. ^s\Éffi*ã "s :# FY "*ffi '*"Av " #KW \\** . .fr participação), revelam-se fundamentais para que o movimento obtenha poder . mobilizadol Deficiente controlo social. A reacção e actuação das autoridades institucionais podem fortalecer o movimento social mas também podem debilitá-lo e extingui-lo. Muitas das vezes, um uso desproporcionado da força policial pode intimidar e refrear o ímpeto de um movimento, mas também pode atear os ânimos, exaltar a animosidade face a um governo e reunir a simpatia de sectores da população que podiam até não concordar com os propósitos iniciais do grupo de protesto. Também uma excessiva tolerância e permissão por parte dos órgãos institucionais do poder face a um movimento podem abrir espaço ao seu rápido crescimento e reforço e favorecer mesmo o surgimento de outros. teoria de Smelser teve o grande mérito de identificar um conjunto de condições que ajudam a compreender a génese e constituição dos movimentos sociais, bem como o de relacionar a sua formação com a existência de tensões no seio da sociedade. Contudo, algumas das críticas Deve ser sublinhado que a dirigidas a esta teoria realçam o seu excessivo <<funcionalismo>> e <<mecanicismo>> , ou seja, uma visão da sociedade como um todo equilibrado e ordenado em relação à qual os movimentos sociais se apresentam como agentes de perturbação e desordem, demonstrando a incapacidade das instituições e do controlo social. Por outro lado, os movimentos sociais e os seus participantes são vistos mais como <<produtos>> da tensão e menos como <<produtores>> de tensões sociais, mais como formas de reacção disfuncionais aos conflitos existentes na sociedade e menos como uma deliberação colectiva de transformação das instituições, das mentalidades e do sistema social, sem a necessidade imperiosa de tal surgir como resposta a tensões manifestas. As críticas à teoria das tensões estruturais Outros autores apontam ainda as dificuldades de operacionaltzaçáo empírica da teoria, a sua dificuldade em acompanhar a espontaneidade e dinâmica de muitos movimentos nascidos em sociedades com graus de estruturação e estabilidade diferenciados e o facto de Smelser ter negligenciado ou esquecido a importância decisiva dos média e da cooperação internacional nas formas de actuação eotganização dos movimentos sociais. Ora, se atendermos ao facto de Neil Smelser ter concebido a sua teoria no início da década de 60, percebese a sua desatenção face a fenómenos que estavam apenas a despontar e que hoje são fundamentais na vida e percurso dos movimentos sociopolíticos, como é o caso da utilização dos média e dos novos suportes tecnológicos da informação e, também, de uma forte aposta na colaboração e solidariedade intemacionais entre movimentos similares oriundos de vários pontos do planeta. Finalmente, e como salienta Claus Offe, é de referir o fundo <ideológico> da teoúzação de Neil Smelser e dos seus pressupostos, pois os movimentos são vistos como produções colectivas socialmente inconsistentes e condenadas ao 265 fracasso: <O compoftamento colectivo, de acordo com Smelser, é uma resposta irracional, histérica, que confunde o desejo com a realidade, e em qualquer caso inadequada cognitivamente às coacções estruturais que gera o processo de moderntzaçáo>> (Offe 1992: 200). Para este autor, Smelser associa os processos colectivos não institucionais, tais como os movimentos sociais, à conduta de marginais e alienados comandados por impulsos irracionais, numa resistência que duraria apenas até ao momento em que a sociedade os pudesse reabsorver e proporcionar-lhes as benesses da modernizaçáo. Como refere o próprio Smelser: <<as crenças que servem de base ao comportamento colectivo assemelham-se às crenças mágicas> (Smelser 1989:20-21). 11.1.3 A teoria do conflito A teoria do conflito encontra as suas raízes sociológicas nos escritos de Karl O contributo de Marx para a teoria do conflito social Marx e na sua análise do capitalismo industrial oitocentista. De facto, a revolução industrial produziu uma nova classe social, o proletariado, e novas relações de trabalho ofensivas da dignidade dos operários e trabalhadores em geral, dado que eram baseadas nas leis económicas da mais-valia, nos direitos de propriedade privada, no controlo dos meios de produção e na dominação ideológica de classe. Para lutar contra a miséria, as desigualdades sociais e a alienação infligidas pelas sociedades capitalistas mais avançadas efazer frente aos conflitos sociais daí decorrentes, começou a ganhar forma o movimento operário nas suas modalidades de intervenção popular e organizada, sob a inspiração de várias ideologias libertárias e igualitárias. Os trabalhadores fortaleceram a sua consciência de classe e com recurso a estruturas representativas sindicatos e partidos operários socialistas, comunistas, sociais-democratas engrossaram a contestação nacional e internacional ao sistema económico vigente e à sua ideologia dominante e legitimadora. Esta inevitabilidade do conflito económico e social foi depois teorizada por A perspectiva de Coser so- diversas gerações de sociólogos, desde Max Weber e George Simmel a Raymond Aron, Lewis Coser ou Ralf Dahrendorf, que redescobriram a importância do conflito a partir dos anos 50 do século XX. Lewis Coser tomaria como ponto de partida as reflexões de Simmel, mas reelaboradas agora segundo uma perspectiva funcional-estruturalista, capaz de integrar a problemática do conflito numa teoria que valoriza sobretudo a ordem e a coesão, enquanto Ralf Dahrendorf retomaria o filão marxista, repensado em novos moldes teóricos, nomeadamente com uma renovada leitura das relações de autoridade e da estrutura de dominação no contexto das sociedades capitalistas. bre o conflito social Na obra intituladaÁ s Funções do Conflito Social (1961), Coser adiantou um conjunto de proposições sobre a funcionalidade <<positiva> do conflito social, 266 que distinguiu dos sentimentos e actividades de hostilidade e antagonismo, reconhecendo que o conflito não só não é inevitavelmente disfuncional como pode ser também necessário para manter as instituições, libertando tensões, evitando comportamentos desintegradores e de ruptura, além de servir para eliminar o divisionismo e construir a unidade no interior dos grupos. Já Ralf Dahrendorf, em Elementos para uma Teoria de Conflito Social (I97I), avançou quatro teses fundamentais sobre a essência das sociedades humanas de acordo com a teoria do consenso e da integração social, de teor funcionalista. E que são a tese da estabilidade, que considera toda e qualquer sociedade como um sistema relativamente estável de componentes ou elementos; a tese do equilíbrio, que vê a sociedade como um sistema homeostático; a tese do funcionalismo, que atribui a cada elemento que integra a sociedade uma função <<positivo>, contribuindo para o seu funcionamento; e a tese do consenso, que explica a manutenção e continuidade da sociedade através do consenso conseguido entre os seus membros sobre um conjunto de valores comuns. A estas teses <<funcionalistas> sobre a essência das sociedades humanas, Dahrendorf contrapôs outras quatro teses que estão na base de uma <<teoria coactiva da integração social>>, a saber: a tese da historicidade, que afirma a exposição à mudança dos elementos da sociedade; a tese da explosividade, que toma a sociedade como um sistema de elementos contraditórios e explosivos; a tese da disfuncionalidade e produtividade, que coloca cada elemento da sociedade a contribuir para a mudança; e a tese da coacção, que explica a permanência de qualquer sociedade atravós das relações de coacção que uns membros exercem sobre outros. A perspectiva de Dahrendorf sobre o conflito social Ponderadas estas duas perspectivas a primeira devedora de Parsons (de inspiração rousseauniana) e a segunda de Mills (de inspiração hobbesiana) o que interessou a Dahrendorf foi saber qual destas imagens da sociedade seria mais apropriada para uma teoria geral do conflito social, tendo o autor - - entendido ser a segunda a mais adequada. E isto porque se, de acordo com as teses funcionalistas, o conflito era visto como um fenómeno extraordinário, passageiro e superável, ou seja, como uma patologia e não como uma força produtiva e criadora; jâ ateoria coactiva da integração social reconheceu a efectividade criadora dos conflitos sociais, passando estes a ser considerados como um factor necessário dos processos de mudança social. Dahrendorf, que exclui o marxismo como <solução políticu, aproxima-se do marxismo clássico ao defender que o conflito de classes é o elemento do conflito que permanece em toda a sociedade histórica. O autor referiu viárias situações de desigualdades económicas, sociais, salariais, de propriedade, entre ricos e pobres, capitalistas e proletiários, ou seja, conflitos baseados em categorias sociais distintas e opostas. De qualquer modo, todos estes conflitos se reduzem a uma desigualdade essencial: a da repartição dos recursos de poder nos grupos 261 sociais. Assim sendo, a origem estrutural dos conflitos sociais encontra-se nas relações de domínio existentes no seio da organização social estratificada (cf. quadro 11.1). Quadro 11.1- Comparação entre a teoria funcionalista e a teoria do conflito Fonte: Stock, Pequito e Revez (2005) Questionando-se também sobre as condições que determinavam o grau de violência e a intensidade dos conflitos, o autor encontrou um primeiro conjunto de factores no modo de organização dos grupos em conflito e na forma velada ou aberta e transparente com que actuam. A plena manifestação do conflito parecia configurar-se como um passo para atenuar ou evitar tipos mais explosivos e abruptos de concretizaçáo do conflito, o que por vezes acontecia quando este era apenas latente ou pouco visível. Em relação à intensidade dos conflitos, ela aparece associada aos factores da mobilidade social, ou seja, quanto maior a mobilidade menor a intensidade dos conflitos. Se os trabalhadores estiverem presos à sua condição social e económica sem horizonte de melhoramento e alteraçáo de status, mais permeáveis ficam a movimentações de protesto e de contestação e mais abnegadamente se entregam à luta social e política. Um terceiro grupo de factores que influencia a intensidade dos conflitos tem a ver com a sobreposição ou divisão de sectores sociais estruturais. Quantos 268 mais sectores autónomos, plurais, de defesa de interesses específicos houver, menor será a intensidade dos conflitos. Sempre que se verifique sobreposição de sectores um grande partido que aglutine um partido confessional, um regional e um étnico, por exemplo, ou um movimento que reúna a luta das mulheres, das minorias étnicas e dos pacifistus a intensidade do conflito tende a crescer, porquanto estão misturadas várias exigências e reivindicações e o alcance do conflito pode implicar a sociedade no seu todo, comportando dificuldades acrescidas para a sua resolução. Para além dos trabalhos já referidos de Coser e Dahrendorf, a sociologia do conflito viria a ganhar um novo fôlego a partir da década de 60, decorrente da multiplicação de investigações sobre formas particulares de conflito, muitos dos quais (crise nas Universidades, conflitos étnicos e cívicos, conflitos de valores entre diferentes gerações, etc.) estiveram na origem de novos movimentos sociais. Para além disso, os desenvolvimentos teóricos mais recentes deram ensejo renovadas orientações e temas de estudo, com destaque para as teorias da mudança social e dos processos revolucionários (Tilly 1978, a 1993; Tarrow 1989, 1994), a teoria da mobilização dos recursos (Zald, McCarthy 1977, 1996), as teorias dos novos movimentos sociais (Touraine t982;Offe 1990). II.l.4 A teoria da privação relativa A teoria da privação relativa tem como principais representantes Hyman (1942) e, sobretudo, Merton ( 1950). Para esta teoria a formação de movimentos sociais deve-se ao facto de certos sectores da sociedade se sentirem privados de determinados privilégios, direitos e vantagens, comparativamente com outros grupos ou sectores sociais que os usufruem. O sentimento de privaçáo náo é sentido em abstracto, mas sim relativamente ao que ouÍos têm, daí que a privação se afira subjectivamente segundo a avaliação que os membros de um grupo fazemem função da situação vivida pelo grupo de referência. Por outras palavras, é na comparação com o que os outros detêm que é definido um estado de privação, de necessidade e de sofrimento. A noção de privação relatiVA Veja-se, a título de exemplo: um juízo comparativo levado a efeito por um trabalhador português face às condições de trabalho, de remuneração, de regalias sociais e de qualidade de vida de um colega da mesma profissão e categoria profissional na maior parte dos países da União Europeia, fá-lo-â sentir-se bem pior do que porventura já se sinta, sendo que esta tomada de consciência da desigualdade e da sua desvantagem relativa pode aumentar a frustração, estimular o desejo de mobilidade social e favorecer o protesto social e a mobilização política no sentido de reivindicar a melhoria das condições 269 gerais (materiais e imateriais) de vida. O mesmo acontece, ou pode acontecer, com os professores, a cujo estatuto académico, cultural e profissional não equivale um nível remuneratório e um reconhecimento social iguais ou semelhantes aos de outros profissionais (médicos, advogados, etc.). Esta frustração das expectativas que se alimenta na comparação com os grupos de referência pode ser vista individual ou colectivamente. Neste último caso, e exemplificando, as minorias ótnicas podem sentir-se discriminadas ou prejudicadas em comparação com a etnia dominante, a ponto de se considerarem, enquanto grupo, como cidadãos <<de segunda>. O contributo de Coser para a teoria da privação relativa O contributo de Davies, Faìnstein e Gurr para a teoria da privação relativa Críticas à teoria da privação relativa 270 Curiosamente, um dos autores que testou empiricamente a teoria da privação relativa foi Lewis Coser, um dos representantes da sociologia do conflito. No seu estudo sobre a violência na sociedade norte-americana, Coser serviu-se da teoria da privação relativa e das decepções e constrangimentos vividos pelos sectores sociais excluídos e mais penalizados pelos processos rápidos de modernizaçáo (os afro-americanos), paraexplicar as acções violentas e as perturbações associadas aos períodos de transformação social. Como afirma Coser, <<a noção de privação relativa, que se desenvolveu para dar conta de certos aspectos do comportamento de grupos e indivíduos implicados de maneira diferencial nas estruturas sociais relativamente estáveis, serve igualmente para tratar problemas de mudança social abrupta e continuado> (Coser I97O: 54). Durante a década de 60 e no início da década de 70, esta teoria ganhou novos desenvolvimentos com Davies ( 1962), Fainstein (1969) e Gurr (1970), autores que enfatizaram a dimensão subjectiva da privação, entendida como um estado que depende da percepção que os sujeitos têm da sua situação em função do que merecem ter, das expectativas que criam e do que os outros desfrutam, quer em relação a bens materiais, quer em relação a direitos, oportunidades, reconhecimento de statusepossibilidades de afirmação pessoal, cultural e política. Apesar do valor heurístico da teoria da privação relativa não deixam de lhe ser endereçadas algumas críticas. Uma delas tem a ver com o facto de não explicar estrutura e o modo de vida interno de um movimento social, mas apenas as causas ou as razões do seu aparecimento. Para além disso, como a privação relativa poderá ser, em várias situações, umarazáo necessária mas não uma razão sufïciente para o surgimento dos movimentos sociais, só por si não permite saber quando um movimento passa a estar iminente e a constituir-se. Mas mais: muitas vezes, a tomada de consciência da privação acontece não quando um grupo de indivíduos decide formar um movimento, mas já como resultado da actividade e propaganda de um movimento que se formou ao serviço de ideias e causas mais globais e até abstractas (nova concepção de justiça). E, neste caso, será como consequência da afirmação do valor da justiça levado a cabo por esse movimento que os indivíduos se apercebem de facto da injustiça da sua situação e condição. a ::r:ì:i-:::::::,]?,, ÍlìÌ.i,ìíï.2ã,iii:::ì\\,ììtrffi 11í#.\\.ìrN-V 11.1.5 A teoria da sociedade de massas A teoria da sociedade de massas não se afasta muito da linha de investigação da psicologia de massas e tem em William Kornhauser (1959) um dos seus principais representantes, apesar dos estudos precursores de Ortega y Gasset por volta da década de 20 do século passado sobre as massas nas sociedades contemporâneas. Esta teoria visou sobretudo explicar a formação dos movimentos totalitários na Europa (o fascismo, o nacional-socialismo, o comunismo soviético) e compreender por que é que os indivíduos aderiram a propostas tão radicais. De acordo com esta abordagem, o aparecimento dos movimentos sociais ficaria a dever-se ao facto destes fenómenos colectivos outorgarem aos indivíduos sem laços sociais fortes ou até isolados socialmente um sentimento de pertença a uma comunidade ou grupo. O móbil da participação nos movimentos encontrar-se-ia, por conseguinte, na <<solidão social>> dos indivíduos que, devido a essa condição, se mostravam fragilizados e susceptíveis de obedecer a líderes autoritários. Os movimentos mais radicais e revolucionários recrutariam as pessoas mais facilmente manipuláveis e mais disponíveis, exactamente por não estarem protegidos por vínculos sociais, enquanto os indivíduos socialmente mais integrados ofereceriam uma maior resistência à adesão e participação em movimentos A teoria da sociedade ntASSAS dessa natureza. Portanto, e segundo esta teoria, o surgimento dos movimentos sociais deve-se mais a certas condições subjectivas dos indivíduos, as quais favorecem a sua ligação a estruturas mais organizadas que os orientam (liderança do movimento) e permitem construir novas solidariedades do que à iniquidade do sistema económico, ao autoritarismo do regime político ou ao anacronismo das instituições. Dito de outro modo: as razões para a formação do movimento são deslocadas da sociedade (conflitos, crise ou mau funcionamento das instituições, órgãos, organização social) pata a susceptibilidade das massas desintegradas. E apesar desta perspectiva teórica reconhecer que a sociedade de massas conduz ao isolamento social e à alienação dos indivíduos, porque as transformações operadas na sociedade (moderni zaçáo tecnológica, urbanizaçáo, <<fordismo>> e novos modelos de organização do trabalho) enfraquecem as conexões sociais tradicionais (família, pequena empresa, redes de vizinhança), ela continua a atribuir às massas (e sobretudo aos excluídos, pobres e marginais) a propensão à irracionalidade e à credulidade, como se estas estivessem destinadas a ser manietadas por líderes ardilosos e organizações insidiosas. A teoria da sociedade de massas também não explica com rigor como é que indivíduos desamparados e isolados socialmente se mobilizamparaforïnaÍ ou integrar movimentos sociais. Desconsidera, pois, como bem assinala Melucci (1999), o papel fulcral que desempenham as redes de contacto e de recruta- Críticas à teoria da sociedade de massas 271 mento e, podemos acrescentar, os pequenos grupos de inserção local, profissional e cultural, na estruturação da vontade individual e na escolha pela acção colectiva. Após acaracterização de algumas das teorias clássicas dos movimentos sociais, e para terminar este ponto, façamos uma breve síntese dos conteúdos fundamentais de cada uma delas no quadro que se segue: Quadro lI.2-Teorias clássicas dos movimentos sociais: um resumo Fonte: Stock, Pequito e Revez (2005) 272 lI.2 As teorias contemporâneas dos movimentos sociais Para além das teorias clássicas dos movimentos sociais que temos vindo a analisar, importa apresentar outro conjunto de teorias ou abordagens mais contemporâneas, que incidem especialmente sobre o fenómeno dos novos movimentos sociais. De entre esse conjunto destacaremos: a teoria da acção colectiva, a teoria da mobilização de recursos, a teoria da estrutura de oportunidades políticas, as teorias da identidade e a teoria dos novos movimentos sociais. lI.2.I A teoria da acção colectiva Esta teoria, cujo principal expoente é sem dúvida Mancur Olson ( 1965), rompe teorias do comportamento colectivo de fundo psicologista e recai sobre o comportamento racional do actor, avaliado em termos de custos-benefícios, e sobre as dificuldades de transposição da racionalidade individual para a participação na acção colectiva, identificando o jogo estratégico que está com as A teoria da acção colectiva de Olson implicado nos processos de mobilização e interacção social comvistaàobtenção de bens colectivos. Conquanto alguns autores o situem no âmbito da teoria da mobilização de recursos, visto que é a partir do seu modelo explicativo que são estruturados muitos dos elementos desta teoria, e atendendo a que foram feitas outras apropriações teóricas, em diferentes direcções, da análise de Olson, pensamos que o seu modelo teórico assume uma inegável especifïcidade, pelo que optámos por autonomtzár-Io. Com efeito, Mancur Olson estabeleceu as bases teóricas do que se viria a denominar <teoria das escolhas racionais>>, a qual foi sendo aplicada em diversos domínios científicos. Um dos méritos de Olson foi ter distinguido a lógica da acção colectiva da lógica de acção individual, supondo aquela, condições de cálculo e racionalidade diferentes das que subjazem às decisões individuais. A lógica da acção colectiva e a lógica da acção individual Quer isto significar, fundamentalmente, que a comunidade de interesses, mesmo quando é um dado evidente para todos, não é suficiente para desencadear a acção comum que permite promover o interesse de todos. Donde, a homogeneidade de interesses não constitui condição suficiente para a mobilização das acções individuais, isto ó, para que aacçáo colectiva se verifique. E isto porque, própria lógicado sistema de interacção origina situações em que os actores racionais pesam os prós e contras da participação nos esforços de acção colectiva e decidemnão participar> (Fereira et aI.1995:274). <a Esta ideia reconfigura a noção de <<bens colectivos>>, isto é, de bens ou serviços A noção de bens colectivos que favorecem um grupo determinado, independentemente da colaboração 273 ïiliÌl;:::::= A noção de free riders :,:,. :'11trM//;=, directa que este possa dar para a sua obtenção. São disso exemplos, o reforço dos direitos das minorias étnicas, o aumento salarial dos trabalhadores ou a melhoria das condições laborais numa empresa. Neste último caso, bem como nos outros, o bem colectivo <<não poderá ser dado exclusivamente aos que se baterem por ele: todos os trabalhadores da empresa o desfrutarão, sem terem em conta quem participou activamente,talvezmesmo fazendo greve e arcando pessoalmente com as consequências>> (Pasquino 2000: 72).Osque usufruem da situação conseguida sem intervir ou colaborar na obtenção do bem colectivo são denominadosfree riders. O facto de estes que vão <à boleiu daqueles que intervieram activamente na conquista das vantagens colectivas não participarem pode ficar a dever-se à acção consciente e calculada ou acontecer de forma inconsciente, neste último caso não podendo ponderar-se os custos da participação, visto que não agiram ou por ignorância ou por outra impossibilidade. Assim sendo, a existência de free riders demonstra bem a racionalidade A noção de incentivos lectivos calculista e estratégica dos actores sociais, que escolhem a participação ou a não parlicipação de acordo com os custos e vantagens associados a tal decisão. É aqui que entra uma outra noção fundamental introduzida por Olson: a de <<incentivos selectivos>, que respeita aos recursos e vantagens, tais como o reconhecimento social, o poder, o prestígio, a autoridade, o status e os bens materiais, que influenciam aparticipação de um actor na acção colectiva, isto é,,naacção organrzadatendo em vista a conquista de bens colectivos. ora, de acordo com o modelo de olson, a possibilidade de incentivos selectivos individuais é importante para percebeffnos a formação e desenvolvimento dos movimentos sociais. Neste caso, como noutras organizaçóes sociopolíticas, a tendência do actor seria a de não participar na acção colectiva, visto que os custos parecem superiores aos benefícios, os qttús a priori se aÍiguram incertos e imprevisíveis e, para além disso, ele poderia beneficiar de eventuais vantagens nacondição defree rider, abstendo-se de integrar o movimento. Logo, a existência de incentivos selectivos compensa o actor e estimula-o à participação, não pelo bem colectivo visado, nem pela mera consciência e interesse nele (como decorre da análise marxista), mas por outras gratificações marginais ao movimento, como o prestígio, o poder, a influência, a visibilidade mediática, entre outros. Contudo, numa situação em que não sejam perceptíveis os incentivos individuais e que, portanto, não se justifique racionalmente a participação do actor, o que explic a a cnação e a sobrevivência dos movimentos sociais? Parece aqui assomar-se, mais uma vez, o fundo irracional das massas, mesmo que tal ganhe o nome de altruísmo. Uma resposta alternativa a esta questão poderá será dada pela teoria da mobilização de recursos. Gordon Tullock (ï974,1980) transportou algumas das ideias de olson paraa sua teoria das revoluções, reequacionando os interesses e as motivações dos 274 1:*:\ï:" -\5 participantes em mobilizações revolucionárias, que, em seu entender, obedecem uma lógica talvez excessivamente instrumental e individualmente centrada. Com efeito, <<este autor cenffa a sua análise na hipótese de a participação em movimentos revolucionários não se processar em nome de ganhos colectivos, mas sim em função das vantagens pessoais resultantes de uma inclusão no movimento revolucionário, depois de efectivamente pesadas as vantagens e os custos e riscos do envolvimento>> (Ferueira et al. 1995:275). a Uma das objecções críticas à teoria de Olson foi a formulada por Fireman e Gamson (1979), para quem a participação dos actores na acção colectiva com o objectivo de obter um bem colectivo se deve à consciência que os participantes têm de que o bem não se consegue se cada um ficar à espera que os outros actuem, logo, os mais conscienciosos tomariam a iniciativa. Outros autores (Oberschall, 1980; Oliver, 1984) chamaram, por sua vez, a atenção para o facto de que a percepção que cada indivíduo tem do sucesso da sua participação, aspecto decisivo na decisão de intervir, estar muitas vezes dependente da quantidade de elementos do grupo e da importância que é concedida à sua colaboração. Críticas à teoria da acção colectiva 1L2.2 A teoria da mobilização de recursos O propósito fundamental de Olson consistiu em construir um modelo da participação racional no âmbito da acção colectiva, não estudando, contudo, a sua apiicação particular ao nível dos movimentos sociais. Esse objectivo seria prosseguido, entre outros, por Oberschall (1973), McCarthy eZald (1977) e Tilly ( 1978), dando origem à teoria da mobilizagão de recursos. Segundo esta perspectiva, aparticipação dos actores nummovimento deve ser analisadaem função da relação custos-benefícios , da existência e natureza dos incentivos selectivos, das formas de reduzir os custos permitidas aos participantes e dos recursos disponíveis para serem mobilizados. De entre estes recrusos, os autores destacam a importância da organrzaçáo na formação dos movimentos sociais e na sua capacidade mobilizadora, dado que permite desenvolver redes de contacto e de recrutamento que reduzem os custos de participação dos aderentes, ao mesmo tempo que possibilitam uma eficaz captação de adeptos porque também estes atingem mais facilmente as metas propostas. A teoria da mobilização dos recursos A teoria da mobilização de recursos surgiu na década de 70 do século XX, ampliando os estudos empíricos sobre os movimentos sociais que se tinham revelado um dos fenómenos sociais mais estimulantes e problemáticos para a investigação sociológica durante os anos 60. Ao contrário das perspectivas da psicologia das massas e do funcionalismo, esta teoria encara os movimentos 275 sociais como uma realidade <<normal>>, organrzada e racional das sociedades contemporâneas, marcadas pelo dinamismo social, pelas mudanças rápidas e pela conflitualidade. Assim, e enquanto na Europa germinavam as teorias dos novos movimentos sociais, a teoria da mobilização de recursos seria desenvolvida sobretudo nos EUA, sustentando que um movimento social para surgir e se consolidar tem de conseguir reunir um conjunto diverso de recursos essenciais, tais como: meios financeiros , organizaçáo consistente e articulada, apoios e alianças interiores e exteriores ao movimento. Esta abordagem salienta também não só a importância dos contactos e negociações que se estabelecem entre os movimentos e outros grupos e organizações no sentido de definirem estratégias de actuação adequadas e de captarem mais e melhores recursos, como reconhece igualmente a vantagem da pertença dos indivíduos a organizações formais, no que concerne à fase de se recrutamento para o movimento: <Quanto maior é o número das pertenças organizatlas, sobretudo de tipo mais explicitamente político, maiores serão as probabilidades de um indivíduo participar, tendo quer maiores contactos com pessoas empenhadas numa causa específica quer um conjunto de experiências úteis para uma nova mobilização>> (Della Porta 2003: 135). Isto parece ser ainda mais relevante quando se trata de aderir a movimentos clandestinos, perseguidos política e policialmente ou tornados ilegais, nos quais a participação se torna perigosa e arriscada. McCarthy e Zald (1987) acrescentariam outros recursos de natureza social, cultural e educativa, coadjuvantes da integração dos indivíduos nos movimentos sociais. São eles a ampliação e difusão da instrução (democratrzaçáo e massificação do ensino), a expansão da classe média e a melhoria da qualidade de vida. Segundo estes autores, tais factores propiciam a participação dos indivíduos em associações e movimentos, pois traduzem-se em mais conhecimento, maior disponibilidade, mais dinheiro, ou seja, num incremento considerável dos recursos que podem ser mobilizados e empregues. O contributo de Oberschall para a teoria da mobilização de recursos 276 No âmbito da teoria da mobilização de recursos, um dos autores mais significativos éAnthony Oberschall (1973), que analisou os movimentos sociais a partir do modelo teórico de Olson, introduzindo-lhe, porém, algumas alterações. Este autor destacou sobretudo o papel das redes comunitárias de interacção social na mobilização e integração dos membros dos movimentos: os apoiantes são recrutados no seio dos grupos, associações e organizações a que pertencem, pois é aqui que são promovidos e experimentados sentimentos de identidade e lealdade ao grupo, o qual, por sua vez, desenvolve com o actor individual umjogo de recompensas, deveres e compromissos que influenciam a decisão que este venha a tomaÍ quanto à participação na acção colectiva. Em geral, os membros dos movimentos sociais são, para Oberschall, indivíduos socialmente conectados e <<organizados>>, e não já indivíduos desestruturados e isolados, como apontava a psicologia de massas e Kornhauser. De qualquer modo, e na esteira de Olson, Oberschall realçou também a racionalidade instrumental dos actores envolvidos em acções colectivas de protesto, baseada por sua vez no cálculo de recompensas e sanções, de ganhos e perdas. Todavia, Oberschall não ignorou a necessidade de uma boa <gestão dos recursos>> na canalizaçáo e organização do descontentamento social, posto que só através de umacompetente mobilização de recursos é que um grupo de protesto poderia atingir os resultados pretendidos. John McCarthy e Mayer Zald (1977) deram continuidade aos estudos de Oberschall, sustentando a importância das condições e dos recursos que estão na origem dos movimentos sociais. Se os conflitos e a contestação social são vistos, por estes autores, como fazendo parte da vida normal das sociedades avançadas, será necessário estarem criadas um conjunto de condições para se passar da observação e reconhecimento da conflitualidade à mobrlizaçáo para a acção colectiva organizada. Mais vmavez, os pressupostos da mobilização residem na racionalidade do actor, que decide em função da relação custosbenefícios. Ora, tal como já havia sido teorizado por Olson, a existência de free riders obriga a considerar quer a relevância dos recursos selectivos, quer a sua gestão, como salientou Oberschall. Neste contexto, McCharthy eZald vão conceder especial atenção àorganização, elemento fundamental da acção colectiva e a partir do qual os autores estabeleceriam algumas distinções conceptuais. A organtzaçáo é, para ambos, decisiva na prossecução dos objectivos do movimento, atendendo aque é aestruturaorganizativaque gere os recursos e coordena a actividade de um movimento social. Este é concebido pelos autores como <<um conjunto de opiniões e crenças de uma população que representa preferências para mudar alguns elementos da estrutura social e/ou a distribuição de recompensas numa sociedade>> (McCarthy eZald 1977: O contributo de McCarthy e Zald para a teoria da mobilização de recursos r2r7). Assim definido, o movimento social requer uma série de entidades organizativas de diferente amplitude e complexidade. Num primeiro nível, encontramos a <<organização de um movimento social>>, ou seja, uma estrutura formal capaz de levar a cabo os objectivos de um movimento a partir das prioridades definidas por este. Num segundo nível, é possível encontrar o que os autores chamam de <indústria do movimento social>>, ou seja, a totalidade das organizações de um movimento social que se identificam com as suas metas gerais. Num terceiro nível, temos o <<sector dos movimentos sociais>> que diz respeito ao conjunto das indústrias dos movimentos sociais que existem numa sociedade. Esta diferenciação entre as várias modalidades organizativas permite distinguir um movimento social enquanto corrente de opiniões e crenças e os seus suportes organizativos, que visam mobilizar recursos, integrar membros e efectivar actividades de modo a melhor concretizar os ideais em causa. A existênciade organizações vocacionadas para dar expressão e consequência aos valores e causas orientadores de um movimento confere aos recursos uma 271 v.iffi,li:i:.:;::::::':-4.{.!,ll lr\,ì\ÈlÌl importância ainda mais decisiva: os recursos são necessários não só para que o movimento consiga subsistir e desenvolver-se de forma estruturada, mas tambémparaque as próprias organizaçóes que o secundampossam sobreviver e ter continuidade, assegurando as despesas de funcionamento e os custos das suas actividades. Para isso, tais organizaçóes disputam os recursos disponíveis com outros grupos e entidades não-governamentais e também entre si, viabilizando alianças e entendimentos conjuntos. Estas exigências emtermos de recursos conduzem a uma progressiva profïssionalização das organizações dos movimentos sociais, que desinvestem de um recrutamento massivo de membros e apostam numa liderança profissional, num acesso mais frutuoso aos meios de comunicação social, em campanhas ambiciosas de markeíing e propaganda e em métodos de gestão sofisticados. Deste modo, os líderes tornam-se autênticos <empresários>> ou <<gestores>>, formalizando as relações com a base de apoiantes do movimento. Tal desenvolvimento vivido no seio das organizações de suporte aos movimentos sociais, não parece muito diferente das mutações verificadas nas organizaçóes partidárias aquando da transformação dos partidos de massas para os partidos profissionais de eleitores ou catch-all parties. Mas, se a <<burocratização> e <<profissionalização>> das organizações dos movimentos tira espontaneidade e informalidade à participação nos movimentos, por outro lado acrescenta uma maior racionalidade e eficácia na gestão dos recursos e nas várias actividades associadas ao movimento, o que significa maiores benefícios em termos de tempo e êxito para os participantes, e menores custos em termos de dedicação, esforço e disponibilidade. O contributo de Tilly para a teoria da mobilização de recursos Charles Tilly (1978) é um dos autores que aparece associado às teorias do conflito, da acção colectiva e da estrutura das oportunidades políticas. Conquanto a conjugação de ideias e conceitos que empreende o enquadre em diversas abordagens, parece-nos mais adequado, atendendo ao fundamental da sua proposta teórica, situá-lo no âmbito da teoria da mobilização de recursos. CharlesTilly, historiador e sociólogo, investigou a novidade e as consequências produzidas pela expansão dos média e pelas inovações tecnológicas na estrutura interna dos movimentos, que foram perdendo a informalidade e a precariedade organizativa, e reforçando, por volta dos anos 70, a liderança centralizada e os processos de coordenação em rede. Pondo em relevo o papel da organização na distribuição, captação e manutenção de recursos de poder, o autor considera que tais recursos estão distribuídos de forma desigual e desequilibrada nas sociedades. Todavia, nem sempre a confrontação e o descontentamento geram necessariamente uma acção colectiva. Logo, devem estar reunidas uma série de condições que a partir de um conflito ou de uma injustiça possam levar à acção colectiva, das quais se destacam: os interesses comuns (união solidária dos interesses comuns na forma 218 de grupo como solução mais vantajosae eficaz de defesadesses interesses); a organizaçáo (o grupo precisa de ordem e coordenação na liderança e na definição de tarefas, pelo que, ou cria uma organizaçáo ou tem o apoio de uma já existente); a mobilização de recursos (a organizaçáo precisa de vários para atingir meios logísticos, financeiros, militares, comunicacionais, etc. (é a política escolha do determinante os seus objectivos); e a oportunidade momento oportuno e favorável para intervir em função das condições do ambiente político). Em suma, e como sublinhaPasquino: <<no momento em que entram emcontacto uns com os outros, os grupos e actores desenvolvem interesses que revelam quem perde e quem ganha com as várias interacções. Nesse momento, entra em campo a organização, ou seja, a consciência da pertença a uma identidade comum e da existência de um tecido conectivo ligando os diversos indivíduos que compõem um grupo>> (Pasquino 2000: 104). Saliente-se, portanto, que a organizaçáo pode fortalecer ou enfraquecer as conexões intragrupais e facilitar ou dificultar a mobilização dos recursos e, como tal, apresentar mais vantagens ou mais custos para a participação na acção colectiva. Este processo depende ainda da posição e capacidade de intervenção dos órgãos do poder institucional, os quais podem privar os grupos contestatários de liberdade de acção, ou reprimir e sancionar os seus participantes, ou mostrar-se mais permissivos ou ocupados com diferentes prioridades, dando espaço à intervenção de grupos de protesto. Tudo se joga então na dinâmica de oportunidades, de reacçõesoposições, de eficácia organizacional e de capacidade de mobilização de recuÍsos, a qual, em cada momento histórico, acaba por decidir os resultados da acção colectiva. teoria da mobilização dos recursos foi objecto de inúmeras críticas, nomeadamente a que Turner e Killian (1987) dirigiram ao caúrcter pouco preciso da noção de <<recursos>>, que, na opinião destes autores, deveriam ser valorizados também como possibilidades aferidas subjectivamente pelos actores de acordo com os seus critérios de preferência e parâmetros de significação, e não tanto como algo de objectivo em si mesmo. Para além disso, deveriam abranger igualmente coisas como os bens materiais, o apoio explícito e institucional, o acesso aos média, etc. De outro ponto de vista, alguns autores (Fireman e Gamson |9l9;Zurcher e Snow 1981; Turner I99l), apontaram o reducionismo da teoria da mobilização de recursos que, ao circunscrever a e, no que nos intetessa, nos decisão de participação na acçáo colectiva a uma mera lógica calculista-instrumental de custosmovimentos sociais -benefícios individuais, exclui ou desconsidera a dedicação altruísta, a filiação ideológica como factor motivacional suficiente, a solidariedade com causas e ideais, as lealdades morais e afectivas. Também a Críticas à teoria da mobilização de recursos Por outras palavras, a adesão de um indivíduo a um movimento social não obedece apenas a uma ponderação <<economicisto> e objectiva de custos e 279 benefícios, mas pode também, ou apenas, pressupor e depender de uma adesão a valores e a princípios, de uma escolha por cumplicidade ideológica, ou do espírito de missão e de dever. Aspectos, estes, que não têm necessariamente de ser apelidados de irracionais, pois há uma racionalidade edificante que não se compadece apenas com as vantagens lógicas e egoístas e que, admitamolo, requer até sacrifícios e perdas pessoais a diversos níveis. Para além destas críticas, e independentemente da abrangência da noção de recursos, deve ainda referir-se que os movimentos sociais podem conhecer provações e derrotas mesmo mobilizando os recursos considerados necessiírios, dado que a capacidade de resistência, a estratégia de combate ou os ataques dirigidos a um movimento pelos que a ele se opõem (órgãos do poder político, partidos políticos, grupos de interesses ou de pressão etc.), também influem e decidem o êxito ou a derrocada de um movimento social. De igual modo, mesmo sem muitos recursos <<objectivos>>, üfl movimento pode afirmar-se e impor-se pela abnegação e entrega dos seus membros, pela força das suas convicções e pela sua tenacidade na luta, factores a que a teoria da mobilizaçáo de recursos não parece dar a importância devida. tI.2.3 A teoria da estrutura de oportunidades políticas Esta teoria, também designada por teoria do processo político, vem na senda da teoria da mobilização de recursos e, em especial, das ideias de Eisinger A teoria da estrutura de oportunidades políticas (1913) e de Tilly (L915),nomeadamente a importância concedida ao ambiente político e institucional e às oportunidades políticas existentes no âmbito do desafio lançado ao poder instituído por parte de grupos <<provocadores>>. Com efeito, o contexto político influencia não apenas a criação dos movimentos sociais mas também a sua sobrevivência e o sentido das suas actividades, dado que é tido como um dos recursos da acção colectiva, quer pelas oportunidades que proporciona (abertura, tolerância, disponibilidade para alianças, etc.), quer pelos obstáculos que impõe (repressão, controlo social, constrangimentos legais, etc. ). Por exemplo, em momentos de crise institucional e de instabilidade social, política e económica, os grupos de protesto espreitam a oportunidade para influenciar o poder ou firmar posições e concretizar objectivos. Contam para essa oportunidade de intervenção e mobilização colectivas, segundo McAdam (1998), um conjunto de factores, entre eles: o grau de estabilidade das elites governantes, a maior ou menor ri gtdez e permissividade do sistema em termos de controlo social e exercício da repressão e a correlação de forças entre os grupos apoiantes e aliados do poder e os grupos e associações contestatários. 280 É evidente que a dinâmica e o sucesso dos movimentos sociais não se podem desligar do contexto das interacções desenvolvidas com oS outros actores institucionais e não institucionais, sobretudo com os que exercem o poder e que, por isso, são afrontados ou ameaçados: <<como portadores de desafios no confronto comuma dada ordempública, os movimentos sociais interactuam com oS actores que gozam nessa ordem de uma posição consolidada. As características dessas acções recíprocas condicionam quer as formas assumidas pela acção colectiva quer as suas possibilidades de êxito> (Della Porta 2OO3: 138). Nos anos 80, autores como Sidney Tarrow (1985, 1988, 1989) e Doug McAdam (1988) e, já nos anos 90, Hanspeter Kriesi (1992), dariam continuidade a esta teoria, introduzindo novas variáveis decorrentes de diversas investigações empíricas. Assim, para estes autores, no plocesso de acesso aos mecanismos dedecisãopolítica, os movimentos sociais devemconsiderarcertos elementos ou características (umas mais estáveis outras mais imediatas, umas formais outras informais) da estrutura de oportunidades políticas em cada Os contributos de Tarrow, McAdam e Kriesi para a teoria da estrutura de oPortunidades políticas sociedade, a saber: O sistema institucional. Quanto maior for a descenffahzaçáo administrativa e territorial e quanto maior for a separação e independência dos poderes legislativo e judicial face ao executivo, mais hipóteses têm os movimentos sociais de aceder ao poder e maior capacidade de mobilização atingem. Para além disso, um maior grau de <<coerência da administração pública> (mais comum nos Estados centralizados) tende a dificultar o acesso àesfera institucional dos movimentos sociais, enquanto um elevado grau de institucionalizaçáo dos procedimentos democráticos directos, como é o caso das iniciativas legislativas populares, referendos, etc., favorece a <<enttada>> dos movimentos sociais no sistema formal de poder (Kriesi 1992: l2O-I22). O sistema estratégico. Este é constituído pelas modalidades a que o poder instituído recorre para lidar com os grupos de protesto: reprimindo e excluindo, ou aceitando e viabilizando as exigências postas. Anatureza da estratégia dominante, excludente ou integradora, não equivale a nenhum tipo particular de Estado (mais centralizador ou mais descentralizadoLmais forte ou mais fraco) mas, de qualquermodo, constituindo um elemento mais informal do processo político, ela não é absolutamente contingente, pois caracteriza a atitude geral que as autoridades políticas mantêm em relação aos grupos e movimentos sociais. O sistema de alianças e o sistema de conflito, que é composto pelos actores políticos que apoiam o movimento social e os que se lhe opõem eo combatem. Ou seja, <<enquanto o sistema de aliança fomece recursos 281 lzlrlzl72-)DD**rr:;:::::: llltllÈ,;ffii;::::=)tltt, /,vkii ?:: l.iii.tiiri:::.:::::::,1:l ílJit:k cria oportunidades políticas para os desafiadores, o sistema de conflito tende a piorar aquelas condições> (Della Porta 2003: I4l). Quanto a este último aspecto, Tanow (1998) identificou um conjunto de factores e conjunturais que mudam as condições do sistema político e que interferem sobre as oportunidades de actuação dos movimentos sociais. São eles: o incremento do acesso à participação na vida política pública, nomeadamente através dos processos eleitorais, as mudanças na estrutura e lógica de alianças da elite política, a posição que aliados influentes podem tomar em favor dos movimentos sociais, as divisões e dissenções na elite política que podem facilitar a afirmação da acção colectiva, a existência de atitudes e mecanismos de repressão, mais visíveis ou mais sofisticados, que inibam a mobilização colectiva e aumentem os custos da participação ou a inexistência e ineficáciade tais atitudes e mecanismos, de maneira aestimular o envolvimento em actividades colectivas de protesto. Estando presentes estes factores estruturais e conjunturais, cabe às estruturas de suporte da acção colectiva avaliar a melhor oportunidade para actuar, isto é, a que implique maiores vantagens e menores custos. Saliente-se, ainda, que a percepção dos actores e a sua intervenção podem desencadear uma dinâmica mobilização por contágio, originando <<ciclos de protesto>>, visto que os grupos provocadores ou desafiadores contribuem para tornar mais visíveis as debilidades do sistema político e evidenciam novas possibitidades de acção, que são seguidas ou intensificadas por outros grupos. A noção de <ciclos de e uma protesto>> A noção de ciclos de protesto de Tarrow foi, aliás, definida por Tarrow (1998) como <<uma fase de inten- sificação dos conflitos no sistema social>> caracteúzada por uma rápida difusão da acção colectiva dos sectores mais mobilizados aos menos mobilizados; uma constante e célere inovação nas formas de confrontação; uma afirmação de marcos novos ou transformados para a acção colectiva; uma combinação de participação organizada e não organrzada; uma sequência de informação e interacção intensificadas entre dissidentes e autoridades (Târrow 1998: t42). A generalização e rupidez do protesto, promovidas por uma elite contestatárra com capacidade de multiplicar as reivindicações e mobilizar aacção de outros grupos, fazem com que se crie um efeito <bola de neve>> de consequências imprevisíveis, obrigando o sistema de poder vigente a tomar medidas adequadas, de contenção e repressão do protesto ou de aceitação condicional e negociada das demandas. De qualquer modo, os grupos menos decididos ao combate colectivo podem ver no desenvolvimento dos ciclos de protesto uma oportunidade de intervenção, visto que, ao aproveitarem a <boleiu das acções de protesto em curso, se reduzem os custos de participação e aumentam as expectativas de benefícios. 282 w '*rã De entre as críticas formuladas à teoria da estrutura de oportunidades políticas , sobressai a acusação de reducionismo político, por esgotar no tipo de funcionamento do sistema político e nas condições do ambiente político envolvente as oportunidades de intervenção ou de desmobilização dos movimentos sociais, desvalorizando outras variáveis igualmente relevantes para as decisões de envolvimento colectivo. Para além disso sendo que idêntica crítica pode ser dirigida à teoria da mobilização de recursos a -, teoria da estrutura de oportunidades políticas refere <oportunidades>> e <<recursos>>, mas não define objectivamente o que sejam essas realidades, remetendo-as apenas paraaavaliação, expectativas e ponderação racional dos actores sociais. Ora, tal capacidade subjectiva ou intersubjectiva dos participantes pressupõe, como bem assinala Melucci (1999), uma outra capacidade: a de construírem a sua identidade e a do ambiente que os rodeia, de modo a situarem-se no contexto de um sistema de acção e poderem avaliar os limites e as possibilidades da sua intervenção. Seja como for, a formulação dos modelos da identidade social que sustentem uma lógica de acção colectiva baseada no cálculo de oportunidades e de relação custos-benefícios inscrevese jáno domínio das teorias da identidade. " ," Ìffi Críticas à teoria da estrutura de oportunidades políticas 11.2.4 As teorias da identidade colectiva Segundo Tajfel (I97I,1981), o modo de actuação dos membros de um grupo muda quando eles se sentem parte integrante desse colectivo, visto que o indivíduo, sob o efeito de uma nova condição de pertença, persegue os objectivos do grupo e, para tal,canaliza nesse sentido o seu comportamento. Tajfel analisou a identidade social ou grupal nas minorias que constituem os movimentos sociais, sublinhando que também aí os actores agem de acordo com a consciôncia que têm do colectivo a que pertencem e dos sentimentos e princípios que incorporam por força dessa condição. Constituindo uma minoria, os elementos do grupo confrontam-se com a necessidade de obter ou de dar continuidade a uma identidade favorável, que permita a subsistência do grupo e inverta a imagem negativa que a minoria, e os valores minoritários que prossegue, tem junto de grande parte da opinião pública. Assim sendo, ou o grupo se fecha numa subcultura que garanta a identidade e a motivação interna, ou desenvolve-se um novo movimento em que a minoria se rebela e exige o reconhecimento e a aceitação exteriores das suas reivindicações e da respectiva especifi cidade identitária. A identidade colectiva e os participantes nos movimentos sociais A defesa e afirmação da identidade dos participantes nos movimentos sociais já tinham sido pensadas por autores como Turner (1969) e Klapp (1969), que viram nos novos movimentos uma resposta à perda da identidade pessoal e 283 !:.%ia*ì, :.':::::::1 tilÌtei . social a que conduziram as sociedades massificadas. Com efeito, os movimentos sociais permitiam ao indivíduo revalorizar-se e reencontrar uma dignidade entretanto ofendida por processos de exclusão social, de despersonalização e de isolamento. Processos, estes, que se foram agravando ao longo das dócadas de 80 e 90 do século XX e que passaÍam a marcar indelevelmente as sociedades contemporâneas avançadas, caÍacteflzadas pela aceleração tecnológica, pelas mudanças rápidas, pelo desenraizamento, pelo esvaziamento axiológico, mas também por exigências de cidadania, de realização pessoal, de auto-expressão aspectos que os novos movimentos acolheram nos seus princípios -fundadores e na sua agenda. O mesmo é dtzer:- novos movimentos sociais parecem servir de pontos de ancoragempara as pessoas que, no oceano instável do nosso mundo, buscam <<os a terra hrme da identidade. A participação em acções empreendidas por movimentos pode contribuir para consolidar uma identidade mais vigorosa>> (Javaloy, Rodríguez & Espelt 2001: 296). O que é verdade, tanto para os movimentos sociais que visam recuperar a identidade pessoal perdida ou alcançar uma nova identidade pessoal (como no caso dos movimentos redentores), como para os movimentos de tipo revolucionário que apostam sobretudo na construção de uma nova identidade social ou societal. o movimento As funções da identidade colectiva A perspectiva de Melucci sobre a identidade colectiva 284 social é,entáo,considerado um actor sociopolítico que forma, ou ajuda a formar, a identidade (pessoal, grupal, colectiva) como referencial de identificação para os seus membros. Este aspecto tem interessantes implicações ideológicas, atendendo a que o grupo funciona para o participante como regulador normativo e pretexto de compromisso. Pois, ao identificar-se com o grupo de protesto e ao perseguir os mesmos objectivos que o grupo, o adepto torna suas as ideologias e convicções adoptadas pelo colectivo. É importante assinalar que a identidade colectiva faz parte do processo de criação dos movimentos sociais e desempenha diversas funções fundamentais para a sua sobrevivência e continuidade, nomeadamente: ajuda a definir as metas globais do movimento e a sua ideologia base; informa anaturezaetipo de movimento, distinguindo-o dos outros e dos restantes grupos; cria nexos de solidariedade intragrupal, dando sentido à pertença e participação, reforçando a capacidade mobilizadora do movimento junto de potenciais adeptos e sinalizando (pela autodefinição, partilha e acção conjunta dos membros do grupo) as oportunidades, limites e possibilidades da acção colectiva (Melucci 1989). perspectiva <<construtivistu de Melucci que retomaremos mais propósito da teoria dos novos movimentos - a identidade colectiva -, define-se ao longo representa um processo dinâmico de construção interactivae do tempo, exprimindo as alterações fundamentais ocorridas no seio do grupo (liderança, metas, organizaçáo) e a relação do grupo com a sociedade. por outras palavras, Melucci considera a identidade colectiva como um processo que serve de base para o cálculo dos custos e benefícios da acção colectiva, Segundo a à frente, a mas que não se reduz a uma racionalidade meramente instrumental, podendo assumir uma forma mais organizada e institucionaltzada,com um sistema formal de regras, códigos e liderança, ou consistir numa estrutura cognitiva que possi- bilita ao actor vislumbrar os ganhos e as perdas associadas a uma decisão. Deste modo, são referidas três dimensões da identidade colectiva: uma, cognitiva, que diz respeito ao conhecimento das condições e objectivos da acçáo; outra, interactiva ou relacional, que organiza os fluxos comunicacionais e <<negociais>> entre os actores no processo de tomada de decisão; e outra, emocional, que possibilita aos intervenientes reconhecerem-se e identificarem-se entre si e face aos outros colectivos. Em suma, e para este autor, a identidade colectiva constitui, pois, <<um processo através do qual os actores produzem estruturas cognitivas comuns que lhes permitem valorar o ambiente e calcular os custos e os benefícios da acção; as definições que formulam são, por um lado, o resultado das interacções negociadas e das relações de influência e, por outro lado, o fruto do reconhe-cimento emocional>> (Melucci 1989:173). Ora, como algumas dimensões definidoras da identidade colectiva incluem elementos valorativos e emocionais, que são ponderados na decisão, a participação nos movimentos não se alicerça apenas na aferição racional de vantagens e perdas, mas também não acontece por impulsos irracionais. Compatibilizam-se, isso sim, escolhas instrumentais com interacções significativas e opções emocionais. Podemos concluir que uma das vantagens das teorias da identidade, aplicadas ao estudo dos movimentos sociais, consiste em conceber a identidade social de acordo com a norrnatividade grupal, ou seja, no âmbito das interacções os actores sociais desenvolvem no seio dos grupos a que pertencem e constrangem e impõem padrões de conduta e valores a seguir. Para além disso, que que cíticas às teorias da identi- dade colectiva identidade que, sublinhe-se, conhecem orientações diversas, desde o interaccionismo simbólico ao neomarxismo tentam conjugar a perspectiva de teor psicologista com a perspectiva sociológica, reunindo quer os factores individuais, quer os sociais, culturais, políticos e históricos, compreendendo cada um deles em função da interacção com os restantes, evitando reducionismos que limitem a complexidade da acção colectiva. as teorias da 11.2.5 As teorias dos novos movimentos sociaís Podemos identificar duas linhas principais de investigação sobre os novos movimentos sociais. A investigação norte-americana e europeia dos novos movimentos sociais A primeira enfatiza a dimensão interna dos grupos de protesto e a sua estratégia racional de actuação, relacionando os aspectos organizativos e os meios que 285 9liliÍi:::::::::::=ffi :.: #7,1t\.\\\!r.\ììiiir"t ., :1l L, '/////,l.M.,li=.'.::::::Àttl!lWÉ///,/,/Ì'/Ì; f ilì.\::::::::::i::l os movimentos podem mobilizar com as oportunidades políticas e o processo político. Esta orientação teórica foi sobretudo desenvolvida nos Estados Unidos daAmérica e procede a uma análise micro-sociológica dos movimentos sociais. A segunda linha de investigação ganhou adeptos no continente europeu, surgindo na sequência dos vários movimentos sociais que marcaram os anos 60 e70 do século XX. Valorizando os factores estruturais que estiveram na base da transformação das democracias ocidentais e da construção de Estados providencialistas e economicamente bem sucedidos no segundo pós-guerra, os estudiosos europeus procuaram explicar os novos movimentos sociais à luz da confluência e disputa de diferentes modelos culturais e axiológicos que alteraram significativamente as motivações para a acçáo colectiva, distintas das que resultavam da conflitualidade de classes e das exigências materialistas, dominantes nas reivindicações dos movimentos clássicos, como o caso do movimento operário internacional apesar do seu legado ideológico ter tido acolhimento em vários movimentos contemporâneos. Mas, contrariamente à organtzaçáo e estilo de actuação do movimento operário e de muitos dos valores que subjaziam às suas demandas, próprias da contestação aos problemas das sociedades industriais (<velho> paradigma), os novos movimentos sociais viabilizaram modalidades de intervenção não convencionais e adoptaram os valores que se tornaram prementes nas sociedades ditas pós-industriais, ou seja, os valores pós-materialistas (cf. quadro 11.3). Quadro 11.3 - Da sociedade industrial à sociedade pós-industrial Aõtividade ,,,,= ., ', : .,;;:;::::- :: l.:: : Produção de bens :' éconó,mica prinCìpal, ,. ,, I :: ,,, SeryiÇos e ifformâção t' =-:.,, r: ucupaçoes prepon- Op@ios ; ê âdminislrad-ô: .Hrollsslonars. dúãntes res sefvlÇos .- ,t' RecurSõ mais tunlÈ '- tl iúpor- ,,,, ,,- ÁproVei : ::.:=.::'::a a'a" :::::::::::: ,, ,-,," ento dâ ènergia ,=, Conhecimento teórico e capilal hümanó.. ': r l: I ::::l t, =:' i:::::: :::: FontedeBõder :::::, i : Propriedade do capital côntrolo dó tiabalhô e Controlo das novas tec- nologlas e conhecimento Fonte: elaborado a partir de Daniel Bell (1973) 286 = acesso ao