UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências ISABELA JURIGAN ESTUDO DO TONSTEIN ASSOCIADO À JAZIDA DE CARVÃO DE FIGUEIRA (ESTADO DO PARANÁ, BRASIL) E CALIBRAÇÃO DE BIOZONAS CAMPINAS 2018 ISABELA JURIGAN ESTUDO DO TONSTEIN ASSOCIADO À JAZIDA DE CARVÃO DE FIGUEIRA (ESTADO DO PARANÁ, BRASIL) E CALIBRAÇÃO DE BIOZONAS DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GEOCIÊNCIAS NA ÁREA DE GEOLOGIA E RECURSOS NATURAIS . ORIENTADORA: PROFA. DRA. FRESIA SOLEDAD RICARDI TORRES BRANCO CAMPINAS 2018 iii AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, por terem me apoiado e entendido a minha decisão de fazer uma pós-graduação. À Profª. Fresia, por todos os anos de ensinamento, disposição e paciência em me orientar. Aos professores Ticiano, Carolina Moretto, Cristiano Lana, além de Bia Spaletta e Pri Penteado pela ajuda nas análises e tratamento de dados geocronológicos, e ao Prof. Ricardo Perobelli pela ajuda nas análises de DRX. Pelo suporte nas análises laboratoriais agradeço à: Dailto Silva, Maria Aparecida, Lucia e Erica Tonetto. Agradeço a Carbonífera Cambuí de Figueira pela permissão de visitar seus campos de lavra, pelo auxílio na retirada de amostras e concessão de informações. Agradeço também ao geólogo Fábio Branco pela ajuda no trabalho de campo e ao Cristiano, do Laboratório de Paleohidrogeologia do IG, pela ajuda na separação de amostras. Também sou grata a Profª Carolina Zabini e Isabel Cortez pelas dicas e sugestões. Por fim, agradeço ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) pela concessão de uso de suas instalações através do projeto aprovado de número 20170642. E à FAPESP (processo número 2016/20927-0) e CNPq (processo número 132156/20164) pelas bolsas concedidas. iv SÚMULA CURRICULAR Isabela Jurigan possui graduação em Geologia pela Universidade Estadual de Campinas (2015). Realizou duas pesquisas de iniciação científica durante a graduação pelo programa PIBIC: “Estudo Paleopalinológico do Grupo Itararé e da Formação Teresina (Carbonífero – Permiano, Bacia do Paraná - Brasil)” – vigência 2013/2014 e “Estudo Paleopalinológico da Mina 08 da Companhia Carbonífera do Cambuí, Figueira - PR. (Permiano Inferior, Bacia do Paraná, Brasil)”, vigência 2014/2015. Em 2016, iniciou o Mestrado no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas na área de Geociências, com ênfase em Análise de Bacias Sedimentares. Participou do Programa de Estágio Docente (PED) na disciplina GE-402/Elementos de Paleontologia sobre supervisão da Profª Draª Fresia Ricardi-Branco. Apresentações em conferências e resumos publicados em anais de congressos: Jurigan, I.; Marchetti, I. & Ricardi-Branco, F. 2017. Posicionamento bioestratigráfico dos carvões da Formação Rio Bonito (Permiano Inferior, Bacia do Paraná), FigueiraParaná. XXV Congresso Brasileiro de Paleontologia, Ribeirão Preto-SP. Jurigan, I. & Ricardi-Branco, F. 2016. Paleoecological and taphonomic analysis of Permian coal seam of Rio Bonito Formation, Paraná basin, western Gondwana. XV International Palynological Congress - X International Organisation of Paleobotany Conference, Salvador-BA. Jurigan, I. & Ricardi-Branco, F. 2015. Estudo Paleopalinológico da Mina 08 da Companhia Carbonífera do Cambuí, Figueira - PR (Permiano Inferior, Bacia do Paraná, Brasil). XIV Simpósio de Geologia do Sudeste, VIII Simpósio do Cretáceo do Brasil e VI Simpósio Nacional de Ensino e História de Ciências da Terra, Campos do Jordão-SP. v RESUMO ESTUDO DO TONSTEIN ASSOCIADO À JAZIDA DE CARVÃO DE FIGUEIRA (ESTADO DO PARANÁ, BRASIL) E CALIBRAÇÃO DE BIOZONAS. Na Bacia do Paraná, estudos de caráter palinoestratigráfico em camadas de carvão são bem mais escassos na região do estado do Paraná do que nos estados do sul do Brasil. A ausência de idades absolutas para esta região da bacia aumenta ainda mais a necessidade de levantamentos de dados paleontológicos que permitam a correlação dos estratos ao longo da bacia e com bacias intra-gondwânicas. Porém, uma nova ocorrência de tonstein é registrada na Bacia do Paraná na região do município de Figueira (PR), camada esta que constitui um importante marcador crono-estratigráfico e que permite correlacionar idades relativas, provenientes de dados palinológicos da sequência sedimentar, com uma idade absoluta, obtida a partir de grãos de zircão provenientes da camada de tonstein, o que constitui o principal objetivo desta dissertação. No entanto, para a utilização da camada como uma ferramenta de correlação, é necessário primeiro atestar sua origem vulcânica. A caracterização da camada foi realizada a partir de dados de campo, petrografia, MEV, DRX e análise geoquímica por FRX. Constatou-se que a camada de Figueira apresenta todos os requisitos para a classificação do nível como um tonstein. Nota-se também que a camada passou por uma intensa fase diagenética de cimentação por carbonato de cálcio que sucedeu a fase diagenética da caulinita autigência. Através do método de contagem palinológica em lâminas orgânicas, o posicionamento bioestratigráfico para os siltitos que constituem o topo da sequência estudada foi realizado na Zona Vittatina costabilis, de idade ghzeliana-asseliana. Os carvões, base da sequência, são pobres em fósseis índices de biozonas, exceto pelo esporo Psomospora detecta, o qual atribui esses níveis a Zona Ahrensisporites cristatus, que compreende idades entre Bashkiriano a Moscoviano. Esse intervalo de idade é mais antigo do que geralmente é encontrado para as principais jazidas de carvões brasileiras. Fica claro assim que a sequência carbonífera de Figueira registra um hiato deposicional. A idade radiométrica obtida pelo método de U-Pb em zircões, via LAICP-MS, de 343 ± 3,6 Ma, corresponde ao Carbonífero Inferior (Viseano), o qual era considerado ausente na bacia até a presente pesquisa, e demonstra que o hiato deposicional registrado pelos palinomorfos corresponde a todo o Pennsylvaniano. A ocorrência de alguns grãos de polens na assembleia microflorística exibida pelos carvões de Figueira, faz com que o conjunto palinológico assemelhe-se mais com biozonas datadas do Serpukhoviano em diante, do que com biozonas gondwânicas definidas para o Viseano. Na Bacia do Paraná esse intervalo de tempo corresponde a biozona Ahrensisporites cristatus, de modo que sugere-se a extensão desta biozona para corresponder também ao Mississipiano. Palavras-chave: tonstein, Bacia do Paraná, palinoestratigrafia, Carbonífero Inferior, Mississipiano. vi ABSTRACT STUDY OF TONSTEIN ASSOCIATED WITH THE COAL SEAMS OF FIGUEIRA (PARANÁ STATE, BRAZIL) AND BIOZONES CALIBRATION. In the Paraná Basin, palynostratigraphic studies are much more scarce in the Paraná state than in the southern states of Brazil. The absence of absolute ages for this region of the basin increases the need for surveys of paleontological data that allow correlation of strata across the basin and with intra-Gondwana basins. Although a new occurrence of tonstein layer is recorded in the Paraná Basin in the region of Figueira (PR) town. This layer is an important chrono-stratigraphic marker that allows the correlation between relative ages, derived from palynological data from sedimentary sequences, and absolute ages, originated from zircon grains of the tonstein layer, which is the main goal of this dissertation. However, to use this layer as a correlation tool, it is first necessary to attest to its volcanic origin. The layer characterization was performed using field data, petrography, SEM, XRD and geochemical analysis by XRF. It was verified that the layer of Figueira presents all the requirements for its classification as a tonstein. It was also noted that the layer underwent an intense diagenetic phase of cementation by calcium carbonate that succeeded the diagenetic phase of authigenic kaolinite. By the palynological counting method on organic slides, the biostratigraphic positioning for the siltstones, that constitute the top of the studied sequence, was attributed to the Vittatina costabilis Zone, of Ghzelian-Asselian age. Coal seams, that constitute the basis of the sequence, are poor in index fossil, except for the spore grain Psomospora detecta, which attributes these levels to the Ahrensisporites cristatus Zone, which ranges between the ages Bashkirian and Moscovian. This age range is older than is generally assign to the main coal deposits of Brazil. Thus, it is clear that Figueira's carboniferous sequence registers a depositional hiatus. The radiometric age obtained by the U-Pb method in zircon grains, via LA-ICP-MS, of 343 ± 3.6 Ma, corresponds to the Lower Carboniferous (Visean age) which until this dissertation was considered absent in the basin, and demonstrates that the depositional hiatus recorded by the palynomorphs corresponds to the entire Pennsylvanian. The occurrence of some pollen grains in the microfloristic assembly exhibited by the Figueira’s coal seams makes the palynological set more resemble to biozones dated from the Serpukhovian onwards, than with the Gondwanan biozones defined to Visean strata. In the Paraná Basin this interval of time corresponds to the Ahrensisporites cristatus Zone, so it is suggested the extension of this biozone to correspond also to the Mississippian in the basin. Keywords: tonstein, Paraná Basin, palynostratigraphy, Lower Carboniferous, Mississipian vii LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de localização da Bacia do Paraná na América do Sul e mapa de localização do município de Figueira no estado do Paraná e localização da Mina PI08 no município de Figueira. ..................................................................................... 13 Figura 2 – Planta da mina PI-08 com localização dos pontos de coleta de amostra dentro da mina e localização do furo de sondagem F08-58. ..................................... 14 Figura 3 – Carta estratigráfica da Bacia do Paraná................................................... 16 Figura 4 – Coluna estratigráfica correspondente ao furo de sondagem F08-58 e as respectivas colunas estratigráficas de cada ponto de coleta de amostras. ............... 19 Figura 5 - Tabela com quadro contendo os esquemas bioestratigráfico proposto por diversos autores para a seção neopaleozóica da Bacia do Paraná .......................... 23 Figura 6 – Colunas estratigráficas das frentes de lavras dos pontos de coleta de amostra. .................................................................................................................... 28 Figura 7 – Frente de lavra da mina PI-08.. ................................................................ 34 Figura 8 – Difratogramas para cada uma das amostras analisadas.. ....................... 37 Figura 9 – Fotomicrografias da camada de tonstein, nicóis cruzados.. ..................... 39 Figura 10 - Fotomicrografias da camada de tonstein, nicóis cruzados. ..................... 41 Figura 11 – Mapas geoquímicos de distribuição pontual na amostra CP1/677-T de elementos obtidos em análise de FRX por luz síncrotron. ........................................ 43 Figura 12 – Frequência relativa das espécies de palinomorfos encontradas para a sequência sedimentar estudada................................................................................ 46 Figura 13 – Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08.................. 51 Figura 14 - Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08 .................. 53 Figura 15 - Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08 .................. 54 Figura 16 – Imagens de catodoluminescência dos grãos de zircão datados ............ 56 Figura 17 – Diagrama de concórdia com a idade U-Pb obtida para zircões do tonstein de Figueira pelo método LA-ICP-MS ........................................................... 56 Figura 18 - Mapas geoquímicos de distribuição pontual na amostra CP1/677-T de elementos obtidos em análise por FRX por luz síncrotron. ....................................... 60 Figura 19 – Posicionamento bioestratigráfico para o nível de siltito na Zona Vittatina costabilis e para o nível de carvão na Zona Ahrensisporites cristatus ...................... 67 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resumo de idades radiométricas obtidas para seção neopaleozóica da Bacia do Paraná a partir de camadas de cinzas vulcânicas. .................................... 26 Tabela 2 – Análise geoquímica de elementos maiores, menores e traços por FRX para as amostras selecionadas de tonstein. ............................................................. 42 Tabela 3 – Dados isotópicos obtidos por LA-ICP-MS em zircões da camada de tonstein ...................................................................................................................... 57 LISTA DE ABREVIAÇÕES CV – Zona Cordylosporites-Verrucosisporites DM – Zona Raistrickia densa-Convolutispora muriornata DRX – Difração de Raio-X EDS – Espectroscopia por Dispersão de Energia de Raio-X FRX – Fluorescência de Raio-X LA-ICP-MS – Espectrometria de Massa com Ionização Acoplada por Plasma acrescido de Sistema de Ablação a Laser Mag – Zona Cordylosporites magnidictyus MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura MQ – Zona Reticulatisporites magnidictyus-Verrucosisporites quasigobbettii Tri – Zona Spelaeotriletes triangulus ZAc – Zona Ahrensisporites cristatus ZCm – Zona Crucisaccites monoletus ZVc – Zona Vittatina costabilis ix SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ................................................................................................. iii SÚMULA CURRICULAR ........................................................................................... iv RESUMO..................................................................................................................... v ABSTRACT................................................................................................................ vi LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. vii LISTA DE TABELAS ............................................................................................... viii LISTA DE ABREVIAÇÕES ...................................................................................... viii SUMÁRIO .................................................................................................................. ix 1. ASPECTOS GERAIS ......................................................................................... 11 1.1. Introdução .................................................................................................... 11 1.2. Objetivos ...................................................................................................... 12 1.3. Área de Estudo ............................................................................................ 13 2. CONTEXTO GEOLÓGICO ................................................................................ 15 2.1. Geologia Regional: Bacia do Paraná ........................................................... 15 2.2. Geologia local .............................................................................................. 18 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 20 3.1. Biozoneamento da seção Neopaleozóica da Bacia do Paraná .................... 20 3.2. Estudos geocronológicos prévios na Bacia do Paraná ................................ 24 4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 27 4.1. Coleta das amostras .................................................................................... 27 4.2. Estudo Paleopalinológico ............................................................................. 28 4.3. Estudo da camada de Tonstein .................................................................... 29 4.3.1. Trabalho de Campo ............................................................................... 29 4.3.2. Petrografia e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .................... 30 4.3.3. Difração de Raio-X (DRX) ..................................................................... 30 x 4.3.4. Fluorescência de Raio-X (FRX) ............................................................. 31 4.4. Geocronologia da camada de tonstein ......................................................... 32 5. RESULTADOS .................................................................................................. 34 5.1. Caracterização da camada de tonstein ........................................................ 34 5.1.1. Trabalho de Campo ............................................................................... 34 5.1.2. Análise Mineralógica .............................................................................. 35 5.1.3. Análise Geoquímica............................................................................... 42 5.2. Conteúdo palinológico da sequência sedimentar estudada ......................... 44 5.2.1. Conjunto Palinológico do Carvão........................................................... 47 5.2.2. Conjunto Palinológico do Siltito ............................................................. 48 5.2.3. Conjunto Palinológico Comum ao Siltito e Carvão ................................ 50 5.3. Geocronologia .............................................................................................. 55 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................... 58 6.1. O tonstein de Figueira (PR) .......................................................................... 58 6.1.1. Aspectos mineralógicos ......................................................................... 58 6.1.2. Aspectos geoquímicos ........................................................................... 59 6.1.3. Conteúdo orgânico ................................................................................ 61 6.2. Paleoecologia ............................................................................................... 62 6.3. Palinoestratigrafia ........................................................................................ 65 6.4. Implicações da idade absoluta do tonstein de Figueira ................................ 69 6.4.1. Na Bioestratigrafia ................................................................................. 69 6.4.2. Estágios paleoclimáticos e estabelecimento da paleoflora .................... 72 6.4.3. Fonte das cinzas vulcânicas .................................................................. 73 7. CONCLUSÕES .................................................................................................. 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 78 ANEXO I: Artigo que será submetido .................................................................... 89 11 1. ASPECTOS GERAIS 1.1. Introdução Os carvões brasileiros ocorrem em coberturas plataformais de idade fanerozóica na Bacia do Paraná. Estas reservas de carvão pertencem a Formação Rio Bonito do Grupo Guatá (Holz, 1998; Gomes et al., 2003) e afloram principalmente na região sul, onde estão concentradas 99% das jazidas do país (Borba, 2001). Sendo assim, os carvões dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm sido alvo de diversos estudos paleontológicos, sedimentológicos e estratigráficos ao longo do tempo, impulsionados por empresas, como Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), que fornecem testemunhos de sondagens e perfis elétricos para trabalhos de refinamento sobre a evolução da sequência permocarbonífera da Bacia do Paraná (Tognoli, 2006). O estado do Paraná contém somente 1% das jazidas brasileiras (Borba, 2001) e nesse total está inclusa uma das nove jazidas de maior importância do país (Gomes et al., 2003), a de Figueira-Sapopema. A região de Figueira despertou grande interesse a partir de 1969, e toda a década que se seguiu, devido a jazida de urânio encontrada associada aos sedimentos permianos atribuídos a Formação Rio Bonito. Porém, com o tempo o interesse foi diminuindo, e a região reúne um número de trabalhos de caráter estratigráfico e paleontológico bem menor em comparação aos estados do sul. De modo que outros estudos ainda são necessários para o entendimento da paleoflora e intervalo gerador do carvão em Figueira. Diversas idades absolutas já foram obtidas para os carvões dos estados do sul, na tentativa de compreender a geração dos carvões e melhorar os esquemas bioestratigráficos para a Bacia do Paraná, com base em camadas de tonstein que ocorrem intercaladas aos leitos de carvão (Matos, 1999; Matos et al., 2001; RochaCampos et al., 2006; Guerra-Sommer et al. 2008a, 2008b, 2008c; Mori et al., 2012; Simas et al. 2012; Cagliari et al., 2014; Cagliari et al., 2016; Griffis et al., 2017). Tonsteins são camadas cauliníticas geradas a partir da queda e alteração de cinzas vulcânicas preservadas em ambientes continentais de baixa energia como lagos, lagoas e pântanos, onde o acúmulo de material orgânico contribui para o rápido soterramento e preservação das cinzas. Essas camadas têm se mostrado particularmente interessantes para o gerenciamento do planejamento de indústrias mineradoras de carvão, que utilizam este estrato para identificar e correlacionar os 12 leitos de carvão a serem explorados (Triplehorn, 1990; Lyons et al., 1992; Bohor & Triplehorn, 1993; Burger et al., 2000). Atualmente, o estado do Paraná conta somente com duas idades radiométricas, obtida por Santos et al. (2006) e Costa (2016), para os estratos da Formação Irati, unidade mais jovem que os leitos de carvão de interesse. Portanto, o levantamento palinoestratigráfico da sequência portadora de carvão no município de Figueira, no estado do Paraná, juntamente com a obtenção de uma idade absoluta para a camada de tonstein que ocorre associada, a qual ainda não foi descrita na literatura, e a combinação dos dois dados para a avaliação da efetividade das palinozonas propostas para a seção neopaleozóica da Bacia do Paraná constituíram a principal motivação para o desenvolvimento desta dissertação. Ao final da dissertação, no Anexo I, encontra-se uma versão resumida dos principais resultados e conclusões que foram alcançadas neste trabalho na forma de um artigo, intitulado “Uma nova ocorrência de tonstein na porção leste da Bacia do Paraná associado aos carvões de Figueira (Paraná, Brasil): Integração de dados palinológicos e datação radiométrica U-Pb”, que será passado para a língua inglesa e submetido a um veículo de publicação internacional. 1.2. Objetivos O principal objetivo do desenvolvimento desse mestrado foi realizar a calibração de biozonas palinológicas para a Formação Rio Bonito através do uso da camada de tonstein que ocorre no município de Figueira no estado do Paraná. A ocorrência desta camada no estado do Paraná não havia sido previamente registrada na literatura e, portanto, a sua potencialidade para correlações estratigráficas não foi ainda explorada. Logo, para a comprovação da origem vulcânica desta camada e utilização estratigráfica da mesma, definiu-se os seguintes objetivos secundários: caracterização em macro e micro escala da camada de tonstein visando identificar feições que possam ser atribuídas a uma proveniência vulcânica; obtenção de idades absolutas a partir da camada de tonstein; identificação de palinomorfos para o posicionamento bioestratigráfico da sequência sedimentar estudada; 13 avaliação do zoneamento bioestratigráfico em que posicionou-se as assembleias palinológicas estudadas neste trabalho e na literatura tendo-se como base a idade radiométrica obtida. 1.3. Área de Estudo A área de estudo encontra-se na região oeste do município de Figueira, ao norte do estado do Paraná, nos campos de lavra da Companhia Carbonífera Cambuí. A atual frente de lavra explorada pela Carbonífera é a mina subterrânea PI08 (559326 mE/7365795 mN) (Figura 1), aberta pela empresa no ano de 2011 e lavrada desde 2013. A mina encontra-se a uma profundidade de cerca de 130 m, apresentando estratos de carvão com espessuras médias de 0,67 m. A mina PI-08 é também a única mina explorada pela Carbonífera, até hoje, em que aflora a camada de tonstein aqui descrita. Figura 1 – Mapa de localização da Bacia do Paraná na América do Sul, a esquerda, e mapa de localização do município de Figueira no estado do Paraná e localização da Mina PI-08 no município de Figueira, a direita. 14 Para a coleta de amostras, foram definidos aleatoriamente três pontos seguindo os eixos de desenvolvimento da mina em frentes de lavras ativas em abril de 2016, quando foi realizada a coleta: (1) Eixo na direção N-S, Painel BD1/Travessa 26; (2) Eixo na direção W-E Painel 0/Travessa 31; e (3) Eixo na direção N-S, Painel BD0/Travessa 25 (Figura 2). Figura 2 – Planta da mina PI-08 com localização dos pontos de coleta de amostra dentro da mina e localização do furo de sondagem F08-58. 15 2. CONTEXTO GEOLÓGICO 2.1. Geologia Regional: Bacia do Paraná A Bacia do Paraná é uma bacia que se desenvolveu no interior cratônico do supercontinente Gondwana. Possui uma área de aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros quadrados e está localizada na porção central e sudeste da América do Sul, abrangendo porções do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. De acordo com Milani et al. (1998), a bacia compreende seis grandes sequências sedimentares-magmáticas demarcadas por discordâncias regionais: 1) Rio Ivaí (Ordoviciano-Siluriano), 2) Paraná (Devoniano), 3) Gondwana I (Carbonífero-Eotriássico), 4) Gondwana II (Meso a Neotriássico), 5) Gondwana III (Neojurássico-Eocretáceo) e 6) Bauru (Neocretáceo). Destas supersequências, as três mais antigas correspondem a expressivos ciclos transgressivos durante o Paleozoico. As outras sequências representam pacotes sedimentares continentais do Mesozoico. A Supersequência Gondwana I encerra os pacotes sedimentares mais espessos da Bacia do Paraná, na ordem de 2500 m (Milani et al., 2007), os quais revelam as grandes mudanças nas condições ambientais ocorridas durante o momento de sua deposição, que evolui desde um ambiente de influência glacial na base da sequência, durante o Carbonífero Inferior, até um ambiente árido de interior continental, nas porções superiores da sequência, durante o Eotriássico. Essas mudanças nas condições deposicionais encontram-se registradas, da base para o topo (Figura 3), no Subgrupo Itararé e Aquidauana, Grupo Guatá, Grupo Passa Dois e formações Pirambóia e Sanga do Cabral. 16 Figura 3 – Carta estratigráfica da Bacia do Paraná (Zacharias, 2004) De acordo com Milani et al. (2007), durante o Eocarbonífero o supercontinente Gondwana localizava-se a elevadas latitudes, de forma que neste momento extensas calotas de gelo dominavam a porção austral do continente e inibiam a sedimentação e/ou durante os interglaciais o degelo promovia a erosão das camadas previamente depositadas, resultando em uma significativa lacuna entre estratos neodevonianos e neocarboníferos. Conforme o paleocontinente migrava para o norte, em direção a menores latitudes, a sedimentação em contexto periglacial foi retomada e está registrada no Subgrupo Itararé, o qual representa então depósitos ainda diretamente ligados à fase de degelo dos glaciares mississipianos. 17 Ciclos de sedimentação com afinamento de grãos em direção ao topo da sequência caracterizam o Subgrupo Itararé e correspondem aos momentos de mudanças climáticas dentro do regime glacial, referentes a mudanças relativas do nível do mar. Os ciclos iniciam-se com pacotes arenosos que gradam para pacotes argilosos com intercalações de diamictitos maciços ou estratificados (Milani et al., 2007). Contém ainda ritmitos, lamitos, folhelhos, conglomerados e, secundariamente, leitos de carvão (Holz et al., 2010). O Subgrupo Itararé registra sedimentação em ambientes de caráter glacio-lacustres ou de águas salobras que foram sendo progressivamente influenciados pela água do mar (Eyles et al., 1993). O Subgrupo é rico em icnofósseis e fósseis de animais, plantas e palinomorfos que sugerem idades do Carbonífero Superior, entre Moscoviano e Bashkiriano (Souza, 2006; Holz et al., 2010). O Grupo Guatá é constituído pelas formações Rio Bonito, na base, e Palermo, no topo. Este Grupo constitui a unidade geológica que sucede os estratos glaciogênicos da Bacia do Paraná (Subgrupo Itararé) e representa a subida do nível do mar após a deglaciação. A Formação Rio Bonito é composta predominantemente por arenitos, siltitos e folhelhos e, subordinadamente, por camadas de carvão e calcário (Schneider et al., 1974). Essa unidade é a que contém as camadas de carvão economicamente importantes da Bacia do Paraná. As camadas carboníferas na base da Formação tendem a ser mais finas (<0,5 m) e lateralmente descontínuas, tendo sido formadas em um sistema fluvial e deltaico, como demonstrado por sua associação de fácies, compostas por ortoconglomerados, arenitos subarcóseos, além de lamitos e carvão (Holz et al., 2010). Ocorrem também, camadas de carvão mais espessas (mais de 2,5 m) e lateralmente contínuas (mais de 40 km) geradas a partir de um sistema estuarino influenciado por ondas e marés. Tal sistema teria sido originado em um ambiente deposicional de lagoa protegida, em que pântanos se formavam atrás da ilha-barreira. Segundo Holz et al. (2010), os leitos de carvão da Formação Rio Bonito encerram um rico registro fóssil, tanto marinho quanto continental, como macrofitofósseis representantes da “Flora de Glossopteris” gondwânica, microfósseis de esporomorfos e megafauna de bivalves marinhos. A flora fóssil indica uma idade Sakmariano Superior-Artinskiano para a Formação, o que é confirmado pela fauna marinha, que aponta uma idade do início do Permiano, provavelmente Artinskiano. 18 2.2. Geologia local Zacharias (2004) e Zacharias & Assine (2005) atribuem à região de Figueira um ambiente sedimentar de vales incisos (planícies de inundações) com influência marinha, onde leitos descontínuos de carvões teriam se formado nas bordas da zona central dos vales a partir de detritos vegetais autóctones e alóctones, que teriam sido retrabalhados e concentrados por ondas. Descrevendo, resumidamente, os cerca de 13 m finais do furo de sondagem F08-58 (559920 mE/7366783 mN, boca do furo a 585 m de altitude, Figura 2) cedido pela Carbonífera, constatou-se que a geologia da mina PI-08 é composta principalmente por pacotes de siltitos carbonosos que encontram-se muitas vezes intercalados com lentes calcárias ou de arenitos finos, com os quais apresentam contato gradacional. As estruturas observadas neste litotipo são laminações planoparalelas, acamamento ondulado e lenticular, podendo também ser maciço, quando então se observa marcas de bioturbação. Carbonatos de cálcio ocorrem na forma de calcilutito, que em algumas vezes se intercalam com argilitos maciços de coloração arroxeada. Exibem ainda marcas de dissolução (estiólitos). O carbonato de cálcio também está presente na forma de brechas, nas quais constitui tanto a matriz quanto os clastos, mas também podendo ter a matriz argilosa e somente os clastos carbonáticos. A representação do furo F08-58 pode ser vista na Figura 4. Porém, muitas das intercalações observadas em campo não puderam ser representadas por apresentarem espessuras muito finas, de forma que não aparecem na escala adotada para a representação. 19 Figura 4 – Coluna estratigráfica correspondente ao furo de sondagem F08-58, com destaque para a porção aflorante na mina PI-08 e as respectivas colunas estratigráficas de cada ponto de coleta de amostras (Obs.: a escala do furo de sondagem corresponde ao total descrito do furo e não à profundidade real de cada litotipo). 20 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Biozoneamento da seção Neopaleozóica da Bacia do Paraná Daemon & Quadros (1970) foram os primeiros autores a sugerirem um biozoneamento para as sequências gondwânicas inferiores da Bacia do Paraná. Essas primeiras biozonas foram definidas de maneira informal, mas constituem até hoje um dos trabalhos bioestratigráficos mais completos e relevantes, devido a ampla distribuição geográfica das amostras analisadas. Utilizando amostras de poços e de superfície desde o estado do Mato Grosso e Goiás até o estado do Rio Grande do Sul, os autores dividiram a sequência sedimentar neopaleozóica da Bacia do Paraná, com base na distribuição de esporos monoletes e polens sacados e colpados, em 6 intervalos bioestratigráficos informais denominados G, H (subdividido em H1, H2, H3), I (subdividido em I1, I2+I3+I4), J, K e L (subdividido em L1, L2, L3). Do intervalo G até H1 (Stefaniano C-Sakmariano) há predomínio dos gêneros de polens monossacados Cannanoropollis, Plicatipollenites, Potonieisporites e Caheniasaccites. O gênero bissacado e estriado Protohaploxypinus se faz raramente presente desde o intervalo G até H2, porém a partir do intervalo H3 (Artinskiano) polens bissacados e estriados tornam-se mais frequentes, como Illinites, Vittatina e Protohaploxypinus. O gênero Vittatina ainda é dominante no intervalo I até o J (Kunguriano). A partir do intervalo J as formas bissacadas e estriadas passam a dominar em detrimento das formas monossacadas. O intervalo K é marcado pela escassez de polens monossacados e pelo desaparecimento do gênero Plicatipollenites. No intervalo K até L (Kanzaniano), é comum a presença de espécies de Marsupipollenites, Crustaesporites, Alisporites e Lueckisporites virkkiae. Arai (1980) estudando palinologicamente amostras do Grupo Tubarão e Passa Dois dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina realiza um novo esquema bioestratigráfico simplificado e informal. Baseado principalmente no comportamento de polens bissacados estriados o autor propõe seis fases bioestratigráficas. A primeira fase, denominada “Pré-Striatiti” é caracterizada pela ausência de polens estriados e pela dominância de polens monossacados, como Potonieisporites e Vestigisporites, e esporos triletes como o tipo Vallatisporites. 21 A fase que segue é a “Protohaploxypinus”, em que as formas estriadas passam a aparecer no registro estratigráfico, mas ainda são subordinadas aos esporos triletes e polens monossacados, presentes desde a fase anterior. A fase “Vittatina I” é caracterizada pelo surgimento do gênero Vittatina e pelo equilíbrio entre as formas monossacadas da fase Pré-Striatiti e as estriadas. Na fase “Vittatina II” esse gênero se torna muito comum e passa a dominar a associação dos polens estriados. Na próxima fase, “Striatiti Superior”, há grande participação de polens estriados com contorno diploxilonóide de sacos bem desenvolvidos nas assembleias palinológicas. Na última fase, fase “Lueckisporites”, há a predominância absoluta de estriados, estando praticamente ausentes esporos e polens monossacados. Uma reavaliação da paleopalinologia das rochas da porção superior do Grupo Itararé, Grupo Guatá e Formações Irati/Serra Alta (base da formação) foi realizada por Marques-Toigo (1988,1991) nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A adoção pela autora de intervalos baseados no “Guia Internacional de Estratigrafia” (edição de 1976) definiu as primeiras divisões bioestratigráficas formais da Bacia do Paraná. Com base neste critério, duas Zonas de Intervalo foram propostas: Zona Cannanoropolis korbaensis, referente à camadas do Grupo Itararé e Formação Rio Bonito, e Zona Lueckisporites virkkiae, que corresponde a Formação Palermo e Irati. Esses intervalos formais foram posteriormente revisados por Souza & Marques-Toigo (2003, 2005). Trabalhos nos quais a Zona de Intervalo Cannanoropollis korbaensis foi substituída pela Zona de Intervalo Vittatina costabilis, uma vez que a espécie Cannanoropollis korbaensis foi também registrada nas porções mais inferiores do Grupo Itararé, aumentando assim sua amplitude estratigráfica. Em contrapartida, o gênero Vittatina constitui um biohorizonte bem demarcado, com o limite inferior sendo definido pela primeira ocorrência do gênero, juntamente com Protohaploxypinus (P. goraiensis, P. micros) e Illinites unicus. A Zona Vittatina costabilis possui duas subdivisões: (a) Subzona Protohaploxypinus goraiensis, definida pela amplitude desta espécie e de Illinites unicus, e que compreende as camadas da porção superior do Grupo Itararé até a porção média da Formação Rio Bonito, as quais estavam previamente alocadas na, agora extinta, Subzona Caheniasaccites ovatus; (b) Subzona Hamiapollenites karrooensis, limitada pela amplitude desta espécie e pela primeira ocorrência de 22 Striatopodocarpites fusus e Staurosaccites cordubensis, reconhecida nas porções superiores da Formação Rio Bonito. Em Souza (2006) duas palinozonas são reconhecidas e definidas para as porções basais e médias do Subgrupo Itararé. A Biozona Ahrensisporites cristatus, que tem seu limite inferior marcado pela primeira ocorrência de diversas espécies de esporos como, Granulatisporites varigranifer, Brevitriletes levis, Anapiculatispotites argentinensis, Ahrensisporites cristatus, o gênero Raistrickia e Cristatisporites e entre outros e dos polens Plicatipollenites, Cannanoropollis, Potoniesiporites, Caheniasaccites, Limitisporites e Protohaploxypinus. Já seu limite superior é caracterizado pelo desaparecimento de 11 espécies que ocorrem somente nesta biozona e pela primeira ocorrência de Scheuringipollenites maximus e Crucisaccites monoletus, sendo esta última espécie o fóssil índice da próxima biozona definida pelo autor para o Carbonífero Superior da Bacia do Paraná. A Zona de Intervalo Crucisaccites monoletus tem seu limite inferior definido pelo primeiro espécime registrado desta espécie e o desaparecimento de várias espécies da biozona anterior. O seu limite superior é caracterizado pela ocorrência de Illinites unicus e do gênero Vittatina, taxa que indicam o limite inferior da biozona Vittatina costabilis. Os biozoneamentos aqui citados estão esquematizados na Figura 5, na qual é possível comparar como os diversos esquemas bioestratigráficos propostos para a Bacia se correlacionam entre si. 23 Figura 5 - Tabela com quadro contendo os esquemas bioestratigráfico proposto por diversos autores para a seção neopaleozóica da Bacia do Paraná (Adaptado de Neregato, 2007). 24 3.2. Estudos geocronológicos prévios na Bacia do Paraná A sequência sedimentar permo-carbonífera (Supersequência Gondwana I) na Bacia do Paraná e em outras bacias gondwânicas é uma das mais extensas e espessas. Porém, nessas unidades estratigráficas encontram-se ausentes fósseis utilizados no estabelecimento de colunas geocronológicas internacionais, como conodontes e amonóides (Milani et al., 2007). Deste modo, as idades atribuídas às unidades dessa supersequência são baseadas em dados principalmente de palinomorfos, para o Subgrupo Itararé, Grupo Guatá e a base do Grupo Passa Dois (Formação Irati). No entanto, dificuldades em correlacionar estratos são advindas de problemas de endemismo da flora gondwânica, extensão da bacia, bem como baixa resolução na correlação de fácies em áreas contíguas da mesma bacia (GuerraSommer et al., 2008a). Esses problemas enfatizam a necessidade de marcadores cronoestratigráficos confiáveis. Matos et al. (2001) foi a primeira publicação a fornecer uma idade absoluta para o intervalo sedimentar da Bacia do Paraná e, consequentemente, a fornecer uma base mais robusta para a calibração dos esquemas palinoestratigráficos estabelecidos até então. Neste trabalho os autores estudaram camadas de tonsteins intercaladas com as camadas de carvão da Formação Rio Bonito na mina de Candiota (RS) e dataram a camada de tonstein estratigraficamente mais antiga no local (camada “A”), a idade U-Pb obtida foi de 267±3,4 Ma. Esta idade foi por eles considerada válida por ser condizente com os palinomorfos encontrados no carvão Candiota, que indicavam uma idade próxima a transição do Cisuraliano para o Guadalupiano. Essa idade, porém, foi mais tarde desconsiderada por Santos et al. (2006) que, ao datarem uma camada de bentonita no estado do Paraná, presente na Formação Irati (unidade mais jovem que a Formação Rio Bonito), encontraram uma idade U-Pb igual a 278,4±2,2 Ma. A partir dessa idade os autores posicionaram a Formação Irati dentro do Artinskiano (porção média do Cisuraliano). A idade encontrada por Santos et al. (2006) está dentro da Biozona Lueckisporites virkkiae. A camada de tonstein encontrada intercalada com os carvões da Formação Rio Bonito na mina de Faxinal (RS) foi datada por Guerra-Sommer et al. (2008a), e forneceu uma idade U-Pb igual a 285,4±8,6 Ma, o que posiciona a camada na subzona Hamiapollenites karooensis. Guerra-Sommer et al. (2008b), realizando 25 datações em amostras da mina de Candiota e da mina de Faxinal, obtiveram uma idade U-Pb média equivalente a 290,6 ± 1,5 Ma. Essa idade suporta a ideia de que as camadas de carvão se formaram durante o Sakmariano Médio, estando classificadas na Subzona Protohaploxypinus goraiensis, de modo que as camadas da mina de Faxinal foram rebaixadas estratigraficamente. Tal resultado é semelhante ao de Simas et al. (2012), obtido nas minas de carvão da Formação Rio Bonito em Leão-Butiá (RS) com idades U-Pb de 291 ± 1,2 Ma. Já para Candiota, Rocha-Campos et al. (2006) encontraram a idade U-Pb de 298,5 ± 2,6 Ma, idade U-Pb que é semelhante a de 296,9 ± 1,65 Ma e 296 ± 4,2 Ma encontrada por Guerra-Sommer et al. (2008c). As camadas foram novamente atribuídas a subzona P. goraiensis, mas dessa vez dentro do intervalo Asseliano. Mori et al. (2012), obtiveram idades U-Pb mais novas, 281 ± 3,4 Ma, referentes a afloramentos estratigraficamente posicionados acima da mina de Candiota. Essa idade sugere que os depósitos da porção superior da Formação Rio Bonito estão no Artinskiano, na biozona L. virkkiae. Já Cagliari et al. (2014), no afloramento Barrocada, em Cachoeira do Sul (RS), obtiveram idades U-Pb de 290,6 ± 2,8 Ma e 281,7 ± 3,2 Ma, indicando que a deposição da Formação Rio Bonito ocorreu entre o Sakmariano e o Kunguriano. Amostras de cinzas vulcânicas provenientes do paleovale de Capané (RS) do topo do Subgrupo Itararé e da porção basal da Formação Rio Bonito foram datadas por Cagliari et al. (2016) e revelaram idades de 307,7 ± 3,1 Ma e 298,8 ± 1,9 Ma, respectivamente. Essas novas idades posicionam a deposição do Itararé inteiramente no Carbonífero e o depósito pósglacial da Formação Rio Bonito no Asseliano. Costa (2016) encontrou para as camadas de cinzas vulcânicas da Formação Irati, no município de São Mateus do Sul (PR), idades entre 287 e 267 Ma, com um pico de 278 Ma, demonstrando que a Formação Irati registra um intervalo de 20 Ma de intensa atividade vulcânica. Por fim, Griffis et al. (2017) obtiveram uma idade média de 298,23 ± 0,31 Ma para o mesmo estrato datado por Matos et al. (2001) e Guerra-Sommer et al. (2008c), utilizando a técnica CA-TIMS. A mesma idade foi obtida por esses autores para o afloramento de Quitéria. Para a mina de Faxinal, a idade obtida por Griffis et al. (2017) foi ligeiramente mais antiga, atingindo a idade de 285,42 + 1,2/-2,1 Ma. Segundo estes autores, as idades encontradas demonstram 26 que existem dois intervalos distintos, do ínicio do Permiano, geradores de camadas de carvão na Bacia do Paraná. A Tabela 1 mostra de forma sintetizada todas as datações radiométricas aqui citadas. Nota-se que a grande maioria das idades obtidas para a Bacia do Paraná é proveniente de camadas de cinzas associadas aos leitos de carvões da Formação Rio Bonito. O ambiente ácido gerador dos carvões foi responsável pela alteração das cinzas vulcânicas, que foram depositadas intercaladas, em camadas de tonsteins, preservando assim na bacia evidências de um grande evento vulcânico que ocorreu durante este período. Diversos autores (Coutinho & Hachiro, 2005; Guerra-Sommer et al., 2008b; Rocha-Campos et al., 2011; Benedetto, 2012) atribuem à extensa província magmática Choiyoi, na Argentina, como a fonte original das cinzas dessas camadas, as quais também se distribuem pela Argentina, África e Austrália. Tabela 1 - Resumo de idades radiométricas obtidas para a seção neopaleozóica da Bacia do Paraná a partir de camadas de cinzas vulcânicas. Local Unidade Geológica Técnica Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 267.1 ± 3.4 Ma Wordiano Matos et al. (2001) Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito SHRIMP 298.5 ± 2.6 Ma Artinskiano Rocha-Campos et al. (2006) Não informado Formação Irati SHRIMP São Mateus do Sul, PR Formação Irati SHRIMP 279.9 ± 4.8/276.4 ± 3.7 Ma 278.4±2.2Ma Mina Faxinal, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 285.4 ± 8.6 Ma Sakmariano Formação Rio Bonito SHRIMP 290.6 ± 1.5 Ma Sakmariano Guerra-Sommer et al. (2008b) Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 296 ± 4.2 Ma/296.9 ± 1.65 Ma Asseliano Guerra-Sommer et al. (2008c) Entre Bagé e Candiota, RS Formação Rio Bonito LA-ICP-MS 281.4 ± 3.4 Ma Artinskiano Mori et al. (2012) Leão Butiá, RS Cachoeira do Sul, RS Formação Rio Bonito Formação Rio Bonito SHRIMP LA-ICP-MS 291 ± 1.2 Ma 290.6 ± 2.8 Ma Sakmariano Sakmariano Simas et al. (2012) Cagliari et al. (2014) 298.8 ± 1.9 Ma GhzelianoAsseliano Mina Candiota, RS Mina Faxinal, RS Formação Rio Bonito Capané, RS LA-ICP-MS Subgrupo Itararé São Mateus do Sul, PR Idade Formação Irati 307.7 ± 3.1 Ma LA-ICP-MS 287-267 Ma Autor Artinskiano Artinskiano KasimovianoMoscoviano ArtinskianoWordiano Rocha-Campos et al. (2006) Santos et al. (2006) Guerra-Sommer et al. (2008a) Cagliari et al. (2016) Costa (2016) 298.23 ± 0.31 Ma Mina Candiota, RS 298.64 ± 0.17 Ma Formação Rio Bonito CA-TIMS Asseliano 298.03 ± 0.25 Ma Griffis et al. (2017) Mina Faxinal, RS 285.42 + 1.2/- 2.1 Ma Artinskiano Afloramento Quitéria, RS 298.10 ± 0.28 Ma Asseliano 343 ± 3,6 Ma Viseano Figueira, PR ? Este trabalho 27 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. Coleta das amostras As coletas foram realizadas em três pontos dentro da mina subterrânea PI-08, conforme Figura 2. As três amostras de tonstein, coletadas em cada um dos pontos, são referentes a uma única camada que encontra-se intercalada a siltitos carbonos que, por sua vez, são sobrejacentes à camada de carvão explorada (Figura 6). As amostras foram incluídas no acervo do Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, sob os códigos CP1/677 a CP1/679. Já as amostras coletadas para o estudo paleopalinológico foram retiradas em somente dois dos pontos de coleta. De cada um dos pontos coletou-se amostras de carvão (Nível 1, Nível 2 e Nível 3), siltitos (Nível 4 e Nível 6) e tonstein (Nível 5), seguindo a ordem estratigráfica de cada frente de lavra (Figura 6), totalizando doze amostras. As primeiras seis amostras foram retiradas no painel BD-Travessa 26, localizado entre as galerias ABD0 e BD-1 (Ponto 1). As amostras restantes vieram do eixo de desenvolvimento oeste-leste da mina, na galeria WE0-Travessa 31 (Ponto 2, Figura 2). As amostras palinológicas também foram incluídas no acervo do Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, e receberam a numeração CP5/127 a 136. 28 Figura 6 – Colunas estratigráficas das frentes de lavras dos pontos de coleta de amostra. Cada litotipo corresponde a um nível estratigráfico de estudo palinológico e apresenta o código da amostra correspondente. No ponto 3 somente a camada de tonstein foi estudada. 4.2. Estudo Paleopalinológico Todo o processamento palinológico para a extração e concentração da fração orgânica das amostras foi realizado no Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, através do método de oxidação e tratamento com álcalis descrito por Bruch & Pross (1999) para lignitos. Primeiramente, desagregou-se mecanicamente cada uma das amostras e separou-se 10 g do material. Logo após este procedimento, nas amostras de carvão e siltitos, foi adicionado aos fragmentos 100 ml de HNO 3 (30%), que reagiu com as amostras até que estas estivessem parcialmente desintegradas ou facilmente quebráveis. O ácido foi então retirado e água destilada adicionada, na qual as amostras repousaram por 24h. Após diversas etapas de lavagem, para retirada dos 29 vestígios de ácido e neutralização das amostras, adicionou-se ao resíduo KOH (10%), deixando-o em imersão até que a reação se tornasse visível, ou seja, o líquido se tornasse marrom, evidenciando a remoção da matéria orgânica amorfa. O KOH foi retirado e adicionou-se novamente água destilada. O resíduo foi lavado até que água da lavagem estivesse clara. Com o resíduo final do ataque químico confeccionou-se as lâminas palinológicas. As lâminas confeccionadas encontram-se na Palinoteca do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, e apresentam os códigos CP5/127 a 136 (mesmo código das amostras de mão). Devido a cimentação carbonática na camada de tonstein, a simples aplicação de 50 ml de HCl (37%) às 10 g de material desintegrado foi o suficiente para dissolver a matriz mineral e liberar qualquer material orgânico presente. As lâminas também se encontram na Palinoteca do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, e apresentam os códigos CP1/677-Palinologia e CP1/678Palinologia. Ao todo 34 lâminas foram analisadas. Procurou-se contar 400 palinomorfos para cada um dos níveis estudados, a fim de que o estudo paleopalinológico fosse considerado válido. Os 400 pontos foram distribuídos de forma que 200 pontos fossem referentes às amostras do Ponto 1 e os outros 200 pontos fossem referentes ao Ponto 2. 4.3. Estudo da camada de Tonstein 4.3.1. Trabalho de Campo Em campo procurou-se observar principalmente características da camada que possam embasar uma origem por cinzas vulcânicas alteradas, como: a espessura da camada, os contatos superior e inferior com as rochas adjacentes, continuidade lateral e entre outros aspectos. Como o local de estudo é uma mina subterrânea observações mais detalhadas e descrições macroscópicas da rocha no local foram realizadas de forma limitada, uma vez que a iluminação para a realização do trabalho era precária. Portanto, a caracterização da rocha se deu principalmente em laboratório a partir dos métodos descritos a seguir. 30 4.3.2. Petrografia e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) As três amostras coletadas (CP1/677, CP1/678 e CP1/679) de tonstein foram separadas e enviadas para a laminação na Universidade Federal de Ouro Preto, onde lâminas polidas foram confeccionadas sem lamínula. Como as amostras foram coletadas orientadas dividiu-se cada uma em topo (CP1/677-T, CP1/678-T e CP1/679-T), meio (CP1/677-M, CP1/678-M e CP1/679-M) e base da camada (CP1/677-B, CP1/678-B e CP1/679-B), a fim de se observar possíveis variações mineralógicas no estrato de tonstein. De modo que, no total, nove lâminas foram analisadas em microscópio petrográfico Zeiss Scope.A1. Procurou-se identificar também a mineralogia primária (piroclástica) e a mineralogia secundária (autigênica), além de texturas e estruturas deposicionais e diagenéticas. Para maior suporte da análise em microscópio petrográfico, realizaram-se verificações das amostras em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) LEO 430i com o auxílio de Espectroscopia por Dispersão de Energia de Raios-X (EDS) da Oxford Instruments para análises semi-quantitativas. Para a realização das análises, as amostras foram metalizadas com carbono. As análises foram realizadas no Laboratório de Quantificação Mineral do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. 4.3.3. Difração de Raio-X (DRX) O método de DRX foi utilizado para complementar a análise mineralógica do tonstein e fornecer dados semi-quantitativos das principais fases minerais presentes. O estudo foi realizado no Laboratório de Difração de Raio-X do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas utilizando-se o difratômetro D2 Phaser Bruker, com radiação Kα e tubo de Cu, a uma voltagem de 30 Kv e uma corrente de 10 mA, com o ângulo 2θ variando de 5-55°. As amostras de tonstein CP1/677,678 e 679 foram separadas em topo, meio e base, de modo que no total nove amostras foram analisadas. A separação da camada de tonstein nessas três porções (topo, meio e base) teve como finalidade analisar possíveis variações mineralógicas ao longo da espessura da camada, bem como complementar os estudos petrográficos. Antes da aplicação do método de DRX, as amostras foram britadas, quarteadas e moídas em moinho planetário e de disco no Laboratório de 31 Geoquímica Analítica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Após esse procedimento, aplicou-se primeiro o método do pó total, seguido pela análise dos argilominerais em amostra orientada com secagem natural e glicolada. Os difratogramas gerados foram posteriormente tratados e interpretados através do uso do software HighScore Plus da empresa PANalytical. 4.3.4. Fluorescência de Raio-X (FRX) Dois tipos de análise por Fluorescência de Raio-X foram empregadas: (1) análise geoquímica global das amostras, utilizando pastilhas prensadas e de vidro e (2) análise geoquímica pontual da rocha, utilizando uma fonte de luz síncrotron. A partir dos resultados obtidos nos métodos de petrografia e DRX notou-se que a camada de tonstein é, de modo geral, homogênea. Logo, optou-se por analisar geoquimicamente por pastilhas somente as amostras CP1/677-B e CP1/678-T e, por luz síncrotron, a amostra CP1/677-T, por acreditar que estas representam satisfatoriamente o conjunto de amostras coletadas e a camada de tonstein como um todo. A análise por luz síncrotron se deu no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) em Campinas, São Paulo, no qual devido a fonte de radiação utilizada foi possível gerar imagens composicionais que correspondem a porções específicas da amostra. Uma área da amostra CP1/677-T foi analisada utilizando um feixe de luz branco e dois filtros de Al de 45 µm de espessura. Para a medida, a amostra foi posicionada a 10 mm de distância do detector, utilizando-se um tempo de medida igual a 5 segundos para cada ponto para mapear um retângulo de 2,2 mm no eixo X e 0,9 mm no eixo Y, com um passo de 0,03 mm para os dois eixo (técnica de mapeamento ponto a ponto). Os dados geoquímicos obtidos foram tratados e convertidos em imagens RGB a partir do software livre PyMca. Para a representação das imagens RGB, adotou-se o vermelho (R) para quando o elemento é exibido sozinho. Quando mais de um elemento é representado, nos locais em que ocorrem juntos, haverá sobreposição de cores, gerando as colorações: ciano (B+G), amarelo (G+R), magenta (R+B) e branco (R+G+B). Os locais que aparecem em preto são os locais que não registram a presença de nenhum elemento considerado para gerar a imagem. 32 Já os dados de FRX por pastilhas foram produzidos no Laboratório de Geoquímica Analítica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, em um espectrômetro PW 2404 (Philips, Holanda). Antes da análise o material foi preparado passando por etapas de britagem, quarteamento, moagem, em moinho planetário e de disco, e por fim calcinação em mufla a uma temperatura de 1000°C para a determinação da quantidade de voláteis presentes por perda ao fogo (PF). Para a determinação dos elementos maiores e menores utilizou-se discos de vidro preparados a partir de 1 g de amostra e 6 g de fundente 50/50. Já a determinação de elementos traços ocorreu em pastilhas prensadas a partir de 1,5 g de amostra e 6 g de cera. Para o controle de qualidade dos resultados analisou-se, em paralelo, três materiais de referência: IPT-44 e IPT-35 que são materiais de referência nacional, correspondentes a um calcário e calcário calcítico respectivamente, e ML-2 que é um padrão de referência internacional, também correspondente a um calcário. 4.4. Geocronologia da camada de tonstein Todo o procedimento de preparação de amostras foi realizado no Laboratório de Separação Mineral para Geocronologia no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. As amostras foram britadas, moídas e então peneiradas em peneiras de 60 (0,250 mm de abertura), 80 (0,180 mm) e 120 (0,125 mm) mesh, de forma que 4 frações foram obtidas. De cada uma dessas frações, os minerais pesados presentes foram concentrados por bateamento (separação gravimétrica). O concentrado não apresentou grãos magnéticos, sendo grãos de pirita os principais constituintes do volume total obtido. Para facilitar a coleta e separação dos grãos de zircão realizouse um procedimento para a dissolução dos cristais de pirita. Ácido nítrico foi utilizado para a oxidação do sulfeto, utilizando-se a proporção 1:1 (uma parte de ácido+uma parte de água destilada). Primeiramente, o procedimento foi realizado a frio e, quando a reação parou, utilizou-se a chapa quente para aumentar o potencial de reação. A temperatura inicial foi de 130°C e foi sendo aumentada até 215°C. Quando toda a reação de dissolução parou, o ácido foi retirado e o resíduo lavado diversas vezes com água destilada. 33 Observou-se que os cristais de zircão encontravam-se sempre nas frações de 120 mesh e de fundo da peneira, de modo que estas foram as frações em que se realizou a retirada dos grãos, os quais foram distribuídos em resina epoxy. Os mounts foram polidos com pastas diamantadas, para se obter uma superfície lisa e regular dos grãos, e enviados ao Laboratório de Geoquímica Isotópica do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto, onde foram realizadas as imagens de catodoluminescência, utilizando o equipamento SEM JEOL JSM-6510LV, e as datações por U-Pb pelo método LA-ICP-MS. Utilizou-se o espectrômetro de massa com ionização acoplada por plasma ThermoScientific Neptune Plus MC-ICP-MS, acrescido de um sistema de ablação a laser G2 excimer, spots de 20 µm e tempo de aquisição de cerca de 40 segundos (415 ciclos com varreduras de ~0,1s cada). Para correções do fracionamento de elementos induzido pelo laser e correções de massa foi utilizado os padrões de referência BB (material de referência primário), GJ-1 e PLES (materiais de referência secundário). Os dados brutos foram processados e reduzidos usando uma planilha interna do Laboratório de Geoquímica Isotópica de Ouro Preto modificada do trabalho de Gerdes & Zeh (2006). Correções foram feitas para background, tendência instrumental de desvio de massa e chumbo comum. As idades foram calculadas utilizando-se o programa Isoplot (Ludwig, 2012). 34 5. RESULTADOS 5.1. Caracterização da camada de tonstein 5.1.1. Trabalho de Campo A camada pode ser observada por toda a extensão da frente de lavra da mina e é facilmente reconhecível por apresentar uma coloração cinza claro que se destaca das outras rochas, que são mais escuras devido ao alto conteúdo de matéria orgânica (Figura 7a). Apresenta contatos abruptos com a camada de siltito com a qual se intercala (Figura 7b). A menor espessura medida foi de 5 cm, medida no Ponto 2, enquanto a máxima espessura foi de 25 cm, medida no Ponto 1. Essas relações de campo descritas entre a camada estudada e as camadas vizinhas como, continuidade lateral, contatos abruptos e espessuras uniformes são características típicas de deposição por queda do material (air-fall) em um ambiente de baixa energia, e apontam para um depósito de cinzas vulcânicas (Bohor & Triplehorn, 1993). Figura 7 – Frente de lavra da mina PI-08. (a) A camada de tonstein se destaca dos litotipos adjacentes por possuir uma coloração mais clara que o restante. (b) Os contatos com as camadas de siltito abaixo e acima da camada de tonstein são abruptos. (c-e) Amostras de mão de tonstein, nas quais não é possível distinguir nenhum mineral. (c) e (e) a rocha apresenta em algumas porções laminações descontínuas (setas) de coloração mais escura do que a matriz. (d) escala em mm. 35 Em amostra de mão não é possível reconhecer praticamente nenhum grão (Figura 7 c,d,e) devido ao alto grau de cimentação por carbonato de cálcio ocorrida na diagênese, alguns grãos de calcita de maior granulometria podem ser reconhecidos devido à sua clivagem. A presença de pirita pode ser constatada pelo brilho dourado metálico que as amostras apresentam, apesar dos cristais não serem visíveis a olho nu. A rocha é em sua maioria maciça, apresentando em algumas porções laminações descontínuas de coloração cinza escuro (Figura 7 c,e) que atribuem a rocha uma textura de fiamme. De acordo com Bull & McPhie (2007), fiamme trata-se de um termo descritivo para múltiplas lentes alinhadas e alongadas de mesma textura e composição, que estão separadas de domínios de composição mineralógica e textura diferentes. Deste modo, os autores sugerem o uso do termo de forma descritiva e não genética, já que podem ocorrer tanto em fácies vulcanoclásticas, quanto em partes coerentes de lava ou sucessões vulcânicas subaéreas ou aquáticas. 5.1.2. Análise Mineralógica A análise mineralógica por difração de raios-x em pó total (Figura 8a) demonstrou que a camada de tonstein possui uma composição com baixa diversidade de minerais: quartzo, calcita, caulinita e pirita. Todos os difratogramas apresentam comportamento semelhante, com picos de baixa intensidade na maioria dos ângulos 2θ e com a base mais alargada, devido a sobreposição de pico dos minerais. A única exceção é o pico da calcita em aproximadamente 2θ=30°, que é o pico mais intenso para esse mineral e que apresenta uma base estreita, refletindo sua boa cristalização (Figura 8a,b,c). Nas análises de amostra orientada não se observou o deslocamento de picos entre a etapa de secagem natural (Figura 8b) e a etapa glicolada (Figura 8c), de modo que a presença de argila 1:1 foi confirmada e atribuída a caulinita. No entanto, mesmo após a concentração do argilomineral para a realização desta etapa do experimento, a caulinita continuou apresentando picos pouco intensos e não muito estreitos. Este comportamento é contrário ao que é comumente observado em difratogramas deste tipo de rocha e o que evidencia a origem autigênica da caulinita. 36 Acredita-se que a baixa quantidade em que a caulinita está presente seja a principal causa do comportamento observado. 37 a) b) c) Figura 8 – Difratogramas para cada uma das amostras analisadas. Cada uma das amostras coletadas apresenta 3 difratogramas, que são referentes ao topo, meio e base da camada. (a) Difratogramas de pó total. (b) Difratogramas das lâminas de amostras orientadas por secagem natural. (c) Difratogramas das lâminas orientadas na etapa glicolada. 38 Grãos de quartzo, juntamente com os grãos de feldspato, biotita, ilmenita e zircão constituem a restrita assembleia mineral primária e de origem vulcânica da rocha. Já as fases minerais originadas durante a diagênese são calcita, caulinita e pirita. Os cristais de quartzo ocorrem em formas irregulares angulosas e na forma de splinter (Figura 9a). Em alguns casos é possível verificar polimorfos de quartzo-β em sua típica forma bipiramidal (Figura 9b). Grãos com bordas corroídas também são comuns apresentando, em geral, formas mais arredondadas. Atribui-se essa corrosão à fase diagenética de cimentação de carbonato, na qual o pH do meio deveria ser muito alcalino para preservar intacto os cristais de quartzo. Pedaços remanescentes de plagioclásios com composição de albita podem ser facilmente reconhecidos pela macla polissintética que apresentam (Figura 9c). Já os grãos de sanidina exibiram uma maior dificuldade para reconhecimento uma vez que são grãos arredondados límpidos e que só se diferenciam dos grãos de quartzo pela menor birrefringência. A distinção entre os dois minerais foi realizada com maior segurança a partir de análise química do MEV com EDS acoplado. Quando os grãos de feldspato não estão alterados observa-se em alguns casos a corrosão das bordas, atribuindo formas mais arredondadas, em outros casos algumas faces bem desenvolvidas evidenciam a forma euédrica original dos grãos. Cristais de biotita são escassos nas seções delgadas. Apresentam-se como cristais finos e alongados (Figura 9d e 9e). Puderam ser reconhecidos por sua alta birrefringência. A ilmenita ocorre como mineral secundário na rocha, sendo seus grãos reconhecidos somente através da análise de MEV. Os grãos piroclásticos possuem granulometria que varia desde silte grosso (0,062-0,031mm) até areia muito fina (0,125-0,062mm). Porém, como os grãos de feldspato apresentam quase sempre algum tipo de alteração para algum mineral secundário e vários grãos de quartzo apresentam dissolução das bordas, é difícil estimar com precisão o tamanho original dos cristais. Os grãos de zircão (Figura 9f), mais resistentes à diagênese, apresentaram um tamanho médio de grãos igual a 0,085 mm, de modo que o intervalo granulométrico atribuído parece razoável. Porém, vale lembrar que zircão é um mineral mais denso que quartzo e feldspato, de modo que para ser transportado em suspensão juntamente com esses minerais provavelmente deveria possuir um tamanho menor. Sendo assim é provável que os 39 grãos de quartzo e feldspato pudessem muito bem ter originalmente uma granulometria maior do que a descrita. Figura 9 – Fotomicrografias da camada de tonstein, nicóis cruzados. (a) Grãos de quartzo angulosos/ splinters, CP1/679-T (b) Polimorfo de quartzo-β com borda corroída, CP1/677-B (c) Grão de plagioclásio com bordas corroídas em matriz calcítica, CP1/678-T (d) Grão fino e alongado de biotita, CP1/677-T (e) Alteração do grão de biotita para caulinita, CP1/677-T (f) Grão de zircão, CP1/677-B. 40 A calcita é o principal mineral constituinte da camada de rocha e ocorre de três formas: 1) como micrita; 2) na forma microcristalina; 3) na forma de cristais bem maiores (Figura 10a), encontrados geralmente como pseudomorfos de feldspatos ou preenchendo vênulas e outros espaços vazios, como amígdalas (Figura 10c). Muitas vezes esses grãos são tão bem desenvolvidos que maclas e clivagens são visíveis. No entanto, a calcita micrítica e microcistalina são as duas formas de ocorrência predominante. Intercaladas na matriz carbonática observa-se laminações irregulares e descontínuas formadas por porções mais argilosas. Em algumas situações essas porções argilosas não chegam de fato a constituir lâminas, mas estão distribuídas em padrões aleatórios que remetem a distribuição das porosidades do tipo vugular e canal em carbonatos. São nessas porções que estão concentrados, predominantemente, os minerais primários (Figura 10b). A caulinita vermiforme também está presente (Figura 10c), evidenciando a formação diagenética e a carcterística in situ do mineral. Em alguns casos é possível observar o processo de formação de caulinita vermiforme a partir de um mineral de alta birrefringência que, em análise no MEV, demonstrou ser biotita (Figura 9e). Muitos cristais de pirita ocorrem de modo disseminado na camada, tanto nas porções argilosas quanto nas porções carbonáticas, e em análise no MEV nota-se que os cristais exibem hábito cúbico e formam aglomerados de pirita framboidal. Há ainda a presença de um material opaco, pouco abundante, de forma alongada, coloração preta a castanho avermelhada. Esse material assemelha-se a fitodetritos de lenhos que são amplamente observados em estudos com lâminas orgânicas (palinológicos, palinofácies). Muitos apresentam preservados bioestruturas perfuradas (Figura 10d), o que contribuí ainda mais para a identificação do material como um fitoclasto. Outros, no entanto, assemelham-se com pedaços de cutículas, sem nenhuma estrutura preservada (Figura 10e), com tamanhos e formas angulares diversos e um pouco mais translúcidos que os espécimes bioestruturados. Esses fitoclastos, no entanto, exibem uma má preservação, estando muito fraturados e com as bordas corroídas. Percebe-se também uma associação entre esses traqueídeos e os cristais de pirita, que estão crescendo sobre esses restos orgânicos e formando laminações de sulfeto (Figura 10f). 41 Textura pseudomórfica foi a única textura identificada e pode ser constatada na caulinita e na calcita que substituem os cristais de feldspato e na caulinita que substitui a biotita. Figura 10 - Fotomicrografias da camada de tonstein, nicóis cruzados. (a) Cristais bem formados de calcita, CP1/678-B (b) Laminação de argila distribuída em uma matriz calcítica, onde se concentram os minerais de origem primária, CP1/678-B (c) Caulinita vermiforme e amígdala (seta) preenchida por calcita, CP1/678-B (d) Fitodetrito com bioestruturas de perfuração (seta), CP1/677-M (e) Matéria orgânica sem estrutura preservada em matriz calcítica, luz natural, CP1/677-B (f) Imagem de MEV dos fitodetritos bioestruturado (destaque em vermelho) sobre os quais crescem cristais de pirita (porções brancas), CP1/678-B. 42 5.1.3. Análise Geoquímica A característica mais notável da análise química por pastilhas (Tabela 2) são os altos valores de perda ao fogo que para a amostra CP1/678-T chega a mais de 30%. Para essa mesma amostra a quantidade de Ca igual a 48% também merece destaque. Já a amostra CP1/677-B, apresenta maiores valores para Si (39%) e Al (11%) e menor valor de Ca (17%) e perda ao fogo em comparação a amostra anterior. Os valores para S (8%) e Fe (8%) também são mais altos do que na outra amostra. De modo geral, pode-se dizer que a quantidade de cada elemento nas duas amostras analisadas tem um comportamento inverso: os elementos que possuem maior concentração na amostra CP1/678-T apresentam menor concentração na amostra CP1/677-B. A análise química de FRX usando luz síncrotron foi uma análise qualitativa e não quantitativa, na qual é possível observar como é a distribuição dos elementos em determinada porção da rocha. Desta forma, obtém-se uma análise química pontual da amostra ao invés de uma composição global como se obteve através da análise por pastilhas prensadas e de vidro. Porém, como a luz síncrotron é uma radiação mais brilhante, com potencial de penetração na amostra e sensibilidade química bem maior que a radiação gerada em aparelhos convencionais, foi possível detectar uma quantidade maior de elementos do que na análise de FRX convencional de bancada, provavelmente por que os novos elementos identificados devem estar presentes em concentrações mais baixas que o limite de detecção do espectrômetro utilizado nas análises das pastilhas. A análise no local escolhido na amostra CP1/677-T revelou a presença de: Al, Ar, As, Ca, Co, Cr, Cu, Fe, Ga, K, Mn, Ni, S, Si, Sr, Ti, V e Zn (Figura 11). Tabela 2 – Análise geoquímica de elementos maiores, menores e traços por FRX para as amostras selecionadas de tonstein. CP1/677-B CP1/678-T Concentração (%) Concentração (%) SiO2 39,38 CaO 16,66 SiO2 5,41 CaO 48,15 TiO2 0,449 Na2O 1,05 TiO2 0,046 Na2O 0,17 Al2O3 Fe2O3 MnO MgO 11,22 K2O SO3 1,63 Al2O3 Fe2O3 MnO MgO 1,66 K2O SO3 0,17 7,87 0,246 P.F.(1000oC) 8,34 12,12 0,80 Sr (µg g –1) 227 2,53 0,973 P.F.(1000oC) 3,47 36,82 0,49 Sr (µg g –1) 394 43 Figura 11 – Mapas geoquímicos de distribuição pontual na amostra CP1/677-T de elementos obtidos em análise de FRX por luz síncrotron. 44 5.2. Conteúdo palinológico da sequência sedimentar estudada Tanto a camada de siltito (Nível 4) sobrejacente aos níveis de carvão quanto a camada de tonstein (Nível 5), entre os dois siltitos amostrados, são níveis estéreis em palinomorfos. O único conteúdo orgânico presente é matéria orgânica amorfa e diminutos pedaços de cutícula, ambos em baixas quantidades nas amostras. Para os demais níveis, foi registrado um total de 15 gêneros de esporos referentes a 21 espécies, bem como 13 gêneros de polens e 23 espécies. Além de 3 gêneros de algas, 1 de fungo e espécimes de acritarcas não identificados. Devido a esterilidade do siltito referente ao Nível 4, desta seção em diante toda vez que nos referirmos a “siltito”, sem especificação do nível estratigráfico, deve-se entender de que se trata do siltito referente ao Nível 6, no topo da sequência sedimentar. Os esporos encontrados retratam uma microflora de afinidade botânica com Equisetopsida (Calamospora, (Converrucosisporites, Granulatisporites, Laevigatosporites), Verrucosisporites, Horriditriletes, Brevitriletes, Leiotriletes, Lophotriletes, Polypodiopsida Cyclogranisporites, Punctatisporites), Lycopsida (Cristatisporites, Lundbladispora, Vallatisporites) e Psomospora. Já os grãos de polens refletem uma paleoflora de afinidade com Gimnospermas, representada por Limitisporites, Pinales/Cordaitales Caheniasaccites, (Potonieisporites, Vittatina), Cannanoropollis, Cycadales (Cycadopites), Glossopteridales (Alisporites, Protohaploxypinus, Illinites) e Striomonosaccites, Scheuringipollenites, Colpisaccites e Pakhapites. Quando a distribuição das espécies por nível (Figura 12) é avaliada percebese uma grande diferença entre o conteúdo palinológico contido nos 3 níveis de carvão em relação ao conteúdo presente no nível de siltito. Nos carvões a assembleia florística é dominada por esporos, que perfazem 63% do conjunto palinológico na base do carvão, 83% no meio do carvão e cerca de 71% no topo da camada de carvão. Os esporos predominantes são do tipo trilete acavados Laevigati (Leiotriletes, Punctatisporites) e Apiculati (Cyclogranisporites, Granulatisporites). Os grãos de pólen representam somente 6%, 3% e 8%, respectivamente, da assembleia que (Limitisporites, é predominada Alisporites) e por morfotipos monocolpados bissacados (Cycadopites). não teniados Alguns taxa desaparecem no nível estratigráfico de siltito, como Psomospora detecta, 45 Calamospora sp., Granulatisporites Laevigatosporites plicatus e Lophotriletes. angularis, Horriditriletes ramosus, 46 Figura 12 – Frequência relativa das espécies de palinomorfos encontradas para a sequência sedimentar estudada. 47 Já no nível de siltito existe um claro predomínio dos polens sobre os esporos, contribuindo com 50% da assembleia, dos quais as formas monossacadas (Caheniasaccites) e monocolpadas (Cycadopites) são as principais. Além disso, a abundância de taxa polínicos na camada é maior, e registra o surgimento dos taxa Illinites unicus, Striomonosaccites, Caheniasaccites, Cannanoropollis, Limitisporites delasaucei, Pakhapites ovatus e Vittatina. Enquanto que os esporos representam 43% da assembleia, sendo os esporos cingulizonados Cristatisporites, Lundbladispora os predominantes que, juntamente com a terceira espécie cingulizonada identificada, Vallatisporites, não ocorrem nos níveis estratigráficos abaixo. Algas estão presentes tanto na camada de carvão (em média 3%) quanto na de siltito (1,5%) em baixas quantidades, mas com os leitos de carvão apresentando prticamente o dobro da quantidade encontrada nos siltitos. Observa-se também uma diminuição na quantidade de esporos de fungos no nível de siltito (1,7%) em relação ao carvão (média de 8,2%). Além dos palinomorfos, nas lâminas de carvão estão presentes fitoclastos opacos e não-opacos, bioestruturados ou não. Já na camada de siltito, os fitoclastos opacos e bioestruturados desaparecem, ocorrendo somente fragmentos de cutículas sem as células da epiderme preservada. A listagem de espécies é apresentada nos tópicos seguintes e está separada por litotipo e por espécies que ocorrem em comum entre os dois níveis estudados. As ilustrações de cada taxa podem ser observadas nas figuras 13, 14 e 15. O sistema de classificação utilizado está de acordo com o esquema proposto por Potonié & Kremp (1954), modificado e complementado posteriormente por outros autores. 5.2.1. Conjunto Palinológico do Carvão Anteturma PROXIMEGERMINANTES Potonié 1970 Turma TRILETES (Reinsch) Dettmann 1963 Suprasubturma ACAVATITRILETES Dettmann 1963 Infraturma LAEVIGATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 Calamospora sp. Infraturma APICULATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 48 Subinfraturma GRANULATI Dybová & Jachowicz 1957 Granulatisporites angularis Staplin 1960 Subinfraturma NODATI Dybová & Jachowicz 1957 Lophotriletes pseudaculeatus Potonié & Kremp 1955 Lophotriletes sp. Subinfraturma BACULATI Dybová & Jachowicz 1957 Horriditriletes ramosus (Balme e Hennelly) Bharadwaj e Salujha 1964 Turma MONOLETES Ibrahim 1933 Supraturma ACAVATOMONOLETES Dettmann1963 Subturma AZONOMONOLETES Lüber 1935 Infraturma LAEVIGATOMONOLETI Dybová & Jachowicz 1957 Laevigatosporites plicatus Kar 1968 Turma HILATES Dettmann 1963 Psomospora detecta Playford and Helby 1968 Anteturma VARIEGERMINANTES Potonié 1970 Turma SACCITES Erdtmann 1947 Subturma DISACCITES Cookson 1947 Infraturma DISACCIATRILETI (Leschik) Potonié 1958 aff. Alisporites sp. Infraturma DISACCITRILETI Leschik 1956 Colpisaccites granulosus Limitisporites sp. 2 ALGAE Divisão CHLOROPHYTA Pascher 1914 Classe ZYGNEMAPHYCEAE Round 1971 Ordem ZYGNEMATALES Borge 1931 Família ZYGNEMATACEAE (Meneghini) Kützing 1898 Tetraporina punctacta (Tiwari & Navale) Kar & Bose 1976 5.2.2. Conjunto Palinológico do Siltito Anteturma PROXIMEGERMINANTES Potonié 1970 Turma TRILETES (Reinsch) Dettmann 1963 Suprasubturma LAMINATITRILETES Smith & Butterworth 1967 49 Subturma LAMINATRILETES Smith & Butterworth 1967 Infraturma CINGULICAVATI Smith & Butterworth 1967 36 Cristatisporites lestai Archangelsky & Gamerro 1979 Lundbladispora braziliensis (Marques-Toigo e Pons) Marques-Toigo e Picarelli 1984 Lundbladispora iphilegna Foster 1979 Lundbladispora riobonitensis Marques-Toigo e Picarelli 1984 Vallatisporites arcuatus (Marques-Toigo) Archangelsky & Gamerro 1979 Anteturma VARIEGERMINANTES Potonié 1970 Turma SACCITES Erdtmann 1947 Subturma MONOSACCITES (Chitaley) Potonié & Kremp 1954 Infraturma DIPOLSACCITI (Hart) Dibner 1971 Subinfraturma APERTACORPINI Dibner 1971 Cannanoropolis diffusus (Tiwari) Dias-Fabrício 1981 Cannanoropollis perfectus (Bose & Maheshwari) Dias-Fabrício 1981 Cannanoropollis cf. C. janakii Potonié & Sah 1960 Infraturma VESICULOMONORADITI Pant 1954 Caheniasaccites elongatus Bose e Kar 1966 Caheniasaccites flavatus (Bose & Kar) Azcuy & di Pasquo 2000 Caheniasaccites ovatus (Bose & Kar) Archangelsky & Gamerro 1979 Infraturma STRIASACCITI Bharadwaj 1962 Striomonosaccites sp. Infraturma DISACCITRILETI Leschik 1956 Limitisporites sp. 1 Subturma POLYSACCITES Cookson 1947 Infraturma STRIATITI Pant 1954 llinites unicus (Kosanke) Jansonius e Hills 1976 Protohaploxypinus goraiensis (Potonié & Lele) Hart 1964 Protohaploxypinus sp. Turma PLICATES (Naumova) Potonié 1960 Subtuma COSTATES Potonié 1970 Infraturma COSTATI Jansonius 1962 Vittatina corrugata Marques-Toigo 1974 50 Vittatina costabilis Wilson 1962 Vittatina subsaccata Samoilovich 1953 Subturma PRAECOLPATES Potonié & Kremp 1954 Infraturma PRAECOLPATI Potonié & Kremp 1954 Pakhapites ovatus (Bose e Kar) Playford e Dino 2000 5.2.3. Conjunto Palinológico Comum ao Siltito e Carvão Anteturma PROXIMEGERMINANTES Potonié 1970 Turma TRILETES (Reinsch) Dettmann 1963 Suprasubturma ACAVATITRILETES Dettmann 1963 Infraturma LAEVIGATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 Calamospora hartungiana Schopf in Schopf, Wilson & Bentall 1944 Calamospora plicata (Luber e Valts) Hart 1965 Leiotriletes virkkii Tiwari 1965 Punctatisporites gretensis forma minor Hart 1965 Infraturma APICULATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 Subinfraturma GRANULATI Dybová & Jachowicz 1957 Cyclogranispotites parvigranulosus (Leschik) Ybert 1975 Subinfraturma NODATI Dybová & Jachowicz 1957 Brevitriletes levis (Balme and Hennelly) Bharadwaj and Srivastava,1969 Subinfraturma VERRUCATI Dybová & Jachowicz 1957 Converrucosisporites confluens (Archangelsky e Gamerro) Playford e Dino 2002 Verrucosisporites sp. Turma MONOLETES Ibrahim 1933 Supraturma ACAVATOMONOLETES Dettmann1963 Subturma AZONOMONOLETES Lüber 1935 Infraturma LAEVIGATOMONOLETI Dybová & Jachowicz 1957 Laevigatosporites vulgaris (Ibrahim) Alpern & Doubinger 1973 Anteturma VARIEGERMINANTES Potonié 1970 Turma SACCITES Erdtmann 1947 Subturma DISACCITES Cookson 1947 Infraturma DISACCIATRILETI (Leschik) Potonié 1958 51 Scheuringippolenites medius (Burjack) Dias-Fabrício 1981 Infraturma DISACCITRILETI Leschik 1956 Limitisporites delasaucei (Potonié & Klaus) Schaarshmidt 1963 Limitisporites sp.3 Turma MONOCOLPATI Iverson & Troels-Smith 1950 Subturma MONOCOLPATES Iversen & Tröels-Smith 1950 Cycadopites sp. ALGAE Divisão CHLOROPHYTA Pascher 1914 Classe ZYGNEMAPHYCEAE Round 1971 Ordem ZYGNEMATALES Borge 1931 Família ZYGNEMATACEAE (Meneghini) Kützing 1898 Brazilea scissa (Balme e Hennelly) Foster 1975 Brazilea sp. 1 Playford & Dino 2000 Classe PRASINOPHYCEAE Navifusa variabilis Gutiérrez & Limarino 2001 FUNGI Portalites gondwanensis Nahuys, Alpern & Ybert 1968 ____________________________ Figura 13 – Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08. (a) Calamospora hartungiana CP5/136-2, EF M42-3 (b) Calamospora plicata CP5/136-3, EF U46 (c) Calamospora sp. CP5/133-1, EF W33-3 (d) Leiotriletes virkii CP5/134-3, EF O36 (e) Punctatisporites gretensis CP5/134-1, EF O41-1 (f) Cyclogranisporites parvigranulosus CP5/133-1, EF Y32-2 (g) Granulatisporites angularis CP5/134-3, EF S47-2 (h) Brevitriletes levis CP5/132-3, EF L35-3 (i) Lophotriletes pseudaculeatus CP5/132-2, EF M47 (j) Lophotriletes sp. CP5/134-1, EF O46-4 (k) Horriditriletes ramosus CP5/134-1, EF X31-2 (l) Converrucosisporites confluens CP5/128-1, EF K39 (m) Verrucosisporites sp. CP5/134-3, EF S36 (n) Cristatisporites lestai CP5/136-3, EF P41-3 (o) Lundbladispora braziliensis CP5/136-1, EF K31-4 (p) Lundbladispora iphilegna CP5/136-2, EF R49 (q) Lundbladispora riobonitensis CP5/136-3, EF O43-1 52 (r) Vallatisporites arcuatus CP5/136-3, EF N40 (s) Laevigatosporites plicatus CP5/133-1, EF Y45 (t) Laevigatosporites vulgaris CP5/133-1, EF Y40-2 (u) Psomospora detecta CP5/128-1, EF Q37-1 (v) Cannanoropollis diffusus CP5/136-3, EF S37-1 (w) Cannanoropollis perfectus CP5/136-2, EF S49. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 53 Figura 14 - Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08. (a) Cannanoropollis cf. C. janakii CP5/136-3, EF L32-4 (b) Caheniasaccites elongatus CP5/131-1, EF X42-2 (c) Caheniasaccites flavatus CP5/131-3, EF K44 (d) Caheniasaccites ovatus CP5/132-2, EF Q47-1 (e) Potonieisporites sp. CP5/136-3, EF Q25 (f) Sriomonosaccites sp. CP5/131-1, EF M44-2 (g) aff. Alisporites sp. CP5/132-3, EF R49 (h) Scheuringipollenites medius CP5/131-3, EF E22-1 (i) Colpisaccites granulosus CP5/132-3, EF Q34 (j) Limitisporites delasaucei CP5/128-1, EF R35-4 (k) Limitisporites sp. 1 CP5/131-3, EF G43-1 (l) Limitisporites sp. 2 CP5/128-1, EF Q31-4 (m) Limitisporites sp. 3 CP5/131-3, EF P33-1 (n) Illinites unicus CP5/136-3, EF P30-1 (o) Protohaploxypinus goraiensis CP5/136-4, EF T29 (p) Protohaploxypinus sp. CP5/131-3, EF X24-3. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 54 Figura 15 - Palinomorfos encontrados no siltito e carvão da mina PI-08. (a) Vittatina corrugata CP5/131-2, EF T39-3 (b) Vittatina costabilis CP5/131-3, EF N37-4 (c) Vittatina subsaccata CP5/136-3, EF N31-1 (d) Cycadopites sp. CP5/131-3, EF G32-2 (e) Pakhapites ovatus CP5/136-1, EF H32-2 (f) Brazilea scissa CP5/132-4, EF P25 (g) Brazilea sp.1 Palyford & Dino 2000 CP5/131-3, EF O39-4 (h) Cycadopites sp. CP5/134-3, EF S36-2 (i) Tetraporina punctata CP5/132-2, EF L33 (j) Navifusa sp. CP5/132-3, EF L42-2 (k) Portalites gondwanensis CP5/128-1, EF P39-3 (l) Esporo de fungo indeterminado CP5/132-4, EF M43-1 (m) Esporo de fungo indeterminado CP5/132-2, EF Q31-2. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 55 5.3. Geocronologia Os grãos selecionados para a análise isotópica encontram-se em um intervalo de tamanho de 50-130 µm, com uma média de 85 µm. Duas populações de zircões com morfologias ligeiramente diferentes foram registradas. A primeira população compreende a maior parte dos grãos e apresenta uma razão comprimento-largura de 2:1. São euédricos e no geral tendem a ter as terminações mais arredondadas, mas podendo apresentar, com menor frequência, terminações piramidais, além de zonas oscilatórias típicas de zircões ígneos (Corfu et al., 2003). A segunda população apresenta uma proporção comprimento-largura de 3:1, são prismáticos, de faces bem formadas, alongados e com terminações piramidais ou retas e, da mesma forma que a primeira população, apresentam também zonas oscilatórias. Os grãos das duas populações são incolores e cristalinos, sem fraturas e com raríssimas inclusões (Figura 16). A concentração média de U nos grãos é de 567 ppm e a média da razão Th/U é de 1,2. Dos grãos de zircão coletados 26 foram analisados, dos quais 7 forneceram uma idade média concordante 206 Pb/238U igual a 343±3,6 Ma (MSWD = 2,0), com um intervalo de confiança de 95% (Figura 17), a qual foi interpretada como a idade de cristalização e deposição. Grãos de zircão mais antigos foram datados com idades variando desde o Paleozoico Inferior até o Pré-Cambriano. Os dados isotópicos obtidos podem ser observados na Tabela 3. 56 Figura 16 – Imagens de catodoluminescência dos grãos de zircão datados Figura 17 – Diagrama de concórdia com a idade U-Pb obtida para zircões do tonstein de Figueira pelo método LA-ICP-MS 57 Tabela 3 – Dados isotópicos obtidos por LA-ICP-MS em zircões da camada de tonstein Razões isotópicas 206 Spot U (ppm) Th (ppm) Th/U Pb/ 204 Pb 207 Pb/ Pb 206 2σ (%) 207 Pb/235U 2σ (%) 206 Pb/238U Idades 207 2σ (%) Rho Pb/ Pb 206 2σ 206 Pb/238U 2σ 207 Pb/235U 2σ % conc¹ 5.sSMPABC013 63.808 177.573 2.783 53672.460 0.174 1.032 12.271 2.070 0.510 1.794 0.867 2600.610 17.200 2657.632 38.522 2625.383 19.581 100.023 5.sSMPABC028 118.471 124.948 1.055 200.063 0.074 1.008 1.872 1.975 0.182 1.698 0.860 1052.686 20.313 1080.559 16.551 1071.361 13.038 100.073 5.sSMPABC029 90.892 118.887 1.308 169.122 0.074 1.088 1.873 2.084 0.182 1.778 0.853 1053.962 21.912 1080.279 17.319 1071.594 13.763 100.025 5.sSMPABC030 563.088 978.842 1.738 474.636 0.074 0.974 1.869 1.990 0.182 1.736 0.872 1052.871 19.616 1078.768 16.890 1070.230 13.130 100.013 5.sSMPABC035 195.413 162.049 0.829 22081.670 0.072 1.075 1.649 2.082 0.167 1.784 0.857 976.016 21.905 994.840 16.100 988.985 13.115 99.848 5.sSMPABC033 388.067 905.879 2.334 326.479 0.068 1.040 1.411 2.076 0.150 1.796 0.865 880.284 21.513 899.225 14.758 893.766 12.277 99.917 5.sSMPABC019 2597.298 15.759 0.006 34.901 0.063 1.825 1.128 2.577 0.131 1.819 0.706 692.666 38.903 792.350 13.271 766.701 13.792 102.711 5.sSMPABC050 223.159 194.045 0.870 16414.217 0.064 1.122 1.073 2.088 0.121 1.761 0.843 747.897 23.700 737.709 12.003 740.238 10.893 99.057 5.sSMPABC052 335.137 242.647 0.724 2267.569 0.063 1.028 0.987 1.990 0.113 1.705 0.856 716.647 21.825 691.224 10.925 697.232 9.957 98.566 5.sSMPABC034 328.040 198.454 0.605 19550.882 0.061 1.039 0.869 2.058 0.104 1.776 0.863 626.489 22.394 637.754 10.545 635.280 9.629 99.851 5.sSMPABC01811.73372 2152.866 20.061 0.009 260.967 0.055 0.958 0.725 1.903 0.096 1.645 0.864 394.604 21.475 593.075 9.106 553.645 8.031 106.615 5.sSMPABC047 192.424 95.901 0.498 10343.795 0.060 1.173 0.784 2.120 0.095 1.766 0.833 591.629 25.435 586.917 9.681 587.886 9.367 99.331 5.sSMPABC039 121.832 163.465 1.342 138.405 0.059 1.258 0.779 2.145 0.095 1.737 0.810 583.304 27.322 585.286 9.496 584.880 9.440 99.567 5.sSMPABC037 126.586 241.821 1.910 6592.265 0.059 1.117 0.760 2.067 0.093 1.739 0.841 570.045 24.309 574.826 9.344 573.862 8.965 99.672 5.sSMPABC038 181.944 376.533 2.070 9265.416 0.059 1.053 0.743 1.985 0.092 1.682 0.848 562.662 22.942 564.470 8.884 564.110 8.497 99.575 5.sSMPABC036 92.768 129.524 1.396 4714.294 0.059 1.174 0.741 2.107 0.091 1.750 0.830 558.586 25.597 564.348 9.240 563.205 9.014 99.715 5.sSMPABC020 3729.830 58.608 0.016 128.863 0.057 1.024 0.631 1.943 0.081 1.652 0.850 474.574 22.640 501.186 7.779 496.433 7.536 100.514 5.sSMPABC053 125.975 98.069 0.778 5560.811 0.058 1.237 0.644 2.134 0.080 1.739 0.815 536.923 27.076 497.696 8.136 504.764 8.390 98.159 5.sSMPABC049 130.937 116.437 0.889 122.847 0.057 1.447 0.602 2.367 0.077 1.873 0.791 489.714 31.924 476.349 8.402 478.654 8.928 99.093 5.sSMPABC054 247.713 246.262 0.994 6797.417 0.054 1.253 0.400 2.164 0.054 1.764 0.815 381.442 28.177 336.092 5.639 341.883 6.185 97.990 5.sSMPABC051 595.269 274.379 0.461 122.806 0.054 1.046 0.415 1.996 0.056 1.700 0.852 376.709 23.535 349.078 5.640 352.713 5.857 98.643 5.sSMPABC048 584.381 266.350 0.456 16351.125 0.054 0.969 0.408 1.902 0.055 1.637 0.860 356.387 21.884 346.257 5.386 347.574 5.511 99.297 5.sSMPABC040 527.302 254.975 0.484 320.576 0.053 1.014 0.399 1.951 0.054 1.667 0.854 344.991 22.940 340.424 5.395 341.008 5.562 99.510 5.sSMPABC032 468.563 131.118 0.280 220.647 0.053 1.035 0.398 1.989 0.054 1.698 0.854 333.926 23.471 341.491 5.512 340.523 5.663 99.964 5.sSMPABC031 463.410 129.317 0.279 12685.428 0.053 1.017 0.399 1.943 0.055 1.656 0.852 333.926 23.044 342.243 5.389 341.178 5.543 99.992 5.sSMPABC027 106.666 663.999 6.225 2917.087 0.053 1.304 0.399 2.194 0.055 1.764 0.804 324.939 29.610 343.247 5.756 340.902 6.255 100.367 ¹ Concordância calculada como (206Pb-238U idade/207Pb-206Pb idade)*100 58 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 6.1. O tonstein de Figueira (PR) 6.1.1. Aspectos mineralógicos As ocorrências de tonstein são caracterizadas pela presença de duas assembleias minerais de origem diferente: a primária, que evidencia sua origem vulcânica, e a secundária, dominada pela caulinita, que é formada no local de deposição das cinzas. Assim observam-se normalmente, por petrografia, os cristais primários distribuídos em uma matriz caulinítica. No entanto, não é isso o que se observa no tonstein de Figueira. A característica mais marcante da camada é a quantidade de carbonato de cálcio que está presente. O carbonato é uma fase secundária na rocha e isso pode ser concluído por sua relação com os outros minerais. A calcita é encontrada substituindo feldspatos, biotitas e até mesmo a caulinita autigênica. A fase diagenética responsável pela deposição do cimento carbonático na rocha parece ter sido tão intensa que até mesmo os cristais de quartzo apresentam as bordas corroídas. Evidência de que o pH no momento de deposição deveria ser próximo ou igual a 9, valor acima do qual a sílica torna-se solúvel no meio (Trewin & Fayers, 2005). No tonstein estudado, a pouca matriz caulinítica encontra-se aleatoriamente distribuída na massa de carbonato de cálcio. Essas porções argilosas disseminadas são consideradas aqui porções remanescentes. Ou seja, porções que prevaleceram sobre a intensa fase diagenética de cimentação do carbonato e por isso apresentam padrões tão irregulares como os descritos. Definiu-se a caulinita como sendo a primeira fase diagenética a se formar. No entanto, caulinita no formato vermiforme, que evidencia sua formação in situ, é escassa. Aparece subordinada à caulinita na forma microcristalina, de modo que é provável que a cimentação de carbonato, correspondente à segunda fase diagenética, tenha ocorrido logo após o início da diagênese que originou o argilomineral, não tendo espaço então para desenvolver formas vermiformes maiores. A análise das lâminas delgadas no MEV com o auxílio do EDS revelou que em muitas porções da matriz caulinítica a composição ainda se assemelha a de um feldspato, pois apontando os elementos K, Na, Al, Si e O. Em outras porções o EDS revela composições semelhantes a de biotita, com os elementos K, Fe, Mg, Ti, Al, Si 59 e O, uma demonstração de que a caulinita foi originada a partir da alteração desses minerais primários. 6.1.2. Aspectos geoquímicos As análises químicas por FRX também evidenciam o padrão aleatório de distribuição dos remanescentes de matriz caulinítica na camada. A amostra CP1/678-T apresentou elevado valor para a perda ao fogo e altas porcentagens de Ca. Isso indica uma maior concentração de carbonato nessa porção da rocha, em detrimento da quantidade de argila. Tal conclusão é condizente com os baixos valores de Si e Al para essa amostra. Já na outra amostra, a CP1/677-B, os valores de Si e Al juntos superam a quantidade de Ca presente. O fato do valor da perda ao fogo nessa amostra ser bem mais baixo que o da anterior também evidencia uma menor quantidade de carbonato presente. Além disso, os valores de S e Fe mostram uma maior concentração de pirita na base da camada, o que é confirmado pelas análises petrográficas e também nas amostras de mão. As duas amostras escolhidas para a análise foram consideradas representativas do conjunto de nove amostras que se tinha no total. Pelos resultados dos difratogramas e petrografia, percebeu-se que a amostra CP1/678-T era muito semelhante a todas as outras amostras analisadas, sendo a única exceção a amostra CP1/677-B. Como então as amostras de tonstein foram separadas em topo, meio e base, de forma a registrar qualquer mudança composicional ao longo da espessura da camada e de continuidade lateral, e a maioria das amostras se parecem composicionalmente a CP1/678-T, pode-se novamente afirmar que a cimentação carbonática é a fase dominante. Como a amostra CP1/677-B é uma porção mais basal da camada, é possível que tenha ficado menos vulnerável à entrada do carbonato durante a diagênese. E assim tenha preservado melhor a porção argilosa, registrando melhor a primeira fase diagenética. Porém, como as outras amostras basais, CP1/678-B e CP1/679-B, não apresentam o mesmo comportamento, mas ao contrário, são semelhantes a amostra CP1/678-T, conclui-se que porções predominantemente argilosas ocorrem de forma localizada na camada. Nota-se na análise química por luz síncrotron a presença de alguns elementos que não foram detectados pela análise em pastilhas, como o Ni, Co, Cu 60 (Figura 11). Quando esses elementos são mostrados nas imagens em RGB, juntamente com Fe e S, que são aqui considerados como sendo indicativos de pirita (FeS2) (Figura 18a), constata-se que todos os elementos ocorrem no mesmo local (aparecem em branco na imagem) (Figura 18b). Provavelmente formam fases como arsenopirita (FeAsS), calcopirita (CuFeS2) e pirrotita, que pode incorporar os elementos Co e Ni em sua estrutura. Já o Ar é um gás que está presente normalmente na atmosfera. Como a análise ocorre em contato com a atmosfera a presença deste gás é esperada, não estando, portanto, relacionado a amostra. a) b) c) Figura 18 - Mapas geoquímicos de distribuição pontual na amostra CP1/677-T de elementos obtidos em análise por FRX por luz síncrotron. (a) Combinação dos elementos S (cor R) e Fe (cor G) em amarelo, interpretados como pirita (FeS2). (b) Combinação de Ni (cor R), Co (cor G) e Cu (cor B) em branco, ocupando o mesmo lugar que a pirita em (a). (c) Combinação do elemento Mn (cor R) e Ca (cor G) em amerelo, indicando que ocorrem associados na rocha. O elemento Mn parece ocorrer sempre associado ao Ca (Figura 18c), provavelmente devido a substituições de Ca2+ por Mn2+ nos cristais de calcita. De acordo com Pires & Teixeira (1991), o elemento V (Figura 11) é comumente associado a argilominerais e a fração orgânica em carvões, assim como os elementos Cr e Zn (Figura 11), os quais também podem estar associados a sulfetos. Como a camada de tonstein se forma no mesmo ambiente gerador de carvão e está associada a essa rocha, é possível que o V, Cr e Zn se comportem geoquimicamente da mesma maneira que nos carvões. 61 6.1.3. Conteúdo orgânico Não é raro encontrar relatos de materiais de origem orgânica associados a camadas de tonstein, como restos de tecido celular, microorganismos, vestígios de plantas e entre outros (Moore, 1964; Loughnan, 1978, Bohor & Triplehorn, 1993; Burger et al., 2000; Simas, 2008; Jasper et al. 2011, Zhao et al., 2012). Especificamente na mina de carvão de Faxinal, no estado do Rio Grande do Sul, uma grande variedade de compressões de gimnospermas encontra-se registrada pela camada de tonstein que aflora na região. Simas et al. (2013) registraram desde fragmentos de folhas, estruturas reprodutivas e sementes até esporomorfos. Mas o que chama a atenção na mina de Faxinal é a qualidade das compressões encontradas, a qual os autores atribuem diretamente à rápida deposição das cinzas vulcânicas em um ambiente aquático. No tonstein de Figueira, nenhum macrofitofóssil foi documentado. As únicas formas orgânicas observadas são fragmentos de traqueídeos e pedaços de cutículas que, assim como no tonstein de Faxinal, refletem uma paleoflora terrestre. Esses vestígios de plantas são escassos e mal preservados. A determinação da presença de matéria orgânica na camada se mostrou complicada, uma vez que durante a análise química por FRX o C foi perdido durante a etapa de perda ao fogo e não acusa a presença de nenhum resto orgânico. Por outro lado, em análise no MEV com o EDS, a leitura desses materiais identifica a presença de C. Porém, essa análise é pouco confiável, uma vez que utiliza-se nessa técnica grafite para a metalização das amostras. O pico de C geralmente presente em uma leitura no EDS é pouco intenso, diferentemente dos picos gerados durante a leitura nos traqueídeos. Mas mesmo assim acredita-se que estudos complementares para a determinação da presença de querogênio na camada sejam necessários, sendo que a identificação do pouco conteúdo presente foi exclusivamente feita pelas bioestruturas que ficaram preservadas. 62 6.2. Paleoecologia A formação das camadas de carvão na região de Figueira está associada a um contexto deposicional em planícies de inundações de paleovales com influência marinha (Zacharias 2004; Zacharias & Assine, 2005). Neste contexto, segundo estes autores, os restos vegetais teriam se acumulado nas bordas de vales incisos através do retrabalhamento do material por correntes marinhas, dando origem à turfeiras e, posteriormente, à camadas de carvões descontínuas. A ideia de que os carvões poderiam ter se formado sob condições autóctones ou hipoautóctones é uma teoria geral para as principais jazidas de carvões brasileiros, relativas à Formação Rio Bonito, no estado do Rio Grande do Sul (Jasper et al., 2006). Os principais constituintes palinológicos dos carvões de Figueira são os esporos, que são considerados como elementos parautóctones em uma assembleia fossilífera, estando em acordo com o que em geral é aceito para a origem dos carvões da Formação Rio Bonito. Elementos alóctones foram registrados em baixas frequências representados por grãos de polens, assim como os elementos autóctones presentes na forma de algas (Brazilea, Navifusa e Tetraporina) e esporos de fungo (Portalites e indeterminados). Os gêneros de alga Brazilea e Tetraporina evidenciam deposição em um ambiente de água doce (Gutiérrez & Limarino, 2001; Longhim, 2007; Guerra-Sommer et al., 2008d; Gutiérrez et al. 2015) enquanto que o gênero Navifusa é considerada como parte de microplâncton marinho (Gutiérrez & Limarino, 2001; Jasper et al., 2006), e poderia ser indicativo de pequenas ingressões marinhas, uma vez que a quantidade registrada é muito baixa. No nível de siltito estudado, ocorrem os mesmos elementos definidos como autóctones, alóctones e parautóctones para a camada de carvão. No entanto, as frequências observadas são diferentes. Os grãos de polens não aparecem mais de forma subordinada, mas dominam sobre os esporos que mesmo assim perfazem uma importante parcela do conjunto. Com base nas diferenças de constituintes entre o nível de carvão e a camada de siltito, definiu-se duas assembleias paleoflorísticas para a sequência sedimentar estudada. A Assembleia I, presente no carvão, é constituída predominantemente por Polypodiopsida (filicófitas) com ampla diversidade de espécies, e subordinadamente por Equisetopsida (esfenófitas) com baixa variedade de espécies e ausência de licófitas. A ocorrência destas classes de pteridófitas indica uma associação higro- 63 hidrófila. Portanto, é provável que essa assembleia estivesse muito próxima do corpo d’água e do ambiente de deposição, formando uma comunidade mais herbácea (Guerra-Sommer et al., 2008d). Nota-se também que o conjunto palinológico da porção basal, média e de topo da camada de carvão permanece praticamente a mesma, indicando uma paleoflora bem estabelecida durante todo o momento de formação do carvão (Cazzulo-Klepzig et al., 2007). Os grãos de pólen, que fazem parte dessa assembleia, refletem uma associação de gimnospermas higro-mesófila, as quais provavelmente pertenciam a um bosque localizado um pouco mais distantes da fonte de água. Essa configuração palinológica difere, no entanto, do que é observado nas jazidas de carvão no afloramento Quitéria (Jasper et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008c; Boardman et al., 2012a) e mina Faxinal (Boardman et al., 2012b), nas quais há o predomínio de espécies relacionadas a licófitas arbóreas (Lundbladispora). O conjunto palinológico destas outras minas de carvão está mais de acordo com o que se observa para a segunda assembleia definida para a sequência, a Assembleia II presente no nível de siltito. Na Assembleia II, há o predomínio de grãos de polens monossacados e teniados correlacionáveis com gimnospermas do tipo coníferas e glossopteridófitas. Enquanto que os principais representantes dos esporos são de um grupo restrito de licófitas arbustivas (Lundbladispora, Vallatisporites, Cristatisporites), com pouquíssimos representantes de esfenófitas e filicófitas. O conjunto de espécies demonstra uma associação higro-mesófila a meso-xerófila. Notavelmente a comunidade paleoflorística mudou durante a deposição da sequência estudada. Muitas espécies desaparecem após a deposição da camada de carvão, dando lugar para uma nova comunidade se estabelecer. Essa diferença entre as comunidades pode ser referente a mudanças ambientais ocorridas no momento de deposição, já evidenciada pela diferença de deposição de sedimento, mas também pela associação entre as espécies, que parece ter evoluído de um ambiente úmido para um ambiente um pouco mais árido e quente. Souza et al. (2010) ao estudar os ritmitos do Subgrupo Itararé dominados por esfenófitas e filicófitas associa os esporos desses vegetais a terrenos mais baixos, como planícies de inundação, onde essa comunidade habitava durante climas mais frios. Já os grãos de pólen monossacados derivados de coníferas representariam 64 uma flora de áreas mais altas. De acordo ainda com estes autores, a combinação de grãos de polens monossacados de terrenos altos com esporos de plantas de terrenos baixos são associações encontradas em ecossistemas do início do Paleozoico Superior, momento do tempo geológico marcado por estágios glaciais/interglaciais no sul do Gondwana. Por outro lado, grãos de polens bissacados teniados refletem a uma flora de terrenos mais altos, mais abertos (Boardman et al., 2012a), dominada por coníferas e glossopteridófitas, as quais são comumente encontradas em depósitos de deglaciação, sendo um indicativo da proliferação da comunidade vegetal em resposta a um regime climático mais ameno (Souza et al., 2010; Mori & Souza, 2012). Tal descrição é semelhante ao que se observa em Figueira. Observamos o predomínio nos carvões de uma vegetação mais herbácea, associada a um corpo de água, em uma área rebaixada. Posteriormente, a comunidade vegetal muda, sendo substituída por uma vegetação composta por licófitas, glossopteridófitas, e coníferas, no siltito. Logo, é possível que a base da sequência tenha registrado e se depositado em um momento mais estressante do paleoambiente, ocorrido durante um intervalo mais frio e os siltitos em um período de melhora ambiental. A esterilidade da camada de siltito que recobre os carvões (Nível 4), bem como da camada de tonstein (Nível 5), dificultam a interpretação da maneira de como o paleoambiente evolui até o momento do estabelecimento da Assembleia II. Porém, essa camada de siltito pode estar associada a um momento de elevação do nível de água no ambiente de deposição da turfa. Uma vez que para a comunidade herbácea higrófila da Assembleia I, próxima as margens desse corpo d’água, um aumento do nível da água resultaria em seu afogamento e forçaria os taxa da assembleia a recuarem. A deposição da camada de tonstein também teria colaborado para produzir um ambiente ainda mais estressante, já que a presença de cinzas diminuiria o pH do meio e seria responsável pelo soterramento das plantas (Bohor & Triplehorn, 1993). A camada de tonstein de Figueira tem uma espessura que varia de 5 a 25 cm, o que significa que a camada de cinzas que a originou seria ainda mais espessa antes da diagênese. Uma camada dessa natureza, se depositada rapidamente, deveria causar o soterramento de boa parte da paleoflora, principalmente se esta fosse 65 herbácea como as da Assembleia I, com altas chances de conter impressões ou compressões de folhas e outras partes da planta (Bohor & Triplehorn, 1993; Burger et al., 2000; Simas, 2008; Jasper et al. 2011). Porém, um fator intrigante sobre esta camada é exatamente a ausência, e praticamente escassez, de material orgânico de qualquer tipo, sendo um possível indicador de que a parte da paleoflora da Assembleia I que vivia mais próxima do corpo d’água já não existia mais. Os raros fitodetritos perfurados e mal preservados que se observa nessa camada indicam transporte de uma área fonte mais distante, sendo possivelmente referentes às glossopteridófitas que fazem parte da Assembleia I e viviam em regiões um pouco mais afastadas do corpo d’água. Outra alternativa provável é a de que os parâmetros físico-químicos do ambiente que mudaram durante a diagênese, de um pH ácido no momento de formação de carvões e caulinização da camada de cinzas, para um ambiente alcalino no momento de cimentação do carbonato, tenham contribuído para a degradação da matéria orgânica que pudesse estar presente. 6.3. Palinoestratigrafia Como o nível de siltito (Nível 6) e os níveis de carvão (Nível 1-3) apresentam palinomorfos que são restritos a cada litotipo, evidenciando uma mudança da palinoflora, optou-se por um posicionamento bioestratigráfico separado para cada camada. Além disso, o posicionamento bioestratigráfico adotado aqui considerou o corrente zoneamento para o Paleozoico Superior da Bacia do Paraná, proposto por Souza & Marques-Toigo (2003, 2005) e Souza (2006). Levando-se em conta que no nível de siltito, que corresponde ao topo da sequência estudada, há a ocorrência de Illinites unicus, Protohaploxypinus goraiensis e Vittatina (corrugata, costabilis e subsaccta) o posicionamento seria realizado dentro da Zona Vittatina costabilis (ZVc) (Figura 19), uma vez que estas espécies são consideradas espécies índices desta biozona. O limite inferior da ZVc é definido pelo registro da primeira ocorrência destas espécies e marca a passagem do período Carbonífero para o período Permiano. Devido a ausência de Illinites unicus, Vittatina e Protohaploxypinus goraiensis nas camadas de carvão, considerou-se para a sequência estudada que a presença destes taxa no nível de siltito correspondem a suas primeiras ocorrências. Assim, a camada de siltito estaria posicionada na Subzona Protohaploxypinus goraiensis, e 66 corresponderia a uma idade Ghzeliana-Asseliana. A ausência de Hamiapollenites karrooensis, bem como de Striatopodocarpites fusus e Staurosaccites cordubensis, que definem a Subzona Hamiapollenites karrooensis, porção superior da ZVc, contribuem para o posicionamento dos siltitos na subzona inferior. Outras características do conjunto palinológico, como predomínio de grãos de polens sobre os grãos de esporos, e as espécies Caheniasaccites, Cannanoropollis, Striomonosaccites e os esporos cingulizonados Lundbladispora, Vallatisporites e Cristatisporites, bem como a do esporo laevigate Punctatisporites, estão de acordo com a composição da assembleia esperada para a ZVc. O posicionamento dos leitos de carvão, no entanto, apresentou uma maior dificuldade. Sabendo que o siltito é então de idade Ghzeliana-Asseliana, os carvões devem, necessariamente, ser mais antigos. Porém, as principais espécies índices que definem as palinozonas carboníferas da Bacia do Paraná como Ahrensisporites cristatus e Crucisaccites monoletus não foram registradas. 67 Figura 19 – Posicionamento bioestratigráfico para o nível de siltito na Zona Vittatina costabilis (destaque em vermelho) e para o nível de carvão na Zona Ahrensisporites cristatus (destaque em verde). Cronoestratigrafia segundo Cohen et al. (2013) e palinoestratigrafia de acordo com Souza (2006). Litoestratigrafia baseada em Cagliari et al. (2016), idades radiométricas retiradas de: (a) Santos et al. (2006), (b) Mori et al. (2012), (c) Guerra-Sommer et al. (2008a), (d) GuerraSommer at el. (2008b), (e) Simas et al. (2012), (f) Guerra-Sommer et al. (2008c), (g) Rocha-Campos et al. (2006), (h) e (i) Cagliari et al. (2016), (j) este trabalho. 68 A Biozona Ahrensisporites cristatus (ZAc) é marcada pela ocorrência de diversas espécies de esporos restritas a esta zona como, Granulatisporites varigranifer, Anapiculatisporites argentinensis, Ahrensisporites cristatus, Raistrickia pinguis, Psomospora detecta e entre outros. Já seu limite superior é caracterizado pelo desaparecimento das espécies restritas a esta biozona, e pela primeira ocorrência de Scheuringipollenites maximus e Crucisaccites monoletus, marcando o início da Zona Crucisaccites monoletus (ZCm). A única espécie observada que poderia contribuir para o posicionamento dos leitos de carvão é Psomospora detecta, espécie essa que apresenta restrições bioestratigráficas no esquema proposto para a Bacia, podendo indicar então uma posição em ZAc, de idade igual a Bashkiriano Superior-Kasimoviano. Analisando-se os outros componentes palinológicos do carvão, nota-se que estão presentes espécies com ampla distribuição estratigráfica como Calamospora, Leiotriletes, Punctatisporites e Horriditriletes, os quais podem estar presente desde ZAc até ZVc, sendo então Psomospora o único critério para se posicionar os carvões em ZAc (Figura 19). Outro estudo palinológico já foi realizado em Figueira, nos mesmos campos de lavras da Carbonífera Cambuí, mas em minas diferentes. Cortez et al. (2007) examinaram amostras da mina Amando Simões - Poço 06 e Poço 01, e posicionaram a camada de carvão na ZCm, devido a ausência de polens e associação palinológica entre Cristatisporites, Vallatisporites, Calamospora e Horriditriletes. Apesar de também terem registrado Ahrensisporites cristatus na assembleia palinológica, o que poderia ser indicativo da biozona em que é restrito. Considerando que as camadas de carvão na região ocorrem de forma descontínua (Zacharias, 2004; Zacharias & Assine, 2005), espera-se que exista diferenças de idade, bem como diferenças nos constituintes das assembleias palinológicas entre uma camada e outra, resultado de diferentes controles ambientais. Porém, posicionando-se o siltito do topo da sequência na biozona ZVc e os leitos de carvão, base da sequência, na biozona ZAc, observa-se que a seção estratigráfica da mina PI-08 em Figueira registra um hiato deposicional. Ademais, sempre se considerou que as camadas de carvão exploradas em Figueira eram de idade permiana e fossem correlatas as camadas exploradas no sul do país (Holz, 1998). Para as minas de carvão do estado do Rio Grande do Sul, 69 como Candiota (Guerra-Sommer et al., 2008a, 2008b; Mori & Souza, 2010, 2012), Quitéria (Boardman et al., 2012a) e Faxinal (Boardman et al., 2012b), foram atribuídas a ZVc, subzona Protohaploxypinus goraiensis, que aqui correspondem ao topo da sequência estudada e não aos carvões, situados na base. Desta forma, os dados apresentados abrem a possibilidade da base da Formação Rio Bonito ocorrer em um nível estratigráfico mais baixo do que já se registrou. Uma segunda possibilidade ainda é de que as camadas de carvão de Figueira seriam na verdade referentes ao Subgrupo Itararé. 6.4. Implicações da idade absoluta do tonstein de Figueira 6.4.1. Na Bioestratigrafia Na região sul do Brasil, datações absolutas em camadas de tonstein da Formação Rio Bonito na mina de Candiota (Mori et al., 2012; Rocha-Campos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008c; Griffis et al. 2017), mina Faxinal (GuerraSommer et al., 2008a; Guerra-Sommer et al., 2008b; Griffis et al. 2017), mina de Leão Butiá (Simas et al., 2012) e no afloramento Barrocada em Cachoeira do Sul (Cagliari et al. 2014), posicionam a deposição da Formação Rio Bonito entre o Sakmariano e o Kunguriano (idades permianas). Além de serem condizentes com as idades palinológicas, que posicionam as camadas de carvão nas Subzonas Protohaploxypinus goraiensis (Rocha-Campos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008a,c; Simas et al., 2012) ou Hamiapollenites karroensis (Guerra-Sommer et al., 2008b) dentro da Zona Vittatina costabilis, e na Zona Lueckisporites virkkiae (Mori et al., 2012), sendo essas biozonas as que definem os estratos permianos na Bacia. Levando-se em consideração somente a idade obtida a partir de palinomorfos para comparação com as outras minas de carvão, observa-se que toda a sequência sedimentar que constitui as frentes de lavra da Carbonífera Cambuí em Figueira são mais antigas que as jazidas da região sul. Porém, quando se combina a idade obtida pelo método radiométrico, idade viseana de 343±3,6 Ma (Carbonífero, Missipiano Médio), obtida em zircões da camada de tonstein em Figueira, com a idade relativa dos palinomorfos, observa-se uma idade que é muito mais antiga que as idades dos tonsteins de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e do que as biozonas propostas para eles (Figura 19). De modo que surge então um dilema litoestratigráfico, já que as camadas de carvão exploradas em Figueira não podem mais ser atribuídas à 70 Formação Rio Bonito. Por outro lado, o Subgrupo Itararé, unidade que ocorre logo abaixo da Formação Rio Bonito, não consta na literatura com registros tão antigos. Além disso, de acordo com Milani et al. (2007) durante o final do período Devoniano e início do Carbonífero, a formação de calotas intermitentes de gelo gerou grandes rebaixamentos do nível do mar, que expuseram e erodiram estratos, caracterizando um hiato deposicional de cerca de 70 Ma, referente ao Mississipiano na Bacia do Paraná, exatamente o intervalo em que se encontra o tonstein de Figueira. De forma que, contrariamente ao que se é esperado, o hiato deposicional registrado e evidenciado pela palinoestratigrafia é correspondente ao Pennsylvaniano. Registros mississipianos, e mais antigos do que o do Subgrupo Itararé, podem ser encontrados no norte do Brasil, na Formação Faro e Oriximiná da Bacia do Amazonas, Formação Jandaiatuba na Bacia do Solimões e Formação Poti na Bacia do Parnaíba (Loboziak et al., 1998). A todas essas formações Melo & Loboziak (2003) atribuem a Zona Cordylosporites magnidictyus (Mag), caracterizada pela ocorrência de espécies como Auroraspora solisorta, Cirratriradites rarus, Diatomozonotriletes fragilis, Indotriradites dolianitii, Foveosporites spp., Perotrilites tessellatus, Schopfipollenites sp., Schopfites claviger, Spelaeotriletes owensii, Vallatisporites ciliaris, Granulatisporites spp., Lycospora spp., Prolycospora rugulosa, Waltzispora planiangulata e entre outras. O conjunto palinológico que define a zona Mag difere em muito da assembleia palinológica apresentada pelos níveis de carvão em Figueira, sendo a única semelhança entre os dois conjuntos, o gênero de esporo Granulatisporites. Outra característica importante da zona Mag é a ausência de polens, os quais aparecem pela primeira vez na Bacia do Amazonas na biozona superior a Mag, denominada de Zona Spelaeotriletes triangulus (Tri), do início do Pennsylvaniano, na qual ocorrem polens monossacados, teniados (em baixa frequência) e bissacados não teniados, como as espécies Limitisporites e Potonieisporites encontrados em Figueira. No oeste da Argentina, depósitos que datam do início do Carbonífero são descritos na Bacia Callingasta-Upsallata na Formação El Ratón (Amenábar & di Pasquo, 2008) e nas formações Malimán e Cortaderas da Bacia Río Blanco (Pérez Loinaze, 2007). As assembleias palinológicas descritas para essas formações são classificadas dentro da biozona Cordylosporites-Verrucosisporites (CV), a qual é 71 definida pela presença de Cordylosporites marciae, Verrucosisporites congestus, Verrucosisporites papulosus, Crassispora scrupulosa, Dibolisporites microspicatus, Grandispora saurota, Knoxisporites literatus, Retusotriletes avonensis e acritarcas (Césari & Gutiérrez, 2000). No entanto, nenhuma das espécies descritas para a zona CV é encontrada na assembleia carbonífera de Figueira, apenas o genêro Verrucosisporites. Em novos levantamentos palinológicos da Formação Cortaderas, Pérez Loinaze (2007) define a Zona Reticulatisporites magnidictyus- Verrucosisporites quasigobbettii (MQ), que substitui em parte a zona CV erigida por Césari & Gutiérrez (2000), na qual é destacada a importância diagnóstica destas espécies, as quais não ocorrem nas formações El Ratón e Malimán. Essas duas espécies que definem a zona MQ, Reticulatisporites magnidictyus e Verrucosisporites quasigobbettii, são espécies consideradas importantes nas correlações intra-gondwânicas, uma vez que seu surgimento é interpretado como sendo praticamente contemporâneo na América do Sul e Austrália (Dino & Playford, 2002). Na Austrália, estas espécies estão presentes na zona Granulatisporites frustulentus. Acima desta zona ocorre a Zona Grandispora maculosa, a qual é descrita por Playford (2015) para a Bacia de Perth, contendo uma assembleia composta por, entre outros gêneros, Calamospora, Leiotriletes, Punctatisporites, Cyclogranisporites e Verrucosisporites, que também são encontrados nos leitos de carvão paranaenses, mas que correspondem a espécies diferentes das australianas. Porém, a espécie Psomospora detecta, considerada uma importante espécie índice para os carvões de Figueira, para a Bacia do Paraná e para correlações intragondwânicas (Dino & Playford, 2002), também ocorre e foi descrita com uma distribuição rara na Bacia de Perth. A idade radiométrica obtida por Gulbranson et al. (2010), de 335,99 ± 0,06 Ma, em um andesito da base da Formação Punta Del Agua (Bacia Río Blanco), o qual tem sua porção superior correspondente à Formação Cortaderas, suporta uma idade viseana superior a serpukhoviana inferior para as biozonas Mag, CV, MQ e Grandispora maculosa. Além de todas as espécies de esporos que estas biozonas correspondentes compartilham, uma outra similaridade é a ausência de grãos de polens em seus estratos viseanos. No registro mundial, as primeiras evidências de grãos de polens começam a aparecer a partir do Serpukhoviano (Mississipiano Superior, Melo & 72 Loboziak, 2003; Souza, 2006; Pérez Loinaze, 2007). Apesar de grãos de pólen estarem presentes em baixas frequências nos carvões de Figueira, suas ocorrências são um marco estratigráfico importante, pois, palinologicamente, constituem um indício de estratos mais jovens. Comparando-se então o conjunto palinológico com as biozonas definidas logo acima do Viseano, nota-se a introdução de polens monossacados e bissacados não teniados, características encontradas a partir da Subzona A da biozona Raistrickia densa-Convolutispora muriornata (DM) definida para as bacias do oeste argentino (Césari & Gutiérrez, 2000) e da biozona Tri, das bacias do norte brasileiro, como discutido acima. A idade de 319,57 ± 0,09 Ma obtida por Gulbranson et al. (2010), para a base da Formação Río Del Peñon (Bacia Río Blanco, Argentina), confirma a idade serpukhoviana-bashkiriana (Pennsylvaniano) para a porção inferior da biozona DM. 6.4.2. Estágios paleoclimáticos e estabelecimento da paleoflora De acordo com López-Gamundí et al. (1992) é possível reconhecer nas bacias do centro-oeste da Argentina cinco estágios paleoclimáticos que predominaram no Gondwana durante o Paleozoico Superior. O Estágio I corresponde ao início do Carbonífero, com idades do fim do Tournaisiano e começo do Viseano, em que um regime pré-glacial predominava, com condições climáticas mais úmidas e provavelmente quentes, em que licófitas pequenas e pteridospermas formavam uma comunidade vegetal higro-mesófila. Do final do Viseano ao Bashkiriano, um período glacial se estabelece, caracterizando o Estágio paleoclimático II, o qual teve uma maior estensão marinha do que continental. O aumento das temperaturas e da umidade, durante o Pennsylvaniano Médio e Superior, marca um estágio de melhoria climática (Estágio III), caracterizado por depósitos de transgressões marinhas pós-glaciais, lacustres e camadas de carvão, formadas por uma paleocomunidade de licófitas, esfenófitas e gimnospermas. Nestas novas condições climáticas, profundas modificações ocorreram na flora, e os registros de grãos de pólens monossacados em sedimentos relacionados a este período indicam progressiva colonização de terrenos mais elevados por Cordaites. Além disso, as licófitas pequenas que caracterizam o Estágio I foram substituídas por espécies maiores e arbóreas (Césari et al., 2011). 73 A partir do Ghzeliano e início do Permiano, estabelece-se o Estágio paleoclimático IV, em que as condições climáticas vão progressivamente mudando de úmida e temperada até atingir Estágio V, ao longo do Permiano, quando o clima se torna árido a semiárido. Durante este intervalo de tempo, a diminuição da umidade, juntamente com o aumento da temperatura, contribuiu para o estabelecimento de um clima sasonal, bem como o desaparecimento das camadas de carvão e um aumento na deposição de camadas evaporíticas, principalmente formadas por calcita e gipsita, e de red beds. Neste novo cenário, surgem os primeiros registros macroflorísticos de glossopterídeas e coníferas e uma maior quantidade de polens teniados e bissacados teniados. A idade radiométrica obtida para o tonstein de Figueira posiciona a Assembleia I da camada de carvão estudada no período climático descrito para o Estágio paleoclimático I, período úmido e de condições amenas, o que é condizente com um ambiente de formação de carvão. Neste estágio climático também se depositaram as formações Malimán e El Ratón, e a flora correspondente seria a encontrada nas zonas CV e MQ das bacias argentinas (López-Gamundí et al., 1992; Césari et al., 2011). A ocorrência em grandes quantidades de polens monossacados e, em uma quantidade menos expressiva, de polens teniados na Assembleia II, descrita para o siltito, sugere o desenvolvimento de uma paleoflora sob condições climáticas de transição entre o Estágio III para o IV. 6.4.3. Fonte das cinzas vulcânicas A atual configuração da plataforma sul americana é o resultado de complexos processos de colagem de blocos cratônicos, de idades arqueanas e paleoproterozóicas, que se juntaram à margem sudoeste do Gondwana durante o fim do Pré-cambriano e início do Paleozoico (Ramos, 1988). A aglutinação desses terrenos alóctones à margem gondwânica produziu importantes episódios orogênicos, durante o Fanerozoico, que influenciaram a evolução de faixas dobradas e bacias de antepaís, mas que afetaram também o interior cratônico do supercontinente (Milani & Ramos, 1998). De acordo com Milani & Ramos (1998) dois ciclos tectono-sedimentar marcaram a história fanerozoica da porção sudoeste do Gondwana: Ciclo Famatiniano, de idade ordoviciana a devoniana, e o Ciclo Gondwânico, de idade 74 carbonífera a triássica. Ao Ciclo Orogênico Famatiniano pertencem as orogenias Oclóyica e Precordilheirana, responsáveis por deformações compressivas, além de depósitos sedimentares e magmáticos. Já o Ciclo Gondwânico inclui as orogenias Chanica e Sanrafaélica. Durante o Ciclo Gondwânico a colisão do terreno Chilenia, durante o final do período Devoniano e início do Carbonífero, dá início a um complexo sistema de subducção de placa oceânica sob a margem continental oeste do Gondwana (Kay, 1993). As deformações que se seguiram são atribuídas à orogenia Chanica. A evolução desta zona de subducção culminou na formação de um arco magmático denominado Choiyoi, como resposta dos movimentos da orogenia Sanrafaélica. Esse arco magmático estendia-se desde a região sul do Peru até a Antártica e Austrália e, no clímax de sua atividade vulcânica, produziu um grande volume de cinzas que foram transportadas e se acumularam em ambientes marinhos e continentais (Benedetto, 2012). Atualmente é aceito que o vulcanismo Choiyoi é a possível fonte das cinzas vulcânicas encontradas associadas com os estratos permianos da Bacia do Paraná (Matos et al., 2001; López-Gamundi, 2006; Santos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008a,b,c; Mori et al., 2012), uma vez que rochas vulcânicas da região da Patagônia, Argentina, revelam idades semelhantes aos dos estratos da bacia (Rocha-Campos et al., 2011). No entanto, como a camada em Figueira demonstrou ter mais do que 40 Ma de diferença em relação a fase inicial do vulcanismo Choiyoi, essa fonte de cinzas para o tonstein de Figueira deve ser descartada. Logo, deve-se atentar para as fases de deformação anteriores a orogenia Sanrafaélica. Na região central do Chile e região oeste da Argentina, rochas vulcânicas, compostas essencialmente por quartzo, plagioclásio, k-feldspato e zircão, como mineral acessório, foram registradas por Martina et al. (2007), os quais obtiveram uma idade U-Pb SHRIMP em zircões igual a 350 Ma. Em novas datações de duas amostras de riolito realizadas pelos mesmos autores (Martina et al., 2011), nas rochas da mesma região antes estudada, revelaram idades de 348 ± 3 Ma e 342 ± 0,97 Ma. Essas idades são muito próximas da idade de 343,0 ± 3,6 Ma encontrada nos zircões do tonstein de Figueira. De acordo com Martina et al. (2007, 2011), essas rochas poderiam estar relacionadas com a acreção do terreno Chilenia 75 (orogenia Chanica) e o vulcanismo ácido poderia ser atribuído à ascensão da astenosfera em uma margem convergente. 76 7. CONCLUSÕES Para o nível de topo da sequência estudada (Nível 6, siltito) foi atribuída à Subzona Protohaploxypinus goraiensis da Zona Vitattina costabilis, devido a presença de fósseis guias pertencentes a este zoneamento, como Vittatina, Protohaploxypinus goraiensis e Illinites unicus. Essas espécies não foram registradas nas seções basais da sequência (Nível 1-3, carvão), de modo que a ocorrência destas espécies no Nível 6 foi considerada como pioneira na seção estudada, marcando o limite inferior da Zona. Logo, ao nível de siltito foi atribuída uma idade Gzheliana-Asseliana. A ausência de espécies índices na camada de carvão, bem como a presença de espécies com ampla distribuição estratigráfica dificultou seu posicionamento. No entanto, devido a ocorrência de alguns espécimes de Psomospora detecta, que é considerado restrito a Zona Ahrensisporites cristatus, é possível que os níveis de carvão pertençam a essa Zona e apresentem uma idade igual a Bashkiriano Superior-Kasimoviano. Logo, entre as camadas de carvão e a de siltito (Nível 6) há um hiato deposicional. Além disso, o posicionamento dos carvões em um nível estratigráfico mais abaixo do que a ZVc, na qual as principais jazidas brasileiras de carvão são posicionadas, cria a possibilidade da Formação Rio Bonito se estender além do limite entre Carbonífero-Permiano. Uma segunda possibilidade é de que os carvões aqui estudados pertençam na verdade ao Subgrupo Itararé. Os resultados obtidos a partir das análises geoquímicas e mineralógicas na camada de tonstein demonstraram que a rocha passou por duas principais fases diagenéticas. A primeira ocorreu logo no início da diagênese, não foi tão intensa e resultou na transformação de parte da mineralogia primária em caulinita. A segunda fase foi determinada pela intensa cimentação de carbonato de cálcio, que por sua vez contribui para a alteração de muitos dos grãos primários e também da própria caulinita. Essa cimentação foi tão pronunciada que quase apagou do registro geológico a presença de cinzas vulcânicas associadas aos carvões da região de Figueira. As análises também possibilitaram a verificação da origem vulcânica do material e, portanto, a camada foi utilizada como forma de calibrar a idade relativa obtida a partir dos palinomorfos. A obtenção da idade viseana de 343±3,6 Ma, correspondente ao Mississipiano Médio, torna os leitos de carvão de Figueira o primeiro registro do 77 Carbonífero Inferior na Bacia do Paraná, o qual era considerado ausente até o momento. Desta forma, a ausência de biozoneamentos para este intervalo estartigráfico na Bacia do Paraná força a comparação do conjunto palinológico referente aos carvões com esquemas bioestratigráficos definidos em outras bacias gondwânicas, como as argentinas, australianas e as bacias do norte do país. Porém, a ausência de espécies comuns a estas bacias e a este período específico do tempo geológico, torna inadequado o emprego destes esquemas bioestratigráficos mississipianos. Nota-se que a assembleia palinológica dos carvões assemelha- se muito mais com as zonas Ahrensisporites cristatus e Crucisaccites monoletus e com as biozonas de idades pennsylvanianas das outras bacias gondwânicas. A ocorrência de grãos de polens nos carvões também é contrária ao que é considerado na literatura, a qual aponta os primeiros registros de pólen como ocorrendo durante o Serpukhoviano, o que reforça a similaridade do carvão com as biozonas do Carbonífero Superior da bacia. Logo, uma possibilidade é a extensão destas biozonas para a porção inferior do Carbonífero. 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amenábar, C.R. & di Pasquo, M. 2008. 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International Journal of Coal Geology, 113: 94-110. 89 ANEXO I: Artigo que será submetido “UMA NOVA OCORRÊNCIA DE TONSTEIN NA PORÇÃO LESTE DA BACIA DO PARANÁ ASSOCIADO AOS CARVÕES DE FIGUEIRA (PARANÁ, BRASIL): INTEGRAÇÃO DE DADOS PALINOLÓGICOS E DATAÇÃO RADIOMÉTRICA UPB.” Isabela Jurigan ¹ e Fresia Ricardi-Branco ¹ ¹ Instituto de Geociências, UNICAMP, Campinas, São Paulo, Brasil (isabelajurigan@ige.unicamp.br; fresia@ige.unicamp.br) Resumo Uma nova ocorrência de tonstein é registrada na Bacia do Paraná na região do município de Figueira, estado do Paraná, camada esta que constitui um importante marcador crono-estratigráfico que permitiu correlacionar idades relativas, provenientes de dados palinológicos da sequência sedimentar, com uma idade absoluta, proveniente de grãos de zircão da camada de tonstein. Para a utilização da camada como uma ferramenta de correlação, atestou-se sua origem vulcânica através de métodos como petrografia, MEV e DRX. O posicionamento bioestratigráfico para os siltitos, que constituem o topo da sequência estudada, foi na Zona Vittatina costabilis, de idade ghzeliana-asseliana. Os carvões, base da sequência, são pobres em fósseis índices de biozonas, exceto por Psomospora detecta, que atribui a esses níveis a Zona Ahrensisporites cristatus, que compreende idades entre Bashkiriano a Moscoviano. Esse intervalo de idade é mais antigo do que geralmente é encontrado para as principais jazidas de carvões brasileiras. Fica claro assim que a sequência carbonífera de Figueira registra um hiato deposicional. A idade radiométrica obtida pelo método de U-Pb em zircões, via LA-ICP-MS, de 343 ± 3,6 Ma, corresponde ao Carbonífero Inferior (Viseano) o qual era considerado ausente na bacia até a presente pesquisa e demonstra que o hiato deposicional registrado pelos palinomorfos corresponde a todo o Pennsylvaniano. A ocorrência de alguns grãos de polens na assembleia microflorística exibida pelos carvões de Figueira, faz com que o conjunto palinológico assemelhe-se mais com biozonas datadas do Serpukhoviano em diante, do que com biozonas gondwânicas definidas para o Viseano. Na Bacia do Paraná isso corresponde a biozona Ahrensisporites cristatus, de modo que sugere-se a extensão desta biozona para corresponder também ao Mississipiano. Palavras-chave: tonstein, Bacia do Paraná, palinoestratigrafia, Carbonífero Inferior, Mississipiano. 90 1. Introdução Os carvões brasileiros ocorrem em coberturas plataformais de idade fanerozóica na Bacia do Paraná. Estas reservas afloram principalmente na região sul do Brasil e são historicamente atribuídas à Formação Rio Bonito do Grupo Guatá (Holz, 1998; Gomes et al., 2003), que representa parte da sequência sedimentar permo-carbonífera da bacia, relacionada a fases de degelo de glaciares e subida do nível do mar. Porém, nas unidades estratigráficas deste período da Bacia do Paraná encontram-se ausentes fósseis utilizados no estabelecimento de colunas geocronológicas internacionais, como conodontes e amonóides (Milani et al., 2007). De modo que as idades atribuídas a essas unidades são baseadas principalmente na palinoestratigrafia, a qual está sujeita a problemas relacionados a endemismo da flora gondwânica e extensão da bacia (Guerra-Sommer et al., 2008a). Por outro lado, camadas de tonstein ocorrem intercaladas aos leitos carboníferos da Formação Rio Bonito e atuam como marcadores cronoestratigráficos mais confiáveis que ajudam a suprir a carência de fósseis de invertebrados. As diversas datações que já foram realizadas nestas camadas de cinzas vulcânicas alteradas têm sido integradas a dados palinológicos (Matos et al., 2001; RochaCampos et al., 2006; Guerra-Sommer et al. 2008a, 2008b, 2008c; Mori et al., 2012; Simas et al. 2012; Cagliari et al., 2014; Cagliari et al., 2016; Griffis et al., 2017, resumo das idades na Tabela 1) e também têm sido de grande importância para a calibração dos esquemas bioestratigráficos de Souza & Marques-Toigo (2003, 2005) e Souza (2006), vigentes atualmente na bacia, que posicionam as principais minas de carvão do país (estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul) na biozona Vittatina costabilis, com idades entre Sakmariano e Artinskiano. Já os estratos de carvão do estado do Paraná, explorados no município de Figueira, apresentam um único estudo palinoestratigráfico, realizado por Cortez et al. (2007), que posicionaram a camada de carvão na zona Crucisaccites monoletus, a qual ocorre abaixo da zona Vittatina costabilis, um indicativo que os carvões paranaenses são mais antigos dos que os encontrados nos estados do sul. Além disso, atualmente, o estado do Paraná conta somente com uma idade radiométrica, obtida por Santos et al. (2006), para os estratos da Formação Irati, unidade mais jovem que a Formação Rio Bonito. Logo, outros estudos na região ainda são necessários. Uma nova ocorrência de tonstein foi constatada na região do município 91 de Figueira, de modo que essa contribuição tem como objetivo: (1) apresentar os dados integrados de palinologia, referentes a sequência sedimentar em que as cinzas se intercalam, com dados de U-Pb obtidos em cristais de zircão pelo método LA-ICP-MS, (2) apresentar as principais características da camada, (3) discutir o significado e implicações estratigráficas das idades obtidas. 2. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo encontra-se na região oeste do município de Figueira, ao norte do estado do Paraná, nos campos de lavra da Companhia Carbonífera Cambuí. A atual frente de lavra explorada pela Carbonífera é a mina subterrânea PI08 (559326 mE/7365795 mN) (Figura 1), aberta pela empresa no ano de 2011 e lavrada desde 2013. A mina encontra-se a uma profundidade de cerca de 130 m, apresentando estratos de carvão com espessuras médias de 0,67 m. A mina PI-08 é também a única mina explorada pela Carbonífera, até hoje, em que aflora a camada de tonstein aqui descrita. 3. CONTEXTO GEOLÓGICO A Bacia do Paraná é uma bacia que se desenvolveu no interior cratônico do supercontinente Gondwana que compreende seis grandes sequências sedimentares-magmáticas demarcadas por discordâncias regionais (Milani et al., 1998): 1) Rio Ivaí (Ordoviciano-Siluriano), 2) Paraná (Devoniano), 3) Gondwana I (Carbonífero-Eotriássico), 4) Gondwana II (Meso a Neotriássico), 5) Gondwana III (Neojurássico-Eocretáceo) e 6) Bauru (Neocretáceo). Destas supersequências, as três mais antigas correspondem a expressivos ciclos transgressivos durante o Paleozoico. As outras sequências representam pacotes sedimentares continentais do Mesozoico. A Supersequência Gondwana I encerra os pacotes sedimentares mais espessos da Bacia do Paraná, na ordem de 2500 m (Milani et al., 2007), os quais revelam as grandes mudanças nas condições ambientais ocorridas durante o momento de sua deposição, que evolui desde um ambiente de influência glacial na base da sequência, durante o Carbonífero Inferior, até um ambiente árido de interior continental, nas porções superiores da sequência, durante o Eotriássico. Essas mudanças nas condições deposicionais encontram-se registradas, da base para o 92 topo, no Subgrupo Itararé e Aquidauana, Grupo Guatá, Grupo Passa Dois e formações Pirambóia e Sanga do Cabral. De acordo com Milani et al. (2007), durante o Eocarbonífero o supercontinente Gondwana localizava-se a elevadas latitudes, de forma que neste momento extensas calotas de gelo dominavam a porção austral do continente e inibiam a sedimentação e/ou durante os interglaciais o degelo promovia a erosão das camadas previamente depositadas, resultando em uma significativa lacuna entre estratos neodevonianos e neocarboníferos. Conforme o paleocontinente migrava para o norte, em direção a menores latitudes, a sedimentação em contexto periglacial foi retomada e está registrada no Subgrupo Itararé, o qual refelte depósitos ainda diretamente ligados à fase de degelo dos glaciares mississipianos, representados por ciclos de sedimentação com afinamento de grãos em direção ao topo da sequência, além de ritmitos, lamitos, folhelhos, conglomerados e, secundariamente, leitos de carvão (Holz et al., 2010). O Subgrupo Itararé registra sedimentação em ambientes de caráter glacio-lacustres ou de águas salobras que foram sendo progressivamente influenciados pela água do mar (Eyles et al., 1993). O Grupo Guatá é constituído pelas formações Rio Bonito, na base, e Palermo, no topo. Este Grupo constitui a unidade geológica que sucede os estratos glaciogênicos da Bacia do Paraná e representa a subida do nível do mar após a deglaciação. A Formação Rio Bonito é composta predominantemente por arenitos, siltitos e folhelhos e, subordinadamente, por camadas de carvão e calcário (Schneider et al., 1974). As camadas carboníferas na base da Formação tendem a ser mais finas (<0,5 m) e lateralmente descontínuas, tendo sido formadas em um sistema fluvial e deltaico, como demonstrado por sua associação de fácies, compostas por ortoconglomerados, arenitos subarcóseos, além de lamitos e carvão (Holz et al., 2010). Ocorrem também, camadas de carvão mais espessas (mais de 2,5 m) e lateralmente contínuas (mais de 40 km) geradas a partir de um sistema estuarino influenciado por ondas e marés. Tal sistema teria sido originado em um ambiente deposicional de lagoa protegida, em que pântanos se formavam atrás da ilha-barreira. Zacharias & Assine (2005) atribuem à região de Figueira um ambiente sedimentar de vales incisos (planícies de inundações) com influência marinha, onde leitos descontínuos de carvões teriam se formado nas bordas da zona central dos 93 vales a partir de detritos vegetais autóctones e alóctones, que teriam sido retrabalhados e concentrados por ondas. Esses níveis de carvão são explorados pela Carbonífera Cambuí Ltda. (Figueira, Paraná), de onde foram coletadas as amostras deste estudo. A geologia da mina PI-08, descrita a partir dos 13 m finais do furo de sondagem F08-58 (559920 mE/7366783 mN, boca do furo a 585 m de altitude, Figura 2), é composta principalmente por pacotes de siltitos carbonosos que se encontram muitas vezes intercalados com lentes calcárias ou de arenitos finos, com os quais apresentam contato gradacional. As estruturas observadas neste litotipo são laminações plano-paralelas, acamamento ondulado e lenticular, podendo também ser maciço, quando então se observa marcas de bioturbação. Carbonatos de cálcio ocorrem na forma de calcilutito, que em algumas vezes se apresentam como intercalações, de não mais de 1 cm, no meio de pacotes de argilitos maciços de coloração arroxeada. Exibem ainda marcas de dissolução (estiólitos). O carbonato de cálcio também está presente na forma de brechas, nas quais constitui tanto a matriz quanto os clastos, mas também podendo ter a matriz argilosa e somente os clastos carbonáticos. 4. METODOLOGIA 4.1 Coleta de amostras Foram definidos três pontos de coleta de amostras seguindo os eixos de desenvolvimento da mina em frentes de lavras ativas em abril de 2016: Eixo no sentido N-S, Painel BD1/Travessa 26 (Ponto 1); Eixo no sentido N-S, Painel BD0/Travessa 25 (Ponto 2); e Eixo no sentido W-E Painel 0/Travessa 31 (Ponto 3). Todas as amostras de tonstein coletadas são referentes a uma única camada que encontra-se intercalada a siltitos carbonosos (Figura 2). As amostras foram incluídas no acervo do Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, sob os códigos CP1/677 a CP1/679. Já as amostras coletadas para o estudo paleopalinológico foram retiradas em somente dois dos pontos de coleta. De cada um dos pontos coletou-se amostras de carvão (Nível 1, Nível 2 e Nível 3), siltitos (Nível 4 e Nível 6) e tonstein (Nível 5), seguindo a ordem estratigráfica de cada frente de lavra (Figura 2), totalizando doze amostras. As primeiras seis amostras foram retiradas no painel BD-Travessa 26, localizado entre as galerias ABD0 e BD-1 (Ponto 1). As amostras restantes vieram 94 do eixo de desenvolvimento oeste-leste da mina, na galeria WE0-Travessa 31 (Ponto 2). As amostras palinológicas também foram incluídas no acervo do Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, e receberam a numeração CP5/127 a 136. 4.2 Caracterização do tonstein Após corte e descrição das amostras de rocha, foi selecionada uma amostra de cada ponto de coleta para confeccionar 9 lâminas petrográficas, polidas e sem lamínula, referentes a porção basal, média e de topo de cada material. Em seguida, essas lâminas foram estudadas em microscópio petrográfico Zeiss Scope.A1 e em microscópio eletrônico de varredura (MEV) LEO 430i, com acoplamento de um espectrômetro de energia dispersiva (EDS) da Oxford Instruments para análises semi-quantitativas. Análises de difração de raio-x (DRX) foram realizadas nas amostras no Laboratório de Difração de Raio-X do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas utilizando-se o difratômetro D2 Phaser Bruker, com radiação Kα e tubo de Cu, a uma voltagem de 30 Kv e uma corrente de 10 mA, com o ângulo 2θ variando de 5-55°, aplicando-se o método: (a) pó total, (b) amostra orientada com secagem natural e (c) amostra orientada glicolada. 4.3 Datação radiométrica do tonstein Todo o procedimento de preparação de amostras foi realizado no Laboratório de Separação Mineral para Geocronologia no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. As amostras foram britadas, moídas e então peneiradas em peneiras de 60 (0,250 mm de abertura), 80 (0,180 mm) e 120 (0,125 mm) mesh, de forma que 4 frações foram obtidas. De cada uma dessas frações, os minerais pesados presentes foram concentrados por bateamento (separação gravimétrica). O concentrado não apresentou grãos magnéticos, sendo grãos de pirita os principais constituintes do volume total obtido. Para facilitar a coleta e separação dos grãos de zircão realizouse um procedimento para a dissolução dos cristais de pirita. Ácido nítrico foi utilizado para a oxidação do sulfeto. Primeiramente, o procedimento foi realizado a frio e, quando a reação parou, utilizou-se a chapa quente para aumentar o potencial de reação. A temperatura inicial foi de 130°C e foi sendo aumentada até 215°C. 95 Quando toda a reação de dissolução parou, o ácido foi retirado e o resíduo lavado diversas vezes com água destilada. Observou-se que os cristais de zircão encontravam-se sempre nas frações de 120 mesh e de fundo da peneira, de modo que estas foram as frações em que se realizou a retirada dos grãos, os quais foram distribuídos em resina epoxy. Os mounts foram polidos com pastas diamantadas, para a obtenção de uma superfície lisa e regular dos grãos, e enviados ao Laboratório de Geoquímica Isotópica do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto, onde foram realizadas as imagens de catodoluminescência, utilizando o equipamento SEM JEOL JSM-6510LV, e as datações por U-Pb pelo método LA-ICP-MS. Utilizou-se o espectrômetro de massa com ionização acoplada por plasma ThermoScientific Neptune Plus MC-ICP-MS, acrescido de um sistema de ablação a laser G2 excimer, spots de 20 µm e tempo de aquisição de cerca de 40 segundos (415 ciclos com varreduras de ~0,1s cada). Para observações sobre as configurações do ICP-MS e parâmetros utilizados no laser durante a análise, checar Lana et al. (2017). Para correções de fracionamento de elementos induzido pelo laser e correções de massa foram utilizados os padrões de referência BB (material de referência primário), GJ-1 e PLES (materiais de referência secundários). Os dados brutos foram processados e reduzidos usando uma planilha interna do Laboratório de Geoquímica Isotópica de Ouro Preto, modificada do trabalho de Gerdes & Zeh (2006). Correções foram feitas para background, tendência instrumental de desvio de massa e chumbo comum. As idades foram calculadas utilizando-se o programa Isoplot (Ludwig, 2012). 4.4 Estudo paleopalinológico Todo o processamento palinológico para a extração e concentração da fração orgânica das amostras foi realizado no Laboratório de Paleohidrogeologia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, através do método de oxidação e tratamento com álcalis descrito por Bruch & Pross (1999) para lignitos. Para as amostras de tonstein, a simples aplicação de HCl (37%) foi o suficiente para a dissolução do cimento carbonático da rocha e liberação das frações orgânicas presentes. Ao todo 34 lâminas foram analisadas. Procurou-se contar 400 palinomorfos para cada um dos níveis estudados, de modo que fosse possível aplicar um estudo estatístico por nível. Os 400 pontos foram distribuídos de forma 96 que 200 pontos fossem referentes às amostras do Ponto 1 e os outros 200 pontos fossem referentes ao Ponto 2. A seguir, os palinomorfos foram identificados comparando-os com descrições em literatura específica. 5. RESULTADOS 5.1 Caracterização do tonstein de Figueira A camada pode ser observada por toda a extensão da frente de lavra da mina e é facilmente reconhecível por apresentar uma coloração cinza claro que se destaca das outras rochas, que são mais escuras devido ao alto conteúdo de matéria orgânica (Figura 3). Apresenta contatos abruptos com a camada de siltito com a qual se intercala e possui uma espessura mínima de 5 cm e máxima de 25 cm. Os resultados por difração de raios-x em pó total (Figura 4a) demonstraram que a camada de tonstein possui uma composição com baixa diversidade de minerais: quartzo, calcita, caulinita e pirita. Todos os difratogramas apresentam comportamento semelhante, com picos de baixa intensidade na maioria dos ângulos 2θ e com a base mais alargada, devido a sobreposição de pico dos minerais. A única exceção é o pico da calcita em aproximadamente 2θ=30°, que é o pico mais intenso para esse mineral e que apresenta uma base estreita, refletindo sua boa cristalização. Nas análises de amostra orientada não se observou o deslocamento de picos entre a etapa de secagem natural (Figura 4b) e a etapa glicolada (Figura 4c), de modo que a presença de argila 1:1 foi confirmada e atribuída a caulinita. Na petrografia, grãos de quartzo, juntamente com os grãos de feldspato, biotita, ilmenita e zircão constituem a restrita assembleia mineral primária e de origem vulcânica da rocha. Já as fases minerais originadas durante a diagênese são calcita, caulinita e pirita. Os cristais de quartzo ocorrem em formas irregulares angulosas e na forma de splinter. Em alguns casos é possível verificar polimorfos de quartzo-β (Figura 5a) em sua típica forma bipiramidal. Grãos com bordas corroídas também são comuns apresentando, em geral, formas mais arredondadas. Atribui-se essa corrosão à fase diagenética de cimentação de carbonato, na qual o pH do meio deveria ser muito alcalino para preservar intacto os cristais de quartzo. Pedaços remanescentes de plagioclásios com composição de albita podem ser facilmente reconhecidos pela macla polissintética que apresentam (Figura 5b). Já os grãos de 97 sanidina exibiram uma maior dificuldade para reconhecimento uma vez que são grãos arredondados límpidos e que só se diferenciam dos grãos de quartzo pela menor birrefringência. Cristais de biotita são escassos nas seções delgadas. Apresentam-se como cristais finos e alongados. A ilmenita ocorre como mineral secundário na rocha, sendo seus grãos reconhecidos somente através da análise de MEV. Os grãos piroclásticos possuem granulometria que varia desde silte grosso (0,062-0,031mm) até areia muito fina (0,125-0,062mm). Porém, como os grãos de feldspato apresentam quase sempre algum tipo de alteração para algum mineral secundário e vários grãos de quartzo apresentam dissolução das bordas, é difícil estimar com precisão o tamanho original dos cristais. A calcita é o principal mineral autigênico e o principal constituinte da camada de rocha, ocorrendo de três formas: 1) como micrita; 2) na forma microcristalina; 3) na forma de cristais bem maiores (Figura 5c), encontrados geralmente como pseudomorfos de feldspatos ou preenchendo vênulas e outros espaços vazios, como amígdalas (Figura 5d). Muitas vezes esses grãos são tão bem desenvolvidos que maclas e clivagens são visíveis. No entanto, a calcita micrítica e microcistalina são as duas formas de ocorrência predominante. Textura pseudomórfica foi a única textura identificada e pode ser constatada na caulinita e na calcita que substituem os cristais de feldspato e na caulinita que substitui a biotita. Intercaladas na matriz carbonática observa-se laminações irregulares e descontínuas formadas por porções mais argilosas. São nessas porções que estão concentrados, predominantemente, os minerais primários (Figura 5e) e a caulinita vermiforme (Figura 5f). Essas porções argilosas distribuídas em lâminas são consideradas aqui porções remanescentes. Ou seja, porções que prevaleceram sobre a intensa fase diagenética de cimentação do carbonato e por isso apresentam padrões tão irregulares como os descritos. Definiu-se a caulinita como sendo a primeira fase diagenética a se formar. No entanto, caulinita no formato vermiforme, que evidencia sua formação in situ, é escassa. Aparece subordinada à caulinita na forma microcristalina, de modo que é provável que a cimentação de carbonato, correspondente à segunda fase diagenética, tenha ocorrido logo após o início da fase da diagênese que originou o argilomineral, não tendo espaço então para o desenvolvimento de formas vermiformes maiores. 98 A análise das lâminas delgadas no MEV com o auxílio do EDS revelou que em muitas porções da matriz caulinítica a composição ainda se assemelha a de um feldspato, pois aponta elementos como K, Na, Al, Si e O. Em outras porções o EDS revela composições semelhantes a de biotita, com os elementos K, Fe, Mg, Ti, Al, Si e O, uma demonstração de que a caulinita foi originada a partir da alteração desses minerais primários. 5.1.1 Datação Radiométrica Os grãos selecionados para a análise isotópica encontram-se em um intervalo de tamanho de 50-130 µm, com uma média de 85 µm. Duas populações de zircões com morfologias ligeiramente diferentes foram registradas. A primeira população compreende a maior parte dos grãos e apresenta uma razão comprimento-largura de 2:1. São euédricos e no geral tendem a ter as terminações mais arredondadas, mas podendo apresentar, com menor frequência, terminações piramidais, além de zonas oscilatórias típicas de zircões ígneos (Corfu et al., 2003). A segunda população apresenta uma proporção comprimento-largura de 3:1, são prismáticos, de faces bem formadas, alongados e com terminações piramidais ou retas e, da mesma forma que a primeira população, apresentam também zonas oscilatórias. Os grãos das duas populações são incolores e cristalinos, sem fraturas e com raríssimas inclusões (Figura 6). A concentração média de U nos grãos é de 567 ppm e a média da razão Th/U é de 1,2. Dos grãos de zircão coletados, 26 foram analisados, dos quais 7 forneceram uma idade média concordante 206 Pb/238U igual a 343±3,6 Ma (MSWD = 2,0), com um intervalo de confiança de 95% (Figura 7), a qual foi interpretada como a idade de cristalização e deposição. Grãos de zircão mais antigos foram datados com idades variando desde o Paleozoico Inferior até o Pré-Cambriano. Os dados isotópicos obtidos podem ser observados na Tabela 2. 5.2 Dados palinológicos Tanto a camada de siltito (Nível 4) sobrejacente aos níveis de carvão quanto a camada de tonstein (Nível 5), entre os dois siltitos amostrados, são níveis estéreis em palinomorfos. O único conteúdo orgânico presente é matéria orgânica amorfa e diminutos pedaços de cutícula, ambos em baixas quantidades nas amostras. 99 Para os demais níveis, foi registrado um total de 15 gêneros de esporos referentes a 21 espécies, bem como 13 gêneros de polens e 23 espécies. Além de 3 gêneros de algas, 1 de fungo e espécimes de acritarcas não identificados. Devido a esterilidade do siltito referente ao Nível 4, desta seção em diante toda vez que nos referirmos a “siltito”, sem especificação do nível estratigráfico, deve-se entender de que se trata do siltito referente ao Nível 6, no topo da sequência sedimentar. A distribuição das espécies por nível estratigráfico está representada na Figura 8. Nos carvões a assembleia florística é dominada por esporos, que perfazem 63% do conjunto palinológico na base do carvão, 83% no meio do carvão e cerca de 71% no topo da camada. Os esporos predominantes são do tipo trilete acavados Laevigati e Apiculati. Os grãos de pólen representam somente 6%, 3% e 8%, respectivamente, da assembleia que é predominada por morfotipos bissacados não teniados e monocolpados. Alguns taxa desaparecem no nível estratigráfico de siltito, como Psomospora detecta, Calamospora sp., Granulatisporites angularis, Horriditriletes ramosus, Laevigatosporites plicatus e Lophotriletes. No nível de siltito são os polens que dominam sobre os esporos, contribuindo com 50% da assembleia, dos quais as formas monossacadas e monocolpadas são as principais. Além disso, a abundância de taxa polínico na camada é maior, e registra o surgimento dos taxa Illinites unicus, Striomonosaccites, Caheniasaccites, Cannanoropollis, Limitisporites delasaucei, Pakhapites ovatus e Vittatina. Enquanto que os esporos representam 43% da assembleia, sendo os esporos cingulizonados Cristatisporites, Lundbladispora os predominantes que, juntamente com a terceira espécie cingulizonada identificada, Vallatisporites, não ocorrem nos níveis estratigráficos abaixo. A listagem de espécies é apresentada nos tópicos seguintes, estando organizada de forma alfabética e separada por litotipo, com espécies que ocorrem exclusivamente, e por espécies que ocorrem em comum entre os dois níveis férteis. Descrições sistemáticas das espécies com taxonomia aberta são apresentadas como “Dados Complementares” deste artigo segundo o sistema de classificação proposto por Potonié & Kremp (1954), modificado e complementado posteriormente por outros autores. As ilustrações de cada taxa podem ser observadas nas figuras 9, 10 e 11. 100 5.2.1 Conjunto Palinológico do Carvão Esporos Calamospora sp. Granulatisporites angularis Staplin 1960 Horriditriletes ramosus (Balme e Hennelly) Bharadwaj e Salujha 1964 Laevigatosporites plicatus Kar 1968 Lophotriletes pseudaculeatus Potonié & Kremp 1955 Lophotriletes sp. Psomospora detecta Playford and Helby 1968 Polens aff. Alisporites sp. Colpisaccites granulosus Limitisporites sp. 2 Algas Tetraporina punctacta (Tiwari & Navale) Kar & Bose 1976 5.2.2 Conjunto Palinológico do Siltito Esporos Cristatisporites lestai Archangelsky & Gamerro 1979 Lundbladispora braziliensis (Marques-Toigo e Pons) Marques-Toigo e Picarelli 1984 Lundbladispora iphilegna Foster 1979 Lundbladispora riobonitensis Marques-Toigo e Picarelli 1984 Vallatisporites arcuatus (Marques-Toigo) Archangelsky & Gamerro 1979 Polens Caheniasaccites elongatus Bose e Kar 1966 Caheniasaccites flavatus (Bose & Kar) Azcuy & di Pasquo 2000 Caheniasaccites ovatus (Bose & Kar) Archangelsky & Gamerro 1979 Cannanoropolis diffusus (Tiwari) Dias-Fabrício 1981 Cannanoropollis cf. C. janakii Potonié & Sah 1960 Cannanoropollis perfectus (Bose & Maheshwari) Dias-Fabrício 1981 Limitisporites sp. 1 Illinites unicus (Kosanke) Jansonius e Hills 1976 Pakhapites ovatus (Bose e Kar) Playford e Dino 2000 Protohaploxypinus goraiensis (Potonié & Lele) Hart 1964 101 Protohaploxypinus sp. Striomonosaccites sp. Vittatina corrugata Marques-Toigo 1974 Vittatina costabilis Wilson 1962 Vittatina subsaccata Samoilovich 1953 5.2.3 Conjunto Palinológico Comum ao Siltito e Carvão Esporos Calamospora hartungiana Schopf in Schopf, Wilson & Bentall 1944 Calamospora plicata (Luber e Valts) Hart 1965 Leiotriletes virkkii Tiwari 1965 Punctatisporites gretensis forma minor Hart 1965 Cyclogranispotites parvigranulosus (Leschik) Ybert 1975 Brevitriletes levis (Balme and Hennelly) Bharadwaj and Srivastava,1969 Converrucosisporites confluens (Archangelsky e Gamerro) Playford e Dino 2002 Verrucosisporites sp. Laevigatosporites vulgaris (Ibrahim) Alpern & Doubinger 1973 Polens Cycadopites sp. Limitisporites delasaucei (Potonié & Klaus) Schaarshmidt 1963 Limitisporites sp.3 Scheuringippolenites medius (Burjack) Dias-Fabrício 1981 Algas Brazilea scissa (Balme e Hennelly) Foster 1975 Brazilea sp. 1 Playford & Dino 2000 Navifusa variabilis Gutiérrez & Limarino 2001 Fungo Portalites gondwanensis Nahuys, Alpern & Ybert 1968 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 6.1 Implicações estratigráficas das idades: Bioestratigrafia vs. Idade Absoluta O posicionamento bioestratigráfico adotado aqui considerou o corrente zoneamento para o Paleozoico Superior da Bacia do Paraná, proposto por Souza & 102 Marques-Toigo (2003, 2005) e Souza (2006). Levando-se em conta que no nível de siltito, que corresponde ao topo da sequência estudada, há a ocorrência de Illinites unicus, Protohaploxypinus goraiensis e Vittatina (corrugata, costabilis e subsaccta) o posicionamento seria realizado dentro da Zona Vittatina costabilis (ZVc) (Figura 12), uma vez que estas espécies são consideradas espécies índices desta biozona. O limite inferior da ZVc é definido pelo registro da primeira ocorrência destas espécies e marca a passagem do período Carbonífero para o período Permiano. Devido a ausência de Illinites unicus, Vittatina e Protohaploxypinus goraiensis nas camadas de carvão, considerou-se para a sequência estudada que a presença destes taxa no nível de siltito correspondem a suas primeiras ocorrências. Assim, a camada de siltito estaria posicionada na Subzona Protohaploxypinus goraiensis, e corresponderia a uma idade Ghzeliana-Asseliana. A ausência de Hamiapollenites karrooensis, bem como de Striatopodocarpites fusus e Staurosaccites cordubensis, que definem a Subzona Hamiapollenites karrooensis, porção superior da ZVc, contribuem para o posicionamento dos siltitos na subzona inferior. Sabendo que o siltito é então de idade Ghzeliana-Asseliana, os carvões devem, necessariamente, ser mais antigos. Porém, as principais espécies índices que definem as palinozonas carboníferas da Bacia do Paraná como Ahrensisporites cristatus (ZAc) e Crucisaccites monoletus (ZCm) não foram registradas. A única espécie observada que poderia contribuir para o posicionamento dos leitos de carvão é Psomospora detecta, espécie essa que apresenta restrições bioestratigráficas no esquema proposto para a Bacia, podendo indicar então uma posição em ZAc, de idade igual a Bashkiriano Superior-Kasimoviano. Os outros componentes palinológicos do carvão como, Calamospora, Leiotriletes, Punctatisporites e Horriditriletes são espécies com ampla distribuição estratigráfica, que podem estar presente desde ZAc até ZVc, sendo então Psomospora o único critério para se posicionar os carvões em ZAc (Figura 12). Outro estudo palinológico já foi realizado em Figueira, nos mesmos campos de lavras da Carbonífera Cambuí, mas em minas diferentes. Cortez et al. (2007) examinaram amostras da mina Amando Simões - Poço 06 e Poço 01, e posicionaram a camada de carvão na ZCm, devido à ausência de polens e associação palinológica entre Cristatisporites, Vallatisporites, Calamospora e Horriditriletes. Apesar de também terem registrado Ahrensisporites cristatus na 103 assembleia palinológica, o que poderia ser indicativo da biozona em que é restrito. Logo, posicionando-se o siltito do topo da sequência na biozona ZVc e os leitos de carvão, base da sequência, na biozona ZAc, observa-se que a seção estratigráfica da mina PI-08 em Figueira registra um hiato deposicional correspondente ao Pennsylvaniano Superior, e que os leitos de carvão explorados se depositaram inteiramente durante o Carbonífero. Por outro lado, as datações absolutas em camadas de tonstein na região sul do Brasil (Rocha-Campos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008a; GuerraSommer et al., 2008b; Guerra-Sommer et al., 2008c; Mori et al., 2012; Simas et al., 2012; Cagliari et al. 2014; Cagliari et al. 2016; Griffis et al. 2017), posicionam a deposição da Formação Rio Bonito entre o Sakmariano e o Kunguriano (Cisuraliano). Além de serem condizentes com as idades palinológicas, que posicionam as camadas de carvão nas Subzonas Protohaploxypinus goraiensis (Rocha-Campos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008a, 2008c; Simas et al., 2012) ou Hamiapollenites karroensis (Guerra-Sommer et al., 2008b) dentro da Zona Vittatina costabilis, e na Zona Lueckisporites virkkiae (Mori et al., 2012), sendo essas biozonas as que definem os estratos permianos na Bacia. A idade viseana de 343±3,6 Ma da camada de tonstein em Figueira, obtida pelo método radiométrico, é uma idade muito mais antiga que as idades dos tonsteins de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e do que as biozonas propostas para eles. De modo que surge então um dilema litoestratigráfico, já que as camadas de carvão exploradas em Figueira não podem mais ser atribuídas à Formação Rio Bonito. Por outro lado, o Subgrupo Itararé, unidade que ocorre logo abaixo da Formação Rio Bonito, não consta na literatura com registros tão antigos. Além disso, de acordo com Milani et al. (2007) durante o final do período Devoniano e início do Carbonífero, a formação de calotas intermitentes de gelo gerou grandes rebaixamentos do nível do mar, que expuseram e erodiram estratos, caracterizando um hiato deposicional de cerca de 70 Ma, referente ao Mississipiano na Bacia do Paraná, exatamente o intervalo em que se encontra o tonstein de Figueira. De forma que, contrariamente ao que se é esperado, o hiato deposicional registrado e também evidenciado pela palinoestratigrafia é correspondente a todo o Pennsylvaniano. 104 6.2 Comparação com outras Bacias Gondwânicas Registros mississipianos, e mais antigos do que o do Subgrupo Itararé, podem ser encontrados no norte do Brasil, na Formação Faro e Oriximiná da Bacia do Amazonas, Formação Jandaiatuba na Bacia do Solimões e Formação Poti na Bacia do Parnaíba (Loboziak et al., 1998). A todas essas formações Melo & Loboziak (2003) atribuem a Zona Cordylosporites magnidictyus (Mag), caracterizada pela ocorrência de espécies como Auroraspora solisorta, Cirratriradites rarus, Diatomozonotriletes fragilis, Indotriradites dolianitii, Foveosporites spp., Perotrilites tessellatus, Schopfipollenites sp., Schopfites claviger, Spelaeotriletes owensii, Vallatisporites ciliaris, Granulatisporites spp., Lycospora spp., Prolycospora rugulosa, Waltzispora planiangulata e entre outras. O conjunto palinológico que define a zona Mag difere em muito da assembleia palinológica apresentada pelos níveis de carvão em Figueira, sendo a única semelhança entre os dois conjuntos, o gênero de esporo Granulatisporites. Outra característica importante da zona Mag é a ausência de polens, os quais aparecem pela primeira vez na Bacia do Amazonas na biozona superior a Mag, denominada de Zona Spelaeotriletes triangulus (Tri), do início do Pennsylvaniano, na qual ocorrem polens monossacados, teniados (em baixa frequência) e bissacados não teniados, como as espécies Limitisporites e Potonieisporites encontrados em Figueira. No oeste da Argentina, depósitos que datam do início do Carbonífero são descritos na Bacia Callingasta-Upsallata na Formação El Ratón (Amenábar & di Pasquo, 2008) e nas formações Malimán e Cortaderas da Bacia Río Blanco (Pérez Loinaze, 2007). As assembleias palinológicas descritas para essas formações são classificadas dentro da biozona Cordylosporites-Verrucosisporites (CV), a qual é definida pela presença de Cordylosporites marciae, Verrucosisporites congestus, Verrucosisporites papulosus, Crassispora scrupulosa, Dibolisporites microspicatus, Grandispora saurota, Knoxisporites literatus, Retusotriletes avonensis e acritarcas (Césari & Gutiérrez, 2000). No entanto, nenhuma das espécies descritas para a zona CV é encontrada na assembleia carbonífera de Figueira. Em novos levantamentos palinológicos da Formação Cortaderas, Pérez Loinaze (2007) define a Zona Reticulatisporites magnidictyus-Verrucosisporites quasigobbettii (MQ), que substitui em parte a zona CV erigida por Césari & Gutiérrez (2000), na qual é 105 destacada a importância diagnóstica destas espécies, as quais não ocorrem nas formações El Ratón e Malimán. Essas duas espécies que definem a zona MQ, Reticulatisporites magnidictyus e Verrucosisporites quasigobbettii, são espécies consideradas importantes nas correlações intra-gondwânicas, uma vez que seu surgimento é interpretado como sendo praticamente contemporâneo na América do Sul e Austrália (Dino & Playford, 2002). Na Austrália, estas espécies estão presentes na zona Granulatisporites frustulentus. Acima desta zona ocorre a Zona Grandispora maculosa, a qual é descrita por Playford (2015) para a Bacia de Perth, contendo uma assembleia composta por, entre outros gêneros, Calamospora, Leiotriletes, Punctatisporites, Cyclogranisporites e Verrucosisporites, que também são encontrados nos leitos de carvão paranaenses, mas que correspondem a espécies diferentes das australianas. Porém, a espécie Psomospora detecta, considerada uma importante espécie índice para os carvões de Figueira, para a Bacia do Paraná e para correlações intragondwânicas (Dino & Playford, 2002), também ocorre e foi descrita com uma distribuição rara na Bacia de Perth. A idade radiométrica obtida por Gulbranson et al. (2010), de 335,99 ± 0,06 Ma, em um andesito da base da Formação Punta Del Agua (Bacia Río Blanco), o qual tem sua porção superior correspondente à Formação Cortaderas, suporta uma idade viseana superior a serpukhoviana inferior para as biozonas Mag, CV, MQ e Grandispora maculosa. Além de todas as espécies de esporos que estas biozonas correspondentes compartilham, outra similaridade é a ausência de grãos de polens em seus estratos viseanos. No registro mundial, as primeiras evidências de grãos de polens começam a aparecer a partir do Serpukhoviano (Mississipiano Superior, Melo & Loboziak, 2003; Souza, 2006; Pérez Loinaze, 2007). Apesar de grãos de pólen estarem presentes em baixas frequências nos carvões de Figueira, suas ocorrências são um marco estratigráfico importante, pois, palinologicamente, constituem um indício de estratos mais jovens. Comparando-se então o conjunto palinológico com as biozonas definidas logo acima do Viseano, nota-se a introdução de polens monossacados e bissacados não teniados, características encontradas a partir da Subzona A da biozona Raistrickia densa-Convolutispora muriornata (DM) definida para as bacias do oeste argentino 106 (Césari & Gutiérrez, 2000) e da biozona Tri, das bacias do norte brasileiro, como discutido acima. A idade de 319,57 ± 0,09 Ma obtida por Gulbranson et al. (2010), para a base da Formação Río Del Peñon (Bacia Río Blanco, Argentina), confirma a idade serpukhoviana-bashkiriana (Pennsylvaniano) para a porção inferior da biozona DM. 6.3 Interpretações Ambientais e Estabelecimento da Paleoflora Os principais constituintes palinológicos dos carvões de Figueira são os esporos, que são considerados como elementos parautóctones em uma assembleia fossilífera, estando em acordo com o que em geral é aceito para a origem dos carvões da Formação Rio Bonito (Jasper et al., 2006). Elementos alóctones foram registrados em baixas frequências representados por grãos de polens, assim como os elementos autóctones presentes na forma de algas (Brazilea, Navifusa e Tetraporina) e esporos de fungo (Portalites e indeterminados). Os gêneros de alga Brazilea e Tetraporina evidenciam deposição em um ambiente de água doce (Gutiérrez & Limarino, 2001; Guerra-Sommer et al., 2008d; Gutiérrez et al. 2015) enquanto que o gênero Navifusa é considerada como parte de microplâncton marinho (Gutiérrez & Limarino, 2001; Jasper et al., 2006), e poderia ser indicativo de pequenas ingressões marinhas, uma vez que a quantidade registrada é muito baixa. No nível de siltito estudado, os grãos de polens dominam sobre os esporos, que mesmo assim perfazem uma importante parcela do conjunto. Com base nas diferenças de constituintes entre o nível de carvão e a camada de siltito, definiu-se duas assembleias paleoflorísticas para a sequência sedimentar estudada. A Assembleia I, presente no carvão, é constituída predominantemente por Polypodiopsida (filicófitas) com ampla diversidade de espécies, e subordinadamente por Equisetopsida (esfenófitas) com baixa variedade de espécies e ausência de licófitas. A ocorrência destas classes de pteridófitas indica uma associação higrohidrófila. Portanto, é provável que essa assembleia estivesse muito próxima do corpo d’água e do ambiente de deposição, formando uma comunidade mais herbácea (Guerra-Sommer et al., 2008d). Nota-se também que o conjunto palinológico da porção basal, média e de topo da camada de carvão permanece praticamente a mesma, indicando uma paleoflora bem estabelecida durante todo o momento de formação do carvão (Cazzulo-Klepzig et al., 2007). Os grãos de pólen, 107 que fazem parte dessa assembleia, refletem uma associação de gimnospermas higro-mesófila, as quais provavelmente pertenciam a um bosque localizado um pouco mais distantes da fonte de água. Essa configuração palinológica difere, no entanto, do que é observado nas jazidas de carvão no afloramento Quitéria (Jasper et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008c; Boardman et al., 2012a) e mina Faxinal (Boardman et al., 2012b), nas quais há o predomínio de espécies relacionadas a licófitas arbóreas (Lundbladispora). O conjunto palinológico destas outras minas de carvão está mais de acordo com o que se observa para a segunda assembleia definida para a sequência, a Assembleia II presente no nível de siltito. Na Assembleia II, há o predomínio de grãos de polens monossacados e teniados correlacionáveis com gimnospermas do tipo coníferas e glossopterodófitas. Enquanto que os principais representantes dos esporos são de um grupo restrito de licófitas arbustivas (Lundbladispora, Vallatisporites, Cristatisporites), com pouquíssimos representantes de esfenófitas e filicófitas. O conjunto de espécies demonstra uma associação higromesófila a meso-xerófila. Notavelmente a comunidade paleoflorística mudou durante a deposição da sequência estudada. Muitas espécies desaparecem após a deposição da camada de carvão, dando lugar para uma nova comunidade se estabelecer. Essa diferença entre as comunidades pode ser referente a mudanças ambientais ocorridas no momento de deposição, já evidenciada pela diferença de deposição de sedimento, mas também pela associação entre as espécies, que parece ter evoluído de um ambiente úmido para um ambiente um pouco mais árido e quente. Souza et al. (2010) ao estudar os ritmitos do Subgrupo Itararé dominados por esfenófitas e filicófitas associa os esporos desses vegetais a terrenos mais baixos, como planícies de inundação, onde essa comunidade habitava durante climas mais frios. Já os grãos de pólen monossacados derivados de coníferas representariam uma flora de áreas mais altas. Por outro lado, grãos de polens bissacados teniados refletem uma flora de terrenos altos, mais abertos (Boardman et al., 2012a), dominada por coníferas e glossopteridófitas, as quais são comumente encontradas em depósitos de deglaciação, sendo um indicativo da proliferação da comunidade vegetal em resposta a um regime climático mais ameno (Souza et al., 2010; Mori & Souza, 2012). 108 De acordo com López-Gamundí et al. (1992) é possível reconhecer cinco estágios paleoclimáticos que predominaram no Gondwana durante o Paleozoico Superior. O Estágio I corresponde ao início do Carbonífero, com idades do fim do Tournaisiano e começo do Viseano, em que um regime pré-glacial predominava, com condições climáticas mais úmidas e provavelmente quentes, em que licófitas pequenas e pteridospermas formavam uma comunidade vegetal higro-mesófila. Do final do Viseano ao Bashkiriano, um período glacial se estabelece, caracterizando o Estágio paleoclimático II, o qual teve uma maior estensão marinha do que continental. O aumento das temperaturas e da umidade, durante o Pennsylvaniano Médio e Superior, marca um estágio de melhoria climática (Estágio III), caracterizado por depósitos de transgressões marinhas pós-glaciais, lacustres e camadas de carvão, formadas por uma paleocomunidade de licófitas, esfenófitas e gimnospermas. Nestas novas condições climáticas, profundas modificações ocorreram na flora, e os registros de grãos de pólens monossacados em sedimentos relacionados a este período indicam progressiva colonização de terrenos mais elevados por Cordaites. Além disso, as licófitas pequenas que caracterizam o Estágio I foram substituídas por espécies maiores e arbóreas (Césari et al., 2011). A partir do Ghzeliano e início do Permiano, estabelece-se o Estágio paleoclimático IV, em que as condições climáticas vão progressivamente mudando de úmida e temperada até atingir Estágio V, ao longo do Permiano, quando o clima se torna árido e semiárido. Durante este intervalo de tempo, a diminuição da umidade, juntamente com o aumento da temperatura, contribuiu para o estabelecimento de um clima sasonal, bem como o desaparecimento das camadas de carvão e um aumento na deposição de camadas evaporíticas, principalmente formadas por calcita e gipsita, e de red beds. Neste novo cenário, surgem os primeiros registros macroflorísticos de glossopterídeas e coníferas e uma maior quantidade de polens teniados e bissacados teniados. A idade radiométrica obtida para o tonstein de Figueira posiciona a Assembleia I da camada de carvão estudada no período climático descrito para o Estágio paleoclimático I, período úmido e de condições amenas, o que é condizente com um ambiente de formação de carvão. Neste estágio climático também se depositaram as formações Malimán e El Ratón, e a flora correspondente seria a 109 encontrada nas zonas CV e MQ das bacias argentinas (López-Gamundí et al., 1992; Césari et al., 2011). A ocorrência em grandes quantidades de polens monossacados e, em uma quantidade menos expressiva, de polens teniados na Assembleia II, descrita para o siltito, sugere o desenvolvimento de uma paleoflora sob condições climáticas de transição entre o Estágio III para o IV. 6.4 Possível Fonte de Cinzas A atual configuração da plataforma sul americana é o resultado de complexos processos de colagem de blocos cratônicos, de idades arqueanas e paleoproterozóicas, que se juntaram à margem sudoeste do Gondwana durante o fim do Pré-cambriano e início do Paleozoico (Ramos, 1988). A aglutinação desses terrenos alóctones à margem gondwânica produziu importantes episódios orogênicos, durante o Fanerozoico, que influenciaram a evolução de faixas dobradas e bacias de antepaís, mas que afetaram também o interior cratônico do supercontinente (Milani & Ramos, 1998). De acordo com Milani & Ramos (1998) dois ciclos tectono-sedimentar marcaram a história fanerozoica da porção sudoeste do Gondwana: Ciclo Famatiniano, de idade ordoviciana a devoniana, e o Ciclo Gondwânico, de idade carbonífera a triássica. Ao Ciclo Orogênico Famatiniano pertencem às orogenias Oclóyica e Precordilheirana, responsáveis por deformações compressivas, além de depósitos sedimentares e magmáticos. Já o Ciclo Gondwânico inclui as orogenias Chanica e Sanrafaélica. Durante o Ciclo Gondwânico a colisão do terreno Chilenia, durante o final do período Devoniano e início do Carbonífero, dá início a um complexo sistema de subducção de placa oceânica sob a margem continental oeste do Gondwana (Kay, 1993). As deformações que se seguiram são atribuídas à orogenia Chanica. A evolução desta zona de subducção culminou na formação de um arco magmático denominado Choiyoi, como resposta dos movimentos da orogenia Sanrafaélica. Esse arco magmático estendia-se desde a região sul do Peru até a Antártica e Austrália e, no clímax de sua atividade vulcânica, produziu um grande volume de cinzas que foram transportadas e se acumularam em ambientes marinhos e continentais (Benedetto, 2012). 110 Atualmente é aceito que o vulcanismo Choiyoi é a possível fonte das cinzas vulcânicas encontradas associadas com os estratos permianos da Bacia do Paraná (Matos et al., 2001; López-Gamundi, 2006; Santos et al., 2006; Guerra-Sommer et al., 2008a,b,c; Mori et al., 2012), uma vez que rochas vulcânicas da região da Patagônia, Argentina, revelam idades semelhantes aos dos estratos da bacia (Rocha-Campos et al., 2011). No entanto, como a camada em Figueira demonstrou ter mais do que 40 Ma de diferença em relação a fase inicial do vulcanismo Choiyoi, essa fonte de cinzas para o tonstein de Figueira deve ser descartada. Logo, deve-se atentar para as fases de deformação anteriores a orogenia Sanrafaélica. Na região central do Chile e região oeste da Argentina, rochas vulcânicas, compostas essencialmente por quartzo, plagioclásio, k-feldspato e zircão, como mineral acessório, foram registradas por Martina et al. (2007), os quais obtiveram uma idade U-Pb SHRIMP em zircões igual a 350 Ma. Em novas datações de duas amostras de riolito realizadas pelos mesmos autores (Martina et al., 2011), nas rochas da mesma região antes estudada, revelaram idades de 348 ± 3 Ma e 342 ± 0,97 Ma. Essas idades são muito próximas da idade de 343,0 ± 3,6 Ma encontrada nos zircões do tonstein de Figueira. De acordo com Martina et al. (2007, 2011), essas rochas poderiam estar relacionadas com a acreção do terreno Chilenia (orogenia Chanica) e o vulcanismo ácido poderia ser atribuído à ascensão da astenosfera em uma margem convergente. 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A sequência sedimentar que compõe a frente de lavra da Carbonífera Cambuí na região de Figueira, Paraná, registra um hiato deposicional evidenciado pelo posicionamento dos siltitos do topo da sequência na Subzona Protohaploxypinus goraiensis, da Zona Vitattina costabilis, e da camada de carvão da base da sequência na Zona Ahrensisporites cristatus, evidenciando que a formação dos leitos de carvão se deu inteiramente durante o Carbonífero. Além disso, o posicionamento dos carvões em um nível estratigráfico mais abaixo do que a ZVc, na qual as principais jazidas brasileiras de carvão são posicionadas, cria a possibilidade da Formação Rio Bonito se estender além do limite entre CarboníferoPermiano. Uma segunda possibilidade é de que os carvões aqui estudados pertençam na verdade ao Subgrupo Itararé. 111 A obtenção da idade viseana de 343±3,6 Ma para o tonstein com cimento calcítico de Figueira, posicionados acima dos leitos de carvão, demonstra que o hiato deposicional encontrado corresponde a todo o Pennsylvaniano. A idade também torna os leitos de carvão de Figueira o primeiro registro do Carbonífero Inferior na Bacia do Paraná, o qual era considerado ausente até o momento. Desta forma, a ausência de biozoneamentos para este intervalo estratigráfico na Bacia do Paraná força a comparação do conjunto palinológico referente aos carvões com esquemas bioestratigráficos definidos em outras bacias, como as argentinas, australianas e as bacias do norte do país. Porém, a ausência de espécies comuns a estas bacias e a este período específico do tempo geológico, torna inadequado o emprego destes esquemas bioestratigráficos mississipianos. Nota-se que a assembleia palinológica dos carvões assemelha-se muito mais com as zonas Ahrensisporites cristatus e Crucisaccites monoletus e as biozonas de idades pennsylvanianas das outras bacias gondwânicas. A ocorrência de grãos de polens nos carvões também é contrária ao que é considerado na literatura, a qual aponta os primeiros registros de pólen como ocorrendo durante o Serpukhoviano, o que reforça a similaridade do carvão com as biozonas do Carbonífero Superior da bacia. Logo, uma possibilidade é a extensão destas biozonas para a porção inferior do Carbonífero. Novos estudos palinoestratigráficos são ainda necessários na área abordando intervalos sedimentares maiores, que abranjam camadas acima do siltito estudado e abaixo do nível de carvão, a fim de que a distribuição das espécies de palinomorfos seja verificada com maior detalhamento. Além disso, uma nova datação radiométrica poderia ser realizada no intervalo, para verificação e confirmação da idade encontrada, uma vez que essa contribuição constitui uma abordagem inicial explorando a potencialidade da nova ocorrência de tonstein como uma ferramenta de calibração de biozonas. AGRADECIMENTOS O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, processo número 2016/20927-0) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em especial, agradecemos a Carbonífera do Cambuí Ltda. (Figueira-PR) pela permissão de visitar seus campos 112 de lavra e auxílio na coleta de materiais e ao geólogo Fábio Branco pela ajuda no trabalho de campo. REFERÊNCIAS Amenábar, C.R. & di Pasquo, M. 2008. Nuevos aportes a la palinología, cronología y paleoambiente de la Precordillera Occidental de Argentina: formaciones El Planchón, Codo (Devónico) y El Ratón (Mississippiano). Acta geológica lilloana, 21(1): 3-20. Benedetto, J. 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Local Unidade Geológica Técnica Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 267.1 ± 3.4 Ma Wordiano Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito SHRIMP 298.5 ± 2.6 Ma Artinskiano Rocha-Campos et al. (2006) Mina Faxinal, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 285.4 ± 8.6 Ma Sakmariano Guerra-Sommer et al. (2008a) Formação Rio Bonito SHRIMP 290.6 ± 1.5 Ma Sakmariano Guerra-Sommer et al. (2008b) Mina Candiota, RS Formação Rio Bonito ID-TIMS 296 ± 4.2 Ma/296.9 ± 1.65 Ma Asseliano Guerra-Sommer et al. (2008c) Entre Bagé e Candiota, RS Formação Rio Bonito LA-ICP-MS 281.4 ± 3.4 Ma Artinskiano Mori et al. (2012) Leão Butiá, RS Formação Rio Bonito SHRIMP 291 ± 1.2 Ma Sakmariano Simas et al. (2012) Cachoeira do Sul, RS Formação Rio Bonito LA-ICP-MS 290.6 ± 2.8 Ma Sakmariano Cagliari et al. (2014) Capané, RS Formação Rio Bonito LA-ICP-MS 298.8 ± 1.9 Ma GhazelianoAsseliano Cagliari et al. (2016) Mina Candiota, RS Mina Faxinal, RS Idade Autor Matos et al. (2001) 298.23 ± 0.31 Ma Mina Candiota, RS 298.64 ± 0.17 Ma Formação Rio Bonito CA-TIMS Asseliano 298.03 ± 0.25 Ma Mina Faxinal, RS 285.42 + 1.2/- 2.1 Ma Artinskiano Afloramento Quitéria, RS 298.10 ± 0.28 Ma Asseliano 343 ± 3,6 Ma Viseano Figueira, PR ? LA-ICP-MS Griffis et al. (2017) Este trabalho 120 Figura 1 – Mapa de localização da Bacia do Paraná na América do Sul, a esquerda, e mapa de localização do município de Figueira no estado do Paraná e localização da Mina PI-08 no município de Figueira, a direita. 121 Figura 2 – Geologia da mina PI-08, com base na descrição do furo de sondagem F08-58. A escala do furo corresponde ao total descrito do furo e não à profundidade real de cada litotipo. A direita, colunas estratigráficas da porção aflorante na frente de lavra correspondente a cada um dos pontos de amostragem. 122 Figura 3 – Frente de lavra da mina PI-08. (a) A camada de tonstein se destaca dos litotipos adjacentes por possuir uma coloração mais clara que o restante. (b) Os contatos com as camadas de siltito abaixo e acima da camada de tonstein são abruptos. (c-e) Amostras de mão de tonstein, nas quais não é possível distinguir nenhum mineral. (c) e (e) a rocha apresenta em algumas porções laminações descontínuas (setas) de coloração mais escura do que a matriz. (d) escala em mm. 123 a) b) c) Figura 4 – Difratogramas para cada uma das amostras analisadas. Cada uma das amostras coletadas apresenta 3 difratogramas, que são referentes ao topo, meio e base da camada. (a) Difratogramas de pó total. (b) Difratogramas das lâminas de amostras orientadas por secagem natural. (c) Difratogramas das lâminas orientadas na etapa glicolada. 124 Figura 5 - Fotomicrografias da camada de tonstein, nicóis cruzados. (a) Polimorfo de quartzo-β com borda corroída, CP1/677-B (b) Grão de plagioclásio com bordas corroídas em matriz calcítica, CP1/678-T (c) Cristais bem formados de calcita, CP1/678-B (d) Amígdala preenchida por cristais de calcita, CP1/6782 (e) Laminação de argila distribuída em uma matriz calcítica, onde se concentram os minerais de origem primária, CP1/678-B (f) Caulinita vermiforme (seta) e amígdala preenchida por calcita do lado superior esquerdo, CP1/678-B 125 Figura 6 – Imagens de catodoluminescência dos grãos de zircão datados Figura 7 – Diagrama de concórdia com a idade U-Pb obtida para zircões do tonstein de Figueira pelo método LA-ICP-MS 126 Tabela 2 – Dados isotópicos obtidos por LA-ICP-MS em zircões da camada de tonstein Razões isotópicas 206 Spot U (ppm) Th (ppm) Th/U Pb/ Pb 204 207 Pb/ Pb 206 2σ (%) 207 Pb/235U 2σ (%) 206 Pb/238U Idades 207 2σ (%) Rho Pb/ Pb 206 2σ 206 Pb/238U 2σ 207 Pb/235U 2σ % conc¹ 5.sSMPABC013 63.808 177.573 2.783 53672.460 0.174 1.032 12.271 2.070 0.510 1.794 0.867 2600.610 17.200 2657.632 38.522 2625.383 19.581 100.023 5.sSMPABC028 118.471 124.948 1.055 200.063 0.074 1.008 1.872 1.975 0.182 1.698 0.860 1052.686 20.313 1080.559 16.551 1071.361 13.038 100.073 5.sSMPABC029 90.892 118.887 1.308 169.122 0.074 1.088 1.873 2.084 0.182 1.778 0.853 1053.962 21.912 1080.279 17.319 1071.594 13.763 100.025 5.sSMPABC030 563.088 978.842 1.738 474.636 0.074 0.974 1.869 1.990 0.182 1.736 0.872 1052.871 19.616 1078.768 16.890 1070.230 13.130 100.013 5.sSMPABC035 195.413 162.049 0.829 22081.670 0.072 1.075 1.649 2.082 0.167 1.784 0.857 976.016 21.905 994.840 16.100 988.985 13.115 99.848 5.sSMPABC033 388.067 905.879 2.334 326.479 0.068 1.040 1.411 2.076 0.150 1.796 0.865 880.284 21.513 899.225 14.758 893.766 12.277 99.917 5.sSMPABC019 2597.298 15.759 0.006 34.901 0.063 1.825 1.128 2.577 0.131 1.819 0.706 692.666 38.903 792.350 13.271 766.701 13.792 102.711 5.sSMPABC050 223.159 194.045 0.870 16414.217 0.064 1.122 1.073 2.088 0.121 1.761 0.843 747.897 23.700 737.709 12.003 740.238 10.893 99.057 5.sSMPABC052 335.137 242.647 0.724 2267.569 0.063 1.028 0.987 1.990 0.113 1.705 0.856 716.647 21.825 691.224 10.925 697.232 9.957 98.566 5.sSMPABC034 328.040 198.454 0.605 19550.882 0.061 1.039 0.869 2.058 0.104 1.776 0.863 626.489 22.394 637.754 10.545 635.280 9.629 99.851 5.sSMPABC01811.73372 2152.866 20.061 0.009 260.967 0.055 0.958 0.725 1.903 0.096 1.645 0.864 394.604 21.475 593.075 9.106 553.645 8.031 106.615 5.sSMPABC047 192.424 95.901 0.498 10343.795 0.060 1.173 0.784 2.120 0.095 1.766 0.833 591.629 25.435 586.917 9.681 587.886 9.367 99.331 5.sSMPABC039 121.832 163.465 1.342 138.405 0.059 1.258 0.779 2.145 0.095 1.737 0.810 583.304 27.322 585.286 9.496 584.880 9.440 99.567 5.sSMPABC037 126.586 241.821 1.910 6592.265 0.059 1.117 0.760 2.067 0.093 1.739 0.841 570.045 24.309 574.826 9.344 573.862 8.965 99.672 5.sSMPABC038 181.944 376.533 2.070 9265.416 0.059 1.053 0.743 1.985 0.092 1.682 0.848 562.662 22.942 564.470 8.884 564.110 8.497 99.575 5.sSMPABC036 92.768 129.524 1.396 4714.294 0.059 1.174 0.741 2.107 0.091 1.750 0.830 558.586 25.597 564.348 9.240 563.205 9.014 99.715 5.sSMPABC020 3729.830 58.608 0.016 128.863 0.057 1.024 0.631 1.943 0.081 1.652 0.850 474.574 22.640 501.186 7.779 496.433 7.536 100.514 5.sSMPABC053 125.975 98.069 0.778 5560.811 0.058 1.237 0.644 2.134 0.080 1.739 0.815 536.923 27.076 497.696 8.136 504.764 8.390 98.159 5.sSMPABC049 130.937 116.437 0.889 122.847 0.057 1.447 0.602 2.367 0.077 1.873 0.791 489.714 31.924 476.349 8.402 478.654 8.928 99.093 5.sSMPABC054 247.713 246.262 0.994 6797.417 0.054 1.253 0.400 2.164 0.054 1.764 0.815 381.442 28.177 336.092 5.639 341.883 6.185 97.990 5.sSMPABC051 595.269 274.379 0.461 122.806 0.054 1.046 0.415 1.996 0.056 1.700 0.852 376.709 23.535 349.078 5.640 352.713 5.857 98.643 5.sSMPABC048 584.381 266.350 0.456 16351.125 0.054 0.969 0.408 1.902 0.055 1.637 0.860 356.387 21.884 346.257 5.386 347.574 5.511 99.297 5.sSMPABC040 527.302 254.975 0.484 320.576 0.053 1.014 0.399 1.951 0.054 1.667 0.854 344.991 22.940 340.424 5.395 341.008 5.562 99.510 5.sSMPABC032 468.563 131.118 0.280 220.647 0.053 1.035 0.398 1.989 0.054 1.698 0.854 333.926 23.471 341.491 5.512 340.523 5.663 99.964 5.sSMPABC031 463.410 129.317 0.279 12685.428 0.053 1.017 0.399 1.943 0.055 1.656 0.852 333.926 23.044 342.243 5.389 341.178 5.543 99.992 5.sSMPABC027 106.666 663.999 6.225 2917.087 0.053 1.304 0.399 2.194 0.055 1.764 0.804 324.939 29.610 343.247 5.756 340.902 6.255 100.367 ¹ Concordância calculada como (206Pb-238U idade/207Pb-206Pb idade)*100 127 Figura 8 – Frequência relativa das espécies de palinomorfos encontradas para a sequência sedimentar estudada. Figura 9 – Palinomorfos encontrados nos siltito e carvão da mina PI-08. (a) Calamospora hartungiana CP5/136-2, EF M42-3 (b) Calamospora plicata CP5/136-3, EF U46 (c) Calamospora sp. CP5/133-1, EF W33-3 (d) Leiotriletes virkii CP5/134-3, EF O36 (e) Punctatisporites gretensis CP5/134-1, EF O41-1 (f) Cyclogranisporites parvigranulosus CP5/133-1, EF Y32-2 (g) Granulatisporites angularis CP5/134-3, EF S47-2 (h) Brevitriletes levis CP5/132-3, EF L35-3 (i) Lophotriletes pseudaculeatus CP5/132-2, EF M47 (j) Lophotriletes sp. CP5/134-1, EF O46-4 (k) Horriditriletes ramosus CP5/134-1, EF X31-2 (l) Converrucosisporites confluens CP5/128-1, EF K39 (m) Verrucosisporites sp. CP5/134-3, EF S36 (n) Cristatisporites lestai CP5/136-3, EF P41-3 (o) Lundbladispora braziliensis CP5/136-1, EF K31-4 (p) Lundbladispora iphilegna CP5/136-2, EF R49 (q) Lundbladispora riobonitensis CP5/136-3, EF O43-1 (r) Vallatisporites arcuatus CP5/136-3, EF N40 (s) Laevigatosporites plicatus CP5/133-1, EF Y45 (t) Laevigatosporites vulgaris CP5/133-1, EF Y40-2 (u) Psomospora detecta CP5/128-1, EF Q37-1 (v) Cannanoropollis diffusus CP5/136-3, EF S37-1 (w) Cannanoropollis perfectus CP5/136-2, EF S49. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 128 129 Figura 10 - Palinomorfos encontrados nos siltito e carvão da mina PI-08. (a) Cannanoropollis cf. C. janakii CP5/136-3, EF L32-4 (b) Caheniasaccites elongatus CP5/131-1, EF X42-2 (c) Caheniasaccites flavatus CP5/131-3, EF K44 (d) Caheniasaccites ovatus CP5/132-2, EF Q47-1 (e) Potonieisporites sp. CP5/136-3, EF Q25 (f) Sriomonosaccites sp. CP5/131-1, EF M44-2 (g) aff. Alisporites sp. CP5/132-3, EF R49 (h) Scheuringipollenites medius CP5/131-3, EF E22-1 (i) Colpisaccites granulosus CP5/132-3, EF Q34 (j) Limitisporites delasaucei CP5/128-1, EF R35-4 (k) Limitisporites sp. 1 CP5/131-3, EF G43-1 (l) Limitisporites sp. 2 CP5/128-1, EF Q31-4 (m) Limitisporites sp. 3 CP5/131-3, EF P33-1 (n) Illinites unicus CP5/136-3, EF P30-1 (o) Protohaploxypinus goraiensis CP5/136-4, EF T29 (p) Protohaploxypinus sp. CP5/131-3, EF X24-3. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 130 Figura 11 - Palinomorfos encontrados nos siltito e carvão da mina PI-08. (a) Vittatina corrugata CP5/131-2, EF T39-3 (b) Vittatina costabilis CP5/131-3, EF N37-4 (c) Vittatina subsaccata CP5/136-3, EF N31-1 (d) Cycadopites sp. CP5/131-3, EF G32-2 (e) Pakhapites ovatus CP5/136-1, EF H32-2 (f) Brazilea scissa CP5/132-4, EF P25 (g) Brazilea sp.1 Palyford & Dino 2000 CP5/131-3, EF O39-4 (h) Cycadopites sp. CP5/134-3, EF S36-2 (i) Tetraporina punctata CP5/132-2, EF L33 (j) Navifusa sp. CP5/132-3, EF L42-2 (k) Portalites gondwanensis CP5/128-1, EF P39-3 (l) Esporo de fungo indeterminado CP5/132-4, EF M43-1 (m) Esporo de fungo indeterminado CP5/132-2, EF Q31-2. Barra de escala de 20 µm. EF= England Finder. 131 Figura 12 – Posiconamento bioestratigráfico para o nível de siltito na Zona Vittatina costabilis (destaque em vermelho) e para o nível de carvão na Zona Ahrensisporites cristatus (destaque em verde). Cronoestratigrafia segundo Cohen et al. (2013) e palinoestratigrafia de acordo com Souza (2006). Litoestratigrafia baseada em Cagliari et al. (2016), idades radiométricas retiradas de: (a) Santos et al. (2006), (b) Mori et al. (2012), (c) Guerra-Sommer et al. (2008a), (d) GuerraSommer at el. (2008b), (e) Simas et al. (2012), (f) Guerra-Sommer et al. (2008c), (g) Rocha-Campos et al. (2006), (h) e (i) Cagliari et al. (2016), (j) este trabalho. 132 DADOS COMPLEMENTARES Descrições Sistemáticas Anteturma PROXIMEGERMINANTES Potonié 1970 Turma TRILETES (Reinsch) Dettmann 1963 Suprasubturma ACAVATITRILETES Dettmann 1963 Infraturma LAEVIGATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 Calamospora sp. Figura 9c Descrição: contorno equatorial circular a elipsoidal. Marca trilete distinta, mas pouco proeminente com comprimento de até 1/3 do raio do esporo. Exina lisa, fina, com pregas pequenas que ocorrem em baixa quantidade e apresentam coloração mais escura do que o restante. Diâmetro equatorial (3 espécimes): 45-58 µm Observações: classificado como Calamospora devido a exina lisa e as pregas presentes. Distribuição nas amostras estudadas: Nível 2 (Meio do carvão) e Nível 3 (Topo) Infraturma APICULATI (Bennie & Kidston) Potonié 1956 Subinfraturma NODATI Dybová & Jachowicz 1957 Lophotriletes sp. Figura 9j Descrição: esporo trilete de simetria radial. Contorno equatorial triangular a subtriangular. Ápices arredondados e lados, em sua maioria, côncavos, mas podendo apresentar também lados convexos. Marca trilete distinta e aberta. Raios da laesura se estendem por 2/3 do comprimento do raio total. Exina recoberta por cones de 2-3 µm de altura por 0,6-1,3 µm de largura. Diâmetro equatorial (8 espécimes): 31 (38) 48 µm 133 Distribuição nas amostras estudadas: nível 1 e nível 3 Subinfraturma VERRUCATI Dybová & Jachowicz 1957 Verrucosisporites sp. Figura 9m Descrição: de simetria radial e com contorno equatorial circular a subcircular. Marca trilete apresenta laesura fina e sinuosa, frequentemente obscurecida pela ornamentação da exina. Raios da laesura com comprimento de 1/2 do raio total. A exina é ornamentada por verrugas grandes com distribuição irregular. As verrugas apresentam diâmetro basal de 1-2 µm. Diâmetro equatorial (48 espécimes): 26 (33) 48 µm Distribuição nas amostras estudadas: Nível 1, 2, 3 e 6 Anteturma VARIEGERMINANTES Potonié 1970 Turma SACCITES Erdtmann 1947 Subturma MONOSACCITES (Chitaley) Potonié & Kremp 1954 Infraturma DIPOLSACCITI (Hart) Dibner 1971 Subinfraturma APERTACORPINI Dibner 1971 Cannanoropollis cf. Cannanoropollis janakii Figura 10a Descrição: pólen monossacado com corpo central mal definido. Simetria radial. Contorno equatorial circular. Marca trilete indistinguível. Exina fina, levemente reticulada. Sacos com largura igual a 1/3 da dimensão do diâmetro do grão. Diâmetro total (7 espécimes): 60-83 µm Distribuição nas amostras estudadas: nível 6 134 Infraturma VESICULOMONORADITI Pant 1954 Potonieisporites sp. Figura 10e Descrição: pólen monossacado de simetria bilateral. Corpo central alongado segundo o diâmetro do grão, com contorno equatorial elipsoidal. Nos espécimes descritos não se reconheceu pregas sobre o corpo, ou espessamentos. Não se identificou aberturas germinativas nos 2 espécimes identificados. Os sacos são intrareticulados e de tamanho médio (aproximadamente mesmo tamanho que diâmetro do grão). Dimensões (2 espécimes): Diâmetro do grão: 52-63 µm, Diâmetro do saco: 55-57 µm, Eixo equatorial: 76-84 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 3 e nível 6 Infraturma STRIASACCITI Bharadwaj 1962 Striomonosaccites sp. Figura 10f Descrição: pólen monossacado de simetria bilateral, alongado equatorialmente. Corpo central subquadrangular, com 4 estrias paralelas que se estendem equatorialmente pelo corpo central. Exina intrareticulada. Presença de duas pregas transversais no corpo central com afunilamento nas pontas, conferindo um formato de meia lua. Pregas tem comprimento equivalente a 2/3 do eixo equatorial do grão de pólen. Dimensões (1 espécime): Eixo equatorial: 130 µm, Eixo polar: 80 µm, Diâmetro dos sacos: 65-75 µm, Largura dos sacos: 20-30 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 6 135 Subturma DISACCITES Cookson 1947 Infraturma DISACCIATRILETI (Leschik) Potonié 1958 aff. Alisporites sp. Figura 10g Descrição: pólen bissacado, diploxilonóide, com simetria bilateral. Contorno oval, corpo central elipsoidal, ligeiramente alongado segundo o eixo equatorial do grão. Sulco orientado segundo o eixo polar, longo e estreito. Dimensões (8 espécimes): Eixo equatorial: 43-62 µm, Eixo polar: 34-44 µm, Largura dos sacos: 7 (9,5) 14 µm, Diâmetro do corpo central: 29-44 µm. Observações: a classificação como Alisporites é devida a semelhança encontrada entre os espécimes descritos aqui e os espécimes descritos por Gutiérrez et al. (2010) Distribuição nas amostras estudadas: nível 1 e nível 3 Infraturma DISACCITRILETI Leschik 1956 Limitisporites sp. 1 Figura 10k Descrição: grão de pólen bissacado, fracamente diploxilonoide, com simetria bilateral. Contorno oval, corpo central elipsoidal alongado segundo o diâmetro do grão. Marca monolete e raramente dilete. Sacos levemente intrareticulados. Dimensões (8 espécimes): Eixo equatorial: 59-80 µm, Eixo polar: 30-50 µm, Largura dos sacos: 8 (13) 26 µm, Diâmetro do corpo central: 31-45 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 6 Limitisporites sp. 2 Figura 10l Descrição: grão de pólen bissacado, diploxilonoide, com simetria bilateral. Contorno oval. Corpo central de coloração mais escura que os sacos, com formato elipsoidal 136 alongado segundo o eixo equatorial do grão. Marca monolete discreta a indistinta. Sacos médios, intrareticulados e de largura estreita, representando menos que 1/4 do eixo equatorial total. Dobras discretas na junção do corpo com os sacos, orientadas segundo o eixo polar. Dimensões (6 espécimes): Eixo equatorial: 36-55 µm, Eixo polar: 25-34 µm, Largura dos sacos: 5 (5) 14 µm, Diâmetro do corpo central: 23-27 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 1 ao nível 3 Limitisporites sp. 3 Figura 10m Descrição: grão de pólen bissacado, com aparência haploxilonoide, com simetria bilateral. Contorno oval. Corpo central circular. Marca monolete longa e elevada. Sacos médios, intrareticulados e de largura estreita, representando 1/5 do eixo equatorial total. Dobras na junção do corpo com os sacos, paralelas e orientadas segundo o diâmetro do grão. Dimensões (7 espécimes): Eixo equatorial: 56-110 µm, Eixo polar: 33-60 µm, Largura dos sacos: 10-29 µm, Diâmetro do corpo central: 31-43 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 3 e nível 6 Subturma POLYSACCITES Cookson 1947 Infraturma STRIATITI Pant 1954 Protohaploxypinus sp. Figura 10p Descrição: pólen bissacado, haploxilonoide a levemente diploxilonoide, simetria bilateral. Contorno oval. Corpo central de formato circular. Capa apresenta 5 tênias. Sacos semicirculares e intrareticulados. Prega semilunar orientada segundo o diâmetro do grão, localizada submarginalmente no corpo central. Dimensões (2 espécimes): Eixo equatorial: 53-74 µm, Eixo polar: 38-46 µm, Largura dos sacos: 14-19 µm, Diâmetro do corpo central: 33-45 µm. Distribuição nas amostras estudadas: nível 6 137 Turma MONOCOLPATI Iverson & Troels-Smith 1950 Subturma MONOCOLPATES Iversen & Tröels-Smith 1950 Cycadopites sp Figura 11d, h Descrição: grão de pólen monocolpado. Contorno equatorial oval, com alongamento segundo o diâmetro do grão. O alongamento termina em ápices proeminentes, podendo também ser achatados, margem lateral é arredondada. Colpo estreito, ao longo de toda a extensão maior do grão. Dimensões (36 espécimes): Eixo polar: 25-78 µm. Distribuição nas amostras estudadas: Nível 1, 2, 3 e 6