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Testosterona

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“Esse produto é voltado para profissionais da área médica. O exercício da medicina é
restrito a profissionais devidamente habilitados pelo conselho de classe correspondente
a sua especialidade. Se você não possui esse registro, não siga as orientações
recomendadas neste produto. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto
relativo à sua saúde e aos tratamentos e medicamentos tomados por você ou pelas
pessoas que recebem seus cuidados e atenção.”
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TESTOSTERONA
(FISIOLOGIA, ESTÉTICA E SAÚDE)
DUDU HALUCH
Curitiba
2020
“Dudu Haluch”: Carlos Eduardo Ferreira Haluch
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Copyright © 2020 por Carlos Eduardo Ferreira Haluch - “Dudu Haluch”
Todos os direitos reservados.
Capa
Dudu Haluch, Thaís Essu
Editor
Dudu Haluch, Gustavo Stocker, Thaís Essu
Ilustrações
Dudu Haluch, Carolina Simião e Thaís Essu
Site: www.duduhaluch.com.br
E-commerce: www.livrosduduhaluch.com.br
facebook.com/eduardo.haluch.5
instagram.com/duduhaluch
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APRESENTAÇÃO
A inspiração para escrever este ebook surgiu de forma inesperada no início de
maio/2020 quando estava pensando em montar um curso online sobre algum tema
relacionado a hormônios. Depois de algum tempo pensando qual tema abordaria veio a
ideia de montar um curso online sobre testosterona, já que tenho uma longa experiência
fazendo uso desse hormônio e também um bom conhecimento sobre estudos que
utilizam testosterona em dosagens suprafisiológicas. Como gosto muito de escrever,
naturalmente veio a ideia de escrever um ebook sobre o assunto, principalmente porque
poderia aproveitar parte do material que já tinha escrito no meu livro Hormônios no
Fisiculturismo (2017) e em diversos textos que tinha escrito ao longo dos últimos anos.
Embora esse ebook aborde alguns conteúdos do meu primeiro livro (Hormônios
no Fisiculturismo), a abordagem aqui é mais específica, focando nos efeitos da
testosterona, o esteroide anabolizante mais utilizado para fins estéticos desde o início
dos anos 50. Fisiculturistas têm utilizado testosterona desde a década de 50 e o uso
desse hormônio para fins estéticos (hipertrofia muscular, emagrecimento) tem
aumentado muito nos últimos anos entre homens e mulheres. Nesse ebook faço uma
abordagem detalhada sobre os efeitos do uso da testosterona em doses
suprafisiológicas, seus efeitos na composição corporal e os potenciais efeitos na saúde
com o uso. A originalidade desse material é justamente abordar o uso de testosterona
para fins estéticos.
Abraços,
Dudu Haluch
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SUMÁRIO
1) ASPECTOS HISTÓRICOS
9
1.1) O INÍCIO DO FISICULTURISMO E A DESCOBERTA DA TESTOSTERONA ..
9
1.2) TESTOSTERONA COMO BASE NOS CICLOS DE ESTEROIDES ..................
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
14
2) FISIOLOGIA DA TESTOSTERONA
15
2.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
15
2.2) EFEITOS FISIOLÓGICOS DA TESTOSTERONA .............................................
15
2.3) CONVERSÃO DA TESTOSTERONA EM DHT .................................................
18
2.4) CONVERSÃO DA TESTOSTERONA EM ESTROGÊNIO (ESTRADIOL) .........
20
2.4.1) ESTRADIOL SUPRIMIDO .....................................................................
22
2.4.2) ESTRADIOL ELEVADO .........................................................................
24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
25
3) TESTOSTERONA E HIPERTROFIA MUSCULAR
26
3.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
26
3.2) HIPERTROFIA MUSCULAR: TIPOS DE FIBRAS E HIPERTROFIA .................
26
3.3) HIPERTROFIA MUSCULAR: SINALIZAÇÃO PARA O CRESCIMENTO...........
28
3.4) O POTENCIAL ANABÓLICO DA TESTOSTERONA .........................................
30
3.5) TESTOSTERONA E HIPERTROFIA: RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA...............
32
3.6) TESTOSTERONA E HIPERTROFIA: MECANISMOS DE AÇÃO ......................
34
3.7) TESTOSTERONA, GENÉTICA E FISIOLOGIA.................................................
35
3.8) RECOMENDAÇÃO DE PROTEÍNA PARA HORMONIZADOS .........................
37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
39
4) TESTOSTERONA E EMAGRECIMENTO
40
4.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
40
4.2) TESTOSTERONA E OBESIDADE ....................................................................
40
4.3) TESTOSTERONA E GORDURA CORPORAL: MECANISMOS DE AÇÃO .......
42
4.4) TESTOSTERONA E EMAGRECIMENTO .........................................................
45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
46
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5) EFEITOS COLATERAIS DA TESTOSTERONA E EXAMES LABORATORIAIS
48
5.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
48
5.2) EFEITOS COLATERAIS ANDROGÊNICOS .....................................................
50
5.2.1) ACNE E TESTOSTERONA ...................................................................
50
5.2.2) ALOPÉCIA ANDROGENÉTICA .............................................................
51
5.2.3) PRÓSTATA E TESTOSTERONA ..........................................................
52
5.3) EFEITOS COLATERAIS POR AROMATIZAÇÃO .............................................
52
5.3.1) GINECOMASTIA ...................................................................................
53
5.4) SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................................
54
5.5) TESTOSTERONA E PERFIL LIPÍDICO ............................................................
56
5.6) TESTOSTERONA E HEMATÓCRITO...............................................................
57
5.7) EFEITOS PSICOLÓGICOS...............................................................................
58
5.8) TESTOSTERONA, LIBIDO E COMPORTAMENTO ..........................................
59
5.9) OUTROS EFEITOS COLATERAIS ...................................................................
60
5.10) EXAMES LABORATORIAIS............................................................................
61
5.10.1) HEMOGRAMA .....................................................................................
61
5.10.2) PERFIL LIPÍDICO ................................................................................
62
5.10.3) ENZIMAS HEPÁTICAS ........................................................................
64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
66
6) FORMULAÇÕES DE TESTOSTERONA
68
6.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
68
6.2) ESTEROIDES INJETÁVEIS E SEUS ÉSTERES ..............................................
68
6.3) TESTOSTERONA AQUOSA (SUSPENSÃO) ...................................................
70
6.4) ÉSTERES DE TESTOSTERONA......................................................................
70
6.5) UNDECANOATO DE TESTOSTERONA (NEBIDO) ..........................................
73
6.6) TESTOSTERONA EM GEL (ANDROGEL) .......................................................
74
6.7) UNDECANOATO DE TESTOSTERONA ORAL (ANDROXON) ........................
75
6.8) METILTESTOSTERONA ..................................................................................
75
6.9) TESTOSTERONA SUBCUTÂNEA ....................................................................
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
77
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7) TPC E PÓS-CICLO DE ESTEROIDES
79
7.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
79
7.2) EIXO HIPOTÁLAMO-PITUITÁRIA/HIPÓFISE-TESTICULAR (HPT)..................
80
7.3) TERAPIA PÓS-CICLO (TPC) ............................................................................
82
7.4) TIMING PARA INÍCIO DA TPC E EXAMES LABORATORIAIS .........................
86
7.5) ALIMENTOS E TESTOSTERONA ....................................................................
90
7.6) TESTO BOOSTER - A ILUSÃO ........................................................................
91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................
93
8) TRT E BLAST & CRUISE
95
8.1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................
95
8.2) HIPOGONADISMO ...........................................................................................
96
8.3) TRATAMENTO DO HIPOGONADISMO (TRT) .................................................
98
8.4) BLAST & CRUISE ............................................................................................. 100
8.5) USO CRÔNICO DE TESTOSTERONA E ESTEROIDES .................................. 103
8.5.1) EFEITOS CARDIOVASCULARES DE DOSES SUPRAFISIOLÓGICAS 103
8.5.2) TESTOSTERONA E INFERTILIDADE ................................................... 106
8.6) O MITO DA SATURAÇÃO DE RECEPTORES (DOWNREGULATION) ............ 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 110
9) MULHERES E TESTOSTERONA
112
9.1) INTRODUÇÃO .................................................................................................. 112
9.2) ESTROGÊNIO E TESTOSTERONA NAS MULHERES .................................... 113
9.3) TESTOSTERONA, ESTEROIDES E HIPERTROFIA ........................................ 114
9.4) ESTEROIDES ANABOLIZANTES E VIRILIZAÇÃO .......................................... 117
9.5) DROGAS PARA COMBATER VIRILIZAÇÃO: ANTIANDRÓGENOS ................ 120
9.6) PÓS-CICLO E SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA ANDROGÊNICA FEMININA
(SIA) ........................................................................................................................ 122
9.7) TRATAMENTO COM ANDRÓGENOS PARA MULHERES............................... 123
9.8) TPC FEMININA ................................................................................................. 125
9.9) ANTICONCEPCIONAL, HIPERTROFIA E TESTOSTERONA ........................... 126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 130
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
1
ASPECTOS HISTÓRICOS
1.1) O INÍCIO DO FISICULTURISMO E A DESCOBERTA DA
TESTOSTERONA
Foi em meados do século XIX que o cientista alemão Arnold Adolf Berthold,
realizando experiência com galos, descobriu que os testículos influenciam o
comportamento masculino através da secreção na corrente sanguínea de uma
substância desconhecida.
Décadas mais tarde o fisiologista francês Charles Édouard Brown-Séquard
anunciou na Sociedade de Biologia em Paris que ele tinha idealizado uma terapia de
rejuvenescimento para o corpo e a mente. Ele alegou que a injeção do extrato líquido,
extraído dos testículos de cachorro e porquinho da índia, poderia aumentar a força física
e capacidade intelectual em seres humanos. Apesar dos efeitos desse extrato serem
apenas placebo, a pesquisa de Brown-Séquard inspirou vários cientistas para fazer
pesquisa com extratos testiculares. Em 1889 o atleta de beisebol Pud Galvin foi o
primeiro atleta a testar o uso do extrato de Brown-Séquard com a finalidade de aumentar
seu desempenho no beisebol. Pode-se dizer que ele foi o primeiro atleta a fazer uso de
esteroides androgênicos, mesmo que o efeito tenha sido nulo, comparável ao que
obtemos com o uso de testosterona sintética. Apesar disso tudo, a estrutura da
testosterona não seria elucidada até a década de 1930 e os extratos de testículos de
animais estavam longe de fornecer os benefícios dos esteroides anabolizantes que
conhecemos hoje, devido a grande quantidade de testículos necessária para extrair uma
quantidade de testosterona da ordem de poucos mg.
O fisiculturismo começou a dar os primeiros passos no início do século XX, graças
a grande influência do talentoso Eugen Sandow (1867-1925). Sandow se destacou na
Europa como um forte levantador de peso, mas se destacou ainda mais pela ótima
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
qualidade estética do seu físico. Em 1901 ele idealizou a primeira competição oficial de
fisiculturismo, que levou cerca de três anos para ser planejada e contou com a
participação de 156 atletas, além de contar com o ilustre Arthur Conan Doyle (famoso
criador de Sherlock Holmes) como um dos jurados.
Além de Eugen Sandow, muitos outros famosos levantadores de peso foram
responsáveis pelo desenvolvimento do fisiculturismo na era pré-esteroides (1900-1950).
Importante lembrar que nesse tempo as competições de fisiculturismo eram diferentes,
pois não era valorizado apenas o aspecto estético, mas também a performance do atleta
em outras modalidades esportivas. Mais detalhes sobre a história do fisiculturismo
podem ser encontrados na Enciclopédia de Fisiculturismo e Musculação do Arnold
Schwarzenegger.
Foi só nos anos 40 que as competições de fisiculturismo começaram a mudar,
com a criação do concurso Mister América pela AAU (Amateur Athletic Union), que no
decorrer dos anos passou a dar mais ênfase à aparência física. Com isso os
levantadores de peso passaram a gozar de uma maior vantagem nas competições contra
atletas oriundos de outras modalidades, como nadadores, ginastas, pugilistas. Um dos
primeiros vencedores do Mister América foi John Grimek (1910-1998), que foi um
levantador de peso por excelência, inclusive competindo nas olímpiadas de Berlim em
1936. Entre suas façanhas, Grimek nunca foi derrotado no fisiculturismo e derrotou Steve
Reeves no primeiro concurso do Mister Universo NABBA em 1948. Outro fato importante
sobre Grimek é que ele foi um dos primeiros fisiculturistas a usar testosterona nos EUA,
sob a supervisão do famoso médico John Ziegler. Antes de abordar como Ziegler iniciou
os testes com esteroides androgênicos nos fisiculturistas da costa oeste dos Estados
Unidos, vamos voltar aos anos 30, onde a testosterona foi sintetizada pela primeira vez.
Na década de 1930 aconteceu a grande revolução dos esteroides anabolizantes
e dos hormônios sexuais como um todo, onde os químicos que trabalhavam para
grandes empresas farmacêuticas como Schering, Organon, Ciba, foram responsáveis
pela síntese de uma série de hormônios esteroides, entre os quais o mais importante foi
a testosterona, em 1935. A síntese da testosterona e de outros esteroides rendeu o
prêmio Nobel de química a Adolf Budenandt (Schering) e Lavoslav Ruzicka (Ciba) em
1939. Nos anos seguintes várias outras formulações de testosterona foram sintetizadas,
como a metiltestosterona (oral) e o propionato de testosterona. Entre 1936 e 1938 testes
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
em humanos e animais demonstraram os efeitos anabolizantes da testosterona na
massa muscular.
As alegações de que os soldados alemães teriam usado testosterona na Segunda
Guerra Mundial são carentes de evidências. O professor de Estudos Germânicos John
Hoberman acredita que o uso de esteroides por soldados nazistas é um mito.
A popularidade da testosterona aumentou com a publicação, em 1945, do livro “O
Hormônio Masculino” do escritor Paul de Kruif. Nesse livro Kruif exalta o potencial da
testosterona para causar rejuvenescimento e aumentar produtividade, argumentando
que também poderia ser utilizada por atletas como um potente recurso ergogênico. Não
demorou muito para que os fisiculturistas da costa oeste dos EUA vissem grande
potencial no uso de esteroides androgênicos para ganho de massa muscular.
No entanto, tudo indica que não foram os americanos os primeiros atletas a fazer
uso da testosterona e sim os levantadores de peso soviéticos (russos), provavelmente
entre os anos de 1952 a 1954. Foi em 1954, no campeonato mundial de levantamento
de peso na cidade de Viena, que o Dr. John Ziegler (1920-1983), médico da equipe
americana, entrou em contato com o médico da equipe soviética, que lhe disse que os
atletas soviéticos estavam fazendo uso de testosterona. Ao voltar para os Estados
Unidos Ziegler convenceu os levantadores de peso John Grimek, Jim Park (Mister
Universo em 1954) e Yaz Kuzahara, associados ao York Barbell Club de Bob Hoffman,
a testar o uso de testosterona. Os resultados foram decepcionantes, provavelmente pela
forma equivocada do uso, já que na época era pouco conhecido a melhor forma de se
usar testosterona e controlar seus efeitos colaterais. Mas Ziegler não desistiu e em 1955
ele foi trabalhar na Ciba, grande indústria farmacêutica e pioneira na síntese de
esteroides, inclusive da testosterona.
Trabalhando na Ciba, Ziegler teve acesso a diversos esteroides androgênicos
derivados da testosterona para fazer testes em atletas. Porém, foi só em 1958 que a
Ciba Pharmaceuticals introduziu o Dianabol no mercado e revolucionou o uso de
esteroides no fisiculturismo. Ziegler não foi responsável pelo desenvolvimento do
Dianabol, como dizem muitos sites e fóruns de musculação, mas foi ele que apresentou
o Dianabol para os levantadores de peso do York Barbell Club e para a equipe americana
de levantamento de peso.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
No entanto, o primeiro esteroide oral sintético liberado pela FDA (Food and Drug
Administration – órgão governamental responsável pelo controle de medicamentos,
alimentos e suplementos nos EUA) - para comércio nos EUA foi o Nilevar
(Noretandrolona), produzido pela Searle em 1956. Bill Pearl foi um dos primeiros
fisiculturistas a experimentar o Nilevar em 1958, sob a orientação de Artur Jones, o
criador do High Intensity Training (HIT) e das máquinas Nautilus. Pearl relatou um ganho
de peso de 11 kg com um ciclo de 12 semanas usando 30 mg por dia de Nilevar. Bill
Pearl também admitiu que fez uso de esteroides androgênicos na sua preparação para
o Mister Universo NABBA de 1961, onde foi campeão. Nessa época Pearl, assim como
Larry Scott (vencedor do Mr. Olympia em 1965 e 1966), relatam que o uso de esteroides
anabolizantes já era uma prática comum entre os principais fisiculturistas.
1.2) TESTOSTERONA
ESTEROIDES
COMO
BASE
NOS
CICLOS
DE
Os fisiculturistas dos anos 60, 70 e 80 pareciam evitar o uso de testosterona,
provavelmente pela dificuldade no controle do estrogênio, já que não existiam drogas
eficazes disponíveis para controlar os efeitos do estrogênio. Vários relatos de atletas da
época relatam ciclos sem a presença de testosterona.
Sergio Oliva confirmou ter usado Dianabol e deca, sem mencionar as dosagens,
mas confirmou que todos na época estavam usando. Dave Draper, ator e Mister Universo
pela IFBB em 1966, relatou como era um ciclo razoável entre 1965 e 1970, que parece
ser mais realista, exceto pelas dosagens baixas em relação aos dias de hoje:
“Entre 1965 e 1970, um esboço razoável consistiria de um ciclo de 12 semanas de Deca
Durabolin injetável, 1 ml por semana, além de Winstrol (estanozolol), Anavar (oxandrolona), ou
Dianabol em forma de pílulas, 4 a 6 comprimidos por dia. Dosagens seriam maiores ou menores
de acordo com os resultados, a necessidade, ou ignorância do patife, a ousadia, o desespero, a
disponibilidade dos ingredientes, humor, e assim por diante. A cada seis semanas durante a fase
de não competição, um ciclo curto e leve poderia ser feito para sustentar os ganhos musculares
e a força.”
Muitas pessoas se perguntam como os fisiculturistas lidavam com a libido fazendo
ciclos sem testosterona, mas esquecem que após um ciclo de esteroides o contexto
fisiológico pode ser muito pior do que simplesmente ciclar sem usar testosterona.
Indivíduos diferentes podem sentir impactos distintos na função sexual. A grande
12
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
verdade é que libido baixa é um efeito comum após o uso de esteroides, mas muitos
usuários só se preocupam realmente quando sofrem com disfunção erétil. Outros
poderiam remediar isso simplesmente usando alguma testosterona, mesmo não sendo
a principal droga de um ciclo como nos dias de hoje.
Nos anos 80 a testosterona passou a ser mais utilizada pelos fisiculturistas,
provavelmente porque drogas que controlam os efeitos colaterais estrogênicos
(ginecomastia) estavam disponíveis. Ainda assim, muitos fisiculturistas preferiam evitar
o uso de testosterona nos ciclos. Veja o relato de Mike Quinn, que foi Mister Universo
em 1984:
“Eu nunca tinha os altos e baixos selvagens com o desejo sexual, porque eu nunca abusei de
testosterona. Um monte de caras tem amor a testo porque é barato e você terá toda a força e
ganho de peso rapidamente. Eu nunca gostei da forma como a testosterona me fez sentir. Eu
sempre usei deca como minha base e combinei com um pouco de Equipoise e D-bol, passando
seis semanas ON, duas semanas OFF. Nas últimas seis semanas antes de uma competição
seria apenas Primobolan, Winstrol-V e uma droga oral mais androgênica, como a Halotestin no
final.”
Parece que foi o guru Dan Duchaine que introduziu o uso do tamoxifeno no
fisiculturismo, tanto para controle da ginecomastia, como também para ser usado na
terapia pós ciclo (TPC). No seu livro Underground Steroid Handbook (1981) também
aparecem as primeiras ideias sobre TPC, recomendando o uso da gonadotrofina
coriônica humana (hCG) e tamoxifeno ou clomifeno em conjunto para auxiliar no retorno
da produção natural de testosterona após um ciclo de esteroides. É curioso notar que o
Franco Columbu venceu o Mister Olympia em 1981 com uma ginecomastia aparente.
No seu livro Duchaine relata doses altas de testosterona, como 2000 - 4000 mg
por semana entre atletas de força e jogadores de futebol americano. Nessa época os
ésteres de testosterona mais conhecidos já eram disponíveis, como propionato, enantato
e cipionato.
Como o fisiculturismo se tornou um esporte muito competitivo nos anos 80, tudo
indica que os atletas estariam em uso mais frequente de hormônios, muitos sem períodos
OFF hormônios. A testosterona se tornou a base do ciclo dos fisiculturistas profissionais
provavelmente nessa época, assim como o GH se tornou de uso comum entre atletas de
elite, principalmente no final dos anos 80. Nos anos 90 o uso de ésteres de testosterona
parece ter se consolidado entre os fisiculturistas e muitos passaram a fazer uso contínuo
de testosterona.
13
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
Além disso, a testosterona também passou a ser utilizada por muitos praticantes
de musculação que não buscam competição. Muitas pessoas têm utilizado testosterona
sem necessidade terapêutica e sem noção dos potenciais riscos do uso dessa
substância. É compreensível que o uso de testosterona para fins estéticos não desperte
preocupação de muitos usuários, já que os efeitos colaterais do seu uso costumam ser
pouco preocupantes no curto prazo (meses).
Neste livro vou abordar sobre os efeitos fisiológicos da testosterona, seus
potenciais efeitos na otimização da composição corporal (hipertrofia e emagrecimento)
e também os riscos envolvidos quando indivíduos usam testosterona em doses
suprafisiológicas para fins estéticos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAHRKE, M. S.; YESALIS, C. E. “History of doping in sport”. In: Performance enhancing
substances in sports and exercise. Champaign, IL: Human Kinetics, 2002.
BAKER, M. The Amazing History of Anabolic Steroids
https://thinksteroids.com/articles/history-anabolic-steroids-sports/
in
Sports,
2011.
COLUCCI, C. An Interview with the Blond Bomber (Dave Draper), 2009. https://www.tnation.com/training/interview-with-the-blond-bomber
HALUCH, D. Hormônios no fisiculturismo – história, fisiologia e farmacologia.
Florianópolis, Letras Contemporâneas, 2017.
HOBERMAN, J. M; YESALIS, C. E. “The history of synthetic testosterone”. Scientific
American. Feb. 76-80, 1995.
HOHL, A. Testosterona: dos aspectos básicos aos clínicos. Tradução 1 ed. Rio de
Janeiro, Di Livros, 2019.
SCHWARZENEGGER, A. Enciclopédia de Fisiculturismo e Musculação. Porto Alegre,
Artmed, 2001.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
2
FISIOLOGIA DA TESTOSTERONA
2.1) INTRODUÇÃO
Além de atuar em vários tecidos do organismo para exercer diversos efeitos
anabólicos e androgênicos, mediante sua ligação com o receptor androgênico (AR –
androgen receptor), a testosterona pode exercer parte dos seus efeitos através da sua
conversão em estrogênio (aromatização) e também pela sua conversão em dihidrotestosterona (DHT), um hormônio androgênico que possui o dobro da afinidade da
testosterona com o AR. As ações da testosterona são mediadas por esses dois
metabólitos em muitos tecidos e muitos dos colaterais dos esteroides anabolizantes são
associados ao aumento das concentrações de estrogênio e DHT.
Nos homens quase toda a testosterona (95%) é produzida nos testículos
(sintetizada a partir do colesterol), estimulada pela ação do hormônio luteinizante (LH),
liberado pela hipófise sob estímulo do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que
por sua vez é liberado de forma pulsátil pelo hipotálamo. A produção de testosterona nos
homens funciona pelo mecanismo de feedback negativo.
2.2) EFEITOS FISIOLÓGICOS DA TESTOSTERONA
A maior parte da testosterona presente na circulação está ligada a duas proteínas
plasmáticas, a globulina de ligação dos hormônios sexuais (SHBG) e a albumina. Nos
homens cerca de 50 - 68% da testosterona está ligada à albumina e 30 - 45% está ligada
ao SHBG, sendo que a afinidade da testosterona com essa proteína é quatro vezes maior
em magnitude que a afinidade de ligação com a albumina. Cerca de 1 - 3% da
testosterona está na forma livre, não ligada às proteínas plasmáticas e por isso é
considerada a forma biologicamente ativa, podendo entrar nos tecidos alvos e exercer
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
seus efeitos metabólicos. Por ter afinidade mais fraca com a albumina, parte da
testosterona pode dissociar-se dessa proteína e também entrar nos tecidos-alvo para
exercer seus efeitos metabólicos. Portanto, a soma das frações de testosterona ligada
às proteínas plasmáticas: (SHBG + albumina) ~ 98% mais a testosterona livre (~ 2%)
constituem a testosterona total presente na circulação. Enquanto a fração da
testosterona ligada à albumina somada com a testosterona livre constitui a chamada
testosterona biodisponível. Um ponto importante a se considerar é que a concentração
de SHBG aumenta com uso de estrogênios, tamoxifeno e hormônios da tireoide; e
diminui pelo uso de androgênios, glicocorticoides, insulina e GH. A redução do SHBG
aumenta a quantidade de testosterona livre.
Figura 2.1. Biossíntese da testosterona a partir do colesterol. As duas vias descritas na figura
acima ocorrem no testículo, nas células de Leydig, sob estímulo do hormônio luteinizante (LH)
secretado pela hipófise. A via da esquerda, que passa através da pregnenolona, 17 OHpregnenolona, DHEA e androstenediol é a que predomina no testículo humano. A testosterona
ainda pode atuar como um pró-hormônio e se converter em estrogênio (estradiol) e dihidrotestosterona (DHT) nos tecidos periféricos. Os efeitos fisiológicos do estradiol e do DHT são
descritos no texto (HALUCH, 2017).
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
A testosterona controla uma série de efeitos no organismo, como a diferenciação
sexual (desenvolvimento dos ductos de Wolff), a libido (função sexual), o crescimento
puberal da laringe (responsável pelo engrossamento da voz), os efeitos anabólicos no
músculo, a estimulação da espermatogênese, aumento da densidade mineral óssea
(DMO). Além disso, a testosterona estimula o metabolismo de repouso (taxa metabólica),
a lipólise, aumentando o número de receptores lipolíticos β-adrenérgicos, e inibe a
diferenciação de células precursoras dos adipócitos. O principal motivo pelo qual
fisiculturistas usam esteroides anabolizantes é pelo seu efeito anabólico no músculo
esquelético, aumentando a síntese de proteínas e reduzindo sua degradação.
A maioria desses efeitos da testosterona e dos demais esteroides anabolizantes incluindo o DHT - são mediados pela sua ligação ao receptor androgênico (AR), receptor
localizado no interior da célula (citoplasma). Após se ligar ao AR no citoplasma, a
testosterona e o receptor formam um complexo hormônio-receptor que se transfere para
o núcleo da célula, regulando a expressão de genes-alvo no DNA. Esse é o processo de
transcrição gênica (síntese do RNA mensageiro a partir do DNA), que dá início à síntese
de proteínas. A informação contida no RNA mensageiro é transferida até os ribossomos,
informando a sequência de aminoácidos que deve formar as proteínas. Essa regulação
dos genes-alvo pela testosterona e pelos demais androgênios depende do tecido alvo.
Sendo assim, no músculo esquelético a testosterona vai ativar principalmente a região
do DNA responsável pela produção de proteínas contráteis, como os filamentos de actina
e miosina, que formam as fibras musculares. Há sinais inconclusivos de que alguns
efeitos androgênicos podem ser mediados por receptores não-genômicos sobre a
membrana celular.
Tem sido hipotetizado também que parte dos efeitos anabólicos e anticatabólicos
da testosterona e dos esteroides androgênicos seriam pela inibição da ação dos
hormônios glicocorticoides (cortisol), que são hormônios catabólicos. Os androgênios
podem se ligar a esses receptores, impedindo a atividade do cortisol, embora maior parte
dos estudos indique que os androgênios têm baixa afinidade com os receptores de
glicocorticoides.
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2.3) CONVERSÃO DA TESTOSTERONA EM DHT
Os efeitos da testosterona sobre a próstata, glândulas sebáceas da pele, cabelo
e pelos do corpo ocorrem através da sua conversão em di-hidrotestosterona (DHT), por
meio da enzima 5α-redutase. Cerca de 80% dessa conversão ocorre nos tecidos
periféricos e o DHT tem uma afinidade maior que a testosterona com o AR, além de uma
meia-vida mais longa quando ligada a esse receptor. O DHT tem um importante papel
no desenvolvimento de estruturas como escroto, pênis, uretra peniana e também
contribui com o crescimento dos pelos faciais e corporais, além de ser o principal
responsável pela calvície de padrão masculino em indivíduos com predisposição
genética. Cerca de 7 - 10% da testosterona total se converte em DHT e essa conversão
ocorre nas células-alvo que expressam a enzima 5α-redutase. A atividade dessa enzima
é muito baixa ou ausente no músculo esquelético, de forma que não se deve esperar um
efeito anabólico do DHT nos músculos.
As concentrações de DHT em homens se situam na faixa de 250 a 1000 pg/ml
(25 – 100 ng/dl). Para um homem com concentrações de testosterona de 600 ng/dL, é
esperado uma concentração de DHT de aproximadamente:
600 ng/dL x 0,1 = 60 ng/dl = 600 pg/ml (com 10% de conversão)
600 ng/dL x 0,05 = 30 ng/dl = 300 pg/ml (com 5% de conversão)
É comum ver usuários de testosterona sintética preocupados com altos níveis de DHT
nos exames laboratoriais, valores que muitas vezes ultrapassam 2500 pg/mL, que é o
valor máximo normalmente disponibilizado pelos laboratórios. Para um homem usando
doses suprafisiológicas de testosterona, como 600 mg por semana, seria normal níveis
de testosterona na faixa de 3000 – 5000 ng/dL e, portanto, níveis de DHT acima de 2500
pg/mL. Será que o DHT elevado é realmente um problema?
Além da testosterona, outros esteroides podem sofrer ação da 5α-redutase
(boldenona, nandrolona, Dianabol) e em doses elevadas pode ser responsável por uma
série de importantes efeitos colaterais associados ao DHT. Entre os principais efeitos
adversos do DHT estão a acne e a queda de cabelo, e nas mulheres também o hirsutismo
(excesso de pelos com padrão de distribuição masculina). A finasterida, um
medicamento inibidor da enzima 5α-redutase, usada para tratar câncer de próstata e
hipertrofia benigna da próstata, também pode ser usada para controlar esses efeitos
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colaterais, pelo menos parcialmente. Outro inibidor menos conhecido da 5α-redutase é
a dutasterida.
Existe uma forte crença que os inibidores da 5α-redutase podem ajudar alguns
efeitos colaterais relacionado ao DHT e também podem prejudicar a função sexual e o
ganho de massa muscular. Muito se discute sobre o papel do DHT na função sexual dos
homens, principalmente na função erétil. Alguns estudos clínicos mostraram disfunção
sexual em homens que usaram inibidores da 5α-redutase para hipertrofia benigna da
próstata. Como esses indivíduos apresentam altas taxas de disfunção sexual, não é
possível saber se finasterida ou dutasterida podem ser responsabilizadas por esse efeito
adverso.
O estudo de Bhasin (2012) mostrou que o uso de dutasterida com doses
suprafisiológicas de testosterona não prejudicou o ganho de massa muscular e nem a
função sexual em homens saudáveis (18 a 50 anos). Nesse estudo a dose de dutasterida
foi de 2,5 mg/ dia, uma dose que tem potencial para suprimir os níveis de DHT. Isso
acontece porque o DHT tem baixa atividade no músculo esquelético (tecido com baixa
atividade da 5α-redutase), mas é importante por amplificar os efeitos da testosterona em
tecidos com alta atividade da 5α-redutase, como pele e próstata.
No estudo de Bhasin (2012) não houve diferença entre os grupos que usaram
dutasterida (tabela 2.1) e os grupos que usaram placebo (tabela 2.2) em relação às
mudanças na massa corporal magra (MLG), massa gorda, força muscular, função
sexual, nível de hematócrito e níveis de colesterol. Também não houve diferença no
volume prostático, nível de PSA, produção de sebo e escores de acne (marcadores de
atividade androgênica em tecidos com alta atividade de 5α-redutase) entre os grupos
que usaram dutasterida e placebo com diferentes dosagens de enantato de testosterona.
Tabela 2.1. Grupos de homens que utilizaram testosterona com dutasterida, 2,5 mg por dia
(BHASIN, 2012).
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
MLG (kg)
50 mg
519 (378 – 660)
0,6 (- 0,1 – 1,2)
125 mg
895 (616 – 1173)
2,6 (0,9 – 4,3)
300 mg
1706 (1341 – 2071)
5,8 (4,8 – 6,9)
600 mg
3898 (3089 - 4708)
7,1 (6,0 – 8,2)
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Tabela 2.2. Grupos de homens que utilizaram testosterona sem dutasterida, placebo (BHASIN,
2012).
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
MLG (kg)
50 mg
385 (261 – 508)
0,8 (- 0,1 – 1,7)
125 mg
822 (658 – 986)
3,5 (2,1 – 4,8)
300 mg
1702 (1201 – 2203)
5,7 (4,8 – 6,5)
600 mg
3578 (2876 – 4279)
8,1 (6,7 – 9,5)
A conversão da testosterona em DHT não parece ser obrigatória para os efeitos
androgênicos da testosterona nos tecidos, mas o DHT amplifica os efeitos da
testosterona nos tecidos com maior expressão da enzima 5α-redutase, como próstata e
pele. Sendo assim, é compreensível que o uso de inibidores da 5α-redutase não
prejudique a função sexual em homens que estão utilizando doses suprafisiológicas de
testosterona, e também não reduzam a acne e a hipertrofia da próstata, já que mesmo
com os níveis de DHT suprimidos as concentrações elevadas de testosterona estarão
atuando no receptor androgênico. Por outro lado, em homens mais velhos com
baixos níveis de testosterona a dutasterida e a finasterida reduzem o volume da
próstata e podem prejudicar a função erétil, já que nesse contexto tanto os níveis
de DHT como os níveis testosterona estão reduzidos.
2.4) CONVERSÃO
(ESTRADIOL)
DA
TESTOSTERONA
EM
ESTROGÊNIO
Uma pequena parte da testosterona também pode se converter em 17β-estradiol
nos homens, o estrogênio biologicamente mais potente (comparando com a estrona e o
estriol). A conversão da testosterona em estradiol (E2) é mediada pela enzima
aromatase, presente nas células de Leydig dos testículos e principalmente nos tecidos
extragonadais, como o tecido adiposo. A expressão da aromatase é diretamente
proporcional ao grau de adiposidade e por esse motivo homens obesos podem
apresentar níveis de estradiol elevados e baixa testosterona. Isso acontece porque o
estradiol provoca feedback negativo no hipotálamo e na hipófise, inibindo a secreção de
gonadotrofinas (LH e FSH) e, consequentemente, reduzindo a produção de testosterona.
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Os efeitos da testosterona sobre lipídios plasmáticos (colesterol), fechamento das
epífises, progressão da aterosclerose e diferenciação sexual no cérebro requer sua
aromatização em estradiol. Cerca de 80% da conversão da testosterona em estradiol
ocorre nos tecidos periféricos, sendo o tecido adiposo o principal responsável pela
aromatização da testosterona.
Além da testosterona, outros esteroides também podem sofrer aromatização.
Entre os principais estão: nandrolona (Deca), Dianabol e boldenona. O principal efeito
colateral conhecido causado pelo aumento dos níveis de estrogênio é a ginecomastia
(tetas de cadela na linguagem popular). Por outro lado, existem drogas que podem
controlar os efeitos do estrogênio, inibindo sua atividade pelo bloqueio dos receptores de
estrogênio (tamoxifeno, clomifeno, raloxifeno), ou inibindo a atividade da enzima
aromatase, como fazem os inibidores de aromatase (anastrozol, letrozol, exemestano).
Os bloqueadores de receptores de estrogênio são chamados de moduladores seletivos
dos receptores de estrogênio (sigla em inglês: SERMs) e podem promover uma série de
efeitos distintos no organismo, mas sem redução dos níveis de estradiol. Já os inibidores
de aromatase não podem bloquear os efeitos do estradiol diretamente, podem apenas
reduzir as concentrações de estrogênio por inibirem a atividade da enzima aromatase e,
consequentemente, bloquear a conversão da testosterona em estradiol.
As concentrações séricas de estradiol em homens saudáveis ficam na faixa de 10
a 50 pg/mL. Como aproximadamente 0,5% da testosterona se converte em estradiol,
para um homem com níveis de testosterona em 600 ng/dL, os níveis de estradiol devem
ficar em torno de 30 pg/mL. Acompanhe o cálculo abaixo:
0,5% de 600 ng/dL → 600 x 0,005 = 3 ng/dL
Para converter ng/dL em pg/mL basta multiplicar por 10. Logo 3 ng/dL = 30 pg/mL. Para
um homem com 500 ng/dL de testosterona seria esperado um estradiol de
aproximadamente 25 pg/mL.
Sendo assim, podemos ver que existe uma relação de 20:1 entre testosterona e
estradiol. Então basta dividir as concentrações de testosterona por 20 para encontrar
qual seria o valor de estradiol esperado para a concentração de testosterona. Isso não
significa que o estradiol nesse nível não possa causar nenhum efeito colateral, apenas
que é mais improvável. Também é um erro achar que o estradiol dentro do intervalo de
referência não seja um problema, já que um estradiol próximo do valor máximo do exame
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(50 pg/mL) estaria em desproporção com um nível de testosterona próximo do valor
mínimo da referência (250 ng/dL). Isso pode ser visto com frequência em homens obesos
e em homens mais velhos.
Existem algumas especulações sobre o controle dos níveis de estrogênio e até
que ponto níveis altos e baixos podem ser prejudiciais. Outro ponto importante é que um
desequilíbrio na razão androgênio/estrogênio pode acentuar os malefícios dos
esteroides androgênicos no perfil lipídico. Outros malefícios associados a forte
supressão do estradiol são baixa libido, disfunção erétil, ganho de gordura e dores
articulares.
2.4.1) ESTRADIOL SUPRIMIDO
O estrogênio (estradiol) é visto como vilão há muito tempo, principalmente entre
fisiculturistas. Muitos acreditam que ele promove ganho de gordura, retenção hídrica e
prejudica a libido. Na verdade, os estudos em animais e humanos têm mostrado
justamente o contrário. O estrogênio favorece a deposição de gordura na região glúteo
femural nas mulheres e sua supressão leva ao acúmulo de gordura subcutânea, visceral
e piora da função sexual em homens (baixa libido e disfunção erétil). Estradiol elevado
em homens parece ser um problema apenas no contexto de testosterona baixa, mas
estradiol baixo é sempre um problema. Vai dificultar a perda de gordura e não ajudar.
Eu também já acreditei que reduzir ou suprimir estradiol com inibidores de
aromatase (anastrozol, letrozol) fosse uma estratégia interessante para ajudar a perder
gordura e diminuir a retenção hídrica, principalmente nas últimas semanas de
preparação para a competição. No entanto, esse é mais um mito do fisiculturismo sem
qualquer comprovação científica.
Para piorar a situação, os estudos mostram que a supressão do estrogênio
aumenta a gordura subcutânea e visceral tanto em homens, como em mulheres. Em
homens a supressão do estradiol também prejudica a função sexual (FINKELSTEIN,
2013). Estradiol alto pode ser um problema no contexto de testosterona baixa, como
ocorre em indivíduos mais velhos e obesos, que apresentam baixa testosterona e maior
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resistência à insulina. No entanto, estradiol baixo é um problema independente do
contexto.
Claro que o indivíduo que abusa de esteroides e termogênicos com dieta restrita
vai secar mesmo usando anastrozol ou letrozol, mas essas drogas não estarão ajudando,
e sim atrapalhando no processo se o estradiol estiver suprimido.
No estudo Finkelstein (2013) homens foram divididos em dois grandes grupos,
que fizeram uso de diferentes doses de testosterona em gel (subgrupos). Um dos grupos
fez uso de anastrozol (1 mg por dia) com a finalidade de suprimir o estradiol. Abaixo
deixo para vocês a conclusão do estudo e as informações com os níveis de testosterona
e estradiol dos dois grupos.
Tabela 2.3. Grupos de homens que utilizaram testosterona em gel sem anastrozol
(FINKELSTEIN, 2013).
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
Estradiol (pg/ml)
Placebo
44
3,6
1,25 g
191
7,9
2,5 g
337
11,9
5,0 g
470
18,2
10,0 g
805
33,3
Tabela 2.4. Grupos de homens que utilizaram testosterona em gel com anastrozol, 1 mg por dia
(FINKELSTEIN, 2013).
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
Estradiol (pg/ml)
Placebo
41
1,0
1,25 g
231
1,2
2,5 g
367
2,0
5,0 g
485
2,1
10,0 g
924
2,8
Em resumo, conduzimos um estudo de variação de dose para determinar
as doses relativas de testosterona e os níveis séricos associados nos
quais a composição corporal, a força e a função sexual inicialmente
declinam. Examinando essas relações com e sem supressão da síntese
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de estrogênio, descobrimos que a massa magra, o tamanho do músculo
e a força são regulados pelos andrógenos; o acúmulo de gordura é
principalmente uma consequência da deficiência de estrogênio; e a
função sexual é regulada por andrógenos e estrógenos (FINKELSTEIN,
2013).
2.4.2) ESTRADIOL ELEVADO
Existe a crença entre muitos fisiculturistas que o estrogênio (estradiol) elevado
promove ganho de gordura e retenção hídrica. No entanto, não há evidências que o
estrogênio promova esses efeitos diretamente. O estradiol elevado promove feedback
negativo no eixo hipotálamo - hipófise - testicular, reduzindo os níveis de testosterona.
Homens com testosterona baixa tem piora da sensibilidade à insulina e acumulam
gordura subcutânea e visceral. Esse contexto é muito comum em idosos e obesos com
estradiol elevado e baixa testosterona e também após um ciclo de esteroides.
Se um indivíduo toma esteroides anabolizantes, em particular testosterona, seus
níveis de estradiol se elevam por aromatização. Esse estradiol elevado pode causar
ginecomastia, mas não promove ganho de gordura ou retenção hídrica. A retenção de
alguns esteroides, como hemogenin e Dianabol, não tem relação com o estradiol, assim
como nandrolona, que aromatiza pouco. Por outro lado, existe evidência robusta que a
supressão do estrogênio piora a sensibilidade à insulina e promova ganho de gordura
subcutânea e visceral.
O estradiol também tem um papel importante como cardioprotetor, melhorando a
resposta do endotélio vascular ao óxido nítrico o que reduz as chances de eventos como
infarto do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos. Então quando controlá-lo?
Além da situação onde ele ocasiona o surgimento de ginecomastia, apenas em
outras ocasiões se torna interessante sua inibição: naqueles pacientes que possuem
hipersensibilidades/alergias principalmente as mediadas por IgE e IgA como rinites,
asma brônquica e outras pelo fato do estradiol aumentar a síntese dessas
imunoglobulinas e tender a promover uma maior resposta via linfócito th2. Outros casos
como acne persistente ou indivíduos com grande flutuação de humor também é de se
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pensar, no entanto sempre é importante individualizar antes de incluir inibidores de
aromatase.
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TESTOSTERONA E HIPERTROFIA
MUSCULAR
3.1) INTRODUÇÃO
Os efeitos anabólicos da testosterona são conhecidos desde os anos 40,
principalmente pelos estudos em animais e homens com deficiência de testosterona
(hipogonadismo). No entanto, somente nos anos 90 a testosterona foi reconhecida por
seus potentes efeitos anabolizantes em homens normais, sem deficiência de
testosterona. De qualquer forma, desde os anos 50 os fisiculturistas têm utilizado
testosterona e seus derivados, os esteroides anabolizantes, com a finalidade de
aumentar a massa muscular. A testosterona e os esteroides anabolizantes também
foram amplamente utilizados por atletas de diversas modalidades com a finalidade de
aumentar o desempenho e a força muscular.
Até hoje nenhum outro hormônio / substância mostrou um efeito tão anabólico
como a testosterona e os esteroides anabolizantes. Neste capítulo discuto os estudos
que mostraram os potenciais efeitos anabolizantes da testosterona e também abordo os
principais mecanismos de ação da testosterona para gerar hipertrofia muscular.
3.2) HIPERTROFIA MUSCULAR: TIPOS DE FIBRAS E DE
HIPERTROFIA
Hipertrofia muscular é o aumento da secção transversa do músculo, o aumento
do tamanho das fibras musculares. As fibras musculares são as células do músculo
esquelético, também chamadas de miócitos. As fibras musculares são multinucleadas e
podem ser de dois tipos basicamente: fibras do tipo I (ou de contração lenta) e fibras do
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tipo II (ou de contração rápida). As fibras do tipo I são mais recrutadas em exercícios de
baixa-média intensidade e utilizam predominantemente o metabolismo aeróbio
(oxidativas), enquanto as fibras do tipo II são recrutadas principalmente com o treino de
alta intensidade e utilizam predominantemente o metabolismo anaeróbio (sem uso de
oxigênio).
A distribuição dessas fibras pode variar muito de indivíduo para indivíduo e de
acordo com a atividade física que pratica. Fisiculturistas possuem mais fibras de
contração rápida do que lenta, devido às características do treinamento de força (mais
intensidade, sobrecarga). É importante deixar claro que ambas as fibras irão hipertrofiar
com o estímulo do treinamento de força e pelo uso de testosterona, sendo que as fibras
do tipo II apresentam um aumento maior que as fibras do tipo I. As fibras do tipo II
respondem mais à síntese proteica, enquanto as fibras do tipo I aumentam mais pela
redução da degradação de proteínas.
As fibras musculares são formadas por filamentos de actina e miosina, proteínas
que deslizam uma sobre as outras durante a contração muscular. O aumento da fibra
muscular ocorre quando a síntese dessas proteínas é superior a degradação das
mesmas (balanço nitrogenado positivo). Assim como toda célula, a fibra muscular
também possui um citoplasma, que é nesse caso chamado de sarcoplasma. Não vou
entrar nos detalhes da estrutura da fibra muscular e no mecanismo da contração
muscular, uma vez que o objetivo aqui é apenas entender melhor como ocorre o ganho
de massa muscular.
Além do aumento da fibra muscular, o músculo também pode aumentar de
tamanho devido a um aumento no número de fibras musculares (hiperplasia). No
entanto, embora esse efeito tenha sido observado em animais, em humanos esses
achados não são muito claros. A hiperplasia parece ter pouca contribuição para o volume
muscular em humanos. Segundo alguns especialistas a contribuição da hiperplasia seria
no máximo 5% do volume muscular. É possível que o uso de esteroides anabolizantes
em combinação com GH, insulina e IGF-1, aumente o potencial para ganhos de volume
muscular pelo processo de hiperplasia, além do aumento do número de mionúcleos,
células satélites e receptores androgênicos.
Existem dois tipos de hipertrofia basicamente: hipertrofia sarcoplasmática e
hipertrofia miofibrilar. Ambas podem ocorrer concomitantemente. A hipertrofia muscular
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nada mais é que o aumento da secção transversa da fibra muscular. Na hipertrofia
sarcoplasmática esse aumento ocorre de forma transitória, durante e logo após o
treinamento, devido a um aumento do fluxo sanguíneo nos músculos treinados,
aumentando o volume de liquido intersticial e intracelular e provocando o chamado
“pump” (edema). A hipertrofia miofibrilar ocorre de forma crônica, devido a um aumento
da síntese de proteínas, principalmente actina e miosina. Os filamentos de actina e
miosina formam as miofibrilas. Cada fibra contém várias centenas ou milhares de
miofibrilas. Na próxima seção explico os principais mecanismos responsáveis pelo
processo de hipertrofia muscular.
3.3) HIPERTROFIA
CRESCIMENTO
MUSCULAR:
SINALIZAÇÃO
PARA
O
A hipertrofia do músculo esquelético ocorre não só pelo estímulo do treinamento,
mas também pela influência de fatores hormonais e nutricionais. É necessária nutrição
adequada e ambiente hormonal bem regulado para que a síntese proteica muscular
aumente mais que a degradação de proteínas, propiciando balanço nitrogenado positivo
e, consequentemente, um efeito anabólico no músculo esquelético. Homens com baixos
níveis de testosterona (hipogonadismo) perdem massa muscular, principalmente
homens mais velhos. A terapia de reposição de testosterona (TRT) aumenta a massa
muscular em homens com deficiência de testosterona. Por outro lado, doses
suprafisiológicas de testosterona podem provocar ganhos expressivos de massa
muscular em homens saudáveis, sem deficiência de testosterona, em um período de
tempo relativa mente curto (poucas semanas).
Os principais hormônios anabólicos envolvidos na hipertrofia muscular são:
testosterona, GH, IGF-1 e insulina. A testosterona é o principal hormônio responsável
pelo aumento da massa muscular, mas o IGF-1 também é um importante regulador do
crescimento muscular. O hormônio do crescimento promove ganhos de massa muscular
apenas em indivíduos com deficiência desse hormônio. Por outro lado, a testosterona e
os esteroides anabolizantes aumentam a massa muscular mesmo em homens, animais
e mulheres sem deficiência androgênica. O cortisol é um hormônio catabólico que se
eleva com o estímulo do treinamento de força e tem um importante papel nas adaptações
do treinamento de força e no remodelamento do músculo esquelético.
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Para que ocorra hipertrofia muscular é necessário que as fibras musculares
sofram estresse tensional e metabólico. O estresse tensional causado pelas contrações
musculares com sobrecarga pode gerar dano muscular, microlesões. Esse dano não
deve ser acima da capacidade de adaptação da fibra, caso contrário ocorre lesão do
músculo. O estresse mecânico causado pelo treinamento é um estímulo catabólico e
inflamatório. Esse estímulo provoca então uma resposta do organismo, que através da
liberação de células do sistema imune (macrófagos, neutrófilos), IGF-1 e fatores
inflamatórios (IL-6), irão ativar as células satélites. Essas células por sua vez doam
núcleos ou se unem às fibras lesadas, levando a regeneração do músculo. Uma fibra
muscular maior e com mais núcleos tem agora maior capacidade de síntese proteica.
A testosterona estimula a síntese proteica através do processo de transcrição
(síntese do RNAm a partir do DNA). Esse hormônio entra na célula, se liga ao receptor
androgênico e ocorre a formação de um complexo hormônio-receptor. O complexo
hormônio receptor vai até o núcleo da célula (a fibra muscular nesse caso) e inicia o
processo de transcrição gênica, ativando genes que codificam a síntese de proteínas
contráteis (actina e miosina). A testosterona também inibe a expressão de genes
responsáveis pelo aumento da degradação de proteínas, como MuRF1 e Atrogin 1. O
grande aumento de massa muscular provocado pelo uso de esteroides anabolizantes
demonstra o grande potencial da testosterona endógena como hormônio anabólico, que
desempenha um importante papel na hipertrofia das fibras musculares (figura 3.1).
Além da testosterona, O IGF-1 desempenha um importante papel na hipertrofia
muscular. Esse hormônio, responsável por mediar os efeitos anabólicos do hormônio do
crescimento, também é estimulado durante a contração muscular. O IGF-1 atua
principalmente através da via de sinalização PI3k/Akt/mTOR, promovendo aumento da
síntese proteica e redução do catabolismo proteico. Sinalização IGF1/PI3k/Akt pode
também dominantemente inibir os efeitos de uma proteína segregada chamada
“miostatina”, que é um membro da família de proteínas TGF-β (fator de crescimento
transformador-beta). Eliminação ou inibição da miostatina provoca um aumento no
tamanho do músculo esquelético, porque a miostatina atua para inibir a diferenciação de
mioblastos (célula percursora das fibras musculares) e para bloquear a via de Akt. Assim,
através do bloqueio da miostatina, a ativação da via PI3k/Akt estimula a diferenciação e
a síntese de proteínas por este mecanismo distinto. Como mencionado, a miostatina
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também diminui a expressão da via da síntese de proteínas Akt/mTOR/p70S6k, que
medeia ambos diferenciação em mioblastos e hipertrofia em miotubos (figura 3.1).
Figura 3.1. Vias de sinalização intracelular envolvidas no processo de hipertrofia muscular
(HALUCH, 2018).
3.4) O POTENCIAL ANABÓLICO DA TESTOSTERONA
Em 1996 foi publicado um estudo revolucionário sobre os efeitos anabólicos da
testosterona. Embora os esteroides anabolizantes sejam utilizados por fisiculturistas e
atletas desde os anos 50, não existiam bons estudos que comprovassem a eficácia dos
esteroides e da testosterona para ganho de massa muscular em homens normais, sem
deficiência de testosterona.
O estudo de Bhasin (1996) foi revolucionário porque padronizou a ingestão de
calorias e proteínas e também o treinamento resistido. Esse estudo dividiu 40 homens
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em 4 grupos com idade entre 19 e 40 anos, experientes em levantamento de peso. Um
grupo placebo (sem testosterona) e sem treinamento, um grupo sem treinamento que
fez uso de testosterona, um grupo placebo (sem testosterona) com treinamento e um
grupo com treinamento e uso de testosterona. Os homens dos grupos que usaram
testosterona utilizaram 600 mg de enantato de testosterona por semana.
Todos os homens do estudo foram aconselhados a seguir uma dieta com ingestão
calórica de 36 kcal/kg e ingestão proteica de 1,5 g/kg. Para um homem de 80 kg a
ingestão calórica ficaria em 2880 kcal e a ingestão de proteínas seria de 120 g (480 kcal),
ou aproximadamente 17% das calorias da dieta. A intervenção durou 10 semanas e os
resultados são mostrados na tabela abaixo.
Tabela 3.1. Ganhos de MLG (massa livre de gordura) nos quatro grupos do estudo de Bhasin
(1996).
Grupos
Nível de
Nível de
Aumento da
testosterona inicial
testosterona na
MLG
semana 10
Placebo sem
516 ng/dl
453 ng/dl
Não mudou
502 ng/dl
2828 ng/dl
3,2 kg
557 ng/dl
667 ng/dl
1,9 kg
431 ng/dl
3244 ng/dl
6,1 kg
treinamento
Testosterona sem
treinamento
Placebo com
treinamento
Testosterona com
treinamento
Exceto pelo grupo placebo sem treinamento, os demais grupos tiveram ganhos de
força. O grupo testosterona com treinamento teve os maiores ganhos de força, como
seria de se esperar pelos maiores ganhos de massa muscular.
Para
algumas
pessoas
alguns
resultados
desse
estudo
podem
ser
surpreendentes, em particular o fato do grupo com testosterona e sem treinamento ter
ganhos superiores ao grupo placebo (sem testosterona) com treinamento. Ou seja, usar
testosterona sem treinar parece ser mais vantajoso que apenas treinar sem fazer uso de
testosterona. No entanto, é preciso deixar claro que o estudo teve duração de apenas
10 semanas e como a grande maioria das pessoas deve saber os ganhos de massa
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magra com treinamento resistido são lentos, enquanto os ganhos de um ciclo de
esteroides costumam ser mais rápidos, atingindo um platô em poucas semanas (~ 10
semanas). No longo prazo certamente o grupo com treinamento e sem testosterona teria
mais vantagens que o grupo com testosterona e sem treinamento. De qualquer forma,
uma coisa é muito clara nesse estudo, o uso de testosterona e esteroides anabolizantes
tem poderosa sinergia com a musculação para promover ganhos de força e massa
muscular.
3.5) TESTOSTERONA
RESPOSTA
E
HIPERTROFIA:
RELAÇÃO
DOSE-
Homens jovens saudáveis (sem deficiência de testosterona) usaram enantato de
testosterona por 20 semanas e os ganhos de massa livre de gordura foram dosedependente (BHASIN, 2001). Os níveis de testosterona de um homem se situam na faixa
de 300 a 900 ng/dL. Homens jovens produzem cerca de 50 a 70 mg de testosterona por
semana. O enantato de testosterona é um ester que contém 72 mg de testosterona a
cada 100 mg, valor muito próximo ao encontrado no ester cipionato, que contém 70 mg
de testosterona. Portanto, tomar 100 mg por semana de enantato ou cipionato forneceria
níveis de testosterona na faixa fisiológica em homens jovens. Em homens velhos a taxa
eliminação de testosterona é mais lenta e essas dosagens fornecem níveis mais
elevados de testosterona (BHASIN, 2005).
A dose de 125 mg de testosterona do estudo (BHASIN, 2001) forneceu níveis
fisiológicos de testosterona 7 dias depois da aplicação, mas certamente os níveis ficam
na faixa suprafisiológica nos primeiros dias após aplicação e isso explica os ganhos
significativos de massa magra mostrados na tabela 3.2 com essa dose. As dosagens de
300 e 600 mg por semana são comuns em ciclos de usuários de esteroides e fornecem
ganhos bem expressivos de massa magra, normalmente sem efeitos colaterais
agressivos no curto prazo. Como podemos ver na tabela 3.2 os homens jovens tiveram
aumentos na massa livre de gordura (MLG) maiores com as dosagens mais elevadas.
Durante o estudo os indivíduos não treinaram musculação, consumiram apenas
1,2 g/kg de proteína e a libido não aumentou, mesmo com doses mais altas (os homens
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do estudo eram jovens saudáveis). O humor dos homens do estudo também não foi
afetado. Ocorreu redução do HDL e aumento da hemoglobina com as dosagens mais
altas.
Muitos questionam se homens mais velhos respondem como os homens mais
jovens ao uso de testosterona quando se trata de hipertrofia muscular. Um estudo de
Bhasin (2005) mostrou que homens mais velhos (60 a 75 anos) tiveram uma resposta
semelhante a dos homens mais jovens com o uso de dosagens suprafisiológicas de
testosterona. Os resultados do ganho de MLG em homens mais velhos são mostrados
na tabela 3.3 e na figura 3.2.
Tabela 3.2. Homens jovens com idade entre 19 e 35 anos, 20 semanas usando enantato de
testosterona (BHASIN, 2001).
DOSAGEM
Testosterona
Testosterona
SHBG
Alteração na
total (ng/dL)
livre (pg/mL)
(nmol/L)
MLG (kg)
25 mg
253
29
28,5
- 1,0
50 mg
306
32
21,1
+ 0,6
125 mg
570
52
28,9
+ 3,4
300 mg
1345
138
22,4
+ 5,2
600 mg
2370
275
20,6
+ 7,9
Tabela 3.3. Homens mais velhos, com idade entre 60 e 75 anos, 20 semanas de uso de
testosterona. Os homens mais velhos tiveram maior frequência de hematócrito elevado, acima
de 54%, edema nas pernas e eventos da próstata (BHASIN, 2005).
DOSAGEM
Testosterona
Testosterona
SHBG
Alteração na
total (ng/dL)
livre (pg/mL)
(nmol/L)
MLG (kg)
25 mg
176
19
48
- 0,3
50 mg
274
63
44
+ 1,7
125 mg
852
80
44
+ 4,2
300 mg
1784
215
40
+ 5,6
600 mg
3286
423
38
+ 7,3
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Figura 3.2. Efeitos na massa livre de gordura (MLG) e na massa muscular de diferentes
dosagens de enantato de testosterona em homens jovens (barras pretas) e idosos (barras
claras). Os homens mais velhos são tão responsivos ao uso da testosterona quanto os homens
jovens (BHASIN, 2005).
3.6) TESTOSTERONA E HIPERTROFIA: MECANISMOS DE AÇÃO
A testosterona promove hipertrofia muscular estimulando o aumento da síntese
proteica e reduzindo a degradação de proteínas (balanço nitrogenado positivo). A
testosterona promove hipertrofia das fibras musculares do tipo I e do tipo II, e também
aumenta o número de células satélites e mionúcleos. Esses efeitos anabólicos da
testosterona são observados em homens com hipogonadismo que fazem reposição de
testosterona e também em homens saudáveis eugonodais (sem deficiência de
testosterona) que usam doses suprafisiológicas de testosterona (> 100 mg por semana).
A suplementação de testosterona em homens saudáveis hipogonadais e
homens mais velhos com baixos níveis normais ou baixos de testosterona
aumenta a síntese fracionária de proteínas musculares. De fato, a
hipertrofia das fibras musculares não poderia ocorrer sem um aumento
na síntese de proteínas musculares ou uma diminuição na degradação
das proteínas musculares. No entanto, essa hipótese não pode explicar
nossas observações de que a administração de testosterona está
associada a aumentos nas células satélites e no número mionuclear.
Nossos dados nos levam a concluir que um aumento no número de
células satélites e a subsequente fusão de células satélites com fibras
musculares, resultando em um aumento no número mionuclear e na
hipertrofia das fibras musculares, provavelmente estão envolvidos na
mediação da hipertrofia muscular induzida por andrógenos (SINHAHIKIM, 2003).
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A testosterona também induz a diferenciação de células tronco mesenquimais em
células musculares e inibe a diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos (células do
tecido adiposo que armazenam gordura). Esse último mecanismo explica parcialmente
como a testosterona promove ganhos de massa muscular ao mesmo tempo em que
promove perda de gordura corporal, principalmente em doses suprafisiológicas acima de
300 mg por semana responsivos ao treinamento e aos esteroides anabolizantes.
Todos esses efeitos da testosterona ocorrem através da sua ação no receptor
androgênico (AR), mas é possível que efeitos adicionais ocorram através de mecanismos
não genômicos, por receptores da membrana celular (BHASIN, 2006).
3.7) TESTOSTERONA, GENÉTICA E FISIOLOGIA
O principal determinante para o ganho de massa muscular é o "potencial genético"
do indivíduo, que está relacionado ao número de mionúcleos e receptores androgênicos
(AR) em suas fibras musculares.
Existe a crença entre muitos praticantes de musculação que boa genética para o
ganho de massa muscular está associada a maior produção de testosterona e outros
hormônios anabólicos, como GH e IGF-1. Também existe a crença que comer muita
proteína e fazer uso de suplementos, como BCAA, é importante para promover grandes
ganhos de massa muscular. No entanto, a síntese proteica muscular é limitada e não
aumenta só por comer muita proteína. Indivíduos com maior potencial genético têm mais
facilidade para aumentar a síntese proteica quando estão sob estímulo de treino resistido
(musculação), pois possuem mais mionúcleos e melhor resposta à testosterona por
possuírem mais receptores androgênicos.
Existe uma grande variabilidade de respostas para hipertrofia muscular quando
indivíduos são colocados sob estímulo do treinamento resistido. Um estudo (HUBAL,
2005) mostrou que os ganhos com treinamento de força têm uma grande variabilidade
genética, tanto em termos de ganhos na massa muscular, como em ganhos de força.
Esse estudo considerou 585 indivíduos entre 18 e 40 anos, homens e mulheres,
treinando por 12 semanas, sem uso de hormônios ou suplementos, mantendo sua rotina
normal. No estudo os indivíduos treinaram apenas um braço e enquanto alguns poucos
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indivíduos tiveram ganhos acima de 40% (10 pessoas), outra minoria (5 - 10%) não
obteve nenhum ganho de volume muscular. No entanto, a grande maioria das pessoas
obteve ganhos em hipertrofia de 15 a 25% (aumento da área de secção transversa).
Esses resultados são interessantes, não só porque mostram que a grande maioria das
pessoas pode ter ganhos com treinamento, mas porque mostra uma grande variabilidade
de respostas aos estímulos do treinamento, ou seja, potenciais genéticos diferenciados.
Nós sabemos que os hormônios anabólicos (testosterona, GH, IGF-1 e insulina)
desempenham um importante papel nas adaptações do treinamento de força, mediando
parte da sinalização celular responsável pela hipertrofia. Também sabemos que o uso
de esteroides anabolizantes em doses suprafisiológicas promove um aumento de massa
muscular que é dose-dependente (o mesmo não ocorre com GH, IGF-1, insulina, pelo
menos não de forma isolada). O principal receptor da testosterona e seus derivados
sintéticos é o receptor androgênico (AR) e é principalmente através desse receptor que
a testosterona e os esteroides androgênicos atuam no organismo, promovendo efeitos
anabólicos e androgênicos.
O estudo de Morton (2018) mostrou que a facilidade / dificuldade que um homem
tem para ganhar massa muscular não tem relação com os níveis endógenos de
testosterona (nem com os níveis de GH e IGF-1) e sim com o número de receptores
androgênicos na fibra muscular. Após entrar na fibra muscular e se ligar ao AR, a
testosterona promove hipertrofia muscular através do aumento da síntese proteica
muscular e do aumento de células satélites e mionúcleos. Indivíduos mais responsivos
ao treinamento resistido também parecem ser os mais responsivos ao uso de
testosterona e esteroides anabolizantes.
Quando um indivíduo usa BCAA para hipertrofia muscular a síntese proteica não
pode ser aumentada sem a presença dos demais aminoácidos essenciais, não importa
quanto BCAA o indivíduo utilize. A síntese de proteína muscular exige a presença de
todos os aminoácidos e também atinge um limite para determinada quantidade de
proteína. Ou seja, tomar BCAA não pode ser um diferencial para o ganho de massa
muscular. Além disso, a ingestão de proteína acima de aproximadamente 2,0 g/kg não
parece oferecer maiores ganhos de massa muscular em indivíduos treinados, sem o uso
de esteroides anabolizantes.
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Dessa forma, o maior determinante para o ganho de massa muscular é o potencial
genético do indivíduo. Além disso, exagerar no consumo de proteínas ou BCAA não irá
promover hipertrofia porque a síntese proteica muscular é limitada e não pode ser
aumentada continuamente. Os indivíduos com maior potencial para aumentar síntese
proteica parecem ser os que apresentam maior número de mionúcleos, células satélites
e receptores androgênicos nas fibras musculares, que são justamente os mais
responsivos ao treinamento e aos esteroides anabolizantes.
3.8) RECOMENDAÇÃO DE PROTEÍNA PARA HORMONIZADOS
O grande fisiculturista Nasser El Sombaty dizia que consumia apenas 100 g de
proteínas em off season, em uma dieta com 80% de carboidratos. Já no período précompetição (pré-contest) Nasser dizia consumir 400 - 600 g de proteínas e apenas 80 –
250 g de carboidratos. Ingerir mais proteínas durante uma dieta hipocalórica faz mais
sentido do que ter uma grande ingestão de proteínas em uma dieta hipercalórica. Isso
acontece porque durante a restrição calórica a síntese proteica tende a reduzir, enquanto
a degradação de proteínas tende a aumentar.
A redução das calorias e dos níveis de insulina favorece a oxidação de gorduras
e o aumento da gliconeogênese (síntese de glicose a partir de compostos não
carboidratos, como aminoácidos, glicerol e lactato). Os aminoácidos provenientes do
músculo são os principais substratos para gliconeogênese. A gliconeogênese é um
processo importante em uma dieta hipocalórica porque o cérebro e as hemácias usam
glicose como fonte de energia, enquanto os demais tecidos do organismo podem usar
os ácidos graxos como principal substrato energético. Embora nosso organismo priorize
as reservas de gordura como fonte de energia em uma dieta hipocalórica, a degradação
de proteínas tende a aumentar com uma grande restrição de calorias e carboidratos, e
também quando o indivíduo está com um percentual de gordura muito reduzido. Dessa
forma, é prudente aumentar o consumo de proteínas nessas condições. Alguns estudos
recomendam o consumo de aproximadamente 2,0 – 3,0 g/kg de proteínas para
fisiculturistas naturais no período pré-competição (pré-contest).
Para um fisiculturista pesando 120 - 130 kg (como Nasser El Sombaty) 100 g de
proteínas é muito pouco, apesar dos esteroides favorecerem um "maior aproveitamento
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das proteínas", aumentando síntese proteica e reduzindo degradação proteica. Seria
estranho Nasser mentir a esse respeito, até porque outros fisiculturistas como Mike
Mentzer e Tom Platz também relatavam consumir menos proteína que a grande maioria
dos fisiculturistas.
Para um indivíduo natural que treina musculação a recomendação de proteínas
para hipertrofia é de 1,6 a 2,2 g/kg. Para um indivíduo que faz uso de esteroides
anabolizantes é de se esperar valores maiores, mas pouco provável algo como 4,0 – 5,0
g/kg de proteínas, justamente pelos esteroides também reduzirem a degradação
proteica, além de aumentar a síntese.
O pesquisador Shalender Bhasin (expert em estudos com doses elevadas de
testosterona) já realizou diversos estudos com doses suprafisiológicas de testosterona,
chegando a utilizar dosagens de 600 mg por semana em indivíduos jovens e idosos. Nos
estudos de Bhasin a ingestão de proteínas ficou entre 1,2 a 1,5 g/kg e os ganhos de
massa livre de gordura ficaram na média de 6,0 a 8,0 kg (com 600 mg de enantato de
testosterona por semana), utilizando somente testosterona por 10 e 20 semanas
respectivamente. Ou seja, embora a grande maioria dos fisiculturistas utilize grandes
quantidades de proteínas na dieta (> 3,0 g/kg), é possível ter uma ótima resposta
utilizando quantidades bem menores, como 1,0 a 1,5 g/kg. Mesmo que essas
quantidades possam não ser as melhores para otimizar os ganhos de massa muscular,
os estudos de Bhasin dão certo suporte às alegações de Mike Mentzer e Nasser El
Sombaty.
Acredito que mesmo para fisiculturistas hormonizados uma quantidade de
proteínas maior que 2,5 g/kg seja desnecessária para hipertrofia muscular. A quantidade
exata não há como saber, até porque depende das dosagens de esteroides e do
potencial genético do indivíduo. Lembrando que em déficit calórico e quando o percentual
de gordura está baixo uma quantidade maior de proteínas pode ser justificada,
principalmente por seus efeitos na preservação da massa muscular, no aumento da
saciedade e do gasto energético.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BHASIN, S. et al. The effects of supraphysiologic doses of testosterone on muscle size
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HUBAL, M. et al. Variability in muscle size and strength gain after unilateral resistance
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MORTON, R. et al. Muscle Androgen Receptor Content but Not Systemic Hormones Is
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SINHA-HIKIM, I. et al. Testosterone-induced muscle hypertrophy is associated with an
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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4
TESTOSTERONA E
EMAGRECIMENTO
4.1) INTRODUÇÃO
Muita gente busca fazer uso de testosterona e esteroides anabolizantes com a
finalidade de perder gordura, embora não existam muitas evidências que os esteroides
possam contribuir para a perda de gordura. De qualquer forma, qualquer pessoa que
tenha um pouco de experiência com o uso de esteroides percebe que alguns esteroides
anabolizantes podem promover mudanças drásticas na composição corporal que vão
além de aumentos na massa livre de gordura. Esteroides como trembolona, estanozolol
e oxandrolona são populares entre fisiculturistas e usuários de esteroides por seus
potenciais efeitos termogênicos, principalmente em homens. Já a testosterona não goza
da mesma fama quando se trata de perda de gordura. No entanto, diversos estudos
observacionais e de intervenção mostram que a testosterona tem um papel muito
importante na obesidade, no diabetes tipo 2 e na síndrome metabólica.
4.2) TESTOSTERONA E OBESIDADE
Estudos epidemiológicos mostram que existe uma associação inversa entre níveis
de testosterona e gordura corporal. Homens com menores concentrações séricas de
testosterona também têm maior prevalência de diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.
A relação entre hipogonadismo (deficiência de testosterona) e obesidade é
bidirecional. A obesidade está associada a um estado de inflamação crônica de baixa
intensidade, situação em que o tecido adiposo produz uma série de proteínas
inflamatórias (citocinas), como a interleucia 6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa
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(TNF-α). As citocinas inflamatórias além de prejudicar a sinalização da insulina,
aumentando a resistência à insulina, também atuam no hipotálamo e na hipófise
prejudicando a secreção de GnRH e LH. Com os níveis de GnRH e LH reduzidos, o
testículo sofre uma redução no estímulo para produção de testosterona, o que leva a um
estado de hipogonadismo hipogonadotrófico. Nesse tipo de hipogonadismo os níveis
de testosterona estão reduzidos devido à deficiência na secreção das gonadotrofinas
(LH e FSH) por anormalidades no hipotálamo e na hipófise.
A testosterona também pode se converter em 17β-estradiol nos homens, o
estrogênio biologicamente mais potente (comparando com a estrona e o estriol). A
conversão da testosterona em estradiol (E2) é mediada pela enzima aromatase, presente
nas células de Leydig dos testículos e principalmente nos tecidos extragonadais, como
o tecido adiposo. A expressão da aromatase é diretamente proporcional ao grau de
adiposidade e por esse motivo homens obesos podem apresentar níveis de estradiol
elevados e baixa testosterona. Isso acontece porque o estradiol provoca feedback
negativo no hipotálamo e na hipófise, inibindo a secreção de gonadotrofinas (LH e FSH),
consequentemente, reduzindo a produção de testosterona.
Devido ao aumento da aromatização pelo tecido adiposo, homens obesos
costumam apresentar baixos níveis de testosterona e maiores concentrações de
estradiol que homens magros. A redução das concentrações de estradiol com drogas
que inibem a enzima aromatase (anastrozol, letrozol, aromasin) aumenta as
concentrações de testosterona de homens obesos, normalizando a função gonadal.
Baixos níveis de testosterona em homens obesos e com diabetes melitus tipo 2
também está associado ao aumento da resistência à insulina e a baixas concentrações
de SHBG. Em homens obesos com síndrome metabólica baixos níveis de testosterona
estão associados a aumento do risco de doença cardiovascular e disfunção erétil. A
terapia de reposição de testosterona nessas situações pode melhorar a sensibilidade à
insulina, favorecendo o controle glicêmico desses indivíduos, além de reduzir a massa
gorda, melhorar o bem estar, aumentar a massa magra e aumentar a libido.
A perda de peso em indivíduos obesos com hipogonadismo melhora a
sensibilidade à insulina e tende a normalizar os níveis de testosterona. Ao contrário dos
obesos, a perda de peso em indivíduos eutróficos leva a redução dos níveis de
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testosterona, principalmente em indivíduos que perdem muito peso e atingem um
percentual de gordura muito baixo (fisiculturistas naturais).
Nas mulheres tende a ocorrer o oposto. Níveis elevados de testosterona
aumentam a resistência à insulina e o peso corporal, contribuindo para o ganho de
gordura. É comum mulheres com síndrome de ovários policísticos (SOP) e
hiperandrogenismo (excesso de testosterona) desenvolverem resistência à insulina. O
uso de contraceptivos orais, drogas antiandrogênicas (espironolactona) e metformina
diminui as concentrações de testosterona e melhora a sensibilidade à insulina em
mulheres com SOP e hiperandrogenismo. Muitas mulheres com hiperandrogenismo
apresentam acne, hirsutismo e alopecia androgenética (queda de cabelo). Esses
sintomas de excesso de testosterona podem ser tratados com uso de contraceptivos
orais e antiandrógenos.
Apesar das evidências acumuladas de que o excesso de
testosterona altera a sensibilidade à insulina em mulheres, não está
claro se o excesso de testosterona inicia a resistência à insulina ou
a perpetua. Geralmente, a sensibilidade à insulina melhora quando
o hiperandrogenismo é revertido com a terapia anti-androgênica,
associada à perda de peso. Estes últimos estudos sugerem que o
excesso de andrógeno por si só possa ser fundamental na
resistência à insulina (NAVARRO, 2015).
A perda de peso com dieta e exercício é fortemente indicada para mulheres com
SOP e resistência à insulina. O uso de esteroides anabolizantes em mulheres também
tende a piorar a sensibilidade à insulina, dificultando a perda de gordura e favorecendo
a retenção hídrica. Esse tema é abordado com maior profundidade no capítulo 9.
4.3) TESTOSTERONA E GORDURA CORPORAL: MECANISMOS
DE AÇÃO
Os fisiculturistas já sabem a muito tempo que a testosterona e os esteroides
anabolizantes podem diminuir a gordura corporal de forma bem significativa. Alguns
esteroides, como trembolona e estanozolol, são muito potentes na redução da gordura
corporal e são normalmente utilizados em ciclos de fisiculturistas que estão em précompetição, assim como também em ciclos de usuários recreativos que buscam otimizar
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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a perda de gordura. No entanto, os mecanismos de ação desses hormônios na redução
da gordura não são bem conhecidos.
Os estudos de Bhasin em indivíduos jovens (tabela 4.1) e idosos (tabela 4.2)
mostram um efeito significativo na redução de gordura corporal de doses
suprafisiológicas de testosterona (300 e 600 mg enantato por semana). Esses estudos
também mostram que baixos níveis de testosterona (25 e 50 mg por semana) levam a
um ganho expressivo de gordura corporal em homens jovens.
Tabela 4.1. Efeitos da testosterona na na MLG e na massa gorda em homens mais jovens, com
idade entre 18 e 35 anos, com 20 semanas de uso de enantato de testosterona (BHASIN, 2001).
Dosagem
Testosterona total
Alteração na MLG
Alteração na
(ng/dL)
(kg)
massa gorda (kg)
25 mg
253
- 1,0
+ 3,6
50 mg
306
+ 0,6
+ 2,6
125 mg
570
+ 3,4
- 0,3
300 mg
1345
+ 5,2
- 0,9
600 mg
2370
+ 7,9
- 2,0
Tabela 4.2. Efeitos da testosterona na MLG e na massa gorda em homens mais velhos, com
idade entre 60 e 75 anos, com 20 semanas de uso de enantato de testosterona (BHASIN, 2005).
Dosagem
Testosterona total
Alteração na MLG
Alteração na
(ng/dL)
(kg)
massa gorda (kg)
25 mg
176
- 0,3
+ 0,1
50 mg
274
+ 1,7
- 0,9
125 mg
852
+ 4,2
- 1,5
300 mg
1784
+ 5,6
- 2,2
600 mg
3286
+ 7,3
- 3,0
A testosterona estimula a lipólise (quebra dos triacilgliceróis em ácidos graxos e
glicerol) no tecido adiposo através da sua ação no receptor androgênico (AR). A
testosterona faz suprarregulação dos receptores beta 2 adrenérgicos, que são
receptores das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). As catecolaminas estimulam
a lipólise no tecido adiposo através desses receptores. A testosterona também inibe a
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
atividade da enzima lipase lipoproteica (LPL), uma enzima que favorece a captação de
triacilgliceróis pelo tecido adiposo e, consequentemente, o acúmulo de gordura.
Outro mecanismo importante da testosterona é a indução da diferenciação de
células tronco mesenquimais em células musculares e inibição da diferenciação de préadipócitos em adipócitos (células do tecido adiposo que armazenam gordura). Esse
último mecanismo explica parcialmente como a testosterona promove ganhos de massa
muscular ao mesmo tempo em que promove perda de gordura corporal, principalmente
em doses suprafisiológicas acima de 300 mg por semana.
A hipótese de que a testosterona regula a determinação de linhagem de
células-tronco mesenquimais pluripotentes fornece uma explicação
unificadora para os efeitos recíprocos da suplementação de testosterona
na massa de tecido adiposo (TA) e na massa livre de gordura (MLG). Os
processos moleculares pelos quais a testosterona inibe a adipogênese
não são conhecidos, mas provavelmente envolvem fatores cruciais para
a determinação da linhagem em células-tronco. As aplicações
terapêuticas dos efeitos do androgênio sobre a massa corporal total e
regional de TA em estados clínicos caracterizados por redistribuição de
TA, como as observadas em homens infectados pelo HIV com ou sem
alguns tipos de terapia antirretroviral e o envelhecimento devem ser
investigados (WOODHOUSE, 2004).
Figura 4.1. Efeitos na MLG (figura A) e na massa gorda (figura B) de diferentes doses de
enantato de testosterona em homens jovens (18 a 35 anos). Fica claro por esse estudo que
baixos níveis de testosterona (25 mg e 50 mg) aumentam a massa gorda em homens jovens,
enquanto níveis suprafisiológicos de testosterona (300 mg e 600 mg) reduzem a massa gorda.
Da esquerda para a direita as dosagens de enantato de testosterona são 25 mg, 50 mg, 125 mg,
300 mg e 600 mg (BHASIN, 2001).
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4.4) TESTOSTERONA E EMAGRECIMENTO
Nos últimos anos alguns estudos mostraram que a terapia de reposição de
testosterona (TRT) em homens obesos com hipogonadismo promoveu uma perda de
peso significativa no longo prazo (TRAISH, 2014). A TRT combinada com exercício e
dieta tem um grande potencial para promover perda de peso / gordura e manutenção de
massa muscular.
A TRT em homens obesos com deficiência de testosterona aumenta a síntese
proteica muscular, a sensibilidade à insulina, a lipólise e a oxidação de gordura, além de
outros efeitos fisiológicos que favorecem a hipertrofia muscular e a perda de gordura. A
suplementação de testosterona também melhora o humor, a energia e reduz a fadiga, o
que pode aumentar a motivação e a adesão de homens obesos a regimes de dieta e
exercício (SAAD, 2012). De qualquer forma, um estudo de 2017 mostrou que se o uso
de testosterona for interrompido, os resultados benéficos da mudança de composição
corporal não podem ser mantidos (NG TANG FUI, 2017). Curiosamente, isso também
costuma ocorrer com pessoas que realizam ciclos de esteroides para fins estéticos. Após
o ciclo os benefícios na mudança de composição corporal conquistados com o ciclo não
podem ser mantidos.
Os estudos de Bhasin em homens jovens e idosos mostraram que a testosterona
em doses suprafisiológicas pode promover uma perda significativa de gordura (1 a 3 kg),
além de um grande aumento na massa magra. No entanto, após a interrupção do uso é
provável que todos os benefícios da mudança de composição corporal sejam perdidos,
além de colocar o indivíduo em um quadro de hipogonadismo temporário, que se for
prolongado pode piorar ainda mais sua composição corporal, além dos efeitos negativos
na função sexual e no humor. No pós-ciclo de esteroides o indivíduo perde massa
muscular e ganha gordura, além de aumentar sua resistência à insulina. Usar esteroides
ou testosterona com a finalidade perder gordura é ilusão, a menos que o indivíduo
mantenha o uso contínuo e aceite o risco dos efeitos colaterais.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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Figura 4.2. A terapia com testosterona em homens com deficiência de testosterona
(hipogonadismo) e diferentes graus de obesidade produz perda de peso significativa e
sustentada. Homens com hipogonadismo (n = 362) com obesidade grau I (Gr. I, n = 185, idade
média: 58,39 ± 8,04 anos), grau II (Gr. II, n = 131, idade média: 60,62 ± 5,56 anos) e grau III (Gr.
III, n = 46, idade média: 60,28 ± 5,39 anos) tratados com injeções de undecanoato de
testosterona por até 6 anos. Peso expresso em quilogramas (TRAISH, 2014).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BHASIN, S. et al. Older men are as responsive as young men to the anabolic effects of
graded doses of testosterone on the skeletal muscle. J Clin Endocrinol Metab.
Feb;90(2):678-88, 2005.
BHASIN, S. et al. Testosterone dose-response relationships in healthy young men. Am J
Physiol Endocrinol Metab. 2001.
KELLY, D.; JONES, T. Testosterone and obesity. Obes Rev. Jul;16(7):581-606, 2015.
NAVARRO, G. et al. The role of androgens in metabolism, obesity, and diabetes in males
and females. Obesity (Silver Spring). Apr;23(4):713-9, 2015.
NG TANG FUI, M. et al. The effects of testosterone on body composition in obese men
are not sustained after cessation of testosterone treatment. Clin Endocrinol (Oxf).
Oct;87(4):336-343, 2017.
SAAD, F. et al. Testosterone as potential effective therapy in treatment of obesity in men
with testosterone deficiency: a review. Curr Diabetes Rev. Mar;8(2):131-43, 2012.
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Dudu Haluch
TRAISH, A. Testosterone and weight loss: the evidence. Curr Opin Endocrinol Diabetes
Obes. Oct; 21(5): 313–322, 2014.
WOODHOUSE, L. et al. Dose-dependent effects of testosterone on regional adipose
tissue distribution in healthy young men. J Clin Endocrinol Metab. Feb;89(2):718-26,
2004.
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5
EFEITOS COLATERAIS DA
TESTOSTERONA E EXAMES
LABORATORIAIS
5.1) INTRODUÇÃO
Assim como os ganhos de força e massa muscular, boa parte dos efeitos
colaterais dos esteroides anabolizantes também são dose-dependentes; mas dependem
muito da resposta individual. A testosterona pode ser considerada um hormônio seguro
em relação a toxidade hepática e seus principais efeitos colaterais são devidos a sua
natureza muito androgênica, à conversão em di-hidrotestosterona (DHT) pela enzima 5αredutase e à conversão em estradiol (estrogênio) pela enzima aromatase.
Entre os efeitos colaterais androgênicos mais comuns da testosterona estão a
acne, o aumento da oleosidade da pele e a queda de cabelo. Todos esses efeitos
colaterais são potencializados pelo fato desse hormônio se converter em DHT.
Hipertrofia da próstata também é um efeito adverso possível, devido ao aumento das
concentrações de DHT, mas não costuma ser relatado pela maioria dos usuários. Esses
efeitos colaterais dependem de uma certa propensão genética do indivíduo e doses
maiores de testosterona tendem a agravar os efeitos colaterais. Mulheres são muito
sensíveis à testosterona, que pode ser considerada o esteroide com maior potencial para
promover virilização nas mulheres (mais detalhes no capítulo 9). As doses de
testosterona menos virilizantes e efetivas para mulheres tendem a ser menores que 3050 mg por semana.
Os efeitos colaterais devidos à aromatização (conversão em estrogênio) também
são uma preocupação constante, principalmente para iniciantes. As concentrações de
estradiol (E2), como também do DHT, aumentam proporcionalmente às concentrações
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plasmáticas de testosterona. Nem por isso o usuário de esteroides deve se assustar ao
ver níveis de estradiol e DHT elevados quando fizer um exame de sangue.
Os níveis de estradiol elevado podem causar ginecomastia, mas esse efeito
colateral depende da sensibilidade do indivíduo e da relação testosterona/estradiol.
Existe a crença de que as concentrações séricas elevadas de estradiol podem causar
aumento da retenção hídrica e ganho de gordura, mas estudos em homens que usaram
anastrozol mostraram que houve ganho de gordura com a supressão do estradiol
(gordura subcutânea e visceral), além de piora da função sexual. Os níveis elevados de
estradiol também podem atrapalhar na recuperação do eixo hormonal após um ciclo de
esteroides e interferir na libido, dependendo do desequilíbrio na razão T/E2. Todos esses
efeitos colaterais também dependem da sensibilidade do usuário aos níveis de
estrogênio. Por isso o uso de drogas para controle de estrogênio (SERMs, inibidores de
aromatase) deve levar em consideração essa sensibilidade individual e não apenas os
exames laboratoriais.
Outros efeitos colaterais comuns com o uso de testosterona são silenciosos e se
referem aos seus efeitos sobre os lipídios plasmáticos e aumento da eritropoiese. A
testosterona pode afetar negativamente os níveis de HDL e LDL, reduzindo HDL e
aumentando LDL. Esse efeito é dose-dependente, mas ainda assim testosterona não é
tão agressiva ao perfil lipídico como os esteroides 17 alfa-alquilados (estanozolol,
oxandrolona, dianabol, hemogenin).
A testosterona também pode aumentar o número de hemácias, a hemoglobina e
o hematócrito, mas não está claro como isso pode afetar a saúde do usuário no longo
prazo. Um hematócrito elevado aumenta a viscosidade do sangue, o que aumenta o risco
de problemas cardiovasculares, como infarto, acidente vascular cerebral e trombose.
A pressão arterial também pode se elevar com uso de testosterona,
principalmente em ciclos que se busca ganho de massa muscular (bulk) com grande
ganho de retenção hídrica. Existe a crença de que o controle dos níveis de estrogênio
pode atenuar esse efeito, mas a retenção hídrica parece estar muito mais relacionada à
dieta e ao ganho de peso promovido pela testosterona do que um efeito do estradiol.
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5.2) EFEITOS COLATERAIS ANDROGÊNICOS
Os efeitos colaterais de natureza androgênica estão entre os mais comuns e
relatados por usuários de testosterona e esteroides anabolizantes. Entre esses efeitos
podemos citar a acne, o aumento da oleosidade da pele, a queda de cabelo e os efeitos
de virilização e masculinização nas mulheres. Entre os efeitos colaterais virilizantes em
mulheres podemos citar o crescimento de pelos no corpo e na face (hirsutismo), o
engrossamento da voz, a hipertrofia do clitóris, a redução dos seios e a masculinização
do corpo e da face. Mais detalhes sobre os efeitos colaterais dos esteroides em mulheres
são dados no capítulo 9.
5.2.1) ACNE E TESTOSTERONA
O aumento dos níveis de androgênios provoca aumento das glândulas sebáceas,
com incremento da produção de sebo e, consequentemente, o surgimento da acne. Esse
efeito colateral pode ser agravado pelos esteroides anabolizantes que sofrem ação da
enzima 5α-redutase (presente em grandes quantidades nos folículos pilossebáceos),
que converte a testosterona em di-hidrotestosterona (DHT) ou seus análogos nos tecidos
periféricos. Como vimos anteriormente, o DHT é um andrógeno mais potente que a
testosterona, tendo uma afinidade cerca de 3 vezes maior que a testosterona ao receptor
androgênico. Entre os esteroides que sofrem ação da enzima 5α-redutase estão:
testosterona, Halotestin, Dianabol, boldenona e nandrolona. Mas a testosterona é de
longe o principal esteroide a aumentar os níveis de DHT. De qualquer forma, no estudo
de Bhasin (2012), que investigou o uso de dutasterida (inibidor da 5α-redutase) com
doses suprafisiológicas de testosterona, não houve diferença no volume prostático, nível
de PSA, produção de sebo e escores de acne (marcadores de atividade androgênica em
tecidos com alta atividade de 5α-redutase) entre os grupos que usaram dutasterida e
placebo com diferentes dosagens de enantato de testosterona. Ou seja, a supressão
dos níveis de DHT não diminuiu a acne em homens que fizeram uso de
testosterona.
Em relação aos outros esteroides é preciso também considerar seu potencial para
efeitos androgênicos. Esteroides mais androgênicos, como trembolona, estanozolol,
Dianabol e Hemogenin, são mais propensos a causar acne, embora seja muito comum
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acne com qualquer esteroide anabolizante, sendo um efeito dependente da dose e da
resposta genética do indivíduo.
A gravidade da acne pode ser muito variável e vai depender muito da sensibilidade
individual. Claro que o mais recomendado para alguém que tem problemas com acne
seria evitar o uso de testosterona e esteroides androgênicos, pois eles podem agravar
muito o problema. O uso de drogas antiandrogênicas (espironolactona) pode ser
recomendado em algumas mulheres que desenvolveram acne, mas essas drogas
bloqueiam os receptores androgênicos e por isso podem interferir também nos efeitos
anabólicos dos esteroides. A droga mais comum para o tratamento da acne moderada e
grave é o Roacutan (isotretinoína), que por promover uma série de efeitos colaterais
(depressão, aumento do colesterol e das enzimas hepáticas), deve ter seu uso feito com
acompanhamento médico e de exames laboratoriais. Muitos homens também relatam
alívio da acne com a redução dos níveis de estrogênio, usando um inibidor de aromatase.
5.2.2) ALOPÉCIA ANDROGENÉTICA
A calvície de padrão masculino ou alopecia androgenética é outro efeito colateral
devido à natureza androgênica dos esteroides e também sofre grande influência da
conversão dos esteroides em DHT. Enquanto o crescimento de pelo pubiano e axilar é
dependente da testosterona, o crescimento de pelos na barba e a perda de cabelo são
efeitos colaterais dependentes do DHT. Assim como a acne, a queda de cabelo em
usuários de esteroides anabolizantes depende tanto da dose de hormônios, como da
resposta genética do indivíduo. É difícil dizer quais os esteroides que mais promovem
calvície, mas entre os fortes candidatos estão: testosterona, trembolona e estanozolol.
Eu particularmente tenho visto queda de cabelo com o uso dos mais variados esteroides,
como nandrolona (em mim), oxandrolona e boldenona (em mulheres) etc. É de se
esperar essa grande variabilidade de respostas, pois o fator genético é determinante
para dizer quem terá problemas com esse efeito colateral. As drogas mais usadas para
o tratamento da calvície são a finasterida e a dutasterida, que inibem a conversão de
testosterona em DHT, além do sulfato de minoxidil, um modificador biológico que
estimula o crescimento do cabelo.
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5.2.3) PRÓSTATA E TESTOSTERONA
Outro efeito colateral de natureza androgênica é a hipertrofia da próstata. No
entanto, esse efeito não é ainda bem compreendido e estudado, sendo a próstata o
órgão que tem maior sensibilidade aos efeitos do DHT. Um estudo em homens que
usavam 200 mg de testosterona por 18 meses não mostrou alteração nas concentrações
plasmáticas de antígeno prostático específico (PSA) e o diâmetro transversal da próstata
aumentou apenas 14% (WALLACE, 1993). As principais drogas utilizadas para controlar
esse efeito colateral são a finasterida e a dutasterida, inibidoras da enzima 5α-redutase,
mas geralmente usuários de esteroides não se queixam desse problema.
5.3) EFEITOS COLATERAIS POR AROMATIZAÇÃO
Aromatização é um processo natural que ocorre no organismo humano. Nos
homens 85% do estradiol e 95% da estrona circulantes são derivados respectivamente
da conversão periférica de testosterona e androstenediona. Essa conversão ocorre
através da ação da enzima aromatase, principalmente na pele e no tecido adiposo. O
que nos interessa realmente é a conversão da testosterona em estradiol, pois esse é o
estrogênio de maior potência biológica. Entre os efeitos colaterais dos esteroides
associados à aromatização estão a ginecomastia e a supressão do eixo hormonal (HPT
– hipotálamo-pituitária-testicular) pelo feedback negativo do estradiol no hipotálamo e na
hipófise.
Existe a crença que o estradiol elevado pode promover retenção de água e ganho
de gordura, mas esses efeitos parecem ser mais influenciados por outros fatores, como
dieta, resposta individual, níveis de andrógenos etc. A crença de que o estradiol elevado
promove ganho de gordura é infundada em homens que usam esteroides anabolizantes
e testosterona. Estudos em animais e humanos mostram justamente o oposto, que a
supressão do estradiol com o uso de inibidores de aromatase promove acúmulo de
gordura subcutânea e visceral. Os efeitos do estradiol na supressão da testosterona
endógena e nas gonadotrofinas (LH e FSH) é avaliado no capítulo 7, onde falo sobre
inibição do eixo HPT e terapia pós ciclo.
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5.3.1) GINECOMASTIA
Ginecomastia é um dos efeitos colaterais mais temidos por usuários de esteroides
anabolizantes, principalmente entre novatos. Ginecomastia é o aumento da mama
masculina devido à proliferação benigna do tecido glandular. O aumento do tecido
glandular deve ser distinguido do acúmulo excessivo de tecido adiposo (lipomastia).
Tecido glandular é firme e contém cordões do tipo fibroso. Ginecomastia induzida pelo
uso de esteroides androgênicos acontece basicamente pelo grande desequilíbrio
hormonal causado por essas drogas. Alguns esteroides podem sofrer aromatização
(testosterona,
nandrolona,
Dianabol,
boldenona),
que
é
a
conversão
de
testosterona/esteroide em estradiol através da enzima aromatase.
A ginecomastia ocorre principalmente com o uso de testosterona, através de um
desequilíbrio na relação androgênio/estrogênio. Por isso ela pode ocorrer tanto quando
os níveis de estradiol estão elevados, como também quando os níveis de androgênio
estão baixos; como ocorre em situações de hipogonadismo ou no período pós-ciclo do
uso de esteroides, quando a testosterona endógena está suprimida.
A ginecomastia pode ocorrer também pelo desequilíbrio de outros hormônios
(tiroxina, cortisol, hCG) e no caso de usuários de esteroides é relativamente comum
ocorrer devido ao aumento da prolactina, principalmente com o uso de trembolona e
Hemogenin.
Na ginecomastia causada pelo uso de esteroides anabolizantes os principais
exames laboratoriais devem incluir dosagens de testosterona total, estradiol e prolactina.
A ginecomastia pode ser uni ou bilateral. Alguns indivíduos apresentam dor ou
sensibilidade local e uma minoria tem secreção no mamilo.
O tratamento padrão para ginecomastia causada por testosterona e esteroides
anabolizantes é o uso de citrato de tamoxifeno em doses de 20 a 40 mg por dia, ou
clomifeno em doses de 50 a 100 mg por dia. Na verdade, a recomendação médica
provavelmente seria cessar o uso dos esteroides nesse caso. Inibidores de aromatase
(anastrozol, letrozol, exemestano) também são comuns, com doses muito variáveis, uma
vez que o controle da aromatização usando esteroides fica muito complicado sem um
acompanhamento frequente de exames hormonais. A dose terapêutica padrão para
essas drogas é de um comprimido por dia (anastrozol 1 mg, letrozol 2,5 mg, exemestano
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25 mg), o que pode gerar um grande desequilíbrio hormonal e colaterais agressivos
(disfunção erétil, acúmulo de gordura), principalmente para um usuário de esteroides.
Quando a ginecomastia é causada por prolactina as drogas utilizadas são os
agonistas dopaminérgicos (cabergolina e bromocriptina). A dose média de bromocriptina
é de 1,25 mg a 2,5 mg duas vezes por dia e a dose média de cabergolina é de 1 a 2
comprimidos de 0,5 mg por semana.
Muitos usuários de esteroides que não conseguem tratar a ginecomastia com o
uso de medicamentos desenvolvem ginecomastia crônica (predomínio de tecido
fibrótico, em geral com mais de 1 ano de duração) e precisam passar por tratamento
cirúrgico (mamoplastia). A mamoplastia é bastante empregada atualmente, entretanto,
necessita de um cirurgião experiente para se obter resultados estéticos satisfatórios.
5.4) SISTEMA CARDIOVASCULAR
A testosterona e os esteroides anabolizantes podem afetar o sistema
cardiovascular de diversas maneiras, sendo as mais conhecidas o aumento da pressão
arterial, os efeitos adversos no perfil lipídico e a hipertrofia do ventrículo esquerdo. Outras
alterações observadas em usuários de esteroides que aumentam o risco de doenças
cardiovasculares são: aumento da coagulação do sangue, aumento do hematócrito,
aumento dos níveis de homocisteína e piora da reatividade vascular.
Todos os esteroides androgênicos parecem elevar a pressão sanguínea. As
causas desse aumento incluem diversos fatores: aumento do peso e da retenção de
água, aumento do hematócrito e aumento da rigidez vascular. Esse aumento parece ser
mais comum entre esteroides que promovem maior retenção hídrica (Hemogenin,
Dianabol, nandrolona), mas pode ser comum com outros esteroides, como trembolona.
Os efeitos adversos dos esteroides sobre o perfil lipídico já são bem conhecidos
e foram reconhecidos em diversos estudos com o uso dos mais variados tipos de
esteroides. Os esteroides anabolizantes mais nocivos ao perfil lipídico são os da classe
17 alfa-alquilados (estanozolol, oxandrolona, Dianabol, Hemogenin, Halotestin), que
causam uma média de redução de 30% da lipoproteína de alta densidade (HDL) e uma
média de aumento de 30% da lipoproteína de baixa densidade (LDL). O estanozolol
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parece ser o esteroide mais agressivo aos níveis de HDL e LDL. O abuso de esteroides
pode reduzir as concentrações de HDL a níveis muito baixos e muitos indivíduos ficam
com o HDL próximo de zero. Essas alterações nos lipídios sanguíneos aumentam a
incidência de doença cardíaca coronariana (causada pela aterosclerose) em usuários de
esteroides. O mecanismo por trás dessas alterações é ainda misterioso, mas parece
estar relacionado ao aumento na atividade da lipase de triglicerídeos hepática.
Hipertrofia do ventrículo esquerdo está bem documentada em usuários de
esteroides anabolizantes. Embora seja comum em atletas de força que não fazem uso
de esteroides (hipertrofia fisiológica), a hipertrofia gerada pelo uso de androgênios é
patológica e está associada a um aumento da espessura da parede ventricular, que não
ocorre em não usuários. Esteroides androgênicos prejudicam a função sistólica do
ventrículo esquerdo, mas esse efeito deletério é reversível, ao passo que a função
diastólica pode ser prejudicada de forma irreversível.
O uso prolongado de esteroides também aumenta coagulação sanguínea, induz
agregação plaquetária e aumenta o hematócrito. Hematócrito é a percentagem de
volume ocupada pelos glóbulos vermelhos (hemácias) no volume total de sangue. O
aumento do hematócrito ocorre porque esteroides androgênicos estimulam a
eritropoiese, que é o aumento da produção dos glóbulos vermelhos. Um hematócrito
elevado é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares e pode
aumentar o risco de eventos trombóticos graves, incluindo embolismo, infarto do
miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Existem vários estudos de caso de
trombos em jovens atletas de força.
O uso de esteroides anabolizantes também pode elevar os níveis de
homocisteína, aminoácido formado durante o metabolismo do aminoácido metionina.
Altos níveis de homocisteína são associados à disfunção endotelial, trombose e maior
gravidade da aterosclerose. O abuso de esteroides anabolizantes tem sido associado a
níveis elevados desse aminoácido.
Muitos relatos existem sobre mortes cardíacas em indivíduos aparentemente
saudáveis, fisiculturistas e outros atletas de força. Além disso, são observados efeitos
pró-trombóticos, arritmia e função endotelial prejudicada em usuários que abusam de
esteroides anabolizantes. A grande maioria das mortes entre fisiculturistas ocorre por
doenças cardiovasculares.
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Numerosos estudos controlados recentes (usando ecocardiografia ou
ressonância magnética cardíaca para comparar usuários de Esteroides
Anabolizantes Androgênicos com atletas e/ou não atletas que não
usavam EAA) demonstraram cardiomiopatia em usuários de EAA,
caracterizada por frações de ejeção ventricular diminuídas e velocidades
teciduais diastólicas reduzidas. Um estudo também encontrou diminuição
da elasticidade aórtica em usuários de EAA. Essas alterações podem ser
profundas, mas podem ser pelo menos parcialmente reversíveis após a
abstinência do EAA. No entanto, a perda de elasticidade do tecido parece
provável devido, pelo menos em parte, ao aumento do conteúdo fibrótico
resultante da lesão celular induzida por EAA direta e, portanto, pode ser
irreversível (POPE, 2014).
5.5) TESTOSTERONA E PERFIL LIPÍDICO
A terapia de reposição de testosterona em homens com hipogonadismo tem
pouca influência no perfil lipídico, podendo reduzir levemente os níveis de HDL. O uso
de dosagens suprafisiológicas de testosterona tem um efeito mais agressivo nos níveis
de HDL, mas pouco ou nenhum efeito nos níveis de colesterol total e lipoproteína de
baixa densidade (LDL). Sendo assim, a testosterona pode ser considerada um dos
esteroides menos agressivos ao perfil lipídico (tabelas 5.1 e 5.2).
Tabela 5.1. Homens com idade entre 19 e 35 anos, 20 semanas de uso de enantato de
testosterona. Os níveis de colesterol total, LDL e triglicerídeos não mudaram significativamente
em nenhuma dose (BHASIN, 2001).
DOSAGEM
Testosterona
HDL no início
HDL na semana
total (ng/dL)
(mg/dl)
20 (mg/dl)
25 mg
253
46
51
50 mg
306
48
47
125 mg
570
48
43
300 mg
1345
47
41
600 mg
2370
43
34
Tabela 5.2. Homens mais velhos, com idade entre 60 e 75 anos, 20 semanas de uso de enantato
de testosterona. Maior frequência de hematócrito elevado, acima de 54%, edema nas pernas e
eventos da próstata (BHASIN, 2005).
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
DOSAGEM
Dudu Haluch
Testosterona
HDL no início
HDL na semana
total (ng/dL)
(mg/dl)
20 (mg/dl)
25 mg
176
48
50
50 mg
274
45
43
125 mg
852
45
46
300 mg
1784
37
35
600 mg
3286
47
37
5.6) TESTOSTERONA E HEMATÓCRITO
A eritrocitose (hematócrito > 54%) é o efeito adverso mais comum em indivíduos
que fazem terapia de reposição de testosterona (TRT). Quando o hematócrito se eleva
acima de 50% a viscosidade do sangue aumenta desproporcionalmente e um
hematócrito acima de 54% está associado ao aumento do risco de acidente vascular
cerebral (AVC).
O aumento da hemoglobina e do hematócrito ocorre de forma dose dependente
com a administração de testosterona. Os estudos de Bhasin mostraram que doses
suprafisiológicas de testosterona (> 100 mg de enantato de testosterona por semana)
aumentam o hematócrito em homens jovens e idosos, mas esses últimos sofrem um
aumento mais pronunciado nos níveis de hemoglobina e hematócrito (tabela 5.3).
Tabela 5.3. Homens mais velhos, com idade entre 60 e 75 anos, 20 semanas de uso de enantato
de testosterona. Maior frequência de hematócrito elevado, acima de 54%, edema nas pernas e
eventos da próstata (BHASIN, 2005).
DOSAGEM
Testosterona
Hematócrito no
Hematócrito na
total (ng/dL)
início
semana 20
25 mg
176
40%
43%
50 mg
274
39%
42%
125 mg
852
41%
48%
300 mg
1784
43%
47%
600 mg
3286
40%
50%
Não se sabe o nível de hematócrito em que ocorre aumento de eventos
cardiovasculares. Na terapia de reposição de testosterona a recomendação das
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
diretrizes é suspender o uso da testosterona caso o hematócrito se eleve acima de
54% (BHASIN, 2018). Outra opção para não suspender o uso de testosterona é a
flebotomia terapêutica (sangria terapêutica).
Na TRT a recomendação é monitorar o hemograma a cada 12 meses, mas para
homens que fazem uso de doses suprafisiológicas de testosterona e esteroides
anabolizantes seria recomendado monitorar o hematócrito a cada 3 – 6 meses no
mínimo.
5.7) EFEITOS PSICOLÓGICOS
Vários estudos com usuários de esteroides anabolizantes têm mostrado
associação entre o uso de esteroides e problemas psicológicos. Entre os principais
problemas podemos citar: aumento da agressividade, comportamento antissocial,
irritabilidade, variações do humor, ansiedade e depressão. O aumento da agressividade
é inclusive um efeito desejado por alguns fisiculturistas e atletas de força que desejam
otimizar sua performance nos treinos, direcionando esse comportamento para o
treinamento. Alguns dos esteroides anabolizantes com maior fama por aumentar a
agressividade são Halotestin, trembolona e testosterona.
Vários usuários também relatam variações de humor e ansiedade usando
esteroides, principalmente com o uso de boldenona e trembolona. As investigações
sobre os possíveis efeitos neuroquímicos dos esteroides anabolizantes têm centrado nos
sistemas monoaminérgicos (serotonina, dopamina), que estão envolvidos em
comportamentos agressivos e desenvolvimento de dependência de drogas. Outros
efeitos colaterais muito comuns associados ao uso de alguns esteroides como
trembolona são: agitação, insônia, desapego aos entes queridos e aumento da
prolactina. Esses efeitos, assim como aumento do apetite e aumento da temperatura
corporal durante o sono (suores noturnos), também parecem estar associados aos
efeitos da trembolona nos neurotransmissores serotonina e dopamina. Não existem
estudos diretos sobre o efeito da trembolona nesses neurotransmissores, então estou
apenas especulando sobre esses efeitos colaterais baseado nos estudos que existem
com esteroides como nandrolona e também pelo que tenho observado em usuários de
esteroides.
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Dudu Haluch
Dependência psicológica e depressão são dois efeitos graves e estão fortemente
relacionados. Usuários de esteroides anabolizantes costumam sofrer de abstinência
após interromper o uso dessas drogas, em parte porque boa parte dos ganhos de MLG
conquistados são perdidos após o ciclo de esteroides, assim como a sensação de bem
estar. Perda de libido, cansaço e perda de motivação nos treinos são efeitos que
acontecem com o crash hormonal pós-ciclo e são efeitos agravados com a supressão da
testosterona endógena depois da interrupção do uso de esteroides. É natural que esse
quadro de grande desequilíbrio hormonal possa levar muitos usuários a estados
depressivos e motive tantos outros a continuarem o uso para se manterem motivados e
também manterem os ganhos que conquistaram com os esteroides anabolizantes.
Estudos de campo sugeriram que alguns usuários de esteroides
anabolizantes androgênicos (EAA) exibem sintomas hipomaníacos ou
maníacos durante a exposição aos EAA (caracterizados por irritabilidade,
agressividade, autoconfiança exagerada, hiperatividade, comportamento
imprudente e sintomas psicóticos ocasionais) e sintomas depressivos
durante a retirada dos EAA (caracterizados por humor deprimido, perda
de interesse em atividades habituais, hipersonia, anorexia, perda de
libido e suicídio ocasional). No entanto, esses efeitos psiquiátricos
parecem ser idiossincráticos, com a maioria dos usuários exibindo
poucos sintomas e apenas uma pequena minoria mostrando sintomas
graves ou incapacitantes. Evidências tentativas sugerem que os
transtornos do humor são mais comuns em indivíduos que usam doses
mais altas de EAA, especialmente em níveis equivalentes a mais de 1000
mg de testosterona por semana. No entanto, não existem preditores
claros de efeitos psiquiátricos induzidos por EAA, e parece haver grandes
variações na sensibilidade individual ao excesso de androgênio e à
retirada ou privação de androgênio (POPE, 2014).
O abuso de esteroides e a dependência são agravados porque muitos usuários
apresentam vigorexia (complexo de Adônis), uma doença psicológica caracterizada por
uma insatisfação constante com o corpo, que afeta principalmente os homens, levandoos a prática exaustiva de exercícios físicos e uso de esteroides anabolizantes. Os
tratamentos para essas condições de abstinência, depressão e vigorexia envolvem
psicoterapia e o uso de antidepressivos, particularmente algum fármaco inibidor seletivo
de recaptação da serotonina, como a Fluoxetina.
5.8) TESTOSTERONA, LIBIDO E COMPORTAMENTO
Os estudos de Bhasin (BHASIN, 1996; BHASIN 2001) também avaliaram os
efeitos de doses suprafisiológicas de testosterona (300 e 600 mg de enantato por
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Dudu Haluch
semana) no comportamento, no humor e na atividade sexual. As doses elevadas de
testosterona não afetaram o humor e nem aumentaram a agressividade e o desejo
sexual. Esses resultados parecem ser surpreendentes, já que existe uma forte crença na
população de que a testosterona aumente a agressividade e a libido.
Os efeitos da reposição de testosterona em homens com hipogonadismo e baixa
atividade sexual são claros, mas em homens sem hipogonadismo a suplementação de
testosterona não parece afetar a função sexual.
Apesar dos estudos de Bhasin não mostrarem efeitos psiquiátricos com o uso de
doses suprafisiológicas de testosterona, em alguns estudos com doses na faixa de 500
mg de testosterona por semana alguns poucos indivíduos manifestaram sintomas de
mania e hipomania, como relatado no estudo de Pope:
Dos 109 homens tratados em condições cegas nesses estudos, 5 (4,6%)
apresentaram síndromes hipomaníacas ou maníacas no grupo
esteroides anabolizantes versus nenhum no placebo. Esses últimos
estudos oferecem evidências claras de um efeito psiquiátrico mediado
biologicamente de doses suprafisiológicas de EAA, embora ainda
subestimam a prevalência de tais efeitos entre usuários ilícitos, que
podem ingerir doses muito mais altas. Além disso, em seres humanos,
estudos relataram aumento da capacidade de resposta agressiva à
provocação (POPE, 2014).
5.9) OUTROS EFEITOS COLATERAIS
Outros efeitos colaterais associados ao uso de esteroides incluem rupturas de
tendões e ligamentos, inflamação com aplicação, supressão do eixo hipotalâmicohipofisário-testicular nos homens (supressão da produção de testosterona e das
gonadotrofinas), virilização nas mulheres (hirsutismo, engrossamento da voz, hipertrofia
do clitóris). Os efeitos dos esteroides androgênicos sobre o eixo hormonal masculino são
discutidos no capítulo 7 e os efeitos virilizantes nas mulheres são discutidos no capítulo
9.
Aumento das lesões nos tendões e ligamentos tem sido associadas ao uso de
esteroides anabolizantes. Pressupõe-se que o grande aumento da força e da massa
muscular, conquistadas com o uso de esteroides, ocorram mais rapidamente que as
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
adaptações necessárias do tecido conjuntivo. O aumento da força e da motivação
acabam induzindo os usuários de esteroides anabolizantes a aumentarem suas cargas
durante os treinos e isso aumenta o risco rupturas nessas estruturas.
5.10) EXAMES LABORATORIAIS
Nessa seção vou discutir as principais alterações bioquímicas observadas em
exames laboratoriais de usuários de testosterona e esteroides anabolizantes. Como
vimos nas seções anteriores, muitos efeitos colaterais dos esteroides são perceptíveis
pelo usuário, tais como ginecomastia, acne, retenção, queda de cabelo, virilização,
agressividade etc. No entanto, muitos outros efeitos não são perceptíveis e podem
prejudicar muito a saúde do usuário no curto ou longo prazo. Particularmente, muitos dos
efeitos dos esteroides androgênicos sobre o fígado, sistema cardiovascular e sistema
endócrino podem ser observados apenas através de exames laboratoriais. Muitas
dessas alterações são esperadas e não necessariamente são preocupantes, mas é
importante que o usuário de esteroides esteja atento e compreenda o que elas
significam. A maioria dessas alterações nos exames laboratoriais tendem a voltar à
normalidade após a interrupção do uso de esteroides, mas algumas delas podem levar
vários meses e acusar algum tipo problema mais sério.
Embora muitos usuários façam uso de esteroides com acompanhamento médico,
a maior parte dos fisiculturistas e usuários faz uso sem nenhum acompanhamento
médico ou de exames laboratoriais. Mesmo que a maioria não venha a desenvolver
algum problema grave no curto prazo, é importante salientar que alterações metabólicas
e hormonais induzidas pelo uso de esteroides sintéticos e outras drogas podem levar
meses para voltarem a normalidade sem algum tratamento especial. Por isso, até mesmo
problemas como dependência e depressão podem agravar com a falta de tratamento
das alterações hormonais.
5.10.1) HEMOGRAMA
As células do sangue são classificadas em três tipos básicos: os leucócitos ou
glóbulos brancos, que são células de defesa integrantes do sistema imune; os eritrócitos,
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Dudu Haluch
glóbulos vermelhos ou hemácias, responsáveis pelo transporte de oxigênio; e
as plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue. O exame de hemograma é
requerido quando se deseja diagnosticar ou controlar a evolução de uma doença. Um
hemograma é constituído pela contagem de leucócitos, eritrócitos, hemoglobina (Hb),
hematócrito (Ht), índices das células vermelhas e contagem de plaquetas.
A hemoglobina (Hb) é uma proteína que contém ferro presente nos glóbulos
vermelhos do sangue e tem como principal função transportar oxigênio dos pulmões para
o restante do corpo. A Hb é de grande utilidade na detecção de anemia ou eritrocitoce.
Hematócrito (Ht) é a percentagem de volume ocupada pelos glóbulos vermelhos
ou hemácias no volume total de sangue. Caso o valor seja inferior a média, significa que
existe pouca quantidade de glóbulos vermelhos. Se for superior, existe uma maior
quantidade de glóbulos vermelhos para o volume de sangue (policitemia). O hematócrito
baixo pode indicar a presença de anemia ou sangramento, já o hematócrito alto pode
indicar a presença de desidratação. Um hematócrito elevado (policitemia) é um fator de
risco independente para doenças cardiovasculares e pode aumentar o risco de eventos
trombóticos graves, incluindo embolismo e acidente vascular cerebral (AVC).
O hemograma costuma estar alterado em usuários de esteroides e algumas
dessas alterações podem indicar um certo grau de risco para o usuário, principalmente
no longo prazo. Como vimos anteriormente, esteroides androgênicos estimulam a
eritropoiese, que é o aumento da produção de glóbulos vermelhos (eritrócitos) pela
medula óssea. Em alguns usuários observam-se aumentos significativos na contagem
de eritrócitos, na hemoglobina e no hematócrito, que e em muitos casos ultrapassam os
valores de referência.
Leucócitos e plaquetas não parecem ter alterações consistentes em usuários de
esteroides anabolizantes, embora pelo menos um estudo mostrou aumento nas
concentrações de plaquetas.
5.10.2) PERFIL LIPÍDICO
O colesterol é um tipo de lipídio, um esteroide componente das membranas
celulares de mamíferos e precursor de três classes de compostos biologicamente ativos:
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
hormônios esteroides (testosterona, estrogênio, cortisol etc), ácidos biliares e vitamina
D. Pode ser sintetizado pelo organismo ou obtido pela dieta e é transportado no sangue
principalmente pelas lipoproteínas de densidade baixa (LDL).
O transporte dos lipídios na corrente sanguínea é realizado pelas lipoproteínas.
As lipoproteínas são partículas que transportam lipídeos apolares (insolúveis em água)
em seu núcleo. Elas são constituídas por quantidades variáveis de colesterol,
triacilgliceróis, fosfolipídios e proteínas denominadas apolipoproteínas. Com base na
densidade, as lipoproteínas plasmáticas são classificadas em: quilomícrons (ricas em
triacilgliceróis de origem intestinal), lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL – ricas
em triacilgliceróis de origem hepática), lipoproteínas de densidade baixa (LDL – ricas em
colesterol) e lipoproteínas de densidade alta (HDL – ricas em colesterol). Os
triacilgliceróis são formados a partir da esterificação do glicerol e de 3 ácidos graxos e
são a principal forma de armazenamento dos lipídios no corpo humano, constituindo
cerca de 95% dos lipídios do tecido adiposo (gordura armazenada). Os triacilgliceróis
são sintetizados no fígado e no intestino. A LDL transporta o colesterol do fígado para os
tecidos extra-hepáticos, enquanto a HDL transporta o colesterol dos tecidos para o
fígado, o chamado transporte reverso do colesterol. Altas taxas de LDL e baixas de HDL
estão relacionadas ao desenvolvimento da aterosclerose, que é a formação de placas
de gordura na parede das artérias (ateromas).
Em humanos o equilíbrio entre o influxo e o efluxo de colesterol não é perfeito
(dependente de fatores genéticos, dieta, estilo de vida), resultando em deposição gradual
de colesterol nos tecidos, particularmente no endotélio vascular. Essa deposição de
lipídios pode ser um potencial fator de risco à saúde, por contribuir para a formação de
placas que causam o estreitamento dos vasos sanguíneos (aterosclerose), aumentando
a incidência de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares (AVC) e vasculares
periféricas.
Como vimos anteriormente, os esteroides anabolizantes tendem a elevar os níveis
de LDL e reduzir os níveis de HDL, sendo que os esteroides 17 aa são os mais
agressivos ao perfil lipídico, promovendo em média uma redução de 30% da HDL e
aumentando em cerca de 30% a LDL. O estanozolol parece ser o esteroide mais
agressivo aos níveis de HDL e LDL. É relativamente comum ver usuários de esteroides
com HDL abaixo de 20 mg/dl.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
O uso de ésteres de testosterona, mesmo em doses suprafisiológicas, mostra
pouco ou nenhum efeito no colesterol total, na lipoproteína de baixa densidade (LDL) e
nos triglicerídeos, mas a lipoproteína de alta densidade (HDL) diminui proporcionalmente
com doses elevadas de testosterona (seção 5.5). A metiltestosterona afeta
drasticamente as concentrações de LDL e HDL por ser um esteroide 17 aa.
5.10.3) ENZIMAS HEPÁTICAS
Os esteroides anabolizantes podem causar problemas hepáticos, principalmente
os esteroides 17 alfa-alquilados. Muitos dos problemas hepáticos em usuários de
esteroides são decorrentes da mistura com outras substâncias hepatotóxicas, como
álcool e outros medicamentos e drogas.
Vários estudos que investigaram os efeitos dos esteroides androgênicos no fígado
observaram alterações nas enzimas hepáticas. As transaminases AST (aspartato
aminotransferase) e ALT (alanina aminotransferase) são as que mais sofrem elevações
com o uso de esteroides, enquanto GGT (gama glutamil transpeptidase), FA (fosfatase
alcalina) e LDH (lactato desidrogenase) não costumam sofrer alterações. As elevações
de AST e ALT parecem estar associadas não somente a ingestão de esteroides orais 17
aa, mas pequenas elevações podem representar lesão muscular e estão correlacionadas
a aumento na CK (creatinoquinase). A CK (ou CPK) é uma enzima que catalisa a
fosforilação reversível da creatina pela adenosina trifosfato (ATP) com a formação de
creatina-fosfato, presente em grande abundância no músculo esquelético.
As transaminases AST (TGO) e ALT (TGP) são enzimas que catalisam a
interconversão de aminoácidos em cetoácidos por transferência de grupos amino (NH2).
As reações catalisadas por essas enzimas exercem papéis centrais na síntese e
degradação de aminoácidos. A AST está presente em muitos órgãos além do fígado,
como coração e músculo esquelético. A ALT está presente principalmente no fígado, por
isso elevações dessa enzima indicam quase sempre problemas hepáticos, embora
elevações pouco acima dos valores de referência estão geralmente associadas ao
exercício. Essas enzimas aparecem elevadas no sangue após lesão ou destruição das
células hepáticas.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
A GGT é uma enzima presente em vários órgãos (rins, intestino, próstata, fígado)
e está envolvida no transporte de aminoácidos e peptídeos através das membranas
celulares, na síntese de proteínas e na regulação de níveis de glutationa tecidual. A
atividade da GGT é maior nos casos de obstrução biliar pós-hepática e intra-hepática. A
avaliação dessa enzima em usuários de esteroides é muito importante, pois ela é
distintiva para detecção de disfunção hepática em usuários de esteroides que tem AST,
ALT, CK e LDH elevadas com o exercício.
Usar testosterona injetável em doses suprafisiológicas não altera as
transaminases, pois a testosterona não é uma droga hepatotóxica (a não ser sua
versão oral metiltestosterona). Quem faz uso de testosterona injetável ou gel não
precisa monitorar as transaminases com frequência, mas indivíduos que fazem uso de
esteroides 17 aa devem manter monitoramento das enzimas hepáticas, principalmente
AST, ALT e GGT.
Tabela 5.4. Valores de referência e nível de alteração dos principais exames laboratoriais que
avaliam a saúde e perfil metabólico de usuários de esteroides. Os exames de perfil hormonal
são discutidos no próximo capítulo. O HDL é o único marcador que sofre redução com o uso de
esteroides anabolizantes (HALUCH, 2017).
Exame
Valores de referência
Nível de alteração
Hematócrito
42-52% (H) / 37-47% (M)
Pode aumentar com o
uso de testosterona,
principalmente em
homens mais velhos
Colesterol total
< 200 mg/dl
Alto (aumenta)
LDL
< 100 mg/dl
Pode aumentar com o
uso de testosterona
HDL
> 40 mg/dl
Normalmente pouca
redução com o uso de
testosterona
AST (TGO)
< 37U/L (H) / < 31 U/L (M)
Só altera com
metiltestosterona e
esteroides 17 aa
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
ALT (TGP)
Dudu Haluch
<41U/L (H) / < 31 U/L (M)
Só altera com
metiltestosterona e
esteroides 17 aa
GGT
12-73 U/L (H) / 8-41 U/L (M)
Pode sofrer alteração
com metiltestosterona e
esteroides 17 aa
CK
49-348 UI/l (H) / 38-206 UI/l
Alto (aumenta)
(M)
Ureia
15-45 mg/dl
Sofre mais alteração
(aumento) com aumento
da ingestão de
proteínas
Creatinina
0,6-1,3 mg/dl (H) / 0,5-1,2
Tende a aumentar com
mg/dl (M)
o ganho de massa
magra
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
6
FORMULAÇÕES DE
TESTOSTERONA
6.1) INTRODUÇÃO
A testosterona pode ser encontrada em diversas formulações diferentes: na forma
aquosa, sem nenhum éster anexo; anexada aos diferentes ésteres (propionato,
cipionato, enantato, fenilpropionato, undecanoato etc); na forma lipofílica (undecanoato
de testosterona) ou metilada (metiltestosterona), para ser usada oralmente; na forma de
gel, para ser absorvida através da pele. Cada uma dessas formulações pode ser usada
com objetivos variados, seja para facilitar a administração, evitar um controle de doping
mais facilmente, ou também fazer a adesão de um programa terapêutico de acordo com
o contexto, perfil e rotina do usuário.
6.2) ESTEROIDES INJETÁVEIS E SEUS ÉSTERES
Um éster é uma cadeia composta principalmente de átomos de carbono e
hidrogênio, anexada ao grupo 17-beta-hidroxil da molécula de testosterona com a
finalidade de aumentar seu tempo de atividade no organismo, e, consequentemente, sua
meia-vida. Depois de entrar na circulação sanguínea enzimas vão removendo
lentamente a cadeia do éster e liberando o hormônio na circulação. Existem vários tipos
de ésteres que podem ser anexados ao hormônio (não apenas a testosterona), de acordo
com a velocidade com que se deseja que o hormônio seja liberado na corrente
sanguínea. O tamanho da cadeia de carbonos está relacionado ao tempo de liberação,
sendo que cadeias mais longas (enantato, cipionato, decanoato, undecanoato) permitem
uma liberação mais lenta, enquanto as cadeias de carbono mais curtas (propionato,
acetato) promovem uma liberação mais rápida do hormônio base na circulação.
68
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
Outro fator importante a se considerar é o peso molecular do éster, que é
proporcional ao tamanho da cadeia de carbonos. O peso molecular do éster limita a
quantidade de hormônio base que vai ser anexada a ele e os ésteres com maior peso
molecular possuem menor quantidade de hormônio biodisponível que os ésteres mais
curtos.
Todos esses fatores têm consequências e aplicações importantes. A escolha do
éster não muda em nada os efeitos da droga no organismo, apenas altera seu tempo de
liberação na corrente sanguínea e de certa forma alguns ésteres terão uma maior
quantidade do hormônio base do que outros. Propionato, por exemplo, tem 83 mg de
hormônio base, enquanto o éster enantato carrega 72 mg de hormônio base (tabela 6.1).
Dificilmente o tempo de liberação vai alterar as respostas do usuário ao hormônio, como
a muito tempo se especula no meio do fisiculturismo (eu tenho minha própria e vasta
experiência observando atletas para afirmar). O fato é que se o indivíduo usar cipionato
de testosterona apenas em dieta bulk (dieta hipercalórica) e o propionato de testosterona
sempre em pré-competição, vai acabar atribuindo parte dos resultados à escolha do
éster. Por isso a muito tempo usuários de esteroides e fisiculturistas tem relatado maior
retenção hídrica com cipionato do que com propionato, extrapolando que isso deveria
ser resultado de uma maior aromatização com os ésteres mais longos. Mais bizarro que
isso é ouvir que existem diferenças entre ésteres de peso molecular muito semelhante,
como cipionato e enantato.
Tabela 6.1. Esteroides androgênicos e seus ésteres, mostrando a quantidade de hormônio base
a cada 100 mg (Anabolics, 10ª edição).
Esteroide androgênico
Quantidade de hormônio a cada
100 mg
Acetato de trembolona
87 mg
Propionato de testosterona
83 mg
Enantato de testosterona
72 mg
Cipionato de testosterona
70 mg
Undecanoato de testosterona
63 mg
Fenilpropionato de nandrolona
67 mg
Decanoato de nandrolona
64 mg
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Além da quantidade de hormônio base, que de certa forma pode influenciar na
sua escolha, aplicações mais importantes se referem a estratégias de escolher o éster
considerando sua meia-vida, com a finalidade de evitar um teste anti-doping, ou
simplesmente para saber o momento correto de iniciar a terapia pós-ciclo (TPC), no caso
de usuários recreativos (termo usado para usuários que não fazem uso contínuo). Os
esteroides anabolizantes de meia-vida mais curta têm um tempo de detecção menor que
os ésteres de meia-vida mais longa.
6.3) TESTOSTERONA AQUOSA (SUSPENSÃO)
É a forma de testosterona mais antiga que existe, é o hormônio em base aquosa
sem nenhum éster anexado à molécula. Por não ter nenhum éster anexado, a meia-vida
é curta e o tempo de ação da droga é muito rápido, em algumas poucas horas. Por esse
motivo é uma droga muito usada por levantadores de peso, que gostam de aplicá-la
antes dos treinos, visando aumento de força e agressividade. Por ter meia-vida curta é
melhor aproveitada usando todos os dias (tsd) ou dia sim dia não (dsdn).
A testosterona aquosa tem a fama de ser dolorosa porque os sais de testosterona
ficam suspensos em solução aquosa. Muitos fisiculturistas gostam da combinação de
testosterona de suspensão com estanozolol, e esse foi um protocolo muito comum para
pré-contest antes que a trembolona se tornasse mais popular aqui no Brasil. Por não ter
nenhum éster anexado ao hormônio, 100 mg de suspensão equivale à 100 mg de
testosterona. Outra vantagem de sua meia-vida extremamente curta é que pode sair
rapidamente da circulação, evitando os controles de dopagem.
6.4) ÉSTERES DE TESTOSTERONA
A testosterona é o esteroide que apresenta a maior variedade de ésteres, e, como
visto anteriormente, a finalidade do éster é controlar a liberação do hormônio na corrente
sanguínea. Os ésteres de testosterona mais conhecidos e usados no fisiculturismo são
propionato, fenilpropionato, enantato e cipionato. Os dois primeiros são ésteres de meiavida curta (~ 1 - 3 dias) e os dois últimos são éteres de meia-vida longa (~ 5 - 8 dias).
Existem também diversas formulações de testosterona vendidas na forma de uma
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mistura de ésteres, os chamados blends de testosterona, sendo a Durateston o mais
conhecido desses blends.
Uma tradição do fisiculturismo costuma associar os ésteres curtos a menor
retenção e maior potencial para queima de gordura e os ésteres longos a maior retenção
e menor eficácia na queima de gordura. A verdade é que não faz diferença o
comprimento da cadeia carbônica do éster no efeito do hormônio base ou pelo menos
posso dizer que tem pouca relevância.
Por décadas os fisiculturistas têm atribuído a maior retenção de água no período
de off season (fase de ganho de massa magra) à aromatização da testosterona, ou seja,
culpando o estrogênio (estradiol) pela retenção de sal e água. Mesmo que a culpa fosse
do estradiol, é importante deixar claro que um éster curto não aromatiza menos que um
éster longo. As concentrações de estrogênio simplesmente acompanham as
concentrações de testosterona, mantendo a razão T/E2 aproximadamente constante
para maior parte dos indivíduos (pode variar de acordo com a quantidade de tecido
adiposo, resposta individual). Na verdade, como o éster propionato tem mais
testosterona a cada 100 mg (~ 83 mg de testosterona) que um éster enantato ou
cipionato (~ 70 - 72 mg de testosterona a cada 100 mg), é de se esperar maiores
concentrações de testosterona e estradiol do propionato quando se compara a mesma
quantidade desses ésteres.
De qualquer forma, nem o estradiol pode ser culpado pela retenção de água e
nem o éster de testosterona (enantato, cipionato). O estudo de Bhasin (2005) com
homens idosos (60 a 75 anos) deixou claro que o uso de enantato de testosterona em
doses suprafisiológicas (125 mg, 300 mg e 600 mg por semana) promoveu ganhos de
MLG, sem promover maior retenção de sódio e água.
Embora a administração de testosterona em ratos castrados induza a
retenção de sal e água, esses efeitos são transitórios. Mostramos em
várias experiências em homens hipogonadais (34), homens eugonadais
saudáveis (34) e homens infectados pelo vírus da imunodeficiência
humana (35) que a proporção de MLG determinada pelo DEXA para a
água corporal total não muda durante a administração de testosterona .
Essas observações, juntamente com os significativos ganhos de força
relacionados à dose, indicam que o aparente aumento na MLG não é
devido à retenção de água além daquela associada ao acúmulo de
proteínas (BHASIN, 2005).
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Portanto, toda retenção hídrica observada no período off season é muito
provavelmente relacionada ao aumento das calorias, carboidratos e, consequentemente,
aumento dos níveis de insulina. A insulina aumenta a retenção de sódio pelo organismo
e por isso ficamos mais retidos em dietas para ganho de peso e perdemos bastante
retenção quando estamos em uma dieta hipocalórica, principalmente se houver uma
grande redução na ingestão de carboidratos.
O éster propionato tem uma meia-vida de cerca de 1 dia, o que faz com que a
melhor forma de uso seja por aplicações diárias (tsd), ou pelo menos dia sim, dia não
(dsdn). O éster fenilpropionato tem uma meia-vida de aproximadamente 2 - 3 dias e a
melhor forma de uso é por aplicações dsdn ou pelo menos 3 vezes na semana. Intervalos
maiores de aplicação geram maiores flutuações nos níveis hormonais, o que pode
intensificar alguns efeitos adversos. A vantagem desses ésteres é para usuários que
desejam uma recuperação mais rápida do eixo hormonal após o ciclo, já que a TPC pode
ser iniciada mais rapidamente. Atletas que passam por controles de doping mais
frequentes também se beneficiam, pois o tempo de detecção desses ésteres é de
aproximadamente 3 semanas.
O éster enantato tem uma meia-vida de aproximadamente 6-8 dias, o que faz com
que possa ser aplicado 1 - 2 vezes na semana sem grandes problemas com as flutuações
hormonais. O mesmo vale para o éster cipionato, que tem uma meia-vida de
aproximadamente 8 dias. Esses dois ésteres são muito semelhantes entre si, com a
distinção de apenas um carbono extra para o éster cipionato (mais uma razão para não
se atribuir diferenças de efeitos entre os mesmos). Os ésteres mais longos são preferidos
na terapia de reposição de testosterona (TRT), pois seu uso evita aplicações frequentes.
Entre os usuários de esteroides esses ésteres costumam ser mais usados na fase de
ganho de volume muscular (bulk), o off season, embora eu já tenha alertado que isso é
mais um mito do fisiculturismo.
A Durateston (Sustanon nos EUA) é o blend de testosterona mais popular e
comercializado no mundo, composto por dois ésteres de meia-vida curta (propionato,
fenilpropionato) e dois ésteres de meia-vida longa (isocaproato e decanoato). A
finalidade da Durateston é oferecer ésteres diferentes, para que a droga seja liberada
em diferentes velocidades na corrente sanguínea, mantendo as concentrações de
testosterona elevadas por mais tempo. Geralmente utilizada em duas aplicações
semanais.
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6.5) UNDECANOATO DE TESTOSTERONA (NEBIDO)
Nebido (Aveed nos EUA) é o nome comercial do undecanoato de testosterona,
um éster de testosterona que tem uma meia-vida muito longa (~ 20 dias) e na terapia de
reposição de testosterona (TRT) ele é usado a cada 6 - 12 semanas em uma dose de
1000 mg por aplicação. Para manter níveis fisiológicos de testosterona com o Nebido a
recomendação é fazer as duas primeiras injeções de 1000 mg (4 ml) com um intervalo
de 6 semanas e as aplicações seguintes devem seguir um intervalo de 10 a 14 semanas,
quando as concentrações séricas de testosterona diminuírem para uma faixa de 300 a
400 ng/dl.
Como as concentrações de testosterona sobem muito lentamente com esse éster,
ele tem pouca utilidade no meio do fisiculturismo e do esporte em geral. Além disso,
torna-se muito complicado a recuperação do eixo hormonal após a suspensão do uso de
undecanoato de testosterona, pois os níveis de testosterona exógena levam meses para
reduzir o suficiente, para assim dar início à TPC. Nem preciso dizer que o uso desse
éster seria um desastre para um atleta que passa por testes antidoping.
Apesar de parecer pouco vantajoso para indivíduos que buscam hipertrofia
muscular, o undecanoato de testosterona parece ser uma excelente opção para homens
que fazem TRT. Uma das grandes dificuldades para homens que fazem TRT é aderência
à terapia no longo prazo, principalmente com formulações injetáveis que exigem
aplicações a cada 2 – 3 semanas, como é o caso dos ésteres enantato e cipionato, e
também da Durateston. Além disso, esses ésteres promovem grandes oscilações nos
níveis de testosterona, elevando a testosterona para a faixa suprafisiológica (> 1000
ng/dl) nos primeiros dias após a aplicação e deixando os níveis de testosterona na faixa
subfisiológica (< 300 ng/dl) nos dias próximos à próxima aplicação. Essas oscilações dos
níveis de testosterona podem provocar alterações desagradáveis na libido e no humor,
além de causar instabilidade emocional. Sabemos que para evitar esse tipo de oscilação
hormonal basta fazer aplicações mais frequentes. No entanto, como as aplicações
costumam ser um pouco dolorosas isso gera um grande inconveniente e dificulta a
adesão. Dessa forma, o éster undecanoato tem a grande vantagem de manter os níveis
de testosterona mais estáveis, com aplicações a cada 3 meses (apenas 4 a 5 aplicações
por ano, enquanto os ésteres enantato e cipionato necessitam de mais de 15 a 20
aplicações por ano).
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6.6) TESTOSTERONA EM GEL (ANDROGEL)
Androgel (nome comercial) é o gel de testosterona mais popular para uso na
terapia de reposição de testosterona, disponível em envelopes de 2,5 ou 5 g, contendo
1% de testosterona (10 mg/g). A testosterona em gel é aplicada na pele (braços, ombro
ou abdômen) e as melhores doses para manter as concentrações fisiológicas de
testosterona variam entre 5 a 10 g diariamente. A aplicação de 5 - 10 g de Androgel
fornece 50 - 100 mg de testosterona, mas a biodisponibilidade é de ~10%, o que nos dá
apenas 5 - 10 mg de testosterona absorvidas diariamente. Se for utilizado na parte da
manhã, as concentrações de testosterona podem imitar o ritmo circardiano. As
concentrações máximas de testosterona são alcançadas 2 a 5 h após a aplicação.
Os géis de testosterona são largamente utilizados na TRT, pois são preferidos por
muitos homens no lugar das aplicações intramusculares de ésteres de testosterona. O
inconveniente do gel é que ele precisa ser usado diariamente, mas o principal problema
dessa formulação de testosterona é o potencial de transferência da medicação de pele
para a pele, principalmente para mulheres e crianças, que possuem níveis muito mais
baixos de testosterona. Por esse motivo é importante cobrir o local da aplicação.
Tabela 6.2. Testosterona em gel em homens, sem uso de anastrozol (FINKELSTEIN, 2013).
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
Estradiol (pg/ml)
Placebo
44
3,6
1,25 g
191
7,9
2,5 g
337
11,9
5,0 g
470
18,2
10,0 g
805
33,3
Os géis de testosterona promovem maiores elevações nas concentrações de DHT
do que as preparações injetáveis. Isso acontece devido a maior expressão da enzima
5α-redutase na pele, onde o gel é aplicado e absorvido. De qualquer forma, esse
aumento do DHT não parece ser mais problemático em termos de efeitos colaterais.
Uma das vantagens dos géis de testosterona é que eles elevam menos o
hematócrito quando comparados aos ésteres de testosterona (enantato, cipionato,
Duarateston), provavelmente porque esses ésteres promovem um pico maior de
testosterona nos primeiros dias após a aplicação.
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Géis de testosterona tem pouca aplicabilidade para fisiculturistas homens, mas o
uso como ponte entre o ciclo e a TPC é usual entre alguns atletas e recomendado por
alguns médicos. Isso acontece porque é muito difícil atingir concentrações elevadas de
testosterona que promovam efeito anabólico em homens eugonodais (que não tem
deficiência de testosterona).
Para as mulheres a testosterona em gel pode ser uma forma interessante de uso
de testosterona. O grande problema é que não existem formulações desenvolvidas para
uso das mulheres, que necessitam de dosagens muito menores que as dos homens
(menores que 10 – 20 mg). Apesar do grande potencial anabólico da testosterona em
mulheres, a testosterona também é o esteroide mais virilizante para as mulheres
(capítulo 9).
A testosterona em gel também pode ser encontrada em farmácias de
manipulação, mas o grande problema é o controle de qualidade.
6.7) UNDECANOATO DE TESTOSTERONA ORAL (ANDR OXON)
O undecanoato de testosterona oral, Androxon, é uma forma de testosterona feita
em ácido oleico, sendo absorvida preferencialmente pela circulação sistêmica através
dos vasos linfáticos, evitando o metabolismo de primeira passagem pelo fígado e,
consequentemente, sua inativação. As doses para tratamento de reposição de
testosterona variam de 40 a 80 mg administradas 2 - 3 vezes ao dia, mas as respostas
clínicas são variáveis e abaixo do ideal. Enfim, essa testosterona tem uma utilidade muito
limitada no meio do fisiculturismo, mas ainda assim o uso poderia ser efetivo entre atletas
mulheres, já que as concentrações de testosterona desejadas são muito menores que a
dos homens. Eu particularmente não conheço atletas que tenham feito uso dessa forma
de testosterona, devido ao baixo custo-benefício.
6.8) METILTESTOSTERONA
Essa é a melhor e mais antiga forma de testosterona disponível para
administração oral. No entanto, ainda é uma forma de testosterona menos anabólica e
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androgênica que as formas injetáveis. Metiltestosterona é basicamente testosterona
adicionada com um grupo metil (alquila) na posição alfa do carbono 17 do esqueleto do
esteroide, transformando a testosterona em um composto 17 alfa-alquilado, o que por
sua vez a torna um esteroide hepatotóxico. Essa forma de testosterona também possui
alta atividade estrogênica, devido a sua aromatização em 17α-metilestradiol, uma forma
de estrogênio mais potente biologicamente que o estradiol. Também se converte em
DHT através da enzima 5α-redutase.
A metiltestosterona tem uma meia-vida de aproximadamente 6 - 8 horas e as
doses mais eficientes para ganho de força e massa muscular variam entre 50 a 100 mg
por dia. Não é um esteroide muito popular entre fisiculturistas nos dias de hoje. Em
mulheres com problemas de função sexual (baixa libido) é muitas vezes utilizada em
dosagens de 2,5 mg/dia com a finalidade de aumento da libido.
6.9) TESTOSTERONA SUBCUTÂNEA
Tenho visto muita confusão sobre esse tema. Algumas pessoas têm alegado que
a aplicação de testosterona subcutânea (SC) diariamente fornece concentrações mais
estáveis de testosterona que a aplicação intramuscular (IM). Isso é uma grande
bobagem. Na verdade o que os estudos têm mostrado é que a via de aplicação
subcutânea pode ser mais interessante do que a intramuscular por ser menos dolorosa
e fornecer mais estabilidade nas concentrações de testosterona quando a comparação
é feita aplicando testosterona subcutânea “1x na semana” com pessoas que usam a via
intramuscular aplicando a “cada 2 - 3 semanas”, protocolo usual na terapia de reposição
de testosterona (TRT) com ésteres de meia vida longa (Durateston, Deposteron).
Veja o que diz o estudo de McFarland (2017) com trangêneros (mulher para
homem) aplicando testosterona pela via subcutânea 1x na semana:
Nossos dados demonstram que quando o cipionato de testosterona é
injetado SC em um intervalo semanal, os níveis séricos médios
permanecem estáveis e dentro da faixa normal. Um padrão semelhante
de níveis séricos médios de testosterona foi relatado com injeções
intramusculares semanais de testosterona (MCFARLAND, 2017).
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Algumas pessoas também acreditam que a aplicação da testosterona pela via
subcutânea promove maior estabilidade nos níveis de estradiol (E2) e dihidrotestosterona (DHT) quando comparada à injeção intramuscular. No entanto, um
estudo recente (TURNER, 2019) com undecanoato de testosterona mostrou que não
houve diferença substancial nas concentrações de testosterona, estradiol e DHT entre
as rotas SC e IM.
Na TRT feita pela via intramuscular os níveis de testosterona podem flutuar
bastante pois a aplicação é feita a cada 2 - 3 semanas, o que tende provocar oscilações
no humor, disposição e libido. No entanto, esse não é o caso de fisiculturistas ou usuários
de esteroides que fazem aplicação de testosterona intramuscular 1 - 2x na semana com
Durateston, cipionato ou enantato de testosterona. Claro que se o indivíduo aplicar
testosterona todo dia, seja pela via subcutânea ou pela via intramuscular, as
concentrações serão mais estáveis, mas comparando com a aplicação do éster longo 2x
na semana tende a ser irrelevante quando se trata de efeitos colaterais. Ou seja, quando
se trata de reposição hormonal (TRT), a via subcutânea tem se mostrado mais
interessante por ser menos dolorosa e mais fácil de ser utilizada. No entanto, a via
subcutânea não parece oferecer mais estabilidade nas concentrações de
testosterona, E2 e DHT, que a via intramuscular, quando a comparação é feita com
o mesmo intervalo de aplicação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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graded doses of testosterone on the skeletal muscle. J Clin Endocrinol Metab.
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7
TPC E PÓS-CICLO DE
ESTEROIDES
7.1) INTRODUÇÃO
Esteroides anabolizantes inibem a secreção de gonadotrofinas (LH e FSH) pela
hipófise, e, consequentemente, suprimem a produção endógena de testosterona pelos
testículos. Esse mecanismo de supressão ocorre de forma direta, pela sinalização dos
andrógenos, ou indireta, através do feedback negativo do estradiol e da prolactina no
hipotálamo e na hipófise. Os fisiculturistas do passado não sabiam lidar com esse
problema e estavam mais susceptíveis aos problemas de desequilíbrio hormonal e baixa
testosterona após os ciclos de esteroides. A recuperação da produção endógena de
testosterona após a interrupção do uso dos esteroides anabolizantes pode levar muitos
meses e esse ambiente hormonal pós-ciclo não só aumenta o potencial para perda do
volume muscular conquistado com o uso de esteroides, como pode provocar também
uma série de outros efeitos e problemas indesejáveis. O uso de esteroides provoca uma
condição clínica temporária chamada de hipogonadismo hipogonadotrófico, condição na
qual os homens não produzem quantidades adequadas de testosterona e
espermatozoides.
A recuperação da produção endógena de testosterona pode ser muito lenta após
um ciclo de esteroides anabolizantes. Mesmo quando os níveis de gonadotrofinas (LH e
FSH) voltam aos valores normais não existe garantia que as concentrações de
testosterona voltarão aos valores antes do ciclo, principalmente quando existe um
desequilíbrio hormonal após o ciclo. Tudo indica que os protocolos para acelerar a
recuperação do eixo HPT (hipotálamo-pituitária-testicular) após interrupção do uso de
esteroides anabolizantes foram pensados pela primeira vez nos anos 80. No livro do
famoso guru Dan Duchaine, Undreground Steroids Handbook, ele descreve o uso de
hCG, clomifeno e tamoxifeno para essa finalidade. Esses protocolos de recuperação do
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eixo HPT são chamados hoje de terapia pós-ciclo, popularmente conhecida como TPC.
Antes disso, fisiculturistas simplesmente não tinham conhecimento para lidar com os
problemas de desequilíbrio hormonal após um ciclo de esteroides e é provável que
muitos passassem por momentos difíceis em relação a função sexual e bem-estar. É
provável também que eles interrompessem os ciclos temporariamente e voltassem a
usar esteroides quando percebiam uma grande perda nos ganhos de massa magra e
queda de desempenho nos treinos.
Neste capítulo descrevo o mecanismo de supressão do eixo HPT pelos esteroides
anabolizantes e os problemas decorrentes disso, principalmente após a interrupção do
uso de hormônios. Também serão discutidos protocolos de TPC, os fármacos mais
usados na TPC e a problemática da ideia de ciclo e TPC. A ideia de TPC discutida aqui
será direcionada apenas aos homens e as ideias de TPC feminina são discutidas no
capítulo 9.
7.2) EIXO
(HPT)
HIPOTÁLAMO-PITUITÁRIA/HIPÓFISE-TESTICULAR
A produção de testosterona e a espermatogênese são reguladas pelo mecanismo
de feedback negativo do eixo HPT. Tudo começa no hipotálamo, que secreta o GnRH
(hormônio liberador de gonadotrofinas) de forma pulsátil a cada 30 - 120 minutos. Esse
hormônio por sua vez atua na hipófise (pituitária), onde se fixa aos gonadotrofos (células
da hipófise) e estimula a liberação do hormônio luteinizante (LH) e do hormônio folículo
estimulante (FSH). O LH estimula a produção de testosterona nas células de Leydig nos
testículos, enquanto o FSH estimula a espermatogênese nas células de Sertoli. Contudo,
a completa maturação dos espermatozoides também precisa dos efeitos da testosterona.
A secreção da testosterona apresenta ritmo pulsátil, diurno e circadiano, sendo as
concentrações mais altas observadas na parte da manhã.
A elevação dos níveis de testosterona, por sua vez, irá inibir a secreção de LH
pela hipófise e também a liberação de GnRH pelo hipotálamo através do mecanismo de
feedback negativo (figura 7.1). Dessa forma, quando as concentrações de testosterona
estão elevadas no sangue ocorre inibição da secreção de gonadotrofinas (principalmente
LH) e quando as concentrações de testosterona estão reduzidas ocorre estímulo da
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liberação de gonadotrofinas pelo hipotálamo e hipófise. A inibição da liberação do FSH
é regulada principalmente pela inibina B, um peptídeo derivado das células de Sertoli
que tem sua produção estimulada pelo FSH.
Não só a testosterona promoverá efeitos inibitórios no hipotálamo e na hipófise,
mas todos os andrógenos e estrógenos. Portanto, concentrações elevadas de estradiol
durante e após um ciclo de esteroides promoverão inibição da liberação de LH e FSH.
Elevação dos níveis de estradiol em homens mais velhos e obesos estão associadas a
queda nos níveis de testosterona, podendo levar a um quadro de hipogonadismo
hipogonadotrófico. Como visto anteriormente, nesse tipo de hipogonadismo a função
testicular está preservada e a baixa produção de testosterona é decorrente da baixa
produção de gonadotrofinas pelo hipotálamo e hipófise. A elevação dos níveis de
prolactina também inibe a secreção de gonadotrofinas pela hipófise, provavelmente por
meio de um efeito no hipotálamo.
Figura 7.1. Síntese da testosterona pelo eixo HPT (hipotálamo-pituitária-testicular), ilustrando o
mecanismo de feedback negativo. O GnRH secretado pelo hipotálamo estimula a liberação das
gonadotrofinas LH e FSH pela hipófise/pituitária. O LH estimula a produção de testosterona nas
células de Leydig e o FSH estimula a produção de espermatozoides nas células de Sertoli dos
testículos. O excesso de testosterona e de estradiol, assim como o uso de esteroides
anabolizantes, exerce feedback negativo sobre o hipotálamo e a hipófise, inibindo a secreção de
LH e FSH. Com a inibição das gonadotrofinas ocorre supressão da testosterona endógena e da
espermatogênese (HALUCH, 2017).
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Agora fica mais claro entender porque esteroides anabolizantes inibem o eixo
HPT, levando a um quadro de hipogonadismo (pós-ciclo), onde o usuário apresentará
baixa produção de testosterona e infertilidade temporária. Essa situação é temporária e
deve ser revertida com a suspensão do uso de esteroides androgênicos. No entanto, as
coisas não são tão simples assim, pois a recuperação das concentrações de testosterona
a níveis antes do ciclo de esteroides pode demorar muito tempo, dependendo das drogas
utilizadas no ciclo, das dosagens utilizadas e da resposta individual do usuário. Enquanto
a recuperação das gonadotrofinas (LH e FSH) tende a ser relativamente rápida após um
ciclo, a recuperação dos níveis de testosterona pode levar facilmente mais de 10
semanas em um ciclo com drogas muito supressivas e de meia-vida longa. Na próxima
seção discuto a importância da terapia pós-ciclo para reverter esse quadro de forma mais
rápida.
7.3) TERAPIA PÓS-CICLO (TPC)
A terapia pós-ciclo (TPC) foi criada com o objetivo de acelerar a recuperação do
eixo HPT após a interrupção do uso de esteroides anabolizantes. Antes disso,
fisiculturistas e usuários de esteroides tinham que lidar com o crash hormonal pós-ciclo
sem nenhum recurso adicional, a não ser a ideia de ciclos pirâmides, onde as doses de
esteroides são elevadas gradativamente até um ponto e depois reduzidas pouco a
pouco, atenuando os efeitos do crash hormonal. Mesmo com a redução gradativa das
doses de hormônios a condição de hipogonadismo (baixa testosterona) após o ciclo é
inevitável e os efeitos mais comuns nos usuários são: baixa libido, humor depressivo,
perda de rendimento, desânimo, aumento da gordura corporal, perda de força e perda
de massa muscular. Todos esses efeitos colaterais potencializam o risco de efeitos
colaterais psicológicos, principalmente depressão e dependência psicológica. Importante
salientar que a simples recuperação dos níveis de testosterona com a TPC pode não
resolver muitos desses problemas psicológicos e dificilmente manterão a maior parte dos
ganhos de força e massa muscular atingidos com o ciclo de esteroides. A maioria dos
gurus que escreveram sobre TPC argumentam ingenuamente que ela ajudaria de forma
efetiva na manutenção dos ganhos de massa magra conquistados com o ciclo.
Existem várias formas distintas para se montar um protocolo de TPC. Entre as
principais drogas utilizadas nesses protocolos estão os SERMs (sigla em inglês que se
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traduz como Moduladores Seletivos dos Receptores de Estrógenos). Essa denominação
fica mais clara quando se entende o mecanismo de ação dessas drogas no organismo.
Elas atuam de forma seletiva nos receptores de estrógeno dos diferentes tecidos, tendo
efeito agonista no tecido ósseo, no fígado e no endométrio, enquanto atuam como
antagonistas do estrogênio nos receptores localizados no tecido mamário, no tecido
adiposo, no hipotálamo e na hipófise. Por se comportarem semelhante ao estrogênio nos
ossos e no fígado, elas podem promover efeitos benéficos, aumentando a densidade
mineral óssea e melhorando o perfil lipídico. Já na mama, essas drogas bloqueiam os
receptores de estrogênio, evitando a atividade do estrogênio nesse tecido. Daí serem
drogas muito potentes para o tratamento do câncer de mama e da ginecomastia. O efeito
antiestrogênico dessas drogas no hipotálamo e na hipófise explica porque elas podem
ser úteis na TPC, já que inibem o feedback negativo do estradiol nessas glândulas. Essa
atividade antiestrogênica no hipotálamo e na hipófise permite o estímulo da secreção de
gonadotrofinas (LH e FSH) e, consequentemente, da testosterona. Os SERMs mais
utilizados nos protocolos TPC são o citrato de tamoxifeno (Nolvadex) e o citrato de
clomifeno (Clomid).
Apesar dos SERMs serem drogas muito populares nos protocolos de terapia pósciclo, a droga considerada mais importante na TPC é a gonadotrofina coriônica humana
(hCG). O hCG é secretado pela placenta e é extraído da urina de gestantes. Apresenta
atividade semelhante ao LH, estimulando a síntese de testosterona nas células Leydig
dos testículos através da interação com os receptores de LH/hCG. A função do hCG nos
primeiros meses da gravidez é manter o corpo lúteo no ovário e garantir a manutenção
da gestação, inibindo a menstruação e uma nova ovulação. É o principal hormônio usado
na terapia de fertilidade em homens e mulheres. Dessa forma, a atividade desse
hormônio é diferenciada dos SERMs, pois atua diretamente nos testículos, enquanto o
tamoxifeno e o clomifeno atuam no hipotálamo e na hipófise. Isso faz com que hCG tenha
um papel fundamental na TPC, pois durante o ciclo a ausência de estímulos das
gonadotrofinas no testículo leva à atrofia testicular (muitas vezes não perceptível),
fazendo com que os testículos respondam com mais dificuldade aos estímulos do LH.
Essa dessensibilização testicular torna a recuperação da testosterona endógena muito
lenta após a término do ciclo de esteroides. Estudos mostram que as concentrações de
LH tendem a se recuperar relativamente rápido após a interrupção do uso de esteroides
anabolizantes, enquanto as concentrações de testosterona sobem muito lentamente,
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podendo levar mais de 10 semanas para começarem a ter um aumento mais expressivo
e muito mais tempo para atingir os valores pré-ciclo. Esse aumento da liberação de LH
pela hipófise é uma resposta do organismo às baixas concentrações de testosterona no
pós-ciclo. No entanto, a atrofia testicular induzida pelo uso de esteroides androgênicos
durante o ciclo impede que os testículos respondam de forma eficiente aos estímulos do
LH e o uso de SERMs não melhora muito essa situação. Segue daí a importância do
hCG, que por fazer o papel do LH, pode atuar diretamente nos testículos para estimular
a produção de testosterona e regredir a atrofia testicular mais rapidamente. É evidente
que essa supressão da testosterona endógena pelo uso de esteroides anabolizantes
depende muito do que foi utilizado durante o ciclo, o tempo de uso e a resposta individual.
Algumas drogas podem ter um efeito supressivo não tão agressivo ao eixo HPT
(primobolan, oxandrolona) e em ciclos com drogas de meia-vida curta a recuperação da
testosterona endógena tende a ser rápida após a interrupção do ciclo. O uso de hCG é
recomendado em ciclos com drogas mais supressivas (trembolona, testosterona,
nandrolona), ciclos longos e ciclos com drogas de meia-vida longa, como cipionato,
enantato de testosterona, Durateston, boldenona e Deca.
Uma terceira classe importante de drogas que podem ser auxiliares nos
protocolos de TPC são os inibidores de aromatase (anastrozol, letrozol, exemestano).
Como o nome diz, essas drogas atuam inibindo a atividade da enzima aromatase e,
consequentemente, inibindo a conversão de testosterona em estrogênio (estradiol).
Como vimos anteriormente, altas concentrações de estradiol fazem feedback negativo
no hipotálamo e na hipófise, inibindo a secreção de gonadotrofinas (LH e FSH). No
entanto, essas drogas tem uma aplicabilidade limitada na TPC, pois os níveis de estradiol
tendem a acompanhar os níveis de testosterona e muitos usuários de esteroides
apresentam baixas concentrações de estradiol concomitante às baixas concentrações
de testosterona depois do ciclo. De qualquer forma, pode acontecer um desequilíbrio
entre as concentrações de testosterona (T) e estradiol (E2), com alguns usuários
apresentando um aumento na razão E2/T devido a uma maior aromatização. Quando as
concentrações de estradiol estão relativamente altas, comparadas às concentrações de
testosterona, o uso de inibidores de aromatase pode ser útil, fazendo com que as
concentrações plasmáticas de LH, FSH e testosterona se elevem com a redução do
estradiol.
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Figura 7.2. Mecanismos de ação dos inibidores de aromatase (IA) e dos moduladores seletivos
do receptor de estrogênio (SERM). Enquanto os IAs bloqueiam a conversão de andrógenos em
estrógenos inibindo a enzima aromatase, os SERMs atuam nos receptores de estrogênio,
podendo exercer ações agonistas e antagonistas nesses receptores. No tecido mamário e no
hipotálamo eles exercem efeitos antagonistas sobre os receptores de estrógeno e por isso
podem ajudar no controle da ginecomastia e na recuperação do eixo. A recuperação do eixo HPT
ocorre porque os SERMs estimulam a secreção de LH e FSH na hipófise (HALUCH, 2017).
Além dessas drogas, outras substâncias - medicamentos e fitoterápicos - podem
ser usadas na TPC, se considerarmos que não só a recuperação da testosterona
endógena é desejada, como também a melhora da libido, melhora da disposição e do
bem estar, assim como o controle do percentual de gordura. Sendo assim, até mesmo
Proviron pode ter utilidade na TPC, já que não inibe o eixo HPT em doses usuais. Alguns
usuários também usam hormônio do crescimento (GH) e peptídeos secretagogos de GH
(GHRPs, GHRHs) para controlar o percentual de gordura pós-ciclo. Metformina pode ser
usada para melhora da sensibilidade à insulina, que tende a piorar com baixas
concentrações de testosterona pós-ciclo. A ioimbina pode auxiliar na ereção e no
controle do percentual de gordura. Fitoterápicos como Tribulus Terrestris e Maca
Peruana podem auxiliar na libido, enquanto Mucuna Pruriens (rica em L-Dopa,
precursora da dopamina) pode aumentar a concentração de espermatozoides e a
testosterona. Mas antes que você deseje montar um grande coquetel de drogas e
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suplementos para sua “super TPC”, devo alertar que você não precisa fazer isso e pode
gastar muito dinheiro inutilmente, pois a utilidade dessas substâncias não tem a mesma
eficácia comprovada que as drogas de base da TPC, que incluem SERMs, hCG e os
inibidores de aromatase. Os principais protocolos TPC tem como base o uso de hCG
com SERMs, consideradas as drogas mais eficazes para a recuperação do eixo HPT.
Sabendo isso, a próxima etapa é saber quando começar a TPC, quanto tempo deve
durar e quais os melhores protocolos de terapia pós-ciclo.
De acordo com a maioria dos relatórios, a qualidade do esperma tende a
normalizar-se espontaneamente dentro de 4 a 12 meses após a
interrupção do abuso de esteroides anabolizantes. No entanto, o efeito
negativo na qualidade do esperma pode persistir por longos períodos.
Simplesmente interromper o uso do EAA pode levar à retomada da
fertilidade em uma certa proporção de usuários do sexo masculino. Os
pacientes também podem ser tratados por indução de espermatogênese
com gonadotropinas ou análogos do GnRH, incluindo injeções de hCG
IM, gonadotrofina da menopausa humana (hMG) ou mesmo FSH
recombinante (OSTA, 2016).
7.4) TIMING PARA INÍCIO DA TPC E EXAMES LABORATORIAIS
A primeira vez que me preocupei com esse tema foi por volta de 2011-2012, pois
a ideia comum mais difundida nos fóruns de internet brasileiros era que a TPC deveria
ser iniciada após passar uma meia-vida do esteroide de meia-vida mais longa do ciclo.
Portanto, num ciclo de cipionato de testosterona e Dianabol o usuário de esteroides
deveria considerar a meia-vida do cipionato (8 dias), iniciando a TPC 8 dias após a última
aplicação de cipionato.
Pesquisando nos fóruns de internet estrangeiros logo percebi que essa ideia era
totalmente equivocada. Na verdade, se o meu conhecimento de farmacologia básica e
raciocínio fossem mais apurados na época seria fácil perceber as falhas dessa teoria. A
explicação é muito simples. A meia-vida de uma substância se refere ao tempo que leva
para a concentração dessa substância reduzir pela metade. Portanto, se você aplicar
500 mg de cipionato de testosterona (meia-vida de 8 dias), depois de 8 dias as
concentrações de cipionato na corrente sanguínea cairão pela metade, ou seja, 250 mg
(500 mg/2). Depois de mais 8 dias teremos 125 mg (250 mg/2) e assim por diante.
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Esse foi um exemplo simplista, uma vez que é preciso considerar corretamente a
quantidade de testosterona anexada ao éster e as concentrações séricas de testosterona
na corrente sanguínea medidas em ng/dl. Além disso, o usuário comum irá fazer
aplicações frequentes, muitas vezes mais de duas vezes na semana, misturando outros
esteroides no ciclo. De qualquer forma, fica claro que após interromper um ciclo as
concentrações de esteroides no seu sangue estarão elevadas e se você usou drogas de
meia-vida longa (Deca, Durateston, boldenona) as concentrações desses hormônios
cairão lentamente, podendo levar mais de 4 - 6 semanas para atingir valores baixos o
suficiente para não causar feedback negativo no hipotálamo e na hipófise. O melhor
exemplo é a testosterona, já que é o único esteroide androgênico que podemos medir
as concentrações no sangue com exames comuns, cujas concentrações plasmáticas
variam de 300 a 900 ng/dl para indivíduos normais. Num ciclo de esteroides
anabolizantes, usando enantato ou cipionato de testosterona em doses de 500 - 600 mg
por semana, é comum observar concentrações plasmáticas de testosterona superiores
a 3000 - 4000 ng/dl após algumas semanas de ciclo. Por isso, é de se esperar que após
a interrupção do ciclo os níveis de testosterona demorem algumas semanas para atingir
níveis abaixo de 300 ng/dl, que é - dentro de certa aproximação - quando o hipotálamo
e a hipófise deixam de sofrer feedback negativo pelo excesso de testosterona exógena.
Tabela 7.1. Meia-vida dos principais esteroides anabolizantes e dos ésteres de diferentes
esteroides. Na última coluna uma estimativa de quando o indivíduo deveria iniciar a TPC. Para
ter certeza se iniciou a TPC no tempo correto o ideal é fazer exames no pós-ciclo para
acompanhar as concentrações de testosterona, LH, FSH e estradiol (HALUCH, 2017).
Éster
ou
nome
do
Meia-vida
Início da TPC estimado
Enantato
5-8 dias
30-45 dias
Cipionato
8 dias
30-45 dias
Durateston
15-21 dias
40-60 dias
Decanoato
8-10 dias
30-50 dias
Boldenona
12 dias
40-60 dias
Propionato
1-2 dias
Até 7 dias
Fenilpropionato
2-3 dias
Até 7 dias
Acetato
1-2 dias
Até 7 dias
esteroide
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Masteron
1-2 dias
Até 7 dias
Primobolan
5-8 dias
30-45 dias
Estanozolol injetável
1-2 dias
Até 7 dias
Estanozolol oral
6-8 horas
Imediato
Hemogenin
8-9 horas
Imediato
Dianabol
4-6 horas
Imediato
Halotestin
9 horas
Imediato
Turinabol
16 horas
Imediato
Oxandrolona
8 horas
Imediato
Proviron
12 horas
Imediato
Primobolan oral
2-3 horas
Imediato
Se podemos saber qual o melhor momento para começar a TPC quando se usa
testosterona, verificando as concentrações plasmáticas de testosterona com exames de
sangue, não é possível fazer o mesmo com os demais esteroides anabolizantes. Por
esse motivo é importante conhecer a meia-vida aproximada dos esteroides androgênicos
e também medir as concentrações de LH e FSH depois de um ciclo, uma vez que esses
hormônios indicam se o hipotálamo e a hipófise continuam inibidos. Quando as
concentrações séricas de LH e FSH estão suprimidas, esse é um indicativo de que o
hipotálamo e a hipófise continuam suprimidos por hormônios exógenos. As medidas das
concentrações de estradiol e prolactina também são importantes para saber se esses
hormônios não estão elevados, o que também poderia promover efeito de feedback
negativo no hipotálamo e na hipófise.
A tabela 7.1 mostra os valores da meia-vida dos principais esteroides
anabolizantes, com algumas estimativas aproximadas indicando o melhor momento para
iniciar a TPC. O critério foi baseado considerando a contagem de 3 - 4 vezes a meia-vida
da droga e também na minha experiência conversando com médicos da área e
observando exames de usuários de esteroides. A tabela 7.2 mostra os principais exames
de sangue para avaliar o quadro hormonal de homens durante e depois de um ciclo de
esteroides, tornando mais fácil o controle dos níveis hormonais para montar um bom
protocolo de TPC.
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Tabela 7.2. Principais exames hormonais para avaliar o quadro hormonal do usuário de
esteroides durante e depois da interrupção do uso de esteroides anabolizantes (HALUCH, 2017).
Exame
Valores de
Durante o ciclo
Pós-ciclo
referência
Testosterona
250 - 1000
Acima dos valores de
Concentrações vão
total
ng/dl
referência quando se usa
reduzindo aos
doses de testosterona
poucos quando se
maiores que 200-300
usou testosterona
mg/semana. Abaixo da
no ciclo,
referência se não usa
permanecendo
testosterona no ciclo.
baixa por um tempo
depois do ciclo.
Testosterona
50 - 210
Comportamento
Comportamento
livre
pg/ml
semelhante ao da
semelhante ao da
testosterona total
testosterona total
Valores suprimidos
Fica abaixo da
LH
1,2 - 7,8
UI/L
referência por um
tempo, mas se
recupera antes da
testosterona.
FSH
1,4 - 15,4
Valores suprimidos
UI/L
Fica abaixo da
referência por um
tempo, mas se
recupera antes da
testosterona.
Estradiol
10 - 50
Se eleva
Acompanha as
pg/ml
proporcionalmente com
concentrações de
as concentrações de
testosterona, mas
testosterona e também
podem ocorrer
com outros esteroides
desequilíbrios.
que aromatizam.
Prolactina
3-14,7
Pode se elevar com
Pode permanecer
ng/Ml
estradiol elevado ou uso
elevada ou normal.
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de alguns esteroides
como trembolona e
Hemogenin.
SHBG
13,2-89,5
Valores próximo do limite
Tende a aumentar
nmol/L
inferior ou abaixo da
com o tempo
referência.
7.5) ALIMENTOS E TESTOSTERONA
Existem alimentos que diminuem a testosterona ou aumentam a testosterona?
Nenhum alimento tem um grande impacto para reduzir ou aumentar testosterona.
Ser obeso e sedentário sim pode diminuir os níveis de testosterona, pois o tecido adiposo
aumenta a aromatização (conversão da testosterona em estradiol). O consumo de
gorduras, principalmente as saturadas também pode influenciar os níveis de
testosterona, mas isso não parece influenciar a libido, o humor ou a massa muscular.
Existe a crença de que o consumo de soja reduza os níveis de testosterona, mas
não existem boas evidências que suportem essas alegações em humanos (HAMILTONREEVES, 2010). Os fitoestrógenos da soja (isoflavonas) têm baixa afinidade com os
receptores de estrogênio.
O maior impacto na redução da testosterona é o aumento da aromatização que
ocorre principalmente em obesos e indivíduos mais velhos. O tecido adiposo apresenta
maior expressão da enzima aromatase, que converte testosterona em estradiol. O
estradiol elevado provoca feedback negativo no eixo hipotálamo-hipófise-testicular,
reduzindo os níveis de LH, FSH e testosterona. Além disso, o aumento das citocinas
inflamatórias que ocorre na obesidade (IL-6, TNF-α, resistina) também pode reduzir os
níveis de testosterona. As citocinas inflamatórias além de prejudicar a sinalização da
insulina, aumentando a resistência à insulina, também atuam no hipotálamo e na hipófise
prejudicando a secreção de GnRH e LH.
A perda de peso ou o uso de inibidores de aromatase (anastrozol, letrozol) em
homens obesos pode normalizar os níveis de testosterona. Em homens saudáveis níveis
altos de testosterona não estão associados com maior libido ou massa muscular. Por
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esse motivo, se os níveis de testosterona estão dentro da faixa fisiológica de 300 a 900
ng/dl e não existem sintomas de hipogonadismo não há porque se preocupar em elevar
as concentrações séricas de testosterona, justamente porque aumentos dentro da faixa
fisiológica não parecem trazer nenhum benefício.
A restrição calórica e a perda de peso podem reduzir substancialmente os níveis
de testosterona, como mostrou o estudo Longland (2016). Nesse estudo homens com
sobrepeso fizeram uma dieta hipocalórica (40% de redução do gasto energético) por 4
semanas e perderam 4,8 kg de massa gorda. Os níveis de testosterona reduziram de
forma expressiva, de 507 ng/dl para 126 ng/dl. Mesmo com essa grande redução das
concentrações séricas de testosterona, os indivíduos ganharam massa magra (1,2 kg),
graças à combinação de treinamento resistido (musculação) com uma dieta hiperproteica
(2,4 g/kg). Um resultado impressionante, considerando que essa grande mudança de
composição corporal ocorreu com a testosterona na faixa infrafisiológica (abaixo de 300
ng/dl) e em uma situação de grande déficit calórico.
Estudos que envolvem treinamento de força mostram que os ganhos de massa
muscular com o exercício dependem da quantidade de receptores androgênicos (AR) no
músculo esquelético e não dos níveis séricos de testosterona (MORTON, 2018).
Infelizmente não é possível aumentar o número de receptores de forma significativa para
ter benefícios.
Uma maior quantidade de gordura na dieta (~ 40% das calorias), principalmente
gordura animal, aumenta os níveis de testosterona, mas isso não se traduz em maiores
benefícios fisiológicos (aumento da libido e da massa muscular).
7.6) TESTO BOOSTER - A ILUSÃO
Alguns fitoterápicos e suplementos de vitaminas e minerais podem promover
aumento dos níveis séricos de testosterona dentro da faixa fisiológica de 300 - 900 ng/dl,
mas esses aumentos costumam ser pequenos (~ 100 - 200 ng/dl) e não promovem
hipertrofia muscular. Os ganhos de massa muscular com testosterona acontecem com
doses suprafisiológicas (acima de ~ 100 mg por semana de enantato ou cipionato de
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testosterona) ou quando se passa de níveis infrafisiológicos para níveis fisiológicos com
terapia de reposição hormonal (TRT).
Muitos suplementos prometem aumentar a testosterona endógena através de
uma combinação de vitaminas e minerais. Outros prometem aumentar testosterona
combinando vitaminas e minerais com fitoterápicos (tribulus terrestris, mucuna pruriens,
maca peruana, forskolin, ashwagandha, long jack etc) - que podem ser vendidos de
forma isolada também (sem micronutrientes). Outras substâncias como o ácido aspártico
também foram cogitadas para aumentar testosterona.
É importante deixar claro que muitas dessas substâncias podem realmente elevar
testosterona em homens. Outras só foram testadas em animais e muitas têm resultados
controversos (ácido aspártico mostrou aumento em um estudo, nenhum resultado em
outro e redução da testosterona em um terceiro estudo).
Alguns minerais e vitaminas mostram resultados de aumento da testosterona em
situações de hipogonadismo (baixa testosterona) associado à deficiência do
micronutriente, como é o caso do zinco e da vitamina D. Boro e magnésio mostraram
aumento da testosterona em um ou outro estudo, mas em outros não.
Tribulus terrestris e maca peruana parecem aumentar libido em indivíduos
saudáveis, mas maior parte dos estudos não mostra nenhum efeito nos níveis de
testosterona, assim como a crisina não mostrou efeitos de redução do estrogênio em
estudos in vivo.
Mesmo que algumas dessas substâncias aumentem os níveis de testosterona,
esse aumento não se correlaciona com ganhos de massa muscular em indivíduos
saudáveis. Ou seja, se sua testosterona endógena subir de 500 ng/dl para 800 ng/dl isso
muito provavelmente não vai se traduzir em hipertrofia muscular. Apenas níveis
suprafisiológicos de testosterona estão correlacionados com hipertrofia muscular em
indivíduos saudáveis sem deficiência de testosterona.
Além disso, seria muito mais eficiente usar fármacos que estimulam a produção
de testosterona de forma mais potente, como tamoxifeno e HCG, do que gastar dinheiro
com fitoterápicos de efeito duvidoso. Aqui no Brasil a legislação não permite que esses
suplementos contenham mais micronutrientes que o limite diário recomendado (RDA),
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então o próprio ZMA vendido pelas empresas de suplementos acaba sendo inferior a um
multivitamínico básico vendido em farmácia. Não que esse suplemento faça alguma
coisa também, não passa de marketing.
Suplementos para aumentar testosterona são uma grande ilusão, pois não podem
promover hipertrofia muscular.
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Spermatogenesis after Testosterone Use. J Sex Med Jun; 12(6):1334-7, 2015.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
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TRT E BLAST & CRUISE
8.1) INTRODUÇÃO
Antes de começar a falar sobre qualquer esteroide anabolizante é fundamental
que se fale da testosterona, o esteroide androgênico do qual todos os outros esteroides
anabolizantes são derivados direta ou indiretamente. Como vimos, esse poderoso
hormônio anabólico e androgênico foi sintetizado em 1935. Logo nos primeiros anos
após a sua síntese formas alternativas de testosterona foram produzidas com a
finalidade de melhorar o aproveitamento e a administração do hormônio, sendo o
propionato o primeiro éster de testosterona.
A testosterona tem uma grande eficácia para aumentar a força e a massa
muscular, sendo que esses efeitos tendem a ser dose-dependente. Doses acima de 250
- 300 mg por semana já mostram uma eficácia razoável para esse propósito. A principal
finalidade terapêutica da testosterona é a reposição hormonal (TRT) em homens com
deficiência na produção do hormônio (hipogonadismo), principalmente indivíduos mais
velhos sintomáticos e com níveis de testosterona abaixo dos 300 ng/dl. As concentrações
plasmáticas normais de testosterona em homens variam de 300 a 1000 ng/dl (esses
valores podem variar de acordo com o laboratório). Doses de testosterona para terapia
de reposição de testosterona (TRT) variam de 200 a 250 mg a cada 2 - 3 semanas. As
principais formulações de testosterona farmacêuticas usadas aqui no Brasil são a
Durateston (um blend com 4 ésteres de testosterona) e o Deposteron (éster cipionato).
O uso da testosterona remonta ao início do uso de hormônios no fisiculturismo,
mas tudo indica que os atletas russos de levantamento de peso foram os primeiros a
fazer uso desse hormônio no início dos anos 50. Nos Estados Unidos o Dr. Ziegler iniciou
os testes com a testosterona nos fisiculturistas de elite da época, inclusive John Grimek.
Porém, tudo indica que o uso não foi bem sucedido. De qualquer forma, parece que a
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testosterona só ganhou mais popularidade nos anos 80, quando os fisiculturistas
passaram a entender como controlar seus efeitos colaterais estrogênicos com drogas
antiestrogênicas, como o tamoxifeno e o clomifeno.
8.2) HIPOGONADISMO
A terapia de reposição de testosterona (TRT) é recomendada para homens que
apresentem sinais e sintomas de hipogonadismo (deficiência de testosterona) e
concentrações séricas de testosterona abaixo de ~ 300 ng/dl. Os sintomas e sinais de
hipogonadismo são inespecíficos e incluem: baixa libido, disfunção erétil, fadiga,
irritabilidade, humor deprimido, baixa concentração, baixa performance física, perda de
massa magra, perda de força, ganho de gordura, distúrbios do sono. Vários estudos
epidemiológicos associaram baixas concentrações de testosterona com maior
mortalidade por todas as causas, principalmente por doenças cardiovasculares.
Um simples exame de testosterona não serve para diagnosticar hipogonadismo,
uma vez que os níveis de testosterona podem variar de um dia para o outro e também
com o horário. As concentrações de testosterona também podem ser afetadas por
alguma doença aguda e também por deficiência nutricional. Uma grande perda de peso
pode reduzir os níveis de testosterona, assim como a obesidade e o diabetes tipo 2.
A secreção de testosterona segue um ritmo circadiano, com um pico na parte da
manhã. Por isso a recomendação para medir a testosterona é na parte da manhã. Caso
as concentrações séricas de testosterona fiquem abaixo de 300 ng/dl o exame deve ser
repetido para confirmar diagnóstico, uma vez que alguns homens (cerca de 30%) podem
apresentar valor baixo em uma primeira medida, mas não na segunda. Importante
deixar claro que o exame não é suficiente para diagnosticar hipogonadismo. É
necessário que o homem apresente alguns dos sinais e sintomas já descritos.
Existem basicamente dois tipos de hipogonadismo: o hipogonadismo primário
(testicular) ou hipergonadotrófico; e o hipogonadismo secundário ou hipogonadotrófico.
Em ambos os casos as concentrações séricas de testosterona estão reduzidas e a
espermatogênese comprometida. No hipogonadismo primário ou hipergonadotrófico os
níveis de gonadotrofinas estão elevados (LH e FSH), enquanto no hipogonadismo
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hipogonadotrófico as concentrações de gonadotrofinas estão reduzidas. Vou focar aqui
nesse livro no segundo caso, que é o que ocorre na obesidade, no envelhecimento e
também após a interrupção do uso de esteroides anabolizantes.
O excesso de testosterona e de estradiol, assim como o uso de esteroides
anabolizantes, exerce feedback negativo sobre o hipotálamo e a hipófise, inibindo a
secreção de LH e FSH. Com a inibição das gonadotrofinas ocorre supressão da
testosterona endógena e da espermatogênese. Após a interrupção do uso de esteroides
o eixo hipotálamo – hipófise – testicular (HPT) pode levar semanas ou meses para se
recuperar, anos em alguns poucos casos.
Na obesidade ocorre um aumento da aromatização, conversão da testosterona
em estradiol, devido a maior expressão da enzima aromatase no tecido adiposo. O
estradiol elevado promove feedback no eixo HPT, provocando redução das
gonadotrofinas e dos níveis de testosterona. Nesse caso a condição de hipogonadismo
pode ser revertida com a perda de peso e gordura.
Durante o processo de envelhecimento ocorre uma redução gradual dos níveis de
testosterona, cerca de 1% por ano depois dos 40 anos (uma redução de ~ 5 ng/dl por
ano para um homem com níveis de testosterona em ~ 500 ng/dl). Essa redução gradual
da testosterona com o envelhecimento também é chamada de andropausa. Existe uma
crença equivocada de que homens mais velhos devem ser tratados com testosterona
apenas porque eles tendem a apresentar níveis menores de testosterona que homens
mais jovens. É preciso deixar claro que a redução dos níveis de testosterona com o
envelhecimento é fisiológica e não necessariamente resultará em sinais e sintomas de
hipogonadismo.
Alguns homens podem ter testosterona total dentro da faixa fisiológica (300 – 1000
ng/dl), mas apresentar sinais e sintomas de hipogonadismo. Nesse caso é importante
monitorar os níveis de SHBG e testosterona livre, pois as concentrações de SHBG
podem aumentar com o envelhecimento e também em algumas doenças (HIV,
hipertireoidismo). Se as concentrações de SHBG se elevam os níveis de testosterona
livre são reduzidos. Por isso homens com concentrações de testosterona total perto do
limite inferior (300 ng/dl) podem apresentar sintomas de hipogonadismo.
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8.3) TRATAMENTO DO HIPOGONADISMO (TRT)
O tratamento do hipogonadismo pode melhorar a libido, a função erétil e a
atividade sexual. A TRT também melhora o humor e pode melhorar sintomas
depressivos. A reposição de testosterona também aumenta a densidade mineral óssea
(DMO), massa livre de gordura (MLG) e a força muscular, além de reduzir a gordura
corporal (visceral e intramuscular).
No capítulo 6 abordei algumas das principais formulações de testosterona
utilizadas na TRT. Os principais ésteres utilizados aqui no Brasil são o cipionato
(Deposteron), o Durateston e o éster mais longo undecanoato (Nebido). O enantato de
testosterona também é muito utilizado em outros países e tem um perfil farmacocinético
semelhante ao cipionato.
Um homem saudável produz 50 a 70 mg de testosterona por semana, o que
mantém as concentrações de testosterona na faixa fisiológica de 300 a 1000 ng/dl. Como
os ésteres enantato e cipionato possuem ~ 70 mg de testosterona a cada 100 mg do
éster, o uso de 100 mg por semana desses ésteres deixa as concentrações de
testosterona dentro da faixa fisiológica. Para homens mais velhos as dosagens podem
ser menores, já que homens idosos têm uma taxa mais lenta de excreção da
testosterona. Normalmente a recomendação é usar 200 a 250 mg desses ésteres a cada
2 ou 3 semanas, o que eleva a testosterona nos primeiros dias para níveis
suprafisiológicos e para níveis infrafisiológicos nos dias que antecedem a próxima
aplicação. Essas oscilações nas concentrações de testosterona podem provocar
oscilações desagradáveis na libido e no humor. Para evitar esse tipo de efeito colateral
seria melhor fazer aplicações semanais em dosagens menores de 75 a 100 mg por
semana. No entanto, isso pode dificultar a adesão ao tratamento.
Uma alternativa a esses ésteres mais curtos é o undecanoato de testosterona,
que devido a uma meia-vida mais longa pode ser aplicado a cada ~ 3 meses. O éster
undecanoato mantém os níveis de testosterona mais estáveis e dentro da faixa
fisiológica. O único inconveniente é a quantidade aplicada em uma única vez, cerca de
3 a 4 ml por injeção.
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Os géis de testosterona são outra alternativa muito utilizada e de fácil adesão.
Eles são normalmente utilizados em dosagens de 5 a 10 g por dia (gel 1%), que contêm
50 a 100 mg de testosterona, com uma biodisponibilidade em torno de 10%.
Os efeitos colaterais mais comuns da TRT são acne, pele oleosa e eritrocitose
(aumento do hematócrito acima de 54%). Ginecomastia, queda de cabelo e hipertrofia
da próstata são efeitos adversos menos comuns, assim como apneia do sono.
Muitos homens estão utilizando testosterona sem necessidade terapêutica, muitas
vezes em doses suprafisiológicas, como 200 a 500 mg por semana. Se o uso de
testosterona em doses fisiológicas (TRT) necessita de alguns cuidados e deve ter
monitoramento devido aos possíveis riscos no longo prazo, homens que usam doses
suprafisiológicas devem ter ainda mais cuidado, principalmente homens mais velhos.
Abaixo deixo um trecho das diretrizes da Sociedade Endócrina com recomendações
importantes sobre riscos e monitoramento da terapia de reposição de testosterona (TRT)
em homens com hipogonadismo:
Recomendamos não iniciar a TRT em pacientes que planejam fertilidade
a curto prazo ou que apresentem uma das seguintes condições: câncer
de mama ou próstata, nódulo ou endurecimento palpável da próstata,
PSA > 4 ng / mL, PSA > 3 ng / mL em homens com risco aumentado de
câncer de próstata (por exemplo, afro-americanos e homens com parente
de primeiro grau com câncer de próstata diagnosticado) sem avaliação
urológica adicional, hematócrito elevado, apneia obstrutiva do sono grave
não tratada, graves sintomas do trato urinário inferior, insuficiência
cardíaca não controlada, infarto do miocárdio ou acidente vascular
cerebral nos últimos 6 meses ou trombofilia. Sugerimos que, quando os
médicos instituam TRT, eles visem atingir concentrações de testosterona
no intervalo médio normal durante o tratamento com qualquer uma das
formulações aprovadas, levando em consideração a preferência do
paciente, farmacocinética, efeitos adversos específicos da formulação,
carga de tratamento e custo. Os médicos devem monitorar os homens
que recebem TRT usando um plano padronizado que inclui: avaliar
sintomas, efeitos adversos e adesão; medir as concentrações séricas de
testosterona e hematócrito; e avaliar o risco de câncer de próstata
durante o primeiro ano após o início da terapia com testosterona
(BHASIN, 2018).
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8.4) BLAST & CRUISE
Alguns usuários de esteroides anabolizantes e a grande maioria dos fisiculturistas
de alto nível (top amadores e profissionais) costumam fazer uso constante de esteroides.
O uso contínuo de esteroides anabolizantes é realizado das mais diversas formas, mas
o padrão é sempre manter o uso de testosterona como droga de base.
Um método comum entre alguns fisiculturistas que fazem uso contínuo de
esteroides é o BLAST & CRUISE, que é basicamente a alternância entre ciclos (BLAST)
e intervalos usando doses menores, as pontes (CRUISE) entre ciclos. Como o uso de
esteroides é muito variável, alguns atletas não fazem CRUISE, apenas alternam as
drogas nas fases de off season e pré-contest. Muitos podem indagar sobre os riscos
dessa prática, mas a verdade é que boa parte dos fisiculturistas não se importam muito
com a saúde e acreditam que reduzir as doses ou parar com o uso de hormônios pode
impedi-los de manter um físico competitivo. De certa forma, reduzir as dosagens e parar
com os hormônios realmente vai provocar uma regressão momentânea do físico, mas
qualquer atleta que se preocupe em se manter competitivo no longo prazo deve também
se importar com a saúde.
O BLAST é basicamente um ciclo, enquanto o CRUISE é uma ponte entre ciclos.
CRUISE ou ponte é a fase em que usuários de esteroides, que ficam hormonizados
constantemente, usam basicamente para três finalidades principais:
i)
Manutenção dos ganhos (massa magra) do ciclo (BLAST);
ii)
Manutenção da saúde, regulação das taxas alteradas durante o ciclo (TGO,
TGP, creatinina, colesterol (total, HDL, LDL), hemograma, quadro hormonal,
etc);
iii)
Quebrar platô, uma vez que os ganhos de massa magra tendem a estagnar
em ciclos muito longos (> 10 - 12 semanas), diminuindo significativamente o
custo-benefício de se manter em altas doses de esteroides anabolizantes.
Durante o CRUISE as doses de esteroides são reduzidas em relação ao BLAST,
e muitos atletas e usuários preferem usar apenas testosterona nessa fase. As dosagens
são muito variáveis, uma vez que depende muito do que o usuário utilizou no BLAST. O
fisiculturista de alto nível sabe que se ele usar 2 - 3 g de esteroides por semana durante
o BLAST, reduzir muito as dosagens levará a uma grande perda dos resultados (massa
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muscular) conquistados com o ciclo.
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Usuários avançados e muitos fisiculturistas
amadores costumam usar média 200 - 500 mg / semana de testosterona durante o
CRUISE. Alguns indivíduos também combinam outros esteroides com a testosterona,
mesmo nessa fase. A vantagem da testosterona durante o CRUISE é que ela tende a
imitar os efeitos de uma terapia de reposição de testosterona (TRT), mas em dosagens
suprafisiológicas. Vantagem no sentido de que o corpo tende a se adaptar ao uso de
hormônios no longo prazo, de forma que efeitos colaterais acabam ficando mais
controlados, e no caso da testosterona a toxicidade hepática não é uma preocupação.
Além disso, o uso de testosterona tem um impacto mais leve no perfil lipídico que a
maioria dos esteroides anabolizantes, principalmente os esteroides 17 alfa-alquilados.
Assim como na periodização do treinamento resistido, o CRUISE pode ser
considerado uma fase de recuperação, um período regenerativo, principalmente após o
período de competição. Além disso, todo atleta experiente sabe que não pode manter
um ganho de massa muscular contínuo por muito tempo, mesmo aumentando as
dosagens de hormônios. A estagnação é inevitável, já que não é possível aumentar a
síntese proteica muscular continuamente por muito tempo. A estagnação dos ganhos de
massa magra não é devido a saturação dos receptores androgênicos (AR), como
esclarecerei mais adiante.
A hipertrofia muscular depende da manutenção de um estado de balanço
nitrogenado positivo (síntese proteica > degradação proteica), que pode ser gerado com
estímulo do treinamento resistido (musculação), da dieta (superávit calórico) e com uso
de hormônios anabólicos (testosterona, esteroides, GH, insulina). No entanto, a ganho
de massa muscular também depende do potencial genético do indivíduo, que está
relacionado ao número de receptores androgênicos, mionúcleos, células satélites etc. É
possível aumentar o número de células satélites e mionúcleos nas fibras musculares com
treinamento resistido e uso de esteroides anabolizantes, mas ainda assim existe uma
limitação fisiológica. Dessa forma, a hipertrofia muscular é um processo lento e gradativo,
que tem limites fisiológicos que variam de acordo com o potencial genético de cada
indivíduo.
Quando um indivíduo atinge um platô nos ganhos de massa muscular, usando ou
não esteroides anabolizantes, isso não significa que esse platô é seu limite máximo para
ganhos de massa muscular. Significa apenas que ele atingiu um limiar para aumento da
síntese proteica muscular. Como a síntese proteica muscular depende do número de
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mionúcleos da fibra muscular, é necessário ter paciência para que o treinamento em
sinergia com a dieta e o uso de esteroides aumente o número de mionúcleos nas fibras
musculares. Por isso não é possível um atleta se tornar tão grande como um Mister
Olympia em um período curto de tempo (meses). De qualquer forma, manter o uso
contínuo de esteroides parece ser inevitável para se atingir o alto nível de musculosidade
dos fisiculturistas profissionais.
A duração das fases de BLAST e de CRUISE podem ser muito variáveis,
dependendo muito do objetivo e planejamento do atleta. O mais comum são ciclos
(BLAST) de 8 a 16 semanas, com períodos de CRUISE que duram acima de 4 semanas.
Nesse intervalo, o atleta e usuário experiente deveria ajustar seu treinamento e dieta
focando na recuperação e descanso do físico, e também deveria procurar o
acompanhamento de um médico experiente para realizar exames laboratoriais e verificar
sua saúde. Um exemplo simples de BLAST & CRUISE de um fisiculturista seria:
I)
BLAST: off season (10 semanas):
1-10 800 mg de cipionato de testosterona por semana
1-10 600 mg de decanoato de nandrolona por semana
II)
CRUISE (8 semanas):
1-8 300 mg de cipionato de testosterona por semana
III)
BLAST: pré-contest (12 semanas):
1-6 800 mg de cipionato de testosterona por semana
7-12 400 mg de cipionato de testosterona por semana
1-12 500 mg de acetato de trembolona por semana
7-12 500 mg de Masteron por semana
1-12 GH 4 UI por dia
Esse é um exemplo simplista, sem dar detalhes do uso de outros fármacos e drogas que
fisiculturistas utilizam. O objetivo é apenas mostrar uma estrutura simples do que é um
BLAST & CRUISE.
Esse tipo de estratégia não é uma regra entre atletas, apenas um exemplo bem
conhecido do que muitos fisiculturistas fazem. É muito comum ver fisiculturistas que
fazem uso contínuo de altas doses de esteroides e outras drogas. Além disso, boa parte
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dos atletas não realiza nenhum tipo de acompanhamento médico ou exames periódicos
de saúde. Nos últimos anos tem se tornado cada vez mais comum a morte de
fisiculturistas jovens. Os incidentes mais comuns envolvem problemas cardiovasculares,
quase sempre por algum tipo de atitude extrema do atleta em relação ao uso de drogas
(diuréticos, termogênicos, insulina, estimulantes etc.), que em conjunto com a dieta
restrita e o treinamento excessivo agravam ainda mais os problemas de saúde do atleta.
8.5) USO CRÔNICO DE TESTOSTERONA E ESTEROIDES
Existem muitas preocupações com o uso crônico de esteroides anabolizantes,
principalmente em relação aos efeitos dos esteroides na saúde cardiovascular. Na minha
opinião os efeitos dos esteroides sobre o sistema cardiovascular e o sistema nervoso
central são os mais preocupantes, principalmente em indivíduos que usam esteroides
frequentemente e em dosagens elevadas.
Compreender como os esteroides anabolizantes afetam negativamente o
organismo é importante para conscientizar os usuários sobre os riscos no longo prazo e
planejar estratégias de minimização de danos. É importante deixar claro que muitos
usuários de esteroides desconhecem os riscos do uso no longo prazo e muitos que
conhecem os riscos não estão dispostos a suspender o uso, mesmo conhecendo os
efeitos adversos. Ao invés de discriminar o usuário de esteroides os médicos deveriam
se preocupar em orientar sobre estratégias de minimização de danos. Acredito que esse
tipo de abordagem daria mais credibilidade aos profissionais de saúde e diminuiria o
risco de eventos adversos graves entre fisiculturistas e usuários de esteroides.
8.5.1)
EFEITOS
CARDIOVASCULARES
SUPRAFISIOLÓGICAS
DE
DOSES
A grande maioria das mortes entre fisiculturistas e usuários de esteroides ocorre
por doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular
cerebral (AVC). Muitos usuários me perguntam se é possível fazer uso crônico de
testosterona em doses suprafisiológicas (> 100 mg por semana) ou esteroides
anabolizantes sem prejudicar a saúde. Uma grande quantidade de estudos de caso e
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observacionais têm mostrado que o uso de esteroides anabolizantes prejudica o sistema
cardiovascular de diversas formas, como mostra o artigo de revisão de Vanberg (2010):
(1) Estudos ecocardiográficos mostram que doses suprafisiológicas de esteroides anabolizantes
androgênicos (EAAs) levam a alterações morfológicas e funcionais do coração. Isso inclui uma
tendência a produzir hipertrofia do miocárdio, um possível aumento dos diâmetros das câmaras
cardíacas, alterações inequívocas da função diastólica e do relaxamento ventricular e, muito
provavelmente, uma função contrátil do ventrículo esquerdo comprometida subclinicamente.
(2) Os EAA induzem um aumento leve, mas transitório, da pressão arterial. No entanto, o
significado clínico desse efeito permanece modesto.
(3) Além disso, o uso de EAAs confere um estado pró-trombótico aprimorado, mais
proeminentemente por meio da ativação da agregabilidade plaquetária.
(4) Os usuários de esteroides geralmente demonstram medidas desfavoráveis da reatividade
vascular envolvendo vasodilatação endotelial dependente ou endotelial independente. Um certo
grau de reversibilidade parece ser consistente, no entanto.
(5) Existe um conjunto abrangente de evidências documentando que os EAAs induzem várias
alterações no metabolismo lipídico. As alterações mais importantes são elevações
concomitantes do LDL e diminuição do HDL, efeitos que aumentam o risco de doença arterial
coronariana.
(6) O uso de EAAs parece conferir um risco aumentado de arritmia com risco de vida, levando à
morte súbita, embora os mecanismos subjacentes ainda estejam longe de serem elucidados.
Embora alguns desses efeitos deletérios dos esteroides sobre a saúde
cardiovascular sejam reversíveis após a interrupção dos uso de esteroides (hipertensão
arterial, função sistólica do ventrículo esquerdo), outros efeitos crônicos parecem ser
irreversíveis (função diastólica do VE, ateroscrerose coronariana, hipertrofia do
miocárdio). Além disso, o impacto dos esteroides anabolizantes sobre o sistema
cardiovascular está diretamente relacionado ao tempo de uso e às dosagens utilizadas.
Ou seja, quanto maior o tempo de uso e quanto maiores as dosagens, maior o risco
desses efeitos.
É importante deixar claro que alguns esteroides anabolizantes podem ser mais
prejudiciais que outros. Um bom exemplo são os esteroides 17 alfa-alquilados
(estanozolol, oxandrolona, Hemogenin, Dianabol, Halotestin), uma classe de esteroides
que além de ser hepatotóxica, tem um grande impacto negativo no perfil lipídico. Quando
se utiliza esses esteroides é comum observar nos exames laboratoriais grandes
reduções no HDL e grande aumento no colesterol total e no LDL. Portanto, indivíduos
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que fazem uso contínuo de esteroides 17 aa estão mais sujeitos a desenvolver doença
arterial coronariana prematura (aterosclerose).
A testosterona, assim como outros esteroides injetáveis (nandrolona, boldenona,
Primobolan e Masteron) tem um impacto menos agressivo no perfil lipídico, mas pode
promover uma significativa redução no HDL. Por esse motivo indivíduos que fazem uso
contínuo de esteroides devem monitorar o perfil lipídico pelo menos a cada 3 – 6 meses.
Seguir uma alimentação saudável (rica em fibras, frutas, vegetais e gorduras
monoinsaturadas e poli-insaturadas) normalmente não consegue evitar essas alterações
no perfil lipídico, principalmente quando se utiliza esteroides 17 aa. O uso prolongado de
esteroides 17 aa pode ser extremamente prejudicial à saúde cardiovascular.
Outro problema comum com o uso de dosagens suprafisiológicas de esteroides
anabolizantes é o aumento do hematócrito, que em muitos casos ultrapassa os 54%.
Esse aumento da viscosidade plasmática aumenta o risco de infarto do miocárdio, AVC
e tromboembolismo. Na terapia de reposição de testosterona quando o hematócrito se
eleva acima de 54% (eritrocitose), a recomendação médica é a suspensão do uso de
testosterona ou a prática da flebotomia (sangria terapêutica). A sangria terapêutica é um
procedimento similar à doação de sangue, mas o sangue é descartado ao final do
procedimento. A sangria terapêutica deve ser prescrita por um médico e é realizada em
bancos de sangue, onde normalmente se retiram 500 ml de sangue.
Mesmo que o usuário de esteroides anabolizantes tenha grande cuidado com a
saúde, realizando exames periódicos e evitando alterações nocivas no perfil lipídico, na
pressão arterial e no hematócrito, ele ainda está sujeito aos efeitos deletérios do
esteroide no sistema cardiovascular, em particular efeitos diretos no músculo cardíaco
que afetam a capacidade de contração e relaxamento do coração, aumentando o risco
de insuficiência cardíaca. O uso de esteroides anabolizantes enfraquece o coração e
esses efeitos certamente são agravados pelo uso combinado de outras drogas, como
estimulantes (efedrina, potenay, etc.), hormônios tireoidianos, insulina, diuréticos e GH.
Importante deixar claro que esses efeitos não se aplicam a homens que
fazem TRT, pois nesse caso as concentrações de testosterona permanecem em
níveis fisiológicos, entre 300 a 800 ng/dl.
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Nos últimos anos parece ser cada vez mais comum o relato de mortes de
fisiculturistas jovens por doenças cardiovasculares. A mais chocante nos últimos tempos
foi a morte do jovem Dallas McCarver, de apenas 26 anos, de infarto do miocárdio.
Segundo a autópsia seu coração estava pesando mais de 800 g, enquanto um coração
normal pesa em média 300 g. Termino essa seção com o comovente relato do
fisiculturista Mike Matarazzo, que faleceu em 2014, em decorrência de problemas
cardiovasculares devido ao grande abuso de drogas e estratégias extremistas:
“Oh, Deus, por onde eu começo? Eu teria que dizer que tudo o que levou para o meu problema
de coração começou na hora que eu comecei a levar a sério o fisiculturismo competitivo. A fim
de ficar maior, eu comeria 2-3 kg de carne vermelha por dia, sem legumes. E eu ficava longe de
frutas por causa do seu açúcar.
Pior eram os produtos químicos. Eu tenho tantas memórias de estar sozinho em um quarto de
hotel durante a semana, cinco dias ou dois dias antes de uma competição, e fazer coisas
indizíveis para meu corpo, esteroides, GH, diuréticos, qualquer coisa e tudo que nós, como
fisiculturistas fazemos para alcançar um certo olhar.
Isso tem afetado toda a minha vida, por isso a todos os caras que estão em uma eterna busca
para ter 53 cm de braço e 51 cm de panturrilha e que são tão vaidosos sobre a sua atitude de
nunca querer mudar, eu digo: ‘Mude sua atitude’. Preocupe-se em manter esse corpo de vocês
tão saudável quanto possível, porque vai ter que durar não apenas para sua próxima competição
ou para o final do seu contrato de musculação, mas por um longo tempo. E um longo tempo para
um ser humano não é nada. Ele passa bem rápido, ainda mais rápido quando sua saúde se foi
e você não tem nada para se sustentar”.
Mike Matarazzo (1966-2014)
8.5.2) TESTOSTERONA E INFERTILIDADE
Como visto no capítulo 7 o uso de esteroides anabolizantes inibe o eixo
hipotálamo – pituitária/hipófise – testicular (eixo HPT), através de um feedback negativo,
que suprime a secreção de GnRH pelo hipotálamo e a secreção das gonadotrofinas (LH
e FSH) pela hipófise. O LH estimula a produção de testosterona nas células de Leydig
nos testículos, enquanto o FSH estimula a espermatogênese nas células de Sertoli.
Contudo, a completa maturação dos espermatozoides também precisa dos efeitos da
testosterona (testosterona intratesticular).
Com a inibição do eixo os níveis de FSH são drasticamente reduzidos, o que
dificulta a manutenção da espermatogênese. O uso de testosterona exógena mantém as
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concentrações séricas de testosterona, mas suprime a secreção de LH e,
consequentemente, a produção de testosterona intratesticular, que é essencial para a
produção de espermatozoides. Cerca de 40 a 70% dos usuários de testosterona e
esteroides anabolizantes ficam azoospérmicos, sem produzir espermatozoides. Os
demais ficam oligospérmicos, mantendo uma baixa produção de espermatozoides (figura
8.1). Ou seja, o uso de testosterona e esteroides não garante um efeito contraceptivo
eficiente, embora a maioria dos usuários fique infértil durante o uso. É comum relatos de
casos de fisiculturistas e usuários de esteroides que engravidaram suas companheiras
durante o uso de esteroides.
Figura 8.1. Nesse estudo feito com 33 homens saudáveis, com idades entre 21 e 41 anos, os
indivíduos receberam 200 mg de enantato de testosterona por semana por até 18 meses. A
azoospermia foi alcançada em 18 homens (55%) após 20 semanas de tratamento, momento em
que os 15 restantes (45%) se estabilizaram com uma densidade média de espermatozóides de
2,0 +/- 0,8 (+/- DP) x 106 / mL. Esses 15 indivíduos permaneceram oligospérmicos durante o
restante do estudo (ANDERSON, 1996).
A recuperação do eixo HPT e da fertilidade após o uso prolongado esteroides e
testosterona acontece espontaneamente, mas essa recuperação costuma ser lenta,
podendo levar vários meses ou mesmo anos em alguns casos. Diversos estudos
mostram que é possível acelerar a recuperação dos níveis de testosterona e da
espermatogênese através do uso de hCG e SERMs (tamoxifeno e clomifeno). Abaixo
um exemplo de estratégias a serem utilizadas em um protocolo de recuperação da
fertilidade:
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
Como regra, todos os homens que estão tentando engravidar devem
parar imediatamente de tomar testosterona ou EAAs. Isso pode incluir
homens que tomam EAAs não prescritos ou homens que recebem TRT
por uma história estabelecida de hipogonadismo. Esses homens devem
iniciar um regime que consiste em 3.000 UI de HCG por via intramuscular
ou subcutânea a cada dois dias. Citrato de clomifeno 25 a 50 mg
diariamente também deve ser incorporado para ajudar a promover a
produção de FSH e a função da hipófise. Durante esse período, análises
de sêmen repetidas devem ser obtidas a cada 2 a 3 meses, juntamente
com os exames laboratoriais. (TATEM, 2020).
O estudo de Wenker (2015), utilizando dados disponíveis de clínicas de
infertilidade, mostrou que 47 homens, de um total de 49 (~ 96%), que faziam uso de
testosterona conseguiram recuperar a espermatogênese tendo como base um protocolo
que utilizava hCG (3000 UI a cada 2 dias) em combinação com clomifeno, tamoxifeno,
anastrozol ou hormônio folículo estimulante recombinante (as combinações foram
diversificadas de acordo com o médico). O tempo médio de retorno da espermatogênese
foi de 4,6 meses.
Outra dúvida recorrente entre usuários de esteroides é se é possível manter
a fertilidade durante o uso de testosterona?
Alguns estudos têm mostrado que o uso de hCG em dosagens de 250 – 500 UI
por dia ou a cada dois dias durante a TRT é capaz de manter, ou até mesmo aumentar,
as concentrações de testosterona intratesticular, mantendo a espermatogênese e a
fertilidade em homens fazendo uso de testosterona. Nesses casos é prudente realizar
uma análise de sêmen durante a terapia com testosterona e hCG. A efetividade do uso
de hCG para manter a fertilidade em indivíduos que fazem uso de doses suprafisiológicas
de testosterona ou esteroides anabolizantes é desconhecida.
8.6)
O
MITO
DA
(DOWNREGULATION)
SATURAÇÃO
DE
RECEPTORES
Existe uma forte crença no meio do fisiculturismo e entre usuários de esteroides
de que o uso constante de doses suprafisiológicas de esteroides possa levar a uma
saturação dos receptores androgênicos (AR), nesse caso entendida como uma
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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infrarregulação ou “downregulation” (redução no número de receptores) do AR. Essa
crença se baseia na ideia de que os ganhos com esteroides anabolizantes atingem um
platô depois de um determinado tempo de uso. Essa ausência de ganhos de massa
magra (platô) é interpretada erroneamente como uma infrarregulação dos receptores
androgênicos.
Estudos com doses suprafisiológicas de testosterona mostraram que a
testosterona aumentou o número de células satélites e mionúcleos em homens
saudáveis usando 300 mg e 600 mg de enantato por semana (SINHA-HIKIM, 2003).
As células satélites são o local predominante de expressão do receptor
androgênico (SINHA-HIKIM, 2004). Logo, não faz sentido dizer que a testosterona
e os esteroides anabolizantes promovam downregulation dos receptores
androgênicos (popularmente conhecido como "fechar / saturar receptor"). Caso
houvesse downregulation do AR, a testosterona deixaria de fazer efeito com o tempo,
fazendo com o indivíduo perdesse massa muscular com a redução da síntese proteica
muscular. A prática não mostra perda de massa muscular com doses altas de
testosterona, apenas uma estagnação nos ganhos de MLG (massa livre de gordura). Os
estudos de Bhasin mostram que os ganhos de massa muscular são dose-dependente
em jovens e idosos usando dosagens suprafisiológicas de testosterona por 20 semanas.
Existem receptores de hormônios que podem sofrer downregulation, como é o
caso dos receptores beta 2 adrenérgicos (receptores da adrenalina e noradrenalina) e
os receptores de insulina. Isso é bem conhecido nos livros de fisiologia. No entanto, é
uma extrapolação dizer que o mesmo ocorre com os receptores de hormônios
esteroides, como é o caso do receptor androgênico (AR).
A exposição crônica a níveis elevados de insulina e a obesidade levam a um
downregulation dos receptores de insulina, enquanto o exercício e a perda de peso e
gordura fazem upregulation dos receptores, melhorando a responsividade à insulina.
Também é bem conhecido que fármacos agonistas dos receptores beta 2
adrenérgicos, como clembuterol e efedrina, promovem downregulation dos receptores
beta 2 com o tempo de exposição e dosagens elevadas. Por esse motivo, essas drogas
termogênicas perdem eficácia com o tempo de uso, bem diferente do uso prolongado de
esteroides anabolizantes.
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Muitos fisiculturistas, indivíduos transexuais (mulher → homem) e indivíduos com
doenças crônicas (AIDS, sarcopenia), utilizam testosterona e esteroides anabolizantes
de forma crônica para ganhar e manter massa muscular. Se o uso prolongado de
esteroides anabolizantes ou testosterona promovesse downregulation dos receptores
androgênicos os ganhos de massa muscular não seriam sustentáveis. Quando um
indivíduo interrompe o uso de esteroides anabolizantes ele de fato perde massa
muscular. Quando um indivíduo atinge um platô nos ganhos de massa muscular usando
esteroides anabolizantes isso não significa que esse platô é seu limite máximo para
ganhos de massa muscular. Significa apenas que ele atingiu um limiar para aumento da
síntese proteica muscular, mantendo um balanço nitrogenado neutro (síntese proteica =
degradação proteica).
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Azoospermia and Oligozoospermia in a Male Contraceptive Study. II. Pharmacokinetics
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
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MULHERES E TESTOSTERONA
9.1) INTRODUÇÃO
O uso de testosterona por mulheres tem aumentado muito nos últimos anos,
principalmente para fins estéticos (ganho de massa muscular) e melhora na função
sexual. A única indicação clínica para o uso de testosterona em mulheres é o tratamento
da baixa libido. Além disso, muitos médicos prescrevem testosterona para mulheres com
base na avaliação de exames laboratoriais. No entanto, não existe uma associação clara
entre níveis de testosterona e baixa função sexual em mulheres. Os principais métodos
laboratoriais para medir testosterona na faixa fisiológica das mulheres (15 – 75 ng/dl)
não são precisos. Portanto, o uso terapêutico de testosterona em mulheres não é uma
terapia de reposição (TRT) como nos homens e sim um tratamento farmacológico com
a finalidade de melhorar a função sexual.
Apesar do uso da testosterona e dos esteroides anabolizantes não ter indicação
para fins estéticos, muitas mulheres têm utilizado esses hormônios com a finalidade de
ganhar massa muscular e perder gordura. Porém, para promover ganhos expressivos de
massa muscular é necessário que a testosterona e os esteroides anabolizantes sejam
utilizados em dosagens suprafisiológicas, o que aumenta o potencial para efeitos
adversos. Além dos efeitos colaterais comuns dos esteroides (acne, queda de cabelo,
hepatotoxicidade, efeitos cardiovasculares etc.), as mulheres ainda podem sofrer com
efeitos androgênicos de virilização, como hirsutismo, engrossamento da voz, hipertrofia
do clitóris e masculinização do corpo e da face.
Nesse capítulo pretendo dar uma ideia geral sobre o uso de testosterona e
esteroides anabolizantes por mulheres, não só falando dos efeitos estéticos, mas
também esclarecendo sobre os efeitos colaterais e efeitos sobre o metabolismo das
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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mulheres. Os efeitos dos esteroides anabolizantes nas mulheres, assim como nos
homens, são dose dependente. Por isso, quanto maior a dose, maior o ganho de força e
massa muscular, maior também o risco de efeitos colaterais, principalmente virilização.
9.2) ESTROGÊNIO E TESTOSTERONA NAS MULHERES
O estrogênio existe no corpo da mulher sob 3 formas diferentes: estradiol, estrona
e estriol. A estrona e o estriol tem fraca atividade biológica no organismo, sendo o
estradiol o estrogênio mais potente em atividade biológica. Mais de 95% do estradiol é
produzido nos ovários e esse hormônio desempenha importantes efeitos fisiológicos no
organismo. Nos ossos esse hormônio tem efeito anabólico, contribui para o estirão de
crescimento durante a puberdade e estimula o fechamento epifisário em ambos os
sexos, o que contribui para cessar o crescimento. Além disso, o estradiol desempenha
efeitos importantes e benéficos no perfil lipídico, sistema cardiovascular e sistema
nervoso central. Mas além desses efeitos fisiológicos comuns em ambos os sexos, o
estrogênio é o hormônio responsável pelas características sexuais secundárias
femininas, sendo responsável pela distribuição do tecido adiposo em locais específicos
do corpo, como glúteo, coxas e glândulas mamárias.
A testosterona também desempenha importantes funções fisiológicas no
organismo da mulher, influenciando o desejo sexual (libido), a energia, o humor e o bemestar. Além disso, a testosterona desempenha um importante papel no tecido muscular,
pois promove aumento da síntese proteica muscular. A queda dos níveis de testosterona
em homens e mulheres mais velhos está associada a perda de massa muscular.
Mulheres produzem cerca de 10 vezes menos testosterona que os homens, o que dá a
elas características físicas distintas dos homens, como: voz aguda, poucos pelos
corporais, mais cabelo na cabeça e menos massa muscular. O uso de esteroides
androgênicos por mulheres pode alterar todas essas características, promovendo efeitos
virilizantes nas mulheres. Esses efeitos colaterais são discutidos logo adiante.
Além da testosterona as mulheres podem produzir outros andrógenos, que são
precursores obrigatórios dos estrógenos (via aromatização) e também precursores da
testosterona, o androgênio mais importante biologicamente. Os principais androgênios
circulantes incluem SDHEA (sulfato de dehidroepiandrosterona), androstenediona e
testosterona, que são secretados pelos ovários e também pelas glândulas suprarrenais.
Os ovários são responsáveis por cerca de 25% da síntese de testosterona em mulheres
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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jovens, enquanto o restante desse hormônio é produzido pelas glândulas suprarrenais
(25%) e através de conversão periférica (50%) dos outros andrógenos (SDHEA e
androstenediona). A di-hidrotestosterona (DHT) também é um hormônio presente nas
mulheres, principalmente na pele, através da conversão da testosterona pela ação da
enzima 5 α-redutase.
As mulheres produzem cerca de 0,25 a 1 mg de testosterona por dia (2 a 7 mg
por semana), enquanto os homens produzem cerca de 7 a 10 mg de testosterona por
dia. Enquanto os valores de referência das concentrações séricas de testosterona variam
de 300 a 1000 ng/dl para os homens, nas mulheres esses valores vão de 15 a 75 ng/dl.
O conhecimento desses valores é importante para entender os efeitos das dosagens de
esteroides anabolizantes nas mulheres. Por produzirem muito menos testosterona que
os homens as mulheres também são mais sensíveis às elevações dos níveis de
testosterona e, consequentemente, mais sensíveis ao uso de esteroides androgênicos.
Isso é muito importante, pois tanto os ganhos de massa muscular, como a virilização,
são efeitos dose-dependente. Doses maiores promovem maiores ganhos de peso,
massa muscular e também aumentam os riscos de efeitos colaterais virilizantes, tais
como:
hirsutismo
(crescimento
de
pelos
corporais
com
padrão
masculino),
engrossamento da voz e hipertrofia do clitóris. Por esse motivo, mulheres que buscam
mudar seu físico com o uso de esteroides anabolizantes devem estar atentas, pois
qualquer dose pouco acima dos limites fisiológicos já aumenta o risco de efeitos
colaterais virilizantes.
9.3) TESTOSTERONA, ESTEROIDES E HIPERTROFIA
Assim como nos homens, a testosterona também promove ganhos de força e
massa muscular em mulheres. Estudos mostram que existe uma correlação entre níveis
de testosterona e massa magra em mulheres com síndrome de ovários policísticos
(SOP) e também uma associação entre os níveis de testosterona livre e massa magra
em mulheres na pós-menopausa. No entanto, mulheres com excesso de testosterona
também possuem mais tecido adiposo. Mulheres com concentrações mais elevadas de
testosterona têm maior vantagem em eventos esportivos que envolvem força muscular.
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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Em alguns eventos esportivos, atletas do sexo feminino com níveis altos
ou muito altos de androgênio (seja de origem endógena ou exógena) têm
um benefício competitivo estimado de 2 a 5% em relação àquelas com
níveis de androgênio dentro da faixa feminina normal. Esses achados
devem ser levados em consideração na controvérsia real sobre a
elegibilidade de mulheres com hiperandrogenismo para competir no
esporte feminino (BERMON, 2017).
Os efeitos anabólicos e androgênicos da testosterona e dos esteroides
anabolizantes podem ser observados claramente em fisiculturistas mulheres que
apresentam volume muscular semelhante aos homens, assim como traços visíveis de
virilização e masculinização do corpo e da face. Estudos com dosagens suprafisiológicas
de testosterona e esteroides são quase inexistentes em mulheres, justamente pelos
efeitos virilizantes dos andrógenos.
Alguns estudos com mulheres com baixa libido usam doses levemente
suprafisiológicas com a finalidade de melhorar a função sexual. O estudo de Huang
(2014) avaliou os efeitos de diferentes doses de testosterona na função sexual,
composição corporal, desempenho muscular e função física em mulheres saudáveis
histerectomizadas (sem útero) com e sem ooforectomia (sem ovários). As mulheres do
estudo tinham baixas concentrações séricas de testosterona (< 31 ng/dl) e foram
divididas em 5 grupos que usaram dosagens diferentes de testosterona (tabela 9.1). As
mulheres do estudo usaram enantato de testosterona e o único grupo com ganhos
significativos de massa livre de gordura (MLG) foi o grupo que usou a dosagem mais alta
(25 mg por semana), atingindo a concentração média de 210 ng/dl. Esse grupo teve um
ganho médio de 1,8 kg na MLG sem nenhuma alteração na massa gorda. As mulheres
do estudo usaram testosterona por 24 semanas (6 meses) e foram observados poucos
efeitos colaterais androgênicos (acne, hirsutismo) e nenhum efeito adverso grave. Esse
estudo mostra que os efeitos anabólicos da testosterona exógena são alcançados
apenas com concentrações séricas muito acima das concentrações fisiológicas (15 – 75
ng/dl).
Como as formulações de testosterona disponíveis no mercado são direcionadas
para homens, a grande maioria das mulheres que usa esteroides evita usar testosterona
injetável. No Brasil só temos os ésteres Durateston e Deposteron (cipionato) em
concentrações de 250 mg/ml e 200 mg/2ml respectivamente. Dessa forma, fica muito
difícil ajustar uma dose de testosterona eficiente anabolicamente sem grandes riscos de
efeitos colaterais. Importante deixar claro que não existe recomendação de uso de
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testosterona para fins estéticos em mulheres (devido aos potenciais riscos à saúde),
apenas para tratamento de baixa libido ou transtorno do desejo sexual hipoativo
(TDSH).
Tabela 9.1. Enantato de testosterona em mulheres saudáveis com idade entre 21 e 60 anos que
foram submetidas a histerectomia com ou sem ooforectomia. As mulheres tinham testosterona
total < 31 ng/dl e/ou testosterona livre < 3,5 pg/ml e receberam um regime transdérmico
padronizado de estradiol durante o período de execução de 12 semanas.
Dosagem
Testosterona (ng/dl)
Placebo
19
3 mg
78
6,25 mg
102
12,5 mg
128
25 mg
210
O gel de testosterona é a formulação mais utilizada pelas mulheres, devido a
facilidade de aplicação e um risco menor de atingir dosagens muito elevadas. De
qualquer forma, as formulações disponíveis no mercado (Androgel) também são
direcionadas para homens e muitas mulheres acabam recorrendo ao uso de géis de
testosterona fornecidos por farmácias de manipulação. Nos homens o gel de
testosterona tem eficácia limitada para gerar hipertrofia em homens sem deficiência de
testosterona porque é difícil atingir concentrações suprafisiológicas de testosterona (>
900 ng/dl). Já nas mulheres o gel de testosterona atinge concentrações suprafisiológicas
facilmente para a faixa das mulheres (> 75 ng/dl), podendo facilmente gerar hipertrofia.
Tabela 9.2. Concentrações séricas de testosterona após aplicação de testosterona em gel em
mulheres com nível sérico basal de 1,1 nmol/l (32 ng/dl).
Dosagem
Testosterona (nmol/l)
Testosterona (ng/dl)
10 mg
3,2
92
20 mg
7,2
207
É possível para as mulheres usar os géis de testosterona disponíveis para
homens, desde que se faça um ajuste na dose. É possível usar os sachês de 2,5 ml que
contém 25 mg de testosterona, ajustando a dose para 0,5 – 1,0 ml, que seria equivalente
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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a 5 – 10 mg de testosterona. A tabela 9.2 mostra os níveis séricos de testosterona em
mulheres após aplicação de 10 mg e 20 mg de testosterona em gel.
Os esteroides anabolizantes mais populares de uso entre as mulheres são
oxandrolona (o esteroide mais popular entre o público feminino), estanozolol, boldenona,
Primobolan e testosterona em gel. Muitas mulheres, principalmente atletas de força e
fisiculturistas, também usam nandrolona, testosterona (ésteres), Hemogenin, Masteron,
trembolona, Proviron. O uso de Dianabol não é tão comum, segundo a minha experiência
e observação, provavelmente pelos efeitos virilizantes e também por causar muita
retenção hídrica. Já o Halotestin e o turinabol são de difícil acesso e há poucos relatos
de uso. Os ciclos de esteroides para mulheres geralmente são mais simples que os dos
homens e a maioria costuma usar apenas um esteroide no ciclo. Atletas de fisiculturismo
de categorias que exigem mais definição e/ou volume muscular (Womens Physique,
Bodybuilding feminino) geralmente usam doses maiores e fazem combinações de
esteroides. Combinar esteroides geralmente acaba por elevar a dose total de
androgênios, potencializando os efeitos colaterais virilizantes. Nessas categorias que
exigem mais condicionamento (definição muscular) e/ou volume muscular as atletas
tendem a apresentar mais traços de virilização e masculinização no corpo e na face.
9.4) ESTEROIDES ANABOLIZANTES E VIRILIZAÇÃO
Os esteroides anabolizantes podem provocar uma grande diversidade de efeitos
colaterais em homens e mulheres e muitos desses efeitos são comuns aos dois sexos
(acne, queda de cabelo, aumento da pressão arterial, hepatotoxicidade, redução do
colesterol HDL e aumento do LDL). No entanto, existem alguns efeitos particulares dos
esteroides anabolizantes que são característicos das mulheres. São os efeitos
virilizantes, tais como: engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris (clitoromegalia),
redução dos seios, hirsutismo e amenorreia (ausência de menstruação). Os efeitos
virilizantes mais agressivos incluem a masculinização do corpo e da face (rosto
quadrado, cintura larga). Acne e alopecia (queda de cabelo) também são efeitos
colaterais associados ao uso de andrógenos, sendo a acne um dos efeitos colaterais
mais comuns com o uso de esteroides. Todos esses efeitos adversos dependem do tipo
de droga, da dose utilizada, do tempo de uso e da resposta individual (genética).
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
Muitos desses efeitos colaterais associados ao uso de esteroides anabolizantes
por mulheres também se manifestam em mulheres com síndrome de ovários policísticos
(SOP), uma doença que afeta 5 a 10% das mulheres e tem como algumas
características: hiperandrogenismo (excesso de produção de andrógenos como
testosterona e SDHEA), ciclos menstruais irregulares, presença de ovários policísticos e
em alguns casos resistência à insulina. Isso faz com que muitas mulheres com SOP
apresentem hirsutismo, acne, obesidade e infertilidade. Mulheres que usam esteroides
anabolizantes podem apresentar muitos sintomas semelhantes a SOP (devido ao
aumento do nível circulante de andrógenos), incluindo aumento da resistência à insulina.
Por isso efeitos colaterais como acne e hirsutismo são muito comuns em usuárias de
esteroides, mesmo em doses terapêuticas próximas dos níveis fisiológicos.
Muitas mulheres relatam virilização mesmo em doses de 10 mg por dia de um
esteroide como oxandrolona. Porém, pelo que vejo entre as atletas, os efeitos de
virilização são mais expressivos quando se utilizam doses acima de 15 - 20 mg por dia,
considerando oxandrolona e estanozolol como referência, embora esse último
demonstre ser mais virilizante. Testosterona é um esteroide muito virilizante,
principalmente em doses superiores a 25 mg por semana e, pelo que tenho observado,
seu efeito virilizante em mulheres acaba sendo superior ao da trembolona (comparando
mg por mg). Esteroides injetáveis como Masteron, Primobolan e boldenona são mais
toleráveis em doses abaixo de 100 mg por semana, embora virilização também possa
ocorrer nessas doses em menor grau. O uso prolongado tende a agravar os efeitos
colaterais de virilização.
Com base em minhas observações e relatos de muitas usuárias de esteroides
anabolizantes montei uma escala de virilização, ordenada do esteroide mais virilizante
para o menos virilizante. Os esteroides com maior potencial de virilização também
parecem ter o maior potencial anabólico. Segue abaixo a escala de virilização Haluch:
1. Testosterona
2. Dianabol
3. Nandrolona
4. Estanozolol
5. Turinabol
6. Trembolona
7. Oxandrolona
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
Dudu Haluch
8. Primobolan
9. Masteron
10. Hemogenin
11. Boldenona
12. Proviron
Essa escala não pretende ser exata, apenas uma aproximação, com a ideia de
informar as mulheres quais esteroides oferecem maior risco de efeitos virilizantes (pêlos
faciais e corporais em excesso, engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris, acne,
redução dos seios, calvície, masculinização do corpo e da face). A escala considera a
comparação mg/mg, por isso é bom ter cautela. Por exemplo, testosterona pode ser
usada por mulheres, mas a dose deve ser mais baixa comparando aos demais
esteroides.
Embora muitos acreditem que esteroides ajudem a na queima de gordura, em
mulheres esse efeito não é tão expressivo e muitas podem ter dificuldade de perder
gordura. Podem até mesmo ganhar gordura e reter água, provavelmente porque algumas
mulheres mais resistentes à insulina tenham uma piora da sensibilidade à insulina com
o uso de andrógenos sintéticos (como na SOP).
Amenorreia (ausência de menstruação) é muito comum em usuárias de esteroides
e pode levar alguns meses para o ciclo menstrual voltar ao normal após a interrupção do
uso de esteroides. As concentrações de FSH e SHBG podem estar reduzidas em
usuárias de esteroides androgênicos, assim como na SOP; mas os níveis de estradiol,
estrona e LH parecem não sofrer alterações. Mesmo com o uso de esteroides
anabolizantes algumas mulheres podem continuar ovulando e o uso de esteroides deve
ser interrompido imediatamente caso ocorra gravidez, pois o feto sofre risco de
virilização.
É muito comum entre atletas femininas de fisiculturismo o implante de silicone nos
seios, justamente porque a combinação do uso de esteroides com uma dieta restrita em
calorias para perda de gordura, faz com que as mulheres tenham uma grande perda de
gordura no tecido mamário. Além disso, o ganho de massa muscular nessa região
também piora o quadro estético. Por esse motivo muitas atletas deixam de realizar
exercícios para o peito.
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9.5)
DROGAS
ANTIANDRÓGENOS
PARA
Dudu Haluch
COMBATER
VIRILIZAÇÃO:
Existem diversas drogas que podem ser usadas para tratar os efeitos colaterais
virilizantes dos esteroides anabolizantes, mas o uso dessas drogas pode provocar uma
série de outros efeitos adversos. Por isso é muito importante que mulheres que se
aventurem no uso de esteroides anabolizantes tenham cautela com o uso dessas drogas.
Para mulheres que desejam otimizar os efeitos estéticos dos esteroides, o que não é
recomendado pela medicina legal, o uso de estrógeno em conjunto tende a minimizar os
efeitos anabólicos dos esteroides androgênicos, assunto que discuto mais adiante.
Assim como para os homens, o uso de doses suprafisiológicas de esteroides
anabolizantes para fins estéticos em mulheres não pode ser prescrito por médicos ou
qualquer outro profissional da área de saúde.
As drogas mais utilizadas para tratar os efeitos virilizantes dos esteroides são os
contraceptivos orais (anticoncepcionais), geralmente uma combinação de um estrógeno
(etinilestradiol) com uma progestina (composto sintético com efeitos similares ao da
progesterona). Essas drogas reduzem a testosterona através da supressão do LH e
devido ao estímulo do aumento do SHBG, reduzindo testosterona livre. Além disso,
estrogênio em excesso vai competir com os níveis de androgênio, reduzindo seus
receptores em alguns tecidos e esse efeito é mais importante em usuárias de esteroides
anabolizantes. Mais adiante discuto os efeitos do uso dos contraceptivos orais na
produção de testosterona e como esses hormônios afetam usuárias de esteroides
anabolizantes.
Além dos contraceptivos orais, existem drogas que combatem os efeitos colaterais
androgênicos de forma mais direta, bloqueando o receptor androgênico, inibindo a
síntese de andrógenos e, em alguns casos, inibindo a atividade da enzima 5α-redutase,
responsável por converter testosterona em DHT. Essas drogas, chamadas de
antiandrógenos, são usadas geralmente no tratamento de doenças ou problemas
causados por excesso de andrógenos, principalmente em mulheres com SOP. Entre
esses problemas, causados por excesso de andrógenos, podemos citar a acne, a
alopecia androgenética feminina (calvície) e o hirsutismo; mas os efeitos virilizantes dos
esteroides anabolizantes (engrossamento da voz, clitoriomegalia, amenorreia) também
podem ser controlados ou revertidos no curto prazo com o uso de antiandrógenos. As
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drogas antiandrogênicas mais usadas para tratar mulheres com efeitos colaterais por
excesso de androgênios são a espironolactona e o acetato de ciproterona (progestina
antiandrogênica).
A espironolactona pode bloquear a ação dos androgênios bloqueando sua
produção periférica, bloqueando os receptores androgênicos e também através de uma
inibição significativa da enzima 5α-redutase. A espironolactona é um diurético poupador
de potássio que é antagonista da aldosterona e também possui atividade
antiandrogênica. Para o tratamento de problemas causados por excesso de androgênios
(acne, hirsutismo, virilização) as doses usadas geralmente variam de 100 a 200 mg por
dia.
O acetato de ciproterona é uma droga antiandrogênica derivada da progesterona
com propriedades progestagênicas e antiandrogênicas. Esse fármaco atua como um
antiandrógeno através da competição com a testosterona e o DHT pela ligação com o
receptor androgênico. É usada geralmente em doses de 50 a 100 mg por dia, geralmente
combinada com algum contraceptivo oral (anticoncepcional).
A finasterida é uma droga que inibe a atividade da enzima 5α-redutase e também
pode ter utilidade para combater os efeitos colaterais causados pelo excesso de
androgênios na mulher. Essa droga foi usada inicialmente para o tratamento da
hipertrofia benigna da próstata. As doses para o tratamento da queda de cabelo, da acne
e do hirsutismo variam de 1 a 5 mg por dia.
Uma droga que parece eficaz parar tratar a perda de cabelo é o Minoxidil, que não
é um antiandrógeno, mas sim uma droga que estimula o crescimento do cabelo,
retardando a calvície.
Os antiandrógenos podem causar uma série de efeitos colaterais associados aos
baixos níveis de testosterona, justamente porque essas drogas antagonizam os efeitos
dos androgênios e da própria testosterona. Isso pode levar à redução da libido, fadiga,
depressão, perda de massa muscular, ganho de gordura e indisposição. Todos esses
efeitos adversos são potencializados quando mulheres usam essas drogas
antiandrogênicas no pós-ciclo, agravando o crash hormonal causado pela interrupção do
uso de esteroides anabolizantes.
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9.6)
PÓS-CICLO
E
SÍNDROME
ANDROGÊNICA FEMININA (SIA)
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DE
INSUFICIÊNCIA
Mulheres também sofrem com efeitos colaterais característicos de um pós-ciclo
de esteroides anabolizantes. Entre os efeitos colaterais mais comuns que afetam as
mulheres após a interrupção do uso de esteroides estão: redução da libido, indisposição,
fadiga, depressão, ganho de gordura e perda de massa muscular. Apesar desses
efeitos adversos serem comuns entre homens e mulheres, nos homens esses
problemas estão associados a um estado temporário de hipogonadismo
hipogonadotrófico induzido pelo uso de esteroides anabolizantes, enquanto nas
mulheres não ocorre supressão das gonadotrofinas (LH e FSH) e da testosterona
endógena durante o ciclo de esteroides. Isso mostra como o crash hormonal após
um ciclo de esteroides afeta drasticamente não só o físico, como também o psicológico
do usuário. Esses efeitos não dependem somente dos baixos níveis de testosterona pósciclo, mas sim da queda dos níveis de andrógenos após a interrupção o uso de
hormônios (principalmente no caso das mulheres).
Esses efeitos colaterais após o final de um ciclo de esteroides são inevitáveis e
são sintomas comuns de uma possível síndrome de insuficiência androgênica (SIA), que
acomete mulheres principalmente no período pós-menopausa. Nesse período ocorre
uma queda dos níveis plasmáticos de testosterona em paralelo com uma queda nos
níveis de estrogênio, o principal hormônio associado aos sintomas da menopausa.
Importante lembrar que a queda nas concentrações de hormônios sexuais com a idade
é normal (fisiológica) em homens e mulheres, e isso não significa que todos sofrerão com
problemas de hipogonadismo ou insuficiência androgênica. Por esse motivo, o
tratamento com testosterona só deve ser recomendado após um diagnóstico clínico com
a presença de sinais e sintomas característicos de deficiência androgênica.
Como não há consenso sobre um diagnóstico clínico de síndrome de
insuficiência androgênica o uso de testosterona em mulheres não deve ser
considerado uma terapia de reposição hormonal e sim uma terapia farmacológica
que deve ser utilizada basicamente em casos de baixa libido e dificuldades
sexuais.
Nos homens a função da terapia pós-ciclo (TPC) é restaurar os níveis de
testosterona endógena aos valores pré-ciclo, com a finalidade de atenuar os problemas
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pós-ciclo relacionados aos baixos níveis plasmáticos de testosterona. A recuperação do
eixo HPT nos homens traz não só os níveis de testosterona aos valores normais, como
também restaura a fertilidade (espermatogênese).
Nas mulheres as concentrações de testosterona não são afetadas – talvez um
pouco afetadas - pelo uso de esteroides anabolizantes. Na verdade, os níveis de SHBG
são reduzidos com o uso de andrógenos, podendo aumentar os níveis plasmáticos de
testosterona livre. Dessa forma, não se pode pensar que uma TPC feminina tenha a
mesma finalidade que uma TPC masculina, uma vez que não se faz necessário
recuperar a testosterona endógena das mulheres após o ciclo. Isso parece complicar as
coisas, porque os efeitos colaterais pós-ciclo parecem ser causados principalmente pela
queda dos níveis de andrógenos usados no ciclo (crash hormonal). Se esses efeitos
colaterais são característicos de insuficiência androgênica, mesmo as concentrações de
testosterona endógena não sendo suprimidas, então um tratamento (TPC) que vise a
recuperação da testosterona endógena não faz muito sentido. O paradoxo seria que para
tratar os problemas que as mulheres sofrem após o uso de esteroides anabolizantes
(androgênios), você deveria usar androgênios (testosterona), uma vez que a
insuficiência androgênica feminina é tratada justamente com terapia de reposição
androgênica (uso de testosterona ou análogos). Faria mais sentido não interromper o
uso de hormônios para evitar os efeitos colaterais pós-ciclo, mas claro que aí teremos
todos os problemas associados ao uso contínuo de esteroides anabolizantes.
Parece paradoxal, mas o problema é inevitável justamente porque quando utilizam
esteroides anabolizantes as mulheres criam um potencial problema do corpo sentir a
falta deles após a interrupção do uso. O uso de esteroides androgênicos por mulheres
aumenta o potencial para elas sofrerem os efeitos característicos de insuficiência
androgênica pós-ciclo e tudo indica que quanto maior a dose e tempo de uso dos
hormônios, maiores serão os problemas associados com a interrupção do uso
.
9.7) TRATAMENTO COM ANDRÓGENOS PARA MULHERES
Uma diretriz publicada pela Endocrine Society recomenda testosterona como
terapia farmacológica para o tratamento de mulheres com baixa libido e dificuldades
sexuais. Como não existe uma associação clara entre níveis de testosterona e baixa
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função sexual em mulheres, a mensuração da testosterona total e livre não é útil para
diagnosticar síndrome de insuficiência androgênica em mulheres (DAVIS, 2005). Além
disso, os principais métodos laboratoriais para medir testosterona na faixa fisiológica das
mulheres não são precisos. Por esses motivos a terapia com testosterona não deve ser
utilizada em mulheres com base em baixas concentrações séricas de testosterona, que
é o que muitos médicos têm feito.
A tabela 9.3 mostra algumas das principais formulações de andrógenos utilizadas
por mulheres. A Endocrine Society recomenda apenas testosterona para o tratamento
de mulheres com baixo desejo sexual.
Tabela 9.3. Formulações de andrógenos para o tratamento de mulheres com baixa função sexual
(adaptado de CLAPAUCH, 2017).
Fármaco
Via de
Dose
Características
40 mg / dia
Meia-vida curta,
administração
Undecanoato de
Oral
testosterona
promove níveis
plasmáticos variáveis
Metiltestosterona
Oral
1,25 a 2,5 mg
Meia-vida curta,
/dia
hepatotóxica
Oxandrolona
Oral
2,5 mg / dia
Não aromatiza
DHEA
Oral
25 a 50 mg /
Precursor da
dia
testosterona
10 a 25 mg por
Induz níveis
semana
suprafisiológicos
75 a 200 mg
Longa duração (4 a 6
Cipionato e
Injetável
enantato
Implante
Subcutânea
meses)
Gel / adesivo de
testosterona
Transdérmica
5 a 20 mg de
Preparação
gel / 300 mcg /
preferencial,
dia (adesivo)
farmacocinética mais
favorável, uso diário,
melhor perfil metabólico
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9.8) TPC FEMININA
Como seria uma terapia pós-ciclo para mulheres, se é que isso faz sentido? Se
nos homens a TPC tem a finalidade de recuperar a testosterona e a espermatogênese,
nas mulheres estamos preocupados em atenuar os efeitos colaterais pós-ciclo. No
entanto, boa parte desses efeitos colaterais estão associados ao crash hormonal que
ocorre pela queda dos níveis de esteroides androgênicos usados durante o ciclo, o que
provoca sintomas característicos da síndrome de insuficiência androgênica (SIA), como
queda da libido, fadiga, depressão, indisposição, ganho de gordura e perda de massa
muscular. O tratamento normal para esse quadro seria a reposição androgênica,
geralmente com testosterona em gel, que depois poderia ser retirada gradualmente, ou
então, o uso de um pró-hormônio como DHEA em doses de 50 - 100 mg por dia. O DHEA
pode ter uma eficácia limitada para aumentar a testosterona endógena em mulheres com
concentrações normais ou elevadas de testosterona.
Uma ideia interessante adotada por alguns gurus, médicos e treinadores de
fisiculturismo, é a retirada gradual dos esteroides, reduzindo as dosagens
gradativamente ao final de um ciclo. Isso atenuaria os problemas de crash hormonal
após a interrupção dos esteroides, mas é inevitável que usuárias que abusem de
esteroides anabolizantes tenham problemas mais graves com a interrupção do uso.
Os efeitos colaterais característicos de insuficiência androgênica que as
mulheres sofrem após o uso de esteroides podem ser agravados quando muitas delas
usam antiandrógenos (espironolactona, acetato de ciproterona) ou anticoncepcionais
para combater os efeitos colaterais virilizantes (hirsutismo, engrossamento da voz,
hipertrofia do clitóris). Portanto, combater um efeito colateral pode piorar outros, e é
comum que mulheres continuem sofrendo com efeitos colaterais virilizantes mesmo após
interromper o uso de esteroides androgênicos.
Suspeito que alguns dos efeitos colaterais que as mulheres sofrem após um ciclo
sejam devidos também a um aumento da resistência à insulina, que na SOP está
associada ao hiperandrogenismo. O aumento da resistência à insulina tende a provocar
efeitos colaterais como acne e favorecer o ganho de gordura. A metformina é uma droga
que é usada no tratamento de mulheres obesas com SOP e resistência à insulina,
mostrando redução da testosterona, do peso e da circunferência abdominal. Apesar da
redução da testosterona endógena não ser um efeito desejável no pós-ciclo, tenho
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observado muitos relatos que a metformina pode ajudar no controle da acne e do
percentual de gordura, de forma menos agressiva que uma droga antiandrogênica. As
doses usadas variam de 1000 a 1500 mg por dia.
Na minha concepção mulheres que usam esteroides anabolizantes deveriam ter
cautela nas dosagens utilizadas durante o ciclo, pois só assim podem evitar ou atenuar
os graves problemas associados ao uso dessas drogas, já que o controle de efeitos
colaterais decorrentes do abuso, como é o caso da virilização, implica no agravamento
de outros efeitos indesejáveis, como é o caso dos sintomas de SIA (queda na libido,
indisposição, ganho de gordura, perda de massa muscular).
Quando mulheres usam esteroides anabolizantes elas estão utilizando hormônios
que vão contra a própria natureza feminina. Andrógenos são hormônios presentes nas
mulheres em baixas concentrações. Portanto, ao elevar os níveis de andrógenos as
mulheres estão indo contra sua fisiologia normal (caracterizada por níveis maiores de
estrogênio em relação aos androgênios), diferente dos homens, que usam hormônios
característicos da sua própria natureza (derivados da testosterona). Se mulheres
abusam de androgênios a tendência é que percam cada vez mais a feminilidade e
aparentem cada vez mais como um homem (masculinização do corpo e da face). Nada
contra mulheres que abusam de esteroides e não se importam em modificar sua
aparência, apenas um alerta para aquelas mulheres que não desejam perder a aparência
feminina.
9.9) ANTICONCEPCIONAL, HIPERTROFIA E TESTOSTERONA
Quando comecei a estudar os efeitos do uso de esteroides anabolizantes por
mulheres uma questão que logo surgiu foi a da interação entre essas drogas e as pílulas
anticoncepcionais (contraceptivos orais). Seriam os efeitos dos contraceptivos
prejudicados pelo uso de esteroides androgênicos? Por outro lado, iria a pílula
anticoncepcional interferir negativamente nos resultados de um ciclo de esteroides,
reduzindo os ganhos de massa muscular ou atrapalhando a perda de gordura? Enquanto
a resposta para a primeira questão não parecia muito clara, a resposta para a segunda
questão parecia um tanto óbvia, já que por serem hormônios antagônicos seria de se
esperar que contraceptivos orais prejudicassem os resultados de um ciclo de esteroides.
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O principal uso clínico das pílulas anticoncepcionais é inibir a fertilidade em
mulheres através de três mecanismos de ação distintos: inibição da ovulação; atrofia do
endométrio, que impede a implantação do embrião; e espessamento do muco do colo
uterino, que impede a entrada dos espermatozoides. Além de ser usada como uma droga
muito efetiva para contracepção, a pílula contraceptiva, geralmente uma mistura de um
estrogênio sintético com uma progestina, também é utilizada para tratar uma série de
doenças endócrinas, incluindo a SOP, a dismenorreia (cólica menstrual), o hirsutismo e
a endometriose.
O uso de contraceptivos orais combinados (anticoncepcionais que combinam um
estrogênio com uma progestina) reduz os níveis de hormônios androgênios,
principalmente a testosterona, através da inibição da síntese de androgênio do ovário, e
aumentando os níveis de globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG). Devido ao
grande aumento do SHBG os níveis de testosterona livre diminuem drasticamente com
o uso de contraceptivos. Muitos profissionais acreditam que os anticoncepcionais
prejudicam a composição corporal por reduzir as concentrações de testosterona
total e livre, mas será que existem evidências científicas que suportem essas
alegações?
Não há uma resposta clara para essa questão pois existem poucos estudos
avaliando o efeito dos métodos contraceptivos na composição corporal. Além disso, os
resultados dos poucos estudos disponíveis são controversos e geralmente mostram
pouco ou nenhum efeito na composição corporal (THOMPSON, 2020). Uma explicação
para a aparente divergência entre os estudos é que os efeitos podem variar da
composição dos métodos contraceptivos (tipo de progestina e estrogênio, concentrações
hormonais).
A regulação do anabolismo e catabolismo muscular é afetada por muitos
fatores e estrógenos e progestágenos exógenos podem influenciar
diretamente esse processo ou influenciar indiretamente as adaptações
hipertróficas, alterando as concentrações de hormônios anabólicos. Na
população em geral, apenas os contraceptivos de progestina (Diu Mirena,
DMPA) parecem ter um efeito negativo na massa magra (MARTIN, 2016).
O estudo de Lee (2009) mostrou que o uso de contraceptivos orais (COCs)
prejudicou os ganhos de massa muscular em mulheres jovens, resultados que foram
associados com menor testosterona, DHEA, DHEAS e IGF-1, e maiores níveis de
cortisol. O ganho de massa magra reduzido pode estar relacionado com a
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androgenicidade da progestina que pode se ligar ao receptor androgênico e inibir a sua
função. Por outro lado, um estudo recente (ROMANCE, 2019), também com mulheres
jovens praticando musculação, não mostrou prejuízos na composição corporal com o
uso de COCs. Na verdade, as mulheres que usaram COCs nesse estudo tiveram
aumento da massa livre de gordura, que poderia ser retenção hídrica ou ganho de
massa muscular.
O estudo de Rickenlund (2004) mostrou que mulheres oligomenorréicas
(menstruação com frequência anormal) tiveram aumento do peso e da massa gorda com
o uso de um contraceptivo oral que combinava 150 mcg de levonorgestrel e 30 mcg de
etinilestradiol. Curiosamente, as atletas que participaram do estudo que menstruavam
normalmente não tiveram alterações na composição corporal.
Como existem diversos métodos contraceptivos que utilizam hormônios e diversas
pílulas anticoncepcionais com formulações distintas (tabela 9.4), fica difícil saber se o
contraceptivo oral escolhido irá prejudicar a composição corporal da mulher. Parece
plausível que COCs contendo progestinas antiandrogênicas e maior quantidade de
estrogênio possam ter um efeito mais desfavorável na composição corporal, enquanto
os COCs com progestinas androgênicas e menor dose de estrógeno tenham um impacto
menos desfavorável, ou até mesmo benéfico na composição corporal.
Muitas mulheres que utilizam Diane 35 e Selene relatam alterações desfavoráveis
na composição corporal, principalmente ganho de peso e aumento de retenção e
gordura. A principal indicação desses contraceptivos é para o tratamento da acne, do
hirsutismo e da SOP, devido aos potenciais efeitos antiandrogênicos do acetato de
ciproterona, além uma dosagem mais elevada de etinilestradiol (35 mcg). Pelos relatos
de muitas mulheres, pode-se dizer que esses dois contraceptivos são os mais
problemáticos para a composição corporal. No entanto, também já ouvi alguns poucos
relatos de melhoras na composição corporal com esses contraceptivos.
Tabela 9.4. Alguns exemplos de contraceptivos orais combinados (COCs) com suas respectivas
formulações.
Nome do COC
Progestina
Estrógeno
Yaz
3 mg de drospirenona
20 mcg de etinilestradiol
(antiandrogênica)
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Yasmin
3 mg de drospirenona
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30 mcg de etinilestradiol
(antiandrogênica)
Diane 35 /
2 mg de acetato de ciproterona
35 mcg de etinilestradiol
Selene
(antiandrogênica)
Siblima
60 mcg de gestodeno
15 mcg de etinilestradiol
Ciclo 21
150 mcg de levonorgestrel
30 mcg de etinilestradiol
(androgênica)
Mercilon
150 mcg de desogestrel (leve
20 mcg de etinilestradiol
efeito androgênico)
Qlara
Dienogeste (antiandrogênica)
Valerato de estradiol
O aumento induzido do SHBG por EE (etinilestradiol = estrogênio) pode ser
neutralizado pela componente progestina do contraceptivo oral, como um resultado da
androgenicidade da progestina. Pílula anticoncepcional contendo uma progestina com
atividade androgênica (levonorgestrel por exemplo) irá induzir um aumento menos
pronunciado em SHBG, enquanto que progestágenos com atividade antiandrogênica
concomitante (como o acetato de ciproterona) levará a níveis de SHBG mais elevados.
É interessante conhecer essas diferenças para fazer a melhor escolha de acordo com a
necessidade de cada mulher. Os progestágenos desogestrel, levonorgestrel, linestrenol
e noretisterona são conhecidos por exibir determinados efeitos androgênicos. Além da
interação direta com o receptor de andrógeno, ligação ao SHBG e deslocamento de
testosterona pode levar a um aumento na fração livre, a testosterona metabolicamente
ativa. Estrogênio também vai competir com os androgênios, reduzindo seus receptores
em alguns tecidos. Por outro lado, a retirada estradiol pode potencializar ação dos
androgênios, permitindo que as concentrações de receptores androgênicos aumentem.
O padrão do corpo feminino em forma de pera é decorrente da maior presença de
receptores de estrogênio na região do glúteo e das coxas, assim como maior presença
de receptores alfa 2 adrenérgicos (anti-lipolíticos) em relação a receptores beta 2
adrenérgicos (lipolíticos), o que favorece maior acúmulo de gordura nessa região. Isso
significa maior dificuldade de mobilizar gordura para as mulheres nos membros
inferiores. Receptores alfa e beta adrenérgicos são receptores das catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina), hormônios que quando se ligam a esses receptores levam
a um aumento (beta 2 adrenérgicos) ou redução (alfa 2 adrenérgicos) da lipólise (quebra
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Testosterona: Fisiologia, Estética e Saúde
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da gordura em ácidos graxos para posterior oxidação na mitocôndria). Por conter
estrogênio, especula-se que o uso do anticoncepcional pode aumentar a concentração
desses receptores alfa 2 adrenérgicos, presentes principalmente no glúteo e nas coxas
das mulheres, o que poderia dificultar a perda de gordura nessas regiões.
O uso de contraceptivos orais durante o uso de esteroides anabolizantes pode
interferir negativamente nos resultados (ganho de massa magra, perda de gordura), mas
pode proteger parcialmente a usuária de efeitos colaterais virilizantes.
Para finalizar o capítulo quero deixar claro que as mulheres não precisam temer
o uso de contraceptivos quando se trata de composição corporal. O mais importante é
reconhecer que os efeitos dos contraceptivos hormonais na composição corporal podem
variar de mulher para mulher e também dependem da composição dos contraceptivos.
É preciso testar diferentes COCs ou optar por algum método de contracepção não
hormonal, como diu de cobre. As mulheres com SOP devem ter mais cautela, pois o uso
dos COCs nesse caso vai além da contracepção, e sua retirada pode agravar os
sintomas da SOP, tais como acne e hirsutismo.
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