Macroeconomia: conceito e âmbito 1. Introdução à macroeconomia A macroeconomia é o estudo do desempenho das economias nacionais como um todo e das políticas que afetam o seu desempenho. Trata-se: ο· ο· ο· Análise dos comportamentos agregados dos agentes económicos. Análise de grandes mercados: bens e serviços; monetário; cambial; fatores produtivos. Três variáveis centrais: o PIB; a inflação; o desemprego. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita PIB – valor dos bens e serviços produzidos dentro das fronteiras de um país num determinado período de tempo (normalmente 1 ano). PIB efetivo, PIB potencial e ciclo económico PIB efetivo – valores do PIB estatisticamente registados, Y. PIB potencial (natural) – tendência de longo prazo, valor em relação ao qual a economia oscila, π π . Ciclo económico – flutuações da atividade económica em torno de uma tendência de longo prazo. O ciclo económico O desvio da economia face ao seu nível potencial designa-se por hiato do produto (output gap) = π − π π . Mede-se em percentagem. Recessão – período entre pico e cava (a atividade económica declina). Expansão – período entre cava e pico (a atividade económica aumenta). 1 Classificação de variáveis Variável pro-cíclica (face ao PIB) – em média, desloca-se mantendo uma relação positiva com o PIB durante o ciclo económico (aumenta se o PIB diminui). Variável contra-cíclica (face ao PIB) – em média, desloca-se mantendo uma relação negativa com o PIB durante o ciclo (diminui se o PIB aumenta, aumenta se o PIB diminui). Variável a-cíclica (face ao PIB) – não apresenta nenhum padrão definido de movimento faze ao ciclo do PIB. Modelos Macroeconómicos Os objetivos dos modelos macroeconómicos são: ο· Análise da economia (“barómetro”) – análise positiva (Nível da produção, do emprego, dos preços, da balança corrente…). ο· Correção da economia – análise normativa (Política económica direcionada para estimular o PIB, diminuir o desemprego, a inflação, o défice externo…) Componentes dos modelos macroeconómicos Agentes económicos: famílias, empresas, estado, exterior Representados por funções macroeconómicas: consumo, investimento, procura da moeda 2 Interagem em mercados agregados: de bens e serviços, monetário e financeiro, cambial, fatores produtivos (trabalho) Variáveis endógenas vs. Variáveis exógenas Variáveis exógenas: ο· ο· Não são explicadas pelo modelo, mas afetam o funcionamento do sistema económico. Valores determinados exogenamente. Variáveis endógenas: ο· ο· São determinadas pelo modelo (funcionamento do sistema económico). Estão dependentes de valores de variáveis exógenas. Variáveis stocks vs. Variáveis fluxo Variáveis stocks – grandezas económicas medidas num determinado momento do tempo (t0; t1; t2; …). Exemplos: stock de capital, stock de moeda, stock de mão- de-obra. Variáveis fluxo – grandezas económicas medidas entre dois momentos do tempo (t1 – t0; t2t1; …). Exemplos: investimento, consumo, exportações, PIB. Variáveis nominais vs. Variáveis reais Na medição e agregação da atividade económica os preços são usados para converter volumes em valor. Variáveis nominais – grandezas económicas medidas numa moeda a preços correntes. Exemplos: PIB, Consumo, Exportações. Variáveis reais – grandezas económicas medidas numa moeda a preços constantes. Exemplos: PIB, Consumo, Investimento. Para converter variáveis nominais em variáveis reais usam-se índices de preços: ππππáπ£ππ π πππ = ππππáπ£ππ πππππππ πΌπππππ ππ πππçππ 3 Política Económica Intervenção de instituições públicas no funcionamento da economia: ο· ο· Governo Banco Central Objetivos: ο· ο· ο· Melhorar a performance da economia (no curto prazo e no longo prazo) Promover a estabilidade económica (inflação, desemprego) Promover a justiça e equidade social Política económica e estabilidade Política económica e crescimento económico 4 Medir agregados macroeconómicos 2. Agregados da contabilidade nacional Uma entidade fundamental Contabilidade Nacional – sistema para medir a atividade económica e as suas componentes, expondo as relações entre produção, despesa e rendimento. Variável macroeconómica central: o PIB, a quantidade de bens e serviços produzidos no espaço geográfico de um país num determinado período (um ano) O PIB pode ser definido e medido pelas óticas da despesa, da produção e do rendimento, todas equivalentes. A identidade fundamental da contabilidade nacional: Produção = Despesa = Rendimento O PIB pela ótica da despesa O PIB como o somatório da despesa total em bens e serviços finais produzidos internamente: Y = C + I + G + NX Y = PIB = produção total Procura Interna C = despesa em consumo I = Investimento G = aquisições de bens e serviços pelo Estado NX = exportações líquidas = exportações – importações O PIB pela ótica do rendimento O PIB como o somatório dos rendimentos de fatores produtivos aplicados no país: 5 O PIB pela ótica da produção O PIB na ótica da produção (interna) PIB = ∑ VAB Ao calcular o PIB pela ótica da produção, é necessário diferenciar: ο· ο· bens e serviços finais. bens e serviços intermédios. Técnica do valor acrescentado – o valor da produção de cada empresa é subtraído do custo dos bens intermédios e dos serviços adquiridos pela empresa. Problemas na medição do PIB ο· ο· ο· ο· ο· captar o setor informal (ilegal) captar as atividades sub-declaradas (fuga de impostos) captar a troca direta e a auto-produção medir a atividade do Estado (imputada) medir os efeitos negativos da produção (poluição) PIB vs. Produto Nacional Bruto (PNB) Território vs. Origem dos fatores produtivos. PIB – produção em território nacional independentemente da nacionalidade dos fatores produtivos que nesta participam. PIB = Y = C + I + G + NX PNB – produção por fatores produtivos nacionais independentemente do território em que é realizada. (PNB = Despesa Nacional) PNB = PIB + RFP = Y + RFP RFP – rendimentos líquidos de ativos aplicados em diferentes países Rendimento disponível Rendimento disponível (das famílias) YD = PNB – T + TRI + TRX TRI – Transferências do Estado para as famílias TRX – Transferências externas 6 Assim: YD = Y + RFP – T + TRI + TRX PNB Poupança e riqueza Poupança privada e poupança pública Poupança privada (SP) - parcela do rendimento disponível que não é utilizada em despesa. SP = YD – C = Y + RFP – T + TRI + TRX – C Poupança pública (Sg) – montante que o Governo tem disponível para gastar deduzido das transferências para as famílias e da despesa pública: Sg = T – TRI – G A poupança pública corresponde ao saldo orçamental (BG) que é normalmente negativo (défice): = BG Poupança nacional A poupança nacional (S) é a soma da poupança privada com a poupança pública: Poupança nacional e balança corrente Substituindo Y = C + I + G + NX na expressão anterior: Assim: S = I + BC 7 Tendo-se utilizado a definição de balança corrente: BC = NX + RFP + TRX Medir o desemprego Taxa de desemprego e taxa de atividade Força de trabalho (=população ativa) – indivíduos em idade ativa com capacidade para trabalhar e que manifestaram o desejo o fazer, podendo estar empregados ou desempregados. Taxa de atividade – mede o peso da força de trabalho/população ativa na população total: πππ₯π ππ ππ‘ππ£πππππ = πΉππçπ ππ π‘πππππβπ ππππ’ππçãπ π‘ππ‘ππ Taxa de desemprego – mede a proporção da população ativa (força de trabalho) que está desempregada: πππ₯π ππ πππ πππππππ = πúππππ ππ πππ ππππππππππ πΉππçπ ππ π‘πππππβπ Medir a inflação Diferentes indicadores para a inflação Existem diferentes medidas do nível de preços que se podem utilizar para medir a inflação. Estas medidas designam-se por índices de preços: O índice de preços no consumidor: ο· ο· ο· média dos preços de um conjunto de bens e serviços de consumo. a escolha do cabaz de consumo é dinâmica, adaptando-se às alterações das preferências dos consumidores. é um índice do nível de vida. O deflator do PIB: ο· calcula-se comparando o PIB nominal com o PIB real π·πππππ‘ππ ππ ππΌπ΅ = 8 ππΌπ΅ πππππππ ∗ 100 ππΌπ΅ ππππ ο· é mais abrangente comtemplando preços das diferentes componentes da despesa. A taxa de inflação A taxa de inflação é a variação no nível de preços e calcula-se com base num dos índices disponíveis: É usual ser apresentada sob a forma de percentagem A função IS 3. Componentes da despesa/procura agregada Componentes da procura agregada Os componentes da despesa/procura agregada são: ο· ο· ο· ο· Consumo (C) Investimento (I) Despesa Pública (G) Exportações líquidas (NX) Procura/despesa agregada (D): D = C + I + G + NX Consumo privado A função consumo: Quanto aumenta o consumo face a um aumento do YD ο 9 ΔC ΔY disp. Investimento A função investimento: Assim: Despesa Pública A despesa pública é uma variável exógena e representa-se por: Os impostos dependem do nível de atividade económica, sendo proporcionais ao rendimento ou produto: As exportações líquidas As exportações líquidas são dadas por: As exportações líquidas e a taxa de juro real A taxa de juro real afeta as exportações líquidas através do seu efeito sobre a taxa de câmbio. Taxa de câmbio – o preço de uma moeda externa (divisa) em termos da moeda nacional. 10 O aumento da taxa de juro interna atrai investimentos (aplicações financeiras) estrangeiros o que aumenta a procura por moeda nacional (euro) e provoca a valorização da moeda nacional (euro). O aumento do valor da moeda nacional torna as exportações líquidas mais caras (as exportações ficam relativamente mais caras e as importações ficam relativamente mais baratas), reduzindo-as. ↑r aumenta valor da moeda nacional ↓ NX Equilíbrio no mercado de bens e serviços Equações de identidade Há três equações de identidade no mercado de bens e serviços: ο· A identidade da despesa/procura agregada: D ≡ C + I + G + NX ο· A identidade entre produção (e rendimento) e despesa: Y≡D ο· A definição de rendimento disponível: YD ≡ Y – T O equilíbrio no mercado de bens e serviços O mercado de bens e serviços está em equilíbrio quando a quantidade total produzida (Y) iguala a procura (despesa) agregada (D): Y≡D Substituindo a expressão da despesa agregada na equação anterior: Y = C + I + G + NX Substituindo nesta cada uma das equações de comportamento anteriormente definidas e o rendimento disponível: Arrumando a equação anterior, obtém-se a expressão: 11 E resolvendo em ordem a Y, obtém-se: A função IS Pontos sobre a função IS representam pontos de equilíbrio do mercado de bens e serviços. Pontos fora da função IS representam pontos de desequilíbrio do mercado de bens e serviços. Fatores que deslocam a IS Deslocações da função IS ο· ο· ο· ο· Alterações em qualquer um dos componentes autónomos da IS (ordenada na origem, Δ) provocarão a sua deslocação. Considere-se um aumento das despesas públicas, Δ > 0 O produto agregado aumentará no seguinte montante: O aumento de G faz aumentar a procura agregada levando ao aumento do produto (Y) → a IS desloca-se para a direita 12 ο· ο· ο· Uma diminuição de teria um efeito equivalente Um aumento da despesa pública desloca a função IS para a direita O produto agregado aumenta para cada nível da taxa de juro ο· ο· Um aumento dos impostos desloca a função IS para a esquerda O produto agregado diminui para cada nível da taxa de juro O multiplicador (keynesiano) da procura autónoma No curto prazo, um aumento da procura autónoma faz aumentar o produto de equilíbrio: em que montante? ο Num montante superior ao do aumento em Δ Este efeito designa-se por multiplicador da procura autónoma Algebricamente, o multiplicador: 13 ο Onde c, t < 1, logo 1/ (1 – c(1 – t)) > 1 Um choque na procura agregada é amplificado (multiplicado) pelos efeitos que tem na componente da despesa. O mercado monetário, a função MP e a função AD 4. Taxas de juro reais e taxas de juro nominais A equação de Fisher O Banco Central define (controla) a taxa de juro nominal, i. Ao determinar a taxa de juro nominal, pretende definir indiretamente a taxa de juro real, r. De acordo com a equação de Fisher as duas taxas relacionam-se através da taxa de inflação, π: r=i–π Taxas de juro reais, nominais e inflação esperada O Banco Central não conhece a inflação, mas tem uma estimativa para a inflação esperada, ππ . Assim, a equação de Fisher pode ser apresentada como: π π = i − ππ ο Efeito Fisher: para uma determinada taxa de juro real, se a inflação esperada aumenta, as taxas de juro nominais também aumentam. Quando o Banco Central altera a taxa de juro nominal (i), para que esta alteração tenha impacto na taxa de juro real (r), é necessário que a taxa de inflação (π) permaneça constante. Os preços devem permanecer fixos no curto prazo. A regra de política monetária A regra de política monetária (função MP) O Banco Central controla a taxa de juro nominal (i) para controlar a taxa de juro real (r). A escolha da taxa de juro real tem por objetivo controlar a taxa de inflação (π). Função MP – qual a taxa de juro real escolhida pelo Banco Central para controlar a taxa de inflação, π: 14 A curva MP Curva MP: o Banco Central aumenta r sempre que π aumenta Ver equação de Fisher: r=i-π Se π ↑ ο ↑ r Existem 2 tipos de política monetária: expansionista e contracionista. A política monetária expansionista consiste em aumentar a oferta de moeda reduzindo assim a taxa de juro e estimulando investimentos. A política monetária contracionista consiste em reduzir a oferta de moeda, aumentando a taxa de juro e reduzindo os investimentos no setor privado. O princípio de Taylor Taylor (1993) – as autoridades monetárias aumentam as taxas de juro nominais por um montante superior ao do aumento da taxa de inflação: Δi > Δπ ο As taxas de juro reais aumentam quando a taxa de inflação aumenta (função MP): Δπ → Δr Se as autoridades monetárias diminuíssem r sempre que π aumenta (não seguissem o principio de Taylor), verificar-se-ia uma espiral inflacionista: Deslocações da curva MP A regra de política monetária pode ser revista, passando a ser mais restritiva ou mais expansionista. A política monetária torna-se mais restritiva quando o Banco Central aumenta r para cada nível da taxa de inflação 15 ο Para tal, tem de aumentar ο A MP desloca-se para cima A política monetária torna-se mais expansionista quando o Banco Central diminui r para cada nível da taxa de inflação ο Para tal, tem de diminuir ο A MP desloca-se para baixo A curva MP desloca-se sempre que o Banco Central revê a sua regra de política monetária, aumentando ou diminuindo A função procura agregada A função MP relaciona a inflação com a taxa de juro. A função IS relaciona a taxa de juro com o produto de equilíbrio. Combinando as duas curvas é possível relacionar a procura agregada/o produto com a taxa de inflação: a função procura agregada (AD). A procura agregada relaciona o nível do produto e a taxa de inflação. 16 A função procura agregada: determinação gráfica A função procura agregada: determinação algébrica Parte-se da função IS: ο Onde Substitui-se a função MP na IS: Obtendo-se a função AD: Fatores que deslocam a função procura agregada Fatores que deslocam a IS também deslocam a AD e no mesmo sentido: ο ο ο ο ο Consumo autónomo Investimento autónomo Despesa pública Impostos Exportações líquidas autónomas 17 ο Fricções nos mercados financeiros Fatores que deslocam a MP deslocam a AD: ο A política monetária restritiva contrai a AD (deslocação para a esquerda) ο A política monetária expansionista expande a AD (deslocação para a direita) Fatores que deslocam a função procura agregada: alterações na IS Fatores que deslocam a função procura agregada: alterações na MP 18 O mercado monetário e a determinação da taxa de juro Oferta real de moeda O Banco Central fixa a taxa de juro através de intervenções no mercado monetário, definindo a oferta de moeda. A oferta real de moeda iguala a oferta nominal de moeda ( ) a dividir pelo nível geral de preços ( ) (fixo): Procura real de moeda A procura real de moeda (Md/P) depende: ο Da taxa de juro nominal, i, o custo de deter a moeda ο Do rendimento/produto real, Y, o benefício de deter moeda Procura real de moeda: O equilíbrio no mercado monetário O equilíbrio no mercado monetário resulta do confronto entre procura real de moeda e oferta real de moeda: 19 Um aumento da procura de moeda Quando Y aumenta, a procura da moeda aumenta. No novo equilíbrio do mercado monetário, a taxa de juro aumenta. A procura por moeda consiste na procura total por dinheiro para dois diferentes usos: ο· Moeda como ativo ο· Moeda para transações Um aumento da oferta de moeda Quando a oferta de moeda aumenta, a taxa de juro diminui. 20 A Oferta de Moeda 5. Principais agregados monetários O agregado com maior teor de liquidez é M1, podendo ser usado diretamente em transações comerciais: M1 = CM + DO CM – notas e moedas em circulação (circulação monetária) DO – depósitos à ordem M2 = M1 + DP DP – depósitos a prazo M3, massa monetária: M3 = M2 + acordos de recompra + títulos com maturidade inferior a 2 anos Resumidamente, moeda define-se por: M = moeda em circulação + depósitos bancários A criação monetária Intervenientes na criação monetária Banco Central (BC) – agência governamental que supervisiona o sistema bancário e é responsável pela política monetária. (controla a massa monetária em circulação) 21 Bancos ou instituições que aceitam depósitos (OIM) – intermediários financeiros que aceitam depósitos de indivíduos e instituições que concedem empréstimos. Depositantes – indivíduos e instituições que detêm depósitos nos bancos. O balanco do Banco Central Como é feito o controlo da oferta de moeda pelo Banco Central? Reservas legais e excedentárias das OIM. É passivo porque o dinheiro não é do BC Divisas O total do passivo do Banco Central equivale à base monetária ou moeda de primeira ordem: BM = CM + RT A base monetária e o coeficiente de reservas legais Base monetária – (moeda de primeira ordem) – conjunto das responsabilidades do banco central. As reservas totais (RT) podem ser: ο reservas legais – impostas pelo Banco Central que define o coeficiente de reserva legal, rr, a percentagem do total de depósitos detidos pelos bancos comerciais que não pode ser emprestada. ο Reservas excedentárias, re – a percentagem de depósitos que os bancos escolhem deter e não emprestar. Fontes criadoras da base monetária BM ≡ ativos do BC O Balanço das Outras Instituições Monetárias 22 Os bancos comerciais são intermediários financeiros: recolhem fundos dos depositantes e concedem empréstimos aos seus clientes. Transformação de maturidade: tomam passivos de curto prazo que usam para adquirir ativos de longo prazo. ο Risco de corrida bancária A Síntese Monetária A soma algébrica dos balanços do Banco Central e das OIM resulta no balanço consolidado do setor monetário, a Síntese Monetária. O total do passivo da síntese monetária equivale à massa monetária ou moeda de segunda ordem: M = CM + DT O multiplicador monetário A criação de moeda de 2ª ordem Sempre que o sistema bancário detiver reservas excedentárias tentará conceder empréstimos a terceiros. A concessão de empréstimos dá origem à criação de moeda de segunda ordem. Este processo designa-se por multiplicador monetário. O multiplicador monetário A relação entre BM e M: 23 π πΆπ + π·π = π΅π πΆπ + π π Dividindo o lado direito da expressão por DT: π πΆπ/π·π + 1 = π΅π πΆπ/π·π + π π/π·π Preferência do público por Assim: moeda legal = πΆπ π·π A política monetária Instrumentos de política monetária Instrumentos de política monetária do Banco Central: ο controlo do rácio de reservas legais, rr ο operações de mercado aberto (open market) – compra e venda de títulos/ativos ao sistema bancário ο facilidades permanentes – cedência e absorção de liquidez ao/do sistema bancário O objetivo do Banco Central é o controlo da taxa de juro que afeta o produto agregado: Política monetária → i → r → Y O rácio de reservas legais Ao controlar o rácio de reservas legais, o Banco Central está a alterar diretamente o multiplicador monetário: ↓ rr ο ↑ ο ↑ M ↑ rr ο ↓ ο ↓ M 24 Operações de mercado aberto As operações de mercado aberto afetam a base monetária: Compra ativos ο ↑ BM ο ↑ M Vende ativos ο ↓ BM ο ↓ M As facilidades permanentes As facilidades permanentes são controladas através das taxas de juro praticadas nestes empréstimos/depósitos e afetam a base monetária: ↓ Taxas FP ο ↑ BM ο ↑ M ↑ Taxas FP ο ↓ BM ο ↓ M A Curva de Phillips e a Função Oferta Agregada 6. A curva de Phillips Phillips (1958): estudo empírico sobre a relação entre desemprego e taxa de crescimento dos salários no Reino Unido entre 1861 e 1957 ο períodos de desemprego baixo associados a crescimento acelerado dos salários 25 ο períodos de desemprego elevado associados a crescimento lento dos salários Variação dos preços A curva de Phillips ο relação negativa entre taxa de inflação e taxa de desemprego ο usada para definir objetivos de política ao longo da década de 1960: trade-off inflação-desemprego A curva de Phillips aumentada pelas expectativas A partir da década de 1970, a curva de Phillips deixa de ser uma regularidade empírica. Para Friedman e Phelps isto acontece porque: ο No curto prazo, os trabalhadores negoceiam salários reais em vez de salários nominais ο Salários e inflação aumentam com a inflação esperada ο No longo prazo, os preços e os salários ajustam-se (são flexíveis) e o nível de desemprego situa-se no seu nível natural ou de pleno-emprego ο A taxa de desemprego de longo prazo é a taxa natural de desemprego que não depende da taxa de inflação A curva de Phillips deve incluir as expectativas da inflação (π π ) e a taxa natural de desemprego (Un), sendo dada por: ou de pleno emprego, é aquela que permite verificar que π = π π 26 A curva de Phillips aumentada pelas expectativas ο no curto prazo, a inflação relaciona-se negativamente com o gap (hiato) do desemprego ο no longo prazo, o desemprego estabiliza no seu nível natural, U = Un e a inflação é igual à inflação esperada, π = πe A curva de Phillips de curto prazo é negativamente inclinada: trade-off inflação-desemprego A curva de Phillips de longo prazo é vertical indicando que não há trade-off entre inflação e desemprego Quanto maiores as expectativas para a inflação, mais alta estará a curva de Phillips de curto prazo As expectativas dos agentes adaptam-se ao nível da inflação, deixando de haver trade-off entre inflação e desemprego. A economia estabiliza no seu nível de desemprego natural, 4% e todos os ajustamentos que ocorrerem são de natureza nominal As curvas de Phillips de curto e longo prazo Se a taxa de desemprego aumenta, ο o consumo das famílias diminui ο a taxa de inflação diminui A curva de Phillips com choques de oferta Nas décadas de 1970 e 1980, choques no preço do petróleo sugerem que outros fatores podem afetar a relação entre inflação e desemprego A curva de Phillips foi revista para incorporar estes fenómenos: Os choques do lado da oferta afetam a inflação através dos custos de produção 27 Um modelo para as expectativas Uma hipótese simples para as expectativas da inflação é assumir que são adaptativas (backward-looking): A curva de Phillips com expectativas adaptativas: A curva de Phillips como variação da inflação (aceleracionista) A expressão anterior pode ser vista na forma de variação de inflação: Curva de Phillips aceleracionista ο A inflação só estabiliza quando o desemprego for igual a Un ο Un designa-se por NAIRU: non-accelarating inflation rate of unemployment A lei de Okun Okun (1962) sugeriu a existência de uma relação empírica entre o hiato do desemprego e o hiato do produto, conhecida como lei de Okun: Um aumento do produto acima do seu nível de pleno emprego leva a uma diminuição do desemprego abaixo do seu nível natural ο O desemprego é uma variável contra-cíclica 28 No entanto, θ < 1 porque as empresas praticam labor hoarding: quando Y aumenta, em vez de contratarem mais trabalhadores, estes trabalham mais horas A lei de Okun para Portugal A função AS Da curva de Phillips à função AS (de curto prazo) A função oferta agregada (AS) representa a quantidade de produto produzido e oferecido numa economia para cada taxa de inflação Pode ser obtida a partir da curva de Phillips, nesta substituindo a lei de Okun: Substituindo Com expectativas adaptativas para a inflação 29 A curva de oferta agregada de longo prazo No longo prazo, o produto oferecido (Y) depende dos fatores produtivos existentes na economia, trabalho (L) e capital (K), e do estado da tecnologia (A): Y = AF (K,L) Estes fatores não dependem da taxa de inflação e situam o produto ao nível potencial ou natural A função AS de curto prazo e de longo prazo A AS de longo prazo obtém-se quando o produto está no seu nível potencial Y = Yp Fatores que deslocam a função AS de curto prazo A inflação esperada, Δπe Choques nos preços, Δρ Um hiato do produto (Y – Yp) persistente ο ο ο ο ο Um aumento do hiato do produto (Δ(Y – Yp)) acelera a inflação (Δπ) Dá-se um deslocamento ao longo da função AS Como consequência, a inflação esperada do período seguinte aumenta (Δπe) Com o aumento de πe, a curva AS desloca-se para cima O processo só cessa quando o produto regressar ao seu nível potencial 30 Deslocamentos da AS de curto prazo Fatores que deslocam a função AS de longo prazo (LRAS) Aumentos de capital, ΔK Aumentos da oferta de trabalho, ΔL Saltos na tecnologia existente, ΔA A diminuição da taxa de desemprego natural, Un Deslocamentos da função AS de longo prazo O produto potencia, Yp aumenta 31 O equilíbrio entre procura agregada e oferta agregada 7. Resumo das funções AD e AS AD – relação (negativa) entre a taxa de inflação e o nível de produto quando o mercado de bens e serviços está em equilíbrio. ο Quando a taxa de inflação aumenta, as autoridades monetárias aumentam a taxa de juro, contraindo a procura de bens e serviços: Fatores que deslocam a AD: Fatores que deslocam a AS de curto prazo: Fatores que deslocam a AS de longo prazo: Equilíbrio AD-AS O equilíbrio geral na economia ocorre quando a procura agregada (por produto) iguala a oferta agregada (de produto). Graficamente, corresponde à interseção entre as curvas da procura agregada e da oferta agregada Distingue-se a oferta agregada de longo prazo da oferta agregada de curto prazo, considerando-se dois tipos de equilíbrio: ο equilíbrio de curto prazo 32 ο equilíbrio de longo prazo Equilíbrio de curto prazo As funções AD e AS de curto prazo intersetam ao nível do produto de equilíbrio, Y = Y*, e da taxa de inflação de equilíbrio, π = π*. Produto efetivo Equilíbrio de longo prazo As funções AD e AS de longo prazo intersetam-se ao nível do produto potencial, Y = Yp, e da taxa de inflação de equilíbrio π = πe = π-1 Os equilíbrios de curto prazo e de longo prazo podem não coincidir ο O produto efetivo não está ao nível do produto potencial O equilíbrio de curto prazo pode ocorrer acima ou abaixo do produto potencial ο hiato do produto positivo ou negativo 33 Equilíbrio de curto prazo acima do produto potencial Assuma-se um equilíbrio de curto prazo superior ao produto potencial: Y1* > Yp (AS é dada por AS1) O desemprego está abaixo da taxa de desemprego natural: U < Un e os salários aumentam (curva de Phillips) ο As empresas aumentam os seus preços A inflação sobe acima do seu nível inicial: π > π1 No período seguinte, as expectativas da inflação, πe, são revistas em alta devido à subida da inflação ο a curva AS de curto prazo desloca-se para cima, de AS1 para AS2 Enquanto Y > Yp, salários e preços continuarão a aumentar, fazendo deslocar a AS para cima O processo repete-se até que Y = Yp, isto é, a economia atinge o equilíbrio de longo prazo 34 Equilíbrio de curto prazo abaixo do produto potencial O equilíbrio de curto prazo está abaixo do produto potencial: Y1* < Yp (AS é dada por AS1) O desemprego é superior à taxa natural de desemprego: U > Un e a inflação desce abaixo do seu nível inicial: π < π1 As expectativas da inflação, πe, são revistas em baixa devido à descida da inflação ο deslocando a curva AS de curto prazo para baixo de AS1 para AS2 Enquanto Y < Yp, a inflação esperada diminui, deslocando a AS para baixo O processo repete-se até que Y = Yp, se dê equilíbrio de longo prazo Mecanismo de auto-correção: a AS de curto prazo desloca-se (para cima ou para baixo) para conduzir a economia para o seu pleno-emprego (produto potencial) 35 Choques de procura Um choque positivo da procura Alterações ao equilíbrio: choques de procura Parte-se do equilíbrio de longo prazo Consumidores mais otimistas aumentam o consumo autónomo, deslocando a AD para a direita (de AD1 para AD2) Na interseção entre AS1 e AD2, o produto de equilíbrio está acima do produto potencial, Y > Yp e a inflação aumenta Entra em funcionamento o mecanismo de auto-correção da economia até que AS = AS3 e o produto regresse ao nível potencial O efeito de curto prazo de um choque de procura é um aumento do produto e um aumento da inflação O efeito de longo prazo do choque de procura é a subida da inflação, mas a economia regressa ao seu nível potencial, Yp 36 Choques da oferta Um choque temporário (negativo) da oferta Parte-se do equilíbrio de longo prazo Aumenta o preço das matérias-primas, deslocando a AS para a esquerda, de AS1 para AS2 Na interseção entre AS2 e AD1, o produto de equilíbrio está abaixo do produto potencial, Y < Yp e a inflação aumentou ο estagflação A capacidade produtiva da economia (a LRAS) permanece igual O mecanismo de autocorreção vai fazer o ajustamento ao longo da AD 1 de volta para o ponto de equilíbrio inicial O efeito de curto prazo de um choque temporário de oferta é uma quebra do produto e um aumento da inflação No longo prazo: o produto e a inflação regressam ao seu equilíbrio inicial, Yp e π1 37 Um choque permanente da oferta Parte-se do equilíbrio de longo prazo Um choque permanente (negativo) da oferta desloca a LRAS para a esquerda, de LRAS1 para LRAS2 ο Por exemplo, devido a legislação mais restritiva A inflação aumenta imediatamente, deslocando a AS para a esquerda, de AS1 para AS2 No novo equilíbrio (AD1 e AS2) verifica-se Y > Yp Enquanto o hiato do produto for positivo, a AS desloca-se para a e para cima até intersetar a AD e a LRAS2 Diminui o produto potencial e a inflação aumenta O efeito de curto prazo de um choque permanente da oferta é uma quebra do produto e um aumento da inflação No longo prazo, o produto potencial reduz-se e a inflação aumenta, ambos de forma permanente Política de estabilização macroeconómica no modelo AD-AS 8. Resumo das funções AD e AS A política macroeconómica tem como objetivos: 38 ο Estabilizar a atividade económica para controlar o nível do desemprego ο Estabilizar a inflação num valor relativamente baixo Os decisores de política escolhem a menor taxa de desemprego para a qual a inflação não se altera: a taxa natural de desemprego, Un Teoricamente, a este nível da taxa de desemprego, o produto converge para o seu nível potencial e o hiato do produto (Y – Yp) é nulo A política económica que visa estabilizar o produto no seu nível potencial é designada por política de estabilização Política macroeconómica de estabilização da inflação Porquê controlar a inflação? ο Para os economistas, a inflação reduz o crescimento económico e tem custos sociais O objetivo de política dos bancos centrais é assim a estabilidade de preços: a inflação baixa e estável ο O objetivo não é definido como inflação zero nem como um nível exageradamente baixo para evitar a inflação negativa e deflação O banco central escolhe uma taxa de inflação alvo (πt), ligeiramente superior a zero A política monetária procura minimizar o hiato da inflação π - πt Para alguns bancos centrais, a estabilidade de preços não é o objetivo prioritário, sendo colocada ao mesmo nível que o desemprego Estabilização da inflação e estabilização da atividade económica Política monetária e taxa de juro real de equilíbrio A taxa de juro real natural ou de equilíbrio, r* é a taxa de juro que vigora quando: ο a economia está ao seu nível de equilíbrio de longo prazo (Yp) ο a taxa de inflação é consistente com a estabilidade de preços (πT) ο Portando, é a taxa de juro de equilíbrio de longo prazo O Banco Central define a sua regra de política monetária, representada pela função MP que, por sua vez, determina a procura agregada, AD 39 ο Para controlar a inflação, o Banco Central altera a taxa de juro Política de estabilização após um choque de procura Ajustamento automático e um choque de procura Política de estabilização No curto prazo, é possível usar a política par eliminar o hiato do produto e o hiato da inflação. ο política orçamental expansionista (G↑ ou T↓) que expande a AD ο leva tempo a decidir e executar ο política monetária que reduz a taxa de juro através da redução da taxa de juro real autónoma ο estimula o investimento e aumenta o produto para cada nível da inflação 40 Política de estabilização após um choque de procura Após um choque negativo de procura, o produto e a inflação diminuem O Banco Central faz uma política monetária expansionista, alterando a regra da política ο Diminui e a MP desloca-se para baixo A função AD desloca-se de AD2 para AD1 e a economia retorna ao ponto de equilíbrio inicial A taxa de juro de equilíbrio diminui para cada nível de inflação A política monetária não tem qualquer efeito sobre a taxa de juro de equilíbrio (de longo prazo) Após um choque de procura não há qualquer trade-off entre os dois objetivos da política macroeconómica de estabilização: a estabilização da inflação e a estabilização da atividade económica Política de estabilização após um choque de oferta Ajustamento automático a um choque permanente de oferta 41 Estabilização da inflação após um choque permanente de oferta O choque contrai o produto, mas deixa-o acima do seu novo nível potencial e aumenta a taxa de inflação A autoridade monetária pode manter a inflação ao seu nível alvo e contrair a procura agregada ο Conduz a AD para AD3 onde interseta a LRAS ao nível da inflação alvo, πT O banco central aumenta a componente autónoma da taxa de juro ( ), levando a taxa de juro de r*1 para r*3 ο A curva MP desloca-se de MP1 para MP3 No novo ponto de equilíbrio, o hiato do produto é nulo (Y=Y p), a inflação está ao nível alvo (π= πT), mas a taxa de juro aumentou (↑r) Após um choque permanente da oferta não há qualquer trade-off entre os dois objetivos da política macroeconómica de estabilização: estabilização da inflação e estabilização da atividade económica Ajustamento automático a um choque temporário de oferta 42 Estabilização da inflação após um choque temporário de oferta Se o Banco Central pretender estabilizar a inflação no curto prazo (nível πt) deverá subir a taxa de juro ο A curva MP desloca-se para cima e a taxa de juro passa para r3 ο O efeito é a contração do investimento e da procura agregada O produto fica abaixo do nível de pleno-emprego (Y3<YP) o que provoca a deslocação da AS para AS1 ο O novo ponto de equilíbrio (ponto 4) ficaria abaixo do ponto 3 e seria uma situação de inflação abaixo da inflação alvo. Para manter a inflação alvo, πt, as autoridades terão que fazer com que a AD regresse a AD1 ο A MP regressa a MP1 ο A economia passa para o ponto 5 Com Y2<Yp, a AS desloca-se para AS1 Estabilizar a inflação após um choque temporário negativo da oferta conduz a economia a afastar-se do seu equilíbrio de longo prazo 43 Estabilização da atividade económica após um choque temporário de oferta Se a autoridade monetária pretender estabilizar a atividade económica no curto prazo deverá expandir a AD até AD3 A curva MP desloca-se para baixo até MP3 O hiato do produto volta a ser nulo Como contrapartida a inflação sobe para π3 Estabilizar a atividade económica após um choque temporário negativo da oferta conduz a maior inflação Quão ativa deverá ser a política de estabilização? Política ativa ou não ativa Não ativistas: ο os preços e os salários são suficientemente flexíveis e o mecanismo de autocorreção é rápido ο a ação do governo para eliminar o desemprego é desnecessária Ativistas: ο o mecanismo de autocorreção é demasiado lento porque os preços e os salários são viscosos ο são necessárias políticas ativas para eliminar o desemprego Política e lags Há hiatos que impedem a resposta imediata das autoridades monetárias aos problemas 44 ο ο ο ο ο Hiato de dados Hiato do reconhecimento Hiato legislativo Hiato de implementação Hiato de eficácia Os não-ativistas consideram que estes intervalos são uma razão adicional para defender a não utilização de políticas ativas de combate ao desemprego. Modelo AD-AS e taxa de juro nominal 9. A regra de Taylor Taylor propõe que o Banco Central controle a taxa de juro a partir de: ο uma referência base de 2%, o nível histórico dos EUA ο o hiato da inflação (π-π*) (ponderado) ο o hiato do produto (Y-Yp) (ponderado) Se se atribuir a mesma importância ao controlo da inflação e do produto, cada ponderador será ½ Os hiatos expressam-se em percentagens A regra de Taylor para a taxa de juro real com ponderadores iguais para Y e π: E para a taxa de juro nominal (usando a equação de Fisher) A prática: a regra de Taylor e a taxa de juro da reserva federal americana 45 A inflação como um fenómeno monetário Manipulando a componente autónoma ( ) da política monetária, as autoridades podem definir qualquer nível da inflação como o seu alvo de longo prazo Assuma-se uma economia em equilíbrio com taxa de juro r1*, produto ao nível potencial, Yp, e inflação ao nível π1T O Banco Central pretende aumentar a inflação alvo para π3T ο ο ο ο Altera a regra de política monetária para MP3, diminuindo a taxa de juro A procura agregada aumenta, deslocando-se a função AD para AD3 A AS desloca-se para cima Dá-se um novo equilíbrio ao nível da taxa de inflação desejada pelo BCnulo Neutralidade da política monetária Um aumento na inflação-alvo Política monetária com taxa de juro limitada Um limite inferior para a taxa de juro nominal Para o banco central, a taxa de juro nominal pode ter como limite inferior o valor zero Com a economia em recessão, o banco central desce a taxa de juro até esse limite: o zero lower bond (ZLB) Até este limite a curva MP é positivamente inclinada À esquerda deste limite a MP é negativamente inclinada porque a taxa de juro real aumenta (fica menos negativa) para níveis menores de inflação Pela equação de Fisher: 46 i=r+π Assim: A função política monetária com limite para a taxa de juro Procura agregada A alteração da regra política monetária pelo ZLB tem consequências sobre a função procura agregada A função AD é semelhante à função AD anteriormente estudada até ao limite zero da taxa de juro nominal Até esse nível (ponto 2), a diminuição da taxa de juro provoca aumento do investimento e do consumo no mercado de bens e serviços Quando a inflação desce para valores muito baixos, a taxa de juro real sobe (para valores menos negativos), contraindo a procura agregada (ponto 1) A curva de procura agregada passa a ter uma inclinação positiva para valores muito baixos da inflação 47 A função procura agregada com limite para a taxa de juro O desaparecimento do mecanismo de autocorreção com zero lower bound Assuma-se que ocorre um choque negativo e muito acentuado da procura Em resposta, o Banco Central ajusta a taxa de juro nominal tornando-a nula, o que conduz à situação de zero lower bound A oferta agregada interseta a procura num ponto em que Y < Yp No mercado de trabalho, o desemprego está elevado fazendo diminuir os salários, pelo que as empresas baixam os preços, diminuindo a inflação e a inflação esperada A oferta desloca-se para baixo para AS2 O produto e a inflação voltam a descer e a oferta agregada desloca-se para AS3 Não ocorre ajustamento e gera-se uma espiral deflacionista Y < Yp ο π↓ ο r↑ ο Y↓ ο Y << Yp ο π↓ ο r↑ ο Y↓ 48 Por não ser possível diminuir a taxa de juro, a política monetária expansionista convencional não pode ser utilizada O Banco Central utiliza política monetária não convencional ο Provisão de liquidez ο Compra de ativos ο Gestão de expectativas Relembrando que a taxa de juro dos projetos de investimento é dada por ri = r + As medidas da política monetária não convencional tentam atuar sobre mercado financeiro , as fricções do Política monetária não convencional Provisão de liquidez ο Uma secagem súbita dos mercados de crédito pode causar a situação de crise descrita ο Para contrariá-lo, o banco central tenta injetar liquidez no sistema tentando fazer descer e a taxa de juro ri ο A AD desloca-se para a direita Compra de ativos ο Diminuição dos spreads de crédito através da compra de ativos 49 ο O banco central compra ativos, aumentando o seu preço e diminuindo as suas taxas de juro ο Tentativa de diminuir as taxas de juro de longo prazo, aplicadas nos projetos de investimento Estas políticas visam deslocar a procura agregada para a direita, fazendo-a intersetar a oferta agregada ao nível do pleno-emprego Efeito da política monetária não convencional Gestão de expectativas Outra forma de fazer política monetária (não convencional) consiste no banco central se comprometer a manter a taxa de juro baixa Isto deverá causar a diminuição das taxas de juro de longo prazo, de a AD para a direita e de ri, deslocando ο A taxa de juro de uma obrigação de longo prazo aproxima-se de uma média das taxas de juro das obrigações de curto prazo esperadas durante o período de vida da obrigação de longo prazo ο O compromisso do Banco Central pode contribuir para descer as taxas de juro de curto prazo esperadas no futuro e assim descer a taxa de juro de longo prazo A gestão de expectativas pode ainda operar via oferta agregada através das expectativas para a inflação ο Se as expectativas para a inflação aumentaram, enquanto a taxa de juro nominal for nula, a taxa de juro real diminui e a oferta agregada desloca-se para cima 50 Política orçamental, défice e dívida 10. Défice público e dívida pública Recorde-se que o défice público corresponde à diferença entre receitas públicas e despesas públicas ο Despesas públicas ο Despesas com bens e serviços que podem ser correntes (Gc) ou de investimento (GI): G = Gc + GI ο Transferências (subsídio de desemprego, Segurança Social, etc.) ο Pagamento de juros da dívida pública ο Receitas públicas ο Impostos diretos ο Contribuições para a Segurança Social ο Impostos indiretos Todos os anos, o governo tem que saldar o seu défice, o que é feito através da emissão de títulos de dívida pública (ΔB) A restrição orçamental do Governo 51 A dívida pública A dívida pública é um bom indicador do nível de endividamento de um país e mede-se em relação à capacidade desse país saldar a dívida, o que é dado pelo rendimento gerado no ano. Mede-se a dívida em percentagem do PIB, isto é, o rácio do valor nominal da dívida em relação ao PIB nominal: B % Y Dois fatores podem fazer variar este rácio: ο Os défices que fazem aumentar a dívida e assim o seu numerador ο O crescimento do PIB nominal (crescimento do PIB e da inflação) que faz aumentar o seu denominador Crises de dívida soberana As crises de dívida soberana emergem quando a dívida pública se acumula para lá de um nível que leva os investidores a duvidarem da capacidade dos governos as pagarem Quando o risco aumenta, os investidores deixam de financiar as obrigações públicas O preço das obrigações cai, enquanto aumentam as suas taxas de juro Aumenta o juro das novas obrigações emitidas Como consequência, aumenta o défice público e em seguida a dívida Δ Dívida/PIB ο Δ Risco de incumprimento ο Δ Pagamento de juros ο Δ Défice ο Δ Dívida/PIB ο Δ Risco de incumprimento ο Δ Pagamento de juros ο Δ Défice ο … Política orçamental e a economia no curto prazo Política orçamental e fiscal e procura agregada 52 Assuma-se uma diminuição da procura agregada para AD1, onde Y1 < YP O governo tem duas alternativas de política para aumentar a procura agregada: aumentar a despesa; diminuir os impostos Nos dois casos, a AD desloca-se para AD2 O produto aumenta para YP e a inflação aumenta para π2 O multiplicador da despesa: ΔY/ΔG O multiplicador dos impostos: ΔY/ΔT Multiplicadores fiscais e taxa de juro com limite inferior Inicialmente a economia está abaixo do pleno-emprego ο Caso 1: a curva de oferta agregada de curto prazo AS1 interseta a curva de procura agregada AD1 no ponto 1, onde AD1 tem declive negativo ο Caso 2: a curva de oferta agregada de curto prazo AS’1 interseta a curva de procura agregada AD1 no ponto 1’, onde a AD tem declive positivo Uma política orçamental e fiscal expansionista desloca a curva AD para a direita, para AD2 53 ο Caso 1: a economia desloca-se para o ponto 2 e o produto aumenta para Y2 ο Caso 2: a economia desloca-se para o ponto 2’ e o produto aumenta para Y2’ ο O multiplicador fiscal é muito maior quando a economia já atingiu o limite inferior da taxa de juro nominal (ZLB) No caso 1, perante o aumento da inflação gerado pela política orçamental expansionista, as autoridades monetárias aumentam a taxa de juro Isto contrai o investimento e contribui para um aumento pequeno do produto No caso 2, perante o aumento da inflação gerado pela política orçamental expansionista, as autoridades monetárias mantêm a taxa de juro nominal Isto diminui a taxa de juro real, estimulando o investimento e contribui para um aumento maior do produto Política orçamental e oferta agregada As alterações nos impostos podem afetar a oferta agregada de curto prazo e de longo prazo Considere-se uma economia co m produto dado por Y1, inferior ao produto potencial, YP Ocorre uma diminuição temporária nas contribuições para a Segurança Social Ao se reduzir os custos de produção (custos salariais), reduz-se a inflação e desloca-se a AS de AS1 para AS2 54 Ao aumentar o rendimento disponível, aumenta a despesa de consumo e a procura agregada que se desloca para a direita de AD1 para AD2 A economia regressa ao seu nível de pleno-emprego, YP e a inflação poderá não ter subido Supply-side economics (análise do lado da oferta) e a política fiscal Supply-side economics e cortes nos impostos Os efeitos sobre a oferta agregada de cortes nos impostos são ampliados Os cortes contribuem ainda para aumentar a procura agregada Uma redução nos impostos sobre o rendimento desloca a AD de AD 1 para AD2 e incita a mais investimento e mais esforço no trabalho, afetando positivamente a oferta agregada A oferta agregada de longo prazo aumenta de LRAS1 para LRAS2 A inflação diminui, deslocando a AS para baixo, de AS1 para AS2 Os cortes nos impostos têm fortes efeitos expansionistas O produto potencial aumenta e a inflação Défice público equilibrado: expansionista ou contracionista? Existe a ideia de que a redução do défice é contracionista Conduzir o défice público ao equilíbrio seria contracionista por causar uma redução da procura agregada Para alguns autores, equilibrar o défice pode ter benefícios futuros, sobretudo se as medidas adotadas para o reduzir forem sustentadas 55 O governo evitará subir os impostos no futuro com o objetivo de pagar o défice Esta redução de impostos provocará o equivalente a um choque positivo de oferta Taxas de câmbio e política económica internacional 11. Taxa de câmbio Taxa de câmbio nominal As trocas internacionais e os movimentos internacionais de capitais envolvem moedas de diferentes países No mercado cambial troca-se moeda nacional contra moedas estrangeiras (divisas) Taxa de câmbio nominal E: montante de unidades de moeda nacional necessários para adquirir uma unidade de moeda estrangeira É o preço de uma divisa em moeda nacional Flutuações na taxa de câmbio nominal A taxa de câmbio varia em função da procura e oferta de divisas Estas variações recebem as seguintes designações: A taxa de câmbio real Taxa de câmbio real: valor da moeda nacional expresso em termos dos bens e serviços que poderão ser adquiridos em termos internacionais com uma unidade de moeda nacional Por vezes também designada termos de troca 56 Taxas de câmbio no curto prazo A taxa de câmbio no curto prazo é determinada pela oferta de divisas (Ds) e pela procura de divisas (Dd): Ds = Dd Resulta daqui uma taxa de câmbio de equilíbrio (E*) e um montante de divisas transacionado (D*) A procura de divisas Operações cambiais que geram compra de divisas contra venda de moeda nacional ο ο ο ο Compra de ativos estrangeiros por nacionais Depósitos em contas bancárias no exterior Transferência de rendimentos para o exterior Etc. As importações de bens e serviços (N) são a principal componente da procura de divisas Quando a taxa de cambial nominal aumenta (a moeda nacional deprecia), as importações tornam-se relativamente mais caras As importações dependem assim negativamente da taxa de câmbio, logo: A procura de divisas depende negativamente da taxa de câmbio 57 A oferta de divisas Operações cambiais que originam venda de divisas contra compra de moeda nacional ο ο ο ο Compra de ativos nacionais por estrangeiros Depósitos em contas bancárias nacionais por estrangeiros Transferências de rendimentos do exterior Etc. As exportações de bens e serviços (X) são principal componente da oferta de divisas Quando a taxa de câmbio nominal aumenta (a moeda nacional deprecia), as exportações tornam-se relativamente mais baratas Assim: A oferta de divisas depende positivamente da taxa de câmbio Regime de câmbios flexíveis Alterações ao equilíbrio em câmbios flexíveis Em câmbios flexíveis, o mercado cambial funciona sem intervenção do Banco Central, a autoridade cambial da economia A taxa de câmbio é perfeitamente flexível 58 Taxas de câmbio e análise AD-AS Efeitos de uma apreciação cambial Uma diminuição exógena em E faz diminuir as exportações líquidas e o produto: Dois efeitos no modelo AD-AS: 1. Para cada nível da inflação, uma apreciação cambial resulta na contração da procura agregada (a AD desloca-se de AD1 para AD2) 2. A apreciação equivale a um choque temporário positivo da oferta: as importações ficam relativamente mais baratas e a inflação diminui (a AS desloca-se de AS1 para AS2) Tipicamente, o choque da oferta é inferior ao choque da procura: ο Y e π diminuem AD-AS e apreciação cambial Política de estabilização O Banco Central pode adotar uma política de estabilização, diminuição a taxa de juro Com isto diminui o retorno dos ativos nacionais, logo a procura por ativos nacionais, e a moeda nacional deprecia-se 59 A depreciação aumenta o preço das importações e a curva AS regressa a AS1 A diminuição da taxa de juro aumenta o investimento e a procura agregada A economia poderia regressar ao ponto de equilíbrio inicial Taxas de câmbio e política de estabilização A política monetária consegue responder ao desequilíbrio gerado pela taxa de câmbio Uma apreciação cambial é contracionista, diminuindo Y e π ο A política monetária expansionista é eficaz Uma depreciação cambial é expansionista, aumentando Y e π ο A política monetária contracionista é eficaz Intervenção no mercado cambial Câmbios fixos: aumento na procura de divisas O Banco Central pode escolher intervir no mercado cambial Escolhe manter a taxa de câmbio fixa e intervém no mercado cambial sempre que se verifiquem pressões sobre o valor da taxa de câmbio Quando a procura de divisas aumenta, o Banco Central vende divisas (F A) para manter E fixa e diminui as suas reservas externas 60 Quando a oferta de divisas aumenta, o Banco Central compra divisas (F A) para manter E fixa aumenta as suas reservas externas Com esta intervenção, a taxa de câmbio não se altera Câmbios fixos e sistema monetário Para manter a taxa de câmbio fixa, o Banco Central compra e vende divisas contra moeda nacional Quando intervém no mercado cambial afeta o sistema monetário Por exemplos, o Banco Central vende ativos externos às OIM: Como resultado, a oferta de moeda contrai e a taxa de juro interna aumenta Para evitar os efeitos monetários, o Banco Central deverá proceder a uma esterilização 61 RESUMO: Função IS Função MP Função AD 62 Função AS 63