Lecture 4 – Eficiência económica e justiça O utilitarismo segundo Wolf O utilitarismo defende que os indivíduos regem as suas ações tenho em conta um objetivo: a maximização da utilidade. Por sua vez, a utilidade é entendida como felicidade, prazer ou satisfação dos desejos/preferências (utilidade subjetiva) A norma filosófica do utilitarismo é caracterizada pelo consequencialismo e pelas variantes do utilitarismo. Problemas do utilitarismo Como medir e quantificar a felicidade? Como prevenir as consequências de uma ação? A objeção do “bode Espiatório” (graves injustiças na procura da felicidade geral) A objeção da experience machine, de Nozick: objeção adotada para derrotar o pensamento do utilitarismo, pois mostra que há algo diferente de prazer que tem valor e aumenta o bem-estar. Apesar do utilitarismo ter desempenhado um papel relevante na conceção de eficiência económica (maximização da riqueza e do bem-estar social) – economia do bem estar – há várias críticas ao peso excessivo do utilitarismo face a esta economia do bem-estar propondo outras formas de distribuição. Segundo John Rawls, os bens primários são meios gerais necessários para impingir uma conceção de vida boa e levar à concretização desta conceção. Estes podem ser distinguidos entre naturais (saúde, talentos e aptidões) – não estão diretamente sob controlo das instituições sociais – e sociais – os que devem ser equitativamente distribuídos e levam à formulação dos princípios de justiça. De forma a formular princípios para uma distribuição equitativa dos bens primários de forma imparcial, Rawls recorre a uma situação hipotética, a posição original, isto é, sob o véu da ignorância. Sendo assim, as pessoas não sabem as suas circustâncias particulares (classe social, género, etc), nem factos sobre a sociedade, nem as suas próprias conceções de bem e sociedade humana. Por sua vez, têm preferências monótonas crescentes, pois são seres racionais e são indiferentes à sorte de outrem. Assim, a conceção de justiça de Rawls assenta em 3 princípios: 1- Igual liberdade, isto é, liberdades iguais para todos, asseguradas pelas instituições justas 2- As desigualdades sociais e económicas geradas pelas instituições devem satisfazer: a) Princípio da diferença -> devemos beneficiar os mais desfavorecidos b) Princípio da igualdade -> cargos e posições abertas a todas as condições de justa igualdade de oportunidade Devido às condições especiais da posição original, o princípio da escolha racional nessa situação é o maximin, ou seja, a satisfação dos 3 princípios respeita uma ordem: principio da liberdade, igualdade, diferença. Crítica de Nozick a Rawls De forma a entender a crítica de Nozick é necessário esclarecer que, para este, as teorias da justiça podem-se distinguir em duas. Por um lado, aquelas em que a determinação da justiça pode ser feita apenas pela observação da estrutura da situação em questão (teoria de justiça do “estado final”). Por outro, temos aquelas em que é necessário perceber o seu contexto para determinar se são justas ou não (teoria da justiça “histórica”). Por sua vez, esta última pode diferenciar-se em teoria padronizada (adotada por Rawls) e teoria não padronizada (distribuição justa segundo Nozick) Nozick critica a distribuição padronizada na medida em que qualquer ação livre feita pelos indivíduos quebraria o padrão adotado. Quando passamos de uma distribuição D1 (justa) para uma D2 (também justa) não estamos a obedecer ao padrão original e, por fim, se mantivéssemos o padrão iriamos restringir a liberdade dos cidadãos, porque iriamos proibir determinadas transações ou porque iriamos redistribuir constantemente a propriedade no mercado, impedindo que as pessoas façam o que desejam. Logo, o respeito pela liberdade impede a implementação forçada de um padrão. É nesta linha de pensamento que Nozick critica Rawls, uma vez que o princípio da diferença representa uma conceção padronizada de justiça. Tendo em conta que, na teoria de Rawls, o princípio de liberdade se baseia na diferença, então o próprio argumento de Rawls o obriga a abandonar este princípio. Concluímos assim que não podemos falar de eficiência e justiça como se do mesmo se tratasse, sendo que esta questão impõe uma análise crítica do sistema economico atual. Lecture 5 Capitalismo: Sistema económico e financeiro O capitalismo consiste na reposição permanente de capital no circuito económico com o objetivo de extrair lucro. A acumulação capitalista exige mobilização de muitas pessoas cujas oportunidades de lucro são pequenas, desmotivando-as para as práticas capitalistas. Assim, surge a importância de criar um espírito do capitalismo. O espírito do capitalismo consiste num conjunto de crenças e valores que legitimam o capitalismo. A relação entre a ética protestante e o inicio do capitalismo está na base da origem deste conceito. Isto porque, a ética protestante favorece o estabelecimento de uma relação moral entre as pessoas e o trabalho, defendendo que o lucro não é pecado e que o dever se cumpria tento sucesso numa profissão. O mesmo acontece com o espírito do capitalismo que reúne um conjunto de crenças e valores de forma a motivar os seus trabalhadores – levam a acreditar que o capitalismo é junto e que é possível a autorrealização do trabalho. Uma outra forma de motivação é a ideia segundo a qual o capitalismo é sempre o melhor sistema, quer em termos individuais quer em termos coletivos. Por conseguinte, é possível motivar as pessoas para o trabalho nas empresas e a não considerar formas alternativas de organização económica (Boltanski e Chapello). No entanto, o espírito do capitalismo nem sempre foi como atualmente, tendo sofrido mutações ao longo do tempo, podendo ser distinguidas 3 fases. Numa fase inicial (final do séc. XIX), os valores do espírito capitalista eram tipicamente “burgueses” – inovação, risco, libertação pelo dinheiro, ascensão do individuo. Mais tarde (anos 30) este já assentava numa grande apologia da empresa capitalista (admiração pelo diretor, produção em massa, economias de escala). Atualmente, as figuras são o gestor de projetos, o mediador, o criativo e os valores que vigoram são os do trabalho em rede e por projetos, criatividade, flexibilidade e adaptabilidade. Esta evolução e sucesso do capitalismo deve-se à sua capacidade de absorver as críticas que lhe são feitas e transformar as suas práticas e justificações como respostas às críticas. Contudo são feitas diversas críticas ao capitalismo na medida em que: Cria desigualdades (Piketty), assim como um conjunto de indivíduos excluídos SocialmenteTende a gerar crises cíclicas (Marx) Favorável a criar patologias (stress) -> As pessoas definem-se pela sua vida Profissional Há uma incapacidade de gerar empregos suficientes para uma parte significativa da população Por sua vez, estas críticas podem levar à transformação, na medida em que têm em conta critérios de justiça. A crise económica e financeira Faz parte da estrutura do capitalismo ter crises económicas, em que há uma fase de crescimento, estagnação e recessão. É na contração severa da economia que dá a crise económica. Algumas das crises com maior impacto como a grande depressão, as crises petrolíferas dos anos 70, a bolha net e o sub-prime 2007/08, tiveram repercussões sérias, nomeadamente nas condições de vida das populações, que se deterioram, levantando problemas éticos de gestão do bem comum. Para Marx, as crises levariam um dia ao fim do capitalismo. Mesmo que isto não se verifique, devemos repensar nas práticas económicas dominantes. Lecture 6-A empresa Do ponto de vista sociólogo: Uma empresa é uma organização e rege-se por um conjunto de regras cujo fim é tornar possível a coordenação dos diferentes meios (humanos, financeiros, materiais e informações). Sendo assim, a empresa não se reduz simplesmente a um grupo de indivíduos. Estes são interdependentes e a articulação entre as suas múltiplas interdependências está ao serviço de uma finalidade: produzir bens e serviços. Segundo Marko Tosic, podemos analisar a empresa através de duas abordagens. Uma delas é através dos objetivos e dos meios, ou seja, selecionar um certo número de meios para atingir um objetivo. Outra é através dos princípios ou funções, que se distinguem em 3 princípios. O primeiro principio é o Princípio da diferenciação em que a empresa emprega os seus recursos e competências tendo em conta os objetivos a atingir, permitindo assim a decomposição da empresa em unidades de competências. De seguida, o princípio da coordenação, complementando o anterior através da unificação e do estabelecimento de relações correntes entre diferentes atividades, facilitando a concretização dos objetivos. Por fim, o principio da adaptação ao meio envolvente, pois a empresa é um sistema aberto e, assim, para além de ter de controlar os seus modos de produção tem de se adaptar à envolvente. A empresa para além de poder ser definida através dos objetivos e dos meios e dos princípios, também pode ser definida pela procura de racionalidade. Isto porque as empresas para atingir os seus objetivos através de meios devem usar a razão. Assim, surgem 3 correntes dominantes de pensamento: a teoria racionalista de Taylor que visa a otimização e a racionalização dos processos de produção e de coordenação de atividades (organização científica do trabalho); a teoria das relações humanas de Maslow que explica que as motivações reais são mais complexas do que a busca do lucro e que pode haver resistência às regras pois os indivíduos têm necessidades psicológicas que é preciso satisfazer; por fim, a teoria da racionalidade limitada de H. Simon que mostra que os agentes individuais têm interesses que podem não coincidir com os objetivos da empresa e, sendo assim, o funcionamento da empresa depende de um conjunto de jogos de poder e interesse. Do ponto de vista da Teoria da Firma: Segundo Coase, a empresa é um modo de coordenação alternativo ao mercado. Sendo que no mercado a coordenação é feita através do sistema de preços e na empresa é feita pela administração e pelo binómio autoridade/obediência. Assim, a empresa é analisada como um sistema de relações contratuais entre os agentes. Na abordagem contratual feita, há 3 perspetivas: A teoria dos direitos de propriedade, a teoria da agência e a teoria dos custos de transação e dos contratos completos. A teoria dos direitos de propriedade em que a empresa é caracterizada por uma estrutura contratual particular dos direitos de propriedade, definida por um conjunto de contratos. A teoria da agência propõe demonstrar a eficiência das formas de organização características do capitalismo, e em particular das sociedades por quotas. Esta posição difere da Coase em dois aspetos: na empresa não há nenhuma relação de autoridade e não se opõe a empresa e o mercado, a empresa é vista como um mercado privado. Por fim, a teoria dos custos de transação e os contratos incompletos de Williamson que pode ser vista como uma continuação da teoria de Coase. Oliver Williamson retoma a teoria da racionalidade limitada de H. Simon, afirmando que os contratos são incompletos porque não pode prever as eventualidades dos agentes. Para além da abordagem contratual da empresa, há também a teoria evolucionista da empresa e a teoria do poder e do conhecimento. Na teoria evolucionista, a empresa é vista como um sistema de competências. O objetivo é explicar porque é que umas empresas têm melhores performances do que outras. A resposta a esta questão vai ser procurada nas dinâmicas de acumulação do conhecimento e de competências específicas da empresa. A teoria do poder e do conhecimento procura renovar a teoria da firma, a partir das relações entre propriedade e poder. Sendo assim, o que propõe é compreender em que medida a importância crescente dos conhecimentos transforma a empresa. Pela análise que foi feita, pode-se concluir que não existe um modelo único da empresa capitalista. O que existe num mesmo ambiente económico são diferentes tipos de empresa que se inserem em contextos institucionais históricos e sectórios, o que nos leva a concluir que a empresa é uma organização em mutação.