ROTEIRO DE ESTUDOS HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS CIÊNCIAS ECONOMICAS – 2 PERÍODO HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONOMICO Roteiro feito por Pedro Oliveira de Sena Batista +55 31 8848.9888 posbatista@gmail.com 2 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 SUMÁRIO 1. AULA 1 – INTRODUÇÃO (08/08/2013) ................................................................. 5 2. AULA 2 – FINLEY E CLASTRES (13/08/2013). ...................................................... 6 3. AULA 3 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN I (20/08/2013) ............................... 8 4. AULA 4 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN II (22/08/2013) ............................ 11 5. AULA 5 – MERCANTILISMO E CAMERALISMO (27/08/2013) .............................. 14 6. AULA 6 – WILLIAM PETTY E MAURÍCIO COUTINHO (29/08/2013) .................... 17 7. AULA 7 – HORÁRIO VAGO (03/09/2013) ........................................................... 21 8. AULA 8 – ESTUDO DIRIGIDO “ECONOMISTAS POLÍTICOS” (05/09/2013) ......... 21 9. AULA 9 – ANÁLISE DO ESTUDO DIRIGIDO (10/09/2013) .................................. 21 10. AULA 10 – INTRODUÇÃO À FISIOCRACIA (12/09/2013).................................... 23 11. AULA 11 – FISIOCRACIA E QUESNEY (17/09/2013) .......................................... 26 12. AULA 12 – ADAM SMITH I (19/09/2013) ........................................................... 28 13. AULA 13 – ADAM SMITH II (24/09/2013) .......................................................... 31 14. AULA 14 – ADAM SMITH III (26/09/2013) ........................................................ 34 15. AULA 15 – SEMINÁRIO ADAM SMITH (01/10/2013) .......................................... 36 16. AULA 16 – PRIMEIRA PROVA (03/10/2013) ...................................................... 36 17. AULA 17 – DAVI RICARDO I (08/10/2013) ........................................................ 37 18. AULA 18 – DAVI RICARDO II (10/10/2013) ...................................................... 43 19. AULA 19 – KARL MARX I (15/10/2013) ............................................................. 49 20. AULA 20 – KARL MARX II (17/10/2013) ............................................................ 53 21. AULA 21 – INTRODUÇÃO AOS MARGINALISTAS (22/10/2013) .......................... 60 22. AULA 22 – MENGER (24/10/2013) ..................................................................... 66 23. AULA 23 – JEVONS (29/10/2013) ...................................................................... 71 24. AULA 24 – WALRÁS (31/10/2013) ..................................................................... 76 25. AULA 25 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (05/11/2013) ...................... 81 3 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 26. AULA 26 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (07/11/2013) ...................... 82 27. AULA 27 – SCHUMPETER I (12/11/2013) ........................................................... 82 28. AULA 28 – SCHUMPETER II (14/11/2013) ......................................................... 87 29. AULA 29 – KEYNES I (19/11/2013) ................................................................... 94 30. AULA 30 – KEYNES II (21/11/2013) ................................................................ 100 31. AULA 31 – HORÁRIO VAGO (26/11/2013) ....................................................... 104 32. AULA 32 – SEGUNDA PROVA (28/11/2013) ..................................................... 104 33. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 105 4 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 1. AULA 1 – INTRODUÇÃO (08/08/2013) A história do pensamento econômico possui duas abordagens: a absolutista e a relativista. A diferença entre esse tipo de história e a história econômica é que a história do pensamento econômico faz um conjunto de reflexões a respeito da economia como ciência e a história econômica faz reflexões ao longo do tempo de toda a base econômica e social. A primeira então prioriza a evolução de ideias e como elas surgiram ao longo do tempo. A abordagem absolutista faz reflexões das teorias econômicas dos principais economistas do passado, independente de outros fatores externos. Essa abordagem analisa tais teorias até o momento presente. Está focada então apenas na teoria. A abordagem relativista se preocupa com o indivíduo em si e de como tal indivíduo foi desenvolvendo as suas ideias. Aqui existe uma preocupação com a formação e a trajetória do indivíduo que desenvolve teorias econômicas. A vantagem da abordagem absolutista é que ela permite que haja uma reconstrução analítica de termos econômicos que ajudam a entender melhor de onde os conceitos atuais surgiram. A desvantagem está no desenvolvimento ortodoxo, bastante valorizado aqui ao longo do tempo, além dessa abordagem querer transformar a história em um tipo de julgamento considerando fatos como certos e outros como errados. Eleger o presente de uma determinada forma e reconstituir o passado a partir deste presente pode envolver esse risco. Partindo dessa ideia, de acordo com a abordagem absolutista, tudo aquilo que é mais recente em termos econômicos seria o melhor em relação ao passado, mas isso não é necessariamente o correto. A abordagem relativista não é necessariamente melhor que a abordagem absolutista, mas ela explica melhor os pressupostos ideológicos econômicos e as correntes de pensamento econômico que surgiram a partir de diversos autores que muitas vezes se relacionam entre si com suas teorias. A desvantagem da abordagem relativista é que existe um certo esvaziamento do conteúdo analítico da teoria econômica. Essa abordagem possui dificuldade 5 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 de lidar com ideias analíticas puras, bem como abstrair tais ideias para explicar trajetórias econômicas de alguns indivíduos. A maioria dos estudiosos da história do pensamento econômico lidam com as duas abordagens, às vezes uma, às vezes outra, e às vezes as duas simultaneamente. Não existe uma abordagem melhor do que a outra. Ao ler algum texto é necessário tentar perceber qual abordagem está sendo utilizada. A história do pensamento econômico não pode ser vista como uma ciência exclusiva, mas sim como uma história que permite termos uma dimensão crítica a respeito da economia como ciência. 2. AULA 2 – FINLEY E CLASTRES (13/08/2013). Os textos de Finley e Clastres tratam de economia primitiva e economia antiga e ambas as coisas são diferentes uma da outra. Clastres faz uma resenha sobre o livro de Sahlins, ou seja, um resumo informativo e com posicionamento, de forma a divulgar as ideias que são tratadas pelo autor do livro. Clastres então está escrevendo sobre economia primitiva. Por outro lado, Finley escreve sobre economia antiga. Qualquer fonte histórica escrita por alguém carrega consigo uma determinada crítica que está enraizada no historiador. Há dois tipos de crítica: a interna e a externa. A interna é para analisar argumentos e entender o texto escrito. A externa significa analisar informações e levantar perguntas que muitas vezes não possuem resposta em um determinado texto ou livro. Precisamos entender porque Finley começa o seu texto da data escolhida e o que ele quer dizer com economia antiga. A economia como objeto de estudo se diferencia da economia como ciência. A conclusão de Finley é que existia, em tempos remotos, na Grécia Antiga, uma economia antiga, mas não existia economia como ciência. A palavra “economia” pode significar 6 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 objeto de estudo ou ciência e na Grécia Antiga só o primeiro significado está presente. Além disso Finley diz que o que diferencia a economia pré-século XVIII e pós-século XVIII é o conhecimento autônomo. Na Grécia Antiga não existia conhecimento autônomo de economia e Finley usa o exemplo de Aristóteles. A economia existia como ideia, mas ela estava ainda presa à política. A evolução até o conhecimento autônomo foi vagarosa e complexa. As bases para a argumentação de Finley são os livros de Hutcheson. Todo o questionamento se dá em cima dos conceitos de economia presentes nesses livros. Finley diz que na Grécia Antiga, a palavra economia possui significado relacionado à casa, lar e administração dos mesmos. Aristóteles falava de economia dentro da política, mas Xenofontes escreveu posteriormente apenas sobre economia. A economia antiga se diferencia da economia atual, apesar de ambas se assentarem sobre as mesmas bases conceituais. Antigamente a economia era carregada de base material, mas não de ciência econômica e muito menos de economia política. Em outras palavras, existia economia no mundo antigo, mas não existia conhecimento econômico. Esse é o argumento principal do texto de Finley. O uso do termo economia no alemão está ligado à literatura do pai de família. Isso se refere ao entendimento de economia para o mundo antigo. Finley às vezes diz que tanto Xenofontes quanto Hutcheson possuem o mesmo ponto de vista, mas os argumentos de ambos são diferentes. Com o passar dos anos o poder do Estado foi aumentando, tanto politicamente quanto economicamente e militarmente. Isso ajudou o conhecimento econômico na medida em que ele passa a se destacar, surgir e evoluir, processos que no mundo antigo não ocorreram. Avanços em outros campos do conhecimento fizeram surgir o método científico que auxiliou diversas compreensões no ramo da economia. Progressivamente as ideias foram convergindo gerando o conhecimento econômico que temos hoje. Finley fala de uma base material que se transforma em uma base de conhecimento a partir do momento em que o capitalismo moderno surge. Clastres, em sua resenha sobre o livro de Sahlins, fala sobre economia primitiva, sendo ela mais recente e diferente da economia antiga. Sahlins e Clastres criticam as sociedades 7 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 primitivas que são em sua maioria vistas como sociedades de subsistência. Além disso o texto visa mostrar como diversos autores criaram essa ideia de taxar a economia primitiva em economia de subsistência. A economia dos povos primitivos acabou gerando o senso comum de que eles mal conseguiam viver, tendendo a desaparecer. É uma análise que vai contra as evidências e é por isso que Clastres e Sahlins realizam críticas a essas falsas ideias. A discussão é que existe uma narrativa básica sobre a evolução da economia da qual todos os antropólogos ficaram reféns. Essa narrativa é a de que a economia tende a crescer e se ela não cresce é porque tem algo errado. Clastres explora argumentos para mostrar que essa narrativa não é verdadeira pois não explica de maneira razoável algumas evidências observadas em povos primitivos. Clastres avança e diz que tais povos eram contra a economia enquanto base material capitalista, sendo que esta base estava inserida em outros contextos. Por causa disso a sociedade primitiva era interpretada de forma errada, daí surge toda a sua crítica. Mesmo quando os povos primitivos começam a realizar trocas, não quer dizer que uma sociedade de mercado havia surgido. As trocas eram baseadas na reciprocidade e vínculos entre as pessoas eram formados. Tais vínculos não existem no mundo de hoje (mundo moderno). Ambos os textos tratam de como a economia se torna autônoma a partir de uma base material que antes a deixava presa junto a outros fatores. No nosso mundo atual, moderno e capitalista, a economia já é bastante autônoma. OBS: No momento em que a economia vai se tornando autônoma, só faz sentido falar em ciência econômica quando há capitalismo. 3. AULA 3 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN I (20/08/2013) Não existe um consenso entre os autores para designar o que vem a ser o mercantilismo, pois o intervalo de tempo em que o sistema vigorou foi muito grande e cada autor publicava trabalhos com suas próprias impressões analíticas sobre o que vinha a ser tal sistema. Na fisiocracia havia uma unidade em que os autores convergiam para as mesmas ideias. Aqui, o 8 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 mercantilismo, devido as suas variantes em cada país, não possuía unidade e sua definição ainda é bastante dispersa; porém, cada uma das definições se assemelham em algum aspecto. O livro de Thomas Mun não foi impresso assim que terminou de ser escrito. Várias pessoas compartilharam o texto e apenas quando o filho do autor publicou o manuscrito é que tivemos a primeira edição lançada em 1664. É necessário fazer uma crítica externa do livro e entender em que contexto ele está inserido e depois partir para a crítica interna. O livro é sobre um comerciante envolvido diretamente com trocas comerciais e que está defendendo o seu ponto de vista deixando-o bem claro para o leitor. Aquilo que começa a dar unidade ao mercantilismo se refere à glória do Estado e o aumento do poderio do mesmo. Vários textos que tratam de diferentes tipos de mercantilismo abordam o fortalecimento do estado como aspecto central. Thomas Mun escreve sobre os métodos a serem adotados pelo Estado inglês de forma a aumentar a sua riqueza. Dentre os vários modelos de mercantilismo que surgiram na Europa, todos tratam do aumento do poderio do Estado levando em conta uma visão da economia naquele momento. As diferenças entre o mercantilismo na Europa eram várias e cada país desenvolveu um tipo particular desse sistema. O mercantilismo abrange um período de 300 anos que se inicia no século XV e vai até o século XVIII. Durante todo o período houve mudanças no modelo que contribuíram para a sua formação, consolidação e atuação. Foi uma característica de países que eram muito diferentes entre si e com pouca interação. O termo mercantilismo foi cunhado em épocas recentes de forma a explicar um comportamento antigo apresentado pela economia e pelo Estado: a) Portugal e Espanha praticaram o bulionismo (busca por metais preciosos). O descobrimento de metais pela Espanha nas minas de Potosí causou um grande fluxo de metais preciosos para este país e para a Europa. Como consequência houve um aumento de preços que levou a Espanha a se preocupar com o controle da entrada e saída de divisas de seu território. b) Inglaterra e Holanda priorizavam o comercialismo, tipo de mercantilismo que dá importância a uma balança comercial favorável com o auxílio de monopólios e privilégios. 9 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 c) França se preocupou em intervir diretamente na economia priorizando a manufatura de luxo, já que a estrutura social privilegiava classes superiores capazes de acumular riqueza e comprar tais produtos movimentando assim a economia naquele momento. É comum denominar o mercantilismo francês de colbertismo devido ao primeiro ministro Colbert. Os portugueses adaptaram o comercio ultramarino no século XVII quando a escravidão negra se tornou prioridade. Com isso, uma estratégia de “comércio triangular” entre Portugal, África e Brasil se desenvolveu transformando Portugal em um importante entreposto comercial entre o novo mundo e a Europa. Na verdade, mais do que um “comércio triangular”, essa estratégia era uma relação bilateral entre África e Brasil. O cameralismo nos estados germânicos visava a recomendação do príncipe e dar a ele a instrução necessária para governar e ensiná-lo que o Estado possuía um papel crucial na economia e na vida das pessoas. Todos os exemplos anteriores, apesar das diferenças, retratavam uma etapa da economia que estava inserida no desenvolvimento do capitalismo comercial que gerava, naquele momento, os conceitos de mercantilismo que hoje conhecemos e que visa sempre aumentar o poderio do Estado. No caso da Inglaterra, todos os trabalhos publicados na época do mercantilismo foram escritos por comerciantes que orbitavam um mundo marcado por diversas trocas comerciais. A literatura econômica, desde Finley e Clastres até os autores mercantilistas, foi evoluindo. Dos gregos até a época medieval, o assunto que mais era abordado envolvia a justiça. São Tomás de Aquino, ainda no período medieval, introduziu novos trabalhos nessa literatura e abriu portas para que trabalhos sobre economia começassem a surgir como, por exemplo, a ideia do preço justo das mercadorias. Os autores mercantilistas retomam a discussão medieval sobre essa ideia. Thomas Mun não se preocupa com o preço justo, mas ele dialoga com outros autores que se preocupavam com o tema. Ele está preocupado com a balança comercial favorável, englobando aspectos relacionados ao câmbio entre as moedas. Para Mun, diferentes moedas eram questões técnicas que mereciam interesse. Seus opositores dizem que o câmbio deve ser controlado pelo estado para regular preços (preços justos). Já Mun possuía outra 10 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 concepção de que o câmbio deve ser regulado pelo próprio comércio. Estas discussões não podem ser tratadas com a visão moderna de economia que temos hoje, pois os motivos para o estado controlar ou não o câmbio naquela época são totalmente diferentes dos motivos de hoje. O livro de Thomas Mun procura romper com ideias anteriores pois para o autor o câmbio deve ser controlado pela balança comercial e não pela vontade do soberano, como seus antecessores defendiam. O seu livro defende a manutenção do comércio com a Companhia das Índias Orientais já que ele próprio era o diretor na época. Futuramente Adam Smith ataca duramente o ponto de vista de Thomas Mun. Toda a discussão sobre Thomas Mun e a história do pensamento econômico não pode ser tratada com a visão de economia que temos hoje já que as ideias, motivações e perspectivas eram diferentes antigamente. Os contextos eram diferentes dos atuais. Dois outros nomes importantes para o mercantilismo, assim como Thomas Mun, são Malynes e Misseldens. Este último é antagonista de Thomas Mun e ambos são antagonista de Malynes. Misseldens introduziu a ideia de balança comercial favorável que foi apropriado por Thomas Mun. Malynes é ambíguo por se posicionar ora como comerciante e ora como funcionário do governo da Inglaterra. Ele expressa uma concepção de que o câmbio deveria seguir princípios morais com base na ideia de preço justo, ou seja, o câmbio deveria ser controlado pelo rei e por instituições governamentais. Misseldens e Mun discordam de Malynes quanto ao câmbio, mas também discordam entre si sobre qual deveria ser o destino da moeda. Thomas Mun defendia a ida de moeda para a Companhia das Índias Orientais, mas Misseldens defendia que a moeda deveria ficar com o soberano o que se opõe aos privilégios comerciais da Companhia das Índias Orientais. Misseldens queria um comércio apenas com povos cristãos, já que para ele o comércio com povos de outras religiões geraria problemas. 4. AULA 4 – MERCANTILISMO E THOMAS MUN II (22/08/2013) Em história do pensamento econômico as ideias econômicas antigas são mais simples, do ponto de vista moderno, do que as ideias atuais. Porém, compreender aspectos do período 11 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 estudado pode ser complicado e entende-los é fundamental para compreender o que os pensadores econômicos estavam dizendo. Do século XVI para frente as questões monetárias (moeda como algo específico e com várias influências e aplicações) tornaram-se muito importantes com a entrada de metais preciosos na Europa vindos das colônias espanholas, o que ocasiona a chamada revolução dos preços, os quais aumentaram bastante. Esse aumento coloca em discussão a ideia do preço justo de cada mercadoria. No caso da moeda, que na época era entendida também como mercadoria, o preço justo não era necessariamente o seu valor de face, pois uma moeda podia ser abundante em um país (mais barata) ou escassa (mais cara). O sistema monetário era bem complicado na época, pois cada país possuía suas especificidades já que as moedas eram, em maioria, de ouro e prata, mas sem conversão de uma para outra. Além disso, por possuir conteúdo metálico, moedas de outros países eram aceitas dentro de um território e alguns reis ainda cobravam impostos sobre o conteúdo metálico das mesmas, recolhendo-as para retirar a sua parcela e recunhando-as. Em outros países as moedas passaram a não ser aceitas devido a essa recunhagem que acabava diminuindo o conteúdo metálico das mesmas. Essa situação, assim como outras, exemplificam as complexidades do sistema monetário da época antiga. Moedas com borda serrilhada passaram a ser feitas para que lascas das mesmas não fossem retiradas ocasionando diminuição de seu conteúdo metálico. O livro de Thomas Mun, amplamente circulado de forma completa e também parcial durante a época, é mais um debate sobre o que estava acontecendo naquele momento, gerando especulações teóricas e analíticas sobre economia e que foram evoluindo e abrindo portas para novos entendimentos. Dentro do livro existem palavras e frases bem analíticas e complexas que remetem a outras questões. Thomas Mun distingue riqueza de forma que capital e dinheiro não se misturam. Para ele, o capital deve ser aplicado e gerar um retorno em mercadoria (ativos, capital) ou em moeda. Para o autor, o Estado pode investir capital para ter retorno em mais moeda e mais mercadorias que podem novamente serem comercializadas. O que interessa ao estado é a riqueza e não necessariamente a acumulação de moeda trará tais riquezas. Acumular moeda não tem relevância para Thomas Mun, pois ele dá mais importância a ativos e capital do que a moeda em si. 12 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A todo tempo Thomas Mun fala sobre comerciantes, mas mencionando sempre qual a importância do comércio para a Inglaterra. Produtos que a Inglaterra tem monopólio devem ter o seu preço aumentado ao máximo enquanto produtos sem monopólio devem ser o mais barato possível. O autor era diretor da companhia das índias orientais, portanto, defendia a exclusividade de comércio e transporte de mercadorias por navios ingleses. Suas motivações se confundem com sua posição de diretor da companhia, ou seja, ele defende seu ponto de vista como diretor e como cidadão e comerciante inglês preocupado com a riqueza da Inglaterra. Exportar produtos e receber em mercadorias pode gerar ainda mais moeda e riquezas já que tais mercadorias possuem valor agregado e podem ser vendidas novamente o que faz delas bons ativos. Ao falar em “stock” em seu livro, Mun não se refere a estoques de mercadorias, mas sim em patrimônio, haveres, ativos, que são exemplos de capital que podem gerar ainda mais capital. Em 1620 houve uma crise econômica devido à escassez de moeda na Inglaterra. A moeda é uma mercadoria nesse contexto e com a escassez o seu preço é mais alto e o preço das demais mercadorias caem gerando deflação e indicando desaceleração da economia. O livro de Thomas Mun faz parte das discussões a respeito da crise. Uma das justificativas para ela estava no câmbio que distorcia o valor da moeda inglesa ocasionando sua saída. Outra justificativa dizia que o privilégio dado às companhias comerciais que exportavam muita moeda ocasionava o não retorno da mesma. Até mesmo judeus foram acusados por tais fatos o que acabou envolvendo religião ao problema. Ao tentar mudar valores das moedas com operações de câmbio, a moeda inglesa passou a valer menos do que o seu valor metálico (valor de face menor do que o valor metálico), fazendo valer a pena exportar a moeda para fora da Inglaterra. Essa explicação era uma das teses plausíveis para compreender a crise e a solução estava em reestabelecer o preço justo da moeda inglesa no mercado através da criação de instituições que regulamentariam tal preço. Sendo assim, o câmbio envolvendo a moeda inglesa deveria ser alterado e fixado (opinião defendida por Malynes). O problema era que as razões da crise não estavam bem esclarecidas naquele momento. O comércio estava em queda o que era fácil de ser percebido mas difícil de ser explicado. Uma explicação também plausível era a existência de concorrência internacional da Inglaterra com a Holanda. Além disso, a Europa vivia a guerra dos 30 anos nos territórios germânicos, ocasionando uma desvalorização do padrão metálico nessas áreas, já que eram grandes compradoras de produtos ingleses. A desvalorização ocorreu para financiar os gastos com a guerra. A Inglaterra passou a modificar o câmbio devido à desvalorização em tais áreas e essa é 13 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 também uma forte explicação para a crise. Outra corrente que se opõe a essa explicação toda diz que o problema não era o câmbio com entrada e saída de moeda, pois isso era controlado pela balança comercial. Misseldens é o primeiro a defender isso, assim como Thomas Mun em um segundo momento; porém, ambos discordam entre si pois Misseldens era contra os privilégios comerciais das companhias comerciais enquanto Thomas Mun era a favor. Misseldens fazia parte de comerciantes que não estavam vinculados à Companhia das Índias Orientais, a qual Thomas Mun fazia parte. Para eles, o fluxo comercial definia o câmbio e para resolver o problema da crise era necessário olhar o comércio e conseguir um baixo câmbio. Vendendo mais, a Inglaterra receberia mais moeda e o problema da evasão da mesma seria resolvido, contendo a deflação. Todo esse debate e oposição de opiniões se estruturou diante da crise de 1620. Foi uma disputa de perspectivas explicativas sobre o contexto. Em todo o período retratado a moeda era mercadoria, bem diferente da perspectiva de moeda que temos hoje. 5. AULA 5 – MERCANTILISMO E CAMERALISMO (27/08/2013) O mercantilismo é um termo criado em tempos modernos para rotular características comuns que surgiram em momentos diferentes e locais diferentes, ou seja, não é um movimento intelectual, mas um rótulo sobre certas ideias que surgiram na época em que o capitalismo estava nascendo. Thomas Mun diz que o fluxo de comércio externo (balança comercial favorável) é o que traz riqueza ao país e não o valor intrínseco da moeda. Uma das formas do mercantilismo é o cameralismo, uma das suas feições que existiu nos reinos germânicos. A história do pensamento econômico corresponde, para o nosso curso, a uma sequência linear de fatos e acontecimentos, assumindo o ponto de vista da economia política como referência. 14 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Apesar disso, esse método não é o ideal. Existe a maneira certa de se contar a história do pensamento econômico, mas existem também outras perspectivas. O nosso curso então poderia começar e terminar em vários pontos distintos; porém, seguimos o caminho mais tradicional apesar de existirem essas inúmeras possibilidades. A discussão que se segue mostra que muitas coisas em história do pensamento econômico estão conectadas. Schumpeter em seu livro de análise econômica apresenta perspectivas específicas, de acordo com seus interesses, dentro da história do pensamento econômico. O mesmo vale para Karl Marx. Esses exemplos evidenciam as demais possibilidades de partida e chegada em HPE. Schumpeter cita vários autores que desenvolvem ideias sobre o pensamento econômico em relação a estados absolutistas em que viviam. As literaturas dos conselheiros dos reis tratam de conceitos que aumentariam a riqueza e o poderio dos soberanos e dos seus respectivos estados. Ai entra o cameralismo. O cameralismo serviu de pedagogia para os membros da burocracia estatal. Vários textos passaram a surgir por volta do século XVIII e influenciaram vários anos até meados do século XX, como é o exemplo da Áustria. A produção do conhecimento para formar funcionários do quadro administrativo é o que distingue o cameralismo. A guerra dos 30 anos foi importante para a escassez de moeda na Inglaterra, mas também gerou uma queda populacional nos reinos germânicos. O problema populacional passou a ser urgente. Vários conselheiros dos reis dos diversos estados germânicos passaram a discutir métodos para aumentar novamente a população. Todos os cameralistas refletem a cerca dessa questão que é importante, pois o cameralismo se conecta a ele e o problema econômico começou a ser visto por uma outra perspectiva que não a inglesa e escocesa. Para estes, a economia era vista pela ótica da produção. A outra ótica possível é a do consumo. A economia poderia ser pensada pelo ponto de vista do consumo. A evolução da economia política, porém, priorizava a ótica da produção. Os cameralistas divergem por serem “menos sofisticados” e falarem de várias coisas como economia, política, direito, comércio, finanças, etc. A literatura cameralista e a maneira como ela surgiu acaba por fazer essa mistura e Schumpeter já dizia que o ponto de vista cameralista era importante por perceber a economia pela ótica do consumo por ser ela o motor propulsor da economia. E para haver consumo a população começa a ter importância. Em meados do século XVIII o mainstream do pensamento econômico estava focado em como aumentar o poder do estado e o cameralismo passou a 15 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 tratar desses temas relacionando consumo, população, finanças, etc. Essa perspectiva cameralista foi também englobada por aquilo que denominamos mercantilismo. Becher (não sei se o nome está certo!) é um autor elegido por Schumpeter como o primeiro a inaugurar a perspectiva cameralista do ponto de vista do consumo. Hornick (não sei se o nome está certo!), o outro autor cameralista, escreve sobre quais princípios a Áustria poderia obter sua hegemonia sobre outras nações. Para ele, as matérias primas deveriam ser utilizadas nas manufaturas nacionais, a população deveria ser grande e trabalhadora, as exportações de ouro e prata deveriam ser proibidas, o solo deveria ser aproveitado para se produzir a favor do país e as importações deveriam ser reduzidas e feitas a partir da troca com produtos nacionais. As importações permitidas eram as de matéria prima para se produzir produtos nacionais a serem comercializados. Todos os princípios que este autor defende têm haver com comércio e não se relacionam com Thomas Mun. Esses princípios se relacionam com a riqueza a partir de um aumento de produção, aumento de população para estimular o mercado interno e colocar a moeda do país em circulação. O discurso econômico dá voltas e perspectivas diferentes se confrontam, assim como a ótica da produção confronta com a ótica do consumo. O cameralismo também surge diante do problema de se unificar áreas comuns e seus mercados, pois estes estavam separados o que dificultava as trocas devido a taxas e impostos. A ideia do cameralismo era abaixar impostos nessas áreas criando uma base comercial mais ampla. Isso também provocaria o aumento populacional criando uma base demográfica maior para arrecadação de impostos. Cameralismo vem de câmara, local onde o príncipe recebia seus consultores para tratar de burocracia estatal. Cameralismo se relaciona muito com as finanças públicas em aspectos específicos como, por exemplo, metais preciosos, já que em áreas germânicas existiam minas de ouro e prata. Além disso a madeira de bosques e florestas também se relaciona com o cameralismo, pois essa madeira gerava carvão para sustentar as minas e casas de fundição. Os cameralistas sabiam que a madeira era escassa, um recurso finito que se não fosse preservado levaria o reino a diversos problemas. Essa é uma visão moderna que o cameralismo possuía. A perspectiva cameralista influenciou outros países como os da península ibérica. Portugal tinha minas em suas colônias, população pequena que dificultava a colonização e outras 16 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 características. Ou seja, possuía dilemas que o cameralismo retratava. Após o terremoto de Lisboa em 1755, a maneira utilizada pelo governo para reestruturar a cidade tangencia princípios cameralistas. O cameralismo, que hoje pode ser estranho, naquele momento do século XVIII era o mainstream da economia, constituindo-se a principal forma de pensamento econômico. A ciência da polícia é um dos ramos centrais do cameralismo. A polícia aqui tem um sentido diferente da ideia de segurança pública de hoje. Polícia no século XVIII dizia respeito à administração interna do estado, como regular pesos e medidas no comércio, etc. A ciência da polícia se desenvolveu no cameralismo. Von Justi será um dos principais sistematizadores da ciência da polícia que é a junção de vários conceitos a favor da administração interna do estado. Essa ciência sistematiza os problemas econômicos do estado. O resumo da discussão é que o pensamento econômico do século XVIII é resultado de uma mistura de conceitos que vincula a economia ao estado. Adam Smith rompe com esse novo conceito com o liberalismo que privilegia escolhas individuais e a auto-regulação. O mainstream do século XVIII privilegiava o cameralismo e Von Justi dizia que o importante era a felicidade do estado e dos súditos. Coisas diferentes deveriam ser conciliadas. Adam Smith se opõe a essa ideia. No final do século XVIII a sociedade civil e o estado eram vistos como sendo a mesma coisa e a figura do indivíduo ainda não era central e importante como para Adam Smith. Os cameralistas enxergavam a sociedade como uma parte do corpo do estado. Marx mais à frente distingue a sociedade e estado criticando o cameralismo. No século XVIII a ciência da polícia tratava de economia de uma forma diferente da perspectiva inglesa e escocesa. 6. AULA 6 – WILLIAM PETTY E MAURÍCIO COUTINHO (29/08/2013) 17 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 O texto de William Petty faz parte de um livro que aborda diversas questões. Em história é sempre importante perceber as datas dos acontecimentos de forma a contextualizá-los. Assim podemos também entender quando alguma ideia surgiu e quando ela deixou de ser importante. Anteriormente foi discutido rótulos mercantilistas, ora bons, ora ruins, que prevaleceram do século XVI ao século XVIII. William Petty está no final do século XVII e início do século XVIII. Do ponto de vista da evolução do pensamento econômico, os séculos citados são muito importantes. A partir do século XIX a economia política clássica passou a ser muito importante. Mecanismos impessoais de funcionamento da economia, como o mercado, não dependem das vontades individuais (pessoais) dos indivíduos. Thomas Mun já defendia esse ponto de vista ao considerar que o fluxo comercial controlava o câmbio, e não a vontade do soberano. Adam Smith no século XIX proporcionou significativos avanços na economia política e no século XX houve reconstruções analíticas a respeito do que foi produzido em séculos passados. Porém, ao fazer isso, as vezes as informações podem ser distorcidas, pois estamos analisando um período anterior do ponto de vista atual. O texto de Petty dá enfoque a população. Entre meados do século XVII até meados do século XVIII vários temas similares surgiram em diferentes partes da Europa como, por exemplo, o tema populacional. O tema aritmética política cunhado por William Petty só foi publicado após sua morte em 1680, apesar de ter sido escrito na década de 1660-1670. Apenas na segunda metade do século XVIII é que a aritmética política passou a ser altamente contemplada pela Europa. Um determinado soberano naquela época passou a tomar decisões com base em aritmética política. Além disso, a obra de Petty foi oferecida ao rei da Inglaterra, o que reforça a ideia da existência de conselheiros do soberano, como já retratado pelo cameralismo. O autor de Aritmética Política nos permite analisar a evolução científica da economia no século XVII, o que contribui para torna-la autônoma. Tudo que Petty fala se fundamenta em números para tornar a argumentação mais sólida. Os números eram estimativas para a época. Petty não só diz qual método irá utilizar, mas também elogia o próprio método por ele utilizado e mais tarde essa metodologia passou a ser amplamente difundida. Dessa forma, a questão numérica passou a fazer parte da economia. 18 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 William Petty faz parte de um contexto bem específico em que estão presentes as instituições econômicas. Uma delas era a Royal Society inglesa, instituição que tratava de especificações econômicas da época. Existe então um projeto científico pôr traz dessa metodologia científica adotada por Petty diante dessa instituição. Tal metodologia foi influenciada pelo pensamento indutivo de Francis Bacon de forma a tentar explicar e deduzir leis sobre o funcionamento do mundo político e econômico. Apesar de fazer muitas estimativas, Petty tenta se basear na realidade para não fornecer falsos dados. Além disso, a figura do autor é importante pois ele próprio está inserido no período pré-clássico (XVII-XVIII) que ajudou a construir a economia clássica que hoje conhecemos (XIX-XX). O texto de Maurício Coutinho menciona William Petty que iniciou sua carreira na medicina, assim como outro importante nome da economia, Quesney. O vínculo entre medicina e economia existiu no tempo de Petty e até faz certo sentido naquela época. Petty estudou medicina na França e na Holanda. Tentou, ao ir para a França, tornar-se comerciante, mas não prosperou e decidiu estudar para se tornar um acadêmico e posteriormente a isso entrou na burocracia do estado. Muitos pensadores econômicos tiveram experiências estudiosas e acadêmicas parecidas com a de Petty, além de também terem experiências na área comercial e estatal. Petty mistura todas as suas experiências em sua trajetória. Ao voltar para Inglaterra ele tenta se tornar professor e se junta a outros pensadores que integram a Royal Society. Como professor passou a lecionar medicina, mas também era professor de música. Várias coisas foram feitas por ele durante sua vida. Atualmente pode parecer que tais experiências são desconexas, mas naquela época todas elas se relacionavam entre si de alguma forma. A medicina estava passando por uma revolução de conhecimento e Petty, além de vivenciá-la, trabalhava com anatomia. Esse ramo da medicina trata de proporções e envolve embasamento matemático. Sua formação acadêmica teve influência matemática que o levou para medicina, música e, posteriormente, a tratar de economia, contextualizando-a com números. Tais áreas que parecem aleatórias se conectam através da matemática. Daí o seu livro possui forte embasamento matemático por esse ramo da ciência estar presente em toda a sua formação. Mais tarde Petty se licencia de seus empregos e integra o exército de Cromwell, como médico, indo para Irlanda. Uma de suas funções era remarcar as terras de irlandeses que foram expulsos para o norte. Para fazer a divisão das terras Petty se dispôs de conhecimentos de matemática que auxiliaram na remarcação e em estudos de cartografia. Na medida em que há 19 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 a divisão de terras e em que Petty se torna proprietário de algumas delas, disputas judiciais de posse se iniciaram. Nesse contexto e nessa trajetória de vida Petty acumulou conhecimento suficiente para escrever o seu livro. Ele observou que a Inglaterra era mais rica do que se parecia e decidiu provar isso com números. Petty em seu livro passa a construir concepções de riqueza. A contabilidade nacional passa a ser importante em seu trabalho. Seu livro introduz concepções de contas que mais tarde originariam a contabilidade nacional, ou seja, uma forma de vislumbrar a riqueza de um país. Em Aritmética Política a riqueza se relaciona com o trabalho. A ótica do consumo não é importante para ele, mas sim a força de trabalho de uma nação. Os fatores de produção seriam mais importantes para a riqueza do país (terra, capital e trabalho). Esse raciocínio envolve conhecimentos de contabilidade tais como receita, despesa, princípio das partidas dobradas, etc. De um lado temos a despesa com gastos e a receita com salários, lucros e renda. Petty já sabia que tanto despesa como renda deveriam ter o mesmo valor final e suas contas visavam estimar o valor da população medido com base no trabalho. Dessa forma seria possível estimar o valor de toda a Inglaterra. Esse tipo de análise reflexiva promoveu avanços econômicos na época. Diferentemente de outros membros da Royal Society, os feitos de Petty não vingaram de imediato. Ele colaborou também significativamente para o avanço da demografia, mas esse e outros ganhos não foram valorizados de imediato. Somente no século XX é que tudo que Petty fez passou a ser valorizado, culminando na contabilidade nacional. O cameralismo se desenvolveu na época em que Petty viveu, mas ele não era cameralista apesar de existirem semelhanças entre cameralismo e o seu trabalho intitulado Aritmética Política. No fim, Petty acabou sendo satirizado por outros autores devido a algumas de suas ideias. Swift foi um dos que fizeram isso. 20 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 7. AULA 7 – HORÁRIO VAGO (03/09/2013) 8. AULA 8 – ESTUDO DIRIGIDO “ECONOMISTAS POLÍTICOS” (05/09/2013) 9. AULA 9 – ANÁLISE DO ESTUDO DIRIGIDO (10/09/2013) Quando estudamos HPE, a primeira coisa que vem a nossa mente é determinar quem são os autores e qual o contexto histórico em que os textos estão inseridos. É necessário sabermos quais são os interesses dos autores e quem eventualmente pode estar financiando ambos. Thomas Mun estava mais preso aos aspectos comerciais enquanto Petty prioriza aspectos do trabalho. Mun é um autor mais antigo do que Petty e escreve em um contexto em que a Inglaterra não era tão rica quanto na época de Petty. Na antiguidade a esfera econômica não era importante, ou seja, ela era mais fechada do que atualmente. Na época dos autores já existiam nações que competiam com suas economias. Com o passar do tempo os autores posteriores não utilizaram mais o método indutivo em suas análises além de não se prenderem muito aos dados. Thomas Mun e William Petty, assim como Pierre de Boisguilbert, não escrevem sem objetividade. Todos escrevem como conselheiros do soberano. Mun fala de moeda como ela sendo um estoque de riqueza da coroa e mais tarde Adam Smith contradiz essa ideia. Petty diz que a riqueza da coroa não é importante, mas sim a riqueza do povo e dar a ele condições de viver sob um nível mínimo de riqueza. Pierre de Boisguilbert era francês e a França era na época uma economia mais agrária do que a Inglaterra e por isso o seu texto trata muito de aspectos relacionados a terra. 21 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Ao estudar HPE devemos evitar o erro do anacronismo, ou seja, usar conceitos de uma época para poder explicar outra. Outro equívoco que também precisar ser evitado é o da teleologia, além das generalizações entre diversos autores. Sobre a questão 1 do estudo dirigido, Petty tenta dar uma ideia geral sobre o que seria a riqueza da Inglaterra em sua época. Nem a indução e dedução puras são confiáveis, então Petty passa a deduzir várias questões de maneira não empírica, mas não tão confiáveis. Sobre a questão 2 do estudo dirigido, Thomas Mun considera que a riqueza não provém apenas da balança comercial favorável, mas também do estoque de mercadorias que funcionam como ativos financeiros. A balança comercial para ele é o fator que dinamizaria a economia do reino com a entrada de metais. Nenhum dos autores é totalmente imparcial pois cada um é influenciado por determinados contextos históricos. Todos mencionam os metais preciosos, uns defendem que eles são fonte de riqueza e outros não. O conceito de riqueza, na época dos autores, vai se tornando mais complexo devido ao fato de que há uma desmistificação dos metais preciosos como fonte de riqueza. Todos os 3 autores estudados passam a questionar esses fatos e não atribuem aos metais preciosos toda a fonte da riqueza. Além dessa explicação sobre riqueza, o estado para Thomas Mun está centrado no monarca e o poder e riqueza do estado se relacionam com o aumento de poder e riqueza do monarca. Petty e Boisguilbert já não pensam dessa forma. O estado, para ambos, além do monarca, englobaria todo o povo. As políticas públicas naquela época, para os diferentes autores, eram bem diferentes das de hoje. Atualmente o foco está mais no social e antigamente as políticas visavam aumento da riqueza do estado. Não havia o interesse de expandir os gastos do governo para estimular a economia. a) Riqueza para Mun é o estoque de mercadorias que podem se tornar ativos. b) Riqueza para Petty se relaciona com a produtividade e com o trabalho. Ele pensa muito na ótica da produção e não se preocupa muito com questões monetárias. 22 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 c) Riqueza para Boisguilbert se relaciona com o trabalho. O trabalho seria a fonte desta riqueza, assim como a troca comercial que também é um produto do trabalho. A produção não seria nada sem as trocas. A terra também seria um elemento essencial para a riqueza por colaborar com a produção. O dinheiro metálico tem papel secundário. 10. AULA 10 – INTRODUÇÃO À FISIOCRACIA (12/09/2013) A discussão sobre a fisiocracia se inicia com autores contemporâneos de Petty que estavam situados na França. Um desses autores é Pierre de Boisguilbert que em um de seus textos escreve para o Rei da França. Boisguilbert é considerado o autor da frase “laissez-faire, laissez-passer” e seus trabalhos datam do final do século XVII, criticando a política econômica colbertista de Luis XIV que incentivaria manufaturas, treinamentos de artesãos, comércios, etc e deixa de lado a questão agrária. Esse autor ainda defende a liberdade de comércio, critica o mercantilismo de Colbert, a questão metalista como fonte de riqueza e as tributações. Defende o consumo e diz que o gasto de uma pessoa se tornam a renda de outra, sendo isso uma ideia bastante moderna para a época. A queda nas rendas das pessoas francesas se relacionaria com a queda do consumo e por isso Pierre defende a diminuição da tributação incentivando a circulação de mercadorias com liberdade para os agentes econômicos evitando, por exemplo, a restrição comercial. Foi dentro desse contexto de valorizar o consumo que a frase “laissezfaire, laissez-passer” foi criada por Pierre de Boisguilbert. Outros autores que ajudam a entender o surgimento da fisiocracia foram Law e Cantillon. Law nasceu no final do século XVII e vive até as décadas de 30 do século XVIII. Ele defendia que o papel moeda poderia preencher o papel do ouro e prata com um custo ainda menor. Law acaba convencendo autoridades públicas a testarem a sua ideia e inicialmente ela não prosperou, ou seja, além de escrever teorias sobre sua ideia ele também conseguiu colocá-la em prática. A premissa teórica era de que o valor dos bens era medido por dinheiro e pela demanda dos mesmos. Law não defende a ideia metalista e se apoia sobre o consumo de bens. Além disso ele diz que o estado não usava recursos suficientes para guiar as atividades econômicas de modo a aumenta-la. Para ele, a economia possuía um subemprego de fatores. 23 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Seu livro foi escrito para o parlamento inglês (Law era escocês) tentando convence-los da necessidade de utilizar o papel moeda. Ao se estabelecer na França tentou convencer o regente de Luiz XV de sua proposta que acabou sendo aceita já que a França tinha uma dívida pública grande e a ideia auxiliaria a pagá-la. Law forma um banco na França que mais tarde é institucionalizado e passa a emitir cédulas para que impostos fossem pagos. A ideia era colocar ordem na economia francesa que estava fragilizada devido a guerras passadas. O capital do banco era muito baixo frente a dívida que a França possuía e por isso não conseguia influenciar a taxa de juros do país sendo que essa taxa ajudaria a diminuir a dívida pública. Mais tarde Law cria a companhia do ocidente que detinha direito real de exploração da Louisiana na América e assumia, em troca, a dívida pública da França. Para pagar a dívida, ações foram emitidas e Law se utilizou do marketing para divulga-las e arrecadar dinheiro. Os preços das ações passaram a subir muito e essa valorização reforçou a companhia do ocidente. Devido ao sucesso, Law vira ministro da fazenda na França e começa seus planos de desmonetizar o ouro e a prata introduzindo o papel moeda. Paralelo a isso foram feitos esforços para abaixar os preços das ações da companhia do ocidente, fato que deixou os donos das mesmas bem enfurecidos. Sendo assim, os donos de tais ações passaram a vende-las para não ter prejuízo. A extensão desse colapso foi ainda maior pois não houve controle sobre a emissão das ações. Tudo isso aconteceu devido a ideia de se substituir o ouro por papel moeda. Em contrapartida a França diminuiu a sua dívida pública pelo aumento de papel moeda que substituiu o ouro. O sistema de Law também não deu certo devido a um novo surto da peste o que fez as pessoas preferirem mais prata e ouro do que papel moeda, além de quererem vender as ações da companhia do ocidente para obterem mais ouro e prata. Toda essa situação foi muito importante para a história monetária e se conecta com outro autor da época, o irlandês Cantillon, que percebeu o problema da valorização excessiva das ações da empresa de Law. Cantillon era banqueiro e aparentemente morreu, pouco tempo depois do esquema de Law, em um incêndio. Provavelmente o incêndio foi uma armação para Cantillon escapar de acusações judiciais e dívidas. Seu livro “Ensaio sobre a natureza do comércio em geral” é considerado por muitos como o marco inicial da economia política, escrito em 1730 e só sendo divulgado em anos posteriores pelo Marquês de Mirabeau, em 1755. Esse livro trata de uma série de temas e desenvolve uma teoria sobre o valor intrínseco das coisas e seu preço de mercado. Cantillon foi o primeiro a introduzir a teoria do valor. Para ele, a terra seria a fonte de toda a riqueza e o trabalho regularia a economia. Cantillon também critica a política econômica colbertista argumentando que nada iria a diante sem a fonte dos recursos, ou seja, a terra. Ela então é a fonte da riqueza e o trabalho se adaptaria frente a ela. Cantillon defende 24 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 o papel do empresário na alocação dos recursos pois ele deveria assumir o risco de comprar pelo valor certo e vender pelo valor incerto. Além disso esse autor trata sobre moeda, preços e mercadorias, sendo o primeiro a introduzir conceitos sobre como a economia se organiza no espaço. A ligação de produção e fluxo circular da riqueza foi uma das contribuições mais importantes de Cantillon pois explica como a riqueza circula na economia a partir da terra. Para ele, a terra era fonte da teoria do valor sendo o trabalho ajustado pela terra. A quantidade de terra e trabalho é que define o valor intrínseco da mercadoria e a quantidade de terra determinaria a quantidade de trabalhadores e que tipo de trabalho seria feito nela. Como a terra é a única fonte real de riqueza, apenas os donos dela com seus recebimentos e gastos que ditariam o funcionamento da economia, ficando o comércio em segundo plano. Essas concepções são as principais que compõem a fisiocracia e Cantillon trabalha suas ideias no longo prazo, já que os preços de mercado variavam no curto prazo. Para Cantillon o equilíbrio é atingido no longo prazo e o preço é influenciado pela terra. Ele fala, durante toda sua obra, como um economista. A fisiocracia introduziu a ideia de ordem material e surge no século XVIII que é o século do iluminismo, estando conectada a ele e à ideia de desvendar as coisas a partir da razão de forma a contestar a ordem do antigo regime até culminar na Revolução Francesa. Cantillon não é iluminista, mas é inspirado por ideias precursoras do iluminismo que transformaram a França no centro cultural do mundo em meados do século XVIII. A fisiocracia parte da premissa de que existe uma ordem natural para a sociedade assim como existe uma ordem física bastante valorizada pela Revolução Científica. Essa ordem natural não é dada, a priori, como na ordem física, mas ela existe em razão dos seres humanos quando estes não criam obstáculos a essa ordem. As pessoas podem, vivendo em sociedade e em certo momento, impedir que a ordem natural das coisas se manifeste. A fisiocracia está focada em discutir e desvendar a ordem natural das coisas. Caso a sociedade não esteja na ordem natural, ela poderia voltar a essa ordem com o auxílio de aspectos como o da auto-regulação. OBS: Pierre de Boisguilbert e William Petty possuíam ideias semelhantes aplicadas em diferentes contextos. 25 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 11. AULA 11 – FISIOCRACIA E QUESNEY (17/09/2013) Estamos agora entrando na época da economia clássica. Dentro do iluminismo a fisiocracia começa a surgir como um tipo de reflexão do mundo além de uma reflexão abstrata sobre o funcionamento da economia. A fisiocracia reflete sobre como a economia deveria funcionar e o que impediria esse mecanismo de funcionar, não sendo então um ideal, mas sim uma reflexão. O texto de Quesney não retrata a moeda como os autores anteriormente estudados retratam. Quesney retrata a unidade monetária, mas ele já está preocupado com o fluxo circular da renda, ou seja, interpretando, através de diagramas, a conjuntura macroeconômica da época. A interpretação do fluxo circular da renda veio da analogia com ideia de circulação sanguínea vinda da medicina. A inspiração fundamental para o fluxo circular da renda veio do modelo mecânico da engenharia e Quesney o utiliza bastante. Nenhum dos autores anteriores fizeram uma análise envolvendo o fluxo circular da renda como ele fez. O tipo de sociedade descrito por Quesney é bem peculiar. A acumulação do excedente está nos proprietários de terra que possuem um papel central no seu esquema. A fisiocracia foi atacada por defensores do mercantilismo, bem como as ideias de Quesney. Ellen Wood defendia que o capitalismo possuía uma origem agrária que cada vez mais foi se relacionando com as mudanças de mercado. O produtor que antes produzia para sua subsistência passou a produzir para o mercado já que as terras foram cercadas e voltadas para o mercado. Esse argumento da origem agrária do capitalismo se relaciona com a fisiocracia e Quesney identifica que o modelo econômico possui base na agricultura. A indústria para ele não gerava produto líquido e por isso o investimento deveria ser voltado inteiramente para a agricultura. Na França a agricultura ocupava um sexto das terras mas respondia por um quarto da produção. A fisiocracia vislumbra um mundo em transformação, mas não na indústria e sim na agricultura. Quesney não propõe nada revolucionário, mas descreve a sociedade com o proprietário de terra (nobre) ocupando uma posição central por se apropriar da renda fundiária, além das suas decisões de consumo movimentarem a economia. Só a agricultura geraria receita líquida, daí sua importância. 26 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Em seu texto Quesney trata do fluxo circular da renda e como a renda é apropriada pelos agentes econômicos. O conceito fundamental do texto de Quesney é o conceito de excedente de produção, parte da riqueza produzida que excede a riqueza consumida no processo produtivo. Esse excedente é a fonte de reutilização da produção e movimenta a economia. Para Quesney, só uma coisa poderia gerar esse excedente: a agricultura. A indústria não teria essa capacidade. A terra, com sua fertilidade natural, poderia gerar esse excedente de riqueza. O trabalho do homem por si só não pode gerar esse excedente. A classe estéril era aquela que não se reproduzia, ou seja, só circula o excedente produzido para outro lugar, mas não produzia para sobreviver e nem produzia nenhum tipo de excedente. Na teoria clássica o produto líquido gera o lucro e a renda fundiária. Para a fisiocracia não existe o lucro, apenas a renda fundiária. No quadro econômico, a esquerda temos a parte produtiva, no centro os rendimentos e gastos e do lado direito as despesas estéreis. A lógica é que com 600 unidades monetárias o proprietário pode distribuir 300 para consumo no próprio setor agrícola e 300 em obras e outras atividades no setor estéril. Sendo assim, 300 são gastos dentro do setor produtivo e os outros 300 são gastos na classe estéril que por sua vez gastará 150 com ela própria e 150 com a classe produtiva e assim por diante. No final, os 600 são apropriados pelo proprietário e isso é um protótipo do fluxo circular da renda. Quesney queria mostrar como o fluxo poderia ser expandido ou contraído de acordo com políticas econômicas. Dentro dessa lógica, a economia não era um jogo de soma zero podendo eventualmente crescer. No mercantilismo a economia era vista como um jogo de soma zero onde um é prejudicado e outro é beneficiado. Além disso, para Quesney, o gasto com consumo poderia gerar excedente e promover o crescimento econômico. O gasto (despesas) estruturam esse modelo, porém as despesas com consumo não são o mais importante, mas sim a agricultura, a base de tudo. O autor não discute moeda, setor externo, etc. É um modelo simplificado para entender o mundo, assim como hoje 27 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 utilizamos modelos para buscar explicações. A capacidade de abstração de Quesney foi algo inovador para a época. A gentry era uma classe em transformação que passa a aproveitar mais a terra da Inglaterra. O modelo de Quesney é para a França, mas esse país também possuía uma gentry representada pela classe proprietária e a classe produtiva. 12. AULA 12 – ADAM SMITH I (19/09/2013) O quadro econômico de Quesney procura construir uma abstração da economia para sua época, além de introduzir uma inovação que é o excedente produtivo da agricultura. Esse excedente permite que haja crescimento econômico enquanto que no mercantilismo um perdia e outro ganhava. O fluxo circular da renda descreve como a riqueza da época circulava, sendo portanto um modelo estático com o excedente se tornando a chave para seu entendimento. Essas ideias são as inovações trazidas por Quesney em seu texto. A discussão sobre crescimento econômico surge na fisiocracia e é bem discutido também por Adam Smith. O quadro econômico é um modelo estático construído por Quesney e que nos permite avaliar o crescimento ou não da economia. Uma outra linhagem para explicar o crescimento econômico é então inaugurada. O capital aplicado na agricultura poderia gerar crescimento da economia. Todas essas ideias são uma ruptura com as ideias do mercantilismo anteriormente vigentes. Adam Smith em seu livro “A Riqueza das Nações” acabou sendo considerado o pai da economia. Apesar disso ele não é o único importante pensador de sua época. As suas ideias permitiram que houvesse uma ampla discussão sobre temas tratados por ele em seu livro, inclusive sendo retomada por outros autores apesar de Adam Smith não ter a intenção de introduzir tais discussões em um debate. Em seu livro é retratada uma sociedade em 28 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 transformação que está iniciando sua vivencia na Revolução Industrial, além de demonstrar mais simpatia pela agricultura e pelo trabalhador do que pelo empresário e a indústria. O exemplo da produção de alfinetes em seu livro é um retrato da sociedade pré-industrial. É complicado situar Adam Smith em seu próprio tempo. Ao ler o seu livro é importante perceber as diferenças entre a nossa época atual e a época de Adam Smith. O iluminismo escocês é o que dá sentido à obra de Adam Smith. O iluminismo possui várias vertentes em diversos ambientes. Adam Smith pode ou não estar inserido entre os iluministas, dependendo da análise que fazemos dele. Ao falar de iluminismo estamos fazendo vínculos com a França, país de referência intelectual. Em outros países também vemos peculiaridades iluministas. Na Escócia existia um movimento iluminista percebido pelos próprios autores que possuíam ideias coincidentes. Os traços específicos do iluminismo escocês em relação ao iluminismo em geral são, por exemplo, a ideia de progresso que é determinante para Adam Smith e David Hume. As universidades escocesas foram importantes na época apesar das principais ideias do movimento já existirem fora delas. As universidades escocesas se diferenciavam das universidades inglesas e francesas por serem mais vívidas e permitirem avanços das ideias já existentes, ocupando papel importante no iluminismo escocês e dando a Adam Smith todo o embasamento de que ele precisava. Tais universidades eram laicas e o conhecimento produzido nelas se concentravam em temas da realidade mundana cotidiana, desviando o foco das questões religiosas. Apesar disso os dogmas religiosos não eram revogados. Essas universidades tratavam sobre a filosofia, direito natural e revolução científica do século XVII. A combinação desses fatores é que distingue o iluminismo escocês, baseado em métodos naturais e sociais. Além do direito natural e a revolução científica se mesclando, o iluminismo escocês possui um caráter social e um foco histórico, pois dentro da Escócia uma nova concepção histórica veio se desenvolvendo, ou seja, a concepção de que sociedades e costumes diferentes são comuns entre os povos. Procurar as causas dessas diferenças foi um dos focos do iluminismo escocês bem como na França com Montesquieu. O iluminismo escocês contribuiu para um melhor entendimento sobre o porquê das sociedades serem diferentes e como elas se transformavam em um plano histórico. Autores como David Hume se preocupavam com isso. As diferenças entre as sociedades não fazem parte de um plano estático, mas sim de uma evolução histórica. David Hume estava preocupado em perceber o que ficava constante diante das mudanças da sociedade extraindo assim a natureza humana 29 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 que se perpetuava frente as mudanças. Assim, as sociedades evoluíram rumo ao progresso com características peculiares. Essa questão é uma das mais importantes no iluminismo escocês. Nesse momento, diante de tais estudos, alguns escoceses perceberam a distância da Escócia para Inglaterra. Quando as monarquias se uniram a Inglaterra caminhava para a Revolução Industrial e a Escócia não. Esse contraste foi o que permitiu várias discussões sobre o progresso que não era apenas com a Inglaterra, mas até mesmo dentro da própria Escócia, permitindo que existissem tais debates sobre ele. A pessoa que está inserida nele não percebe as diferenças a sua volta e é incapaz de analisar as questões implicantes. Por estar alheia ao progresso a Escócia conseguia visualizá-lo e analisa-lo, por isso os trabalhos sobre o tema se desenvolveram. A teoria dos estágios da sociedade feita por autores iluministas escoceses procura tratar dos estágios de evolução da sociedade. Desde a época dos nômades, até que esses se fixam em algum lugar dando origem as desigualdades e evolução agrária para posteriormente gerar a ideia do direito e leis culminando ao estágio mais avançado em que surge a economia da troca, comércio e prevalência de classes sociais. As ideias de Adam Smith datam de 1776, mas elas são confundidas com concepções atuais. Adam Smith não trata da Revolução Industrial e da Inglaterra, mas sim da Escócia e da sociedade pré-industrial que veio evoluindo com o tempo sendo mais ainda alheia ao progresso em relação a Inglaterra. A indústria existia e veio se desenvolvendo muito devagar até ter um salto enorme de desenvolvimento, sendo posteriormente identificado, analisado e batizado de Revolução Industrial. Adam Smith e ninguém estava em condições de perceber aquilo naquela época. A percepção de mudanças existia, mas o que aquilo significava ainda não podia ser compreendido na própria época e por isso Adam Smith não fala de Revolução Industrial, mas sim de uma sociedade pré-industrial em mudança. Autores como Adam Smith, naquela época, acabavam por desenvolver a ideia do progresso com base na teoria dos estágios da sociedade. David Hume também faz parte desses autores e rompe com a ideia da divina providência (ideia de que os acontecimentos ocorrem por vontade de Deus). Naquela época o mundo era visto como estático e esses autores, ao estudarem e descreverem o progresso, começaram a mudar essa concepção. Isso em si é uma inovação importante que surge em vários autores com a ajuda da concepção do iluminismo. 30 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 13. AULA 13 – ADAM SMITH II (24/09/2013) James Steuart é um autor importante do iluminismo escocês apesar de ter passado muito tempo longe da Escócia. Ele se relaciona com as ideias de Adam Smith e publica seu livro em 1767 sendo o primeiro trabalho sistemático de economia escrito na língua inglesa. O livro é chamado de “Tratado Sistemático” e fala sobre a economia como um todo, de maneira sistêmica. Steuart foi o primeiro a utilizar o termo “economia política” dando um sentido a ele, além de ser o primeiro a tratar de oferta e demanda. O autor fica muito tempo fora da Escócia (décadas de 40 do século XVIII até 1773) e fica apartado do desenvolvimento do iluminismo escocês. Sua saída da Escócia foi devido a rebelião jacobina de 1745 decorrente das tentativas da dinastia Stuart de retomar o poder por ter sido exilada após a revolução gloriosa. Steuart toma parte da rebelião e passa posteriormente a viver exilado na França. No seu tempo de exílio, além da França, ele passa a percorrer outros países e desenvolver ideias parelhas com as de Adam Smith. O livro de Steuart recebe muita influência de literaturas continentais da Alemanha (ele também viveu exilado nesse país) que atribuem grande importância à figura do estado. Para Adam Smith isso não acontece. Assim como Adam Smith, Steuart desenvolve ideias sobre vários aspectos da economia, defendendo que o estado precisa manter as pessoas empregadas para que a nação se torne rica. O papel relevante do estado seria bastante moderno. As pessoas seriam motivadas por interesses próprios e o estado deveria usar esse interesse pessoal de cada um para guiar a economia e não forçar as pessoas a percorrerem um determinado caminho. A experiência que Steuart teve em vários países o permitiu observar as diferenças entre os povos identificando os traços comuns presentes na natureza humana. O peso grande dado ao estado não combina com Adam Smith e “A Riqueza das Nações” passou a fazer sucesso no século XIX com o crescimento do liberalismo. Por priorizar as atitudes do estado, o livro de Steuart não fez sucesso enquanto o liberalismo se desenvolvia. O único sucesso obtido pelo livro de Steuart ocorreu na Alemanha. Apesar dessa diferença ambos os autores identificam os mecanismos de auto cooperação e auto-regulação da economia; porém, Steuart não conseguia imaginar a ocorrência desses processo sem participação efetiva do estado enquanto que Adam Smith defende que quanto menos o estado intervir nas decisões econômicas melhor seria. 31 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 O livro de Adam Smith é composto por vários volumes. O livro I trata da divisão do trabalho, progresso técnico e apresenta a teoria do valor e a teoria da distribuição. O livro II trata de natureza, acumulação, dinheiro e capital. O livro III trata de progresso e opulência das nações. O livro IV é sobre os sistemas de economia política discutidos na história do pensamento econômico, fisiocracia e mercantilismo. O livro V trata de finanças públicas e do papel legislador do estado. Os capítulos 1 a 10 do livro I tratam da divisão do trabalho, mercadorias, moeda relacionada a produção e ao trabalho. Em outras palavras esses capítulos relacionam a teoria do valor e o trabalho, ou seja, Adam Smith relaciona a riqueza da nação com o trabalho. Para o autor não é a natureza que garante o excedente e a riqueza, mas sim o esforço humano com o trabalho é que cria a riqueza. A natureza sozinha não faz nada e esse argumento é um ponto de ruptura importante com argumentos fisiocratas. Trabalho junto com fatores de produção gerariam a riqueza pois os fatores sem o trabalho não podem ser desenvolvidos. Categorias diferentes tem direito a participações diferentes da riqueza. O mundo econômico estaria dividido em três categorias: trabalhadores, capitalistas e proprietários de terras, sendo os trabalhadores remunerados com salários, capitalistas com lucros e proprietários com a renda vinda da terra. Na fisiocracia as categorias de Quesney eram classe proprietária, classe produtiva e classe estéril. O tema central do livro I é então o crescimento econômico a partir do trabalho. Adam Smith; porém, começa a falar não do trabalho em si, mas da divisão do trabalho. Ele está pensando na ideia de crescimento econômico que é um aspecto semelhante defendido pela fisiocracia. Smith começa falando de divisão do trabalho pois considera esse tema muito importante para que haja crescimento econômico. O mérito não está em perceber a divisão do trabalho, mas sim em estabelecer um vínculo entre divisão do trabalho e crescimento econômico, funcionamento da economia e nível de vida da população, tangenciando o aspecto do progresso, evolução social e transformação da sociedade. Adam Smith não fala de crescimento econômico em termos modernos, mas sim em termos de progresso e evolução social. Ele percebe que há um vínculo entre renda e população. O interesse é ter uma população cada vez mais ativa, produtiva e bem remunerada. 32 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A concepção de riqueza para Adam Smith é nova e moderna pois se relaciona com a renda per capta. Grande PIB com níveis baixos de desenvolvimento social e renda não fazem uma nação ser rica, mas sim um grande PIB e uma alta renda per capta. Essa visão de Smith representa uma ruptura com outros autores anteriores e uma visão moderna da economia para sua época. A acumulação se dá por uma disputa assimétrica entre trabalhadores e capitalistas. Essa disputa assimétrica tende a gerar salários cada vez mais próximos da subsistência. O progresso então ocorre apenas no lucro e na renda da terra, mas não nos salários. A discussão que Adam Smith faz sobre a divisão do trabalho gira em torno da fábrica de alfinetes. Para ele a renda nacional se relaciona com a produtividade e a quantidade de trabalhadores (fórmula em que é a produtividade e L a quantidade de trabalhadores). Dividindo ambos os lados da fórmula por N (total da população), temos a proporção de trabalhadores empregados (PEA) em relação ao conjunto da população. O nível de vida da população (renda per capta) dependeria da produtividade da proporção de cidadãos empregados no setor produtivo. A produtividade se relaciona com a destreza do trabalhador que geraria economia de tempo e progresso técnico. O progresso era importante para Adam Smith sendo a divisão do trabalho importante para gerar progresso técnico. O crescimento do mercado causa um avanço na divisão do trabalho. Aumentar a produção sem uma absorção dela por parte do mercado não faz sentido. Aumentar a produção exige mecanismos para aumentar o mercado gerando assim crescimento econômico. Adam Smith defende o liberalismo por defender a criação de mecanismos para que haja crescimento econômico, deixando de lado os fatores que impeçam esse crescimento. Assim, a população envolvida no processo produtivo aumentaria, gerando renda e progresso. Smith é considerado o pai da economia devido a todas essas análises pioneiras que fez sobre economia. Apesar de termos discutido até aqui apenas fatores relacionados a produção e 33 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 distribuição, a teoria do valor feita por ele foi pioneira e utilizada por vários autores posteriores. Vincular progresso ao trabalho (esforço humano dando valor as coisas) foi algo pioneiro para a época. O excedente está vinculado apenas ao capitalista e ao proprietário de terra. Adam Smith está na origem do pensamento clássico. 14. AULA 14 – ADAM SMITH III (26/09/2013) No pensamento clássico os autores falam de processos econômicos como um todo. É importante discutirmos a teoria do valor e a teoria da distribuição de Adam Smith. A divisão do trabalho se relaciona com a produtividade e que se relaciona com a produção o que mais tarde pode aumentar o mercado gerando mais salários, lucros e renda como um todo. Era isso que Adam Smith pensava sobre divisão do trabalho. Fazer o mercado se desenvolver de forma livre e desimpedida era uma questão importante para Adam Smith já que o aumento da produção ampliaria o mercado gerando lucros, salários e renda. Além disso o autor defende a auto-regulação do homem na sociedade, ou seja, o auto interesse do homem produziria resultados ótimos em uma sociedade de trocas com a presença do mercado. Existe processos assimétricos entre capitalistas e trabalhadores. O excedente se relaciona ao lucro e a renda da terra o que remete aos capitalistas e proprietários de terra respectivamente. Os salários dos trabalhadores tenderiam a ficar no nível de subsistência. Adam Smith se preocupa com tais questões sociais. A utilização produtiva do excedente se relaciona com o processo de acumulação. Esse processo consiste em investir em novos meios de produção e aumento de trabalhadores empregados. Esses vínculos são muito importantes para Adam Smith que acaba tendo uma visão otimista sobre o crescimento e progresso 34 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 econômico. Por mais que os salários não sejam parte do excedente, o capitalista investe neles como forma de adiantar capital aos trabalhadores. A teoria da distribuição de Adam Smith se relaciona com salários, lucros do capital e renda da terra. Devemos estudar a obra para entender a teoria. Smith visitou a França e entrou em contato com o pensamento fisiocrata. Após isso passou a ser tutor de famílias de nobres entre 1755 e 1756 o que o fez rodar por vários outros países da Europa ao acompanhar um nobre duque. Sendo assim, além da França, conheceu a Itália. Essa trajetória e suas obras mostram a evolução das suas ideias. Em um de seus livros anteriores (Lectures) já vemos questões sobre a produção já bem estruturadas. Posteriormente Adam Smith fala sobre distribuição e renda (A Riqueza das Nações). Ele não vivia no mundo da revolução industrial, mas percebia uma sociedade em mudanças. A teoria da distribuição feita pelos fisiocratas inspiraram os autores posteriores. De acordo com o antigo regime a terra então seria a fonte de todo o processo já que ela era a fonte de hierarquização social. Por isso que os proprietários da terra eram colocados em foco pelos fisiocratas. Adam Smith faz parte de outro contexto ficando distante desses elementos fechados de hierarquização social, moldando a teoria da distribuição feita por ele próprio. À medida que as mudanças sociais e industriais aconteciam, iniciam-se conflitos entre a classe proprietária e a classe manufatureira e desta com os trabalhadores. Os conflitos sociais passaram a ser mais evidentes já que anteriormente o proprietário de terra tinha uma posição social garantida na sociedade, mas com as mudanças da época essa condição começou a mudar. Todos esses conflitos se arrastavam por muitos anos e Adam Smith escreve com esses conflitos já bem estabelecidos. Para ele a renda seria distribuída na sociedade diante desses conflitos assimétricos já que os capitalistas detinham mais poderes que os trabalhadores. Na medida em que o salário tem a função de remunerar trabalhadores, capitalistas e proprietários de terras, devemos pensa-lo diante dos conflitos sociais. Adam Smith faz referência à sociedade primitiva ao falar do salário. Tal sociedade que precederia a acumulação primitiva de capital e a propriedade privada da terra não se relacionaria com salário já que este seria uma remuneração pela produção feita na terra, mas no estado primitivo a produção não tinha caráter capitalista. Após passar por isso Smith fala sobre a teoria da negociação dos salários da sua época, pois o grupo dos capitalistas passam a ditar suas vontades sobre os trabalhadores. A vantagem é dos capitalistas e o trabalhador, para Smith, deveria receber o suficiente para se sustentar e sustentar a família já que um trabalhador em más condições não seria capaz de produzir de maneira satisfatória. Adam Smith parte para tentar entender a subsistência e para ele os salários não poderiam ficar 35 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 abaixo do nível de subsistência. Na medida em que a economia cresce, os salários poderiam, temporariamente, ficar abaixo do nível de subsistência, mas a tendência era que os salários ficassem muito acima desse nível e isso se daria pelo fundo salarial. Tal fundo é o acumulado do excesso da receita sobre as necessidades dos trabalhadores. Com isso os empregados poderiam fornecer mais recursos ao emprego. Isso representa um adiantamento de capital aos trabalhadores. A riqueza da nação se relacionaria com a renda per capta e nos rendimentos da população economicamente ativa. Os altos salários aumentariam a industriosidade dos trabalhadores, ou seja, altos salários estimulariam trabalhadores a trabalharem, a aumentar a produção como um todo e promover o crescimento econômico. A tendência para Adam Smith era de ascendência do salário e para Ricardo era justamente o contrário. Os lucros do capital para Smith se relacionam com os salários. Maiores salários fazem o lucro diminuir e baixos salários fazem o lucro aumentar. Quando o indivíduo acumula reservas financeiras (capital), ele as utilizará para subsistência e para conseguir renda adicional. O capital fixo (maquinaria, instrumentos) é o que gerará lucro ao capitalista sem mudar de mão. O capital circulante (matéria-prima, produtos semimanufaturados, etc) geraria lucro mudando de mãos. Toda a economia clássica, inclusive Adam Smith, vê a economia pela ótica da produção. Para dinamizar a economia deve-se olhar para a produção que irá gerar mudanças em cascata. Smith fala também sobre os juros. Para ele os lucros eram flutuantes e difíceis de serem determinados. Por isso os juros seriam uma maneira de perceber os lucros sendo parte do lucro bruto já que o lucro líquido seria a taxa de rendimento do capital. Não vemos claramente no livro de Smith a ideia do empresário de risco que administra o capital. 15. AULA 15 – SEMINÁRIO ADAM SMITH (01/10/2013) 16. AULA 16 – PRIMEIRA PROVA (03/10/2013) 36 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 17. AULA 17 – DAVI RICARDO I (08/10/2013) Davi Ricardo representa um autor diferente dentro da história do pensamento econômico. Além disso, ele faz uma discussão sobre a teoria da distribuição considerando a ideia de renda diferencial. Adam Smith em “A riqueza das nações” trabalha com filosofia moral. Seu livro procura por maneiras de fazer as pessoas viverem juntas já que a igreja não conseguia fornecer respostas incontestáveis para o funcionamento da sociedade. Entender como é e como deve ser o funcionamento da sociedade era um dos objetivos de Smith. Meio século após o livro de Adam Smith, a sua reflexão já perde lugar. Ricardo não está preocupado em escrever uma filosofia moral como ele pois a sociedade já havia mudado devido a questões econômicas e políticas. Na época de Adam Smith as questões políticas se relacionavam com questões comerciais e coloniais. No momento de Ricardo as questões são diferentes já que temos revoluções burguesas, revolução industrial e economicamente a dinâmica capitalista mudou bastante. Há uma ruptura com a intuição presente na obra de Smith. Ricardo dá enfoques aos problemas econômicos da Inglaterra na virada do século XVIII para o XIX. A Inglaterra vive uma crise financeira em 1797. Essas crises vão ser cada vez mais frequentes na entrada do novo século. O resultado da crise de 1797 faz a Inglaterra suspender a conversibilidade da libra em ouro por um bom período. Até meados de 1819 a Inglaterra permanece apenas com papel moeda e isso ocasiona impacto nos preços. Esse contexto gera o aumento dos preços do cereais fazendo crescer o preço das rendas agrícolas causando a expansão das terras cultivadas. A medida que a renda da terra aumenta há estímulo para aumentar as terras cultivadas. Todo o argumento de Ricardo gira em torno disso, ou seja, qual seria o impacto de terras menos férteis na produção para o conjunto da economia. A reflexão 37 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 de Ricardo parte dessas questões. A crise ocasionou o aumento da impressão de papel moeda o que reflete no aumento de preços. O aumento do preço dos alimentos gera confusões sociais dentro do contexto da revolução industrial. Além disso, a revolução francesa impacta o contexto europeu gerando perturbações sociais. Tudo isso, somado ao aumento do preço dos cereais, acaba gerando uma cobrança para que haja uma solução política para o problema. Ricardo fará parte do parlamento britânico e tentará fornecer soluções para esses problemas. Jean Baptiste Say, famoso autor devido a sua lei de mercado, tem uma visão importante sobre a moeda. A moeda seria um véu que cobre as trocas econômicas. Ou seja, é um meio de circulação, mas não explica a economia real, pois não é na moeda que temos que buscar as explicações para o que acontece como, por exemplo, movimento de preços ou aquecimento ou desaquecimento da economia. A moeda então seria um véu por esses motivos. Conectado a isso e relacionado a sua lei de mercado está a ideia de que a oferta cria sua própria demanda. A oferta se iguala à demanda ex ante, ou seja, de saída. Em seu esquema, oferta e demanda agregadas estariam sempre em equilíbrio, mas a oferta viria primeiro. Em sua época essa lei vira um dogma. Assim como Malthus com suas teorias populacionais, a lei de Say vigorou por muito tempo. Say dizia que o fato de produzir cria espontaneamente a procura por outros produtos uma vez que os produtores só estão interessados em vender na medida que isso lhes permita adquirir outros produtos no mercado. Pelo fato dos produtores quererem adquirir poder de compra, esse mecanismo permite que a oferta crie a sua própria demanda ex ante. Isso é um pressuposto. Não seria possível existir uma crise de superprodução nessa economia. O excesso de produção seria pontual sendo corrigido com o aumento da liberdade de comércio. Como o interesse do produtor é adquirir poder de compra com o que ele produz, a oferta vai gerar a sua própria demanda e a liberdade comercial evitaria qualquer tipo de superprodução. Esse argumento, apesar de ser mais complexo, está ligado à figura do empresário. O papel deste seria proporcionar uma atuação eficiente no pleno emprego dos fatores produtivos. O empresário é fundamental porque é ele que colocará todos os fatores produtivos em uso gerando uma demanda de mercado e assim a oferta se equilibraria à demanda. Nem todos os 38 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 contemporâneos de Say pensarão como ele. Outros autores irão criticar suas ideias, tanto pelo lado francês quanto pelo lado britânico (Malthus por exemplo). Malthus vai entender que é possível existir crises se superprodução. Ele é menos analítico e sofisticado do que Ricardo, sendo assim complexo. Em algum sentido, o pensamento de Malthus possui conexões com os de Adam Smith. Essa sua visão sobre a superprodução e uma possível crise faz com que ele seja apropriado de forma positiva por Marx e outros autores. A insuficiência possível da demanda efetiva faz com que a demanda por bens de consumo necessária para garantir o escoamento da produção em determinado período (e que garantiria o crescimento no período seguinte) não seja suficiente. As classes inferiores estariam determinadas a gastar tudo que ganham (caso minoritário) consumindo bens supérfluos. Tal consumo seria positivo para Malthus por absorver parte da oferta dentro de uma crise de superprodução. Malthus se destacou também por formular a sua teoria populacional. O seu horizonte é, portanto, mais amplo e preso à compreensão segundo a qual a sociedade poderia viver de forma mais harmônica, ou seja, ele utiliza aspectos da filosofia moral assim como Adam Smith. Malthus tem uma visão da economia como algo sombrio. Ele parte de uma crença de que os homens não são dotados de uma bondade natural e por isso eles precisam de orientação moral que permite a sociedade funcionar de uma maneira melhor. Ricardo nasce 1772 e morre em 1823. Sua origem é judaica proveniente da península ibérica. Em Amsterdã ele recebe uma formação comercial e aprende os negócios da família. Ao voltar para Londres começa a trabalhar com o pai na bolsa de valores fazendo fortuna. O episódio curioso de sua trajetória é que, com 21 anos ele resolve se casar contra a vontade da família sendo então deserdado pelo pai. A partir de então passa a ter que ganhar a vida por si só. Seus trabalhos teóricos sobre economia são tardios e ele só se dedica a eles depois de aposentado em um intervalo de tempo de 15 anos. Ricardo de maneira alguma é considerado um erudito, mas por outro lado possuía uma mente lógica privilegiada pois suas obras possuem grande conteúdo analítico. O discurso científico da economia está bastante presente em sua obra. Sua inclinação analítica se deve a três elementos: 39 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 1 - Acontecimentos econômicos de sua época como aumento dos preços dos cereais e as leis que surgiram em decorrência disso. 2 - Debates econômicos sobre os eventos acima citados. Tais debates ganham cada vez mais expressão pública. O debate econômico ganha uma dinâmica que não existia no século XVIII. Ricardo faz parte de tudo isso trocando informações e correspondências com amigos próximos. 3 - A obra de Ricardo está relacionada a Adam Smith já que ele pega o núcleo das ideias deste e trabalha em cima delas. Em 1799 Ricardo entra em contato com a obra de Adam Smith. Depois disso, em 1810 mais ou menos é que as suas ideias começam a ser publicadas através de panfletos. Ricardo se dedica a seus textos depois que se aposenta com uma grande fortuna. A fortuna vem do mesmo lugar da de outros autores importantes. A bolsa de valores a gerou devido a apostas em títulos da dívida pública que consideravam a derrota de Napoleão diante da revolução francesa. A sua fortuna estava estimada na época em 60 mil libras, o que era uma quantidade absurda para época. Ao morrer, Ricardo deixa seus amigos em condição financeira muito boa. Em 1817 seu livro é publicado. Nesse período seu pensamento ganha uma feição pública devido sua participação no parlamento. Os debates parlamentares eram feitos citando autores importantes do ambiente econômico. Isso tem a ver com a ideia central de estudarmos HPE. Se a economia é uma ciência, de forma alguma ela é uma ciência neutra pois se fundamenta diante de ambientes políticos e econômicos específicos. A ciência econômica é uma ciência do capitalismo surgindo dentro dessa estrutura específica. É esse o ponto de referência. Dado os debates parlamentares, a economia ganha importância. Era necessário ter pessoas com essa formação econômica e reflexiva para poder discutir dentro do ambiente político. No século XIX, o que chamamos de economia toma forma. As obras de Adam Smith não se parecem com os livros de economia que temos hoje, mas a partir do século XIX isso já passa a acontecer pois temos especificações analíticas dos argumentos econômicos acontecendo. Ricardo é o primeiro 40 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 que caminha deliberadamente dentro dessa concepção o que faz o seu livro ser robusto e analítico. Adam Smith é o pai da ciência econômica moderna. Ricardo de fato é quem fornece aspectos fundamentais sobre os quais a economia política clássica organizará suas ideias. Em sua obra há um tratamento analítico que não existe na obra de Adam Smith. O fundamental da obra de Ricardo é tratar sobre as teorias do valor e da distribuição se preocupando com os determinantes do valor. Sua visão de funcionamento da economia é parecida com a visão que tem Adam Smith, mas com abordagem mais analítica. Ricardo vê a sociedade baseada na divisão do trabalho entre o setor agrícola e o setor das manufaturas. Esses são os dois grandes setores. Três classes sociais existem para ele: trabalhadores, capitalistas e proprietários de terra. Na medida em que os salários correspondem ao consumo de subsistência dos trabalhadores vinculados ao processo produtivo e também ao gasto necessário para o processo de produção, as rendas e os lucros correspondem ao excedente. Tudo isso está em Adam Smith, mas só ganham ares analíticos com Ricardo. Abstrações são fundamentais para o entendimento da obra de Ricardo. Abstrair significa pegar a realidade e tratar ela de forma simplificada. As ideias de Adam Smith estão presas em coisas maiores quem tangem o funcionamento da sociedade. Ele faz análises históricas entendendo que as sociedades se transformaram de alguma maneira. Ele está preso ao real. Não há uma lógica abstrata. Ricardo diz que, enquanto os proprietários colocam a sua renda no consumo de luxo, os capitalistas se veem, por conta da concorrência, obrigados a colocar todos os seus lucros no processo produtivo. Sendo assim, o desenvolvimento econômico procede desta ação dos capitalistas. Isso é uma abstração, pois não significa que todos os capitalistas e proprietários agem assim, mas ele toma isso como pressuposto em seu modelo. O modelo de Ricardo constrói pressupostos. A lógica do seu livro é a lógica de livros de economia. Essa é a importância de Ricardo em relação a Smith. 41 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Deliberadamente Ricardo parte de um campo de reflexão bem menos amplo do que Adam Smith. Ele próprio diz isso no início de seu livro. Ele não está interessado na evolução do sistema econômico, mas sim na distribuição do excedente entre rendas e lucros. É o ponto fundamental por incluir o núcleo da discussão do funcionamento do sistema econômico ou desenvolvimento econômico. Essa base analítica está na discussão do excedente e da contribuição deste para o processo de acumulação. O arranjo do excedente que era um problema para Adam Smith, não é um problema para Ricardo pois ele está preocupado com a distribuição do excedente e não com o seu aumento. Alguns temas ficarão de fora de sua discussão. Marx em certo sentido toma de empréstimo alguns elementos analíticos de Ricardo para fazer críticas, além de inserir mais coisas dentro dos argumentos. A tecnologia é tomada como dada para Ricardo e o problema da divisão do trabalho não é um problema amplamente discutido por ele. Isso foi feito por ele de forma deliberada. Ele escolheu as coisas com as quais iria tratar. Grande parte do pensamento econômico desenvolvido hoje trabalha com essa perspectiva. Os níveis de produção para Ricardo aparecem como dados devido a aceitação das concepções da lei de Say. A medida que uma produtividade ocorria dada a capacidade dos fatores de produção, uma produção surgiria gerando uma demanda posterior. A teoria da população de Malthus também é aceita por Ricardo, já que ele considera os salários como dados correspondendo a subsistência do trabalhador. Na prática era possível supor o salário dos trabalhadores de acordo com o nível de subsistência. O trabalhador estaria condenado a gastar o que recebe dado o consumo de subsistência. A possibilidade de acumulação só poderia ocorrer na classe produtora e na classe capitalista. Como os produtores gastam sua renda no consumo improdutivo, são os capitalistas que investem na produção com seus lucros para vencer a concorrência. Isso é o fundamental da dinâmica econômica para Ricardo. A lei dos mercados de Say e a teoria da população de Malthus entram então na teoria do Ricardo. O problema econômico para Ricardo seria a renda e por isso ele cria uma teoria sobre a renda diferenciada. Essa teoria se atribui a ele, mas ela já estava desenvolvida em autores 42 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 anteriores. Ricardo dá a forma analítica para essa teoria. Ela se relaciona com a renda das terras menos férteis. Com o aumento do preço do trigo (cereais), há um estímulo para se produzir mais e para se expandir a fronteira agrícola. Como a economia já estava na capacidade limite de produção de trigo, ou seja, todas as terras já estavam sendo utilizadas por serem mais férteis, aumentar a produção significaria expandi-la para terras menos férteis. O argumento parte daqui. A expansão da produção vai necessariamente incorporar terras menos férteis no processo produtivo. Surge então um problema em relação ao custo de se produzir em terras férteis e terras menos férteis. Produzir nestas últimas é mais difícil e exigirá mais trabalho. Ricardo está preocupado com o efeito da incorporação dessas terras sobre a renda. A enunciação do problema seria: Para cada parcela de terra, a renda é igual a diferença entre os custos unitários de produção das terras cultivadas menos férteis e os custos unitários de produção das terras cultivadas férteis, multiplicada pela quantidade de produto obtidas nelas, ou seja, é uma operação entre o custo de produção unitário da terra menos fértil e da terra fértil multiplicado pela quantidade de produto que elas geram. Esse é o argumento da renda diferencial e o lucro tem uma magnitude residual sendo uma parte do excedente que não é absorvida pela renda. A palavra residual é importante para a história do pensamento econômico tendo em vista a revolução marginalista. Algumas questões dos marginalistas têm haver com o conceito de limite e com concepções residuais. Ricardo então possui uma obra bastante analítica. Os temas escolhidos por ele não incluem a questão do aumento da produção, ele está preocupado apenas com a distribuição. Assim, a questão da renda da terra é um problema fundamental para ele. 18. AULA 18 – DAVI RICARDO II (10/10/2013) A renda diferencial é um tema muito presente dentro do texto de Ricardo. Discutindo essa renda podemos depreender a teoria do valor e a teoria da distribuição. Esta última leva em conta a distribuição da renda entre renda da terra, salários e lucros. Ricardo vai sendo bem sucedido na explicação de como o excedente se relaciona com a renda da terra. No que diz 43 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 respeito ao lucro e ao salário ele usa alguns pressupostos que não necessariamente correspondem à realidade. Alguns aspectos genéricos sobre Ricardo fazem parte do problema que ele trata. Ele trabalha de uma forma mais parecida com os economistas contemporâneos desenvolvendo modelos simplificados e analisando aspectos específicos que são de seu interesse. O ponto principal sobre a renda da terra e a renda diferencial é explicar o preço do trigo. Um paradoxo está envolvido no problema: o trigo não é caro porque paga a renda, ele paga a renda porque ficou mais caro. Explicando esse paradoxo conseguimos entender o conceito de renda diferencial. Temos um contexto em que o trigo está ficando cada vez mais caro e ao mesmo tempo a renda da terra está ficando cada vez mais alta. Uma das explicações intuitivas sobre o porquê de o preço do trigo ter subido é a de que cada vez mais os proprietários de terra exigiam um preço mais alto pelo aluguel da terra ou renda da terra. Se o aluguel pago pela terra (renda da terra) fosse menor, o preço do trigo seria menor. Ricardo vai contra essa explicação (o trigo não seria caro porque paga a renda da terra) e acredita que o trigo paga a renda e por isso ele ficou mais caro. O contexto do problema é então esse. Ricardo parte de uma teoria do valor que tem o mesmo eixo de Adam Smith, ou seja, o valor das coisas é determinada pela quantidade do trabalho que está contida nelas. Ele faz isso de uma maneira que inclui a renda diferencial que basicamente tem a ver com o tempo social necessário para se produzir algo. Esse tempo precisa ser pensado em função do tempo gasto por quem demora mais para produzir algo. Essa ideia também é aplicada a terra, pois a terra menos fértil demandaria mais trabalho para que algo fosse produzido; porém, o preço final seria o mesmo em relação à produção feita na terra mais fértil. Por exemplo, suponhamos que compramos um pacote de farinha de trigo no supermercado. Não compramos por 1000 o pacote vindo da terra mais difícil de se produzir e por 200 o pacote vindo da terra mais fácil de se produzir. Senão, todos comprariam o pacote da terra mais fácil de se produzir até que esses pacotes se esgotariam e ai sim as pessoas comprariam os pacotes oriundos da terra menos fácil de se produzir. Quando a terra é mais fácil de se produzir, estamos pagando mais por 44 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 uma coisa que custou menos para se produzir. Esse é o problema inicial que Ricardo aborda em seu texto. O valor da mercadoria seria determinado pelo tempo gasto pelo trabalhador menos eficiente ou sendo determinado pela produção das terras menos férteis. O preço do trigo aumentou. Investigando o problema, várias hipóteses poderiam ser levantadas para explicar tal fato. No primeiro momento havia uma abundância de terras férteis. Nessa fase inicial, o pressuposto é que não há o pagamento de renda da terra já que todas possuem o mesmo nível de fertilidade e o preço do trigo era determinado pela quantidade demandada. Se temos uma safra muito boa e se produzimos muito trigo, o preço dele tende cair. Se a produção for menor o preço do trigo aumenta. Porém, chegou o momento em que a produção de trigo nessas terras férteis não estava dando conta de atender a demanda da população. O que aconteceu? O preço do trigo subiu, mas não por conta da safra. A demanda da população ficou maior do que a oferta e não há mais terras férteis. A solução seria incluir terras menos férteis no processo produtivo. Assim, a produção feita na terra menos fértil passou a determinar o preço do trigo. Incluir terras com grau menor de fertilidade determina o preço do trigo pois o preço da produção nessas terras passou a ser relevante. Vamos analisar o contexto inicial do problema. Inicialmente o preço do trigo produzido em uma terra fértil vale 4. À medida que a produção passa a englobar terras menos férteis, seu preço passa a custar 8 e a diferença entre esse preço e o preço da terra fértil (que é 4) passa a constituir a renda da terra. O trigo não custa 8 (caro) porque paga a renda da terra. Ele paga essa renda da terra porque ele ficou mais caro. Se terras menos férteis ainda forem incorporadas na produção, a renda da terra aumenta mais ainda pois o preço do trigo vai ser determinado pela produção das terras piores. Isso então é o custo do trabalho de se produzir trigo em uma terra inferior. Essa análise resume o argumento de Ricardo. O produtor não fica com sobre lucro disso pois a diferença é a renda da terra que pagará o aluguel da mesma por se produzir em um local de qualidade inferior. Esse ponto é essencial para entendermos a teoria do valor e a teoria da distribuição para Ricardo. 45 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Ele então explica a origem da renda da terra. Quando as terras tinham o mesmo nível de fertilidade não existia essa renda e o preço era determinado por oferta e demanda. O proprietário da terra poderia produzir ou alugar a terra. No segundo momento, a renda da terra surge devido ao que foi falado anteriormente. O lucro para Ricardo não afetaria o preço final das mercadorias. Essa discussão é bastante debatida posteriormente. A questão fundamental é a suposição de que haveria uma distribuição equivalente entre capital fixo e capital circulante nos mais diversos setores e que não corresponde necessariamente à realidade gerando um problema na discussão de Ricardo. Se em um setor A temos 1000 de capital circulante, 1000 de capital fixo e 600 de lucro, o total é 2600. O setor B tem a mesma coisa. Em uma nova situação, o setor A se mantém inalterado, mas o setor B tem agora 2000 de capital circulante e 0 de capital fixo, porém, dando o mesmo total de 2600. Se temos o impacto sobre os salários (capital circulante) mantendo-se constante o capital fixo, o lucro terá que reduzir para que o preço total seja o mesmo. A lógica dessa discussão é que, no caso dos lucros, não temos uma relação entre eles e o preço das mercadorias. Só podemos supor que existe uma distribuição equivalente entre capital fixo e capital circulante nos mais diversos setores. Os salários têm então um impacto relevante nessa relação e os valores das mercadorias seriam impactados pelos salários. Temos aqui uma exceção à teoria do valor-trabalho de Ricardo: o valor é determinado pelo tempo de trabalho empregado na produção, mas as variações dos salários podem afetar os valores das mercadorias. Conectado a isso está a lei da equalização das taxas de lucro que gerou debates sobre o assunto entre os mais diversos autores. Temos uma tendência para uma convergência das taxas de lucro nos setores devido à concorrência. Para que essa tendência ocorra, é necessário que não haja restrições à concorrência. Nem sempre o valor da mercadoria será determinada puramente pela relação valor-trabalho, já que as variações no salário podem gerar variações na taxa de lucro. Na medida em que pensamos uma situação como essa, temos um problema para a equalização das taxas de lucro. Resumindo, o valor das mercadorias é determinado pelas leis da relação valor-trabalho, mas uma mudança das taxas de lucro pode mudar o valor das mercadorias já que a tendência é que uma margem de lucro equivalente seja mantida. 46 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Da mesma forma que Ricardo avança sobre as questões do valor-trabalho, ele também avança sobre a distribuição da renda para cada uma das classes sociais. A renda fundiária é discutida nos moldes da renda diferencial e Ricardo discute como ela funciona e qual a sua relação com o preço e trabalho. A questão dos salários e dos lucros é também discutida. O lucro é uma questão mais precariamente resolvida em sua obra, pois para que os argumentos dele funcionem várias condições irrealistas precisam ser admitidas. Com relação aos salários, encontramos o mesmo problema já que as suposições são complicadas quando analisamos o longo prazo. Para ele os salários dos trabalhadores estaria relacionado com a subsistência e não necessariamente isso é verdade. O que Ricardo está fazendo é transformar explicações válidas para momentos específicos do capitalismo em explicações para a própria dinâmica do funcionamento da economia. Algumas das coisas ditas por ele não se confirmaram ao longo da história, mas ele transformou os aspectos em esquemas analíticos. Qual a solução para o problema da renda da terra? Como evitar o uso de terras menos férteis na produção de trigo? O argumento de Ricardo para resolver esse problema não está em usar terras menos férteis, mas sim parar de ampliar a fronteira agrícola e passar a importar trigo. Cada país teria vantagens comparativas em relação a outro. Para que isso funcione é necessário que haja a menor quantidade possível de restrições à importação de trigo, ou seja, não deveria haver restrições ao comércio internacional. Isso tudo faz parte dos debates parlamentares que colocam Ricardo em uma linha de frente de argumentação contra as Common Laws que restringiam importações. Ao restringi-las, a situação interna seria amplamente prejudicada já que o preço do trigo continuaria subindo devido a incorporação de terras menos férteis. Liberando a importação do trigo o preço dele pararia de subir e a dinâmica da economia interna melhoraria. No meio dessa discussão havia um embate entre os proprietários da terra e os interesses manufatureiros dentro do próprio parlamento. Ricardo se coloca dentro do debate econômico diante dessas questões. Sua teoria sobre o comércio internacional foi bem sofisticada e influente. Ele pega questões próprias do debate econômico da época e as transforma em questões analíticas amplas sobre o funcionamento da economia e do capitalismo. 47 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Ricardo usa a teoria populacional de Malthus para fazer suas análises. O crescimento econômico procede da acumulação e, portanto, depende dos lucros. Essa questão é fundamental para ele, ou seja, tudo que reduz os lucros corresponde um obstáculo à acumulação. Na medida que supomos como dado o tamanho do excedente, se a renda da terra aumenta os lucros serão pressionados. O excedente é o mesmo, sendo dividido entre renda da terra, lucros e salários. Como os salários são de subsistência, consideraremos apenas a renda de terra e lucros. Na medida em que os preços dos cereais aumentam devido a incorporação de terras menos férteis, a renda da terra aumenta e os lucros diminuem. Como o crescimento depende do lucro isso gera um problema para a economia como um todo. Juntando isso com a ideia de crescimento da população (aumento do consumo de alimentos), há uma tendência contínua de pressão para incorporação de terras marginais (terras menos férteis). O resultado é que, com o aumento da renda da terra e uma pressão sobre os lucros dos proprietários, estes acabam lucrando menos e outros setores também são afetadas já que o preço dos produtos agrícolas aumentam ocasionando o aumento dos salários por estes serem de subsistência além das pessoas precisarem consumir para sobreviver. Aonde esse quadro irá chegar? A economia entraria em colapso. Se a população crescer, o preço dos alimentos aumenta, os salários aumentam, os lucros diminuem e o crescimento da economia diminui. Como contornar esse processo? Ricardo propõe a importação de trigo. Do contrário, as capacidades de acumulação da economia seriam totalmente limitadas. A ideia das vantagens comparativas e o comercio internacional evitariam o estado estacionário da economia. Outras possibilidades também são possíveis como progresso técnico, ou seja, na mesma terra conseguiríamos produzir mais trigo e não precisaríamos incorporar terras menos férteis. Esse ponto não está contemplado dentro do modelo de Ricardo. A tecnologia mais do que compensará a incorporação de terras menos férteis. No argumento de Ricardo ele não percebe que a tecnologia resolveria o problema, mas percebe que há uma possibilidade de resolução caso a lei de Malthus fosse válida, ou seja, a população diminuiria e a pressão sobre o consumo de alimentos cessaria (Malthus dizia que a população cresce em proporção geométrica e a oferta de alimentos em proporção aritmética). Esse impacto da população só é sentido no longo prazo, mas não no curto. 48 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 19. AULA 19 – KARL MARX I (15/10/2013) Marx é considerado um dos principais autores clássicos. Ele trata de uma sequência de temas semelhantes aos tratados por Adam Smith; porém, faz uma crítica à sociedade burguesa engendrada pela dinâmica capitalista. A categoria de valor-trabalho está em Marx, Ricardo e Smith, mas Marx dá um tratamento específico a ela. No que diz respeito à teoria econômica consideramos Marx um autor clássico. Ele não foi apenas um economista, mas cientista político e social. Sua análise da sociedade o permite ser classificado dessa forma. Marx foi importante na constituição de outras ciências sociais como a sociologia. Não existe autor mais estudado e mal compreendido do que Karl Marx. Vantagens e desvantagens podem ser tiradas disso. As desvantagens são as séries de percepções diferentes que cada estudioso tem a respeito de sua obra. Toda a evolução política da URSS, por exemplo, faz contato com o pensamento marxista de acordo com interpretações distintas da obra de Marx. Nenhum outro autor de HPE é tratado da mesma forma. Não vemos autores smithianos ou ricardistas, mas vemos que marxistas existem até hoje, assim como pós-marxistas. Ideias de Marx são utilizadas por diversos autores para analisar contextos em diferentes épocas. O seu livro intitulado “O Capital” é objeto de grande estudo até hoje. Independentemente da qualidade do livro do Marx, do conteúdo analítico e da competência do autor, ele é e continuará sendo o principal nome de HPE do século XIX escrevendo dentro de um contexto específico. O desafio de compreensão de sua obra passa por um filtro do momento específico em que ela foi escrita. Às vezes isso se perde nas análises feitas sobre como a economia capitalista funciona. Várias pessoas leem a obra de Marx e a interpretam de formas diferentes. Marx está dentro da tradição clássica. Qual sua posição? Quais suas contribuições? A sua obra vai além da obra de outros autores clássicos já que ele não discute apenas aspectos da teorização econômica que Ricardo e Stuart Mill levantaram. Outras misturas são feitas bem como outras análises. 49 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 As duas obras que tornaram Marx famoso foram: “O Capital” e “Manifesto Comunista”. O Primeiro é composto por três livros, mas apenas o primeiro deles foi publicado enquanto Marx ainda estava vivo e os outros dois não. Foi escrito em 1857 e 1858 e concentrou todos os seus esforços intelectuais. Tudo que ele deixou escrito foi monumental e isso nos dá dimensão da sua intelectualidade. Entendê-lo não é simples. Por outro lado, ele é muito importante para o pensamento econômico e social por provocar debates sobre suas ideias englobando diversas gerações posteriores nessa discussão. A obra em si é monumental e foi escrita durante sua vida. Quase toda ela não foi publicada enquanto Marx estava vivo. Para entendê-lo temos que ler sua obra inteira. Sucessivas interpretações dela existem ao longo do tempo misturando questões políticas e ideológicas. Além disso, temos interpretações marcadas pelo progressivo conhecimento da obra. Manuscritos foram aparecendo após a sua morte os quais iluminaram tudo que foi escrito e por explicarem quais as motivações que levaram Marx a escrever sobre contextos específicos da sua época. O marxismo é marcado por esse conhecimento progressista dos livros de Marx e como ela não está completa em toda a sua junção, o progresso sobre ela não está em andamento. Estudamos hoje Karl Marx e também o marxismo (diversas interpretações sobre a obra de Marx ao longo do tempo). Qualquer pessoa que vai falar de Marx irá falar sobre suas interpretações a respeito do que ele escreveu. Qual sua trajetória? Marx é alemão, mas escreve boa parte da sua obra na Inglaterra por viver lá por muitos anos. Por que ele vai para Inglaterra? Isso tem a ver com sua atividade política. Ele nasce na Alemanha 1818 e morre na Inglaterra em 1883. Por conta de problemas com a censura no estado da Prússia, Marx se refugia em Paris e lá vive mais intensamente sua atividade política se envolvendo com as revoluções de 1848. O livro “O Manifesto Comunista” foi escrito exatamente dentro desse contexto. Após esse momento em Paris, Marx passa por Bruxelas, Polônia e se estabelece em Londres a partir de 1849. Nesse período ele desenvolve sua reflexão a respeito da economia política. Ele foi apresentado aos autores da economia política pelo seu amigo Engels. Marx então faz uma investigação sobre 50 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Adam Smith e Ricardo e, apesar de ter escrito “O Manifesto Comunista”, Marx ainda não possuía nenhuma obra específica de economia política. De 1849 até meados da década de 60 se dedicou a reflexões teóricas e diminuiu a sua atividade política com uma disciplina de trabalho intensa dentro da biblioteca do museu britânico que tinha uma área específica de obras de economia política. Marx também produzia textos jornalísticos para ganhar a vida e sempre viveu precariamente necessitando da ajuda de amigos para sobreviver. Ele fez tudo isso devido a sua ambição de produzir uma obra sobre economia política. Cartas de Marx para Engels descrevem o objetivo de Marx de escrever obras sobre economia política. Essas obras seriam de seis livros sobre: capital, propriedade agrária, trabalho assalariado, estado, comercio internacional e mercado mundial. Esse era o plano da obra de Marx. Obsessivamente trabalhou sobre o primeiro livro intitulado “O Capital” e dentro desse objetivo ele escreveu só uma parte (Livro I) reescrevendo-a continuamente. A ideia era chegar na perfeição dos termos de forma a gerar uma compreensão cada vez mais clara do que estava sendo tratado. Diante disso, um tipo de linguagem específica é gerada e é fácil hoje percebemos quando alguém está falando de Marx. O livro II e livro III de “O Capital” foram publicados após a morte de Marx devido ao esforço de amigos como Engels. O livro II já estava praticamente pronto, mas o livro III foi uma compilação de manuscritos de Marx feitos por Engels e posteriormente publicados. Alguns aspectos específicos de Marx podem ser percebidos em qualquer parte da sua obra. Ele tinha um método que foi utilizado na construção de seus livros. Em cada parte de sua obra é vislumbrado um título de totalidade em relação aos seus objetivos. Mesmo que essa totalidade não estivesse clara ou mesmo que ela tivesse mudado ao longo da obra, ela está presente em todos os livros. De onde vem isso? Isso vem do fato de que Marx, antes de tudo, sempre foi um filósofo diferente de Adam Smith por possuir outras filiações. Adam Smith era um filósofo moral inserido no iluminismo escocês. Karl Max é um filósofo pertencente a um outro ramo. Na confusão dos diversos marxismos existentes há interpretações a respeito dessa característica de Marx. Caso você não tenha nenhuma ambição de vida estando à toa, um bom objetivo de vida é analisar tudo o que Marx fez. O que é o materialismo histórico dialético de Marx? Marx é recheado de conceitos prontos e complicados. Ele é extremamente didático e às vezes por explicar demais as coisas simples 51 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 estas se tornam complicadas. Em geral elas são realmente complicadas, mais do que examinamos. O marxismo criou uma série de ideias prontas sobre o Marx já que o objetivo dele era a criação do comunismo em que as classes trabalhadoras seriam desalienadas dissolvendo o sistema capitalista e instaurando um novo sistema. O materialismo histórico dialético é um movimento teórico metodológico feito por Marx, inspirado na dialética hegeliana. O objetivo é entender como as ideias são produzidas e elas seriam produzidas dentro de um movimento dialético que inclui a tese, a antítese a síntese, ou seja, uma ideia, uma ideia contrária a ela e uma terceira ideia que seria uma síntese das duas anteriores. Essa dialética hegeliana se relaciona com a formação de ideias. Ela é muito utilizada por Marx para explicar a realidade material. Daí vem o materialismo. Os processos sociais, econômicos e materiais incorporam o argumento dialético. É pensada uma ideia de evolução da sociedade e de como ela se desenvolve ao longo do tempo. Adam Smith também fez algo parecido. Marx entende que existem aspectos diferentes dentro da sociedade com cada estágio da história gerando tensões que provocariam a evolução da sociedade. Esse movimento de tese, antítese e síntese é utilizado por Marx para explicar como a sociedade se transforma. Dentro de uma formação social existem forças, antagonismos a essas forças e a combinação de ambos geraria um novo movimento que romperia com a formação social atual gerando uma nova. O interesse disso é o de se pensar como novas reflexões seriam promovidas dentro do século XIX. Não deveríamos discutir se isso está certo ou errado, mas sim entender a lógica utilizada pelo autor. O materialismo histórico é uma teoria da história e uma teoria sobre o funcionamento da história sendo ela determinista. Ela possui vários problemas, mas é bastante avançada para época. Um mérito inequívoco que faz a explicação de Marx ser bastante sofisticada é a de colocar a economia no centro da transformação histórica. Ele é bastante atento a isso. Não é um modelo totalmente abstrato. É um modelo abstrato ligado a aspectos concretos da sociedade. Perspectivas de fundo existem, mas fatos concretos acompanham tais perspectivas. Marx dá concretude às coisas dentro de concepções históricas. A partir do materialismo que o esquema de interpretação é formado para explicar como funciona a transformação social. Esse esquema para Marx é muito importante em relação as simplificações que ele fez. Mecanismos são elucidados para entender como funciona a dinâmica de transformação econômica e social. A questão da crítica é muito importante na obra de Marx. Ela é muito mais do que uma palavra que ele usa, mas é também um método. “O Capital” é a crítica da economia política. Essa palavra crítica não é utilizada gratuitamente por Marx. Ela é um procedimento, uma questão 52 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 metodológica específica dele e se relaciona com o método hengeliano. Diz respeito ao procedimento para analisar a sociedade com base em normas e padrões próprios do objeto que está sendo analisado, não com base em alguma ideia normativa externa. O procedimento da crítica tem a ver com o procedimento de tentar evitar contornar os elementos externos e tentar chegar às normas do objeto analisado. O objeto de crítica de Marx é a economia política e ele não a crítica em relação a critérios normais ou externos. Ele não cria julgamentos morais. Ele critica a economia política a partir de dentro e não de fora para dentro. Ele procura mostrar as contradições existentes e critica tudo a partir do interior. Esse método tem necessariamente haver com buscar inconsistências e contradições internas ao próprio objeto. Critérios externos como “bom” ou “ruim” não são utilizados, mas sim critérios internos ao objeto estudado. Ricardo pensa a questão do valor a partir dos preços. O valor-trabalho tem identidade no preço. Marx separa as duas coisas e essa separação é fundamental para pensar algumas questões importantes. Ele diz que o valor de todas as coisas tem a ver com o trabalho. O valor desse trabalho se relaciona à quantidade de horas aplicadas no trabalho. Há uma distinção entre trabalho e valor-trabalho. Essas duas coisas podem ser diferentes e ai a mais-valia aparece. O valor do trabalho pode não corresponder ao valor produzido pelo trabalhador e ai há uma apropriação desse “mais trabalho” produzido por ele pelo detentor do fator de produção. É assim que a sociedade capitalista funciona. Ao fazer esse exercício de separar o preço e o valor do trabalho, percebemos que o preço é um indicativo do funcionamento do mercado e o valor seria algo derivado da compreensão da quantidade de horas empregadas para fazer a mercadoria. A exploração é um dado endógeno da sociedade, mesmo quando aparentemente a economia está em equilíbrio. Essa separação de preço e de valor nos permite perceber que a exploração é endógena ao sistema capitalista. Esse é um tipo de caminho que Marx irá percorrer. 20. AULA 20 – KARL MARX II (17/10/2013) Em um certo sentido Marx tem uma discussão conceitual e teórica bastante específica. Seu objetivo é fazer uma crítica da economia política e dar sentido a uma espécie de segunda 53 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 linguagem. Durante seu livro Marx procura especifica todos ors termos de seu discurso. Com os marxismos esses termos geraram uma segunda linguagem. Marx distingue valor de uso e valor. Valor para ele é uma coisa diferente daquilo que foi definido por Ricardo e Adam Smith. Marx então cria todo um processo para especificar o que vem a ser o termo valor. Isso é uma maneira de se construir uma segunda linguagem. Entender essa nova linguagem é um dos desafios para entendermos sua obra. Recapitulando, Marx está relacionado com a tradição hegeliana do rei e as críticas não podem ser entendidas de maneira externa, mas sim internas, ou seja, as críticas são internas ao objeto de estudo. Para fazer isso é necessário procurarmos por imperfeições e inconsistências dentro desse objeto já que elementos contraditórios podem ser revelados. A crítica se relaciona com entender algo que está escondido atrás da aparência do objeto estudado. A ideia é a de olhar para a realidade e pensá-la criticamente descobrindo o que está implícito. Fundamentalmente podemos pensar que economia política clássica é uma herdeira direta das revoluções burguesas do século XVII: Revolução Puritana e Revolução Gloriosa ocorridas na Inglaterra. Essas transformações políticas são resultado da expansão das ideias liberais. Essa perspectiva leva otimismo para economia e para o desenvolvimento da sociedade que usaria de forma adequada os recursos disponíveis. A grande representação disso é a ideia da mão invisível de Adam Smith. Essa mão é a expressão do otimismo e do progresso dessa época. Com o desenvolvimento haveria um aumento progressivo da circulação de recursos na economia de forma livre e sem impecílios. Nesse caso, se tivéssemos áreas mais desvantajosas do que outras, os capitais migrariam para outras áreas, o que permite ao sistema se prevenir contra qualquer tipo de excesso de produção. Temos uma situação em que o sistema estaria blindado de uma possibilidade de crise geral em que ele próprio não conseguiria suprir as suas necessidades. Com o aumento das liberdades o sistema estaria livre dessa crise. A economia política clássica a partir do século XVII passa a se estruturar com base nessa análise. 54 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A partir do século XIX iniciam-se visões mais pessimistas sobre qual o caminho a economia deveria seguir. Incompatibilidades passaram a ser observadas como o aumento da população e um aumento menor da quantidade de alimentos entre outros. Marx então faz uma crítica dessa economia política em cima do otimismo da mão invisível. Ele a refuta além de querer mostrar que o sistema, mesmo que aumentássemos as liberdades dos agentes, se transformaria e admitiria a possibilidade de uma crise geral. Marx então admite que o sistema pode entrar em colapso. No início do livro I de “O Capital”, Marx retrata os pressupostos da economia política clássica e os reestrutura com base na crítica interna ao objeto de estudo. Ele então reapresenta todos os temas anteriormente discutidos como trabalho e divisão do trabalho. A dificuldade de entender Marx tem a ver com conseguir entender esse seu objetivo de criticar a economia política. Ele não está preocupado em falar quem está errado ou quem está certo, mas sim investigar as categorias anteriormente destrinchadas por outros autores utilizando o método da tese, síntese e antítese. A dialética sistemática é bastante utilizada por Marx. O exercício é partir sempre do mais abstrato para o mais concreto e do mais simples para o mais complexo. Esse exercício é feito por Marx durante toda sua obra, seja em livros distintos e em seus capítulos. Por exemplo, Marx faz uma abstração geral da ideia de valor e posteriormente vai dando concretude para a mesma ideia. Ele sempre foi muito fiel ao seu próprio método por considerar que o ajudaria a entender os problemas tratados. Esse metodologia toda, novamente, é uma derivação do método de Hegel, da dialética hegeliana. Esse método foi melhorado por ele ao ser utilizado. 55 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A base da crítica de Marx é o capitalismo, pois a crítica é ao mesmo tempo da economia política, mas também ao capitalismo já que ele é a base econômica na qual a economia política está inserida. Assim, durante esse processo ele elucida a possibilidade da crise geral do sistema. Essa possibilidade de crise é o que dá sentido também a sua crítica da economia e sociedade burguesas. Marx não disserta apenas sobre valor de uso e valor de troca. Ele discute valor de uso e valor. Isso parte da metodologia de ir do mais abstrato para o mais concreto, do mais simples para o mais complexo. A ideia é de que existem certos atributos dos produtos que só se manifestam dentro da troca. Ele primeiro não pensa na troca, logo, existe apenas o valor de uso. Quando temos a troca, o produto assume novos atributos. Marx está dizendo que existem coisas que não são inerentes a mercadoria. Ele está interessado em aprender relações próprias da sociedade burguesa e dar especificidade a ela, ou seja, antes dela tais relações não existiam e quando ela surgiu a economia política passou a tratar como universal algo que é específico apenas da sociedade burguesa e não da natureza humana. O núcleo de sua investigação é o mesmo do de Adam Smith: divisão do trabalho. A economia política clássica fez parecer que a divisão do trabalho era universal e uma tendência de toda a sociedade; porém, é algo que possui razões mais profundas e derivadas da questão da distribuição. Marx diz que antes da distribuição ser distribuição de produtos, ela é antes uma distribuição dos meios de produção. Isso é um paradoxo, pois na medida que a produção é organizada e distribuída, esse processo também seria uma organização da distribuição dos fatores de produção. O próprio avanço da divisão do trabalho cria essa condição de distribuir os meios de produção. A distribuição da propriedade dos meios de produção é um pressuposto da produção ao mesmo tempo em que é o resultado histórico dessa produção. Esse ponto é importante para Marx, pois ele insiste que a economia política clássica destacou a divisão do trabalho, mas não destacou que, para esse processo acontecer, características sociais precisam permitir que ele aconteça. Na medida em que ele acontece as características sociais são aprofundadas. A divisão de trabalho é, ao mesmo tempo, a divisão da propriedade dos meios de produção. Segmentando o trabalho as pessoas se especializam e algumas vão deter os meios de produção e outras não. Isso faz parte do processo de divisão do trabalho. Essa é uma dimensão da crítica feita por Marx já que ele olha para o mesmo núcleo que Adam Smith estudou e produz ideias que Smith não produziu. 56 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Diversos pares de oposição surgem em sua obra. Sua dialética mistura esses pares de oposição para depois chegar a uma conclusão (tese, síntese e antítese). Por exemplo, valor de uso e valor de troca são um par de oposição. Ao estuda-la, Marx chega no conceito de valor. Não existem extremos, algumas coisas incorporam outras. Esse procedimento ajuda a especificar relações e explicá-las, do contrário, seria difícil percebe-las no capitalismo. Para Marx, a divisão do trabalho esconde um lado dentro da discussão proposta. Os indivíduos se autonomizam em função do caráter privado das suas propriedades dos meios de produção. Isso tem a ver com a lógica do pensamento liberal e revolucionário do século XVII. A propriedade privada seria um direito natural dos indivíduos. A propriedade no mundo medieval não incluía a propriedade privada e após o século XVII passou a considerá-la de forma eminente pois o capitalismo passou a se consolidar. O trabalho do indivíduo só funciona pois esse indivíduo está ligado a todos os outros. À medida que a divisão do trabalho avança, uma pessoa se especializa em fazer apenas um tipo de coisa. Ao fazer isso essa pessoa não exerce outras atividades. Se não existir uma estrutura social que permita as trocas para que o fruto do trabalho desse indivíduo possa ser trocado por outras coisas, ninguém sobreviveria. O avanço da divisão do trabalho faz então as pessoas dependerem mais umas das outras. O avanço da individualidade ocasionada pela divisão do trabalho leva a um aumento da dependência entre os indivíduos mediante a troca. Essa discussão está dentro do conceito de valor para Marx. A tendência crescente à especialização faz com que o produto do trabalho próprio de cada indivíduo seja cada vez menos destinado ao seu próprio consumo e cada vez mais determinado pelas necessidades dos demais produtores, ou seja, o que é produzido tem cada vez menos haver com o consumo próprio e cada vez mais haver com as necessidades dos outros indivíduos. Se pensarmos apenas em uma comunidade familiar, só haverá valor de uso nela já que a troca não ocorre. A troca, quando ocorre, pressupõe indivíduos diferentes e com necessidades diferentes entre si. Grupos estranhos uns aos outros permitem que a troca ocorra. A troca é definida como um tipo de alienação mútua de coisas entre os homens (pode ser dinheiro ou 57 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 objetos). O que se implica é uma certa independência e estranhamento entre os agentes. Essa diferença se dá pela existência de agentes privados. Segundo Marx: “É a dependência recíproca e multilateral dos indivíduos indiferentes uns aos outros que forma o nexo social. Esse nexo social é expresso no valor de troca, no qual somente, para cada indivíduo, sobre própria atividade ou produto, se torna uma atividade ou produto para ele. Ou seja, o alfaiate faz um casaco. Esse casaco só se torna um produto com valor de troca dentro da relação de estranhamento do alfaiate com outro indivíduo. Ele vai fazer um casaco, mas não para ele, mas sim para trocá-lo no mercado. Se por um lado os indivíduos, enquanto proprietários privados, aparecem como independentes e indiferentes uns aos outros por estarem em uma relação se julgando dessa forma, por outro lado existe um tipo de dependência recíproca e multilateral que é a base do nexo social que une tais indivíduos. Apesar da indiferença dos indivíduos expressa pelo valor de troca, eles estão obrigatoriamente vinculados por dependerem uns dos outros para satisfazerem suas próprias necessidades. O mesmo movimento que gera independência também gera a dependência. Não é possível separar essas duas questões. O nível do indivíduo é tanto independente quanto dependente. Esse é um par de oposição dentro do mesmo ponto. Esse é o tipo de coisa que temos que perceber para entender Marx. Cada coisa explicada por ele possui uma visão contrária. Essas tensões geram a possibilidade de crise geral do sistema capitalista. Dentro da lógica de Adam Smith o sistema capitalista não entraria em crise já que a estrutura produtiva se rearranjaria para se adaptar às novas necessidades. Marx já discorda e acredita ser possível o sistema entrar em crise. “O nexo social entre os indivíduos, à primeira vista indiferentes entre si, se expressa justamente o valor”. A explicação de valor para Marx engloba uma relação social associada a troca sendo que o valor não é determinado pelo produto em si. Algo pode ter valor de uso, mas o valor só aparece na troca que ocorre devido ao nexo social e ao par de oposição de independência e dependência dos indivíduos. O valor de troca não é um atributo natural dos objetos, mas é algo que se constrói dentro de uma relação social. Podemos distinguir o processo de produção do produto em geral do produto que se transforma em valor de troca, ou seja, a mercadoria. Esta só ganha sentido por conta da ideia de valor. Não faz sentido falar em mercadoria se existe apenas valor de uso. “Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é mediada pelo trabalho. Assim é o ar, a terra virgem, os campos naturais, a madeira bruta, etc. Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria. Quem por meio de 58 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 seu produto satisfaz sua própria necessidade cria valor de uso, mas não mercadoria. Para produzir mercadoria ele precisa não apenas produzir valor de uso, mas valor de uso para outra pessoa, valor de uso social”. A mercadoria é então transferida para outra pessoa e essa mercadoria terá valor de uso para essa outra pessoa. Nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso. Mercadoria não é qualquer produto para Marx. É um produto transferido para outra pessoa por meio da troca. Isso não acontece em qualquer sociedade e em qualquer tempo. Essa definição de mercadoria que permite Marx a chegar em um dos aspectos mais originais de sua obra: fetichismo da mercadoria. O fetichismo da mercadoria leva em conta que as relações sociais podem ser traduzidas em relações entre coisas. Podemos ter relações sociais de amizade, amor, etc, pensadas como relações entre coisas. Existe uma impessoalidade na sociedade de mercado que acaba coordenando também as relações sociais. O fetichismo da mercadoria é um instrumento para criticar a economia capitalista burguesa. O que une uma pessoa a outra em nossa sociedade não tem a ver com critérios de solidariedade ou amor, mas sim com critérios de mercado. As relações sociais são travestidas por esse critério. Elas são apreendidas a partir disso. Esse raciocínio está contido no conceito de valor que, para Marx, abarca o conceito de fetichismo da mercadoria. “Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos do trabalho, as características especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito da troca. Os trabalhos privados só atuam como elos do trabalho social por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio delas, também pelos produtos. A estes últimos, as relações sociais entre seus trabalhos privados aparecem como aquilo que elas são, isto é, não como relações diretamente sociais entre as pessoas e seus trabalhos, mas como relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre coisas”. Reificar as relações sociais é transformar as relações entre pessoas em relação entre coisas, mercadorias. É essa a ideia do fetichismo. Se a relação entre coisas é uma relação social, a relação entre pessoas é mediada pelas coisas trocadas. Essa dupla dimensão é complexa, mas faz parte da crítica que Marx faz à teoria do valor clássica. Comparando Marx com Ricardo, este último viu apenas uma dimensão do problema sendo o valor representado pelo preço. Para Marx a coisa é um pouco mais complicada envolvendo 59 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 esforço para se produzir algo e preço. Essas duas coisas são distintas já que há um valor subjacente ao preço. Por isso existe a possibilidade de exploração, já que uma coisa é um trabalho e outra coisa é a força de trabalho. Esta última é medida pelo número de horas trabalhadas. Se alguém trabalha por 6 horas para produzir algo para sua subsistência, o valor da força de trabalho custa 6 horas. Em uma relação social em que esse alguém não detém os meios de produção, esse alguém trabalhará por 10 horas. Sendo assim, o trabalho é 10 horas e o uso da força de trabalho é 6 horas. Há um excedente de 4 horas que será apropriado por alguém. Existe uma relação de equilíbrio na economia, mas pode existir uma situação de exploração nesse equilíbrio. Esse trabalho excedente será apropriado pelo detentor dos meios de produção. Temos então a base para explicar como a exploração acontece e como o lucro surge. Ricardo não consegue explicar a origem do lucro por não perceber a distinção entre valor e preço. Marx, ao fazer uma análise mais rigorosa dos elementos econômicos, percebe essa distinção. 21. AULA 21 – INTRODUÇÃO AOS MARGINALISTAS (22/10/2013) Três autores foram muito importantes para a revolução marginalista: Menger, Jevons e Walrás. No trabalho deles existem ideias similares que surgiram de forma autônoma. Cada autor chega a uma conclusão semelhante do outro; porém, de forma diferente. Poderíamos começar a tratar do assunto com qualquer autor, mas iniciar por Menger nos permite fazer conexões com autores anteriores aos marginalistas. A ideia de Marx sobre o fetichismo da mercadoria está relacionado com o fato dele próprio perceber o processo sobre o qual as mercadorias são feitas além de realizar uma crítica sobre esse processo por ele criar uma falsa ideia de mercadoria em outras relações como as sociais. Isso gera o contexto que Marx utiliza para discutir a mercadorias. Marx faz uma crítica da economia política burguesa a partir dos elementos constitutivos dela própria. Para chegar no fetichismo da mercadoria Marx compara a ideia a valor de uso dos objetos com a ideia de valor dando significado a eles. 60 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Dentro da economia política clássica temos um caminho que vai na direção da percepção de características intrínsecas aos bens que conferem valor. O que Marx está criticando é que o valor é necessariamente determinado pela quantidade de trabalho contido na mercadoria, ou seja, o trabalho origina o valor. Mas a ideia de valor de troca só é possível dentro de uma relação social que é o mercado. Marx nega atributos de Adam Smith como a ideia de valor de uso e valor de troca intrínsecos a um determinado bem. Dentro desse contexto é que surge a discussão entre valor de uso e valor. O ponto de partida de Menger é justamente discutir a natureza dos bens. Ele não está discutindo com Marx, mas podemos comparar ambos os autores. Menger foi um autor bem minucioso que sempre queria aperfeiçoar suas obras para edições posteriores (nesse ponto o professor desiste de continuar por esse caminho já que as pessoas da turma não leram o texto). O pensamento econômico passa a se estruturar dentro dos clássicos e no final do século XIX ele sofre uma reestruturação muito grande ao ponto dela receber o nome de revolução marginalista que conseguiu mudar as concepções da economia. Tais concepções novas estão envolvidas com novas ideias a respeito do problema econômico, ou seja, o que é a economia. De certa maneira é isso que está em jogo e que devemos perceber quando mencionamos a revolução marginalista. Essa revolução está demarcando uma nova teoria do valor caminhando por uma direção diferente das dos clássicos. Estes criaram uma teoria objetiva do valor a partir da quantidade de trabalho e esforço embutido no processo produtivo. Isso determinava o valor para os clássicos. A partir do final do século XIX um novo conjunto de autores passa a criar uma teoria subjetiva do valor que envolve teorias que dão percepções subjetivas ao valor dos bens. Essa nova teoria do valor utiliza linguagem matemática e a noção analítica da utilidade marginal. Cada um dos três autores marginalistas que estudaremos irá operacionalizar essa utilidade de uma forma diferente. Esse ponto de partida é visto na obra dos três e são eles que dão corpo a uma teoria subjetiva do valor. A noção analítica da utilidade marginal é percebida ao longo do século XIX nestes três nomes do marginalismo. A ideia de se posicionar em relação a teoria clássica com base em uma nova teoria do valor é 61 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 algo que aparece de forma independente e original em Menger, Jevons e Walrás. Nenhum autor copiou o outro nesse sentido. As abordagens incluem modelos teóricos diferentes. Podemos incluir um quarto autor como Marshall diante desse contexto. Este autor faz parte desse movimento de renovação. A teoria do Menger caminha na direção da teoria da imputação que se relaciona a uma teoria subjetiva radical em que o valor de todos os bens pode ser derivado de acordo com a sua utilidade de maneira direta ou indireta. A noção de equilíbrio está em Walrás e Marshall. A discussão sobre Marshall será feita em separado, as menções serviram para relacioná-lo com os demais autores. Jevons tem uma linha subjetiva mais radical em relação a percepção do valor. Antes de especificarmos os autores, temos que perceber os elementos básicos comuns e não comuns entre eles. Os elementos básicos são: 1. Definição do problema econômico entre os clássicos e os marginalistas; 2. Noção de valor; 3. Conceito de equilíbrio; 4. Papel dos preços; 5. Teoria da distribuição da renda. Esses 5 elementos nos permite perceber as diferenças entre os clássicos e os marginalistas. Estes romperam com concepções dos clássicos sendo que dentro dos clássicos existiram diferenças substanciais. Sobre o problema econômico, a concepção dos problemas associados ao funcionamento da economia para os clássicos foi concebido a partir de uma análise das condições que garantiriam o funcionamento do sistema econômico. Essa análise está estabelecida com base na divisão do trabalho, produção, distribuição, acumulação e circulação do produto. A ideia de 62 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 circulação é fundamental dentro da economia política clássica por ligar produtores e consumidores de forma circular. A percepção dessa forma circular permite que haja uma densidade analítica de todos esses conceitos e o conceito de divisão do trabalho é importantíssimo dentro desse universo. A percepção dos clássicos sobre o problema econômico era o de garantir o funcionamento desse sistema circular. A partir dos marginalistas inicia-se um contraste sobre o que seria o problema econômico. A percepção do problema econômico para os marginalistas está relacionado ao uso ótimo de recursos econômicos escassos para satisfazer as necessidades e desejos dos agentes. O problema econômico é então recolocado de outra maneira. É a partir daqui que as coisas se definem. Sobre a noção de valor, os clássicos possuem uma visão objetiva e os marginalistas uma visão subjetiva. A visão objetiva define que o valor está associado à dificuldade de se produzir algo, portanto, relacionado ao trabalho. A visão subjetiva marginalista está relacionada com uma variação da utilidade dos bens e mercadorias por parte dos consumidores. O que confere valor aos bens é essa variação subjetiva dos consumidores com base na utilidade que aquele determinado bem teria para aquele determinado consumidor. O tema central da economia desde sempre é a questão do valor. Esse encaminhamento que autores diferentes foram dando ao problema vai constituindo núcleos teóricos fundamentais dentro dos clássicos e dos marginalistas. Sobre o conceito de equilíbrio, ele passa a ter importância central dentro do enfoque marginalista por corresponder a condição de utilização ótima dos recursos escassos. Se definimos o problema econômico marginalista como sendo um problema de alocação de recursos, a noção de equilíbrio passa a ser um elemento central para o funcionamento do sistema, ou seja, a alocação ótima de recursos leva em conta preços e quantidades. Já no enfoque clássico a noção de equilíbrio não é fundamental para explicar o funcionamento da economia já que os preços relativos são explicados como falhas de mercado e não como um dado de utilidades diferentes. Logo, temos uma explicação separada de preços relativos e incentivos à produção. 63 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Sobre o papel dos preços, na teoria clássica (especialmente para Davi Ricardo) eles indicam a dificuldade relativa de se produzir. Ricardo toma o valor pelo preço supondo que ele é um indicador da dificuldade de se produzir um determinado bem. Para ele é isso que os preços significam. Para os marginalistas os preços são indicadores de escassez de acordo com as preferências do consumidor. Se algo tem ampla dele além de possuir uma determinada escassez, o preço indicaria a importância desse bem. Ricardo diz que o preço está relacionado com a dificuldade de produção e isso gera problemas em sua teoria. Marx critica essa visão de Ricardo e diz que haveriam coisas que a economia política clássica não conseguiria explicar. Para a abordagem marginalista, supondo que os preços são indicadores da escassez relativa em relação às preferências dos consumidores, não há esse problema. Sobre a teoria da distribuição da renda, os clássicos definem o problema da teoria da distribuição de maneira autônoma e social. O papel de diferentes classes sociais e seus respectivos poderes tomam parte da discussão para Ricardo. Para ele, os trabalhadores estavam condenados ao salário de subsistência já que as outras classes sociais possuíam mais poder do que os trabalhadores. Já os marginalistas tratam o problema da distribuição de renda em relação aos preços no sentido de que os preços dos fatores de produção devem ser considerados. Para se pensar porque o trabalhador ganha mais ou menos, o preço dos fatores de produção deve ser levado em consideração. Eles são um indicativo da utilidade que um determinado bem tem para o consumidor. Todos esses pontos foram combinados de maneira diferente nas abordagens marginalistas. A abordagem francesa é fundamentada na ideia de equilíbrio geral. Walrás ficou famoso por conta disso. Essa percepção, que foi seguida por outros autores, tem como pressuposto uma dotação de recursos (terra, capital e trabalho) dada e combinada com a preferência dos agentes econômicos. É assim que definimos a ideia de equilíbrio geral que seria estático e tomado como dado diante de uma certa quantidade de fatores. Essa visão tem a característica de progresso e transformação econômicos. A escola austríaca de Menger se diferencia das demais escolas. 64 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A visão radical de Menger sobre o aspecto subjetivo do valor faz com que o valor de cada bem ou serviço seja deduzido a partir da utilidade final que terão para o consumidor final. O ferro gusa ou a chapa laminada fria ou o minério de ferro teriam valor com base na utilidade final do automóvel, do fogão, ou qualquer coisa que seja produzida com esses materiais. Menger em seu texto começa a definir a ideia de necessidade humana para depois derivar a discussão sobre os bens. O nexo causal dito por ele se relaciona com a satisfação de necessidades. Quando estas são satisfeitas, temos a utilidade. Menger não fala de mercado ou compra e venda ou troca ou lucro. Ele explica o surgimento do valor das coisas em função da utilidade. Algo se torna um bem de acordo com a possibilidade de dispor ou da possibilidade de ser utilizada para suprir necessidades. Essa concepção é bem diferente da concepção clássica de valor. Para Menger, algo se torna um bem se quatro pressupostos são satisfeitos: 1. Existência de uma necessidade humana. 2. A coisa precisa possuir qualidades tais que a tornem apta a ser colocada em nexo causal com a satisfação da referida necessidade. 3. O reconhecimento, por parte do homem, desse nexo causal entre a referida coisa e a satisfação da respectiva necessidade. 4. O homem poder dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetivamente para satisfazer à referida necessidade. Menger então não fala do mercado. Mas se esses quatro pressupostos forem satisfeitos, temos um bem. Essa é a definição de bem para Menger. Os pressupostos precisam ser atendidos simultaneamente. Ao final Menger entra em discussão sobre o fetichismo da mercadoria. Bens não seriam apenas coisas, poderiam possuir outros atributos além disso. O fetichismo da mercadoria discutido diante da teoria do valor de Marx se relaciona com a teoria do valor discutida por Menger. Para este último, amor ou amizade podem ser 65 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 considerados bens, ou seja, relações sociais podem ser tratadas como bens. O abstrato pode ser tratado como bem. Marx faz uma crítica que tem a ver com perceber como as coisas se manifestam na realidade dizendo que essa manifestação não corresponde ao que de fato elas são. A economia política clássica é então criticada por Marx considerando que a teoria explica mal o que acontece na realidade por cair em autoenganos como o do fetichismo da mercadoria. Tendemos a ver a relação social travestida pela relação de mercado e isso não permite valoração. Menger já diz outra coisa partindo de outra concepção de valor. Para ele, as relações sociais podem ser tratadas como bens por possuírem utilidade e possuindo utilidade os quatro pressupostos são satisfeitos e podemos calcular o valor que o amor teria para alguém. O enfoque marginalista ultrapassa o valor de uso e o valor de troca e os conecta de alguma forma. Os incrementos marginais são a base para explicar a utilidade de algo. O valor de troca está relacionado à ultima unidade adicional consumida do valor de uso de um determinado bem. A utilidade é então calculada pelo incremento da última unidade adicional de um bem. Se há utilidade e se podemos calculá-la, logo, o valor dos bens podem ser calculados, mesmo que tais bens sejam abstratos. Em certo sentido Menger está enganado pelo fetichismo da mercadoria e tempo e lugar não interferem em seu argumento. 22. AULA 22 – MENGER (24/10/2013) Os 5 aspectos que distinguem o marginalismo da teoria clássica são importantes para separar dois momentos da história do pensamento econômico. Menger é o autor mais diferente em relação ao Jevons e Walrás. Ele é um autor que usa um método de compreensão do problema da utilidade um pouco distinto. Jevons e Walrás utilizam formas diferentes de tratar o problema econômico. Um tema de todo o movimento do pensamento econômico e social na Alemanha no século XIX se relaciona com a escola histórica. O movimento da escola histórica é um movimento do pensamento econômico da Alemanha do século XIX e seus membros se estenderam por gerações posteriores. O sentido da evolução do pensamento econômico dessa escola tem a ver com como o pensamento clássico entra na Alemanha. 66 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 O pensamento clássico que foi entrando na Alemanha possuía muito mais influência de autores franceses posteriores aos fisiocratas. Ricardo tem uma penetração neste país. O movimento da escola histórica tentou entender que a economia política clássica era inadequada para entender a problemática econômica alemã. O ponto de partida reconhece que o tipo de formulação dada não se adequava ao país alemão. O movimento da escola histórica então questiona a validade de leis gerais da economia e questiona que só é possível teorizar a economia com base numa reflexão histórica. Esses questionamentos são feitos de maneira radical dentro de alguns autores dessa escola. Alguns eram Roscher e Schmoller. Esse movimento avança em um sentido radical combinado com uma percepção cada vez mais aguçada do momento alemão. A Alemanha possui um dos casos clássicos de industrialização retardatária começando-a tardiamente em relação a Inglaterra. Isso vai fazer com que a Alemanha pule a chamada primeira fase da revolução industrial e comece a se industrializar direto na segunda fase, ou seja, em vez de se industrializar com bens de consumo para mais tarde se especializar em bens de capital, ela já entra direto na industrialização que prioriza os bens de capital com base numa atuação muito decisiva do estado já que existia um processo de centralização que permitia esses acontecimentos. A reflexão da escola histórica passa por esse processo de industrialização tardia da Alemanha já que a economia política clássica tratava do tema do ponto de vista da Inglaterra sendo este um ponto de vista distinto do que ocorreu na Alemanha. A percepção do estado passa ganhar importância para alguns autores da escola. Num certo sentido, Adam Smith ou Stuart Mill não são tão diferentes dos autores da primeira geração da escola histórica. Essa geração utiliza reflexões históricas para chegar em visões teóricas; porém, as reflexões utilizadas são diferentes daquelas que Adam Smith e Stuart Mill utilizaram já que o contexto era outro por se tratar de um país diferente que era a Alemanha. A escola histórica alemã era um pouco contra a leis que seriam válidas para todas as sociedades. O caminho desses autores era de que as proposições econômicas só poderiam ser baseadas em observações empíricas detalhadas para que teorias fossem formuladas. Para se fazer isso estudos históricos deveriam ser feitos de forma detalhada. Teorias gerais que não levam em conta estudos específicos e detalhados não eram consideradas para os autores dessa escola. Por esse motivo eram considerados radicais. 67 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Menger entra nesse contexto como alguém que fornece perspectivas diferentes. Ele produz teoria econômica em um ambiente muito dominado pela escola histórica. O ambiente acadêmico da economia na Alemanha e em países germânicos no final do século XIX era dominado pela escola histórica. Menger começa a escrever e publica seu livro em 1871 diante desse contexto. O que é interessante é que seu livro dialoga com a tradição do pensamento econômico alemão e da escola histórica. O tipo de diálogo é importante para entender sua obra. O livro publicado por Menger não tem nada de histórico. Como ele foi bem aceito dentro da escola histórica? Um personagem intermediário dentro da escola nos permite entender porque o livro de Menger foi bem aceito. Esse autor seria Hal que publica seu livro pouco antes do livro de Menger. Essa é uma explicação da relação entre Menger e a escola histórica. Jevons e Walrás miram o padrão da física contemporânea para fazer economia. Para faze-la mais científica, a economia deveria se aproximar mais da física e de raciocínios matemáticos. Menger segue um caminho diferente e seu livro não leva em conta a matemática. Ele estava interessado em usar aspectos filosóficos aristotélicos para entender a essência das coisas como os bens. Qual a essência dos bens. Todo seu exercício caminha nesse aspecto. Mesmo com métodos diferentes, Menger chega a mesma ideia comum de Jevons e Walrás: para se pensar o valor de determinada coisa, devemos pensar na margem, ou seja, qual a utilidade decrescente para alguém quando uma unidade adicional de um bem é fornecida. O valor é determinado sempre na margem sendo ele relacionado ao valor que é dado às unidades adicionais de um bem. A finalidade da atividade econômica é a satisfação das necessidades humanas e isso permite uma consideração sobre o que leva uma determinada coisa se tornar um bem (os quatros pressupostos anteriormente descritos). Para algo se tornar um bem não é suficiente que ela fosse capaz de suprir necessidades humanas. É também necessário que as pessoas saibam utilizar esse bem para determinado fim. 68 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 O valor de uma determinada mercadoria corresponde as necessidades que não seriam atendidas se aquele bem não estivesse disponível. Em vez de falarmos que o valor se relaciona com o que aquilo atende, temos aqui o contrário. É a mesma lógica do valor ser atribuído por unidades marginais do mesmo bem. O não atendimento das necessidades se relaciona com o valor. Esse concepção é importante para entender os exemplos que Menger utiliza no seu livro. Jevons e Walrás utilizam outros conceitos para chegar no mesmo ponto que Menger chega. A imputação é bastante utilizada por Menger. Ele constrói uma lógica para dizer que bens de ordem superior atendem indiretamente a uma determinada necessidade e pensar no valor desses bens requer que pensemos em uma parcela de valor dada por sua utilidade final. Se o bem de ordem superior não estiver disponível uma certa quantidade de bens de ordem inferior não seriam produzidos. O caminho da não existência é que permite a valoração de um determinado bem. O trigo seria um bem de ordem superior e o pão um bem de ordem inferior. Para pensarmos na utilidade de 1kg de trigo devemos pensar quantos pães deixariam de ser produzidos se aquele 1kg de trigo não estivesse disponível. O conceito de valor para Menger não envolve troca ou preço, mas depende sim da necessidade e da utilidade dos bens. O preço entra nessa jogada somente para a troca. Ele seria determinado pelos valores e os valores são ideias anteriores a ele. O preço representa diretamente algo, mas o valor se estabelece de maneira anterior e independente das trocas. Algo tem valor por conta de sua utilidade. Jevons, Walrás e Menger supõem que os preços dependem da utilidade marginal e rejeitam a teoria do valor-trabalho de Ricardo e Marx. Porém Menger faz uma análise bastante formalizada com definições que se encaixam em contextos específicos. Isso traz vantagens e desvantagens. Enquanto Jevons e Walrás pressupõem a ideia de equilíbrio de mercado, para Menger em nenhuma hora a ideia de equilíbrio é suposta. Essa diferença é importante. A ideia de que o mercado estivesse em equilíbrio com os indivíduos maximizando sua utilidade só faz parte dos trabalhos de Jevons e Walrás. Menger não trata disso e a consequência importante é de que para ele os indivíduos teriam conhecimento bastante limitado das possibilidades 69 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 disponíveis. Outra figura se aproveita das oportunidades disponíveis é o empresário. É ele que surge como o tipo de pessoa que obtém vantagem das oportunidades de lucro conferidas pelo conhecimento limitado das pessoas sobre as possibilidades disponíveis. A ideia de maximização da utilidade que leva ao equilíbrio de mercado não está presente em Menger e isso leva uma percepção da figura do empresário que tem importância grande dentro da escola austríaca. Os empresários podem criar necessidades que previamente não existiam com base em novas maneiras de se utilizar os bens existentes. Menger dá uma importância grande para a propriedade privada. Diferente de Jevons e Walrás ele dá ênfase para como que certas instituições emergem dos bens. Dado o conceito de bem para Menger, ele permite o surgimento de certas instituições como a propriedade privada. De uma certa maneira Menger inverte as coisas e explica tudo de uma maneira a-histórica. Marx dizia que a propriedade privada surgia dentro de um contexto histórico do capitalismo. Para Menger a propriedade privada é uma solução prática possível para o problema imposto a todos devido a disparidade entre os bens e serviços e suas quantidades disponíveis para a sociedade, ou seja, a escassez. Resumindo e generalizando, Menger diz que a ordem legal tem sua origem na economia. A propriedade privada é o fundamento principal do ordenamento legal em nosso mundo e a origem disso é econômica. Menger dedica seu livro ao Roscher que é o fundador da escola histórica alemã. O livro é baseado em ideias de Hal e por isso é bem aceito dentro desta escola histórica. Dois conceitos importantes emergem da obra do Menger e influenciam as ciências sociais. O individualismo metodológico é um desses conceitos segundo o qual os conceitos e reflexões precisam partir primeiramente do indivíduo. Para construir uma teoria devemos utilizar o individualismo metodológico, do contrário, estaremos fazendo história em vez de teoria. O outro conceito importante é o da ordem espontânea subjacente aos fenômenos sociais. Essa ordem independeria do homem e seria algo da natureza. O individualismo metodológico é muito influente na teoria de Menger. 70 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 23. AULA 23 – JEVONS (29/10/2013) Apenas a partir do século XIX é que temos uma mudança no arcabouço do pensamento econômico devido aos autores estudados. Em relação a Menger que usa mais ideias e filosofia, Jevons utiliza mais a linguagem matemática com o cálculo diferencial. Apesar disso, não é apenas a matemática que será utilizada por Jevons, mas também ideias que serão comprovadas pela matemática ao longo do seu trabalho. Jevons vai gastar um bom tempo discutindo as ideias de Menger sobre prazer e dor. Esse cálculo é o que interessa pra Jevons e não é apenas um cálculo matemático, mas tem uma visão por trás especifica do utilitarismo. Existe uma série de ideias do século XIX e de autores diferentes que vão em direção a reflexão da utilidade e da utilidade marginal. O nome principal normalmente citado é do autor alemão Gossen que formulou alguns princípios em um livro famoso chamado “Desenvolvimento das leis das relações humanas”. Ele lança as bases para a discussão da utilidade marginal. O seu livro não encontra espaço na época em que foi lançado (1854), mas em vários anos depois suas ideias continuam influenciando a economia inclusive o marginalismo. Não basta então termos ideias, é necessário que haja um ambiente para que elas se desenvolvam e ganhem espaço. Naquele momento as ideias de Gossen surgiram em um ambiente dominado pela economia clássica. As leis de Gossen são as definições fundamentas de utilidade marginal e substituição marginal. A primeira lei é: “a medida que o indivíduo adquire unidades adicionais de um bem, o consumo sucessivo dessas unidades proporcionam uma diminuição de satisfação até a saciedade”. Essa passagem é a definição básica da utilidade marginal decrescente. 71 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Gossen esquematiza toda essa argumentação, mas em 1854 nada disso ganha uma forma analítica específica na teoria econômica dominante. A segunda lei dita por ele é: “qualquer pessoa distribuirá seu rendimento monetário disponível entre os vários bens de consumo de tal forma que a última unidade monetária gasta em cada mercadoria proporcione igual grau de satisfação”. Essa ideia é a de maximização da utilidade sujeita a uma restrição orçamentária. A segunda lei permite que possamos pensar em um modelo para que haja maximização total da utilidade do indivíduo. Gossen define essa condição através da sua segunda lei. Esta também permite que pensemos na substituição marginal. A última unidade monetária gasta em cada mercadoria diferente proporcionaria igual grau satisfação é a condição para que algo seja substituído para que a utilidade seja maximizada. Jevons e Walrás reconhecem Gossen como o precursor dessas ideias, mas Menger não. Ao longo do século XIX várias ideias contribuíram para o novo edifício teórico do pensamento econômico. Gossen não foi o primeiro nem o último a produzir tais ideias. Princípios matemáticos foram sendo incorporados a elas. A ideia da utilidade marginal surgiu e foi embasada pelo cálculo matemático proveniente do século XVIII. Fontuni (não sei se o nome está certo) formula teorias a respeito das relações sociais. Para formular teorias específicas sobre a produtividade dos fatores dentro do contexto social ele discute a ideia de incrementos marginais, ou seja, produtividade marginal dos fatores que organizariam espacialmente o ambiente. Ele não pensa a questão da utilidade marginal, mas utiliza os conceitos de incrementos marginais e isso é uma das bases que contribuem para as inovações do pensamento econômico. Jevons é um personagem curioso. Sua trajetória pessoal é interessante e nos ajuda a entendêlo. Sua morte é precoce de tal forma que se tivesse vivido mais ocuparia um papel mais importante dentro dos marginalistas. Quem ocupa um papel importante em seu lugar acaba sendo Marshall. Em termos das ideias que Jevons vai produzir é demarcado um ponto de ruptura com a economia clássica. Ele faz isso por duas fontes: por um lado através da sua ambição de matematizar a ciência econômica e dar lógica fundamental para a construção do 72 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 pensamento econômico. Outro lado é a sua ambição com a psicologia humana. Essa visão dele sobre psicologia é um dos fatos que distinguem o seu pensamento. Menger faz discussão sobre a psicologia humana? Não. Mas Jevons o faz. Menger não constrói seu argumento baseando-se em uma visão da psicologia humana. Existem suposições em sua fala, mas ele não teoriza sobre prazer, dor, sofrimento. Ele não precisa disso para discutir a utilidade. Já Jevons coloca isso como elemento central da sua discussão. Jevons nasce em 1835 em Liverpool e tem uma história familiar bem complicada. Ficou órfão de mãe muito cedo aos 10 anos e órfão de pai aos 20 anos. Sua irmã é internada por loucura e seu irmão muda-se para a Nova Zelândia. Sua trajetória é solitária e não explica nada, mas ajuda a entendê-lo melhor. Inicia seus estudos na University College de Londres que na época era a principal escola de economia. Jevons não conclui o seu curso, mas estuda ciências naturais, química e matemática até largar a faculdade e ir para a Austrália para trabalhar na casa da moeda. Esse período em que ele trabalha por lá vai permitir que ele faça estudos em diversos campos como botânica e meteorologia. Nesse período é que ele, curiosamente, decide dedicar sua vida para fazer o estudo do homem. Ele abandona a casa da moeda e volta para Londres em 1862 para concluir seus estudos na University College entrando para a carreira acadêmica em Manchester. Como professor, tutor e generalista, evoluiu para professor titular dentro da universidade. A respeito do estudo do homem Jevons publica textos sobre queda do valor do ouro e publica um livro sobre lógica que o torna famoso diante de sua carreira acadêmica em Manchester e por isso vira professor titular. Nesse mesmo momento em que publica seu trabalho de lógica ele continua estudos dentro do plano econômico. Uma série de textos é escrita por ele com a tentativa de juntar matemática e estatística para ajudar a entender aspectos humanos. Jevons faz uma teoria sobre ciclos econômicos relacionados com ciclo de colheitas e manchas solares. Tais manchas determinam períodos em que maior luminosidade no planeta gerando melhor colheita e ciclos econômicos específicos. É um argumento sofisticado que junta matemática, estatística, ciência e biologia. O que interessa são seus livros publicados na década de 70 do século XIX. O seu livro intitulado “Teoria da economia política” vai ser o seu tratado principal sobre economia política e teoria econômica e com ele Jevons faz a sua transição saindo de Manchester e voltando para University College de Londres em 1872. Em 1880 se aposenta precocemente com objetivos de se dedicar exclusivamente às suas pesquisas. Abandona então a carreira acadêmica, mas morre afogado 73 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 logo depois da aposentadoria, em 1882, em suas férias na praia. Sua carreira é bruscamente interrompida. Em termos gerais, o que é fundamental sobre o Jevons é que ele demarca uma ruptura da percepção da ciência econômica que passa a ser percebida de forma condicionada a aspectos filosóficos como a ética. História e política não são questões relevantes para compreensão da economia já que ela pode ser tratada como ciência assim como a física e matemática. É isso que Jevons defende e há uma importância muito grande nesse argumento. Isso não significa que Jevons não leva em conta outros aspectos. Ele está interessado em entender qual é a natureza psicológica do homem, mas está interessado em entender isso de maneira quantificada e lógica. Nesse sentido ele leva várias ideias sobre a natureza humana de autores diferentes, mas caminha em uma direção parecida com a de William Petty em que qualquer coisa poderia ser expressa em números através da linguagem matemática. Jevons tem premissas filosóficas em sua obra. Menger tem apenas uma questão filosófica que se aproxima da filosofia aristotélica estando ele interessado na essência das coisas. Quando Menger trata das coisas ele tende tratar sobre a essência delas, ou seja, a essência dos bens. O método de Jevons é o lógico e matemático, não tendo ele um método filosófico, mas isso não impede que ele trate de questões filosóficas em sua obra. A questão filosófica importante para Jevons é a filosofia que está envolta no utilitarismo. O exercício analítico que Menger faz não é matemático, diferentemente de Jevons. O primeiro está preocupado com a essência do fenômeno e não com a materialidade do bem ou de como ele foi produzido. Ambos caminham pelo lado subjetivo, mas com as diferenças anteriormente explicitadas. Uma série de elementos utilizados por Menger são também utilizados por Jevons. A ideia de se pensar a intensidade e duração das circunstâncias e dos fatores determinantes para o prazer e o sofrimento é um desses elementos. Os indivíduos fariam esse cálculo levando em conta suas circunstâncias. Para Jeremy Bentham esse cálculo é social. Para o Jevons esse cálculo é feito pelo indivíduo e o autor mostra isso através da linguagem matemática explicando o seu pensamento diante dessas questões. Nas palavras dele, “O prazer e a dor são sem dúvida os 74 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 objetos mais interessantes do cálculo em economia. Satisfazendo ao máximo as nossas necessidades com o mínimo de esforço, alcançar a maior quantidade que se é desejável, em outras palavras, maximizar o prazer é o problema da ciência econômica”. Essa é a definição de ciência econômica para Jevons. O problema da ciência econômica é então recolocado por ele e vemos diferenças grandes em relação a autores clássicos anteriores como Adam Smith. Jevons não fala de bem, mas sim de mercadoria. Ele pressupõe a troca desde o início. Mercadoria para ele é qualquer objeto, substância, ação ou serviço que proporciona prazer e evita sofrimento. Dado o conceito dele sobre o que é economia, o seu conceito de mercadoria vai na mesma direção. Essas definições são funcionais levando em conta o seu raciocínio. Como ele define utilidade? Utilidade para ele é a qualidade abstrata de um objeto que faz dele uma mercadoria. A mercadoria então é o que dá prazer e evita sofrimento. Utilidade é essa qualidade abstrata de um objeto que faz dele uma mercadoria. Então a utilidade não é uma característica intrínseca e inerente aos objetos. A utilidade não está no objeto, pois ela tem a ver com o cálculo que o indivíduo vai fazer. O problema da natureza do valor é então recolocado e inicia-se um outro edifício teórico em uma outra direção. Como uma coisa está conectada com outra, todas as teorias subsequentes de alteram. A utilidade nasce de uma circunstância específica que é o indivíduo desejar determinado objeto com base em um cálculo feito por ele de maximização do prazer e diminuição do sofrimento. O valor é dado pela unidade adicional de um bem, sendo dado dentro de um cálculo específico que permite substituir marginalmente a utilidade de cada uma das coisas, ou seja, se temos uma determinada quantia de dinheiro, vamos ao mercado para comprar coisas de acordo com o nosso cálculo de utilidade. Partimos do pressuposto de que os indivíduos querem maximizar a sua utilidade e todos fazem isso ao mesmo tempo no mercado. O ponto de partida é então subjetivo, porém, calculado. O caminho que Jevons segue é de que a utilidade é uma função dos objetivos e isso o permite pensar que a utilidade dos mesmos está relacionada com as quantidades adicionais deles. As utilidades também seriam decrescentes nesse contexto. “O grau marginal de utilidade de uma mercadoria varia com a quantidade consumida dessa mercadoria e em última análise decresce à medida que a quantidade dessa mercadoria aumenta”. Jevons chegará à substituição marginal tratada também por Gossen (seus dois princípios são da utilidade marginal e da substituição marginal). Para falar da substituição marginal, bens diferentes são misturados. 75 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A troca de mercadorias é a forma central para se maximizar a utilidade. Daí é necessário que tenhamos uma definição de mercado. “Mercado é: duas ou mais pessoas que transacionam duas ou mais mercadorias em que as quantidades trocadas e as dimensões são conhecidas”. Dois pressupostos fundamentais estão inseridas nessa fala de Jevons: livre concorrência e informação perfeita. Mercado para Jevons é então a livre concorrência e a informação perfeita. Caso um desses princípios não ocorra, sua teoria passa a não fazer sentido. “No mesmo mercado aberto e livre, a qualquer momento não pode existir dois preços para o mesmo tipo de mercadoria”. Se o mercado é livre e se existe a informação perfeita, é impossível haver dois preços em um mesmo momento para o mesmo tipo de mercadoria já que a lógica é a de que as pessoas, atuando no mercado, farão com que os preços sejam os mesmos. “A relação de troca entre duas quaisquer mercadorias é inversamente proporcional a relação entre as utilidades marginais e as quantidades de produtos disponíveis para o consumo depois que a troca seja efetuada”. Quanto maior a utilidade que um bem tem para nós, menor é a quantidade que estamos dispostos a abrir mão dele na troca. Quando Jevons entra na teoria da troca ele está analisando o funcionamento da economia. Ele discute tudo em termos de utilidade e do cálculo que o indivíduo faz para maximizar a utilidade. Ao falar de mercado ele fala do cálculo que todos os indivíduos fazem para maximizar a sua utilidade. Jevons insiste em uma teoria do valor que nega a teoria do valor-trabalho; porém, ele não deixa de entender que, apesar do trabalho não ser a causa do valor, a avaliação do grau de utilidade de um bem depende de alguma forma do tanto de trabalho gasto para fazê-lo ou obtê-lo. O custo de produção é que determina a oferta. A oferta de determinadas coisas determina o grau de utilidade já que coisas mais raras têm utilidades diferentes de coisas mais abundantes. E o grau final de utilidade dos objetos é o que determina o valor dos mesmos. A questão de equilíbrio será importante para diferenciar Walrás e Jevons. 24. AULA 24 – WALRÁS (31/10/2013) 76 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Qual seria o problema da ciência econômica para Walrás? Existem várias respostas possíveis. De alguma maneira ele está preocupado em discutir se a economia é uma ciência moral ou uma ciência natural. Na seção II de seu texto Walrás cuida mais da parte analítica e na seção I dimensões mais amplas são utilizadas para que haja uma colocação de ideias. De fato Walrás e Jevons estão mais próximos um do outro do que do Menger. Apesar disso, Walrás também está para o lado do Menger. Jevons estaria em um extremo e Menger em outro. Walrás se colocaria no meio dos dois. Por mais que a utilidade esteja pressuposta em seu livro, apenas em capítulos posteriores é que podemos observar uma discussão efetiva sobre o tema. Walrás está entre Jevons e Menger e próximo de ambos pois ele, assim como Jevons, se baseia pesadamente na matemática tornando-a a base para sua discussão. Além disso, assim como também Jevons o fez, Walrás se baseia no hedonismo. Jevons diz de prazer e sofrimento. Walrás não utiliza os mesmos termos, mas se baseia neles em sua obra. Em relação a Menger, Walrás consegue evitar os erros que Jevons fez no sentido de traduzir muito diretamente valores subjetivos de um bem em um mercado competitivo. O preço não é um indicativo tão direto dos valores subjetivos de um bem para Walrás. Para Jevons o preço tem uma conexão direta com valores subjetivos. Walrás tem mais cuidado com relação aos preços assim como Menger o fez. Walrás trata de numerário em seu texto, ou seja, uma unidade de conta e não trata de uma mercadoria específica. O dinheiro seria uma mercadoria, seja ele de papel ou ouro. A formação de preços se dá entre uma mercadoria e outra. Não existe uma mercadoria neutra já que poderia haver demanda sobre o dinheiro. Walrás reconhece isso e usa o expediente para contornar o problema. O problema do preço é, ao mesmo tempo, refletir sobre o problema do dinheiro na economia. 77 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A doutrina da utilidade marginal para Walrás vai se ramificar em duas parte. Em 1874 ele publica textos sobre a troca e em 1877 textos sobre a produção. Compreender a sua trajetória é complexo, pois é necessário fazer um estudo da tradição francesa. Ele utiliza as ideias de outros autores como Jean Baptiste Say. A ideia de equilíbrio é muito importante para Walrás e para a escola francesa. Outra ideia importante é a da utilidade como fundamento do valor que está na obra de Walrás. Além disso, na obra desse autor temos a importância da figura do empresário que vem das discussões feitas pelas teorias francesas. O empresário não está tão presente em Jevons e Menger apesar desse último fazer algumas colocações a respeito. Para falarmos de Walrás temos que pensar também na tradição francesa. O pai de Walrás também foi um economista político teórico que cunhou termos que são importantes para o próprio Walrás. Seu pai introduziu ideias como a da raridade de bens que acabavam por determinar o seu valor. Isso é definido da seguinte maneira: a derivada da utilidade efetiva em relação a quantidade possuída que, em outras palavras, é a utilidade marginal. Isso vem da ideia de raridade. As ideias de Walrás estão sendo colocadas em perspectiva com a economia clássica tomando como base a tradição francesa. O problema geral está em discutir a economia natural e a economia moral e chegar em conclusões a respeito disso. O problema do equilíbrio é um problema central para Walrás. Ele vai chegar nisso e discutirá esse ponto a partir do momento que identifica um mercado de concorrência em que o preço seja tal que iguale oferta e demanda. Quando isso acontece temos o equilíbrio. Quando o preço iguala oferta e demanda temos uma função da concorrência. A metáfora do leiloeiro walrasiano é interessante para compreendermos Walrás. O leiloeiro de Walrás existiria para organizar a informação. A informação é o ponto central da metáfora do leiloeiro walrasiano. Walrás supõe uma figura metafórica que estaria por trás de organizar a informação e anunciar o valor dos bens permitindo que as pessoas se adequem ao valor anunciado ou não. O método de aproximação progressiva desses valores é utilizada pelo leiloeiro que grita o preço. Caso o preço gritado não seja o que iguale oferta e demanda, novos preços são anunciados até que o 78 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 equilíbrio de oferta e demanda seja atingido, ou seja, consumidores e vendedores se sentirão confortáveis para realizar a troca. O ponto de partida então para Walrás é a troca e ela tem a ver com a figura do leiloeiro. O tatear seria feito até que encontrássemos um preço de equilíbrio. O mercado então seria livre e sem assimetria de informação. O preço de equilíbrio seria alcançado através da concorrência e do fluxo perfeito de informação. As implicações efetivas dessa metáfora só podem ser compreendidas caso possamos entender o sentido de valor das coisas para Walrás. Para pensar situações de equilíbrio podemos pensar em equações de equilíbrio para cada mercadoria do mercado. Cada uma delas teria uma equação de oferta e demanda e assim podemos pensar em equilíbrio geral. O problema está em como resolver a questão do equilíbrio geral. Como temos milhares de produtos, conseguimos ter milhares de equações. Existe solução matemática para esse sistema com inúmeras equações? Qual a condição necessária para chegarmos na solução? Haveria uma mercadoria que serviria como padrão de conta e que não apresentaria demanda. Teríamos “n” mercadorias e “n-1” equações a serem resolvidas. Assim, o conjunto de equações teria solução. O problema disso é que essa mercadoria seria o dinheiro e sendo assim haveria demanda por dinheiro. Walrás cria equações matemáticas para pensar na ideia de equilíbrio geral. Walrás trata também sobre a produção. A análise do equilíbrio geral foi pensada sobre o preço dos fatores de produção. A teoria do valor adquire aspectos mais complexos. Fazendo isso, Walrás não tem uma análise bem sucedida sobre a teoria da produção, mas suas ideias foram desenvolvidas por outros autores. Walrás propõe uma teoria moderna da produtividade marginal tratando de custos de substituição. Isso serve para pensarmos também em outro autor chamado Marshall. De onde esses autores marginalistas estão partindo para tratar o valor? Quando Adam Smith, Ricardo e Marx pensaram no valor, todos eles pensaram a partir do lado da produção/oferta. Quando a teoria subjetiva do valor surge com os marginalistas, passa-se a pensar pelo lado da demanda. Esses autores não desconsideram a oferta, ou seja, o mercado é regido por oferta e demanda e ambas são estudadas por todos para definir suas teorias. Jevons reconhece que o valor é determinado pela utilidade. Porém, temos que pensar também na produção e na oferta. Todos os autores marginalistas elegem o lado da demanda para fazerem suas análises, 79 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 apesar de não excluírem análises da oferta. Walrás, ao partir do equilíbrio de oferta e demanda, entende que a oferta é também importante apesar de priorizar o lado da demanda. Por considerar também a oferta ele discute o preço dos fatores de produção em sua teoria do valor, mas quem avança em uma discussão mais sofisticada disso é Marshall. Marshall também se encontra entre os marginalistas e publica seu livro em 1890. A partir daí ele avança na definição de ideias que culminam no surgimento do paradigma neoclássico. Só a demanda passa a não ser priorizada, mas ambos as lados passam a interessar simultaneamente. A sua metáfora é a da tesoura marshalliana. A ideia dessa tesoura é que ambas as lâminas cortam o papel ao mesmo tempo. Oferta e demanda atuam ao mesmo tempo no mercado. A oferta não corta o papel e a demanda apenas o segura. Ambas cortam o papel ao mesmo tempo. A importância de Marshall está no seu papel pedagógico dentro da economia. Seu livro ocupa o espaço ocupado anteriormente por James Stuart Mill e sistematiza o conteúdo da economia no século XIX e até hoje é bastante valorizado. A organização dos livros que compõem os seus princípios nos permite evidenciar os assuntos por ele abordados. Marshall trata do equilíbrio parcial na economia e teoriza essa questão. O livro de Marshall tem muito mais haver com o manual moderno de economia. Marshall era um matemático e sua discussão está focada no concreto matemático com poucas abstrações. Ele tenta achar mecanismos matemáticos para discutir aspectos mais concretos possíveis. O sistema dele parece eclético à primeira vista. Um elemento importante para Marshall e que não é abordado pelos outros autores é a questão do tempo. O tempo é tratado de uma forma mais analítica e sofisticada. O equilíbrio geral seria pensado em um dado momento do tempo e várias coisas poderiam mudar isso como a tecnologia. Ela pode mudar o equilíbrio geral. A ideia desse equilíbrio para Walrás era fixa no tempo, ou seja, ela exclui o tempo e por isso ela é irrealista. Para entendermos Marshall temos que perceber que sua percepção da economia é bem menos irrealista. Ele está tentando combinar a ideia de utilidade marginal com a ideia de custo real subjetivo. Ele tenta levar a discussão subjetiva da utilidade marginal para o lado do custo, da oferta e da produção. Ele desenvolve conceitos que permite tratar tanto um lado da economia como outro. Esse é o surgimento do paradigma neoclássico, ou seja, a economia neoclássica não trata apenas da demanda, mas sim também da oferta. 80 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Temos então a possibilidade analítica de pensarmos a economia pelo lado da oferta. Essas questões refletem no preço de oferta. A novidade disso tudo é que o custo de produção determina também o valor e esse conceito é diferente dos conceitos de Menger, Jevons e Walrás pois todos os três negaram esse conceito. Jevons diz que o custo de oferta é importante mas o que determinaria o valor seria a utilidade. Marshall dá a noção analítica do custo de produção distinguido custo real de produção e gastos com a produção. O custo real de produção se relaciona com o conceito de desutilidade do trabalho. O mesmo argumento da utilidade marginal e das unidades adicionais/satisfação decrescente é utilizada para falar do trabalho necessário para se produzir um determinado bem. O custo de produção passa a ser discutido diferenciando custos reais de custos nominais. O preço de mercado pode ser pensado como utilidade para o consumidor mas como desutilidade do trabalho gasto para produzir os bens na economia. Oferta e demanda são conectadas dessa forma e conceitos simétricos são criados, tanto para um lado quanto para outro. A ideia do excedente do produtor e do excedente do consumidor é criada por ele bem como a ideia de bem-estar na economia. Marshall distingue diferentes tipos de tempo e prioriza forças que atuariam no equilíbrio de mercado. O preço de equilíbrio entre oferta e demanda é pressuposta com a oferta fixa de bens (uma fotografia de como o mercado produtivo é neste exato momento). Essa, porém, é apenas uma das situações possíveis. Outras situações possíveis pressupõem períodos curtos ou longos de tempo em que a oferta variaria. Assim, equilíbrios parciais diferentes seriam atingidos de acordo com diversos horizontes temporais distintos. Um modelo de equilíbrio para a economia incorporaria diversas situações levando em conta o tempo. A importância disso é que as análises ficam mais concretas e realistas. Isso não está presente na obra de Walrás. Oferta e demanda determinam o valor para Marshall (tesoura marshilliana) e não apenas a utilidade por parte da demanda. Sua teoria continua sendo subjetiva, mas não apenas visando a demanda. 25. AULA 25 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (05/11/2013) 81 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 26. AULA 26 – ESTUDO DIRIGIDO “MARGINALISTAS” (07/11/2013) 27. AULA 27 – SCHUMPETER I (12/11/2013) Schumpeter é um autor com uma grande influência dentro da história do pensamento econômico. Iremos estudá-lo devido o interesse que ele possui para a economia e para podermos compará-lo com Keynes. Ao fazer isso estamos saindo do século XIX e chegando ao século XX e passaremos a estudar os principais nomes da economia desse período. Schumpeter é um dos economistas mais frequentemente citados hoje em dia devido a sua visão sobre o desenvolvimento econômico e por conta de como esse desenvolvimento toma parte dentro de sua obra. Em particular, o desenvolvimento econômico para esse autor está relacionado com uma sucessão de inovações. Tais inovações são alcançadas por empresários financiados por bancos e isso influência toda a compreensão da economia para Schumpeter. A atratividade de sua obra não se deve apenas a validade teórica dessas ideia, mas também das validades políticas de seu pensamento. Ele traz para o primeiro plano da dinâmica econômica a figura do empresário e dos banqueiros e ao fazer isso elucida um mecanismo diferente para pensarmos a dinâmica capitalista. Além disso ele influência o pensamento pós Primeira Guerra Mundial e oferece visões opostas às visões keynesianas a respeito das crises do capitalismo. Schumpeter entende que as crises capitalistas seriam um mal necessário, ou seja, são inerentes ao próprio sistema. Essas crises permitiriam que o sistema fosse varrido das coisas ruins que o prejudicavam. Elas permitiriam limpar o sistema e injetar uma vitalidade nova na dinâmica econômica capitalista. É claramente uma visão contrária a de Keynes já que para este autor era necessário impedir que as crises acontecessem. A visão de Schumpeter dá um novo papel para crise colocando-a como endógena ao próprio sistema. 82 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Podemos alinhar Schumpeter com um autor que têm pouco haver com ele: Karl Marx. Para este, a crise também era parte do sistema, sendo consequência inevitável do sistema. Mais do que isso, Marx viu a decadência do capitalismo como um resultado inevitável do próprio sistema. Schumpeter convergirá para esse mesmo ponto entendendo que a decadência do capitalismo seria um resultado inevitável. No limite, o capitalismo caminharia para sua decadência. Porém, até essa decadência ser alcançada, a visão de Marx e Schumpeter difere bastante. Tanto um autor quanto o outro teorizam sobre as noções tradicionais de equilíbrio econômico. Schumpeter teoriza contra as ideias marginalistas de equilíbrio. Schumpeter é um personagem bastante complexo. É difícil analisá-lo com propriedade devido a sua extensa obra e tema diferentes. Em geral as pessoas falam as mesmas coisas sobre ele: inovação. As pessoas tendem a simplificar o Schumpeter com base na inovação. Isso é algo muito perigoso de se fazer pois o autor é mais do que isso. Sua obra foi construída de forma que cada livro possui ferramentas analíticas diferentes para construir suas definições. Isso o faz caminhar de análises da econômica stritu sensu teorizando e polemizando com os marginalistas até chegar em análises sociológicas, históricas e também sobre a história do pensamento econômico. Para entendermos Schumpeter todas essas análises são necessárias. Diferentemente de Adam Smith que possuía uma trajetória bastante monótona, a trajetória de Schumpeter é mais complexa e tumultuada por compreender períodos de guerras e a crise de 29. Anteriormente a Schumpeter tratamos de autores que estavam bastante distantes de nossa época e que nem chegaram ao século XX. Os autores que viveram o século XX participam de uma dinâmica totalmente nova dentro da economia. A visão da história econômica do século XX fornece elementos novos para a reflexão teórica. Isso é auto evidente para Keynes e Schumpeter. Não é mais possível falar que a econômica tende ao equilíbrio, pois no século XX tais autores vivenciaram períodos em que isso não ocorria. Qual a trajetória de Schumpeter? Ele nasce em 1883 no que então era parte do Império do Austro-Húngaro e que hoje faz parte da República Tcheca. O ano de 1883 é um ano curioso que compreende a morte de Marx e nascimento de Keynes. Schumpeter está exatamente em 83 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 um momento de transição entre autores antigos e contemporâneos assim como Keynes e por isso ambos os autores são comparados. Schumpeter perde seu pai aos 4 anos e sua mãe que possuía 26 anos passa a se tornar uma pessoa muito presente em sua vida. Ela se casa de novo e seu novo padrasto passa a influenciá-lo bastante. Ele era um oficial reformado de alta patente do Império Austro-Húngaro e foi o responsável por mandar Schumpeter para estudar em uma instituição que existe até hoje e que antigamente era um dos polos do cameralismo se dedicando à educar nobres. O nome dessa instituição é Theresianum. Ela tinha como função educar a nobreza húngara com uma formação ampla de línguas e proporcioná-la a ocupar altos cargos dentro do império. Schumpeter tem toda essa formação nesta instituição e transitou em campos diferentes para além da economia, mas fazendo análises econômicas e sociológicas nesses campos. Após se formar em Theresianum ele ingressa na faculdade de jurisprudência da faculdade de Viena para cursar matérias relacionadas a economia. Seus professores foram os expoentes da escola austríaca e Schumpeter estava no meio de debates com os autros-marxistas dentro da faculdade de Viena. Ele não é um personagem situado dentro da escola austríaca, mas está no mesmo ambiente formador dos indivíduos que se destacaram dentro dessa escola. Após sua formação Schumpeter vai para Inglaterra e estabelece contato com os economistas importantes desse país como Marshall. Em Londres conhece sua primeira esposa e o seu casamento com ela durou pouco tempo. Sua carreira acadêmica demora a começar. Após a Inglaterra, Schumpeter se estabelece no Egito em Cairo e, como estudou além de economia jurisprudência e tinha se formado como advogado, passou também a administrar as propriedades dos príncipes egípcios. Como era um trabalho relativamente leve, Schumpeter começou a ter tempo para poder escrever e publicar suas obras. Seu primeiro livro intitulado “A Essência e os Princípios Teóricos da Economia” foi publicado em 1908. Após essa publicação Schumpeter fica doente no Cairo e retorna para Viena. Em função da sua publicação e indicações de outros autores importantes ele consegue um cargo de professor na Ucrânia ficando por lá durante um breve tempo. Em 1911 consegue um cargo de professor na Universidade de Grass da Áustria e permanece com esse cargo até a Primeira Guerra Mundial. Nesse período ele publica seu primeiro livro importante em 1912 intitulado “Teoria do Desenvolvimento Econômico” e em 1914 publica outro livro chamado “Épocas da História das Doutrinas e Métodos” tratando de metodologia e história do pensamento econômico. Ainda antes da Primeira Guerra Mundial, em 1913 e 1914 Schumpeter visita os Estados Unidos e dá aula em várias universidades. Com apenas 30 anos de idade ele recebe o título de doutor honoris causa pela Universidade de Columbia. O reconhecimento de seu brilhantismo foi feito ainda em vida demonstrando que ele era alguém de destaque diante 84 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 da maioria. Posteriormente a guerra, ainda que Schumpeter fosse um conservador política, sua posição de não conformista o permitiu assumir o cargo de ministro das finanças da Áustria caindo nas graças do partido socialista. Ele ficou pouco tempo no cargo por não conseguir resolver os problemas que assolavam o país no pós-guerra e faz uma transição para a carreira de presidente de um banco privado em Viena no ano de 1920. Em 1924 esse banco vai falir e Schumpeter também perde toda a sua fortuna com isso se tornando um endividado pelos anos seguintes. Depois dessas experiências ruins ele retorna para a área acadêmica na Alemanha permanecendo por lá entre 1925 e 1932. Schumpeter se casa com uma moça bastante bonita e mais nova do que ele. Ela era filha de um antigo empregado de sua mãe. Em 1926 sua felicidade acaba de maneira trágica já que essa sua nova esposa morre durante o parto. Junto disso, alguns meses depois sua mãe, a figura mais influente de sua vida, também morre. Dessa época em diante Schumpeter se torna uma pessoa bastante pessimista e isso marca sua teorização sobre o capitalismo. Sua personalidade passa a ficar bastante pessimista. Os contrastes observados nesse autor podem ser compreendidos quando estudamos sua trajetória. Com a ascensão do nazismo Schumpeter foge da Alemanha e vai para o Japão para depois se estabelecer nos Estados Unidos até o fim de sua vida. Em 1932 ele assume a posição de professor na Universidade de Harvard. Ele morre em 1950 pouco antes de completar 67 anos de idade. Sua vida que era irregular passa a ser linear e tapada quando se estabelece nos Estados Unidos. Os marcos de sua vida são as publicações de seus livros: “Ciclos Econômicos” de 1949 em que há uma análise estatística da transformação capitalista, “Capitalismo, Socialismo e Democracia” de 1942 e “História da Análise Econômica” publicado postumamente em 1954 sob a supervisão de sua última esposa. Schumpeter teve uma intensa atividade como professor. Ele lecionou para os grandes economistas do século XX. Todos eles fizeram doutorado em Harvard e foram seus alunos. Seu livro de 1954 é bastante interessante por ser um livro de história do pensamento econômico que não retrata autores antigos já que Schumpeter não considera Adam Smith um autor importante. Ele assume um viés que privilegia autores cameralistas. Uma das características importantes desse livro é a impressionante mobilização de material primário. Schumpeter não trabalha com manuscritos, mas sim com documentos originais e isso só foi possível pelo fato dele ser poliglota e ter como acessar tais documentos para citá-los em seu livro. Boa parte dessa literatura permanece não editada até hoje. Schumpeter é importante para HPE devido a esses fatos. Ele possuía uma grande genialidade. 85 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Seu livro “Estudo da História das Doutrinas Econômicas e Método” é mais simples, mas Schumpeter expõe sua preocupação com métodos. Ele está preocupado com a evolução da linguagem econômica, ou seja, como as ideias econômicas produziram teorias específicas em determinado momento e como elas foram evoluindo. Ele chama isso de análise econômica e escreve sobre a história dessa análise econômica. Essa preocupação com a análise econômica e com o método está presente no livro de 1908. “É vantajoso não estabelecer suposições metodológicas definitivas para todos os propósitos, mas sim adaptar cada uma delas para cada um dos objetivos, uma vez que a suposição específica adequada ao propósito ser tão liberal possível”. Schumpeter é um autor de métodos flexíveis, não existe apenas um caminho metodológico para ele. Temáticas diferentes foram percorridas por ele tomando de empréstimo métodos diferentes para analisar problemas diferentes, além de flexibilizar todo o processo. Ele foi formado diante da tradição marginalista da escola austríaca recorrendo aos conceitos dessa tradição em alguns momentos e criticando-a. Duas ideias não eram engessadas. No livro de 1908 conseguimos perceber que o objetivo principal de Schumpeter era ilustrar o que ele considerava os fundamentos da teoria econômica do momento, chamando-os de sistema estático de equilíbrio econômico. Para ele, esse sistema estático era insuficiente e a partir daí ele fundamentalmente tenta incluir a dinâmica nesse processo. Ele tenta transformar o estático em dinâmico sendo este mais importante do que o equilíbrio. Somente assim seria possível compreender melhor o funcionamento da economia. Princípios marginalistas são utilizados por ele, mas com algumas diferenças. Ele concorda com a visão do valor marginalista, mas recusa alguns dos pressupostos. Por um lado o valor dos bens econômicos está relacionado com a escassez, mas Schumpeter rejeita o utilitarismo de Jevons e discute a questão da utilidade marginal como um tipo de suposição genérica da teoria econômica, ou seja, suposição arbitrária útil que ajuda a vislumbrar certas questões e generalizar fatos científicos, mas ao mesmo tempo é uma suposição tão genérica e tão abstrata que não corresponde à realidade. Schumpeter não acha que algumas suposições representem a realidade, como a utilidade marginal decrescente representando o valor dos bens. Schumpeter contribui para questionar a visão da economia então vigente dizendo que o modelo de equilíbrio construído pelos marginalistas não ultrapassa a ideia do método de variações. Esse modelo mediria apenas o impacto sobre o equilíbrio caso alteremos algum 86 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 dado do sistema. Um modelo de equilíbrio seria montado para se estudar as variações. Esse equilíbrio seria estático e não representaria a realidade por assumir vários pressupostos não reais, sendo montado para se fazer estimativas variando algo e estudar o impacto sobre outros fatores. Por exemplo, poderíamos montar um modelo de equilíbrio geral para a economia de Minas Gerais supondo que a demanda por minério de ferro aumente 20% no próximo ano por conta da China. Daí deduzimos o que pode acontecer com outras variáveis. Para Schumpeter isso não funciona para mais do que isso. Ele vai contra a tais modelos e os considera limitados. O desenvolvimento econômico para Schumpeter está conectado à inovação. 28. AULA 28 – SCHUMPETER II (14/11/2013) Ao estudarmos Schumpeter devemos ter cuidado ao chegar a conclusões rápidas demais. Schumpeter não é socialista e nem ataca o socialismo. No início de seu livro no prólogo ele próprio diz isso. Todas as suas discussões sobre capitalismo, socialismo e democracia fazem parte do modo de como ele entende os problemas de sua época. A ambição de Schumpeter é explicar o funcionamento do capitalismo e as pessoas só tirariam benefícios dele caso entendessem como ele funcionava. Em sua análise, o capitalismo fornece benefícios fundamentais, não para a elite da sociedade, mas para todos. Schumpeter distorce um pouco a visão auto evidente do capitalismo já que ele gera concentração e outra série de fatores. Para ele, o capitalismo permite que classes mais baixas possam melhorar, ou seja, pessoas com rendimentos baixos poderiam melhorar de vida e o capitalismo forneceria esses benefícios coletivos com o tempo. Sua visão sobre capitalismo é um pouco diferente nesse 87 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 contexto. Devemos usar o seu livro para correlaciona-lo com o capitalismo e com a dinâmica econômica. O livro de Schumpeter de 1908 nos permite entender qual a sua visão de economia dominante e explicar porque ele considerava tais visões insatisfatórias e limitadas. O assunto principal seria o sistema estático de equilíbrio econômico, fundamentos básicos da teoria econômica e a necessidade de se introduzir uma dinâmica dentro de todo o processo. Como Schumpeter faz isso? Ele parte desses assuntos até chegar ao seu outro livro “Teoria do Desenvolvimento Econômico”. Durante sua discussão Schumpeter adota alguns pontos da teoria marginalista e outros não. O que ele apropria dos marginalistas seria o princípio do valor (utilidade marginal, demanda em relação a escassez) e rejeita a visão do utilitarismo de Jevons. Além disso ele faz uma crítica das limitações do marginalismo. Tal crítica está relacionada ao fator estático da economia. Várias metáforas são utilizadas por Schumpeter para descrever as limitações presentes na descrição do mundo econômico dado pelos marginalistas. Uma das metáforas interessantes seria a do mar e com ela ele explica a diferença entre o modelo estático e o modelo dinâmico sendo este último defendido por ele: “O estado de equilíbrio é o centro de gravidade das forças econômicas. Abstrato sim, mas sempre existiu perpetuamente. De fato não descreve o estado real da economia, mas somente um estado de coisas formal que nós devemos sempre observar mesmo nos mais ativos momentos do desenvolvimento e que em realidade permanece inalterado mesmo quando os dados mudam. Todavia, nós podemos dizer que esse nosso estado de equilíbrio se parece com a superfície do mar que está sempre em movimento, muito embora sempre retornando ao normal e na qual se observarmos a uma suficiente distância, sempre permanece plano. As ondas do mar sempre retornam ao mesmo nível, mas não as ondas da vida econômica”. O que Schumpeter está discutindo é que existe de forma abstrata um tipo de estado de equilíbrio na economia real, mas isso só pode ser descrito como uma possibilidade formal e abstrata. Ele não descreve um padrão que podemos encontrar a economia em um dado momento. De perto, ao olhar o mar, ele está em contínuo movimento. A uma certa distância dele, enxergamos uma aparência de linearidade que seria um determinado padrão. O mesmo vale para economia, de perto nós vemos apenas o movimento e de longe vemos linearidade. Mas não podemos acreditar demais nesta metáfora, pois no caso da economia, essas ondas do mar não necessariamente ficam no mesmo nível. Existe uma dinâmica na economia e a questão dos ciclos econômicos se inicia a partir desse 88 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 entendimento. Os ciclos não são como as ondas do mar que retornam sempre para o mesmo ponto. Um dos pontos fundamentais de Schumpeter que o diferencia dos marginalistas está relacionado aos juros. Ele rebate a teoria dos juros dos marginalistas que os definiam como sendo um prêmio dos bens presentes sobre os bens futuros. É um tipo de definição que exclui a questão monetária. Schumpeter se opõe a essa visão por acreditar em uma dinâmica nesse processo: “O fenômeno essencial são os juros que derivam do crédito que servem para a criação de novas indústrias, novas formas de organização, novas técnicas e novos bens de consumo” ... “A origem do fenômeno dos juros repousa no desenvolvimento do crédito”. Schumpeter está dizendo que a questão monetária importa neste caso. Ele ultrapassa a visão do sistema estático defendido pelos marginalistas em que o mercado monetário teria papel passivo podendo ser excluído de todo processo (Walrás dizia que a moeda não era mercadoria por não existir demanda por ela e excluía a questão monetária. Não temos como pensar a questão dos juros, os quais ocupariam papel passivo não controlando o mercado). Essa nova visão de Schumpeter defende que os juros são um fenômeno monetário que só podem ser explicados em um contexto que haja uma dinâmica na economia. Ele discute como meios de pagamento são criados para financiar a inovação. Isso tem a ver com o crédito e com o papel ativo dos banqueiros e a passividade não é considerada por ele. Esse papel ativo encaminha o funcionamento da economia. Os juros então são dinâmicos para Schumpeter. Schumpeter acredita que empresários e banqueiros são fundamentais para economia. O empresário teria a ideia inovadora e o banqueiro financiaria essa ideia inovadora criando meios de pagamento. A questão dos juros para Schumpeter entra nisso. Antes os juros teriam papel secundário e agora eles possuem papel central no processo. Toda essa discussão é bastante complexa em seu livro. Schumpeter polemiza com os marginalistas e discute tecnicamente várias questões. Mais adiante Keynes terá visões diferentes sobre os juros, papel da demanda e outros, e suas ideias serão propagadas muito rapidamente em relação as ideias de Schumpeter. 89 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 A visão que Schumpeter começa a discutir em 1908 ultrapassa a estática e caminha em direção a dinâmica. A visão estática da teoria econômica seria insuficiente para compreender os fenômenos econômicos do mundo real e caminhar para uma visão dinâmica era importante para reverter esse processo. Em seu livro de 1908 há uma oposição entre teoria do fluxo circular e teoria do desenvolvimento. Existiria uma teorização econômica que seria a teoria do fluxo circular em que o marginalismo se estabelece. Schumpeter então oferece uma teoria do desenvolvimento que seria essencialmente dinâmica e oposta à teoria defendida pelos marginalistas. Essa é a ambição de Schumpeter. Para ele a teoria econômica dá conta de descrever o estado estacionário (fluxo circular), mas isso não corresponde ao funcionamento real da economia sendo necessário pensar uma teoria do desenvolvimento econômico para explicar como a economia funciona na sua dinâmica e é justamente isso que ele faz. A visão de Schumpeter de estado estacionário é complexa pois ele entende que nesse estado a economia se reproduzia sobre si mesma, ou seja, haveria crescimento quantitativo (as pessoas tem um nível de vida e o aumento do número de pessoas não melhoraria a condição de todas elas) mas a economia não sofreria mudanças (o nível de bem estar das pessoas não mudaria). O desenvolvimento econômico para Schumpeter é relacionado com mudança/transformação. Alguns agentes ativos são responsáveis por esse processo de mudança. O produtor teria papel ativo sendo o lado da produção importante. Os consumidores seguiriam passivamente nesse processo sendo educados pelos produtores se necessário. “O desenvolvimento é assim definido pela realização de novas combinações, nomeadamente a introdução de um novo bem, de um novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de novas fontes de matérias-primas ou bens semimanufaturados, pela realização de novas formas de organização em uma indústria qualquer como a criação de uma posição de monopólio ou a quebra de um”. Em 1911 ou 1912 ninguém havia organizado uma visão dessa maneira. Essa dinâmica de inovação passou a fazer parte da própria forma como pensamos os negócios atualmente. Schumpeter define o papel do empresário: possui papel ativo na medida em que o trabalho deles seria realizar escolhas inovadoras. Uma categoria chave para Schumpeter é o empresário pois é ele que gera o desenvolvimento econômico e capitalista. Na economia política clássica era o contrário sendo o processo de desenvolvimento responsável por gerar mudança e gerar a 90 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 figura do empresário. Para Adam Smith o empresário não possui um papel ativo para iniciar o desenvolvimento já que o sistema criaria a conjuntura toda para que ele surgisse. Para Schumpeter, o empresário ao fazer escolhas inovadoras promove o desenvolvimento econômico, do contrário, a solução seria o fluxo circular estático. Schumpeter discute as mesmas coisas que já foram discutidas por autores anteriores, mas ele muda a lógica de análise. Schumpeter define o papel do banqueiro: é ele que assume todo o risco. O empresário, ao ter a ideia inovadora, não incorre em risco. Alguém precisa financiar essa ideia inovadora e ai temos a figura do banqueiro. Quem assume o risco capitalista, o risco do negócio, o risco econômico, é o banqueiro. O empresário coloca em risco apenas sua imagem e reputação pois se algo der errado ele perde sua reputação e não conseguirá financiamento, mas quem perde dinheiro é o banqueiro. Assim como o empresário o banqueiro assume papel central em sua obra. Duas suposições básicas estão por trás das análises feitas por Schumpeter: 1. As inovações não ocorrem por desvios dos recursos originalmente utilizados dos sistemas tradicionais pelos empresários inovadores. A inovação não desvia nenhum tipo de recurso. Ela é uma coisa nova. 2. No funcionamento da economia não há recursos não utilizáveis com os quais os empresários podem contar. Esse pressuposto converge com as ideias marginalistas e se opõe a Keynes já que para este último a economia pode estar em equilíbrio fora do pleno emprego podendo existir recursos não utilizáveis deixando-a em equilíbrio. No marginalismo isso não seria possível pois a economia utilizaria todos os recursos disponíveis encontrando-se em equilíbrio. Do contrário ela não estaria em equilíbrio. Schumpeter pensa da mesma forma que os marginalistas nesse ponto. 91 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Os empresários só poderiam realizar suas inovações com um poder de compra extra que não estaria dado, precisando ser criado. Os banqueiros assumem o risco e criam esse mecanismo. Eles deveriam ter uma atitude inovadora para criar os meios de pagamento necessários para que a inovação possa ser financiada e chegar ao mercado. Para o financiamento acontecer, os bancos, através do multiplicador bancário, emitem mais dinheiro do que realmente existe em seus cofres. Logo, eles emprestariam para os empresários um dinheiro que de fato não existe. Isso é o crédito e é esse crédito que permite a inovação ocorrer. Criar dinheiro implica em inflação e quando isso acontece o poder de compra de consumidores e firmas é reduzido, mas isso permite que novas firmas financiadas pelos bancos com os novos meios de pagamento criados extraiam recursos produtivos dos usos tradicionais. Essa discussão vai na mesma direção da teoria da poupança forçada. Isso tudo é considerado por Schumpeter para explicar a teoria do desenvolvimento: 1. Existiria primeiro uma fase de expansão em que a inovação tem papel central. 2. A partir daí a inovação é contaminada por um enxame de novas firmas atraídas pelo lucro temporário alcançado pelos empresários inovadores e pela inflação que aumentou os preços dos produtos vendidos. 3. Depois dessa fase temos um período de recessão em que o crédito é suspenso e os empresários precisam pagar os empréstimos feitos. Diante desse contexto, empresas obsoletas e com tecnologias velhas vão falir além de empresas que não conseguiriam arcar com os empréstimos feitos. Os preços dos produtos produzidos por essas empresas caem abaixo do nível de custo de produção. 4. Algumas empresas vão falir nesse contexto e o sistema entraria em crise. Essa crise seria necessária para que haja uma limpeza do sistema. A crise é vista por Schumpeter como algo necessário é bom para melhorar o sistema e limpá-lo de suas coisas ruins. Na medida que temos aumento dos preços algumas pessoas se beneficiam em relação a outras. Uns se dão bem e outros se dão mal. Os consumidores tem o seu poder de compra diminuído e lucros temporários são criados através de produtos inovadores que são produzidos com novas tecnológicas. A inflação então distorce a economia gerando os quatro pontos acima citados. 92 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Schumpeter raciocina que, se as inovações fossem uniformemente distribuídas no tempo, o desenvolvimento médio da economia seguiria um caminho regular. Se as inovações possíveis fossem linearmente distribuídas no tempo e em diversos setores da economia, desajustes não ocorreriam e o desenvolvimento médio seria progressivo. Schumpeter então vê o outro lado da questão dizendo que a inovação implica com uma ruptura com o tradicional rompendo barreiras pré-estabelecidas pela tradição. Os cinco tipos de inovação descritos por ele se relacionam com isso. Produtos novos podem ser inovações quando rompem com padrões anteriores. As inovações seriam coisas boas e por isso o enxame de empresas produzindo algo novo acontece. Não é apenas um empresário e um banqueiro envolvido no processo, mas sim vários outros ao mesmo tempo que caminham na mesma direção ocasionando uma mudança de parâmetro geral em algum setor da economia. Esse processo acontece até vir a fase de recessão e limpeza do sistema. O enxame seria de empresários, banqueiros e inovações. O enxame de inovações seria irregular ao longo do tempo acontecendo uma atrás da outra sem intervalos de tempo definidos. Forças endógenas ao próprio sistema explicariam os ciclos de comércio e inovações para Schumpeter. Para Marx esses ciclos se relacionam com a luta de classes entre capitalistas e trabalhadores. Para Schumpeter esses ciclos se relacionam com o fluxo irregular que as inovações possuem ao longo do tempo. A ideia de ciclos possui o problema de como explicar como a fase A será substituída pela fase B e quando a crise vai acontecer. É impossível prever quando tais coisas irão ocorrer, ou seja, é difícil explicar a mudança antes mesmo dela acontecer. Para Marx o processo ocorreria pela luta de classes e para Schumpeter o processo ocorre com os fluxos irregulares das inovações e elas não ocorrem em intervalos de tempos regulares, daí a dificuldade de se prever algo. As ideias não surgem na cabeça dos empresários em intervalos pré-definidos. É exatamente pelo fato disso acontecer que a teoria do Schumpeter torna-se difícil de prever o que ocorreria na economia. Schumpeter e Marx podem ser relacionados diante desse ponto. 93 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 O modelo apresentando no livro de 1912 de Schumpeter é bastante inovador. A teoria do desenvolvimento econômico feita por ele foi algo de destaque. O mecanismo básico de como se processa o desenvolvimento econômico descrito por ele explica o funcionamento da economia em sua época. Schumpeter possuía uma visão mais otimista do capitalismo em 1912. Mais à frente ele adota uma visão mais pessimista do capitalismo. 29. AULA 29 – KEYNES I (19/11/2013) Devemos estudar Keynes pensando nas diferenças existentes entre seus dois livros intitulados “Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. Em outras palavras é importante perceber como o pensamento de Keynes evolui entre o primeiro livro e o segundo. Quais são as diferenças? Por que elas se relacionam com as reflexões analíticas de Keynes? Alguns reposicionamentos de ideias existem entre um livro e outro fazendo com que o segundo livro seja mais importante do que o primeiro. Outros fatores importantes a serem analisados são o equilíbrio geral e parcial que se estabelecem desde os clássicos até os marginalistas. Esses fatores são discutidos e criticados dentro do pensamento keynesiano. Keynes é um autor que merece uma introdução biográfica por possuir uma trajetória bastante citada nos dias de hoje. Ele participa das negociação do tratado de Breton Woods e de debates sobre políticas monetárias no século XX. Além disso é um autor bastante influente desde Cambridge até atingir o mundo todo. O nascimento de Keynes ocorreu em 1883, ano em que Schumpeter nasceu e Marx morreu. Nasceu em Cambridge e estudou por lá na Universidade de mesmo nome. Seu pai era um 94 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 economista conhecido que publicou livros importantes além de ser um pupilo de Marshall, mas acaba decidindo por fazer uma carreira administrativa na Universidade de Cambridge em vez de seguir carreira acadêmica. A mãe de Keynes é também natural de Cambridge e foi uma das primeiras mulheres graduadas na Universidade. Ela foi a primeira mulher a assumir a prefeitura da cidade. A educação recebida por Keynes foi de elite. Desde o início ele se ligou às elites tendo estudado nas mais tradicionais escolas de 1° e 2° graus. Essa trajetória pode ser entendida como um símbolo da aristocracia além de remeter ao elitismo em todos os aspectos possíveis. Na época de universidade Keynes participa de uma sociedade secreta denominada “Os Apóstolos”. Vários nomes importantes participaram dessa sociedade. Seu círculo era elitista, refinado e letrado. A personalidade de Keynes está ligada aos debates que ocorriam dentro desses círculos que o influenciaram bastante até a época de seu casamento. Após isso há uma ruptura com esse círculo que não aceita o seu casamento por entender que isso era algo indevido e contraditório para Keynes que já naquela época era assumidamente gay. Seu casamento foi com uma bailarina russa e soou como algo de fachada. Apesar desses fatos serem pessoais eles influenciaram a personalidade e a formação de Keynes. Sua trajetória profissional incluía funções de funcionário do governo britânico no escritório da Índia em 1906. Em 1908 Keynes começa a dar aulas no Kings College e a partir daí segue uma carreira acadêmica. Em 1911 se torna editor do Economic Journal e em 1913 se torna secretário da Royal Economic Society. Essas duas últimas funções Keynes mantém durante os próximos 30 anos de sua vida. Vários ramos de atuação ajudaram Keynes e outros autores importantes a ocuparem posições de destaque. Não basta ser um gênio, é necessário realizar atividades variadas para provar seu valor. Keynes não se tornou importante apenas por sua obra acadêmica, mas sua ligação com o Economic Journal foi muito importante e colaborou bastante para sua imagem. Keynes possui uma importância grande dentro da formulação de políticas públicas e monetárias. As discussões que relacionam política e economia dentro do contexto britânico 95 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 foram cenários de atuações de Keynes. Em 1919 ele participa da conferência de Versalhes que ocorreu após a Primeira Guerra Mundial. Anteriormente a isso Keynes estava ligado a Cambridge mas exercia funções no tesouro britânico e por isso participou da conferência se opondo duramente às penalizações impostas à Alemanha. Devido a isso ele pede demissão da conferência e volta para Cambridge e escreve um livro intitulado “Consequências Econômicas da Paz”. Esse livro é um resultado de sua visão de como termina a Primeira Guerra Mundial do ponto de vista econômico, tornando-o famoso. Após esse fato vários artigos passam a ser publicados por Keynes. Outro livro importante escrito por ele em 1921 se chama “Tratado Sobre Probabilidade”. Os dois livros fundamentais escritos por ele são os de 1930 e 1936. Ambos são os dois livros mais importantes sobre economia do século XX e são de grande importância para a carreira de Keynes. São eles “Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. Depois de 1936 Keynes diminui o fluxo de trabalho pois sua vida foi muito intensa até esse ano. Ele inaugura o teatro das artes com seus próprios recursos numa tentativa de tornar menos acanhado o ambiente cultural de Cambridge. Problemas de saúde o assolavam e em 1937 ele sofre um ataque cardíaco. Em 1940 torna-se conselheiro do tesouro e depois toma parte do conselho diretor do Banco da Inglaterra. A partir daí Keynes se ocupa com as discussões a respeito da guerra e os problemas financeiros que ela causava, o que torna necessário uma negociação com os Estados Unidos para reverter tais problemas. Durante a guerra Keynes assume um papel muito importante gestando uma série de planos para reformar a economia no pós-guerra. Isso dá origem ao papel central que ele terá em julho de 1944 na conferência de Breton Woods. Keynes se torna o negociador britânico da conferência sendo o dono das grandes reflexões teóricas sobre a economia naquele momento. Apesar disso, não é a posição de Keynes que prevalece na conferência já que os interesses dos Estados Unidos eram muito fortes naquela época. Em 1946 Keynes sofre outros dois ataques cardíacos e morre em sua casa de campo neste mesmo ano. Por mais que Keynes tenha feito uma obra teórica, ela define o papel do economista. Sua obra é extremamente validada a respeito do mundo capitalista e suas transformações. O grande embate a partir da Segunda Guerra Mundial era a Guerra Fria. Existiam visões de mundo 96 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 diferentes e bem como visões diferentes sobre o funcionamento da economia. Os argumento de Keynes dentro desse contexto ajudaram a reconciliar a ligação entre estado e economia dentro do mundo capitalista. Ele trabalha com a ideia de reformar o capitalismo para que ele pudesse ser um mecanismo capaz de proporcionar níveis crescentes de equidade entre as pessoas assim como liberdade. O capitalismo seria fundamental para garantir liberdade e eficiência, mas também poderia proporcionar níveis crescentes de equidade com o estado tomando atitudes proativas para isso. Esse estado não seria o soviético, mas sim o capitalista. Esse é o pano de fundo de oposição fundamental que está sendo travada por Keynes nesse contexto. Ele critica a teoria econômica dominante até então já que ela era ineficiente diante do equilíbrio no mercado livre, mas por outro lado ele constrói uma teoria envolvendo intervenção estatal dentro do mundo capitalista e negando o socialismo soviético. Essa era sua posição política, ou seja, reforçar o estado mas proporcionar liberdade de mercado. É uma visão ambígua em certo sentido. Seu livro “Teoria Sobre a Moeda” ocupou 6 anos de seu tempo. Foi escrito em um período de grande fermentação intelectual de Cambridge especialmente motivado pelo fato de Keynes estar à frente do Economic Journal. Esse periódico foi palco da publicação de uma série de contribuição a respeito da teoria marshalliana da firma. É nas páginas desse periódico que presenciamos debates sobre a teoria marshalliana cada vez mais crescentes. Uma primeira visão da relação de Keynes com Marshall remete a uma transição de ideias entre ambos e as conexões entre tais autores. O que é aceito hoje em dia é que essas conexões se relacionam muito menos com princípios principais de Marshall e muito mais com as pequenas obras de Marshall e suas aulas orais. Desse momento em diante uma série de publicações importantes ajudam a formação crítica de Keynes para posteriormente vermos o resultado em seu livro “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. A discussão entre os fenômenos monetários e os níveis de produção no curto prazo não aparecem em um dos seus livros, mas anteriormente outros autores já citam tais aspectos e os discutem. Pigou foi um herdeiro de Marshall que fez reflexões importantes sobre o curto prazo fazendo também parte dos debates da época que Keynes estava inserido. 97 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Antes do “Tratado Sobre a Moeda” Keynes publica em 1923 um artigo sobre reforma monetária conectando inflação e desemprego começando a opor a sua visão em relação aos conceitos de estabilidade que prevaleciam até então. Uma das oposições era sobre o padrão ouro servir como mecanismo de equilíbrio automático dentro da economia. O fundamental é que no “Tratado Sobre a Moeda” Keynes percebe que a estabilização da taxa de câmbio que o padrão ouro visava não garantia necessariamente uma estabilidade interna dos preços. O padrão ouro não garantiria isso devido a interesses conflituosos entre poupadores, empresários e trabalhadores. Essas oposições entre essas classes revelam questões sutis que comprometeriam o equilíbrio. Tal reflexão leva Keynes a considerar que tanto inflação ou deflação eram danosas para economia. Mais do que isso, o que Keynes considera já nesse momento é que o dinheiro (moeda) não poderiam ser considerado neutro devendo ser administrado visando a estabilização dos preços internos. Esse argumento é o principal que correlaciona seus dois livros mais importantes: "Teoria Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. É nesse momento que Keynes publica um panfleto denominado “O Fim do Laissez-Faire” em 1926. Nele há uma distinção entre liberalismo político e liberalismo econômico. Por um lado Keynes não tem dúvidas sobre o liberalismo político, mas por outro impõe limites necessários ao liberalismo econômico. Ele diferencia ambas as coisas. O laissez-faire dogmático, mesmo sendo levantado para justificar o liberalismo, não foi defendido por nenhum dos grandes economistas clássicos sendo encontrado neles exatamente o contrário. Esse liberalismo dogmático ia contra ao próprio sistema básico de valores da sociedade. Vemos isso em Adam Smith: equidade era melhor do que a eficiência para a estabilidade da sociedade. Esse tipo de distinção é importante para percebemos que Keynes constrói um caminho original dizendo que o estado precisa intervir na economia, mas isso não teria nada a ver com rompimento do liberalismo para instaurar estados totalitários ou socialismo. A intervenção estatal seria necessária para garantir as liberdades fundamentais do liberalismo clássico político, mas esse liberalismo não equivale ao laissez-faire dogmático (liberalismo econômico de total liberdade de mercado). Todas essas discussões serviram para ajudar no desenvolvimento do livro “Teoria Sobre a Moeda”. Esse livro pertence à tradição marshalliana por não romper com pressupostos gerais que orientam essa tradição. Ao mesmo tempo já existe no livro elementos inovadores que o conectam com “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. Keynes nesse momento evita atacar o núcleo teórico da tradição marginalista. No “Tratado Sobre a Moeda” Keynes não 98 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 discute e nem questiona a ideia de equilíbrio no longo prazo com o pleno emprego dos fatores (incluindo trabalho). Da mesma forma ele não polemiza com relação a neutralidade da moeda (o nível de moeda não afetaria o lado real da economia). No longo prazo Keynes preserva isso. No curto prazo Keynes pensa de uma forma e no longo de outra. Por preservar os aspectos clássicos no longo prazo não há diminuição da importância das obras de Keynes desse momento. As novidades mais interessantes desse livro são a conexão de aspectos monetários e financeiros com os aspectos reais da economia. Por um lado Keynes não polemiza sobre essas questões mas já introduz essa conexão entre lado monetário e lado real. Como ele faz isso? Keynes segue o princípio metodológico da tradição marshalliana focando em cadeias restritas de causa e efeito tentando localizar, link por link, tais conexões que permitiriam pensar a inter-relação entre mudança de preço e quantidades produzidas. A ideia é conectar o movimento dos preços e os níveis de produção fazendo uma análise dentro de setores específicos os preços e as quantidades produzidas para entender como funciona a economia monetária. Esse é o exercício metodológico que Keynes faz. Dois setores são analisados por ele: o setor que produz bens de capital (investimento) e outro setor que produz bens de consumo. Renda, lucro e poupança são definidos por Keynes no “Tratado Sobre a Moeda”. No próximo livro “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” Keynes não perde tempo redefinindo o que ele discutiu em seu livro anterior. O centro da análise do seu primeiro livro (antecipando a discussão do segundo livro) é a distinção entre investimento e poupança. O que Keynes mostra é como que ambos são afetados por dois grupos diferentes: empresários e famílias. Investimento e poupança parecem ser iguais, mas são duas coisas diferentes afetadas por dois grupos de agentes econômicos diferentes, ou seja, investimento e poupança podem divergir possuindo movimentos diferentes. Essa divergência é o que afetaria o equilíbrio ofertademanda da economia. Uma mudança nos preços geram lucros não previstos ou prejuízos não previstos provocando uma reação dos empresários nos níveis de produção e de emprego. Keynes monta os dois setores com bens de capital e bens de produção e após isso diferencia investimento e poupança com base nas decisões de grupos diferentes. Após montar esse desenho teórico ele percebe que existem divergências entre as duas coisas que afetariam o lado real da economia (produção e emprego). Dentro do auto ajuste do mercado dado pela tradição marginalista há críticas percebidas por Keynes. Investimento e poupança são conceitualmente diferentes por serem frutos da decisão de dois agentes econômicos diferentes 99 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 apesar de serem iguais no longo prazo. Decidir investir e decidir poupar são decisões tomadas por grupos diferentes. A economia pressupõe um equilíbrio entre ambos para que o cálculo seja fechado no final das contas. A poupança está conectada à riqueza e a estabilidade no curto prazo. Dentro de uma interpretação sobre a dinâmica econômica, a importância recai sobre o investimento. A variação destes é que são o ponto fundamental da dinâmica econômica. Existe uma ligação entre investimentos em capital fixo com a ideia de inovação dita por Schumpeter. Para estudarmos Keynes devemos discutir antes a síntese neoclássica, assim como fazendo quando estudamos macroeconomia. Porém, alguns dos conceitos que estudamos em disciplinas de macroeconomia não são os mesmos encontrados na obra de Keynes. Para ele, o equilíbrio clássico seria algo pontual sendo que o caso geral seria outro. 30. AULA 30 – KEYNES II (21/11/2013) Iremos tratar da transição dos dois livros mais importantes de Keynes: “Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”. É importante sabermos também as ideias principais sobre o segundo livro, principalmente a noção de demanda efetiva. Quando falamos de pós-keynesianos nos referimos a um grupo que leu a obra de Keynes recuperando aspectos que não foram incorporados pelo mesmo. Eles fizeram outras interpretações sobre a obra de Keynes. A leitura as vezes é complicada e devemos nos atentar a tudo isso. 100 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Keynes estava inserido em um círculo com outros jovens economistas de Cambridge que também se tornarão famosos. Boa parte das ideias de Keynes foram debatidas e enriquecidas por esse grupo. Hoje já é aceito que ele começou a olhar criticamente para a estrutura analítica sobre “Tratado Sobre a Moeda” antes mesmo de publicá-lo, ou seja, ele estava insatisfeito com o resultado e mesmo assim publica o livro. Assim ele já estava pensando em uma nova obra. A grande diferença geral entre os dois livros importantes de Keynes é que no “Tratado Sobre a Moeda” Keynes está preso ao desiquilíbrio no curto prazo da dinâmica econômica. Em “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” Keynes passa do desequilíbrio para uma tentativa de análise de equilíbrio com subemprego. Sua contribuição principal está em construir um equilíbrio em uma situação de subemprego de fatores. Dessa forma ele critica a teoria clássica considerando-a específica dentro do caso geral. Os nexos causais explicativos são então alterados e ele abandona a explicação ligada aos juros e parte para explicar as situações com base na renda e no investimento. Para Keynes fazer a análise dos diversos equilíbrios possíveis era necessário uma teoria sobre as taxas de juros. Essa é uma questão problemática já que ele faz uma teorização sobre os juros não se ocupando com a teoria do valor. Para Keynes o valor das coisas já estava resolvido por Marshall, ou seja, ele toma isso como dado. Temos então uma influência de um discípulo de Keynes sobre o próprio Keynes! Marshall dizia que a mensuração do valor era determinado pelo custo objetivo da produção do longo prazo e a utilidade marginal no curto prazo. Essas duas coisas determinam o valor para Marshall mas em horizontes temporais diferentes. Ao tentar passar da análise de desequilíbrio para a análise de equilíbrio com subemprego de fatores, Keynes está fazendo uma leitura de equilíbrio parcial usando uma visão de equilíbrio que se encaixa com a perspectiva marshalliana. Sua análise é centrada no curto prazo e quem pensou no valor no curto e longo prazo foi Marshall. As ideias de Keynes não surgiam do nada. Influenciado pelo multiplicador desenvolvido por Kahn, Keynes faz uma análise que também está de acordo com a visão de Marshall que era um de seus discípulos. A ideia crucial que permite uma crítica à teoria clássica e que é também oposta à teoria marginalista tradicional está relacionada com a figura do empresário. Em uma economia monetária, as decisões dos empresários sobre os níveis de produção não são necessariamente consistentes e não são automaticamente realizadas pelos mecanismos de mercado. Esse ponto de divergência é fundamental e permite que Keynes inicie uma discussão diferente das anteriores permitindo que haja uma situação de equilíbrio mesmo sem haver uma plena 101 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 utilização dos recursos disponíveis enquanto que anteriormente o equilíbrio só existia com a plena utilização dos mesmos recursos. Na medida em que Keynes recoloca a questão de que não há ajuste automático de mercado ou que a decisão dos empresários não são consistentes, podemos ter na economia um equilíbrio com subemprego de fatores. Nesse tipo de situação não existe um mecanismo automático que recoloque a economia no estado de pleno emprego. Assim seria preciso algum tipo de controle ativo na economia para permitir a saída do equilíbrio do subemprego para o equilíbrio com pleno emprego. Em “Teoria Sobre a Moeda” existiria uma alavanca financeira monetária e em “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” existiria uma alavanca fiscal para que o equilíbrio com pleno emprego fosse atendido. Os pilares analíticos presentes no livro “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” também estão presentes na tese de Kahn. São eles: demanda efetiva, teoria da taxa de juros baseada na demanda especulativa sobre moeda e o mecanismo do multiplicador. Esses três pilares são importantes para entendermos a obra de Keynes e o crédito do multiplicador é dado por ele a Kahn em seu livro. “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” foi publicado em 1936 e gerou uma discussão muito densa causando muita influência entre os economistas. Rapidamente o livro se converte em um ponto de referência básico para pesquisas e aulas de macroeconomia. Keynes está explicitamente preocupado na defesa do sistema político liberal baseado na liberdade de iniciativa individual. Ele não se afasta hora nenhuma dessas questões. O que ele discute é que é preciso haver limites dados por intervenção ativa do estado; porém, sem substituir o mercado. A intervenção ativa do estado na economia deve ser dada para aumentar o grau geral de eficiência do sistema já que o mercado sozinho não conseguiria resolver os atuais problemas. Aumentar a justiça, a equidade e a eficiência do sistema seria papel do 102 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 estado. A partir daí ele entra na discussão de uma economia monetária de produção. Anteriormente o lado monetário já estava conectado com o lado real da economia. Ele discute produção em termos monetários usando uma questão analítica importante que seria a incerteza. O tempo todo as condições de incertezas são tratadas por Keynes enquanto os agentes monetários tomam suas decisões. Assim ele consegue explicar o curto e longo prazo e como as decisões de produzir são tomadas. Esse tema o permite domar a questão do desequilíbrio graças a tais instrumentos analíticos. Keynes gasta um terço da “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda” para falar sobre a demanda efetiva. O conceito básico dessa demanda permitiu que houvesse enquadramentos com a síntese neoclássica. Existe um ponto de demanda efetiva para Keynes. Tal ponto seria o de encontro entre demanda agregada e oferta agregada. Essas duas curvas são conceitualmente diferentes de um gráfico tradicional de oferta e demanda. As duas curvas relacionam preço e quantidade, mas de fato se relacionam com o número de trabalhadores. A oferta agregada seria o preço dado N trabalhadores trabalhando. A demanda agregada seria os proventos que os empresários desejam receber fruto de empregar N trabalhadores. O ponto da demanda efetiva seria o ponto de encontro dessas duas curvas. A ideia de demanda efetiva é o encontro de duas noções diferentes. A ideia clássica é apenas um dos pontos possíveis dentro das duas funções, mas no geral existem outras possibilidades. Essa ideia de oferta agregada, demanda agregada e demanda efetiva anteriormente analisada é exatamente o que Keynes coloca em seu livro. A síntese neoclássica é uma simplificação das ideias de Keynes. Em outras palavras, a curva Z seria o mínimo de proventos necessários para persuadir os empresários empregar N pessoas. E para cada valor dado de N teríamos Z igual ao custo total que os empresários esperam suportar por empregar N trabalhadores. O custo total incluiria salários, amortização de capital fixo, etc. Reciprocamente, D indica quanto os empresários esperam ganhar ao vender no mercado os produtos que eles esperam obter do emprego de N trabalhadores. As duas curvas expressam então pontos de vista e avaliações do mesmo agente econômico que seria a figura do empresário. Isso é totalmente diferente de uma curva normal de oferta e demanda que considera dois agentes econômicos diferentes (empresários e famílias). Esse é um dos pontos mais sofisticados da apresentação do problema que Keynes faz em seu livro. As duas curvas são conceitualmente diferentes mas se relacionam com os mesmos agentes econômicos que seriam os empresários. Esse ponto da demanda efetiva seria o ponto em que D = Z. É o nível esperado de emprego e produção dadas as expectativas de 103 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 curto prazo dos empresários considerando tanto os custos quanto os proventos. A partir daí podemos derivar uma série de reflexões. Supondo que as expectativas de curto prazo sejam cumpridas (D = Z) podemos caminhar em uma análise que considera a demanda agregada e seus elementos constitutivos (consumo e investimento). Devemos perceber que conceitualmente existem diferenças entre consumo e investimento. Ao discutir consumo, a renda se torna importante e ao discutir o investimento, a poupança se torna importante. Investir depende da expectativa dos empresários e determina o nível de equilíbrio da renda. Os fatores que determinam o investimento deslocariam a economia da situação de subemprego para o pleno emprego. O multiplicador permite que a renda varie mais do que proporcionalmente a um elemento de gasto do governo ou investimento feito. O consumo e a poupança seriam passivos para determinar a renda e o investimento teria papel ativo para determina-la devido ao efeito multiplicador. A teoria do juros se relaciona com um tipo de prêmio pela renúncia a liquidez para Keynes. Esses três pilares analíticos definem a sua obra. 31. AULA 31 – HORÁRIO VAGO (26/11/2013) 32. AULA 32 – SEGUNDA PROVA (28/11/2013) 104 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 33. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Clastres, Pierre. A economia primitiva. In: Arqueologia da violência. Trad. Port., São Paulo: Cosac&Naify, 2004. Finley, M. I.. A economia antiga. Trad. Port., Porto: Edições Afrontamento, 2ª. Edição, 1986. (capítulo 1). Mun, Thomas. England’s treasure by foreign trade. London, 1664. Petty, W. Aritmética Política (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983. Quesnay, François. Análise do quadro econômico. In: Quesnay, François. Quadro econômico dos fisiocratas. (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983. Smith, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Capítulos 1 a 10). Ricardo, David. Princípios de economia política e tributação. (Os Economistas), São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Capítulos 1 a 6). Marx, Karl. O Capital. (Os economistas). São Paulo: Nova Cultural, 1988. Jevons, William Stanley. A teoria da economia política. (Coleção Os Economistas). São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1871]. Menger, Carl Gustav. Princípios de economia política. (Coleção Os Economistas). São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1871]. 105 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 Walras, León. Compêndio dos elementos de economia política pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1877]. Schumpeter, Joseph Alois. A teoria do desenvolvimento econômico. Trad. Port., São Paulo: Abril Cultural, 1982 [1911]. Keynes, John Maynard. Teoria geral do juro, do emprego e da moeda. Trad. Port., São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1936]. 106 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666 Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG CEP 31270-901 – Fone: +55 (31) 3409.5000 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONOMICAS CIÊNCIAS ECONOMICAS – 2 PERÍODO HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONOMICO Roteiro feito por Pedro Oliveira de Sena Batista +55 31 8848.9888 posbatista@gmail.com 107 Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG Ciências Econômicas - História do Pensamento Econômico – 2° Período Aluno: Pedro Oliveira de Sena Batista - 2013436666