexão direta com valores subjetivos. Walrás tem mais cuidado com relação aos preços
assim como Menger o fez. Walrás trata de numerário em seu texto, ou seja, uma unidade de
conta e não trata de uma mercadoria específica. O dinheiro seria uma mercadoria, seja ele de
papel ou ouro. A formação de preços se dá entre uma mercadoria e outra. Não existe uma
mercadoria neutra já que poderia haver demanda sobre o dinheiro. Walrás reconhece isso e
usa o expediente para contornar o problema. O problema do preço é, ao mesmo tempo,
refletir sobre o problema do dinheiro na economia.
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A doutrina da utilidade marginal para Walrás vai se ramificar em duas parte. Em 1874 ele
publica textos sobre a troca e em 1877 textos sobre a produção. Compreender a sua trajetória
é complexo, pois é necessário fazer um estudo da tradição francesa. Ele utiliza as ideias de
outros autores como Jean Baptiste Say. A ideia de equilíbrio é muito importante para Walrás e
para a escola francesa. Outra ideia importante é a da utilidade como fundamento do valor que
está na obra de Walrás. Além disso, na obra desse autor temos a importância da figura do
empresário que vem das discussões feitas pelas teorias francesas. O empresário não está tão
presente em Jevons e Menger apesar desse último fazer algumas colocações a respeito. Para
falarmos de Walrás temos que pensar também na tradição francesa.
O pai de Walrás também foi um economista político teórico que cunhou termos que são
importantes para o próprio Walrás. Seu pai introduziu ideias como a da raridade de bens que
acabavam por determinar o seu valor. Isso é definido da seguinte maneira: a derivada da
utilidade efetiva em relação a quantidade possuída que, em outras palavras, é a utilidade
marginal. Isso vem da ideia de raridade.
As ideias de Walrás estão sendo colocadas em perspectiva com a economia clássica tomando
como base a tradição francesa. O problema geral está em discutir a economia natural e a
economia moral e chegar em conclusões a respeito disso.
O problema do equilíbrio é um problema central para Walrás. Ele vai chegar nisso e discutirá
esse ponto a partir do momento que identifica um mercado de concorrência em que o preço
seja tal que iguale oferta e demanda. Quando isso acontece temos o equilíbrio. Quando o
preço iguala oferta e demanda temos uma função da concorrência. A metáfora do leiloeiro
walrasiano é interessante para compreendermos Walrás. O leiloeiro de Walrás existiria para
organizar a informação. A informação é o ponto central da metáfora do leiloeiro walrasiano.
Walrás supõe uma figura metafórica que estaria por trás de organizar a informação e anunciar
o valor dos bens permitindo que as pessoas se adequem ao valor anunciado ou não. O método
de aproximação progressiva desses valores é utilizada pelo leiloeiro que grita o preço. Caso o
preço gritado não seja o que iguale oferta e demanda, novos preços são anunciados até que o
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equilíbrio de oferta e demanda seja atingido, ou seja, consumidores e vendedores se sentirão
confortáveis para realizar a troca. O ponto de partida então para Walrás é a troca e ela tem a
ver com a figura do leiloeiro. O tatear seria feito até que encontrássemos um preço de
equilíbrio. O mercado então seria livre e sem assimetria de informação. O preço de equilíbrio
seria alcançado através da concorrência e do fluxo perfeito de informação. As implicações
efetivas dessa metáfora só podem ser compreendidas caso possamos entender o sentido de
valor das coisas para Walrás. Para pensar situações de equilíbrio podemos pensar em
equações de equilíbrio para cada mercadoria do mercado. Cada uma delas teria uma equação
de oferta e demanda e assim podemos pensar em equilíbrio geral. O problema está em como
resolver a questão do equilíbrio geral. Como temos milhares de produtos, conseguimos ter
milhares de equações. Existe solução matemática para esse sistema com inúmeras equações?
Qual a condição necessária para chegarmos na solução? Haveria uma mercadoria que serviria
como padrão de conta e que não apresentaria demanda. Teríamos “n” mercadorias e “n-1”
equações a serem resolvidas. Assim, o conjunto de equações teria solução. O problema disso é
que essa mercadoria seria o dinheiro e sendo assim haveria demanda por dinheiro. Walrás cria
equações matemáticas para pensar na ideia de equilíbrio geral.
Walrás trata também sobre a produção. A análise do equilíbrio geral foi pensada sobre o preço
dos fatores de produção. A teoria do valor adquire aspectos mais complexos. Fazendo isso,
Walrás não tem uma análise bem sucedida sobre a teoria da produção, mas suas ideias foram
desenvolvidas por outros autores. Walrás propõe uma teoria moderna da produtividade
marginal tratando de custos de substituição. Isso serve para pensarmos também em outro
autor chamado Marshall.
De onde esses autores marginalistas estão partindo para tratar o valor? Quando Adam Smith,
Ricardo e Marx pensaram no valor, todos eles pensaram a partir do lado da produção/oferta.
Quando a teoria subjetiva do valor surge com os marginalistas, passa-se a pensar pelo lado da
demanda. Esses autores não desconsideram a oferta, ou seja, o mercado é regido por oferta e
demanda e ambas são estudadas por todos para definir suas teorias. Jevons reconhece que o
valor é determinado pela utilidade. Porém, temos que pensar também na produção e na
oferta. Todos os autores marginalistas elegem o lado da demanda para fazerem suas análises,
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apesar de não excluírem análises da oferta. Walrás, ao partir do equilíbrio de oferta e
demanda, entende que a oferta é também importante apesar de priorizar o lado da demanda.
Por considerar também a oferta ele discute o preço dos fatores de produção em sua teoria do
valor, mas quem avança em uma discussão mais sofisticada disso é Marshall.
Marshall também se encontra entre os marginalistas e publica seu livro em 1890. A partir daí
ele avança na definição de ideias que culminam no surgimento do paradigma neoclássico. Só a
demanda
passa
a
não
ser
priorizada,
mas
ambos
as
lados
passam
a
interessar
simultaneamente. A sua metáfora é a da tesoura marshalliana. A ideia dessa tesoura é que
ambas as lâminas cortam o papel ao mesmo tempo. Oferta e demanda atuam ao mesmo
tempo no mercado. A oferta não corta o papel e a demanda apenas o segura. Ambas cortam o
papel ao mesmo tempo. A importância de Marshall está no seu papel pedagógico dentro da
economia. Seu livro ocupa o espaço ocupado anteriormente por James Stuart Mill e sistematiza
o conteúdo da economia no século XIX e até hoje é bastante valorizado. A organização dos
livros que compõem os seus princípios nos permite evidenciar os assuntos por ele abordados.
Marshall trata do equilíbrio parcial na economia e teoriza essa questão. O livro de Marshall tem
muito mais haver com o manual moderno de economia.
Marshall era um matemático e sua discussão está focada no concreto matemático com poucas
abstrações. Ele tenta achar mecanismos matemáticos para discutir aspectos mais concretos
possíveis. O sistema dele parece eclético à primeira vista. Um elemento importante para
Marshall e que não é abordado pelos outros autores é a questão do tempo. O tempo é tratado
de uma forma mais analítica e sofisticada. O equilíbrio geral seria pensado em um dado
momento do tempo e várias coisas poderiam mudar isso como a tecnologia. Ela pode mudar o
equilíbrio geral. A ideia desse equilíbrio para Walrás era fixa no tempo, ou seja, ela exclui o
tempo e por isso ela é irrealista. Para entendermos Marshall temos que perceber que sua
percepção da economia é bem menos irrealista. Ele está tentando combinar a ideia de utilidade
marginal com a ideia de custo real subjetivo. Ele tenta levar a discussão subjetiva da utilidade
marginal para o lado do custo, da oferta e da produção. Ele desenvolve conceitos que permite
tratar tanto um lado da economia como outro. Esse é o surgimento do paradigma neoclássico,
ou seja, a economia neoclássica não trata apenas da demanda, mas sim também da oferta.
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Temos então a possibilidade analítica de pensarmos a economia pelo lado da oferta. Essas
questões refletem no preço de oferta. A novidade disso tudo é que o custo de produção
determina também o valor e esse conceito é diferente dos conceitos de Menger, Jevons e
Walrás pois todos os três negaram esse conceito. Jevons diz que o custo de oferta é
importante mas o que determinaria o valor seria a utilidade. Marshall dá a noção analítica do
custo de produção distinguido custo real de produção e gastos com a produção. O custo real
de produção se relaciona com o conceito de desutilidade do trabalho. O mesmo argumento da
utilidade marginal e das unidades adicionais/satisfação decrescente é utilizada para falar do
trabalho necessário para se produzir um determinado bem. O custo de produção passa a ser
discutido diferenciando custos reais de custos nominais.
O preço de mercado pode ser pensado como utilidade para o consumidor mas como
desutilidade do trabalho gasto para produzir os bens na economia. Oferta e demanda são
conectadas dessa forma e conceitos simétricos são criados, tanto para um lado quanto para
outro. A ideia do excedente do produtor e do excedente do consumidor é criada por ele bem
como a ideia de bem-estar na economia. Marshall distingue diferentes tipos de tempo e
prioriza forças que atuariam no equilíbrio de mercado. O preço de equilíbrio entre oferta e
demanda é pressuposta com a oferta fixa de bens (uma fotografia de como o mercado
produtivo é neste exato momento). Essa, porém, é apenas uma das situações possíveis.
Outras situações possíveis pressupõem períodos curtos ou longos de tempo em que a oferta
variaria. Assim, equilíbrios parciais diferentes seriam atingidos de acordo com diversos
horizontes temporais distintos. Um modelo de equilíbrio para a economia incorporaria diversas
situações levando em conta o tempo. A importância disso é que as análises ficam mais
concretas e realistas. Isso não está presente na obra de Walrás. Oferta e demanda
determinam o valor para Marshall (tesoura marshilliana) e não apenas a utilidade por parte da
demanda. Sua teoria continua sendo subjetiva, mas não apenas visando a demanda.
25. AULA 25 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (05/11/2013)
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26. AULA 26 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (07/11/2013)
27. AULA 27 – SCHUMPETER I (12/11/2013)
Schumpeter é um autor com uma grande influência dentro da história do pensamento
econômico. Iremos estudá-lo devido o interesse que ele possui para a economia e para
podermos compará-lo com Keynes. Ao fazer isso estamos saindo do século XIX e chegando ao
século XX e passaremos a estudar os principais nomes da economia desse período.
Schumpeter é um dos economistas mais frequentemente citados hoje em dia devido a sua
visão sobre o desenvolvimento econômico e por conta de como esse desenvolvimento toma
parte dentro de sua obra.
Em particular, o desenvolvimento econômico para esse autor está relacionado com uma
sucessão de inovações. Tais inovações são alcançadas por empresários financiados por bancos
e isso influência toda a compreensão da economia para Schumpeter. A atratividade de sua
obra não se deve apenas a validade teórica dessas ideia, mas também das validades políticas
de seu pensamento. Ele traz para o primeiro plano da dinâmica econômica a figura do
empresário e dos banqueiros e ao fazer isso elucida um mecanismo diferente para pensarmos
a dinâmica capitalista. Além disso ele influência o pensamento pós Primeira Guerra Mundial e
oferece visões opostas às visões keynesianas a respeito das crises do capitalismo. Schumpeter
entende que as crises capitalistas seriam um mal necessário, ou seja, são inerentes ao próprio
sistema. Essas crises permitiriam que o sistema fosse varrido das coisas ruins que o
prejudicavam. Elas permitiriam limpar o sistema e injetar uma vitalidade nova na dinâmica
econômica capitalista. É claramente uma visão contrária a de Keynes já que para este autor
era necessário impedir que as crises acontecessem. A visão de Schumpeter dá um novo papel
para crise colocando-a como endógena ao próprio sistema.
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Podemos alinhar Schumpeter com um autor que têm pouco haver com ele: Karl Marx. Para
este, a crise também era parte do sistema, sendo consequência inevitável do sistema. Mais do
que isso, Marx viu a decadência do capitalismo como um resultado inevitável do próprio
sistema. Schumpeter convergirá para esse mesmo ponto entendendo que a decadência do
capitalismo seria um resultado inevitável. No limite, o capitalismo caminharia para sua
decadência. Porém, até essa decadência ser alcançada, a visão de Marx e Schumpeter difere
bastante. Tanto um autor quanto o outro teorizam sobre as noções tradicionais de equilíbrio
econômico. Schumpeter teoriza contra as ideias marginalistas de equilíbrio.
Schumpeter é um personagem bastante complexo. É difícil analisá-lo com propriedade devido
a sua extensa obra e tema diferentes. Em geral as pessoas falam as mesmas coisas sobre ele:
inovação. As pessoas tendem a simplificar o Schumpeter com base na inovação. Isso é algo
muito perigoso de se fazer pois o autor é mais do que isso. Sua obra foi construída de forma
que cada livro possui ferramentas analíticas diferentes para construir suas definições. Isso o
faz caminhar de análises da econômica stritu sensu teorizando e polemizando com os
marginalistas até chegar em análises sociológicas, históricas e também sobre a história do
pensamento econômico. Para entendermos Schumpeter todas essas análises são necessárias.
Diferentemente de Adam Smith que possuía uma trajetória bastante monótona, a trajetória de
Schumpeter é mais complexa e tumultuada por compreender períodos de guerras e a crise de
29. Anteriormente a Schumpeter tratamos de autores que estavam bastante distantes de
nossa época e que nem chegaram ao século XX. Os autores que viveram o século XX
participam de uma dinâmica totalmente nova dentro da economia. A visão da história
econômica do século XX fornece elementos novos para a reflexão teórica. Isso é auto evidente
para Keynes e Schumpeter. Não é mais possível falar que a econômica tende ao equilíbrio,
pois no século XX tais autores vivenciaram períodos em que isso não ocorria.
Qual a trajetória de Schumpeter? Ele nasce em 1883 no que então era parte do Império do
Austro-Húngaro e que hoje faz parte da República Tcheca. O ano de 1883 é um ano curioso
que compreende a morte de Marx e nascimento de Keynes. Schumpeter está exatamente em
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um momento de transição entre autores antigos e contemporâneos assim como Keynes e por
isso ambos os autores são comparados. Schumpeter perde seu pai aos 4 anos e sua mãe que
possuía 26 anos passa a se tornar uma pessoa muito presente em sua vida. Ela se casa de
novo e seu novo padrasto passa a influenciá-lo bastante. Ele era um oficial reformado de alta
patente do Império Austro-Húngaro e foi o responsável por mandar Schumpeter para estudar
em uma instituição que existe até hoje e que antigamente era um dos polos do cameralismo
se dedicando à educar nobres. O nome dessa instituição é Theresianum. Ela tinha como função
educar a nobreza húngara com uma formação ampla de línguas e proporcioná-la a ocupar
altos cargos dentro do império. Schumpeter tem toda essa formação nesta instituição e
transitou em campos diferentes para além da economia, mas fazendo análises econômicas e
sociológicas nesses campos. Após se formar em Theresianum ele ingressa na faculdade de
jurisprudência da faculdade de Viena para cursar matérias relacionadas a economia. Seus
professores foram os expoentes da escola austríaca e Schumpeter estava no meio de debates
com os autros-marxistas dentro da faculdade de Viena. Ele não é um personagem situado
dentro da escola austríaca, mas está no mesmo ambiente formador dos indivíduos que se
destacaram dentro dessa escola. Após sua formação Schumpeter vai para Inglaterra e
estabelece contato com os economistas importantes desse país como Marshall. Em Londres
conhece sua primeira esposa e o seu casamento com ela durou pouco tempo. Sua carreira
acadêmica demora a começar. Após a Inglaterra, Schumpeter se estabelece no Egito em Cairo
e, como estudou além de economia jurisprudência e tinha se formado como advogado, passou
também a administrar as propriedades dos príncipes egípcios. Como era um trabalho
relativamente leve, Schumpeter começou a ter tempo para poder escrever e publicar suas
obras. Seu primeiro livro intitulado “A Essência e os Princípios Teóricos da Economia” foi
publicado em 1908. Após essa publicação Schumpeter fica doente no Cairo e retorna para
Viena. Em função da sua publicação e indicações de outros autores importantes ele consegue
um cargo de professor na Ucrânia ficando por lá durante um breve tempo. Em 1911 consegue
um cargo de professor na Universidade de Grass da Áustria e permanece com esse cargo até a
Primeira Guerra Mundial. Nesse período ele publica seu primeiro livro importante em 1912
intitulado “Teoria do Desenvolvimento Econômico” e em 1914 publica outro livro chamado
“Épocas da História das Doutrinas e Métodos” tratando de metodologia e história do
pensamento econômico. Ainda antes da Primeira Guerra Mundial, em 1913 e 1914 Schumpeter
visita os Estados Unidos e dá aula em várias universidades. Com apenas 30 anos de idade ele
recebe o título de doutor honoris causa pela Universidade de Columbia. O reconhecimento de
seu brilhantismo foi feito ainda em vida demonstrando que ele era alguém de destaque diante
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da maioria. Posteriormente a guerra, ainda que Schumpeter fosse um conservador política, sua
posição de não conformista o permitiu assumir o cargo de ministro das finanças da Áustria
caindo nas graças do partido socialista. Ele ficou pouco tempo no cargo por não conseguir
resolver os problemas que assolavam o país no pós-guerra e faz uma transição para a carreira
de presidente de um banco privado em Viena no ano de 1920. Em 1924 esse banco vai falir e
Schumpeter também perde toda a sua fortuna com isso se tornando um endividado pelos anos
seguintes. Depois dessas experiências ruins ele retorna para a área acadêmica na Alemanha
permanecendo por lá entre 1925 e 1932. Schumpeter se casa com uma moça bastante bonita
e mais nova do que ele. Ela era filha de um antigo empregado de sua mãe. Em 1926 sua
felicidade acaba de maneira trágica já que essa sua nova esposa morre durante o parto. Junto
disso, alguns meses depois sua mãe, a figura mais influente de sua vida, também morre.
Dessa época em diante Schumpeter se torna uma pessoa bastante pessimista e isso marca sua
teorização sobre o capitalismo. Sua personalidade passa a ficar bastante pessimista. Os
contrastes observados nesse autor podem ser compreendidos quando estudamos sua
trajetória. Com a ascensão do nazismo Schumpeter foge da Alemanha e vai para o Japão para
depois se estabelecer nos Estados Unidos até o fim de sua vida. Em 1932 ele assume a posição
de professor na Universidade de Harvard. Ele morre em 1950 pouco antes de completar 67
anos de idade. Sua vida que era irregular passa a ser linear e tapada quando se estabelece nos
Estados Unidos. Os marcos de sua vida são as publicações de seus livros: “Ciclos Econômicos”
de 1949 em que há uma análise estatística da transformação capitalista, “Capitalismo,
Socialismo e Democracia” de 1942 e “História da Análise Econômica” publicado postumamente
em 1954 sob a supervisão de sua última esposa.
Schumpeter teve uma intensa atividade como professor. Ele lecionou para os grandes
economistas do século XX. Todos eles fizeram doutorado em Harvard e foram seus alunos. Seu
livro de 1954 é bastante interessante por ser um livro de história do pensamento econômico
que não retrata autores antigos já que Schumpeter não considera Adam Smith um autor
importante. Ele assume um viés que privilegia autores cameralistas. Uma das características
importantes desse livro é a impressionante mobilização de material primário. Schumpeter não
trabalha com manuscritos, mas sim com documentos originais e isso só foi possível pelo fato
dele ser poliglota e ter como acessar tais documentos para citá-los em seu livro. Boa parte
dessa literatura permanece não editada até hoje. Schumpeter é importante para HPE devido a
esses fatos. Ele possuía uma grande genialidade.
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Seu livro “Estudo da História das Doutrinas Econômicas e Método” é mais simples, mas
Schumpeter expõe sua preocupação com métodos. Ele está preocupado com a evolução da
linguagem econômica, ou seja, como as ideias econômicas produziram teorias específicas em
determinado momento e como elas foram evoluindo. Ele chama isso de análise econômica e
escreve sobre a história dessa análise econômica. Essa preocupação com a análise econômica
e com o método está presente no livro de 1908. “É vantajoso não estabelecer suposições
metodológicas definitivas para todos os propósitos, mas sim adaptar cada uma delas para cada
um dos objetivos, uma vez que a suposição específica adequada ao propósito ser tão liberal
possível”. Schumpeter é um autor de métodos flexíveis, não existe apenas um caminho
metodológico para ele. Temáticas diferentes foram percorridas por ele tomando de empréstimo
métodos diferentes para analisar problemas diferentes, além de flexibilizar todo o processo.
Ele foi formado diante da tradição marginalista da escola austríaca recorrendo aos conceitos
dessa tradição em alguns momentos e criticando-a. Duas ideias não eram engessadas. No livro
de 1908 conseguimos perceber que o objetivo principal de Schumpeter era ilustrar o que ele
considerava os fundamentos da teoria econômica do momento, chamando-os de sistema
estático de equilíbrio econômico. Para ele, esse sistema estático era insuficiente e a partir daí
ele fundamentalmente tenta incluir a dinâmica nesse processo. Ele tenta transformar o estático
em dinâmico sendo este mais importante do que o equilíbrio. Somente assim seria possível
compreender melhor o funcionamento da economia. Princípios marginalistas são utilizados por
ele, mas com algumas diferenças. Ele concorda com a visão do valor marginalista, mas recusa
alguns dos pressupostos. Por um lado o valor dos bens econômicos está relacionado com a
escassez, mas Schumpeter rejeita o utilitarismo de Jevons e discute a questão da utilidade
marginal como um tipo de suposição genérica da teoria econômica, ou seja, suposição
arbitrária útil que ajuda a vislumbrar certas questões e generalizar fatos científicos, mas ao
mesmo tempo é uma suposição tão genérica e tão abstrata que não corresponde à realidade.
Schumpeter não acha que algumas suposições representem a realidade, como a utilidade
marginal decrescente representando o valor dos bens.
Schumpeter contribui para questionar a visão da economia então vigente dizendo que o
modelo de equilíbrio construído pelos marginalistas não ultrapassa a ideia do método de
variações. Esse modelo mediria apenas o impacto sobre o equilíbrio caso alteremos algum
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dado do sistema. Um modelo de equilíbrio seria montado para se estudar as variações. Esse
equilíbrio seria estático e não representaria a realidade por assumir vários pressupostos não
reais, sendo montado para se fazer estimativas variando algo e estudar o impacto sobre outros
fatores. Por exemplo, poderíamos montar um modelo de equilíbrio geral para a economia de
Minas Gerais supondo que a demanda por minério de ferro aumente 20% no próximo ano por
conta da China. Daí deduzimos o que pode acontecer com outras variáveis. Para Schumpeter
isso não funciona para mais do que isso. Ele vai contra a tais modelos e os considera limitados.
O desenvolvimento econômico para Schumpeter está conectado à inovação.
28. AULA 28 – SCHUMPETER II (14/11/2013)
Ao estudarmos Schumpeter devemos ter cuidado ao chegar a conclusões rápidas demais.
Schumpeter não é socialista e nem ataca o socialismo. No início de seu livro no prólogo ele
próprio diz isso. Todas as suas discussões sobre capitalismo, socialismo e democracia fazem
parte do modo de como ele entende os problemas de sua época.
A ambição de Schumpeter é explicar o funcionamento do capitalismo e as pessoas só tirariam
benefícios dele caso entendessem como ele funcionava. Em sua análise, o capitalismo fornece
benefícios fundamentais, não para a elite da sociedade, mas para todos. Schumpeter distorce
um pouco a visão auto evidente do capitalismo já que ele gera concentração e outra série de
fatores. Para ele, o capitalismo permite que classes mais baixas possam melhorar, ou seja,
pessoas com rendimentos baixos poderiam melhorar de vida e o capitalismo forneceria esses
benefícios coletivos com o tempo. Sua visão sobre capitalismo é um pouco diferente nesse
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contexto. Devemos usar o seu livro para correlaciona-lo com o capitalismo e com a dinâmica
econômica.
O livro de Schumpeter de 1908 nos permite entender qual a sua visão de economia dominante
e explicar porque ele considerava tais visões insatisfatórias e limitadas. O assunto principal
seria o sistema estático de equilíbrio econômico, fundamentos básicos da teoria econômica e a
necessidade de se introduzir uma dinâmica dentro de todo o processo. Como Schumpeter faz
isso? Ele parte desses assuntos até chegar ao seu outro livro “Teoria do Desenvolvimento
Econômico”. Durante sua discussão Schumpeter adota alguns pontos da teoria marginalista e
outros não. O que ele apropria dos marginalistas seria o princípio do valor (utilidade marginal,
demanda em relação a escassez) e rejeita a visão do utilitarismo de Jevons. Além disso ele faz
uma crítica das limitações do marginalismo. Tal crítica está relacionada ao fator estático da
economia. Várias metáforas são utilizadas por Schumpeter para descrever as limitações
presentes na descrição do mundo econômico dado pelos marginalistas. Uma das metáforas
interessantes seria a do mar e com ela ele explica a diferença entre o modelo estático e o
modelo dinâmico sendo este último defendido por ele: “O estado de equilíbrio é o centro de
gravidade das forças econômicas. Abstrato sim, mas sempre existiu perpetuamente. De fato
não descreve o estado real da economia, mas somente um estado de coisas formal que nós
devemos sempre observar mesmo nos mais ativos momentos do desenvolvimento e que em
realidade permanece inalterado mesmo quando os dados mudam. Todavia, nós podemos dizer
que esse nosso estado de equilíbrio se parece com a superfície do mar que está sempre em
movimento, muito embora sempre retornando ao normal e na qual se observarmos a uma
suficiente distância, sempre permanece plano. As ondas do mar sempre retornam ao mesmo
nível, mas não as ondas da vida econômica”. O que Schumpeter está discutindo é que existe
de forma abstrata um tipo de estado de equilíbrio na economia real, mas isso só pode ser
descrito como uma possibilidade formal e abstrata. Ele não descreve um padrão que podemos
encontrar a economia em um dado momento. De perto, ao olhar o mar, ele está em contínuo
movimento. A uma certa distância dele, enxergamos uma aparência de linearidade que seria
um determinado padrão. O mesmo vale para economia, de perto nós vemos apenas o
movimento e de longe vemos linearidade. Mas não podemos acreditar demais nesta metáfora,
pois no caso da economia, essas ondas do mar não necessariamente ficam no mesmo nível.
Existe uma dinâmica na economia e a questão dos ciclos econômicos se inicia a partir desse
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entendimento. Os ciclos não são como as ondas do mar que retornam sempre para o mesmo
ponto.
Um dos pontos fundamentais de Schumpeter que o diferencia dos marginalistas está
relacionado aos juros. Ele rebate a teoria dos juros dos marginalistas que os definiam como
sendo um prêmio dos bens presentes sobre os bens futuros. É um tipo de definição que exclui
a questão monetária. Schumpeter se opõe a essa visão por acreditar em uma dinâmica nesse
processo: “O fenômeno essencial são os juros que derivam do crédito que servem para a
criação de novas indústrias, novas formas de organização, novas técnicas e novos bens de
consumo” ... “A origem do fenômeno dos juros repousa no desenvolvimento do crédito”.
Schumpeter está dizendo que a questão monetária importa neste caso. Ele ultrapassa a visão
do sistema estático defendido pelos marginalistas em que o mercado monetário teria papel
passivo podendo ser excluído de todo processo (Walrás dizia que a moeda não era mercadoria
por não existir demanda por ela e excluía a questão monetária. Não temos como pensar a
questão dos juros, os quais ocupariam papel passivo não controlando o mercado). Essa nova
visão de Schumpeter defende que os juros são um fenômeno monetário que só podem ser
explicados em um contexto que haja uma dinâmica na economia. Ele discute como meios de
pagamento são criados para financiar a inovação. Isso tem a ver com o crédito e com o papel
ativo dos banqueiros e a passividade não é considerada por ele. Esse papel ativo encaminha o
funcionamento da economia. Os juros então são dinâmicos para Schumpeter.
Schumpeter acredita que empresários e banqueiros são fundamentais para economia. O
empresário teria a ideia inovadora e o banqueiro financiaria essa ideia inovadora criando meios
de pagamento. A questão dos juros para Schumpeter entra nisso. Antes os juros teriam papel
secundário e agora eles possuem papel central no processo. Toda essa discussão é bastante
complexa em seu livro. Schumpeter polemiza com os marginalistas e discute tecnicamente
várias questões. Mais adiante Keynes terá visões diferentes sobre os juros, papel da demanda
e outros, e suas ideias serão propagadas muito rapidamente em relação as ideias de
Schumpeter.
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A visão que Schumpeter começa a discutir em 1908 ultrapassa a estática e caminha em
direção a dinâmica. A visão estática da teoria econômica seria insuficiente para compreender
os fenômenos econômicos do mundo real e caminhar para uma visão dinâmica era importante
para reverter esse processo. Em seu livro de 1908 há uma oposição entre teoria do fluxo
circular e teoria do desenvolvimento. Existiria uma teorização econômica que seria a teoria do
fluxo circular em que o marginalismo se estabelece. Schumpeter então oferece uma teoria do
desenvolvimento que seria essencialmente dinâmica e oposta à teoria defendida pelos
marginalistas. Essa é a ambição de Schumpeter. Para ele a teoria econômica dá conta de
descrever o estado estacionário (fluxo circular), mas isso não corresponde ao funcionamento
real da economia sendo necessário pensar uma teoria do desenvolvimento econômico para
explicar como a economia funciona na sua dinâmica e é justamente isso que ele faz. A visão
de Schumpeter de estado estacionário é complexa pois ele entende que nesse estado a
economia se reproduzia sobre si mesma, ou seja, haveria crescimento quantitativo (as pessoas
tem um nível de vida e o aumento do número de pessoas não melhoraria a condição de todas
elas) mas a economia não sofreria mudanças (o nível de bem estar das pessoas não mudaria).
O desenvolvimento econômico para Schumpeter é relacionado com mudança/transformação.
Alguns agentes ativos são responsáveis por esse processo de mudança. O produtor teria papel
ativo sendo o lado da produção importante. Os consumidores seguiriam passivamente nesse
processo sendo educados pelos produtores se necessário. “O desenvolvimento é assim definido
pela realização de novas combinações, nomeadamente a introdução de um novo bem, de um
novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de novas fontes de
matérias-primas ou bens semimanufaturados, pela realização de novas formas de organização
em uma indústria qualquer como a criação de uma posição de monopólio ou a quebra de um”.
Em 1911 ou 1912 ninguém havia organizado uma visão dessa maneira. Essa dinâmica de
inovação passou a fazer parte da própria forma como pensamos os negócios atualmente.
Schumpeter define o papel do empresário: possui papel ativo na medida em que o trabalho
deles seria realizar escolhas inovadoras. Uma categoria chave para Schumpeter é o empresário
pois é ele que gera o desenvolvimento econômico e capitalista. Na economia política clássica
era o contrário sendo o processo de desenvolvimento responsável por gerar mudança e gerar a
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figura do empresário. Para Adam Smith o empresário não possui um papel ativo para iniciar o
desenvolvimento já que o sistema criaria a conjuntura toda para que ele surgisse. Para
Schumpeter, o empresário ao fazer escolhas inovadoras promove o desenvolvimento
econômico, do contrário, a solução seria o fluxo circular estático. Schumpeter discute as
mesmas coisas que já foram discutidas por autores anteriores, mas ele muda a lógica de
análise.
Schumpeter define o papel do banqueiro: é ele que assume todo o risco. O empresário, ao ter
a ideia inovadora, não incorre em risco. Alguém precisa financiar essa ideia inovadora e ai
temos a figura do banqueiro. Quem assume o risco capitalista, o risco do negócio, o risco
econômico, é o banqueiro. O empresário coloca em risco apenas sua imagem e reputação pois
se algo der errado ele perde sua reputação e não conseguirá financiamento, mas quem perde
dinheiro é o banqueiro. Assim como o empresário o banqueiro assume papel central em sua
obra.
Duas suposições básicas estão por trás das análises feitas por Schumpeter:
1. As inovações não ocorrem por desvios dos recursos originalmente utilizados dos
sistemas tradicionais pelos empresários inovadores. A inovação não desvia nenhum tipo
de recurso. Ela é uma coisa nova.
2. No funcionamento da economia não há recursos não utilizáveis com os quais os
empresários podem contar. Esse pressuposto converge com as ideias marginalistas e se
opõe a Keynes já que para este último a economia pode estar em equilíbrio fora do
pleno emprego podendo existir recursos não utilizáveis deixando-a em equilíbrio. No
marginalismo isso não seria possível pois a economia utilizaria todos os recursos
disponíveis encontrando-se em equilíbrio. Do contrário ela não estaria em equilíbrio.
Schumpeter pensa da mesma forma que os marginalistas nesse ponto.
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Os empresários só poderiam realizar suas inovações com um poder de compra extra que não
estaria dado, precisando ser criado. Os banqueiros assumem o risco e criam esse mecanismo.
Eles deveriam ter uma atitude inovadora para criar os meios de pagamento necessários para
que a inovação possa ser financiada e chegar ao mercado. Para o financiamento acontecer, os
bancos, através do multiplicador bancário, emitem mais dinheiro do que realmente existe em
seus cofres. Logo, eles emprestariam para os empresários um dinheiro que de fato não existe.
Isso é o crédito e é esse crédito que permite a inovação ocorrer. Criar dinheiro implica em
inflação e quando isso acontece o poder de compra de consumidores e firmas é reduzido, mas
isso permite que novas firmas financiadas pelos bancos com os novos meios de pagamento
criados extraiam recursos produtivos dos usos tradicionais. Essa discussão vai na mesma
direção da teoria da poupança forçada. Isso tudo é considerado por Schumpeter para explicar
a teoria do desenvolvimento:
1. Existiria primeiro uma fase de expansão em que a inovação tem papel central.
2. A partir daí a inovação é contaminada por um enxame de novas firmas atraídas pelo
lucro temporário alcançado pelos empresários inovadores e pela inflação que aumentou
os preços dos produtos vendidos.
3. Depois dessa fase temos um período de recessão em que o crédito é suspenso e os
empresários precisam pagar os empréstimos feitos. Diante desse contexto, empresas
obsoletas e com tecnologias velhas vão falir além de empresas que não conseguiriam
arcar com os empréstimos feitos. Os preços dos produtos produzidos por essas
empresas caem abaixo do nível de custo de produção.
4. Algumas empresas vão falir nesse contexto e o sistema entraria em crise. Essa crise
seria necessária para que haja uma limpeza do sistema. A crise é vista por Schumpeter
como algo necessário é bom para melhorar o sistema e limpá-lo de suas coisas ruins.
Na medida que temos aumento dos preços algumas pessoas se beneficiam em relação a
outras. Uns se dão bem e outros se dão mal. Os consumidores tem o seu poder de compra
diminuído e lucros temporários são criados através de produtos inovadores que são produzidos
com novas tecnológicas. A inflação então distorce a economia gerando os quatro pontos acima
citados.
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Schumpeter raciocina que, se as inovações fossem uniformemente distribuídas no tempo, o
desenvolvimento médio da economia seguiria um caminho regular. Se as inovações possíveis
fossem linearmente distribuídas no tempo e em diversos setores da economia, desajustes não
ocorreriam e o desenvolvimento médio seria progressivo. Schumpeter então vê o outro lado da
questão dizendo que a inovação implica com uma ruptura com o tradicional rompendo
barreiras pré-estabelecidas pela tradição. Os cinco tipos de inovação descritos por ele se
relacionam com isso. Produtos novos podem ser inovações quando rompem com padrões
anteriores. As inovações seriam coisas boas e por isso o enxame de empresas produzindo algo
novo acontece. Não é apenas um empresário e um banqueiro envolvido no processo, mas sim
vários outros ao mesmo tempo que caminham na mesma direção ocasionando uma mudança
de parâmetro geral em algum setor da economia. Esse processo acontece até vir a fase de
recessão e limpeza do sistema. O enxame seria de empresários, banqueiros e inovações. O
enxame de inovações seria irregular ao longo do tempo acontecendo uma atrás da outra sem
intervalos de tempo definidos.
Forças endógenas ao próprio sistema explicariam os ciclos de comércio e inovações para
Schumpeter. Para Marx esses ciclos se relacionam com a luta de classes entre capitalistas e
trabalhadores. Para Schumpeter esses ciclos se relacionam com o fluxo irregular que as
inovações possuem ao longo do tempo. A ideia de ciclos possui o problema de como explicar
como a fase A será substituída pela fase B e quando a crise vai acontecer. É impossível prever
quando tais coisas irão ocorrer, ou seja, é difícil explicar a mudança antes mesmo dela
acontecer. Para Marx o processo ocorreria pela luta de classes e para Schumpeter o processo
ocorre com os fluxos irregulares das inovações e elas não ocorrem em intervalos de tempos
regulares, daí a dificuldade de se prever algo. As ideias não surgem na cabeça dos
empresários em intervalos pré-definidos. É exatamente pelo fato disso acontecer que a teoria
do Schumpeter torna-se difícil de prever o que ocorreria na economia. Schumpeter e Marx
podem ser relacionados diante desse ponto.
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O modelo apresentando no livro de 1912 de Schumpeter é bastante inovador. A teoria do
desenvolvimento econômico feita por ele foi algo de destaque. O mecanismo básico de como
se processa o desenvolvimento econômico descrito por ele explica o funcionamento da
economia em sua época. Schumpeter possuía uma visão mais otimista do capitalismo em
1912. Mais à frente ele adota uma visão mais pessimista do capitalismo.
29. AULA 29 – KEYNES I (19/11/2013)
Devemos estudar Keynes pensando nas diferenças existentes entre seus dois livros intitulados
“Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. Em outras
palavras é importante perceber como o pensamento de Keynes evolui entre o primeiro livro e o
segundo. Quais são as diferenças? Por que elas se relacionam com as reflexões analíticas de
Keynes? Alguns reposicionamentos de ideias existem entre um livro e outro fazendo com que o
segundo livro seja mais importante do que o primeiro.
Outros fatores importantes a serem analisados são o equilíbrio geral e parcial que se
estabelecem desde os clássicos até os marginalistas. Esses fatores são discutidos e criticados
dentro do pensamento keynesiano.
Keynes é um autor que merece uma introdução biográfica por possuir uma trajetória bastante
citada nos dias de hoje. Ele participa das negociação do tratado de Breton Woods e de debates
sobre políticas monetárias no século XX. Além disso é um autor bastante influente desde
Cambridge até atingir o mundo todo.
O nascimento de Keynes ocorreu em 1883, ano em que Schumpeter nasceu e Marx morreu.
Nasceu em Cambridge e estudou por lá na Universidade de mesmo nome. Seu pai era um
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economista conhecido que publicou livros importantes além de ser um pupilo de Marshall, mas
acaba decidindo por fazer uma carreira administrativa na Universidade de Cambridge em vez
de seguir carreira acadêmica. A mãe de Keynes é também natural de Cambridge e foi uma das
primeiras mulheres graduadas na Universidade. Ela foi a primeira mulher a assumir a
prefeitura da cidade.
A educação recebida por Keynes foi de elite. Desde o início ele se ligou às elites tendo
estudado nas mais tradicionais escolas de 1° e 2° graus. Essa trajetória pode ser entendida
como um símbolo da aristocracia além de remeter ao elitismo em todos os aspectos possíveis.
Na época de universidade Keynes participa de uma sociedade secreta denominada “Os
Apóstolos”. Vários nomes importantes participaram dessa sociedade. Seu círculo era elitista,
refinado e letrado. A personalidade de Keynes está ligada aos debates que ocorriam dentro
desses círculos que o influenciaram bastante até a época de seu casamento. Após isso há uma
ruptura com esse círculo que não aceita o seu casamento por entender que isso era algo
indevido e contraditório para Keynes que já naquela época era assumidamente gay. Seu
casamento foi com uma bailarina russa e soou como algo de fachada. Apesar desses fatos
serem pessoais eles influenciaram a personalidade e a formação de Keynes.
Sua trajetória profissional incluía funções de funcionário do governo britânico no escritório da
Índia em 1906. Em 1908 Keynes começa a dar aulas no Kings College e a partir daí segue uma
carreira acadêmica. Em 1911 se torna editor do Economic Journal e em 1913 se torna
secretário da Royal Economic Society. Essas duas últimas funções Keynes mantém durante os
próximos 30 anos de sua vida. Vários ramos de atuação ajudaram Keynes e outros autores
importantes a ocuparem posições de destaque. Não basta ser um gênio, é necessário realizar
atividades variadas para provar seu valor. Keynes não se tornou importante apenas por sua
obra acadêmica, mas sua ligação com o Economic Journal foi muito importante e colaborou
bastante para sua imagem.
Keynes possui uma importância grande dentro da formulação de políticas públicas e
monetárias. As discussões que relacionam política e economia dentro do contexto britânico
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foram cenários de atuações de Keynes. Em 1919 ele participa da conferência de Versalhes que
ocorreu após a Primeira Guerra Mundial. Anteriormente a isso Keynes estava ligado a
Cambridge mas exercia funções no tesouro britânico e por isso participou da conferência se
opondo duramente às penalizações impostas à Alemanha. Devido a isso ele pede demissão da
conferência e volta para Cambridge e escreve um livro intitulado “Consequências Econômicas
da Paz”. Esse livro é um resultado de sua visão de como termina a Primeira Guerra Mundial do
ponto de vista econômico, tornando-o famoso. Após esse fato vários artigos passam a ser
publicados por Keynes. Outro livro importante escrito por ele em 1921 se chama “Tratado
Sobre Probabilidade”. Os dois livros fundamentais escritos por ele são os de 1930 e 1936.
Ambos são os dois livros mais importantes sobre economia do século XX e são de grande
importância para a carreira de Keynes. São eles “Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do
Juro, do Emprego e da Moeda”.
Depois de 1936 Keynes diminui o fluxo de trabalho pois sua vida foi muito intensa até esse
ano. Ele inaugura o teatro das artes com seus próprios recursos numa tentativa de tornar
menos acanhado o ambiente cultural de Cambridge. Problemas de saúde o assolavam e em
1937 ele sofre um ataque cardíaco. Em 1940 torna-se conselheiro do tesouro e depois toma
parte do conselho diretor do Banco da Inglaterra. A partir daí Keynes se ocupa com as
discussões a respeito da guerra e os problemas financeiros que ela causava, o que torna
necessário uma negociação com os Estados Unidos para reverter tais problemas. Durante a
guerra Keynes assume um papel muito importante gestando uma série de planos para
reformar a economia no pós-guerra. Isso dá origem ao papel central que ele terá em julho de
1944 na conferência de Breton Woods. Keynes se torna o negociador britânico da conferência
sendo o dono das grandes reflexões teóricas sobre a economia naquele momento. Apesar
disso, não é a posição de Keynes que prevalece na conferência já que os interesses dos
Estados Unidos eram muito fortes naquela época. Em 1946 Keynes sofre outros dois ataques
cardíacos e morre em sua casa de campo neste mesmo ano.
Por mais que Keynes tenha feito uma obra teórica, ela define o papel do economista. Sua obra
é extremamente validada a respeito do mundo capitalista e suas transformações. O grande
embate a partir da Segunda Guerra Mundial era a Guerra Fria. Existiam visões de mundo
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diferentes e bem como visões diferentes sobre o funcionamento da economia. Os argumento
de Keynes dentro desse contexto ajudaram a reconciliar a ligação entre estado e economia
dentro do mundo capitalista. Ele trabalha com a ideia de reformar o capitalismo para que ele
pudesse ser um mecanismo capaz de proporcionar níveis crescentes de equidade entre as
pessoas assim como liberdade. O capitalismo seria fundamental para garantir liberdade e
eficiência, mas também poderia proporcionar níveis crescentes de equidade com o estado
tomando atitudes proativas para isso. Esse estado não seria o soviético, mas sim o capitalista.
Esse é o pano de fundo de oposição fundamental que está sendo travada por Keynes nesse
contexto. Ele critica a teoria econômica dominante até então já que ela era ineficiente diante
do equilíbrio no mercado livre, mas por outro lado ele constrói uma teoria envolvendo
intervenção estatal dentro do mundo capitalista e negando o socialismo soviético. Essa era sua
posição política, ou seja, reforçar o estado mas proporcionar liberdade de mercado. É uma
visão ambígua em certo sentido.
Seu livro “Teoria Sobre a Moeda” ocupou 6 anos de seu tempo. Foi escrito em um período de
grande fermentação intelectual de Cambridge especialmente motivado pelo fato de Keynes
estar à frente do Economic Journal. Esse periódico foi palco da publicação de uma série de
contribuição a respeito da teoria marshalliana da firma. É nas páginas desse periódico que
presenciamos debates sobre a teoria marshalliana cada vez mais crescentes. Uma primeira
visão da relação de Keynes com Marshall remete a uma transição de ideias entre ambos e as
conexões entre tais autores. O que é aceito hoje em dia é que essas conexões se relacionam
muito menos com princípios principais de Marshall e muito mais com as pequenas obras de
Marshall e suas aulas orais. Desse momento em diante uma série de publicações importantes
ajudam a formação crítica de Keynes para posteriormente vermos o resultado em seu livro
“Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. A discussão entre os fenômenos monetários e
os níveis de produção no curto prazo não aparecem em um dos seus livros, mas anteriormente
outros autores já citam tais aspectos e os discutem. Pigou foi um herdeiro de Marshall que fez
reflexões importantes sobre o curto prazo fazendo também parte dos debates da época que
Keynes estava inserido.
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Antes do “Tratado Sobre a Moeda” Keynes publica em 1923 um artigo sobre reforma
monetária conectando inflação e desemprego começando a opor a sua visão em relação aos
conceitos de estabilidade que prevaleciam até então. Uma das oposições era sobre o padrão
ouro servir como mecanismo de equilíbrio automático dentro da economia. O fundamental é
que no “Tratado Sobre a Moeda” Keynes percebe que a estabilização da taxa de câmbio que o
padrão ouro visava não garantia necessariamente uma estabilidade interna dos preços. O
padrão
ouro não garantiria isso devido a
interesses
conflituosos
entre poupadores,
empresários e trabalhadores. Essas oposições entre essas classes revelam questões sutis que
comprometeriam o equilíbrio. Tal reflexão leva Keynes a considerar que tanto inflação ou
deflação eram danosas para economia. Mais do que isso, o que Keynes considera já nesse
momento é que o dinheiro (moeda) não poderiam ser considerado neutro devendo ser
administrado visando a estabilização dos preços internos. Esse argumento é o principal que
correlaciona seus dois livros mais importantes: "Teoria Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do
Juro, do Emprego e da Moeda”. É nesse momento que Keynes publica um panfleto
denominado “O Fim do Laissez-Faire” em 1926. Nele há uma distinção entre liberalismo
político e liberalismo econômico. Por um lado Keynes não tem dúvidas sobre o liberalismo
político, mas por outro impõe limites necessários ao liberalismo econômico. Ele diferencia
ambas as coisas. O laissez-faire dogmático, mesmo sendo levantado para justificar o
liberalismo, não foi defendido por nenhum dos grandes economistas clássicos sendo
encontrado neles exatamente o contrário. Esse liberalismo dogmático ia contra ao próprio
sistema básico de valores da sociedade. Vemos isso em Adam Smith: equidade era melhor do
que a eficiência para a estabilidade da sociedade. Esse tipo de distinção é importante para
percebemos que Keynes constrói um caminho original dizendo que o estado precisa intervir na
economia, mas isso não teria nada a ver com rompimento do liberalismo para instaurar
estados totalitários ou socialismo. A intervenção estatal seria necessária para garantir as
liberdades fundamentais do liberalismo clássico político, mas esse liberalismo não equivale ao
laissez-faire dogmático (liberalismo econômico de total liberdade de mercado).
Todas essas discussões serviram para ajudar no desenvolvimento do livro “Teoria Sobre a
Moeda”. Esse livro pertence à tradição marshalliana por não romper com pressupostos gerais
que orientam essa tradição. Ao mesmo tempo já existe no livro elementos inovadores que o
conectam com “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. Keynes nesse momento evita
atacar o núcleo teórico da tradição marginalista. No “Tratado Sobre a Moeda” Keynes não
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discute e nem questiona a ideia de equilíbrio no longo prazo com o pleno emprego dos fatores
(incluindo trabalho). Da mesma forma ele não polemiza com relação a neutralidade da moeda
(o nível de moeda não afetaria o lado real da economia). No longo prazo Keynes preserva isso.
No curto prazo Keynes pensa de uma forma e no longo de outra. Por preservar os aspectos
clássicos no longo prazo não há diminuição da importância das obras de Keynes desse
momento. As novidades mais interessantes desse livro são a conexão de aspectos monetários
e financeiros com os aspectos reais da economia. Por um lado Keynes não polemiza sobre
essas questões mas já introduz essa conexão entre lado monetário e lado real. Como ele faz
isso? Keynes segue o princípio metodológico da tradição marshalliana focando em cadeias
restritas de causa e efeito tentando localizar, link por link, tais conexões que permitiriam
pensar a inter-relação entre mudança de preço e quantidades produzidas. A ideia é conectar o
movimento dos preços e os níveis de produção fazendo uma análise dentro de setores
específicos os preços e as quantidades produzidas para entender como funciona a economia
monetária. Esse é o exercício metodológico que Keynes faz. Dois setores são analisados por
ele: o setor que produz bens de capital (investimento) e outro setor que produz bens de
consumo.
Renda, lucro e poupança são definidos por Keynes no “Tratado Sobre a Moeda”. No próximo
livro “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” Keynes não perde tempo redefinindo o
que ele discutiu em seu livro anterior. O centro da análise do seu primeiro livro (antecipando a
discussão do segundo livro) é a distinção entre investimento e poupança. O que Keynes
mostra é como que ambos são afetados por dois grupos diferentes: empresários e famílias.
Investimento e poupança parecem ser iguais, mas são duas coisas diferentes afetadas por dois
grupos de agentes econômicos diferentes, ou seja, investimento e poupança podem divergir
possuindo movimentos diferentes. Essa divergência é o que afetaria o equilíbrio ofertademanda da economia. Uma mudança nos preços geram lucros não previstos ou prejuízos não
previstos provocando uma reação dos empresários nos níveis de produção e de emprego.
Keynes monta os dois setores com bens de capital e bens de produção e após isso diferencia
investimento e poupança com base nas decisões de grupos diferentes. Após montar esse
desenho teórico ele percebe que existem divergências entre as duas coisas que afetariam o
lado real da economia (produção e emprego). Dentro do auto ajuste do mercado dado pela
tradição marginalista há críticas percebidas por Keynes. Investimento e poupança são
conceitualmente diferentes por serem frutos da decisão de dois agentes econômicos diferentes
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apesar de serem iguais no longo prazo. Decidir investir e decidir poupar são decisões tomadas
por grupos diferentes. A economia pressupõe um equilíbrio entre ambos para que o cálculo
seja fechado no final das contas.
A poupança está conectada à riqueza e a estabilidade no curto prazo. Dentro de uma
interpretação sobre a dinâmica econômica, a importância recai sobre o investimento. A
variação destes é que são o ponto fundamental da dinâmica econômica. Existe uma ligação
entre investimentos em capital fixo com a ideia de inovação dita por Schumpeter.
Para estudarmos Keynes devemos discutir antes a síntese neoclássica, assim como fazendo
quando estudamos macroeconomia. Porém, alguns dos conceitos que estudamos em
disciplinas de macroeconomia não são os mesmos encontrados na obra de Keynes. Para ele, o
equilíbrio clássico seria algo pontual sendo que o caso geral seria outro.
30. AULA 30 – KEYNES II (21/11/2013)
Iremos tratar da transição dos dois livros mais importantes de Keynes: “Tratado Sobre a
Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. É importante sabermos também as
ideias principais sobre o segundo livro, principalmente a noção de demanda efetiva.
Quando falamos de pós-keynesianos nos referimos a um grupo que leu a obra de Keynes
recuperando aspectos que não foram incorporados pelo mesmo. Eles fizeram outras
interpretações sobre a obra de Keynes. A leitura as vezes é complicada e devemos nos atentar
a tudo isso.
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Keynes estava inserido em um círculo com outros jovens economistas de Cambridge que
também se tornarão famosos. Boa parte das ideias de Keynes foram debatidas e enriquecidas
por esse grupo. Hoje já é aceito que ele começou a olhar criticamente para a estrutura
analítica sobre “Tratado Sobre a Moeda” antes mesmo de publicá-lo, ou seja, ele estava
insatisfeito com o resultado e mesmo assim publica o livro. Assim ele já estava pensando em
uma nova obra. A grande diferença geral entre os dois livros importantes de Keynes é que no
“Tratado Sobre a Moeda” Keynes está preso ao desiquilíbrio no curto prazo da dinâmica
econômica. Em “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” Keynes passa do desequilíbrio
para uma tentativa de análise de equilíbrio com subemprego. Sua contribuição principal está
em construir um equilíbrio em uma situação de subemprego de fatores. Dessa forma ele critica
a teoria clássica considerando-a específica dentro do caso geral. Os nexos causais explicativos
são então alterados e ele abandona a explicação ligada aos juros e parte para explicar as
situações com base na renda e no investimento. Para Keynes fazer a análise dos diversos
equilíbrios possíveis era necessário uma teoria sobre as taxas de juros. Essa é uma questão
problemática já que ele faz uma teorização sobre os juros não se ocupando com a teoria do
valor. Para Keynes o valor das coisas já estava resolvido por Marshall, ou seja, ele toma isso
como dado. Temos então uma influência de um discípulo de Keynes sobre o próprio Keynes!
Marshall dizia que a mensuração do valor era determinado pelo custo objetivo da produção do
longo prazo e a utilidade marginal no curto prazo. Essas duas coisas determinam o valor para
Marshall mas em horizontes temporais diferentes. Ao tentar passar da análise de desequilíbrio
para a análise de equilíbrio com subemprego de fatores, Keynes está fazendo uma leitura de
equilíbrio parcial usando uma visão de equilíbrio que se encaixa com a perspectiva
marshalliana. Sua análise é centrada no curto prazo e quem pensou no valor no curto e longo
prazo foi Marshall. As ideias de Keynes não surgiam do nada. Influenciado pelo multiplicador
desenvolvido por Kahn, Keynes faz uma análise que também está de acordo com a visão de
Marshall que era um de seus discípulos.
A ideia crucial que permite uma crítica à teoria clássica e que é também oposta à teoria
marginalista tradicional está relacionada com a figura do empresário. Em uma economia
monetária, as decisões dos empresários sobre os níveis de produção não são necessariamente
consistentes e não são automaticamente realizadas pelos mecanismos de mercado. Esse ponto
de divergência é fundamental e permite que Keynes inicie uma discussão diferente das
anteriores permitindo que haja uma situação de equilíbrio mesmo sem haver uma plena
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utilização dos recursos disponíveis enquanto que anteriormente o equilíbrio só existia com a
plena utilização dos mesmos recursos.
Na medida em que Keynes recoloca a questão de que não há ajuste automático de mercado ou
que a decisão dos empresários não são consistentes, podemos ter na economia um equilíbrio
com subemprego de fatores. Nesse tipo de situação não existe um mecanismo automático que
recoloque a economia no estado de pleno emprego. Assim seria preciso algum tipo de controle
ativo na economia para permitir a saída do equilíbrio do subemprego para o equilíbrio com
pleno emprego. Em “Teoria Sobre a Moeda” existiria uma alavanca financeira monetária e em
“Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” existiria uma alavanca fiscal para que o
equilíbrio com pleno emprego fosse atendido.
Os pilares analíticos presentes no livro “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”
também estão presentes na tese de Kahn. São eles: demanda efetiva, teoria da taxa de juros
baseada na demanda especulativa sobre moeda e o mecanismo do multiplicador. Esses três
pilares são importantes para entendermos a obra de Keynes e o crédito do multiplicador é
dado por ele a Kahn em seu livro.
“Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” foi publicado em 1936 e gerou uma discussão
muito densa causando muita influência entre os economistas. Rapidamente o livro se converte
em um ponto de referência básico para pesquisas e aulas de macroeconomia.
Keynes está explicitamente preocupado na defesa do sistema político liberal baseado na
liberdade de iniciativa individual. Ele não se afasta hora nenhuma dessas questões. O que ele
discute é que é preciso haver limites dados por intervenção ativa do estado; porém, sem
substituir o mercado. A intervenção ativa do estado na economia deve ser dada para aumentar
o grau geral de eficiência do sistema já que o mercado sozinho não conseguiria resolver os
atuais problemas. Aumentar a justiça, a equidade e a eficiência do sistema seria papel do
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estado. A partir daí ele entra na discussão de uma economia monetária de produção.
Anteriormente o lado monetário já estava conectado com o lado real da economia. Ele discute
produção em termos monetários usando uma questão analítica importante que seria a
incerteza. O tempo todo as condições de incertezas são tratadas por Keynes enquanto os
agentes monetários tomam suas decisões. Assim ele consegue explicar o curto e longo prazo e
como as decisões de produzir são tomadas. Esse tema o permite domar a questão do
desequilíbrio graças a tais instrumentos analíticos.
Keynes gasta um terço da “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” para falar sobre a
demanda efetiva. O conceito básico dessa demanda permitiu que houvesse enquadramentos
com a síntese neoclássica. Existe um ponto de demanda efetiva para Keynes. Tal ponto seria o
de
encontro
entre
demanda
agregada
e
oferta
agregada.
Essas
duas
curvas
são
conceitualmente diferentes de um gráfico tradicional de oferta e demanda. As duas curvas
relacionam preço e quantidade, mas de fato se relacionam com o número de trabalhadores. A
oferta agregada seria o preço dado N trabalhadores trabalhando. A demanda agregada seria os
proventos que os empresários desejam receber fruto de empregar N trabalhadores. O ponto da
demanda efetiva seria o ponto de encontro dessas duas curvas. A ideia de demanda efetiva é o
encontro de duas noções diferentes. A ideia clássica é apenas um dos pontos possíveis dentro
das duas funções, mas no geral existem outras possibilidades. Essa ideia de oferta agregada,
demanda agregada e demanda efetiva anteriormente analisada é exatamente o que Keynes
coloca em seu livro. A síntese neoclássica é uma simplificação das ideias de Keynes. Em outras
palavras, a curva Z seria o mínimo de proventos necessários para persuadir os empresários
empregar N pessoas. E para cada valor dado de N teríamos Z igual ao custo total que os
empresários esperam suportar por empregar N trabalhadores. O custo total incluiria salários,
amortização de capital fixo, etc. Reciprocamente, D indica quanto os empresários esperam
ganhar ao vender no mercado os produtos que eles esperam obter do emprego de N
trabalhadores. As duas curvas expressam então pontos de vista e avaliações do mesmo agente
econômico que seria a figura do empresário. Isso é totalmente diferente de uma curva normal
de oferta e demanda que considera dois agentes econômicos diferentes (empresários e
famílias). Esse é um dos pontos mais sofisticados da apresentação do problema que Keynes
faz em seu livro. As duas curvas são conceitualmente diferentes mas se relacionam com os
mesmos agentes econômicos que seriam os empresários. Esse ponto da demanda efetiva seria
o ponto em que D = Z. É o nível esperado de emprego e produção dadas as expectativas de
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curto prazo dos empresários considerando tanto os custos quanto os proventos. A partir daí
podemos derivar uma série de reflexões. Supondo que as expectativas de curto prazo sejam
cumpridas (D = Z) podemos caminhar em uma análise que considera a demanda agregada e
seus
elementos
constitutivos
(consumo
e
investimento).
Devemos
perceber
que
conceitualmente existem diferenças entre consumo e investimento. Ao discutir consumo, a
renda se torna importante e ao discutir o investimento, a poupança se torna importante.
Investir depende da expectativa dos empresários e determina o nível de equilíbrio da renda.
Os fatores que determinam o investimento deslocariam a economia da situação de
subemprego para o pleno emprego.
O multiplicador permite que a renda varie mais do que proporcionalmente a um elemento de
gasto do governo ou investimento feito. O consumo e a poupança seriam passivos para
determinar a renda e o investimento teria papel ativo para determina-la devido ao efeito
multiplicador.
A teoria do juros se relaciona com um tipo de prêmio pela renúncia a liquidez para Keynes.
Esses três pilares analíticos definem a sua obra.
31. AULA 31 – HORÁRIO VAGO (26/11/2013)
32. AULA 32 – SEGUNDA PROVA (28/11/2013)
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33. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Clastres, Pierre. A economia primitiva. In: Arqueologia da violência. Trad. Port., São Paulo:
Cosac&Naify, 2004.
Finley, M. I.. A economia antiga. Trad. Port., Porto: Edições Afrontamento, 2ª. Edição, 1986.
(capítulo 1).
Mun, Thomas. England’s treasure by foreign trade. London, 1664.
Petty, W. Aritmética Política (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Quesnay, François. Análise do quadro econômico. In: Quesnay, François. Quadro econômico
dos fisiocratas. (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Smith, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. (Os
Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Capítulos 1 a 10).
Ricardo, David. Princípios de economia política e tributação. (Os Economistas), São Paulo: Abril
Cultural, 1982. (Capítulos 1 a 6).
Marx, Karl. O Capital. (Os economistas). São Paulo: Nova Cultural, 1988.
Jevons, William Stanley. A teoria da economia política. (Coleção Os Economistas). São Paulo:
Abril Cultural, 1983 [1871].
Menger, Carl Gustav. Princípios de economia política. (Coleção Os Economistas). São Paulo:
Abril Cultural, 1983 [1871].
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Walras, León. Compêndio dos elementos de economia política pura. São Paulo: Abril Cultural,
1983 [1877].
Schumpeter, Joseph Alois. A teoria do desenvolvimento econômico. Trad. Port., São Paulo:
Abril Cultural, 1982 [1911].
Keynes, John Maynard. Teoria geral do juro, do emprego e da moeda. Trad. Port., São Paulo:
Abril Cultural, 1983 [1936].
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CIÊNCIAS ECONOMICAS – 2 PERÍODO
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