Conhecimento didático acerca da álgebra nos anos iniciais Formadores Jadilson Almeida Juliana Martins Elisângela Espíndola Zaine Oliveira Alaíde Lima Anailde Marques Andreza Rodrigues Matheus Almeida Rayssa de Moraes Regina Lima Realização Grupo de Pesquisa Al Jabr em História, Epistemologia e Didática da Álgebra em parceria com a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). RECIFE 2021 Orientações para leitura do texto Nesta formação serão propostas leituras de textos que foram cuidadosamente selecionados, e que se espera que sejam de grande utilidade para sua formação e desenvolvimento profissional. A leitura, a princípio, é individual e merece do leitor uma atenção em grifar ou anotar palavras desconhecidas (que devem ser procuradas em dicionário e anotadas), trechos importantes, ou, que despertem dúvidas e, ainda, novas ideias que surgem a partir da própria leitura. Além disso, tente responder as questões que se encontram ao final do texto. Elas são parte fundamental da atividade que será realizada no pequeno e no grande grupo. Após esse primeiro momento de leitura individual teremos o encontro com o pequeno grupo, cujo objetivo é discutir e refletir sobre as ideias do texto e organizar e/ou produzir o material solicitado pelo formador. A produção do pequeno grupo será apresentada no encontro com o grande grupo. Boa leitura! Equipe de formadores. 2 Texto 6: UM PASSEIO PELA TEORIA DA OBJETIVAÇÃO Luis Radford Université Laurentienne, Canadá Tradução livre do texto: RADFORD, L. Um recorrido a través de la teoría de la objetivación. In: GOBARA, S. T.; RADFORD,L. Teoria da objetivação: fundamentos e aplicações para o ensino e aprendizagem de ciências e matemática. Disponível em: 2020 - Gobara _ Radford - Teoria da objetivacao.pdf (luisradford.ca) INTRODUÇÃO A teoria da objetivação (TO) é uma teoria de ensino e aprendizagem inspirada no materialismo dialético e na escola de pensamento de Vygotsky. Afastando-se das abordagens subjetivistas da aprendizagem (como o empirismo e o construtivismo) e das epistemologias tradicionais sujeito-objeto, ela concebe o ensino e a aprendizagem como um processo único que envolve tanto o saber como o ser. A TO faz parte de um projeto educacional diferente daquele adotado pelo construtivismo e outras teorias contemporâneas, como a teoria francesa das situações didáticas (TSD). O construtivismo identifica dois objetivos gerais da educação matemática: “a construção de estruturas conceituais cada vez mais sólidas e o desenvolvimento da autonomia intelectual” (Cobb, 1988, p. 100). A TSD, ao contrário, é voltada para a difusão do saber matemático. A TSD faz parte de um projeto social cujo objetivo é fazer com que os alunos adquiram um saber constituído (Brousseau, 2003). Como resultado, na TSD, a ênfase geralmente tem sido colocada no saber matemático e na gestão eficiente do ambiente de aprendizagem. No construtivismo, a ênfase geralmente tem sido no saber do sujeito, mais especificamente, na compreensão das formas idiossincráticas pelas quais os alunos constroem seu próprio saber. No primeiro caso, a orientação teórica tem sido essencialmente epistemológica. No segundo caso, a orientação teórica tem sido psicológica. A TO faz parte de um projeto educacional diferente, que não é nem epistemológico nem psicológico. Para a TO o objetivo 3 da educação matemática reside em um esforço político, social, histórico e cultural orientado para a criação dialética de sujeitos reflexivos e éticos que se posicionem criticamente em práticas matemáticas constituídas histórica e culturalmente, e que reflitam sobre novas possibilidades de ação e pensamento. Como resultado, a atenção não se concentra unicamente no conteúdo matemático (a dimensão do saber), mas, também, no ser (do vir a ser, ou seja, na dimensão do sujeito). Para focar no saber e no ser, a TO redefine os conceitos de saber e aprendizagem de forma coerente com uma abordagem histórico-cultural. Esse capítulo está organizado da seguinte forma. Nas primeiras seções trago uma apresentação rápida dos conceitos de saber e de aprendizagem na TO. Essas seções preparam o caminho para definir, nas seções seguintes, os conceitos de processos de objetivação e subjetivação que utilizamos para investigar o ensino e aprendizagem em sala de aula. Depois de discutir brevemente os processos de objetivação e subjetivação, passo ao conceito de labor conjunto. Termino o capítulo com uma discussão sobre ética como a concebemos na TO. O saber na TO Na TO, o saber é definido como um sistema de sistemas. Ou seja, um sistema de processos corpóreos, sensíveis e materiais de ação e reflexão, constituídos histórico e culturalmente. Nosso ponto de partida é que, ao nascer, cada um de nós já se encontra com um sistema de formas de pensar e conceber o mundo (sistemas de pensamento matemático, científico, jurídico, etc.). Esse saber que já estava ali, diante de nós no momento do nosso nascimento, está sempre em movimento e em transformação, e muda de cultura para cultura (D'Ambrosio, 2006). Se produz na atividade humana e é mais do que uma tecnologia para fazer algo. O saber, de fato, é considerado altamente estético, ético, simbólico e político (Radford e Empey, 2007). A dimensão simbólica, por exemplo, aparece claramente marcado na comunidade Maya Tseltal (Micalco Méndez, 2012, 2013), onde o saber sobre o plantio de sementes de milho está ligado a uma superestrutura simbólica ou visão cosmológica do mundo em que dias e números adquirem um significado específico que informa a ação humana. Outro exemplo é a estrutura supersimbólica do Período Moderno do Ocidente que nos permite conceber o mundo natural e social de uma maneira Galileana: como algo governado por leis que 4 podem ser decifradas e lidas por meio da ciência e da matemática (por exemplo, a forma como seu banco calcula os juros do seu cartão de crédito). A aprendizagem na TO As pedagogias construtivistas centradas no estudante definem a aprendizagem como o resultado das suas próprias ações. Em outras palavras, os estudantes são considerados como construtores de seu próprio conhecimento. Neste contexto, construir um conceito equivale a aprender esse conceito. Há, nesta concepção de aprendizagem, pouco espaço para considerá-lo como algo fundamentado na história e na cultura. Uma das intenções iniciais na elaboração da TO foi, precisamente, ir além dessa postura individualista e oferecer uma perspectiva na qual o saber e a aprendizagem são concebidos de maneira coerente com os princípios da escola histórico-cultural que emergiram a partir dos trabalhos de Vygotsky e seus colaboradores. Se, a partir de uma perspectiva educacional histórico-cultural, a aprendizagem não pode ser definida adequadamente em termos das construções próprias dos estudantes, como pode ser definida? As teorias socioculturais recorreram a uma série de conceitos, como a enculturação (formulada principalmente na pesquisa antropológica) e a internalização (conceito formulado por Vygotsky). Argumentei em outros textos (Radford, 2010, 2013) que ambos os conceitos são insuficientes para chegar a uma definição operacional de aprendizagem a partir de uma perspectiva educacional. De forma muito resumida, o conceito de enculturação parece enfatizar excessivamente a ideia de prática social. Além disso, a ideia de prática social muitas vezes permanece sem ser problematizada; igualmente, não se oferece um conceito teoricamente elaborado de indivíduos, ainda que eles sejam considerados participantes ativos. Rogoff, por exemplo, concebe a aprendizagem (apprenticeship) como algo que ocorre em um contexto de uma participação guiada. Ela diz: "O conceito de participação guiada trata de manter os papéis do indivíduo e o contexto sociocultural no centro das atenções" (Rogoff, 1990, p. 18). Continua dizendo que utiliza a analogia da apprenticeship “para centrar a atenção para o fato de que o desenvolvimento de habilidades implica aprendizes ativos observam e participam de atividades culturais organizadas sob a orientação e o desafio de outros” (Rogoff, 1990, p. 19). A aprendizagem, porém, continua sendo, finalmente, um processo cujo objetivo é adaptar-se às práticas sociais (D'Amore e Radford, 2017). Há pouco 5 espaço para investigar os indivíduos como entidades em movimento, em transformação, como, por exemplo, por meio das formas pelas quais os indivíduos buscam se posicionar e são posicionados nessas práticas. Há pouco espaço para investigar as tensões que surgem da dimensão normativa das culturas (o que Bakhtin (1981) chamou de força centrípeta) e os movimentos únicos dos próprios indivíduos (a força centrífuga na terminologia de Bakhtin). Em um trabalho anterior (Radford, 2018a), sugeri que a mesma crítica se aplica para o conceito de internalização de Vygotsky. Poucas vezes se nota na investigação da educação matemática que o conceito de internalização (Вращивание - vraschivanie) aparece como uma construção teórica intimamente relacionada com o conceito de Vygotsky do desenvolvimento da mente, uma concepção que o psicólogo russo enuncia em termos das "leis genéticas do desenvolvimento cultural". O conteúdo da internalização não é a aprendizagem, mas as funções psicológicas superiores (como a memória e a percepção). O problema é que este conceito tenta explicar como evoluem as funções psicológicas. A segunda das três leis do desenvolvimento cultural que Vygotsky formulou afirma que: Cada função [psicológica] no desenvolvimento cultural da criança aparece duas vezes em cena, de duas formas: primeiro como social, depois como psicológica; primeiro como uma forma de cooperação entre as pessoas, como um grupo, como uma categoria intermental, depois como um meio de comportamento individual, como uma categoria intramental. Esta é a lei geral para a construção de todas as funções mentais superiores. (Vygotsky, 1998a, p. 169). Com base nessas duas leis, Vygotsky passa a estabelecer a terceira lei do desenvolvimento cultural das funções mentais superiores: "A terceira lei, relacionada com a da segunda, pode ser formulada como a lei de transição de uma função [psicológica] de fora para dentro” (Vygotsky, 1998a, p.170). A partir desse breve panorama do conceito de internalização, podemos sinalizar alguns problemas para utilizá-lo como base para uma definição de aprendizagem. Primeiro, a internalização é um conceito psicológico, não pedagógico. Poderíamos tentar ampliá-lo e mover o conteúdo das funções psicológicas superiores para a aprendizagem de conteúdos disciplinares escolares, embora a tarefa não seja evidente em si mesma. E mesmo se tivermos sucesso, ainda existem dois problemas a serem resolvidos. hhhh Em primeiro lugar, Veresov (1999) - um dos Vygotskyanos contemporâneos mais importantes – sinaliza para a dificuldade que tem o conce 6 conceito de internalização para escapar de uma dicotomia dualista entre o externo e o interno. Me parece crucial superar essa dicotomia em uma redefinição de aprendizagem. Em segundo lugar, igual para o caso de apprenticeship, o indivíduo, ao final, aparece como uma réplica da sua cultura. Não se tem em mente, de maneira organizada e explícita, a dimensão que já me referi anteriormente, isto é, a dimensão do indivíduo como um agente de sua transformação, dimensão que nós poderíamos ver a produção histórico-cultural e política da criança em todas as suas tensões. Tal dimensão não aparece nas três leis de Vygotsky sobre o desenvolvimento cultural da criança - embora, obviamente, Vygotsky não estava propondo uma transferência automática ou mecânica do externo ao interno, como ele expressa claramente em sua obra Tool and Sign (Vygotsky, 1999, p. 53). Portanto, vamos voltar ao nosso ponto anterior. Se, de uma perspectiva histórico-cultural, a construção do conhecimento e a internalização não parecem oferecer caminhos adequados para teorizar a aprendizagem, como teorizá-la? A resposta deve ser coerente com o conceito de saber que se adota. Na próxima seção apresento o caminho seguido na TO. Processos de objetivação Como foi sugerido anteriormente, podemos conceber o saber como sistemas de pensamento e ação cultural e historicamente constituídos. Na perspectiva do sujeito, o saber surge como uma capacidade geradora culturalhistórica (uma capacidade latente para fazer coisas e pensar de certas maneiras, por exemplo, para plantar sementes de milho, para calcular juros, para resolver equações, etc.). Desse ponto de vista, o saber como capacidade geradora não pode ser algo que possamos "nos apropriar" ou que podemos "possuir". O saber não é um tipo de mercadoria ou entidade psicológica. Pelo contrário, é algo que existe em nossa cultura (na forma de saberes acerca de como plantar sementes de milho, sobre como calcular empréstimos, etc.). O saber é algo que está na cultura e que podemos (ou não) encontrar no curso de nossa vida (dependendo das redes culturais-históricas-políticas de acesso ao saber que operam de forma ubíqua em nossa sociedade). Nosso encontro com sistemas de pensamento cultural e historicamente constituídos (por exemplo, matemáticos, científicos, estéticos, jurídicos, etc.) é o que chamamos de objetivação. 7 O nome "objetivação" trata de expressar a ideia de que os sistemas de pensamento cultural e historicamente constituídos que, ao nascermos, já existem em nossa cultura, mas que ainda não encontramos, a princípio eles se opõem a nós (isto é, nos colocam resistência, se opõem a nós, como uma pedra no meio do caminho). Aparecem como algo que não somos, como uma forma de alteridade. A Object-ificación (objetivação) é o nosso encontro com isso. E como esse encontro não é algo que ocorre de repente, em vez de falar de objetivação, preferimos falar de processos de objetivação. De maneira mais precisa, os processos de objetivação são aqueles processos sociais, coletivos de tomada de consciência: tomada de consciência progressiva e crítica, de um sistema de pensamento e ação cultural e historicamente constituídos, sistemas que gradualmente notamos, e que ao mesmo tempo dotamos de sentido. Os processos de objetivação são aqueles processos de notar algo culturalmente significativo, algo que se revela à consciência não passivamente, mas por meio da atividade corporal, sensível, afetiva, emocional, artefactual e semiótica. Nesse contexto, a aprendizagem é definida como o resultado de processos de objetivação. E como os sistemas de pensamento (matemático, etc.) sempre se revelam parcialmente à consciência, e como a consciência "nunca é fixa, nunca é alcançada de uma vez por todas, porque as fronteiras discursivas mudam com as condições históricas" (Alcoff, 1988, p. 425), os processos de objetivação são sempre intermináveis e, portanto, a aprendizagem também. Por essa razão, ao invés de dizer que determinado saber foi objetivado (o que parece converter o saber em uma coisa que o sujeito possui), dizemos que os estudantes se encontram ou se envolvem em processos de objetivação no interminável encontro com o saber. Processos de subjetivação Na TO, o componente emocional e afetivo é uma das partes integrantes fundamentais da aprendizagem. No entanto, nossa concepção de emoções se afasta de outras concepções de natureza evolutiva ou psicológica. Por exemplo, Darwin (1886), percebia nas emoções relíquias de nosso passado filogenético. Seguindo essa linha Darwiniana de pensamento, em muitas abordagens psicológicas e educacionais, as emoções acabaram sendo concebidas como algo que deve ser dominado para se pensar corretamente. Nós, porém, seguimos uma ideia de Vygotsky (1998b) e de Spinoza (1989), segundo a qual o corpo e pensamento são "uma e a mesma coisa" (Spinoza, 1989, 8 1989, p. 131), a mesma substância, ambos os lados ou atributos da mesma moeda. Nesse contexto, as emoções são uma parte onipresente do pensamento e da ação sensível corporal. Como disse Roth (2017, p.156) em um comentário sobre Spinoza, "As emoções são manifestações do maior ou menor poder do corpo pensante para agir." As emoções são, efetivamente, componentes ontológicos constitutivos do humano e do que significa ser parte da natureza (Fischbach, 2014). Reformulando uma ideia de Clot (2015), podemos dizer que a renúncia das emoções não é o fundamento da civilização. É o trabalho da cultura em que instituiu o redesenho das emoções. A implicação educativa é que, em vez de ser um esforço puramente mental, a aprendizagem repousa nas emoções e afeto de maneira que nos afetam profundamente como indivíduos (Radford, 2015). Por isso as salas de aula não só produzem saberes; quer queiram ou não, as salas de aula também produzem subjetividades; ou seja, sujeitos vistos “como propriedade emergente de uma experiência historicizada” (Alcoff, 1988, p. 431); isto é, sujeitos que, por um lado, estão inevitavelmente imersos em contextos histórico-culturais em constante mudança e, por outro lado, sujeitos que, ao mesmo tempo, estão continuamente reagindo a esses contextos emocional e intelectualmente. Para investigar a produção de subjetividades em sala de aula, recorremos à construção teórica dos processos de subjetivação. Estes são definidos como aqueles processos em que coproduzindo a si próprios no contexto da cultura e da história, professores e alunos vêm a ser presença no mundo. Em Pedagogia da Autonomia, Freire (1998) argumenta que chegar a ser presença no mundo consiste em reconhecer nossa natureza relacional; é, também, reconhecer-se a si mesmo como presença autêntica, isto é, reconhecer-se como indivíduo que intervém, transforma, se expressa, valoriza, compara, pondera, toma decisões, não tem medo de romper com tradições e sonha. Chegar a ser presença no mundo faz referência à ideia do estudante como alguém que, por meio da atividade na sala de aula, chega a ocupar um espaço no mundo social, a posicionar-se e a assumir uma perspectiva nele. Tornar-se presença no mundo é um movimento dialético entre a cultura e o indivíduo. A natureza dialética desse movimento nos leva a conceber os indivíduos não como entidades substanciais, pré-definidas, como foi sugerido pela concepção humanista que nos foi deixada pelo Iluminismo do século XVIII europeu. A TO recorre a um conceito diferente de indivíduo, no qual o in 9 indivíduo não é visto como um lugar "de intenções próprias ou atributos naturais ou mesmo uma consciência privilegiada e separada" (Alcoff, 1988, p. 415). Ao contrário, os indivíduos são concebidos como entidades em fluxo, que, coproduzindo-se continuamente no contexto da história, encontram em sua cultura a matéria-prima de sua própria existência (Radford, 2018b). Tanto o indivíduo quanto a cultura são entidades coexistentes em perpétua mudança, uma tornando-se continuamente a outra e vice-versa. Nesse movimento dialético, tanto os estudantes quanto o professor são considerados subjetividades em fabricação, abertas ao mundo. Professores e estudantes são conceituados como projetos de vida inacabados e inacabáveis, em contínua transformação, em busca de si mesmos, comprometidos juntos no mesmo esforço em que sofrem, lutam, se afirmam e encontram juntos plena realização. Atividade como Tätigkeit/deyatel'nost ' Na TO, o que torna a aprendizagem possível é uma atividade humana, sensual¹ e prática. Os processos de objetivação e subjetivação tem lugar na atividade sensual e prática. Mas, a atividade a que me refiro aqui tem um sentido definido que é muito diferente das concepções usuais que a reduzem a uma série de ações que um indivíduo realiza para atingir seu objetivo. Essa última linha de pensamento reduz a atividade a uma concepção funcional e técnica, equivalente a ações dos indivíduos. A atividade na teoria da objetivação não significa simplesmente fazer alguma coisa. A atividade (Tätigkeit em alemão e deyatel'nost' em russo) refere-se a um sistema dinâmico orientado para a satisfação das necessidades coletivas. Por isso, a atividade como Tätigkeit/deyatel'nost' não deve ser confundida como atividade como Aktvität/aktivnost'; isto é, como simplesmente estar ocupado com alguma coisa (Roth e Radford 2011). A atividade como Tätigkeit/deyatel'nost' é uma forma social de esforço conjunto por meio da qual os indivíduos produzem seus meios de subsistência enquanto se produzem a si mesmos como seres humanos. Compreende noções de auto expressão, desenvolvimento racional e prazer estético (Donham 1999). Mais precisamente, a Atividade como Tätigkeit/deyatel'nost' é uma forma de vida. Para evitar confusões com outros significados, na teoria da objetivação, a atividade como Tätigkeit/deyatel'nost' se denomina labor conjunto (Radford, 2016). [1] Segundo o dicionário da Real Academia Española sensual significa: pertencente ou relativo às sensações do sentido. 10 Labor conjunto O labor conjunto é a categoria principal da teoria da objetivação. Seu papel central deriva de uma concepção antropológica materialista dialética do ser humano. Segundo Spinoza (1989), os humanos são considerados parte da natureza: são seres naturais. Como todos os outros seres vivos naturais, os seres humanos são seres com necessidade que encontram sua satisfação em objetos externos a si mesmos. Para satisfazer suas necessidades (necessidades de sobrevivência e artísticas, espirituais e outras necessidades criadas pela/na sociedade), os seres humanos se lançam ativamente no mundo. Eles se expõem e, se expondo, produzem. O que eles produzem para satisfazer suas necessidades é produzido em um processo social que é, ao mesmo tempo, o processo de inscrição dos indivíduos no mundo social e a produção de sua própria existência. O nome desse processo é o que chamei de labor conjunto na seção anterior. O labor conjunto sensual e material é considerado o campo máximo da experiência estética, da subjetividade e da cognição. O labor conjunto como categoria central da TO afirma o papel ontológico e epistemológico fundamental da matéria, do corpo, do movimento, da ação, do ritmo, da paixão e da sensação no que é ser humano. Uma consequência importante dessa postura teórica é que o indivíduo não pode ser concebido como uma entidade substancial, produzida a partir de dentro, tal como articulam tanto as tendências racionalistas como as 5 tendências humanistas empíricas do Iluminismo que relatam a maioria das teorias educacionais contemporâneas. Na TO, o indivíduo é uma entidade histórica-cultural que vai mais além da pele; é relacional do princípio ao fim. Está profundamente vinculada a um conjunto de relações materiais e imateriais com outras partes da natureza - incluindo as relações sociais - e se baseia em condições de vida cultural e historicamente constituídas. O labor conjunto como principal categoria ontológica e epistemológica da teoria da objetivação nos leva a considerar a atividade da sala de aula como unidade de análise. No entanto, o papel da linguagem, dos signos, dos artefatos e do corpo não podem ser descartados no processo de objetivação e subjetivação. Na TO, a linguagem, os signos, os artefatos, e o corpo sensível são entendidas não como mediadores, mas como parte da atividade dos indivíduos. E uma vez que o pensamento e a atividade são considerados aqui como entrelaçados (Vygotsky in Zavershneva, 2010) a linguagem, os signos, os 11 artefatos e o corpo também são considerados como parte do pensamento. Eles fazem parte da textura material do pensamento dos indivíduos. A nível prático, o conceito de labor conjunto nos permite conceber o ensino e a aprendizagem em sala de aula não como duas atividades distintas, uma realizada pelo professor (atividade do professor) e outra pelo estudante (atividade do estudante), mas, sim, como uma mesma e única atividade: o labor conjunto de professores e estudantes. O professor não aparece como possuidor de saberes que está entregando ou transmitindo aos estudantes; ou como alguém que está ajudando os estudantes a configurar estratégias de aprendizagem. Os estudantes tão pouco aparecem como sujeitos passivos que recebem conhecimentos. Nas atividades de sala de aula que buscamos promover em nosso trabalho com professores e estudantes, o professor e os estudantes laboran juntos (trabalham em conjunto) para a produção do que Hegel (2001) chamou de "obra comum" - por exemplo, o surgimento sensual na sala de aula de uma forma algébrica co-variacional de pensar sobre uma sequência numérica ou pensar sobre o espaço euclidianamente ou projetivamente. É na produção desta obra comum que ocorre o encontro e a tomada de consciência gradual das formas de pensamento matemático cultural e historicamente constituídas. Exemplos concretos de nossas pesquisas sobre a aprendizagem podem ser encontrados em (Radford, 2009, 2014a, 2018c). Os eixos do labor conjunto Em (Radford, 2014b) argumentei que a atividade na sala de aula das pedagogias centradas no estudante e as pedagogias de transmissão de saberes terminam em ambos os casos em alienação. No caso das pedagogias de transmissão de saberes, o estudante faz esforços para compreender e aprender; nesse esforço ele gasta suas energias, mas ele não pode reconhecer-se no fruto do seu esforço. As ideias que circulam na sala de aula lhe são estranhas. Simplesmente as recebem. O estudante é reduzido a um ente passivo, obediente, a um ente alienado de seu próprio trabalho e esforço. No caso da pedagogia centrada na criança, a criança investe energia; ela se esforça muito. Mas permanece prisioneira dos limites de sua própria subjetividade, alienado do mundo cultural, vivendo uma vida triste e monótona em uma concha solipsista. 12 Parece uma ironia que as pedagogias centradas no estudante, das quais a versão contemporânea mais sofisticada é o construtivismo, terminam no mesmo ponto que o ensino tradicional. A ironia reside no fato de que as pedagogias centradas no estudante se originaram em oposição ao ensino tradicional. Como mostrado em (Radford, 2014b), as pedagogias centradas no estudante só podem oferecer uma estrutura alienante e opressiva na qual o professor aparece numa posição de poder. Ele é o possuidor do saber. As pedagogias centradas no estudante baseiam-se exatamente na mesma lógica, mas invertem os papéis dos agentes. No primeiro, o professor assume o poder enquanto os estudantes são relegados a um papel passivo. No segundo, os estudantes assumem o poder, enquanto os professores são relegados a um papel secundário. No primeiro caso, enfatiza-se a possibilidade de ação do professor (o que em inglês se chama agency, que, cometendo uma barbárie, podemos traduzir por agência, do latim agentia, ou seja, agens, -entis, que o Dicionário da Real Academia Espanhola traduz por "aquele que faz"). A ênfase na agência do professor é feita em detrimento da agência do estudante. No segundo caso temos exatamente situação oposta. Independentemente das diferenças superficiais, em um caso como no outro, a educação como prática social permanece estruturalmente igual: embora haja uma mudança na distribuição de poder e da agência, ambas as práticas são igualmente alienantes, uma vez que em ambos os casos o estudante e o professor permanecem alienados uns dos outros e do contexto histórico e cultural mais amplo, sem uma conexão verdadeiramente possível. Em ambos os casos é impossível o estudante ascender a uma compreensão das possibilidades humanas e de sua própria natureza de ser humano histórico-social. A ideia da atividade em sala de aula como labor conjunto nos oferece uma alternativa para pensar novas formas histórico-culturais não alienantes de ensino e aprendizagem. Para ir mais além, é necessário redefinir os dois eixos que organizam toda a atividade de sala de aula: 1. o eixo das formas de produção de saberes, e 2. o eixo das formas de colaboração humana. Como disse anteriormente, dentro da TO é considerado que o saber não se constrói nem se transmite, mas se é encontrado por meio de processos sensuais coletivos de objetivação. Para encontrá-lo, o saber deve aparecer na sala de aula. Para aparecer, o saber cultural deve ser colocado em movimento pelos professores e os alunos. E a maneira de colocá-lo em movimento é por 13 meio da atividade, ou seja, o labor conjunto. No labor conjunto, o saber se materializa, se (re)produz, se torna algo tangível, passível de ser pensado, quer dizer, se transforma em objeto de consciência. No contexto da aprendizagem, as formas de produção de saberes têm a ver com as maneiras em que as ideias circulam na sala de aula ou no espaço de ensino-aprendizagem. Estas dependem das formas de indagação dos problemas, como, por exemplo, as maneiras que se justificam as ações, as maneiras em que acerta a verdade de um enunciado, o que se admite como evidência, os tipos de argumentação, etc. As formas de produção de saberes são impulsionadas por esforços coletivos baseados na história e na cultura, em que o professor e os estudantes trabalham juntos para alcançar níveis profundos de conceitualização matemática. Por seu lado, as formas de colaboração humana têm a ver com a natureza da interação. Nas aproximações tradicionais, em que o professor expõe e o estudante escuta, segue e imita o que o professor diz, a interação é muito pobre. Um fala e o outro escuta, obedientemente. A interação se reduz a uma forma de comunicação do tipo: transmissor-receptor. Nas aproximações que se inspiram em pedagogias e epistemologias individualistas, nas quais se assume que o indivíduo é a fonte e a origem do saber e do significado, as formas de colaboração humana são conceituadas de um ponto de vista instrumental. Quer dizer, a relação de um com o outro é reduzida a um meio para que cada um alcance seu próprio fim. Para esclarecer melhor as ideias que estão subjacentes a estas concepções de interação, irei fazer referência a eventos que ocorreram no início dos anos 2000, quando nós começamos a concentrar nosso trabalho em questões de comunicação na sala de aula de matemática. Nesse tempo, quando começamos a buscar novos significados de interação, nos encontramos com barreiras difíceis de ultrapassar. Muitos professores não viam a necessidade de organizar o espaço social da classe em torno de uma interação que fosse mais além que a de transmissor-receptor. Argumentavam que não adiantava os alunos discutirem entre si, uma vez que as formas de resolver problemas já estavam dadas e que o papel (e dever) do professor era precisamente revelálas aos estudantes. Nesse caso, qual sentido em colocar os estudantes para discutir? Em que poderia contribuir essa discussão? Para eles, o problema não era discutir, mas compreender. A chave da aprendizagem reside, segundo essa visão de aprendizagem, em que os alunos (1) ouçam bem, (2) prestem atenção e 14 (3) se esforcem para entender em sala de aula e depois façam os exercícios em casa. Obviamente, se vemos a aprendizagem como uma pura aquisição de saberes culturais, a interação e a comunicação entre estudantes não têm um papel importante a desempenhar. Porém, nem todos os professores com quem trabalhamos no início dos anos 2000 eram de natureza tradicional. O Ministério da Educação da província de Ontário acabara de concluir uma grande transformação no currículo e propôs métodos mais ativos de aprendizagem, ou seja, métodos nos quais o estudante deve participar ativamente. Os professores que estavam dispostos a adotar essas pedagogias ativas apreciavam melhor a ideia de colocar os estudantes para discutir entre eles. Mas, esses professores entusiasmados com as reformas curriculares caíram frequentemente na concepção de interação como algo instrumental, quer dizer, uma interação na qual reduzo o outro a um meio para pôr em prova a robustez das minhas próprias cogitações (que é o sentido da interação proposta por von Glasersfeld (1995) em seu conhecido livro Radical Constructivism). Durante um encontro pedagógico com professores, organizado por um conselho escolar da minha cidade, conselho cujas as escolas eram as que eu vinha realizando as minhas pesquisas de campo, um professor, depois de expressar seu ceticismo a respeito do trabalho em grupo, sugeriu que fizéssemos um estudo para provar que se aprendia melhor em grupo (ou seja, fazendo com que os alunos discutissem entre si) do que individualmente (ou seja, como no ensino tradicional). O professor pediu uma prova como as usadas pela indústria farmacêutica (a metáfora é do professor) para provar que um produto é melhor que outro. Passar a conceber a interação como algo importante, e inclusive crucial, da aprendizagem não é uma tarefa fácil. Nós mesmos (ou seja, os membros de minha equipe de pesquisa na época e eu) não tínhamos uma ideia precisa. O que era claro é que nós estávamos buscando uma concepção de interação que fosse mais além da concepção comportamentalista de transmissão-recepção de informações e da concepção construtivista instrumental, a qual, por certo, é esplendidamente desenvolvido por Paul Cobb e colaboradores em seu artigo de 1997. Nesse artigo, a discussão coletiva aparece como um ponto importante no desenvolvimento das conceitualizações que fazem os estudantes de uma turma de primeiro ano. A comunicação desempenha um bom papel. Mas, qual é a sua natureza? No artigo, o discurso e a comunicação coletiva são examinados por meio do construto teórico Piagetiano da abstração reflexiva. A abstração reflexiva é propriedade do sujeito; isto é, não a realiza em um coletivo, mas um 15 indivíduo por ele mesmo, com seus próprios meios cognitivos. Como pode, então, ser passado para o plano social, em que ocorre a interação, a comunicação e o discurso com os outros, o plano da conceitualização que o construtivismo assume como algo pessoal? Cobb e colaboradores se pronunciaram contra a interpretação que vê um vínculo direto, mecânico - uma influência automática - entre o social e o psicológico, entre o discurso coletivo e a aprendizagem. O que propõem é uma interpretação em que o social aparece como catalisador ou retardador de compreensões matemáticas da criança: "a participação das crianças neste tipo de discurso constitui uma condição para a possibilidade de aprendizagem da matemática" (Cobb, Boufi, McClain e Whitenack, 1997, p. 264). De maneira mais específica, a perspectiva construtivista reconhece que tanto o processo de aprendizagem da matemática como seus produtos, as formas cada vez mais sofisticadas de conhecimento matemático, são sociais em sua totalidade. No entanto, também enfatiza que as crianças constroem ativamente sua compreensão matemática participando de processos sociais em sala de aula. (Cobb, Boufi, McClain e Whitenack, 1997, p. 264). No fundo, pois, o social é visto não mais do que um instrumento de conceitualização. No decorrer do nosso trabalho com professores fomos tentando refinar um significado de interação que superasse os significados instrumentistas e comportamentalista e que fosse ao mesmo tempo consistente com as premissas da abordagem histórico-cultural (Fischbach, 2014; Ilyenkov, 1977; Leont'ev, 1978, Mikhailov, 1980). Mas, também, esse refinamento do significado da interação devia ser coerente com o projeto educacional em que se enquadra a TO, e que foi enunciado no início deste capítulo: um projeto que coloca o objetivo da educação matemática como um esforço político, social, histórico e cultural voltado para a criação dialética de sujeitos reflexivos e éticos que se posicionam criticamente em práticas matemáticas constituídas histórica e culturalmente, e que refletem sobre novas possibilidades de ação e pensamento. Como resultado do trabalho com os professores, emergiu pouco a pouco uma concepção de interação como algo que deve permear cada fase da atividade matemática. Trata-se de uma concepção em que o aluno está sempre ativo – mas, também, o professor! Deixar o primeiro ativo sem o segundo seria cair no construtivismo. Deixar o segundo ativo sem o primeiro seria cair no ensino t 16 ensino tradicional. A partir deste trabalho surgiu uma concepção sistêmica de labor conjunto em que ambos, professores e estudantes, são continuamente ativos (veja a Figura 1; uma versão anterior se encontra em Radford e Demers (2004)). Figura 1: As fases do labor conjunto. Ao final da primeira década de 2000 fui convidado a fazer uma exposição da TO em Barcelona. Insisti na organização social da sala de aula e apresentei uma versão da Figura 1. Com muita sinceridade, uma professora presente exclamou: Mas isso é o que todos nós fazemos! E acho que a professora tinha razão. De certo, voltaram a me dizer a mesma coisa há alguns meses em Montevidéu. O problema, como eu mencionei há pouco durante a minha discussão sobre o construtivismo, não é simplesmente o de levar em conta a interação social. Nessas alturas não acredito que exista uma teoria educativa contemporânea que não leve em conta a interação social. O problema é o seu significado (Radford, 2011). Por que propomos aos estudantes discutirem em pequenos grupos? Por que damos a eles espaço para falar? Talvez as respostas mais frequentes, embora não necessariamente expressas explicitamente, sejam as seguintes. A primeira resposta típica considera que dar espaço ao estudante para se expressar, está a dar a oportunidade para ele falar de sua experiência (ou a de seu grupo) do que ele viveu (ou viveram) quando resolvia (ou resolviam) o problema matemático. Outro estudante ou outro grupo apresentará sua própria experiência, etc. Ao final, termina-se com uma série de experiências (grupais 17 ou individuais) que são expostas como tomates sobre a mesa. E termina-se por celebrar uma diversidade de ideias, sem que os estudantes estabeleçam uma discussão verdadeira sobre o significado profundo da diferença nas ideias geradas que lhes permite efetuar contribuições à “obra comum” do labor conjunto. Mohanty (1990) diz: A formulação do saber ... por meio destes parâmetros individualistas vêm para apagar a própria política do saber. Também vêm para apagar os parâmetros estruturais e institucionais do que significa entender a diferença em termos históricos. Se todos os conflitos na sala de aula são vistos e entendidos em termos pessoais, isso leva a uma série de oposições confortáveis (p. 194). É por isso que o que a Figura 1 tenta retratar não é uma mera justificativa da criação de um espaço de interação estudantil na sala de aula, já que o problema não é simplesmente dar voz aos alunos. O problema fundamental é, acima de tudo, o de considerar que tipo particular de voz pode ser exercido dentro de um projeto histórico-cultural inclusivo e solidário. A Figura 1 não tenta, tampouco, sugerir que a nossa atenção esteja focada em uma simples pedagogia ativa ou em processos psicológicos sem uma noção explícita de sociedade, de história e de cultura que vem a retirar dos professores e dos alunos todas as preocupações políticas (Freire, 1998; Giroux, 2005; Popkewitz, 1988). A segunda resposta típica às perguntas anteriores (Por que colocamos os estudantes para discutir em pequenos grupos? Para que damos a eles espaço para falar?) é a seguinte: acredita-se que colocar os estudantes para resolver problemas juntos os levam a aprender mais e melhor a matemática. Porém, isso não é mais que continuar dando voltas em torno do eixo do saber. Como mencionei em uma seção anterior, na TO, a aprendizagem não se explica e justifica apenas em termos de saberes. Consideramos, também, e com igual importância, o eixo do ser - o eixo da transformação dos estudantes e dos professores. Em outras palavras, a dimensão social não é um instrumento a serviço da conceitualização. A dimensão social não é mediadora da aprendizagem. É parte inteira da aprendizagem. A dimensão social, a dimensão da transformação dos estudantes e professores, é um fim em si mesma. Como é expresso em nosso projeto educativo, a transformação que buscamos caminha para a formação de subjetividades sensíveis à prática de posturas éticas e críticas. E se algo não é evidente nesta vida é que, das organizações sociais da sala de aula como as que são mostradas na Figura 1, 18 aparecem automaticamente posturas éticas e críticas sofisticadas. Na realidade, o que mostra a nossa prática educativa cotidiana e nosso trabalho de décadas com professores, é que, se deixamos para os alunos conduzirem como querem a interação com os outros estudantes no trabalho de pequenos grupos, as interações obedecerão aos comportamentos que prevalecerão o interesse pessoal e a obediência e submissão à autoridade do professor. E não somos nós apenas os que têm visto este fenômeno lamentável. Brousseau (2002) já tinha observado isso há muitos anos. A teoria das situações didáticas mostra bem, de fato, que, no intuito de garantir o fluido caminho das situações de aprendizagem, os estudantes e professores se apegam a comportamentos em que se termina por simular que a aprendizagem está ocorrendo, comportamentos, como o efeito "Topázio" e outros efeitos. Daí a teoria das situações didáticas colocou uma ênfase colossal no conceito de devolução do problema ao estudante, o que significa que é responsabilidade do estudante encontrar soluções para o problema em questão. Em outra parte, critiquei esta opção que, para dizê-la brevemente, coloca, no curso da devolução, o professor entre parênteses, à margem dos momentos cruciais da aprendizagem, aproximando-se a uma postura construtivista (ver D'Amore e Radford, 2017). Em todo caso, o ponto é que não é a simples presença da interação como a que sugere a Figura 1 que irá permitir alcançar posturas éticas e críticas sofisticadas. O que poderia permitir uma mudança é a forma da interação: a forma de nosso relacionamento com o outro. E essa forma é o que, na TO, entendemos por ética. A ética na TO Será por consequência um erro pensar que as teorias educacionais e didáticas estão isentas da ética. A realidade é que todo modelo pedagógico, todo ato de aprendizagem, repousa e mobiliza uma ética. Pois nos atos de aprendizagem, cedo ou tarde, se legitima um saber. Além disso, em cada modelo pedagógico (nos modelos presenciais, nos modelos on-line, nos modelos de estudo dirigido e até mesmo nos modelos “autônomos”), há um professor e pelo menos um aluno. E um terá que dirigir-se ao outro. E que esse direcionamento ao outro já inclui uma forma de relação (por exemplo, relação de poder, relação de obediência, relação de solidariedade). Esse direcionamento já inclui, portanto, um componente ético. 19 Fui contestado em várias oportunidades que a questão da ética é sim um problema pedagógico e não um problema da didática da matemática. É certo. Mas, somente se concebermos a matemática (e isso se aplica ao saber em geral) como um corpo abstrato que reside nas nuvens, ou, para dizer em termos filosóficos, uma entidade transcendental. Kant fez precisamente a diferença entre númeno e fenômeno. O primeiro é a coisa em si; o segundo é a coisa fenomenológica. Nesta linha de pensamento, a matemática seria da ordem do númeno, situadas para além vicissitudes humanas, sempre a mesma, igual a si mesma, imutável, eterna. Na TO, as coisas vão por outro caminho. O saber não está pendurado nas nuvens; ele aparece materializado na vida concreta de indivíduos de carne e osso. Para que essa materialização do saber ocorra, ele deve mudar seu modo de existência e passar de seu modo potencial ao seu modo sensível ou atual (Radford, 2013). E essa mudança ou transformação só é possível por meio da atividade humana concreta levada a sério não por sujeitos epistêmicos ou psicológicos, mas, como disse anteriormente, por indivíduos de carne e osso, indivíduos que respiram, suam, sofrem e desfrutam. Para tornar isso possível, os indivíduos se falam, se dirigem uns aos outros, se disputam, se ouvem ou não, etc. e aqui estamos de volta à ética, que nos aparece onde menos esperamos. Eu concebo a ética aqui não como deontologia, isto é, não como uma teoria baseada em regras e princípios morais que devem ser seguidos. Eu a entendo melhor como uma relação fluida, pessoal e cultural de responsabilidade entre um e o outro; ou, de maneira mais geral, como a forma da alteridade. O paradigma de transmissão de saberes repousa sobre uma ética: a ética da obediência, da submissão do aluno ao professor e do poder e autoridade do professor sobre o aluno. O paradigma centrado no estudante, o paradigma construtivista, repousa também sobre uma ética: a ética da autonomia do aluno, de sua liberdade, de seu direito de construir seu próprio saber. Uma das concepções de ética do período moderno foi desenvolvida por Thomas Hobbes no século XVII. Toma como ponto de partida as aspirações e inclinações próprias dos indivíduos. Em Hobbes, na verdade, a ética gira em torno de motivos humanos fundamentais que se reduzem, ao final de contas, ao desejo para dominar e ao "desejo de preservar a si próprios e ao medo mútuo" (Hobbes, 1841, p. 70). A ética em Hobbes aparece como um acordo ou contrato que sanciona o comportamento entre os sujeitos para evitar a agressão de uns ao outros. Essa ética repousa sobre uma concepção de sociedade civil como 20 uma sociedade formada por um coletivo de indivíduos separados (Mônadas) vinculados formalmente por contratos que garantam neutralizar disposições naturais. Esses "contratos", que permeiam todas as esferas da vida social, não são necessariamente explícitos. Eles levam, não obstante, a marca distinta das expectativas de uns e outros para manter a ordem social, e tratam de deixar espaço para cumprir, tanto quanto seja possível, as aspirações pessoais e garantir a segurança de cada um. Como mencionado anteriormente, historicamente falando, é Brousseau (1978, 1988) o primeiro a ter notado sua onipresente presença na sala de aula de matemática (em que esses pactos aparecem como "contratos didáticos"). Um século depois, Kant formulou uma ética deontológica que foi coerente com sua concepção de indivíduo: um indivíduo provido de uma razão legislativa. Kant não necessita fundamentar a ética em algo externo ao sujeito, como um pacto entre indivíduos, como faz Hobbes; tão pouco necessita fundamentá-la na vontade de Deus ou na revelação de Deus. Para ele, a submissão do sujeito à uma autoridade é justificada pela razão (Nodari, 2010). A ética (ou moral) para Kant obedece a um princípio racional - o imperativo categórico. O princípio categórico não é um princípio instrumental, isto é, algo para se chegar a um fim. Ao contrário, é um princípio que se enuncia na primeira pessoa e que faz referência a uma ação independentemente do fim que poderia ter a ação particular. O imperativo categórico responde a pergunta: O que devo fazer? E enuncia a ação concreta de um sujeito em termos de ações possíveis que qualquer indivíduo poderia realizar. Kant enuncia o imperativo categórico da seguinte forma: "Atue de acordo com uma Máxima que pode ser adotada ao mesmo tempo como uma Lei Universal" (Kant, 2002, p. 50). Como Arendt explica: "Posso querer roubar, mas não posso roubar para fazer disso uma lei universal; porque, com tal lei, não haveria propriedade” (Arendt, 1992, p. 17). O imperativo categórico é um singular convertido em universal; ele resume o individualismo do século XVIII. Mac Intyre (1966. P 209) diz: “O individualista do século XVIII vê o bem como a expressão de seus sentimentos ou como o mandato de sua razão individualista porque escreve como se estivesse fora do contexto social”. É uma tentativa "do indivíduo provar sua própria moralidade, e ao mesmo tempo, reivindicar a ela uma verdadeira universalidade” (p. 208). Na verdade, o imperativo categórico faz aparecer a alteridade como reflexo do eu em um espelho por meio do qual posso ver como a ação do outro poderia me afetar. 21 A ética que estamos interessados em formular na teoria da objetificação não é Hobbeana nem Kantiana. A ética que nos interessa está mais voltada para uma concepção diferente do indivíduo e da ordem social e da relação entre ambos. Procuramos uma ética baseada na constituição reflexiva e crítica do que Marx (1988) chamava "capacidades humanas" como a vontade, o amor, a cooperação, a solidariedade – capacidades nas quais se confirmam as relações humanas e as relações dos indivíduos com os seus contextos históricoculturais. Essa ética põe em evidência a ideia de que as formas de alteridade, ou seja, de relação com o outro, têm uma origem histórica, cultural e material que divergem de visões e concepções fluidas e antagônicas de mundo e do que pode significar o bem viver. É este antagonismo inevitável de contradições que dá substância à vida humana social, sempre viva e mutante e que faz com que o significado (meaning) seja polifônico. O indivíduo aparece aqui como indivíduo de necessidade: uma entidade que encontra “fora de si mesmo[...] as condições de ação (agency), responsabilidade e subjetividade da ética” (Nealon, 1997, p. 146). Nosso trabalho nos últimos anos tem se voltado para a formulação de uma ética que chamamos comunitária e que está centrada na responsabilidade, no compromisso com os demais e no cuidado com o outro. Estes três vetores configuram a estrutura essencial da subjetividade. A responsabilidade (responsibility) aparece aqui como união, link, vinculação, conexão e ligação com o próximo, que se expressa na resposta (answerability) que fazemos ao chamado do outro, chamado que vem não necessariamente de uma formulação linguística ou semiótica, mas, sim, a partir da mera presença do que não somos nós mesmos. Como Farias Gutiérrez (2015) nos lembra, Lévinas fala da “face” do outro: o outro que nos desafia. A responsabilidade é a resposta ao que o filósofo norueguês Kund Løgstrup (1997) chama de solidariedade ética (the ethical demand). O compromisso com os outros é a promessa e sua aplicação de fazer todo o possível, no decorrer do labor conjunto, na realização da "obra comum" – isso que professores e alunos produzem juntos em sala de aula, trabalhando ombro a ombro (por exemplo, uma ou várias formas de apresentar e/ou resolver um problema, realizar uma demonstração, etc.). O cuidado do outro é uma relação de ordem pré-conceitual ou préracional (Edwards, 2009). Não é um ato de condescendência, ou um ato paternal que consistiria em simplesmente cuidar de alguém. É uma maneira de estar-com-outro. A prática de cuidar do outro repousará na constituição das 22 sensibilidades ou capacidades humanas as quais Marx (1988) faz referência, em particular, a sensibilidade da atenção e do reconhecimento do outro e de suas necessidades. Embora o cuidado como o outro abra a possibilidade de nos vermos no outro; de reconhecer nossa vulnerabilidade na vulnerabilidade do outro (Radford, 2018b), a importância do cuidado com o outro é de nos levar poderosamente até o mundo e de nos posicionarmos aí, com-o-outro, de fazer balançar nosso centro para centramos na experiência do outro. Mas, é claro, esses elementos da ética comunitária não são produto de uma evolução natural. São elementos da forma da alteridade que, como os saberes matemáticos, artísticos, estéticos, etc. têm sido produzidos por indivíduos ao longo do tempo. Se os elementos da ética comunitária fossem naturais, não estaríamos vivendo no mundo em que estamos. Essas formas de relação com o outro devem ser reconhecidas ou identificadas pelos indivíduos na prática social concreta. E é aí que entra a educação. No entanto, não acredito que a ética possa ser aprendida formalmente. Podemos falar sobre ela, etc. mas, a ética como uma forma da relação com o outro não pode aparecer, se não, por meio de sua prática. A ética não pode ser, se não, práxis. Vou apresentar um pequeno exemplo que mostra como um professor se dirige aos seus estudantes para tratar de abrir novas possibilidades de relação com o outro. O exemplo vem de uma turma de 6º ano (estudantes de 12 anos). O contexto é o seguinte: uma nova estudante, Norma, ingressou na turma com a qual estávamos trabalhamos há três anos. Nos anos anteriores, os estudantes desta classe foram apresentados aos conceitos algébricos, alguns dos quais eram desconhecidos pela nova estudante. O professor reconheceu a apreensão em que se encontrava Norma. A maneira como essa turma funcionava era essencialmente a partir de pequenos grupos de dois ou três estudantes. Em pequenos grupos, colaborando entre si, os estudantes geram ideias, as quais eram logo apresentadas à classe para serem debatidas e criticadas. Antes do início da aula, o professor abordou o grupo de Norma. O professor aparece no meio dos dois alunos, à esquerda da Foto 1, Figura 2. No convite do professor reconhecemos a responsabilidade. O convite abre um espaço para criar um vínculo por meio do qual Norma pode se expressar para os outros o que entende e o que não entende. Com a presença dela, os meninos estão perguntando sem palavras: O que você entende, Norma? O que você não entende? 23 Professor: Continuem trabalhando assim, juntos, ajudando uns aos outros. A maneira de ajudar é dizendo, falando. Norma (ver Foto 1), você tem que dizer o que entende e o que não entende. OK? Você vai dizer, bem, eu posso fazer isso, mas, é aqui que eu não entendo. Você concorda? Foto 1 Professor: E vocês, meninos, vão ter que falar o que está certo e ajudar no que Norma não entende; dizer, por exemplo, vamos te ajudar, olha aqui podemos fazer isso. Foto 2 Figura 2: O professor convida os estudantes a ajudarem a nova estudante e convida a ela a se expressar. O compromisso com o outro coloca em xeque a resposta “Não entendo nada” que muitas vezes os estudantes falam como pretexto para que o professor ou outro estudante explique o que fazer. O compromisso com o outro requer o esforço de se envolver no labor conjunto e poder distinguir entre o que um entende e o que não entende. O professor oferece um modelo geral de resposta: “Ok? Você vai dizer: bem, eu posso fazer isso, mas é aqui que eu não entendo. Você concorda? " Em sua resposta, quando o professor tiver ido ver outros grupos, as crianças vão testar a prática de cuidar do outro. Os três vetores da ética comunitária que buscamos fomentar permeiam o labor conjunto e seus processos de objetivação e de subjetivação. Esses vetores se combinam para criar um espaço ético a partir do qual podem emergir novas formas de subjetividade coerentes com o nosso projeto educativo e com a abordagem histórico-cultural. 24 Agradecimentos Este trabajo es resultado de proyectos subvencionados por the Social Sciences and Humanities Research Council of Canada / Le conseil de recherches en sciences humaines du Canada (SSHRC/CRSH). REFERÊNCIAS 1 Alcoff, L. (1988). Cultural feminism versus post-structuralism: The identity crisis in feminist theory. Signs, 13(3), 405-436. 2 Arendt, H. (1992). Kant’s political philosophy. Chicago: The University of Chicago Press. 3 Bakhtin, M. M. (1981). The dialogical imagination. Austin: University of Texas Press. 4 5 6 20 7 Brousseau, G. (1978). La monographie d’un enfant en difficulté: l’enfant Gaël. IREM de Bordeaux. Bordeaux: IREM de Bordeaux. Retrieved from http://guybrousseau.com/wp-content/uploads/2010/12/Monographie-d’un-enfant-en-difficultél’enfant-Gaël. pdf Brousseau, G. 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Journal of Russian and East European Psychology, 48(1), 61-90. 28 TAREFAS De acordo com Radford (2020, p. 26) “a ideia da atividade em sala de aula como labor conjunto nos oferece uma alternativa para pensar novas formas históricoculturais não alienantes de ensino e aprendizagem”. Nesse sentido, ao pensar em uma aula a partir desse princípio precisamos considerar três conceitos que estão interligados e entrelaçados entre si. Eles são fundamentais e assumem uma definição própria dentro da TO, são eles: atividade/labor conjunto, interação e ética. (apesar desse destaque os demais conceitos propostos pela TO não podem ser desconsiderados). Com base nisso, respondam as seguintes tarefas: 1 Qual sentido assumem as ideias de atividade/labor conjunto, interação e ética na TO? 29 2 a) De acordo com a TO a sala de aula de matemática pode ser considerada como uma atividade/labor conjunto que possibilita a materialização dos saberes matemáticos. Vocês acreditam que seja possível organizar uma aula a partir dos princípios do labor conjunto? Justifique. seriam as vantagens e os b) Quais limites de uma aula organizada a partir desses princípios? 30