Projeto Pedagógico 2023 AULA DE ATUALIDADES – AULA Nº “Corrupção: origem, evolução e malefícios.” – TEMA: POR QUE AS MULHERES GANHAM MENOS QUE HOMENS – P7 Aluno(a): ________________________________________________________________________ Turma: PV2 Data: ___/_____/____ Prof.ª: Luiza Gonçalves Por que mulheres ganham menos que homens – e como superar o problema JULIANA DE CASTRO GALVÃO Pesquisa do IBGE comprova que mulheres enfrentam desigualdades no mercada do de trabalho em relação aos homens. Arquivo/Agência Brasil Mesmo em número maior entre as pessoas com ensino superior completo, as mulheres ainda enfrentam desigualdade no mercado de trabalho em relação aos homens. Essa disparidade se manifesta em outras áreas, além do item educação. É o que comprova o estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado hoje (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tomando por base a população de 25 anos ou mais de idade com ensino superior completo em 2016, as mulheres somam 23,5%, e os homens, 20,7%. Quando se comparam os dados com homens e mulheres de cor preta ou parda, os percentuais são bastante inferiores: 7% entre os homens e 10,4% entre mulheres. Em relação ao rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos e razão de rendimentos, por sexo, entre 2012 e 2016, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Isso significa que as mulheres têm rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$ 1.764, enquanto os homens, R$ 2.306. A economista Betina Fresneda, analista da Gerência de Indicadores Sociais do IBGE explica que os resultados educacionais não se refletem necessariamente no mercado de trabalho. Segundo ela, as mulheres, por terem nível de instrução maior do que os homens, não deveriam ganhar o mesmo salário, em média, deles. “Deveriam estar ganhando mais, porque a principal variável que explica o salário é educação. Você não só não tem um salário médio por hora maior, como na verdade essa proporção é menor.” Também a taxa de frequência escolar líquida ajustada no ensino médio em 2016 exibe maior percentual de mulheres (73,5%) que de homens (63,2%). A média Brasil atingiu 68,2%. Estudos mostram que o ambiente escolar é mais adequado ao tipo de criação dado às meninas, em que se premia a disciplina, por exemplo, disse a analista. “Tem mais a ver então com características da criação das meninas. Outros estudos mostram que, a partir do ensino médio, por exemplo, os homens começam a conciliar mais estudo e trabalho do que as mulheres. Diversos fatores que estão associados a papéis de gênero.” Em termos de rendimentos, vida pública e tomada de decisão, a mulher brasileira ainda se encontra em patamar inferior ao do homem, bem como no tempo dedicado a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. A pesquisa confirma ainda a desigualdade existente entre mulheres brancas e negras ou pardas. No tópico da educação, o estudo procurou ressaltar também que entre as mulheres, as desigualdades são marcantes. As mulheres brancas alcançam superior completo em proporção duas vezes maior que as pretas ou pardas. “Então, existe um efeito também da cor da pessoa na chance de concluir o ensino superior”, destacou a economista. O IBGE reuniu informações de três pesquisas no levantamento: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), partindo da base do Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (Cmig), proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Somaram-se a isso dados do Ministério da Saúde, do Congresso Nacional e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação (Inep). Os indicadores apurados foram agrupados em cinco temas: estruturas econômicas e acesso a recursos; educação; saúde e serviços relacionados; vida pública e tomada de decisões; e direitos humanos de mulheres e crianças. Dependendo do indicador, o período analisado vai se 2011 a 2016. Estruturas econômicas De acordo com o estudo, o tempo dedicado aos cuidados de pessoas ou a afazeres domésticos é maior entre as mulheres (18,1 horas por semana), do que entre os homens (10,5 horas por semana). Na média Brasil, são dedicadas por homens e mulheres 14,1 horas por semana a esse tipo de trabalho. “Por qualquer nível de desagregação que a gente faça, seja por regiões, como por raça ou por grupo de idade, há mulheres se dedicando com um número de horas bem maior do que os homens a esse tipo de trabalho”, ressaltou a pesquisadora do IBGE, Caroline Santos. Caroline destacou que por cor ou raça existe o agravante histórico, característico da formação do país, em que as mulheres pretas ou pardas se dedicam mais a esse tipo de trabalho não remunerado. De acordo com o estudo, as mulheres pretas ou pardas dedicam 18,6 horas semanais para cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, contra 17,7 horas entre as mulheres brancas. Representatividade O Brasil ocupa a 152ª posição entre 190 países, em relação ao percentual de cadeiras em suas câmaras de deputados ocupadas por mulheres em exercício Wilson Dias/Agência Brasil No que se refere à questão da representatividade, o estudo divulgado pelo IBGE evidencia que as mulheres são subrepresentadas em várias áreas, não só na vida política, como no Congresso Nacional e cargos ministeriais, mas também nos cargos gerenciais, nos cargos públicos e privados e na instituição policial. De acordo com a pesquisadora do IBGE Luanda Botelho, o Brasil está mal posicionado no ranking de países que informaram à organização InterParliamentary Union (IPU) o percentual de cadeiras em suas câmaras de deputados ocupadas por mulheres em exercício. Em dezembro de 2017, o Brasil ocupou a 152ª posição entre 190 países, com 10,5%, atrás de nações com histórico de violência contra a mulher, inclusive. Na comparação mundial, Luanda definiu como grave a situação do Brasil, que mostra o pior resultado entre os países sulamericanos. A pesquisadora destacou que o Brasil há ainda uma participação feminina reduzida nos cargos ministeriais. Em 13 de dezembro do ano passado, dos 28 cargos de ministro, apenas dois eram ocupados por mulheres. Segundo o IBGE, as mulheres estão em desigualdade com os homens no que se refere aos cargos gerenciais, tanto no setor público quanto no privado. Considerando cargos gerenciais por sexo, segundo os grupos de idade e cor ou raça, 62,2% dos homens ocupavam cargos gerenciais, em 2016, contra 37,8% das mulheres. Nas faixas etárias mais jovens, entre 16 a 29 anos de idade, em especial, as mulheres apresentam melhor desempenho: 43,4% contra 56,6% de homens. A participação de mulheres no efetivo das polícias civil e militar no Brasil é um indicador importante para avaliar a representatividade da mulher e também está associada à política nacional contra a violência contra a mulher. A lei prevê que a mulher vítima de violência seja atendida, preferencialmente, por policiais do sexo feminino. Mas ainda é pequena a participação feminina nas duas corporações. Em 31 de dezembro de 2013, as mulheres representavam 13,4% do efetivo ativo das polícias militares e civis no país, de acordo com dados da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic). No total Brasil, a proporção de mulheres no efetivo das polícias civis dos estados brasileiros atingia 26,4%, em dezembro de 2013, enquanto a participação nas polícias militares era de 9,8%. Edição: Talita Cavalcante Por que isso acontece? Poderíamos pensar que a diferença salarial está sendo afetada por diversas características diferentes entre os homens e as mulheres. No entanto, a partir dos dados do Censo 2010 é possível separar e observar um grupo de homens e mulheres que possuem as seguintes características em comum: idade, formação educacional, ocupação, número de horas trabalhadas, região geográfica e raça. Mesmo com todas essas características em comum, os dados mostram que essas mulheres ainda ganham em média 35% a menos do que os homens. Ou seja, ganham menos pelo simples fato de serem de outro sexo. A desigualdade salarial de gênero é formada, muitas vezes, antes da entrada dos indivíduos no mercado de trabalho. No entanto, o mercado de trabalho pode funcionar como um reprodutor e consolidador desta desigualdade. Por exemplo, algumas pessoas argumentam que mulheres têm preferência por certas profissões que pagam menos e, por isso, a desigualdade salarial não tem relação direta com a desigualdade de gênero. Contudo, essas escolhas profissionais acabam sendo reflexo da desigualdade de gênero já existente. Para diversos cientistas sociais, compreender como essas preferências profissionais são firmadas é muito importante. O Brasil tem um nível de segregação sexual entre cursos de graduação muito mais elevado do que os EUA, por exemplo. O importante aqui seria perguntar o porquê de mulheres estarem concentradas em cursos como educação e humanidades e comporem apenas 20% das engenheiras ou 40% das economistas. Será que isso teria a ver com o fato de existirem poucas professoras mulheres lecionando turmas de matemática, física ou química nas escolas? Ou será que existe um incentivo menor, na nossa cultura como um todo, para mulheres seguirem carreiras nas áreas mais ligadas às engenharias? Será que isso teria relação com as diferentes socializações primárias que são oferecidas para as crianças de acordo com seu sexo? Portanto, diversos são os fatores que poderiam explicar por que a proporção de engenheiras no Brasil é consideravelmente menor do que em outros países. Além da escolha da formação, os papéis de gênero também influenciam nas trajetórias profissionais das mulheres, especialmente no que diz respeito à maternidade e às tarefas domésticas. Segundo estudo de Carlos Costa Ribeiro, em média 80% dos afazeres domésticos são realizados pelas mulheres. Isso afeta o tempo que mulheres gastam investindo em suas carreiras em comparação com os homens, especialmente quando estas têm filhos. Outro fator importante é a licença maternidade, que ainda tem um custo muito alto na carreira das mulheres. Em países em que não existe uma forte licença maternidade, muitas mães, mesmo muito qualificadas no mercado de trabalho, acabam largando suas carreiras. Por outro lado, em países com fortes licenças maternidade, mas com fracas ou quase inexistentes licenças paternidade, mulheres acabam sendo preteridas em detrimento de seus colegas do sexo masculino. Isso ocorre, em parte, devido ao fato do risco financeiro de se contratar ou promover um homem ser menor. Na Islândia, por exemplo, país que ocupa o primeiro lugar no Global Gender Gap Index de 2014[1], a licença maternidade e paternidade é de 9 meses, dos quais 3 meses são para a mãe, 3 para o pai e mais 3 que são alocados da forma que os pais preferirem. Pesquisa realizada pela professora Michelle J. Budig da Universidade de Massachusetts-Amherst aponta que existe no geral uma penalidade salarial para mães e uma recompensa para pais. A penalidade é muito maior para mulheres mais pobres. Enquanto para os homens a recompensa é bem maior para homens ricos. A pesquisadora acredita que isso possa ocorrer pelo fato de a paternidade sinalizar ao empregador certas características desejáveis do empregado, como comprometimento, responsabilidade e estabilidade. Em resumo, podemos entender que o impacto das diferentes socializações e referências na infância na escolha profissional das mulheres, a persistência da concentração do serviço doméstico nelas e as diferenças de custo financeiro entre licenças maternidade e paternidade são alguns dos fatores que ajudam a entender a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Por que é importante pensarmos em estratégias para reduzir esta desigualdade? Primeiro podemos argumentar que a igualdade entre os gêneros é importante por conta de uma concepção de teoria da justiça. Dependendo da concepção de justiça que defendemos, a igualdade entre os seres humanos deve ser buscada como um fim em si. O segundo argumento tem como base uma noção de eficiência econômica e social, uma vez que, ao não promover igualdade de oportunidades para indivíduos desenvolverem os seus talentos independentemente de sexo, raça, orientação sexual, religião, dentre outras, a sociedade acaba alocando os indivíduos de forma ineficiente no mercado, o que pode levar a uma redução do crescimento econômico. Como destacado em artigo deste ano da The Economist, países poderiam aumentar o seu PIB entre 5 e 20% se a participação feminina no mercado de trabalho fosse parecida com a masculina. Dessa forma, a luta pela igualdade de gênero não é apenas a coisa certa a se fazer de um ponto de vista ético, mas é também uma estratégia inteligente do ponto de vista econômico. https://www.politize.com.br/