81 Há política na discriminação? Desde a antiguidade, as mais diversas sociedades têm em comum a discriminação: na Idade Média, mulheres ruivas eram consideradas bruxas e deficientes eram tidos como maldições; no período colonial, a escravidão não só era um costume como, no Brasil, só foi extinguida por pressões externas; e na Alemanha do século XX, judeus eram perseguidos e castigados. Por mais diferentes que os contextos mencionados sejam, todos - e muitos outros - comprovam que o corpo social se adapta à segregação de determinadas pessoas, sendo esta separação iniciada, muitas vezes, por personalidades que estão no poder. Dessa forma, é preciso considerar que o meio político, em vista de defender interesses próprios, se mostra indiferente a uma mudança da situação e continua a discriminar todos que lhes sejam convenientes. Em dado momento, o filósofo e poeta espanhol George Santayna afirmou que “aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”, propondo que os equívocos sociais são, na verdade, repetições ingênuas de acontecimentos antigos. No entanto, não se pode esquecer que a discriminação, de qualquer natureza, é uma escolha. Um político, na tentativa incansável de ser eleito, por vezes oferece privilégios a quem pode o levar ao topo, de forma que o restante da população fica marginalizada e esquecida. Dessa forma, fica claro que não só aqueles que esquecem o passado podem repeti-lo, mas aqueles que se lembram das vantagens conseguidas também, dado que, inegavelmente, há muitos que se favorecem com a miséria alheia. Além disso, quando se pensa em uma diferenciação vinda de pessoas que não estão relacionadas ao meio público, cabe ponderar sobre a ausência no Estado para remediar a situação. Se perante a Constituição todos são iguais, por que na prática ocorre o oposto? A resposta volta à questão de interesses: se amenizar o cenário não trará aos governantes algum benefício, nenhuma medida será tomada. Assim, as comunidades são construídas e estabelecidas baseadas no privilégio de poucos. Dado o exposto, é evidente que os atos discriminatórios apresentam um viés político: as mulheres ruivas e os deficientes da Idade Média não agradavam a Igreja, maior fonte de poder da época, bem como a escravidão e a perseguição do povo judeu correspondiam aos ideais de seus respectivos dirigentes. Atualmente, a política se encontra em uma troca de interesses, de modo que não há perspectiva de melhora para tal conjuntura. Portanto, enquanto a população continuar a viver adapta a este contexto, a discriminação estará presente.