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Genese e Transformacao das Estruturas de

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RICARDO COSTEIRA DA SILVA
GÉNESE E TRANSFORMAÇÃO
DA ESTRUTURA DO POVOAMENTO
DO I MILÉNIO a.C. NA BEIRA INTERIOR
VOLUME I - TEXTO
FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
2005
Capa: Rocha 3 da Vermelhosa (segundo Baptista, 1999)
Ricardo Costeira da Silva
GÉNESE E TRANSFORMAÇÃO DA ESTRUTURA DO POVOAMENTO
DO I MILÉNIO a. C. NA BEIRA INTERIOR
Volume I - Texto
Dissertação de Mestrado em Arqueologia,
área de especialização de Arqueologia Regional,
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
sob orientação da Professora Doutora Raquel Vilaça e
a co-orientação do Professor Doutor Jorge de Alarcão
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2005
AGRADECIMENTOS
Se ao longo deste estudo nos deparámos com diversas dificuldades, não foram
menores os apoios com que sistematicamente contámos e que gostaríamos de enumerar.
Cumpre-nos, em primeiro lugar, expressar a nossa sincera gratidão à Doutora
Raquel Vilaça que aceitou orientar esta dissertação e manifestou sempre grande
disponibilidade, lendo e comentando em pormenor os textos provisórios que lhe íamos
apresentando e esclarecendo as inúmeras dúvidas com que nos deparámos ao longo
deste projecto.
O Professor Doutor Jorge de Alarcão assegurou igualmente uma indispensável
orientação. A ele devemos não só a sugestão do tema que abordámos como também a
revisão crítica de alguns capítulos, aconselhando-nos e proporcionando vários
conhecimentos que sempre tentámos desenvolver.
Destacamos o apoio do Dr. Pedro C. Carvalho que nos acompanhou na visita a
alguns sítios arqueológicos, forneceu importantes informações sobre estações já
conhecidas ou inéditas, cedeu para análise alguns materiais cerâmicos por ele recolhidos
em prospecções e connosco debateu algumas temáticas relacionadas com este trabalho.
Devemos registar o amável empréstimo de cerâmicas e algumas obras
bibliográficas por parte de Marcos Osório, Ana Brígida Cruz e Sílvia Moreira,
arqueólogos das Câmaras Municipais do Sabugal, Meda e Castelo Branco
respectivamente e do Dr. João Mendes Rosa do Gabinete de Património e Arqueologia
da Câmara Municipal do Fundão.
Diversos colegas e amigos merecem também uma palavra de reconhecimento.
Entre estes destacamos o apoio de Ana Bica Osório, Carla Alegria Ribeiro, Maria João
Ângelo e dos membros da secção de arqueologia do Ateneu de Coimbra.
Estamos profundamente gratos ao Luís Filipe Silva pelo empenho que dedicou
na elaboração dos mapas.
Foi decisiva a colaboração que recebemos de Sara Oliveira Almeida. A ela
ficamos a dever não só o desenho dos materiais e arranjo gráfico das figuras reunidas no
II volume como também o constante estímulo e apoio que sempre nos prestou.
Por fim, dedico este trabalho a meus pais, agradecendo-lhes sobretudo o
incentivo e a amizade.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................1
2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO ...............................................................................................7
2.1. A BEIRA INTERIOR: LIMITES DA ÁREA DE ESTUDO .........................................................................8
2.2. BREVE CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA .......................................................................................10
2.2.1. AS SUB-REGIÕES E SUA CARACTERIZAÇÃO...............................................................................10
2.2.1.1. A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÔA .................................................................................................... 12
2.2.1.2. A COVA DA BEIRA ........................................................................................................................... 13
2.2.1.3. A BEIRA INTERIOR SUL ................................................................................................................... 14
2.2.1.4. O PINHAL INTERIOR SUL ................................................................................................................ 15
2.2.2.OS RECURSOS NATURAIS...........................................................................................................16
3. BREVE HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO NA BEIRA INTERIOR (I MILÉNIO A. C.) ...........20
4. O POVOAMENTO DURANTE O BRONZE FINAL.......................................................................25
4.1. PADRÕES DE ASSENTAMENTO ........................................................................................................25
4.2. OS TESTEMUNHOS ..........................................................................................................................30
4.2.1. OS POVOADOS DE ALTURA .......................................................................................................30
4.2.2. OS CASAIS ...............................................................................................................................37
4.3. A CULTURA MATERIAL ...................................................................................................................40
4.3.1. A CERÂMICA ............................................................................................................................40
4.3.2. A METALURGIA DO BRONZE .....................................................................................................44
4.3.2.1. OS DEPÓSITOS ................................................................................................................................. 51
4.3.3. A OURIVESARIA .......................................................................................................................52
4.4. AS ESTELAS ....................................................................................................................................54
5.O POVOAMENTO DURANTE O FERRO INICIAL .......................................................................56
5.1. OS TESTEMUNHOS ..........................................................................................................................56
5.2. ÉPOCA DE RUPTURAS E/OU CONTINUIDADES?...............................................................................62
6. O POVOAMENTO DURANTE O FERRO PLENO ........................................................................68
6.1. PADRÕES DE ASSENTAMENTO ........................................................................................................68
6.2. OS TESTEMUNHOS ..........................................................................................................................76
6.2.1.ÉPOCA DE RUPTURAS COM A TRADIÇÃO ANTERIOR ...................................................................76
6.3. A CULTURA MATERIAL ...................................................................................................................89
6.3.1. A CERÂMICA ............................................................................................................................89
6.3.2. A METALURGIA DO BRONZE .....................................................................................................93
6.3.3. ARTEFACTOS DE FERRO ..........................................................................................................95
6.3.4. A OURIVESARIA .......................................................................................................................96
7. A PROBLEMÁTICA SUBJACENTE AOS “CASTROS MISTOS”.............................................101
8. A EXPLORAÇÃO MINERALÓGICA E A PRODUÇÃO METALÚRGICA NA BEIRA
INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO A.C........................................................................................106
9. AS VIAS DE CIRCULAÇÃO NATURAIS NA BEIRA INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO A.
C...............................................................................................................................................................109
9.1. CAMINHOS E ZONAS DE PASSO. ....................................................................................................112
10. A ARTE RUPESTRE NA BEIRA INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO A. C. .....................115
11. O QUADRO ÉTNICO-CULTURAL DA BEIRA INTERIOR ....................................................121
11.1. REVISÃO CRÍTICA DOS CONCEITOS LUSITANISTAS ...................................................................122
11.2. AS TESES VIRIATINAS .................................................................................................................124
11.3. SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA: O ESTADO ACTUAL DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA.....................126
11.4. OS POPULI ...................................................................................................................................135
12.CONCLUSÕES .................................................................................................................................147
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................151
1
1. INTRODUÇÃO
“À medida que caminhava por esta selva escura, cada vez mais me convencia de
que o fim que nós principalmente devemos ter em vista é reunir um conjunto de factos,
de observações e de estudos para o formidável trabalho de conjunto que só os que nos
sucederem poderão completar quem sabe ainda quando.”
F. Tavares Proença (1910: II)
Esta simples frase de F. Tavares Proença, há pouco tempo recordada por J. de
Alarcão (2004: 47), poderá, de certa maneira, expressar o estado actual da investigação
sobre o I milénio a. C. na Beira Interior, ainda que decorrido quase um século depois de
ter sido proferida.
Dispomos de um conjunto de dados muito fragmentários que correspondem, por
vezes, à sua mera distribuição numa carta de localização do sítio onde foram
encontrados, sem que nos permitam responder ou validar muitas das propostas de
reconstituição histórica. O número de escavações existentes é constrangedoramente
insuficiente, as intervenções que entretanto se realizaram são ainda limitadas e, o
contexto de vários achados é totalmente desconhecido.
Se o estudo do Bronze Final da região tem vindo a ser abordado e estimulado,
especialmente por R. Vilaça, a Idade do Ferro apresenta um grande défice de
investigação. A informação existente para o sul e norte de Portugal excede em muito a
disponível para o Entre Douro e Tejo, suprido apenas com alguns estudos localizados
que se têm vindo a realizar para a faixa litoral e área de Viseu.
Perante um quadro tão lacunar, decidimos enfrentar esta temática procurando
sistematizar a génese e transformação da estrutura do povoamento do I milénio a. C. na
Beira Interior.
Para o efeito, delineou-se um conjunto de actividades que pretendia determinar e
explicar o processo evolutivo das formas de ocupação do território e a dinâmica das
estruturas sociais a que estava associado, partindo de um apreciável vazio de
informação anterior. Através da identificação destas transformações, mais facilmente
poderíamos isolar o/s móbil/eis que justificaria tais acções.
2
Para além da recolha exaustiva da bibliografia existente sobre o assunto,
projectou-se um conjunto de trabalhos de campo. Estes consistiam, essencialmente, na
prospecção intensiva ou sistemática por amostragem de distintas áreas regionais e na
confirmação de sítios mencionados por referências menos exactas.
Para a realização de tal projecto necessitávamos de um amplo conjunto de
recursos humanos e de suporte financeiro. No entanto, depois de gorada a nossa
candidatura à bolsa de estudos da Fundação para a Ciência e Tecnologia, deparámo-nos
sem qualquer outro apoio para prosseguirmos com os nossos intentos.
Perante estas limitações, e depois de se encontrar realizado todo o trabalho de
base, vimo-nos condicionados a remodelar o plano de trabalhos sem que isso colocasse
em total prejuízo as linhas mestras dos nossos objectivos.
Nas aulas do Doutor Jorge de Alarcão ouvimo-lo, por vezes, afirmar que a
ciência poderá, em certas ocasiões, progredir mais pela renovação de perspectivas do
que pela acumulação de dados.
Com efeito, projectámos uma síntese e revisão crítica dos conhecimentos que se
encontravam dispersos por vários artigos e obras, visitámos alguns locais já conhecidos
e aventurámo-nos em prospecções dirigidas que se mostraram manifestamente
infrutíferas. Pretendíamos definir novos problemas, contribuir para o encerramento de
uma fase de estudos e alertar para os temas que deverão ser tomados como actuais e
dignos de uma nova época de investigação, assentando toda a análise num inventário
que se pretendeu o mais exaustivo possível.
Convém referir que se torna tarefa ingrata proceder a um estudo de síntese do
povoamento antigo num espaço ainda incipientemente conhecido e desamparado de
quadros cronológicos seguros. Contudo, a prudência que sempre acompanhou as nossas
interpretações, não nos impediu de reflectir e equacionar hipóteses explicativas, mesmo
que alguns dados apresentados possam ser considerados incertos ou discutíveis.
Estamos plenamente conscientes dos condicionamentos verificados pela carência
dos trabalhos de campo inicialmente projectados, que truncaram, necessariamente, as
conclusões obtidas. Por isso mesmo, nunca tivemos a presunção de considerar este
trabalho como um fim, mas sim como o início de um projecto onde se ensaia a evolução
dos modelos de habitat em distintas áreas naturais. Estamos certos que estas acções irão
motivar a formulação de outras hipóteses ou a elaboração de novos arquétipos (talvez
contrários aos que agora defendemos), conducentes ao permanente aprofundamento do
3
desenvolvimento cultural no território e durante o período que foi objecto do nosso
estudo.
Decorrido este percurso julgamos, assim o esperamos, estar aptos a identificar
algumas das zonas prioritárias para o prosseguimento da investigação, e, dentro destas,
os sítios que poderão proporcionar a resolução dos problemas pendentes através de
sondagens ou escavações alargadas.
Ao optar por um quadro regional dilatado e parâmetros cronológicos amplos,
procurávamos esboçar um modelo interpretativo da evolução do povoamento ao longo
do I milénio a. C. e patentear a possível existência de assimetrias regionais e locais na
área estudada.
Em primeiro lugar, devemos esclarecer que adoptamos aqui a expressão
“povoamento”, na acepção ampla deste termo, ou seja, para designar um conjunto de
sítios habitados, mas também os vestígios da cultura material das comunidades que os
ocuparam.
Para melhor descortinar um quadro de evolução cultural da Beira Interior,
optámos por dividir o I milénio a. C. pré-romano em três sequências cronológicas. Esta
compartimentação diacrónica revelou-se, porém, arriscada devido à falta de sítios
escavados paradigmáticos posteriores ao Bronze Final, e a consequente inexistência de
pontos de apoio cronológicos seguros.
Por este motivo, julgamos conveniente, desde já, expor as bases que nos
orientaram na criação destas seriações cronológicas.
As escavações de R. Vilaça (1995a) permitem-nos balizar cronologicamente o
Bronze Final da região centro sul da Beira interior entre 1200/1100 a. C. e 800/750 a. C.
No entanto, é notória a dificuldade em diferenciar os momentos finais da Idade
do Bronze e os inícios da Idade do Ferro. A denominada I Idade do Ferro, entre o século
VIII a.C. e meados do século V ou inícios do século IV a.C. está noutras regiões
(especialmente a sul) bem caracterizada. Pelo contrário, na Beira Interior este período
continua encerrado numa efectiva obscuridade.
Por um lado, povoados como a Moreirinha, Monte do Trigo, Alegrios e Monte
do Frade são abandonados nos finais do século IX ou primeira metade do século VIII
a.C.
(Vilaça, 1995a). No entanto, no povoado da Cachouça verifica-se uma
continuidade de ocupação pelo menos até ao século VII a.C.
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O embaraço existente na distinção destes dois períodos parece generalizar-se a
todo o Noroeste Peninsular. Na área sudoeste da Meseta, cerâmicas características do
Bronze Final coexistem em povoados da I Idade do Ferro (Alvarez-Sanchís, 1999: 38).
No noroeste português, Armando Coelho (1986) face a esta problemática cria uma
subdivisão na sua fase I (Bronze Final III). Concebe a fase IB (Silva, 1986: 65) que se
prolonga até às invasões célticas (500-450 a.C.). Em Trás-os-Montes Oriental (Lemos,
1993), a atribuição de periodização de povoados a esta I Idade do Ferro é concretizada
tendo em conta a sua tipologia, pois também aqui circulam materiais que encerram
características típicas do Bronze Final regional ao longo daquele período. No vale do
Cávado (Martins, 1990), assim como na Beira Baixa (Vilaça, 1995a), esta conjuntura
não se encontra ainda totalmente esclarecida.
De facto, parece verificar-se um certo arcaísmo do material cerâmico, sendo
provável que formas carenadas e potes com lábios decorados (Vilaça e Basílio, 2000:
41) tenham sido fabricados para além dos inícios do I milénio a.C. (Vilaça, 2000a: 33).
Por outro lado, a presença de artefactos em ferro (lâminas de faca) de fabrico alógeno
em contextos perfeitamente datados do Bronze Final nos povoados da Moreirinha,
Monte do Frade e Monte do Trigo (Vilaça, 1995a), leva-nos a colocar reservas quando
nos apoiamos em tais objectos como critérios absolutos e seguros para a identificação
de uma verdadeira Idade do Ferro.
Com efeito, julgamos oportuna a expressão de “Proto-História Antiga” (Vilaça
et alii, 2000: 190) utilizada por alguns autores para designar este período de “transição”
Bronze Final – Idade do Ferro. Enquanto não forem realizadas escavações em contextos
habitacionais que permitam identificar níveis datados deste período, definindo ou
aferindo para a região critérios ergológicos perfeitamente enquadrados por datações
radiocarbónicas, continuaremos a esbarrar num “beco sem saída”, num problema
insolúvel.
Por tudo isto, optámos por designar este período de Ferro Inicial ou Ferro
Antigo, rejeitando para já a vulgar designação de I Idade do Ferro.
Sendo assim, julgamos não fazer sentido a tradicional divisão entre primeira e
segunda Idades do Ferro, visto que na Beira Interior esta segunda poderá ser, de facto
uma primeira Idade do Ferro, já que os elementos culturais do Bronze Final subsistiram
no período anterior.
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Declinaremos a vulgar designação de II Idade do Ferro e adoptaremos antes uma
expressão que, para nós, retratará mais convenientemente o que se constata na Beira
Interior – o Ferro Pleno.
Contudo, sentimos algumas dificuldades quando nos esforçamos por balizar
cronologicamente este período. Julgamos não poder determiná-lo arbitrariamente em
limites temporais rígidos.
No Sul de Portugal é costume associar-se a II Idade do Ferro à fase posterior da
perda de influências orientalizantes, motivadas pela crise do mundo fenício colonial e
grego em finais do século VI a. C. e queda de Tartesso. Simultaneamente, a expansão de
povos célticos precipita o termo da florescente I Idade do Ferro do Sudoeste. Esta
conjuntura é geralmente fixada na transição entre os séculos VI e V a. C., no entanto,
recentemente têm-se recuado tais factos para 450 a. C. (Alarcão, 1996: 23).
No Noroeste, este período integra-se na fase II de Armando Coelho (Silva, 1986:
66) que terá início em cerca de 500 a. C. Momento marcado pelas invasões célticas e
túrdulas (que rompem definitivamente com a “apatia” verificada entre os séculos VII e
VI a.C.) e que poderá igualmente reconsiderar-se efectivamente em 450 a. C. (Alarcão,
1996).
Na Beira Interior o advento de uma sociedade totalmente integrada numa Idade
do Ferro Pleno, resulta de um processo paulatino que se vem definindo desde os finais
do Bronze Final (cruzando um período definido por nós como Ferro Inicial) e que no
século VI / V a. C. começará a assumir-se mais intensamente.
O seu término não assentará igualmente em datações intransigentes e pré-fixas.
Sabemos que após as guerras lusitanas (155-138 a. C.) esta região ficará exposta
à invasão romana. No entanto, e apesar de no último quartel do século II a. C. esta se
encontrar sob o jugo imperial romano, constata-se novamente uma perene evolução do
povoamento. Debatemo-nos perante um “conservadorismo” cíclico das comunidades
indígenas, confirmado já anteriormente na transição do Bronze Final para a Idade do
Ferro e agora no processo de romanização que poderá ter-se arrastado (como no
Noroeste (Silva, 1986: 66) até os primeiros séculos da nossa era. Neste sentido,
alertamos para a possibilidade de muitas estações consideradas da Idade do Ferro não
serem mais do que povoados indígenas integrados já no período romano (hipótese
aventada por Férnandez-Posse (1998: 233-234) para a Meseta e Galiza).
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O presente estudo é constituído por dois volumes.
No primeiro volume, para além de se precisar e realizar um pequeno esboço do
quadro geográfico e um breve balanço da história da investigação, assumem maior
destaque os aspectos descritivos, as hipóteses interpretativas e discussão dos dados que
foram reunidos e cartografados.
O segundo volume corresponde ao catálogo dos sítios e achados do I milénio a.
C. da Beira Interior. Este deverá ser encarado como o fruto da síntese e análise da
bibliografia e do pouco expressivo trabalho de campo desenvolvido. Apesar de se
pretender exaustivo não podemos garantir um inventário sem falhas. No entanto,
julgamos não ter excluído nenhum dado relevante que possa viciar as conclusões, pois a
estrutura descritiva deste primeiro volume baseia-se no catálogo (constituindo por isso
um utensílio de consulta indispensável). Os vestígios agrupados neste inventário
encontram-se normalmente organizados por distritos, concelhos e freguesias, tendo-lhes
sido atribuído um número de ordem que será indicado no texto sempre que for
considerado útil.
A existência de várias referências a sítios de localização desconhecida ou
classificação discutível, que não tivemos oportunidade de confirmar, levou-nos a criar
um segundo catálogo. Estes dados não serão tomados em linha de conta na
interpretação. Apenas os inventariamos pois será tarefa necessária, num futuro próximo,
averiguar a sua real existência e proceder à sua respectiva caracterização.
Ainda no último volume, reuniu-se todo o suporte gráfico composto por mapas,
tabelas, figuras e desenhos.
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2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO
Ao idealizar um estudo de povoamento torna-se imprescindível a selecção de um
espaço natural coerente, que permita estabelecer uma abordagem da evolução e
dispersão das comunidades.
A geografia de uma dada região ajuda a moldar a sua ocupação humana que se
firma numa base de relações com o território, originando padrões espaciais, formandose a partir da unidade uma diversidade assaz interessante.
A paisagem é constantemente aculturada. Este facto advém da necessidade das
sociedades humanas criarem uma estrutura convencional do meio físico e ambiental,
transformando-o em algo inteligível e socializável.
A reconstituição da paisagem antiga e sua evolução, a análise dos ecossistemas e
sua articulação com a compreensão das influências que transmitem na actividade
humana e como esta o transforma, foi um objectivo da designada Nova Arqueologia.
Estamos de acordo com os autores que afirmam que para alcançar esses intentos
a investigação deverá ser dirigida em áreas operacionais ao nível da micro-escala ou
regional (Fernández Martínez, 1991: 50).
Contudo, tal como Raquel Vilaça (1995a: 66), parafraseando Chisholm refere, a
escolha de uma área de estudo deverá obedecer a um tipo de descrição e análise que se
coadune com os objectivos do trabalho.
De facto, a escolha da dimensão do espaço a estudar pode ser bastante
subjectiva. Neste particular, baseamo-nos em acidentes geográficos que parecem, em
última análise, delimitar um espaço e condicionar as áreas de habitat. No entanto, tais
fronteiras naturais não poderão ser vistas como factor de isolamento ou separação entre
comunidades que habitem uma ou outra região. Pelo contrário, e em virtude dos
corredores de circulação (vide infra 9) que cruzam a nossa área de estudo, não se
vislumbram regiões estanques ou herméticas.
São desejáveis os estudos micro-regionais baseados essencialmente em
prospecção intensiva. Embora em áreas para as quais ainda não se disponha de uma
sólida cartografia arqueológica, pensamos ser legítimo iniciar a abordagem delimitando
unidades de estudo consubstanciadas em vastas áreas, desenvolvendo o que se poderá
designar como um trabalho de síntese. Numa fase seguinte, poderemos dirigir, com
8
mais rigor, a investigação para um espaço geográfico mais preciso e a uma escala
inferior.
Propomo-nos, mesmo que a tendência dominante da investigação actual aponte
para a análise mais detalhada de pequenas áreas, ensaiar uma abordagem em tão extenso
espaço de referência.
Procurar uma observação mais abrangente, tendo em consideração diferentes
sítios e áreas regionais, poderá, devido ao estado actual do conhecimento, constituir o
melhor processo para granjear algo mais sobre as sociedades indígenas desta ampla
região, a Beira Interior.
2.1. A BEIRA INTERIOR: LIMITES DA ÁREA DE ESTUDO
Elegeu-se como área de estudo um amplo território, que, de certa maneira,
parece encontrar-se delimitado geograficamente por “acidentes” naturais. Este espaço
compreende certas particularidades de cariz geomorfológico que lhe fornecem uma
coerência espacial, e justificam a sua individualização ao definirem territórios e
acessibilidades bem demarcadas (independentemente das sub-regiões).
Tal como R. Vilaça (2005: 15) regista, a pretensa falta de unidade desta vasta
região “ (…) é talvez suprida na exclusividade de ela própria constituir um espaço interflúvio, de confluência, onde quase se tocam as bacias dos dois grandes rios
peninsulares, que unem a continentalidade ao Atlântico: o Douro e o Tejo (…)”.
Aproximam-se as águas da bacia do Tejo, pelo Alto Zêzere, às da bacia do Douro
através do Alto Côa.
Delimitamos o nosso território a sul pelo rio Tejo. Este curso de água apresenta
um regime algo irregular que terá por vezes aproximado as populações das duas
margens, outras terá constituído o termo que se poderia acercar (Vilaça e Arruda, 2004:
13). Recorde-se que é já em período de dominação romana que os populi lusitanos se
agruparam num esforço comum para a construção da ponte de Alcântara que facilitaria
em muito a comunicação entre as duas bandas do Tejo.
A oeste, o limite coincide com a Cordilheira Central (também designada de
cordilheira divisória principal) e as elevações do triângulo mesozóico, longe de possuir
9
coerência e que com a sua altitude se caracterizam por formar uma muralha montanhosa
que vai da serra da Lousã à serra da Estrela.
O sistema central é um limite claro de separação com as terras tipicamente
litorais. Essa diferenciação começa por ser geológica e geomorfológica. A faixa litoral é
de natureza sedimentar e corresponde a parte da orla ceno-mesozóica portuguesa,
enquanto o interior, cristalofilino e metamórfico, com alguns depósitos terciários e
quaternários (de pequena extensão) é parte da Meseta, onde se erguem maciços
montanhosos, com destaque para a Cordilheira Central, que tem na serra da Estrela o
ponto mais elevado do continente português (Ribeiro et alii, 1987: 10-ss.).
A Sudoeste desta cadeia montanhosa desenha-se o fosso íngreme do Zêzere. O
seu vale profundamente entalhado interrompe a ligação entre as serras da Estrela e
Gardunha, região onde inicia a formação de uma série contínua de “meandros de
trincheira” 1 (Ribeiro et alii, 1987: 151) até desaguar em Constância no Tejo.
No início do estudo, orientámos o limite Norte para o chamado planalto da
Guarda/Sabugal que parecia terminar o cerco que individualizava esta região. A
peneplanície da Meseta Norte sobe suavemente para sul e estaca numa frente de vasta
dimensão, caindo rapidamente para as bacias e planícies meridionais.
No entanto, a erosão provocada pelas muitas ribeiras da bacia do Zêzere,
originaram vales estruturais, rectilíneos, profundos e alinhados NNE/SSO (Ribeiro,
1982: 38), facilitando a transição entre a Cova da Beira e a Meseta pela denominada
área das “teclas de piano”. Esta espécie de degraus topográficos permite uma circulação
fácil entre o Norte e o Sul formando a “porta da Guarda” (Ribeiro, 1987: 12), entre a
serra das Mesas e serra da Estrela, e por isso não poderia ser entendida como barreira ou
limite natural.
Sendo assim, decidimos estender a área de estudo até ao rio Douro. Não é
casualmente que a região histórica da Beira Interior se compreende desde o Douro até
ao Tejo. Não obstante, ao incluirmos a área delimitada pela bacia do rio Côa deparamonos com realidades geográficas distintas. Mas, estamos certos, que o seu cruzamento
permitirá uma melhor e mais precisa caracterização das diversas realidades observáveis.
1
Na região de Pedrógão este rio abre uma “garganta imponente” de paredes quase a pique (Ribeiro,
1949a: 6).
10
Sendo assim, e fixando o limite Norte no rio Douro, o limes oeste do espaço que
medeia aquele até à Guarda coincide com a faixa ocidental da bacia hidrográfica do rio
Côa. Ou seja, partindo da Guarda segue a linha de cumeada dos montes que flanqueiam
a ocidente a ribeira de Massueime até Trancoso, seguindo a cadeia montanhosa que
serve de contraforte a Meda (Marques, 1935: 391), alinhando posteriormente pela
ribeira da Teja até ao Douro.
Por fim, o limite oriental foi o único que não foi considerado por imperativos de
ordem natural. Este segue a linha administrativa moderna (entre Espanha e território
português) sem qualquer correspondência em limites do passado. A sua exclusão é
justificada apenas por motivos de índole pragmática. O 1º milénio a. C. da faixa raiana
espanhola encontra-se, ao contrário da sua congénere portuguesa, melhor estudada. Para
isso contribuem os trabalhos de Almagro Gorbea (1977; 1994), Óscar López Jiménez
(2001; 2002) e Ana Martín Bravo (1994; 1999). A análise destes trabalhos facilitará o
cruzamento de dados com a região actualmente em território português, legitimando a
sua omissão da nossa área de estudo.
Podemos afirmar que a área geográfica compreendida pelos limites descritos
coincide, em linhas gerais, com a Beira Interior. Apesar de retalhada por diversas subregiões, estas articulam-se pela definição de certas unidades básicas de organização da
paisagem.
2.2. BREVE CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA
2.2.1. AS SUB-REGIÕES E SUA CARACTERIZAÇÃO
A designação de Beira Interior começou a difundir-se no final dos anos 70.
Antes, havia já sido apelidada de Beira Oriental e Raia Central (Gaspar, 1993: 86), ou
descrita como englobando outras partições como a Beira Transmontana e a Beira Baixa
de Amorim Girão.
Genericamente, a Beira Interior estende-se num espaço essencialmente
delimitado pelas bacias do Douro e do Tejo. No entanto, podemos dividi-la em vários
compartimentos territoriais, tendo em conta as suas assimetrias geomorfológicas.
11
Amorim Girão (1933) parece ser o primeiro a esboçar estas diferenciações ao
idealizar uma carta regional. Para esta extensa área diferencia, a norte, o Baixo do Alto
Côa, individualiza a Cova da Beira e a sul define uma região central de Charneca,
ladeada a ocidente pelas Terras do Zêzere e a oriente pelo Campo de Castelo Branco.
As maiores diferenciações fazem-se, por um lado, entre a montanha e o restante
território, e, por outro lado, entre as zonas a norte e a sul da Cordilheira Central: a sul
estamos manifestamente no Portugal Meridional ou Mediterrâneo, tal como definiu
Orlando Ribeiro. Se a Cova da Beira, entre as Serras da Estrela, Gardunha e Malcata é
quase um “oásis mediterrâneo”, o Campo de Castelo Branco, para sul da Gardunha faz a
transição para o peneplaino alentejano. Ou, se quisermos, vistas de sul, a Cova da Beira
e Beira Baixa, a norte do Tejo, não são mais que o prolongamento do que costuma ser
chamado “a peneplanície de Nisa”, embora correspondam a um segundo patamar de
abrasão (Ribeiro et alii, 1987: 152-155 e Ribeiro, 1982: 53 e ss.).
Apesar de se configurar como um mosaico constituído por várias sub-regiões, a
Beira Interior parece contemplar-se como uma só unidade. Isto deve-se, segundo Raquel
Vilaça (1995a: 67) à posição que consagra no extremo centro-ocidental da Península
Ibérica.
Deste modo, podemos dizer, que a área proposta para o nosso estudo abarca a
Beira Interior Norte, mais precisamente a bacia hidrográfica do Côa (abrangendo os
concelhos da Almeida, Figueira Castelo Rodrigo, Guarda, Pinhel, Sabugal, e parte dos
de Meda, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa 2 ); a Cova da Beira (concelhos de
Belmonte, Covilhã e Fundão); a Beira Interior Sul (concelhos de Castelo Branco,
Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão); e, por fim, a zona do Pinhal
Interior Sul, ou a área embutida entre os rios Tejo, Zêzere e Ocreza (concelhos de
Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sardoal, Sertã e Vila de Rei e a parte norte dos
concelhos de Abrantes, Constância e Gavião (freguesia de Belver) (mapa 1).
2
Excluindo algumas regiões como o concelho de Celorico da Beira.
12
2.2.1.1. A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÔA
O rio Côa nasce na serra das Mesas e atravessa todo o distrito da Guarda até
desaguar no Douro em Foz Côa. A sua bacia hidrográfica apresenta-se delimitada a
oriente pelas bacias da ribeira de Aguiar e rio Águeda (igualmente afluentes da margem
esquerda do Douro); a ocidente pelas bacias do rio Mondego e ribeira da Teja ou pelo
alinhamento composto pelas elevações de S. Cornélio, Cabeço da Fráguas, serra da
Estrela, Lapa e Leomil (Marques, 1935: 389); a norte pelo Douro; e a sul pela serra das
Mesas.
Esta extensa bacia hidrográfica poderá ser dividida em três sub-regiões. De
facto, facilmente se distingue o Baixo Côa de vertentes mais agrestes e vale
pronunciado, o Médio Côa mais árido devido ao menor número de afluentes e,
finalmente, o Alto Côa mais montanhoso onde se configura um vale mais aberto e
irrigado e por isso mais fértil.
Todavia, abordaremos este amplo quadro geográfico como um todo pois parece
corresponder ao prolongamento para ocidente da superfície da Meseta. As altitudes da
serra da Estrela vão diminuindo gradualmente para noroeste, até que na região da
Guarda quase se confundem com estes planaltos da também designada Beira
Transmontana. Esta feição planáltica é apenas interrompida pelas serras da Marofa e
Malcata.
A serra da Marofa poderá ser considerada o acidente geográfico mais
proeminente existente na zona de aplanamento limítrofe à Meseta. Por sua vez, a serra
da Malcata é constituída por uma sucessão de cabeços arredondados e sulcada por
alguns vales fundos e sinuosos.
Do ponto de vista geológico, esta região integra-se no Maciço Hespérico,
composto por formações pré-mesozóicas, firmadas desde o fim dos movimentos
hercínicos (Thadeu, 1965: 7).
Os terrenos são essencialmente graníticos, sendo apenas interrompidos por
pequenas manchas de xistos, grauvaques e quartzitos, fortemente metamorfizados
(Marques, 1935: 394). Destacam-se os xistos da serra da Marofa e da foz do Côa por
apresentarem formações topográficas mais arredondadas. Por outro lado, surgem nas
13
áreas de contacto entre granitos e xistos, em zonas escavadas pelos cursos de água,
veios de minério.
A organização da rede hidrográfica encontra-se directamente relacionada com a
geomorfologia e tectónica da região. Na Beira Transmontana, a superfície da Meseta
apresenta uma inclinação ascendente para sul, o que determina a circulação das águas
dos rios e ribeiras para norte ou noroeste (Ribeiro et alii, 1987: 146).
Ao longo do seu percurso, o Côa, recebe os caudais de várias ribeiras, afluentes
maioritariamente da sua margem esquerda. Progressivamente, e à medida que caminha
para o seu curso terminal, o seu vale estreita-se, adquire vertentes íngremes e talhadas
de perfil em V, onde o leito do rio corre profundamente encaixado. Situação que se
contrapõe com o seu Alto e Médio curso, cuja bacia apresenta vertentes mais suaves e
menos apertadas. Afluentes como a ribeira de Massueime e Piscos cruzam as suas
superfícies através de profundas gargantas, escavadas pela acção erosiva e regressiva a
partir do rio Douro (Silva e Ribeiro, 1991: 8).
De um modo geral, a potencialidade agrícola dos solos nesta região é reduzida,
predominando os terrenos de classe F (de utilização não agrícola). De entre as áreas
com aptidão agrícola destaca-se o vale da ribeira de Noeme e a zona de confluência
entre a ribeira das Cabras e a ribeira da Pega onde existem terrenos produtivos.
2.2.1.2. A COVA DA BEIRA
A Cova da Beira é genericamente interpretada como uma depressão assimétrica,
de origem tectónica (Ribeiro, 1949b: 5), delimitada a norte, oeste e sul pelas serras da
Estrela e Gardunha. Esta região, de características muito próprias, estende-se por cerca
de 30 km de comprimento e 12 km de largura máxima (Ribeiro, 1949b: 23).
Esta extensa várzea de abatimento recente (Ribeiro et alii, 1987: 151) encontrase bem irrigada, principalmente pelo Zêzere (que a atravessa longitudinalmente) e seus
afluentes, com particular destaque para as ribeiras da Meimoa e Caria.
Os seus vales, de solos essencialmente graníticos, não compreendem a forma de
meandros (Ribeiro, 1951: 283). Formam-se assim vastos campos de boa capacidade
agrícola, predominando os solos de classe A (de utilização agrícola) e classe C (de
utilização agrícola condicionada).
14
Não obstante, apresentam algumas rugosidades que originam uma série de
relevos descontínuos de tipo Inselberg, como o de Belmonte (Ribeiro, 1949b: 24 e
estampa I).
No fundo, talvez a possamos apelidar de “oásis” (Orlando Ribeiro (1982: 53)
denomina-a de “país”) que margina as faldas orientais da Cordilheira Central, situada no
ponto de encontro entre a superfície da Meseta e a peneplanície do sul de Portugal.
2.2.1.3. A BEIRA INTERIOR SUL
A Beira Interior Sul (termo usado por Gaspar, 1993: 86), corresponde
grosseiramente ao que poderíamos designar de Plataforma de Castelo Branco ou a área
central e oriental da província da Beira Baixa. A norte encontra-se delimitada pelo eixo
Gardunha-Malcata, a ocidente pelo Ocreza e a sul pelo rio Tejo.
Integrada igualmente no Maciço Hespérico, esta região tem como principal
acidente tectónico a falha do Ponsul, com uma orientação NE / SW (Ribeiro, 1943).
Esta descreve um percurso que parte do extremo sul da serra de Penha Garcia e termina
em Vila Velha de Ródão.
De um modo geral, poderá afirmar-se que os granitos predominam na região
norte da Falha, enquanto que a sul prevalecem os xistos e grauvaques.
Em termos orográficos, trata-se da parte da Beira Baixa que apresenta maior
“feição campaniça”, incorporando-se discretamente pelas vastas áreas aplanadas da
Estremadura espanhola e Alentejo. Neste particular, teremos a registar os característicos
montes-ilha de natureza granítica, as cristas quartzíticas de relevos escarpados e
aguçados (como as de Penha Garcia e Vila Velha de Ródão) e as arredondadas e
moderadas colinas de essência xistosa (Vilaça, 1995a: 68).
O rio Tejo drena todos os cursos de água desta região. O seu principal afluente é
o Ponsul que, por sua vez, recebe todos os seus afluentes importantes pela margem
direita (Ribeiro, 1943: 113-114). Para além deste, destacam-se ainda o rio Erges e a
ribeira do Aravil.
O comportamento da rede hidrográfica encontra-se relacionado com a
geomorfologia, sendo que nas zonas graníticas se apresenta pouco densa e nos terrenos
xistosos mais densa e encaixada (Ribeiro et alii, 1987: 36).
15
A potencialidade agrícola dos solos é essencialmente reduzida (classe F).
Situação que apenas contrasta com as terras baixas (a noroeste e oeste de Idanha-a-Nova
por exemplo), onde se desenvolvem terrenos de utilização agrícola condicionada e mista
(Vilaça, 1995a: 70).
2.2.1.4. O PINHAL INTERIOR SUL
A região do Pinhal Interior Sul (compreendida entre Zêzere, Tejo e Ocreza)
integra-se, do ponto de vista geológico, no Maciço Antigo, predominando os xistos,
grauvaques e quartzitos. Este quadro genérico é apenas interrompido por pequenas
manchas de granitos, junto ao Tejo (Rio de Moinhos), e calcário na área do concelho do
Sardoal.
Analisando a geomorfologia da região poderíamos distinguir duas áreas: uma
interior e a norte mais montanhosa e outra a sul, junto ao Tejo, menos acidentada mas
igualmente ondulada.
Entre os acidentes topográficos mais significativos destacam-se as serras de
Muradal e Alvélos (concelho de Oleiros), a serra do Cabeço Rainha (concelhos de Sertã
e Oleiros) e a cordilheira composta pelo alinhamento das serras do Aivado, Melriça,
Amêndoa e Galega que cruzam na diagonal toda esta região, desde as cercanias do
Zêzere até à confluência da ribeira de Pracana com o rio Ocreza.
Trata-se de uma região profundamente montanhosa, recortada por um alto índice
de ribeiras que circulam em vales encaixados e meandriformes de perfil em V. Em
relação ao panorama hidrológico distinguem-se os afluentes da margem esquerda do
Zêzere dos da margem direita do Tejo (onde aquele se inclui). Relativamente aos
primeiros destacam-se as ribeiras da Sertã, Isna e Codes. Ao Tejo afluem (para além do
Zêzere) o rio Ocreza e seus afluentes (ribeiras do Alvito e Pracana) e as ribeiras de
Eiras, Boas Eiras e Arcês.
Em relação à capacidade agrícola destes terrenos, predominam os solos de classe
F (de não utilização agrícola) e A+F (de utilização florestal).
16
2.2.2.OS RECURSOS NATURAIS
Ao longo do I milénio a. C., toda esta região deveria compreender um conjunto
variado de recursos naturais. No entanto, a sua exploração dependeria do domínio de
uma adequada tecnologia ou da real indigência por parte daquelas comunidades.
É importante salientar, apesar de consensual, que durante o espaço temporal que
medeia este período à actualidade, muitas transformações se efectivaram ao nível do
meio-ambiente. Julgamos ser assim desnecessário realizar a descrição das actuais
condições climáticas e sobretudo da cobertura vegetal que abrange actualmente esta
região. Estas não serão necessariamente semelhantes à realidade do período histórico
em causa.
Sendo assim, e num esforço de repor a estrutura paisagística da antiguidade,
deveremos assentar os nossos pressupostos aos elementos paleobotânicos recolhidos nas
escavações. No entanto, a somar às escassas intervenções (cientificamente dirigidas),
contamos com inferior número de análises paleocarpológicas, polínicas ou
antracológicas (entre outras) efectuadas nos ecofactos exumados naquelas. Para além
disso, a própria natureza dos solos (muito ácidos) prejudica a conservação de tais
elementos.
Contudo, para a região em estudo, dispomos de um conjuntos de dados
(essencialmente provindos das escavações realizadas por R. Vilaça (1995a: 368-371) na
Beira Interior Sul) que contribuem para fornecer algumas pistas sobre o primitivo
quadro paleoambiental.
A floresta assumiria um papel fundamental na economia destas comunidades
pela sua diversificada utilidade, não só construtiva como também recolectiva e
cinegética.
É relativamente frequente o achado de bolotas em contextos proto-históricos. Na
região em causa regista-se o seu aparecimento nos povoados da Cachouça (89) em
Idanha-a-Nova (Vilaça, 1995a: 369), do Picoto (12) na Guarda (Perestrelo et alii, 2003)
e em Sta. Maria Madalena (109) na Sertã (Batata, 1998: 30). As fontes clássicas referem
que os povos indígenas produziriam pão à base de bolotas de carvalho, depois de as
secar, triturar e moer (Estrabão III. 3. 7.). Este processo estará nitidamente associado à
17
presença sintomática de vários elementos de moagem nos povoados. Por outro lado, a
presença deste fruto atesta a existência de uma floresta composta por Quercus.
De facto, as análises realizadas nos ecofactos recuperados nas escavações de R.
Vilaça (1995a: 369-371) permitem configurar uma floresta composta por espécies
arbóreas como o Quercus (carvalho, sobreiro e azinheira) e o Pinus (pinheiro bravo) e
por herbáceas como as estevas, fetos, urze entre outros.
A agricultura deveria também contribuir favoravelmente para a base de
subsistência destas populações.
Neste particular, convém talvez acentuar que as actuais cartas de capacidade de
uso dos solos deverão ser lidas com devida reserva, pois não nos permitem antever o
aproveitamento agrícola para a época pré-romana. De facto, a rudimentar tecnologia
agrícola da época deveria favorecer o cultivo de encostas com solos pouco espessos
(Vilaça et alii, 2000: 212) em detrimento dos terrenos pesados de planície.
A lavoura da cevada e trigo encontra-se atestada quer pela presença de suas
impressões vegetais na cerâmica (Vilaça, 1995a: 368-369; Vilaça, 2004c) quer pela
existência de seus grãos nestes contextos.
Como complemento às actividades agrícola e de recolecção, deverá ser
considerado o contributo da cultura cinegética (documentado na arte rupestre), da pesca
(atestada pela existência de pesos de rede) e pela pecuária.
Em relação a esta última actividade recorremos, uma vez mais, aos povoados da
Beira Baixa (Alegrios (94), Moreirinha (96) e Monte do Frade (104)), onde se
recolheram vestígios de porco doméstico, cabra e boi (Antunes, 1992). Teremos de ter
em linha de conta que, para além da carne, forneciam leite (produção também de
derivados) e lã. Estes dados parecem reflectir a existência, já no Bronze Final, de
hábitos de consumo baseados em fauna doméstica. Todavia, estas inferências só
poderão ser confirmadas após uma ampliação dos dados paleozoológicos.
Não obstante, a análise antracológica denuncia uma expansão dos prados de
herbáceas. Facto que poderá demonstrar um estado avançado de degradação e
destruição das áreas florestais no Bronze Final (Vilaça, 1995a: 370). Este
desbravamento florestal (talvez por acção antrópica) poderá delatar o incremento da
pastorícia ou criação de gado.
18
Analisando toda esta conjuntura, deduz-se que a base de subsistência destas
comunidades assenta num espectro amplo e diversificado.
A Beira Interior reúne igualmente uma grande variedade e quantidade de
recursos mineralógicos que justifica salientar, dado o interesse que poderão ter
despertado nas sociedades proto-históricas. A crença de variados autores em relacionar
o povoamento desta época com as possibilidades ou riquezas metalogenéticas de uma
dada área reforçam a necessidade que temos em aprofundar este tipo de análise.
Esta região encontra-se inserida (em quase toda a sua extensão) na província
mineralogénica do maciço hespérico, caracterizado por comportar duas espécies de
mineralizações distintas: os jazigos singenéticos (ferro e carvão vegetal) e jazigos
epigenéticos (estanho, volfrâmio e ouro) 3 .
Devemos, no entanto, desde o início, filtrar a informação obtida da análise da
carta mineira e estudos similares, tendo em conta um sistema de aproximação às
necessidades e à capacidade tecnológica e de exploração das sociedades pré-romanas.
O facto destas comunidades não serem dotadas de uma tecnologia capaz de
beneficiar de certas mineralizações como os filões, leva López Jiménez (2002: 73) a
presumir que as quantidades de metal absorvidas deveriam ser muito reduzidas e
especialmente centradas numa exploração “oportunista que não optimiza ou
institucionaliza” a produção. Esta constatação leva-nos a supor que na mineração préromana primavam os jazigos secundários ou terraços aluvionares. Assim, cingiremos o
nosso estudo a este tipo de exploração, nomeadamente aos aluviões auríferos e
estaníferos.
No entanto, não queremos deixar de assinalar que, apesar de se verificar na
região uma supremacia de reservas de estanho e ouro, também se registam algumas
importantes jazidas de cobre (essencialmente a norte da Malcata) e de chumbo (região
de Penamacor) (Thadeu, 1951: 108).
Deveremos ainda dizer que, apesar das camadas ferríferas mais importantes do
país se centrarem no nordeste transmontano (ver nota 2), é com alguma frequência que
se encontram escórias de ferro junto de alguns povoados. Este facto sugere a sua
3
No entanto, as camadas ferríferas mais importantes concentram-se a norte do país, sendo a Beira Interior
pródiga em jazigos epigenéticos. Cfr. Carta Mineira de Portugal, esc. 1/500000, 1965, Serviços
Geológicos de Portugal, notícia explicativa, p. 10 e 17.
19
exploração que deveria ocorrer em jazidas superficiais, difíceis de localizar. Não
obstante, poderemos destacar a região da Guarda (Alarcão, 1988a: 133) e a zona da
Malcata 4 .
A riqueza aurífera da Hispânia encontra-se bem patenteada nos relatos dos
autores clássicos. Neste sentido, o rio Tejo surge, a partir do século I a.C., como uma
referência recorrente da exaltação de riqueza e abundância de ouro. Amílcar Guerra
(1995: 130) regista mais de quarenta referências às areias auríferas do Tejo por parte de
diversos autores latinos que recorrentemente retomam o tópico iniciado por Catulo de
aurifer Tagus (Fernández Nieto, 1970-71: 245-247).
Por outro lado, Estrabão (III. 3. 4) ao referir que “(…) a região de que falamos [a
Lusitânia] é próspera, grandes e pequenos rios a atravessam, todos vindos das bandas de
nascente e paralelos ao Tejo. A maior parte deles são navegáveis e têm areias auríferas
(…)”, leva-nos a presumir que para além dos afluentes daquele rio serem detentores
deste tipo de recurso, estes encontravam-se acantonados no seu curso inferior/médio,
coincidentes com o território dos povos lusitanos.
De facto, os quadros de Carvalho (1979: 141) e Sanchéz-Palencia (1989: figura
1) e Sanchéz-Palencia e Perez (1989) demonstram a abundância de aluviões auríferos
nos afluentes da margem direita do Tejo: no Erges, Ponsul, Bazágueda, Aravil, Ocreza,
Tripeiro, Zêzere e ribeiras do Paul, de Codes, Caratão e Pracana.
Em relação aos recursos aluvionares estaníferos devemos assinalar toda a região
do curso médio do Zêzere. Os aluviões estaníferos do Zêzere (na área de confluência
entre a ribeira da Gaia e a Cova da Beira) e dos vales da ribeiras que descem do Planalto
da Guarda confluindo naquele rio (ribeiras da Maçaínha, da Gaia e de Caria) são
considerados os mais importantes do país 5 .
4
5
Cfr. Carta Geológica de Portugal, esc. 1/50000, 1960, folha 21B.
Cfr. Carta Mineira de Portugal, esc. 1/500000, 1965, Serviços Geológicos de Portugal, e notícia
explicativa, p. 26.
20
3. BREVE HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO NA BEIRA INTERIOR (I MILÉNIO A. C.)
É a partir de finais do séc. XIX que a comunidade, então embrionária, de
arqueólogos portugueses inicia os seus estudos na Beira Interior.
Em 1881 o arqueólogo Francisco Martins Sarmento integra a “Expedição
Científica” à Serra da Estrela organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa.
Embora parco ao nível dos resultados, o relatório que elabora constitui o primeiro
estudo fundamentado em prospecções desta região (Sarmento, 1883).
Neste sentido, os inquéritos realizados por vários eclesiásticos e reunidos nas
Memórias Parochiaes de 1758, fornecem-nos várias informações de carácter
demográfico, económico, geográfico, histórico e mesmo arqueológico. Entre 1896 e
1902, em vários números da revista O Archeólogo Português são publicados os
Extractos Archeológicos das Memórias Parochiaes de 1758 por Pedro A. de Azevedo
que comenta alguns dados deixados naqueles inquéritos sobre as “antiguidades”
(Azevedo, 1896; 1897; 1900; 1901; 1902).
Francisco Tavares Proença Júnior (1910) publica a Archeologia do Distrito de
Castello Branco (1ª contribuição para o seu estudo), uma obra, que dentro do espírito
da época poderá ser considerada como dos primeiros trabalhos sistemáticos com
objectivos científicos (Vilaça, 1995: 19), a primeira carta arqueológica daquela região.
Esta composição resume o esforço do autor que, desde 1903, recolhe dados sobre o
período pré e proto-histórico e romano, descrevendo-os com detalhe, resultando ainda
hoje na pouca informação que temos sobre certos povoados da Idade do Ferro.
Ao mesmo tempo, no concelho do Sabugal, Joaquim Manuel Correia após a
recolha de importantes informações orais junto das populações e achados avulsos
publica n’O Archeologo Português (1905; 1906) o resultados das suas pesquisas.
Merecedora de destaque é igualmente a acção investigadora de Leite de
Vasconcelos que contribui de forma notória para a divulgação da arqueologia desta
região (Vasconcelos, 1917; 1918; 1920; 1934). Resultantes das visitas esporádicas que
realiza à Beira Interior, este autor recolhe, estuda e publica uma série de materiais
arqueológicos que depois deposita no Museu Ethnológico Português.
A este fulgor inicial contrapõe-se um certo decréscimo de investigação que se irá
sentir nas décadas seguintes. Teremos de aguardar até meados do século transacto para
que os estudos proto-históricos retomem, paulatinamente, de novo o seu alento.
21
Na década de 40, deverão ser assinaladas duas obras de João de Almeida, o
Roteiro dos monumentos de arquitectura militar do Concelho da Guarda (1943), e
posteriormente, o Roteiro dos monumentos militares portugueses (1945, 1946, 1948).
Embora sem formação arqueológica, este autor reúne várias informações sobre estações
romanas e proto-históricas por vezes pouco fiáveis ou nada credíveis. No entanto,
salienta-se o esforço na identificação e catalogação de sítios com interesse arqueológico
o que faz com que a sua obra deva ser analisada, embora com bastante precaução,
tentando sempre comprovar no campo a localização destas estações.
Em 1958, regista-se a escavação de Adriano Vasco Rodrigues no castro do
Cabeço das Fráguas, tendo sido apenas publicado um pequeno artigo (Rodrigues, 1959)
de síntese onde carecem as descrições dos resultados obtidos.
Em 1970, a obra Monumentos históricos do concelho de Mação de Maria
Amélia Horta Pereira, por se tratar da primeira monografia sobre esta região dedicada
somente à arqueologia, marca a viragem dos estudos arqueológicos da zona. Aqui
abordam-se as escavações do castro de S. Miguel de Amêndoa (112) (dirigidas na
década de 50 por João Calado Rodrigues) e do Castelo Velho de Caratão (127), embora
de forma superficial e não contemplando os contextos estratigráficos. Facto que se
repete na Fortaleza de Abrantes (Bübner, 1996).
Inseridas na problemática da Idade do Bronze salientam-se as obras de Coffyn
(1976; 1983 e 1985) e Monteagudo (1977) que, baseando-se no estudo de peças
metálicas, inscrevem-se na discussão sobre o chamado “Bronze Atlântico”. Se a estes
adicionarmos os trabalhos de Villas-Bôas (1947 e 1948), Macwhite (1951), Hawkes
(1952) e Kalb (1980), verificamos que as dissertações centradas na classificação e
determinação de relações genéticas de conjuntos de artefactos metálicos abundam no
Centro-Oeste Peninsular.
Mas é a partir dos anos 80 do século transacto que a Arqueologia Portuguesa
conhece o seu “boom”, reflectindo-se essa acção benéfica também na Beira Interior.
Retomando as escavações realizadas por F. Tavares Proença no castro de S.
Martinho em 1903 e 1906, este local irá ser alvo de novas intervenções arqueológicas
por Joaquim Baptista e Pedro Salvado em 1982, Julien Bécares e Clara Vaz Pinto em
1983 e por esta última novamente em 1986.
22
Na região do Pinhal Interior, deveremos mencionar a acção investigadora de
Carlos Batata que realiza vários levantamentos arqueológicos (Batata, 1998; 2000a;
2000b; 2000c; Batata, Gaspar e Batista, 1999) e algumas intervenções arqueológicas
(essencialmente de emergência) em vários castros desta região 6 . Em 2002 apresenta a
sua tese de mestrado intitulada Idade do Ferro e Romanização entre os rios Zêzere,
Tejo e Ocreza, onde sintetiza todas as informações recolhidas ao longo de vários anos
de investigação. Abrangendo esta área salientam-se ainda os estudos de Paulo Félix
integrados na problemática do Final da Idade do Bronze no Ribatejo Norte (Félix,
2000), nomeadamente as suas intervenções nos povoados do Cabeço das Mós e Quinta
da Pedreira (Félix, 1997), aguardando-se a sua tese de doutoramento que ora prepara.
Raquel Vilaça inicia em 1987 os seus estudos integrados na problemática do
Bronze Final na zona nordeste da plataforma de Castelo Branco. Sob uma rigorosa
metodologia e orientação científica, desenvolve um trabalho substanciado não só em
prospecção como também em escavações sistemáticas em diversos povoados
essencialmente da Beira Baixa. Trata-se, indiscutivelmente, de uma obra de referência e
a única síntese sobre o povoamento do Bronze Final na Beira Interior, que rompe
definitivamente com o tipo de trabalhos que até então marcavam o passado da
investigação nesta região. A esta investigadora deve-se ainda o enorme rol de
publicações que tem efectuado, ora sozinha (1990; 1991; 1992; 1993; 1995e; 1997a;
1997b; 1998a; 1998b; 1999; 2000a; 2000b; 2003; 2004a; 2004b; 2004c; 2005), ora com
o apoio de alunos e outros arqueólogos (Vilaça et alii, 1995; 1998; 1999a; 1999b;
2000a; 2000b; 2002-03 e 2004), tendo em conta os dados disponíveis sobre o Bronze
Final na Beira Interior.
Referentes à Meseta Norte e área oriental da Guarda que o autor designa por
“Beira Mesetenha”, focamos os recentes trabalhos de O. López Jimenéz (2001; 2002 e
2005) que em muito contaram com as investigações de M. S. Perestrelo e M. Osório e
que nos foram preciosos pelas informações que deles retirámos, especialmente da
Protohistoria del occidente de la Meseta Norte: estructura social y território (2002).
6
Destacamos as intervenções no Castro de Sta. M.ª Madalena (109), N.ª Sr.ª da Confiança (110) e Cerro
do Castelo (111).
23
Deveremos assim igualmente salientar os estudos dedicados à bacia do Côa
desenvolvidos por Manuel Sabino Perestrelo (A Romanização na bacia do rio Côa, 2004) e
Marcos Osório (O Povoamento Romano do Alto Côa, 2000) que, apesar de orientadas
para o período romano, nos fornecem também informações relativas ao povoamento
proto-histórico. Do trabalho desencadeado por Marcos Osório no concelho do Sabugal
(2000b; 2005) realçam-se as escavações no núcleo histórico daquela localidade (Osório
e Santos, 2003) e no povoado do Sabugal Velho (2000c). De M. S. Perestrelo
ressaltamos as publicações consagradas aos povoados do Caldeirão (2000) e Castelo de
Mouros de Cidadelhe (2001 e 2005).
Mais a norte, na região do Vale do Douro, tivemos em conta os levantamentos
arqueológicos levados a cabo por Sá Coixão (1996) e por elementos associados ao
Parque Arqueológico do Vale do Côa (Rebanda, 1995, Baptista, 1999, Luís, 2005).
A consulta de trabalhos académicos realizados por alunos do Instituto de
Arqueologia da Universidade de Coimbra foi de grande préstimo para a nossa
investigação. Neste âmbito devemos focar os trabalhos de análise espacial do castro de
Cabeço dos Mouros (Porfírio, 1999), do castro de Monforte da Beira (Canas, 1999) e do
castro de S. Martinho (Marques, 1995) e de prospecção intensiva nas áreas de Capinha
(Fundão) (Carvalho et alii, 2002), Torre dos Namorados (Fundão) (Ângelo, 2003) e
Torre de Almofala (Figueira Castelo Rodrigo) (Lobão et alii, 2005), ou extensiva na
região de Belmonte e Covilhã (Porfírio e Correia, 1998).
Não nos podemos furtar de mencionar as sínteses mais gerais, inseridas em
capítulos integrados nas extensas colectâneas dedicadas à História de Portugal (Jorge,
1990; Silva e Gomes, 1992; Fabião, 1992; Calado, 1995), que aludem, umas mais que
outras, o I milénio a.C. na Beira Interior. Neste âmbito evidencia-se a publicação
integral em catálogo de exposições temáticas realizadas no Museu Nacional de
Arqueologia (Jorge, 1995 e Alarcão, 1996).
São também dignos de registo pesquisas de natureza distinta, materializados em
sintéticos levantamentos arqueológicos, por vezes com informações e interpretações
controversas (que carecem de confirmação) mas que nos foram proveitosos no
planeamento dos trabalhos de planeamento e identificação dos sítios arqueológicos
(Campos, 1959; Salvado, 1976; Monteiro, 1978; Pereira e Bento, 1979; Plácido, 1980;
24
Batista, 1982; Batista e Henriques, 1982; Fernandes, 1982; Freire, 1982; Candeias da
Silva, 1986; Louro, 1990 e Leitão, 1994).
Menos expressivas em termos científicos, contam-se várias monografias
históricas e etnográficas de carácter local e regional de onde retirámos (por vezes, entre
linhas) pistas ou pontos de orientação que favoreceram a nossa pesquisa (Milheiro,
1982; Silva, 1992; Dias, 1996; Ramos, 1999 etc.).
Ao longo dos últimos anos tem-se verificado a intensificação de publicações
periódicas em revistas da especialidade, o que incrementa a discussão e o consequente
avanço do estado actual da investigação.
Para finalizar 7 , saliente-se a obrigatoriedade, hoje em dia, do acompanhamento
arqueológico de diversas obras públicas (construção de estradas, barragens, condutas de
gás e canais de rega), dinamizando a actividade arqueológica da região, apesar de,
infelizmente, muitos dos relatórios referentes a estes trabalhos (alguns contemplando
dados inéditos) continuem por publicar.
7
Note-se a ausência, nesta retrospectiva, da indicação dos estudos dedicados à problemática etnológica
(mais concretamente aos povos lusitanos). Optámos por isolar este tema para um capítulo próprio.
25
4. O POVOAMENTO DURANTE O BRONZE FINAL
Todas as problemáticas envolventes do Bronze Final da Beira Interior
encontram-se, de certo modo, já debatidas e cobertas por Raquel Vilaça que, desde a
década de 90 do século transacto, tem dedicado diversas publicações às várias temáticas
que este assunto encerra.
De qualquer modo, face à existência de novos dados pontuais e maior
abrangência geográfica do nosso estudo, teceremos algumas considerações sobre o
povoamento do Bronze Final. Julgamos que só assim, se possibilitará a análise da sua
evolução ao longo de todo o I milénio a.C. Os poucos registos arqueológicos existentes
revelam que o lento processo de transformações económicas, políticas e sociais, que
resultaram na aparição dos povoados fortificados da Idade do Ferro, têm as suas raízes
no Bronze Final.
Sob pena de repetir o que outros já disseram, correremos o risco de sintetizar a
informação disponível referente ao povoamento daquele período, não descurando de
acrescentar a certas matérias mais controversas a nossa tradução dos dados existentes.
4.1. PADRÕES DE ASSENTAMENTO
A análise detalhada das características de implantação topográfica dos povoados
do Bronze Final parece corroborar a versão de fraca variabilidade aventada por R.
Vilaça (1998a: 206). De facto, apenas conseguimos distinguir dois tipos principais de
assentamento: os povoados de altura (tipo I) e os, vulgarmente denominados, casais
(tipo II).
Tipo I – Povoados de altura.
Apesar de considerarmos que 95% (56 exemplos) destes habitats se possam
englobar no tipo I, a análise mais detalhada das características dos distintos padrões de
implantação, permite-nos distribuí-los por quatro categorias específicas.
26
I A – Assentamentos em elevação isolada.
Caracterizam-se por se encontrarem localizados em elevações bem destacadas e
individualizadas na paisagem, com extraordinárias condições naturais de defesa
(conferidas pelas vertentes declivosas que chegam a atingir os 25% de pendente), de
acesso difícil e com amplo domínio e controle visual sobre o território que os circunda
(sobretudo direccionado para zonas de contacto entre rios e montanhas ou vias de
circulação e áreas de abundantes recursos). Contemplam 32% dos registos (19
povoados).
Entre estes podemos destacar os que se encontram instalados sobre os “montesilhas” da Beira Baixa como o povoado de S. Martinho (55), Alegrios (94), Monte do
Trigo (90), entre outros.
I B – Assentamentos em elevação destacada mas inserida em cadeia
montanhosa.
Possuem características semelhantes aos povoados integrados no sub-tipo
anterior (I A). Apenas se diferenciam daqueles por não se encontrarem individualizados
na paisagem. Não obstante, apresentam igualmente boas condições naturais de defesa e
de visibilidade sobre o território envolvente. Geralmente ocupam as cordilheiras mais
imponentes da região, essencialmente os cumes das linhas divisórias de bacias
hidrográficas. Demonstrativo desta situação é o alinhamento dos povoados do Cabeço
da Argemela (83), Cabeça Gorda (84), Quinta da Samaria (69) e Castro da Amêndoa
(125), localizados em pontos destacados do acidente geográfico que individualiza a
bacia hidrográfica do Zêzere da bacia hidrográfica da ribeira da Meimoa. Atendem
igualmente a 32% dos casos contemplados (19 povoados).
27
I C – Assentamentos em promontórios ou esporões fluviais.
Cerca de 22% (13 exemplos) destes povoados de altura situam-se em
promontórios ou esporões sobranceiros a rios e ribeiros, com boas defesas naturais (pelo
menos em determinados sentidos) mas, em alguns casos, não destacados na paisagem.
São os casos dos povoados do Caldeirão (13), Castelo de Mouros de Cidadelhe (22) ou
Cachouça (89).
28
I D – Assentamentos em cabeços planálticos ou aplanados nas orlas de
elevações mais destacadas.
Representando um universo de 9% do total de povoados analisados (5
exemplos), contam-se os sítios que ocupam áreas planálticas nas orlas de elevações
mais destacadas como a Tapada das Argolas (79), Covilhã Velha (86) ou Pedra Aguda
(78). Por vezes de difícil acesso mas geralmente de maiores dimensões encontram-se
correlacionados com terrenos, hoje, de grande aptidão agrícola. A boa visibilidade que
auferem encontra-se, essencialmente, direccionada para estes campos.
29
Tipo II – Casais.
Por fim, e de natureza distinta, individualizamos os locais vulgarmente
designados por “casais” de vocação agro-pastoril. Privilegiam o assentamento no topo
de pequenos outeiros ou encostas de suave declive próximo a linhas de água (por vezes
pouco expressivas) e terrenos férteis. Estão assim classificados a Quinta da Pedreira,
Monte de S. Domingos e Amoreira, perfazendo apenas 5% dos assentamentos
integrados no Bronze Final. Todos se encontram muito próximos e relacionados com a
margem direita do rio Tejo.
Frequência percentual dos tipos de assentamento
5%
8%
33%
I-A
I-B
I-C
22%
I-D
II
32%
30
4.2. OS TESTEMUNHOS
4.2.1. OS POVOADOS DE ALTURA
A criação de quatro tipos de povoados de altura permitiu verificar a existência de
dois grupos que comportam pequenas assimetrias.
Com efeito, os tipos I A e I B auferem de um amplo domínio ou controle visual
sobre todo o território envolvente e são avistados a longas distâncias. Adversamente, os
tipos I C e I D, apesar de ostentarem boas condições de visibilidade, esta encontra-se
por vezes direccionada a regiões específicas. Para além disso, por estarem camuflados
na paisagem envolvente, o seu impacte visual é mais reduzido.
Esta situação poderá engrossar o rol de motivos pelos quais uns revelam,
preferencialmente, ocupações (contínuas (?) ou descontínuas) em período posterior. De
facto, dos 38 povoados (64%) integrados nos tipos I A e I B, apenas dez revelam, pelo
menos, uma ocupação posterior. Por outro lado, do tipo I C somente em cinco sítios
(dos 13 detectados) não se verificou tal ocorrência, enquanto todos os assentamentos
inseridos no tipo I D acusam uma posterior ocupação.
Outro aspecto que foi possível descortinar prende-se com a preferência regional
por determinado/s tipo/s de implantação (tabela 1). Esta deverá, necessariamente, estar
relacionada com as próprias características pedológicas ou geomorfológicas de cada
uma das sub-regiões em que compartimos a Beira Interior (vide supra 2.2.1.).
Distribuição dos tipos de assentamento por sub-região
Nº de povoados
10
Bacia do Côa e Planalto
Guarda/Sabugal
8
6
Cova da Beira
4
Beira Interior Sul
2
0
I-A
I-B
I-C
I-D
Tipos de assentamento
II
Pinhal Interior
31
Assim sendo, poderemos dizer que na bacia hidrográfica do Côa (e planalto
Guarda/Sabugal) não se integrou nenhum povoado no tipo I D, enquanto todos os outros
se encontram indiscriminadamente registados. Na Cova da Beira assiste-se a uma maior
representatividade dos tipos I A e I B, não tendo sido integrado nenhum sítio no tipo I
C. Na Beira Interior Sul regista-se a presença maioritária de assentamentos inseríveis no
tipo I A e no Pinhal Interior de povoados de tipo I C.
Não obstante estas pequenas desproporções, pela situação e posicionamento que
auferem, os povoados de altura revelam uma semelhante preocupação estratégica e
defensiva em termos de domínio visual e controlo do espaço envolvente, tanto imediato
como mais longínquo.
A procura de locais a cotas elevadas e alcantilados é associada, não
exclusivamente, por alguns autores a preocupações de cariz defensivo. Menos
consensual é a classificação e atribuição de determinadas estruturas ditas defensivas ao
Bronze Final.
O significado do muralhamento pode assentar em diversos objectivos, funções e
explicações condicionadas por diferentes variáveis como o espaço que delimitam, a
implantação topográfica ou a técnica construtiva. Neste sentido, a edificação de tais
estruturas poderá envolver factores mais complexos que não necessariamente bélicos. A
exclusão de inimigos, a possibilidade da sua integração numa sociedade hierarquizada
emergente ou ilustrativo da sinalização espacial relativamente ao território envolvente,
são alguns dos agentes enumerados (Vilaça, 1995a: 258).
Por outro lado, deverá ter-se em linha de conta a reocupação posterior
(nomeadamente na Idade do Ferro) verificada em muitos destes locais. Isto é, será
sempre prematuro e problemático nestas situações, sem resultados provenientes de
escavações, adjudicar uma correcta datação da construção da muralha e integrá-las
inequivocamente no Bronze Final.
Deste modo, e excluindo todos os povoados que acusam reocupações posteriores
(e que não foram escavados), são raros os sítios abandonados no Bronze Final onde se
atesta a presença das rotuladas estruturas defensivas.
Assim sendo, mencionam-se os povoados de Serra Gorda (26), Cabeço dos
Mouros (36), Castelejo (41), Chandeirinha (53), Castelo Velho de Louriçal do Campo
32
(58), Monte de S. Brás (82), Monte do Trigo 8 (90), Cerro do Castelo (111) e Castelo
Velho da Zimbreira 9 (126). Duvidoso permanece o total esclarecimento do hipotético
muralhamento do povoado do Caldeirão (13) (Perestrelo, 2005: 83), e datação da Serra
da Rachada (75) e Castelo do Santo (124).
Deste modo, apenas nove (ou doze) dos povoados dispõem deste tipo de
estruturas revelando, ainda assim, algumas assimetrias em termos construtivos e
espaciais.
No entanto, Carlos Batata (2002: 23) evidencia a existência de muralhas na
grande maioria dos povoados do Bronze Final existentes na região entre Ocreza e
Zêzere. Discordamos de tal declaração após verificar que à excepção do Cerro do
Castelo, Castelo Velho da Zimbreira e Castelo Santo (Mação), todos os outros serão
reocupados na Idade do Ferro ou período Romano. Pelo que expressámos, julgamos não
ser seguro que (todas) estas construções se reportem ao Bronze Final.
Outro aspecto a ter em conta é o facto de apenas dois sítios (Monte de S. Brás e
Cerro do Castelo) apresentarem uma estrutura que cerca todo o recinto do povoado,
enquanto todos os outros revelam a presença de um pequeno talude (composto por
pedra e terra) na/s vertente/s mais exposta/s, de acesso facilitado.
Perante este dado, hesitamos em classificar estas construções como verdadeiras
muralhas ou fortificações, pois não expressam o que poderemos designar por
arquitectura militar. Pensamos que será mais correcto (tal como Vilaça (1995a: 257)
adverte) atribuir-lhes uma função delimitativa ou de demarcação do espaço habitado e
não um carácter simplesmente defensivo. Este facto justificaria a sua ausência em
povoados naturalmente delimitados por vertentes abruptas, os mais comuns nesta
região. Todavia, grande parte destes povoados (oito) integra-se no tipo I A e I B, que
mais se coaduna com esta característica. Esta circunstância leva-nos a equacionar a
possibilidade destes taludes actuarem como expediente protector contra factores
climáticos, nomeadamente os ventos fortes que se deveriam sentir nestas altas
elevações. Contudo, a diversidade de soluções que apresentam em termos construtivos e
8
Embora tenha sido atestado um nível de ocupação do período calcolítico, a intervenção arqueológica
aqui realizada correlaciona a estrutura defensiva identificada ao Bronze Final (Vilaça e Cristóvão, 1995).
9
Também aqui alguns autores (Pereira, 1970) adscrevem uma ocupação calcolítica que poderá
eventualmente relacionar-se com a muralha detectada.
33
espaciais, remete-nos para uma igual multiplicidade de factores que poderão estar
inerentes a estas construções, não podendo isolar uma motivação comum a todas elas.
Por último, as construções existentes no Monte de S. Brás e Cerro do Castelo
(ou Serra da Rachada) afiguram-se, neste panorama, como paradigmáticas. Para além de
cercarem todo o recinto habitado, denotam um maior cuidado na sua edificação e
transparecem a existência de um grande esforço comunitário dado o volume de pedra
que envolvem. A intervenção realizada no Cerro do Castelo permitiu datar a construção
daquela estrutura num momento posterior ao século IX a. C (Batata e Gaspar, 2000a:
69). Este facto leva-nos a presumir que numa primeira fase teria sido um povoado
aberto e só nos momentos finais do Bronze Final (ou já no Ferro Inicial) se edifica o
sistema defensivo. Esta será mais uma das problemáticas que deverá ser aprofundada e
esclarecida com o seguimento da investigação.
A ocupação preferencial em locais estratégicos de altura não se pode dissociar
do intento pelo controlo visual de regiões abonadas em recursos exploráveis e das vias
de circulação dos mesmos (especialmente do metal) ou que a eles conduzem (Vilaça,
1995a: 422). Esta faceta leva R. Vilaça (et alii, 2000: 214) a designá-los como
verdadeiros “povoados sentinela”, focando a Covilhã Velha (86), Tapada das Argolas
(79) e Cabeço da Argemela (83) na Cova da Beira.
O povoado da Covilhã Velha controla nitidamente o corredor de circulação entre
as planícies meridionais da Beira Baixa e a superfície da Meseta (Vilaça et alii, 2000:
214; Vilaça, 2004a: 46). A mesma autora outorga uma postura de “povoado de ponta”
ao Cabeço da Argemela que, por se localizar na “cauda” ocidental da Cova da Beira,
domina a entrada e saída naquela região.
Neste sentido, realçamos a linha de povoados composta por Cabeça Gorda (84),
Quinta da Samaria (69) e Pedra Aguda (78), dispostos ao longo da cumeada da serra de
Peroviseu. A sua posição privilegia o controlo visual sobre toda a Cova da Beira a Norte
e a Sudeste da fértil bacia da ribeira da Meimoa ou de grande parte de um trecho do já
referenciado corredor de passagem entre as planícies meridionais e a Meseta.
Destaca-se igualmente a disposição de sítios como a Serra da Rachada (75)
(localizado a 1017m. de altitude na vertente oriental inóspita da serra da Estrela), da
Chandeirinha (53) (serra da Esperança) e Castelejo (41) sobre a região do Alto Zêzere,
de grande riqueza estanífera aluvionar.
34
Na região mais setentrional da Beira Interior (bacia hidrográfica do Côa), elegese a implantação em zonas de domínio visual efectivo sobre cursos fluviais ou pontos de
passagem de rios ou ribeiras (Perestrelo, 2004: 121). A lógica de assentamento parece
privilegiar o controlo do Côa (evidenciado em Castelo Mau (2) e Castelo dos Mouros de
Cidadelhe (22)) ou áreas próximas à foz de seus afluentes como em Alto dos Sobreiros
(20) (que ocupa uma posição junto à foz da ribeira das Cabras com o rio Pega e a 1,5
km. da desembocadura deste com o Côa) e Bogalhal Velho (21) (localizado sobre a
ribeira das Cabras que domina até ao seu estuário no Côa). Verifica-se a preferência de
instalação em sítios que favorecem o controlo de cursos naturais de circulação e
mobilidade dos grupos em detrimento pelo domínio de áreas de acesso a recursos
naturais ou económicos mais directos.
Paralelamente e demonstrando simultaneamente as duas vertentes o Cabeço das
Fráguas (8), Cabeço dos Mouros (36) e Castelejo (41), implantados no planalto
Guarda/Sabugal, fecham a Este o controlo total do território circundante das ribeiras que
afluem ao Alto Zêzere. Apesar de não efectivarem um controlo directo daquela
importante (ao nível de recursos) região, apresentam um amplo domínio visual sobre ela
(que se estende até ás faldas da Cova da Beira), gerindo igualmente o trânsito de
pessoas e bens (provenientes sobretudo da Meseta) que lá converge.
Atributos como estes inserem os povoados do Bronze Final numa verdadeira teia
de complementaridades que desencadeia um processo de “territorialização da região”
onde se encontram, sendo apelidados de “guardiões do território” (Vilaça, 2000a: 34).
Por outro lado, esse domínio visual ajusta-se num encadeamento de
“intervisibilidades coniventes” (Vilaça, 2000a: 34). Diversos povoados deveriam
avistar-se recíproca e relacionalmente. De facto, é possível isolar determinados núcleos
onde se constata a existência de visibilidades complementares. Destaca-se o grupo de
povoados de Idanha-a-Nova (Moreirinha (96), Alegrios (94), Monte do Trigo (90) e
Pedrichas (100)) ou sítios como a Tapada das Argolas (79) de onde é exequível avistar a
Covilhã Velha (86), Cabeço do Escarigo (81), Pedra Aguda (78), Quinta da Samaria
(69), Moreirinha, Alegrios até aos contrafortes da serra de Penha Garcia.
Relativamente
a
este
aspecto,
deveremos
referenciar
a
particular
complementaridade intervisual entre as duas margens do Médio e Baixo Zêzere. Isto é,
35
percepciona-se
uma
correspondência
visual
entre
povoados
implantados
sobranceiramente à margem esquerda e direita daquela zona do curso do rio. Do
povoado de N.ª Sr.ª da Confiança (110) (margem esquerda do Zêzere, Sertã) visionamse os sítios de N.ª Sr.ª dos Milagres e do Calvário (Pedrógão Grande). Do castro de Sta.
Maria Madalena (109) (Sertã) são visíveis os povoados da Serra do Castelo (Figueiró
dos Vinhos) e Castro de Dornes (Ferreira do Zêzere). Finalmente, do Cerro do Castelo
(111) (Vila de Rei) é possível avistar-se S. Pedro do Castro (Ferreira do Zêzere).
Pelo contrário, na zona da bacia do Côa verifica-se uma certa dicotomia
coadunável com este assunto. A implantação dos povoados aqui instalados (certamente
condicionados pelas características geomorfológicas) parece não privilegiar a
intervisibilidade entre sítios. Facto atestado em Castelo de Mouros de Cidadelhe (22),
Castelo Mau (2), Bogalhal Velho (21) e até Caldeirão (13), pela preferência de
ocupação em esporões, cabeços situados em recantos de planaltos, em vertentes mais
abrigadas sobre vales fluviais.
Este contempto pelos relevos mais elevados da região, que conduz ao
ocultamento dos povoados na paisagem envolvente (Perestrelo, 2004: 121), contrasta
nitidamente com o forte impacto visual dos seus congéneres em áreas mais meridionais
designados como autênticos “monumentos naturais” (Vilaça, 1998a: 209). De facto,
estes impõem-se como marcos referenciais de um território.
Esta forte expressividade cénica (por vezes sublinhada pela elevada
concentração de afloramentos graníticos à superfície) transforma sítios de habitação em
lugares de referência, configurando-se como “mapas mentais e simbólicos” ou
identitários (Vilaça, 2000a: 34 e 2004a: 46).
Esta situação reporta-nos para uma outra discussão. Terá existido uma
consciencialização desta circunstância? A existir, poderá até certa forma ser
demonstrativo de poder ou desigualdades sociais?
A ausência de riqueza nos povoados escavados e a sua abundância nos territórios
que controlam, quer a disseminação do povoamento por locais estratégicos como peças
de um único processo de territorialização, deixam antever que os sítios habitados se
encontravam inseridos na mesma paisagem social, sem atritos ou conflitos que
justifiquem a aparição de uma rede hierárquica (Vilaça, 1998a: 210-211).
36
A opulência de recursos e o carácter central da região no sistema de trocas (local
de passagem obrigatória) tornaria prioritário o controlo deste tráfico efectuado através
de lideranças locais (Vilaça, 1998a: 211), designados por J. Alarcão como “agentes de
circulação do metal”, para nós eventualmente mercadores. A análise do povoamento e
da organização interna de cada povoado parece não indicar uma hierarquia de
povoamento mas antes a presença de indivíduos com estatuto sociopolítico superior.
Esta desigualdade social encontrava-se matizada na manipulação de determinados
artefactos considerados bens de prestígio (Vilaça, 2000a: 35).
O povoamento apresenta-se disperso, sem que um sítio sobressaia dos demais ou
ocupe um posicionamento centralizado.
No entanto, na bacia média e superior do Mondego verifica-se a sobreposição de
territórios de exploração entre alguns povoados coetâneos (Senna-Martínez, 1993). Este
autor interpreta esta situação como um exemplo de hierarquização do povoamento.
Esta sobreposição é apenas constatada na Beira Interior por Perestrelo (2004:
123) em dois únicos casos: entre Bogalhal Velho (21) e Alto dos Sobreiros (20) e
Caldeirão (13) com Quinta da Lameira (14).
A problemática agudiza-se ao ponderarmos na economia praticada por estes
povoados de altura.
De facto, a par da modesta dimensão destes aglomerados, a sua organização
interna (onde não se identificaram até ao momento locais exclusivos a cada tipo de
produção) poderá talvez traduzir um fraco desenvolvimento das actividades produtivas.
No entanto, e apoiados na reduzida dimensão dos povoados, deduzimos que a sua
economia tinha unicamente uma dimensão familiar ou doméstica. Sendo assim, cada
núcleo seria auto-suficiente (Vilaça, 1995a: 422) e viveria num estado de autarcia
económica em relação à produção e obtenção dos recursos básicos.
Para além da criação de gado suíno, caprino e bovino (Antunes, 1992) e da
produção metalúrgica, a prática de outras actividades surge documentada nestes
povoados.
A rudimentar tecnologia agrícola da época favorecia o cultivo de encostas com
solos pouco espessos (Vilaça et alii, 2000: 212) e o plantio de centeio poderia ser
praticável a 1600 m de altitude (Ribeiro, 1940-41: 261). O cultivo da cevada e trigo
encontra-se atestado pela presença de impressões vegetais de seus grãos nas cerâmicas
37
de alguns destes povoados (Vilaça, 2004c). Embora a agricultura exercida seja ainda
incipiente e de pequena escala, pensamos que fornecia os meios de subsistência
necessários àquelas comunidades.
Ainda assim, esta seria complementada pela recolha de frutos como a bolota
(que depois de seca poderia ser triturada, estando também relacionada com a aparição
de um grande número de elementos de moagem), pela pesca (atestada pela existência de
pesos de rede) e cultura cinegética (documentada na arte rupestre).
4.2.2. OS CASAIS
Têm sido recentemente identificados (mais especificamente junto ao Tejo) a par
dos povoados de cumeada, sítios implantados junto de terrenos férteis, a cotas
reduzidas, sem preocupações defensivas ou de visibilidade, vulgarmente designados por
“casais agrícolas” 10 .
Este tipo de assentamento está ainda muito mal representado, contando apenas
com 5% do total de sítios do Bronze Final. Esta situação poderá espelhar não só a
dificuldade que reside no seu reconhecimento, como também os escassos trabalhos de
prospecção que quando realizados tendem a ser orientados para o topo de cumeadas.
Os “casais de vocação agrícola” conhecidos encontram-se implantados
exclusivamente no vector paisagístico e geomorfológico do Vale do Tejo: a Quinta da
Pedreira (119) (Félix, 1997; 2000: 730), Amoreira (118) (Cruz, 1997 e 2002), Monte de
S. Domingos (60) (Cardoso et alii, 1998) e, já na margem esquerda, Tramagal (Batata et
alii, 1999: 28) e Montalvo (Cruz, 1997).
Trata-se basicamente de pequenos núcleos residenciais, com reduzido número de
estruturas de habitação 11 , implantados no topo de encostas de suave declive, voltadas
para o Tejo. Esta estratégia de assentamento parece seguir uma lógica de implantação já
antes observada no vale inferior ou estuário do Tejo, nas estações da baixa península de
Lisboa como a Tapada da Ajuda (Cardoso e Carreira, 1993; Cardoso, 1995a), Quinta do
10
P. Félix (1997: 33) prefere designá-los por “pequenos aldeamentos”. No entanto, esta denominação
poderá aplicar-se igualmente a grande parte dos povoados de altura.
11
Geralmente cabanas circulares compostas por pedra unicamente nos alicerces como surge demonstrado
no Monte de S. Domingos (Cardoso et alii, 1998).
38
Percevejo (Barros e Espírito Santo, 1991) em Almada e Moinhos da Atalaia (Pinto e
Parreira, 1978) na Amadora.
Na região oriental do Côa, M. Osório (2005a) identificou recentemente 12 um
conjunto de pequenos sítios pouco destacados na paisagem que poderão, após futuros
trabalhos de caracterização, vir a ser integrados neste tipo de assentamentos.
De distinto âmbito mas pela sua reduzida dimensão (126 m2), o Monte do Frade
(104) (Vilaça, 1995a) é classificado por J. Alarcão (2004: 47) como “casal”. Segundo o
autor, deveria ser a residência de alguém com estatuto socio-económico superior, talvez
um mercador. Apenas o referenciamos para que não seja confundido com os que atrás
destacamos.
Sendo assim, teremos apenas em linha de conta, na pequena discussão que se
segue, os casais adstritos ao vale do Tejo.
Uma das problemáticas que encerra a temática dos casais agrícolas incide na
questão cronológica. Embora não existam, por enquanto, dados seguros referentes a esta
matéria, não queremos deixar, perante os existentes, de tecer algumas considerações.
J. Alarcão (1996: 15) relança esta polémica adscrevendo este tipo de sítios a uma
primeira fase do Bronze Final (1250-1000/900 a.C.) que evolucionaria por alturas de
mudança do milénio para a concentração destas comunidades em aldeias no topo de
cumeadas. Mais tarde (2004: 47), influenciado talvez pelos resultados das intervenções
de R. Vilaça (1995a) nos povoados de Alegrios, Monte do Frade e Moreirinha, recua
esta evolução para o século XII a. C.
12
Falamos das estações do Carapito (50 B), Carrascal (59 B), e Alto do Carapito (58 B). Encontram-se
implantados no topo de suaves outeiros ou plataformas a meia encosta, pouco destacados, sem
preocupações defensivas, sobranceiros às principais ribeiras (afluentes da margem direita do Côa),
próximos de terrenos férteis propícios à prática da actividade agro-pastoril. Esta estratégia de ocupação
contrasta nitidamente com a que é adoptada na região ocidental do Côa, onde o povoamento privilegia as
linhas de relevo acentuado. Os dados referentes a estes sítios são ainda escassos para que os possamos
englobar nesta discussão, pois nenhum deles apresenta elementos que possam apontar para uma
indiscutível ocupação do Bronze Final. No entanto, estamos crentes, que no futuro, a sua correcta
caracterização poderá favorecer o avanço desta controversa temática.
39
De facto, J. L. Cardoso (1995a, 48) com base em datações radiocarbónicas e a
total ausência de cerâmica brunida recua a ocupação do povoado da Tapada da Ajuda
em Lisboa para o século XIII a. C. No entanto, parece distanciar-se do anterior
investigador por sustentar a existência de um modelo de dicotomia contemporâneo entre
pequenos aldeamentos de planície e povoados de altura (Cardoso, 1995b: 126). Estes
casais estariam dependentes de “um centro de carácter proto-urbano” (Cardoso, 1995a:
48) e a sua produção cerealífera complementaria as bases alimentares destes povoados
de altura. A existência de uma rede hierárquica de povoamento entre povoados de altura
(onde residiria a elite) e povoados dispersos pelos arredores de planície encontra-se
igualmente matizada na região alentejana (Parreira, 1995: 132).
Os dados provenientes dos casais do curso médio do Tejo, apesar de escassos,
parecem contrariar tanto a visão diacrónica de J. Alarcão como alguns aspectos
(relações de dependência) da visão sincrónica de J. L. Cardoso.
Na Quinta da Pedreira foi possível exumar, ainda que num nível de abandono,
um fragmento cerâmico com decoração de sulcos finos brunidos (Félix, 1997: 36). Este
tipo de decorativo correlaciona-se com os momentos finais do Bronze Final, mais
concretamente entre 1000 e 700 a. C. (Bubner, 1996: 67). Facto que poderá sugerir uma
relação de contemporaneidade, pelo menos parcial, com os povoados de altura e afastar
a tese proposta por J. Alarcão 13 .
No entanto, e valorizando um modelo de dicotomia (coetânea) entre estes dois
tipos de povoamento, não cremos que este se tenha consubstanciado num regime de
complementaridades e hierarquias verificado por J. L. Cardoso no curso inferior do
Tejo. Como atrás justificámos cada núcleo habitacional dispunha de condições
favoráveis à obtenção do seu próprio sustento. Aliás, este padrão de assentamento surge
bem delimitado geograficamente (proveito da boa exposição meridional para o Tejo).
Neste caso traduz a adaptação mais favorável, familiar ou de pequenos grupos, a uma
determinada região com características geomorfológicas distintas da restante Beira
Interior. Para nós e tendo em conta o estado actual da investigação, estes casais
agrícolas terão coexistido com povoados como a Fortaleza de Abrantes, Castelo Velho
13
No entanto, não podemos esquecer o povoado da Amoreira, cujas cronologias propostas recuam
significativamente (embora neste sítio tenham também sido identificados níveis de ocupação anterior
(Cruz, 1997) que poderão contaminar a datação).
40
de Caratão, Castelo Velho da Zimbreira ou Cabeço das Mós, cada qual num estado de
autarcia económica.
4.3. A CULTURA MATERIAL
4.3.1. A CERÂMICA
Mais do que qualquer outra categoria, a cerâmica, pela sua variedade,
abundância, resistência e uso generalizado, é considerada como documento-chave para
o esclarecimento de determinados aspectos relativos às comunidades proto-históricas.
Para a Beira Interior do I milénio a. C., o repertório cerâmico do Bronze Final é
o único que se encontra minimamente sistematizado. Para tal contribuiu sobremaneira o
estudo desenvolvido por R. Vilaça (1995a), que veio auxiliar todos aqueles que em
prospecções recolhem cerâmicas que se poderão enquadrar naquela base de dados.
No entanto, a classificação cronológica dos diversos assentamentos é geralmente
dificultada, tanto pela escassez destes elementos à superfície, como pela ausência de
formas ou motivos decorativos que possam ser incluídos indubitavelmente num período
específico.
Por outro lado, convém salientar, que o exemplo da Cachouça (89) nos veio
aconselhar uma certa prudência ao classificar determinado sítio tendo por base a
existência de cerâmicas, até então, unicamente padronizadas para o Bronze Final da
região. O prolongamento de produção de determinadas formas no Ferro Inicial dificulta
(enquanto não se tipificar o repertório cerâmico deste período) a exacta classificação
cronológica de determinado assentamento com base unicamente em recolhas de
superfície.
Exceptuando o grupo de cerâmicas proveniente das escavações de R. Vilaça,
contamos apenas com a informação oriunda de recolhas de superfície ou de pequenas e
pontuais novas intervenções. Como não dispomos de uma amostra significativa que nos
permita estipular um quadro tipológico, limitaremos a nossa análise às características
gerais (técnicas e formais) e decorativas destes recipientes.
Tivemos oportunidade de atestar (em colecções que assim o permitiram como a
da Quinta da Samaria (69) (Est. IV e V), Monte de S. Brás (82) (Est. II e III) e Castelo
Velho do Louriçal do Campo (58)) a presença de três tipos de fabrico – grosseiro,
41
mediano e fino, situação que se coaduna com o lote estudado por R. Vilaça (1995a:
270).
O fabrico grosseiro apresenta pastas com abundantes elementos não plásticos de
grande calibre e mal distribuídos. As superfícies são rudemente alisadas, verificando-se
uma grande percentagem de cerâmicas “cepilladas” tanto na face externa como interna.
Abundam os grandes recipientes, provavelmente de armazenamento, alguns com
grandes asas em fita a arrancar do bojo (por vezes ligeiramente ovóide).
As cerâmicas de fabrico mediano comportam pastas com elementos não
plásticos de médio calibre e medianamente distribuídos. As suas superfícies são
geralmente alisadas, denotando-se em alguns exemplares um ligeiro polimento. Adstrito
a este grupo contam-se maioritariamente os potes com asa a arrancar do lábio/bordo,
recipientes com colo bem individualizado e algumas formas carenadas. Verifica-se a
supremacia deste tipo de fabrico ao nível das recolhas de superfície.
As cerâmicas finas ostentam pastas mais depuradas, com reduzido número de
elementos não plásticos de baixo calibre e bem distribuídos. As superfícies são alisadas,
polidas ou brunidas. Predominam as pequenas taças carenadas que se distribuem
igualmente por toda a região.
Não obstante, as cerâmicas decoradas são bastante escassas tanto em povoados
prospectados como em sítios escavados. As escavações de R. Vilaça (1995a: 277)
revelam uma percentagem que varia entre 1 e 5%, dependendo dos assentamentos. No
Cerro do Castelo (111), C. Batata e F. Gaspar (2000b: 686) referem que apenas 1% dos
fragmentos apresentam decoração. Se o seu achado em escavação é raro, em prospecção
é excepcional. Com efeito, a análise da dispersão de tipos decorativos reveste-se de
alguma subjectividade, e só poderá ser entendida como ponto da situação da
investigação actual. Julgamos que o desenvolvimento de acções específicas, como as
escavações, poderá resultar numa grande transformação da realidade hoje observada.
As cerâmicas com decoração incisa ou impressa (essencialmente nos lábios e/ou
bordos) e com aplicação plástica (de mamilos, botões ou cordões) apresenta uma igual
dispersão e proporção não só na região estudada como em todo o ocidente peninsular,
abrangendo o centro e norte de Portugal.
42
Para além destas, verifica-se a presença de cerâmicas decoradas “tipo Cogotas”,
“tipo Baiões/Santa Luzia”, “tipo Carambolo” e ornatos brunidos (essencialmente “tipo
Lapa de Fumo”).
A decoração “tipo Cogotas”, típica do Bronze Final da Meseta Norte,
caracteriza-se por apresentar linhas incisas e puncionadas, rectas ou formando
ziguezagues e reticulados, alguns a partir da técnica de “Boquique” (Perestrelo, 2004:
102). Estas cerâmicas apresentam uma ampla diacronia, recuando-se o início da sua
produção para meados do II milénio a. C. até aos dois primeiros séculos do I milénio a.
C. (Fernández-Posse y De Arnaíz, 1986: 477).
Nesta região, a sua área de distribuição parece concentrar-se na bacia do Côa,
estando representada pelos fragmentos de Castelo Mau (2), Caldeirão (13), Castelo de
Mouros de Cidadelhe (22), Serra Gorda (26), Sabugal (39), Alto de Santa Eufémia (49)
e abaixo da Malcata apenas em Monte do Frade (104) e Moreirinha (96) (Vilaça, 2005:
fig. 1).
A cerâmica de “tipo Baiões/Santa Luzia” caracteriza-se por ostentar incisões
finas consumadas após cozedura ou numa fase de extrema secagem (Vilaça, 1995a:
302). Esta cerâmica, típica da Beira Alta, enquadra-se cronologicamente entre os
séculos XII/XI a. C. e VII a. C., embora Silva (1986: 119-120) admita a possibilidade
do seu fabrico se prolongar até aos séculos VII/VI a. C.
Estas cerâmicas são conhecidas nos povoados da Pedra Aguda (5), Caldeirão
(13) e Castelejo (41) a norte da Malcata e, a sul da Gardunha, nos Alegrios (94),
Cachouça (89) (Vilaça, 2005: fig. 1) e no Castelo Velho de Louriçal do Campo (58)
(inédito, Est. I - 4). Apenas se integrarmos as cerâmicas recolhidas por Perestrelo
(2004: 104) em Castelo Mau (2) e Castelo Vieiro (23) (com finas incisões sobre a pasta
polida antes da cozedura mas numa fase adiantada da secagem) neste grupo,
verificamos uma pequena assimetria entre norte e sul da Beira Interior que, mesmo
assim, não é significativa (tendo em conta a proximidade da zona norte com o centro
difusor destas cerâmicas – a Beira Alta).
As cerâmicas de “tipo Carambolo” caracterizam-se por apresentarem uma
decoração pintada a vermelho ou vermelho acastanhado, representando motivos
geométricos e rectilíneos (Vilaça, 1995a: 300).
43
Observando o mapa de distribuição peninsular deste tipo de cerâmica (Vilaça,
1995: 301 - fig. 41) cuja produção parece iniciar-se já no século IX a. C., verifica-se que
a sua área de maior concentração se localiza no Baixo Guadalquivir, irradiando-se
alguns achados (menos numerosos) para a Andaluzia oriental, Extremadura espanhola,
Alentejo e Beira Baixa. De facto, na área de estudo apenas se regista a sua presença na
Moreirinha (96), Cachouça (89) e Argemela (83) (Vilaça, 2005: fig. 1), todos abaixo da
linha da Gardunha.
Por fim, as cerâmicas de ornatos brunidos, onde se poderão distinguir duas
variantes técnicas: as faixas brunidas e os sulcos brunidos. Segundo Bubner (1996: 67),
este tipo de cerâmica caracteriza igualmente o final da Idade do Bronze entre 1000 e
700 a. C.
Na região em estudo surge documentada em povoados como a Fortaleza de
Abrantes (122), Castelo Velho de Caratão (127), Monte de S. Martinho (55), Alegrios
(94), Castelejo, Moreirinha (96) (Bubner, 1996: 69), Monte do Frade (104) (Vilaça,
1995a), S. Gens (97) (Vilaça et alii, 1999), Sabugal (39) (Osório, 2005a) e Quinta da
Pedreira (119) (Félix, 1997).
É reconhecida a existência de dois grupos principais (Bubner, 1996: 70) que,
dentro desta técnica decorativa, comportam diferentes estilos: o grupo “Alpiarça” (onde
as zonas de decoração se limitam a estreitas faixas no bojo ou junto ao bordo) e o grupo
“Lapa do Fumo” (estilo caracterizado por apresentar bandas mais largas e vastas zonas
decoradas). É essencialmente a este último tipo que se associam as cerâmicas de ornatos
brunidos da Beira Interior. No entanto, devemos alertar (tal como Bubner, 1996: 68)
para a escassez de escavações e por vezes das consequentes publicações, que não
permite, por enquanto, delinear uma eventual presença de um grupo local. Isto é, será
provável que se possa vir a estabelecer um grupo tipológico com os ornatos brunidos
desta região?
Após esta breve análise dos diversos tipos decorativos presentes nas cerâmicas
da Beira Interior, denota-se a existência de uma hibridez cultural, com influências que
abordam da Meseta (“Cogotas”), da Beira Alta (“horizonte Baiões/Santa Luzia”), das
zonas meridionais (“tipo Carambolo”) e do Vale do Tejo (ornatos brunidos).
Constata-se que a distribuição destes diversos estilos decorativos não é
totalmente uniforme por toda a Beira Interior (vide mapa 8). De facto, a norte da linha
44
da Guarda/Malcata assiste-se a um predomínio do “tipo Cogotas”, a ausência total de
cerâmicas “tipo Carambolo”, a fraca representação de ornatos brunidos (apenas
quebrada pelo Castelejo e Sabugal) e um número superior de registos de “tipo Baiões”
nos povoados do Caldeirão e Pedra Aguda.
Por este motivo, Almagro Gorbea (1998: 84) considera que a serra da Malcata
poderá representar, durante o Bronze Final, uma fronteira entre o mundo meridional e o
mundo setentrional.
Se a realidade actualmente observada parece corroborar esta tese, deveremos
questionar se este facto não poderá ficar a dever-se essencialmente à disparidade de
dados existentes entre estas duas regiões, que a intensificação do estudo poderá
eventualmente vir a contrariar (como se tem vindo a constatar no Sabugal).
Todavia, não será normal que a região mais a norte, pela sua proximidade
apresente maior número de registos de influência mesetenha e da Beira Alta, enquanto a
zona sul receba com maior facilidade uma influência meridional? Mas será que esse
factor nos permite estabelecer uma fronteira entre Beira Interior norte e sul?
Pensamos que não. Aliás, advogamos que não obstante a sua interioridade, a
Beira Interior apresenta uma grande abertura, devido à sua fisionomia pautada pela
existência de “corredores naturais” (vide infra 9), que a ela permitem confluir
tendências de cariz atlântico ou continental e de influência mediterrânea ou meridional.
4.3.2. A METALURGIA DO BRONZE
Dispomos na Beira Interior de um variado conjunto de objectos metálicos do
Bronze Final.
Estes elementos têm vindo a ser sucessivamente integrados em sínteses sobre a
metalurgia atlântica (Coffyn, 1985; Ruiz-Gálvez Priego, 1984). Os metais descobertos
no centro e sul da Beira Interior encontram-se, de igual modo, plenamente estudados
por R. Vilaça (1995a). Por este motivo, julgamos que carece de interesse realizar uma
nova descrição detalhada destas peças, que não seria mais que uma mera repetição do
que já foi dito.
Contudo, estes objectos poderão oferecer um imprescindível apoio para o
esclarecimento do papel desempenhado pela Beira Interior nos circuitos de intercâmbio
durante o Bronze Final. Com efeito, pensamos que uma ligeira abordagem sobre a
45
amostra conhecida será suficiente para obter uma visão geral sobre o conjunto e delinear
possíveis áreas de dispersão ou realçar a sua diversidade.
Para tal, trataremos todos os objectos como um todo, independentemente das
suas condições do achado: povoados, achados avulsos e dentro destes os depósitos. No
entanto, a sua apresentação será ordenada consoante a sua funcionalidade (embora
devemos alertar que esta poderá por vezes revestir-se de alguma ambivalência). Assim
sendo, distinguimos quatro grupos (preconizados por R. Vilaça, 1997b: 124): armas
e/ou objectos cortantes (espadas, punhais, pontas de seta e pontas de lança); utensílios
e/ou instrumentos de trabalho (foices, “tranchets”, escopros/cinzéis); objectos de adorno
(fíbulas, braceletes) e diversos (onde para além de objectos como argolas, virolas ou
hastes, decidimos incluir os machados).
Grupo 1 – Armas e/ou objectos cortantes
Na Beira Interior dispomos de uma interessante conjunto de espadas
provenientes tanto de povoados como dos depósitos ou achados avulsos.
Estas inserem-se no “tipo pistiliforme”, atribuído cronologicamente ao período
que medeia entre 1100-900 a. C., às quais se seguem (entre 900-700 a. C.) as de “tipo
língua de carpa” (Vilaça, 1995a: 333).
A classificação de alguns dos exemplares gera alguma dificuldade ou até
discordância entre autores, devido sobretudo à evolução interna de cada um dos tipos. É
o caso da espada proveniente do depósito do Ervedal (77) que Ruiz-Gálvez Priego
(1984: 251) considera pistiliforme enquanto Coffyn (1976: 18) a classifica como
“língua de carpa”.
A espada de Vilar Maior (46) parece tratar-se do único exemplar que reúne
consenso ao classificar-se como “tipo pistiliforme”. A espada do Teixoso (74), apesar
de apresentar uma lâmina de tendência pistiliforme, deverá integrar-se no “tipo língua
de carpa” (Vilaça, 1995a: 334) dado o estreitamento da ponta pouco aguçada. A ponta
de lâmina dos Alegrios (94) (Vilaça, 1995a: 333), pelas suas reduzidas dimensões, não
se poderá integrar inequivocamente no tipo “língua de carpa”, apesar de ser oriunda de
um contexto datado de um momento avançado Bronze Final.
De resto, são conhecidos mais oito ou nove exemplares que deverão enquadrarse no “tipo língua de carpa”. Três são procedentes de contextos habitacionais como
Monte S. Martinho (55) (Farinha et alii, 1991), Castelo Velho de Caratão (127) (Pereira,
46
1970a: 173) e Tapada das Argolas (79) (Vilaça et alii, 2002-2003: 190) e os restantes
cinco ou seis (fragmentos terminais de lâminas de espadas) provêm do depósito do
Porto do Concelho (128) (Coffyn, 1985: 228).
Segundo R. Vilaça (1995a: 334) as espadas de lâmina de “tipo língua de carpa”
integram-se na “metalurgia de âmbito atlântico com expressividade particular na
Bretanha francesa”, difundido amplamente desde o Atlântico ao Mediterrâneo.
Para além dos nove punhais (e de outras duas lâminas de prováveis punhais)
exumados nas escavações de R. Vilaça, esta autora (Vilaça, 1995a: 335-336) descreve
mais nove exemplares: um do depósito do Ervedal (77), quatro do depósito de Porto do
Concelho (128), um do Monte do Castelo de Monforte da Beira (61), um de Castelo
Velho de Caratão (127) e outro oriundo de Cousa Bela (121) (Abrantes) que deverá
também integrar-se no Bronze Final. A estes apenas teremos a acrescentar um punhal de
rebites proveniente do povoado de N. Sr.ª da Confiança na Sertã (110) (Batata, 2002: nº
15) e um outro exemplar oriundo da Tapada das Argolas (79) (Vilaça et alii, 2002-2003:
190).
Apesar dos diversos pormenores tipológicos, todos eles se deverão incluir na
família dos punhais de “tipo Porto de Mós”. Estes apresentam uma lingueta perfurada
com três (Ruiz-Gálvez Priego, 1984: 253) ou dois a cinco (Coffyn, 1983: 175-176)
rebites, lâmina com nervura central bem marcada, triangular ou com fios paralelos.
A sua distribuição esboça uma maior concentração no extremo ocidental da
Península, com maior impacto no centro do actual território português (Vilaça, 1995a:
336). Segundo Martín Bravo (1999: 52) surgem em contextos do século X-IX a. C.
São cinco os exemplares de pontas de lança em bronze conhecidas na Beira
Interior e atribuídas ao Bronze Final.
Na aldeia de Vila Soeiro no concelho da Guarda (a cerca de 1km do povoado do
Caldeirão (13)) foi encontrada uma ponta de lança de folha esbelta, ponta arredondada,
nervura central bem marcada e alvado tubular curto (Perestrelo, 2000: 65-66 e fig. 24).
Segundo Perestrelo (2000: 65) apresenta semelhanças tanto com as pontas de lança de
“tipo Vénat” (devido ao curto alvado e contorno losangular da folha) como com as de
“tipo Baiões” (pelo contorno alargado no terço inferior da lâmina). O mesmo autor
encontra os paralelos mais próximos nos dois exemplares recolhidos no depósito de
Huelva que se caracterizam por ostentar uma folha de secção losangular e nervura
47
central (Ruiz-Gálvez Priego, 1995: 202, lâmina 13-nº8 e 14-nº2). Também o objecto
proveniente de Castelo Mendo (1) é mencionado por A. V. Rodrigues (1961a) como
semelhante aos exemplares exumados naquele depósito.
Por fim, conhecem-se outras três pontas de lança provenientes do depósito de
Porto do Concelho (128) (Pereira, 1970a: 187-191). Duas destas apresentam analogias
com a lança de Vila Soeiro, ao apresentarem folha esbelta de contorno losangular, com
nervura central bem marcada e alvado tubular curto de secção ligeiramente elíptica. O
terceiro elemento difere dos anteriores pois apresenta três caneluras em cada face.
São notórias as afinidades destes materiais com as pontas de lança recuperadas
do depósito de Huelva. Estima-se a cronologia deste achado ao período que medeia o
século XI e IX a. C. (Ruiz-Gálvez Priego, 1998), corroborando igualmente com a
datação do depósito de Porto do Concelho que deverá rondar a segunda metade do
século IX a. C. (Coffyn, 1985: 228).
Outra categoria de objectos que se poderão também incluir neste grupo são as
pontas de seta, que se encontram escassamente representadas na Beira Interior.
Com efeito, para além das quatro pontas de seta oriundas do Monte do Frade (2)
e Alegrios (2) que apresentam corpo triangular, pedúnculo central e duas aletas (Vilaça,
1995a: 141 e 179), contamos apenas com mais seis exemplares que reservam, no
entanto, alguns problemas de datação. De facto, as pontas de seta provenientes da
Malcata (35) (Rodrigues, 1961: 10), de Medelim (93) (Vilaça, 1995a: nº31) e peças nº 1
e 2 da Tapada das Argolas (79) (Vilaça et alii, 2002-2003) poderão integrar-se no tipo
mais arcaico de folha foliácea e pedúnculo central associadas ao “tipo Palmela” (que
remonta ao período Campaniforme). Apenas se mencionam pois talvez se possa sugerir
(embora com muitas reticências pois não se conhecem os contextos de onde provêm)
que alguns destes objectos sobrevivam excepcional ou ocasionalmente até ao Bronze
Final.
Da mesma forma, a ponta de seta do Castelo Velho de Caratão (127) (Pereira,
1970a), semelhante às exumadas por R. Vilaça, e a peça nº 3 da Tapada das Argolas
(Vilaça et alii, 2002-2003), de lâmina subtriangular com pedúnculo e esboço de aleta,
reservam algumas dificuldades de datação.
R. Vilaça (1995a: 333) e Martín Bravo (1999: 53) interrogam-se face à escassez
destes elementos, visto que o uso do arco implicaria o múltiplo registo destes elementos.
48
Estas duas autoras servem-se da representação iconográfica de S. Martinho I e II
para comprovar a real utilização destes instrumentos no Bronze Final. No entanto, a
menos que o panorama geral se altere teremos de equacionar a existência de pontas de
seta em madeira endurecida que terá desaparecido do registo arqueológico (Martín
Bravo, 1999: 53) ou mesmo líticas.
Grupo II – Utensílios e/ou instrumentos de trabalho.
Encontram-se inventariadas quatro foices de bronze na Beira Interior.
Contamos apenas com um fragmento medial de lâmina de foice nervurada
encontrada em contexto habitacional no Castelejo (41) (Vilaça, 1995a: 111).
Oriundos do depósito do Porto do Concelho (128) registam-se dois exemplares,
um com nervura na parte central da lâmina e talão liso e outro com talão e lâmina
nervurados (Pereira, 1970a: 184-187).
Por fim, o achado descontextualizado da Quinta do Vale do Zebro (120) (Silva
et alii, 1999) próximo da estação arqueológica da Quinta da Pedreira. Este objecto, a
que falta a extremidade distal, apresenta a face inferior plana, bordo exterior com
nervura no talão e lâmina.
Todos estes objectos (com alguma interrogação face ao exemplar do Castelejo)
se poderão incluir no grupo das foices “tipo Rocanes” caracterizadas por possuírem “um
talão estreito mas individualizado, lâmina larga, curta e encurvada, com dorso
espessado, reverso liso e anverso com nervuras de reforço” (Vilaça, 1995a: 331).
Inserem-se, segundo Coffyn e Ruiz-Gálvez Priego, nos primeiros séculos do I milénio a.
C. (Vilaça, 1995a: 332).
A presença deste tipo de objectos pouco parece alterar a aparente ausência de
utensílios agrícolas nos registos materiais do Bronze Final. Facto contrariado apenas se
defendermos a ambivalência funcional de outros materiais (como os machados)
potencialmente utilizados nesta actividade produtiva ou equacionarmos a falta de
documentação arqueológica. Martín Bravo (1999: 59) interpreta esta circunstância como
uma clara evidência do predomínio da economia pastoril face à agricultura.
O número de objectos designados por “tranchets” registados na Beira Interior
poderá ser visto como importante dado para reforçar esta importância da criação de
49
gado, uma vez que lhe está adstrito a funcionalidade no corte de couros, peles e sólidos
flexíveis. De facto, dos dez exemplares conhecidos em território português, metade são
provenientes da Beira Interior: um da Tapada das Argolas (79), dois do Monte do Trigo
(90), um do Monte do Frade (104) e outro do Castelo Velho de Caratão (127) (Vilaça et
alii, 2002-2003: 190).
O único objecto exumado em contexto fechado (Monte do Frade) permite R.
Vilaça (1995a: 374) atribuir-lhes uma possível cronologia do século X a. C.
Outro dos utensílios que poderemos mencionar pela sua expressividade em
contextos do Bronze Final são os designados escopros ou cinzéis. Para além dos seis
exemplares associados a um contexto habitacional em Alegrios (3) e Moreirinha (3)
(Vilaça, 1995a), regista-se o objecto que se encontrava no depósito de Porto do
Concelho (Jalhay, 1944: 273) e os achados avulsos do Cabeço de Santiago (92), Aldeia
do Bispo (28) e Vila Boa (44) (Vilaça, 1995a: n.os 36, 43 e 55 respectivamente).
Grupo III e IV – Objectos de adorno e/ou uso pessoal e diversos.
Dentro desta categoria distinguem-se inúmeros objectos de pequena dimensão de
uso diverso, ornamental e/ou pessoal.
R. Vilaça (1995a: 340-343) documenta a existência nos povoados por si
escavados de botões, braceletes, uma fíbula, um alfinete, um prego, argolas, hastes e
varetas. Para além destes, apenas referimos o achado de um botão cónico e quatro
argolas na Tapada das Argolas (79) (Vilaça et alii, 2002-2003: 182) e da existência de
quatro braceletes provenientes do Castelo Velho de Caratão (127) (Pereira, 1970a) e um
outro fragmento no Cerro do Castelo (111) (Batata, 2002: 25).
A presença de pequenas peças em bronze em contextos habitacionais vem de
certa maneira alterar o panorama da metalurgia do Bronze Final, dominada pelo
armamento e machados. Por outro lado, demonstra um grande desenvolvimento e uso
generalizado da metalurgia do bronze durante este período (Martín Bravo, 1999: 59),
uma vez que estava também ao dispor de bens quotidianos.
O grupo dos machados é, para além do mais representativo, um dos mais
emblemáticos utensílios do Bronze Final. Não obstante, a sua funcionalidade é ainda
controversa e difícil de determinar, pelo que decidimos inclui-los neste grupo geral de
50
diversos. Esta opção obedece simplesmente a uma ordem metodológica, não querendo
com isto depreciar este tipo de artefactos.
Encontram-se representados nos quatro depósitos do Bronze Final conhecidos na
Beira Interior. Na região de Porto da Vide (21) no concelho de Pinhel foram
reconhecidos três exemplares: um machado de talão de uma argola (Monteagudo 43-A),
um machado campanulado (Monteagudo 19-A) e um machado de alvado de duas
argolas que deverá datar do século VIII a. C. (Perestrelo, 2004: 107). Do depósito do
Paul (71), Tavares Proença (1910: 12) faz referência a sete e Leite de Vasconcelos
(1917: 328) a dez machados de diversas tipologias. Segundo R. Vilaça (1995a: nº 19)
pelo menos dois deverão tratar-se de machados de talão de duas argolas. No depósito da
Quinta do Ervedal (77) recolheram-se quatro machados de talão de uma argola, um ou
dois machados de apêndices e sete ou oito fragmentos (Coffyn, 1976: 13-22) enquanto
no Porto do Concelho (128) apenas se regista a presença de dois machados de talão de
uma argola (Coffyn, 1983).
Todos os outros 40 exemplares conhecidos para a Beira Interior enquadram-se
no grupo dos achados avulsos, dos quais doze são de tipologia desconhecida.
Poderemos distingui-los por quatro categorias: machados planos; de apêndices;
de talão com uma ou duas argolas e de alvado.
Para além dos que já se encontram estudados e sistematizados (Vilaça, 1995a:
397-398, quadros 75, 76, 77 e 78) apenas teremos de referir a existência de mais quatro:
o machado plano de perfil trapezoidal do Castelo Velho de Caratão 14 (127) (Pereira,
1970a: 172); o machado de apêndices de Vale Branquinho (65) (Vilaça e Gabriel, 1999)
que se enquadra no tipo 20-B de Monteagudo; e o machado de talão com uma ou duas
argolas de Castelo Mendo (1) (Rodrigues, 1961: 11).
Monteagudo (1977) faz corresponder os machados planos ao período que
medeia entre o III e primeira metade do II milénio a. C. No entanto, a ausência de
achados deste tipo em contexto não permite tecer quaisquer considerações sobre esta
problemática (Vilaça, 1995a: 397).
Já relativamente aos machados de talão com uma ou duas argolas Coffyn (1985:
252) defende que terão começado a produzir-se massivamente na Península Ibérica a
partir de 1000 a. C. até finais do século VIII a. C. Fernández Manzano (1986: 62)
distingue dois grandes centros produtores distintos. Por um lado temos uma produção
14
Este exemplar deverá corresponder à ocupação Calcolítica também atestada neste local.
51
polarizada no Centro/Norte de Portugal e Galiza conforme defende Coffyn (1985), e por
outro a Meseta Norte. De facto, a análise de Martín Bravo (1999: 53, fig. 16) permite
demonstrar a existência de tipos que apenas se documentam no centro e norte do actual
território português. Talvez por isso Coffyn (1985) crie o “grupo Lusitano”.
Não obstante, apesar de terem uma cronologia de fabrico semelhantes aos
anteriores, os machados de apêndices apresentam uma dispersão muito mais ampla
abarcando também o vale do Douro e este peninsular. Contudo, verifica-se que o tipo
20-B de Monteagudo (1977) (com três exemplares na Beira Baixa) se circunscreve
principalmente em torno da bacia do curso médio e final do Tejo (Martín Bravo, 1999:
53).
Esta grande concentração e quantidade de machados de bronze na região, parece
demonstrar a existência de fortes redes de intercâmbio de metalurgia atlântica até o
século VIII a. C. No entanto, alguns autores defendem que o uso generalizado destes
artefactos, tipicamente ibéricos, se possa prolongar no Ferro Inicial. De facto, R. Vilaça
(1995a: 398) chega mesmo a correlacionar alguns destes elementos com núcleos de
povoamento com ocupação da Idade do Ferro. Algo a que a consequente investigação
deverá entretanto tentar esclarecer.
4.3.2.1. OS DEPÓSITOS
Na área abrangida pelo nosso estudo regista-se a presença de quatro entidades
classificáveis como depósitos de objectos diversos em bronze: Porto da Vide (21)
(Bogalhal Velho); Paul (71) (Covilhã); Quinta do Ervedal (77) (Castelo Novo); e Porto
do Concelho (128) (Mação).
Tanto o hipotético significado destas manifestações como a descrição dos seus
componentes encontram-se já extensamente debatidos (ver catálogo n.º 21, 71, 77 e 128
respectivamente). Pelo que julgamos ser mais pertinente tecer algumas considerações
sobre as suas posições e localizações (aproximadas).
Tentámos primeiro averiguar se existia alguma sugestiva associação ou
proximidade destes depósitos a determinado povoado. De facto, a localização do
depósito de Porto da Vide confunde-se com a do povoado de Bogalhal Velho. Por outro
lado, o depósito da Quinta do Ervedal não ficará longe do Castelo Velho de Louriçal do
Campo. No entanto, o caso do Paul e do Porto do Concelho não corroboram desta
52
situação. Facto que poderá reflectir somente a menor investigação das áreas onde se
encontram implantados.
Do mesmo modo, tentámos conferir as suas localizações face às linhas de
fronteira entre populi (Mapa 7). O depósito de Porto da Vide situa-se no trifinium que
demarcámos entre Cobelci, Lancienses Transcudani e Aravi. A Quinta do Ervedal
parece aproximar-se do território fronteiriço entre Igaeditani e Tapori. Contudo, mais
uma vez os restantes exemplos tendem a discordar deste padrão.
Analisámos igualmente a relação que estes poderiam auferir com linhas de água.
Porto da Vide encontra-se sobranceiro à confluência da ribeira das Cabras com o Côa e
o Paúl à ribeira que lhe empresta o topónimo. Este facto é reforçado através do
topónimo “Porto” e mesmo “Paúl”. Situação que poderá conectar-se com os depósitos
votivos em meios aquáticos ou nas suas margens de que nos relembra R. Vilaça (1995a:
400). No entanto, a Quinta do Ervedal e o Porto do Concelho não apresentam o mesmo
tipo de vicinalidade em relação ás linhas de água existentes nas suas proximidades.
Todavia, um dos aspectos comuns a todos eles é a sua proximidade a zonas de
passagem ou circulação (Mapa 6).
Não obstante, a diversidade do espólio nos depósitos de Porto do Concelho e
Quinta do Ervedal (neste destaca-se o aparecimento de 24 lingotes plano-convexos de
bronze) poderá reflectir outra faceta, como o desenvolvimento da produção e circulação
do metal na Beira Interior durante o Bronze Final.
No entanto, pela presença de determinados objectos comuns a todos os
depósitos, como os machados de talão de uma ou duas argolas, podemos (segundo a
datação de Coffyn (1985: 252) para estes artefactos) dilatar a cronologia daqueles até ao
século VIII a. C. Momento avançado do Bronze Final e de transição para o Ferro Inicial,
do qual pouco sabemos. Será que esta mesma transição é pautada por um período de
instabilidade marcado pelo declínio da metalurgia do bronze? Sendo assim, não se
poderia associar este fenómeno a tantas outras manifestações semelhantes de diferentes
períodos de ocultação de riqueza? Relembrando Ruiz-Gálvez Priego (1995: 23) estas
situações coincidem normalmente com zonas de passagem e/ou territórios fronteiriços.
4.3.3. A OURIVESARIA
As peças de ourivesaria do Bronze Final procedentes da Beira Interior, embora
em reduzido número em comparação com outras regiões, constituem um importante
53
dado, não só pelo seu valor intrínseco, mas principalmente por fornecer informações
sobre referências culturais que cada um transmite.
Conhecem-se três ou seis peças de ouro, todas provenientes da área estudada por
R. Vilaça (1995a). Por se encontrarem já analisadas por aquela autora e perfeitamente
descritas ao nível dos detalhes técnicos de fabricação e sua respectiva composição
(Parreira e Pinto, 1980; Armbruster e Parreira, 1993), daremos maior tónico às relações
culturais que parecem atestar.
Em Gibaltar (72) terão sido recolhidas argolas de ouro encadeadas, entretanto
perdidas (Sarmento, 1883: 15). Este tipo de objectos parece abranger uma cronologia
ampla desde os inícios do II milénio a. C. até ao Bronze Final, com eventuais paralelos
junto dos tesouros de Mérida datados deste período (Vilaça, 1995a: 399).
Também os dois braceletes de ouro referenciados por Sarmento (1883: 15) e
Vasconcelos (1896: 21), como provavelmente provenientes do povoado de Cabeço dos
Mouros (36) (Pena Lobo), encontram-se em paradeiro desconhecido. As poucas
informações cedidas por aqueles autores levam R. Vilaça (1995a: 399) a presumir que
possam ser abertos, lisos e com extremidades rematadas em botões cónicos.
Semelhantes a estes (abertos, maciços e lisos, adelgaçando do centro para o
exterior) parecem ser os exemplares procedentes de Monforte da Beira (61) e Soalheira
(85) (Vilaça, 1995a: n.º 9 e 24).
Por último, refira-se a bráctea de Sobreiral (62) que ostenta 50 cones obtidos
pela técnica do repuxado (Parreira e Pinto, 1980: 14). Por ser peça única, da qual não se
conhecem paralelos idênticos, oferece bastantes dificuldades ao nível da sua
classificação cronológica.
De facto, a falta de referências sobre as condições precisas destes achados e
completa ausência de informação dos contextos arqueológicos de onde provêm, apenas
permite encaixá-los em seriações tipológicas pré-definidas, estabelecendo-se margens
cronológicas muito amplas para cada peça.
Sendo assim, pensamos que o conjunto de braceletes de ouro da Beira Interior se
poderá incluir no grupo de torques e braceletes maciços e abertos de “tipo
Sagrajas/Berzocana”, que Almagro Gorbea (1974) integra entre os séculos XII/XI a. C.
Aparentemente, peças tipologicamente semelhantes registam-se no ocidente francês e
ilhas britânicas, tendo os seus padrões decorativos afinidades com as cerâmicas
decoradas do Ocidente Peninsular (nomeadamente “tipo Baiões/Santa Luzia” e ornatos
brunidos) (Parreira e Pinto, 1980: 28).
54
Relativamente aos seus contextos de achado é possível estabelecer três situações
distintas. Em Gibaltar a descoberta surge associado às águas, embora se possa relacionála com os possíveis povoados referidos por Proença (1910: 14-15) para a zona do
Teixoso ou com o povoado de S. Cristóvão (73). Os achados de Cabeço dos Mouros e
Monforte da Beira poderão associar-se aos respectivos povoados, enquanto os de
Soalheira e Sobreiral surgem em contexto isolado.
Somos, no entanto, levados a constatar, através da sua localização aproximada,
que todos se encontram próximos de importantes zonas de passagem (Mapa 6). Por
outro lado, Soalheira e Sobreiral situam-se junto da linha de fronteira que estabelecemos
entre Tapori e Igaeditani (Mapa 7).
Estes dois últimos testemunhos poderão enquadrar-se, mais uma vez, na
interpretação de Ruiz-Gálvez Priego (1995: 23) que refere que a ocultação de jóias não
só imortaliza a riqueza (retirando-a dos circuitos de intercâmbio) como se reivindica o
controlo sobre determinadas áreas, coincidindo a sua aparição com zonas de passagem
ou territórios fronteiriços.
Por fim, pensamos que não se deverá dissociar este tipo de achados com o
desenvolvimento de implantação dos povoados em lugares destacados na paisagem, de
onde se controlam importantes zonas de passagem.
Independentemente do seu reduzido número (que poderá ser apenas uma
casualidade mas a que poderemos juntar outros objectos como o âmbar da Moreirinha
Vilaça, 1995a: 228) que pela sua raridade deveria ter grande valor), esta conjuntura
parece demonstrar o enriquecimento de alguns indivíduos ou elites locais. Facto que
deverá relacionar-se com o incremento e intensificação dos contactos exógenos, onde a
Beira Interior pela sua privilegiada posição assumiria uma centralidade entre Norte / Sul
e Interior /Litoral.
4.4. AS ESTELAS
Dispomos de seis monumentos insculturados atribuídos ao Bronze Final na
Beira Interior.
Os exemplares de Piçarreias (31), Eiras (33) e Meimão (102) (caracterizam-se
por apresentarem escudo no centro, demarcado por espada e lança) incluem-se no subtipo II A de M. V. Gomes e J. P. Monteiro (1976-1977) das estelas estremenhas e são
convencionalmente atribuídos ao século XI-X a. C. (Vilaça, 1995a: 402-403).
55
Do povoado de S. Martinho (55), são provenientes dois blocos paralelepipédicos
e um menir fálico insculturados, atribuídos já com alguma discordância ao Bronze
Final. Diferem dos anteriores, não só pelo contexto do achado (num povoado) mas
também ao nível morfológico, iconográfico e certamente funcional.
Estes monumentos têm vindo a ser objecto de diversos estudos (Almagro Basch,
1966; Celestino Pérez, 1990 e Galán Domingo, 1993) centrados não só na análise
tipológica como também cronológica e interpretação funcional dos mesmos. Para além
disso, as discussões despertadas pelo aparecimento de tais elementos foram já abordadas
por R. Vilaça (1995a: 402-406) e, mais recentemente, por J. Alarcão (2001: 325-334).
Trabalhos esses que esgotaram muitas das análises que se poderão efectuar face à
informação disponível.
Deste modo, queremos apenas reforçar alguns aspectos relativos à sua
distribuição ou localização que temos vindo a debater tanto para os achados de
ourivesaria como para os depósitos de objectos em bronze atrás focados.
Com efeito, (e excluindo desta análise os monumentos de S. Martinho)
poderemos associar os primeiros exemplares a vias naturais de passagem, mais
precisamente ao corredor que estabelecemos entre Cova da Beira e Meseta (Mapa 6).
Assim pensamos (tal como R. Vilaça, 1995a: 404) que fará todo o sentido conceber
estas estelas como marcos sinalizadores de caminhos, recursos ou fronteiras.
De facto, estas localizam-se geograficamente próximas das linhas de fronteira
entre populi que estabelecemos (situação já focada por J. Alarcão, 2001: 353). Se
aceitarmos este propósito, a estela localizada no Baraçal (31) assinalaria a fronteira
entre Ocelenses e Lancienses Transcudani e as estelas encontradas próximo de Meimão
(102) e Fóios (33) o limes entre estes últimos e os Lancienses Oppidani (Mapa 7).
Não queremos com isto refutar a possibilidade destas manifestações assinalarem
tumulações (ou até residências) de individualidades de status superior. Apenas nos
afastamos destas sugestões devido à ausência de contextos relacionados com os seus
achados.
56
5.O POVOAMENTO DURANTE O FERRO INICIAL
5.1. OS TESTEMUNHOS
Reflexo de uma incontestável escassez de dados é a existência em toda a Beira
Interior de apenas duas estações que apresentam dados seguros perfeitamente
enquadráveis no Ferro Inicial: o povoado da Cachouça (89) (Idanha-a-Nova) e o
povoado de fossas do Picoto (12) (Guarda).
Curioso é o facto da Cachouça marcar o período de transição entre Bronze Final
e Ferro Inicial, prolongando-se a sua ocupação provavelmente até aos séculos VII/VI
a.C. (Vilaça e Arruda, 2004: 23), enquanto o Picoto poderá representar trânsito entre o
final deste período 15 e o Ferro Pleno, balizando-se a sua ocupação entre os séculos VI-V
a.C. (Perestrelo et alii, 2003).
O povoado da Cachouça (89) ocupa o extremo oriental de uma área planáltica
que remata em esporão ou promontório. De fácil acesso a sul e oeste, apresenta boas
condições naturais de defesa a norte e este, encontrando-se daqui sobranceiro ao local
onde a barroca do Canada desagua no rio Torto (Vilaça e Basílio, 2000). Para além das
estruturas habitacionais destaca-se a presença de um talude em terra e pedra, que
delimita o povoado nos lados mais expostos. A este associam-se diversos afloramentos
com “covinhas” ou “fossetes” que juntamente com outros elementos lhe conferem uma
carga simbólica e ritual (Vilaça, 2005: 16).
Às cerâmicas características do Bronze Final como as formas carenadas, os
potes com lábios decorados, as decorações brunidas tipo “Lapa do Fumo”, as de tipo
“Baiões” ou tipo “Carambolo”, juntam-se as cerâmicas penteadas (ou “peinadas”) de
influência do mundo mesetenho e as cerâmicas ao torno cinzentas finas de inspiração
fenícia ou orientalizante (Vilaça e Basílio, 2000: 41). Para além da olaria, destaca-se a
presença de contas de colar oculadas, um fragmento de unguentário tricolor, elementos
zoomórficos em terracota (de uma possível ave) e artefactos de ferro (punhal de lâmina
triangular) (Vilaça e Basílio, 2000: 41).
Estes materiais e as datações radiocarbónicas obtidas permitem afirmar que na
sequência habitacional do Bronze Final, o sítio apresenta uma continuidade de ocupação
15
Neste aspecto parece distanciarmo-nos dos autores (Perestrelo et alii, 2003) que se referem àquele local
como um povoado de inícios da II Idade do Ferro.
57
durante os séculos VIII e VI a.C. (Vilaça e Arruda, 2004: 23). No entanto, julgamos ser
importante referir que os materiais adscritos ao Ferro Inicial coexistem com outros,
típicos do período anterior, em estratos que apresentam alguns problemas de
conservação.
O sítio do Picoto (12) encontra-se implantado no topo de um ligeiro planalto
delimitado pelos rios Diz e Noéme e a ribeira de Corte Cavalo. As únicas estruturas
identificadas por Perestrelo, Osório e Santos (2003) resumem-se a pouco mais de uma
dezena de fossas escavadas no substrato geológico. Foram recolhidos fragmentos
cerâmicos, exclusivamente de fabrico manual comportando pastas grosseiras,
fragmentos de moinhos, um seixo de rio com entalhes laterais (peso de pesca ou tear) e
três fragmentos de objectos em bronze ou cobre (hastes, agulhas ou botões) e um
fragmento disforme em ferro (Perestrelo et alii, 2003). Segundo os autores, o acervo
ceramológico comporta formas essencialmente bojudas com bordos extrovertidos e colo
apertado de armazenamento, onde se realça a grande concentração de mica visível à
superfície. Apenas se detectou um fragmento, aparentemente decorado, com um sulco
superficial largo na asa e aplicação plástica tipo botão junto ao bordo.
Após a análise dos resultados, aqueles investigadores adscrevem-lhe uma
vocação de natureza produtiva, como o cultivo, a pesca, a farinação e o armazenamento.
As datações radiocarbónicas realizadas em restos de bolotas, grãos de trigo e
carvão vegetal apresentam resultados um pouco díspares, embora permitam aos autores,
após calibração, estabelecer um período de ocupação que medeia entre os séculos VI-V
a.C. (que poderá eventualmente recuar até ao século VIII a.C.) (Perestrelo et alii, 2003).
A especificidade e dificuldade na identificação deste sítio reporta-nos uma vez
mais para a problemática da visibilidade/invisibilidade dos vestígios arqueológicos,
explorado em capítulo anterior.
Um dos aspectos interessantes de que se reveste este sítio ressalta do facto dos
povoados de fossas se enquadrarem num período que geralmente oscila entre o
Neolítico e finais da Idade do Bronze (Bellido Blanco, 1996). Trata-se, juntamente com
as estruturas em fossa calcolíticas identificadas em Terlamonte (Covilhã) (Silva e
Carvalho, 2004), dos poucos locais na Beira Interior que ostentam estas características.
Tanto na Meseta como no Norte de Portugal este tipo de assentamentos surge
normalmente adstrito aos finais da Idade do Bronze, geralmente integrados no horizonte
cultural designado de Cogotas I.
58
A escassa distância, para noroeste, encontra-se o povoado de Castelos Velhos
(11). A cerca de 100 m a sudoeste deste povoado, na estação romana de Póvoa do
Mileu, foi encontrado um conjunto de objectos em bronze cuja provável datação e
integração cultural nos alertou para a possibilidade de existência de uma
contemporaneidade (pelo menos parcial) de ocupação com o sítio do Picoto.
Na porta da capela românica da Póvoa do Mileu, servia de puxador um bracelete
em bronze (Rodrigues, 1957) que Perestrelo (2004: 115) indica poder enquadrar-se num
período entre finais do século VI e meados do século IV a. C., conforme paralelos
recolhidos na necrópole de Las Ruedas em Valladolid (Sanz Mínguez, 1997: 403).
A. V. Rodrigues (1977: 27-28) menciona ainda a presença de fíbulas de “tipo
Acebuchal”, fíbulas de fusilhão fixo “do período La Tène” e uma fíbula hispânica “tipo
folha de loureiro”. Segundo classificação de Perestrelo (2004: 115), uma vez que
desconhecemos as peças, este último exemplar de folha larga e nervo central insere-se
no tipo 12 de Cuadrado, apresentando uma cronologia semelhante proposta para o
bracelete em bronze. Por outro lado, as fíbulas de “tipo Acebuchal”, com pé voltado e
botão terminal, são datáveis do século VI – inícios do IV a. C. (Argente Oliver, 1994:
80).
Como vemos, a diacronia cronológica que nos oferecem estes exemplares,
demonstra que se por um lado os poderemos integrar nos inícios do Ferro Pleno, por
outro também poderão recuar aos finais do Ferro Inicial.
Não obstante, V. Pereira, que tem vindo a realizar escavações na Póvoa do
Mileu, menciona a existência de um nível estratigráfico que se sobrepõe ao afloramento
rochoso de onde exumou materiais cerâmicos que atribui ao Bronze Final (Pereira,
2005: 233). Entre estes destaca-se a presença de uma taça carenada (Pereira, 2005: 233
– fig. 3). Esta informação permite-nos colocar uma série de questões. Será que estes
materiais cerâmicos poderão comprovar uma anterior ocupação deste sítio datada do
Bronze Final? Ou atestarão a existência de uma fase de coexistências (como na
Cachouça) onde sobrevivem algumas formas cerâmicas? Sendo assim, as cerâmicas
manuais e ao torno de pastas grosseiras recolhidas por Perestrelo (2004: 47-48) no
povoado de Castelos Velhos deverão datar-se do Ferro Inicial ou do Ferro Pleno como
têm vindo a ser interpretadas? Terá tido este sítio, apesar da aparente descontinuidade
espacial, uma ocupação permanente ao longo do I milénio a.C.? Por outro lado, a
existência de objectos metálicos, de inegável valor simbólico, a 100m de distância do
59
recinto muralhado de Castelo Velhos não poderá relacionar-se com a necrópole deste
povoado?
Todas estas pendências só poderão ser esclarecidas através da continuação dos
trabalhos de investigação no sítio da Póvoa do Mileu, uma vez que parte significativa do
povoado de Castelos Velhos foi destruída devido à construção de uma urbanização.
No entanto, independentemente de todas as interrogações que se colocam face a
este povoado e movendo-nos apenas no campo das conjecturas (o único possível no
momento), poderemos talvez admitir a existência de uma contemporaneidade de
ocupação entre este e o sítio do Picoto. Situação que, a comprovar-se, terá de ter em
conta a relativa proximidade verificada entre ambos. Conjuntura essa que nos propomos
ensaiar no seguimento deste estudo.
Partindo igualmente da análise do espólio (designadamente ceramológico)
exumado na Cachouça e no Picoto, estações seguramente enquadradas no Ferro Inicial,
poderemos estabelecer comparações relativas que nos ofereçam pistas no sentido de
presumir a possível ocupação de outros locais durante este período. Entre estes
destacamos os casos do Sabugal e Sabugal Velho.
Sobre o núcleo histórico do Sabugal (39), instalado sobre um suave promontório
circundado pelo Côa, as escavações de Marcos Osório têm revelado uma série de dados
interessantes que o levam a afirmar que este local terá sofrido uma “presença estável”
durante os períodos Calcolítico, Bronze Médio, Bronze Final e Idade do Ferro (Osório,
2005a: 41). No entanto, a construção da muralha leonesa provocou (nos locais
sondados) o revolvimento dos estratos arqueológicos que, a par da dificuldade em obter
datações radiocarbónicas, não permite estabelecer um corte estratigráfico que esclareça
a evolução diacrónica ocupacional deste sítio. Não obstante, parece verificar-se uma
descontinuidade espacial entre os níveis Calcolíticos e do Bronze Final, identificados no
topo do outeiro, e a ocupação da Idade do Ferro localizada a uma cota ligeiramente
inferior (Vilaça, 2005: 18).
Entre as cerâmicas datadas da Idade do Ferro e para além das estampilhas
associadas a uma fase mais tardia, distinguem-se três exemplares com motivos
penteados ou “peinados” de influência mesetenha. Lembre-se que este tipo de cerâmicas
foi também identificado no povoado da Cachouça.
60
A uma tigela de fabrico manual e superfícies brunidas com “frisos de arcos de
círculo enfrentados pela sua convexidade alternados vertical e horizontalmente” (Osório
e Santos, 2003) juntam-se dois fragmentos com linhas paralelas oblíquas em ziguezague
horizontal que materializam um dos motivos mais recorrentes do Ferro Inicial da
Meseta (Hernández Hernández, 1981: 320-321, cit. em Osório, 2005: 41).
No entanto, esta técnica decorativa apesar de surgir na Bacia do Douro por volta
da segunda metade do século VII/século VI a.C., tem um período de vigência que se
prolonga até ao século II a.C. (Álvarez-Sanchíz, 1999: 202), colocando óbvias reservas
e não oferecendo o mínimo de condições exigíveis para que seja considerado um
“fóssil-director” do Ferro Antigo (Férnandez-Posse, 1998: 156). Caso contrário, para
além da Cachouça, Sabugal e Sabugal Velho teríamos de aventar a hipótese de em
locais como o Castelo da Sr.ª de Monforte (4), Castelo Velho da Meda (18), Castelo
Velho de Seixas do Douro (51) entre outros (vide mapa 9), onde se constata a presença
destas cerâmicas, acusarem uma ocupação do Ferro Inicial.
O Sabugal apresenta uma ocupação segura do Bronze Final e da fase final da
Idade do Ferro. A comprovar-se a existência de um nível de transição entre aqueles dois
períodos poderá relançar-se a discussão da problemática sobre ocupação permanente ou
ocupação cíclica noutros sítios arqueológicos. Temática que tentaremos abordar
posteriormente pois, até ao momento, verifica-se a inexistência em toda a Beira Interior
de uma única estação que tenha revelado indícios seguros de uma ocupação estável e
permanente ao longo do I milénio a.C.
O povoado do Sabugal Velho (29) encontra-se implantado num suave mas
destacado outeiro nos contrafortes setentrionais da serra da Aldeia Velha (Osório,
2000c). Também aqui Marcos Osório tem procedido a uma planeada investigação que
começa a surtir resultados interessantes que convém abordar. Tal como no Sabugal,
deparamo-nos com o total revolvimento dos níveis estratigráficos relativos ao período
de ocupação proto-histórica devido às construções de épocas posteriores. Pelo que, mais
uma vez, a análise dos materiais se reveste de grande importância, embora sempre
subjectiva. Para além do espólio datado do Bronze Final e Ferro Pleno, reuniu-se um
conjunto de cerâmicas decoradas com motivos penteados que se poderão vir a relacionar
com o Ferro Inicial. Entre estas destaca-se a presença de um exemplar com traços
impressos verticais e paralelos moldurados por sulcos brunidos horizontais e outro
fragmento com motivos ondulados e entrecruzados (Osório, 2005: 44), temas comuns
61
ou inseríveis no Ferro Antigo mesetenho (Hernández Hernández, 1981: 318). Um outro
padrão composto por linhas onduladas e entrecruzadas penteadas acompanhadas de
alinhamentos oblíquos incisos ou picotados surge em dois fragmentos (Osório, 2005:
44). Osório remete-os, com base em paralelos em Sanchorreja, para um horizonte
cultural de Cogotas II, datado do Ferro Inicial (Fernández-Posse, 1998: 145).
Para além destes elementos, o autor refere a existência de cerâmicas de
influência meridional datáveis do século V-IV a.C. e de uma fíbula de bronze de peça
única de tipo Acebuchal (semelhante às encontradas em Castelos Velhos) também
inserível naquele período (Osório, 2005a: 44). Estes últimos dados, associados ao facto
deste povoado se encontrar localizado numa zona bastante rica em mineralizações em
ferro (facto demonstrado em época medieval quando aqui se instala um povoado
mineiro) deixa-nos antever uma ocupação que poderá realmente se ter iniciado nos
finais deste Ferro Inicial mas que deverá assumir preponderância já num período pleno
da Idade do Ferro.
Mais forçada parece-nos ser a tentativa de Perestrelo (2005: 77) em atribuir uma
fase de ocupação do Ferro Inicial 16 no Castelo de Mouros de Cidadelhe (22)
consubstanciando-se apenas na análise da cerâmica comum ali recolhida. Salienta a
presença de fragmentos de cerâmica com aplicação plástica do tipo cordão ou
mamilo/botão 17 ; com decoração por caneluras ou sulcos mais ou menos largos e pouco
profundos (atestado no povoado do Picoto); as superfícies “cepilladas”; com decoração
incisa ou impressa nos lábios ou bordos 18 ; e as cerâmicas com incorporação de paletas
de mica (constatadas igualmente no Picoto) 19 . Com base nestes pressupostos o autor
(Perestrelo, 2005: 79) enumera os povoados de Bogalhal Velho (21) e Alto dos
Sobreiros (20) como potenciais locais ocupados durante este período.
16
Este local terá seguramente (como documenta a intervenção ali realizada por aquele investigador) uma
fase de ocupação do Bronze Final e outra do Ferro Pleno.
17
Segundo Perestrelo (2005: 78) esta técnica “decorativa” poderá ter sido produzida na metade norte e
oriental da Península até século V a.C.
18
Segundo Perestrelo (2005) estas cerâmicas surgem nos povoados da Idade do Ferro no Norte de
Portugal.
19
Perestrelo (2005: 79) referencia que esta olaria parece substituir a cerâmica fina característica do
Bronze Final a partir do século VII a. C. no Noroeste Peninsular.
62
Este é um dos problemas que podemos generalizar a grande parte dos povoados
da Beira Interior. Torna-se difícil determinar com rigor e sem apoio estratigráfico
quando é que a sobrevivência ou coexistência destes elementos pode indicar uma fase
de ocupação do Ferro Inicial. Para nós esta análise não poderá ser realizada pois tais
cerâmicas não reúnem as mínimas condições exigíveis para que se possam considerar
“fósseis – guia”.
5.2. ÉPOCA DE RUPTURAS E/OU CONTINUIDADES?
O Ferro Inicial poderá ser interpretado como um momento transitório entre as
especificidades do Bronze Final e Ferro Pleno. Assim sendo, a sua compreensão tornase fundamental para a completa acepção do quadro ou sequência evolutiva do
povoamento ao longo do I milénio a.C.
Conhecemos dois sítios certos (Cachouça e Picoto) e outros três possíveis de
compreenderem uma fase de ocupação deste período.
A carência de dados seguros limita a análise a que nos propomos e apenas nos
permite traçar um quadro de conjecturas que simultaneamente se encadeiam e
embaraçam numa ambiguidade de vivências. Com efeito, as palavras que se seguem
terão de ser encaradas como linhas de pensamento de traçado inseguro que aguardam
por novos dados que as reformulem gradualmente.
Várias questões se colocam quando nos debruçamos no facto de quatro dos
povoados escavados por R. Vilaça (1995a) serem totalmente abandonados no final do
século IX / inícios do século VIII a.C. Estes sítios, tal como o Castelo Velho de Freixo
de Numão (Jorge, 2003) abandonado durante o Bronze Médio, não voltaram a ser
reocupados posteriormente. Quais as novas estratégias de povoamento? Terão sido
abandonados tendo a população se concentrado noutros locais já habitados? Ou,
simplesmente a população ter-se-á disseminado por novos núcleos criados de raiz?
Trata-se de movimentos generalizados? Esses hipotéticos núcleos ocuparam as mesmas
ou distintas áreas valorizadas no Bronze Final? Poderá esta alteração estar associada à
invasão/imigração dos povos lusitanos? Muitas interrogações que se mantêm há anos e
para as quais receamos não ter resposta. Não obstante, quando analisamos os dados de
que dispomos conseguimos isolar certas rupturas com o Bronze Final.
63
Ao nível do povoamento, para além do colapso ou abandono temporal dos
povoados do Bronze Final, verifica-se uma continuidade cultural (embora renovada) no
povoado da Cachouça (Vilaça, 2000b: 15). Distintos em certos aspectos, os
assentamentos habitados durante o Bronze Final obedecem a padrões semelhantes ao
nível da localização e implantação topográfica, situando-se nas plataformas de topo das
elevações mais destacadas na paisagem (povoados de altura ou núcleos alcantilados).
A Cachouça parece romper com esta lógica de implantação localizando-se numa
área planáltica definida por um promontório. O mesmo se verifica no Picoto (instalado
num planalto encaixado), no Sabugal e Sabugal Velho (suave outeiro) e Castelos Velhos
(meia encosta). Constata-se uma “imergência” ou submersão na paisagem que dilacera a
individualidade física característica dos povoados do Bronze Final. Esta dissimulação
na paisagem é verificada na Cachouça que apenas é visível de determinados pontos do
vale e no Picoto que se encontra instalado num planalto encaixado entre vários cursos
de água. Os povoados do Sabugal, Sabugal Velho e Castelos Velhos apesar de se
encontrarem implantados em pontos relativamente individualizados e com amplo
domínio visual sobre vias naturais de penetração, surgem envolvidos por um conjunto
de serranias que emergem no seu enquadramento.
Esta relativa submersão dos habitats não compromete totalmente a visibilidade
para amplos horizontes. Parece, no entanto, direccioná-la para os cursos de água. Da
Cachouça domina-se parte da bacia do Pônsul, barroca do Canada e rio Torto; do Picoto
tem-se um amplo domínio visual para os rios Diz e Noéme e a ribeira do Corte Cavalo;
do Sabugal para o Côa; Sabugal Velho para as ribeiras de Aldeia Velha e Alfaiates e
Castelos Velhos para o Alto Mondego.
Por sua vez, assiste-se a uma maior proximidade a bons terrenos agrícolas e de
grande riqueza hídrica. Para além de uma ruptura com as anteriores estratégias de
implantação na paisagem, supõe-se a articulação de territórios de exploração mais
directa com a realização de actividades de subsistência baseadas numa economia que
poderia abarcar um amplo espectro.
Ao mesmo tempo, surgem estruturas que poderão pressupor um carácter mais
permanente destas comunidades, como o talude existente na Cachouça ou as fossas de
armazenamento (ainda que limitado) do Picoto.
64
Retomando um dos temas deixados em aberto na primeira parte desta exposição,
é conveniente abordar aqui a possível existência de uma relação de complementaridade
e reciprocidade, dada a proximidade e provável contemporaneidade, entre Castelos
Velhos e Picoto. Com essa finalidade, traçámos os territórios teóricos de exploração
(Vitta-Finzi e Higgs, 1970) de cada um. Assim sendo, definimos os territórios
potencialmente exploráveis de 15, 30 e 60 minutos do povoado de Castelos Velhos e
somente de 15 e 30 minutos do sítio do Picoto (figura 1). Verificou-se uma
sobreposição parcial entre a isócrona de 60 minutos do território de Castelos Velhos e a
linha que demarca o território de 15 minutos do Picoto.
Tendo em conta a natureza distinta dos dois sítios poderíamos supor que um
eventual sistema de complementaridades se baseava na exploração intensiva dos
terrenos férteis em torno do Picoto, enquanto o povoado de Castelos Velhos, para além
de coordenador de toda a actividade, remata este conluio ao controlar as vias de
mobilidade e comunicação.
Não obstante todas as incongruências que encerram este modelo teórico, ao
creditarmos estes pressupostos como é que eles deverão ser interpretados? Como um
prenúncio da situação que advogamos para o Ferro Pleno (vide infra 6.2.1)? Como uma
possibilidade de tal sistema de complementaridades ocorrer igualmente no Ferro Inicial?
Como mera casualidade não demonstrativa da interpretação que lhe conferimos?
De facto, são várias as incertezas e o encadeamento de meras suposições que
transpusemos até alcançar estes resultados. Apenas os apresentamos com o intuito de
formalizar um conjunto de questões que deverão direccionar a futura investigação. Pelo
que, até nos sustentarmos em bases mais firmes, não teremos em linha de conta o
exemplo deste padrão ocupacional nas nossas interpretações.
Debruçaremo-nos antes na Cachouça, Sabugal e Sabugal Velho que são
ocupados durante o Bronze Final. Juntamente, contamos com alguns sítios (poucos é
certo) denominados de “casais” de vocação agro-pecuária também enquadrados naquele
período. A conjugação destes factos leva-nos a colocar certas reticências face à suposta
necessidade de apropriação de maior número de recursos.
Por outro lado, não se verifica uma total quebra de estratégia de assentamento,
mas o abandono de determinado tipo de povoados (os povoados alcantilados
essencialmente de tipo IA) em benefício de outros junto a terrenos agrícolas de planície.
65
Ao invés de uma total metamorfose de implantação, deparamo-nos sim com uma
selecção. Mas qual o porquê de só os povoados de altura serem abandonados?
A primeira causa poderá estar associada às dimensões bastante modestas
daqueles povoados (Vilaça, 1995a). R. Vilaça (2005: 18) equaciona igualmente a
possibilidade destes abandonos estarem relacionados a actos simbólicos ou rituais.
Pensamos que a justificação de tais colapsos poderá ser pautada pela desvalorização da
funcionalidade a que aqueles povoados estariam adstritos. Para aquela investigadora a
instalação das populações em povoados praticamente inóspitos e alcantilados deverá
associar-se à “necessidade de controlo visual e estratégico dos recursos regionais
críticos e das vias de circulação do metal ou que a elas conduziam” (Vilaça, 1995a:
422).
Poderíamos supor um descrédito do bronze face ao ferro. Sendo esta região
bastante fértil em recursos estaníferos (fundamental à metalurgia do bronze), factor que
cativava o contacto com populações alógenas, seria agora depreciada por estes. Mas tal
ruptura com influências exógenas não deverá ser decifrada por tais motivos. O bronze
continua a ser produzido a par do ferro e, para além do estanho, esta região é
provadamente rica em recursos auríferos que comportam um “valor intemporal”. Não
obstante o facto do comércio da prata ser o grande objectivo dos povos orientalizantes
(Arruda, 1996: 43), é reconhecida a necessidade destes povos em aprovisionar estanho,
metal praticamente inexistente no Mediterrâneo Oriental (Arruda, 1996: 41).
No entanto, se os povoados que controlavam as vias de circulação entram em
colapso, parece certo que o trânsito de pessoas e bens por tais circuitos terá diminuído
ou caído em demérito.
De facto, as influências orientalizantes, em grande parte responsáveis pelo
desenvolvimento cultural do sul, aparentam ter canalizado as relações Norte-Sul pela
linha da costa em desfavor das zonas do interior. Tal facto poderá explicar a quase total
ausência de objectos orientalizantes neste território face à sua concentração na zona
litoral (Senna-Martinez, 1995: 72). Os dados arqueológicos permitem constatar que o
comércio fenício terá privilegiado a costa atlântica. Para além dos assentamentos
orientalizantes conhecidos no litoral algarvio e alentejano, assistimos à sua
concentração na zona do estuário do Tejo, em Santa Olaia e em Conímbriga (estuário do
66
Mondego), na foz do Douro e do rio Minho (Coto da Pena em Caminha) (Arruda,
1996).
Não obstante, na vizinha Alta Estremadura espanhola a opção por uma via
orientalizante está bem patente, com a emergência de povoados fortificados (Martin
Bravo, 1999). No entanto, o contacto com esta região deverá conectar-se com
interferências da região tartéssica.
Com efeito, as comunidades indígenas da Beira Interior vêem-se afastadas desta
“globalização orientalizante”, devido à sua posição física que terá privilegiado um
contacto ao mundo mais setentrional, atlântico e mesetenho onde esta situação
igualmente se verifica.
No noroeste português, Armando Coelho (1986) verifica a partir do século VII
a.C. um certo retrocesso ao constatar uma redução da circulação de bronze e da
produção de jóias, a continuidade de utilização de materiais perecíveis na arquitectura, a
inexistência de vestígios de utilização do ferro e do torno de oleiro e uma decadência na
produção cerâmica que se torna mais grosseira. Situação que só se altera no século IV a.
C. com a invasão/imigração dos povos célticos.
Parece então plausível que se aponte o enfraquecimento drástico de circulação
do metal como principal causa para o abandono de estratégias de povoamento apoiadas
em assentamentos de altura alcantilados na Beira Interior.
Não obstante, os marcadores de índole mediterrânea ao nível artefactual e
tecnológico verificados na Cachouça, poderão em última análise revelar uma inequívoca
e manifesta descontinuidade relativamente aos materiais de tradição cultural do Bronze
Final.
No entanto, esta descontinuidade não expressa um corte ou ruptura com o
passado pois será insuficiente para retratar a alteração cultural de uma região. O tempo
será de coexistências (Vilaça e Basílio, 2000: 46), assistindo-se à manutenção de
tradições (como a metalurgia do bronze) e a assimilações residuais de certas novidades
de cariz mesetenho e mediterrâneo (Vilaça e Arruda, 2004: 24). Tais concomitâncias
verificam-se igualmente no Bronze Final com a apropriação de artefactos em ferro
(lâminas) nos povoados do Monte do Frade e Moreirinha (Vilaça, 1995a).
Por outro lado, os elementos exógenos recolhidos na Cachouça podem revelar “a
fachada de um corpo socio-político que se mantém basicamente inalterável” (Vilaça,
67
2000b: 13). Presume-se que a assimilação de novos elementos terá sido cometida de
forma selectiva e que os contactos não terão sido intensos, pois não impeliram consigo
“novas concepções arquitectónicas ou a própria escrita” (Vilaça e Arruda, 2004: 24).
Nesta área continental onde a influência mediterrânea foi inegavelmente mais
ténue, a manutenção de culturas de feição arcaizante poderá ter sido bem mais perene.
Esta zona interior deverá ter prosseguido a sua evolução um pouco à margem de tais
influências devido à decadência das redes de intercâmbio do Bronze Final. O Ferro
Inicial na Beira Interior parece ter sido uma época de regionalização, em que cada
povoado, voltado para si, evolucionaria de distinta feição consoante as tradições
anteriores e grau de assimilação das diferentes influências que tenuemente deveriam
abeirar tanto da costa como da Meseta e Extremadura espanhola.
Esta região, que de repente se vê afastada dos focos mais activos de uma nova
fase, é por Coffyn (1985: 267) designada como centro do “grupo lusitano” durante o
Bronze Final. Este cunho ideológico e socioeconómico tão fincado em época anterior
parece ter voltado as comunidades a um “conservadorismo” com o prolongamento
efectivo das tradições culturais do Bronze Final, numa altura em que estas tinham já
entrado em colapso.
Com efeito, desta época dispomos de elementos bem parcos para creditarem
uma genuína I Idade do Ferro. Daí a nossa preferência em designarmos este ciclo de
Ferro Inicial.
Por esse motivo, consideramos este período (século VIII-V a.C.) como uma fase
de transição, lenta e progressiva, entre o Bronze Final e uma única e autêntica Idade do
Ferro – o Ferro Pleno. Uma “mudança em continuidade” que se prolongou por vários
séculos e cujos principais actores terão sido as populações autóctones do Bronze Final.
68
6. O POVOAMENTO DURANTE O FERRO PLENO
A análise do quadro do povoamento do Ferro Pleno a que nos propomos tentará
suprir as contingências existentes, motivadas essencialmente pela carência generalizada
de sítios escavados de um modo sistemático e devidamente publicados.
De facto, a falta de informações constatada no estudo de períodos anteriores
perdura e acentua-se quando nos debruçamos nos povoados da Idade do Ferro e castros
romanizados. O volume de notícias referentes ao povoamento desta época é
incomparavelmente inferior à que existe para o Noroeste e até para o Sul de Portugal.
Pelo exposto, tentaremos ensaiar uma forma de aproximação à realidade em
causa, centrada num modelo que partirá necessariamente de um quadro explicativo de
conjunto (e por isso, às vezes subjectivo) exemplificando, sempre que possível, com
casos concretos (não necessariamente modelares mas dos quais dispomos de melhor
informação).
Julgamos, assim o esperamos, poder contribuir para o estabelecimento de bases
mais firmes para o tratamento adequado da problemática cultural e evolutiva do
povoamento da segunda metade do I milénio a. C.
6.1. PADRÕES DE ASSENTAMENTO
A análise da implantação topográfica de cada povoado permite obter importantes
informações acerca das estratégias económicas e sociais das suas comunidades. A
escolha específica de locais de assentamento, distintos em cada época, poderá indicar,
em última análise, transformações na estrutura social. É neste aspecto que reside o
nosso intento em distinguir exaustivamente diferentes sub-tipos preferenciais de
implantação. Esta divisão poderá ser acusada por vezes de pouco significativa, no
entanto, revela a priori a tendência para uma franca variabilidade e rompe
definitivamente com o estigma verificado no Bronze Final a este nível.
Deste modo, definimos cinco tipos de assentamento tendo em conta a
implantação topográfica e paisagística eleita.
69
Tipo I – Povoados destacados em altura.
Incluem-se nesta categoria todos os povoados que se situam no topo de cabeços
destacados na paisagem, alcantilados, com boas condições naturais de defesa e absoluto
controlo visual sobre o território circundante e longínquo. Designamo-los de grupo de
povoados de implantação tradicional do Bronze Final20 , retratados por sítios como o
Monte de S. Martinho (55) e Cabeço da Argemela (83). No entanto, saliente-se a
instalação aparentemente de raiz neste período do povoado do Tintinolho (9), que do
seu alto domina o vale do Alto Mondego. Outro aspecto curioso (e talvez distinto do
Bronze Final) é o facto de não obstante as suas extraordinárias condições naturais de
defesa, possuem (caso se assuma corresponderem a este período cronológico) regra
geral sistemas defensivos, por vezes bastante complexos (como os casos indicados).
Correspondem a 27% (15 povoados) dos casos inventariados.
20
Correspondem aos assentamentos de tipo I A e I B do Bronze Final.
70
Tipo II – Assentamentos em cabeços “planálticos” ou aplanados.
Muitos com igual ocupação do Bronze Final 21 , a instalação em cabeços
“planálticos” ou aplanados representa 11% (6 povoados) da totalidade dos casos.
Ocupam geralmente o topo de largos outeiros ou plataformas de maior dimensão não
tão elevados como os anteriores, com boas condições naturais de defesa (apesar de pelo
menos um dos flancos apresentar melhor acessibilidade). Auferem de boa visibilidade,
não só para o espaço mais distante como preferencialmente para os terrenos
envolventes, geralmente de grande riqueza ao nível dos recursos naturais. Tomamos
como casos mais sintomáticos o povoado da Tapada de Longroiva (17), Tapada das
Argolas (79) e Covilhã Velha (86).
21
Correspondem aos assentamentos de tipo I D do Bronze Final.
71
Tipo III – Povoados de encosta.
Distinguem-se igualmente os povoados de encosta (9% - 5 povoados) situados
em vertentes protegidas ou abrigadas. Apresentam um dos lados mais exposto ao nível
da defesa natural e a visibilidade restringida ou direccionada a uma só orientação. Entre
estes destaca-se o povoado de Castelos Velhos (11).
72
Tipo IV – Povoados de planície.
Os povoados implantados em pequenas elevações são, por enquanto, quase
inexistentes (4%). Contamos apenas com dois casos confirmados: Matrena (27) e Olival
Comprido II (116). Encontram-se próximos de cursos de água sobre terrenos
aluvionares de boa capacidade agrícola. A identificação destes sítios reveste-se de
grande dificuldade, pelo que pensamos que este número não será expressivo da
realidade da época.
Tipo V – “Povoados de rio”.
Por último, destacam-se os povoados que se encontram intimamente
relacionados com cursos fluviais ou linhas de água significativas (49% - 27 povoados).
Tratam-se de sítios que comportam diferentes, mas, no seu geral, medianas condições
naturais de defesa e intenso domínio visual sobre vias naturais de penetração e vales de
solos aluvionares muito férteis.
A análise mais detalhada de certas características particulares de implantação
destes povoados permite-nos distinguir três categorias distintas:
73
V A – Cabeços ou plataformas destacadas sobre cursos fluviais: dentro dos
“povoados de rio” são os que reúnem melhores condições naturais de defesa e
visibilidade. São também os mais numerosos (16 povoados), contemplando 29% da
amostragem. Entre eles podemos destacar os povoados do Bogalhal Velho (21) e
Castelo da Cogula (47).
V B – Esporões fluviais 22 : apresentam igualmente boas defesas naturais e
visibilidade. No entanto, por não se encontrarem tão destacados na paisagem, o seu
impacte visual é menor que os anteriores. Correspondem a 13% (7 povoados) do
universo contabilizado. Poderemos destacar os povoados de Castelo de Mouros de
Cidadelhe (22) e Castelo Vieiro (23) como modelos padrão.
22
Equivalem aos assentamentos de tipo I C do Bronze Final.
74
V C – “Penínsulas” fluviais: tratam-se de sítios que se encontram envolvidos
por meandros fluviais que os cercam de todos os lados, salvo pelo istmo que os une à
respectiva margem. Foram assim classificados os povoados de Serra de Bois, Cabeço
dos Mouros, Grelheira (98) e Castelejo do Tostão (114). Contabilizam apenas 7% dos
sítios inventariados.
75
Uma primeira análise, parece permitir-nos falar de uma supremacia do tipo V –
os “povoados de rio”. Para além dos 49% de sítios que se encontram imediatamente
sobranceiros a cursos fluviais, constata-se que cerca de 60% dos restantes se localizam a
menos de um quilómetro de distância de linhas de água significativas.
Esta supremacia de povoamento junto de cursos fluviais atesta-se igualmente na
província de Cáceres (Martin Bravo, 1999: 202).
Frequência percentual dos tipos de assentamento
7%
27%
13%
Tipo I
Tipo II
Tipo III
Tipo IV
Tipo VA
11%
29%
Tipo VB
Tipo VC
4%
9%
Não se verificam grandes assimetrias relativamente à distribuição dos diversos
tipos de assentamento pelas quatro sub-regiões em que dividimos a Beira Interior
(tabela 2). Facto que poderá espelhar a desigual intensidade de investigação praticada
em cada uma delas. Por outro lado, as poucas desproporções atestadas poderão
igualmente traduzir as diferentes características geomorfológicas que encerra cada subregião.
Não obstante, na bacia hidrográfica do Côa e planalto Guarda/Sabugal (região
melhor estudada e com maior número de achados integrados neste período) e Pinhal
Interior acompanha-se a tendência global ao nível estatístico, com uma supremacia do
tipo V logo seguido do tipo I. Na Beira Interior Sul, dos cinco povoados inventariados,
três inserem-se no tipo V-C, o mais escasso desta tipologia. Por sua vez, na Cova da
Beira verifica-se uma inversão destes valores, não tendo sido identificado nenhum
povoado de tipo V.
76
Distribuição dos tipos de assentamento por sub-região
Nº de povoados
14
12
Bacia do Côa e Planalto
Guarda/Sabugal
10
Cova da Beira
8
Beira Interior Sul
6
4
Pinhal Interior
2
0
I
II
III
IV
V-A
V-B
V-C
Tipos de assentamento
Sendo os padrões de assentamento reflexo da sociedade que os privilegia, atestase uma evolução na estratégia de implantação e, por inerência, da memória colectiva
social que os sustenta, que tentaremos descortinar de seguida com a profundidade
menor à desejada mas a possível.
6.2. OS TESTEMUNHOS
6.2.1.ÉPOCA DE RUPTURAS COM A TRADIÇÃO ANTERIOR
A reocupação de locais anteriormente habitados durante o Bronze Final (tabela
2), verificada em 40% dos sítios do Ferro Pleno, não deverá ser entendida como um
verdadeiro sinónimo de continuidade cultural pois reveste-se de várias especificidades
que dilaceram a estrutura daquele período.
A primeira distinção, desde logo discernível, prende-se com a preferência de
implantação do povoamento. A opção por cabeços alcantilados, bem destacados e de
amplo domínio visual sobre a paisagem (tipo I) revela ainda uma percentagem
acentuada. No entanto, os únicos sítios assim caracterizados e novamente ocupados no
Ferro Pleno apresentam uma maior dimensão face à média verificada em grande parte
destes povoados durante o Bronze Final. De notar, que apenas dois povoados de tipo I
são criados de raiz durante este período, o Tintinolho (9) e Jarmelo (10).
Verifica-se assim uma reconversão de ocupação para espaços mais amplos, não
tão destacados na paisagem, procurando um controlo mais directo e efectivo de um
77
território mais delimitado, capaz de gerar uma economia de subsistência e de amplo
espectro com relativa margem de excedentes. Os castros ocupam zonas que reúnem
possibilidades de controlo territorial de pastos, explorações agrícolas, áreas de bosques
e recursos fluviais e áreas de grande mobilidade na paisagem susceptíveis de serem
centralizados por cada um deles. Juntamente, a alegada dispersão do povoamento
atestada degrada a rede de intervisibilidades coniventes entre povoados antes
manifestada. Ao invés do controlo extensivo e regional dos recursos, que caracterizava
o Bronze Final, privilegia-se agora um domínio mais directo e local dos mesmos 23 .
No entanto, continua a ter relevância o controlo de zonas de passagem ou linhas
de comunicação, nomeadamente as vias naturais de penetração. Facto expresso pela
elevada percentagem de sítios integrados no tipo V (povoados de rio) que revelam uma
grande preocupação pelo domínio de trechos significativos dos cursos fluviais.
Assim se explica também a reocupação de locais alcantilados (tipo I) como o
Cabeço da Argemela (83) (“povoado de ponta” que controla a entrada e saída da Cova
da Beira), Monte de S. Martinho (55) (importante eixo de comunicações para quem se
dirige ou vem do Tejo) e a instalação de raiz do Tintinolho (9) (dominando o vale do
Alto Mondego).
O próprio florescimento de povoados tipo II, como a Tapada das Argolas (79),
Covilhã Velha (86), parece indicar a continuidade de valorização da ocupação de locais
estratégicos que dominam as vias tradicionais de circulação. Mesmo os povoados de
encosta (tipo III) assumem esta particularidade. Em Castelos Velhos (11), apesar da
visibilidade se encontrar orientada a uma única direcção por ocupar a encosta
setentrional do monte, controla a saída natural da Guarda desde o Alto Mondego.
Deste modo, inviabiliza-se na Beira Interior o que Martín Bravo atesta na
província de Cáceres. De acordo com a autora (1999: 203) naquela região o controlo
visual sobre a paisagem envolvente torna-se um aspecto secundário durante o Ferro
Pleno.
Temos vindo propositadamente a ignorar a organização interna dos povoados.
Os dados que conseguimos recolher referentes a estruturas de cariz doméstico surgem
23
Não nos esqueçamos que o mesmo se verificava já no Bronze Final nos povoados relacionados com o
Baixo Côa.
78
desarticulados e mostram ser insuficientes para que se produza um discurso coerente
acerca dos mesmos. Condicionados pela carência de escavações assumimos uma
postura de cauteloso silêncio relativamente a este assunto.
Não obstante, e adoptando um modelo condicional de aproximação parece-nos
possível estabelecer parâmetros relativos à dimensão de grande parte dos povoados
ocupados no Ferro Pleno. Os nossos cálculos basearam-se, nos povoados integralmente
muralhados, na área do perímetro definida pela estrutura defensiva. Quando nos vimos
impossibilitados de utilizar este critério assentámos a nossa previsão nas características
topográficas que poderiam individualizar um espaço, como a quebra de curvas de nível.
Esta tarefa revela-se bastante adversa principalmente nos sítios onde as reocupações
posteriores de época romana, medieval e até contemporânea foram mais intensas.
Revelou-se mais adequada a criação de três intervalos de dimensão (tabela 2):
povoados com dimensão até dois hectares, outro de dois a cinco hectares e, por fim,
todos os sítios com uma área superior a cinco hectares. Este exercício, para além de
facilitar a percepção de uma possível categorização, minimiza a probabilidade de erro
inerente à atribuição de valores absolutos (apesar de podermos ser acusados de alguma
subjectividade).
Frequência percentual das dimensões dos povoados
4%
até 2 hectares
29%
de 2 a 5 hectares
> 5 hectares
67%
Com efeito, e se a área dos povoados do Bronze Final raramente ultrapassa os
0,5 ha, 67% (37) dos castros do Ferro Pleno incluem-se no primeiro grupo, de dimensão
79
média entre um e dois hectares. Trata-se de uma dimensão comum a todos os tipos de
assentamento.
Cerca de 29% (16) dos povoados ultrapassam os dois hectares, e só
excepcionalmente atingem uma dimensão de 3,5 hectares. Entre estes últimos
distinguem-se os sítios implantados sobre cabeços aplanados (tipo II) como a Covilhã
Velha (86) (3,5 ha) e Tapada das Argolas (79) (4 ha), povoados de tipo I como o
Castelo Mendo (1) (3 ha) ou inseridos no tipo V-A como o Cabeço das Mós (129) (4,5
ha).
Este facto poderá denunciar uma certa incoerência no nosso discurso pois todos
os sítios agora mencionados revelam uma ocupação do Bronze Final e, conforme
sintetizámos, naquele período a área ocupada não deveria ascender os 0,5 hectares.
Mas atentemos no povoado da Covilhã Velha onde R. Vilaça (et alii, 2000: 207209) distingue no limite norte da estação um pequeno cabeço que parece destacar-se da
restante área. Esta circunstância leva a autora a diferenciar dois sectores distintos que
poderão ter sido ocupados em épocas divergentes. De facto, os materiais recolhidos
daquele local e que se reportam ao Bronze Final parecem encontrar-se delimitados
àquele pequeno cabeço. Situação idêntica verifica-se em S. Miguel de Amêndoa (112) e
Cabeço da Argemela (83) onde se identificam pequenos cabeços destacados dentro do
mesmo planalto (“acrópoles”) que poderão ter sido ocupados durante o Bronze Final.
Cremos que estas anteriores comunidades tenham restringido a sua ocupação
nestes locais às áreas mais elevadas e destacadas. Durante o Ferro Pleno estes povoados
serão preferencialmente reocupados pois, para além das boas condições de visibilidade
se manterem, existe também espaço físico por onde expandir a área residencial. Facto
que não sucede na grande parte dos povoados alcantilados do Bronze Final devido
(juntamente com outros factores) à superfície habitável se encontrar bem delimitada
pelas vertentes declivosas.
Por fim, destacam-se os únicos casos em que a dimensão do povoado ascende os
cinco hectares: o povoado de Castelo dos Prados (24) onde o perímetro da área
muralhada contempla cerca de dez hectares e Monte Calabre (48) com oito hectares,
ambos inseridos no tipo V-A. Perante este facto não nos podemos alhear da forte
romanização de que estes sítios deverão ter sido alvo. Podendo, o Castelo dos Prados
(onde são visíveis inúmeros materiais de época romana), num momento inicial de
80
ocupação do Ferro Pleno encontrar-se delimitado à zona meridional (mais reduzida)
controlando visualmente o curso alto do Massueime.
Dimensão dos tipos de assentamento
Nº de povoados
12
10
8
até 2 hectares
6
de 2 a 5 hectares
4
> 5 hectares
2
0
I
II
III
IV
V-A
V-B
V-C
Tipos de assentamento
Este aumento generalizado da área dos povoados faz com que se expandam para
zonas menos protegidas (não tão alcantiladas), tornando-se a defesa natural menos
efectiva. Para compensar a diminuição das pendentes, e em contraste com o Bronze
Final (onde se regista a sistemática ausência de defensibilidade artificial), 66% dos
povoados do Ferro Pleno 24 ostenta sistemas defensivos (tabela 2), por vezes bastante
complexos.
Do ponto de vista construtivo as semelhanças são evidentes. Estas construções
encerram uma tecnologia rudimentar baseada na utilização de pedra local partida,
colocada a seco ou apenas com alguma terra de permeio, formando blocos compactos e
contínuos que se acoplam ao terreno sem qualquer evidência da presença de contrafortes
ou torres.
A este propagado arcaísmo ou simplismo técnico contrapõe-se a morfologia
destas estruturas que demonstram uma grande variabilidade de soluções. Confrontam-se
modelos demasiado simples com outros por vezes bastante complexos. Este facto é
facilmente empregado por diversos autores para recuar a cronologia de construção dos
primeiros ou associar os segundos ao período romano e até medieval. No norte de
24
Não se tendo verificado qualquer assimetria ao nível dos diversos tipos de assentamento. Apenas, como
a própria designação indica, os povoados abertos de planície (tipo IV) não ostentam estruturas defensivas.
81
Portugal a transição do milénio parece trazer consigo a complexificação dos sistemas
construtivos (Martins, 1996: 128).
De traçado simples (os mais comuns) podemos indicar as estruturas defensivas
do Tintinolho (9) onde se distingue um muro de granito mediano, bem devastado com
cerca de dois metros de largura e do Monte do Castelo de Monforte da Beira (61) que
apresenta uma única linha de muralha composta por pequenos blocos de quartzito
sobrepostos a seco.
Ilustrativos de uma pretensa complexidade são as construções identificadas no
Cabeço da Argemela (83), onde se percepciona um sistema triplo concêntrico, ou
Covilhã Velha (86) com um sistema duplo bastante irregular (integrando muros radiais
e apêndices (Vilaça et alii, 2000: 207-209).
Em relação a este aspecto gostaríamos de individualizar a estrutura identificada
na Quinta da Samaria (69). Contemplando uma simples técnica construtiva (pedra local
não aparelhada disposta a seco) e contornando todo o povoado (excepto a Oeste de onde
dispõe de boas condições naturais de defesa e se encontra delimitado por afloramentos
graníticos) são visíveis a Sudeste duas estruturas semicirculares que se adossam ao pano
exterior desta construção. Será dúbia a sua classificação como pequenas torres ou
bastiões. No entanto, realçamos aqui a importância de que se reveste o esclarecimento
desta e outras situações (como o hipotético fosso que Tavares Proença afirma existir no
Monte de S. Martinho (55) (Vilaça, 2004d: 58), que poderão alterar o panorama hoje
constatado.
Outra característica por vezes evidente é a integração de grandes afloramentos
naturais nas linhas de muralha. No Castelo Velho de Caratão (127) a estrutura defensiva
constituída por blocos de quartzito adapta-se ao terreno e complementa-se com o
afloramento natural aparelhado, evidenciando um traçado bastante irregular.
Um dado curioso prende-se com a perpetuação de uma especificidade verificada
no Bronze Final. Em certos povoados estas construções apresentam-se limitadas às
vertentes de melhor acessibilidade. No entanto, diferenciam-se das outras por
comportarem uma tecnologia de construção mais elaborada. É o caso do Cabeço dos
Mouros (91) (Idanha-a-Nova) onde a estrutura defensiva se limita ao lado Sudeste (o
82
mais vulnerável) e é constituída por grandes blocos graníticos aparelhados na base onde
assentam lajes de xisto de médio e grande porte. Analogamente, no Castelo dos Prados
(24) a muralha (que ainda conserva alguns tramos com dois metros de altura) de pedra e
cascalho batido com terra (solução tecnológica inovadora) apenas se expande pelas
vertentes de pendente não acentuada. No Castelo de Mouros de Cidadelhe (22) o troço
de muralha (Perestrelo, 2005: 82-83), que apenas contorna o cabeço do lado ocidental (o
mais acessível), apresenta igualmente uma complexa solução tecnológica. Com cerca de
2,70 m. de largura, conta com as duas faces aparelhadas que sustentam o miolo
composto por pedra miúda e terra. A par disto, encosta e integra na sua empena
afloramentos rochosos devidamente aparelhados e junto à sua face interna foi
identificado um alinhamento de pedra tosco que poderá ser classificado como muro
interno de reforço (facto até agora inédito na Beira Interior).
Por fim, salienta-se a existência de alguns sítios onde se encontra bem patente
que a função destas muralhas não ficaria a dever-se unicamente a factores bélicos.
Exemplo claro deste facto é a estrutura do Castelo da Cogula (47) que apesar de rodear
todo o cabeço (alternando blocos de granito aparelhados com outros irregulares), teria
uma funcionalidade não só defensiva mas também delimitativa do espaço habitado e de
regularização do nível de circulação (ao permitir a realização de aterros). Facto a que
parece estar também associada a estrutura que cerca o Monte Calabre (48).
Na hora de atribuir uma cronologia a estas estruturas, esbarramos, uma vez mais,
na falta de informações provenientes de escavações que nos possam elucidar de forma
segura sobre os seus contextos de construção.
Tanto no Noroeste português (Silva, 1986) como na província de Salamanca
(Martin Valls, 1998: 176) a aparição de fortificações nos povoados é associada à
pressão do mundo céltico ou celtibérico respectivamente, verificada a partir do século
V/IV a. C.
Para Álvarez-Sanchís (1999: 319), o advento dos castros fortificados reflecte o
impacte demográfico (embora pouco significativo) de populações célticas, que
juntamente com as muralhas importam novos padrões de enterramento como as
necrópoles de incineração.
Com o recuo da data de migração dos povos lusitanos aventada por J. Alarcão
(2001), as alterações vividas na Beira Interior dificilmente se justificarão com teses de
83
invasão célticas. No entanto, o aparente fenómeno da celtização das comunidades
lusitanas continua ainda por explorar. De facto, a análise de artefactos da Idade do Ferro
identificados nesta região (ver capítulo seguinte) e a presença de três urnas cinerárias na
área de Mação (Pereira, 1970: 256-259) poderão relacionar-se com uma possível
influência celtizante destes grupos.
Outro factor que terá contribuído para o muralhamento sistemático destes
povoados deverá residir na inconstância e incerteza dos tempos marcada pela ameaça
romana a partir do século II a. C. (Vilaça et alii, 2000: 211). Esta situação poderá
também relacionar-se com os vários casos de ocultação de riqueza ou tesouros,
compostos por jóias ou denários de prata, verificado no decorrer deste período. Facto
atestado em sítios como Casal do Chão das Casas (113) (Vila Velha de Ródão),
Soalheira do Barbanejo (61) (Monforte da Beira) ou Monsanto (95) (Fabião, 2004: 64)
entre outros.
Independentemente da motivação, objectivos (sempre revestidos de alguma
subjectividade) ou da sua datação, a construção de muralhas de tão grande porte
expressa um conjunto de sintomas comuns.
Em primeiro lugar, subentendem a inversão de um assinalável trabalho
comunitário (esforço comum) que envolve planificação prévia, capacidade de
organização e um investimento considerável do ponto de vista material e de mão-deobra.
Por outro lado, pressupõem um desejo de permanência e apropriação do espaço
imediato (local), ou seja, um alto grau de sedentarismo. As muralhas são agora
encaradas como verdadeiras referências visuais, estruturais e simbólicas que marcam a
paisagem local.
À menor densidade de povoamento contrapõe-se o aumento da dimensão dos
sítios habitados que poderá indicar não só o aumento demográfico como também a
concentração populacional.
Ao verificar que na província de Cáceres o número de povoados parece ir em
contínuo crescendo até ao Ferro tardio (Martin Bravo, 1999), podemos estar a incorrer
num lapso motivado pela deficiente identificação ou classificação dos sítios protohistóricos.
84
Mas, perante os dados disponíveis, cremos que o povoamento do Ferro Pleno na
Beira Interior esboça um modelo de expansão linear discontínuo-concentrado (Ellisson
e Harris, 1972). Este arquétipo assenta na concentração populacional em determinadas
áreas mais favoráveis e a sua ausência em tramas com menos recursos.
Neste sentido, a dispersão do povoamento e a existência de grandes vazios
parece coadunar-se com a inexistência de fricções pelo controlo ou exploração de
recursos.
No entanto, a sedentarização e aproveitamento dos recursos mais directos
provocam a total reestruturação dos sistemas de exploração do meio envolvente, ou seja,
da gestão específica de um espaço mais delimitado. Ao processo de elaboração de uma
estrutura convencional do meio físico designamos de territorialidade, que tem como
variáveis fundamentais a economia e a demografia. Assim sendo, e como temos vindo a
demonstrar, os povoados tendem a instalar-se em pontos de importante valor
estratégico, articulando a gestão de recursos de subsistência em áreas mais directas com
o controlo das vias de comunicação e circulação, privilegiando as bacias fluviais por
reunirem estas especiais conveniências logísticas.
Não obstante, a subsistência baseada na agricultura (sociedades agrícolas) requer
um uso ordenado da terra e, por arrasto, a sua categorização. Consequentemente, estas
sociedades assumem um comportamento altamente territorial. Serão comunidades mais
fechadas, autênticas unidades autónomas sem articulação supra territorial, que nobilitam
a autarcia económica ou até mesmo o autismo (Vilaça et alii, 2000: 214).
Paralelamente, continua por determinar se aqueles povoados (de maior
dimensão) terão desempenhado funções de “lugares centrais” ou relações de
complementaridade com pequenos sítios, dispostos pelos seus territórios de exploração
(ou próximo destes), coordenando uma série de actividades e práticas.
As relações de dependência entre povoados de grande dimensão (geralmente
situados a uma cota superior e de onde a população deveria proceder) e pequenos sítios
que dominam a planície (castros agrícolas) surgem documentadas no norte de Portugal
(Martins, 1996: 129). Estas sociedades encontram-se assim integradas numa economia
de exploração agrícola centralizada.
85
Este padrão, determinado no Noroeste, não se verifica nos grupos da Meseta
Central (Férnandez Posse, 1998: 155-162) e apenas se regista um caso na Alta
Estremadura espanhola (Martin Bravo, 1999: 202-203).
Na Beira Interior torna-se penoso tecer quaisquer considerações sobre este
assunto. Tem vindo a ser privilegiada a técnica de prospecção extensiva ou direccional,
orientada geralmente para o topo de plataformas elevadas onde, “tradicionalmente”, se
localiza o povoamento pré-romano. No entanto, recentes trabalhos de prospecção
intensiva alcançaram resultados (com as condicionantes adstritas a este tipo de trabalho)
que, devidamente estruturados, poderão revelar-se úteis para o início de discussão desta
problemática na região. Referimo-nos, concretamente, ao estudo realizado por M. J.
Ângelo que se desenvolveu em torno do povoado da Covilhã Velha (Quintas da Torre).
Esta autora, ao percorrer intensivamente os campos localizados a sul e sudeste
daquele povoado, identifica (para além de habitats de época romana e medieval) três
sítios cuja cronologia poderá remontar ao I milénio a.C. A tarefa de atribuição de
datações a sítios reconhecidos em prospecção mostra-se por vezes bastante ingrata. De
facto, foi somente possível recolher um número reduzido de fragmentos cerâmicos,
quase na sua totalidade informes. No entanto, a análise das suas pastas revela
semelhanças evidentes com os materiais exumados no povoado da Covilhã Velha e que
permitem datar uma das suas fases de ocupação do Ferro Pleno. Tendo em conta este
aspecto, e enquanto não se esclarecem os contextos deposicionais daqueles locais,
permitimo-nos, a título hipotético, considerá-los coetâneos daquela fase de ocupação.
Referimo-nos aos povoados da Peixeira (100 B), Tapado Fundeira (105 B) e
Cabeça de Boi (104 B) (Ângelo, 2003: n.º 30, 37 e 38 respectivamente). Todos eles se
revestem de grandes semelhanças relativamente às características de implantação25 ou
respectivo posicionamento e pela ausência de estruturas defensivas. Nesta vasta planície
que aqui se forma, salpicada de suaves cabeços, denota-se a preferência de instalação
(na totalidade dos casos) pela encosta sul de amplos outeiros. Facto que evidencia a
procura de sítios abrigados dos ventos fortes vindos do norte. Outra circunstância
comum reflecte-se na proximidade dos seus terrenos envolventes a abundantes linhas de
água. O povoado da Peixeira encontra-se contíguo a diversos afluentes da ribeira de
25
Poderiam englobar-se nos assentamentos de tipo IV.
86
Taveiró e os povoados do Tapado Fundeira e Cabeça de Boi junto a vários cursos de
água afluentes da ribeira de Turgalha. Neste sentido, podemos afirmar que se vêem
envolvidos por terrenos bem irrigados e de grande potencialidade agrícola.
Paralelamente, destaca-se a presença de grande quantidade de minério de ferro
descortinada no sítio do Tapado Fundeira.
Perspectivam-se nestes locais as condições naturais ideais para a prática de uma
actividade agrícola intensiva. Mas será que podemos classificá-los de casais agrícolas
(semelhantes aos identificados no norte de Portugal) dependentes de um povoado de
maiores dimensões localizado nas suas cercanias a uma cota mais elevada, neste caso a
Covilhã Velha (86)?
Com a finalidade de esclarecer potenciais complementaridades, resolvemos
traçar os territórios teóricos de exploração (Vitta-Finzi e Higgs, 1970) de cada um
destes quatro sítios. Apesar deste modelo teórico (Site Catchement Analysis) assentar
em algumas incongruências ou princípios discutíveis serviu-nos como “angariador” de
pistas de aproximação a uma realidade passada difícil de captar. Os resultados devem
ser lidos tendo em conta as diversas imperfeições ou limitações.
Assim sendo, definimos os territórios potencialmente exploráveis de 15, 30 e 60
minutos do povoado da Covilhã Velha e somente de 15 e 30 minutos dos restantes
(figura 2). Enquanto os territórios destes últimos comportam em toda a sua extensão
terrenos de boa aptidão agrícola, o mesmo só acontece no povoado da Covilhã Velha
nos terrenos que medeiam as isócronas de 30 a 60 minutos (Vilaça et alii, 2000: 213). É
precisamente neste espaço, a sul / sudeste, que se sobrepõem os territórios de 30
minutos do Tapado Fundeira e Cabeça de Boi. Para além deste facto, verifica-se a
intercepção dos territórios de 30 minutos dos três povoados de planície.
Parece estarmos perante um núcleo de povoamento integrado numa economia de
exploração agrícola centralizada. O sistema de complementaridades baseia-se na
exploração intensiva dos terrenos férteis pelos povoados de planície, enquanto a
Covilhã Velha, para além de coordenador de toda a actividade, remata este conluio ao
controlar as vias de mobilidade e comunicação.
Particularmente interessantes são igualmente os resultados provenientes da
prospecção intensiva realizada em torno de Capinha (Fundão) ou, por inerência, em
redor do povoado da Tapada das Argolas (Carvalho et alii, 2002). Este estudo
demonstra que na área sul do seu território de 30 minutos potencialmente explorável (a
87
de maior aptidão agrícola, próximo do curso da ribeira da Meimoa), “gravitam” uma
série de pequenos núcleos de povoamento, classificados como aedificia romanos
(Carvalho et alii, 2002: 145 e Est. IV). As suas características de implantação não
diferem muito dos povoados de planície atrás referenciados. Esta atribuição cronológica
resulta da recolha de superfície nestes locais de materiais, por vezes em número bastante
reduzido, característicos daquele período mas que também se poderiam classificar como
de tradição indígena ou de época anterior (recipientes de armazenamento de bordo
extrovertido). Com efeito, estes condicionalismos, intrínsecos à prática da prospecção,
levam-nos a crer que, muito possivelmente, alguns daqueles sítios poderão ter sido
ocupados durante o Ferro Pleno ou Tardio.
Este problema prende-se com o facto da visibilidade/invisibilidade do registo
arqueológico em prospecção. Aquele tipo de povoados de planície, de ocupação talvez
estacional (na dependência de famílias que viviam no povoado central) ou que
albergavam permanentemente pequenos núcleos não deixariam grandes evidências
materiais no terreno. As reocupações posteriores, a que estarão sujeitos, eliminam por
completo os seus vestígios de superfície, sendo estes casos apenas detectáveis a partir de
escavações. Acreditamos, dada a insuficiência ou não abundância de terrenos de boa
capacidade agrícola na Beira Interior, que muitos núcleos rurais de épocas posteriores
(casais, quintas ou villae de vocação agrária) se instalem sobre casais agrícolas do Ferro
Pleno, obliterando assim o seu registo arqueológico de superfície.
Mais uma vez realçamos a carência de escavações que possam comprovar tais
teorias. No entanto, neste particular dispomos de alguns casos que servirão de modelo
exemplificativo do que propomos. Referimo-nos às estações de Olival Comprido II
(116) (Abrantes), Fonte do Sapo (127 B) (Mouriscas, Abrantes) e Vilar da Mó (143 B)
(Belver, Gavião) (Batata, 2002: n.º 218, 197 e 253 respectivamente). O primeiro sítio
corresponde a uma villa, o segundo a um vicus e o último a uma aldeia, todos de época
romana. Não obstante, as escavações aqui realizadas (à excepção do último 26 ) por
Filomena Gaspar 27 vieram determinar uma prévia ocupação do Ferro Pleno. Tratam-se
26
Proposta de datação conferida por Batata (2002: n.º 253).
27
Devido à inexistência de publicação referente a estas intervenções, apoiamo-nos no que é relatado por
C. Batata (2002) que teve acesso aos respectivos relatórios.
88
de sítios implantados em encostas suaves de pequenos cabeços que se dispõem ao longo
dos terraços fluviais do Tejo (de grande fertilidade agrícola).
Contudo,
torna-se
aqui
bastante
difícil
definir
supostos
padrões
de
complementaridade entre estes e povoados de altura fortificados de mediana dimensão.
Facilmente se verifica a proximidade (mas não a sobreposição de territórios teóricos de
exploração) entre a estação de Fonte do Sapo e povoados como o Casal das Freiras I
(117) e até Cabeço das Mós (129), ou do Olival Comprido II com a Fortaleza de
Abrantes (122). Mas, a articulação de outros dados leva-nos a rejeitar, para esta região,
as relações evidenciadas na Covilhã Velha (86) e possivelmente na Tapada das Argolas
(79).
Note-se que a existência de povoados de planície ou casais de vocação agrícola
junto ao Tejo é um facto já antes atestado durante (pelo menos) o Bronze Final (onde
defendemos a inexistência de relações de complementaridade). Por isso, esta particular
apropriação do espaço contíguo ao Tejo poderá obedecer a matrizes impostas de
tradição milenar, um regionalismo.
A existência de povoados de grandes dimensões a par de outros (aparentemente
coetâneos) de menores dimensões nas suas proximidades, invariavelmente tidos como
“secundários” ou subalternos dos primeiros, poderá ser extremamente sugestiva (até
tentadora) da possibilidade de se constituir como a materialização espacial de uma,
várias vezes citada, “complexificação social”.
Não obstante, a forte sedentarização e territorialização atestada provocar uma
cristalização do sistema social, pensamos que não irá conduzir à formação de chefaturas
mais complexas ou proto-estados.
Atente-se, relativamente a este aspecto, na descrição geográfica das
comunidades lusitanas que ocupavam o espaço entre Douro e Tejo que nos legou Plínio
(4, 113). Este refere ao longo do litoral várias cidades (Talábriga, Emínio, Conímbriga,
Colipo, Eburobrício e Olisipo) enquanto para o interior apenas cita populi. Perante tal
distinção somos levados a presumir a existência de uma marcada dicotomia entre um
litoral mais proto-urbanizado 28 e um interior (menos desenvolvido) onde deveriam
subsistir as ancestrais práticas comunitárias (Fabião, 1992: 174). A fundação de Idanha-
28
Alguns autores alertam que o desenvolvimento urbano do litoral poderá corresponder já aos efeitos da
romanização pelo facto de Plínio escrever em meados do século I d. C.
89
a-Velha, um núcleo populacional aparentemente levantado em lugar não habitado
anteriormente, parece transparecer a intenção de criar um novo pólo regional (com
funções administrativas) numa região onde o fenómeno urbano era inexistente.
No entanto, escasseiam elementos em áreas residenciais que permitam
determinar eventuais transformações sociais, políticas ou económicas e um
conhecimento
efectivo
das
necrópoles
(espaços
privilegiados
para
detectar
desigualdades sociais). Apenas dispomos de dados provenientes de prospecções (quase
sempre dirigidas) que permitem a identificação de sítios, a avaliação da dimensão das
áreas ocupadas e operar recolhas de superfície, sem que tal contribua significativamente
para uma caracterização das respectivas formas de ocupação, organização interna dos
grandes povoados e da sua efectiva datação.
Daí que as interpretações por nós aventadas para esta região, tanto da
possibilidade de existência de pequenos núcleos rurais instalados nas proximidades de
grandes povoados e que lhes complementam as bases de subsistência, como da
inexistência de sítios proto-urbanizados, tenham de ser revistos com cautelosas reservas.
Tais considerações carecem em absoluto da indispensável base empírica, que extrapole
as recolhas e caracterizações de superfície, e que as permita definitivamente sustentar
ou refutar.
6.3. A CULTURA MATERIAL
6.3.1. A CERÂMICA
A notória escassez de elementos materiais datados do Ferro Pleno na Beira
Interior condiciona, sobremaneira, qualquer tentativa de estudo abrangente que envolva
esta temática na região.
A falta de escavações ou parca publicação dos resultados, essencialmente do
enquadramento dos materiais exumados nos respectivos contextos estratigráficos, é
evidente nos povoados datados do Ferro Pleno. Poderemos afirmar que as únicas
intervenções realizadas em contextos deste âmbito cronológico e que se encontram
devidamente publicadas se resumem ao Sabugal (39) e Sabugal Velho (29). Não
obstante, as posteriores reocupações verificadas nestes locais, vieram provocar o
remeximento dos solos e a consequente destruição de estratos devidamente selados.
Talvez por isso, as únicas cerâmicas que aqui se encontram publicadas se resumam aos
elementos decorados (Osório e Santos, 2003; Osório, 2005a).
90
As recolhas de superfície efectuadas em assentamentos do Ferro Pleno, para
além de fornecerem escassos materiais, raramente proporcionam elementos decorados e
nunca formas completas. Por outro lado, grande parte destes povoados terá sido
ocupada em momentos anteriores (sobretudo do Bronze Final e possivelmente do Ferro
Inicial), pelo que muitas vezes estas recolhas carecem de seguros índices cronológicos.
O Ferro Pleno caracteriza-se pela generalização de utilização de objectos em
ferro e do torno do oleiro na elaboração da cerâmica. Contudo, surgem materiais em
ferro em contextos do Bronze Final (nos povoados de Castelejo (41), Monte do Frade
(104) e Moreirinha (96) (Vilaça, 1995a: 348-349) e as cerâmicas finas ao torno estão
presentes em contextos do Ferro Inicial (no povoado da Cachouça (89) (Vilaça e
Basílio, 2000), independentemente de terem ali sido ou não fabricados.
A problemática agudiza-se ao tentarmos determinar uma cronologia específica
para as técnicas decorativas que surgem nas cerâmicas associadas a este período. A
decoração penteada encontra-se representada em contextos do Ferro Inicial (na
Cachouça), embora prolongando-se até finais do Ferro Pleno. Contudo, apesar da
cerâmica estampilhada ser também associada por alguns autores ao Ferro Inicial, na
Extremadura espanhola parece surgir só nos finais do século V/ inícios do século IV a.
C. (Martín Bravo, 1999: 242).
Carecemos de materiais exumados em estratigrafia selada datada deste período
que permita estabelecer um repertório formal que se possa enquadrar num quadro
tipológico e sequencial.
Perante tais limitações, apenas poderemos fazer uma breve abordagem aos
recipientes cerâmicos que julgamos enquadrarem-se neste período.
Teremos como ponto de partida o espólio do Castelejo do Tostão (114), por aqui
ter sido o único povoado que permitiu a recolha de um espólio significativo e por
parecer ter uma única fase de ocupação datada do Ferro Pleno e Quinta da Samaria (69).
Verificamos, à partida, um aparente predomínio das produções ao torno em
relação à cerâmica manual. Não obstante, qualquer uma delas comporta essencialmente
dois tipos de fabrico: mediano e fino.
As cerâmicas de fabrico mediano apresentam pastas onde são visíveis alguns
elementos não plásticos de médio e baixo calibre, medianamente distribuídos.
Apresentam uma cozedura redutora com arrefecimento oxidante. Um dos fragmentos
encontra-se decorado no bojo por meandros incisos (Est. VIII - 4). Padrão registado
91
igualmente no Castelo Vieiro (23) (Perestrelo, 2004: 68-69) e Cabeço das Mós (129)
(Batata, 2002: n.º 171).
O fabrico fino apresenta pastas bem depuradas, de cozedura oxidante e
coloração alaranjada e esbranquiçada. Este tipo de fabrico encontra-se presente no
Castelo da Vieiro (Perestrelo, 2004: 113), Sabugal e Sabugal Velho (Osório, 2005a: 4446). Ambos os tipos de fabrico apresentam superfícies alisadas.
Apenas se regista a presença de um tipo formal dominante que encerra, no
entanto, algumas variantes. Trata-se dos grandes recipientes globulares ou ovóides de
perfil em “S”, com colo pouco desenvolvido e bordo esvasado ou extrovertido, muito
comum nos povoados do ocidente peninsular em contextos do Ferro Pleno e que
podemos comparar ao tipo 19 de Martín Bravo (1999: 236 e fig. 103) para a
Extremadura espanhola.
Não obstante, algumas diferenças ao nível do bordo, que sendo extrovertido
poderá rematar em lábio mais saliente, revirado, engrossado ou moldurado em aba, esta
forma encontra-se muito bem representada em quase todos os povoados do Ferro Pleno
da região. Para além do Castelejo do Tostão (Est. VIII – 1 e 2) refira-se a sua presença
na Quinta da Samaria (69) (Est. VI – 2 a 4 e Est. VII - 1), Alfaiates (30) (Est. IX - 1),
Matrena (27), Sortelha-a-Velha (101) (Est. IX - 2), Pedra Aguda (5) (Pereira, 2003: 79), Castelo Vieiro (23) (Perestrelo, 2004: 68-69), Sabugal (39) (Osório e Santos, 2003),
Sabugal Velho (29) (Osório, 2005a: 44), Monte do Castelo de Monforte da Beira (61)
(Canas, 1999: 303), Castro do Picoto (99) (Batata, 2002: n.º 6) e Santa Maria Madalena
(109) (Batata, 2002: n.º 28).
Por fim, uma breve referência aos recipientes cerâmicos decorados.
As cerâmicas estampilhadas encontram-se presentes nos povoados do Jarmelo
(10), Sabugal (39), Sabugal Velho (29), Tapada das Argolas (79) (Vilaça, 2005: figura
1), Quinta da Samaria (69) (Est. VII – 3) e Cabeço das Mós (129) (Batata, 2002: n.º
171). Verifica-se de imediato uma exclusão das zonas do curso médio e final do Côa e
Beira Interior Sul (Mapa 9) que parece acompanhar a acentuada falta de investigação
deste período nestas respectivas regiões.
Apenas temos conhecimento dos motivos (feitos a matriz) representados nos
fragmentos da Tapada das Argolas, Sabugal e Sabugal Velho. Na Tapada das Argolas
verifica-se a repetição de séries de “S” (Vilaça et alii, 2000: figura 13-18), no Sabugal
92
ornitomorfos, círculos concêntricos e semicírculos concêntricos (Osório e Santos, 2003:
280-286), motivo que se repete noutros dois fragmentos no Sabugal Velho (Osório,
2005a: 44).
Este grupo decorativo oferece, actualmente, alguns problemas de datação.
Apesar de sistematicamente integrado no Ferro Pleno, a intensificação do estudo em
contextos do Ferro Inicial (principalmente no Alentejo (Gamito, 1996: 112) e Norte de
Portugal (Bettencourt, 2005: 26) relata o aparecimento (ainda pouco significativo)
durante esta fase de motivos estampilhados. Deveremos, até se exumarem em
estratigrafia selada e devidamente caracterizada, acautelar a atribuição de uma datação
para este tipo de cerâmica com base em paralelos nas regiões vizinhas.
A estas juntam-se as cerâmicas penteadas (ou “peinadas”) de influência do
mundo mesetenho. Esta técnica decorativa encerra igualmente alguns problemas de
atribuição cronológica pois surge na Bacia do Douro por volta da segunda metade do
século VII / século VI a.C., tendo um período de vigência que se prolonga até ao século
II a.C. (Álvarez-Sanchíz, 1999: 202). Coloca assim óbvias reservas e não oferece o
mínimo de condições exigíveis para que seja considerado um “fóssil-director” tanto do
Ferro Inicial como do Ferro Pleno (Férnandez-Posse, 1998: 156). Demonstrativo desta
problemática é o facto destas cerâmicas estarem presentes em povoados com ocupação
do Bronze Final como nos Alegrios, Ferro Inicial como na Cachouça e Ferro Pleno
como no Castelo da Sr.ª de Monforte.
Como podemos ver (Mapa 9) atesta-se o seu registo nos Alegrios (94),
Cachouça (89), Sabugal (39) e Sabugal Velho (29), Castelo Velho da Meda (18),
Castelo Velho de Seixas do Douro (51) e Castelo da Sr.ª de Monforte (4) (Vilaça, 2005:
19). Para além destes, aponte-se a referência fugaz à presença de cerâmica com
entrelaçados incisos a pente em Pinhel (25) (Perestrelo, 2004: 75-76) e a dois
fragmentos de bojo com decoração penteada do Castro de Santa Maria Madalena (109)
(Batata, 2002: n.º 28).
Por fim, de salientar a quase total ausência das cerâmicas pintadas de influência
ibérica, procedentes das regiões meridionais da Península e cuja datação recua ao século
V a. C., atingindo o seu apogeu no século IV/III a. C. (Férnandez Posse, 1998: 165166). Este facto apenas é contrariado pela presença de cerâmica ao torno com suaves
bandas pintadas de cor vínica no Sabugal Velho (29) (Osório, 2005a: 44) e de um outro
93
fragmento com banda pintada no lábio proveniente da Quinta da Samaria (69) (Est. VII
- 4).
Perante os dados actualmente disponíveis parece-nos arriscado e até errado
pretender extrair quaisquer conclusões acerca da distribuição destes materiais (mapa 9)
ou interpretar o significado de presenças ou eventuais ausências dos mesmos.
6.3.2. A METALURGIA DO BRONZE
Tal como as cerâmicas, os materiais metálicos do Ferro Pleno conhecidos
reduzem-se a poucos achados casuais ou pontuais, dos quais, apesar de serem todos
provenientes de povoados, não se conhecem (para a maioria) os seus contextos de
deposição.
Assiste-se a uma superioridade dos objectos em bronze face aos artefactos em
ferro. Contudo, aqueles diferem do Bronze Final pois o uso do bronze parece agora
restringir-se à produção de objectos ornamentais. O ferro é reservado ao fabrico de
armas.
Na estação romana de Póvoa de Mileu foram identificadas algumas peças em
bronze (já referidas no capítulo 5.1.) que estarão certamente relacionadas com o
povoado de Castelos Velhos (11) localizado a 100m para NE deste local. Falamos de
um conjunto de fíbulas de “tipo Acebuchal”, fíbulas de fusilhão fixo “do período La
Tène”, uma fíbula hispânica “tipo folha de loureiro” e um bracelete que parecem
enquadrar-se num período entre finais do século VI e meados do século IV a. C. Apenas
os referimos novamente, pois a diacronia cronológica que auferem demonstra que se por
um lado os poderemos integrar nos finais do Ferro Inicial, por outro também poderão
avançar até inícios do Ferro Pleno. Dada a ausência de informações concretas relativas
às condições de seus achados, esta será mais uma questão que ficará em aberto
aguardando o prosseguimento da investigação.
O mesmo se aplica relativamente ao exemplar de fíbula de “tipo Acebuchal”, de
pé voltado com botão terminal, datável do século VI – inícios do IV a. C. (Argente
Oliver, 1994: 80) oriundo do Sabugal Velho (Osório, 2005: 44 e est. 19 nº 4).
94
Dispomos de mais quatro fíbulas integráveis num período mais tardio do Ferro
Pleno.
Nas escavações do castelo de Pinhel (25) foi recolhido um fragmento de fíbula
anular de aro interrompido datável de um período que medeia os séculos III-I a. C.,
embora sobreviva até meados do século I d. C. (Perestrelo, 2004: 116).
Os outros dois exemplares provêm do povoado da Tapada das Argolas (79). Um
dos objectos enquadra-se na família das “fíbulas de cavalinho” 29 sem ginete e, segundo
R. Vilaça (et alii, 2002-2003: 191), poderá integrar-se no tipo D2 de Almagro Gorbea e
Torres Ortis (1999) ou Ponte 29.1 (Ponte, 2001: 311-317), datado genericamente entre
os finais do século IV a. C e inícios do século I a. C. Este tipo particular, de cariz céltico
peninsular, apresenta uma grande concentração de achados na região mesetenha e na
Extremadura espanhola (Vilaça et alii, 2002-2003: 191).
O outro exemplar corresponde ao apêndice caudal de uma fíbula de cabuchão do
tipo 4h de Schüle (1969: 148), vulgarmente designada por “tipo transmontano”. Trata-se
de um tipo muito disseminado em todo o Ocidente peninsular (embora se aceite que o
seu centro difusor se encontre na Meseta), com peculiar incidência nos séculos III-II a.
C. (Ponte, 2001: 332, cit. em Vilaça et alii, 2002-2003: 191). Registe-se a existência de
uma outra peça semelhante proveniente do Monte de S. Martinho (55) (Leitão, 1988).
Da Tapada das Argolas provêm ainda duas placas em bronze decoradas (uma
subquadrangular, outra subtriangular) de difícil classificação (placas de cinturão?) que
R. Vilaça (et alii, 2002-2003: 192 e figura 8 n.º 1 e 2), através da análise dos motivos
decorativos que ostentam e de exemplares análogos encontrados na Extremadura
espanhola, enquadra nos momentos finais da Idade do Ferro.
Igualmente de difícil caracterização é a placa subrectangular em bronze,
decorada com entrançados e ziguezagues gravados, recolhida nas escavações do Castro
de S. Miguel de Amêndoa (112) (Pereira, 1970a: 253). Os cinco orifícios que apresenta,
levam-nos a presumir que poderá tratar-se de uma placa de cinturão que seria fixada por
rebites.
29
A. V. Rodrigues (2002: 66-67) menciona o aparecimento de uma fíbula de cavalinho em bronze no
Castelo de Marialva (19). No entanto, trata-se de uma mera referência em que o autor não apresenta
qualquer registo do dito exemplar. Pelo que, não o incluímos neste estudo e apenas alertamos para a
necessidade de conferir este dado.
95
6.3.3. ARTEFACTOS DE FERRO
Relativamente aos materiais metálicos em ferro pouco haverá a comentar,
devido ao limitado e constrangedor número de objectos conhecidos.
A conteira e espada de ferro provenientes da Tapada das Argolas são as únicas
peças que se encontram devidamente estudadas (Vilaça et alii, 2002-2003: nº 16 e 17).
A conteira de forma cónica e alvado subcircular deveria ser parte integrante de uma
lança, o que só por si é pouco para a podermos integrar num período cronológico
preciso. Por outro lado, a espada de ferro parece apresentar afinidades tipológicas com
as espadas de “tipo La Tène” (escassamente representadas em Portugal), podendo assim
integrar-se nos momentos mais tardios da Idade do Ferro (Vilaça et alii, 2002-2003:
192). Esta peça exibe a singularidade de se encontrar intencionalmente dobrada na zona
mesial, o que poderá indicar uma prática ritual de inutilização de armas, normalmente
associado a contextos sepulcrais.
Por fim, M. H. Pereira (1970a: 244-251) dá-nos conta de um conjunto de
materiais em ferro provenientes do castro de S. Miguel de Amêndoa: uma ponta de
lança de falso alvado 30 , um escopro de lâmina com secção subrectangular, uma falcata
(ou faca?) e um machado de alvião. Tratam-se de materiais de prolongada utilização,
pelo menos adentro a época romana, cuja ocupação se encontra atestada neste local.
Apesar de terem sido recolhidos em escavação (dirigida por João Calado Rodrigues nos
anos 50), não dispomos de informação que integre tais elementos na estratigrafia do
sítio. Deste modo, torna-se difícil determinar a que época específica estarão
relacionados.
Para além de se constatar o alto valor simbólico destes elementos (quer objectos
de adorno em bronze, quer armamento em ferro), é difícil, dada a escassez de objectos
ou pela sua aparente descontextualização, tecer muito mais considerações sobre esta
temática.
A tendência fortemente celtizante que aparentam muitas destas peças, deverá ser
atestada e devidamente caracterizada com o prosseguimento da investigação.
30
Regista-se a referência ao aparecimento de uma ponta de lança em ferro próximo do povoado de
Sortelha-a-Velha (101) (Monteiro, 1978), da qual não dispomos de informações suficientes para a
incluirmos neste estudo.
96
6.3.4. A OURIVESARIA
Uma das categorias mais carismática da cultura material dos finais deste Ferro
Pleno é o que convencionámos designar por depósitos de joalharia em prata,
vulgarmente apelidados de tesouros argênteos.
Todas as peças se encontram já devidamente estudadas e publicadas
(principalmente por Raddatz (1969) e o espólio proveniente de Monsanto publicado por
Leite de Vasconcelos (1920) foi recentemente estudado por C. Fabião (2004), no
entanto pensamos que levantam várias questões que merecem ser aqui brevemente
debatidas.
Trata-se essencialmente dos conjuntos procedentes do Casal do Chão das Casas
(113) (Vila Velha de Ródão), Soalheira do Barbanejo (61) (Monforte da Beira) e
Monsanto da Beira (95), constituídos por braceletes, torques, fíbulas e vasos de prata.
De Monsanto contamos com dois braceletes de prata. Um é constituído por uma
chapa laminar com extremidades rematadas de forma rectilínea onde se encontra
decorado com matrizes e punções, muito semelhante a peças encontradas nos tesouros
do Alto Guadalquivir (Fabião, 2004: 64). O outro exemplar é mais simples, apenas
composto por uma chapa estreita planoconvexa com vestígios de decoração cinzelada.
Do Casal do Chão das Casas regista-se a presença de mais um bracelete maciço
aberto em prata.
O conjunto dos torques é o mais representativo, onde Monsanto contribui com
seis exemplares. Dois deles são mais complexos: um é constituído por arame filiforme
de prata, com zona central batida (onde apresenta decoração pontilhada puncionada),
com extremidades reviradas e fundidas formando olhais; o outro é formado por fio
grosso de prata, ostentando na área central decoração aplicada em filigrana formando
meandros entre faixas (Fabião, 2004: 64). Os restantes quatro objectos consistem em
colares entrançados formados por três grossos fios de prata com extremidades
rematadas em olhais. Enquadram-se nos chamados “torques ibéricos” onde se incluem
igualmente os dois exemplares de Casal do Chão das Casas e os quatro elementos da
Soalheira do Barbanejo. Neste último local foi ainda identificado um torque em ouro (a
única peça neste metal) com entrançado mais elaborado (Parreira e Pinto, 1980: 8).
97
Os modelos que mais se assemelham a estes objectos de prata provêm dos
tesouros de Badajoz (Raddatz, 1969: 200) e correspondem a tipos muito difundidos na
área ibérica e celtibérica nos finais da época pré-romana.
De Monsanto são ainda procedentes quatro fíbulas de prata, apenas com molas e
fuzilhões em ferro. Duas apresentam um esquema idêntico aos modelos “La Téne I”,
outra ao “tipo La Téne II” e a última, mais complexa, semelhante às de cavaleiro sobre
arco com cena venatória sobre o pé e prótomos de cavalo no eixo (também característica
dos esquemas técnicos formais de “La Téne”) (Fabião, 2004: 64-65). Todas têm os seus
paralelos mais próximos na actual Andaluzia espanhola, maioritariamente concentrados
no Alto Guadalquivir (Martín Bravo, 1999: 219).
Por último, deveremos mencionar os quatro vasos de prata igualmente
provenientes de Monsanto da Beira. Três deles possuem uma forma troncocónica e
fundo hemisférico achatado, enquanto o outro apresenta um corpo mais globular e
decoração incisa e repuchada (Gomes e Beirão, 1988). O destaque deste conjunto vai
para o exemplar que ostenta uma inscrição (“grafito”) celtibérica com caracteres
ibéricos de variante característica do Vale do Ebro (Martín Bravo, 1999: 220). Estes
objectos encontram semelhanças com espólio referido no SE peninsular para contextos
culturais do século III-II a. C. (Gomes e Beirão, 1988: 135).
A primeira apreciação que poderemos fazer centra-se na concentração destes
depósitos numa região delimitada da Beira Interior Sul.
Por outro lado, verifica-se um auge de produções de objectos em prata na
joalharia dos finais do Ferro Pleno em detrimento do ouro utilizado no Bronze Final.
Segundo Martín Bravo (1999: 219), esta situação identifica-se igualmente na
Extremadura espanhola, na Meseta norte e na celtibéria. Tal facto numa área tão
afamada pelos seus recursos auríferos (“aurifer Tagus”), não ficará a dever-se
certamente à dificuldade de aprovisionamento daquele metal. Parece antes demonstrar
que o ouro deixa de desempenhar o papel emblemático que adquirira em épocas
anteriores (nomeadamente no Bronze Final).
Do mesmo modo, a produção ou utilização de objectos em prata poderá atestar a
existência de contactos ou influências meridionais orientalizantes. O conhecimento do
processamento técnico para obtenção daquele metal, o trabalho de transformação que
98
implicam e a decoração que ostentam tais artefactos presumem a existência de
influências orientais que apenas terão chegado à costa levantina e meridional peninsular
após o século VIII a. C. (Gomes e Beirão, 1988: 135).
Este facto leva-nos a questionar onde terão sido produzidas ou quem serão os
artifícies encarregues de transformar as peças em apreço.
Se é certo que estes artefactos apresentam afinidades genéricas com vários
conjuntos das regiões meridionais, C. Fabião (2004: 71) afirma que as mesmas
conjugam igualmente um número apreciável de singularidades expressas essencialmente
nas fíbulas de Monsanto. Circunstância que parece individualizar esta região e
Extremadura espanhola face às duas tradicionais grandes áreas produtoras – a região
meridional e o noroeste peninsular.
Estes objectos poderão reforçar a tese que defende a presença de uma área
autónoma em relação às anteriormente consagradas (Fabião, 2004: 71). Mas estas
singularidades estilísticas permitirão falar de um novo centro produtor que abasteceria
não só esta região como também a Extremadura espanhola?
Para além de termos de equacionar a possibilidade destas peças terem chegado a
esta região através das rotas de intercâmbio, também poderemos imaginar que tais
caminhos estariam abertos à deambulação de especialistas familiarizados com as
técnicas de ourivesaria orientalizante. Estes artifícies encarregar-se-iam de atender a
demanda de pessoas mais destacadas da sociedade indígena, através da reprodução de
protótipos exógenos ou na elaboração de raiz de um conjunto de adornos que
apresentam novos esquemas de representação, outras iconografias de gosto conceptual
eminentemente local ou regional. Esta conjuntura derivaria em pequenas variações
regionais, pelo que em vez de um novo centro produtor, pensamos ser mais correcto
determinarmos novas áreas culturais.
Outra questão que poderemos colocar debate-se com o significado que tais
depósitos encerram. A ocultação de valores é um fenómeno comum em diversos
momentos da Antiguidade, que no entanto reservam distintos intuitos. C. Fabião (2004:
68) alerta para a possibilidade destas jóias, além de objectos de adorno e pelo seu valor
intrínseco, poderem ser interpretadas como reservas de riqueza utilizadas como
elementos de troca. Contudo, depois de analisar o conjunto de Monsanto, este autor
99
demarca-se desta apreciação conferindo àquelas uma única utilidade ornamental,
utilizadas por determinado indivíduo ou grupos de elite local.
O ocultamento de peças com estas características, que também nestes casos
concretos surgem associadas a espécies numismáticos (denários de prata) é, de igual
modo, atribuído a situações de instabilidade, designadamente movimentações militares.
Nesta perspectiva, a sua datação parece relacionar estes conjuntos a episódios bélicos da
conquista romana do extremo ocidental peninsular, nomeadamente com as guerras
sertorianas. Uma outra justificação, não necessariamente exclusiva, poderá assentar na
hipótese de constituírem o produto de saques efectuados nas regiões meridionais, facto
que se encontra devidamente documentado nas fontes clássicas.
Para melhor determinar o “agente da ocultação” ou as “circunstâncias do
ocultamento” seria imprescindível dispormos de mais informação sobre as condições
destes achados. De facto, sobre o depósito do Casal do Chão das Casas nada sabemos, e
relativamente ao de Soalheira do Barbanejo apenas poderemos tentar associá-lo, devido
à sua proximidade, com o povoado do Monte do Castelo de Monforte da Beira.
Não obstante, o caso de Monsanto reveste-se de certas particularidades que nos
leva a colocar algumas reservas em relação às simplistas classificações atrás expostas.
Por um lado, é difícil de estabelecer, desconhecendo os contextos originais de
deposição, se a existência destas jóias denuncia a presença de “chefes”. A possibilidade
de estas terem sido aparentemente “importadas” do Alto Guadalquivir, uma área com
organização social complexa, não valida, só por si, que o seu valor simbólico original se
lhes tenha mantido adstrito. Nenhuma evidência comprovou até hoje que Monsanto
tenha sido um lugar de habitat ou residencial durante o I milénio a. C.
Paralelamente, lembre-se que este local é o mais impressionante monte-ilha de
toda a Beira Baixa. As suas características topográficas e respectiva posição ou
peculiaridades (vários afloramentos graníticos à superfície) fazem do monte de
Monsanto um ponto de referência avistado a grandes distâncias. Alguns autores têm
vindo a alertar para o significado que tais locais identitários poderão encerrar durante a
pré-história (Tilley, 1996; Bradley, 1998 cit. em Vilaça, 2000a: 34).
100
Esta conjuntura leva-nos a supor que a este lugar estavam restringidas quaisquer
actividades profanas. Seria um ponto para ser contemplado mas não habitado 31 . O
povoamento processava-se no seu envolvimento em sítios como a Moreirinha e
Alegrios (durante o Bronze Final, uma vez que para o Ferro Pleno não se conhece até ao
momento nenhum povoado próximo de Monsanto).
Caso se confirmem as nossas suspeitas, os artefactos aqui recolhidos poderão
reflectir não um vulgar entesouramento mas sim depósitos votivos, simples oferendas a
divindades.
31
A reserva de locais bastante destacados e ocupação de outros em seu redor não tão distintos parece não
ser exclusiva desta região. Note-se, neste sentido, o povoado de Castelo Velho de Freixo de Numão
(embora datado do Bronze Médio) que não se instala no local mais destacado da área mas sim num outro
sítio (também eminente) de onde se tem uma visão privilegiada daquele – o monte de S. Gabriel (Jorge,
1995: 37).
101
7. A PROBLEMÁTICA SUBJACENTE AOS “CASTROS MISTOS”
O problema da continuidade/descontinuidade ocupacional dos povoados do
Bronze Final é um dos mais prementes para a compreensão da evolução do povoamento
ao longo do I milénio a. C.
De momento apenas se distinguem sítios com ocupações curtas e únicas de
outros com mais de uma ocupação ao longo do I milénio a. C., embora nunca
sequenciais. Estes foram designados por Leite de Vasconcelos (1895: 7, cit. em Vilaça,
2004a: 50) de “castros mistos”.
Lugares como o Monte do Trigo (90), Alegrios (94), Moreirinha (96) e Monte
do Frade (104) são abandonados nos finais do século IX ou primeira metade do século
VIII a. C. (Vilaça, 1995a). Todavia, no povoado da Cachouça (89) verifica-se uma
continuidade de ocupação até século VII-VI a. C. (Vilaça e Basílio, 2000). Por outro
lado, 23 dos povoados (37%) que revelam uma ocupação do Bronze Final são
novamente reocupados no Ferro Pleno, sendo que 17 destes são romanizados (vide
tabela 2). Apesar disso, o reconhecimento de uma ocupação posterior ao Bronze Final
não traduz, necessariamente, uma continuidade cultural. Desconhece-se, na Beira
Interior, qualquer sítio que tenha revelado indícios seguros de uma ocupação estável e
permanente ao longo do I milénio a.C. No entanto, se transitarmos da escala local (do
povoado) para uma análise micro-regional, constata-se que todas estas áreas uma vez
habitadas durante o Bronze Final, continuarão a ser sempre ocupadas.
A existência de um padrão geral de continuidade civilizacional não apresenta
rupturas profundas, apesar das situações de abandono de povoados e, sobretudo, do
“depauperamento” de certos modelos de assentamento ou seu ressurgimento em moldes
ligeiramente divergentes.
Vários autores assentam a interpretação deste complexo fenómeno em oscilações
demográficas, que estimulariam processos de crescimento e povoamento de territórios
ou a sua inversa retracção e abandono de espaços anteriormente ocupados. Verifica-se
ao longo do I milénio a. C. uma conjuntura que parece corroborar este aumento
demográfico. Uma das circunstâncias que melhor o poderá documentar é a ampliação
das dimensões dos povoados do Ferro Pleno. Este dado é, no entanto, rebatido por
aqueles que interpretam tal situação como um exemplo de concentração da população e
consequente decréscimo do número de povoados em relação ao Bronze Final. Contudo
102
o nosso estudo confere uma imagem algo discordante desta análise. Dos 93 povoados
inventariados, 59 reportam-se ao Bronze Final (tabela 1) enquanto 55 se circunscrevem
ao Ferro Pleno (tabela 2), não se assistindo a uma grande assimetria da porção de
povoados ocupados durante aqueles dois períodos. Não obstante, a articulação de vários
factores que aparentam espelhar um crescimento demográfico contribuirá para justificar
outros como a intensificação de exploração de certos recursos, o aumento de tensões
entre comunidades, a relevância adquirida pelas funções guerreiras e sequente
complexificação das hierarquias sociais. Todavia, perante o leque de informações de
que dispomos, abstemo-nos de aprofundar esta discussão que se transformaria num
mero exercício retórico.
Ao analisarmos os povoados do Bronze Final que denotam reocupações
posteriores, apenas podemos traçar um conjunto mínimo de conjecturas tendo em conta
as características comuns que ostentam. Um dos aspectos mais interessantes é expresso
pelo facto de 14, daqueles 23 povoados, se localizarem sobre as linhas de fronteira entre
populi que demarcámos (vide mapa 7), os que se convencionou chamar de “povoados
sentinela”. Os restantes usufruem de amplo domínio visual sobre estes limes (como a
Pedra Aguda (5) e Vilar Maior (46)), ou ocupam uma posição central nestes territórios
(como Monte de S. Martinho (55) e Sabugal (39)). Todos se integram nos principais
eixos de comunicação e exercem um controle sobre as principais vias de circulação
naturais (vide mapa 6). Este facto poderá indicar a subsistência milenar tanto de
corredores de circulação como da demarcação dos territórios dos diversos populi.
Do mesmo modo, a manutenção (ou reocupação) de um conjunto de exemplares
face à antiga malha de povoamento revela que não terá existido um efectivo colapso
destas mesmas redes. A transformação que poderá denotar-se na sociedade não afecta
necessariamente os principais vectores de continuidade de ocupação e controle de
territórios cujas raízes se moldam no Bronze Final.
Não obstante, continuamos por desvendar como o processo histórico, baseado na
continuidade estrutural entre Bronze Final, Ferro Inicial, Ferro Pleno e até
Romanização, evoluiu e se materializou. A falta de dados, que temos vindo
insistentemente a invocar, não nos permite determinar a cronologia fina e a diacronia de
ocupação destes povoados nem deliberar como é que estes interagiram neste diálogo
transcultural. Assim que deixamos o Bronze Final, avançamos para um longo período
onde os parcos e difusos vestígios conhecidos, dificultam e ofuscam o seu
103
reconhecimento. Cremos que a resolução desta problemática passará pelo incremento de
acções que privilegiem o estabelecimento de bases definidoras que permitam a perfeita
caracterização da Idade do Ferro na Beira Interior, nomeadamente do Ferro Inicial.
Regista-se, nos 23 povoados que isolámos, um suposto hiato num período inicial
da Idade do Ferro. Parece-nos incompreensível a existência de um fenómeno de
convergência que determina a ocupação de um espaço no Bronze Final e Ferro Pleno
intercalado por uma fase de abandono.
Como adscrevemos, o Ferro Inicial é definido como o momento de “transição”
entre o Bronze Final e uma verdadeira Idade do Ferro, o Ferro Pleno. Ao atestar-se a
ocupação durante este período nos “castros mistos” acima referidos, estaríamos a
comprovar a existência de uma continuidade ocupacional durante o I milénio a.C.
naqueles povoados. No entanto, por simples que pareça, a definição de uma ocupação
do Ferro Inicial ganha contornos bastante complexos pois não existem, até ao momento,
quaisquer “fósseis directores” que o permitam individualizar e caracterizar.
Os poucos povoados em que conferimos um período de ocupação do Ferro
Inicial acusam, ao nível das estratégias de assentamento, uma diversidade que tanto se
aproxima do Bronze Final como do Ferro Pleno. Relativamente à cultura material,
nomeadamente o registo cerâmico, o exemplo da Cachouça (89) demonstra a existência
de um certo arcaísmo (embora acompanhado com algumas inovações). Coexistem as
formas carenadas e os potes de lábios serrilhados típicos do Bronze Final, com outros
elementos, como as cerâmicas penteadas de influência mesetenha, que continuam a ser
fabricados no Ferro Pleno.
Julgamos que a observação de tão recorrentes descontinuidades nas dinâmicas
de povoamento ficará a dever-se, essencialmente, ao profundo desconhecimento que
ainda temos sobre os artefactos característicos (se é que realmente existem) da mais
antiga fase da Idade do Ferro na Beira Interior. Por outro lado, ao identificarem-se
materiais adscritos ao Bronze Final e ao Ferro Pleno num mesmo local, poderá
constituir um bom indício de continuidade cultural nestas mesmas áreas.
Com efeito, enquanto os trabalhos desenvolvidos se consubstanciarem em
prospecções, que se resumem à identificação de novos povoados ou à recolha de
materiais à superfície, este problema subsistirá. Urge traçar novos caminhos de
investigação para que se considere o Bronze Final como uma fase cronológico-cultural
104
autónoma; o Ferro Inicial, apesar de um período de transição, como uma fase com
identidade própria; e o Ferro Pleno como uma etapa adentro o século V a. C. que poderá
resultar de vários e complexos factores.
Como vimos (capítulo 5), a intensificação dos trabalhos que estão a ser
desenvolvidos em locais como o Sabugal (39), Sabugal Velho (29) e Castelos Velhos ou
Póvoa do Mileu (11) poderão contribuir para a desmistificação do Ferro Inicial naquelas
regiões. No entanto, falar em continuidade não significa a manutenção da mesma lógica
de relacionamento entre as populações e o espaço onde se instalaram. Cremos que a
resposta adequada a esta controvérsia deverá ser encontrada em projectos orientados
para uma escala regional. Com a realização de escavações conduzidas cientificamente
de um conjunto de povoados que permitam identificar níveis selados, definindo-se
assim critérios ergológicos para cada período enquadrados por datações absolutas e
determinando as especificidades daqueles que são definitivamente abandonados e as
particularidades dos que se mantém ou são novamente reocupados.
Neste particular, apraz-nos destacar em especial a região da bacia hidrográfica
do curso médio e final da ribeira da Meimoa, nomeadamente o caso dos povoados do
Cabeço da Argemela (83), Quinta da Samaria (69), Tapada das Argolas (79) e Covilhã
Velha (86). Para além da coerência espacial, revelam um conjunto de características
comuns sendo interessante descortinar como terão interagido ao longo deste processo
transcultural. Todos eles se situam sobre linhas de fronteira entre populi (vide mapa 7),
dominando visualmente importantes áreas de circulação (vide mapa 6). Ambos revelam
indícios de terem sido ocupados no Bronze Final, Ferro Pleno e (exceptuando a Quinta
da Samaria) Romanizados.
A qualidade e variedade do espólio conhecido ou recolhido em cada um deles,
permite-nos ainda avultar os sítios da Quinta da Samaria e Tapada das Argolas. No
primeiro, foi possível recolher vários fragmentos de taças carenadas (Est. IV), bordos
serrilhados (Est. V – 2), recipientes ao torno (Est. VI - 2 a 4 e Est. VII – 1), um
fragmento decorado com estampilha (Est. VII – 3) e outro com banda pintada (Est. VII
– 4). Na Tapada das Argolas, para além da igual diversidade de formas cerâmicas,
destaca-se a relevância do achado de um conjunto de metais (ímpar até agora na Beira
Interior), que apontam para prováveis ocupações na transição do III para o II milénio a.
105
C, do II para o I milénio a. C. (Vilaça et alii, 2002-2003) e dos finais da Idade do Ferro
para a romanização (Carvalho et alii, 2002). Importa verificar se estes locais terão sido
ocupados na fase de transição entre Bronze Final e Ferro Pleno e, assim, comprovar ou
refutar uma utilização contínua ou permanente durante o I milénio a. C.
Pelo que ficou exposto, urge conhecer, através de novos projectos de
investigação, a Idade do Ferro, afinal, uma das fases piores conhecidas da proto-história
da Beira Interior.
106
8. A
EXPLORAÇÃO MINERALÓGICA E A PRODUÇÃO METALÚRGICA NA
BEIRA
INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO a.C.
Às escassas informações existentes sobre a exploração de minério na Beira
Interior junta-se a tarefa ingrata e quase impossível de detectar sinais evidentes dessa
extracção durante o I milénio a. C.
No entanto, a identificação de artefactos arqueológicos em certas explorações
mineiras poderão abonar essa actividade em época pré-romana.
O caso mais mediático reporta-se ao complexo das minas de cobre de QuartaFeira 32 (42) (Sortelha). Neste local foi recolhido a 12m. de profundidade um machado
de talão de uma argola (Correia, 1905: 206). A presença de tal objecto e de outros cinco
machados de pedra polida, identificados numa outra mina desta exploração, poderá
certificar o antigo exercício desta actividade (Vilaça, 1995a: 86).
Nas minas de Colmeal (na margem esquerda da ribeira da Gaia, Belmonte)
foram também recolhidos quatro picos de rocha dura e um percutor que poderão
associar-se à exploração estanífera na região em época pré-romana (Allan, 1965: 19;
Domergue, 1987: 511 e Vilaça, 1995a: 78).
A descoberta de um machado plano a dois metros de profundidade, quando se
procedia à exploração aluvionar estanífera na zona do Cabeço da Quinta das Flores
(Vela, Guarda) (Cardoso, 1959: 122-123, cit. em Vilaça, 1998b: 351), poderá
aprofundar estas evidências.
Em relação à exploração aurífera, a técnica privilegiada terá sido a lavagem de
areias aluvionares através de canais abertos no solo e em poços (Fernández Nieto, 197071: 256) ou o uso da prática de batear. Este último trata-se de um método simples que
desafortunadamente não perpetua qualquer tipo de vestígios arqueológicos. Para além
disso,
trabalhos
posteriores
(comportando
técnicas
mais
destrutivas),
terão
sucessivamente eliminado estes testemunhos.
32
Tem vindo a ser referido na bibliografia (Domergue, 1987: 522 e Vilaça, 1995a: 86) que tal achado terá
ocorrido na mina da Bica. No entanto, M. Osório (2005a: 37-38), após consultar os registos camarários de
licenciamento, afirma que à data do achado apenas as minas da Tapada da Tenda e Vale de Arca se
encontravam em funcionamento.
107
Com efeito, ainda hoje moldam a paisagem (junto aos terraços fluviais de alguns
rios atrás mencionados) imensas cicatrizes resultantes de escavações a céu aberto,
compostas por areia e cascalho, designadas localmente por “conheiras”. Os vestígios
mais impressionantes encontram-se nas margens do Erges (junto a Monfortinho), da
Meimoa (junto à Presa e Covão do Urso, Penamacor) (Allan, 1965: 17-19; Domergue,
1987: 511-512 e Sánchez-Palencia e Pérez Garcia, 2005) e das ribeiras de Codes e
Codegoso (próximo das populações de Milreu e Lousa, Vila de Rei) (Barbosa et alii,
1998).
Contudo, torna-se difícil estabelecer a sua época de laboração. Pensamos que
estes vestígios mais acentuados se relacionem com a exploração em época romana. No
entanto, evidencia-se uma relação de proximidade entre estas “conheiras” e alguns
povoados com ocupação proto-histórica. A título de exemplo destacamos os casos do
Castelo Velho do Caratão (127), Cerro do Castelo (111), Nª. Sr.ª da Confiança (110)
(Batata et alii, 1999: 32) 33 .
De facto, constata-se igualmente uma certa imediação entre povoados e zonas de
extracção de metal noutros pontos desta região.
Na área do Alto Zêzere (fértil em recursos estaníferos de aluvião) regista-se uma
grande densidade de povoamento, tanto do Bronze Final como da Idade do Ferro 34 .
Realçamos, entre outros, a posição do povoado da Quinta da Chandeirinha (53)
(também, em relação a este aspecto, referido por R. Vilaça (1998b: 351) e o da Serra da
Rachada (75), implantados numa situação dominadora sobre esta região mineira.
Mas que significará esta relação de proximidade? Poderemos aventar a hipótese
de estarmos perante povoados mineiros?
As evidências arqueológicas apuradas nos povoados escavados por R. Vilaça
(Castelejo (41), Cachouça (89), Monte do Trigo (90), Alegrios (94), Moreirinha (96),
Monte do Frade (104)), assim como Monte de S. Martinho (55), Castelo Velho de
Caratão (127) ou Cabeço da Argemela (83), demonstram a prática da metalurgia através
da presença de moldes, cadinhos ou pingos de fundição (Vilaça, 1998b: 351). Esta
33
Para além de outros sítios mencionados no catálogo B, onde destacamos o Monte da Picota (108B) pela
posição de absoluto domínio visual que apresenta sobre o rio Erges.
34
Note-se também relativamente a esta região a grande concentração de povoados ainda não confirmados,
assinalados no catálogo B.
108
circunstância permite considerar que em cada povoado se desenvolvessem trabalhos de
redução e transformação do metal. Contudo, R. Vilaça (1998b: 351) aponta para uma
produção muito modesta que indicia a existência de “povoados metalúrgicos” mas não
povoados mineiros durante o Bronze Final.
Não obstante, sobre a mineralização do ferro, esta questão continua envolta
numa mais acentuada obscuridade.
Assistimos no Sabugal Velho a uma proximidade com minérios de ferro que terá
sido certamente explorado no período alto medieval, transformando este local em
povoado mineiro (Osório, 2000c). No entanto, sobre a possibilidade de uma exploração
artesanal deste minério na Idade do Ferro não existem sinais materiais seguros que
induzam tal acção.
Próximo do povoado do Castelo Vieiro (23) (na vertente Este) foram
identificadas grandes quantidades de minério de ferro em bruto e escórias resultantes da
sua metalurgia. Também no povoado da Tapada das Argolas (79) regista-se o mesmo
facto numa área planáltica imediatamente adjacente a NE deste local. Para além destes,
evidencia-se a presença de níveis consideráveis de escórias de ferro nos povoados de
Castelos Velhos (11) (Guarda), Castelo dos Prados (24) (Pinhel), Tapada do Castelo
(17) (Longroiva) e Cabeço das Fráguas (8).
No entanto, estes indícios são insuficientes para que se possam tecer grandes
comentários a seu respeito. Continuamos sem ter noção da capacidade tecnológica das
comunidades da Idade do Ferro para extrair ou produzir tal metal. Por outro lado,
enquanto não se realizarem escavações nestes povoados, teremos que colocar reservas a
estes indicativos pois a totalidade destes locais evidencia uma continuidade ou
reocupação durante o período romano.
109
9. AS
VIAS DE CIRCULAÇÃO NATURAIS NA
BEIRA INTERIOR
DURANTE O
I
MILÉNIO a. C.
Ao adscrever-se o “poder” no Bronze Final ao domínio das vias de circulação
(Vilaça et alii, 2000: 214), motivado essencialmente pela cobiça de determinados
recursos (principalmente os metalíferos) e pela intensidade e diversidade das trocas inter
e supra regionais, torna-se imprescindível a tentativa de traçar essas linhas de
comunicação da antiguidade pré-romana.
Falamos de comunidades que teriam uma relação de aproximidade com o espaço
que habitam e que constitui a sua área de exploração. É indiscutível a importância das
relações de mobilidade que compuseram as estruturas de interacção entre os grupos do I
milénio a.C.
No entanto, a invisibilidade dos caminhos antigos ou a carência de estruturas e
elementos construtivos reconhecíveis fisicamente dificulta sobremaneira este tipo de
estudo. O esforço na sua dissecação deverá assentar essencialmente em contextos
geográficos, concentrados nas características hidro-orográficas de uma dada região
(Vilaça et alii, 1998: 35), que poderão delinear vias naturais de circulação. Esta análise
deverá conjugar-se com a articulação dos espaços ou lugares imediatos (habitats), tendo
em conta uma certa atemporalidade quando se ensaia a decomposição da paisagem de
outrora. Neste sentido, nunca poderemos afirmar com segurança total qual a estrutura
exacta destes caminhos, mas apenas “intuir e sugerir os seus rumos e orientação e zonas
habituais de passagem” (Vilaça et alii, 1998: 35).
A Beira Interior terá sido um local de confluência de diferentes tradições
culturais, especialmente oriundas do mundo mesetenho continental e mundo litoral
atlântico. Para tal, deverá ter contribuído uma situação e posicionamento próprios,
aliados a uma variedade de recursos, que terão transformado esta região numa passagem
obrigatória entre Norte e Sul.
Esta região interior encontra-se “limitada” a Norte pelo Douro e a Sul pelo Tejo,
duas das mais importantes redes fluviais da Península Ibérica. As bacias destes dois rios
rasgam esta ampla região através dos seus afluentes (alguns poderão considerar-se
importantes vias naturais de circulação) diluindo-se na área setentrional da Beira Baixa,
com o prolongamento de um braço do Tejo pelo Alto Zêzere e das águas do Douro pelo
Alto Côa (Vilaça, 2000b). Destaca-se, no entanto, o rio Tejo que poderá ser considerado
110
também um eixo flúvio-marítimo reconciliando a região interior e continental do oriente
peninsular com o litoral atlântico (Vilaça, 1998a: 205; Vilaça et alii, 1998: 37).
A orografia, marcada pelas serras da Cordilheira Central, beneficia e facilita
igualmente a fluidez na Beira Interior.
Entre os “corredores naturais” de circulação mencionamos, em primeiro lugar, o
que se forma (ao longo de 10 Km.) entre a Gardunha e a Malcata/Mesas (Ribeiro et alii,
1987: 151), tantas vezes invocado por R. Vilaça (et alii, 1998: 36; 1998a: 205; 2004:
43). Outro curso natural de extrema importância encontra-se expresso pela Cova da
Beira. Este “acidente” geográfico terá tido um papel assinalável em relação às
influências provenientes da meseta ocidental, abrindo-se a noroeste até às faldas do
planalto Guarda/Sabugal (Vilaça, 2004: 43). Mais a norte, a extensa superfície do
planalto mesetenho é delimitada a ocidente pela denominada falha ou depressão de
Longroiva (Ferreira, 1971). Este acidente tectónico forma um extenso vale (“graben” de
Longroiva) que se prolonga até Vilariça (Silva e Ribeiro, 1991: 7), constituindo uma
excelente via de comunicação natural que facilitaria a circulação até à região
setentrional do rio Douro.
Os factores económicos terão igualmente viabilizado a delineação de caminhos.
O aproveitamento de variados recursos deverá ser entendido através da interacção dos
grupos em articulação com a sua respectiva área de exploração, que comportará decerto
um conjunto de percursos pendulares de ida e volta. Facto que expressará um modo de
territorialização (Vilaça et alii, 1998: 37).
A abundância de recursos metalíferos terá contribuído para a instalação de “rotas
emblemáticas” (Vilaça et alii, 1998: 37). Interligavam-se as zonas de extracção mineira
(matéria-prima), zonas de produção metalífera e zonas de escoamento de produção. Este
facto materializa não só a afluência de pessoas vindas de fora, como também a
intensificação de trocas que poderão ter sido de longo curso. A presença de âmbar
originário do mar Báltico no povoado da Moreirinha (Beck e Vilaça, 1995) deverá ser
demonstrativo da existência de relações “comerciais” de longo alcance (Kalb, 1998:
163).
Outra actividade como a transumância merece a nossa atenção. A tentativa de
demonstrar que este modo peculiar de racionalização da criação de gado poderá
remontar à proto-história encontra-se envolta de grande polémica. No entanto,
pensamos dever aqui reter-nos um pouco. Caso esta remota antecedência se verifique
111
podemos retirar pistas interessantes da análise daqueles caminhos ancestrais que se
definiram ao longo dos tempos e perduraram, na Beira Interior, até há escassas décadas
atrás. Não nos esqueçamos que a transumância para além de fruto de condicionalismos
físicos (oro-climáticos), humanos e históricos é, também, um movimento de Homens.
As teorias que vigoram sobre o pastoreio antigo na Península Ibérica encerramse num certo extremismo de opiniões. De um lado, encontram-se os defensores de que
esta actividade terá sido importante na Antiguidade e que, na ausência de testemunhos,
baseiam os seus argumentos nas características oro-climáticas das regiões e na tradição
de anos recentes. Do outro, deparamo-nos com quem refuta tal pressuposto por falta de
vestígios que o creditem, acusando aqueles de assentarem as suas deduções num
anacronismo ao extrapolar para o passado remoto práticas recentes.
Entre os defensores de uma prática ancestral da transumância devemos destacar
o trabalho de E. Gálan Domingo e M. Ruiz Gálvez Priego (2001). Estes autores situam
no IV milénio a.C. a transformação do bosque mediterrâneo em pastagens para
aproveitamento pecuário, associando mesmo as estátuas menires e petroglifos a rotas de
transumância.
Os textos deixados pelos autores clássicos revestem-se, em relação a este
assunto, de uma certa ambiguidade que ambas as facções utilizam nas suas
argumentações. No que concerne a este ponto, gostaríamos de salientar a interpretação
que J. Sánchez Corriendo Jaén (1977) compõe de uma série de textos de Tito Lívio que
registam, entre os anos 193 a 180 a.C., embates anuais entre tropas romanas e os
lusitani na região do Guadalquivir. Estas contendas têm sido associadas ao pretenso
bandoleirismo imperante entre os povos lusitanos (Garcia Bellido, 1945). No entanto,
aquele autor, ao constatar que os incidentes aparentam ter sido provocados pelos
romanos e que terão decorrido sempre na primavera ou outono, conclui que estes grupos
de lusitanos (que visitavam o vale do Guadalquivir) seriam pastores e não ladrões
(Sánchez Corriendo Jaén, 1977). O facto das fontes latinas os considerarem tão
desfavoravelmente explica-se considerando que dispomos de uma única versão dos
conhecimentos, que deverá beber directamente as informações triunfalistas que os
governadores da província enviavam a Roma. Por outro lado, parece ser generalizada a
má fama dos pastores na antiguidade. Basta recordar que Orosio (5, 4, 1) apresenta
Viriato como homo pastoralis et latro.
Apesar de interessante, não deixaremos de colocar reservas a esta exposição de
Sanchéz Corriendo Jaén que deverá, contudo, contribuir para engrossar o rol de
112
interpretações sobre o belicismo dos povos lusitanos, sistematizadas recentemente por J.
Alarcão (2001: 338-342).
Embora se continue por esclarecer se a prática da transumância poderá remontar
à Antiguidade, daremos conta de algumas destas rotas expressas em bibliografia
específica. No entanto, estas deverão ser encaradas como mero ponto de referência pois
cremos que estas vias, mesmo que ancestrais, serão certamente mutáveis. Uma
multiplicidade de factores como a guerra, mercado de lã ou a própria preferência do
pastor poderá condicionar o traçado destas rotas. A sua análise consubstanciada numa
visão estática e intersecular utilizando um método comparativo, resultará numa
incorrecção pois não tem em conta realidades históricas e geopolíticas distintas. A
contemplação de paisagens imobilizadas (sobretudo em áreas montanhosas) definidas
como “reservas de tradição” não deve deixar de considerar todo o tipo de mutações
conjunturais.
Por fim, outro elemento para a discussão. É um dado adquirido que as vias
romanas foram um elemento fundamental para a romanização da Península Ibérica. Mas
terão esses caminhos sido criados ex novo por romanos? Parece-nos plausível asseverar
que os caminhos frequentados pela população indígena ou as rotas habituais de
passagem de origem ancestral, possam estar intimamente relacionadas com algumas das
futuras vias romanas, pelo menos as secundárias.
9.1. CAMINHOS E ZONAS DE PASSO.
Tentaremos esboçar os principais e sempre hipotéticos caminhos pré-romanos
(Mapa 6) 35 , tendo em conta as informações que diversos autores têm reunido a partir da
análise dos pressupostos atrás explanados.
Uma das fontes mais preciosas para este estudo encontra-se consubstanciada no
trabalho de R. Vilaça et alii (1998). Um dos principais trajectos apontado por aqueles
(1998: 40) partiria da região de Vila Velha de Ródão e seguindo o curso do Ponsul
alcançaria o Monte de S. Martinho (55) e seguidamente a região dos povoados do
Monte do Trigo (90), Cabeça Alta (87), Idanha-a-Nova (88), Cachouça (89) e Cabeço
dos Mouros (91). Aqui derivava um outro caminho oriundo de Malpica do Tejo (Monte
35
Este mapa deverá ser apenas encarado como uma ferramenta de apoio ao texto que se segue.
113
de S. Domingos (60)) e Monforte da Beira (61). Desta zona a via inflectiria para oriente
rumo a Norte acompanhando a linha de povoados da Moreirinha (96), Alegrios (94),
Pedrichas (100), Monte do Frade (104) e Cabeço do Escarigo (81). Deste ponto vários
trajectos se proporcionavam: para a região do Alto Zêzere através do corredor natural
que se forma entre Gardunha e Malcata; para a zona do Alto Côa e extremo ocidental da
Meseta por Vale da Sr.ª da Póvoa (106), Castelejo (41), S. Cornélio (43) e Vilar Maior
(46); para a Cova da Beira, a ocidente, aproveitando a bacia da ribeira da Meimoa
seguindo ao largo de povoados como a Tapada das Argolas (79), Pedra Aguda (78),
Quinta da Samaria (69) ou Cabeça Gorda (84). Este trânsito para a Cova da Beira
poderia igualmente efectuar-se através da rota delineada pelos povoados da Covilhã
Velha (86) e Cabeço da Argemela (83) ou de sul cruzando os contrafortes da Gardunha.
Neste sentido, julgamos possível perspectivar o caminho que apartava da região
de Abrantes, junto ao Tejo (cruzando povoados como Amoreira (118), Quinta da
Pedreira (119), Olival Comprido II (116) e Casal das Freiras I (117)) e que chegando ao
Ocreza flectia para norte (passando por Castelo Velho da Zimbreira (126), Cerca do
Castelo (108) e Cabeço dos Castelos (107)), e circulando pelo sopé das serras de
Alvélos e Muradal chegaria às faldas sul da Gardunha (Castelo Velho de Louriçal do
Campo (58)). As futuras vias romanas parecem, em certos troços, decalcar este traçado
(Batata, 2002: estampa XIV).
A circulação dirigida à Cova da Beira e, mais especificamente, para a região do
Alto Zêzere remataria um papel assinalável pela firmada riqueza estanífera.
A ligação para a periferia do planalto Guarda/Sabugal poderia efectuar-se por
um corredor que se estende até S. Estevão/Alto do Mosteiro. Vencendo-se este desnível
atingia-se a bacia do Côa que, segundo López Jimenéz (2002: 236), mantém bem
conservados alguns caminhos tradicionais de passagem (nomeadamente na parte mais
alta e encaixada). Aquele autor sugere assim vários caminhos: Sabugal (39), Caria
Atalaia (38), Ponte do Sequeiro, Almeida e Castelo Rodrigo e Sabugal, Castelos do
Ozendo (37), Souto (40), Sabugal Velho (29), Lajeosa em direcção ao Cabeço das
Mesas (López Jiménez, 2002: 236-237).
Pensamos ser possível traçar dois outros possíveis caminhos que beneficiariam
dos vales da ribeira das Cabras e da ribeira de Massueime. Do Castelo Mendo (1)
poderia rumar-se em direcção de Castelo Mau (2), Pinhel (25), Alto dos Sobreiros (20),
Bogalhal Velho (21) (confluência da ribeira das Cabras com o Côa) e Castelo de
Mouros de Cidadelhe (22) (confluência da ribeira de Massueime com o Côa); ou seguir
114
uma rota por Jarmelo (10), Castelo dos Prados (24), Castelo Vieiro (23) e Castelo de
Marialva (19). Ambas parecem ir derivar a Longroiva (17) onde, através do seu extenso
vale, se efectivava o trânsito para o planalto beirão e norte do Douro.
Em relação às rotas de transumância desta região ressalta um ponto em comum
que se concretiza no local de partida: a Cordilheira Central. Desta região os gados
partiam para invernar no Vale do Douro, atravessando terras como Castelo Rodrigo e
Castelo Melhor (como comprovam os forais destas populações) ou, com mais
frequência, para as Campinas de Idanha (Rosmaninhal, Malpica do Tejo, Zebreira e
Segura) e terras de além Tejo (Oliveira, 2000: 35).
Uma das rotas mais conhecidas é-nos transmitida por Orlando Ribeiro (194041). Os gados oriundos de Sabugueiro, Valezim ou Loriga atravessavam a Serra da
estrela em direcção a Unhais da Serra e Tortozendo até alcançar a Cova da Beira. Daqui
rumavam por Fundão, Alpedrinha, Vale Prazeres, Orca, S. Miguel de Acha, Oledo e
Idanha-a-Nova.
Outra via conhecida seria a que de Manteigas se direccionava por Aldeia do
Carvalho, Fundão, Alpedrinha, Alcongosta, Soalheira, Lardosa, Escalos de Baixo,
Escalos de Cima, Ponte do Moinheco, Ladoeiro e Rosmaninhal (Oliveira, 2000: 41).
Em alternativa ao Fundão poderia derivar por Valhelhas, Belmonte, Capinha,
Penamacor, Pedrógão, Proença-a-Velha e Idanha-a-Nova (Oliveira, 2000: 41).
Apesar das reservas relativas à antiguidade destes traçados, não podemos deixar
de evidenciar a sua importância no acesso à Cova da Beira/Alto Zêzere (zona de riqueza
estanífera) e à bacia do Tejo e seus afluentes (área de riqueza aurífera). Para além disso,
a importância que retomam nos contactos com o planalto beirão, vale do Douro/meseta
ocidental e Tejo.
Um outro aspecto curioso consubstancia-se na proximidade, que parece estar
latente, entre estes itinerários e alguns povoados (mapa 6).
115
10. A ARTE RUPESTRE NA BEIRA INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO a. C.
A arte rupestre é uma das manifestações artísticas do passado de maior
notabilidade. É geralmente considerada como exponente da criatividade humana e
documento único sobre formas de vida, da sensibilidade e das crenças das sociedades
que a produziram. Numa época em que a escrita é desconhecida (ou ainda incipiente e,
por enquanto, indecifrável), as informações que podemos retirar através da análise de
algumas gravuras poderão ser consideradas como complemento valioso para o
conhecimento de alguns aspectos das comunidades do I milénio a. C.
No entanto, os nossos limitados conhecimentos relativamente a esta temática não
nos permitem traçar novas conjecturas ao nível das características formais e
tecnológicas deste fenómeno. Este pequeno texto deverá ser entendido como uma
exposição dos principais resultados da investigação arqueológica referentes à arte
rupestre do I milénio a. C. na Beira Interior. Centraremos a nossa análise nos motivos
representados e sua situação geográfica ou ligação com o meio ambiente observável.
Neste sentido, teremos em linha de conta três conjuntos artísticos 36 que se
apresentam amplamente estudados e divulgados: o Côa e Alto Douro (figura 3), o Vale
do Tejo e a bacia hidrográfica do Zêzere (figura 6).
A arte sidérica constitui, a seguir ao Paleolítico Inferior, o momento mais
relevante da arte rupestre do Vale do Côa e Alto Douro. Foram aqui identificados 18
núcleos distintos (Baptista, 1999) que comportam diversas gravuras, classificadas da
Idade do Ferro (figura 3), obtidas através da incisão filiforme por intermédio de ponta
fina metálica ou lítica (Luís, 2005: 45) em suporte de xisto.
A representação da figura humana, geralmente armada e/ou a cavalo é a temática
dominante. Nestas composições, surgem igualmente figurados animais (cavalos,
canídeos e cervídeos) e armas (lanças, falcatas e escudos).
36
Limitaremos a nossa análise a estes três núcleos de arte rupestre. No entanto, na base de dados
Endovélico (Instituto Português de Arqueologia) surgem mencionadas inúmeras gravuras do I milénio a.
C. (nomeadamente no concelho da Covilhã) que resolvemos excluir desta apresentação por não se
encontrarem devidamente estudadas ou publicadas e, assim, o nosso conhecimento sobre elas ser bastante
redutor.
116
Em alguns destes painéis surgem representadas cenas ritualizadas de carácter
simbólico (Baptista, 1999). Mas quem se encontra aqui caracterizado?
Nas rochas 1 e 3 da Vermelhosa encontram-se figurados guerreiros. No primeiro
exemplo (figura 4) podemos ver um guerreiro montado a cavalo, segurando na mão
direita um dardo, com elmo e cintura contida por um cinturão (Baptista, 1999). Por sua
vez, a rocha 3 deste conjunto (figura 5), apresenta uma luta entre dois guerreiros onde
se vislumbram certos pormenores referentes aos trajes rituais: largos cinturões,
enfaixamento das pernas (da figura maior) e algumas armas como os dardos de
arremesso e pequenos escudos circulares com espesso umbo central (Baptista, 1999).
Quando atentamos na descrição dos Lusitanos feita por Estrabão (III. 3. 6)
defrontamo-nos com certos aspectos comuns. Este autor clássico refere que os
Lusitanos “ (…) usam um pequeno escudo de dois pés de diâmetro, côncavo para
diante, suspenso com talabartes de couro: com efeito não possuem, nem braçadeira, nem
asa. Além disso, usam ainda um punhal ou gládio (kopis). A maior parte usa couraças
de linho, alguns poucos couraças de malha metálica e capacetes de tríplice cimeira, ao
passo que os demais têm elmos de nervos. Os peões usam também polainas de couro, e
cada um traz diversos dardos; e alguns, lanças com pontas de bronze (…)”. De facto, as
características da indumentária bélica e das armas referidas nesta passagem são
idênticas às que se encontram figuradas naqueles painéis.
No entanto, este facto, só por si, é insuficiente para demonstrar que o populus
que ocuparia esta região (neste caso muito possivelmente os Medubrigenses) se
integraria no grupo dos Lusitani 37 . Todavia, deverá ser um dado a ter em conta no
cruzamento com os vestígios ocupacionais e materiais proto-históricos da área
envolvente. Contudo, e por oposição à arte rupestre, a ocupação do I milénio a. C. do
Baixo Côa é praticamente desconhecida.
Outro aspecto interessante é a sistemática representação da figura antropomorfa
com cabeça rematada em perfil aviforme, apresentando semelhanças com a silhueta
humana. Este pormenor (presente nas rochas 1 e 3 da Vermelhosa e rocha 3 de Vale de
Cabrões) sugere a utilização de máscaras, devendo possivelmente constituir mitografias,
comuns no imaginário artístico destas comunidades (Baptista, 1999: 173).
37
Ao verificar-se este pressuposto, poderíamos comprovar que o território deste grupo étnico se estendia
até às margens do Douro.
117
A configuração de cabeças aviformes em corpo humano é usual na mitologia de
diversas culturas. A título de exemplo podemos mencionar os deuses Horus e Íbis no
antigo Egipto e o deus Harappa na religião Indu 38 .
Destaca-se, na representação do painel da rocha 3 da Vermelhosa, outro aspecto
curioso. Ambos os guerreiros aqui impressos detêm um proeminente falo em forma de
serpente (distingue-se facilmente a cabeça viperina triangular e a língua bífida).
Julgamos que os ofídios deveriam igualmente integrar o pensamento mítico destas
comunidades. É dado como consensual o papel activo desempenhado pelas serpentes
nas diversas religiões ao longo dos tempos. Este animal surge vulgarmente associado a
deuses, lugares sagrados ou servindo como símbolo de fertilidade. Este motivo surge
também representado no Vale do Tejo e bacia hidrográfica do Zêzere.
Estes dados permitem-nos deduzir que a sociedade que produziu estas gravuras
transparece um simbolismo complexo e de tipo guerreiro. As cenas representadas nestes
painéis parecem efectivar uma sacralização da guerra, verificando-se uma ligação entre
o guerreiro e o divino.
O círculo artístico do Vale do Tejo apresenta igualmente uma ampla variedade
de iconografias. No entanto, a sua diacronia de utilização é significativamente mais
abreviada em relação ao Vale do Côa, assistindo-se ao colapso do Santuário do Vale do
Tejo durante o Bronze Final. Esta última fase, designada por “período de círculos e
linhas”, caracteriza-se pela exaustiva presença de círculos, serpentiformes, ferraduras e
podomorfos (Gomes, 1987: 41).
Emblemáticas deste momento são as gravuras detectadas na rocha 29 e 43 do
Cachão do Algarve. Na rocha 29 verificou-se a existência da gravação de um escudo
com escudatura em “V”. Na rocha 53 foram detectados serpentiformes, círculos,
ferraduras, podomorfos e duas espadas (Gomes, 1987: 43).
Salienta-se, mais uma vez, a “obsessão” por figurar serpentes e armas. Contudo,
destaca-se a presença de motivos podomorfos e ferraduras a que voltaremos mais
adiante.
38
Esta manifestação na arte repete-se igualmente noutros locais. Nas grutas de Lascaux, na sala do poço,
existe uma pintura (embora de época diferente) onde figura um antropomorfo com cabeça aviforme
(Laming, 1959: 35).
118
A arte rupestre existente na bacia hidrográfica do Zêzere (figura 6) apresenta
determinados denominadores comuns. Todos os painéis se localizam perto de linhas de
água ou nascentes e foram gravados em suporte de xisto-grauváquico. Seleccionámos
cinco conjuntos que, ao se encontrarem devidamente estudados e publicados, poderão
integrar-se no I milénio a. C.
A Pedra das Letras (Proença-a-Nova) trata-se de uma laje de xisto, orientada a
sul, onde são visíveis quatro fiadas de riscos oblíquos gravados pela técnica da incisão
(Batata, 2002: n.º 52).
Na Lajeira (Ermida, Sertã) encontra-se uma laje em xisto, orientada a oeste, com
motivos serpentiformes, meandriformes, círculos, espirais e pontos alinhados gravados
por percussão e antropomorfos resultantes da aplicação da técnica da picotagem (Batata,
2002: n.º 21).
A laje da Fechadura (a meia encosta da serra de Figueiredo, Sertã), orientada a
noroeste, apresenta motivos escutiformes, pentagramas, caracteres pré-alfabetiformes e
latinos, ponteados, pontas de seta, um machado de nervuras, quadrados, rectângulos e
uma possível representação vulvar, gravados pela técnica de picotado e incisão (Batata,
2002: n.º 18).
Em Fonte das Rimas (Figueiredo, Sertã) encontram-se vários motivos gravados
pela técnica da picotagem semelhantes aos da Lajeira, disseminados pelos afloramentos
xistosos (Batata, 2002: n.º 20).
Por último, a Bicha Pintada (Vila de Rei) trata-se de uma longa gravura
serpentiforme (10,5m de comprimento) com cabeça losangular. Este exemplar, datado
da Idade do Ferro (Gomes, 1999: 234), encontra-se localizada numa encosta da margem
direita da ribeira de Codes, tendo sido gravada através de incisor metálico, proferindo
um sulco de perfil em V. De destacar o estilo algo naturalista e a sua inserção cénica na
paisagem envolvente junto à base de uma alta falésia onde existe uma nascente de água
(Gomes, 1999: 225).
Em qualquer um destes conjuntos, apesar de se tratarem de gravuras incisas ou
percutidas, surgem figurados, para além de motivos geométricos e abstractos, as armas e
os serpentiformes.
119
Depois de analisar o conjunto de arte rupestre do I milénio a. C. da Beira Interior
podemos tecer algumas considerações genéricas referentes às suas tendências e pontos
comuns.
Todas as gravuras parecem englobar-se no que geralmente é apelidado de “arte
de rio”. A sua ligação à água é por demais evidente ao ocuparem preferencialmente as
encostas dos principais rios desta região (Douro e Tejo) e seus afluentes (Côa e Zêzere).
Por outro lado, situam-se no topo de serranias que, tal como as linhas de água,
poderão ser interpretados como eixos de comunicação ou antigos caminhos, que mais
tarde se transformaram em vias romanas e medievais. Segundo M. V. Gomes (1987: 43)
os podomorfos e as ferraduras presentes no Vale do Tejo poderão estar conotadas com
conceitos de passagem ou integradas no contexto dos “mitos de viagem” (viagem
sagrada ou peregrinação).
Para além disso, evidencia-se a prática de actividades bélicas, de caça e até de
meios de transporte como o cavalo. Este factor poderá levar-nos a presumir que tais
gravuras estarão associadas a grupos de pessoas em trânsito e até, dado o cariz
mitográfico de algumas representações, em actividades venatórias.
Independentemente das técnicas de gravação utilizadas, verifica-se que a arte do
Côa é mais figurativa, contrapondo com as representações abstractas dos outros dois
complexos meridionais. Pensamos que este aspecto poderá estar intimamente aliado à
periodização das mesmas, pois se as primeiras gravuras se integram na arte sidérica, as
segundas (pelo menos as do Vale do Tejo) pertencem ao Bronze Final.
Outro aspecto que importa realçar é a inexistência (até ao momento) de qualquer
povoado coetâneo nas proximidades destes exemplares. Facto que poderá atestar a
sacralização destas representações. Os palcos privilegiados para a consagração de tais
manifestações artísticas deveriam ser considerados como verdadeiros santuários, onde
se encontraria vedado o exercício qualquer actividade profana.
Teremos que anexar a estes elementos os dois locais onde surgem inscrições
rupestres. Na rocha 23 do Vale da Casa (Alto Douro) (figura 3, n.º 1) foi identificada
uma inscrição em escrita alfabética de tipo celtibérico (Luís, 2005: 45). Na laje da
120
Fechadura (Sertã) existem duas inscrições que utilizam em associação caracteres latinos
e pré-latinos (para além de uma outra tipicamente latina) (Batata, 2002, n.º 18).
Enquanto continuarem indecifráveis, as suas interpretações encerram alguma
subjectividade. No entanto, não resistimos a ponderar a sua associação com outros
exemplares, possivelmente semelhantes, como o Cabeço das Fráguas e Lamas de
Moledo. Lembremo-nos que estas inscrições descrevem rituais sagrados (Curado, 1996:
154-158). Não estarão também aqueles testemunhos adstritos a práticas rituais,
reforçando assim a sacralização destes locais?
Uma outra possível conjectura poderá avaliá-las como marcos territoriais.
Assinalariam o limite territorial dos diversos populi e a mensagem guerreira e
mitológica dos outros painéis “funcionaria como propiciadora da manutenção desses
limites” (Luís, 2005: 45). De facto, tanto o Cabeço das Fráguas como a rocha 23 do
Vale da Casa situam-se, segundo a nossa proposta (vide capítulo 9.4), em zona de
fronteira entre populi.
Por último, ao ponderarmos sobre os motivos gravados, aferimos a repetição de
um universo simbólico marcadamente masculino. Base que nos transmite a aparência de
uma sociedade, para além de guerreira, fortemente patriarcal.
A interpretação do significado dos diversos símbolos poderá transformar-se em
tarefa algo subjectiva. No entanto, pensamos ter deixado algumas reflexões sobre esta
matéria que poderão fornecer importantes dados para a melhor compreensão destas
comunidades do I milénio a. C.
121
11. O QUADRO ÉTNICO-CULTURAL DA BEIRA INTERIOR
Não restam dúvidas de que a área abarcada pelo nosso estudo (faixa interior
entre Douro e Tejo) foi, durante o I milénio a. C., ocupada pelos Lusitanos.
Este tópico constitui, ainda hoje, um dos temas mais controversos da arqueologia
portuguesa, senão mesmo, ibérica e que grande interesse tem despertado nos mais
variadíssimos historiadores.
Para tal contribuiu a existência na cultura popular portuguesa de uma grande
carga mítica, que com a exaltação transcendente dos Lusitanos, enveredou pela sua
exumação ao tratá-los como os antepassados por excelência de Portugal. Assim, tal
como os alemães descendiam dos germanos, os franceses dos gauleses, os gregos
modernos dos antigos helenos, os portugueses provinham dos Lusitanos (Leal, 2000:
299). A par disto, verifica-se a existência de sucessivas gerações de investigadores que
foram acumulando contributos para a sua mitificação a partir de bases pseudo-eruditas,
difundindo uma imagem irreal que hoje se torna difícil de depurar, substituindo-a por
uma reconstituição mais consentânea com a realidade histórica.
Certamente que sem uma visão baseada na interpretação histórica era impossível
ligar o passado e o presente, reconstituir a tradição, reatar nação e estado e instituir um
inventário simbólico, sem o qual não existiria nem identidade nem consciência
colectiva. No entanto, a consciência nacional pode ser de vários modos imposta ou
sugerida como reforço do princípio das nacionalidades. De facto, o Estado Novo
rapidamente percebeu que a memória colectiva poderia ser aplicada como instrumento
para alcançar uma consciência nacionalista, e que, através da manipulação de
mecanismos de consciencialização, poderia facilmente legitimar o regime fecundado no
golpe de estado de 28 de Maio de 1926. São muitos os historiadores que, debruçando-se
relativamente a este assunto, irão até ao último quartel do século XX deixar trespassar
no seu discurso um frémito vibrante de nacionalismo.
Por outro lado, se quisermos isolar um tema em que melhor se reflectem todos
os prejuízos e deficiências dos antigos e modernos investigadores, e em que a
verdadeira e falsa História se entrelaçam, esta seria, sem dúvida, a “Estória” de Viriato e
seus Lusitanos.
122
Ao aparente interesse por esta temática, reveste-se para nós de ainda maior
perplexidade o facto de nunca se ter efectivado o conjunto necessário de acções
(consequentes e concretas) de investigação arqueológica. O conhecimento que temos
dos Lusitanos baseia-se essencialmente na leitura dos fragmentários textos clássicos a
que cada um advoga a sua respectiva interpretação. É neste oculto panorama que reside
a cristalização de certas teorias feitas, sem que a informação disponível seja suficiente
para as comprovar ou infirmar solidamente.
Não queremos parecer presunçosos pois julgamos que todos são livres de
construir ou escolher seus heróis ou símbolos. No entanto, não se pode arredar deste
processo a consciência das limitações e da falta de adequação histórica que poderá
originar essa operação. Sabemos que só por grosseiro anacronismo se poderá relacionar
Lusitanos com os actuais portugueses e o território daqueles com as actuais fronteiras de
Portugal.
Sem o intuito de engrossar o rol de verborreias consubstanciadas numa etnia que
afinal é tão pouco conhecida, pensamos ser oportuno debruçarmo-nos em algumas
problemáticas que este assunto encerra. Partindo da descrição das fascinantes teses
lusitanistas pretendemos rematar esta discussão fazendo o ponto actual da investigação
científica, nomeadamente da correspondência efectiva entre entidades étnicas e
territórios com a consequente extrapolação para o registo arqueológico.
11.1. REVISÃO CRÍTICA DOS CONCEITOS LUSITANISTAS
São os próprios autores clássicos, do início da nossa era, os primeiros escritores
a relatar as facetas do povo lusitano e do seu chefe Viriato, exaltando-os pela resistência
ao invasor. Podemos ler em Estrabão que a Lusitânia era a “mais forte das nações
iberas” (III. 3.3), ou que aquela “seria a maior entre os povos ibéricos” (III. 3.3).
Da Idade Média não são conhecidos quaisquer relatos sobre os Lusitanos ou
Viriato.
Após este hiato será o Bispo de Évora, D. Garcia de Meneses, em meados do
século XV, o primeiro a utilizar o termo Lusitani (Herculano, s.d.: 40). Mas serão os
autores humanistas do século XVI como André de Resende e Frei Bernardo de Brito,
envolvidos em circunstancialismos político-sociais da época em Portugal (já com
123
excessos nacionalistas) que deram origem à pseudo-correspondência indiscriminada
entre lusitano – português, ainda hoje em voga.
Luís de Camões iria empregar o termo “Lusíadas”, discorrido por André de
Resende, para cognominar a sua epopeia. Não indiferente àquela pretensa osmose, este
autor exalta nos versos da sua obra os feitos dos supostos antepassados portugueses que
“na inimiga guerra romana tanto se afamaram” (Lus. I, 26).
A tónica deste discurso manter-se-á até ao século XIX, altura em que se verifica
a primeira imposição a estas preposições materializada por Alexandre Herculano. Este
autor discorda em absoluto das teses que vêem os Lusitanos como génese do povo
português, “nação inteiramente moderna” (Herculano, s.d.: 98) que se teria formado a
partir de variadíssimas estratificações.
No entanto, e ainda durante aquele século, a tal pretensa sinonímia é retomada
por Francisco Martins Sarmento. Assente em pressupostos de originalidade e
antiguidade, utiliza os povos lusitanos como objecto onde se poderia avaliar a
etnogenealogia em Portugal. Com o recurso à leitura das fontes antigas e com base na
prospecção e interpretação de uma grande variedade de achados arqueológicos, tenta
rotular os lusitanos como descendentes étnicos de Portugal. Podemos, desta forma, ler
no relatório da Expedição Scientifica à Serra da Estrella, que realiza em 1881 (1883:
7), “As preocupações litterarias, que fariam crer o mais inaccessivel dos Herminios
habitado pelos nossos antepassados, os lusitanos, (…)”. Este povo teria uma das
ascendências “mais puras” da Antiguidade (Sarmento, 1880: 37) sendo de origem lígure
que, por sua vez, se relacionariam a uma remota migração ariana que teria introduzido
na Península Ibérica a civilização do bronze.
Leite de Vasconcelos, quer pela sua ligação à Arqueologia, quer pelas suas
relações de amizade com Martins Sarmento, não fica indiferente a esta temática.
Em As Religiões da Lusitânia (1897-1913) parece insistir na continuidade entre
os povos lusitanos e o povo português, nomeadamente na semelhança das antigas
práticas religiosas e tradições populares contemporâneas portuguesas.
No entanto, não se observa neste autor uma fixação tão grande, como em
Martins Sarmento, nas formulações ideológicas exclusivistas dos Lusitanos.
Vasconcelos parte desde o início da Pré-história até à fundação da nacionalidade, onde
124
se teriam sucedido um conjunto de povos (em especial os Lusitanos) cujas contribuições
teriam aos poucos moldado a cultura tradicional portuguesa.
Em termos práticos, para além de parecer apostado na celticidade ou celtização
destas populações, reconhecia a existência de diferentes regiões na Lusitânia. Distingue
a “Lusitânia Primitiva” (entre Tejo e o extremo norte da Galiza), região que decompõe
em duas: a comarca entre Tejo e Douro e a Galiza (Vasconcelos, 1905: 7).
Mendes Corrêa, um dos autores que mais extensamente se ocupou das questões
étnico-culturais do nosso território, virá contestar a tese de A. Herculano. Os seus
estudos apresentam um cunho marcadamente nacionalista como que bebendo o gosto
pelas tendências políticas regentes na época. Este reproduz novamente o
reconhecimento da ascendência lusitana dos actuais portugueses.
Os seus ideais acabariam por conhecer uma grande difusão, não só por
constarem do capítulo consagrado à Pré e Proto-história da História de Portugal (1928)
(uma das principais obras de referência histórica durante décadas), mas também por
terem sido expostas em obras de carácter científico como Os Povos Primitivos da
Lusitânia (1924).
Nesta última (1924: 375), podemos ler: “Na verdade, a glória de Viriato não é
em nada fictícia. Os depoimentos dos autores romanos são insuspeitos (…). Nem as
glórias lusas são apócrifas nem outro povo da Antiguidade merece, mais que os
Lusitanos, ser considerado o mais importante elemento etnogénico dos Portugueses”.
As ideias deste autor irão persistir, através de seus discípulos, praticamente até
finais da década de 70 (séc. XX) e enraizar na cultura popular portuguesa até aos nossos
dias os mitos consolidados essencialmente a partir dos actos heróicos do chefe caudilho
lusitano, Viriato.
11.2. AS TESES VIRIATINAS
“Temos neste momento a oportunidade de constatar que Viriato, embora
aparentemente repouse em paz, depois de uma morte traiçoeira, continua afinal a ver-se
envolvido em andanças várias, não tão sangrentas, mas quase tão movimentadas como
as que em tempos recuados enfrentou”.
Amílcar Guerra
(2003: 18)
125
Se este processo de osmose entre Lusitanos – Portugueses tende a criar um forte
sentimento de orgulho nacionalista, naturalmente que a figura do seu líder não será
esquecida.
A personagem de Viriato estimulou o imaginário do Estado Novo, sequioso de
encontrar simbologias justificativas de uma identidade que fizesse divergir a atenção de
outras vertentes da sociedade portuguesa. Inspirou as mais diversas manifestações de
carácter nacionalista servindo até de emblema a uma brigada dos “Viriatos” da Legião
Portuguesa que combateu na Guerra Civil espanhola, do lado franquista (Saraiva, 1987:
550).
Na cultura popular portuguesa, Viriato sempre representou o papel do herói
mítico, antecedendo Afonso Henriques, lutando valorosamente contra a ocupação
romana e defendendo do poderoso invasor esta região que mais tarde daria lugar a uma
parte de Portugal.
No prefácio da tradução portuguesa do Viriatus de Adolf Schulten 39 , Mendes
Corrêa coloca o chefe lusitano “no nosso Pantéon de heroísmos e grandezas”. Este
enaltecedor da hombridade lusitana, referindo-se a Viriato, acaba mesmo por profetizar
que "a sua fama e o seu exemplo ecoarão pelas quebradas dos séculos e nas almas das
gerações enquanto houver justiça e portugueses sobre a terra”.
Por outro lado, a guerra empreendida pelos Lusitanos contra os romanos
comandada por Viriato profetiza, de forma esplêndida, tudo o que pode realizar o povo
português “sob uma direcção prestigiosa, enérgica, esclarecida, honesta e patriótica”
(Corrêa, 1928: 210). Este tipo de discurso será utilizado para enaltecer a figura de
Salazar, o homem do “génio providencial” que “reintegrou Portugal no rumo dos seus
altos destinos” (Corrêa, 1954: 26).
Outro aspecto caricato é o empenhamento generalizado em atribuir a este
“arquétipo do português” uma pátria que nunca teve, lugares onde deveria ter nascido
ou até casas onde terá habitado. Demonstrativo de todo este frenesim é a disputa
verificada entre várias localidades que se arrogam berço de Viriato. Entre estas
podemos citar, a título de exemplo, a pitoresca aldeia de Folgosinho (concelho de
Gouveia) onde incrustada na empena arruinada de uma velha casa se pode ler o seguinte
39
Porto, 1927, 2.ª edição de 1940 – datas não sem significado.
126
dístico: “Nesta casa nasceu Viriato”. Também Viseu 40 , que lhe ergueu uma estátua no
centro da cidade, e várias cidades desde Zamora à Andaluzia têm a pretensão de ser o
local de onde aquele é natural, o que faz com que seja apelidado por uns de português,
por outros de espanhol ou pelos mais diplomatas de luso – espanhol.
Esta crença, tão profundamente enraizada na nossa mentalidade nacional,
alcança traços de dogmatização tornando-se um pressuposto quase inquestionável nas
produções literário e/ou científicas actuais. Podemos mesmo afirmar que beneficiou
recentemente de um certo revivalismo relacionado com a moda do romance histórico de
época romana presente nos escaparates de qualquer livraria. Quase por arrasto dão-se à
estampa peças de teatro, ensaios, romances e tratados subordinados à temática
lusitanista/viriatina.
Precavendo uma possível recaída numa história acontecimentalista (Alarcão,
1996-97) esquivaremos o nosso discurso de um sujeito individual, neste caso Viriato.
Apenas nos debruçaremos novamente sobre esta personagem se, eventualmente, as
informações a ele remetidas sejam pertinentes para o estudo global do quadro étnicocultural lusitano.
11.3. SITUAÇÃO
DE REFERÊNCIA: O ESTADO ACTUAL DA INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA
Não poderíamos analisar o povoamento ao longo do I milénio a. C. na Beira
Interior ignorando o estudo das etnias que ocuparam esta área. A região entre Douro e
Tejo é sistematicamente referida por diversas fontes literárias como correspondente ao
rincão dos Lusitanos. No entanto, e apesar de tanta tinta já ter discorrido sobre o assunto
(como atrás explanámos), a verdade é que chegamos a este ponto com a sensação de que
as certezas, se realmente existem, são escassas e que as teorias dúbias (umas mais que
outras) assolam toda esta problemática. Não nos sentindo minimamente confortáveis
“navegando” por campos tão obscuros apenas nos debruçaremos, e superficialmente, em
questões que poderemos transpor para o estudo da génese e evolução do povoamento
desta região ao longo do I milénio a. C.. Sendo assim, cabe aqui explanar as
informações que permitem isolar aquela área como pano de fundo étnico-cultural dos
40
Situação espelhada no título de uma produção científica como o catálogo de arqueologia da região de
Viseu intitulado Por Terras de Viriato.
127
Lusitanos para que, no capítulo seguinte, possamos descer ao particular dos populi que
compõem aquela etnia.
No tratamento da problemática étnico-cultural da Beira Interior nas vésperas da
romanização estamos condenados a debatermo-nos em dois planos ou bases distintas: a
visão dos autores greco-latinos e o que decorre das diferentes sínteses ensaiadas pelos
investigadores contemporâneos que tentam reconstruir a geografia étnica de
determinado espaço. A mescla de informações provenientes de dados antigos e
modernos e a dificuldade em demarcar uma área geográfica étnica precisa fazem com
que, em prejuízo metodológico, tenhamos por vezes que operar com limites imprecisos
e ambíguos.
Os textos literários dos autores greco-latinos constituem uma das fontes
primordiais para o estudo da História Antiga no esforço de reconstituição de antigos
espaços geográficos e da sua respectiva ocupação étnica.
No entanto, há que considerar as lacunas e imprecisões daqueles relatos sobre os
povos peninsulares e seus territórios pois não foram redigidos com a intenção de nos
transmitirem maiores detalhes 41 , surgem fragmentados e, sabemos hoje, a imagem da
geografia física peninsular da época encontrava-se distorcida da realidade.
Neste caso concreto, a habitual designação de Lusitânia poderá revestir-se de
uma certa ambiguidade, uma vez que alguns dos textos clássicos que se referem a esta
região foram escritos numa época em que a província romana de mesmo nome era já
uma realidade efectiva. Teremos assim que admitir que tal nomeação se reporte não ao
território outrora ocupado pelos Lusitanos mas à realidade provincial romana. Por outro
lado, o próprio registo clássico apresenta uma diversidade e heterogeneidade de
testemunhos em relação à delimitação da Lusitânia.
Estrabão (III.3.3) fixa o limite meridional deste grupo no rio Tejo. No entanto,
ao referir-se à “mesopotânia” entre Tejo e Guadiana (III.1.6) localiza aqui Célticos e
alguns Lusitanos que por suposta acção romana ter-se-iam para lá deslocado.
A descrição de Plínio (4.113) apresenta a região ocidental litoral entre Douro e
Vouga ocupada pelos antigos Túrdulos e a restante faixa litoral sob o domínio de várias
cidades que juntamente com a área interior até ao Tejo era habitada pelos Lusitanos.
41
Carlos Fabião (1998: 61) afirma que o esforço de catalogação das diferentes áreas do império romano
estaria relacionado com a necessária e efectiva apropriação de novos espaços e sua reorganização, tendo
em conta os modelos preconizados por Roma.
128
Esta transposição do Tejo da comunidade lusitana surge documentada em
Apiano (Iber. 56-57), Orósio (Hist. 4.21.10) e novamente em Estrabão (III.3.1) quando
este afirma que aquele rio corre entre Lusitanos. Respectivamente ao limite setentrional
este autor (III.4.20) relata que os habitantes da margem direita do Douro seriam
igualmente Lusitanos que só passaram a designar-se por Galaicos após a conquista de
Roma.
Esta ambiguidade dos textos clássicos permite, através da sua leitura e
interpretação, aos vários autores contemporâneos laborar nos mesmos erros, procurando
vislumbrar ou justificar a partir destes as suas observações sobre a realidade
arqueológica, produzindo um discurso não menos heterogéneo. Situação que se verifica
com maior impetuosidade em relação à problemática da presença ou ausência lusitana a
sul do Tejo e, por arrasto, de qual seria a natureza dos seus contactos com os célticos.
Em abono desta discussão prefiguram vários dados que a tornam mais complexa.
Primeiramente, Untermann (1985) demonstra, a partir de seus mapas
linguísticos, afinidades entre as Beiras e o Nordeste alentejano. A distribuição
geográfica das inscrições rupestres em língua supostamente lusitana como o Cabeço das
Fráguas e particularmente do exemplar de Arroyo de La Luz (Cáceres) poderá também
comprovar a extensão desta unidade linguística para sul do Tejo (Tovar, 1985). No
entanto, o facto de se tratarem de exemplares epigráficos com caracteres latinos (de
época romana) é utilizado para demonstrar que esta transposição do Tejo tenha sido
realizada por imposição romana (Fabião, 1998: 66). Por outro lado, sabemos hoje que a
relação língua – etnia se encontra desacreditada (Alarcão, 2001: 294).
Outro episódio surge materializado através das conformidades onomásticas
indígenas entre aquelas duas regiões aferidas por J. Encarnação (1984: 777 e Mapa 1).
Mas, mais uma vez, o facto de se tratarem de epígrafes de época romana encerra
diversos quadros explicativos.
Finalmente, um dos argumentos muito em voga reporta-se à geografia das
guerras lusitanas e o envolvimento directo das gentes meridionais que poderá
comprovar a existência de Lusitanos nesta região (Fabião, 1998: 66). Julgamos que este
dado é igualmente discutível por se tratar de um momento de instabilidade generalizado
que poderá não retratar a realidade existente e por se desenrolar num momento já muito
avançado da proto-história. Além disso, estamos convictos que durante a época préromana os processos de contacto e intercâmbio entre as comunidades da Beira Interior e
região meridional assumiram, em função das circunstâncias, não só a forma de
129
expedições ou confrontações militares mas também a de relações económicas salutares,
dentro das quais a transumância deve ter tido grande relevo. Envolvidos neste contexto,
os pactos de hospitalidade e clientela poderão, para além de instrumentos de
sociabilidade e de articulação dos contactos humanos, ter funcionado como aliança em
caso de guerra ainda mais evidente quando se trata de um inimigo comum.
Perante a articulação de todos estes argumentos e das fontes clássicas a
delimitação do território correspondente à etnia lusitana tem gerado diversas conclusões
que podemos materializar transpondo a discussão existente entre J. Alarcão e L. Pérez
Vilatela.
Este último autor, centrado na análise crítica dos textos greco-latinos, afirma que
Célticos e Lusitanos seriam uma só entidade, diferentemente nomeados consoante a
época ou referências que aqueles escritores utilizam (Pérez Vilatela, 1993). Reconhece
que os Lusitanos a norte do Tejo só em épocas tardias terão sido reconhecidos, facto que
iria gerar as indefinições do discurso Estraboniano e Pliniano. A sua tese de localização
dos Lusitanos no Sudoeste alentejano (Pérez Vilatela, 2000) quanto a nós não se
harmoniza com a complexidade e diversidade que aparenta existir ao nível do registo
arqueológico.
No que concerne a este respeito, há que ter em consideração que através da
própria expansão populacional é plausível a não exclusividade de ocupação de um
território bem delimitado e que as suas respectivas áreas de dispersão fossem
descontínuas. J. Alarcão (2005: 45) relembra que a “natio” dos Lusitanos poderá,
através dos tempos, ter sofrido mutações das suas fronteiras e, por isso, os autores
clássicos terão designado como Lusitani povos que eles próprios não reconheceriam
como tal.
De facto, julgamos que as informações legadas nomeadamente por Plínio não
deverão ser entendidas, na sua generalidade, como testemunho das sociedades préromanas (antes da conquista romana) mas antes como a descrição deste território após a
invasão romana. Não nos parece aceitável, sem impor demasiadas reservas, delimitar o
território correspondente à Lusitânia pré-romana com base exclusivamente naquela
literatura, obsessão que poderá transparecer dos textos de Pérez Vilatela.
J. Alarcão (2001), em oposição àquele, adscreve uma visão mais restrita em
termos territoriais dos Lusitanos como entidade étnica, que nós subscrevemos. A
definição da área habitada por estes baseou-se essencialmente na distribuição geográfica
das evidências epigráficas de certas divindades que identificou como pertencentes a este
130
grupo étnico (Alarcão, 2001: 312-316). Assim a antiga Lusitânia estende-se desde a
região de Cáceres, a sul do Tejo, até junto às margens do Douro.
Como o próprio alerta, não nos podemos desprender do facto de tais epígrafes
terem sido lavradas em época romana e assim poderem não corresponder à distribuição
espacial dos cultos nos inícios do I milénio a. C.
Não obstante, pensamos não ser consequente alongarmo-nos mais nesta
problemática pois será legítimo e unânime considerar que a Beira Interior (ou a área
abarcada pelo nosso estudo) terá sido ocupada pelos Lusitanos ao longo do I milénio a.
C.
Ultrapassada esta controversa questão deparamo-nos com outra, não menos
polémica, que se centra no problema étnico dos Lusitanos, ou seja, qual será o seu
“pano de fundo” ou substrato cultural. Neste caso especifico não podemos contar com o
registo que advém da literatura clássica. Apesar dos autores greco-latinos conferirem
um carácter unitário aos Lusitanos, desconheciam (e talvez não se interessassem por
conhecer) a origem desses populi pois a visão que lhes chega é posterior à sua gestação.
Não obstante, são vários os investigadores contemporâneos que se debruçam e as teorias
que se produzem a este respeito.
Mendes Corrêa (1924: 295-303) era um defensor acérrimo da autoctonidade
destas gentes, cujas raízes teriam vindo a evoluir desde o período Neolítico e Calcolítico
na Beira. Ainda hoje, vários autores explicam a formação das diversas entidades
culturais regionais a partir de um substrato local embora contemplando influências
externas que poderão ter contribuído para a diferenciação entre grupos (AlvarezSanchís, 1999: 333).
Bosch Gimpera (1944: 150) é o primeiro a considerar a possibilidade de
existência de migrações. Para este autor, os Lusitanos seriam um povo ibérico do
mediterrâneo que, conforme o que transpõe da leitura dos textos de Avieno (Ora
Marítima), se teria deslocado para as terras do interior em data anterior ao século VI a.
C..
Schülten vai classificar os Lusitanos como população céltica embora com fortes
influências do mediterrâneo ibérico (Alarcão, 1993: 53).
Finalmente, Lambrino (1957: 119-120), constatando que os antropónimos e
teónimos da Beira denunciam um forte celticismo, aponta para a provável raiz indoeuropeia daquele grupo étnico, patenteando já a hipótese da sua proveniência alpina
(Alarcão, 1993: 54).
131
O problema da origem étnica poderá associar-se ao da língua (Alarcão, 1993:
54). Contamos com alguns exemplares, embora em caracteres latinos, da dita língua
lusitana pré-romana. São os casos das inscrições rupestres do Cabeço das Fráguas,
Lamas de Moledo e de Arroyo de La Luz em Cáceres (entretanto perdida). Todos os
filólogos são unânimes em considerar estarmos perante uma língua indo-europeia précéltica.
Para além da linguística, os rituais que se praticariam em locais como o Cabeço
das Fráguas e Lamas de Moledo, designados entre os romanos de suovitaurilia
(sacrifício de animais), são vulgares entre os Indo-europeus (Curado, 1996: 158).
Relativamente a este assunto devemos referir que, segundo este autor, as próprias
divindades mencionadas parecem encontrar-se ordenadas consoante a sua importância e
atributos funcionais o que poderá transparecer uma similitude mitológica e ritual ao que
se verifica entre as populações indo europeias (Dumézil, 1958 cit. em Curado, 1996:
158).
Se o problema da origem étnica dos Lusitanos se encontra hoje num avançado
estádio de esclarecimento, o da sua proveniência continua envolto em grande polémica.
Para abordar esta questão teremos primeiro que estabelecer o momento a partir
do qual podemos falar da presença de Lusitanos na Beira Interior.
A referência existente na Ora Marítima de Avieno ao pernix Lycis permite-nos
pressupor que aqueles se encontravam já instalados nesta região antes do século VI a.
C..
O abandono de alguns dos povoados escavados por R. Vilaça (1995a) no século
VIII a. C. levou-nos, num primeiro momento, a equacionar a possibilidade de instalação
deste grupo étnico por esta altura. No entanto, como demonstrámos (vide supra 5.2.),
não se constata um abandono sistemático de todos os habitats do Bronze Final mas sim
uma alteração da estratégia de ocupação do espaço. Privilegia-se durante o Ferro Inicial
um tipo de assentamento algo distinto das características que comportavam a maioria
dos lugares do Bronze Final, nomeadamente dos que foram negligenciados. Por outro
lado, a análise da cultura material revela uma continuidade entre estes dois períodos. O
constrangimento que se sente ao tentar diferenciar as cerâmicas típicas de cada uma
destas épocas parece demonstrar a inexistência de uma ruptura nítida entre ambas.
132
Simultaneamente, a ligação entre língua “lusitana” e o Bronze Final Atlântico
foi já sugerida por Marisa Ruiz Gálvez (1990) e Almagro Gorbea (1996) (Alarcão,
2001: 319).
É exactamente neste ponto que reside o germe da polémica. Se parece certo a
conjugação da presença de Lusitanos no Bronze Final, ficam por esclarecer os
pressupostos relativos à sua formação. Contrapõe-se teses de invasão/imigração de
populações exógenas (Alarcão, 2001) e perpectivas que abordam este grupo étnico
como uma evolução do substrato regional/local das populações do Bronze Final
(Almagro Gorbea e Ruíz Zapatero, 1992).
Com base essencialmente na distribuição de machados de talão com um ou sem
anéis, J. Alarcão (2001: 318) defende a existência de uma imigração indo-europeia précéltica oriunda da Europa transpirenaica nos inícios do Bronze Final Atlântico I (12501050 a. C.).
Esta proposta transgride a posição de outros investigadores, nomeadamente a de
Marisa Ruiz Gálvez por, segundo a autora, não existir qualquer evidência no registo
arqueológico que possa comprovar uma suposta imigração (Ruiz-Gálvez Priego, 1998:
350). No entanto, R. Vilaça relembra que existem migrações que não relegam quaisquer
vestígios materiais (Anthony, 1990; Burmeister, 2000 cit. em Vilaça, 2005: 22).
Se por um lado, a origem transpirenaica destas populações assenta em
pressupostos ainda não muito sólidos, por outro, se aceitarmos a tese de imigração o
momento mais credível para que tivesse ocorrido será mesmo os inícios do Bronze Final
Atlântico. Mais uma vez recorrendo às escavações de R. Vilaça concluímos que os
povoados alcantilados do Bronze Final se instalam, na Beira Interior, no século XII a.
C. (Vilaça, 1995: 375-376). Outro dado que poderá corroborar a tese de imigração é o
do suposto ermamento desta região em épocas imediatamente anteriores. Assim sendo,
as próprias características de implantação destes povoados ao privilegiar entre outros
aspectos (vide supra 4.1.) uma grande capacidade de visibilidade (rede intervisual)
poderá demonstrar (para além de outras circunstâncias) a aparente necessidade ou a
estratégia mais adequada de apropriação de um espaço então desconhecido.
No entanto, e não refutando a hipótese de uma imigração, julgamos que esta
suposição não deverá assentar, na sua essência, na ausência populacional durante o
Bronze Inicial e Médio na Beira Interior.
O pretenso ermamento populacional da região durante aqueles períodos parecenos ser motivado pela falta de conhecimento que deles ainda temos.
133
A título de exemplo, projectos como os desenvolvidos na região ribeirinha do
Tejo ou o realizado por A. C. Oliveira (1996) na bacia do curso médio da ribeira da
Meimoa parecem mostrar uma Beira Interior razoavelmente povoada durante os
períodos Neolítico e Calcolítico. Não nos podemos alhear da anterior ocupação neocalcolítica de povoados como o Monte do Frade (104), Cachouça (89), Tapada das
Argolas (79), Monte do Trigo (90) ou Castelo Velho de Caratão (127).
É certo que do Bronze Inicial ou Médio ignoramos praticamente tudo e a eles
apenas se reportam alguns materiais descontextualizados e de cronologia imprecisa. No
entanto, dados que recentemente têm vindo a ser dados à estampa, e que referimos
seguidamente, levam-nos a crer que este desconhecimento se deve à insuficiente
investigação dirigida àqueles períodos pela comunidade arqueológica.
Os testemunhos iconográficos documentados, não só mas essencialmente, no
vale do Tejo e Côa poderão, logo à partida, reforçar a invalidade das teorias
difusionistas apontadas para esta região.
Para além disso, o aprofundamento do estudo de alguns vestígios arqueológicos,
recentemente descobertos, poderão auxiliar a compreensão da diacronia de ocupação
desta região antes do final da Idade do Bronze e da constituição da comunidade lusitana.
Entre estes destacamos o aparecimento de várias estruturas “funerárias” sob
montículo artificial (tumuli) que juntamente com algumas grafias rupestres (atribuídas
pelos seus descobridores ao Bronze Médio) foram identificadas 42 na parte sul do
Maciço Central (serra de Alvélos), a sul do rio Zêzere. O seu reconhecimento em
altitudes bastante elevadas poderá consubstanciar uma nova faceta do povoamento da
região na Pré-história Recente.
Foi igualmente descoberto em Sobral do Campo (Castelo Branco) um pequeno
tumulus que se poderá enquadrar no II milénio a.C. (Vilaça e Gabriel, 1999: 130). Esta
forte presença de vestígios sepulcrais leva-nos também a questionar perante a grande
densidade de megálitos recenseados (nomeadamente para a Beira Baixa), se alguns
destes não poderão ter sido construídos ou reutilizados nos inícios do II milénio a. C.
(Vilaça, 1995e: 127).
42
Elementos reconhecidos por membros da Associação de Estudos do Alto Tejo, no decorrer dos
trabalhos inseridos no Projecto Eólico do Pinhal Interior e comunicados ulteriormente no colóquio
intitulado “Espaços na Pré-História do Centro e Norte Peninsular” organizado pelo Centro de Estudos
Pré-históricos da Beira Alta que decorreu em Viseu durante os dias 8 e 9 de Abril de 2005.
134
Em contextos habitacionais devemos salientar a presença de pontas de seta com
pedúnculo em cobre arsenial tipo Palmela exumados dos povoados de S. Roque (80) e
Tapada das Argolas (79) (Vilaça et alii, 2002-2003: 188-189) no concelho do Fundão
que, juntamente com outras peças congéneres desta região (Malcata (35) e Medelim
(93)), poderão contribuir para melhor esclarecer o povoamento durante estes períodos.
Para além destes elementos, mencione-se a presença em vários povoados de
cerâmicas “tipo Cogotas I” (mapa 8). Estas apresentam uma ampla diacronia de
produção abarcando vários séculos do II milénio a.C., inserindo-se umas no Bronze
Médio, outras no Bronze Final.
Recentemente, M. Perestrelo e M. Osório (2005) deram à estampa um conjunto
de informações que parece demonstrar uma relativa densidade populacional na região
da Guarda, Sabugal e Pinhel durante a Pré-História Recente.
Saliente-se que os trabalhos de prospecção realizados no Baixo Côa (Coixão,
1996; 2000 e Coixão e Trabulo, 1999) têm vindo a evidenciar uma ponderada densidade
de povoados datados dos inícios do II milénio a. C. na região. Entre estes deverá
destacar-se o Castelo Velho de Freixo de Numão (Jorge, 1995: 37-39) alvo de várias
campanhas de escavação.
Futuros trabalhos de prospecção e essencialmente de escavação virão com
certeza esclarecer estas e outras evidências que julgamos deixar transparecer a
invalidade das teses de considerável despovoamento da região nos inícios do Bronze
Final.
No entanto, não queremos que este nosso último esforço argumentativo seja
entendido como uma reprovação às teses de imigração/invasão. Cremos que a existência
de um fundo populacional do Bronze Inicial/Médio neste território não terá sido
suficiente à formação, por evolução interna, dos Lusitani. A nossa visão consubstanciase na conjugação destas duas vertentes. Ou seja, o substrato indígena recebe nos inícios
do Bronze Final novos elementos culturais e componentes humanos indo-europeus, que
poderão ou não ser de origem transpirenaica.
Resta-nos, extrapolando para o registo arqueológico, perceber como o conjunto
de populi que forma este grupo étnico se vai dispor e relacionar territorialmente pela
Beira Interior.
135
11.4. OS POPULI
Desfiado que parece encontrar-se actualmente o tema da organização social dos
Lusitanos, é consensual aceitar-se que estes eram compostos por um conjunto de populi
autónomos que designariam o seu colectivo através do etnómio Lusitani.
Devido aos escassos dados arqueológicos de que dispomos, a informação
proveniente das fontes epigráficas e literárias dos autores greco-latinos afiguram-se
como as mais relevantes na reconstituição aproximada da geografia política da região
que estudamos.
Neste particular, a inscrição 43 (CIL II 760) da ponte sobre o rio Tejo, que se
ergue em Alcântara (Cáceres), constitui um interessante testemunho sobre as
populações pré-romanas de entre o Douro e o Tejo, que teriam contribuído para a sua
edificação. No entanto, estes correspondem à nova geografia política implantada na
região após conquista romana. Porém, é de admitir que, pelo menos em parte, devam
corresponder às particulares etnias lusitanas a que Roma, nos finais do século I a. C.
(durante a soberania de Augusto), concedeu o estatuto jurídico-administrativo de
civitates. Todos eles apresentam designações pré-latinas (Fabião, 1992: 170), o que
poderá transparecer a atribuição dos primitivos nomes das populações locais aos
diversos municípios romanos.
Assim sendo, os populi mencionados na lápide do arco da ponte de Alcântara e
pela ordem em que se encontram nomeados são: Igaeditani, Lancienses Oppidani,
Tapori, Interannienses, Coilarni, Lancienses Transcudani, Aravi, Medubrigenses,
Arabrigenses, Banienses e Paesuri.
Tem vindo a ser dado como provável que a ordem pela qual aqueles populi são
enumerados naquela inscrição obedece a critérios geográficos que os ordena de Sul para
Norte. Nada temos que possa desmentir que a organização daqueles obedeça à posição
que ocupavam ao longo da via que vinda de Mérida cruzava toda esta região até ao
Douro, em direcção a Bracara Augusta (Alarcão, 2005: 120). No entanto, este facto, só
por si, continua a não ser esclarecedor das suas verdadeiras fronteiras.
43
A inscrição da ponte de Alcântara, hoje aceite como uma transcrição verdadeira do texto antigo
existente ainda no século XVI, parece tratar-se apenas de uma de duas (ou quatro) placas onde estariam
mencionados os municípios romanos que contribuíram para a sua construção e que beneficiaram com ela
(García Iglésias, 1976: 264-266).
136
O acto de traçar limites entre entidades étnicas é de grande complexidade e
risco. Há de se ter em consideração a própria expansão populacional e a não
exclusividade de ocupação de um território bem delimitado. Como R. Vilaça (2004a:52)
refere uma “fronteira não seria uma entidade estática, mas oscilante, à mercê dos
processos de interacção entre comunidades dos diferentes populi”.
Queremos deste modo dizer, que a delimitação dos territórios destes sub-grupos
étnicos proto-históricos assenta em demasiadas inconsistências. Facto atestado, à
partida, por se conferir demasiada relevância a documentos lavrados em época romana.
Assim sendo, qualquer tarefa que augure este intento terá que ter em linha de conta
todas as subjectividades que encerra.
Não serve este capítulo para resolver o que notáveis arqueólogos 44 e
historiadores da Antiguidade não conseguiram. Não procuramos tão pouco sistematizar
e conjugar todas as informações de autores clássicos e dados epigráficos, ou aludir
criticamente as numerosas e contraditórias sínteses sobre a localização destes populi ao
longo dos últimos anos.
Partimos essencialmente de um dos últimos trabalhos de J. de Alarcão (2001),
onde este corrige as fronteiras entre os populi pré-romanos por ele anteriormente
traçadas (essencialmente Alarcão e Imperial, 1996 e Alarcão, 1998), a partir do exame
criterioso do quadro oro-hidrográfico da região. Esforçaremo-nos por relacionar esta
proposta com os dados relativos ao registo arqueológico do I milénio a. C., mais
precisamente à disposição espacial de certos povoados. Não que o autor tenha
depreciado tais elementos, porém, julgamos que a visão geral que deles poderemos
absorver através do nosso trabalho poderá mais facilmente contribuir para a
aproximação da realidade pré-romana.
No entanto, convém aqui referir que optámos, neste particular, por conjugar
todos os vestígios referentes ao I milénio a. C. sem ter em conta a existência ou ausência
de sincronias cronológicas 45 ao longo deste intervalo temporal.
44
Entre estes, destacamos J. de Alarcão por ser talvez o autor que mais estudos dedica a esta temática.
45
Facto que se encontra condicionado pelos escassos dados cronológicos seguros de que dispomos de
grande parte destes vestígios.
137
Referimo-nos essencialmente a sítios que pela sua posição designámos como
povoados de ponta ou povoados sentinela. A sua implantação, dominando áreas naturais
bem delimitadas, confere-lhes um papel de “atalaia de vigia”. R. Vilaça (2004a: 52)
questiona se estes castros “fronteiriços” não seriam pertença de ninguém, isto é, se
poderão ser encarados como neutrais. De facto, ao encontrarem-se sobre a possível linha
demarcatória entre dois populi, torna-se tarefa muito complexa apontar a qual
pertenceriam. Só a análise local e particular permitirá esclarecer a situação, pelo que
deixaremos aquela questão por enquanto sem resposta.
Iniciando a decomposição dos populi de sul para norte e de poente para
nascente, confrontamo-nos desde logo com uma região delimitada por acidentes
naturais. Falamos da área vulgarmente designada por Pinhal Interior que se confina
entre o Zêzere, Tejo, Ocreza e serras do Muradal e Alvélos. J. de Alarcão (2001: 297)
assume a possibilidade de aqui se encontrarem os Elbocori mencionados por Ptolomeu
(II, 5, 6) que, por sua vez, os localiza a oriente de Sellium (Tomar).
Mais tarde, o mesmo investigador (Alarcão, 2005: 122) coloca a hipótese
daquele populus (também mencionado por Plínio (IV, 35, 118)) se relacionar antes com
o território de Bobadela (Oliveira do Hospital). É certo que as coordenadas ptolemaicas
não são um dado seguro e que a localização que lhes confere acaba por validar qualquer
uma das hipóteses ou de tantas outras. Contudo, a oriente de Sellium, mais facilmente se
encontra a região do Pinhal Interior que a de Oliveira do Hospital, bem mais distante e
para Noroeste. Não queremos aqui tomar qualquer partido, pois a falta de elementos
epigráficos esclarecedores na região remete-nos para um prudente silêncio.
Não obstante, analisando o povoamento desta área, tão bem delimitada,
constatamos a presença dos ditos povoados sentinela. A ocidente, junto à linha do
Zêzere posicionam-se os povoados de N.ª Sr.ª da Confiança (110), St.ª Maria Madalena
(109) e Cerro do Castelo (111). Embora se proponha a intervisibilidade entre estes e os
sítios implantados sobranceiramente à margem esquerda do Zêzere (ver infra 4.2.1.), as
características do curso médio deste rio, que aqui assume um contorno de “fosso”
(Ribeiro et alii, 1987: 151 e Ribeiro, 1949a: 6), invalida qualquer outra relação (para
além da visual) entre as populações de ambas as margens. Parecem-nos antes preconizar
o que se verifica entre os castelos medievais fronteiriços.
Do mesmo modo, junto à linha delimitativa a oriente (mapa 7), que os separa
eventualmente dos Tapori, situa-se o castro do Picoto (99) (no extremo Sudoeste da
138
serra do Muradal) e Cabeço dos Castelos (107), Cerca do Castelo (108) e Castelo Velho
da Zimbreira (126) (sobranceiros ao Ocreza). A própria repetição do topónimo “castelo”
parece reforçar a concepção de fronteira. No entanto, na margem esquerda do Ocreza
(território já dos Tapori) verifica-se um deserto ao nível do povoamento.
Os Tapori encontram-se mencionados por Plínio (IV, 35, 118) como
pertencentes aos oppida stipendiaria da “Lusitânia”.
J. de Alarcão (1998; 2001: 299-303; 2005: 122) tem vindo a sustentar a sua
localização na região de Castelo Branco. Contudo, e apesar do antropónimo ser comum
na região de Idanha (Guerra, 1995: 113), os testemunhos epigráficos existentes não
permitem fundamentar devidamente esta localização, o que suscita, uma vez mais, que
se estabeleçam diversas conjecturas.
Afastando-nos desde logo das hipóteses que os situam na vertente ocidental
(Saa, 1963: 228) ou oriental (Alarcão, 1988: 37) da serra da Estrela, fixamo-nos na
proposta de R. Cortez (1952: 178), que os localiza na vertente leste da serra da
Gardunha (ocupando um espaço menor e não totalmente coincidente com a actual
moção de J. de Alarcão (2001). Para além de argumentos como a ordem geográfica
estabelecida na enumeração da inscrição da ponte de Alcântara, fundamenta a sua
proposta na abundância de topónimos Atalaia na região (a que adscreve a raiz Tala) e na
hipotética relação com o vicus Talabara 46 que fixa na Capinha. Se outros argumentos
não existissem, o simples facto de hoje se invalidar a identidade entre Talabara e aquela
aldeia serviria para refutar esta suposição.
F. Curado (1988-1994: 215), sugere a circunscrição deste populi a sul de Viseu,
tendo por capital Bobadela. J. de Alarcão (2005: 122) refuta esta conjectura localizando
ali os Elbocori.
José Freire (1993) consubstancia-se na evolução provável do hidrónimo
Tabeiró 47 ou Taveiró afirmando que este remonta etimologicamente a Tapori. Admite
assim como correcta a localização de J. de Alarcão, porém, fixa o território central deste
povo na bacia do Taveiró, apesar de considerar que se poderia estender para a região de
46
Mencionado numa inscrição dada como proveniente da Capinha (CIL II 453).
47
Linha de água que nasce na serra de Sta. Marta, a oeste de Penamacor, e é afluente da ribeira de
Alpreade, subafluente do rio Ponsul.
139
Castelo Branco. Por outro lado, A. Guerra (1995: 113) refere que o esforço de J. de
Alarcão parece resultar da necessidade de preencher um determinado espaço vazio.
Não obstante, tentaremos reforçar a proposta deste autor. Parece-nos consensual
que o limite setentrional se estabeleça na serra da Gardunha. Mais problemática afigurase a fronteira com os Igaeditani, vizinhos dos Tapori a Este. Para J. Alarcão (2005: 122)
é provável que esta partisse da extremidade Nordeste da Gardunha, passando pela
ribeira do Taveiró até à sua confluência com o Ceife que por sua vez retoma a ribeira de
Alpreade até ao Ponsul e Tejo. Pergunta, no entanto, se o limite nordeste não poderá
coincidir com a extrema oriental da Herdade da Cardosa (Alarcão, 2001: 299).
A análise do povoamento permite-nos tecer algumas considerações em relação a
esta fronteira (mapa 7). De facto, de sul para norte, subindo o curso do Ponsul
atingimos o povoado de S. Gens (97), sobranceiro à confluência da ribeira de Taveiró
com a ribeira de Alpreade. Julgamos que a linha demarcatória seguiria esta última até ao
contraforte Sudeste da Gardunha. Aqui transitava-se entre o Castelo Velho (58)
(Louriçal do Campo) a poente e o núcleo de povoamento composto por Sr.ª da Penha
(76), S. Roque (80) e Cabeço de S. Brás (82) a nascente, culminando no Cabeço da
Argemela (83).
Pensamos que este ocupa uma posição de grande relevância. R. Vilaça (2004a:
46) designa-o como povoado de “ponta” que controla o fluxo de entrada e saída na
Cova da Beira. Reforçando esta ideia poderíamos talvez classificá-lo como “povoado
trifinium”, que delimita não só os Tapori dos Igaeditani, mas também destes com o
povo que se encontrava instalado na Cova da Beira (os prováveis Ocelenses
Lancienses). Retomaremos a seguir este conceito.
De todos os populi, os Igaeditani, apesar de não serem mencionados por Plínio e
Ptolomeu, são os que oferecem menos dificuldade na sua localização, pois é inequívoco
que as ruínas de Idanha-a-Velha correspondam à sua capital.
Encontram-se confinados a ocidente pelos Tapori e a oriente provavelmente pelo
rio Erges. Embora se equacione a possibilidade destes se prolongarem para além deste
curso fluvial, por território actualmente espanhol (Alarcão e Imperial, 1996: 42).
Para estabelecer o seu limite Norte e Noroeste, deverá ter-se em linha de conta
os dois termini augustale encontrados em Salvador e Peroviseu. Esta questão
140
complexifica-se quando atentamos nos populi que, nestes marcos, se apresentam como
seus confinantes naquelas direcções.
O terminus augustalis encontrado na povoação de Peroviseu 48 (Fundão)
(Monteiro, 1974; Vaz, 1977: 27-29) menciona Igaeditani e Lancienses sem qualquer
determinativo. A aproximadamente 33 km. a su-sueste, na povoação de Salvador
(Penamacor), um outro marco (CIL II 460) delimita Igaeditani e Lancienses Oppidani.
Ambos os termini são datáveis do tempo de Augusto, de 4 ou 5 d. C..
O problema de definição destes territórios reside na incerteza em saber quantos
Lancienses existiriam, se dois ou três.
Os termini de Augusto, referem Lancienses sem apelativo e Lancienses
Oppidani. Plínio (IV, 35, 118) menciona Lancienses sem outro apelativo e Ocelenses
Lancienses 49 .
Porém, na inscrição da ponte de Alcântara apenas surgem retratados os
Lancienses Transcudani e os Lancienses Oppidani. Contudo, esta última epígrafe é
datada de 105 d. C. (época de Trajano). Poderemos presumir que no tempo de Augusto
existiriam três Lancienses e que, entre este e Trajano, se tenham fundido apenas em
dois, os Oppidani e os Transcudani. No entanto, esta problemática envolve a articulação
48
Trata-se de uma placa de granito retirada em 1971 da casa paroquial de Peroviseu, onde se encontrava
reaproveitada como material de construção. A polémica gerada em torno desta epígrafe assenta em saber
qual o local de origem da sua deposição e na possibilidade de não se tratar de um original. J. Monteiro
(1974), o investigador que a descobriu, afirma ser um exemplar autêntico. Contudo, J. I. Vaz (1977: 29) e
J. de Alarcão (1998: 35) contrapõe dizendo que poderá tratar-se de uma cópia talvez realizada no século
XVIII. Hoje parece consensual considerar o seu texto verdadeiro, mesmo que não original. O problema
talvez resida no avivamento dos caracteres que a peça sofreu em data remota.
Outra questão que se coloca é o do seu local de origem na antiguidade. Segundo J. de Alarcão e F.
Imperial (1996: 41) esta inscrição poderia ter vindo de Souto da Casa (Fundão), na vertente norte da serra
da Gardunha, onde o padre de Peroviseu teria exercido o seu munus anteriormente. No entanto, estes
autores acabam por considerar esta hipótese pouco provável, pois no caso da peça daí provir deveríamos
estar perante um trifinium entre Igaeditani, Lancienses e Tapori, já que esta localidade se encontra no
limite de duas regiões naturais: a serra da Gardunha e a Cova da Beira. Acabam por admitir que a
proveniência deste marco deverá ser mesmo Peroviseu.
49
Plínio IV, 35, 118: “De entre os ópidos estipendiários, sem custo se podem citar (…) os seguintes:
Lancienses (…) Ocelenses Lancienses (…)” (apud Guerra, 1995: 35). Segundo A. Guerra (1995: 111112) “é preferível manter-se a lição de Ocelenses Lancienses, uma vez que não há necessidade de
subentender uma expressão do tipo qui et, que ocorre nestas listas mas que tem alcance diferente” e que J.
Alarcão e F. Imperial (1996), consideram plausível apesar das reservas de diversos autores.
141
de vários pressupostos que a tornam bastante complexa. Para além de transpor o âmbito
cronológico proposto para o nosso estudo, não sentimos que seja útil alongarmo-nos
mais neste tema pois, perante os dados arqueológicos e epigráficos disponíveis,
julgamos não ser possível apresentar argumentos que permitam confirmar ou infirmar as
teses já existentes 50 . Independentemente dos etnómios que ostentem, a existência de três
áreas bem delimitadas faz com que consideremos a presença de três populi distintos.
Retomando o limite nordeste dos Igaeditani (mapa 7), verificamos a presença
do povoado de Pedrichas (100) próximo de Salvador. Deste, propomos um alinhamento
fronteiriço que deveria seguir pela bacia do Bazágueda passando ao largo do povoado
de Monte do Frade (104), Penamacor e da estela da Cabeça Gorda (102). O limite
setentrional do território dos Igaeditani deverá perfilhar a fieira que do Cabeço da
Argemela (83) cruzaria a serra de Peroviseu, pelos povoados de Cabeça Gorda (84)
Quinta da Samaria (69) e Pedra Aguda (78).
De facto, a serra de Peroviseu parece-nos efectivar um limite nítido, não só pela
densidade populacional aqui verificada, como também pela sua articulação com outros
aspectos. Entre eles, e para além do terminus encontrado em Peroviseu, destaca-se a
inscrição rupestre romana identificada 51 junto ao povoado da Quinta da Samaria. Esta
serra é ainda hoje utilizada como estrema entre os concelhos da Covilhã e Fundão,
marcada a Nordeste pelo sítio da Pedra Aguda, para além de demarcar a bacia da ribeira
da Meimoa da bacia do Zêzere. Este local encerra uma certa mística devido
essencialmente ao gigantesco afloramento granítico constituído por duas pedras, uma
delas disposta na vertical e de formato pontiagudo, que se eleva de forma espectacular
junto ao topo da vertente oriental da serra. O carácter medianamente escarpado de toda
esta eminência e o acentuado declive da vertente proporcionam um grande destaque na
paisagem, estendendo-se o horizonte visual a Norte até ao sopé da serra da Estrela e a
Sul até à Gardunha. Para além disso, encontra-se sobranceira em relação à passagem
natural que se desfecha daqui até à povoação de Salgueiro, possibilitando o trânsito
entre Cova da Beira e bacia da ribeira da Meimoa.
50
Sobre esta problemática leia-se essencialmente Alarcão e Imperial, 1996; Alarcão, 2005 e Guerra,
1995: 109-112.
51
Redentor, A., Osório, M. e Carvalho, P. (no prelo), “A inscrição rupestre da laje do Adufe (Ferro,
Covilhã)”, Ficheiro Epigráfico, Instituto de Arqueologia da FLUC.
142
Esta localização permite integrar no território deste povo os povoados da Tapada
das Argolas e Covilhã Velha e o curso médio da ribeira da Meimoa. Ao incluirmos esta
última, rivalizamos com a hipótese lançada por J. de Alarcão (2001: 298) que remete
esta linha de água para os Ocelenses Lancienses.
Retomando o limite Noroeste dos Igaeditani, pensamos que este deveria
acompanhar o curioso alinhamento (já referido por R. Vilaça (2004a: 52) (mapa 7) que
da Pedra Aguda (78) seguiria por Cabeço do Escarigo (81), Sortelha-a-Velha (101) e
Vale da Sr.ª da Póvoa (106). Classificamos o último também como povoado de “ponta”,
uma vez que serviria de trifinium entre estes e os Ocelenses Lancienses (ou o povo
fixado na Cova da Beira), e Lancienses Transcudani (tradicionalmente colocados no
planalto Guarda – Sabugal).
Gostaríamos de vincar a posição destes povoados de “ponta”, dominando e
muito próximos de zonas de passagem naturais. O Cabeço da Argemela situa-se junto
ao corredor de entrada e saída na zona sul da Cova da Beira. Por sua vez, o povoado de
Vale da Sra. da Póvoa, para além de marcar o rebordo da Meseta, encontra-se
implantado no topo da serra da Opa controlando o fluxo entre Meseta e Cova da Beira.
A Nordeste situamos os Lancienses Oppidani. O seu território abrangeria
maioritariamente terras actualmente espanholas (Alarcão, 2001: 299) encontrando-se
demarcados pela região natural do Alto Erges. Se a Sul e Este confinariam (como
vimos) com os Igaeditani, a Norte, limitados pelos contrafortes das serras da Malcata e
Gata, faziam fronteira provavelmente com os Lancienses Transcudani.
A Cova da Beira encontra-se bem individualizada do ponto de vista geográfico,
estando acomodada na depressão entre Estrela e Gardunha e pelo sugestivo alinhamento
Cabeço da Argemela – Pedra Aguda (considerando também a serra de Peroviseu como
acidente geográfico significativo) – Vale da Sr.ª da Póvoa.
O limite setentrional deverá distinguir esta região do planalto Guarda / Sabugal.
Numa primeira análise, fixámos esta fronteira sobre a linha setentrional dos actuais
concelhos de Belmonte e Covilhã, ou seja, por um alinhamento sugerido pelo
posicionamento dos povoados Vale da Sr.ª da Póvoa (106), Chandeirinha (53) e Serra
da Rachada (75). No entanto, uma observação mais cuidada levou-nos a reconsiderar
este limes, tendo em conta a fileira de povoados (mapa 7) composta por Vale da Sr.ª da
143
Póvoa (106), Castelejo (41), S. Cornélio (43), Cabeço dos Mouros (36) e Cabeço das
Fráguas (8) (implantados numa cordilheira visível a grandes quilómetros de distância
(Alarcão, 2001: 297)), rematando no povoado de Serra de Bois (16).
O terminus augustalis de Peroviseu coloca nesta área da Cova da Beira uns
Lancienses. Para além da menção de Plínio (IV, 35, 118) aos Ocelenses Lancienses,
uma inscrição do Ferro relaciona o epíteto Ocelaicus atribuído a divindades da região
como Arâncio e Arância (Guerra, 1995: 111). No entanto, não nos devemos esquecer
que Ptolomeu (2, 5, 9) coloca este povo entre os Vetões. Nada temos de irrefutável que
comprove que esta região terá sido ocupada pelos Ocelenses Lancienses. Apenas
defendemos que esta área bem delimitada, com amplos recursos e densamente povoada
terá sido a “pátria” de um populus distinto dos demais.
A região do planalto Guarda / Sabugal é tradicionalmente associada aos
Lancienses Transcudani, mas a delineação das suas fronteiras comporta várias
propostas.
Estabelecemos o limite meridional na serra da Malcata e no alinhamento atrás
referido. No entanto, a estrema oriental, tal como toda a Raia, oferece-nos bastantes
dúvidas. Durante algum tempo o etnómio Cuda foi associado ao rio Côa o que colocava
este populus refundido para além da margem esquerda do Côa (Alarcão, 2005: 125).
Porém, F. Curado (1988-1994: 216) afirma que o Côa se intitulava, durante o período
romano, Cola e que Cuda poderia relacionar-se assim com a serra da Malcata (limite
meridional). Embora aceitando esta proposta, não poderemos olvidar as diferentes
características de implantação do povoamento constatado na margem direita do Côa.
Verifica-se aqui a preferência de assentamento no topo de cabeços pouco destacados,
contrastando com os povoados de altura da margem esquerda. Para além disso, M.
Osório (2005: 47) sustenta que a integração do vale superior do rio Côa no território
lusitano é dificultada pela falta de evidências geográficas (verifica-se a continuidade
física do planalto da Meseta) a ocidente do Alto Côa que possa ser considerada como
uma barreira genuína entre aqueles e as comunidades vetãs 52 . Caso esta proposta se
legitime, o importante povoado do Sabugal teria que ser encarado como local
fronteiriço, possivelmente integrado na civitas de Mirobriga.
52
Note-se que o traçado do rio Côa foi até 1297 uma fronteira política.
144
Segundo J. de Alarcão e F. Imperial (1996: 42), a fronteira setentrional dos
Lancienses Transcudani seguiria os limites dos actuais concelhos do Sabugal e Guarda.
Neste particular, destacamos a posição dos povoados de Castelo Mendo (1), Jarmelo
(10) e Alvendre (7) que num hipotético alinhamento até Celorico da Beira 53 poderão
também ser considerados castros fronteiriços.
A Norte confrontavam-se com os Aravi e Cobelci (Alarcão, 1998).
A identificação dos primeiros assegura-se a partir da leitura da inscrição
honorífica consagrada a Adriano pelas civitas Aravorum (CIL II 429), encontrada em
Marialva.
A oriente, encontrando-se delimitados pelo Côa ou ribeira das Cabras, parecem
confinar com os Cobelci, conforme atesta a inscrição encontrada em Almofala dedicada
a Jupiter Optimus Maximus pela civitas Cobelcorum (Alarcão, 1998: 146). A ausência
de menção deste populus na inscrição da ponte de Alcântara provoca algumas
reticências em relação à sua localização. No entanto, J. de Alarcão (1998: 146) salienta
que a alusão destes poderia encontrar-se na/s lápide/s perdidas, onde figurariam outras
civitas como Mirobriga ou Bletisa.
O seu limite oriental (tal como o dos Meidubrigenses a Norte) deverá fixar-se no
rio Águeda. A escassez de escultura zoomórfica (berrões) e de cerâmica a peine a
ocidente deste curso fluvial (Alarcão, 2001: 296) parece comprovar este facto.
Os Cobelci e os Aravi confinavam a Norte com os Meidubrigenses (mapa 7).
Também aqui, a posição de alguns povoados poderá sugerir a fronteira setentrional
daqueles. Neste sentido, partindo do povoado de Sto. André 54 (3), o alinhamento
deveria coincidir com a serra da Marofa 55 (onde se situa o Castelo da Sr.ª de Monforte
(4)) até Porto da Vide / Bogalhal Velho (21), implantado sobre a confluência da ribeira
das Cabras com o Côa.
53
Segundo J. de Alarcão (1998: 145), esta localidade poderia constituir um trifinium entre os Aravi,
Interannienses e Lancienses Transcudani.
54
Destaca-se o aparecimento neste povoado de duas esculturas zoomórficas (um touro e um porco) que
poderá sugerir a proximidade da fronteira com os Vetões.
55
No entanto, tendo em conta que o rio Côa percorre o seu trajecto final em vale encaixado (com poucos
pontos de passagem), perguntamo-nos se a fronteira entre Cobelci e Meidubrigenses não se poderia
materializar neste curso fluvial.
145
Classificamos também este local como povoado de ponta que marcaria o
trifinium entre Cobelci, Aravi e Meidubrigenses. Note-se aqui o achado de um depósito
de artefactos em bronze que poderá cimentar este facto.
A partir daqui, já em território exclusivo dos Aravi, acompanha-se o curso médio
do Côa passando por Castelo dos Mouros de Cidadelhe (22). O remate setentrional
deste populus poderá estabelecer-se na linha marcada pela depressão de Longroiva
(Alarcão, 1998: 145), cruzando o povoado da Tapada do Castelo (17) e Castelo Velho
da Meda (18).
A Norte, como vimos, localizavam-se os Meidubrigenses. A sua capital
(Meidobriga) foi anteriormente colocada em Freixo de Numão (50) (Alarcão, 1998:
145). Esta hipótese, que já suscitara críticas (Vaz, 1997: 321), foi entretanto declinada
(Alarcão, 2005: 128).
O limite ocidental deste populus parece suscitar algumas reservas, podendo
provavelmente fixar-se na ribeira da Teja 56 ou até no rio Torto (Alarcão, 1998: 145).
Por outro lado, estariam restringidos a Norte pelo rio Douro e a oriente pelo rio Águeda.
J. de Alarcão (2001) abandona a hipótese, por ele antes aventada (Alarcão,
1998), de que todos os populi mencionados na inscrição da ponte de Alcântara se
integrariam no grupo Lusitani. Constatando a ausência de divindades ditas de lusitanas
entre os Interannienses, Coilarni, Aravi, Medubrigenses, Arabrigenses, Banienses e
Paesuri (Alarcão, 2001: 343), subtrai-os daquela etnia.
Embora não ignoremos este facto, teremos que ter em linha de conta outros
aspectos: os motivos iconográficos do baixo Côa (onde surgem representados o que
talvez poderemos classificar de guerreiros Lusitanos em pleno território dos
Meidubrigenses – vide supra 10); as semelhanças ao nível da distribuição espacial e
características do povoamento e a inexistência de assimetrias notáveis entre a cultura
material em toda a nossa área de estudo. Assim sendo, julgamos ser legítimo incluir
Aravi e Medubrigenses entre os populi Lusitani.
56
De notar a posição sobranceira dos povoados do Alto de Sta. Eufémia (49) e Castelo Velho de Seixas
(51) e o controlo visual que exercem sobre este curso de fluvial.
146
Por fim, deveremos destacar algumas particularidades visíveis entre os povoados
situados sobre as possíveis linhas de fronteira entre populi.
Tratam-se de sítios de média dimensão, localizados próximo de zonas de
passagem, quase todos fortificados e que reflectem uma ocupação, contínua (?) ou
descontínua, ao longo do I milénio a. C.
É caso para questionar, tal como R. Vilaça (2004a: 52) se “ (…) poderemos
encará-los como testemunho de uma “zona tampão”, neutral, de assinalável
concentração demográfica e de trânsito particularmente intenso?” Pergunta para a qual
não encontramos resposta.
Consideramos que o esforço que empreendemos para o entendimento da
geografia político-administrativa desta região contribuiu, mais uma vez, para a
complexificação do problema e estabelecimento de outras dúvidas e desacordos. No
entanto, esperamos que tal enredo possa ser entendido como sinal de progresso, num
tempo “ainda de interrogações e não de certezas” (Alarcão, 2005: 129).
147
12.CONCLUSÕES
Ao longo deste estudo fomos traçando linhas de pensamento, quase sempre
meras conjecturas ou exercícios retóricos dado o conjunto de lacunas e insuficiências da
informação disponível, sobre a génese e transformação das estruturas de povoamento no
evoluir do I milénio a. C. na Beira Interior. Deste modo, querer redigir uma conclusão
poderá ser visto como um contra-senso. Este trabalho deverá ser entendido como um
balanço da investigação realizada e uma tentativa de estabelecer um conjunto de
propostas a desenvolver no âmbito desta temática. Se nada de novo trouxemos a esta
discussão, então que esta dissertação seja encarada como um último desesperante e
definitivo ponto da situação.
Confrontando todas as interrogações suscitadas no decorrer deste ensaio com os
dados disponíveis, facilmente nos apercebemos que estamos ainda no “prefácio” de um
real entendimento dos antigos modelos de povoamento. O estado actual dos
conhecimentos é de tal modo escasso que se afigura até arriscado assumir como
representativo o pouco que se conhece.
Esta débil investigação reflecte-se na quantidade de sítios escavados, 31 dos 93
povoados inventariados. No entanto, apenas 15 destas intervenções foram devidamente
publicadas ou apresentam resultados minimamente esclarecedores ou satisfatórios e
somente quatro (Sabugal Velho (29), Sabugal (39), Freixo de Numão (50) e Cabeço das
Mós (129)) se podem destacar no estudo da Idade do Ferro.
Estas assimetrias intensificam-se ao debruçarmo-nos em cada sub-região.
Na Beira Interior Sul e Cova da Beira (tabela 3.3 e 3.4) devemos realçar a acção
investigadora de R. Vilaça. No entanto, esta autora tem direccionado os seus estudos
para a fase final da Idade do Bronze, não existindo nesta imensa área nenhum sítio da
Idade do Ferro minimamente conhecido. Na Beira Interior Sul apenas se inventariaram
cinco sítios (tabela 3.4) que revelam ocupações daquele período.
No Pinhal Interior (tabela 3.5), aguardamos com expectativa que C. Batata e P.
Félix frutifiquem e divulguem os resultados dos projectos que têm em curso.
No Planalto Guarda/Sabugal (tabela 3.2), M. S. Perestrelo e M. Osório têm
realizado intervenções nalguns povoados. Embora ainda numa fase inicial de seus
148
trabalhos, há que convergir estes estudos para uma escala micro-regional e
minimamente coerente.
Menos satisfatórias, as investigações realizadas junto à foz do Côa que têm
privilegiado os períodos anteriores ou posteriores ao I milénio a.C. Importa
contextualizar e compreender estas comunidades que nas margens daquele rio deixaram
gravados importantes testemunhos que só assim poderão ser correctamente
interpretados. Nesta área são poucos os vestígios conhecidos integrados no Bronze Final
(tabela 3.1). Facto que nos permite questionar sobre o que terá sucedido com as
comunidades que ocuparam os povoados datados do Bronze Inicial / Médio tão bem
representados na região.
Até há pouco tempo atrás, estando a Beira Interior incorporada nas zonas mais
periféricas do continente europeu, presumia-se que esta região se teria desenvolvido em
ritmo lento. Contudo, a partir, essencialmente, de vários elementos da cultura material,
sabemos que toda esta área apresenta um vasto registo de influências de carácter
exógeno. Não obstante, a sua interioridade e consequente imagem de isolamento, a
Beira Interior foi eixo de importantes comunicações e pólo de atracção, onde confluíam
influências e contactos atlânticos, mediterrâneos e continentais que deverão ser melhor
caracterizadas. Esta região constitui assim uma área-chave para o entendimento de
muitas das realidades da Proto-história do extremo ocidente peninsular. Neste sentido,
urge esclarecer as várias questões que colocámos ao longo deste trabalho.
Relativamente ao Bronze Final, os trabalhos de R. Vilaça, desenvolvidos no
centro e sul da Beira Interior, traçaram o primeiro perfil cultural das comunidades
daquela área específica. Contudo, será importante contextualizar aqueles resultados com
os vestígios identificados nas outras sub-regiões que compõem a Beira Interior, assim
como reequacionar e aprofundar as várias questões que aquela autora trouxe para a
discussão. Para além destas, gostaríamos de salientar alguns outros problemas que para
nós deverão ser igualmente de premente resolução.
Neste trabalho demonstra-se mais uma vez o fenómeno de preferência de
assentamento em lugares destacados na paisagem, quase sempre alcantilados e
estrategicamente posicionados. Todavia, deveremos ter em linha de conta que a par
destes parecem ter coexistido outros de natureza distinta, os casais agrícolas. Estes sítios
149
são ainda pouco representativos e até ao momento circunscrevem-se a três exemplares
localizados junto ao Tejo. Será que se deve interpretar este facto como um
“regionalismo” relacionado com o vector geomorfológico do vale do Tejo? A sua
aparente ausência na restante região estudada não poderá ser fruto da escassa
investigação ou produto das prospecções dirigidas efectuadas naquelas áreas? Ao
perspectivar-se a sua presença nas outras sub-regiões da Beira Interior como
encaixariam no quadro do povoamento do Bronze Final? Que tipo de relação (se esta
existe) teriam com os povoados de altura?
Outra das principais problemáticas que continua sem resposta prende-se com a
identificação (pelo menos em quatro dos povoados escavados por R. Vilaça) de
mecanismos de abandono de povoados no Bronze Final e a aparente ausência ou
escassez de soluções de continuidade ocupacional entre este período e o Ferro Inicial.
Apesar de já nos termos debruçado neste assunto (vide supra 7), importa realçar
a necessidade em determinar se realmente existe uma “desintegração da ordem social”
do Bronze Final na Beira Interior e quais os seus factores e consequências. Esta análise
deverá ser orientada à escala micro-regional isolando os vectores de continuidade e
descontinuidade que moldam a transformação estrutural destas comunidades.
O eixo desta questão resume-se à inexistência de um quadro cronológico e
cultural de referência para o I milénio a. C. na Beira Interior. Com efeito, todo o estudo
do período que sucede ao Bronze Final (tanto do Ferro Inicial como do Ferro Pleno e
romanização) continua por fazer, pelo que não conseguimos isolar apenas um ou dois
temas que necessitem ser prioritariamente esclarecidos. Só caracterizando por inteiro a
Idade do Ferro poderemos interpretar algumas das problemáticas que subsistem do
Bronze Final e definir os processos evolutivos das estruturas de povoamento ao longo
do I milénio a. C.
Para alcançar este objectivo é forçoso encetar um trabalho de base
consubstanciado em “materialidades susceptíveis de caracterização, contagem, medição,
comparação, etc.” (Vilaça, 2005: 14).
A estruturação de um discurso abrangente (tendo em conta as dinâmicas
económicas e sociais) e objectivo sobre a evolução da estrutura do povoamento ao
longo do I milénio a. C. na Beira Interior deverá fundamentar-se, inevitavelmente, no
150
esclarecimento destas e de outras problemáticas mencionadas neste trabalho, afastandonos da tendência em adoptar teorias pré-feitas apoiadas, por vezes, em convicções que
carecem de valor científico.
Estamos igualmente crentes que após a dilucidação destes assuntos estaremos
melhor posicionados para desmistificar ou caracterizar devidamente os povos Lusitanos
de quem tanto se fala e muito pouco ou nada se conhece.
Coimbra, Novembro de 2005
151
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RICARDO COSTEIRA DA SILVA
GÉNESE E TRANSFORMAÇÃO
DA ESTRUTURA DO POVOAMENTO
DO I MILÉNIO a.C. NA BEIRA INTERIOR
VOLUME II - ANEXOS
FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
2005
Capa: Rocha 1 da Vermelhosa (segundo Baptista, 1999)
Ricardo Costeira da Silva
GÉNESE E TRANSFORMAÇÃO DA ESTRUTURA DO POVOAMENTO
DO I MILÉNIO a. C. NA BEIRA INTERIOR
Volume II - Anexos
Dissertação de Mestrado em Arqueologia,
área de especialização de Arqueologia Regional,
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
sob orientação da Professora Doutora Raquel Vilaça e
a co-orientação do Professor Doutor Jorge de Alarcão
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2005
ÍNDICE
1. INVENTÁRIO DOS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS. .....................................................................................1
1.1. INTRODUÇÃO. ...................................................................................................................................1
1.2. CRITÉRIOS DE APRESENTAÇÃO........................................................................................................3
1.3. CATÁLOGO A. ..................................................................................................................................8
1.4. CATÁLOGO B. .................................................................................................................................60
TABELAS
TABELA 1: POVOADOS COM OCUPAÇÃO DO BRONZE FINAL
TABELA 2: POVOADOS COM OCUPAÇÃO DO FERRO PLENO
TABELA 3.1: QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO MÉDIO E BAIXO CÔA (REGIÃO A 1)
TABELA 3.2: QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO PLANALTO GUARDA / SABUGAL (REGIÃO A 2)
TABELA 3.3: QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NA COVA DA BEIRA (REGIÃO B)
TABELA 3.4: QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NA BEIRA INTERIOR SUL (REGIÃO C)
TABELA 3.5: QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO PINHAL INTERIOR (REGIÃO D)
MAPAS
MAPA 1: DIVISÃO ADMINISTRATIVA DA ÁREA DE ESTUDO
MAPA 2: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DO I MILÉNIO a. C. NA BEIRA INTERIOR
MAPA 3: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DO BRONZE FINAL NA BEIRA INTERIOR
MAPA 4: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DO FERRO INICIAL NA BEIRA INTERIOR
MAPA 5: VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DO FERRO PLENO NA BEIRA INTERIOR
MAPA 6: AS VIAS DE CIRCULAÇÃO NATURAIS NA BEIRA INTERIOR DURANTE O I MILÉNIO a. C.
MAPA 7: LOCALIZAÇÃO DOS POPULI
MAPA 8: DISTRIBUIÇÃO DAS CERÂMICAS TÍPICAS DO BRONZE FINAL NA BEIRA INTERIOR
MAPA 9: DISTRIBUIÇÃO DAS CERÂMICAS TÍPICAS DA IDADE DO FERRO NA BEIRA INTERIOR
FIGURAS
FIGURA 1: TERRITÓRIOS TEÓRICOS DE EXPLORAÇÃO DOS POVOADOS DE CASTELOS VELHOS E PICOTO
FIGURA 2: TERRITÓRIOS TEÓRICOS DE EXPLORAÇÃO DE COVILHÃ VELHA, TAPADA FUNDEIRA, PEIXEIRA E
CABEÇA DE BOI
FIGURA 3: LOCALIZAÇÃO DA ARTE SIDÉRICA DO VALE DO CÔA E ALTO DOURO
FIGURA 4: ROCHA 1 DA VERMELHOSA
FIGURA 5: ROCHA 3 DA VERMELHOSA
FIGURA 6: LOCALIZAÇÃO DA ARTE RUPESTRE DO I MILÉNIO a. C. DO MÉDIO ZÊZERE
ESTAMPAS
ESTAMPA I: MATERIAIS
CERÂMICOS DE PEDRA AGUDA, SERRA DA RACHADA E CASTELO VELHO DE
LOURIÇAL DO CAMPO
ESTAMPA II: MATERIAIS CERÂMICOS DO MONTE DE S. BRÁS
ESTAMPA III: MATERIAIS CERÂMICOS DO MONTE DE S. BRÁS
ESTAMPA IV: MATERIAIS CERÂMICOS DA QUINTA DA SAMARIA
ESTAMPA V: MATERIAIS CERÂMICOS DA QUINTA DA SAMARIA
ESTAMPA VI: MATERIAIS CERÂMICOS DA QUINTA DA SAMARIA
ESTAMPA VII: MATERIAIS CERÂMICOS DA QUINTA DA SAMARIA
ESTAMPA VIII: MATERIAIS CERÂMICOS DO CASTELEJO DO TOSTÃO
ESTAMPA IX: MATERIAIS CERÂMICOS DE ALFAIATES E SORTELHA-A-VELHA
|1
1. INVENTÁRIO DOS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS
1.1. INTRODUÇÃO
A elaboração de um inventário dos vestígios arqueológicos da região abarcada
pelo nosso estudo constituiu, desde o início, a base onde assentaria a nossa interpretação
e entendimento do quadro do povoamento ao longo do I milénio a. C.
O esforço de catalogação permitiria, numa perspectiva teórica, alcançar os
nossos objectivos, facultando a formulação de questões sobre padrões de assentamento,
evolução do povoamento ou aspectos relativos à organização económica, social e
política daquelas comunidades.
Perante as dificuldades em realizar escavações, a prospecção arqueológica de
superfície afigura-se como o melhor meio prático de proporcionar uma maior
quantidade (embora pouca informação) de dados passíveis de compor um catálogo.
Embora cientes da sua importância, a organização deste inventário não contou
minimamente, no seu germe, com as prospecções desejáveis devido aos diversos
condicionalismos já expostos (capítulo 1, volume I).
Tal tarefa, numa área tão vasta, só poderia ser realizada com amplos recursos
humanos e económico-financeiros que nunca chegámos a dispor. Limitámo-nos apenas
a visitar alguns sítios (já conhecidos) que poderiam ser considerados os mais
representativos e a realizar algumas prospecções dirigidas ao topo de proeminências
topográficas sugestivas, que se revelaram manifestamente insuficientes.
Por outro lado, a densa cobertura vegetal que envolve grande percentagem dos
locais visitados dificultou a observação de possíveis estruturas ou de quaisquer outros
elementos, como a cerâmica, que permitissem esboçar a sua cronologia de ocupação ou
enquadramento cultural.
Assim sendo, o catálogo A resulta essencialmente dos dados retirados da
pesquisa bibliográfica que efectuámos que procurou ser exaustiva.
Procurámos inventariar todos os vestígios arqueológicos, inseríveis no I milénio
a. C., que se encontravam referenciados nas diversas publicações sobre a região. Porém,
relativamente a este aspecto, deparámo-nos igualmente com algumas dificuldades.
|2
De um modo geral, as publicações mais antigas apresentam por vezes
referências bastante sumárias e imprecisas que nos levaram a colocar reservas em
relação à cronologia e/ou localização dos achados. De facto, muitas das estações
referenciadas não foram objecto de qualquer estudo mais específico. Em alguns casos
identificaram-se sítios apenas com base nas suas características topográficas ou na
observação de vestígios de estruturas. Noutros recolheram-se fragmentos cerâmicos que
não nos permitem, só por si, assegurar uma ocupação dentro do nosso âmbito
cronológico. Para além disso, raras vezes se apresenta uma localização concreta baseada
em coordenadas geográficas 1 . Foi-nos impossível visitar todos estes sítios de modo a
confirmar ou infirmar tais dados ou suspeitas.
Deste modo, com o intuito que o nosso estudo partisse de bases minimamente
sólidas ou credíveis, vimo-nos obrigados a arredar aquelas informações do nosso
catálogo e da respectiva análise e interpretação.
No entanto, consideramos que não obstante as dificuldades de localização ou de
estabelecer sincronias entre eles, a sua possível existência poderá funcionar (se um dia
confirmados) como indicador arqueológico e cultural, tornando-se úteis para
compreender as características e a densidade do povoamento proto-histórico da região.
Por isso mesmo, resolvemos criar um catálogo secundário, independente do
primeiro, onde se sistematizam todos os casos dúbios de que temos conhecimento. Este
inventário B não será cartografado nem tido em linha de conta no nosso estudo (salvo
1
Um bom exemplo desta circunstância é a obra Roteiro dos monumentos militares portugueses
(1945; 1946; 1948) do General João de Almeida, sintomaticamente revista com bastante precaução
devido sobretudo à ambiguidade dos seus registos. Este autor cataloga dezenas de fortificações “lusitanoromanas” e castros de pretensa ocupação “eneolítica”. A somar a esta obscura classificação cronológica
verifica-se a ausência de quaisquer vestígios de superfície em grande parte dos locais apontados por
aquele. Se em relação ao primeiro aspecto podemos apontar a pobre preparação arqueológica do autor, já
relativamente à invisibilidade do registo de superfície as causas poderão ser diversas como a erosão e
crescimento arbustivo. Expressivo deste facto é o povoado da Serra de Bois (Guarda) visitado por João de
Almeida (1943: 67-69) a primeira vez em 1920, onde regista as ruínas de um castro que na década de 40
já não são visíveis. Somos portanto forçados a admitir que nos sessenta anos que nos separam da edição
da sua obra muitos daqueles sítios poderão ter-se degradado e tornado invisíveis. No entanto, devido à
incongruência do registo, estes dados não poderão ser tomados em linha de conta na interpretação até
serem confirmados.
|3
raras excepções devidamente justificadas e indicadas). Deverá apenas ser entendido
como uma base de dados que aguarda confirmação (alguns há quase um século) e
respectiva correcta localização.
Integramos ainda neste catálogo B alguns vestígios que surgem mencionados na
base de dados Endovélico do Instituto Português de Arqueologia. Tratam-se de casos
que surgem ali referenciados pela leitura dos mesmos textos que consideramos
duvidosos ou através do resultado de trabalhos, essencialmente de acompanhamentos
arqueológicos, realizados na região. Perante a dificuldade sentida em consultar aqueles
relatórios, a informação patente naquela base de dados, para além de não fornecer a
localização precisa dos respectivos vestígios, mostra-se manifestamente insuficiente
para que considerássemos as suas classificações cronológicas ou tipológicas como
seguras, sem que dela pudéssemos pôr em prática o nosso espírito crítico.
Por último, devemos salientar a pesquisa e análise dos materiais que se
encontram depositados no Museu Municipal do Fundão, na Câmara Municipal de
Castelo Branco e Câmara Municipal do Sabugal 2 .
Apesar de todas as limitações, procurámos ser exaustivos na sistematização da
documentação disponível, tendo em vista a análise de todos os vestígios arqueológicos
adstritos ao I milénio a. C. conhecidos nesta região.
1.2. CRITÉRIOS DE APRESENTAÇÃO 3
Na sua essência, a apresentação do catálogo deriva, numa primeira fase, do
preenchimento de uma ficha individual de cada sítio, que se criou para o efeito. Esta
subentende a organização de campos de individualização/identificação, de registo
(descrição do meio físico e ambiental e dos achados), de interpretação (classificação
2
Agradecemos a disponibilidade demonstrada pelo Dr. João Mendes Rosa (director do Museu do
Fundão), da Dr.ª Sílvia Moreira (arqueóloga da Câmara Municipal de Castelo Branco) e do Dr. Marcos
Osório (arqueólogo da Câmara Municipal do Sabugal).
3
Devemos mencionar que o esquema gráfico utilizado na apresentação do catálogo baseia-se no modelo
apresentado por Maria da Conceição Lopes em A cidade romana de Beja: percursos e debates em torno
da” civitas” de Pax Iulia, IAFLUC, 2003.
|4
cronológica e tipológica) e um item “auxiliar” ou de bibliografia (observações e
referências anteriores).
No entanto, a apresentação do catálogo deverá ser breve e clara, obedecendo a
uma lógica de racionalidade de informação. Pretendeu-se realizar uma compilação
exaustiva do património arqueológico conhecido (do I milénio a. C.) de forma abreviada
mas, ao mesmo tempo, que contemplasse o máximo de informação susceptível de
outros a poderem ampliar.
Tratando-se de uma região vasta que compreende áreas de quatro diferentes
distritos, optou-se pela ordenação geográfica dos mesmos de norte para sul (Guarda,
Castelo Branco, Santarém, Portalegre 4 ). Contudo, uma vez que cada distrito integra
territórios de distintos concelhos e, dentro destes, de diversas freguesias, seguimos
respectivamente a ordem alfabética na sua apresentação.
Cada sítio possui um número referência, que segue a ordem atrás descrita e que
serve para o individualizar, nomeadamente na base cartográfica.
Este número antecede a designação do sítio, que corresponde ao nome da
estação ou ao local onde foram encontrados os achados. Quando um local apresenta
diversas designações indicamos a mais usual. Porém, se pertencer a duas freguesias
mencionam-se os dois topónimos pelos quais é conhecido.
Segue-se a respectiva integração administrativa (freguesia, concelho) e a
localização cartográfica. Indica-se o número da Carta Militar 1: 25000 editada pelos
Serviços Cartográficos do Exército, o seu posicionamento planimétrico (através de
coordenadas UTM 5 – projecção Universal Transversal de Mercator) e altimétrico
(altitude máxima do local onde se encontram os vestígios). Relativamente aos achados
avulsos, sabemos que muitas das referências de que dispomos não se reportam ao sítio
exacto da sua descoberta. Com efeito, optámos por ocultar a indicação das suas
4
Do distrito de Portalegre apenas se contempla a freguesia de Belver do concelho de Gavião, situada a
Norte da linha do Tejo.
5
Converteram-se todas as coordenadas em UTM (paralelo e meridiano). Estes valores podem assim ser
integrados no sistema de informação geográfica GIS. Esta cartografia digitalizada apresenta imensas
utilidades operativas pois permite trabalhar a uma escala tridimensional.
|5
hipotéticas coordenadas, apenas referindo o número da Carta Militar 1: 25000 onde se
inserem. No entanto, apontamos no mapa geral de localização dos vestígios
arqueológicos a sua localização aproximada. O mesmo sucede com os depósitos.
De seguida, aponta-se a classificação sumária do sítio. Optámos por contemplar
as categorias preconizadas por R. Vilaça (1995: 77). Assim sendo, os vestígios são
nomeados de achados avulsos (quando se trata de um objecto isolado e
descontextualizado); povoados (onde apenas se distinguem os que são fortificados);
depósitos (quando se encontram associados em contexto fechado vários artefactos
metálicos, substituindo as designações “esconderijos de mercador” e “tesouros”).
Ao contrário de R. Vilaça, incluímos as estelas (monólitos ou lajes de pedra
insculturados), embora sempre devidamente especificadas, no grupo dos achados
avulsos, pois nesta região encontram-se descontextualizadas 6 .
As minas e a arte rupestre não são contempladas neste catálogo por serem
tratadas à parte em capítulo próprio. Do mesmo modo, não se dá conta do grupo das
sepulturas ou necrópoles pois, na região, são desconhecidos quaisquer vestígios assim
indubitavelmente classificados 7 dentro do nosso âmbito cronológico.
Relativamente à classificação cronológica optou-se (dentro do âmbito que nos
afecta) distinguir apenas Bronze Final de Idade do Ferro. Poucos são os sítios onde
foram feitas escavações ou mesmo curtas sondagens (e dentro destes são raras as
situações que se encontram devidamente publicadas) permitindo uma caracterização
cronológica precisa. Quando dispomos destas informações preferimos expô-las no item
da descrição. Mesmo com esta classificação mais ampla, por vezes deparamo-nos com
algumas incertezas que são devidamente indicadas através de (?).
Por outro lado, pretendeu-se referir, nos casos onde se verifica, as ocupações
anteriores (Neolítico, Calcolítico por exemplo) e posteriores (Época romana e
medieval).
6
As estelas encontradas no Monte de S. Martinho (Castelo Branco) são referenciadas conjuntamente com
este povoado.
7
Não devemos esquecer os vestígios identificados no Monte de S. Domingos (60). No entanto, estes
encontram-se integrados numa estrutura de cariz habitacional.
|6
No item da descrição inscrevem-se as características particulares de cada sítio.
Inicia-se sempre esta exposição definindo as particularidades de implantação e
integração no meio ambiente envolvente de cada local. Contempla-se igualmente uma
sumária descrição das estruturas visíveis ou descobertas e debate-se, sempre que se
justifica, as interpretações e conclusões dos autores que a eles se referem. Por vezes, o
menor desenvolvimento concedido a esta descrição reflecte a escassa e débil natureza
dos dados e conhecimentos que possuímos de certos sítios.
Optámos por não intercalar esta exposição com referências bibliográficas
(excepto quando se trata de dados muito concretos), pois esta baseia-se na leitura dos
registos que indicamos no campo da bibliografia. No entanto, quando se indica (neste
item) mais de uma obra do mesmo autor menciona-se aqui o ano da publicação a que se
reporta a informação que referenciámos.
Este campo antecede o dos materiais que decidimos individualizar por julgarmos
poder facilitar a leitura e a própria análise do catálogo. Indica-se o conjunto de vestígios
artefactuais, referenciados ou recolhidos, que sejam mais relevantes para a
caracterização de cada estação.
Quando se trata de um achado avulso ou depósito este item é obviamente
suprimido, expondo-se toda a informação num único campo – o da descrição.
As referências bibliográficas surgem no fim, alinhadas por ordem cronológica.
Procurámos fornecer a bibliografia fundamental para a análise de cada vestígio.
Alertamos porém, para o facto de terem sido retiradas algumas referências por se
repetirem e nada acrescentarem de novo.
As estações inéditas são assim classificadas. No caso das ainda não publicadas e
não descobertas por nós indica-se o achador.
Após a completa apresentação do catálogo dos vestígios arqueológicos
confirmados, segue-se-lhe um segundo inventário, o catálogo B, onde se expõem todos
os casos duvidosos.
A sua ordem e modelo são semelhantes ao catálogo principal. No entanto,
devido às condicionantes atrás referidas, muitos dos campos ficam por preencher.
Suprimiram-se alguns dos dados relativos à localização dos achados. Muitas das
vezes desconhece-se com rigor a freguesia a que pertence, indicando-se nestes casos a
|7
povoação mais próxima. Do mesmo modo, é impossível indicar as coordenadas
geográficas. Nos poucos casos onde as mencionamos, a nossa dúvida reside somente na
natureza dos vestígios ou classificação cronológica atribuída.
Por fim, as questões relacionadas com a classificação cronológica dos vestígios
arqueológicos, assim como os materiais (individualizados no catálogo principal) serão
expostos e debatidos num único campo de descrição.
|8
1.3. CATÁLOGO A
ALMEIDA, 1945: 171-173; RODRIGUES,
1958a: 393-396; RODRIGUES, 1961: 3-13;
DISTRITO
DA
GUARDA
LÓPEZ MONTEAGUDO, 1989; LÓPEZ
JIMÉNEZ, 2002: 330; PERESTRELO, 2004:
CONCELHO DE ALMEIDA
Nº7.
2. CASTELO MAU, Valverde, Almeida.
1. CASTELO MENDO, Castelo Mendo,
Almeida. CM 194 [4595950, 736500 760].
Tipologia: Povoado Fortificado (?).
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro / Época Romana / Época Medieval.
Descrição: A actual povoação de Castelo
Mendo situa-se no topo de um monte
alcantilado na margem esquerda do Côa.
Dispõe de boas condições naturais de
defesa, sendo quase inacessível pelas
vertentes Este, Oeste e Sul. Almeida faz
referência à existência de restos de
muralha ciclópica, chegando mesmo a
classificá-lo como oppidum com três
ordens de muralha. Hoje apenas se
deslumbra a cerca medieval. Perestrelo,
com base na análise dos materiais abaixo
referidos, remonta a ocupação deste
morro ao Bronze Final.
Materiais: Almeida refere a descoberta
de cerâmica de construção e moedas
romanas. Rodrigues (1961) menciona a
descoberta de um machado de talão com
duas argolas e de uma ponta de lança,
ambos em bronze. Para além destes,
destaca-se a existência de dois berrões
que se encontram a ladear a porta
principal de entrada da povoação, junto à
muralha.
CM 183 [4511050, 672130 - 669].
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Cronologia: Bronze Final
Descrição:
Cabeço
granítico
bem
destacado na paisagem. Situado na
margem esquerda do rio Côa, assume
uma posição preponderante e de grande
domínio visual sobre este curso de água.
Apesar de difícil acesso, principalmente
pelas vertentes setentrional e nascente,
Perestrelo dá-nos conta da existência (na
parte mais elevada deste cabeço) de um
grande amontoado de pedras que se
poderá vir a confirmar tratar-se de uma
estrutura defensiva (neste caso uma torre
ou atalaia).
Materiais: Para além de cerâmicas
manuais grosseiras, Perestrelo recolheu
fragmentos com decoração incisa em
espinha
em
ambas
as
superfícies
(“Cogotas I”) e um fragmento com
mamilo. De notar, igualmente, a escassez
de moinhos de vaivém.
LÓPEZ
JIMÉNEZ,
PERESTRELO, 2004: 36-37.
2002:
180;
|9
CONCELHO DE FIGUEIRA DE CASTELO
Descrição: Esta estação ocupa o topo de
RODRIGO
dois cabeços que se levantam na margem
esquerda do Côa. Este rio traça aqui uma
3. SANTO ANDRÉ, Almofala, Figueira
curva acentuada, rodeando o povoado de
Castelo Rodrigo. CM 162 [4528449,
todos os lados excepto a nordeste. Não se
682475 - 555].
encontram
vestígios
de
fortificação.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Perestrelo salienta a presença de alguns
Cronologia: Idade do Ferro / Época
muros de planta circular e rectangular,
Romana.
vestígios de estruturas habitacionais.
Descrição: Situa-se no topo de um
Materiais: Perestrelo regista a presença
cabeço (rematado em esporão) destacado,
de cerâmica manual e ao torno. A sua
muito próximo e sobranceiro ao rio
maioria
Águeda. Dispõe de um amplo domínio
destacando-se apenas alguns fragmentos
visual sobre este curso de água e de boas
com superfície brunida e um fragmento
condições
defesa,
decorado com penteado ondulado e
essencialmente a norte e este. São ainda
punções, característico do Ferro Pleno.
visíveis as ruínas de uma linha de
Conta-se igualmente com a presença de
muralhas.
elementos de
Materiais: Para além do rico e variado
vaivém.
espólio de época romana destaca-se o
ALMEIDA,
aparecimento de dois berrões (um touro e
JIMÉNEZ, 2002: 180; PERESTRELO, 2004:
um porco) aquando das obras da capela.
39-40.
naturais
Rodrigues
menciona
cossoiros,
arrecadas
de
o
achado
de
ouro
e
de
tem
pastas
grosseiras
moinhos manuais
1945:
223-224;
de
LÓPEZ
CONCELHO DA GUARDA
fragmentos de ardósia com caracteres
5. PEDRA AGUDA (MONTE VERÃO),
latinos.
AZEVEDO,
1897:
185;
RODRIGUES,
1958c: 393-396; ÁLVAREZ SANCHIS,
Aldeia
Viçosa,
Guarda.
CM
192
[4495500, 641775 - 872].
1999: 246-251; BORGES, 2000: 82-84;
Tipologia: Povoado Fortificado.
LOBÃO et alii, 2004: Nº49.
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final /
Idade do Ferro / Época Romana.
4. CASTELO DA SENHORA DE MONFORTE,
Descrição: Encontra-se muito próximo
Colmeal, Figueira de Castelo Rodrigo.
da depressão de Celorico da Beira, na
CM 171 [4520200, 666400 - 470].
margem esquerda do Mondego, no topo
Tipologia: Povoado.
de um cabeço destacado onde se
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
distingue
Ferro / Época Medieval.
Santos Rocha refere a existência de
uma
plataforma
aplanada.
| 10
vários achados no Monte Verão cerca de
datável do Bronze Final. Para além
500m a Sudoeste da Pedra ou Serra
destes,
Aguda mencionada por Almeida (já no
fragmento
concelho de Celorico da Beira). Não
estrangulado e bordo extrovertido e de
foram encontrados quaisquer vestígios no
um recipiente de grandes dimensões com
Monte Verão, por isso pensamos que
forma tronco-cónica e paredes verticais
existe um único assentamento na Pedra
que insere na Idade do Ferro.
Aguda. Apesar de se constatarem boas
SANTOS ROCHA, 1905; OLIVEIRA, 1939;
condições naturais de defesa, conferidas
ALMEIDA, 1945; ALARCÃO, 1993: 29;
pelas vertentes íngremes a norte e sul, é
VALERA e MARTINS, 1994; VILAÇA,
possível descortinar um pano de muralha
no lado mais acessível, a oeste/sudoeste.
refere a
de
existência
um
pote
de
de
um
colo
1995a: 255; PERESTRELO, 2000: 70;
PEREIRA, 2003: 7-9.
Trata-se de uma estrutura defensiva de
pedra e terra com cerca de três metros de
largo. Perestrelo informa que ainda eram
visíveis
grandes
blocos
toscamente
aparelhados que formavam a base da
muralha e sustentavam a pedra miúda do
seu enchimento interior. Os materiais
conhecidos podem recuar a primeira fase
de ocupação deste povoado ao período
Materiais: Oliveira refere a existência de
dois machados planos de cobre oriundos
do Monte Verão que Vilaça indica que
testemunhar
uma
presença
anterior ao Bronze Final. De facto,
Perestrelo dá-nos conta de um lote de
materiais datáveis do Calcolítico/Bronze
Inicial. Os materiais cerâmicos, também
referidos
por
encontravam
Oliveira,
depositados
Viçosa, Guarda. CM 192 [4493000,
641075 - 955].
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
Ferro.
Descrição: Localiza-se no topo de um
esporão bem destacado na margem
esquerda do rio Mondego. Apresenta
Calcolítico/Bronze Inicial.
poderão
6. SOIDA (MONTE DA SERRA), Aldeia
que
no
se
Museu
Santos Rocha (Figueira da Foz) foram
recentemente estudados por Pereira. Este
autor dá-nos conta da presença de
fragmentos de cerâmica manual com
decoração tipo “Baiões”, perfeitamente
excelentes condições naturais de defesa
conferidas pelas suas encostas íngremes
de difícil acesso. Não foram detectados
quaisquer
vestígios
de
estruturas
defensivas. Parece tratar-se do castro do
Monte da Serra referido por Almeida
como “castro lusitano” que, pela sua
posição, controlaria naquela faixa a
entrada na serra da Estrela.
Materiais: Lobão (et alii) identificaram
um conjunto de materiais cerâmicos que
integram na Idade do Ferro.
OLIVEIRA, 1939; ALMEIDA, 1943: 102;
LOBÃO et alii, 2002; PEREIRA, 2003: 10.
| 11
7. ALVENDRE, Alvendre, Guarda.
sacrifício suovitaurilia (Curado, 1996:
CM 192 [4494500, 647900 - 889].
158). A ocupação pré-romana não é
Tipologia: Povoado.
muito clara. De notar a existência de um
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
pano defensivo, em boa parte da encosta,
Ferro.
e de uma porta voltada a poente. Apesar
Descrição: Situa-se no topo de um
de referenciada por diversos autores,
cabeço localizado a norte da actual
nenhum assegura uma datação pré-
povoação de Alvendre. Para além das
romana para a sua construção. A
boas condições naturais de defesa, parece
escavação realizada por Adriano Vasco
dominar o curso inicial do Massueime,
Rodrigues
conferindo-lhe uma posição estratégica.
transacto,
Almeida refere a existência de uma cerca
(Rodrigues, 1959), não esclarece esta
amuralhada que Perestrelo não identifica.
problemática. No entanto, a análise de
Materiais: Este autor identificou à
alguns materiais recolhidos à superfície
superfície
deixam antever que a sua ocupação
fragmentos
de
cerâmica
em
meados
do
parcamente
século
publicada
manual e ao torno.
poderá remontar à Idade do Bronze
ALMEIDA, 1943: 81; LÓPEZ JIMÉNEZ,
(Osório, 2005a).
2002: 182; PERESTRELO, 2004: 43-44.
Materiais: Para além dos materiais
romanos destaca-se a existência de
8. CABEÇO DAS FRÁGUAS, Benespera,
fragmentos de cerâmica manual e de um
Guarda. CM 214 [447660, 65095 - 1015].
moinho
Tipologia:
Povoado
Fortificado
/
manual
de
vaivém.
Da
intervenção de Rodrigues apenas retemos
Santuário Rupestre.
o aparecimento de “cerâmica escura” que
Cronologia: Bronze Final / Idade do
o autor data da II Idade do Ferro. No
Ferro / Época Romana.
entanto, Marcos Osório (2005) dá-nos
Descrição: Instalado no topo de um
conta do achado de um excerto de
maciço granítico bem destacado que
quartzito lascado com serrilha (elemento
marca o rebordo da Meseta, o seu campo
de foice?) e um fragmento cerâmico com
visual prolonga-se para além do Sabugal
decoração incisa de “linhas cozidas”, que
e controla os vales de acesso à Cova da
segundo o mesmo poderá recuar ao
Beira.
Bronze Médio ou Bronze Final.
Tem
sido
repetidamente
interpretado como local de culto indígena
ALMEIDA, 1943: 47; RODRIGUES, 1959;
desde
TOVAR, 1980; CURADO, 1989; CURADO,
época
pré-romana.
Facto
justificado pela presença da famosa
1996;
inscrição rupestre em caracteres latinos
JIMÉNEZ, 2002: 339; OSÓRIO, 2005a:
mas em língua designada de lusitana,
Nº18.
datada do séc. II d.C., referindo um
OSÓRIO,
2000a:
29;
LÓPEZ
| 12
9. TINTINOLHO, Cavadouce, Guarda. CM
JIMÉNEZ, 2002: 338; PEREIRA, 2003: 11-
192 [4499500, 645050 - 929].
12; PERESTRELO, 2004: 91-92.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Idade do Ferro / Época
10. JARMELO, São Pedro do Jarmelo,
Romana e Medieval.
Guarda. CM 193 [4495250, 658140 -
Descrição: Situa-se no topo de um
940].
cabeço isolado e bem destacado no
Tipologia: Povoado Fortificado.
rebordo ocidental do planalto da Guarda.
Cronologia: Idade do Ferro / Época
A sua posição estratégica permite-lhe
Romana / Época Medieval.
dominar um campo visual que se estende
Descrição: Situa-se no topo de um
a todo o Alto Mondego até ás vertentes
cabeço isolado que se destaca do Planalto
da
das
da Guarda. Almeida refere a existência
excelentes condições naturais de defesa,
de alicerces de uma muralha no lado
que
carácter
poente do cabeço (composta por grandes
inexpugnável, são ainda hoje visíveis
blocos graníticos) que classifica como os
duas ordens de muralha. Estas foram
vestígios
construídas com pedra granítica seca,
“lusitana”. Assinala ainda que sobre esta
apresentando a parte melhor conservada
se
três metros de largura. São vários os
posteriores. Perestrelo identifica uma
autores até meados do século XX que
possível muralha no interior do recinto
indicam a existência de uma terceira
medieval
linha
relacionada com a ocupação romana.
Serra
lhe
da
Estrela.
conferem
defensiva.
Apesar
um
Almeida
refere
a
terão
da
primeira
levantado
que
as
fortificação
fortificações
provavelmente
estará
existência em finais do século XIX de
Materiais: Perestrelo regista a presença
três construções habitacionais de planta
de cerâmica ao torno e escória de ferro
circular. A sua implantação topográfica,
na vertente Este deste cabeço. Destaca-se
presença na paisagem e controlo do
a existência de cerâmica com decoração
território permitem aos vários autores
estampilhada.
que até hoje nele se debruçaram situar a
ALMEIDA, 1943: 59; PORTAS, 1979: 69-
sua primeira fase de ocupação na Idade
do Ferro.
76;
LÓPEZ
JIMÉNEZ,
2002:
341;
PERESTRELO, 2004: 46-47; VILAÇA,
2005: fig. 1.
Materiais: Para além dos materiais
romanos e medievais, Perestrelo regista a
presença de cerâmicas que data da Idade
do Ferro.
SARMENTO, 1883: 11; ALMEIDA, 1943:
72-73; ALARCÃO, 1993: Nº50; LÓPEZ
11. CASTELOS VELHOS, São Vicente,
Guarda. CM 203 [4489750, 647450 937].
Tipologia: Povoado Fortificado.
| 13
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
poderão comprovar o alargamento da
Ferro / Época Romana e Medieval.
área ocupada pelo povoado de Castelos
Descrição: Situa-se na vertente mais
Velhos, se atestam a existência de um
abrigada de um outeiro escarpado, nos
núcleo
arredores norte da cidade da Guarda,
anterior àquele, ou se poderá reportar-se
sobranceiro à povoação de Póvoa do
à necrópole deste povoado situada a
Mileu. Conhecido desde inícios do
100m para SO. Não obstante, Perestrelo
século XX, é Vasconcelos quem primeiro
identificou no local do povoado um
refere o sítio indicando a existência de
conjunto de cerâmicas manuais e ao
vestígios de muralhas. Almeida e D.
torno de pastas grosseiras que data da
Fernando de Almeida identificam três
Idade do Ferro.
ordens de muralhas castrejas. Devido à
VASCONCELOS, 1918: 116; AGUIAR,
construção de uma urbanização, esta
1941;
estação encontra-se bastante destruída
RODRIGUES, 1957a; ALMEIDA, 1961:
sendo apenas visíveis alicerces abertos
no afloramento rochoso e montículos de
Materiais: São dadas como provenientes
deste povoado o conjunto de cerâmicas
exumadas
na
estação
romana de Póvoa de Mileu, assim como
o bracelete em bronze da II Idade do
Ferro que Rodrigues indica que servia de
puxador da porta da capela de Mileu.
Este autor referencia ainda o achado de
fíbulas (com paralelos do séc. V/IV a.C.)
no Mileu. No entanto, Vítor Pereira, que
ali
tem
realizado
arqueológicas,
detectou
intervenções
um
nível
estratigráfico que assenta directamente
no substrato rochoso com materiais que
atribui à proto-história (nomeadamente
taças carenadas do Bronze Final). Facto
que não nos autoriza, por enquanto, a
tecer
grandes
ALMEIDA,
LÓPEZ
independente
1943:
JIMÉNEZ,
2002:
e
52-55;
333;
PEREIRA, 2003: 12-13; PERESTRELO,
2004: 47-48; PEREIRA, 2005.
pedra de derrubes.
pré-romanas
299;
populacional
considerações.
Continuamos sem saber se estamos
perante testemunhos residuais, se estes
12. PICOTO, São Vicente, Guarda.
CM 203 [4488125, 650500 - 820].
Tipologia: Povoado de fossas.
Cronologia: Idade do Ferro (Finais do
Ferro Inicial).
Descrição: Situa-se no topo de um
ligeiro planalto delimitado pelos rios Diz
e Noéme e a ribeira de corte Cavalo.
Apesar de ocupar uma posição discreta
no meio envolvente, o seu campo visual
estende-se pelo vale do rio Diz. Trata-se
de um sítio em que as únicas estruturas
identificadas se resumem a mais de uma
dezena de fossas escavadas no substrato
geológico. Os resultados da intervenção
arqueológica
revestem-se
de
grande
importância pois foi possível realizar
datações radiocarbónicas em amostras
contextualizadas de bolota, grãos de trigo
| 14
e carvão vegetal. Estas permitem situar a
norte e oeste. Numa pequena plataforma,
ocupação deste sítio no século V e no
no cimo do cabeço (Alto do Pateiro),
primeiro quartel do século VI a.C. Trata-
Perestrelo identificou um derrube de
se do primeiro assentamento com estas
pedras que parece delimitar um recinto
características
subcircular. Este autor interpreta estes
e
datação
a
ser
inventariado em toda a Beira Interior.
vestígios
Através
defensiva. Baseando-se na análise dos
da
análise
dos
materiais
como
possível
estrutura
exumados e das particularidades da sua
materiais
implantação, os autores interpretam-no
superfície, aquele propõe uma ocupação
como local vocacionado para actividades
deste assentamento entre os séculos X/IX
de natureza produtiva como o cultivo, a
e o século VIII a.C.
pesca, a farinação e armazenamento.
Materiais:
Materiais: A grande maioria do espólio
numeroso conjunto de material cerâmico
exumado resume-se a fragmentos de
exclusivamente de produção manual.
cerâmica manual, de pastas grosseiras e
Entre
superfícies lisas, sem decoração. Foram
identificadas destacamos os fragmentos
também recolhidos quatro fragmentos de
com decoração tipo “Cogotas I”; tipo
prováveis elementos de moagem manual
“Baiões”; incisa no lábio e lábio/bordo;
(ou polidores?), um seixo de rio polido
plástica sob a forma de mamilos, botões
com entalhes laterais (peso de pesca ou
ou cordões aplicados no bojo; impressa;
de tear) e três fragmentos de objectos em
canelada; e sulcos brunidos. Em relação
bronze ou cobre muito deteriorados.
ao
PERESTRELO, SANTOS E OSÓRIO, 2003.
presença de seixos de rio com entalhes
cerâmicos
Perestrelo
as
material
laterais,
recolhidos
uma
recolheu
técnicas
lítico
enxó,
à
um
decorativas
mencionamos
elementos
a
de
13. CALDEIRÃO, Trinta, Guarda. CM 203
moinhos manuais de vaivém, polidores,
[4487375, 641225 - 843].
elementos de adorno e fragmentos de
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
pedra polida e lascada informes. Próximo
Cronologia: Bronze Final.
do povoado, na aldeia de Vila Soeiro, foi
Descrição: Situa-se numa extensa área
encontrada uma ponta de lança em
da
bronze, com nervura central e alvado,
vertente
Este
de
um
esporão
encaixado entre o rio Mondego e a
que se presume ser originária deste sítio.
ribeira do Caldeirão. Possui um campo
ALMEIDA, 1943: 133; ALARCÃO, 1993:
visual
Nº58; PERESTRELO, 2000; PEREIRA,
que
se
estende
para
norte
dominando o vale do Mondego e sobre a
ribeira do Caldeirão. Apresenta boas
condições naturais de defesa, conferidas
pelas vertentes declivosas sobretudo a
2003: 13-14.
| 15
14.
QUINTA
DA
LAMEIRA,
Trinta,
presença à superfície, Alarcão afirma que
Guarda. CM 203 [4486875, 640675 -
a sua existência é segura.
923].
Materiais: Almeida é o primeiro a referir
Tipologia: Povoado.
este povoado, indicando que para além
Cronologia: Bronze Final.
do aparecimento de moedas romanas,
Descrição: Situado no mesmo sistema
foram encontradas nas suas proximidades
montanhoso do Caldeirão, localiza-se
duas argolas em ouro.
sobranceiro (a uma cota superior) e a sul
ALMEIDA, 1945: 124; ALARCÃO, 1993:
deste, ocupando o topo de uma ampla
Nº 100; PEREIRA, 2003: 17-18.
plataforma. O seu domínio visual é mais
abrangente em relação ao povoado do
16. SERRA DE BOIS, Videmonte, Guarda.
Caldeirão, estendo-se o seu horizonte até
CM 202 [4482250, 632775 - 855].
outros povoados como o Tintinolho e a
Tipologia: Povoado Fortificado.
Pedra Aguda. Perestrelo pensa que este
Cronologia: Idade do Ferro / Época
se encontra dependente do povoado do
Romana (?).
Caldeirão, podendo interpretar o papel de
Descrição: Encontra-se localizado numa
atalaia.
espécie de península, a meia encosta de
a
uma íngreme vertente, cercada de todos
existência de fragmentos de cerâmica
os lados pelo rio Mondego, excepto a
manual à superfície, que Perestrelo
sudeste onde faz a ligação por um
integra no Bronze Final.
“estreito
ALMEIDA, 1945: 137; ALARCÃO, 1993:
daquele. Apresenta excelentes condições
Nº64; PERESTRELO, 2000: 52; PEREIRA,
naturais de defesa que o tornam quase
2003: 15.
inexpugnável.
Materiais:
Apenas
se
menciona
istmo”
à
margem
Almeida
direita
refere
a
existência de uma linha de muralhas.
15. SANTO ANTÃO, Videmonte, Guarda.
Hoje
CM 202 [4487025, 636250 - 1050].
testemunhos da sua presença. Já na altura
não
são
visíveis
quaisquer
Tipologia: Povoado.
o
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
vislumbravam
Ferro / Época Romana.
estrutura talhada na rocha, pois as
Descrição: Situa-se no topo de um
torrentes de água causadas pelas chuvas
cabeço elevado e destacado na paisagem,
teriam arrastado as pedras xistosas.
de vertentes declivosas sobretudo a norte
Pensamos também, que o relato de uma
e este. Encontra-se já incluído no sistema
única moeda de época romana não será
montanhoso da serra da Estrela, junto a
ainda suficiente para atestar a sua
algumas jazidas de estanho. Apesar de
ocupação durante este período.
hoje não se encontrarem vestígios da sua
autor
adverte
os
que
apenas
alicerces
se
daquela
| 16
SARMENTO, 1883; ALMEIDA, 1945: 100-
18. CASTELO VELHO DA MEDA, Meda,
104; ALARCÃO, 1993: Nº101; PEREIRA,
Meda. CM 150 [4536550, 648425 - 628].
2003: 18-19.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
CONCELHO DA MEDA
Ferro / Época Romana (?).
Descrição: Situa-se no topo de um
17. TAPADA DO CASTELO, Longroiva,
cabeço fragoso sobranceiro à quinta do
Meda. CM 150 [4536500, 650900 - 423].
Vale da Manta, a cerca de 2,5km a este
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
da actual cidade da Meda. Dispõe de um
Cronologia: Idade do Ferro / Época
amplo domínio visual sobre a paisagem
Romana.
que se estende para além da Meda e
Descrição: No ponto mais alto de
Longroiva a oeste e este respectivamente.
Longroiva, sobre o castelo medieval
Apesar
parece
o
acentuado (sobretudo da encosta NE) lhe
assentamento de um antigo povoado da
conferirem boas condições naturais de
Idade do Ferro. Apesar de não se
defesa, apresenta um possante sistema
observarem
defensivo.
possível
testemunhar
estruturas
que
sejam
das
vertentes
Devido
de
às
pendente
sucessivas
facilmente atribuídas a este período,
destruições de que tem sido alvo e ao
materiais entretanto recuperados podem
denso giestal que dificulta a visibilidade,
comprovar
esta
apenas poderemos dizer que é composto
intervenção
realizada
ocupação.
V.
por blocos de granito e alguma terra de
Rodrigues, na vertente do cabeço do
permeio. Rodrigues menciona ainda a
castelo, foi identificada uma cista que o
existência de estruturas (talvez de cariz
autor faz corresponder a uma necrópole
doméstico) de perfil ovóide. Foi alvo de
pré-histórica.
uma intervenção arqueológica em 1961
Materiais: Para além de materiais de
dirigida por Pinho Brandão, da qual não
época
identificados
dispomos de quaisquer informações. No
fragmentos de cerâmica manual e ao
entanto, a análise dos materiais permite
torno, de pastas grosseiras, apresentando
Brochado de Almeida apontar uma
formas
também
diacronia de ocupação do sítio desde o
encontrados machados de pedra polida e
Bronze Final aos finais da Idade do
elementos de moinhos manuais.
Ferro.
romana
por
Numa
foram
globulares.
Foram
A.
ALMEIDA, 1945: 276; LÓPEZ JIMÉNEZ,
2002: 338; RODRIGUES, 2002: 65-66;
PERESTRELO, 2004: 93.
Materiais: Brochado de Almeida afirma
que a cerâmica aqui visível apresenta
semelhanças com as
produções do
Bronze Final, mas que na sua “grande
maioria pode ser designada por castreja”.
| 17
A. V. Rodrigues refere que durante a
enxós em pedra e elementos de moinhos
campanha de escavações foi exumada
manuais de vaivém.
uma grande quantidade de “cerâmica
ALMEIDA, 1945: 265; LÓPEZ JIMÉNEZ,
castreja,
2002: 334; RODRIGUES, 2002: 66-67;
com
Subentendemos
decoração
que
a
incisa”.
cerâmica
PERESTRELO, 2004: 55.
designada por castreja se reporta à Idade
do Ferro. Por último, R. Vilaça destaca a
CONCELHO DE PINHEL
presença de cerâmica com decoração
penteada para a qual se aponta o seu
20. ALTO DOS SOBREIROS, Bogalhal,
início de produção no Ferro Inicial. Este
Pinhel. CM 171 [4494500, 647400 - 548].
elemento,
em
conjugação
com
as
Tipologia: Povoado.
cerâmicas que apresentam analogias com
Cronologia: Bronze Final.
as produções do Bronze Final, permitem-
Descrição: Situa-se no topo e vertente
nos questionar se a primeira ocupação
este de um cabeço alcantilado a norte,
deste sítio não se deverá antes fixar nos
este e oeste, sobre a margem esquerda da
momentos iniciais da Idade do Ferro.
ribeira da Pega. Não são visíveis à
ALMEIDA
et
alii,
1999:
180-184;
superfície
quaisquer
vestígios
de
RODRIGUES, 2002: 69; VILAÇA, 2005: 19
estruturas habitacionais e defensivas
e fig. 1.
(talvez por dispor de boas condições
naturais de defesa). Perestrelo aventa a
19. CASTELO DE MARIALVA, Marialva,
hipótese deste sítio poder ser uma atalaia
Meda. CM 160 [4530800, 649000 - 613].
de um outro povoado mais importante
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
que poderá existir 1 km. a norte no topo
Cronologia: Idade do Ferro / Época
do cabeço conhecido como Bogalhal
Romana e Medieval.
Velho ou Porto da Vide.
Descrição:
O
assentamento
proto-
Materiais:
Perestrelo
regista
o
histórico deverá localizar-se sob a cerca e
aparecimento de fragmentos de cerâmica
fortaleza medieval de Marialva que se
manual
levanta
esporão
brunidas), um fragmento de machado de
penhascoso e alcantilado. Dispõe de um
pedra polida e elementos de moinhos
vasto campo de visão (principalmente
manuais de vaivém.
para sul) e de boas condições naturais de
PERESTRELO, 2000; LÓPEZ JIMÉNEZ,
defesa. Rodrigues afirma que este teria
2002: 182; PERESTRELO, 2004: 62-63.
sobre
um
elevado
(com
superfícies
polidas
e
sido o principal núcleo dos Aravos.
Materiais: O mesmo autor menciona
21. PORTO DA VIDE / BOGALHAL VELHO,
ainda o aparecimento de machados e
Bogalhal, Pinhel. CM 171 [4521500,
609000 - 497].
| 18
Tipologia: Povoado.
destacada sobre a margem esquerda do
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Côa. Dispõe de boas condições naturais
Ferro / Época Romana.
de defesa conferidas pelas vertentes
Descrição: Situa-se no topo de um
declivosas a norte, sul e este que caem
cabeço bem destacado sobre a margem
sobre o rio, do qual controla visualmente
esquerda
grande
da
ribeira
das
Cabras,
parte.
Perestrelo
refere
a
dominando a área da sua confluência
existência de muralha que envolve o
com o Côa. De vertentes bastante
povoado por todos os lados excepto a
íngremes a norte, este e oeste, dispõem
Este. Segundo este autor a entrada
assim de óptimas condições naturais de
deveria localizar-se no lado norte da
defesa, não tendo sido identificadas
colina. Russell Cortez, por sua vez, situa
estruturas que a poderiam complementar.
aqui
Materiais: Perestrelo regista a presença
Transcudani.
de cerâmicas manuais (de superfícies
Materiais: Perestrelo recolheu cerâmicas
polidas e brunidas) e elementos de
feitas ao torno e manuais onde se
moinho manuais de vaivém e circulares.
destacam os fragmentos com decoração
É tradicionalmente atribuída por diversos
tipo Cogotas I, incisas e com aplicações
autores a proveniência de um machado
plásticas mamilares. Regista-se ainda o
de talão de uma argola, um machado
aparecimento de elementos de moinhos
campanulado e outro de alvado de duas
manuais de vaivém e diversos líticos. Na
argolas do sítio de Porto David ou Porto
actual aldeia situada a 500m deste local
Davis. Poderá tratar-se deste povoado ou
foram identificados machados de pedra
do sítio de passagem do Côa também
polida, que segundo tradição popular
conhecido como Porto da Vide.
terão vindo deste povoado.
ALMEIDA, 1945; RODRIGUES, 1961: 3-
ALMEIDA,
13;
CORTEZ,
MONTEAGUDO,
1965:
13-35;
a
capital
1945:
1952;
dos
288;
Lancienses
RUSSELL
SEMEDO,
1987;
COFFYN, 1983: 169-196; COFFYN, 1985;
PERESTRELO E FERREIRA, 2000; LÓPEZ
LÓPEZ
JIMÉNEZ, 2002: 335; PERESTRELO, 2004:
JIMÉNEZ,
2002:
183;
65-67.
PERESTRELO, 2004: 63-65.
22. CASTELO DOS MOUROS, Cidadelhe,
23. CASTELO VIEIRO, Ervedosa, Pinhel.
Pinhel. CM 161 [4531250, 659500 - 459].
CM 170 [4520750, 652000 - 474].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Cronologia: Idade do Ferro.
Ferro / Época Romana e Medieval.
Descrição: Situa-se no topo de um
Descrição:
Situa-se
no
plataforma
arredondada
de
espigão fluvial, alargado no seu eixo
muito
este-oeste, sobre a margem direita da
topo
não
| 19
ribeira de Massueime. Apresenta boas
pré-romana. Vislumbram-se igualmente
condições
vários alinhamentos de pedra no interior
naturais
de
defesa.
Os
materiais identificados por Perestrelo
do povoado.
permitem-lhe datar este assentamento da
Materiais: Para além do rico e variado
Idade do Ferro. A existência na vertente
espólio de época romana, Perestrelo
Este de numerosos restos de fundição e
identificou
escória e de cassiterite nas areias da
manual
ribeira, levam o autor a colocar a
brunidas) que data da Idade do Ferro.
hipótese de se estar perante um povoado
Refere-se ainda a existência de vários
mineiro.
elementos de moagem circulares.
Materiais: Perestrelo reuniu um conjunto
ALMEIDA, 1945; SEMEDO, 1987; LÓPEZ
de cerâmicas manuais e ao torno, onde
JIMÉNEZ, 2002: 336; PERESTRELO, 2004:
predominam
70-71.
os
grandes
recipientes,
fragmentos
(por
vezes
de
de
cerâmica
superfícies
talvez de armazenamento. Em termos
decorativos predominam os ondulados e
25. PINHEL, Pinhel, Pinhel.
os
CM 171 [4515700, 663700 - 684].
cordões
plásticos
com incisões.
Refere-se ainda a existência em grande
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
número
Cronologia: Idade do Ferro / Época
de
elementos
de
moinhos
Romana.
manuais de vaivém e circulares.
JIMÉNEZ, 2002: 335; PERESTRELO, 2004:
Descrição: No topo de um cabeço
68-69.
aplanado sobre a margem esquerda da
ribeira das Cabras encontra-se instalado
24. CASTELO DOS PRADOS, Freixedas,
o castelo medieval de Pinhel. Pela
Pinhel. CM 182 [4599000, 653950 - 697].
posição estratégica que ocupa e pelas
Tipologia: Povoado Fortificado.
características topográficas de onde se
Cronologia: Idade do Ferro / Época
encontra
Romana.
aventavam a possibilidade de aquele
Descrição: Situa-se no topo de uma
assentar sobre um primitivo povoado
grande plataforma elevada, dominando o
proto-histórico. De facto, escavações
vale da ribeira de Massueime. São
realizadas na zona do castelo permitiram
visíveis vestígios bem conservados de
identificar cerâmicas datadas da II Idade
uma linha de muralhas, construída em
do Ferro.
pedra de pequeno porte aparelhada, que
Materiais: Dos materiais recuperados
circunda todo o povoado. A sua planta
desta
sub-rectangular,
os
fragmentos cerâmicos com decoração
elementos que a compõem, permite-nos
penteada e entrelaçados incisos a pente,
interrogar a sua construção em época
para além de um fragmento de fíbula
assim
como
instalado,
intervenção
alguns
autores
destacam-se
os
| 20
anular de aro interrompido (séc. III-I
bifurcação entre a ribeira da Aldeia da
a.C.).
Ponte com a ribeira da Aldeia Velha e
ALMEIDA, 1945: 281; LÓPEZ JIMÉNEZ,
ribeira de Forcalhos.
2002: 337; PERESTRELO, 2004: 75-76.
Materiais: Osório refere a presença de
cerâmica manual e ao torno (bordo
CONCELHO DO SABUGAL
extrovertido de um grande recipiente de
armazenamento),
26. SERRA GORDA, Águas Belas, Sabugal.
lascados
CM 226 [4471550, 654500 - 870].
manuais de vaivém.
Tipologia: Povoado Fortificado.
e
líticos
elementos
polidos
de
e
moinhos
OSÓRIO, 2005a: Nº28.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Situado no topo de um
28. ALDEIA DO BISPO, Aldeia do Bispo,
cabeço destacado, este povoado assenta
Sabugal. CM 227.
numa “plataforma em sela cuja vertente
Tipologia: Achado avulso
poente forma um anfiteatro natural entre
Cronologia: Bronze Final
dois pináculos rochosos”. Foi alvo de
Descrição: Escopro de bronze.
intervenções que permitiram identificar
VILAÇA, 1995a: Nº43; OSÓRIO, 2005a:
na encosta nordeste uma estrutura que se
Nº2.
classificou de talude defensivo.
Materiais: Entre a cerâmica manual
29. SABUGAL VELHO, Aldeia Velha,
exumada destacam-se os fragmentos com
Sabugal. CM 227 [4467250, 679270 -
decoração incisa em forma de espiga e de
881].
linhas
paralelas
(Cogotas
I),
as
Tipologia: Povoado Fortificado.
aplicações plásticas mamilares e as taças
Cronologia: Bronze Final / Idade do
carenadas. Menciona-se ainda a presença
Ferro / Época Medieval.
de elementos de moinho manual de
Descrição: Situa-se no topo de um
vaivém e pesos de seixo.
cabeço
VILAÇA et alii, 2004; OSÓRIO, 2005a:
Mesetenha, nos contrafortes setentrionais
Nº21.
da serra de Aldeia Velha. Foi alvo de um
destacado
da
superfície
conjunto de intervenções programadas e
27. MATRENA, Aldeia da Ponte, Sabugal.
dirigidas por Marcos Osório. Sob a
CM 216 [4474650, 681650 - 830].
presença
medieval
detectou-se
um
Tipologia: Povoado.
conjunto de vestígios que o autor recua
Cronologia: Idade do Ferro.
ao Bronze Final e à Idade do Ferro. Entre
Descrição: Localiza-se no topo de uma
as
suave
destacada.
defensivo e duas edificações, uma de
Encontra-se a NE e muito próximo à
planta rectangular e outra circular. A
elevação
pouco
estruturas
destaca-se
o
sistema
| 21
muralha resume-se a uma cintura de xisto
Descrição: Esta povoação situa-se no
e granito, com cerca de quatro metros de
topo de um esporão pouco destacado da
largura. Revela a utilização de pedra seca
superfície da Meseta, sobranceiro à
com as faces não aparelhadas. Segundo o
ribeira
autor, esta protecção artificial deverá
arqueológicas
circundar todo o povoado, delimitando
Osório no limite sul da povoação não
uma área com de cerca 4,5 ha.
revelaram existência de uma ocupação
Materiais:
Deverão
ser
daqui
de
humana
Alfaiates.
dirigidas
antiga.
No
Intervenções
por
Marcos
entanto,
em
provenientes os machados planos e
prospecções, orientadas pelo mesmo, no
“palstaves” com duas aletas, o machado
topo norte deste esporão identificaram-se
de pedra polida e os fragmentos de
materiais que permitem o autor recuar a
cerâmica que se remetem como oriundos
primitiva ocupação deste sítio à Idade do
da
Ferro.
Aldeia
exumados
Velha.
por
Dos
materiais
Marcos
Osório
Materiais: Na extremidade norte da
destacamos os fragmentos de cerâmica
povoação identificaram-se fragmentos de
manual com decoração estampilhada e
cerâmica manual e ao torno (grande
penteada e cerâmica ao torno pintada.
recipiente com bordo extrovertido – Est.
Entre o espólio metálico sobressai o
IX - 1) e um elemento de moinho manual
aparecimento de uma fíbula de bronze de
de vaivém.
tipo Acebuchal (séc. VI-V a.C.) e um
ALMEIDA, 1945: 300; VAZ, 1974: 300;
escopro de bronze. Para além destes,
OSÓRIO, 2005a: Nº22.
distingue-se a presença de uma fíbula de
tipo anelar em ómega, contas de colar de
31. PIÇARREIAS, Baraçal, Sabugal.
pasta vítrea, cadinhos, pesos de seixo,
CM 215.
cossoiros
em
cerâmica
e
pedra
e
Tipologia: Estela / Achado Avulso.
elementos de moinho de vaivém e
Cronologia: Bronze Final.
circulares.
Descrição:
ALMEIDA, 1945: 316; RODRIGUES, 1961:
bloco de granito, onde se encontra
10;
representado um escudo, uma ponta de
VILAÇA,
1995a:
Nº44;
LÓPEZ
Estela
insculturada
num
JIMÉNEZ, 2002: 225 e 330; OSÓRIO, 2000;
lança e uma espada.
OSÓRIO, 2005a: Nº3; OSÓRIO, 2005b.
CURADO, 1984; VILAÇA, 1995a: Nº51;
OSÓRIO, 2005a: Nº9.
30. ALFAIATES, Alfaiates, Sabugal.
CM 216 [4473750, 677000 - 825].
32. SENHORA DO CASTELO, Bendada,
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Sabugal. CM 225 [4471350, 648450 -
Cronologia: Idade do Ferro.
724].
Tipologia: Povoado Fortificado.
| 22
Cronologia: Idade do Ferro / Época
VILAÇA, 1995a: Nº49; OSÓRIO, 2005a:
Romana.
Nº7.
Descrição: Topo de cabeço alcantilado a
sul, este e oeste, bem destacado da bacia
35. MALCATA, Malcata, Sabugal.
do
CM 226.
Zêzere.
Apresenta
vestígios
de
estrutura defensiva a norte, o lado mais
Tipologia: Achado Avulso.
acessível.
Cronologia: Bronze Final.
Materiais: Para além de materiais de
Descrição: Ponta de seta de bronze com
construção de época romana apenas há a
pedúnculo e ponta de lança ou espada em
destacar a presença de cerâmica manual e
bronze.
ao torno.
RODRIGUES,
PROENÇA, 1908: 34-35; ALMEIDA, 1945:
1961:
10;
PEREIRA
E
BENTO, 1979: 607; BATISTA, 1982: 75;
VILAÇA, 1995a: Nº50; OSÓRIO, 2005a:
326; OSÓRIO, 2005a: Nº19.
Nº8.
33. EIRAS, Fóios, Sabugal.
36. CABEÇO DOS MOUROS / SERRA DAS
CM 238.
VINHAS, Pena Lobo, Sabugal. CM 225
Tipologia: Estela / Achado Avulso.
[4471650, 652500 - 829].
Cronologia: Bronze Final.
Descrição:
Estela
insculturada
encontrada
soterrada,
a
pouca
profundidade, junto à aldeia de Fóios.
Segundo
Curado,
apresenta-se
o
monumento
gravado
por
abrasão,
encontrando-se representado um escudo,
uma ponta de lança e uma espada.
CURADO, 1986; VILAÇA, 1995a: Nº48;
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro (?).
Descrição: Situa-se no topo de um
cabeço bem destacado na paisagem. São
visíveis vestígios de estruturas defensivas
e outro tipo de construções (talvez de
cariz doméstico) em ruínas. De referir o
achado recente, por Marcos Osório, de
OSÓRIO, 2005a: Nº6.
uma gruta na encosta sudoeste deste
34. LAJEOSA DA RAIA, Lajeosa, Sabugal.
relevo onde foi atestada uma ocupação
CM 227.
antrópica coetânea a este povoado, como
Tipologia: Achado Avulso.
comprovam
Cronologia: Bronze Final.
(abaixo
Descrição: Dois machados de talão de
granítica é popularmente designada como
duas argolas.
Lapa do Urso.
VILLAS-BÔAS, 1948. 38; NUNES, 1957:
Materiais: São visíveis à superfície
144;
numerosos
MONTEAGUDO,
1977:
207-208;
os
materiais
indicados).
fragmentos
Esta
de
exumados
cavidade
cerâmica
manual. Raquel Vilaça refere igualmente
| 23
a presença de sílex. Parecem ter sido aqui
LÓPEZ JIMÉNEZ, 2002: 187; OSÓRIO,
encontradas os dois braceletes de ouro
2005a: Nº24.
mencionados
Sarmento,
por
hoje
Vasconcelos
em
e
paradeiro
desconhecido. Da Lapa do Urso, Marcos
38. CARIA DA ATALAIA, Ruvina, Sabugal.
CM 215 [4476220, 666970 - 794].
Osório recolheu fragmentos de cerâmica
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
manual grosseira, onde destaca dois
Cronologia: Bronze Final.
exemplares com decoração plástica, e um
Descrição: Situa-se no topo de um
moinho de vaivém. Este autor indica
cabeço elevado e destacado sobre o Côa.
ainda a presença de cerâmica ao torno, o
São
que a confirmar-se irá dilatar a diacronia
medievais, no entanto a fortificação do
de ocupação deste sítio até à Idade do
cerro
Ferro.
permanece duvidosa.
visíveis
em
estruturas
época
Deste
sítio
defensivas
proto-histórica
SARMENTO, 1883: 15; VASCONCELOS,
Materiais:
1896: 21; CORREIA, 1905: 303; CORREIA,
referenciado o achado isolado de um
1988: 197-198; CARDOZO, 1950: 409-410;
machado de bronze fragmentado de
VILAÇA, 1995a: Nº 45; OSÓRIO, 2005:
tipologia desconhecida, que agora se
Nº4.
contextualiza.
Osório
apenas
referencia
era
o
aparecimento de cerâmica manual e um
37. CASTELOS DE OZENDO, Quadrazais,
elemento de moagem manual de vaivém.
Sabugal. CM 227 [4469950, 670600 -
CORREIA, 1988: 237; VILAÇA, 1995a:
860].
Nº46; OSÓRIO, 2005a: Nº5.
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Idade do Ferro.
39. SABUGAL, Sabugal, Sabugal. CM 226
Descrição: Situa-se no topo de um suave
[4468700, 662150 - 760].
esporão, pouco destacado, sobranceiro ao
Tipologia: Povoado.
vale de uma ribeira, na margem direita
Cronologia: Época Calcolítica / Bronze
do Côa. Não são visíveis quaisquer tipos
Final / Idade do Ferro / Época Romana e
de estruturas em ruína à superfície.
Medieval.
Materiais: Osório relata-nos a presença
Descrição: A actual cidade do Sabugal
de cerâmica manual (dois fragmentos
encontra-se
decorados, um por linha incisa ondulada
sobre o Côa, que a contorna, num suave
e outro por sulcos oblíquos brunidos) e
morro que pouco se destaca na superfície
ao torno, uma conta de colar lítica de
da Meseta. As recentes intervenções
morfologia toneliforme e elementos de
realizadas por Marcos Osório no Centro
moinhos manuais de vaivém e também
Histórico do Sabugal (mais precisamente
circulares.
junto à muralha leonesa, na área do
estrategicamente
situada
| 24
actual Museu Lapidário e no interior do
340; OSÓRIO e SANTOS, 2003; OSÓRIO,
recinto
2005a: Nº11.
do
Castelo),
puseram
a
descoberto estruturas e materiais que
remontam
desde
época
Calcolítica.
Atribuem-se ao período proto-histórico
os
vestígios
de
uma
estrutura
40. SOITO, Soito, Sabugal.
CM 227.
Tipologia: Achado Avulso.
habitacional de planta rectangular e duas
Cronologia: Bronze Final.
lareiras também de base rectangular. Este
Descrição: Machado de talão unifacial
autor afirma que o núcleo de povoamento
com uma argola e nervura central.
deveria ocupar, no I milénio a.C., uma
extensão considerável do topo e encosta
Materiais: Para além do machado plano
de cobre de contorno subtrapezoidal (que
poderá remontar ao período Calcolítico)
referenciado por R. Vilaça (1995a: nº53),
estas intervenções permitiram exumar
um rico e variado espólio. Referindo
apenas os elementos de maior destaque,
Bronze
Final
aparecimento
de
mencionamos
um
decoração
de
fragmento
decorado
sulcos
o
bordo
com
brunidos,
um
com
caneluras
verticais incisas e outro decorado com
linhas quebradas (tipo Cogotas I). Da
Idade do Ferro, sobressaem as cerâmicas
estampilhadas com motivos variados,
três fragmentos com decoração a pente,
um fragmento com triângulos incisos e
um pote ao torno de cerâmica negra que
apresenta fiadas de motivos brunidos no
colo.
41. CASTELEJO, Sortelha, Sabugal. CM
226 [4467450, 665320 - 820].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Situado no topo de um
cabeço granítico destacado que parece
dominar os vales de Quarta-Feira e
Zêzere. Foi sujeito a três campanhas de
escavação dirigidas por Raquel Vilaça
que identificou estruturas de habitação e
construções
de
cariz
defensivo.
A
estrutura construída em pedra seca, que a
autora
interpreta
como
“muralha”
defendia o povoado do lado oriental, o
mais
vulnerável.
A
análise
da
estratigrafia e do espólio exumado
permite esta investigadora atribuir a este
povoado uma única fase de ocupação
datável da última fase da Idade do
Bronze.
ALMEIDA, 1945: 292; JUNGHANS et alii,
1968:
1985: 220; VILAÇA, 1995a: Nº54; OSÓRIO,
2005a: Nº 12.
nascente do outeiro.
do
MONTEAGUDO, 1977: 213; COFFYN,
28;
BLANCE,
MONTEAGUDO,
1977:
1971:
23;
Materiais: Foi possível exumar um
173;
VILAÇA,
1995a: Nº53; LÓPEZ JIMÉNEZ, 2002: 230 e
conjunto variado mas homogéneo de
materiais. A cerâmica poderá ser dividida
em dois grupos. Um composto por
| 25
cerâmicas de paredes finas de superfícies
proveniência
brunidas
polidas,
referida, Marcos Osório, após reanálise
formas
dos contextos de descoberta (registos
abertas, carenadas (por vezes sobre a
camarários), propõe que a peça terá sido
linha
descoberta na mina do Vale da Arca.
ou
constituído
de
intensamente
geralmente
carena
por
surgem
mamilos
deste
achado
à
mina
alongados com perfuração dupla vertical)
CORREIA, 1905: 20; MONTEAGUDO,
raramente com decoração em reticulado
1977:
brunido. O outro conjunto é composto
CORREIA, 1988: 255-257; VILAÇA, 1995a:
por
recipientes
de
grande/média
216;
DOMERGUE,
1987:
522;
Nº52; OSÓRIO, 2005a: Nº10.
dimensão de fabrico mais grosseiro em
que os poucos elementos decorativos se
incluem em dois tipos, um com incisões
e outro associado a digitações em
cordões e nos lábios. Entre o espólio
metálico destaca-se o aparecimento de
um fragmento de foice em bronze
(provavelmente de tipo “Rocanes”) e
uma argola em bronze. De destacar ainda
os numerosos elementos de moinho
manual de vaivém, inúmeros pesos
aproveitando
seixos
naturais
com
entalhes laterais, cadinhos, e um molde e
o fragmento de outro de varetas ou
43. S. CORNÉLIO, Sortelha, Sabugal. CM
226 [4468490, 654690 - 960].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
Ferro.
Descrição: Topo de cabeço elevado e
acastelado por grandes fragas. Apresenta
uma posição estratégica reforçada pelo
grande domínio visual de que dispõe.
Implantado junto ao Zêzere controla o
território que abrange o Sabugal até ao
Cabeço das Fráguas, a ribeira de QuartaFeira, e o rebordo norte da Cova da
Beira. Encontra-se muito próximo (a
escopros.
ALMEIDA, 1945: 325; VILAÇA, 1993;
NO) do povoado do Castelejo, podendo
VILAÇA, 1995a: Nº47; LÓPEZ JIMÉNEZ,
estar (se realmente se confirmar uma
2002: 187; OSÓRIO, 2005a: Nº1.
contemporaneidade)
este.
É
visível
relacionado
com
um pequeno
pano
42. QUARTA FEIRA, Sortelha, Sabugal.
defensivo em alvenaria de granito. R.
CM 225 [4470450, 654150 - 550].
Vilaça, por insuficiência de dados, revela
Tipologia: Achado Avulso.
a incapacidade de lhe atribuir uma
Cronologia: Bronze Final.
incontestável fase de ocupação. Não
Descrição: Machado de talão de uma
obstante, após uma reavaliação do sítio
argola encontrado em finais do século
por M. Osório e tendo em conta os
XIX na mina de cobre da Bica ou da
materiais
Carrasca (a 12 metros de profundidade).
implantação e a recente identificação do
Apesar
da
bibliografia
atribuir
a
recolhidos,
o
tipo
de
| 26
sistema defensivo, este autor integra-o na
outeiro onde se instalou esta vila (junto a
Idade do Ferro.
um castelo medieval inacabado). Pela sua
Materiais:
Os
materiais
visíveis
à
morfologia de assentamento, a relação
superfície são pouco significativos e
com outros elementos na paisagem e o
resumem-se a fragmentos de cerâmica
aparecimento
manual e a um cossoiro.
apresentam características semelhantes
ALMEIDA, 1945; VILAÇA, 1995a: 92 e 124
com outros povoados, poderemos, com a
(nota 15); LÓPEZ JIMÉNEZ, 2002: 191;
devida cautela, remontar a ocupação
OSÓRIO, 2005a: Nº16.
deste sítio ao final da Idade do Bronze ou
de
cerâmicas
que
princípios da Idade do Ferro.
44. VILA BOA, Vila Boa, Sabugal.
ALMEIDA, 1945; CORREIA, 1988: 284,
CM 226.
VILAÇA, 1995a: Nº56; LÓPEZ JIMÉNEZ,
Tipologia: Achado Avulso.
2002: 186; OSÓRIO, 2005a: Nº14.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Escopro de cobre ou bronze
46. VILAR MAIOR, Vilar Maior, Sabugal.
de secção quadrada.
CM 205 [4482900, 674600 - 786].
CORREIA, 1988: 280; VILAÇA, 1995a:
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Nº55; OSÓRIO, 2005a: Nº13.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro.
45. VILA DO TOURO, Vila do Touro,
Descrição: Cabeço destacado que se
Sabugal. CM 215 [4476170, 660700 -
levanta junto a um afluente do Côa, onde
831].
se instalou o castelo da vila. M. Osório,
Tipologia: Achado Avulso (Povoado?)
ao
Cronologia: Bronze Final (Idade do
meridional deste relevo (no edifício dos
Ferro?).
Paços do Concelho), detectou um nível
Descrição: Situa-se no topo de um
de ocupação datado do Bronze Final e
cabeço elevado e bem destacado da
Idade do Ferro. Continua em aberto a
superfície da Meseta, dominando todo o
possibilidade
deste
morro
ter
vale da ribeira de Boi e com um amplo
amuralhado
durante
estas
fases
campo visual para Norte e Este. Deste
ocupação.
lugar chega-nos a notícia do achado de
Materiais:
um machado de talão em bronze
conhecido devido à descoberta de uma
encontrado em condições pouco claras.
espada de lâmina pistiliforme (depositada
M. Osório afirma que esta descoberta se
de gume) encontrada na encosta poente
poderá contextualizar com os materiais
do outeiro do castelo. A este achado
cerâmicos
e
juntam-se os fragmentos de cerâmica
incaracterísticos que exumou no topo do
manual e ao torno exumados em contexto
de
fabrico
manual
realizar
escavações
Sítio
na
encosta
sido
de
primeiramente
| 27
por M. Osório. Para além destes, tem
sido
noticiado
nesta
localidade
CONCELHO DE VILA NOVA DE FOZ CÔA
o
aparecimento de elementos de moinho
48. MONTE DO CASTELO CALABRE,
manual de vaivém, pequenos machados
Almendra, Vila Nova de Foz Côa. CM
votivos em silimanite e uma conta de
141 [4544250, 666975 - 508].
colar de pasta vítrea azul.
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMEIDA, 1945; NUNES E RODRIGUES,
Cronologia: Idade do Ferro / Época
1957; RODRIGUES, 1961: 11; COFFYN,
Romana / Época Medieval.
1985: 39; COOREIA, 1988: 294; VILAÇA,
Descrição: Localiza-se no topo do monte
1995a: Nº57; OSÓRIO, 2005a: Nº15.
do Castelo, sobranceiro a um meandro do
Douro (do qual dista cerca de 900m.). A
CONCELHO DE TRANCOSO
oeste encontra-se delimitado pela ribeira
do Aguiar. A posição estratégica que
47. CASTELO, Cogula, Trancoso.
CM 170 [4519000, 646300 - 568].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Idade do Ferro / Época
Romana.
Descrição: Situa-se no topo de um monte
destacado e alcantilado (a oeste e a sul),
que se encontra rodeado pelas ribeiras do
Freixo e Cótimos. Conta com uma linha
de muralha que cerca todo o topo do
cabeço. Perestrelo refere a existência de
uma outra linha amuralhada no lado
sudeste, onde é mais acessível, da qual
restam apenas os alicerces, compostos
por blocos graníticos de grande porte,
com cerca de três metros de largura.
Materiais: Para além dos materiais de
época romana, apenas se regista a
presença de cerâmica manual grosseira.
ALMEIDA, 1945: 357; PERESTRELO E
ocupa confere-lhe um amplo domínio
visual sobre a paisagem envolvente.
Possui uma linha de muralha que envolve
toda a plataforma superior do monte
(cerca de 8 hectares). Trata-se de uma
estrutura de duplo paramento, constituída
por
blocos de
xisto
irregular
nos
extremos e enchimento de terra e pedra
miúda
que
assume
uma
forma
ligeiramente elipsoidal. Em certos locais
a
muralha
parece
harmoniosamente
ao
adaptar-se
terreno
de
implantação, integrando na sua empena o
afloramento rochoso.
Materiais: São visíveis poucos materiais
à superfície. Apenas se destaca a
presença de cerâmica manual informe e
fragmentos
de
dormentes
de
mós
manuais em granito. No sopé sul desta
estação encontra-se a villa romana de
FERREIRA, 2000: 105; LÓPEZ JIMÉNEZ,
2002: 341; PERESTRELO, 2004: 81-82.
Aldeia Nova / Olival dos Telhões. As
escavações aqui realizadas por S. Cosme
permitiram exumar cerâmica “castreja” e
um bloco de xisto (que se encontrava
| 28
reaproveitado num edifício) gravado com
em granito. Sublinha-se a existência de
um motivo da Idade do Ferro (Luís,
cerâmica decorada “tipo Cogotas”.
2005).
COIXÃO, 1996: 72-73; COIXÃO, 2000: 71;
ALMEIDA, 1945: 375 – 379; FILIPE, 2001;
VILAÇA, 2005: fig.1.
LUIS, 2005: 46.
50. FREIXO DE NUMÃO, Freixo de
49. ALTO DE SANTA EUFÉMIA, Freixo de
Numão, Vila Nova de Foz Côa. CM 140
Numão, Vila Nova de Foz Côa. CM 140
[4548000, 649500 - 560].
Tipologia: Povoado (Fortificado ?).
[4547625, 647750 - 665].
Tipologia: Povoado (Fortificado ?).
Cronologia: Calcolítico (?) / Idade do
Cronologia: Bronze Médio / Bronze
Bronze (?) / Idade do Ferro / Época
Final.
Romana / Época Medieval.
Descrição: Situa-se no topo de um monte
Descrição: Dentro da aldeia de Freixo de
de configuração cónica, localizado entre
Numão, nas zonas do Castelo, Lajes e
os maciços graníticos de Freixo de
Quintal da Casa Grande foram realizadas
Numão e Numão. Do alto desta elevação
intervenções
arqueológicas
de formação quartzítica dispõe-se de um
comprovaram
a
extraordinário domínio visual sobre a
localidade pelo menos desde a Idade do
paisagem envolvente. Facto que leva Sá
Ferro. As datações de carbono 14
Coixão a apelidar esta estação de “marco
realizadas a partir de duas amostras de
territorial”, “posto de controle” ou
carvão recolhidas no Quintal da Casa
“atalaia” de um possível povoado (de
Grande
maiores dimensões) que se situaria a
ocupação entre os séculos IV-II a. C.
nascente deste. As constantes violações
Segundo Sá Coixão os materiais datados
que tem sofrido (quer pela recolha de
da Idade do Ferro são oriundos de
seixos para pavimentação das estradas
diversos e dispersos pontos da aldeia.
locais quer pelas surribas para plantio de
Materiais: Este autor não especifica
vinha e árvores de fruto nas suas
quais os materiais atribuídos à Idade do
encostas) impossibilitam-nos de avaliar a
Ferro exumados. No entanto, descrimina
dimensão da área ocupada e assegurar a
a presença de vários elementos líticos
possibilidade de existência de uma
(machados de pedra polida em anfibolito
primitiva estrutura defensiva.
e selimanite, raspadores de sílex e
refinam
ocupação
a
que
desta
cronologia
de
materiais
elementos de moinhos manuais em
confinam-se ao topo do monte, onde é
granito) que poderão atestar a ocupação
possível
do local em períodos anteriores ao I
Materiais:
Os
registar
vestígios
a
presença
de
fragmentos de cerâmica manual e um
elemento de dormente de moinho manual
milénio a. C.
| 29
COIXÃO, 1996: 80; COIXÃO e TRABULO,
circunda de todos os lados menos a sul.
1999: 243; COIXÃO, 2000: 70.
Para além de contar com um amplo
domínio
visual
sobre
a
paisagem
51. CASTELO VELHO DE SEIXAS, Seixas,
envolvente, dispõe de boas condições
Vila Nova de Foz Côa. CM 140 [4551600,
naturais de defesa conferida pelas suas
645875 - 445].
encostas íngremes e penhascosas. Hoje é
Tipologia: Povoado Fortificado.
ainda visível uma longa linha de muralha
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final /
composta por blocos aparelhados.
Idade do Ferro / Época Romana.
Materiais: A identificação de vestígios
Descrição: Encontra-se implantado no
de superfície é dificultada pela má
topo de um pequeno cabeço sobranceiro
visibilidade do terreno. Apenas temos a
à margem direita da ribeira da Teja. As
relatar a existência de fragmentos de
suas características de assentamento
cerâmica manual.
conferem-lhe um bom domínio visual
ALMEIDA, 1945: 379; COIXÃO, 1996;
sobre o curso médio e alto daquele curso
LUIS, 2005: 46-47.
de água. São visíveis os vestígios de
panos de muralha derrubados compostos
DISTRITO
DE
CASTELO BRANCO
por pedra não afeiçoada em granito.
Materiais: Para além do material lítico
CONCELHO DE BELMONTE
composto essencialmente por moventes e
dormentes de moinho manual em granito,
53. CHANDEIRINHA, Belmonte, Belmonte.
menciona-se a existência de fragmentos
CM 225 [4466255, 638900 - 649].
de cerâmica manual, entre os quais se
Tipologia: Povoado Fortificado.
destaca
Cronologia: Bronze Final / Idade do
a
presença
de
decoração
penteada.
Ferro (?).
ALMEIDA, 1945: 385; COIXÃO, 1996: 60;
Descrição: Situa-se sobre um esporão na
COIXÃO
e
TRABULO,
1999:
391;
COIXÃO, 2000: 71; VILAÇA, 2005: fig.1.
vertente e extremidade sudeste da Serra
da
Esperança.
Conserva
ainda
um
pequeno troço de muralha em talude
52. MONTE MEÃO, Vila Nova de Foz Côa,
Vila Nova de Foz Côa. CM 130 [4556500,
655075 - 376].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
Ferro / Época Romana.
Descrição: Situa-se no topo de um alto
planalto sobranceiro ao Douro que o
composto por terra e pedras irregulares.
Deverá corresponder com aquilo que
Almeida
(1945:
411)
designa
de
edificação castrense (torre) e que situa no
sopé do Monte da Serra da Esperança, no
sítio da Tapada das Torres.
Materiais: São visíveis à superfície
vários fragmentos de cerâmica manual.
| 30
ALMEIDA, 1945: 411; MARQUES, 2000:
planície aluvial do Ponsul até Monsanto
Nº23.
e Gardunha e a poente até à serra do
Muradal. Situa-se entre dois afluentes do
54. S. GERALDO, Caria, Belmonte.
Tejo – o Pônsul e o Ocreza que terá
CM 225 [4462400, 640675 - 581].
facilitado certamente a penetração de
Tipologia: Povoado.
contactos e influências alógenas.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Materiais:
Ferro (?).
quando T. Proença descobriu, na vertente
Descrição: Situado em pleno monte de
noroeste a meia encosta deste monte, três
S. Geraldo (por vezes designado por
estelas insculturadas. Para além destas,
monte de Caria), este povoado possui
tem-se reunido diversos materiais, fruto
dois núcleos de ocupação distintos. Estes
de
dispõem-se pelos dois pontos mais
escavações. Entre o espólio metálico
elevados do monte, um no extremo sul e
destaca-se o achado de um fragmento de
outro no lado sudeste.
espada “tipo língua de carpa”, um
Materiais: São visíveis à superfície
fragmento de cinzel ou escopro, molas de
alguns fragmentos de cerâmica manual.
fíbulas e chapas com rebite talvez de
Encontra-se
Câmara
aplicação a caldeirões. Neste particular
Municipal de Belmonte um movente de
deverá ser evidenciada a peça de bronze
moinho manual.
em forma de pega com decoração em
ALMEIDA, 1945: 409-410; BELO, 1970:
“espinha” de inspiração sardo-cipriota.
depositado
na
52; SALVADO, 1976; MARQUES, 2000:
Nº27.
Este
recolhas
sítio
de
notabilizou-se
superfície
e
de
Em relação ao material lítico, para além
dos diversos elementos de moinhos
manuais, menciona-se a presença de
CONCELHO DE CASTELO BRANCO
pesos de seixos (de rede ou de tear),
percutores, machados polidos e lascas
55. MONTE DE S. MARTINHO, Castelo
Branco,
Castelo
Branco.
CM
292
[4407145, 631625 - 435].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro / Época Romana.
Descrição: Situa-se no topo de uma
elevação de forma cónica que se destaca
a sudeste da cidade de Castelo Branco,
na margem direita do Ponsul. O seu
campo visual estende-se a nascente pela
residuais.
Mas
o
material
mais
representativo diz respeito à cerâmica.
Identificaram-se diversas formas com
uma grande variedade de decoração.
Entre
as
técnicas
representadas
destacam-se as cerâmicas incisas (nos
lábios e bojos) e brunidas e impressões a
pente que poderão testemunhar uma
ocupação da Idade do Ferro. Também em
argila regista-se o achado do fragmento
de um cadinho e um molde bivalve.
| 31
PROENÇA,
1903;
PROENÇA,
1905;
intervencionado em finais do século XIX
PROENÇA,
1910;
ALMAGRO,
1966;
por autoria desconhecida.
GOMES E MONTEIRO, 1976-77; PINTO,
1987; LEITÃO, 1988; VILAÇA, 1995a:
Nº10; MARQUES, 1995; FARINHA et alii,
1996; VILAÇA, 2004b; VILAÇA, 2004d.
Materiais: Desta escavação exumou-se
um machado de bronze ou cobre (em
forma de cunha), hoje com paradeiro
desconhecido. Vilaça dá-nos conta da
56. QUEIJEIRA DE S. MARTINHO, Castelo
presença de cerâmica manual de pasta
grosseira
Branco, Castelo Branco. CM 292.
e
incaracterística
elementos de
Tipologia: Achado Avulso.
vaivém.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Possível molde em pedra de
um machado com uma argola lateral
incrustada no muro do curral da queijeira
e
moinhos manuais
Tivemos
oportunidade
de
de
de
analisar um lote de cerâmica oriundo
desta estação que se encontra depositado
na Câmara Municipal de Castelo Branco,
ao cuidado da arqueóloga Sílvia Moreira.
de S. Martinho.
Contam-se
VILAÇA, 1995a: Nº11.
inúmeros
fragmentos
(exclusivamente de produção manual) de
57. ESCALOS DE BAIXO, Escalos de Baixo,
bordos, bojos (alguns com aplicação
Castelo Branco. CM 280.
plástica
mamilar
com
perfurações
Tipologia: Achado Avulso.
verticais) e fundos. No seu geral,
Cronologia: Bronze Final.
apresentam
Descrição: Machado de bronze plano,
grosseiras (com elementos não plásticos
proveniente
de
das
imediações
desta
médio
pastas
calibre
medianamente
povoação, adquirido por Tavares Proença
distribuídos)
em 1904 e um machado de talão de duas
cepilladas e com sinais ténues de
argolas.
polimento ou espatulamento. Excepção e
PROENÇA, 1910: 6; SAVORY, 1951: 363;
destaque para o fragmento de uma taça
COFFYN, 1976: 23; VILAÇA, 1995a: Nº4.
carenada (de pasta mais fina e compacta)
com
58.
CASTELO
Campo,
VELHO,
Castelo
Louriçal
Branco.
CM
e
medianamente
decoração
superfícies
incisa
alisadas,
pós-cozedura
do
inédita (tipo “Baiões”), com motivos
256
triangulares preenchidos com linhas,
imediatamente acima da zona da carena
[4436200, 626200 - 1057].
Tipologia: Povoado Fortificado.
(Est. I – 4).
Cronologia: Bronze Final.
SARMENTO, 1883; PROENÇA, 1910: 9;
Descrição: Topo de cabeço destacado e
COFFYN, 1976a: 23; VILAÇA, 1995a: Nº3.
alcantilado, com vertentes declivosas.
Possui
linha
de
muralha.
Foi
59. MALPICA DO TEJO, Malpica do Tejo,
Castelo Branco. CM 304.
| 32
Tipologia: Achado Avulso.
61. MONTE DO CASTELO, Monforte da
Cronologia: Bronze Final.
Beira, Castelo Branco. CM 305 [4399200,
Descrição: Machado de talão com uma
646795 - 457].
argola.
Tipologia: Povoado Fortificado.
SAVORY, 1951: 359; COFFYN, 1976: 23;
Cronologia: Bronze Final / Idade do
VILAÇA, 1995a: Nº6.
Ferro / Época Romana.
Descrição: Encontra-se implantado no
60. MONTE DE S. DOMINGOS, Malpica do
topo de uma das plataformas mais
Tejo, Castelo Branco. CM 305 [4394720,
elevadas da serra de Monforte. Apresenta
640950 - 270].
boas condições naturais de defesa.
Tipologia: Povoado (casal).
Dispõem de um amplo domínio visual
Cronologia: Bronze Final.
que
Descrição: As estruturas do Monte de S.
contrafortes da Gardunha e Estrela, a sul
Domingos encontram-se implantadas em
até à serra de S. Mamede, para poente
encosta, com ligeiro pendor para sudeste,
alcança-se a serra de Muradal e a
sobranceiro a uma linha de água (hoje
nascente perpetua-se a vista para além da
temporária) que delimita o seu sopé. A
actual fronteira com Espanha. A única
intervenção arqueológica aqui realizada
estrutura visível à superfície é a muralha.
permitiu identificar duas estruturas de
Esta
planta circular em xisto (cabanas).
sobreposição de pequenos blocos de
Ambas possuem entrada voltada a SE e
pedra local (quartzito) unidos entre si
pavimento regular de saibro batido. No
com
subsolo do pavimento de uma das
materiais daqui oriundos permite afiançar
estruturas foi exumada uma grande urna
a existência de dois distintos momentos
cinerária – sepultura de incineração.
de ocupação: um do Bronze Final e outro
Trata-se de um casal de vocação agro-
do Ferro Pleno / Época Romana. Por
pastoril de finais do Bronze Final. Este
último, destacamos a existência de duas
tipo de assentamento continua muito mal
minas (Mina do Pó e Mina da Tinta) de
representado em toda a Beira Interior.
extracção de minério (possivelmente de
Materiais: Para além da urna cinerária
ferro?) localizadas a meia encosta da
foram exumados alguns recipientes de
vertente oeste da crista quartzítica do
fabrico manual datados de finais da Idade
Monte do Castelo.
do Bronze.
Materiais: Encontram-se à superfície
CARDOSO, CANINAS E HENRIQUES,
fragmentos de cerâmica manual grosseira
1998.
se
estende
foi
alguma
a
norte
construída
terra.
A
até
através
análise
aos
da
dos
(de superfícies “cepilladas”), de cerâmica
ao torno (recipientes de armazenamento
de bordo extrovertido) e elementos de
| 33
moinhos manuais de vaivém (regista-se
CANINAS, 1993: 53-54; VILAÇA, 1995a:
igualmente o aparecimento de uma mó
Nº 7, 8 e 9; CANAS, 1999.
giratória). Mas é o espólio metálico que
mais notabiliza este local. Entre estes
62. SOBREIRAL, Ninho do Açor, Castelo
podemos ainda distinguir os materiais em
Branco. CM 268.
bronze das jóias de ouro e prata. Dos
Tipologia: Achado Avulso.
primeiros destacam-se três braceletes em
Cronologia: Bronze Final.
bronze, uma lâmina de punhal de
Descrição: Bráctea de ouro laminada por
lingueta trapezoidal e um machado de
martelagem, decorada com cinquenta
talão unifacial de apêndices laterais.
cones repuxados (aplicação discoidal).
Entre as jóias realce para um bracelete
Com uma orla decorada com três linhas
em ouro martelado a partir de um lingote
pontilhadas, apresenta na parte posterior,
fundido e cinco (ou seis)
ao centro, uma argola para fixação.
colares
entrançados (quatro de prata e um (ou
dois) de ouro). Estas últimas xorcas são
GARCIA, 1953: 179; BECATTI, 1955: 211212; CARDOZO, 1959: 27; PINGEL, 1977;
PARREIRA
dadas como provenientes do lugar da
Soalheira do Barbanejo (sítio próximo do
castro).
Juntamente
com
aquelas
e
PINTO,
1980:
Nº
53;
COFFYN, 1985: 238 e 398; ARMBRUSTER
e PARREIRA, 1993: Nº 79; VILAÇA,
1995a: Nº 14.
encontrou-se um tesouro de cento e doze
denários republicanos de prata. Por
63. SÃO VICENTE DA BEIRA, São Vicente
último, resolvemos aqui incluir dois
da Beira, Castelo Branco. CM 256.
achados que pela proximidade da sua
Tipologia: Achado Avulso.
proveniência poderão, originalmente, ser
Cronologia: Bronze Final.
oriundos deste povoado. Trata-se do
Descrição:
machado de talão com uma argola
subcircular com duas argolas.
encontrado no Monte Barata e do
VILLAS-BÔAS, 1947: 3-4; COFFYN, 1976:
machado de talão com duas argolas de
8; MONTEAGUDO, 1977: 251; VILAÇA,
gume assimétrico e nervura central
1995a: Nº13.
Machado
de
alvado
proveniente do Monte do Carregal (na
vertente noroeste da Serra de Monforte).
PROENÇA, 1910: 10; CORRÊA, 1928: 150;
64. QUINTA DO ESPADANAL, Sarzedas,
Castelo Branco. CM 291.
VILLAS-BÔAS, 1947: 4; SAVORY, 1951:
Tipologia: Achado Avulso.
359, 363 e 366; COFFYN, 1976: 9 e 24;
Cronologia: Bronze Final.
MONTEAGUDO,
PINGEL,
Descrição: Machado de alvado e uma
1977; PARREIRA e PINTO, 1980: 27;
argola e vestígios de nervuras. O alvado
GONÇALVES, 1990: 197; ARMBRUSTER
é
1977:
141;
e PARREIRA, 1993, Nº 48; HENRIQUES e
subcircular
arredondado.
com
espessamento
| 34
VILLAS-BÔAS, 1947: 3; SAVORY, 1951:
distância desta localidade onde eram
367;
11-12;
visíveis vestígios de antigas construções.
MONTEAGUDO, 1977: 253; VILAÇA,
Do mesmo sitio este autor recolheu ainda
COFFYN,
1976:
1995a: Nº12.
cinco machados de pedra polida.
PROENÇA, 1910: 3; VILAÇA, 1995a: Nº16.
65.
VALE BRANQUINHO,
Sobral
do
Campo, Castelo Branco. CM 267.
68. DOMINGUISO, Dominguiso, Covilhã.
Tipologia: Achado Avulso.
CM 235.
Cronologia: Bronze Final.
Tipologia: Achado Avulso.
Descrição: Machado plano de apêndices
Cronologia: Bronze Final.
laterais de contorno sub trapezoidal.
Descrição: Lança ou punhal em cobre ou
Pode inserir-se no tipo 20 B de
bronze, encontrado num provável castro
Monteagudo (1977: 141), na forma 3 –
situado
grupo III C de Wesse (1988: 97-98) ou
povoação.
na variante A de Fernández Manzano
nas
proximidades
daquela
PROENÇA, 1910: 6; VILAÇA, 1995a: Nº17.
(1986: 77). Foi casualmente encontrado
quando se procedia à abertura de uma
69. QUINTA DA SAMARIA/VALE FEITOSO,
caminho perto da Ribeira do Seixo.
Ferro/Peroviseu, Covilhã/Fundão. CM
VILAÇA E GABRIEL, 1999.
235 [4452584, 631556 - 708].
Tipologia: Povoado Fortificado.
CONCELHO DA COVILHÃ
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro / Época Romana (?).
66. ALDEIA DO CARVALHO, Aldeia do
Descrição: Este povoado, identificado
Carvalho, Covilhã. CM 224.
em 2002 por Pedro Carvalho, situa-se no
Tipologia: Achado Avulso.
topo de um pequeno cabeço na cumeada
Cronologia: Bronze Final (?).
da serra de Meal Redondo. Dispõe de um
Descrição: Dois machados em bronze de
amplo domínio visual que se estende
tipologia desconhecida.
para poente e noroeste por grande parte
PROENÇA, 1910: 4; VILAÇA, 1995a: Nº15.
da Cova da Beira até às faldas da Estrela
e aos contrafortes meridionais da Meseta,
67. BOIDOBRA, Boidobra, Covilhã.
e para nascente pelo vale da Meimoa até
CM 235.
à Gardunha. São visíveis os destroços de
Tipologia: Achado Avulso.
uma significativa linha de muralhas que
Cronologia: Bronze Final.
contorna todo o povoado, excepto do
Descrição: Machado de alvado de duas
argolas exumado por Tavares Proença
numa
elevação
localizada
a
pouca
lado oeste de onde dispõe de boas
condições naturais de defesa conferida
pela vertente declivosa. A estrutura
| 35
defensiva foi construída em pedra seca
vulgarmente designado por “ficha” (Est.
de granito. Do lado sudeste desta
VII – 5). Foram também identificados
construção distinguem-se duas estruturas
alguns elementos de moinhos manuais de
semicirculares
vaivém e um exemplar giratório.
adossadas
ao
pano
exterior da muralha (bastiões?). Junto ao
VILAÇA, 2004a: 46.
extremo sul do povoado identificou-se
uma inscrição rupestre romana. Esta
70. NOSSA SENHORA DAS CABEÇAS,
estação foi mutilada recentemente pela
Orjais, Covilhã. CM 224 [4467050,
abertura de um caminho que rasgou todo
634733 - 692].
o povoado na direcção norte – sul.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Materiais: São visíveis à superfície
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
inúmeros
Ferro / Época Romana.
fragmentos
cerâmicos
de
fabrico manual e ao torno (Est. IV a VII).
Descrição: Situado em maciço rochoso
Estes dois tipos de produção comportam
na vertente oriental da serra da Estrela
pastas grosseiras (com elementos não
sobranceiro aos terrenos de cultivo que
plásticos de grande calibre e mal
ladeiam o Zêzere e ao templo romano de
distribuídos) ou de fabrico médio/fino
Orjais. São visíveis alguns derrubes de
(pastas mais depuradas, com elementos
pedra
não plásticos de médio/baixo calibre
defensivos.
medianamente
Materiais:
distribuídos).
As
miúda e panos de
Foram
muralha
encontrados
superfícies são alisadas, polidas, brunidas
fragmentos de cerâmica manual com
e “cepilladas”. Predominam os grandes
decoração incisa, para além de cerâmica
recipientes de armazenagem (potes) de
de construção e armazenamento de época
bordo extrovertido e perfil em S (Est. VI
romana.
- 2 a 4 e Est. VII – 1), tendo sido
MAIA, 1991.
identificados
alguns
fragmentos
correspondentes a taças carenadas (Est.
71. PAUL, Paul, Covilhã.
IV). Em termos decorativos destacam-se
CM 245.
as incisões no lábio (Est. V -2) e um
Tipologia: Depósito.
fragmento com estampilha (e outro
Cronologia: Bronze Final.
segundo informação de P. Carvalho com
Descrição:
pintura junto ao bordo – Est. VII – 3 e 4).
referência a sete e Leite de Vasconcelos a
Recolhemos ainda à superfície um
dez machados de diversas tipologias
fragmento de aro em bronze que, pelo
encontrados
seu diâmetro poderá pertencer a um
povoação. Raquel Vilaça afirma que
objecto de adorno (Est. VII – 6) e um
quatro destes machados poderão estar no
fragmento cerâmico recortado que é
Museu F. Tavares Proença Júnior. Foi-
Tavares
nas
Proença
proximidades
faz
desta
| 36
lhe possível identificar um machado de
o povoado parece alongar-se ou abrir-se
talão
para os campos que existem a norte.
de
duas
argolas
com
gume
fracturado e nervura central numa das
Materiais:
faces e outro que também se enquadra na
fragmentos de cerâmica manual, onde se
mesma tipologia onde a nervura central
destaca um fragmento com aplicação
termina em botão.
plástica de mamilo.
PROENÇA, 1910: 12; VASCONCELOS,
PORFÍRIO E CORREIA, 1998: Nº40.
1917:
328;
VILLAS-BÔAS,
1947:
Recolhemos
alguns
3;
SAVORY, 1951: 363; COFFYN, 1976: 7;
74. TEIXOSO, Teixoso, Covilhã.
MONTEAGUDO, 1977: 208; VILAÇA,
CM 224.
1995a: Nº19.
Tipologia: Achado Avulso.
Cronologia: Bronze Final.
72. GIBALTAR, Teixoso, Covilhã.
CM 224.
Tipologia: Achado avulso.
Cronologia: Bronze Final (?).
Descrição: Argolas de ouro encadeadas.
SARMENTO, 1883: 15; VILAÇA, 1995a:
Nº18.
73. S. CRISTÓVÃO (BONECA), Teixoso,
Covilhã. CM 224 [4464875, 632324 682].
Tipologia: Povoado (Fortificado ?).
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Espada tipo “língua de carpa”
encontrada
nas
proximidades
desta
povoação. De facto, são vários os
autores, desde Tavares Proença, que
apontam para a existência de inúmeros
castros em torno desta área. Foi-nos
possível identificar um povoado próximo
desta localidade (S. Cristóvão/Boneca –
73) que enquadramos neste horizonte
cultural.
PROENÇA, 1910: 15; VASCONCELOS,
1934: 30; COFFYN, 1976: 25; VILAÇA,
1995a: Nº20.
Descrição: Situa-se no extremo sudoeste
do maciço do geodésico da Boneca que
75. SERRA DA RACHADA, Vale Formoso,
se encontra, por sua vez, delimitado a
Covilhã. CM 224 [4471500, 635375 -
sudoeste pelo vale do Zêzere e a noroeste
1017].
pela ribeira da Atalaia. Encontra-se no
Tipologia: Povoado Fortificado.
topo de um pequeno cabeço granítico
Cronologia: Bronze Final / Idade do
inacessível e bem destacado a sul, este e
Ferro (?).
oeste. É visível no lado norte um grande
Descrição: Situa-se no topo de um
derrube de pedra seca, que, por se tratar
cabeço destacado no cimo da serra da
da área mais exposta e acessível, poderá
Rachada, a cerca de 1km para nordeste
ser interpretado como cerca. No entanto,
do geodésico do Mato da Atalaia. Apesar
da sua localização em lugar inóspito, de
| 37
difícil acesso e com boas condições
dormente
naturais de defesa (conferido pelas suas
encontrados nos derrubes da muralha.
vertentes bastante declivosas), apresenta
Informação da sua localização cedida por
uma linha de muralha que rodeia a
Pedro C. Carvalho a quem agradecemos.
de
moinho
manual,
totalidade do cabeço. Esta é composta
por blocos de quartzito de pequeno e
CONCELHO DO FUNDÃO
médio porte, dispostos horizontalmente
sem
qualquer
permeio.
A
sua
privilegiada posição concede-lhe um
76. SRA. DA PENHA, Alcongosta, Fundão.
CM 256 [4441500, 627300 - 1345].
extraordinário domínio visual sobre a
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
paisagem. A O/SO controla o vale de
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final.
Verdelhos ou do rio Beijames, enquanto
Descrição: Situa-se no topo de um
que a NE/E/SE domina a Cova da Beira,
cabeço destacado e alcantilado no cimo
mais precisamente o Alto Zêzere e seus
da serra da Penha, integrada no sistema
afluentes (de grande riqueza estanífera de
montanhoso da Gardunha. São visíveis
aluvião). João de Almeida (1945: 416)
alguns
refere a existência de um povoado
superfície que poderão corresponder ao
fortificado no local onde se encontra o
sistema defensivo do povoado.
marco geodésico do Mato da Atalaia (nº
Materiais: Para além da presença de
83 do catálogo B). Prospecções por nós
fragmentos
realizadas
inseríveis
naquele
local
nada
alinhamentos
de
no
de
pedra
cerâmica
à
manual
horizonte cultural
do
desvendaram. Dada a sua proximidade,
Bronze Final, destaca-se o aparecimento
não sabemos se Almeida se referia a este
de uma raspadeira em sílex.
sítio.
SARMENTO, 1883; ALMEIDA, 1945: 418.
Materiais: Apesar da densa vegetação
que cobre todo o povoado, foi possível
77. QUINTA DO ERVEDAL, Castelo Novo,
recolher alguns fragmentos de cerâmica
Fundão. CM 256.
manual onde se realça um bordo com
Tipologia: Depósito.
arranque de asa do lábio (Est. I – 3). A
Cronologia: Bronze Final.
análise das suas pastas (com elementos
Descrição:
não plásticos de pequeno e médio
quarenta
calibre, mal distribuídos) e do fragmento
encontradas no sopé da vertente sudeste
com forma identificado, permitem-nos
da Gardunha, junto ao lugar de Souto
apontar para uma provável fase de
Escuro.
ocupação do sítio do Bronze Final. De
braceletes, um punhal e uma espada e 24
destacar os abundantes elementos de
lingotes plano-convexos.
Conjunto
e
três
de
peças
Destacam-se
os
cerca
em
de
bronze
machados,
| 38
VILLAS-BÔAS, 1947; COFFYN, 1976: 13-
histórico,
22; MONTEIRO, 1978: 19; VILAÇA,
fertilidade. Classificação essa fortemente
1995a: 400-402; VILAÇA et alii, 2000: 209.
condicionada pelo facto de até então se
simbolizando
rituais
de
considerar esta estrutura como autónoma
78. PEDRA AGUDA, Capinha, Fundão.
e pelos orifícios registados no monólito
CM 235 [4453794, 636027 - 733].
secundário serem interpretados como
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
manifestações antrópicas. O povoado foi
Cronologia: Bronze Final.
identificado na vertente Este deste cume,
Descrição: Como o próprio topónimo
indica, a Pedra Aguda (Capinha) trata-se
de um gigantesco afloramento granítico
constituído por duas pedras, uma delas
disposta na vertical e de formato
pontiagudo, que se eleva de forma
espectacular junto ao topo da vertente
oriental
da
serra
da
Carrapata
(alcançando os 733 m de altitude). O
carácter medianamente escarpado de toda
esta eminência e o acentuado declive da
vertente
proporcionam
um
grande
destaque na paisagem, estendendo-se o
horizonte visual a norte até ao sopé da
serra
da
Estrela
e
contrafortes
meridionais da Meseta e a Sul até à
Gardunha. Neste sentido assinale-se que
ainda hoje este thor granítico serve de
extrema entre os concelhos da Covilhã e
do
Fundão.
Distinto
pelas
suas
características naturais, é-lhe reservado
pela população em geral um carácter
fortemente místico. A configuração bem
aprumada do monólito central outorga-
posicionado defronte da serra de S.
António e do povoado da Tapada das
Argolas. Do lado nascente é perceptível
uma estrutura composta por terra e pedra
que parece tratar-se de um talude
delimitativo. Não estamos certos se esta
poderá ter algum significado defensivo.
Depois
de
conjugarmos
as
suas
características de implantação com os
materiais identificados situamos a sua
ocupação na proto-história antiga.
Materiais: Foram identificados poucos
fragmentos cerâmicos exclusivamente
manuais de pastas geralmente grosseiras.
Destacam-se
dois
fragmentos
com
aplicação plástica de botões no bojo e um
bordo com asa a arrancar do lábio (Est. I
– 2). Encontrou-se ainda o fragmento de
um elemento de moinho manual de
vaivém. Apenas a título informativo
deveremos indicar a descoberta de um
conjunto de numismas (tesouro) de época
romana junto aos monólitos.
INÉDITO
lhe um perfil ligeiramente fálico, quando
observado a longa distância. De facto,
79. TAPADA DAS ARGOLAS, Capinha,
este sítio apresenta-se registado no IPA
Fundão. CM 236 [4452556, 638710 - 649].
(nº 0504110241) como um exemplo de
arquitectura religiosa, do período pré-
Tipologia: Povoado Fortificado.
| 39
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final /
nos conta do aparecimento de dois
Idade do Ferro / Época Romana.
púcaros, cerca de 500m a sul do
Descrição: Encontra-se implantado no
povoado, numa fenda granítica. Tavares
topo de uma plataforma em esporão, no
Proença menciona o achado de quatro
extremo meridional da serra de S.
machados de bronze na região da
António. O seu campo visual estende-se
Capinha. Permanece a dúvida se esta
pelo vale do curso médio da ribeira da
descoberta terá sido um achado isolado
Meimoa, dominando o corredor entre a
referente a um depósito do Bronze Final
Gardunha e a Malcata. Apresenta boas
ou se terá sido encontrado junto ou
condições naturais de defesa conferidas
mesmo
pelas suas vertentes íngremes em quase
aparecimento de um quinto machado (de
todos
obstante,
talão e duas argolas), como refere
constata-se a presença de uma linha de
Coelho, neste assentamento. Para além
muralha que delimita um recinto de
destes, da colecção de Paulo Gonçalves,
contorno subovóide ou elíptico. Existem
contamos com três pontas de seta (uma
referências à existência de vestígios de
delas de “tipo Palmela” em cobre
estruturas habitacionais circulares, hoje
arsenical), um botão em bronze, quatro
talvez
materiais
argolas de bronze, um fragmento de
conhecidos atribui-se-lhe uma ampla
lâmina de um “tranchet”, uma placa de
diacronia de ocupação, não se sabendo se
cinturão e outra decorativa em bronze,
esta foi contínua ou conheceu abandonos.
fragmento de lâmina de espada em
Materiais:
rico
bronze, lâmina de um punhal em bronze,
conjunto de espólio, tanto cerâmico
uma fíbula de tipo cabuchão e outra de
como metálico. Surgem fragmentos de
“tipo cavalinho” em bronze, uma espada
cerâmica manual de fabrico geralmente
em ferro (de “tipo La Tène) dobrada
grosseiro,
intencionalmente
os
sentidos.
destruídas.
Não
Pelos
Dispõe-se
de
de
superfícies
um
polidas
e
no
povoado.
pelo
Certo
fogo
é
e
o
uma
brunidas, e cerâmica ao torno. Em termos
conteira de lança de forma cónica e
decorativos
decoração
alvado também em ferro. Oliveira regista
plástica (à base de mamilos), incisa nos
ainda o achado de um pingo de fundição.
lábios,
com
Por fim refira-se a presença de elementos
dispostos
de moinhos manuais de vaivém e o
obliquamente com banda de incisões que
fragmento de uma mó giratória. Do
formam reticulado, outro com caneluras
período romano destaca-se o achado de
paralelas e, por fim, outro decorado por
tegulae e várias moedas.
duas largas caneluras paralelas sobre as
AZEVEDO, 1897: 150; PROENÇA, 1910: 4;
quais foram impressos ou estampilhados
COELHO et alii, 1991; VILAÇA, 1995a: 82;
dois motivos em forma de S. Santos dá-
OLIVEIRA, 1996: 64-67; VILAÇA et alii,
e
destaca-se
três
puncionamentos
a
bojos,
paralelos
um
| 40
2000:
202-206;
SANTOS,
2001;
Cronologia: Bronze Final / Época
CARVALHO et alii, 2002; VILAÇA et alii,
Romana (?).
2002-03.
Descrição: Situa-se no topo de um
cabeço cónico, isolado e bem destacado
Donas/
na paisagem. O seu campo visual
Alcongosta, Fundão. CM 246 [4442750,
estende-se pelo vale da Meimoa até à
630325 - 719].
Gardunha e serra de Santa Marta. São
80.
S.
ROQUE
/
TRIGAIS,
Tipologia: Povoado.
visíveis alguns alinhamentos de pedra à
Cronologia: Bronze Final.
superfície.
Descrição: Situa-se no topo de uma
Materiais: Foram identificados poucos
elevação, de perfil arredondado, bem
fragmentos de cerâmica manual, um peso
destacada e alcantilada em todos os
de seixo com entalhes laterais e um
sentidos.
Não
identificados
elemento de moinho manual de vaivém.
quaisquer
vestígios
construções
Encontram-se depositados no museu
materiais
municipal do Fundão alguns materiais de
antigas.
A
foram
análise
de
dos
cerâmicos recolhidos por Monteiro em
época
1953, permite Raquel Vilaça atribuir-lhe
provenientes
uma ocupação que remonta à Proto-
comprovar-se esta situação terá que se
história Antiga.
admitir a sua posterior romanização.
Materiais:
Dentro
dos
romana,
deste
referidos
como
povoado.
A
materiais
SARMENTO, 1983; PROENÇA, 1908: 18-
cerâmicos cedidos por Monteiro ao
19; ALMEIDA, 1945: 424; VILAÇA, 1995a:
Museu Municipal do Fundão destacam-
81; OLIVEIRA, 1996: 62-64; VILAÇA et
se os potes de armazenagem e as
alii, 2000: 198-200.
pequenas taças carenadas. De realçar
ainda
(de
um
período
cronológico
82. MONTE DE S. BRÁS, Fundão, Fundão.
imediatamente anterior a este) uma ponta
CM 246 [4442825, 627500 - 821].
de seta ou lança em bronze tipo
Tipologia: Povoado Fortificado.
“Palmela”, que será proveniente deste
Cronologia: Bronze Final.
sitio,
Descrição: Situado no topo do monte de
ofertada
recentemente
àquele
museu.
S. Brás, bem destacado e sobranceiro à
MONTEIRO, 1978: 17-19; VILAÇA et alii,
cidade do Fundão, desfruta de boa
2000: 195-197.
visibilidade para a Cova da Beira. É
visível a presença de uma linha de
81. CABEÇO DO ESCARIGO, Escarigo,
muralha composta por blocos de granito
Fundão. CM 236 [4457435, 644850 - 644].
e xisto dispostos de forma irregular (que
Tipologia: Povoado.
contorna quase na totalidade todo o
assentamento) e alguns derrubes de
| 41
estruturas. Para além disso, destaca-se a
se ainda três fragmentos de moinhos de
existência de uma painel rochoso coberto
vaivém.
por “fossetes”.
SILVA, ROSA E SALVADO, 2003.
Materiais: Tivemos oportunidade de
estudar o espólio cerâmico proveniente
83. CABEÇO DA ARGEMELA, Lavacolhos,
desta estação que se encontra depositado
Fundão. CM 245 [4446120, 619100 - 747].
no Museu Municipal do Fundão. Este
Tipologia: Povoado Fortificado.
conjunto é composto por cerâmicas
Cronologia: Bronze Final / Idade do
exclusivamente manuais (Est. II e III).
Ferro / Época Romana (?).
Destacam-se três tipos de fabrico. Um
Descrição: Situa-se no topo de um
composto por pastas muito grosseiras
cabeço,
(com elementos não plásticos de grande
sobranceiro ao Zêzere que corre a norte.
calibre, mal distribuídos), superfícies
Apresenta um grande domínio visual
ligeiramente alisadas ou “cepilladas”, em
sobre a paisagem. Foram identificadas
que se encontram representados grandes
três linhas de muralha, nos lados norte e
recipientes
ou
este, construídas com blocos de pedra
ligeiramente extrovertidos (Est. II – 2 a
seca irregulares. Tendo em conta os
4) e grandes asas em fita que arrancam
materiais e as estruturas descobertas, R.
do bojo (Est. III – 2). Um segundo grupo
Vilaça afirma que, para além de uma
é composto por pastas medianamente
ocupação do Bronze Final, deverá ter
grosseiras (com elementos não plásticos
sido também ocupado durante os séculos
de
medianamente
II e I a.C. As estruturas defensivas
distribuídos), superfícies alisadas ou
deverão estar relacionadas com esta
tenuemente polidas, onde se inserem os
ocupação tardia.
pequenos potes (com asa a arrancar do
Materiais: R. Vilaça dá-nos conta da
lábio/bordo)
presença
com
médio
bordos
calibre
e
as
e
rectos
formas
de
colo
isolado
de
e
vários
bem
destacado
fragmentos
de
alongado e bordo recto. Inclui-se aqui o
cerâmica manual grosseira onde se
único fragmento decorado detectado que
verificou um lábio inciso e um bojo
apresenta um reticulado inciso no bojo
decorado com linhas incisas paralelas.
(Est. III – 1). Por último, destacamos um
Apenas um fragmento de bordo é de
pequeno conjunto de cerâmicas com
fabrico ao torno. Entre o material lítico
pastas bem depuradas (elementos não
destaca-se o aparecimento de um molde
plásticos
bem
múltiplo de agulhas, alfinetes ou varetas
muito
em xisto, um peso de seixo com entalhes
polidas, onde se integram as pequenas
laterais, um elemento de moinho manual
taças carenadas (Est. II – 1). Detectaram-
de vaivém e outro giratório.
de
distribuídos),
baixo
de
calibre
superfícies
e
| 42
SARMENTO, 1883; PROENÇA, 1908: 22-
MACHADO, 1965: 120; PARREIRA e
23; ALMEIDA, 1945: 428-429; VILAÇA et
PINTO, 1980: Nº62; ARMBRUSTER e
alii, 2000: 200-202.
PARREIRA, 1993, Nº 55; VILAÇA, 1995a:
Nº24; VILAÇA et alii, 2000: 209.
84. CABEÇA GORDA, Peroviseu, Fundão.
86. COVILHÃ VELHA, Vale de Prazeres,
CM 235 [4452325, 629500 - 636].
Fundão. CM 247 [4444166, 641230 - 677].
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Cronologia: Bronze Final.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição: Situa-se no topo de um
Cronologia: Bronze Final / Idade do
cabeço arredondado que se destaca no
Ferro / Época Romana (?) e Medieval.
extremo ocidental da serra de Meal
Descrição: Este sítio ocupa uma vasta
Redondo. Domina um amplo campo
área
visual. Para norte visiona-se grande parte
subelíptica no extremo oriental da serra
da Cova da Beira até às faldas da Estrela
da Póvoa. No limite norte desta estação,
e limite meridional da plataforma da
verifica-se a presença de um pequeno
Meseta, e para sul e oeste o horizonte
cabeço que parece destacar-se do restante
estende-se
da
povoado. Vilaça chega a referir que o
Gardunha. São visíveis vestígios de
povoado se organiza em duas áreas
alinhamentos de pedra de construções
distintas: este cabeço e a restante área.
estruturadas.
Regista um amplo domínio visual sobre a
Materiais:
até
ao
Vilaça
limite
norte
recolheu
alguns
de
planalto
de
configuração
paisagem envolvente, em todos
fragmentos de cerâmica manual, onde se
sentidos.
destacam as taças carenadas e as incisões
complexo sistema defensivo. O derrube
no lábio. Identificaram-se igualmente
desta estrutura chega a medir seis metros
elementos de
de largo. Esta encontra-se em contínua
moinhos manuais
de
Possui
um
majestoso
os
e
vaivém.
destruição pelo saque de pedras a que
SARMENTO, 1883; VILAÇA et alii, 2000:
está sujeita. No lado Este descortina-se
193-195.
uma entrada, deste reduto, com cerca de
2,5m de largura de onde arranca uma
85. SOALHEIRA, Soalheira, Fundão.
calçada, certamente posterior ao período
CM 256.
aqui em causa. Os sectores distinguidos
Tipologia: Achado Avulso.
por R. Vilaça, poderão, como a mesma
Cronologia: Bronze Final.
afirma, ter sido ocupados em fases
Descrição: Bracelete em ouro martelado
distintas. O cabeço, situado no limite
obtido a partir de um lingote fundido.
setentrional do povoado terá uma fase de
Apresenta a forma de um aro elipsoidal
ocupação do Bronze Final.
aberto, maciço, liso e de secção circular.
| 43
Materiais: São bastante escassos os
Cronologia: Bronze Final.
materiais visíveis à superfície. Neste
Descrição: O castelo de Idanha-a-Nova
reduto setentrional, R. Vilaça recolheu
encontra-se implantado no topo de uma
fragmentos de cerâmica manual de
elevação destacada e sobranceira ao
superfícies geralmente “cepilladas” e um
Ponsul.
bojo carenado que atribui ao Bronze
Materiais: Na década de 70 do século
Final. Encontra-se um capitel de coluna
transacto
no museu municipal do Fundão com
medieval derrocou, permitindo recolher
indicação de proveniência deste local. A
vários
comprovar-se
que
cronologia diversa. Entre eles, Raquel
levantamos algumas reservas, poderá
Vilaça identificou um fragmento com
atestar-se a romanização do povoado.
bordo e carena e outro bordo com
ALMEIDA, 1945: 423-424; CHEIRA, 1980:
incisões no lábio que atribui ao Bronze
9; VILAÇA et alii, 2000: 207-209.
Final.
este
facto,
a
um
trecho
fragmentos
da
de
fortaleza
cerâmica
de
BAPTISTA, 1982b: 16; VILAÇA, 1995a: 82.
CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA
89. CACHOUÇA, Idanha-a-Nova, Idanha87.
CABEÇA
Idanha-a-Nova.
ALTA,
CM
Idanha-a-Nova,
281
[4420825,
653500 - 341].
a-Nova. CM 269 [4426725, 651050 - 377].
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Neocalcolítico / Bronze
Tipologia: Povoado.
Final / Idade do Ferro (inicial).
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Ocupa o extremo oriental de
Descrição: Situa-se no topo de um
uma área planáltica que remata em
cabeço destacado e alcantilado que se
esporão ou promontório. De fácil acesso
ergue numa superfície localizada entre o
por sul e oeste, apresenta boas condições
rio Ponsul (a oeste) e a ribeira de
naturais de defesa a norte e este, onde se
Alcafozes (a sul).
encontra
Materiais: R. Vilaça apenas refere a
Canada no local onde se junta ao rio
presença de fragmentos de cerâmica
Torto. Foi intervencionado por Raquel
manual com formas e decorações típicas
Vilaça entre os anos de 1990 e 1999, o
do Bronze Final e elementos de moinhos
que permitiu reunir uma série de
manuais de vaivém.
elementos,
VILAÇA, 1995a: Nº27.
publicados intensamente. Identificou-se
sobranceiro
que
em
à
barroca
breve
da
serão
uma cabana de planta subcircular com
88. CASTELO, Idanha-a-Nova, Idanha-a-
lareira ao centro. Para além desta,
Nova. CM 281 [4420325, 650750 - 352].
destaca-se a existência de um talude em
Tipologia: Povoado.
terra e pedra, chegando a medir três
| 44
metros de largura. Sobre este associam-
90. MONTE DO TRIGO, Idanha-a-Nova,
se
Idanha-a-Nova.
diversos
afloramentos
com
“covinhas”, o que juntamente com outros
CM
282
[4421100,
654625, 362].
elementos lhe conferem uma carga
Tipologia: Povoado Fortificado.
simbólica e ritual. Este povoado assume
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final.
uma particular importância porque, em
Descrição:
contraste
povoados
numa plataforma ligeiramente oval no
escavados por esta autora abandonados
topo de uma bem destacada e isolada
durante o Bronze Final, revelou uma
elevação. O Ponsul corre sobranceiro do
continuidade de ocupação à (I) Idade do
lado oeste e a ribeira de Alcafozes a sul.
Ferro.
Para além do amplo domínio visual em
Materiais: Entre a cerâmica manual
todos os sentidos, dispõe de excelentes
destacam-se as formas carenadas, os
condições naturais de defesa, sobretudo a
potes com lábios decorados, fragmentos
norte e oeste onde as vertentes são mais
com decoração “tipo Baiões”, brunida
declivosas. Talvez por isso tenham sido
(ornatos e reticulados), penteadas (de
apenas detectados vestígios de uma
âmbito mesetenho) e pintadas “tipo
estrutura defensiva dos lados este e
Carambolo”. Sob o talude encontrava-se
sudeste, onde (ainda que a custo) o
um vaso de fabrico manual com orifício
acesso é possível. Esta foi construída
intencional na base em deposição ritual.
com blocos de pedra seca de quartzo e
Reuniu-se igualmente uma considerável
quartzitos,
colecção de cerâmica ao torno que
dispostos de forma caótica mas regular
envolve diversas formas que demonstram
numa extensão de cerca de 10m. R.
uma forte influência fenícia. Entre o
Vilaça dirigiu aqui escavações em 1995
espólio metálico destacam-se as fíbulas,
que permitiram identificar uma primeira
fragmentos de caldeirão e de espetos em
fase de ocupação datável do final do
bronze e lâminas de faca e um punhal em
período calcolítico, sob uma posterior do
ferro. Para além destes, focamos ainda a
Bronze Final.
presença
fragmento
Materiais: Trata-se da primeira estação
polícromo em pasta vítrea, uma conta de
da Beira Baixa a fornecer fragmentos de
colar em ouro, escórias, cadinhos e
recipientes campaniformes. Entre os
figuras zoomórficas em bronze e argila.
elementos mais tardios destacam-se as
VILAÇA, 1990; VILAÇA,
1995a: 82;
cerâmicas de fabrico manual (onde se
VILAÇA, 1999a; VILAÇA, 2000b; VILAÇA
encontram representadas diversas formas
E BASÍLIO, 2000; VILAÇA, 2005.
típicas do Bronze Final da região), uma
com
de
os
outros
contas
e
Encontra-se
de
diferentes
implantado
dimensões,
haste metálica em cobre ou bronze
| 45
fragmentada e vários elementos de
para além de vários elementos de
moinhos manuais de vaivém.
moagem
VILAÇA e CRISTÓVÃO, 1995; VILAÇA,
bibliografia menciona o aparecimento de
1995a: 83; VILAÇA, 2000a.
um denário e um machado de ferro
rotativos.
A
restante
romano e o que parece tratar-se de um
91. CABEÇO DOS MOUROS, Idanha-a-
cossoiro.
Velha, Idanha-a-Nova. CM 270 [4427500,
PROENÇA, 1908: 30-31; PEREIRA, 1909:
654800 - 333].
172; PROENÇA, 1910: 7; ALMEIDA, 1969;
Tipologia: Povoado Fortificado.
FERREIRA, 1978; ALARCÃO, 1996: 27;
Cronologia: Idade do Ferro / Época
PORFÍRIO, 1999.
Romana (?).
Descrição: Encontra-se implantado no
92. CABEÇO DE SANTIAGO, Medelim,
topo de um esporão fluvial, cercado de
Idanha-a-Nova. CM 258.
todos os lados pelo rio Ponsul, excepto a
Tipologia: Achado Avulso.
sul. Apesar de não se destacar muito em
Cronologia: Bronze Final.
altura apresenta um bom controlo visual.
Descrição:
As condições de defesa naturais são-lhe
quadrangular.
conferidas pelo fosso escavado pelo
C. L., 1913: 145; VILAÇA, 1995a: Nº36.
Escopro
de
secção
Ponsul. O sítio apenas se apresenta
vulnerável a sudeste, onde através de um
istmo se faria a ligação entre o esporão e
os montes envolventes. É exactamente
neste flanco que se situa uma estrutura
defensiva formada na base por grandes
blocos de granito aparelhado onde
assentam lajes de xisto de médio e
grande porte. Pela análise dos materiais e
sua implantação deverá ter sido ocupado
durante a II Idade do Ferro. Alguns
autores referem a existência de materiais
de época romana o que poderá deixar
antever uma ocupação também durante
este período.
Materiais: E. Porfírio refere a presença
93. MEDELIM, Medelim, Idanha-a-Nova.
CM 258.
Tipologia: Achado Avulso.
Cronologia: Bronze Inicial ou Médio /
Bronze Final.
Descrição: Para além de um pequeno
machado
de
bronze
de
desconhecida,
Tavares
Proença
referência
duas
a
pontas
tipologia
de
faz
seta
encontradas num quintal, uma que se
perdeu,
a
outra,
foliácea
e
com
pedúnculo, enquadra-se, segundo Raquel
Vilaça, na tradição das pontas de seta ou
lança “tipo Palmela”.
CAMPOS, 1906: 288; PROENÇA, 1910: 10;
VASCONCELOS, 1918: 8; JUNGHANS et
de fragmentos cerâmicos exclusivamente
de fabrico ao torno (essencialmente
grandes recipientes de armazenamento),
alii, 1968: 24; COFFYN, 1976: 24-25;
VILAÇA, 1995a: Nº31.
| 46
94.
ALEGRIOS,
Monsanto,
Idanha-a-
fragmento de cadinho, fusaiola e pesos
de seixos naturais e inúmeros elementos
Nova. CM 258 [4437150, 659625 - 598].
Tipologia: Povoado.
de moinhos manuais de vaivém.
Cronologia: Bronze Final.
VILAÇA,
Descrição: Situa-se no topo de um relevo
VILAÇA, 1995a: Nº 26; VILAÇA, 1995d.
bem
destacado,
plataforma
oblongo.
ocupando
de
Foi
perfil
alvo
de
1991;
ANTUNES,
1992;
uma
ligeiramente
95. MONSANTO, Monsanto, Idanha-a-
intervenções
Nova. CM 258 [4433685, 6661050 - 757].
programadas por Raquel Vilaça nos
Tipologia: Depósito / Povoado (?).
finais dos anos 80 e inícios dos anos 90
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
do século transacto. Estas permitiram
Ferro / Época Romana e Medieval.
identificar
Descrição: Monte granítico que se eleva
núcleos
habitacionais
e
de forma espectacular no coração da
estruturas
Beira Baixa. É talvez o sítio mais
circunscrevem-se ao topo do relevo, onde
proeminente de toda esta região, sendo
o
visível
compostos
buracos
por
de
controlo
cabanas,
poste.
lareiras
As
visual
da
paisagem
e
de
vários
locais
até
longa
subjacente defensibilidade se tornam
distância. O achado de diversos materiais
mais efectivas. A autora identificou ainda
pré-romanos poderá apontar para uma
um abrigo natural de planta oblonga e
ocupação efectiva do local nesta época.
“corredor” que poderá ter tido uma
No
funcionalidade ritual.
comprovou até hoje que Monsanto tenha
Materiais: Foi possível exumar-se um
sido um lugar de habitat ou residencial
conjunto numeroso de fragmentos de
durante o I milénio a. C. Este facto,
cerâmica manual, que comporta uma
aliado às extraordinárias e invulgares
grande variedade de formas. Entre as
características topográficas do morro,
técnicas
leva-nos a supor que a este lugar estavam
decorativas
representadas
entanto,
nenhuma
evidência
destacam-se as incisões (sobretudo nos
restringidas
lábios) e “tipo Baiões”, a impressão, a
profanas. Seria um ponto para ser
aplicação
e
contemplado
mas
“lágrimas”), o brunimento, caneluras e
povoamento
processava-se
decoração
envolvimento
plástica
(de
penteada.
mamilos
Recolheram-se
quaisquer
em
não
actividades
habitado.
sítios
no
como
O
seu
a
ainda: três contas de colar (de vidro, de
Moreirinha e Alegrios. Contudo, até à
ágata ou cornalina zonada e de azeviche),
realização de um estudo mais sistemático
uma
acotovelado,
(através de escavações) não se deverá
escopros, furadores, lâminas de punhal
descartar definitivamente a possibilidade
(uma virola e uma conteira), pontas de
de aqui se ter instalado um assentamento
seta e argolas, valvas de moldes, um
proto-histórico. Povoado que se poderia
fíbula
de
arco
| 47
também ter estabelecido nas vertentes
programadas por Raquel Vilaça que
deste monte, nomeadamente onde se
identificou, na plataforma mais elevada,
localizam actualmente as povoações de
uma zona habitacional (estruturas de
Fonte de Rimas e Relvas.
combustão e pisos) delimitada por um
Materiais:
Foram
dois
muro de pedra seca. As datações obtidas
machados em bronze, um de talão de
por análise radiocarbónica apontam para
uma
tipologia
uma ocupação efectiva do sítio entre
desconhecida junto à Fonte de Cima
1266 e 805 a.C., uma fase de transição
(para além de outros dois machados
do Bronze Final para o Ferro Inicial.
planos de cronologia anterior a estes). De
Materiais: Foi exumado um numeroso
destacar o tesouro aqui descoberto
conjunto de material cerâmico onde se
composto por várias jóias de prata – seis
destacam
torques, dois braceletes e quatro fíbulas,
bitroncocónicas.
uma
decorativas representadas salienta-se a
argola
e
delas
encontrados
outro
com
de
rica
decoração
as
formas
geminadas
Entre
as
e
técnicas
zoomórfica. Para além destes, são dadas
presença
como provenientes deste sítio três taças
(nomeadamente as incisões em espiga
(uma com inscrição em caracteres pré-
em ambas as superfícies), impressas (por
latinos) e um vaso em prata, pertencentes
dedadas), com aplicação plástica (de
à colecção Barros e Sá.
botões e mamilos), brunidas (cerca de
PROENÇA, 1910: 11; VASCONCELOS,
50% do conjunto decorado) e pintadas
1917:
“tipo
305;
COFFYN,
1976:
24;
MONTEAGUDO, 1977: 213; MILHEIRO,
1982: 36; GOMES E BEIRÃO, 1988;
VILAÇA, 1995a: 83; FABIÃO, 2004.
de
cerâmicas
Carambolo”.
Entre
incisas
o
espólio
metálico menciona-se a presença de
argolas (onde se destaca um conjunto de
17
argolas
encontradas
“coladas”),
punhais, braceletes, cinzéis, virolas e
96. MOREIRINHA, Monsanto, Idanha-aNova. CM 258 [4436500, 660250 - 362].
Tipologia: Povoado.
elementos de
Descrição: Encontra-se implantado no
topo de um destacado “monte-ilha”,
defronte
de
Monsanto.
Usufrui de um amplo controlo visual e de
excelentes condições naturais de defesa,
sobretudo a sul e sudoeste onde as
vertentes declivosas lhe impossibilitam o
acesso.
Foi
alvo
lâminas (uma serra e facas) em ferro. Do
material lítico, para além dos inúmeros
Cronologia: Bronze Final.
localizado
hastes diversas em bronze e quatro
de
escavações
moinhos manuais
de
vaivém, conta-se um cadinho e a valva
de um molde. De destacar, por fim, as
contas de colar em âmbar de origem
báltica que comprovam os mecanismos
de trocas inter e supra-regionais.
VASCONCELOS, 1917: 304; ANTUNES,
1992; VILAÇA, 1995a: Nº 33; BECK e
VILAÇA, 1995.
| 48
Cronologia: Idade do Ferro / Época
97. S. GENS, Oledo, Idanha-a-Nova.
Romana (?).
CM 269 [4426075, 641825 - 320].
Descrição: Situa-se no topo de um
Tipologia: Povoado.
esporão que se encontra delimitado pela
Cronologia: Bronze Final.
ribeira da Devesa, a cerca de 100m a
Descrição: Situa-se no topo de um
montante da sua confluência com o Tejo.
cabeço bem destacado e alcantilado,
A sudoeste, sobre o istmo que dá acesso
sobretudo a norte e este. Encontra-se
a esta plataforma, verifica-se a existência
sobranceiro à ribeira de Alpreade, muito
de uma forte muralha composta por lajes
próximo da zona de confluência desta
de xisto dispostas horizontalmente sem
com a ribeira de Taveiro. Ao contrário de
qualquer permeio.
outros
Materiais:
povoados
coetâneos,
este
Para
além
de
cerâmica
apresenta diversas limitações em termos
manual e ao torno, foram identificados
de domínio visual sobre a paisagem. O
dois fragmentos de mós giratórias, um
quadro orográfico bastante acidentado da
elemento de dormente e um de movente
região onde se encontra implantado
de moinho manual.
“confere-lhe um aparente isolamento”.
HENRIQUES e CANINAS, 1993: 129.
Foram
realizadas
arqueológicas
sondagens
dirigidas
por
Raquel
CONCELHO DE OLEIROS
Vilaça que interpreta este sítio como
pequena atalaia com uma ocupação não
99. CASTRO DO PICOTO, Sarnadas de S.
permanente durante os finais da Idade do
Simão, Oleiros. CM 279 [419600, 607800
Bronze.
- 840].
Materiais: Esta intervenção permitiu
Tipologia: Povoado Fortificado.
reunir um pequeno grupo de fragmentos
Cronologia: Idade do Ferro / Época
cerâmicos de fabrico manual. Entre estes,
Romana (?).
apenas
Descrição: Situado no extremo sul da
quatro
se
apresentavam
decorados. Dois com incisões no lábio,
Serra
um com caneluras paralelas no bojo e
alinhamentos concêntricos defensivos na
uma
zona onde se apresenta mais exposto, o
taça
carenada
com
reticulado
do
norte.
Muradal,
Estas
conserva
estruturas
três
brunido.
lado
são
VILAÇA, MARQUES E CORREIA, 1999.
compostas por pedra seca de médio
porte, chegando a alcançar 2m. de
98. GRELHEIRA, Rosmaninhal, Idanha-a-
largura. Entre os afloramentos rochosos
Nova. CM 306 [4392600, 661700 - 162].
são visíveis alinhamentos de estruturas
Tipologia: Povoado Fortificado.
circulares, oblongas e sub-rectangulares,
talvez de cariz doméstico.
| 49
Materiais:
Os
materiais
visíveis
à
Dispõe de um amplo domínio visual. É
superfície são bastante escassos. Carlos
visível um complexo sistema defensivo
Batata apenas menciona a descoberta de
que delimita um vasto perímetro onde se
três cossoiros e três fragmentos de
detectaram vários alinhamentos de pedra
cerâmica de armazenamento ao torno de
seca.
bordos extrovertidos.
Materiais: Detectaram-se à superfície
BATATA, 2002: Nº006.
vários fragmentos de cerâmica manual e
um fragmento de bordo extrovertido ao
CONCELHO DE PENAMACOR
torno (Est. IX – 2), elementos de
moinhos manuais e giratórios e fusaiolas.
100. PEDRICHAS, Aranhas/Aldeia de João
Regista-se
Pires/Salvador, Penamacor. CM 258
aparecimento de uma ponta de lança em
[4440825, 660250 - 565].
ferro.
ainda
Tipologia: Povoado.
ALMEIDA,
Cronologia: Bronze Final.
BATISTA, 1982.
a
1945;
referência
MONTEIRO,
do
1978;
Descrição: Situa-se no topo do ponto
CABEÇA
GORDA,
mais alto de uma plataforma destacada
102.
de configuração alongada e ligeiramente
Penamacor. CM 237.
Meimão,
elíptica, que se encontra a sul da actual
Tipologia: Estela / Achado avulso.
povoação de Aranhas.
Cronologia: Bronze Final.
Materiais: R. Vilaça identificou vários
Descrição:
fragmentos de cerâmica manual, entre as
insculturada onde se pode ver um escudo
quais se destacam as cerâmicas carenadas
com chanfraduras em V, lança e punhal.
e fragmentos com decoração puncionada
Refere-se o aparecimento de um punhal
e mamilar.
triangular em bronze, hoje em paradeiro
VILAÇA, 1995a: nº39.
desconhecido. R. Vilaça dá-nos conta do
Fragmento
de
estela
aparecimento junto ao local do achado de
101. SORTELHA-A-VELHA, Benquerença,
elementos de
Penamacor. CM 236 [4457925, 649750 -
vaivém.
635].
RODRIGUES, 1958a; RODRIGUES, 1958b;
moinhos manuais
GORBEA,
1966:
de
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMAGRO
100-101;
Cronologia: Idade do Ferro / Época
GOMES E MONTEIRO, 1976-77: 310;
Romana.
BATISTA, 1982; VILAÇA, 1995: 84.
Descrição: Situa-se no topo de um
cabeço
destacado,
sobranceiro
à
confluência das ribeiras da Meimoa, Vale
da Senhora da Póvoa e Casteleiro.
103. PEDRÓGÃO, Pedrógão de São Pedro,
Penamacor. CM 257.
Tipologia: Achado Avulso.
| 50
Cronologia: Bronze Final.
de formas e decorações. Entre as técnicas
Descrição: Machado de talão com uma
decorativas, relatamos a presença de
argola e nervura terminando em botão.
incisões (destaca-se um bordo com
MONTEAGUDO,
COFFYN,
espigas incisas em ambas as superfícies),
1976: 24; MONTEAGUDO, 1977: 211;
as impressões nos lábios, carena e fundo,
VILAÇA, 1995a: Nº40.
aplicação plástica de botões e mamilos
1965:
30;
junto ao bordo e bojo e “lágrimas” no
104. MONTE DO FRADE, Penamacor,
bojo e motivos brunidos em sulcos e
Penamacor. CM 248 [4445100, 658125 -
faixas compondo triângulos sequenciais,
576].
linhas verticais paralelas, ziguezagues,
Tipologia:
Povoado
(casal
ou
reticulados e losangos. Entre o material
residência).
lítico destaca-se a presença de numerosos
Cronologia: Neo-Calcolítico / Bronze
elementos de
Final.
vaivém, pesos de seixos e valvas de
Descrição: Situa-se no topo de uma
moldes. Dentro do espólio metálico, na
grande
configuração
sua maioria de cariz atlântico, salienta-se
alongada e ligeiramente elíptica), bem
o aparecimento de um bracelete de forma
destacada na paisagem. Este local foi
ovalada,
alvo de escavações dirigidas por Raquel
pedúnculo central e aletas e um punhal
Vilaça que incidiram numa pequena
de lâmina triangular.
elevação
(de
uma
moinhos manuais
ponta
de
seta
de
com
plataforma com cerca de 126m2. Aqui
ANTUNES, 1992; VILAÇA, 1995a: Nº 38;
foram encontradas diversas estruturas
VILAÇA, 1995c: 55; VILAÇA, 1997a.
habitacionais, onde se destaca uma
cabana com átrio e uma passagem
105. SALVADOR, Salvador, Penamacor.
empedradra
CM 258.
e
limitada
por
dois
afloramentos rochosos, um deles com
Tipologia: Achado Avulso.
“covinhas”.
Cronologia: Bronze Final.
Estas
arqueológicas,
aquela
Descrição: Machado em bronze de
investigadora a interpretar esta estação
tipologia desconhecida encontrado em
como um pequeno casal, que teria sido
1905 nos arredores desta povoação.
habitado
Posteriormente foi fundido.
por
levam
evidências
alguém
socialmente
distinto. As datas obtidas por análise
PROENÇA, 1910: 13; VILAÇA, 1995a:
radiocarbónica, permitem a autora datar a
Nº42.
sua ocupação entre finais do século XII e
106.
o X a.C.
Materiais:
Os
materiais
cerâmicos
exumados reúnem uma grande variedade
VALE
DA
SENHORA
DA
PÓVOA/SERRA DA OPA, Vale da Senhora
| 51
da
Póvoa/Moita,
Penamacor/Sabugal.
Descrição: Cabeço bem destacado de
CM 236 [4461200, 652000 - 703].
vertentes bastante abruptas, delimitado a
Tipologia: Povoado Fortificado.
norte, sul e oeste pela ribeira da Fróia.
Cronologia: Bronze Final (?) / Idade do
Não aparenta ter muralha defensiva.
Ferro.
Materiais: Apenas se regista a existência
Descrição:
Cabeço
bem
de fragmentos de cerâmica manual, onde
destacado na paisagem, marcando o
se destaca um bordo com pega mamilar e
rebordo da Meseta. Apesar da sua
lábio com incisões e elementos de
inexpugnabilidade, conferida pelas suas
moinho manual de vaivém.
defesas
BATATA, 2002: Nº043.
naturais,
defensivas.
povoado
R.
possui
Vilaça
do
“insuficiência
granítico
seu
de
estruturas
exclui
este
catálogo
por
108. CERCA DO CASTELO, São Pedro do
não
Esteval,
dados”,
que
permite a autora atribuir-lhe uma segura
Proença-a-Nova.
CM
302
[4392750, 603300 - 212].
cronologia de ocupação. Por sua vez, M.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Osório numa recente reavaliação e com
Cronologia: Idade do Ferro / Época
base em novos materiais recolhidos e na
Romana.
análise da sua implantação e sistema
Descrição: Cabeço bem destacado, de
defensivo refere a possibilidade de se
encostas bem pronunciadas, delimitado
poder tratar de um povoado da Idade do
pela ribeira do Peral. Apresenta uma
Ferro.
linha de muralha defensiva em xisto, de
Materiais: Para além de fragmentos de
formato rectangular.
cerâmica
Materiais:
manual
regista-se
de
de
o
Para
além
de
cerâmica
quartzo
manual e ao torno, devemos mencionar o
hialino e de um elemento de moinho
tesouro de 300 moedas de prata que
manual de vaivém.
deverá ser proveniente deste povoado.
PROENÇA, 1908: 18; ALMEIDA, 1945:
CATHARINO, 1933: 218; HENRIQUES e
476; BATISTA, 1982a; VILAÇA, 1995a: 92
CANINAS, 1983; BATATA, 2002: Nº057.
aparecimento
lascas
e 124 (nota 15); OSÓRIO, 2005a: Nº17.
CONCELHO DA SERTÃ
CONCELHO DE PROENÇA-A-NOVA
109.
CASTRO
DE
SANTA
MARIA
107. CABEÇO DOS CASTELOS, Montes da
MADALENA, Cernache do Bonjardim,
Senhora,
Sertã. CM 288 [4405000, 566300 - 486].
Proença-a-Nova.
[4400200, 604000 - 225].
CM
302
Tipologia: Povoado Fortificado.
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Cronologia: Bronze Final.
Ferro / Época Romana.
| 52
Descrição: Situa-se no topo de um
Descrição: Situa-se num estratégico
cabeço
cabeço onde se localiza a igreja que lhe
quartzítico
bem
destacado,
dominando toda a zona planáltica de
empresta
Cernache do Bonjardim. Possui, pelo
defendido a oeste por uma ravina que
menos, uma linha de muralha defensiva.
pende sobre o Zêzere, apresenta muralha,
São visíveis no topo sul estruturas de
com cerca de 6/7m. de largura, a norte,
planta
parcialmente
este e sul, delimitando uma área com
destruídas pela abertura de uma estrada
cerca de 5 hectares. Tem uma área
de terra batida que circunda todo o
escavada
monte. Foi intervencionada uma área que
basicamente sobre a muralha. Realizou-
perfaz os 14 m2, onde foi possível
se uma sondagem no lado sul do
identificar, na zona norte, uma estrutura
povoado que permitiu pôr a descoberto
de perfil elíptico datada do Bronze Final.
uma estrutura circular que se associou à
Materiais: Regista-se a presença de
actividade metalúrgica. Antes apenas
cerâmica manual e ao torno (de perfil em
eram visíveis à superfície estruturas
S). A cerâmica decorada é exclusiva dos
rectilíneas.
recipientes de fabrico manual e resume-
Materiais:
se a dois bordos com decoração feita por
fragmentos de cerâmica manual (onde se
pressão, dois bojos com decoração
destaca um fragmento de taça geminada
penteada e um com sulco transversal.
e as taças carenadas) com (bordo de lábio
Para além destes, foi recolhido um peso
inciso) e sem decoração, um fragmento
de rede em anfibolite, um furador em
de punhal de rebites em bronze, um
bronze e vários líticos. Existe ainda o
fragmento
relato de aparecimento de jóias em ouro
anfibolite, um fragmento de grande
e moedas aquando a construção da capela
almofariz em granito, três moinhos
existente no topo do povoado.
manuais de vaivém e dois pingos de
rectangular,
BATATA,
1998:
25-35;
BATATA,
o
topónimo.
de
150
Foram
de
m2
Naturalmente
que
exumados
machado
incidiu
vários
polido
em
fundição.
GASPAR E BATISTA, 1999: 27; BATATA
ALMEIDA 1945: 485; BATATA, 1998: 22-
E GASPAR, 2000b: 678-681; BATATA,
25; BATATA, GASPAR E BATISTA, 1999:
2002: Nº028.
31-33; BATATA E GASPAR, 2000b: 681684; BATATA, 2002: Nº015.
110. NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA,
Pedrógão
Pequeno,
Sertã.
CM
277
CONCELHO DE VILA DE REI
[4418300, 574300 - 407].
Tipologia: Povoado Fortificado.
111. CERRO DO CASTELO, Vila de Rei,
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Vila de Rei. CM 300 [4397970, 567700 -
Ferro.
380].
| 53
Tipologia: Povoado Fortificado.
varetas e outro de pontas de seta e vários
Cronologia: Bronze Final.
elementos de moinho manual.
Descrição: Situa-se no topo de um monte
BATATA E GASPAR, 1995b; BATATA,
cónico destacado de vertentes bastante
GASPAR E BATISTA, 1999: 30-31; FÉLIX,
íngremes (chegam a atingir os 30 % de
2000; BATATA E GASPAR, 2000a: 33-70;
pendente), que domina visualmente toda
a
região
envolvente.
Encontra-se
BATATA E GASPAR, 2000b: 672-677;
BATATA, 2002: Nº059.
próximo da confluência da ribeira da Isna
com o Zêzere, sendo ainda rodeado pelas
ribeiras do Sobral e Giesteira. Foi alvo de
intervenções
que
possibilitaram
a
realização de datações radiocarbono na
área da estrutura defensiva. Só num
período posterior ao século IX a.C. terá
sido edificada a linha de muralha de
pedra solta que circunda o outeiro a meia
encosta e um último reduto no topo do
cabeço. Numa primeira fase teria sido
um povoado aberto e é numa etapa mais
tardia do Bronze Final que se edifica o
sistema defensivo. Trata-se de uma
muralha constituída por pedras de xisto
empilhadas sem qualquer permeio, com
Foram
exumados
vários
fragmentos de cerâmica manual (alguma
brunida). Deste lote destacamos um pote
carenado
mamilar,
com
decoração
fragmentos
de
plástica
uma
taça
geminada, um fragmento de bordo e colo
carenado com apêndice bicónico com
duas perfurações e bordos com incisões
no lábio. Para além destes devemos
mencionar
o
Rei /Amêndoa, Vila de Rei/Mação. CM
312 [4391550, 5803500 - 497].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Idade do Ferro / Época
Romana.
Descrição: Situado na Serra da Ladeira,
ocupa uma posição estratégica e central
em relação às bacias do Tejo, Zêzere e
Ocreza.
aparecimento
de
um
fragmento de bracelete em bronze, pesos
de rede, esquírolas de sílex, um molde de
Cabeço
bem
destacado,
defendido naturalmente pelas encostas
abruptas a norte e este e por uma linha de
muralha a sul e oeste. Maria Horta
Pereira
(1970a:
243)
menciona
a
existência de 38 estruturas domésticas de
planta
cerca de 1,80m de largura.
Materiais:
112. S. MIGUEL DA AMÊNDOA, Vila de
rectangular
e
quadrangular
(algumas com pequeno recinto exterior
circular)
dispostas
assimetricamente.
Para além destas, foca a presença no
ponto mais elevado do povoado de um
recinto de planta quadrangular cercado
por espessas muralhas.
Materiais: Do conjunto de cerâmica
manual e ao torno exumada, Maria Horta
Pereira destaca a presença de dois pratos
de fabrico manual, um com decoração
incisa e outro com dedadas, um pote ou
taça fabricado ao torno com decoração
incisa e quatro cossoiros. Foram ainda
| 54
identificados seis mós manuais e outras
declive acentuado Apesar disso, possui
seis circulares, uma lança de falso alvado
uma linha de muralha (composta por
em ferro, uma falcata em ferro, um
lajes de xisto dispostas horizontalmente
escopro de ferro de secção rectangular e
sem qualquer permeio), da qual apenas
punho de secção circular, um machado
são visíveis dois troços, um a nordeste e
de alvado em ferro e uma placa de
outro a sul (locais mais vulneráveis).
bronze com decoração gravada em fitas
Suspeita-se que esta estrutura defensiva
entrançadas e motivos em ziguezague.
tenha
AZEVEDO, 1896; JALHAY, 1949: 5-16;
reaproveitamento da pedra. Aliás, cerca
PEREIRA, 1970: 237-256; PEREIRA E
de 50% da estação foi destruída por
BUBNER, 1985; BATATA E GASPAR,
trabalhos de terraplanagem para plantio
2000a: 71-73; BATATA, 2002: Nº116.
sido
desmantelada
para
de olival. Este sítio encontra-se próximo
de antigas explorações cupríferas (minas
CONCELHO DE VILA VELHA DE RÓDÃO
do Sítio do Cobre e Buraca da Moura).
Materiais:
113. CASAL DO CHÃO DAS CASAS, ?, Vila
Velha de Ródão.
Tipologia: Depósito.
Cronologia: Idade do Ferro.
Descrição: Depósito composto por um
bracelete maciço de prata e dois colares
entrançados abertos também em prata.
Este achado surge igualmente dado como
proveniente do Casal do Chão das Covas.
PARREIRA e PINTO, 1980: 16, nº 119 e
120.
114. CASTELEJO DO TOSTÃO, Vila Velha
Foram
recolhidos
alguns
fragmentos de cerâmica manual grosseira
(com elementos não plásticos de médio
calibre e medianamente distribuídos) e
ao torno. Ambas as produções revelam
uma abundância de grandes recipientes
de armazenagem de bordo extrovertido
(Est. VIII – 1 e 2). Identificou-se um
exemplar
decorado
com
meandros
incisos (Est. VIII – 4) e um fundo anelar
(Est. VIII – 3). Por fim, destaca-se a
presença de um elemento de moagem
rotativo e escórias de fundição.
HENRIQUES E CANINAS, 1986: 25.
de Ródão, Vila Velha de Ródão. CM 303
[4394825, 615500 - 146].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Idade do Ferro.
Descrição: Situa-se no topo norte de um
esporão contornado por uma série de
meandros da ribeira do Açafal. Este local
apresenta boas condições naturais de
defesa, conferidas pelas suas encostas de
115. VILA VELHA DE RÓDÃO, Vila Velha
de Ródão, Vila Velha de Ródão. CM 314.
Tipologia: Achado Avulso.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Machado plano com contorno
subtrapezoidal e gume irregular.
VILAÇA, 1995a: Nº58.
| 55
DISTRITO
DE
SANTARÉM
118. AMOREIRA/QUINTA DA LÉGUA, Rio
de Moinhos, Abrantes. CM 331 [4371250,
CONCELHO DE ABRANTES
562575 - 55].
116. OLIVAL COMPRIDO II, Alferrarede,
Tipologia: Povoado (Habitat).
Abrantes. CM 331 [4369800, 571000 -
Cronologia: Mesolítico/Neolítico / Idade
46].
do Bronze (Final).
Tipologia: Povoado (Habitat?).
Descrição: Situado na margem direita do
Cronologia: Idade do Ferro (Pleno) /
Tejo localiza-se precisamente no centro
Época Romana.
da povoação da Amoreira (junto ao
Descrição: Villa romana intervencionada
campo
por Filomena Gaspar que identificou
intervenções arqueológicas no âmbito da
vestígios de uma fase de ocupação
minimização do impacte da construção
anterior datada da II Idade do Ferro.
do IP6. Sob um nível datado da Idade do
Materiais: Os autores não especificam
Bronze detectou-se uma primeira fase de
quais
ocupação do final do VIº milénio a.C.
os
materiais
exumados
que
de
futebol).
Foram
Foi
alvo
exumados
de
classificam da Idade do Ferro, realçando
Materiais:
vários
apenas o espólio de época romana.
fragmentos de cerâmica manual, mas
BATISTA, 1995: 63; BATATA, 2002:
sobretudo elementos líticos (entre eles
Nº218.
pesos de rede).
CRUZ, 1997; SILVA, BATISTA E FÉLIX,
117. CASAL DAS FREIRAS I, Mouriscas,
1999; FÉLIX, 2000; CRUZ et alii, 2000;
Abrantes. CM 322 [4371800, 576050 -
CRUZ, 2002.
100].
119. QUINTA DA PEDREIRA, Rio de
Tipologia: Povoado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
564550 - 50].
Ferro / Época Romana.
Descrição:
Localiza-se
num
cabeço
destacado dos que o circundam. Não foi
identificada
qualquer
superfície.
Encontra-se
estrutura
à
parcialmente
destruído devido à construção do IP6.
Materiais:
Para
além
de
cerâmica
manual apenas se menciona a exumação
de um peso de rede, barro de cabana e
um moinho manual de vaivém.
BATATA, 2002: Nº207.
Moinhos, Abrantes. CM 331 [4371100,
Tipologia: Povoado (Habitat?).
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Povoado situado no topo de
uma suave encosta voltada para o rio
Tejo e já inserida em terraço fluvial
cascalhento. Integra-se numa zona com
outros
vestígios
essencialmente
arqueológicos
paleolíticos
e
tardo-
romanos. Foi intervencionado por Félix
| 56
que
o
interpreta
como
pequeno
Descrição: Lâmina de punhal triangular
aldeamento de cariz agro-pecuário.
com lingueta trapezoidal individualizada
Materiais: Foram exumados diversos
por
recipientes de cerâmica manual, onde
mencionada pela primeira vez por M. A.
destacamos os fragmentos de bordo com
H. Pereira que a atribui ao período
pegas horizontais alongadas saindo do
Calcolítico. R. Vilaça comunica que esta
lábio com decoração incisa e impressa,
classificação
pegas
considerando-se
mamilares
com
perfurações
dois
entalhes.
verticais e um exemplar decorado no
Bronze Final.
colo por sulcos brunidos que figuram
PEREIRA,
num
1995a: 336.
padrão
oblíquas
geométrico
entrecruzadas
de
linhas
em
faixa
horizontal.
122.
terá
peça
sido
hoje
1970b:
CASTELO
Esta
revista
integrável
256-261;
ao
VILAÇA,
ABRANTES,
DE
é
São
BATATA, GASPAR E BATISTA, 1999: 23-
Vicente, Abrantes. CM 331 [4368800,
35; FÉLIX, 1997; FÉLIX, 2000; BATATA,
569400 - 196].
2002: Nº230.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Cronologia: Bronze Final / Idade do
120. QUINTA DO VALE DO ZEBRO, Rio de
Ferro / Época Romana e Medieval.
Moinhos, Abrantes. CM 331 [4371100,
Descrição: Cabeço alcantilado por todos
563550 - 30].
os lados excepto a oeste onde o acesso é
Tipologia: Achado Avulso.
mais favorável. Aquando a derrocada de
Cronologia: Bronze Final.
parte do pano de muralha medieval foi
Descrição: Foice de tipo “Rocanes”,
possível identificar materiais datados do
faltando a extremidade distal, com gume
Bronze Final, Ferro Pleno e época
muito deteriorado e lâmina nervurada.
romana.
Encontrada em terreno de suave declive
comprovado, é possível que a muralha
quando se procedia à abertura de uma
hoje visível assente sobre estrutura
vala para canalização no interior desta
defensiva
quinta.
referência ao achado de dois machados
VILAÇA, 1995: 332; COFFYN, 1998: 175;
de pedra polida quando se realizavam
FÉLIX, 1997; SILVA, BATISTA E FÉLIX,
obras no interior do castelo.
1999; BATATA, 2002: Nº231.
Apesar
antiga.
de
ainda
Oleiro
faz
não
ainda
Materiais: Para além dos dois machados
de pedra polida referenciados e uma
121. COUSA BELA, S. João, Abrantes.
Tipologia: Achado Avulso.
Cronologia: Bronze Final.
xorca
de
aparecimento
bronze
de
destaca-se
cerâmica
o
manual
carenada e de uma taça com decoração
de ornatos brunidos.
| 57
OLEIRO, 1951; PEREIRA, 1988; BUBNER,
Tipologia: Povoado Fortificado.
1996: 69; FÉLIX, 2000; BATATA et alii,
Cronologia: Bronze Final / Época
1999: 29; BATATA, 2002: Nº222.
Medieval.
Descrição: Dispõe-se em torno do
CONCELHO DE MAÇÃO
enorme barroco sobranceiro à povoação
de Amêndoa. O sistema defensivo apenas
123.
CABEÇO
PENEDENTES,
é visível do lado norte e oeste pois o
Amêndoa, Mação. CM 312 [4391150,
resto do povoado encontra-se sobre as
583300 - 38].
actuais habitações.
DAS
Tipologia: Achado Avulso.
Materiais: Cerâmica manual e ao torno.
Cronologia: Idade do Ferro.
AZEVEDO, 1896: 254; LOURO, 1990: 65;
Descrição: Foi encontrado perto de um
BATATA
monumento megalítico (anta) uma urna
BATATA, 2002: Nº117.
E
GASPAR,
2000a:
14;
cinerária datada da Idade do Ferro.
PEREIRA,
1970:
80-81
e
256-257;
BATATA, 2002: Nº119.
126. CASTELO VELHO DA ZIMBREIRA,
Envendos, Mação. CM 323 [4380950,
600950 - 434].
124. CASTELO DO SANTO, Amêndoa,
Tipologia: Povoado Fortificado.
Mação. CM 312 [4390550, 586800 - 516].
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Tipologia: Povoado Fortificado.
Ferro (?).
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Cabeço rodeado por muralha
Descrição:
Cabeço
destacado
com
de quartzito. Segundo Carlos Batata,
grande domínio visual sobre a paisagem
parecem existir estruturas circulares ou
envolvente, alcantilado do lado norte.
elípticas na parte sul do povoado.
Possui duas linhas de muralha. Uma que
Controverso continua a ser a datação
delimita o ponto mais elevada e uma
atribuída a este sítio. Alguns autores
segunda a meia encosta do lado sul e
colocam-no
oeste. Do lado sul, Batata, refere a
Maria da Horta Pereira data-o da Idade
existência de uma possível estrutura de
do Ferro e Carlos Batata da Idade do
perfil elíptico.
Bronze.
Materiais: Apenas há a registar a
Materiais: Apenas há a registar a
presença de cerâmica manual.
existência
PEREIRA, 1970: 95; BATATA, 2002:
superfície.
Nº120.
Mação. CM 312 [4390650, 580300 - 438].
de
período
cerâmica
Calcolítico,
manual
à
PEREIRA, 1970: 99-101; BATATA, 2002:
Nº133.
125. CASTRO DA AMÊNDOA, Amêndoa,
no
| 58
127. CASTELO VELHO DO CARATÃO,
pesos de rede, cinco cossoiros e um
Mação,
bastão de comando.
Mação.
CM
322
[4381500,
SAVORY,
589350 - 287].
1951:
323-377;
PEREIRA,
Tipologia: Povoado Fortificado.
1970a: 46-50, 102-131, 168-179 e 290-291;
Cronologia: Calcolítico / Bronze Final /
COFFYN, 1983: 174, 182 e190; BÜBNER,
1996; BATATA, 2002: Nº143.
Idade do Ferro / Época Romana.
Descrição: Povoado identificado em
1946 por João Calado Rodrigues que,
juntamente com Maria Horta Pereira,
realiza sondagens arqueológicas que
permitiram desvendar diversas estruturas.
Esta
estação
possui
uma
muralha
(construída com blocos de quartzito) que
parece
cercar
toda
a
plataforma,
reaproveitando os afloramentos rochosos,
que, perfeitamente afeiçoados, integram
a empena deste pano defensivo. No
interior do povoado parecem distinguirse duas áreas de ocupação. Segundo
Carlos Batata, Calado Rodrigues refere
ainda a existência de uma necrópole do
Bronze Final disposta em torno da
São
referidos
inúmeros
artefactos como sendo provenientes deste
povoado
Mação. CM 312 [4383000, 586100 - 240].
Tipologia: Depósito.
Cronologia: Bronze Final.
Descrição: Vulgarmente designado por
“esconderijo de fundidor”, este conjunto
de artefactos metálicos foi descoberto em
1943 aquando a construção da estrada
entre Pereiro e Castelo. Maria Horta
Pereira, citando João Calado Rodrigues,
localiza o achado a 100m. (Jalhay afirma
que foi a 450m.) da ponte de Porto do
Concelho, na margem esquerda da ribeira
de Eiras.
Materiais: Este depósito é composto por
dois machados de talão com uma argola,
estação.
Materiais:
128. PORTO DO CONCELHO, Mação,
dos
quais
destacamos:
fragmentos cerâmicos com decoração de
ornatos brunidos, um machado plano em
bronze de perfil trapezoidal, um tranchet
(Maria Horta Pereira
(1970a: 171)
classifica-o erradamente como machado
de talão), um punhal ou adaga com
quatro rebites, um fragmento de espada
ou punhal, quatro braceletes, um anel de
cobre, um estilete, argolas de bronze,
uma anilha de ouro, um molde de
escopro, um anzol duplo em bronze, 14
um
de
perfil
trapezoidal
e
outro
rectilíneo, duas foices em bronze, três
lanças com encabamento em alvado,
duas espadas curtas de tipo “língua de
carpa” e quatro extremidades de arma
talvez
de
mesma
tipologia,
quatro
punhais de rebite e um fragmento de
espigão de um punhal, duas adagas, um
serrote ou punhal (?), um estilete ou
punção, três braceletes, doze argolas
completas
e
três
fragmentos,
um
maçarico de boca em bronze (?), um
fragmento da ponta de estilete, outro de
um escopro ou formão e por fim um
| 59
fragmento do que poderá ser parte
integrante de uma fíbula (?).
JALHAY, 1944: 20-26; SAVORY, 1951:
327, 369, 371 e 376; PEREIRA, 1970: 180206; COFFYN, 1983: 172, 176-178, 182183, 189 e 192-193; BATATA, 2002: Nº142.
CONCELHO DO SARDOAL
129. CABEÇO DAS MÓS, Valhascos,
Sardoal. CM 322 [4374750, 576000 187].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Cronologia: Bronze Final / Idade do
Ferro / Época Romana.
Descrição: Povoado que ocupa três
cabeços que se destacam e servem de
extrema entre os concelhos do Sardoal e
Abrantes. Encontra-se delimitado a norte,
este e sul pela ribeira do Arcês. Grácio
refere a existência de uma mina de
chumbo nas suas imediações. A estação
foi alvo de intervenções dirigidas por
Paulo Félix que identificou níveis do
Bronze Final, Idade do Ferro e Época
Romana.
Materiais: Dentro do lote de cerâmicas
manuais e ao torno exumadas realçamos
a presença de fragmentos com decoração
estampilhada e linhas onduladas e as
taças carenadas brunidas. Para além
destes materiais, identificaram-se contas
de colar em vidro, cossoiros e elementos
de moagem manuais e circulares.
GRÁCIO, 1998; BATATA et alii, 1999: 28;
FÉLIX, 2000; BATATA, 2002: Nº171.
| 60
de Pedregais, situado a 1000m a oeste da
1.4. CATÁLOGO B
actual povoação. Pelos materiais que
DISTRITO
DA
identificou e pela sua posição estratégica
GUARDA
em relação ao Côa afirma que neste lugar
terá
CONCELHO DE ALMEIDA
existido
um
“castro
lusitano-
romano”.
1. CASTRO DO CABEÇO NEGRO, Almeida,
154-155;
LÓPEZ
30-31.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Almeida regista a presença
de vestígios de um castro no topo de um
cabeço situado 3km a sudoeste da cidade
de Almeida. Sobranceiro à margem
esquerda do rio Côa, do qual dista cerca
500m,
1945:
JIMÉNEZ, 2002: 341; PERESTRELO, 2004:
Almeida.
de
ALMEIDA,
assume
uma
importante
posição estratégica e de controlo daquele
curso de água.
3. CABEÇO DA MEDRONHEIRA, Castelo
Bom, Almeida.
Tipologia: Povoado (?).
Descrição: Almeida detectou, no topo do
cabeço denominado da Medronheira,
situado a 1500m a nordeste da povoação
de Castelo Bom, vestígios de uma torre
em alvenaria que presume encontrar-se
ALMEIDA, 1945: 184.
instalada sobre as ruínas de um antigo
2. FORTALEZA DE ALMEIDA, Almeida,
castro.
ALMEIDA, 1945: 188.
Almeida. CM 183 [4510600, 770000 760].
4. CASTELO BOM, Castelo Bom, Almeida.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Descrição:
A
actual
fortaleza
CM 194 [4499100, 677650 - 718].
de
Almeida encontra-se implantada sobre a
plataforma de um largo outeiro na
margem direita do Côa. São muitos os
autores que aqui localizam um povoado
proto-histórico. Contudo as evidências
arqueológicas
até
hoje
identificadas
recuam somente ao período romano, o
que poderá indicar a presença de um
assentamento anterior ainda impossível
de documentar. Não obstante, Almeida
pressupõe que a “primitiva fortaleza” da
cidade de Almeida estaria instalada no
sítio denominado de Enchido da Sarça ou
Tipologia: Povoado (?).
Descrição: O sítio onde se instalou o
castelo medieval da aldeia de Castelo
Bom, dispõe de boas condições naturais
de defesa e domina visualmente grande
parte do curso do rio Côa. O interesse
arqueológico por este local despoletou
com o achado, no interior de um penedo
próximo da actual aldeia, de uma espada
de bronze atribuível ao Bronze Médio.
Alguns autores referem a hipótese da
ocupação desta área poder remontar a
época
proto-histórica.
De
facto,
a
| 61
excelente posição estratégica de que
existência de um rebordo talhado no
desfruta Castelo Bom permite colocar
afloramento que interpreta como base de
esta possibilidade que, por enquanto,
sustentação para as pedras de uma
continua
muralha, presume que poderá tratar-se de
por
documentar
arqueologicamente.
um
ALMEIDA, 1945: 167; SANCHES, 1995;
destruído.
LÓPEZ
ALMEIDA, 1945: 186.
JIMÉNEZ,
2002:
184;
povoado
pré-romano
bastante
PERESTRELO, 2004: 32-33.
7. CASTRO DA PENHA DO ABUTRE,
5. CASTELO DE FRENEIDA, Freneida,
Almeida.
Freneida, Almeida.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Tipologia: Povoado.
Descrição:
O
Descrição: Segundo Almeida existem
de
vestígios inequívocos da presença de um
Freneida encontra-se implantado sobre
povoado numa plataforma sobranceira a
um
e
oeste da Penha do Abutre, situado a
rodeado, pelos lados norte e poente, por
1300m a norte da povoação de Freineda.
duas linhas de água. Almeida presume
Neste sítio localizado na margem direita
que esta construção se tenha instalado
do Côa, este autor refere a presença de
sobre as ruínas de um antigo castro que
um pequeno lanço de muralha e de
assentava no topo do cabeço do Picoto.
gravuras rupestres.
Aqui o autor identifica vestígios de
ALMEIDA, 1945: 185.
pequeno
castelo
outeiro
medieval
sobranceiro
construções castrenses.
ALMEIDA, 1945: 178.
8. CASTRO DO SANTO CRISTO, Freixo,
Almeida.
6. CASTRO DE CABAÇOS, Freineda,
Tipologia: Povoado Fortificado.
Almeida.
Descrição: Almeida refere a presença de
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição:
este
castro pré-romano, no topo do cabeço
provável povoado situa-se no topo de um
denominado de Santo Cristo, junto à
cabeço
actual povoação do Freixo na margem
que
Segundo
se
Almeida
vestígios, do que presume tratar-se de um
levanta
junto
da
confluência da ribeira da Freineda com a
direita da ribeira das Cabras.
ribeira de Vale de Cabaços (próximo de
ALMEIDA, 1945: 185.
uma actual estação de caminhos de
ferro). O autor não detecta aqui vestígios
9. CITÂNIA DE OPPIDANEA, Malhada
inequívocos de uma ocupação humana.
Sorda, Almeida.
No entanto pela análise da configuração
do outeiro de Vale de Cabaços e pela
Tipologia: Povoado Fortificado.
| 62
Descrição: Almeida e Fernandes situam
CONCELHO DE FIGUEIRA DE CASTELO
esta estação nos sítios do Verdugal e
RODRIGO
Moradios, cerca de 4km a sul de
Malhada Sorda. Os vestígios por eles
11. ATALAIA DA NAVE REDONDA, Castelo
detectados estendem-se por uma vasta
Rodrigo, Figueira Castelo Rodrigo.
planície entre os rios Côa e Águeda.
Tipologia: Povoado.
Unânimes ao realçar a vasta área de
Descrição: Almeida indica a presença de
dispersão dos materiais detectados à
vestígios
superfície, classificam este sítio como
(posteriormente romanizadas) no topo do
um importante (Almeida chega mesmo a
cabeço da Nave Redonda.
chamar-lhe citânia) povoado pré-romano
ALMEIDA, 1945: 231.
de
construções
castrenses
posteriormente romanizado. Para além
dos
imensos
vestígios
estruturados,
materiais de época romana e sepulturas
escavadas
na
rocha,
mencionam
a
12. CASTELO RODRIGO, Castelo Rodrigo,
Figueira Castelo Rodrigo.
Tipologia: Povoado.
existência de elementos proto-históricos
Descrição: A antiga vila de Castelo
como os moinhos manuais de vaivém e
Rodrigo encontra-se implantada no topo
estruturas habitacionais circulares.
de um elevado e isolado cabeço que
ALMEIDA, 1945: 178-183; FERNANDES,
marca a divisória entre os rios Côa e a
1982; PERESTRELO, 2004: 90.
ribeira de Aguiar. Tanto Almeida como
López Jiménez colocam a hipótese, tendo
10. PICOTO, Mido, Almeida.
em conta a sua implantação, de estar
Tipologia: Achado avulso.
relacionado com estratégias pré-romanas.
Descrição: Espada em bronze com
ALMEIDA, 1945: 208; LÓPEZ JIMÉNEZ,
lâmina fixa à empunhadura por rebites.
2002: 341.
Terá
sido
descoberta
durante
a
exploração de uma pedreira. Surge
13. CASTELO DE FONTENARES, Cinco
integrada no Bronze III. As parcas
Vilas, Figueira Castelo Rodrigo.
informações
de
que
dispomos
não
Tipologia: Povoado.
permitem confirmar este dado, como
Descrição: Na antiga povoação de
também ampliar a sua descrição.
Fontenares, actual localidade de Cinco
ENDOVÉLICO: CNS 15712.
Vilas,
Almeida
aparecimento
dá-nos
de
conta
vestígios
do
proto-
históricos juntamente com materiais
romanos.
ALMEIDA, 1945: 220.
| 63
14.
CASTELÃO,
Escalhão,
Figueira
ALMEIDA, 1945: 222.
Castelo Rodrigo.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
17. CASTRO DA MAROFA, Serra da
Descrição: Situa-se no topo de um
Marofa, Figueira Castelo Rodrigo.
cabeço destacado, sobranceiro à margem
Tipologia: Povoado.
esquerda da ribeira de Aguiar. São
Descrição: Almeida refere a presença de
visíveis à superfície vestígios do que
vestígios de um povoado pré-romano no
parece tratar-se de um troço de muralha.
ponto mais alto da serra da Marofa (junto
São-lhe adstritas duas fases de ocupação
ao marco geodésico).
distintas, uma do Calcolítico e outra do
ALMEIDA, 1945: 228.
Bronze
Final,
que
necessitam
de
CONCELHO DA GUARDA
confirmação.
ENDOVÉLICO: CNS 12587.
18. ALDEIA DO BISPO, Aldeia do Bispo,
15. CASTELO DE ESCARIGO, Escarigo,
Guarda.
Tipologia: Achado avulso.
Figueira Castelo Rodrigo.
Tipologia: Povoado.
Descrição:
Descrição: Segundo Almeida junto da
aparecimento de um machado plano de
actual
cobre ou bronze que não sabemos se
povoação
de
Escarigo,
num
Rodrigues
menciona
cabeço sobranceiro à confluência da
poderá integrar-se no Bronze Final.
ribeira do Escarigo com a ribeira de
RODRIGUES, 1961: 10.
o
Tourões, existem vestígios de uma
fortaleza medieval que se terá erigido
19. CASTRO DO BARROCO DA CRUZ, Alto
sobre as ruínas de um castro romanizado.
da Cruz, Guarda.
Tipologia: Povoado.
ALMEIDA, 1945: 220.
Descrição: Almeida identificou vestígios
16. CASTELO DE MONFORTE, Penha – de-
de um povoado pré-romano no topo do
Águia, Figueira Castelo Rodrigo.
outeiro do Alto da Cruz, a 600m a
Tipologia: Povoado.
nordeste da capela de Santa Cruz. O
Descrição: A par com o Castelo da
autor correlaciona-o com o também
Senhora
Almeida
hipotético Castro do Barrocal do Conde,
identificou a norte do monte de S.
afirmando que, para além das rotas de
Marcos, a 500m a sul da povoação de
transumância, controlavam a circulação
Penha-de-Águia (junto à capela de N.
entre as bacias do Côa e Zêzere.
Sra.
ALMEIDA, 1943: 97.
de
de
Monforte,
Monforte),
uma
fortaleza
medieval que presume ter sido construída
sobre as ruínas de um castro pré-romano.
| 64
20. CASTELO DO ALVENDRE, Alvendre,
Ambom (num local conhecido por
Guarda.
castelo). Segundo o autor trata-se de um
Tipologia: Povoado Fortificado.
“castro lusitano”, reocupado durante as
Descrição: Almeida refere a existência
Guerras da Restauração e Invasões
de vestígios de “construções castrenses”
Francesas.
no topo de um cabeço bem destacado
ALMEIDA, 1943: 81.
situado a norte da povoação de Alvendre
(local com topónimo de castelo). Apesar
23. CASTRO DAS FÓRNIAS, Barrocal das
das boas condições naturais de defesa,
Fórnias, Guarda.
refere a presença de uma pequena
Tipologia: Povoado Fortificado.
fortificação no ponto mais alto do cabeço
Descrição: Almeida refere a presença de
e de uma cerca que o rodeava a meia
vestígios de um castro no sítio do
encosta.
ponto
Barrocal das Fórnias (a 3km a norte da
estratégico de controlo da bacia do
cidade da Guarda). Para além de uma
Mondego e do vale da ribeira de
ocupação pré-romana, aquele destaca a
Massueime, classifica-o como “castro
sua reocupação em período romano e em
lusitano-romano”.
épocas posteriores. O autor foca que já
ALMEIDA, 1943: 79.
na altura em que o identificou, as suas
Localizado
num
ruínas
eram
muito
ténues
devido
21. CASTRO DA ARRIFANA, Arrifana,
sobretudo ao reaproveitamento, por parte
Guarda.
da população, das pedras que pertenciam
Tipologia: Povoado.
às construções antigas.
Descrição: Almeida refere a existência
ALMEIDA, 1943: 99.
de vestígios de um “castro lusitanoromano” no topo de um pequeno cabeço,
24. CASTELO DO CODECEIRO, Codeceiro,
vulgarmente designado de Casteleiro,
Guarda.
situado a 300m a sul da actual povoação
Tipologia: Povoado Fortificado.
de Arrifana.
Descrição: No topo de um cabeço
ALMEIDA, 1943: 95.
situado a norte e sobranceiro à actual
povoação
de
Codeceiro,
foram
22. CASTELO DE AVELÃS DE AMBOM,
detectadas por Almeida uma série de
Avelãs de Ambom, Guarda.
estruturas defensivas que este atribui ao
Tipologia: Povoado Fortificado.
período romano. No entanto, pelas
Descrição: Almeida refere a existência
características
de vestígios de uma fortificação no topo
(cabeço alcantilado e inacessível a norte,
de um morro escarpado situado a 300m
este e oeste) e posição, o autor afirma
para Este da povoação de Avelãs de
que terá sido primitivamente um “castro
da
sua
implantação
| 65
lusitano” reocupado durante o período
incaracterísticos, não é possível adiantar
romano e época moderna.
uma possível cronologia de ocupação do
ALMEIDA, 1943: 83.
sítio. Contudo, uma das peças recolhidas
aparenta tratar-se de um later (ou até
25. SENHORA DE BARRELAS, Famalicão,
mesmo de um fragmento de tegula) o
Guarda. CM 213 [4479050, 636100 -
que poderá acusar uma ocupação durante
980].
a época romana ou medieval.
Tipologia: Povoado Fortificado.
INÉDITO – Informação de Pedro C.
Descrição:
Carvalho.
Encontra-se
implantado
numa plataforma no topo do outeiro do
Sarzedo. Possui uma forte linha de
27. CASTRO DE MAÇAÍNHAS, Maçaínhas,
muralhas. Por se situar junto à via
Guarda.
romana que atravessa a serra da Estrela,
Tipologia: Povoado.
Alarcão questiona a sua ocupação numa
Descrição: Almeida assinala a presença
fase pré-romana. Afirma que poderá
de vestígios de um povoado pré-romano
tratar-se de um povoado romano ex novo
no topo do cabeço da Portela, 300m a
que serviria de estação de muda.
sudeste da actual povoação de Maçaínhas
ALMEIDA, 1945: 140; ALARCÃO, 1993:
de Baixo.
76; CARVALHO E RUIVO, 1996: 82.
ALMEIDA, 1943: 101.
26. CASTELO DOS MOUROS, Gonçalo,
28. CASTRO DE PANÓIAS, Panóias de
Guarda. CM 214 [4475325, 639180 -
Cima, Guarda.
Tipologia: Povoado.
690].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição: Almeida refere a existência
Descrição: Situa-se no topo de um
de
pequeno
se
(provavelmente ocupado em período
levanta a meia encosta na vertente
romano) no topo do cabeço das Cabras, a
sudeste da serra de Famalicão. Possui
700m para sudeste da actual povoação de
uma linha de muralha composta por
Panóias de Cima.
blocos de granito de pequeno e médio
ALMEIDA, 1943: 103.
cabeço
destacado,
que
um
povoado
pré-romano
porte. A abertura de um caminho de terra
batida terá destruído parte desta estrutura
29. CASTRO DA VITÓRIA, Pêra de Moço,
defensiva, sendo apenas perceptível a sua
Guarda.
existência
na
área
meridional.
Foi
Tipologia: Povoado Fortificado.
possível recolher alguns fragmentos de
Descrição: Almeida refere a existência
cerâmica manual e ao torno. No entanto,
de vestígios inequívocos de um povoado
por se revelarem informes e totalmente
castrejo romanizado no topo de um
| 66
cabeço (denominado de Barroco da
e
da
Ramela
(antiga
Vitória) que se levanta na margem direita
transumância).
da ribeira das Cabras. O autor assinala a
ALMEIDA, 1943: 96.
rota
de
presença de inúmeros materiais de época
romana neste povoado localizado a
32. OUTEIRO DE S. MIGUEL, S. Miguel da
1000m a sudoeste da actual povoação de
Guarda, Guarda.
Pêra de Moço.
Tipologia: Povoado.
ALMEIDA, 1943: 107.
Descrição:
Almeida
aponta
como
possível a existência de um “castro
30. CASTRO DE TINS, Porto da Carne,
lusitano-romano” neste local, situado
Guarda.
1500m
a
noroeste
da
estação
de
Tipologia: Povoado.
caminhos-de-ferro da Guarda. Para além
Descrição: Almeida assinala a existência
das cerâmicas de período romano que
de vestígios de um povoado castrejo
recolheu junto ao cabeço da Munça ou
(posteriormente romanizado) no topo de
do Seixal, refere a notícia do achado de
um pequeno cabeço (junto ao marco
alguns artefactos em sílex aquando da
geodésico de Tins) situado a 2km a oeste
extracção de cantaria para a construção
da actual povoação de Porto da Carne. O
do colégio de artes e ofícios, ali
autor atribui-lhe uma importante posição
existente. M. Osório apenas indica a
estratégica, pois localizado sobre as
existência de fragmentos de cerâmica
vertentes
incaracterística detectados aquando da
escarpadas
do
Mondego,
controlaria não só o vale deste rio, como
realização
também o vale da ribeira de Massueime.
patrimonial referente à construção do
ALMEIDA, 1943: 106.
IP2.
do
estudo
de
impacte
ALMEIDA, 1943: 102; ENDOVÉLICO:
31. CASTRO DO BARROCAL DO CONDE,
CNS 461.
Ramela, Guarda.
Tipologia: Povoado.
33. CASTRO DA FUMAGUEIRA, Senhora
Descrição: Almeida refere a existência
da Fumagueira, Guarda.
de vestígios de um “castro lusitano-
Tipologia: Povoado.
romano”
monte,
Descrição: Almeida refere a presença de
vulgarmente designado de Barrocal do
vestígios de um “castro lusitano” no topo
Conde. Situado a 1500m a sul da capela
de um cabeço, vulgarmente designado de
de Santa Cruz, este possível povoado
monte das Cabeças, 500m a noroeste da
desfrutaria de uma posição privilegiada
Senhora da Fumagueira. Teria um amplo
sobre os vales das ribeiras de Santa Cruz
domínio visual que se estendia pelo vale
no
topo
de
um
| 67
do ribeiro de El-Rei até à confluência
36. CASTRO DA ARGENTÁRIA, Vale de
deste com a ribeira do Caldeirão.
Estrela, Guarda.
ALMEIDA, 1943: 100.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Descrição: Na serra da Argentária, no
34. CASTRO DO PICOTO, Sobral da Serra,
topo do cabeço dos Maias (onde se
Guarda.
encontra um cruzeiro), a 1500m para
Tipologia: Povoado.
sudeste da actual povoação de Vale da
Descrição: Almeida localiza a presença
Estrela foram identificados vestígios que
de vestígios de um povoado pré-romano
Almeida atribui a um “castro lusitano-
no topo de um cabeço isolado e bem
romano”.
destacado, sobranceiro à ribeira da
ALMEIDA, 1943: 93.
Velosa. Este local, situado a 2300m a
norte da actual povoação de Sobral da
37. CASTELO DE VALHELHAS, Valhelhas,
Serra, dispõe de um amplo domínio
Guarda.
visual sobre a paisagem.
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMEIDA, 1943: 104.
Descrição:
Sarmento
referencia
a
existência de um castro pré-romano no
35. FUNDO DA URGUEIRA, Urqueiral,
topo de um outeiro pouco destacado que
Guarda.
se levanta junto à confluência da ribeira
Tipologia: Povoado.
de Famalicão com o Zêzere, a Este da
Descrição: Nas prospecções prévias
actual povoação de Valhelhas. Almeida
realizadas no âmbito da construção da
não o contradiz, apenas refere que os
barragem do Caldeirão, foi, segundo
vestígios das estruturas defensivas que
informação de Perestrelo, identificado
aqui detectou têm de ser atribuídas ao
um povoado e um abrigo no Fundo da
período romano (podendo assentar sobre
Urgueira.
o povoado primitivo).
Esta
estação
encontra-se
implantada sobre uma plataforma pouco
SARMENTO, 1883: 9; ALMEIDA, 1943:
pronunciada de vertentes de fácil acesso.
86.
Pereira em visita ao local identificou uma
pequena plataforma com diversos blocos
CONCELHO DE MANTEIGAS
graníticos unidos por pequenos muros
(possivelmente de sustentação de terra).
38. FRÁGUA DA BATALHA, Chão das
No entanto, não detectou qualquer
Barcas, Manteigas.
material arqueológico.
Tipologia: Povoado Fortificado.
PERESTRELO, 2000: 52 e 70; PEREIRA,
Descrição:
2003: 16.
existência de vestígios pré-romanos no
Almeida
menciona
a
topo do cabeço denominado Frágua da
| 68
Batalha, situado num ponto divisório
confirmadas devido possivelmente à
entre as bacias do Zêzere e o Mondego.
densa vegetação que cobre o local.
ALMEIDA, 1945: 258-260.
ALMEIDA, 1945: 256-258; ALARCÃO,
1993: 44; ENDOVÉLICO: CNS 12461.
39.
CASTRO
DA
FIGUEIRA
BRAVA,
CONCELHO DA MEDA
Sameiro, Manteigas.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Almeida
aponta para a
existência de um “castro lusitano” no
topo
de
um
cabeço
alcantilado
42. CASTRO DO MONTE DO CASTELO,
Casteição, Meda.
Tipologia: Povoado Fortificado.
sobranceiro ao Zêzere, localizado no
Descrição:
A
actual
localidade
de
sopé da vertente leste da serra de S.
Casteição encontra-se situada a cerca de
Lourenço.
1 km. da margem direita da ribeira da
ALMEIDA, 1945: 260.
Teja. Almeida e Rodrigues são unânimes
ao afirmar que o castelo medieval de
40. CASTRO DO FRAGAL DOS MOUROS,
Casteição assenta sobre as ruínas de um
Sameiro, Manteigas.
antigo povoado fortificado.
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMEIDA, 1945: 275; RODRIGUES, 2002:
Descrição: No topo de um cabeço assim
68.
denominado, situado a leste do marco
geodésico do Corredor dos Mouros, junto
43.
à nascente da ribeira de Sameiro,
Coriscada, Meda.
CASTRO
DE
SANTA
BÁRBARA,
Almeida relata a presença de vestígios de
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
uma muralha composta por blocos de
Descrição: Rodrigues refere a existência
granito
de um castro no topo do monte
(encastrada
no
afloramento
xistoso).
designado de Santa Bárbara, junto às
ALMEIDA, 1945: 261.
vertentes da ribeira de Massueime.
RODRIGUES, 2002: 67.
41.
VÁRZEA DO CRASTO,
Sameiro,
44. CASTRO DO CASTELO DO NUNES,
Manteigas.
Meda, Meda.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição:
Almeida
referencia
a
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
existência de vestígios de um povoado
Descrição:
Rodrigues
menciona
a
fortificado no topo de um esporão de
existência de um castro a sudoeste da
fragas acentuadas no cume da serra de S.
actual cidade da Meda. Brochado de
Lourenço. Estas afirmações nunca foram
Almeida diz tratar-se de um povoado da
Idade do Ferro, no entanto, não apresenta
| 69
qualquer
informação
que
possa
Descrição:
No
topo
do
cabeço
comprovar tal facto.
denominado de Castelo Segundo, situado
ALMEIDA et alii, 1999: 180; RODRIGUES,
a 1000m da margem esquerda da ribeira
2002: 70-71.
de Massueime e a 1600m a sudoeste da
povoação de Alverca da Beira, Almeida
45. MEDA, Meda, Meda.
afirma encontrarem-se vestígios de um
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
povoado
Descrição: Almeida presume que no
romanizado.
Morro da Torre do Relógio da Meda terá
existido
um
“castro
castrense
posteriormente
ALMEIDA, 1945: 285.
lusitano
romanizado”. No entanto, devido à
48. CASTELO DA ATALAIA, Atalaia,
exiguidade
Pinhel.
do
espaço
mencionado,
Rodrigues afirma que o local não
Tipologia: Povoado.
dispunha de condições para ali se
Descrição: Na vertente oeste do monte
efectivar
de Atalaia, junto à capela de Santo
um
permanente.
núcleo
Não
populacional
obstante,
apenas
António, existem vestígios de uma
referiremos que o local apresenta um
fortaleza medieval que Almeida presume
excelente domínio visual da paisagem
que tenha sido erigida sobre as ruínas de
envolvente que ultrapassa a Marofa até
um povoado pré-romano. Este monte
terras hoje castelhanas.
encontra-se sobranceiro à ribeira de
ALMEIDA, 1945: 263; RODRIGUES, 2002:
Celorico a este e à ribeira do Candal a
76.
oeste.
ALMEIDA, 1945: 285.
46. CASTRO DE SANTA COLOMBA, Poço
do Canto, Meda.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
49. CASTRO DAS GOUVEIAS, Gouveias,
Pinhel.
Descrição: Segundo Rodrigues existe no
Tipologia: Povoado.
Alto do Poço do Canto (sobranceiro a
Descrição: Almeida refere a existência
esta localidade) vestígios do que terá sido
de vestígios de um povoado castrense
um “castro lusitano”.
posteriormente romanizado, no topo de
RODRIGUES, 2002: 69.
um cabeço sobranceiro e a oeste da
povoação de Gouveias.
CONCELHO DE PINHEL
47. CASTELO DE ALVERCA, Alverca da
Beira, Pinhel.
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMEIDA, 1945: 289.
| 70
manual incaracterística. Pelos materiais
CONCELHO DO SABUGAL
recolhidos
e
pela
tipologia
de
Ribeira,
assentamento, M. Osório afirma que
Sabugal. CM 216 [4479950, 679200 -
deverá tratar-se de um povoado ocupado
814].
durante o 1º milénio a.C.
50.
CARAPITO,
Aldeia
da
OSÓRIO, 2005a: Nº23.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Situa-se no topo de uma
plataforma destacada na encosta oriental
53.
CASTELO
da ribeira de Aldeia da Ponte. Apenas se
Badamalos, Sabugal.
DE
BADAMALOS,
detectaram
fragmentos
de
cerâmica
Tipologia: Povoado.
manual
superfície
que
parecem
Descrição: No ponto mais elevado da
à
integrar-se no I milénio a. C.
povoação
de
Badamalos
existem
OSÓRIO, 2005a: Nº26.
vestígios de uma fortaleza que terá sido
utilizada nas Guerras da Restauração em
51. SEIXO BRANCO, Aldeia da Ribeira,
1640. Almeida afirma que terá sido
Sabugal. CM 216 [4478950, 678450 -
edificada sobre as ruínas de um povoado
849].
pré-romano.
ALMEIDA, 1945: 312.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição: Situa-se no topo de um
elevado esporão quartzítico a nascente do
54. CASTELO DA BISMULA, Bismula,
Côa.
Sabugal.
Apresenta
vestígios
de
uma
estrutura defensiva. M. Osório recolheu
Tipologia: Povoado.
fragmentos de cerâmica manual, líticos
Descrição: No centro da actual povoação
polidos e elementos de moinhos manuais
de Bismula existem vestígios de uma
de
de
antiga fortaleza a que Almeida atribui
os
uma primeira fase de ocupação pré-
vaivém.
As
assentamento
características
juntamente
com
materiais recolhidos, permitem aquele
romana.
autor atribuir-lhe uma fase de ocupação
ALMEIDA, 1945: 313.
do I milénio a.C.
55. CANTOS, Casteleiro, Sabugal.
OSÓRIO, 2005a: Nº25.
CM 225 [4464900, 649950 - 685].
52. SEIXO, Alfaiates, Sabugal.
Tipologia: Povoado.
CM 227 [4470600, 676750 - 890].
Descrição: Situa-se no topo de um
Tipologia: Povoado.
cabeço
Descrição: Situa-se num pequeno cabeço
ocidental do território do Alto Côa. Não
quartzítico
são visíveis quaisquer vestígios de
destacado
na
paisagem.
Apenas se regista a presença de cerâmica
bem
construções
destacado
quer
na
domésticas
região
quer
| 71
defensivas. Face à precariedade dos
Ponte.
achados e tendo em conta a tipologia de
fragmentos
assentamento apenas se poderá concluir
elementos de
que terá tido uma ocupação durante o I
vaivém (alguns de grande porte) que
milénio a.C. Apenas se regista a presença
poderão talvez integrar-se no Bronze
de cerâmica manual de pastas grosseiras.
Final.
OSÓRIO, 2005a: Nº20.
OSÓRIO, 2005a: Nº29.
M.
Osório
de
recolheu
cerâmica
alguns
manual
moinhos manuais
e
de
56. REDUTO DO CASTELEIRO, Casteleiro,
59. CARRASCAL, Rebolosa, Sabugal. CM
Sabugal.
216 [4478350, 677700 - 845].
Tipologia: Povoado.
Tipologia: Povoado (?).
Descrição:
No
topo
do
cabeço
Descrição: Situa-se na encosta sul de um
denominado
de
Alto
das
Lombas
esporão pouco elevado e destacado. M.
(situado a 1000m a noroeste da povoação
Osório refere a existência de um possível
do
segundo
alinhamento de pedras, talvez parte
antiga
integrante de uma estrutura de cariz
“fortaleza” que provavelmente será do
doméstico. O mesmo autor identificou
período proto-histórico
alguns fragmentos de cerâmica manual
ALMEIDA, 1945: 327.
que poderão integrar-se no I milénio a.
Casteleiro)
Almeida,
existem,
vestígios
de
uma
C.
57. CASTELO DA CERDEIRA, Cerdeira,
OSÓRIO, 2005a: Nº27.
Sabugal.
Tipologia: Povoado.
60. CASTELO DE SORTELHA, Sortelha,
Descrição: Na actual povoação de
Sabugal.
Cerdeira existem vestígios de uma
Tipologia: Povoado (?).
fortaleza medieval. Almeida afirma que
Descrição: Segundo Almeida, o sítio
esta construção deverá assentar sobre os
onde se encontra implantado o castelo
restos de um povoado castrense.
medieval de Sortelha terá tido uma
ALMEIDA, 1945: 313.
primeira fase de ocupação “neolítica” e
posteriormente de época proto-histórica e
58. ALTO DO CARAPITO, Forcalhos,
romana. No entanto, as intervenções
Sabugal. CM 227 [4471400, 683550 -
arqueológicas aqui realizadas por Marcos
875].
Osório não evidenciaram qualquer nível
Tipologia: Povoado.
que testemunhe aquelas afirmações.
Descrição: Situa-se no topo de um suave
ALMEIDA, 1945: 316.
outeiro pouco destacado na encosta
ocidental do vale da ribeira de Aldeia da
| 72
CONCELHO DE VILA NOVA DE FOZ CÔA
CONCELHO DE TRANCOSO
61.
CASTRO
DE
FALIFA,
Cótimos,
64. CASTELO MELHOR, Castelo Melhor,
Vila Nova de Foz Côa.
Trancoso.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Tipologia: Povoado (Fortificado ?).
Descrição: Almeida relata a existência
Descrição: O Castelo Melhor encontra-
de vestígios de muralhas e alicerces de
se implantado no topo de um pequeno
casas circulares no topo do cabeço de
cabeço destacado e sobranceiro à aldeia
Falifa, situado a cerca de 1km a oeste da
de mesmo nome. As suas características
actual povoação de Cótimos.
de assentamento permitem-lhe dominar
ALMEIDA, 1945: 358.
visualmente uma região compreendida
entre a ribeira de Aguiar e o Côa. Os
62. CASTRO DO PENEDO DA VILA, Póvoa
autores abaixo indicados presumem que
do Concelho, Trancoso.
poderá remontar a sua ocupação ao I
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
milénio a. C.
Descrição: Almeida refere a existência
ALMEIDA, 1945: 381; COIXÃO, 1996;
de vestígios de “construções castrejas”
LUIS, 2005: 47.
no topo do Penedo da Vila, situado a
cerca de 1km a noroeste da actual
65. CASTRO DOS TAMBORES, Chãs, Vila
povoação da Póvoa do Concelho.
Nova de Foz Côa.
Tipologia: Povoado Fortificado.
ALMEIDA, 1945: 359.
Descrição:
Também
designado
por
63. CASTRO DE VILA FRANCA DAS
Castelo Velho de Chãs situa-se no topo
NAVES,
de um cabeço junto à ribeira de Piscos.
Vila
Franca
das
Naves,
Trancoso.
Da
estrutura
defensiva
apenas
são
Tipologia: Povoado Fortificado.
visíveis os derrubes. Comunica-se a
Descrição: No topo do cabeço do Alto
presença de fragmentos de cerâmica
do Feital, situado no flanco leste da serra
manual, destacando-se a existência de
da Broca, a cerca de 1,5km a norte da
aplicação plástica de mamilos. Foram
actual povoação de V. Franca das Naves
recolhidos machados de pedra polida e
jazem, segundo Almeida, os vestígios de
percutores em anfibolito, assim como um
um povoado pré-romano. Este autor
machado em bronze. Sá Coixão atribui-
menciona a presença de lanços de
lhe uma cronologia genérica da Idade do
muralhas ciclópicas e casas circulares.
Bronze. Julgamos que após o estudo
ALMEIDA, 1945: 360.
mais detalhado do local poderá vir-se a
constatar (de forma segura) a sua
ocupação no Bronze Final.
| 73
COIXÃO, 1996: 62; RODRIGUES, 2002:
72-76.
68. CITÂNIA DA TEJA, Numão, Vila Nova
de Foz Côa.
66. CASTELO VELHO DE MÓS, Mós, Vila
Tipologia: Povoado Fortificado.
Nova de Foz Côa.
Descrição: Situa-se no topo de um
Tipologia: Povoado Fortificado.
planalto
Descrição: A norte da capela de Santa
sobranceiro à ribeira da Teja. As suas
Bárbara, no topo de um esporão, foi
características de implantação conferem-
recolhido um machado em anfibolito que
lhe boas condições naturais de defesa e
permite Sá Coixão atribuir a este sítio
amplo domínio visual sobre a paisagem.
uma fase de ocupação genérica da Idade
Os fragmentos de cerâmica manual e a
do Bronze. De facto, falta realizar o
enxó em anfibolito aqui recolhidos
estudo detalhado deste potencial sítio
apenas permitem aferir uma possível
arqueológico
igualmente
cronologia de ocupação do Calcolítico e
confirmar uma provável ocupação da
Idade do Bronze ao local. O estudo mais
Idade do Ferro e período romano,
detalhado deste sítio poderá vir a alongar
hipótese também aventada pelo mesmo
esta diacronia
autor.
inícios do I milénio a. C.
COIXÃO, 1996; COIXÃO e TRABULO,
COIXÃO, 1996: 59.
que
possa
estreito,
imediatamente
de ocupação até aos
1999: 283.
69. CASTELO VELHO DE SANTA COMBA,
67. CASTELO DA MUXAGATA, Muxagata,
Vila Nova de Foz Côa.
Santa Comba, Vila Nova de Foz Côa.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Tipologia: Povoado (Fortificado ?).
Descrição: Situa-se no topo de um
Descrição: Esta localidade situa-se no
cabeço a cerca de 800m da confluência
topo de um amplo planalto cercado por
da ribeira de Massueime com o Côa.
várias
suas
Destaca-se a presença de dois fragmentos
características de implantação, os autores
de dormentes de moinhos manuais em
abaixo citados propõem que a sua
granito e de fragmentos de cerâmica
ocupação
manual,
linhas
de
possa
água.
remontar
Pelas
à
proto-
um
deles
decorado
com
história. Deste modo, o castelo medieval
ungulações.
poderá
permitem a Sá Coixão atribuir-lhe uma
assentar
sobre
um
antigo
Estes
dados
povoado, presumivelmente da Idade do
ocupação da Idade do Bronze.
Ferro.
COIXÃO, 1996: 70.
ALMEIDA, 1945: 383; COIXÃO, 1996;
COIXÃO e TRABULO, 1999: 311; LUIS,
2005: 47.
apenas
| 74
70. CASTELO DE SEBADELHE, Sebadelhe,
72. TORRES DA ESPERANÇA, Belmonte,
Vila Nova de Foz Côa.
Belmonte.
Tipologia: Povoado (?).
Tipologia: Povoado.
Sebadelhe
Descrição: Para além do povoado da
estende-se por um planalto que se
Chandeirinha, Almeida refere ainda a
encontra sobranceiro à margem direita da
existência
ribeira
autores
construções castrenses num pequeno
presumem que o seu castelo medieval
outeiro situado no sopé do monte da
assenta sobre um antigo povoado da
Serra da Esperança, num sítio designado
Idade do Ferro.
por Tapada das Torres. Posteriormente
ALMEIDA, 1945: 385; COIXÃO, 1996;
Pereira afirma que no topo de dois
COIXÃO e TRABULO, 1999: 375.
pontos mais elevados daquela serra são
Descrição:
A
da
aldeia
Teja.
de
Alguns
de
vagos
vestígios
de
visíveis vestígios de antigas “fortalezas”.
DISTRITO
DE
CASTELO BRANCO
ALMEIDA, 1945: 411; PEREIRA, 1957.
73. SANTO ANTÃO, Colmeal da Torre,
CONCELHO DE BELMONTE
Belmonte.
71. CASTELO DE BELMONTE, Belmonte,
Tipologia: Povoado.
Belmonte.
Descrição: Almeida identificou vestígios
de um povoado pré-romano junto à
Tipologia: Povoado (?).
como
capela de Sto. Antão (Colmeal da Torre).
Almeida e Pereira são unânimes ao
Esta encontra-se sobranceira à margem
considerar a primitiva existência de um
esquerda
“oppidum lusitano” na zona onde se
construções contemporâneas existentes
encontra instalado o actual castelo de
neste local poderão ter destruído os
Belmonte, tendo em conta a posição
possíveis
estratégica em que se encontra. No
assentamento.
entanto, nas escavações realizadas no
ALMEIDA, 1945: 406; PEREIRA, 1957;
interior desta fortaleza por António
PORFÍRIO e CORREIA, 1998: Nº16.
Descrição:
Alguns
autores
da
ribeira
vestígios
da
Gaia.
deste
As
antigo
Augusto Marques não foram detectados
quaisquer níveis arqueológicos anteriores
CONCELHO DE CASTELO BRANCO
ao século XII.
ALMEIDA, 1945: 405; PEREIRA, 1957;
74.
ALMACEDA,
MARQUES, 2000: 353.
Branco.
Almaceda,
Castelo
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Descrição: Proença refere a existência de
vestígios de um castro perto desta
| 75
localidade. J. Machas presume que este
menciona a existência de um outro
se localize no local designado por
povoado pré-romano situado no topo de
Ribeira do Muro. Este autor afirma que o
um cabeço junto à povoação de S.
topónimo “Muro” poderá indicar a
Vicente da Beira.
presença de um recinto murado.
ALMEIDA, 1945: 401.
PROENÇA, 1910: 2; MACHAS, 1967.
78. SARZEDAS, Sarzedas, Castelo Branco.
75. CASTELO, Castelo Branco, Castelo
Tipologia: Povoado.
Branco. CM 292 [474].
Descrição: Proença refere a existência de
Tipologia: Achado Avulso/Povoado (?).
vestígios de um castro “no topo de um
Descrição: Na rua do Arressário, no topo
monte” situado a seis quilómetros da
da colina onde se erigiu o castelo, junto
actual povoação de Sarzedas.
com o desabamento de um muro foram
PROENÇA, 1910: 14.
encontrados
alguns
fragmentos
cerâmicos, prontamente atribuídos ao
CONCELHO DA COVILHÃ
Bronze Final. Depois de os analisar,
Raquel Vilaça, embora não refute esta
79. ALDEIA DO CARVALHO, Aldeia do
classificação coloca algumas reservas
Carvalho, Covilhã.
pois
considera
a
sua
produção
e
Tipologia: Povoado.
morfologia incaracterística.
Descrição: Proença refere a existência de
BATISTA, 1982b: 14; VILAÇA, 1995a: Nº2.
um castro próximo desta localidade de
onde serão oriundos os dois machados de
76. JUNCAL, Juncal do Campo, Castelo
bronze recolhidos por este autor em
Branco. CM 280 [318].
1882.
Tipologia: Achado avulso
PROENÇA, 1910: 2; MORAIS E MAIA,
Descrição: Bracelete de contorno oval
1980: 10.
em
cobre
fragmentada.
ou
bronze.
A
sua
Encontra-se
cronologia
é
duvidosa, não sabendo se a poderemos
80. CASTRO DE ALDEIA DO SOUTO,
Aldeia do Souto, Covilhã.
integrar no Bronze Final.
Tipologia: Povoado.
VILAÇA, 1995a: Nº5.
Descrição: Sarmento é o primeiro a
apontar para a existência de um castro
77. S. VICENTE DA BEIRA, S. Vicente da
nas imediações desta localidade. Proença
Beira, Castelo Branco.
refere que os seus vestígios se encontram
Tipologia: Povoado.
bastante “apagados”. Almeida situa-o no
Descrição: Para além do Castelo Velho
topo de um cabeço, de um sítio
de
designado por Senhora dos Carneiros, a
Louriçal
do
Campo,
Almeida
| 76
sudoeste da actual povoação de Aldeia
presença de muros no Monte Rafeiro que
do Souto.
julgamos tratar-se do mesmo sítio.
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910: 1;
Prospecções efectuadas por nós no local
ALMEIDA, 1945: 416; MORAIS E MAIA,
nada desvendaram. No entanto, este sítio
1980: 11; ALARCÃO, 1993: 35; PORFÍRIO
surge classificado na base de dados do
e CORREIA, 1998: Nº67.
IPA como povoado fortificado do Bronze
Final / Idade do Ferro. Acrescenta-se
81.
CABEÇO
MOUROS,
DOS
Barco,
Covilhã.
ainda a identificação de dois núcleos
habitacionais onde são visíveis derrubes
Tipologia: Povoado.
de muralhas e estruturas no seu interior e
Descrição: Almeida refere a existência
de um “castro lusitano-romano” no topo
do outeiro denominado de Cabeço dos
Mouros. Este situa-se a 1000m a norte da
a presença de fragmentos de cerâmica
manual e elementos de moinhos manuais
à superfície.
ALMEIDA, 1945: 416; MORAIS E MAIA,
margem direita do Zêzere e a 800m para
1980:
sudoeste da actual povoação do Barco.
PORFÍRIO
ALMEIDA, 1945: 416; SALVADO, 1976:
ENDOVÉLICO: CNS 17097.
17-18;
ALARCÃO,
e
CORREIA,
1993:
1998:
35;
Nº66;
11; MORAIS e MAIA, 1980: 11.
84. TEIXOSO, Teixoso, Covilhã.
82. DOMINGUIZO, Dominguizo, Covilhã.
Tipologia: Três povoados.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Desta localidade provém uma
Descrição: Para além de um achado
espada de bronze pré-romana. Apesar
avulso, Proença refere ainda a presença
desta se tratar de um achado avulso,
de vestígios de um castro (quase
Proença refere a existência de três castros
destruído)
nos outeiros denominados de Cabeça do
nas
proximidades
desta
povoação.
Castelo, Cabeça Gorda e Vila de Mouros.
PROENÇA, 1910: 6; MORAIS e MAIA,
Estes topónimos encontram-se registados
1980: 14.
nas C.M.P. 1/25000, nº 224 e 235, no
entanto
83. CASTRO DO MATO DA ATALAIA,
Sarzedo, Covilhã.
Descrição: Almeida refere a existência
de vestígios de um “castro lusitano” no
de
um
densamente
zonas
encontram-se
arborizadas,
o
que
impossibilitou a sua localização. Não
Tipologia: Povoado Fortificado.
topo
estas
monte
alcantilado,
denominado de Mato de Atalaia, situado
1000m a nordeste da actual povoação de
Sarzedo. Morais e Maia mencionam a
obstante, foi identificado um povoado (S.
Cristóvão – nº 73 do catálogo A) situado
dentro
dos
limites
desta
freguesia.
Pensamos não se tratar de nenhum dos
referidos por Tavares Proença.
| 77
PROENÇA,
MAIA,
1910:
1980:
14-15;
18-19;
MORAIS
E
Descrição:
PORFÍRIO
e
existência de dois castros dentro do
CORREIA, 1998: Nº44.
Sarmento
referencia
a
limite da actual freguesia de Vale
Formoso (antiga Aldeia do Mato). No
85. TORTOZENDO, Tortozendo, Covilhã.
Tipologia: Povoado.
entanto, Proença afirma que um destes já
se localizaria no concelho da Guarda,
Descrição: Referindo Sarmento, Tavares
Proença indica a existência de um castro
próximo desta localidade. No entanto, ao
confirmarmos a fonte citada por Proença
verificamos que se trata de um equívoco.
Ficamos na dúvida se esta seria mesmo a
fonte que Proença queria indicar.
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910:
15; MORAIS E MAIA, 1980: 19.
focando apenas o castro dos Patoetas.
Não obstante, Almeida refere, para além
deste, um outro povoado situado no topo
de um pequeno outeiro na povoação de
Aldeia do Mato, 1800m a sul do Zêzere,
que teria sido reocupado em época
romana.
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910: 2;
ALMEIDA, 1945: 415; MORAIS E MAIA,
1980: 22.
86. CASTRO DE ABOAÇA, Unhais da
Serra, Covilhã.
88.
Tipologia: Povoado Fortificado.
CASTRO
PATOETAS,
DOS
Vale
Formoso, Covilhã.
Descrição: Sarmento é o primeiro a
Tipologia: Povoado.
referenciar a existência de um castro no
Descrição:
alto de Aboaça onde apenas constata a
povoado era conhecido como castelo dos
presença de um assento de muralha.
Patoetas ou dos Redadeiros. A análise
Curiosamente, Tavares Proença não o
toponímica nada nos revelou. Almeida
menciona
anteriormente
classifica-o como “castro lusitano” e
referenciado, dizendo ter sido por ele
situa-o a 1000m para oeste da actual
reconhecido em 1905. Almeida situa-o a
povoação de Vale Formoso.
300m a sul do cabeço dos Zebrais, a
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910: 2;
meia encosta da serra da Estrela (a uma
ALMEIDA, 1945: 417; MORAIS E MAIA,
altitude de 1785m).
1980: 22; PORFÍRIO e CORREIA, 1998:
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910:
Nº76.
como
Segundo
Sarmento
este
15; ALMEIDA, 1945: 415; MORAIS E
MAIA, 1980: 20.
89.
SÍTIO
DOS
CHIQUEIROS,
Vale
Formoso, Covilhã. CM 224 [4471058,
87. CASTRO DE ALDEIA DO MATO, Vale
Formoso, Covilhã.
Tipologia: Povoado.
635822 - 850].
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição:
Trata-se
de
um
sítio
implantado no topo de um pequeno
| 78
cabeço pouco destacado, que se encontra
CONCELHO DO FUNDÃO
a meia encosta da vertente este da serra
da Rachada. Localiza-se a apenas 750m a
91.
SE do castro da Serra da Rachada (nº 75
Fundão.
CASTRO DO ALCAIDE,
Alcaide,
do catálogo A). Ostenta um pequeno
Tipologia: Povoado.
alinhamento defensivo composto por
Descrição: Nas faldas da vertente norte
blocos de quartzito de médio porte
da serra da Gardunha localiza-se a actual
(dispostos horizontalmente sem qualquer
povoação do Alcaide. No centro desta
permeio e com face externa ligeiramente
localidade (no ponto mais alto) ergue-se
afeiçoada) que o delimita a NE (onde se
uma fortaleza medieval que muitos
encontra mais exposto). Foi possível
consideram ser de fundação islâmica.
recolher alguns fragmentos de cerâmica
Almeida presume que aquela terá sido
manual e ao torno. No entanto, estes são
construída sobre um castro pré-romano.
informes
ALMEIDA, 1945: 419.
e
incaracterísticos
não
permitindo atribuir-lhes uma cronologia
precisa.
92.
CASTRO
INÉDITO
Fundão.
ALCARIA,
DE
Alcaria,
Tipologia: Povoado.
90. VERDELHOS, Verdelhos, Covilhã.
Descrição: Almeida situa a existência de
Tipologia: Dois ou três povoados.
um povoado pré-romano no ponto mais
Descrição:
Sarmento
comunica
a
elevado do cabeço onde se instalou a
existência de dois castros próximos desta
actual
povoação. Proença acrescenta a altitude
localidade encontra-se sobranceira à
em que estes se encontram, um a 850m e
confluência da ribeira da Meimoa com o
outro a 1050m. No entanto, Almeida
Zêzere.
refere a existência de três castros pré-
ALMEIDA, 1945: 427.
povoação
de
Alcaria.
Esta
romanos a norte de Verdelhos (4km a sul
do Zêzere). Segundo o autor estes
93.
situam-se no topo de três cabeços a 647,
Alpedrinha, Fundão.
645
e
572
metros
de
altitude
CASTELO
DE
ALPEDRINHA,
Tipologia: Povoado.
respectivamente.
Descrição: Almeida refere a existência
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910:
de vestígios da presença de um castro
16; ALMEIDA, 1945: 418; MORAIS e
romanizado no topo de um cabeço que se
MAIA, 1980: 22.
ergue contíguo à actual povoação.
ALMEIDA, 1945: 420; SALVADO, 1976: 7.
| 79
94. CASTRO DE PETROTA, Alpedrinha,
Tipologia: Povoado.
Fundão.
Descrição: Almeida localiza aqui um
Tipologia: Povoado.
Descrição:
castro romanizado implantado sobre
Almeida
localiza
este
“uma espécie de esporão”, entre as duas
povoado no topo do Monte de Carvalhal
linhas de água afluentes da ribeira de
Redondo ou Monte da Velha, situado
Alpreade.
entre Castelo Novo e Alpedrinha, cerca
ALMEIDA, 1945: 425.
de três quilómetros para sul desta última
povoação. Segundo o autor, terá sido
98. FATELA, Fatela, Fundão.
reocupado em período romano.
Tipologia: Povoado.
ALMEIDA, 1945: 429; CANDEIAS DA
Descrição: Proença indica a presença de
SILVA, 1986: 82.
vestígios de um castro próximo desta
actual povoação.
95. CASTELO DE ATALAIA DO CAMPO,
PROENÇA, 1910.
Atalaia do campo, Fundão.
Tipologia: Povoado.
99.
Descrição: A antiga vila de Atalaia do
Lavacolhos, Fundão.
CASTELO
DE
LAVACOLHOS,
Campo encontra-se instalada no topo de
Tipologia: Povoado Fortificado.
um cabeço na margem esquerda da
Descrição: Almeida situa-o no topo do
ribeira de Alpreade. Almeida afirma que
cabeço do Gomes, a 500m para sudeste
depois
da actual povoação de Lavacolhos e a
de
“neolítica”
uma
fase
de
ocupação
terá
sido
ocupada
nos
800m a sul da ribeira do Castelejo.
períodos proto-histórico e romano.
Sarmento identifica aqui o assento de
ALMEIDA, 1945: 422.
uma estrutura defensiva.
SARMENTO, 1883: 9; ALMEIDA, 1945:
96. CASTRO DO CASTELEJO, Castelejo,
425.
Fundão.
Tipologia: Povoado.
100. PEIXEIRA, Mata da Rainha, Fundão.
Descrição: Almeida indica a presença de
CM 247 [4442620, 645140 - 499].
um castro romanizado no topo do cabeço
Tipologia: Povoado.
da Ordem localizado na margem direita
Descrição: Situa-se na encosta sul de um
da ribeira do Casteleiro, 500m a norte da
amplo cabeço, que se levanta a cerca de
actual povoação do Castelejo.
1km para sudeste do povoado da Covilhã
ALMEIDA, 1945: 429.
Velha. Encontra-se delimitado e irrigado
por abundantes linhas de água, afluentes
97.
CASTELO NOVO,
Fundão.
Castelo
Novo,
da ribeira do Taveiró. Para além de uma
pia escavada na rocha, identificaram-se
| 80
alguns fragmentos de cerâmica manual
informe. Estes elementos não permitem
102. PERO VISEU, Pero Viseu, Fundão.
adiantar uma cronologia de ocupação
Tipologia: Povoado.
segura do sítio. No entanto, as suas
Descrição: Almeida é o único autor que
pastas revelam francas analogias com a
indica algumas pistas para a localização
cerâmica recolhida no povoado da
deste
Covilhã Velha. Este facto autoriza-nos a
referenciado por Sarmento e Proença.
pressupor que o local terá sido ocupado
Segundo o autor, situa-se no topo de um
durante o I milénio a. C. e que poderá
pequeno cabeço que se destaca no sopé
relacionar-se com aquele castro.
da vertente sul da serra de Meal Redondo
ÂNGELO, 2003: Nº30.
entre dois pequenos afluentes da ribeira
possível
povoado
também
da Meimoa. Pensámos, inicialmente, que
101.
MEAL
REDONDO,
Peroviseu,
poderia localizar-se no sítio onde hoje se
Fundão. CM [4453215, 633130 – 791]
encontra o cruzeiro de Peroviseu. No
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
entanto, após visita ao local, e embora
Descrição:
em
este se encontre bastante mutilado pela
prospecções vestígios de um antigo
abertura de estradas, não identificámos
assentamento localizado entre o povoado
qualquer vestígio que pudesse confirmar
da Samaria e Pedra Aguda. Situa-se no
as nossas suspeitas.
topo do ponto mais alto e destacado da
SARMENTO, 1883: 9; PROENÇA, 1910:
serra
13; ALMEIDA, 1945: 429.
de
Reconhecemos
Meal
Redondo
(marco
geodésico), sobranceiro a Peroviseu.
Dispõe de um amplo domínio visual,
103. SOUTO DA CASA, Souto da Casa,
controlando toda a Cova da Beira e
Fundão.
grande parte da bacia da ribeira da
Tipologia: Povoado.
Meimoa. São visíveis os destroços de um
Descrição: Proença indica a presença de
talude de terra e pedra que delimita o
vestígios de um castro localizado a curta
sítio a oeste. Foram identificados alguns
distância da actual povoação de Souto da
fragmentos
Casa.
de
cerâmica
manual
disformes e grosseiros (pastas com
PROENÇA, 1910: 14.
elementos não plásticos de médio calibre
elemento
104. CABEÇA DE BOI, Vale de Prazeres,
(movente) de moinho manual. Estes
Fundão. CM 257 [4441520, 641640 - 449].
mal
distribuídos)
e
um
elementos não nos permitem, no entanto,
Tipologia: Povoado.
classificar com exactidão a cronologia de
Descrição: Situa-se na encosta sul de um
ocupação deste povoado.
amplo e suave cabeço, rodeado a este,
INÉDITO
oeste e sul por linhas de água, afluentes
| 81
da ribeira da Turgalha. Foram recolhidos
período de dominação romana. Sendo
alguns fragmentos de cerâmica manual
assim, este núcleo populacional teria sido
(entre estes dois bordos) que nos
erguido de raiz em lugar não habitado
permitem integrar este sítio no I milénio
anteriormente.
a. C. Pela sua natureza e proximidade,
provavelmente daqui provenientes alguns
poderá estar relacionado com o povoado
fragmentos de cerâmica pintada de
da Covilhã Velha.
tradição indígena e alguns elementos que
ÂNGELO, 2003: Nº38.
denotam algum arcaísmo (“pendente de
tipo
105.
TAPADO
FUNDEIRA,
Vale
de
No
entanto,
sanguessuga”).
Este
serão
tipo
de
materiais justifica que se alerte para a
Prazeres, Fundão. CM 247 [4442740,
eventualidade
642620 - 455].
assentar sobre um antigo núcleo pré-
desta
cidade
romana
Tipologia: Povoado.
romano (podendo igualmente tratar-se de
Descrição: Situa-se na encosta sul de um
elementos de tradição indígena).
suave cabeço, irrigado por diversas
ALMEIDA e FERREIRA, 1964; VILAÇA,
linhas de água, afluentes da ribeira de
2005: 19 e nota 5).
Turgalha. Foi possível identificar alguns
fragmentos
de
cerâmica
manual
informes. A análise morfológica destes
107.
CASTRO
DE
PEDRAS
NINHAS,
Monfortinho, Idanha-a-Nova.
elementos em conjugação com a grande
Tipologia: Povoado.
quantidade de minério de ferro existente
Descrição: Segundo Campos existem
nas proximidades deste local, permitem-
vestígios de um povoado proto-histórico
nos associá-lo ao I milénio a. C. Neste
no topo do cabeço denominado de Pedras
caso (tal como no anterior), pela sua
Ninhas. Este local situa-se a poucos
natureza e proximidade poderá ter estado
quilómetros de distância a sudoeste da
relacionado com o povoado da Covilhã
povoação de Monfortinho. Trata-se de
Velha.
uma povoação pouco isolada e de fácil
ÂNGELO, 2003: Nº37.
acesso.
CAMPOS, 1959: 376.
CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA
108. MONTE DA PICOTA, Monfortinho,
106. IDANHA-A-VELHA, Idanha-a-Velha,
Idanha-a-Nova.
Idanha-a-Nova.
Tipologia: Povoado.
Tipologia: Povoado (Oppidum).
Descrição: Segundo Almeida este sítio
Descrição: É tradicionalmente divulgado
encontra-se no topo de um cabeço (da
que a fundação de Idanha-a-Velha terá
Picota) que se destaca na serra de
ocorrido em finais do século I a. C., em
Monfortinho a cerca de 1500m a
| 82
noroeste
desta
povoação.
Trata-se,
segundo a descrição do autor, de um
110.
monte alcantilado, inacessível de todos
Salvaterra do Extremo, Idanha-a-Nova.
FORTALEZA
SALVATERRA,
DE
os lados excepto a norte. Campos refere
Tipologia: Povoado.
que o acesso ao povoado se realizava por
Descrição: Almeida afirma que nesta
aqui, através de degraus talhados na
povoação existiria um castro “lusitano” à
rocha. Deverá tratar-se do povoado
chegada dos romanos.
próximo de Monfortinho mencionado por
ALMEIDA, 1945: 453.
Proença que aqui afirma ter recolhido
seis machados de pedra polida.
111. CASTRO DA MURRACHA, Serra da
PROENÇA, 1910: 10-11; ALMEIDA, 1945:
Murracha, Idanha-a-Nova.
467; CAMPOS, 1959: 375.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Campos refere a presença de
109. PENHA GARCIA, Penha Garcia,
vestígios “precários” de um povoado
Idanha-a-Nova.
castrense no topo da serra da Murracha.
Tipologia: Povoado.
Descrição:
CAMPOS, 1959: 376.
Almeida
propõe
que
a
fortaleza medieval de Penha Garcia se
112. CABEÇO DO MOURO, Zebreira,
tenha instalado sobre as ruínas de um
Idanha-a-Nova.
castro “lusitano-romano”. Campos relata-
667500 - 294].
CM
294
[4408600,
nos a ocorrência de escavações nesta
Tipologia: Povoado Fortificado.
fortaleza realizadas por alguém que, de
Descrição: Situa-se no topo de um
forma a dar cumprimento a um sonho,
cabeço destacado, próximo e sobranceiro
aqui tencionava encontrar um “tesouro”.
à margem esquerda do ribeiro do
Este conseguiu identificar quatro níveis
Freixinho (a NO da Casa do Calacú).
distintos, tendo-se exumado do último
Henriques e Caninas referem a existência
vários fragmentos de cerâmica manual e
de uma linha de muralha em xisto e a
algumas pontas de seta em sílex.
presença de cerâmica grosseira e um
Menciona ainda o aparecimento de dois
elemento
machados de pedra polida à superfície.
manual. Segundo os autores poderá
Proença refere a existência de dois
tratar-se de um povoado da Idade do
castros
Ferro.
a
alguns
quilómetros
desta
localidade. Pensamos que poderá tratarse de uma referência aos possíveis
povoados de Murracha e Pedras Ninhas.
PROENÇA, 1910: 12; ALMEIDA, 1945:
449; CAMPOS, 1959: 374.
de
dormente
de
moinho
HENRIQUES e CANINAS, 1993: 68.
| 83
Descrição:
CONCELHO DE PENAMACOR
Segundo
Almeida
este
povoado situa-se no ponto mais elevado
113. ATALAIA DE ALDEIA DO BISPO,
da serra do Sobral, no sítio denominado
Aldeia do Bispo, Penamacor.
de Marvoínha.
Tipologia: Povoado.
SARMENTO, 1883: 9; ALMEIDA, 1945:
Descrição: Almeida regista a presença
476; BATISTA, 1982a: 76.
de vestígios de uma “antiga fortaleza
lusitana” no topo do cabeço denominado
117. CASTELOS DE SESMARIAS, Salvador,
de Brigadeira, situado a 1500m a norte
Penamacor.
da actual povoação de Atalaia do Bispo.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição: Este sítio surge apenas
ALMEIDA, 1945: 477.
mencionado na base de dados do
114. LAMEIRA LARGA, Aldeia do Bispo,
Endovélico do I. P. A sem qualquer outra
Penamacor.
descrição. Seria interessante averiguar a
Tipologia: Povoado.
sua possível existência pois segundo a
Descrição: Batista refere a existência de
informação localiza-se na freguesia de
um
Salvador, numa região que poderá ser de
povoado
pré-histórico
a
dois
quilómetros para sudoeste da povoação
fronteira entre populi.
de Aldeia do Bispo, no sítio da Lameira
ENDOVÉLICO: CNS 6449.
Larga, próximo da região onde se
CONCELHO DE PROENÇA-A-NOVA
encontrou um tesouro funerário.
LANDEIRO, 1959; BATISTA, 1982a: 76.
118. MONTES DA SENHORA, Chão do
115. CASTELO DE BEMPOSTA, Bemposta,
Galego, Proença-a-Nova.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Penamacor.
Tipologia: Povoado.
Descrição: Batata et alii referem a
Descrição: Almeida identificou as ruínas
existência de um provável castro pelos
de uma antiga torre no topo do cabeço
vestígios de alinhamentos em pedra e
denominado
muralhas mencionados pela população
de
Forca.
Este
autor
presume que esta terá sido construída
local.
sobre os vestígios de um castro pré-
BATATA et alii, 1999: 29.
romano.
ALMEIDA, 1945: 475.
CONCELHO DE SERTÃ
116. SERRA DO SOBRAL, Marvoínha,
119. CASTRO DA COVA DA MOURA,
Penamacor.
Cabeço da Rainha, Sertã.
Tipologia: Povoado.
Tipologia: Povoado.
| 84
Descrição: Almeida localiza um possível
aqui terem sido encontradas moedas de
castro em plena serra de Alvélos, cerca
época romana.
de
ALMEIDA, 1945: 487.
2000m
para
Este
do
cabeço
denominado de Rainha.
CONCELHO DE VILA VELHA DE RÓDÃO
ALMEIDA, 1945: 486.
120. PORTELA DO OUTEIRO DA LAGOA,
123. CASTELINHO, Perais, Vila Velha de
Portela do Outeiro da Lagoa, Sertã.
Ródão.
Tipologia: Achado avulso.
Tipologia: Povoado (Fortificado?).
Descrição: Refere-se o achado de um
Descrição: F. Tavares Proença refere a
machado
votivo
preciosa”
(de
em
cor
pedra
“semi-
existência de um castro localizado nas
verde),
datado
proximidades da actual povoação de
provavelmente do Bronze Final.
Alfrivida.
BATATA et alii, 1999: 27.
PROENÇA, 1910: 2.
124. FRAGA, Sarnadas do Ródão, Vila
121. CASTELO VELHO, Sertã, Sertã.
Tipologia: Povoado.
Velha de Ródão.
Descrição: Tavares Proença refere a
Tipologia: Povoado.
existência de vestígios de um “castro
Descrição: Foram identificados, no topo
luso-romano”
da
de uma elevação sobranceira à ribeira do
povoação de Sertã. De lá afirma terem
Açafal, vários fragmentos cerâmicos ao
sido recolhidos machados de pedra
torno com caneluras e ondulados incisos.
polida
Continua por determinar se terá sido
e
um
nas
proximidades
bracelete
de
bronze
(entretanto vendido em Castelo Branco).
ocupado na Idade do Ferro, ou até
PROENÇA, 1910: 5; ALMEIDA, 1945: 485;
mesmo em época romana e medieval.
BATATA, 2002: Nº26; ENDOVÉLICO:
HENRIQUES e CANINAS, 1982: 19.
CNS 12910.
DISTRITO
DE
SANTARÉM
CONCELHO DE VILA DE REI
CONCELHO DE ABRANTES
122. CASTELO DE VILA DE REI, Vila de
Rei, Vila de Rei.
Tipologia: Povoado.
125. MATAGOSA, Matagosa, Abrantes /
Sardoal.
Descrição: Almeida presume que o
Tipologia: Povoado Fortificado.
castelo medieval de Vila de Rei assenta
Descrição: Provável povoado muralhado
sobre as ruínas de um povoado castrense
onde Batata identificou alguma cerâmica
romanizado. Talvez se apoie no facto de
| 85
manual que data como possivelmente da
aqui recolhidos vários fragmentos de
Idade do Ferro.
cerâmica do Bronze Final, Idade do
BATATA et alii, 1999: 28-29.
Ferro e Época Romana. Não sabemos se
poderão tratar-se de materiais residuais
126. MAXIAL, Maxial, Abrantes.
oriundos daquela outra estação.
Tipologia: Povoado.
BATATA, 2002: Nº229.
Descrição: Trata-se de um povoado com
ocupação da época calcolítica onde
129. BARCA DE RIO DE MOINHOS, São
Batata refere a existência de alguns
Vicente, Abrantes.
fragmentos de cerâmica manual que data
Tipologia: Santuário (?).
(muito provavelmente) do Bronze Final.
Descrição: Situa-se no topo de um
BATATA et alii, 1999: 28.
pequeno cabeço sobranceiro ao Tejo. As
informações disponíveis revelam alguma
127.
FONTE
SAPO,
DO
Mouriscas,
heterogeneidade
relativamente
à
classificação tipológica deste sítio. Para
Abrantes.
Tipologia: Povoado (?).
C. Batata poderá tratar-se um porto ou
Descrição: Esta estação, que se encontra
local de travessia de uma via, enquanto
implantada numa encosta suave, foi
no Endovélico se encontra classificada
intervencionada
de
como santuário. Apesar de integrarem os
minimização do impacte da construção
vestígios de superfície também na Idade
do IP6. Foram identificadas várias
do Ferro, os materiais que surgem
estruturas
inúmeros
descritos reportam-se unicamente ao
materiais. Batata classifica este sítio de
período romano (tégulas, ânforas e uma
vicus romano com anterior ocupação da
base com fuste de coluna).
Idade do Ferro.
ENDOVÉLICO: CNS 16075; BATATA,
BATATA, 2002: Nº197.
2002: Nº 225.
e
128. CARRASCAL,
no
quadro
exumados
Rio
de Moinhos,
CONCELHO DE CONSTÂNCIA
Abrantes. CM 331 [4370650, 565350 –
50]
Tipologia: Povoado.
130.
CONSTÂNCIA,
Constância,
Constância.
Descrição: Encontra-se implantada nos
Tipologia: Povoado.
terrenos fluviais do Tejo, muito próximo
Descrição: Esta povoação encontra-se
da estação arqueológica da Quinta da
instalada sobre um esporão sobranceiro à
Pedreira. Foi completamente destruída
confluência do Zêzere com o Tejo.
pelas obras de construção do IP6. No
Devido às extraordinárias características
entanto, Batata revela-nos que foram
da sua implantação, Almeida presume
| 86
que terá existido um povoado castrense
Descrição: No sítio onde se encontra
no local onde hoje se encontra a igreja
instalada a igreja matriz de Cardigos (no
matriz. O autor chega mesmo a afirmar
extremo oeste da povoação), Almeida
que os fenícios teriam aqui estabelecido
refere a existência de vestígios de uma
uma feitoria.
antiga fortaleza. Pelas características da
ALMEIDA, 1946: 278-280.
sua
implantação
materiais
CONCELHO DE MAÇÃO
que
imediações
e
os
encontrou
(especialmente
numerosos
nas
suas
romanos),
presume que este local seja de fundação
131.
CASTELO
DAS
PALHEIRINHAS,
Amêndoa, Mação.
proto-histórica.
ALMEIDA, 1946: 293.
Tipologia: Povoado Fortificado.
Descrição: Situa-se no topo de um
134. CASTELO VELHO DE PRACANA
cabeço que se levanta a sudeste da
CIMEIRA, Carvoeiro, Mação.
povoação de Amêndoa. M. H. Pereira
Tipologia: Povoado Fortificado.
refere
cerca
Descrição: Trata-se de um possível
amuralhada em pedra seca. Junto a este
castro implantado sobre os penhascos
povoado foi identificada uma urna
sobranceiros à ribeira de Pracana. A
cinerária de perfil em S. Trata-se
muralha parece ter sido destruída.
provavelmente de um povoado da Idade
PEREIRA, 1970: 95; BATATA et alii, 1999:
do Ferro.
29.
a
existência
de
uma
PEREIRA, 1970: 95; BATATA et alii, 1999:
29.
135. SRA. DA MOITA, Carvoeiro, Mação.
CM 313 [4388800, 593800 - 270].
132. A-DE-MEIAS, Cardigos, Mação.
Tipologia: Achado avulso (?).
Tipologia: Achado avulso.
Descrição: Em torno desta aldeia são
Descrição: Pereira refere o achado de um
inúmeros os vestígios de ocupação
bastão de comando em grauvaque, junto
romana. Não obstante, M. H. Pereira dá-
da aldeia de Chaveira. Batata atribui-lhe
nos conta de dois machados em bronze
uma possível datação da Idade do Ferro.
provenientes
PEREIRA, 1970: 275-279; BATATA et alii,
encontrados junto de uma estrutura
1999: 30.
circular
desta
subterrânea
localidade
abobadada
que
classifica de tholos (?). A autora não
133. CASTELO DE CARDIGOS, Cardigos,
especifica a tipologia dos achados, sendo
Mação.
assim difícil determinar o seu âmbito
Tipologia: Povoado.
cronológico.
| 87
MATOS, 1947: 33; JALHAY, 1949: 6;
Descrição:
Este
PEREIRA, 1970: 166-167; BATATA, 2002:
implantado
no
Nº121.
denominado de Calvário que se encontra
castelo
topo
encontra-se
do
cabeço
sobranceiro de nordeste à povoação de
136. FORTALEZA DO CASTELO, Castelo,
Mação.
Mação. Perante a natureza da sua
implantação e os materiais encontrados
Tipologia: Povoado.
nas suas imediações, Almeida presume
Descrição: No topo da actual povoação
de Castelo, situada na margem esquerda
da ribeira de Eiras, Almeida relata a
que estará instalado sobre as ruínas de
um povoado castrense.
ALMEIDA, 1946: 292-293.
existência de vestígios de uma antiga
fortaleza (junto da igreja). O autor
139. CONHEIRA, Penhascoso, Mação. CM
presume que se trate de um local de
322 [4374950, 581000 – 156].
fundação pré-romana.
Tipologia: Achado avulso.
ALMEIDA, 1946: 297.
Descrição: No topo do cabeço da
Conheira que se encontra sobranceiro ao
137. CASTELO VELHO DO VALE DO
GROU, Envendos, Mação.
encontrados vários materiais líticos e
Tipologia: Povoado Fortificado.
cerâmicos. As sondagens realizadas no
Descrição: Encontra-se implantado no
topo de uma cabeço de difícil acesso a
sudoeste da povoação de Envendos.
Possui uma estrutura defensiva que cerca
uma plataforma de formato oval. M. H.
Pereira situa-a no período “eneolítico”.
No
entanto,
alguns
rio Frio (afluente do Tejo) foram
materiais
aí
identificados, como dois machados de
pedra polida, um bastão de comando e
um molde de botão permitiu a Batata
ampliar a sua ocupação pelos períodos do
local revelaram a existência de uma
estrutura circular composta por grandes
blocos de quartzito. M. H. Pereira
classifica este sítio como um povoado,
enquanto
Batata
interpreta-o
como
estrutura funerária neo-calcolítica. Sem
conhecer a real tipologia e cronologia
deste sítio, apenas o mencionamos pelo
aparecimento de uma “urna” de perfil em
S provavelmente da Idade do Ferro.
PEREIRA, 1974; BATATA, 2002: Nº151.
Bronze Final, Idade do Ferro e Época
Romana.
140. VALE DA MATA, Rosmaninhal,
PEREIRA, 1970: 96 e 167; BATATA et alii,
1999: 29.
138.
CASTELO DE MAÇÃO,
Mação.
Tipologia: Povoado.
Mação. CM 322 [4374150, 586000 – 180].
Tipologia: Povoado.
Mação,
Descrição:
O
implantado
numa
sítio
encontra-se
encosta
suave
sobranceiro a uma linha de água. Existe a
| 88
notícia da oferta de cinco elementos de
142. VILAR DA MÓ, Belver, Gavião. CM
moinhos manuais de vaivém oriundos
323 [4378350, 592800 – 260].
deste local. Pereira atribui-lhe uma
Tipologia: Povoado.
cronologia do Calcolítico e Batata coloca
Descrição: Sitio implantado na encosta
a hipótese de se tratar de um povoado do
de um pequeno cabeço, onde se encontra
Bronze Final.
a capela de S. João Evangelista. Nas suas
PEREIRA, 1970: 59-60; BATATA, 2002:
obras de restauro foram recuperadas duas
Nº147.
aras votivas e, na sua área envolvente,
foram identificados vários fragmentos
DISTRITO
DE
PORTALEGRE
cerâmicos. Batata afirma que deverá
tratar-se de uma aldeia da Idade do Ferro
CONCELHO DE GAVIÃO
e época romana. Na base de dados do
Endovélico esta estação vem classificada
141.
CASTELO DE BELVER,
Belver,
Gavião.
como santuário da mesma cronologia.
Almeida
assinala
a
existência
de
Tipologia: Povoado.
vestígios estruturados a noroeste e junto
Descrição: A povoação de Belver situa-
de Belver. Não sabemos se o autor se
se na vertente sul de um cabeço
refere a esta estação.
sobranceiro à margem direita do Tejo e a
ALMEIDA, 1948: 138; BATATA, 2002:
leste da confluência da ribeira de Canas
Nº253; ENDOVÉLICO: CNS 2870.
com este rio. No topo do cabeço existe
um castelo medieval que Almeida, pelas
características da sua implantação e
materiais identificados, presume que terá
sido construído sobre as ruínas de castro
romanizado. M. H. Pereira menciona o
achado de um bastão de comando na
quinta do ribeiro da Nata, nos arredores
de Belver. Este artefacto poderá estar
relacionado com a estação de Vilar da
Mó.
ALMEIDA, 1948: 135; PEREIRA, 1970:
292.
T ABELAS
TABELA 1 – POVOADOS COM OCUPAÇÃO DO BRONZE FINAL.
N.º
DESIGNAÇÃO
1
Castelo Mendo
2
Castelo Mau
5
Pedra Aguda
8
Cabeço das Fráguas
13
Caldeirão
14
Qta. da Lameira
18
Cast. Velho da Meda
20
Alto dos Sobreiros
21
Bogalhal Velho
22 Cast. Mouros Cidadelhe
26
Serra Gorda
29
Sabugal Velho
36
Cabeço dos Mouros
38
Caria da Atalaia
39
Sabugal
41
Castelejo
46
Vilar Maior
49
Alto Sta. Eufémia
51 Cast. Velho de Seixas
53
Chandeirinha
54
S. Geraldo
55 Monte de S. Martinho
58
Cast. Velho Louriçal
60
Monte S. Domingos
61
Monte do Castelo
69
Qta. da Samaria
73
S. Cristóvão
75
Serra da Rachada
76
Sra. da Penha
78
Pedra Aguda
TIPOLOGIA DE REGIÃO
ASSENTAMENTO
I-A
A1
I-A
A1
I-B
A2
I-A
A2
I-C
A2
I-B
A2
I-A
A1
I-B
A1
I-C
A1
I-C
A1
I-B
A2
I-A
A2
I-B
A2
I-A
A2
I-C
A2
I-A
A2
I-C
A2
I-A
A1
I-C
A1
I-B
B
I-A
B
I-A
C
I-B
C
II
C
I-B
C
I-B
B
I-B
B
I-B
B
I-B
B
I-D
B
TIPOLOGIA DE ASSENTAMENTO:
N.º
DESIGNAÇÃO
79
80
81
82
83
84
86
87
88
89
90
94
96
97
100
104
107
109
110
111
117
118
119
122
124
125
126
127
129
Tapada das Argolas
S. Roque
Cabeço do Escarigo
Monte de S. Brás
Cabeço da Argemela
Cabeça Gorda
Covilhã Velha
Cabeça Alta
Cast. Idanha-a-Nova
Cachouça
Monte do Trigo
Alegrios
Moreirinha
S. Gens
Pedrichas
Monte do Frade
Cabeço dos Castelos
Sta. Maria Madalena
N. Sra. da Confiança
Cerro do Castelo
Casal das Freiras I
Amoreira
Qta. da Pedreira
Cast. de Abrantes
Castelo do Santo
Castro da Amêndoa
Cast. Velho Zimbreira
Cast. Velho Caratão
Cabeço das Mós
TIPOLOGIA DE
ASSENTAMENTO
I-D
I-A
I-A
I-A
I-B
I-B
I-D
I-A
I-D
I-C
I-A
I-A
I-B
I-A
I-A
I-A
I-C
I-B
I-C
I-C
I-D
II
II
I-C
I-B
I-B
I-C
I-B
I-C
REGIÃO:
I – Povoados de Altura:
A – Bacia Hidrográfica do Côa:
I-A – Elevação isolada.
A 1 – Médio e Baixo Côa;
I-B – Elevação destacada mas inserida
A 2 – Planalto Guarda / Sabugal.
em cadeia montanhosa.
I-C – Promontório ou esporão fluvial.
B – Cova da Beira.
I-D – Cabeços aplanados nas orlas de
C – Beira Interior Sul.
elevações mais destacadas.
D – Pinhal Interior.
II – Casais.
REGIÃO
B
B
B
B
B
B
B
C
C
C
C
C
C
C
C
B
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
D
TABELA 2 – POVOADOS COM OCUPAÇÃO DO FERRO PLENO.
N.º
DESIGNAÇÃO
TIPOLOGIA DE DIMENSÃO MURALHAS REGIÃO BRONZE ROMANIZADO
ASSENTAMENTO
FINAL
I
2
?
A1
X
X
1
Castelo Mendo
3
Santo André
V-A
2
4
Cast. Sr.ª Monforte
V-B
1
5
Pedra Aguda
I
1
6
Soida
V-B
7
Alvendre
8
X
A1
X
A1
?
?
A2
X
X
1
A2
?
V-A
1
A2
?
Cabeço das Fráguas
I
2
X
A2
X
9
Tintinolho
I
1
X
A2
X
10
Jarmelo
I
1
X
A2
X
11
Castelos Velhos
III
1
X
A2
?
X (?)
15
Santo Antão
III
1
A2
?
X
16
Serra de Bois
V-C
1
X
A2
?
17
Tapada de Longroiva
II
2
?
A1
X
18
Cast. Velho da Meda
I
2
X
A1
19
Castelo de Marialva
V-B
2
?
A1
21
Bogalhal Velho
V-A
1
22 Cast. Mouros Cidadelhe
V-B
1
23
Castelo Vieiro
V-B
1
24
Castelo dos Prados
V-A
3
X
A1
X
25
Castelo de Pinhel
V-A
1
?
A1
X
27
Matrena
IV
1
29
Sabugal Velho
III
2
X
A2
30
Alfaiates
V-B
1
?
A2
?
32
Sr.ª do Castelo
V-A
1
X
A2
X (?)
37
Castelos do Ozendo
V-B
1
39
Sabugal
V-A
2
?
A2
X
43
S. Cornélio
I
1
X
A2
?
46
Vilar Maior
V-A
1
?
A2
X
47
Castelo da Cogula
V-A
2
X
A1
X
48
Monte Calabre
V-A
3
X
A1
X (?)
50
Freixo de Numão
II
1
?
A1
X
51
Cast. Velho de Seixas
V-A
1
X
A1
52
Monte Meão
V-A
2
X
A1
55
Monte de S. Martinho
I
2
X
C
X
X
61
Monte do Castelo
I
2
X
C
X
X
69
Quinta da Samaria
I
1
X
B
X
?
70
N. Sr.ª das Cabeças
III
1
X
B
?
X
X
X
X
X
?
X
A1
X
X (?)
A1
X
X
A1
A2
X
A2
X
X
X
X
N.º
DESIGNAÇÃO
TIPOLOGIA DE DIMENSÃO MURALHAS REGIÃO BRONZE ROMANIZADO
ASSENTAMENTO
FINAL
II
2
X
B
X
X
79
Tapada das Argolas
83
Cabeço da Argemela
I
1
X
B
X
X
86
Covilhã Velha
II
2
X
B
X
X
91
Cabeço dos Mouros
V-C
1
X
C
?
98
Grelheira
V-C
1
X
C
?
99
Castro do Picoto
III
1
X
D
?
101
Sortelha-a-Velha
II
1
X
B
X (?)
106
Vale da Sr.ª da Póvoa
I
1
X
B
108
Cerca do Castelo
V-A
1
X
D
109
Sta. Maria Madalena
I
1
X
D
X
110
N. Sr.ª da Confiança
V-A
2
X
D
X
I
1
X
D
X
X
C
?
X
112 S. Miguel da Amêndoa
?
X
X
114
Castelejo do Tostão
V-C
1
116
Olival Comprido II
IV
1
D
117
Casal das Freiras I
II
1
D
X
X
122
Castelo de Abrantes
V-A
1
?
D
X
X
127
Cast. Velho Caratão
I
1
X
D
X
X
129
Cabeço das Mós
V-A
2
X
D
X
X
TIPOLOGIA DE ASSENTAMENTO:
I – Povoados destacados na paisagem.
II – Povoados instalados em cabeços aplanados.
REGIÃO:
III – Povoados de encosta.
IV – Povoados abertos em pequenas elevações.
A – Bacia Hidrográfica do Côa:
A 1 – Médio e Baixo Côa;
V – Povoados de rio:
A 2 – Planalto Guarda / Sabugal.
V-A – Plataformas destacadas sobre cursos
fluviais.
B – Cova da Beira.
V-B – Esporões fluviais.
C – Beira Interior Sul.
V-C – “Penínsulas” fluviais.
D – Pinhal Interior.
DIMENSÕES:
1 – 0,5 a 2 hectares.
2 – 2 a 5 hectares.
3 - > 5 hectares.
TABELA 3.1 – QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO MÉDIO E BAIXO CÔA
(REGIÃO A 1)
Nº
DESIGNAÇÃO
1
Castelo Mendo
2
Castelo Mau
3
Santo André
4
Cast. Sr.ª Monforte
17
Tapada de Longroiva
18
Cast. Velho da Meda
19
Castelo de Marialva
20
Alto dos Sobreiros
21
Bogalhal Velho
22 Cast. Mouros Cidadelhe
23
Castelo Vieiro
24
Castelo dos Prados
25
Castelo de Pinhel
47
Castelo da Cogula
48
Monte Calabre
49
Alto Sta. Eufémia
50
Freixo de Numão
51
Cast. Velho de Seixas
52
Monte Meão
BRONZE
FINAL
?
?
FERRO
INICIAL
FERRO
PLENO
TABELA 3.2 – QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO
PLANALTO GUARDA / SABUGAL (REGIÃO A 2)
Nº
DESIGNAÇÃO
BRONZE
FINAL
5
Pedra Aguda
6
Soida
?
7
Alvendre
?
8
Cabeço das Fráguas
9
Tintinolho
10
Jarmelo
11
Castelos Velhos
12
Picoto
13
Caldeirão
14
Quinta da Lameira
15
Santo Antão
16
Serra de Bois
26
Serra Gorda
27
Matrena
29
Sabugal Velho
30
Alfaiates
32
Sr.ª do Castelo
36
Cabeço dos Mouros
37
Castelos do Ozendo
38
Caria da Atalaia
39
Sabugal
41
Castelejo
43
S. Cornélio
46
Vilar Maior
?
FERRO
INICIAL
FERRO
PLENO
?
?
?
?
?
?
TABELA 3.3 – QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NA COVA DA BEIRA
(REGIÃO B)
Nº
DESIGNAÇÃO
BRONZE
FINAL
FERRO
INICIAL
53
Chandeirinha
FERRO
PLENO
?
54
S. Geraldo
?
69
Quinta da Samaria
70
N. Sr.ª das Cabeças
73
S. Cristóvão
75
Serra da Rachada
76
Sr.ª da Penha
78
Pedra Aguda
79
Tapada das Argolas
80
S. Roque
81
Cabeço do Escarigo
82
Monte de S. Brás
83
Cabeço da Argemela
84
Cabeça Gorda
86
Covilhã Velha
101
Sortelha-a-Velha
104
Monte do Frade
106
Vale da Sr.ª da Póvoa
?
?
?
TABELA 3.4 – QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NA BEIRA INTERIOR SUL
(REGIÃO C)
Nº
DESIGNAÇÃO
55
Monte de S. Martinho
58
Cast. Velho Louriçal
60
Monte de S. Domingos
61
Monte do Castelo
87
Cabeça Alta
88
Castelo de Idanha-a-nova
89
Cachouça
90
Monte do Trigo
91
Cabeço dos Mouros
94
Alegrios
96
Moreirinha
97
S. Gens
98
Grelheira
100
Pedrichas
114
Castelejo do Tostão
BRONZE
FINAL
FERRO
INICIAL
FERRO
PLENO
TABELA 3.5 – QUADRO DE EVOLUÇÃO DO POVOAMENTO NO PINHAL INTERIOR
(REGIÃO D)
Nº
DESIGNAÇÃO
99
Castro do Picoto
107
Cabeço dos Castelos
108
Cerca do Castelo
109
Sta. Maria Madalena
110
N. Sr.ª da Confiança
111
Cerro do Castelo
112
S. Miguel da Amêndoa
116
Olival Comprido II
117
Casal das Freiras I
118
Amoreira
119
Quinta da Pedreira
122
Castelo de Abrantes
124
Castelo do Santo
125
Castro da Amêndoa
126
Cast. Velho Zimbreira
127
Cast. Velho Caratão
129
Cabeço das Mós
BRONZE
FINAL
FERRO
INICIAL
FERRO
PLENO
?
M APAS
F IGURAS
Figura 4 - Rocha 1 da Vermelhosa (segundo Baptista, 1999)
Figura 5 - Rocha 3 da Vermelhosa (segundo Baptista, 1999)
E STAMPAS
Est. I
1
2
Pedra Aguda (78)
3
Serra da Rachada (75)
4
Castelo Velho de Louriçal do Campo (58)
Est. II
1
2
3
4
Monte de S. Brás (82)
Est. III
1
2
3
4
Monte de S. Brás (82)
Est. IV
1
2
3
4
5
Quinta da Samaria (69)
Est. V
1
2
3
Quinta da Samaria (69)
Est. VI
1
2
4
3
Quinta da Samaria (69)
Est. VII
1
3*
2
4*
5
Quinta da Samaria (69)
* - Materiais gentilmente cedidos por Pedro C. Carvalho.
6
Est. VIII
1
2
3
4
Castelejo do Tostão (114)
Est. IX
1
Alfaiates (30)
2
Sortelha-a-Velha (101)
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