DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 PROBLEMA VI Objetivos: 1 – Compreender as fases do desenvolvimento e crescimento do adolescente (mudanças hormonais e fases de Tanner); 2 – Entender os transtornos alimentares na adolescência; 3 – Entender os impactos do bullying na adolescência. 1) Compreender as fases do desenvolvimento e crescimento do adolescente (mudanças hormonais e fases de Tanner): A adolescência está compreendida a partir dos 10 a 12 anos de idade, perdurando até os 20 anos segundo a OMS e, legalmente falando, até os 18 anos de acordo com as leis brasileiras. Dessa forma, a adolescência corresponde a um processo de crescimento e desenvolvimento, sendo dividida em: inicial, média e tardia, de acordo com as mudanças que ocorrem nesses períodos específicos, como as citadas a seguir: Variável Somático Cognitivo e moral Autoconceito/identidade Família Colegas Sexual Inicial Caracteres sexuais secundários, início do estirão e aparência desengonçada Operações concretas, sem perspectivas futuras, com moralidade convencional Preocupação com mudanças no corpo, percepção de aparência e atração Média Picos de crescimento/altura e mudanças mais perceptíveis no corpo, com acne e odor (sudorese) Surge o raciocínio abstrato, percebe implicações futuras, questiona a moral Preocupação com aparência e atração, maior introspecção e adolescência estereotipada Apresenta necessidade de privacidade e maior tentativa de independência Busca aproximação com o mesmo sexo para ter noção de que outros estão passando pelo mesmo Maior interesse em sexo, ansiedade por mudanças corporais, fixação por tamanho genital e namoros e intimidade limitados Conflitos pela necessidade de independência e luta para aceitar autonomia Envolvimento profundo com colegas, servem de parâmetro comportamental e preocupa-se c cultura Testa o flerte, inicia relacionamento e atividade sexual e questiona acerca de suas orientações sexuais e experimentação Relacionamento com a Adequa-se à escola Avaliação de oportunidade sociedade e habilidades Em se tratando das fases e seus processos fisiológicos, temos as seguintes ocorrências: Tardia Fisicamente maduro e com crescimento mais lento, uma vez que o estirão entrou em decadência Orienta-se para o futuro, com senso de perspectiva, idealismo e absolutismo Imagem corporal mais estável, com conflito sobre atração, emancipação completa e identidade firme Separação emocional e física da familia, com maior autonomia Se importa menos com o grupo e seus valores, com maior intimidade e compromisso Consolidação de identidade sexual, focando na intimidade e relacionamentos estáveis, planeja o futuro e compromissos Decide sobre carreira, como faculdade e trabalho 1) INICIAL: A adolescência é um período de desenvolvimento, enquanto que a puberdade é o evento de transição da criança para o adulto, com surgimento de caracteres sexuais secundários, crescimento até o tamanho adulto e desenvolvimento da capacidade reprodutiva. Desse modo, a produção adrenal de androgênio do tipo DHEA ocorre por volta dos 6 anos de idade, com desenvolvimento de odor axilar e pelos pubianos pouco desenvolvidos (claros e finos), com aumento consequente de LH e FSH, sem – contudo – causar mudanças drásticas, do mesmo modo que o eixo hipotálamo-hipófise sofre alteração, tanto que a hipófise se torna mais sensível à ação do GnRH, liberando quantidades progressivamente maiores de LH e FSH, tanto que o pico desses hormônios pode simbolizar a menarca na mulher, com ciclos iniciais anovulatórios. Muitos autores afirmam que a puberdade possua gatilho relacionado ao desenvolvimento neural, DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 decorrente do aumento da sinapses que se relacionam à comunicação com o hipotálamo, assim como a influência do GnRH promove aumento de receptores nos gonadotrofos pituitários, aumentado a sensibilidade ao hormônio liberador de gonadotrofina, juntamente com a liberação de LH e FSH para mobilização das células gonadais relacionadas à produção de hormônios sexuais. Portanto, a classificação da maturidade sexual para meninos e meninas ocorre a partir dos critérios estabelecidos por tanner, com análise das mamas para meninas e pelos pubianos para ambos, analisandose o crescimento peniano e escrotal em meninos: Critérios de Tanner 1 2 Pelos pubianos Nenhum Escasso, longo e pouco pigmentado 3 Mais escuro, começa a enrolar e em menor quantidade 4 Parece ao tipo adulto, contudo o volume é menor Distribuição adulta, com 5 irradiação para superfície interna das coxas Os acontecimentos em meninas são os seguintes: Critérios de Tanner 1 2 3 4 5 Pênis Testículos Pré-adolescente Mudança mínima, com alargamento Pré-adolescente Escroto aumentado, rosado e mais vascularizado Maior em volume Aumenta em comprimento Maior; desenvolvimento da glande e Maior, com aumento em largura e comprimento hiperpigmentação (escuro) Tamanho adulto, com comprimento Tamanho adulto e largura finais, desenvolvimento completo da glande Pelos pubianos Mamas Pré-adolescente Pré-adolescente Esparso, pouco pigmentado, reto, porta Surgimento do broto mamário, com aumento do medial dos grandes lábios diâmetro da aréola e mamas a papilos como um pequeno monte Mais escuro, começa a encaracolar, maior Mamas e aréolas aumentadas sem contorno de quantidade separação Áspero, encaracolado, mais espesso, Aréolas e papilas formam um monte secundário abundante, com menor quantidade em relação ao adulto Triangulo feminino adulto, com base voltada Madura, com projeção do mamilo, com a aréola como para cima e propagação para parte interna contorno geral da mama. das coxas Estágios de tanner em meninos O primeiro indício de puberdade masculina seria o aumento testicular em E2, com aumento peniano em E3, de modo que o pico do crescimento ocorra por volta de E4, contrapondo-se ao estirão feminino, que involui em E4, o que explica o crescimento prolongado em meninos Estágios de tanner em meninas O primeiro indício de puberdade feminina seria o aparecimento do broto mamário, no Estágio 2, enquanto que a menstruação ocorre por volta do E4, marcando o início do decrescimento da curva de crescimento do estirão puberal. DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 Nesse sentido, o crescimento começa a partir das extremidades para o centro, com crescimento de pés e mãos, depois de pernas e braços, seguindo pelo tórax e cintura pélvica, isso explicaria o aspecto desajeitado, justamente pela desproporção entre as partes do corpo do adolescente, tanto que o prolongamento do globo ocular pode resultar em miopia. ➔ DESENVOLVIMENTO COGNITIVO: Apesar de o adolescente apresentar maior discernimento e julgamento acerca das situações, grandes emoções prejudicam seus modos de agir, ou seja, a racionalidade perde lugar para a parcialidade e arbitrariedade, logo, ele toma decisões com base na emoção, sem considerar perspectivas futuras e consequências quanto às suas decisões. Além disso, os adolescentes nessa fase costumam perceber o que é certo e errado e, a partir disso, entender a imposição de certos limites às suas ações, o que não acarreta na obediência completa às ordens. ➔ AUTOCONCEITO: Nessa fase a autoconsciência se concentra nos aspectos externos, não havendo tanta introspecção, de modo que os adolescentes na fase inicial costumam achar que todos observam e julgam seus comportamentos, do mesmo modo que as pressões sociais e midiáticas podem influenciar seu comportamento, decorrente da falta de aceitação do próprio corpo, culminando com o desenvolvimento de patologias psicológicas e distúrbios alimentares. 2) MÉDIA: Nessa fase, o pico de crescimento feminino ocorre por volta de 11 anos e meio, perdurando até os 16 anos, uma vez que a menarca delimita o início do decréscimo na velocidade de crescimento; nos meninos, o pico de crescimento ocorre por volta de 13 anos, perdurando até os 18 anos, já que os meninos possuem mais tempo de estirão em comparação às meninas, mesmo que esse estirão seja tardio em relação a elas. Os meninos apresentam aumento da massa magra para 90%, enquanto que as meninas apresentam decréscimo para 75%, decorrente do aumento do panículo adiposo na região do quadril, o que acompanha o crescimento do diâmetro bi-ilíaco, juntamente com o fato de que os meninos apresentam crescimento biacromial, com ombros mais largos em relação as meninas. Quanto aos estímulos endócrinos, a presença de maiores andrógenos circulantes em meninos faz com que haja hiperestimulação das glândulas sebáceas, logo, tornamse propensos ao desenvolvimento de acne, além do fato de aumentarem os estímulos simpáticos às glândulas sudoríparas, causando sudorese de odor forte. Além disso, o crescimento corporal exige aumento dos componentes hematopoiéticos, como no caso do hematócrito e do próprio volume sanguíneo, decorrente da maior produção de eritropoetina pelo rim, causando aumento do número de hemácias, concomitante à produção intermitente de ADH, como forma de reter maior quantidade de líquido e, assim, equilibrar hidroeletricamente e volumetricamente o sangue total, o que faz com que haja aumento de pressão arterial e crescimento do coração, de modo que o pulmão também cresça, tanto que ambos atingem o dobro da capacidade da infância. Nessa fase, os meninos apresentam alongamento do pênis, de modo que o esperma se torne aparente no pênis. Em se tratando das meninas, ocorrem ciclos menstruais anovulatórios, marcando os ciclos iniciais, quando a pituitária não consegue atingir os ápices suficientemente altos de LH e FSH a ponto de maturar o corpo lúteo e causar a liberação do ovócito primário, contudo, a sua secreção constitui evento suficiente para causar a menstruação e o sangramento percebido pelas meninas, diante do fato de que o estrogênio causa proliferação endometrial, a progesterona mantém o relaxamento miometrial e o feedback negativo de ambos culmina com o extravasamento do endométrio apical e saída da menstruação. COGNIÇÃO E MORAL➔ Nessa fase os adolescentes desenvolvem o raciocínio formal lógico e, portanto, passam a analisar e questionar suas ações e as situações pelas quais eles passam, tanto que desenvolvem a habilidade cognitiva de entender a complexidade do mundo em que vivem, entendendo suas ações em um contexto moral e legal. AUTOCONCEITO➔ Nessa fase ocorre melhor aceitação das mudanças corporais, em que o adolescente fica preocupado com o idealismo de explorações futuras, sendo que o grupo de amigos sofre certa variação, pelo fato de que o adolescente entra em uma busca de estilos para identificação própria, tanto que eles costumam trocar as amizades ou mudar de cabelo, por exemplo. SEXUALIDADE➔ É comum o estabelecimento de relacionamentos nessa fase, por ser uma fase de descoberta de atividade sexual, com grande exploração acerca de preferências, orientação sexual e identidade sexual, onde a esfera DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 intima e emocional é pouco trabalhada, tendo em vista a maior libido correspondente à idade. Essa fase costuma abarcar os fenômenos de descoberta da sexualidade, como em casos de adolescentes homossexuais, bissexuais e transgêneros. 3) TARDIA: Nessa fase as mudanças somáticas são sutis e quase estacionárias, tanto que os estágios finais de desenvolvimento das mamas, pênis e pelos pubianos ocorre por volta de 17 a 18 anos, com desenvolvimento de características um pouco mais específicas, como no caso de pelos faciais, no peito, abdômen e costas, em se tratando dos homens. Como as mudanças ficam mais lentas e graduais nessa fase, a imagem corporal adquire aspecto mais estável, com maior aceitação pelo adolescente, havendo o aparecimento de pensamentos como justiça e patriotismo por exemplo, de modo que os relacionamentos abarcam uma esfera mais íntima e sentimental, trabalhando-se aspectos de amor e companheirismo, tendo em vista o fato de que o adolescente já realizou suas descobertas em esferas sexuais e, agora, busca a união da esfera sexual com a emocional. ➔ REGULAÇÃO HORMONAL DO CRESCIMENTO: O eixo GH-sistema IGF (hormônio do crescimento e fator de crescimento insulina símile) constitui o principal mecanismo associado ao crescimento, juntamente com a herança genética e as condições ambientais e comportamentais que auxiliam esse evento. Dessa forma, o GH é produzido pelos somatotrofos hipofisários, por meio da secreção de GHRH pela pituitária, de modo que a secreção de GH ocorra em forma de pulsos, se tornando mais intensa durante os as fases III e IV do sono, logo, o sono profundo constitui um importante agente potencializador do crescimento, assim como períodos intermitentes de fome, pelo fato de que o GH é um hormônio hiperglicemiante, logo, em estados de privação ocorre maior liberação dele para realização de lipólise e disponibilidade energética. Em decorrência disso, a grelina atua de forma associada ao GH, uma vez que ela induz o apetite e a busca por alimento, contudo, a somatostatina é um hormônio inibidor do GH, constituindo feedback negativo à sua liberação, enquanto que o cortisol promove intensificação nos pulsos de GH, contudo, crianças que apresentam hipercotisolemia não apresentam aumento nos pulsos, decorrente dos níveis altos constantes, os quais realizam mecanismo de autolimitação e não conseguem influenciar de forma positiva a pituitária. O GH exerce influência sobre a célula a partir da associação com o receptor de GH, denomiado de GHR, sendo que este receptor é um dímero, com porções intra e extracelular, associados a uma estrutura transmembrana, de modo que essa disposição dimérica auxilia na transfosforilação de proteínas relacionadas à atividade somatotrófica do hormônio. A sinalização intracelular ocorre por meio de fosforilação de proteínas, como a JAK2, um tipo de proteína quinase e da família STAT (transdutores de sinais e ativadores de transcrição), que atuam no núcleo celular. Além disso, os IGF 1 e 2 são fatores de crescimento peptídicos com produção sistêmica, ou seja, eles são produzidos em diversos órgãos, com similaridade molecular em relação à insulina, havendo destaque para os IGF de origem hepática, pelo fato de que a associação deles com IGFs produzidos em outros órgãos torna o crescimento possível; por fim, podemos citar estados de restrição calórica como fatores de potencialização para produção de IGF, assim como a atuação de hormônios esteroideanos constitui um potencializador dos receptores de GH, aumentado a associação hepática do GH e consequente síntese de IGF-1. 2) Entender os transtornos alimentares na adolescência: A Imagem corporal é definida como a construção multidimensional que envolve a percepção corporal de uma pessoa e, portanto, ela sofre influência direta do contexto social em que o indivíduo vive, juntamente com o intervalo de tempo em que ele vive, como no caso da idade média: quando o corpo feminino gordo e flácido era apreciado como belo, decorrente de um estado geral de privação, o que fazia com que a fartura fosse tida como algo a ser apreciado e congregado, culminando com a visão de que uma mulher gorda seria o aspecto belo da época. Desse modo, a adolescência corresponde a um período de intensificação da autoimagem e maior observação quanto à imagem corporal, de modo que muitos adolescentes se apresentem insatisfeitos com seus corpos, decorrente de um padrão de beleza préestabelecido e imposto a eles, acarretando em uma autoimagem negativa e destrutiva, mediante a adoção de comportamentos danosos ao próprio adolescente, como forma de atingir o que o seu meio social preconiza como belo e atraente. Nesse sentido, a menarca indica um fator agravante na percepção da imagem corporal, pelo fato de que muitos estudos afirmam que as adolescentes que menstruaram há mais tempo se apresentam mais insatisfeitas em relação àquelas que não menstruaram ou passaram por isso recentemente, decorrente do maior armazenamento de gordura e aumento do panículo adiposo. DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 A alimentação do adolescente sofre grande influência do meio em que ele vive, tanto que o estudo comprovou que as refeições familiares são um aspecto positivo para ele, em decorrência de uma alimentação mais equilibrada e menor probabilidade de desenvolvimento de algum transtorno alimentar, contudo, adolescentes que passam por pais controladores quanto à alimentação, os quais incentivam o adolescente a emagrecer, possuem uma propensão maior aos transtornos alimentares (TA). A influência midiática também pode ser citada como um agravante, com detalhe para aqueles programas com faixa etária mais elevada, como filmes e novelas, os quais são mais indicativos de TA, enquanto que desenhos animados e programas infantis diminuem a possibilidade de desenvolvimento dos transtornos, tendo em vista o menor contato com padrões de beleza. Dessa forma, um estudo confirmou uma prevalência de mais 50% de desejo por um peso inferior em meninas, ressaltando-se que mais da metade das meninas estudadas almejava um peso que as classificasse como IMC abaixo do adequado; sendo que os comportamentos autodestrutivos foram mais comuns em meninas com nível socioeconômico mais alto. ➔ ANOREXIA NERVOSA: Corresponde à perda de peso intensa em função de dietas rígidas e regras autoimpostas numa busca desenfreada pela magreza, com distorção da imagem corporal e amenorreia. Nessa nuance, os pacientes anoréxicos apresentam medo significativo de engordarem, sendo este u dos primeiros indicadores de anorexia nervosa, pelo fato de ser uma característica psicopatológica, juntamente com o emagrecimento e distorção da autoimagem. Desse modo, pacientes com anorexia nervosa costumam praticar exercícios associados à dietas restritivas e, até mesmo, fazer uso de laxantes e diuréticos, no intuito de forçar ainda mais a perda de peso, tanto que esses pacientes são caracterizados como portadores de ANOREXIA NERVOSA DO SUBTIPO PURGATIVO, com práticas bulímicas associadas a um estado de anorexia. Por essa perspectiva, a PREVALÊNCIA da anorexia recai sobre mulheres (90% em média) e meninas no início da adolescência, decorrente de distorções e pouca adaptação à nova autoimagem. Além disso, é importante ressaltar que a anorexia nervosa não ocorre apenas em alto nível socioeconômico, mas pode atingir qualquer pessoa em qualquer contexto, juntamente com o fato de a AN ser mais prevalente em zonas urbanas em detrimento das zonas rurais. Em se tratando da ETIOLOGIA da doença, há a ocorrência de eventos multifatoriais, os quais agem em conjunto para desencadear este quadro, como fatores biológicos, socioculturais, familiares e, principalmente, psicológicos. Quanto aos fatores biológicos, observou-se uma incidência relevante em irmãs de pacientes anoréxicas, tanto que a correlação da anorexia nervosa em gêmeos monozigóticos foi de 56%, enquanto que os dizigóticos somaram apenas 5%, demonstrando a correlação genética do problema. Quanto aos fatores familiares, alguns padrões se repetem em pacientes anoréxicos, como ambiente rigoroso, super-proteção, envolvimento excessivo entre os membros e pouca motivação para mudanças (mesmice), o que faz com que o indivíduo possua esse desejo intrínseco de subversão e realização de comportamentos que seriam inaceitáveis aos olhos do seio familiar. • QUADRO CLÍNICO: Há uma grande preocupação com o peso, forma física e necessidade de perda de peso, mesmo que o paciente esteja bastante emagrecido, ele se sente gordo ou desproporcional, caracterizando a distorção da imagem corporal, tanto que o desejo de perda de peso pode se intensificar com a perda propriamente dita, o que se mostra ainda mais preocupante, decorrente do agravo que isso acarreta. Em se tratando de adolescente pré-púbere, eles tendem a atingir graus de edema mais elevados, em decorrência da distribuição do tecido adiposo, com deterioração mais rápida decorrente da patologia, atingindo graus mais graves de AN de forma precoce. Dessa forma, alguns sinais clínicos podem ser identificados: Perda de peso sem causa aparente Crescimento pôndero-estrutural inadequado Amenorreia primária ou secundária sem causa aparente Complicações médicas por abuso de exercícios Grupos de risco: modelo, bailarino, jóqueis Osteoporose precoce Peso menor que 85% do mínimo esperado para idade e altura Além disso, há alguns sinais mais perceptíveis a exames físicos e exames laboratoriais ou de imagem, como listados a seguir: Sinais vitais➔ bradicardia, hipotensão, hipotermia SNC➔ atrofia cerebral difusa e ocasionalmente, regional. Cardiovascular➔ edema periférico, diminuição do Renal➔ uremia pré-renal diâmetro cardíaco pelos exercícios. Hematológico➔ anemia DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 Gastro➔ Esvaziamento lentificado, dilatação gástrica, Metabólico➔ Hipercolesterolemia, hipercarotenemia, lactase e lipase diminuídas. hipoglicemia, aumento de enzimas hepáticas Endócrino➔ queda do LH, FSH, estrógeno e progesterona, tiroxina, T3; aumento de T3r, cortisol, GH e diabetes insipidus parcial. OBS➔ o tratamento é feito por meio da exposição do quadro para a família, induzindo a terapia familiar e conversa acerca do problema, juntamente com uma dieta que estabeleça metas nutricionais, de modo a produzir um ganho ponderal de peso, sem – contudo – acarretar problemas por inserção de muito substrato; o uso de medicação é feito em caso de comorbidades associadas, como transtorno de ansiedade, bipolaridade e depressão, por exemplo; ➔ BULIMIA NERVOSA: Caracterizada como episódios de ingesta volumosa de comida, com consumo exacerbado de calorias pelo indivíduo, seguido de episódios de culpa e mecanismos autoinduzidos de eliminação do alimento, como por vômito induzido ou uso de medicamentos anorexígenos, ou laxativos e diuréticos. Isso ocorre pelo fato de que o episódio de consumo exagerado gera culpa no paciente e o sentimento de que ele engordará, logo, a solução mais palpável ao seu julgamento distorcido seria a indução ao vômito, por ser uma forma rápida e efetiva de emagrecimento ou de não-ganho de peso, em que ele mesmo perde a noção da gravidade desse comportamento, tanto que o SNC acaba por perpetuar esse tipo de comportamento, onde o reflexo emético sucede a maior parte das refeições da pessoa, em função da indução sucessiva e prolongada do vômito por ela. O diagnóstico de BN ocorre quando o indivíduo apresenta episódios de compulsão e compensação 2 vezes por semana durante um período de, pelo menos, 3 meses, de modo que isso possa se tornar repetitivo e cada vez mais intenso, com agravo da situação. • • PURGATIVA: Caracterizada pela indução ao vômito e abuso de laxantes ou diuréticos; NÃO-PURGATIVA: Marcada pela atividade física intensa ou por jejuns. 3) Entender os impactos do bullying na adolescência: O Bullying corresponde a processos de violência física ou psicológica de caráter repetitivo e de perseguição, ou seja, uma pessoa é alvo de comentários taxativos ou depreciativos e passa por episódios de violência de forma repetida e com certa frequência, perdurando por períodos longos ou curtos, a depender do agressor. Dessa forma, a adolescência é marcada por espaços de socialização em que a violência está constantemente presente, decorrente de formas maléficas de humor, geralmente tendo como base uma característica discriminatória ou comentário repressivo quanto aos adolescentes que são considerados diferentes ou “estranhos”, tanto que – em uma pesquisa – confirmou-se que 43% dos alunos já praticaram algum tipo de violência com outros. Dessa forma, o bullying representa um dos principais problemas no agravo de saúde física e psicológica dos adolescentes, decorrente de todo o processo fisiológico da puberdade e das nova mudanças, juntamente com altos níveis de cortisol, o que faz com que as variações de humor e a prevalência do estresse sejam fatores agravantes no quadro, causando instabilidade emocional, por exemplo. O Bullying se manifesta como uma desigualdade de poder, sendo que algumas vítimas podem reproduzir o bullying em contextos que elas se apresentam como o poder maior, o que denota uma repercussão negativa, pela criação da perspectiva de que o bullying com outros pode trazer algum tipo de conforto e autoaceitação, o que – na verdade – cria um ciclo vicioso extremamente danoso aos participantes, perpetuando a violência. Além disso, é válido ressaltar a presença do cyberbullying na atualidade, visto como uma forma de violência que ultrapassa o ambiente físico e escolar, reverberando nas mídias sociais, onde o anonimato constitui um agravante nos casos, dificultando a identificação do agressor, juntamente com a possibilidade de intensificar ainda mais a ocorrência desse tipo de violência. Correlacionado aos distúrbios alimentares, o bullying pode ser um fator desencadeante tanto da bulimia nervosa quanto da anorexia nervosa, já que o adolescente busca se encaixar em um padrão diferente do seu, no intuito de sanar quaisquer piadas ou comentários sobre seu peso; além disso, há outros problemas psicológicos, como transtornos de ansiedade e depressão e, em casos mais graves, o suicídio de fato. O papel do médico se relaciona com a investigação acerca de possíveis violências vivenciadas pelo adolescente, como por meio do exame físico e anamnese, questionando o adolescente acerca de agressões físicas ou psicológicas vivenciadas em seu meio social. Dessa forma, é dever do profissional da saúde avaliar o estado mental do adolescente e se o bullying já apresenta consequências graves em seu desenvolvimento cognitivo. Portanto, os pais devem ser notificados e instruídos acerca de certas condutas, como conversas sobre o problema e apoio emocional prontificado aos DANIEL MARINHO – MED 3 – MÓDULO 8 2018.1 adolescentes que vivenciam essas situações, contatando a escola para que ela aplique o manejo correto de forma pragmática, dirimindo o problema em sua origem.