Cálculo I (M1001) Lic:CC e Lic:IACD, 1º ano Docente: Manuel Delgado Ano letivo de 2022/2023 (Versão de: 8 de novembro de 2022 ) Estes slides correspondem à segunda parte da matéria a abordar na Unidade Curricular Cálculo I. As segundas partes das provas de avaliação cobrirão esta matéria. Os slides são baseados na principal referência da UC: James Stewart, “Calculus, early transcendentals”, 8ª edição, 2017 (disponı́vel na bibliteca da FCUP) Esta será adiante designada por “livro” e serão indicadas as seções do mesmo em correspondência com partes dos slides. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ – ▷◁ 2 1 Primitivas Os slides desta secção baseiam-se nas secções 4.9 e 5.4 do livro. Definem-se primitivas, também, sugestivamente, designadas por antiderivadas ou por integrais indefinidos. São apresentados alguns exemplos e é dada uma lista de primitivas imediatas. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – ▷◁ 3 Primitivas Definição Sejam F e f duas funções reais de variável real definidas num intervalo I . Diz-se que F é uma primitiva de f em I se F ′ (x) = f (x) para x ∈ I . Uma primitiva é também, sugestivamente, designada por antiderivada. Integral indefinido é também uma terminologia usada. Ficará claro adiante a razão de ser desta terminologia, a qual de algum modo justifica que nos refiramos ao processo de encontrar primitivas indistintamente como “primitivação” ou “integração”. Uma função f diz-se primitivável no intervalo I se existir uma primitiva de f em I e representa-se por Z f (x) dx qualquer primitiva de f . Diremos tratar-se da primitiva geral de f . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 4 Exemplos ▶ Como (x 2 )′ = 2x, tem-se que x 2 é uma primitiva de 2x. ▶ Como (− cos x)′ = sen x, tem-se que − cos x é uma primitiva de sen x. O comando ’integral’ do sage permite encontrar primitivas: sage: integral( 2*x, x ) x^2 sage: integral(sin(x),x) -cos(x) Tal como (x 2 )′ = 2x, também (x 2 + 5)′ = 2x. Assim, tanto a função F (x) = x 2 como a função G (x) = x 2 + 5 são primitivas da função h(x) = 2x. Mais geralmente, qualquer função H(x) = x 2 + C , onde C é uma constante, é uma primitiva de h. Existirão outras primitivas de h? Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 5 Como para uma função f com uma primitiva F se tem que F (x) + C é também uma primitiva de f , qualquer que seja a constante C , a pergunta anterior faz sentido para qualquer outra função. A resposta, para uma função definida num intervalo, é mais uma consequência do Teorema do Valor Médio. Lembramos um corolário do Teorema do Valor Médio: se duas funções têm a mesma derivada num intervalo, então diferem de uma constante. Assim, se F e G são primitivas de f num intervalo, então F ′ (x) = f (x) = G ′ (x) donde G (x) − F (x) = C , onde C é uma constante. Como consequência, podemos escrever: Teorema Se F é uma primitiva de f num intervalo I , a primitiva geral de f em I é F (x) + C onde C é uma constante arbitrária. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 6 Exemplos Encontre a primitiva geral de cada uma das seguintes funções: a) f (x) = x1 ; b) f (x) = x n , Solução. d (ln x) = x1 . a) Sabemos que dx Logo, no intervalo (0, +∞) a primitiva geral de Sabemos também que d dx (ln |x|) = 1 x, 1 x n ̸= −1. é ln x + C . para todo o x ̸= 0. O teorema anterior diz-nos que a primitiva geral de f (x) = x1 é ln |x| + C em qualquer intervalo que não contenha 0. Em particular, vale em cada um dos intervalos (−∞, 0) e (0, +∞). Assim, a primitiva geral de f (x) = x1 é: ln x + C1 F (x) = ln(−x) + C2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas se x > 0 se x < 0 ▷◁ 7 b) Da regra de derivação da potência resulta que a primitiva geral de f (x) = x n é: x n+1 F (x) = +C n+1 a qual vale para todo o n ≥ 0, pois neste caso f (x) = x n está definida num intervalo (R). Quando n é negativo, mas diferente de −1, a fórmula vale em qualquer intervalo que não contenha 0. Convencionamos que quando é dada uma fórmula para uma primitiva geral de um integral indefinido ela é válida apenas num intervalo. Assim, escrevemos Z 1 1 dx = − + C x2 x no entendimento de que a fórmula é válida nos intervalos (0, +∞) ou (−∞, 0). Isto é verdade apesar do facto de a primitiva geral da função f (x) = 1/x 2 , x ̸= 0 ser −1/x + C1 se x > 0 F (x) = −1/x + C2 se x < 0 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 8 Note-se que uma fórmula de derivação quando lida da direita para a esquerda dá uma fórmula de primitivação. O seguinte facto, muito útil, é fácil de verificar (derive em ambos os membros). Proposição Sejam f e g duas funções primitiváveis num intervalo I e c um número real. Então: R R ▶ c f (x) dx = c f (x) dx R R R ▶ (f (x) + g (x)) dx = f (x) dx + g (x) dx Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 9 Apresentamos a seguir diversas fórmulas particulares. Trata-se de primitivas imediatas. Para as verificar, basta derivar. Z k dx = kx + C Z Z 1 x dx = x n+1 + C , n ̸= −1 n+1 n x x Z Z e dx = e + C Z Z Cálculo I – 2022/23 ax dx = ax +C ln a Z sen x dx = − cos x + C cos x dx = sen x + C Z 1 dx = ln |x| + C x 1 dx = tg x + C (cos x)2 √ 1 dx = arcsen x + C 1 − x2 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas Z Z 1 dx = arctg x + C 1 + x2 −√ 1 dx = arccos x + C 1 − x2 ▷◁ 10 Exemplo Z Calcule 2x 5 − 4 sen x + x Solução. Tem-se 4 sen x + Z √ 2x 5 − x x 2x 5 − 4 sen x + x √ x dx = 4 sen x + √ x 2x 5 x + √ − x x Z = 4 sen x + 2x 4 − x −1/2 Z Z 4 sen x dx + 2x dx + (−x −1/2 ) dx Z Z Z 4 = 4 sen x dx + 2 x dx − x −1/2 dx dx = 4 x5 x 1/2 − +C 5 1/2 √ 2x 5 = −4 cos x + −2 x +C 5 = −4 cos x + 2 Observação Para verificar que calculámos bem uma primitiva, podemos derivar o resultado. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 Primitivas – Primitivas ▷◁ 11 2 Técnicas de integração Os slides desta secção baseiam-se nas secções 5.5, 7.1 e 7.4 do livro. A cada regra de derivação corresponde uma regra de integração. A regra da cadeia corresponde à chamada integração por substituição. A regra que corresponde à regra do produto para derivação é chamada integração por partes. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – ▷◁ 12 A regra de substituição A lista de primitivas imediatas apresentada anteriormente não nos diz nada sobre como calcular um integral indefinido como Z p 2x 1 + x 2 dx Para encontrar um tal integral usamos a estratégia de introduzir algo extra. Este “algo extra” é, neste contexto, uma nova variável. Passamos de uma variável x a uma variável u. Tomando para u o que está debaixo da raiz, isto é, u = 1 + x 2 , temos que a diferencial de u é du = 2x dx. Se o dx que aparece no integral for interpretado como uma diferencial, então 2x dx ocorre no integral e, formalmente (antes de nos preocuparmos com justificações), podemos escrever Z Z p Z p √ 2 2 1 + x 2x dx = u du 2x 1 + x dx = Cálculo I – 2022/23 = ▷◁ 2 3/2 2 u + C = (1 + x 2 )3/2 + C 3 3 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 13 Podemos verificar que obtivemos a resposta correta usando a regra da cadeia para derivar o resultado obtido: p 2 3 d 2 (1 + x 2 )3/2 + C = · (1 + x 2 )1/2 · 2x = 2x 1 + x 2 dx 3 3 2 De um modo geral, este método funciona sempre que temos um integral R que conseguimos escrever na forma f (g (x))g ′ (x) dx. Observe-se que, sendo F ′ = f , se tem Z F ′ (g (x))g ′ (x) dx = F (g (x)) + C pois, pela regra da cadeia, d (F (g (x)) + C ) = F ′ (g (x))g ′ (x) dx Fazendo a “mudança de variável” (ou “substituição”) u = g (x), então Z Z F ′ (g (x))g ′ (x) dx = F (g (x)) + C = F (u) + C = F ′ (u) du Escrevendo F ′ = f , obtemos Z Z ′ f (g (x))g (x) dx = f (u) du Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 14 Acabamos de provar a Regra da substituição Se u = g (x) for uma função diferenciável cujo contradomı́nio é um intervalo I e f for uma função contı́nua em I , então Z Z f (g (x))g ′ (x) dx = f (u) du Note-se que a regra de substituição para a integração foi provada usando a regra da cadeia para a derivação. Também, se u = g (x), então du = g ′ (x) dx, pelo que uma boa forma de memorizar a regra de substituição é pensar em dx e du como se de diferenciais se tratasse. No fundo, a regra de substituição diz que é permitido trabalhar com dx e du depois do sinal de integral como se fossem diferenciais. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 15 Exemplo Z Calcule x 3 cos(x 4 + 2) dx. Solução. Fazemos a substituição u = x 4 + 2. Note-se que, a menos de um fator constante, a diferencial du = 4x 3 dx ocorre no integral. Usando x 3 dx = 14 du e a regra de substituição, temos Z Z Z 1 1 3 4 x cos(x + 2) dx = cos u · du = cos u du 4 4 1 1 = sen u + C = sen(x 4 + 2) + C 4 4 Note-se que no último passo devemos voltar à variável original. A ideia por detrás da regra de substituição é substituir um integral relativamente complicado por um mais simples, como o exemplo acima ilustra. O grande desafio está em encontrar uma substituição apropriada. Quando é possı́vel escolher u como uma função que aparece no integral e a derivada também aparece no integral, a menos de um fator constante, a substituição normalmente funciona bem. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 16 Se não for possı́vel escolher um u nas condições deferidas antes, pode acontecer que substituir a função interior de uma função composta funcione. Mas pode não funcionar; nesse caso deverá tentar-se outra substituição ou talvez outro método... Exemplo Z Calcule √ 2x + 1 dx. Solução. Seja u = 2x + 1. Então du = 2 dx, logo dx = 12 du. Pela regra de substituição Z Z Z √ √ 1 1 √ 2x + 1 dx = u · du = u du 2 2 u = 2x + 1 du = 2 dx 1 u 3/2 1 · + C = · u 3/2 + C 2 3/2 3 1 = · (2x + 1)3/2 + C 3 = Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 17 Vejamos outra solução possı́vel para √ o exemplo anterior. Consideremos a substituição u =√ 2x + 1. dx Então du = √2x+1 , donde dx = 2x + 1 du = u du. (Observe-se que com esta substituição se tem u 2 = 2x + 1, logo 2u du = 2 dx.) Z √ Z 2x + 1 dx = = Z u · u du = u 2 du u3 1 + C = · (2x + 1)3/2 + C 3 3 Exemplo 2 e x x dx. Z Z 2 2 1 1 2 Solução. e x x dx = e x 2x dx = e x + C 2 2 Calcule Cálculo I – 2022/23 R u = x2 du = 2x dx ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 18 Com alguma experiência, integrais como os dos exemplos anteriores podem calcular-se sem a maçada de explicitar a substituição. Mas há casos mais complicados. Exemplo√ R Calcule 1 + x 2 x 5 dx. Solução. Se escrevermos x 5 como x 4 · x torna-se mais óbvia uma substituição adequada. Seja u = 1 + x 2 . Então du = 2x dx, logo x dx = 21 du. Também x 2 = u − 1, pelo que x 4 = (u − 1)2 . Z p Z p 5 2 1 + x x dx = 1 + x 2 x 4 · x dx Z Z √ 1 1 √ = u(u − 1)2 · du = u u 2 − 2u + 1 du 2 2 Z 1 5/2 u − 2u 3/2 + u 1/2 du = 2 1 2 7/2 2 5/2 2 3/2 = u −2· u + u +C 2 7 5 3 7/2 2 5/2 1 3/2 1 = 1 + x2 − 1 + x2 + 1 + x2 +C 7 5 3 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 19 Exemplo Calcule R 1 3+5x 2 dx. Solução. Z Cálculo I – 2022/23 ▷◁ Z 1 1 1 dx dx = 3 + 5x 2 3 1 + 35 x 2 Z 1 1 = q 2 dx 3 5 1+ 3x q r Z 5 1 3 3 = q 2 dx 3 5 5 1+ x 3 r ! √ 3 5 x +C = √ arctg 3 3 5 ! √ √ 15 15 = arctg x + C. 15 3 2 Técnicas de integração – A regra de substituição ▷◁ 20 Integração por partes A regra do produto diz que se f e g forem funções deriváveis, então d (f (x)g (x)) = f (x)g ′ (x) + g (x)f ′ (x) dx Na notação para integrais indefinidos podemos escrever Z [f (x)g ′ (x) + g (x)f ′ (x)] dx = f (x)g (x) ou Z f (x)g ′ (x) dx + Z g (x)f ′ (x) dx = f (x)g (x) Rearranjando esta igualdade obtemos a fórmula para a integração por partes apresentada no slide seguinte. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 21 Fórmula para a integração por partes Z ′ f (x)g (x) dx = f (x)g (x) − Z g (x)f ′ (x) dx (1) Fazendo u = f (x) e v = g (x) obtemos as diferenciais du = f ′ (x) dx e dv = g ′ (x) dx. Usando a regra de substituição, a Fórmula (1) toma a forma seguinte, provavelmente mais fácil de memorizar: Z Z u dv = uv − v du (2) Exemplo Z Calcule x sen x dx. Vamos usar este exemplo para a ilustrar a aplicação da fórmula para a integração por partes tanto na forma dada por (1) como por (2). Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 22 Solução usando (1). Suponhamos que fazemos a escolha f (x) = x e g ′ (x) = sen x. Então f ′ (x) = 1 e g (x) = − cos x. Então, usando (1), temos Z Z x sen x dx = f (x)g (x) − g (x)f ′ (x) dx Z = x(− cos x) − (− cos x) dx Z = −x cos x + cos x dx = −x cos x + sen x + C Observe-se que a escolha de qualquer outra primitiva para g levaria ao mesmo resultado. (Note que esta observação vale para qualquer exemplo.) Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 23 Solução usando (2). Seja u=x dv = sen x dx Então du = dx v = − cos x Então, usando (2), temos Cálculo I – 2022/23 v dv Z v du u u Z z }| { z}|{ z}|{ z }| { z}|{ z }| { x sen x dx = x (− cos x) − (− cos x) dx Z = −x cos x + cos x dx = −x cos x + sen x + C ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 24 Quando se usa integração por partes tem-se como objetivo obter um integral mais simples que aquele de que seR partiu. No exemplo anterior R partimos do integral x sen x dx e exprimimo-lo usando o integral cos x dx, que é mais simples. Se tivéssemos feito a escolha u = sen x e dv = x dx, então du = cos x dx e v = x 2 /2. Obtı́nhamos então: Z Z 1 x2 x 2 cos x dx x sen x dx = (sen x) − 2 2 R Como o integral x 2 cos x dx é mais complicado que aquele de que partimos, esta escolha parece ser má. Em geral, ao decidir a escolha de u e dv procura-se escolher para u = f (x) um fator da função integranda que se torne mais simples quando derivada, procurando-se também que dv = g ′ (x) dx seja facilmente integrável. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 25 Exemplo Calcule R Solução. ln x dx. Escolhemos u = ln x Resulta du = 1 dx x dv = dx v =x Integrando por partes: Z Z ln x dx = x ln x − x dx x Z = x ln x − dx = x ln x − x + C Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 26 Exemplo Calcule R x ln x dx. Solução. Z x ln x dx u = ln x du = x1 dx x2 ln x − = 2 Z x2 1 dx 2 x dv = x dx 2 v = x2 Z x2 1 ln x − x dx 2 2 x2 1 ln x − x 2 + C . = 2 4 = Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 27 Exemplo Calcule R t 2 e t dt. Solução. O facto de t 2 se tornar mais simples por derivação e e t não se alterar quando derivado ou primitivado, sugere a escolha: u = t2 dv = e t dt resultando então du = 2t dt Integrando por partes: Z 2 t 2 t v = et t e dt = t e − 2 Z te t dt R Obtivemos um integral, te t dt, mais simples que o original, mas ainda não se trata de uma primitiva imediata. Usamos também integração por partes para o calcular: Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 28 Z t te dt u=t du = dt t = te − Z e t dt = te t − e t + C dv = e t dt v = et Obtemos então Z Z 2 t 2 t t e dt = t e − 2 te t dt = t 2 e t − 2 te t − e t + C = t 2 e t − 2te t + 2e t + C1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes onde C1 = −2C ▷◁ 29 Exemplo R Calcule e x sen x dx. Solução. Nem e x nem sen x se tornam mais simples por derivação. Vamos escolher u = e x e dv = sen x dx. Então du = e x dx e v = − cos x. Integrando por partes: Z Z x x e sen x dx = −e cos x + e x cos x dx O integral que se obteve apresenta a mesma dificuldade que o original. Integrando novamente por partes, agora com u = e x e dv = cos x dx. Tem-se então du = e x dx, v = sen x. Z Z e x cos x dx = e x sen x − e x sen x dx Inserindo o resultado obtido na expressão anterior, podemos escrever Z Z e x sen x dx = −e x cos x + e x sen x − e x sen x dx o Rque pode ser visto como uma equação que podemos resolver em ordem a e x sen x dx, o integral que pretendemos calcular. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 30 Somando R e x sen x dx a ambos os membros obtemos: Z 2 e x sen x dx = −e x cos x + e x sen x Dividindo por 2 e juntando a constante de integração temos a solução: Z 1 e x sen x dx = e x (sen x − cos x) + C 2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração por partes ▷◁ 31 Integração de Funções racionais Vamos ver como integrar qualquer função racional exprimindo-a como uma soma de frações mais simples, ditas frações parciais, que sabemos integrar. Consideremos as frações 2/(x − 1) e 1/(x + 2). Tem-se: 2 1 2(x + 2) − (x − 1) x +5 − = = 2 x −1 x +2 (x − 1)(x + 2) x +x −2 O exemplo seguinte (onde se reverte o processo, isto é, parte-se de uma função racional e passa-se para frações mais simples) ilustra o método. Exemplo Z Calcule x2 x +5 dx. +x −2 Z x +5 dx = x2 + x − 2 Z 2 1 − x −1 x +2 dx = 2 ln |x − 1| − ln |x + 2| + C Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 32 As seguintes primitivas constam do formulário. Z 1 dx = ln |x + a| + C x +a Z 1 1 =− + C , para n > 1 n (x + a) (n − 1)(x + a)n−1 Z x 1 1 dx = arctg + C , para a ̸= 0 2 2 x +a a a Z 1 x +b 1 +C = arctg (x + b)2 + a2 a a Z 2x dx = ln(x 2 + a2 ) + C x 2 + a2 Z 2x + b dx = ln |x 2 + bx + c| + C x 2 + bx + c Z 2x + b 1 dx = − + C , n ̸= 1 2 n 2 (x + bx + c) (n − 1)(x + bx + c)n−1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 33 Vejamos como funciona em geral o método das funções racionais. Consideremos P(x) f (x) = Q(x) onde P e Q são polinómios. Se o grau de P for menor que o grau de Q, podemos exprimir f como uma soma de frações mais simples. Veremos adiante diversos exemplos. Se o grau de P for maior que o grau de Q, então damos um passo preliminar: dividindo P por Q obtemos P(x) = S(x)Q(x) + R(x) onde R é um polinómio de grau menor que o grau de Q, ou é o polinómio nulo. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 34 Temos então f (x) = P(x) R(x) = S(x) + Q(x) Q(x) onde R e S são polinómios. Se R for o polinómio nulo temos f (x) = P(x) Q(x) = S(x), um polinómio. R(x) Q(x) poderá ser expresso como uma soma de frações Caso contrário, parciais e então f é a soma de um polinómio com frações parciais. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 35 Exemplo Z x3 + x dx. x −1 Solução. O grau do numerador é maior que o grau do denominador, pelo que começamos por fazer uma divisão. Obtemos: Calcule x 3 + x = (x 2 + x + 2)(x − 1) + 2 o que nos permite escrever: Z 3 Z x +x 2 2 dx dx = x +x +2+ x −1 x −1 x3 x2 = + + 2x + 2 ln |x − 1| + C 3 2 Neste exemplo, o passo preliminar (a divisão) praticamente resolveu-nos o problema. Quando o denominador, Q(x), é mais complicado, devemos fatorizá-lo... (o que pode não ser fácil). Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 36 Pode mostrar-se que qualquer polinómio Q se pode escrever como um produto de fatores lineares (da forma ax + b) por fatores quadráticos irredutı́veis (da forma ax 2 + bx + c, com b 2 − 4ac < 0). Feita a divisão do numerador pelo denominador (se necessário) e fatorizado o denominador, exprime-se a função racional P(x)/Q(x) como uma soma de frações parciais da forma A (ax + b)i ou Ax + B (ax 2 j + bx + c) Há um resultado da Álgebra que garante que tal pode ser feito. Pode ocorrer algum dos 4 casos que vemos nos slides seguintes. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 37 Caso em que o denominador é produto de fatores lineares distintos. Podemos escrever Q(x) = (a1 x + b1 ) (a2 x + b2 ) · · · (ak x + bk ) onde nenhum fator é repetido. O teorema das frações parciais diz que existem constantes A1 , A2 , . . . , Ak tais que R(x) A1 A2 Ak = + + ··· + Q(x) a1 x + b1 a2 x + b2 ak x + bk (3) As constantes podem ser determinadas como no exemplo seguinte. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 38 Exemplo Z x 2 + 2x − 1 dx. 2x 3 + 3x 2 − 2x Solução. Atendendo a que o grau do numerador é menor que o grau do denominador, não precisamos de dividir. Fatorizamos o denominador: 2x 3 + 3x 2 − 2x = x 2x 2 + 3x − 2 = x(2x − 1)(x + 2) Calcule A decomposição em frações parciais terá a forma seguinte (porque o denominador tem 3 fatores distintos) x 2 + 2x − 1 A B C = + + x(2x − 1)(x + 2) x 2x − 1 x + 2 Para determinar A, B e C , multiplicamos ambos os membros da igualdade por x(2x − 1)(x + 2). Obtemos x 2 + 2x − 1 = A(2x − 1)(x + 2) + Bx(x + 2) + Cx(2x − 1) (4) Logo x 2 + 2x − 1 = (2A + B + 2C )x 2 + (3A + 2B − C )x − 2A Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 39 Os polinómios são iguais, pelo que os coeficientes dos termos do mesmo grau têm que ser iguais. Isso leva-nos ao sistema de equações lineares +B +2C = 1 2A 3A +2B −C = 2 −2A = −1 1 . cuja solução é A = 12 , B = 15 , e C = − 10 Z x 2 + 2x − 1 dx = 2x 3 + 3x 2 − 2x Z 11 1 1 1 1 + − dx 2x 5 2x − 1 10 x + 2 1 1 1 ln |2x − 1| − ln |x + 2| + K = ln |x| + 2 10 10 Para encontrar os coeficientes A, B e C (que sabemos existirem pelo teorema das frações parciais) poderı́amos usar um método alternativo, como ilustrado a seguir. A igualdade (4) vale para todos os valores de x. Em particular vale para x = 0, pelo que −2A = −1, ou seja, A = 12 . De modo análogo, a avaliação de ambos os membros de (4) em x = 12 permite determinar B e a avaliação em x = −2 permite determinar C . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 40 Poderı́amos usar o sage para confirmar o resultado do exemplo anterior, bem como para confirmar os resultados de alguns dos passos intermédios: sage: f(x)=(x^2+2*x-1)/(2*x^3+3*x^2-2*x) sage: factor(2*x^3+3*x^2-2*x) (2*x - 1)*(x + 2)*x sage: f.partial_fraction() x |--> 1/5/(2*x - 1) - 1/10/(x + 2) + 1/2/x sage: integral(f(x),x) 1/10*log(2*x - 1) - 1/10*log(x + 2) + 1/2*log(x) Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 41 Caso em que Q(x) é produto de fatores lineares, com alguns repetidos. Suponhamos que Q(x) tem um fator (ai x + bi ) repetido r vezes. Então, Ai em vez do termo ai x+b que aparece na equação (3) do caso anterior i usa-se A2 Ar Ai + r 2 + ··· + ai x + bi (ai x + bi ) (ai x + bi ) Exemplo Z x 4 − 2x 2 + 4x + 1 dx. x3 − x2 − x + 1 Solução. Começamos por dividir. Isso permite-nos escrever: Calcule x 4 − 2x 2 + 4x + 1 4x =x +1+ 3 3 2 2 x −x −x +1 x −x −x +1 Seguidamente fatorizamos o denominador. Como 1 é uma raiz do denominador, tem-se que x − 1 é um seu fator. Obtém-se x 3 − x 2 − x + 1 = (x − 1) x 2 − 1 = (x − 1)(x − 1)(x + 1) = (x − 1)2 (x + 1) Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 42 Como o fator linear x − 1 ocorre duas vezes, a decomposição em frações parciais de (x−1)4x2 (x+1) é 4x A B C = + + (x − 1)2 (x + 1) x − 1 (x − 1)2 x +1 Multiplicando ambos os membros pelo mı́nimo múltiplo comum dos denominadores, (x − 1)2 (x + 1), obtemos +C = 0 A B −2C = 4 −A +B +C = 0 Resulta que A = 1, B = 2, e C = −1. Logo, Z 4 Z x − 2x 2 + 4x + 1 1 2 1 dx = x +1+ + − dx x3 − x2 − x + 1 x − 1 (x − 1)2 x +1 x2 2 = + x + ln |x − 1| − − ln |x + 1| + K 2 x −1 2 x −1 x2 = +x − + ln +K 2 x −1 x +1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 43 Caso em que Q(x) tem fatores quadráticos, nenhum dos quais se repete. Se Q(x) tiver um fator ax 2 + bx + c, em que b 2 − 4ac < 0, então, adicionalmente, R(x)/Q(x) tem um termo da forma Ax + B ax 2 + bx + c com A e B constantes a determinar. Por exemplo, a função f (x) = x/ (x − 2) x 2 + 1 x 2 + 4 tem uma decomposição em frações parciais da forma (x − Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2) (x 2 A Bx + C Dx + E x = + 2 + 2 2 + 1) (x + 4) x −2 x +1 x +4 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 44 Exemplo Z 2x 2 − x + 4 dx. x 3 + 4x Solução. Tem-se x 3 + 4x = x x 2 + 4 . Como x 2 + 4 é irredutı́vel, escrevemos 2x 2 − x + 4 A Bx + C = + 2 2 x (x + 4) x x +4 2 Multiplicando por x x + 4 , obtemos 2x 2 − x + 4 = A x 2 + 4 + (Bx + C )x Calcule = (A + B)x 2 + Cx + 4A Igualando os coeficientes obtemos A + B = 2 C = −1 4A = 4 donde resulta A = 1, B = 1 e C = −1. Consequentemente, Z Z 1 2x 2 − x + 4 x −1 dx = + dx x 3 + 4x x x2 + 4 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 45 Para integrar o segundo termo devemos separá-lo em duas frações: Z Z Z x −1 x 1 dx = dx − dx x2 + 4 x2 + 4 x2 + 4 Temos então Z 2x 2 − x + 4 dx = x (x 2 + 4) Z Z Z 1 x 1 dx + dx − dx x x2 + 4 x2 + 4 1 1 = ln |x| + ln x 2 + 4 − arctg(x/2) + K 2 2 Note-se que a última linha se obtém facilmente recorrendo ao formulário. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 46 Caso em que Q(x) tem algum fator quadrático repetido. Se Q(x) tiver um fator (ax 2 + bx + c)r , em que b 2 − 4ac < 0, a soma A2 x + B2 Ar x + Br A1 x + B1 + + ··· + r 2 2 2 ax + bx + c (ax 2 + bx + c) (ax + bx + c) ocorre na decomposição em frações parciais de R(x)/Q(x). Exemplo Escreva a decomposição parciais da função Z em frações 5x 3 + 2x 2 + 3x + 1 dx x 3 (x + 5)4 (x 2 + x + 1)2 Solução. 5x 3 + 2x 2 + 3x + 1 A B C = + 2+ 3 x 3 (x + 5)4 (x 2 + x + 1)2 x x x D E F G + + + + x + 5 (x + 5)2 (x + 5)3 (x + 5)4 Hx + I Jx + K + 2 + x + x + 1 (x 2 + x + 1)2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 47 Há casos em que funções integrandas não são racionais mas que podem ser transformadas em racionais mediante substituições apropriadas. Isso acontece frequentemente p quando a função integranda contém p uma expressão da forma n g (x). A substituição a tentar é u = n g (x). Exemplo Z √ x +4 dx. x √ Solução. Seja u = x + 4. Então u 2 = x + 4, donde x = u 2 − 4 e dx = 2u du. Logo Z √ Z Z Z x +4 u u2 4 du dx = 2u du = 2 du = 2 1 + x u2 − 4 u2 − 4 u2 − 4 Z Z Z Z du 1/4 1/4 = 2 du + 8 = 2 du + 8 − du u2 − 4 u−2 u+2 u−2 = 2u + 2 (ln |u − 2| − ln |u + 2|) + C = 2u + 2 ln +C u+2 √ √ x +4−2 = 2 x + 4 + 2 ln √ +C x +4+2 Calcule Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Técnicas de integração – Integração de Funções racionais ▷◁ 48 3 Integrais Os slides desta secção baseiam-se nas secções 5.1, 5.2, 5.3 e 7.8 do livro. Começamos com o problema da área e usamo-lo para formular a ideia de integral definido, o conceito básico do cálculo integral. A ligação entre o cálculo diferencial e o cálculo integral é dada pelo Teorema Fundamental do Cálculo. Terminaremos a secção com a consideração de integrais impróprios. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – ▷◁ 49 O integral definido Vamos procurar resolver o problema da área: encontrar a área da região R = {(x, y ) | a ≤ x ≤ b, 0 ≤ y ≤ f (x)} limitada pelo gráfico de uma função, o eixo dos x e as retas x = a e x = b, como na figura ao lado. Para o efeito devemos perguntar-nos: o que significa área? Para o caso de um retângulo (e outras regiões poligonais) é fácil de responder: é o produto do comprimento pela largura. Claro que temos uma ideia intuitiva do que é a área de uma região, possivelmente com lados curvos, mas devemos tornar esta ideia precisa. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 50 Exemplo Use retângulos para estimar a área A da região abaixo da parábola y = x 2 de x = 0 a x = 1 (a região R ilustrada na figura ao lado). Podemos desde logo observar que a área de R está entre 0 e 1, pois R está contida num quadrado de lado 1. Esta estimativa pode certamente ser melhorada. Suponhamos que dividimos a região em quatro subregiões determinadas pelas retas x = 1/4, x = 1/2 e x = 3/4, como ilustrado na figura. Seguidamente aproximamos a área de cada uma dessas subregiões por retângulos. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 51 Para fazer a aproximação de uma subregião podemos usar um retângulo com a mesma base e cuja altura é a mesma que a aresta direita, como a figura ao lado ilustra. Note-se que este retângulo aproxima por excesso a área da subregião correspondente. As alturas dos retângulos são os valores da função f (x) = x 2 nas extremidades direitas dos intervalos 1 1 1 1 3 3 0, , , , , , e ,1 4 4 2 2 4 4 Cada um destes retângulos tem largura 14 sendo as suas alturas 2 2 1 2 , 12 , 34 , e 12 , respetivamente. 4 Chamemos R4 à soma das áreas destes retângulos: 2 2 2 1 1 1 1 1 3 1 15 R4 = · + · + · + · 12 = = 0.46875 4 4 4 2 4 4 4 32 A figura indica-nos que a área A de R é menor que R4 . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 52 Podı́amos, de modo análogo, fazer a aproximação por defeito na qual são usados retângulos mais pequenos, em que as alturas são os valores de f nos extremos esquerdos dos intervalos. (Esta aproximação está ilustrada na figura ao lado. O primeiro retângulo tem altura 0. A soma das áreas dos retângulos: 1 1 L4 = · 02 + · 4 4 2 2 2 1 1 1 1 3 7 + · + · = = 0.21875 4 4 2 4 4 32 A figura indica que a área de R é maior que L4 . Obtemos assim 0.21875 < A < 0.46875 O processo pode ser repetido aumentando o número de regiões, o que leva a melhores aproximações, como as figuras do slide seguinte ilustram. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 53 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 54 Consideremos de novo a região R do exemplo anterior. Suponhamos que, em vez de 4, consideramos n subregiões (todas com base de comprimento 1/n). Note-se que isto corresponde a “partir” o intervalo [0, 1] em n subintervalos disjuntos de comprimento 1/n cada. Para a soma das áreas dos retângulos cujas alturas são as obtidas nas extremidades direitas (respetivamente esquerdas) usamos a notação Rn (respetivamente Ln ), generalizando a notação usada no caso n = 4. Exemplo Com a notação introduzida, mostre que lim Rn = n→∞ 1 3 Solução. As figuras do lado direito do slide anterior ilustram a situação, com n = 10 e n = 20. Cada retângulo tem largura 1/n e as alturas são os valores da função f (x) = x 2 nos pontos 1/n, 2/n, 3/n, . . . , n/n; isto é, as alturas são (1/n)2 , (2/n)2 , (3/n)2 , . . . , (n/n)2 . Então: Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 55 2 2 2 1 1 1 2 1 3 1 n 2 Rn = + + + ··· + n n n n n n n n 1 1 = · 2 12 + 22 + 32 + · · · + n2 n n 1 = 3 12 + 2 2 + 3 2 + · · · + n 2 n Usando a fórmula (que pode ser provada por indução – exercı́cio) n X i 2 = 12 + 22 + 32 + · · · + n2 = i=1 n(n + 1)(2n + 1) 6 obtém-se: Rn = 1 n(n + 1)(2n + 1) (n + 1)(2n + 1) · = n3 6 6n2 Então: Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 56 (n + 1)(2n + 1) 2 6n 2n + 1 1 n+1 = lim n→∞ 6 n n 1 1 1 = lim 1+ 2+ n→∞ 6 n n 1 1 = ·1·2= 6 3 lim Rn = lim n→∞ n→∞ Pode provar-se de modo análogo que lim Ln = n→∞ 1 3 o que nos permite definir a área A da região R como A = lim Rn = lim Ln = n→∞ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido n→∞ 1 3 ▷◁ 57 O mesmo tipo de raciocı́nio pode ser aplicado a regiões mais gerais: Começamos por dividir a região em faixas de igual largura: b−a n Essas faixas dividem o intervalo [a, b] em n subintervalos ∆x = [x0 , x1 ] , [x1 , x2 ] , [x2 , x3 ] , . . . , [xn−1 , xn ] onde x0 = a e xn = b. Os extremos direitos dos intervalos são: Cálculo I – 2022/23 x1 = a + ∆x x2 = a + 2∆x x3 = a + 3∆x ··· ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 58 Aproximamos a i-ésima faixa por um retângulo de largura ∆x e altura f (xi ) – o valor de f na extremidade direita. A área do retângulo é f (xi )∆x. O que intuitivamente pensamos como sendo a área da região R é aproximado pela soma das áreas destes retângulos Rn = f (x1 ) ∆x + f (x2 ) ∆x + · · · + f (xn ) ∆x = n X f (xi ) ∆x i=1 A uma soma deste tipo chamaremos soma de Riemann. Isto motiva a definição seguinte: Definição A área A de uma região R que está abaixo do gráfico de uma função não negativa e contı́nua é o limite da soma Rn das áreas dos retângulos: Cálculo I – 2022/23 A = lim Rn = lim n→∞ ▷◁ 3 Integrais – O integral definido n→∞ n X f (xi ) ∆x i=1 ▷◁ 59 Pode provar-se que o limite na definição anterior existe sempre, por estarmos a assumir que f é contı́nua. Pode também provar-se que se obtém o mesmo valor se usarmos as extremidades esquerdas dos intervalos: A = lim Ln = lim n→∞ n→∞ n−1 X f (xi ) ∆x i=0 Podem também ser usados outros pontos. A estes pontos chamamos pontos de amostragem. As figuras seguintes ilustram os casos em que se consideram as extremidades esquerdas e os pontos médios dos intervalos como pontos de amostragem. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 60 Lembramos que uma função contı́nua definida num intervalo fechado atinge um mı́nimo e um máximo nesse intervalo. Outros pontos de amostragem que seria natural considerar são, para cada subintervalo, o ponto em que a função atinge o mı́nimo, ▶ caso em que a soma das áreas dos retângulos se diz uma soma inferior o ponto em que a função atinge o máximo, ▶ caso em que a soma das áreas dos retângulos se diz uma soma superior Pode mostrar-se que a área A da região é o único número maior que todas as somas inferiores e menor que todas a somas superiores. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 61 O integral definido Limites da forma lim n→∞ n X f (xi ) ∆x, que nos apareceram para i=1 calcular/definir uma área, ocorrem em diversas situações, por exemplo para calcular a distância percorrida por um objeto. (Sugere-se a consulta da bibliografia para ver outros exemplos.) Usamos um nome e uma notação especiais para este tipo de limite. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 62 Definição Seja f uma função definida num intervalo fechado [a, b]. Dividimos [a, b] em n subintervalos de igual comprimento ∆x = (b − a)/n. Sejam x0 (= a), x1 , x2 , . . . , xn (= b) as extremidades desses subintervalos e sejam x1∗ , x2∗ , . . . , xn∗ pontos (ditos pontos de amostragem) tais que, para cada i, xi∗ pertence a [xi−1 , xi ]. O integral definido de f de a a b é Z b f (x) dx = lim a n→∞ n X f (xi∗ ) ∆x i=1 desde que este limite exista e tenha o mesmo valor para qualquer escolha dos pontos xi∗ . Se o limite existir, diz-se que f é integrável em [a, b]. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 63 Observações Z O sı́mbolo diz-se o sı́mbolo de integral. Z b Em f (x) dx, f (x) diz-se a função integranda e a e b dizem-se os a limites de integração (a é o limite inferior e b é o limite superior). O sı́mbolo dx indica-nos que x é a variável independente. Rb O integral definido a f (x) dx é um número. Não depende de x, podendo x ser substituı́do por outra letra qualquer sem que o valor do integral mude. A soma n X f (xi∗ ) ∆x i=1 diz-se uma soma de Riemann. Quando f é positiva, uma soma de Riemann pode ser vista como uma soma de áreas de retângulos. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 64 Comparando as definições (a de área e a de integral definido) vemos que, Rb no caso de f ser positiva, o integral definido a f (x) dx pode ser interpretado como sendo a área da região limitada pela curva y = f (x), o eixo dos x e as retas x = a e x = b. Quando f toma também valores negativos, como na figura ao lado, a soma de Riemann é a soma das áreas dos retângulos acima do eixo dos x com os simétricos das áreas dos retângulos que ficam abaixo do eixo dos x. Quando se toma o limite das somas de Riemann obtemos a situação ilustrada na figura ao lado. O integral definido pode ser interpretado como “área lı́quida”, isto é, a diferença das áreas Rb f (x) dx = A1 − A2 a onde A1 é a soma das áreas das regiões acima do eixo x e abaixo do gráfico de f , e A2 é a soma das áreas das regiões abaixo do eixo x e acima do gráfico de f . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 65 Observação Rb Embora tenhamos definido a f (x) dx dividindo [a, b] em subintervalos de igual comprimento, isso não é necessário. O que é necessário é que os comprimentos ∆x1 , ∆x2 , · · · , ∆xn , se aproximem de 0 no processo em que se toma o limite, o que se pode garantir exigindo que o máximo se aproxime de 0. Assim, a definição de integral torna-se: Z b f (x) dx = a lim max ∆xi →0 n X f (xi∗ ) ∆xi i=1 O teorema seguinte, cuja prova fica fora do âmbito desta unidade curricular, garante-nos que as funções mais comummente consideradas são integráveis. Teorema Se f é contı́nua em [a, b], ou se f é limitada e tem apenas um número finito descontinuidades, então f é integrável em [a, b]; isto é, o integral Rb definido a f (x) dx existe. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 66 Se f é integrável, então existe o limite que apareceu na definição de integral definido, não sendo afetado o seu valor pela forma como escolhermos os pontos xi∗ . Escolhendo as extremidades direitas dos intervalos, isto é, tomando xi∗ = xi , podemos escrever a definição de integral com um aspeto mais simples: Teorema Se f é integrável em [a, b], então Z b f (x) dx = lim n→∞ a onde ∆x = b−a n e O integral definido Rb simplesmente por a f . ▷◁ f (xi ) ∆x i=1 xi = a + i∆x. Notação. Cálculo I – 2022/23 n X 3 Integrais – O integral definido Rb a f (x) dx pode também ser denotado ▷◁ 67 Propriedades do integral definido Rb Aquando da definição de integral a f (x) dx assumimos implicitamente que a < b. Mas as somas de Riemann fazem sentido também quando a > b: ∆x passa a ser (a − b)/n. Assim Z b Z f (x) dx = − a a f (x) dx b Se a = b, então ∆x = 0 e tem-se Z b f (x) dx = 0 a O significado das propriedades seguintes em termos de áreas para funções positivas é claro. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 68 Assumimos que as funções f e g são contı́nuas. Tem-se: Proposição Z b c dx = c(b − a), onde c é uma constante 1. a Z b 2. Z b [f (x) + g (x)] dx = a Z a b 3. Z a g (x) dx a f (x) dx onde c é uma constante a b Z [f (x) − g (x)] dx = 4. b b cf (x) dx = c Z Z f (x) dx + a b Z f (x) dx − a b g (x) dx a A demonstração usa o facto de o limite da soma ser a soma dos limites. Pode ser feita como exercı́cio. (Consultar a literatura é uma possı́vel opção.) Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 69 Uma outra propriedade é dada pela proposição seguinte. Diz-nos como combinar integrais da mesma função sobre intervalos adjacentes. Proposição Z c Z f (x) dx + a b Z f (x) dx = c b f (x) dx a Esta proposição não é tão fácil de provar em geral, mas para uma função positiva o resultado é geometricamente claro. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 70 Registamos ainda propriedades de comparação (que podem ser úteis quando, por exemplo, estamos interessados em ter alguma estimativa do valor do integral definido). A proposição seguinte constitui um simples exercı́cio. Proposição Z b 1. Se f (x) ≥ 0 para a ≤ x ≤ b, então f (x) dx ≥ 0. a Z 2. Se f (x) ≥ g (x) para a ≤ x ≤ b, então b Z f (x) dx ≥ a b g (x) dx. a 3. Se m ≤ f (x) ≤ M para a ≤ x ≤ b, então Z b m(b − a) ≤ f (x) dx ≤ M(b − a). a Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 71 Exemplo Use a proposição anterior para dar uma estimativa do número R1 0 2 e −x dx. 2 Solução. Como a função f (x) = e −x é decrescente em [0, 1], o seu máximo absoluto é M = f (0) = 1 e o seu mı́nimo absoluto é m = f (1) = 0. Pela proposição anterior tem-se Z 1 2 −1 −1 e = e (1 − 0) ⩽ e −x dx ⩽ 1(1 − 0) = 1 0 Como e −1 ≃ 0.3679, podemos escrever Z 1 2 e −x dx ≤ 1 0.367 ≤ 0 A figura ao lado ilustra o exemplo: o integral é maior que a área do retângulo de baixo e menor que a área do quadrado. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – O integral definido ▷◁ 72 Teorema Fundamental do Cálculo O teorema fundamental do cálculo estabelece uma ligação entre os dois ramos do cálculo: o cálculo diferencial e o cálculo integral. A primeira parte do teorema trata de funções definidas por uma equação da forma Z x g (x) = f (t) dt a onde f é uma função contı́nua em [a, b] e x varia entre a e b. Note-se que g apenas depende de x, a variávelRque aparece como limite x superior de integração. Para x fixo, o integral a f (t) dt é um número. Z x Deixando x variar, f (t) dt também a varia e define uma função de x. Z Se f for x uma função positiva, então f (t) dt a pode ser interpretado como a área debaixo do gráfico de f desde a até x. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 73 Teorema (Teorema Fundamental do Cálculo, parte I (TFC1)) Se f é uma função contı́nua em [a, b], então a função g definida por Z x g (x) = f (t) dt a≤x ≤b a é contı́nua em [a, b] e derivável em (a, b), e tem-se g ′ (x) = f (x). Demonstração. Se x e x + h pertencerem a (a, b), então Z x+h Z x g (x + h) − g (x) = f (t) dt − f (t) dt a a ! Z Z Z x = x+h f (t) dt + a Z = f (t) dt x − x f (t) dt a x+h f (t) dt x Para h ̸= 0 tem-se: g (x + h) − g (x) 1 = h h Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo Z x+h f (t) dt x ▷◁ 74 Consideremos o caso h > 0. Então f é contı́nua no intervalo fechado [x, x + h] e neste intervalo existem u e v tais que m = f (u) M = f (v ) são, respetivamente, o mı́nimo absoluto e o máximo absoluto de f em [x, x + h]. Por uma proposição anterior, tem-se Z x+h f (u)h ≤ f (t) dt ≤ f (v )h x Como h > 0, podemos dividir todos os membros destas desigualdades por h (sem alterar o sentido das desigualdades): f (u) ≤ 1 h Z x+h f (t) dt ≤ f (v ) x Usando a última equação do slide anterior podemos escrever: f (u) ≤ g (x + h) − g (x) ≤ f (v ) h Note-se (exercı́cio) que o caso h < 0 conduz a estas mesmas desigualdades. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 75 Façamos agora h tender para 0. Então u → x e v → x, porque tanto u como v estão entre x e x + h. Resulta que lim f (u) = lim f (u) = f (x) h→0 u→x e lim f (v ) = lim f (v ) = f (x) h→0 v →x por f ser contı́nua em x. Usando agora o facto de termos funções enquadradas, obtemos g ′ (x) = lim h→0 g (x + h) − g (x) = f (x) h Concluı́mos assim que g é derivável em (a, b). Se x for um dos extremos do intervalo, a ou b, a equação anterior deve ser interpretada como um limite lateral. Como uma função diferenciável é contı́nua, concluı́mos que g é contı́nua em [a, b]. □ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 76 Exemplo x p 1 + t 2 dt. Encontre a derivada da função g (x) = 0 √ Solução. Como 1 + t 2 é contı́nua, podemos aplicar o TFC, parte I. Obtemos p g ′ (x) = 1 + x 2 Z Exemplo Z x4 sec t dt. Encontre a derivada da função g (x) = 0 Solução. Aqui g é uma função composta. Teremos de usar a regra da cadeia em conjunto com o TFC, parte I. Seja u = x 4 . Então d dx Cálculo I – 2022/23 ▷◁ Z x4 Z u d du sec t dt du dx 1 1 du = sec u = sec x 4 · 4x 3 dx sec t dt = 1 d dx Z u 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo sec t dt = ▷◁ 77 Teorema (Teorema Fundamental do Cálculo, parte II (TFC2)) Se f é uma função contı́nua em [a, b], então Z b f (x) dx = F (b) − F (a) a onde F é uma primitiva de f . Z Demonstração. x Seja g (x) = f (t) dt. Sabemos, pela parte I, que g é a uma primitiva de f . Se F for alguma outra primitiva de f em [a, b], então F e g diferem de uma constante: F (x) = g (x) + C para x ∈ (a, b) Como tanto F como g são contı́nuas em [a, b], tomando os limites laterais apropriados, concluı́mos que a igualdade acima vale também para x = a e para x = b, isto é, F (x) = g (x) + C Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo para x ∈ [a, b] ▷◁ 78 Fazendo x = a, tem-se Z g (a) = a f (t) dt = 0 a Usando agora x = b e x = a na equação acima, obtemos F (b) − F (a) = [g (b) + C ] − [g (a) + C ] Z = g (b) − g (a) = g (b) = b f (t) dt a o que conclui a demonstração do teorema. □ Juntamos agora as duas partes do Teorema Fundamental num único enunciado: Teorema (Teorema Fundamental do Cálculo) Suponhamos que f é uma função contı́nua em [a, b]. Z x 1. Se g (x) = f (t) dt, então g ′ (x) = f (x). Z a b f (x) dx = F (b) − F (a), 2. Tem-se de f . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ onde F é uma primitiva a 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 79 Exemplo Z Calcule 3 e x dx. 1 Solução. A função f (x) = e x é contı́nua em R (e, portanto, em [1, 3])e uma sua primitiva é F (x) = e x . Assim, a segunda parte do teorema fundamental do Cálculo permite-nos escrever: Z 3 e x dx = F (3) − F (1) = e 3 − e 1 Note-se que o TFC2 nos permite usar uma primitiva qualquer. No exemplo anterior poderı́amos ter usado, por exemplo, F (x) = e x + 7. Usa-se frequentemente a notação b F (x)]a = F (b) − F (a) x=b b b sendo também comum usar-se [F (x)]x=a , [F (x)]a ou F (x)|a . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 80 Exemplo Encontre a área da região entre 0 e 1 limitada pela parábola y = x 2 . Solução. Uma primitiva de f (x) = x 2 é F (x) = 31 x 3 . Podemos encontrar a área pedida usando o TFC2: Z A= 1 x 2 dx = 0 x3 3 1 = 0 03 1 13 − = 3 3 3 Já antes tı́nhamos calculado esta área... Conseguimo-lo usando vários slides... Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 81 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Z A= 0 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 3 x=2 x2 x 8 2 dx = = −0= 4 12 x=0 12 3 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 82 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Note-se que a curva y = cosx interseta o eixo dos x nos pontos de abcissas x = −π/2 e x = π/2. Z π/2 A= −π/2 x=π/2 cos x dx = [sen x]x=−π/2 = 2 Observando que cos x é uma função par, poderı́amos fazer: Z π/2 A= cos x dx = 2 −π/2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ Z 0 π/2 x=π/2 cos x dx = 2 [sen x]0 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo = 2(1 − 0) = 2 ▷◁ 83 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Z 1 A= −1 1 x=1 dx = [arctg x]x=−1 1 + x2 = arctg 1 − arctg(−1) = π/4 − (−π/4) = π/2. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 84 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Z Z 1 x 4 − 3x 3 + 2x 2 dx − A= 0 2 x 4 − 3x 3 + 2x 2 dx 1 x=2 x 3x 2x 3x 4 2x 3 x = − + − + − 5 4 3 x=0 5 4 3 x=1 5 4 1 3 2 2 3·2 2 · 23 1 3 2 = − + −0− − + − − + 5 4 3 5 4 3 5 4 3 5 1 3 2 2 3 · 24 2 · 23 1 =2 − + − − + = . 5 4 3 5 4 3 2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 5 4 3 x=1 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo 5 ▷◁ 85 Áreas entre curvas Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Z A= 1 √ Z 0 x3 2 3 x2 − = 3 3 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 x dx − 0 x=1 x=0 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo x 2 dx = Z 1 √ x − x 2 dx 0 2 1 1 = − = . 3 3 3 ▷◁ 86 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. A= Z = π/4 Z 5π/4 (1 + cos x − 1 − sen x) dx + 0 (1 + sen x − 1 − cos x) dx π/4 Z 2π (1 + cos x − 1 − sen x) dx + 5π/4 π/4 Z Z 5π/4 (cos x − sen x) dx + = 0 Z 2π (sen x − cos x) dx + π/4 x=π/4 (cos x − sen x) dx 5π/4 5π/4 = [sen x + cos x]x=0 + [− cos x − sen x]π/4 + [sen x + cos x]2π 5π/4 √ √ √ √ = 2 − 1 + 2 2 + 1 + 2 = 4 2. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 87 Exemplo Calcule a área (A) da região a cinzento na figura ao lado. Solução. Note-se que 4 − x = x ⇔ x = 2 e 4 − x = x/3 ⇔ x = 3. Z 3 Z 3 x x dx + 4 − x dx − dx 3 0 0 2 2 3 Z 3 Z 2 Z 3 Z 2 x x 2x 4x 4 − x − dx = 4− x − dx + dx + dx = 3 3 3 3 0 2 0 2 2 x=2 x=3 x 2x 2 = + 4x − = 2. 3 x=0 3 x=2 Z A= Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 2 Z 2 x dx − 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 88 Regra da substituição para integrais definidos Para calcular um integral definido usando a regra da substituição podemos encontrar uma primitiva usando a regra, fazendo depois uso do TFC. Alternativamente, podemos usar a regra seguinte, que nos permite mudar os limites de integração ao mesmo tempo que mudamos a variável. Teorema (Regra da substituição para integrais definidos) Se g ′ é uma função contı́nua em [a, b] e f é contı́nua no contradomı́nio de u = g (x), então Z b ′ Z g (b) f (g (x))g (x) dx = a f (u) du g (a) Demonstração. Seja F uma primitiva de f . Resulta da regra da cadeia que F (g (x)) é uma primitiva de f (g (x))g ′ (x). Pelo TFC2, temos Z b b f (g (x))g ′ (x) dx = [F (g (x))]a = F (g (b)) − F (g (a)) a Outra vez pelo TFC2, temos Z g (b) g (b) f (u) du = [F (u)]g (a) = F (g (b)) − F (g (a)) Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo □ ▷◁ 89 Exemplo Z 2 dx . 2 1 (3 − 5x) Solução. Seja u = 3 − 5x. Então du = −5dx, logo dx = −1/5du. Quando x = 1 tem-se u = −2 e quando x = 2 tem-se u = −7. Logo −7 Z 2 Z dx 1 1 −7 du 1 =− =− − 2 5 −2 u 2 5 u −2 1 (3 − 5x) −7 1 1 1 1 1 = = − + = 5u −2 5 7 2 14 Calcule Exemplo Z e ln x dx. x 1 Solução. Fazemos u = ln x. Então du = dx/x. Quando x = 1 tem-se u = ln 1 = 0 e quando x = e tem-se u = ln e = 1. Logo 1 Z e Z 1 ln x u2 1 dx = u du = = x 2 2 1 0 0 Calcule Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Teorema fundamental do cálculo ▷◁ 90 Integrais impróprios Os integrais impróprios representam uma tentativa de medir a área de uma região infinita... ...se tal for possı́vel! Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 91 Integrais impróprios (de tipo I) ▶ Z +∞ Z f (x) dx = M lim f (x) dx, se este limite existir e for finito. Z +∞ ▶ Nesse caso diz-se que o integral impróprio f (x) dx converge. a Z a Z a ▶ f (x) dx = lim f (x) dx, se este limite existir e for finito. M→−∞ M −∞ Z a ▶ Nesse caso diz-se que o integral impróprio f (x) dx converge. a M→+∞ a −∞ Z +∞ ▶ Diz-se que o integral impróprio f (x) dx converge se e só se os −∞ Z 0 Z +∞ f (x) dx convergirem. f (x) dx e integrais impróprios −∞ 0 ▶ Nesse caso Cálculo I – 2022/23 Z +∞ Z f (x) dx = −∞ ▷◁ 0 3 Integrais – Integrais impróprios Z f (x) dx + −∞ +∞ f (x) dx. 0 ▷◁ 92 Exemplo ▶ Cálculo I – 2022/23 Z 1 +∞ 1 dx: x Z lim M→+∞ 1 M 1 x=M dx = lim [ln x]x=1 M→+∞ x = lim ln M = +∞ M→+∞ Z pelo que 1 ▷◁ +∞ 1 dx não converge. x 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 93 Exemplo ▶ Cálculo I – 2022/23 Z 1 +∞ 1 dx: x2 lim M→+∞ RM 1 1 x2 dx = = Z donde se conclui que 1 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios +∞ lim 1 x=M − x x=1 lim (1 − M→+∞ M→+∞ 1 dx converge e x2 1 M) Z 1 = 1. +∞ 1 dx = 1. x2 ▷◁ 94 Exemplo ▶ Cálculo I – 2022/23 Z 0 e x dx: −∞ R0 lim M M→−∞ e x dx = = Z −∞ ▷◁ [e x ]x=M lim (1 − e M ) = 1. M→−∞ 0 donde resulta que 3 Integrais – Integrais impróprios x=0 lim M→−∞ e x dx converge e Z 0 e x dx = 1. −∞ ▷◁ 95 Exemplo ▶ Z +∞ −∞ 1 dx: x2 + 1 RM lim 0 M→+∞ Z +∞ 1 x 2 +1 dx = 1 dx converge e 2 x +1 0 Analogamente, tem-se lim M→+∞ Z donde Z 0 lim M→−∞ M 0 arctg M = +∞ x2 π 2 1 π dx = . +1 2 1 π dx = lim − arctg M = M→−∞ x2 + 1 2 Z 0 1 1 π dx converge e dx = . 2+1 2+1 x x 2 −∞ Z +∞ −∞ 1 Podemos então concluir que dx converge e 2 −∞ x + 1 Z +∞ Z 0 Z +∞ 1 1 1 dx = dx + dx = π. 2+1 2+1 2+1 x x x −∞ −∞ 0 Z 0 donde Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 96 Exemplo ▶ Cálculo I – 2022/23 Z +∞ 1 dx: começamos por calcular a primitiva 2−1 x 2 Z Z Z 1 1 1 1 1 dx = dx = − dx x2 − 1 (x − 1)(x + 1) 2 x −1 x +1 1 1 x −1 = (ln |x − 1| − ln |x + 1|) + C = ln +C 2 2 x +1 sendo então Z lim M→+∞ 2 M 1 1 dx = lim M→+∞ 2 x2 − 1 √ = ln 3, ln M −1 1 − ln M +1 3 Z +∞ 1 donde se conclui que dx converge e 2−1 x 2 Z +∞ √ 1 dx = ln 3. 2 x −1 2 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 97 Exemplo ▶ +∞ Z 1 1 dx, a ̸= 1: xa M Z lim M→+∞ 1 1−a x=M x 1 dx = lim M→+∞ 1 − a x=1 xa 1−a M 1 = lim − M→+∞ 1−a 1−a ( 1 se a > 1 = a−1 +∞ se a < 1. Logo: ▶ se a > 1, então ▶ se a < 1, então +∞ Z Z1 +∞ 1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios Z +∞ 1 1 1 dx converge e dx = ; a xa x a − 1 1 1 dx não converge. xa ▷◁ 98 Integrais impróprios (de tipo II) ▶ Se f é uma função contı́nua em [a, b) e é descontı́nua em b, então Z b Z t f (x) dx = lim− f (x) dx t→b a a se este limite existir e for finito. ▶ Nesse caso diz-se que o integral impróprio b Z f (x) dx converge. a ▶ Se f é uma função contı́nua em (a, b] e é descontı́nua em a, então Z b Z b f (x) dx = lim+ f (x) dx t→a a t se este limite existir e for finito. ▶ Nesse caso diz-se que o integral impróprio b Z f (x) dx converge. R ▶ Se f tem uma descontinuidade em (a, b) e tanto ac f (x) dx como Rb f (x) dx são convergentes, define-se c Z b Z c Z b f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx a a Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios a c ▷◁ 99 ExemploZ 5 1 dx. x −2 2 √ Solução. O integral é impróprio porque f (x) = 1/ x − 2 tem uma assı́ntota vertical x = 2. A descontinuidade infinita ocorre na extremidade esquerda de [2, 5]. √ Encontre Z 2 5 5 h √ i5 dx = lim+ 2 x − 2 t x − 2 t→2 t √ √ √ = lim+ 2 3− t −2 =2 3 dx √ = lim x − 2 t→2+ Z √ t→2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 100 Exemplo 1 Z Encontre ln x dx. 0 Solução. A função f (x) = ln x tem uma assı́ntota vertical x = 0, pois limx→0+ ln x = −∞. Então Z 1 Z 1 ln x dx = lim+ ln x dx t→0 0 t Integrando por partes, com u = ln x, dv = dx, du = dx/x, e v = x obtemos Z 1 Z 1 1 ln x dx = x ln x]t − dx t t = 1 ln 1 − t ln t − (1 − t) = −t ln t − 1 + t Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 101 Para encontrar o limite do primeiro termo usamos a regra de L’Hôpital. lim+ t ln t = lim+ t→0 t→0 1/t ln t ( ∞ ∞) = lim = lim+ (−t) = 0 t→0+ −1/t 2 t→0 1/t Logo Z 0 1 ln x dx = lim+ (−t ln t − 1 + t) = −0 − 1 + 0 = −1 t→0 Concluı́mos que a área da região sombreada na figura acima é 1. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 102 Teorema (Comparação de integrais impróprios) Suponhamos que f e g são funções contı́nuas tais que f (x) ≥ g (x), para x ≥ a. R∞ R∞ 1. Se a f (x) dx for convergente, então a g (x) dx é convergente. R∞ R∞ 2. Se a g (x) dx for divergente, então a f (x) dx é divergente. Exemplo Mostre que Cálculo I – 2022/23 ▷◁ R∞ 0 2 e −x dx é convergente. 3 Integrais – Integrais impróprios ▷◁ 103 4 Sucessões e séries Os slides desta secção baseiam-se nas secções 11.1 e 11.2 do livro. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – ▷◁ 104 Sucessões Uma sucessão pode ser pensada como sendo uma lista de números escritos por ordem a1 , a2 , a3 , . . . , an , . . . O número a1 diz-se o primeiro termo, a2 diz-se o segundo termo. De uma forma geral, an diz-se o termo de ordem n. Observe-se que para a inteiro positivo n corresponde um número real an , pelo que uma sucessão pode definir-se como sendo uma função cujo domı́nio é o conjunto dos inteiros positivos. É habitual escrever-se an em vez de usar a notação f (n) geralmente usada para denotar o valor da função em n. A sucessão {a1 , a2 , a3 , . . .} costuma denotar-se por alguma notação como {an }, {an }n≥1 , {an }∞ n=1 , (an ), (an )n≥1 Os ı́ndices podem não começar em 1; nestes casos é particularmente útil alguma notação como {an }n≥3 , por exemplo. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 105 As sucessões são frequentemente definidas por meio de uma fórmula para o termo de ordem n, o qual também se diz o termo geral da sucessão. Exemplo 1. 2. n n n+1 cos o∞ , sucessão de termo geral an = n=1 nπ ∞ 6 n=0 , n n+1 ; sucessão de termo geral an = cos nπ 6 , n ≥ 0. Exercı́cio Para cada uma das sucessões do exemplo acima, indique a lista dos 10 primeiros termos. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 106 Há, no entanto, muitas outras formas de definir uma sucessão. Exemplo ∞ 1. {pn }n=1 , onde pn é a população mundial (em milhões de pessoas) a 1 de janeiro do ano n; 2. se representarmos por an o n-ésimo algarismo na representação decimal de π, então {an } é uma sucessão cujos primeiros termos são {3, 1, 4, 1, 5, 9, 2, 6, 5, 3, 5, . . .}. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 107 Podemos definir uma sucessão por recorrência: damos os primeiros termos e indicamos como obter os restantes termos à custa dos anteriores. Exemplo 1. {tn }n≥0 tal que t0 = 1; tn = tn−1 + 3, n ≥ 1; 2. {fn }n≥1 tal que f1 = 1; f2 = 1; fn = fn−1 + fn−2 , n ≥ 3; (Esta sucessão é designada por sucessão de Fibonacci.) Exercı́cio Para cada uma das sucessões do exemplo acima, indique a lista dos seus 10 primeiros termos. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 108 Definição Uma sucessão {an } tem limite L e escrevemos lim an = L n→∞ ou a → L se n → ∞ se para todo o ε > 0 existe um inteiro N tal que se n > N, então |an − L| < ε. Quando limn→∞ an existe dizemos que a sucessão {an } converge (ou que é convergente). Caso contrário dizemos que diverge (ou que é divergente). Note-se que a sucessão {an } tem limite L se pudermos tornar os termos an da sucessão tão próximos de L quanto queiramos tomando n suficientemente grande. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 109 As definições de limite quando x → ∞ ou n → ∞ de uma função ou de uma sucessão diferem apenas no facto de no caso de uma sucessão exigirmos que a variável seja inteira. Temos então: Teorema Se lim f (x) = L e f (n) = an quando n é um inteiro, então lim an = L. x→∞ n→∞ Em particular, como limx→∞ (1/x r ) = 0 quando r > 0, tem-se lim n→∞ 1 = 0, se r > 0 nr (5) Quando, para qualquer inteiro positivo M, existe um inteiro N tal que se n > N, então an > M, escrevemos lim an = ∞ e dizemos que a sucessão {an } diverge para ∞. n→∞ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 110 As leis dos limites dadas para funções também valem para sucessões e podem provar-se de modo análogo. Leis dos limites para sucessões Se {an } e {bn } forem sucessões convergentes e c for uma constante, então 1. lim (an + bn ) = lim an + lim bn n→∞ n→∞ n→∞ 2. lim (an bn ) = ( lim an )( lim bn ) n→∞ n→∞ n→∞ 3. lim can = c lim an n→∞ n→∞ limn→∞ an an = , se limn→∞ bn ̸= 0 n→∞ bn limn→∞ bn 4. lim Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 111 Exemplo Calcule limn→∞ n n+1 . Solução. O método é análogo ao que já usamos para calcular limites no infinito de funções racionais: dividimos o numerador e o denominador pela maior potência de n que ocorre no denominador e depois usamos as leis dos limites. lim n→∞ 1 limn→∞ 1 n = lim = 1 n→∞ n+1 1+ n limn→∞ 1 + limn→∞ 1 = =1 1+0 1 n Note-se o uso da Equação (5), com r = 1. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 112 Exemplo Diga se a sucessão an = √ n 10+n converge. Solução. Como no exemplo anterior, dividimos o numerador e o denominador por n: lim √ n→∞ 1 n = lim q 10 + n n→∞ 10 + n2 =∞ 1 n pois o numerador é constante e o denominador aproxima-se de 0. Assim, {an } é divergente. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 113 Exemplo Calcule limn→∞ ln n n . Solução. Observamos que tanto o numerador como o denominador se aproximam do infinito quando n → ∞. Não podemos aplicar a regra de l’Hôpital diretamente porque ela não se aplica a sucessões, mas a funções de uma variável real. No entanto, podemos aplicar a Regra de l’Hôpital à função relacionada f (x) = (ln x)/x. Obtemos então 1/x ln x ( ∞ ∞) = lim =0 x→∞ 1 x→∞ x lim Resulta: lim n→∞ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ln n =0 n ▷◁ 114 O teorema das funções enquadradas também pode ser adaptado para sucessões: Teorema (sucessões enquadradas) Se an ≤ bn ≤ cn para n ≥ n0 e limn→∞ an = limn→∞ cn = L, então limn→∞ bn = L. Outro resultado útil, cuja demonstração pode ser feita como exercı́cio: Teorema Se limn→∞ |an | = 0, então limn→∞ an = 0. Exemplo De Cálculo I – 2022/23 (−1)n 1 (−1)n 1 = e lim = 0, resulta lim = 0. n→∞ n n n→∞ n n ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 115 A demonstração do resultado seguinte é também um simples exercı́cio: Teorema Se limn→∞ an = L e a função f é contı́nua em L, então lim f (an ) = f (L) n→∞ Exemplo Calcule lim sen(π/n). n→∞ Solução: Como a função seno é contı́nua em 0, tem-se lim sen(π/n) = sen lim π/n = sen 0 = 0 n→∞ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões n→∞ ▷◁ 116 De resultados obtidos aquando do estudo de funções exponenciais, resulta a seguinte: Observação A sucessão {r n } é convergente se −1 < r ≤ 1 e é divergente para todos os outros valores de r . Tem-se: 0 se −1 < r < 1 lim r n = 1 se r = 1 n→∞ Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 117 Definição Diz-se que uma sucessão {an }∞ n=1 é crescente se an < an+1 , para todo o n ≥ 1; diz-se que é decrescente se e an > an+1 , para todo o n ≥ 1. Exemplo n A sucessão Solução. 3 n+5 o é decrescente. Tem-se 3 3 3 > = n+5 (n + 1) + 5 n+6 logo an > an+1 para qualquer n ≥ 1. Exercı́cio Diga quais das sucessões n1 , {1 + 3(n − 1)}, {n2 } e {(−1)n } são crescentes. 1 2 Solução. n é decrescente; {1 + 3(n − 1)} e {n } são crescentes; {(−1)n } não é crescente nem decrescente. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 118 Exemplo Mostre que a sucessão an = Solução 1. n n2 +1 é decrescente. n+1 (n+1)2 +1 Devemos mostrar que an+1 < an , isto é, < n n2 +1 . n n+1 < 2 ⇐⇒ (n + 1) n2 + 1 < n (n + 1)2 + 1 2 (n + 1) + 1 n +1 ⇐⇒ n3 + n2 + n + 1 < n3 + 2n2 + 2n ⇐⇒ 1 < n2 + n A desigualdade 1 < n2 + n vale para qualquer n ≥ 1, logo {an } é decrescente. Solução 2. Consideremos a função f (x) = f ′ (x) = x 2 + 1 − 2x 2 (x 2 + 1) 2 = x x 2 +1 . Tem-se: 1 − x2 (x 2 + 1) 2 2 Para x 2 > 1 tem-se que (x1−x 2 +1)2 < 0. Logo f é decrescente em (1, ∞), pelo que f (n) > f (n + 1). Resulta que {an } é decrescente. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 119 Definição Diz-se que uma sucessão {an }∞ n=1 é majorada se existir um número M tal que an ≤ M para todo o n ≥ 1 A sucessão é minorada se existir um número m tal que m ≤ an para todo o n ≥ 1 Se for minorada e majorada, a sucessão {an }∞ n=1 diz-se limitada. Exemplos ▶ {(−1)n } é limitada; ▶ {1/n}n≥1 é limitada. Note-se que |1/n| ≤ 1 para qualquer inteiro positivo n; ▶ {n}n≥1 é minorada mas não é majorada; ▶ {−n2 }n≥1 é majorada mas não é minorada. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 120 A prova do resultado seguinte é baseada no Axioma de Completude (também conhecido por Axioma do Supremo) para o conjunto R dos números reais, que diz que se S é um conjunto não vazio majorado de números reais, então existe em R o supremo de S (isto é, o menor de todos os majorantes). Teorema Qualquer sucessão crescente e majorada converge. Também se tem: Teorema Qualquer sucessão decrescente e minorada converge. Outros resultados úteis (cujas demonstrações são simples exercı́cios): ▶ Qualquer sucessão convergente é limitada. ▶ O limite de uma sucessão, quando existe, é único. Questão Toda a sucessão limitada converge? A resposta é “não”. Por exemplo, a sucessão {(−1)n } é limitada e não é convergente. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 121 Exemplo Consideremos a sucessão {an } definida pela relação de recorrência √ a1 = 1, an+1 = an + 2 para n = 1, 2, 3, . . . . Vamos investigar esta sucessão... Solução. Começamos por calcular valores aproximados de alguns dos primeiros termos p√ √ 3 + 2 ≃ 1.9318 a2 = 3 ≃ 1.7320 a3 = a4 ≃ 1.9828 a5 ≃ 1.9957 a6 ≃ 1.9989 a7 ≃ 1.9997 Para mais termos e melhores aproximações sugere-se o uso do seguinte código sage U = 1.0 for n in [2..20]: U = sqrt(U+2);U Os primeiros termos da sucessão sugerem que ela é crescente e que os seus termos se aproximam de 2. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 122 Os primeiros termos da sucessão sugerem que ela é crescente e que os seus termos se aproximam de 2. Como an < 2 para qualquer inteiro positivo n (mostrar por indução), tem-se que {an } é majorada. É também imediato que an > 0, para todo o inteiro positivo n. Podemos agora ver que a sucessão é de facto crescente: √ an+1 > an ⇔ an + 2 > an ⇔ an + 2 > an2 (porque an > 0) ⇔ an2 − an − 2 < 0 ⇔ −1 < an < 2 e já foi visto que 0 < an < 2. Concluı́mos assim que {an } converge (por ser crescente e majorada). Se lim an = ℓ, também lim an+1 = ℓ (pois quando n → ∞, também n→∞ n→∞ n + 1 → ∞). q √ √ lim an + 2 = ℓ + 2 Resulta que ℓ = lim an+1 = lim an + 2 = n→∞ Temos então Cálculo I – 2022/23 ▷◁ √ n→∞ n→∞ ℓ + 2 = ℓ, donde ℓ2 − ℓ − 2 = 0. Logo, como ℓ > 0, ℓ = 2. 4 Sucessões e séries – Sucessões ▷◁ 123 Séries O que queremos dizer quando procuramos exprimir um número como uma dı́zima infinita? Por exemplo, π = 3.141 592 653 589 793 238 462 643 383 279 502 88 . . . A convenção por detrás desta notação é que qualquer número pode ser escrito como uma soma infinita. Neste exemplo temos 4 1 5 9 2 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 9 + ... 10 10 10 10 10 10 onde as reticências significam que a soma continua indefinidamente e que quantas mais parcelas juntarmos melhor aproximação obtemos de π. π =3+ Em geral, se procurarmos somar os termos de uma sucessão infinita {an }∞ n=1 , obtemos uma expressão da forma a1 + a2 + a3 + · · · + an + · · · designada por série infinita (ou simplesmente série) e é denotada por ∞ X an (ou X an ) n=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 124 Nem P∞ sempre uma série infinita representa um número. Por exemplo, n=1 n não representa um número. Mas há casos em que quantas mais parcelas somarmos mais essa soma se aproxima de um número. Esta ideia leva-nos a considerar somas parciais, como apresentado a seguir. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 125 A sucessão das somas parciais {sn }n≥0 associada a uma sucessão {an }n≥0 é a sucessão definida por s0 = a0 s1 = a0 + a1 = 1 X ak k=0 s2 = a0 + a1 + a2 = 2 X ak k=0 ... sn = a0 + a1 + · · · + an = n X ak k=0 ... A série gerada pela sucessão {an }n≥0 é a soma formal ∞ X ak . k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 126 Exemplo an = n sn = n X k k=1 a1 a2 a3 a4 a5 .. . =1 =2 =3 =4 =5 an = n .. . Cálculo I – 2022/23 ▷◁ s1 s2 s3 s4 s5 .. . =1 =1+2=3 =1+2+3=6 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 = 15 sn = 1 + 2 + 3 + · · · + n = .. . 4 Sucessões e séries – Séries n(n+1) 2 ▷◁ 127 Exemplo an = 1 n sn = n X 1 k k=1 a1 a2 a3 a4 a5 .. . Cálculo I – 2022/23 =1 = 21 = 13 = 14 = 15 ▷◁ s1 s2 s3 s4 s5 .. . =1 =1+ =1+ =1+ =1+ 1 2 1 2 1 2 1 2 4 Sucessões e séries – Séries = 32 + 13 = 11 3 + 13 + 14 = 47 4 + 13 + 14 + 51 = 239 20 ▷◁ 128 Definição Diz-se que a série sn = n X ∞ X ak converge se {sn }n≥0 converge, onde k=0 ak . k=0 Nesse caso diz-se que a soma da série é lim sn e escreve-se ∞ X n→∞ ak = lim sn . n→∞ k=0 Note-se que ∞ X k=0 ak = lim n→∞ Observação ∞ X ak converge se e só se k=0 Cálculo I – 2022/23 n X ak . k=0 ∞ X ak converge, para qualquer k0 ∈ N. k=k0 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 129 Exemplo (Série geométrica) Sejam r ∈ R \ {1} e a ∈ R \ {0}. A série a + ar + ar 2 + ar 3 + · · · + ar n−1 + · · · = ∞ X ar k−1 k=1 diz-se a série geométrica de razão r (e primeiro termo a). Note-se que cada termo é obtido do anterior multiplicando este pela razão r . Podemos facilmente determinar, para cada soma parcial, uma fórmula que depende do raio e do primeiro termo de uma série geométrica. Tem-se sn = a + ar + ar 2 + · · · + ar n−1 e rsn = ar + ar 2 + · · · + ar n−1 + ar n Resulta que sn − rsn = a − ar n , donde se conclui que Cálculo I – 2022/23 sn = ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries a(1 − r n ) . 1−r (6) ▷◁ 130 Sabemos que se −1 < r < 1, então r n → 0 quando n → ∞. Daqui resulta a a a a(1 − r n ) = − lim r n = n→∞ n→∞ 1−r 1−r 1 − r n→∞ 1−r P∞ Assim, quando |r | < 1 a série geométrica k=1 ar k−1 converge e a sua a soma é . 1−r lim sn = lim Sabemos também que se r ≤ −1 ou r > 1 a sucessão {r n } diverge, donde resulta que limn→∞ sn não existe. Mais precisamente: ▶ Se r > 1, então lim sn = +∞. n→∞ ▶ Se r ≤ −1, então lim sn não existe, e lim |sn | = +∞. Cálculo I – 2022/23 n→∞ ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries n→∞ ▷◁ 131 Em jeito de resumo, escrevemos o seguinte: Facto A série geométrica ∞ X ar k−1 = a + ar + ar 2 + ar 3 + · · · + ar n−1 + · · · = k=1 ∞ X ar k−1 k=1 é convergente se |r | < 1 e a sua soma é a . 1−r Se |r | ≥ 1, a série geométrica diverge. Exemplo Diga se a série +∞ X 1 converge. Em caso afirmativo, calcule a sua soma. 3k k=1 Solução: Trata-se de uma série geométrica de razão 1/3, logo é convergente. O primeiro termo é 1/3, pelo que a soma é +∞ 1 X 1 1 3 = = . 1 k 3 2 1− 3 k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 132 Exemplo Diga se a série ∞ X 22n 31−n converge. Em caso afirmativo, calcule a sua n=1 soma. Solução: Começamos por escrever o termo de ordem n na forma ar n−1 , o que nos levará a concluir tratar-se de uma série geométrica. ∞ X n=1 2n 1−n 2 3 n−1 ∞ ∞ ∞ X X X 4 4n 2 n −(n−1) = (2 ) 3 = = 4 n−1 3 3 n=1 n=1 n=1 Trata-se portanto de uma série geométrica de razão 4/3. Como a razão é maior que um, concluı́mos que a série diverge. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 133 Exemplo Mostre que a série ∞ X k=1 Solução: 1 é convergente e calcule a sua soma. k(k + 1) Podemos escrever os termos como soma de frações parciais: 1 1 1 = − k(k + 1) k k +1 Tem-se então: sn = n X k=1 n X 1 = k(k + 1) k=1 1 1 − k k +1 1 1 1 1 1 1 1 1 = 1 − + − + − + ··· + − =1− 2 2 3 3 4 n n+1 n+1 donde resulta que lim sn = 1. n→∞ Conclui-se que a série +∞ X k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries +∞ X 1 1 converge e = 1. k(k + 1) k(k + 1) k=1 ▷◁ 134 Exemplo Mostre que a série harmónica ∞ X 1 1 1 = 1 + + + ··· n 2 3 k=1 é divergente. Solução: Tem-se sn = 1 + 1 1 1 + + · · · + , sendo 2 3 n 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 s4 = 1 + + + > 1 + + + = 1 + + = 1 + 2 × 2 3 4 2 4 4 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 s8 = s4 + + + + > s4 + 4 × > 1 + 2 × + = 1 + 3 × 5 6 7 8 8 2 2 2 1 1 1 1 1 1 s16 = s8 + + + ··· + > s8 + 8 × = s8 + > 1 + 4 × 9 10 16 16 2 2 1 1 1 1 1 s32 = s16 + + ··· + > s16 + 16 × = s16 + > 1 + 5 × 17 32 32 2 2 ··· s2 = 1 + Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 135 Mais geralmente, para qualquer k positivo, tem-se s2k > 1 + Como lim n→∞ Logo, a série 1+ k 2 n = ∞, conclui-se que {sn } não é majorada. 2 +∞ X 1 não converge. k k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 136 Teorema Se a série ∞ X ak converge, então lim an = 0. n→∞ k=0 Demonstração. Seja sn = a1 + a2 + . . . + an . Tem-se an = sn − sn−1 . P Como an converge, a sucessão{sn } converge. Seja s = limn→∞ sn . Como n − 1 → ∞ quando n → ∞, também se tem limn→∞ sn−1 = s. Logo lim an = lim (sn − sn−1 ) = lim sn − lim sn−1 = 0 □ n→∞ n→∞ n→∞ n→∞ Note-se queP o recı́proco do resultado anterior não vale: a série harmónica, 1/n, fornece um contra-exemplo. Esta diverge, apesar de a sucessão {1/n} convergir. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 137 Como consequência imediata do resultado anterior temos o seguinte: Teste de divergência Se não existe lim an ou lim an ̸= 0, então a série n→∞ Exemplo Mostre que a série n→∞ ∞ X n=1 ∞ X an é divergente. n=1 n2 diverge. 5n2 + 4 Solução: lim n2 1 1 = lim = ̸= 0 + 4 n→∞ 5 + 4/n2 5 n→∞ 5n2 A série diverge, pelo teste de divergência. Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 138 O resultado seguinte segue das correspondentes leis dos limites para sucessões. Teorema 1. Se ∞ X ak e k=0 ∞ X bk convergem, então k=0 ∞ ∞ ∞ X X X (ak + bk ) = ak + bk k=0 2. Se k=0 ∞ X k=0 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ (ak + bk ) converge e k=0 k=0 ak converge, então, para qualquer c ∈ R, k=0 ∞ X ∞ X cak = c ∞ X ∞ X cak converge e k=0 ak k=0 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 139 Exemplo P∞ 3 + 21n . Calgule a soma da série n=1 n(n+1) P Solução: A série 1/2n é geométrica, com a = ∞ 1 X 1 = 2 n 2 1− n=1 1 2 1 2 e r = 12 , logo =1 Num exemplo anterior vimos que ∞ X n=1 1 =1 n(n + 1) Assim, pelo resultado anterior, a série dada é convergente e tem-se ∞ X n=1 3 1 + n(n + 1) 2n =3 ∞ X n=1 ∞ X 1 1 + n(n + 1) n=1 2n =3·1+1=4 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Séries ▷◁ 140 Teste do integral Critério do integral Seja f : [1, +∞) → R uma função decrescente e positiva. Então ∞ X f (k) k=1 Z converge se e só se +∞ f (x) dx converge. Por outras palavras, 1 Z +∞ (i) Se f (x) dx converge, então 1 Z (ii) Se f (x) dx diverge, então 1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ +∞ ∞ X f (k) converge; k=1 ∞ X f (k) diverge. k=1 4 Sucessões e séries – Teste do integral e estimação de somas ▷◁ 141 Exemplo Teste a série ∞ X k=2 1 quanto à convergência. k ln k Solução: Consideremos a função f (x) = x ln1 x , x ≥ 2; f é positiva e decrescente. Tem-se Z t 1 x=t dx = lim [ln(ln x)]x=2 lim t→+∞ t→+∞ 2 x ln x = lim (ln(ln t) − ln(ln 2)) = +∞. t→+∞ Z +∞ 1 dx não converge. x ln x 2 ∞ X 1 Pelo critério do integral concluı́mos que a série não converge. k ln k Logo, o integral impróprio k=2 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Teste do integral e estimação de somas ▷◁ 142 Exemplo Teste a série ∞ X 1 √ quanto à convergência. k3 k=1 1 Consideremos a função f (x) = √ , x ≥ 1; f é positiva e x3 decrescente. Tem-se x=t Z t 1 2 √ dx = lim − √ lim t→+∞ 1 t→+∞ x x=1 x3 2 = lim − √ + 2 = 2. t→+∞ t Z +∞ 1 √ dx converge. Logo, o integral impróprio x3 1 ∞ X 1 √ converge. Logo, a série k3 k=1 Solução: Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Teste do integral e estimação de somas ▷◁ 143 Uma série da forma ∞ X 1 diz-se uma p-série. p n n=1 De forma inteiramente análoga ao feito no exemplo anterior, ou usando que Z ∞ 1 dx converge se p > 1e diverge se p ≤ 1, xp 1 mostra-se o seguinte: Facto A p-série Cálculo I – 2022/23 ▷◁ ∞ X 1 converge se p > 1 e diverge se p ≤ 1. p n n=1 4 Sucessões e séries – Teste do integral e estimação de somas ▷◁ 144 Testes de comparação ▶ Sejam (an )n∈N uma sucessão de termos positivos e sn = então ∞ X n X ak ; k=0 ak converge se e só se (sn )n∈N é limitada. k=0 ▶ Se (an )n∈N , (bn )n∈N e (cn )n∈N são tais que, para todo o n, ∞ ∞ ∞ X X X an ≤ bn ≤ cn , e ak e ck convergem, então bk também converge. k=0 k=0 k=0 ▶ Em particular, se (an )n∈N e (bn )n∈N são tais que, para todo o n, ∞ ∞ X X ak também converge. 0 ≤ an ≤ bn , e bk converge, então k=0 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Testes de comparação k=0 ▷◁ 145 Exemplo Teste, para a ≥ 2, a série ∞ X k=1 1 quanto à convergência. (k + 1)a 1 1 . ≤ 2 (n + 1) n(n + 1) +∞ X 1 converge. Já foi visto que k(k + 1) Solução: Tem-se 0 ≤ k=1 Conclui-se que +∞ X k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 1 converge. (k + 1)2 4 Sucessões e séries – Testes de comparação ▷◁ 146 Exemplo Teste a série ∞ X 1 quanto à convergência. k2 k=1 Solução: n X 1 sn = = k2 = k=1 n X k=1 Como +∞ X k=1 n+1 X 1 k2 k=2 ! 1 (k + 1)2 1 converge e 1 − (k + 1)2 (sn )n∈N converge, isto é, ! − − 1 +1 (n + 1)2 1 +1 (n + 1)2 1 (n+1)2 converge, conclui-se que +∞ X 1 converge. k2 k=1 De Cálculo I – 2022/23 1 na ≤ 1 n2 para a > 2, conclui-se que, para a > 2, +∞ X 1 converge. ka k=1 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Testes de comparação ▷◁ 147 Exemplo Teste a série Solução: ∞ X 1 √ quanto à convergência. k k=1 Como √1 n ≥ n1 , e a série +∞ X 1 não converge, concluı́mos que k k=1 +∞ X 1 √ não converge. k k=1 Cálculo I – 2022/23 ▷◁ 4 Sucessões e séries – Testes de comparação ▷◁ 148